Calculos Contabil e Financeiro Unidade IV

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CÁLCULOS CONTÁBIL E FINANCEIRO

UNIDADE IV
OPERAÇÕES ESPECÍFICAS
Elaboração
Anderson Fumaux Mendes de Oliveira

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE IV
OPERAÇÕES ESPECÍFICAS.................................................................................................................................................................. 5

CAPÍTULO 1
CONTRATOS DE CRÉDITO DIRETO AO CONSUMIDOR (CDC)....................................................................................... 5

CAPÍTULO 2
CHEQUE ESPECIAL E CONTA GARANTIDA........................................................................................................................ 13

CAPÍTULO 3
CARTÃO DE CRÉDITO................................................................................................................................................................ 20

CAPÍTULO 4
DESCONTO DE RECEBÍVEIS..................................................................................................................................................... 28

CAPÍTULO 5
CONTRATOS DE LEASING...................................................................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................36
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OPERAÇÕES ESPECÍFICAS UNIDADE IV

Capítulo 1
CONTRATOS DE CRÉDITO DIRETO AO CONSUMIDOR (CDC)

1.1. Introdução
O Crédito Direto ao Consumidor (CDC) é uma das modalidades de crédito
mais conhecidas no mercado, oferecida pelas instituições financeiras, lojas de
departamentos e administradoras de cartão de crédito.

Pode ser obtido na forma de dinheiro em espécie quando é solicitado em


bancos ou financeiras, ou na forma de financiamento para aquisição de bens
duráveis ou serviços, mas pode ser oferecido por lojas de departamentos quando
se abre um crediário para compras com valor predeterminado e ainda
quando se obtém um limite para gastos com cartão de crédito.

Para correntistas de diversos bancos, esta opção já está disponível dentro de um


pacote de serviços, como opção de empréstimo pré-aprovado, imediato e sem
burocracia para aqueles que possuem renda estável.

O pagamento pode ser feito em até 60 meses e as parcelas são debitadas


automaticamente da conta corrente.

É possível consultar no site do Banco Central a taxa média praticada pelo mercado
nessa modalidade e nas demais transações financeiras (https://www.bcb.gov.br/
estatisticas/txjuros/).

1.2. Maiores demandas judiciais em contratos de CDC


Por se tratar de uma modalidade de crédito com fácil acesso, muitas pessoas
se endividam rapidamente, e por conta da inadimplência, procuram o Poder
Judiciário visando renegociar seu contrato. Além disso, as próprias instituições
financeiras recorrem à Justiça para recuperarem o valor emprestado.

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UNIDADE Iv | Operações específicas

Logo, as principais demandas judiciais para esse tipo de operação são:

» Taxas abusivas.

» Capitalização indevida dos juros (Anatocismo).

» Cobranças acessórias indevidas, dentre outras.

Nesse sentido, os principais pontos a serem verificados pelo perito em trabalhos


que envolvam CDC são:

» Verificar o sistema de amortização adotado.

» Avaliar o valor correto a ser financiando.

» Analisar se a taxa utilizada é nominal ou efetiva.

» Verificar se os juros remuneratórios foram aplicados em percentual acima do


efetivamente contratado.

» Analisar a possível cobrança de juros moratórios e multa contratual.

» Avaliar se foi feita a cobrança de “taxas adicionais”.

» Analisar a fixação da data-base ou data de aniversário do contrato.

» Analisar se o contrato terá o saldo devedor corrigido.

Os sistemas de amortização mais utilizados em contratos de CDC são: Sistema de


Amortização Constante (SAC) e Sistema Francês – Tabela Price.

1.3. IOF em contratos de CDC


Desde 22/01/2015 as alíquotas de IOF para contratos de CDC são de 0,38%
mais a alíquota diária de 0,0082% ao dia.

Em ambos os casos, o IOF é calculado e aplicado no momento da contratação, já


levando em consideração o valor financiado e o prazo do crédito.

Para que seja possível analisar a forma de cobrança dos bancos, utilizaremos um
caso real do Banco Santander com aplicação do sistema francês de amortização
(Tabela Price).

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Operações específicas | UNIDADE Iv

Figura 1. Crédito pessoal eletrônico.

Fonte: https://www.santander.com.br/creditos-e-financiamentos/para-voce.

1o passo:

Utilizar os dados informados na contratação para elaboração da Tabela Price:

Quadro 27. IOF em CDC (Passo 1).

VALORES REAIS
Valor Financiado R$ 10.000,00
Taxas (com IOF) R$ 1.352,68
No parcelas 20
Taxa de juros 2,29000%
Valor da parcela R$ 716,29
IOF TOTAL R$ 302,68
CET 3,64000%
Fonte: elaborado pelo autor.

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UNIDADE Iv | Operações específicas

2o passo:

Calcular a taxa de juros pro rata conforme os dias corridos entre as prestações.

Quadro 28. IOF em CDC (Passo 2).

Prestação Data Dias Corridos Dias Acum. Juros período


0 11/04/2018
1 11/05/2018 30 30 0,02290
2 11/06/2018 31 61 0,02367
3 11/07/2018 30 91 0,02290
4 11/08/2018 31 122 0,02367
5 11/09/2018 31 153 0,02367
6 11/10/2018 30 183 0,02290
7 11/11/2018 31 214 0,02367
8 11/12/2018 30 244 0,02290
9 11/01/2019 31 275 0,02367
10 11/02/2019 31 306 0,02367
11 11/03/2019 28 334 0,02136
12 11/04/2019 31 365 0,02367
13 11/05/2019 30 395 0,02290
14 11/06/2019 31 426 0,02367
15 11/07/2019 30 456 0,02290
16 11/08/2019 31 487 0,02367
17 11/09/2019 31 518 0,02367
18 11/10/2019 30 548 0,02290
19 11/11/2019 31 579 0,02367
20 11/12/2019 30 609 0,02290
Fonte: elaborado pelo autor.

Comentários:

A prestação 1 equivale exatamente a 2,29%, pois entre 11/04 e 11/05 transcorre


exatamente 30 dias.

Agora, a prestação 2 equivale a 2,367%, pois entre 11/05 e 11/06 transcorrem 31


dias (1,0229)31/30 - 1 = 0,02367.

Observação:

Por conta disso, é bem provável que a Tabela Price não seja zerada.

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Operações específicas | UNIDADE Iv

3o passo:

Calcular os juros e a amortização com base nas informações encontradas


anteriormente.

Quadro 29. IOF em CDC (Passo 3).

