Aula 8 - Extinção Do Contrato Administrativo REV 23

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CONTRATOS

ADMINISTRATIVOS
Aula 8 – Extinção do contrato administrativo

PROFESSOR DR. GUSTAVO JUSTINO DE OLIVEIRA

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)


São Paulo (SP), 1º Semestre de 2023.
Sumário de aula

1. Formas de extinção do contrato administrativo


2. Nulidades do contrato administrativo
1. Formas de extinção do contrato
administrativo
1. Formas de extinção do contrato administrativo - Doutrina
O regime jurídico da Lei nº 8.666/1993, em seu art. 78, define as hipóteses de desfazimento do
contrato como de “rescisão” contratual. No novo regime jurídico de licitações, as hipóteses
apresentam-se definidas no art. 137, em capítulo intitulado de “Das hipóteses de extinção dos
contratos”.

A variação da nomenclatura utilizada parece indicar que a Lei n º 14.133/2021 preocupou-se em adotar
maior rigor técnico na distinção entre as várias hipóteses de extinção de contrato, como são a resilição,
a rescisão, a renúncia, a revogação ou o distrato, segundo se percebe da redação de seu art. 90, § 7º:

Será facultada à Administração a convocação dos demais licitantes classificados para a contratação de
remanescente de obra, de serviço ou de fornecimento em consequência de rescisão contratual,
observados os mesmos critérios estabelecidos nos §§ 2º e 4º deste artigo.

Ambas as denominações, rescisão e extinção, traduzem o fim da relação jurídico contratual entre as
partes, ou seja, o fim do pacto que se obrigaram a cumprir sob condições previamente estabelecidas
no edital ou no instrumento autorizador da contratação direta. Mas há situações na nova lei de
licitações, assim como ocorre na Lei nº 8.666/1993, em que a extinção do contrato decorre de culpa do
contratado, outras de culpa da administração e, ainda, situações em que a extinção contratual
independe de culpa das partes contratantes. Daí a variação dos rótulos com que a teoria geral do
contrato trata tais hipóteses, das quais podem advir consequências para a administração contratante e
para o contratado. (DOTTI&PERREIRA JUNIOR, 2022)
1. Formas de extinção do contrato administrativo - legislação

Nova Lei de Licitações (Lei n° 14.133/2021)

Art. 137. Constituirão motivos para extinção do contrato, a qual deverá ser formalmente motivada nos
autos do processo, assegurados o contraditório e a ampla defesa, as seguintes situações:

I - não cumprimento ou cumprimento irregular de normas editalícias ou de cláusulas contratuais, de


especificações, de projetos ou de prazos;

II - desatendimento das determinações regulares emitidas pela autoridade designada para acompanhar
e fiscalizar sua execução ou por autoridade superior;

III - alteração social ou modificação da finalidade ou da estrutura da empresa que restrinja sua
capacidade de concluir o contrato;

IV - decretação de falência ou de insolvência civil, dissolução da sociedade ou falecimento do


contratado;

V - caso fortuito ou força maior, regularmente comprovados, impeditivos da execução do contrato;


1. Formas de extinção do contrato administrativo - legislação
Nova Lei de Licitações (Lei n° 14.133/2021)
(...)

VI - atraso na obtenção da licença ambiental, ou impossibilidade de obtê-la, ou alteração substancial do


anteprojeto que dela resultar, ainda que obtida no prazo previsto;

VII - atraso na liberação das áreas sujeitas a desapropriação, a desocupação ou a servidão


administrativa, ou impossibilidade de liberação dessas áreas;

VIII - razões de interesse público, justificadas pela autoridade máxima do órgão ou da entidade
contratante;

IX - não cumprimento das obrigações relativas à reserva de cargos prevista em lei, bem como em
outras normas específicas, para pessoa com deficiência, para reabilitado da Previdência Social ou para
aprendiz.

