Artigo TCC v. Rev. Final

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Legislação sobre faixas de servidão de redes de distribuição de energia

elétrica de até 34,5KV

Juliana Leticia Felix Ribeiro, Luan Rosa Mesquita, Mauro César Noronha
([email protected], [email protected], [email protected])

Orientadora: Janaina Martins Gouveia


Coordenação de curso de Engenharia Elétrica

Resumo

Quando se fala em faixas de servidão de linhas de distribuição de energia, existe um


limbo jurídico no que tange essa classe de tensão (até 34KV). A maioria das leis e
jurisprudências se referem a linhas de subtransmissão e transmissão (69KV a
800KV) e, por não ter algo claro, empresas e moradores, principalmente da zona
rural, não conseguem entender quais os direitos e deveres de ambas as partes.
Com isso a população em geral sofre por ter o serviço de manutenção corretiva e
preventiva prejudicados pela demora, já que muitas das vezes a concessionária é
impedida de acessar a rede por causa de plantações na faixa de servidão. O intuito
desse artigo é chegar a um consenso do que é de fato direitos e deveres dos
consumidores e da concessionária sobre faixas de servidões até 34,5KV.

Palavras-chave: Redes de distribuição; Faixa de Servidão; Distribuição de energia.

Abstract
When it comes to easements for power distribution lines, there is a legal limbo
regarding this voltage class (up to 34KV). Most of the laws and jurisprudence refer to
subtransmission and transmission lines (69KV to 800KV) and, because of this lack of
clarity, companies and residents, especially in rural areas, are unable to understand
the rights and duties of both parties. As a result, the population in general suffers
because the corrective and preventive maintenance services are hampered by
delays, since many times the concessionaire is prevented from accessing the
network because of plantations in the right of way. The purpose of this article is to
reach a consensus on what are in fact the rights and duties of consumers and the
concessionaire on easements up to 34.5KV.

Keywords: Distribution networks; Easement Range; Energy distribution.

1. INTRODUÇÃO
A instalação de linhas de distribuição de energia elétrica na zona rural vem
aumentando consideravelmente nos últimos anos devido ao desenvolvimento do
setor energético, estimulando, por consequência, o progresso social e econômico
das regiões rurais. Grande parte dessas redes passam por dentro de propriedades
rurais e consequentemente necessitam que se criem as faixas de servidão. A faixa
de Servidão é uma zona de exclusão para passagem de redes de transmissão e

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distribuição de energia, necessária para construção, operação e manutenção; a área
dessa faixa de servidão é definida de acordo com a classe de tensão da rede (LIMA,
2020).
As usinas geradoras (hidrelétricas, termelétricas, termonucleares, solares e
eólicas) se localizam, em geral, distantes dos grandes centros de consumo. Para
que a energia elétrica chegue ao consumidor final, tem que ser transportada através
de longas distâncias por linhas de alta tensão, caracterizando o sistema de
transmissão de energia elétrica. Já a distribuição é a última etapa no fornecimento
de energia elétrica, através de qual se faz a entrega ao consumidor final e pode ser
feita através de redes aéreas, por meio de postes, ou por redes subterrâneas, em
que cabos elétricos são instalados sob o solo ou no interior de dutos. (GONÇALVES,
2021). A geração, a transmissão e a distribuição de energia elétrica constituem o
SEP – Sistema elétrico de potência, como mostra a Figura 1 a seguir.

Figura 1. Usina de energia elétrica.

Fonte: (ABRADEE, 2022).

As distribuidoras de energia elétrica operam linhas de média e baixa tensão,


também chamadas de redes primária e secundária, respectivamente. As linhas de
média tensão são aquelas com tensão elétrica entre 2,3 kV e 44 kV e são muito
fáceis de serem vistas em ruas e avenidas das grandes cidades, frequentemente
compostas por três fios condutores aéreos sustentados por cruzetas de madeira em
postes de concreto (ABRADEE), como visto na Figura 2 a seguir.

Figura 2. Redes de distribuição de energia.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Em Goiás as redes primárias de distribuição são divididas entre redes
trifásicas compostas por quatro fios, sendo três fases e um neutro como na Figura 3
e redes monofásicas, compostas por dois fios, sendo uma fase e o outro neutro
como na Figura 4.

