Genero Religiao e Poder Na Antiguidade
Genero Religiao e Poder Na Antiguidade
Genero Religiao e Poder Na Antiguidade
poder na antiGuidade
contribuições interdisciplinares
Leni RibeiRo Leite
GiLvan ventuRa da SiLva
Raimundo CaRvaLho
organizadores
Gênero, reliGião e
poder na antiGuidade
contribuições interdisciplinares
vitória, eS
2012
2012 Gm editora
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sem autorização da editora, constitui violação da Lda n° 9.610/98
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F477 Gênero, religião e poder na antiguidade : contribuições interdisciplinares / Leni Ribeiro Leite
... [et all], organizadores. – vitória : Gm editora, 2012.
212 p. : il. ; 23 cm.
iSbn: 978-85-8087-096-1
1. Civilização Clássica - discurso, ensaios, conferências. 2. mulheres - antiguidade
Clássica. 3. mulheres - Condições sociais. 3. Poder (Ciências sociais). i. Leite, Leni Ribeiro.
ii. Silva, Gilvan ventura da; iii. Carvalho, Raimundo.
Cdu: 94 (37+38)
Ilustração da capa
Joyce Cavalcanti do Carmo
SumárIo
aPReSentaÇÃo ...................................................................................................................................7
SobRe oS autoReS.........................................................................................................................207
APrESENTAÇÃo
Carla Francalanci
1 aristotle. Physique. i-iv. texte établi et traduit par henry Carteron. Paris: Les belles Lettres, 2000, 192a 3-6.
2 id., ibid., 192a 13-25.
referências
2 no caso especíico do rouxinol, aristóteles o associa ao canto. “Já se viu mesmo um rouxinol ensinar
os ilhos a cantar, o que signiica que a linguagem e a voz não são da mesma natureza, e que aquela é
suscetível de ser educada” (aRiStÓteLeS. História dos Animais. iv, 9, 536a).
3 ver referências ao mito em: aRiStÓFaneS. As Aves, vv. 203-214.
4 essa associação entre a mulher ideal e a abelha também está presente no Econômico de Xenofonte (vii,
32-37).
Penélope faz uso dessa artimanha para retardar a sua decisão frente a
um novo casamento e para aguardar o retorno de odisseu, que ela acredita
irá acontecer. não importando as razões que a move, a personagem de
homero consegue o controle por mais de três anos sobre o tempo. Poder
esse assegurado pela sua métis e pela sua sophía acerca de uma atividade,
conforme já mencionamos, essencialmente do universo das mulheres. Pela
tecelagem as mulheres podiam se realizar e angariar o reconhecimento
coletivo de uma de suas competências. a arte de tecer se constituía em uma
das formas de garantia de acesso das mulheres à cultura, pois tecer é próprio
da vida civilizada. a habilidade nas atividades manuais é tida como uma
das principais virtudes que se esperam das mulheres; porém, essas mesmas
atividades tão nobres para as mulheres também são objetos de desmedida,
hýbris. nesse sentido, o exemplo mais contundente é o mito de aracne. a sua
desmedida se caracteriza pelo excesso de orgulho que os deuses não toleram.
referências
Documentação Textual
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As ‘meretrizes’ cristãs
1 as mulheres poderiam, em certos casos, optar pelo exercício da anacorese em regiões desérticas, o que,
naturalmente, signiicava um risco permanente à sua integridade física e moral. vale ressaltar, no entanto,
que tal prática nunca foi estimulada nos círculos monásticos, uma vez que os anacoretas costumavam
extrair o seu carisma exatamente das duras privações experimentadas no isolamento do deserto, um
capital simbólico que não estavam dispostos a repartir com as mulheres. a presença feminina nas regiões
próximas aos desertos é mais comum sob a forma de comunidades cenobitas, como aquelas fundadas
por Pacômio, no egito, conforme vemos descrito na História Lausíaca, de Paládio. Para uma discussão
sobre a anacorese como elemento de airmação da autoridade masculina nos círculos monásticos da
antiguidade tardia, consultar Silva (2007).
2 embora João Crisóstomo seja forçado a reconhecer que a praça do mercado é ocupada por mulheres que
se dedicam tão somente à comercialização das roupas que confeccionam, ou seja, por mulheres honestas
que lutam para sobreviver por meio de uma atividade desconectada com a prostituição, para ele essa é
uma situação lamentável e imprópria para as virgens (Quod reg.,5). Como assinala Giner (1997, p. 143),
João não revela, em sua obra, nenhum interesse particular pela mulher trabalhadora, uma realidade
muito comum em seu tempo, pois o ideal feminino que acalenta é o da jovem virgem reclusa no oikos
e livre dos inconvenientes do matrimônio.
[…] riem na hora errada, rompem corações e lertam mais do que mulheres
treinadas em um bordel. elas lançam seus equipamentos de guerra para todos
os lados, fazendo força para caírem na falta de decoro das prostitutas como
se estivessem lutando contra elas e desejosas de disputar com elas o primeiro
lugar por uma reputação desgraçada. me digam, como, no futuro, eu seria capaz
de retirar esta virgem da categoria e sociedade das prostitutas quando ela se
comporta da mesma maneira que estas, inlamando os corações dos rapazes;
quando ela é volúvel e devassa; quando ela tritura os mesmos venenos, mistura
as mesmas taças, prepara a mesma cicuta? mas ela não diz “vamos fazer amor”,
nem diz “eu perfumei meu divã com açafrão e minha cama com canela”. Se
fosse isso, seriam apenas seu divã e sua cama, não suas roupas e corpo! as
prostitutas ocultam a isca em casa, mas vocês portam a armadilha em todos
os lugares; vocês passeiam pelo mercado abrindo as asas do prazer. dado que
vocês não entabularam conversação, vocês não pronunciaram as palavras da
prostituta: “venha, vamos fazer amor”! vocês não as pronunciaram com a lín-
gua, mas vocês o izeram com o seu comportamento. [...] ao agir desse modo,
3 vale a pena recordar que, no império Romano, a maioria das prostitutas era de condição servil. os seus
senhores, os lenos, eram ao mesmo tempo proxenetas e mercadores de escravos. a im de diversiicar
a oferta de serviços, os lenos costumavam educar jovens escravas para cantar, dançar, recitar poemas e
tocar a lira e a lauta. Possuindo uma formação como essa, a escrava poderia ser alugada como cortesã,
ou seja, como uma prostituta de categoria superior, com condições de participar dos festins e banquetes
da aristocracia. uma das maiores aspirações dessas escravas era obter a liberdade e se instalar por conta
própria, livres da exploração a que eram submetidas. Para tanto, podiam, em certas ocasiões, contar
com o auxílio de um cliente tomado de afeição por elas (GRimaL, 1991).
4 Para algumas referências jurídicas sobre o tema nos últimos anos do governo de Constantino, consultar
C.h. 3, 16, 1 e 4, 6, 3. a Nh. 18, De lenonibus, é mais especíica, embora de época tardia (dezembro de 439).
Documentação impressa
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Izabela Bocayuva
a partir dos mitos de Prometeu e Pandora tal como narrados por hesíodo
e que se complementam em suas aparições tanto na Teogonia quanto em
Os Trabalhos e os dias, pretendemos compreender a concepção mítica dos
primórdios do ocidente a respeito da condição humana e considerar nesse
contexto os princípios masculino e feminino. Certamente que se a sociedade
grega desse momento histórico fosse um matriarcado, a narrativa mítica
que encontraríamos seria outra. Sendo, porém, aquela sociedade grega um
patriarcado, aquilo que é concebido como humano começa com a criatividade
do puro masculino, icando reservado para o feminino o papel sui generis de
desestabilizar. veremos, no entanto, que a desestabilidade não pertence menos
à condição humana do que a criatividade própria ao princípio masculino.
Segundo hesíodo, em Os trabalhos e os dias os homens (seres inteira e
somente masculinos) nasciam como e viviam com os deuses. tinham vida
como que paradisíaca. não experimentando qualquer tipo de sofrimento,
nem a morte percebiam:
1 heSÍodo. Os trabalhos e os dias. trad. mary de Camargo neves Lafer. São Paulo: iluminuras, 1991. v.106-119
2 idem. v.174-179
3 não vamos desenvolver essa idéia aqui, mas ica a sugestão de que nunca deixamos de pertencer à raça
de ouro. É que aquela primeira hora da luz em que tudo o que vemos é divino somos nós ainda hoje,
mesmo que nos mantenhamos distantes e esquecidos disso.
4 outro “braço” desse mito e que aqui é somente mencionado por hesíodo. a tragédia de Ésquilo Prometeu
cadeeiro desenvolve exatamente essa parte do mito.
5 um mito narra midas alcançando o sábio Sileno (sacerdote de dioniso) e a ele perguntando o que deveria
pedir, já que o Sileno poderia realizar um desejo seu. midas tem, então, como resposta o seguinte: o
que melhor você poderia pedir já não pode mais ser pedido: não ter nascido. mas agora que nasceu, o
melhor seria pedir para morrer o quanto antes.
6 LaFeR, mary de C. neves. Comentários aos mitos in: Os trabalhos e os dias. São Paulo: iluminuras, 1991. p. 75
7 ela mesma é forjada pela técnica e fogo de hefesto, o deus metalúrgico.
8 o mito da raça de ouro.
9 LaFeR, mary de C. neves. Comentários aos mitos in: Os trabalhos e os dias. São Paulo: iluminuras, 1991. p. 68
10 Segundo o mito, athena ensina Pandora a arte a tecer.
11 marca de aphrodite.
12 LaFeR, mary de C. neves. Comentários aos mitos in: Os trabalhos e os dias. São Paulo: iluminuras, 1991. p. 70
referências
Raimundo Carvalho
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ANEXo
Silvia M. A. Siqueira
1 Com este termo referimo-nos à arte igurativa produzida no espaço de tempo compreendido entre o
inal do século iii até o vii século na Roma imperial. mesmo utilizando uma palavra especíica para
denominar a produção artística de inspiração cristã, consideramos que ela relete o tempo em que foi
produzida, portanto, apresenta características típicas da arte produzida na antiguidade tardia.
olhando as mulheres
2 o conceito tão caro à religião romana exprime de modo enfático a forte virtude primitiva que airma
que o homem deve cumprir seus deveres e obrigações em relação aos seus pais, seus ilhos, da família,
da gens, da estirpe. a pietas entendida como sentimento de amor, de respeito, de desvelo em relação a
sua classe. Se exige tal comportamento em relação à família, do mesmo modo deve dirigir-se também
aos defuntos, aos parentes, efetuando-se inúmeros atos cultuais abrangendo também as gentes muito
distantes. Pois todos os deuses romanos eram considerados parentes da pátria. e a devoção à eles também
era considerada como expressão da pietas.
1 Para relação entre carm.4, 1 e 4, 10, ver e. mitchell, “time for an emperor: old age and the future of the
empire in horace Odes4”, MD 64, 2010, pp. 43-76. há ainda importantes observações sobre as odes que
louvam o império e o imperador (cf. pp. 73-74).
2 Para mencionar o exemplo mais evidente, o v. 5: mater saeua Cupidinum é citação do v. 1 do carm. 1, 19.
3 Para este estudo, remeto a R.o.a.m Lyne, “horace odes book 1 and the alexandrian edition of alcaeus”,
CQ 55, 2005, pp. 542-558.
tempestiuius in domum
Pauli purpureis ales oloribus 10
comissabere maximi,
si torrere iecur quaeris idoneum.
4 Para tal informação, ver b. Gentili e C. Catenacci (orgs.), I poeti del canone lirico nella Grecia arcaica,
milano 2010, p. 324.
