Terapia Nutricional No Pré-Diabetes e No Diabetes Mellitus Tipo 2
Terapia Nutricional No Pré-Diabetes e No Diabetes Mellitus Tipo 2
Terapia Nutricional No Pré-Diabetes e No Diabetes Mellitus Tipo 2
Autores: Silvia Ramos, Letícia Fuganti Campos, Deise Regina Baptista, Maristela Strufaldi,
Daniela Lopes Gomes, Débora Bohnen Guimarães, Débora Lopes Souto, Marlice Marques,
Sabrina Soares de Santana Sousa e Tarcila Ferraz de Campos.
Editor de Seção: Márcio Lauria
Editor Chefe: Marcello Bertoluci
Última revisão em: 13/10/2022
DOI: 10.29327/5238993.2023-8 | Cite este Artigo
Introdução
A terapia nutricional é uma das partes mais desafiadoras do tratamento do Diabetes Mellitus
tipo 2 (DM2), com impacto decisivo na obtenção e na manutenção do controle glicêmico.
Independente do tempo de diagnóstico da doença, a terapia nutricional deve fazer parte do
tratamento do diabetes em todas as suas fases de tratamento.1–4
De uma forma geral, a orientação nutricional para o DM2 deve ter como base a alimentação
variada e equilibrada. Os objetivos da terapia nutricional são os de atender às necessidades
nutricionais, atingir metas glicêmicas, obtenção e manutenção do peso saudável,
contribuir para o controle da pressão arterial e dos lípides séricos, atuando na prevenção das
complicações micro e macrovasculares associadas ao DM2.7
Recomendações
Classe I Nível A
Sumário de evidências:
Em uma subanálise do estudo DPP, a perda de peso foi o principal fator preditivo para
redução da progressão para DM2. Para cada kg de peso perdido houve uma redução de
16% no risco de desenvolver DM2, ajustado para atividade física. O menor percentual de
calorias de gorduras e o aumento da atividade física foram preditivas para perda de peso.
Dos fatores dietéticos que contribuíram na perda de peso, a ingestão de carboidratos foi
inversamente associada ao risco de DM2 (-1,14 ± 0,18 kg de peso corporal/100 kcal de
carboidratos, p< 0,0001), assim como o aporte de fibras alimentares (-1,26 ± 0,28 kg/5 g
de fibra, p < 0,0001), enquanto foi positivamente associado à ingestão de gorduras totais
1,25 ± 0,21 kg/100 kcal, p < 0,0001), de gorduras saturadas (1,96 ± 0,46 kg/100 kcal, p <
0,0001) e de proteínas (0,21 ± 0,05 kg/100 kcal, p < 0,0001). Estes achados sugerem que
uma dieta rica em fibras e pobre em gorduras, com redução geral de calorias, é eficiente
em promover perda de peso e prevenir o surgimento do DM2. 12
Classe I Nível B
Sumário de evidências:
Classe I Nível B
Sumário de evidências:
Não existe uma estratégia alimentar universal para prevenir ou retardar o início do DM2.
Incentivar a perda de peso estruturada em um plano alimentar saudável, com redução de
calorias, redução de gorduras saturadas e aumento da ingestão de fibras, associado à
prática de atividade física é essencial.
A adoção de um padrão de alimentação saudável leva em conta as preferências
individuais, permitindo, assim, a adesão ao tratamento nutricional a longo prazo.18
Classe I Nível A
Sumário de evidências:
O estudo Look-AHEAD foi um ensaio clínico que avaliou o impacto de uma intervenção
intensiva em estilo de vida nos desfechos cardiovasculares, morbimortalidade, alterações
de peso e controle glicêmico de pessoas com DM2. Foram randomizadas mais de 5.000
pessoas com DM2 e excesso de peso, sendo alocadas em grupos de intervenções
intensiva em mudança no estilo de vida ou em um grupo controle, o qual recebeu apenas
assistência usual. A intervenção intensiva foi implementada com sessões individuais
semanais e três reuniões de grupo mensais por 6 meses, seguido por uma sessão
individual e duas reuniões de grupo mensais durante os meses seguintes por 7 a 12
meses. Do segundo ao quarto ano de intervenção, os participantes tiveram apenas uma
visita e um segundo contato via e-mail, correio ou telefone a cada mês. Ao final do
primeiro ano 1, os participantes do grupo de intervenção intensiva em estilo de vida (IEV)
perderam 8,6±6,9% do peso inicial, enquanto o grupo que recebeu educação usual em
diabetes (EDU) perdeu apenas 0,7 ± 4,8% (p<0,001). Uma proporção de 55,1% dos
participantes do grupo IEV atingiu a meta de perder ≥7% do peso inicial, em comparação
com apenas 7% dos indivíduos no grupo EDU ( p < 0,001). No grupo IEV, a HbA1c reduziu
de 7,3 para 6,0% (p < 0.001), enquanto que no EDU ela se manteve estável.19
segura, sendo mais vantajosa quanto mais próximo do diagnóstico de DM2 for a perda de
peso.20
Classe I Nível B
Sumário de evidências:
A SBD ressalta, como opinião de experts, que a ingestão de carboidratos deve priorizar
alimentos ricos em fibras e minimamente processados. Pessoas com diabetes devem
reduzir a ingestão de carboidratos refinados e de açúcares adicionados, priorizando
carboidratos de baixo índice glicêmico, vegetais, legumes, frutas, laticínios e grãos
integrais.
