Direito Constitucional II

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Resumo de Direito Constitucional II

Matheus Antonio da Cunha

Remédios ou Garantias Constitucionais

I) Habeas corpus

Art. 5º, Constituição Federal:

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,


podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
ou dele sair com seus bens;

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém


sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

1. Origem histórica

 Inglaterra: a origem desse instrumento remota à Magna Carta,


de 1215, mas só foi positivado no entendimento atual em
1679, no “Habeas corpus Amendment Act”;

 Brasil: Subentendido no texto da Constituição do Império


(1824), mas expresso no Código de Processo Penal de 1832.

2. Conceito e finalidade

 Garantia individual do direito de locomoção, podendo ser usado


sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer ou
se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção.
 A finalidade do habeas corpus é proteger qualquer ameaça a
liberdade de locomoção (direito de ir, vir, permanecer, parar e
ficar).

3. Pressupostos processuais

3.1. Violação ou coação à liberdade de locomoção

3.2. Ilegalidade ou abuso de poder

4. Natureza Jurídica

 O habeas corpus é uma ação constitucional de caráter penal e


de procedimento especial, que visa proteger a liberdade de
locomoção.

5. Legitimidade ativa

 A legitimidade ativa é um atributo de personalidade, não sendo


exigida a capacidade de estar em juízo.

Fontes:
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, 2006
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 18ª ed., São
Paulo: Malheiros, 2000.
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 “Assim, qualquer do povo, nacional ou estrangeiro,


independentemente de capacidade civil, política, profissional,
de idade, sexo profissão, estado mental, pode fazer uso de
habeas corpus, em benefício próprio ou alheio” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes,
2006, p. 113).
 A pessoa jurídica pode impetrar habeas corpus em favor de
terceiro.
 O magistrado, na qualidade de Juiz, pode conceder o habeas
corpus ex oficio, mas jamais poderá impetrá-lo.

6. Legitimidade passiva

 O habeas corpus deve ser impetrado o autor do ato coator,


autoridade pública ou autoridade particular em exercício de
função do poder público, nas hipóteses de ilegalidade ou abuso
de poder.

7. Hipóteses e espécies

7.1. Habeas corpus liberatório

 “Quando alguém estiver sofrendo violência ou coação em


sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de
poder” (Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas,
Alexandre de Moraes, 2006, p. 116).

7.2. Habeas corpus preventivo

 “Quando alguém se achar ameaçado de sofrer violência ou


coação em sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou
abuso de poder” (idem).

8. Probabilidade de supressão do habeas corpus

 Por tratar-se de cláusula pétrea, o habeas corpus não poderá


ser suprimido do ordenamento jurídico, em nenhuma hipótese.

8.1. Estado de Sítio ou Estado de Defesa (arts. 136 e 139)

 Em Estado de Sítio ou de Defesa, seu âmbito de atuação


poderá ser diminuído, mas não suprimido.

9. Restrição Constitucional do habeas corpus  Militares (art. 142, § 2º)

Art. 142. Constituição Federal:

§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições


disciplinares militares.
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 Não cabe habeas corpus à militares, pois estes primam pela


hierarquia e pela disciplina, sendo regidos por Lei Especial.
 Constitui exceção no caso de pena mais longo do que a pré-
determinada (abuso de penalização).
II)Mandado de Segurança

Art. 5º, Constituição Federal:

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger


direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-
data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso
Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

1. Origem Histórica

1.1. Sua origem encontra-se no doutrina do habeas corpus

1.2. Constituição de 1946

 Após a constituição outorgada de 1934, a Constituição


Federal de 1946 passou a prever o mandado de
segurança.

2. Legislação

2.1 Art. 5º, LXIX e LXX, Constituição Federal (supra-citado)

 Mandado de segurança individual e mandado de


segurança coletivo.

2.2. Lei 1.533, de 31 de Dezembro de 1951

 Altera disposições do Código do Processo Civil, relativas


ao mandado de segurança

2.3. Alterações: Leis 2.770/56 e 8.437/60

A) Mandado de Segurança Individual

1. Conceito
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 Proteção de direito líquido e certo, não amparado pelo habeas


corpus e habeas data quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente privado no
exercício de atribuições do Poder Público.

2. Finalidade

 Fornecer ao Poder Judiciário o poder para reparar dano


causado por autoridade público quando a pessoa é impedida de
exercer um direito líquido e certo.

 Objetiva corrigir ato ou omissão ilegal ou decorrente de abuso


de poder.

3. Natureza jurídica

 “(mandado de segurança) é uma ação constitucional, de


natureza civil, cujo objeto é a proteção de direito líquido e
certo, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público” (Direito Constitucional. 19ª ed.,
São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes, 2006, p. 137).

4. Espécies:

4.1. Mandado de Segurança Repressivo

 Quando o indivíduo já tiver sofrido uma violação de seu


direito

4.2. Mandado de Segurança Preventivo

 Quando houver justo receio de sofrer uma violação de


direito líquido e certo por parte do impetrante.

5. Previsão constitucional

5.1. Significa ordem

 Caso o mandado de segurança não seja cumprido, caberá


prisão ao não cumpridor da ordem judicial.

5.2. Direito líquido e certo

 É um direito incontestável, previsto em lei, que para


tornar-se incontroverso, necessite somente de adequada
interpretação do direito, isto é, de harmonia entre o fato e
o texto legal.
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 “Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na


sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser
exercido no momento da impetração. Por outras palavras,
o direito invocado, para ser amparável no mandado de
segurança, há de ser expresso em norma legal e trazer
em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao
impetrante; se a sua existência foi duvidosa; se a sua
extensão ainda não estiver delimitada; se o seu exercício
depender de situações e fatos ainda indeterminados, não
rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido
por outros meios judiciais.” (Mandado de Segurança Ação
Popular. MEIRELLES, Hely Lopes. in Curso de Direito
Constitucional Positivo. 18ª ed., São Paulo: Malheiros,
José Afonso da Silva, 2000)

 O próprio autor acha o conceito insatisfatório, observando


que “direito, quando existente, é sempre líquido e certo;
os fatos é que podem ser imprecisos e incertos, exigindo
comprovação e esclarecimento para propiciar a aplicação
do direito invocado pelo postulante.” (idem)

5.3. Ilegalidade e abuso de poder

 Ilegalidade consiste em ato contrário ao texto legal;


abuso de poder é a extravagância da lei.

5.4. Autoridade pública

 O mandado de segurança deve ser impetrado contra


autoridade pública, e não contra órgão ou instituições.

5.5. Agente privado em exercício de atribuições de Poder Público

 A atribuição à agente privado pelo poder público dá-se por


permissão, concessão ou autorização.

6. Legitimidade ativa

 O sujeito ativo é o titular do direito líquido e certo, não


amparado pelo habeas corpus ou habeas data.