5 Citamos aqui m. Putnam, Artiices of eternity. Horace’s fourth book of Odes, ithaca-London 1986, p. 39
ss.; G. nagy, “Copies and models in horace odes 4.1 and 4.2”, CW 87, 1994, pp. 415-426; R. tarrant,
“Da Capo Structure in some odes of horace”, in S. harrison (ed.), Homage to Horace. A bimillenary
celebration, oxford 1995, pp. 32-49: 45 s.; a. Cavarzere, Sul limitare. Il «motto» e la poesia di Orazio,
bologna 1996, pp. 241-242; P. Fedeli e i. Ciccarelli (comm.), Q. Horatii Flacci, Carmina. Liber IV, Firenze
2008, p. 87. não elencamos, obviamente, todos os estudiosos que se dedicaram às relações entre o carm.
4, 1 de horácio e o fr. 1 v de Safo, mas izemos seleção dos mais importantes para nossa leitura.
6 Se Safo faz um κλητικὸς ὕμνος, horácio faz uma espécie de ἀποπομπή. Para estes termos, ver e. Fraenkel,
Horace, oxford 1957, p. 410, n. 3, que remete a fontes antigas.
8 desizemos a geminatio do original (precor, precor), que dá idéia de insistência. tentamos, porém,
compensar com um verbo mais forte (“implorar”) do que, por exemplo, “rogar”.
9 nossa tradução alterna versos de oito e doze sílabas. o v. 35 do original latino é hipermétrico. assim,
traduzimos não por um verso de oito sílabas, mas por um de nove. É notável que a sílaba a mais se dá
justamente no verso em que aparece o adjetivo facunda (“loquaz”) que caracteriza língua, ou seja, o verso
mimetiza a loquacidade da língua com a sílaba excedente. tal efeito já fora ressaltado por m. Putnam, Op.
cit., 38, que, por sua vez, remete a S. Commager, “Some horatian vagaries”, SO 55, 1980, pp. 59-70: 65-66.
10 todas as traduções são nossas. Quando não for, indicaremos o tradutor.
11 a referência à matéria bélica parece evidente. Confronte-se ainda com a sétima estrofe do carm. 4, 5,
25-28: quis Parthum paueat, quis gelidum Scythen, / quis Germania quos horrida parturit / fetus, incolumi
Caesar, quis ferae / bellum curet Hiberiae?
12 e. Romano, Q. Orazio Flacco. Le Opere I (le Odi, il Carme secolare, gli Epodi), tomo secondo, Roma
1991, p. 561: “ma questa non è soltanto l’ode del ritorno dell’amore: la terza strofe contiene infatti una
variazione sul tema della recusatio. Poiché è innamorato, il poeta non può dedicarsi alla poesia epica; il
che equivale a dire che la condizione dell’innamorato è tutt’uno con la scelta della poesia d’amore e, in
generale, lirica”.
13 São claramente encomiásticos os carm. 4, 4; 4, 5; 4, 14, e 4, 15, em que há, sobretudo, o elogio de augusto.
14 e. Fraenkel, Op. cit., p. 413: “he portrait of Paulus Fabius maximus is to be the irst in a series of similar
ones, and this gallery of portraits is the most distinctive element of the fourth book”.
15 É notável a inserção aqui do adjetivo dulcium (v. 4), que caracteriza Cupidinum (v. 5), criando oximoro.
além disso, por estarem as duas palavras em inal de verso, a terminação -um ecoa de uma para outra,
de um verso a outro. ainda no início, nos versos seguintes, há a antítese: mollibus (v. 6) e durum (v.7).
16 Para o olhar retrospectivo do livro iv das Odes e a última produção lírica como chave de interpretação
para os três livros líricos precedentes, ver a. Cucchiarelli, “La tempesta e il dio (forme editoriali nei
Carmina di orazio)”, Dictynna 3, 2006, pp. 73-136: 126-128. o artigo é fundamental ainda para o estudo
dos deuses e a organização dos livros em horácio.
17 Ressalte-se, porém, que a matéria erótica no quarto livro sempre é vista pela perspectiva de um poeta
que se coloca logo no início como velho. São exemplos evidentes o carm. 4, 10, dirigido a Ligurino, em
que o poeta lembra ao destinatário que também vai envelhecer, e o carm. 4, 13, dirigido à velha Lice,
que quer parecer jovem, mas vênus há muito tempo se afastou dela.
18 e. Fraenkel, Op. cit., pp. 407-408; e. Romano, Op. cit., p. 861; m. Putnam, Op. cit., p. 74, e e. nogueira,
A lírica laudatória no livro quarto das odes de Horácio, diss., São Paulo 2006, pp. 47-48.
19 G. Pasquali, Orazio lirico, Firenze 1920, pp. 145-146.
20 É notável que, embora mencione explicitamente os modelos eólicos (alceu e Safo), o poeta imite Calímaco,
poeta helenístico, que fala do olhar benévolo das musas; olhar que, se recebido quando menino, não
o abandona quando em cãs (Aetia, fr. 1, 37-38 = epigr. 21 Pf.: Μοῦσαι γάρ, ὅσους ἴδον ὄμματι παῖδας
/ μὴ λοξῷ, πολιοὺς οὐκ ἀπέθεντο φίλους). a imagem, porém, já está em hesíodo (theog. 81-84: ὅντινα
τιμήσωσι Διὸς κοῦραι μεγάλοιο, / γινόμενόν τ’ εἰσίδωσι διοτρεφέων βασιλήων, / τοῦ μὲν ἐπὶ γλώσσῃ
γλυκερὴν χεύουσιν ἐέρσην, / τοῦ δ’ ἔπε’ ἐκ στόματος ῥεῖ μείλιχα). Para o confronto com horácio, ver
m. Putnam, Op. cit. p. 72. vale ressaltar ainda que o poeta latino, pela citação a si mesmo, substitui as
musas de Calímaco e hesíodo por melpômene.
21 não parece coincidência que no carm. 2, 10, metade do segundo livro, haja a expressão “mediania áurea”
(v. 5: auream quisquis mediocritatem).
22 acrescente-se que no programático carm. 1, 6 o poeta se deine como tenuis (cf. v. 9: conamur, tenues
grandia, dum pudor), termo técnico em poesia, e, portanto, muito signiicativo dizer-se “não tênue”.
23 São os carm. 3, 1; 3, 2; 3, 3; 3, 4; 3, 5, e 3, 6, conhecidos como “odes romanas”.
24 Para a importância da leitura sucessiva dos poemas, em que é fundamental, para o entendimento de
um, a leitura do seu antecedente e do seu subsequente, ver J. e. G. Zetzel, “horace’s Liber Sermonum:
he structure of ambiguity”, Arethusa 13, 1980, pp. 59-77. embora o artigo se concentre no estudo das
sátiras, o método vale para leitura de toda obra horaciana. Para retomada do artigo de Zetzel, ver K.
Freudenburg, he walking muse, Princeton 1993, pp. 198-211.
25 Para a tópica e louvor de augusto como deus antes do culto oicial, ver G. Pasquali, Op. cit., pp. 183 ss.
26 Como nota e. Fraenkel, Op. cit., p. 442, a conclusão com redi, com a idéia de retorno, repercute no
primeiro verso da estrofe seguinte com redde.
27 É ainda mais relevante esta identiicação por ser assim mencionado o deus no hino seguinte (carm. 4,
6, 26: Phoebe, qui Xantho lauis amne crinis).
28 m. Putnam, Op. cit., p. 117.
29 tradução de elpino duriense in A lírica de Q. Horácio Flaco, poeta romano, Lisboa 1807.
30 Para esta mudança, de tróia a Roma, ver e. Fraenkel, Op. cit., pp. 402-403.
31 veja que é a mesma palavra que aparecerá para identiicar o deus no carm. 4, 6, que citamos logo abaixo.
32 tadução de elpino duriense.
dirás tu já casada:
‘quando o século traga os festos dias,
dei carme grato aos deuses, aprendendo
do vate horácio os metros.’34
o hino, portanto, mais do que elogiar o deus, elogia o poeta que celebra
os deuses, Roma e os romanos, a poesia e o poeta35. Porém, deixa claro que
quem lhe deu o espírito (spiritus), a arte do canto (ars carminis) e o nome
de poeta (nomen poetae) foi Febo, de modo que é esse o deus que, no limite
do livro, volta a comparecer e determinar o que deve o vate cantar. Se aqui
o poeta se dirige a apolo, no im o deus se dirige a horácio.
33 de modo semelhante, o poeta assim conclui o epod. 16, 66: piis secunda uate me datur fuga. Para a
conclusão deste epodo, ver a. Cavarzere, “Vate me. L’ambiguo sigillo dell’epodo Xvi”, Aevum Antiquum
7, 1994, pp. 171-190, e a. Cucchiarelli, “eros e giambo. Forme editoriali negli Epodi di orazio”, MD 60,
2008, pp. 69-104: 98-99.
34 tradução de elpino duriense. Para estudo do metro desta ode (estrofe sáica), o mesmo do Carmen
saeculare, e possível entendimento da conclusão com a fala da corista, ver o recente trabalho de L.
morgan. musa Pedestris, Metre and meaning in Roman verse, oxford 2010, pp. 258-260.
35 Para conclusão semelhante, ver e. nogueira, Op. cit., pp. 69-75. Lembremos ainda que o louvor à poesia
que vence a morte e tudo eterniza é tema fundamental do livro, explorado, sobretudo nos carm. 4, 8 e 4,
9. destaque-se que o carm. 4, 8 ocupa posição importante, o centro do livro, e traz de volta o asclepiadeu
menor, metro usado apenas nos carm. 1, 1 e 3, 30, início e im da produção lírica precedente.
36 Para outra aproximação horaciana de uenerantur e Veneris, citamos ainda o Carmen saeculare, vv.
49-50: quaeque uos bobus uenerantur albis / clarus anchisae Venerisque sanguis, o que reforça ainda
mais a alusão avênus no carm. 4, 14, 52, poema que termina com elogio da paz, tema da ode seguinte.
Para a passagem do Carmen saeculare, ver a. barchiesi, he uniqueness of the Carmen saeculare and its
tradition, in t. Woodman & d. Feeney, Traditions and contexts in the poetry of Horace, Cambridge 2002,
pp. 107-123: 109-110; para a parte inal dos carm. 4, 14 e 4, 15, ver m. Putnam, Op. cit., p. 295.
37 Para o confronto das passagens de Lucrécio e horácio, ver m. Putnam, Op. cit., pp. 295 ss., e a. Cucchiarelli,
Op. cit. 2006, p. 130.
39 Seguimos aqui e. Romano, Op. cit., p. 921, e P. Fedeli e i. Ciccarelli, Op. cit., pp. 601.
40 Ressalte-se que, embora haja louvor aos enteados, não se deixa de elogiar também augusto.
41 Para este paralelo, ver e. Romano, Op. cit., p. 921.
42 Para a relação do carm. 4, 15 com monumentos romanos em honra de augusto, em especial com a Ara
Pacis Augustae, ver m. Putnam, Op. cit., pp. 327-339. Para a importância de apolo no monumento, ver
m. beard. “Gli spazi degli dei, le feste”, in a. Giardina, Roma Antica, bari 2000, pp. 35-56. Para uso das
imagens por augusto, remetemos ao célebre estudo de P. Zanker, Augusto e il potere delle immagini,
torino 1989, e P. martins, Imagem e poder: considerações sobre a representação de Otávio Augusto, São
Paulo, 2012 [no prelo].
