O Vôo Das Andorinhas
O Vôo Das Andorinhas
O Vôo Das Andorinhas
PORTO VELHO-RO
2017
ANA CARLA TABORGA DA SILVA
Porto Velho/RO
2017
DEDICATÓRIA
A minha comadre Mestra Viviane Nery da Silva, pois por muitos obstáculos
passamos juntas, pelas idas a campo no processo da aplicação dos questionários.
A minha família, mãe e meus irmãos que são meu porto seguro, onde, eu pude
buscar sempre consolo nos momentos de “curto e crise intelectual”, pessoas
fundamentais na minha vida, foram meu alicerce para que eu pudesse chegar até aqui.
A minha avó Dona Martha que foi a provedora desse estudo, minha admiração
por ela é sem igual, pois sempre batalhou para ajudar sua família sem deixar perder
sua história vivida por mais de 50 anos no Brasil. Uma migrante boliviana que nunca
perdeu sua essência, minha matriarca. Eterna será minha gratidão a você minha
vózinha.
Ao meu esposo, Adão Carlos, por sua tamanha dedicação aos nossos filhos,
diante da minha ausência. Foram dois anos de idas e vindas para reencontrar a família,
pois, os mesmos residem em outro estado. A sua persistência foi inigualável pelo nosso
matrimônio. Sou eternamente grata a você meu esposo.
Este estudo refere-se a uma abordagem no processo migratório que caracteriza a partir
da participação feminina, com levantamento das atividades e ocupação espacial das
mulheres bolivianas em Guajará-Mirim, município do estado de Rondônia. O mesmo
descreve as “condições de vida” e o cotidiano das mulheres bolivianas, tanto no que se
refere ao trabalho, quanto á vida familiar, no espaço privado e público. O objetivo do
presente estudo foi estudar a configuração dos movimentos migratórios que as
mulheres bolivianas desenvolvem saindo do seu território e ultrapassando a área de
fronteira entre a Bolívia e a Brasil, bem como analisar o seu modo de vida, a partir, dos
estudos e discussões de gênero e se há estabilidade no Brasil. A metodologia utilizada
privilegiou estudos qualitativos e quantitativos a partir da abordagem dialética do
processo migratório, da relação entre fronteira e sociedade. Foram aplicados 26 (vinte
e seis) questionários, com observações participativas para compreensão do cotidiano
familiar e do trabalho feminino no momento das entrevistas. A análise dos dados
permitiu identificar que os processos migratórios entre as mulheres são bem singulares,
tanto no que se refere a sua permanência, quanto às relacionadas ao trabalho.
Verificamos que as mulheres exercem atividades diversas no mercado de trabalho,
sendo que a remuneração de todo seu trabalho desenvolvido serve para a manutenção
da família. É conclusivo que essa mobilidade feminina e sua participação social
situam-se ás margens da subsistência familiar sempre recriando elo de “chefe de
família” e desenvolvendo muitas das vezes diversas jornadas de trabalho.
This study refers to an investigation in the migratory process that characterizes from the
female participation, with survey of the activities and space occupation of Bolivian wo-
men in Guajará-Mirim, municipality of the state of Rondônia. It describes the conditions
of life and daily life of Bolivian women, both in terms of work and family life, in the priva -
te and public space. The objective of the present study was to study the socio-spatial
configuration of the migratory movements that Bolivian women develop leaving their ter -
ritory and crossing the border area between Brazil and Bolivia, as well as analyzing their
way of life, from studies and And the search for stability in Brazil. The methodology used
privileged qualitative and quantitative studies based on the dialectical approach of the
migratory process, the relationship between the border and society. Twenty-six (26)
questionnaires were used, with simple observations to understand daily family and fe-
male work at the time of the interviews. The analysis of the data allowed to identify that
migratory processes among women are very unique, both in terms of their permanence
and those related to work. We verified that women perform different activities in the la-
bor market, and the remuneration of all their work is for the maintenance of the family. It
is noticeable that this female mobility and social participation are located along the mar-
gins of family subsistence, always recreating the "head of the household" link and often
developing several working days.
Lista De Gráficos
Lista De Tabelas
Tabela 01: Recebe algum benefício do Governo Boliviano. 82
Lista De Figuras
Figura 01: Mapa de lócus da Pesquisa Guajará Mirim 50
INTRODUÇÃO...............................................................................................................18
2.3 Método.....................................................................................................................64
3.5 Renda......................................................................................................................83
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................104
REFERÊNCIAS..........................................................................................................108
APÊNDICE.................................................................................................................116
16
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
como tema central a migração feminina internacional, norteada nessa fronteira entre
Bolívia e Brasil.
No âmbito da pesquisa acerca dos fluxos migratórios entre os países que
compõem ao MERCOSUL1, a participação desses países traz um novo cenário na
mobilidade espacial de imigrantes 2 mulheres e sua possível permanência ou
circulação entre os países e suas fronteiras. Toda essa mobilidade espacial tem
ocasionado a feminização3 da imigração dos países latino-americano.
A presença dos homens, nesta dissertação, é quase que ausente, pois não são
os principais agentes dos objetivos propostos para os estudos da mesma. Sendo que
alguns aparecem representam toda comunidade boliviana neste município, como o
presidente da “Associação dos Bolivianos” Rolando Parada, o representante do
“Consulado Boliviano” no Brasil também é homem senhor Haisen Ribera. Portanto,
fez se necessário abrir um diálogo e entrevistas com os mesmos, desde que, eles
possibilitaram algumas informações direta e indiretamente para atender as
necessidades dos bolivianos que residem neste município brasileiro. Nas abordagens
metodológicas constarão alguns dos relados desses representantes que residem no
Brasil, e qual papel os mesmos desenvolvem para atender esses migrantes
bolivianos.
Com referenciais, em estudos sobre Migração, o termo migrante sempre foi
uma conotação masculina, criando uma concepção de que migrante verdadeiro era
do sexo masculino. Por muitos anos, as mulheres eram “invisibilizadas”, estudos por
longos anos nos demonstram que os homens foram os principais propulsores desse
cenário em todo mundo.Dessa forma, as abordagens teóricas sempre prevaleceram
ao sexo masculino sendo o responsável por tal movimento populacional do “ir” e “vir”
enquanto ser migrante.
1 MERCOSUL- Bloco econômico Mercado Comum do Sul os países que fazem parte desse
acordo são: Brasil Argentina, Paraguai, Uruguai. A principal proposta desse acordo entre
esses países garantir a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, através da
eliminação de barreiras alfandegárias e restrições não tarifárias a circulação de mercadorias e
de qualquer outra medida de efeito equivalente.
2 O termo Imigrante- momento de entrada, com ânimo de ser permanente ou temporário e
com intenção de trabalho ou residência, de pessoas ou populações, de um país para outro.
3 A feminização da imigração latino-americana e do Mercosul para o Brasil apresenta enorme
concentração nos contingentes de mulheres bolivianas, argentinas, colombianas, paraguaias e
uruguaias, dentre os maiores volumes de entradas no país revelando a visibilidade e a necessidade de
políticas públicas que possam dar acesso a contingentes diferentes de mulheres imigrantes no país.
20
CAPÍTULO I
estão inseridos, cada um tem uma forma e percepção de ocupar seu espaço,
implicando nas diversas formas de comportamentos.
No entanto, a abordagem teórica de gênero na ciência geográfica torna-se
indispensável para as discussões nas relações sociais. Configurando novos
comportamentos culturais diante dos espaços a serem ocupados por homens e
mulheres, levando-as a permanecer mais presente nos espaços privados e aos
homens nos espaços públicos.
Dentro de alguns conceitos, as identidades culturais nunca são unificadas, e,
na era da modernidade tardia, são cada vez mais fragmentadas e fraturadas; nunca
singulares, mas múltiplas, construídas sobre discursos, práticas e posições diferentes,
muitas vezes cruzadas anatagônicas Bauman (2012, p.41). Dentro dessas
concepções, essas mulheres se tornam ainda mais fragilizadas diante das práticas e
posições diferentes dentro do lugar que ocupa em meio à sociedade.
Nestas concepções, atribuímos o papel das diferentes posições que a mulher
ocupa enquanto produtora do seu espaço. Sendo dona de casa, cuida do âmbito
interno do lar e da família, enquanto aos homens estão encarregados do trabalho fora
do lar para manter o sustento familiar. Em alguma percepção social culturalmente
construída, a mulher passa por sexo frágil sendo invisibilizada e desprivilegiada na
sociedade.
Com essas abordagens de relações entre os “sexos”, passa-se a discutir com
maior relevância o conceito de gênero, que nos faz desconstruir as ideologias
culturalmente a partir da prática social, excluindo a idéia de que as diferenças
biológicas são determinantes para atitudes sociais, e até discriminatórias entre
pessoas com as mesmas capacidades iguais só que com diferenças biológicas e
genéticas.
O conceito de gênero foi dotado pelas geógrafas com a perspectiva crítica à
utilização da categoria mulher, em geral, associada à diferenciação sexual de corpos
e analisada de forma isolada, Silva (2011, p. 26). Logo, analisamos os
comportamentos que são peculiares da sociedade enquanto a diferença do sexo para
nos ater a importância crítica teórica. Utilizaremos o conceito de Simone de Beauvoir
que nos potencializa a redução da categoria mulher às diferenças biológicas.
tampouco que basta para a definir. Ele só tem realidade vivida enquanto
assumido pela consciência através das ações e no seio de uma sociedade
(BEAUVOIR, 1976, p. 62-63).
Vemos que a ação que essa mulher desenvolve dentro do lugar que a mesma
tomou para ser seu “novo lugar” de habitar traz várias concepções reflexivas onde a
mesma vai ter que desenvolver uma ação comunicativa diferente nesse novo espaço
29
Esse movimento fez com que as conquistas das feministas fossem vista de
forma distorcida, onde as políticas e as práticas sociais que garantem a equidade e
igualdade entre mulheres e homens fossem diferenciadas. Dentro da interpretação
que preza pela superioridade entre mulheres sobre os homens:
7 Esse transito de pessoas diárias principalmente feminino é visto com clareza na área
urbana de Guajará-Mirim, seu trabalho muitas das vezes e de forma ilegal e arriscado. Os
produtos que geram mais renda para essas atravessadoras é a gasolina boliviana que é
vendida a um custo inferior, também há o fluxo inverso ex: calçados para a Bolívia e outros
produto são confecções sendo roupas etc. Todos esses produtos entram no Brasil de forma
ilegal, quando pegos pela Policia Federal os produtos recolhidos, dando prejuízo extremo a
essas mulheres.
8 Tradução: A migração feminina é geralmente um componente fundamental dos Movimentos
populacionais. Para encontrar as suas características específicas devem ser comparados
com a migração masculina. Além disso, não devemos esquecer que, como outros fluxos, é
um Fenômeno heterogêneo assume formas de realização particulares em diferentes
momentos históricos e campos espaciais a temporalidade dos movimentosm são origem e
destino, sua composição social e seu caráter individual o famíliar estão entre os aspectos que
devem ser levados em conta na análise de algumas causas, carcterísticas e consequências.
Diferentes combinações dessas características revelam a presença de fluxos que podem
resultar nos processos sociais e ter implicações muito distinctas ".
33
social com a familiar. Partindo das modalidades particulares e perpassando por toda
uma contextualização histórica do seu movimento de origem ao seu destino.
O interesse pelo estudo da migração feminina é muito recente e tem o seu
início a partir das constatações de volume significativo de mulheres em fluxos
migratórios onde predominavam homens ou ainda pela captação de fluxos migratórios
essencialmente femininos (CASTRO, 2006). Essas mobilidades dentro do espaço
geográfico nos últimos anos têm intensificado com grandes proporções, onde os
principais agentes propulsores desse deslocamento que pode ser forçado ou de livre
espontânea vontade são as mulheres e crianças.
As relações de gênero são socialmente construídas dentro de um espaço
constituído por mulheres e homens. São estruturas que tem sua gênese nas
diferenças entre os sexos. Segundo Castro 2006.
Las diferencias significativas entre los sexos son lãs diferencias de gênero.
Cada sociedade dectamina qué espera de cada uno de los sexos. El status
sexual marca La participación de hombres y mujeres em lãs instituciones
sociales, em La família, La escuela, La política, El estado y em lãs religiones
lãs quales incluyen valores y expectativas de lo que uma sociedade espera
Del ser feminino o masculino9 Segundo Castro (2006, p. 66).
9 Tradução: "As diferenças significativas entre os sexos são as diferenças de gênero. Cada
sociedade determina o que se espera de cada um dos sexos. A definiçãos sexual marca a
participação de homens e mulheres nas instituições sociais, como na família, na escola, na
política, o Estado e as religiões são as quais incluem valores e expectativas do que uma
sociedade espera de que e ser feminino ou masculino”.
