2022 Silva Jose Prova Digital
2022 Silva Jose Prova Digital
2022 Silva Jose Prova Digital
RESUMO: É necessário construir uma teoria das provas digitais. Mister, portanto,
definir com precisão (i) o que é uma prova digital; (ii) qual a sua natureza jurídica;
(iii) quais são seus requisitos imprescindíveis; e (iv) de quem será o ônus da prova
quando se tratar de prova digital. Se a prova digital é, no fundo, uma prova documental,
a distinção se dá apenas em relação ao suporte do qual ela é extraída (suporte físico ou
digital). Mas há de se exigir, com rigor, a verificação de seus requisitos – autenticidade,
integridade e preservação da cadeia de custódia. Quanto ao ônus da prova, as regras
clássicas do art. 429 do CPC são o ponto de partida para a sua definição.
PALAVRAS-CHAVE: Prova Digital. Conceito. Natureza Jurídica. Requisitos. Ônus
da Prova.
ABSTRACT: There is a pressing need to build a theory of digital evidence. It is
essential, therefore, to precisely define (i) what is a digital evidence; (ii) what is its
legal nature; (iii) what are its essential requirements; and (iv) upon whom shoud the
burden of proof fall when it comes to digital evidence. If the digital evidence is, deep
down, a documentary evidence, the distinction is only in relation to the support from
which it is extracted (physical or digital support). However, the verification of its
requirements – authenticity, integrity and preservation of the chain of custody – must
be strictly required as for the burden of proof, the classic rules of the article 429 of
the Brazilian Civil Procedure Code are the starting point for its definition.
KEYWORDS: Digital Evidence. Concept. Legal Nature. Requirements. Burden of Proof.
1 – Introdução
A
prova judicial é todo mecanismo colocado à disposição das partes para
que consigam convencer o juiz a respeito da existência do fato afir-
mado na causa de pedir, nas razões defensivas e/ou em manifestações
* Juiz titular da 6ª Vara do Trabalho de Ribeirão Preto (SP); doutor em Direito do Trabalho e da Segu-
ridade Social pela Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM), na Espanha – título revalidado pela
Universidade de São Paulo (USP); mestre em Direito Obrigacional Público e Privado pela UNESP;
professor contratado do Departamento de Direito Privado da USP de Ribeirão Preto (2017 a 2019) e
da Escola Judicial do TRT-15. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0681875255841345. ORCID: https://orcid.
org/0000-0001-7532-2766. E-mail: [email protected].
haver previsão expressa na CLT a esse respeito: constitui figura de justa causa
a “violação de segredo da empresa” (alínea “g” do art. 482);
(ii) um empregado, “responsável pela condução de uma RFP – Request
for Proposal” –, que, numa licitação, “negocie vantagens a determinado con-
corrente por e-mail ou celular corporativo”; essa prática também está tipificada
como justa causa no art. 482, alínea “c”, da CLT: “negociação habitual por
conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato
de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial
ao serviço”;
(iii) ato de empregado que, em grupo de WhastApp da empresa “publica
conteúdos desonrosos ou profere xingamentos a outro empregado, tumultuando
o ambiente corporativo” – aliás, tem sido muito mais comum que empregados
desanquem a honra objetiva da própria empresa ou a subjetiva de proprietários
e diretores em mídias sociais, como Facebook, Instagram, Twitter e outras; em
todos esses casos teremos ilícitos praticados em suporte digital; o que se tem
aqui é outra figura de justa causa, tipificada no art. 482, alínea “k”, da CLT, a
saber: “ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra
o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem”;
(iv) os autores citam, ainda, o exemplo de empregado que alega “doen-
ça para não comparecer em serviço e fique provado, a partir de postagens em
mídias sociais que, na verdade, mentiu” – embora se trate de hipótese cada vez
mais frequente nas audiências trabalhistas, por coerência, aqui, o que se tem
é uma prova digital de segundo grau, porque os fatos – viagens, festas, jogos
– ocorreram em ambiente “físico”, não nas plataformas digitais; apenas as
provas dos fatos que revelam a mentira do empregado é que serão consideradas
digitais; mais uma vez, essa hipótese se trata de uma figura de justa causa, pois
é inadmissível que o empregado apresente atestado médico para não trabalhar
em razão de sua doença e, no lugar de permanecer em casa se recuperando, faça
suas viagens, compareça a festas, bares ou vá praticar esportes; essa conduta
propicia a quebra da confiança que deve ser depositada em todo empregado,
estando prevista, ainda que não expressamente, na alínea “b” do art. 482 da
CLT: (ato de) “incontinência de conduta ou mau procedimento”.