43 Para estudo das fontes de horácio (Calímaco, fr. 1, 21 ss. Pf.; virgílio, ecl. 6, 3 ss.; Propércio 3, 3, 1 ss.),
ver e. Fraenkel, Op. cit., p. 449; m. Putnam, Op. cit., pp. 265-271; a. Cavarzere Op. cit. 1996, pp. 252-253;
P. Fedeli e i. Ciccarelli, Op. cit., pp. 601-609. em horácio, além do carm. 4, 15, há recusatio nos carm.
1, 6; 1, 19; 2, 12. acrescentamos também que, diferentemente de seus predecessores, horácio não usa
o hexâmetro para a recusatio, metro usado pelos épicos desde homero, como está claro na ars, citada
acima. É diferença importante, já que os outros simulam o compor épica pelo metro e pela matéria,
enquanto horácio só pela matéria.
referências
44 ou ainda, como quer Pseudo-acrão (Keller, 373, 6-7), uma matéria grande não deve ser encetada por
um engenho não adequado (magnam materiam non suicienti ingenio... non debere committi).
45 o verbo indica justamente a interrupção entre a primeira e a última produção lírica pela publicação do
primeiro livro de Epístolas.
46 de acordo com e. Romano, Op. cit., p. 925, seguida depois por outros, este inal é homenagem também
a virgílio: “non è stato abbastanza notato che, come in 1, 6 la recusatio della poesia epica conteneva una
rainata citazione omerica (...), così in questa recusatio inale, che fa da suggello alla sua produzione
lirica, orazio, mentre prende le distanze dall’epica, non può fare a meno di ricordare il poema di
virgilio. e se all’inizio della raccolta, in 1, 6, la grande epica era quella di omero, oggetto di citazione
per tecnica allusiva, qua la nuova grande epica è quella di virgilio, i nuovi eroi sono i troiani, enea e
la sua discendenza, compreso augusto. L’ultima ode di orazio si chiude sì con una lode per il princeps,
ma anche con un omaggio al grande poeta contemporaneo.” e, portanto, de novo, além do louvor a
augusto, há elogio da poesia que eterniza tudo.
2 uma pista para a distinção entre sacra publica e sacra priuata é fornecida por Festo: os ritos públicos são
aqueles realizados a expensas públicas em benefício do povo (...) em contraste com os ritos privados que
são realizados em benefício de indivíduos, das famílias, dos descendentes (Publica sacra, quae publico
sumptu pro populo iunt quaeque pro montibus pagis curis sacellis; at priuata, quae pro dingulis hominibus
familiis gentibus iunt. ed. Linsay, 1930:350). Sacra priuata, como podemos depreender, não eram apenas
os ritos da religio domestica, mas tudo o que não se inseria na deinição de publica sacra, ou seja, os ritos
realizados em benefício do povo romano (pro populo), por oiciantes sancionados e inanciados pelo
tesouro público, com participação ativa de magistrados e sacerdotes, diante da grande massa do público
assistente, que geralmente participava – no todo ou em parte – do banquete após o sacrifício e em outras
ações, e.g., nas grandes procissões que caracterizavam as supplicationes. a própria deinição de sacrum
é reservada para coisas e lugares consagrados oicialmente pelos pontíices (cf. Gaio. Inst. 2,5; ulpiano,
Dig. i, 8.9.). Podemos assumir que a deinição de sacra – ao menos juridicamente – seguia os mesmos
passos que deiniam o ritual público, ou seja, um objeto ou lugar que se tornava sagrado através de um
ato ritual especíico – a consecratio – que devia ser autorizado pelo Senado, presidido por sacerdotes e
magistrados e promovido com fundos públicos.
3 o nome deste ritual é derivado da expressão latina lectos sternere, indicando a disposição de lecti,
correspondentes aos klinai gregos, nos quais os comensais participavam do banquete deitados.
4 abordamos o tema do banquete ritual do tipo lectisternia em duas publicações recentes, cf. beLtRÃo,
2012; 2011.
5 ver, e.g., seu comentário sobre a deuotio de décio mus (AVC, 8, 11) e nossos comentários sobre o suposto
“ceticismo” (uma projeção moderna) de tito Lívio em beLtRÃo, 2006.
6 Ch. Smith, por exemplo, apresenta o ritual das Parentalia, arqueologicamente invisível, mas presente
em textos, apesar de rituais funerários comporem um dos mais signiicativos elementos dos registros
arqueológicos do Lácio entre 1000 e 500 a.C (Smith, 2007: 32), além de tesse Stek ter apontado a
ausência – ao menos aparente – do registro arqueológico sobre os rituais das Compitalia em espaços
rurais (SteK, 2008); suas discussões defendem a importância da documentação textual, cotejada à
análise do registro arqueológico, para a compreensão dos rituais.
7 esses textos trazem, nitidamente, alguns elementos de fundo arcaico (cf. d. hal. 7, 70, 2-3: tas archaias
kai topicas historias), que sobreviveram não fossilizados, ou seja, num contexto dinâmico, pois cada
geração reconstituía e ressigniicava o ritual e o mito.
8 “os dois homens para os sacrifícios”, colégio sacerdotal que atingirá o número de 15 membros, os
quindecem uiri sacris faciundis, responsáveis pela consulta aos Livros Sibilinos e questões relativas à
introdução de divindades e cultos em Roma (cf. beLtRÃo, 2006: quadro dos principais sacerdócios
públicos romanos).
9 É possível que o ritual tenha sido importado de cidades gregas, nas quais os banquetes rituais são
bem atestados, e beard, north & Price chamam a atenção para a referência a algumas divindades de
origem grega, como apolo e Latona, geralmente associadas à proteção contra pestes (beaRd, noRth,
PRiCe, 1998, 1: 63 ss; 2: 130). do mesmo modo, John Scheid depreende que os duum uiri de 399 a.C.
foram inspirados pela tradição grega da teoxenia, incluindo a disposição dos comensais em leitos, aos
pares e, paulatinamente, este ritual foi adotado em festivais e santuários diversos (SCheid, 1985; cf.
tb. FÉvRieR, 2008a).
10 Remetemos à nossa análise do lectisternium de 399 a.C, para o detalhamento das ações religiosas descritas
por tito Lívio, AVC, 5,13: beLtRÃo, 2012.
Q. Fábio máximo era então ditador pela segunda vez. no mesmo dia de sua
entrada na magistratura, convocou o senado e começou discutindo assuntos
religiosos; deixou claro aos senadores que C. Flamínio errou mais por sua
negligência em relação às cerimônias e suas obrigações religiosas do que por
sua imprudência como general, e que os próprios deuses, sustentou, deveriam
ser consultados sobre as medidas necessárias para dirimir sua ira e, assim,
decretou que os decênviros fossem chamados a consultar os Livros Sibilinos,
uma medida até então adotada somente quando os mais alarmantes portentos
eram reportados. após inspecionarem os Livros do destino11, [os sacerdotes]
informaram ao senado que o voto feito a marte devido à guerra não fora
integralmente realizado, que deveria ser renovado de modo ampliado e que
deveriam ser realizados ludi magni para Júpiter, e um templo para vênus ericina
e um para mens deveriam ser prometidos. um lectisternium e supplicationes12
deveriam ser feitos, e um uer sacrum13 deveria ser dedicado se a guerra fosse
bem sucedida e a república permanecesse como era no início da guerra. o
senado, como Fábio estaria permanentemente ocupado com as necessidades
da guerra, com a aprovação unânime do colégio dos pontíices, designou o
11 beard, north & Price chamaram a atenção para o incremento de elementos de origem grega na religião
romana nos séculos iv e iii a.C. (1998, v. 1: 63ss); os próprios Livros Sibilinos têm uma suposta origem
grega. a despeito das airmações de escritores romanos antigos, pesquisas recentes vêm insistindo na
presença de elementos etruscos nos Livros Sibilinos anteriores ao incêndio do templo de Iuppiter Optimus
Maximus no Capitólio, ocorrido em 83 a.C. (invasão de Sila), com a consequente perda dos oráculos.
em 76 a.C., uma comissão senatorial procurou refazer a coleção de oráculos, e os XVuirisacris faciundis
declararam autêntica uma coleção de livros de Samos, que foram enviados a Roma. esses “novos” Livros
Sibilinos eram, sem dúvida, gregos, mas pode ter havido correspondências entre os primeiros oráculos
e os libri ostentaria (sobre prodígios) e os libri fatales (destino) etruscos: ver esp. taKÁCS, 2008: 67-70.
12 as supplicationes, neste caso,inseriam-se nos ritos expiatórios, tratando-se de orações feitas pela população
nos templos e altares, diante das divindades, apresentadas ao público em seus puluinaria (assentos). tal
rito poderia ocorrer, igualmente, no caso de vitórias e no im de situações consideradas – pelo Senado
– ameaçadoraspara toda a urbs (e.g., Cícero, Cat. iii, 10).
13 um rito excepcional no contexto dos piacula consistia em a comunidade dedicar as primícias – animais
e vegetais – nascidas entre as Kalendae de março e de abril, do ano seguinte ao voto. no caso desta
proposta de uer sacrum, o voto se restringia a animais.
14 na íntegra: Q. Fabius Maximus dictator iterum quo die magistratum iniit uocato senatu, ab dis orsus, cum
edocuisset patres plus neglegentia caerimoniarum quam temeritate atque inscitia peccatum a C. Flaminio
consule esse quaeque piacula irae deum essent ipsos deos consulendos esse, peruicit ut, quod non ferme
decernitur nisi cum taetra prodigia nuntiata sunt, decemuiri libros Sibyllinos adire iuberentur. Qui inspectis
fatalibus libris rettulerunt patribus, quod eius belli causa uotum Marti foret, id non rite factum de integro
atque amplius faciundum esse, et Ioui ludos magnos et aedes Veneri Erycinae ac Menti uouendas esse, et
supplicationem lectisterniumque habendum, et uer sacrum uouendum si bellatum prospere esset resque publica
in eodem quo ante bellum fuisset statu permansisset. Senatus, quoniam Fabium belli cura occupatura esset, M.
Aemilium praetorem, ex collegii pontiicum sententia omnia ea ut mature iant, curare iubet.(LivY, history
of Rome. books XXi-XXii. b. o. Foster (ed.). Loeb Classical Library.harvard university Press, 1929).
15 na íntegra: His senatus consultis perfectis, L. Cornelius Lentulus pontifex maximus consulente collegium
praetore omnium primum populum consulendum de uere sacro censet: iniussu populi uoueri non posse.
Rogatus in haec uerba populus: “Velitis iubeatisne haec sic ieri? Si res publica populi Romani Quiritium ad
quinquennium proximum, sicut uelim [uou]eamque, salua seruata erit hisce duellis, quod duellum populo
Romano cum Carthaginiensi est quaeque duella cum Gallis sunt qui cis Alpes sunt, tum donum duit populus
Romanus Quiritium quod uer attulerit ex suillo ouillo caprino bouillo grege quaeque profana erunt Ioui ieri,
ex qua die senatus populusque iusserit. Qui faciet, quando uolet quaque lege uolet facito; quo modo faxit probe
factum esto. Si id moritur quod ieri oportebit, profanum esto, neque scelus esto. Si quis rumpet occidetue
insciens, ne fraus esto. Si quis clepsit, ne populo scelus esto neue cui cleptum erit. Si atro die faxit insciens,
probe factum esto. Si nocte siue luce, si seruus siue liber faxit, probe factum esto. Si antidea senatus populusque
iusserit ieri ac faxitur, eo populus solutus liber esto”. Eiusdem rei causa ludi magni uoti aeris trecentis triginta
tribus milibus, [trecentis triginta tribus] triente, praeterea bubus Ioui trecentis, multis aliis diuis bubus albis
atque ceteris hostiis. Votis rite nuncupatis supplicatio edicta; supplicatumque iere cum coniugibus ac liberis
non urbana multitudo tantum sed agrestium etiam, quos in aliqua sua fortuna publica quoque contingebat
cura. Tum lectisternium per triduum habitum decemuiris sacrorum curantibus: sex puluinaria in conspectu
fuerunt, Ioui ac Iunoni unum, alterum Neptuno ac Mineruae, tertium Marti ac Veneri, quartum Apollini ac
Dianae, quintum Volcano ac Vestae, sextum Mercurio et Cereri. Tum aedes uotae. Veneri Erycinae aedem Q.
