D. Jõao e As História Dos Brasis (José Murilo de Carvalho)

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d.

Joo e as histrias dos Brasis


D. Joo VI and the writing of Brazilian history Jos Murilo de Carvalho*

Resumo
O artigo, escrito em forma de ensaio, aproveita as celebraes dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro para discutir o tema nacional na historiografia brasileira. Argumenta que o Brasil no sculo XIX era mais aspirao do que realidade e que sua histria foi escrita quase que exclusivamente a partir do centro poltico localizado no Rio de Janeiro. A partir da dcada de 1930, So Paulo, via USP, teria disputado exitosamente com a capital a escrita de uma narrativa nacional. Hoje, a democratizao de nossa produo historiogrfica estaria alterando esse quadro e enfrentando novos desafios voltados para as relaes entre o regional, o nacional e o internacional. Palavras-chave: D. Joo VI; Brasil; Historiografia.

Abstract
The article, written as an essay, takes advantage of the celebrations of the bicentennial of the arrival of the Portuguese court in Rio de Janeiro to discuss the national theme in the Brazilian historiography. It argues that during the 19th Century Brazil was an aspiration rather than a reality and that its history was written almost exclusively from the political center in Rio de Janeiro. Since the 1930s, the state of So Paulo, through its University (USP), succesfully disputed with the capital the writing of national history. Today, the democratization of our historiographic production is changing this picture and facing new challenges regarding the relationship among the regional, the national and the international. Keywords: D. Joo VI; Brazil; Historiography.

No sou especialista no perodo joanino. Aceitei o convite do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Histria para falar sobre os 200 anos da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro quando me foi explicado que a idia era produzir um ensaio que refletisse sobre as celebraes e sobre o tratamento do tema na historiografia e na grande imprensa, com liberdade para ampliar a discusso para grandes questes nacionais que porventura pudes* Professor Titular, Depto. de Histria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Largo de So Francisco de Paula, n.1, Centro. 20051-070 Rio de Janeiro RJ Brasil. [email protected]
Revista Brasileira de Histria. So Paulo, v. 28, n 56, p. 551-572 - 2008

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sem estar embutidas nas celebraes e no debate. O que segue , ento, um ensaio despretensioso que carrega as vantagens e desvantagens do gnero. Entre as primeiras, est a liberdade de pensar, entre as segundas, um razovel grau de subjetivismo. O cerne do exerccio estar na preocupao de historicizar eventos e escritos em torno da vinda da corte, buscando detectar possveis ingredientes meta-histricos envolvidos.

A celebrao dos 200 anos


A localizao e a natureza das celebraes dos 200 anos j deixam clara sua historicidade. O grosso delas verificou-se na cidade do Rio de Janeiro. A prefeitura local criou comisso especial para planejar e executar as comemoraes. O escolhido para presidir a comisso foi o historiador Alberto da Costa e Silva, reconhecido como o maior conhecedor da histria da frica entre ns. O trabalho da comisso foi, e tem sido, extraordinrio. Programaram-se concursos, publicaes, restauraes, seminrios, eventos, que ocuparam boa parte da agenda cultural da cidade.1 Alm dessa programao oficial, houve ainda mesas-redondas, palestras e debates nas principais instituies acadmicas e culturais da cidade. Baste mencionar a Academia Brasileira de Letras, em reunio conjunta com a Academia de Cincias de Lisboa, a Academia Brasileira de Cincias, o Instituto Histrico e Geogrfico do Rio de Janeiro, o Colgio de Pedro II, a SBPC-Rio, a Fundao Getlio Vargas e a Anpuh regional. A UFRJ limitou-se a matria em seu Jornal. Do outro lado da baa, na Universidade Federal Fluminense, organizou-se um ambicioso congresso que contou com a participao de historiadores portugueses.2 Depois do Rio de Janeiro, a capital que mais se ocupou da efemride foi Salvador. O Instituto Histrico e Geogrfico da Bahia organizou um seminrio que, semelhana do da UFF, teve a participao de colegas portugueses. Houve palestras e lanamento de livros no Museu de Arte da Bahia, na Associao Comercial e na Faculdade de Medicina, coroando as celebraes uma festa no mar promovida pelo estado. Em outras capitais, a celebrao foi mais modesta. Limitou-se a alguns poucos seminrios e debates, se tanto. Em Porto Alegre, houve um seminrio na Assemblia Legislativa, parte de um projeto mais amplo do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do Sul sobre os 200 anos de construo do estado, e o jornal Zero Hora publicou vrias matrias sobre o tema. Em Belo Horizonte, houve ciclo de conferncias na PUC, debates na UFMG e sesso solene no Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerais. O Estado de Minas (7 de maro), publicou caderno espe552
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cial. Em So Paulo, o Instituto Histrico e Geogrfico estadual organizou um debate, Llia Schwarcz promoveu uma mesa-redonda na Pinacoteca paulista e a revista Pesquisa da Fapesp (janeiro de 2008) inseriu matria de capa. No Recife, o tradicional Jornal do Commercio (22 de janeiro) tambm organizou um caderno especial. A Universidade Federal de Juiz de Fora promoveu uma conferncia sobre o tema.3 O evento mais significativo por sua dimenso nacional e simblica est programado para este ms de outubro. Trata-se do IV Colquio dos 23 Institutos Histricos Brasileiros, patrocinado pelo IHGB, cujo tema ser o bicentenrio. As apresentaes daro conta do sentido da vinda da corte em 19 estados. O evento celebrar tambm o 170 aniversrio do IHGB. Embora esse levantamento no deva estar completo, mesmo porque o ano ainda no terminou, deve-se concluir que, no que se refere s celebraes, os 200 anos foram uma festa predominantemente carioca e, secundariamente, baiana. O resultado era previsvel, uma vez que se trata das duas cidades mais diretamente vinculadas histria da vinda da corte. Bem mais ampla foi a cobertura do tema na mdia de alcance nacional. Veja fez uma edio especial de 60 pginas, como se fosse uma reportagem da poca. Aventuras na Histria tambm publicou uma edio especial de 82 pginas. A SuperInteressante de abril, e da Abril, dedicou capa ao tema, acompanhada de matria de 11 pginas, com a colaborao de historiadores. A Revista poca de 28 de janeiro tambm publicou reportagem de 10 pginas. A Revista de Histria da Biblioteca Nacional, dirigida e escrita por historiadores, dedicou a capa do nmero de janeiro ao evento, com grande xito de venda. O Jornal do Brasil e O Globo fizeram ampla cobertura dos eventos realizados no Rio de Janeiro. A maior divulgao, no entanto, deveu-se sem dvida srie de reportagens da TV Globo e da Globo News. No que se refere a livros, deve-se mencionar em primeiro lugar as publicaes feitas pela Comisso carioca do bicentenrio. At agora, destacam-se a divulgao das cartas inditas de Carlota Joaquina por Francisca L. Nogueira de Azevedo, 4 dos livros de Vasco Mariz sobre a msica nos tempos joaninos,5 de Rosa Nepomuceno sobre a criao do Jardim Botnico,6 do relato de Thomas ONeil sobre a viagem da famlia real,7 com substancial introduo de Llia M. Schwarcz, autora tambm da histria da vinda da biblioteca real para o Rio de Janeiro, publicada em 2002,8 do livro de Kenneth Light sobre a mesma viagem, baseado em cuidadosa pesquisa de documentos inditos do Almirantado britnico, hoje guardados no Public Records Office,9 e do livro sobre sade pblica que traz documentos da poca e tem introduo de
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Moacyr Scliar.10 Em Salvador, lanou-se luxuosa edio sobre a chegada da corte cidade.11 No campo da histria da arte, ressaltam duas obras excepcionais patrocinadas pela Peugeot Citron do Brasil dentro do quadro das celebraes dos 200 anos: os monumentais catlogos raisonns de toda a obra brasileira de Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, publicados em edies luxuosas. O primeiro de autoria de Jlio Bandeira e Pedro Corra do Lago, o segundo de Pedro Corra do Lago.12 A esses dois, deve-se acrescentar o excelente livro de Llia M. Schwarcz sobre Nicolas-Antoine Taunay, mais analtico. Nele, a autora contesta a prpria idia de Misso Francesa.13 Fora do programa oficial de publicaes, merece registro o livro de Lcia Bastos sobre os panfletos antinapolenicos em Portugal14 e dois relatos jornalsticos. O primeiro do australiano Patrick Wilcken e foi publicado em data um pouco anterior do bicentenrio, 2004, e traduzida em 2005, certamente tendo em vista a efemride que se aproximava.15 O segundo o livro de Laurentino Gomes, 1808, que por meses tem freqentado a lista de mais vendidos.16 Registrem-se ainda a boa anlise do perodo sob o ponto de vista das relaes internacionais, de autoria de Andra Slemian e Joo Paulo G. Pimenta, e o romance de Ruy Castro, ao estilo das Memrias de um Sargento de Milcias.17 Como promessas, registrem-se a biografia de D. Joo que est sendo escrita pela professora Lcia Bastos Pereira das Neves, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e um estudo de D. Joo no Rio de Janeiro, a cargo da professora Ismnia Martins, da Universidade Federal Fluminense.18

