PONTES, José Vieira. Lira Popular Brasileira
PONTES, José Vieira. Lira Popular Brasileira
PONTES, José Vieira. Lira Popular Brasileira
6> EDIÇÃO
Muito melhorada com novas jiroducções dos melhores auctcres
S PAULO , u
C. TEIXEIRA & Cia. Editores I O . / »
Rba da 8. J o i o , 8
1927
Mlietcca
de
OUíteda Mesquita
O BRASIL
Olavo Bilao
- 6 —
Fí Festa e a Cariòaòe
Se descerra os purpurinos
Lábios de finos rubis,
Suas palavras são hymnos
Que Deus aceita e bendiz.
— « Estes penhores
Heis de bavel-os, meus senhores,
Com largos juros nos céosl
Vós, minhas cândidas filhas,
Ficais assim mais formosas.
Para rosas bastam rosas!
Vaieis mais ao mundo e a Deus!
Thomiaz Ribeiro.
-ED-
Hoiuaòo ôo 5epuIchro
-T=j-
- 18 —
O ÍTleirinho e a Pobre
DUETO
Da justiça official
Nem* por isso sou marreco,
Quando estendo a minha gambia
Sou miais leve que um boneco.
U m a uisita meòica
Rmor e meòo
RECITATIVO
Casimiro de Abreu.
Ei——
O canto âo cysne
MODINHA
Era no Outono
RECITATIVO
Bulhão Pato.
-UE2-
A JUDIA
Thomaz Ribeiro.
-EZ]-
Uersos a Leonôr
D'«A Morgadinha de Val-Flor»
RECITATIVO
Pinheiro Chagas.
~U=3-
Fí fome no Ceará
i
II
Guerra Junqueira.
-CE3-
Branca Rosa
RECITATIVO
Ouuir Estrellas
— Ora (direis) ouvir estrellas! Certo
Pérdeste o senso! — E eu vos direi! no emtanto,,
Que, para ouvil-as, muita vez desperto,
E| abro as janellas, pallido, de espanto- • •
Olavo Bilae.
Se desprezar tu pudeste
Quem soube tanto adorar-te,,
Não devo amar quem me odeia,
Devo também desprezar-te.
Se desprezar, etc.
Se desprezar, elo.
Se desprezar, efe.
r=3-
41
O Navio Negreiro
RECITATIVO
II
III
IV
Do hespanhol as cantilenas,
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golpho no regaço
Relembra os versos de Tasso
Junto ás levas do vulcão!
Os marinheiros hellenos
Que a vaga Ionia creou,
Bellos piratas morenos
Do mar que Ulysses cortou;
Homens que Phydias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu!
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas águas
As melodias do céo!...
Carlos Alves.
— 50 —
O Canto da Virgem
MODINHA
Bettenoourt da Silva.
-CE3-
A Despedida
Adeus, adeus, é chegada
A hora da despedida;
Vou, qu'importa se te deixo
N'este adeus a minha vida?
Perdão, etc.
— 52 —
Castigado reconheço
Quanto é justa a punição;
Perdão, etc.
Perdão, etc.
Laurindo Rejbello.
-C3-
A Amante do Poeta
LUNDU'
A meiga Virgem
Dos sonhos teus
Ora na terra
Por ti, a Deus.
— 53 —
Anjo perdido
Na solidão,
Ouve os suspiros
D'um coração!
Sopro de morte
Gelou-te o peito,
Tombaste cedo
Num frio leito.
Anjo, etc.
Se tu na vida
Me deste os cantos,
Na morte escuta
Meus tristes prantos.
Anjo, etc.
Adeus, ó bardo,
Sonha commigo,
Na noite eterna
Do teu jazigo.
Anjo, etc.
M. M.
— 54 —
NAPOLEAO
RECITATIVO
Da columna de Vendômè,
O bronze, o tempo consome,
Porém, não apaga o nome
Que tem por bronze; a amplidão.
Apezar do infausto dia ;
Da infâmia que tripudia,
Dos bretões a cobardia,
— Sempre serei Napoleão.
As caravanas paravam,
E os romeiros que passavam'
A's solidões perguntavam:
— E' este o Deus Napoleão?
-CE]-
-•••-
-•••-
Cruel destino,'
Céo, compaixão,
Para um desgraçado
Morte ou perdão.
61 —
STELLA
Que noite! o plenilúnio é como um' sonho,
assim risonho,
estás dormindo ?!
— 62 —
Que belleza!...
Cantaremos,
E teu poeta
Um canto d'ave
« Como morreu,
estrjbithe
D-
— 64 —
O Filho Exilado
REQITATIVO
Treze annos são passados
Que deixei meu pátrio lar;
Treze annos que, contados
São por séculos a scismar!...
Treze annos sem que a sorte,
N'um propicio vento norte,
Leve a salvo o meu batei:
Treze annos entre abrolhos
Vendo a morte nos .escolhos
Como a náo entre o parcel!...
E o vento zunia,
E o pego bramia,
E a barca fendia
0 extenso do mar!...
E a pobre creança,
Sem luz de bonança,
Não tinha uma esp'rança
De á pátria voltar!...
— 66 —
A minha,
Coitadinha,
Não me ouve soluçar;
Tão distante,
N'este instante
Não me pôde consolar.
Se ella ouvisse,
Se sentisse
Que seu filho chora aqui;
Se soubesse,
Se pudesse,
Voaria junto a mim!...
Mas coitado
Do exilado,
Não me ouve» aqui ninguém1;
E sosinho,
Sem carinho,
Choro, ai!... por minha mãe!
Tão menino,
Pequenino!...
O que vim eu cá fazer?
Sem amigos,
Sem abrigos,
Desventuras mil soffrer!...
— 69 —
E agora ?
Quem minora
Deste peito amarga dor?
Quem me ha-de
Da piedade
Adoçar tão acre' horror?
Ouve, ó Deus,
Os rogos meus,
Dá-me, oh! dá-me o que eu perdi!.
Cura a frida,
D'esta vida,
Dá-me a terra onde nasci!
Costa Lima.
-CE3-
— 70
(Deu amor
Nem eu sei porque choro ao pé de ti
agora que o meu pranto aborreceste.
Choro, talvez, o amor que me ti veste,
choro o teu coração que já perdi.
Virgínia Victorijnjo.
-c=>
Em Camir\ho da .Guilhotina
A viuva Capet vae ser guilhotinada.
Ora n'aquelle dia o povo de Paris
FormidaA^el, brutal, colérico, feliz,
Erguera-se ao primeiro alvor da madrugada.
— 71 —
-•••-
# •
Disse Henn Heine, o cego: — «Não lastimei»
As lancinantes maguas, que me oprimem!..
Espere cada qual chorar por fim.
O MELRO
0 melro eu conheci-o;
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a "soltar dentre o arvoredo
Verdadeiras risadas de crystal.
E assim que o padre cúria abria a porta
Que dá para o passai,
Repicando umas finas ironias,
O melro dentre a porta
Dizia-lhe^ «bons dias!»
E o velho padre cura
Não gostava d'aquellas cortezias.
E o melro, no entretanto,
Honesto como um santo,
Mal vinha no oriente
A madrugada clara,
Já elle andava jovial, inquieto,
Comendo alegremente, honradamente,
Todos os parasitas da seara
Desde a formiga ao mais pequem? insecto.
*•*
E o melro allucinado
Clamou:
«Senhor! ,Senhor !
E' por ventura crime ouf é peccado
Que e u ' t e n h a muito amor
A estes innocentesl?
0' natureza, ó Deus, como consentes
Que me roubem assim' os meus filhinhos,
Os filhos que eu criei!
Os vegetaes felizes
Mergulhavam -as sôfregas raizes
A procura na terra' as seixas boas,
Com a avidez e as raivas tenebrosas
- 80 —
E já de longe ia bradando:
Olé!
Dormiram bem 1 ?... Estimo....
Eu lhes darei o mimo,
Canalha vil, grandíssima ralé!
- 81 —
Guerra Junqueiro.
-CH3-
A Lua de Londres
E' noite; o astro saudoso
Rompe a custo um plúmbeo céo,
Tolda-lhe o rosto formoso
Alvacento, humido véo.
