Ritmos - Rudolf Meyer

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RITMOS

Rudolf Meyer

O Ritmo Sono Vigília

As catástrofes que tem acontecido no mundo de hoje tem, em última análise, suas
causas nos problemas sociais que permanecem sem respostas ou soluções. Então, todas as
tentativas de renovação política no mundo, todas as medidas puramente econômicas, não
importam o quanto sejam audaciosas, vêm se revelando insuficientes para fazer com que a
humanidade saia desta crise. Não existe sistema que possa assegurar uma ordem social
verdadeira, pois aqueles que poderiam promover benefícios não se tornaram seres sociais
ou seres capazes de compreensão e, consequentemente, de ajudar o próximo. Até o
presente, a humanidade tem vivido através de forças sociais herdadas. Elas são a força do
sangue e da tradição, os laços entre os povos e os costumes religiosos, que garantiam uma
vida e uma atuação comum sadias. Em nossos dias, estas forças estão em vias de extinção,
sendo necessário procurar novos impulsos para a vida social, mas não podemos encontrá-las
no atual estado da evolução humana se não aprendermos a conhecer as forças sociais e
antisociais que trabalham dentro da natureza humana.

Um fenômeno bastante simples poderá nos servir de ponto de partida. Observamos


em nós mesmos que, em certos momentos, temos mais facilidade para nos abrirmos ao
próximo; outras vezes, ao contrário, ficamos mais rapidamente irritados com suas fraquezas,
mais indiferentes àquilo que eles fazem. Muitas vezes existe, quanto a este comportamento,
uma razão bem simples: estamos cansados e sem interesse de boa vontade, visto que não
pudemos dormir o suficiente. Sono e vigília, em sua alternância, são a base de toda nossa
atitude social ao longo de nossa existência na Terra. Durante o dia, nos abrimos com nossos
sentidos para o mundo que nos rodeia, desenvolvendo mais ou menos interesse por nosso
semelhantes e nos incorporamos assim naturalmente a uma comunidade. Quando
dormimos, nos separamos do nosso ambiente como que empurrados por uma pressão
irresistível e nos retiramos em nós mesmos. Este desejo de voltar para si e ao mesmo tempo
repousar em seu corpo físico se manifesta pela fadiga, pois a alma se entrega a este prazer
durante o sono e se sujeita aos poderes que regeneram o corpo, procurando sanar os
desgastes causados pela vigília.

Abordamos desta maneira o mistério do sono, cuja verdadeira natureza nos escapa,
nos envolvendo numa profunda inconsciência, mas que podemos pressentir pelos efeitos. As
crianças pequenas, por exemplo, podem se tornar insuportáveis quando não dormiram o
suficiente ou foram bruscamente arrancadas do sono. De outro lado, elas se mostram
afetuosas, acolhendo seu ambiente com bom humor, quando foram impregnadas pelas
harmonias trazidas pelo sono. É um fato corriqueiro ao qual estamos muito habituados para
que nos espante outra vez: cada manhã, emergimos do reino da noite com um vivo interesse
pelo mundo. Mas este encerra também o germe do verdadeiro amor, de uma alegre
participação e dedicação para com nossas tarefas terrenas.

Esta constatação pode nos fazer pressentir o caráter sagrado do sono. Não está longe
deste sentimento a veneração a esta força cósmica desconhecida a qual cada noite abarca
nossa consciência. E como resultado, na manhã seguinte ela retorna regenerada e
harmonizada. Esta veneração pode servir de ponto de partida para a educação religiosa da
criança. Ela representa a primeira forma de ligação da alma humana com o mundo invisível.
Os povos da antiguidade desenvolveram sua piedade levantando seu olhar interior a essa
força cósmica que a cada noite acolhe a nossa consciência pessoal sem que saibamos,
guardando-a intacta, para nos devolvê-la fortificada a cada manhã. Contemplando-a com
veneração, pressentiram aí um Eu superior mais vasto, dentro do qual a alma humana pode
se sentir envolvida.

O salmista diz: “Aquele que te guarda, não dorme jamais.” O ser divino adorado pelo
homem piedoso, do antigo testamento sob o nome de Senhor é reencontrado no reino da
noite. Este grandioso Ser de Sabedoria conhecia e julgava seus desejos mais profundos e
orientava seus pensamentos e aspirações sobre a Terra. A expressão “Que o Senhor te
desperte entre os seus durante o sono”, que hoje nos faz sorrir, encerra uma profunda
sabedoria. As pessoas que ainda pressentem algo dessa força cósmica, a qual cada noite
entregamos o nosso eu, têm o costume de levar para o sono as grandes decisões, uma ou
várias vezes, antes de optar por elas.

A sabedoria que esclarece, que ordena misteriosamente, a partir do reino da noite,


pode penetrar nossos pensamentos e nossas decisões diárias, foi sempre reconhecida e
pressentida com entusiasmo por inúmeras pessoas.

Graças a estas experiências, a alma se sentirá impelida a estabelecer uma conexão


cada vez mais consciente com o sono. Ela encontrará o tipo de oração que melhor convir ao
limiar, seja do dormir, seja do despertar. O animal esbarra inconscientemente do outro lado
deste limiar. O que faz a nobreza do Homem e o eleva acima dos seres instintivos é que ele
pode se acercar deste limiar em plena consciência. Uma boa prece noturna sempre vai
inspirar a confiança com a qual a alma se entrega a este Eu superior que abriga em si nosso
frágil eu durante o sono. Ao contrário, na prece matinal, convém um espírito de
reconhecimento, pois a alma retorna deste reino misterioso da noite fortificada para novas
atividades. É muito importante para o desenvolvimento da criança, habituá-la desde cedo a
rezar à noite e pela manhã de uma maneira correta. Colocamos assim para as almas jovens
os fundamentos de uma relação harmoniosa com estes mundos de onde elas podem
resgatar forças benéficas para o seu eu, assim como um verdadeiro amor. Os poetas sempre
souberam contar este mistério da noite.

Melhor ainda que estes versos de Frederic Hebbel, os “Hinos à Noite de Novali, que
nos fazem penetrar neste mesmo mistério. Para este poeta, o ato de fé nas profundezas
escondidas do reino noturno representavam ao mesmo tempo um ato de fé naquele que
nasceu outrora numa noite santa para santificar um dia o mundo das aparências sensíveis
pela força do amor.

Tu que repousas,
dilatado
noite de luz e de estrelas,
imerso nas distâncias eternas,
Diga, o que sonhas aí?

No estreito do meu peito,


meu coração, gigantesco, tece
a vida que desabrocha e declina
rechaçando a minha própria.

Sono, aproxime-se suavemente


como a ama da criança
E ao redor da tênue chama,
trace o círculo protetor.

O Ritmo da Semana

Há na natureza humana, ritmos que são descobertos somente por uma observação
mais profunda. A introdução da semana de sete dias, nos povos do Oriente Médio há
milhões de anos atrás, foi ma medida social de grande sabedoria. Ela expandiu-se para os
Gregos e Romanos no princípio da nossa era, passando então para toda a civilização
ocidental, acompanhando a expansão do Cristianismo.

Desde a antiguidade os sete dias foram nomeados a partir de sete planetas e


consagrados às divindades planetárias que se adorava então: Sábado a Saturno, Domingo ao
Sol (em inglês, Sunday), Segunda-feira à Lua (Monday), Terça-feira a Marte, Quarta-feira a
Mercúrio, Quinta-feira a Júpter, Sexta-feira a Vênus. Não indicam esses nomes que se
considerava o homem subordinado à ação dos Astros?

Queremos chamar a atenção sobre as influências astrais que, no ritmo dos sete dias,
agem sobre a sensibilidade humana, sobre seus desejos e seus instintos, abaixo do limiar da
consciência diurna. Elas seguem a mesma progressão da escala musical que também possui
sete intervalos, para chegar ao oitavo no seu ponto de partida, uma oitava acima, como num
movimento em espiral. É o sonhador dentro do homem que se submete a este ritmo
septário (sétimo).

Podemos descobrir sua atuação, especialmente na evolução de certas doenças.


