Horticultura em Mocambique PDF
Horticultura em Mocambique PDF
Horticultura em Mocambique PDF
em Moçambique
Características, Tecnologias de
Produção e de Pós-Colheita
Horticultura
em Moçambique
Características, Tecnologias de
Produção e de Pós-Colheita
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Instituto de Investigação Agrária de Moçambique
Universidade da Flórida
Horticultura
em Moçambique
Características, Tecnologias de
Produção e de Pós-Colheita
Embrapa
Brasília, DF
2015
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de Moçambique
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Responsáveis pelo conteúdo Irene Rosa de Souza
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
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Universidade da Flórida Antonia Veras de Souza
Universidade Estadual de Michigan
Projecto gráfico, editoração electrónica e
Revisão Técnica capa
Lincoln Zotarelli Júlio César da Silva Delfino
Henoque Ribeiro da Silva
Murillo Freire Junior Fotos da capa e da última capa
Isabel Sitoe Cachomba Walter T. Bowen
Hipólito Alberto Eduardo Malia
Werito Fernandes de Melo 1ª edição
1ª impressão (2015): 1.000 exemplares
Beatriz Nhaulaho
Bióloga, MSc. em Produção e Protecção Vegetal, Técnica do Departamento
de Produção do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, Maputo,
Moçambique.
Carlos Filimone
Engenheiro Agrónomo, MSc. em Desenvolvimento Agrário, Técnico do
Departamento de Transferência de Tecnologias do Instituto de Investigação Agrária
de Moçambique, Maputo, Moçambique.
David Tschirley
Engenheiro Agrónomo, PhD. em Economia Agrícola, Professor do Departamento de
Agricultura, Alimentação e Recursos Económicos, Michigan State University, East
Lansing, Michigan, USA
Helder Zavale
Economista, PhD. em Economia Agrária, Alimentar e de Recurso, Docente
no Departamento de Economia e Desenvolvimento Agrário da Faculdade de
Agronomia e Engenharia Florestal da Universidade Eduardo Mondlane - Maputo,
Moçambique.
Lincoln Zotarelli
Engenheiro Agrónomo, PhD. em Agronomia (Ciência do Solo), Professor Assistente,
Universidade da Flórida, Gainesville, Florida, USA.
Luisa Penicella
Engenheira Agrónoma, MSc em Ciência e Tecnologia de Alimentos e em Gestão
de Grãos Armazenados, Pesquisadora do Instituto de Investigação Agrária de
Moçambique, Maputo, Moçambique.
Natália A. Peres
Engenheira Agrónoma, DSc. em Protecção de Plantas, Professora Associada,
Universidade da Flórida, Gainesville, Florida, USA.
Neide Botrel
Engenheira Agrónoma, DSc. em Ciências dos Alimentos (Fisiologia Pós-colheita),
Investigadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Hortaliças,
Brasília, Distrito Federal, Brasil.
Rasonia Saveca
Engenheira Agrónoma, Técnica em Produção Vegetal na Estação Agrária
de Umbelúzi do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, Boane,
Moçambique.
Walter T. Bowen
Engenheiro Agrónomo, PhD. em Agronomia (Ciência do Solo), Director dos
Programas Internacionais do Instituto das Ciências Agrárias e Alimentícias,
Universidade da Flórida, Gainesville, Florida, USA.
A Horticultura em
Moçambique e o
Projecto de Apoio à
Segurança Alimentar
Capítulo 1
Caracterização da horticultura
em Moçambique
Carvalho Carlos Ecole
Hipólito Alberto Malia
1.1 Introdução
Nos grandes centros urbanos de Moçambique como Maputo, Beira, Nampula,
Tete e Pemba, o consumo de vegetais e frutas constitui, cada vez mais, a base
da segurança alimentar e nutricional e do aumento da renda das comunidades.
O crescente aumento da demanda impõe a necessidade de melhorias tecnológicas e
métodos de produção sustentáveis.
Na sua política de luta contra a pobreza e vulnerabilidade, para dar importância
e visibilidade à agricultura, o governo de Moçambique tem buscado apoios externos
em termos de tecnologias agro-ecológicas e sustentáveis de produção agrícola.
A estratégia de desenvolvimento do sector agrário em Moçambique (PEDSA) está
baseada no Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPAs I e II) que
obedece a um plano superior do governo, na forma de Programa Quinquenal com vários
eixos e vectores: segurança alimentar e melhoramento das condições nutricionais;
competitividade da produção nacional e elevação da renda dos agricultores; e o
uso sustentável dos recursos naturais e preservação do meio ambiente. São cinco
as metas estratégicas: aumentar a produção de alimentos; aumentar a produção
dirigida ao mercado; aumentar a competitividade dos agricultores; utilizar de forma
sustentável o solo, a água e as florestas; e desenvolver a capacidade institucional do
sector agrário.
Para fazer face ao problema da segurança alimentar e nutricional dos
moçambicanos, foi implantado o PROAGRI I, que se orientou para a promoção de
cultivos tidos como comerciais: tabaco, algodão, cana-de-açúcar e castanha de caju.
22 Parte I • Horticultura em Moçambique o Projecto de Apoio a Segurança Alimentar
A extensão para o PROAGRI II, por sua vez, se orientou para a mudança da produção
agrícola de subsistência para a produção dirigida ao mercado. Entretanto, a grande
lacuna dessa estratégia foi a não integração clara com a modernização da pequena
agricultura familiar, que pela sua natureza emprega muitas famílias e tem grande
impacto social positivo no aumento da renda familiar (AUBE et al., 2011).
O Programa Compreensivo de Desenvolvimento da Agricultura Africana (CAADP) é
uma iniciativa dos Governos Africanos, sob os auspícios da União Africana/Nova Parceria
para o Desenvolvimento Africano (UA/NEPAD) para acelerar o crescimento económico
e o desenvolvimento dos países africanos com base no crescimento agrícola. O CAADP
fornece um quadro comum para a elaboração e implementação da estratégia de parceria
e de assistência ao desenvolvimento. Além disso, o CAADP oferece a oportunidade de
apoio político, técnico e financeiro para os países com estratégias e planos de investimento
alinhados com os princípios do CAADP. Neste contexto, os chefes de Estados Africanos
adoptaram em 2003 a Declaração de Maputo tendo em vista (i) o alcance de uma taxa de
crescimento anual de pelo menos 6% no sector agrário e (ii) a alocação de pelo menos
10% do orçamento do Estado para o sector agrário.
Por outro lado, a preocupação com a dependência da importação de alimentos
obrigou o governo de Moçambique a criar o plano de produção de alimentos, que foi
uma operacionalização da estratégia da Revolução Verde Africana e buscava ampliar a
produção e produtividade dos principais produtos agrícolas usados para fins alimentares:
milho, arroz, trigo, girassol, soja, frango, batata e mandioca. Integrado a isso, vários
estudos foram levados a cabo, tais como: Análise dos Sistemas de Outgrowers de
Produtos Hortícolas em Moçambique; Horticulture Sector Development Study
Mozambique (Focus areas: Maputo & Beira Corridors); Regional and Local Research for
Mozambican Horticultural Products; e Estudo do Financiamento para o Desenvolvimento
do Negócio Hortícola em Moçambique. Em analise crítica, pode-se afirmar que o ponto
comum de todos estes estudos é estarem orientados para a produção, visando o
mercado externo, nunca se orientando para a produção de hortícolas e frutas, visando a
segurança alimentar e nutricional, não só, mas a geração de renda com impacto social
com aumento de empregos, principalmente no meio rural e periurbano.
Apesar das suas deficiências e da sua informalidade, a produção nacional
de hortícolas alimenta os 20 milhões de Moçambicanos (produção comercial e
autoconsumo). Importar insumos para fortalecer a cadeia dos vegetais e frutas custaria
bem menos do que continuar a comprar esses produtos no exterior.
A produção e a distribuição das hortícolas ocupam muita mão-de-obra, requerem
treinamento e constituem peças-chave da função social da agricultura para Moçambique.
O presente estudo tem como foco principal a caracterização da produção nacional
para abastecer o mercado interno, que constitui a estratégia básica para a redução do
impacto social dos preços elevados na época quente, podendo, com isso, contribuir
para a criação de uma estratégia de substituição das importações de hortícolas com
Capítulo 1 | Caracterização da horticultura em Moçambique 23
1.5 Mercado
O mercado interno caracteriza-se por baixo poder de compra geral e grande
incidência da pobreza, desenvolvendo-se a actividade de uma forma quase integralmente
“informal”. Actualmente, o mercado abastecedor de hortícolas em Moçambique
encontra-se praticamente confinado aos grandes regadios na zona sul como os da
Moamba e Chókwè, às Zonas Verdes próximas dos grandes centros consumidores,
designadamente Maputo, Beira, Chimoio e Nampula. Portanto, o mercado interno de
hortícolas situa-se principalmente nas zonas urbanas e periurbanas, em particular na
região sul com baixa aptidão agro-ecológica para a agricultura no período quente.
O mercado doméstico é abastecido por hortícolas nacionais e importadas.
As principais hortícolas são o tomate, a cebola, o repolho, o feijão-verde, o pimento,
a beterraba, o alho, a alface, a couve e a cenoura. Mas, pouco a pouco, amplia-se
a variedade de produtos, incluindo alimentos processados ou com valor agregado,
como verduras pré-lavadas. Quanto aos vegetais não convencionais pode-se citar o
inhame, a cacana (Momordica indica), a rúcula, o quiabo e o amaranto. O tomate
importado da África do Sul não vem apenas de regiões próximas a Maputo, mas
sim, do Limpopo a cerca de 500 km, como também de Kwazulu Natal entre 2.500 a
3.000 km. Os principais agentes desse abastecimento através de longas distâncias
são os comerciantes moçambicanos de produtos frescos que comummente são
chamados “Mukheristas”.
No geral, a distribuição de produtos agrícolas em Moçambique é realizada em
três formas:
1) Carregamento à cabeça por grossistas que compram ao produtor, das
machambas de sua produção, a preços irrisórios, vendendo em seguida nos
mercados retalhistas formais e informais encontrados um pouco por todo
lado;
Capítulo 1 | Caracterização da horticultura em Moçambique 27
Precipitação
Caracterização/ ETP Temperatura Altitude
Região Média Anual
Distribuição (mm/ano) Média Anual (ºC) (m)
(mm)
I Zona Alta do Niassa < 1300 < 22 > 800 1000 - 1400
IV Zona Alta da Zambézia < 1300 < 22 > 500 1500 - 1600
Precipitação
Caracterização/ ETP Temperatura Altitude
Região Média Anual
Distribuição (mm/ano) Média Anual (ºC) (m)
(mm)
Zonas Intermédias
VI, VII,
(altitude, temperatura, 1300 - 1500 22 - 24 200 - 1000 900 - 1500
VIII, IX
precipitação e ETP)
Zona de Altitude
VI Intermédia do Niassa e 1300 - 1500 22 - 24 500 900 - 1200
Interior de Cabo Delgado
Zona de Altitude
VII Intermédia da Zambézia 1300 - 1500 22 - 24 200 - 500 1200 - 1500
e Nampula
Zona de Altitude
VIII Intermédia do Norte 1300 - 1500 22 - 24 500 - 1000 1000 - 1200
de Tete
Zona de Altitude
IX Intermédia de Manica 1300 - 1500 22 - 24 200 - 600 900 - 1100
e Sofala
Temperatura Precipitação
Caracterização/ ETP (mm/ Altitude
Região Média Anual Média Anual
Distribuição ano) (m)
(oC) (mm)
X, XI, XII,
Zonas Baixas, Quentes, Baixa
XIII, XIV, > 1500 > 24 < 500 < 1000
Precipitação e Alta ETP
XV
Zona Baixa de Nampula, Cabo
X > 1500 > 24 < 500 800 - 1000
Delgado e Niassa
Zona Litoral e Sub-litoral de
XI > 1500 > 24 < 200 800 - 1000
Nampula, Zambézia e Sofala
Zona dos Vales dos Rios
XII > 1500 > 24 < 500 < 1000
Zambeze e Chire
Zona da Faixa Costeira de
XIII > 1500 > 24 < 200 < 800
Maputo, Gaza e Inhambane
Zona Baixa do Interior de
XIV > 1500 > 24 < 200 400 - 800
Maputo, Gaza e Inhambane
200 -
XV Zona Seca do Interior de Gaza > 1500 > 24 < 400
500
1.8 Referências
ANTÓNIO, J. Análise da cadeia produtiva da batata Reno na região do vale do
Zambeze (Moçambique): estrutura de produção, governança e comercialização. 2009.
229 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
AUBE, T.; ECOLE, C. C.; ANTÓNIO, J.; NHAMISSITANE, E. Diagnóstico sobre investimento
na produção e comercialização de hortícolas em Moçambique. Boletim do IIAM, n. 18,
p. 10-11, 2011.
Componente
Socioeconomia
Capítulo 3
Perfil e indicadores
socioeconómicos dos
produtores de hortícolas
3.1 Introdução
Moçambique tem uma grande diversidade de produtores de hortícolas
em termos de conhecimento e acesso à informação, uso de tecnologia e de
comportamento na produção e na venda. Por esta razão, é importante saber mais
sobre os diferentes tipos de produtores, de modo a melhor projectar as estratégias
de intervenção mais adequadas para cada grupo e, assim, aumentar a probabilidade
de que estas intervenções resultem num maior nível de adopção e em maiores lucros
para os agricultores.
O projecto trilateral (parceria entre Moçambique, Brasil e Estados Unidos) testou
novas tecnologias que estão a ser transferidas para as áreas de produção hortícola
de Moamba, Boane e das Zonas Verdes de Maputo (Ka Mubuacuane, Ka Mavota e
Matola). Uma das actividades planificadas neste projecto foi a definição de tipologia
de produtores.
Nesta ficha, usaram-se dados do inquérito de base de hortícolas realizado
no âmbito deste projecto e o método de cluster analysis, para gerar quatro grupos
diferentes de produtores usando várias características que abrangem conhecimento
de informação, acesso à informação, uso de tecnologia e o comportamento na
produção e na venda de produtos agrícolas. Este estudo permitiu a formulação
42 Parte II • Componente Socioeconomia
3.3 Metodologia
Neste relatório, usou-se o método de cluster analysis para agrupar agregados
familiares (Afs), com base em sua posse tecnológica e capacidade produtiva. O cluster
analysis agrupou os dados em classes para que os objectos dentro de uma classe
sejam semelhantes, mas diferentes de objectos em outras classes (BABU; SANYAL,
2009). O cluster analysis foi usado para diferenciar os agricultores em termos
de conhecimento e acesso à informação, uso de tecnologia e comportamento na
produção e vendas. Agrupar os agricultores desta forma facilitou o desenvolvimento
de pacotes tecnológicos e materiais de extensão mais adequados às necessidades e
capacidades de cada grupo.
A Tabela 5 apresenta a lista completa dos 32 indicadores utilizados para
diferenciar os agricultores, bem como o valor médio de cada indicador. Os indicadores
são divididos em cinco categorias: (a) a experiência, formação e informação agrícola; (b)
a diversificação de produção e vendas; (c) despesas de insumos e práticas de gestão
agrícola; (d) actividades de pós-colheita e perda de produto; e (e) manuseamento de
Capítulo 3 | Perfil e indicadores socioeconómicos dos produtores de hortícolas 43
Tabela 5. Continuação.
