Aula 11 - Ricardo Negrão

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social for o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente (LLI, art.

52,
II). Neste último caso, é vedado o uso para o mesmo ramo do locatário,
salvo se a locação envolver o arrendamento do próprio estabelecimento
empresarial (LLI, art. 52, § 1º). A permissão (exceção de retomada para
transferência de estabelecimento próprio) não abrange imóvel localizado
em shopping center (LLI, art. 52, § 2º), porque a atividade do locador é a
de administrar o pool de locatários e não de exercer atividade varejista
(Restiffe Neto, 2000 (b):262);
d) insuficiência da proposta apresentada pelo locatário, considerando o
valor locatício real, excluída a valorização decorrente do ponto (LLI, art. 72,
II);
e) existência de melhor proposta de terceiro (LLI, art. 72, III), permitida
contraproposta pelo autor no momento da réplica (LLI, art. 72, § 1º).
Ocorrendo a conversão – falta de renovação do contrato de locação – o
locatário terá direito à indenização, em três situações, duas previstas em lei
e a última por entendimento sumular: a) na aceitação de melhor proposta;
b) na retomada para realização de obra pelo Poder Público e o proprietário
quedar-se inerte por prazo igual ou superior a três meses da data da
entrega do imóvel; c) na retomada para construção mais útil. Nos primeiros
casos, a indenização inclui o efetivo prejuízo e os lucros cessantes e, no
último, limita-se às despesas de mudança.
Somam-se a estas situações a inércia ou insinceridade (desvio de uso) na
retomada por parte do locador (LLI, art. 44, parágrafo único), circunstâncias
que implicam imposição, em ação própria, de multa a ser fixada pelo
magistrado, equivalente a um mínimo de doze e a um máximo de vinte e
quatro meses do valor do último aluguel atualizado ou do que esteja sendo
cobrado do novo locatário, se realugado o imóvel.

63. Direitos de propriedade industrial – conceitos


Os direitos que decorrem da proteção à propriedade imaterial
(equivocadamente denominada propriedade industrial) estão previstos na
Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996 (Código da Propriedade Industrial), e
podem ser resumidos no seguinte quadro:

DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Concessão de
patentes de
• De invenção
invenção e de
• De modelo de utilidade
modelo de
utilidade

Concessão de
registro de
• De desenhos industriais
desenho
industrial

Concessão de • De marca de produto ou serviço


registro de • De marca de certificação
marca • De marca coletiva

Repressão a
falsas
Definindo as regras para a indicação de procedência ou denominação de origem
indicações
geográficas

Definindo os crimes contra a propriedade industrial: a) contra as patentes; b)


Repressão à
contra os desenhos industriais; c) contra as marcas; d) por meio de marca, título
concorrência
de estabelecimento e sinal de propaganda; e) contraindicações geográficas e
desleal
demais indicações; f) crimes de concorrência desleal

