A Ciência Dos Discentes de Psicologia Acerca Do Anticapacitismo Enquanto Movimento de Luta Pelos Direitos Humanos Da Minoria
A Ciência Dos Discentes de Psicologia Acerca Do Anticapacitismo Enquanto Movimento de Luta Pelos Direitos Humanos Da Minoria
A Ciência Dos Discentes de Psicologia Acerca Do Anticapacitismo Enquanto Movimento de Luta Pelos Direitos Humanos Da Minoria
OURINHOS/SP
2022
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MIGUEL MOFARREJ
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES INTEGRADAS DE OURINHOS
CURSO DE PSICOLOGIA
OURINHOS/SP
2022
SUMÁRIO
RESUMO 4
JUSTIFICATIVA 4
MÉTODO 5
DISCUSSÃO 5
APANHADO HISTÓRICO ACERCA DA NOMENCLATURA ADEQUADA 5
NOÇÃO E CONCEITUAÇÃO DE DEFICIÊNCIA 6
PREVENINDO AS DEFICIÊNCIAS 9
DIREITOS HUMANOS E A LEGISLAÇÃO 11
A HUMANIZAÇÃO POR MEIO DO TRABALHO 12
AS DIFICULDADES QUE PERMEIAM A INCLUSÃO DO PCD NO ENSINO
SUPERIOR 15
ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS 20
REFERÊNCIAS 22
RESUMO
JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa se faz relevante para a sociedade devido ao fato dela abordar
uma temática de extrema relevância, que necessita ser cada vez mais divulgada
dentro da academia e dos círculos sociais. O principal intuito do trabalho é tornar
conhecida a luta anticapacitista entre os alunos do curso de Psicologia da UNIFIO.
Em síntese, esse debate se justifica pela busca da garantia dos Direitos Humanos,
Justiça e Emancipação Social. Esperamos contribuir, dentro deste tema, com uma
adequada e justa divulgação do movimento anticapacitista na formação de futuros
psicólogos.
MÉTODO
DISCUSSÃO
Tendo sido escolhido pelos próprios PcD´s, e sendo aceito por todos
mundialmente, o termo “pessoas com deficiência” foi se popularizando e se tornando
o termo mais utilizado pela população. Sendo oficializado no Brasil em 2017 por
meio do PEC 25/20171 (Proposta de Emenda à Constituição, é um termo utilizado
quando é proposto ou realizado uma alteração na Constituição Federal) a
substituição de todos os termos já utilizados para nomear as pessoas que
apresentam impedimentos de longo prazo, por “pessoa com deficiência” (PcD),
caindo em desuso na norma culta as demais expressões já utilizadas em leis
anteriores à data da promulgação.
Pode-se se dizer então que, ao analisarmos a história da nomenclatura das
pessoas com deficiência, após serem julgadas e denominadas como “inválidas” ou
“incapazes”, hoje em dia após muita luta, se tornou oficial utilizar somente do termo
“pessoas com deficiência”, tendo sida escolhida pelas próprias PcD´s.
1
Ao falarmos da PEC 25/2017, aprovada pelo Senado, a qual vem ao encontro das demandas sociais
brasileiras em prol da inclusão efetiva das pessoas com deficiência, a Proposta de Emenda
Constitucional alterou os “artigos 7, 23, 24, 37, 40, 201, 203, 208, 227 e 244 da Constituição Federal
para incorporar-lhes a nomenclatura “pessoa com deficiência”, utilizada pela Convenção Internacional
sobre o Direito das Pessoas com Deficiência”. Vale ressaltar, que a PEC 57/2019 originária da PEC
25/2017, ainda se encontra em processo de formação de mesa para início de votação e promulgação
na Câmara dos Deputados.
as quais humilham e segregam os corpos desviantes, como é o caso do corpo
deficiente.
Segundo a mais recente PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) realizada no ano
de 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em parceria com o
Ministério da Saúde do Brasil, o país tem 17,3 milhões de pessoas com algum tipo
de deficiência. Tal número representa mais de 8% da população acima dos dois
anos de idade e quase metade dessa parcela é de idosos (IBGE, 2019).
Para Amiralian et al. (2000, p.97), existem inúmeras imprecisões de conceitos
no campo da deficiência, seja na pesquisa teórica ou na prática, com variações
referentes ao modelo médico e ao modelo social. Tais imprecisões conceituais
resultam numa dificuldade em aplicar os conhecimentos produzidos na área da
deficiência. Em virtude disso, faz-se urgente e necessário elucidar essas
conceituações e seus respectivos significados.
