Entretenimento e Informação Uma Nova Fase Do Jornalismo
Entretenimento e Informação Uma Nova Fase Do Jornalismo
Entretenimento e Informação Uma Nova Fase Do Jornalismo
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
JORNALISMO
RIO DE JANEIRO
2011
RIO DE JANEIRO
2011
TERMO DE APROVAÇÃO
Monografia examinada:
Rio de Janeiro, no dia ........./........./..........
Comissão Examinadora:
_____________________________________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Ana Paula Goulart Ribeiro
Doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação - UFRJ
Departamento de Fundamentos da Comunicação – UFRJ
_____________________________________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Becker
Doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação - UFRJ
Departamento de Expressão e Linguagens - UFRJ
_____________________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Gabriel Collares Barbosa
Doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação- UFJ
Departamento de Expressão e Linguagens - UFRJ
RIO DE JANEIRO
2011
FICHA CATALOGRÁFICA
RESUMO
O trabalho analisa todas as fases do jornalismo, desde os primórdios da imprensa e suas
características específicas chegando ao telejornalismo e a supremacia da Rede Globo de
Televisão no Brasil. Dessa forma, primeiramente o padrão Globo de qualidade é constatado
para depois ser contestado na lógica da modernidade. Depois de passar por essa linha do
tempo o ponto final é a contemporaneidade e as características do telejornalismo nos dias
atuais, concluindo na mudança de abordagem televisiva. Uma nova fase do jornalismo em que
o entretenimento é privilegiado em detrimento da informação com o objetivo de manter a
audiência.
ABSTRACT
This study examines all phases of journalism, since the beginning of the press and its specific
characteristics coming to TV journalism and the supremacy of Globo TV in Brazil. Thus,
first, the standard Globo of quality is found to be contested later in the logic of modernity.
After going through this timeline, the end point is the contemporaneity and the characteristics
of television news these days, concluding in change of television approach. A new phase of
journalism where the entertainment is privileged at the expense of information in order to
keep the audience.
A todos que contribuíram de alguma forma para que eu chegasse até aqui.
Muito Obrigada!!
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a Deus que sempre me iluminou para que eu escolhesse os
melhores caminhos e superasse as barreiras. Foi quem me deu força para que a persistência e
a determinação fossem fortes características da minha personalidade. Sem dúvidas por elas
que cheguei até aqui e com elas que continuarei crescendo.
Ao meu pai que sempre foi meu espelho, me ensinou que se você pode fazer o melhor, não há
motivos para fazer o mediano. À minha mãe que sempre foi à palavra de carinho e conforto,
entre todas as mães, só ela ia todo dia levar comida para mim durante o vestibular, acordava
de madrugada para me mandar parar de estudar e ir dormir, controlava meu radicalismo
quando o assunto era estudo, sem dúvidas meu equilíbrio. À minha irmã por toda
compreensão de ter que ficar com a luz acesa de noite e por todo amor e orgulho que sei que
ela tem por mim. A toda minha família que sempre me apoiou, investiu e acreditou em mim,
incluo meus tios, primos e os familiares de coração.
Ao Lucas, que agüentou todo o período da ECO, do primeiro ao último dia. Obrigada por
todo carinho, atenção, apoio e por fazer o meu dia a dia muito mais fácil.
À Ana Paula Goulart pela orientação e por toda a paciência de ter que lhe dar com meus
horários loucos, meu trabalho excessivo e rotina intensa. Obrigada por ter aceitado ser minha
orientadora.
Aos professores da ECO e todas as aulas que tive que permitiram concluir este trabalho.
Especialmente as aulas de telejornalismo que, se antes eu tinha dúvidas, me fizeram ter
certeza da profissão que quero seguir.
Ao Esporte Interativo, que tem me dado a cada dia os mais eficazes aprendizados de
jornalismo e por me permitir afirmar que trabalho feliz, pois faço o que amo.
E, é claro, um obrigado bem grande a todos os meus amigos. Aos amigos antigos que me
entendem como ninguém e não me abandonaram nessa nova etapa. Vanessa, obrigada.
Obrigada também a aquelas que acreditaram junto comigo nesse sonho quando o problema
ainda era o vestibular, agüentaram minhas neo-roses nas épocas de Colégio Bahiense e PH. E
não poderia esquecer daquelas que fizeram o dia a dia na ECO uma história, protagonizaram
momentos inesquecíveis e serão a melhor lembrança da faculdade. Um último obrigada, dessa
vez, para as minhas “princesas”.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. AS FASES DO JORNALISMO
2.1 Pré-imprensa
2.2 Primeira fase
2.3 Segunda fase
2.4 Terceira fase
4. VOZES DO TELEJORNAL
5. ENTRETENIMENTO + INFORMAÇÃO
5.1 Transição
5.2 Mudança do comportamento social
6. CONSEQÜÊNCIAS
6.1 Emissão de opinião dos meios
6.2 CQC
6.2.1 Controle de Qualidade
6.2.2 Top Five
6.2.3 Proteste Já!
6.3 Mudança no Padrão globo de jornalismo
6.3.1 Jornal Nacional:
6.3.2 Jornal Hoje
6.3.2 Central da Copa – Globo Esporte
7. CONCLUSÃO
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
9. ANEXO
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1. INTRODUÇÃO
A escolha desse tema surgiu a partir da reflexão dos novos modelos de jornalismo
televisivo que vem sendo um sucesso. Ao longo da faculdade aprendi todas as etapas que o
jornalismo brasileiro passou até chegar aos dias de hoje. Percebi que essa linha do tempo foi
marcada por fases. Com o passar dos anos a imprensa acompanhou o progresso e a evolução
dos meios, da tecnologia e do cotidiano das pessoas, e foi se adaptando as novas realidades.
No entanto essa teoria estagnou-se na terceira fase que corresponde ao intervalo de 1880 à
1890.
De lá pra cá muita coisa mudou, novos meios de comunicação surgiram e vivemos,
praticamente, uma revolução tecnológica. Apesar de estudarmos essas alterações, no plano
histórico não ficou claramente marcado um marco para uma nova fase. É essa que eu tento
explicar e defender no projeto que se segue.
Além disso, durante todo o curso de jornalismo na Escola de Comunicação, parece ter
ficado bem claro, ao menos para mim, que os padrões de jornalismo que estudamos e
devemos aplicar está ultrapassado. Falo dos princípios de imparcialidade, objetividade e
neutralidade que são fixos na cultura da imprensa. Fica nítido que esses pontos já são apenas
teóricos quando há a tentativa de aplicá-los na prática.