34
(...) o espaço evolui por suas características e por seu funcionamento, pelo
que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita
36
10 Crise econômica que afetou o Brasil perpassando para todos os estados brasileiros no
ano de 2015, a instabilidade econômica afetou diretamente as áreas de fronteira
principalmente com dólar em alta os países estrangeiros que já possuem sua economia
instável se beneficiaram da crise da moeda brasileira o real, o município de Guajará-Mirim foi
afetado diretamente na sua economia local, fechando lojas e sem giro de capital a moeda o
real, já o país vizinho com a alta do dólar giravam em território brasileiro a moeda “boliviano” o
peso como assim definem.
38
quase que exclusivo ao ciclo de vida familiar, que de acordo com Chaves, a mulher é
a base fundamental em qualquer que seja sua construção social.
Por muito que seja árdua os estudos de gênero cabem ao geógrafo olhar
além do objeto, aos fatores que impulsionam tal fenômeno em qualquer condição que
propôs representar tal estudo. Neste caso abordamos a dinâmica do processo
migratório das mulheres bolivianas em temporalidades diferentes. A dinâmica feminina
ocorre de forma desigual ao masculino, a forma como ocupam e configuram os
lugares ocupados.
A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. Ela tem suas raízes
num passado longínquo, que mergulho no território onde seus mortos são
enterrados e onde seus deuses se manifestam. Não é, portanto, um conjunto
fechado e imutável de técnicas e de comportamentos (CLAVAL, 2007, p. 63).
40
se torna constante em sua vida. Com base em algumas simetrias e assimetrias dentro
dos estudos de fronteira e migração internacional o Programa de Promoção do
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira - PDFF (2010) nos dá suporte em
compreender esse conceito.
11 Imigrante: é aquele que migra, ou seja, aquele que entra em um país estrangeiro, com
objetivo de residir ou trabalhar. O imigrante para permanecer legalmente dentro do território
escolhido deve seguir as “leis de imigração” estabelecidas em cada país.
12 FERREIRA, Ricardo Hirata. Texto que integra a Tese de doutorado:” Migração Internacional: Brasil
ou Japão o movimento de inserção do decasségui no espaço geográfico pelo consumo”, 2007. As
Migrações Internacionais na Geografia. A racionalidade cobre todo o Brasil, mas a sua existência está
concentrada em algumas áreas e não engloba a grande maioria da população. Muitos vivem à margem
ou precariedade nesse processo. É apenas uma parte dos brasileiros que está inserida de fato a
participar deste meio. A materialização do meio-técnico-cientifico-informacional faz parte do projeto de
modernidade que inclui o projeto de vida moderno. É este projeto de vida moderno, ou ideal de vida
moderno ou mesmo moderno, maneira hegemônica de ser viver hoje, não cessível á parte da
população brasileira, que impulsiona ou move parte da população a migrar para os espaços luminosos.
46
Assim, a intersecção entre essas fronteiras ocorre de forma que se criam laços
parentais, econômicos, sociais e culturais.
As faixas de fronteiras entre Guajará-Mirim e Guayaramerín segundo Proposta
de Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (2010)
São visíveis enquanto a gestão de cada estado.
As interações podem se dar somente no nível local, como no caso das feiras,
exemplo concreto de interação e integração fronteiriça espontânea. Pode se
dar através de trocas difusas entre vizinhos fronteiriços com limitadas redes
de comunicação, ou resultam de zonas de integração espontânea, o Estado
intervindo pouco, principalmente não patrocinando a construção de
47
13O Grupo Retis, formado por pesquisadores-doutores, doutorandos, mestres, mestrandos e bolsistas
de iniciação científica, atua desde 1994 no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, com apoio do CNPq, da FINEP, da FAPERJ e do CEPG/UFRJ e com a participação de
pesquisadores associados de outras instituições.
14Autor(es): Haesbaert. Rogerio; Machado. Lia Osorio; Novaes. André Reyes; Peiter. Paulo;
Ribeiro. Letícia Parente; Steiman. Rebeca. O objetivo deste trabalho é definir uma agenda
global de diretrizes, estratégias e instrumentos de ação destinados à Reestruturação do
Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira. A agenda tem como linhas condutoras o
desenvolvimento econômico regional e a promoção da cidadania dos povos da fronteira, num
momento em si estratégico de fortalecimento da integração sul-americana, como assumido
pelo Governo Federal no Plano Brasil de Todos.
49
CAPÍTULO II
O MIGRAR METODOLÓGICO
O Brasil é o país que possui a maior extensão de fronteira com a Bolívia, esta
fronteira atinge 3.423,2 km, ou seja, 20% da linha divisória continental do Brasil com
os países vizinhos. Desse total, 751 km compreendem fronteira seca e 2.672 km é
compreendida por rios, lagos e canais, a região possuí 438 marcos demarcatórios.
(IBGE, 2012). A população atual do município é 46.632 habitantes segundo
estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE do ano 2015. A
área da Unidade Territorial (Km²) 24.855,724. Densidade demográfica 1,68 hab./km².
O Município analisado em nossa pesquisa encontra-se situada a cerca de
trezentos quilômetros de distância do município de Porto Velho capital do Estado de
Rondônia, conta com contingente populacional expressivo e possui diversos setores
Administrativos do Governo Federal, Estadual e Municipal. Apesar da distância da
52
capital, o município de Guajará Mirim15 é conhecido por suas festas culturais que atrai
considerável número de turistas em “alta temporada”. Cabe salientar ainda, que o
município conta com a participação de “Los hermanos” bolivianos para desenvolver
ainda, mas suas atividades turísticas tendo como atração a cidade de Guayaramerín-
Bolívia, que se encontra ao lado direito do rio Mamoré a montante do município. O
principal acesso ao país vizinho e pela atração econômica em produtos que são
importados por brasileiros ao Brasil como: perfumes, eletroeletrônicos, bebidas e
outros produtos.
O município situa-se na região amazônica, em uma das áreas mais
preservadas do Estado de Rondônia, destacam-se pela preservação dos recursos da
natureza e, também, por serem áreas de reservas e conservação. Para Ab’Sáber
(2003), a região amazônica é um gigantesco domínio de terras baixas florestadas que
se destaca pela grandeza da rede hidrográfica e pela continuidade das suas florestas.
