Comercializacao XRT

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I.

INTRODUÇÃO
A comercialização agrícola em Moçambique é fundamental no fomento da produção
agrícola, geração de renda para os produtores e, em suma, no desenvolvimento
económico. MIC. (2013) Uma das formas de aumentar a produção e a produtividade na
agricultura e incrementando a área de cultivo, uso de tecnologias avançadas, introdução
de sistema de monoculturas, criação de condições favoráveis para a comercialização da
produção bem como o estímulo a procura dos produtos (Chongo, 2008).

A comercialização de cereais desempenha um papel crucial na economia de


Moçambique, contribuindo para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável
do país (PEDSA, 2020). A comercialização de produtos agrícolas é um dos principais
impulsionadores do relacionamento económico entre zonas rurais e as urbanas (Chongo,
2008). A forma como os cereais são comercializados pode afectar a renda dos
produtores, a disponibilidade de alimentos, os preços no mercado e a estabilidade
económica em geral (Carrilho e Ribeiro, 2021)

O governo tem como uma das grandes preocupações a criação de uma rede comercial
cada vez mais virada aos produtos agrícolas, aliado ao facto de que na constituição da
República a agricultura foi definida como base de desenvolvimento (Chongo, 2008).
Portanto, é fundamental avaliar a comercialização de cereais em Moçambique,
identificando seus desafios e oportunidades, a fim de propor medidas que promovam o
fortalecimento desse sector.

1.1. Objectivo Geral:


 Avaliar a comercialização de cereais em Moçambique, identificando os
principais desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável do
sector.

1.2. Objectivos Específicos:


 Identificar as principais etapas do processo de comercialização de cereais em
Moçambique.
 Identificar os atores envolvidos na comercialização de cereais e suas respectivas
funções.
 Analisar os desafios enfrentados pelos produtores na comercialização de cereais
em Moçambique.
 Propor estratégias e políticas para fortalecer a comercialização de cereais e
promover a segurança alimentar no país.

1.3. Problematização
A comercialização de cereais em Moçambique enfrenta diversos desafios, tais como a
falta de infra-estrutura adequada, dificuldades no acesso a mercados, precariedade dos
sistemas de armazenamento e transporte, falta de informações sobre preços e demanda,
entre outros. Esses obstáculos comprometem a eficiência e a rentabilidade do sector,
além de dificultar a vida dos produtores rurais e limitar o acesso da população a
alimentos de qualidade.

1.4. Justificativa
Avaliar a comercialização de cereais em Moçambique é de suma importância para a
promoção da segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável do país.
Compreender os desafios e oportunidades desse sector possibilita a adopção de medidas
efectivas para melhorar a renda dos produtores, aumentar a disponibilidade de
alimentos, fortalecer a economia local e reduzir a dependência de importações. Além
disso, uma análise aprofundada da comercialização de cereais servirá como base para a
formulação de políticas públicas e estratégias que impulsionem o crescimento do sector
agrícola em Moçambique.
II. REVISÃO LITERÁRIA
2.1. Comercialização De Cereais em Moçambique
A comercialização desempenha um papel importante na economia nacional,
constituindo uma das principais fontes de rendimento das populações das zonas rurais,
um mecanismo de ligação da produção e do mercado entre as zonas rurais e as zonas
urbanas e é um instrumento indutor da produtividade agrícola (PICA, 2020)

O produção agrícola no pais preconiza como acções estratégicas a promoção da


comercialização agrícola orientada para o mercado interno e externo com incidência nos
cereais, o caso de milho, mexoeira, mapira e arroz (PQG, 2019).

Área com cultivo de cereais


Segundo o atlas mundial de dados em 2021, a área de terra destinada à produção de
cereais em Moçambique foi de 2.468.000 (hectares), referente à área colhida, embora
alguns países relatem apenas a área semeada ou cultivada. Os cereais incluem trigo,
arroz, milho, cevada, aveia, centeio, milhete, sorgo, trigo mourisco e grãos mistos. Os
dados de produção de cereais referem-se a cultivos colhidos apenas para obtenção de
grãos secos. Cultivos de cereais colhidos para feno, colhidos verdes para alimentação,
ração ou silagem, e aqueles utilizados para pastagem são excluídos.