Moamba/
Indicadores de Experiência, Todos Zonas Verdes
Boane
Formação e Informação Agrária
Média
Insumos & Manuseamento da Machamba
14 Índice de formalidade do canal no qual obteve as
0,35% 0,31% 0,65%
variedades de semente/plântulas (0 informal, 1 formal)
15 Percentagem de variedades de semente usadas para
18% 18% 16%
as quais o produtor foi capaz de dizer o nome
16 Irrigação mecanizada foi usada em pelo menos uma
7% 1% 58%
das machambas de hortícolas
17 Valor dos fertilizantes usados > 500,00 Mt (mediana) 50% 55% 10%
18 Valor dos pesticidas usados > 1.000,00 Mt (mediana) 52% 53% 45%
19 Valor da semente usada > 2.500,00 Mt (mediana) 49% 49% 45%
20 Empregou mão-de-obra tempo parcial 90% 90% 95%
21 Empregou mão-de-obra tempo inteiro 20% 20% 24%
Pós-Colheita & Vendas
22 Seleccionou o produto antes de vender 7% 6% 12%
23 Lavou o produto antes de vender 9% 9% 7%
24 Usou um carro próprio para transportar produto a
1% 1% 4%
vender no mercado
25 Vendeu toda a produção que levou ao mercado
15% 14% 21%
(tomate, repolho, alface, ou couve)
Conhecimento sobre Manuseamento de Pesticidas
26 Percentagem de respostas dadas pelo entrevistado que
44% 46% 28%
correspondeu à toxicidade real para humanos
27 Percentagem de respostas dadas pelo entrevistado que
38% 40% 25%
correspondeu à toxicidade real para pássaros
28 Percentagem de respostas dadas pelo entrevistado que
21% 21% 23%
correspondeu à toxicidade real para peixes
29 Percentagem de respostas dadas pelo entrevistado que
12% 12% 13%
correspondeu à toxicidade real para abelhas
30 Pessoa que aplica o pesticida é capaz de ler o rótulo 53% 54% 46%
31 O produtor usou um item de roupa protectora para
além de botas (Fato, macaco plástico, máscara/óculos, 48% 50% 36%
luvas, outros)
32 Pesticida foi aplicado nas primeiras horas da manhã ou
56% 58% 39%
no final da tarde
Nota: Número de observações = 616 (total); 344 nas Zonas Verdes e 272 em Moamba/Boane.
Capítulo 3 | Perfil e indicadores socioeconómicos dos produtores de hortícolas 45
3.4 Resultados
Após fazer a ponderação dos dados para garantir representatividade relativa
entre as áreas da amostra, os produtores de Moamba e Boane com menos de 5
hectares de terra cultivada com hortícolas totalizaram 11% de todos os produtores
de hortícolas na área. Os pequenos produtores nas Zonas Verdes representaram
os restantes 89% (43% de Ka Mavota, 28% de Matola, e 19% de Ka Mabucuane).
Em termos de área cultivada com hortícolas, no entanto, as duas zonas são quase
iguais: Moamba e Boane têm cerca de 990 hectares cultivados durante a estação
fresca, enquanto as Zonas Verdes cultivaram aproximadamente 1.100 hectares.
A partir desses dados, definiram-se quatro grupos, em função da posse de
terra, de acesso à extensão e de diversidade de venda de culturas hortícolas.
–– Grupo Um - Baixos níveis de posse de terra, de acesso à extensão e de
diversidade de vendas de culturas hortícolas;
–– Grupo Dois - Moderados níveis de posse de terra, de acesso à extensão e
de diversidade de vendas de culturas hortícolas;
–– Grupo Três - Altos níveis de posse de terra, de educação/alfabetização e
diversidade moderada nas vendas de culturas hortícolas;
–– Grupo Quatro - Altos níveis de posse de terra, de acesso à extensão, de
diversidade de vendas de hortícolas e uso de irrigação mecanizada.
Entre os quatro grupos de agricultores, os grupos um e quatro contêm menor
percentagem de produtores no estudo, 10% e 19%, respectivamente. Estes grupos
formam dois extremos em toda a amostra em termos de representação da capacidade
tecnológica, baixo a alto, e, juntos constituem 76% da subamostra de Moamba e
Boane (Figura 3); agricultores em Moamba e Boane encontram-se principalmente
num destes grupos (1 ou 4), enquanto aqueles nas Zonas Verdes concentram-se nos
dois grupos intermédios.
Tabela 6. Continuação..
Tabela 6. Continuação..
Nota: Os valores em negrito destacam os maiores valores em cada coluna enquanto que os demais destacam os
valores mais baixos em cada coluna.
50 Parte II • Componente Socioeconomia
3.5 Conclusões
Neste estudo, foi usada a abordagem de cluster para agrupar observações
utilizando indicadores como formação ou conselho recebido, número de culturas
vendidas e práticas concernentes à utilização de pesticidas para distinguir agricultores
em quatro grupos. Isto foi feito por meio de um exercício iterativo que minimiza a
distância da média através de um total de 32 dimensões.
A posse de terra, o acesso à extensão rural e a diversificação de culturas
vendidas aumentam de níveis baixos a elevados de um grupo para o grupo a seguir.
Produtores com menos diversidade de culturas, práticas de produção usando menor
nível tecnológico e capacidade menor de conhecimento encontram-se no grupo 01,
enquanto aqueles com os níveis mais altos de cada um desses indicadores tendem
a ser encontrados no grupo 04.
O nível de capacidade tecnológica não corresponde com as regiões
geográficas específicas deste estudo, com os produtores de Moamba e Boane a
aparecerem entre os agricultores com menor uso tecnológico (principalmente os
produtores dispersos nestas áreas), mas também a representarem uma grande
parte dos produtores de maior uso tecnológico (geralmente aqueles com sistemas
compartilhados de irrigação central). Produtores nas Zonas Verdes tendem a ser
mais uniformes no nível de tecnologias que usam, constituindo a maior parte dos
dois grupos intermédios (02 e 03).
Mesmo assim, os produtores em Moamba e Boane consistentemente têm
mais área média cultivada com hortícolas na época fresca, são mais propensos
a receber formação agrícola de pelo menos três meses de duração, são mais
propensos a usar a irrigação mecanizada e são mais propensos a comprar seus
insumos a partir de um canal formal do que produtores nas Zonas Verdes, em todos
os quatro grupos.
Produtores nas Zonas Verdes, por outro lado, de forma consistente são mais
propensos a receber conselhos de um agente de extensão, a receber informações
de preços de hortícolas no ano passado, a aplicar pesticidas na hora recomendada
do dia, a vender um número maior de hortícolas e a ter uma maior percentagem
de adultos alfabetizados na família do que os produtores em Moamba e Boane,
independentemente do escalão em que esses produtores foram agrupados.
52 Parte II • Componente Socioeconomia
3.6 Referências
BABU, S. C.; SANYAL, P. Food security, poverty, and nutrition policy analysis:
statistical methods and policy applications. Amsterdam: Boston: Academic Press, 2009.
XIX + 409 p.
CAIRNS, J.; CACHOMBA, I.; TSCHIRLEY, D. Cadeia de valor dos insumos na produção
de hortícolas em Maputo. Maputo: Ministério de Agricultura, 2013. 68 p. 1 CD-ROM.
Capítulo 4
4.1 Introdução
A realidade do sector agrícola é frequentemente interpretada como um sistema
dotado de uma dinâmica bem específica ou, mais precisamente, diferente das dos
outros sectores económicos. Tal interpretação indica que ela funciona como um
conjunto de elementos que interagem uns com outros de acordo com certos princípios
ou regras.
Segundo Sppeding (1975), um sistema é um conjunto de componentes
interactivas. Stair (1996) define sistema como um conjunto de componentes
interdependentes que formam um todo com um objectivo específico. Rechtin e
Maier (1997) esclarecem que um sistema é um conjunto de diferentes elementos
conectados ou relacionados para desempenhar uma única função não realizável pelos
elementos isoladamente. Para Karapetrovic (2002), um sistema é uma composição
de processos vinculados entre si que funcionam harmonicamente, compartilham
os mesmos recursos e são todos direccionados para atingir um conjunto de metas
ou objectivos. Numa visão de processo, Campos e Medeiros (2009) acrescentam
que “todo sistema é composto de elementos ou partes que interagem entre si
através de suas entradas e saídas (abordagem de processo), com vistas a um
objetivo comum”. Maciel (1974) observa que um sistema se define através de três
conjuntos disjuntos, que são o conjunto dos elementos, o conjunto das actividades
e o conjunto das interacções.
54 Parte II • Componente Socioeconomia
A partir dessa lista, define-se uma amostra estatisticamente válida por meio da
técnica de intermediação e pelo critério de ponto de saturação. A recolha dos dados
se realiza com base em perguntas específicas, formuladas a respeito da actuação
própria de cada actor na cadeia de valor. O tratamento e a análise dos dados e
informações recolhidossão executados de maneira a detectar contradições, conflitos
e semelhanças entre os resultados das entrevistas.
–– Estudo do ambiente organizacional: Para estudar tal ambiente, realizam-
se diversas actividades. Primeiro, faz-se o levantamentodas organizações
que têm actuado na região. Em seguida, efectuam-se entrevistas com
representantes destas. O essencial de tais entrevistas é em torno dos serviços
actualmente prestados na região. Também se faz a recolha de informações
sobre perspectivas de novos serviços. Todas essas informações são passíveis
de contribuir para a caracterização do potencial de geração, transmissão,
adopção, aplicação e acumulação de tecnologias na cadeia de valor.
–– Estudo do ambiente institucional: O estudo deste ambiente envolve várias
actividades. Primeiro, executam-se consultas bibliográficas e na internet.
Em seguida, realizam-se entrevistas com representantes de entidades
públicas tais como ministérios, secretarias municipais e agências reguladoras.
As informações que precisam de ser recolhidas são relacionadas a diversos
temas tais como legislação tributária, legislação referente a incentivos
económicos, legislação laboral, reforma agrária, legislação ambiental e
normas de qualidade e segurança alimentar. Elas têm o potencial de facilitar
a caracterização do microambiente de actuação dos actores envolvidos na
cadeia de valor.
4.5 Referências
ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e uso do solo. São Paulo em perspectiva, São Paulo,
v. 11, n. 2, p. 73-78, 1997.
CASTRO, A. M. G.; PAEZ, M. L. A.; COBBE, R. V.; GOMES, D. T.; GOMES, G. C. Demanda:
Análise Prospectiva do Mercado e da clientela de P&D em Agropecuária. In. GOEDERT,
W. J.; PAEZ, M. L. D’A.; CASTRO, A. M. G. de. Gestão de ciência e tecnologia: pesquisa
Agropecuária. Brasília, DF: EMBRAPA-SPI, 1994. 392 p.
INCRA/FAO. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília, DF, 1996.
RECHTIN, E.; MAIER, M. W. The art of systems architecting. Boca Raton, FL.: CRC
Press, 1997.
5.1 Introdução
Os pequenos e médios produtores de culturas alimentares, incluindo hortícolas,
contribuem com mais de 90% da área total cultivada com culturas alimentares em
Moçambique. Na campanha agrícola 2011/2012 cerca de 1,4 milhões de pequenas e
médias explorações, ou seja, 37% do total de explorações, produziram hortícolas e
cerca de 21% dos produtores de hortícolas comercializaram a sua produção. A maior
parte das pequenas e médias explorações produzem tomate, couve e/ou cebola
(MOÇAMBIQUE, 2012).
Dados do inquérito de base, realizado em 2013 no âmbito do Projecto Trilateral
de Apoio à Segurança Alimentar de Moçambique (parceria entre Moçambique,
Brasil e Estados Unidos e também conhecido como PSAL) e cobrindo cinco distritos
da província de Maputo (Moamba, Boane, Matola, Ka Mubukwane e Ka Mavota),
revelaram que, dos 616 agregados familiares entrevistados, 212 produziram tomate
na campanha agrícola 2012/2013. Foi também observado que o distrito de Moamba
teve maior número de produtores de tomate (84 produtores).
As hortícolas participam significativamente no total dos bens alimentares
consumidos em Moçambique. Segundo dados do Inquérito dos Orçamentos
Familiares (IOF), realizado em 2008, tal participação é mais evidente nas províncias
de Inhambane, Gaza e Maputo com 40%, 38% e 21%, respectivamente). Contudo,
66 Parte II • Componente Socioeconomia
–– Fornecimento de insumos
Representado na Figura 7 com a cor azul, este elo compreende a provisão
de insumos e serviços de apoio. Entre os provedores de insumos, encontram-se:
Vendedores formais e informais de insumos, Direcção Provincial da Agricultura
(DPA), Serviços Distritais das Actividades Económicas (SDAE), Mão-de-obra familiar
e dos associados e provedores de equipamentos agrícolas. Como serviços de
apoio, distinguem-se: financiadores de insumos, instituto de investigação agrária de
moçambique e extensionistas.
Dados do inquérito de base de 2013 mostram que os principais locais de compra
de sementes no distrito de Moamba são: lojas (52%), comerciantes ambulantes
(21%) e a casa agrária (16%). A loja Hygrotech aparece como a loja mais popular
em termos de compra de sementes para os produtores de tomate que compraram
sementes no distrito de Moamba. 52% dos produtores que compraram sementes
nas lojas, fizeram as suas compras na Hygrotech, seguido da PANNAR com cerca de
19% e em terceiro encontra-se a Agrifocus com 15% dos produtores de Moamba a
comprarem nessa loja.
Os serviços de apoio, como é o caso do Instituto de Investigação Agrária
de Moçambique (IIAM), e os serviços públicos de extensão têm jogado um papel
fundamental na disseminação de variedades de técnicas de produção. Os outros
actores importantes são os provedores de equipamentos de preparação de terra que na
sua totalidade são assegurados por produtores privados com o custo de 750 Meticais
por hora de máquina, custo esse que os produtores consideram ser elevado.
Entrevistas com os extensionistas revelaram que no distrito de Moamba,
anualmente a cada início da campanha agrícola, a DPA e os SDAEs têm organizado
feiras de venda de insumos agrícolas a preços subsidiados, como é o caso de
sementes de diversas hortícolas, enxadas, catanas, ancinhos, machados, regadores
e pulverizadores. Contudo, dados do estudo de base de 2013 indicam que somente
um agricultor entrevistado obteve sementes nas feiras. Segundo os produtores
entrevistados a quando da realização do estudo da cadeia de valor de tomate, isto pode
dever-se ao facto de as feiras muitas vezes venderem sementes de baixa qualidade.
–– Produção de tomate
A produção do tomate é feita pelos produtores de pequena e média escala e
suas respectivas associações de produtores. Este elo está representado na Figura 7
com a cor verde. A produção de tomate no distrito de Moamba é caracterizada
maioritariamente pelo cultivo desta cultura na época fresca que tem início em finais
de Março, pois durante esta época as culturas sofrem menos ataque de pragas e
doenças dadas as condições climáticas favoráveis.
Os insumos geralmente usados na produção do tomate no distrito de Moamba são
a semente, mão-de-obra, pesticidas, adubos orgânicos e inorgânicos. As variedades
Capítulo 5 | Análise da cadeia de valor do tomate no Distrito de Moamba 69
de tomate usadas em Moamba são na sua maioria variedades híbridas (HTX 14 - 22%,
TX - 8%, F14 - 4%), com maiores exigências de insumos. Em condições óptimas de
cultivo, estas variedades têm o potencial de produzir de 90 a 120 toneladas métricas
por hectare (t ha-1).
