CENSO 2022 - Relatório 12 - 08 - 05 - 23
CENSO 2022 - Relatório 12 - 08 - 05 - 23
CENSO 2022 - Relatório 12 - 08 - 05 - 23
3
Contratante: Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS
Executor: Painel Pesquisas, Consultoria e Publicidade Ltda.
Contrato: n.º 53/SMADS/2021
Processo Licitatório: nº 46/SMADS/2021
4
EQUIPE TÉCNICA - PAINEL PESQUISAS E CONSULTORIA
Direção Executiva
Ermelinda Maria Uber Januário
Coordenação Geral
Maria Helena Provenzano
João Jeronymo de Aquino Neto
Pesquisadores Sênior
Luciana Pena Morgado
Ana Carolina Martins Gil
Ermelinda Maria Uber Januário
Pesquisadores Pleno
Thaís Navas Marques Luiz
Samira Heidy da Silveira Nagib
Técnico em Geoprocessamento
Emanoel Alves Junior
Estatística
Fátima Mottin
Revisor Ortográfico
Lucas Amorim
Design Gráfico
Rafael Uber
Isabela Bortoletto Bozzola
Apoio Logístico
Diana Garbin
Lohane Renata de Castro Pereira
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa com os pontos de concentração de CASR e dos riscos sociais identificados na etapa
da pesquisa dos informantes ........................................................................................................ 20
Figura 3: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Raça/Cor Branca ..................... 23
Figura 4: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Raça/Cor Parda ....................... 23
Figura 5: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Raça/Cor Preta ....................... 23
Figura 6: Divisão territorial dos distritos de São Paulo para a pesquisa censitária de CASR .......... 24
Figura 8:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos ............................ 40
Figura 10:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos........................... 76
Figura 11:Critério de análise das atividades relacionadas aos riscos sociais ................................. 77
6
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1:Variação percentual entre os dois anos, considerando as CAs acolhidos ...................... 37
Gráfico 2: Variação percentual entre os dois, considerando apenas as CASR ............................... 37
Gráfico 3:Sexo dos CASR por faixa etária ...................................................................................... 46
Gráfico 4: Percentual de CASR que nasceram em São Paulo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de
situação ........................................................................................................................................ 50
Gráfico 5: Local de nascimento das CASR na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação ...... 51
Gráfico 6: Situação da matrícula por faixa etária .......................................................................... 51
Gráfico 7:Matriculados antes e depois do acolhimento na faixa etária de 7 a 17 anos ................. 53
Gráfico 8:Matricularia em tempo integral por situação atual da matrícula as crianças de 0 a 6 anos
...................................................................................................................................................... 54
Gráfico 9: Frequência de rua x frequência escolar ........................................................................ 55
Gráfico 10: Tempo de rua por faixa etária .................................................................................... 58
Gráfico 11:Pandemia como uma das causas da SR na faixa etária de 7 a 17 anos, por situação ... 60
Gráfico 12: Cruzamento do ano que veio para a rua com a declaração da pandemia como uma das
causas de estar em SR na faixa etária de 7 a 17 anos por situação ............................................... 61
Gráfico 13:Cruzamento entre o tempo médio de rua e pandemia por SR na faixa etária de 7 a 17
anos .............................................................................................................................................. 61
Gráfico 14:Incidência do risco por faixa etária .............................................................................. 87
Gráfico 15:Incidência do risco por sexo ........................................................................................ 89
Gráfico 16:Incidência das atividades por raça/cor ........................................................................ 90
Gráfico 17:Incidência das atividades por região de São Paulo ...................................................... 93
Gráfico 18:Percentual que mantém contato com familiares por faixa etária e tipo de situação (*)
.................................................................................................................................................... 102
Gráfico 19:Comparação, pernoite e as outras situações (acolhimento e outras trajetórias de risco),
do percentual de CA de 7 a 17 anos que NÃO utilizaram os serviços da rede em São Paulo ...... 113
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1:Faixa etária de CAs entrevistados ................................................................................... 29
Tabela 2: CAs segundo identidade de gênero de 12 a 17 anos...................................................... 30
Tabela 3: CAs acompanhados de algum adulto ............................................................................. 32
Tabela 4: CAs segundo distrito e categorias de CAs ...................................................................... 34
Tabela 5: Variação percentual entre os dois anos, considerando as CAs acolhidos ...................... 37
Tabela 6: Variação percentual entre os dois anos, considerando apenas as CASR ........................ 37
Tabela 7: Faixa etária de CASR no Censo de 2007 ......................................................................... 38
Tabela 8: Faixa etária de CASR no Censo de 2022 ......................................................................... 38
Tabela 9: CASR - Atividades informadas pelo entrevistado e observadas pelo pesquisador ......... 41
Tabela 10: CASR – Riscos sociais segundo faixa etária .................................................................. 43
Tabela 11:Sexo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação ................................................ 46
Tabela 12: Sexo na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação ............................................. 47
Tabela 13: Como se sente na faixa etária de 7 a 11 anos por sexo ............................................... 48
Tabela 14: Identidade de gênero na faixa etária de 12 a 17 anos por situação ............................. 49
Tabela 15: Sexo por faixa etária das CASR de 7 a 17 anos ............................................................. 49
Tabela 16: Situação da matrícula na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação .................... 52
Tabela 17: Situação da matrícula por faixa etária ......................................................................... 52
Tabela 18: Situação da matrícula na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação .................. 53
Tabela 16: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
...................................................................................................................................................... 54
Tabela 16: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
...................................................................................................................................................... 55
Tabela 16: O que você é desta criança? Na faixa etária de 0 a 6 anos por situação ...................... 56
Tabela 16: Escolaridade do responsável ....................................................................................... 57
Tabela 23: Há quanto tempo a criança de 0 a 6 anos tipo de situação está em situação de rua ... 59
Tabela 24: Período que a CA de 7 a 17 iniciou a trajetória de rua em relação a idade atual ......... 59
Tabela 25: Respondentes na faixa etária de 7 a 17 anos que estão há mais de 50% da vida em
situação de rua por situação ......................................................................................................... 60
Tabela 26: A pandemia da COVID-19 é uma das causas que você fez com que você viesse mais para
a rua na faixa etária de 7 a 17 anos, por tipo de situação ............................................................. 60
Tabela 27: Com quem você foi para a rua pela primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos ......... 62
Tabela 28: Por que você foi para a rua a primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos ................... 63
8
Tabela 29: Com quem dorme/mora em casa cruzando com quem foi para a rua, na faixa etária de
7 a 17 anos, por tipo de situação .................................................................................................. 64
Tabela 30: Por que você foi para a rua a primeira vez por raça/cor .............................................. 65
Tabela 31: Realizava alguma atividade de geração de renda quando criança por raça/cor .......... 66
Tabela 32: Qual atividade que você exercia quando criança ......................................................... 67
Tabela 33: Há quanto tempo está desempregado?....................................................................... 68
Tabela 34: Você está procurando emprego .................................................................................. 68
Tabela 35: Por que não está procurando emprego ....................................................................... 69
Tabela 36: Locais mais citados ...................................................................................................... 71
Tabela 37: Atividades realizadas pelas CASR de 7 a 17 anos, por risco social ............................... 82
Tabela 38: Atividades realizadas pelos responsáveis de CASR de 0 a 6 anos, por risco social ....... 84
Tabela 39: Diferença da incidência do risco por faixa etária ......................................................... 86
Tabela 40: Diferença da incidência do risco por sexo biológico .................................................... 88
Tabela 41: Diferença da incidência das atividades por região de pesquisa ................................... 91
Tabela 42: Diferença da incidência das atividades por região de São Paulo ................................. 92
Tabela 43: Perfil da região de pesquisa nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem
na rua ............................................................................................................................................ 94
Tabela 44: Perfil da região de São Paulo nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem
na rua ............................................................................................................................................ 95
Tabela 45: Perfil da região de pesquisa nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a
faixa etária .................................................................................................................................... 96
Tabela 46: Perfil da região de São Paulo nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a
faixa etária .................................................................................................................................... 97
Tabela 47: Locais mais citados pelas CASR de 7 a 17 anos por tipo de situação............................ 99
Tabela 48: CA que sofreu algum tipo de violência ........................................................................ 99
Tabela 49: Tipos de violência ...................................................................................................... 100
Tabela 50: Diferença da incidência tipos de violência por faixa etária ........................................ 101
Tabela 51: Costuma ter contato com outras pessoas da sua comunidade na faixa etária de 7 a 17
anos por situação ........................................................................................................................ 103
Tabela 52: Você (respondente) mantém contato frequentemente com quais pessoas da sua família
ou conhecidos (família extensa) na faixa etária de 0 a 6 anos por grupo .................................... 104
Tabela 53: Diferença da incidência dos serviços por região de MORADIA em São Paulo ............ 111
Tabela 55: Pergunta aberta final para os responsáveis de 0 a 6 anos ......................................... 115
Tabela 56: Pergunta aberta final de 7 a 17 anos ......................................................................... 116
9
AGRADECIMENTO
À Coordenação do Observatório da Vigilância Socioassistencial - COVS pela parceria,
engajamento, acolhimento e trabalho coletivo. À Coordenação de Proteção Social Básica e
Especial, a equipe do Espaço Público do Aprender Social - ESPASO, que integram a Secretaria
Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo - SMADS.
À Coordenação de Políticas para População em Situação de Rua e à Coordenação de
Políticas para Crianças e Adolescentes, que integram a Secretaria Municipal de Direitos Humanos
e Cidadania de São Paulo - SMDHC pelo apoio, acolhimento e trocas estabelecidas.
Aos trabalhadores da assistência social que disponibilizaram parte do seu tempo para
compartilhar experiências e referências que favoreceram para a construção dos instrumentais
utilizados nas etapas de campo. Aos profissionais dos Serviços Especializados em Abordagem
Social - SEAS, que desde o primeiro instante se mostraram abertos em trazer suas contribuições
e partilhar suas experiências com a nossa equipe. À Comissão Permanente dos Conselhos
Tutelares da cidade de São Paulo, pela disposição em contribuir com a pesquisa.
Aos representantes de organizações e movimentos sociais que se mostraram disponíveis
e estabeleceram interlocuções e/ou participaram dos grupos focais durante o percurso de
execução da pesquisa, em todos os itinerários: Movimento Nacional da População em Situação
de Rua, Espaço Sociocultural CISARTE, Movimento Estadual da População em Situação de Rua,
Fundação Projeto Travessia, Projeto Quixote, Rede Brasileira de Pesquisadores sobre População
em Situação de Rua, Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, Projeto A Cor da Rua, Fórum
Estadual dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes de São Paulo, Defensoria Pública do Estado
de São Paulo; além de pesquisadores acadêmicos e/ou autônomos, que acompanham o
fenômeno e as dinâmicas sobre crianças e adolescentes em situação de rua e, gentilmente,
compartilharam suas análises nos grupos focais ou em outros momentos de interlocução.
E por fim, agradecemos toda equipe de profissionais envolvidos na dinamização desta
pesquisa diagnóstica social: Coordenadores, Pesquisadores Sênior e Plenos, Técnicos, Estatística,
Logística, Supervisores e Pesquisadores de Campo; pelo engajamento, dedicação, sensibilidade
e disposição em fazer a pesquisa acontecer. Não podemos deixar de agradecer a todas as
crianças e adolescentes, e por vezes seus responsáveis, que disponibilizaram parte de sua rotina
para contribuir com a pesquisa. A todas e todos nosso muito obrigado!
10
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 12
2. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 18
4. RESULTADOS DA ETAPA CENSITÁRIA ............................................................................. 28
4.1 Universo de Crianças e Adolescentes Recenseados ........................................................... 28
4.2 Caracterização de CAs identificados na pesquisa censitária .............................................. 29
4.2.1 Perfil das CAs .............................................................................................................. 29
4.2.2 Crianças e Adolescentes acompanhados de algum adulto ........................................ 31
4.3. Distribuição de CASR no território .................................................................................... 33
4.4. Comparativo do perfil de CASR entre os censos de 2007 e 2022...................................... 37
4.5 Riscos Sociais identificados na etapa censitária ................................................................. 39
5. RESULTADOS DA ETAPA AMOSTRAL .............................................................................. 44
5.1 Perfil das CAs e dos responsáveis de crianças de 0 a 6 anos .............................................. 45
5.2 Escolaridade ....................................................................................................................... 51
5.3 Perfil do responsável pela Criança em Situação de Rua ..................................................... 56
5.4 Tempo e vivências em Situação de Rua ............................................................................. 57
5.5 Ciclos geracionais de Trabalho Infantil e Situações de Vulnerabilidade Socioeconômica dos
responsáveis das Crianças em Situação de Rua ....................................................................... 66
5.6 Mobilidade e Vivência na Rua ............................................................................................ 70
5.7 Riscos Sociais ...................................................................................................................... 75
5.8 Perfil dos Riscos Sociais ...................................................................................................... 85
5.8.1 Perfil dos riscos em que estão expostas as CASR de 7 a 17 anos ............................... 85
5.8.2 Perfil dos riscos em que estão expostas as crianças de 0 a 6 anos, a partir das
atividades realizadas pelos responsáveis ............................................................................ 94
5.9 Violências Sofridas.............................................................................................................. 98
5.10 Vínculos Comunitários e Familiares ............................................................................... 102
5.11 Relação e Avaliação das Instituições .............................................................................. 106
5.12 Pergunta Final ................................................................................................................ 114
6. RESULTADOS DOS GRUPOS FOCAIS ............................................................................. 120
6. 1 Mudanças dos Riscos Sociais ao longo do tempo............................................................ 121
6.2 Condições de Trabalho ..................................................................................................... 123
6.3 Trabalho em Rede ............................................................................................................ 126
7. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................ 130
8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 141
11
1. APRESENTAÇÃO
12
2. INTRODUÇÃO
A discussão plural de infância e criança é destacada por Marcos Souza de Freitas
(2021, p. 9) como um processo: “(...) criança e infância, palavras que estão em permanente
estado de reapropriação e que são muitas e muitas vezes, tomadas equivocadamente como
se fossem sinônimas”. A apresentação do autor em torno das palavras é: “A infância é um
tempo social, a criança é agente, protagonista nas tramas do cotidiano” (idem).
Nesse sentido, em que a infância está vinculada às considerações também de tempo
social no Ocidente, nos termos de Clarice Cohn (2005, p. 18), “(...) modo particular, e não
universal, de pensar a criança”, considera-se também a referência de Freitas sobre tramas
na concepção de Criança como uma ponte possível de seu entendimento também a contar
de trama institucional como aquela em que “supõe uma gama de instituições e atores, mas
cuja trama, por sua vez, também revela a existência de conflitos (...)” (GREGORI, 2000, p.
165). A atividade censitária faz encontro com esse borrar de fronteiras atentados por Freitas
e Gregori no sentido ainda que em torno desses âmbitos é que estão também os debates
sobre risco social da criança.
Clarice Cohn (2005) atenta a um cuidado necessário em torno da compreensão da
construção histórica da infância nomeada pela autora como Sentimento da Infância. Para
a autora, este não deve ser entendido:
“(...) como uma sensibilidade maior à infância, como um sentimento que nasce
onde era ausente, mas como uma formulação sobre a particularidade da infância
em relação ao mundo dos adultos, como o estabelecimento de uma cisão entre
essas duas experiências sociais. Portanto, contemporaneamente, os direitos das
crianças e a própria ideia de menoridade não podem ser entendidos senão a partir
dessa formação de um sentimento e de uma concepção de infância” (Cohn, 2005,
p. 18).
13
diferença das idades entre meios privilegiados, Le Breton (2017) também localiza que a
noção de adolescência, em primeiro momento esteve vinculada à medicina e à psicologia.
Quanto à juventude, Le Breton ressalta que essa noção empreende a dependência
de um laço social e menciona a distinção em termos de especialidades, que distinguia
psicologia e sociologia a contar da dupla adolescência-juventude; a psicologia estaria com
a construção e atenção à adolescência e a sociologia estaria com a construção e atenção
à juventude. De acordo com Le Breton, “(...) a adolescência será o período que dá acesso
à juventude, mas, nos mundos contemporâneos que coexistem hoje, uma tal cronologia
das idades não é muito pertinente, mesmo que a escolarização obrigatória imponha uma
longa moratória” (LE BRETON, 2017, p. 20/21).
A partir da educação como um fator institucional vinculado à infância, na abordagem
de Ariès, é importante relacioná-la desde já ao que Demerval Saviani (2008, p. 149), no
modelo apresentado sobre regimes de educação nacional, definiu como “ponto de partida
da história das instituições escolares brasileiras”, a contar do período de 1549-1759
“dominado pelos jesuítas” (idem). Ainda nos termos de Marisa Bittar e Amarilio Ferreira
Junior: “educação jesuítica e colonização são processos históricos que nasceram juntos”
(2001, p.137). Quanto aos colégios jesuíticos, os autores destacam que no século XVIII
“mantidos pelas fazendas, basicamente, só recebiam crianças filhas da aristocracia agrária”
(BITTAR; FERREIRA JR, 2001, p. 142).
Como apontamento por meio de circunscrição e contexto de vinculação entre
instituição e infância em território brasileiro, a contar da Lei do Ventre Livre (1871), a história
da infância e juventude no Brasil perpassa, de partida, pelo período colonial e escravização.
Maria Rosilene Barbosa Alvim e Licia do Prado Valladares (1988, p. 3) recordam que a análise
da infância foi um tema presente a contar do século XIX, tanto no Brasil quanto no exterior
“com texto de médicos, juristas, políticos, cronistas, jornalistas e escritores em geral,
preocupados com o exame e as possíveis intervenções sobre a chamada "questão social". O
vínculo deste tema com as instituições também é analisado pelas autoras: “são inúmeras as
referências às múltiplas ações e propostas provenientes do Estado” (idem).
A autora Gláucia Helena Araújo Russo (2021, p. 68) destaca no índice de abandono e
mortalidade infantil no Brasil colonial e imperial as continuidades desse processo: “A
mortalidade infantil estava associada, principalmente: a escravidão, pelas péssimas
14
condições de higiene e castigos corporais a que as crianças negras eram submetidas nas
senzalas; ao infanticídio dos filhos ilegítimos” (RUSSO, 2012, p. 68).
O uso da categoria “Criança” na etapa censitária e amostral de crianças e
adolescentes que, dentre outros indicadores, buscou identificar o perfil de risco social das
crianças e adolescentes em situação de rua, em 2022, concerne a uma discussão em torno
de tais categorias. A contextualização tem como intuito apresentar a temática de direitos
de crianças e adolescentes ao longo do tempo, a contar de marcos históricos vinculados
ao “desenvolvimento da noção de cidadania” (IAMAMOTO, 2006, p. 89).
No que se refere aos enquadramentos de marcos legais que conferem um
entendimento social e histórico vinculado aos direitos, cabe atentar ao que José Roberto
Rus Perez e Eric Ferdinando Passone (2010, p. 650) consideraram, antes da Constituição
Federal de 1988, como “três momentos mais significativos de transformação institucional
e de produção legal”: o Estado Novo (1930-1945); a ditadura militar (1964 a 1985) e a
redemocratização, a partir de 1985.
Quanto ao entendimento dessas categorias como construtos sociais e históricos, no
caso brasileiro, seu delineamento se configurou por processos iniciados no período
colonial. Mesmo que essa compreensão frente às relações de colonialidade seja anterior
aos anos 1970, essa década ocupa cronologicamente o campo temporal de encontro entre
muitos temas que perpassam o referido Censo. Além de bibliograficamente tal década ser
ligada aos processos urbanos, tal período também é um solo comum a movimentos sociais
concernentes à diversidade de temas relacionados à desigualdade social que é
determinada, na maioria dos casos, pela questão racial.
A estrutura colonial brasileira se constituía em: latifúndio, escravidão e
monocultura. Neste período, nossa organização social era composta por relações de poder
violentas e muito autoritárias, no qual, os direitos sociais eram direcionados a pouca
parcela da população (ADORNO, 1990). A população negra era tratada como mercadoria
e “a criança só era vista como um elemento posto a serviço do poder paterno” (ADORNO,
1990). Logo, os cuidados coloniais juntos aos filhos limitavam-se a práticas higienistas,
disciplinares e comportamentais.
Antes das primeiras Leis de proteção e concessão de direitos à crianças e
adolescentes, esses sujeitos eram moldados sob a imagem do adulto, a partir de uma
conduta exemplar, para tal, pais, responsáveis e Estado lançavam mão de práticas
15
autoritárias em busca de uma conduta exemplar que não contrariasse os interesses
privados (PASSETTI, 2011):
“Nos lares, nas escolas, nos orfanatos, enfim, na fábrica, a criança estava disposta
para seguir o que dela se esperava, educada pelo castigo, restando-lhe nos
entrecruzamentos descontínuos de espaços disciplinares, as ruas, os bandos, à
noite, as fugas, o exercício de uma liberdade ameaçadora aos outros e a si”.
(PASSETTI, 2011, p. 43)
“Esse bando que vive da rapina se compõe, pelo que se sabe, de um número superior
a cem crianças das mais diversas idades, indo desde os 8 aos 16 anos. Crianças que,
naturalmente devido ao desprezo dado à sua educação por pais pouco servidos de
sentimentos cristãos, se entregaram no verdor dos anos a uma vida criminosa. São
chamados de "Capitães da Areia" porque o cais é o seu quartel-general (...) O que se
faz necessário é uma urgente providência da polícia e do juizado de menores no
sentido da extinção desse bando e para que recolham esses precoces criminosos,
que já não deixam a cidade dormir em paz o seu sono tão merecido, aos Institutos
de reforma de crianças ou às prisões”. (Reportagem publicada no Jornal da Tarde, na
página de Fatos Policiais.) (AMADO, 2008, p.13/14).
