Regulamentação Da Psicologia No Brasil
Regulamentação Da Psicologia No Brasil
Regulamentação Da Psicologia No Brasil
No início do século XX, o saber psicológico, cuja recepção no Brasil ocorreu vinculado
a outros campos – como o médico, o educacional e o jurídico – começa a adquirir um
campo de atuação próprio, com instituições próprias e sujeitos que se reconhecem
como estudiosos/profissionais da Psicologia. Tais condições de autonomização da
Psicologia passam evidentemente pela constituição dos primeiros laboratórios
experimentais de Psicologia, dentre os quais (para citar o caso específico do Rio de
Janeiro, então capital federal) se destacam os laboratórios do Pedagogium (1896) e
da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro (1923). (Delgani-Carneiro, 2014)
As primeiras iniciativas não foram efetivadas por pressões de outras classes profissonais e
sociais (como médicos e católicos) e só entre as décadas de 1930 e 1950 diversos profissionais
manifestaram mais afincamente interesse pelos estudos e práticas em psicologia. Permeado
este período, a psicologia vai migrando de um conhecimento complementar para um campo
autônomo campo de saber.
Logo após, surge a ABP (Associação Brasileira de Psicotécnica) que elaborou o primeiro
anteprojeto de reconhecimento legal da profissão, que foi publicado em 1954 e encaminhado
ao Ministério da Educação. Nesta proposta de currículo para os cursos de Psicologia, ele seria
composto de duas fases: o de bacharelado, com duração de três anos e em seguida, uma
licenciatura, também de 3 anos (que poderia ser feita em três ramos de aplicação: educação,
trabalho e clínica psicológica).
Começou então uma ebulição de pensamentos e práticas próprias do país, com mudanças em
diferentes áreas. Houve então uma crise nas três principais atuações profissionais daquele
momento. Porém as mudanças começam de fato a ser implementadas no conjunto da
categoria e na formação do psicólogo entre os anos 1980 e 1990.
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO
A proposta da ABP em 1954 recebeu muitas críticas por dar margens ao charlatanismo e uma
nova proposta foi elaborada em 1957. Esta, contém a essência da lei que foi aprovada na
Câmara dos Deputados e sancionada pelo então presidente João Goulart em 27 de agosto de
1962. Na Lei aprovada e sancionada eram estabelecidos três títulos distintos:
A primeira grande publicação que define o papel do psicólogo foi o livro “Quem é o Psicólogo
Brasileiro? (Conselho Federal de Psicologia, 1988)” que aborda as práticas clínicas em atuação
de Psicologia. Em 1992 ocorreu o que ficou conhecido como Encontro de Serra Negra, que
tratou dos princípios norteadores para formação acadêmica, a forma de contemplação deste
no currículo e nos estágios.
O Encontro de Serra Negra, como ficou conhecido, teve como resultados a Carta de
Serra Negra, importante documento sobre a formação profissional da(o) psicóloga(o)
brasileira(o) (Conselho Federal de Psicologia, 1992a), e a aprovação, em plenária, dos
seguintes princípios norteadores para a formação acadêmica:
Desenvolver a consciência política de cidadania e o compromisso com a realidade
social e a qualidade de vida;
Desenvolver atitude de construção de conhecimentos, enfatizando uma postura
crítica, investigadora e criativa, fomentando a pesquisa em um contexto de ação-
reflexão-ação, bem como viabilizando a produção técnico-científica;
Desenvolver o compromisso da ação profissional cotidiana, baseada em
princípios éticos, estimulando a reflexão permanente desses fundamentos;
Desenvolver o sentido da universidade, contemplando a interdisciplinaridade e a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão;
Desenvolver a formação básica pluralista, fundamentada na discussão
epistemológica, visando à consolidação de práticas profissionais, conforme a
realidade sociocultural, adequando o currículo pleno de cada agência formadora ao
contexto regional;
Desenvolver uma concepção de homem compreendido em sua integralidade e na
dinâmica de suas condições concretas de existência;
Desenvolver práticas de interlocução entre os diversos segmentos acadêmicos,
para avaliação permanente do processo de formação.
(OLIVEIRA, Irani Tomiatto de et AL)
A Carta de Serra Negra trouxe elementos importantes como a subjetividade das várias
dimensões do ser humano, a interdisciplinaridade utilizada no cotidiano e principalmente o
compromisso com a realidade sociocultural brasileira. Em suma, abriu novos horizontes e
ampliou a visão sobre conceitos e práticas profissionais.
Foi em 1995 que o Ministério da Educação reuniu e formou uma comissão de especialistas em
ensino de Psicologia para elaborar as diretrizes curriculares para a graduação em substituição
ao antigo currículo mínimo. O documento produzido organizou-se em dez diretrizes:
Para que haja uma normatização sobre o ensino de Psicologia no Brasil, em 1999 foi criada a
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP. A entidade veio para propor e coordenar
reflexões sobre experiências educacionais e aplicação de conhecimentos para auxiliar na
complexidade das problemáticas humanas.
Desde então, e com a chegada do século XXI, a Psicologia vive um processo de discussões e
profissionalização mais madura, com o aumento das faculdades de Psicologia, ações e
discussões sobre a valorização do profissional, análise constante da qualidade da formação
acadêmica, novos espaços de atuação e novos dilemas éticos.
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