Prestação Saldo Prestação Amortização Juros


0 R$ 11.352,68
1 R$ 10.896,37 R$ 716,29 R$ 456,31 R$ 259,98
2 R$ 10.438,02 R$ 716,29 R$ 458,35 R$ 257,94
3 R$ 9.960,76 R$ 716,29 R$ 477,26 R$ 239,03
4 R$ 9.480,26 R$ 716,29 R$ 480,50 R$ 235,79
5 R$ 8.988,39 R$ 716,29 R$ 491,87 R$ 224,42
6 R$ 8.477,94 R$ 716,29 R$ 510,46 R$ 205,83
7 R$ 7.962,34 R$ 716,29 R$ 515,60 R$ 200,69
8 R$ 7.428,39 R$ 716,29 R$ 533,95 R$ 182,34
9 R$ 6.887,94 R$ 716,29 R$ 540,44 R$ 175,85
10 R$ 6.334,71 R$ 716,29 R$ 553,24 R$ 163,05
11 R$ 5.753,71 R$ 716,29 R$ 581,00 R$ 135,29
12 R$ 5.173,62 R$ 716,29 R$ 580,09 R$ 136,20
13 R$ 4.575,81 R$ 716,29 R$ 597,81 R$ 118,48
14 R$ 3.967,84 R$ 716,29 R$ 607,97 R$ 108,32
15 R$ 3.342,41 R$ 716,29 R$ 625,43 R$ 90,86
16 R$ 2.705,24 R$ 716,29 R$ 637,17 R$ 79,12
17 R$ 2.052,99 R$ 716,29 R$ 652,25 R$ 64,04
18 R$ 1.383,72 R$ 716,29 R$ 669,28 R$ 47,01
19 R$ 700,18 R$ 716,29 R$ 683,53 R$ 32,76
20 -R$ 0,07 R$ 716,29 R$ 700,26 R$ 16,03
Fonte: elaborado pelo autor.

4o Passo:

Calcular o valor do IOF em cada parcela levando em consideração os dias


acumulados de utilização de crédito e a amortização do período (sem esquecer
que o prazo máximo é de 365 dias).

Quadro 30. IOF em CDC (Passo 4).

Prestação Dias Acum. Amortização IOF


0
1 30 R$ 456,31 R$ 2,86
2 61 R$ 458,35 R$ 4,03

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UNIDADE Iv | Operações específicas

Prestação Dias Acum. Amortização IOF


3 91 R$ 477,26 R$ 5,37
4 122 R$ 480,50 R$ 6,63
5 153 R$ 491,87 R$ 8,04
6 183 R$ 510,46 R$ 9,60
7 214 R$ 515,60 R$ 11,01
8 244 R$ 533,95 R$ 12,71
9 275 R$ 540,44 R$ 14,24
10 306 R$ 553,24 R$ 15,98
11 334 R$ 581,00 R$ 18,12
12 365 R$ 580,09 R$ 19,57
13 395 R$ 597,81 R$ 20,16
14 426 R$ 607,97 R$ 20,51
15 456 R$ 625,43 R$ 21,10
16 487 R$ 637,17 R$ 21,49
17 518 R$ 652,25 R$ 22,00
18 548 R$ 669,28 R$ 22,57
19 579 R$ 683,53 R$ 23,06
20 609 R$ 700,26 R$ 23,62
R$ 302,68
Fonte: elaborado pelo autor.

Caso o sistema de amortização fosse o SAC:

Quadro 31. SAC.

Parcela Data Saldo Amortização Dias Acum. IOF


0 11/04/2018 11.352,68
1 11/05/2018 10.785,05 567,63 30 3,55
2 11/06/2018 10.217,41 567,63 61 5,00
3 11/07/2018 9.649,78 567,63 91 6,39
4 11/08/2018 9.082,14 567,63 122 7,84
5 11/09/2018 8.514,51 567,63 153 9,28
6 11/10/2018 7.946,88 567,63 183 10,67
7 11/11/2018 7.379,24 567,63 214 12,12
8 11/12/2018 6.811,61 567,63 244 13,51
9 11/01/2019 6.243,97 567,63 275 14,96
10 11/02/2019 5.676,34 567,63 306 16,40
11 11/03/2019 5.108,71 567,63 334 17,70
12 11/04/2019 4.541,07 567,63 365 19,15
13 11/05/2019 3.973,44 567,63 395 19,15
14 11/06/2019 3.405,80 567,63 426 19,15

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Operações específicas | UNIDADE Iv

Parcela Data Saldo Amortização Dias Acum. IOF


15 11/07/2019 2.838,17 567,63 456 19,15
16 11/08/2019 2.270,54 567,63 487 19,15
17 11/09/2019 1.702,90 567,63 518 19,15
18 11/10/2019 1.135,27 567,63 548 19,15
19 11/11/2019 567,63 567,63 579 19,15
20 11/12/2019 0,00 567,63 609 19,15
289,74
Fonte: elaborado pelo autor.

1.4. Custo Efetivo Total (CET) em contratos de CDC


Com base nos conceitos apresentados anteriormente, segue exemplo de Custo
Efetivo Total (CET) através de uma operação realizada no Banco Santander.

Figura 2. Crédito pessoal eletrônico (CET).

Fonte: https://www.santander.com.br/creditos-e-financiamentos/para-voce.

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UNIDADE Iv | Operações específicas

Informações a serem utilizadas:

Valor da prestação: R$ 716,29

Custo efetivo total ano (CET): 54,52%

Número de dias: Representa o número de dias corridos de cada vencimento em


relação à data do empréstimo (por exemplo, a primeira parcela que foi paga no dia
11/5/2018 venceu 30 dias corridos da data da liberação do empréstimo, o qual foi
realizado no dia 11/4/2018).

Já a segunda parcela que foi paga no dia 11/6/2018 venceu 61 dias após a data da
liberação. E assim por diante!

Prova Real:

Quadro 32. Custo efetivo.

Parcela Data Fluxos de liberação No de dias Valor Presente


11/04/2018 10.000,00 -
1 11/05/2018 (716,29) 30 691,12
2 11/06/2018 (716,29) 61 666,05
3 11/07/2018 (716,29) 91 642,65
4 11/08/2018 (716,29) 122 619,33
5 11/09/2018 (716,29) 153 596,86
6 11/10/2018 (716,29) 183 575,89
7 11/11/2018 (716,29) 214 554,99
8 11/12/2018 (716,29) 244 535,49
9 11/01/2019 (716,29) 275 516,06
10 11/02/2019 (716,29) 306 497,34
11 11/03/2019 (716,29) 334 481,01
12 11/04/2019 (716,29) 365 463,56
13 11/05/2019 (716,29) 395 447,27
14 11/06/2019 (716,29) 426 431,04
15 11/07/2019 (716,29) 456 415,90
16 11/08/2019 (716,29) 487 400,81
17 11/09/2019 (716,29) 518 386,27
18 11/10/2019 (716,29) 548 372,69
19 11/11/2019 (716,29) 579 359,17
20 11/12/2019 (716,29) 609 346,55
10.000,05
Fonte: elaborado pelo autor.

