Sentença Deco
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PODER JUDICIÁRIO
2ª Vara da Comarca de Urussanga
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SENTENÇA
I - RELATÓRIO
"ATO 1
ATO 2
ATO 3
ATO 4
ATO 5
ATO 6
A defesa, por sua vez, pugnou pela absolvição, nos termos do art. 386, incisos
III e V, do CPP. Em caso de condenação, pela aplicação da pena mínima e pela substituição
da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos (Evento 167).
Decido.
II - FUNDAMENTAÇÃO
"Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
"Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
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Ensina Nucci que cargo público é aquele ocupado por servidor estatuário.
Emprego público é o posto ocupado por servidor com vínculo contratual regido pela
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Por último, Função Pública é a denominação
residual, que envolve todo aquele que presta serviços para a administração, embora não seja
ocupante de emprego ou cargo.
No caso dos autos, Vanderlei Marcírio exercia função pública na época dos
fatos, mais precisamente de Diretor da Autarquia SAMAE de Urussanga/SC - Serviço
Autônomo Municipal de Água e Esgoto, nomeado por meio do Decreto GP/n. 19, de 3 de
fevereiro de 2021.
O encanador Jailson Rossetti, por sua vez, na fase judicial (Eventos 117/118),
sustentou que estava de plantão no dia em que Vanderlei chegou atrasado no SAMAE; que o
réu chegou umas 21:45h e para o depoente, estava normal; que o acusado estava com o Siena
e chegou sozinho; que conversou com Vanderlei, uns 10 minutos; que o acusado disse que
tinha ido ao dentista, comentando que tinha gastado um monte; que ouviu boatos de que o réu
estava embriagado; que ouviu o pessoal comentando, depois foram chamados na delegacia
(…); que o controle é feito mediante anotação da hora, quilometragem e local; que as vezes
tem que ir para Orleans, Cocal; que as vezes falta peça, então buscam em outros locais; que
não acontecia direto, apenas de vez em quando; que depois disso sabe que Vanderlei saiu,
mas como foi não sabe direito (…).
Fato 1: que a acusação é falsa; que estavas em tratativa com o Sr. Ariel, que
estava trabalhando neste endereço; que foi buscá-lo para qui fizesse orçamentos urgentes que
a SAMAE precisava; que eram rachaduras de caixas d´água, coisas assim; que esteve ali
algumas vezes; que esteve na lanchonete, se sentou lá algumas vezes com ele para fazer
lanche; que Ivonete é sua inimiga, pois ela se declarou sua inimiga por um fato grave que
aconteceu no local, num sábado; que inclusive emprestou dinheiro para ela, que nunca mais
lhe pagou; que emprestou R$ 500,00 e em outra oportunidade mais um trocado; que não
bebia naquele local; que toma medicamentos e as vezes sua língua fica meio travada e as
pessoas confundem; que Ivonete lhe odeia; que no dia dos fatos foi falar com o pedreiro que
trabalhava próximo ao bar, na casa do Teles; que na volta passou no barzinho, pois ainda era
amigo de Ivonete; que só passou no local, deixou o carro no lado e foi a pé na obra, que
ficava 100m; que era beira de asfalto, se quisesse fazer algo de errado iria num lugar
escondido.
Fato 3: que é a acusação é falsa; que nesse dia estava indo até Criciúma, a
serviço do SAMAE, iriam lançar três programas e foi pegar orçamentos, na Due Imagem;
que era um adia muito quente e passou mal; que o depoente dá entrada com frequência no
hospital, com pressão alta e baixa; que parou em frente a Cerâmica Gisele, pois tinha umas
árvores; que não sabe de foi vinte minutos ou meia hora, e não teve coragem de seguir para
Criciúma; que chupou uma bala e veio de volta para Urussanga; que parou na mesma
paradinha que é acostumado a parar, pegou uma água, comeu um salgado e veio embora para
o SAMAE; que não sabe se foi nesse dia que alguém lhe levou em casa; que passou no Bar
Lopes para tomar uma água e comer um salgado.
