Revista US 72 WEB Final
Revista US 72 WEB Final
Revista US 72 WEB Final
UNIVERSIDADE
A crise ecológica
e socioambiental:
territórios, política
UNIVERSIDADE e SOCIEDADE #72 e meio ambiente
Fotos:
Eline Luz/
ANDES-SN
UNIVERSIDADE
e SOCIEDADE 72
Ano XXXIII - Nº 72 - julho de 2023
Revista publicada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN
Brasília Semestral
Resenhas
Debates
Conselho Editorial
Antonio Gonçalves Filho, Antônio Ponciano Bezerra, Carlos Eduardo Malhado Baldijão, Ciro Teixeira
Correia, Décio Garcia Munhoz, Eblin Joseph Farage, Luiz Henrique Schuch, Luiz Carlos Gonçalves Lucas,
Luiz Pinguelli Rosa, Maria Cristina de Moraes, Maria José Feres Ribeiro, Marina Barbosa Pinto, Marinalva
Silva Oliveira, Newton Lima Neto, Paulo Marcos Borges Rizzo, Roberto Leher e Sadi Dal Rosso
Pareceristas Ad Hoc
Alisson Silva da Costa, Augusto Charan Alves Barbosa Gonçalves, Cláudio Amorim dos Santos, Cristino
Cesário Rocha, Deodato Ferreira da Costa, Eliana C. P. T. Albuquerque, Erasmo Baltazar Valadão, Fabíola
Calazans, Fernando Santos Sousa, Flavia Alessandra de Souza, Heleni Duarte Dantas de Ávila, Jeanes
Martins Larchert, Jorge Manoel Adão, Josanne Francisca Morais Bezerra, José Eurico Ramos de Souza,
Lenilda Damasceno Perpetuo, Lila Cristina Xavier Luz, Luis Flávio Reis Godinho, Marleide Barbosa de
Sousa Rios, Meire Cristina Costa Ruggeri, Nathália Barros Ramos, Nirce Barbosa Castro Ferreira, Maria
da Penha Feitosa, Perci Coelho de Souza, Reinouds Lima Silva, Renato de Carvalho Lopes, Rosana Soares,
Salvador Dal Pozzo Trevizan, Sandra Regina de Oliveira, Sócrates Jacobo Moquete Guzmán, Solange
Cardoso, Sueli Mamede Lobo Ferreira, Walace Roza Pinel e Wanderson Fabio de Melo
Expedição
ANDES-SN - ESCRITÓRIO REGIONAL SÃO PAULO
Rua Amália de Noronha, 308 - Pinheiros - CEP 05410-010 - São Paulo - SP
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72
2023 - Ano XXXIII Nº 71
1. Ensino Superior - Periódicos. 2. Política da Educação - Periódicos. 3. Ensino Público - Periódicos.
I. Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior CDU 378 (05)
72
Monerat, discute a conceituação da ecologização do
capital entendida como forma capitalista de enfren-
tamento da crise ambiental decorrente da dinâmica
imanentemente expansiva do capital. O autor apre-
senta que, por relacionar-se apenas indiretamente ao
valor e, mais efetivamente, à renda, a ecologização
Editorial
contra-arrestante da crise capitalista, não derrogan- ves e Rodolfo Costa Machado, trata das violações de
do a tendência de crise que é imanente a esse modo direitos humanos cometidas pelo grupo empresarial
de produção. Por ser determinada pela valorização e Paranapanema contra povos originários da Amazô-
não pelo ambiente (pelo capital e não pela natureza), a nia e também analisa crimes cometidos por outras
ecologização do capital não suprime o caráter ambien- empresas privadas e órgãos do governo durante a
talmente destrutivo do modo de produção capitalista. Ditadura Empresarial-Militar. As violações tinham
como pano de fundo a apropriação dos territórios
O segundo artigo trata do estado plurinacional, e das riquezas existentes, configurando processos
em seu processo de construção e implantação. Além de acumulação por espoliação, parte importante da
de revelar compreensão da dinâmica geopolítica dinâmica de acumulação ampliada de capital. A pes-
que levou ao atual sistema-mundo, não só indica os quisa objetiva dar fundamento a processos de repara-
meios alternativos de combatê-lo, como evidencia ção, contribuindo para que a Ditadura não se repita
sintonia com algumas das questões mais críticas da nunca mais.
atualidade, sobejamente a questão socioambiental,
tema deste número. É a proposta de Marcos Bernar- A exemplo do texto anterior e na esteira do que re-
dino de Carvalho, com Crise socioambiental e hori- presentaram a Ditadura e esse período da história, o
zontes biocivilizatórios: estado plurinacional, bem vi- quinto artigo, Luta pela terra no sul e sudeste do Pará:
ver e direitos da natureza, que tem em seu centro de uma leitura histórica socioambiental da Ditadura Em-
discussão o estado plurinacional e seus fundamen- presarial-Militar, de autoria de Carol Matias Brasilei-
tos – bien vivir e “direitos da natureza” –, difundidos ro, se propõe a articular aspectos ambientais e sociais
pelos povos originários e comunidades tradicionais, no processo de luta de classes estabelecido no sul e
em resistência à colonialidade, que, segundo o autor, sudeste do Pará no período da Ditadura Empresarial-
oferecem-se como horizonte promissor para a cons- -Militar (1964-1985), com foco nas relações de tra-
trução de um projeto biocivilizatório alternativo ao balho rural. A investigação dá ênfase em como se da-
padrão global de espoliação que o Estado Nacional vam as relações de trabalho rural na região durante a
Moderno viabilizou. Ditadura, pelas abordagens demográfica (migração e
ocupação), jurídica (Estatuto da Terra) e sociológica
O terceiro, de Andrea Bezerra Crispim, intitulado (conflitos entre modos de produção distintos e expe-
Insustentabilidade e flexibilização ambiental no ter- riências de resistência camponesa).
ritório brasileiro, discute o avanço da flexibilização
ambiental no Brasil e sua relação com o aumento dos O sexto texto desta seção, Análise de conflitos am-
problemas ambientais ocorridos durante a gestão bientais em torno de empreendimentos petroleiros: le-
bolsonarista (2019-2022). A autora apresenta a ne- gados para a luta ambiental, de Matheus Thomaz da
cessidade de estabelecer um processo de reestrutura- Silva e Giuliana Franco Leal, tem como foco as dispu-
ção da plataforma ambiental brasileira, fortalecendo tas de poder que envolvem questionamentos ambien-
as políticas de preservação e fiscalização dos compo- tais a atividades extrativas de petróleo. A proposta é
nentes ambientais do território brasileiro. identificar conflitos socioambientais entre a Petrobras
e outros sujeitos coletivos, em um município estraté-
O quarto artigo apresentado aos/às leitores/as, Es- gico da Bacia de Campos, nos anos 1980 e 1990, pen-
tado e empresa na Amazônia durante a Ditadura: sa- sar em como esses conflitos se inserem no contexto
que de recursos naturais e cumplicidade contra povos do extrativismo brasileiro e, por fim, compreender os
originários, de Gilberto de Souza Marques, Egydio legados desses conflitos para as lutas ambientais.
Para encerrar a Sessão Temática, mais um arti- O segundo artigo, Devir, desenvolvimento, territó-
go evidencia as contradições próprias do modo de rios recalcitrantes e horizontes emancipatórios, de Da-
produção capitalista que estruturam e conformam niel Lemos Jeziorny e Alessandro Donadio Miebach,
a esfera da produção e da reprodução social. De au- tem como foco de análise o espaço latino-americano
toria de Kathiuça Bertollo, Mineração extrativista, e sua peculiar associação aos circuitos globais de re-
educação pública e resistências classistas na região do produção do capital. O texto lança mão de um con-
quadrilátero ferrífero de Minas Gerais reflete acer- junto de conceitos que visam inicialmente abrir o
ca da mineração extrativista, da educação pública e campo de possibilidades para agências e escolhas dos
das resistências classistas naquela região (território atores sociais. Parte-se da ideia de territórios recalci-
marcado pelo maior crime socioambiental do país: o trantes como lócus de alternativas que possibilitam a
rompimento/crime da barragem de Fundão em Ma- emergência de um “devir” apto a construir possibili-
riana-MG), pela presença de instituições de ensino dades de transformação social.
públicas (como a UFOP, o IFMG campus Ouro Preto
e as escolas municipais de Bento Rodrigues e Paraca- O terceiro artigo desta sessão é Inteligência ar-
tificial, descarbonização e sindicatos, de autoria de
72
Vamberto Ferreira Miranda Filho. Ele apresenta que
o crescente uso de inteligência artificial e as políticas
de descarbonização são duas das principais transfor-
mações atuais no mundo do trabalho. Na Alemanha
e no Brasil, essa “dupla transformação” tem desafiado
o movimento sindical. O objetivo desse estudo foi
Editorial
transformações nos dois países. Na Alemanha, os financiamento da ciência e a autonomia universitária,
resultados da pesquisa apresentam indícios da mo- da autora Daniella Borges Ribeiro, discute as impli-
bilização de poder institucional, de organização e cações do desfinanciamento da ciência no Brasil para
social; no Brasil, houve indícios da mobilização do o preceito constitucional da autonomia universitária.
poder de organização e social nas poucas iniciativas A diminuição de recursos públicos para o desenvol-
sindicais encontradas. vimento da ciência no Brasil demonstra muito mais
que uma crise fiscal durante o colapso sanitário de
O quarto artigo, As condições de trabalho e a luta 2020; ela revela uma problemática que já estava em
sindical do setor de mármore e granito do sul do Es- curso. Nesse cenário, aprofunda-se a disputa pelos
pírito Santo, de Luanna da Silva Figueira, descreve recursos do fundo público, retirando investimen-
as condições de trabalho no ambiente do setor de tos financeiros essenciais para a condução de polí-
rochas, fomentando a importância e a necessidade ticas como a de ciência, tecnologia e inovação. Tal
das lutas sociais operadas pelo sindicato de categoria fato aprofunda a mercadorização do conhecimento
para a valorização do trabalhador e de seus direitos científico e fomenta a ideia das universidades como
justrabalhistas. No texto, as precárias condições de campo profícuo para a valorização do capital, o que
trabalho do setor de mármore e granito do sul do ES ameaça princípios como o da autonomia universitá-
perpassam um meio ambiente que causa malefícios ria, do ensino laico, público, de qualidade e gratuito.
na ordem do acidente típico de trabalho. O acidente
de labor não apenas afeta socialmente os/as trabalha- Esta edição da US também contempla uma repor-
dores/as do setor, mas também estabelece relações tagem fotográfica focada nas lutas atinentes à “Cam-
diretas com toda a cultura da região. panha Salarial 2023”, que apresenta registros das lutas
marcadas, com fotos do ANDES-SN no movimento
O quinto artigo, As greves conjuntas dos docentes e na luta, nos mais diversos espaços, confirmadas, in-
das Instituições Estaduais de Ensino Superior do Pa- clusive, pelas Seções Sindicais que disponibilizaram
raná no período Beto Richa (PSDB): considerações do os registros fotográficos. Temos uma linha do tem-
ano de 2015, de autoria de Peterson Alexandre Ma- po, com o título Mobilização pelo reajuste salarial,
rino e Silvana Souza Netto Mandalozzo, propõe-se a onde são demonstradas as lutas ocorridas nos anos
apresentar os desafios conjunturais do sindicalismo de 2022 e 2023.
docente das universidades estaduais paranaenses
no contexto dos governos Beto Richa (PSDB). Para Assim, convidamos para a leitura prazerosa desta
tanto, o debate foi direcionado para as duas greves edição da Revista US, organizada com muito carinho
de servidores estaduais ocorridas em 2015 – ano e em sintonia com a conjuntura, a iniciar pela capa,
marcado pela grave tensão entre esses servidores e o que dialoga não apenas com a temática, mas, sobre-
governo estadual, a exemplo da fatídica violência po- tudo, com o momento político atual e com a luta pela
licial ocorrida no dia 29 de abril. Como resultado, foi terra dos povos originários.
possível realizar o desvelamento dos principais ele-
mentos que exigiram a mobilização desses sindica- A Cartilha do Marco Temporal, a partir dos in-
tos no ano: o descumprimento da reposição salarial dígenas, denuncia que esse marco temporal “é uma
anual prevista em lei e a reforma previdenciária dos máquina de moer história... Ele acaba com a história,
servidores estaduais. A greve mostrou-se como uma muda toda a história”.
importante ferramenta de resposta desses servidores,
mas não foi a única.