Fabius Maximus dictator uouit, quia ita ex fatalibus libris editum erat ut is uoueret cuius maximum imperium
in ciuitate esset; Menti aedem T. Otacilius praetor uouit.(LivY, history of Rome. books XXi-XXii. b. o.
Foster (ed.). Loeb Classical Library. harvard university Press, 1929).
16 este ritual era geralmente associado a prodígios meteorológicos, incluindo sacrifícios durante nove dias.
17 uma procissão solene e catártica realizada pelos colégios sacerdotais em torno do território urbano;
trata-se, portanto, de um rito expiatório (piaculum) que puriicava o solo urbano.
18 Roma assumia, assim, Juno Sospita e o santuário do Lanuvium como parte integrante da religio romana, ao
passo que, ao assumi-los, reforçava os laços com Lanuvium e, por extensão, com outros socii (SChuLtZ,
2006; oRLin, 1997, 2010).
19 no contexto da ii Guerra Púnica, os romanos lançaram mão, em ocasiões diversas, de um grande “arsenal
expiatório”: sacrifícios, um nouemdiale sacrum, lectisternia, supplicationes, promessas de templos a novas
divindades, uma promessa de uer sacrum e, mesmo, um sacrifício humano (cf. tito Lívio, AVC, 21, 62;
22, 1, 14-20; 22, 9-10; 22, 57).
20 atualmente há um relativo consenso entre historiadores da religião romana de que essa abertura religiosa
corresponde a uma abertura política, no sentido da concessão de direitos de cidadania, com ou sem
voto (SCheid, 2003; 2010; beaRd, noRth & PRiCe, 1998, v.1: 313 ss).
de Plauto a marcial, de 200 a.C. a 100 d.C, um convite divino feito a um ser
humano signiicava “morte” (Plauto, Rudens, 362; marcial, 9, 91). a expres-
são era irônica. Quando seres humanos convidavam os deuses, a intenção
geralmente era de que a divindade viesse “morar” em um templo que tinha
sido construído. o uso da palavra lectisternium o expressa, por isso, é melhor
traduzi-la não por “banquete dos deuses”, e sim por “disposição dos leitos”. a
palavra se refere à preparação para um banquete (lectus: leito para comer, cor-
respondente ao gr. Kliné); (...) o banquete é oferecido pelos próprios deuses (e
me reiro à representação e não à realidade, que, decerto, envolve seres humanos
21 marcel detienne e Jean-Pierre vernant, em 1979, organizaram uma obra que atualmente é referência
obrigatória para o estudo dos banquetes rituais, demonstrando que sacriicar é estabelecer relações que
organizam a sociedade e instituem o lugar de cada um de seus membros: seres humanos em relação às
divindades, cidadãos em relação a não-cidadãos, cidadãos entre si, e cidadãos em relação ao corpo social,
a partir da divisão de um alimento ou de uma vítima, “alimentando” as relações sociais e deinindo a
hierarquia cívica (detienne, veRnant, 1979).
22 J.-P. vernant já chamara a atenção para tal tipo de sacrifício, que unia seres humanos e seres divinos numa
festa alimentar, ressaltando tratar-se de um esquema simbólico nítido, que une separando (veRnant,
1981: 33). Para veyne, que segue aqui a linha de interpretação de vernant, a menos que se compreenda
comensalidade por um viés rigorosamente durkheimiano, no qual os deuses são projeções da sociedade
e a sociedade humana banqueteava consigo mesma, simbolizando sua totalidade, percebe-se que “dans
le monde gréco-romaine, il n’arrive jamais que dieux et hommes forment um tout, une seule societé;
même s’ils mangent non loin les uns des autres, ou même s’ils sont commensaux aux mêmes tables, il
y aura toujours entre eux l’abîme...” (2000: 18). Remetemos, também, à análise de John Scheid do ritual
dos sacerdotes arvais, que incluía banquetes rituais, nos quais mortais e imortais não eram reunidos
em leitos em torno do alimento, e o convite aos deuses surge como metáfora (SCheid, 1990).
23 havia escravos especializados para tal, os uictimari e cultrarii, que surgem nas imagens carregando o
limus do açougueiro ou os cultri, as facas do sacrifício.
24 além de outros lectisternia já terem sido realizados, nos quais o povo romano também formava a plateia
do banquete, e apesar de muitos elementos de sua forma provavelmente terem sido resultado de interações
religiosas com cidades gregas, o lectisternium possivelmente remete a antigos rituais realizados no âmbito
da religio domestica, como o daps oferecido a Júpiter pelo paterfamilias (Iuppiter Dapalis: cf. Catão, Agr. 50,
131-32; Cícero. De or. iii, 19,73), e ao banquete oferecido a Picumnus e Pilumnus (var. de uita, 81, 82).
então, um lectisternium foi realizado durante três dias sob a supervisão dos
decênviros dos [livros] sagrados; seis leitos foram exibidos publicamente, um
para Júpiter e Juno, outro para netuno e minerva, o terceiro para marte e
vênus, o quarto para apolo e diana, o quinto para vulcano e vesta, o sexto
para mercúrio e Ceres (avC 22,10).
25 Ressalte-se que a visão androcêntrica de mundo parece ter sido preponderante; as divindades “masculinas”
são citadas sempre em primeiro lugar, e as divindades femininas não recebem as honras em lecti, e sim
em sellae, participando do banquete sentadas, como as matronae. Cf. também o futuro epulum Iouis, nos
quais a “tríade Capitolina” era formalmente convidada ao banquete, após o sacrifício, e os senadores
banqueteavam a expensas públicas, e Juno e minerva, em sendo divindades femininas, não tinham direito
a um leito: “... feminae cum uiris iubantibus sedentes cenitabant, quae consuetudo ex hominum conuictu
ad diuina penetrauit, nam iouis epulo in tectulum, iuno et minerua in sellas ad cenam inuitabantur”
(val. max. ii, 1-2); cf. beLtRÃo, 2011.
referências
Jaa Torrano
referências
Quid quod haec serum erat continere, cum illa vos certe quorum honori data
sunt haberetis. Sed apud ceteros necesse est multum illis pereat ex venia, cum
amiserint quam solam habuerunt gratiam celeritatis. Nullum enim ex illis biduo
longius tractum, quaedam et in singulis diebus efusa.
(Silvae, 1. praef. 10-15)
além disso, era muito tarde para contê-los, pois você, certamente, e os outros
em cuja honra eles foram feitos os possuíam. mas junto ao público é necessário
que abandonem muito do que receberiam de indulgência, pois perderam o que
só tiveram graças à rapidez. de fato, nenhum deles levou mais do que dois dias
para compor, alguns foram feitos em um só dia.
ainda que muitos dos poemas das Silvae tenham personagens mitológicas
como ponto de referência e de comparação, em apenas dois poemas uma
personagem mitológica é o tema central. em ambos os casos, essa personagem
é hércules, visto em uma instância sob a aparência de uma estátua – no
poema 4.6, em que a estátua de hércules epitrapézios, pertencente a vindex
novius, é o tema central – e a propósito de um templo, no poema 3.1. ambos
os objetos, tão diferentes, são mote para a inclusão de novos capítulos ao
percurso lendário de hércules, e dão a ambos os proprietários e ao poeta a
oportunidade de renegociar suas próprias representações com a cultura do
passado. Já é consenso que a abordagem de estácio em ambos os poemas
é uma variante romana da êcfrase. no caso dos poemas sobre hércules, os
componentes descritivos são apresentados de forma a situar cada objeto dentro
da narrativa da carreira de hércules. no poema 3.1, que nos interessa mais de
perto, hércules auxilia o dono da villa, Pollius Felix, a reconstruir seu próprio
templo, cujo aspecto físico brilhante retoma o trabalho de construção da pira
funeral no monte eta, instrumento de sua morte e de sua apoteose.
este é o tipo de tema que interessaria a Calímaco, e a própria palavra
causas se encontra em posição de destaque após a cesura no segundo verso.
Por outro lado, a referência a vergílio é também clara: bastaria observar que
‘honrado por seu espírito e por sua riqueza, imitador dos meus trabalhos,
domador das pedras rudes e dos ermos, vergonhas da natureza
infecunda, e que transforma antros habitados por feras
em locais úteis, e traz à luz as deidades escondidas
pela vergonha. Que prêmios agora te oferecerei pelo seu mérito?’
1 tite-live. Histoire Romaine. trad. nouvelle, introd. et notes par e. LaSSeRRe. Paris: Garnier, 1944. t.
1er. p. 3 ss.
2 id. ibid., p. 27-33. Iam res Romana adeo erat ualida, ut cuilibet initimarum ciuitatum bello par esset; sed
penuria mulierum hominis aetatem duratura mgnitudo erat, quippe quibus nec domi spes prolis, nec cum
initimis connubia essent (Liv. 1, 9, 1). todas as traduções de textos latinos são de nossa responsabilidade.
3 Accedebant blanditiae uirorum, factum purgantium cupiditate atque amore, quae maxime ad muliebre
ingenium eicaces preces sunt – 1, 9, 16 (“acrescentavam-se as carícias dos maridos que puriicavam o
malfeito com desejo e amor, o que, para o espírito feminino corresponde com vantagem a preces eicazes”).
4 a data real da fundação de Roma é desconhecida; tradicionalmente, a partir de varrão, considera-se
que a cidade foi fundada em 753 a.C., quando se inicia a época dos reis; a queda do último tarquínio
ocorreu entre 510 e 509 a.C.
5 a proposta da lei foi obra do tribuno Gaio terentílio arsa.
6 assim se denominou a lei por ter sido escrita em doze tabuinhas de madeira, das quais dez formaram
um primeiro bloco ao qual foram acrescidos mais dois, posteriormente.
7 Para Cícero (Leg. ii, 59) e tito Lívio (iii, 34, 6) a Lei das Doze Tábuas, que consistia numa lista de
importantes regras legais, era a principal fonte de todas as demais leis romanas, públicas e privadas.
8 Gaio (110-180 c.) viveu durante os governos de antonino Pio e marco aurélio; escreveu Institutiones,
obra que mostra a situação do direito romano em sua época.
9 ulpiano foi um jurista da época de Caracala (211-217); suas obras, como comentarista jurídico, foram
aproveitadas por Justiniano no Digesto.
10 Justiniano foi imperador romano, de 525 a 565; reorganizou o direito romano com ajuda de triboniano;
seu Corpus Iuris se compõe de: Institutiones,manual de direito para estudantes; Digestae, extratos de
escritos de juristas; Codex, atos de imperadores; e Novellae, leis promulgadas após a publicação do Codex.
11 tábuas i e ii: organização e procedimento judicial; tábua iii – normas contra os inadimplentes;
tábua iv – Pátrio poder; tábua v – Sucessões e tutela; tábua vi – Propriedade; tábua vii – Servidões;
tábua viii – dos delitos; tábua iX – direito público; tábua X – direito sagrado; tábuas Xi e Xii –
Complementares.
12 apesar de algumas restrições ao patrio poder a Ldt facultava ao paterfamilias a possibilidade de matar
o ilho que nasceu disforme e lhe conservava o direito de morte e de venda dos ilhos.
13 Quanto ao direito sucessório, dava-se preferência da sucessão testada sobre a intestada. Se a sucessão
ocorria neste último caso a lei estabelecia como primeiros herdeiros os ilhos e a mulher que tivesse
uma ilha; se não havia herdeiros necessários, herdava o parente mais próximo, depois os parentes
que contavam com um ascendente comum ao falecido. Se não houvesse herdeiros entre os parentes
consanguíneos, as pessoas com o mesmo sobrenome ou sobrenome que derivasse do mesmo gentílico
do falecido.