No entanto, ironicamente, continuamos aprendendo-os com objetivo de que
apliquemos, pois até então nenhuma outra teoria foi aceita para ser a substituta. Ou seja, nas
aulas mais teóricas vimos que nenhum discurso é livre de intencionalidade, que o público tem
sua própria reflexão e não pode ser convencido. Porém, nas aulas práticas aprendemos que
devemos ser objetivos, utilizando sempre a terceira pessoa, entre outras constatações. Dessa
maneira, comecei a refleti: qual o objetivo de sermos imparciais (para parecer livre de
intenção), se na verdade já sabemos que em todo discurso colocamos sim a nossa opinião?
Contudo, começava a ficar nítido uma nova fase do jornalismo em que os meios eram
outros, a demanda do público havia sido alterada, houve uma evolução das pessoas e,
portanto, o jornalismo se alterava. Já, possivelmente, não estamos mais na terceira fase.
O objetivo do projeto é apontar e analisar uma possível nova fase do jornalismo que
está sendo instaurada. Uma fase em que a informação plena é deixada de lado e a abordagem
das matérias jornalísticas passam a unir entretenimento e informação. Cada vez mais, os
discursos jornalísticos parecem estar vazios de conteúdo e abordam apenas assuntos que
promovem a distração e o entretenimento do telespectador.
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Junto com essa tendência, parece que cada vez mais os apresentadores emitem suas
próprias opiniões. Diferente do que era esperado em centenas de anos da história do
jornalismo, o público não repeli essa atitude, muito pelo contrário, parece gostar e esse fato
traz mais audiência.
Hoje o aspecto que torna um programa bom ou ruim é o fato de agradar ao público. Não
importa se a matéria jornalística está de fato vazia de conteúdo, sem nenhuma informação útil.
Se o público gostar e der audiência o programa vai ser considerado e valorizado,
independente do formato utilizado.
Para comprovar a existência dessa nova fase baseei grande parte do trabalho na maior
emissora do Brasil, a Rede Globo de televisão. Portanto escrevo sobre do seu crescimento
para chegar ao Padrão Globo de qualidade e comprovar que ele vai contra essa lógica atual e,
mais do que isso, mostrar que a Globo já não mais é tão fiel a essas regras e hoje deixa um
novo formato de entretenimento invadir sua programação na busca de audiência.
Inicio a defesa contextualizando historicamente, explicando as fases jornalísticas.
Portanto, o primeiro capítulo tem uma diversidade bem grande de bibliografias. O primeiro
ponto é uma leve introdução do contexto brasileiro quando houve o contato inicial, ou melhor,
a necessidade pontual de uma imprensa. Posteriormente começo a contar a história do Brasil
em paralelo com a do jornalismo. A primeira fase que corresponde ao intervalo de 1808, com
a chegada da família real no Brasil, até 1821, depois da Revolução Porto e do “Dia do Fico”,
culminando na Independência. Essa fase do jornalismo foi considerada como da censura
prévia.
A segunda etapa foi de 1821 até 1880 e correspondeu a um contexto de surgimento de
uma cultura política, racional. Fase do Iluminismo. Portanto, a imprensa passa a ser utilizada
como reivindicação, protesto, busca por direitos. Assim, o jornalismo fica conhecido como
panfletário.
A última e terceira fase, teoricamente, vai de 1880 até os dias atuais. É a chamada Grande
Imprensa que, assim como hoje, remete uma importância enorme para o público, a audiência,
foca-se no mercado.
É importante destacar que passo por todas as fases da imprensa, mas o telejornalismo só
está presente na última fase. É nele que o trabalho é focado para comprovar a existência de
uma nova etapa, as exemplificações, observações são todas em matérias de TV, uma vez que
essa foi a mídia escolhida para objeto de estudo.
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Essa nova fase é generalizada mas acredito que sua existência e demanda tenha se dado
por conta do grande sucesso da televisão que hoje se adapta às novas mídias para conquistar a
interação e sobreviver no concorrido mundo da comunicação.
Posteriormente, no segundo capítulo há a exclusividade para o telejornalismo e se tratando
de Brasil, é dada uma grande importância para a Globo. Dessa forma a história continua a ser
contada, passa por barreiras como o Estado Novo e chega na Era das Redes, onde nasce a
Rede Globo de Televisão.
É nesse momento que chego ao padrão Globo de qualidade, que foi o responsável por
fazer dessa instituição o que ela é hoje, de torná-la dominante em todos os estados brasileiros.
Nesse ponto, chego a sair do jornalismo para falar de outras produções televisivas, pois estas
foram fundamentais para o crescimento de tal emissora. Inovações, essa é a palavra que
traduz a Globo neste momento.
Quando a Vênus Platinada alcança essa posição o jornalismo, o conceito do jornalismo
muda e todos os outros veículos vêem no sucesso da Globo o modelo e tentam copiar.
Padrões estéticos são instaurados para passar uma fictícia qualidade.
Para desconstruir esse padrão engessado sigo trazendo as vozes do jornalismo. Neste
ponto o objetivo é comprovar de que nenhum discurso é livre de intencionalidade, que a
imparcialidade é fictícia e que a neutralidade é impossível. Além disso, é fundamental mostrar
que o telespectador reflete, entende uma informação da maneira de acordo com sua formação
quanto pessoa, e mais que isso, que ninguém pensa da mesma maneira, cada um tira de
determinada matéria um resultado diferente.
Seguindo essa linha, percebe-se que a intenção ainda é agradar o público e que esse
prefere o entretenimento (muito forte nas grades de programação) ao jornalismo. Portanto
essas duas vertentes começam a se misturar dentro do próprio telejornalismo para garantir a
audiência.
Quando se fala de entretenimento se tem um apresentador que fala na primeira pessoa,
gestos naturais, diversão, mistura da vida pessoal com a pública de quem está na frente das
câmeras. Todos esses fatores começam a invadir o jornalismo.
As pessoas parecem começar a entender que quando alguém dá uma opinião na telinha
não quer convencer quem está do outro lado, falar de forma direta com as palavras adequadas
é demonstrar um ponto de vista, mas não afirmar que esse é o certo e indiscutível.
As conseqüências desse processo é que os programas de telejornalismo começam a se
modificar, algumas ordens diretas, opiniões, reações naturais já são permitidas. O jornalismo
começa a ficar com um ar mais dinâmico e menos sério, mais opinativo e menos defensivo.
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Os jornalistas da TV passam a ganhar personalidade, podem ser carismático, pois isso agrada
ao público.
Nessa linha, um ponto forte a ser analisado nesse trabalho é a proposta do programa Custe
o que custar, o CQC da Rede Bandeirantes. Uma proposta inovadora de assumir opinião,
contestar entrevistados, fazer propagandas, ser direto, sincero e natural. O programa vai além
da quebra de padrões, instaura um novo modelo. Um jornalismo irreverente e crítico.