Paralelos entre
crise do capital e
crise ambiental
à ecologização do capital:
potencialidades crítico-analíticas
Julio Cesar Pereira Monerat
Professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IFSEMG) - Campus Muriaé
E-mail: julio.monerat@gmail.com
Essa importante consideração sobre a análise eco- Nessa linha, mais exatamente, o foco analítico
lógica na obra de Marx, entretanto, precisa ser fun- aqui proposto é aquele colocado concretamente pelo
damentada na crítica às determinações que tornam a movimento do capital em relação à crise ambiental,
ruptura metabólica uma consequência do movimen- ou seja, a relação entre crise ambiental e o valor ou
to do capital, bem como das formas que o capitalis- como o capital atua na crise ambiental de modo a
mo busca contornar tal ruptura, o que se manifesta conformar os obstáculos em fronteiras expansivas
na ecologização do capital. Portanto, a crítica que para a valorização. Esse foco na relação entre crise
apresentaremos, tendo por referencial parte da obra ambiental e valor não nos leva a desconsiderar a di-
madura de Marx, é uma crítica aos fundamentos úl- nâmica ambientalmente destrutiva que caracteriza
timos da ecologização do capital. todo esse movimento – “O capitalismo está destruin-
Nesse sentido de formulação da crítica à ecologi- do o planeta. Mas isso não implica que haja um limite
zação do capital, devemos relacioná-la, ainda, à deter- natural ao capital”, na citação logo acima. O que se
minação para que o capital precise ecologizar-se para pretende, portanto, é identificar como o capital busca
continuar a ser capital. Ou seja, é preciso identificar superar os obstáculos ambientais ao valor – a crise
que essa determinação decorre da crise ambiental, ambiental – por meio de sua ecologização. O que não
colocada como obstáculo (e como oportunidade, na nos leva a desconsiderar que a ecologização do ca-
linguagem mainstream) à valorização do capital. Para pital não derroga definitivamente a destruição am-
uma compreensão aprofundada da crise ambiental, é biental e que apenas a superação dessa forma social
prudente que consideremos brevemente a dinâmica permitirá a efetivação de relações coevolutivas entre
das crises na sociedade capitalista, o que será feito na sociedade e natureza.
seção seguinte. Referenciados em Marx (2017), ve-
rificamos que as crises capitalistas são imanentes ao
metabolismo da forma social e configuram-se como
Valor, mais-valor e preço de
uma tendência.
produção: expansão e
Antes de avançarmos em uma breve análise das
crise do capital
crises capitalistas, cabe uma pequena observação so-
Ao analisar os fundamentos mais elementares do
bre a dinâmica exapansiva-destrutiva do capital. É
modo de produção capitalista a partir da compre-
preciso ter claro que a superação da crise ambiental
ensão da mercadoria como unidade contraditória
vincula-se, necessariamente, à superação dos obs-
de valor de uso e valor, Marx (2013) revela o cará-
táculos à valorização, mesmo que isso implique em
ter necessariamente expansivo do capital. Tratando,
aprofundamento das dinâmicas destrutivas – o que
desde o início, da sociedade capitalista como aquela
nos leva a concluir que um meio ambiente ampla-
na qual toda riqueza aparece sob a forma mercan-
mente devastado pode advir da continuidade dessas
til, Marx destaca (Livro I de O Capital) que a troca
dinâmicas e, ainda assim, o capital continuar a valo-
torna social a totalidade dos trabalhos privados por
rizar-se. Como afirma Postone (2018, p. 20):
meio do valor – cuja substância é o trabalho abstrato
O capitalismo está destruindo o planeta. Mas e cuja medida é dada pelo tempo de trabalho social-
isso não implica que haja um limite natural mente necessário.
referências
de Janeiro: Consequência, 2018.
horizontes biocivilizatórios:
Estado plurinacional, bem viver e
direitos da natureza
Marcos Bernardino de Carvalho
Professor na Universidade de São Paulo (USP)
E-mail: mbcarcalho@usp.br
Dos textos das constituições já promulgadas do como o fizeram as constituições do Equador e da Bo-
Equador e da Bolívia, ou da proposta da Convenção lívia, não assegura que equatorianos e bolivianos vi-
Constitucional chilena, passando pela sentença da vam em um Estado plurinacional (op. cit., p. 153). Da
Corte colombiana, ou pelas declarações dos Acam- mesma forma, realidades plurinacionais não deixam
pamentos Terra Livre do Brasil, mobilizado pela de apresentar essas características apenas porque
revogação do Marco Temporal, ou das Cumbres de não há o reconhecimento institucional dessas reali-
Pueblos Origiários de Abya Yala, dentre vários outros dades. De um jeito ou de outro, o debate se instala,
movimentos e ações que ainda se poderiam mencio- de forma mais ou menos amparada coletivamente. E,
nar, revela-se, como traço comum, não só a compre- dessa forma, as discussões e reflexões em torno do
ensão da gravidade do momento, que põe em risco enfrentamento da crise socioambiental produzida
a sobrevivência da vida e das paisagens terrestres, ampliam-se em alternativas e referências.
mas acusam-se responsabilidades, sugerindo alguns As dimensões da política, do poder, da cultura e
horizontes que poderiam reverter esse quadro, todos das mentalidades, dessa maneira, evidenciam-se em
Insustentabilidade e
flexibilização ambiental
no território brasileiro
Andrea Bezerra Crispim
Professora da Rede de Ensino Básico do Estado do Ceará (SEDUC)
E-mail: crispimab@gmail.com
Resumo: A questão ambiental tem sido discutida nos últimos anos em decorrência da
ausência de planejamento, gestão e fiscalização ambiental, comprometendo a capacidade de
suporte dos elementos naturais no território brasileiro. Este artigo objetiva analisar o avanço
da flexibilização ambiental no Brasil e sua relação com o aumento dos problemas ambientais
ocorridos durante a gestão bolsonarista (2019-2022). O aporte metodológico foi desenvolvido
em cima de levantamentos bibliográficos, sistematização e análise de dados técnicos cole-
tados em sites de pesquisas das mais diversas instituições ambientais. Diante das discus-
sões realizadas, percebe-se a necessidade de estabelecer um processo de reestruturação da
plataforma ambiental brasileira, fortalecendo as políticas de preservação e fiscalização dos
componentes ambientais do território brasileiro.
A pesquisa foi desenvolvida tendo como norte a grama de software livre Quantum GIS 3.4. A base
No âmbito da legislação ambiental, a discussão a ganhar destaque mundialmente devido aos inúme-
jurídica foi fundamentada nas bases normativas do ros problemas ambientais, agora intensificados pela
e do Conselho Municipal do Meio Ambiente (CO- ambientais tiveram como norte o processo de rede-
MAM) e de leis no âmbito federal, a exemplo de lei- mocratização brasileira com a promulgação da Cons-
turas feitas sobre os artigos descritos na Política Na- tituição Federal de 1988, incluindo-se um capítulo
cional de Meio Ambiente (PNMA), na Constituição específico que tornou obrigatório levar em conside-
da República Federativa do Brasil de 1988, que trata ração a base jurídica ambiental brasileira no que con-
do direito à proteção ambiental em seu artigo 225, e cerne à permissão para realizar atividades econômicas
no Código Florestal Brasileiro, de 2012. sobre os elementos naturais. Conforme Luís e Cunha
(2012), até meados da década de 1980, o Estado ha-
via ditado a política ambiental de forma centralizada.
Coleta, sistematização, Todo o processo de sistematização e formulação da
análise de dados secundários e plataforma política ambiental brasileira foi fortalecida
elaboração de mapas temáticos com a promulgação da Constituição Brasileira, mais
especificamente no capítulo VI, artigo 225:
O processo de organização e análise de informa-
ções geográficas teve seu início mediante coleta de Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
dados secundários em sites governamentais do go-
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
verno federal, como o portal Terra Brasilis, plata- impondo-se ao Poder Público e à coletividade
forma web desenvolvida pelo Instituto Nacional de o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
Pesquisas Espaciais (INPE). A plataforma disponibi- presentes e futuras gerações.
liza informações geográficas através de dados alfanu-
méricos, gráficos e mapas interativos, com informa- Um dos pontos tratados na presente Constituição
ções de dados ambientais do território brasileiro em e que reforça a necessidade de pensar plataformas
diversas escalas geográficas. Os dados coletados no políticas que visem à proteção e conservação dos
presente artigo foram organizados, analisados e sis- componentes geoambientais está no fortalecimento
tematizados em gráficos e mapas. em assegurar a efetividade da preservação e restau-
das unidades de
desmatamento dos sistemas
conservação
na Amazônia ambientais
Aumento do Intensificação
Aumento do
conflito de das injustiças
agronegócio
terras no país ambientais
2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
Fonte: Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), 2021.
O aumento da taxa de desmatamento na Amazô- áreas desmatadas em 2020. Somado a isso, diversas
nia Legal, nos últimos quatro anos, ocorre median- comunidades indígenas sofrem constantemente com
te uma série de ataques ao meio ambiente. Sendo a a prática ilegal de retirada de madeiras e processos
maior desde o ano de 2008, o gráfico traz um au- de invasões.
mento intenso da degradação ambiental, que se in- As informações corroboram a discussão realizada
tensifica de forma bastante expressiva em 2021, che- por Acserald, Bezerra e Mello (2009), em que os pro-
gando a 13 mil km² de área desmatada. Um aumento cessos sociais e políticos passam a ser estabelecidos
de 2.200 km², se comparado com o ano de 2020. nos territórios através de múltiplos processos priva-
Os retrocessos ambientais não param nesses da- dos de intervenção, relacionados à megaprojetos de
dos. De acordo com informações disponibilizadas âmbito desenvolvimentista, que acabam por atingir
pelo PRODES (2021), houve um avanço significativo comunidades tradicionais que vivem de atividades
do desmatamento em áreas indígenas na região ama- não capitalistas de apropriação da natureza, como
zônica, com um incremento parcial de 379,3 km² de pesca, artesanato e extrativismo.
Historicamente, atividades de grande magnitude
vêm sendo exercidas de forma insustentável e agres-
siva nos ambientes. A Figura 3 retrata o avanço das
atividades agropecuárias na região amazônica, com
um recorte espaço-temporal de 35 anos.
De acordo com o MapBioma (2020), entre os anos
de 1985 e 2019, as áreas florestais na região amazôni-
ca tiveram uma diminuição de 8,67%, enquanto que,
nas atividades agropecuárias, ocorreu um aumento
de 9,1%.
Agropecuária Agropecuária
(ha): 20,87% (ha): 25,73%
Agropecuária
(ha): 28,39% Agropecuária
(ha): 29,97%
Área floresta
(ha): 62,94%
Área floresta
(ha): 61,53%
Amazônia Legal
Conflitos ambientais e a luta por uma em torno dessa prerrogativa, infelizmente, possuem
plataforma política de conservação enorme distância no que condiz do escrito à prática.
dos recursos naturais no Brasil Não é uma discussão fácil, apesar de necessária.
O jogo estabelecido entre os mais diversos agentes
A crise ambiental, de acordo com Souza (2019), sociais utiliza-se de termos como “desenvolvimento
é fruto das relações capitalistas, sendo estas intensi- sustentável”, passando a estabelecer a lógica destrutiva
ficadas diretamente pelo capital privado através de do ambiente que vem ocorrendo ao longo dos anos. É
grandes empresas privadas e legitimadas pelo Estado, necessário enfatizar que esse processo não é recente.
desconstruindo o discurso de que conflitos ambien- De acordo com Marques (2015), a relação entre
tais surgem mediante processos naturais. crescimento econômico e degradação ambiental tem
Conforme estabelece o autor, essas relações agri- sido uma constante ao longo dos anos no Brasil. Em
dem os sistemas ambientais e as identidades socio- seu livro Capitalismo e Colapso Ambiental, o autor
espaciais ao flexibilizar leis ambientais e intensificar descreve como o território brasileiro tem sido um
a forma de uso e ocupação da terra. Muitos dos im- forte exemplo de retrocesso no âmbito de planeja-
pactos negativos ocorridos nos mais demasiados am- mento ambiental. Mostrando dados relacionados ao
bientes, independentemente da localização geográfi- ano de 2013, revela como a economia brasileira au-
ca no território, deveriam seguir normas ambientais mentou em 5,5% a intensidade de uso dos combustí-
específicas e, sobretudo, levar em consideração o que veis fósseis, sendo este o pior desempenho do mundo
estabelece a Constituição Federal de 1988. dentre os países avaliados pela edição de 2014 da Low
É válido destacar o artigo 225, que versa sobre o Carbon Economy Index (MARQUES, 2015).
direito da população a ter acesso a um meio ambiente Além disso, de acordo com o autor, a dependência
ecologicamente equilibrado, dando ao poder público relacionada ao agronegócio fez com que ocorresse
e ao coletivo o dever de preservar e conservar a base um aumento gradativo da degradação ambiental no
ecossistêmica. As relações sociais que se estabelecem Brasil. Tal questão pontua-se em problemas significa-
Política nacional de
meio ambiente
(Lei nº 6938/81)
Zoneamento Avaliação de
Licenciamento Resoluções do
SISNAMA impactos
ambiental ambiental CONAMA ambientais
Fonte: Informações tiradas da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA). Elaboração: autora, 2021.
referências
Acesso em: 15 fev. 2021.
Egydio Schwade
Casa da Cultura do Urubuí - AM
E-mail: egydio.schwade@gmail.com
Maloca dos
Waimiri-Atroari
incendiada Fonte: Casa da Cultura do Urubuí.
Afora isso, a Paranapanema também alegou que a mente, procura apagar a existência de um povo em
área em questão não contava com a presença de in- seu território.
dígenas. Acontece que documentos e mapas da Funai João Figueiredo, tão somente, cumpriu os interes-
registram a presença de indígenas na área. Em 1968, ses da empresa, repassando a ela a porção territorial
antes de ser morto, o padre Giovani Calleri, em so- que queria saquear. Isso evidencia a conexão empre-
brevoo, fotografou nove malocas Waimiri-Atroari sa-Estado na Ditadura, que submetia até mesmo os
naquela região: na cachoeira Criminosa (rio Alalau) órgãos que deveriam proteger os indígenas, caso da
e proximidades. Podemos nominar isso como uma Funai. Quando tensionada, a Funai ficava ao lado da
fraude “etnográfica”, na medida em que, artificial- empresa, configurando o que Baines (1991) chamou
de indigenismo empresarial.
A violência cometida pela Sacopã/Mineração Ta-
boca, na região do Pitinga, foi relatada pelos Waimi-
ri-Atroari através de desenho e algumas palavras. Os
Tikirya, que seriam parentes próximos dos Waimiri-
-Atroari, teriam desaparecido: “Taboka ikame Ti-
kirya ytohpa. Apiyamyake? Apiyamyake?” (Taboca
chegou, Tikiria sumiu. Por quê? Por quê?).
ALTVATER, Elmar. O preço da riqueza: pilhagem ambiental e a nova (des)ordem mundial. São Paulo:
Unesp, 1995.
BAINES, Stephen Grants. Dispatch: The Waimiri-Atroari and the Paranapanema Company. In: Critique
of Anthropology, London, Newbury Park and New Delhi, Vol. 11 (2): 143-153, June 1, 1991.
BRASIL. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório Comissão Nacional da Verdade. Brasília:
CNV, 2014.
CEDVMJA - COMITÊ ESTADUAL DE DIREITO À VERDADE, À MEMÓRIA E À JUSTIÇA DO
AMAZONAS. A Ditadura Militar e o Genocídio do Povo Waimiri-Atroari: ‘por que kamña matou
kiña’?. Manaus, 2012.
sudeste do Pará:
uma leitura histórica socioambiental
da Ditadura Empresarial-Militar1
Carol Matias Brasileiro
Doutoranda em Direito pelo PPGD da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
E-mail: carolmbrasileiro@gmail.com
Resumo: O presente artigo tem por objetivo articular aspectos ambientais e sociais no
processo de luta de classes estabelecido no sul e sudeste do Pará no período da Ditadu-
ra Empresarial-Militar (1964-1985), com foco nas relações de trabalho rural. Tomando por
amparo o método materialista histórico-dialético e se assentando em revisão bibliográfica
interdisciplinar, compreende-se as determinantes históricas que fizeram da região recordista
em massacres no campo na Nova República. Para tanto, apresenta-se as bases teóricas para
uma história socioambiental brasileira, enfatizando que a luta de classes e seus matizes
ecológicos conduzem a história. Promove-se análise do conceito de acumulação originária
permanente aplicado ao contexto rural brasileiro, pelo qual o violento processo de expansão
das fronteiras capitalistas atropela o modo de vida campesino pela despossessão. Assim,
investiga-se como se davam as relações de trabalho rural na região durante a Ditadura, pelas
abordagens demográfica (migração e ocupação), jurídica (Estatuto da Terra) e sociológica
(conflitos entre modos de produção distintos e experiências de resistência camponesa).
notas
1. O presente artigo é fruto das discussões resultantes
da disciplina “Temas em Direito do Trabalho:
3. Tradução livre de “environmental history is the
study of how human agency shapes and modifies
‘nature’ and constructs built environments and
spatial configurations, and how natural and cultural
environments both enable and constrain human
material activity, and, conversely, how human activity
both enables and constrains cultural development
Trabalho, Cidade e Campo - Tópicos para uma and ‘nature’s economy’”.
história socioambiental do Direito do Trabalho
Brasileiro”, vinculada ao Programa de Pós-graduação 4. Como resultado preliminar da pesquisa “Massacres
em Direito da UFMG, e da pesquisa “Massacres no no Campo na Nova República: crime e impunidade,
Campo na Nova República: crime e impunidade, 1985-2018”, destaca-se a transformação da antiga
1985-2018”, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa pistolagem, típica da Ditadura, em milícias rurais,
Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) em parceria normalmente revestidas de aspecto de legalidade pela
com a Comissão Pastoral da Terra, que a autora contratação de empresas de segurança privada.
impulsiona. Agrademos as contribuições do professor
Gustavo Seferian, que ministrou a disciplina e também 5. Embora os dados do CEDOC - CPT trabalhados no
compõe o projeto de pesquisa, pelo constante diálogo projeto de pesquisa “Massacres no Campo na Nova
e pelas provocações que resultaram neste trabalho. República: crime e impunidade, 1985-2018” digam
respeito ao período pós-redemocratização, pontuamos
2. A Comissão Pastoral da Terra conceitua como que foram muitos os massacres perpetrados no
“massacre” todos os casos de conflitos no campo em decorrer da Ditadura Empresarial-Militar e que foram
que um número igual ou maior que três pessoas foram excluídos de seus direitos de Justiça de Transição na
mortas na mesma ocasião. Em nome da memória Lei 9.140/1995 (Lei dos Desaparecidos Políticos do
das vítimas, registram-se os massacres – todos eles Brasil). Pela reparação da memória camponesa, em
ocorridos nas mesorregiões do sul e do sudeste do 2014, a Confederação Nacional dos Trabalhadores
Pará entre 1985 e 2021: Baião (24/03/2019); Baião da Agricultura (CONTAG) apresentou à Comissão
(22/03/2019); Pau D’Arco (2017); Conceição do Nacional da Verdade o documento “Camponeses
Araguaia (2015); Baião (2006); São Félix do Xingu Mortos e Desaparecidos: Excluídos da Justiça de
(2003); Xinguara/Rio Maria (2002); Marabá (2001); Transição”, com uma lista de 1.196 casos estudados
Eldorado dos Carajás (21/08/1996); Eldorado dos de camponeses e apoiadores mortos e desaparecidos
Carajás (17/04/1996); São João do Araguaia (1995); no período de 1961 a 1988. CONTAG. Camponeses
Tucumã (1993); Paragominas (1988); Marabá (1987); Mortos e Desaparecidos: Excluídos da Justiça
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Rio Maria (1985); Marabá (1985); Paragominas forumverdade.ufpr.br/wp-content/uploads/A_%20
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UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #72
Luta pela terra no sul e sudeste do Pará
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Análise de conflitos
ambientais em torno
de empreendimentos
petroleiros:
legados para a luta ambiental
Matheus Thomaz da Silva
Professor na Universidade Federal Fluminense (UFF)
E-mail: mattseso@gmail.com
Resumo: Este artigo tem como foco as disputas de poder que envolvem questionamentos
ambientais a atividades extrativas de petróleo. Propõe-se: identificar conflitos socioambien-
tais entre a Petrobras e outros sujeitos coletivos, em um município estratégico da Bacia de
Campos, nos anos 1980 e 1990; pensar em como esses conflitos se inserem no contexto do
extrativismo brasileiro; e, por fim, compreender os legados desses conflitos para as lutas
ambientais. Entende-se que, a partir dos casos estudados, podem ser feitas reflexões mais
gerais sobre lutas ambientais, fundamentais em tempos de crise ecológica. A pesquisa, de
caráter qualitativo, coleta dados por meio de pesquisa documental e entrevistas com ambien-
talistas e as analisa pela perspectiva da Economia Política e da Ecologia Política. Identificam-
-se três conflitos, nos quais o modelo extrativista não é questionado, mas sim situações com
riscos e impactos ambientais especialmente nocivos. As correlações de força e os desfechos
variam, a favor dos empreendimentos ou contra eles, em cada um dos conflitos. Como lega-
dos para a luta ambiental, destacam-se a identificação de alguns elementos que a favorecem,
como o estabelecimento de alianças e a publicização dos conflitos, e o fortalecimento da
pauta ambiental na região.
O enfrentamento articulado em torno do slogan fosse barrada. A Área de Proteção Ambiental foi cria-
“Xô, Monoboia” começou, assim como no conflito de da por lei e fica compreendida dentro do perímetro
dois anos antes, com a chamada a um debate público, de um círculo cujo centro é a ilha de Santana, abran-
organizado pela AMDA em parceria com a Colônia gendo, no período de sua criação, um raio de 16 km
de Pescadores. Tendo lugar na sede da cooperativa de de extensão (MACAÉ, 1989).
pescadores de Macaé, o debate público, realizado em No segundo semestre de 1992, a grande questão
3 de março de 1989, teve a presença da Associação deu-se em torno da construção da Estação de Trata-
de Engenheiros da Petrobrás (AEPET) – respon- mento de Efluentes (ETE), que a Petrobrás planejou
sável pela palestra sobre características, funções e construir em Cabiúnas. O objetivo da obra seria se-
impactos da monoboia – além de várias associações parar e tratar a água emulsionada ao óleo na Bacia
de moradores do munícipio, partidos políticos (PV, de Campos. Naquele momento, estavam realizando
PT, PDT e PTR), o Sindipetro-NF (Sindicato dos as reuniões preparatórias para a audiência pública
Petroleiros Norte-Fluminense), a Câmara de Vere- para a discussão do Relatório de Impacto Ambiental
adores e a Prefeitura Municipal. Após esse ponto de (RIMA) da obra.
partida do debate, houve cobrança de explicações A AMDA foi novamente central no conflito, ao ser
da Petrobrás sobre o empreendimento e denúncia a primeira organização a colocar-se publicamente em
em comissão da Câmara de Vereadores sobre seus posição contrária à instalação da ETE, motivada pelo
impactos negativos. O tema voltaria a ser debatido fato de os efluentes a serem descartados no mar terem
entre a Petrobras e a AMDA em uma mesa redonda, concentrações de elementos poluentes, tais como fe-
em julho do mesmo ano. Por fim, com a formação de nóis, acima dos padrões vigentes à época. Além dis-
uma frente ampla contra o monoboia, o conflito foi so, a estação de tratamento estaria muito próxima a
judicializado. Como parte do enfretamento, o grupo uma das nascentes que compõem a microbacia da la-
de trabalho formado por representantes da AMDA goa de Jurubatiba. Dessa forma, o emissário poderia
e outros interessados no assunto traçou e fortaleceu ameaçar a área da vegetação do ecossistema local, a
a ideia de transformação do Arquipélago de Santana restinga, entre as lagoas de Jurubatiba e Carapebus.
em área de proteção ambiental, à qual teve adesão A degradação assim causada teria impacto na pesca
da prefeitura. em Macaé.
Uma comissão foi criada na Câmara de Vereadores Segundo o livro-ata (AMDA, 1989), junto com
para tratar das denúncias feitas à instalação da obra. outras coletividades, a AMDA participou de reuniões
Em meio às polêmicas, o Relatório de Impacto Am- preparatórias e da audiência pública para a discussão
biental (RIMA) da Petrobras não foi devolvido pela do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) da obra,
FEEMA e não teve aprovação por ausência de infor- fazendo questionamentos ao mesmo. A AMDA, ou-
mações básicas sobre a biologia marinha da região e tras ONGs, lideranças comunitárias e a Secretaria de
seu potencial pesqueiro, sem menção ao Arquipélago Meio Ambiente assinaram e entregaram à FEEMA
de Santana (AMDA, 1989 p. 21-22). Assim, não foi um documento que solicitava que se interrompesse
concedida licença prévia para o começo da obra, ini- o licenciamento da ETE Cabiúnas até que fossem
ciada de maneira irregular e, então, paralisada. sanadas as questões levantadas. As discussões foram
Nesse processo, o avanço na criação de uma área a público novamente, em matérias do jornal O De-
de proteção ambiental no conjunto de ilhas por onde bate. Em um momento de aproximação da AMDA
o equipamento passaria, o Arquipélago de Santana, com o Greenpeace, apareceu, inclusive, em uma
foi importante para que a instalação da monoboia reportagem a ameaça de um dos membros da dire-
o MST e o projeto de
agroecologia nas
escolas do campo
Fábio José de Queiroz
Professor da Universidade Regional do Cariri (URCA)
E-mail: fabioqueirozurca@gmail.com
Eduardo Chagas
Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC)
E-mail: ef.chagas@uol.com.br
Resumo: Este artigo trata das inter-relações entre o Movimento dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais Sem-Terra (MST), seu programa, suas ações de resistência e as
questões inerentes à educação e ao meio-ambiente, traduzidas nas noções de escola do
campo e agroecologia. Fundado em 1984, o MST tornou-se amplamente reconhecido
por sua luta pela mudança da estrutura agrária do país, partindo da bandeira da reforma
agrária, mas, ao longo do tempo, o movimento mostrou-se um agente ativo em defesa
da educação pública, que, com o passar dos anos, ganhou materialidade nas escolas do
campo. Nesse ponto, fez uma definição metodológica e teórico-prática pela
agroecologia, assumindo vívido compromisso pela preservação ambiental dos territórios
e produção de alimentos saudáveis, temas com os quais este artigo apresenta um
relacionamento imediato.
Mineração extrativista,
educação pública e
resistências classistas
na região do quadrilátero
ferrífero de Minas Gerais
Kathiuça Bertollo
Docente da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
E-mail: kathiuca.bertollo@ufop.edu.br
Fotos:
Kathiuça Bertollo/ADUFOP
Resumo: Este artigo reflete acerca da mineração extrativista, da educação pública e das
resistências classistas na região do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, território mar-
cado pelo maior crime socioambiental do país (o rompimento/crime da barragem de Fundão
em Mariana-MG), pela presença de instituições de ensino públicas (tais como a UFOP, o
IFMG campus Ouro Preto e as escolas municipais de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo)
e pelas seculares lutas e resistências da classe trabalhadora organizada em diferentes
sujeitos coletivos, especialmente via movimentos sociais, entidades sindicais e frentes
amplas de atuação. Explicita as contradições próprias do modo de produção capitalista que
estruturam e conformam a esfera da produção e da reprodução social e, dessa forma, o
contexto da luta de classes na região, sendo a questão ambiental um âmbito central desse
antagonismo classista.
Ouro Preto ocorreu, nos anos recentes, a entrega ao a proporção dos danos e impactos ambientais decor-
capital internacional do serviço, até então público- rentes dos rompimentos criminosos, pode-se afirmar
Mineração extrativista - MG
e causa adoecimento respiratório, de pele e alérgico as descendentes dos/as escravizados/as permanece-
é uma constante na vida da população que vive nas ram no território e o moldaram tal qual é hoje sob os
imediações das minas, barragens e complexos produ- marcos da superexploração de sua força de trabalho.
tivos. Além disso, o adoecimento causado por metais Wanderley (2015) afirma, a partir de dados do IBGE,
pesados tornou-se uma realidade pós rompimentos/ que, na época do rompimento/crime da barragem
crimes, pois tudo o que os rejeitos tóxicos alcançaram de Fundão, a proporção de pretos/as e pardos/as
foi contaminado e, nesse sentido, a contaminação de nas duas comunidades destruídas pelos rejeitos era
crianças, adolescentes e idosos traz imensos desafios de 84,3% em Bento Rodrigues e na comunidade de
à proteção e recuperação corporal e subjetiva dessas Paracatu de Baixo era de 80%. Já o percentual total
faixas etárias, em condição sensível e especial, da da população preta e parda no município de Mariana
existência biológica. era de 67,3%. Tais dados comprovam que a destrui-
Importa evidenciar que um estudo realizado pela ção ambiental está imbricada na superexploração da
Faculdade de Medicina da UFMG, em articulação força de trabalho da população negra e no racismo,
com a Cáritas MG, que é a assessoria técnica dos/as que permanece secularmente como um estruturante
atingidos/as, após dois anos do rompimento/crime da do capitalismo.
barragem de Fundão, explicitou um cenário em que
Mineração extrativista - MG
direito social ou enquanto mercadoria, altamente Melhor dizendo, um contexto adoecedor, como de-
rentável e acessível somente àqueles que podem pagar monstrado no relevante estudo realizado por Hunzi-
pelo acesso, ou seja, elitizada e inacessível à classe tra- cker (2019). A autora ressalta que
balhadora em geral. Nesse sentido, ganham relevân-
cia as instituições de ensino públicas, dentre as quais havia um “silêncio pedagógico”, que não eram
discutidos os danos socioambientais provocados
destacamos a Universidade Federal de Ouro Preto
pela mineração antes do RBF. Situação propícia
(UFOP), o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) para as mineradoras que adentravam o ambiente
campus Ouro Preto e, além dessas, as escolas das co- escolar para inserir discursos que remetem
munidades destruídas pelo rompimento criminoso a uma imagem de empresas ambientalmente
responsáveis. Os cursos de capacitação que eram
da barragem de Fundão: a Escola Municipal de Bento
ofertados pelas mineradoras aos professores
Rodrigues e a Escola Municipal de Paracatu de Baixo. da escola de Bento Rodrigues não dialogavam
Acerca do contexto escolar, importa evidenciar com o contexto, não discutiam os problemas
que ambas as instituições foram atingidas e destru- ambientais locais. [...] A maioria dos professores
ídas. Até o momento, passados mais de sete anos, entrevistados representava a mineração como
atividade necessária para a economia do
permanecem em sedes provisórias no centro de Ma-
município de Mariana, todavia, depois do
riana, e esse processo abrupto de o local de trabalho RBF, os professores são impelidos a alterar
ter sido atingido/destruído, de mudança geográfica seus conhecimentos e práticas educativas,
do local de trabalho, de contato cotidiano com crian- tornaram-se mais críticos sobre as práticas de
extrativismo mineral, passaram a discutir essa
ças e adolescentes diretamente atingidos/as desenca-
temática em suas aulas e, até mesmo, alguns
docentes chegaram a produzir materiais junto
com seus alunos para refletir sobre os danos
socioambientais do RBF, tanto em âmbito local,
em Bento Rodrigues, como ao longo da Bacia do
Rio Doce (HUNZICKER, 2019, p. 139).
Mineração extrativista - MG
da universidade pública na região, destacamos um político-governamental do Estado brasileiro e que
paradoxo: a parceria público-privado. No espaço do requer nossa atenção, é a criação da Frente Parla-
campus Morro do Cruzeiro ocorreu a implantação mentar da Mineração Sustentável, instalada no
e está em funcionamento um Instituto Tecnológi- Congresso Nacional no último mês de março. Sob
co da mineradora Vale S.A.11, em que as formações a justificativa de necessidade de modernizar a legis-
ofertadas, especialmente em nível da pós-graduação, lação do setor, o deputado que ocupa a presidência
acontecem em parceria com a UFOP a partir do qua- dessa frente afirma:
dro docente da instituição. É um acúmulo histórico
de lutas sociais em defesa da educação pública, que Nós temos que cobrar do governo federal, dos
municípios que recebem a Cfem (Compensação
inclui a reivindicação de a universidade se aproximar
Financeira pela Exploração Mineral). Todo
da realidade local e território em que está inserida.
mundo vai ter que colocar a mão no bolso pra
No caso da UFOP, o território é marcado expressi- gente criar um fundo de sustentabilidade; à
vamente pela atividade econômico-produtiva da mi- medida em que iniciar uma atividade minerária,
neração extrativista; no entanto, também é possível o já começar as pesquisas pelas universidades e
pelos institutos de pesquisa (Agência Câmara de
questionamento em torno do significado de parcerias
Notícias, 2023).
como essa com uma mineradora de altíssima lucra-
tividade anual e que é causadora de crimes socioam-
Percebe-se, portanto, certa naturalização na vin-
bientais nos territórios onde atua, tal qual ocorreu
culação das instituições de ensino com as minerado-
em Mariana e em Brumadinho.
ras a fim de garantir seus interesses, que perpassam
Além disso, através das Fundações de Apoio, as
a questão da ampliação das áreas mineradas e flexi-
instituições de ensino superior públicas vinculam-se
bilização das normativas de preservação ambiental
e direcionam seu aparato docente, laboratorial, ma-
e comunitárias.
terial e de conhecimento científico para os financia-
dores de suas pesquisas e projetos, e isso não significa
Por trás da ideia de modernização do Código de
dizer que esteja atendendo às demandas das comu- Mineração, o intuito é fragilizar a fiscalização de
nidades locais e cumprindo sua função social; pelo áreas protegidas, dispensar o licenciamento em
contrário, majoritariamente, as pesquisas das áreas alguns casos e facilitar projetos de exploração e
pesquisa mineral no país. As mudanças também
humanas e sociais aplicadas são desconsideradas
visam facilitar a captação de recursos por
no quesito financiamento e prioridade de execução
mineradores no mercado financeiro (COMITÊ
com condições adequadas de equipe e insumos, o NACIONAL EM DEFESA DOS TERRITÓRIOS
que acaba por dificultar que as legítimas demandas FRENTE À MINERAÇÃO, 2021).
da sociedade, a partir do viés da classe trabalhado-
ra, sejam atendidas e enfrentadas pelo conhecimento Direcionando a reflexão para o lócus em evidên-
produzido nos espaços público-científicos. É rele- cia neste texto, podemos afirmar que as resistências
vante, ainda, mencionar que esse contexto acaba por classistas tornam a região do quadrilátero ferrífero
influenciar sobre os locais de estágio acadêmico dos/ reconhecida pela multiplicidade de sujeitos coletivos
as discentes e, por vezes de forma direta, a oferta dos em atuação a partir de diferentes bandeiras de lutas,
serviços e políticas socais públicas, uma vez que o dentre as quais destacamos: direito à educação, direi-
poder institucional e de tomada de decisão se arti- to à moradia, potencialização da cultura e preserva-
cula e se concentra nos interesses de quem financia e, ção dos modos de vida tradicionais, enfrentamento à
consequentemente, controla o que é realizado, tanto exploração da força de trabalho e por direitos traba-
no âmbito educacional como no da saúde, habitação, lhistas, preservação ambiental, questão étnico-racial
assistência social etc., o que impõe a necessidade de e combate às opressões de gênero, dentre outras. São
organização e luta coletiva. associações de bairros, ONGs, movimentos sociais,
Mineração extrativista - MG
de vida apagada abruptamente, tornando-se “unica- novo modelo de mineração” não mais pautado na
mente atingidos/as”. destruição e exaurimento ambiental dos territórios,
Em contraponto, são inúmeras as ofensivas das acidentes de trabalhos e mortes, sob o controle dos
mineradoras e seus expoentes no intuito de ocultar trabalhadores e não de grupos de acionistas, em
essa árdua realidade cotidiana. Caso da Frente Par- grande parte, do capital internacional. Ou seja, a
lamentar da Mineração Sustentável, instalada re- perspectiva de superação do modo de produção e
centemente no Congresso Nacional, e das históricas da sociabilidade capitalista é uma tarefa histórica
parcerias público-privadas entre as mineradoras e em aberto.
instituições públicas de ensino, dentre outras. Isso Os desafios são inúmeros e exigentes. A luta coti-
impõe desafios expressivos às lutas e resistências po- diana contra as violências e violações das minerado-
pulares classistas. ras desencadeia e acelera processos de adoecimento
Nesse sentido, a região se destaca pela multipli- físico e mental devido à gravidade dos ataques que as
cidade de sujeitos coletivos e bandeiras de lutas que lideranças, comunidades e territórios sofrem. No en-
se unificam em torno da pauta de enfrentamento tanto, em meio a essas agravadas ofensivas, também
às mineradoras e ao contexto de destruição – vio- se fortalecem e se ampliam o reconhecimento e a so-
lências e mortes que causam dentro dos complexos lidariedade classista, que portam em si e na organiza-
produtivos e nos entornos das minas e barragens de ção coletiva da classe trabalhadora em seu conjunto o
rejeitos. Nesse contexto, conquistas importantes, vislumbre e a estratégia de superação dessas relações
porém com certo caráter parcial, são alcançadas. sociais, que precisam e podem ser modificadas.
4. Para mais informações, consultar: Ouro Preto: 11. Para mais informações, consultar: Instituto
tarifa da Saneouro compromete até 40% da renda Tecnológico Vale | Quem somos (itv.org).
19 2022
MAIO
07 2022
JUNHO
Assembleia Descentralizada,
em Mariana, que teve como
um dos pontos de discussão
o reajuste salarial
Foto: Larissa Lana/Adufop
Fizemos a primeira reunião do setor das IFES no formato virtual no dia 12 de janeiro
e, no dia 18, protocolamos nossa pauta junto ao governo federal. Tivemos reuniões
virtuais e, a partir de abril, já presenciais. Foram realizadas várias jornadas de
mobilização, com paralisações e atos em Brasília e nos estados, rodadas de
assembleias e plenárias unificadas dos SPF para pautar a construção da greve
unificada. O SINDOIF-RS deflagrou greve no dia 23 de maio, e a ADUFPA, no dia 6 de
junho, com duração até 27 e 29 de junho, respectivamente. Destacamos a Jornada
Nacional de Lutas, Mobilizações, Paralisações e Greve, de 25 a 29 de abril, em que
as seções sindicais realizaram várias atividades nos campi, retomando a nossa
mobilização nas ruas e nos campus.
25 2022
AGOSTO
12 2023
JANEIRO
Reunião de apresentação do
gestor de Pessoas e Relações
de Trabalho, Sérgio Mendonça
(Ministério da Gestão e Inovação
em Serviços Públicos)
Foto: Pedro Mesidor/Fenasps
2ª rodada da Mesa
Nacional de Negociação
Permanente (Ministério da
Gestão e da Inovação em
Serviços Públicos),
em Brasília
Fotos: André Luis/ExLibris
10 2023
MARÇO
3ª rodada de reunião
da Mesa Nacional de
Negociação Permanente
(Ministério da Gestão e
da Inovação em Serviços
Públicos), em Brasília
Fotos: André Luis/ExLibris
24 2023
MARÇO
24 2023
MARÇO
12 2023
ABRIL
12 2023
ABRIL
Professores/as e estudantes
participam de ato em defesa
das universidades estaduais
baianas, em Salvador
Foto: Blenda Cavalcante/
ASCOM-ADUSC
12 2023
ABRIL
12 2023
AB R IL
12 2023
AB R IL
12 2023
ABRI L
Professores/as da UESC
participam de ato,
em Salvador
Foto: Blenda Cavalcante/
ASCOM-ADUSC
17 2023
MAIO
Ato de Lançamento da
Campanha Salarial 2024,
Anexo II da Câmara dos
Deputados, em Brasília
Fotos: Eline Luz/ANDES-SN
17 2023
MAIO
Ato de Lançamento da
Campanha Salarial 2024,
Anexo II da Câmara dos
Deputados, em Brasília
Foto: Eline Luz/ANDES-SN
Uma ecologia
decolonial
para sair do porão
da modernidade
Marcos Bernardino de Carvalho
Professor na Universidade de São Paulo (USP)
E-mail: mbcarvalho@usp.br
Fruto de uma tese de doutorado defendida na porão e o Negroceno”. Négre partiu de Nantes em di-
Universidade Paris-Diderot, o autor brinda-nos, no reção ao Golfo da Guiné em 1790 e, segundo a des-
entanto, com um texto cativante, repleto de trágicas crição de Ferdinand, deixou no cais os tumultos po-
aventuras, que lembram aquelas narradas, por exem- líticos da Revolução, recém ocorrida, e também seus
plo, por um Joseph Conrad (mencionado por Ferdi- princípios: “A declaração dos direitos do homem e do
nand), em seu Coração das trevas , que, a despeito
2
cidadão não resiste aos ventos úmidos e salgados do
das polêmicas que o envolvem, notabilizou-se pelas Atlântico. Nos arredores de Ubani, ao sul da Nigé-
lamentações exclamadas por um de seus personagens ria, 263 vozes são confinadas no porão da Revolução
chave, em sua síntese do que foi a colonização euro- Francesa” (op.cit., p. 69). O horror!
peia na África: “O horror! O horror!”. Aliás, se os Dessa forma, e sempre nos porões dessas diversas
capítulos do livro de Ferdinand fossem introduzidos embarcações – Justiça, Encontro, Esperança... – deu-
ou terminassem com esse mesmo lamento – “O hor- -se a inclusão forçada, escravizada, daqueles corpos
ror! O horror!” –, isso não produziria estranhamento. pilhados de seus territórios e comunidades de ori-
Cada capítulo e o epílogo são precedidos por no- gem, para serem despejados na estruturação do siste-
mes de navios negreiros, por seus trajetos históricos ma que, não à toa, foi por muitos caracterizado como
e seus conteúdos. Os nomes dos navios revelam boa “economia de pilhagem” (Raubwirtschaft, como as-
parte do cinismo e perversidade do padrão que esta- sim o denominaram vários filósofos e economistas
va por se estabelecer no mundo: Conquistador, Jus- alemães do século XIX).
tiça, Baleia, Encontro, Tempestade, Fuga, Esperança, Os capítulos, os nomes dos navios que os prece-
Negro e Gaia, dentre outros, são os nomes dessas em- dem, suas conotações nada simbólicas para as merca-
barcações. Em todas elas, a “principal mercadoria” – dorias vivas depositadas em seus porões e as descri-
corpos negros – despejava-se no porão. E, assim, a ções que desse conjunto o autor faz são os pontos de
modernidade singrava os mares. O horror! O horror! partida para as reflexões desenvolvidas e vão tecendo
São 18 os navios que foram pinçados pelo autor da o argumento que justifica a proposição de uma ecolo-
base de dados <slavevoyages.org>, dentre os 36 mil gia decolonial, cuja missão – “Manter juntos anties-
registros lá catalogados, e um total de 12,5 milhões de cravismo, anticolonialismo e ambientalismo, desfa-
corpos transportados, dos quais 10 milhões chegaram zer-se da sombra do porão do Antropoceno” (op. cit.,
ao destino que lhes foi imposto. O horror! O horror! p. 150) – aponta para os horizontes (bio)civilizatórios
Um deles é o Nègre, que introduz o capítulo 3, “O que o aquilombamento – “Uma das resistências mais
Populismo de esquerda
e a construção de uma
nova hegemonia
David Moreno Montenegro
Professor de Sociologia do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
E-mail: davidmoreno@ifce.edu.br
Resumo: Publicado pela editora Verso, em Londres, e depois pela Editora Siglo XXI, na Argentina,
em 2018-2019, a obra Por un populismo de izquierda, da cientista política belga Chantal Mouffe, traz
importantes reflexões sobre os processos políticos em curso nas sociedades ocidentais. Com os olhos
voltados para a experiência europeia, diante do cenário de aprofundamento da crise capitalista e da
emergência de movimentos e formas de organização de contestação ao establishment, Mouffe propõe
uma instigante reflexão sobre as possibilidades de construção de uma nova hegemonia, surgida das
fraturas do neoliberalismo e a partir do desenvolvimento do que denomina estratégia populista de es-
querda. Compreender o arsenal conceitual mobilizado pela autora, a força de seu argumento e alguns
limites é o objetivo desta resenha.
impossibilidade de síntese. Com a destruição dos va- vertiginoso das desigualdades sociais e econômicas.
lores democráticos (igualdade e soberania popular), Por isso, a abertura de brechas para a expressão po-
esgotam-se as possibilidades de os cidadãos exerce- lítica de movimentos populistas reivindicatórios tor-
rem seus direitos, uma vez que a democracia é redu- na-se mais constante. Quando inclinados ao campo
zida à mera defesa do livre mercado. da direita, tendem a defender a reconstrução da “so-
Dessa forma, os espaços institucionais, possíveis berania nacional”. Entretanto, reclamam o país para
de serem ocupados pelos cidadãos na tentativa de os “verdadeiros nacionais”, defendendo igualdade
influenciar os rumos da sociedade (parlamento e para uma categoria de “povo”, que acaba por excluir
instituições do Estado), têm seu poder de decisão imensos contingentes, geralmente grupos de pesso-
reduzido drasticamente. As eleições não oferecem, as que são entendidas como “ameaça” à “verdadeira
assim, a possibilidade concreta de decidir sobre al- identidade nacional”, quase sempre imigrantes, ne-
ternativas reais de projetos políticos, passando a polí- gros e LGBTQIA+.
tica a ser efetivamente uma forma de “administração Nesse sentido, para Mouffe, a construção de uma
da ordem estabelecida”, sendo a soberania popular resposta no campo da esquerda possui o desafio de
decretada obsoleta. Isso é o que Mouffe denomina gerar um movimento de aglutinação da diversidade
pós-política. Por outro lado, as mudanças nas formas de lutas sociais. A orientação política deve ser recu-
de gestão da política, com o abandono da soberania perar, aprofundar e ampliar a democracia, construin-
popular, vêm acompanhadas de uma nova forma de do uma estratégia capaz de envolver as demandas
regulação do capitalismo profundamente financei- sociais e que represente a “vontade coletiva”. Para
rizado. Transformações nas regulações do trabalho isso, é fundamental criar fronteira política que opo-
com flexibilização e precarização de imensos contin- nha o “povo” aos donos do poder, responsáveis pelas
gentes de trabalhadores, privatizações, políticas de diversas formas de opressão – os representantes das
austeridade fiscal, desindustrialização e incremento “oligarquias”. A construção de uma nova fronteira
de maior tecnologia com extinção de atividades labo- política seria necessária para erguer outra ordem
rais são exemplos de transformações do capitalismo hegemônica, com amparo no consenso popular, re-
contemporâneo, que têm gerado pauperização e pre- orientando a energia disruptiva das populações es-
carização em diversas sociedades, com maior efeito poliadas, suas insatisfações e frustrações em uma
no sul global. direção de contestação das forças representantes do
O que impera, agora, segundo a autora, é a visão consenso neoliberal em crise. Para tanto, esse con-
individualista, que celebra a sociedade de mercado e senso deve ser buscado de forma ativa, através da
o empreendedorismo individual. Assim, a pós-políti- ação efetiva não somente no plano econômico, mas
ca, aliada ao fenômeno da oligarquização (e a destrui- também no político e ideológico, para fundar uma
ção do ideal de igualdade), define o atual cenário de “democracia radical e plural” em uma nova ordem
contestação antissistêmica, de deterioração das bases hegemônica, com procedimentos democráticos mais
de sustentação da democracia liberal, com aumento enraizados nas demandas populares.