14 Cf. GRimaL, P. A civilização romana. trad. de i. S. aubYn. Lisboa: edições 70, 1988. p. 82 ss.
15 Gaio faz o seguinte comentário a respeito do casamento por usus: Itaque lege duodecim tabularum
cautum est, ut si qua nollet eo modo in manum mariti convenire, ea quotannis trinoctio abesset atque
eo modo cuiusque anni usum interrumperet. Sed hoc totum ius partim legibus sublatum est, partim ipsa
desuetudine obliteratum est (“assim foi estabelecido na Lei das Xii tábuas; que se ela (a mulher) não
quisesse passar desse modo (pelo usus) à manus do marido, que saísse de casa todos os anos por três
dias e assim interromperia a contagem do tempo. mas essa disposição em parte foi suprimida pela lei,
em parte foi esquecida pela dessuetude”). GaiuS, Institutiones 1, 111.
16 Coemptione vero in manum conveniunt per mancipationem, id est per quandam imaginariam venditionem.
Nam adhibitis non minus quam V testibus civibus Romanis puberibus, item libripende, emit vir mulierem,
cuius in manum convenit (“Podem também casar-se por mancipação, por meio de compra, isto é, por uma
venda imaginária. Comparecendo ao ato não menos do que cinco testemunhas, cidadãos romanos adultos,
o homem compra, diante de um oicial público, a mulher para cuja manus ela vem”). idem, ibid., 1, 113.
17 veja-se o texto de Gaio: Farreo in manum conveniunt per quoddam genus sacriicii, quod Iovi Farreo it;
in quo farreus panis adhibetur, unde etiam confarreatio dicitur; complura praeterea huius iuris ordinandi
gratia cum certis et sollemnibus verbis praesentibus decem testibus aguntur et iunt. Quod ius etiam nostris
temporibus in usu est: Nam lamines maiores, id est Diales, Martiales, Quirinales, item reges sacrorum, nisi
ex farreatis nati non leguntur: Ac ne ipsi quidem sine confarreatione sacerdotium habere possunt (“Podem
casar-se por confarreação, por meio de uma espécie de oferenda sagrada que se faz a Júpiter Fárreo; para
essa oferenda prepara-se um pão de farinha, daí ser chamada de confarreação; além disso muitas outra
coisas são exigidas por conta dessa ordenação legal, como palavras precisas e solenes e dez testemunhas.
essa disposição legal ainda se acha em uso em nosso tempo, pois os lâmines maiores, isto é, de Júpiter,
marte e Quirino, bem como os sumos sacerdotes, não podem ser eleitos a menos que tenham nascido
de um casamento por confarreação. e eles também não podem obter o sacerdócio sem o casamento por
confarreação”). idem, ibid., 1, 112.
18 Cf. PLin. min. Ep. 1, 9, 2: Nam si quem interroges ‘Hodie quid egisti?’, respondeat: ‘Oicio togae virilis
interfui, sponsalia aut nuptias frequentavi, ille me ad signandum testamentum, ille in advocationem, ille
in consilium rogavit’ (“Se perguntares a alguém – ‘Que izeste hoje?’, talvez ele responda: – ‘estive em
afazeres da toga viril, participei de um noivado ou de um casamento, um me pediu para assinar um
testamento, outro para comparecer como testemunha’”).
19 o vestido da noiva, a chamada tunica recta, era branco e de corte simples, atado à cintura por um
cinturão de lã, o cingulumherculeum; cobria-o um manto amarelo, o palla; na cabeça ela usava um véu
cor de laranja, o lammeum, que cobria os cabelos trançados, colocando-se sobre ele uma grinalda de
lores de manjerona e verbena ou de murta e lores de laranjeira; nos pés, calçava sandálias douradas,
os socci. Para maiores detalhes sobre o casamento romano, veja-se CaRCoPino, J. Roma no apogeu
do Império. trad. de R.bLoCh. São Paulo: Companhia do Livro/ Círculo do Livro, 1990. p. 99-125; e
Grimal, op. cit. p. 84.
20 após a realização de oferendas e a tomada de auspícios, a noiva, diante das testemunhas, dizia palavras
cujo signiicado real nos escapa, mas que selam o compromisso assumido: Vbi tu Gaius ego Gaia (“onde
tu fores Gaio eu serei Gaia”).
21 no momento em que a noiva era arrancada dos braços da mãe para ser conduzida à casa do noivo, os
jovens que a levavam gritam: Talassio! (“Para talassio!”). Segundo tito Lívio (1, 10, 12), o costume de
gritar Talassio evoca o rapto das sabinas. de acordo com sua narrativa, quando os romanos entraram
na tenda da mais bela sabina para arrebatarem-na, assim exclamaram dizendo que ela seria entregue a
talássio. Para e. Lasserre, trata-se de uma fantasia do historiador. Cf. tite-Live, op. cit. p. 349, n. 38.
22 Cf. PLauto. Aulularia (A comédia da panelinha). trad. introd. e notas de aída CoSta. São Paulo:
difusão européia do Livro, 1967.
23 PLaute. Amphitryon. Asinaria. Aulularia. texte ét. et trad. par a. eRnout. Paris: Les belles Lettres, 1970.
24 o primeiro epitalâmio (Cat. 61) é formado por estrofes compostas de cinco versos – quatro glicônicos
(um espondeu, troqueu ou jambo; um coriambo; um jambo ou pirríquio) e um ferecrácio (um troqueu,
jambo ou tríbraco; um dátilo; um espondeu ou troqueu).
25 Catulo celebra as núpcias de Lúcio mânlio torquato, de antiga família patrícia, e da bela Júnia, de família
também ilustre.
26 CatuLLe. Poésies. texte ét. et trad. par G. LaFaYe. 9a. ed. Paris: Les belles Lettres, 1974.
27 Cinge tempora loribus/ suaue olentis amaraci – cat. 61, 6-7 (“Cinge suavemente tuas têmporas/ com as
lores da perfumada manjerona”).
28 Flammeum cape laetus – 8 (“Coloca alegremente o lâmeo”).
29 ... ueni niueo gerens/ luteum pede soccum – 10 (“... vem, calçando escarpins amarelos nos níveos pés”).
30 nuptialia [...]/ carmina – 12-13 (“cantos [...] nupciais”).
31 pineam [...] taedam – 15 (“tocha de pinheiro”).
32 Nubet alite uirgo – 20 (“casa-se a virgem, conforme os auspícios”).
33 ... tibi uirgines/ zonula soluunt... – 52-53 (“... por ti as virgens desatam os cintos”).
34 Tu fero iuueni in manus/ loridam ipse puellulam/ dedis a grêmio suae/ matris – 56-59 (“És tu, em pessoa,
que às mãos do jovem ardente/ entregas a mocinha em lor, [tirada] do seio de sua mãe”). o arrebatamento
da noiva é visto como lembrança do rapto das sabinas.
35 Nulla quit sine te domus/ líberos dare, nec parens/ stirpe nitier; at potest/ te uolente – 66-69 (“nenhum lar
sem ti poderia/ gerar ilhos, nenhum pai/ apoiar-se em sua estirpe; pode, porém,/ quando tu o queres”)
36 Quae tuis careat sacris/non queat dare praesides/ terra inibus – 71-73 (“nenhuma nação que careça de
teu culto/ poderia dar defensores/ a suas fronteiras”).
37 Claustra pandite ianuae;/ virgo, ades. Vides ut faces/ splendidas quatiunt comas?[...] Tardet ingenuus pudor
[...] Flet quod ire necesse est – 76-78; 83; 85 (“abri os ferrolhos da porta;/ que entres, ó virgem. vês como
as tochas/ sacodem as esplêndidas comas? [...] Que o nobre pudor te retarde [...] ela chora porque é
necessário partir”).
38 Ne diu taceat procax/ fescennina iocatio,/ nec nuces pueris neget/ desertum domini audiens/ concubinus
amorem – 126-130 (“Que não silenciem por mais tempo/ as brincadeiras fesceninas/ que não negue
nozes aos meninos/ ouvindo dizer que seu amor foi deixado de lado/ o favorito do esposo”).
39 Ludite ut lubet et breui,/ líberos date. Non decet/ tam uetus sine liberis/ nomen esse, sed indidem/ semper
ingenerari – 211-215.
40 o poema é construído com hexâmetros datílicos.
41 Vesper adest, iuuenes, consurgite – Cat. 62, 1 (“vésper aparece; erguei-vos, jovens”).
42 Surgere iam tempus, iam pinguis linquere mensas – 3 (“Já chegou o tempo de deixar as fartas mesas”).
43 viRGiLe. Oeuvres. texte publié par F. PLeSSiS et P. LeJaY. Paris: hachette, 1945.
44 At regina graui iamdudum saucia cura/ uulnus alit uenis et caeco carpitur igni./ Multa uiri uirtus animo
multusque recursat/ gentis honos; haerent inixi pectore uultus/ uerbaque nec placidam membrisdat cura
quietem – viRG. Aen. 4, 1-5 (“mas a rainha, ferida há muito por um grande cuidado/ alimenta o ferimento
nas veias e é consumida por um fogo escondido. acorre-lhe à mente o grande valor do varão/ e a glória
de sua raça; prendem-se ixados em seu peito o rosto/ e as palavras, e o cuidado não lhe permite um
plácido descanso”).
mas qual será o im (disto)? Por que tanta competição (entre nós)?
Por que antes não estimulamos uma paz eterna e o combinado
himeneu? tens o que desejaste de toda a tua alma.
dido se inlama, enamorada, e alimenta a paixão em seus ossos.
Conduzamos, portanto, este povo de nós ambas com auspícios
iguais: que ela possa servir a um marido frígio
e colocar em tuas mãos os dotes tírios (98-104)48.
Juno relata então a vênus seu projeto: como dido e eneias se preparam
para uma caçada a realizar-se no dia seguinte, a rainha dos deuses planeja
fazer-lhes sobrevir uma tempestade que os obrigue a procurar guarida
45 Quam tu urbem, soror, hanc cernes, quae surgere regna/ coniugio tali! – veRG. Aen. 47-48 (“Quão grande
verás esta cidade, minha irmã, que reinos verás surgir com tal casamento1”).
46 Principio delubra adeunt pacemque per aras/ exquirunt; mactant lectas de more bidentis/ legiferae Cereri
Phoeboque patrique Lyaeo,/ Iunoni ante omnis, cui uincla iugalia curae – 56-59 (inicialmente dirigem-se
ao templo e por meio dos altares a paz/ procuram;/ imolam ovelhas escolhidas, segundo o costume,/ à
legífera Ceres, a Febo e ao pai Lieu/ e a Juno, antes de todos, a cujos cuidados estão os vínculos conjugais”).
47 ... pecudumque reclusis/ pectoribus inhians spirantia consulit exta – 63-64 (“nos corpos abertos das reses/
observando as entranhas palpitantes”).
48 Sed quis erit modus, aut quo nunc certamine tanto?/ quin potius pacem aeternam pactosque hymenaeos/
exercemus? habes tota quod mente petisti:/ ardet amans Dido traxitque per ossa furorem./ Communem
hunc ergo populum paribusque regamus/ auspiciis; liceat Phrygio seruire marito/ dotalisque tuae Tyrios
permittere dextrae – 98-104).
49 Adero et, tua si mihi certa uoluntas,/ conubio iungam stabili propriamque dicabo./ Hic Hymenaeus erit –
125-127.
50 Tandem progreditur magna stipante caterua/ Sidoniam picto chlamydem circumdata limbo;/ cui pharetra
ex auro, crines nodantur in aurum,/ aurea purpuream subnectit ibula uestem – 136-139.
51 Interea magno misceri murmure caelum/ incipit, insequitur commixta grandine nimbus – 160-161.
52 Ruunt de montibus amnes./ Speluncam Dido dux et Troianus eandem/ deueniunt. Prima et Tellus et pronuba
Iuno/ dant signum; fulsere ignes et conscius aether/ conubiis summoque ulularunt uertice Nymphae – 164-169.