Figura 3. Rede de distribuição trifásica.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Figura 4. Rede de distribuição monofásica.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Existem alguns problemas comuns causados por essas redes de distribuição


que são alocadas em áreas rurais, uma vez que elas passam dentro da propriedade
de terceiros, terras estas que diversas vezes possuem cultivos como mostra a

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Figura 5. Isso pode gerar transtornos entre os proprietários para com as
concessionárias de energia, pois elas precisam acessar a rede para que as devidas
manutenções, inspeções e fiscalizações sejam feitas. Para remediar essas situações
alguns proprietários arcam com os custos e despesas de retiradas dessas redes de
dentro de suas propriedades, enquanto outros entram na justiça pedindo que a
concessionária faça sem custo.

Figura 5. Rede de distribuição trifásica – faixa de servidão cultivada.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A Figura 6 exemplifica de forma bastante didática os fatos mencionados


anteriormente: é notório que parte da plantação foi danificada, em torno da estrutura,
para que a manutenção da rede de distribuição fosse concluída. Nessa manutenção,
especificamente, foi necessário o emprego de um veículo com equipamentos de
segurança, ferramentas e material para reparo da rede, tornando inviável que
nenhum dano fosse causado. Esse tipo de serviço causa muito debate e embate
entre os profissionais que estão realizando a manutenção da rede e os proprietários
das áreas rurais.

Figura 6. Manutenção rural de rede de distribuição.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Haja vista a importância do tema, se faz necessário o conhecimento sobre as
diversas normativas que abordem as temáticas e disposições acerca das redes de
classe até 34,5KV. Este estudo aprofundará nessas normas e leis, acompanhado de
uma revisão bibliográfica de aspecto descritivo, para que sejam entendidos os
direitos e deveres de cada parte envolvida, proprietário, concessionária ou
contribuinte geral objetivo do presente artigo é discorrer acerca da legislação de
faixas de servidão de redes de distribuição de até 34.5kV.

2. DESENVOLVIMENTO
A instalação de redes de distribuição por atender muitos usuários e até
pequenas cidades, pode-se entender que está diretamente relacionada ao artigo 5°
da Constituição Federal de 1988 no artigo

XXIV –“a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação


por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos nesta Constituição;”

e a lei de servidão Art. 40 do código civil o expropriante poderá constituir servidões,


mediante indenização na forma desta lei.

“De acordo com Maria Sylvia Zanella di Pietro (2008) conceitua


servidão administrativa como sendo o direito real de gozo, de
natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia,
com base em lei, por entidade pública ou por seus delegados,
em face de um serviço público ou de um bem afetado a fim de
utilidade pública”.

Considerando que o direito de propriedade também é resguardado pelo artigo


5°. Da Constituição Federal

XXII – é garantido o direito de propriedade;

De acordo com a jurista brasileira Maria Helena Diniz (2019), o direito de


propriedade pode ser entendido como:

“o direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites


normativos, de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou
incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o
detenha”.

Para advogada de Contencioso e Arbitragem Eduarda Victoria Motta (2019), e


para Isabela Moraes (2019), Membro da equipe de Conteúdo do Politize, o direito de
propriedade pode ser definido em três formas distintas:

1º Direito de uso sobre um bem: diz respeito ao direito de


usufruir de um bem ou colocá-lo a disposição do uso de outro
de pessoa, sem que essa possa modificar a substância do
bem. Por exemplo, se você é proprietário de um imóvel, pode
optar por usufruir dele, emprestá-lo ou alugá-lo.
2º Direito de gozo sobre um bem: significa ter direitos sobre os
frutos ou rendimentos que esse bem fornece. Por exemplo, ter
o direito sobre os frutos de uma laranjeira que nasce em sua

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propriedade; ou ter direito sobre os rendimentos do aluguel de
um imóvel que é seu.
3º Direito de dispor: este é o direito que mais expressa o
domínio/posse sobre o bem. Significa que você pode optar por
vendê-lo, doá-lo ou trocá-lo.
Ou seja, ser proprietário ou deter o direito de propriedade sobre
um bem, significa ter o direito de uso, de gozo e de dispor dele.

Dessa forma, o Inciso XXII do Artigo 5º reconhece o direito de propriedade


como um direito fundamental a ser protegido pela Constituição brasileira. Continua
com o entendimento de Maria Sylvia Zanella di Pietro (2008) considera que o direito
de propriedade consiste no direito absoluto, exclusivo e perpétuo de usar, gozar,
dispor e reivindicar o bem com quem quer que ele esteja.
A servidão administrativa atinge o caráter exclusivo da propriedade, pois o
Poder Público passa a usá-la agregado ao particular com a finalidade de atender a
um interesse público certo e determinado, ou seja, o de usufruir a vantagem
prestada pela propriedade serviente.
Por Lei, quando já está estabelecido por lei como citado no artigo 40°do
código civil, como por exemplo as linhas de transmissão.
Por acordo, quando as duas partes seja proprietário ou poder público, ou
proprietário e concessionária, acordam entre si os termos da faixa de servidão.
Por sentença judicial, caso não exista lei determinando e nem acordo entre as
partes, o poder público ou a concessionária, ingressa judicialmente para estabelecer
a faixa de servidão.
Uma vez estabelecida, de acordo com Thiago Fachini

A faixa Administrativa tem caráter perpétuo no


sentido de que durará enquanto houver interesse público na
sua manutenção.

