TCC Flor
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NOME DO CURSO
O SERVIÇO SOCIAL E A
Manaus
2016
CLEUDENORA DE SOUZA SILVA
O SERVIÇO SOCIAL E A
Manaus
2016
Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso,
A Deus em primeiro lugar, pela saúde e disposição
a mim outorgadas, para que este trabalho se
concretizasse pois sem ele nada seria possível e
não estaria desfrutável deste momento tão
importante em minha vida.
Ao meu pai, filhos em especial a minha Mãe Maria
do Rosário de Souza Silva que me compreenderam
no momento das dificuldades deram forças para
lutar e vencer umas das etapas de minha carreia
profissional.
AGRADECIMENTOS
A Deus que iluminou meu caminho e minha vida nesta jornada difícil; Aos meus
familiares, que suportaram minhas ausências com paciência e compreensão para o
meu crescimento profissional. Aos meus colegas de turma pelo carinho e amizade
durante esse período juntos. A minha Mãe Maria do Rosário de Souza Silva por seu
apoio e amor incondicional. A todos aqueles que direta ou indiretamente
contribuíram a construção deste trabalho e conclusão do curso.
" Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas
do que parecia impossível”.
Charles Chaplin
SILVA, Cleudenora de Souza. Serviço Social: A Redução da Maioridade Penal
2016. 41 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso Graduação em Serviço Social –
UNOPAR, Universidade Norte do Paraná.
RESUMO
ABSTRACT
This course conclusion work will discuss the proposal to reduce the age of criminal,
in Brazil the minimum age to penalize the individual criminal may be sentenced to the
same present aged 18 years. And for this reason, discussions are numerous on the
reduction of the threshold for the application of the penalty for offenders who have
less age provided for in our legislation, either to 16 or to a lower age. The largest
portion speculating about that fact is the population that we have no doubt. And it is
noticeable that are happening because of them feel overwhelmed before the high
levels of crime, and as a result of such acts to the media influenced society then tries
to get anyway immediate action to solve the said problem, as the reduction of legal
age were the solution to mitigate or reduce the violence committed by minors. Our
goal in this paper is to show that the population and some representatives of the own
executive branch who are in favor of this type of measure are wrong on these,
moreover emphasize also that the best solution is not to reduce the legal age or
amend the Statute Child and Adolescent - ECA. Rather it is necessary that the
statute is applied and respected the way it is provided by law.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................13
2 A VIOLÊNCIA..................................................................................................15
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................51
9 REFERENCIAS...............................................................................................55
13
1 INTRODUÇÃO
2. A VIOLÊNCIA
4. CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE
IPEA constata 1,5 milhão de analfabetos, 32% dos jovens de 15 a 17 anos ainda
cursando o ensino fundamental e apenas 13% da população de 18 a 24 anos
frequentarem a educação Superior.
Estatísticas presentes em relatório realizado pelo CONANDA –
Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e a
Secretaria Especial dos Direitos Humanos acerca da realidade de adolescentes em
privação de liberdade em 2002, mostram que 90% dos jovens cumprindo a medida
são do sexo masculino, 76% possuem idade entre 16 e 18 anos, 63% eram
afrodescendentes, 51% não frequentava a escola, 81% viviam com a família quando
praticaram o delito, 12, 7% viviam em famílias que não possuíam renda mensal,
66% viviam com família com renda mensal até dois salários mínimos, 49% não
trabalhavam, 85,6% eram usuários de drogas.
Segundo Baratta (2006), a criminalização é elemento necessário
para o ideal funcionamento da lógica vigente, pois é o que mantém ou aprofunda a
classe subalterna na posição que se encontra e disponível para o mercado de
trabalho, evita sua ascensão social e as organiza inclusive em espaços geográficos,
as anula ou lhes fornece visibilidade quando necessário justificar a violência com
métodos de criminalização.