53 Neque enim specie famaue mouetur/ nec iam furtiuum Dido meditatur amorem:/ coniugium uocat, hoc
praetexit nomine culpam – 170-172.
57 ... mihi peius aliud, quod precer sponso, malum – 19 (“... algum mal pior, que eu pediria para meu esposo”).
Cf. Sénèque. Tragédies. texte ét. et trad. par L. heRRmann. 5e. tir. Paris: Les belles Lettres, 1973. t. 1.
58 Manibus excutiam faces/ caeloque lucem – 27-28 (“Com as mãos eu arrancarei o fogo e a luz do céu”).
59 Per uiscera ipsa quaere supplicio uiam,/ si uiuis, anime, si quid antiqui tibi/ remanet uigoris; pelle femineos
metus/ et inhospitalem Caucasusm mente indue – 40-43 (“Pelas próprias vísceras procura o caminho para
o suplício,/ se estás viva, ó minh´alma, se algo do antigo vigor em ti/ subsiste; expulsa o medo feminino/
e introduz em teu espírito o Cáucaso feroz”).
60 Cf. Fyfe, helen, an analysis of Seneca’s Medea. in: boYLe, a. J. (edit.).Seneca tragicus.Ramus essayson
senecan drama. victoria (australia), aureal Publications, 1983. p. 77-93.
61 Cf. dupont, Florence. Le théâtre latin. Paris: Colin, 1988. p. 77 ss.
62 Hoc restat unum, pronubam thalamo feram/ ut ipsa pinum postque sacriicas preces/ caedam dicatis uictimas
altaribus – 37-39 (“Resta ainda uma coisa: conduzir-me-ei como uma prônuba junto ao tálamo/ para
que, depois das tochas e das preces sacriiciais,/ eu própria imole as vítimas nos altares sagrados”).
referências
1 um exemplo dessa atribuição da confusão entre persona poética e autor de carne e osso a uma leitura
de tipo romântico: “tomou-se portanto este ego [o de Propércio] pela conissão de um poeta romântico”
(veYne, Paul. A elegia erótica romana. O amor, a poesia e o ocidente. São Paulo: brasiliense, 1985, p.
11). outros, expressos por maria Wyke: “a visão romântica de que a elegia amorosa de Propércio é uma
expressão verdadeira dos sentimentos de seu autor e uma representação realística de uma namorada
augustana” (maria Wyke. “Written women: Propertius’ scripta puella”. he Journal of Roman studies,
volume LXXvii, 1987, p. 47). “assim, a poesia amorosa augustana continuou a ser assombrada pela
teoria romântica de que era produzida para expressar a própria experiência amatória de seu autor” (he
Roman mistress. Ancient and modern representations. oxford, oxford university Press, 2002, p 16). Com
exceção do texto de veyne, passagens da literatura especializada transcritas neste texto são apresentadas
em tradução nossa.
2 veja-se o que dizemos em “esquecer veyne?”, vol. vii, no. 1, 2011, pp. 105-118.
3 Cf. diskin Clay. “he theory of literary persona in antiquity”. Materiali e discussioni per l’analisi dei
testi classici, volume 40, 1998, pp. 14-15 e Roland G.mayer. “Persona<l> Problems. he Literary Person
in antiquity Revisited”. Materiali e discussioni per l’analisi dei testi classici, vol. 50, 2003, pp. 55-80.
na passagem dos Amores, uma leitura biograista poderia fazer crer que
a tragédia aponta uma certa recepção real da poesia elegíaca ovidiana em sua
época: tomando o discurso elegíaco como confessional, as pessoas apontariam
o poeta como um “imprestável” (é difícil traduzir nequitia, a “qualidade” de
se ser um imprestável, um “homem de nenhum valor”, como se lê em aulo
Gélio, vi, 115). Como se sabe, nequitia é palavra comum na elegia romana6.
num outro trecho dos Amores (ii, 1, 2), a persona elegíaca assim se
deiniria: Ille ego nequitiae Naso poeta meae. aqui, num único verso ovídio
confunde persona e autor de carne e osso: ele é o famoso nasão, poeta de
sua própria “vileza”: note-se a ênfase do possessivo em disjunção, no im
do verso, o mesmo procedimento que encontraremos nos Tristes quando
ovídio aponta os poetas que teriam confessado suas aventuras amorosas
indecorosas; confronte-se:
4 texto da edição seguinte: ovide. Les amours. texte établi et traduit par henri bornecque. Paris, Les
belles Lettres, 1995.
5 Homo nihili rei neque frugis bonae. em seu tempo, era sinônimo de “esperteza” (pro sollertia astutiaque).
6 ver PiChon, René. Index verborum amatoriorum. hildesheim, Georg olms, 1966, p. 212.
7 texto da edição seguinte: ovide. Tristes. texte établi et traduit par Jacques andré. Paris, “Les belles
Lettres”, 1968.
8 entendemos ignes como “poemas de amor” e, ao mesmo tempo, “amores” relatados nesses poemas.
tu loqueris, cum sis iam noto fabula libro (ii, 24, 1).9
“tu falas, ao passo que és, por teu conhecido livro, alvo de fofoca”.
9 texto da edição seguinte: PRoPeRCe. Elégies. texte établi et traduit par d. Paganelli. Paris, Les belles
Lettres, 1947.
10 e se vê como Catulo lançou as bases da elegia latina não apenas em um poema como o 68: a tópica em
questão já está no poema 5: aos rumores dos velhos muito severos, Catulo contrapõe um ideal de amor
jovial que será o ponto central da elegia.
Virgo Vestalis scripsit hunc uersum: felices nuptae! moriar nisi nubere dulce est.”
Rea est incesti.11
“uma virgem vestal escreveu este verso: ‘felizes as casadas! Que eu morra se
casar não é agradável’. É acusada de incesto.”
uma das partes condena a vestal por essa declaração que soa como
quebra sacrílega do voto de castidade:
o te omni supplicio dignam cui quicquam sacerdotio felicius est! “dulce est”:
quam expressa uox, quam ex imis uisceribus emissa non expertae tantum sed
delectae! incesta est etiam sine stupro quae cupit stuprum.
“Ó digna de todo suplício, tu, a quem algo é mais feliz que o sacerdócio! “É
agradável!”: que clareza de expressão, como vem do íntimo não apenas de uma
experiente mas de quem se deleitou! infringe a castidade a que, mesmo sem
uma relação ilícita, deseja uma relação ilícita”.
11 texto da edição seguinte: SeneCa, the elder. Declamations. translated by m. Winterbottom. Cambridge,
massachusetts, harvard university. Press, 1974. ao longo deste texto, porém, uniformizamos a graia
do “u” consonantal” (grafado sempre “u”) e do “u” maiúsculo, vocálico ou consonantal (grafado “v”).
Vixit modeste, castigate; non cultus in illa luxuriosior, non conuersatio cum uiris
licentiosior; unum crimen eius uobis coniteor: ingenium habet.
“tem vivido de forma comedida, pura; seu traje não é mais luxuoso, seu trato
com os homens não mais licencioso: seu único crime eu admito diante de vós:
tem engenho.”
12 texto estampado em CatuLLe. Poésies. texte établi et traduit par Georges Lafaye. Quatrième édition
revue et corrigée. Paris: “Les belles Lettres”, 1958.
13 Que poema seria esse: o 48, dos beijos a Juvêncio, ou o poema 5? o fato de que a expressão milia multa
[basiorum] aparece em mesma sede métrica neste último nos faz crer que a alusão é a ele. um argumento
de outra natureza para defender que se trata dos beijos a Lésbia: quando o leitor antigo lia o conjunto
do libellus, desenrolando o uolumen, a associação só podia ser feita com os poemas anteriores – 5 e 7,
não com o muito distante 48. Fúrio e aurélio funcionam como igurações de um tipo de leitor (legistis)
que o poeta rejeita, como se no poema 16 não apenas airmasse sua virilidade mas – e sobretudo – o
controle sobre a interpretação. o leitor que tirar as conclusões que Fúrio e aurélio tiraram a partir da
leitura dos poemas dos beijos poderá se sentir colocado na mesma posição de alvo das ameaças do autor:
implicado, pois, nesse uos, que só no segundo verso recebe especiicação; em suma, estamos sempre no
terreno metapoético.
14 notemos o jogo de oposições entre o poeta e seus versos: me/ ex uersiculis meis; pium poetam ipsum.../
uersiculis; me...parum pudicum/[uersiculi] parum pudici. observemos também que chamar os versos
de molliculi e parum pudici (=impudici) equivale a admitir a pouca virilidade...dos versos, que são
caracterizados por adjetivação frequentemente associada a homens não viris. Segundo WiLLiamS
(Roman homosexuality. Ideologies of masculinity in classical antiquity. new York-London: oxford
university Press, 1999, p. 173), a acusação eufemística de impudicitia lançada contra um homem poderia
“signiicar que ele tinha sido penetrado. nesse sentido, pudicitia não representa nenhuma noção vaga
de castidade ou pureza, mas, sim, o ideal especíico de integridade corporal masculina compreendida
como impenetrabilidade.” acusar um homem de parum pudicum (v. 4) signiicava, então, acusá-lo de
ter comprometido a inviolabilidade seu corpo, deixando-se penetrar por um outro homem. o poema
16 admite que haja impudicitia, mas nos versos, não no poeta. ao dizer poetam ipsum, Catulo parece
empregar expressão próxima do nosso “autor de carne e osso”. Sobre pathicus e cinaedus: “Pathicus denota
um homem que foi penetrado pelo ânus”, segundo o mesmo autor (ibidem, p. 175); sobre cinaedus:
“um homem que falha em viver de acordo com os padrões tradicionais do comportamento masculino,
e uma das maneiras pelas quais ele chega a fazer isso é procurando ser penetrado” (idem ibidem). mas
talvez seja preferível ver em pathicus uma referência à passividade no sexo oral, o que cria uma espécie
de quiasmo apontado pelos estudiosos: Pedicabo (sexo anal)...irrumabo (oral) Aureli pathice (oral) e
cinaede (anal) Furi. os versos são, de fato, efeminados, admite Catulo, assim como na poesia elegíaca o
poeta produz um molle...uersum – Propércio, i, 17, 19, ver WYKe, maria. he Roman mistress. Ancient
and modern representations. oxford, oxford university Press, 2002, p. 168).
15 Plínio o Jovem (iv, 14), ao apresentar a um correspondente seus hendecassílabos, cita o precedente catuliano
para justiicar-se: homens da maior gravidade não só não se abstiveram de assuntos voluptuosos (lasciuia
rerum), mas nem mesmo de palavras cruas (uerbis...nudis); Catulo expressou, no poema 16, a lei do gênero
(illam esse uerisssimam legem, quam Catullus expressit). texto adotado: PLinY. Letters and panegyricus.
With an english translation by betty Radice. Cambridge, massachusetts, harvard university Press, 1989.
16 Resume, com excelência batstone (apud GaiSSeR, Julia maria (ed.). Oxford readings in classical
studies. oxford, oxford university Press, 2007, p. 248): “em outras palavras, enquanto Fúrio e aurélio
continuarem suas leituras literais, eles serão literalmente ameaçados por esse poema”.
17 Como se sabe, para os romanos, submeter um outro homem ao sexo oral ou anal era uma manifestação
de virilidade. o marido que surpreendia a mulher em adultério poderia tratar assim o amante, num
ritual público de humilhação e demonstração do poder subjugador do marido que se vinga.