 Pode ser pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira,


domiciliada ou não em nosso país.

 Ao contrário do habeas corpus, é necessário mandatário para


impetrar o mandado de segurança (advogado).

7. Legitimidade passiva
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 A autoridade pública ou autoridade privada no exercício de


atribuição do Poder Público responsável pela ilegalidade ou
pelo abuso de poder.

8. Prazo para a impetração do mandado de segurança

 Prazo decadencial (prescrição do direito) de 120 dias a contar


da dato em que ocorreu o ato ou do conhecimento do fato

9. Procedimento

 Necessidade de petição (art. 282, Código de Processo Civil).

 É necessário juntar os documentos que provem o direito


violado (materialização do fato)

B) Mandado de Segurança Coletivo

1. Conceito

O conceito de mandado de segurança coletivo assenta-se em dois


elementos:

 Institucional, caracterizado pela atribuição da legitimidade


processual às instituições associativas para defesa dos direitos
de seus membros.

 Objetivo, utilizado para defesa de interesses coletivos.

2. Finalidade

 Dar a possibilidade de pessoas jurídicas defenderem o


interesse de seus membros ou associados, ou da sociedade
como um todo, no caso de partidos políticos, evitando-se a
multiplicidade de demandas idênticas.

3. Objeto

 Defesa de direitos e garantias fundamentais, difusos ou


coletivos.

4. Direitos difusos e coletivos

 Direitos difusos = titulares do direito não são identificáveis;

 Direitos coletivos = titulares do direito é um grupo de


indivíduos identificáveis.

5. Legitimidade ativa
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 “Partido político com representação no Congresso Nacional,


exigindo-se somente a existência de, no mínimo, um
parlamentar em qualquer uma das Casas Legislativas, filiado a
determinado partido político” (Direito Constitucional. 19ª ed.,
São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes, 2006, p. 148).

“quando o pedido for de partido político, basta a


simples ilegalidade e a lesão de interesse daquele
tipo, não sendo caso de estabelecer qualquer vínculo
entre o interesse e os membros ou filiados.”
(Celso Agrícola Barli)

 “Organização sindical, entidade de classe ou associação, desde


que preencham três requisitos: estejam legalmente
constituídos, em funcionamento há pelo menos um ano e
pleiteiem a defesa dos interesses de seus membros ou
associados.” (idem).

6. Legitimidade passiva

 Autoridade pública ou autoridade particular em exercício de


função do poder público, nas hipóteses de ilegalidade ou abuso
de poder.

III)Mandado de Injunção

1. Previsão constitucional

Art. 5º, Constituição Federal:

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta


de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;

2. Conceito e finalidade

 “O mandado de injunção consiste em uma ação constitucional


de caráter civil e de procedimento especial, que visa suprir
uma omissão do Poder Público, no intuito de viabilizar o
exercício de um direito, uma liberdade ou uma prerrogativa
prevista na Constituição Federal.” (Direito Constitucional. 19ª
ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes, 2006, p. 153).

 “Conferir imediata aplicabilidade à norma constitucional


portadora daqueles direitos e prerrogativas, inerte em virtude
de ausência de regulamentação.” (Curso de Direito
Constitucional Positiva. 18ª ed., São Paulo: Malheiros, José
Afonso da Silva, 2000).
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3. Natureza jurídica

 Ação constitucional mandamental de natureza civil

4. Objeto

 Omissão de regulamentação de norma constitucional

 Omissão do Poder Público somente “em relação às normas


constitucionais de eficácia limitada de princípio institutivo de
caráter impositivo e de normas programáticas vinculadas ao
principio da legalidade, por dependerem de atuação normativa
ulterior para garantir sua aplicabilidade.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes,
2006, p. 154).

 José Afonso da Silva afirma:

a) de qualquer direito constitucional não regulamentado;


b)
c) de liberdade constitucional, não regulamentada, pois
estas são comumente normas constitucionais de
aplicabilidade imediata;

d) das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania


e à cidadania, também não regulamentadas.

5. Requisitos

5.1. Falta de norma regulamentadora de uma previsão


constitucional

 Omissão do poder público

5.2. Inviabilização do exercício de direitos constitucionais

 Necessidade de existência de nexo de causalidade entre a


omissão normativa do Poder Público e a inviabilidade do
exercício do direito, liberdade ou prerrogativa.

6. Legitimidade ativa

 “Qualquer pessoa cujo exercício de um direito, inviabilizado em


virtude da falta de norma reguladora da Constituição Federal”
(Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 155/156).

7. Legitimidade passiva

 Os poderes públicos que têm capacidade normativa.


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8. Procedimento

 Como não há legislação específica acerca do mandado de


injunção, serão observadas, no que couberem, as normas do
mandado de segurança.

9. Aplicabilidade do Mandado de Injunção

Devido à falta de normativa regulamentadora para o instrumento,


sua aplicabilidade ainda é falha no ordenamento brasileiro.

O doutrinador Alexandre de Moraes, em sua obra Direito


Constitucional, apresenta os diferentes posicionamento dos ministros do
Supremo Tribunal Federal a respeito da execução prática do mandado de
injunção. Na opinião de Moraes, a melhor solução para tornar esse
instrumento uma realidade no ordenamento jurídico Brasil é a adoção do
modelo Concretista Individual Intermediário, apresentado a seguir.

GERAL
DIRETA
CONCRETISTA
INDIVIDUAL
POSIÇÕES
INTERMEDIÁRIA
NÃO CONCRETISTA

1)Concretista: o Poder Judiciário declara a existência da omissão


administrativa ou legislativa e implementa o exercício do direito, da
liberdade ou da prerrogativa constitucional até que sobrevenha
regulamentação do poder competente.

A) Concretista Geral: a decisão do Poder Judiciário terá efeito erga


omnes, implementando o exercício da norma constitucional através
de uma normatividade geral, até que a omissão seja suprida pelo
poder competente. Essa posição é incompatível com o sistema de
separação de poderes, pois o Judiciário ocuparia a função do
Legislativo (usurpação de poderes).

B) Concretista Individual: a decisão do Judiciário só produzirá efeitos


para o autor do mandado de injunção.
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a) Concretista Individual Direta: imediatamente ao julgar


procedente o mandado de injunção, o Judiciário implementa a
eficácia da norma constitucional ao autor.

b) Concretista Individual Intermediária: após julgar


procedente o mandado de injunção, o Supremo Tribunal
Federal (STF) fixa ao Congresso Nacional um prazo de 120 dias
para a elaboração da norma regulamentadora. Se a inércia
permanecer, cabe ao Poder Judiciário ficar as condições
necessárias ao exercício do direito por parte do autor.

2)Não Concretista: o Poder Judiciário deve apenas dar ciência ao Poder


Público competente, para que este edite a norma faltante.

Já José Afonso da Silva tem uma posição mais radical, defendendo


a sua aplicabilidade imediata:

“Compete ao Juiz definir as condições para a satisfação direta do


direito reclamado e determiná-la imperativamente. Não foi esta
lamentavelmente a decisão do Supremo Tribunal Federal, que vem dando ao
instituto a função de uma ação pessoal de declaração de
inconstitucionalidade por omissão, com o que praticamente o torna sem
sentido ou, pelo menos, muitíssimo esvaziado.”

“(...) cumpre esclarecer que o disposto no art. 5, LXXI, não


depende de regulamentação para ser aplicado. O texto possui todos os
elementos suficientes à sua imediata aplicação, reforçada essa
aplicabilidade direta com o disposto no § 1º do mesmo artigo, o que
‘significa que os juízes não poderão deixar de atender a toda e qualquer
demanda que lhes for dirigida’, e não poderão deixar de decidir também,
dado o monopólio jurisdicional”. (Curso de Direito Constitucional Positiva.
18ª ed., São Paulo: Malheiros, José Afonso da Silva, 2000).

IV)Habeas data

Art. 5º, Constituição Federal:

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à


pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo


por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
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1. Legislação

1.1. Art. 5º, LXXII

1.2. Lei 9.507/07

 dá efetividade à norma constitucional

2. Conceito

 Direito de “solicitar judicialmente a exibição dos registros


públicos ou privados, nos quais estejam incluídos seus dados
pessoais, para que deles se tome conhecimento e, se
necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou
obsoletos ou que impliquem discriminação.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes,
2006, p. 125).

 O objeto do habeas data consiste em assegurar:

a) o direito de acesso e conhecimento de informações


relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou banco de dados de entidades
governamentais e de entidades de caráter público;

b) o direito à retificação desses dados, importando isso em


atualização, correção e até a supressão, quando
incorretos.

3. Finalidade

 Objetiva-se que todos tenham acesso às informações que o


Poder Público ou entidades de caráter público possuam a seu
respeito, com o intuito de proteger os dados que integram a
esfera íntima do indivíduo.

 Proteger a esfera íntima do indivíduo contra:

a) uso abusivo de registros de dados pessoais coletados


por meios fraudulentos, desleais ou ilícitos;

b) introdução nesses registros de dados sensíveis;

c) conservação de dados falsos ou com fins diversos do


autorizados em lei.

4. Natureza Jurídica

 Ação constitucional, de caráter civil, conteúdo e rito sumário,


que tem por objeto a proteção o direito impetrante em
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conhecer todas as informações e registros relativos à sua


pessoa, para eventual retificação dos dados pessoais.

5. Cabimento

 O habeas data é aplicado quando se trata de um direito líquido


e certo, de caráter íntimo. Em outros casos, o remédio
utilizado é mandado de segurança.

 “Apesar da jurisprudência pacífica do STF e do STJ,


entendemos contrária à Constituição Federal a exigência do
prévio esgotamento da via administrativa para ter-se acesso ao
Poder Judiciário, via habeas data. Em momento algum, o
legislador restringiu a utilização dessa ação constitucional, não
podendo o intérprete restringi-la.” (Curso de Direito
Constitucional Positiva. 18ª ed., São Paulo: Malheiros, José
Afonso da Silva, 2000).

6. Características

 É personalíssimo: só a pessoa que teve seu direito lesado pode


impetrar o habeas data

 Isenção de custos e de despesas processuais

7. Legitimidade ativa

 Qualquer pessoa, física ou jurídica, brasileira ou estrangeira,


que tenha suas informações armazenadas em um banco de
dados.

8. Legitimidade passiva

 Entidades governamentais, da administração pública direta e


indireta, bem como pessoas de direito privado que exercem
função do Poder Público.

9. Procedimento

9.1 Lei 9.507/97 – regula o direito de acesso à informação e


disciplina o rito processual do habeas data

 Terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto em


relação ao habeas corpus e ao mandado de segurança.

 Necessidade de se esgotar primeiramente os


procedimentos administrativos.

V) Ação Popular
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Art. 5º, Constituição Federal:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação


popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;

1. Precisão legal

1.1. Art. 5º, LXXIII

1.2. Lei 4.719/65

2. Conceito

 “visa anular o ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade


de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes,
2006, p. 166).

 “é o meio constitucional posto à disposição de qualquer


cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos
administrativos – ou a estes equiparados – ilegais e lesivos do
patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas
autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas
subvencionadas com dinheiros públicos” (Hely Lopes Meirelles,
Mandado de segurança e ação popular, p. 87)

 “instituto processual civil, outorgado a qualquer cidadão como


garantia político-constitucional (ou remédio constitucional),
para a defesa do interesse da coletividade, mediante a
provocação do controle jurisdicional corretivo de atos lesivos
do patrimônio público, da moralidade administrativa, do meio
ambiente e do patrimônio histórico e cultural.” (Curso de
Direito Constitucional Positiva. 18ª ed., São Paulo: Malheiros,
José Afonso da Silva, 2000, p. 466).

3. Finalidade

 Constitui uma forma de exercício da soberania popular, pela


qual permite-se ao povo, diretamente, exercer a função
fiscalizatória do Poder Público, com base no princípio da
legalidade dos atos administrativos e no conceito de que a res
pública é patrimônio do povo.

 Ação popular preventiva: ajuizamento da ação antes da


consumação dos efeitos lesivos
Resumo de Direito Constitucional II 14

 Ação popular repressiva: ajuizamento da ação buscando o


ressarcimento do dano causado

4. Pressupostos

4.1. Cidadão: ser eleitor

 Titularidade da ação: apenas pode propor a Ação Pública


cidadão brasileiro, isto é, maior de 16 anos, possuidor de
título de eleitor.
4.2. Ilegalidade

 Ato ilegal: fere o princípio da legalidade

4.3. Lesividade

 Ato lesivo: intangibilidade do patrimônio público e


moralidade administrativa

5. Objeto

 “Combate ao ato ilegal ou imoral e lesivo ao patrimônio


público, sem contudo configurar-se a ultima ratio, ou seja, não
se exige o esgotamento de todos os meios administrativos e
jurídicos de prevenção ou repressão aos atos ilegais ou imorais
e lesivos ao patrimônio público para seu ajuizamento.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes,
2006, p. 167).

 “se manifesta como uma garantia coletiva na medida em que o


autor popular invoca a atividade jurisdicional, por meio dela,
na defesa da coisa pública, visando a tutela de interesses
coletivos, não de interesse pessoal.” (Curso de Direito
Constitucional Positiva. 18ª ed., São Paulo: Malheiros, José
Afonso da Silva, 2000, p. 465).

6. Legitimidade Ativa

 Cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, maior de 16 anos,


ainda que português equiparado, no gozo de seus direitos
políticos.

 A legitimidade será comprovada com a juntada na ação do


título de eleitor

 Não podem constituir o pólo ativo da ação os estrangeiros, as


pessoas jurídicas e aqueles que tiverem suspensos ou
declarados perdidos seus direitos políticos.

 A legitimidade do cidadão é ampla, podendo este ajuizar a


ação popular mesmo fora do seu domicílio eleitoral.
Resumo de Direito Constitucional II 15

7. Legitimidade passiva

 O Poder Público e as entidades privadas no exercício de função


do Poder Público, que obtenha benefício ou concorra no ato
ilegal e lesivo.

8. Prazo prescricional = 5 anos

 Perda do direito de ação

9. Ministério Público

 Não possui legitimidade para o ingresso de ação popular

 Atua como fiscal da ação ou pode agir como substituto


processual do autor

10. Procedimento = Lei 4.417/65

11. Natureza da decisão

11.1. desconstitutiva-condenatória

 A natureza da decisão na ação popular é


desconstitutiva-condenatória. Desconstitutiva porque
visa a anulação do ato impugnado; condenatória porque,
na mesma ação, condena-se os responsáveis e os
beneficiários em perdas e danos.

12. Sentença e coisa julgada

12.1. Sentença de Procedência

 invalidade do ato impugnado


 condenação dos responsáveis e beneficiários em perdas
e danos
 condenação dos réus às custas e despesas com a ação,
bem como honorários advocatícios
 produção de efeitos de coisa julgada erga omnes

12.2. Improcedência

 A sentença poderá ter efeito erga omnes (para todos) ou


inter partes (válido apenas entre as partes)

 No caso de deficiência probatória, o ato impugnado


mantem-se válido, mas a decisão do mérito não terá
eficácia de coisa julgada erga omnes, podendo ser
Resumo de Direito Constitucional II 16

ajuizada nova ação popular com o mesmo objeto e


fundamento.

13. Gratuidade

 Em ambas as hipóteses de improcedência, o autor estará


isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência, salvo se
comprovada má-fé.
Resumo de Direito Constitucional II 17

Direitos Sociais

1. Evolução histórica e universalização dos Direitos Sociais

1.1. Revolução Francesa

 Como resultado da Revolução Francesa, em 1789,


conseguiu-se uma igualdade formal entre as classes,
entretanto não houve uma igualdade real. Após a
Revolução começam os movimentos sindicais na França.

1.2. Surgimento do Estado Social

 A ordem social adquiriu dimensão jurídica inicialmente


em duas constituições: na constituição mexicana, em
1917, e na constituição da República de Weimar, na
Alemanha, em 1919.

 Surgiu num contexto de proteção aos direitos dos


operários

1.3. Declaração Universal de 1948

 Nesse momento os Direitos Sociais deixam de ser


exclusivos de algumas constituições e se tornam
universalizados através desta convenção mundial.

1.4. Pacto Sobre Direitos Civis e Políticos e Pacto Sobre os Direitos


Econômicos, Sociais e Culturais, ambos e 1966

 Esses pactos regulamentam a Declaração Universal de


1948

 grande discussão internacional sobre a aplicação dos


Pactos, devido a forte divergência entre capitalistas e
comunistas.

2. Conceito

 “(...) podemos dizer que os direitos sociais, como dimensão


dos direitos fundamentais do homem, são prestações positivas
proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente,
enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que
tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais.”
(Curso de Direito Constitucional Positiva. 18ª ed., São Paulo:
Malheiros, José Afonso da Silva, 2000, p. 289).
Resumo de Direito Constitucional II 18

 “Direitos sociais são direitos fundamentais do homem,


caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de
observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo
por finalidade a melhoria de condições de vida aos
hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social.”
(Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 177)

3. Os Direitos Sociais são direitos fundamentais?

 o entendimento doutrinário primário entende que os direitos


sociais são sim direitos fundamentais:

“A definição dos direitos sociais no título constitucional


destinado aos direitos e garantias fundamentais acarreta
duas conseqüências imediatas: subordinação à regra da
auto-aplicabilidade prevista no § 1º, do art. 5º e
suscetibilidade do mandado de injunção, sempre que
houver a omissão do poder público na regulamentação de
alguma norma que preveja um direito social e,
conseqüentemente, inviabilize seu exercício.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 178)

 entretanto, não há entendimento dominante se os direitos


sociais são ou não cláusulas pétreas;

 os direitos sociais não são factíveis, realizáveis, como os


direitos que compõem o art. 5º da Constituição Federal, mas
são diretrizes, metas permanentes que o Estado brasileiro deve
buscar.

3.1 A questão social: Doutrina Social da Igreja Católica, Encíclica


Papal, Leão XIII de 1891.

 Rerum Novarum: o texto dessa encíclica trata das


péssimas condições em que viviam os operários da
época e que o Estado deveria intervir nas relações entre
patrão e empregado para tentar tutelar os direitos
destes.

4. Os Direitos Sociais na Constituição de 1988

4.1 Espécies de trabalhadores

4.1.1 Empregado
Resumo de Direito Constitucional II 19

Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de


maio de 1943):

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar


serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência
deste e mediante salário.

 Logo, para ser empregado deve-se cumprir uma série de


requisitos:

a) ser pessoa física;


b) continuidade na prestação de serviços;
c) subordinação;
d) receber salário;
e) prestação pessoal de serviços.

4.1.2 Trabalhador eventual

 Trabalhador sazonal, sendo contratado apenas em


determinadas épocas do ano; não trabalha
continuamente, habitualmente.

4.1.3 Trabalhador avulso

 Contratado pelo sindicato, quando é necessária sua


mão-de-obra (p.e.: estivadores, os quais o sindicato
contrata quando atracam cargueiros).

4.1.4 Trabalhador temporário

 Contratado por uma empresa temporária para trabalhar


em uma outra empresa, ou para a substituição
temporária de um empregado, ou para realizar um
trabalho extraordinário.

4.1.5 Locação permanente

 Terceirização permanente, na qual uma empresa


contrata uma empresa locadora para o fornecimento da
mão-de-obra necessária.

4.1.6 Estagiário: Lei 6494/77

 O estágio consiste apenas complementação curricular,


sendo faculdade do concessor o pagamento de salário;

 Contrato tripartite: aluno, concessor e instituição de


ensino.
Resumo de Direito Constitucional II 20

4.2 Proteção da relação de emprego

Constituição Federal:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária


ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
indenização compensatória, dentre outros direitos;

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego


involuntário;

 “Consagra a Constituição Federal o direito à segurança


no emprego, que compreende a proteção da relação de
emprego contra despedida arbitrária ou sem justa
causa, nos termos de lei complementar, que preverá
indenização compensatória, entre outros direitos,
impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada,
sem motivo socialmente relevante.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 178).

