O Vôo Das Andorinhas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANA CARLA TABORGA DA SILVA

“O VÔO DAS ANDORINHAS”


MULHERES QUE MIGRAM: ESTUDO NA FRONTEIRA ENTRE GUAYARAMERÍN-BOLÍVIA
GUAJARÁ-MIRIM RONDÔNIA/BRASIL

PORTO VELHO-RO
2017
ANA CARLA TABORGA DA SILVA

“O VÔO DAS ANDORINHAS”


MULHERES QUE MIGRAM: ESTUDO NA FRONTEIRA ENTRE GUAYARAMERÍN-BOLÍVIA
GUAJARÁ-MIRIM RONDÔNIA/BRASIL.

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em


Geografia da Universidade Federal de Rondônia como
requisito para a obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª Drª Maria das Graças Silva Nascimento
Silva
Linha de Pesquisa: Território, Representações e Políticas
de Desenvolvimento-TRSD.

Porto Velho/RO
2017
DEDICATÓRIA

A minha família, em especial aos meus


filhos, Carlos Henrique, Antônio Carlos,
Gabriel Carlos e Carlos Miquéias. Ao meu
esposo, Adão Carlos, por todo carinho,
dedicação, força e atenção, que tem me
dado todos esses anos. Ao meu porto
seguro avó dona Marta, mãe Vera, irm@s.
AGRADECIMENTOS

A Deus, Senhor de toda a existência nesse mundo e da minha vida. Obrigada


pela saúde, persistência para não desistir diante das dificuldades e pela força durante
toda a caminhada desde a Graduação até ao Mestrado.

A todas as mulheres migrantes bolivianas, que me concederam um pouco do


seu tempo para que pudesse aplicar o instrumento da pesquisa os questionários. Tive a
oportunidade de viajar a diversos lugares, sem me ausentar de minha cidade, apenas
em ouvir suas histórias de vida, que foram comigo compartilhadas; Sem essas
colaboradoras, não seria possível a realização da pesquisa.

A minha orientadora e amiga, Professora Drª. Maria das Graças Silva


Nascimento Silva, por ter cedido seu tempo e acreditado em mim, sem ela não estaria
aqui descrevendo este trabalho que foi feito com muito amor e carinho. Professora, as
palavras são poucas para expressar a tamanha admiração e consideração que tenho
pela senhora. Você é exemplo de mulher que não se deixa abater por qualquer coisa,
Deus não poderia ter colocado outra pessoa tão especial em meu caminho.

A todos os professores da Graduação sendo eles Dorisvalder Nunes, Adnilson


de Almeida, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, em especial ao Professor
Dr. Josué da Costa Silva. Foi por meio dele que pude dar início a vivência acadêmica
no grupo de pesquisa na Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Aos demais
funcionários, principalmente a nossa Técnica de Assuntos Estudantis Patrícia Cardoso
pela atenção e contribuição, enquanto discente.

A CAPES, pela concessão da bolsa de estudo, que foi um meio de fundamental


importância para a realização da pesquisa.

As amigas que fiz enquanto estudante da Graduação, em especial a Simone


Marques que sempre se dispôs ao meu auxílio em diversos momentos.

A minha comadre Mestra Viviane Nery da Silva, pois por muitos obstáculos
passamos juntas, pelas idas a campo no processo da aplicação dos questionários.

A todos os meus colegas de mestrado da turma 2015/1, em especial a@s


amig@s Meridiana Soares, Suzanna Dourado, Moisés Santos, Edson Cavalari e
Francilene Sales (poderosa). Foram momentos mágicos vividos a um curto período
com vocês, mas serão lembrados com muito respeito e admiração.

A todas as amigas pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas em


Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero (GEPGÊNERO), especialmente à
Telma Fortes e Luciane Lopes que por anos me acompanharam sendo minhas
co-orientadoras na iniciação cientifica, Gracimar Moreira, Kelyany Góes, Tainá
Trindade, Elisângela Ferreira e Bruna Cristina pelas discussões, Seminários, Leituras,
Cine Gênero, trabalhos de campo e, também, pelos momentos de descontração.
Estendo os agradecimentos às amigas e aos amigos do Grupo de Estudos e Pesquisa
Modo de Vida e Cultura Amazônica (GEPCULTURA).

A minha família, mãe e meus irmãos que são meu porto seguro, onde, eu pude
buscar sempre consolo nos momentos de “curto e crise intelectual”, pessoas
fundamentais na minha vida, foram meu alicerce para que eu pudesse chegar até aqui.

Aos amigos da cidade de Guajará Mirim, em especial Miguel Oreay, Augusta,


Bethânia, Alcineide Nery, Glória, Osmarina, Conceição, pelo apoio e pela ajuda de
sempre.

A minha avó Dona Martha que foi a provedora desse estudo, minha admiração
por ela é sem igual, pois sempre batalhou para ajudar sua família sem deixar perder
sua história vivida por mais de 50 anos no Brasil. Uma migrante boliviana que nunca
perdeu sua essência, minha matriarca. Eterna será minha gratidão a você minha
vózinha.