Hoje o principal instrumento de criminalização da juventude pobre é
a droga. Pesquisa realizada entre os anos de 1968 e 1988, da 2ª Vara da Infância e
da Juventude do Rio de Janeiro mostram que 49% dos jovens inseridos no sistema
tiveram como ato infracional cometido o envolvimento com a droga, sendo 38%
devido ao tráfico e 11% como consumidor (BATISTA, 2003).
No sistema penal no final dos anos 90, as prisões por tráfico de
drogas representavam cerca de 60% da população carcerária do estado do Rio de
Janeiro (MACHARET, 2010).
A utilização da droga em si como instrumento de criminalização da
pobreza não se faz sobre possíveis malefícios que a mesma poderia causar e suas
consequências na conformação do comércio ilegal que a envolve, mas antes
porque, segundo Batista (2003), é através dela que atinge um setor específico da
juventude e da classe marginalizada considerada “perigosa”. Essa afirmação se faz,
não porque a droga esteja distante de outros setores da sociedade, mas porque sua
utilização possui diferentes finalidades entre as classes sociais, posto à necessidade
de subsistência dos considerados “perigosos” que a usam como moeda de troca e
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que não se realiza na classe média que segundo sua moral são liberados a utilizá-la
para consumo próprio, mas não para auto sustento.
De fato, a juventude brasileira hoje e principalmente das classes
mais baixas é estigmatizada, culpabilizada e sem muitos aparatos aos quais recorrer
em se tratando de políticas públicas para juventude com perspectivas diferentes
daquelas que lhe são apresentadas durante toda a vida, que é a relação com o
tráfico de drogas, com o crime, com a violação dos seus direitos por parte do Estado
e seus órgãos públicos, da escola, do trabalho, e muitas vezes da própria família
num ciclo de reprodução das baixas condições de vida. Nesse contexto os jovens
pobres são mais e gravemente atingidos pelos efeitos do neoliberalismo, pela difícil
inserção no mercado de trabalho, fruto de processos de exclusão, desigualdade e
criminalização num sistema estruturado sem capacidade para absorvê-los.
A realidade desses jovens é vivida por milhares de adolescentes no
Brasil hoje, o que falta de perspectiva para juventude brasileira é trabalho,
educação, lazer, etc. O tráfico de drogas e a entrada na criminalidade com todos os
riscos que carregam, acabam oferecendo de forma pragmática, focalista e só em
curto prazo, mas muitas vezes a oportunidade desses adolescentes serem como tais
e se desenvolverem materialmente e na formação de sua personalidade. Essas
práticas as quais recorrem tendem a ser cada vez mais uma alternativa ao mercado
de trabalho ou desemprego, que não se concretizam sem importante incentivo
econômico posto às condições de trabalho, baixos salários e falta vagas que os
absorvam.
É uma reflexão importante diante do cenário das oportunidades que
os órgãos públicos estão (ou não) propiciando a essa parcela da população e para
que de fato a realidade da criança e do adolescente no Brasil mude hoje, respostas
públicas, mais confiantes, garantidas, universais no sentido de trabalhar com todos
os direitos que lhes devem ser garantidos e sem subestimar a capacidade desses
adolescentes de se desenvolverem, criarem, reivindicarem, inovarem, apreenderem
sobre suas vidas e intervirem nela e na sociedade. A juventude brasileira, grande
parte da população, e a classe pobre em geral são vistas, observadas e julgadas
principalmente através dos meios de comunicação e no cotidiano de forma
superficial e pré-julgada. São instrumentos que formam a imagem estereotipada e
generalista dos adolescentes e dos sujeitos com menores condições de vida em
geral.
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crianças são punidas, os operários são punidos, os alunos são punidos, os soldados
são punidos, enfim, é ser punido durante toda a vida (FOUCALT, 1987).
O sistema penal não só reproduz as relações capitalistas do modo
de produção e suas desigualdades, como de forma ativa as produz e aprofunda.