Traz perdida a côr de prata,
Naj águas não se retrata,
- 85 —
Leão de Lemos.
-r=2-
— 88 -
Eterniòaôe
Releio as tuas cartas e, consciente,
Agora que morreu todo o enthusiasmo,
Tremo de magua, de terror, de pasmo,
Se vejo esta palavra: Eternamente!
Virgínia Vlctoríno.
-•••-
89 —
O AMOR
No recanto doirado d'uma sala,
Comovido, eloqüente, seductor,
Fala-lhe da paixão que, o avassala:
Descreve-a, pinta-a com tamanho ardor,
Com tal febre lhe fala,
N'uma expressão tão poderosa e intensa
Que a noiva, palpitante de rubôr,
N'um êxtase, suspensa,
Olha-o sorrindo, longamente e pensa:
— «Pois é tudo isto, o amor?
Júlio Dantas.
— 97
A Caridade e a Justiça
No topo do Calvário erguia-se uma cruz,
E pregado sobre ella o corpo de Jesus.
Noite sinistra e má. Nuvens esverdeadas
Corriam pelo ar como grandes manadas
De bufalos. A lua ensangüentada e fria,
Triste como um soluço immenso de Maria,
Lançava sobre a cruz das coisas naturaes
A merencoria luz feita de brancos ais.
As arvores que outrora em dias de calor
Abrigaram Jesus, cheias de magua e dôr,
Sonhavam, na mudez hercúlea dos heróes.
Deixaram de cantar todos os rouxinoes.
Um silencio pesado amortalhava o mundo.
Unicamente ao longe o velho m V profundo
Descantava, chorando, os psalmos da agonia.
Jesus, quasi a expirar, cheio de dôr, sorria.
Os abutres cruéis pairavam lentamente!
A farejar-lhe o corpo; ás vezes, de repente,
Uma nuvem toldava a face do luar, (
E um clarão de gangrena, estranho, singular,
Lançava sob a cruz uns tons esverdeados,
Crucitavam ao longe os corvos esfaimados.
Mas passado um instante a lua branca e pura
Irrompia outra vez da grande nevoa escura,
E inundavam-se então as chagas de Jesus
Nas pulverisações balsamicas da luz.
íBihlicteca
d*.
101 -
Guerra Junqueira.
-•••-
MISÉRIA
Senhora! sóis mãe,
E mãe de Jesus-
— A fonte da luz,
A fonte do bem!
Doei-vos da triste,
Que. assim se consome,
E apenas resiste
A's maguas que tem.
Sou mãe... tenho fome.
Meus filhos também!
João de Deus.
— 102 —
Santos Dumont
A Europa curvou-se ante o Brazil,
E clamou parabéns, em meigo tom;
Brilhou lá no céo mais uma estrella:
— Appareceu Santos Dumont.
CAPRICHO
Não me falles agora. Estou doente,
muito nervosa, muito perturbada.
Pôz-me assim a alegria exaggerada
que mostras sempre ao pé de toda a gente.
Virgínia VicHorine.
-•••
— 104 —
O poeta e a fidalga
(RESPOSTA Á MODINHA DO MESMO TITULO)
-EH]-
- 106 —
FJ morte da Rguia
Luiz Guimarães.
110 -
Kremesse
Foi num dia de keremesse.
Depois de resá três ípreoe
Pr'a que os santo 'me ajudasse,
Deus quiz que nós se encontrasse
Pr'a que nós dois se queres se,
Pr'a que nós dois se gostasse.
0 leiga ri o Mariauno.
-CE>
0 Estudante Alsaciano
POESIA DRAMÁTICA
-CE]-
— 115 —
Lembrança de Mãe
Sonhos dourados de infantil aurora,
Que tive outrora, sem- sentir amor,
Hoje findou-ise toda a minha crença,
Desgraça immensa toe Tr08*1"011 n a dôr.
-C=>
A CARTA
A divina amorosa, reclinada
Sobre uma meza que um' lilaz perfuma.
Ao seu amante escreve, enamorada,
Esta? palavras ao correr da pluma:
116 —
João Penha.
-r=>
SEIOS
Curvas divinas, curvas de alabastro,
Abobadas celestes invertidas
Onde fulgura em cada polo um astro!
- - 118 -
Accacio. Antunes.
119 —
íTleia Noite
Começaram as horas a cahir;
Uma, d u a s . . . Virá ? Vem, cóm certeza.
E eu, commovida, assiml como. quem1 reza,
Cá vou contando as horas a sorrir.
Virgínia Victorijnlo.
nòoração
Vi o teu rosto lindo,
Esse rosto sem par;
Contemplei-o de longe mudo e quedo,
Como quem volta do áspero degredo
E vê ao ar subindo
0 fumo do seu lar!
120 —
João de Deus.
-r=2-
-T=3-
- 122 -
Pi Rosa e o 5ol
Dorme tranquilla, viçosa,
Pendida a fronte, uma rosa,
Numa noite de verão:
E sobre ella as gotas límpidas
Do orvalho, que fulgura
Da lua na luz tão pura,
Dos beijos da noite são.
-CEG
O FIEL
Na luz do seu olhar tão languido, tão doce,
Havia o quer que fosse
D'um intimo desgostei:
JEra um cão ordinária, um pobre cão vadio,
Que não tinha coleira e não pagava imposto.
Acostumado ao vento, e acostumado ao frio,
Percorria de noite os bairros da míserSa
A' busca d'um jantar.
Depois subitamente
0 artista arremessou o cão na água fria.
E ao dar-lhe o pontapé cahiu-lhe na corrente
0 gorro que trazia.
Era uma saudosa, adorada lembrança
Outrora concedida
Pela mais caprichosa e mais gentil criança,
Que amara como se ama ujtnia só vez na vida.
— 128
Guerra Junqueiro.
A LAGRIMA
POESIA DRAMÁTICA
Guerra Junqueiro.
-r=>
fl Locomotiua
Da penedia p dorso se espedaça,
Accelera-se o rio espavorido;
Abrem o seio escuro bipartida
A selva e o monte; o trem; de ferro passa..
Raymundo Corrêa.
Ros Jieroes òe 1 6 4 0
Poesia do saudoso amador Carlos Filipe
Pereira, escripta expressamente para
ser recitada no Grêmio Dramático
Gil Vicente, no seu espectaculo com-
memorativo da Restauração de Por-
tugal, em 2 de Dezembro de 1899.
Sessenta annos havia
Qu'a mão brutal do estrangeiro
Lançara no captiveiro
O gigante Portugal.
Sessenta annos de martyrio,
Sessenta annos dia a dia,
Sessenta annos d'ag*onia
Como nunca houvera egual!
-CEG-
— 135 —
O Fanôanguassú
Cançoneta cantada sempre com extraordinário agrado pelo
actor Leonardo.
Augusto Fabregas.
-•••-
Qisalento
MODINHA
Laurindo Rabello.
-E>
— 138 —
C1HZRS
Um grande amor em pouco se resume.
E o nosso como foi? Grande e pequeno
Não durou mais que a sombra d'um perfume.
Foi mal e bem'. Um balsamo e Um1 veneno.
Virgínia Victorfnjo.
-r=>
- 139 —
RRRULH05!..
Fado portuguez, cantado com enorme
successo pela actríz Emilia de Oliveira, lettra
de Celestino Silva, musica do maestro Pas-
choal Pereira.
I
Debaixo d'um parreiral
Estava Ar,thur com Briolanja
E ma^is além n'um beirai
Dois pombinhos, por signal
Dos da bella raça -archanja.
E o pombo girando
Dizia arruinando
Oh! pombinha bella
Fita o teu olhar
Repara como ella
Se deixa abraçar!
II
Phrases ternas amorosas
Disise Arthur a Briolanja
Comparou-se ás frescas rosas
A's camelias mais formosas
A* bella flor de laranja.
— 140 —
E o pombo girando
Dizia arruinando
Oh! pombinha bella
Fita o teu olhar
Repara como ella
Se deixa beijar!
