1 - LCB Quinhentismo-1

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Escola Superior de Educação - Unidade Tchico Té

Curso: Licenciatura em Língua Portuguesa |2ºano |Turmas B e C


Cadeira: Literatura e Culturas Brasileiras
Ano letivo 2022/2023
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Quinhentismo Brasileiro (1500 - 1601)


(origem da literatura brasileira)

1. Introdução

Quinhentismo é um período da literatura brasileira que vai de 1500 a 1601 ( diz-se que é da origem da
literatura brasileira). Está, portanto, inserido no contexto das Grandes Navegações e da Contrarreforma
Católica. Ele engloba a literatura de informação e a literatura de formação, que trazem os primeiros
textos produzidos em território brasileiro ou sobre o Brasil, informativos ou de cunho catequizante.

Os seus principais autores são Pero Vaz de Caminha, Hans Staden, Pe. Manuel da Nóbrega e Pe. José de
Anchieta. A obra mais importante desse período é A carta de Pero Vaz de Caminha, considerada a
Certidão de Nascimento do Brasil.

2. Contexto histórico

O final da Idade Média (476-1453) foi marcado pelo aperfeiçoamento e uso da bússola, na navegação, e
da pólvora, na fabricação de armas. Esses fatores deram ao ser humano uma sensação de independência
em relação às forças divinas, pois, com tamanho poder, eles se viram capazes de vencer os obstáculos da
natureza, atravessar o mar e conquistar novas terras. O uso bússola permitiu o surgimento das Grandes
Navegações, já a pólvora fez os europeus invencíveis no domínio das novas terras.

Dessa forma, nos séculos XV e XVI, Portugal buscou expandir os seus domínios. Houve, então, expedições
para a África, Ásia e América. Esta, oficialmente, descoberta por Cristóvão Colombo (1451-1506) em 12 de
outubro de 1492. Tal descoberta levou espanhóis e portugueses a assinarem o Tratado de Tordesilhas
(1494), que dividia o novo continente entre essas duas nações. Assim, em 22 de abril de 1500, a frota
portuguesa chegou ao Brasil, data que ficou, oficialmente, registrada como da descoberta do Brasil.

Apesar do fim da Idade Média e do advento da Reforma Protestante, a Igreja católica ainda detinha
grande poder político. A Coroa portuguesa, portanto, tinha o apoio da Igreja e vice-versa.

Com a Reforma Protestante, a Igreja católica empreendeu a chamada Contrarreforma Católica, e uma das
medidas adotadas para combater a ameaça protestante foi a criação da Companhia de Jesus pelo padre
Inácio de Loyola (1491-1556). Desse modo, os jesuítas foram enviados ao Brasil para catequizar os
indígenas, ou seja, converter os nativos ao catolicismo.

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3. Características

Fazem parte do quinhentismo (1500-1601) os primeiros textos, não necessariamente literários, escritos
no Brasil ou sobre ele durante o primeiro século da invasão portuguesa. Entre outras, estas são as
caraterísticas do quinhentismo: crónicas de viagens; textos descritivos e informativos; conquista material
e espiritual; linguagem simples e utilização de adjetivos. Essas obras estão inseridas em uma destas
categorias:

3.1. Literatura informativa

Estão inseridos nessa classificação os textos dos chamados cronistas, que relatavam sobre o que viam na
nova terra. O público-alvo desses documentos eram os europeus, curiosos para saberem o que havia na
terra descoberta. Por isso, essa literatura informativa é também chamada de literatura de viagem, já que
é composta por relatos de viajantes europeus ao território brasileiro.

Assim, para os portugueses, franceses e alemães que descreveram a nova terra, o Brasil era um paraíso
tropical, pois o quinhentismo foi marcado por uma visão teocêntrica, religiosa, da realidade. Além disso,
as crônicas dos viajantes europeus eram cheias de descrições e comparações, que buscavam, com base
nos detalhes, mostrar aos leitores a beleza, as riquezas e as curiosidades da terra descoberta.