A todos da Igreja Comunidade Santa Teresinha, dona Fátima, Maria da


Conceição, Maria das Dores, Marcos, Evelyn, Francisca, Daiane, Lindalva, Maria
Vitória, em especial o Padre Sebastian pelo apoio espiritual e discernimento cristão.

Ao meu esposo, Adão Carlos, por sua tamanha dedicação aos nossos filhos,
diante da minha ausência. Foram dois anos de idas e vindas para reencontrar a família,
pois, os mesmos residem em outro estado. A sua persistência foi inigualável pelo nosso
matrimônio. Sou eternamente grata a você meu esposo.

Ao representante do setor de Migração instalado no departamento da Policial


Federal, o policial federal Alexandre, que com muita sutileza se dispôs a contribuir com
a pesquisa desenvolvida, nos disponibilizando informações e dados para melhor
compreensão de todo processo migratório destas mulheres neste município.

A Dona Lola, secretária do setor da Diocese de Guajará-Mirim/RO e Serviço


Pastoral dos Migrantes, fornecendo relatórios que me possibilitou entender a dinâmica
socioespacial da mobilidade dessas mulheres bolivianas no território Brasileiro.

Agradeço também ao presidente da Associação dos Bolivianos, Sr. Rolando


Añes Parada, o mesmo foi um os fundadores da Associação instalada no município de
Guajará-Mirim. Sua contribuição foi muito pertinente, uma vez que, explicitou o papel
que tem a Associação na vida dos bolivianos residentes no Brasil.

Até o ultimo momento desta dissertação surgiram amigos que engrandeceram


este trabalho, como: Jaqueline, Gilceli Correia, Rogério, Tiago, Edgar Castro, Tamires
Cunha, Débora Barbosa, Jefferson ao professor Eliomar que sempre se preocupou
com minha ausência e presença na Universidade, foram momentos únicos nesta
trajetória.

Meus últimos e sinceros agradecimentos são destinados a banca que participou


deste momento ímpar da minha vida, á Coordenadora do Programa de Doutorado e
Pós-Graduação da Universidade Federal de Rondônia- UNIR, Profª. Drª Maria
Madalena Cavalcante estimo meus cumprimentos, pelo seu dedicado trabalho ao curso
de Geografia desta Universidade. Agradeço á Profª. Drª. Rosa Martins do Instituto
Federal de Rondônia- IFRO, com suas contribuições ao trabalho, desde a qualificação
até defesa final, todas arbuições foram geradores de aperfeiçoamento do trabalho,
sempre contribuindo para construção da ciência geográfica especificamente ao tema
proposto “Migração Feminina Internacional”.
RESUMO

Este estudo refere-se a uma abordagem no processo migratório que caracteriza a partir
da participação feminina, com levantamento das atividades e ocupação espacial das
mulheres bolivianas em Guajará-Mirim, município do estado de Rondônia. O mesmo
descreve as “condições de vida” e o cotidiano das mulheres bolivianas, tanto no que se
refere ao trabalho, quanto á vida familiar, no espaço privado e público. O objetivo do
presente estudo foi estudar a configuração dos movimentos migratórios que as
mulheres bolivianas desenvolvem saindo do seu território e ultrapassando a área de
fronteira entre a Bolívia e a Brasil, bem como analisar o seu modo de vida, a partir, dos
estudos e discussões de gênero e se há estabilidade no Brasil. A metodologia utilizada
privilegiou estudos qualitativos e quantitativos a partir da abordagem dialética do
processo migratório, da relação entre fronteira e sociedade. Foram aplicados 26 (vinte
e seis) questionários, com observações participativas para compreensão do cotidiano
familiar e do trabalho feminino no momento das entrevistas. A análise dos dados
permitiu identificar que os processos migratórios entre as mulheres são bem singulares,
tanto no que se refere a sua permanência, quanto às relacionadas ao trabalho.
Verificamos que as mulheres exercem atividades diversas no mercado de trabalho,
sendo que a remuneração de todo seu trabalho desenvolvido serve para a manutenção
da família. É conclusivo que essa mobilidade feminina e sua participação social
situam-se ás margens da subsistência familiar sempre recriando elo de “chefe de
família” e desenvolvendo muitas das vezes diversas jornadas de trabalho.

Palavras-chave: Fronteira. Gênero. Lugar. Migração Internacional.


ABSTRACT

This study refers to an investigation in the migratory process that characterizes from the
female participation, with survey of the activities and space occupation of Bolivian wo-
men in Guajará-Mirim, municipality of the state of Rondônia. It describes the conditions
of life and daily life of Bolivian women, both in terms of work and family life, in the priva -
te and public space. The objective of the present study was to study the socio-spatial
configuration of the migratory movements that Bolivian women develop leaving their ter -
ritory and crossing the border area between Brazil and Bolivia, as well as analyzing their
way of life, from studies and And the search for stability in Brazil. The methodology used
privileged qualitative and quantitative studies based on the dialectical approach of the
migratory process, the relationship between the border and society. Twenty-six (26)
questionnaires were used, with simple observations to understand daily family and fe-
male work at the time of the interviews. The analysis of the data allowed to identify that
migratory processes among women are very unique, both in terms of their permanence
and those related to work. We verified that women perform different activities in the la-
bor market, and the remuneration of all their work is for the maintenance of the family. It
is noticeable that this female mobility and social participation are located along the mar-
gins of family subsistence, always recreating the "head of the household" link and often
developing several working days.