O território desse município encontra-se quase que 93% em áreas de reservas, sendo
permanente sob controle dos órgãos competentes IBMA-Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Renováveis o que dificulta o desenvolvimento agroindustrial
dessa região, assim não dando visibilidade ao município para que se desenvolva nas
suas áreas de entorno.
O município possui uma riqueza cultural e social que exemplifica todo processo
dinâmico dentro desse espaço que é norteado pela migração entre essa nação
fronteiriça “cidades gêmeas” Guyaramerín lado (Boliviano) Guajará- Mirim lado
(Brasileiro). Segundo conceito Proposta de Reestruturação do Programa de
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira.
15 A pesquisa foi realizada no Município de Guajará - Mirim estado de Rondônia, o qual passou por
processos de colonização e migração em seu território ao longo de sua formação até sua atual
configuração. Sua fundação foi em 10 de abril de 1929. Em 1943 passou a se constituir parte integrante
do Território Federal do Guaporé (Rondônia) criado pelo Decreto lei nº 5812, de 13 de setembro, na
condição de município mantendo a mesma denominação. Possui o gentílico de Guajaramirense, tem
como padroeira da cidade Nossa Senhora do Seringueiro.
53
que amparam essas pessoas diante de todo processo migratório para que seus
direitos venham ser respeitados, torna-se uma atividade de percepção e investigação
incansável na busca de uma melhor forma de abordem metodológica. A dialética nos
proporciona esses contrapontos dos fatos de estudo (objeto sendo os sujeitos e os
fenômenos sendo o processo migratório da mobilidade humana).
As pesquisadas são direcionadas a algumas mulheres bolivianas que residem
em Guajará-Mirim, não tendo discernimento de ser legalizada ou ilegalizada na
cidade. O que facilita uma abordagem e um contato com a realidade delas. Um dos
principais critérios para a aplicação do instrumento da pesquisa foi respeitar as
pesquisadas enquanto sujeitos da pesquisa, sendo, muitas não se encontram com
sua regularização junto aos órgãos competentes desde o início do processo até o
termino.
Por esse motivo, adoção dos instrumentos de coleta dos dados, os
questionários foram elaborados com perguntas objetivas que foram quantificadas, a
partir das e entrevistas, onde possibilitou, se aproximar o máximo da realidade dentro
do processo migratório de cada pesquisada. Ressalta-se, ainda, a importância da
adoção correta de instrumentos da pesquisa, pois estes são um dos principais
fornecedores de nossas informações.
2.3 MÉTODO
O espaço analisado pela ciência geográfica deve ser definido pelos estudos
sobre processo migratório, precisando ser consideradas todos os processos que
dispuseram essa mobilidade humana. O ponto de início foi uma análise sob os
diversos fatores que impulsionou esse processo migratório, mesmo conhecendo
algumas complexidades e realidades das pesquisadas nos faz obter uma filtragem na
captação das vastas informações, devido à interação entre os indivíduos envolvidos.
O objetivo geral desta pesquisa foi identificar verificar e analisar a configuração
sócio espacial dos movimentos migratórios que as mulheres bolivianas desenvolvem
saindo do seu território, ultrapassando a área de fronteira entre o Brasil e a Bolívia,
bem como investigar o seu modo de vida, a partir dos estudos e discussões de
gênero e ainda, se há estabilidade no Brasil.
A pesquisa se concretizou com o método dialético proposto por
SUERTEGARAY (2002), com abordagem quantitativa e qualitativa. De acordo com
62
essa autora, no método dialético, o campo como realidade não é externo ao sujeito é
uma extensão do sujeito, como é numa outra escala a ferramenta para trabalhar uma
extensão do seu corpo, ou seja, a pesquisa é fruto da interação dialética entre sujeito
e objeto.
Para afirmar o método utilizado David Harvey 18 (1980), aborda o espaço sob
outra perspectiva. Num contexto dialético, vai conceber o espaço como sendo ao
mesmo tempo, absoluto (com existência material), relativo (como relação entre
objetos) e relacional (espaço que contém e que está contido nos objetos). Explicando,
o objeto só existe quando se representa algo a si próprio ou relações com outros
objetos. O autor ainda afirma que, o espaço não é num um, nem outro em si mesmo,
podendo transformar-se em um ou outro, dependendo das circunstancias.
Por isso, toda e qualquer compreensão dos métodos para a produção e
abordagem dos dados são significantes para estudar os fenômenos migratórios
existentes na fronteira entre Brasil e Bolívia, já que será feita uma abordagem de
como esses processos migratórios interferem na vida dessas mulheres e se há algum
apoio destinada como “políticas públicas” ou ação social que podem ser direcionadas
para elas dentro do território brasileiro.
No método dialético buscamos conseguir uma solução para discernir essas
contradições ocorridas dentro desse processo migratório, quando, mulheres se
propõe a mudar de vida não só para confrontar sua invisibilidade, mais para dar
continuidade ao meio de sobrevivência familiar.
toda a atividade ela sempre se encontra em segundo plano. Espaço esse que torna
sua mão de obra desenvolvida em mera ajuda ao marido.
Outro momento que pude participar junto da associação dos bolivianos foi no
dia quinze do mês de junho de dois mil e dezesseis, com atendimentos da Secretaria
Municipal de Saúde de Guajará- Mirim o trabalho realizado neste dia foi vacinação de
idosos e crianças.
Na terceira e última observação de campo foi no dia dezoito do mês de junho
de dois mil e dezesseis, na associação foram realizados atendimentos de
especialistas vindos da Bolívia, sendo Clinico Geral, Ortopedista, Urologia, Dentista,
auxiliares de enfermagem e Advogada. Todos com auxílio do Consulado Boliviano e
Associação dos Bolivianos. Essa ação durou o dia todo, para que as pessoas que não
podiam comparecer pela manhã fossem pela parte da tarde.
O Campo na Pastoral do Migrante ocorreu nos dias trinta e um do mês de maio
de dois mil e dezesseis e no dia treze do mês de junho de dois mil e dezesseis,foi
feito uma entrevista com a Senhora Lola Araújo Rodrigues responsável por apoiar as
migrantes que procuram na diocese da igreja católica “nossa senhora do seringueiro a
pastoral do migrante” que se localiza na Avenida15 de novembro bairro Centro.