Alguns produtores com menor capacidade e operando com irrigação individual
ao longo dos rios cultivam variedades determinadas, tais como Rio Grande (11%),
Rio Fuego (6%) e Cal J (4%). As variedades determinadas são menos exigentes
em termos de insumos e tem um potencial de até 60 t ha-1 em condições óptimas
de cultivo. No entanto, com base nos dados do estudo de base, cerca de 37% dos
produtores que compram sementes nas lojas mostram ter pouco conhecimento sobre
as variedades usadas.
Os produtores têm diferentes formas de acesso à terra no distrito de Moamba,
destacando-se os a quem é cedida pelas associações (27,38%), pelos parentes
(17,87%) e os queocupam por boa-fé (13,1%). No entanto, um produtor de tomate
dos 84 entrevistados no distrito afirmou ter comprado a terra, o que de acordo com
a Lei da Terra em Moçambique não é uma prática legal, pois a terra é propriedade do
Estado e por isso não pode ser vendida.
Dentre os agregados familiares (AFs) entrevistados em Moamba, apenas
10% tiveram acesso ao crédito, correspondente a 16 AFs. O acesso ao crédito no
distrito de Moamba é fraco devido a constrangimentos de vária ordem (falta de linhas
de crédito com taxas de juros líquidos inferiores às do mercado, como forma de
incentivar e orientar o investimento para o sector de produção de tomate), 63% dos
AFs entrevistados no distrito de Moamba usaram poupança da produção como fonte
de financiamento para a compra de sementes, plântulas, pesticidas e fertilizantes.
Em termos de percentagem de agregados familiares, as outras duas fontes mais
importantes de financiamento para a compra de insumos são o trabalho fora da
machamba com 20% e as ofertas com 9%.
–– Processamento e comercialização
O conjunto dos actores envolvidos na comercialização do tomate é composto
pelos grossistas, retalhistas, intermediários e os produtores que comercializam parte
da sua produção nas suas residências. Este elo está ilustrado na Figura 7 com a cor
laranja. Segundo dados de inquérito do projecto trilateral de 2013, a comercialização
do tomate produzido no distrito de Moamba é feita de forma dispersa, não existindo
centros de acumulação, processamento e armazenamento do mesmo de modo a
agregar valor e desta forma poder explorar canais mais exigentes em termos de
qualidade como os supermercados e hotéis.
Segundo dados do inquérito de base de 2013 do projecto trilateral, mais de
70% dos produtores de tomate no distrito de Moamba venderam a sua produção.
O tomate produzido no distrito de Moamba é comercializado logo depois da colheita,
70 Parte II • Componente Socioeconomia
o que pode ser explicado pela falta de uma indústria de agro-processamento e infra-
estruturas de armazenamento do tomate no distrito.
O tomate, após a colheita, passa por um processo de selecção no campo onde
o mesmo é separado em três lotes: tomate de primeira, segunda e terceira qualidade.
O tomate de primeira e o de segunda qualidade são alocados em caixas de 20 kg com
o destino aos mercados da cidade de Maputo e mercados locais do distrito; o tomate
de terceira qualidade é destinado ao consumo. Os mercados abrangidos pela venda
de tomate por parte dos produtores que venderam o seu produto a nível do distrito
de Moamba são: na machamba, estação de comboio, nas casas dos produtores e
mercados locais de Moamba com 54,1%, 5%, 3,3% e 5%, respectivamente. Ao nível
da cidade de Maputo temos o Mercado Fajardo, com 3,3%, e o Mercado grossista do
Zimpeto, com 64%. Este último participa com a maior cota de produtores a vender o
seu produto neste mercado.
O segmento do grossista a nível da cidade de Maputo é basicamente definido
pelos mercados de Zimpeto e Fajardo. O segmento do retalhista na cidade de Maputo
é variado não se tendo conseguido captar com pormenor. Este verifica-se nos
mercados e arredores com vendedores formais e informais onde o tomate é vendido
a grosso, havendo comerciantes retalhistas que compram o tomate para abastecer os
diversos mercados formais e informais da cidade e província de Maputo.
O mercado grossista do Zimpeto constitui o maior centro de comercialização
do tomate produzido no distrito de Moamba. No entanto, a fixação dos preços dos
produtos é baseada num esquema conhecido por “voto”, que impede os produtores
nacionais, incluindo os produtores de Moamba, de fixar os preços dos seus produtos
de acordo com os custos de produção obtidos no campo. Por este ser o maior centro
comercial de produtos agrícolas da província e cidade de Maputo, os produtores
nacionais que vendem nestes locais são forçados a disputar espaço e preços com os
agentes que importam produtos, sobretudo da África do Sul.
Os importadores de tomate da África do Sul muitas vezes pagam aos
intermediários para fixarem o preço a ser praticado pelos produtores nacionais. Este
acto acontece através do “voto”, processo de ajuste do preço (muitas vezes este
ajuste é em função dos importadores) de comercialização da produção nacional para
ir ao encontro do preço praticado pelos importadores. Em Moamba a venda a retalho
ocorre nos mercados locais, nas casas dos produtores e na estação dos caminhos-
de-ferro.
–– Consumo
De acordo com os dados do inquérito de base do projecto trilateral de 2013, cerca
de 30% dos agregados familiares entrevistados não comercializam a sua produção.
Esta parte não comercializada inclui as perdas pós-colheita e as unidades de tomate
destinadas ao autoconsumo. Segundo Ribeiro & Rulkens (1996), em Moçambique
Capítulo 5 | Análise da cadeia de valor do tomate no Distrito de Moamba 71
há uma preferência por variedades de tomate com baixo teor de água (variedade
preferencialmente destinadas à indústria), porque este pode ser armazenado por
períodos longos. Os produtores de tomate em Moamba têm uma preferência por
estas variedades, devido à falta de infra-estruturas adequadas para o armazenamento
do produto após a colheita.
5.4 Conclusão
Os resultados do presente estudo permitem concluir que:
• A cadeia de valor de tomate no distrito de Moamba compreende apenas
um subsector, nomeadamente o subsector do tomate fresco, e registra uma
fraca coordenação entre os diferentes elos que a compõem.
• Existem quatro principais elos de intervenção na cadeia de valor do
tomate no distrito de Moamba, nomeadamente os produtores de pequena
e média escala, provedores de insumos e serviços de apoio à produção,
comercialização e consumo.
• Os principais mercados de comercialização do tomate produzido no distrito
são:
–– Em Moamba: à porta da machamba, nos mercados locais, na casa dos
produtores e na estação dos caminhos-de-ferro em Moamba.
–– Na Cidade de Maputo: no mercado grossista do Zimpeto e no mercado
do Fajardo.
Constrangimentos da cadeia de valor do tomate em Moamba
–– Preparo da terra
• Falta de equipamentos mecanizados por parte dos produtores;
• Falta de um parque de aluguer de máquina para a prestação dos serviços de
preparação da terra;
• Alto custo de aluguer de máquinas, serviço fornecido na sua totalidade por
produtores privados em número reduzido.
–– Insumos
• Alto custo de aquisição de semente de qualidade;
• Baixa qualidade de semente vendida a preços subsidiados nas feiras
promovidas pela DPA e SDAE do distrito de Moamba em cada abertura da
campanha agrícola,afectando, por conseguinte, o rendimento dos produtores
e concorrendo para a baixa produtividade;
72 Parte II • Componente Socioeconomia
5.5 Referências
INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (Moçambique). Relatório final do inquérito ao
orçamento familiar: IOF-2008/2009, Maputo, 2010. Disponível em: <http://www.ine.gov.
mz/operacoes-estatisticas/inqueritos/inquerito-sobre-orcamento-familiar/relatorio-final-do-
inquerito-ao-orcamento-familiar-iof-200809.pdf/at_download/file>. Acesso em: 15 jan. 2015.
Componente Produção
Vegetal
Capítulo 6
6.1 Introdução
A produção de mudas em estufas é uma prática fundamental para o sucesso
da produção de hortícolas por permitir a obtenção de mudas de melhor qualidade
que as produzidas em sementeiras, em campo a céu aberto. Além disso, estufas
aumentam o rendimento operacional e a eficiência da produção através do uso racional
do tempo e do espaço, redução do gasto de sementes e aumento da percentagem
de germinação. As mudas produzidas em estufas sofrem menor estresse durante o
transplante, proporcionando maiores taxas de pegamento e reduzem a necessidade
de replantio. Em cultivos implantados a partir de mudas de boa qualidade obtêm um
maior estande final de plantas, a colheita é antecipada e geralmente apresentam
maiores produtividades.
resistência ao vento. Quando possível, dar preferência a terrenos mais planos, além de
facilitar a construção da estufa, permite melhor maneio dos plantios, irrigação e tratos
culturais. Na estrutura de cobertura pode ser adicionada uma tela de sombreamento
(sombrite) para a diminuição uniforme da incidência da luminosidade com o objectivo
de reduzir a temperatura nas horas mais quentes do dia ou durante o verão. Os níveis
de sombreamento dessas telas variam entre 30% e 80%. A seguir apresentamos as
cinco etapas de construção da estufa tipo túnel:
mostra a Figura 10. Colocar a tela anti-afídeos fixando-a no caibro com ripas na parte
superior e a sobra enterrar na parte inferior esticando-a. Na cobertura da estufa são
usados plásticos de polietileno de baixa densidade, nas espessuras de 100, 120 ou
150 micras, com durabilidade entre 12 e 36 meses se não forem danificados pelo
vento. A colocação do plástico segue ao longo de uma lateral da casa fixando a ripa
enrolada com o plástico no caibro, passar o plástico para a outra lateral esticando e
enrolando o plástico na ripa e fixando no caibro. Em seguida prender o plástico nas
extremidades onde será a frente e o fundo da estufa. Colocar o plástico em horários
mais quentes com auxílio de pelo menos 5 pessoas, para que fique bem esticado e
não seja danificado por ventos fortes. Instalar uma porta com dimensões de 1,0 m de
largura por 2,5 m de altura na parte frontal da estufa (Figura 10).
Fotos: Josimar R. do Couto
Figura 11. Detalhes da colocação dos arcos de ferro, plástico da cobertura, tela anti-
afídeo, porta e colocação de brita no piso da estufa.
82 Parte III • Componente Produção Vegetal
A rega das mudas em estufa pode ser realizada manualmente usando regadores
ou por sistema de irrigação pressurizada através de microaspersores ou nebulizadores.
Entretanto, quando se usam sistemas pressurizados as vantagens são muitas, desde
o maneio adequado da quantidade de água aplicada, à uniformidade de distribuição,
além de permitir a fertirrigação (aplicação de nutrientes via água de irrigação). Melhor
uniformidade de distribuição resulta na obtenção de mudas mais sadias e uniformes.
A instalação deste sistema de rega é prática e rápida. Os custos dos materiais são
relativamente baixos e resultam em economia de mão-de-obra e conservação de água
e energia eléctrica. Neste caso, conectou-se uma mangueira de polietileno de baixa
densidade de 1” a uma rede de irrigação pressurizada que foi assentada no centro de
cada bancada. Através de um furo no centro de cada travessa insere-se uma haste
com um microaspersor tipo bailarina com vazão mínima de 30 l/hora e lâmina bruta de
água aplicada de 6 mm/dia. Essa distribuição resulta em aplicação uniforme permitindo
repor a perda de água através de várias irrigações leves durante o dia, mantendo-se
um teor adequado de humidade no substrato e bom desenvolvimento das mudas
(Figura 12).
Fotos: Josimar R. do Couto
Figura 12. Vista lateral e longitudinal da estufa tipo túnel alto construída na EAU/IIAM
mostrando a produção de mudas de diversas espécies de hortícolas.
Capítulo 6 | Estrutura para produção de mudas de hortícolas 83
Tabela 10. Custo total de produção, em Meticais (Mt) de uma estufa com dimensões
de 10 m de comprimento x 5 m de largura, pé-direito de 2,70 m.
Descrição dos materiais Preço (Mt)
Quantidade
Mão-de-obra 30,000
7 Dias/homem 30,000
Estrutura Principal 190,826
06 Arco metálico com 5 metros 43,036
15 Poste de eucalipto de 3,5 m comprimento 14,700
30 Barrote (metros) 3,150
120 Ripa/Sarrafo (metros) 11,200
12 Sacos de cimento; 3,600
06 Brita nº 1 (metro cúbico) 8,400
04 Areia lavada média (metro cúbico) 4,480
02 Prego de 3 polegadas (quilograma) 270
02 Prego de 4 polegadas (quilograma) 270
06 Haste rosqueável 12 mm com porca e anilha para os postes; 3,700
01 Bobina de filme plástico de 100 micras de 6 x 50 m 41,300
01 Rolo de tela de polietileno anti-afídeos de 3 x 50 m 47,440
01 emb. Rebites 180
01 Porta 9,100
Bancadas 23,951
24 Poste com 1,5 m de comprimento x 15 cm de diâmetro 8,840
04 Prancha de 1,40 m de comprimento (travas das cabeças) 1,625
10 Barrote de 1,40 m de comprimento (travas) 1,755
01 Rolo de arame liso para cerca 1,755
08 Poste de 2,5 para esbirras da bancada 2,600
12 Catraca para esticar o arame 3,676
06 Haste rosqueável 12mm com porca e anilha para bancada 3,700
Sistema de Rega 24,344
50 m Mangueira de 1” 3,340
15 Microaspersor tipo bailarina, vazão 30 litros por hora 1,462
01 Filtro de 1” (para rega gota-a-gota) 780
01 Furador (para inserção de microtubo do microaspersor) 572
03 Válvula de 1” 1,430
Conexões diversas de 1” (niple, curva 90°, tê) 3,500
04 Fita veda-roscas 260
01 Bomba 5,000
01 Tanque 1000 litros 8,000
Custo total 269,121
84 Parte III • Componente Produção Vegetal
Produção de mudas de
hortícolas em ambiente protegido
Beatriz Nhaulaho
Rasonia Saveca
Lenita Lima Haber
Francisco Vilela Resende
7.1 Introdução
A produção de mudas é uma das etapas de maior importância no cultivo de
hortícolas, pois elas são responsáveis pelo bom desenvolvimento, pela qualidade e
produtividade das culturas. A produção de mudas vigorosas e sadias depende da
qualidade do substrato, do vigor da semente, do controlo de pragas e doenças e
da protecção dos viveiros. Dentre os diferentes sistemas de produção, aquele que
contempla o uso de recipientes em ambiente protegido (estufas) facilita a semeadura,
o manuseio e o transporte das mudas até ao local de plantio definitivo, melhora o
controlo de pragas e doenças reduzindo inclusive custos, e optimiza a adubação e o
uso de substratos, propiciando ainda um alto índice de pegamento após o transplantio.
A B
C D
7.3 Substratos
O substrato deve apresentar condições químicas, físicas e biológicas que
favoreçam a germinação das sementes e desenvolvimento adequado das mudas.
Deve ser isento de solo, resíduos industriais, microrganismos patogénicos e sementes
de plantas invasoras e não ser ácido ou alcalino. Deve ser formado por uma mistura
de componentes que proporcione leveza, porosidade e alta capacidade de retenção
de água, porém, sem permitir encharcamento. No âmbito do projecto PSAL, foram
desenvolvidos e testados dois tipos de substratos, o Hicefa I em 2012 e o Hicefa II,
em 2013. O primeiro substrato é composto por substrato organo-mineral (hygroxix) +
composto orgânico (proporção 1:1) + adubo NPK fórmula 12:24:12 (600 g 100 kg -1) e,
o segundo apresenta a mesma formulação enriquecida com 2% de cinzas e 3% de
areia (Figura 14). A quantidade de cada ingrediente está descrita na Tabela 11.