Pensamos por exemplo na pneumonia, com sua curva de temperatura: a crise acontece no
sétimo dia. Observamos primeiro um movimento ascendente que se exprime pelos
processos inflamatórios e então uma reação febril. A súbita elevação da temperatura que
geralmente acontece no sétimo dia pode anunciar o final da doença, mas na maioria das
vezes ela mostra somente – e é então que a crise se torna perigosa – o enfraquecimento
desta reação que constitui a febre. Um outro exemplo, que sem dúvida é mais acessível
através de uma observação mais acurada da alma, aparece continuamente na vida psíquica.
Por trás de nossas paixões, simpatias e antipatias, se manifestam constantes processos
inflamatórios mais sutis. Podemos “nos inflamar”, como dizemos, por muitas coisas: por
uma idéia, por uma pessoa que encontramos, mas também PR uma nova tarefa, etc. Esta
inflamabilidade contem seu lado bom e seu lado perigoso. Ela oferece à atividade humana
um entusiasmo verdadeiro e vivos interesses, mas também conduz à exaltação, ao fanatismo
cego, e à paixão desmedida (escravizante). Estes são os elementos egoístas que
habitualmente, antes de serem purificados, se mesclam à sensibilidade humana. Neles se
manifestam “pecado original”, que representa a herança de Lúcifer para a humanidade, o
efeito da queda que a separou da harmonia divina.

O impulso fundamental da religião do antigo testamento foi reconhecer o mal


luciferico do gênero humano e assim procurar o antiodoto. Em Javé, Deus da Revelação
Hebrica, surge o portador de todas as forças que a natureza humana precisava para
encontrar em si próprio um contraponto para a ação de Lucifer. A lei de Moises constitui um
vasto conjunto de regras de vida que visam impregnar todo um povo com forças morais, que
servem para retirar a natureza institiva, para dissolver o egoismo. Desta forma, o hmem
piedoso do antigo testamento considerava a observância do Sabbat como a coroação da lei
mosaica.

O cuidado e zelo com que os doutores e fariseus guardam o Sabbat nos parecem,
hoje, bem estranhos. Mas não podemos esquecer que um ritmo vigoroso se implantou
quando, durante tantos séculos, um povo praticou a santificação do sétimo dia com quanta
seriedade e fidelidade.

Guardando o sétimo dia, o zelo pelos dias de trabalho, a febre que sobe durante seis
dias, exerce uma ação marcante sobre a vida psíquica do indivíduo e de toda uma civilização.
O exercício continuo do trabalho ao longo da semana deve deixar lugar para o repouso
completo no sétimo dia. Consagrando-se o Sabbat ao estudo da lei, em busca da vontade
divina, o homem piedoso opera em si uma reviravolta radical em direção de sua vontade.
Durante sete dias ele atuou do interior para o exterior, esgotando-se, até certo ponto. No
sétimo dia, ele deve aprender a parar; ele deve acolher em si um querer divino que irradia
do exterior para o interior.

Em instituições baseadas num conhecimento profundo da natureza humana, atua


uma terapêutica social que não se deve subestimar. No Cristianismo, esta lei salutar era
conhecida e aplicada desde as origens. Só que aí, no lugar do sétimo dia, santificava-se o
primeiro. Chamavam-no “o dia do Senhor” (Dies Dominica), atribuindo ao Cristo o dia do sol.
É numa manhã de domingo que o Senhor abriu o sepulcro onde os discípulos haviam
envolvido o corpo do crucificado. Esta força de ressurreição que pode vencer todo o peso
terrestre, o cristão devia renovar como experiência viva no inicio de cada semana. Esta
experiência fazia com que se pudesse encarar suas tarefas com um sorriso.

O Sabbat e sua lei de repouso visava simplesmente a apaziguar a tensão da semana.


O Domingo e a comemoração do evento Pascal tinha por finalidade de resgatar a natureza
espiritual do homem, tão ativa durante a semana, para que ela não se degradasse
mergulhando na esfera de suas tarefas terrestres, mas que triunfasse sobre todo o peso
terrestre. Sem dúvida, devemos reconhecer que na tradição cristã o Domingo se parece
agora muito mais com o Sabbat. O Cristianismo Pascal do futuro será festejar a Ressurreição.
É neste sentido que é celebrado o Ato de Consagração do Homem tal como é colocado no
centro de um movimento de renovação religiosa. Ele pode representar uma força sanante
para a vida de nossa civilização descristianizada, se um número suficiente de almas o
colocaram no ritmo de semanal; o efeito irradiará fortemente na vida de todos os dias.

O Ritmo Lunar

Aprendendo a observar as quatro fazses da lua e seus efeitos na natureza,


perceberemos um ritmo que toca mais profundamente a natureza humana. É o ritmo de
quatro vezes sete dias. Ele manifesta-se sobretudo no elemento líquido. Basta atentar ao
fenômeno do fluxo e refluxo; é bem conhecido o da maré que possui seu maior coeficiente
na lua nova. As fases da lua tem também uma influência marcante sobre o tempo,
principalmente sobre a chuva; porém este efeito pode ser contrariado por influências
cósmicas as mais diversas e então a atividade da lua não aparece com tanta clareza.

Desde os tempos mais remotos os povos relacionavam com a ação da lua o


crescimento das plantas, a germinação das sementes e a fartura das colheitas. Na
antiguidade, os deuses e deusas da fertilidade eram divindades lunares. Os nascimentos, a
fertilidade no reino animal e também no humano dependiam de sua ação misteriosa.

Os velhos ditados camponeses nos lembram como antigamente se procurava


orientar a semeadura e o plantio baseados no ciclo lunar. Estavam convencidos que as
plantas semeadas durante a lua crescente davam rebentos mais vigorosos, enquanto
aquelas cujas forças deveriam se concentrar na formação das raízes eram melhores quando
plantadas na lua minguante, diziam também que a lua atuava na circulação da seiva. O que
resta da antiga sabedoria camponesa hoje, nos faz sorrir.

Mas nas últimas décadas, experimentos biológicos, executados com precisão,


inspirados no conhecimento dado pela ciência espiritual de Rudolf Steiner, pode despertar
uma compreensão inteiramente nova às leis do crescimento. Eles provam até os menores
detalhes que os processos vitais terrestres estão vinculados à influência dos ritmos
cósmicos.
O organismo humano também é influenciado pelo ritmo de quatro vezes sete dias,
assim como a vida anímica na medida em que ela depende da circulação dos humores. Este
ritmo lunar interior manifesta-se sobretudo no organismo feminino. Entretanto podemos
observá-lo também na vida psíquica masculina; as flutuações da faculdade imaginativa, os
períodos de produtividade e de sonolência intelectual que lhe são inerentes, submetem-se a
este ritmo.

Todavia seria um erro acreditar que este ciclo, fenômeno interior, dependesse
simplesmente das fases da lua, fenômeno exterior. Isto é verdadeiro sobretudo para a
intensidade , mais ou menos forte dos sonhos que para a maioria das pessoas, culmina sob a
ação da lua cheia. Cogitamos também no sonambulismo dos lunáticos. Mas estes fenômenos
são os últimos vestígios de antigas ligações cósmicas da natureza humana. Eles estão hoje
em dia em vias de desaparecimento. Por outro lado, o ritmo lunar que queremos abosdar
agora é independente de qualquer influência externa.

No curso da evolução, o ser humano se emancipou bastante de suas origens naturais;


é assim com o ritmo sono-vigília, que normalmente corresponde àquele da rotação da terra
em torno do seu eixo, quer dizer, à alternância dos dias e das noites, não está mais ligado ao
nascer e ao por do sol. Não precisamos mais, como faz a maioria dos animais, de nos deitar
“com as galinhas” e nem de acordar “com o canto do galo”, podemos modificar este ritmo
conforme nossa medida. Somente quando não percebemos ou quando o violentamos,
destruímos as bases sadias sobre as quais se edificam nossa consciência pessoal e sua
correspondência harmoniosa com o mundo que nos rodeia. O mesmo acontece com o ritmo
lunar interior que o homem deve aprender a lidar cada vez mais livremente. Toda ação
educativa profunda, principalmente a auto educação, se baseiam nas forças formativas
invisíveis provenientes do reino lunar. Elas transformam a lua interior em nós. É por essa
razão que Novalis escreveu em seus “Fragmentos”: “Em nossos dias, educa-se a lua.” – não é
senão levando em conta o cosmos interior do homem que podemos compreender esta
frase, pois de outra forma ela soaria absurda. Os mistérios da antiguidade e também a
simbologia religiosa sempre ilustraram com imagens deste tipo as leis da evolução interior
do homem. Muitas vezes os artistas cristãos representavam a visão apocalíptica com a
mulher pisando a lua com os pés! Ela aparece “recoberta de sol” e coroada por doze
estrelas, como o grande símbolo celeste que a humanidade deve reencontrar em espirito:
assim contemplou o Vidente de Pátmos.