Os principais pontos questionados em campo quais foram o quantitativo
migratório entre homens e mulheres para o Brasil especificamente Guajará mirim,
Lola: a migração ocorre de forma direta tantos homens como as mulheres migram
constantemente. As principais reivindicações de todo esse processo migratório quase
que sempre é a melhoria na qualidade de vida. Elas vão a outros lugares buscar o
que não encontram no local onde moram.
No decorrer da pesquisa participante nos possibilita compreender a forma
como cada migrante ocupa seu espaço e a forma relacional entre as pessoas. Foi
visto que a mulher sempre se torna a “segunda voz” em tomar alguma decisão no
seio familiar, dentro do próprio espaço privado, já os homens por serem os que têm
maior participação nos espaços públicos ficam mais fáceis tomarem algumas
decisões e até mesmo em resolver questões burocráticas como: tirar a documentação
para sua legalização e permanência no país de destino.
Com essa consequência que atinge principalmente as mulheres torna muito
tardia a procura para tirar a documentação é isso barra a naturalização brasileira. Um
fator que têm contribuído muito para alguns casos de violência contra a mulher
migrante dentro do seu próprio âmbito familiar é sua ilegalização. Uma vez que, se ela
69
Procedimentos Metodológicos
Levantamento
VisitasBibliográfico
aos órgãos responsáveis
com leituras voltadas
pela migração
para Migração
no município
Internacional,
(polícia Federal,
Fronteira,
Consulado
Cultura,Boliviano,
Lugar e Gênero
Pastoral d
Organização dos Dados coletados com a Aplic
Descrição
Apresentação da pesquisa as colaboradoras das En
migrantes
Integração
Aplicação do instrumento dos dados obtidos
de pesquisa
71
CAPÍTULO III
Talvez ela não se sinta bem onde hoje reside, e tenha saudades de sua
moradia de outrora, que, sem mais nem menos, abandonou, ou teve de
deixar contra sua vontade. Será devorada por essa dor de estar distante. No
fundo e o escuro se encontra, de algum modo, a pátria de sua infância. Atrás
da casa aparece, logo, a casa, não mais como um real ponto de referência,
mas como um território central de todas as relações espaciais. (BOLLNOW,
2008, p.61).
Os fremd são, no uso mais antigo do idioma, os estrangeiros, os que não têm
por pátria nosso local de moradia. O trânsito moderno de estrangeiros
procura atraí-los. Mas que as pessoas viajem para o exterior pela simples
alegria de mudar é somente um fenômeno muito tardio. Antigamente se
falava da “miséria” da pessoa expulsa da própria pátria, que tinha de ir viver
no estrangeiro. (BOLLNOW, 2008, p.68).
19 Tradução: A leitura mais comum da fronteira nos aproxima de separação e diferenciação entre
estados e nações. Somos confrontados com reconhecida fronteiras políticas tornar-se guardiões da
soberania nacional e são marcados por marcos e símbolos específicos de poder, controle, defesa e
segurança. Em Espanhol, Português e galego, a palavra stripe / Raia expressa o duplo significado de
limite e de borda de área; a fronteira / Arraianos residentes são adjacentes e vizinhas que vivem em
ambos os lados
77
0,07
0,24
0,28
Gráfico 01: Perfil das Migrações. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero Migração
Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
No que se refere ao perfil que levou essas mulheres migrarem para o Brasil
destacamos com as que colaboraram com a pesquisa, a maioria migrou sendo
acompanhante do marido no total de oito das vinte e seis mulheres que responderam
o questionário, com os pais foi a segunda migração direta dessas mulheres para o
Brasil sendo sete do quantitativo de vinte e seis, as demais migrantes sendo no total
de seis deslocaram-se com alguns parente sendo estes ( tio, tia, irmã, irmão, primo ou
prima), outras três mulheres colaboradoras migraram quando de passeio a visitar
algum parente que já residia no município, algumas se deslocaram acompanhando
seus filhos. O percentual que se encontra estratificada são as mulheres que migraram
sozinhas de forma solitária. Dessa forma, ainda se passa por despercebidas como
sujeitos no processo migratório.
As contextualizações até aqui abordadas ainda são inconclusas, analisando o
perfil que gera o processo migratório dessas mulheres mostra que os fatores são
sempre norteados como coletivo, sobretudo no âmbito da família. Por essas
relevâncias que a dissertação se construiu diretamente por estudos diretos as
migrações femininas. Segundo Bilac (1995, p.69) “os estudos sobre migração
feminina contribuíram para a crítica das teorias migratórias baseadas nos modelos
79
0,06
0,03
situação economica passeio não respondeu
0,03
0,33
0,27
Gráfico 02: Perfil motivo da migração. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
O gráfico acima refere-se aos principais motivos que essas mulheres tiveram
em migrar para o Brasil, uma das abordagens que prevaleceu nos dados foi a busca
de trabalho, com um quantitativo de onze das vinte e seis mulheres que colaboraram
com a pesquisa no município de Guajará-Mirim, estas não se contemplavam com
ofertas de trabalho no seu país de origem. Em função da família e as melhores
condições de vida são dados com percentuais iguais no total de nove pesquisadas,
devidos algumas descrever mais de um motivo que levou a migrar, dentro desse perfil
as melhorias nas condições de vida está atrelada principalmente a ter um lugar para
morar, ter condições de propor para sua família subsistência familiar, já, as que
migraram devido a família eram ainda crianças quando saíram do seu país Boliviano.
A situação econômica é um dos fatores que também contribuiu com essa
migração feminina para o Brasil, muitos ainda generalizam a situação econômica com
o trabalho, no perfil das nossas pesquisadas a questão econômica até aqui
mencionada está diretamente ligada aos salários baixos que recebiam no seu local de
80
0,3
0,26
Gráfica 03: Perfil da Permanência no Brasil. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
Este dado acima retrata as algumas das dificuldades que essas migrantes
femininas encontraram para obter sua permanência no território brasileiro. Como os
dados foram bem diversificados, com mais de uma resposta, por ser aberta as
questões relatadas por essas migrantes, os percentuais das vinte e seis “oito” não
tiveram dificuldades na sua permanência no Brasil, devido seus pais já viverem no
Brasil. À outra questão que contribuiu para a dificuldade da permanência dessas
mulheres e seus familiares no Brasil no início foi seu dialeto, onde muitas não
conseguiam se comunicar com os brasileiros isso fazia com que muitas se sentissem
envergonhadas.Quatro das vinte e seis colaboradoras sentiram dificuldade na
regularização dos seus respectivos documentos como a transcrição das certidões
bolivianas para certidão brasileira, as questões financeiras para darem entrada na
Polícia Federal.