Capítulo 7 | Produção de mudas de hortícolas em ambiente protegido 87
Tabela 11. Ingredientes necessários e suas quantidades para o preparo de 100 kg dos
substratos Hicefa I e Hicefa II.
7.4 Sementeira
Após o enchimento das bandejas, o substrato deve ser compactado e hume
decido para evitar espaços com ar nas células. Em seguida fazem-se pequenos furos
de no máximo 2 cm de profundidade, onde serão colocadas de 2 a 3 sementes por
célula, cobrindo-as com uma fina camada do substrato peneirado ou vermiculita fina e
molhadas com o auxílio de um regador (Figura 15). Quando as plântulas apresentarem
um par de folhas definitivas, segue o desbaste ou raleio, deixando apenas uma plântula
por célula.
A B
C D
Figura 15. Etapas da semeadura de hortícolas: A) preenchimento das bandejas com substrato;
B) semeadura das sementes; C) mudas com 1 par de folhas definitivas; D) mudas prontas para
o transplantio.
Fotos: Francisco Vilela Resende
Figura 17. Estruturas de protecção para produção de mudas de hortícolas (A) estufa e
(B) telado.
A B
Figura 18. Produção de mudas com crescimento irregular apontado pelas setas
vermelhas (A). Produção de mudas uniformizadas (B).
90 Parte III • Componente Produção Vegetal
O desbaste deve ser realizado assim que as plantas estiverem com um par de
folhas definitivas, deixando apenas uma plântula por células. As plântulas retiradas
podem ser descartadas ou repicadas (transplantadas) para outras células ou bandejas.
A adubação influencia directamente o crescimento das mudas, pois, à medida que
as plantas vão crescendo a absorção de nutrientes vai aumentando, podendo esgotar o
teor de nutrientes do substrato preparado e, com isso, sintomas de deficiência podem
aparecer, principalmente a deficiência em nitrogénio. Para evitar que isso aconteça,
deve ser realizada uma adubação de cobertura, logo após o desbaste, aplicando-se
uma solução de ureia a 0,5%. Para preparar esta solução, mistura-se 0,5 gramas de
ureia em 1 litro de água. Este volume deve ser aplicado em 01 bandeja.
Para facilitar o maneio fitossanitário do sistema de produção de mudas deve-se
tomar as seguintes medidas: (a) evitar a construção da estrutura de protecção em áreas
que favoreçam o aparecimento de doenças, pragas e infestação de plantas espontâneas
e sempre que possível proporcionar algum isolamento das áreas cultivo; (b) usar água
de boa qualidade para irrigação de mudas, evitar as que passam por diversas áreas de
cultivo de hortícolas; c) não utilizar sementes de origem desconhecida e, no caso de
sementes de produção própria, garantir que não estejam contaminadas; d) controlar a
temperatura e humidade do ar no interior da estrutura de protecção e evitar variações
no teor de humidade do substrato – mudas estressadas são mais susceptíveis ao
ataque de patógenos; e) evitar provocar ferimentos nas mudas durante seu manuseio
e tratos culturais; e f) não armazenar lixos, restos de culturas, ferramentas e bandejas
com restos de substratos no interior da estufa/telado.
7.7 Transplante
Para facilitar a aclimatação das mudas ao local definitivo deve-se diminuir a
irrigação e retirar as bandejas da estufa um dia antes do transplante. Humedecer o
substrato novamente no momento do transplante para facilitar a retirada da muda com
o torrão inteiro e evitar que a muda perca a turgidez no local definitivo. O transplante
das mudas para o local definitivo acontece quando as mesmas estiverem com 3 a
4 pares de folhas definitivas e o caule com aespessura de um lápis (Figura 19). Não
enterrar o colo da muda para evitar perdas de estande com tombamento (dumping off).
As mudas no momento do transplante devem apresentar bom equilíbrio parte aérea/
sistema radicular (Figura 19), ou seja, a parte aérea não pode ser estiolada ou muito
pequena e o sistema radicular estar bem desenvolvido e abundante. Este equilíbrio
é imprescindível para o bom estabelecimento das mudas no campo. Deve-se fazer
uma irrigação no local do plantio definitivo antes ou logo em seguida à operação de
transplante. Em geral, mudas de alface e pepino levam de 18 a 25 dias para alcançarem
esse estágio de desenvolvimento, de repolho e tomate 30 dias ede pimento e cebola
de 35 a 40 dias para serem transplantadas.
Capítulo 7 | Produção de mudas de hortícolas em ambiente protegido 91
Figura 19. Mudas aptas para transplantio (A) e mudas transplantadas nos canteiros definitivos
(B).
A B
Ingredientes Quantidade
Terra da área de plantio* 65 kg
Serapilheira (terra vegetal)** ou EM 10 l
Composto orgânico pronto ou estrume 50 kg
Farelo de arroz, algodão ou trigo 20 kg
Farelo de rícino 5 kg
Farinha de ossos 10 kg
Sementes trituradas*** (qualquer semente não tratada, inclusive de Adubo Verde) 25 kg
Cinzas de madeira ou carvão moído 5 kg
Açúcar mascavo ou branco 1 kg
Amido de milho 0,5 kg
Farinha de milho 0,5 kg
Água + 45% v/v
*
terra do local onde será usado o bokashi;**terra vegetal é usada apenas na primeira vez; depois usa-se 25 kg de
bokashi pronto; *** Grãos ou sementes impróprios para o consumo, como milho e feijão carunchado, sementes de
adubos verdes e etc.
Fonte: Resende et al. (2010).
Modo de preparo
–– Inicie o preparo com a terra da área de plantio e vá acrescentando os demais
ingredientes, aos poucos, misturando bem. Por fim, quando estiver bem
misturado, acrescente a água até atingir a humidade adequada;
–– Humidade adequada: é o chamado “ponto de farofa”. Para ajustá-la de forma
prática, deve-se pegar um pouco de material na mão e apertar: se não escorrer
água, é sinal de que está seco e é preciso humedecer; se surgirem algumas
gotas entre os dedos, a humidade está adequada; se houver escorrimento
de água pela mão e braço, a humidade está excessiva e, portanto, deve-se
Capítulo 8 | Compostagem e adubos orgânicos 97
8.3 Biofertilizante
É o material líquido resultante da decomposição biológica de resíduos orgânicos
de origem vegetal e animal (Figura 22). Sua ampla acção biológica é dada principalmente
pela grande diversidade de microrganismos presentes, os quais são responsáveis pela
produção de hormônios vegetais e antibióticos. Assim, além de fornecer nutrientes,
o biofertilizante funciona como promotor de crescimento e também como indutor
de resistência na planta. Portanto, pode auxiliar na protecção das plantas contra o
ataque de pragas e doenças. Pode ser aplicado misturado à água de irrigação, em
fertirrigação, ou em pulverização foliar, tanto na produção de mudas como no cultivo
de hortícolas. Em pequenas áreas pode inclusive ser aplicado por meio de um regador
de plantas, directamente sobre o solo e ao redor das plantas. Deve ser usado como
complemento à adubação de plantio. A receita mais simples de biofertilizante que se
conhece leva apenas estrume fresco de bovino e água, na proporção 1:1 em volume,
em sistema fechado (anaeróbico) por 30 dias. Fotos: Ronessa B. Souza
A B
Ingredientes Quantidade
Serapilheira (terra de mata) ou EM 2l
Composto orgânico pronto ou estrume 1 kg
Farelo de arroz, algodão ou trigo 4 kg
Farelo de rícino 1 kg
Farinha de ossos 2 kg
Sementes trituradas (qualquer semente não tratada ou grão, inclusive semente de 1 kg
adubo verde)
Cinzas de madeira ou carvão moído 1 kg
Açúcar mascavo ou branco 0,5 kg
Amido de mandioca ou farinha de milho 0,5 kg
Água 80 l
Fonte: Tomita et al. (2007)
Modo de preparo
–– Misturar todos os materiais em um balde ou bombona plástica com
capacidade para 100 l, em local protegido de chuvas, coberto ou sombreado;
–– Agitar vigorosamente por 3 minutos, 2 a 3 vezes ao dia, com um pedaço de
madeira ou aeração constante por meio de um compressor ou bomba de
aquário;
–– Preparo rápido: pronto em aproximadamente 10 dias;
–– No dia anterior à aplicação, recomenda-se não agitar para que o material
grosso seja depositado no fundo. Coar muito bem usando peneira e pano
de saco para evitar entupimento do bico do pulverizador e dos gotejadores.
Após bem coado, diluir com água e aplicar sobre mudas ou plantas no
campo. O material depositado no fundo do balde ainda pode ser utilizado
como fertilizante de solo;
–– Recomendação para hortícolas: em pulverização, para a produção de mudas,
aplicar na concentração de 2% (200 ml do biofertilizante para 10 l), uma vez
por semana. Durante o cultivo, em campo aberto ou protegido, aplicar na
concentração de 5% (1 litro do biofertilizante para pulverizador costal de
20 litros), uma vez a cada quinze dias. Evitar molhar as folhas de hortícolas
como alface, repolho ou rúcula, ou frutos de consumo in natura, como
Capítulo 8 | Compostagem e adubos orgânicos 99
8.4 Referências
RESENDE, f. V.; SOUZA, R. B. de; COUTO, J. R.; TOMITA, C.; VIDAL, M. C. Bokashi de
terra: aprenda como se faz. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2010. Folder. Disponível em:
<http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/103639/1/digitalizar0025.pdf>. Acesso
em: 23 set. 2015.
RESENDE, f. V.; dias, R. P.; SOUZA, R. B.; COUTO, J. R. Granofert: aprenda como se faz.
Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2012. Folder. Disponível em:< http://ainfo.cnptia.embrapa.
br/digital/bitstream/item/75067/1/folder20granofert.pdf>. Acesso em: 23 set. 2015.
SAMINEZ, T. O.; RESENDE, f. V.; SOUZA, R. B.; VIDAL, M. C.; AMARO, G. B. Composto
orgânico Embrapa Hortaliças: aprenda como se faz. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças,
2007. Folder. Disponível em:< http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/102914/1/
Composto-organico-embrapa-hortalicas.pdf>. Acesso em: 23 set. 2015.
SOUZA, R. B.; RESENDE, f. V.; LUDKE, I.; COUTO, J. R. Hortbio: aprenda como se faz.
Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2007. Folder. Disponível em:< http://ainfo.cnptia.embrapa.
br/digital/bitstream/item/75064/1/folder20hortbio.pdf>. Acesso em: 23 set. 2013.
Adubação verde na
produção de hortícolas
9.1 Introdução
A adubação verde é uma prática agrícola que consiste na utilização de plantas
em rotação, sucessão ou consorciação com as culturas principais, incorporando-as
ao solo ou deixando-as na superfície para proteger superficialmente o solo e manter
e melhorar suas características físicas, químicas e biológicas.
Por muito tempo, a adubação verde caracterizou-se pelo uso de plantas da
família das leguminosas, com o objectivo de aumentar a produtividade das culturas
pela adição de nitrogénio (N), ciclagem mais eficiente de nutrientes e melhoria
física e biológica do solo. Isso se devia basicamente à quantidade de N fixado
simbioticamente pelas leguminosas, pela boa ramificação e profundidade do seu
sistema radicular e por se tratar de uma família muito numerosa e adaptada a
diversas situações de clima e solo. Actualmente, plantas de outras famílias, além das
leguminosas, são utilizadas como adubos verdes, como por exemplo, as gramíneas,
as crucíferas e as compostas.
Na produção orgânica de hortícolas, a adubação verde é usada ainda como uma
estratégia para incrementar a diversidade no sistema. Além de todos os benefícios
que traz para o solo, actua como atractiva para inimigos naturais, habitat para
predadores, repelente e exsuda substâncias alelopáticas reguladoras importantes
no ambiente.
102 Parte III • Componente Produção Vegetal
A B C
Figura 23. Áreas da Folha 4 na EAU/IIAM com adubação verde de Crotalaria juncea (A),
feijão-nhemba (B) e amaranto (C).
AMARANTO
Foto: Francisco Vilela Resende
AVEIA PRETA
CROTALÁRIA JUNCEA
CROTALÁRIA ESPECTABILIS
FEIJÃO-DE-PORCO
FEIJÃO-GUANDU-ANÃO
LABE-LABE
MEXOEIRA (milheto)
MUCUNA PRETA
9.5 Referências
AVEIA-PRETA - Piraí sementes. Disponível em: <http://www.pirai.com.br/texto-b23-aveia_
preta.html>. Acesso em: 26 abr. 2015.
Sistemas de irrigação
10.2.2 Gota-a-gota
a) Descrição do sistema
No sistema gota-a-gota a água é aplicada na superfície ou abaixo da superfície
do solo (quando a fita de gotejadores é enterrada) de forma localizada e com baixo
volume em regime de alta frequência por meio da pressurização de emissores de
linha denominados gotejadores. Portanto, é um sistema que requer o uso de energia
para pressurização da água. De modo geral, os sistemas de rega por gota-a-gota e por
microaspersão sem automatização, com excepção do tipo de emissor, são compostos
pelas seguintes componentes (Figuras 25 e 26).
b) Sistemas de condução e distribuição de água
• Linha principal - a tubulação pode ser de materiais de diferentes resistências,
principalmente em função da capacidade de vazão e pressão necessárias,
portanto pode ser de alumínio, ferro galvanizado ou outros materiais, sendo
os de PVC e polietileno os mais comuns.
• Linhas secundárias - seguem as mesmas características das tubulações da
linha principal e servem para isolar diferentes áreas de plantio no campo
(sectores).
• Linha lateral - na maioria dos casos essa tubulação é de polietileno com
gotejadores internos ou externos. Assim, a linha lateral pode ser uma
fita gotejadora com gotejadores internos e espaçamento fixo ou um tubo
de polietileno com gotejadores inseridos externamente no espaçamento
desejado. O comprimento máximo da linha lateral depende da vazão a ser
transportada e do espaçamento entre gotejadores, ou seja, quanto maior o
espaçamento entre os mesmos, maior poderá ser o comprimento da linha
lateral. Em geral, o diâmetro da linha lateral varia de 16 a 20 mm e a espessura
da parede varia de 1 a 1,2 mm.
c) Cabeçal de controlo
• Filtração - esse processo é necessário e vital para o sistema de rega gota-
a-gota e decorre em função da qualidade da água. Dependendo do teor
de impurezas presentes na água são necessários filtros de areia, de tela
ou discos. Em casos onde a água é límpida, em geral, não é necessário
a inclusão do filtro de areia, o qual aumenta substancialmente o custo do
sistema de rega.
• Válvulas de controlo e regulação de fluxo - são importantes dispositivos para
o controlo e regulação do fluxo de água em sistemas não automatizados.
A escolha do tipo e capacidade da válvula depende das especificações da fita
de irrigação e volume de água necessário para irrigar a área.
Capítulo 10 | Sistemas de irrigação 123
Figura 26. Esquema básico de instalação de um sistema de rega por gota-a-gota não
automatizado.
Fotos: Henoque R. da Silva
Figura 28. (A) Foto da área molhada e formação da faixa molhada em condições de campo.
