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Curso de Bacharelado em Biblioteconomia

na Modalidade a Distância

Roosewelt Lins Silva

Informatização de Ambientes
de Informação

Semestre

6
Brasília, DF Rio de Janeiro
Faculdade de Administração
e Ciências Contábeis
Departamento
de Biblioteconomia

2022
Permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não
comerciais, desde que atribuam o devido crédito ao autor e que licenciem as novas
criações sob termos idênticos.

Presidência da República Comissão Técnica


Célia Regina Simonetti Barbalho
Ministério da Educação Helen Beatriz Frota Rozados
Henriette Ferreira Gomes
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Marta Lígia Pomim Valentim
Superior (CAPES)
Comissão de Gerenciamento
Diretoria de Educação a Distância (DED) Mariza Russo (in memoriam)
Ana Maria Ferreira de Carvalho
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Maria José Veloso da Costa Santos
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Nadir Ferreira Alves
Nysia Oliveira de Sá
Núcleo de Educação a Distância (NEAD)
Equipe de apoio
Eliana Taborda Garcia Santos
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC)
José Antonio Gameiro Salles
Departamento de Biblioteconomia Maria Cristina Paiva
Miriam Ferreira Freire Dias
Rômulo Magnus de Melo
Solange de Souza Alves da Silva

Coordenação de
Desenvolvimento Instrucional
Cristine Costa Barreto

Desenvolvimento instrucional
Marcelo Lustosa

Diagramação
André Guimarães de Souza

Revisão de língua portuguesa


Patrícia Sotello

Projeto gráfico e capa


André Guimarães de Souza
Patricia Seabra

Normalização
Lamas Consultoria

S586i Silva, Roosewelt Lins.


Informatização de ambientes de informação / Roosewelt Lins Silva. – Brasília,
DF : CAPES : UAB ; Rio de Janeiro, RJ : Departamento de Biblioteconomia, FACC/
UFRJ, 2022.
100 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-85229-92-4 (brochura)
ISBN 978-85-85229-95-5 (e-book)

1. Automação de bibliotecas. 2. Gestão nas TICs. I . Título.

CDD 53.285
CDD 53.285

Catalogação na publicação por: Solange Souza CRB-7 / 6646


Caro leitor,
A licença CC-BY-NC-AS, adotada pela UAB para os materiais
didáticos do Projeto BibEaD, permite que outros remixem, adaptem e
criem a partir desses materiais para fins não comerciais, desde que lhes
atribuam o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos
idênticos. No interesse da excelência dos materiais didáticos que compõem
o Curso Nacional de Biblioteconomia na modalidade a distância, foram
empreendidos esforços de dezenas de autores de todas as regiões do
Brasil, além de outros profissionais especialistas, a fim de minimizar
inconsistências e possíveis incorreções. Nesse sentido, asseguramos que
serão bem recebidas sugestões de ajustes, de correções e de atualizações,
caso seja identificada a necessidade destes pelos usuários do material ora
apresentado.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - As inovações tecnológicas, impulsionadas pelo


progresso da microeletrônica, foram incorporadas às
bibliotecas, que passaram a dispor de meios de busca
e comunicação muito mais eficientes............................. 15

Figura 2 - Internet das coisas......................................................... 23

Figura 3 - Sistema de Gerenciamento de Bibliotecas...................... 27

Figura 4 - OPAC do sistema Koha.................................................. 30

Figura 5 - Uma característica fundamental da cultura digital


é a produção descentralizada e colaborativa do
conhecimento............................................................... 32

Figura 6 - Arquitetura de um CMS................................................ 33

Figura 7 - Painel do WordPress...................................................... 35

Figura 8 - A popularização dos smartphones, tablets e dispositivos


móveis, de modo geral, fomentou o desenvolvimento
de aplicativos................................................................ 43

Figura 9 - Exemplo de Planilha MARC 21 no Koha........................ 58

Figura 10 - Interface Omeka Classic................................................. 64

Figura 11 - Interface do Omeka S.................................................... 65

Figura 12 - Configuração de metadados no Tainacan...................... 66

Figura 13 - Empreendimentos cooperativos e compartilhados


entre bibliotecas e demais ambientes de informação
podem ser consolidados mediante programas e
políticas públicas para a democratização da
produção intelectual...................................................... 70

Figura 14 - É sempre desejável uma equipe multidisciplinar,


inventiva e dinâmica, para desenvolver os trabalhos
de planejamento e governança dos componentes
de TI.............................................................................. 78

Figura 15 - Processo de automação de bibliotecas........................... 93

Figura 16 - Requisitos de Sistemas de Gerenciamento


de Bibliotecas................................................................ 95

Figura 17 - Elaboração de Documento de Requisitos de Sistema...... 95


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Exemplo de Registro em MARC...................................... 57

Quadro 2 - Técnicas de Análise de Requisitos................................... 82


LISTA DE SIGLAS

AACR2 Anglo American Cataloging Rules

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

API Application Programming Interface

AI Arquitetura da Informação

ARES Acervo de Recursos Educacionais em Saúde

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

CMS Content Management System

CSV Comma Separated Values

FUNARTE Fundação Nacional de Artes

Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz

HTML HyperText Markup Language

IaaS Infrastructure as a service

IBBD Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação

IBICT Instituto Brasileiro de Informação e Ciência e Tecnologia

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICICT Instituto de Comunicação e Informação Científica e


Tecnológica em Saúde

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

IoT Internet of Things

ISBD International Standard Bibliographic Description

JSON JavaScript Object Notation

LOM Learning Object Metadata

LSP Library Services Platform

MARC 21 Machine Readable Cataloging

METS Metadata Encoding & Transmission Standard

MIT Massachusetts Institute of Technology

MODS Metadata Object Description Standard

NISO Organização Nacional de Padrões de Informação

OAI-PMH Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting

OJS Open Journal System

OPAC Online Public Access Catalog


QR Code quick response

PDI Plano Diretor de Informática

RA Realidade Aumentada

RBBC Bibliotecas Escolares e Rede Brasileira de Bibliotecas


Comunitárias

RD Repositório Digital

RDA Resource Description and Access

RDF Resource Description Framework

REST Representational State Transfer

RFID Radio Frequency Identification

RNP Rede Nacional de Ensino e Pesquisa

RSS Really Simple Syndication

SEER Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas

SEO Search Engine Optimization

SGBD Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados

SNBP Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas

SGB Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas

SMS Short Message Service

TI Tecnologia da Informação

UML Unified Modeling Language

UNA-SUS Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde

UX User Experience

XML Extensible Markup Language


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO......................................................................................... 11
1 UNIDADE 1: FUNDAMENTOS DA INFORMATIZAÇÃO DE AMBIENTES
DE INFORMAÇÃO....................................................................................... 13
1.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................... 13
1.3 INTRODUÇÃO........................................................................................... 15
1.4 PRINCIPAIS APLICAÇÕES.......................................................................... 18
1.4.1 Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas............................................ 24
1.4.2 Sistemas de Gerenciamento de Conteúdos............................................ 32
1.4.3 Sistemas de Bibliotecas e Repositórios Digitais..................................... 38
1.4.4 Tecnologias emergentes.......................................................................... 42
1.4.5 Atividade.................................................................................................. 46
1.4.6 Atividade.................................................................................................. 46
RESUMO..................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS............................................................................................. 47
SUGESTÃO DE LEITURA.............................................................................. 51
2 UNIDADE 2: INICIATIVAS DE INFORMATIZAÇÃO DE AMBIENTES
DE INFORMAÇÃO....................................................................................... 53
2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 53
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................... 53
2.3 INTRODUÇÃO........................................................................................... 55
2.4 INICIATIVAS, PADRÕES E FERRAMENTAS................................................ 55
2.4.1 Atividade.................................................................................................. 71
2.4.2 Atividade.................................................................................................. 72
RESUMO..................................................................................................... 72
REFERÊNCIAS............................................................................................. 72
3 UNIDADE 3: PLANEJAMENTO DA INFORMATIZAÇÃO EM AMBIENTES
DE INFORMAÇÃO....................................................................................... 75
3.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 75
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................... 75
3.3 INTRODUÇÃO........................................................................................... 77
3.4 ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS............................................................ 79
3.4.1 Atividade.................................................................................................. 85
RESUMO..................................................................................................... 85
REFERÊNCIAS............................................................................................. 86
4 UNIDADE 4: ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO
DE BIBLIOTECAS......................................................................................... 87
4.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 87
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 87
4.3 INTRODUÇÃO........................................................................................... 89
4.4 ETAPAS DE UM PROJETO DE AUTOMAÇÃO DE BIBLIOTECAS............... 93
4.4.1 Atividade.................................................................................................. 96
4.4.2 Atividade.................................................................................................. 97
RESUMO..................................................................................................... 97
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 98
REFERÊNCIAS............................................................................................. 98
BIBLIOGRAFIA BÁSICA............................................................................... 99
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR............................................................... 100
APRESENTAÇÃO
A proposta da disciplina é apresentar os fundamentos das tecnologias de
informatização de ambientes de informação para auxiliar o planejamento e a gestão
de sistemas, a partir do estabelecimento de abordagens e ferramentas direcionadas ao
atendimento das necessidades informacionais da comunidade de usuários. Na expectativa
de agregar valor aos serviços e produtos de informação, convém compreender os
conceitos, as metodologias as e soluções tecnológicas no âmbito da Biblioteconomia.
Serão apresentadas ainda iniciativas nacionais e internacionais de informatização
de ambientes de informação, padrões para a descrição de recursos e conceitos para
a elaboração de projetos de automação e a inserção de Tecnologia da Informação
(TI) conforme a análise de requisitos. Nesse quadro, é indispensável a aplicação dos
fundamentos discutidos em disciplinas como Introdução às Tecnologias de Informação
e Comunicação, Redes de Computadores e Planejamento e Elaboração
de Bases de Dados.
Os temas abordados servirão de base para o conhecimento da potencialidade, o
acompanhamento do desenvolvimento e a informação sobre os recursos e as ferramentas
que serão aprofundadas em disciplinas como Bibliotecas Digitais, Serviços de
Informação em Rede, Editoração eletrônica e Publicações Digitais. A partir desses
eixos teóricos, o profissional possuirá uma diversidade de perspectivas conceituais e
pragmáticas que possibilitarão conhecer as iniciativas, compreender os padrões e aplicar
ferramentas tecnológicas que serão apresentadas ao longo do material didático.
Dessa forma, acredita-se que os fundamentos e exemplos de práticas compartilhados
neste material educacional fomentam o debate acerca do impacto da TI nos processos de
produção, organização e democratização dos registros do conhecimento.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 11


UNIDADE 1
FUNDAMENTOS DA
INFORMATIZAÇÃO DE
AMBIENTES DE INFORMAÇÃO

1.1 OBJETIVO GERAL


Apresentar os fundamentos teóricos da Informatização de Ambientes de Informação, a fim de
compreender os aspectos históricos e culturais da produção, do registro e do acesso à informação em
diversos contextos sociais.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Esperamos que, ao final desta Unidade, você seja capaz de:
a) reconhecer os conceitos fundamentais à compreensão do advento da tecnologia na sociedade
contemporânea;
b) debater sobre o impacto das tecnologias digitais na organização da informação;
c) apresentar a aplicabilidade dos componentes das tecnologias da informação e comunicação para
a informatização de ambientes de informação.
1.3 INTRODUÇÃO
Registrar conhecimentos é uma prática social fundada na necessidade
de produção e transmissão de experiências humanas mediante a palavra
escrita. Os registros do conhecimento como componente histórico-
social possibilitam a preservação da memória por meio de um suporte
informacional. A história do livro e das bibliotecas aponta para diversos
mecanismos de organização dos registros do conhecimento, técnicas
de controle para localização física e preservação de documentos para
gerações futuras.
Com os impressos, instaurou-se a necessidade de sistematização de
abordagens e instrumentos de tratamento, processamento e difusão
da memória coletiva. Nesse contexto, surgem abordagens e tentativas de
solucionar o problema de identificação e acesso físico aos documentos.
A partir do aperfeiçoamento das máquinas que processam e armazenam
os registros do conhecimento, os dispositivos magnéticos e eletrônicos
trouxeram uma nova dinâmica para instituições que possuem acervos
bibliográficos e documentais.
O extraordinário progresso da microeletrônica proporcionou inúmeras
inovações tecnológicas, sendo o computador digital o principal dispositivo
que reconfigurou os modos de as pessoas se expressarem, impactando
todas as esferas da sociedade. A biblioteca como instituição acompanhou
a dinâmica social e passou a incorporar a máquina computacional para
tornar a busca e a comunicação mais eficientes. Surgem então novas
possibilidades para o intercâmbio de dados bibliográficos pela criação de
catálogos cooperativos e participação de redes integradas. A tecnologia,
nesse contexto, é percebida como componente fundamental para a
confecção de catálogo de autores e índices de títulos e assuntos, além
da potencialização da comunicação entre a biblioteca e a comunidade.

Figura 1 - As inovações tecnológicas, impulsionadas pelo progresso da microeletrônica,


foram incorporadas às bibliotecas, que passaram a dispor de meios de busca e
comunicação muito mais eficientes

Fonte: Pixabay (2021)1.

1
PIXABAY. Aprender, treinamento, livros. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/
aprender-treinamento-livros-4226965/. Acesso em: 1 dez. 2021.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 15


Nas últimas décadas do século XX, os dispositivos tecnológicos esta-
beleceram um conjunto de mudanças que permitiu novas ferramentas
e modos de produção, substituindo a mecanização pela automação. Já
neste início do século XXI, a tecnologia computacional promoveu a digi-
talização das forças produtivas, tornando a informatização no principal
elemento da sociedade atual. A automação deixou de ser um aparato
industrial e passou a ser cada vez mais introduzida nos modos de vida de
diferentes sociedades. A internet na atualidade é um sofisticado canal
de comunicação intermediado por sistemas inteligentes que automati-
zam o processo de recomendação de conteúdos, análise de tráfego de
dados e distribuição de mídias.
A proposta de conectar diversos computadores é motivada pelas múl-
tiplas possibilidades de compartilhar recursos e serviços entre diversos
usuários independentemente de barreiras geográficas. A base da rede
mundial de computadores é caracterizada por padrões técnicos que permi-
tem o pleno funcionamento dos recursos da rede, como transferência de
arquivos, acesso remoto, envio de mensagens e transmissão de fluxo
de mídia (streaming media). É um grande desafio acompanhar toda essa
evolução, pois a cada dia uma nova aplicação é introduzida no mundo
digital – a maioria depende de requisitos como mobilidade e compartilha-
mento de conteúdo nas redes sociais.

Explicativo

Streaming media (“mídia de


streaming”) é a tecnologia
de transmissão de dados que
são entregues e consumidos de
maneira contínua a partir
de uma fonte, sem que seja
preciso baixar o conteúdo.
Cabe ressaltar que “streaming”
refere-se ao modo de entrega
do conteúdo e não ao conteúdo
em si.
Exemplos de plataformas famosas de streaming, nas quais é
possível consumir conteúdos audiovisuais, como filmes, documen-
tários e séries, são Netflix e Amazon Prime.2

Podemos afirmar então que a internet é um meio de interação


de fluxos comunicacionais, um ambiente de convergência de mídias
baseado em um modelo descentralizado que interliga diversos
dispositivos que operam a partir de protocolos abertos, possibilitando
que qualquer hardware conecte a rede mundial e possa compartilhar
recursos. Diante das reconfigurações sociais, constatamos as múltiplas
potencialidades da internet para a produção do conhecimento, já que

2
Fonte da imagem: PIXABAY. Computador portátil, filme, pipoca. Disponível em: https://pixabay.
com/pt/photos/computador-port%c3%a1til-filme-pipoca-6002099/. Acesso em: 1 dez. 2021.

16 Informatização de Ambientes de Informação


uma das contribuições mais relevantes da rede é permitir que qualquer
pessoa conectada seja capaz de produzir informação e também de atuar
como mediadora e usuária.
Observamos, a partir desse contexto de mudanças sociais, que a
inserção tecnológica de instituições e organizações responsáveis pela
preservação, tratamento e democratização da informação depende
de uma infraestrutura de TI composta por sistemas de informação,
equipamentos e pessoal especializado. Contudo, nem sempre é possível
investir em uma infraestrutura, devido aos custos e à complexidade da
manutenção dos serviços.
Atualmente um modelo bastante difundido para instituições e
organizações que não possuem ou não desejam manter uma infraestrutura
robusta de servidores e especialistas em TI é a terceirização de serviços. Com o
advento da computação nas nuvens e a virtualização, surgem as plataformas
baseadas em serviços. A modalidade Library Services Platform (LSP)
é uma solução viável para muitas situações, mas vale reforçar que o processo
de informatização depende de um estudo sistematizado que leve em conta
os ambientes interno e externo. Nas Unidades 3 e 4, retomaremos essa
discussão sobre o processo de informatização conforme uma abordagem
para a análise de requisitos e a execução de um plano de inserção de TI.
O processo de informatização de museus, bibliotecas, arquivos e demais
instituições e organizações que atuam diretamente com a democratização
do patrimônio informacional contempla diversos contextos. De forma
geral, podemos apontar para algumas necessidades:
a) automação de processos administrativos;
b) execução de projetos de digitalização de documentos;
c) incorporação de metadados para descrição de recursos digitais;
d) criação de vocabulários especializados;
e) implementação de estratégias de preservação digital;
f) desenvolvimento de repositórios digitais;
g) adequação de interfaces de ambientes informacionais.

As necessidades listadas exemplificam os modelos de negócios, po-


rém, é importante salientar que podem surgir novas demandas confor-
me a dinâmica de trabalho. Os fluxos de trabalho envolvem a gestão de
dados bibliográficos, a difusão da produção intelectual, a manutenção
de bases de dados e de repositórios especializados, os serviços existentes
em empresas, órgãos públicos, terceiro setor, indústria e comércio, assim
como qualquer ambiente que precise de informação sistematizada. Para
que seja efetivada a informatização de todo o processo de trabalho, é ne-
cessário investir em pessoal engajado na organização e no planejamento
de recursos materiais e imateriais.
Nessa perspectiva, o bibliotecário é o especialista que atua em diver-
sos setores e em diferentes contextos, sendo a tecnologia o dispositivo
que o auxilia na comunicação e no tratamento de recursos informacionais.
O cenário atual impõe inúmeros desafios e oportunidades para a
formulação de estratégias e políticas de informatização em diversos
ambientes de informação. Cada área de atuação opera a partir da for-
mulação de políticas para o gerenciamento de dados e informações.
Logo, o profissional necessita assumir responsabilidades e aplicar conheci-
mentos para efetuar um trabalho de qualidade para toda a sociedade.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 17


Para compreender o processo de informatização e acompanhar os
avanços tecnológicos na contemporaneidade, é necessário revisar
os componentes de TI, a partir de uma relação com os tópicos de
disciplinas como Introdução à Ciência da Computação e Tecnologias
de Informação e Comunicação, existentes na estrutura curricular do
curso de Biblioteconomia. Na próxima seção, trataremos de conceitos
da TI para compreendermos como as ferramentas computacionais
podem ser aplicadas no contexto das bibliotecas e outros ambientes
de informação.

1.4 PRINCIPAIS
APLICAÇÕES
Com o aprimoramento das técnicas de organização bibliográfica e
as inúmeras possibilidades dos computadores, a ideia de automatizar
o processamento técnico e as rotinas administrativas ressignificou
a infraestrutura das bibliotecas. Um exemplo disso é a capacidade de
processar grande volume de dados, facilitando a consulta e a geração
de indicadores que auxiliam o trabalho do bibliotecário. Elementos como
a facilidade de pesquisa por diversos pontos de acesso tornaram mais
dinâmicos os sistemas de recuperação da informação.
Os dispositivos de conectividade de dados criaram outras potencialida-
des, uma vez que a formação de redes distribuídas tornaram as bibliote-
cas acessíveis on-line e modificaram a forma de registro e de intercâmbio
de dados bibliográficos e documentais. A internet nas bibliotecas possibi-
lita a exposição de suas atividades e canais de comunicação, ferramenta
fundamental para interagir com diversos usuários e oferecer conteúdo
personalizado.
Muitas discussões que giram em torno da tecnologia na Bibliotecono-
mia e na Ciência da Informação destacam a relação entre a introdução de
computadores no tratamento da informação em diversos suportes. Com
base nessas acepções, o bibliotecário necessita de instruções para que
possa administrar e realizar configurações básicas em alguns softwares
para gerenciamento de dados bibliográficos, documentos digitais e pro-
dução de conteúdo na web.
Para configurar e administrar sistemas informatizados em bibliotecas e
outras instituições e organizações, deve-se possuir uma fundamentação
teórica sobre os requisitos, funcionalidades e métodos de avaliação de
recursos de TI. Sobre essas questões, Russo (2010, p. 71) explica que:

[…] as bibliotecas – ou outras unidades de informação


– têm, basicamente, duas finalidades principais:
a) atender às necessidades dos seus usuários e b)
procurar facilitar o acesso, de forma rápida e ótima,
à informação por eles solicitada. A multiplicidade e a
grande quantidade de informações geradas no mundo
atual requerem dessas instituições a adoção de novas
técnicas para se atingir os objetivos apontados acima.

18 Informatização de Ambientes de Informação


A informática tem sido uma disciplina fundamental
na evolução das áreas de Biblioteconomia e
Ciências da Informação, principalmente pelo
emprego das chamadas Tecnologias de Informação
e Comunicação (TIC).

Na sociedade informatizada, a maioria das tarefas desenvolvidas – em


quase todas as profissões – recebe influência da Informática. No caso
específico da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, a Informática
assume o papel de uma ferramenta importante para agilizar a produção,
o processamento, a divulgação e a recuperação da informação. Com o
passar dos anos, essa influência se tornou cada vez mais marcante, não
devendo ser considerada como uma ameaça mas como uma oportunida-
de para a promoção do melhor atendimento às necessidades dos usuá-
rios. Todo o ciclo da informação caracterizado pela geração, difusão e uso
foi influenciado e potencializado pelas iniciativas da Informática.
Na contemporaneidade, praticamente todas as atividades de cataloga-
ção, classificação e indexação, assim como os processos de recuperação
da informação em diferentes suportes informacionais, são intermediadas
pelas interfaces computacionais. O emprego do computador para trata-
mento e recuperação de dados de maneira sistemática permite a mani-
pulação de grande massa de dados e a interação com usuários e outros
sistemas, funcionando, desse modo, como ferramenta para incrementar
os processos de transmissão da informação, assim como também a redu-
ção de tempo e a racionalização de espaços de armazenamento.
Russo (2010) acrescenta que a aplicação da Informática nas diferentes
atividades profissionais vem se constituindo em um grande desafio, já que
mudanças substanciais estão ocorrendo nas relações de trabalho e nas
formas de condução das tarefas diante desse cenário tecnológico. Nesse
contexto, a autora (2010) destaca a contribuição da educação perma-
nente como uma meta presente para todos os profissionais e recomenda
para os bibliotecários “[...] uma contínua atualização, não só no que diz
respeito ao domínio das ferramentas de Informática, como também nas
áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação” (RUSSO, 2010, p. 84).
Diversas instituições, como bibliotecas públicas, escolares, especializa-
das, universitárias, digitais, centros de documentação, serviços de infor-
mação em redes e sistemas corporativos, são contextos que necessitam
de informação organizada e sistematizada e, nesse cenário, a internet
trouxe inúmeros desafios, perspectivas e responsabilidades.
Miller (2014) afirma que o impacto da internet na biblioteca e em ou-
tras profissões relacionadas à informação tem sido dramático, mudando
não apenas as atividades diárias, os serviços e a formação profissional dos
bibliotecários, mas a própria noção de biblioteca. De fato, nenhum negó-
cio de fornecimento de informações permaneceu inalterado pela internet
e pelas tecnologias relacionadas que se desenvolveram dentro e ao redor
dela. Alguns afirmam que a internet mudou tudo, gerando novos desa-
fios e oportunidades para a prática profissional nas bibliotecas.
É notável que existem muitos desafios e oportunidades na prática
bibliotecária frente às redes de conectividade, contudo, convém desta-
car que, para implementar recursos tecnológicos baseados na internet,
é necessário um posicionamento estratégico por parte do profissional
e do pessoal da computação. Sobre essa assertiva Blattmann (2010, p.
38) afirma que:

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 19


Escolher quais os recursos da Internet para uma
biblioteca não é uma tarefa fácil. Requer observar
cuidadosamente as tecnologias, seus usos, realizar
testes e avaliar os resultados para definir quais as
melhores práticas ou modelos a serem adotados no
cotidiano das bibliotecas.