4.2.1 Despedida arbitrária

 a despedida como ato unilateral e arbitrário do


empregador, não se fundando em motivos disciplinares,
técnicos, econômicos ou financeiros.

4.2.2 Sem justa causa

 ausência de ato do empregado que justifique a


demissão.

Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de


maio de 1943):

Art. 482 Constituem justa causa para rescisão do contrato de


trabalho pelo empregador:

a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do
empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para
a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não
tenha havido suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
Resumo de Direito Constitucional II 21

h) ato de indisciplina ou de insubordinação;


i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra
qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em
caso de legítima-defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas
contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de
legítima-defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.

Parágrafo único. Constitui igualmente justa causa para dispensa de


empregado, a prática, devidamente comprovada em inquérito
administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional.

4.3 Seguro-desemprego - Lei 7.998/90

 Proteção no caso de desemprego involuntário.

Lei Nº 7.998, de 11 de Janeiro de 1990.

Regula o Programa do Seguro-


Desemprego, o Abono Salarial, institui o
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e
dá outras providências.

Art. 2º O Programa de Seguro-Desemprego tem por finalidade:

I - prover assistência financeira temporária ao


trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa,
inclusive a indireta, e ao trabalhador comprovadamente resgatado de
regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de escravo;

(...)

Art. 4º O benefício do seguro-desemprego será concedido ao


trabalhador desempregado, por um período máximo de 4 (quatro)
meses, de forma contínua ou alternada, a cada período aquisitivo de
16 (dezesseis) meses, contados da data de dispensa que deu origem à
primeira habilitação.

4.4 F.G.T.S. – Lei 5.107/66 e 8.039/90

 O F.G.T.S. (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) é uma


poupança compulsória paga pelo empregador, liberada em
algumas situações previstas na lei, como pagamento ou
construção de casa própria, por exemplo.

 No caso de demissão sem justa causa, cabe ao empregador


o pagamento de uma multa no valor de quarenta por cento
de todo o montante depositado no Fundo na vigência do
contrato de trabalho, conforme a Lei 8.036/90:
Resumo de Direito Constitucional II 22

Lei Nº 8.036, de 11 de Maio de 1990.

Dispõe sobre o Fundo de Garantia do


Tempo de Serviço, e dá outras
providências.

Art. 18. Ocorrendo rescisão do contrato de trabalho, por parte do


empregador, ficará este obrigado a depositar na conta vinculada do
trabalhador no FGTS os valores relativos aos depósitos referentes ao
mês da rescisão e ao imediatamente anterior, que ainda não houver
sido recolhido, sem prejuízo das cominações legais.

§ 1º Na hipótese de despedida pelo empregador sem justa


causa, depositará este, na conta vinculada do trabalhador no FGTS,
importância igual a quarenta por cento do montante de todos os
depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato
de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos
juros.

4.5 Salário mínimo

 o salário mínimo é uma referência nacional na qual


ninguém poderá receber um salário menor que o mínimo
estipulado pela União, independentemente de carga horária
trabalhada ou idade do empregado;

 o texto constitucional caracteriza o salário mínimo,


nacionalmente unificado, à importância fixada em lei capaz
de atender todas as necessidades básicas do empregado e
de sua família;

 o salário mínimo não pode servir de base a valores


contratuais, pois é vedada a vinculação do salário mínimo à
qualquer fim.

4.5.1 Piso Salarial

 salário convencionado por categoria econômica, sendo


que nenhum dos membros dessa categoria podem
receber menos do que o piso estipulado.

4.5.2 Salário profissional

 piso salarial regulamentado por lei para uma


determinada categoria profissional (isto é, categoria
regida por lei especial).

4.5.3 Décimo - terceiro salário


Resumo de Direito Constitucional II 23

 gratificação salarial com base na remuneração integral,


devido aos gastos do empregado para as festas do final
de ano.

4.5.4 Irredutibilidade salarial

 o salário não pode ser reduzido, salvo convenção em


contrário, de efeito determinado, feita pelo sindicato dos
trabalhadores.

4.5.5 Adicional noturno

 a remuneração do trabalho noturno deve ser superior à


do diurno, sem significar ausência de igualdade.

4.5.6 Retenção dolosa do salário

 o empregador não pode reter o salário do empregado,


constituindo crime.

4.5.7 Salário-família

 criado por Getúlio Vargas, pago em favor do dependente


do trabalhador de baixa renda;

 o trabalhador recebia dinheiro pelo aumento da família


para aumentar a oferta de empregos na zona urbana.

4.6 Jornada de Trabalho

 A jornada de trabalho máxima é de 44 horas semanais,


salvo se o contrato determinar jornada menor.

4.6.1 Descanso Semanal Remunerado

 folga semanal, preferencialmente aos domingos;

 a cada quatro semanas, deve haver pelo menos uma


folga aos domingos.

4.6.2 Horas extras

 horas trabalhadas acima da jornada (ou do contrato);

4.7 Férias + 1/3

 a cada 12 meses, o empregado tem direito a 30 dias de


férias;

 o trabalhador recebe um terço do salário das férias, para


poder gastar sem se endividar;
Resumo de Direito Constitucional II 24

 as férias podem ser menores, no caso de faltas não


abonadas.

4.8 Licença gestante de 12 dias

 a mãe tem o direito de ficar de licença a partir de 30 dias


antes do parto e 90 dias após o parto;

 esse direito extendeu-se também para a mãe que adota;

 norma de proteção à mulher e à criança;

 a mulher não tem direito à licença gestante no caso de


contrato a prazo certo;

 a remuneração durante o período de licença é paga pelo


INSS.

4.9 Aviso prévio

 aviso 30 dias antes da demissão, direito e dever recíproco


entre o empregador e o empregado;

 o prazo mínimo é de 30 dias, salvo acordo coletivo, que


pode estipular um tempo maior;

 no caso de demissão do empregado, durante o período


entre o aviso e a demissão efetiva, ele poderá entrar duas
horas mais tarde, ou sair duas horas mais cedo ou abonar 7
dias.

4.10 Adicional em atividades insalubres, perigosas e penosas

 Insalubridade: adicional que incide sobre o salário mínimo,


quando o empregado trabalha em ambiente não-saudável.
 Periculosidade: adicional que incide sobre o salário do
empregado, quando o trabalhador trabalha em ambiente
exposto a explosão.
 Penosidade: adicional para o trabalhador que trabalha em
ambiente sofrível, mas não tem aplicabilidade, pois não
está regulamentado.

4.11 Aposentadoria

 Ao contribuir 35 anos, no caso de homens, ou 30 anos, no


caso de mulheres e atingir 65 ou 60 anos, respectivamente,
tem direito a receber aposentadoria do INSS.

