A Experiência Com Arte Na Colônia Juliano Moreira Na Década de 1950 João Henrique Queiroz de Araújo e Ana Maria Jaco-Vilela
A Experiência Com Arte Na Colônia Juliano Moreira Na Década de 1950 João Henrique Queiroz de Araújo e Ana Maria Jaco-Vilela
A Experiência Com Arte Na Colônia Juliano Moreira Na Década de 1950 João Henrique Queiroz de Araújo e Ana Maria Jaco-Vilela
ISSN: 2525-8761
RESUMO
Atualmente no Brasil, a loucura pode ser considerada como um atrativo, porém com uma
abordagem ética exibida pelos museus e com a arte produzida por trás. Tendo isso em
vista, a pesquisa tem como objetivo geral a avaliação do fenômeno turístico em relação à
loucura, observando seu histórico, ética e relevância para o turismo no Brasil. Quanto aos
objetivos específicos são: levantar um histórico de como a loucura era tratada na Idade
Média e na Idade Moderna; contrastar a ética turística com o tratamento para com o louco
no Brasil; mapear os museus da loucura no Brasil, analisando a influência exercida por
esses museus para o destino turístico. O estudo tem caráter transversal, qualitativo e de
revisão de literatura, seus objetivos são exploratórios, com a amostra não-probabilística
intencional, os procedimentos técnicos de coleta de dados foram documental e
ABSTRACT
Currently in Brazil, madness remains an attraction, but with an ethical approach exhibited
by museums and with the art behind it. With this in mind, the research has as its general
objective the evaluation of the tourist phenomenon in relation to madness, observing its
history, ethics and relevance for tourism in Brazil. As for the specific objectives, they are:
to survey a history of how madness was treated in the Middle Ages and in the Modern
Age; to contrast the tourist ethics with the treatment of the insane in Brazil; to map the
museums of madness in Brazil, analyzing the influence exerted by these museums on the
tourist destination. The study has a transversal, qualitative and literature review character,
its objectives are exploratory, with an intentional non-probabilistic sample, the technical
procedures for data collection were documentary and bibliographic. The results showed
that these museums currently serve as tourist attractions for those who are interested in
local history and rebuilding it, promoting the economy of the receiving region. The study
seeks to reflect so that the atrocities that occurred in the past mentioned in this research
are not repeated.
1 INTRODUÇÃO
A psiquiatria vê a loucura como uma doença de natureza mental, que ao ser
designada, é estabelecido um tratamento para a mesma para que o comportamento seja
eliminado ou reduzido. Muitas vezes a loucura é um fenômeno que serve para a
intolerância e exclusão, em alguns casos a internação é necessária. A psiquiatria e
psicologia lutam para que esse rótulo seja eleiminado, dando um novo conceito para
transtornos mentais (JUNIOR e MEDEIROS, 2007).
Trazendo para um conceito mais simplista, a loucura de acordo com o Dicionário
Michaelis, é uma doença mental considerada como uma “alienação total do indivíduo em
relação aos fatos que lhe são pertinentes”, algo que remete a falta de senso ou que está
fora das normas estabelecidas pela sociedade. Assim, no passado o governo buscava
excluir e segregar os portadores de doenças mentais.
Antes de continuar a pesquisa, é importante deixar claro que “louco” é um termo
pejorativo e que não deve mais ser usados nos dias atuais, tal como o termo “hospício”.
Dessa forma, no decorrer da pesquisa os termos foram usados, mas em um sentido que
remete ao passado, já que essas eram as formas de se referirem aos portadores de doenças
2 METODOLOGIA
Entende-se que a metodologia mostra os caminhos percorridos pelo pesquisado
para encontrar os resultados associados aos objetivos específicos e como ocorreu a
investigação, que no caso é a respeito do turismo associado a loucura na Idade Média e
Moderna e seus museus a partir dos hospitais psiquiátricos no Brasil.
Quanto a abordagem da pesquisa, considera-se qualitativa e documental,
conforme aponta Michel (2009), a pesquisa qualitativa não se comprova de forma
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Houve sempre um mistério em relação a loucura em que havia uma forma de
discriminação por trás e a forma em que era lidado e foi se modificando com o tempo,
sendo algo tido como construção histórica desenvolvida a partir do contexto social. A
partir do século XVIII, os considerados loucos no Brasil passaram a ser trancafiados em
instituições para a estratégia de higienização (CUNHA, 2019).