16
da Assistência no sentido apenas de destinar um local de habitação. A esfera jurídica foi a
protagonista nessa questão, por meio da ação jurídico-social dos Juízes de Menores, até a
promulgação da Constituição de 1937, reflexo das lutas pelos direitos humanos que
emergiram naquele período. Com isso, a conotação jurídica implícita na caracterização do
problema dos “menores” concedeu espaço para uma caracterização de cunho social da
infância e da juventude (ALVAREZ, 1989; SOARES, 2003).
O avanço mais expressivo e recente em benefício dos jovens iniciou-se no período de
redemocratização do país com a elaboração da Constituição de 1988, que incorporou as
discussões da Convenção das Nações Unidas de Direitos da Criança, lançada no ano seguinte.
Destarte, a ideia do “menor em situação irregular” passou a ser desmembrada levando em
consideração a peculiaridade de cada caso envolvendo os jovens em situação de rua nas
políticas públicas do Brasil (BRASIL, 1988; ALVAREZ, 1989; SOARES, 2003).
As discussões que emergiram no período de redemocratização abriram caminho para
a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990). Em sua proposta de ruptura
com o passado, o ECA tenta garantir direitos fundamentais a crianças e adolescentes,
especialmente as CASR que estão expostos às mais diferentes formas de violência em seu
cotidiano. O ECA materializou e regulamentou a Doutrina da Proteção Integral, trazendo
profundas alterações políticas, culturais e jurídicas quanto à questão da criança e do
adolescente no Brasil, tentando promover uma transformação paradigmática (LIMA, 2006;
ECA, 1990).
Com a mudança, crianças e adolescentes passam de objeto tutelado pelo Estado para
cidadãos portadores de direitos, no qual a sociedade, Estado e todos a sua volta passam a
ser responsáveis por sua integridade física e moral. O sujeito que era mero objeto do
processo é elevado à condição de sujeito de direitos, caracterizado, no art. 2o 45, do Estatuto
da Criança e do Adolescente, como criança ou adolescente, reconhecendo-se sua condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento (ECA, 1990; SOARES, 2003). Para cumprimento
pleno do ECA em relação das crianças e adolescentes em situação de rua é importante
compreendermos as necessidades deste público e as necessidades dos atores que interagem
no Sistema de Garantias dos Direitos das Crianças e Adolescentes (SGDCA) e executam suas
atividades de acordo com as diretrizes legais que regem o sistema.
17
3. METODOLOGIA
Para a realização da Pesquisa Censitária de Identificação do Perfil de Risco Social das
Crianças e Adolescentes em Situação de Rua na cidade de São Paulo 2022, a equipe de
execução utilizou-se de métodos quantitativos e qualitativos. Para a primeira etapa da
pesquisa censitária, com o propósito de mapear os pontos pré-existentes de permanências
das crianças e adolescentes em situação de rua, a equipe técnica da Painel Pesquisas e
Consultoria elaborou um sistema de referência para o levantamento censitário a partir das
seguintes ações: a interlocução entre a equipe da Painel Pesquisas, a equipe da Coordenação
do Observatório da Vigilância Socioassistencial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
e Assistência Social (COVS/SMADS), as organizações sociais e os conselhos que promovem
ações para a população de crianças e adolescentes em situação de rua.
O processo de elaboração do sistema de referência foi constituído em quatro fases:
a primeira fase consistiu na disponibilização, pela COVS-SMADS, do acesso ao banco de
dados do Sistema de Informação da Situação de Rua (SISRua), que permite a inserção,
atualização e controle dos dados dos usuários da rede socioassistencial em situação de rua
abordados. Na segunda fase foi possível a interlocução com os profissionais do Serviço
Especializado de Abordagem Social (SEAS), com a presença de gestores das equipes, técnicos
e, em sua maioria, orientadores socioeducativos; na ocasião, realizou-se o levantamento e
identificação dos pontos de concentração de crianças e adolescentes em situação de rua em
cada território coberto pela rede. Na terceira fase, a equipe técnica da Painel Pesquisas
elaborou um questionário, encaminhado por e-mail aos profissionais que atuam nos
Conselhos de Direitos e para os profissionais que atuam nos equipamentos da rede que
compõe o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescentes (SGDCA), para que
também indicassem pontos de concentração das CASR. Todas as informações coletadas nas
três fases foram sistematizadas e analisadas cuidadosamente para o planejamento e
elaboração do quadro de referência que serviu de base para a organização logística e para a
construção dos itinerários de campo para a primeira etapa do censo, denominada “Etapa
dos Informantes”.
Por fim, na quarta fase foram realizadas as entrevistas com os informantes, para a
qual foi elaborado um instrumental a ser aplicado com as pessoas que interagem ou
observam as crianças e adolescentes em situação de rua nos territórios, tais como:
18
comerciantes, trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), agentes de
limpeza urbana, agentes da segurança pública, profissionais da saúde e da educação,
moradores, entre outros atores que dinamizam as atividades nos territórios.
O processo de construção do instrumental de informantes iniciou-se, em um primeiro
momento, após as discussões com membros da rede de interlocução da pesquisa censitária,
a observação da primeira reunião do Comitê de Acompanhamento do Censo (promovido
pela SMADS), bem como após vínculo teórico com a discussão dos riscos sociais do conceito
de criança e adolescente em situação de rua estabelecido pelo CONANDA e do conceito de
população em situação de rua. A primeira versão do instrumental foi apresentada na
segunda reunião do Comitê e o debate propiciou a segunda versão do instrumental de coleta
em duas direções: modificações e pedidos específicos em torno da coleta de informações
das instituições, a saber: Conselho Tutelar, Unidades Educacionais, Unidades de Saúde e
Unidades de Segurança Pública.
Durante o mapeamento de pontos nas ruas da cidade de São Paulo, foram abordadas
3.979 pessoas para serem entrevistadas, destas, 3.181 responderam à pesquisa e 798
(20,1%) recusaram-se a responder. As pessoas que responderam são caracterizadas como
informantes ou respondentes, pois prestaram informações sobre os pontos nos quais
identificaram a presença de CASR e sobre suas percepções em relação à dinâmica vivida por
estas CASR. Para esta etapa, buscou-se uma ampla cobertura territorial, e para a
dinamização das atividades em campo, de acordo com as características de cada território,
foram criados setores censitários a partir dos dados de notificação e concentração de CASR.
Assim, os setores censitários foram planejados respeitando os limites dos distritos e
desenhados de acordo com a malha de rodovias do município de São Paulo, com uma área
de aproximadamente 1km². Tal estratégia permitiu que o informante pudesse notificar
outros pontos da cidade, além daquele onde estava no momento da entrevista.
Vale destacar que a pesquisa com os informantes trouxe dados relacionados aos dias
da semana e horários da presença de CASR no território e parte do instrumental também
previu o registro de “notificação de ponto” a ser feito pelo pesquisador quando encontrasse
CASR na região explorada. Outras informações territoriais também foram levantadas, tais
como: endereço, ponto de referência, distrito, além de indicar as coordenadas geográficas
do local onde estava sendo aplicado o questionário. Essas informações foram fundamentais
para o planejamento e a execução da segunda fase da pesquisa, a fase censitária.
19
Figura 1: Mapa com os pontos de concentração de CASR e dos riscos sociais identificados na etapa da
pesquisa dos informantes
20
Para a execução da segunda fase, a censitária, foram definidos 96 distritos que se
encontram numa área total de 1.521 km², sendo 949,611 km² de áreas urbanas. São 17
distritos distribuídos na zona Norte, 23 distritos na zona Sul, 34 distritos na zona Leste, 15
distritos na zona Oeste e 7 na zona Central (SÃO PAULO, 2022). A metodologia para incursão
nas áreas censitárias a serem cobertas foi baseada na divisão administrativa dos 96 distritos
da cidade de São Paulo. Tal metodologia foi utilizada por organizações e empresas de
pesquisa para realização de censo sobre população em situação de rua (QUALITEST, 2019).
Os distritos censitários foram agrupados em três grandes áreas:
1). Residenciais e periféricos:
I. Zona Sul: Cidade Dutra, Grajaú, Marsilac, Parelheiros, Socorro, Campo Limpo, Capão
Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Vila Andrade, Campo Belo, Campo Grande,
Pedreira, Santo Amaro, Cursino, Cidade Ademar, Jabaquara, Sacomã.
II. Zona Norte: Jaçanã, Tremembé, Tucuruvi, Vila Medeiros, Brasilândia, Cachoeirinha,
Mandaqui, Pirituba, Anhanguera, Jaraguá, Perus, São Domingos.
III. Zona Oeste: Jaguará, Jaguaré, Vila Leopoldina, Butantã, Morumbi, Raposo Tavares, Rio
Pequeno, Vila Sônia.
IV. Zona Leste: Carrão, Vila Formosa, Cidade Líder, Artur Alvim, Cangaíba, Penha, Ponte
Rasa, Vila Matilde, Ermelino Matarazzo, São Miguel, Vila Jacuí, Iguatemi, São Rafael, São
Mateus, São Lucas, Sapopemba, Vila Prudente, Itaquera, José Bonifácio, Parque do
Carmo, Itaim Paulista, Jardim Helena, Vila Curuçá, Cidade Tiradentes, Guaianases,
Lajeado.
2) Centro Expandido:
3) Centro Histórico:
Centro: Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Brás, Pari, Sé, República, Cambuci, Liberdade,
Santa Cecília, Consolação.
21
Para as definições do que são centros residenciais e periféricos, centro expandido e
centro histórico, utilizamos o marco zero da cidade de São Paulo, a Praça da Sé, como
referência. Portanto, considerando isso, o centro histórico é a região mais central da cidade
de São Paulo, que possui distritos com construções históricas e movimentações
características. No centro expandido estão considerados os distritos que circundam o centro
histórico e que possuem uma circulação financeira relevante para a cidade pela característica
de sua população e comércios, bem como sua característica arquitetônica com prédios
modernos e de classe média. Nas regiões residenciais e periféricas estão os distritos mais
distantes, geograficamente e economicamente, do marco zero da cidade (São Paulo, 2010)
e que, por característica arquitetônica, são territórios de construções residenciais simples e
de classe economicamente desfavorecida.
Segundo o mapa racial elaborado pelo geógrafo Gusmão (2016), a partir dos dados
censitários do IBGE (2010), fica evidente que as regiões mais próximas aos centros
econômicos da cidade, como a região central e o centro expandido, possuem uma população
majoritariamente branca, enquanto as regiões mais afastadas e em direção aos limites da
cidade, possuem uma composição racial mais diversificada entre a população parda e preta.
Lembrando que, as regiões mais afastadas dos centros econômicos são regiões mais
populosas e compostas por comunidades, elucidando a segregação territorial da cidade.
22
Figura 3: Mapa Racial da População de São Paulo/SP –
Figura 2: Mapa Racial da População de São Paulo/SP Destaque Raça/Cor Branca
Figura 4: Mapa Racial da População de São Paulo/SP – Destaque Figura 5: Mapa Racial da População de São Paulo/SP –
Raça/Cor Parda Destaque Raça/Cor Preta
23
Quadro 1: Agrupamento dos Distritos para a pesquisa censitária de CASR
Região Censitário Distritos pertencentes
Anhanguera, Brasilândia, Cachoeirinha, Jaçanã, Jaguara, Jaguaré, Jaraguá, Mandaqui,
Região 1
Perus, Pirituba, São Domingos, Tremembé, Tucuruvi, Vila Leopoldina, Vila Medeiros
Aricanduva, Artur Alvim, Cangaíba, Carrão, Cidade Lider, Cidade Tiradentes, Ermelino
Matarazzo, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Itaquera, Jardim Helena, José
Região 2 Bonifácio, Lajeado, Parque do Carmo, Penha, Ponte Rasa, São Lucas, São Mateus, São
Miguel, São Rafael, Sapopemba, Vila Curuçá, Vila Formosa, Vila Jacuí, Vila Matilde e
Vila Prudente
Butantã, Campo Belo, Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar,
Região 3 Cidade Dutra, Cursino, Grajaú, Jabaquara, Jardim Ângela, Morumbi, Raposo Tavares,
Sacomã, Santo Amaro, Socorro, Vila Andrade e Vila Sônia
Água Rasa, Alto de Pinheiros, Barra Funda, Casa Verde, Freguesia do Ó, Ipiranga, Itaim
Região 4 Bibi, Jardim Paulista, Lapa, Limão, Moema, Mooca, Perdizes, Pinheiros, Santana, Saúde,
Tatuapé, Vila Guilherme, Vila Maria e Vila Mariana
Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República,
Região 5
Santa Cecília e Sé
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Figura 6: Divisão territorial dos distritos de São Paulo para a pesquisa censitária de CASR
24
Tendo como base os resultados da fase censitária (2ª etapa), apresentados no
capítulo 4 deste relatório, para a realização da pesquisa amostral (3ª etapa), o conceito de
CASR (Conanda/CNAS, 2017) e o Termo de Referência de COVS/SMADS, toda construção
metodológica da 3ª etapa foi conduzida entre as equipes técnicas da empresa Painel
Pesquisas e Consultoria e da Coordenação do Observatório da Vigilância Socioassistencial da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social (COVS/SMADS), tanto na
definição dos parâmetros a serem adotados para execução do plano amostral como na
elaboração conjunta dos instrumentais. Interlocutores internos e externos da SMADS
também foram envolvidos na construção dos instrumentais para aprimoramento e
construção coletiva, promovendo o diálogo e escuta de atores envolvidos na atuação com
crianças e adolescentes.
O primeiro passo para que uma pesquisa traga resultados que retratam a população
de interesse é garantir que a amostragem seja representativa em relação à população. Neste
caso, utilizou-se como universo da pesquisa, para iniciar o plano amostral, os dados
levantados no 2º Censo de Crianças e Adolescentes em Situação de Rua na Cidade de São
Paulo. Portanto, o censo identificou na cidade de São Paulo um total de 3.759 CAs com
trajetória de vida nas ruas, sendo que, destas, 16,2% (609) estão em acolhimento no Serviço
de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA), Centro de Acolhida
Especial (CAE), entre outros, e 83,8% (3.150) estão em situação de rua. Essa constatação de
CAs que tiveram trajetória de rua (609 CA institucionalizadas) apontou uma característica de
diferenciação na população que foi considerada no plano amostral.
Nesse sentido, é de interesse separar o grupo atualmente em situação de rua em dois
tipos: os que dormem pelo menos uma noite da semana na rua (pernoite), e os que estão
nas ruas realizando ao menos uma+ das atividades enquadradas no conceito disposto pelo
CNAS/CONANDA, porém, têm uma moradia e voltam todos os dias para dormir em casa
(outras trajetórias de risco). Essa diferenciação é necessária para o entendimento de que,
ao pernoitar na rua, as CASR podem estar expostas a riscos diferentes daqueles que não
pernoitam. Logo, do total de 3.759 CAs recenseadas, o censo apontou: 16,2% estão em
acolhimento, como já mencionado, e daqueles que estão em situação de rua, 73,1% estão
submetidos a vários riscos predominantemente diurnos, 10,7% estão em situação de rua
expostos a riscos diurnos e noturnos, por isso compõem o tipo pernoite.
25
Não foram considerados na pesquisa os segmentos sociais indicados a seguir:
adolescentes com 16 anos ou mais que trabalham nas ruas e são remunerados por uma
empresa, a saber: office-boys-girls, entregadores de mercadorias, e outros, conforme Termo
de Referência, também crianças e adolescentes que muitas vezes estão circulando ou
brincando nas proximidades da moradia, principalmente nas zonas periféricas, e não
necessariamente estão em situação de rua, embora haja uma linha tênue que divide as CAs
vivendo processos de vulnerabilidades daquelas CAs que se encontram em situação de rua.
Não foi previsto realizar a pesquisa no interior das barracas de feiras, e sim entre as
CAs que circulam pelas feiras para ajudar no carregamento das compras, para pedir doações,
aguardar pelos alimentos que são descartados pelos feirantes e/ou para vender produtos,
assim como não foi previsto realizar o censo em estabelecimentos comerciais (bares,
restaurantes, vendas etc.), ainda que também possam empregar mão-de-obra infantil. A
diferença entre as barracas de feiras e os estabelecimentos comerciais é que estes se
mantêm fixos num mesmo ponto comercial, enquanto os feirantes se deslocam em vários
pontos pela cidade, mas para ambos são estipuladas legislações e regulamentações de
funcionamento.
A partir dos dados levantados na etapa da pesquisa censitária, iniciou-se o
planejamento da pesquisa amostral que compreendeu desde a elaboração metodológica dos
questionários até a elaboração do plano operacional, implicando, portanto, nas estratégias
de execução do campo. Para possibilitar a comparação e sistematização dos dados
recolhidos e, identificar os perfis de risco social, considerando as características de
transitoriedade das CASR e do conceito conforme a Resolução do CONANDA, foi aplicada a
metodologia da amostragem não probabilística, utilizando o método de pesquisa por cotas
junto às estratégias de incursão em que o campo foi planejado.
Um dos aspectos metodológicos definidos e validados com a contratante
(COVS|SMADS) foi a realização da pesquisa direta com crianças e adolescentes de 7 a 17
anos (em situação de rua ou em acolhimento) e o instrumental foi pensado e estruturado
especificamente para este público e, para as crianças de 0 a 6 anos em situação de rua ou
em acolhimento, a pesquisa foi aplicada com os pais ou responsáveis.
A decisão por entrevistar os pais ou responsáveis está pautada pelo fato de os bebês
e crianças menores de 6 anos requererem estratégias de pesquisa diferenciadas das
utilizadas para CAs entre 7 e 17 anos, que consiste na grande maioria do público-alvo, e para
26
os quais pode-se perguntar diretamente, o que fica inviabilizado para os menores de 6 anos.
Outra justificativa para entrevistar os familiares ou responsáveis de bebês e crianças diz
respeito à necessidade de entender quais os motivos que favoreceram para que as famílias
e as crianças estivessem em situação de rua ou em abrigamento. Neste sentido, esta
investigação dialoga com o objetivo do Termo de Referência que baliza o contrato, em saber
quais são as vulnerabilidades e os riscos vividos por essas famílias antes de se encontrarem
em situação de rua.
Com vistas a aprimorar a coleta de dados, para aprofundamento da análise
qualitativa sobre os riscos que as CASR estão expostos, foram realizados grupos focais com
representantes de organizações sociais, movimentos sociais, pesquisadores, trabalhadores
dos Conselhos tutelares, que atuam em todas as regiões da cidade, assim como
trabalhadores do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS). O objetivo dos grupos
focais foi o de coletar dados históricos e atuais a respeito dos riscos sociais que as CASR estão
mais vulneráveis, na perspectiva dos atores da assistência social e dos pesquisadores, assim
como sugestões dos participantes para melhorias nos serviços ofertados pela Prefeitura de
São Paulo. Para a coleta de dados utilizamos como referencial, para a elaboração dos roteiros
e condução dos grupos, a Teoria da Atividade Histórico Cultural (TAHC) (VYGOTSKY, 1978)
com vistas a compreender as contradições históricas por trás dos riscos sociais e seus
impactos na atividade e para a articulação dos atores que atuam no SGDCA.
Os grupos foram coordenados pela equipe de Pesquisadores da Painel Pesquisas e
definidos de acordo com as seguintes características: (i) trabalhadores de organizações,
movimentos sociais e pesquisadores; (ii) trabalhadores do conselho tutelar, (iii)
trabalhadores de SEAS. Os grupos ocorreram na primeira quinzena de outubro de 2022,
contaram com a participação de 10 a 12 participantes, voluntários, nas reuniões estiveram
os pesquisadores da Painel Pesquisas, e no grupo I houve a participação de uma técnica da
COVS-SMADS e uma pesquisadora plena da Painel Pesquisas, bem como a execução do
grupo III, que contou com outra pesquisadora plena da Painel Pesquisas. As reuniões
duraram, em média, duas horas e meia cada uma e os resultados foram apresentados no
capítulo 6 “Resultados dos Grupos Focais”.
27
4. RESULTADOS DA ETAPA CENSITÁRIA
A pesquisa em campo da fase censitária ocorreu nos dias 11, 12, 13, 14, 15 e
16/5/2022. Com o propósito de possibilitar a escuta das crianças e dos adolescentes em
situação de rua, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e
estabelece o Termo de Referência, no qual a deliberação foi que as CAs seriam diretamente
abordadas para serem entrevistados durante a realização do censo, e quando não foi
possível, a pesquisa foi feita por atribuição. No caso das crianças de 0 a 6 anos, a entrevista
foi respondida pelos pais ou responsáveis. A proposta da pesquisa foi explicada para todos
antes do questionário ser aplicado, e foi solicitada autorização para a realização da
entrevista. Do total de CAs recenseados, 59,5% (2.237) foram abordados diretamente para
serem entrevistados e 40,5% (1.522) foram pesquisas feitas por atribuição do pesquisador
dada a impossibilidade de abordar os interlocutores.
2.749 (73,1%)
401 (10,7%) 609 (16,2%)
Outras trajetórias de
Pernoite Acolhidos
risco
28
Na Tabela 1 constam os totais de CAs segundo os locais nos quais foram encontrados,
rua e instituição, conforme as faixas etárias. Nota-se um maior contingente (1.585) de
adolescentes, de 12 a 17 anos, tanto nas pesquisas feitas na rua (1.335) quanto na instituição
de acolhimento (250). O segundo percentual mais relevante de CAs concentra-se na faixa
etária entre 0 e 6 anos (1.151), sendo 918 em situação de rua e 233 em situação de
acolhimento. Em terceiro lugar (1.017) encontram-se as CAs na faixa etária entre 7 e 11 anos,
dos quais 892 foram em situação de rua e 125 em situação de acolhimento.
Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%)
Criança e adolescente
em situação de rua 918 79,8% 892 87,7% 1.335 84,2% 5 83,3% 3150 83,8%
(CASR)
Criança ou
adolescente (CA) na
233 20,2% 125 12,3% 250 15,8% 1 16,7% 609 16,2%
instituição de
acolhimento
Total Geral 1.151 100% 1.017 100% 1.585 100% 6 100% 3.759 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
29
Durante as abordagens1, foi realizada uma pergunta sobre identidade de gênero para
respondentes a partir dos 7 anos de idade quando a própria CA respondia à pergunta. Para
as crianças com idade de 7 a 11 anos foi perguntado como elas se sentem em relação à
identidade de gênero: “se se sente menino” ou “se se sente menina”. Assim, dentre as
crianças de 7 a 11 anos que responderam à pesquisa, 337 (55,7%) declararam se sentir
menino, 235 (38,8%) declararam se sentir menina, 33 (5,5%) não souberam ou não quiseram
informar e 8 (1,3%) não se reconhecem com o mesmo sexo biológico.
Para os adolescentes de 12 a 17 anos, perguntou-se qual era a identidade de gênero
que se identificava, quando não souberam responder, as alternativas eram lidas e explicadas
para os entrevistados. Assim, predominam as declarações de menino cisgênero (583, 64,7%),
menina cisgênero (267, 29,6%), e 3,7% não responderam ou não souberam informar. Com
relação às demais identidades de gênero, se somadas, correspondem à 2,0% dos
adolescentes que responderam à pesquisa, conforme detalhado na tabela 2.
Tabela 2: CAs segundo identidade de gênero de 12 a 17 anos
Identidade de gênero Quant. (%)
Outro 2 0,2%
1
Para as pesquisas por atribuição, a pergunta sobre identidade de gênero não foi aplicada, bem como nos
casos em que o profissional da instituição respondeu pelas CAs.
30
necessárias a fim de qualificar e ampliar o conhecimento sobre a temática de identidade de
gênero e orientação sexual. Dessa maneira, busca-se trazê-las para o senso comum da
sociedade em geral com o propósito de combater normas sociais e práticas que discriminam
e marginalizam crianças e adolescentes, prejudicando as chances de terem seus direitos
efetivados e aumentando os riscos de abuso, exploração e violência (UNICEF, 2014).
Com relação à deficiência, a maioria das crianças e adolescentes declarou que não
possui nenhuma deficiência (2.101, 95,3%). Aqueles que revelaram ter algum tipo de
deficiência, correspondem a 4,7% das crianças e adolescentes, sendo: 1,5% com deficiência
física, 1,5% com deficiência intelectual, 0,9% visual, 0,6% auditiva e 0,2% com deficiências
múltiplas.
O acesso e permanência de crianças e adolescentes em situação de rua nas escolas
depende de diversos fatores e um deles muito importante é como conciliar trabalho e
estudos tão precocemente. Com relação à frequência escolar, a pergunta elaborada pela
equipe técnica foi realizada para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, conforme a
obrigatoriedade etária estabelecida na Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que dispõe sobre
as diretrizes e bases da educação nacional e estabelece que a educação básica obrigatória e
gratuita é dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade (BRASIL, 2013).
No total geral, cuja pesquisa foi por abordagem, 80,5% afirmaram frequentar a
escola. Ao analisar por faixa etária, a maior frequência está na faixa etária de 7 a 11 anos,
com 85,5%, seguido da faixa etária de 12 a 17 anos, com 78,1%.
As pessoas que estão em situação de rua, muitas vezes, encontram-se nesta situação
como consequência dos processos sociais excludentes. A existência e naturalização de
pessoas nesta situação é reflexo de uma sociedade desigual tendo como principal referência
econômica o neoliberalismo, que determina os que vão estar inseridos nas políticas sociais
e os que permanecerão à margem da sociedade, pois há limites de gastos públicos para com
o cuidado social (MARTINS, 2003).
Nem sempre as crianças e adolescentes em situação de rua estão próximos de seus
familiares e (...) “embora as relações familiares de crianças e adolescentes em situação de
rua sejam permeadas por conflitos, vulnerabilidades e dificuldades, inclusive no campo
31
psicossocial e afetivo, a família permanece sendo uma importante rede de pertencimento
para esses sujeitos. Seus vínculos resistem, ainda que fragmentados e permeados por
ambivalências” (RIZZINI, 2019, p. 110). No que diz respeito às crianças e adolescentes
acompanhados de algum adulto, em todas as faixas etárias, 58,5% estavam nesta situação.
Essa análise considerou as crianças e adolescentes que estavam na rua e, no momento da
pesquisa, estavam na companhia de algum adulto.
1.308 41,5%
Não
Totais 3.150 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
32
4.3. Distribuição de CASR no território
33
Tabela 4: CAs segundo distrito e categorias de CAs
Outras trajetórias de
Acolhidos Pernoite Total
Distrito risco
Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%)
34
Iguatemi 0,0% 0,0% 50 1,8% 50 1,3%
35
Sacomã 2 0,3% 0,0% 6 0,2% 8 0,2%
36
4.4. Comparativo do perfil de CASR entre os censos de 2007 e 2022
Tabela 5: Variação percentual entre os dois anos, Tabela 6: Variação percentual entre os dois anos,
considerando as CAs acolhidos considerando apenas as CASR
CASR (incluindo as CAs acolhidos) CASR (excluindo os acolhidos)
Gráfico 1:Variação percentual entre os dois anos, Gráfico 2: Variação percentual entre os dois,
considerando as CAs acolhidos considerando apenas as CASR
3759 3150
1842
1966
Fonte: FIPE, 2007 e Painel Pesquisas, 2022. Fonte: FIPE, 2007 e Painel Pesquisas, 2022.
Com referência à faixa etária, houve um aumento quantitativo de CASR nas 3 faixas
etárias, com destaque para crianças de 0 a 6 anos, o que pode indicar a presença de mais
famílias em situação de rua, uma vez que bebês e crianças dessa faixa estão acompanhados
de pessoas adultas.
37
Tabela 7: Faixa etária de CASR no Censo de 2007 Tabela 8: Faixa etária de CASR no Censo de 2022
CENSO CASR 2007 CENSO CASR 2022
Faixa etária Quant. (%) Faixa etária Quant. (%)
Até 6 anos 271 14,7% Até 6 anos 918 29,1%
De 7 a 11 anos 524 28,4% De 7 a 11 anos 892 28,3%
De 12 a 17 anos 1.006 54,6% De 12 a 17 anos 1.335 42,4%
Sem identificação 23 1,2% Não informado 5 0,2%
Total 1.824 100,0% Total 3.150 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas, 2022. Fonte: FIPE, 2007.
38
4.5 Riscos Sociais identificados na etapa censitária
Encontrar-se em situação de rua já é uma violação de direito, pois as CAs não estão
recebendo a devida e necessária Proteção Integral, prescrita no artigo 227 da Constituição
Federal, que determina:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (BRASIL, 1988).
As CASR estão desprotegidos, expostos aos riscos pessoais e sociais, ou seja, expostos
a fatores de risco que incidem em violências de naturezas diferentes oriundas das ruas. As
situações especificadas pelo conceito de CASR Conanda/CNAS (2016) e outras decorrentes
do viver nas ruas, identificadas nos resultados do censo, apontam para essa complexidade,
envolvendo vários tipos de riscos e as circunstâncias em que ocorrem os riscos. As CASR e
suas respectivas famílias vêm de um processo histórico de exclusão e de ausência dos
direitos básicos.
De fato, as violações de direitos estão inter-relacionadas, uma leva à outra, por
exemplo, se uma criança necessita de um determinado tratamento de saúde e este não é
ofertado pela dificuldade de acesso que se apresenta à criança, os efeitos dessa falta de
cuidado afetarão o desenvolvimento integral da criança, o desenvolvimento biopsicossocial,
traduzindo-se em várias violações de direitos. Note-se que as atividades do brincar,
atividades de estar na rua (parado, sentado, andando ou dormindo) podem num primeiro
momento não incidir em perigo para CAs em geral. Entretanto, por serem realizadas sob o
contexto da rua, sozinhos ou acompanhados de pessoas adultas ou de outras CASR,
alternando entre a mendicância e o trabalho, estão expostos a riscos e ao agravamento da
vulnerabilidade em que se encontram, intensificando ainda mais as violações de direitos.
Neste sentido, várias foram as atividades e/ou situações vividas pelas CASR
identificadas durante a realização do censo, que decorrem dessa vivência na rua, das
atividades praticadas por eles, para os quais foram geradas 4 categorias: atividades
geradoras de renda, atividades geradoras de renda gravíssimas, atividades não geradoras de
renda e outras atividades.
39
Figura 8:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos 2
Os riscos referem-se às condições fragilizadas da vida sendo vivida na rua: risco pela
desproteção física e emocional (sem acesso à alimentação, à proteção da moradia, à higiene;
por se encontrar só e se sentir desprotegido), risco de vida pela violência praticada por
grupos criminosos e muitas vezes pela própria polícia, risco de saúde, risco de acidente no
trânsito, risco de realizar atividades impróprias para a idade, risco de exploração sexual e
comercial, risco de abusos, risco de usar drogas ou de aumentar seu consumo, entre outros.
Os riscos advêm de fatores externos e relacionam-se às condições adversas ao ambiente da
rua, afetando intensamente a vida destas CAs, nas dimensões pessoais e sociais, podendo
gerar graus diferentes de impacto sobre a pessoa. Embora os riscos façam referência a um
evento futuro, dependendo dos acontecimentos que os permeiam, vários riscos já se
concretizaram na vida das CASR.
Dentre as atividades desenvolvidas pelas CASR, destacam-se as atividades geradoras
de renda (trabalho infantil) realizados por 64,60%. Trata-se das vendas de produtos lícitos
(pano de prato, doces, balas, etc.) e mendicância realizadas para obtenção de renda. Há
também os serviços de coleta de reciclagem, malabares, flanelinha/guardador de carro,
rodinho, entrega de panfletos, engraxate e as atividades gravíssimas geradoras de renda
(venda de substâncias psicoativas, furto/roubo e a exploração sexual e comercial).
2
A mesma CASR pode realizar mais de uma atividade. Porcentagem em relação ao total de 3.150 CASR (pernoitando nas ruas e outras
trajetórias de risco)
40
Tabela 9: CASR - Atividades informadas pelo entrevistado e observadas pelo pesquisador
Atividade que realiza quando está na rua Quant. (%)
Categoria
Trabalho infantil/geração de renda
Venda de produtos lícitos (pano de prato, balas, doces, chocolate,
1.022 32,4%
isqueiro, etc.)
Pedir coisas (mendicância – dinheiro, comida, roupa, doações, etc.) 901 28,6%
Atividade Coleta de Reciclagem 116 3,7%
geradora de Malabares 62 2,0%
renda Flanelinha/Guardador de carro 63 2,0%
Entregar panfletos 45 1,4%
Rodinho 56 1,8%
Engraxate 14 0,4%
Atividade Venda de produtos ilícitos (drogas) 103 3,3%
geradora de Roubo/furto 35 1,1%
renda
gravíssima Exploração sexual comercial 13 0,4%
Subtotal das citações (*) 2.430 -
Demais atividades
Brincando 1.001 31,8%
Atividade não Andando
338 10,7%
geradora de
renda Parado, sentado 221 7,0%
Dormindo 75 2,4%
Situações de CASR acompanhando adultos sem realizar atividade de
Outras 465 14,8%
trabalho
atividades
Consumindo álcool e outras drogas (cenas de uso) 104 3,3%
Subtotal das citações (*) 2.204 -
Total de citações (*) 4.305 -
(**) Total de CASR em situação de trabalho infantil (Atividade
2.036 64,6%
geradora + Atividade geradora gravíssima)
Total de CASR 3.150 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: Uma CASR pode exercer mais de uma atividade e pode estar submetido a mais de um risco, por essa razão o total de citações é
maior que o total de CASR.
(**) Nota: No trabalho infantil a mesma CASR pode realizar atividade geradora de renda e atividade geradora de renda gravíssima, no
entanto, para se chegar no percentual acima (64,6%), a CASR foi contabilizada apenas uma vez.
Contudo, o trabalho realizado nas ruas e logradouros públicos por CAs constitui uma
das piores formas de trabalho infantil, de acordo com o Decreto nº 6481 de 12 de junho de
2008 instituindo a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil – TIP (Lista TIP), conforme
artigos da Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho – OIT (BRASIL, 2008).
Nessa lista são indicados, além dos tipos de trabalho, os prováveis riscos ocupacionais e as
prováveis repercussões à saúde, de modo que os trabalhos praticados pelas CASR descritos
anteriormente fazem parte desses trabalhos listados nas piores formas de trabalho infantil,
visto que são realizados em ruas e logradouros públicos e incluem o “comércio ambulante,
41
guardador de carros, guardas mirins, guias turísticos, transporte de pessoas ou animais,
entre outros”, conforme quadro a seguir (BRASIL, 2008).
O Poder Judiciário trata o trabalho de CAs no narcotráfico como uma prática de ato
infracional, de acordo com o ECA, sem dar a devida atenção para o fato de que se trata de
uma das piores formas de trabalho infantil, segundo convenções internacionais (FÁVERO,
2022). Vale lembrar que a Lista TIP caracteriza o trabalho infantil no tráfico de drogas como
uma das piores formas de trabalho: “essa forma de trabalho desprotegida ou incompatível
com a idade de quem o exerce deixa traumas e sequelas físicas e emocionais, que anulam
completamente qualquer potencial pedagógico” (SILVEIRA, 2019).
A exploração sexual e comercial de CAs também faz parte da Lista TIP. Trata-se de uma
situação em que a criança ou o adolescente está sendo explorado por uma pessoa adulta, o
que configura uma violação de direito, mas não uma escolha da CA. A exploração sexual e
comercial expõe as CAs a vários riscos, desenvolvendo doenças físicas e psicológicas, desde
a gravidez indesejada às doenças sexualmente transmissíveis, danos à saúde mental, evasão
escolar, entre outros. Assim, o trabalho infantil, qualquer que seja, além de sequestrar a
infância, mantém o futuro adulto refém de um ciclo vicioso. Quanto mais tempo a criança se
dedica ao trabalho, menores são suas notas. Conforme já comentado acima, o tempo gasto
com o trabalho a deixa cansada, sem poder assimilar os conhecimentos e desenvolver suas
habilidades e competências. Essa situação a desestimula e compromete sua carreira
profissional, pois não consegue ter um rendimento suficiente na escola para quebrar esse
círculo vicioso (FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, 2022). Importa destacar que a responsabilidade
pelos riscos a que estão expostos, quaisquer que sejam, não incide sobre as CASR. Ao
contrário, são as situações vividas nas ruas que revelam maus tratos e negligência por parte
da sociedade e do estado, visto que CAs são sujeitos em desenvolvimento que requerem
proteção e cuidado, direitos garantidos pela Constituição Federal/1988 e ECA/1990.
É primordial considerar que na etapa amostral os riscos sociais foram aprofundados,
de modo que no processo investigativo da pesquisa foi possível construir um vínculo maior
do pesquisador com o entrevistado, compreendendo a trajetória de vida da pessoa
entrevistada, cujas atividades foram esquadrinhadas e a frequência em que as praticam
identificadas, ampliando assim o percentual de crianças e adolescentes em relação aos riscos
sociais apresentados na etapa censitária, conforme será apresentado no capítulo “5.
Resultados da etapa amostral”.
42
Ao observar os riscos sociais por faixa etária, entre as crianças e adolescentes de 7 a
17 anos, 71% realizam alguma atividade geradora de renda e 6,6% das CAs desta faixa etária
realizam atividade geradora de renda gravíssima. Já na faixa etária de 0 a 6 anos, 56,7% das
crianças em situação de rua realizam alguma atividade não geradora de renda e 43,6% outras
atividades, sendo que nesta categoria a maioria encontra-se em situação de acompanhar
algum adulto em situação de rua, sem realizar atividade de trabalho.
É de extrema relevância compreender no critério de categorização das atividades,
neste caso, dando destaque ao trabalho infantil, que a CASR foi contabilizada em situação
de trabalho infantil se ela realiza pelo menos uma atividade geradora de renda ou atividade
geradora de renda gravíssima, de modo que se a mesma pessoa realiza mais de uma
atividade, ela foi contabilizada uma vez. Portanto, o total de citação das atividades é maior
que o total de CASR. Na tabela a seguir o percentual é calculado em relação ao total de CASR
por faixa etária.
Tabela 10: CASR – Riscos sociais segundo faixa etária
Faixa etária
Riscos Sociais De 0 a 6 anos De 7 a 17 anos Total
Quant. (%) Quant. (%) Quant. (%)
Atividades geradoras de renda 371 40,4% 1580 70,9% 1.953 62,0%
Atividades geradoras de renda
1 0,1% 146 6,6% 147 4,7%
gravíssimas
Total de CASR exposta a situação de
372 40,5% 1.662 74,6% 2.036 64,6%
trabalho infantil
Atividades não geradoras de renda 520 56,6% 969 43,5% 1.493 47,4%
Outras atividades 401 43,7% 167 7,5% 569 18,1%
Citações 1293 - 2862 - 4.162 -
Total de CASR* 918 100% 2227 100% 3.150 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*No trabalho infantil a mesma CASR pode realizar atividade geradora de renda e atividade geradora de renda gravíssima, no
entanto, para se chegar no percentual acima (64,6%), a atividade realizada foi contabilizada apenas uma vez, quando foi realizada pela
mesma CASR. Tiveram 5 CASR em que a faixa etária não foi identificada, mas foi contabilizada no total por tipo de risco/atividade (7
citações).
43
5. RESULTADOS DA ETAPA AMOSTRAL
0 a 6 anos 7 a 17 anos
44
caracterizam o perfil da CASR, em convergência com o entendimento da Resolução do
CONANDA/CNAS.
● No Censo a qualificação entre os grupos de pernoite e outras trajetórias não foi
aprofundado, haja visto que o objetivo desta etapa era realizar o levantamento quantitativo
espacial de CASR e o levantamento inicial dos riscos sociais que as crianças e os adolescentes
estavam expostos. Na etapa amostral, buscou-se o detalhadamente e aprofundamento das
questões que permeiam a vida da CASR, o que pode mudar para mais ou para menos a
representatividade dos grupos dentro da amostra.
A figura 9 trata-se da caracterização geral e os quantitativos nos dois grupos de
pesquisa, seguindo a proporcionalidade do Censo de CASR em cada grupo de situação de rua
e em conformidade com o perfil da população.
A pesquisa abordou em campo um total de 741 CASR, sendo 41% do sexo feminino e
58% do sexo masculino, um padrão da maioria do sexo masculino já percebida no Censo.
Consolidando estes dados nos dois grupos de faixas etárias, é percebida a seguinte
45
distribuição do sexo biológico: 53,2% do sexo feminino na faixa etária de 0 a 6 anos e 63,7%
do sexo masculino na faixa etária de 7 a 17 anos.
63,7%
58,7%
53,2%
46,8%
41,3%
36,3%
Feminino Masculino
Ao analisar por grupo, 63,3% dos que estão expostos à situação do pernoite, são do
sexo feminino. Apesar de visualmente o percentual ser maior, esse perfil de sexo biológico
dentro dos grupos de Situação de Rua (SR) não apresentou uma diferença significativa (Teste
Ꭓ2 p-valor = 0,48), ou seja, não se pode concluir que um grupo em situação de rua tem mais
ou menos crianças do sexo feminino que outro grupo. Para acolhimento, encontramos 51,1%
de perfis do sexo feminino e 48,9% do sexo masculino e, em outras trajetórias de risco, 51,7%
feminino e 48,3% masculino.
46
em outras trajetórias de risco. Na situação de pernoite observamos o mesmo contingente
para ambos os sexos.
Tabela 12: Sexo na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Sexo risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Feminino 31 38,8% 111 32,0% 47 50,0% 189 36,3%
Masculino 49 61,3% 236 68,0% 47 50,0% 332 63,7%
Total Geral 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
47
“Os corpos ganham sentido socialmente. A inscrição dos gêneros — feminino ou masculino
— nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada cultura e, portanto, com as
marcas dessa cultura. As possibilidades da sexualidade — das formas de expressar os
desejos e prazeres — também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As
identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por relações sociais,
elas são moldadas pelas redes de poder de uma sociedade” (LOURO, 2000, p.6).
A começar pelas crianças para quem a pergunta narrada foi: “Você se sente menino
ou menina? ”. Para identificar a identidade de gênero, entre o público infantil masculino
todos se identificam com o gênero atribuído ao sexo biológico. Entre as crianças do sexo
feminino, 3 delas deram respostas diferentes: 1 se sente em ambas as categorias, outra se
sente menino e a terceira não soube informar como se sente.
48
Tabela 14: Identidade de gênero na faixa etária de 12 a 17 anos por situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Identidade de gênero risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Menina cisgênero 20 39,2% 46 24,2% 26 45,6% 92 30,9%
Menina transgênero 2 3,9% 1 0,5% 1 1,8% 4 1,3%
Menino cisgênero 28 54,9% 139 73,2% 30 52,6% 197 66,1%
Menino transgênero 0,0% 2 1,1% 0,0% 2 0,7%
Pessoa não-binárie 0,0% 1 0,5% 0,0% 1 0,3%
Não quero responder 1 2,0% 0,0% 0,0% 1 0,3%
Não sei 0,0% 1 0,5% 0,0% 1 0,3%
Total Geral 51 100,0% 190 100,0% 57 100,0% 298 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
49
apesar de serem uma minoria de 15,1% de adolescentes os que não se afirmam
heterossexuais, é importante notar que são o dobro do número percebido no censo de
população em situação de rua adulta (8,3%) (QUALITEST, 2022), o que indica uma crescente
neste recorte da população e devem receber devida assistência. Na comparação às respostas
da mesma pergunta anterior, por sexo, pode-se entender que as adolescentes do sexo
feminino (77,8%) são as que proporcionalmente menos se identificam como heterossexuais.
Ao analisarmos os indicadores sobre a cidade natal das crianças e adolescentes, cerca
de 76%, de ambos os grupos (de 0 a 6 e de 7 a 17 anos), nasceram na cidade de São Paulo.
Para os nascidos em outra cidade ou país, foram identificadas 23,2% das crianças no grupo
de 0 a 6 anos, e 24,2% no grupo de 7 a 17 anos.