3.2. Literatura de formação/catequética/jesuítica

A literatura de formação ou literatura de catequese tinha o objetivo de converter os indígenas ao


cristianismo. Portanto, os poemas e peças de teatro, de cunho catequético, eram direcionados a esse
público. O Pe. José de Anchieta é o principal nome da literatura de formação no Brasil.

Os principais autores do quinhentismo são:


- Pero Vaz de Caminha (1450-1500): português e escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral (1467-1520).
- Hans Staden (1525-1579): alemão que passou nove meses prisioneiro dos índios tupinambás.
- Pe. Manuel da Nóbrega (1517-1570): padre português, chefe da primeira missão jesuítica no Brasil.
- Pe. José de Anchieta (1534-1597): jesuíta espanhol.
As principais obras do quinhentismo são: A carta de Pero Vaz de Caminha; A carta de mestre João Faras;
Relação do piloto anônimo; Cartas de Pe. Manuel da Nóbrega; Arte de gramática da língua mais usada na
costa do Brasil (1595), de Pe. José de Anchieta; Duas viagens ao Brasil (1557), de Hans Staden; Auto da
festa de São Lourenço (1583), texto teatral de Pe. José de Anchieta.

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4. A carta de Pero Vaz de Caminha (encontro com os nativos)

O texto mais importante desse período, devido ao seu valor histórico, é A carta de Pero Vaz de Caminha,
assinada em 1º de maio de 1500, em que o autor descreve a nova terra e menciona suas primeiras
impressões sobre ela ao rei de Portugal. É o primeiro documento escrito da história do Brasil. Costuma ser
considerada marco inicial da obra literária brasileira, apesar de, formalmente, ser documento de mero
registro, já que traz nas suas linhas a escrita da época, o estilo; e, nas entrelinhas, conta muito da história
oculta do descobrimento. Além disso, evidencia a intenção, da Coroa portuguesa, em explorar a terra
descoberta, e da Igreja, em catequizar os indígenas, como se pode ver nos trechos a seguir:

Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos,
visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados
que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa
tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que
os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles
qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos,
como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza,
pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com
pouco trabalho seja assim!

(...)

Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o
norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e
cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e
outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda
praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a
estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos — terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.
Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho,
porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a
principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza
aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela
cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!

(…) E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso
serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê,
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mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro - o que d'Ela receberei em muita mercê. Beijo
as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio
de 1500.

Pero Vaz de Caminha lê para o comandante Pedro Álvares Cabral, o Frei Henrique de Coimbra e o mestre
João a carta que será enviada ao então rei D. Manuel I.

Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Caminha enviou a carta para o rei D. Manuel I (1469-1521) para
comunicar-lhe o descobrimento das novas terras. Datada de Porto Seguro (no litoral da atual Bahia de
acordo com Francisco Adolfo de Varnhagen), no dia 1 de maio de 1500, foi levada a Portugal por Gaspar
de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota.

A carta conservou-se inédita por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.
Foi descoberta, em 1773, por José de Seabra da Silva e publicada pelo historiador Manuel Aires de Casal
na sua Corografia Brasílica (1817).

Em 2005, foi inscrita no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Se Caminha é o principal representante da literatura de informação do quinhentismo, Pe. José de


Anchieta tem essa mesma importância na literatura de formação, com suas peças de teatro e poemas de
cunho catequizante, como se pode verificar neste trecho do Auto da festa de São Lourenço, referente à
fala do personagem Aimbirê, um dos criados de Guaixará, o rei dos diabos:

AIMBIRÊ

Usarei de igual destreza


para arrastar outras presas
nesta guerra pouco santa.

O povo Tupinambá
que em Paraguaçu morava,
e que de Deus se afastava,
deles hoje um só não há,
todos a nós se entregaram.