É um rol exemplificativo
As hipóteses ou situações autorizadoras da extinção contratual previstas no art. 137 da Lei n º 14.133/2021 não são
exaustivas. A aplicação de sanção ao contratado, as ausências de crédito orçamentário e de vantajosidade e, ainda, a
comprovação de superfaturamento decorrente de culpa do contratado também podem ensejar a extinção do contrato.
(DOTTI&PERREIRA JUNIOR, 2022)
1. Formas de extinção do contrato administrativo
§ 2º O contratado terá direito à extinção do contrato nas seguintes hipóteses:

I - supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou compras que acarrete modificação
do valor inicial do contrato além do limite permitido no art. 125 desta Lei;

II - suspensão de execução do contrato, por ordem escrita da Administração, por prazo superior a 3
(três) meses;

III - repetidas suspensões que totalizem 90 (noventa) dias úteis, independentemente do pagamento
obrigatório de indenização pelas sucessivas e contratualmente imprevistas desmobilizações e
mobilizações e outras previstas;

IV - atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da nota fiscal, dos pagamentos ou de
parcelas de pagamentos devidos pela Administração por despesas de obras, serviços ou
fornecimentos;

V - não liberação pela Administração, nos prazos contratuais, de área, local ou objeto, para execução
de obra, serviço ou fornecimento, e de fontes de materiais naturais especificadas no projeto,
inclusive devido a atraso ou descumprimento das obrigações atribuídas pelo contrato à Administração
relacionadas a desapropriação, a desocupação de áreas públicas ou a licenciamento ambiental.
1. Formas de extinção do contrato administrativo - legislação

Art. 138. A extinção do contrato poderá ser:

I - determinada por ato unilateral e escrito da Administração, exceto no caso de descumprimento


decorrente de sua própria conduta;

II - consensual, por acordo entre as partes, por conciliação, por mediação ou por comitê de
resolução de disputas, desde que haja interesse da Administração;

III - determinada por decisão arbitral, em decorrência de cláusula compromissória ou


compromisso arbitral, ou por decisão judicial.
1. Formas de extinção do contrato administrativo

A extinção do contrato, normalmente, ocorre com o advento de seu termo (contratos por prazo)
ou com o recebimento de seu objeto (contrato por escopo).

No entanto, em diversas hipóteses, o contrato pode encerrar-se de maneira prematura, antes


daquilo que seria o seu fim normal. Essas extinções anômalas podem ser dividas em:

(i) Anulação: quando ocorre por vício na formação do negócio jurídico;

(ii) Rescisão unilateral: quando ocorre algum anomalia superveniente à formação do contrato.
Podem ocorrer por a) fato imputável ao particular; b) fato imputável à Administração
contratante; e, c) circunstâncias alheias às partes contratantes;

(iii) Rescisão bilateral: por acordo entre as partes; e,

(iv) Determinação de decisão judicial ou arbitral.

Assim era na Lei nº 8.666/1993 e continua sendo na Lei n° 14.133. No entanto, existem algumas
novidades pontuais.
1. Formas de extinção do contrato administrativo

Podem ser destacadas as seguintes mudanças no âmbito da extinção do contrato


administrativo e das nulidades:

(i) Mudança da nomenclatura “rescisão” para “extinção” (art. 137, caput);

(ii) Encurtamento do prazo para o exercício da exceção de contrato não cumprido pelo
contratado após o atraso no pagamento: de 90 dias para 2 (dois) meses (art. 137, § 2º);

(iii) Possibilidade de manutenção do contrato eivado de irregularidades insanáveis


(art. 147); e

(iv) Possibilidade de modulação dos efeitos da invalidação do contrato (art. 148, §


2°).
2. Nulidade do contrato
administrativo
2. Nulidade do contrato administrativo

Art. 147. Constatada irregularidade no procedimento licitatório ou na execução contratual, caso não
seja possível o saneamento, a decisão sobre a suspensão da execução ou sobre a declaração de
nulidade do contrato somente será adotada na hipótese em que se revelar medida de interesse
público, com avaliação, entre outros, dos seguintes aspectos:
I - impactos econômicos e financeiros decorrentes do atraso na fruição dos benefícios do objeto do
contrato;
II - riscos sociais, ambientais e à segurança da população local decorrentes do atraso na fruição dos
benefícios do objeto do contrato;
III - motivação social e ambiental do contrato;
IV - custo da deterioração ou da perda das parcelas executadas;
V - despesa necessária à preservação das instalações e dos serviços já executados;
VI - despesa inerente à desmobilização e ao posterior retorno às atividades;
VII - medidas efetivamente adotadas pelo titular do órgão ou entidade para o saneamento dos indícios
de irregularidades apontados;
VIII - custo total e estágio de execução física e financeira dos contratos, dos convênios, das obras ou
das parcelas envolvidas;
IX - fechamento de postos de trabalho diretos e indiretos em razão da paralisação;
X - custo para realização de nova licitação ou celebração de novo contrato;
XI - custo de oportunidade do capital durante o período de paralisação.
2. Nulidade do contrato administrativo