KEYWORDS: gender, border, place, international migration.


LISTA DE FOTOGRAFIA

Fotografia 1: Mulheres Migrantes na Associação dos Bolivianos. 23

Fotografia 2: Mulheres no Momento da chegada na Associação 50


dos Bolivianos Guajará-Mirim /RO

Fotografia 3: Embarcações no rio Mamoré lado Brasileiro, principal meio 58


de transporte entre a fronteira Brasil/ Bolívia.

Fotografia 4: Imagem da qual retrata os caminhos que os imigrantes 56


Percorrem no território brasileiro.

Fotografia 5: Encontro de Mulheres Bolivianas para Comemoração do 71


dia das Mães. Sede Associação dos Bolivianos.

Fotografia 6: Representação da Bandeira nacionalidade Boliviana. 72

Fotografia 7: Porto de Guayaramerín Bolívia, embarcações que 96


transportam os moradores entre os Município de Guajará- Mirim e Guayaramerín.

Fotografia 8: Local de Compra das Passagens Embarque e Desembarque 92

Fotografia 9: Área Interna do Porto fluvial/ Guayaramerín/Bolívia 93

Fotografia 10: Plazza Plácido Del Castro em Guayaramerín/Bolívia 94

Fotografia 11: Sede Associação dos Bolivianos Comemoração do dia 95


das Mães 28/05/2016 Guajará-Mirim/RO.

Fotografia 12: Ação Cívica- Social realizada na Associação dos Bolivianos 96


Guajará-Mirim/RO.

Fotografia 13: Entrevista com Secretaria Pastoral do Migrante-Diocese 97


de Guajará-Mirim/RO.

Fotografia 14: Centro de Conferência São José Guajará-mirim/RO 98

Fotografia 15: Feira Municipal de Guajará-Mirim/RO 99


Fotografia 16: Momento da Aplicação do Instrumento da Pesquisa 100
Guajará-Mirim/RO

Fotografia 17: Área de Produção de Cultivo Bairro Planalto Guajará-Mirim/RO 101

Fotografia 18: Área de Produção e Mulher Chefe de Família Guajará-Mirim/RO 104

Lista De Gráficos

Gráfico 01: Perfil das Migrações 77

Gráfico 02: Perfil Motivo da Migração 78

Gráfico 03: Perfil Permanência no Brasil 79

Gráfico 04: Tempo reside no Brasil 81

Gráfico 05: Profissão 83

Gráfico 06: Renda 84

Gráfico 07: Senti-se Satisfeita morando no Brasil 85

Gráfico 08: Discriminação Sofrida no Brasil 82

Gráfico 09: Como se sente na condição de ser migrante 88

Gráfico 10: Retornar ao seu país de origem 89

Lista De Tabelas
Tabela 01: Recebe algum benefício do Governo Boliviano. 82

Tabela 02: Recebe algum benefício do governo Brasileiro. 82

Lista De Figuras
Figura 01: Mapa de lócus da Pesquisa Guajará Mirim 50

Figura 02: Arcos da Faixa de Fronteira 46


Lista de Quadro

Quadro 01: Órgãos é Instituições 58

Quadro 02: Como Agem Diante das Discriminações 87

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALCGM - Área de Livre Comércio de Guajará-Mirim.

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior.

DPF- Departamento Polícia Federal.

FAB -Forças Aérea Brasileira.

GEPGÊNERO – Grupos de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações


Sociais de Gênero.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

PDFF-Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira.

PRPDFF -Proposta de Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de


Fronteira.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis.

S.A- Zona Franca Guayaramerín.

SEMED – Secretaria Municipal de Educação.

SEMUSA – Secretária Municipal de Saúde.

UNIR - Universidade Federal de Rondônia.


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO..........................................................................................................16

INTRODUÇÃO...............................................................................................................18

CAPÍTULO 1 - CIÊNCIA GEOGRÁFICA E GÊNERO: ABORDAGEM TEÓRICA DA


PESQUISA.....................................................................................................................23

1.1 Estudos Teóricas da Geografia e Gênero como Categoria de Análise....................24

1.2 Categoria de Análise: O lugar...................................................................................27

1.3 Da Luta Feminista à Conquista das Feministas.......................................................29

1.4 As Migrações Femininas dentro da Concepção Geografia Feminista......................31

1.5 Relações de Gênero: Etapas Migratórias.................................................................35

1.6 Cultura: a partir da Geografia Cultural......................................................................39

1.7 Fronteira e Migração Internacional...........................................................................41

CAPÍTULO 2 - MÉTODO E METODOLOGIA...............................................................50

2.1 Caracterizando A Área Da Pesquisa.......................................................................51

2.2 Abordagem Metodológica Aspectos Sociais e Culturais.........................................59

2.3 Método.....................................................................................................................64

