Encceja-Português-Figuras de Linguagem I-2023

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Português

Figuras de linguagem I

Teoria

Sentido denotativo x Sentido conotativo

Conotação é o nome dado ao recurso expressivo da linguagem que possibilita uma palavra assumir
sentido figurado, apresentando diferentes significados sujeitos a diferentes interpretações
dependentes dos contextos nos quais se insere. Nesse sentido, temos referências e associações
que vão além do significado original e comum da palavra, ampliando, assim, a sua significação
mediante circunstância de uso. É utilizada principalmente numa linguagem poética e na literatura,
mas também ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios publicitários, entre
outros.

Denotação é o nome dado ao uso comum, próprio e/ou literal da palavra. Quando nos referimos ao
significado mais objetivo e simples do termo, ao qual ele é imediatamente reconhecido e associado.
É o sentido dicionarístico da palavra. É utilizada para expressar mensagens de forma clara e objetiva,
assumindo caráter prático e utilitário. Aparece em textos informativos, como jornais, regulamentos,
manuais de instrução, bulas de medicamentos, textos científicos, entre outros.
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(Disponível em: https://paraibaonline.com.br/2020/01/manchetes-desta-segunda-feira-dos-principais-jornais-nacionais-56/)

Figuras de linguagem ou figuras de estilo são recursos expressivos de que se vale um autor para
dar maior expressividade à comunicação. Elas podem ser classificadas em: figuras de palavra;
figuras de construção; figuras de pensamento; e figuras sonoras. O estudo desse conteúdo faz parte
da estilística – ramo da linguística que estuda a língua em sua função expressiva, analisando os
processos sintáticos, semânticos e fônicos.

Metáfora

Essa figura de linguagem consiste na alteração do significado próprio de uma palavra, advindo de
uma comparação mental ou característica comum entre dois seres ou fatos. Pode-se dizer que essa
comparação é feita de modo implícito, visto que não elemento que relacione diretamente os dois
elementos. A metáfora é uma das figuras mais utilizadas na linguagem artística, principalmente em
poemas e músicas, desde sua forma mais simples até a mais complexa. Vejamos os exemplos
abaixo:

O filho da Ana é um anjinho.

“O pavão é um arco-íris de plumas”.


(Rubem Braga.)

“Ouça-me bem, amor


Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó”
(Cartola.)

Os poemas são pássaros que chegam


não se sabe de onde e pousam
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no livro que lês.


Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
(...)
(Mario Quintana)

Atenção!
Não confunda a metáfora com a comparação. Nesta, os dois termos vêm expressos e unidos por
nexos comparativos, por exemplo: tal, qual, como, assim como, entre outros. Veja:
1. Joana é delicada como uma flor. (comparação)
2. Joana é um monstro. (metáfora)

Catacrese

Trata-se de uma metáfora que foi cristalizada pelo uso contínuo. A catacrese ocorre quando, por
falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro “emprestado”.

Exemplo: Pé de Mesa: Por falta de um termo específico para designar o objeto que sustenta o tampo
da mesa, tomamos por empréstimo a palavra pé.

A “asa” da xícara não é, realmente, uma asa. Certo? Catacrese, na certa!

Outros exemplos:

Dente de alho; asa da xícara; embarcar no avião (embarcar deveria ser um verbo utilizado para se
referir ao barco). Observe que na catacrese, assim como na metáfora, há sempre uma relação de
semelhança.

Prosopopeia (ou personificação): É a atribuição de características de seres animados/humanos a


seres não humanos.
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Exemplos:
• Hoje, ao abrir a janela, o sol sorriu para mim.
• A natureza grita por socorro.
• “Os sinos chamam para o amor”. (Mário Quintana)

Sinestesia

Consiste na associação de sentidos e sensações que são percebidos por órgãos sensoriais
diferentes.

Exemplo: Ela usava um perfume doce. (perfume – olfato; doce – paladar).

Outros exemplos:
• “As falas sentidas, que os olhos falavam/ Não quero, não posso, não devo contar.”
(Casimiro de Abreu.)

• “Esta chuvinha de água-viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha,
meio manacá, meio alfazema.”
(Mário de Andrade.)
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Exercícios

1.

Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem
para
(A) condenar a prática de exercícios físicos.
(B) valorizar aspectos da vida moderna.
(C) desestimular o uso das bicicletas.
(D) caracterizar o diálogo entre gerações.
(E) criticar a falta de perspectiva do pai.

2. Cena Antiga.
Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o Mal se encontram para mais um duelo.
Escolhem as armas nos estojos, aproximam-se para o encontro ritual, encaram-se. Os
padrinhos que aguardam ao outro lado do campo, escuros como as gralhas que saltitam entre
restolhos, são instalados a partir. Que não haja testemunhas.
Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se envolvem em suas capas e caminham até
a taverna mais próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão estratégias e trocarão
conselhos durante dias ou séculos, até o próximo duelo.