Contudo, o empregador também pode cometer, contra o empregado,
ilícitos com o uso dos meios digitais, dando ocasião a uma prova digital de
sua conduta reprovável (THAMAY; TAMER, 2020, p. 36-37). Citam-se, como
exemplos, os seguintes:
WhatsApp e/ou Telegram –, vão caracterizar a prova como sendo digital, pois
os fatos, aí, ocorrem todos no suporte digital.
Isso sem falar nos vários casos em que as partes têm se utilizado – ou
requerido a utilização – da geolocalização para demonstrar fatos ocorridos fora
do ambiente virtual – vínculo de emprego, horas extras, justa causa, etc. –, ou,
pelo menos, para demonstrar um indício a partir do qual se pode presumir a
existência do fato probando. Trata-se, no entanto, de matéria bem complexa
que não irei analisar neste breve artigo.
Daí que, negada a autoria do fato digital e pairando séria dúvida sobre
quem realmente o praticou, o ônus de demonstrar o fato digital (e sua autoria),
o fato constitutivo do direito do autor da demanda – por exemplo, em ação
indenizatória de dano moral –, é de quem o alega (art. 429, II, do CPC). Vol-
taremos a esse tema do ônus da prova.
Quando se trata de documento digital, se a assinatura eletrônica for
certificada em conformidade com as diretrizes da ICP-Brasil – Infraestrutura
de Chaves Públicas Brasileira –, criada pela MP nº 2.200/01, ele se presume
verdadeiro. A esse respeito, dispõe o art. 10, § 1º, da referida MP:
“As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica
produzidos com a utilização de processo de certificação disponibilizado
pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos signatários,
na forma do art. 131 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código
Civil.”
Bem sabido que o Código Civil de 2002 manteve a mesma regra, em seu
art. 219. Ora, se a assinatura eletrônica identifica o autor do documento, pois
a codificação de cada assinatura é única, não há como negar a autenticidade
desse documento. Se a pessoa, natural ou jurídica, argumentar, por exemplo, que
alguém se utilizou indevidamente do cartão ou pen drive que contém a chave
da assinatura, competirá a ela o pesado encargo de comprovar o fato alegado e,
salvo em situações que conduzam a severa injustiça, há de se prestigiar a boa-fé
objetiva de quem confiou naquela assinatura, pois presumidamente aposta pela
única pessoa que a poderia “deter”.
Isso, porque a assinatura digital ou eletrônica “é produto de sofisticada
técnica elaborada a partir da criptografia assimétrica, que recebe tal denomi-
nação por não se basear em um segredo comum”.
“Em breve resumo, essa forma de criptografia atua a partir de um
conjunto de chaves, compostas de uma sequência de caracteres gerada
por computador, a partir de elementos aleatórios e fórmulas matemáticas
avançadas que viabilizam a sua correlação. (...)
Uma vez aplicada essa espécie de criptografia sobre determinado
conteúdo, a alteração de qualquer mínima unidade de informação – um
bit que seja, ainda que em metadados que não repercutam diretamente
no seu teor – torna impossível que a decodificação resulte no que se as-
sinou ou mesmo algo próximo, dada a assimetria das chaves utilizadas
no algoritmo.” (PASTORE, 2020, p. 69-70)
(iii) o printscreen pode ter sido apresentado, nos autos do processo, a partir
de “captura de tela de conteúdo” adulterado. Aliás, é bastante “simples e fácil
construir ou alterar uma conversa de aplicativo de mensagens, de e-mails ou
postagens em mídias sociais”. Por isso, a doutrina tem recomendado que “o
procedimento de coleta da prova seja acompanhado de lavratura presencial de
ata notarial apta a atestar, com fé pública, que a integridade for (sic) respeitada”.