12
Capítulo 2
CHEQUE ESPECIAL E CONTA GARANTIDA

2.1. Introdução
É uma modalidade de crédito pré-aprovado pelos bancos disponibilizado diretamente
na conta corrente do cliente destinado a cobrir qualquer transação bancária que
deixe o saldo bancário negativo. Para pessoas jurídicas essa linha de crédito é
mais conhecida como conta garantida.

Devido aos riscos envolvidos na transação, essa modalidade possui custos mais
elevados.

Embora a taxa de juros esteja estipulada ao mês, o seu cálculo é realizado de forma
linear e proporcional aos dias efetivamente utilizados haja vista que os saldos
negativos em cheque especial não têm um saldo devedor único estável
no mês em função dos diversos lançamentos ocorridos na conta do cliente.

Dessa forma, será utilizado o método hamburguês de cálculo de juros:

Juros = (Taxa ao mês/30) x dias de permanência do saldo devedor x saldo devedor

Algumas instituições financeiras concedem por até 10 dias isenção da cobrança de


juros pela utilização do cheque especial. No entanto, caso seja utilizado por mais de
dez dias, serão cobrados os juros sobre todo o período utilizado.

Os juros cobrados e os prazos de pagamento são estipulados pelas próprias


instituições financeiras, mas normalmente ocorrem no dia do aniversário do
contrato (estipulado por cada instituição financeira).

Caso o cliente não tenha dinheiro na conta no dia em que o banco debita a
utilização do crédito ou se a pessoa estoura o limite do cheque especial
pagará multa sobre o total da dívida (normalmente denominado
“adiantamento depositante”).

Ressalte-se que, além dos juros, as transações feitas com cheque especial também
sofrem incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ainda que
o consumidor tenha utilizado a linha de crédito por menos de dez dias em um mês.

Devido à facilidade de acesso ao crédito, muitos consumidores se entusiasmam e


utilizam sem restrições o cheque especial. Entretanto, com o passar do tempo, a
dívida crescente exponencialmente, tornando mais difícil sua liquidação.

13
UNIDADE Iv | Operações específicas

2.2. Maiores demandas judiciais em contratos de cheque


especial
Nesse contexto, os motivos mais comuns que levam o correntista a agir contra o
banco são:

» Taxa de juros muito elevada.

» Taxa de juros remuneratórios, aplicada sobre o débito que exceder o limite


contratado, em percentual maior que o contratado para juros normais.

» Eventuais despesas de cobrança.

» Prática de capitalização na cobrança de juros e outros débitos.

Alguns termos usados pelos advogados que defendem os interesses nos


inadimplentes são:

» Encargos abusivos.

» Excessiva onerosidade.

» Excesso abusivo do lucro do banco.

» Abusividade.

2.3. Exemplo de cálculo com cheque especial


Imagine que determinada conta bancária tenha apresentado a seguinte movimentação:

Saldo disponível: R$ 2.250,00

Limite cheque especial: R$ 15.000,00

Quadro 33. Cheque especial (Parte 1).

DATA HISTÓRICO LANÇAMENTO SALDO


01/04/2016 SALDO ANTERIOR 2.250 C
03/04/2016 CHEQUE 10.000 D 7.750 D
08/04/2016 DÉBITO AUTOMÁTICO 5.250 D 13.000 D
10/04/2016 DEPÓSITO ON-LINE 14.000 C 1.000 C
24/04/2016 SAQUE 1.500 D 500 D
29/04/2016 TRANSFERÊNCIA ON-LINE 2.500 D 3.000 D
30/04/2016 REMUNERAÇÃO/SALÁRIO 5.000 C 2.000 C
Fonte: elaborado pelo autor.

14
Operações específicas | UNIDADE Iv

Considerando que a taxa de juros do cheque especial é de 12% a.m. e a cobrança


com base em dias corridos:

Cálculo dos juros:

12% divididos por 30 dias = 0,40% por dia (0,0040)

Quadro 34. Cheque especial (Parte 2).

DATA SALDO DIAS A DESCOBERTO JUROS


01/04/2016 2.250 C 0
03/04/2016 7.750 D 5 155,00
08/04/2016 13.000 D 2 104,00
10/04/2016 1.000 C 0
24/04/2016 500 D 5 10,00
29/04/2016 3.000 D 1 12,00
TOTAL 281,00
Fonte: elaborado pelo autor.

Embora exista a obrigatoriedade da divulgação da taxa de juros praticada na


transação, é possível que o perito consiga encontrá-la seguindo os seguintes
passos:

1o passo:

Identificar o saldo devedor em cada dia, multiplicar pelos dias utilizados e totalizar.

Quadro 35. Cheque especial (Parte 3).

DIAS A
DATA LANÇAMENTO (A) AXB
DESCOBERTO (B)
03/04/2016 7.750 D 5 -38.750,00
08/04/2016 13.000 D 2 -26.000,00
24/04/2016 500 D 5 -2.500,00
29/04/2016 3.000 D 1 -3.000,00
TOTAL -70.250,00
Fonte: elaborado pelo autor.

2o passo:

Dividir o valor dos juros pela soma do valor de todos os saldos devedores.

Total de juros: R$ 281,00

15
UNIDADE Iv | Operações específicas

Soma do valor dos saldos devedores: R$ 70.250,00

Taxa dia: 281,00 / 70.250,00 = 0,0040

3o passo:

Multiplicar o valor encontrado por 30.

Taxa mês: 0,0040 x 30 = 0,12 (12% a.m.)

Caso a cobrança fosse realizada com base em dias úteis:

Saldo disponível: R$ 2.250,00

Limite cheque especial: R$ 15.000,00

Quadro 36. Cheque especial (Parte 3).