Em situação de acolhimento institucional, na faixa etária de 0 a 6 anos, observa-se
que 48,9% das crianças não são do município de São Paulo e, se observarmos os responsáveis
das crianças que estão em acolhimento, este percentual é ainda maior, de 64,4%, ou seja,
apenas 35,6% dos responsáveis que estão em situação de acolhimento nasceram na capital
paulista. O tipo "outras trajetórias de risco" é o que mais inclui crianças nascidas em São
Paulo (86,2%). Na situação de pernoite, 70,0% das crianças de 0 a 6 anos nasceram na cidade
de São Paulo em comparação com o local de nascimento dos responsáveis, que
correspondeu a 56,7%.
Gráfico 4: Percentual de CASR que nasceram em São Paulo na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
Crianças de 0 a 6 anos que nasceram em São Paulo
Respondentes que nasceram em São Paulo
86,2%
73,1% 76,8%
70,0%
56,7% 59,5%
51,1%
35,6%
50
também é a naturalidade de São Paulo, todavia, com uma proporção menor que as demais
situações (52,5%).
Gráfico 5: Local de nascimento das CASR na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
5.2 Escolaridade
0 a 6 anos 7 a 17 anos
79,1%
58,6%
35,5%
18,2%
5,9% 2,7%
51
No grupo de 0 a 6 anos, ao analisar por tipo de situação de risco, encontramos 53,3%
das crianças em acolhimento com vínculo escolar, 61,4% das crianças identificadas em outras
trajetórias de risco e 53,3% das crianças em pernoite. Das crianças que não possuem vínculo
escolar ou nunca foram, contabilizou-se 46,7% em situação de acolhimento, 38,6% em
outras trajetórias de risco e 46,7% em situação de pernoite.
Tabela 16: Situação da matrícula na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Matriculado risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim 24 53,3% 89 61,4% 16 53,3% 129 58,6%
Não 17 37,8% 49 33,8% 12 40,0% 78 35,5%
Nunca foi a escola 4 8,9% 7 4,8% 2 6,7% 13 5,9%
Respondentes 45 100,0% 145 100,0% 30 100,0% 220 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Na faixa etária de 7 a 17 anos, temos um total de 20,9% que não estão matriculados
na escola (18,2% não está no momento da pesquisa e 2,7% nunca foi matriculado). Quando
observado por tipo de situação, ao analisar o vínculo escolar, encontramos 82,5% das
52
crianças e adolescentes em situação de acolhimento matriculados, 84,4% em outras
trajetórias de risco e 56,4% em situação de pernoite. Os que não possuem ou nunca tiveram
vínculo escolar, encontramos 17,5% em situação de acolhimento, 15,6% em outras
trajetórias de risco e 43,6% em situação de pernoite. Aplicando o Teste Ꭓ2 a diferença entre
os grupos é significativa, mostrando que a situação do pernoite é o que menos frequenta a
escola. Isso se dá pela transitoriedade cotidiana em que estão inseridos esse público, que
podem dormir cada dia em um lugar diferente e isso reflete na evasão escolar, dentre outros
elementos não captados nesta pesquisa. O modelo escolar brasileiro, excludente e de
controle excessivo, também podem favorecer para os índices de evasão constatados por
essa e demais pesquisas que abordam a temática (SILVA, 2005).
Tabela 18: Situação da matrícula na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Matriculado de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim 66 82,5% 293 84,4% 53 56,4% 412 79,1%
Não 14 17,5% 51 14,7% 30 31,9% 95 18,2%
Nunca foi 0,0% 3 0,9% 11 11,7% 14 2,7%
Total Geral 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Antes Depois
53
frequentam o ambiente escolar todos os dias e os que disseram faltar poucas vezes, somam
mais de 90% dos casos. Quando perguntado os motivos para faltar “às vezes”, os principais
citados foram “Por causa do trabalho, não dá tempo” (17,5%), “Porque fico cansado”
(14,9%), “Problemas de saúde” (14,9%) e “Porque está na rua” (13,2%). Entre aqueles que
afirmaram “Mais falta do que vai para a escola”, os principais motivos citados foram “Porque
não gosta/ não está a fim” (32,1%), “Por causa do trabalho, não dá tempo” (11,3%) e
“Problemas de adaptação (brigas, foi expulso, tem vergonha, falta às aulas)” (11,3%).
Tabela 19: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 7 a 17 anos por tipo de situação
Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Frequência na escola de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim. Todos os dias 27 40,9% 194 66,9% 24 46,2% 245 60,0%
Falto poucas vezes 33 50,0% 63 21,7% 18 34,6% 114 27,9%
Mais falto do que vou 6 9,1% 33 11,4% 10 19,2% 49 12,0%
Respondentes 66 100,0% 290 100,0% 52 100,0% 408 100,0%
Gráfico 8:Matricularia em tempo integral por situação atual da matrícula as crianças de 0 a 6 anos
Sim, ela já está em tempo integral Sim, eu gostaria em tempo integral
Talvez eu matriculasse em tempo integral Não matricularia em tempo integral
8,5%
1,6% 19,2% 14,1%
1,8%
2,6% 38,5%
33,3%
50,9%
78,2%
56,6% 61,5%
33,2%
54
Em campo foi possível ouvir algumas justificativas sobre esses 38,5% que não
possuem interesse em matricular suas crianças em tempo integral, entre aqueles que nunca
foram para a escola. Apesar de não haver uma pergunta que justificasse a escolha, os
pesquisadores estiveram atentos às conversas estabelecidas. De uma maneira geral, as
crianças que nunca foram à escola eram aquelas que ainda não possuíam idade de ingresso
obrigatório, ou seja, menores de 4 anos. Principalmente quando se tratava de bebês, muitas
mães (maioria dos responsáveis como será visto a seguir) alegavam não confiar totalmente
nos cuidados das creches, se preocupavam com o processo de adaptação da criança às
outras pessoas, outro espaço, outra alimentação, portanto preferiam esperar que a criança
crescesse um pouco mais para então procurar uma escola.
Ao considerar as crianças de 0 a 6 anos que estão matriculadas, a frequência diária é
a mais citada entre os respondentes, sendo 87,5% em acolhimento e aproximadamente 74%
em outras trajetórias e pernoite. Menos de 10% alegaram frequentar pouco a escola, em
todas as categorias.
Tabela 20: Frequência na escola dos matriculados na faixa etária de 0 a 6 anos por tipo de situação
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Frequência escolar risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Frequenta todos os dias 21 87,5% 65 73,0% 12 75,0% 98 76,0%
Falta/faltava poucas vezes 1 4,2% 15 16,9% 4 25,0% 20 15,5%
Mais falta/faltava do que vai 2 8,3% 8 9,0% 0,0% 10 7,8%
Não respondeu 0,0% 1 1,1% 0,0% 1 0,8%
Total Geral 24 100% 89 100% 16 100% 129 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
55
5.3 Perfil do responsável pela Criança em Situação de Rua
Tabela 21: O que você é desta criança? Na faixa etária de 0 a 6 anos por situação
Outras trajetórias de
O que você é desta Acolhimento Pernoite Total
risco
criança?
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Mãe biológica 40 88,9% 109 75,2% 23 76,7% 172 78,2%
Pai biológico 5 11,1% 20 13,8% 5 16,7% 30 13,6%
Avó 0,0% 8 5,5% 0,0% 8 3,6%
Irmã/irmão 0,0% 4 2,8% 0,0% 4 1,8%
Padrasto 0,0% 1 0,7% 2 6,7% 3 1,4%
Avô 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Primo 0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
Pessoa adulta sem
0,0% 1 0,7% 0,0% 1 0,5%
vínculo de parentesco
Total Geral 45 100,0% 145 100,0% 30 100,0% 220 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
56
Ao analisar a escolaridade dos responsáveis, 55% cursaram até o ensino
fundamental, de modo que desses, apenas 12,30% concluíram esta etapa de ensino (Ensino
Fundamental completo - 1º ao 9º ano). Com relação ao ensino médio, 17,7% concluíram esta
etapa de ensino. O ensino superior foi iniciado por 2,7% e concluído por apenas 1,8%.
Estar em situação de rua, tanto as CAs quanto seus responsáveis, pode estar atrelado
a diversos fatores, e de acordo com a Política Nacional para a inclusão social da população
57
em situação de rua, fatores como: ausência de moradia, inexistência de trabalho, crises
econômicas e sanitárias, dependência química, entre outros, podem estar ligados a esta
situação. Ou seja, trata-se de um fenômeno multifacetado que não pode ser explicado desde
uma perspectiva unívoca e monocausal, pois são múltiplas as causas de ir para a rua (BRASIL,
2009).
Começando pelo Gráfico 9 que distribui os tempos de rua nos grupos etários, e, com
isso pode-se observar uma redução, ou seja, independentemente da faixa etária as
concentrações de tempo de rua estão em tempos menores. Elas aumentam à medida que a
faixa etária aumenta, mostrando uma situação que pode se estender por alguns anos, mas
que tende a ser uma trajetória de vida para um grupo pequeno. Trazendo perspectivas de
mudança situacional.
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
< 1 1 ano 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
ano anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
58
que dois anos é de 65,9%. Por se tratar de um período importante para o crescimento físico
e intelectual dos bebês e crianças, estar em situação de rua neste período pode afetar seu
desenvolvimento em relação às outras crianças (FREITAS, 2021).
Tabela 23: Há quanto tempo a criança de 0 a 6 anos tipo de situação está em situação de rua
Ao analisar a idade que a CA de 7 a 17 anos foi para a rua pela primeira vez em relação
à idade que ela tinha no momento da entrevista, tem-se o período que a CA iniciou sua
trajetória de rua, independente se esta situação é contínua ou transitória, durante o
intervalo de tempo. Nesta perspectiva, 65,8% dos entrevistados estão em situação de rua ou
iniciaram a trajetória de rua em até 4 anos, sendo que 32,2% estão expostos a situação de
rua de 1 a 2 anos. Entre as CAs acolhidos, o percentual de entrevistados que tiveram seu
primeiro contato com a rua entre 1 e 2 anos é de 46,3%.
Tabela 24: Período que a CA de 7 a 17 iniciou a trajetória de rua em relação a idade atual
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Período risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
< 1 ano 6 7,5% 50 14,4% 5 5,3% 61 11,7%
De 1 a 2 anos 37 46,3% 107 30,8% 24 25,5% 168 32,2%
De 3 a 4 anos 13 16,3% 79 22,8% 22 23,4% 114 21,9%
De 5 a 6 anos 14 17,5% 54 15,6% 15 16,0% 83 15,9%
De 7 anos ou mais 10 12,5% 57 16,4% 28 29,8% 95 18,2%
Total Geral 80 100,00% 347 100,00% 94 100,00% 521 100,00%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
59
de 21% dos entrevistados. Entretanto, estatisticamente (Teste Ꭓ2), podemos afirmar que
isso é 2,5 vezes maior nas situações de pernoite (32%), se comparado com aqueles que estão
em acolhimento (13%).
Tabela 25: Respondentes na faixa etária de 7 a 17 anos que estão há mais de 50% da vida em situação de
rua por situação
Outras trajetórias de
Mais que 50% da
Acolhimento risco Pernoite Total
vida em SR
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não 70 88% 279 80% 64 68% 413 79%
Sim 10 13% 68 20% 30 32% 108 21%
Respondentes 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Tabela 26: A pandemia da COVID-19 é uma das causas que você fez com que você viesse mais para a rua na
faixa etária de 7 a 17 anos, por tipo de situação
Outras trajetórias de
Pandemia como Acolhimento Pernoite Total
risco
causa da SR
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não 60 75,0% 250 72,0% 71 75,5% 381 73,1%
Sim 20 25,0% 97 28,0% 23 24,5% 140 26,9%
Respondentes 80 100,0% 347 100,0% 94 100,0% 521 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Gráfico 11:Pandemia como uma das causas da SR na faixa etária de 7 a 17 anos, por situação
60
Quando se cruza o fato de a pandemia ser ou não a causa da SR, com o ano declarado
pelos respondentes da faixa etária de 7 a 17 anos, tem-se que grande parte já estava na rua
antes da pandemia, e o pico da série história antes da pandemia (até 2019), tem o ano de
2017 atingindo 11% do total de SR e 13% em 2019.
Gráfico 12: Cruzamento do ano que veio para a rua com a declaração da pandemia como uma das causas
de estar em SR na faixa etária de 7 a 17 anos por situação
Pandemia NÃO É uma das causa da SR Pandemia É uma das causas da SR Total
25%
22%
20%
15% 14%
13% 13%
10% 11%
10%
7%
5%
0%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Cruzando o tempo médio de rua com a pandemia como causa, observa-se que o
acolhimento tem uma média de tempo mais convergente com a pandemia que as outras
situações.
Gráfico 13:Cruzamento entre o tempo médio de rua e pandemia por SR na faixa etária de 7 a 17 anos
Pandemia NÃO É uma das causa da SR Pandemia É uma das causas da SR Total
61
Além da idade, entre as CAs de 7 a 17 anos, buscou-se saber sobre a pessoa que os
levou para situação de rua pela primeira vez e, na maior parte nos três grupos foi o pai/mãe,
correspondendo a aproximadamente 50% dos casos. Seguido dos amigos e colegas, nos
casos de “outras trajetórias de rua”. Nos que estão em situação de acolhimento, em segundo
lugar, os respondentes disseram ter estado em situação de rua pela primeira vez sozinhos
(32,5%). Nas situações de pernoite e outras trajetórias também houve destaque a opção
irmãos, o que nos leva a inferir que o fenômeno das pessoas em situação de rua tem ligação
direta com a situação de desigualdade no Brasil.
Um dos principais motivos para o surgimento e manutenção das desigualdades
sociais no Brasil é o racismo. Tendo em vista que o país foi construído a partir de
pressupostos discriminatórios, a população negra foi excluída das possibilidades de acesso à
vários serviços e direitos (UZP, 2021). Esse processo fez com que as pessoas negras fossem
postas à margem da sociedade brasileira, enquanto as pessoas brancas acumulavam
privilégios e alcançavam melhores posições sociais. Todo contexto gerou o chamado racismo
estrutural que é definido pelo Professor Silvio Almeida como: “(...) uma forma sistemática
de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas
conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos
a depender do grupo racial ao qual pertençam” (ALMEIDA, 2019, p. 22), dito de outra forma,
o racismo como sistema que estrutura nossa sociedade.
Tabela 27: Com quem você foi para a rua pela primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos
Outras trajetórias
Com quem você foi para a rua pela Acolhimento de rua
Pernoite Total
primeira vez
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Pai/Mãe 41 51,3% 172 49,6% 48 51,1% 261 50,1%
Amigos/Colegas 7 8,8% 89 25,6% 18 19,1% 114 21,9%
Irmãos 0,0% 81 23,3% 23 24,5% 104 20,0%
Sozinho 26 32,5% 30 8,6% 18 19,1% 74 14,2%
Outros familiares 5 6,3% 36 10,4% 14 14,9% 55 10,6%
Adulto sem grau de parentesco 0,0% 2 0,6% 1 1,1% 3 0,6%
Namorado(a), companheiro(a) ou
1 1,3% 0,0% 1 1,1% 2 0,4%
marido/esposa
Respondentes (*) 80 - 347 - 94 - 521 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes. O
percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.
62
Os problemas econômicos e ausência de renda familiar são alguns dos motivos que
levam as pessoas para situação de rua para desempenharem algum tipo de atividade e “os
riscos que permeiam o trabalho infantil, sobretudo no que tange à violência, a redução das
perspectivas de estudo e os danos provocados ao desenvolvimento biopsicossocial de
crianças e adolescentes fazem parte das preocupações notadas pelos pesquisadores e
gestores públicos” (RIZZINI, 2019 p. 114). De acordo com dados levantados na pesquisa
amostral, 51, 1 % das crianças e adolescentes, de 7 a 17 anos, foram para a rua pela primeira
vez para vender algum produto, seguido da mendicância (43,2%). Nos grupos de
acolhimento o percentual nestes motivos é menor, abrindo espaço para conflitos familiares
(11,3%) e vítimas de violência (12,5%).
Tabela 28: Por que você foi para a rua a primeira vez na faixa etária de 7 a 17 anos
Outras
Por que você foi para a rua a primeira Acolhimento trajetórias de Pernoite Total
vez? rua
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Venda 20 25,0% 208 59,9% 38 40,4% 266 51,1%
Mendicância 16 20,0% 158 45,5% 51 54,3% 225 43,2%
Brincar 2 2,5% 70 20,2% 18 19,1% 90 17,3%
Trabalhar 5 6,3% 17 4,9% 0,0% 22 4,2%
Para consumir droga 7 8,8% 3 0,9% 10 10,6% 20 3,8%
Conflito familiar 9 11,3% 2 0,6% 5 5,3% 16 3,1%
Para ter liberdade, se divertir 4 5,0% 8 2,3% 1 1,1% 13 2,5%
Estar com familiares 0,0% 7 2,0% 4 4,3% 11 2,1%
Vítima de violência 10 12,5% 0,0% 0,0% 10 1,9%
Outro 2 2,5% 4 1,2% 1 1,1% 7 1,3%
Foi despejado, perdeu sua casa 2 2,5% 0,0% 4 4,3% 6 1,2%
Foi expulso de casa 1 1,3% 0,0% 2 2,1% 3 0,6%
Nasceu na rua 0,0% 0,0% 2 2,1% 2 0,4%
Roubar 1 1,3% 0,0% 1 1,1% 2 0,4%
Chegou em SP sem ter onde ficar 1 1,3% 0,0% 0,0% 1 0,2%
Não informado 0,0% 1 0,3% 2 2,1% 3 0,6%
Respondentes (*) 80 - 347 - 94 - 521 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes. O
percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.
63
Para entender um pouco mais sobre a relação atual com a rua, cruzou-se a resposta
da pergunta “com quem foi para a rua pela primeira vez”, e com quem ele dorme
atualmente. Para enfatizar o vínculo familiar com pai/mãe biológico categorizou-se os
grupos que apontaram estes familiares. Percebe-se que aqueles que estão expostos a
situação do pernoite têm o maior percentual de que NÃO foi para a rua com o pai/mãe
biológico e NÃO dorme atualmente com eles (40,4%). No oposto, tem-se o acolhimento com
o maior percentual que foi para a rua com pai/mãe biológico e que dormiam com eles (50%),
quando estavam em situação de rua. Em outras trajetórias, destaca-se o percentual que
dorme com pai/mãe biológico, porém não foi para a rua com eles (38,0%).
Tabela 29: Com quem dorme/mora em casa cruzando com quem foi para a rua, na faixa etária de 7 a 17
anos, por tipo de situação
Com quem você foi para a rua pela primeira vez
Quem dorme com
Situação Mãe/Pai biológico Outros Total
ele
Quant. % Quant. % Quant. %
Mãe/Pai biológico 40 50,0% 14 17,5% 54 67,5%
Sem Mãe/Pai
Acolhimento 1 1,3% 25 31,3% 26 32,5%
biológico
Respondentes 41 51,3% 39 48,8% 80 100,0%
Sem Mãe/Pai
Pernoite 11 11,7% 38 40,4% 49 52,1%
biológico
Respondentes 48 51,1% 46 48,9% 94 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
64
Tabela 30: Por que você foi para a rua a primeira vez por raça/cor
Por que você foi Parda Preta Branca Outras Total
para a rua a
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
primeira vez?
Venda 119 25,0% 91 59,9% 51 56,7% 5 40,4% 266 51,1%
Mendicância 96 20,0% 85 45,5% 41 45,6% 3 54,3% 225 43,2%
Brincar 38 2,5% 40 20,2% 11 12,2% 1 19,1% 90 17,3%
Trabalhar 11 6,3% 10 4,9% 1 1,1% 0,0% 22 4,2%
Para consumir
2 8,8% 8 0,9% 10 11,1% 10,6% 20 3,8%
droga
Conflito familiar 5 11,3% 7 0,6% 4 4,4% 5,3% 16 3,1%
Para ter liberdade,
5 5,0% 7 2,3% 1 1,1% 1,1% 13 2,5%
se divertir
Estar com familiares 4 0,0% 2 2,0% 5 5,6% 4,3% 11 2,1%
Vítima de violência 3 12,5% 5 0,0% 2 2,2% 0,0% 10 1,9%
Outro 3 2,5% 2 1,2% 2 2,2% 1,1% 7 1,3%
Foi despejado,
4 2,5% 2 0,0% 0,0% 4,3% 6 1,2%
perdeu sua casa
Foi expulso de casa 2 1,3% 0,0% 0,0% 1 2,1% 3 0,6%
Não informado 2 0,0% 1 0,0% 0,0% 2,1% 3 0,4%
Nasceu na rua 2 1,3% 0,0% 0,0% 1,1% 2 0,4%
Roubar 1 1,3% 1 0,0% 0,0% 0,0% 2 0,2%
Chegou em SP sem
1 0,0% 0,3% 0,0% 2,1% 1 0,6%
ter onde ficar
Respondentes (*) 229 - 193 - 90 - 9 - 521 -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
(*) Nota: O entrevistado poderia citar mais de uma resposta, portanto o total de citações é maior do que o total de respondentes. O
percentual foi calculado em relação ao total de respondentes por tipo de situação.
65
5.5 Ciclos geracionais de Trabalho Infantil e Situações de Vulnerabilidade Socioeconômica
dos responsáveis das Crianças em Situação de Rua
Tabela 31: Realizava alguma atividade de geração de renda quando criança por raça/cor
Parda Preta Branca Outras
Resposta
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Não 34 37,8% 29 38,7% 19 39,6% 5 71,4%
Sim 56 62,2% 46 61,3% 29 60,4% 2 28,6%
Total Geral 90 100,0% 75 100,0% 48 100,0% 7 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
66
responsáveis que estão em outras trajetórias de risco, este percentual é de 47,6%. A segunda
atividade mais citada foi o trabalho realizado em algum comércio ou oficina, o equivalente a
32,3% do total de respondentes que trabalharam quando eram crianças e entre os
responsáveis acolhidos, este percentual foi o mais citado, correspondendo a 60,7% deste
grupo. Outra atividade citada, que especificamente na situação do pernoite foi uma das mais
referidas, foi o trabalho em serviços gerais pedreiro, eletricista, pintor, entre outros, o
equivalente a 33,3%.