No conto de Marina Colasanti, Bem e Mal são ideias personificadas. Essa personificação é
identificada pela narração de:
(A) Ações.
(B) Crenças.
(C) Desejos.
(D) Sentimentos.
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3. Do velho ao jovem
Na face do velho
as rugas são letras,

palavras escritas na carne,


abecedário do viver.

Na face do jovem
o frescor da pele
e o brilho dos olhos
são dúvidas.

Nas mãos entrelaçadas


de ambos,
o velho tempo
funde-se ao novo,
e as falas silenciadas
explodem.

O que os livros escondem,


as palavras ditas libertam.
E não há quem ponha
um ponto final na história
(...)

(Texto de Conceição Evaristo publicado no livro Poemas da recordação e


outros movimentos (Belo Horizonte: Nandyala, 2008).)

Em “as rugas são letras” (l.2), foi empregada como recurso estilístico a figura de linguagem
(A) antítese.
(B) hipérbole.
(C) metáfora.
(D) metonímia.
(E) catacrese.
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4.

A metáfora é uma figura de linguagem que se caracteriza por conter uma comparação
implícita. O cartum de Sizenando constrói uma metáfora, que pode ser observada na
comparação entre:
(A) o sentimento de desilusão e a floresta.
(B) a propaganda dos bancos e os artistas.
(C) a ironia do cartunista e a fala do personagem.
(D) o artista desiludido e o personagem cabisbaixo.
(E) a questão da desilusão e a fala do personagem.
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5. Metáfora
Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz: “Lata”
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo,


Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso não se meta a exigir do poeta


Que determine o conteúdo em sua lata

Na lata do poeta tudo nada cabe,


Pois ao poeta cabe fazer

Com que na lata venha caber


O incabível

Deixe a meta do poeta não discuta,


Deixe a sua meta fora da disputa Meta
dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.
(Gilberto Gil. Disponível em: http://www.letras.terra.com.br. Acesso em: 5 fev. 2009.)

A metáfora é a figura de linguagem identificada pela comparação subjetiva, pela semelhança


ou analogia entre elementos. O texto de Gilberto Gil brinca com a linguagem remetendo-nos a
essa conhecida figura. O trecho em que se identifica a metáfora é:
(A) “Uma lata existe para conter algo”.
(B) “Mas quando o poeta diz: ‘Lata'”.
(C) “Uma meta existe para ser um alvo”.
(D) “Por isso não se meta a exigir do poeta”.
(E) “Que determine o conteúdo em sua lata”.
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6. Examine a tira de Steinberg, publicada em seu Instagram no dia 20/08/2018

Tradução livre (por Michel Carvalho):


1º e 2º Quadrinho: “Não remova o cartão.”
3º Quadrinho: “Por favor, remova o cartão.”
4º Quadrinho: “Brincadeira! Faça tudo novamente.”

Colabora para o efeito de humor da tira o recurso à figura de linguagem denominada


(A) Eufemismo.
(B) Pleonasmo.
(C) Hipérbole.
(D) Personificação.
(E) Sinestesia.
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7. Capítulo LIII.
Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos
meus olhos, na minha vida, no meu pensamento; – era o que dizia, e era verdade.
Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras são tardias e pecas. O nosso amor
era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta,
folhuda e exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou
esse crescimento. Lembra-me, sim, que, em certa noite, abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim
lhe quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula, – coitadinha, – trêmula de medo,
porque era ao portão da chácara. Uniu-nos esse beijo único, – breve como a ocasião, ardente
como o amor, 1prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de 2prazeres que
rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria, – uma 3hipocrisia paciente e
sistemática, único freio de uma 4paixão sem freio, – vida de agitações, de cóleras, de
desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e
engolia aquela, como tudo mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto,
que é o fastio e a saciedade: tal foi o 5livro daquele prólogo.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.)

Dentre os recursos expressivos empregados no texto, tem papel preponderante a


(A) metonímia (uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, com base na
relação de contiguidade existente entre ela e o referente).
(B) hipérbole (ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística).
(C) alegoria (sequência de metáforas logicamente ordenadas).
(D) sinestesia (associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de
sensações diferentes numa só impressão).
(E) prosopopeia (atribuição de sentimentos humanos ou de palavras a seres inanimados ou
a animais).
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8. “A noção de programa genético (…) desempenhou um papel importante no lançamento do


Projeto Genoma Humano, fazendo com que se acreditasse que a decifração de um genoma,
à maneira de um livro com instruções de um longo programa, permitiria decifrar ou
compreender toda a natureza humana ou, no mínimo, o essencial dos mecanismos de
ocorrência das doenças. Em suma, a fisiopatologia poderia ser reduzida à genética, já que
toda doença seria reduzida a um ou diversos erros de programação, isto é, à alteração de um
ou diversos genes”.
(Edgar Morin, A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Jornadas temáticas idealizadas e dirigidas por Edgar Morin.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil Ltda, 2012, p. 157.)