As redes de comunicação no cotidiano das bibliotecas proporcionam


a criação de serviços centrados no acesso à informação e a canais de co-
municação que possibilitam experiências interativas e desterritorializadas.
Wilson (2006, p. 20) assinala que a internet:
a) aprimora os serviços e operações da biblioteca, melhorando a
comunicação e a transferência de dados;
b) afeta o fluxo de trabalho e as coleções;
c) permite pesquisar catálogos e bancos de dados, solicitar materiais
da biblioteca, transferir ou baixar arquivos de registros bibliográficos
em catálogos, expandir opções de pesquisa e se comunicar com os
usuários e a equipe da biblioteca;
d) possibilita que as bibliotecas implementem intranets, sites internos
da web para recursos de informação para a equipe.

As implementações de aplicações baseadas na internet para administrar


serviços de informação são fundamentais para a promoção do acesso
aberto, já que muitas ferramentas de descoberta e catálogos on-line
fazem uso de técnicas computacionais para a recuperação e a filtragem
da informação. Essas inovações tecnológicas possuem fortes implicações
sociais e culturais, como defende Marcial (2013, p. 56), quando destaca
que a inovação é:

[…] uma filosofia e um processo que devem ser incor-


porados no gerenciamento de bibliotecas, para servir
como veículo para o que é o objetivo real, para pro-
jetar e implementar os serviços e os produtos de in-
formação que são úteis para os usuários, a partir das
exigências e requisitos deles. Sempre se tendo como
referência os contextos institucional, sociocultural,
tecnológico, legal e econômico em que se desenvolve
a biblioteca e os fins para os quais esta foi criada.

As bibliotecas e outros ambientes de informação, de modo geral, vêm


procurando se adaptar para suprir as necessidades dos usuários, fazendo
com que cada vez mais haja necessidade de mecanismos eficientes e
plenamente integrados e bem planejados. Esses espaços de memória e
difusão do conhecimento convergem saberes, práticas, sujeitos, serviços,
produtos e tecnologias. Assim, necessitam acompanhar as intensas
transformações que ocorrem em nossa sociedade contemporânea.
A obtenção de informação rápida e segura tornou-se ainda mais
acentuada devido não só a sua intensidade, mas também ao avanço
das redes de computadores e dispositivos móveis. Além disso, existe o
envolvimento direto dos usuários no processo de obtenção da informação,
o que estreitou o relacionamento entre o usuário e a biblioteca, já que os
recursos da web permitem maiores colaboração e interação.

20 Informatização de Ambientes de Informação


A formação em Biblioteconomia necessita de conhecimentos especia-
lizados em Tecnologias da Informação para que os futuros profissionais
possam atuar como administradores de sistemas de gerenciamento de
bibliotecas, repositórios digitais, portais de conteúdo, bases de dados e
outros serviços de informação. Nesta seção, você conhecerá aplicações
específicas que possuem funcionalidades conforme as demandas da área.
Devido às rápidas mudanças, as tecnologias adotadas podem fracassar
ou tornarem-se obsoletas rapidamente, depende muito da fase de pla-
nejamento e do estabelecimento de critérios básicos para viabilizar sua
plena utilização.

Curiosidade

As tecnologias da informação
tornam-se obsoletas muito rapida-
mente, razão pela qual qualquer
profissional que lide com tecnologia
precisa de uma constante atualiza-
ção. Lembra do Fax? Era uma tecno-
logia que permitia a transferência de
documentos via rede telefônica. Na
época, foi considerada uma inovação
incrível, mas rapidamente se tornou
obsoleta porque, pouco tempo depois, surgiu o e-mail. O publici-
tário Washington Olivetto declarou, certa vez, jocosamente, que o
Fax foi a “coisa mais moderna do planeta durante 15 minutos”.3

Para a compreensão dos conceitos e do manuseio dos sistemas men-


cionados para acesso, tratamento, preservação e difusão da informação
em redes digitais, é necessário que o profissional aplique os princípios
básicos de informática e de gestão de recursos, que envolve a escrita
de e-mails, a moderação de comentários, a pesquisa em ferramentas de
busca, a presença nas redes sociais, a execução e a sustentabilidade
de projetos de informatização.
Sendo assim, o conhecimento em informática possibilita a compreensão
da infraestrutura de Tecnologia da Informação como suporte às rotinas
administrativas e atividades de acesso, produção, comunicação e
gerenciamento da informação em bibliotecas e demais entidades que
necessitam organizar os estoques de informação.
Como discutido anteriormente, o uso massivo de redes de comunicação
de dados e a web como principal recurso informacional trouxeram
novos modos de apropriação dos dispositivos digitais. Nesse contexto,
o profissional necessita também de conhecimentos, competências e
atitudes direcionadas a atender às demandas da sociedade conectada.
Cabe assinalar que o atendimento a essa demanda requer uma formação
direcionada ao conhecimento de softwares específicos que contemplem
os requisitos do ambiente interno.
3
Fonte da imagem: WIKIMEDIA. Fax Armarys. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Fax-amarys.jpg. Acesso em: 1 dez. 2021.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 21


Além dos softwares básicos, como navegador web e suíte de escritório,
utilizados em ambientes de trabalho para acesso a informações on-line,
edição de texto, apresentações e planilhas de cálculo, a Biblioteconomia
possui um conjunto de ferramentas específicas para lidar com todo o
fluxo administrativo e recursos para disseminar conteúdos e estabelecer
comunicação com os usuários.
A criação de um ambiente de produção no contexto biblioteconômico
precisa de sistemas computacionais, como interpretadores e compiladores
de linguagens de programação, Sistemas de Gerenciamento de
Bancos de Dados (SGBD), servidor web e servidor de arquivos para
desenvolvimento e execução de aplicações. Essa missão é bastante
complexa, devido à quantidade de ferramentas, plataformas, padrões e
abordagens de desenvolvimento e gestão de TI. Abordaremos algumas
aplicações utilizadas pela comunidade de profissionais e especialistas em
informatização de acervos e gestão de coleções digitais, evidenciando a
tecnologia em benefício das atividades de seleção, produção, disseminação
e preservação da informação.
Os sistemas de informação existentes na atualidade atendem à
demanda de gestão de dados e informações. Todavia, convém ressaltar que
a inserção tecnológica depende intensamente da cultura organizacional/
institucional, ou seja, atender a todos os requisitos funcionais é muito
mais uma questão de ordem gerencial do que técnica. Cada software
tem sua forma de armazenamento e processamento de dados; assim, é
necessário que se obtenha suporte profissional para lidar com questões
de segurança, preservação e escalabilidade, pois atualmente os sistemas
sempre necessitam de novas funcionalidades, que incluem integração,
correções de erros, atendimento à legislação vigente, proteção contra
ataques às redes de comunicação, cópia de dados e demais procedimentos.
A inserção das ferramentas da informática no gerenciamento da in-
formação pressupõe um modelo que inclui a automação das rotinas de
bibliotecas, a presença das bibliotecas na internet e a manutenção
de coleções digitais. Esse modelo traz inúmeras perspectivas para a mo-
dernização das bibliotecas; desse modo, é importante identificar expe-
riências na informatização em diversos contextos e casos de sucesso que
sirvam de fontes de referência para a Biblioteconomia.
Nesse cenário de grande fluxo de informação em meio virtual, os dados
precisam de uma sistematização para o registro e o acesso por diversos
usuários e aplicações. Assim, a gestão de dados e informações evidencia
os sistemas aplicados às bibliotecas que permitem catalogação, realização
de consultas, empréstimos de itens bibliográficos e armazenamento de
documentos multimídias. Além disso, depende de um banco de dados
robusto e seguro para registrar de forma persistente os dados do sistema
para que a instituição possa desenvolver suas atividades na internet com
qualidade e eficiência.
Conforme Miller (2014) as atividades na internet, como uso de mídia
social, armazenamento em nuvem, rastreamento de sites, transações de
dados e comércio eletrônico, acompanhadas da produção científica tra-
dicional e informações do governo estão gerando enormes conjuntos de
dados, geralmente chamados de big data.

22 Informatização de Ambientes de Informação


Essas tecnologias estão em bastante evidência no ambiente corpora-
tivo, pois o acesso a conteúdo nas redes sociais, o comércio eletrônico, o
georreferenciamento e as demais aplicações computacionais necessitam
de ferramentas para a recuperação e a filtragem de grande volume de
dados que circulam na internet. No contexto acadêmico, existe uma for-
te demanda de curadoria de dados científicos, indicadores de produção
intelectual, acesso a fontes especializadas, conversão e mapeamento de
esquemas de metadados para a gestão de recursos digitais.
Inovações, como a Internet das Coisas (Internet of Things), possibili-
tam utilizar sistemas inteligentes para a manipulação de objetos físicos e
a análise de dados em diversos domínios mediante aparatos interativos
que permitem controlar dispositivos de forma remota. Essas inovações
são exemplos de tendências do setor de tecnologia, cujo modelo de ne-
gócios envolve a criação e a manutenção de bancos de dados com alta
capacidade de armazenamento e processamento.

Figura 2 – Internet das coisas

Fonte: Pixabay (2021).4

Com o avanço dos celulares inteligentes e o desenvolvimento de


aplicativos para dispositivos móveis, surgiram muitas plataformas
que permitem integrar linguagens e tecnologias web, os chamados
frameworks dedicados a análise, documentação, programação e
manutenção de sistemas. Os sistemas de informação baseados na web,
além de permitirem que uma aplicação possa ser acessada de qualquer
lugar do mundo mediante um navegador, também torna possível que se
realize a integração com outras plataformas. Atualmente as aplicações
web já possuem interfaces similares às criadas para desktop, layouts
interativos e enriquecidos por mídias, ideais para navegação hierárquica,
transações com formulários, mecanismos de busca por palavras-chave,
recomendação de conteúdos e outros recursos na web.
As aplicações baseadas na web são também acessíveis por leitores de
tela e outros dispositivos como Smart TVs e consoles de games. Nesse
caso, é primordial que a interface atenda a algumas normas e padrões
que estabelecem diretrizes para a promoção da acessibilidade no
espaço digital. Portanto, não basta apenas conhecermos as principais
4
PIXABAY. Rede, internet das coisas. Disponível em: https://pixabay.com/pt/vectors/rede-iot-
internet-das-coisas-782707/. Acesso em: 2 dez. 2021.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 23


aplicações, é necessário também que os sistemas contemplem os
objetivos e metas institucionais, assim como a diversidade existente na
comunidade de usuários.
Por isso é importante que o profissional da informação conheça as
tecnologias para a inserção de TI e as ferramentas para a gestão de
dados. Disciplinas como Redes de computadores, Tecnologias de
Informação e Comunicação e Planejamento e Elaboração de Bases
de Dados possibilitam que se conheçam os fundamentos básicos e as
ferramentas baseadas nas redes de comunicação e para gerenciamento
de bases de dados estruturados.
A partir desses pressupostos, no tópico a seguir, destacaremos algumas
aplicações da TI na área. Na sequência, trataremos dos sistemas de geren-
ciamento de bibliotecas, dos sistemas de gerenciamento de conteúdo e dos
sistemas para bibliotecas/repositórios digitais como aplicações que permi-
tem a gestão de serviços de bibliotecas e outros ambientes de informação.
Com base nessas abordagens, apresentaremos aspectos relevan-
tes para a compreensão dos processos de gestão de rotinas, da gestão
de informações sobre as atividades da biblioteca e do desenvolvimento de
coleções digitais que necessitam de mais sistematização e estratégias
de acesso e compartilhamento.

1.4.1 Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas


Antes de apresentarmos a aplicabilidade dos Sistemas de Gerencia-
mento de Bibliotecas (SGB) na Biblioteconomia, revisaremos conceitos
elementares para a compreensão dessa tecnologia no processo de in-
formatização de acervos, considerada a aplicação fundamental para a
automação de bibliotecas.

Explicativo

Automação de bibliotecas
De acordo com Ortega (2002),
a automação de bibliotecas (library
automation) é uma área reconhecida
no idioma inglês, tanto nos Estados
Unidos como no Reino Unido, que
é também tratada pelos termos
computers in libraries, computers for
libraries, automation for librarians
e library technology. O termo é
amplamente adotado no Brasil e muitas vezes utilizado para
fazer referência ao uso de qualquer tecnologia no âmbito das
bibliotecas; contudo, o conceito é mais direcionado aos aspectos
administrativos de bibliotecas físicas.5

5
Fonte da imagem: PIXABAY. Biblioteca eletrônica, e-book e livro. Disponível em: https://
pixabay.com/pt/illustrations/biblioteca-eletr%C3%B4nica-ebook-e-livro-1666703/. Acesso em: 1
dez. 2021.

24 Informatização de Ambientes de Informação


“Automatizar” refere-se a um dispositivo autônomo, sem intervenção
humana. Das e Chatterjee (2015) enfatizam que, etimologicamente, em
latim, automatus significa “mover-se por si”. Em grego, automose significa
“algo que tem o poder de movimento espontâneo ou automovimento”.
Ou seja, trata-se de um sistema automático de controle e atuação pelo
qual os mecanismos verificam o próprio funcionamento, efetuando
medições e introduzindo correções sem a necessidade da interferência de
seres humanos.
Das e Chatterjee (2015) afirmam ainda que o termo “automatização”
foi introduzido pela primeira vez por D.S. Header em 1936 e foi usado
para significar a manipulação automática de peças entre os processos de
produção progressivas. Já, atualmente, a automatização é a tecnologia
de funcionamento automático, em que o método de tratamento, o pro-
cesso de criação e o material profissional são integrados.
A automatização pode ser concebida como um sistema composto
por dispositivos mecânicos e eletroeletrônicos para controlar máquinas
e processos sem a necessidade da interferência do ser humano. Entre
os dispositivos eletroeletrônicos utilizam-se computadores, controladores
lógicos programáveis e demais dispositivos que podem seguir instruções
computacionais. Isso inclui a robótica, os sistemas inteligentes, o controle,
a autorregulação e a otimização de processos. Embora a automação
seja a introdução de dispositivos mecânicos e eletroeletrônicos em
meio industrial e comercial, a literatura afirma que, no contexto da
biblioteconomia, a automação se refere ao uso de recursos de software e
hardware nas rotinas de uma biblioteca.
Barsotti (1990) menciona a automação de bibliotecas como a
automação dos processos técnicos, como a aquisição, emissão de catálogos
e/ou índices e circulação. Conforme o dicionário de Biblioteconomia
e Arquivologia de Cunha e Cavalcanti (2008, p. 39), a automação de
biblioteca ou a automação de serviços de biblioteca (library automation,
automation of library services) é a:

[...] utilização da informática visando modernizar


e aperfeiçoar a rotina, produtos e serviços de uma
biblioteca. programas de automação de biblioteca,
sistema integrado de automação de biblioteca. a.
integrada de bibliotecas library automation systems
integration BIB INF automação de bibliotecas
num único sistema com integração das atividades
relacionadas com aquisição, processamento técnico,
empréstimo e referência. automação de bibliotecas.

A partir dessas perspectivas conceituais, podemos afirmar que a


automação de bibliotecas é uma abordagem que tem como eixo central
propor fundamentos e metodologias para a avaliação e a aquisição de
sistemas de gerenciamento de bibliotecas bem como discutir questões
ligadas ao uso de ferramentas computacionais para gestão de acervo,
catálogos acessíveis pela internet, comunicação com usuários e
dinamização de rotinas administrativas.
De acordo com Borgman (1997), a inserção das tecnologias
computacionais nas bibliotecas surgiu na década de 1960, no Reino
Unido e nos Estados Unidos. Esses países compartilhavam um conjunto
de padrões e práticas de operações de biblioteca, particularmente
centrados na catalogação de dados, base para os sistemas de

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 25


automação de bibliotecas, e iniciaram diversos programas cooperativos
para promover o intercâmbio de registros bibliográficos entre diversas
instituições internacionais.
Na automação de bibliotecas, o SGB é a aplicação que operacionaliza
a circulação, a catalogação, a recuperação, a disseminação e o
intercâmbio de registros em uma base de dados estruturada. Wilson
(2006), menciona que, na literatura, podemos encontrar os termos
“sistemas de gerenciamento de bibliotecas”, “sistemas integrados de
gerenciamento de bibliotecas” e “sistemas integrados de bibliotecas”
(library management system, integrated library management system,
integrated library system). Podemos encontrar também termos como
“softwares de automação de bibliotecas” ou apenas “softwares para
bibliotecas”, além de outras variações.
Os SGB são considerados por Lima (1999) como sistemas de bases
de dados com uma finalidade específica, projetados para controlar as
atividades essenciais de uma biblioteca. Atividades como catalogação,
circulação e recuperação são automatizadas com o uso desses sistemas.
A noção de base de dados é importante, pois com esse tipo de sistema,
a biblioteca consegue ter persistência em seus dados e maior controle
das operações.
A noção de sistemas integrados de gerenciamento de bibliotecas
refere-se aos diversos módulos integrados ao sistema, já que, no início
da incorporação dos computadores nas instituições bibliotecárias, apenas
os módulos de catalogação e circulação eram automatizados. Com
o aumento da demanda e o avanço da tecnologia computacional, os
sistemas de informação nas bibliotecas passaram a incorporar outras
funcionalidades. Wilson (2006) assinala que os primeiros softwares de
gerenciamento de bibliotecas foram desenvolvidos em meados dos anos
1970 para automatizar as fichas do catálogo e o processo de circulação.
No Brasil, Viana (2016) menciona que, a partir do final dos anos 1970,
começaram a ser utilizados os primeiros sistemas de automação de biblio-
tecas; e, no final dos anos 1980, surgiram as primeiras experiências com
o desenvolvimento de softwares comerciais para bibliotecas e também
de alguns livres. O autor destaca o aperfeiçoamento dos sistemas com
ênfase no avanço da automação das bibliotecas universitárias brasileiras
ao longo dos anos.
Wilson (2006) comenta que SGB são geralmente expandidos pela
inclusão de módulos separados que representam os múltiplos processos
da biblioteca. Os módulos são integrados e interoperam, ligando-os a
uma base de dados central de registros bibliográficos. Fornecedores
desses softwares desenvolvem e customizam seus sistemas de acordo as
necessidades dos usuários. De acordo com os conceitos apresentados, os
principais módulos de um SGB são:
a) Catalogação: permite realizar a representação descritiva e temática
de documentos do acervo;
b) Circulação: permite o empréstimo, renovação, reserva e devolução;
c) Recuperação: possibilita a busca no catálogo online (Online Public
Access Catalog – OPAC);
d) Aquisição: possibilita a gestão de aquisição de materiais;
e) Controle de Séries: controle de edições, séries, etc.

26 Informatização de Ambientes de Informação


Os módulos do sistema funcionam de forma integrada e transparente
ao usuário final e todo processo de inserção e edição é mediado pela
interface gráfica desenvolvida a partir de uma determinada linguagem
de programação (como vimos na seção 1.2) e os dados são armazenados
em um banco de dados estruturado que permite o armazenamento e a
consulta. A imagem (Figura 3) apresenta os principais módulos de um
SGB e o armazenamento em banco de dados.

Figura 3 – Sistema de Gerenciamento de Bibliotecas

Fonte: Adaptado de Wilson (2015) e Das e Chatterjee (2015).

Além dos módulos citados, podemos encontrar outras funcionalidades


que permitem o gerenciamento de processos e de rotinas administrativas.
Outros módulos existentes em um SGB são:
a) Empréstimo entre bibliotecas – permite realizar empréstimo entre
as bibliotecas de uma rede e/ou consórcio;
b) Treinamento e suporte – refere-se à documentação técnica do
sistema e aos recursos de suporte remoto;
c) Periódicos – controle de assinatura de revistas, jornais e periódicos
científicos;
d) Disseminação seletiva da informação – recomendação de itens,
gerenciamento de preferências do usuário, identificação de áreas e
assuntos de seu interesse;
e) Atualização – possibilita a atualização para novas versões, a fim
de corrigir vulnerabilidades e outros possíveis problemas ligados à
segurança e à usabilidade.

A quantidade de módulos pode variar conforme cada sistema, alguns


podem ser expandidos por meio de serviços web ou pela criação de novas
funcionalidades conforme um determinado requisito. Como exemplo,
temos a integração com as mídias sociais, os aplicativos de dispositivos
móveis e recursos como a personalização de interfaces, os tipos de itens
e outros. Devido ao acelerado avanço da computação, podemos observar

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 27


que cada vez mais as bibliotecas estão terceirizando os serviços de TI.
Tonding e Vanz (2018, p. 75) afirmam que “[...] desde o início desta
década, observa-se, principalmente, entre bibliotecas de instituições de
ensino superior e de pesquisa, a adoção de plataformas de serviços
de bibliotecas (library services platforms – LSP)”. Os autores enfatizam as
funcionalidades dessas plataformas para a busca e acesso à informação:

Esta nova geração de sistemas, desenvolvidos com


tecnologias recentes e providos através de serviços em
nuvem, contemplam o gerenciamento unificado dos
mais diversos recursos de informação hoje existentes
nas bibliotecas – sejam eles impressos, eletrônicos
ou digitais. As soluções de LSP compreendem
funcionalidades voltadas para a operacionalização
das atividades internas da biblioteca e se integram
aos serviços de descoberta para as funções de busca
e de acesso às informações pelos usuários finais. As
plataformas de serviços de bibliotecas são fornecidas
através do modelo Software-as-a-Service (SaaS) – no
qual o software não é mais comprado e instalado,
mas usado por meio de uma assinatura. O modelo
SaaS é considerado uma tecnologia disruptiva que
gera novos processos, novas formas de fazer, criando
um novo valor. (TONDING; VANZ, 2018, p. 75).

Observa-se o crescimento dos sistemas como serviços em bibliotecas


baseados em redes distribuídas, acessíveis a partir de qualquer lugar
e independentes de dispositivo de hardware e sistemas operacionais.
Abadal e Anglada (2016, p. 305) apontam para o fato de que “[...] os
novos modelos de serviços de informática são baseados em instalação
na nuvem, ou seja, fora da instituição”. Para os autores essa inovação
“[...] afeta tanto o hardware no qual o sistema operacional e de
armazenamento de memória se encontram – modalidade chamada
de infrastructure as a service (IaaS)”.

A utilização da nuvem tem como vantagem mais


marcante a redução dos custos com serviços de TICs,
mas esse não é o único benefício. As bibliotecas,
ao usarem os serviços externos de hardware ou
software, podem ignorar as tarefas de manutenção
e se dedicarem ao que é fundamental: a quantidade
e a qualidade do conteúdo das aplicações. (ABADAL;
ANGLADA, 2016, p. 305).