DATA HISTÓRICO LANÇAMENTO SALDO


01/04/2016 SALDO ANTERIOR 2.250 C
03/04/2016 CHEQUE 10.000 D 7.750 D
08/04/2016 DÉBITO AUTOMÁTICO 5.250 D 13.000 D
10/04/2016 DEPÓSITO ON-LINE 14.000 C 1.000 C
24/04/2016 SAQUE 1.500 D 500 D
29/04/2016 TRANSFERÊNCIA ON-LINE 2.500 D 3.000 D
30/04/2016 REMUNERAÇÃO/SALÁRIO 5.000 C 2.000 C
Fonte: elaborado pelo autor.

Cálculo dos juros:

12% divididos por 22 dias = 0,5455% por dia (0,005455)

Quadro 37. Cheque especial (Parte 4).

DIAS A
DATA SALDO DIA SEMANA JUROS
DESCOBERTO
01/04/2016 2.250 C Sexta-feira 0
03/04/2016 7.750 D Domingo 4 169,11
08/04/2016 13.000 D Sexta-feira 1 70,92
10/04/2016 1.000 C Domingo 0
24/04/2016 500 D Domingo 4 10,91
29/04/2016 3.000 D Sexta-feira 1 16,37
TOTAL 267,31
Fonte: elaborado pelo autor.

16
Operações específicas | UNIDADE Iv

2.4. Modelo de cobrança de cheque especial


A seguir, demonstramos um exemplo de cobrança de cheque especial praticado pelo
Banco Itaú:

Figura 3. Exemplo de cobrança de cheque especial.

Fonte: https://www.itau.com.br/creditos-financiamentos/cheque-especial/.

Base de Cálculo:

Taxa nominal mensal: 12,99% a.m.

IOF: 0,38% (1 dia) e 0,63% a.m. (0,38% + 0,0082% a.d. x 30)

Custo efetivo mensal: 13,62% a.m. (12,99% + 0,63%)

Custo efetivo anual (365 dias): 372,82% a.a. [(1,1362)12 x (1,1362)5/30] - 1

Juros do cheque especial por dia: 12,99% / 22 = 0,59% a.d.

Valor por dia: R$ 5,90 (0,59% x R$ 1.000,00)

17
UNIDADE Iv | Operações específicas

2.5. IOF no cheque especial


A cobrança do IOF em transações envolvendo o cheque especial de
pessoas físicas se dá da seguinte forma (conforme o Decreto no 8.392, de 2015):

» Alíquota de 0,0082% ao dia sobre todo o saldo devedor do período (para a


pessoa jurídica a alíquota é 0,0041%);

» Alíquota adicional de 0,38% a cada novo saque.

Embora os cálculos sejam diários, a cobrança do IOF é mensal, assim como


ocorre com os juros do banco, e o valor é debitado automaticamente na conta
corrente do cliente.

Segundo a Receita Federal, a cobrança só deve ser feita no fim de cada mês e o
saldo devedor que passa de um mês para outro não sofre nova incidência de IOF
adicional.

A incidência ocorre quando o saldo devedor passa de um dia para o outro. Por
exemplo, caso o mutuário tenha contratado o cheque especial em 29/10 e virado
o mês dessa forma, a cobrança incide nos dias 29/10, 30/10 e 31/10, pois durante
esses três dias o saldo permaneceu negativo.

O recolhimento do IOF é limitado a 365 dias.

Exemplo:

Determinado cliente utilizou o cheque especial nas seguintes ocasiões no mês de


setembro de 2018:

R$ 1.000,00 no dia 05/09

R$ 1.000,00 no dia 17/09

R$ 500,00 no dia 27/09

Logo, o banco deverá cobrar da seguinte forma:

0,38% de R$ 1.000,00 em relação à utilização no dia 05/09 = R$ 3,80

0,0082% x R$ 1.000,00 x 12 relativos ao período entre 05/09 a 17/09 em que


ficou com saldo devedor de R$ 1.000,00 = R$ 0,98

0,38% de R$ 1.000,00 em relação à utilização no dia 17/09 = R$ 3,80

18
Operações específicas | UNIDADE Iv

0,0082% x R$ 2.000,00 x 10 relativos ao período entre 17/09 a 27/09 em que


ficou com saldo devedor de R$ 2.000,00 = R$ 1,64

0,38% de R$ 500,00 em relação à utilização no dia 27/09 = R$ 1,90

0,0082% x R$ 2.500,00 x 4 relativos ao período do dia 27/09 a 30/09 em que


ficou com saldo devedor de R$ 2.000,00 = R$ 0,16

Total cobrado de IOF = R$ 12,94

Quadro 38. Cheque especial (Parte 4).

Data Valor IOF adicional Saldo Devedor Dias IOF Diário IOF total
05/09 1.000,00 3,80 1.000,00 12 0,98 4,78
17/09 1.000,00 3,80 2.000,00 10 1,64 5,44
27/09 500,00 1,90 2.500,00 4 0,82 2,72
12,94
Fonte: elaborado pelo autor.

19
Capítulo 3
CARTÃO DE CRÉDITO

3.1. Introdução
É um meio de pagamento que, mediante intermediação de uma
administradora, permite ao usuário o pagamento futuro de suas compras,
em data determinada, sendo criado com a finalidade de promover o mercado de
consumo, facilitando as operações de compra.

As partes envolvidas em uma operação com cartão de crédito são: o consumidor,


a administradora do cartão e o fornecedor de produtos e serviços que
integra a rede credenciada.

Cabe ressaltar que a administradora não é autorizada pelas normas do


Banco Central a “emprestar dinheiro”, ou seja, financiar os saques e
compras a prazo para o consumidor. Sendo assim, recorre às instituições
financeiras, tomando empréstimo para saldar o débito cujos custos são
repassados para o consumidor.

Nesse modelo, o cliente possui as seguintes formas de pagamento da fatura do


cartão:

» Pagamento com o valor integral, na data de vencimento.

» Pagamento parcelado da compra, devendo ser informado sobre eventuais


acréscimos de juros no parcelamento.

» Pagamento mínimo, que girava atualmente por volta de 15% do valor


integral da fatura utilizando o chamado “crédito rotativo”. Assim, o
consumidor estava financiando o saldo da diferença verificada entre
o valor total da fatura e o valor pago, mediante o pagamento de
encargos.

3.2. Maiores demandas judiciais em contratos de cartão


de crédito
As principais demandas judiciais no que se refere a cartão de crédito são:

» Taxa de juros abusiva.

» Capitalização dos juros.

20
Operações específicas | UNIDADE Iv

Nesse contexto, os quesitos mais comuns a serem respondidos pelos peritos são:

Queira o Sr. Perito verificar se houve cobrança de encargos para as faturas. Caso
afirmativo, especifique-as.