Rendimento dos cereais


O rendimento de cereais foi de 1.009(Kg/hectare), medido em quilogramas por hectare
de terra colhida, incluindo trigo, arroz, milho, cevada, aveia, centeio, milheto, sorgo,
trigo mourisco e grãos mistos. Os dados de produção de cereais referem-se a cultivos
colhidos apenas para obtenção de grãos secos. Cultivos de cereais colhidos para feno,
colhidos verdes para alimentação, ração ou silagem, e aqueles utilizados para pastagem
são excluídos. A FAO aloca os dados de produção ao ano calendário em que a maior
parte da colheita ocorreu. A maior parte de uma colheita realizada perto do final de um
ano será utilizada no ano seguinte.
PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO MILHO

O milho é a cultura agrícola de maior importância em Moçambique, ocupando cerca de


1/3 da área total cultivada no país (Howard et al., 2000). Esta cultura pode ser
considerada uma cultura tanto alimentar básica assim como de rendimento. O potencial
para produção do milho em Moçambique, está associado a condições agro-ecológicas
do país (Walker, et al., 2006). O presente trabalho usou a classificação administrativa,
onde a região norte inclui as províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula; as
províncias de Zambézia, Tete, Manica e Sofala localizam-se no centro.
Tabela 1. Rendimento médio da cultura de milho em 2007
Região Rendimento médio (Kg/ha)
Norte 734,2
Centro 945,0
Sul 413,4
Fonte: Calculado do TIA 2007
No ano de o milho foi o cereal mais produzido em 2020, ultrapassando 1,6 milhão de
toneladas, seguido pelo sorgo (142.000 toneladas) e arroz (137.000 toneladas).
Onde A província de Tete, no centro do país, teve a maior produção de milho na
campanha 2019/20, contribuindo com 28,26% do volume nacional.

A província da Zambézia foi a maior produtora de arroz, respondendo por 31,23% da


produção nacional, e também lidera a produção de diversas variedades de feijão com
113.971 toneladas, um terço da produção nacional.

A província de Nampula, ao norte, lidera na produção de amendoim, com cerca de


46.034 toneladas, e na produção de mandioca, com um total de 2,5 milhões de
toneladas. MADR, 2022

Causas associadas a discrepância na comercialização de cereais em Moçambique


Baixo uso de tecnologias melhoradas: O uso de insumos em Moçambique ainda é
baixo. O Quadros 1 mostra percentagens dos agregados familiares (AFs) que usaram
alguns insumos em 2012 (subsidiados e/ou investimento privado). Duma maneira geral
menos de 1% dos produtores de arroz em Moçambique. A maioria das províncias
regrediram no uso de fertilizantes. Maputo, Inhambane, Sofala e Niassa são as
províncias que mostraram uma variação positiva no uso deste insumo. O baixo uso de
insumos pode estar associado ao tipo de agricultura praticada por maior parte dos AFs
(agricultura de subsistência) e a falta de condições para a sua aquisição.

Baixo acesso ao mercado: O acesso a mercados de insumos e produtos, ainda constitui


problema em Moçambique. Como consequência ainda reside o problema da assimetria
de informação ligada aos preços justos constituindo este, um factor inibidor aos
agricultores no que respeita o aumento da produção e o processo de comercialização dos
seus produtos (Lima, 1997 citado por Loganemio, 2013). Na perspectiva de melhorar o
acesso ao mercado, o MINAG (2011) através do seu Plano Estratégico de
Desenvolvimento do Sector Agrário (PEDSA) definiu um dos seu pilares como acesso
ao mercado. Este pilar visa desenvolver as infra-estruturas de armazenamento e
comercialização.