Com base na computação nas nuvens e na infraestrutura de software


como um serviço, Breeding (2015) propõe o conceito “plataforma de
serviço de biblioteca”. Abadal e Anglada (2016, p. 305) dissertam sobre
a temática para referenciar uma nova geração do que era anteriormente
chamado de Sistema Integrado de Gerenciamento de Bibliotecas:

Os sistemas integrados de gestão de bibliotecas


registraram melhorias ao longo de sua existência.
Em alguns casos, as melhorias se acumulam para
produzir sistemas de nova geração. Isso aconteceu
nos anos 2002-2005, quando os sistemas ILS
começaram a se adaptar à informação digital e
para a internet. Atualmente, eles estão evoluindo

28 Informatização de Ambientes de Informação


para o que é chamado de library services platforms
(LSP). Os LSP são caracterizados, entre outras coisas,
por prestar serviços a partir da nuvem – ou seja, já
não é necessário ter o software instalado em seus
próprios computadores – por fornecer instrumentos
integrados de gestão de documentos impressos e
digitais, usar software de código aberto e facilitar o
uso aberto de dados.

Observamos, portanto, que a abordagem baseada em serviços web


trouxe inovações tecnológicas centradas no fornecimento dedicado
de aplicações computacionais com suporte às normas de descrição
bibliográfica e protocolos que facilitam a troca de dados e interfaces para
integração com outras aplicações abertas e proprietárias.
Como podemos constatar, a tecnologia no processo de descrição
bibliográfica, contribui para a dinamização dos fluxos de trabalho
do pessoal envolvido com o processamento técnico, pois agiliza
a catalogação dos materiais, o controle de aquisição, a análise de
circulação e as diferentes estratégias de acesso e compartilhamento
de itens informacionais. Desse modo, o sistema a ser adotado necessita
acompanhar o aperfeiçoamento das tecnologias de maneira sistemática
mediante a adequação de seu funcionamento conforme abordagens,
políticas e normas para organização da informação.
As tecnologias aplicadas à catalogação modificaram radicalmente as
formas de procura e de obtenção de informações na biblioteca. Consultar
o catálogo da biblioteca via web oferece mais rapidez na busca, podendo
reproduzir o modelo de fichas na tela do usuário, e possibilita diferentes
pontos de acesso, diversas estratégias de busca e formas de visualização
de resultados de uma pesquisa. Assim, os catálogos são concebidos como
uma interface de comunicação entre acervo e usuário, deixando de ser
compostos apenas por fichas catalográficas ou uma lista de materiais do
acervo de forma padronizada, codificada e organizada.
Os OPAC são também chamados de catálogos automatizados ou
simplesmente de catálogos on-line. São uma ferramenta computacional
para recuperação de informação da biblioteca, sendo, geralmente, um
módulo de um SGB que permite a consulta de materiais existentes no
catálogo de uma ou mais bibliotecas.
Sobre essa funcionalidade, Schiessl et al. (2017, p. 114) defendem que:

Com os catálogos online de acesso público (Online


Public Access Catalog – OPAC) as bibliotecas
possibilitam que seu acervo possa ser consultado pela
internet, com alguns módulos a mais disponibilizam
outros serviços como reserva, renovação de
empréstimos e outros. Leva serviços de bibliotecas até
o usuário, expandindo as suas atividades.

Assim, podemos listar algumas funcionalidades deste módulo (OPAC)


fundamental:
a) Disponibilização do catálogo da biblioteca em ambiente de rede
distribuída;
b) Compatibilidade com protocolos de comunicação: Z39.50, REST
API, Web Services e outros;

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 29


c) Impressão de relatórios gerais por título, autor, assunto, ISBN,
editora etc.;
d) Apresentação dos resultados de pesquisas em diferentes formatos:
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Machine Readable
Cataloging (MARC 21), BibTex, International Standard Bibliographic
Description (ISBD), Anglo American Cataloging Rules (AACR2),
Dublin Core e outros;
e) Solicitação de reservas, renovação e integração com outras
bibliotecas e módulos.

Um exemplo de apresentação em diversos formatos, utilizando o


OPAC do sistema Koha, pode ser visualizado na imagem (Figura 4).

Figura 4 – OPAC do sistema Koha

Fonte: Captura de tela do sistema Koha realizada pelo autor (2019).

Conforme observamos na figura, o resultado de uma busca no Koha


apresenta opções de visualização e exportação dos dados em formatos
bibliográficos, disponibilidade do material, reservas e outras opções ao
usuário. Um estudo desenvolvido por Yang e Hofmann (2010) realizou
um comparativo entre os catálogos de sistemas baseados nos softwares
livres Koha e Evergreen e o software proprietário Voyager. As pesquisa-
doras realizaram uma revisão da literatura sobre o catálogo de bibliotecas
da próxima geração e revelaram pontos de vista diferentes e conflitantes
sobre como o catálogo da próxima geração deveria ser.
As autoras descrevem que a pesquisa tomou 10 parâmetros para
o estudo comparativo: interface da Web de última geração, conteúdo
enriquecido, navegação facetada, caixa de pesquisa de palavras-chave
simples, relevância, “você quis dizer...?”, recomendações e materiais
relacionados, contribuição do usuário (classificações, revisões, comentários
e tagging) e feeds RSS.

30 Informatização de Ambientes de Informação


A pesquisa concluiu que o OPAC do Koha é mais avançado e inovador
que Evergreen e Voyager. Entre os três catálogos, os OPAC de código
aberto estão mais adequados a próxima geração do que o OPAC proprie-
tário, contudo, os três não possuem o recurso de busca federada, ou seja,
não recuperam a informação em diferentes bases de dados. Vale ressaltar
que, na época da pesquisa, meados de 2010, o Koha não suportava a
busca federada, a versão atual já possui essa funcionalidade.
Pecegueiro (2019) explica que os sistemas de informação federados
baseados no protocolo Open Archives Initiative Protocol for Metadata
Harvesting (OAI-PMH), atuam como ferramentas de interoperabilidade
para efetivar a conectividade de informações nas nuvens, arquivadas em
diferentes bibliotecas, com diferentes interfaces de acesso à informação
ou mesmo de metadados. Conforme a autora:

Os sistemas de informação federados vêm ao encontro


das demandas informacionais que desde sempre
busca por informações com especificidade e precisão.
Nessa perspectiva, a busca federada, assim como o
protocolo OAI-PMH (Open Archives Initiative Protocol
for Metadata Harvesting) são considerados como
iniciativas de recuperação de informações dispersas
em diferentes bases de dados, armazenadas em
diferentes servidores, com interfaces diferenciadas.
(PECEGUEIRO, 2019, p. 4).

Como podemos constatar, a busca federada trouxe novas perspectivas


para a recuperação da informação. Assim, os catálogos, as interfaces de
busca e as ferramentas de descoberta passaram a funcionar de forma
integrada, acessando fontes heterogêneas de informação. A automação
e o cenário da computação distribuída nas nuvens trouxeram também
contribuições significativas para a circulação, pois é possível que se criem
métricas de empréstimo, devolução, renovação e controle de dados
referentes ao uso das coleções. Possibilitam também que se trabalhe
com indicadores estatísticos gerados a partir de consultas em linguagem
natural ou linguagens artificiais específicas para a manipulação de
dados em diversas bases e a geração em vários formatos de arquivo e a
codificação de caracteres.
Os módulos de pesquisa podem ser potentes interfaces de busca que
possibilitam o aperfeiçoamento de estratégias e métricas de recuperação
e de filtragem da informação. As interfaces necessitam, cada vez mais, de
formas interativas e participativas para a permissão de múltiplas consultas,
listagens e pesquisas personalizadas, além da possibilidade de impressão de
resultados de busca, de integração de códigos de barras, de quick response
(QR), de Radio Frequency Identification (RFID) e de biometria.
Um SGB precisa ter a capacidade de registrar todo e qualquer tipo de
material cujo cadastro obedece ao padrão bibliográfico e possuir funções
para a importação e a exportação das bases de dados, a definição de
filtros para a ordenação de resultados de uma consulta, assim como a ge-
ração de relatórios ordenados por qualquer campo ou elemento de meta-
dado. Atualmente existe também uma demanda de geração de relatórios
estatísticos em múltiplos formatos para que os dados possam ser trata-
dos, além da geração de gráficos, tabelas e outras formas de visualização.
Muitos sistemas possuem recursos avançados para efetuar todo
o controle do patrimônio de materiais, do tratamento de periódicos,

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 31


da geração de relatórios e de outras funcionalidades que auxiliam o
controle e a manutenção de fluxos administrativos. Compreender a
tecnologia digital sob o olhar da automação de bibliotecas possibilita
identificar e debater os diversos módulos que compõem um sistema
específico para gerenciamento de bibliotecas frente às reconfigurações
nos modos de produção de informação e o contexto do acesso livre à
produção intelectual.

1.4.2 Sistemas de Gerenciamento de Conteúdos


A produção de conhecimento na cultura digital funciona a partir de
aplicações colaborativas e descentralizadas na camada da internet. Diante
disso, os Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo, do inglês Content
Management System (CMS), são soluções computacionais que facilitam
manipular os fluxos de informações na web.

Figura 5 – Uma característica fundamental da cultura digital é a produção descentralizada e colaborativa do conhecimento

Fonte: Pixabay (2021)6.

Conforme Barker (2016), um sistema de gerenciamento de conteúdo


é um pacote de software que fornece algum nível de automação para
as tarefas necessárias para gerenciar efetivamente o conteúdo. Um CMS
geralmente é um software multiusuário que interage com o conteúdo
armazenado em um repositório. Esse repositório pode estar localizado no
mesmo servidor, como parte do mesmo pacote de software ou em um
recurso de armazenamento separado. Um CMS permite que os editores
criem novo conteúdo, editem o conteúdo existente, executem processos
editoriais no conteúdo e, finalmente, disponibilizem esse conteúdo para
outras pessoas.
Seadle (2006) comenta que um CMS oferece uma maneira de
gerenciar grandes quantidades de informações baseadas na web sem a
necessidade de codificar toda a informação em cada página em HTML
(HyperText Markup Language). Cada vez mais as bibliotecas estão
criando e compartilhando conteúdo em sites, blogs e redes sociais, e
as ferramentas para gerenciamento de conteúdo simplificam todas as
etapas de publicação na internet. Mannes (2007) destaca os blogs e as
mídias sociais como uma das principais ferramentas da web colaborativa,
considerando as páginas web como uma pedra fundamental na história
6
PIXABAY. Rede social globo em todo o mundo. Disponível em: https://pixabay.com/pt/
illustrations/rede-social-globo-em-todo-o-mundo-3139213/. Acesso em: 1 dez. 2021.

32 Informatização de Ambientes de Informação


da publicação e que esses recursos possibilitam a rápida produção,
consumo e publicação de conteúdo.
Desse modo, podemos afirmar que os CMS são ferramentas que
permitem a criação desde um simples blog até complexos portais e lojas
virtuais. Abrangem os conceitos e as ferramentas necessárias à criação e à
manutenção de páginas na web. Os CMS são destinados à implementação
de plataformas de publicação de conteúdo como blogs, sites, portais e
outros recursos. Assim, a biblioteca pode explorar os diversos recursos
para a publicação de textos, imagens, hiperlinks e a integração com
outros sistemas e mídias sociais.
As plataformas para gerenciamento de conteúdo possuem módulos
que permitem a publicação de artigos, páginas estáticas, categorização,
tags, multimídia e recursos adicionais que possibilitam ampliar as fun-
cionalidades e a personalização de layout. A imagem (Figura 6) ilustra a
arquitetura de um CMS com foco nos módulos básicos:

Figura 6 – Arquitetura de um CMS

Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

De acordo com a imagem (Figura 6), observamos a arquitetura


baseada em três camadas: o painel de administração que permite acesso
aos recursos para gerenciamento do website; a camada de módulos
básicos composta pelas opções de usuários, postagens, páginas, vídeos, Um plugin é um sistema que pode
áudios, além de temas para a personalização da interface e plugins ser acoplado a outro sistema.
que permitem adicionar outros módulos; e, a camada Banco de Dados, Também é chamado de extensão,
destinada à organização, ao armazenamento e ao acesso persistente pois busca estender as funções de
a dados, permitindo consulta, edição, alteração e exclusão de dados um determinado software.
inseridos pelos usuários no sistema. Vale ressaltar que os CMS possuem

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 33


também opções adicionais, como edição de menus, moderação de
comentários e configurações gerais e outras funcionalidades de grande
utilidade para as bibliotecas.
McDonald e Burkhardt (2019) traçam um histórico da adoção desses
sistemas para gerenciamento de conteúdo pelas bibliotecas, a evolução
desses sistemas e os desafios das bibliotecas que tentaram gerenciar flu-
xos de trabalho de criação de conteúdos em diferentes plataformas de
CMS. As autoras abordam ainda questões sobre acessibilidade, literacia e
outros aspectos relacionados à informação em meio digital.
Ainda segundo McDonald e Burkhardt (2019), para que as bibliotecas
atendam às demandas crescentes de recursos para produzir conteúdo
centrado no usuário e atingir as missões de apoio ao ensino, à pesquisa
e ao aprendizado, é necessária uma mudança cultural em direção a um
modelo mais coletivo e colaborativo de gerenciamento de conteúdo da
web. A estratégia de conteúdo fornece uma estrutura flexível e adaptável
para as bibliotecas alavancarem de forma mais eficiente e eficaz o poder
de várias plataformas CMS, para apresentar conteúdo pontual e fornecer
suporte adequado em todos os níveis.
Existem diversas plataformas de CMS disponíveis. A maioria possui
licenças abertas, sem necessidade de pagamento para instalação,
permitindo a personalização e o uso em larga escala. De acordo com a
W3Techs (2020), entidade que desenvolve pesquisas sobre vários tipos
de tecnologias usadas na criação e na execução de sites, o WordPress é a
plataforma mais usada no mundo, com 35,8%. Algumas plataformas de
CMS de código livre e aberto são:
a) Drupal;
b) Joomla;
c) Web Site Baker;
d) CMS Made Simple;
e) WordPress;
f) TextPathern.

Cada ferramenta possui módulos básicos conforme apresentado,


cabendo ao profissional listar suas necessidades e experimentar o sistema
mais adequado à sua realidade, levando em consideração aspectos como
documentação técnica, linguagem de programação, sistema de banco de
dados e usabilidade da interface.

Multimídia
Para mais informação sobre as plataformas de CMS mais utili-
zadas, basta consultar as estatísticas de uso no site da W3Techs.,
disponível em: https://w3techs.com/
Outra fonte relevante, que disponibiliza documentação e lista
das principais plataformas para testes, além de servir de referência
para a tomada de decisão na escolha de um CMS, é o site Open
Source CMS., disponível em: https://www.opensourcecms.com/

34 Informatização de Ambientes de Informação


O WordPress é uma ferramenta que permite, de forma bem facilitada,
que se gerenciem postagens de artigos/notícias e páginas enriquecidas
com mídias; e que se atribuam funções aos usuários, comentários, tags e
taxonomias para a categorização e a personalização de menus e interfa-
ces. A imagem (Figura 7) apresenta o painel de administração na opção
de inserir posts do WordPress e seus recursos básicos para publicação e
edição de conteúdo.

Figura 7 – Painel do WordPress

Fonte: Captura de tela do sistema WordPress realizada pelo autor (2019).

A comunidade da Ciência da Informação vem adotando o WordPress


em diversos contextos, o que deixa evidente o quanto esse software é
flexível e extensível. Por ser de código livre e aberto, possuir bastante
documentação, temas e plugins, é possível personalizar tanto a
apresentação quanto o tipo de conteúdo a ser publicado, tudo depende
dos requisitos de cada aplicação.
Ribeiro e Silva (2015) apresentam um protótipo de catálogo on-line,
enquanto Oliveira et al. (2017) apresentam a criação de repositórios
digitais. Ambos os projetos utilizam o WordPress. O projeto Tainacan
também é um exemplo de aplicação no campo da Ciência da Informação
considerado um poderoso recurso para a personalização do modelo de
metadados. O Tainacan é um plugin do WordPress destinado à gestão e
à publicação de coleções digitais para repositórios que pode ser instalado
e configurado conforme os itens e coleções de um acervo.
Desse modo, com o Tainacan qualquer website implementado em
WordPress pode ter a funcionalidade de um repositório, com campos de
metadados customizados conforme os requisitos do domínio e recursos
para filtragem, ordenação e diversos modos de visualização dos
recursos digitais. O Tainacan vem ganhando destaque e, a cada
nova versão, novas funcionalidades são incorporadas e é altamente
recomendável para facilitar a gestão de repositórios digitais (o sistema
será apresentado na seção 1.2.3).

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 35


Um outro plugin bastante relevante para a área é o Web Librarian
(https://br.wordpress.org/plugins/weblibrarian/). Este plugin implementa
um catálogo de bibliotecas simples e básico, permite gerenciar a circulação,
catalogação de itens e gerenciamento de usuários da biblioteca. Com
o Web Librarian, códigos curtos podem ser adicionados às páginas de
um site WordPress para pesquisar e exibir itens da coleção da biblioteca
(HELLER, 2019).
Um CMS precisa ter diversas opções de plugins, extensões, temas,
Application Programming Interface (API), Interface de Programação
de Aplicações, que serve para interoperabilidade entre aplicações com
padrões como Representational State Transfer (REST), uma arquitetura
que permite consultas e manipulação de documentos na web com a
linguagem JavaScript Object Notation (JSON), que simplifica a troca de
dados de forma ágil entre diferentes sistemas.
A gestão de conteúdo envolve também aspectos relacionados a
planejamento de recursos para a navegação de páginas e a estruturação
das informações que serão dispostas no site ou qualquer outra interface
acessível por dispositivos eletrônicos e digitais, no objetivo de melhorar
a experiência do usuário. A disciplina que cuida desses aspectos é
denominada Arquitetura da Informação (AI). O termo foi cunhado por
Richard Saul Wurman em uma conferência do Instituto Americano de
Arquitetos, cujo tema era “The Architecture of Information”.
De acordo com o Instituto de Arquitetura da Informação (2019),
“A arquitetura da informação é a prática de decidir como organizar as
partes de algo para ser compreensível”7. As arquiteturas de informação
estão nos sites que usamos, nos aplicativos e softwares que baixamos,
nos materiais impressos que encontramos e até nos locais físicos em que
passamos o tempo. A AI está relacionada ao design da experiência do
usuário (UX) e em outras disciplinas, como estratégia de conteúdo, reda-
ção técnica, biblioteconomia e design de interação.
De acordo com Morville e Rosenfeld (2006), a AI atua mediante a es-
truturação das informações, um planejamento e uma organização prévia,
a partir da combinação dos seguintes elementos básicos:
a) Projeto estrutural de ambientes de informação compartilhados;
b) Combinação de organização, rotulagem, pesquisa e sistemas de
navegação dentro de sites e intranets;
c) Arte e ciência de dar forma a produtos de informação e experiências
para apoiar a usabilidade e a encontrabilidade;
d) Disciplina emergente e comunidade de prática focada em trazer
princípios do design e arquitetura para a paisagem digital.

Existem diversos conceitos, técnicas e ferramentas para arquitetura de


interfaces informacionais para planejamento e avaliação da usabilidade e
acessibilidade. Morville e Louis Rosenfeld (2006) elencam as sete palavras
de ordem da AI:
a) organizar;
b) navegar;
c) nomear;

7 Tradução de “Information architecture is the practice of deciding how to arrange the parts of
something to be understandable”.

36 Informatização de Ambientes de Informação


d) buscar;
e) pesquisar;
f) desenhar;
g) mapear.

Ao entendermos que todo e qualquer ambiente


de informação necessita sistematizar o processo de
organização e de representação de conteúdos, a AI não
possui um fim em si mesma, todavia, serve como meio para
que se alcance uma experiência mais interativa e adaptativa
A persona possibilita representar os diversos perfis
da navegação, da recuperação e do compartilhamento da
de usuários de forma objetiva. De acordo com Costa
informação em qualquer ambiente de informação.
(2017, p. 54-55), “[...] a utilização dessa ferramenta
Camargo e Vidotti (2011, p. 14) destacam a relevância pode ser muito útil para a arquitetura da informação.
da disciplina para a organização e a representação das Em projetos de aplicações com público alvo definido,
informações em ambientes digitais: a técnica de personas contribui para identificação de
características comuns entre os usuários, facilitando
[…] ideias inovadoras e criativas na definição do cenário ideal de uso”.
devem ser inseridas e trabalhadas na Fonte: COSTA, Rogério. Arquitetura da informação e usabilidade
AI, bem como instrumentos e recursos em interfaces: estudo de caso do website da nrsystem. Intern.
a fim de facilitar o desenvolvimento Journal of Profess. Bus. Review. São Paulo, v. 2, n. 2, p.
52-64, jul/dez 2017. Disponível em: https://www.redalyc.org/
de ambientes informacionais
atsRepo/5536/553658820004/553658820004.pdf. Acesso em: 21
digitais, auxiliando os arquitetos fev. 2020.
da informação e desenvolvedores a
organizar, estruturar e representar
De acordo com Zimmerman e Akerelrea (2003), o
objetos de conteúdo, além de
card sorting é uma das técnicas que profissionais de
melhorar e aumentar a utilização dos
arquitetura de informação utilizam para definir melhor
serviços e conteúdo dos ambientes
a taxonomia (rotulação) das categorias de um website.
informacionais digitais. (CAMARGO;
Ele ajuda os desenvolvedores web a estruturar o site
VIDOTTI, 2011, p. 14).
com base no mapa mental dos usuários, auxiliando a
organização de temas, rótulos, nós e ramificações das
Os profissionais que atuam com AI necessitam de informações dispostas.
instrumentos e recursos para efetuar uma análise do Fonte: ZIMMERMAN, D. E.; AKERELREA, C. A group card sorting
negócio a ser modelado e desenvolvido. Assim, a análise methodology for developing informational Web sites. In: IEEE
INTERNATIONAL PROFESSIONAL COMMUNICATION CONFERENCE,
e o desenvolvimento de ambientes informacionais digitais 2002, Portland, OR, USA. Anais... Portland: IEEE, 2002. p. 437-445.
a partir dos princípios da AI possuem diversos entregáveis, Disponível em: https://ieeexplore.ieee.org/document/1049127.
tais como personas, organogramas, fluxogramas, Acesso em: 10 fev. 2020.

mapas de sites, taxonomias, card sorting, blueprints,


wireframes e inventários de conteúdo, entre outros. Morville e Rosenfeld (2007) explicam que o blueprint
mostra as relações entre as páginas e outros
Como podemos constatar, o advento da internet componentes de conteúdo. Pode ser utilizado para
trouxe inúmeras perspectivas para a organização, a representar a organização, a navegação e os sistemas
estruturação e a representação descritiva e temática de de rotulação. É, muitas vezes, também referenciado
conteúdos nos ambientes informacionais. Dessa forma, como “mapa do site”.
o bibliotecário pode aplicar seus conhecimentos no Fonte: MORVILLE, M.; ROSENFELD, L. Information Architecture
planejamento da inserção de plataformas colaborativas, for the World Wide Web. 3. ed. Sebastopol, CA: O’Reilly Media
Inc., 2007.
nas mídias sociais e nos aplicativos para dispositivos
móveis e demais sistemas baseados na web, tais como Um wireframe é uma ilustração visual de uma
chats, enquetes, formulários interativos, ferramentas de página em sites. Eles servem para ilustrar as
busca e recomendação de conteúdo. características, os conteúdos e os links que devem
O profissional também deve incluir questões referen- aparecer em uma página web. (USABILITY, 2013).
tes à privacidade e à segurança na internet, ao uso e ao Fonte: USABILITY. Information Architecture. Disponível em:
http://www.usability.gov/methods/design_site/define.html. Acesso
compartilhamento de dados pessoais. Por isso é necessá- em: 29 fev. 2020.
rio que a instituição possua uma política de privacidade
e um documento que especifique os termos de uso de
acordo como a legislação vigente. É importante também

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 37


ressaltar as diretrizes para a acessibilidade na web e os recursos para a
Search Engine Optimization (SEO), um conjunto de conceitos e técnicas
para a otimização de mecanismos de busca, para que seu site possa ser
encontrado mais rápida e facilmente.