Queira o Sr. Perito informar se os pagamentos foram efetuados de forma parcial


ou integral.

Queira o Sr. Perito informar se o valor do pagamento mínimo fixado nas faturas
mensais é superior ou inferior ao montante de encargos contratuais incidentes no
período.

Queira o Sr. Perito informar se a taxa de juros praticada pela administradora de


cartão de crédito é abusiva.

Queira o Sr. Perito verificar se houve a prática do anatocismo na cobrança das


faturas.

Queira o Sr. Perito elaborar tabela com os encargos cobrados através de


capitalização simples.

3.3. Contrato de adesão


O contrato de cartão é um contrato de adesão, uma vez que suas cláusulas
são estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor, sem que o consumidor
possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

3.4. Composição dos encargos no cartão de crédito


Quem define o percentual mínimo a ser pago no vencimento da fatura é o
Banco Central, de acordo com a política financeira nacional e em conformidade
com a necessidade de restringir ou fomentar o crédito visando à expansão da
economia ou a necessidade de controlar a inflação via controle das taxas de
juros e do crédito.

Os encargos sobre o saldo devedor são compostos por três itens:

» Remuneração de Garantia.

» Taxa de Administração.

» Custos do financiamento.

21
UNIDADE Iv | Operações específicas

Embora as taxas de juros do crédito rotativo sejam definidas pelas próprias


instituições financeiras dentro do perfil de risco dos clientes, desde abril de 2017
as administradoras não podem mais financiar o saldo devedor dos clientes nesta
modalidade por mais de um mês.

A partir daí, o saldo devedor deverá ser parcelado em linha de crédito a ser
oferecido pela instituição financeira com juros mais baixos.

A ideia é dar maior previsibilidade para as instituições financeiras e diminuir os


riscos de inadimplência, tendo em vista que essa modalidade de crédito é uma das
mais caras do País com juros que chegaram a mais de 400% ao ano.

Quando não ocorre o pagamento das prestações mensais do parcelamento obtido


no cartão de crédito são previstos outros encargos como: atualização monetária
(normalmente IGP-M), juros de mora (1% a.m.) e multa (2% ou 10%).

3.5. Mudanças a partir de junho de 2018


Desde junho de 2018 novas mudanças ocorreram com a finalidade de reduzir
ainda mais os juros cobrados pelas operadoras de cartão de crédito:

» Limitação no valor dos encargos em caso de atraso.

» Proibição de cobrança de taxa de juros maior para inadimplentes.

» Fim da exigência de pagamento mínimo de 15% da fatura.

» Definição de percentual mínimo de pagamento da fatura com base no perfil do


cliente.

Quadro 39. Mudanças no cartão de crédito.

COMO ERA COMO PASSOU A SER


Cliente pode fazer o pagamento mínimo do cartão de 15% da Cada banco poderá definir o percentual do pagamento mínimo
fatura, por um mês, e acessar o crédito rotativo. e o cliente poderá fazê-lo apenas uma vez.
No mês seguinte, ele precisa aderir a uma linha de parcelamento
Não muda.
de crédito, com juros menores que o rotativo.
Os bancos cobram outra taxa de juros de clientes inadimplentes, A taxa dos inadimplentes será a do rotativo regular, mais multa
chamado de “rotativo não regular”. de 2% e juros moratórios de 1% ao mês.
Fonte: elaborado pelo autor.

22
Operações específicas | UNIDADE Iv

3.6. Capitalização dos juros


Quando o usuário paga a fatura do cartão na data do vencimento pelo valor total,
não há encargos, entretanto, quando existe o financiamento do débito, sobre
este incidem encargos.

Os encargos são computados mensalmente, portanto, quando o usuário faz os


pagamentos mensais nas datas de vencimento, não existe a cobrança de encargos.

Todavia, quando não é realizado o pagamento da prestação e acumula-se com a


seguinte, para muitos ocorre “a chamada capitalização dos encargos”.

Dessa forma, as principais discussões judiciais em relação a cartão de crédito


dizem respeito às taxas de juros abusivas e a possível prática de anatocismo.

Importante ressaltar que, no pagamento mínimo, caso o desembolso seja suficiente


para cobrir pelo menos os encargos, não há que se falar em capitalização dos
juros ou anatocismo.

Vale lembrar que nas operações de parcelamento do saldo devedor do cartão de


crédito também incidem IOF.

3.7. Exemplo de cálculo com cartão de crédito


Segue o histórico de compras e pagamentos de determinado usuário no cartão de
crédito no ano de 2016, considerando que a taxa de juros no crédito rotativo é de
15%, juros de mora de 1% a.m. e multa de 2%:

Mês de dezembro de 2015:

Consumo no Cartão: R$ 612,00

Saldo da Fatura no Vencimento: R$ 612,00

Fatura de Vencimento: 01/01/2016

Mês de janeiro de 2016:

Pagamento realizado em 1/1/2016: R$ 612,00

Consumo no Cartão: R$ 1.012,00

Saldo da Fatura no Vencimento: R$ 1.012,00

Fatura de Vencimento: 01/02/2016

23
UNIDADE Iv | Operações específicas

Mês de fevereiro de 2016:

Pagamento realizado em 1/2/2016: Não houve pagamento

Pagamento realizado em 15/2/2016: R$ 202,40

Consumo no Cartão: R$ 812,00

Encargos Contratuais: R$ 127,51

Juros de Mora: R$ 4,72

Multa: R$ 20,24

Saldo da Fatura no Vencimento: R$ 1.774,07

Fatura de Vencimento: 1/3/2016

Mês de março de 2016:

Pagamento realizado em 1/3/2016: Não houve pagamento

Consumo no Cartão: Não houve consumo

Encargos Contratuais: R$ 274,98

Juros de Mora: R$ 18,33

Multa: R$ 35,48

Saldo da Fatura no Vencimento: R$ 2.102,87

Fatura de Vencimento: 1/4/2016

Mês de abril de 2016:

Pagamento realizado em 1/4/2016: R$ 420,57

Consumo no Cartão: R$ 100,00

Encargos Contratuais: R$ 252,34

Fatura de Vencimento: 1/5/2016

Saldo da Fatura no Vencimento: R$ 2.034,64

Detalhes dos cálculos:

24
Operações específicas | UNIDADE Iv

Dezembro
Saldo Data de Saldo Consumo Juros Juros de
Pgto. Multa Saldo Data Vcto
Anterior Pgto. Financ. Cartão Rem. Mora
0,00 0,00 0,00 612,00 0,00 0,00 0,00 612,00 01/01/2016