A expressão programa genético, mencionada no trecho anterior, é


(A) uma alegoria, pois sintetiza os mecanismos moleculares subjacentes ao funcionamento
dos genes e dos cromossomos no contexto ficcional de um programa de computador.
(B) uma analogia, pois diferencia os mecanismos moleculares subjacentes ao código
genético e ao funcionamento dos cromossomos dos códigos de um programa de
computador.
(C) uma metáfora, pois iguala toda a informação genética e os mecanismos moleculares
subjacentes ao funcionamento e expressão dos genes com as instruções e os comandos
de um programa.
(D) uma analogia, pois contrasta os mecanismos moleculares dos genes nos cromossomos
e das doenças causadas por eles com as linhas de comando de um programa de
computador.
9. Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania


Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
(Raimundo Correia. Poesia completa e prosa, 1961.)

Transcreva da primeira estrofe um exemplo de personificação. Justifique sua resposta.

10. Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo


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como de um alçapão.

Eles não têm pouso


nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,


no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
(Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.)

O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo. Essa figura é
denominada de:
(A) Elipse.
(B) Metáfora.
(C) Metonímia.
(D) Personificação.
(E) Hipérbole.
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Gabaritos
1. E
Para a personagem, a bicicleta que nunca sai do lugar estabelece um ponto de intersecção com
o comportamento do pai. O sentido da metáfora reside aí, pois o menino estabeleceu uma
analogia entre bicicleta e pai, que se esforça, mas parece não conseguir alcançar seus
objetivos.

2. A
“Bem” e “Ma”l são conceitos abstratos, mas no conto de Marina Colasanti eles se apresentam
concretizados, porque personificados, como se comprova pelas ações que executam: eles “se
encontram”, “escolhem as armas”, “aproximam-se para o encontro”, “encaram-se”, “guardam as
armas”, “se envolvem em suas capas” e “caminham”.

3. C
No texto de Conceição Evaristo, o verso “as rugas são letras” contém uma comparação
implícita entre os elementos “rugas” e “letras”. Configura-se, portanto, um caso de metáfora,
visto que relaciona os dois elementos sem nenhum conectivo de valor conclusivo.

4. A
A imagem concretiza o conceito de metáfora, à proporção que o cartum constrói uma
comparação entre a floresta – que é um conjunto de árvores – e o sentimento de desilusão,
expresso pela fala do personagem. Ele alude, de fato, a todos os artistas que o decepcionaram,
vendendo sua arte para o mercado e para a propaganda de bancos.

5. E
Observe que a letra (E) é a única alternativa em que a palavra “lata” não está no seu sentido
literal. O fato de o poeta não “determinar o conteúdo de sua lata” é justamente uma metáfora
para as palavras que poderão ser usadas em um poema e trabalhadas de maneira imprevisível.
Você pode ficar na dúvida com as letras C e D, mas observe que na letra (C) temos uma
linguagem denotativa, pois alvo e meta podem ser considerados sinônimos e na letra (D) temos
a expressão coloquial “não se meta”, como sinônimo de “não se atreva”. Portanto, em ambos
os casos, temos uma linguagem denotativa. A metáfora está justamente na letra E.

6. D
As figuras de linguagem mencionadas em [A], [B], [C] e [E] atribuem recursos que não foram
usados para conferir efeito de humor à tirinha, já que não existe substituição de palavra com
sentido triste ou grosseiro por outra de sentido mais suave, redundância de termo, exagero de
significação linguística ou associação de sensações de caráter distinto. O que colabora com o
efeito de humor da tirinha é a imagem de um visor de caixa automático que ultrapassa a sua
função rotineira de comando de operações para “falar” com o usuário de forma jocosa, o que
configura uma personificação.
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7. C
A sucessão de metáforas (“plantas que nascem e crescem depressa”, ”abotoou-se a flor, ou o
beijo, se assim lhe quiserem”), assim como as comparações implícitas do primeiro beijo como
“prólogo de uma vida de delícias” e o desenlace do romance como o final do “livro” dos amores
configuram uma alegoria.

8. C
A expressão “programa genético” constitui uma metáfora por estabelecer comparação
implícita com um livro de instruções que “permitiria decifrar ou compreender toda a natureza
humana” ou “o essencial dos mecanismos de ocorrência das doenças”.

9. A oração "Fecha-se a pálpebra do dia" que encerra a primeira estrofe do soneto configura uma
personificação (ou prosopopeia), figura de estilo que confere características humanas a seres
inanimados, já que “dia” não é um elemento humano e nem tem pálpebras.

10. B
A metáfora é uma comparação subentendida, sem uma estrutura comparativa explícita. O
poema começa a construir uma metáfora no primeiro verso, ao dizer que "os poemas são
pássaros", isto é, que os poemas são como pássaros. Já no quarto verso, quando se diz que
"eles alçam voo", "eles" refere-se apenas aos pássaros, que, no entanto, encontram-se no lugar
dos poemas.

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