4.12 Reconhecimento de acordo ou convenção coletivos


Resumo de Direito Constitucional II 25

 empregador e empregado podem acordar diferentes


normas, mesmo diferentes da lei, de maneira coletiva, sem
prejudicar os direitos dos empregados.

Acordo:

 empregador(es) Vs. sindicato dos empregados de


determinada categoria econômica.
 a decisão só vale para os empregados em uma empresa
específica

Convenção:

 sindicato dos empregadores Vs. sindicato dos empregados


de uma determinada categoria econômica
 vale para todos os empregados da categoria

4.13 Seguro acidente sem excluir a indenização

 o empregador deve fazer um seguro para o trabalhador


para casos de acidentes, mas isso não o exclui de uma
indenização, que correrá na justiça trabalhista.

4.14 Ações trabalhistas:

4.14.1 Prescrição bienal

 prescrição relativa ao direito processual. O empregado


pode entrar com ação até dois anos após a rescisão
contratual.

4.14.2 Prescrição qüinqüenal

 prescrição relativa ao direito material. A ação resguarda


os direitos de até cinco anos anteriores à propositura da
demanda.

4.15 Proibição de diferenças de salários em razão da idade, sexo,


cor e estado civil

4.16 Proibição de trabalho noturno para menores de 18 anos

 O trabalho noturno compromete o desenvolvimento do


jovem.

4.17 Proibição de trabalho para menores de 16 anos, salvo de


aprendiz, aos 14 anos
Resumo de Direito Constitucional II 26

 o aprendiz deve estar vinculado a uma instituição sujeita


a controle governamental, com a possibilidade de
profissionalização.

 valoriza a educação.

Direito de Nacionalidade

1. Conceito

 “Nacionalidade é o vínculo jurídico que liga um indivíduo a um


certo determinado Estado, fazendo deste indivíduo um
componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado.”
(Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 188).

2. Termos relacionados

2.1 Povo

 é o conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado –


é seu elemento humano. O povo está unido ao Estado
pelo vínculo jurídico da nacionalidade.

2.2 População

 é o conjunto de habitantes de um território, de um país,


de uma região, de uma cidade.

 é um conceito mais extenso do que povo, pois engloba os


nacionais e os estrangeiros, desde que habitantes de um
mesmo território.

2.3 Nação

 agrupamento humano, em geral numeroso, cujos


membros, fixados num território, são ligados por laços
históricos, culturais, econômico e lingüísticos

2.4 Cidadão

 é o nacional (brasileiro nato ou naturalizado) no gozo dos


direitos políticos e participantes da vida do Estado, isto é,
podendo votar e ser votado.

3. Espécies de Nacionalidade

3.1 Primário (ou 1º grau)


Resumo de Direito Constitucional II 27

 nacionalidade de origem; resulta do nascimento a partir


do qual, através de critérios sanguíneos, territoriais ou
mistos será estabelecida.

3.2 Secundário (ou 2º grau)

 é aquela nacionalidade que se adquire por vontade


própria, após o nascimento, através da naturalização.

4. Brasileiros natos = art. 12, letras “a”, “b” e “c”

Constituição Federal de 1988:

Art. 12. São brasileiros:

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais


estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e
optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira;

4.1 Letra “a” = “ius soli”

 Por esse critério será nacional o nascido no território do


Estado, independentemente da nacionalidade de sua
ascendência.

 A Constituição brasileira adotou preponderantemente esse


critério. Desta forma, em regra, basta ter nascido no
território brasileiro, para ser considerado brasileiro nato,
independentemente da nacionalidade dos pais ou
ascendentes.

4.2 Letra “b” = “ius sanguinis”

 Por esse critério será nacional todo descendente de


nacionais, independentemente do local de nascimento.

 No caso brasileiro, todo filho de brasileiro que esteja no


exterior a serviço da República Federativa do Brasil.

4.3 Letra “c” = nacionalidade por opção


Resumo de Direito Constitucional II 28

 Filho de brasileiro, que venha a residir na República


Federativa do Brasil, e opte, a qualquer tempo, pela
nacionalidade brasileira

5. Conflito de nacionalidade

5.1 Positivo

 Conflito que resulta no indivíduo polipátrida, a


multinacionalidade, porque um ou mais Estados
reconhecem uma só pessoa como seu nacional. Esse
conflito não cria dificuldade alguma; em geral, até
beneficia.

5.2 Negativo = apátrida ou heimatlos

 “Impõe a pessoa, por circunstância alheia à sua vontade,


uma situação de apátrida, de sem nacionalidade, que lhe
cria enormes dificuldades, porque lhe gera restrições
jurídicas de monta em qualquer Estado em que viva.”
(Curso de Direito Constitucional Positivo. 18ª ed., São
Paulo: Malheiros, José Afonso da Silva, 2000, p. 325).

 “Heimatlos (expressão alemã que significa sem pátria,


apátrida) é também um efeito possível da diversidade de
critérios adotados pelos Estados na atribuição da
nacionalidade.” (idem)

6. Brasileiro naturalizado

6.1 Naturalização tácita

 Anuência pela naturalização através da omissão,


adquirindo a nacionalidade.

 O maior exemplo de naturalização tácita ocorrida no Brasil


foi o previsto pela Constituição Federal de 1891, que
afirma que são “cidadãos brazileiros os estrangeiros que,
achando-se no Brazil aos 15 de novembro de 1889, não
declararem, dentro em seis mezes depois de entrar em
vigor a Constituição, o animo de conservar a
nacionalidade de origem.”.

6.2 Naturalização expressa


Resumo de Direito Constitucional II 29

 É aquela que dependo de requerimento do interessado,


demonstrando sua manifestação de vontade em adquirir a
nacionalidade brasileira. Divide-se em ordinária e
extraordinária.

6.2.1 Naturalização expressa ordinária = art. 12, II, “a”

Art. 12, n. II:

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,


exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

 O estrangeiro pede a naturalização brasileira, podendo o


Estado negá-la.

 “Naturalização em que o interessado, na forma da lei,


adquirem a nacionalidade brasileira, sendo exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral.“
(Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas,
Alexandre de Moraes, 2006, p. 188).

6.2.2 Naturalização expressa extraordinária = art. 12, II, “b”

Art. 12, n. II:

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na


República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e
sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.

 O estrangeiro pede a naturalização brasileira, devendo,


somente, cumprir requisitos subjetivos.

7. Tratamento diferenciado entre brasileiros natos e naturalizados

7.1 Art. 12, § 3º

Art. 12, n. II, Constituição Federal:

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;


Resumo de Direito Constitucional II 30

II - de Presidente da Câmara dos Deputados;


III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa

 Alguns cargos a Constituição considerou privativos de


brasileiros natos. A ratio legis está em que seria perigoso
que interesses estranhos ao Brasil fizessem alguém
naturalizar-se brasileiro, para que, em verdade, os
representasse.