1.4.3 Sistemas de Bibliotecas e Repositórios Digitais


A informação é umas das bases para o desenvolvimento da sociedade,
eixo central para a produção e o acesso ao conhecimento acumulado
pela humanidade. Esse paradigma é decorrente da eclosão de mudanças
estruturais na economia na era da informação e comunicação mediada
por interfaces digitais. Nessa perspectiva, compreende-se a importância
do desenvolvimento tecnológico que ocasionou o surgimento de estraté-
gias para a difusão, a apropriação e a preservação do conhecimento. Em
virtude da carga de informação e do crescimento exponencial da neces-
sidade de comunicação científica, surgiu a necessidade de definição de
ações concretas para o acesso livre à produção intelectual.
Diversas produções teóricas apresentam os conceitos relacionados ao
impacto da web como ferramenta de produção e disponibilização de pro-
dutos e serviços pelas universidades, institutos de pesquisa e agências
que necessitavam de recursos eletrônicos e digitais aliados aos materiais
bibliográficos e documentais em suporte físico.
Nesse contexto, surgiram termos como “biblioteca digital”, “biblio-
teca eletrônica” e “biblioteca virtual”, entre outros, para referenciar as
tecnologias digitais e as redes de computadores no acesso à produção
dos registros do conhecimento. Cunha (1999, p. 258), pontua que “[...] a
biblioteca digital é também conhecida como biblioteca eletrônica (termo
preferido dos britânicos), biblioteca virtual (quando utiliza os recursos da
realidade virtual), biblioteca sem paredes e biblioteca conectada a uma
rede”. Na visão de Toutain (2005), biblioteca digital é a:

[…] biblioteca que tem como base informacional


conteúdos em texto completo em formatos digitais –
livros, periódicos, teses, imagens, vídeos e outros que
estão armazenados e disponíveis para acesso, segundo
processos padronizados, em servidores próprios ou
distribuídos e acessados via rede de computadores em
outras bibliotecas ou redes de bibliotecas da mesma
natureza. (TOUTAIN, 2005, p. 16).

Podemos perceber que Cunha associa o termo “biblioteca digital”


a outros conceitos relacionados a tecnologias de informação e comu-
nicação; já Toutain apresenta uma perspectiva mais direcionada à dis-
ponibilização de recursos informacionais em formato digital na internet.
Encontramos também concepções centradas nos serviços e produtos de
bibliotecas mediados por tecnologias computacionais, como podemos
observar em Vidotti e Sant’Ana (2005, p. 80), ao afirmarem que:

[…] o desenvolvimento de uma biblioteca digital se


baseia no planejamento de uma biblioteca tradicional/
convencional, desde o processo de aquisição
(compra, digitalização, acesso a outros sites e auto-
arquivamento), o processamento técnico (catalogação,
classificação, indexação – metadados e iniciativa
de arquivos abertos), a recuperação (ferramentas

38 Informatização de Ambientes de Informação


de busca), a disseminação (boletins eletrônicos), o
atendimento ao usuário (setor de referência digital
– meios de comunicação digital e sistemas agentes),
até a preservação (itens documentários e dos suportes
informacionais). Neste sentido, torna-se necessário
um estudo sobre as funcionalidades, as características
e os serviços a serem oferecidos, bem como uma
política de desenvolvimento de coleções baseada
em tipos documentais, conteúdos informacionais e
público-alvo, e uma política de preservação.

Percebemos as reconfigurações nos modos de planejamento da


biblioteca digital e as implicações no desenvolvimento de coleções
centradas no usuário, conectividade e interatividade que proporcionam
suportes acessíveis em tempo real e canais de comunicação síncrona
e assíncrona, permitindo que as bibliotecas experimentassem outras
práticas e explorassem novas funcionalidades.
A crise dos periódicos científicos e a alta excessiva dos preços das
assinaturas em meados dos anos 1980 provocaram o cancelamento de
muitos periódicos por parte de bibliotecas universitárias e especializadas
em vários países. Esse fato afetou diretamente o acesso às publicações,
já que muitos pesquisadores deixaram de ter acesso aos periódicos mais
importantes. Mueller (2006) assinala que a crise dos periódicos nas
instituições de ensino e pesquisa, as potencialidades das publicações
eletrônicas, o advento das tecnologias eletrônicas de comunicação e
a democratização do processo de avaliação dos textos submetidos à
publicação foram fatores determinantes para o movimento de acesso
livre ao conhecimento científico.
Graças ao movimento de acesso livre, emanou a necessidade de ter
os repositórios digitais, bibliotecas digitais e periódicos eletrônicos, os
quais contribuíram para a comunidade científica e a democratização da
produção intelectual a qualquer cidadão. Bibliotecas digitais, repositórios
digitais e portais de periódicos são tecnologias presentes nos sistemas de
bibliotecas das instituições de ensino superior e institutos e centros
de pesquisa, sendo imprescindível que o bibliotecário conheça e saiba
manusear essas ferramentas no âmbito acadêmico.
Segundo o Instituto Brasileiro de Informação e Ciência e Tecnologia
(IBICT), os Repositórios Digitais (RD) são bases de dados (coleções de
informações digitais) que reúnem, de maneira organizada, a produção
científica de uma instituição ou área temática, ou seja, são softwares
destinados a instituições confiáveis, com objetivo de migrar, armazenar e
dar acesso às coleções digitais.
Repositórios digitais contribuem com a produção científica de ambien-
tes acadêmicos e instituições de pesquisa. A disseminação da informação
se torna a principal característica pela visibilidade das produções das ins-
tituições em razão de sua estrutura de informação, que estabelece uma
melhor recuperação da informação.
Segundo Sanchez, Vidotti e Vechiato (2017), os repositórios digitais
possibilitam o autoarquivamento de objetos digitais, assim dando ao
usuário liberdade para disseminar as produções geradas pelas instituições
de ensino e pesquisa, colaborando dessa forma com a comunicação das
ciências, principalmente em várias áreas de conhecimento.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 39


De acordo com Leite (2009), Sayão e Sales (2017) e IBICT (2019), os
repositórios são classificados como:
a) Repositórios temáticos ou disciplinares – conjunto de trabalhos de
uma área específica do conhecimento; particulariza a produção
intelectual em função das áreas do conhecimento;
b) Repositório de teses e dissertações – lidam unicamente com teses
e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação das
diversas áreas do conhecimento;
c) Repositório institucional – voltados à produção intelectual de uma
instituição, especialmente universidades e institutos de pesquisa;
d) Repositórios de dados – dados de pesquisas; objetiva garantir o
acesso contínuo e aberto de dados a partir de um processo de
curadoria digital;
e) Repositórios de recursos educacionais – recursos educacionais
abertos, materiais didáticos, objetos de aprendizagem e outros
recursos para ensino.

Assim, podemos afirmar que as características dependem dos requisitos


de cada instituição, sendo que os repositórios temáticos lidam com a
produção científica de um determinado campo ou disciplina, tratando,
portanto, da produção intelectual de áreas do conhecimento em
particular, enquanto os repositórios institucionais lidam com a produção
intelectual de uma determinada instituição, tais como artigos, relatórios,
memorandos, atas, documentos legais.
O Repositório de Acesso Livre à Informação Científica da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Alice) é um exemplo de repositório
temático que disponibiliza informações científicas produzidas por
pesquisadores da Embrapa (https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/).
O acervo do Alice é composto por diversos documentos relacionados às
ciências agrárias e utiliza tecnologias abertas para a integração em rede
global de informação científica.
Um exemplo de repositório institucional é o Arca8, Repositório
Institucional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), criado e mantido
pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em
Saúde (ICICT), que disponibiliza livre acesso às informações no campo das
Ciências da Saúde.
Um repositório de dados permite divulgar os resultados de pesquisa,
vinculando de alguma forma às publicações científicas, promovendo a
reutilização de dados. Como exemplo, podemos citar a Base de Dados
Científicos da Universidade Federal do Paraná9, que disponibiliza
conjunto de dados (dataset) de pesquisa da instituição e contribui para a
disseminação e reúso da produção tecnocientífica.
Repositórios de recursos educacionais são plataformas que podem ser
integradas a um ambiente virtual de aprendizagem, as quais disponibilizam
recursos educacionais abertos, materiais de ensino em diversos formatos
e objetos de aprendizagem. A Universidade Aberta do Sistema Único de
Saúde (UNA-SUS) desenvolveu o Acervo de Recursos Educacionais
em Saúde (ARES)10. A plataforma disponibiliza recursos educacionais
digitais direcionados à área da saúde.
8
Disponível no site: https://www.arca.fiocruz.br/
9
Disponível no site: https://bdc.c3sl.ufpr.br/
10
Disponível no site: https://ares.unasus.gov.br/acervo/

40 Informatização de Ambientes de Informação


O repositório de recursos educacionais também pode ser referenciado
como repositório de objetos de aprendizagem ou repositórios de objetos
educacionais. Todos esses conceitos têm, como eixo central, a gestão de
conteúdos digitais para fins educacionais. Silva, Café e Catapan (2010, p.
101) comentam que:

[…] os repositórios de objetos educacionais,


nessa linha, representam uma iniciativa para o
compartilhamento de recursos didáticos existentes na
Internet. Essa ideia está amparada no fato de que os
recursos digitais ocupam um lugar preferencial como
meio para documentar as atividades dos indivíduos e a
Internet, em decorrência, afirma-se como o ambiente
preferencial de difusão de ideias e conhecimento.

Dessa forma, podemos afirmar que os repositórios são fontes de infor-


mação que proporcionam o aperfeiçoamento do sistema de comunicação
científica, do ensino e da expansão do acesso a dados de pesquisas, rela-
tórios, indicadores e outros documentos. Com isso, os repositórios contri-
buem para a democratização do conhecimento em diversos campos. Essa
ferramenta possibilita, ainda mais, a criação de um espaço colaborativo
e descentralizado para os pesquisadores produzirem, compartilharem e
preservarem seus trabalhos e resultados de pesquisas.
Os repositórios operam a partir de mecanismos que propiciam o
compartilhamento de dados entre diferentes plataformas e fornecem
o acesso livre à produção intelectual. É possível depositar materiais já
publicados em qualquer formato digital com os metadados devidamente
descritos. A web, ao ser adotada como plataforma de produção, uso
de conteúdos e disponibilização de produtos e serviços por meio de
bases de dados, bibliotecas digitais, repositórios institucionais, periódicos
científicos e catálogos on-line modificou as práticas de organização e
disseminação do conhecimento.
Pelo fato de a internet propiciar mudanças no comportamento
informacional dos indivíduos, os sistemas de comunicação tiveram que
buscar meios para se adaptarem à realidade das tecnologias baseadas
na web. Vale reforçar que, para garantir o acesso, é incorporada a noção
de preservação da informação em ambiente digital, como também o
alcance de um público amplo e diverso, de modo ubíquo e ultrapassando
fronteiras físicas. Gradativamente, instituições estão incorporando
repositórios digitais em suas políticas, a fim de estabelecer diretrizes
e implantar a cultura da preservação de longo prazo das publicações,
dados e materiais educacionais. Cabe lembrar que esses tópicos serão
explorados em disciplinas como Bibliotecas Digitais, Serviços de
Informação em Rede, Editoração Eletrônica e Publicações Digitais.
A seguir, na seção 1.4.4, conheceremos algumas tecnologias
emergentes apontadas pela literatura que podem ser referências para o
desenvolvimento de serviços e produtos de informação mais dinâmicos
e colaborativos, sistemas que possibilitam a descoberta de informação,
ferramentas para gestão de dados e programas culturais que integram a
experimentação criativa e o trabalho compartilhado.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 41


1.4.4 Tecnologias emergentes
Acompanhar a evolução tecnológica é uma tarefa complexa dada a
velocidade das inovações. Entretanto, a literatura aponta para múltiplas
perspectivas que vão desde plataformas para normalização e gestão de
referências e citações bibliográficas a portais semânticos inteligentes. São
ferramentas que auxiliam a vida de pesquisadores, pois concentram todas
as referências utilizadas em uma revisão sistemática da literatura, caracte-
rizada pelo mapeamento da produção bibliográfica e documental, como
o Zotero11, um software livre que permite que se crie e mantenha uma
base de dados de referências e citações que podem ser compartilhadas
com sistemas de gerenciamento de bibliotecas e repositórios digitais. Essa
ferramenta pode ser utilizada pela biblioteca para organizar bibliografias
especializadas, assim como pode ser utilizada por pesquisadores para sis-
tematizar a pesquisa bibliográfica e documental, etapa de fundamental
importância para mapeamento da literatura.
Com o aperfeiçoamento dos serviços web, atualmente é possível que
um website possa receber requisições de várias páginas web de diversos
clientes, visualizar gráficos a partir de repositórios de dados, consultar
catálogos de bibliotecas e outras bases em uma interface transparente
ao usuário. VIVO12 é um software livre de código aberto e uma ontologia
para representar informações em um ambiente acadêmico. Com o VIVO
é possível o registro, a edição, a pesquisa, a navegação e a visualização
de atividades acadêmicas; a apresentação de informações de uma insti-
tuição; a descoberta de pesquisa; a descoberta de especialistas; a análise
de rede; e, a avaliação do impacto de pesquisa.
O VIVO pode ser utilizado por uma instituição de ensino superior
para registrar, acessar e disseminar a produção intelectual dos núcleos
de pesquisa. Por exemplo, uma universidade possui um portal institucio-
nal composto por diversos sites de unidades departamentais, páginas de
laboratórios, núcleos de pesquisa, ambiente virtual de ensino, sistema
acadêmico, repositório institucional, portal de periódicos e outros am-
bientes de informação. Todas essas informações podem ser processadas
pela plataforma VIVO, que faz uso de tecnologias da web semântica e
integra fontes heterogêneas, permitindo ainda disponibilizar os dados de
pesquisa e criar indicadores de produtividade.
Courtney (2014) enfatiza que, na perspectiva de uma biblioteca, as
ferramentas de descoberta permitem que os usuários não apenas des-
cubram coleções “ocultas” e encontrem, por acaso, novas informações
relevantes para a necessidade geral, mas também facilitam a navegação
pelas coleções de bibliotecas que se tornaram cada vez mais complexas e
em diversos formatos. Tais ferramentas se transformaram em recursos de
pesquisa federada, pesquisando vários recursos ou bancos de dados, e os
resultados são agregados e exibidos ao usuário e geralmente chamados
de metapesquisa.
VuFind13 e Blacklight14 são softwares de código aberto que podem ser
implementados em qualquer instituição que necessita de recursos aber-
tos e baseados em assinatura, todos usando uma camada de descoberta
em bases heterogêneas. O uso dessas ferramentas é um campo aberto
para o bibliotecário, reconfigurando o campo profissional, dinamizando

11
Disponível no site: https://www.zotero.org/
12
Disponível no site: https://duraspace.org/vivo
13
Disponível no site: https://vufind.org/vufind/
14
Disponível no site: https://projectblacklight.org/

42 Informatização de Ambientes de Informação


o processo de referência e busca de informação de forma mais interativa
e em redes distribuídas, já que a maioria dos usuários estão conectados e
necessitam de serviços centrados na mobilidade.
A massificação dos celulares inteligentes, dos tablets e dos disposi-
tivos móveis possibilitou o desenvolvimento de aplicativos em diversos
domínios. Henning (2014) defende que os aplicativos são ferramentas
para a produção de conhecimento e apresenta diversos deles para dis-
positivos móveis, tanto para uso profissional na biblioteca quanto para
uso da comunidade. A autora apresenta exemplos de como as bibliotecas
estão usando aplicativos de maneiras criativas. Aplicativos para leitura,
para produtividade, pesquisa, referência, produção de textos, criação e
curadoria de conteúdos, produção multimídia, comunicação e catálogos
de bibliotecas são exemplificados por Henning (2014).

Figura 8 – A popularização dos smartphones, tablets e dispositivos móveis, de modo


geral, fomentou o desenvolvimento de aplicativos

Fonte: Pixabay (2021)15.

Nessa mesma linha de pensamento, Vieira (2017) argumenta que as


bibliotecas têm como foco a disponibilização cada vez maior de coleções
digitais (livros eletrônicos e audiolivros), fazendo com que seja estimulado
o desenvolvimento de projetos que utilizem leitores de livros digitais
(e-book readers) e tecnologias associadas como QR code e realidade
aumentada (RA). O autor enfatiza que os bibliotecários podem oferecer
tutoriais que ajudem o usuário da biblioteca a utilizar seus serviços, sendo
que o grande desafio será realizar um estudo de usuário para experimentar
esse serviço e explorar ao máximo todos os recursos disponíveis.

15
PIXABAY. Estudante digitando teclado, texto. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/
estudante-digita%c3%a7%c3%a3o-teclado-texto-849826/. Acesso em: 1 dez. 2021.
PIXABAY. Tablet, iPad, leitura. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/tablet-ipad-leitura-
tela-furto-1075790/. Acesso em: 1 dez. 2021.
PIXABAY. A mulher mantém o smartphone. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/a-
mulher-mant%c3%a9m-o-smartphone-3168797/. Acesso em: 1 dez. 2021.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 43


No âmbito das bibliotecas, é possível oferecer uma
grande variedade de serviços móveis, como: leitura
de e-books; acesso a catálogos online public access
catalog (OPAC); coleções voltadas para o uso em
dispositivos móveis que incluem audiolivros, e-books,
filmes, cursos de línguas e outros materiais multimídia;
formação de usuários por meio de recursos próprios
para dispositivos móveis; e serviços de referência virtual
usando SMS, chat e e-mail. (VIEIRA, 2017, p. 282).

As mudanças no processo de recuperação da informação em bases


distribuídas e por qualquer dispositivo de conectividade trouxeram muito
mais do que a integração e a escalabilidade de aplicações. A tecnologia
digital permitiu também que as bibliotecas desenvolvessem experimen-
tações criativas e ações inovadoras que trazem benefícios à comunidade
de usuários. Marcial (2016) assevera que as tecnologias no âmbito da
inovação em bibliotecas abrem um mundo de possibilidades. Uma das
tendências mais marcantes é a gamificação, entendida como o uso da
mecânica de videojogos em quaisquer contextos lúdicos para promover a
aprendizagem e o engajamento.
Podemos encontrar relatos de pesquisas e experiências que evidenciam
a biblioteca como um ambiente colaborativo e participativo de discussão
de ideias e resolução de problemas com soluções compartilhadas. Nesse
contexto, a ideia central é estimular a aprendizagem por meio de ambien-
tes compartilhados, tecnologias colaborativas, robótica e impressoras 3D.
Esses ambientes são chamados de makerspaces, que funcionam a partir
de práticas criativas e inventivas. Wong e Partridge (2016) apresentam ex-
periências da cultura maker em bibliotecas universitárias, evidenciando a
biblioteca como um espaço de criação a partir de oficinas de modelagem
3D, fabricação de objetos e desenvolvimento de projetos colaborativos.
Burke (2014) apresenta o conceito de biblioteca como espaço
de criação e colaboração, demonstrando atividades de produção
multimídia, produção artística, prototipação e fabricação que integra
eletrônica, programação, robótica e cultura baseada na aprendizagem
compartilhada. Bilandzic e Foth (2013) defendem a ideia de bibliotecas
como espaços de coworking e apresentam um estudo de caso
de um espaço de biblioteca pública construído com colaboração,
compartilhamento e aprendizagem social.
Todos os exemplos registrados servem de inspirações para promover
oficinas, programas culturais e atividades de experimentação criativa que
podem ser oferecidas conforme a realidade de cada comunidade. Todavia,
para que todas essas ações possam ser viabilizadas, a biblioteca precisa
de recursos financeiros, equipe disciplinar e formação de parcerias entre
os diversos setores da sociedade. No Brasil, é possível encontrar esses
exemplos em algumas instituições, como a proposta das bibliotecas
parque, equipamento público que agrega espaços de memória, lazer,
experimentação e convivência.

44 Informatização de Ambientes de Informação


Curiosidade

As bibliotecas parque são centros culturais construídos em es-


paços públicos, normalmente amplos e abertos. Na edificação cen-
tral geralmente fica instalada uma biblioteca. Além de promover a
leitura e o acesso à tecnologia, esses espaços usualmente visam,
de forma geral, à inclusão social e à integração cultural da parte
menos favorecida da população.
Na foto, você pode observar a fachada da Biblioteca Parque
Estadual do Rio de Janeiro.16

A chamada cultura maker como articulação entre tecnologia e


criatividade é considerada como umas das tendências atuais, e já podemos
encontrar escolas aderindo a essa abordagem, o que evidencia inúmeras
oportunidades para as bibliotecas escolares. Garland (2019) publicou
um texto sobre as “Tendências atuais da tecnologia nas bibliotecas”
(Current technology trends in libraries) que lista as tecnologias para
potencializar o uso e o acesso à informação e estimular o aprendizado e
o desenvolvimento de habilidades. Dentre as tecnologias citadas, estão
clubes de programação, realidade virtual, aplicativos móveis, computação
nas nuvens, robótica e serviços de fluxo de mídia.
É notável a relevância dessas tecnologias na biblioteca e essas
possibilidades ampliam o debate sobre a função social do profissional frente
às mudanças do mundo digital. Nesse sentido, é necessário discutir o lugar
do bibliotecário nesse contexto, profissional que possui conhecimentos
necessários para incorporar práticas inovadoras mediadas por aparatos
tecnológicos. Na Unidade 2 abordaremos iniciativas direcionadas à
inserção de TI em ambientes de informação, com foco nas demandas
informacionais; e, reconfigurações da sociedade contemporânea, com
foco no fortalecimento do patrimônio cultural e científico.

16
WIKIMEDIA. Biblioteca Parque Estadual. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Biblioteca_Parque_Estadual_01.jpg. Acesso em: 1 dez. 2021.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 45


1.4.5 Atividade
Comente sobre as contribuições das redes de computadores no
acesso à informação e à comunicação no contexto das bibliotecas.

Resposta comentada
As redes de computadores são fundamentais para facilitar a
conexão entre vários equipamentos e sistemas, o compartilhamento
de recursos digitais com mais velocidade e praticidade e,
consequentemente, ampliar a comunicação e a interação entre os
usuários e as bibliotecas, já que possibilitam o acesso, a troca, a
cooperação, o compartilhamento e a preservação de informações.
Com as redes de computadores, as bibliotecas passaram a trabalhar
de forma conectada, oferecendo serviços e produtos mais interativos
e colaborativos, reconfigurando as rotinas administrativas e o
atendimento à comunidade.

1.4.6 Atividade
Quais recursos da internet podem ser aplicados no contexto do
serviço de referência virtual da biblioteca?