18 vale a pena transcrever a interpretação de Krostenko: “o primeiro verso soa simplesmente como um
xingamento idiomático (“foda-se”). mas, com o verso inal, uma vez que o poema desenvolveu a imagem
do poeta como viril, as mesmas palavras são tomadas em sentido literal (“eu foderei vocês”). o mesmo
é verdadeiro para os insultos pathicus e cinaedus, cujo sentido literal não é concretizado até o im do
poema, quando pedicabo e irrumabo, repetidos, os revigora em retrospecto. Quando Fúrio e aurélio
chegam ao verso inal do poema e percebem que o primeiro verso signiicava algo diferente do que parecia
signiicar, eles descobrem que foram forçados a ler mal, assim como leram mal os poemas catulianos
dos beijos. enquanto eles o forçaram, com seu ato de leitura, a ser parum pudicus, agora ele os força,
pelo seu ato de escrita, a ser pathicus e cinaedus. Sua incapacidade de compreender a poesia de puro
deleite signiica que eles terão de sofrer a desonra, pois o pedicatus (“fodido na bunda”) e o irrumatus
(“fodido na boca”) eram acremente estigmatizados na ideologia mesma que gerou a hermenêutica que
levou à má leitura de Fúrio e aurélio. eles são agredidos pela mesma hermenêutica que os encorajou
a agredir” (KRoStenKo, brian a. Cicero, Catullus and the language of social performance. Chicago &
London, university of Chicago Press, 2001, pp. 279-280).
19 veja-se a nota 14.
20 Como os edifícios não tinham número, “templos e monumentos importantes serviam de ponto de
referência” (GubeRnatiS, 1980, p. 71). aqui, Catulo localiza a taberna em referência ao templo de
Cástor e Pólux, divindades que eram representadas com o pileum, um barrete de forma cônica. Sabe-se
que o templo icava no fórum.
21 FoRSYth, Phyllis Young. he poems of Catullus. A teaching text. Lanhan-new York-London, Press of
america, 1986, p. 231); “a palavra obscura sopio… pode muito bem signiicar ‘pênis’” (adam, J. n.
he Latin sexual vocabulary. London, duckworth, 1982, p. 64).
22 Cf. Fitzgerald, 1995, p.66.
23 Quinn, Kenneth. Catullus. An interpretation. London: b. t. batsford, 1972, p. 96.
“mas vês que mal os poetas causam? Representam os mais bravos homens
lamentando-se, amolecem nosso ânimo, são, além disso, a tal ponto deleitosos
que não apenas são lidos, mas aprendidos de cor. assim, quando a uma disci-
plina doméstica defeituosa e a uma vida na sombra e reinada, vêm-se juntar os
poetas, esgarçam todos os nervos da virtude. Corretamente, pois, são expulsos
por Platão da cidade que ele imaginou, buscando os melhores costumes e a
melhor condição para a República. mas nós, ensinados pela Grécia, lemos e
decoramos esse tipo de coisa desde a infância; é isso que consideramos edu-
cação liberal e cultura”.
“evidencia-se a partir de seus escritos que quem mais ardeu de amor foi Íbico
de Régio.”
Atque horum omnium lubidinosos esse amores uidemus. (iv, 34, 71)
27 um contemporâneo de terêncio que os coevos acusavam de ter “tirado muito de menandro” (quod plura
sumpsisset a Menando – macróbio, Saturnais, vi, 1, 1).
referências
28 Recorde-se a célebre passagem da Poética 1448 a, sobre a distinção da poesia imitativa de acordo com
o modo de imitação: “há ainda uma terceira diferença entre as espécies [de poesias] imitativas, a qual
consiste no modo como se efetua a imitação. efetivamente, com os mesmos objetos, quer na forma
narrativa (assumindo a personalidade de outros, como o faz homero, ou na própria pessoa, sem mudar
nunca), quer mediante todas as pessoas imitadas, operando e agindo elas mesmas. [...] daí o sustentarem
alguns que tais composições [as últimas citadas] se denominam dramas, pelo fato de se imitarem agentes
[dróntas].” (tradução de eudoro de Souza em aRiStÓteLeS. Poética. São Paulo: ars Poetica, 1992. na
concepção platônica, comédia e tragédia são um tipo de poesia “inteiramente imitativa” (República iii,
394 c; tradução de J. Guinsburg em GuinSbuRG, J. (org.). A República de Platão. São Paulo: Perspectiva,
2006, p. 109).
1 Cf. Schmitt, R., Dichtung und Dichtersprache in indogermanischer Zeit, 1967, p. 61-102; e nagy, G.,
Comparative Studies in Greek and Indic Meter, 1974, p. 231-255.
2 todas as traduções para o português dos textos (em língua estrangeira) de comentadores ou ensaístas
citados no texto principal deste artigo são de minha autoria. Como eles são facilmente localizáveis,
evitei aqui reproduzi-los na língua original nas notas de pé de página (que poderão, no entanto, conter
citações em língua estrangeira não traduzidas). Preferi também, mais próximo aí do modo de exposição
oral, conservar sempre, juntamente com o nome do autor e o ano de publicação, o título da obra referida
ou citada (para que o entendimento seja imediato, tornando desnecessária a consulta às referências
colocadas depois do texto), cujas referências bibliográicas completas constarão sempre na bibliograia
inal. evitei também, devido ao destaque ruidoso supérluo, o uso de maiúsculas para nomes de autor.
a desobediência às regras da abnt (ou do modelo norte-americano) não impedirá, no entanto, a
localização precisa de todas as referências aqui utilizadas.
3 Bailly: “ (t;) (...) i bruit, nouvelle qui se répand (...) ii p. suite: 1 en b. part, bonne renommée, d’où
gloire (...) 2 en mauv. part, mauvaise réputation (...) (R. , d’où -, -, ; v. w).” (bailly, m.
a., Dictionnaire Grec-Français. Paris: hachette, 1956, 1ª ed.: 1894, p. 1099). Liddell-Scott: “, t;
(...) – rumour, report (...) ii. good report, fame, freq. in hom., . jsqn il.5.3 (...) 2. rarely in bad sense,
sfamn . (...) (Cf. Skt. srávas ‘fame’, Slav. slovo ‘word’, ‘glory’; cogn. with w (a), w).” (Liddell,
h. G., Scott, R., Jones, h. S., A Greek-English Lexicon, 1977, 1ª ed.: 1843, p. 958). Cunlife: “, t; (...)
(1) a report or rumor (...) (2) Good report or repute, fame, glory, honour (...) (3) in reference to things,
fame, celebrity (...) (4) Something that brings fame or honour or confers distinction (...).” (Cunlife, R.
J., A Lexicon of the Homeric Dialect. norman: he university of oklahoma Press, 1988, 1ª ed.: 1924, p.
229). Chantraine: “1) (...) « bruit qui court », mais le plus souvent « réputation, renom, gloire »
(presque toujours pris em bonne part, mais cf. h. 2, 45), parfois « actions d’éclat » (hom., ion.-att., etc.)
(...).” (Chantraine, P., Dictionnaire étymologique de la langue grecque vol. 1-2, 1984, 1ª ed.: 1968, p. 540).
4 não é, pois, de se estranhar que o modo (se adequado às regras da boa hospitalidade) como alguém
recebe um hóspede ou como um hóspede é recebido pode também na Odisseia (diferentemente do que
ocorre na Ilíada) ser o motivo do , tal como o percebeu a. edwards: “he Odyssey does difer from
the Iliad, though, in regarding xinih [i.e. hospitality] as a source of . one can acquire both
from entertaining as well as from being entertained. (…) he Odyssey’s extension of the sources of the
to include xinih no doubt relects the important role of hospitality in the poem.” (edwards, a.,
Achilles in the Odyssey, 1985, p. 75).
5 o caráter de esboço próprio ao conjunto deste trabalho deve-se ao fato de ele ter sido pensado
primeiramente como texto de uma conferência para ser lida na iii Jornada de estudos Clássicos da
uFeS: “Fama e infâmia no mundo antigo” na uFeS (vitória – eS) em 28 de maio de 2012, texto que pôde
apenas ser ligeiramente ampliado e precisado para esta publicação. em razão deste caráter de esboço,
evitei também detalhar, em cada situação, uma bibliograia possível que seria sempre mais ampla, e me
restringi às limitadas referências diretamente usadas para construir minha proposição interpretativa
neste texto (apresentando explicitamente nas notas de pé de página, através de um pequeno dossiê com
citações e referências essenciais, o meu instrumental crítico básico).
6 todas as traduções das passagens citadas da Odisseia são de minha autoria. elas não visam a nenhuma
correspondência métrica em português com o hexâmetro dactílico do texto grego original, mas apenas
à precisão semântica (sendo conservada, no entanto, a unidade do verso para facilitar a localização). o
texto grego adotado é o da edição de helmut van hiel, Homeri Odyssea (1991).
7 Pensamos, juntamente com a. edwards (e por paradoxal que possa parecer), estar bem indicado aqui
textualmente o quanto uma morte obscura (tal como também a de um herói que morre afogado no
mar ou em um rio) poderia impedir a obtenção do : “early in the poem, telemachus expresses
the wish that his father had died either at troy or else peacefully at home ater he had endured the war,
and so let a behind him (a 237-241 = x 367-371). in telemachus’ view the manner of a man’s
death is decisive for his . it is preserved through a peaceful or heroic death, but destroyed by one
which is mean or obscure.” (edwards, a., Achilles in the Odyssey, 1985, p. 74). Já Christian Werner,
em um artigo atento e inteligente sobre o tema (“a ambigüidade do kléos na Odisseia”), duvida desta
leitura desta passagem (não comentando, porém, o sentido preciso de no verso 240 do canto i):
“uma pergunta que se impõe é a seguinte: se odisseu, caso tivesse morrido, não recebesse um túmulo,
seu desapareceria, como se entrevê no verso 241 (...)? em primeiro lugar, a utilização de ‘sem
kleos, sem notícias’ (aja) em iv. 728, onde Penélope reclama da falta de informações do paradeiro
do ilho, e de adjetivos formados a partir de verbos de percepção em i. 242 (...) indica que, tanto em iv.
728 (aja) quanto em i. 241 (ajiw), a referência é antes à ausência de notícias que à ausência de
glória. (...) assim, (...) a passagem examinada não permite que se inira, inequivocamente, que a glória
de odisseu seria para sempre perdida, ou seja, que ele seria esquecido, caso nunca chegassem notícias
claras de sua morte.” (Werner, C., “a ambigüidade do kléos na Odisseia”, 2001, p. 102).
8 assim como jr (“vasta”, “larga”) ou mga (“grande”, “imensa”), adjetivos que qualiicam (“fama”),
jran;n jr;n i{an (“atingia o vasto céu”) é um predicado verbal da oração que deine ou qualiica
o sujeito (“fama”) segundo uma dimensão espacial que marca positivamente o seu alcance ou
difusão. a dimensão temporal positiva do alcance ou difusão do é formulada pelo adjetivo a[fqitn
(“imperecível”) e pelo predicado verbal [ t jitai (“jamais morrerá”) que negam o limite elementar
e primeiro da morte. a. edwards percebeu bem estas duas dimensões, ao diferenciar dois equivalentes
métricos oracionais de a[fqitn [stai (“será imperecível”), que também qualiicam (“fama”):
“(...) there is an obvious distinction of meaning between jran;n i{i and [ t jitai: the former
speciies spatial content and the latter duration, and again the former is present tense while the latter is
future.” (edwards, a., Achilles in the Odyssey, 1985, p. 76).
9 Rüter, K., Odysseeinterpretationen: Untersuchungen zum ersten Buch und zur Phaiakis, 1969, p. 249-251.
10 “as Rüter argues, the thematic conventions of epos pitted the aristeía ‘prestige’ of achilles against that of
odysseus in the form of a quarrel over whether troy would be capture by might or artiice respectively.
he scholia to viii 75 and 77 suggest an epic tradition that has achilles advocating might and odysseus,
artiice as a means that will prove successful in capturing troy.” (nagy, G., he Best of the Achaeans, p.