O tom das celebraes e a existncia do Brasil


O tom predominante em todos os eventos e publicaes, como era de esperar, tem sido uma avaliao positiva, tanto da figura de D. Joo como das conseqncias da vinda da corte.19 No que se refere ao prncipe, tem predominado a posio equilibrada estabelecida pelo historiador e diplomata pernambucano Oliveira Lima em seu livro de 1908, em contraste com a viso quase caricata inaugurada por Oliveira Martins em 1880 e seguida no Brasil por Luiz Edmundo em 1939.20 Um sintoma dessa orientao a total marginalizao, em 2008, do filme de 1995 de Carla Camurati, Carlota Joaquina, princesa do Brasil, que seguiu a linha de Oliveira Martins. Ele s foi lembrado como exemplo negativo. A biografia de Jorge Pedreira e Fernando Dores da Costa tambm est mais prxima da postura de Oliveira Lima, assim como, provavelmente, estar a de Lcia Bastos Pereira das Neves. Uma das poucas
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manifestaes crticas que detectei veio do historiador baiano Lus H. Dias Tavares.21 Tambm tem predominado a viso da importncia da vinda da corte para o futuro da colnia. Mas aqui preciso fazer uma distino. Pessoalmente, nas vrias intervenes que fiz na imprensa, em mesas-redondas e em palestras, busquei distinguir entre o impacto da vinda e sua valorizao. Minha tese tem sido sempre que sem a vinda da corte no haveria Brasil. Em outras palavras, que a vinda da corte foi condio necessria, embora no suficiente, da existncia do Brasil assim como hoje o conhecemos. Esse ponto me parece difcil de negar. Tenho usado como argumento um pequeno experimento mental que me parece convincente. O exerccio consiste em supor a muito plausvel opo de D. Joo por permanecer em Portugal em vez de fugir para a colnia. As conseqncias dessa hipottica deciso no so difceis de imaginar. Basta verificar o que de fato se deu, logo depois da fuga de D. Joo, na Espanha e em suas colnias da Amrica: priso e exlio dos reis e fragmentao da colnia. Assim que desapareceu a monarquia que por trs sculos as governara, as vrias subdivises administrativas e judicirias da colnia espanhola comearam a buscar nova fonte de legitimidade. Durante pelo menos uma dcada, vrias opes foram alvitradas e tentadas, em meio a revoltas e guerras. O resultado final foi que os quatro vice-reinados e at mesmo as quatro capitanias-gerais se fragmentaram ao ponto de constiturem 16 repblicas independentes em 1830. Bolvar foi o exemplo quase pattico de tentativa de preservar o Vice-Reinado de Nova Granada. Ao final, nem mesmo conseguiu manter unida a capitania-geral da Venezuela, que se dividiu em dois pases, a Venezuela e a Colmbia. Com toda a probabilidade, a colnia portuguesa teria seguido o mesmo caminho. No havia nela diferena em relao espanhola que justificasse supor desenlace diferente. Apenas variaria o nmero de pases. A fragmentao se faria de acordo com as tradies histricas e o nvel de riqueza das vrias partes da colnia. Dificilmente, as 18 capitanias-gerais existentes em 1808 formariam 18 novos pases, pois muitas delas no tinham condies de sustentar sua independncia. Pode-se, no entanto, imaginar com certa facilidade a formao de um pas ao norte, abrangendo o antigo Estado do Maranho e Gro Par, com capital em Belm; outro no que hoje se chama Nordeste, sob a liderana de Recife (foi o que eventualmente se formou na Confederao do Equador); mais um na Bahia, com eventual conexo africana; outro no que hoje se conhece por Sudeste, abrangendo as capitanias do Rio de Janeiro, MiDezembro de 2008

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nas Gerais, So Paulo, Esprito Santo, Mato Grosso e Gois e, finalmente, uma repblica dos pampas ao sul, com ou sem fuso com a Banda Oriental.22 O nmero de pases que eventualmente se formariam no relevante. O ponto importante que a colnia no se manteria e, como conseqncia, no haveria Brasil. Alguns dos pases resultantes da fragmentao, o do Sudeste, por exemplo, poderiam adotar o nome de Brasil, at mesmo o de Repblica dos Estados Unidos do Brasil, mas no seria o Brasil de hoje. Tendo-se ainda em vista as enormes dificuldades encontradas na preservao da unidade da antiga colnia, mesmo com a vinda da corte e a manuteno da monarquia, acho difcil contestar esse ponto. Daqui para frente, quando for usada a palavra Brasil, ela indicar exatamente o pas que foi em contraste com o que poderia no ter sido. O ponto legtimo de discrdia reside na questo valorativa: a manuteno da unidade foi positiva? O Brasil valeu a pena? Ou teria sido melhor, por critrios que podem ser de natureza econmica, poltica ou cultural, que houvesse uma fragmentao semelhante da Amrica Espanhola? O problema se desdobra quando se inclui na discusso a maneira como foi feita a independncia, uma decorrncia lgica, mas no necessria, da vinda da corte. O Brasil poderia existir ou no; em existindo, poderia ser repblica ou monarquia constitucional; em sendo monarquia constitucional, poderia ser federal ou centralizada. A valorizao de qualquer uma dessas alternativas pode afetar a maneira de se traar a narrativa nacional. em torno dessas possveis implicaes da vinda da corte para a existncia e para a escrita do Brasil que gostaria de centrar o debate, posto que de maneira ainda bastante impressionista. Ser um modo de superar a dimenso de celebrao que tem dominado a efemride.