Sumário de evidências:
Para determinar o melhor padrão alimentar e permitir alcançar a maior aderência a longo
prazo, a distribuição de carboidratos na dieta deve considerar a qualidade das fontes
alimentares, os valores e preferências pessoais e os objetivos. 27
O termo “low carb” inclui dietas que ofertam desde 100g até menos de 50g de carboidrato
por dia. 28
As dietas muito pobres em carboidratos podem resultar em cetose e são contra-indicadas
em gestantes e lactantes. Pacientes com doença renal crônica, pacientes
usando inibidores de SGLT2, e pacientes com distúrbios alimentares devem evitar dietas
cetogênicas.28
Pacientes em uso de insulina devem ser avaliados individualmente de acordo com o
esquema utilizado.
Sumário de evidências:
com alto IG e com dieta controle, porém em 4 outros estudos não houve diferença na
HbA1c. Em relação à glicemia de jejum, a dieta com baixo IG mostrou melhora em 4 dos 7
estudos. O efeito médio na HbA1c com dieta com baixo IG na metanálise foi 22% menor
com baixa heterogeneidade. Após análise de sensibilidade, o efeito se manteve. O efeito
médio da dieta de baixo IG na glicemia de jejum foi de apenas 6,5 mg/dl, não sendo
significativo após análise de sensibilidade. Esta metanálise mostra haver um efeito apenas
discreto na HbA1c com a utilização de dietas com baixo IG.30
A melhor evidência para se avaliar o efeito da dieta com baixo índice glicêmico a longo
prazo vem do ensaio clínico randomizado de Wolever, et al. O estudo buscou comparar os
efeitos de 3 dietas ao longo de 1 ano no controle glicêmico de pacientes com DM2. Foi
utilizado uma dieta com alta quantidade de carboidratos com alto IG, uma dieta com alta
quantidade de carboidratos e baixo IG e uma dieta com baixa quantidade de carboidratos.
Ao total, 162 indivíduos foram incluídos no estudo. Após 12 meses de dieta de baixo IG, a
glicose de jejum foi maior (p=0,04), mas a glicose pós prandial (2 h) foi menor (p=0,01). O
peso corporal e a HbA1c não diferiram significativamente entre as dietas. Com a dieta de
baixo IG, os níveis médios de triglicérides foram 12% maiores e o de colesterol HDL 4%
menor do que com a dieta reduzida em carboidrato, mas a diferença na proporção de
colesterol total para HDL desapareceu após 6 meses. Em pessoas com DM2, tratadas
apenas com dieta, a HbA1c em longo prazo não foi afetada pela alteração do IG ou pela
quantidade de carboidratos. A diferença no colesterol HDL entre as dietas desapareceu
por volta de 6 meses. No entanto, por causa das reduções sustentadas na glicose pós-
prandial, uma dieta com baixo IG pode ser considerada no manejo dietético do DM2.31
Pessoas com DM2 devem ser encorajados a diminuir a ingestão de carboidratos refinados
e açúcares adicionados, e a priorizar o uso de carboidratos de vegetais, legumes,
leguminosas, frutas, laticínios e grãos integrais, o que favorece a redução do índice
glicêmico das refeições.
Classe I Nível C
Sumário de evidências:
R9 – O consumo de gorduras totais, em adultos com DM2, deve ser entre 20-35%
das calorias diárias. É RECOMENDADO priorizar a utilização de ácidos graxos mono
e poliinsaturados em detrimento de gorduras saturadas, por estarem associados à
menor incidência de doenças cardiovasculares.