Apresenta-se, como alternativa, “a extração de código Hash sobre a cópia feita,
atestando que ela é um espelho fidedigno do dispositivo original” (THAMAY;
TAMER, 2020, p. 45-46).
Agora, além dos documentos digitais em sentido estrito, existe o extrato
digital de banco de dados, previsto no art. 11, § 1º, da Lei nº 11.419/06, o qual
tem o mesmo valor probante que os originais, “desde que atestado pelo seu
emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem com o que consta
na origem” (art. 425, V, do CPC). Ocorre que, quando se tratar de “informa-
ções produzidas em meio exclusivamente eletrônico, assim as inseridas pelo
preenchimento de um formulário digital” – por exemplo, as resultantes de
transações financeiras feitas em aplicativos dos bancos –, “ou mesmo geradas
automaticamente por sistemas informatizados, para registro da sua utilização
ou em função dela” – por exemplo: (i) ligações telefônicas; (ii) troca de mensa-
gens; (iii) acesso a páginas da internet; (iv) dados de geolocalização obtidos de
aplicativos em aparelhos celulares –, “não haverá outro meio de prova possível
e a informação deverá ser necessariamente extraída do banco de dados digital”
(PASTORE, 2020, p. 72-74).
A questão que se coloca é: quem garante (e, como garantir) que essa ex-
tração de dados – extrato digital de banco de dados – foi realizada de maneira
adequada e sem comprometimento dos dados digitais?
“São frequentemente juntadas aos autos, como documento ou
mesmo em reprodução de baixa qualidade no corpo dos arrazoados,
imagens de telas de computador, em que aparentemente se contém um
registro informatizado, mas sem nenhum esclarecimento sobre a criação
e guarda dos dados, sobre o método de acesso ao banco de dados nem a
responsabilidade por essa atividade.
Fica inteiramente prejudicada, dessa forma, a eficácia probatória
do banco de dados digital, porque não se pode garantir que a informação
é confiável na origem, tampouco que o que foi reproduzido nos autos
corresponde ao que consta na origem (autenticidade), sem possibilidade
de alteração desde a extração (integridade).” (PASTORE, 2020, p. 75)
Por isso, a doutrina tem recomendado que a extração dos dados seja
acompanhada por notário e descrita com precisão numa ata notarial, ou que,
pairando dúvidas sobre a integridade da prova digital, ela seja submetida a
criterioso exame pericial.
Ocorre que esses procedimentos têm um custo elevado, sobretudo a
lavratura de ata notarial. Ademais, a produção da prova pericial – além de seu
custo – pode ser bastante demorada, comprometendo a celeridade que se almeja
para os processos judiciais. Por essas razões, penso que, no processo do trabalho,
diante dos princípios da simplicidade, informalidade, gratuidade e efetividade,
é possível admitir a produção menos formal da prova provinda dos meios ou
suportes digitais, com a simples “juntada”. De modo que, apenas se houver
séria controvérsia sobre sua autoria e conteúdo, é que deve ser determinada
a requisição de dados aos provedores de conexão e aplicação da internet, ou a
outros detentores da informação produzida em meio digital.
Enfim, também se apresenta como requisito da prova digital a chamada
cadeia de custódia. A respeito dessa exigência, assim tem se manifestado a
doutrina:
“(...) é preciso preservar a autenticidade e a integridade em todo
processo de produção da prova digital, desde sua identificação, coleta,
extração de resultados, até a apresentação no processo ou procedimento
de destino. A ideia é construir verdadeiro registro histórico da evidência,
de toda a vida da prova. A ideia é que se alguém seguir os mesmos passos
já dados na produção da prova, o resultado será exatamente o mesmo.