Janeiro
Saldo Data de Saldo Consumo Juros Juros de
Pgto. Multa Saldo Data Vcto
Anterior Pgto. Financ. Cartão Rem. Mora
612,00 612,00 01/01/2016 0,00 1.012,00 0,00 0,00 0,00 1.012,00 01/02/2016

Fevereiro
Saldo Data de Saldo Consumo Juros Juros de
Pgto. Multa Saldo Data Vcto
Anterior Pgto. Financ. Cartão Rem. Mora
1.012,00 202,40 15/02/2016 809,6 812,00 127,51 4,72 20,24 1.774,07 01/03/2016

Multa: 2% x 1.012,00 = 20,24


Juros de mora: 1%/30 x 14 dias (01/02 a 15/02) x 1.012,00 = 4,72
Juros remuneratórios: 15%/30 x 14 dias (01/02 a 15/02) x 1.012,00 = 70,84
15%/30 x 14 dias (15/02 a 01/03) x 809,60 = 56,67
Total 127,51

Março

Saldo Data de Saldo Consumo Juros Juros de


Pgto. Multa Saldo Data Vcto
Anterior Pgto. Financ. Cartão Rem. Mora
1.774,07 0,00 1.774,07 0,00 274,98 18,33 35,48 2.102,87 01/04/2016

Multa: 2% x 1.774,07 = 35,48


Juros de mora: 1%/30 x 31 dias (01/03 a 01/04) x 1.774,07 = 18,33
Juros remuneratórios: 15%/30 x 31 dias (01/03 a 01/04) x 1.774,07 = 274,98

Abril
Saldo Data de Saldo Consumo Juros Juros de
Pgto. Multa Saldo Data Vcto
Anterior Pgto. Financ. Cartão Rem. Mora
2.102,87 420,57 01/04/2016 1.682,30 100,00 252,34 0,00 0,00 2.034,64 01/05/2016

Juros remuneratórios: 15%/30 x 30 dias (01/04 a 01/05) x 1.682,30 = 252,34

25
UNIDADE Iv | Operações específicas

Quadro 40. Quadro demonstrativo final.

Saldo Pagamento Data de Saldo Consumo Encargos Juros de Data


Mês Multa Saldo
Anterior Realizado Pagamento Financiado Cartão Financeiros Mora Vencimento
Dezembro 0,00 0,00 0,00 612,00 0,00 0,00 0,00 612,00 01/01/2016
Janeiro 612,00 612,00 01/01/2016 0,00 1.012,00 0,00 0,00 0,00 1.012,00 01/02/2016
Fevereiro 1.012,00 202,40 15/02/2016 809,60 812,00 127,51 4,72 20,24 1.774,07 01/03/2016
Março 1.774,07 0,00 1.774,07 0,00 274,98 18,33 35,48 2.102,87 01/04/2016
Abril 2.102,87 420,57 01/04/2016 1.682,30 100,00 252,34 0,00 0,00 2.034,64 01/05/2016
Fonte: elaborado pelo autor.

3.8. Modelo de fatura de cartão de crédito


A seguir apresentaremos um modelo de fatura de cartão de crédito:

Figura 4. Modelo de fatura de cartão de crédito (Parte I).

Fonte: https://www.santander.com.br/cartao-credito-santander/outros-cartoes.

26
Operações específicas | UNIDADE Iv

Figura 5. Modelo de fatura de cartão de crédito (Parte II).

Fonte: https://www.santander.com.br/cartao-credito-santander/outros-cartoes.

Base de cálculo dos encargos e impostos caso fosse pago apenas o mínimo:

Valor Total da Fatura: R$ 355,50

Valor mínimo: R$ 53,33

Valor a ser financiado: R$ 302,17 (Crédito Rotativo)

Crédito Rotativo: 11,59%

IOF diário: 0,0082% ad.

IOF adicional: 0,38%

Encargos + Impostos (%): 12,216% (0,12216)

Encargos + Impostos (R$): 0,12216 x 302,17 = R$ 36,91

27
Capítulo 4
DESCONTO DE RECEBÍVEIS

4.1. Introdução
O desconto de títulos recebíveis é o adiantamento de recursos ao cliente, feito
por um banco ou por uma empresa de factoring, sobre valores de duplicatas ou
cheques com vencimento futuro em relação à data deste tipo de empréstimo.

Neste tipo de operação, o banco adianta à empresa sacadora o valor líquido dos
títulos e se compromete a cobrá-los aos sacados, mas não assume o risco de
inadimplência do sacado/devedor e mantém em contrato o direito de regresso.

Dessa forma, pelo fato de fazer um adiantamento financeiro em relação às datas de


vencimento de cada título, o banco, na verdade, faz um empréstimo tendo como
garantia o recebimento dos valores de face grafados nos títulos.

É por isso, que conhecendo o valor de face de cada título, sobre ele aplica um
“desconto” que corresponde à sua renda (juros) e credita na conta do cliente o valor
líquido da operação.

Os títulos objeto de operação de desconto são: cheques pré-datados, duplicatas


mercantis e/ou prestação de serviços, direitos por operações de cartão de crédito e
notas promissórias.

O desconto deve ser entendido como a diferença entre o valor de resgate de um


título e o seu valor presente na data da operação.

Assim como no caso dos juros, o valor do desconto também está associado a uma
taxa e a determinado período.

Os bancos normalmente utilizam o desconto simples, o qual é obtido pela seguinte


expressão matemática:

D = VF x i x n

Onde:

D = Desconto

VF = Valor Futuro

i = Taxa

n = Período

28
Operações específicas | UNIDADE Iv

Pelo serviço de adiantamento do valor dos cheques pré-datados e duplicatas


emitidas, o banco desconta:

» O valor que corresponde à taxa de juros pactuada (capitalização simples).

» IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

» Despesas de Manuseio, classificação e guarda dos cheques/duplicatas até a


data do vencimento.

» Despesas de cobrança.

Exemplo:

Suponha uma duplicata no valor nominal de R$ 15.000,00, sendo descontada 50


dias antes do seu vencimento. A taxa de desconto simples cobrada pelo banco é de
3,3% a.m., despesas administrativas de 1,5% sobre o valor principal, IOF de 0,38%
sobre a operação e o IOF diário de 0,0082%. Qual o custo efetivo dessa operação?

Resolução:

Valor nominal: R$ 15.000,00

Taxa de desconto: 3,3% a.m. (0,11% a.d.)