Invenção é o ato humano de criação original, lícito, não compreendido no


estado da técnica e suscetível de aplicação industrial.
Modelo de utilidade, também chamado “pequena invenção”, é “o objeto
de uso prático, ou parte deste, não compreendido no estado da técnica,
suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou
em sua fabricação” (LPI, arts. 9º e 11).
Desenho industrial é “a forma plástica ornamental de um objeto ou o
conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,
proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa
e que possa servir de tipo de fabricação industrial” (LPI, art. 95).
Compreende tanto o modelo industrial como o desenho industrial,
categorias consideradas distintamente na legislação de propriedade
industrial anterior (Lei n. 5.772, de 21-12-1971).
Marca, em sua tríplice aplicação (LPI, art.123), é o sinal distintivo
visualmente perceptível usado para distinguir produto ou serviço de outro
idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa, bem como para atestar a
conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou
especificações técnicas e, ainda, para identificar produtos ou serviços
provindos de determinada entidade.
O Código de Propriedade Industrial Português simplifica sua acepção
reduzindo-a ao uso empresarial: “é um sinal utilizado por um empresário
para distinguir os produtos sobre os quais incide a sua atividade econômica”
(Correia, 1999:329).
Indicação geográfica é a designação de procedência ou a denominação
de origem de um produto ou de prestação de determinado serviço. Seu uso
é restrito aos produtores e prestadores de serviço estabelecidos no local
indicado.
Ambas as expressões se reportam ao “nome geográfico de país, cidade,
região ou localidade de seu território”.
Considera-se indicação de procedência o local “que se tenha tornado
conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado
produto ou de prestação de determinado serviço” (LPI, art. 177) e
denominação de origem o local “que designe produto ou serviço cujas
qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao
meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos” (LPI, art. 178).
A repreensão à concorrência desleal se dá em termos indenizatórios
(repreensão civil, LPI, 207-210) e sob forma de tipificação criminal
(repreensão penal, LPI, art. 195), punindo o infrator.
Alberto Luís Camelier da Silva (2013:63-64) conceitua concorrência
desleal “todo e qualquer ato praticado por um industrial, comerciante ou
prestador de serviço contra um concorrente direto ou indireto, ou mesmo
um não concorrente, independentemente de dolo ou culpa, utilizando-se de
meios ilícitos com vistas a manter ou incrementar sua clientela, podendo ou
não desviar, em proveito próprio ou de terceiro, direta ou indiretamente,
clientela de outrem. Esses atos são contrários às práticas e usos honestos
perpetrados na indústria, comércio e serviços”.
Exemplo típico de concorrência desleal é o uso de marca, rótulo,
embalagem, configuração visual e/ou ambiental que se assemelhe a outra
existente, visando aproveitar o reconhecimento obtido por outrem junto ao
público consumidor. É, basicamente, copiar “tudo aquilo que deu certo nos
negócios alheios, procurando encurtar a distância entre o esforço natural a
ser despendido e o resultado econômico” (Camelier, 2013:85).
A violação do chamado “conjunto-imagem” ou trade dress é uma forma
parasitária de concorrer no mercado consumidor e configura ato de
concorrência desleal.

64. Patentes de invenção e modelos de utilidade


Para conferir o privilégio de exclusividade, as patentes de invenção e as
de modelo de utilidade devem apresentar quatro requisitos: a) ser novas
(novidade); b) suscetíveis de aplicação industrial (industriabilidade); c) fruto
da atividade inventiva; e d) lícitas, conforme à lei, ou não vedadas por ela
(licitude).
Fábio Ulhoa Coelho (2016, 1:185) prefere denominar este último de
“desimpedimento”, expressão que serve para indicar a ausência de
impedimento legal (LPI, art.18), fundado em princípios de ordem pública
que impedem a proteção legal.
Rubens Requião (2003, 1:305-306) traz distinta classificação: prefere
originalidade à expressão “atividade inventiva” e acrescenta aos quatro
requisitos o do estado da técnica que, segundo entendemos, está contido
no conceito de novidade.

64.1. Primeiro requisito de patenteabilidade: a novidade


Novo é tudo aquilo que é desconhecido pela comunidade científica,
técnica ou industrial, ou, na expressão legal, “algo não compreendido pelo
estado da técnica”.
Essa expressão – estado da técnica – informa o grau de absolutização
que a lei brasileira exige para tornar patenteável uma criação inventiva,
definindo-a como “tudo o que foi tornado acessível ao público antes da data
do depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou
qualquer meio, no Brasil e no exterior, ressalvado o disposto nos arts. 12,
16 e 17” (LPI, art. 11, § 1º).
O caráter de novidade absoluta, excluindo tudo o que compreende o
estado da técnica, comporta o abrandamento previsto nos mencionados
dispositivos. Não se compreendem no estado da técnica os pedidos com
direito de prioridade solicitados por titulares de patentes depositadas em
países ou organizações que mantenham acordo com o Brasil, uma vez
obedecidos os prazos firmados na convenção internacional.