Tabela 2. Percentagem dos Agregados familiares que acederam ao mercada por tipo de
cultura
Ano Milho Arroz
2002 26,1 9,8
2003 23,1 16,4
2005 22,3 10,5
2006 22,3 16,5
2007 20,5 12,5
2008 20,8 15,8
2012 17,8 12,9
Fonte: TIA (2002-2008) e IAI (2012)

Factores que afectam a produção e comercialização em Moçambique


Baixo acesso ao crédito para agricultura: Em Moçambique, a evidência mostra que o
acesso ao crédito tem alcançado, em média 2.7% aos AFs por ano. Em 2012, 2.1% dos
AFs das pequenas e médias explorações diziam ter tido acesso ao crédito. Isto
representava um decréscimo em 26.2% relativamente aos níveis de 2002.

Fracas infra-estruturas de comunicação: As vias de acesso que ligam as zonas de


produção com os centros de consumo (vilas ou cidades) ainda são de difícil
transitabilidade. Por exemplo o estudo de Tostão e Brorsen (2005) sobre a eficiência
espacial de preços de milho nos mercados de Norte, Centro e Sul de Moçambique no
período pós reforma, justificava a limitação do comércio espacial entre estas zonas
devido a má qualidade das vias de acesso. Umas das consequências deste cenário é o
agravado o custos de transporte.

Mercado de arroz
O mercado do arroz em casca é basicamente oligopsónio, isto é, caracteriza-se por ter de
um lado muitos vendedores dispersos, e por outro lado poucos compradores. A
quantidade de produção de arroz nacional que é realmente comercializado é muitas
vezes insuficiente para sustentar os mercados nacionais. De acordo com Arlindo e
Keyser (2007) citado por Dias (2013), o excedente de arroz inteiramente é vendido e
consumido localmente. Isto sugere que o volume de produção em muitas áreas não é
alto o suficiente para justificar a transportá-lo distâncias maiores para os mercados
maiores, regionais. Por isso, muitos mercados regionais e provinciais dependem de
importações de arroz para satisfazer a demanda do consumidor. Os subprodutos são
quase na totalidade vendidos no mercado interno. Os clientes são fábricas de ração e os
pequenos criadores. Os subprodutos de arroz concorrem no mercado com os
subprodutos de outros cereais como milho e trigo.

É relevante analisar as dinâmicas dos mercados agrícolas actuais e futuros no processo


de reflexão sobre o futuro da agricultura. A procura de alimentos básicos primários e
processados no mercado nacional poderá duplicar, devido não só ao crescimento
populacional global e urbano, mas também ao aumento dos rendimentos das famílias se
forem adoptadas políticas públicas mais inclusivas e que promovam a diversificação da
economia. Será preciso estar atento às mudanças nos padrões de consumo alimentar
interno induzidos pela oferta de novos produtos no mercado interno. A competição no
mercado interno com produtos alimentares importados tenderá a aumentar, quer devido
ao aumento da procura interna, quer devido à redução dos preços internos dos produtos
importados pelo efeito da valorização do metical, caso o Banco Central não faça uma
boa gestão cambial para evitar este fenómeno.

Agentes (actores) da comercialização agrícola

O fluxo de comercialização de mercados agrícolas é comummente desdobrado em


quatro categorias de agentes (produtos agrícolas, agro-industriais, distribuidores e
consumidores) responsáveis pela comercialização dos produtos agrícolas e pelo
confronto entre a oferta e a demanda. Os produtores agrícolas disponibilizam para o
mercado produtos destinados ao consumo final ou a utilização como bens intermediário.
Portanto a cadeia de comercialização de um produto envolve diversos agentes ou canais
de distribuição interferindo no movimento desse produto desde a exploração agraria até
o consumidor final. Essa evolução pode permitir a inferência e analise de possíveis
transmissões de renda dentro de uma cadeia produtiva. Pode permitir também avaliar se
a estrutura grau de concorrência, principalmente- desse mercado, esta evoluindo para
formas mais oligapolizadas ou monopolizadas.

Importação e Exportação de cerais no país


Os cereais mais importados em Moçambique em 2019 incluem: arroz, trigo, e milho. Os
seis principais produtos agrícolas exportados em 2019 são: querosene, açúcar, feijão,
banana e tabaco.
O norte do país, na província de Nampula, é uma região com forte influência da
demanda do Malawi; quando este país não consegue boas colheitas (safra), recorre ao
milho moçambicano, nas províncias de Zambézia, Niassa e Tete, principalmente. E
estas por sua vez podem fazer uma pressão indirecta sobre os preços em Nampula, uma
vez que, segundo Paulo (2011), existe transmissão de preços entre Malawi e
Moçambique.

Mercados agrícolas em Moçambique


Segundo Mosca (2008), Moçambique faz parte dos mercados rurais que possuem
distorções que nem sempre permitem a verificação. As dificuldades nas comunicações e
os escassos meios de transporte, os diferentes tipos de produtores e de consumidores,
geram mercados específicos, bastante delimitados espacial e socialmente.
Os produtos agrícolas de origem nacional consumidos principalmente nos centros
urbanos são na maioria provenientes da agricultura familiar através rede comercial
existente, como agências públicas ou actores privados de mercados que compram dos
pequenos produtores os produtos e em seguida utilizam-nos na alimentação tanto como
matéria-prima na indústria de processamento (ex: produção de farinha e de ração).
Os preços praticados no campo e na cidade, são evidências das funções no âmbito das
políticas económicas. As formas de mercado estão conectadas com o sector produtivo,
que resulta da configuração das estruturas agrárias e económicas desde o período
colonial. São conhecidas as articulações físicas, funcionais e de interesses económicos e
sociais entre os mercados formais e informais, reforçando-os mutuamente (MOSCA,
2008).
Os mercados informais são comuns nos países africanos. Neste sentido, é importante
ressaltar às diferenças entre os conceitos de mercado e economia informais. Primeiro
circunscreve-se às actividades comerciais, que surgiu primeiro nas periferias urbanas e
alastrou-se posteriormente para os centros das cidades e para o meio rural. O segundo
tenta responder a falhas dos mercados formais (geralmente a escassez da oferta ou a
limitada cobertura espacial da rede comercial) e aos preços elevados. Os mercados
informais são importantes para os rendimentos das famílias e podem contribuir para a
redução da pobreza, NZATUZOLA (2006 apud MOSCA, 2008).

Preços agrícolas em Moçambique


Os preços agrícolas são controlados de alguma forma pelo Governo. Para o efeito, são
utilizados diferentes instrumentos: subsídios diversos aos produtores e ao consumo,
impostos, barreiras alfandegárias, bancos alimentares, estabelecimento de preços
oficiais, quotas de produção, gestão de estoques alimentares para estabilização dos
mercados, entre outros (MOSCA, 2008).
As formas directas e indirectas de controlo de preços (pelo Governo), influenciam
sempre os mercados, a competitividade dos produtores, a eficiência na utilização dos
recursos e as contas públicas. Por outro lado, pode-se estimular o consumo, aumentar a
acessibilidade aos alimentos pelos grupos sociais de menores rendimentos, contribuindo
assim para a redução da pobreza (MOSCA, 2008).
A distribuição gratuita ou a preços inferiores aos do equilíbrio do mercado dos bens da
ajuda e da cooperação, provocam geralmente impactos paralelos entre o produtor e o
consumidor. Quando existe escassez de oferta, os preços nos mercados informais são
superiores aos estabelecidos administrativamente. Em situação contrária, os mercados
informais ficam repletos a preços inferiores aos estabelecidos, deixando esta medida
pública de produzir os efeitos desejados pela administração (MOSCA, 2008).
Grande parte do agente económico informal (pequenos produtores, pequenos
comerciantes ambulantes, varejistas), não possui conhecimento, tradição e capacidade
para investir em infra-estruturas comerciais e para a formalização das actividades.
COMERCIALIZAÇÃO DE CEREAIS E OUTROS PRODUTOS NO PAÍS
A comercialização agrícola é um “processo contínuo e organizado de encaminhamento
da produção agrícola ao longo de um canal de comercialização, no qual o produto sofre
transformação, diferenciação e agregação de valor” (MENDES; PADILHA JUNIOR,
2007, p. 8). O resultado dessa troca é transacção, que pode ser considerada a unidade
fundamental da análise do funcionamento do sistema económico. Os bens fluem pelos
canais de comercialização e de distribuição que conduzem as mercadorias do produtor
ao consumidor final.
As principais importações de milho são feitas pelo sector privado. Na região sul, mais
concretamente na cidade de Maputo, os principais importadores de produtos são as
grandes moageiras industriais, como a Companhia Industrial da Matola (CIM),
MEREC, Higest, SMC, entre outras, e os grandes armazenistas, como a Delta Trading,
Sasseka, Africom etc. (JACINTO CHAMBO, 2013).
Moçambique exporta para América e Asia (amêndoa, e castanha de caju, gergelim, etc),
para Europa (algodão) e para os países vizinhos, formal e informalmente, diversos produtos
agrícolas (milho, arroz, feijões e amendoim).

Como já citado, a maior parte da produção do milho vem das províncias de Sofala, Manica,
Zambézia e Tete, a figura abaixo mostra as quantidades de vendas efetuadas por locais e a
natureza do agricultor, ou seja, se este é caracterizado como familiar ou comercial e até
associações.

Figura 1. Comercialização agrícola; Compras Locais no período de 2008-2012 (toneldadas)

Fonte: MIC (2013)


Canais de produção e comercialização
O milho produzido e comercializado em Moçambique segue canais ou segmentos de
mercado de certa forma semelhante aos de outros grãos, porém algumas diferenças
podem surgir dentro dos diferentes canais de comercialização de cada produto,
originadas pelo tipo de actor que intervém em cada canal de produção e comercialização
de ambos os produtos.
Todavia, embora estudos de cadeia de valor de cereais em Moçambique revelem a
existência de diversas ligações entre diferentes atores dentro da cadeia de valor dos
cerais, na verdade há apenas quatro canais principais de produção e comercialização de
cereais. Segundo Sitole e Mudema (2012), os canais de produção e comercialização de
cereais em Moçambique são:
Canal 1 (Produção de cereais para o consumo familiar):
Neste canal, a produção de cerais (exemplo o milho) é orientada para subsistência dos
próprios produtores, não havendo intervenção de nenhum actor de mercado. Os baixos
níveis de produção de milho e a necessidade de salvaguardar a segurança alimentar
fazem com que os produtores não coloquem esses produtos no circuito comercial,
mesmo com preços atractivos.
Canal 2 (Comercialização de cereais com intervenção de intermediários):
Este é o principal canal de provisão de cereais para os mercados consumidores do país.
Os cereais produzidos pelos pequenos produtores é inicialmente adquirido por
intermediários, que, quando se aproxima a época da colheita, proliferam nas zonas
rurais, aliciando os produtores, sobretudo das zonas mais remotas, para comprar os seus
produtos. Os intermediários, tendo maior domínio da informação sobre os preços
praticados noutros mercados, manipulam os produtores e fazem com que estes vendam
o seu produto a preços baixos, utilizando-se na maior parte das vezes de balanças
viciadas.
Feita a transacção com os produtores, os intermediários transportam os cereais por meio
de bicicletas/motos e vendem em mercados locais, que registam maior concentração de
grossistas provenientes de fora, os quais se fixam nesses mercados também à busca do
produto. Os grossistas, depois de permanecerem vários dias, semanas ou meses
acumulando o produto, transportam-no maioritariamente em carros alugados até os
mercados de onde eles são originários; posteriormente, vendem aos retalhistas, e estes,
por sua vez, aos consumidores das zonas urbanas.
Canal 3 (Comercialização de milho sem intervenção de intermediários)
Este canal surge pelo fato de alguns produtores, com alguma informação sobre o preço
praticado, preferirem transportar os seus produtos em bicicletas/motos e, pessoalmente,
procurarem para vender os comerciantes grossistas, que normalmente oferecem
melhores preços, comparativamente aos intermediários.
Canal 4 Produção e comercialização de milho para processamento em farinha
Este canal resulta da associação entre os canais 2 e 3, porém neles os grossistas são
maioritariamente as moageiras, que compram os cereais para processar em farinha e
outros derivados. Este canal é muito importante para as moageiras particularmente
localizadas nas regiões centro e norte de Moçambique, que dependem quase na
totalidade do produto localmente produzido. Depois de processada, a farinha é
disponibilizada aos grossistas, que por sua vez vendem aos retalhistas antes de chegar
aos consumidores.
Entretanto, em Maputo existe um certo grupo de consumidores que adquire o produto
(exemplo o milho) nos grossistas ou retalhistas para mandar processar em farinha em
algumas moageiras caseiras movidas a energia eléctrica, como alternativa à aquisição do
processado e empacotado, que é vendido a preços elevados.
Figura 2 - Os canais de produção e comercialização de cereais em Moçambique.

Fonte: adaptado de SITOLE; MUDEMA, 2012.


Factores que afectam a escolha do canal de comercialização

 Natureza do produto: A maior perecibilidade dos produtos é quem determina


canais de comercialização mais curtos, ou seja, que os locais de produção não
distanciem dos centros de consumo, a fim de evitar perdas;
 Natureza do mercado: Mercadorias de consumo restrito admitem um canal de
comercialização curto, ao passo que para artigos de grande consumo, que
exigem maior trabalho de distribuição, é necessário adoptar um canal de
comercialização mais longo. Quanto maior o volume de vendas por consumidor,
tanto menor a possibilidade de realizar a comercialização directa. O carácter
estacional das vendas favorece o comprimento do canal de comercialização;
 Margens de comercialização: A margem de comercialização, segundo
MARQUES e AGUIAR (1993), é obtida mediante diferença entre o preço de
mercado do produto nos diferentes níveis da cadeia de comercialização, já que
entre o agricultor e o consumidor final existem agentes intermediários que
colocam o produto onde, quando e na forma que o consumidor desejar.

Factores que influenciam a formação dos preços de cerais em Moçambique

Na formalização do preço final de qualquer produto, cada actor leva sempre em conta os
custos associados à produção ou transacção do produto, bem como a margem de lucro
que se pretende alcançar com a sua comercialização (HOLLAND, 1998).
Entretanto, os dados do TIA (2009) mostram que apenas 36% de agregados familiares
produtores têm acesso a informação sobre mercados agrícolas, o que de certa forma
concorre para a falta de transparência e incentivo à especulação na altura de
comercialização, pois em Moçambique não existe actualmente nenhum regulamento de
controle de preços ou uma bolsa que facilite a difusão e conhecimento desse tipo de
informação.
Outro factor que tem papel importante na formação do preço, em particular nos
produtos de produção nacional, é a precariedade das infra-estruturas de transporte, o que
resulta em altos custos de transportes, sazonalidade da produção, dispersão da produção,
entre outros. Em relação aos produtos importados, além da especulação devido às
dificuldades de acesso a informação sobre os preços praticados no mercado
internacional por parte dos intervenientes da cadeia, eles são também afectados pela
flutuação da taxa de câmbio, dos preços dos combustíveis e das imposições aduaneiras.
A dificuldade de acesso ao crédito por parte dos grossistas ambulantes é uma barreira
que determina em grande medida os volumes que estes podem adquirir junto dos
produtores; segundo o TIA (2009), 65% dos grossistas não tinham acesso ao crédito.
O preço dos bens substitutos dos cereais (exemplo do milho, arroz) também pode ser
um factor a se levar em conta; são os casos da mandioca seca, que, quando apresentam
preços relativamente inferiores aos do milho, têm provocado queda na procura deste e
consequente baixa no preço.
III. METODOLOGIA
3.1. Localização da área de estudo
Moçambique, oficialmente designado como República de Moçambique, é um país
localizado no sudeste do Continente Africano, banhado pelo Oceano Índico a leste e que
faz fronteira com a Tanzânia ao norte; Malawi e Zâmbia a noroeste; Zimbabwe a oeste e
Suazilândia e África do Sul a sudoeste. Moçambique é dotado de ricos e extensos
recursos naturais. A economia do País é baseada principalmente na agricultura, mas o
sector industrial, principalmente na fabricação de alimentos, bebidas, produtos
químicos, alumínio e petróleo, está crescendo. A taxa média de crescimento económico
anual do PIB moçambicano tem sido uma das mais altas da África. No entanto, as taxas
de PIB per capita, IDH, desigualdade de renda e expectativa de vida de Moçambique
ainda esta a níveis baixos.

Fonte: (Modeled ILO Estimate) - Mozambique


O clima do País é húmido e tropical, influenciado pelo regime de monções do Índico e
pela corrente quente do canal de Moçambique, com estações secas de Maio a Setembro.
As temperaturas médias em Maputo variam entre os 13-24 °C em Julho a 22-31 °C em
Fevereiro. A estação das chuvas ocorre entre Outubro e Abril. A precipitação média nas
montanhas ultrapassa os 2000 mm. A humidade relativa é elevada situando-se entre 70
a 80%, embora os valores diários cheguem a oscilar entre 10 e 90%. As temperaturas
médias variam entre 20 °C no Sul e 26 °C no norte, sendo os valores mais elevados
durante a época das chuvas

Moçambique é um país vasto, com uma grande variabilidade em termos de padrões de


chuvas e outros factores climáticos e agro-ecológicos. A região Sul de Moçambique é
caracterizada por um clima semi-árido, com regime de chuvas irregular, com níveis
anuais que variam entre 350 mm a 900 mm. Com poucas excepções, os solos na parte
sul do país tem baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de água. Entre outras,
estas características fazem com que a região Sul de Moçambique seja menos adequada
para a produção agrícola em sequeiro. As regiões centro e norte do País onde as
condições agro-ecológicas são mais favoráveis para a produção (a precipitação anual
varia entre 1000 mm a 2900 mm) relativamente à região sul.

Dependência do clima, baixo uso de tecnologias e insumos agrícolas são algumas


características que denotam elevado risco à actividade agrícola no país.

Uso de Terra

Em 2018, as terras agrícolas incluíam 52,7% da área total de terra, mas apenas 7,2% da
área total de terra é arável. O resto 47,3% da área de terra é ocupada por floresta.

Tabela 2. Discriminação do uso da terra em 2018


Área de terra ( km2)

Área total de terra 786,380


Terras agrícolas 414,138
Terras florestais 372,241,7
Terras aráveis 56,500
Fonte:

3.2. Material e Método


Para a elaboração do trabalho recorreu-se a pesquisa documental baseada na recolha de
dados numéricos para a validação da problemática em estudo, abrangido a consulta de
informação em relatórios e documentos em instituições como o Ministério da
Agricultura, a Direcção Nacional Indústria e Comercio, foram consultadas também
obras literárias e sites de internet relacionados com o assunto.

ESTRATÉGIAS PARA O FORTALECIMENTO DA COMERCIALIZAÇÃO DE


CEREAIS EM MOÇAMBIQUE

Para fortalecer a comercialização de cereais e promover a segurança alimentar em


Moçambique, algumas estratégias e políticas podem ser adoptadas:

 Investimento em infra-estrutura: É essencial melhorar a infra-estrutura de


transporte, armazenamento e processamento de cereais. Construção e
manutenção de estradas, pontes e silos adequados ajudariam a facilitar o
transporte dos produtos agrícolas, reduzir perdas pós-colheita e melhorar a
eficiência do sistema.
 Desenvolvimento de mercados locais: É importante promover o
desenvolvimento de mercados locais para os cereais, estimulando a participação
de pequenos agricultores e produtores rurais. Incentivos fiscais e financeiros
podem ser oferecidos para estimular o empreendedorismo agrícola, a criação de
cooperativas e a formação de parcerias entre produtores, processadores e
comerciantes.
 Acesso a crédito e seguro agrícola: Fornecer acesso a crédito acessível e
seguro agrícola é fundamental para permitir que os produtores invistam em suas
actividades agrícolas e lidem com os riscos associados à produção e
comercialização de cereais. Programas de microcrédito específicos para
agricultores podem ser implementados, juntamente com a criação de seguros
agrícolas que protejam os agricultores contra perdas de safra devido a eventos
climáticos adversos ou outros imprevistos.
 Fortalecimento da capacidade técnica: Promover a capacitação e treinamento
dos agricultores em boas práticas agrícolas, técnicas de armazenamento
adequado, manejo pós-colheita e técnicas de comercialização pode melhorar a
qualidade dos produtos, reduzir perdas e aumentar a competitividade no
mercado.
 Melhoria do acesso a informações: Estabelecer sistemas eficazes de colecta e
disseminação de informações sobre preços de mercado, demanda, tendências de
consumo e condições climáticas pode ajudar os agricultores a tomar decisões
informadas sobre produção e comercialização. Isso pode ser feito por meio de
plataformas digitais, como aplicativos móveis, além de programas de extensão
agrícola e parcerias com organizações locais.
 Promoção da agricultura familiar: Reconhecer e apoiar a importância da
agricultura familiar na produção de cereais e promover políticas que fortaleçam
sua sustentabilidade e resiliência. Isso pode incluir incentivos para a
diversificação de culturas, apoio à implementação de práticas de conservação de
recursos e acesso a serviços de assistência técnica e extensão agrícola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comercialização agrícola em Moçambique é praticada por pessoas de todas as idades.


verifica-se a ausência de políticas claras com o intuito de fazer face a protecção do produtor
de modo que este não seja vulnerável por parte dos compradores.

O tempo de produção traz experiência para os agricultores na comercialização e constituí


uma força motivadora na adopção de estratégia de gerenciamento de risco de preços. Pois,
através da experiência o produtor conhece melhor o comprador seja Privado ou Público que
em muitos casos culmina com a celebração de contratos informais e formais como forma de
gestão de riscos de preços.

A maior parte dos produtores de cereais não fazem o uso de estratégia de gerenciamento de
riscos de preços na comercialização, devido a falta de informação e da maneira de como o
processo de escolha de cada estratégia é feito. Na maioria das vezes o objectivo deles é
vender toda a produção de um só vez para evitar o armazenamento da produção que depois
é atacada por pragas pôs colheitas fato que deprecia a qualidade do produto, isto porque o
produtor não tem condições ideais para armazenar o produto para a estocagem e posterior
venda.

A principal via de venda da produção dos cereais é o mercado físico informal, feiras
agrícolas e mercado formal. O clima, preço recebido pelos cereais, alto custo de insumos no
mercado constituem principais riscos associados a produção que de certa forma elevam os
custos totais de produção fato que por vezes não compensa com preço de venda em
mercados de consumidor final.

Um outro facto que constitui um problema na comercialização é a questão da logística


de escoamento dos produtos devido a vias de acesso deficientes (estradas degradadas)
provocadas por frequentes inundações que dificultam a mobilidade dos compradores das
zonas urbanas para as rurais onde se localizam as propriedades dos produtores.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://pt.knoema.com/atlas/Mo%C3%A7ambique#Agricultura

„Employment in Agriculture (% of Total Employment) (Modeled ILO Estimate) -


Mozambique | Data‟, accessed 27 May
2021, https://data.worldbank.org/indicator/SL.AGR.EMPL.ZS?locations=MZ

World Bank, ‘Agricultural Land (% of Land Area) - Mozambique’, accessed 1 June


2021, https://data.worldbank.org/indicator/AG.LND.IRIG.AG.ZS?locations=MZ

‘FAOSTAT: Commodities by
Country’2021, http://www.fao.org/faostat/en/#rankings/commodities_by_country_imports

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