Fato 4: que nunca entrou num motel e não entraria com carro público; que nesse
dia, tinha uma reunião marcada, era uma segunda-feira; que estava com um projeto na mão
para implantar energia solar em toda a SAMAE; que tinha que resolver esse problema e
outros em Criciúma; que saiu umas 11h e iria almoçar por lá; que todos os SAMAE´s sabem
que a proteção do carro estava quase caindo sempre e não tinha sido mandado arrumar; que
estava chegando próximo a Cocal e a proteção do motor caiu e enroscou embaixo do carro;
que então parou o veículo no local e avistou um pavilhão que parecia uma oficina; que se
dirigiu até o local e perguntou se ele podia arrumar; que a pessoa disse que não, pois era
chapeador, e lhe indicou para falar com Gaúcho, que fazia socorro mecânico; que foi atrás
desse rapaz e achou no caldo de cana antes de Cocal; que deixou a chave do carro para ele e
disse que tinha que fazer umas voltas; que pediu para ele ir a hora que pudesse e que falou
Fato 5: que os fatos são falsos; que era uma segunda-feira, dia em que
normalmente acordava muito ruim; que o médico disse que estava tomando os remédios
errados e demais; que chegou no SAMAE e teve um problema sério, ficou estressado, o clima
já não estava bom; que estava muito depressivo, ansioso; que almoçou normal, cumpriu sua
manhã de serviço; que a noite, tinha marcado para levar dois projetos no gabinete da
deputada (…); que se dirigiu para o CISAM, em Orleans, para falar com o engenheiro do
SAMAE sobre os projetos; que antes de ir para o CISAM, resolveu ir no posto, pois percebeu
que o carro estava com pouco combustível; que chegou nesse posto e colocou o carro no lado
do banheiro; que tinha um rapaz sentando, um mendigo, que falava com uma pessoa, pedia
algo; que a pessoa chamou ele de “craquento”, “sujo”, “nojento”; que se meteu e disse pro
rapaz ter calma, pois iria ajudar; que esse cara não gostou e lhe disse umas coisas; que
retrucou; que quando foi levantar o rapaz que estava sentado, esse indivíduo lhe empurrou e
lhe deu um tapa na cara; que não sabe porque ninguém do posto viu isso; que foi no carro,
pegou o álcool em gel e passou; que foi no banheiro meio tonto, surtado, ai perdeu a noção de
tudo, dali em diante não sabe o que aconteceu, ficou louco; que estava sob efeito de remédios
e perdeu a noção; que o rapaz, na rua, já tinha lhe pedido algo para comer e uma cervejinha e
uma passagem para ir embora para São Joaquim; que esse cara que lhe bateu, alguém tirou
ele dali; que entrou na conveniência com o mendigo, meio na marra, pois os caras do posto
não faziam questão que ele entrasse; que é meio ativista e disse que ele tinha o direito de
sentar e comer lá dentro igual todo mundo; que discutiu, brigou e depois não sabe; que disse
que iria tirar o rapaz dali e então deu R$ 50,00 e levou próximo à rodoviária; que em relação
à porta do carro aberta, o rapaz abriu a porta traseira, jogou o saco dele e, ao fechar, deixou
entreaberta; que não costuma beber; que foi um surto; que depois daquele acontecimento não
prestou mais, foi parar em uma clínica; que foi para abastecer o carro e acabou nem fazendo
(…); que não registrou boletim de ocorrência, porque também agrediu a pessoa; que não
conhecia o mendigo, nunca tinha visto ele; que recorda que na rua, ele tava dizendo que
queria comer e uma cerveja; que ai o cara disse: vai dar cerveja pra esse “craquento”; que
depois que levou o tapa, ficou louco; que esqueceu o que aconteceu posteriormente e foi se
recordando a partir do momento em que saiu do local; que em relação à residência no Bairro
Pois bem!
Em que pese a versão apresentada pelo réu, as provas existentes nos autos
revelam, com segurança, no tocante aos Fatos 1, 3 e 5, que na qualidade de funcionário
público, Vanderlei desviou, em proveito próprio, de quantia oriunda dos cofres
públicos, correspondente a gastos com combustível do veículo utilizado na viagem particular,
a hora-trabalhada do servidor público, além de ter exposto o automóvel a desgaste inerente ao
uso, tudo isso para suprir finalidade particular de frequentar estabelecimento manifestamente
alheio ao interesse público e da autarquia.
E ainda:
"(...) é possível aferir que: (a) o valor total consumido em combustível nos
períodos indicados foi de R$ 201,19 (sendo R$ 36,60 no mês de junho e R$ 164,59 no mês de
julho); (b) o custo de depreciação do veículo foi de R$ 13,54; e (c) as horas de trabalho
pagas ao servidor enquanto se estava envolvido em assuntos particulares, durante o
expediente e fazendo uso de veículo oficial, foram quantificadas em R$ 1.640,20."
É certo, portanto, que o réu praticou, por três vezes, o crime de peculato,
tipificado no art. 312 do Código Penal.
No mais, salienta-se que, conforme dispõe a Súmula 599 do STJ, "O princípio
da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública."
Como visto, o próprio policial civil Samuel Fraga da Silva, responsável pelas
investigações, ao ser ouvido em Juízo, disse que "que não conseguiu comprovar que o réu
esteve no motel em Criciúma; que tinha registro de deslocamento do veículo, mas em relação
ao motel, não foi comprovado pelas câmeras de monitoramento", e que "que também teve a
região do motel, mas não conseguiram comprovar; que é uma estrada de chão que só tem
motel; que ele ficou lá por volta de 1h".
Nesse sentido, anoto que ""8.2: quando a acusação não produzir todas as
provas possíveis e essenciais para a elucidação dos fatos, capazes de, em tese, levar à
absolvição do réu ou confirmar a narrativa acusatória caso produzidas, a condenação será
inviável, não podendo o magistrado condenar com fundamento nas provas remanescentes".
[STJ, Resp. 1940381, Min. RIBEIRO DANTAS, Sexta Turma]" (TJSC, Apelação Criminal n.
5070708-77.2020.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Alexandre Morais
da Rosa, Segunda Câmara Criminal, j. 27-06-2023).
Por tal razão, a absolvição, neste ponto (Fato 4), é medida que se impõe.
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Extrai-se da jurisprudência:
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Não se ignora que, conforme §2º, do art. 306 do CTB, "A verificação do
disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame
clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos,
observado o direito à contraprova.” (grifou-se).
No caso dos autos, não foi realizado teste de etilômetro ou elaborado auto de
constatação de sinais de alteração da capacidade psicomotora.
A propósito:
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Desse modo, aplico a pena de um só dos delitos, aumentada de 1/5 (um quinto).
O regime inicial do cumprimento da sanção é o aberto (art. 33, § 2º, alínea "c"
do CP).
III- DISPOSITIVO
Oportunamente, arquive-se.
Documento eletrônico assinado por ROQUE LOPEDOTE, Juiz de Direito, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos, mediante
o preenchimento do código verificador 310047724090v72 e do código CRC f333cbbd.
1. NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito parte especial: arts. 213 a 361. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p.
483
2. NUCCI. Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 14., ed., RJ: Forese, 2018, p. 1117
5004114-76.2021.8.24.0078 310047724090 .V72