2.4 Trabalho de Campo.................................................................................................66

2.5 Pesquisa Qualitativa................................................................................................66

2.6 Observação Participante.........................................................................................68

2.7 Relatos de Campo...................................................................................................69

2.8 Procedimentos para Coletas de Dados...................................................................73


CAPÍTULO 3 - GUAJARÁ-MIRIM: MIGRAÇÃO INTERNACIONAL DE MULHERES
BOLIVIANAS.................................................................................................................71

3.1 Mulheres Bolivianas.................................................................................................72

3.2 Enfoque de gênero: vivência das mulheres na fronteira Brasil/Bolívia....................75

3.3 Perfil Migratório........................................................................................................77

3.4 Políticas publicas e Ações para Mulheres Bolivianas .............................................82

3.5 Renda......................................................................................................................83

3.6 Questões Sociais.....................................................................................................84

3.7Dinâmicas da vida dessas mulheres na fronteira entre Brasil e Bolívia...................90

CAPÍTULO 4 - MIGRAÇÃO ATRAVÉS DAS IMAGENS............................................91

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................104

REFERÊNCIAS..........................................................................................................108

APÊNDICE.................................................................................................................116
16

APRESENTAÇÃO

A trajetória no estudo da ciência geográfica teve início, em 2009, quando


ingressei no curso de geografia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). No
mesmo ano participei do evento Núcleo de Estudos em Espaço e Representações
(NEER), fiz parte da comissão organizadora do evento a convite do professor Josué
da Costa e Silva que ministrava a disciplina de Metodologia Cientifica. No segundo
semestre da Graduação, passei, então, a fazer parte do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Geografia, Mulheres e Relações Sociais de Gênero (GEPGÊNERO),
coordenado pela Professora Maria das Graças Silva Nascimento Silva, a partir do ano
de 2010, comecei a estudar as discussões de gênero e a perceber quão é importante
seu estudo para compreendermos as relações sociais no meio em que vivemos. É
quebrar paradigmas construídos na sociedade em relação aos homens e as
mulheres.
O ingresso no GEPGÊNERO me proporcionou participar do Programa de
Iniciação Cientifica (PIBIC), da mesma universidade, tendo permanecido durante dois
anos e meio estudando a temática de gênero. No primeiro momento realizei uma
pesquisa voltada à questão de gênero no meio rural ribeirinho intitulado “Relações de
Gênero na área Rural Ribeirinha” (Plano de Desenvolvimento Sustentável do
Assentamento – PDSA), realizada durante o ano de 2010 a 2011. Minha outra
pesquisa de iniciação científica continuou com o mesmo eixo temático e teve como
título “A Divisão Sexual do Trabalho no Assentamento Rural Ribeirinho: PDSA Distrito
de Nazaré”, julho de 2011 a dezembro de 2012, todas realizadas sob a orientação da
professora Maria das Graças Silva Nascimento Silva.

As pesquisas desenvolvidas, durante esse período, foram de grande


aprendizado ao conhecimento cientifico para a Elaboração do projeto de pesquisa em
ingressar no Mestrado. Toda minha trajetória acadêmica esteve envolvida com o
grupo de pesquisa, aqui mencionado, GEPGÊNERO, com o estudo das relações de
gênero e as condições das mulheres nos diversos setores que elas reproduzem e
configuram seu espaço.
Atualmente, o grupo de pesquisa GEPGÊNERO vem atuando em diversas áreas
de pesquisas em áreas rurais e áreas urbanas: Participar das pesquisas de campo
bem como de estudos direcionados as discussões de gênero nessas áreas, dia a dia.
17

Para finalizar a trajetória realizada até o presente momento da pesquisa, o


Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Geografia (PPGG), me
possibilitou seguir como discente da rede pública de ensino através dos
conhecimentos geográficos e científicos. Assim, como o grupo de pesquisa tem tido
uma grande e importante contribuição pessoal e científica no cotidiano, dentre os
espaços públicos e espaços privados. Essa trajetória incessante no campo da
pesquisa me trouxe até ao mestrado através de muitas labutas de idas e vindas a
Universidade e a campo, labutas essas prazerosas e satisfatórias quando se almeja
resultados de contribuição para sociedade e a ciência geográfica.
18

INTRODUÇÃO

“rosto sofrido, trabalho roubado” ano 1991.