Valor do desconto: R$ 15.000,00 x 0,0011 x 50 = R$ 825,00

Valor do principal: R$ 15.000,00 – R$ 825,00 = R$ 14.175,00

IOF: 0,000082 x 50 x R$ 14.175,00 = R$ 58,12

IOF adicional: 0,0038 x R$ 14.175,00 = R$ 53,87

Despesas administrativas: 0,015 x R$ 14.175,00 = R$ 212,63

Valor líquido recebido: R$ 15.000,00 – R$ 825,00 – R$ 58,12 – R$ 53,87 – R$ 212,63


= R$ 13.850,38

Custo nominal:

R$ 15.000,00 - R$ 13.850,38 = R$ 1.149,62

Custo efetivo total

Custo Nominal = R$ 1.149,62 = 0,08300277 (8,30% para 50 dias)

Valor Presente R$ 13.850,38

29
UNIDADE Iv | Operações específicas

Custo efetivo mensal

(1 + i)1/n - 1 => (1,08300277)30/50 - 1 = 0,049005444 (4,90% a.m.)

Prova Real

13.850,38 (1 + i)n => 13.850,38 (1,049005444)50/30 = R$ 15.000,00

30
Capítulo 5
CONTRATOS DE LEASING

5.1. Introdução
O leasing é um contrato denominado na legislação brasileira como “arrendamento
mercantil”. As partes desse contrato são denominadas arrendador (banco ou
sociedade de arrendamento mercantil) e arrendatário (cliente). O arrendador
adquire o bem escolhido pelo arrendatário, e este o utiliza durante o contrato,
mediante o pagamento de uma contraprestação.

O arrendador é, portanto, o proprietário do bem, sendo que a posse e o usufruto,


durante a vigência do contrato, são do arrendatário. A operação de arrendamento
mercantil assemelha-se a um contrato de aluguel, e pode prever ou não a opção de
compra, pelo arrendatário, do bem de propriedade do arrendador.

Inclusive esta é a principal diferença entre o leasing e o financiamento tradicional,


já que neste último caso o bem é de propriedade do contratante, já no ato da
compra.

Outra característica do leasing é a cobrança do VRG (Valor Residual


Garantido) em contratos de leasing financeiro, que é pago independentemente
do valor das prestações mensais e se constitui em uma garantia da empresa
arrendadora, para a eventualidade de o arrendatário não exercer sua opção de
compra.

5.2. Maiores demandas judiciais em contratos de leasing


Os questionamentos judiciais de contratos de leasing são feitos, geralmente,
sobre os seguintes temas:

» Taxa elevada de juros embutida no cálculo da prestação mensal.

» Presunção de existência do anatocismo na aplicação da taxa de juros do


financiamento, pois os cálculos são feitos com base na Tabela Price.

» Valor da prestação mensal exorbitante em face do bem arrendado.

» Cobrança do Valor Residual Garantido antecipado. Entendem, alguns


advogados, que este procedimento é abusivo, pois o valor residual seria
devido pela arrendatária somente ao final do contrato e se optasse pela
compra do bem.

31
UNIDADE Iv | Operações específicas

» Demais encargos e gastos decorrentes do uso do bem e dos termos do


contrato.

» Contratos indexados ao dólar americano.

» Perda das prestações pagas no caso de busca e apreensão do bem objeto de


arrendamento.

5.3. Contraprestação mensal


A contraprestação é o valor devido periodicamente pela arrendatária através da
qual se amortizam o valor original do bem mais os encargos financeiros.

Tendo em vista que o mercado de arrendamento mercantil não adota o nome de


juros, o cálculo é feito pela aplicação do coeficiente de arrendamento (CA)
sobre o custo de aquisição do bem. Este custo deverá incluir no valor do bem,
impostos, custos de transporte, seguro, instalação, dentre outros.

Para o cálculo do coeficiente de arrendamento (CA), o mercado tem por base


determinada taxa de juros e uma quantidade de prestações mensais, e o resultado da
multiplicação deste número pelo valor do bem arrendado corresponde ao valor da
contraprestação mensal da série uniforme de pagamentos conforme o contrato.

Portanto, o coeficiente de arrendamento (CA) varia segundo a taxa de juros e o


valor do bem.

Temos, então:
Valor da Prestação = VP x (1 + i)n x i (Tabela Price)
(1 + i)n - 1
CA = (1 + i)n x i
(1 + i)n - 1

5.4. Valor Residual Garantido (VRG)


Os contratos de leasing financeiro possuem um valor residual que corresponde a
quanto o arrendatário pagará para ter a propriedade do bem.

Por se tratar de um valor residual, entende-se que ocorra no final do contrato,


entretanto, existe a possibilidade de o contrato estabelecer que o pagamento do
VRG ocorra antecipadamente como se faz com o pagamento da “entrada” em um
financiamento de longo prazo, e pode ocorrer, também, que o pagamento do VRG
ocorra ao longo do prazo do contrato, tendo, então, seu valor rateado pelos meses
do contrato.

32
Operações específicas | UNIDADE Iv

Neste caso, a parcela mensal do VRG será somada ao valor da “contraprestação


mensal”, resultando em um pagamento mensal único.

Em tese, ao final do contrato, caso não queira pagar o VRG, o arrendatário


devolverá o bem, mas como não há interesse da empresa arrendadora em
receber de volta e ficar com o bem arrendado, é muito comum a cobrança do
VRG dentro das parcelas.

Nos casos em que o VRG seja pago ocorra no final do contrato e o arrendatário
requeira um prazo para pagá-lo, poderá fazer um novo contrato de leasing pelo
valor do VRG, e este mencionará outro valor de VRG menor que o precedente.

Estudo de caso em uma demanda judicial

Valor estimado do leasing: R$ 77.000,00

Quantidade de contraprestações: 24

Valor das parcelas: R$ 3.893,89

Coeficiente de Arrendamento em contrato: 0,03390

Atualização monetária: Já está implícita na taxa de juros aplicada

VRG: Já incluída na parcela.

Taxa mensal efetiva de juros

Resposta:

77.000 PV

24 n.

3.893,89 CHS PMT

i 1,610989%

Valor Residual Garantido (VRG) embutido na parcela

P = 77.000 x 0,03390 = R$ 2.610,30 (contraprestação mensal)

Logo, o VRG mensal embutido na parcela é de R$ 1.283,59.

E o verdadeiro coeficiente é de 0,05057 (3.893,89 / 77.000)

33
UNIDADE Iv | Operações específicas

Sendo 0,0339 relativo à contraprestação mensal e 0,01667 relativo ao VRG


(1.283,59/ 77.000).