Percepção de estudantes
do 9º ano da Escola Municipal Papa
João Paulo I, Serra Preta, BA, sobre o efeito
estufa e sua relação com a biodiversidade
Jaqueline Santana do Nascimento de Souza
Especialista em Ensino de Ciências na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
E-mail: ja.quelinnecc@hotmail.com
Resumo: O presente estudo objetivou identificar a percepção dos alunos do 9º ano da Escola
Municipal Papa João Paulo I sobre o efeito estufa e sua relação com a biodiversidade. Foi
realizada uma pesquisa bibliográfica, seguida de aplicação de um questionário estruturado.
Os respondentes apontaram a queima de combustíveis fósseis e a produção industrial como
principais agentes causadores de emissões de gases do efeito estufa, oriundos de atividades
humanas. Durante as aulas de Ciências, foi observado que alunos do 9° ano realizavam mui-
tos questionamentos referentes aos problemas ambientais. Dentre as medidas que devem
ser adotadas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, os estudantes destacaram a
economia de energia elétrica, o uso de transporte público como meio de locomoção, redução
da produção de lixo e diminuição do consumo de carne. Entretanto, no que se refere às cau-
sas e às consequências do efeito estufa artificial, houve equívocos por parte dos responden-
tes, o que exige aprofundamento dos conteúdos.
O planeta Terra é habitado por espécies diferentes como diversidade biológica “a variabilidade de or-
de seres vivos, e eles possuem suas peculiaridades – ganismos vivos de todas as origens, compreendendo,
como habitats, alimentação e a necessidade de uma dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e
temperatura ideal para a manutenção do metabolis- outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecoló-
mo – que permitem sua sobrevivência. Essa varieda- gicos de que fazem parte”. Para manter essa diversi-
de de espécies é consequência do alinhamento entre dade, não poderíamos ter apenas temperaturas altas
as variações de temperatura e do ciclo hidrológico no ou baixas em todos os continentes, pois isso acarreta-
planeta, entre outros fatores. Além disso, a diversi- ria a extinção de várias espécies.
dade de espécies contribui para a melhoria da qua- A ocorrência da temperatura na Terra em condi-
lidade do ar e do solo e também é importante para a ções adequadas para a existência e manutenção da
interação com os seres humanos, em atividades ao ar vida, como a conhecemos, se dá naturalmente em
livre e em momentos de lazer, por exemplo. função dos gases do efeito estufa, que são responsá-
Dessa forma, para preservar a vida na Terra de ma- veis por reter parte do calor oriundo do Sol na at-
neira equilibrada, dando lugar à diversidade biológi- mosfera. Os principais gases e substâncias relacio-
ca, é preciso cuidar do meio ambiente. De acordo com nadas ao efeito estufa são: metano (CH4), dióxido de
o Ministério do Meio Ambiente (2000), entende-se carbono (CO2), óxido nitroso (N2O), vapor d’água
SIM NÃO
2 - Você já estudou sobre esse assunto durante o Ensino Fundamental Anos Finais? 12 02
lares em detrimento de transportes coletivos. No re- Em pesquisa realizada por outros autores, tendo
lato, um dos respondentes afirmou que as ações hu- como entrevistados crianças na faixa etária entre 7 e
manas estão desestabilizando o efeito estufa natural. 9 anos, foi possível inferir que os professores devem
A Figura 2 demonstra que a maioria dos respon- estar atentos às concepções dos alunos, proporcio-
dentes reconhecem o gás carbônico (CO2) e o me- nando discussões que envolvam a explanação de dis-
tano (CH4) como exemplos de GEE, embora alguns tinções entre efeito estufa e destruição da camada de
ainda acreditem que o gás oxigênio (O2) e o hidrogê- ozônio, pois os alunos confundem os termos (SAN-
nio (H2) façam parte dos GEE. TOS; MASSABNI, 2012).
Devir, desenvolvimento,
territórios recalcitrantes
e horizontes emancipatórios
Daniel Lemos Jeziorny
Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
E-mail: daniel.lemos@ufrgs.br
Resumo: O presente artigo tem por objetivo efetuar o mapeamento das possibilidades e
escolhas possíveis a partir de um marco marxiano que articule reflexões fundadas nas noções
de “humanidade na natureza/natureza na humanidade” (MOORE, 2015) e “acumulação por
despossessão” (HARVEY, 2005). O foco de análise é o espaço latino-americano e sua peculiar
associação aos circuitos globais de reprodução do capital. Para tanto, lança-se mão de um
conjunto de conceitos que visam inicialmente abrir o campo de possibilidades para agências
e escolhas dos atores sociais. Parte-se da ideia de territórios recalcitrantes como lócus de
alternativas que possibilitam a emergência de um “devir” apto a construir possibilidades de
transformação social.
Inteligência artificial,
descarbonização e sindicatos
Vamberto Ferreira Miranda Filho
Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
E-mail: elgeboh@yahoo.com.br
Produção Bloqueios e
Localização Perturbar a (circulação e perturbações Taxas de
Poder
no sistema valorização reprodução) desemprego
estrutural
econômico do capital Mudar de etc.
Mercado emprego
Produção, Comissões,
Formação de Compensar a Taxas de
Poder de mercado, sindicatos,
organizações falta de poder sindicalização
organização sist. político e partidos e
coletivas estrutural etc.
transnacional FSGs
Estatutos,
Utilizar as Produção, Cobertura de
Regulamentações autonomia de
Poder instituições mercado, negociação
no mercado negociação,
institucional para os seus sist. político e coletiva
de trabalho jurisdição e
próprios fins transnacional etc.
normas da OIT
Apoios,
Reforçar o poder Produção, protestos Capacidade de
Poder social Relações de sist. político e
de organização e redes mobilização,
(cooperação cooperação transnacional
e criar percepção da
e discurso) e apoio Escandalização
pressão pública população etc.
--- de injustiças
Mercados freelance
e.g., Upwork
Tarefas p/
indivíduos
Plataformas Microtarefa
baseadas na web (crowdwork)
(cloudwork) e.g., AMT
Tarefas p/
multidão
Concursos criativos
(crowdwork)
e.g., 99designs
Plataformas
digitais
de trabalho
comerciais Alojamento
e.g., Airbnb
Microtarefas locais
e.g., AppJobber
do do trabalho, a descarbonização pode representar de 2012. A maioria dos cenários não duvida mais
mas também riscos sociais e de emprego. Riscos so- os motores de combustão fóssil como o conceito
ciais referem-se à previsão de que as famílias de baixa de acionamento mais difundido em médio e longo
renda, embora menos responsáveis pelas emissões prazo. No entanto, os veículos movidos a motores
baseadas no consumo, sejam desproporcionalmen- de combustão interna ainda existirão por muito
te afetadas pelos aumentos dos preços da energia tempo em algumas regiões do mundo (BOEWE;
decorrentes das políticas climáticas (MANDELLI, SCHULTEN, 2023). Nesse cenário, os sindicatos
2022). A descarbonização representa, ainda, riscos metalúrgicos são um setor industrial chave para
significativos para o emprego, com reestruturações perceber como essas organizações têm reagido a
industriais em setores intensivos em emissões (BEN- essa transformação. Por isso, na sequência, trata-se
DEL; HAIPETER, 2023). de algumas iniciativas sindicais.
O IG Metall tem desenvolvido algumas iniciati- Este estudo constituiu-se em uma primeira ten-
vas relacionadas ao tema de descarbonização. Aqui tativa de realizar um mapeamento de algumas ini-
destacam-se três exemplos. Primeiro, o sindicato tem ciativas sindicais relacionadas à chamada “dupla
realizado ações de mobilização do “poder social de transformação” (IA e descarbonização). O estudo
cooperação”, com o movimento Fridays for Future. comparou duas realidades distintas do ponto de vista
Nessa coalizão, há um entendimento mútuo sobre a do desenvolvimento capitalista: Alemanha e Brasil.
necessidade de evitar a iminente catástrofe climática Para tanto, utilizou-se da ARP como instrumental
(IG METALL, 2019c). Segundo, diante da perspecti- teórico-analítico.
va de que dezenas de milhares de empregos irão desa- Os resultados da investigação evidenciaram a
parecer na indústria metalúrgica nos próximos anos, existência de iniciativas sindicais em relação à “du-
o sindicato tem desenvolvido pesquisas sobre o tema pla transformação”, tanto na Alemanha quanto no
(IG METALL, 2020), um indicador da mobilização Brasil. Ainda que em um estágio embrionário, essas
de “recursos de infraestrutura” do “poder de organi- iniciativas podem ser tomadas como exemplos de
zação” do sindicato. Por fim, o sindicato também tem tentativas de os sindicatos mobilizarem recursos de
mobilizado “poder institucional” e de “discurso” para poder para enfrentar os desafios da “dupla transfor-
defender a tese da necessária “transformação ecológi- mação”. Particularmente, na Alemanha há indícios
ca” (IG METALL, 2023). A preocupação do IG Metall da mobilização de “poder institucional”, em função
deve ser compreendida, também, pelo aspecto de que das características de seu sistema de relações labo-
a importância da indústria automotiva para o em- rais. Além disso, também há indícios de mobilização
prego não é tão grande em nenhum país capitalista de “poder de organização e de “cooperação”. Já nos
quanto na Alemanha (BOEWE; SCHULTEN, 2023). escassos exemplos brasileiros encontrados, pode-se
No Brasil, parece haver ainda uma escassez de falar de indícios destes poderes, enquanto aquele pa-
estudos empíricos sobre iniciativas sindicais em re- rece praticamente inexistente.
lação à descarbonização. Entretanto, há uma intensa Com base nas quatro fontes de poder citadas, é
produção e veiculação de informações (“poder de possível, ainda, pensar alguns desafios que se colo-
discurso”) pelo SMABC (e.g., SMABC, 2023). Além cam para o movimento sindical brasileiro nesse ce-
disso, esse sindicato tem expressando a sua capacida- nário de transformações:
de de mobilização de “poder de cooperação” através 1. O debate sobre a “dupla transformação” pode
da participação na organização de fóruns voltados ser uma oportunidade para os sindicatos discutirem
para a questão ambiental (e.g., SMABC, 2019), den- aspectos relacionados ao “poder estrutural” ou eco-
tre outras atividades. nômico dos/as trabalhadores/as. Nesse sentido, a dis-
As condições de trabalho
e a luta sindical
do setor de mármore e granito
do sul do Espírito Santo
Luanna da Silva Figueira
Doutoranda em Sociologia e Direito pela
Universidade Federal Fluminense (UFF)
E-mail: luanna_figueira@hotmail.com
A atividade, embora importante, traz um comple- Para além disso, existem outros fatores de risco
xo de problemas sociais à região ao promover agra- “reais” que podem influenciar substancialmente
vos à própria saúde dos trabalhadores e acidentes as percepções de riscos nos locais de trabalho:
fatais em face dos riscos de trabalho proporcionados fatores individuais (condição física e psíquica
do trabalhador: fadiga, doença, stress, consumo
pelo meio ambiente laboral.
de álcool ou drogas etc.); riscos percepcionados
pelos sentidos humanos (riscos visíveis); riscos
não percepcionados pelos sentidos humanos
As condições de trabalho e (riscos invisíveis); ambiente ocupacional
(ruído, iluminação, qualidade do ar etc.); e
percepções de riscos no setor fatores organizacionais (mobbing, trabalho
de rochas do sul do ES monótono e cadenciado, trabalho noturno etc.).