O protesto de frei Caneca


O conflito entre vises do Brasil ficou claro na posio assumida por Evaldo Cabral de Mello sobre as celebraes e amplamente reproduzida na imprensa. A formulao mais completa consta de entrevista dada a Mrio Hlio e publicada no Jornal do Commercio de Pernambuco em 22 de janeiro de 2008. O ttulo da matria, que ocupa toda a ltima pgina do caderno, j indica do que se trata: A festa da espoliao. A posio do respeitado diplomata e historiador pernambucano exatamente oposta do outro historiador e diplomata pernambucano, Manoel de Oliveira Lima. Este no s valorizava
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D. Joo como tambm a unidade da ex-colnia, isto , o Brasil. Evaldo Cabral de Mello no se detm muito em D. Joo mas claro sobre o Brasil. A celebrao dos 200 anos, disse ele, s interessa ao narcisismo coletivo carioca. Pernambuco e outras partes do pas, exceo de Minas Gerais por causa dos ganhos para sua lavoura obtidos com a vinda da corte, no tm razo alguma para celebrar. A vinda da corte para essas provncias s significou espoliao fiscal. Mais ainda, ela permitiu a formao no Rio de Janeiro de uma burocracia de portugueses e brasileiros que fizeram a independncia para preservar seus privilgios e defender-se do impacto causado pela revolta liberal do Porto.23 A relao direta entre a viso positiva da vinda da corte e a valorizao da existncia do Brasil colocada por Evaldo Cabral de Mello sem ambigidade. Cito: Quando algum fica entusiasmado com a vinda de D. Joo, est sempre achando que a unidade territorial do Brasil um valor supremo. E que por isso deve subordinar outros valores, como liberdades pblicas, desenvolvimento econmico. Talvez fosse melhor que o Brasil fosse menor e tivesse acabado a escravido mais cedo e realizado reformas que at hoje adia. A posio que daria preferncia a valores de autogoverno e liberdade em detrimento da unidade, estaria presente, segundo Evaldo Cabral de Mello, em Frei Caneca e nos outros rebeldes pernambucanos de 1817-1824.24 A influncia de frade carmelita , alis, bvia nas posies de Evaldo, tanto no que se refere ojeriza de Caneca aos polticos do Rio de Janeiro e do Sul em geral (a quem se refere como os aferventados fluminenses, aqueles sujeitos do stio do Ipiranga, a alcatia unitria, a matilha absolutista), como possibilidade de fragmentao da ex-colnia. Frei Caneca fala na possibilidade de criao de cinco estados independentes do ncleo das trs provncias que sustentaram D. Pedro no processo inicial da Independncia.25 A valorizao da unidade, ou do Brasil, no sentido que aqui dou palavra, seria, ainda segundo Evaldo Cabral de Mello, uma caracterstica da historiografia da fundao do Imprio escrita a partir do ponto de vista do Rio de Janeiro, ou do Centro-Sul. A uma pergunta do reprter sobre as razes da divergncia entre suas posies e as minhas, respondeu: Jos Murilo, como todo historiador do Centro-Sul, herdeiro da tradio saquarema da historiografia brasileira, para a qual tudo o que acontece no Brasil atravs do Rio, graas ao Rio e pelo Rio. E prosseguiu lamentando que tivessem contribudo fortemente para essa corrente historiogrfica dois pernambucanos, Oliveira Lima e Tobias Monteiro. Ele no precisava preocupar-se com o ltimo que era rio-grandense-do-norte.
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No vou discutir aqui a posio, tambm expressa na entrevista, de que a vinda de D. Joo no contribuiu para a manuteno da unidade da ex-colnia, pelas razes j expostas acima. Fao apenas um reparo qualificao, ou desqualificao, de saquarema atribuda a toda a historiografia produzida no Centro-Sul. Considero tal afirmativa mais como uma boutade, entre as muitas criadas por Evaldo, pois ela envolve obviamente um grosso exagero, alm de ser maldosa. H grande diferena entre ser saquarema e ser partidrio da unidade do pas. Os liberais do Imprio, do incio ao fim, de Evaristo da Veiga a Tavares Bastos e a Joaquim Nabuco, valorizavam a unidade do pas, mas se sentiriam insultados se fossem tachados de saquaremas. Saquarema significava muito mais do que valorizar a unidade. Significava a defesa de uma monarquia centralizada politicamente, com pleno exerccio do Poder Moderador, e da manuteno da ordem social escravista. Os liberais eram brasileiros sem serem saquaremas. O uso da palavra como sinnimo de viso do Brasil a partir do Centro-Sul constitui um deslizamento semntico, temperado com boa dose de malcia. No que me diz respeito, em todos os numerosos debates e entrevistas de que participei a propsito dos 200 anos da vinda da corte, fiz sempre questo de enfatizar que, ao afirmar a importncia, para mim inegvel, do evento para a manuteno da unidade da ex-colnia, no emitia, como no emito agora, nenhum juzo de valor em relao a essa unidade. Mas Evaldo Cabral de Mello um de nossos mais competentes e respeitados historiadores. Ao levantar a polmica, ele toca num ponto nevrlgico de nossa historiografia, que o tambm de nossa construo nacional. Ele presta um grande servio aos historiadores quando chama a ateno para alguns possveis pressupostos valorativos que poderiam estar por trs de nossas histrias do Brasil. Mesmo que s vezes paream provocao, suas idias constituem um desafio que merece ser enfrentado. O mnimo que se pode esperar de historiadores que historicizem seus prprios trabalhos. O exemplo j nos foi dado pelo fundador da historiografia moderna, Giambatistta Vico, quando aplicou seu mtodo escrita da prpria autobiografia, redigida, sintomaticamente, na terceira pessoa.26 Houve outra reao que primeira vista poderia assemelhar-se do historiador pernambucano. No por acaso veio de algum ligado a outra provncia que se separou do Brasil no sculo XIX. Em entrevista Revista de Histria da Biblioteca Nacional, a historiadora gacha Helga Piccolo afirmou: claro que nos irrita essa histria do Brasil escrita em So Paulo, Rio de Janeiro e Minas, ou seja, no Sudeste rico. O Nordeste tambm no aceita isso.27 Mas a postura de Helga Piccolo , na verdade, muito distinta da de Evaldo Cabral de
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Mello, na medida em que no endossa o regionalismo gacho que, segundo ela, acredita que o estado se basta a si mesmo. Sua preocupao, expressa em trabalho apresentado no seminrio acima mencionado, antes insistir no pertencimento do Rio Grande do Sul ao Brasil. Se Evaldo protesta para fora, Helga Picollo protesta para dentro.28 O protesto de Evaldo permite que utilizemos o debate em torno dos 200 anos para fazer um pequeno exerccio de anlise das condies de produo de nosso trabalho, no caso, um exame da escrita de narrativas histricas nacionais.