(B) Formato do bolbo molhado em função da textura do solo. (C) Cálculo estimativo do bolbo
molhado e espaçamento entre linhas laterais.
O sistema de rega por microaspersão pode ser definido como sendo o processo
da aplicação frequente e de alta intensidade com baixo volume de água e de forma
pulverizada sobre a superfície total ou parcial do solo e/ou das plantas através de
emissores, que podem ser do tipo microaspersores convencionais ou mangueira de
polietileno de alta densidade Santeno ®.
a) Descrição do sistema
Na microaspersão, a água pode ser aplicada de forma localizada molhando
apenas parte da área plantada ou molhar toda a superfície do solo. Com excepção do
tipo de emissores (microaspersores, nebulizadores, fita gotejadora,etc.), o sistema de
rega por microaspersão requer o mesmo desenho de campo da rega por gota-a-gota,
seja de forma convencional ou usando a mangueira de polietileno de alta densidade
Santeno ®. As Figuras 29 a 32 ilustram o desenho típico de montagem em campo dos
dois tipos de rega por microaspersão bem como fotos dos sistemas em operação
para facilitar o entendimento dos esquemas de campo.
A B
Figura 30. Fotos ilustrativas do sistema de rega por microaspersão convencional (A) e
mostrando a ligação típica do microaspersor convencional na linha lateral usando microtubo (B).
Foto: Henoque Ribeiro da Silva
Figura 31. Esquema básico de instalação de um sistema de rega por microaspersão com
mangueira Santeno® não automatizado.
Fotos: Henoque R. da Silva
Figura 32. Sistema de rega por microaspersão com mangueira Santeno ® mostrando as linhas
de condução, distribuição e linhas laterais em operação em condições de campo.
Capítulo 10 | Sistemas de irrigação 129
b) Características do sistema
Com relação à condução e distribuição de água, o sistema utiliza as mesmas
características das tubulações principais e secundárias como já descritas para o sistema
gota-a-gota. Por outro lado, as linhas laterais apresentam características diferenciadas
em razão de diferentes emissores e forma de aplicação da água. As características e
diferenças da linha lateral são:
• Microaspersão convencional - quase sempre essa tubulação é de
polietileno de alta densidade, podendo ser de PVC, com microaspersores
inseridos no espaçamento recomendado pelo fabricante. O comprimento e o
diâmetro da linha dependerão da vazão a ser conduzida, todavia; linhas muito
longas requerem diâmetros maiores elevando o custo da tubulação e maior
gasto de energia. A vazão dos microaspersores varia de 50 a 200 l h -1 (faixa
normal é de 100 l h -1).
• Mangueira Santeno® - a mangueira Santeno® tipo I é fabricada com distância
padrão entre emissores de 15 cm. É recomendada para hortícolas cultivadas
em canteiros, jardins, estufas, pastos, campos, condomínios, parques e
praias, podendo, no entanto, ser oferecida por encomenda no espaçamento
de até 1,05 m entre gotejadores. O comprimento máximo das linhas laterais
em condições de campo é de 100 m, podendo ser menor para adequar à
topografia e ao tamanho de parcelas no campo. De acordo com o fabricante,
para a posição central dos emissores e altura dos gatos de 1,80 m, o alcance
da área molhada é de 2,5 m para cada lado (Figura 33). As características
técnicas de fabricação da mangueira são o diâmetro de 28 mm, espessura de
parede de 200 micra, diâmetro das microperfurações (emissor) a laser de 0,3
mm, podendo operar com pressão de serviço variando 2 a 8 metros de coluna
d’água, o que torna o sistema bastante conservador em uso de energia.
a) Introdução
Fertirrigação é o processo de injecção de fertilizantes e outros produtos
solúveis em água no sistema de irrigação. A prática da fertirrigação deve ser
considerada como parte do programa de fertilização das culturas com base na
análise química de solo e requisito nutricional das culturas. A fertirrigação, além de
maior flexibilidade na aplicação e parcelamento dos nutrientes, resulta em melhor
uniformidade de distribuição, comparada aos sistemas de fertilização convencional
do solo. Portanto, com a fertirrigação é possível realizar aplicações de fertilizantes
solúveis mais frequentemente do que de fertilizantes granulados, economizando
tempo e reduzindo custos com mão-de-obra. A fertirrigação melhor se aplica
a sistemas pressurizados por permitir melhor controlo na aplicação com melhor
uniformidade de distribuição da água quando comparada a sistemas de irrigação por
superfície.
Esta sessão tem a finalidade de introduzir os conceitos da tecnologia de
aplicação de fertilizantes dissolvidos em água de irrigação bem como os proce
dimentos operacionais necessários para sua realização.
b) Descrição do sistema
A prática de fertirrigação requer um sistema injector de fertilizantes conectado
ao sistema de irrigação. Actualmente, existem diversos tipos de injectores que
podem ser utilizados para fertirrigação, porém o custo e a eficiência devem ser
avaliados antes da aquisição.
c) Tanque sob pressão
Esse método consiste em injectar uma solução química na linha principal de
irrigação através de um diferencial de pressão entre a entrada e a saída do tanque
provocado pelo fechamento da válvula de derivação localizada entre a entrada de
água e a saída da solução (Figura 34). Portanto, parte da água de irrigação sendo
bombeada passa pelo tanque provocando a mistura da solução fertilizante que é
injectada novamente na linha principal (Figura 34). O processo consiste em adicionar
um fertilizante ou mistura de fertilizantes no tanque e fechar hermeticamente.
Com o sistema de irrigação em funcionamento e após estabilização da pressão
de serviço, inicia-se a fertirrigação provocando um diferencial de pressão através
do fechamento parcial da válvula de derivação. O método apresenta vantagens e
desvantagens. Praticidade, simplicidade e baixo custo são as principais vantagens.
Por outro lado, a diminuição da concentração de nutrientes ao longo do tempo de
aplicação é a maior desvantagem desse método. A literatura recomenda com base
na experiência, a aplicação de um volume de água aproximado de quatro vezes o
volume do tanque para a injecção de fertilizantes líquidos ou já diluídos.
132 Parte III • Componente Produção Vegetal
Foto: Henoque Ribeiro da Silva
Figura 34. Modelo de tanque sob pressão para injecção de fertilizantes em sistemas de
irrigação pressurizados.
d) Bomba Injectora
As bombas injectoras podem ser classificadas como sendo do tipo 1) diafragma;
2) centrifugas ou 3) pistão (Figura 35), que trabalham com uma pressão positiva
efectiva e superior à pressão do sistema de irrigação. Essas bombas podem ser
operadas com motores eléctricos ou motores a diesel e gasolina de pequeno porte,
facilitando a distribuição de nutrientes nas áreas irrigadas. As bombas injectoras
podem apresentar baixo rendimento caso exista grande variação na rotação do motor,
o que resultanuma variação directa na quantidade da solução injectada na tubulação
de irrigação. As bombas injectoras centrífugas proporcionam vazões de injecção
constantes durante a fertirrigação, por operarem com pressão superior àquela da
motobomba responsável pela pressurização do sistema de irrigação. Porém, são
mais caras do que os outros tipos de injectores.
As bombas de pistão trabalham acopladas a um mecanismo de válvula
de aspiração que admite no interior de uma câmara um determinado volume
de solução (fertilizante + água) proveniente de um reservatório. O movimento
oscilatório do pistão faz com que aválvula de aspiração e a válvula propulsora sejam
intermitentementeaccionadas. Desse modo, o aumento da pressão interna do cilindro
provoca a abertura de válvula de descarga que deixa passar o volume da solução
Capítulo 10 | Sistemas de irrigação 133
Figura 36. “Layout” de montagem do dispositivo venturi para injecção de soluções fertilizantes
em sistemas de irrigação pressurizados.
134 Parte III • Componente Produção Vegetal
Foi feita uma adubação de base incorporada ao solo durante a formação dos
canteiros contendo 20% do N; 100% do P2O5 e 20% do K 2O recomendados para
a cultura, ou seja, foram aplicados na base, 30 kg ha-1 de N; 80 kg ha-1 de P2O5 e 24
kg ha-1 de K 2O. A quantidade remanescente de N e K será aplicada em cobertura, via
fertirrigação, ou seja, 120 kg de N e 96 kg de K 2O.
Considerar os fertilizantes disponíveis: ureia (46% N); superfosfato simples
(18% P2O5) e cloreto de potássio (62% de K 2O).
l) Cálculo da adubação de base com fósforo
Fósforo (100% aplicado na adubação de base)
–– Fertilizante disponível: Superfosfato Simples (SS) com 18% de P2O5
–– Recomendação: 80 kg ha-1 de P2O5 (sendo 100% aplicado na adubação de
base)
–– Recomendação total de SS: 80 kg ha-1/0,18 kg de P2O5 = 444 kg ha-1 de SS
–– Em 0,42 ha = 444 x (4.200 m2 /10.000 m2) = 186,5 kg SS em 80 canteiros
Para facilitar a distribuição do fertilizante no canteiro é prático ter em mãos a
quantidade a ser aplicada por metro quadrado. Dessa forma, deve-se converter kg de
SS por g m -2 de SS:
138 Parte III • Componente Produção Vegetal
Potássio
–– Recomendação: 120 kg ha-1 de K 2O (sendo 20% aplicados na base e 80% via
fertirrigação)
–– Fertilizante disponível: Cloreto de Potássio com 62% de K 2O
–– Quantidade de Cloreto de Potássio total necessária: 120/0,62 = 193,5 kg ha -1
de KCl
Adubação na base
–– (120 - 96) = 24 kg ha-1 de K 2O
–– (24/0,62) = 38,7 kg ha-1 de KCl
Fertirrigação
–– 80% x 120 = 96 kg ha-1 de K 2O
–– 80% x 193,5 = 155 kg ha-1 de KCl
Através da regra de três simples, obteremos que as quantidades a serem
aplicadas por 80 canteiros (4.200 m2) são:
Quantidade total de Cloreto de Potássio
–– 193,5 kg ha-1 KCl x (4.200 m2 /10.000 m2) = 81,3 kg de KCl/4.200 m2
Quantidade a ser aplicada na base
–– 81,3 - 65 = 16,3 kg de KCl
Quantidade a ser aplicada via fertirrigação
–– 80% x 81,3 = 65 kg KCl
Preparo da solução de N e K para fertirrigação
Concluindo o exemplo, deduzindo da adubação de base, restaram para a
fertirrigação, a aplicação de 120 kg ha-1 de N e 96 kg ha-1 de K 2O, equivalente a 80%
da recomendação total de N e K 2O para a cultura do repolho. Pela Figura 37, as formas
de fertilizantes nitrogenados e potássicos são compatíveis, portanto, não haverá
problema em, após obter o peso dos dois fertilizantes separadamente, misturá-los
em solução. Caso não haja compatibilidade entre os fertilizantes que serão usados, a
fertirrigação deverá ser conduzida em duas etapas isoladas.
Portanto, as quantidades de N e K 2O a serem a aplicadas via fertirrigação serão
110 kg de ureia e 65 kg de cloreto de potássio, respectivamente. Como uma das
vantagens da fertirrigação é o parcelamento da aplicação de fertilizantes, a quantidade
de fertilizante calculada poderá ser dividida em 6 aplicações, ou seja, 6 aplicações de
18,3 kg de ureia (= 110 kg/6) e 10,8 kg de cloreto de potássio (= 65 kg/6).
140 Parte III • Componente Produção Vegetal
do sulco há uma falta criando-se uma área de défice que não atende à necessidade
integral das plantas. Mesmo assim, pode ocorrer escoamento superficial além do final
em caso de sulcos abertos.
A B C
Figura 39. Condução e distribuição da água na irrigação por sulcos até às parcelas por meio
de: (A) tubo pressurizado; (B) tubos janelados e; (C) canal de terra por gravidade.
águas residuais com elevado teor de sólidos suspensos que podem contribuir
para a melhoria da estrutura e fertilidade do solo;
• Distribuição de água não é afectada pelas condições de ventos;
• Não interferem nos tratamentos fitossanitários;
• Simplicidade operacional - o agricultor deve controlar apenas o tempo de
aplicação de água à parcela;
• A adopção da tecnologia de rega intermitente permite o uso da rega por
superfície de solos de textura média;
Limitações de uso
• Requer significativo volume de água, que pode ser limitante para regiões de
pouca disponibilidade de água;
• Requer terrenos planos ou sistematizados para facilitar a operação de rega e
reduzir riscos de erosão;
• Inadequados para solos permeáveis (arenosos) – são mais indicados para
solos de textura fina a média, com declive relativamente pequeno e uniforme.
Solos argilosos e profundos permitem maiores comprimentos de sulcos e
menor risco de erosão;
• Maior uso de mão-de-obra na operação de rega;
• Dimensionamento hidráulico exige ensaios de campo;
• Consolidação da superfície do solo altera parâmetros hidráulicos entre
irrigações, levando a reajustes a cada evento de rega;
• Maior incidência de doenças de solo por manter alto teor de humidade na
região das raízes;
• Baixo controlo de aplicação de água comparado aos sistemas pressurizados,
onde a vazão do emissor (gotejador, aspersor, microaspersor) é conhecida;
• Em geral, os sistemas de irrigação por superfície têm baixa eficiência de
irrigação. Todavia, apresentamo potencial para eficiências elevadas, como por
exemplo, através da adopção da tecnologia de rega intermitente, atingindo
valores semelhantes aos sistemas pressurizados;
• De acordo com Scaloppi (2012), há uma grande dificuldade para o marketing
de divulgação da rega por superfície por não envolver interesses comerciais;
• Nesse caso, a divulgação fica a cargo apenas da extensão pública e
cooperativas com corpo técnico treinado, porém de baixa efectividade de
transferência de tecnologias. Com sua experiência de docente, Scaloppi
(2012) relata ainda que até no ensino superior, a abordagem do uso e a
144 Parte III • Componente Produção Vegetal
adopção dos sistemas de regas por superfície têm sido marginalizados, e por
razões injustificáveis;
• Para Scaloppi (2012), é uma irresponsabilidade técnica comparar sistemas por
sulcos praticados por irrigantes despreparados, sem orientação técnica, com
sistemas comerciais sofisticados projectados por empresas especializadas.
10.4 Referências
AGROPOLO. Produtos: Aspersores NY 30. Disponível em <http://www.agropolo.com.br/
prod01.php>Acesso em: 28 de Maio de 2015.
LOPES, A.S. Solos sob “cerrado”: características, propriedades e maneio. 2 Ed. Piracicaba,
Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1984, 162p.
Avaliação agronómica
de variedades de alface
Hipólito Alberto Malia
Carvalho Carlos Ecole
Werito Fernandes de Melo
Francisco Vilela Resende
1º ciclo (Primavera/Verão)
Alface Lisa
Alface-crespa
Alface Americana
2º ciclo (Outono/Inverno)
Alface Lisa
Alface-crespa
Alface Americana
*
Peso médio da cabeça (PMC), número de folhas por planta (NFP), comprimento do caule (CC), rendimento (RD),
índice de florescimento (FLC).
Capítulo 11 | Avaliação agronómica de variedades de alface 149
C D
E F
G H
RESENDE, f. V.; SAMINÊZ, T. C. O.; VIDAL, M.C.; SOUZA, R.B. de; CLEMENTE, F.M.T.
V. Cultivo da alface em sistema orgânico de produção. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças,
2007. 16 p. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 56).