O último ponto é uma possível queda do padrão Globo de Qualidade, já que, com a
análise de casos é percebe-se que os padrões engessados estabelecido anteriormente pela
emissora, já não são rigorosamente seguidos. O mais inusitado é perceber que essas alterações
têm agradado ao público e, portanto as mudanças começam a ser integradas a linha editorial
da maior rede de televisões do Brasil.
Quase todos os autores citados apareceram durante a minha estrada acadêmica e
contribuíram para a conclusão deste raciocínio, portanto são utilizados aqui. Além disso,
muitos vídeos são apontados para comprovar, analisar, estudar e discutir o que é defendido.
Em suma, a intenção desse projeto é avaliar as vozes do discurso do telejornal, como ele é
construído, se passou realmente a inserir a opinião e como isso é visto pelo público. Junto
com essa avaliação trazer o caso da Globo com seu Padrão de Qualidade, analisá-lo e
perceber se ele ainda é tão rígido, soberano e importante como já foi um dia.
Após essa análise do discurso do telejornal, vamos perceber as tendências de programas e
apontar onde estas mudanças estão ocorrendo. Para, por último, concluir, se estamos diante de
uma nova modalidade de jornalismo voltada para o entretenimento, o já denominado
“Infotainment”.
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2.1 Pré-imprensa
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O Brasil ficou trezentos anos sem imprensa. Enquanto colônia, a mesma era proibida
pela metrópole para que conseguisse manter seu controle político sobre a colônia. Além disso,
havia apenas uma pequena elite brasileira alfabetizada que lia impressos que vinham do
comércio português. Como havia o comércio colonial, essa era a única forma de
comercialização,. A proibição era para conter idéias que circulavam de independência.
A igreja também censurava. Dessa forma, a censura era dupla: a do Estado laico, que
exigia um selo colonial para que alguém pudesse ler, e a censura da igreja, impulsionada pelo
movimento da Contra-Reforma.
Mesmo que não tivesse censura, a dificuldade da imprensa se estabelecer já existia por
fatores socioculturais. A sociedade era escravista e o analfabetismo era grande, fatores que
inviabilizavam a instauração de uma imprensa.
A estrutura de classe da sociedade colonial era polarizada, com uma mobilidade social
reduzida e fortemente hierarquizada (escravos e senhores). A elite era pequena e a elite
econômica não era a mesma cultural. As formas de comunicação eram essencialmente orais.
O modo de produção era o grande latifúndio, monocultor com mão-de-obra escrava. A
população era predominantemente rural, e o limite imaginário de cada um era a grande
fazenda.
Esses motivos levam a entender porque demorou cerca de trezentos anos para a
imprensa ser instaurada no Brasil. Primeiramente pelo desinteresse da metrópole, a fim de
manter controle sobre a colônia. Não havia produção local de impressos, tudo que chegava
era controlado. Outro motivo era o fato de inexistir aqui condições para a formação de uma
imprensa.
Uma série de mudanças vai contribuir para o surgimento da chamada Imprensa Régia,
considerada a primeira fase da imprensa brasileira (1808 – 1821). Em 1808 a família Real
vem para o Brasil fugindo das tropas de Napoleão e traz muitas mudanças para a colônia.
Uma vez que, é necessário algumas transformações para que o Brasil possa se tornar de fato o
país da realeza de Portugal. Essas mudanças são fatores que possibilitam o desenvolvimento
de uma vida urbana.
Com esses avanços, nasceu o primeiro jornal, com o objetivo de trazer aos
portugueses informações do interesse deles que eram passadas por um porta voz
administrativo. Dessa maneira foi introduzida no Brasil uma Imprensa Régia que utilizava a
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tipografia do rei. Sua função era burocrática, servia para uma administração imperial,
impressões de decretos e leis.
Nesse sentindo, a imprensa nasceu com uma certa oficialidade, para satisfazer os
desejos de informação da corte. Assim, os jornais que defendem as ações da família real,
enaltecem a vida e a administração dos portugueses, são oficiais ou oficiosos.
A imprensa oficial brasileira já nasceu com o crivo da censura prévia, tudo que era
produzido em solo real era fiscalizado pela coroa. Ou seja, além da imprensa chegar
tardiamente no Brasil, quando foi iniciada, já era censurada. E essa foi a maior característica
dessa fase.
Mas a corte trazia consigo uma onda de cultura e progresso que mexeu com a
sociedade. Esse fato, junto com a idéia de veículos de informações, gerou mudanças na vida
social o que corroborou para a independência.
O primeiro jornal que chegou no Brasil conseguia burlar as regras da coroa graças ao
acordo de comércio entre Inglaterra e Portugal de abertura dos portos para as nações amigas.
A corte vem com o apoio da Inglaterra que estava perdendo comércio na Europa e quer
expandir para as Américas. O primeiro jornal foi Correio Brasiliense, pois era dessa forma
que eram chamados os portugueses que vieram ao Brasil. Ele chegou na colônia em junho de
1808.
O precursor da idéia foi Hipólito da Costa, um brasileiro que estava na Inglaterra e
enxergou na mudança da família real uma forma de desenvolver idéias revolucionárias na
colônia. A forma encontrada para difundir seus pensamento foi através da imprensa.
O jornal parecia um livro, os artigos eram densos e as análises longas. As informações
eram circunstanciadas e analíticas em textos que podiam ir além de um número. O Correio
Brasiliense era dividido em sessões e nele Hipólito escrevia sobre seu projeto para o Brasil e
sua visão política (LUSTOSA, 2003).
Publicava textos relativos a acontecimentos na época, como fatos de Napoleão e a
Waterloo. Era o noticiário mais atualizado que chegava ao Brasil. Era feito na Inglaterra onde
a imprensa era livre e tinha um parlamento que, de fato, funcionava.
A periodicidade era de uma vez por mês, devido a extensão do material. Era, em
suma, um jornal polêmico, ilegal que chegava de forma clandestina no Brasil. Passava um
ideário liberal da sociedade burguesa. Além disso, era um vulgarizador de certas idéias
iluministas. Era forte, agressivo, crítico e de oposição ao Imperador. O Correio Brasiliense
fazia um jornalismo de debate de idéias, uma arena política.
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Os assuntos eram variados, desde grandes interesses políticos até as pequenas causas.
Quando alguma causa chegava ao fim, o jornal também acabava. A lógica dessa imprensa era
do momento e enfrentamento. Como o país era escravocrata, 60% da população não estava
incluída nesse jornal.
Já o Jornal do Commercio fugia das características acima, pois era totalmente voltado
para o comércio e negócios, tanto que, assim como o Diário de Pernambuco, existe até hoje.
O primeiro jornal dessa fase surgiu em setembro de 1821, era o Revérbero
Constitucional Fluminense e defendia os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade
expandidos na Revolução Francesa. Logo depois veio o O Espelho, criado por Manuel
Ferreira de Araujo, que saiu do Gazeta do Rio de Janeiro. Possivelmente, subsidiado por D.