Perpetua em seu interior a disciplina através das relações de subordinação
semelhantes a qual a contradição capital e trabalho estabelecem nas fábricas a
partir do controle da vida de seus trabalhadores e a separação posta entre quem
detém os meios de produção e aqueles que dele dependem. (BARATTA, 2006 p.
365).
A inserção no sistema prisional no papel de encarcerado modifica
substancialmente a trajetória de vida dos sujeitos, inclusive de forma coletiva ao
longo da história. O instrumento penal não é estático e se movimenta conforme as
conjunturas e interesses postos em determinados períodos históricos, podendo
colocar para si maiores ou menores expressões de contingentes e comunidades, e,
portanto alterando as expectativas de vida das classes marginalizadas.
Foucault (1987), afirma que é exercido sobre o condenado um poder
inabalável e intenso, que se inicia com a condição de solidão e isolamento e
contribuem claramente para sua submissão total. Retoma ainda três esquemas ao
qual recorre o aparelho carcerário, sendo eles: o esquema político-moral do
isolamento individual e da hierarquia; o modelo econômico da força aplicada a um
trabalho obrigatório; o modelo técnico-médico da cura e da normalização.
A perspectiva de análise que aponta a profunda relação entre
sistema de produção e as prisões aqui retomada, apresenta elementos de como
essas instituições se complementam nas diferentes conjunturas de acordo com a
abertura ou não do mercado de trabalho, desemprego, correlações de força e
cenário econômico.
De acordo com Baratta (2002), é a forma de controle das classes
menos favorecidas também através da prisão nos casos em que não há
necessidade política e econômica, por exemplo, de absorvê-las no mercado de
trabalho ou utiliza-las como exército industrial de reserva. São classes que tendem a
invisibilidade social e quando reclusas definitivamente desaparecem das estatísticas
de desemprego, escolaridade, saúde, etc., contribuindo em termos de análise de
dados com uma amostragem da realidade econômica e social do país que exclui
parte importante da população (SALES, 2007).
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responsáveis pela violência são necessárias a percepção de que estes são, antes,
“muito mais violentados do que violentos”.
Hoje, frente à Constituição Federal de 1988 (em formato de cláusula
pétrea), Estatuto da Criança e do Adolescente e Código Penal, adolescentes de 12 a
18 anos são considerados inimputáveis, ou seja, segundo esses dispositivos legais,
diante de infrações penais cometidas por adolescentes, esses não deverão sofrer as
sanções penais tais quais os adultos e sim através de legislações especiais. As
medidas direcionadas aos adolescentes serão correspondentes às denominadas
pelo Estatuto por medidas socioeducativas, sendo elas: advertência, obrigação de
reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, inserção em
regime de semiliberdade, internação em estabelecimento educacional e outras
previstas em lei.
Embora o referido quanto à inimputabilidade penal do adolescente na
Constituição Federal de 1988 seja clausula pétrea, e, portanto, insuscetível de
emenda, vem acontecendo diversos debates, eventos e audiências públicas sobre o
tema, inclusive com sugestões para que a decisão aconteça através de Plebiscito
Nacional. Em pesquisa realizada pelo Data Senado em 2008 sobre a violência no
país que buscava munir diversos projetos que tramitavam no Senado a respeito do
assunto na época, mostraram que 87% (num universo de 1.068 entrevistados com
idade igual ou superior a 16 anos) dos entrevistados afirmam que os adolescentes
que cometerem ato infracional deveriam receber as mesmas penas que um adulto. A
proposta da redução da maioridade penal para 16 anos de idade corresponde a 36%
da opinião dos entrevistados, 29% afirmam que adolescentes a partir dos 14 anos
deveriam ser imputáveis, 21% concordam com a redução da maioridade penal para
12 anos e por fim, 14% afirmam que a punição deveria ocorrer independentemente
da idade do “infrator”. (ROSA, 2010).