III
E o pombo girando
Dizia arrulhando
Oh! pombinha bella
Para os imitar
Façamos como ella
Vamos pois casar!
- 141 —
Oraçõo ao pão
Num grão de trigo habita
Alma infinita.
Um grão de trigo
Mil annos morto num jazigo,
Bemdito sejas:
— 143 —
Bemdito sejas!
Bemdito sejas!
Bemdito sejas,
Trigo morto, cadáver fecundante,
Resuscitando em nós a cada instante
Bemdito sejas,
Bemdito sejas,
Bemdito sejas,
*
* *
Eil-o, a fraternidade
Eil-o, a piedade,
Eil-o, a humildade,
*
* *
* *
Homem!
Pela Verdade, intrépido e sereno,
Emborca a taça do veneno!
— 147 —
Homem I
Homem!
Homem!
* *
Ore mus:
Guerra Junqueiro.
-r=>
5ete a n n o s !
Elle era um garotito... um homemi pequenino,
Feliz de tudo e nada. Um riso crystallino
Nos lábios a pairar.
0 cabello em revolta, os olhos de alegrias
Traz sempre a transbordar... Contente ha quinze dias
Por saber assobiar...
M. Zamacois.
Como oluiòar-te ?
Ai tu não sabes
como eu padeço!...
De ti, pensando,
jamais me esqueço.
Estríbilho
Porque a saudade
que o estro inspira,
nas cordas geme
da minha lyra!
Os teus desprezos
não mais deploro,
porque não sabes
como eu te adoro.
Guardo no peito
que a dor consome,
gravado eterno
teu doce nome.
-•••-
Ou vê decerto,
Em mim, pobre iguaria!...
Eu sou o que se chama umi carga d'ossos!...
Vendido em qualquer talho,
Não valho
Dois tremoços!
Quer um conselho? Espere. Muito breve,
Meu dono. casar deve;
Tempo de boda,
Tempo de fartura!
Faz-.se gordura
Esta magresa toda!
Tal como sou não passo d'um latabislco!..
Emquanto que depois de uns dias ledos',
Não é por me gabar —I m a s . . . um petisco
Eu devo ser
De se lamber
Os dedos!
Era o guarda-portão
um canzarrão
Capaz de estrangular um lobo emquanto
O demo esfrega um olho!
0 lobo, ao vêl-o, diz, todo assustado:
«Senhor guarda-portão, um seu criado!..
E as pernas poz em rápido exercício!
Eduardo Garrido.
MORENA
Eu amo a gentil morena
bella, travessa, elegante,
a fronte altiva e divina,
olhar vivo e penetrante.
Estribilho
A NOITE
MUSICA DA MODINHA - «AS ONDAS SÃO ANJOS
QUE DORMEM NO MAR»
Uirgens mortas
Quando uma virgem morre, umla estrella apparece
Tíova, no velho engaste azul do firmamento,
E a alma da que morreu de (momento a momento
"Na luz da que nasceu palpita e resplandece1.
Olavo Bilac.
O canto òo Cysne
MODINHA
Laurindo Rebelfo.
A. de Macedo Papança.
— 161 —
O somno òe um anjo
Quando ella dorme, como dorme a estrella,
Nos vapores da timida alvorada,
E a sua doce fronte extasiada
Mais perfeita que um lyrio, e tão singella.
Luiz Guimarães.
DE LUTO
Sempre fechada, sempre triste! apenas
Assomando á janella, quando ha chuva.
Bem se vê que és sósinha, que és viuva
E te minam a alma grandes penas!
162 -
João de Deus.
— 163 —
O ÍTlartyr òo Caluario
QUADRO IX
(Monólogo de Judas)
Eduardo Garrido.
— 185 --
HRTRL
Jesus nasceu. Na abobada infinita
Soam cânticos, vivas de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquella pobre estrebaria...
Olavo Bilae.
LINDA !
Lá vae a noiva... Como vae linda!
Toda de branco... véo transparente;
— Não vás á egreja, que é cedo ainda...;
Aguarda o noivo que está auzente.
Peroão Emilia
Já tudo dorme, vem a noite em meio,
a turva lua vem surgindo além',
tudo é silencio, só 'se vê na campa
piar o mocho no cruel desdém'.
Como eu te aõoro
(ROSA DO SERTÃO)
Estribilho
Ai!
Como és formosa,
ó linda rosa
lá do sertão!
Ai, quem me dera
na primavera
dar-te os orvalhÓ3
do coração.
— 170 —
5alue Rainha
« Salve Rainha»,
Vida e doçura,
Risonha e pura
Virgem do amor!
Virgem que trazes
O allivio santo
Ao nosso pranto.
A nossa dôr.
Ninguém existe
Que não te adore,
E orando, implore
A graça e a luz..
- 171 -
Luz de esperança,
Serena e doce,
Que á vida trouxe
0 teu Jesus!
Tu és a aurora
Que escende os brilhos
Na alma dos filhos,
JDío amor dos pães...
E que transformas
.Em risos e flores,
— As nossas dores
— Os nossos ais!
« Salve Rainha »,
Doce esperança,
Luz de alliança
Da terra e céps!
Mãe dos que soffrem,
Desamparados,
Dos desgraçados,
E Mãe de Deus!
J. Augusto de Castre.
— 172 —
TRISTEZA
Nos dias de tristeza, quando alguém
nos pergunta baixinho o que é que temos,
ás vezes nem sequer lhe respondemos:
faz-nos mal a pergunta em vez de bem.
Virgínia Victorino.
Beijo na face
Beijo na face
Pede-se e dá-se;
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo;
Vá!
173 —
Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a .violeta:
Vá!
Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
E' innocente...
Vá!
Guardo segredo,
Não tenha medo...
Vê?
Dê-me um beijinho
Dê de mansinho,
Dê!
Saciar-uie ? louco..
Um é tão pouco,
Flor!
— 174 —
Deixa, concede
Que eu mate a sedo.
Amor!
Talvez te leve
0 vento em breve,
Flor!
A vida foge,
A vida é hoje,
Amor!
Guardo segredo
Não tenhas medo
Pois!
Um mais na face,
E a mais não passes.
Dois...
Três é a conta
Certinha e justa.
Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta!
Três!
- 175 -
As folhas santas'
Que o lyrio fecham,
Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas ?
Três!
João de Deus.
(Musica de H. Vargas).
R preta mina
(XISTO BAHIA)
Eu tenho uma namorada,
que é mesmo uma papafina,
lá na praça do Mercado...
Digo logo: é preta mina.
Estribilho
Laranja, banana,
maçã, cambucá,
eu tenho de graça
que a preta me dá.
— 176 —
Em noite de frio,
da que ella mais gosta,
me extende por cima
seu panno da costa.
Carurú apimentado,
que ella faz com tanto geito,
dá-me, ás vezes, tão somente
para me vêr satisfeito.
PERDÃO
Perdão, Senhor, meu Deus, mi'nh'alma sente,
e não pode deixar de não sentir! i
Se eu disser que eu não sinto, eu sinto sempre;
é melhor confessar do que mentir.
— 177
Chiquínha
Chiquinha, si eu te pedisse
de modo que ninguém visse,
um beijo, tu m'o negavas?
— Ai davas... Ai davas!
Um dia eu te divisando
na varanda costurando,
me recebeste sorrindo!
— Bem vindo! Bem vindo!
— 178
Anthero de Qufntal.
Muito pedir
— Dá-me esse jasmim de cera,
Minha flor?
*Mas e depois se lh'o dera,
Meu senhor ?
— 180 —
João de Deus.
— 181 - ,
A Canção do Africano
(A João de Azevedo)
1 Deus."
182 —
porque morreu
aquelle ininan 2 divino
que, ao lado teu,
me fez da terra um céo!
2 Amor.
3 Choça.
4 <
5
— 183 —
6 Lua.
184
OS VELHOS
Quando eu fôr muito velho e tu velhinho fores
E teus lindos cabellos estiverem brancos já,
No teu jardim florido, em maio, mez de amores
Iremos assentar-nos ao pé de Baobá.
A primavera em flor virá reacendei)
O folo e o calor dos jovens amorosos,
E trêmulos, a rir, verás ainda volver,
Passados tantos annos, os dias venturosos.