Quando a percepção de riscos de determinados
Uma das técnicas mundiais empresariais empre- trabalhadores se apresenta enviesada,
decorrendo da sua falta de competências para
gadas corresponde à ideia de que, ao aumentar o
efetuar uma avaliação “correta e objetiva” dos
tempo de trabalho do empregado e sua produção, riscos, ou seja, aquilo que nós definimos como
consequentemente, os ganhos financeiros da empre- iliteracia para a avaliação de certos riscos, esta
sa serão ampliados também. Porém, nessa esteira, condição pode originar decisões inadequadas,
observa-se que quanto maior é a jornada emprega- a prática de comportamentos arriscados e ações
inapropriadas durante as jornadas de trabalho.
da, mais difíceis demonstram ser as condições de
A reduzida percepção de riscos no trabalho
trabalho apresentadas ao trabalhador. Nesse sentido, constitui-se como uma antecâmara para os
indicam situações hostis à saúde dele e números al- acidentes de trabalho (AREOSA, 2012, p. 58-59).
Resumo: A presente discussão tem por objetivo apresentar os desafios conjunturais do sin-
dicalismo docente das universidades estaduais paranaenses no contexto dos governos Beto
Richa (PSDB). Para tanto, o debate foi direcionado para as duas greves de servidores estadu-
ais ocorridas em 2015 – ano marcado pela grave tensão entre esses servidores e o governo
estadual, a exemplo da fatídica violência policial ocorrida no dia 29 de abril. Como instru-
mentos metodológicos foram elegidas pesquisas documental e de campo. Para essa incursão
empírica no campo, o principal instrumento de coleta de dados foi a pesquisa documental por
meio do acesso às publicações realizadas pelas seções sindicais na internet – sobretudo nos
sites oficiais e, de forma complementar, na rede social de maior engajamento desses sindi-
catos: o Facebook. Complementando essa incursão no campo, foi feito o uso da história oral
por meio de entrevistas qualitativas a docentes que vivenciaram o sindicalismo docente nas
Instituições Estaduais de Ensino Superior do Paraná (IEES/PR) naquele ano. Como resultado
foi possível realizar o desvelamento dos principais elementos que exigiram a mobilização
desses sindicatos no ano, a saber: o descumprimento da reposição salarial anual prevista
em lei e a reforma previdenciária dos servidores estaduais. A greve se mostrou como uma
importante ferramenta de resposta desses servidores, mas não foi a única.
Essa questão também foi lembrada em uma das Além da recomposição salarial, o Sindicato dos Traba-
entrevistas realizadas: lhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato)
exigiu o compromisso do governo estadual de não des-
E a gente não conseguia fazer essa unidade, isso
contar os dias de falta durante o período de greve. No
foi muito ruim. E a gente não conseguia levar a
nossa luta, era difícil de levar a nossa luta. Era
total, foram 46 dias de greve, com a participação dos
difícil levar a nossa luta porque as reuniões, professores da rede pública estadual de ensino básico.
muitas vezes, eram separadas. Então vamos
tratar da questão dos docentes? Vamos marcar
uma reunião para tratar da questão dos docentes
5 – Em havendo a volta, até o dia 23 de junho,
só com sindicatos mistos, depois vamos marcar
à normalidade das atividades acadêmicas e
uma reunião de docentes só com as ADs, mas o
administrativas, retirar, em até 120 dias, as ações
assunto era o mesmo. Foi realmente muito ruim
das greves ajuizadas contra os sindicatos mistos
essa disputa toda que houve naquele momento
e dos docentes que representam os servidores
e, dos dois lados, não havia entendimento... Não
públicos das IEES, assim como cobrança de
queriam ceder (EX-DIRIGENTE SINDICAL
qualquer multa pecuniária dela decorrente,
SINDIPROL/ADUEL).
com a qual anuirá a entidade sindical, sendo
que cada parte arcará com os custos de
Em reunião exclusiva, na manhã de 16 de junho seus advogados;
de 2015, os sindicatos dos docentes do ANDES-SN 6 – Fica garantido que, mediante a apresentação
foram convidados pela SETI e pelo líder do gover- de novo calendário acadêmico pelos Conselhos
Superiores das IEES, até 3 dias após a volta
no na ALEP para discutir os rumos da greve. Nesse
das atividades acadêmicas e administrativas,
encontro, o governo apresentou um termo de com- consolidando a reposição de aulas e dos dias
promisso, o qual indicaria sete pontos para pôr fim à letivos, não haverá descontos por faltas; e
greve nas IEES. 7 – Fica estabelecida uma Mesa de Negociação
Permanente entre os sindicatos que representam
Segue o documento na íntegra, o qual foi assinado
as categorias nas IEES, a SETI e a Liderança do
pela SETI (prof. João Carlos Gomes), pela liderança Governo na Assembleia Legislativa, para tratar
do governo na ALEP (deputado Luiz Cláudio Roma- de assuntos atinentes ao Sistema Estadual de
nelli) e pela Casa Civil (Alexandre Teixeira)19: Ensino Superior.
notas
de TIDE (dedicação exclusiva), férias e horas extras, ANDES-SN.
entre outros elementos da gestão de pessoal que
impliquem movimentação financeira. Sem o META4,
o papel dessa gestão compete às Pró-Reitorias de
Recursos Humanos de cada IEES.
notas
29,4 mil para R$ 33,7 mil. O reajuste aos membros da
ALEP, por sua vez, obedeceu a um percentual (75%)
do que percebem os deputados federais. Em 2015,
o reajuste aos deputados estaduais do Paraná foi de
26,3% (AUDI, 2015). No caso do Executivo, Richa,
O desfinanciamento
da ciência
e a autonomia universitária
Daniella Borges Ribeiro
Professora na Universidade Federal de Viçosa (UFV)
E-mail: dborgesribeiro@yahoo.com.br
O desfinanciamento da ciência
ponsáveis por um ensino mais massificado” (PAULA, limitações. No momento corrente, quando o capi-
2009, p. 73), sendo a pesquisa concentrada fora delas. tal busca acelerada reprodução, a universidade está
Nesse cenário, observa-se nas instituições de ensino sendo vista como um campo fundamental para a
superior francesas da época um divórcio entre o en- comercialização e a produção de conhecimentos de
sino e a pesquisa. aplicabilidade imediata e funcional ao capital. Nesse
Na Alemanha a situação foi inversa. O fechamento contexto, por um lado, aprofunda-se a comercializa-
de algumas universidades (como Colônia, Mayence e ção de pesquisas e, por outro, cada vez mais observa-
Trier), como consequência das guerras e da ocupa- -se a diminuição de recursos públicos para o desen-
ção francesa na margem esquerda do Reno, fez com volvimento da ciência.
que a Prússia perdesse toda a sua base intelectual, o
que tornou a criação de uma nova instituição univer-
sitária uma necessidade (TRINDADE, 1999). O desfinanciamento da ciência
Desse interesse foi criada, em 1810, a Universida- no Brasil
de de Berlim, tendo em seu fundador, Guilhermo de
Humboldt, os ideais necessários para se constituir Nesses últimos anos muitas foram as notícias
como uma instituição que concebia a indissociabili- informando sobre a redução dos investimentos pú-
dade entre o ensino e a pesquisa. Além disso, tinha blicos em ciência. Para fins de informação, algumas
destaque na universidade a importância de a Facul- dessas notícias serão reproduzidas a seguir.
dade de Filosofia, Ciências e Letras ser um órgão Segundo dados levantados por Dellagostin (2021),
articulador, por excelência, dos diversos campos do em 2014, 41,9% dos discentes matriculados no dou-
saber. Humboldt afirmava que o trabalho científico torado tinham bolsa CAPES. Esse percentual se man-
deveria ser “livre de quaisquer tipos de injunções e teve em 2015 e, a partir de 2016, caiu drasticamen-
pressões, tais como do Estado, da Igreja e de outras te, registrando, em 2020, o percentual de 36,2% dos
demandas externas ao campo acadêmico universitá- doutorandos com bolsa CAPES.
rio” (PAULA, 2003, p. 55). Segundo a concepção ale-
mã, a universidade “deveria ser autônoma, embora
Uma vez reconhecida a importância da ciência para
sua existência dependa economicamente do Estado”
o desenvolvimento do país, importa-nos demonstrar
(PAULA, 2003, p. 55).
como os investimentos do governo federal diminuíram
Nesse influxo, a Universidade de Berlim emergiu
nos últimos anos, contrariando, inclusive, os relatórios
como um “centro da luta pela hegemonia intelectu- institucionais que reconhecem a necessidade de um
al e moral na Alemanha” (TRINDADE, 1999, p. 17). robusto investimento em ciência, tecnologia e inovação.
Para Trindade (1999), esse movimento iniciado em
Berlim produziu “a recuperação progressiva das uni-
versidades alemãs entre 1810 e 1820, dentro de uma Em relação à distribuição das bolsas CAPES para
concepção [...] que se estrutura pela indivisibilidade o mestrado, Odir Dellagostin (2021, p. 8) afirma que
do saber e do ensino e pesquisa, contra a ideia das
escolas profissionais napoleônicas” (TRINDADE, de 2000 a 2007, o percentual oscilou entre
19,2% e 23,5%. De 2008 a 2014, o percentual de
1999, p. 18).
alunos com bolsa CAPES praticamente dobrou,
Foi essa concepção ideal inaugurada pela Universi- alcançando 42,1% dos alunos matriculados.
dade de Berlim que levou alguns estudiosos a critica- Em números absolutos, o ano de 2015 foi o ano
rem as emergentes universidades no Brasil, onde a pes- em que a CAPES concedeu o maior número de
quisa, até por volta de 1934, era rara (MINTO, 2008). bolsas de mestrado, alcançando 49.353. De lá
para cá, o número de bolsas sofreu uma redução,
Se naqueles tempos a crítica referia-se à raridade
enquanto o número de matrículas continuou
das pesquisas, atualmente podemos afirmar que a aumentando, reduzindo o percentual de alunos
produção de conhecimentos nas universidades bra- de mestrado com bolsa CAPES para 34%.
Depreende-se do exposto, e das várias notícias e artigos De acordo com um estudo realizado pela econo-
científicos disponíveis sobre o tema, que o corte de inves- mista Fernanda De Negri, a ciência e tecnologia re-
timentos em ciência e tecnologia foi anterior à eclosão
cebeu o maior investimento financeiro em 2013 (R$
da crise sanitária do contexto da pandemia da Covid-19.
27,3 bilhões), mas, desde 2015, as verbas federais
Ou seja, já estava em curso no Brasil um processo de
vêm reduzindo os investimentos significativamente
desfinanciamento de políticas públicas essenciais para a
(IPEA, 2021). Depreende-se do exposto, e das várias
melhoria de vida da população.
notícias e artigos científicos disponíveis sobre o tema,
que o corte de investimentos em ciência e tecnologia
foi anterior à eclosão da crise sanitária do contex-
É possível verificar não apenas a diminuição da
to da pandemia da Covid-19. Ou seja, já estava em
quantidade de bolsas, mas também a defasagem dos
curso no Brasil um processo de desfinanciamento de
seus valores até o mês de fevereiro de 2023, quando o
políticas públicas essenciais para a melhoria de vida
governo federal anunciou o reajuste. De acordo com
da população. Como o próprio Relatório de Gestão
Davidovich et al (2022, s/p),
do CNPq de 2021 afirma, “o cenário de gastos do go-
nas últimas três décadas, o valor das bolsas verno federal como um todo passou a sofrer fortes
nunca atingiu um nível tão baixo! Em 1995, restrições a partir de 2015, principalmente em fun-
por exemplo, uma bolsa de doutorado era de
ção da Emenda Constitucional nº 95/2016” (BRASIL,
R$ 1.073, o que correspondia a dez salários-
mínimos à época e possibilitava a aquisição de 2021, p. 39,40), o que demonstra que essa política de
12 cestas básicas. Sem reajuste até 2003, o poder “ajuste fiscal” já estava em curso antes da pandemia
aquisitivo e a relação com o salário-mínimo da Covid-19.
caíram pela metade. De 2003 a 2013 houve Tal situação foi agravada na pandemia, momento
quatro reajustes, elevando o valor nominal a R$
em que o governo optou por fortalecer a política de
2.200, o que equivalia a quatro salários-mínimos
e seis cestas básicas. Não há nenhum reajuste austeridade fiscal. Prova disso foi que o Estado bra-
desde março de 2013! [...] As consequências sileiro continuou cortando recursos, sendo que “as
da defasagem no valor das bolsas afetam não perdas com cortes orçamentários em fomento à pes-
somente os bolsistas, mas a ciência brasileira,
quisa científica e tecnológica nos últimos sete anos
tornando insustentável seu desenvolvimento. A
pós-graduação vem perdendo sua capacidade de chegam a R$ 83 bilhões, até 2021” (Agência Câmara
atrair bons alunos. Os estudantes têm preferido de Notícias, 2022, p. 1).