Classe I Nível C
Sumário de evidências:
A SBD considera, como opinião de experts, que a quantidade de lipídios na dieta para
adultos com DM2 deva ser em torno de 20 a 35% das calorias diárias, semelhante à
população geral. Não há evidências de que seja necessário percentuais diferentes para
indivíduos com diabetes.33
Dietas com baixos níveis de gordura saturada como a dieta DASH (Dietary Approach to
Classe I Nível B
Sumário de evidências:
35 g/dia deve ser considerado como meta razoável para reduzir o risco de mortalidade
prematura em adultos com diabetes.40
Sumário de evidências:
Sumário de evidências:
Uma revisão sistemática com metanálise avaliou o benefício do suporte nutricional (oral
ou por tubo), comparando o suporte nutricional com cuidados de rotina e comparando
fórmulas padrão com fórmulas específicas para diabetes, contendo altas proporções de
ácidos graxos monoinsaturados, frutose e fibras. O principal desfecho de interesse foi o
controle glicêmico. A revisão incluiu 16 estudos clínicos randomizados com suplementos
orais e 7 estudos com nutrição por tubo, com um total de 784 pacientes incluídos. Em
comparação com as fórmulas-padrão, as fórmulas específicas para diabetes reduziram
significativamente o incremento na glicemia pós-prandial em 18,54 mg/dL [IC95% -10,44 a
-24,46], sem aumento de episódios de hipoglicemia. Importante mencionar que essas
fórmulas continham 40-50% de energia derivada de MUFA (>60% gordura) com baixo
conteúdo de carboidratos (35-40%), sendo que 15% era derivado de frutose, além de um
alto conteúdo de fibras.46
Sanz-Paris et al, em revisão sistemática que incluiu 18 estudos e um total de 845 adultos
com DM1 e DM2, demonstraram que fórmulas específicas para diabetes (DSF) com alto
conteúdo de MUFA ácidos graxos monoinsaturados, quando comparadas às fórmulas-
padrão (SF), reduzem a glicemia pós-prandial(-27,54 mg/dL; IC95%: -43,92 a -10,98], a
área sob a curva de insulina (-0,65; IC95% -1,03 a -0,26), a glicemia média ( -7,38 mg/dL;
IC 95% -11,34; -3,42) e a HbA1c (-0,63, IC95% -1,21 a -0,05). Em todos os estudos as DSF
obtiveram mais de 20% da energia total a partir de MUFA, variando entre 26 e 35%.48
O uso de pré ou probióticos como adjuvantes para o controle glicêmico não possui
evidência científica robusta até o momento. Mais estudos clínicos bem desenhados em
humanos são necessários para melhor definição da sua utilidade na prática clínica.50
Sumário de evidências:
por dia com suplementos alimentares, embora não tenha ocorrido randomização por esse
fator. Os pacientes eram assistidos semanalmente nos primeiros 6 meses e 3 vezes ao
mês, nos 6 meses seguintes. O grupo controle (DSE) usou um protocolo padrão focado em
dieta, atividade física e suporte social e 3 sessões de grupo durante. Foram incluídos
5.145 adultos com sobrepeso e obesidade e DM2. Ao final do ano 1, 55,1% dos
participantes do ILI atingiram a meta de perder ≥7% do peso inicial, em comparação com
apenas 7% dos indivíduos do grupo DSE (p < 0,001). Houve relação direta entre a perda
de peso e o número de substitutos de refeição utilizados. No subgrupo que utilizou
substitutos de refeição, aqueles que consumiram 608 unidades de substitutos de refeição
ao ano, quando comparados aos que consumiram 117 unidades ao ano, apresentaram
uma chance 4x maior de alcançar a meta de perda de peso de 7% ou 10% do peso inicial.
51
com baixo teor calórico e baixo teor de carboidratos (-2,48, IC 95% -3,59, -1,49, I 2 = 98%)
ou dietas (-1,25, IC95% -2,11, -0,39, I 2 = 95%) ou substitutos de refeição com baixo teor
de gordura (-1,15, 95% CI -2,05, -1,09, I 2 = 85%) pareceram mais eficazes. Embora com
grande heterogeneidade, a perda de peso foi maior em 1 ano nos pacientes que
consumiram substitutos de refeição quando comparados a outras dietas alternativas.
Quando agrupados adequadamente com estratégias de educação nutricional podem ser
considerados para perda de peso. 53
No estudo DiRECT 18 a substituição total de refeições por substitutos entre 3-5 meses
também levou à perda de mais de 15kg em 24% dos participantes e à remissão do DM2
em 46% dos participantes no grupo intervenção. Mais de um terço destes pacientes
mantiveram a remissão do DM2 após 24 meses.54
Classe I Nível B
Sumário de evidências:
Programas em grupo são eficazes para auxiliar nas estratégias de mudança de estilo de
vida em pessoas com DM2. A educação em diabetes dentro de um programa de DSMES
(Diabetes self-management education and support) é fundamental para apoiar todas as
fases do tratamento. Conscientizar o paciente da importância de um planejamento
alimentar individualizado deve ser prioridade em todos os programas voltados a pessoas
com diabetes.
Pessoas com diabetes e seus familiares/cuidadores devem ser inseridos em programas de
educação nutricional desde o diagnóstico, com abordagem sobre a importância do
Classe I Nível B
Sumário de evidências:
p=0,001; I2 30,8%] versus àqueles aplicados por não nutricionistas [-0.26 (IC95%: -0.55 a
0.03); p= 0,10; I2 74,2%]. Outro fator avaliado foi a custo-efetividade das intervenções no
estilo de vida e as intervenções nutricionais para a prevenção e controle do diabetes. O
custo da intervenção por participante realizada por nutricionistas foi menor do que as
intervenções realizadas por não nutricionistas.57
A abordagem nutricional não deve ser somente prescritiva, mas também abordar a
mudança de comportamento alimentar, colocando o indivíduo no centro do cuidado e
considerando a disposição e a prontidão do paciente para mudar. Dessa forma, adaptando
Tabela de Recomendações:
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