“o migrante e educação, quem sabe faz à hora” ano 1998.
“o migrante e o desemprego, pão em todas as mesas” ano 1999.
“pátria é a terra que dá o pão”ano 2000.
“donde está el espírito santo, está el pueblo de dios” ano 2000.
“migração e drogas, escolha o caminho da vida” ano 2001.
“água é vida, não pode ser vendida” ano 2004.
“mensageiros de justiça e de paz, migração, solidariedade e paz” ano 2005.
“basta de migração forçada, migração vida e direitos” ano 2008
“sociedade e migração. Não ao preconceito, por direitos e participação!” ano 2015.
“vida em primeiro lugar” “que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos
consome?” ano 2015.
“migração e ecologia: o grito que vem da terra”ano2016

(Frases do Calendário do corrente ano do Serviço Pastoral dos Migrantes - SPM)

Na presente dissertação, buscamos compreender alguns contextos históricos


que exemplifique a realidade do processo migratório envolvendo os dois lados
fronteiriços, Brasil e Bolívia a partir dos estudos de gênero. Os estudos são
destinados as mulheres bolivianas, buscando sempre compreender sua relação com
o lugar migrado no caso deste trabalho em Guajará-Mirim/ Brasil. Com “O Vôo das
Andorinhas” título este que exemplifico as trajetórias de muito enfrentamento
daquelas
A fundamental importância, para o embasamento do tema, é a compreensão
de alguns conceitos que muitas vezes são confundidos e que estão presentes na
pesquisa apresentada. Primeiramente, discernir as diferenças existentes entre os
conceitos de sexo e gênero, para podermos ingressar na busca pelo conhecimento do
assunto referido e entendermos tais processos.
Essas abordagens de gênero e sexo contribuem para analisar o modo como
homens e mulheres configuram seus espaços ocupados. Sendo que as grandes
barreiras para equiparar a igualdade de gênero entre ambos, são visíveis em toda
contextualização em diversos campos do conhecimento, a presente dissertação terá
19

como tema central a migração feminina internacional, norteada nessa fronteira entre
Bolívia e Brasil.
No âmbito da pesquisa acerca dos fluxos migratórios entre os países que
compõem ao MERCOSUL1, a participação desses países traz um novo cenário na
mobilidade espacial de imigrantes 2 mulheres e sua possível permanência ou
circulação entre os países e suas fronteiras. Toda essa mobilidade espacial tem
ocasionado a feminização3 da imigração dos países latino-americano.
A presença dos homens, nesta dissertação, é quase que ausente, pois não são
os principais agentes dos objetivos propostos para os estudos da mesma. Sendo que
alguns aparecem representam toda comunidade boliviana neste município, como o
presidente da “Associação dos Bolivianos” Rolando Parada, o representante do
“Consulado Boliviano” no Brasil também é homem senhor Haisen Ribera. Portanto,
fez se necessário abrir um diálogo e entrevistas com os mesmos, desde que, eles
possibilitaram algumas informações direta e indiretamente para atender as
necessidades dos bolivianos que residem neste município brasileiro. Nas abordagens
metodológicas constarão alguns dos relados desses representantes que residem no
Brasil, e qual papel os mesmos desenvolvem para atender esses migrantes
bolivianos.
Com referenciais, em estudos sobre Migração, o termo migrante sempre foi
uma conotação masculina, criando uma concepção de que migrante verdadeiro era
do sexo masculino. Por muitos anos, as mulheres eram “invisibilizadas”, estudos por
longos anos nos demonstram que os homens foram os principais propulsores desse
cenário em todo mundo.Dessa forma, as abordagens teóricas sempre prevaleceram
ao sexo masculino sendo o responsável por tal movimento populacional do “ir” e “vir”
enquanto ser migrante.

1 MERCOSUL- Bloco econômico Mercado Comum do Sul os países que fazem parte desse
acordo são: Brasil Argentina, Paraguai, Uruguai. A principal proposta desse acordo entre
esses países garantir a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, através da
eliminação de barreiras alfandegárias e restrições não tarifárias a circulação de mercadorias e
de qualquer outra medida de efeito equivalente.
2 O termo Imigrante- momento de entrada, com ânimo de ser permanente ou temporário e
com intenção de trabalho ou residência, de pessoas ou populações, de um país para outro.
3 A feminização da imigração latino-americana e do Mercosul para o Brasil apresenta enorme
concentração nos contingentes de mulheres bolivianas, argentinas, colombianas, paraguaias e
uruguaias, dentre os maiores volumes de entradas no país revelando a visibilidade e a necessidade de
políticas públicas que possam dar acesso a contingentes diferentes de mulheres imigrantes no país.
20