Estou certo de encontrar ainda esses fulgôres
No teu languido olhar, olhar como não ha,
Quando eu fôr muito velho e tu velhinha fores
E teus lindos cabellos'estiverem! brancos já.
7 Canção, dança.
— 185 —
Rosemond de Rostand.
Trad.
BORBOLETA
Borboleta, meus encantos,
mimoso insecto, onde vaes ?
Vaes á pátria dos amores
ver as fontes de crystaes?
Has de ver a minha Elvira
entre as flores de coraes!
Epithalámio
Senhora que vindes, cândida e perfeita,
De que céus decestes? Que estrella vos guia?
— Tão formosa e alva, nem1 que fosseis' feita
Do mais tenro trigo, que agora se eleita
Aos seios da terra que também' me cria!
ETERDF) D O R
Já te esqueceram todos neste mundo...
Só eu, meu doce amor, só eu me lembro,
Daquella escura noite de setembro
Em que da cova te deixei no fundo..
Arthur Azevedo.
Sobre as onàas
Sobre as ondas mansamente,
o nosso barco, fagueiro,
oscila brando e ligeiro,
á luz do luar albente!
— 190 —
Uamos, Eugenia
Vamos, Eugenia, fugindo,
de tudo, alegres, nos rindo,
bem longe nos occultar,
como bohemios amantes,
que dizem, vagando errantes
P'ra ser feliz basta amar;
O Fado da Severa
Por te amar, ando perdido,
E, perdido, sem saber,
Si por ti tenho vivido,
Eu por ti ei-.de morrer...
Ribeiro de Carvalho.
R Somnambula
O Beija-Flor
Beija-flor, côr de esmeralda,
que a linda fronte engrinalda,
olha, o raio é fogo em braza!
Não o beijes1, que te escalda!
Bate as azas,
beija-flor!
Vae-te embora,
beija-flor I
Vôa, vôa,
beija-flor I
dá-lhe um beijo,
beija-flor!
volta, volta,
beija-flor!
— 197 —
A Extrema Unção
i
O cortejo que leva a extrema-uncção,
Vae triste e vae calado;
Calado e triste o povo agglomerado;
Triste e calado o padre e o sacristão.
Se pudesse esquecel-a,
Derruir na memória
Essa risonha quadra transitória,
Trecho de vida deliciosa e bella,
Ao longe intercalado
Na sombria aridez do seu passado!
E as moitas d'alecrim...
Parece que foi hontem! Abraçados...
— «Jesu3! 0' Virgem, mãe dos desgraçados,
Tem compaixão de mim!»
II
III
F) côr morena
A côr morena
é côr do ouro,
a côr morena
é meu thesouro.
Fui condemnado
pela açucena
por exaltar
a côr morena.
A côr morena
é meu delírio,
a côr morena
é meu martyrio.
A côr morena
é, côr de prata,
a côr morena "
me prende e uiata.
A côr morena
me dá calor!...
A côr morena
é toda amor.
A côr morena
é côr de ouro!
A côr morena
vale um thesouro.
— 205 -
Estribilho
5auâaôes òe maura
Imitação
[3
O canto ôa noiua
DESPERTA
Accorda, escuta: os passarinhos cantam!
Olha! Lá surge no deserto a luz!
O sol vermelho já fugiu do leito,
banhando a fronte nos regalos nús!
5 e soubesses
Musica da modinha « Que importa que a ausência de ti». etc.
Se acaso soubesses o quanto de adoro,
talvez que não foras assim tão ingrata!
A dôr que meu peito lacéra, pungente,
é dôr inaudita qse fere e que mata!
— 211 -
-CED-
O bem-te-ui
A' sombra de enorme e frondosa mangueira,
coberta de flores, da tarde ao cahir
a virgem dos campos, morena garbosa,
contava ao amante meiguices a rir!
-E3-
Canção da tarâe
Quando o sol, do Armamento
Fôr descendo
Ao mar sem 'fim,
Lembra bem esse momento..
Nunca te esqueças de mim'.
— 214 -
Hão és tü
Não és tu quemi eu amo não és,
nem Thereza também, nem Cyprina,
nem Mercedes, a loura, nem mesmo
(bis)
a travessa e gentil Valentina.
-CE2-
— 216 —
ABANDONO
As abelhas d'oiro fogem da colméia,
Vão na terra alheia
Fabricar o mel...
As abelhas d'oiro, d'infieis ampres;,
Ao murchar das flores
Fogem do vergel.
MYSTICISMO
São quatro linhas só, quatro palavras,
Rosita minha flor
Que deixo neste livro, consagrando
A luz do teu pudor.
UM IDYLIO
Elle era uma creança... de 80 annos!
Ella oitenta e seis... par'ciam manos!
Ha sessenta Janeiros, talvez mais,
que se haviam casado — e dos casaes
eram casto modello. .. um' puro ceu!
Idyllio de Virgínia ou de Romeu!
Do lár, elle era um santo patriarcha,
e ella meiga Laura de Petrãrcha!
Nem mesmo se descreve igual carinho
n'amorosa plumagem d'outro ninho!
— Havia lhes morrido, (quando em flor)
uma qu'rida filhinha, um' bom penhor
que Deus, por grã mercê lhes confiara,
e que, passados annos, lhes roujbára,
afim de exp'rimentar, se a provação
faria adulterar tanta affeição!
Porém, se em Deus haver pode incerteza
d'esta vez enganou-se com certeza;
que envolvidas as dores d'essa saudade,
no manto fatalista dá edade,
a crença lhes ficou de que nos céus,
um anjo, pelos pães, rogava a Deus!
E, sentiam-se os velhos muito bem,
pois é sempre feliz, quem crenças tem!
— « Eu ?
— « Sim!
— « Um velho!
— « Um tolo! Um desleal!. ..
—<' E eram até loiras. .. por signal!
—« Gostaria do ver a tal cegojhha...
—« E não lhe cáe a cara de vergonha!
—« Não sei, como de dôr, eu não esteiro...
— « Maldito sejas t u . . . cabello louro!!!
Mas filha. .. eu não vejo...
—« Elle aqui 'stá!
—« E' talvez do caixeiro lá do chá,...
— « Diga!...
— « Mas... é um pello da cadella
do vizinho da loja... é amarella!
— « Um pello?!
—« Sim. Ha pouco a tive ao collo
— </ e, até, por signal, lhe dei um bailo.
— « Será verdade?!...
—« Filha, vê que um pello
—« não áe confunde com qualquer cabello!
—« Não te faças, de mais, desconfiada...
—« repara... tem a ponta esbranquiçada.
E a velhinha, depois d'examinar
e de, n'essa verdade, se formar,
ás faces, lhe subiu, um rubro pejo. ..'
o velhote abraçou e . . . deu-lhe um beijo...
Baptista Machado.
-CE]-
DALILA
Foi desgraça, meu Deus!... Não; foi loucura
Pedir seiva de vida —{ á sepultura,
Em gelo — me abrazar.
Pedir amores — a Marco sem brio,
E a rebolcar-me em leito imlmundo e frio
— A ventura buscar.
Castro Alves.
-T=D-
5empre te amanòo
Sempre te amando desprezando as outras
passando os dias só pensando em ti,
sempre chamando por teu doce nome
desde o momento em que te conheci.
— 229
-C3-
II
Na lyra adorentada
um ai lateja,
a flor dos lábios meus
teu nome te adeja,
o pranto aos olhos vem
em gottas frias,
a dôr tem harmonia
que o prazer não tem.
1.» PARTE
III
í.» PARTE
2.» PARTE
No collo da saudade
a mente vôa,
o seio da minh'alma
a dôr magoa,
o pranto tem dulçor
eterno ameno
e com mais sereno
porque vem do amor.
1.» PARTE
Eu vou fugir de ti
fui desprezado,
já bastante padeci
sou desgraçado,
vou fugir não torno mais
ai que maldade,
tem piedade, tem piedade
de meus ai 31
3.a PARTE
l.a PARTE
fTleu cafuné
i
II
III
IV
VI
VII
VIII
-CH]-
ESTRIBILHO
-r=>
-C3-
Penso em ti
Penso em ti quando vejo em' céo sereno
meiga estrella isolada a scintiljar,
quando a lua penosa e macilenta
merencorea e saudosa beija o mar.