O sociólogo Goffman, explica que uma instituição total é um lugar onde um
pequeno grupo foi separado da sociedade e viviam de forma reclusa em alguma
instituição por um período de tempo (GOFFMAN, 1974). Vendo por essa ótica, podemos
dizer que um hospital psiquiátrico é uma forma de instituição total, mas voltado para
pessoas que necessitam de algum tipo de intervenção em um âmbito psicológico e
psiquiátrico.
humanos, e que esses lugares se tornaram algo maior que um simples local de memória,
mas também atrações turísticas (PEREIRA, 2020).
Conforme aponta Stone (2006), o turismo mórbido ou dark tourism (turismo
sombrio) é subdividido em segmentos para melhor entende-lo. O primeiro é o Dark Fun
Factories (Produção de diversão sombria) onde o foco são as atrações e passeios feitos a
partir de uma infraestrutura e tecnologia pensada para esse tipo de público. Há a
modalidade Dark Dungeons (Masmorras sombria) no qual o produto gira em torno de
visitações em antigos tribunais e prisões.
O próximo segmento gira em torno do Dark Resting Places (Lugares de descanso
escuros) que aponta a visitação em cemitérios como uma forma de produtos em potencial.
Há também o Dark Shrines (Santuários sombrios) que são santuários em que há o
comércio de recordações com o objetivo de respeitar aos entes queridos enterrados
(STONE, 2006).
Outra modalidade é o Dark Conflict Sites (Lugares de conflito sombrio) que são
os locais que ocorreram guerras e campos de batalha importantes para a humanidade.
Tem-se também o Dark Camps Genocide (Campos de genocídio sombrio) que é voltado
para locais que foram marcados pelo genocídio contra alguma população específica,
gerando toda uma carga emocional para o praticante (STONE, 2006).
E como última segmentação do dark tourism, tem-se a Dark Exhibitions
(Exposições sombrias) o segmento apontado nesse estudo. Nesta modalidade são
incluídas os museus e memoriais que exibem a morte e o sofrimento tendo foco educativo.
Os quatro museus relacionados a presente pesquisa tem o objetivo de informar
sobre o que foi relatados pelos pacientes naquele local, deseja-se que tal fatos desumanos
e dolorosos não voltem a se repetir.
No quadro 1 está representado os nomes e as localizações dos museus voltados
para a obra e a memória dos hospitais psiquiátricos pelo Brasil.
Pintura e Arte Feminina Aplicada da Colônia Juliano Moreira, e logo depois foi realizado
um congresso em Paris intitulado de 1º Congresso Internacional de Psiquiatria, que
contou com obras vindas do Hospício do Juquery, do Hospício Nacional de Dom Pedro II
e da Colônia Juliano Moreira (ARAÚJO e JACÓ-VILELA, 2018).
Nos dias de atuais, as construções mais antigas da Colônia Juliano Moreira é o
Núcleo Histórico Rodrigues Caldas, compondo o Circuito Cultural Colônia. Em 2015 foi
implementado o Circuito Cultural Colônia, no Museu Bispo do Rosário de Arte
Contemporânea que se utiliza do conceito de Museu Expandido, que conta com elementos
da arquitetura, históricos, cultural do local para que haja sua valorização memorial
(COLÔNIA JULIANO MOREIRA, s/d).
Pedro II, inaugurado no ano de 1852, sendo o primeiro tipo de instituição a funcionar no
Brasil que abrigasse os chamados de alienados. Foi pensado que os hospitais psiquiátricos
da época serviam como uma forma de controle social das cidades, isso se deu por causa
dos registros de internações, que tem um claro destaque o papel da polícia na inserção de
desviantes. Com isso, foi visto que a polícia auxiliou na caçada àqueles que não se
encaixavam dentro dos padrões normativos da sociedade (RIBEIRO, 2016;
FACCHINETTI e REIS, 2016).