Esse é um processo que necessita ser refletido de forma crítica, não só
enquanto pesquisa específica realizada, mas enquanto instrumentos de alcance da
opinião pública e mecanismos de participação. É de fundamental importância que a
população participe, influencie, tome para si e exija espaço nas decisões tomadas
pelo poder público sobre o rumo de nossa nação. Entretanto, a suposta democracia
que assim se busca é extremamente articulada com um ideário que interessa a
classe dominante reforçado diariamente através do senso comum e camuflação dos
conflitos sociais estabelecidos, não permitindo qualquer processo consciente, crítico
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da maioridade penal posto que os menores de idade seriam utilizados pelos adultos
para cometer crimes em seu lugar. Não questionamos se de fato, essa relação tenha
concretude na execução do crime, porém negamos que a proposta aprovada seja a
resposta para a questão, pois a relação não seria alterada, o que de fato resultaria é
que adolescentes ainda mais jovens seriam “utilizados”.
Esses adolescentes normalmente são somente peças no jogo da
criminalidade em troca de dinheiro, visibilidade, inserção social, etc. A infração, o
tráfico de drogas e a violência acontecem independente deles e assim continuarão
sendo, se reduzirmos a maioridade penal. Em geral, os adolescentes geralmente
são os “conhecidos como “esticas”, “mulas”, “aviõezinhos” e “fogueteiros”, cuja
participação real no montante dos lucros movidos pelo tráfico é ínfima” (Macharet,
2010, p. 60). Os verdadeiros beneficiários do comércio ilegal, por exemplo, não são
apreendidos.
Muito ligado à ideia de redução da maioridade penal está o juízo pelo
qual se entende que o Estatuto da Criança e do Adolescente permite aos sujeitos de
12 a 18 anos a livre passagem para cometer crimes, resguardados por uma suposta
impunidade, o que reforçaria e aumentaria os níveis de criminalidade. O que não se
destaca nessa perspectiva é que as restrições socioeconômicas que essa juventude
específica e selecionada atravessa por toda a vida, não deixam de possuir caráter
repressivo e forma punitiva quanto à negação do atendimento aos direitos
fundamentais.
A sensação geral de impunidade na sociedade vem da ideia de que
nada acontece a juventude quando essa se envolve com o ato infracional frente à
violência, corrupção, injustiças instauradas nacionalmente e alimentadas pela mídia
que as ressalta com intensidade e pela visível e divulgada fragilidade do sistema
penal em seus processos; a resposta imediata para essas questões, sem um
processo de reflexão consciente, é mais punição (SARAIVA, 2010).
No entanto, há profundas diferenças entre a inimputabilidade que lhes
é colocada até os 18 anos e o argumento que afirma que são impunes, dado que
quando cometem ato infracional são direcionados à medidas socioeducativas de
forma a responsabilizá-los numa perspectiva que se prevê educativa, e possuem
ações que vão desde a advertência até a internação, que não deixam de possuir
força coercitiva, pois são impostas aos adolescentes.
É constante na opinião pública a questão acerca da capacidade do
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adolescente ter discernimento sobre suas ações e ser capaz de, com 16 anos, fazer
escolhas, dentre elas, cometer ou não infrações penais. Defende-se que a redução
da maioridade penal o dotaria de maior responsabilidade posto a apreensão em
serem inseridos no sistema penitenciário, além da afirmação do desenvolvimento já
pleno nessa idade em determinar suas ações; argumentos descolados da realidade
e das causas que levam adolescentes a cometerem atos infracionais.
Antes, devemos refletir se, de fato, a idade de cada um corresponde a
níveis homogêneos de maturidade e consciência. Os processos de formação da
adolescência e da própria personalidade em sua totalidade são processos
constituídos, a depender, de um longo processo anterior e compostos por vários
determinantes que os influenciarão, fatores não só biológicos e psicológicos, como
sociais, econômicos, políticos, culturais e geográficos os quais permeiam o
adolescente e seu núcleo social mais próximo (ROSA, 2010).