Capítulo 12
Avaliação agronómica de
variedades de alho
120 dias; as intermediárias, com ciclos aproximados de 150 dias; e a tardias, que são
bastante exigentes em frio e necessitam de fotoperíodos maiores que 13 horas para
formar o bolbo - ciclo de 180 ou mais dias. A produtividade depende muito do nível
tecnológico empregado e pode variar entre 8 e 16 t ha -1.
Tabela 17. Número de bolbilhos por bolbo (NBB), percentagem de bolbos chochos,
média de bolbilhos chochos por bolbo, percentagem de bolbilhos chochos e perda
de peso dos bolbos das variedades de alho após 200 dias de armazenamento. EAU/
IIAM, 2014.
*
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste Scott & Knott com 5% de probabilidade.
B C
D E
F G
Figura 42. Aparência dos bolbos das variedades testadas. Amarante LV (A), Hozan
LV (B), Gigante Lavínia (C), Caturra (D), Cateto Roxo LV (E), Variedade Local 1 (F),
Variedade Local 2 (G). EAU/IIAM, 2014.
156 Parte III • Componente Produção Vegetal
Avaliação agronómica
de variedades de cebola
Hipólito Alberto Malia
Carvalho Carlos Ecole
Werito Fernandes de Melo
Francisco Vilela Resende
Coberturas do solo
Variedades
Sem cobertura Palha Casca de Arroz Serradura Média Geral
Diâmetro de bolbos (mm)
Bella Dura 65,17 67,21 75,20 69,51 69,27 A*
Vale Ouro 41,62 62,55 71,74 64,43 60,08 A
Franciscana 65,35 74,79 75,67 71,00 71,70 A
Texas Grano 58,62 76,52 54,96 70,94 65,26 A
São Francisco 63,65 72,11 71,82 70,04 69,41 A
Alfa Tropical 57,45 61,17 67,35 63,70 62,42 A
Média geral 58,64 a 69,06 a 69,46 a 68,27 a -
Rendimento comercial (t ha ) -1
A colheita foi realizada cerca de 140 dias após a semeadura quando a maioria das
plantas estava tombada. O tombamento ou “estalo” é um dos principais indicativos
do momento adequado para colheita da cebola. As variedades apresentaram desem
penho agronómico semelhante nas condições em que o ensaio foi conduzido, com
rendimento comercial variando de 14 a 18 t ha-1.
O ensaio foi conduzido no período de Maio a Setembro de 2014. A semeadura foi
realizada um pouco tarde e, nesta situação, a planta se desenvolve pouco, produzindo
bolbos pequenos, o que explicao encurtamento do ciclo para 140 dias e os baixos
rendimentos obtidos.
As variedades Bella Dura e Alfa São Francisco apresentaram os maiores
rendimentos e diâmetro de bolbos. A variedade Franciscana IPA 10 com bolbos de
coloração roxa também se destacou com maior diâmetro médio de bolbos.
Este ensaio demonstrou que as variedades Bella Dura e Alfa São Francisco
apresentam viabilidade para cultivo na época fria na região sul de Moçambique,
revelando-se como alternativa para a variedade Texas Grano, uma das variedades de
uso mais tradicional pelos produtores moçambicanos.
O uso de cobertura morta de solo, independente do material utilizado,
resultou em aumento significativo no rendimento e diâmetro dos bolbos da cebola.
A cobertura morta de solo é desejável e deve ser disseminada entre os produtores de
hortícolas, pelas suas inúmeras vantagens como reduzir a erosão superficial, diminuir
a necessidade de regas e, finalmente, inibir o aparecimento e auxiliar o controlo de
plantas invasoras.
Na Figura 43 é mostrado o experimento de avaliação de variedades e plantas
colhidas. Na Figura 44 percebe-se a aparência e o tamanho dos bolbos de algumas
variedades testadas.
Fotos: Francisco V. Resende (A),
Carvalho C. Ecole (B)
A B
Figura 43. Vista do ensaio de avaliação de variedades de cebola na EAU/IIAM (A) e aspecto
geral das plantas e bolbos (B).
Capítulo 13 | Avaliação agronómica de variedades de cebola 161
Figura 44. Aparência e tamanho dos bolbos de variedades de cebola testadas na Estação
Agrária de Umbelúzi - IIAM.
Avaliação agronómica
de variedades de cenoura
A B
C D
Figura 46. Variedades de cenoura recomendadas para cultivo em Maputo. (A) Variedade
Alvorada; (B) Variedade Scarlett Nantes; (C) Variedade Planalto e (D) Variedade Nantes.
VIEIRA, J. V.; PESSOA, H. B. S. V.; MAKISHIMA, n. Cenoura (Daucus carota L.). Brasília,
DF: Embrapa Hortaliaças, 2008. (Embrapa Hortaliças, Sistemas de Produção, 6). Disponível
em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Cenoura/Cenoura_
Daucus_Carota/apresentacao.html> Acesso em: 26 de ago. 2015.
Capítulo 15
Avaliação agronómica
de variedades de morango
15.1 Introdução
Em Moçambique, a produção de morango tem sido vista restrita a regiões
de altitude superior a 600 metros como a Namaacha. Em regiões de baixa altitude
como Boane, Moamba, Manhiça e Zonas Verdes da Cidade de Maputo, constitui
uma inovação tecnológica e uma forma de expansão da fronteira agrária que a cada
dia está a ganhar prestígio por parte dos consumidores,dada a importância alimentar
e nutricional do morango. O morango consta da lista dos produtos agrícolas cuja
produção emprega bastante mão-de-obra, assim como gera rendimentos que
favorecem comunidades envolvidas em sua produção. Porém é de enfatizar que a
produção de morango no país é ainda uma actividade consideravelmente nova, pelo
facto de existirem ainda poucos produtores que investem na sua produção, sendo que
grande parte desse desinteresse deve-se à falta de informações referentes ao seu
maneio e aproveitamento.
Não há informações geradas pela pesquisa e sistematizadas sobre a agronomia
do morango em Moçambique. No geral os rendimentosdo morango são baixos.
A produção anual é ainda muito mais baixa. O morango é muito exigente em maneio
170 Parte III • Componente Produção Vegetal
As limpezas poderão ser feitas com auxílio de enxadas, nos caminhos e entre os
camalhões, para manter o campo livre de infestantes, ou pode-se aplicar herbicidas,
nesse caso tomando cuidado para não atingir as plantas de morango.
– Eliminação de folhas velhas e estolhos
Antes da floração é aconselhável efectuar uma limpeza de folhas velhas e
mortas para permitir um melhor arejamento das plantas, reduzir o aparecimento de
doenças e facilitar o aparecimento de folhas novas. Ao longo do ciclo cultural as
folhas devem ser cortadas à medida que vão secando, para que a planta se mantenha
sempre limpa.
A produção de estolhos intensifica-se quando a temperatura do ar sobe e
os dias ultrapassam às 12 horas de luz. É necessário proceder-se à eliminação destes
estolhos à medida que vão surgindo, porque limitam o desenvolvimento da parte
aérea, reduzindo a formação de coroas secundárias e debilitando as plantas, que
acabam por ter uma produção mais reduzida e frutos de menor tamanho.
– Eliminação de flores
Por vezes, a seguir à plantação, ocorre uma floração precoce. Estas flores
prematuras devem ser eliminadas à medida que vão aparecendo, para que a planta
consiga um bom desenvolvimento vegetativo e uma abundante frutificação após o
repouso vegetativo.
15.2.3 Rega
15.2.4 Colheita
A aplicação das diferentes coberturas do solo não teve influência nas variáveis
produção/planta, rendimento comercial, rendimento total (Tabela 20), bem como no
comprimento e diâmetro do fruto. Registaram-se diferenças significativas apenas na
floração e frutificação, tendo-se constatado maior número de plantas com floração
e frutificação precoce na cobertura com plástico.
Tabela 20. Produção de frutos por planta e rendimento total e comercial do morangueiro
em função da cobertura do solo na Estação Agrária do Umbelúzi (EAU/IIAM).
A maior parte das variedades teve o seu pico de produção no mês de outubro
excepto as variedades Festival e Beira que tiveram o seu pico em setembro e agosto,
respectivamente. De referir que em outubro, tanto a temperatura máxima como a
Capítulo 15 | Avaliação agronómica de variedades de morango 175
mínima foram as mais baixas a seguir ao mês de Julho. Deste modo recomenda-
se que o transplante ou o plantio do morango seja feito mais cedo, entre os fins de
Março à meados de Abril, a fim de que as plantas possam estar suficientemente
desenvolvidas e atinjam a produção pico em Julho. Deve-se realçar que a variedade
Festival tem como uma das características estar adaptada a climas mais tropicais,
portanto, a mesma apresentou o seu pico de produção no mês onde a temperatura
média máxima, foi a mais elevada de todas.
A B
Figura 47. Sintomas de mofo cinzento em fruto de morango verde (A) e maduro (B).
176 Parte III • Componente Produção Vegetal
A B
Figura 51. Ensaios com coberturas de solo na cultura do morangueiro na Estação Agrária do
Umbelúzi (EAU/IIAM).
Fotos: Lincoln Zotarelli
A B
Figura 52. Produção comercial de morango na região da Namaacha.
Capítulo 15 | Avaliação agronómica de variedades de morango 179
MERTELY, J. C.; PERES, n. A. Botrytis fruit rot or gray mold of strawberry. Pp 230,
2009. Gainesville: University of Florida, Institute of Food and Agricultural Sciences.
Disponível em: <http://edis.ifas.ufl.edu/PP152>. Acesso em 28 de set. 2015.
Avaliação agronómica
de variedades de pimento
Hipólito Alberto Malia
Carvalho Carlos Ecole
Werito Fernandes de Melo
Francisco Vilela Resende
Os híbridos Magali-R F1, Rubia-R F1, seguidos pela variedade Magda, foram
as variedades que apresentaram melhor desempenho, destacando-se com maior
rendimento por área e por planta. Da mesma forma, Magda, Rubia-R F1 e Califórnia
Wonder merecem destaque pela produção de menores percentagens de frutos não
comerciais.
Nas variedades Tico, Magda e Rubia F1 foram colhidas as maiores quantidades
de frutos por planta. Além dos híbridos, a variedade Califórnia Wonder destacou-se
com o maior peso médio de frutos com valores próximos superiores a 80 gramas por
fruto. Por outro lado, as variedades Tico, Magda e híbrido Rubia-R F1 destacaram-se
pelo maior número de frutos colhidos por área e este último também se diferenciou
dos demais pela produção de frutos mais pesados.
As variedades All Big, Yolo Woder e Califórnia Wonder produziram frutos mais
curtos (formato quadrado), indicado pela relação comprimento/diâmetro de fruto
inferior a 1. Esta relação resulta em frutos com maior diâmetro (superior a 60 mm),
enquanto as demais variedades apresentam frutos compridos e de formato cónico
e, por isso, produziram frutos com diâmetro menor que 60 mm. Em Moçambique
predomina a preferência pelo consumo de frutos curtos, entretanto, o formato cónico
permite aos produtores a obtenção de maiores rendimentos por área.
As variedades Magali-R, Rubia-R F1 e Magda podem ser indicadas para plantio
na região sul de Moçambique, entretanto, todas são variedades de formato cónico e
comprido, e portanto, com baixa aceitação pelo consumidor de pimento.
184 Parte III • Componente Produção Vegetal
A B
Figura 53. Frutos dos
híbridos Rubia-R F1
(A), Magali-R F1 (B) e
a variedade Magda (C).
C
Fotos: Hipolito Malia
Avaliação agronómica
de variedades de repolho
As variedades apresentaram ciclos que variaram de 105 a 113 dias, com destaque
para Louco de Verão, Kenzan F1, Copenhagen Market e KK Cross, que foram mais
precoces.
190 Parte III • Componente Produção Vegetal
Figura 55. Visão geral dos ensaios de repolho na Primavera/Verão (A) e no Outono/Inverno
(B).
Figura 56. Aspecto de cabeça do híbrido Astrus Plus (A) e da variedade União (B).
Avaliação agronómica
de variedades de tomate
A B
C D
E F
Figura 58. Aparência de frutos das variedades/híbridos que apresentaram melhor desempenho,
IPA 6 (A), Santa Cruz Kada Gigante (B), Viradoro (C), Santa Clara I-5300 (D), San Vito (E) e HTX
14 (E).
SILVA, J. B. C. da... [et al.]. Cultivo de Tomate para Industrialização. Brasília, DF:
Embrapa Hortaliças, 2006. (Embrapa Hortaliças. Sistemas de Produção, 1). Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Tomate/TomateIndustrial_2ed/
plantio.htm> Acesso em: 14 set. 2015.
Capítulo 19
Avaliação agronómica de
variedades de mandioquinha-salsa
Carvalho Carlos Ecole
Hipólito Alberto Malia
Nuno Rodrigo Madeira
Francisco Vilela Resende
–– Plantio: 29/04/2014.
–– Transplantio: 26/06/2014.
–– Colheita: 22/04/2015.
–– Adubação de plantio: 3 l m -2 de composto orgânico + 100 g m -2 de adubo
químico NPK (fórmula: 12-24-12).
–– Adubação de cobertura: sulfato de amónio (SA) + sulfato de potássio (SK)
–– 30 dias (pós-plantio): SA = 3,0 g m -2 e SK = 3,0 g m -2
–– 75 dias (pós-plantio): SA = 3,0 g m -2 e SK = 3,0 g m -2
–– 120 dias (pós-plantio): SA = 3,0 g m -2 e SK = 3,0 g m -2
–– Irrigação: Microaspersão com mangueiras microperfuradas.
A B
Figura 59. Ensaio aos 30 dias após o plantio com mudas prontas para o transplantio
(A) e 90 dias após o transplantio (B) em Umbelúzi.
Fotos: Carvalho C. Ecole
Avaliação agronómica
de variedades de melão
José Chamessanga Álvaro
Carvalho Carlos Ecole
Marcio Sinoia Luis
Hipolito Alberto Malia
Bento Filipe Francisco
feita por abelhas, sendo fundamental a sua presença para a obtenção de sucesso
com a cultura do melão. Para se obter frutos com boa qualidade, deve-se, além da
presença de populações naturais de abelhas, incluir de 2 a 4 colmeias por hectare.
Dependendo da variedade plantada, a colheita pode ocorrer entre, aproximada
mente, 50 e 65 dias após o plantio. O rendimento de melão é variável, de acordo com
o nível de tecnologia adoptado pelo produtor, variando de 12 a 18 t ha-1.
A escolha da variedade adequada é uma decisão importante para o sucesso
na produção do melão. As sementes de variedades de melão comercializadas em
Moçambique são oriundas de outros países e adequadas às suas condições de
origem. A sua venda sem que tenham sido testadas, previamente, nas condições
da agricultura moçambicana e sem resultados gerados pela pesquisa pode acarretar
prejuízos para os produtores.
O melão produzido pelo sector familiar em Moçambique pertence ao grupo
momórdica (variedade local ou tradicional - Cucumis melo var. momordica), que
apresenta baixos teores de açúcares. Os seus frutos não são comercializáveis devido
à sua baixa qualidade, o que mantém o país na tradicional condição de importador de
melão, mesmo tendo excelentes condições ambientais locais para a sua produção.