Mas o que representa esta visão do futuro do ser humano? A vitória da alma, tão
permeada pelas forças solares do universo que ela possa se libertar de todas as ligações
naturais que submetem a vida corporal à atividade da lua. São sobretudo aquelas forças
lunares que nos levam à encarnação; elas agem nas leis da hereditariedade.

A forma como os nossos humores circulam em nosso corpo e na medida em que noss
vida psiquica depende desta atividade humoral mais ou menos sadia, eis o que se mostra
nos temperamentos. A medicina antiga já conhecia o humorismo. Uma pessoa cujos
humores estejam em bom estado se dintinguirá por aquilo que chamamos de “humor”. O
temperamento sanguineo deve sua facilidade de se “inflamar” a uma constituição onde a
irrigação sanguinea é rápida; já o melancólico deve sua contração e suas horas sombrias ao
mau humos, à biles negra, como seu nome indica.

Mas não é o essencial da natureza humana o que se manifesta nos temperamentos.


Eles mostram a maneira mais ou menos feliz que a individualidade se adapta a seu corpo e a
seus processos vitais: até que ponto ela está engajada ou pode se libertar. Os
temperamentos são então um dom da natureza. Podemos facilmente apresenta-los sob a
forma de um círculo que o homem psico social deve percorrer, mergulhando nas
profundezas do organismo físico para em seguida se libertar de novo. Tal círculo se submete
ao ritmo lunar. Quando o homem psíquico mergulha inteiramente na natureza corporal, ele
se sente impregnado pelas forças da gravidade terrestre. Assim ele está repleto de
melancolia. Se ele se desprende da prisão de seu corpo, sente-se levado por uma leveza
aérea. Ele terá então tendência à indiferença, à apatia.

Se desenhássemos o círculo dos temperamentos, deveríamos colocar o melancólico


bem abaixo e o sanguíneo bem acima. Depois, de um dos lados o colérico e do outro lado o
fleumático. Isto de forma que descendo ao invólucro corpóreo, a alma passe pelo humor
colérico – ela começa a experimentar a resistência da matéria e a adaptar-se – enquanto
começa a se libertar da corrente psíquica ela tem a tendência à fleugma, pois encontra a
expansão benfazeja, mas depois deste profundo entorpecimento ela não consegue
encontrar rapidamente a força para se lançar ao alto. Nossa vida psíquica percorre este
cículos dos temperamentos segundo o ritmo lunar.

O temperamento predominante de uma pessoa é o resultado da maneira pela qual


sua alma pode se familiarizar, pode fazer um bom ajuste com seu corpo físico. Por exemplo,
existem pessoas que ficam de tal forma presas em experiências desagradáveis que não
reparam que a vida já as liberou; outras, ao contrário, estão tão ligadas ao presente que não
sentem nenhum mal estar em se livrar de qualquer estorvo ou mesmo, graças à sua
imaginação, se sentem transportadas para um caminho ascendente, logo que a opressão
corporal comece a relaxar.

Se tentamos abordar a natureza dos temperamentos dessa forma, chegaremos à


conclusão que cada homem traz consigo a força dos temperamentos. Aprendendo a
descobri-los conseguiremos equilibrá-los. Não seria um ideal não possuirmos nenhum
temperamento. Para nós, cada temperamento representa um dom do céu, se soubermos
descobrir em cada um a sua riqueza escondida.

A metaforfose e a harmonização dos temperamentos constituem a base da


verdadeira educação do homem. Tocamos aí no segredo de toda auto-educação. A vitória
em nós das forças solares sobre as forças lunares. O conhecimento de leis deste gênero são
a base, por exemplo, das festas do ano. A festa da Páscoa, que o calendário cristão coloca no
primeiro domingo depois da lua cheia da primavera, na sua linguagem simbólica, faz alusão
ao mistério cósmico do cristianismo. Sob o signo da força crescente do sol, o cristo triunfa
sobre o poder lunar. Deste ponto de vista podemos compreender porque certas festas são
celebradas durante um período de quatro semanas. É assim que encontramos no calendário
cristão quatro domingos consagrados ao Advento.

A ambiente do Advento visa sanar o humor melancólico que cresce em novembro,


diante do enfrequecimento de toda a vida terrestre, com a chegada da escuridão e do gelo.
Enquanto o mundo exterior entra na morte e letargia, quando as noites são mais e mais
longas com a aproximação do solstício de inverno, a alma deve acender uma chama de
esperança no interior de si própria, ela deve ir ao reencontro daquele que assegura o futuro
da humanidade. Por esta razão é de extrema importância para a formação psíquica da
criança aprender a cultivar o ambiente do Advento com seus quatro domingos seguidos,
num ambiente familiar, com dignidade e calor, acendendo as velas nestas noites que
começam tão cedo, preparando os presentes de natal que deverão trazer o calor que vem
do coração para o frio do mundo, contando os dias com impaciência, a alma se encaminha
passo a passo em direção ao natal que então marca a virada do ano.

Cultivando-se tal clima de festas desde a juventude, com símbolos verdadeiros,


trabalhamos o equilíbrio dos temperamentos. O tempo do advento serve para equilibrar e
libertar o temperamento melancólico e pelo fato de agir sobre a natureza lunar do homem
ele deve estender-se por quatro semanas.

Um cristianismo que não se contenta em perpetuar tradições decadentes, mas que


se inspira com noções clara sobre a natureza espiritual do homem e do universo, deve dar
uma forma nova às festas do ano e deverá levar na mais alta conta a ordem ritmica. Ele verá
por exemplo na Epifania, a consequência do advento, pois com suas 13 noites santas conduz
a alma ao reencontro da luz do ano novo.

Na comunidade dos cristão, tempo de Epifania, festa da aparição do Cristo na


existência terrena, segue também um ritmo de quatro semanas. Esta lei vale para o tempo
da paixão, e também para a festa do João: a de São Micael. Ambas não somente são
marcadas por um só dia no calendário (o 24 de junho e o 29 de setembro) mas para
manifestar toda sua riqueza e força de impulso espiritual não podem senão serem
comemoradas num ritmo de quatro domingos.

O Ritmo da Encarnação

Existe ainda um ritmo mais lento que rege nosso corpo físico; ele abarca um período
de quatro vezes sete vezes dez dias. São os dez meses lunares ou quarenta semanas que o
embrião humano precisa para chegar à maturidade. Sem dúvida, devemos fazer aqui uma
diferença entre o organismo do homem e o da mulher. Nas suas conferências sobre “A
antropologia segundo a Ciência Espiritual”, que trazem à luz de uma maneira magistral as
leis do ritmo do homem, Rudolf Steiner mostrou que o corpo masculino, estando mais
densificado que o feminino, vive dentro de um ritmo mais lento: o do ano solar. Como o
desenvolvimento do embriaç acontece no envoltório protetor do corpo materno, ele é
submetido ao ritmo do organismo feminino de quarenta semanas. O maravilhoso é que
encontramos este período no calendário cristão. O 24 de dezembro é consagrado a Adão e
Eva, recordando a alma que se prepara para festejar o nasimento de Cristo, as origens
paradisíacas do gênero humano. Ela deve aprender o significado do acontecimento do Natal:
a renovação do gênero humano pelo segundo Adão, Jesus Cristo. Quando a alma recebe a
mensagem de Natal como convém, ela deve se sentir de volta ao princípio da vida. Então ela
própria pode se tornar Maria. Um germe de luz pode ser concebido por ela na noite santa.
Ele deve crescer e tomar forma no decurso do ano vindouro.

Contemos agora no calendário, quarenta semanas a partir da véspera do Natal,


caimos justamente no 29 de setembro. O dia de São Micael é o 280º dia após o dia de Adão
e Eva. Quando nos damos conta destas correspondências, sentimos uma profunda
veneração pela sabedoria que rege o calendário. Pois o São Micael que coloca em nossa
alma a imagem do arcanjo combatendo o dragão, lutando bravamente pela dignidade do
homem, nos convida a enfrentar nossas provas na existência terrestre. Aquele que pode ser
concebido como um germe frágil na noite santa, em São Micael deve se manifestar em sua
maturidade e se exprimir com vontade vigorosa. A propósito, notamos agora um ritmo que
aparece sempre na tradição religiosa: aquele de quarenta dias. Sabemos que este ritmo, que
corresponde à sétima parte do desenvolvimento do embrião humano, desempenha um
papel importante no começo da vida da criança. Com efeito, o ser humano em devir
necessita de aproximadamente quarenta dias para penetrar em seu corpo a ponto de
exprimir suas emoções. É no final da sexta semana que a criança começa a sorrir,
aprendendo a revelar desta forma o charme de sua sensibilidade inocente, para a alegria de
seus familiares.