Os outros percentuais com menor quantitativo descritos por essas mulheres
foram em encontrar emprego e nos estudos, esses dois pontos descritos são
principalmente por falta de documentação brasileira. Nos estudos as pesquisadas
81
sentiam dificuldade por não possuírem sua documentação brasileira e nem boliviana,
outras não podiam concluir devido ter que trabalhar ostensivamente para ajudar a
manter o sustento da sua casa. Encontrar emprego era também outra questão que
contribuiu para as dificuldades de algumas mulheres muitas atreladas pela falta da
conclusão dos seus estudos. As dificuldades na permanência são muitas, os fatores
que colaboram nessa migração feminina, desde a financeira até nos estudos.
Para maior compreensão da permanência dessas mulheres no Brasil foi
preciso adotar por décadas o período que as mesmas residem no município de
Guajará-Mirim, os dados são iguais na permanência de um a dez anos e vinte a trinta
anos, dados este que descreve a maior migração feminina vinda para essa área de
fronteira que foi impulsionada principalmente por questões econômicas e sociais
vividas em seu país na Bolívia.
Gráfico 04: Quantos anos reside no Brasil. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
NÃO 21
TOTAL 26
Tabela 01: Recebe benefício do Governo Boliviano. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de
Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
TOTAL 26
Tabela 02: Recebe benefício do governo Brasileiro. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de
Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
3.5 RENDA
Agricultora Do Lar
0,06 0,03 0,14 Autônoma Atendente em lan-
0,2 0,14 chonete
0,19
0,31
Menos de um sálario
Um sálario
Mais de um sálario
0,5
Gráfico 06: Renda da Família. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
30
25
20
15
10
0
SIM NÃO RESPONDEU
Gráfico 06: Sente-se satisfeita morando no Brasil.FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de
Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
“Não tem o que reclamar sem luta ninguém vence o desistente nunca vence é o
vencedor nunca desiste”
“Sentimento grande pela terra que dá o pão”
“Era difícil a vivência lá tinha muita dificuldade aqui eu me sinto realizada”
“Nessa cidade montei a loja e pode conhecer a religião denominada evangélica esse
foi o motivo que me fez permanecer no país”
“tengo tanta ayda de las personas aqui”
“me comporto y respeito mucho los brasileños”.
0,31
SIM NÃO
0,69
Gráfico 08:Sofreu algum tipo de discriminação no Brasil. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações
Sociais de Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
Na tabela acima retrata de como essas mulheres lidam com tal forma de
comportamento que a sociedade no século XXI, das vinte e seis que responderam o
questionário oito sofreu o ato diretamente esse comportamento de exclusão, outras
quatro migrantes abordaram que não sabiam expressar a situação tomada, outras
aprenderam a lidar com a situação, outra nunca procurou tirar satisfação pelos fatos
ficando calada, já duas procuravam se defender e buscaram seus direitos aos órgãos
competentes como delegacias e outros. Uma das pesquisadas relata a fala de uma
das ofensas dita por um brasileiro.
0,04
0,15
contempladas (feliz,
satisfeitas)
insatisfeitas
não respondeu
0,81
Gráfico 09: Como se sente na condição de ser migrante. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais
de Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
ou não. No total de quatorze das vinte e seis não sentem vontade de retornar a sua
terra natal. Já doze dizem querer voltar para perto das famílias e seus parentes.
14
12
10
0
Não SIM não respondeu
Gráfico 10: Sente vontade de voltar ao seu país de origem. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações
Sociais de Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.
“Não pretendo voltarpor que sofri muito com a ausência da família por anos,
minha mãe me abandonou aos um ano de idade e meu pai faleceu quando tinha seis
anos e fui morar com os irmãos”
“Não pretendo voltar me sinto brasileira”
“Tudo que eu consegui até aqui foi conquistado no Brasil”
As colaboradoras que pretendem voltar ao seu país de origem a Bolívia são
algumas pessoas que querem ficar junto de seus familiares que lá deixaram e devido
sua situação econômica no momento vivido no Brasil.
“Pretendo voltar devido à economia no Brasil está ruim para mim”.
“Sim mais quando puder comprar uma casa lá”.
“Por ser idosa sim quero ir morrer lá na minha cidade natal”.
91
Capítulo IV
92
Para que o leitor possa reconhecer o lugar que foi desenvolvida a pesquisa,
mesmo sem ir ao local, torna-se necessário usar recursos tecnologicos de mídia,
nesse caso, as fotografias. As idas a campo para buscar informações se iniciaram em
93
2015 e continuaram até hoje, sendo que no ano de 2016 foi realizado com maior
intensidade no mês de junho como nos relatos de campo abordado nos
procedimentos metodologicos. As idas eram realizadas por transporte ciclisticio.
As fotografias retratam diferentes ida a campo, mas, principalmente, as
realizadas na associação dos bolivianos e outras nos setores de atividades dessa
migrantes femininas, tornando-se possível acompanhar o dia-a-dia dessas mulheres
A ida a campo se iniciava bem cedo, ou pelo período da tardinha era quando
podia encontrar as mulheres em suas residências, muitas que colaboraram com a
pesquisa que trabalham na feira municipal pediam que fosse no período que não
houvesse movimento para não atrapalhar no atendimento dos clientes. Um dos
principais problemas era o sol forte que havia que lidar nas idas a campo devido o
único meio de transporte que utilizei foi bicicleta. Portanto, todas as idas a campo
tiveram seu grau de importância, pois somente ao longo dessa vivencia é que se
torna possível realizar a descrição verdadeira da vida dessas migrantes, suas
dificuldades, suas lutas e, também, suas vitórias enquanto ser migrante,
principalmente por serem mulheres que buscam seu conhecimento na sociedade
fronteiriça.
Fotografia 8 - Local de compra de passagens embarque e desembarque.
Guayaramerín. Bolívia. E lado brasileiro Guajará- Mirim/ Brasil
Como estamos tratando de fronteira entre duas “cidades gêmeas”, não se pode
deixar de perceber a relação da interação entre essas cidades diariamente, na parte
interna do porto encontra-se cambista que se acomodam para fazerem as trocas de
moedas do real para o dinheiro boliviano. Mas a frente do porto se encontra moto
taxista, meio de transporte que as pessoas utilizam muito no seu dia-a-dia, para
poderem fazer todo percurso na cidade boliviana. Esse meio de transporte e muito
95
Essa foi uma das muitas entrevistas realizadas com a Dona Lola Araujo,
secretaria e apoiadora das causas dos migrantes, essa mulher desenvolve um papel
nobre na vida dessas migrantes que residem no município de Guajará-Mirim, muitas
querem se regularizar enquanto cidadãs brasileiras. Os momentos foi atordoado
devido pessoas lhe procurarem para pedir orientação nos processos junto da polícia
federal, foi também num desses momentos que fui realizando a aplicação dos
questionários com as mulheres. Podemos pontuar alguns dos motivos que reduz o
número de migrantes se regularizarem no Brasil: a falta de informação para essas
pessoas, pois, dona Lola só se encontra duas vezes na semana na pastoral em
horários muitos curtos meio período, mesmo assim, ela desenvolve um papel digno
junto á essas mulheres, e como a procura e grande muitos desistem pelo meio do
processo. Outras situações que foi visto a questão econômica dessas migrantes para
transcrever a documentação e pagar as taxas da polícia federal que chega
aproximadamente uns quinhentos reais, só, na polícia federal. Mesmo assim, essa
pastoral e o ponto de apoio para essas migrantes, sendo também para minha
pesquisa de campo sempre tendo sido bem recebida pela dona Lola.
Momento de entrevista na sala da secretaria da Pastoral do Migrante na
Diocese. Dona Lola, colaboradora da pesquisa me dispôs relatórios anuais que a
mesma descreve anualmente, com a entrada das migrantes que procuram apoio na
99
atividade no comercio, algumas só ficam na feira devido sua mãe está doente e não
ter quem fique para fazer a venda no comercio. Na segunda imagem a migrante uma
de nossas colaboradoras da pesquisa, ela desenvolve o comercio há mais de quinze
anos no mesmo local, de início era ajudando sua mãe hoje ela quem toma conta do
todo comercio. O comércio sempre é abastecido por verduras e legumes vindos das
hortas que outras migrantes bolivianas plantam os produtos que são consumidos
diariamente, dentre eles são couve, quiabo, maxixe, pimentas, salsas, banana e
outros como batatas, cebolas, tomates, farinha. Na última crise da enchente que o
município passou o que abastecia esse mercado eram produtos que vinham pela
Bolívia e chegavam a Guayaramerín depois transportado até o porto de
Guajará-Mirim, até então chegar para nas bancas da feira.
Aqui se descreve a luta e percurso até a “horta” para mostrar o cotidiano que
faz durante todo o dia no seu espaço privado as migrantes bolivianas. Essa
colaboradora da fotografia dois desenvolve a agricultura como sendo a principal renda
de sua subsistência e manutenção familiar. Momento em que estava em campo
vivenciando a realidade das colaboradoras, era quase fim de tarde, o dia Foi de
intenso trabalho para nossa pesquisada, a mesma tem quatro filhas, vive da
agricultura tanto para subsistência quanto vender nos pequenos comercio do
município.
Muitos comércios são abastecidos com as hortaliças que são cultivadas por
mulheres chefes de família, elas cuidam desde o plantio até a colheita e depois cuida
da venda junto aos comércios existentes em Guajará-Mirim, a maior concentração
dessa venda é realizada no bairro dez de abril, no planalto, e na feira municipal, onde
se concentram um grande número de mini mercados para abastecer a população
local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
direcionada as mulheres, uma vez que, estão sendo as propulsoras desse novo
cenário migratório sendo cada vez mais dinâmicos e complexos, apontando para a
necessidade de avanços teóricos para melhor seu entendimento.
Para compreender o processo migratório que essas mulheres desenvolveram
foram selecionadas de forma que aproveitasse encontrar o maior número de
colaboradoras para aplicação dos questionários o instrumento da pesquisa. Partindo
desse aproveitamento, foi na associação dos bolivianos que desenvolvemos maior
parte da contextualização da pesquisa, uma vez que, foi preciso identificar se teria por
partes dos governos bolivianos ou brasileiros algum tipo de políticas públicas voltadas
para amparar essas mulheres migrantes neste município.
Uma outra área que também foi desenvolvida a pesquisa, foi no bairro planalto
nas áreas de cultivos da agricultura dessa mulher, e com vizinhas próximas. Dentre
estas, a feira municipal também fez parte desses estudos como sendo área de maior
localização de migrantes bolivianas. Quando refiro-me forma aleatória das
pesquisadas estou resguardando sua identidade enquanto ser migrante legal, ou
migrante ilegal neste município.
Perguntas semi-estruturaras e observações fizeram compreendermos a o
modo de vida dessa mulher que sempre é voltada para manutenção familiar e como
foi o percurso até sua chegada no seu novo lugar de morada. E neste sentido que o
estudo de gênero vem contribuindo com os estudos de migração nessa área de
fronteira.
Tal processo migratório que essas mulheres desenvolveram foi direcionado
para acompanhar o marido, os pais, ou outros parentes sendo tia, irmã, para
acompanhar filhos que já moravam no Brasil ou a passeio e não retornou a seu país
de origem, umas das abordagens de extrema complexidade que algumas das nossas
colaboradoras migraram em função de assédio sexual vindo por pessoas próximas do
convívio familiar ou vizinho, estas migraram de forma foragida para não sofrerem
abusos sexuais.
Dentro das perspectivas migratórias constatamos que muitas migram para
atender as dimensões espaciais do próprio individuo, ou, familiar e domiciliar. A
manutenção familiar e sempre que quase a exclusiva para as mulheres que migraram
em períodos de sua infância ou adolescência. A migração passa de forma objetiva
sendo busca de trabalho para muitas, tendo como seguimento melhorias de vida e
107
devido os familiares, umas por terem parentes já morando no Brasil, esses são os
principais motivos que impulsionam essas mulheres a migrarem para este município.
Outras abordagens foram conclusivas para nossa dissertação, sendo, quais
foram às dificuldades encontradas por essas mulheres bolivianas encontradas no
Brasil com maior percentual não tiveram dificuldades, outras, por falar idioma
espanhol, e se regularizar com a documentação expedida pela Polícia Federal foram
um dos entraves que essas mulheres estiveram enquanto ser migrante.
Identificamos, ainda, que as formas de trabalho desenvolvido por essas
mulheres ainda, são dentro dos espaços domésticos e algumas comercio e
agricultura. Mesmo que estas desenvolvam diversas atividades a sua renda acaba
sendo inferior a um salário mínimo.