Pedro. Em dezembro de 1821 Visconde de Cairu estava a frente do Despertador Brasiliense,
um panfleto que exigia que D. Pedro ficasse e desmascarava o sentido colonialista de medidas
e a intenção de fragmentar o Brasil. Esse foi o primeiro grito de independência. Tiveram
muitos outros como A Malagueta, Reclamação do Brasil, Correio do Rio de Janeiro e O
Tamoio.
Fatores dessa imprensa: instabilidade política, democratização da imprensa e
emergência de quadros da elite intelectual. O jornalismo aparece como fenômeno social, o
jornalista é um homem de letras autodidata.
Até hoje existe esse tipo de pequena imprensa, porém não é o que chamamos
propriamente de jornalismo. No entanto, há um forte movimento de retorno com a era das
mídias digitais. Alguns bloggers são um grande exemplo de um estilo panfletário de
jornalismo. (SCHWARCZ, 1987).
Nos anos 70, os grandes jornais enfrentam a repressão. A impressa que ganha forma é
a alternativa, vista como veículo de oposição, um canal para grupos com resistência ao regime
militar. É o espaço que vai reunir jornalistas, intelectuais e militantes de partidos clandestinos.
A linguagem é contra o governo. Exemplos de jornais desse tipo são: Pasquim, Movimento,
Opinião, Repórter, O Sol, etc. (KUCINSKI, 1991).
Um marco do jornalismo brasileiro desse período foi a revista Realidade. Apesar de
também fazer parte de uma organização capitalista, seu modelo é diferente. Tem importância
política, mas é pensado jornalisticamente. É o exemplo da experiência do New Jornalism no
Brasil (ou do jornalismo literário).
De uma forma geral, o tempo passa, ocorrem mudanças estruturais na sociedade e isso
reflete na forma como a informação é passada para o receptor. A tecnologia, o
comportamento, a economia, política. Tudo reflete no jornalismo que acaba se dividindo em
fases.
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Dois dias depois de seu nascimento a TV Tupi estréia seu primeiro telejornal (02 de
setembro de 1950). Foi apresentado apenas imagens do dia, uma seqüência de filmes dos
últimos acontecimentos locais. A primeira imagem foi de um desfile cívico militar em São
Paulo. Em 1952, a TV Tupi lançou um outro noticiário, o Telenotícias Panair. Nesse mesmo
ano na, Tupi Rio, estreou o apresentador Gontijo Teodoro, mas foi em 1953 na Tupi São
Paulo que começou o Repórter Esso, um telejornal apresentado por muitos anos no horário
nobre que ficaria para história, o mais importante da década de 50. (REZENDE, 2000)
O fato de ser apenas o início colocava o telejornal em um processo de formação e,
portanto, era feito de forma precária e baixa qualidade. Os erros eram inúmeros, mas não
ficavam em evidência já que o número de telespectadores era pequeno, uma vez que a TV
ainda era raridade na comunidade.
O “ao vivo” do estúdio ocupava quase todo o tempo do telejornal devido aos
obstáculos das coberturas externas (alternativa simples e econômica). Os profissionais eram
oriundos do rádio, dessa forma, os textos tinham um estilo telegráfico e os apresentadores
falavam de maneira forte e vibrante.
O Repórter Esso continha as duas características mais evidentes na fase inicial da TV
Brasileira: a herança radiofônica (um dos exemplos é a origem profissional do apresentador) e
a subordinação total dos programas aos interesses e estratégias dos patrocinadores, já que
estes eram os responsáveis pela existência do programa.
Essa primeira fase era baseada na fala com pouca visualização. As notícias sofriam um
atraso de até 12 horas para ir ao ar, perdendo para o rádio em relação à instantaneidade. O
Repórter Esso mudou isso, pois o patrocinador e o acordo com a Agência de Notícias United
Press International (UPI) permitiram a liberação da notícia oral e o uso de matérias
ilustradas.
Na década de 60 foi à fase da criatividade e expansão intelectual do telejornalismo
com a chegada dos videotapes. O símbolo foi o Jornal de Vanguarda, no qual os jornalistas
passaram a ser produtores e cronistas especializados. Esse momento causou impacto pela
originalidade e estrutura, uma forma de apresentação distinta. Se encerrou com o Golpe de 64
com o Ato Institucional 5, pois se não fosse assim morreria pouco a pouco com a censura.
Durante a ditadura militar os jornalistas perderam o espaço de apresentador e os
locutores voltaram para que o modelo norte-americano de telejornal fosse adotado devido a
censura sofrida. As linguagens foram modificadas e a interferência política fazia o telejornal
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padecer pela falta de estilo próprio. Sentiam a influência da linguagem radiofônica e não
aproveitavam bem as imagens, parecia um radiojornalismo televisionado. No fim da década, a
TV estava alicerçada nas três vertentes de entretenimento: novelas, enlatados e shows de
auditório. No telejornalismo a década terminou com o surgimento do Jornal Nacional e o fim
do Repórter Esso.
Depois da anistia o jornalismo da TV Globo ainda passava por censura, mas deles
mesmo, uma autocensura, pois precisavam reaprender a prática de um jornalismo de
qualidade. Esse foi um dos prejuízos deixados pela ditadura. A Globo introduziu um tom um
pouco mais critico, mas nada muito relevante. As mudanças viriam com o tempo, pois o
período ditatorial impediu que fossem formados profissionais do jornalismo que exercessem a
função opinativa.
Novos repórteres foram ganhando espaço, comentaristas especializados voltavam a
atuar e a apresentação voltava para as mãos de jornalistas que antes tinham sido substituídos
por locutores.
A maior característica do Jornal Nacional foi o espetáculo. Utilizava-se das múltiplas
aparências: a tragédia, o conflito, o personalismo, o pitoresco, e o humor tanto na forma de
apresentação como de conteúdo.
apresentadores liam as notícias de forma ágil e alternando a vez entre os dois jornalistas da
bancada.
Segundo Armando Nogueira, em Memória Globo, o fundamental mesmo era a
utilização da voz direta do entrevistado, apesar de tomar mais tempo do telejornal ela
construía a idéia de verossimilhança, mostrava que a notícia era de fato fiel a realidade, ou
seja, passava ao telespectador credibilidade.
Unindo-se os ideários de imediatismo e verossimilhança, a sensação de quem assistia
era de que estaria tendo a transcrição instantânea da realidade.
A Globo também inovava acompanhando a tecnologia, os novos equipamentos
utilizados que imprimia som e imagem ao mesmo tempo ajudava na idéia de autenticidade. A
instauração do teleprompter simula uma conversa entre o apresentador e o telespectador, pois
parece que o apresentador fala sobre o que lembra. A introdução da TV em cores intensifica a
questão da verossimilhança, além de ajudar na dramaticidade e apelo emocional do que se
fala.