Tomamos Moçupiroca,
Jequei, Gualapitiba,

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Niterói e Paraíba,
Guajajó, Carijó-oca,
Pacucaia, Araçatiba

Todos os tamoios foram


Jazer queimando no inferno.
Mas há alguns que ao Padre Eterno
fiéis, nesta aldeia moram,
livres do nosso caderno.

Estes maus Temiminós


nosso trabalho destroem.

5. Duas viagens de Hans Staden ao Brasil

Hans Staden foi um alemão que fez duas viagens ao Brasil entre 1547 e 1549 como artilheiro mercenário.
O seu relato conta sobre os nove meses que passou entre os indígenas.

A chegada dos portugueses em 1500 motivou outros exploradores como Hans Staden a virem ao Brasil
em exploração.

A chegada dos portugueses em 1500 motivou outros exploradores como Hans Staden a virem ao Brasil
em exploração.

Hans Staden foi um mercenário que nasceu em Homberg, na Alemanha, e veio ao Brasil em duas viagens
durante 1548 e 1549. A segunda viagem de Hans Staden ficou conhecida por causa dos nove meses em
que foi prisioneiro dos indígenas Tupinambás. Nesse período como prisioneiro, Hans Staden deixou
valioso registro a respeito dos rituais antropofágicos (rituais de canibalismo) dos indígenas.

Hans Staden, que veio ao Brasil à procura de riquezas, registrou suas experiências após retornar à
Alemanha em um livro lançado em 1557. O livro de Hans Staden é conhecido como “Duas Viagens ao
Brasil”, mas o nome original da obra de Hans Staden é “História Verídica e descrição de uma terra de
selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecida
antes e depois de Jesus Cristo nas terras de Hessen até os dois últimos anos, visto que Hans Staden, de
Homberg, em Hessen, a conheceu por experiência própria, e que agora traz a público com essa
impressão”.

As viagens de Hans Staden aconteceram entre 1548 e 1549, portanto, em uma época onde a colonização
portuguesa do Brasil ainda era bastante tímida. A exploração do pau-brasil era basicamente a grande

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atividade econômica do período e, nessa época, Portugal estava implantando o Governo-geral. A
presença portuguesa localizava-se apenas no litoral, em pequenas cidades.

Os relatos desse período mostram os primeiros contatos com os indígenas e a hostilidade de alguns
desses povos. Entretanto, é preciso considerar que os relatos dos europeus sobre os indígenas são
carregados da moral religiosa e sua visão etnocêntrica.

4.1. Primeira viagem

A primeira viagem de Hans Staden aconteceu no primeiro semestre de 1548, a bordo de um navio
português que vinha ao Brasil com objetivos comerciais, entretanto, caso esse navio avistasse
embarcações francesas, possuía ordens para atacar. Isso acontecia porque, segundo o Tratado de
Tordesilhas, parte do continente americano havia sido determinada como posse portuguesa. Assim,
qualquer outro país que estivesse em terras portuguesas seria considerado invasor. A função de Hans
Staden nessa expedição era a de artilheiro.

Nessa primeira viagem, Hans Staden esteve em Pernambuco, mas teve de retornar a Portugal após o
navio que estava ter sido danificado em batalha contra um navio francês. Chegaram a Lisboa em outubro
de 1548.

4.2.Segunda viagem

A segunda viagem de Hans Staden aconteceu logo após a Páscoa de 1549, a bordo de um navio espanhol
que zarpou de Sevilla. O objetivo era ir à foz do Rio da Prata para alcançar as terras do Peru.

Na segunda viagem, Hans Staden relatou que foram obrigados a desembarcar na ilha de Santa Catarina
após uma tempestade. Na ilha de Santa Catarina, aguardaram os outros dois navios aparecer (os navios
perderam-se durante a tempestade). Após a chegada do segundo navio (o terceiro nunca apareceu), Hans
Staden contou que foram feitos os preparativos para continuar a viagem, porém, mais um infortúnio
aconteceu: o navio principal afundou (Staden não deu detalhes de como isso aconteceu).