A grande urbanização do país nos últimos dez anos e o conhecimento funcional
de frutas e vegetais são factores que contribuem para o aumento da procura para a
nutrição da população urbana. Neste sentido, é necessária a avaliação de variedades
mais produtivas, de melhor sabor e alto teor de sólidos solúveis. Esse facto poderá
constituir-se em premissa para estimular a produção comercial dessa cucurbitácea.
Apesar da potencialidade do cultivo de melão em Moçambique, não existem estudos
dos principais parâmetros que enfoquem a produtividade total e comercial, assim
como, a qualidade pós-colheita dessa fruta (FAO, 2014).
20.3 Resultados
A variedade Eldorado 300, da Embrapa, teve o maior número de frutos comer
cializáveis e totais comparativamente com as demais variedades cujos resultados
foram estatisticamente semelhantes nas duas variáveis estudadas (Tabela 29).
O número de frutos encontra-se abaixo do potencial, facto que pode ter sido
devido às condições ambientais e à população de polinizadores na área do ensaio.
As variedades Branco de Ribatejo e Momórdica Local apresentaram maior
produtividade de frutos comercializáveis e totais, sendo superior em relação às
variedades Eldorado e Best, em que não houve diferenças estatísticas entre si
(Tabela 30). A variedade Branco de Ribatejo apresentou maior percentagem de
produtividade de frutos comercializáveis, o que pode significar que apresenta
210 Parte III • Componente Produção Vegetal
Produtividade de
Produtividade de frutos Produtividade de
Variedades frutos comercializáveis
comercializáveis (t ha-1)* frutos totais (t ha-1)*
(%)
Momórdica Local 36,97 A 40,12 A 92,15
Branco de Ribatejo 35,54 A 36,78 A 96,63
Hales Best 16,29 B 19,13 B 85,15
Eldorado 300 14,44 B 17,28 B 83,56
*
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de SCOTT & KNOTT (1974) a 5% de
significância.
às outras variedades, sendo que a variedade Momórdica Local teve o menor diâmetro
transversal de frutos (Tabela 31 e Figura 63).
Figura 62. Peso médio (kg fruto -1) de frutos comercializáveis das variedades Branco de
Ribatejo, Momórdica Local, Hales Best e Eldorado 300.
*
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott &Knott (1974) a 5% de significância.
Diâmetro
Diâmetro longitudinal Índice de formato de
Variedades transversal de frutos
de frutos (cm)*
frutos
(cm)*
Branco de Ribatejo 42,7 A 31,1 A 1,37
Local 35,7B 17,8 C 2,00
Hales Best 34,2 B 23,4 B 1,46
Eldorado 300 27,6 C 25,3 B 1,09
*
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de SCOTT & KNOTT (1974) a 5% de
significância.
Sistema de
monitoramento climático:
AgroClimate Moçambique
O termo neutro é usado quando nem El Niño e nem La Niña estão presentes.
El Niño e La Niña ocorrem aproximadamente a cada dois a sete anos, porém não há
um padrão de ocorrência e os eventos não são necessariamente alternados.
Período
Fase Região
Dez-Jan-Fev Mar-Abr-Mai Jun-Jul-Ago Set-Out-Nov
Sul Seco & quente Quente Quente Quente
El Niño Centro Seco & quente Quente Quente Quente
Norte Pouco impacto Levemente seco Sem impacto Sem impacto
Sul Húmido & levemente
Levemente frio Levemente frio Levemente frio
frio
La Niña Centro Húmido & levemente Frio & levemente
Levemente frio Levemente frio
frio húmido
Norte Levemente frio Levemente húmido Levemente frio Sem impacto
Neutro Todas Sem impacto Sem impacto Sem impacto Sem impacto
Fonte: AgroClimate (2015).
21.5 AgroClimate
Introdução ao AgroClimate: O AgroClimate Moçambique (http://mz.agroclimate.
org) é um sistema de informação desenvolvido para fornecer informações sobre
Capítulo 21 | Sistema de monitoramento climático: AgroClimate Moçambique 215
21.5.1 Climatologia
21.5.2 Monitoramento
A ferramenta Previsão de Chuva (Figura 66) utiliza a previsão feita pelo NOAA
(http://www.cpc.ncep.noaa.gov/). Essa ferramenta mostra a previsão de chuva para
os próximos dias, sendo que o usuário pode escolher previsão para o dia seguinte,
próximos 3 dias, próximos 7 dias e para a semana seguinte (entre os próximos 8 e
15 dias).
A ferramenta Datas de Plantio (Figura 67) indica as regiões e épocas do ano com
mais favoráveis ao desevolvimento da cultura. A ferramenta mostra quando cada região
é apta, marginal ou inapta para o cultivo de tomate. O usuário pode identificar quais são
os factores (temperatura mínima, temperatura média e/ou chuva) afetando a produção.
Capítulo 21 | Sistema de monitoramento climático: AgroClimate Moçambique 217
21.6 Referências
AGROCLIMATE. [Ferramenta de climatologia]. Disponível em: < http://mz.agroclimate.
org/climatologia/>. Acesso em: 16 set. 2015.
FRAISSE, C.; BREUER, N.; ZIERDEN, D.[et al.]. AgroClimate: a climate forecast information
system for agricultural risk management in the southeastern USA. Computers and
Electronics in Agriculture, New York, v. 53, p. 13–27, ago 2006.
GELCER, E.; FRAISSE, C.; DZOTSI, K...[et al.]. Effects of El Niño Southern oscillation on
the space–time variability of Agricultural Reference Index for Drought in midlatitudes.
Agricultural and Forest Meteorology, Amsterdam, v. 174-175, p. 110–128, jun 2013.
Componente
Pós-colheita
Capítulo 22
Colheita e pós-colheita de
hortícolas: ponto de colheita,
qualidade e armazenamento
Luisa Penicella
Isabel Monjane
Isabel Lavo
Neide Botrel
22.1 Introdução
A escolha adequada da variedade, de acordo com cada espécie de hortícolas,
não só depende do seu desempenho produtivo, mas também de aspectos qualitativos
e da resistência do tecido vegetal da hortícola nas fases de colheita e pós-colheita.
O ponto de colheita da hortícola ou fruta é de grande importância para se obter
uma melhor qualidade do produto e proporcionar um maior tempo de conservação.
Como o grupo de hortícolas tem muitas espécies, normalmente cada uma delas tem
um ponto ideal de colheita, em que seu desenvolvimento atinge um óptimo ponto
comestível para satisfazer o consumidor. Nos entanto, pode haver variações no ponto
de colheita de acordo com o destino da produção e a preferência do consumidor.
Por exemplo, o tomate usado para salada ou destinado a mercados mais distantes
pode ser colhido pintado, conforme descrito no item 22.6 e, se for usado para fazer
molho, é colhido bem maduro. O pimento é colhido verde, mas atinge valores ainda
maiores quando maduro, dependendo da variedade e da demanda do consumidor.
Deve-se ter cuidado especial durante a colheita e o manuseio do produto para
evitar danos físicos ao mesmo. A colheita do produto pode ser feita directamente no
recipiente em que vai ser enviado ao mercado. Isto reduz os danos pela excessiva
manipulação. Sacolas de colheita, presas ao ombro ou na cintura, caixas plásticas,
222 Parte IV • Componente Pós-colheita
cestas construídas com material local, são bons exemplos de recipientes para a
colheita das hortícolas.
Hortícolas de bolbos, como a cebola e o alho, necessitam de cura antes de
serem comercializadas. A cura é um dos processos mais simples para reduzir a perda
de água e deterioração do produto. A cura dos bolbos deve ser iniciada no campo (pré-
cura ou cura de campo), mas isto quando as condições climáticas permitem. Neste
caso, as plantas são dispostas em fileiras, com as folhas de uma planta cobrindo os
bolbos da planta seguinte, de modo a evitar insolação directa no bolbo. Dependendo
das condições climáticas, os bolbos permanecem no campo por 2 a 4 dias. Após
esse período, são recolhidos para completar a cura em armazéns arejados. Para a
maior parte dos bolbos, são necessários 22 dias a 24 °C. A cura também oferece a
vantagem de minimizar as perdas causadas por fungos.
Outros cuidados importantes que devem ser tomados são a apresentação do
produto livre de sujidades que vêm do campo e o descarte de partes impróprias para
o consumo, como é o caso das hortícolas folhosas, das quais são retiradas as folhas
externas danificadas.
Para melhor segurança e conservação do produto, recomenda-se que seja
feita a sanitização, que consiste numa primeira lavagem em água corrente, seguida
pela imersão em uma solução à base de cloro e posterior enxaguamento do
produto. A utilização de cloro na água de lavagem contribui para a desinfecção de
microorganismos. A dosagem recomendada é de 150 a 200 ml de cloro do produto
por litro de água. É importante o uso de kits para avaliação do nível de cloro e de pH.
A água clorada deve também ser trocada regularmente.
Em casa, também é possível a sanitização das hortícolas, devendo esta iniciar-
se com a lavagem na torneira com água corrente, e depois sanitizá-las em solução
de hipoclorito de sódio (javel), na proporção de uma colher de sopa de hipoclorito de
sódio para 01 litro de água, por 15 minutos. Este procedimento minimiza os riscos
de contaminação microbiológica e também por agro-tóxicos que podem estar na
superfície do produto.
Após a sanitização, as hortícolas devem ser embaladas em pequenas
quantidades para serem disponibilizadas para a comercialização. Há vários tipos de
embalagens, desde embalagens rígidas de polímeros plásticos, como acontece no
caso do morango, até sacos de plásticos abertos para as hortícolas folhosas, como a
alface.
Durante a realização do projecto, foram realizados ensaios com seis espécies de
hortícolas: alface, cenoura, pimentão, repolho, tomate e melão, na Estação Agrária do
Umbelúzi do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique - EAU/IIAM, Distrito de
Boane, com objectivo de seleccionar materiais que melhor se adaptaram as condições
locais. Foram cultivados em dois ciclos de cultivo, sendo o primeiro ciclo (Primavera/
Capítulo 22 | Colheita e pós-colheita de hortícolas: ponto de colheita, qualidade e armazenamento 223
A variação do diâmetro dentro da mesma classe não deverá ser superior a 1 cm.
Tabela 34. Valores médios de sólidos solúveis (SS), pH e acidez titulável (AT) em
pimentos. Umbelúzi, Distrito de Boane, Moçambique. EAU/IIAM, 2012.
SS AT
Variedades pH
(oBrix) (% ácido cítrico)
O fruto pode ser colhido meio verde, podendo continuar o seu amadurecimento
fora da planta (fruto climatérico). Por isso, quando se pretende atingir mercados mais
distantes, os frutos devem ser colhidos mais verdes. Para mercados mais próximos
os frutos podem ser colhidos um pouco mais maduros.
A colheita de tomate de mesa é predominantemente manual. Os frutos são
retirados da planta, colocados em caixas plásticas e transportados para um armazém,
onde serão classificados e beneficiados. A colheita deve ser criteriosa, pois os
danos físicos iniciam-se no campo de produção. O tomate para consumo in natura
é predominantemente de crescimento indeterminado, o que possibilita múltiplas
colheitas, iniciadas na base da planta, estendendo-se durante o ciclo até à parte mais
alta da planta.
• Selecção e classificação: A classificação é a separação dos tomates em
lotes homogéneos, obedecendo a um padrão mínimo de qualidade. O lote de
tomate será caracterizado pelo seu grupo de formato (relação comprimento
e o diâmetro equatorial), conforme demonstrado na Figura 70, pelo seu
estádio de maturação (subgrupo – pintado, colorido e maduro), conforme
observado na Figura 71, por seu tamanho (classe, variação de 4 a 10 cm) e
pela sua qualidade. A qualidade máxima é a ausência de defeitos. A categoria
caracteriza a qualidade do lote, estabelecendo tolerâncias diferentes para
os defeitos graves, leves e manchas. Os tomates com defeitos graves,
tais como podridão, rachaduras profundas e ainda aqueles muito maduros,
devem ser eliminados, para evitar a contaminação do lote com frutos de boa
qualidade.
1 2 3 4
Figura 70. Formatos de tomates, relação comprimento e diâmetro equatorial:
1 (menor 0,90); 2 (0,90 a 1,0); 3 (1,0 a 1,15) e 4 (maior que 1,05).
Fonte: Brasil (2009).
Tabela 35. Valores médios de perdas durante a selecção dos frutos após a colheita
(PC), peso médio dos frutos (PM), sólidos solúveis totais (SS), pH e acidez titulável
total (AT).
PC PM SS AT
Variedades pH
(%) (g) (oBrix) (% ácido cítrico)
Santa Cruz Kada 11,76 79,17 4,33 4,82 0,300
Santa Clara 11,69 110,22 4,5 4,83 0,356
San Vito F1 11,70 83,34 5,26 4,86 0,315
Grupo
Nome comum Textura da casca Cor da casca Cor da polpa Forma
varietal
Amarelo, Amarela, com
De branca
Espanhol De pouco rugosa variação entre Entre oval
Amarelo esverdeada a
amarelo, Melão a rugosa amarelo esverdeado e elíptica
creme
comum e amarelo intenso
Honey Dew
Pingo de mel Lisa Amarela Branca Esférica
Yellow
Honey Dew Branca a branca
Orange Lisa Alaranjada Esférica
White amarelada
Honey Dew Branca a branca
Orange verde Lisa Verde Esférica
Green amarelada
Espanhol, Levemente Verde com manchas
Pele de
Espanhol verde, rugosa podendo escuras, tendendo Esverdeada Elíptica
Sapo
Melão sapo ser escriturada ao amarelo
Entre escriturada Entre o amarelo De branca
Gália Gália e finamente acinzentado e o esverdeada a Esférica
reticulada alaranjado branca rosada
Intensamente Verde clara
Cantalupe Cantalupe Salmão Esférica
reticulada acinzentada
Melão francês, Verde clara
Intensamente
Charentais Melão acinzentada com Salmão Esférica
reticulada
cantilhado faixas escuras
Melão japonês,
Intensamente
Net Melon Melão Verde clara Salmão Esférica
reticulada
rendilhado
Lisa gomada
Caipira, Melão Verde clara a Salmão claro a Esférica a
Caipira a levemente
de cheiro amarelo clara escuro elíptica
reticulada gomada
Fonte: Brasil (2009).
Fotos: Carvalho C. Ecole
A B C
22.9 Referência
BRASIL. Programa Brasileiro para Modernização da Horticultura. Normas de classificação:
Tomate Lycopersicon esculetum Mill. São Paulo: CEAGESP, 2009. Disponivel em: http://
www.hortibrasil.org.br/jnw/images/stories/folders/tomate.pdf Acesso em 19 de ago. 2015.
Capítulo 23
Colheita e beneficiamento de
hortícolas na propriedade rural
Milza Moreira Lana
23.1 Introdução
Em Moçambique, o tratamento pós-colheita das hortícolas, em termos de
manuseio, embalagem e transporte, ainda apresenta vários aspectos que necessitam
ser melhorados. A colheita é feita por intermediários e, as hortícolas são acondicionadas
em trouxas e levadas na cabeça e/ou em veículos de transporte em condições
inadequadas. A comercialização é feita em diversos pontos de venda ao ar livre em
ruas e passeios, sob condições impróprias de higiene e sem garantia de qualidade
(Figura 75). Faltam embalagens adequadas para o transporte e a distribuição das
hortícolas, o sistema de armazenamento é praticamente inexistente e a logística de
distribuição é deficiente. Também são necessários treinamentos para os técnicos e
produtores quanto ao manuseio e embalagens adequados das hortícolas (Comunicação
pessoal, Neide Botrel, Embrapa Hortaliças, 2015).