Conforme o glossário inclusivo da LBI (Lei Brasileira de Inclusão - Lei nº
13.146/15), o termo mais apropriado para se referir às pessoas que têm algum tipo
de acometimento de longa permanência é Pessoa com Deficiência. E, segundo esse
Estatuto, a PcD é:
PREVENINDO AS DEFICIÊNCIAS
Uma pesquisa realizada por Alves & Silva (2020) no estudo intitulado O que
as pessoas com deficiência Intelectual pensam sobre a sua Participação no Trabalho
a Partir de Dois Estudos de Casos, nos traz um estudo de caso onde aborda o que a
PcD pensa sobre sua participação no trabalho. O estudo conta duas pessoas com
deficiência intelectual, uma atende pelo nome de Caio, enquanto a outra, Laura,
nome fictícios para que a integridade dos participantes fosse resguardada. Caio
trabalha em uma multinacional de embalagens, sua atividade demanda
concentração na confecção de embalagens além dos demais processos psicológicos
superiores como atenção, percepção e memória. Já Laura tem Síndrome de Down e
trabalha em uma farmácia há nove anos. Ingressou no mercado de trabalho como
recepcionista e por se interessar na manipulação de florais e shampoos, teve a
oportunidade de participar de cursos de capacitação, onde sempre foi incentivada
pelo seu encarregado. “Tenho vontade de fazer as coisas que a farmacêutica faz,
xampu, creme, xarope, o mel é xarope pra pôr no vidro”. Relata ainda o sentimento
de segurança que encontra: “ele sempre cuidou de mim [referindo-se ao
empregador]. Ele é cuidadoso. Ele é importante [...]” (Alves & Silva, 2020).
Caio, por sua vez, demonstra certa passividade no trabalho, comportamento
considerado normal pois muitas das vezes quem toma as decisões sob uma PcD
são geralmente sua família ou profissionais da saúde. Caio faz com excelência as
funções que é designada a ele, se orgulha e muito de seu emprego, ele comenta:
“aprendi como fazer o serviço certo para o cliente, pra ele não achar ruim com a
gente [...] se o chefe falar pra fazer tal coisa tem que fazer” (Alves & Silva, 2020).
Não é do tipo conversa muito com os demais colegas pois diz que o desconcentra
de seus afazeres. Caio chega a reclamar do serviço de um dos colegas:
As bandeirinhas assim ó, pequenininhas assim ó, em um dia eu fiz
duzentas. O senhor fazia umas dez a vinte só, enrolava. Eu converso pouco
lá, o que tem que fazer eu faço, mas conversar só depois que não tiver
serviço (Alves & Silva, 2020).
Por exercer sua atividade de uma maneira muito atenciosa e produtiva, Caio
recebe uma promoção e é transferido de setor. Seus colegas por outro lado
passaram a almoçar sem convidá-lo e a caçoarem pelas suas costas. Caio então se
viu sendo alvo de discriminação. O que o fez pensar que estava sendo alvo de
discriminação? É interessante destacarmos que Caio por si só percebe que está
sofrendo discriminação e preconceito, por não só ter sido preconceituosamente tido
como inferior dos demais colegas de trabalho, como também por exercer a mesma
atividade que a deles, só que melhor. Evidenciamos, claramente que Caio domina
com afinco a linguagem e os signos do meio social na qual está inserido, internalizou
muito bem seus significados e, ao analisar tal fato ocorrido dentro da instituição de
trabalho, Caio teve a capacidade de associar a representação simbólica da
caçoação de seus colegas, preconceito disfarçado de brincadeiras, com a
discriminação e consequentemente, como uma a violação de seus direitos. “Essa
capacidade de significar só é alcançada em meio às relações sociais, após domínio
da linguagem e signos, sendo importante aquisição cultural que diferencia
radicalmente o homem dos animais” (ALVES, 2018, p.112).
Conseguir um emprego atualmente é demasiadamente difícil, já para
pessoas deficientes, podemos considerar ser ainda mais. Segundo os dados de
2016 da Relação Anual de Informações Sociais revelam que aqui no Brasil mais de
46 milhões de pessoas estavam empregadas, enquanto apenas 418 mil pessoas
são PcD (RAIS, 2016). Quando se trata de pessoas com deficiência intelectual, o
número é ainda menor, chegando a quase 35 mil pessoas em todo o país. Ainda
assim, mesmo com a Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213/91) que permeia e dá
fundamentos para a inclusão de pessoas com deficiência não só ingressar como
também manter um emprego, por mais que tenham um cunho na legislação passível
a multa e reclusão, não são cumpridas.
Empregadores argumentam que, por mais que tenham de contratar PcD,
estes não apresentam perfil profissional necessário para que seja executado o
trabalho dentro da instituição, sendo assim, pessoas desqualificadas para o trabalho.
Alegam que as PcD´s, tanto o deficiente físico como o intelectual, irão usar de sua
própria condição para se desculparem por tarefas mal feitas, que são pessoas
imprevisíveis, voláteis, difíceis de lidar, incapazes de se adaptarem ao ambiente de
trabalho (ALVES & SILVA, 2020). Violante e Leite (2011) ressaltam a falta de
flexibilidade das empresas, não só no momento de contratação como permanecer
com o contratado, tais instituições alegam que é o sujeito que deve se adequar e se
acostumar com o espaço oferecido pela instituição e que, se o mesmo não
consegue se adaptar, é o responsável por sua falta de resiliência e fracasso na
instituição.