Trabalhar na perspectiva de defesa dos direitos da criança e do
adolescente sem a necessária articulação com essa contradição, e mais, muitas
vezes em nome dessa defesa colocar em polos opostos uma lógica simplista entre
adolescentes e adultos que moraliza e culpabiliza as famílias por sua condição, não
contribui para um sistema alternativo ao penal e na constituição de outras formas de
trabalhar os conflitos sociais.
Sem uma estrutura sócio assistencial ampla, e que de fato, diferencie
de forma estrutural as condições dessas famílias, muitas vezes com baixos salários
ou desempregadas, sem amparo do Estado e diante da fragilidade das instituições
de proteção a seus direitos fica a cargo da família prover todo tipo de subsistência e
necessidade de seus membros. É necessário que entendamos a magnitude das
tentativas de sobrevivência dessa juventude e a sua totalidade de sujeito que vai
muito além do ato infracional.
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sociais trabalham com a questão social nas suas variadas expressões quotidianas,
tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área
habitacional, na saúde, na assistência social pública etc.” (IAMAMOTO, 2005, p. 28)
Em se tratando que o assistente social trabalha com as diversas
expressões da questão social, este se torna um grande desafio, pois ao profissional
cabe esclarecer à população usuária, seus direitos sociais e os meios de ter acesso
aos mesmos, atribuindo transparência a valores pertencentes ao gênero humano
que se tornam cada vez mais opacos no universo da mercantilização.
O Serviço Social, enquanto profissão que intervém nas contradições
que emergem dessa realidade, junto às diferentes expressões da questão social que
aparecerem nas relações entre sujeitos reclusos e sociedade. Portanto, é uma área
que visa favorecer para que essa pessoa, dentro e fora da prisão, por meio de uma
prática social cotidiana, possam se articular criticamente na compreensão da
vulnerabilidade social da qual fazem parte.
A atuação do serviço social nas suas intervenções constitui-se num
espaço reflexivo, ao voltar-se não só para as questões do delito e da pena, mas
também para as questões cotidianas, a fim de desvendá-las, trabalhando-as ao
apresentar propostas viáveis frente às situações trazidas pelos reclusos ou pelo
estabelecimento prisional.
Com um vasto campo de trabalho no espaço prisional, o profissional de
Serviço Social, realiza um trabalho importante para atender as mais significativas
necessidades do recluso, sendo que tais necessidades muitas vezes se resumem na
simples possibilidade de uma visita à família.
O mais importante, é que dentro do ordenamento jurídico penal o
assistente social é chamado a participar do retorno do recluso ao meio social em
que ele vivia. Dessa forma, a atuação dos assistentes sociais, buscando intervir no
fortalecimento da identidade social, visando à reintegração do recluso na sociedade
se reveste de uma importância muito grande, pois a assistência social vai lidar com
a liberdade das pessoas, bem como mediar às relações sociais existentes no campo
profissional.
O Serviço Social assim constitui um elemento chave para a construção
da cidadania, sempre negada aos reclusos. E este é um dos princípios fundamentais
de ética do profissional de Serviço Social. A postura ética desse profissional,
definida pelo Conselho Federal de Serviço Social (2004), pode ser entendida como
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uma defesa eficaz de uma assistência social que garanta também ao recluso um
tratamento mais humano e digno no sistema penitenciário, assegurando a ele
dignidade e a possibilidade de cumprir sua pena com a certeza de que será
reintegrado à sociedade.
A realidade atual das medidas de atendimento socioeducativo no Brasil
até o presente, traz fortes influências do antigo Código de Menores, trazendo
consigo pensamentos fatalistas, acreditando não ser possível a inclusão sociais
desses adolescentes, atribuindo-lhes como responsáveis pela sua situação irregular,
diagnosticando-os como seres antissociais, e que as constantes inserções na
criminalidade são devido a sua própria escolha ou por possuir psicopatologias.