64.2. Segundo requisito de patenteabilidade: a industriabilidade


Para ser patenteável, a invenção ou o modelo de utilidade devem ser
suscetíveis de aplicação industrial, isto é, podem ser utilizados ou
produzidos em qualquer tipo de indústria (LPI, art. 15).
A extensão da expressão legal afasta as concepções puramente teóricas
e que não possam ser produzidas pela indústria, seja porque depende de
mecanismo, peça ou combustível ainda não existente ou, ainda, porque
ausentes conhecimentos técnicos suficientes à sua industrialização.

64.3. Terceiro requisito de patenteabilidade: a atividade inventiva


O conceito de originalidade ou de atividade inventiva encontra-se nas
definições legais de invenção e de modelo de utilidade.
A primeira está no art. 13 da LPI: “A invenção é dotada de atividade
inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira
evidente ou óbvia do estado da técnica”.
A segunda foi definida no art. 14 da mesma Lei: “O modelo de utilidade é
dotado de ato inventivo sempre que, para um técnico no assunto, não
decorra de maneira comum ou vulgar do estado da técnica”.

64.4. Quarto requisito de patenteabilidade: a licitude


É lícito o que está de acordo com a lei ou por ela não é vedado. Excluem-
se, portanto, as hipóteses previstas nos arts. 10 e 18 da LPI.
O primeiro dispositivo contempla as hipóteses de não incidência:
I – as descobertas, as teorias científicas e os métodos matemáticos;
II – as concepções puramente abstratas que, à semelhança das teorias
científicas, são privadas de aplicação industrial;
III – os esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis,
financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização, de
natureza puramente intelectual;
IV – as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer
criação estética;
V – os programas de computador em si;
VI – a apresentação de informações;
VII – as regras de jogo;
VIII – as técnicas e os métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como
métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano e
animal;
IX – o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos
encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou
germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos
naturais.
Complementando a compreensão da licitude, o art. 18 afasta do conceito
de patenteabilidade algumas hipóteses, em razão do interesse social ou do
Estado que, neste momento, preferiu colocá-los à margem da licitude:
I – qualquer criação que for contrária à moral, aos bons costumes e à
segurança, à ordem e à saúde públicas;
II – as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de
qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-
químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando
resultantes da modificação do núcleo atômico;
III – o todo ou parte dos seres vivos não pode ser objeto de proteção,
reconhecendo a lei o caráter de mera descoberta de algo preexistente,
concebido pela natureza. São exceções os micro-organismos transgênicos
que atendam aos três requisitos de patenteabilidade – novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial – previstos no art. 8º e que não sejam
meras descobertas.
Há quem desdobre os casos aqui mencionados entre os de exclusão de
atividade inventiva ou de industriabilidade (art. 10) e de desimpedimento
(art. 18). É a sistematização adotada por Fábio Ulhoa Coelho.
65. Invenção de empresa, de empregado e comum
Invenção de empresa é a obtida dentro do estabelecimento empresarial,
sobre a qual não ocorre a individualização do inventor.
Invenção de serviço é a obtida na empresa pelo empregado ou prestador
de serviços, na vigência do contrato destinado à pesquisa no Brasil, desde
que a atividade inventiva do empregado esteja prevista no contrato ou
decorra da natureza da atividade contratada.
Invenção livre é a desenvolvida pelo empregado sem utilização de
recursos, dados, meios, materiais, instalações ou equipamentos do
empregador. Caracteriza-se por ter sido obtida de forma desvinculada do
contrato de trabalho, sem vínculo de prestação de serviço. Pertence
exclusivamente ao empregado.
Invenção comum, mista ou conexa é a desenvolvida pelo empregado, de
forma desvinculada do contrato do trabalho ou vínculo de prestação de
serviços, mas com utilização de recursos, dados, meios, materiais,
instalações ou equipamentos do empregador. O invento será de
propriedade comum de ambos.
Aplicam-se estas distinções ao desenho industrial. Haverá, assim,
desenho industrial da empresa, desenho industrial livre ou de empregado e
desenho industrial comum, misto ou conexo.