Resposta comentada
O serviço de referência virtual pode ser dinamizado a partir da
aplicação de recursos como aplicativos de mensagens instantâneas,
chats, e-mail, mídias sociais e tecnologias baseadas na web. As
tecnologias da internet proporcionam o atendimento personalizado;
atividades de divulgação, como o alerta de novas aquisições,
podem incorporar sistemas de recomendação de informação.
As orientações de trabalhos acadêmicos e pesquisas podem ser
mediadas por videoconferência e ferramentas de comunicação
assíncrona. Os websites institucionais e perfis em redes sociais
funcionam como espaços de divulgação de atividades e canais de
comunicação direta entre usuário e biblioteca. Convém ressaltar
que a aplicação de recursos digitais no serviço de referência requer
um planejamento conforme sua infraestrutura, as demandas da
comunidade e profissionais engajados na comunicação institucional.

46 Informatização de Ambientes de Informação


RESUMO
Abordamos, nesta seção, as múltiplas potencialidades dos
componentes da TI nos Ambientes de Informação, com destaque para
a internet como um fenômeno social, as reconfigurações profissionais
e as demandas de usuários advindas da cultura digital. A partir de uma
discussão teórica, enfatizamos a responsabilidade do bibliotecário no
processo de informatização frente às mudanças sociais. Além disso,
reforçamos que os desafios impostos pelo aperfeiçoamento das redes de
informação e comunicação exigem uma postura científica para delinear
um plano de informatização centrado nas ferramentas digitais para
gerenciamento de acervos de bibliotecas, gerenciamento de conteúdo
e coleções digitais na web.

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Sugestão de Leitura
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a
internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

O sociólogo espanhol Manuel Castells é um dos principais


estudiosos das transformações sociais. Em A galáxia da
internet, o autor apresenta a ascensão das redes na sociedade
contemporânea e da nova economia mundial. O capítulo 2, A
cultura da internet, é uma fonte essencial para compreender os
aspectos históricos e sociais da internet.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 51


UNIDADE 2
INICIATIVAS DE INFORMATIZAÇÃO
DE AMBIENTES DE INFORMAÇÃO

2.1 OBJETIVO GERAL


Apresentar iniciativas para a padronização e o uso de ferramentas para a informatização de ambientes
de informação e processos documentários.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Esperamos que, ao final desta Unidade, você seja capaz de:
a) identificar as principais iniciativas nacionais e internacionais de informatização de ambientes de
informação;
b) identificar instituições, práticas e ferramentas para a padronização de procedimentos e a criação
de redes compartilhadas;
c) desenvolver soluções inovadoras e novos recursos em ambientes informacionais.
2.3 INTRODUÇÃO
As iniciativas de informatização partem de uma demanda social arti-
culada às políticas públicas, aos setores da sociedade civil e às transfor-
mações no trabalho contemporâneo. Muitas delas nascem de entidades,
órgãos, empresas e instituições de ensino e pesquisa que dependem de
infraestrutura tecnológica para atingir seus objetivos. A informatização
das relações sociais modificou as forças produtivas, pois o trabalho me-
diado por essas ferramentas redefine as rotinas, a comunicação e os mo-
dos de produção. Logo, a apropriação de TI depende de políticas de in-
centivo à Pesquisa, à Ciência e à Inovação.
Nesse cenário, a formação de redes entre diversas instituições, organi-
zações e pessoas de diferentes localidades permite criar um plano comum
para a troca de experiências, padrões, boas práticas e ferramentas. As
iniciativas para a introdução da informática em ambientes de informação
objetiva a promoção do acesso livre à produção intelectual, por meio de
redes e consórcios de informação que possuem uma infraestrutura de
controle, tratamento, utilização e evolução dos componentes de TI. O
bibliotecário, nesse contexto, tem a responsabilidade de compreender o
processo de informatização a partir de abordagens teóricas e casos de
sucesso de implementação e manutenção de sistemas computacionais no
âmbito da Biblioteconomia e da Ciência da Informação.
Nas sessões seguintes, serão enfatizados formatos para a descrição
bibliográfica, os protocolos de comunicação e as ferramentas que incenti-
vam a inserção tecnológica para a automação de bibliotecas, a gestão de
conteúdo, a digitalização de documentos e a criação de acervos digitais e
outros recursos de informação.

2.4 INICIATIVAS, PADRÕES


E FERRAMENTAS
As iniciativas de informatização emergem da necessidade de estabele-
cer procedimentos e práticas padronizados para acessibilidade dos regis-
tros do conhecimento. Nesse sentido, os catálogos de bibliotecas podem
ser considerados um dos principais recursos que motivaram a concen-
tração de esforços para a articulação de ações e os modelos normativos
para a sistematização da informação bibliográfica. Os catálogos das bi-
bliotecas são instrumentos que engendraram o processo de formação
de práticas padronizadas e compartilhadas para a descrição bibliográfica.
Para que isso se estabeleça, políticas e regras para acesso à informação
são elementos fundamentais que mobilizam entidades e pesquisadores
na criação de novos modos de recuperar e compartilhar a informação em
ambientes informatizados.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 55


Machado (2003, p. 48) menciona que “[...] em 1961, institui-se a
cooperação internacional automatizada, tanto no campo da catalogação
quanto no campo da bibliografia”, mas, efetivamente em 1966, quando
é padronizado pela International Standard Organization (ISO). Nessa mes-
ma época “[...] a Library of Congress desenvolve um sistema de comu-
nicação computadorizada de informações bibliográficas de monografias
em inglês por intermédio do MARC”. (MACHADO, 2003, p. 48).
O MARC (Machine-Readable Cataloging) inaugurou as primeiras apli-
cações para o processamento de dados bibliográficos com o auxílio do
computador. Instaurou-se um mecanismo mediado por máquinas para
ler, processar e trocar dados entre diferentes acervos, o que possibilitou
desenvolver a facilidade para a importação e a exportação de dados de
itens bibliográficos e documentais. Apesar da facilidade, eram necessárias
outras tecnologias para realizar o intercâmbio em rede, pois, um compu-
tador conectado em rede funciona como uma máquina de comunicação.
Surgiram então protocolos específicos para a recuperação da informação
em redes distribuídas, como o Z39.50.
O Z39.50 é um padrão internacional (ISO 23950) que define um
protocolo para a recuperação de informações de computador para
computador, permitindo que um usuário em um sistema (com um
cliente Z39.50) pesquise e recupere informações de outro sistema (com
um servidor Z39.50) sem conhecer a sintaxe de pesquisa desse sistema.
O Z39.50 foi originalmente aprovado pela Organização Nacional de
Padrões de Informação (NISO) em 1988.

Multimídia
Uma lista de bibliotecas que disponibilizam o endereço de seus
servidores está disponível em: http://www.loc.gov/z3950/. Basta
configurar o sistema de gerenciamento de bibliotecas ou um siste-
ma de descoberta para poder recuperar informações nas bases de
dados, independentemente de plataforma de software.

Machado (2003) relata que o MARC passou a interessar outros países que,
com as alterações devidas a cada um deles, adotaram-no na compilação de
suas bibliografias nacionais e serviços centralizados na catalogação. No Brasil,
em 1972, o então Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD)
começou a usar essa catalogação legível por computador pelo chamado
Projeto CALCO (Projeto de Catalogação Cooperativa Automatizado), que
se baseava no formato MARC e contemplava as necessidades brasileiras.
O projeto MARC possibilita que um livro seja catalogado uma única vez em
seu país de origem, proporcionando, entre outras facilidades, uma rápida
troca de informações.
Apesar das inúmeras variações de tecnologias para armazenamento
de dados, interfaces para consulta e intercâmbio de informações, o for-
mato MARC 21 ainda é o principal padrão para a troca de dados entre
acervos bibliográficos e documentais. O MARC foi criado para a busca,
a rapidez e a acessibilidade da informação. Para os bibliotecários, é uma

56 Informatização de Ambientes de Informação


ferramenta fundamental para a representação de fichas catalográficas
dos registros informacionais de uma biblioteca. O MARC lê e interpreta
esses registros e também normaliza a troca entre diferentes sistemas, ser-
vindo de mecanismo para compartilhar e migrar sistemas de bibliotecas.
Apesar de suas complexidades, o MARC tem uma estrutura funda-
mental para que esses trabalhos e para que o fluxo informacional funcio-
nem de forma mais ágil e precisa. O MARC permite:
a) o registro e o fluxo de dados;
b) a revisão e a transcrição das informações bibliográficas;
c) a manutenção da integridade das informações de um sistema para
o outro, em qualquer lugar de acesso;
d) a catalogação cooperativa, que é a cópia de uma obra já cadastrada
e que tem seus registros enviados para outra biblioteca, reduzindo
o trabalho e eliminando erros, fazendo com que a comunicação e a
recuperação da informação sejam passadas de forma célere e confiável,
além de gerar uma economia de custos e espaço físico nas bibliotecas.

Na imagem (Quadro 1), apresentamos um exemplo conforme uma


ficha elaborada por Zafalon (2015):

Quadro 1 – Exemplo de Registro em MARC

“Marcações” “Marcações textuais” Dados


Entrada principal, nome pessoal com sobrenome
100 1# $a simples: Casson, Lionel
Nome:
Área do título e da indicação de responsabilidade,
245 10 $a registro do título como entrada adicional.
Bibliotecas no Mundo Antigo / Lionel Casson
$c Título:
Indicação de responsabilidade:
Área da edição:
250 ## $a 1. ed.
Indicação da edição:
Área da publicação, distribuição etc.:
260 ## $a São Paulo :
Lugar de publicação:
$b Vestígio,
Editor:
$c 2018.
Data de publicação:
Área da descrição física:
300 ## $a 203 p. :
Paginação:
$b il. ;
Material ilustrativo:
$c
Dimensões:
Nota da área: Trata-se de um abrangente estudo da história das
520 ## $a
Resumo: bibliotecas no mundo antigo.
Entradas adicionais de assunto:
650 # 1 $a Bibliotecas antigas
Assunto tópico:
900 ## $a Número de chamada local: CDD-027.309 C343b
901 ## $a Número do código de barras local:
903 ## $a Preço local: R$ 30,00
Fonte: Adaptado de Zafalon (2015, p. 19).

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 57


Multimídia
Uma fonte essencial para aprender o formato bibliográfico
MARC 21 está disponível em: http://www.dbd.puc-rio.br/MARC21/.
O documento foi elaborado por Ana Maria Neves Maranhão e
Maria de Lourdes dos Santos Mendonça da Divisão de Bibliotecas
e Documentação – PUC-Rio, e serviu de referência para a tradução
das etiquetas MARC no SGB Koha, instalado e configurado para
fundamentar alguns exemplos desse texto.

A imagem (Figura 9) apresenta o registro da obra no Koha, conforme


os dados bibliográficos do quadro 1.

Figura 9 – Exemplo de Planilha MARC 21 no Koha

Fonte: Captura de tela do sistema Koha, realizada pelo autor (2019).

Como podemos perceber, a questão da padronização visa à criação de


interfaces comuns para o acesso e a manipulação de dados em ambientes
de rede. Sendo assim, a interoperabilidade é um requisito que deve ser
levado em conta, já que a comunicação entre diferentes acervos é uma
grande demanda por parte dos usuários. A interoperabilidade sempre foi
um aspecto fundamental da informatização das atividades administrativas
de uma biblioteca e, atualmente, com o aumento considerável das
coleções em repositórios digitais, inúmeras potencialidades e desafios são
impostas ao profissional da informação.

58 Informatização de Ambientes de Informação


Explicativo
Por que um padrão?
Zaira Regina Zafalon

Você poderá desenvolver seu próprio método para organizar


a informação bibliográfica, mas com isso você poderá isolar sua
biblioteca, limitando suas opções e criando muitas formas de
trabalho para você mesmo. O uso do padrão MARC previne a
duplicidade de trabalho e possibilita às bibliotecas compartilharem
recursos bibliográficos. Optando pelo formato MARC, habilita-
se a biblioteca a adquirir dados catalográficos, fato promissor e
seguro. Se a biblioteca desenvolveu “sistema próprio” que não usa
sistema MARC, ela poderá não ter vantagem de possuir padrões de
grandes indústrias, cuja finalidade preliminar é a de promover uma
comunicação da informação.
Com o uso do MARC a biblioteca está habilitada a fazer uso de
sistemas de automação de bibliotecas disponíveis comercialmente
para administrar as operações da biblioteca. Muitos sistemas são
disponíveis para bibliotecas de todos os tamanhos e são desenhados
para trabalhar com formato MARC. Sistemas são mantidos e
aperfeiçoados por um fornecedor e, desse modo, bibliotecas
podem ser beneficiadas para maiores avanços em tecnologia de
computadores. O padrão MARC também possibilita que bibliotecas
substituam um sistema por outro e ainda assim terão garantia de
que seus dados serão compatíveis.

Simões, Freitas e Bravo (2015) apontam para essa conjuntura, ao enfa-


tizar “[...] as exigências das novas estruturas sociais, as alterações na pro-
dução e no consumo das publicações científicas, os novos e complexos
contextos”. Os autores conceituam interoperabilidade como:

[…] um termo que representa a ideia de comunicação


e funcionamento entre entidades diferentes. Do ponto
de vista técnico, trata-se da capacidade de os sistemas
se comunicarem entre si. Mas, para além do aspecto
técnico, de si importante, é preciso que também
intervenham políticas, para as quais relevam, entre
outros fatores, os pactos e os protocolos estabelecidos
para viabilizar esta comunicação. (SIMÕES; FREITAS;
BRAVO, 2015, p. 3).

Podemos perceber que a noção de interoperabilidade não está apenas


condicionada aos aspectos técnicos dos protocolos de comunicação e
padrões de metadados. Para a operacionalização, é necessário articular
políticas e ações efetivas para a consolidação de redes de compartilhamento
da informação entre diferentes acervos. Nessa mesma linha, Marcondes
(2016) aponta para a questão da interoperabilidade de acervos digitais de
arquivos, bibliotecas e museus no cenário da web, ao afirmar que:

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 59


Pode-se compreender interoperabilidade como a
propriedade de sistemas diferentes (por ex. sistemas
de gestão de bibliotecas digitais, instrumentos de
pesquisa arquivísticos automatizados, sistemas
de gestão de acervos museológicos), através de padrões
tecnológicos, acordos ou propostas, de serem capazes
de operar em conjunto, visando a execução de uma
tarefa. As diferentes soluções de interoperabilidade
utilizadas até hoje enfatizam o aspecto da troca
ordenada de conteúdos de forma significativa;
formatos de metadados como MARC e Dublin Core
têm um papel fundamental nestas soluções de
interoperabilidade. (MARCONDES, 2016, p. 68).

Uma aplicação web deve entregar a melhor experiência ao usuário.


Nesse sentido, a interoperabilidade permite a troca transparente de
informações entre diversos recursos, tais como páginas de hipertexto,
dados estruturados e mídia. Os softwares para gerenciamento de
informações precisam fornecer suporte aos padrões de metadados
para a organização do conhecimento na web. Em uma aplicação para
gestão de tesauros on-line, por exemplo, o usuário pode criar, editar e
consultar termos a partir de qualquer dispositivo com conectividade.
O suporte a padrões de metadados para sistemas de organização do
conhecimento, nesse caso, possibilitaria a exportação ou a integração
com qualquer outro sistema e serviria para indexar objetos digitais ou
materiais bibliográficos e documentais.
Torino (2017, p. 104) argumenta que, tradicionalmente, o esquema
de metadados mais utilizado é o “[...] MARC, porém, com o advento dos
sistemas de informação na web, outros se tornaram conhecidos, a exem-
plo do Dublin Core (DC), Learning Object Metadata (LOM), Metadata
Object Description Standard (MODS), Metadata Encoding & Transmission
Standard (METS), entre outros.”
A proposta de metadados é criar um vocabulário que possa representar
elementos de um determinado objeto digital. Essa representação tem caráter
descritivo, ou seja, representa informações, como autoria, título, idioma,
tamanho do arquivo, formato do arquivo etc. Cada informação dessas é
explicitada como um elemento de metadado. Os metadados representam
algumas das principais características das entidades digitais que fornecem
conteúdo de mídia, formatos de arquivo, objetivos de aprendizagem e outros
dados relevantes para a descoberta de recursos na web. Essas características
são declaradas como elementos definidos em vocabulários.
A padronização é um fator essencial. Dessa forma, os objetos digitais
possuem padrões de metadados que especificam um esquema comum
para compartilhamento de recursos armazenados em diferentes repositó-
rios na web. Esses esquemas são formados pelo vocabulário e geralmente
codificado em formato aberto. Sobre a importância dos metadados nesse
contexto, Silva (2005, p. 18) destaca que:

Sabemos que metadados não têm necessariamente


de ser digitais. Profissionais ligados à herança cultural
patrimonial desde sempre criaram metadados ao lidar
com acervos; basicamente, no entanto, com o sentido
de descrição e catalogação. O novo é que estes
metadados serão, crescentemente, incorporados a
sistemas informacionais digitais, passando a indicar
também contextos, processamentos, preservação

60 Informatização de Ambientes de Informação


dos itens, além de orientar sobre o uso dos próprios
recursos ali descritos. No caso específico da web os
metadados são componentes fundamentais para um
amplo leque de aplicações que auxiliam na ampliação
da visibilidade de conteúdos e serviços aos usuários.

Diante dessa concepção, acredita-se que a utilização de um padrão


interoperável para a web é um mecanismo necessário para prover a
reusabilidade, já que linguagens de marcação e/ou descrição devem ser
suportadas por diversos ambientes de desenvolvimento de aplicações.
Assim, uma linguagem comum permite a troca de dados entre diversos
fornecedores de conteúdos: repositórios de objetos de aprendizagem, bi-
bliotecas digitais, portais de conteúdos, periódicos eletrônicos e muitos
outros tipos de recursos.
Diversos padrões para a especificação de dados bibliográficos vêm sendo
desenvolvidos para que se crie uma maneira interoperável de comunicação
em diferentes plataformas. Vocabulários e formatos de dados foram
criados para a representação descritiva de documentos. São promissoras as
possibilidades e as experiências advindas do uso dessas tecnologias, já que
almejam facilitar ao máximo todo o processo de catalogação, circulação e
disseminação de recursos bibliográficos e conteúdos digitais.
A padronização de recursos digitais nos Repositórios Digitais constitui
uma das estratégias propostas pelo Movimento de Acesso Aberto, pois
promove o conhecimento produzido de forma livre e viabiliza a formação
de redes e a necessidade de iniciativas que busquem definir políticas e
programas. É grande o número de repositórios institucionais e temáticos
criados no mundo, e devido a esse fenômeno, existe uma urgência de
ações para consolidar políticas de informação e comunicação científica.

Explicativo
Entenda o que é Acesso Aberto
Talvez você já tenha ouvido falar de acesso
aberto, mas você sabe do que se trata? O
movimento Acesso Aberto surgiu em 1971,
por meio do Projeto Gutenberg, que viabilizou
a distribuição digital gratuita de livros. A partir
dessa iniciativa, o debate em torno de promover
acesso a conteúdo científico foi sendo
consolidado no cenário mundial. Atualmente,
Acesso Aberto, também conhecido como Open
Access, em inglês, é a viabilização on-line de qualquer produto que
proporcionará conhecimento a um indivíduo. A principal ressalva
do movimento é quanto à autoria do trabalho, que deve ser
colocada de maneira bem nítida nas referências daquilo que está
sendo disponibilizado.17

17
PERIÓDICOS DE MINAS. Entenda o que é acesso aberto. Disponível em: https://www.
periodicosdeminas.ufmg.br/entenda-o-que-e-acesso-aberto/. Acesso em: 1 dez. 2021.
WIKIPEDIA. Open Access logo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Acesso_aberto#/
media/Ficheiro:Open_Access_logo_PLoS_white.svg. Acesso em: 1 dez. 2021.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 61


No contexto do Acesso Aberto, surgiram programas de investigação e
inovação em diversas nações para o provimento de políticas de financia-
mento de pesquisa e desenvolvimento de ferramentas para tornar acessí-
vel a produção do conhecimento de forma aberta, compartilhada e parti-
cipativa. Surgem então políticas, padrões e categorias de sistemas para a
criação e a manutenção de arquivos em formatos digitais.
O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
executa ações para a expansão e a consolidação do Sistema Nacional
de Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Programa Brasileiro
de Bibliografia e Documentação e do Programa de Preservação Digital
Brasileiro, além do incentivo aos sistemas de informação aplicados à
gestão de recursos informacionais em diversos domínios, mediante
articulações interinstitucionais e consolidação de parcerias em prol da
democratização do conhecimento.
O IBICT é mantenedor da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), lançada em 2002, que utiliza as mais modernas
tecnologias de arquivos abertos e integra sistemas de informação de teses
e dissertações de instituições de ensino e pesquisa brasileiras. O órgão
também incentiva a apropriação de tecnologias digitais em instituições
mediante o uso do DSpace e do Open Journal System para a implementação
de repositórios e portais de periódicos de acesso aberto, respectivamente.
O IBICT também é um órgão responsável pela homologação, pela
documentação e pela implementação de sistemas como Omeka, Koha,
AtoM e outros. Essas ações permitem sensibilizar instituições para a
adoção de ferramentas de gerenciamento da informação, além de oferecer
suporte, manuais de instalação, configuração e utilização. São iniciativas
para a informatização de bibliotecas e a promoção do acesso livre à
produção intelectual, redes e consórcios de informação disponíveis que
funcionam a partir das políticas, normas e ferramentas computacionais.
O modelo de publicação em ambiente digital é uma solução para os
periódicos publicados no país. Assim, diversos programas de pós-gradua-
ção no Brasil adotaram, em suas políticas de informação, a filosofia do
acesso livre e a inserção de ferramentas para o gerenciamento da comu-
nicação científica. Com a popularização da internet no Brasil, nota-se que
as universidades adotaram os acervos digitais devido à necessidade de
tornar pública a produção intelectual das instituições, legitimando, dessa
forma, sua finalidade de divulgar as produções científicas para a socieda-
de. São as chamadas Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações.
Para a publicação de teses e dissertações defendidas pelos programas de
pós-graduação no país, o IBICT desenvolveu, em 2002, o Sistema
de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações (TEDE). O sistema foi
distribuído gratuitamente para as instituições que desejavam utilizar a
solução para o gerenciamento de suas teses e dissertações, surgindo assim,
a BDTD. A mais recente atualização do TEDE foi lançada em 2014, a qual
passou a ser chamada, desde então, de TEDE2. A nova versão é uma
customização do software livre DSpace, desenvolvido pela MIT Libraries e
pela Hewlett-Packard Company, a mesma solução utilizada para a criação
de Repositórios Institucionais de Publicações Científicas em Acesso Aberto.
De acordo com o IBICT, o TEDE2 está de acordo com o Novo Padrão
de Metadados da BDTD, sendo totalmente interoperável com outros
sistemas de informação, customizações na interface e definições do fluxo
de trabalho dentro do sistema. As instituições que ainda utilizam o antigo
TEDE podem migrar diretamente as suas teses e dissertações para o TEDE2.