— 236 —
-CE]-
-CE3-
Lenòa N o r m a n ò a
i
II
III
Júlio Dantas.
ZE2
Ai, se eu pudesse
Serias minha até morrer!
Muito padece
Meu coração por te querer.
Eu de saudades vivo,
meu amor...
Minha dôr te bendiz!
Decide minha sorte,
Dá-em a morte
Que só assim serei feliz, (bis)
II
Ai, se eu pudesse
Serias minha até morrer!
Soffre e padece
Meu coração por te querer.
III
Quanto padece
meu illudido coração,
triste fenece,
na dôr da tua ingratidão.
Tu negas ao captivo
Trovador
um teu olhar furtivo,
linda flor.
Só de chorar eu vivo,
meu amor;
Minha dor
te bendiz,
Quero morrer sonhando,
me enganando,
Que só assim serei feliz, (bis)
— 242 —
IV
Ai, se eu pudesse
Serias minha até morrer!
Geme e padece
meu coração por te querer...
C3
Mimosa saudade
i
ESTRIBILHO
Ai, minha bella!
Ai, minha flor,
Se tu me acompanhas
No meu pranto e dôr. } (b^)
II
Tu te cobriste- de roxo,
eu de magoas, minha flor!
se choras eu também choro...
sepultando, sepultando a mesma dôr!
III
-CHI-
VELHINHO
Ail quem me dera ser um velhinho
Mui pobresinho,
Tropego e débil, misero, só...
Ir pela estrada, pelo caminho,
Corcovadinho,
Rotas as vestes, vestes antigas, cheias de pó!
- 244 —
13
Cyrano de Bergerac
ACTO TERCEIRO — SCENA IX
Cyrano
«Beijo. A palavra sorri
e queima-se detrás do lábio que a deseja.
Beijo a brincar na boca e boca que não beija,
porque o pudor retraíe esse desejo louco...
— 245 —
PASTORAL
Canção popular portuguesa, musica de Vianna da Motta
II
-CE>
Então, minh'Armania,
Feliz me julgava
Em vêr a meu lado
Aquella que amava.
Capellas e flores,
Prados e jura,
Foi sonho enganoso,
Foi tudo amargura!
Assim, minh'Artnania,
Vou triste passando,
Em sonhos somente
Ventura gosando...
— 249 —
Fui dar co'a pobre velha — ai! com que dôr me lembro!
Assentada a um canto, os netos apertando
Contra o peito. E pensei:
— Sou eu que os mato!
E quandiot,
Hesitante, a mulher me disse, sem rancor:
— João, só nos restava um roto cobertor;
Quiz empenhal-o... quiz... Ninguém o acceitou.
Onde ir buscar o pão?
— Deixa, mulher! Eu vou!
De coragem me enchi, e tive a repentina
Decisão de voltar de vez para a officina.
.•Sabendo que ia ser por elles repellido,
Fui porém á taverna afim de^ reunido,
Todo o grupo encontrar dos director's da greve.
Entrei; a minha vista absorta se deteve:
Bebiam quando havia alguém que tinha fome!
Bebiaml! Que o auctor d'este crime semi nome,
Que alimentava a greve á sombra da taverna,
Receba deste velho a maldição eterna!
— Apenas avancei, os que estavam bebendo
As minhas intenções ficaram' percebendo:
Tinha os olhos em sangue e a fronte em humidade.
Apesar de lhes ver a fria gravidade,
Falei-lhes d'esta forma:
— Escutem ao que venho.
Minha mulher é velha; eu sessenta annos tenho;
A* minha guarda estão dois netos que eu adoro;
Na humida. mansarda onde com elles moro
Nem um farrapo existe, e a fome a todos rala.
Um leito no hospital, o corpo para a vala',
El sorte por mim1 talvez, um pobretão,
Mas para a minha velha e para os netos — não!
Quero voltar sósinho ao meu trabalho honrado,
— 254 —
O CREOULO
Quando eu era molecote,
Que jogava o meu pião,
Já tinha certo geitinhp
Para tocar violão.
Quando eu ouvia,
Com harmonia,
A melodia
De uma canção,
Sentia gatos
Que me arranhavam',
Que me pulavam1
No coração.
Na companhia
'Stava alojado,
Todo equipado,
De promptidão;
Emquanto esp'rav.a
Brado de fogo,
Preludiava
No violão.
Sempre na ponta,
A fazer successo,
Desde o começo
Da nova vida;
— 259 —
Rindo e brincando,
Nunca chorando,
Tomei-me firma
Bem cnohecida.
Meus sapatinhos
De entrada baixa,
Calça bombacha,
P'ra machucar;
As mulatinhas
Ficam gostando,
,E se babando"
Co'o meu pizar.
'Stou encantada,
Admirada,
Como elle tem1
Os dedos leves...
Diga-me ao menos
Como se chama... ? »
«.Sou o creoulo
Dúdá das Neves.»
Engenho Novo, Fevereiro de 1900.
— 26C ~
II
Se eu chegasse a ser estrella
e a brilhar no azul dos céos,
eu dava todo oi meu brilho
só por um beijo dos teus.
III
IV
VI
TH
VIII
IX
Olavo Bilac.
CED
0 Lyrio da Campina
Viste o lyrio da campina?
Lá 3'inclina
E murcho no hastil pendeu!
— Viste o lyrio da campina?
Pois, divina,
Como o lyrio assim sou eu!
263 —
-CE]-
Rue (Daria !
A noite desce, lenta e triste,
Cobrem as sombras a serrania,
Calam-se as aves, choram os ventos,
Dizem os gênios: — Ave, Maria!
264 —
-Z=2-
CARIDADE
'Para um sarau em. beneficio das Creches
E então a creancinha,
Ainda meio a dormir,
Olha p'ra mãe a sorrir
E soletra na expressão
Duma celeste oração:
« Levas-me á Creche, Mãesinha ? »
Domitilia de Carvalho.
Ho infinito..
i
Viver, pensar, sentir. Bem hajas, natureza!
Ter alma é ter na vida um' raio do infinito,
Que nos' suspende o olhar eternamente fito
A contemplar-te sempre a explendida grandeza!
II
III
IV
Fernandoi Caldeira.
-rE2-
RQ5RS
Segundo uma lenda antiga,
Maria com José
Fugindo á gente inimiga,
Transpoz caminhos a pé;
Prestito Fúnebre
Que alegrias virgens, campezinas, fremem
Neste immaculado, limpido arreboll , (
Como os gaios cantam!... como as moras gememI
Nos olmeiros brancos, cujas folhas tremem,
Refulgente e nova passarinha p sol!...
r=]
F) tua janella
Todos os dias na rua
Defronte dessa janella,
Que barbaridade a tua,
Porque não chegas a ella?
-EE3-
Serenata Inàiana
Um doce rio desliza
Por entre arvores gigantes,
A' claridade indecisa
Das estrellas scintillantes'.
Ha o murmúrio do rio,
Ha o frêmito da relva,
E o flébil ciciar macio
Das ramarias na selva.
* *
*
* *
-CED-
F) esmola òo pobre
Nos toscos degraus da.porta
D'egreja rústica e antiga
Velha, tremula mendiga,
Implorava compaixão.
Quasi um século contando
De tormentosa -existência,
Eil-a, triste, na indigencia,
Que á piedade estende a mão.
E a mendiga alvoroçada
Ao collo os braços lhe lança
E beija a pobre creança,
Chorando de commoção . .
— E' assim a Caridade:
De pobre a- pobre consola.
Não só da mão sae a esmola,
Sae também do coração!
Júlio Diniç
O (raòo Liró
Guitarra, guitarra, geme,
Que o meu peito todo freme
Quando choras pianinho...
Não ha fado com mais alma
Que o liró, pois leva a palma
Té ao próprio choradinho.
As duquezas e condessasí
Ao cantal-o pedem meças,
Sem receio de perder;
Nas areias de -Cascaes
Tem meu fado encantos taes
Que é da gente endoidecer!