5.5. Exemplos de cálculos em contratos de leasing


Seguem abaixo 3 situações envolvendo contratos de leasing:

Exemplo 1:

Valor do bem: R$ 120.000,00

Valor residual (VRG) de 5%: R$ 6.000,00

VRG pago no final do contrato

Prazo: 48 meses

Juros: 4,2% ao mês

Atualização monetária: não contratada


Contraprestação = 120.000 - 6.000 x (1 + 0,042)48 x 0,042 =>
(1 + 0,042) 48
(1 + 0,042) - 1
48

Contraprestação = 120.000 - 6.000 x 7,205274 x 0,042 =>


7,205274 7,205274 - 1
P =120.000 - 832,72 x 0,302621
6,205274

P =120.000 - 832,72 x 0,0487684 = R$ 5.811,60

CA = 0,0487684 (0,302621/6,205274)

Exemplo 2:

Valor do bem: R$ 120.000,00

Valor residual (VRG) de 5%: R$ 6.000,00

VRG pago antecipadamente

Prazo: 48 meses

Juros: 4,2% ao mês

Atualização monetária: não contratada

34
Operações específicas | UNIDADE Iv

Valor financiado = R$ 120.000 - R$ 6.000,00 de VRG = R$ 114.000,00


Contraprestação = 114.000 x (1 + 0,042)48 x 0,042 =>
(1 + 0,042) - 1
48

Contraprestação = 114.000 x 7,205274 x 0,042 =>


7,205274 - 1
P =114.000 x 0,302621
6,205274

P =114.000 x 0,0487684 = R$ 5.559,60

CA = 0,0487684 (0,302621/6,205274)

Exemplo 3:

Valor do bem: R$ 120.000,00

Valor residual (VRG) de 5%: R$ 6.VRG pago diluído nas parcelas

Prazo: 48 meses

Juros: 4,2% ao mês

Atualização monetária: não contratada

VRG diluído na parcela: R$ 6.000,00 / 48 (R$ 125,00)

Valor financiado: R$ 114.000,00


Contraprestação = 114.000 x (1 + 0,042)48 x 0,042 =>
(1 + 0,042)48 - 1
Contraprestação = 114.000 x 7,205274 x 0,042 =>
7,205274 - 1
P =114.000 x 0,302621
6,205274

P =114.000 x 0,0487684 = R$ 5.559,60

CA = 0,0487684 (0,302621/6,205274)

Contraprestação + VRG = R$ 5.684,60

Coeficiente VRG = R$ 125,00/R$ 114.000,00 (0,001096)

35
REFERÊNCIAS

Básica
ASSAF NETO, Alexandre. Matemática financeira e suas aplicações. 12. ed. São
Paulo: Atlas, 2012.

OLIVEIRA, Anderson Fumaux. Manual da perícia financeira. Rio de Janeiro:


Editora Freitas Bastos, 2020.

ZANNA, Remo Dalla. Perícia contábil em matemática financeira. 4. ed. São


Paulo: IOB, 2015.

Complementar
BANCO ITAÚ. Créditos e Financiamento: Cheque Especial. Disponível em:
https://www.itau.com.br/creditos-financiamentos/cheque-especial/.

BANCO SANTANDER. Créditos e Financiamento: Cartão de Crédito. Disponível em:


https://www.santander.com.br/cartao-credito-santander/outros-cartoes.

BANCO SANTANDER. Créditos e Financiamento: Empréstimo Pessoal.


Disponível em: https://www.santander.com.br/creditos-e-financiamentos/para-voce.

BRASIL. Banco Central do Brasil. Estatísticas de Taxas de Juros. Disponível


em: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/txjuros.

BRASIL. Decreto no 22.626/1933 (Lei de Usura): Dispõe sobre os juros nos contratos
e dá outras providencias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/d22626.htm.

BRASIL. Decreto n. 8.392/2015: Regulamenta o Imposto sobre Operações


de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários – IOF.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/
Decreto/D8392.htm.

BRASIL. Lei n. 10.406/2002 (Código Civil): Institui o Código Civil. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm.

BRASIL. Lei n. 5.172/1966 (Código Tributário): Dispõe sobre o Sistema


Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União,
Estados e Municípios. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l5172compilado.htm.

36
Referências

BRASIL. Lei n. 8.078/1990 (Código do Consumidor): Dispõe sobre a proteção


do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.

BRASIL. MP n. 2.170-36-2001: Dispõe sobre a administração dos recursos de


caixa do Tesouro Nacional, consolida e atualiza a legislação pertinente ao assunto
e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
mpv/2170-36.htm.

BRASIL. Resolução n. 1.064/1985 do Bacen: Dispõe que as operações ativas


dos bancos comerciais, de investimento e de desenvolvimento serão realizadas a
taxas de juros livremente pactuáveis. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/
normativos/res/1985/pdf/res_1064_v1_O.pdf.

BRASIL. Resolução n. 4.558/2017 do Bacen: Disciplina a cobrança


de encargos por parte das instituições financeiras e das sociedades de
arrendamento mercantil nas situações de atraso de pagamentos de obrigações
por clientes. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/
downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/50345/
Res_4558_v1_O.pdf.

BRASIL. Resolução n. 4.696/2018 do Bacen: Disciplina e consolida as normas


relativas às operações de arrendamento mercantil. Disponível em: https://www.bcb.
gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/
Attachments/50687/Res_4696_v1_O.pdf.

BRASIL. Súmula n. 382 do STJ: Define que a estipulação de juros


remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não caracteriza abuso.
Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-
revista-sumulas-2013_35_capSumula382.pdf.

BRASIL. Súmula n. 472 do STJ: Dispõe que é possível a cobrança de comissão


de permanência durante o período da inadimplência, à taxa média de juros do
mercado, limitada ao percentual previsto no contrato, e desde que não cumulada
com outros encargos moratórios. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/
SearchBRS?b=SUMU&livre=@docn=%27000000948%27&utm_source=blog&utm_
campaign=rc_blogpost.

BRASIL. Súmula n. 596 do STF: Dispõe que as disposições do Decreto


no 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados
nas operações realizadas por instituições que integram o Sistema Financeiro
Nacional. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
menuSumarioSumulas.asp?sumula=2017.

37
Referências

BRASIL. Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC. Disponível em: https://


www.portalbrasil.net/inpc/.

BRASIL. Resolução n. 3.517/2007 do Bacen: Fórmula para cálculo do CET


Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/2007/pdf/res_3517_
v2_l.pdf.

38

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