67
Complementando a análise acerca do contexto socioeconômico dos responsáveis por
crianças com trajetórias de rua, foram abordados aspectos relacionados à empregabilidade.
Do total de responsáveis que estão em situação de rua com crianças de até 6 anos,
81,8% encontram-se desempregados. Destes, 65% estão há mais de 2 anos, sendo que 48,9%
estão nesta condição há 3 anos ou mais. Ao observar por tipo de situação, entre os
responsáveis acolhidos mais de 50% estão desempregados de 1 mês a 1 anos (52,9%), já
entre aqueles que estão em outras trajetórias de risco, 56,7% estão desempregados há mais
de 3 anos e no pernoite este percentual é de 38,5.
68
Entre os motivos pelos quais os responsáveis respondentes não estão procurando
emprego, 45,1% alegaram que não teriam com quem deixar os filhos. Vale destacar que
78,2% dos responsáveis respondentes correspondem à mãe biológica. O segundo maior
motivo citado foi a preferência pelo trabalho informal, que representa 18,3%. Entre as
situações, a preferência pelo trabalho informal foi citada nos responsáveis que estão em
outras trajetórias de risco (24,1%) e entre aqueles que pernoitam na rua (16,7%). Entre os
responsáveis acolhidos esta citação não foi mencionada, cujo segundo maior motivo citado
foi o fato de a responsável estar grávida ou de ter recém-saído da maternidade (27,8%).
69
5.6 Mobilidade e Vivência na Rua
70
Na realização da etapa amostral, encontramos crianças e adolescentes, sozinhas ou
com seus responsáveis, que apontaram outros espaços de permanência e circulação, sendo
as mais citadas: linhas de metrô (Brás, Vila Mariana, Armênia, Consolação, Trianon Masp,
Tatuapé e outras estações das linhas vermelha e azul) e nos shoppings (Itaquera, Tatuapé,
Anália Franco, West Plaza e Santa Cruz).
Tabela 36: Locais mais citados
De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos Total
Locais mais citados
Quant. % Quant. % Quant.
Paulista MASP 5 2,7% 22 11,8% 27
Praça -Sé 7 3,7% 17 9,1% 24
Estações de metrô 7 3,7% 10 5,3% 17
Feiras 11 5,9% 4 2,1% 15
Bares, restaurantes e baladas - Vila Madalena 5 2,7% 9 4,8% 14
Bares, restaurantes e baladas – Pinheiros 7 3,7% 6 3,2% 13
Shopping 6 3,2% 7 3,7% 13
Bares, restaurantes e baladas - Rua Augusta 2 1,1% 9 4,8% 11
Bares, restaurantes e baladas - Itaim Bibi 2 1,1% 7 3,7% 9
Largo da Batata 4 2,1% 5 2,7% 9
Total de citações 78 41,7% 109 58,3% 187
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*A soma das porcentagens não totalizará 100% pois só foram contabilizados os 10 locais mais citados e por ser uma questão de múltiplas
respostas, cada entrevistado poderia citar mais de uma localidade.
71
o Banho: Abrigo ou SAICA (40%), Centro de Acolhida (35,6%), Banheiros
públicos/Tendas (17,8%), Casa da Família (13,3%) e Torneiras
públicas/Chafariz (11,1%).
o Necessidades fisiológicas: Abrigo/SAICA (40%), Centro de Acolhida (24,4%),
Banheiro público/Tenda (17,8%), Estabelecimentos comerciais (15,6%), Ainda
em uso de fraldas (13,3%) e Casa da família (11,1%).
o Alimentação: Abrigo/SAICA (40%), Doações na rua (35,6%), Centro de
Acolhida (31,1%), Eu compro com a renda informal ou em Estabelecimentos
Comerciais (cada um com 11,1%) e Eu compro com os benefícios sociais que
recebo e Casa da família (8,9%) .
o Água: Abrigo/SAICA (40%), Centro de Acolhida (33,3%), Banheiro
público/Tenda e Estabelecimentos comerciais (cada um com 13,3%) e
Doações na rua (11,1%).
72
o Necessidades fisiológicas: Banheiro público/Tenda (33,3%), Estação de metrô
(23,3%), Estabelecimentos comerciais e Ainda usa fraldas (cada um com 20%)
e Casa de família e Na rua (16,7%).
o Alimentação: Doações na rua (53,3%), Na rua (26,7%), Eu compro com a renda
informal e Estabelecimentos Comerciais (cada um com 23,3%), Eu compro
com os benefícios sociais que recebo e Igreja/Organizações Sociais (cada um
com 20%), Bom Prato (13,3%) e Eu compro com a renda de outro trabalho
que tenho e Casa da família (10%).
o Água: Estabelecimentos comerciais (43,3%), Doações na rua e Torneiras
públicas/Chafariz (cada um com 30,0%), Eu compro com a renda informal e
Banheiros públicos/Tendas (16,7%) e Hotel/Pensão, Eu compro com os
benefícios sociais que recebo, Casa de família e Estações de metrô (10%).
73
○ Alimentação: Casa da família (78,7%), Doações na rua (35,4%),
Estabelecimentos comerciais (19,0%), Eu compro (22,5%) e Na rua (10,1%).
○ Água: Casa de Família (76,7%), Estabelecimentos comerciais (36,3%), Doações
na rua (19,6%), Eu compro (14,1%) e Banheiros públicos/Tendas (3,5%).
● Em situação de pernoite:
○ Banho: Banheiros públicos/Tendas (50%), Casa da família (26,6%), Torneiras
públicas/Chafariz (23,4%), Na rua (11,7%), Abrigo/SAICA e Hotel/pensão
(10,6%) e Centro de Acolhida (8,50%).
○ Necessidades fisiológicas: Banheiro público/Tenda (47,9%), Estabelecimentos
comerciais (34,0%), Casa da Família (23,4%), Estações de metrô (17,0%), Na
rua (14,9%) e Abrigo/SAICA (9,6%).
○ Alimentação: Doações na rua (58,5%), Na rua (25,5%), Estabelecimentos
comerciais (23,4%), Casa de família (17,0%), Igreja/Organização Social (16,0%)
e Abrigo/SAICA (9,6%).
○ Água: Estabelecimentos comerciais e Doações na rua (cada um com 42,6%),
Torneiras públicas/Chafariz (27,7%), Casa da família (19,2%), Banheiros
públicos/Tendas (16,0%), Eu compro (12,8%) e Abrigo/SAICA (8,5%).
Entre os grupos abordados durante a etapa amostral, fica evidente o uso dos espaços
públicos, serviços municipais ou a empatia dos estabelecimentos comerciais e pessoas para
que crianças e adolescentes tenham acesso ao básico de sua existência. Políticas públicas
como os equipamentos de acolhimento, banheiros ou tendas públicas e programas de
alimentação como o Bom Prato, são fontes de garantia e acesso à direitos sociais.
Segundo o levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e
Segurança Alimentar Nutricional, a Rede Penssan, em 2022, o Brasil chegou à marca de 33,1
milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar ou em restrição de alimentos,
sendo 65% de lares chefiados por pessoas pretas ou pardas. No ano de 2020, em 9,4% dos
lares com crianças de até 10 anos a fome se fazia presente. No ano de 2022, o número
dobrou para 18,1%. A ausência de alimentação diária e de qualidade ocasiona riscos para o
desenvolvimento cognitivo, físico e mental, impactando o equilíbrio do metabolismo de
crianças e adolescentes e, consequentemente, prejudicando a saúde na vida adulta.
74
5.7 Riscos Sociais
75
Sendo assim, a figura abaixo representa visualmente o agrupamento das atividades
nas quais as CASR declararam que realizam enquanto estão em situação de rua. Semelhante
à metodologia utilizada na etapa censitária, no tocante à categorização das atividades
realizadas, as CASR se encontram submetidos aos riscos por permanecerem nas ruas,
realizando atividades e vivendo inúmeras situações, quer seja por longos períodos, dias e
noites, quer seja por períodos curtos, algumas horas dos dias ou noites. Vale destacar que
uma criança ou um adolescente pode estar submetido a mais de um risco, ou seja, realizar
mais de uma atividade na rua, o que configura a intersecção entre os riscos na vida destas
CAs.
Figura 10:Categorização das atividades realizadas por CASR sujeitos aos riscos3
Atividade
geradora de Atividade não
renda geradora de
renda
(89,6%)
(56,4%)
Atividade geradora
RISCOS de renda
SOCIAIS gravíssima
(13,8%)
Vivência de Outras
violência atividades
associada à SR
(31,7%)
(64,1%)
3
A mesma CASR pode realizar mais de uma atividade.
76
das pessoas que estão em situação de rua com as crianças. Ambos grupos contemplaram as
crianças e adolescentes acolhidos, conforme a proporcionalidade identificada no censo.
Portanto, as atividades realizadas estão analisadas na seguinte perspectiva:
● Para as crianças de 0 a 6 anos, a atividade é relativa ao que o respondente
(responsável) realizada na rua, cuja criança está o acompanhando;
● Para as crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, referem-se às atividades que os
mesmos realizam enquanto estão em situação de rua.
A categorização dos riscos sociais partiu da análise das atividades declaradas pelo
respondente, conforme demonstra a imagem a seguir:
77
Com relação ao critério de análise das atividades, importante destacar que nas
situações em que o entrevistado realizou mais de uma atividade dentro da mesma categoria,
o mesmo respondente foi contabilizado apenas uma vez, portanto, o total de citações
(atividades realizadas) foram respostas múltiplas, mas não consideradas em sua duplicidade.
A seguir, seguem as atividades realizadas pelas crianças e adolescentes entrevistados
e, posteriormente, a análise das atividades realizadas pelos responsáveis de crianças de 0 a
6 anos.
78
categoria, sendo o roubo/furto realizado por 10% das CASR entrevistados, seguida da venda
de produtos ilícitos, com 6,3% e da exploração sexual comercial, representando 2,1% dos
entrevistados.
Foi inserida a análise acerca da exposição à situação de trabalho infantil,
independente, da frequência que a CA realiza tal atividade. Como já explicitado nas notas
metodológicas, na etapa censitária foram identificados os riscos iniciais aos quais a CA estava
exposto, ou seja, as atividades realizadas no momento do censo. Na etapa amostral, teve-se
como objetivo aprofundar a análise acerca dos riscos sociais e as demandas sociais
envolvendo tal público.
No censo, ao analisar o mesmo recorte etário, de crianças e adolescentes de 7 a 17
anos, cujos riscos sociais foram inicialmente identificados (na etapa censitária não foram
abordados os riscos sociais das CA que estavam em acolhimento, sendo esta demanda
aprofundada na etapa amostral), teve-se 2.224 CASR de 7 a 17 anos em situação de rua e
destes, 1.661 estavam realizando alguma atividade geradora de renda (incluindo a geradora
de renda gravíssima), ou seja, de trabalho infantil, o equivalente a 74,7% do total desta faixa
etária. Todavia, é de se esperar que no aprofundamento das demandas sociais, no que tange
a análise acerca das situações vividas pelas crianças e adolescentes enquanto estão expostos
à situação de rua, tais informações tenham maior representatividade, pois buscou-se
levantar em maior profundidade a trajetória de vida das crianças e adolescentes que estão
nesta condição. Um exemplo disso, foram as situações de exploração sexual comercial, que
no censo foi identificado um total de 0,4% (considerando apenas as CASR na faixa etária de
7 a 17 anos) e na amostral este percentual foi de 2,1%.
Portanto, as crianças e os adolescentes que estão em situações de trabalho infantil,
sejam aqueles que realizam alguma atividade geradora de renda todas as vezes que vão para
a rua, até mesmo aqueles que realizam às vezes, foram contabilizadas, resultando em 91,7%
das crianças e adolescentes de 7 a 17 anos entrevistados, em situação de trabalho infantil.
O Art. 7° da Constituição Federal (1988), inciso XXXIII, estabelece a "proibição de trabalho
noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos" (p. 08). O ECA
(1990) reforça o que fora estabelecido pela Constituição Federal e acrescenta, no Capítulo
V, que qualquer trabalho oferecido a adolescentes de 14 a 18 anos - na condição de aprendiz
- deve prever um caráter educativo/pedagógico, com atividades compatíveis ao
79
desenvolvimento do adolescente, em horários flexíveis para que não prejudique a
frequência obrigatório na escola.
Santos (2017) ressalta que as crianças e adolescentes que desenvolvem atividades de
trabalho, encontram-se mais vulneráveis, já que ficam suscetíveis à exploração de pessoas,
violências, a envolver-se em atividades ilícitas e em outras atividades que os coloquem em
risco. Outro dado relevante sobre o tema, foi coletado pela Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Em 2019, havia 1,8 milhão de crianças e adolescentes em situação de trabalho
infantil. Ainda de acordo com o levantamento, 66,4% eram meninos, 66,1% eram da raça/cor
preta ou parda e 86,1% estudavam (2020, p. 02).
A Agenda 2030 da ONU (2015), no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8.7, traz a
urgência de medidas para que o trabalho infantil - em todas as suas formas -, seja erradicado
até 2025.
A invisibilidade relacionada ao trabalho infantil como fator propulsor da ida para as
ruas é bastante comum. A associação que se faz, normalmente, está vinculada a conflitos
familiares, uso de substâncias psicoativas, cometimento de ato infracional, entre outras
situações (SANTOS, 2017). Contudo, assim como revelam os dados desta pesquisa, 100% dos
responsáveis pelas crianças de 0 a 6 anos e 91,7% das CAs de 7 a 17 anos que estão em
situação de rua exercem alguma atividade geradora de renda e destes, 80,2% mantêm certo
vínculo familiar
Quando observadas as atividades não geradoras de renda declaradas pelas CASR
entrevistadas, 54,3% mencionaram que realizam alguma atividade recreativa (brincar ou
outras atividades de lazer) enquanto estão em situação de rua. Como atividades que
realizam quando estão na rua, a liberdade para ter relação sexual foi mencionada por 2,7%
dos entrevistados, assim como “comer” que também foi citado por 2,7% das CASR.
A Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) enfatizava o brincar como um
dos princípios para o bem-estar da criança. A brincadeira faz parte do cotidiano, acontece
de diferentes formas nas diferentes culturas e etapas da vida. O brincar é a forma pela qual
as crianças se desenvolvem, comunicam, se constroem enquanto sujeitos sociais, além de
introjetarem regras, normas, modos de se relacionar e de solucionar problemas; é através
do brincar que acontece uma conexão entre o desenvolvimento psicológico e o
desenvolvimento das práticas sociais (VYGOTSKY, 2007).
80
Os dados levantados indicam que 54,3% das CASR de 7 a 17 anos utilizam-se do
espaço da rua também para brincar. Posto isto, é fundamental recuperar o lúdico no manejo
com CASR, se divertindo e brincando junto, assim como ressalta Martins (2021):
Por fim, na categoria “outras atividades”, 31,7% citaram se enquadrar nela. De modo que
a utilização de álcool e outras drogas é consumida por 29,8% dos entrevistados. A situação
das CA apenas acompanhando adultos, sem realizar atividade de trabalho, foi
percentualmente menor, em relação ao censo, pois no censo a maioria das crianças que
estavam nesta condição eram as de 0 a 6 anos, cujo responsável havia respondido.
Em pesquisa realizada pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a
Infância (CIESPI), crianças e adolescentes em situação de rua ressaltaram o aspecto lúdico
do uso de álcool e outras drogas. Mais do que a associação do uso a conseguir suportar frio
e fome, por exemplo, eles focam na questão do lazer e da diversão. Outro fator que apareceu
nos relatos, foi a relação da droga à tolerância das iniquidades cotidianas, como forma de
dar conta do medo de agressões e se manter atentos às possíveis violências que possam vir
a sofrer (RIZZINI, 2003).
Em conformidade com a definição de CASR formulada na Resolução Conjunta nº 1
Conanda/CNAS/2017, no inciso 2º, que dispõe sobre as possíveis questões que podem estar
associadas à criança e adolescente estar em situação de rua, é compreendido as violências
intrafamiliares, institucionais ou urbanas. Portanto, nesta etapa, foi aprofundada e inserida
a categoria “vivência de violência” na análise dos riscos sociais, considerando todos aqueles
que já foram vítimas de alguma violência associada à rua, seja pelo motivo que contribuiu a
criança ou o adolescente em irem para a rua, ou das violências sofridas na rua. Tendo em
vista este recorte na análise referente às violências relacionadas à rua, 64,1% sofreram
81
alguma violência na rua ou foram motivados a estar nesta condição em virtude de violências
intrafamiliares sofridas (12,7%). Entre as principais violências sofridas na rua está a violência
psicológica (33,2%), violência física (29,8%) e vítima de roubo ou furto (23,6%). A violência
sexual sofrida na rua foi vivenciada por 5,8% dos entrevistados.
Tabela 37: Atividades realizadas pelas CASR de 7 a 17 anos, por risco social
Atividade geradora de renda
82
Outras atividades não geradoras de renda
83
As atividades geradoras de renda gravíssima foram citadas por 6,4%, sendo que 5%
afirmam realizar a venda de produtos ilícitos e 3,2% dos responsáveis afirmam roubar ou
furtar, seja sempre, ou às vezes. Vale observar que, da mesma maneira como detalhado no
tópico anterior (Atividades realizadas por crianças e adolescentes de 7 a 17 anos), o mesmo
respondente pode realizar mais de uma atividade dentro da categoria, todavia, foi
contabilizado uma vez, ou seja, o mesmo respondente pode ter afirmado roubar e furtar e
também vender produtos ilícitos, no entanto, ele foi contabilizado uma vez como realizador
de atividade geradora de renda gravíssima.
E no tocante à utilização de consumo de álcool e outras drogas, independente da
frequência que realiza, foi citada por 45,9% dos respondentes.
Tabela 38: Atividades realizadas pelos responsáveis de CASR de 0 a 6 anos, por risco social
Atividade geradora de renda
Universo de Total de citação (%) sob o total
Atividades
respondente das CASR da Amostra
Venda de produtos lícitos 220 164 74,5%
Mendicância 220 154 70,0%
Serviços na rua 220 81 36,8%
Subtotal das citações 399 -
Total de CASR que realiza atividade geradora de
220 220 100,0%
renda
Atividade geradora de renda gravíssima
Universo de Total de citação (%) sob o total
Atividades
respondente das CASR da Amostra
Venda de produtos ilícitos 220 11 5,0%
Roubo/furto 220 7 3,2%
Subtotal das citações 18 -
Total de CASR que realiza atividade geradora de
220 14 6,4%
renda gravíssima
Outras atividades
Universo de Total de citação (%) sob o total
Atividades
respondente das CASR da Amostra
Consumo de álcool ou outras drogas 220 101 45,9%
Subtotal das citações 101 -
84
5.8 Perfil dos Riscos Sociais
Perfil dos riscos sociais das CASR 7 a 17 anos, a partir das atividades realizadas
✔ Nas atividades geradoras de renda e não geradoras de renda, não houve diferença
estatisticamente significativa entre as faixas etárias;
✔ Na atividade geradora de renda gravíssima, os adolescentes estão 3,4 vezes mais em
risco do que as crianças de 7 a 11 anos;
✔ Na venda de produtos ilícitos, os adolescentes estão 7,5 vezes mais em risco do que
as crianças de 7 a 11 anos;
✔ No roubo e no furto, os adolescentes estão 2,8 vezes mais em risco do que as crianças
de 7 a 11 anos;
✔ O consumo de álcool e outras drogas é 22 vezes maior entre os adolescentes em SR
do que entre as crianças de 7 a 11 anos;
✔ A liberdade para ter relação sexual não teve citações suficientes dentro da amostra
para definição de perfil;
✔ Casos de exploração sexual não tiveram citações suficientes dentro da amostra para
definição de perfil.
85
Tabela 39: Diferença da incidência do risco por faixa etária
De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 201 90,1% 266 89,3% 0,746 Não significativo
Venda de produtos lícitos 151 67,7% 194 65,1% 0,533 Não significativo
Serviços na rua 68 30,5% 96 32,2% 0,675 Não significativo
Mendicância 144 64,6% 185 62,1% 0,559 Não significativo
Atividade não geradora de renda 121 54,3% 173 58,1% 0,388 Não significativo
Brincar ou outras atividades de lazer 117 52,5% 166 55,7% 0,463 Não significativo
Comer 8 3,6% 6 2,0% 0,272 Não significativo
Liberdade para ter relação sexual 0 0,0% 14 4,7% * *
86
Gráfico 14:Incidência do risco por faixa etária
De 7 a 11 anos De 12 a 17 anos
Mendicância 64,6%
62,1%
Comer 3,6%
2,0%
Roubo/furto 4,9%
13,8%
87
Perfil sexo biológico do risco das CASR 7 a 17 anos
✔ Ambas as atividades, seja a geradora de renda ou a não geradora de renda,
acontecem mais no sexo masculino;
✔ A realização de serviços na rua acontece 1,6 vezes mais no sexo masculino do que no
sexo feminino;
✔ O consumo de álcool e outras drogas também acontece 1,4 vezes mais no sexo
masculino do que no sexo feminino;
✔ Nas atividades geradoras de renda gravíssimas, não houve diferença estatística entre
os sexos, evidenciando que ambos estão expostos ao risco na mesma incidência.
88
Gráfico 15:Incidência do risco por sexo
Feminino Masculino
Mendicância 63,5%
63,0%
Comer 3,2%
2,4%
Roubo/furto 7,4%
11,4%
89
Gráfico 16:Incidência das atividades por raça/cor
88,9%
Atividade geradora de renda 90,8%
88,1%
67,8%
Venda de produtos lícitos 65,9%
65,3%
26,7%
Serviços na rua 31,9%
33,7%
60,0%
Mendicância 63,8%
62,7%
56,7%
Atividade não geradora de renda 55,5%
57,0%
53,3%
Brincar ou outras atividades de lazer 53,7%
55,4%
2,2%
Comer 2,6%
2,6%
5,6%
Liberdade para ter relação sexual 1,3%
2,6%
8,9%
Venda de produtos ilícitos 5,2%
6,7%
13,3%
Roubo/furto 9,6%
8,3%
4,4%
Exploração sexual e comercial 0,9%
2,6%
38,9%
Outras atividades 29,3%
31,6%
35,6%
Consumo de álcool ou outras drogas 28,4%
29,0%
90
Perfil da região de pesquisa do risco das CASR 7 a 17 anos
✔ Em algumas atividades, não houve citação suficiente dentro da amostra para traçar o perfil regional, é o caso dos riscos “Venda de produtos ilícitos”,
“Roubo/furto”, “Exploração sexual e comercial”, “Situação de CAs acompanhando adultos sem realizar atividade de trabalho” e, “Consumo de álcool
e outras drogas”;
✔ A incidência de “Outras atividades” acontece 5,9 vezes mais na Região 5 (centro) do que na Região 1 (norte) de pesquisa;
✔ As atividades geradoras de renda gravíssimas acontecem aproximadamente 2 vezes mais na Região 5 (centro) do que nas Regiões 1 (norte) e 2 (leste);
✔ A venda de produtos lícitos acontece 1,5 vezes mais na Região 1 (norte) do que na Região 3 (sul);
✔ Os serviços na rua acontecem 1,8 vezes mais na Região 2 (leste) do que na Região 1 (centro);
✔ A mendicância acontece 1,5 vezes mais na Região 4 (centro expandido) do que na Região 1 (norte) de pesquisa.
4
Detalhamento das regiões, vide Quadro 1.
91
Perfil da região de São Paulo do risco das CASR 7 a 17 anos
✔ Venda de produtos lícitos é 1,3 vezes maior na região norte do que nas regiões centro ou sul;
✔ Serviços na rua é 2,3 vezes maior nas regiões leste ou norte do que nas regiões centro ou sul;
✔ Roubo/furto é 3,1 vezes maior na região centro do que na região oeste.
Tabela 42: Diferença da incidência das atividades por região de São Paulo
P-valor Teste
Centro Leste Norte Oeste Sul Análise
Risco Ꭓ2
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim
Atividade geradora de renda 111 87,4% 161 93,1% 67 94,4% 84 88,4% 44 80,0% 0,037 1,2
Venda de produtos lícitos 75 59,1% 123 71,1% 55 77,5% 59 62,1% 33 60,0% 0,034 1,3
Serviços na rua 33 26,0% 65 37,6% 26 36,6% 31 32,6% 9 16,4% 0,021 2,3
Mendicância 90 70,9% 104 60,1% 41 57,7% 61 64,2% 33 60,0% 0,277 Não significante
Atividade não geradora de renda 72 56,7% 98 56,6% 39 54,9% 54 56,8% 31 56,4% 0,999 Não significante
Brincar ou outras atividades de lazer 66 52,0% 97 56,1% 38 53,5% 52 54,7% 30 54,5% 0,971 Não significante
Comer 5 3,9% 1 0,6% 2 2,8% 4 4,2% 2 3,6% * *
Liberdade para ter relação sexual 5 3,9% 3 1,7% 2 2,8% 3 3,2% 1 1,8% * *
Atividade geradora de renda gravíssima 22 17,3% 23 13,3% 8 11,3% 10 10,5% 9 16,4% 0,575 Não significante
Venda de produtos ilícitos 10 7,9% 12 6,9% 1 1,4% 5 5,3% 5 9,1% 0,354 Não significante
Roubo/furto 21 16,5% 13 7,5% 7 9,9% 5 5,3% 6 10,9% 0,047 3,1
Exploração sexual e comercial 0 0,0% 6 3,5% 1 1,4% 2 2,1% 2 3,6% * *
Outras atividades 46 36,2% 54 31,2% 15 21,1% 34 35,8% 16 29,1% 0,215 Não significante
Consumo de álcool ou outras drogas 41 32,3% 53 30,6% 14 19,7% 31 32,6% 16 29,1% 0,372 Não significante
Violências sofridas na rua 78 61,4% 105 60,7% 44 62,0% 69 72,6% 38 69,1% 0,28628 Não significante
Respondentes 127 - 173 - 71 - 95 - 55 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2
92
Gráfico 17:Incidência das atividades por região de São Paulo
Atividade geradora de renda Atividade não geradora de renda Atividade geradora de renda gravíssima Outras atividades
Centro Leste Norte Centro Leste Norte Centro Leste Norte Centro Leste Norte
Oeste Sul Oeste Sul Oeste Sul Oeste Sul
Atividade 17,3%
87,4% 56,7% 13,3% 36,2%
Atividade não 56,6% geradora de
Atividade 93,1% 11,3%
geradora de 54,9% renda 31,2%
geradora de 94,4% 10,5% Outras
renda 56,8% gravíssima 16,4% 21,1%
renda 88,4% atividades
56,4% 35,8%
80,0%
29,1%
7,9%
52,0% Venda de 6,9%
59,1% Brincar ou
Venda de outras 56,1% produtos 1,4%
71,1%
produtos 53,5% ilícitos 5,3%
77,5% atividades de CA's
54,7% 9,1% 3,9%
lícitos 62,1% lazer acompanhan
54,5% 0,6%
60,0%
do adultos
16,5% 1,4%
sem realizar
3,9% 7,5% atividade de 3,2%
26,0% Roubo/furto 9,9%
0,6% trabalho 0,0%
Serviços na 37,6% Comer 5,3%
2,8%
rua 36,6% 4,2% 10,9%
32,6% 3,6%
16,4%
0,0% 32,3%
Exploração 3,5% 30,6%
3,9% Consumo de
70,9% Liberdade sexual e 1,4%
1,7% álcool ou 19,7%
60,1% para ter 2,8% comercial 2,1%
Mendicância 3,6% outras drogas 32,6%
57,7% relação sexual 3,2%
64,2% 1,8% 29,1%
60,0%
93
5.8.2 Perfil dos riscos em que estão expostas as crianças de 0 a 6 anos, a partir das atividades realizadas pelos responsáveis
Perfil da região de pesquisa nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
✔ A venda de algum produto lícito ocorre 2,8 vezes mais na Região 2 do que na Região 1;
✔ Nas atividades: Trabalha para o tráfico (investigar relação com narcotráfico); realiza algum furto ou roubo; usa o seu corpo a pedido de
alguém por dinheiro ou para ganhar algo em troca - não houve citação suficiente dentro da amostra nas regiões para análise;
✔ Nas atividades como malabares, reciclagem etc., pede dinheiro ou comida na rua, houve citações para comparação entre duas regiões (4
e 5), porém só foi significativa as atividades de malabares, na qual pode-se afirmar que ela ocorre quase 2 vezes mais na Região 4 do que
na Região 5 (p-valor < 0,02). Na outra atividade o p-valor do teste comparando as duas regiões foi de 0,07, mostrando uma tendência da
Região 4 apresentar maior incidência deste tipo de atividade do que a Região 5.
Tabela 43: Perfil da região de pesquisa5 nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 P-valor
Atividade Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Vende algum produto como bala, pano de prato etc. 2 33,3% 13 92,9% 7 77,8% 63 86,3% 61 84,7% 0,012 2,8
Faz na rua atividades como malabares, reciclagem etc. 3 50,0% 6 42,9% 4 44,4% 31 42,5% 16 22,2% * *
Pede dinheiro ou comida na rua 4 66,7% 10 71,4% 4 44,4% 59 80,8% 47 65,3% * *
Trabalha para o tráfico (investigar relação com narcotráfico) 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 5,6% * *
Realiza algum furto ou roubo 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 3 4,2% * *
Usa o seu corpo, a pedido de alguém por dinheiro ou para ganhar
0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,4% 2 2,8% * *
algo em troca
Respondentes 6 - 14 - 9 - 73 - 72 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2
5
Detalhamento das regiões, vide Quadro 1.
94
Perfil da região de São Paulo nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
✔ A venda de algum produto lícito é realizado pelo respondente do grupo de 0 a 6 anos 3,9 vezes mais na Região Leste do que na
Região Sul ou Norte;
✔ As atividades de serviço na rua são realizadas pelo respondente do grupo de 0 a 6 anos 4,8 vezes mais na Região Leste do que na
Região Norte;
✔ A atividade de pedir dinheiro ou comida na rua é realizado pelo respondente do grupo de 0 a 6 anos 4,7 vezes mais na Região Centro
do que na Região Sul;
Tabela 44: Perfil da região de São Paulo nas atividades que os respondentes de 0 a 6 anos exercem na rua
Centro Leste Norte Oeste Sul P-valor
Atividade Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Vende algum produto como bala, pano de prato etc. 46 61,3% 58 77,3% 17 22,7% 28 37,3% 15 20,0% 0,017 3,9
Faz na rua atividades como malabares, reciclagem, panfletagem,
20 26,7% 29 38,7% 6 8,0% 15 20,0% 11 14,7% 0,055 4,8
rodinho, guardador de carros, carregamento etc.
Pede dinheiro ou comida na rua 56 74,7% 43 57,3% 14 18,7% 28 37,3% 12 16,0% 0,057 4,7
Trabalha para o tráfico (investigar relação com narcotráfico) 6 8,0% 0 0,0% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% * *
Realiza algum furto ou roubo 4 5,3% 2 2,7% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% * *
Usa o seu corpo, a pedido de alguém por dinheiro ou para ganhar
2 2,7% 2 2,7% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% * *
algo em troca? (investigar exploração sexual e comercial)
Respondentes 75 - 71 - 22 - 32 - 19 - - -
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
*Frequência da classe inferior a 5 não atende pressupostos do Teste Ꭓ2
95
Perfil da região de pesquisa nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
Não foi possível, com o número de citações, observar diferenças estatisticamente significativas em relação à região de pesquisa.
Mesmo focando nas regiões com maior concentração de respostas (4 e 5), elas não apresentam diferenças significativas.
Tabela 45: Perfil da região de pesquisa nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 6 100,0% 14 100,0% 9 100,0% 73 100,0% 73 100,0% - *
Venda de produtos lícitos 2 33,3% 13 92,9% 7 77,8% 63 86,3% 61 83,6% * *
Serviços na rua 3 50,0% 6 42,9% 4 44,4% 31 42,5% 16 21,9% * *
Mendicância 4 66,7% 10 71,4% 4 44,4% 59 80,8% 48 65,8% * *
96
Perfil da região de São Paulo nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
✔ A atividade geradora de renda foi observada em todos os entrevistados.
✔ A venda de produtos lícitos ocorre entre os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos 1,4 vezes mais na Região Oeste do que na Região Centro;
✔ Os serviços na rua ocorrem entre os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos 2,2 vezes mais na Região Sul do que na Região Centro;
✔ A mendicância ocorre entre os respondentes da faixa etária de 0 a 6 anos, 1,4 vezes mais na Região Oeste do que na Região Leste.
Tabela 46: Perfil da região de São Paulo nos riscos que os respondentes de 0 a 6 anos expõem a faixa etária
Centro Leste Norte Oeste Sul P-valor
Risco Análise
Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Sim % Sim Teste Ꭓ2
Atividade geradora de renda 75 100,0% 72 100,0% 22 100,0% 32 100,0% 19 100,0% * *
Venda de produtos lícitos 46 61,3% 58 80,6% 17 77,3% 28 87,5% 15 78,9% 0,023 1,4
Serviços na rua 20 26,7% 29 40,3% 6 27,3% 15 46,9% 11 57,9% 0,048 2,2
Mendicância 56 74,7% 44 61,1% 14 63,6% 28 87,5% 12 63,2% 0,061 1,4
97
5.9 Violências Sofridas
O principal local indicado pelas CASR onde ocorre a violência é a rua, assim como
na faixa etária de 0 a 6 anos, alcançando na situação de pernoite 78,4%. Os acolhidos
indicam o abrigo/SAICA como um local no qual sofreram violência (13,3%).
98
Tabela 47: Locais mais citados pelas CASR de 7 a 17 anos por tipo de situação
Outras trajetórias
Acolhimento Pernoite Total
Locais mais citados de risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Na rua 173 46,1% 528 71,5% 210 78,4% 912 66,0%
Na escola 80 21,3% 131 17,8% 20 7,5% 231 16,7%
Em casa 65 17,3% 72 9,8% 32 11,9% 169 12,2%
No Abrigo/SAICA 50 13,3% 4 0,5% 4 1,5% 58 4,2%
Centro de acolhida 7 1,9% 3 0,4% 2 0,7% 12 0,9%
Citações (*) 375 100,0% 738 100,0% 268 100,0% 1.382 100,0%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
Nota (*) Dentre as violências sofridas, foram citados 1.382 locais que ocorreram as violações.
Sofreu alguma violência na rua 120 53,8% 214 71,8% 0,000 1,3
Aprofundando a análise acerca das violências sofridas pelas CAs, ao observar por
tipo de violência, a psicológica e a física foram vividas por cerca de 42% das CAs.
99
Tabela 49: Tipos de violência
100
Tabela 50: Diferença da incidência tipos de violência por faixa etária
101
5.10 Vínculos Comunitários e Familiares
Gráfico 18:Percentual que mantém contato com familiares por faixa etária e tipo de situação (*)
De 7 a 17 anos De 0 a 6 anos
87,3% 82,8% 86,7%
80,2% 80,5%
68,9% 72,3%
58,8%
102
Quando as CAs de 7 a 17 anos foram questionadas se costumam ter contato
diário com outras pessoas da sua comunidade, que não morem com eles (amigos,
vizinhos, algum profissional que trabalhe em um serviço já acessado), os seguintes
dados foram obtidos: 31% (acolhimento), 77,5% (outras trajetórias de rua) e 45,7%
(pernoite).
Tabela 51: Costuma ter contato com outras pessoas da sua comunidade na faixa etária de 7 a 17 anos
por situação
Outras
Contato com outras pessoas da Acolhimento trajetórias de Pernoite Total
sua comunidade risco
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Sim, diariamente 25 31,3% 269 77,5% 43 45,7% 337 64,7%
Sim, algumas vezes por semana 19 23,8% 45 13,0% 12 12,8% 76 14,6%
Sim, algumas vezes por mês 3 3,8% 5 1,4% 7 7,4% 15 2,9%
Sim, algumas vezes por ano 1 1,3% 4 1,2% 3 3,2% 8 1,5%
Não tem contato com outras
30 37,5% 22 6,3% 28 29,8% 80 15,4%
pessoas
Não respondeu 2 2,5% 2 0,6% 1 1,1% 5 1,0%
Total Geral 80 100% 347 100% 94 100% 521 100%
Fonte: Painel Pesquisas e Consultoria, 2022.
103
privadas de direitos e mais expostas a violências em casa ou no SAICA, do que
propriamente na rua.
Tabela 52: Você (respondente) mantém contato frequentemente com quais pessoas da sua família ou
conhecidos (família extensa) na faixa etária de 0 a 6 anos por grupo
104
contato com a família, que abandonaram ou foram abandonadas pela família. Já as
"crianças na rua" caracterizavam-se por aquelas que mantinham laços familiares, que
faziam da rua seu espaço de lazer e trabalho, auxiliando o sustento familiar e retornando
diariamente para casa. Entretanto, percebeu-se que essa separação não dava conta de
definir a amplitude de quem são essas crianças e adolescentes, das trajetórias e relações
que estabelecem com a rua. Levando em consideração esse cenário, passamos a utilizar
o conceito de “crianças e adolescentes em situação de rua”, conceito também
empregado nesta pesquisa. (MORAIS et al., 2010).
105
5.11 Relação e Avaliação das Instituições
106
Dos respondentes da etapa amostral, considerando a região de moradia e o
grupo etário de 7 a 17 anos, apontou que, por vínculos escolares, encontramos 83,6%
da região leste matriculados, seguida da região central com 81,5%, 80,3% da região sul,
71,8% da região norte e 71,4% da região oeste.
Segundo a pesquisadora Silva (2005), devemos repensar a estrutura da escola
para acolher as experiências na rua de crianças e adolescentes, oportunizando a
participação e garantindo espaços de valorização da cultura e as suas necessidades,
tornando a escola um espaço de acolhimento e de interação com a rua. Quem utiliza do
espaço do logradouro público, seja para o trabalho informal ou, na ausência de moradia,
o tem como espaço de pernoite, cria novas normas de sociabilidade, diferente do que é
aceito socialmente.
Na área da cultura, a cidade oferece 135 unidades de bibliotecas municipais,
bosques da leitura ou pontos de leitura, 04 unidades de Centros Culturais, 03 unidades
de Formação Cultural e 08 unidades de Teatro e estão divididas regionalmente em
região Norte – 26, Sul – 41, Leste – 57, Oeste – 13 e Centro – 13.
Sobre a utilização e acesso a equipamentos de cultura, considerando a região de
moradia, a região sul aponta maior índice, correspondendo 50,7% dos respondentes,
seguido pela região leste com 41,1%, região central com 40%, região norte com 38,8% e
região oeste com 35,7% de utilização dos equipamentos culturais da cidade.
Conforme as abordagens realizadas durante a etapa amostral, nenhuma região
apontou utilização de 55% dos equipamentos de cultura, evidenciando que, mesmo
estes oferecendo atividades e formações gratuitas, não contemplam as demandas desse
grupo de alta vulnerabilidade.
Abordar o tema da cultura é garantir o diálogo sobre o direito à cidade, a
mobilidade pelos territórios, bem como a formação cultural de sua população,
respeitando a identidade e cultura local, realizando um olhar mais atento e mais
próximo, respeitando as diferenças e acolhendo as demandas de interesse da
população. A cultura é fundamental para as relações sociais e como ferramenta de
107
fomento à imaginação, expansão de conhecimento, desenvolvimento de habilidades e
aprimoramento do lazer popular.
Conforme o artigo 215 da Constituição Federal de 1988, o Estado deve garantir
o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional. O capítulo
IV do ECA (1990) refere-se ao direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer,
evidenciando no Art. 59 que "os municípios, com apoio dos estados e da União,
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações
culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude".
Esse é um eixo central quando abordamos o desenvolvimento da criança e do
adolescente. Neste sentido, para o cumprimento desses direitos, é importante que
sejam formuladas políticas públicas integradas no âmbito municipal, estadual e federal.
Na área de assistência social, a cidade dispõe de 467 unidades de CCA, 63
unidades de CEDESP, 39 unidades de CJ e 05 unidades de Circo Social, sendo: região
Norte – 125, Sul – 195, Leste – 190, Oeste – 49 e Centro – 15.
Sobre os dados de utilização dos serviços de convivência e fortalecimento de
vínculos, considerando a região de moradia, a região central apresenta 46,2% dos
respondentes frequentadores, seguida da região oeste com 42,9%, 39,4% na região sul,
37,6% na região norte e 35,3% na região leste, ficando evidente que, na região com
maior concentração populacional, há baixa utilização dos espaços de políticas sociais
para crianças e adolescentes, mesmo sendo a segunda região com maior número de
equipamentos sociais. As regiões oeste e centro possuem os menores números
populacionais e, ainda assim, encontramos maior vínculo com os equipamentos.
Na área de esporte e lazer e sobre a utilização destes serviços, considerando
também a região de moradia da CASR, a região leste aponta o maior índice, com 55,1%,
seguido por 49,3% na região sul, 43,1% na região central, 41,2% na região norte e 35,7%
na região oeste. Das regiões com maior oferta de equipamentos de esporte e lazer,
encontramos as regiões leste e sul com 54 unidades (cada região), região norte com 32
unidades, região oeste com 27 unidades e região central com 15 unidades.
108
Compreender o tema de esporte e lazer é essencial para pensarmos sobre o
desenvolvimento físico, social e emocional das crianças e adolescentes, visto que,
crianças e adolescentes que acessam atividades de esporte e lazer, aprimoram
habilidades de sociabilidade, regras de convivência e a instrução do desenvolvimento do
seu corpo físico.
Para a garantia das políticas de proteção à criança e adolescente, a cidade de São
Paulo conta com 52 unidades de Conselhos Tutelares, sendo 260 conselheiros tutelares
para 841.081 crianças, adolescentes e jovens até 19 anos (2010) e, por região temos:
norte – 11 unidades, sul – 15 unidades, leste – 20 unidades, oeste – 04 e centro – 02.
Dos respondentes de 7 a 17 anos, quando perguntados se já foram abordados
por conselheiros tutelares, informaram: 37,6% abordados na região oeste, seguido por
31,5% na região sul, 31,4% na região leste, 27,1% na região norte e 25,6% na região
central.
Considerando as regiões mais populosas da cidade, as regiões leste e sul
aparecem, respectivamente, como terceiro e segundo lugar no quesito de crianças e
adolescentes já abordados pelo Conselho Tutelar.
O município de São Paulo possui uma rede socioassistencial em seus territórios,
contendo 54 unidades de Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e 30
unidades de Centro de Referência Especializado de Assistência Social, sendo 22 unidades
na região norte, 25 unidades na região sul, 30 unidades na região leste, 05 unidades na
região oeste e 02 unidades na região central. Importante ressaltar que esses números
correspondem à somatória de CRAS e CREAS por região, visto que no questionário da
etapa amostral, essa pergunta se dá de modo conjunto.
Dos respondentes de 7 a 17 anos, que já acessaram o CRAS ou CREAS,
encontramos 41,2% dos que residem na região norte, 38,6% na região leste, 38,5% na
região centro, 36,6% na região sul e 32,1% na região oeste.
As regiões mais populosas da cidade, leste e sul, apontam menos de 40% de
acesso ao CRAS ou CREAS, evidenciando o desconhecimento dos serviços
socioassistenciais que fazem parte das políticas públicas de garantia de direitos.