Na pesquisa, tivemos o aporte teórico das seguintes autoras: Joseli Silva,


Maria das Graças Nascimento Silva, Mirjana Morokvasic, Miriam Abramovay para as
definições de gênero e o papel das mulheres migrantes; Rosa Ester Rossini com as
questões da migração e as áreas de atração e repulsão dessa mobilidade humana;
Paul Claval para o conceito de cultura; e, George Martine para a definição do conceito
de migração internacional. Somam-se a esses outros autores serão citados ao longo
desse trabalho.
Para tentarmos equiparar as barreiras entre os estudos de “sexo” “gênero”,
sexo são diferenciações biologicamente determinados, já o de gênero compreende
determinações social e culturalmente constituídas, é a maneira como as sociedades
definem padrões aos indivíduos do sexo feminino e masculino. Os conceitos de
gênero dotado pelas geógrafas feministas com a perspectiva crítica à utilização da
categoria mulher, em geral, associada à diferenciação sexual de corpos e analisados
de forma isolada (SILVA, 2011).
De acordo com Yannoulas, Vallejos e Lenarduzzi (2000, p. 22), “o gênero é o
modo como as culturas interpretam e organizam a diferença entre homens e
mulheres”. As discussões a respeito deste último conceito tiveram início a partir dos
movimentos feministas que buscavam não a superioridade em relação aos homens,
mas sim a igualdade de direitos entre estes e as mulheres.
As configurações atuais do processo migratório possuem diversas variáveis
norteadoras dentro do espaço geográfico, tendo como principais agentes propulsores
desse processo crianças e mulheres, algumas complexidades está atrelada as áreas
de repulsão, sendo áreas de conflitos políticos, religiosos e econômicos. E as áreas
de atração tornam-se cada vez mais fragilizadas em receber esses migrantes,
partindo de alguns pressupostos como as barreiras políticas instaladas em diversas
fronteiras migratórias, juntamente das perseguições religiosas que muitos países
temem “atentados terroristas”.
A pesquisa desenvolvida nesta dissertação descreve o entendimento de como
ocorreu à migração feminina boliviana para o Brasil. Principalmente nesse espaço de
fronteira, com os estudos que norteiam as discussões nas relações sociais que essas
mulheres desenvolvem, analisando as relações de gênero entre essa fronteira nesses
espaços particulares.
Tal particularidade só é possível, devido ás contradições diversas que se
acumulam formando diferenciado atuações no território por essas mulheres,
21

propiciando as relações de poder e submissão nas áreas de atração e repulsão no


processo migratório. Sob estes aspectos, damos início à pesquisa em torno das
participações das mulheres, analisando as relações cotidianas na migração
internacional.
Considerando que as mulheres vêem migrando ativamente e buscando se
envolver mais com trabalhos de manutenção familiar, geradoras de algum tipo de
renda e, sob esse aspecto, que vamos nos ater, com as seguintes problemáticas ao
modo de vida: Como se encontra sua relação enquanto migrante na atual cidade
migrada? Como ocorre a vivência dessas mulheres bolivianas a partir da sua
condição como migrante a partir das relações de gênero na área de fronteira?
A dissertação possuiu capítulos ordenados primeiramente com uma abordagem
conceitual na ciência geográfica, posteriormente descreveremos a metodologia
utilizada, seguida do método utilizado, na qual iniciamos descrevendo o lócus da
pesquisa. Nos capítulos posteriores apresentamos os dados que foram levantados
durante a pesquisa e demais arbuições através de imagens fotográficas.
No primeiro capítulo, intitulado: “Ciência Geográfica e Gênero: abordagem
teórica da pesquisa” trouxe alguns conceitos como os de gênero, cultura, lugar,
geografia feminista, fronteira e migração internacional, os quais são de fundamental
importância para compreender acerca do tema tratado na pesquisa e para a maneira
como tratamos e discutimos o conceito de gênero enquanto objeto de estudo da
ciência geográfica. Neste capítulo, abordaremos ainda o espaço, enquanto fronteira e
suas complexidades. Enfim, as multiplicidades de papéis que essas mulheres
exercem, tendo como objetivo assegurar a subsistência do grupo familiar, ainda que
silenciadas pelo manto da invisibilidade.
No segundo capítulo, descrevemos o lócus da pesquisa e a metodologia
utilizada, com propósito a alcançar os objetivos propostos, citamos dentre as
principais concepções metodológicas para a elaboração desse trabalho,
conceituações como: “Migração Internacional” “o migrante vive num mundo onde a
globalização dispensa fronteiras, muda parâmetros diariamente, ostenta luxos,
esbanja informações, estimula consumos, gera sonhos e, finalmente, cria
expectativas de vida melhor” (MARTINE, 2005, p.3).
No terceiro capítulo, descrevemos os resultados obtidos em campo, com o
tema: Guajará-Mirim Migração Internacional de Mulheres Bolivianas, aqui, efetua-se
reflexões e análises acerca do convívio social dessas mulheres no espaço privado e
22

espaço público, enfocando a circunstância que a mesma obtém sendo imigrante, é


quais foram suas lutas ao desenvolver esse processo migratório. É qual forma que
essas mulheres são agentes de sua própria visibilidade enquanto reprodutora da sua
própria história de vida. Sendo ainda, se há alguma ação de políticas públicas que
amparem os direitos da mulher enquanto migrante, quais suas complexidades em
usufruir os espaços públicos.
Com o quarto capitulo, mostramos a realidade dessas migrantes com seu
cotidiano, modo de viver, atividade desenvolvida para manutenção da sua família e
momentos de participação no espaço público, algumas imagens retratarão o que
muitas não se sentem de falar ou declarar. Foram muitos os momentos vivenciados,
partilhados, compartilhados, aprendidos e relembrados com essas mulheres que
fazem da história dela a minha história. Passando por preconceitos, lutas e vitórias
em um espaço que passou por vários processos migratórios e colonização na
Amazônia brasileira. Cremos que para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de
estar e vivenciar o lugar dessas mulheres seja uma boa maneira o uso das fotografias
para ter uma noção de características das mesmas.
A pesquisa revelou dados importantes no que se refere às relações de gênero,
desde sua saída até sua chegada, sobre o modo de vida que vivia na sua terra natal,
até a sua chegada ao destino Brasil, dentre eles podemos citar o fato de que as
migrações são diferenciadas atribuídas aos gêneros masculino e feminino
colaborando para compreender a formação da fronteira no espaço geográfico.
23

CAPÍTULO I

CIÊNCIA GEOGRÁFICA E GÊNERO: ABORDAGEM TEÓRICA DA PESQUISA

“A fronteira não é uma linha, a fronteira é um dos elementos da comunicação biossocial


que assume uma função reguladora” (RAFFESTIN, 1993).