Nesse ponto, é importante sinalizar datas, horários, quem teve acesso,
onde o acesso foi feito e até quaisquer alterações inevitáveis relaciona-
das.” (THAMAY; TAMER, 2020, p. 114)
Por isso, é importante que os atores jurídicos, a despeito dos princípios
fundamentais do processo do trabalho, tenham mais cuidado na juntada aos
autos das provas digitais, lembrando-se que mero printscreen no corpo das
petições (inicial, contestação, etc.) não se trata sequer de documento, mas
de mera ilustração para reforçar os argumentos da causa de pedir e da tese
defensiva. Daí que, seja (a) na mera extração de um printscreen de conversas
de e-mail, WhatsApp, Telegram, de páginas ou perfis na internet, seja (b) na
juntada de CD ou DVD com áudios ou vídeos para comprovar determinados
fatos, o advogado deve fazer o possível para identificar: (i) a data em que teve
acesso à prova; (ii) a data da extração da prova do meio digital; (iii) os horá-
rios do acesso e da extração; (iv) quem mais teve acesso à prova, ou quem a
acessou e comunicou à parte; (v) em que lugar se deu o acesso e a extração
das informações; (vi) se, na extração dos dados, houve alterações inevitáveis,
pela própria natureza das coisas.
Somente assim será possível à parte demonstrar ao juiz a lisura na
extração dos dados, permitindo a confiabilidade na prova digital carreada aos
autos do processo. E, nesse caso, se a parte contrária alegar adulteração das
informações, dela será o ônus de provar que isso realmente aconteceu.
alegado pelo demandante. Enfim, fato extintivo é o que faz desaparecer todos
os efeitos jurídicos do fato constitutivo (SILVA, 2021, p. 281-283).
Definida a natureza jurídica dos fatos controvertidos, torna-se bem mais
fácil compreender as regras objetivas de definição do ônus da prova. A respeito
da definição do ônus, Giuseppe Chiovenda (1998, p. 447-449) enuncia que, ao
autor, compete o ônus da prova do fato constitutivo do seu direito, cabendo,
portanto, ao réu: a) “provar fatos que provam a inexistência do fato provado
pelo autor, de modo direto ou indireto”; b) ou, “sem excluir o fato provado
pelo autor”, afirmar e provar “um outro que lhe elide os efeitos jurídicos, e aí
temos a verdadeira prova do réu, a prova da exceção”.
No mesmo sentido, Moacyr Amaral Santos (1990, p. 447), para quem a
distribuição do ônus da prova pode ser sintetizada em duas regras:
1ª) ao autor cabe a prova dos fatos dos quais deduz o seu direito, ao passo
que ao réu incumbe a prova dos fatos que, de modo direto ou indireto, atestam
a inexistência daqueles, ou seja, a prova contrária ou contraprova;
2ª) ao autor compete a prova do fato constitutivo e ao réu a prova do fato
extintivo, impeditivo ou modificativo, explicando o doutrinador que essa regra
“reafirma a anterior, quanto ao autor, e atribui o ônus da prova ao réu que se
defende por meio de exceção, no sentido amplo”.
Obviamente, trata-se da doutrina clássica. Hoje, não se pode olvidar da
teoria dinâmica da distribuição do ônus da prova, que foi, inclusive, positiva-
da no sistema processual brasileiro (art. 373, § 1º, do CPC; art. 818, § 1º, da
CLT). Tampouco das especificidades da temática da inversão do ônus da prova
no processo do trabalho. Contudo, neste breve artigo não terei condições de
analisar essas questões.
Quanto ao ônus da prova em matéria de provas digitais, há de se ter em
mente que essa temática é bem recente. A doutrina e a jurisprudência ainda
estão dando os primeiros passos para a definição do que se pode entender como
prova digital, de sua natureza jurídica e dos requisitos imprescindíveis para a
sua (boa) produção em juízo, questões já examinadas brevemente.
Nessa teoria em construção, para a definição das regras – estáticas ou
dinâmicas – de ônus da prova quanto à produção da prova digital em juízo, o
ponto de partida para essa edificação deve ser a clássica teoria geral da prova.