109
Com a criação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS - Lei 8.742/93), a
assistência social regulamenta o amparo da população por meio da proteção social
básica e a proteção social especial. Isto é, de forma integrada e utilizando de políticas
intersetoriais, o objetivo da assistência social é o enfrentamento à pobreza e garantia
dos direitos sociais básicos.
Os respondentes de 7 a 17 anos, abordados durante a etapa amostral,
apontaram que, apresentados de forma regional, a utilização e acesso aos serviços
oferecidos pelo município correspondem (região de moradia):
● Região Norte: Serviços de Saúde – 81,2% utilizam, Consultório na Rua – 17,6% já
foram abordados, Hospital – 71,8% já utilizaram, SEAS – 14,1% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 52,9% acessam.
● Região Sul: Serviços de Saúde – 81,7% utilizam, Consultório na Rua – 35,2% já
foram abordados, Hospital – 67,6% já utilizaram, SEAS – 25,4% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 56,3% acessam.
● Região Leste: Serviços de Saúde - 86,0% utilizam, Consultório na Rua – 25,1% já
foram abordados, Hospital – 74,4% já utilizaram, SEAS – 25,6% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 73,4% acessam.
● Região Oeste: Serviços de Saúde – 85,7% utilizam, Consultório na Rua – 10,7% já
foram abordados, Hospital – 71,4% já utilizaram, SEAS – 17,9% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 39,3% acessam.
● Região Centro: Serviços de Saúde – 73,8% utilizam, Consultório na Rua – 30,8%
já foram abordados, Hospital - 63,1% já utilizaram, SEAS – 36,9% já foram
abordados e Benefícios Sociais – 56,9% acessam.
A observação sobre a utilização dos serviços de saúde evidencia que a região
leste (86%) e oeste (85,7%) são as que mais acessam os serviços, seguidas pela região
sul (81,7%), norte (81,2%) e centro (73,8%).
110
Tabela 53: Diferença da incidência dos serviços por região de MORADIA em São Paulo
Foi abordado por algum profissional do Consultório na Rua 20 30,8% 52 25,1% 15 17,6% 3 10,7% 25 35,2% 0,052 1,2
Foi atendido ou utilizou algum serviço de um hospital 41 63,1% 154 74,4% 61 71,8% 20 71,4% 48 67,6% 0,349 Não significante
Foi atendido ou utilizou algum serviço do
CCA/CJ/CEDESP/CCinter/Circo Social (Serviço de convivência e 30 46,2% 73 35,3% 32 37,6% 12 42,9% 28 39,4% 0,548 Não significante
Assistência Social
fortalecimento de vínculos)
Foi atendido ou utilizou algum serviço do CRAS | CREAS (Assistentes
sociais que ajudam a proteger e a prevenir dos riscos - para CADúnico 25 38,5% 80 38,6% 35 41,2% 9 32,1% 26 36,6% 0,938 Não significante
e bolsa família)
Foi abordado por algum profissional do SEAS 24 36,9% 53 25,6% 12 14,1% 5 17,9% 18 25,4% 0,019 2,6
Recebe benefício social 37 56,9% 152 73,4% 45 52,9% 11 39,3% 40 56,3% 0,001 1,9
Foi abordado por algum conselheiro tutelar 21 32,3% 60 29,0% 28 32,9% 6 21,4% 20 28,2% 0,742 Não significante
CT
111
Os resultados de alcance dos benefícios sociais revelam ser insuficientes como
medida de proteção social, haja visto que eles não conseguem suprir todos os aspectos
das condições materiais necessárias das CASR, que na sua maioria, estão em situação de
rua para geração de renda. Mesmo com esta constatação, é importante afirmar a
importância do CADÚnico na proteção em relação à educação. Na faixa etária de 7 a 17
anos, dos que declaram estar cadastrados no CADúnico, 15,2% afirmam NÃO estar
matriculados na escola, já os que afirmam NÃO estar cadastrados no CADúnico esse
percentual é de 33,3%, ou seja, duas vezes a mais.
Ao analisar a não utilização dos serviços públicos, na perspectiva das CASR que
estão na situação de pernoite em relação as demais situações, na área da saúde o
atendimento às UBS/PS/AMA e o serviço em hospital apresentam percentuais
superiores de não utilização entre as CASR que estão expostas a condição de pernoite.
Já os consultórios na rua, CAPS infanto juvenil e até mesmo o hospital psiquiátrico o
percentual de não utilização é maior entre as CASR que estão expostas as outros riscos
sociais, que não seja o pernoitar nas ruas, o que indica que as CASR que pernoitam
acabam utilizando mais os serviços voltados as demandas da saúde mental, bem como
o consultório na rua é mais acessado por eles.
112
Gráfico 19:Comparação, pernoite e as outras situações (acolhimento e outras trajetórias de risco), do
percentual de CA de 7 a 17 anos que NÃO utilizaram os serviços da rede em São Paulo
Pernoite Outras SR
Abrigo/SAICA 72%
77%
67%
56%
Matriculado 32%
15%
113
5.12 Pergunta Final
Para o fechamento da pesquisa foi feita uma pergunta do tipo aberta para que
os entrevistados pudessem dizer livremente sobre suas demandas, desejos e até seus
sonhos. Para tanto, a seguinte pergunta foi anunciada: “Se você fosse prefeito/a o que
você faria ou criaria para crianças e adolescentes como você?” As respostas foram
múltiplas, uma pessoa pode citar mais uma ação a ser realizada. Para fins de apuração,
as respostas foram padronizadas e estão apresentadas nas tabelas 59 e 60.
“Eu ajudaria com casa, comida, roupa, tiraria todo mundo da rua, não aceitaria famílias usando as
crianças para conseguir dinheiro”
“Daria moradia financiada em parcelas baixas para mães"
“Faria casa grande para toda a família, alimentos e escola melhor”
“Casa própria, escola. As crianças não vão pra escola porque elas precisam trabalhar”
114
“Criaria mais creches, mais escolas, mais CCA com atividades como dança, jazz”
“Transformar as fundações Casa em locais de oportunidades de trabalho e profissionalização”
“Mais oportunidades de emprego e estudo”
“Dar uma condição melhor de futuro, emprego pros pais, melhorar a convivência. Melhorar a
educação.”
“Mais locais como CJ e também locais que atendam crianças nos finais semana”
“Eu dava valor aos pobres, porque eles merecem muito mais.”
115
Entre as CASR de 7 a 11 anos, a principal ação realizada, se fosse prefeito, seria a
mesma, dar casas às pessoas, sendo padrão entre os tipos de situações, em média
30,9%.
“Ajudava, dava casa, alimentos, tirava da rua”
“Investir em moradia…”
“Não derrubar a casa das pessoas”
“Ajudaria as crianças dando auxílio, como dinheiro, uns 500 reais. Daria cesta básica. Faria um
bazar para dar roupas para as crianças, daria uma sopinha, comida.”
Outras trajetórias de
Acolhimento Pernoite Total
Resposta risco
116
Tirar todos da rua 1 1,3% 11 3,2% 2 2,1% 14 2,7%
Cuidados com a população em situação de
2 2,5% 9 2,6% 1 1,1% 12 2,3%
rua
Distribuiria brinquedos, celulares,
0,0% 10 2,9% 2 2,1% 12 2,3%
videogames, etc para CA's
Aumento de salário 4 5,0% 5 1,4% 1 1,1% 10 1,9%
Cuidados com pop rua 1 1,3% 6 1,7% 2 2,1% 9 1,7%
Igualdade social 2 2,5% 5 1,4% 1 1,1% 8 1,5%
Acesso à saúde 3 3,8% 2 0,6% 2 2,1% 7 1,3%
Maior acesso a esportes 0,0% 7 2,0% 0,0% 7 1,3%
Cuidado com os animais 0,0% 4 1,2% 1 1,1% 5 1,0%
Fim às drogas 0,0% 5 1,4% 0,0% 5 1,0%
Apoio para famílias 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Benefício para CAs 1 1,3% 3 0,9% 0,0% 4 0,8%
Fim à violência policial 0,0% 4 1,2% 4 4,3% 8 1,5%
Limpeza das ruas 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Oportunidades 1 1,3% 1 0,3% 2 2,1% 4 0,8%
Projetos para CAs 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Transporte gratuito 0,0% 4 1,2% 0,0% 4 0,8%
Cuidados com dependentes químicos 0,0% 3 0,9% 0,0% 3 0,6%
Descriminalização da maconha 1 1,3% 0,0% 2 2,1% 3 0,6%
Segurança contra abuso sexual 1 1,3% 2 0,6% 0,0% 3 0,6%
Daria camas e cobertas 1 1,3% 1 0,3% 0,0% 2 0,4%
Fim do tráfico e roubo 1 1,3% 1 0,3% 0,0% 2 0,4%
Mais doações 0,0% 1 0,3% 1 1,1% 2 0,4%
Melhoraria o salário 2 2,5% 0,0% 0,0% 2 0,4%
Aumentaria a quantidade de empregos para
0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
pessoas LGBTQIA+
Aumentaria a quantidade de prisões 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Baixar preço dos produtos 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Benefícios para LGTBQIA+ 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Bolsa para estudantes 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Cuidado com imigrantes 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Cuidados para dependentes químicos 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Dar mais liberdade aos CA's 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Daria acesso a Cultura 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Fim à violência 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
117
Limpeza de córregos 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Mais banheiros 0,0% 0,0% 1 1,1% 1 0,2%
Melhorar as ruas 1 1,3% 0,0% 0,0% 1 0,2%
Melhorar o mundo 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Melhorar serviços da prefeitura 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Melhorar transporte público 0,0% 1 0,3% 1 1,1% 2 0,4%
Melhoraria a segurança pública 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Melhoraria as políticas públicas 1 1,3% 0,0% 0,0% 1 0,2%
Melhoraria o acesso à cultura 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Políticas de convivência 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Projeto para CAs 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Respeito 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Saneamento básico 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Tirar todos das ruas 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Um lugar para tomar banho 0,0% 1 0,3% 0,0% 1 0,2%
Não soube responder 8 10,0% 16 4,6% 3 3,2% 27 5,2%
Respondentes(*) 80 - 347 - 94 - 521 -
Mais uma vez se pode observar que tudo o que desejam de melhorias está
garantido em lei pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, mas ainda encontra limites
118
para se cumprir, dando continuidade às desigualdades. Seguem outras sugestões, se
fossem prefeito da cidade:
“Dava sobremesa de mais qualidade. Aumentava o bolsa família e abaixava o preço das
coisas. Melhorar a qualidade de ensino e educação. Colocar o prefeito nas escolas.”
Estrela Natal
Sergio Pererê
119
6. RESULTADOS DOS GRUPOS FOCAIS
120
Itaquera, Jabaquara e Perus, além de um educador social. O convite se estendeu para
outros trabalhadores da assistência social que atuam tanto nas instituições públicas
como nas organizações e movimentos sociais, mas por se tratar de uma participação
voluntária, nem todos os convidados puderam contribuir por conflitos na agenda,
dentre outros motivos. As reuniões foram gravadas com a permissão dos participantes
frente ao compromisso ético em pesquisa de manutenção do anonimato dos relatos.
121
territórios: atualmente, a criança ou adolescente já saem da sua região de origem direto
para a cracolândia, por exemplo, local no qual poderá conseguir drogas mais facilmente:
“(...) antes essa CA passava 6 meses até chegar da moradia até a cracolândia, hoje faz
esse trajeto em 2h e em pouco tempo esse sujeito torna-se um dependente químico e
sua vida fica mercê do consumo de drogas e para tal, a mendicância, o roubo ou o furto
são as possibilidades para as CAs manterem seu vício” (relato de trabalhador). Outras
modalidades de cooptação desse público para o mercado ilegal também foram indicadas
pelos participantes: “Em Santo Amaro havia um caso em que um traficante do território
tinha criado uma espécie de “centro de acolhimento” para os meninos, tipo uma
república. Ele ia para a porta dos Saicas da região fazer o aliciamento dos meninos,
oferecia casa, dinheiro, comida e liberdade. Inclusive tentaram [trabalhadores da
assistência] fazer uma reunião de rede com o traficante” (relato de um trabalhador).
A configuração territorial sempre foi um elemento importante quando
pensamos em riscos para as CASR. Um destaque importante relativo às questões
territoriais, foi sobre as distinções encontradas nas regiões: cada território tem um
modo de funcionamento, com normas, regras e dinâmicas distintas. Esse olhar serve
como uma importante ferramenta para a capacitação dos profissionais/educadores
sociais, apropriando-os de métodos mais amparados na realidade sócio-histórica das
crianças e adolescentes atendidos. Uma das percepções que um educador social
compartilhou no grupo foi que “os espaços periféricos acabam se tornando invisíveis
por conta do centro demandar mais atenção e ser mais visível, mas as regiões periféricas
traçam um paralelo sobre o que é estar em situação de rua ser uma condição muito
confusa nestes locais, ao conversar com o pessoal das comunidades, essas pessoas
falavam que na própria região não havia crianças em situação de rua” (relato de
educador).
Dessa maneira, a partir das percepções trazidas pelos participantes dos grupos
reforça-se a importância de estar constantemente dialogando com os atores sociais que
atuam direta ou indiretamente no atendimento de crianças e adolescentes em situação
de rua, no que tange os riscos sociais que este público está exposto, para que as
122
estratégias de atendimento estejam de acordo com a realidade social vivida pelas CASR,
bem como e em conformidade com as características vivenciadas nos respectivos
territórios do município de São Paulo. Para a elaboração de estratégias cada vez mais
assertivas, as novas modalidades de “riscos”, como o trabalho informal, precisam ser
enfrentadas pelos gestores públicos na perspectiva da inserção desse público em outras
atividades.
123
enquanto seres humanos” (relato de trabalhador). De acordo com os relatos, baixa
remuneração, salários atrasados e desinvestimento em educação continuada também
dificultam a execução plena da atividade.
A precarização da atividade intensificou-se com o fenômeno da terceirização dos
serviços e de acordo com um dos relatos, “tira um pouco nossa autonomia” (relato de
trabalhador). Quando se observa a equipe terceirizada, vê-se muita gente adoecida e a
equipe não se identifica com o trabalho por muito tempo, principalmente porque não
são formados ou não têm experiência para atuarem na área, com isso muitos
trabalhadores atuam apenas para obterem uma remuneração: “as pessoas vão apenas
porque precisam de um trabalho e não pelo perfil, o trabalho não é apenas atendimento
e encaminhamento para centro de acolhida. Enquanto profissionais terceirizados eles
não têm o mínimo de garantias, tem que lidar com salários atrasados, não tem plano de
saúde nem vale refeição, portanto, como motivar o trabalhador para trabalhar em uma
escala 6/1 na rua para reconhecer seu território, sendo que não necessariamente tem
recurso para disponibilizar o kit higiene, material de educação sexual e o kit lanche?”
(relato de trabalhador). A “terceirização”, ou seja, subcontratação de trabalhadores, foi
concebida em um contexto pós-recessão econômica depois da segunda guerra mundial.
Os tempos mudaram e a terceirização permanece precarizando os vínculos laborais
tornando os trabalhadores meros “cumpridores de metas”. A consequência é o
adoecimento dos trabalhadores, tanto físico, como mental (SELIGMANN-SILVA, 2011).
De acordo com um dos trabalhadores: “munícipes denunciaram os orientadores
que estavam parados jogando damas com uma CASR... ele foi até o CREAS reclamar que
o profissional não estava trabalhando em seu expediente” (relato de trabalhador). O
que deveria ser feito, de acordo com o profissional, era uma conversa com essa
munícipe para explicar o que é a atividade, porém existem casos em que os profissionais,
por estarem sobrecarregados, acabam não falando sobre os motivos da abordagem,
parecendo mais fácil só acolher ao invés de explicar: “Isto é método, precisa desta
compreensão, e isso foi se perdendo com o tempo” (relato de trabalhador). Um dos
participantes reforçou a necessidade de esclarecimento a respeito da importância de
124
aplicar métodos lúdicos quando se trata de criança e adolescentes em situação de rua:
“. Se não pode sentar na calçada, como vão aplicar uma metodologia mais lúdica para
estabelecimento e ou manutenção do vínculo?” (relatos de trabalhadores).
Outra discussão trazida foi o fato de não haver treinamento para a execução
plena da atividade. Com isso, como demonstra a literatura, os profissionais atuam a
partir daquilo que intuem ser o melhor modo, gerando, após algum tempo,
desmotivação, sobrecarga e desgaste mental (SELIGMANN-SILVA, 2011). A ausência de
um quadro funcional robusto, que supra as necessidades das CAs, foi apontado como
um problema em todos os grupos focais. De acordo com participantes do grupo I: “não
existem mais CREAS com a equipe completa de profissionais como já ocorrera no Núcleo
de Proteção Jurídico Social e Apoio Psicológico (NPJ), quando foi aprovado pelo Dr.
Floriano Pesaro, e posteriormente passou a funcionar, inclusive com concursos, e agora
já são cerca de sete anos sem concursos para a área” (relato de trabalhador). A ausência
de uma formação continuada aliada a disseminação de conceitos norteadores ou
pressupostos metodológicos que qualifiquem suas intervenções para lidarem com as
CASR também foi mencionado como dificuldades para a execução das tarefas, com isso
cada gerente, cada equipe técnica constroem uma maneira de trabalhar de acordo com
a demanda que ela conhece, de acordo com o território que atua, em alguns momentos
com o apoio do CREAS e a SEAS que conhecem o território, pois “às vezes a capacitação
é realizada por um profissional que não possui perfil nem conhecimento técnico e
operacional para realizar tal função” (relato de um trabalhador).
Martins (2021) ressalta a importância de tornar as relações mais abertas e
intensas, o que contraria a lógica da eficiência: cumprimento de metas irreais,
atribuições rígidas e cristalizadas. Muitas vezes estar disponível para o outro é lido como
"fazer nada", sendo assim, a pesquisadora desenvolve a lógica de "fazer nada como um
dispositivo clínico e político nos territórios". Essa questão foi trazida pelos educadores,
que evidenciaram ser cobrados de certos protocolos e fluxos institucionais que
caminham em descompasso com o fundamental para que qualquer intervenção
125
aconteça: o vínculo. Se não há possibilidade de "perder tempo" com esse outro, como
o vínculo é desenvolvido?
Nesta perspectiva, de acordo com os relatos, diversos assuntos foram trazidos
no que concerne à condição de trabalho, tais como: incremento no quadro funcional
com a contratação de mais profissionais para a diminuição da sobrecarga de trabalho, a
necessidade de qualificar e oportunizar capacitações continuadas para a equipe técnica
que atua diretamente com o público infanto juvenil, em especial as CASR e adequar os
métodos de abordagem deixando evidente para os demais atores e sociedade, que o
atendimento as CASR carece de estratégias diferenciadas e abordagens lúdicas para o
alcance de resultados esperados: maior efetividade na construção dos vínculos e na
execução da política pública em prol da garantia de direitos humanos das crianças e
adolescentes.
126
da população em situação de rua, “risco é uma questão de momento” (relato de um
trabalhador). A mudança conceitual foi apontada como um fator importante e que
reverbera na prática dos serviços.
De acordo com um dos relatos, a atualização conceitual em conformidade com a
RESOLUÇÃO Conjunta nº1 de 07 de junho de 2017 que dispõe sobre as diretrizes
políticas e metodológicas para o atendimento de Crianças e Adolescentes em Situação
de Rua no âmbito da Política de Assistência Social e a mudança metodológica de
abordagem junto ao público, podem ajudar com avanços na pauta: “os observatórios
não vão para frente porque ficam presos a determinadas categorias que não condizem
com a realidade, há uma necessidade de atualização desse olhar, porque se ficar apenas
sob este olhar de vulnerabilidade e risco social deixa para o sujeito a condição dele ficar
a vida inteira assim” (relato de trabalhador).
Toda a discussão conceitual trouxe à tona outras questões que dificultam a
articulação da rede para a execução das tarefas como prevê a legislação. Relatos
afirmaram que há uma grande dificuldade na articulação dos dados, por exemplo. Além
de reverberar sobre a definição de cada serviço, sem um conceito de CASR atualizado e
disseminado para todos os atores do SGDCA, acaba parecendo que a missão dos serviços
é de “apagar incêndio ou enxugar gelo" (relato de trabalhador). De acordo com um
conselheiro tutelar a impressão é “que aquele atendimento não deveria estar ali no CT,
aquele atendimento deveria estar sendo feito pelos serviços que realmente deveriam
estar funcionando, se chegou ao CT, algum erro tem”... “Aí pega uma criança que
precisaria de um atendimento técnico e coloca na mão de um conselheiro, que não
exerce a função de técnico e ele utiliza do conhecimento empírico de vida e acaba
tomando decisões equivocadas, meramente para apagar o fogo” (relato de
trabalhador).
Ainda assim, os profissionais afirmaram que tentam, individualmente, criar
dinâmicas mais funcionais, “porém o fluxo de trabalho em campo é tão enlouquecido
que acaba surgindo essas tensões com os diferentes serviços que estão trabalhando com
127
essa demanda, isso que nos adoece enquanto profissionais, além de fragilizar a
perspectiva do trabalho em rede” (relato de trabalhador).
A ausência de um conceito consolidado sobre a situação das CASR dificulta a
articulação da rede aliado a cada vez menos trabalhadores atuando, muitas vezes, sem
a formação adequada para lidar com um público tão complexo que demanda atenção e
afetividade. De acordo com um dos relatos: “não dá para abrir uma eleição de CT se as
pessoas que tiverem interesse não participarem de um curso anterior, para um
nivelamento metodológico e conceitual, e depois da pessoa ver que tem interesse ou
afinidade, abre-se o processo, e então se aprovada a documentação, tudo certo, parte
para um outro curso apenas para discutir e qualificar dois conceitos: conselho tutelar e
conselho de direitos, apenas depois disso elas partem para o processo eleitoral. E ao se
elegerem partem para um outro curso antes de assumirem o cargo, curso de direitos e
obrigações e como o estado vai dar condições de trabalho para cada um, e só então
começam a trabalhar” (relato de trabalhador). Fica evidente que há desconhecimento
sobre as atribuições do Conselho Tutelar e isso impacta no funcionamento da rede de
garantia de direitos. Do outro lado, existe uma não leitura social sobre as situações em
que a criança está inserida.