Antigamente sabia-se que durante os quarenta dias que se segiam ao nascimento da


criança, a mãe devia se resguardar da vida exterior. A lei de Moisés determina que a
parturiente devia praticar o rituaal da “purificação” no final dos quarenta dias. O evangelho
de Lucas faz a alusão a este mandamento quando fala da “apresentação no templo”. Maria e
José se dirigem a Jerusalém com o menino Jesus para oferecer o sacrifício dos pombos,
conforme o costume religioso. O evangelista escreve: “Quando os dias da sua purificação
forem completados, segundo a lei de Moisés” – quer dizer quarenta dias depois do
nascimento em Belém. O calendário católico designa este dia com o nome de “Purificação da
Virgem”, “A Candelária”, (dia dois de fevereiro). Se festejamos durante quatro semanas o
tempo da Epifania, que começa no décimo terceiro dia após o nascimento de Cristo (o seis
de janeiro) este período, consagrado ao aprofundamento do mistério da encarnaçãode
Cristo, forma justamente com as treze Noites Santas que o precedem, um ciclo de quarenta
dias. Os evangelhos nos dizem que o Cristo, após o batismo no Jordão, onde os céus se
abriram e o Espírito Cósmico veio fecundá-lo, se retirou por quarenta dias no deserto a fim
de se preparar para sua missão, através de severos exercícios de jejum. Também desta vez
um começo de vida foi colocado pelo Espírito. Com efeito, se aprendemos a ver no batismo
do Jordão o verdadeiro nascimento do Cristo, a descida do Grande Ser Divino no invólucro
corporal culminando com as três tentações, representam a poderosa batalha que o espírito
de Cristo empreencdeu para se tornar verdadeiramente homem.

Estes acontecimentos tem ligação com os desafios que a criança, no começo de sua
vida, deve enfrentar, durante quarenta dias onde ela começa a fazer sua alma penetrar em
seu envoltório corporal; com a diferença que o Espírito do Cristo empreendeu este trabalho
em plena consciência e o completou em quarenta dias. Sabemos que era também num
periodo de quarenta dias que os místicos da Idade Média se retiravam para seus exercícios
de purificação, quando se entregavam à contemplação na solidão. Naquela época, também
era sabido que para se adquirir o domínio do espírito sobre o corpo e acordar de sua letargia
era necessário justamente este período de tempo. Antigamente em outros lugares esta lei
era era observada em relação à higiene. É assim que na idade Média se decretava a
“quarentena” contra os navios que encostavam nos portos italianos, em caso de suspeita de
peste. Vindo de um antigo conhecimento médico, conservava-se a noção que os fenômenos
de purificação – e consequentemente a eliminação das doenças infecciosas – se desenrolam
num período de quarenta dias.

O antigo testamento faz inúmeras alusões a este espaço de tempo. Pensemos


somente na significativa experiência de Elias, lutando na solidão pela palavra e pela
renovação da revelação da Javé. Acordado por um anjo do Senhor, ele come um alimento
misterioso que lhe fornece a energia para andar quarenta dias e quarenta noites até o
monte Horeb. Trata-se aqui do caminho interior onde a alma se fortifica e que o profeta
deve percorrer para poder receber a revelação de Horeb, como outrora se deu com Moisés.
Da mesma forma é notável que a marcha de Israel pelo deserto durou quarenta anos. Os
anos são para um povo o equivalente aos dias para o indivíduo. A saída do Egito e a Lei do
Sinai representam o impulso dado à evolução de um povo. Com estes acontecimentos, o Eu
superior de Israel desceu no envoltório terrestre do povo. É como o nascimento de uma
poderosa alma de povo que se realiza sob a direção espiritual de Moisés. E os quarenta anos
de educação no deserto imposto ao povo antes da chegada à Terra Prometida
correspondem a este período que a criança deve passar na solidão no começo de sua vida
terrestre.

O mesmo espaço e tempo aparece ainda no interior do calendário das festas cristãs,
como o ritmo que vai da Páscoa até a Ascenção. É este tempo de graça, onde os discípulos
foram considerados dignos de viver com o Ressureto. Estes quarenta dias representam
também um começo de vida. A morte no Gólgota é pois um nascimento espiritual. Nos
acontecimentos que se desenrolam da Sexta-feira Santa até a manhã de Páscoa, o Eu do
Cristo conquista sua nova forma de existência. A partir deste momento Ele se tornou o
Espírito da Terra. Ele começa a impregnar a vida deste planeta destinado à morte com forças
divinas de rejuvenescimento. Durante os quarenta dias onde o Ressureto brilha ao olhar
interior dos discípulos, homens e mulheres, o Eu do Cristo se adapta, por assim dizer, à
atmosfera da Terra. No final deste período ele é levado às nuvens, quer dizer, se une à vida
própria da Terra. Cada ano, no despertar da primavera, a alma se abre a um novo milagre.
Mas ela não deve mais ver a Terra sem o Cristo. É por esta razão que é tão importante
reencontrar em nossa época o ritmo de quarenta dias que nos leva da Páscoa à Ascenção e
nos ensina a sentor o Espírito de Cristo nascido na vida da Terra.

Ritmos Solares

São os ritmos lunares que nos introduzem na visa terrena. Antes do nosso
nascimento vivíamos neles. Eles continuam a atuar em nós como uma herança cósmica, que
nos determina. Por outro lado, são os ritmos solares que nos chamam à plena consciência na
existência terrestre. Eles libertam o eu humano das correntes do passado nos encorajando a
caminhar com segurança ao encontro do futuro.

Fazendo cada vez mais conscientemente a experiência viva das relações terra – sol no
decurso do ano, a alma humana se impregna dos ideais que a elevam além dela mesma,
recebendo forças vigorosas para os realizar. O ritmo solar do ano se manifesta primeiro na
vegetação das plantas. Se a alma humana se detém na visão da natureza que cresce, flore,
dá frutos e murcha, ela se sentirá prisioneira de um fluxo de fenômenos imutáveis; ela só
poderá sentir a fragilidade de sua própria existência. É preciso completar sua existência com
outra abordagem. Lembremos que não é unicamente para poder se reproduzir no ano
seguinte que os campos de cereais e os pomares amadurecem seus frutos em abundância.
Com a frutificação eles sacrificam um adicional de forças vitais que não são absolutamente
necessárias à conservação da espécie, mas que servem de alimento a seres superiores. É
assim que a cada ano o mundo vegetal oferece aos reinos animal e humano os elementos de
sua existência. É um erro, ou ao menos um julgamento incompleto, dizer que a natureza só
conhece a luta pela vida ou só desempenha um instinto de conservação (de si e da espécie).
Ela conhece igualmente um espírito de sacrifício que inspira todo o crescimento e toda a
frutificação. Este atua na escala dos seres vivo como uma tendência misteriosa de se elevar
acima de si próprio, renunciando à sua própria vida para servir de degrau a vidas superiores.
É deste sacrifício da natureza que o homem depende para poder viver em nosso planeta. No
ritmo da atividade solar com sua luz fecundante, seu calor amadurecedor, a terra é
permeada por forças sublimes onde devemos reconhecer uma moralidade cósmica. Quando
o homem descobre estas leis ele pode se impregnar conscientemente delas. Elas renascerão
em seu coração sob a forma de amor criativo. Elas inspiram sacrifícios que levarão a vida
humana além do seu pequeno mundo egoísta. Com efeito, porque o homem não deveria,
ele próprio, com suas forças psíquicas e espirituais amadurecidas, servir, por sua vez, de
alimento a reinos superiores, em lugar de unicamente se esgotar na conservação de si
próprio e de sua raça? Assim como o reino vegetal faz com o reino animal e humano, não
deveria o próprio homem em sua vida terrena oferecer alimento e bebida para mundos
superiores?
Consideremos agora o reino animal e observemos como certas espécies se inserem, à
sua maneira, no ritmo anual do reino vegetal. O cervo descarta seus chifres todos os anos e
não contente em repeli-los, agrega ano a ano duas galhadas suplementares, de forma que
podemos saber sua idade pelo numero de galhos de seus chifres. Ou então, observemos a
muda dos pássaros no outono. Eles renovam a sua plumagem a cada ano. É um trabalho
admirável que se realiza no organismo de um ser tão pequeno. O homem não precisa se
cansar com um trabalho semelhante; ele pode economizar forças produtivas que a cada ano
ficam sobrando. Colocamos agora uma questão talvez um pouco ousada: o que faz o homem
de suas forças não utilizadas? Falando em imagens: ele pode se emplumar com as forças de
seu interior. Com a aproximação do inverno, quando as forças da alma começam a se
interiorizar, o homem é chamado a “fazer crescer” pensamentos em si, ele pode acordar em
si a força criativa da imaginação que lhe traz arrebatamento e calor interior, enquanto a
natureza retira os seus dons externos. Mas esta atividade criadora interna do homem difere
em um ponto daquela que repõe a plumagem do pássaro no outono: o homem tem a
possibilidade de deixar desempregadas as forças criativas que estão à sua disposição. O
pássaro, a natureza o domina; o homem é chamado à liberdade.