66. Desenho industrial


Os requisitos exigidos para o registro de desenho industrial são os
mesmos da patenteabilidade da invenção e do modelo de utilidade (veja
item 64), com algumas peculiaridades:
a) Novidade: decorre do universo de coisas não compreendidas no estado
da técnica. O período de divulgação autorizada, antes do depósito do
pedido no INPI, é de cento e oitenta dias, conforme deflui do art. 96, § 3º,
da LPI: “Não será considerado como incluído no estado da técnica o
desenho industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os cento e
oitenta dias que precederam a data do depósito ou a da prioridade
reivindicada, se promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art.
12”. Significa que o titular do desenho industrial pode, por exemplo,
apresentar o desenho em público em congresso ou a eventuais clientes,
antes de efetivar o depósito no INPI, sem ficar impedido de encaminhar seu
pedido de registro dentro de seis meses, mantendo intacto o requisito da
novidade.
b) Originalidade: é a que resulta de configuração visual distintiva, em
relação a outros objetos anteriores, excluída qualquer obra de caráter
puramente artístico. A forma comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela
determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais (LPI,
art. 100, II) não é passível de registro.
c) Industriabilidade: não é registrável obra puramente artística, mas tão
somente a que propicie fabricação industrial.
d) Legalidade: é vedado o registro de desenho industrial que seja
contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou a imagem
de pessoas, ou atente contra a liberdade de consciência, crença, culto
religioso ou ideia e sentimentos dignos de respeito e veneração (LPI, art.
100, I).

67. Marcas

67.1. Classificações
As marcas podem ser classificadas segundo sua aplicação, finalidade,
forma e conhecimento comum, o que pode ser visualizado nos seguintes
quadros:

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À APLICAÇÃO


CÓDIGO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Marca de
Distingue produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem
produto ou
diversa.
serviço

Atesta a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou


Marca de
especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material
certificação
utilizado e metodologia empregada.

Marca
Identifica produtos ou serviços provindos de membros de determinada entidade.
coletiva

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FINALIDADE

Marca
específica
Destinada a assinalar um só objeto.
ou
singular

Marca Identifica a origem de uma série de produtos ou artigos, que por sua vez são,
genérica individualmente, caracterizados por marcas específicas. Somente pode ser usada
ou geral quando acompanhada de marca específica.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMA

Verbal ou
Constitui-se somente de nomes, palavras, denominações ou expressões.
nominativa

Emblemática Adota monogramas, emblemas, símbolos, figuras ou quaisquer outros sinais


ou figurativa distintivos.

Mista Formada por expressões nominativas e figurativas.

Apresentada nas várias dimensões visuais, com desenhos em vista frontal,


Tridimensional
lateral, superior, inferior, ou em algumas delas e em perspectiva.
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CONHECIMENTO COMUM

NOÇÕES DIFERENCIAÇÕES

• Extensão territorial:
proteção no território
nacional.
• Extensão de
São as notoriamente conhecidas no Brasil, em toda a sua aplicação: em todos
Marcas
extensão territorial, e têm proteção especial em todos os os ramos de
de alto
ramos de atividade; trata-se de inovação brasileira prevista no atividade.
renome
art. 125 da LPI, sem regulação similar na Convenção Unionista. • Fonte legislativa:
art. 125 da LPI.
• Registro no Brasil:
indispensável para a
proteção.

• Extensão territorial:
proteção nos
territórios dos países
signatários da
Convenção da União
de Paris.
• Extensão de
São as notoriamente conhecidas em seu ramo de atividade e
aplicação: proteção,
estão previstas na Convenção da União de Paris, no artigo 6
Marcas tão somente, em
bis, inciso 1, e reguladas pelo art. 126 da LPI. Gozam de
notórias relação a produtos
proteção especial, independentemente de estarem previamente
idênticos e similares.
depositadas ou registradas no Brasil.
• Fonte legislativa:
art. 6º, bis (I), da
CUP e art. 126 da
LPI.
• Registro no Brasil:
dispensável para a
proteção.