“eu era migrante e tu me acolheste” (MT,2535).

Fotografia 1: Mulheres Migrantes na Associação dos Bolivianos


Guajará-Mirim/ 2016. Dona Marta e Primavera colaboradoras da pesquisa.

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

Aqui descrevemos as bases teóricas da ciência geográfica que deram suporte


ao entendimento das categorias de análises que serão abordadas ao discorrer o
trabalho. Assim, buscou-se compreender o modo de vida das mulheres migrantes que
vivem na fronteira e sua contribuição com a pesquisa na ciência geográfica.
24

1.1 Estudos e Abordagens Teóricos da Geografia e Gênero como Categoria de


Analise

Neste primeiro capítulo, trouxemos algumas abordagens teóricas para definir a


importância dos estudos de gênero e migrações internacionais nos estudos da ciência
geográfica. Uma vez que, dentro do campo geográfico contemporâneo estudar
geografia é todo meio e seres vivos que nele habitam e dinamizam. Partindo, desta
contextualização buscamos embasamento e condições favoráveis ao modo de vida
das mulheres migrantes que residem na cidade de Guajará-Mirim vinda da fronteira
do país boliviano.
Buscamos alguns respaldos para direcionarmos nossos estudos. Dentro da
ciência geográfica abordamos os estudos de gênero e discussões sobre gênero e é
dentro desta perspectiva que se pretende verticalizar e horizontalizar nossos estudos.
Para compreender esse processo buscamos entrelaçamento contextual entre alguns
conceitos geográficos como: Lugar, Gênero, Cultura, Migração internacional e
Fronteira.
Os estudos de gênero no campo da ciência geográfica brasileira têm-se
destacado no início da década de 1970. A luta das mulheres na construção da
visibilidade feminina dentro das discussões teóricas e metodológicas vem sendo
destacadas por lutas e trajetórias incessantes. Na década de 1980, temos como
marco a Geógrafa Rosa Ester Rossini abordando com tema “Gênero, Migração e
Exploração do Trabalho Feminino em Áreas Agrárias”, esta autora feminista trouxe
grandes contribuições aos avanços teóricos e metodológicos em diversas áreas da
geografia. Essas discussões ainda são polêmicas havendo muitas limitações na
geografia brasileira, pois não contextualizam a mulher como sendo provedora ou
reprodutora do espaço ocupado.
Muitos estudos direcionados às discussões de gênero estão sendo
desenvolvidos. Seguindo essas abordagens vamos nos ater a contemporaneidade no
campo da ciência geográfica, como objeto de estudo as mulheres bolivianas, diante
das suas conquistas com equidade e igualdade de gênero sendo produtora e
reprodutora do seu espaço e do espaço geográfico.
25

Atualmente, muitos estudos conhecidos por Geógrafas Feministas brasileiras


em diversas Universidades do País, dentre estas, podemos citar: Joseli Silva 4 e Maria
das Graças Silva Nascimento Silva 5 com estudos direcionados aos diversos campos
de estudos das relações sociais de gênero e sexualidades.
Mesmo que busquemos apoio teórico que nos incremente a abordagem de
gênero na geografia, vê-se a invisibilidade principalmente em forma de dissertações
de mestrado e teses de doutorados que abordam o tema na área da geografia
brasileira sobre migração internacional feminina. Apesar de tais esforços algumas
produções ainda são isoladas, e não nos permitem elencar uma rede expressiva de
conceitos na área da geografia em gênero e entre pesquisadores nacionais. Algumas
dessas invisibilidade na ciência, principalmente na Geografia são estudos isolados em
outras áreas do conhecimentos, quando se trata do tema de migração feminina.
A relação de gênero estudada e abordada em um determinado espaço deve-se
aos fatores que são condicionados e estratificados pela sociedade dentro da
segregação espacial, onde homens e mulheres estão inseridos na sociedade, tanto
no mercado de trabalho, como na área rural, urbana e nos diversos setores que são
ocupados pelas mesmas. As relações de gênero são compreendidas para muitos,
além da simples oposição entre masculino e feminino, elas são interseccionadas por
relações econômicas, religiosas, étnicas e raciais construídas no tempo e no espaço.
Assim, as relações de gênero são dadas como representações sociais, onde
vão ser avaliadas como categorias que influenciarão na construção destes, mulheres
e homens são diferenciados não só biologicamente, mas também culturalmente,
especificidades que implicam nas diferentes formas na construção dos lugares onde