Com efeito, é na teoria geral da prova (e do ônus da prova) que o jurista deve
buscar teorizações e construções normativas que possam subsidiar a difícil
definição de regras específicas sobre o encargo probatório, quando se tratar de
questões relacionadas às provas digitais.
Pois bem, a se entender a prova digital como uma prova documental lato
sensu – e parece ser esta a inclinação da doutrina e da jurisprudência, como
mencionei anteriormente –, de saída, até que haja construção mais elaborada
a respeito dessa temática, devem ser aplicadas as regras clássicas sobre ônus
da prova, disciplinadas para a produção da prova documental.
Destarte, as diretrizes do art. 429 do CPC são mesmo o ponto de partida
para a definição do encargo de prova, quando a controvérsia se referir a quem
compete – pelas regras subjetivas e objetivas do ônus da prova – demonstrar
ao juiz o fato digital alegado nos autos do processo.
Por isso, se a parte contra quem se faz a juntada de um documento – o
autor ou o réu – não impugna a assinatura ou mesmo a reconhece, tendo o
confeccionado ou simplesmente subscrito esse documento (art. 410, II, do
CPC), passa a recair sobre seus ombros um pesado encargo probatório, em
conformidade com o art. 429, I, do CPC. Com efeito, disciplina o art. 412 do
CPC que o documento particular “de cuja autenticidade não se duvida prova
que o seu autor fez a declaração que lhe é atribuída”.
Destarte, a primeira regra sobre ônus probatório em matéria de provas
digitais é esta: se a parte contra a qual se produziu uma prova digital não im-
pugna sua assinatura, mas apenas o seu conteúdo, é dela o ônus da prova. Nesse
caso, o que a parte certamente alegará é a falta de integridade da prova digital,
que esta foi adulterada ou até mesmo que está incompleta – por exemplo, na
juntada de printscreen de conversas de WhatsApp. A parte poderá alegar, ainda,
a quebra da cadeia de custódia quando da extração digital do banco de dados,
e, nesse caso, o ônus da prova também será seu.
Em suma, se a parte contrária alegar adulteração das informações conti-
das em qualquer prova digital, dela será o encargo de provar que, de fato, isso
ocorreu, mediante a juntada do (documento) original, da prova por completo
(conversações, por exemplo), prova pericial ou até mesmo com o requerimento
de expedição de ofícios a empresas que guardam os dados de onde foi extraída a
prova digital, em regra, os provedores de conexão e/ou de aplicação da internet.
Agora, se determinada pessoa, natural ou jurídica, argumentar nos autos
do processo que alguém se utilizou indevidamente do cartão ou pen drive que
contém a chave de sua assinatura, dela será o pesado encargo de demonstrar que
isso realmente aconteceu. Ora, nas relações jurídicas em geral há um imperativo
de que se deve prestigiar a boa-fé objetiva de quem confiou naquela assinatura,
pois, até prova em contrário, presume-se que foi aposta no documento pela
única pessoa que a poderia “deter”.
necessária (recibos, cartões, etc.). A prova digital não pode ser vista como a
panaceia para todos os males, devendo a parte, inclusive, ao apresentar reque-
rimento de sua produção, apontar (i) fato determinado e (ii) justificar a neces-
sidade da referida prova, indicando data ou, no mínimo, período específico,
em conformidade com o art. 22, parágrafo único, da Lei nº 12.965/2014 – o
Marco Civil da Internet, no Brasil.
Com isso em mente, a prova digital poderá ser um mecanismo útil, quando
produzida com respeito aos requisitos específicos, mas isso não retira, insista-
se, a possibilidade de produção de prova oral a respeito dos fatos trabalhistas,
diante do princípio da primazia da realidade, tão realçado pela boa doutrina. E
tudo isso vai influir decisivamente até mesmo na definição do ônus da prova em
matéria de provas digitais, mas não haverá tempo para tratar dessa importante
correlação neste breve artigo.
6 – Conclusão
7 – Referências bibliográficas
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v. 1.
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