62 Informatização de Ambientes de Informação


Para isso, o IBICT desenvolveu uma ferramenta que possibilita a migração
das informações. O IBICT também disponibiliza uma documentação
técnica para a instalação, a configuração e a manutenção do sistema.
Bibliotecas universitárias, órgãos públicos e demais instituições que
produzem trabalhos acadêmicos, resultados de investigações científicas,
relatórios e publicações necessitam de informação organizada em uma
base de dados configurada para suportar o fluxo de publicação. Os
principais softwares para esse tipo de solução são DSpace18, Fedora19,
E-prints20 e Greenstone21. Podemos acrescentar também, a essa lista,
Omeka22, Tainacan23 e RODA24. Todos os sistemas permitem a publicação
e a gestão de coleções digitais na web, todavia, cada aplicação possui
especificidades e deve ser implementada conforme os requisitos, a
infraestrutura e os tipos de materiais a serem depositados.
Neste material, abordaremos os sistemas DSpace, Omeka e Tainacan,
utilizados em algumas instituições brasileiras, os quais possuem
documentação em português. Shintaku et al. (2018, p. 15) afirmam que
o DSpace é o sistema mais utilizado para a implementação de repositórios
institucionais, “[...] no entanto, para arquivos multimídia, como áudios,
imagens e vídeos, há poucos repositórios com DSpace. Isso ocorre porque
essa ferramenta não oferece a funcionalidade de streaming”.
De acordo com os autores, o DSpace apresenta-se como a ferramenta
mais apropriada para a disseminação de documentos digitais acadêmi-
cos, em formato de texto, já que suas coleções são estáticas e não per-
mitem dar destaque a determinados documentos, tampouco à formação
de coleções virtuais. Além disso, esse sistema possui uma ferramenta de
submissão própria para documentação acadêmica e organiza tais docu-
mentos a partir de comunidades e coleções, o que nem sempre é compa-
tível com outros contextos. (SHINTAKU et al., 2018).
Muitas instituições demandam uma plataforma para a exposição de
suas coleções e peças, com os devidos metadados sistematizados com
os padrões e as normas internacionais. Para atender a esses requisitos,
os softwares livres Omeka, Omeka S e Tainacan são os mais adequados.
Esses sistemas podem ser usados gratuitamente, basta ter a infraestrutura
de hardware e software para a instalação e a execução da plataforma, ou
investir na prestação de serviços de hospedagem que possuem suporte
aos requisitos mínimos de configuração.
O Omeka é um projeto desenvolvido pelo Centro de História e Novas
Mídias Rony Rosenzweig (Roy Rosenzweig Center for History and New
Media) da Universidade George Mason (George Mason University),
nos Estados Unidos. É uma nova geração de softwares livres para a
oferta de serviços que permitem a museus e a outras instituições que
atuam em aspectos históricos, culturais e educacionais disponibilizarem
conteúdos digitais sem a necessidade de intervenção técnica de equipes
de informática. (SHINTAKU et al, 2018, p. 16).
O Omeka é uma plataforma para a publicação na web de código aberto
para o compartilhamento de coleções digitais e a criação de exposições on-
line e possui duas versões: Omeka Classic, destinado a projetos individuais;
18
Disponível em: https://duraspace.org/dspace/
19
Disponível em: https://duraspace.org/fedora/about/
20
Disponível em: https://www.eprints.org/
21
Disponível em: http://www.greenstone.org/
22
Disponível em: https://omeka.org/
23
Disponível em: http://tainacan.org/
24
Disponível em: https://www.roda-community.org/

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 63


e, Omeka S, para instituições que gerenciam recursos compartilháveis em
vários sites. A imagem (Figura 10) demonstra a interface para a inserção
de um item no sistema utilizando o padrão Dublin Core.

Figura 10 – Interface Omeka Classic

Fonte: Captura de tela do sistema Omeka Classic, realizada pelo autor (2019).

Com o Omeka Classic, o usuário pode criar coleções e adicionar itens


como vídeos, gráficos, slides, áudios e textos em diversos formatos.
O sistema permite que se criem exposições virtuais com os itens
catalogados e etiquetados e também possui uma API para integração
com outras plataformas e plugins para ampliar suas funcionalidades.
O Omeka S permite gerenciar itens e coleções da mesma forma que
o Omeka Classic, mas com suporte às tecnologias da Web Semântica e
múltiplas formas para a descrição de objetos digitais. Podemos utilizar
ontologias, especificações como Bibframe, Friend of a Friend, Dublin Core
e outras, basta importar um vocabulário representado em RDF/XML, RDF/
JSON, N-Triples e Turtle. Dessa forma, o Omeka S pode ser considerado
um robusto sistema que integra recursos para a representação do conhe-
cimento e o repositório de objetos digitais e possui módulos e diversas
possibilidades para a personalização de esquemas de metadados.
Por exemplo, o usuário pode criar um modelo de recurso chamado
Partitura, com elementos do padrão Dublin Core, “Título”, “Descrição”,
“Criador” etc. e mesclar com outros vocabulários, como uma Ontologia
Musical (http://musicontology.com), “Compositor”, “Instrumentação”,
“Arranjo de” e outras classes e propriedades para a representação
do domínio musical. A imagem (Figura 11) apresenta o depósito de
um item no sistema Omeka S. No exemplo, foi criado um modelo
de recurso chamado “Partitura” com elementos de metadados conforme
os vocabulários configurados no sistema.

64 Informatização de Ambientes de Informação


Figura 11 – Interface do Omeka S

Fonte: Captura de tela do sistema Omeka S, realizada pelo autor (2019).

Podemos observar as múltiplas possibilidades de representação


descritiva e temática de uma partitura musical, pois a ferramenta permite
utilizar vocabulários semânticos que garantem uma organização mais
detalhada conforme os recursos informacionais e as políticas de cada
instituição. O Omeka S possibilita também que se publiquem e se
estruturem interligados dados na web, tecnologia denominada de Dados
Abertos Interligados em Bibliotecas, Arquivos e Museus (Linked Open
Data in Libraries, Archives and Museums). De acordo com Marcondes
(2012), o Linked Open Data vem se tornando uma realidade para
interligar acervos em arquivos, bibliotecas e museus digitais por meio de
tecnologias da Web Semântica. Assim, o Omeka S é uma solução para a
implementação de repositórios digitais para a disponibilização de dados
abertos interligados em qualquer formato.
Outro software relevante para a implementação de repositórios para a
gestão de conteúdo é o plugin Tainacan, desenvolvido para acervos digitais
no âmbito museológico. De acordo com o site do projeto, o Tainacan é
uma ferramenta flexível e poderosa para WordPress que permite a gestão
de coleções digitais com a mesma facilidade de se publicar posts em
blogs, mas mantendo todos os requisitos de uma plataforma profissional
para repositórios (TAINACAN, 2019).
A ferramenta é um projeto de pesquisa desenvolvido pela Universidade
Federal de Goiás, pela Universidade de Brasília e pelo Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia com fomento do Instituto Brasileiro
de Museus (IBRAM) e da Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) 2014-
2019. Embora o sistema tenha sido concebido para acervos museológicos,
as funcionalidades disponíveis servem à criação de qualquer tipo de
repositório de documentos e dados, por causa da sua facilidade de custo-
mização dos campos conforme o tipo de metadados e a criação de filtros,
o que incrementa os modos de recuperação de conteúdo na web.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 65


A imagem (Figura 12) apresenta a interface de configuração de meta-
dados. Foi criada uma coleção chamada “Partituras”, da mesma forma
que nos exemplos anteriores, e alguns metadados foram definidos.

Figura 12 – Configuração de metadados no Tainacan

Fonte: Captura de tela do sistema Tainacan, realizada pelo autor (2019).

Conforme a imagem (Figura 12), podemos criar um modelo para


descrição conforme o tipo de dado (texto, número, data etc.), fazer um
mapeamento para o padrão Dublin Core mediante a aba “Mapeamento”
e adicionar o objeto digital em qualquer formato. Outro recurso relevante
é a capacidade de importar e exportar os dados por meio do formato
CSV (Comma Separated Values), que permite o compartilhamento entre
sistemas diferentes.
O desenvolvimento de fontes de informação para ensino, pesquisa e
ações de educação patrimonial para museus, arquivos, bibliotecas, centros
de documentação e outras instituições que possuem acervos e desejam
disponibilizar suas coleções on-line precisa considerar os requisitos e
o suporte às normas e padrões da área. A ideia que deve sustentar a
implementação de um repositório é conciliar a base tecnológica com a
missão, os objetivos e a comunidade de usuários.
Nos repositórios de dados de pesquisa, existem ferramentas apropriadas
para controlar versões e tipos de dados. Shintaku (2017, p. 82) ratifica
que essa modalidade de repositórios têm despertado o interesse das
instituições por diversos motivos. Entretanto, mesmo que mantenham
conceitos semelhantes, repositórios ganham especificidade dependendo
da sua finalidade; neste caso, pode-se “[...] ter uma ferramenta distinta
para cada finalidade, ou seja, repositórios específicos para tipos de
informação, ferramentas distintas para cada tipo de repositório”.

66 Informatização de Ambientes de Informação


Shintaku comenta ainda que os dados têm ganhado destaque à medida
que leis e movimentos clamam por sua disseminação. Para a ciência,
o Movimento dos Dados Abertos (Open Data) advoga a liberação e a
disseminação dos dados de pesquisa, não apenas os resultados. Shintaku
(2017) indica o Comprehensive Knowledge Archive Network (CKAN),
desenvolvido e mantido pela Open Knowledge Foundation, como opção
de ferramenta para a criação de repositórios de dados, que objetiva
armazenar coleções organizadas de dados, facilitando a recuperação e a
apresentação. Nesse cenário de acesso a dados de pesquisas e indicadores
demográficos, sociais e estatísticos, a compilação de informações brutas
é um desafio aos profissionais que cuidam desses dados.
A curadoria surge como abordagem para a organização e o tratamen-
to de dados que envolve a normalização, o registro, o controle do ciclo
de vida, a visualização e o compartilhamento. Assim, a curadoria de con-
teúdos digitais é outro campo a ser considerado pelo bibliotecário, pois
possui teorias, estratégias e ferramentas para a preservação e o acesso à
informação em longo prazo.
Compreender a inserção dos repositórios a partir dos conceitos apre-
sentados na seção 1.4.3 possibilita identificar qual a ferramenta mais
adequada a cada realidade e como os metadados serão representados
para catalogar, classificar e recuperar os conteúdos. Devido à diversidade
de sistemas, é importante considerar os tipos de itens que irão compor
uma coleção, pois existem objetos digitais que possuem características
especiais e seguem um fluxo de trabalho dinâmico.
A comunicação científica na esfera acadêmica também lança mão de
uma ferramenta para controle de submissões e publicação de periódicos
revisados por pares, o Open Journal Systems25, criado pelo Public
Knowledge Project. No Brasil a ferramenta foi customizada pelo
IBICT e chama-se Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas – SEER26.
O software é de código livre e aberto, que facilita a criação e a manutenção
de portal de periódicos científicos eletrônicos.
Com a necessidade de manutenção de um Portal de Periódicos,
bibliotecários e equipe de TI precisam concentrar esforços para viabilizar a
longevidade e devem ser capazes de garantir a permanência e a segurança
das publicações armazenadas nos servidores. A partir dos sistemas
mencionados nesta seção, podemos concluir que a área de TI aplicada à
Biblioteconomia e à Ciência da Informação possui avançadas ferramentas
que permitem múltiplas formas de representação, sistematização,
transferência e preservação da informação em ambientes digitais. Os
diversos desafios e perspectivas estão postos e cabe ao bibliotecário
acompanhar as tendências que emergem das demandas sociais.
No contexto da automação de bibliotecas, O Biblivre é uma iniciativa
brasileira de apoio ao livre acesso e à promoção do uso de softwares de
código aberto para informatização de bibliotecas. Russo (2010) apresenta
o Biblivre como um software livre para a informatização das coleções das
bibliotecas que se constitui em uma oportunidade de democratização
do acesso à informação bibliográfica. Russo (2010, p. 23) destaca que
o Biblivre é “[...] um projeto concebido em parceria pela Sociedade de
Amigos da Biblioteca Nacional e pelo Programa de Engenharia Elétrica,
da Coppe/UFRJ”. Atualmente o Biblivre vem sendo implantado em

25
Disponível em: https://pkp.sfu.ca/ojs/
26
Disponível em: http://www.ibict.br/tecnologias-para-informacao/seer

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 67


bibliotecas públicas do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP),
Bibliotecas Escolares e Rede Brasileira de Bibliotecas Comunitárias (RBBC).
Outra iniciativa que merece destaque é o projeto O FOLIO27, um
projeto de código aberto, que visa a reimaginar o software da biblioteca
por meio de uma colaboração exclusiva de bibliotecas, desenvolvedores
e fornecedores. Ele vai além do sistema tradicional de gerenciamento de
bibliotecas, para um novo paradigma, em que os aplicativos são criados
em uma plataforma aberta, oferecendo às bibliotecas mais opções e
fornecendo novos serviços aos usuários. A proposta da plataforma é
oferecer diversas funcionalidades e permite flexibilidade para integrar
diversas plataformas.
Nesse sentido, percebemos que informatizar esses ambientes de infor-
mação possibilita que se criem serviços que integram diferentes provedo-
res de dados de modo heterogêneo e distribuído, interligando bibliotecas
e outros acervos documentais mediante protocolos de comunicação na
camada da internet. De acordo com Blattman (2010, p. 12), a conexão da
biblioteca com outras redes de bibliotecas têm como objetivos:
a) Discutir para dinamizar os serviços e produtos ofertados;
b) Desenvolver e adotar procedimentos e protocolos baseados
em normas e padrões nacionais e internacionais para facilitar
a importação e exportação de registros entre as bibliotecas
cooperantes;
c) Compartilhar recursos e fontes de informação;
d) Melhorar a qualidade da informação;
e) Ampliar o acesso e uso da informação.

De acordo com a autora, a dinamização do fornecimento de serviços e


produtos de modo compartilhado, o gerenciamento de bibliotecas e dos
serviços de informação precisam:
a) Focar a gestão sistêmica das diferentes funções como um sistema
na biblioteca e não apenas nos processos e segmentação das
atividades e tarefas específicas;
b) Atender ao leitor e não ao patrimônio (acesso versus posse);
c) Conduzir o processo de informatização: análise do orçamento,
viabilidade, custos, tempo, experiência pessoal e profissional,
impactos das mudanças [...];
d) Trabalhar compartilhando saberes e fazeres para viabilizar a
cooperação interna e externa. (BLATTMAN, 2010, p. 12).

O compartilhamento de recursos, experiências e integração de siste-


mas é necessário para a formação de uma rede de entidades que fazem
uso das tecnologias digitais, como repositórios ou portais de periódicos.
Carvalho (2017, p. 178) assinala que:

Este tipo de rede tem a função de integrar, em um


sistema único, informações, registros e/ou conteúdos
originados de fontes diversas, e em razão disso
também são conhecidos como sistemas em rede.

27
Disponível em: https://www.folio.org/

68 Informatização de Ambientes de Informação


As bases de dados temáticas ou por tipo de
material são exemplos deste tipo de redes, que tem
instituições, editores de revistas, bibliotecas, entre
outros, participando da rede de alimentação.

As iniciativas para a formação de uma rede de conexões entre


diferentes sistemas, acervos e regiões dependem de um trabalho coletivo
e participativo que envolve as esferas públicas e privadas. Diversos serviços
e produtos disponibilizados em rede permitiram o compartilhamento
de dados sobre as coleções e até mesmo documentos na íntegra. Um
exemplo para ilustrar essas conexões é o crescimento da digitalização de
acervos de instituições de memória, como museus, bibliotecas e arquivos.
Conforme Valente (2017, p. 7), “[...] o desenvolvimento das
tecnologias digitais e das renovadas formas de comunicação pela
internet traz possibilidade desses acervos serem divulgados e chegarem
a públicos ampliados, não mais adstritos a limitações geográficas (e
consequentemente financeiras)”. A autora destaca ainda o “ponto
de vista geopolítico”, ao afirmar que existe a “[...] possibilidade de a
cultura e a língua de um país encontrarem presença qualificada na rede
mundial”. (VALENTE, 2017, p. 7).
Essas múltiplas possibilidades de tornar acessível o patrimônio cultural
em rede engendraram a criação de redes para o compartilhamento de
estratégias e tecnologias para a promoção, a preservação e a democrati-
zação de acervos. Valente (2017, p. 12) menciona a construção de redes
e a colaboração tecnológica no processo de digitalização de acervos:

A colaboração em termos de compartilhamento de


softwares é um dos pontos. Além disso, experiências
como a do apoio a Rede Nacional de Ensino e
Pesquisa (RNP) oferece à conexão entre instituições
de ensino e pesquisa, incluindo museus – por meio
da rede Ipê e o apoio que o BNDES oferece a projetos
de digitalização […].

A autora destaca as soluções de interoperabilidade, padrões e formatos


livres, políticas institucionais e parceria com instituições sem fins lucrativos,
como o Internet Archive e o Memória Estatística do Brasil, realizado pela
Biblioteca do Ministério da Fazenda. Há outros exemplos como o acervo
da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin; a BNDigital, desenvolvida
pela Fundação Biblioteca Nacional; a Digitalização do Acervo do Museu
Imperial; e outros. (VALENTE, 2017).
O crescimento acelerado das demandas informacionais advindas da
cultura da internet trouxe a comunicação em tempo real, as aplicações
de mídia sob demanda, o acesso a bases de dados e os aplicativos
para dispositivos móveis. Para atender a essa demanda, a comunidade
bibliotecária necessita compartilhar esforços, formar recursos humanos
e desenvolver recursos tecnológicos, financiamento de projetos,
publicação de casos de sucesso em periódicos e eventos especializados,
entre outras iniciativas.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 69


Figura 13 – Empreendimentos cooperativos e compartilhados entre bibliotecas e demais
ambientes de informação podem ser consolidados mediante programas e políticas
públicas para a democratização da produção intelectual

Fonte: Pxhere (2021)28.

Em uma economia que possui a informação como principal força


produtiva, devemos atentar para as resoluções inteligentes que ajudam a
desenvolver atividades específicas para a organização e o planejamento
de dados em diversos ambientes, nessa direção. Considera-se a política de
informação como um plano de trabalho estruturado para gerenciamento
de dados e governança do projeto conceitual, desenvolvido a partir dos
requisitos especificados por especialistas e grupos de usuários.
Assim, traçar uma política de informática implica realizar um
mapeamento em conformidade com os requisitos do ambiente,
evidenciando os objetivos, a missão e a comunidade. Qualquer espaço que
necessite de informação organizada e sistematizada possui características
singulares e requer o desenvolvimento de estratégias inovadoras para
atender as demandas que estão sempre em mutação.

Explicativo
O impacto da RDA
Chris Oliver

A RDA representa um passo importante para a melhoria do


descobrimento de recursos porque ela orienta sobre o registro
dos dados. A produção de dados bem formados é uma peça
vital da infraestrutura de suporte aos mecanismos de busca e à
exibição dos dados. Por si só os dados RDA não melhorarão
a navegação e a exibição, pois eles devem ser usados com
propriedade por mecanismos de busca e interfaces de busca
bem projetados. Não obstante, um passo indispensável visando
28
PXHERE. Photo. Disponível em: https://pxhere.com/pt/photo/1585491. Acesso em: 2 dez. 2021.

70 Informatização de Ambientes de Informação


à melhoria do descobrimento de recursos é o registro de dados
claros e inequívocos. A RDA foi projetada para produzir dados que
possam ser armazenados, pesquisados e recuperados em catálogos
tradicionais. Os dados RDA destinam-se à utilização do ambiente da
Rede e com tecnologias de base de dados surgidas recentemente.
Propiciam à comunidade bibliotecária condições de aproveitar
o ambiente de rede em linha e tornar amplamente visíveis,
descobríveis e utilizáveis os dados das bibliotecas. A implantação
da RDA terá impacto imediato nos catalogadores e também nos
projetistas e gerentes de sistemas para bibliotecas. Cada vez mais,
à medida que cresça o volume de dados RDA, haverá um impacto
sobre aqueles que usam dados bibliográficos e de autoridade em
catálogos de bibliotecas e, portanto, em aplicações na Rede.

2.4.1 Atividade
De acordo com a NISO (National Information Standards
Organization, ou Organização Nacional de Padrões da Informação,
em português – http://www.niso.org/), quais são os principais tipos
de metadados?

Resposta comentada
Conforme a NISO, os principais tipos de metadados são:
Metadados descritivos – descrevem um recurso, permitem a
descoberta ou a identificação; incluem elementos como título,
autor, assunto e data de publicação.
Metadados administrativos – fornecem informações que auxiliam
no gerenciamento de um recurso; são utilizados na decodificação
e na renderização de arquivos e no gerenciamento de arquivos a
longo prazo. São destinados à interoperabilidade, à preservação e ao
gerenciamento de direitos de propriedade intelectual associados
ao conteúdo. Dividem-se em metadados técnicos, metadados
de preservação e metadados de direitos. Os metadados técnicos
incluem o tipo de arquivo, o tamanho do arquivo, a data/hora de
criação, o esquema de compressão. Os metadados de preservação
permitem a verificação de integridade e eventos de preservação. Os
metadados de direitos contemplam o status de direitos autorais, os
termos de licença e o detentor de direitos.
Metadados estruturais – indicam as relações de partes de
recursos entre si, como a sequência e a navegação.
Linguagens de marcação – integram metadados e sinalizadores
estruturais ou recursos semânticos de conteúdo, como marcação
de parágrafo, cabeçalho, lista e data.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 71


2.4.2 Atividade
Elabore um modelo de metadados de um objeto digital
(texto, imagem, áudio) conforme o padrão Dublin Core (https://
dublincore.org/).

Resposta comentada

Na próxima unidade, serão apresentados conceitos que permitirão


compreender os fundamentos teóricos necessários para que se planeje
e execute a informatização de ambientes de informação com foco na
análise de requisitos de sistemas de informação.

RESUMO
A Unidade 2 apresentou as iniciativas para a padronização e o uso
de ferramentas para a informatização de ambientes de informação
e processos documentários. Destacamos as principais iniciativas
nacionais e internacionais de informatização de ambientes de
informação, além de apresentar ferramentas que permitem a criação
de redes compartilhadas e o desenvolvimento de soluções inovadoras
em diferentes ambientes informacionais.

REFERÊNCIAS
BLATTMANN, Ursula. Informatização de bibliotecas.
Florianópolis: CIN/CED/UFSC, 2010.

CARVALHO, Maria Carmen Romcy de. Redes de Bibliotecas:


as considerações para o desenvolvimento. In: RIBEIRO, Anna
Carolina Mendonça Lemos; FERREIRA, Pedro Cavalcanti
Gonçalves (orgs.). Biblioteca do século XXI: desafios e
perspectivas. Brasília: Ipea, 2017. p. 175-196.

72 Informatização de Ambientes de Informação


MACHADO, Ana Maria Nogueira. Informação e controle
bibliográfico: um olhar sobre a cibernética. São Paulo: Editora
Unesp, 2003.