Inicialmente, quem tinha um poder aquisitivo maior e era internado no Hospício
Nacional Dom Pedro II tinha privilégios maiores de quem não tinha capital. Nos estudos
analisados, no período que o Brasil se tornou uma República, foi visto que qualquer pessoa
que era considerada pobre, bêbado, desordeiros e que de alguma forma não estava de
acordo com os padrões da época, poderia ser internado(a) naquele local, sem qualquer
burocracia. No caso, quando uma pessoa estava ali para ser internada a mando da família
então o processo era mais burocrático.
A maioria dos pacientes ali internados, voltavam ao convívio da sociedade. No ano
de 1946, uma médica chamada Nice Silveira assumiu a Seção de Terapia
Ocupacional, a médica não concordava com o tratamento utilizado pelos pacientes na
época e pela forma desumana que eram tratados. Pensando nisso, Nice montou um ateliê
de pintura e modelagem onde os internados poderiam expor suas emoções, conflitos e
pensamentos a fim de entender o que o paciente sentia e acompanhar sua recuperação
(BEGALLI E e SILVEIRA, 2020).
A partir do que foi produzido nesse ateliê foi criado o Museu de Imagem do
Inconsciente em 1952, com um acervo atual de 350 mil obras, onde algumas delas foram
tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Além
disso, omuseu possui o registro latino americano do “Programa Memória do Mundo” da
UNESCO em 2017. O objetivo do trabalho da Nice é reabilitar e não mais segregar, esse
ateliê é visto como um local agradável, um ambiente voltado para a aceitação, e o Museu
é voltado para a educação, combate ao preconceito, injustiças e desigualdade social.
8 MUSEU DA LOUCURA
O Museu da Loucura está localizado na cidade de Barbacena, no estado de Minas
Gerais, na rua 14 de Agosto, s/n, no Bairro Floresta. A figura 4 mostra como está a sua
fachada no momento.
foram citados acima, o Museu da Loucura não possui em seu acervo obras feitas pelos
pacientes, o que tem no local são instrumentos que eram usados onde é possível imaginar
como era o sofrimento que os indivíduos passavam ali e como era o funcionamento da
instituição. Quem visita o museu, consegue entender o que cada paciente que passou pela
instituição vivenciou em sua trajetória, a sensação de medo, anseios e o abandono pela
sociedade (ORSI, 2013).
9 CONCLUSÃO
Os museus aqui estudados, servem como atrativos turísticos para aqueles que se
interessam pela história local, fomentando a economia da região receptora, como por
exemplo, o caso de Barbacena, que de acordo com o site de notícias G1 (2017), o museu
possui um papel fundamental para o fluxo turístico regional e precisa de apoio para que a
geração e formalização dos estabelecimentos de meios de hospedagens tenham mais
empregos.
Os museus da loucura espalhados pelo Brasil, tem uma história mórbida por trás e
bem recente. As histórias que ocorreram por lá acabaram a um pouco mais de 50 anos,
trazendo à tona uma realidade não tão distante do que está sendo vivido atualmente,
mostrando como o sistema brasileiro de tratamento para pessoas com transtornos mentais
mudou a pouco tempo.
Com o objetivo de honrar a memória dos que passaram por ali, foram criados esses
museus, para que de uma certa forma, estas pessoas que foram esquecidas e jogadas
naquelas instituições psiquiátricas fossem lembradas e que façam da arte a sua voz,
trazendo a tona o que o Brasil tentou esquecer de forma forçada, sendo algo exibido com
tanto carinho para educar e serem lembrados.
Os museus são de grande influência e de importante significância para o turismo
cultural local, no caso dos museus citados no estudo, acabam fomentando o turismo
mórbido que ajudam a reconstruir a história local para quem quer que os visite, seja
visitante ou residente.
É interessante analisar que, a partir de uma realidade tão sofrida do passado se
transformou em um propósito de arte pela celebração da vida daqueles que faleceram em
decorrência de uma forma de tratamento que na época acreditava-se ser o ideal. Com isso
pode-se dizer que por causa disso a loucura continua atrativa e fascinante para o público.
Esse encontro com o passado retratados pelos museus não são apenas através de imagens
negativas e repulsivas, mas sim, mostrar a realidade da época, e também contribuir como
reflexão para que não sejam repetidas as atrociidades do passado citados neste estudo.
Percebe-se que outra contribuição desses museus é manter viva a história local tanto para
os moradores como para quem visita.
REFERÊNCIAS
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