 Em caso de vacância do cargo, a sucessão presidencial se


dará na seguinte ordem: vice-presidente, presidente da
Câmara dos Deputados, presidente do Senado Federal,
presidente do Supremo Tribunal Federal.

7.2 Art. 89, VII

Constituição Federal:

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do


Presidente da República, e dele participam:

I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos
Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco
anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República,
dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos
Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

7.3 Art. 5º, LI

Art. 5º, Constituição Federal:

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,


em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;
Resumo de Direito Constitucional II 31

7.4 Art. 222

Constituição Federal:

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de


radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros
natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

8. Hipóteses da perda da nacionalidade (art. 12, § 4º)

Art. 12, Constituição Federal:

§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro


que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em


virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:


a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;

8.1 Inciso I – regra geral

 Nesse caso, decorre da aplicação de pena principal ou


acessória proferida em processo judicial. Trata-se de
cancelamento de naturalização, não de decretação de
nulidade ou anulabilidade. Esse caso só pode ocorrer se
comprovado o exercício de atividade nociva ao interesse
nacional.

8.2 Inciso II – regra de exceção

 Decorre da aquisição de outra nacionalidade por


naturalização voluntária, entendendo-se, aqui, por
naturalização toda forma de aquisição de nacionalidade
dependente da vontade do interessado.

 Não estão envolvidas as hipóteses de dupla nacionalidade


originária nem a da mulher brasileira que adquire a
nacionalidade do marido pelo fato do casamento, por
exemplo.
Resumo de Direito Constitucional II 32

Direitos Políticos

Constituição Federal:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio


universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e,
nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;


II - facultativos para:

a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante


o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

1. Conceito

 são regras jurídicas positivadas que dão aos indivíduos a


possibilidade de influenciar na vontade coletiva do Estado.

 “É o conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da


soberania popular. (...) São direitos públicos subjetivos que
investem o indivíduo no status activae civitatis, permitindo-lhe
o exercício concreto da liberdade de participação nos negócios
políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da
cidadania.” (Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas,
Alexandre de Moraes, 2006, p. 207). (grifei)

 “...prerrogativas, atributos, faculdades, ou poder de


intervenção dos cidadãos ativos no governo do seu país,
intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla, segundo
a intensidade do gozo desses direitos.” (Direito público
brasileiro e análise da Constituição do Império. Rio de Janeiro:
Nova Edição, Pimenta Bueno, 1958, p. 459).

2. São direitos fundamentais

2.1 Direitos Humanos

 Os Direitos Políticos são Direitos Humanos, Direitos


Fundamentais, logo, são cláusulas pétrias dentro da
Resumo de Direito Constitucional II 33

Constituição Federal, só podendo ser suprimidos com uma


nova Constituição.

2.2 Direitos de 1ª geração

 São direitos de 1ª geração, conceituados na Revolução


Francesa, junto com os Direitos Civis.

3. Cidadão e cidadania

3.1 Cidadão

 “Cidadão, no direito brasileiro, é o indivíduo que seja


titular dos direitos políticos de votar e ser votado e suas
conseqüências.” (Curso de Direito Constitucional Positivo.
18ª ed., São Paulo: Malheiros, José Afonso da Silva, 2000,
p. 349).

3.2 Cidadania

 “Cidadania qualifica os participantes da vida do Estado, é


atributo das pessoas integradas na sociedade estatal,
atributo político decorrente do direito de participar no
governo e direito de ser ouvido pela representação
política.” (idem)

3.3 Domicílio eleitoral

 o eleitor deve ser domiciliado no local pelo qual se


candidata, por período que será estabelecido pela
legislação infraconstitucional.

4. Modalidades dos Direitos Políticos

4.1 Direitos Políticos ativos

 Ligados a capacidade eleitoral, consubstanciada no direito


de votar. São os direitos que regem a exteriorização do
voto, como se deve votar.
 Cuidam do eleitor e sua atividade.

4.2 Direitos Políticos passivos

 Assenta na elegibilidade, atributo de quem preenche as


condições do direito de ser votado. Esses direitos tratam
de como se recebe o voto.
 Referem-se aos elegíveis e aos eleitos.
Resumo de Direito Constitucional II 34

4.3 Direitos Políticos positivos

 Dizem respeito às normas que asseguram a participação


no processo político eleitoral, votando ou sendo votado,
envolvendo, portanto, as modalidades ativas e passivas,
referidas acima.
 Não se refere ao voto, mas ao conjunto de direitos
referentes ao exercício dos direitos políticos.

4.4 Direitos Políticos negativos

 Constitui-se de normas que impedem essa atuação e tem


seu núcleo nas inelegibilidades.
 São um conjunto de regras que privam o cidadão de
participar do processo eleitoral.

5. Direito de Sufrágio

 “É um direito público subjetivo de natureza política, que tem o


cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e
da atividade do poder estatal. É um direito que decorre
diretamente do princípio de que todo poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente.” (Curso de Direito Constitucional Positivo. 18ª
ed., São Paulo: Malheiros, José Afonso da Silva, 2000, p. 352).

5.1 Formas de Sufrágio

5.1.1 Universal

 “O sufrágio é universal quando o direito de votar é


concedido a todos os nacionais, independentemente de
fixação de condições de nascimento, econômicas,
culturais ou outras condições especiais.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 209).

 “A universalidade do direito de sufrágio é um princípio


basilar da democracia política, que se apóia na
identidade entre governantes e governados. (...) se
funda na coincidência entre a qualidade de eleitor e a de
nacional, de um país.” (Curso de Direito Constitucional
Positivo. 18ª ed., São Paulo: Malheiros, José Afonso da
Silva, 2000, p. 354).
Resumo de Direito Constitucional II 35

5.1.2 Restrito

 “(...) será restrito quando o direito de voto é concedido


em virtude da presença de determinadas condições
especiais possuídas por alguns nacionais. O sufrágio
será restrito poderá ser censitário, quando o nacional
tiver que preencher qualificação econômica (renda, bens
etc.), ou capacitário, quando necessitar apresentar
alguma característica especial (natureza intelectual, por
exemplo).” (Direito Constitucional. 19ª ed., São Paulo:
Atlas, Alexandre de Moraes, 2006, p. 209).

5.2 Titulares do direito de sufrágio

 O direito de sufrágio, como vimos, diz-se ativo (direito de


votar) e passivo (direito de ser votado). Aquele
caracteriza o eleitor (titular do direito de votar); o outro, o
elegível (titular do direito de ser votado, de vir a ser
eleito). (Curso de Direito Constitucional Positivo. 18ª ed.,
São Paulo: Malheiros, José Afonso da Silva, 2000, p. 358).