Outro fator introduzido pela Rede Globo existente até hoje são os repórteres de vídeo.
A presença do jornalista no local do acontecimento dava a sensação de cobertura ampliada na
emissora, de que ela estaria em todos os lugares, além, é claro de o telespectador confiar ainda
mais na notícia passada, já que ele vê que de fato havia alguém acompanhando os fatos de
perto. Isso só foi possível através das ENGs (eletronic news gathering) que permitia o envio
de som e imagem do local do acontecimento. O desempenho do jornalista passa a quem
assiste a idéia de testemunha e onipresença.
A partir de 1985, o Jornal Nacional imprimiu no noticiário o comentarista
especializado, um fato que contribuía com a idéia de autenticidade e profundidade da notícia.
Esse novo personagem analisa os fatos como se fosse imparcial e suas observações fossem
baseadas em estudos, não simplesmente o que ele achava, pois eram especializados nos
assuntos. Aumentava a credibilidade da informação passada.
Em 1992, Alberico de Souza assumiu a direção da Central Globo de Jornalismo e fez
uso de outros recursos para reconstruir os fatos e fazê-los parecerem o mais autêntico
possível. Com o auxílio da tecnologia e na ausência de imagens utilizavam desenhos ou
teatralização de atores para contar um determinado acontecimento, além disso, aumentam os
“links”. O objetivo segundo o próprio Alberico é tornar a narrativa mais próxima da realidade
de cada um. (MEMÓRIA GLOBO, 2005)
Por problemas políticos, Evandro Carlos de Andrade assumiu o lugar de Alberico e a
produção jornalística da Globo passa a basear-se na idéia de isenção e imparcialidade. Os
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Seguindo a mesma lógica vem à importância do uso da ordem direta das frases que
deveriam ser curtas e simples. Além disso, era importante evitar adjetivos, pois estes apenas
qualificam uma informação, o que deixa implícito opinião e excesso de palavras.
Há também a importância de ser impessoal e não usar a primeira ou a segunda pessoa,
seja do plural ou singular. O fato dessas formas verbais incluírem o emissor também acaba
externando uma opinião do jornalista e isso passou a ser eticamente condenado.
Nessa lógica de jornalismo de mercado era considerado que a função do jornalista é
apenas repassar uma informação e não acrescentar dedução, opinião ou mesmo uma
conclusão. A idéia era que o profissional estaria tentando convencer seu telespectador de um
fato e, portanto, sendo antiético. Acreditava-se que era possível passar informação isenta e
que o telespectador que a interpretaria da sua maneira. Pensava-se que esse fato dava
credibilidade para um veículo de comunicação.
No caso da Globo, os profissionais não poderiam de forma alguma revelar suas
opiniões, portanto, não podiam participar de propagandas, a não ser que fossem da própria
emissora. Eram considerados apenas um elo entre a informação em seu princípio e o receptor,
o consumidor final do produto.
Esse é um padrão criado pelo jornalismo americano e que o Brasil começou a seguir.
A Globo liderou essa corrente em solo nacional, com o chamado Padrão Globo de Qualidade.
A fim de garantir a qualidade dos programas e fazer da Vênus Platinada uma potência
televisiva.
31
4. VOZES DO TELEJORNAL
TV: Uma relação social estruturada por uma técnica e pelas lógicas
econômicas e profissionais. (MERCIER apud MACHADO; 2000: 102)
um condutor que não usa a primeira pessoa do singular e sim a terceira pessoa do plural para
se referir ao agente enunciador.
O jornalismo centralizado costuma ser opinativo. Se por um lado exerce uma
influência mais ativa junto a opinião pública, produz uma mobilização real, deixa entrever
abertamente seus compromissos ao invés de fingir neutralidade, por outro as posturas que
assume pode condená-lo posteriormente perante a sociedade. Já o outro modelo é acusado
mascarar os fatos já que os coloca como consenso coletivo, mesmo quando é uma opinião
individual, assume uma postura interpretativa dos acontecimentos. No entanto esse tipo de
jornalismo não induz uma emoção ou interpretação direta que deve ser reiterada pelos
telespectadores.
O pressuposto de que o telejornal deve informar gera a busca desenfreada pela
exatidão e confiabilidade da informação. O discurso principal acaba sendo desfigurado na
tentativa de encaixar diversas vozes, umas nas outras. O telejornal acaba sendo uma colagem
de depoimentos e fontes em uma seqüência sintagmática. No entanto, essa colagem não torna
o discurso lógico e unitário de tal forma que possa ser considerado verdadeiro ou falso. As
informações são um processo em andamento.
Ao embaralhar o fluxo televisual o telejornal choca diferentes discursos, anulando-os
ou relativizando-os. Esse fluxo incorpora uma sucessão de versões que impede a existência de
uma verdade única. Uma mesma matéria traz diferentes pontos de vista, diversas versões que
são confrontadas. Na verdade, todas são versões pessoais. A junção de todas elas não forma
nenhuma verdade absoluta. O resultado final é a relativização ou neutralização das várias
opiniões. (BECKER, 2005)
Muitos analistas e intelectuais tentam provar que os telejornais não são neutros e
imparciais o que mostra certa ingenuidade já que o telespectador reordena as idéias passadas
de forma personalizada e imprevisível.
Porém assim ele deixa de ter a visão clara do que de fato ocorre, essa forma pode gerar
confusão nos argumentos. Esse fato acaba dificultando a tomada de partido à medida que
progride o fluxo das imagens e dos sons. Não favorece as imagens sistemáticas e multiplica
imagens, opiniões e depoimentos. Dessa forma, percebe-se que o telejornal é capaz de fazer
uma confusão de idéias.
A objetividade e a imparcialidade dos discursos jornalísticos são inalcançáveis, pois os
fatos e acontecimentos ganham sentido no momento de enunciação e recepção, e não antes
disso. Um discurso é construído a partir das experiências de uma pessoa e como ela vê os
fatos. Por esse motivo, não tem como ser livre de opinião.
33
Para exemplificar que o discurso das matérias jornalísticas não estão livres de opinião
e que independente de ter uma mesma pauta, cada jornalista, e conseqüentemente cada
pessoa, pensa de uma forma diferente, trago um exemplo de duas matérias feitas no treino do
Flamengo para o dia 12 de outubro de 2011, a do Globo Esporte do Rio de Janeiro, feita por
Mariana Cartier1, e a do Esporte Interativo, feita por mim2. Ambas tinham a mesma pauta, o
ataque do rubro-negro carioca.