Se, eventualmente, cessar o interesse e a utilidade pú-


blica existente, ela poderá deixar de existir. Mas, como não há
como prever tal situação, mantém-se o seu caráter perpétuo.

3. METODOLOGIA

Para aplicação teórica desse artigo foi feita pesquisa na Constituição


Brasileira de 1988, artigo quarenta do código civil que tange faixas administrativas e
artigos jurídicos que embasam as leis sobre propriedade privada e faixas de
servidões.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As redes de Distribuição se enquadram na servidão administrativa, por isso se


aplica as mesmas normas que se referem as linhas de transmissão. Para a
advogada Maira Batista Martins (2015) entende-se que a servidão administrativa é
imposta em prol da coletividade devendo o particular suportar os ônus de tal
instituto, possuindo natureza diversa das demais servidões instituídas por leis, como,
por exemplo, a servidão predial, por se tratar de uma obrigação pessoal a qual
impõe ao proprietário o ônus de suportar a passagem, por exemplo, de fios de
energia elétrica.
Mas caso não seja estabelecida uma faixa administrativa por umas das três
formas citadas no desenvolvimento, em decorrência de tal irregularidade que acaba
prejudicando o direito de exercício pleno de sua propriedade, o
proprietário/consumidor deve solicitar à concessionária a correção imediata da

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restrição cometida de forma irregular, mesmo que a instalação, seja o poste de
energia ou fiação de alta-tensão, ocorra por cima dos imóveis que existiam antes a
edificação do terreno.
Porém, se a concessionária não corrigir tais irregularidades ou exigir qualquer
tipo de cobrança pelo serviço deve o proprietário/consumidor recorrer seu direito na
justiça e/ou acionar o Poder Judiciário para isentar o requerente de arcar com
qualquer quantia financeira como reforça o decreto nº 98.335, de 26 de outubro de
1989:

“Nos termos do Decreto nº 98.335/1989, a mudança do


poste e outros equipamentos da rede são feitos pela
concessionária e cobrados do usuário, quando a alteração
atende ao seu interesse pessoal. Entretanto, comprovada a
restrição excessiva do direito de propriedade bem como a
inutilidade da existência do ESTAI no imóvel do autor, é devida
sua remoção por conta da empresa concessionária”

CONCLUSÕES

Diante do exposto, nota-se que as servidões de passagem de redes de


distribuição constituem um elemento importante para viabilizar a universalização da
energia elétrica e que é se suma importância o consenso entre concessionárias e
proprietários a fim de um bem maior que é a sociedade de forma geral, sempre
realizando dentro das normas estabelecida das que tange as faixas administrativas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus pois sem ele nada disso seria possível,
agradecemos nossos familiares pelo apoio e compreensão em todos os momentos
da graduação, agradecemos a todos os nossos professores até aqui, por
compartilhar seus conhecimentos e experiências, agradecemos em especial nossa
orientadora Janaina Martins pela excelência na orientação desse artigo. Obrigado a
todos!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BATISTA MARTINS, MAIRA. Faixa administrativa, 2015. Disponível em:


https://mairabatista1.jusbrasil.com.br/artigos/163533585/servidao-administrativa
Acessado em 26/06/2022

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

DISTRIBUIDORES DE ENERGIA, Associação Brasileira de. A distribuição


de energia, 2022. Disponível em: https://www.abradee.org.br/setor-de-distribuicao/a-
distribuicao-de-energia/ acessado em 16/05/22

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FACHINI, TIAGO. Como as empresas de energia elétrica lidam com as
servidões de passagem, 2022. Disponível em https://www.projuris.com.br/servidao-
passagem-energia-eletrica/ acessado em 26/06/2022

MOTTA VICTORIA, Eduarda; MORAES, Isabela; DINIZ HELENA, Maria.


Inciso XXll – Direito de propriedade, 2019. Disponível em
https://www.politize.com.br/artigo-5/direito-de-propriedade/ acessado em 26/06/2022

ZANELLA DI PIETRO, Maria Sylvia. O que se entende por servidão


administrativa, 2008. Disponível em https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1639602/o-
que-se-entende-por-servidao-administrativa acessado em 21/05/2022

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