67.2. Requisitos
São três os requisitos exigidos para o registro de uma marca: novidade,
originalidade e legalidade.
Observa-se que embora esta classificação seja adotada por outros
doutrinadores, como, por exemplo, Rubens Requião (2003, 1:244-249),
Fábio Ulhoa Coelho (2016, 1:188-191) prefere indicar três outras condições:
novidade relativa, não colidência com marca notória e desimpedimento.
Neste último requisito estariam as distinções que fazemos entre licitude e
originalidade.
a) Novidade: Para as marcas o requisito da novidade é relativo, isto é, na
criação de uma marca não se exige o desconhecimento público da
expressão ou da figura adotada. Estrela não é um símbolo ignorado pelos
povos e, entretanto, pode servir para identificar, com exclusividade,
brinquedos de um determinado fabricante ou veículo automotor de outro.
A proteção legal se dá por classes, salvo na hipótese de marca de alto
renome para a qual se concede direito de proteção sobre todos os ramos de
atividade.
A proteção limitada a uma determinada classe (ramo de atividade
definido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial) decorre da
aplicação do princípio da especificidade, segundo o qual a novidade exigida
para o registro de uma marca restringe-se à não colidência com outra
preexistente, isto é, a ausência de uso exclusivo da expressão ou figura na
classe pretendida.
b) Originalidade: Uma ideia pode não ser original, mas será nova desde
que não exista colidência com outra existente.
Considerando os casos arrolados pelo legislador no art. 124 da LPI,
podemos estabelecer uma linha distintiva entre os critérios de originalidade
e novidade.
Não são originais os símbolos e expressões mencionadas nos incisos I
(brasões, armas etc.), II (letra, algarismo e data), V (reprodução de título
de estabelecimento e de nome comercial), VI (sinal de caráter genérico),
VIII (cores e suas denominações), XI (cunho oficial), XIII (nome, prêmio ou
símbolo de evento), XIV (reprodução de título, apólice etc.), XV (nome
civil), XVI (pseudônimo), XVIII (termo técnico) e XXI (forma necessária,
comum ou vulgar do produto ou do acondicionamento, ou, ainda, aquela
que não possa ser dissociada de efeito técnico). Observe-se, contudo, neste
último caso, que o sinal comum pode adquirir um sentido secundário
(secondary meaning), o que ocorre quando dissociado de seu significado
semântico, viabilizando a proteção marcária.
Violam o requisito da novidade os incisos IV (sigla de entidade ou órgão
público suscetível de registro como marca pelo próprio órgão), IX (indicação
geográfica de produto), X (falsa indicação de origem etc.), XII (imitação de
marca coletiva ou de certificação), XVII (obra literária etc.), XIX (marca
alheia), XX (dualidade de marcas), XXII (desenho industrial de terceiro) e
XXIII (marca conhecida).
c) Legalidade: Tudo é permitido, desde que a lei não vede. Nos incisos III
(expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos
bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente
contra a liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e
sentimento dignos de respeito e veneração) e VII (limitação à proteção de
sinal ou expressão de propaganda) do art. 124 da LPI encontramos a
regulamentação da licitude.

68. Cessão de uso e licenças


Os direitos de propriedade transferem-se por ato inter vivos ou por
sucessão e em qualquer caso a transferência deve ser averbada no Instituto
Nacional da Propriedade Industrial para que produza efeitos legais erga
omnes.
Quanto ao objeto, os direitos de propriedade imaterial são indivisíveis,
não podem ser fracionados sem alteração do uso a que se destinam.
Entretanto, quanto à titularidade a cessão do direito imaterial pode ser feita
de forma parcial ou total, isto é, pode ser feita a vários titulares, em
condomínio ou a um detentor do domínio.
A cessão pode ser aperfeiçoada em documento público ou particular ou,
ainda, se a transferência ocorrer em virtude de morte ou ausência do titular,
mediante decisão judicial: certidão de homologação de partilha ou cópia da
sentença que declarar a ausência.
Distintamente do que ocorre na cessão, o contrato de licença não
transfere a propriedade do direito imaterial, mas tão somente o direito de
usá-lo e explorá-lo, com ou sem exclusividade.