Os dados eram os mesmos: 47 gols feitos no campeonato, 23 pelos atacantes titulares
(13 Ronaldinho Gaúcho e 10 Deivid), 4 gols do atacante reserva Jael, 5 de Botinelli(reserva),
7 de Thiago Neves, 4 de Renato Abreu e 1 de Egídio (reserva), Wellinton, Diego
Mauricio(reserva) e Willians.
O atacante titular Deivid era sempre criticado pela torcida, apesar de ser na época o
vice-artilheiro do time, esse foi o mote na matéria do Esporte Interativo. Já a Mariana focou
no fato de muitos reservas terem feito gols durante a competição, ou seja, a pauta era a
mesma, a apuração também, mas cada um abordou um ponto.
Esse exemplo aponta para o fato de que as informações podem ser as mesmas, mas
cada um interpreta de uma forma. Além disso, comprova que não há discurso livre de
intencionalidade, uma vez que, ambas tinham dados para comprovar a imparcialidade: os
números. Com eles as duas matérias tentam comprovar a veracidade plena da informação de
cada pauta.
1
Disponível em: http://globoesporte.globo.com/videos/globo-esporte/v/flamengo-aposta-na-forca-do-elenco-
para-sequencia-do-brasileirao/1660128/#/edições/20111012/page/3. Acesso em: 28/11/11
2
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jvwDVyfsUz4. Acesso em: 30/11/11
35
5. ENTRETENIMENTO + INFORMAÇÃO
A existência de telejornais como o Jornal Hoje mostra essa liberdade maior nos
assuntos, uma linha editorial que simboliza a adição de elementos de entretenimento na
informação.
O fato é que a televisão se tornou o mundo do espetáculo. Saber da intimidade de
quem aparece na telinha passa a ser um interesse da população. Por isso, quando um jornalista
parece estar mostrando sua real personalidade, quando é natural, e demonstra uma opinião, o
público se interessa e a resposta é positiva.
Portanto, os meios televisivos ficam divididos entre assumir a postura de
imparcialidade e neutralidade, base do seria considerado um jornalismo sério e respeitoso, e
incorporar o entretenimento, que atrai audiência e aquece o mercado.
Além disso, o contexto político é favorável para a inclusão do entretenimento na
programação, o neoliberalismo do final do século XX. O não controle do estado na economia,
acreditando em sua auto-regulamentação também engloba os sistemas de comunicação, o que
permite que a forte concorrência e a busca por audiência sejam os responsáveis pela
determinação do conteúdo a ser transmitido. Isso porque o Brasil faz parte da Organização
Mundial do Comércio (OMC) e seus serviços são regulados pelo comércio internacional,
aberto ao capital estrangeiro.
5.1 Transição
O fato é que não podemos considerar esta uma ruptura que traz uma nova fase do
jornalismo, já que há um processo de transição que ultrapassa as fases. A incorporação do
entretenimento vem acompanhando as tendências tecnológicas e multimídias. Tanto que na
terceira fase do jornalismo já é possível perceber indícios dessa transformação: a fase dos
grandes conglomerados. Lá o jornalismo já era guiado pelas lógicas de mercado e objetivo de
lucro, um fator fundamental para esse novo momento.
No entanto com o passar do tempo esse processo vai se intensificando e as lógicas
vistas anteriormente de parecer isento, objetivo e neutro vão ficando para trás. Como se
mostrar imparcial em um momento em que todos querem mostrar sua opinião e conseguem
através de meios como a internet?
Além disso, fica cada vez mais claro para todo cidadão que a imparcialidade não
existe e que a idéia de um discurso só é dada no ato de enunciação, no momento em que
recebe a notícia.
Portanto, a transição para essa atual fase aconteceu e ainda acontece. Ainda é possível
ver nos dias atuais modelos de programação engessada, mas as opiniões, matérias
humorísticas e os quadros de entretenimento são cada vez mais freqüentes.
Com o avanço dos recursos audiovisuais, os espectadores já não se assustam mais com
a emissão de opinião, autenticidade de crítica e publicidades explícitas. Começam a se
acostumar com esses novos formatos de diferentes programas televisivos. A tecnologia
avançou e as regras jornalísticas não acompanharam esse movimento.
Mesmo assim, telejornais como o Jornal Nacional continuam em um padrão
engessado. Fatalmente, algumas mudanças ocorreram, mas o formato em si não sofreu
alterações radicais. Porém, as mudanças são cada vez mais explícitas. Os apresentadores se
mostram de maneira mais descontraída e natural, emitindo mais suas próprias opiniões,
tornando-se – ao olhar do público – formadores de opinião.
Um exemplo disso é o twitter de William Bonner, que faz um grande sucesso. Ele
chegou a ser criticado quando começou a dialogar com os internautas. Nessa rede social, ele
se autodenomina “tio” e tem um relacionamento diferenciado com os jovens. Ali o
apresentador tem liberdade para ser ele descontraído. Já fez até uma eleição para escolher a
gravata com que gravaria um programa. O púbico gostou, e a audiência foi grande. A prova
disso é o número de seguidores no twitter: 2.335.129, em 30/11/2011. Todos procuravam um
39
Bonner mais relaxado que tem opinião própria. Este foi o meio encontrado pelo mesmo para
demonstrar uma personalidade diferente.
A sociedade sabe que os discursos não são livres de intencionalidade e, independente
da imagem que queiram passar, eles vão de alguma forma sempre trazem algum juízo de
valor. O melhor, então, não seria assumir a opinião?
40
6. CONSEQÜÊNCIAS
Para chegar à hipótese ressaltada anteriormente, farei um estudo de casos práticos
atuais. A análise de programas como o Globo Esporte de São Paulo e Central da Copa
(ambos apresentados pelo Tiago Leifert) consistem em um passo importante para desfazer o
mito de imparcialidade e neutralidade da Globo. Esses programas são recheados de opinião e
voltados mais para divertir e animar o público do que propriamente informar.
No caso do Globo Esporte de São Paulo tem um estilo totalmente diferente do
abordado no Rio de Janeiro. Tiago Leifert implanta esse novo modelo, que vem fazendo
sucesso e acumulando audiência para TV Globo. O programa de São Paulo traz quadros como
jogo de videogame entre o apresentador e jogadores de futebol, além de outras formas de
divertimento.
Outro programa a ser analisado é o CQC. Este programa foi o responsável por
consolidar esse novo método de Infotainment. Traz informação de forma critica e irônica.
Para isso, utiliza-se do humor, o que atrai a atenção do público. Os efeitos especiais utilizados
durante o programa ajudam a instaurar esse humor. O CQC é um programa que utiliza a
primeira pessoa do singular. Os apresentadores assumem toda a responsabilidade pela opinião
emitida, criticam, ironizam e informam através do entretenimento.