Inspirando-se com conhecimentos desse tipo, os povos antigos que se sentiam


instintivamente integrados no ritmo das estações, instituíram as festas do ano. Assim, por
todo lugar onde a sabedoria dos antigos mistérios deu o tom, vemos as festas de outono se
revestir de uma importância considerável. Quando o mundo exterior, em sua plenitude de
vida, se retira do homem, ele pode se tornar interiormente ativo, tomando consciência da
força criativa que dorme nas profundezas de seu ser e de a desenvolver. Festas como os
mistérios de Eleusis na Grécia ou o culto de Adonis na Idade Média, incentivavam o homem
a retomar a coragem. Elas ensinavam-lhe como se apoderar da liberdade criadora e a
acordar em sua alma a centelha imortal. Em nossa época é a festa de Micael que tem a
missão de conduzir a alma do efêmero ao eterno e, se formos capazes de ultrapassar a
simples tradição e compreender conscientemente as forças micaélicas que atual na
humanidade, a alma será preenchida por ela.

O homem está, hoje em dia, em vias de se desligar cada vez mais de suas origens.
Esta evolução será por fim o nível total de toda a riqueza da alma. Ela terminará por
acarretar um enfraquecimento de sua personalidade, uma de suas faculdades mais
profundas de vida interior, se não pudermos nos remeter livremente ao encontro das
relações com os ritmos do ciclo anual.

Há um ser que deseja vir em ajuda da alma humana,, nesta tomada de consciência
vinda do curso do ano. Da mesma forma que o sol exterior com sua força brilhante é
indispensável à natureza e suas manifestações, assim o Cristo será para a alma humana e
para seu desenvolvimento espiritual ele atuava na existência terrestre através dos ritmos
solares do ano; os profetas dos tempos antigos o viam trabalhar no sol. É nele que pensavam
quando o adoravam sob este ou aquele nome, a divindade da luz.
Após ele se unir por amos à vida do nosso planeta, pelo sacrifício de sua morte, ele
impregna a existência terrestre com as forças divinas do sol, como em uma respiração.

Ele conduzirá a terra e a humanidade no final de sua evolução a uma suprema


transfiguração. Se ela souber viver em sua presença ao longo do ano; se ela aprender com a
aproximação do inverno, senti-lo mergulhar nas profundezas da matéria e se recriar nela
como um germe solar, e se na entrada do verão se deixar transportar com ele ao reencontro
da luz, a qual ele se unirá de novo a cada ano, ressuscitando da terra. Esta maneira de se
considerar o Cristo e seu alto redentor não é somente um ponto de vista para a alma
humana, que em nossa época tem se tornado insólita, mas também lhe recoloca seu sentido
cósmico. Não se tornará compreensível se não aprendermos a olhar a própria terra como
um ser vivo.

Contrário ao que normal se acredita, não é a Bíblia que se opõe a tal enfoque. Do
ponto de vista ela própria nos dá a prova em todas as suas páginas, mas antes o pensamento
materialista dos últimos séculos (tempos). Todavia assistimos atualmente a uma grande
reviravolta na concepção científica formada no decorrer dos últimos tempos segundo
métodos puramente matemáticos e físicos, estes não podem senão representar a terra e o
universo como um aglomerado sem vida de substâncias de um lado ígneas e gasosa e de
outro lado condensadas em (escorias). O século 20 tem a tarefa de mostrar à humanidade
uma concepção de mundo que seja orgânica. A geologia e a meteorologia são obrigadas,
pela própria linguagem dos fatos, a reconhecer que a estratificação do globo terrestre e
sobre tudo da atmosfera que o envolve, são testemunhas de uma construção orgânica
maravilhosa que se manifesta em ritmos vitais.

Quando soubermos disto, não estamos longe de admitir que o que os poetas de
todos os tempos pressentiam e o que as antigas religiões acreditavam com veneração que a
terra tem uma alma. E é para esta alma da terra que um ser vindo de mundos divinos de luz.

O Cristo se tornou o eu superior da alma da terra. É por esta razão que, na última
ceia, onde ele começou a se unir em sacrifício de amor à vida da terra que ele pronunciou
estas palavras: ESTE É O MEU CORPO, ESTE É MEU SANGUE....

A santa ceia é mais que um símbolo da presença do Cristo no ser da terra. Sob a
evolução do alimento terrestre, do pão e do vinho, um ser divino se doa perpetuamente à
vida da terra que morre para conduzir a transfiguração.

Agora começamos a compreender em que sentido precisamos completar nosso


ponto de vista para viver com as estações. As festas cristãs nos fazem abrir os olhos para a
presença do eu de Cristo nos ritmos vitais da natureza terrestre. É por isso que o melhor é
repartir estas festas segundo as quatro estações do ano. Agora, partindo da zona temperada
(e no hemisfério norte) aonde as quatro estações se manifestam mais nitidamente. Também
não é por acaso que foi nesta região que o cristianismo pode se propagar melhor na história
da civilização; se é sobretudo nos povos desta zona que as festas cristãs tomaram forma,
com sua simbologia rica e com todo o seu fervor. Na grande respiração do ano, quando a
alma da terra se vira inteiramente para o interior, a vida terrestre é desligada do universo. O
solo se cristaliza no frio do inverno; o mundo das plantas retira suas forças vitais da
escuridão dos grãos, as árvores sua seiva por trás da casca protetora.

Nesta época também devemos virar nossa alma para o interior, para aprendermos a
contemplar, na escuridão da matéria, o ser luminoso da terra. O espírito de Cristo, que vela
no coração da terra, enquanto a natureza exterior mergulha no sono. Se neste momento
dirigimos nosso olhar para a vegetação que definha, para a natureza entorpecida, nos
tornaremos então presas das forças de morte da terra. A alma experimenta a melancolia, se
as profundezas místicas da existência terrestre, onde se cria uma vida superior, solar,
permanecem inacessíveis.

Podemos agora retornar ao círculo dos temperamentos, onde a alma humana deve
se refletir aprofundando e se soltando de seu corpo.

Nos quatro ambientes do ano é a própria alma da terra que o permeia. Mais
precisamente: são as imensas legiões de espíritos elementais que trabalham na vida da
terra, ora profundamente enfeitiçados, ora ressurgindo alegremente de seu cativeiro. Se,
por exemplo, observamos a melancolia, que de repente irresistivelmente invade a lama com
as brumas de novembro e para a qual não encontramos nenhuma razão em nossa vida
pessoal. É a opressão das criaturas que aguardam sua libertação; como fala São Paulo, a
melancolia dos seres elementais. É ela que abate a alma desarmada do homem, ignorantes
que são eles suspiram perante o homem como perante seu salvador, que deverá trazê-los à
luz.

Seguindo a respiração da alma da terra no curso do ano, reencontramos os quatro


elementos: a terra no gelo invernal e na escuridão da matéria, a água na ressurreição das
forças primaveris, o ar e a luz nos meses das flores no solstício do verão, o fogo devorador
na época da colheita. Estes quatro elementos são encontrados também na coloração dos
temperamentos.