II
Guitarra, guitarra amiga,
Quando boto uma cantiga
No mais famoso salão,
— 293 —
OUTRAS COPLAS
-EE2-
Noiuaoo na alàeia
— «Andaram na aldeia,
Ha bem poucos dias,
Alguns da cidade,
Pregando heresias.
A fructa é avondo.
Ao que mostra o pão
Não cabe nas eiras.
E o vinho... isso então!
Nunca vi um maio
Tão bem assombrado,
Assim Deus nos guarde
Dalgum mau olhado!
Entraram na ermida,
O Carlos e a Iria
Cortados de medo,
Por tanta heresia.
— 297 -
Bulhãio Pato.
-[=]-
O funeral da pomba
;Um pequenino a soluçar, caminha
A' tarde pela estrada;
Vae, de capa encarnada,
A agitar tristemente a campainha.
No ar adeja o bando
Dos rouxines, soltando
Uns dolorosos pios!...
E pelo pinheiral
Perpassa o vento a soluçar a medo,
Como quem chora em intimo segredo,
Ao, vêr passar o triste funeral!
Alberto Braga.
— 299
Cantigas populares
S. João p'ra vêr as moças
Fez uma fonte de prata;
As moças não vão a ella,
S. João todo se mata.
S. João adormeceu
Nas escadinhas do coro,
Deram as freiras com elle,
Depenicaram-o todo!
O S. João embarcou
Com vinte e cinco donzellas.
Embarca, não, desembarca,
S. João no meio dellas.
O altar de S. João
E' um jardim de flores,
Enfeitado pelas moças
Com sentido nos amores.
S. João adormeceu
Debaixo da laranjeira,
Cahiu-lhe a folha por cima,
,S. João que tão bem cheira!
-r=>
A Pátria Portugueza
Qual é a tua pátria, ó portuguez? E' o Douro
Com os seus alcantis, pomares, vinhedos, fontes?
O Minho, esse vergel, todo esmeralda e ouro?
A sorridente Beira? A altiva Tras-os Montes?
Delfim Guimarães.
-r=3-
- 303 —
O Coruo
(Traduzido de Edgar A. Toe).
Machado d'Assis-
— CED——
Carlos Ferreira.
Quero morrer
O Cântico òo Caluario
Eras na vida a pomba predilecta
Que sobre um mar de angustias cònduzias
0 ramo da esperança. Eras a estrella
Que entre as nevoas do inverno scíntillava,.
Apontando o caminho m> pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Erao o idylio de um amor sublime.
Eras a gloria —- a inspiração, a pátria,
0 porvir de teu pai! —< Ah! no entanto,.
Pomba ,— varou-te a flecha do destino!
Arslro _£, Enguliu-te o temporal do norte!'
Xecto — cahiste! Crença — já não vives L
Fagundes Var&lla.
Regresso ao Lar
Ai, ha quantos annos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi ha vinte ?... ha trinta ? Nem eu sei já quando!
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-íne cantigas para me eu lembrar!...
Guerra Junqueiro.
Mestre
Dama
Toma cuidado,
Não te vás embriagar...
Mestre
Dama
Mestre
Dama
•Mestre
Dama
Mestre
Dama
Negro atrevido
Vai te lavar.
Mestre
Dama
Mestre
Dama
Dama
Mestre
Dama
Mais devagar...
Não vamos a correr...
Mestre
Dama
Mestre
Eu quero Sinhásinha
Para ser minha muié...
Dama
Mestre Domingos
Tens casa para mim?
326
Mestre
Dama
Mestre
AS POMBAS
Vae-se a primeira pomba despertada...
Vae-se outra mais... mais outra... Emfim dezenas
De pombas vão-se dos pombaes, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada..,.
Raymundo Corrêa.
Hunca mais
Nunca mais, morena ingrata,
me ouvirás falar de amorl
Vou viver na soledade...
Já jurei por minha dôr.
Foste falsa, perjuraste...
Como em outra posso crer?!
Vou viver na soledade...
Não verás o meu soffrer.
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãi de saudades morreria
Se eu morresse amanhã.
Cerração no Mar
Noite... Cerração fechada
Pela proa me apanhou
Co'a bitacola apagada
Nunca... ninguém navegou
Leme, casco, vergas, mastros,
Tudo — sem luz — Vai de rastros,
Dar em terra. Como eu dou!
J. M. Dias Guimarãesi
-CED-
Silencio trágico
A faina principiou de manhã cedo,
Manhã de junho, quente, abafadiça:
Os machados, na arranca da cortiça,
Rasgam de cima abaixo o arvoredo.
Conde de Monsaraz.
-CE3-
Manhã de Abril
Ha frêmitos de amor entre a verdura:
— Vai passando a Senhora Baroneza,
Que é mesmo um mimo de graça e de belleza
E uma branca e finíssima esculptura.,
Cofnde de Monsaraz.
-cz>
-C=>
Vou partir
Vou partir, viver ausente,
Vou viver longe de ti,
Saudoso deixar os lares
Onde feliz eu nasci..
Onde os mais bellos encantos',
Sorrindo, n'alma frui.
-CZD-
0 pássaro captivo
Armas, n'um galho de arvore, o alçapão
E, em breve, uma avesinha descuidada,
Olavo Bilac.
— 340 —
CONFITEOR
Oôe aos meus a m i g o s
Meus amigos, ouvi o que hoje vos confesso:
Fallando em Portugal eu penso que regresso
á minha pátria amiga e creio na illusão
— porque vem a sorrir do fundo corjação.
E o meu engano é dooe e ledo, na verdade,
— porque traz o travor amargo da saudade,
— porque por toda a parte e em tudo me sorri
a terra em que folguei; e o berço em que nasci
baloiça em cada ramo; e anda de monte eira monte
a voz de minha mãi cantando em1 cada fonte;
— porque se me afigura ouvir pela manhã
na voz da cotovia a voz dé minha irmã
enchendo a nossa casa alegre, clara, honesta,
de um sereno rumor pacifico, de festa;
— poruqe eu vejo fulgir ao pallido luar,
em cada capellinha um canto do .meu lar,
e no fumo que sobe, á tarde, dos telhados,
reconheço a espiral de anilhos azulados
com que, á noite, a rezar, carinhosa e gentil,,
tminha mãi defumava o meu berço infantil;
— porque o seio aromai das luzitanas flores
rescende o mesmo aroma e tem as mesmas cores
daquellas que, em pequeno, ao fresco amanhecer,
pés descalços, eu fui tantas vezes colher;
— porque vendo trepar os ramos das videiras
pelos troncos senis das velhas carvalheiras,
eu me lembro do tempo em que meu velho avô,
orgulhoso de o ser, também commigo andou
nos hombros, a cantar, numa alegre loucura:
castanheiro senil coberto de verdura;
— porque ao ver uma rosa alvissimá, cheiinha,
creio que estou a ver, coberta de farinha,
341
— Meus amigos 1
Em vós eu vejo os meus irmãos
sorrindo-me de longe e estendendo-me as mãos
para fazer depois uma jornada nova —
— a jornada final que vai parar na cova...
tão grande que não cabe em todo o azul do céo,
tão curta que mal cobre o, chão de um mausolébl
Pinto da Rocha.
-cz>
Qual pombinha
Qual pombinha que se açoita,
Sobre a moita, comi primor,
Como a vaga borboleta,
Quando inquieta, o beija flor.
ESTRIBILHO
Volitando, forasteira,
na carreira meu amor,
tu pareces a folinha,
que se aninha no vérdor!
»•-!-
Gemendo na lyra
Senhores, venho pedir-vos
Um momento de attencão;
Quero vos dizer quem sou,
Por meio de uma canção.
— 346 -
ESTRIBILHO
DEDICATÓRIA
Pelo sagrado amor que vem de ti,
amor que eu amo com a!mór sagrado;
pelo ideal descoberto e realizado,
—- bemdita seja a hora em que te vil
Virgínia Victorino.