Outra abordagem interessante do CQC a ser analisada vem na lógica da quebra da
imparcialidade, a existência de propagandas internas ao programa. Os próprios apresentadores
fazem publicidade, que constituem a abertura de cada quadro. Essa forma publicitária sempre
foi rejeitada pela TV Globo e ainda continua sendo. Os apresentadores dos telejornais são
proibidos de fazer anúncios que não sejam institucionais da própria emissora.
Outros programa da Globo que deve ser analisado é fatalmente o Jornal Nacional.
Este deve ser visto comparativamente com anos atrás. Dessa forma, poderá ser percebida a
diferença da abordagem temática, o que hoje é mais relevante e o posicionamento dos
apresentadores. Mesmo estando sentado há anos na bancada do Jornal Nacional, é possível
perceber uma grande diferença na postura do Willian Bonner. Inicialmente, sério, mantinha a
postura de neutro e imparcial. Hoje desconstrói esse personagem através de mídias sociais
alternativas. Além disso, no próprio programa já é permitido algumas brincadeiras, visto que
apresenta o telejornal ao lado de sua esposa Fátima Bernardes. Quando um deles vai fazer
matéria externa e viaja por muito tempo, sempre acabam falando no ar sobre assuntos
pessoais. Já chegaram inclusive a mencionar seus filhos. Posturas que revelam um outro
posicionamento de regras do jornal.
41
permitir ao espectador uma troca. São recursos que se atualizam e não deixam que esse meio
se envelheça. (SODRÉ, 1984)
Hoje, a TV tem uma definição de imagem (high definition) que parece realidade e está
caminhando para que a interatividade seja pelo controle remoto. A tendência é que, em um
futuro bem próximo, não seja necessário outros meios para que haja a interação e tudo seja
possível apenas pelo sistema televisivo. A linguagem já vem se adaptando a essa nova
realidade. A tendência é que, apesar de ter uma interface de um monitor, tudo pareça real, um
simulacro. Por esse motivo, as conversas têm que ser descontraídas, a linguagem simples e
uma programação que mais que interagir deva entreter.
Abaixo alguns exemplos de como as mudanças já vêm acontecendo na Rede Globo e o
novo modelo de programação atual, o programa Custe Que Custar (CQC), da Rede
Bandeirantes.
6.2 CQC
não fariam nenhuma crítica a skol, por exemplo, que os patrocina, mesmo que ela esteja
praticando alguma ilegalidade.
A publicidade é outro ponto interessante do programa. As propagandas são todas feitas
por eles mesmos, eles atuam e fazem as ações de merchandising dos produtos. Por exemplo,
no quadro Top Five, há uma ação da Pepsi na vinheta do programa. Esse fato é importante,
visto que os apresentadores acabam assumindo suas opiniões por produtos. Isso seria algo
inadmissível para um jornal convencional, porque passaria mesmo que inconscientemente
uma idéia de parcialidade. Um exemplo vivo é o fato das Organizações Globo proibirem
qualquer jornalista de fazer comercial para marcas que não sejam da própria empresa.
O fato é que eles colocam opinião. Marcelo Tas em entrevista para a revista Megazine
afirma “Não sou imparcial”. É um raciocínio lógico, de que a imparcialidade não existe. Todo
veículo é embasado por uma linha editorial a ser seguida. Outra frase imponente de Marcelo é
“Comunicação não é o que eu estou falando, mas o que vocês estão ouvindo”. Trabalha mais
com uma interação e horizontalização do discurso.
O auditório do programa é bastante heterogêneo, porque tem além de um "jornalismo
stand-up" com um público presente, um auditório virtual. Tratam de temas que são óbvios
para a sociedade, mas abandonados pelo jornalismo de referência, ficando mais fácil o
interesse do público. Sua retórica é baseada em aspectos próprios da cultura POP, um
jornalismo que também busca os furos, relação com interesse público e responsabilidade
social.
Inauguram a presença de uma platéia no jornalismo que é presentificada. Lidam com a
questão da espontaneidade, o que foge dos padrões Jornal Nacional. Não buscam em suas
matérias o senso comum, trazem uma versão que não tem o objetivo de mobilizar sentidos, é
isso e ponto. Fazem uma aberta crítica ao jornalismo de referência, por algumas vezes não
abordarem aspectos importantes dos acontecimentos. No caso da entrevista feita pela Patrícia
Poeta, no Fantástico, com Ronaldo Fenômeno, a apresentadora fez uma exclusiva com o
jogador em um momento em que ele era o nome mais comentado na mídia por um suposto
envolvimento com travestis. Patrícia fez a entrevista e não perguntou nada que todos,
supostamente, queriam saber. A matéria foi superficial e sensacionalista, já que, usou o tema
para chamar a atenção, mas o assunto foi abordado de forma a proporcionar uma defesa ao
atleta e não a sanar todas as questões. 4
4
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=wv5Yaue7wYY&feature=results_video&playnext=1&list=PL071CDE76219
0B27F Acesso em: 29/11/2011
45
Os membros do CQC fazem uma ironia com este vídeo, mostrando a intertextualidade
já referida acima com a crítica que fazem as coberturas dos fatos feita pela grande imprensa.
Neste caso, Tas desconstrói as perguntas feitas a Ronaldo pela jornalista da Globo, Patrícia
Poeta. O CQC editou as respostas dadas e gerou perguntas que não foram feitas pela
apresentadora, mas o que realmente todos queriam saber. Tas se mostra sério, no melhor
estilo jornalístico dos padrões convencionais, faz as perguntas gesticulando e interagindo com
o entrevistado. A crítica é exatamente em relação à exclusividade. O simples fato do
Fantástico ter conseguido fazer essa entrevista cria uma credibilidade em torno do enunciador
do discurso, mesmo que as perguntas não sejam úteis para esclarecer questões para o
telespectador. Mostra que eles estiveram lá, conseguiram o que ninguém conseguiu, ou seja,
constroem um poder que influência na confiança do público ao que é dito. 5
Em relação ao entretenimento, representa uma estratégia para capturar audiência,
como já afirmado, necessária atualmente para garantir a competitividade entre programas. É,
principalmente, o que desperta a atenção do público, já que este não é mais uma massa
hegemônica e menos passiva. Na maioria das vezes, o entretenimento é associado a algo
negativo, sem conteúdo. Na verdade, ele também pode potencializar a criatividade e não
interdita necessariamente a qualidade. (GOMES, 2009)
É uma espécie de interface que passa o conteúdo jornalístico de uma forma menos
tensa ao telespectador. Lidam com o lado emocional e racional, diferente do Jornal Nacional.
Este como exemplo ao jornalismo de referência, faz a escalada do programa de forma a criar
uma tensão no telespectador. O CQC investe no aspecto emocional, fazendo o telespectador,
de certa forma, interagir. E é nesse ponto que os recursos audiovisuais se encaixam muito
bem, estimulam o humor e geram sensações em quem assiste.