Escrevendo o Brasil a partir do Rio de Janeiro


Comeo com uma observao geral. Sem Brasil, no pode haver histria do Brasil. primeira vista, esta uma afirmao indiscutvel. No entanto, j aceito hoje que naes podem ser imaginadas, mais ainda, que sua prpria existncia pode consistir em sua imaginao.29 No Brasil, estamos cansados de observar o fenmeno de escrever a histria nacional da frente para trs. Digo isso no no sentido bvio de que o historiador trata do passado, mas para indicar que o passado muitas vezes, se no sempre, organizado a partir de pressupostos valorativos do presente, mesmo que o processo nem sempre seja consciente. Seria o caso de inverter o velho axioma e afirmar: Vita magistra historiae. O exemplo mais bvio a prpria expresso descoberta do Brasil. Que Brasil existia em 1500? Outros exemplos so as descries de revoltas coloniais como tentativas de independncia do Brasil. Quando foi que a Inconfidncia buscou esse propsito? Os conspiradores falavam em Minas e na Amrica. At a chegada da corte, o que havia por aqui, na avaliao de Capistrano de Abreu, exposta na concluso de seus Captulos de histria colonial, publicados em 1907, eram cinco grupos etnogrficos unidos, ativamente, apenas pela lngua e, passivamente, pela religio, que tinham averso ao portugus e no se prezavam uns aos outros.30 Em 1822, no se tinha mesmo chegado a um acordo sobre qual seria o gentlico adequado para designar os habitantes da colnia. Falava-se em brasileiro, brasiliano, brasiliense e braslico, sendo que o primeiro adjetivo ainda conservava conotao negativa, como o prova a queixa de D. Pedro contra as Cortes por o tratarem com desprezo chamando-o de brasileiro e rapazinho. At o final do sculo XIX, ainda se disputava sobre como escrever o prprio nome do pas: Brazil ou Brasil?31 Os exemplos poderiam multiplicar-se sem
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dificuldade. Talvez se possa dizer que s a partir da Guerra do Paraguai se tenha tornado possvel falar de Brasil, se por isso se entender um Estado e uma nao. Nessas circunstncias, a narrativa do Brasil s poderia mesmo ser feita a partir do centro poltico do pas, da capital do Imprio, do Rio de Janeiro. Era s desse ponto de observao e de ao que se podia ver o todo, to fragmentado e isolado pela ausncia de comunicao, de convivncia, de conhecimento recproco, de sentimento comum e mesmo de valores polticos compartilhados. Pode-se contra-argumentar que no perodo colonial vrias crnicas e mesmo histrias, como a de frei Vicente do Salvador, foram escritas utilizando o nome de Brasil para se referir ao todo colonial, ao lado de outros como Provncia de Santa Cruz e Amrica Portuguesa. Acontece que os autores ou eram portugueses, ou estrangeiros, ou nativos da colnia que tinham vivido na metrpole, visto a colnia de fora, e por isso adquirido uma viso de conjunto, favorvel ou no ao colonizador.32 O mesmo se deu com a primeira histria do Brasil escrita depois da Independncia de autoria de um ingls, Robert Southey, publicada em Londres em 1836. Sem dvida, a perspectiva a partir do Rio de Janeiro, que Evaldo Cabral de Mello chamou de saquarema, interessava burocracia central e aos negcios baseados na capital. Mas era tambm a perspectiva de todos os que valorizavam a unidade da ex-colnia. Se tal unidade no existia na realidade, ela estava sem dvida na cabea de quase toda a elite treinada em Coimbra, e no apenas na de Jos Bonifcio. Mais ainda, em 1821, para a deciso do Fico, D. Pedro teve o apoio decisivo das cmaras municipais do Rio de Janeiro, de Minas e de So Paulo. Foi confiando nesse apoio que ele reverteu a deciso de partir. O Rio de Janeiro tornou-se, ento, muito mais do que uma capital poltica e econmica, sendo que essa ltima qualificao foi adquirida a partir da ascenso do caf fluminense a primeiro produto de exportao, verificada durante a Regncia. A cidade, transformada em 1834 em Municpio Neutro, tornou-se o ponto de onde se concebia e se propagava a idia de Brasil.33 Poderia ter sido Salvador, se D. Joo l tivesse permanecido, ou mesmo Recife, na improvvel hiptese de ter ido para l a corte. Note-se que a Argentina s conseguiu transformar Buenos Aires em capital nacional em 1880, datando da a consolidao de seu Estado-nacional. S numa capital nacional poderia tambm ter surgido uma instituio como o IHGB, explicitamente destinada a escrever a histria do Brasil, isto , a valorizar a unidade do pas. O ponto no novo, mas nunca demais insistir na importncia dessa instituio, criada em 1838, e de sua revista, para a
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escrita da histria nacional, pelo menos at a dcada de 1930.34 No discurso de fundao do Instituto, o secretrio perptuo, cnego Janurio da Cunha Barbosa, j dizia que sua tarefa era coordenar um esforo nacional no sentido de se escrever uma histria geral e filosfica do Brasil. Em 1845, a revista do Instituto publicou a receita mais completa da escrita dessa histria. Trata-se do conhecido ensaio de von Martius, premiado no concurso aberto pelo IHGB sobre a melhor forma de se escrever a histria do Brasil. Von Martius salientou, e foi mrito seu, a importncia de se levar em conta a diversidade racial e regional do pas. Mas no deixou dvidas quanto ao sentido geral de uma histria do Brasil. Em suas palavras, Deve o historiador patritico aproveitar toda e qualquer ocasio a fim de mostrar que todas as provncias do Imprio por lei orgnica se pertencem mutuamente, e deve ser ele, alm de monrquico-constitucional, unitrio no mais puro sentido da palavra.35 Jos Honrio afirmou ter sido o IHGB o bero da pesquisa histrica no Brasil. Deve-se acrescentar, da pesquisa histrica do Brasil. A influncia do IHGB disseminou-se graas criao de institutos assemelhados nas provncias. No por acaso, como foi visto, boa parte das celebraes do bicentenrio fora do Rio de Janeiro se deveu a iniciativas dos institutos estaduais. fcil demonstrar por que e a histria do Brasil foi escrita no sculo XIX a partir do Rio de Janeiro. A capital nacionalizava a viso dos historiadores, no importando de onde viessem. Ela atraa a si no s a elite poltica, mas tambm todos que ambicionassem uma carreira nas letras e nas artes. As escolas de direito de Olinda/Recife e de So Paulo eram, sem dvida, centros importantes de produo de cabeas pensantes. Mas estavam longe de produzir intelectualidades locais. Umas das razes era que seus programas de ensino eram nacionais, aprovados pelo governo central, que tambm nomeava e pagava os professores, muitos dos quais se metiam na poltica nacional. Outro motivo era que as escolas recebiam alunos de vrias provncias, o que lhes retirava a caracterstica provincial. Acresce ainda que a cidade de So Paulo no tinha na poca densidade cultural e o peso econmico e poltico para sustentar um grupo de intelectuais e lhes proporcionar visibilidade nacional. Recife tinha tradio mais consolidada, mas, no mximo, podia exercer uma liderana regional nortista. O que foi dito para as escolas de direito pode, com mais razo, ser repetido para a Faculdade de Medicina da Bahia e a Escola de Minas de Ouro Preto. Assim que praticamente todos os que escreveram histrias nacionais o fizeram na capital, dentro ou fora do IHGB, e valorizaram a unidade nacional. Limito-me aqui a mencionar os que no eram nascidos na Corte ou na proDezembro de 2008