69. Licença compulsória


Em relação às patentes de invenção e de modelos de utilidade, pode
ocorrer o licenciamento compulsório, sem exclusividade e sem permissão de
sublicenciamento, nas cinco situações previstas na LPI, arts. 68-74:
a) exercício abusivo de direitos de patente ou prática de abuso de poder
econômico por meio dela, definidos por lei, decisão administrativa ou
sentença judicial (art. 68);
b) inércia do titular: ausência de fabricação ou fabricação incompleta do
produto ou, ainda, a falta de uso integral do processo patenteado no Brasil,
ressalvados os casos de inviabilidade econômica, quando, então, é
permitida a importação (art. 68, § 1º, I);
c) a comercialização não satisfaz a necessidade do mercado (art. 68, §
1º, I);
d) situação de dependência de uma patente à outra, e o objeto da
patente dependente constituir substancial progresso técnico em relação à
anterior, não tendo o titular realizado acordo com o detentor da patente
dependente para exploração da patente anterior (art. 70);
e) emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder
Executivo Federal.

70. Extinção do direito de propriedade industrial


O direito à exclusividade de exploração do direito à propriedade industrial
extingue-se nos seis casos previstos no Código da Propriedade Industrial.
Essas situações trazem regras distintas a cada uma das modalidades
jurídicas. Por este motivo, convém estudar as peculiaridades aplicáveis a
cada uma delas.

70.1. Expiração do prazo de vigência (LPI, arts. 78, I, 119, I, e


141, I)
Em relação à invenção o prazo de exploração é de vinte anos e, no
tocante ao modelo de utilidade, quinze anos. Em ambos os casos o prazo
conta-se da data do depósito. Se decorrer longo período entre a data do
depósito e a da concessão, o titular não pode ser prejudicado em demasia,
tendo a lei lhe garantido a exploração por período não inferior a dez e sete
anos contados da data de concessão.
O direito de exploração do registro de desenho industrial é concedido
pelo prazo de dez anos, contados a partir da data do depósito, prorrogável
por quinze, em três períodos distintos e sucessivos de cinco anos cada.
O direito à marca é concedido pelo prazo de dez anos, contados da data
da concessão do registro, podendo ser prorrogado, mediante pedido no
último ano do decêndio vigente, por períodos iguais e sucessivos.

DIREITO PRAZO OBSERVAÇÕES

20 anos da data do O direito de exploração não pode ser inferior a dez anos
Invenção
depósito contados da data da concessão.

Modelo de 15 anos da data do O direito de exploração não pode ser inferior a sete anos
utilidade depósito contados da data da concessão.
Desenho 10 anos da data do Prorrogável por mais 15 anos, em três períodos sucessivos
industrial depósito de 5 anos.

10 anos da
Marca Prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
concessão do registro

70.2. Renúncia do titular (LPI, arts. 78, II, 119, II, e 142, II)
A renúncia deve ser expressa e se realizada por procurador exige poderes
especiais, uma vez que o mandato, em termos gerais, somente confere
poderes de administração. Anota-se que o ato de renúncia se insere entre
aqueles que exorbitam da administração ordinária (CC, art. 661 e § 1º).
Ressalva o legislador o direito de terceiro (LPI, arts. 78, II, e 119, II),
antevendo a possibilidade de existir litígio sobre o objeto da proteção
industrial.
Não se compreendem entre as atribuições do administrador judicial na
falência a de renunciar a direitos (LREF, art. 22). Cabe ao administrador
judicial, entretanto, no interesse da massa, “requerer todas as medidas e
diligências que forem necessárias para o cumprimento” da lei falimentar, “a
proteção da massa ou a eficiência da administração” (LREF, art. 22, III, o).
A renúncia pela massa, portanto, em caso de falência dependerá da
demonstração de que a medida lhe confere proteção ou propicia eficiente
administração.