Usam vinhetas, trilhas sonoras, imagens que entram na tela. A narrativa é suave, com
um discurso pessoal e subjetivo. Inclusive, os próprios apresentadores conversam durante o
programa de forma descontraída, utilizando gírias, apelidos, com uma linguagem bem
próxima ao nosso cotidiano. Isso é mais um grande rompimento com a rigidez do jornalismo
convencional.
Abaixo, alguns exemplos de quadros do programa que comprovam as informações
descritas.
5
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xsgJxSlCQhE. Acesso em: 05/06/2011
46
6
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=XeRaCipOep4. Acesso em: 09/11/2009.
7
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7GlBKJCWXaY. Acesso em: 05/06/2011.
8
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=lhYLDpYygJo. Acesso em: 05/06/2011.
47
Hoje já é possível ver várias alterações nos programas globais, desde os mais sérios
até os mais descontraídos. Abaixo alguns exemplos de mudanças de comportamento ou
telejornais globais que acreditam no entretenimento.
Esse telejornal sempre foi muito sério. Principal jornal da TV Globo é o que sempre
seguiu os padrões de qualidade, mas ultimamente vem ficando mais flexível e levando
determinados assuntos com mais descontração.
Em 30 de junho de 2010, durante a Copa do Mundo, Fátima Bernardes foi para África
do Sul fazer a cobertura local e, quando William Bonner foi chamá-la durante o link no
programa, brincou com sua aparência, comentou do cachecol e do gorro que ela usava,
chamando-o de “gorrinho”. Uma conversa informal remete a uma forma mais pessoal de
relacionamento. 9
Fatos como esse tornam o Jornal Nacional menos frio e sério, dá um ar de
entretenimento. Brincadeiras como essas tiram o tom impessoal do jornal e dão a informação
passada um ar mais descontraído e opinativo, uma vez que, seu emissor ganha um breve
perfil, nesse caso, de simpatia e descontração. Fatos como esses não eram vistos
anteriormente.
Outro exemplo foi em 03 de setembro de 2010, quando Fátima Bernardes falou da
gravidez de Rosana Jatobá, a garota do tempo. Nesse caso, a apresentadora do Jornal
Nacional também teve uma conversa informal durante o programa, como se estivessem tendo
um bate-papo de dia a dia sobre a gravidez de Rosana. Jatobá dá detalhes dos filhos que
espera, das dificuldades de trabalhar com uma barriga grande e ainda do seu estado de
espírito. Um fato que foge totalmente da parte informacional e desloca a atenção do
telespectador para a figura que fala. Nesse momento, o dialogo remete apenas ao
entretenimento. 10
Em 2009, no ano em que o Jornal Nacional completou 40 anos, os apresentadores
apresentaram o cenário antes do programa começar. A atenção do público foi deslocada para
o novo cenário do telejornal. Os apresentadores mostraram o novo local do programa e alguns
detalhes da redação. Esse foi também um conteúdo menos informativo, mas que aproximou o
9
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=wpdieL6ApMk&feature=related. Acesso em: 23 nov. 2011.
10
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=kI_1lOGaxn4. Acesso em: 23 nov. 2011.
48
JN do telespectador. Foi um fato que tornou o programa mais flexível, mais dinâmico e
interativo. Nesse caso, a notícia passou a ser o próprio programa e os apresentadores falaram
de maneira mais cativante e carismática. Apresentaram o cenário como um presente ao
público. Essa é uma “informação” que não é necessária, é até dispensável para a vida da
maioria das pessoas, no entanto, agrada ao telespectador, entretém e aparentemente estreita os
laços entre o emissor e o receptor.11 Isso acontece justamente pelo fato da TV ter se tornado
um ponto de interesse do público, ter dado certa fama para quem aparece no veículo. Por esse
motivo, tudo que se vê na mídia desperta a curiosidade da audiência.
Em um outro programa, William Bonner e Fátima Bernardes falam sobre o programa
ter ganhado o prêmio Emmy de telejornalismo. O destaque desse ponto é fazer da própria
mídia a notícia. Além disso, trazem a tona a emoção, falam de si próprios. Por esse motivo,
esse vídeo se tornou destaque. Os apresentadores aparecem de forma mais descontraída,
falando de algo que aconteceu na vida deles próprios e, por isso, passam emoção. Foram
quase 5 minutos sobre o assunto. 12
Para encerrar, cito outro vídeo em que Bonner e Fátima deixam escapar um pouco de
opinião em uma outra matéria sobre o Fim do Mundo. Ambos mostraram que não acreditaram
no assunto da matéria. Fátima diz “Se ele estiver errado, o Jornal Nacional volta amanhã” e
Bonner bate três vezes na mesa. Ou seja, fica claro que eles não acreditam no fim do mundo.
Foi uma atitude divertida, que desvia o tom de seriedade e, mais uma vez, entretém e interage
com o telespectador. 13
assuntos tratados são bem menos densos, os temas são cotidianos, ficando claro que visam
mais entreter do que informar. 14
Em 30 de setembro de 2009, Sandra e Evaristo cometem um erro, que se torna motivo
para piadas, risadas, uma grande descontração. Os apresentadores fogem do padrão impessoal
e fazem brincadeiras no ar. O que vale é manter o telespectador com a TV ligada e gostando
do que está assistindo. Em momento nenhum, eles tentam disfarçar o erro, pelo contrário o
reforçam, já que mesmo depois da previsão do tempo, Sandra volta ao assunto. 15
O último vídeo é um claro exemplo de interatividade, uma reportagem que foi
sugerida pelo telespectador pela internet. Este fato mostra o interesse em agradar o público
prioritariamente. Além disso, o casal de apresentadores mantém o estilo já comentado
anteriormente, brincam com o tema e tornam a apresentação do telejornal mais leve e
dinâmica. Eles brincam entre si a todo tempo, unem informação com entretenimento para
manter o telespectador antenado na notícia. 16
14
Disponível
em:
http://www.youtube.com/watch?v=aLv7bW2nTws&feature=related.
Acesso
em:
23
nov.
2011.
15
Disponível
em:
http://www.youtube.com/watch?v=OqamIL_TUrY&feature=related.
Acesso
em:
23
nov.
16
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=UD2JHCDFPbY. Acesso em: 23 nov. 2011.
50
17
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=QyoJiHHpe5Q. Acesso em: 23 nov. 2011.
18
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=8oclhjpnMWE. Acesso em: 23 nov. 2011.
51
7 CONCLUSÃO
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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<http://www.youtube.com/watch?v=wpdieL6ApMk&feature=related>. Acesso em: 23 nov.
2011.
9. ANEXO – VÍDEOS