67487-Texto Do Artigo-88907-1-10-20131125
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Rubem Braga
1. Weiss, Carlos. O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, in Direitos
Humanos. Centro de Estudos da P.G.E.S.P., outubro, 1998. p. 295.
2. Artúcio, Alejandro. in Seminários sobre Direitos Economicos, Sociales y Culturales, Genebra,
C.I.T., 1966, p. 19.
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3. Piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o D.C.I., 3ª ed., Max Limonad, 1977, p. 103.
4. Silva, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais, ed. R.T., 1982, p. 72.
5. Silva, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 12ª ed., Malheiros Editora,
1966, p. 444.
6. Amaral Neto, Francisco. Direito Constitucional: A eficácia do Código Civil Brasileiro após a
Constituição, in Repensando o Direito, p. 321.
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8. Perdomo, Rogelio Perez; Nikken, Pedro. in Derecho y propriedad de la vivienda en los barrios
de Caracas, ed. U.C.V., 1979, p. 18.
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favelas com mais de cinqüenta anos de existência e nelas gravitando uma população
aproximada de 400 mil habitantes.
Não se pode pensar em uma reurbanização "a la Nero" ou numa
solução aventada pelo boquirroto presidente Figueiredo, em suas inconfidências que
não-correspondem ao seu grande coração (explodir a favela da Rocinha ...)
As intervenções hão de ser corretivas ou restauradoras, eliminando os
riscos, a insalubridade, o desconforto, enfim, minimizando a agressão urbana.
Nesse sentido as prefeituras passaram de uma atuação hostil a esses
agrupamentos à política de humanização, equipando as favelas com luz, água,
correção da malha viária (quando possível) e aproximando ou instalando serviços
sociais (escola, posto de saúde, posto policial, etc.).
O problema da moradia não é só nosso; o déficit mundial de
habitações é de um bilhão, chegando o pátrio a uma carência de 15 milhões,
computadas nesta cifra aquelas moradias inadequadas por falta de água, luz,
banheiro, coleta de lixo e demais equipamentos urbanos.
Em São Paulo estima-se que 600 mil famílias vivem em cortiços, 2
milhões em loteamentos clandestinos e 2 milhões em favelas, em precárias
condições de habitabilidade.
As ocupações de áreas de risco não são coibidas eficientemente, de
modo que as 473 mapeadas passaram, em curto período, a 953 com riscos de
deslizamentos e inundações, o que vemos ocorrer diariamente, notadamente com as
volumosas, porém previsíveis, precipitações pluviométricas que têm castigado o
nosso País.9
Os desassistidos pelo Poder Público, sem condição de acesso à
moradia, que se converteu em uma mercadoria escassa e cara, revelam-se
protagonistas da verdadeira guerrilha urbana que, em decorrência dessas frustrações,
se instalou no seio da nossa sociedade.
Articulam-se os desvalidos "sem-tetos", criando, já em 1993, a Central
de Movimentos Populares - CMP -, estimulando qualquer tipo de atuação tendente
a reduzir o déficit habitacional, apoiando a invasão de terrenos, com prioridade às
áreas públicas, porque, segundo sua óptica, o Poder Público é o responsável pela
9. Estatísticas do Plano Municipal de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, 1988,
p. 51.
O direito à moradia 551
10. Babeuf, Gracchus. Manifesto dos Plebeus, publicado em 30.11.1795 no jornal "Le Tribune du
Peuple".
11. O Brasil na Conferência Habitat II.
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engrenagem econômica com vantagens para o País, a maior delas de cunho social,
polo resgate da dignidade do homem e da efetividade de sua cidadania.
Os desafortunados e excluídos, agora confortados pela proteção
constitucional, hão de reivindicar os seus quinhões, não pela belicosa forma do
exercício do direito de revolução, reconhecido como justo na clássica lição de
Jefferson, Madison e Jay, na magistral obra inspiradora da União Americana. O
Federalista: "Quando uma longa série de abusos e usurpações visam submeter um
povo à uma tirania insuportável, é seu direito, é seu dever subjugar essa tirania e
prover a novos guardiães de sua segurança futura".
A luta é legitima, mas deverá ser travada dentro da ordem
constitucional, compelindo-se o Estado a operar dentro dos limites queridos e
impostos pela Constituição, guardada a advertência lançada pelo Supremo Tribunal
Federal de que o direito individual, por mais legítimo que seja, não pode servir de
salvaguarda de práticas ilícitas (in R.T. 709/418).
Não se pode olvidar, ainda, a ressalva constante do art. 29 da
Declaração dos Direitos Humanos quanto à forma e aos meios do exercício e da
defesa dos direitos nela previstos: "toda pessoa tem deveres com a comunidade,
posto que somente nela pode-se desenvolver livre e plenamente sua personalidade.
No exercício de seus direitos e no desfrute de suas liberdades todas as pessoas
estarão sujeitas ás limitações estabelecidas pela lei com a única finalidade de
assegurar o respeito dos direitos e liberdades dos demais... Estes direitos e
liberdades não podem, em nenhum caso, ser exercidos em oposição com os
propósitos e princípios das Nações Unidas".
Lutemos pela imediata realização da expectativa, rectius, do direito de
cada cidadão à sua moradia, mas façamô-lo dentro da ordem e da Justiça, utilizando
os instrumentos legais e a proteção que, agora, a Lei Maior confere, de molde a
concretizar na efemeridade da vida terrena, o direito de cada um possuir o seu
abrigo, o seu teto, complemento da personalidade e apanágio da cidadania.
Se esse ideal não for alcançado, outra esperança não restará senão o
consolo da redenção, na vida eterna, porquanto é certo que: