Concilio Vaticano Ii - Formação para Catequistas
Concilio Vaticano Ii - Formação para Catequistas
Concilio Vaticano Ii - Formação para Catequistas
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INTRODUÇÃO
A solene abertura do Vaticano II, na presença de mais de 2.500 padres conciliares vindos
de todo o mundo, de teólogos e observadores das antigas Igrejas orientais, ortodoxos,
anglicanos, protestantes e pentecostais de diferentes Igrejas aconteceu no dia 11 de
outubro de 1962, durando quatro anos, formalmente, até o encerramento solene no dia 8
de dezembro de 1965, com a aprovação de 16 documentos conciliares: quatro
constituições, nove decretos e três declarações.
01) Dignitatis Humanae (DH) sobre a dignidade humana, tendo como foco a inviolável
consciência de cada pessoa, inclusive na esfera da liberdade religiosa;
02) Gravissum Educationis (GE), sobre a Educação;
03) Nostra Aetate (NA), que trata do diálogo com as outras religiões, de modo especial o
judaísmo, o islamismo, o hinduísmo e o budismo.
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Os nove decretos:
Outra questão é a pratica eclesial que resultou do Concílio. Duas delas podem ser
consideradas muito visíveis:
A reforma litúrgica, porque mexeu com a vida de cada pessoa com a entrada das
línguas locais na liturgia e não apenas a manutenção do latim;
A descentralização da Igreja, o exercício da colegialidade episcopal, com as
conferências episcopais, os sínodos, chegando até aos conselhos de presbíteros, os
conselhos pastorais paroquiais e os conselhos diocesanos de pastoral.
E no caso do Brasil e da América Latina, esse espírito de participação e
corresponsabilidade se reforçou com o surgimento das Comunidades Eclesiais de
Base, apoiadas num maior protagonismo, bem na base, dos cristãos e cristãs
batizados.
O Papa João XXIII inaugurou o Concílio Vaticano II com esta frase: “Gaudet Mater
Ecclesia”, ou seja "Alegra-se a Santa Mãe Igreja” e previa uma Igreja que "quer se mostrar
como mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e de bondade".
Nas suas quatro sessões (1962-1965) e com os seus 16 documentos, o concílio fez uma
reviravolta doutrinal e pastoral, de uma Igreja que se auto definia em termos jurídico-sociais
de sociedade hierarquicamente estruturada a uma Igreja que, mais biblicamente, se
autocompreende como povo de Deus e como comunhão. Para a eclesiologia de comunhão,
cada membro é discípulo de Cristo, sujeito diante de Deus, testemunha do Evangelho.
O documento do concílio sobre a Igreja colocou a Igreja mais intimamente em relação com
a sua origem, que é a palavra de Deus, Dei Verbum; também a trouxe mais perto de sua
missão de evangelização e de solidariedade com "as alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias" da humanidade, a Gaudium et Spes. Surgiu daí uma Igreja mais
evangélica, mais dialógica e solidária. Mas, hoje podemos observar que ainda passará
muito tempo até que a Igreja, que recebeu de Deus a graça do Concílio Vaticano II, seja
a Igreja do Concílio Vaticano II.
expressão". Na mesma linha Bento XVI continua a obra de uma nova evangelização,
indicando o seu conteúdo, ou seja, o querigma cristológico “[...] a nova evangelização
consiste em dar testemunho de Jesus Cristo diante do mundo e em ser fermento do amor
de Deus entre os seres humanos", convocando o Sínodo romano do 50º aniversário do
concílio (2012), com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã". O Papa
Francisco lança em 2013 a Evangelli Gaudium, fazendo pensar também na transmissão
do Evangelho com alegria: “O cristão anuncia com alegria o Evangelho de Cristo porque é
sinal de vida nova / Páscoa! Existem ainda cristãos que vivem uma perene quaresma e
infelizmente não conseguem fazer a experiência de ressurreição!”. (EG 6).
A inclusão do tema da Igreja como Povo de Deus como segundo capítulo, logo após o
capítulo sobre o mistério da Igreja e antes do capítulo sobre a hierarquia, é considerada
uma das principais evidências de que o Concílio Vaticano II desejava propor novos rumos
para a Igreja Católica, de acordo com o desejo expresso pelo Papa João XXIII ao convocar
o Concílio.
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A partir desta constituição, a Igreja passou a ser vista não apenas como uma instituição
hierarquizada, mas também como uma comunidade de cristãos espalhados por todo o
mundo e constituintes do Corpo Místico de Cristo. Por isso, a constituição e "as
estruturas da Igreja modificaram-se parcialmente e abriu-se espaço para maior participação
e apostolado dos leigos, incluindo as mulheres, na vida eclesial". O Concílio clarificou
também a igual dignidade de todos os católicos (clérigos ou leigos). Mas, mesmo assim, a
estrutura da Cúria Romana permaneceu a mesma, o que tem sido objeto de reflexão pelo
Papa Francisco que tem tentado trazer renovação a esta estrutura.
O novo povo de Deus, uno e universal, é formado por todos os que creem. Na nova aliança,
todos são chamados a ir e batizar, segundo a ordem de Cristo em Mt 28,18-20,
constituindo assim uma Igreja missionária.
O Concílio pede que entre pastores e fiéis haja uma “comunidade de relações” e um
mútuo apoio, pois todos são “chamados à santidade”.
Este documento fez a Igreja refletir sobre a sua essência, sobre a sua origem e
constituição interna. A sua redescoberta como mistério marca este retorno às origens
ao mesmo tempo que se abre a todas as novidades trazidas pelos novos tempos. A
conscientização da Igreja como mistério ligado ao mistério de Cristo e não como
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sociedade, deu um novo rumo e apontou caminhos interessantes que infelizmente não
foram bem explorados ao longo destes 50 anos. Há muito ainda a ser feito.
LG 4 - Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na, foi enviado o
Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e deste
modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito. Ele é o Espírito de vida,
ou a fonte de água que jorra para a vida eterna(...). O Espírito habita na Igreja e nos
corações dos fiéis, como num templo e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de
filhos. A Igreja, que Ele conduz à verdade total e unifica na comunhão e no ministério,
enriquece-a, e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os
seus frutos. Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-
a a união perfeita com o seu Esposo. (...) Assim a Igreja toda aparece como “um povo unido
pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
LG 7 - “A Igreja, Corpo místico de Cristo”. (...) É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde
nos que creem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos (...).
(...) A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas
todas as coisas. Ele existe antes de todas as coisas e todas n'Ele subsistem. Ele é a cabeça
do corpo que a Igreja é (...).
"... o sagrado Concílio, proclamando a sublime vocação do homem, e afirmando existir nele
uma semente divina, oferece ao gênero humano a sincera cooperação da Igreja, a fim de
instaurar a fraternidade universal que corresponda a esta vocação. Nenhuma ambição
terrena move a Igreja, mas unicamente este objetivo: continuar, sob a direção do Espírito
Paráclito,a obra de Cristo..." (GS 3).
Nossa tarefa de catequistas deve ser sempre a de continuar a obra do próprio Cristo que
veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para
servir e não para ser servido, para renovar e fazer nascer um novo homem. Sejamos fiéis
a esta nobre missão.
O Concílio Vaticano II não tratou especificamente da catequese, mas ele está na base de
toda a renovação catequética por causa da ampla e profunda renovação da própria Igreja
e da especial valorização e novo conceito de Palavra de Deus: ela é constituída não
somente de palavras, mas também de acontecimentos. Assim, a Palavra de Deus não se
situa só no plano intelectual (conceitos, ideias), mas principalmente no plano existencial
(fatos, gestos), ela tem um caráter histórico, pois é revelada bem por dentro da experiência
histórica do homem: DV 2, 7-8, 24; AG 3, 13, 16, 24; LG 8; PO 22; CD 12.
“Cuidem os Bispos para que a instrução catequética, que tem por fim tornar viva, explícita
e operosa a fé ilustrada pela doutrina, seja administrada com diligente cuidado... e se baseie
na Sagrada Escritura, na Tradição, na Liturgia, no Magistério e na vida da Igreja”. E mais
na frente prescreve que “se restabeleça a instituição dos catecúmenos adultos, ou seja,
melhor adaptada”. (CD 14).
E sobre o catecumenato:
“Através de prática dos costumes evangélicos e pelos ritos sagrados que se celebram em
tempos sucessivos, os catecúmenos sejam introduzidos na vida da fé, da liturgia e da
caridade do Povo de Deus”. (AG 14)
O Diretório Catequético Geral (DGC), uma urgência pedida pelo concílio, publicado na
Páscoa de 1971, pela Sagrada Congregação do Clero, fala da catequese como:
Este documento pela primeira vez falou claramente da prioridade da catequese de adultos
na Igreja contemporânea:
O que chamamos agora de “Pastoral Bíblica” renasceu depois do Concílio Vaticano II. A
Constituição Dogmática sobre a Palavra de Deus, a Dei Verbum pedia: “que todos os fiéis
tenham acesso às Sagradas Escrituras”, orientando:
- Uma nova estima pela "Palavra de Deus na Celebração Eucarística" com a equiparação
e valorização das duas mesas: A ‘Mesa da Palavra de Deus’ e a ‘Mesa do Corpo de Cristo
o Pão da Vida’ (DV 21).
- A tão valorizada Leitura Orante da Bíblia no Continente tem fundamento nas palavras da
Dei Verbum “a Ele falamos quando rezamos, a Ele ouvimos quando lemos os divinos
oráculos” retomando os escritos de S. Ambrósio (DV, 25).
Foi a Dei Verbum que deu vida, espírito e conteúdo à procura da Palavra de Deus. De fato,
como escreveram Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino, a Bíblia, desde sempre, fez
parte da caminhada do povo. “É a fé do povo que faz acolher a Bíblia como aquilo que
realmente é: a Palavra de Deus”.
Um dos pontos mais importantes tratados pela Dei Verbum (DV) é o conceito de Revelação.
Não é fruto só do Vaticano II (1962-1965), mas desde o século passado vem sendo
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O Cristianismo se considera como religião revelada, como outras também se julgam (por
ex., islamismo). A Revelação cristã é histórica: Deus Se revela a Si mesmo (conteúdo), bem
dentro da caminhada histórica da humanidade (um povo). Histórico significa que pertence
à nossa realidade; não é mito. É o princípio da encarnação: “E o Verbo (Palavra) se fez
carne”.
É o modo como Deus se revela. Este também é o modo da catequese agir: pedagogia de
Deus, pedagogia da catequese.
Profeta: aquele que fala, que mostra a presença de Deus no meio dos acontecimentos e
leva os seus ouvintes a terem também uma experiência d’Ele na vida. É alguém do povo
que com antenas mais sensíveis, percebe, capta a presença divina.
Daí o conceito de Tradição: toda história é tradição; vivemos de tradição. A Bíblia só tem
sentido dentro da tradição. Ela mesma é fruto da tradição. Daí se dizer que o catolicismo
não é a religião do livro, mas da Palavra, da Revelação concebida como Palavra e
Acontecimento. Diferença com o protestantismo que cultua e se centra mais no livro escrito,
na palavra escrita: Sola Bíblia, sola fides (só a Bíblia e só a fé). Muito mais o islamismo: a
revelação foi ditada por um anjo a Maomé. Perigo do fundamentalismo (escravidão à letra)
e o fanatismo.
Daí também o papel do Magistério, com o carisma de “vigiar” sobre a reta interpretação,
sem ele mesmo ser “dono” da Bíblia. Pelo contrário: deve, mais do que os outros cristãos,
obedecer à Palavra de Deus, não só escrita, mas também da Tradição. Riqueza e peso da
Tradição: neste sentido os protestantes são mais livres: preocupam-se com a palavra pura
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da Escritura. Para eles a Tradição não tem muito peso, como também não possuem um
magistério como nós.
Outros documentos...
CONCLUSÃO
Este então é um processo que convoca à participação, ao protagonismo dos leigos e leigas;
a um jeito de ser Igreja, comunitário e fraterno; chegando até a menor comunidade para
que as pessoas se sintam Igreja e para que elas saibam que podem e devem participar,
tomar decisões, se arriscar, assumir novos ministérios. Neste sentido, é preciso cuidar para
que não se volte a uma centralização, que não se tenha novamente uma clericalização,
afinal a definição central da Igreja está no batismo e não no sacramento da ordem, que
sempre é para poucos. O Concilio trouxe o reconhecimento de que todos os batizados e
batizadas carregam um sacerdócio real, profético, de serviço, de ministérios e é isso que
faz falta na Igreja.
“Com a passagem dos anos, os documentos conciliares não tem perdido sua atualidade:
ao contrário, os seus ensinamentos revelam-se particularmente pertinentes diante dos
novos apelos da Igreja e da sociedade atual globalizada”. Papa Bento XVI (20/04/05).
“Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II, apesar de nos entristecerem as misérias
do nosso tempo e estarmos longe de otimismos ingênuos, um maior realismo não deve
significar menor confiança no Espírito nem menor generosidade”. Papa Francisco
(Exortação Apostólica Evangelii Gaudium).
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FONTES DE CONSULTA:
BEOZZO, José Oscar. A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. Paulinas:
São Paulo, 2005.
Regional Sul II. Concílio vaticano II: Implicações para a catequese. Catequizar Sempre
20. Curitiba: 2015.
Textos de Pe Luiz Alves de Lima, sdb; com adaptações e complementações de Irmão Nery
fsc. (Material da pós-graduação em Catequética – FAVI – Curitiba –Pr).