A política de aprisionamento vigente nunca combateu a violência e a
criminalidade, nem mesmo apresentou condições justas para que o sujeito
reconduza sua vida com mais dignidade, evitando as reincidências destes. Onde “a
brutalidade, a humilhação, a tortura são as únicas estratégias pedagógicas de
controle” (SANTOS, 2005, p. 14).
E como podemos verificar por meio dos dados de Murad (2004) apud
SINASE (2006), existiam 13.489 adolescentes cumprindo medidas socioeducativas
que privam da liberdade (semiliberdade, internação). E essas unidades em seus
espaços físicos não se encontram adequadas para um atendimento digno para
adolescentes desenvolvimento peculiar, não seguindo assim, os pressupostos do
ECA, como exemplo do art. 94: VII de “oferecer instalações físicas em condições
adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos
necessários à higiene pessoal”, pois das 71% das unidades de atendimento estão
impróprias (ROCHA, 2002 apud SINASE, 2006).
O projeto profissional do Serviço Social produzido coletivamente pela
categoria delimita e prioriza os objetivos e funções da profissão, estabelecendo
balizas da sua relação com os usuários e com as outras profissões. Esse projeto é
indissociável dos projetos da sociedade, pois são estruturas dinâmicas que
respondem às necessidades sociais. Segundo Netto (1999, p. 94), “os projetos
societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se
constituírem projetos macroscópicos, em propostas para o conjunto da sociedade”.
Podemos ressaltar que o projeto ético-político da profissão tem sua
peculiaridade pelos determinantes sócio históricos, pelo posicionamento a favor da
classe trabalhadora, norteada pela dimensão política e pelo interesse de caráter
49
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
índice não resulta apenas nos delitos cometidos por menores, mas também na
violência como um todo. Demonstramos que a base do problema se encontra na
estrutura social do País na ineficácia que decorre o Estado, as relações socais, ou
melhor a estrutura social básica, como a saúde, a educação, a da dignidade
humana e o elemento segurança que têm, o Estado, por dever de propiciar ao seu
povo. Além de que, o mesmo não está atendendo todas essas relações, sabemos
que tem sido precária as condições que ele nos oferece.
Investir na ideia de que reduzir para 16 anos a maioridade como
solução do problema é na realidade uma ilusão social atrás de uma falsa
segurança, na qual a sociedade tanto busca. Sabemos mais do que ninguém, o
quão é precária as condições carcerárias que se encontra o Brasil, não apenas as
unidades prisionais, mas também as próprias casas de recuperação
socioeducativas desses menores. Reduzir a maioridade penal não se trata
apenas da capacidade de entendimento do menor de idade e sim da
inconveniência de submetê-lo ao mesmo sistema reservado aos adultos,
comprovadamente falido. Reduzir a idade penal máxima é rebaixar em um degrau
o nosso processo civilizatório e, ao invés disso, é preciso propor aumentar as
oportunidades que a sociedade brasileira raramente concede aos seus jovens.
Não são necessárias novas leis para a solução do problema, o Brasil
tem legislação suficiente para a resolução, basta apenas governantes
comprometidos com o bem-estar da população, governantes com políticas
públicas adequadas e com o dever da efetividade das leis ditas pelo Estatuto,
reduzir a maioridade penal não seria uma solução imediata e muito menos a
longo prazo, seria dizer sim a criminalidade e o aumento da própria no nosso
País.
O principal meio de reduzir os altos índices de violência juvenil
encontra-se na eficácia da lei, na efetividade do Estado, pois as leis existentes no
ECA são suficientes para mudar essa atual conjuntura. É tirando os jovens da rua
tornando-os cidadãos qualificados, é somente assim que nós veremos mudanças.
Reduzir a maioridade penal é desperdiçar corpos, mentes, revoltas e
inquietudes e cidadãos, é determinar que a tendência à entrada na criminalidade
torne-se caminho feito posto os efeitos negativos do cárcere que em nada
contribuem ao sujeito que por ele passa e sua situação socioeconômica. É a
fórmula certa de aprofundamento do caos do sistema penitenciário brasileiro, da
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