24). os termos usados pelos escoliastas para distinguir as formas de excelência de aquiles e de odisseu
para a captura de troia são, mais precisamente, no comentário ao verso 75 ajnrian (“virilidade” ou
“coragem”) de aquiles e snsin (“inteligência”) de odisseu, e no comentário ao verso 75 ajnrian
(“virilidade” ou “coragem”) de aquiles e mhanh (“artifício”) e frnhsw (“sabedoria prática”) de
odisseu. (cf. dindorf, W. [ed.], Scholia Graeca in Homeri Odysseam tomus I, 1855, p. 361-362).
11 “(...) in the irst song of demodokos (...), odysseus was characterized along with achilles as ‘best of
the achaeans’ because one of these two heroes was destined to be the destroyer of troy. in the epic
composition of demodokos, odysseus is implicitly ‘best of the acaeans’ because tradition upholds his
claim to have destroyed troy.” (nagy, G., he Best of the Achaeans, 1979, p. 40).
12 “First, (...) this is the only place in the odyssey where a character speaks of his own kleos. it is also the
only place in homer where melo, common in the third person in this sense, ‘be a concern to’, occurs in
the irst person. (…) in using the verb in the irst person here in book 9, odysseus calls attention to the
fact that he is, in a sense, singing a kleos that normally would be recited about him in the third person.”
(Segal, Ch., “Kleos and its ironies in the Odyssey”, 1996, 1ª ed.: 1983, p. 203).
13 “it has already been noted that even where the sense of ‘rumor/report’ seems dominate for , the
meaning ‘fame/renown’ is as a rule also present. his passage is no exception. odysseus’ fear is that a
‘report’ of the suitors’ deaths will become current in the town before he is able to take measures to protect
himself from their relatives. For these this will be in no way encomiastic, but a tale of grief which
demands revenge. (…) Yet for odysseus the report of this event is a praise, and will be received by those
sympathetic with him as a narrative of glorious deeds.” (edwards, a., Achilles in the Odyssey, 1985, p. 86).
14 “[36] it is not so certain in fact that this does belong to Penelope, as it is generally taken. he iJ
of 196 does not specify gender, but the most recent possible antecedent is odysseus (195). Likewise h
(197), which with ajrth qualiies the and so refers to the same person as iJ, does not specify
gender. Generally, however, this ajrth, as makes good sense, is assumed to be resumptive of the ajrth
mentioned in 193, which has been consistently attributed to Penelope. his attribution, however, is
impossible since sn phrases are always adverbial in homer, and never adjectival as this interpretation
requires (see Chantraine, Gram. ii, 136). his ajrth, then, must be odysseus’ (…), with the implication
that the ajrth of 197 is also his, and so the of 196 as well.” (edwards, a., Achilles in the Odyssey,
1985, p. 88).
15 “as my translation shows, i ind myself interpreting this passage to mean that Penelope is the key not only
to the nóstos but also to the kléos of odysseus. i understand kléos at verse 196 as belonging primarily
to odysseus himself and that it is his areté ‘merit’ to have won a Penelope (rather than a Clytemnestra).”
(nagy, G., he Best of the Achaeans, 1979, p. 38).
16 “he only kleos of odysseus the Odyssey celebrates unequivocally is the one that is traditionally associated
with his name and that has become part of his royal portrait, the kleos of his mêtis and doloi, through
which he contributed to the capture and destruction of troy. (…) Yet the Odyssey is almost explicit in
denying kleos – that is, the speciically epic fame and renown – to odysseus’ return and revenge.” (Pucci,
Pietro, Odysseus polutropos – Intertextual Readings in the odyssey and the iliad, 1987, p. 217).
17 “odysseus and Penelope are mutually dependent upon each other for this of revenge. he cannot
be successful in his revenge unless she remains faithful, nor can she be rescued unless he returns to ithaca
and slays the suitors. (…) he of each is dependent upon the action of the other.” (edwards, a.,
Achilles in the Odyssey, 1985, p. 81).
18 “he portrait drawn of harmony between the natural order and the politically just civic order reminds
us of hesiod’s insistence on connecting the two throughout his poem and specially at Op. 225-37. hat
they were a commonplace of Greek and early european thought is stressed by m. nilsson, homer and
Mycenae (London, 1933), 220. (Plato refers to both the homeric and hesiodic passages together at R.
363b.) his ideal also, ironically enough, gives us from odysseus’ mouth a portrait of his own regime as
it was in the past (cf. ii 230-4 = v 8-12; iv 687-93) and as he will re-establish it.” (Russo, Joseph, “books
Xvii-XX” in Russo, J., Fernández-Galiano, m., heubeck, a., A Commentary on Homer’s Odyssey vol.
III, Books XVII-XXIV, 1992, p. 79).
19 “odysseus’ compliment, which is intended to sweeten the bitter pill of his refusal to mention his name,
takes the form of a ‘role reversal’ simile: Penelope is compared to a man, a king, in fact the kind of just and
gentle king that odysseus is himself (…). it points to what the Odyssey is about: odysseus’ homecoming
and the re-establishment of his rule, which will restore stability and peace on ithaca (…).” (de Jong,
irene, A Narratological Commentary on the Odyssey, 2001, p. 466).
esta fala de odisseu é não apenas um voto apropriado para uma jovem
(e princesa) em idade de se casar, ou seja: ele deseja que os deuses dêem a ela
“um homem e uma casa”, o que corresponde a um casamento (decisivo na
20 “he narratees may hear in his passionate plea for the ‘concord’ (Jmfrsnhn, Jmfrnnt) of man
and wife a wish where odysseus himself and Penelope are concerned.” (de Jong, i., A Narratological
Commentary on the Odyssey, 2001, p. 161).
21 “184-5. odysseus, it is evident, cites three aspects of perfect contentment. he irst two are commonplace;
virtue was helping one’s friends and harming one’s enemies, e.g. Pl. R. 332 d.” (hainsworth, J. b., “books
v-viii” in heubeck, a., West, S., hainsworth, J. b., A Commentary on Homer’s Odyssey vol. I, Introduction
and Books i-viii, 1990, p. 305).
22 os escoliastas e. P. Q. da Odisseia anotam: “Certamente percebem (aijsqanntai) também eles próprios
(ai; ajti) a assistência (ou utilidade: wjfwia) de um para o outro (r; ajh) e se regozijam
com isso (ajasin).” (dindorf, W. [ed.], Scholia Graeca in Homeri Odysseam tomus I, 1855, p. 310,
tradução minha).
referências
ameiS, Karl Fried.; hentze, Carl; Cauer, Paul (eds.). Homers Odyssee – Erster
Band, Erster Het, Gesang I-VI. Leipzig: teubner, 1920.
baiLLY, m. a. Dictionnaire Grec-Français. Paris: hachette, 1956, 1ª ed.: 1894.
23 “185. (...) – maista ... [n ajti: vgl. N 734. Wir können dismal weder das Präteritum beibehalten,
was sonst in allgemeinen Gedanken ot möglich ist (…), noch die beziehung auf den Gehörsinn, sondern
müssen sagen: empinden sie es selbst.” (ameis, F., hentze, C., Cauer, P., eds., Homers Odyssee – Erster
Band, Erster Het, Gesang I-VI, 1920, p. 190).
24 “184-185. ‘... a great grief to their foes and a joy to their friends; but they know it best themselves’
(murray). his use of w is unparalleled, but it seems to be the meaning required by the context, cp.
maista ; ajt; ajngnw in Il. 13, 734. (…) as the text stands [n is a Gnomic Aorist and t
has its generalizing force, showing a proverbial origin.” (Stanford, W. b., “Commentary” in he Odyssey
of Homer vol. I (Books I-XII), 1987, 1ª ed.: 1947, p. 315).
25 “but what is the sense of the third colon maista t [n ajti? Schol. gloss with aijsqanntai, as if
the phrase were a pl. of maista ; ajt; ajngnw (Il. xiii 734): they record no variants, and apparently
found no diiculty. hey are followed generally by merry-Riddel, ameis-hentze-Cauer, Stanford, et
al. no similar equation of in and aijsqansqai is quoted. (…) Can then the third colon mean not
‘they themselves perceive <their happy situation>’ but ‘they themselves are in high repute’¿ he semantic
development ‘hear’ – ‘be reputed’ – ‘be well reputed’ is widespread and well known in the adj. t
but there is no parallel to in tout court in the sense required.” (hainsworth, J. b., “books v-viii” in
heubeck, a., West, S., hainsworth, J. b., A Commentary on Homer’s Odyssey vol. I, 1990, p. 305).
SoBrE oS AuTorES
CArLA FrANCALANCI
Possui mestrado em Comunicação e doutorado em Filosofia pela
universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutorado pelo boston College,
uSa. atualmente é professora da universidade Federal do Rio de Janeiro. tem
experiência na área de Filosoia, com ênfase em Filosoia antiga, atuando
principalmente nos seguintes temas: Platão, ilosoia, verdade, imagem, amor,
mito, linguagem e arte.
IZABELA BoCAYuVA
Possui graduação, mestrado e doutorado em Filosoia pela universidade
Federal do Rio de Janeiro. atualmente é professora adjunta da universidade
do estado do Rio de Janeiro. É membro do PeC - Pólo de estudos Clássicos do
estado do Rio de Janeiro. Coordena o noeSiS - Laboratório de estudos em
Filosoia antiga da ueRJ. Faz parte do projeto CaPeS/CoFeCub atualmente
em andamento entre o Centre Léon Robin de l’université de Paris iv/
Sorbonne e o departamento de Filosoia da universidade Federal Fluminense.
Pertence ao Conselho editorial da Revista Soia (uFeS), da Revista anais
de Filosoia Clássica (Laboratório ouSia/uFRJ) e da Revista Ítaca (uFRJ).
tem experiência na área de Filosoia, sobretudo Filosoia antiga, com ênfase
em Pré-socráticos e Platão. os autores contemporâneos mais estudados são
nietzsche e heidegger.
rAImuNDo CArVALHo
Possui graduação em Letras pela universidade Federal de minas Gerais,
mestrado em Letras pela universidade Federal de minas Gerais, doutorado
em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia universidade Católica de São
Paulo e Pós-doutorado pela universidade de São Paulo. atualmente é Professor
adjunto da universidade Federal do espírito Santo. tem experiência na área
de Letras, com ênfase em Letras, atuando principalmente nos seguintes temas:
crítica, poesia, tradução, literatura e teoria.
SILVIA m. A. SIQuEIrA
Possui graduação em Ciências Sociais pela universidade estadual Paulista
Júlio de mesquita Filho, mestrado e doutorado em história pela mesma
instituição. atualmente é Professora adjunta da universidade estadual do
Ceará. tem experiência na área de história, com ênfase em história antiga e
medieval, e seus trabalhos destacam as mulheres e os estudos de Gênero no
mundo romano.
JAA TorrANo
Possui graduação em Letras Clássicas (Português Latim e Grego) pela
universidade de São Paulo, mestrado em Letras (Letras Clássicas), doutorado
em Letras (Letras Clássicas) e livre docência pela mesma instituição.
atualmente é Professor titular de Língua e Literatura Grega da universidade
de São Paulo. autor de O sentido de Zesu: o mito do mundo e o modo mítico
de Ser no mundo (São Paulo: Roswitha Kempf, 1988 / iluminuras, 1996) e
A esfera e os dias. Poemas (São Paulo: annablume, 2009). Publicou ainda
os seguintes estudos e traduções: Ésquilo - tragédias (São Paulo: iluminuras,
2009); Ésquilo - Orestéia (São Paulo: iluminuras, 2004); Eurípedes - Bacas (São
Paulo: hucitec, 1995); Eurípedes - Medéia (São Paulo: hucitec, 1991); Ésquilo