Já falamos da festa de Natal com sua preparação no decorrer dos quatro domingos
do Advento e terminando nas quatro semanas da Epifania. Esta festa trás as forças
sanadoras necessárias à cura da melancolia em nós, com efeito ela nos alerta para o futuro
da terra, com suas asas de esperança ela nos arranca da força paralisante que quer
aprisionar a alma no passado. O homem melancólico é aquele que vive mais na esfera de
seus interesses pessoais; ele sofre apenas com seus próprios males. O Natal, festa do amor
que nos convida a pensar no sofrimento dos outros e lhes dar alegria, vem trazer justamente
o contraponto para este temperamento. Elevado acima de si próprio, o melancólico poderá
simpatizar, da maneira mais íntima com o sofrimento de seu próximo. Com a chegada da
primavera, as forças da água que amolecem a terra e fazem crescer a vegetação, ameaçam
entorpecer os movimentos da sensibilidade. Se a alma se abandona passivamente às forças
vegetativas do corpo, elas o deixam fleumático. Em vista disso, o cristianismo medieval
instituiu a quaresma com seu severo jejum (e isto durante quarenta dias). Isto deve preparar
o clima da paixão. O fleumático é aquele que precisa de emoções fortes para sair do seu
torpor. É no principio da primavera que desceu a cruz no Gólgota. Ela nos lembra este ato de
amor pelo qual um ser divino tomou para si os erros e os sofrimentos da humanidade
terrestre. Ajudar os outros é a força do temperamento fleumático, uma vez que ele possa
sair de sua inércia e realmente se convencer da necessidade de uma tarefa. O ar ensolorado
que faz brotar o prado florido no mês de maio, como por encantamento, eleva a lama acima
de todo o peso terrestre; é ao temperamento que se inflama facilmente, o sanguíneo em
nós, que apela esta época feliz do ano. A flor que eleva seu cálice ao sol, a borboleta que
volteia ao seu redor, o pirilampo que vaguei na noite de verão, todos manifestam a alma da
terra, enlevados nesta época às alturas etéricas. E a alma humana, que se abre a tanta
beleza, não deveria subir em suas asas? A força positiva do temperamento sanguíneo é a
faculdade do entusiasmo que pode coloca-lo à disposição de uma grande ideia. Ele está
sempre pronto a empreender algo novo. O que ele deve aprender, então é servir com
fidelidade, em vez de se perder num deleite egoísta. A alma sanguínea deve desenvolver a
faculdade de resistir a seus impulsos. A festa de São João, colocada na hora solar do ano,
serve de modelo para aquele que, com suas forças entusiásticas, possa colocar em
movimento um mundo envelhecido, perante aquele que deve chegar. Se soubermos festejar
São João da maneira correta, colocamos na alma a vontade de fazer silêncio, de trazer o
fruto: sabedoria antiga e madura que nos mostra a natureza estival que se aquieta na
renúncia de si. Nas trovoadas de verão, nos frutos que amadurecem e se tornam doces, no
abrasamento das cores outonais das florestas e jardins, a natureza do fogo se exprime no
tempo da colheita, inflamando e transfigurando toda a vida sobre a terra, correndo o risco
de a consumir. Esta natureza do fogo, quando impregna o ser humano, pressiona-o para a
ação muitas vezes procurando libertação num temperamento explosivo. Com a aproximação
do outono, as forças criadoras da terra procuram mergulhar o mais profundamente possível
na matéria para trazer à plena maturação os frutos alimentícios numa profunda alquimia.
Uma força contida executa o milagre do outono na vida frutífera da terra; mas de repente
ela pode explodir em raios e tempestades.

Nas conferências sobre as estações do ano, Rudolf Steiner falou sobre a espantosa
arte médica que atua nos fenômenos cósmicos: no decorrer das noites de agosto, quando
uma bruma densa sobe do solo, o céu envia nuvens de estrelas cadentes e impregna a
atmosfera da terra com uma poeira de meteoros. Diríamos que um médico cósmico deseja
aplicar uma poderosa dose de ferro no organismo febril da terra. Este ferro que impregna
fortemente a atmosfera da terra e faiscante se expande, Rudolf Steiner chama “A Espada de
Micael”. Nossa época é rica em forças de fogo contidas, prestes a explodir. Elas ameaçam
continuamente provocar explosões de vontades destruidoras na vida social se não pudermos
compreendê-las e traze-las à luz. O colérico se torna um revolucionário se não lhe é
permitido empregar suas forças de uma maneira válida. Mas ele pode também se tornar um
campeão da justiça e da liberdade. O tratamento do temperamento colérico consiste em lhe
proporcionar tarefas concretas onde ele possa empregar suas energias, se possível tendo
que vencer obstáculos e se engajando em empreendimentos que lhe pareçam valorosos, ele
deve ter consciência de seu mérito pessoal. As ações que demandam esforços fornecem a
melhor ocasião. Sempre pronto a intervir, ele deve almejar um fim nobre e grandioso a fim
de provar seu valor. A poderosa imagem de Micael combatendo o dragão pode inspirar a
justa iniciativa da alma. A humanidade de hoje necessita de um ideal como esse para não
cair no abismo da autodestruição. Uma visão apocalíptica da nossa época e o senso de
responsabilidade serão absolutamente necessários para fazer da festa de Micael uma
terapêutica eficiente para a civilização moderna e para completar o milagre da cura da
vontade humana, entregue aos demônios.

As festas do inverno e da primavera foram instituídas com muita pompa no seio da


tradição cristã. De outro lado, a de São João e a de Micael pertenciam ao tempo “pós
Pentecostes” como era designado no calendário cristão esta metade do ano que ficava sem
festas. Somente hoje elas começam a aparecer; no futuro seu conteúdo será mais rico de
experiências vivas de modo que elas possam se tornar inspiradoras; a festa de São João com
uma concepção espiritualizada da natureza, e a de São Micael com uma noção nova do valor
espiritual do homem. Se estas duas festas não forem promovidas para a mesma categoria
que as outras duas, a alma não poderá completar sua visão no curso do ano como deveria,
para poder vencer o mal da nossa época: o materialismo.

O tempo das festas abrem, por assim dizer, as portas do espirito por onde o Cristo
pode penetrar na vida da terra. Elas contem forças capazes de transformar tudo o que traz
doença para o homem, ameaçando prendê-lo na escuridão da matéria ou de dissolvê-lo na
leveza do ar. Restabelecem nele o equilíbrio cósmico entre altura e profundeza. E escondem
outro segredo: através da transformação do homem, elas podem agir também na
transformação da terra. Celebrando as festas cristãs de maneira correta, inspirando-se com
o conhecimento dos ritmos cósmicos, promoveremos a libertação dos seres elementais
cativos na matéria. A alma da terra acorda de seu sonho na luz de Cristo e se transfigura.

O ritmo macrocósmico

A consciência das polaridades verão - inverno ou primavera – outono eleva a


sensibilidade humana a um sentimento cósmico. Faz nascer na alma sentimentos
desinteressados e ajuda a corrigir pontos de vista estreitos. A polaridade percepção –
pensamento (verão – inverno em nossa alma) igualmente abordada pelas festas do ano nos
ensina a sentir de maneira salutar a alternância de (sem traduzir - soi/don de soi). Na época
atual este contraste grande entre diferentes estados da alma que caracterizamos para as
estações, não aparece mais tão claramente. Pois o homem é um ser dotado de memória. De
uma estação para outra ele guarda a lembrança da impressão vivida como força psíquica
adquirida. Sua liberdade consiste precisamente em que ele se liberte das ligações cósmicas e
possa confrontar em sua alma, como bem próprio, as experiências feitas no mundo com
aquilo que ele próprio adquiriu.
Nossa alma humana é chamada a seguir a grande respiração da alma da terra a cada
ano. Na época das profundas noites de inverno – segundo a velha tradição, designamos
como as “Treze Noites Santas” que são particularmente propícias ao aprofundamento do
mistério terrestre do Cristo – o ser da terra retém, por assim dizer, sua respiração. Sua vida
psíquica e espiritual está inteiramente mergulhada na natureza material, nesta ocasião. Ela
agora desperta e o Eu do Cristo vela por ela. Estas noites já foram consideradas como um
tempo à parte no ano. Com efeito, certos povos no oriente – entre eles o antigo povo
hebreu – estabeleceram seu calendário conforme o ano lunar. Ora, doze luas fazem 354 dias
(mais exatamente 354 dias e 1/3. O ano solar tem portanto 11 dias a mais. Os ritmos
cósmicos nunca fazem uma conta redonda. Um ano lunar começando na Epifania (que no
cristianismo primitivo festejava-se como o dia do batismo no Jordão e só mais tarde foi
designado dia de Reis) terminava justamente no dia de Natal. Com efeito, a lua atinge no 25
de dezembro após doze revoluções, uma posição análoga àquela que ocupava no 6 de
janeiro do mesmo ano. Então seguem os 11 dias onde o ritmo solar vai além dos doze ciclos
lunares. Uma profunda sabedoria cósmica desejou consagra-los ao desprendimento da alma
humana em relação ao poder lunar, para deixa-la entregar-se somente àquilo que o espírito
do sol e a alma da terra têm a se dizer. Antigamente, sentia-se que inspirações as mais
elevadas e plenas de graça podiam afluir para a alma humana nas noites de pleno inverno. A
clarividência nórdica nos deixou um testemunho comovente da experiência das 13 Noites
Santas. É famoso o “Sonho de Olaf Osterson”: na noite de Natal ele cai em sono profundo e
em estado de clarividência atravessa o reino dos mortos, reencontrando o Cristo e na manhã
da Epifania volta à consciência terrestre trazendo a seus irmãos humanos o conhecimento
do mundo espiritual.