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vncia do Rio de Janeiro. O primeiro compndio de histria do Brasil constitui o exemplo mais dramtico do que acaba de ser dito. Trata-se da obra de Jos Incio de Abreu e Lima, o filho do Padre Roma, general de Bolvar.36 Abreu e Lima viu o pai ser preso e fuzilado em Salvador em 1817, exilou-se, foi parar na Venezuela, lutou ao lado de Bolvar e, depois do fracasso do Libertador, regressou ao Rio de Janeiro em 1832 e a viveu por 12 anos. Tornouse caramuru, restauracionista, defensor da monarquia como instrumento para manter o Brasil unido, e dedicou seu livro a Pedro II.37 O compndio foi adotado como leitura obrigatria no Colgio de Pedro II. A seguir, temos Francisco Adolfo Varnhagen, tributrio de von Martius, autor da mais importante histria do Brasil no sculo XIX. Era paulista de Sorocaba, diplomata e corteso. O maranhense Cndido Mendes de Almeida foi o melhor historiador do direito eclesistico e civil. O sergipano Slvio Romero escreveu uma das mais influentes histrias de nossa literatura, e adotou a brasilidade como um dos critrios para avaliar os escritores nacionais. Cronistas e historiadores do Imprio foram o alagoano Alexandre Jos de Melo Morais e o potiguar Tobias Monteiro. O pernambucano Oliveira Lima foi o autor do livro at hoje mais influente sobre o perodo joanino. Um de nossos maiores historiadores foi o cearense Capistrano de Abreu. Excepcionalmente, a idia de escrever uma histria do Brasil ocorrera a Capistrano ainda em Maranguape, Cear, sob o impacto de leituras de Buckle, Taine e Agassiz. Mas s a vinda para o Rio e a conquista da cadeira de histria do Brasil do Colgio de Pedro II em 1883, com tese sobre a independncia, lhe permitiu dedicar-se histria nacional, embora nunca se tenha aventurado a escrever uma histria geral do Brasil. J na virada do sculo, o sergipano Joo Ribeiro, outro seguidor de von Martius, publicou seus compndios de histria do Brasil. Uma aparente exceo regra Jos Verssimo, que podemos incluir na lista como historiador da educao. Natural do Par, republicano e federalista, chegou ao Rio de Janeiro em 1891, logo aps a proclamao da Repblica, j trazendo na bagagem o livro A educao nacional, publicado em Belm no ano anterior.38 A preocupao central do livro denunciar a ausncia de contedo nacional na educao brasileira e fazer apelo apaixonado no sentido de que o problema fosse corrigido. O livro fora escrito, segundo suas prprias palavras, do fundo de sua obscuridade provinciana. No entanto, era marcado pela velha preocupao de nacionalismo. Denunciava o bairrismo localista que bloqueava o brasileirismo. E especificava: H baianos, h paraenses, h paulistas, h rio-grandenses. Raro existe o brasileiro. frase comum: Primeiro sou paraense (por exemplo) depois sou brasileiro. Outros dizem: a Bahia
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dos baianos, o Brasil dos brasileiros.39 No Par, havia, segundo ele, at mesmo hostilidade contra brasileiros de outras provncias, chamados de barlaventistas. Mas talvez Jos Verssimo no seja de fato uma exceo. Ele residira sete anos no Rio de Janeiro, onde cursara o ensino mdio, em parte no Pedro II, e iniciara o curso de engenharia na Politcnica. Era, alm disso, tambm filho de militar, categoria profissional marcada pela viso nacional. E visitara a Europa, fato que seguramente ajudou a desmontar seu provincianismo. Haveria muitos outros exemplos, fora do campo da histria, de intelectuais que adotaram a mesma postura. Baste mencionar um cone do liberalismo brasileiro, inimigo jurado dos saquaremas, e fantico do federalismo norteamericano, o alagoano Aureliano Cndido Tavares Bastos. Embora considerasse maldita a herana que nos coubera de Portugal, e fosse o primeiro grande defensor dos interesses provinciais, segundo ele estrangulados pelo centralismo saquarema, manteve postura brasileira e nem mesmo se deixou atrair pela proposta republicana.40 Todos esses autores oriundos das provncias escreveram histrias nacionais graas sua localizao no centro poltico do pas. No me ocorre a existncia de uma histria do Brasil feita no sculo XIX fora da capital. Um dos poucos intelectuais de circulao nacional que permaneceu na provncia foi o sergipano Tobias Barreto. Mas quando acusado de antipatritico por causa de suas azedas crticas ao pas, considerou-se insultado e se declarou um brasileiro da gema, ignorante como todos.41 A proclamao da Repblica no alterou esse panorama. Historiadores republicanos tendiam a ser mais crticos do Imprio, mas no da unidade do pas e at mesmo do papel da monarquia nessa unidade.42 Como conseqncia, reconheciam a importncia da vinda da corte. Baste citar Joo Ribeiro e Euclides da Cunha. O primeiro no tinha simpatia alguma pela figura de D. Joo, a quem considerava desmazelado, ftil, poltro. Mas escreveu em seu compndio: ... a histria imparcial poderia assinalar como verdadeira data da emancipao colonial aquela em que D. Joo VI [sic] pisou o solo brasileiro, 22 de janeiro de 1808. E logo a seguir: Pelo refgio de Dom Joo VI, na Amrica, ainda evitamos o duplo desastre da fragmentao do territrio e constituio de pequenas repblicas de governo instvel.43 Euclides da Cunha tinha menos desapreo pela figura do rei, apesar de lhe atribuir os defeitos da mediocridade, da inrcia, do ridculo. Mas, via na prpria mediocridade um elemento positivo para o cumprimento de sua tarefa. Segundo ele, D. Joo um medocre, fora um predestinado, ao publicar o manifesto de 1808 que
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falava na criao de um novo imprio. No que se refere a 1822, admite que a interveno monrquica de D. Pedro foi decisiva, oportuna e benfica.44 Luiz Edmundo foi sem dvida quem, entre ns, mais desmoralizou a figura de D. Joo, seguindo os passos de Oliveira Martins. O rei era sujo, mal vestido, comilo, sem modos, prevaricador, medroso, frouxo, choro. O autor deliciava-se em descrever a maneira pela qual o rei devorava um frango espetando-o por uma ponta com o indicador da mo esquerda e pela outra com o polegar da mo direita. Tal postura deve-se talvez mais ao desejo de desmoralizar a monarquia e os Braganas em geral do que de negar as conseqncias da vinda da corte para a histria do Brasil. Ao final do captulo em que fala de D. Joo, reconheceu seu grande mrito, mesmo que no proposital: durante seu governo pde-se criar aqui o ambiente que tornou lgico e fcil o surto de nossa independncia.45 Escrevia histria nacional, admitindo, mesmo a contragosto, o papel da vinda da corte. O Rio de Janeiro foi assim, durante o Imprio e Primeira Repblica o ponto de onde se escreveu a histria do Brasil. Criava-se um crculo: escreviase do Rio de Janeiro por ser a capital e essa mesma escrita reforava a posio central da cidade. A tarefa foi facilitada pelo crescimento da cafeicultura no vale do Paraba fluminense. Ao final da dcada de 1830, os impostos sobre o comrcio exterior representavam 70% da receita do governo e a alfndega do Rio de Janeiro sozinha contribua com 55% desses impostos. Unificavam-se desse modo os centros poltico e econmico do pas. Tal predomnio desencorajava tentativas de separatismo na medida em que tornava muitas provncias dependentes de socorros do governo geral e centrava as disputas em torno de questes fiscais. Alm de ser escrita a partir do centro poltico, e de ser poltica em sua orientao, essa historiografia tambm se concentrava no tema da poltica. Isso facilmente compreensvel. A necessidade de construir um novo Estadonao em meio a grandes obstculos, vista do espetculo de republicanizao e fragmentao da colnia espanhola, conferiu poltica grande preeminncia at a dcada de 1870. Interessava a essa histria sobretudo o que se referisse tarefa de construir o Estado. A histria provincial aparecia na medida em que tivesse relao com essa tarefa. Da a ateno s revoltas provinciais, especialmente s que ameaassem a unidade poltica, como foi o caso da Confederao do Equador, da Sabinada, da Farroupilha e da Cabanagem. O resto era histria puramente local, escrita nas provncias. Outro tema que poderia afetar a unidade do pas era a ordem escravista. Mas, seguindo a ttica de se tocar o menos possvel no assunto, s na dcada
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de 1860 que surge a primeira obra que se poderia considerar uma histria da escravido. Trata-se, como sabido, da monumental A escravido no Brasil escrita pelo advogado mineiro residente no Rio de Janeiro, Perdigo Malheiro.46 O problema da escravido seria enfrentado antes pela ao poltica e pelos panfletos, como O abolicionismo, de Joaquim Nabuco, publicado em 1883, do que pela historiografia. possvel que a prpria maneira como fora feita a independncia e construda a unidade do pas tivesse reduzido, a partir de 1850, a percepo de perigo por parte da escravido. A Repblica, pelo federalismo, alterou a natureza da relao entre as histrias poltica nacional e estadual. Nenhuma das duas podia mais ser escrita sem referncia outra, na medida em que o poder federal era agora organizado a partir dos estados. Ironicamente, o federalismo criava mais laos polticos entre as unidades do que o centralismo. No entanto, essa nova situao s foi teoricamente equacionada muito tempo mais tarde por um mineiro que morava no Rio de Janeiro, Vtor Nunes Leal, que desenvolveu o conceito de coronelismo como sistema. A integrao econmica do pas ainda levaria mais tempo.