De fato, muitas pessoas com deficiência raramente concluem o ensino
médio, são poucos os que conseguem cursos técnicos e é ainda menor aqueles na
qual conseguem ingressar no ensino superior e isso se deve ao fato da falha do
Estado em não disponibilizar o mínimo necessário como transporte adequado, corpo
docente instruído, adaptações urbanísticas e arquitetônicos para que, dentro das
limitações da deficiência, as instituições de ensino pudessem englobar as PcD em
um ensino regular para que dessa forma, seja possível ingressarem no mercado de
trabalho com mais instrução. Não podemos deixar de considerar aquelas pessoas
que, consideradas normais pelo padrão de corponormatividade, isto é, o padrão de
funcionamento anatômico do corpo, são também exploradas pelas instituições
capitalistas onde sucateiam a mão de obra barata, explorando assim as pessoas,
sejam elas deficientes ou não (ALVES, 2018).
A Lei Brasileira de Inclusão (2015), no capítulo quatro onde disserta sobre o
Direito ao Trabalho, logo no artigo 34 diz: “A pessoa com deficiência tem direito ao
trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas.” Vimos claramente aqui a
violação dos direitos de pessoas que destoam do “normal”, imposto pela sociedade.
No parágrafo 1 da lei é evidenciado claramente que caberá à instituição, seja ela
pública ou privada, que tem a obrigação de garantir um ambiente de trabalho
acessível e inclusivo como por exemplo rampas de acesso, corrimão, pisos táteis.
A deficiência não desumaniza e inferioriza a pessoa, sua doença apenas
limita sua locomoção, aprendizagem, processamento e interpretação dos dados e
caberá então ao meio prover todas e quaisquer maneiras possíveis esse déficit para
que assim, tendo o mínimo necessário, o PcD possa exercer suas atividades em um
ambiente adaptado.
AS DIFICULDADES QUE PERMEIAM A INCLUSÃO DA PCD NO ENSINO
SUPERIOR
termos:
Dos entrevistados, foi evidenciado que mais da metade, cerca de 54% dos
alunos já ouviram falar da luta anticapacitista enquanto 21% não tem certeza de já
terem ouvido falar e os outros 25% afirmaram nunca terem sequer ouvido falar deste
movimento.
Quanto ao conhecimento dos alunos sobre o movimento da luta
anticapacitista os dados revelados são surpreendentes: Apenas 21% conhecem
muito bem este movimento pela luta e garantia dos direitos humanos de uma minoria
marginalizada pela sociedade. Estes 21% representam apenas 15 alunos: três do
Segundo Termo, um do Quarto Termo, um do Sexto, um no Oitavo Termo e nove do
Décimo termo. Isso nos mostra a falta de conhecimento dos alunos e podemos
evidenciar que, não está claro que, ao passar dos anos, os alunos passam a
conhecer ainda mais do assunto. É evidente que a instituição de ensino não faz
mobilizações com o objetivo de trazer à tona a necessidade de falar sobre a
importância de explanar mais acerca do preconceito de deficientes enraizado no
capacitismo.
Ainda assim, cerca de 44% dizem conhecer brevemente sobre o movimento
da luta anticapacitista, reconhecem que não dominam o assunto, porém ainda assim
apresentam algumas ideias superficiais sobre a luta, alegando conhecer uma coisa
ou outra. Por outro lado, os demais 35% correspondem aos alunos que não fazem
ideia do que a luta anticapacitista significa ou a quem representa. Ainda assim,
podemos dizer que, alunos dos entrevistados, apesar de mais da metade já terem
ouvido falar do assunto, uma parte considerável, cerca de 65%, representados por
aqueles que conhecem pouco ou a fundo esta luta, denotamos que, gradualmente,
este movimento de luta anticapacitista vem ganhando força e sendo cada vez mais
conhecida visto que é um movimento considerado recente.
Levando em consideração a amostragem de alunos que já ouviram falar da
luta anticapacitista, destes, menos da metade sabe de fato o que é a luta
anticapacitista, correspondendo a 38% enquanto os outros 62% correspondem aos
alunos que apresentam um breve conhecimento do assunto. Evidenciamos que
100% dos alunos do último ano já ouviram falar da luta e 82% conhecem muito bem
do que se trata enquanto os outros 18% admitem que conhecem apenas em partes.
Enquanto isso, os calouros, os alunos do primeiro ano, apresentaram pouco
conhecimento do assunto pois, dos entrevistados, apenas 27% já ouviram falar da
luta anticapacitista, 46% disseram que nunca ouviram falar ao passo que os outros
27% acreditam já terem ouvido falar deste movimento. Desses estudantes de
psicologia do primeiro ano, destacamos que apenas 12% conhecem de fato a luta
anticapacitista enquanto 61% dos entrevistados não conhecem coisa alguma. Já os
outros 27% da sala admitem não conhecerem totalmente, porém sabem uma coisa
ou outra.
Já os resultados obtidos dos alunos do terceiro ano, isto é, a metade do
progresso do curso, tornou-se claro que quase metade dos alunos já ouviram falar
da luta, cerca de 46%. Há aqueles que nunca ouviram falar da luta, 20% e há
também aqueles que acreditam já terem ouvido falar do movimento, 32%. Os
resultados mostram que apenas 7% conhecem realmente o movimento desta luta,
33% são representados por aqueles que não sabem do que se trata e 60% alegam
saber uma coisa ou outra.