— 348 —
O Fusileiro naval
LUNDU
ESTRIBILHO
-CE]-
GORTA JACA I
DUETO
< Grande successo dos actores Machado (caréea) e
Mario Lino)
( Cavalheiro e dama )
ELLA
Assim... Olé!...
ELLE
ELLA
F.LLE
JUNTOS
Um flamengo tão gostoso, tão ruidoso,
Vale bem uma pata ca;
Dizem todos que na ponta... está na ponta.
Nossa dança corto jacal corto jaca!
O Livro e a America
Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, crear, subir,
0 Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir,
— Estatuario de colossos —
Cansado d'outros esboços
Disse um dia Jehovah:
eVai, Colombo, abre a cortina
«Da minha eterna officina...
«Tira a America de lá.»
Molhado inda do dilúvio,
Qual tritão descommünal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
U m _ traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceylão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam a amplidão.
|352
Castro, Alves-
-r=2
O CEGO
Eu sei modinhas tão bellas
que as estrellas,
que as estrellas commovidasl,
param nos céos quando as canto,
choram tanto,
lançam queixas tão sentidas.
— 355 -
O canto do desgraçado,
desherdado
das obras da creaçãp,
acha asylo em teu peito,
foi acceito
de teu santo coração.
356 —
O Fingú òo Barão
Convidado um dia,
Só por cortezia,
Fui á casa dum Barão,
Cm velhinho curvo,
De olhar já turvo,
Mas casado... com um peixão.
Para apreciar,
Com elle almoçar
Um angu de quitandeira;
Lá fui, não pelo angu,
Mas pelos olhos da Baroneza faceira!
ESTRIBILHO
Sobre .a malagueta
Credo não é peta,
Cálices de paraty:
0 velho entornava,
.'. E a língua estalava,
Com prazer que nunca vi.
Dahi a bocado,
De olhar revirado,
Mette as ventas no meu prato.
Ah! Céos! que carraspana:
Pobre velho... Já tinha amarrado o gato.
— 357 -
FLOR PA NOITE
Tens no teu corpo negro repassado
D'um efluvio magnético, dormente,
A doçura de um fructo avelludado
E a indolência nervosa da serpente.
Guerra Junqueiro.
-U=2-
Saudades da Infância
Eu sinto terna saudade
Do meu tempo de creança,
Quando, travesso, nos campos,
Montava na ovelha mansa.
Adormecia cansado,
A' sombra dos bogarys;
Sonhava co'a mãe querida
Que me fazia feliz!
•
Fazia mil travessuras
E quando o pai mo ralhava,
Corria ao collo da mana:
Ella sorria, eu chorava.
Luiz. Guimarães.
—ZE3
R mULfíTR
i
n
De emtorno dez léguas da vasta fazenda
Ao vel-a corriam* gentis amadores.
E aos ditos galantes de finos amores,
Abrindo seus lábios de viva escarlata,
Sorria a mulata,
Por quem , o feitor
Nutria chimeras e sonhos de amor.
III
IV
Gonçalves Crespo.
- 362 —
A Nau Cathrineta
Lá vem a nau Cathrineta,
Que tem muito que contar!
Ouvide agora, senhores,
ü m \ historia de pasma/.
— « Alviçaras, capitão,
Meu capitão general 1
Já vejo terras de Hespanha,
Areias de Portugal.
-CE3-
Os Pobresinhos
Pobres de pobres são pobresinhos,
Armas sem, lares, aves sem ninhos.
Em caravanas, em alcateias,
Vão por herdades, vão por aldeias.
E embalsámados, transfigurados,
Tonica3 branca3 como em' noivados.
Guerra iunqueiro.
-czi-
Circulo vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
« Quem me dera que fosse aquella loura estrella,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!»
Mas a estrella, fitando a lua, com ciúme:
Machado, de Assis.
-CE]
5upplica
Meiga filha de Deus, rosa d'aurora,
acceita" méu amPr, não sejas má.
Quando um riso de amor o vate implora,
como o amor que elle sente amor não ha.
Rosas
Eugênio de Castro.
371 -
Enterro de Ophelia
Morreu. Vae a dormir, vae a sonhar... Deixal-a
(Fallae baixinho: —; agora mesmo; se finou...)
Como padres orando, os choupos formlam ala,
Nas margens do ribeiro onde ella se afogou.
Antônio Nobre.
Antônio Nobre,
R s õuas mães
Numa igreja se encontraram1
Duas mães em certo dia.
Uma entrava nesse instante,
Toda cheia de alegria;
Orgulhosa e triumphante,
Levava, chegado ao peito,
Um filhinho a baptizar.
Outra, infeliz, que saía,
Levava um filho também,
Oh! mas essa pobre mãe
Levava o filho a enterrar!
Cruzaram-se a poucos passos,
A que trazia nos braçes,
— 373 —
R. A. de Bulhão Pato.
->• < • » i-
Pelo portão
CANÇONETA
Diante do espelho
Sentada ao pé do espelho rezulente
Está fitando a lua a fulgurar;
Mas da janella o roseo transparente
Intercepta as caricias do luar...
Antônio Feijó.
- 377
Ri, morena
Ai, morena,
E's formosa,
Tu és formosa, morena,
E tua altivez garbosa
Nutre-se sempre serena,
Ai, morena,
E's formosa.
Ai, morena,
Teu sorriso
Em teus lábios de carmim.
Elle para sempre indeciso,
E julgo ser só para mim.
Ai, morena,
Teu sorriso.
Ai, morena,
Teu olhar
Tem scintillações de ardor,
Que o estro faz vacillar,
E dá ao coração — amor.
Ai, morena,
Teu olhar.
Ai, morena,
Tua voz
Tem um tom harmonioso;
E quando estamos a sós
Tem o som mavioso.
Ai, morena,
. Tua voz.
- 378 -
Ai, morena,
Tuas faces
Têm o encanto da rosa,
São mais viçosas que alfaces
E têm a tez setinosa
Ai, morena,
Tuas faces.
Ai, morena,
Teus olhinhos
Têm uma côr desmaiada.
São faceiros, pequeninos,
E deixa a alma prostrada,
Ai, morena,
Teus olhinhos:
Ai, morena,
Teus cabellos
Têm uma côr trigueirinha,
Seus longos fios singelos
Prenderam a alma minha.
Ai, morena,
Teu3 cabellos.
Ai, morena,
Teu amor
Eu bem quizera obter,
E possuir-lhe o penhor;
Mas é difficil prender,
Ai, morena,
Teu amor.
379 -
Ai, morena,
Teus encantos
São bellos, são seductores,
Enchem miiüYalma de pranto,
Teus attrativos de amores.
Ai, morena,
Teus encantos.
Ai, morena,
E's minh'alma,
Sem ti não posso viver,
A minha fronte tão calma
Sinto-a desfallecer.
Aji, morena,
E's minh'ahna.
FraJncisco Pereira-
-CE]-
fTlaâona òa tristeza
Quando te escuto e te olho reverente,
E sinto a tua graça tris|fe e bella
De ave medrosa, temida, singela,
Fico a scismar enternecidamente.
Cru* e Souza.
Tenho medo
Moreninha, eu tenho medo
dos teus olhos tão formosos,
dos teus olhos tão brilhantes,
Como os astros luminosos.
Tenho medo que me firam,
que m« sejam periogosos.
-rz>
Sempre !
O viuvo, indo casar segunda vez,
A filha chama, que apressada vem,
— «Estas jóias são de tua mãe,
«• Guardei-as para ti na viuvez... »
Eugênio de Castro.
CEO
O BEIJO
LUNDU
0 beijo é um fructo
de gosto subido,
Mas deve colhido
n'uma arvore ser I
Mandando não presta,
nem mesmo dá gosto!
Furtado n'um rosto,
que gosto o colher!
Se a arvore é nova,
viçosa e mui bella,
os fructos são nella
dos olhos ao pé!
Os lábios se collam
n'um doce prazer!
Dá gosto morder
nas cascas até!
-!-•«
— 384 —
F) òoiòa òe FJlbano
BALLADA
II
A. X. Rodrigues Cordeiro.
387 —
O teu lenço
Esse teu lenço que eu possuo e aperto
De encontro ao peito quando durmo, creio
Que hei de um dia mandar-t'o, pois roubei-o
E foi meu crime, em breve, descoberto.