O desfinanciamento da ciência
evolução institucional das universidades (e
desfinanciamento da ciência estabelecimentos conexos) na época moderna é
para a autonomia universitária o controle cada vez mais estrito exercido sobre
elas pelos poderes políticos. As universidades
Consideramos que este debate articula também mais antigas e mais importantes, como Paris,
com o debate sobre o princípio da autonomia uni- conservaram um mínimo de autonomia, pelo
menos no que se refere à gestão cotidiana.
versitária, em especial, da autonomia científica. Se
Porém, todos os soberanos, mesmo nos
a produção de conhecimentos é, muitas vezes, dire- pequenos principados alemães, impuseram à
cionada pelos anseios capitalistas, faz sentido a nossa atividade universitária quadros regulamentares
preocupação sobre o grau de autonomia presente na estritos. [...] A interferência do Estado nas
universidades foi facilitada pelo fato de este
universidade para o exercício de decisões autônomas
tomar cada vez mais para si os salários dos
sobre o que, por que, para que e para quem pesquisar. regentes e a construção dos prédios, algumas
A disputa pela autonomia e os diferentes significa- vezes suntuosos. Mas, fora os grandes colégios
dos dados a essa palavra aparecem como uma questão ingleses ou algumas universidades bem-dotadas
de terras ou de rendas, como a de Salamanca,
fundamental desde o surgimento das universidades.
eram de fato raras as instituições que dispunham
Charle e Verger (1996) apontam dois traços comuns de recursos próprios suficientes (CHARLE;
ao conjunto das primeiras instituições universitárias. VERGER, 1996, p. 45).
O primeiro é a dependência em relação ao movimento
associativo, que era forte no início do século XIII. De Assim, na Idade Média, as universidades tentaram
acordo com os autores, “em toda parte, mestres e/ou conquistar a sua autonomia perante a Igreja, uma vez
estudantes reuniram-se para constituir uma ‘universi- que a instituição universitária estruturava-se sob o
dade’ juramentada”. Eles também se organizaram para seu controle. Já a partir do século XV, com a emer-
“regulamentar o exercício autônomo da atividade, que gência dos estados nacionais, a submissão da univer-
era a própria razão de ser de sua associação, a saber, o sidade ao Estado levou à reivindicação por autono-
estudo e o ensino” (CHARLE; VERGER, 1996, p. 19). mia frente ao poder estatal (PAULA, 2012).
Como segundo traço, os estudiosos citam que as No caso brasileiro, as discussões que envolvem o
“universidades saíram deliberadamente do estreito conceito de autonomia universitária antecedem até
quadro diocesano que era o das escolas anteriores” mesmo a criação das primeiras universidades (RA-
(CHARLE; VERGER, 1996, p. 19). Embora reconhe- NIERI, 2013), sendo esse preceito incorporado pela
cidas como instituições eclesiásticas, elas passaram Constituição Federal de 1988. Ocorre que a concep-
cada vez mais para o controle das cidades e dos es- ção de autonomia tem sido fonte de disputas cons-
tados que necessitavam formar quadros de funcioná- tantes, fomentando divergências em seu entendi-
rios e construir uma ideologia conveniente ao nasci- mento, o que impacta diretamente nas possibilidades
mento e fortalecimento do Estado Moderno. Dessa de sua materialização.
união de interesses, a universidade passou a ser cada Ao discutir o preceito de autonomia, Ranieri (2013)
vez mais controlada pelo poder político, sendo exem- esclarece que esta palavra tem origem grega, compos-
plo desse controle a intervenção na nomeação de ta pelos radicais auto (que significa próprio, peculiar)
professores e seleção de estudantes (CHARLE; VER- e nomia (que significa lei, regra), o que designa a ideia
GER, 1996). Nesse sentido, os autores apontam que de direção própria. De acordo com a autora:
O desfinanciamento da ciência
cenário contemporâneo, reivindica-se a autonomia to. Sobre a autonomia administrativa, o autor argu-
não só em relação ao Estado e à Igreja, mas também menta que esta “já nasceu condenada”, pois a decisão
em relação ao mercado. última na escolha do reitor, por exemplo, cabe ao go-
Minto (2008), ao estudar a política de educação vernador, que referenda a escolha mediante lista trí-
para o ensino superior das universidades estaduais plice. Por último, menciona que a autonomia de ges-
paulistas (USP, UNESP e UNICAMP), ressalta que as tão financeira e patrimonial não significa autonomia
“reformas” ocorridas a partir dos anos de 1990 im- financeira. Ao contrário, cabe ao Estado o repasse de
pediram uma maior concretização do princípio da recursos financeiros e a sua gestão à universidade. O
autonomia universitária nessas instituições de ensi- autor lembra que “possuir autonomia para gerir é di-
no. Para reafirmar sua posição, o autor alega que, no ferente de ter acesso a todos os recursos necessários a
âmbito da autonomia didático-científica, é possível uma efetiva autonomia” (MINTO, 2008, p. 86).
apontar o modo de financiamento e a avaliação das A partir dessa análise, observamos como o con-
pesquisas como formas de ferir o preceito da autono- ceito de autonomia também foi apropriado pelas cor-
mia, uma vez que os recursos fornecidos pelas agên- rentes conservadoras, que disseminam a ideia de que
cias de fomento à pesquisa são alocados em menor esse preceito constitucional significa a autonomia
medida nas ciências humanas. Além disso, destacou que a universidade possui para captar recursos finan-
que a avaliação dos cursos é feita por critérios de ceiros no mercado. Ou seja, trata-se de uma concep-
produtividade com ênfase em dados quantitativos, o ção que respalda as contrarreformas desenvolvidas
no sentido da desresponsabilização do Estado no
provimento do direito à educação (CHAUÍ, 2001).
Depreende-se que a diminuição de recursos para
o desenvolvimento da ciência limita a autonomia das
universidades, que passam a captar recursos no setor
privado. Nesse aspecto, merece destaque também a
mercadorização do ensino e dos resultados da pes-
quisa. Assim, os resultados científicos que poderiam
beneficiar a todos passam a privilegiar uma pequena
parcela da população.
Considerações finais
PRESIDENTA 1ª VICE-PRESIDENTA
Diretoria do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior -
Rivânia Lucia Moura de Assis (UERN) Sambara Paula Francelino Ribeiro (UECE)
1º VICE-PRESIDENTE 2º VICE-PRESIDENTE
Milton Pinheiro (UNEB) Cláudio Anselmo de Souza Mendonça (UFMA)
2ª VICE-PRESIDENTA 1º SECRETÁRIO
Zuleide Fernandes de Queiroz (URCA) Gisvaldo Oliveira da Silva (UESPI)
SECRETÁRIA GERAL 1º TESOUREIRO
Maria Regina de Avila Moreira (UFSC) Luiz Eduardo Neves dos Santos (UFMA)
2ª SECRETÁRIA 2º TESOUREIRO
Francieli Rebelatto (UNILA) Carlos Diego Rodrigues (UFC)
3º SECRETÁRIO
Luiz Henrique dos Santos Blume (UESC) REGIONAL NORDESTE II
1º TESOUREIRO
Amauri Fragoso de Medeiros (UFCG) 1ª VICE-PRESIDENTA
Cristine Hirsch (UFPB)
3ª TESOUREIRA
Jennifer Susan Webb Santos (UFPA) 2º VICE-PRESIDENTE
Alexsandro Donato Carvalho (UERN)
1ª VICE-PRESIDENTA 1º VICE-PRESIDENTE
Joselene Ferreira Mota (UFPA) Marcos Antonio Tavares Soares (UESB)
2º VICE-PRESIDENTE 1ª SECRETÁRIA
Rigler da Costa Aragão (UNIFESSPA) Zózina Maria Rocha de Almeida (UNEB)
1ª SECRETÁRIA 2ª SECRETÁRIA
Zaira Vakeska Dantas da Fonseca (UEPA) Reinalda Souza Oliveira (UEFS)
2ª SECRETÁRIA 2º TESOUREIRO
Sueli Pinheiro da Silva (UEPA) Carlos Vitório de Oliveira (UESC)
ANDES-SN - Gestão 2020-2022
1ª TESOUREIRA
Andréa Cristina Cunha Matos (UFPA)
2ª TESOUREIRA
Dulcideia da Conceição (UFRA)
1ª VICE-PRESIDENTA 1º VICE-PRESIDENTE
Neila Nunes de Souza (UFT) Osvaldo Luis Angel Coggiola (USP)
2º VICE-PRESIDENTE 2ª VICE-PRESIDENTA
Luis Augusto Vieira (UFG) Ana Paula Santigo do Nascimento (UNIFESP)
1º SECRETÁRIO 1ª SECRETÁRIA
Fernando César Paulino Pereira (UFG-Catalão) Michele Schultz Ramos (USP)
2º SECRETÁRIO 2º SECRETÁRIO
Paulo Henrique Costa Mattos (UNIRG) Eduardo Pinto e Silva (UFSCAR)
2ª TESOUREIRA 1º TESOUREIRO
Helga Maria Martins de Paula (UFG-Jataí/UFJ) César Augusto Minto (USP)
2ª TESOUREIRA
REGIONAL PANTANAL Débora Burini (UFSCAR)
1ª VICE-PRESIDENTA
Raquel de Brito Sousa (UFMT) REGIONAL SUL
2ª VICE-PRESIDENTA 1º VICE-PRESIDENTE
Adma Cristhina Salles de Oliveira (UEMS) Edmilson Aparecido da Silva (UEM)
2º SECRETÁRIO 1º SECRETÁRIO
Cláudio Freire de Souza (UFGD) Fernando Correa Prado (UNILA)
1º TESOUREIRO 1º TESOUREIRO
Breno Ricardo Guimarães Santos (UFMT) Altemir José Borges (UTFPR)
2º TESOUREIRO 2º TESOUREIRO
Luís Antônio Shigueharu Ohira (UNEMAT) Gilberto Grassi Calil (UNIOESTE)
REGIONAL LESTE
REGIONAL RIO GRANDE DO SUL
1º VICE-PRESIDENTE
1º VICE-PRESIDENTE
Mario Mariano Ruiz Cardoso (UFVJM)
Carlos Alberto da Fonseca Pires (SEDUFSM)
1º SECRETÁRIO
2ª VICE-PRESIDENTA
Gustavo Seferian Scheffer Machado (UFMG)
Manuela Finokiet (IFRS)
1º TESOUREIRO
1º SECRETÁRIO
Ricardo Roberto Behr (UFES)
Cesar André Luiz Beras (UNIPAMPA)
2ª TESOUREIRA
2ª SECRETÁRIA
Clarissa Rodrigues (UFOP)
Sueli Maria Goulart Silva (UFRGS)
2ª TESOUREIRA
REGIONAL RIO DE JANEIRO Flávia Carvalho Chagas (UFPEL)
1ª VICE-PRESIDENTA
Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa (UFF)
2ª VICE-PRESIDENTA
Rosineide Cristina de Freitas (UERJ)
2º SECRETÁRIO
Markos Klemz Guerrero (UFRJ)
1ª TESOUREIRA
Sonia Lucio Rodrigues de Lima (UFF)
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UNIVERSIDADE e SOCIEDADE #72
Revista publicada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN
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