So Paulo entra em cena


O federalismo favoreceu a multiplicao dos centros de formao superior, sobretudo das faculdades de direito, e mesmo de algumas universidades estaduais livres do controle da burocracia centralizada. O efeito dessa descentralizao, porm, fez-se sentir, sobretudo, no incremento das histrias regionais e no na escrita de histrias nacionais a partir dos estados. O Rio de Janeiro e, nele, o IHGB, mantiveram a hegemonia na produo da histria nacional nas obras de Alberto Torres e Oliveira Viana. Houve mudana radical a partir de 1930. A Revoluo em si j provocou uma forte retomada da nfase no nacional, reduzida desde a proclamao da Repblica. A dcada revelou-se uma das mais frteis, talvez a mais frtil de nossa histria, na produo de interpretaes do pas, agora com a novidade de virem elas de fora do centro poltico, como as de Srgio Buarque de Holanda (que, no entanto passou boa temporada no Rio de Janeiro), Gilberto Freyre e Caio Prado Jnior. Fator crucial da mudana foram as inovaes institucionais. Duas delas merecem destaque, uma de grande xito, a outra derrotada. Em 1934, criouse a Universidade de So Paulo, em 1935, a Universidade do Distrito Federal. Esta ltima, de carter inovador e promissor, sucumbiu logo poltica de reDezembro de 2008

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presso desencadeada na capital aps a revolta comunista. Foi extinta e seus cursos, inclusive o de Histria e Geografia, transferidos para a Universidade do Brasil, criada em 1937. A USP, protegida pela autonomia estadual, prosperou. So Paulo sofrera duas derrotas polticas em 1930 e 1932. Uma das reaes ao fracasso foi investir na educao superior e disputar com o Rio de Janeiro a hegemonia intelectual, o que, alis, j comeara a fazer em 1922. A essa altura, o estado j assumira a condio de centro econmico do pas, produzindo-se, pela primeira vez na histria, uma discrepncia entre os centros econmico e poltico. A histria conhecida.47 Interessa aqui apenas anotar que a criao da USP e seu rpido desenvolvimento tiveram como conseqncia que a histria do Brasil passou, pela primeira vez, a ser escrita tambm fora do Rio de Janeiro. O Departamento de Histria da USP teve inicialmente orientao cosmopolita, graas influncia dos professores franceses convidados para se encarregarem de seus primeiros cursos. Mas j na segunda gerao voltou-se predominantemente para temas brasileiros, cobrindo histria colonial, imperial e republicana.48 Tendo inaugurado seu doutorado nos termos da moderna ps-graduao em 1971, uns 15 anos antes que o fizessem outras universidades, a USP no s criou em So Paulo uma rica produo de histria do Brasil, como tambm exerceu nesse perodo, dentro do Brasil, o monoplio de formao de doutores. Com isso, estendeu sua influncia para muito alm das fronteiras estaduais. Alm de ser escrita no centro econmico e fora do centro poltico do Brasil, e talvez por causa disso, a produo historiogrfica uspiana, como sabido, foi marcada por forte influncia do marxismo, a partir da primeira gerao que sucedeu dos fundadores. Segundo depoimento de um de seus mais qualificados representantes, essa influncia deveu-se, sobretudo, ao contato com filsofos e socilogos reunidos no Seminrio Marx, que funcionou de 1958 a 1964, e influncia pessoal de Caio Prado Jr.49 A partir da USP, a marca do marxismo impregnou boa parte da historiografia brasileira nos anos 70. No h espao aqui para uma anlise aprofundada da produo uspiana no que diz respeito viso de Brasil em comparao com o que se fazia a partir do Rio de Janeiro. Limito-me a alguns pontos. Sintomaticamente, a USP dedicou-se histria do Brasil e no histria regional, como o fizeram depois muitos programas de ps-graduao fora do Rio de Janeiro. O fato algo surpreendente, tendo em vista que a universidade foi fundada dois anos depois da revolta de 1932, em que o patriotismo paulista atingiu seu ponto culminante. Quero crer que o fato se deva inteno de disputar com a capital
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poltica a hegemonia da escrita do pas. Se Evaldo protesta para fora, se Helga Picollo protesta para dentro, a USP queria ser o dentro. Talvez estejam a posturas distintas dos trs principais pontos de tenso relativos unidade nacional. No por acaso, coube a dois historiadores paulistas ligados USP, Srgio Buarque de Holanda e Boris Fausto, a coordenao da Histria Geral da Civilizao Brasileira, que foi publicada por uma editora paulista. Apesar do vis nacional, arrisco-me a dizer que h na historiografia uspiana preferncia por alguns perodos da histria nacional, no por acaso aqueles em que o estado teve papel mais relevante: a colnia (os bandeirantes) a Independncia (Jos Bonifcio) e a Repblica. Menos ateno merecem a Regncia e o Imprio. No segundo caso, a postura sempre mais crtica do que a da historiografia central, o que em parte pode-se dever fora do movimento republicano em So Paulo e do papel da provncia na proclamao da Repblica. O vis marxista da historiografia uspiana marcou um claro afastamento em relao ao que se fazia antes. Houve um grande afastamento da histria poltica em favor da histria econmica, do historicismo em favor do estruturalismo.50 A dinmica do capitalismo e o conflito de classes passaram a dominar as abordagens dessa historiografia, a constiturem explicadores universais.51 Nos outros estados, o que se fez at pouco tempo atrs foi, sobretudo, histria regional. A dimenso nacional da obra de Gilberto Freyre (que sem dvida se deveu a sua sada do pas para estudar nos Estados Unidos) no teve continuidade entre seus seguidores em Pernambuco. De Minas, veio o trabalho isolado de Francisco Iglsias, que tinha freqentes contatos em So Paulo e no Rio de Janeiro.52 A nica obra histrica importante de interpretao nacional foi a do gacho Raymundo Faoro, que, no entanto, escreveu Os donos do Poder depois de j estar residindo no Rio de Janeiro h sete anos. Na capital, e vinculados ao IHGB, tambm escreveram suas obras de histria o baiano Pedro Calmon, o mineiro Hlio Vianna, e o carioca Jos Honrio Rodrigues.