Após morar por dois anos na ilha de Santa Catarina, Hans Staden contou que eles decidiram partir no
navio que havia restado para São Vicente, mas o navio chocou-se contra os rochedos e também
naufragou no litoral de São Vicente. Ali, Hans Staden foi convidado pelos portugueses para trabalhar
como artilheiro na defesa do forte de Bertioga.

Hans Staden trabalhou durante dois anos como artilheiro no forte de Bertioga. Lá os portugueses lutavam
contra os Tupinambás. Staden foi capturado pelos índios Tupinambás após entrar na floresta fechada para
caçar. Ele foi considerado inimigo dos Tupinambás por estar com os portugueses.

Os Tupinambás, em geral, matavam os seus prisioneiros em rituais de antropofagia, também conhecidos


como rituais de canibalismo. A crença dos Tupinambás era a de que, ao comer o adversário, estariam

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apropriando-se de suas qualidades. A partir desse momento, Hans Staden viveu durante nove meses
como prisioneiro. Foi agredido muitas vezes e constantemente ameaçado de ser morto em um ritual de
antropofagia. Relatou guerras entre tribos e deixou muitos detalhes da cultura dos Tupinambás.

Depois desses nove meses, Hans Staden foi libertado pelos franceses, que negociaram com os indígenas a
libertação do alemão. Guilherme de Moner, capitão do Catherine de Vatteville, foi o responsável por
negociar a libertação de Hans Staden. Chegou à Europa no dia 20 de fevereiro de 1555, na cidade de
Honfleur, na França.

Trechos do relato de Hans Staden sobre os dois anos que viveu na ilha de Santa Catarina:

Ficamos dois anos na selva e sobrepujamos muitos perigos. Passamos muita fome, tivemos de comer
lagartos e ratos do campo e outros animais desconhecidos que conseguíamos apanhar, também animais
com carapaças que se agarravam às pedras na água e outros alimentos estranhos. No início os nativos nos
traziam bastantes mantimentos, até conseguirem de nós bastante objetos em troca. Depois, a maior parte
se mudava para outros lugares.

Sobre a sua captura pelos Tupinambás:

Quando eu estava andando na floresta, eclodiram grandes gritos dos dois lados da trilha, como é comum
entre os selvagens. Os homens vieram na minha direção e eu reconheci que se tratava de selvagens. Eles
me cercaram, dirigiram arcos e flechas contra mim e atiraram. Então gritei: “Que Deus ajude minha
alma!”. Nem tinha terminado estas palavras, eles me bateram e empurraram para o chão, atiraram e
desferiram golpes de lança sobre mim. Feriram-me – Deus seja louvado – apenas numa perna, mas me
arrancaram a roupa do corpo, um deles o casaco, um outro, o chapéu, o terceiro, a camisa, e assim por
diante.

Sobre as ameaças que recebeu dos indígenas:

No interior da caiçara as mulheres se jogaram sobre mim, golpearam-me com os punhos, arrancaram-me
a barba e disseram na língua delas: “Xe nama poepika aé!”, “com este golpe vingo o homem que foi morto
pelos teus amigos”.

Nisto me levaram para a cabana onde tive de deitar numa rede, e mais uma vez vieram as mulheres e
bateram em mim, arrancaram meus cabelos e mostraram-me de modo ameaçador como pretendiam me
comer.

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Descrição de Hans Staden sobre os indígenas:

São pessoas bonitas de corpo e estatura, tanto homens quanto mulheres, da mesma forma que as pessoas
daqui, exceto que são bronzeadas pelo sol, pois andam todos nus, jovens e velhos, e também não trazem
nada nas partes pubianas.

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Fontes (consultadas em 1 de novembro de 2022):


https://www.google.com/amp/s/www.portugues.com.br/amp/literatura/quinhentismo.html
https://www.google.com/amp/s/m.historiadomundo.com.br/amp/idade-moderna/viagens-hans-staden-ao-brasil.htm
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Carta_de_Pero_Vaz_de_Caminha

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