 “São inelegíveis os não alistados, os analfabetos e os


eleitores entre dezesseis e dezoito anos. Eleitores são
todos os brasileiros (natos e naturalizados, de qualquer
sexo) que, à data da eleição, contem 16 anos, alistados
na forma da lei.” (idem).

6. Direito do voto

6.1 Conceito

 O voto é o ato fundamental do exercício do direto de


sufrágio. O voto é distinto do sufrágio, pois, enquanto
este é o direito político, aquele é o exercício propriamente
do direito.

 “O direito de sufrágio, no tocante ao direito de eleger


(capacidade eleitoral ativa) é exercido por meio do direito
de voto, ou seja, o direito de voto é o instrumento de
exercício do direito de sufrágio.” (Direito Constitucional.
19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes, 2006, p.
210).

6.2 Voto direto

 “A qualificação de direto prende-se mais ao sufrágio do


que ao voto em si. O direito de escolha (sufrágio) é que
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pode ser direto ou indireto, caracterizando as eleições


diretas ou indiretas. (...) O sufrágio (ou voto) é direto
quando os eleitores escolhem, por si, sem intermediários,
os seus representantes e governantes. É indireto quando
estes são escolhidos por delegados dos eleitores.” (Curso
de Direito Constitucional Positivo. 18ª ed., São Paulo:
Malheiros, José Afonso da Silva, 2000, p. 363).

6.3 Natureza jurídica

 “O voto é um direito subjetivo, sem, contudo, deixar de se


uma função política e social de soberania popular na
democracia representativa. Além disso, aos maiores de 18
e menores de 70 anos é um dever, portanto, obrigatório.
Assim, a natureza do voto também se caracteriza por ser
um dever sóciopolítico, pois o cidadão tem o dever de
manifestar sua vontade, por meio do voto, para a escolha
de governantes em um regime representativo.” (Direito
Constitucional. 19ª ed., São Paulo: Atlas, Alexandre de
Moraes, 2006, p. 210).

6.4 Características do voto (Alexandre de Moraes):

6.4.1 Personalíssimo

 O voto só pode ser exercido pessoalmente. Não há


possibilidade de se outorgar procuração para votar. A
identidade do eleitor é verificada pela exibição do título
de eleitor. A personalidade é essencial para se verificar a
sinceridade e autenticidade do voto.

6.4.2 Obrigatoriedade

 Em regra, existe a obrigatoriedade do voto, salvo os


maiores de 70 anos e aos menores de 18 anos e
maiores de 16. Consiste em obrigar o cidadão ao
comparecimento às eleições, assinando uma folha de
presença e depositando seu voto na urna, havendo
inclusive uma sanção (multa) para sua ausência. Em
virtude, porém, de sua característica de secreto, não se
pode exigir que o cidadão, efetivamente, vote.

6.4.3 Liberdade

 Manifesta-se não apenas pela preferência a um


candidato entre os que se apresentam, mas também
pela faculdade até mesmo de depositar uma cédula em
branco na urna ou em anular o voto. Essa liberdade
deve ser garantida e, por esta razão, a obrigatoriedade
já analisada não pode significar senão o
Resumo de Direito Constitucional II 37

comparecimento do eleitor, o depósito da cédula na urna


e a assinatura da folha individual de votação.

6.4.4 Sigilosidade

 O segredo do voto consiste em que não deve ser


revelado nem por seu autor nem por terceiro
fraudulentamente. O sigilo do voto é assegurado
mediante as seguintes providências:

a) uso de cédulas oficiais;


b) isolamento do eleitor em cabine indevassável;
c) verificação da autenticidade da cédula oficial;
d) emprego de urna que assegure a inviolabilidade
do sufrágio e seja suficientemente ampla para
que não se acumulem as cédulas na ordem em
que forem introduzidas pelo próprio eleitor, não
se admitindo que outro o faça.

6.4.5 Direito

 Os eleitores elegerão, no exercício do direito de sufrágio,


por meio do voto (instrumento), por si, sem
intermediários, seus representantes e governantes.

6.4.6 Periodicidade

Constituição Federal:

§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente


a abolir:

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

 O art. 60, § 4º, da Constituição Federal é garantia da


temporariedade dos mandatos, uma vez que a
democracia representativa prevê e exige existência de
mandatos com prazo determinado.

6.4.7 Igualdade

 Todos os cidadãos têm o mesmo valor no processo


eleitoral, independentemente de sexo, cor, credo, idade,
posição intelectual, social ou situação econômica. ONE
MAN, ONE VOTE.

6.4.8 Escrutínio

 “Escrutínio, no sentido indicado, é, pois, o modo pelo


qual se recolhem e apuram os votos nas eleições. E é
nesse momento que devem concretizar-se as garantias
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do sigilo e liberdade do voto. Compreende, pois, as


operações de votação (depósito e recolhimento dos
votos nas urnas) e as operações de apuração dos votos
(abertura das urnas, conferência dos votos em face do
número deles em referência a cada candidato).” (Curso
de Direito Constitucional Positivo. 18ª ed., São Paulo:
Malheiros, José Afonso da Silva, 2000, p. 382).

7. Os três institutos da democracia

7.1 Plebiscito

 “O plebiscito é uma consulta prévia que se faz aos


cidadãos no gozo de seus direitos políticos, sobre
determinada matéria a ser, posteriormente, discutida pelo
Congresso Nacional.” (Direito Constitucional. 19ª ed., São
Paulo: Atlas, Alexandre de Moraes, 2006, p. 210).

7.2 Referendo

 “O referendo consiste em uma consulta posterior sobre


determinado ato governamental para ratificá-lo, ou no
sentido de conceder-lhe eficácia (condição suspensiva),
ou, ainda, para retirar-lhe eficácia (condição resolutiva).”
(idem)

7.3 Iniciativa popular: art. 61, § 2º, Constituição Federal

Art. 61, Constituição Federal:

§ 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à


Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um
por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco
Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de
cada um deles.

8. Obrigatoriedade do alistamento eleitoral

8.1 Alistamento eleitoral

Art. 14, Constituição Federal:

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;


II - facultativos para:

a) os analfabetos;
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b) os maiores de setenta anos;


c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

 O alistamento eleitoral é um procedimento administrativo,


que depende de anuência judicial.

 Uma pessoa, para ser eleitora, fica sujeita a um duplo


condicionamento, sem desrespeito à universalidade do
sufrágio: (a) um de fundo, porque precisa preencher os
requisitos de nacionalidade, idade e capacidade; (b) outro
de forma, porque precisa alistar-se eleitora, e, assim,
tornar-se titular do direito de sufrágio.

8.2 Proibição de se alistarem

Art. 14, Constituição Federal:

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante


o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

 Conscritos = alistados no serviço militar

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