Guimarães Passos.
II
III
IV
Luiz Delfino.
cx
- 390 —
Uelhas fíruares
Olha estas velhas arvores, mais bellas
Do que as arvores1 novas, mais amigas:
Tanto mais bellas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procejlas...
Olavo Bilac.
O Banòolim õa Desgraça
Quando de amor a Americ(| douda
A moda tange na febril viola,
E a mão febrenta sobre a corda fina,
Nervosa, ardente, sacudida rola,
— 391
Castro Alveis.
CD
Canção òo Peixinho
Cantada no primeiro acto da opereta A " GEISHA
MIMOSA
II
C3
— 394 —
O filho morto
No povo d'além da serra
Vae a noite em mais do meio,
E a pobre mãe velava
Unindo o filhinho ao seio.
«Tarda-me já um sorriso
«Nos teus lábios de rubim;
«Acorda, meu filho, acorda,
«Sorri-te ledo p'ra mim1.»
E á noite no cemitério
Outro jazigo se via:
Era a mãe que ap pé do filho
Na sepultura dormia.
Soares de Passos.
395 —
Durante a Tempestade
-CE>
Rrrufos
Não ha no mundo quem' amantes visse
Que se quizessem como nos queremos.
Um dia, uma questiuncula tivemos
Por um simples capricho, uma tolice.
Arthur Azevedo.
— 400 —
Estudo Anatômico
Entrei no amphitheatro da sciencia
Attrahido por mera phantasia,
E me aprouve estudar anatomia
Por dar um novo pasto á intelligencia.
Adelino Fontoura.
A Vingança da Porta
Era um habito antgio que elle tinha:
Entrar dando com a porta nos batentes'
— Que te fez essa porta? a mulher vinha
E interrogava. Elle cerrando os dentes:
- 401
VELHA AMIGA
Eugênio de Castro.
-rzo-
Luiz Guimarães.
-CEJ-
O Pauilhão Negro
Lá vem as naus da França! — Magestosa
Cada qual traz no tope a gloriosa
Bandeira das treS cores!
As mesmas são, que outr'ora, entre os ardores
Da batalha que deu a gran-cidade,
Baiaram, augurando maravilhas,
Nas rendidas ameias das bastilhas
Como um iris no céo da liberdade!
Achal-as-hão enterradas'
N'algum recanto sombrio,
Onde, co'o raio já frio,
Jazem na inércia ignoradas.
Nos* rudes braços valentes
Hão de trazekas contentes
D'esses vãos dos arsenaes
Nossos bravos mareantes:
Elles sabem como dantes,
As manobraram1 seus pães!
Ao arrogante estampido
Das possantes coronadas
Pelas boccas inflammadas
Responda o immortal ruído
De trez séculos de gloria!
Gravada tem a victoria
Os decrépitos canhões
Que, ovantes de praia em praia,
Renderam Gôa a Gambaia...
E a que deu fogo Campes!
— 407 —
iMeMdeh Leal.
- 413 -
A Cabocla de Caxangá
i
Laurindo Punga
Chico Dunga
Zé Vicente
Essa gente tão valente
Do sertão de Jacobá
E o damnado do afamado
Zéca Lima
Tudo chora n'uma prima
Tu qué ti conquistai
Caboca' de Caxangá
Minha caboca vem cá.
II
III
[HD
Festas no Céo
Uma noite, dormia eu socegado,
exhausto do trabalho por officio,
maudou-me a Eternidade uma cadeira
do theatro dos céos para um beneficio.
no contrabaixo marcar.
As Brisas eram as flautas,
o canto meigo e suave
rolava, qual penna d'ave,
na face crespa do mar.
Augusto Fabregas.
- 420 —
Um Conto á Lareira
Foi por uma dessas noites
Em que a neve cae em flocos,
Que, á chamma viva dos tocos
Resinosos, da lareira
Ao de roda conchegadps,
Moços sentados em cepos,
Velhos em bancos sentados;
Casa d'antigo morgado,
Solar de velha nojbreza,
Onde o pão é de quem quer
E quem quer se assenta á mesa,
Ouvi a seguinte historia
Por bocca muito estimada,
Que tenho aqui, na memória,
Como hoje méslmo contada.
Imagine... se puder:
Uma casa no hospital,
Que se destina ao saber
Do que estuda alheio mal;
Ao centro, semi-coberto,
Sobre uma banca estendido,
Um cadáver meio aberto,
Um cadáver de mulher!
Ao de roda... um grupo attento
A' lição que o mestre dava.
De rapazes de talento.
Um porém alli faltava,
Que veio por derradeiro;
E outro, moço, galhofeiro,
Que tinha nas mãos a vêl-o
O coração da defunta,
Betalhado de escalpello..
Mal apenas vira a porta
0 seu collega... chibante.
De luva, fraque, bengala,
Limpo, asseiado, elegante
Como um dandy n'uma sala...
Disse-lhe, em ar de gracejo:
«— Quem tarde vem ao banquete
«Mate a fome no sobejo
«Qu'encontrar no buffete!.
E ao som d'um'a risada
Bate-lhe em chapa no rosto
Com a víscera ensangüentada
Do cadáver ali exposto!
Recrudesce a gargalhada!
A ironia, o sarcasmo
Attingem quasi o delírio!...
E eDe!... a estatua, do pasmo
— 428 —
E correu desatinado
Porta fora., Dentro em pouco
A família do morgado
Recolhia um pobre louco.
Cada dia que Deus dava
Subia a encosta do monte,
E por lá se demorava
Até que o sol s'escondia.
430 —
Costa Lima.
O GUARANY
(Musica da modinha h sympathica a moreninha, como
a pomba jurity).
Etstribilho
Catullo da P. Cearense.
— 432
No lodo da terra
Onde tu passas o ar se doura! Os montes
De ver-te os olhos verdes, reverdecem!
E as puras águas cristalinas descem,
Só para ver-te, das musgosas fontes!
Júlio Dantas.
-CE>
Amôr e Namoro
Amor é vinho forte em que se apanha
Dessas bruegas de cahir no chão;
O namoro é um' calix de champanha
Que nos torna alegrete o coração.
— 433
Framco de Sé.
ÍNDICE
BIBLIOTHErFI POPULRR
Astucias de Bertholdo — 1 volume . . 9600
Historia da Princeza Magalona — Novissi-
me edição. 1 volume brochado $600
Historia da Denzella Theodera, em que se
trata da sua grande formosura e sabedoria.
Novissima edição. 1 volume brochado . 9600
Historia de João de Calais — Novíssima edi-
ção. 1 volume brochado 9600
Historia de Pelles de Asno ou a Vida do
Príncipe Ciryllo — Novíssima edi. 1 vol. br. 9600
Historia do Grande Roberto do Diabo, Du-
que de Normandia e Imperador de Roma. No-
víssima edição. 1 volume brochado . 9600
Historia da Imperatriz Porcina — Novíssima
edição. 1 volume brochado 9600
Historia de José dó Telhado (o famoso sal-
teador das serras do Douro e do Minho) His-
toria verdadeira de todos os Iseus crimes. 1 vol. $600
Confissão geral do Marujo Vicente — 1 vol. $600
Noite (A) na Taberna — Contos phantasticos
por Alvares de Azevedo, precedidos Ide um es-
boço biographico pelo Dr. Joaquim M. de Mace-
do. 1 volume brochado . 19000
A Fome no Ceará — por Guerra Junquei-
ro. 1 volume 19000
Nova Historia do Imperador Carlos Magno
e dos Doze Pares de França, contendo a gran-
\
LIVRARIA TEIXEIRA • Rua 8. João, 8 - 3. PAULO 5
5EÇRETRR10 mODERDQ
Novo Manual de correspondência familiar e commercial
por «J. T . d a Silva
6.a Edição melhorada
1. Você apenas deve utilizar esta obra para fins não comerciais.
Os livros, textos e imagens que publicamos na Brasiliana Digital são
todos de domínio público, no entanto, é proibido o uso comercial
das nossas imagens.