Art. 148. A declaração de nulidade do contrato administrativo requererá análise prévia do


interesse público envolvido, na forma do art. 147 desta Lei, e operará retroativamente, impedindo os
efeitos jurídicos que o contrato deveria produzir ordinariamente e desconstituindo os já produzidos.

§ 1º Caso não seja possível o retorno à situação fática anterior, a nulidade será resolvida pela
indenização por perdas e danos, sem prejuízo da apuração de responsabilidade e aplicação das
penalidades cabíveis.

§ 2º Ao declarar a nulidade do contrato, a autoridade, com vistas à continuidade da atividade


administrativa, poderá decidir que ela só tenha eficácia em momento futuro, suficiente para efetuar nova
contratação, por prazo de até 6 (seis) meses, prorrogável uma única vez.

Art. 149. A nulidade não exonerará a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que houver
executado até a data em que for declarada ou tornada eficaz, bem como por outros prejuízos
regularmente comprovados, desde que não lhe seja imputável, e será promovida a responsabilização de
quem lhe tenha dado causa.

Art. 150. Nenhuma contratação será feita sem a caracterização adequada de seu objeto e sem a
indicação dos créditos orçamentários para pagamento das parcelas contratuais vincendas no exercício
em que for realizada a contratação, sob pena de nulidade do ato e de responsabilização de quem lhe
tiver dado causa.
2. Nulidade do contrato administrativo

Na esteira das evoluções promovidas pela Lei n° 13.655/2018 (que alterou a LINDB), o
regramento das nulidades na Nova Lei de Licitações (Lei n° 14.133/2021) é
significativamente mais avançado e sistematizado do que aquele contido na Lei n°
8.666/1993.

Desse modo, permite-se: (i) que nulidades insanáveis sejam regularizadas em prol do interesse
público (art. 147); e, (ii) que declaração de nulidade do contrato administrativo possa operar seus
efeitos ex nunc (não retroativamente) e a partir de momento futuro (art. 148, § 2º). Além disso,
caso não seja possível o retorno à situação fática anterior, resolver-se-á a nulidade em perdas e
danos (art. 148, § 1°).

Por fim, como já previsto na Lei nº 8.666/1993 (art. 59, parágrafo único), a “nulidade não
exonerará a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que houver executado até a
data em que for declarada ou tornada eficaz, bem como por outros prejuízos regularmente
comprovados, desde que não lhe seja imputável, e será promovida a responsabilização de quem
lhe tenha dado causa.” (art. 149).
Referências
▪ BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Grandes temas de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2010.

▪ BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

▪ BORDALO, Rodrigo. Nova lei de licitações e contratos administrativos: principais mudanças. São Paulo: Expressa, 2021.

▪ BRASIL. Lei federal nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF.

▪ CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

▪ GARCIA, Flávio Amaral. Licitações e contratos: casos e polêmicas. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.

▪ JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos: Lei 8.666/1993. 18. ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019.

▪ NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação pública e contrato administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2015.

▪ NIEBUHR, Joel de Menezes; NIEBUHR, Pedro de Menezes. Licitações e contratos das estatais. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

▪ MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 21. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

▪ SUNDFELD, Carlos Ari. Licitação e contrato administrativo. São Paulo: Malheiros, 1994.

▪ DOTTI, Marinês Restelatto. PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres. Extinção do contrato na lei nº 14.133/2021.Ordem
Jurídica.Disponível em: https://www.ordemjuridica.com.br/opiniao/extincao-do-contrato-na-lei-no-14-133-2021#:~:text=A. Acesso
em fev. 2023.

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