Quanto às questões sobre discriminação por ser migrante algumas sofreram
por serem bolivianas, questões sociais, e por falarem outro idioma no caso das
nossas colaboradoras falarem o espanhol. Algumas também nos relataram que o
preconceito se perpassa aos seus descendentes filhos, sobrinhos, irmãos.
Do universo pesquisado, foram aplicados vinte e seis questionários
direcionadas as mulheres bolivianas. Neste contexto, explicita-se que as relações
sociais de gênero foram diretamente direcionadas para elas, mesmo assim notou-se
que os programas e políticas públicas elas são invisibilizadas nessa área de fronteira.
A igualdade de gênero caminha a passos lentos nessa fronteira entre Brasil/Bolívia,
sendo que, mesmo que elas sejam reprodutoras do seu espaço ainda fica sendo
desprivilegiada nas questões sociais.
O estudo permitiu identificar as novas singularidades existentes nas áreas de
fronteira de terceiro mundo, partindo do processo migratório, especificamente as
mulheres. Sendo estes direcionados as relações sociais saindo do seu território,
ultrapassando a área de fronteira Brasil e Bolívia, bem como investigar o seu modo de
vida, a partir dos estudos e discussões de gênero, e também, se encontraram
estabilidade no Brasil. Foi através do modo de como essas mulheres vivem que
tentamos chegar mais próximo da realidade e tentando representá-las dentro de uma
contextualização até aqui então ignorada, pelo processo migratório e configuração
sócio espacial. Espaço aqui que trouxemos dando ênfase à categoria de análise lugar,
sendo que o lugar está dentro do espaço não podendo os dois se dividir na
configuração espacial dessas mulheres.
108
Constatamos ainda que um dos principais fatores que deixam essas mulheres
invisibilizadas é que as mesmas não possuem sua legalização junto aos órgãos
competentes, sua documentação de permanência no Brasil. Diante disso, faz com
muitas fiquem vulneráveis aos serviços degradantes e sujeitas aos diversos tipos de
privação dentro e fora do seu espaço privado.
Mesmo que as políticas públicas brasileiras contemplem as mulheres
migrantes, muitas ainda desenvolvem como forma de renda para subsidiar os anseios
familiares. Um dos programas que atendem essas mulheres e sempre destinada à
família como o “bolsa família” e algumas já mais idosas a aposentadoria pelo INSS
previdência brasileira. Dentro de todo esse processo político migratório só podem ser
contempladas as que se encontram com sua documentação brasileira regular.
A relação entre as ações social propostas para essas mulheres migrante,
sendo estas, documentadas ou não são bem peculiares. As que são documentadas
são atendidas iguais que as brasileiras nesse território. Já as que não são
documentadas têm que muitas das vezes buscar o atendimento assistencial no seu
país de origem ou aguardar algumas ações desenvolvidas pelo governo boliviano
juntamente do consulado e associação dos bolivianos.
Os principais problemas enfrentados por essas mulheres sem documentação
são na saúde e na educação, assim, se tornam pessoas fragilizadas em meio a
sociedade. As principais atividades desenvolvidas por aquelas que residem em áreas
rarefeitas e em lixões catam materiais para reciclagem e se manterem em sua
sobrevivência em Guajará-Mirim.
Dentro dos resultados expostos nesta pesquisa conclui as possibilidades de
estudos e aprofundamento da temática, pretende servir como ponto de referência
para a compreensão do processo migratório feminino e suas respectivas questões de
gênero no contexto de migração internacional e da ciência geográfica. Espera-se, por
fim, contribuir com os futuros estudos sobre migração feminina internacional que
sejam efetivadas no município de Guajará-Mirim com área de fronteira em
Guayaramerín.
REFERÊNCIAS
AMARAL, José Januário Oliveira, LEANDRO, Ederson Lauri, OLIVEIRA, Valéria de.
Migração: múltiplos olhares. São Carlos: Pedro &João Editores/ Editora da UNIR-
EDUFRO, 2011.222P.
BEAUVOIR, Simone. (1980) O Segundo Sexo, vol. I. tradução de Sérgio Milliet, Rio
de Janeiro: Nova Fronteira. Edição, 2009.
GREGORY, D., MARTIN. Teoria Social e Geografia Humana. In: GREGORY, D.,
MARTIN, R. e SMITH, G. (org.). Geografia Humana. Sociedade, espaço e ciência
social.
MOROKVASIC, M.; EREL, U.; SHINOZAKI, K. (eds) Crossing Borders and shifting
boundaries. Vol I, Gender on the move. Oplanden, 2003.
OLIVEIRA, Tito Carlos Machado. Para Além Das Linhas Coloridas Ou Pontilhadas
– Reflexões Para Uma Tipologia Das Relações Fronteiriças. In. Revista da
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege).
p.233-256, V.11, n.15, jan-jun.2015.
113
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.
SILVA, J.M & SILVA, A.C.P. (org) Espaço, Gênero e Poder: Conectando Fronteiras.
Ponta Grossa-PR: TODAPALAVRA, 2011. SILVA, J. M. Geografia e Gênero no Brasil:
uma análise da feminização do campo científico. Ateliê Geográfico – Revista
Eletrônica. UFG, 2009.
TRIGAL, Lorenzo López director. Fernandes, Alberto Rio, Fighera, José Delfina
Trinca, Sposito,Eliseu Savério. Coordinadores. Diccionario De Geografía Aplicada Y
Profesional: Terminología De Análisis, Planificación Y Gestión Del Territorio; --
[León]: Universidad de León, 2015.
115
APÊNDICE
Apêndice A: Questionário elaborado pelo GEPGÊNERO, utilizado para levantar dados de áreas
estudadas pelo Grupo
117
1-Profissão
2- Renda familiar
( ) 1 a 3 salários
( ) 4 a 6 salários
( ) 7 a 10 salários
( ) Outros: detalhar______________
( ) sim ( ) não
Sim ( ) Não ( )
6 Processos Migratórios
Justificar:________________________________________________________
_______________________________________________________________
______________________________________________
7 Por que você migrou? (O que levou você a sair do seu país de origem/ local)
9 Quais foram suas maiores dificuldades encontradas no Brasil por ser migran-
te?
15 E do Governo Brasileiro?
119
16 Que Instituições Brasileiras dão apoio para sua legalização aqui no Brasil?