A histria, o nacional e o ps-nacional


A acusao de Evaldo Cabral de Mello de que a historiografia do CentroSul toda saquarema deve, assim, ser qualificada. Quase toda a historiografia do sculo XIX escrita na capital, era brasileira sem ser saquarema. A histria nacional foi, de fato, quase toda escrita at 1930 a partir do centro poltico localizado no Rio de Janeiro. O fenmeno no tpico do Brasil. Em todos os pases dominados por uma cidade que centro poltico e
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cultural se deu o mesmo fenmeno. Na Amrica espanhola, mesmo fragmentada, isso foi a regra. Foi tambm o caso da Frana. O monoplio do Rio de Janeiro foi quebrado a partir da dcada de 1930 pela entrada de So Paulo na competio pela escrita da histria nacional, sustentado no dinamismo de sua economia. So Paulo competiu com o Rio de Janeiro no que era quase monoplio da capital. A historiografia paulista, sem negar o nacional, dedicou-se a escrev-lo em seus prprios termos. Nos ltimos 15 anos, houve enorme difuso de cursos de ps-graduao em Histria. Hoje, h mais de 20 deles, espalhados por mais de dez estados, inclusive na ex-capital. Essa diversificao reduziu, e reduz cada vez mais, a influncia da USP, inclusive dentro do prprio estado de So Paulo, com a criao da Unicamp, da Unesp e da UFSCar.53 Alm disso, por impacto vindo de fora do pas, quebrou-se tambm a hegemonia marxista. Multiplicaram-se as temticas e abordagens dos historiadores. Voltou cena a histria poltica, os seres humanos retornaram ao centro da histria e deixaram de ser fantoches de foras macro-sociais que escapavam a seu controle. E emergiu uma verdadeira mania de histria cultural. Em que isso est afetando, ou pode afetar, a escrita da histria do Brasil? No creio que mudanas importantes derivem da simples acumulao de histrias regionais. Seria necessrio contestar a prpria distino entre regional e nacional, o que s poder ser feito na maneira de definir os objetos de pesquisa. Trata-se de escolha poltica seguida da abordagem apropriada. A descrio densa de Clifford Geertz, apropriada pelos italianos com o nome de micro-histria, um exemplo de como se podem quebrar as divises entre nacional, regional e local. Alm disso, o Brasil est hoje to integrado que j ser difcil estudar a parte sem referncia ao todo e vice-versa.54 Mas, talvez a pergunta mais importante a fazer seja se distines entre nacional, regional e local ainda mantm relevncia terica e prtica. Diante das transformaes por que passa o mundo, entre elas a perda de importncia dos Estados nacionais, faria ainda sentido escrever histria nacional? O Estado nacional pautou a escrita moderna da histria. Talvez esteja chegando a hora de a histria se libertar dessa priso. Seus temas so cada vez mais problemas humanos que escapam a fronteiras locais ou nacionais. A no ser que achemos que o Brasil ainda seja um imprio no sentido de um Estado que inclua vrias naes desejosas de se libertarem aps dois sculos de opresso. Creio que batalhas mais importantes nos aguardam. Uma delas talvez ainda tenha, afinal, a ver com o Estado-nao Brasil. Seria a de, afinal, proclamar nossa independncia em relao historiografia
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que se produz no exterior, acabar com o que ainda resta entre ns de mente colonizada, esperando pelo dernier cri que venha da Frana, Inglaterra, Itlia ou Alemanha. Nossa historiografia ter amadurecido quando dialogar com essas outras em p de igualdade. E quanto menos nacionalista ela for, mais forte ela ser. Isso no vir de fora como veio a corte portuguesa em 1808. Ter que sair de nosso meio, da agncia dos brasileiros.
NOTAS
Ver entrevista de Alberto Costa e Silva ao Jornal de Letras de Lisboa, 27 fev. 2008, p.1213.
1 2

CONGRESSO INTERNACIONAL 1808: A CORTE NO BRASIL, organizado pelo Programa de Ps-Graduao em Histria da UFF, com o apoio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da USP, entre os dias 10 e 14 de maro de 2008.

3 Pelas informaes, agradeo s colegas Helga Piccolo, Maria Efignia Lage de Resende, Consuelo Pond de Sena, Lcia Bastos Pereira das Neves, Sandra Pesavento e ao colega Lus Henrique Dias Tavares.

AZEVEDO, Francisca L. Nogueira de. (Estudo e organizao). Carlota Joaquina, Cartas inditas. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007; e da mesma autora Carlota Joaquina na corte do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003.
4 5

MARIZ, Vasco. A msica no Rio de Janeiro no tempo de D. Joo VI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008. NEPOMUCENO, Rosa. O Jardim de D. Joo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.

6 7

ONEIL, Thomas. A vinda da famlia real portuguesa para o Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio Ed., 2007.
8 SCHWARCZ, Llia Moritz. A longa viagem da biblioteca dos reis. So Paulo: Companhia das Letras, 2002.

LIGHT, Kenneth. A viagem martima da famlia real. A transferncia da corte para o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
9

A Sade pblica no Rio de Dom Joo. Textos de Manoel Vieira da Silva e Domingos Ribeiro dos Guimares Peixoto. Introduo de Moacyr Scliar. Rio de Janeiro: Ed. Senac Rio, 2008.
10 11 ATHAYDE, Sylvia Menezes de. (Org.). A Bahia na poca de D. Joo VI: a chegada da corte portuguesa, 1808. Salvador: Solialuna, 2008.

BANDEIRA, Jlio; LAGO, Pedro Corra do. Debret e o Brasil: obra completa. Rio de Janeiro: Capivara, 2007, com prefcio de Jos Murilo de Carvalho; LAGO, Pedro Corra do. Taunay e o Brasil: obra completa, 1816-1821. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.
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13

SCHWARCZ, Llia Moritz. O sol do Brasil: Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de D. Joo. So Paulo: Companhia das Letras, 2008.

14

NEVES, Lcia Maria Bastos Pereira das. Napoleo Bonaparte: imaginrio e poltica em Portugal c.1808-1810. So Paulo: Alameda, 2008. WILCKEN, Patrick. Imprio deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

15

16 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um prncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleo e mudaram a histria de Portugal e do Brasil. Rio de Janeiro: Planeta, 2007. Note-se que o subttulo, vazado no melhor estilo das vises caricatas, no corresponde ao contedo do livro. 17

SLEMIAN, Andra; PIMENTA, Joo Paulo G. A corte e o mundo: uma histria do ano em que a famlia real portuguesa chegou ao Brasil. So Paulo: Alameda, 2008; CASTRO, Ruy. Era no tempo do rei: um romance da chegada da Corte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. Com data de publicao um pouco anterior, mas com traduo em 2008, h o livro de SCHULTZ, Kirsten. Versalhes Tropical: Imprio, monarquia e a corte real portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2008.