Segundo esta concepção, o curso do ano aparece como a manifestação de uma


entidade muito elevada – como a respiração de Espirito de Cristo unindo-se com a Terra.
Não poderíamos então perguntar: em que ritmo maior se insere esta respiração cósmica? O
que se desenrola no curso do ano entre o Sol e a Terra se inscreve nas estrelas como a ronda
do Sol através dos doze signos do zodíaco. Mas estas constelações se movimentam bem
lentamente de um ano para outro, visto da terra, o sol não passa no ponto vernal
(intersecção da elíptica e do equador celeste) toda vez no mesmo momento. Em 72 anos o
ponto vernal recua um grau sobre o equador celeste, percorrendo um signo do zodíaco (30
graus) em 2160 anos. Neste movimento de “Precessão dos equinócios” ele retorna ao seu
ponto de partida em 25.920 anos (doze vezes 2160). É o “ano Platônico”, que a astronomia
antiga conhecia bem. Mas, coisa curiosa, a este ritmo macrocósmico corresponde outro
microcósmico, dentro da organização humana. Se contarmos que o homem respira em
media 18 vezes por minuto, num dia teremos 25.920 respirações. Um ser para o qual um
ano na nossa terra corresponde a uma só respiração, 25.920 anos correspondem para ele
um dia cósmico.

Podemos assim, partindo de frias relações numéricas no elevar a sentimentos


universais. Pressentimos os rituais vitais de um Ser macrocósmico.
Como ao infinito, o universo
Vai se repetindo eternamente
De mil maneiras, a abóboda celeste
Sobre si mesma se fecha com força
De todas as coisas brota alegria
Da maior e da menor das estrelas
E todo arrebatamento, toda luta
É o eterno repouso em Deus, Nosso Senhor.
Goethe

Considerando este grande ritmo da precessão dos equinócios como um ano na vida
deste Ser macro cósmico, descobriremos correspondências bastante harmoniosas na vida
humana. Dissemos que o ponto vernal recua um grau em 72 anos. Como o equador celeste
está dividido em 360 graus, estes 72 anos completam justamente um dia no ritmo cósmico.
(Se contamos um ano de 365 dias, será um período de 71 anos o equivalente a um dia
cósmico). Uma vida humana inteira, do nascimento à morte, corresponderia a um dia no
curso do ano cósmico. Se é verdade que 71 anos terrestres compreendem, por sua vez,
25920 dias que representam cada uma das respirações da alma humana (ritmo sono-vigília),
este dia cósmico – uma vida do homem – ele terá também um ritmo de 25.920 respirações.

Vendo as maravilhosas correspondências entre os ritmos macro e micro cósmicos,


podemos compreender os fatos que, na vida dos povos, estão em relação com o tempo
sideral. Sabemos que os grandes povos civilizados da antiguidade atribuíam enorme
importância ao signo do zodíaco onde se encontrava o ponto vernal em sua época. Enquanto
florescia a civilização egípcia o sol se levantava em touro na primavera. A adoração do touro
ou da vaca sagrada nas religiões daquela época refletem a consciência desta posição
cósmica. O culto do “Bezerro de Ouro” do povo de Israel, em sua marcha pelo deserto, é
igualmente um ato de fé nas forças cósmicas enviadas à terra por esta constelação. Mas o
povo de Israel devia abrir caminho para uma nova época. Sua missão foi trazer a ligação com
as forças de áries, forças espirituais totalmente novas que começavam a irradiar para nosso
planeta. Elas transformaram a consciência da humanidade, desencadeando novos impulsos
de civilização. O sacrifício do carneiro que Abraão executou no Momte Morija já era uma
prévia do que estava para chegar e devia, lentamente, preparar o povo que nasceria no
futuro. A oferenda do cordeiro pascal, que segundo o ritual do antigo testamento deveria
ser imolado na noite de lua cheia da primavera, mostra a profunda ligação que uma a missão
de Israel às forças do sol primaveril que brilha na constelação de áries e se reflete na lua
cheia. Enfim Cristo, o “cordeiro de Deus”, é a melhor imagem destas forças espirituais
totalmente novas formadoras que começam a intervir na evolução da consciência humana.
O peixe era o símbolo que unia os primeiros cristãos num mundo decadente. Eles
depositaram o germe destes impulsos de desenvolvimento que deveriam manifestar-se
somente na aurora dos tempos modernos. Forças espirituais jovens sempre começam a
crescer no seio das civilizações mais velhas e mais maduras. Somente com a decadência do
mundo medieval o impulso espiritual cristão foi arrancado da cultura e da mentalidade
latinas como formas religiosas e morais do antigo testamento. Ela só poderá se despojar
totalmente das tradições antiquadas se as forças solares que irradiam hoje a partir do signo
de peixes triunfarem plenamente entre os homens. Temos pontos de vista totalmente novos
sobre a evolução da humanidade quando podemos perceber nela o reflexo das leis
estelares. A reflexão histórica que se inspira nas indicações da ciência espiritual de Rudolf
Steiner nos mostra, até os mínimos detalhes, os ritmos cósmicos na evolução da consciência
da humanidade. Ela divide a história em épocas de civilizações de 2160 anos; este é o tempo
que leva o ponto vernal para passar de um signo do zodíaco ao outro, a decima segunda
parte do ano cósmico. A simbologia das grandes religiões, ou mitos e lendas dos povos,
provam de sobra que as civilizações antigas tinham plena consciência destes ritmos estelares
em sua sabedoria instintiva e clarividente.

Não é senão se referindo à esta “escritura” das estrelas que podemos falar destas
épocas de civilização. Devemos aprender a ver como o futuro do gênero humano está
impregnado com a pulsação de vida de um Ser macro cósmico. Poderemos então escolher,
com conhecimento de causa, submetermos livremente à estas leis e de as servir ou, ao
contrario, nos revoltar cegamente contra elas nos chocando assim contra a inexorabilidade
dos fatos cósmicos.

O ritmo de Saturno

Destacamos um ultimo ritmo planetário que tem uma importância decisiva para a
vida humana: é o ano Saturnino, que dura 29 anos e 167 dias. Mas se considerarmos que
neste intervalo a terra realiza suas próprias revoluções, o tempo que separa duas posições
análogas de Saturno sob a abóboda celeste se modifica um pouco para o observador
humano. Devemos contar com um ritmo de aproximadamente 30 anos. Calculado a partir do
nosso nascimento esse período representa em nossa vida a época de “plasticidade” da
juventude. Ao redor dos trinta anos ainda vivemos com estas forças de crescimento que
trouxemos conosco para a terra. Elas dão para a alma uma impulsividade natural. Podemos
facilmente constatar que perto do trigésimo ano aparece o primeiro enfraquecimento das
forças vitais, sobretudo no desenvolvimento psíquico. Quando um homem chega na idade
de um ano saturnino, forças endurecedoras entram em jogo em sua organização. Na
antiguidade o deus Saturno (os gregos o chamavam Cronos e viam nele o regente do tempo)
era representado por um velho, muitas vezes com a foice. Na antiga ordem dos planetas,
onde não aparecia ainda Urano e Netuno, ele era o sentinela do nosso sistema solar. Do
ponto de vista macro cósmico ele age fixando os limites aos impulsos vitais. Muitas vezes
podemos observar no curso da vida humana – seja a nossa própria ou a de outros – que ao
redor do trigésimo ano começa uma crise que logo se manifesta por problemas de saúde e
muitas vezes provoca desordens psíquicas. É como um esgotamento de ânimo, uma
imprecisão na orientação do esforço ou uma clara cisão na melodia do destino. As pessoas
que não percebem nada disso – que, como se diz, “não mudaram” – nesta idade começam a
se aburguesar. Isto não as impede de “se sentirem sempre jovens”, de ter prazer em reviver
façanhas de sua juventude ou ainda sendo felizes em as repetir, pois não se deram ao
trabalho de desenvolver forças de evolução enquanto era tempo.