70.3. Caducidade (LPI, arts. 78, III, e 142, III)


Ocorre a caducidade de patente pelo decurso do prazo de dois anos sem
que o titular de licença compulsória (veja item 69) tenha iniciado sua
exploração (LPI, art. 80).
Ocorre a caducidade de registro de marca se, decorridos cinco anos da
sua concessão, o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil ou, ainda, se
iniciado, tiver sido interrompido por mais de cinco anos consecutivos.
Equivale a ambas as situações o uso com modificação que implique
alteração de seu caráter distintivo original, constante do certificado de
registro (LPI, art. 143, I e II).

70.4. Falta de pagamento da retribuição


O detentor de direito de propriedade industrial deve pagar retribuição
pecuniária ao INPI, em parcelas distintas conforme o direito concedido, em
períodos estipulados no Código da Propriedade Industrial. A retribuição será
regular, adicional ou específica, conforme a época de seu pagamento:

RETRIBUIÇÃO PERIODICIDADE PERÍODO DE VENCIMENTO

Anual, a partir do
REGULAR No vencimento normal, dentro dos 3 meses de cada
3º ano, da data do
(DE PATENTE) período anual.
depósito.

O pagamento da retribuição pode ser feito, independente


Anual, a partir do
ADICIONAL de notificação, dentro de 6 meses subsequentes,
3º ano, da data do
(DE PATENTE) mediante pagamento de retribuição adicional (LPI, art. 84,
depósito.
§ 2º).

O pagamento da retribuição pode, ainda, ser feito dentro


Anual, a partir do
ESPECÍFICA de 3 meses contados da notificação do arquivamento ou
3º ano, da data do
(DE PATENTE) do pedido de extinção da patente, mediante o pagamento
depósito.
de retribuição específica (LPI, art. 87).

Quinquenal, a O pagamento do segundo quinquênio deve ser feito


REGULAR
partir do 2º durante o 5º ano de vigência do registro e os
(DE DESENHO
quinquênio da data subsequentes com a apresentação do pedido de
INDUSTRIAL)
do depósito. prorrogação (LPI, art. 120, §§ 1º e 2º).

Quinquenal, a
ADICIONAL O pagamento poderá ainda ser efetuado dentro de 6
partir do 2º
(DE DESENHO meses subsequentes ao prazo, mediante pagamento de
quinquênio da data
INDUSTRIAL) retribuição adicional (LPI, art. 120, § 3º).
do depósito.
Em relação às marcas, a falta de pagamento não acarreta a extinção do
direito de propriedade porque o recolhimento da retribuição se dá antes da
expedição do certificado de registro (LPI, art. 161). Se o pagamento do
primeiro decênio não se efetuar até sessenta dias depois do deferimento,
ou, ainda, independentemente de notificação, dentro de trinta dias desse
primeiro vencimento, o pedido é arquivado, sem a expedição de certificado
(LPI, art. 162).

70.5. Nulidade do ato de concessão


A decisão administrativa de concessão de patente de invenção ou de
modelo de utilidade e o ato de registro de desenho industrial ou de marca
podem ser declarados nulos quando violarem disposições da Lei da
Propriedade Industrial.
Para tanto, o legislador permite a proposição de procedimento
administrativo de nulidade, de ofício ou a partir de requerimento de
qualquer pessoa com legítimo interesse, bem como a proposição de ação
judicial, com curso na Justiça Federal, por pessoa que demonstre interesse
processual.
Distinguem-se os prazos de prescrição, segundo a natureza do direito
concedido: a) as ações para a nulidade de concessão de invenções e de
modelos de utilidade e registro e de desenho industrial podem ser movidas
a qualquer tempo da vigência da patente ou do registro (LPI, arts. 56 e
118); b) a ação para declarar a nulidade do registro de marca prescreve em
cinco anos, com início de fluência a partir da data de sua concessão (LPI,
art. 174).

70.6. Inobservância do art. 217 (LPI, arts. 78, V, 119, IV, e 142,
IV)
Finalmente, aplica-se a pena de extinção de direito de propriedade
imaterial ao titular que, não sendo residente no País, deixa de constituir e
de manter aqui procurador qualificado e domiciliado, com poderes para
representá-lo administrativa e judicialmente, inclusive para receber
citações.

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