MARCONDES, Carlos Henrique. Linked data, dados interligados


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Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 73


UNIDADE 3
PLANEJAMENTO DA
INFORMATIZAÇÃO EM
AMBIENTES DE INFORMAÇÃO

3.1 OBJETIVO GERAL


Apresentar a estruturação das melhores estratégias e condições para o planejamento de informatiza-
ção de ambientes de informação.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Esperamos que, ao final desta Unidade, você seja capaz de:
a) analisar requisitos de sistemas de informação aplicados à Biblioteconomia;
b) identificar pressupostos teóricos e metodológicos no planejamento de informatização de ambientes
de informação.
3.3 INTRODUÇÃO
Apesar do exponencial crescimento da tecnologia digital e de estudos
sobre a avaliação e a seleção de sistemas de informação, muitos ambien-
tes de informação ainda enfrentam inúmeros problemas quando a discus-
são é o planejamento e a gestão de recursos tecnológicos. Uma proposta
de informatização precisa considerar os aspectos econômicos e culturais
da sociedade e incluir a possibilidade de modernização de instituições e
organizações, já que as tecnologias promovem a colaboração e a partici-
pação ativa de múltiplos usuários em rede.
Os pressupostos relativos à tecnologia aplicada às bibliotecas e a ou-
tros ambientes de informação estão condicionados ao compartilhamento
e ao livre acesso ao conhecimento. Nesse cenário, os conceitos e fenô-
menos da contemporaneidade precisam de um debate sob o ponto de
vista heterogêneo. Como foi discutido nas Unidades 1 e 2, a sociedade
está conectada por blogs, portais, mídias sociais e aplicativos. A internet
como rede descentralizada é utilizada como ferramenta para atividades
de referência e disseminação on-line que possibilita um serviço de refe-
rência virtual, canais para discussão, colaboração de conteúdo e forma-
ção de comunidades em redes. Essas inovações afetaram diretamente os
acervos digitais, a automação de bibliotecas, os periódicos eletrônicos e
outros recursos tecnológicos relevantes nos campos da Biblioteconomia e
da Ciência da Informação.
O processo de informatização necessita alinhar os procedimentos e
as estratégias para a especificação de políticas para o planejamento da
integração entre os componentes da TI, os recursos humanos e as diretri-
zes administrativas. Para que o bibliotecário compreenda o processo de
informatização, é preciso que ele conheça os fundamentos capacitadores
e orientadores da análise de sistemas computacionais para traçar um pla-
no de ação adequado às instalações físicas, às condições econômicas e às
necessidades informacionais dos usuários.
O impacto das redes de computadores condicionou os profissionais
da informação a adaptarem suas atividades de acordo com os avanços
tecnológicos da comunicação mediada por dispositivos digitais. Esse mo-
delo político-econômico pressupõe mais expectativas tanto dos usuários
quanto dos gestores, já que a elaboração de planos de gestão é algo
estratégico que possibilita o incremento dos serviços e produtos, além de
dinamizar as rotinas de trabalho. O sucesso da execução de um plano
de informatização está condicionado aos processos de tratamento da in-
formação organizada e sistematizada conforme a realidade institucional
e os modelos de referência aceitos internacionalmente.
No contexto das bibliotecas, os serviços e os produtos funcionam a
partir da integração de elementos do sistema social. Todos esses elemen-
tos devem funcionar de modo articulado para que se gere mais eficiência
e eficácia nos objetivos pretendidos da instituição. Para que esses obje-
tivos sejam efetivados, é necessário que o projeto de informatização de
ambientes de informação contemple os recursos das redes de comunica-
ção, os sistemas de informação e a diversidade de usuários envolvidos.
As constantes mudanças no meio social tornam os sistemas de informação
flexíveis, necessitando assim abrir espaço para a transformação dos
ambientes informacionais. O gerenciamento da informação emerge nesse

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 77


contexto de constantes mutações, visto que a organização dos registros do
conhecimento impõe desafios, dada sua alta complexidade e seu contexto
dinâmico. Os desafios impostos reivindicam um perfil de profissional capaz
de lidar com um contexto de mudanças e reconfigurações de práticas.
Não basta apenas acompanhar o processo evolutivo dos artefatos
tecnológicos, mesmo que o aperfeiçoamento de softwares e hardwares
tenha gerado uma velocidade na transferência de dados por meio de
circuitos digitais e redes distribuídas, pois planejar a inserção e a plena
utilização da TI requer uma visão sistemática e racional dos componentes
que serão adotados na estruturação do ambiente de produção.
Diante da urgência de modernização dos ambientes de informação,
analisar sistemas computacionais requer muito mais do que um
projeto de instalação e operacionalização de softwares e hardwares.
O planejamento e a governança dos componentes de TI envolvem um
conjunto de competências que incluem criatividade e dinamismo, já que
todo trabalho é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar e que exige
colaboração e participação. O bibliotecário é o profissional que planeja,
pesquisa, coordena e avalia tais projetos. Dessa forma, é importante
compreender as estratégias e as metodologias que auxiliam a especificação
de um modelo conceitual de requisitos com base nos fluxos de trabalhos
e processos de representação documental.

Figura 14 – É sempre desejável uma equipe multidisciplinar, inventiva e dinâmica, para


desenvolver os trabalhos de planejamento e governança dos componentes de TI

Fonte: Pixabay (2021)29.

A análise de requisitos, cujos aspectos conceituais serão discutidos na


seção 3.4, representa, nesse contexto, uma abordagem metodológica
que auxilia o profissional a formalizar os requisitos imprescindíveis ao
processo de informatização de ambientes de informação e processos
documentários. Acreditamos, dessa forma, que a incorporação de alguns
conceitos da análise de requisitos possibilitará ao profissional implementar
uma solução computacional que contemple as demandas da instituição e
o pessoal envolvido na implementação dos componentes de TI.
29
PIXABAY. Equipe, colegas de trabalho. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/equipe-
colegas-colegas-de-trabalho-5842784/. Acesso em: 2 dez. 2021.

78 Informatização de Ambientes de Informação


3.4 ESTRATÉGIAS E
METODOLOGIAS
A análise de requisitos como disciplina da Ciência da Computação
desempenha um papel importante na modelagem de um sistema
de informação. A modelagem é viabilizada a partir de um estudo
preliminar e envolve entrevistas e reuniões com os usuários para
conhecer as funcionalidades do sistema que será desenvolvido ou
escolhido. É uma abordagem que permite estabelecer uma ferramenta
para a especificação dos requisitos funcionais e não funcionais que
compõe um projeto de software. O bibliotecário conhecedor dessas
abordagens pode atuar de forma mais direta e efetiva nas atividades
de levantamento e validação do sistema a ser implementado a partir
dos pressupostos da engenharia de software.
A definição clássica de engenharia de software é pontuada como
o estabelecimento e uso de sólidos princípios de engenharia para que
se possa obter economicamente um software que seja confiável e que
funcione eficientemente em máquinas reais (NAUR; RANDELL; BAUER,
1969). É considerada uma disciplina que fornece abordagens, métodos
e ferramentas para a garantia de um bom desenvolvimento do software.
Pressman (1999) assinala que a engenharia de software é um rebento
da engenharia de sistemas e de hardware. Ela abrange um conjunto de
três elementos fundamentais: métodos, ferramentas e procedimentos.
Esses elementos possibilitam ao gerente o controle do processo de
desenvolvimento do software de alta qualidade produtivamente.
Apesar de essa disciplina ser direcionada aos desenvolvedores de
sistemas, cuja teoria fundamenta a construção de software, é possível
fazer uso de conceitos e ferramentas para a avaliação e a seleção de
softwares já existentes no mercado. Os fundamentos dessa área
contemplam a análise de requisitos de sistemas computacionais e pode
auxiliar um projeto de informatização, pois visa a assegurar a solução
de problemas, auxiliando a biblioteca a adquirir, modificar, integrar ou
desenvolver um sistema computacional. Segundo o Institute of Electrical
and Electronics Engineers – IEEE (2019), a análise de requisitos é um
processo que envolve o estudo das necessidades do usuário para que se
encontre uma definição correta ou completa do sistema ou requisito de
software. A tarefa de análise de requisitos é um processo de descoberta,
modelagem e especificação.
Para Pressman (1999), a análise de requisitos proporciona ao projetista
de software uma representação da informação e da função que pode ser
traduzida em projeto procedimental, arquitetônico e de dados. Finalmente,
a especificação de requisitos proporciona ao desenvolvedor e ao cliente
os critérios para avaliar a qualidade logo que o software é construído
(PRESSMAN, 1999). Na concepção de Sommerville (2007), o requisito é
entendido como uma declaração abstrata de alto nível de um serviço ou
de uma restrição de sistema (SOMMERVILLE, 2007). Um requisito pode ser
visto como a declaração de necessidades, características, funcionalidades,
procedimentos e processos. Para que se efetue essa declaração, os dados
devem ser levantados com base em técnicas da Análise de Requisitos.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 79


Segundo Sommerville (2007, p. 59), os tipos de requisitos são:
a) Requisitos de usuário: Declarações em linguagem
natural mais diagramas de serviços que o sistema
fornece e suas restrições operacionais. Escritos para
os usuários.
b) Requisitos de sistema: Um documento estruturado que
descreve funções, serviços e restrições operacionais
do sistema. Define o que deve ser implementado e
pode ser parte de um contrato entre o cliente e o
desenvolvedor.

Os objetivos e as metas do processo de informatização levam em


consideração as necessidades específicas dos usuários e as da plataforma
computacional. Assim, é fundamental que se identifiquem os tipos
de requisitos para que os componentes tecnológicos possam prover
atividades de forma mais coesa e sistematizada. Conforme Sommerville
(2007, p. 59), os requisitos podem ser classificados como:
a) Requisitos funcionais;
b) Requisitos não-funcionais;
c) Requisitos de domínio.

Sommerville (2007) conceitua requisitos funcionais como declarações


sobre o sistema, como a aplicação deve reagir a entradas específicas e se
comportar em determinadas situações. Estabelece as funcionalidades e
serviços do sistema, devendo ser descritos detalhadamente. Pode-se usar
o modelo entidade relacionamento, modelos de casos de uso em UML
(Unified Modeling Language), diagramas de fluxos ou outras linguagens
de modelagem para facilitar o entendimento das funções do sistema.
Requisitos não funcionais são restrições sobre serviços ou funções
oferecidas pelo sistema, tais como restrições de tempo de resposta,
processo de confiabilidade do sistema, espaço em disco, desenvolvimento
de padrões etc. Estão relacionados com portabilidade, sistema operacional,
banco de dados, servidor de aplicações, linguagens de programação etc.
Podem ser mais críticos do que os requisitos funcionais. Se estes não forem
atendidos, o sistema pode não atender às necessidades dos usuários.
Requisitos de domínio vêm do domínio de aplicação do sistema e que
refletem as características desse domínio. Podem restringir os requisitos
funcionais existentes ou estabelecer como cálculos específicos devem ser
realizados. Se os requisitos de domínio não forem satisfeitos, o sistema
pode não funcionar.
Para sistematizar o trabalho de análise, a identificação do problema
requer uma investigação ampla e detalhada, um processo modular que
define as principais áreas para assim viabilizar a solução de software.
A análise de requisitos é dividida em cinco áreas de esforço, conforme
Pressman (1999, p. 232):
a) Reconhecimento do problema;
b) Avaliação e síntese;
c) Modelagem;
d) Especificação;
e) Revisão.

80 Informatização de Ambientes de Informação


De acordo com o autor, o reconhecimento do problema consiste na
detecção dos problemas críticos e dos elementos problemáticos básicos,
conforme percebidos pelos usuários. Pode ser detectado por meio da
necessidade de implantação de um sistema em um contexto ainda não
informatizado ou quando um sistema já existente não atende mais aos
requisitos funcionais. Em uma biblioteca pode ser quando o sistema
de gerenciamento não permite a renovação on-line ou não possibilita
catalogar materiais especiais, entre outros.
Na avaliação e síntese, o analista deve avaliar o fluxo e o conteúdo
de informação; definir e elaborar todas as funções do software; entender
o comportamento deste no contexto dos eventos que afetam o sistema;
estabelecer as características de interface com o sistema; e, descobrir
restrições de projeto e sintetizar uma ou mais soluções. (PRESSMAN,
1999). Nessa área, podemos estabelecer critérios avaliativos e discutir
os fatores críticos e as fraquezas como problemas que os usuários
enfrentam para renovar localmente um determinado material da
biblioteca, por exemplo, um aplicativo para dispositivo móvel que pode
agilizar o processo de renovação.
Modelagem refere-se à criação de um modelo para compreender
melhor o fluxo de dados e de controle, o processo funcional e a operação
comportamental, além do conteúdo da informação. O modelo serve
como um fundamento para o projeto de software e como base para
a criação de sua especificação. Pressman (1999, p. 249) assinala que
“[...] os modelos concentram-se naquilo que o sistema deve fazer, não
como ele o faz”. O autor coloca que muitos modelos “[...] fazem uso
de uma notação gráfica que descreve as informações, o processamento,
o comportamento do sistema e outras características”. (PRESSMAN,
1999, p. 249). Como exemplo, um modelo conceitual representado por
diagramas e gráficos que ilustram o processamento de um módulo de
circulação que permite empréstimos on-line, mediante um aplicativo e
uma interface web, com suporte a mensagens de SMS, e-mail e outros
canais de comunicação.
Especificação é a representação de software. Em um mundo ideal, o
cliente desenvolveria uma Especificação dos Requisitos em sua totalidade,
mas isso raramente acontece, e a especificação é desenvolvida com um
esforço conjunto entre o desenvolvedor e o cliente. (PRESSMAN, 1999).
Uma especificação é uma representação lógica a partir de uma linguagem
formal ou padrão universal que descreve a semântica da aplicação e pode
ser visualizada de forma textual e gráfica em um sistema de empréstimo.
Revisão refere-se a uma especificação de exigências formal para definir
as características e os atributos do software, a criação de um Manual
do Usuário Preliminar para situações em que não foi realizado nenhum
protótipo, a fim de realizar modificações na função, desempenho,
representações da informação, restrições ou critérios de validação.
(PRESSMAN, 1999).
Para identificar os requisitos necessários para o desenvolvimento ou a
escolha de um sistema, existem as técnicas de Análise de Requisitos. Elas
são necessárias para que se coletem depoimentos e se analise o cenário a
partir da aplicação de instrumentos para a obtenção de dados quantitati-
vos e qualitativos e técnicas de representação gráfica, modelos mentais e
outros recursos que permitem que se obtenha, valide e defina uma espe-
cificação de um sistema. O imagem (Quadro 2) lista as principais técnicas
de Análise de Requisitos conforme Pressman (1999).

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 81


Quadro 2 – Técnicas de Análise de Requisitos

Técnica Descrição
Aplicação de entrevistas estruturadas e
Entrevista semiestruturadas para coletar expectativas dos
usuários.
“Tempestade de ideias” – consiste em coletar ideias,
Brainstorming
não descartar ou desprezar qualquer tipo de ideia.
Questionários com perguntas fechadas e abertas a
Questionários e pesquisas
fim de capturar as atividades e possíveis problemas.
Utilização da etnografia para observar as atividades
do usuário, a fim de identificar como este utiliza o
Observação
sistema e como se comporta diante de situações
problemáticas. Reuniões de grupo.
Observação de sistemas que possuem as mesmas
Análise de sistemas similares
funcionalidades do sistema a ser concebido.
Exemplos reais de como um sistema pode ser usado
Cenários
em um determinado contexto.
Técnica baseada em cenários que identificam os
Casos de uso agentes em uma interação e que descrevem a
interação em si.
Fonte: Adaptado de Pressman (2002).

A análise de requisitos descreve os passos para que se coletem e validem


os dados obtidos. Essa base teórica, possibilita um aprofundamento do
processo de planejamento e o estabelecimento de bases para futuros
projetos de inserção tecnológica. Aplicar os conceitos da análise de
requisitos possibilita também facilitar a comunicação entre o pessoal da
TI e o da biblioteca, de maneira refletida, que poderá ser de grande valia
para os profissionais e pesquisadores nas áreas da Biblioteconomia e da
Ciência da Informação.
O cenário demonstra que as propostas metodológicas para o
desenvolvimento, a avaliação e a seleção de sistemas precisam de um
referencial. Relatos de experiência existentes na literatura apresentam
critérios que, associados aos conceitos da análise de sistemas, podem
efetivar um conjunto de tarefas e fases a serem executadas para permitir
o suporte a tomadas de decisões que envolvam recursos tecnológicos.
As áreas e as técnicas de Análise de Requisitos apresentadas permitem
identificar aspectos quantitativos e qualitativos e realizar estudos
comparativos e listas de checagem, já que requisitos funcionais servem
de parâmetros para a avaliação, desde que analisados de forma racional.
Uma metodologia requer um conjunto de tarefas e fases a serem
executadas para permitir o suporte a tomadas de decisões que envolvam
recursos tecnológicos e deve ir além de aspectos quantitativos, estudos
comparativos ou de listas de checagem. Assim, podemos afirmar que
especificar os requisitos serve de parâmetro para a avaliação, desde
que analisados qualitativamente.
O estudo do sistema é relevante para o bibliotecário, uma vez que
este deve atender a todos os objetivos do ambiente de informação e
possa acompanhar as futuras necessidades por um período relativamente
razoável. Independentemente do software, a abordagem centrada na
análise de requisitos enfatiza a fase de concepção, ou seja, as fases de
descoberta e especificação de requisitos funcionais. A concepção de um
projeto de informatização considera que os analistas e bibliotecários

82 Informatização de Ambientes de Informação


cumprirão as tarefas de levantar, coletar, refinar e modelar os requisitos,
visando à futura construção ou à escolha de um sistema. Nesse sentido,
para desenvolver ou decidir por um sistema de informação, aplicam-se
técnicas de levantamentos, especificação de modelos e validação dos
requisitos do sistema.
A Biblioteconomia possui a cultura de identificação de requisitos
por meio de disciplinas relacionadas ao eixo Políticas e Gestão de
Ambientes de Informação, tais como: Formação e Desenvolvimento
de Coleções, Planejamento de Ambientes de Informação e
Políticas de Informação. Esse eixo permite efetuar estudos de usuários
e políticas de formação e desenvolvimento de coleções centradas nas
necessidades da comunidade. Assim, essas disciplinas integradas às
outras disciplinas do eixo Recursos e Serviços de Informação podem
sustentar um estudo para a implantação de um sistema de informação
com foco nos requisitos.
Podemos encontrar alguns relatos de experiências e estudos teóricos
que contemplam os requisitos de uma biblioteca. Côrte et al. (2000, p.
75) ressaltam os “[...] requisitos exigidos, considerando-os imprescindíveis
e desejáveis, que devem ser observados quando da escolha de um
software”. Os requisitos abordados pelas autoras estão direcionados
ao campo da automação de bibliotecas e são primordiais para que se
compreenda o processo de informatização. De acordo com a literatura
brasileira, podemos encontrar alguns estudos que enfocam os requisitos
necessários à avaliação de softwares para bibliotecas em Marasco e Mattes
(1998), Café, Santos e Macedo (2001), Cipriano, Marcondes e Maciel
(2006) e Grossi (2008). Assim, na automação de bibliotecas, os estudos
enfatizam requisitos relacionados ao processo de seleção e aquisição;
requisitos relacionados ao processo de circulação; requisitos relacionados
ao processo de recuperação de informações; requisitos relacionados ao
processo de divulgação da informação, e outros.
Já no campo das bibliotecas digitais existem proposições metodológicas
voltadas à criação de acervos de objetos digitais na web. Os critérios
podem ser aplicados também para repositórios digitais, desde que leve
em consideração as particularidades de cada projeto. Martins e Silva
(2017), apresentam critérios e dimensões de avaliação de ferramentas
para bibliotecas digitais com base na arquitetura da informação, tais como
os sistemas de busca; navegação; sistemas de rotulagem e organização.
Além disso, acrescentam, ainda com base nas “funções e modelos de
bibliotecas e repositórios digital”, sistema de preservação; sistema
de interoperabilidade; sistema de administração; sistema de colaboração
e interação social; sistema de suporte e manutenção e sistema de
características gerais.
Nessa perspectiva, os requisitos no domínio da automação de bibliotecas
e bibliotecas/repositórios digitais definem critérios, características e
funcionalidades que podem ser especificados em um documento que
formaliza os níveis de detalhamento com foco no modelo de negócios
e infraestrutura disponível. Existem contextos que demandam de uma
infraestrutura mais robusta, e outros possuem uma base mais modesta,
com recursos básicos de TI – tudo depende da análise situacional, ou
seja, da aplicação de pressupostos de análise de requisitos para a
informatização de processos administrativos de uma biblioteca e demais
ambientes de informação.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 83


Explicativo
Pré-requisitos para a conversão digital
Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva

É difícil estar de acordo com uma única abordagem que cubra


todas as circunstâncias de criação e uso de imagens digitais. O pro-
cesso decisório é complexo. Vários fatores, como a natureza do do-
cumento fonte, as necessidades dos usuários, as metas e recursos
institucionais, a capacidade tecnológica, conjugam-se como uma
matriz para a tomada de decisões e não exatamente para o estabe-
lecimento de padrões.
Alguns aspectos deveriam ser observados ao se pretender digi-
talizar documentos no âmbito de primeiro projeto de conversão a
ser implementado numa instituição:
‐ Um comitê composto por membros da equipe técnica de
produção, pessoal da área tecnológica, dos serviços ao usuário,
bibliotecários, arquivistas, museólogos, programadores e
mesmo pesquisadores consulentes poderia ser constituído
com a finalidade de avaliar as opções técnicas, reavaliar
os documentos críticos e outros aspectos da produção de
imagens digitais;
‐ A instituição deve estar atenta às necessidades dos usuários:
suas perspectivas e requisitos podem afetar a conversão e
condicionar os requisitos de acesso;
‐ Procure identificar/predizer quem serão os usuários e/ou
consumidores de eventuais produtos;
‐ A instituição deve ter a propriedade ou o direito de uso,
reprodução e disseminação do material (não deverá haver
restrições de copyright);
‐ A instituição deve atender aos requisitos técnicos de
infraestrutura para gerenciar, distribuir via web e manter as
versões digitais dos documentos;
‐ Verifique a possibilidade de abordar necessidades de
infraestrutura no projeto;
‐ A tecnologia disponível na instituição ou os serviços de
conversão contratados devem permitir captura adequada às
metas estabelecidas;
‐ Em caso de contratação externa, procure estabelecer um bom
relacionamento com vendedores/fornecedores;
‐ As limitações atuais relativas à capacidade de distribuição de
versões digitais via web não devem influenciar o tamanho dos
arquivos escaneados (a melhor qualidade de escaneamento
possível à instituição deve prevalecer);
‐ Os operadores designados para a conversão digital devem
estar plenamente cientes da adequação dos procedimentos
de manuseio dos originais e da repetibilidade das tarefas
envolvidas na produção das versões digitais;

84 Informatização de Ambientes de Informação


‐ O espaço físico de trabalho dos operadores deve prover
segurança aos originais e à saúde dos operadores, bem como
um necessário conforto para que o fluxo de um trabalho
repetitivo seja bem-sucedido;
‐ O original já deverá estar organizado, catalogado, indexado,
acondicionado;
‐ O conteúdo informacional deve estar em condições de ser
adequadamente capturado;
‐ Pequenos conjuntos de documentos (até 3000 itens, por
exemplo) são mais adequados para projetos iniciais ou pilotos.

3.4.1 Atividade
Como a Análise de Sistemas pode contribuir para a inserção de
TI em bibliotecas?

Resposta Comentada
A Análise de Sistemas como disciplina tecnocientífica possibilita
compreender a interação entre o sistema e os atores envolvidos
no processo de informatização. Ela permite que se avaliem os
fluxos de trabalho; se especifiquem as funções do sistema; se
identifiquem os requisitos conforme os objetivos da instituição; e,
se entendam as demandas para a implantação e a manutenção de
uma infraestrutura de Tecnologia de Informação na biblioteca.

