GUIMARÃES, S.P. TONINI, M.D. Da Cabeça Aos Pés - Como o Racismo Aparece em Todos Os Níveis Do Futebol Brasileiro - 5 Jul. 11

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10/02/2020 Da cabeça aos pés: como o racismo aparece em todos os níveis do futebol brasileiro

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25.2
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Da cabeça aos pés: como o racismo aparece em todos os níveis do volumes/v


futebol brasileiro
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Marcel Diego Tonini (https://www.ludopedio.com.br/autores/marceldt/), Saulo Pereira Guimarães
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Os jogadores de futebol negros que atuam fora do Brasil acreditam que o racismo neste esporte é menor aqui do que
no exterior. Mas, para Marcel Diego Tonini, esta crença é antes uma reprodução do mito da democracia racial
brasileira do que realidade. Esta é uma das conclusões de sua dissertação de mestrado sobre racismo e futebol,
defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). O
cientista social, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), foi além
dos gramados para ouvir as histórias e memórias dos negros no esporte de 1970 a 2010. (http://localhost/wp-
skeleton/wp/biblioteca/alem-dos-gramados/)

Segundo o autor, a falta de análises recentes sobre um assunto tão polêmico quanto atual motivou a pesquisa. O
trabalho é baseado em 20 entrevistas com personalidades do futebol, com duração média de duas horas cada. Cada
entrevistado indicava outros nomes a serem procurados, formando assim uma rede com legitimidade e
representativa do meio. Além de jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, torcedores, jornalistas e especialistas
foram entrevistados. “Inicialmente tímidos ao falar sobre o tema, eles aos poucos se desinibiram e contaram casos
que testemunharam em suas carreiras”, afirma Tonini, mestre em História Social pela USP.

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10/02/2020 Da cabeça aos pés: como o racismo aparece em todos os níveis do futebol brasileiro

O cientista
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jogadores que atuam
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diferente e hostil, reafirmam o discurso da “democracia racial brasileira”. Em entrevista para a dissertação, Júnior,
ex-lateral do Flamengo, afirmou ter sido discriminado na Itália, por torcidas adversárias quando defendia a equipe
do Torino. Num jogo contra o Juventus, uma faixa no estádio continha os dizeres “Júnior, sporco negro!” ou “Júnior,
negro sujo!”. Indagado por um companheiro de clube, ele disse não ter visto a faixa, afirmando que nasceu “num país
onde a miscigenação é total”. Para Tonini, uma ideia contraditória, tendo em vista os vários relatos atuais de
preconceito nos clubes e federações do Brasil.

Em campo, nos clubes e nas torcidas


Um exemplo disso é a falta de negros em posições
de destaque além do elenco das equipes. Durante
o período da pesquisa, entre 2007 e 2010, Tonini
constatou que poucos árbitros negros atuavam
jogos da Série A do Campeonato Brasileiro e que
todos os dirigentes dos clubes na competição eram
brancos. No trabalho, o juiz João Paulo Araújo
narra episódios de preconceito vividos ao longo de
sua carreira, nas décadas de 1980 e 1990. Ele
afirma nunca ter sido escalado para apitar uma
final do Campeonato Paulista, em função do
preconceito dos diretores de clubes da federação.
“A estrutura do futebol reproduz o racismo da
sociedade. Entre os dirigentes, negros também são
minoria. Eles são desencorajados a assumir cargos
importantes”, afirma Tonini.

Ele observa que a formação educacional


necessária para esses cargos está fora do alcance
da maioria dos negros, vindos geralmente das
Foto: Jessica Hilltout (Amen Project)
classes pobres. Além disso, muitos deles não têm
um histórico de ligação familiar dentro dos clubes,
o que é frequente entre os dirigentes. Outro obstáculo é o fato de serem cargos não remunerados, o que afasta da
direção dos times quem tem menor poder aquisitivo.

Mesmo dentro dos campos, negros não são bem-vindos em todas as posições. Para o cientista social, existe uma ideia
latente, negada pelos treinadores, de que negros não estão preparados emocionalmente para momentos decisivos.
Tonini lembra, por exemplo, que antes de Dida, goleiro da Seleção Brasileira de 1995 a 2006, o último negro a ocupar
o espaço foi Barbosa, considerado culpado pela derrota na final da Copa de 1950. A tese vale inclusive para outros
esportes. O pesquisador cita a derrota do piloto inglês Lewis Hammilton no Mundial de Fórmula 1 de 2007, que foi
atribuída por órgãos da mídia brasileira à sua “fraqueza mental”.

Dentre os entrevistados para a pesquisa, seis eram brancos. Três deles, dirigentes do Cruzeiro, Grêmio e Juventude,
minimizaram os casos de racismo e afirmaram que há despreparo por parte dos negros para ocupar outros espaços
no futebol. Já os jornalistas Juca Kfouri e Celso Unzelte tiveram um olhar diferente, assumindo a existência do
racismo e outras formas de preconceito no esporte. Em entrevista, Unzelte citou um jogo entre Corinthians e
Palmeiras, na semana do centenário da abolição da escravatura, em que a torcida palmeirense gritava: “Ala, ala,
ala… silêncio na senzala!” (ao invés do coro recorrente “Ela, ela, ela… silêncio na favela!”) e “Ão, ão, ão… acabou a
abolição!”.

Tonini pretende dar prosseguimento a essa linha de pesquisa em seu doutorado. Nessa etapa, ele quer focar em
jogadores que estiveram fora do país a partir da década de 1990 e como eles repensaram a questão do racismo na
volta ao Brasil. Para ele, o fenômeno do racismo não é esporádico e deve ser estudado. “Assim, podemos
compreender melhor esse fenômeno e trazer para a historiografia as vozes e as experiências dos negros, personagens
sempre excluídos”, afirma o cientista social.

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