O diálogo com outros atores da rede também foi mencionado. De acordo com a
impressão de alguns trabalhadores, há uma dificuldade em atuar com profissionais da
saúde: “a saúde sempre vai ser muito difícil, porque existe essa coisa sobreposta da
saúde ter um saber que a assistência não sabe, inclusive existe uma discrepância salarial
gigantesca” (relato de trabalhador). Ainda sobre a saúde, os participantes mencionaram
uma experiência interessante: “a saúde é terceirizada, mas houve um movimento de
trabalhadores do Consultório na Rua que impulsionou o SEAS, no que diz respeito à
necessidade de se discutir a população em situação de rua na base. Foi criado um grupo
de trabalho de População em Situação de Rua, no qual realizaram formação sobre saúde
mental com os trabalhadores de todos os níveis, além de realizarem um fórum
intersetorial sobre drogas e direitos humanos na zona norte, no bairro Zaki Narchi,
potencializando consideravelmente o espaço e reunindo pessoas de diferentes áreas:
128
da proteção básica, da saúde, educação e cultura, esse grupo fez tanto barulho que
algumas pessoas foram mandadas embora, e no ano de 2022 esse fórum retornou”
(relato de trabalhador).
Segundo relato dos trabalhadores, outro ponto que afeta a articulação em rede
é que existem leis que não são trazidas à tona, ou seja, não são implementadas de fato.
A exemplo da Lei 13.431 de 04 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia
de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, que poderia
favorecer nos trabalhos caso fosse aplicada, bem como a necessidade de deixar claro os
fluxos e atribuições de cada ator que atua e compõe a rede de atendimento e proteção.
Os participantes dos grupos focais apontaram diversas mudanças ao longo do
tempo que impactam no fluxo do trabalho da rede: desde a reestruturação produtiva,
aprofundada nos anos 90 e 2000, até a não aplicação de Leis que trazem diretrizes
importantes e podem favorecer na disseminação de novos conceitos e serem
experimentados pelos atores da rede socioassistencial.
Sendo assim, nesta temática ficou evidente, a partir da perspectiva dos
participantes, a inevitabilidade de reforçar o conceito de CASR para todos os atores
sociais que atuam com o público referido, estabelecer metas de implantação e
cumprimento de fluxos de acordo com a lei e em conjunto com os profissionais, para
que haja maior efetividade das ações. Reforçou-se ainda, a importância de evidenciar os
papéis sociais de cada ator que compõe a rede de atendimento do SGDCA para que os
fluxos e encaminhamentos possam ser aplicados em conformidade com as
competências e responsabilidades de cada um.
129
7. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
130
o outro, na coletividade. Em suma, quando há maus encontros, a potência de agir
diminui; em contrapartida, quando há bons encontros, a potência de agir em favor da
autonomia, aumenta.
“Não se pode exigir que o educador e a educadora sejam super-
homens ou super-mulheres. Deve-se antes considerar que eles
também estão em situação de sofrimento, não apenas por
compreenderem os problemas, mas também por sua condição social.
Mesmo assim, eles podem fazer muito para desbloquear na criança as
disposições afetivas que favoreçam seu processo de desenvolvimento
e de emancipação. Pode-se dizer, talvez, que assim como o professor
alfabetiza, ele afetiviza. Trabalhar os afetos é agir sobre os poderosos
processos que determinam os sujeitos como livres ou servis de
qualquer forma de poder, inclusive o criminoso” (SAWAIA, 2003, p.
61).
131
daquela em que as famílias pobres estão inseridas, não sendo a rua o local “escolhido”
como moradia. A ida para as ruas se dá quando as CAs sentem estar mais privadas de
direitos e mais expostas a violências em casa ou no SAICA, do que propriamente na
rua.
Os resultados da etapa amostral do Censo trazem indícios das necessidades e
dos riscos que permeiam as vivências das CASR. Trata-se de dados importantes que
poderão subsidiar ações para efetivar prevenção e acolhimento, visando o
desenvolvimento integral destas CAs.
Dentre os resultados aqui expostos, às atividades de trabalho praticadas pelas
crianças e adolescentes ganham relevância, pois impacta diretamente nos fatores de
risco, assim como na ausência deste público em espaços escolares, de cultura, esportes
e lazer. As informações referentes a essas atividades foram colhidas por abordagem
direta com os adolescentes ou responsáveis por crianças de 0 a 6 anos, de acordo com
as cotas selecionadas. Das várias atividades desempenhadas na rua pelas CASR, as
atividades geradoras de renda através do trabalho aparecem em maior número de
vezes, assim como a mendicância que apareceu com frequência nos dois grupos.
Portanto, os adolescentes e responsáveis encontram-se na rua principalmente para
gerar renda e se alimentarem.
Os dados revelaram também a relação de CASR e os serviços ofertados pela
Prefeitura de São Paulo, que são utilizados pela maior parte do público, especialmente
os serviços de saúde e assistência social. Sobre os equipamentos de cultura, lazer e
esportes, observa-se pouca utilização, mas os que declararam utilizar estes serviços,
avaliaram positivamente.
Por seu turno, a realização dos grupos focais foi muito importante para a
promoção da multivocalidade que possibilitou dar voz a alguns profissionais que atuam
no SGDCA ou em organizações sociais, além de pesquisadores renomados que
contribuíram com reflexões e sugestões importantes para a execução plena desta
atividade. A noção de jovens que vivenciam as altas complexidades é histórica, sendo
repassadas, vivenciadas e violadas por gerações. Propriamente, os trabalhadores da
132
rede de garantia de direitos, bem como os movimentos sociais entram em conflitos a
partir de suas dores e seus sofrimentos. Nos últimos 30 anos, o tema de proteção de CA
entrou em voga, mas sem ter abandonado a perspectiva filantrópica, do assistencialismo
ou, propriamente, da marginalização da pobreza e dos grupos periféricos (RIZZINI,
2004).
Abaixo enfatiza-se alguns resultados apresentados no decorrer da análise:
● No momento da pesquisa desenhou-se um perfil amostral no qual teve-se mais
sexo masculino do que feminino, o que também se encontrou no momento
censitário. O que se ressalta em relação ao sexo biológico é prevalência do sexo
masculino, principalmente no caso de 7 a 17 anos, e em outras trajetórias de
risco. O perfil deste tipo de situação (outras trajetórias de risco) está diretamente
associado à geração de renda, sendo este o principal motivo para estarem em
situação de rua. Dessa maneira, pode-se indicar que as CASR do sexo masculino
estão expostos precocemente a situações de trabalho infantil na rua para
complementação e contribuição da renda familiar.
● Sobre a cor/raça, prevalece a raça negra (pardos e pretos), sendo a mais
frequente em todos as situações e, no grupo de 0 a 6 anos no qual a raça/cor
branca e preta se distribuem na mesma proporção, porém no grupo de 7 a 11
anos a preta está duas vezes mais presente do que a branca, isso nos leva a inferir
que CAs de pele negra costumam estar mais tempo nesta situação, logo, a
formulação e implementação de políticas afirmativas, em diversas esferas,
como: universidades, empresas, dentre outros espaços importantes sociais, para
os responsáveis que são em sua maioria pessoas negras, podem auxiliar, a longo
prazo, na diminuição deste índice;
● No grupo de 7 a 17 anos percebe-se uma tendência maior na concentração de
adolescentes, porém a maior parte com trajetórias em anos de rua menor, ou
seja, quando se observa o comportamento da curva de tempo de rua na faixa
etária, ela tende a ser menor em tempos mais elevados de permanência (10 anos
ou mais). Esse comportamento, é vivenciado também nas outras faixas etárias,
133
ou seja, nas faixas etárias de 7 a 11 anos também tem poucos casos com mais de
7 anos de vivência na rua; e de 0 a 6 anos o mesmo comportamento –
enfatizando a transitoriedade, mas apontando os casos que se consolidam;
● Sobre a transitoriedade, a pesquisa apontou cerca de 10% de CASR que não
moram em São Paulo (SP) indicando essa mobilidade intermunicipal, e ainda a
grande variedade de dias em que permanecem na rua – às vezes uma única vez,
ou duas vezes se sobressaindo em grandes percentuais entre o acolhimento e as
outras trajetórias, ou ainda todos os dias na semana, percentual mais relevante
entre as CASR do pernoite;
● Outro ponto que traz a questão de transitoriedade é a análise do período, o qual
não teve um destaque entre a situação de acolhimento e pernoite; já nas CASR
com outras trajetórias de risco, o período da tarde se destacou com maior
frequência;
● Na faixa etária de 0 a 6 anos percebe-se sempre uma desproporcionalidade entre
a cidade natal do responsável e a cidade natal da criança em situação de rua,
esta última sempre em percentuais maiores natos na capital paulista;
● No acolhimento, independentemente da faixa etária, destaca-se o perfil não
nato da cidade de São Paulo, podendo indicar um serviço mais de passagem do
que de acolhimento aos usuários locais – sugere-se uma abordagem qualitativa
para entender o motivo dessa grande diferença;
● Enfatizando essas diferenças de cidade natal, surpreendeu a representatividade
de outros países, identificadas na etapa da pesquisa amostral, se destacando nos
dois grupos (de 0 a 6 anos e de 7 a 17 anos) como 2º ou 3º mais frequente se
comparado com naturais de outros estados brasileiros. Os países indicados como
origem são países relativamente pequenos se comparados com o Brasil, mas que
se tornam significativos comparados a população total em situação de rua – este
público específico merece um olhar diferenciado pois as motivações podem ser
distintas;
134
● A questão de mobilidade, tirando um retrato do momento da pesquisa, mostra
que em ambas as faixas etárias os respondentes estavam na sua maior parte na
mesma região que moram quando responderam à pesquisa, e ambas mostraram
que a menor mobilidade neste sentido apresentou na Região do Centro e maior
na Região Sul, ou seja, os moradores do Centro preferem ficar em SR no Centro
e os moradores da Região Sul tendem a se deslocar, principalmente para o
Centro e para a Região Oeste;
● A geração de renda é o motivo mais alegado nas situações de risco como fator
para estar na rua, principalmente entre as outras trajetórias e o pernoite,
independentemente se a CA de 7 a 17 anos ou o respondente do grupo de 0 a 6
anos, com isso, sugere-se uma articulação entre as políticas de emprego, para os
responsáveis, assim como o programa para inserção de adolescentes em
estágios e programas correlatos, e a assistência social, com vistas a inserção
destas pessoas no mercado de trabalho. Para tal, programas de formação
profissional voltadas exclusivamente para os responsáveis por crianças e para
adolescentes podem favorecer a obtenção de emprego;
● Os casos em SR são na maior parte da Região Leste, e se identificam perfis
diferentes da região de moradia entre as situações, como exemplo: moradores
da Região Leste na situação de outras trajetórias de risco é 1,3 vezes que o da
Região Sul na mesma situação; e, moradores da Região Oeste na situação de
acolhimento são 3 vezes maiores que os da Região Leste na mesma situação;
● Na questão de vínculo familiar é perceptível que o vínculo está fragilizado no
acolhimento, e que até a situação do pernoite acaba tendo mais contato com
familiares do que os acolhidos. Este ponto impacta diretamente na violação do
direito à convivência familiar e comunitárias das crianças – na situação do
pernoite, o vínculo existe e acaba sendo de forma mais esporádica que na
situação de outras trajetórias;
135
● Sobre os locais que dormem os que estão em situação de acolhimento não
apresentaram tendência em nenhum dos grupos etários, e os de pernoite, nos
dois casos a barraca foi o local mais indicado;
● Em relação às atividades exercidas, na faixa etária de 7 a 11 anos, os
interlocutores declararam mais vezes que os respondentes de 0 a 6 estarem
envolvidos com a venda de produtos ilícitos e com o roubo e furto. Deve-se ter
cuidado ao analisar este dado, pois sabe-se que um adulto pode omitir situações,
enquanto a CA tem maior espontaneidade para contar sobre o seu dia a dia.
● Mais do que as atividades exercidas, a rua oferece risco, e quando olhado este
ponto situações de violação de direto são enfatizadas, as que mais se destacam
são que 91,7% das CASR da faixa etária de 7 a 17 estão expostos a trabalho
infantil e 73,7% sofreram pelo menos um tipo de violência;
● Nos grupos focais, os trabalhadores e pesquisadores apontaram a ausência de
um calendário formativo para qualificação dos profissionais. De acordo com os
relatos, no geral, as vagas são anunciadas e não pedem formação acadêmica,
apenas escolarização de nível médio;
● Outro ponto abordado pelos participantes dos grupos focais foi em relação à
presença de alguns gestores a frente dos serviços, sendo que nem todos partem
de um compromisso coletivo e trazem no discurso questões religiosas e morais
que impactam no resultado do trabalho na medida em que a prática passa a ser
condicionada a ações conservadoras e preconceituosas;
● Outras questões que impactam nos resultados são as condições de trabalho. De
acordo com os participantes, os salários não correspondem com as dinâmicas de
trabalho e, ainda assim, em alguns momentos são pagos com atraso;
● Os profissionais afirmaram que são cobrados por metas inalcançáveis que pouco
favorecem para um atendimento qualificado que possibilite a construção de
vínculos e que as OSCs têm mensurado o trabalho com referência apenas na
quantidade de abordagens;
136
O perfil dos riscos sociais traz algumas situações que devem ser evidenciadas
para elaboração de políticas públicas:
6
Região 2: Aricanduva, Artur Alvim, Cangaíba, Carrão, Cidade Lider, Cidade Tiradentes, Ermelino
Matarazzo, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Itaquera, Jardim Helena, José Bonifácio, Lajeado,
Parque do Carmo, Penha, Ponte Rasa, São Lucas, São Mateus, São Miguel, São Rafael, Sapopemba, Vila
Curuçá, Vila Formosa, Vila Jacuí, Vila Matilde e Vila Prudente
7
Região 1: Anhanguera, Brasilândia, Cachoeirinha, Jaçanã, Jaguara, Jaguaré, Jaraguá, Mandaqui, Perus,
Pirituba, São Domingos, Tremembé, Tucuruvi, Vila Leopoldina, Vila Medeiros
8
Região 3: Butantã, Campo Belo, Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar,
Cidade Dutra, Cursino, Grajaú, Jabaquara, Jardim Ângela, Morumbi, Raposo Tavares, Sacomã, Santo
Amaro, Socorro, Vila Andrade e Vila Sônia
9
Região 5: Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República, Santa
Cecília e Sé
137
● A Região Oeste teve o maior percentual de responsáveis por crianças de 0 a 6
anos que realizam a mendicância (87,5%). Já na faixa etária de 7 a 17 anos o
maior percentual de mendicância está entre as CASR da Região do Centro
(70,9%).
● A Região Sul não se destaca em qualquer risco na faixa etária de 7 a 17 anos, mas
se destaca entre os respondentes de 0 a 6 anos no risco da realização de serviços
na rua;
● Quando observada as atividades desenvolvidas na rua, o grupo de acolhimento
se destaca com um perfil de não realizar atividade de trabalho em relação às
outras situações (pernoite e outras trajetórias de riscos) na faixa etária de 7 a 17
anos, considerando que nos SAICAs as crianças e adolescentes estão protegidos
para não realizarem atividades de trabalho infantil. Além do que, entre os
entrevistados que estavam acolhidos, 73% afirmaram que preferem estar em
acolhimento a estar na rua.
● Uma sugestão indicada pelos participantes nos grupos focais, para todos os
serviços do SGDCA, seria uma formação obrigatória para todos os trabalhadores
que adentrarem nos serviços, além de programas de formação continuada. Visto
que, com as mudanças de legislação e, propriamente, a sociedade que está em
constante mudança e modernização, compreender o que é ser criança e
adolescentes na atualidade deve contribuir para as abordagens mais
humanizadas e a garantia dos direitos sociais;
● O treinamento e uma posição laica dos gestores pode favorecer situações de
constrangimento moral, especialmente dentro dos serviços e acolhimento;
138
● Rever o objetivo de metas que condiciona a atividade dos trabalhadores pode
ser conveniente e favorecer para uma abordagem mais afetiva e o alcance dos
resultados esperados;
● Alguns participantes sugeriram a concepção de um plano anual do conselho de
direito, pois apesar de estar na Lei o Plano não é elaborado;
● A elaboração e implementação de canais de comunicação entre os atores da
rede de garantia de direitos das crianças e adolescentes também foi
mencionado;
● A metodologia de aproximação e busca ativa é muito importante, de acordo com
relatos foi posto que houveram experiências no SEAS e no consultório na rua que
atendiam crianças e adolescentes, e em algumas situações eles não iam
uniformizados; com o tempo, as próprias crianças ficaram surpresas ao saber
que eram as mesmas pessoas do “colete verde”. Se começa a propor coisas na
rua cotidianamente no mesmo horário e território, seguindo uma metodologia
mais atrativa, não precisa sair correndo, “pois às vezes dá a impressão de que o
SEAS precisa apenas bater meta ou higienizar as ruas” (relato de trabalhador).
139
09). A autora salienta que grande parte dessas políticas acabam por atender mais às
demandas adultas do que propriamente às demandas infantis.
Em suma, é só a partir do olhar e da perspectiva da criança e do adolescente,
levando em consideração suas vivências, dificuldades, alegrias, desejos; que modos de
saber e fazer concretos e potentes podem ser desenvolvidos. Que essa pesquisa seja
ponto de partida para outras que virão e que sirva como base para transformar as
políticas e serviços voltados às CASR em espaços de bons encontros.
140
8. REFERÊNCIAS
ADED, N.L.O.; Dalcin, B.L.G.S.; Moraes, T.M.; Cavalcanti, M.T. Abuso sexual em crianças
e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. Revista de Psiquiatria Clínica. 33 (4);
204-213, 2006
AMADO, J. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das letras, 2008, 296 p.
__________. Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008. [S. l.], 12 jun. 2008. Disponível
em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/93601/decreto-6481-
141
08#:~:text=Regulamenta%20os%20artigos%203o%2C%20al%C3%ADnea,no%203.597%
2C%20de%2012%20de. Acesso em: 20 jun. 2022.
__________. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Brasília, DF, 4 abr. 2013. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm.
Acesso em: 16 jun. 2022.
CANDIDO, A. O direito à literatura. In: Vários Escritos. Rio de Janeiro: Duas cidades,
2004.
142
no âmbito da Política de Assistência Social. Brasília, 2017. Disponível em:
https://www.in.gov.br/materia/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/19113789
/do1-2017-06-13-resolucao-conjunta-n-1-de-7-de-junho-de-2017-19113702>. Acesso
em: 16 out. 2022.
FOUCAULT, M. Sobre a prisão. In: Microfísica do poder. 10ª ed. Rio de Janeiro: Graal,
1992, p. 129-165.
______. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
143
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF). Documento de Posição no. 9.
Nove. 2014. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-
direitos-da-crianca > Acesso em: 02 de maio 2022.
GRACIANI, M. S. S. Pedagogia Social de Rua. Instituto Paulo Freire. São Paulo. Editora
Cortez, 2001.
GREGORI, M. F. Viração: experiências de meninos nas ruas. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
GUSMÃO, H.N.B. Mapa Racial de Pontos: Cidade de São Paulo – Brasil. In:
Desigualdades Espaciais (Blog). Disponível em:
https://desigualdadesespaciais.wordpress.com/2016/06/29/mapa-racial-de-pontos-
cidade-de-sao-paulo/. Acesso 21 out 2022.
144
N2U5ZDE1YzI3IiwidCI6ImE0ZTA2MDVjLWUzOTUtNDZlYS1iMmE4LThlNjE1NGM5MGUw
NyJ9. Acesso em 01/06/2022. SITE RUM SITUAÇÃO DE RUA
MARTINS, J. S. Exclusão social e a nova desigualdade. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2003.
MARTINS, R. C. R. "Fazer nada" como dispositivo de intervenção clínica e política em
territórios. (Doutorado - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica) - Instituto
de Psicologia de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-12082021-175646/pt-
br.php Acesso em: 02 de out. 2022.
145
MORGADO, L. P. Violência aprisionada: contradições e desafios na atividade de
reintegração de adolescentes em conflito com a lei. 2018. Dissertação (Mestrado em
Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2018.
OLIVEIRA, W. F. Educação Social de Rua. In: MORAIS, N. A.; NEIVA-SILVA, L.; KOLLER, S.
H. (Ed.). Endereço desconhecido: crianças e adolescentes em situação de rua. Casa do
Psicólogo, 2010.
ONU. Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos da Criança,
1959. Disponível em:
https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/ECidadania/Docs_referencia/declaracao_u
niversal_direitos_crianca.pdf Acesso em: 11 out. 2022.
RIZZINI, I. Vida nas ruas: crianças e adolescentes nas ruas: trajetórias inevitáveis
(coord.). Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.
RUSSO, G. H.A. Para não jogar as crianças no rio...o desafio da garantia dos Direitos
Humanos de crianças e adolescentes no Brasil. Em: COELHO. M. I. S; SOUZA. C. S; SILVA.
146
H. T. L; COSTAL, V.A. (org.). Serviço Social e Criança e Adolescente: a produção do
conhecimento na FASSO/UERN (1990/2011). Mossoró: UERN, v. 1º, p. 183-196, 2012.
SANTOS, E. Trabalho infantil nas ruas, pobreza e discriminação: crianças invisíveis nos
faróis da cidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2017. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/31/31131/tde-01032018-123114/pt-
br.php Acesso em: 18 de out. de 2022.
147
UNICEF. Situação no Brasil. Proteção. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/protecao. Acesso em 27 outubro 2022.
UNIVERSIDADE ZUMBI DOS PALMARES (UZP). Revisão da política de cotas para o acesso
da população negra no ensino superior. São Paulo: Editora Zumbi dos Palmares, 2021.
____________. A formação social da mente. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
148
149