A química e a medicina de antigamente atribuíam aos sete planetas certos metais,


criando uma metaloterapia. A partir desta antiga sabedoria, o chumbo estava relacionado
com Saturno. Podemos compreender que através da ação cósmica deste planeta, o chumbo
tem uma influência sobre nossa organização etérica. Ele nos coloca numa espécie de sombra
saturnina de onde demandam inelutavelmente certas tendências endurecedoras sobre o
conjunto de nossa vitalidade. É por isso que a medicina chama “saturnismo” um
envenenamento crônico pelo chumbo (doença profissional dos tipógrafos). Uma senilidade
precoce – tremor dos membros, queda de cabelo, problemas visuais e outros – estão ligados
a este mal. Poderia igualmente se caracterizar como “saturnismo”, porém mais íntimo, a
influência do chumbo que contamina nossa organização no decorrer de um ano saturnino.
Se compreendermos a razão deste ritmo cósmico, colocaremos também a questão das
forças de rejuvenescimento. Quem confere à humanidade uma segunda juventude?

Podemos agora considerar o aparecimento do Cristo na existência terrestre como um


fato cósmico. O evangelho de Lucas nos diz expressamente que Jesus de Nazaré tinha trinta
anos quando o Espírito do Cristo desceu em seu envoltório humano no batismo do Jordão.
Nas escrituras (salmo 2) as palavras que soaram das alturas celestiais são as seguintes: “Tu
és meu filho, hoje eu te engendrei”. É um verdadeiro renovar da vida, uma vida oriunda da
plenitude do universo que desabrocha durante três anos no corpo de Jesus de Nazaré. Traz
renovadas as forças da infância para a humanidade que definha. No final dos três anos, para
o olhar interior de três discípulos que acompanharam o Cristo no topo da montanha, se
manifestou a metamorfose única realizada neste corpo. O s evangelhos descrevem a
transfiguração de Jesus de Nazaré nestes termos: “Seu semblante resplandecia como o sol e
suas vestes se tornaram brancas como a luz”. Eis a vitória das forças do Sol sobre o poder de
Saturno que Jesus Cristo realizou entre seu trigésimo e trigésimo terceiro ano. Mas esta
vitória conheceu sua mais alta manifestação quando o Cristo passou do caminho que leva à
montanha da transfiguração para a colina do Gólgota. No Gólgota as forças da morte de
Saturno foram para sempre colocadas em cheque sobre a terra pelo triunfo da vida do
Espirito do Sol. O que resplandece do Gólgota atua sobre a natureza humana que estava
destinada à morte, como um perpetuo e miraculoso rejuvenescimento. Se nos unirmos
interiormente à vida do Cristo, à sua morte e sua ressureição, receberemos esta segunda
juventude que nos dá o espirito quando Aquele que nos doou a natureza se esgota sob a
ação de Saturno. Se o Cristo passou pela morte ao redor da metade de sua vida é para que a
alma humana possa viver a outra metade de sua existência terrestre graças à suas forças de
juventude.

Quando vemos como o impulso vital de inúmeras pessoas que vieram dotadas de
tantos talentos promissores, se extinguem ao redor do trigésimo ano, podemos avaliar como
é decisivo para o destino de uma alma que ela tenho sido capaz ou não de se unir ao Cristo
na sua juventude. Tais considerações nos trazem o sentimento da mais grave
responsabilidade no que concerne a educação religiosa da criança e do adolescente. Com
efeito, a maneira mais salutar de preparar a segunda metade da vida dos jovens confiados a
nós é permitir que cada um, à sua maneira, posa reencontrar o Cristo no momento certo e
ajuda-los a realmente se unir a Ele no coração. Desta maneira eles atravessarão de outra
forma a crise do trigésimo ano.

Para terminar, lembremos que se uma pessoa vem a falecer antes da idade em
questão, será no momento de sua morte que ela realizará esta união vitoriosa com o Cristo.
Saturno atua nas forças da morte; a doença e a morte também aceleram a sua ação, pois
sem ela só no trigésimo ano a maturidade será possível. Porém o Cristo não cessa de
transfigurar a morte em vida superior e pode conceder para a alma uma juventude celeste
do outro lado do limiar.

A radiação de vida cósmica que atua no coração quando recebemos as forças de


amor do Cristo equivale a uma verdadeira renovação do sangue humano. Desde a alta idade
média existiu uma corrente espiritual que foi perdida pela tradição da igreja. A lenda do
Santo Graal explica estes fatos sob a forma de imagens. Assim, por exemplo, no Parsifal de
Wolfram Von Eschenbach, cada vez que o mal de Anfortas ou a radiação salutar do Graal
começam a se manifestar, podemos notar uma época saturnina. A natureza humana sob a
influência de Saturno, deixada sem defesa, torna-se doente ou ao menos enfraquece as
forças psíquicas. Quando sentirmos interiormente esta ação saturnina e a transformarmos
através das forças solares do Cristo ela se torna benéfica ao ser humano, pois ocasiona uma
evolução que pode conduzir à mais alta espiritualização das forças naturais.

O ritmo do ano saturnino e seus três anos solares que se juntam pela graça do Cristo,
fazendo desabrochar na morte uma vida superior, engloba um período de trinta e três anos.
A vida terrestre de Jesus Cristo se torna sagrada para nós. Podemos seguir este ritmo de
trinta e três anos no destino das grandes personalidades e também nas civilizações da
humanidade. Descobrindo seus traços, podemos chegar à compreensão luminosa do poder
do Destino que atua na vida dos homens.

Observações deste gênero nos fornecem uma chave inestimável para compreensão
dos mistérios da biografia humana. A vida de gênios criativos como Goethe, Schiller e
Richard Wagner (ou ao contrário, Nietzsche) confirmam a fecundidade destes pontos de
vista revestidos de uma nova sabedoria do Graal – no sentido da Ciência Espiritual de Rudolf
Steiner.

Para compreender melhor os destinos humanos seria necessário agora falar do ritmo
de sete anos, onde as forças dos planetas se sucedem, da infância até a idade mais
avançada. A individualidade eterna do homem até sua pátria nas estrelas. Não é senão por
etapas de sete anos que se introduz na existência terrestre aquilo que lhe foi confiado como
dote pelos céus.
Sobre o autor:

Rudolf Meyer nació en 1896 en Hannover, comenzó el estudio de la teología en Kiel y Heidelberg y
de la filosofía en Göttingen, como estudiante de Edmund Husserl. Allí entró en contacto amistoso con
Edith Stein.

En 1916 conoció la antroposofía y se convirtió en un estudiante asiduo de Rudolf Steiner. Comenzó en


el año 1919 a celebrar conferencias y pronto se convirtió en altavoz de tiempo completo para la
antroposofía en el norte de Alemania. Desde 1921 estuvo activo en todos los preparativos que llevaron
a la fundación de la Comunidad de Cristianos. Ordenado sacerdote en 1922, fue fundador de este
movimiento de renovación religiosa y una de las personalidades más eficaces en el entorno de la
antroposofía. En 1924 participó en el Curso de Agricultura de Rudolf Steiner en Koberwitz y apoyó en
adelante también el trabajo curativo de su amigo Karl Rey. Desde 1932 fue profesor en el Seminario de
la Comunidad de Cristianos en Stuttgart. Después de trabajar en Breslau, Halle, Leipzig y Praga, desde
1938 a 1952 trabajó en Zurich, donde, entre otras cosas, organizó la ayuda a los refugiados de guerra y
necesitados. Conferenciante y escritor de teología, historia de la religión y mitología (investigación
sobre los cuentos de hadas). Murió en 1985 en Göppingen (Baden, Alemania).

http://www.paudedamasc.com/?biografia=Rudolf_Meyer consulta em 04/09/2019

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