Em 2006, publicou-se em Portugal uma biografia de D. Joo escrita por Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. Joo VI. Um prncipe entre dois continentes, que teve edio brasileira em 2008 pela Companhia das Letras.
18

Para uma avaliao geral da historiografia em torno do tema, ver GUIMARES, Lcia Maria Paschoal. A transferncia da corte portuguesa para o Brasil: interpretaes e linhagens historiogrficas. Texto apresentado no CONGRESSO INTERNACIONAL 1808: A CORTE NO BRASIL, realizado na Universidade Federal Fluminense, 10-14 de maro de 2008.
19

LIMA, Manoel de Oliveira. D. Joo VI no Brasil (publicado em 1908). 3.ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996; MARTINS, Oliveira. Histria de Portugal. Lisboa: Livraria de Antnio Maria Pereira, 1880; EDMUNDO, Luiz. A corte de D. Joo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Conquista, 1957. 3.v. 2.ed.
20 21

TAVARES, Luis Henrique Dias. Questes polticas e econmicas na transferncia da sede do governo absolutista de Portugal de Lisboa para a cidade do Rio de Janeiro (1808). Trabalho apresentado no seminrio sobre os 200 anos organizado pelo Instituto Histrico e Geogrfico da Bahia, 2008.

Esse exerccio, com os respectivos mapas, foi feito em palestra na Academia Brasileira de Letras em outubro de 2007, intitulada O prncipe D. Joo e o Brasil.
22 23 Estas idias j tinham sido expostas pelo autor em seu livro A outra independncia: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824. So Paulo: Ed. 34, 2004. Veja-se, por exemplo, o prefcio desse livro. 24 25

A outra independncia, p.19.

Typhis Pernambucano de 10 jun. 1824, in Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Evaldo Cabral de Mello, intr. e org.. So Paulo: Ed. 34, 2001. p.464.

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Ver The autobiography of Giambatistta Vico. Translated from the Italian by Max Harold Fisch and Thomas Goddard Bergin. Ithaca and London: Cornell University Press, 1944.
26 27 28

RHBN, III, 37 (out. 2008), p.44.

PICCOLO, Helga Iracema Landgraf. O significado para o Rio Grande do Sul da transferncia da corte portuguesa para o Brasil.

29 Ver o conhecido trabalho de ANDERSON, Benedict. Imagined communities: reflections on the origin and spread of nationalism. London and New York: Verso, 1983.

ABREU, Capistrano de. Captulos de historia colonial: 1500-1800. (1.ed. 1907.) Braslia: Senado Federal, 1998. p.221.
30 31

Sobre a disputa em torno do nome do pas, ver CARVALHO, Jos Murilo de. Brasil, Brazil: sueos y frustraciones. In: CHIARAMONTE, Jos Carlos; MARICHAL, Carlos; GRANADOS, Aimer (Comp.). Crear la nacin: los nombres de los pases de Amrica Latina. Buenos Aires: Ed. Sudamericana, 2008. p.17-40.

32 No possvel nem necessrio entrar aqui em pormenores sobre a historiografia do Brasil. H muita coisa a respeito. Veja-se, por exemplo, os vrios ttulos de Jos Honrio Rodrigues dedicados ao tema, como Teoria da histria do Brasil e Histria e historiografia. Trabalho mais recente o de IGLSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000. 33

O carter nacional e nacionalizante do Rio de Janeiro foi ressaltado por Jos Honrio Rodrigues em Vida e histria. Rio de Janeiro: Civilizao brasileira, 1966. p.141-148. Mas contra ele pode-se argumentar que era carioca.

34

Ver GUIMARES, Manoel Luiz Salgado. A disputa pelo passado na cultura histrica oitocentista no Brasil. In: CARVALHO, Jos Murilo de (Org.). Nao e cidadania no Imprio: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007. p.93-122.

MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von. Como se deve escrever a histria do Brasil. Rio de Janeiro: IHGB, 1991. p.54-55.
35 36 LIMA, J. I. Abreu e. Compndio da Histria do Brasil. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1943.

Sobre Abreu e Lima, ver CHACON, Vamireh. Histria das idias socialistas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1965. p.143-187.
37 38 VERSSIMO, Jos. A educao nacional. Par: Cardoso e Cia., 1890. Segunda edio aumentada foi publicada em 1906 no Rio de Janeiro pela Francisco Alves. 39 40 41

A educao nacional. 2.ed. p.LVII, nfase de JV. De Tavares Bastos, ver, sobretudo, A provncia, cuja primeira edio de 1870.

Ver BARRETO, Tobias. A questo do Poder Moderador e outros ensaios. Vozes: Petrpolis, 1977. Veja-se a introduo de Evaristo de Moraes Filho Tobias Barreto, intrprete do carter nacional, p.21- 63. A citao est na p.62.
42 Ao final do Imprio j se manifestavam tendncias de separatismo paulista, mas elas no tinham atingido a historiografia. O grande historiador paulista ainda por bom tempo seria

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o unitrio Afonso de Escragnolle Taunay. A separao da provncia foi defendida por Alberto Salles em A ptria paulista, livro publicado em 1887.
43

RIBEIRO, Joo. Histria do Brasil. Curso superior. 13.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1935. p.446.

CUNHA, Euclides da. Da independncia Repblica. In: marjem da Histria. Porto: Livraria Chardron, 1909. p.262, 291.
44 45

EDMUNDO, Luiz. A corte de D. Joo no Rio de Janeiro. 3.v. 2.ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1957. p.127-169. A primeira edio de 1939.

MALHEIRO, Agostino Marques Perdigo. A escravido no Brasil: ensaio histrico, jurdico, social. 3v. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1867.
46 47

Sobre as relaes entre So Paulo e o resto do Brasil ainda vale consultar o livro de SCHWARTZMAN, Simon. So Paulo e o Estado nacional. So Paulo: Difel, 1975. Ver CAPELATO, Maria Helena Rolim; GLEZER, Raquel; FERLIN, Vera Lcia Amaral. A escola uspiana de Histria. In: CAPELATO, Maria Helena (Coord.). Produo histrica no Brasil, 1985-1994. So Paulo: Xam, 1995. v.1, p.15-26. Para um excelente depoimento sobre o Departamento de Histria da USP, ver NOVAIS, Fernando A. Aproximaes, Estudos de Histria e Historiografia. So Paulo: CosacNaify, 2005. p.335-401. NOVAIS, Fernando. Aproximaes, p.345-356.

48

49 50

Sobre esse conflito, ver CORTES, Norma. Debates historiogrficos brasileiros: a querela contra o historicismo. Texto apresentado no II SEMINRIO NACIONAL DE HISTRIA DA HISTORIOGRAFIA. Mariana, 19-21 de agosto de 2008.

51 Para citar dois trabalhos dos mais influentes sobre o perodo joanino ou prximo a ele, vejam-se NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (17771808). So Paulo: Hucitec, 1979 (Tese defendida em 1973), e DIAS, Maria Odila Leite da Silva. A interiorizao da metrpole e outros estudos. So Paulo: Alameda, 2005. Primeira edio como captulo em 1972. 52 IGLSIAS, Francisco. Trajetria poltica do Brasil, 1500-1964. So Paulo: Companhia das Letras, 1993. Do mesmo autor, veja-se Historiadores do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000. 53

De um professor da Unicamp, por exemplo, veio um ensaio de crtica da historiografia brasileira. Ver LAPA, Jos Roberto do Amaral. A Histria em questo: historiografia brasileira contempornea. Petrpolis: Vozes, 1976.

54

Ver, a propsito, vindo do gacho Ruben George Oliven, o livro A parte e o todo. A diversidade cultural no Brasil-Nao. Petrpolis: Vozes, 1992.

Artigo recebido em outubro de 2008. Aprovado em outubro de 2008.


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