Tendo em vista esses problemas, as hortícolas produzidas na região têm baixa
qualidade e, por isso, são comercializadas apenas em mercados informais e feiras da
cidade, tendo baixa aceitação nas redes de supermercados (Comunicação pessoal,
Neide Botrel, Embrapa Hortaliças, 2015).
A disponibilidade de infra-estrutura adequada para o preparo pós-colheita
das hortícolas está relacionada à qualidade destes alimentos ao contribuir para a
redução de danos físicos e de estresses causados pela exposição a condições
ambientais adversas após a colheita. Os principais danos causados às hortícolas são a
aceleração da senescência e da perda de água devido à exposição ao sol e a ventos;
comprometimento da aparência devido a sujidades e danos físicos; contaminação do
produto em contacto com o solo ou com superfícies sujas ou contaminadas com
238 Parte IV • Componente Pós-colheita
Figura 75. Situação actual do manuseio, embalagem e transporte de hortícolas nas Zonas
Verdes da cidade de Maputo.
A B
Figura 77. Casa de embalagem de lona, vista externa (A) e vista interna (B), Distrito Federal,
Brasil.
23.3 Referências
LANA, M.M.; BANCI, C.A.; BATISTA, V.R. Hora da colheita: hora de cuidar do seu
produto e de você. Unidade Móvel de Sombreamento, 2 ed., Brasília, DF: Embrapa
Hortaliças, 2014. 8 p. (Embrapa Hortaliças. Comunicado Técnico, 90). Disponível em
<http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/103622/1/COT-90-2ed-.pdf> Acesso:
10 jan.2015
LANA, M.M. Hora da colheita: hora de cuidar do seu produto e de você - Casa de
Embalagem de Lona.Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2014 a. 8 p. (Embrapa Hortaliças.
Comunicado Técnico, 100). Disponível em <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/
item/111172/1/COT-100-X.pdf > Acesso: 10 jan.2015
LANA, M. M. Hora da colheita: hora de cuidar do seu produto e de você: mesas para
seleção de hortaliças. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2014 b. 12 p. (Embrapa Hortaliças.
Comunicado técnico, 98).Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/
item/101840/1/cot-98.pdf>. Acesso: 10 jan.2015.
Colheita e pós-colheita de
hortícolas: agro-processamento
e produtos desidratados
André de Souza Dutra
Murillo Freire Junior
Roberto Machado
24.1 Introdução
Com acções para a promoção da industrialização rural em Moçambique visando
a modernização do parque actual de pequenas empresas de agro-processamento,
incluindo a parte de máquinas e equipamentos, foi propostaa implementação de uma
unidade de demonstração de agro-processamento na Estação Agrária do Umbelúzi
do IIAM com o objectivo de formar e capacitar pessoas em tecnologias de agro-
processamento adaptadas às zonas rurais de Moçambique (Figura 79).
Um dos principais métodos de agro-processamento difundidos pela Unidade
de Demonstração da EAU/IIAM é a desidratação de hortícolas, um dos modos mais
antigos de conservação dos alimentos. O processo é simples e consiste na eliminação
de água de um produto por evaporação (redução da humidade), com transferência de
calor e massa. São inúmeras as vantagens da desidratação: melhor conservação do
produto, não necessita de refrigeração durante o armazenamento e transporte do
produto e, redução do seu peso. Em termos de custo, a desidratação é dos processos
mais económicos de conservação dos alimentos.
Na desidratação de vegetais, a redução de peso de 50% a 80% em volume é
devido à eliminação de água e retirada de partes não comestíveis (casca, semente,
etc.).
244 Parte IV • Componente Pós-colheita
Fotos: Murillo Freire Júnior
A B
C D
RECEPÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA
↓
SELECÇÃO
↓
HIGIENIZAÇÃO
↓
DESCASCAMENTO
↓
ACABAMENTO
↓
CORTE / FATIAMENTO
↓
DESIDRATAÇÃO
↓
EMBALAGEM
↓
ARMAZENAMENTO
24.5 Referência
DESROSIER, N. W. Conservacion de alimentos. 6 ed. rev. México: Compañia Editorial
Continetal, 1976. 468 p.
Parte V
Componente
Transferência de
Tecnologias
Capítulo 25
Actividades de capacitação
e transferência de tecnologias
em horticultura
Carlos Filimone
Itália Sousa Costa
Werito Fernandes de Melo
Lenita Lima Haber
25.1 Introdução
No início do Projecto de Apoio aos Programas de Segurança Alimentar
e Nutricional de Moçambique (PSAL), as acções de capacitação e transferência
de tecnologias foram realizadas dentro de cada componente do projecto. Essas
acções se deram, muitas vezes, de forma pontual e isolada, o que acabou por gerar
resultados limitados tanto em capacitação dos técnicos como na transferência de
tecnologias aos agricultores.
Em face a essas limitações, criou-se um Plano de Capacitação e Transferência
de Tecnologias independente das outras componentes, cujo objectivo foi planificar
e executar um conjunto de actividades estruturadas que contribuíssem para o
desenvolvimento das capacidades técnicas dos agentes do IIAM, da extensão
rural e dos agricultores, e que promovesse e potencializasse a incorporação de
tecnologias e conhecimentos aos sistemas de produção de hortícolas da região de
Maputo.
Esse plano esteve vinculado à componente de sistema de produção e suas
acções foram centradas nas tecnologias e conhecimentos desenvolvidos ou
recomendados por essa componente. As acções foram estruturadas em dois eixos:
252 Parte IV • Componente Transferência de Tecnologias
A primeira capacitação
Beneficiaram-se desta formação um total de 45 formandos, 42% do sexo
feminino, provenientes da cidade de Maputo e das províncias de Gaza, Inhambane,
Manica e Nampula. Em temos de área de trabalho, 18 são estudantes de instituições
superiores, nomeadamente, da Escola Superior de Desenvolvimento Agrário, da
Universidade Pedagógica, da Universidade Eduardo Mondlane, do Instituto Superior
Politécnico de Gaza e de Nelson Mandela University; 14 investigadores do IIAM;
seis técnicos agrários das instituições do Ministério da Agricultura e Segurança
Alimentar; cinco extensionistas dos Serviços Distritais das Actividades Económica
(SDAEs) de Namaacha e Moamba; e dois professores do Instituto Agrário de Boane
(Figura 83).
O Curso de formação foi conduzido nas instalações do Centro de Investigação
e Transferência de Tecnologias Agrárias de Umbelúzi, localizado no distrito de
Boane, província de Maputo. As aulas práticas foram conduzidas nos campos
da Estação Agrária de Umbelúzi (EAU), localizados próximo das instalações do
CITTAU.
Capítulo 25 | Actividades de capacitação e transferência de tecnologias em horticultura 255
ii. Nos aspectos ligados com a irrigação constatou-se que cerca de metade dos
formandos fazia confusão sobre a escolha de método de rega mais adequado
para as situações de muita e de pouca disponibilidade de água. Quase
metade dos formandos também tinha muitas dificuldades na indicação dos
métodos de rega com custos iniciais de investimento mais elevados e mais
baixos. A avaliação feita depois da formação indicou-nos que houve grandes
mudanças de conhecimento uma vez que mais de 80% dos participantes
responderam adequadamente às questões de métodos de rega. Em relação
ao maneio da rega, o número de formandos com noções sobre esta matéria
passou de 54%, antes da formação, para cerca de 64% dos formandos,
depois da formação.
iii. Quanto aos conceitos de produção de composto orgânico, o número de
formandos que dominam esta matéria passou de 48%, antes da formação,
para 74% depois da formação. Para o conhecimento das vantagens da
produção de mudas em bandejas, constatamos que antes da formação cerca
de metade dos formandos tinham algum conhecimento. Depois da formação,
quase todos os formandos tinham conhecimento sobre as vantagens de
produção de mudas em bandejas.
iv. Para a avaliação dos conhecimentos dos formandos nas matérias ligadas
aos tratos culturais das diversas hortícolas, vimos que os formandos tinham
domínio. Portanto, a avaliação antes e depois não produziu mudanças
significativas.
A segunda capacitação
Esta formação foi conduzida nas instalações do Centro de Investigação e
Transferência de Tecnologias Agrárias de Umbelúzi, localizado no distrito de Boane,
província de Maputo. As aulas práticas foram conduzidas nos campos da Estação
Agrária de Umbelúzi (EAU), localizados próximo das instalações do CITTAU.
Foram beneficiadas 42 pessoas de diferentes instituições e Províncias de
Moçambique sendo 5 do Concelho Municipal de Maputo, 5 da Direcção de Agricultura
da cidade de Maputo, 2 da Direcção Nacional de Extensão Agrária, 1 da Direcção
Nacional de Serviços Agrários, 4 do SDAE de Boane, 4 do SDAE de Moamba, 4 do
SDAE de Namaacha, 1 do Instituto Agrário de Boane, 10 estagiários do Programa
e 6 técnicos do IIAM. Os participantes tinham a formação de técnicos médios e
licenciados.
Foram abordados os seguintes temas:
• O projecto PSAL e Horticultura em Moçambique;
• Características gerais da horticultura;
• Perfil dos produtores de hortícolas de Moçambique;
Capítulo 25 | Actividades de capacitação e transferência de tecnologias em horticultura 257
todos dias. Pouco mais de metade da turma respondeu que se deve estabelecer uma
frequência de rega fixa, com um tempo de rega fixo para cada fase de crescimento
da cultura.
Quanto à rega na fase de florescimento e de formação da produção, 30 respostas
contra 5 não concordaram que a cultura deve receber menos água nestas fases.
Todos afirmaram que numa situação de céu nublado e temperatura amena deve-
se reduzir a quantidade de água a ser aplicada para suprir as necessidades de rega.
v. Vantagens de fertirrigação:
As maiores vantagens referidas pela maioria dos participantes foram redução da
mão-de-obra, permite regar e fertilizar numa só operação, poupa tempo e direcciona
o adubo na planta.
vi. Cuidados no manuseio e aplicação de agro-tóxicos:
Os participantes conhecem pelo menos 3 cuidados básicos a ter em conta no
manuseio e aplicação de agro-tóxicos. O uso de equipamento adequado, a leitura das
instruções no rótulo e a observância dos intervalos de segurança foram os cuidados
mais referidos.
vii. Manuseio pós-colheita para uma melhor conservação das hortícolas:
Os aspectos mais referidos pelos participantes quanto ao manuseio pós-colheita
das hortícolas têm a ver com o tipo de embalagem (sacos e caixas plásticas) e o local
de conservação (ventilado, fresco, ou câmaras frias) para evitar a deterioração dos
produtos. De uma maneira geral, os aspectos referidos visam manter a qualidade
física dos produtos.
Figura 84. Vitrine Tecnológica implantada na Estação Agrária do Umbelúzi, (A) antes do
projecto e (B) depois, com a estufa para produção de mudas e a casa de bombas para rega
ao fundo.
A B
Público
Actividade Objectivo
recebido
Experiências brasileiras na transferência de
Visita de jornalista brasileira 19
tecnologias aplicadas à horticultura.
Unidades demonstrativas de Tecnologias aplicadas
MissãoTécnica do Segurança à horticultura nas Zonas Verdes da Cidade de
33
Alimentar - Sistemas de Produção Maputo, Bloco 1 da Moamba e Estacão Agrária de
Umbelúzi.
Visitar as tecnologias desenvolvidas no âmbito do
Visita técnica Michael Titley PSAL e ver a possibilidade de aplicar no VINESA 17
tendo em conta os objectivos do mesmo.
Visitar as tecnologias desenvolvidas no âmbito do
Visita técnica dos indianos do CIP 13
PSAL
Visitar as tecnologias desenvolvidas no âmbito do
Visita técnica do GAPI 14
PSAL e procurar sinergias com o PROSUL.
Partilha de resultados de investigação com
Visita técnica do Hortisempre tecnologias PSAL, transferência e massificação nos
18
produtores (Casa do Gaiatto, Moamba).
Visitar as tecnologias desenvolvidas no âmbito do
Visita técnica do PROSUL e GABI 14
PSAL e procurar sinergias com o PROSUL
Visita técnica de estudantes da Mostrar às crianças da Casa do Gaiato como é um
350
Casa do Gaiatto campo de produção de hortícolas.
Visita técnica do Padre José Maria Visitar as tecnologias desenvolvidas em horticultura
17
da Casa do Gaiato no âmbito do PSAL.
Público Total 768
Dotar os extensionistas dos distritos beneficiários
Formação em Maneio de solos e
do projecto com conhecimentos básicos e com
técnicas de irrigação em solos sob 25
técnicas melhoradas de maneio de solos e de
cultivo em horticultura.
irrigação para assegurar uma melhor colaboração.
Workshop sobre horticultura em Apresentar, transferir tecnologias geradas e
Moçambique na Estacão Agrária de disseminar informações sobre a cadeia de 50
Umbelúzi. hortícolas na região alvo do projecto.
Adaptação e transferência de tecnologias e de
Visita e treinamento de técnicos
conhecimento de produção, pós-colheita, Agro-
agrários do Conselho Municipal da 20
processamento, distribuição das hortícolas em
Cidade de Maputo
Moçambique.
Curso de Reciclagem de Oficiais
Dotar os oficiais de tecnologia de tecnologias
de Tecnologias em Técnicas
actualizadas de produção e distribuição de 25
de Produção e Distribuição de
hortícolas em Moçambique.
Hortícolas em Moçambique.
Curso de gestão de propriedades Mostrar a pequenos produtores como gerir uma
25
agrícolas x horticultura pequena propriedade agrícola de hortícolas.
Treinamento do 1º grupo de jovens Dotar jovens horticultores do distrito da Moamba
do VINESA em produção de mudas de tecnologias de produção de mudas de qualidade 16
e compostagem e compostagem.
Visita & Treino de técnicos
Técnicas de Maneio de Hortícolas, valor das
e funcionários do IIAM pela 45
hortícolas na Segurança Alimentar e Nutricional.
passagem do décimo aniversário
Continua...
Capítulo 25 | Actividades de capacitação e transferência de tecnologias em horticultura 265
Público
Actividade Objectivo
recebido
Capacitação técnica para Capacitar técnicos moçambicanos nas tecnologias
transferência das tecnologias do e conhecimentos recomendados pelo PSAL no 35
PSAL - Moçambique âmbito da componente de sistema de produção.
Treinamento do 2º grupo de jovens Dotar jovens horticultores do distrito da Moamba
do VINESA em produção de mudas de tecnologias de produção de mudas de qualidade 12
e compostagem e compostagem.
Visita de treino de Camponeses das
Zonas Verdes da Cidade de Maputo Maneio sustentável de hortícolas em Moçambique. 37
através do cmCM
Dotar produtores das Zonas Verdes da Cidade
Treinamento de produtores das de Maputo de tecnologias e conhecimentos
34
Zonas Verdes da Cidade de Maputo recomendados pelo PSAL no âmbito da
componente de sistema de produção.
Capacitação para transferência das Transferência de tecnologias em dados
tecnologias do projecto Segurança socioeconómicos, sistemas de produção, colheita, 54
Alimentar - PSAL pós-colheita e processamento de hortícolas.
Público Total 378
Apoio e realização
ISBN 978-85-7035-515-7
9 788570 355157
CGPE 12300
Ministério das
Relações Exteriores