RESUMO
Esta seção tratou de estratégias e condições para o planejamento de
informatização de ambientes de informação, com foco na análise de re-
quisitos funcionais e não funcionais de sistemas de informação aplicados
à Biblioteconomia. O texto destaca o bibliotecário como o profissional
que planeja, pesquisa, coordena e avalia projetos de informatização de
ambientes informacionais, evidencia ainda as estratégias e metodologias
que auxiliam na especificação de um modelo conceitual de requisitos
com base nos fluxos de trabalhos e processos de representação docu-
mental. Dessa forma, os tópicos apresentados estabeleceram um diálogo
entre os campos da Análise de Sistemas e da Biblioteconomia, a fim de
demonstrar a necessidade de se compreender pressupostos teóricos e
metodológicos para a fundamentação do processo de planejamento de
informatização de ambientes de informação.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 85


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86 Informatização de Ambientes de Informação


UNIDADE 4
ELABORAÇÃO DE PROJETOS
DE AUTOMAÇÃO DE BIBLIOTECAS

4.1 OBJETIVO GERAL


Apresentar o processo de elaboração de um projeto de automação de bibliotecas com base nos re-
quisitos funcionais.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Esperamos que, ao final desta Unidade, você seja capaz de:
a) especificar requisitos funcionais de um Sistema de Gerenciamento de Bibliotecas;
b) elaborar um plano para a automação de uma biblioteca.
4.3 INTRODUÇÃO
Nesta seção, serão apresentados alguns fundamentos norteadores
para a elaboração e a execução de projetos de automação de bibliotecas.
Devido à existência de diversas tecnologias aplicadas à Biblioteconomia,
o problema central de todo processo de informatização está na etapa
preliminar de planejamento, já que envolve o mapeamento dos requisitos
necessários para bibliotecas, centros de documentação e outros ambientes
de informação.
Com base nesses componentes da TI, é necessário também apontar para
a importância de uma equipe cuja responsabilidade é planejar, executar
e manter a infraestrutura de TI. Em seu clássico texto sobre automação
de bibliotecas, Eyre (1979, p. 52) chamou atenção para o impacto que
os recursos computacionais causaram para o pessoal da biblioteca. O
autor afirma que “[...] bibliotecários são reconhecidos como usuários que
têm necessidades peculiares, pelo menos no que tange ao tamanho dos
arquivos e à complexidade dos dados bibliográficos”. (EYRE, 1979, p. 52).
Pode-se afirmar que as necessidades específicas colocam em evidência
a competência informacional dos bibliotecários, profissionais que atuam
em diversos ambientes de informação e precisam estabelecer requisitos
funcionais para a informatização de seus processos administrativos. A au-
tomação de sistemas e o advento das redes de comunicação permitiram
dinamizar os recursos para acesso à informação. Independentemente de
local, suporte e formato, essas características impõem reconfigurações no
modo de conceber, planejar e manter qualquer ambiente de informação.
Eyre (1979) tratou do assunto por dois aspectos, realizando um estudo
que visava à identificação dos impactos decorridos do processo de auto-
mação de bibliotecas: o de pessoal e o de sistemas. O autor explica que
um dos aspectos mais relevantes na automação é a falta de pessoal da
biblioteca que possa dialogar com o pessoal da computação. Até os dias
atuais, esse impasse ainda é bastante vigente, mesmo com todo o avanço
tecnológico da sociedade contemporânea.
Muitos dos problemas ligados à automação de bibliotecas não estão
centrados no conhecimento sobre o manuseio do sistema e sim na falta
de implantação de um sistema compatível com os requisitos da biblio-
teca. Mais uma vez apontamos para a necessidade de um estudo que
identifique e valide todas as necessidades reais e potenciais, pois sabemos
que todo sistema necessita de atualizações, sejam correções de erros, seja
o atendimento a novas demandas.
Segundo Eyre (1979), essas mudanças ocorrem em vários aspectos
dos sistemas de funcionamento das bibliotecas, gerando impactos nos
seguintes pontos:
a) investimentos e custos;
b) precisão;
c) fluxo de trabalho e controle;
d) normatização;
e) treinamento.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 89


Automatizar não é apenas introduzir computadores e instalar um
software específico para gerenciamento de acervo, mas um planejamento
sistemático que envolve os aspectos apontados por Eyre, incluindo
também recursos humanos, treinamento de pessoal e pesquisa sistemática
de todos os processos administrativos da instituição. Automatizar uma
biblioteca envolve ainda a criação de uma política de informatização para
atender todos os requisitos funcionais da biblioteca modelados conforme
padrões internacionais para registro e intercâmbio de dados.
Côrte et al. (1999, p. 242) enfatizam que “[...] é importante que a
biblioteca determine os seus próprios requisitos obrigatórios e solicite
as operações desejáveis somente após certificar-se de que as funções
básicas e necessárias estejam plenamente atendidas”. Para as autoras,
“[...] qualquer iniciativa de informatização de uma biblioteca ou centro de
documentação deve, primeiramente, identificar os seguintes aspectos”
(CÔRTE et al., 1999, p. 242):
a) Cultura, missão, objetivos e programas de trabalho da
organização;
b) Características essenciais da biblioteca com relação à
sua abrangência;
c) Temática, serviços e produtos oferecidos;
d) Interesses e necessidades de informação dos usuários;
e) Plataforma tecnológica existente na instituição em
termos de software e hardware, bem como sua
capacidade de atualização e ampliação;
f) Os recursos humanos disponíveis.

Após o estudo sistemático, pode-se verificar o sistema de gerenciamento


de bibliotecas mais adequado, o qual atenda às necessidades da instituição.
Caso não exista um que seja compatível, é necessário desenvolvê-lo,
porém isso requer custo e tempo. Além do sistema de gerenciamento,
questões ligadas à área de TI também devem ser evidenciadas, tais como:
qual sistema de gerenciamento de banco de dados se deve utilizar, qual
sistema operacional é o ideal para a implementação do servidor, se a
biblioteca terá um servidor dedicado em suas dependências etc.
A escolha do software deve também tomar como parâmetro
aspectos referentes a licenciamento, plataformas compatíveis e questões
relacionadas a documentação e suporte. De acordo com Rowley (1994, p.
232), “[...] as bibliotecas têm ao seu dispor as seguintes opções quando
se tratam de adquirir ou melhorar seus sistemas de gerenciamento”.
A autora coloca que a biblioteca pode fazer a aquisição de um pacote
comercial, fazer parte de um consórcio ou desenvolver o próprio sistema.
Vale ressaltar que geralmente a aquisição do sistema é baseada no
modelo de licenciamento proprietário, contudo existem diversas soluções
na atualidade. Com base nas colocações de Rowley (1994, p. 232) e nos
modelos baseados em software livre e assinatura de serviços, a instituição
possui as seguintes opções:
1. Adquirir um pacote comercial mediante sua licença
de uso;
2. Associar-se a um sistema de um empreendimento
cooperativo ou utilizá-lo;
3. Desenvolver seu próprio sistema;
4. Implementar um software de código aberto e livre;
5. Assinatura de serviço (SaS).

90 Informatização de Ambientes de Informação


Cada opção deve ser escolhida conforme a política da instituição, pois
precisa ser compatível com as realidades cultural e econômica para assim
oferecer serviços e produtos com qualidade à comunidade de usuários.
Com a automação, a biblioteca pode disponibilizar catálogos para a
recuperação da informação via internet, assim como todo o processo
de reserva, renovação e procedimentos administrativos passam a ser
dinamizados com o uso de tecnologias digitais.
As abordagens para a análise de requisitos bibliográficos, como
interface, interoperabilidade, custo, suporte, desempenho, documentação,
flexibilidade, segurança e outras mencionadas na seção 3.4, servem de
pressupostos para a formulação de estratégias metodológicas para a
fundamentação de um projeto de informatização. Nesse contexto, esses
pressupostos são elementos primordiais para o projeto de automação,
entendido a partir da noção de Plano Diretor de Informática (PDI).
Sabemos que é imprescindível que se planejem sistemas computacionais
que efetivarão os processos administrativos. Muitos gestores de bibliotecas
já depararam com o seguinte questionamento: como vou informatizar?
Assim como qualquer outra instituição/organização, a introdução
de recursos de tecnologias computacionais é um dilema enfrentado
por muitos profissionais, até mesmo os mais experientes, já que todo
planejamento deve atender a certas particularidades.
Portanto, pensar em um plano de trabalho que sistematize todos
os procedimentos, os atores envolvidos e os recursos necessários,
entre outras variáveis, requer um projeto de informatização. Dessa
forma, a atividade de planejamento é a primeira etapa a ser realizada.
O planejamento requer um estudo sistemático que contemple variáveis
técnicas, econômicas e culturais. O planejamento consiste na elaboração
e na execução de um plano de trabalho que contemplará a avaliação do
sistema a ser posteriormente implantado na biblioteca.
Muitas vezes o planejamento é negligenciado ou então é tratado
sem uma visão científica, e, quando isso ocorre, a introdução do sistema
impactará de forma negativa o atendimento das necessidades da biblioteca.
Para elaborar um plano de trabalho, muitas vezes denominado de Plano
Diretor de Informática (PDI) ou Projeto de Automação, é primordial que se
realize uma pesquisa bibliográfica e documental e se lance mão de uma
metodologia adequada.
Recorrer à literatura é fundamental, pois permite que se identifiquem
as tecnologias emergentes bem como se revisem conceitos e se
conheçam as ferramentas de suporte e as demandas da comunidade.
É interessante não apenas recorrer a textos científicos, como também
a documentação técnica, como manuais, códigos, normas, tutoriais
e outros textos relevantes. Desse modo, a pesquisa bibliográfica e
documental abrangerá as mais diversas fontes impressas e eletrônicas
sobre sistemas de gerenciamento de bibliotecas, especificamente
os requisitos a serem avaliados, assim como padrões, protocolos e
tecnologias associadas a Biblioteconomia, Gestão da Informação,
Documentação, Arquivologia e Museologia, já que muitas vezes essas
áreas são convergentes.
É válido também que a equipe responsável pelo projeto busque uma
metodologia para a sistematização das etapas e o melhor gerenciamento
de todo o processo de tomadas de decisão. Uma metodologia formulada
a partir da análise de requisitos, como foi apresentado na seção 3,

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 91


fundamenta o processo de planejamento; contudo, o bibliotecário precisa
relacionar também os conhecimentos adquiridos em disciplinas do eixo
Pesquisa em Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Aspectos ligados à investigação científica são fundamentais para
a elaboração e a execução de projetos em diversos contextos. Nessa
perspectiva, Metodologia da Pesquisa Científica e Métodos
Quantitativos Aplicados à Biblioteconomia e à Documentação são
disciplinas que trazem significativas contribuições para que se alicercem
estudos sistemáticos para a inserção de soluções tecnológicas.
Teixeira e Marinho (2018, p. 60) apresentam pressupostos funda-
mentais para entender o planejamento como ferramenta do processo
de automação de bibliotecas visando à gestão de serviços. As autoras
defendem que a inserção de tecnologias para a automação necessita de
uma sustentação para acompanhar os processos de modernização das
bibliotecas, ao afirmarem que:

O desenvolvimento da automação de biblioteca


é sustentado pela perspectiva estratégica do
planejamento, que facilita o entendimento e mostra
a essência de um projeto de automação. Tal projeto
deve ser capaz de assegurar a sistematização de ações
e imprimir mudanças em uma realidade. Portanto,
é fundamental ter clareza sobre as etapas do ciclo
de planejamento e sequência dos passos para a
concretização de um plano, adotando-o como uma
ferramenta de trabalho.

As autoras (TEIXEIRA; MARINHO, 2018, p. 60) enfatizam o Plano Diretor


de Informática (PDI) como uma ferramenta de planejamento de automa-
ção de bibliotecas. Para elaborar o PDI de uma biblioteca é necessário:
a) Ter a visão do Plano de Metas da organização e da
biblioteca;
b) Fazer o levantamento de necessidades operativas e
informacionais;
c) Efetuar análise de custo-benefício da solução
apresentada (hardware, software e pessoal);
d) Estabelecer prioridades das ações e projetos, definindo
metas em curto, médio e longo prazos;
e) Acompanhar e avaliar os resultados.

Podemos concluir que o plano defendido pelas autoras precisa ter


compatibilidade com o levantamento de necessidades da biblioteca, com
foco na análise da relação custo-benefício da solução computacional, as-
sim como estabelecer prioridades e metas que auxiliem o acompanha-
mento e a avaliação dos resultados conforme o projeto de automação. Na
seção 4.4, apresentaremos uma abordagem que estabelece um diálogo
entre as concepções teóricas da Análise de Requisitos e as discussões no
campo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. Tal abordagem
apresenta uma proposta de sistematização do processo de automação de
bibliotecas e apresenta um modelo de projeto que pode ser reutilizado
em diversos contextos.

92 Informatização de Ambientes de Informação


4.4 ETAPAS DE UM
PROJETO DE
AUTOMAÇÃO DE
BIBLIOTECAS
A abordagem proposta nesta seção é fundamentada na análise de
requisitos de sistemas de gerenciamento de bibliotecas, o que fornece
uma visão sistematizada em etapas, tarefas e entregas de documentações
referentes à avaliação de softwares. Pretendemos delinear um conjunto
de técnicas que permitam a entrega de um plano de trabalho e um estudo
avaliativo de sistemas.
Baseada em padrões para o desenvolvimento e a avaliação de software,
a proposta a seguir inclui tarefas; cada uma delas possui atividades; e,
cada ação pode gerar documentação gerencial e técnica para dar suporte
à seleção do sistema mais adequado à realidade. Convém ressaltar que
as tarefas são independentes do tipo de sistema e biblioteca; assim,
a abordagem pode ser aplicada em diversos contextos tecnológicos e
institucionais. A imagem (Figura 15) apresenta as etapas de um processo
de automação de bibliotecas:

Figura 15 – Processo de automação de bibliotecas

Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

A elaboração do projeto de automação de bibliotecas pode contemplar


os seguintes elementos:
a) Dados de identificação – apresentam informações sobre a
caracterização da instituição e da equipe de execução;
b) Introdução – refere-se a uma apresentação sintetizada do projeto;
c) Justificativa – contempla as motivações e a relevância do projeto;
d) Objetivos – o objetivo geral corresponde ao resultado final do
trabalho relacionado à problemática de informatização; já os
objetivos específicos são mais delimitados, necessários para que a
equipe atinja o objetivo geral da informatização;

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 93


e) Metas – tarefas específicas que podem ser mensuradas a partir de
dados quantitativos que servem de indicador para o alcance dos
objetivos do projeto;
f) Metodologia – abrange as técnicas de análise de requisitos,
assim como descreve as etapas de forma bem sistematizada, com
dicionário que represente a terminologia, os canais de comunicação
e o fluxo de trabalho, ou seja, a modelagem de processos. Para a
consolidação do plano são também imprescindíveis investimentos
efetivos, que às vezes são vistos como complementares, como
treinamento de pessoal, contratação de consultorias para
qualificação, estabelecimento de novos processos de trabalho e
adequação à legislação vigente;
g) Resultados esperados – envolvem aspectos qualitativos e
quantitativos com base nos objetivos e metas estabelecidos. Além
de todas as questões de ordem técnica, os aspectos legais devem ser
considerados, assim como a percepção das rotinas e os problemas
econômicos envolvidos, que designam o custo total de recursos
tecnológicos e o investimento em formação e educação continuada,
dada a rapidez das mudanças tecnológicas. O planejamento precisa
incluir também custos iniciais de aquisição de licenças, manutenção
de assinaturas, caso necessário, custo das atualizações de hardware
e software em longo prazo, manutenção e suporte técnico efetivo;
h) Recursos – referem-se aos recursos materiais e humanos necessários
ao desenvolvimento do projeto de automação. Recursos materiais
são equipamentos, material de expediente, instrumentos, softwares
e recursos financeiros necessários à execução do projeto. Recursos
humanos são técnicos, especialistas, bolsistas, professores, pesqui-
sadores que podem trabalhar diretamente na coleta e na análise de
dados para a elaboração do Documento de Requisitos de Sistema.
Caso a biblioteca opte por uma instalação de um sistema de
gerenciamento de bibliotecas conforme a modalidade de aquisição,
por exemplo, é necessário que a instituição possua um computador
com a função de prover serviços, ou seja, o chamado “servidor”. Esse
computador disponibilizará uma camada para armazenar arquivos
e gerenciar dados mediante a instalação de softwares específicos
que implementam serviços de banco de dados, hospedagem de
páginas web, interpretação de script e linguagens de programação
para aplicações na internet.
Além dos softwares necessários à implantação do servidor de
aplicações, é importante incluir os sistemas operacionais, firewall,
servidores web, sistemas e gerenciadores de banco de dados (SGDB).
A escolha do hardware abrange a estrutura de periféricos para a
informatização, incluindo equipamentos de conectividades (hub,
switch, placas de rede, dispositivos de armazenamento, cabeamento
etc.). Além da infraestrutura de hardware e software, é pertinente
que se verifiquem recursos humanos, como administrador de
sistemas, analistas, programadores, bibliotecários, estagiários e
técnicos. Convém também considerar recursos materiais, avaliar
custos com equipamentos, mobília, instalações elétricas e outros;
i) Orçamento – projeta as despesas e os custos com base nos
recursos materiais, nos tributos, no pagamento de pessoal, na
contratação de serviços, na aquisição de equipamentos, na mobília
e nos materiais de expediente;

94 Informatização de Ambientes de Informação


j) Cronograma – o projeto também precisa definir um cronograma
de atividades, incluindo as etapas da metodologia e estabelecendo
os prazos para a realização das metas definidas;
k) Referências – contemplam a literatura especializada e a
documentação técnica que sustentam as ações do projeto.

A partir desses elementos, a análise de requisitos consiste na


especificação detalhada de atores, relacionamentos, eventos mediante
diagramas, gráficos e descrições textuais. Para uma melhor compreensão
dos Requisitos de Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas, a imagem
(Figura 16) ilustra as tarefas necessárias à operacionalização do processo
de Especificação de Requisitos.

Figura 16 – Requisitos de Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas

Fonte: Adaptado de Sommerville (2007, p. 70).

De acordo com a imagem (Figura 16), o processo de Análise de


Requisitos de Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas compreende
a definição de cenários, atores, casos de uso e relacionamentos. Após
a etapa de definição de cenários, é realizada uma revisão sistemática a
fim de se identificarem erros e possíveis inconsistências para a posterior
elaboração do Documento de Especificação de Requisitos. A imagem
(Figura 17) apresenta uma abordagem para a sistematização de etapas
para a elaboração do Documento de Requisitos de Sistema.

Figura 17 – Elaboração de Documento de Requisitos de Sistema

Fonte: Adaptado de Sommerville (2007, p. 70-71).

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 95


De acordo com a imagem (Figura 17), o documento que especifica os
requisitos funcionais, não funcionais e de domínio também contempla:
a) Descrição geral do sistema;
b) Restrições do projeto de sistema de bibliotecas;
c) Descrição dos requisitos funcionais;
d) Descrição dos requisitos não funcionais;
e) Descrição do comportamento do sistema;
f) Diagramas de casos de uso do sistema;
g) Critérios de validação.

Com base nesses aspectos, a atividade de Especificação de Requisitos


é composta por declarações, que podem ser uma lista dos requisitos
funcionais e não funcionais, assim como requisitos de domínio. Cada
requisito é descrito e pode-se usar diagramas de usos para ilustração
bem como outros diagramas para demonstrar funcionalidades e
comportamento do sistema. Após todo o processo de modelagem
e execução do projeto, é importante que se prepare a documentação
técnica do sistema, composta por normas, diretrizes, manuais, tutoriais,
políticas e outros textos que podem servir de suporte à plena utilização
dos módulos de um Sistema de Gerenciamento de Bibliotecas.

4.4.1 Atividade
Quais são os elementos necessários à elaboração de um plano
para a automação de bibliotecas?

Resposta comentada
Um plano de automação de bibliotecas, também conhecido
como plano diretor de bibliotecas ou projeto de automação
de bibliotecas, envolve a elaboração de um documento formal
que especifica as diretrizes, as etapas e os recursos para a
informatização da biblioteca conforme a missão, os valores, o
plano de metas, o custo-benefício e a avaliação. Esse plano pode
seguir os seguintes elementos: dados de identificação, introdução,
justificativa, objetivos gerais e específicos, metas, metodologias,
resultados esperados, recursos materiais e humanos, orçamento,
cronograma de atividades e referências utilizadas para a elaboração
do documento.

96 Informatização de Ambientes de Informação


4.4.2 Atividade
Pesquise sobre requisitos funcionais e faça uma lista com
cinco requisitos funcionais para um sistema de gerenciamento de
bibliotecas.

Resposta comentada
Requisitos funcionais representam as funcionalidades específicas
de um sistema de informação. Exemplos de cinco requisitos
funcionais para um sistema de gerenciamento de bibliotecas são:
1. O sistema deve permitir a catalogação de documentos em
formato AACR2, RDA e MARC 21;
2. O sistema deve permitir a importação e a exportação de
metadados em formatos abertos;
3. O sistema deve ser compatível com os protocolos de
interoperabilidade;
4. O sistema funcionará totalmente baseado na web;
5. A interface do sistema precisa seguir as recomendações de
acessibilidade na web.

RESUMO
Esta unidade enfatizou os impactos decorridos da informatização e
os problemas ligados à automação de bibliotecas. A cultura, a missão, os
objetivos, os serviços e os produtos oferecidos, assim como as
necessidades de informação dos usuários são aspectos que devem ser
considerados no planejamento da automação. Diante desse cenário, a
escolha de software e hardware requer um estudo sistemático para que
se identifique o sistema de gerenciamento de bibliotecas que melhor
atende às necessidades da instituição, tomando como parâmetros
a relação custo/benefício, o tempo de execução e a infraestrutura
disponível. Assim, apontamos a elaboração de um projeto de automação
de bibliotecas com base nas atividades relacionadas à especificação de
requisitos. Apresentamos, ainda, uma proposta para a especificação
dos requisitos funcionais de um Sistema de Gerenciamento de Bibliotecas.
Com base nessas abordagens, acreditamos que a metodologia
apresentada será útil para que se fundamentem e se sistematizem ações
efetivas para a automação de rotinas administrativas de uma biblioteca.

Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância 97


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos fundamentos, padrões e tecnologias apresentadas,
observamos inúmeras potencialidades de inserção da TI no processo de
informatização de ambientes de informação. No contexto das bibliotecas,
o processamento técnico e a integração de sistemas gerenciais para a
automação e o compartilhamento de registros bibliográficos em meio digital
devem estar plenamente adequados aos requisitos e aos procedimentos
administrativos conforme a missão e o público-alvo da instituição.
Constatamos que a informatização é muitos mais do que a instalação,
a configuração e o manuseio de sistemas computacionais, pois deve
ser realizada uma pesquisa sistemática e lógica, seguindo abordagens
teóricas e metodológicas para a operacionalização racional e segura.
A internet trouxe muitas perspectivas; desse modo, observamos que
cada vez mais os usuários estão exigindo novas demandas que envolvem
conectividade e compartilhamento. Nesse cenário, os avanços das
aplicações orientadas a serviços permitem que se forneçam aplicações
web que interagem com diferentes repositórios de arquivos, provedores
de dados e outras aplicações existentes na grande rede. Inovações como
ferramentas de descoberta, aplicativos para dispositivos móveis, fluxos
de mídias, curadoria de dados e tecnologias para estimular a produção
criativa são as tendências nessa conjuntura.
Assim, é importante que se incorporem táticas e estratégias para
articulação de modos de trabalho em uma cultura digital dependente
das inovações que conectam pessoas, serviços, produtos e instituições.
O desafio para o profissional nesse ambiente de mudanças é saber
trabalhar de forma participativa e mediante uma equipe multidisciplinar
que leve em consideração a diversidade de sujeitos e a heterogeneidade
de ferramentas e recursos disponíveis. Desse modo, acreditamos que os
componentes discutidos no texto são capazes de fomentar múltiplos
debates e experimentações no âmbito do acesso à informação em tempos
de convergência tecnológica.

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