4 Pós-Doutorado em Geografia e Sexualidades na University of Brighton 2015. Coordena o


Grupo de Estudos Territoriais e com trabalhos extensionistas participa da ONG Renascer
direitos humanos LGBT desde 2006, bem como é Consultora representante do Brasil no
Projeto Transrespect versus Transphobia da Transgender Europe com Sede em Berlim. É
representante do Brasil na União Geográfica Internacional - Seção Gênero desde 2011 e é
membro da Comissão de Coordenação da Rede Ibero - Latinoamericana de Geografia
Gênero.
5 Professora Doutora Associada do Departamento de Geografia da Universidade Federal de
Rondônia. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações
Sociais de Gênero - GEPGENERO, É também docente do quadro Permanente do Programa
de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia. Participa das
seguintes Redes de Pesquisas: Rede Latino Americana de Geografia e Gênero - RLAGG,
Rede Espaço e Diferença RED# e da Rede de Estudos de Geografia, Gênero e Sexualidades
Ibero Latino - Americana - REGGILA.
26

estão inseridos, cada um tem uma forma e percepção de ocupar seu espaço,
implicando nas diversas formas de comportamentos.
No entanto, a abordagem teórica de gênero na ciência geográfica torna-se
indispensável para as discussões nas relações sociais. Configurando novos
comportamentos culturais diante dos espaços a serem ocupados por homens e
mulheres, levando-as a permanecer mais presente nos espaços privados e aos
homens nos espaços públicos.
Dentro de alguns conceitos, as identidades culturais nunca são unificadas, e,
na era da modernidade tardia, são cada vez mais fragmentadas e fraturadas; nunca
singulares, mas múltiplas, construídas sobre discursos, práticas e posições diferentes,
muitas vezes cruzadas anatagônicas Bauman (2012, p.41). Dentro dessas
concepções, essas mulheres se tornam ainda mais fragilizadas diante das práticas e
posições diferentes dentro do lugar que ocupa em meio à sociedade.
Nestas concepções, atribuímos o papel das diferentes posições que a mulher
ocupa enquanto produtora do seu espaço. Sendo dona de casa, cuida do âmbito
interno do lar e da família, enquanto aos homens estão encarregados do trabalho fora
do lar para manter o sustento familiar. Em alguma percepção social culturalmente
construída, a mulher passa por sexo frágil sendo invisibilizada e desprivilegiada na
sociedade.
Com essas abordagens de relações entre os “sexos”, passa-se a discutir com
maior relevância o conceito de gênero, que nos faz desconstruir as ideologias
culturalmente a partir da prática social, excluindo a idéia de que as diferenças
biológicas são determinantes para atitudes sociais, e até discriminatórias entre
pessoas com as mesmas capacidades iguais só que com diferenças biológicas e
genéticas.
O conceito de gênero foi dotado pelas geógrafas com a perspectiva crítica à
utilização da categoria mulher, em geral, associada à diferenciação sexual de corpos
e analisada de forma isolada, Silva (2011, p. 26). Logo, analisamos os
comportamentos que são peculiares da sociedade enquanto a diferença do sexo para
nos ater a importância crítica teórica. Utilizaremos o conceito de Simone de Beauvoir
que nos potencializa a redução da categoria mulher às diferenças biológicas.

Não é enquanto corpo é enquanto corpo submetido a tabus, as leis, que o


sujeito toma consciência de si mesmo e se realiza. E, diga-se mais uma vez,
não é a fisiologia que pode criar valores (...). O corpo da mulher é um dos
elementos essenciais da situação que ela ocupa nesse mundo. Mas não é ele
27

tampouco que basta para a definir. Ele só tem realidade vivida enquanto
assumido pela consciência através das ações e no seio de uma sociedade
(BEAUVOIR, 1976, p. 62-63).

Dentro dessas abordagens conceituais, entre as diferenças de sexo e conceito


de gênero, estudos são voltados para compreendermos essa diferenciação
conceitual. Quando agregamos o conceito de gênero à dimensão social e cultural da
diferença sexual, adotando a perspectiva da construção social dos papéis que devem
ser desempenhados por homens e mulheres.

Gênero é um agrupamento de ideias e opiniões que a sociedade constrói


através de uma cultura do que é ser homem e do que é ser mulher. Tal
conceito permite compreender que não são as diferenças dos corpos de
homens e mulheres que os posicionam em diferentes hierarquias, mas sim a
simbolização que a sociedade faz delas (SILVA, 2003, p. 23).

Estudar as relações e discussões de gênero nos possibilita compreender como


os indivíduos ocupam e produzem seu espaço na sociedade, formas essas que
foram criadas e impostas historicamente e culturalmente pela sociedade,
estabelecendo assim, todo o comportamento social e as limitações estabelecidas ao
gênero feminino e masculino.

1.2 Categoria de Análise Geográfica: O Lugar

A partir desses estudos, vamos direcionar o discurso de gênero dentro da


categoria de análise lugar que são ocupados por essas mulheres em meio à
sociedade, implicando a democratização de espaços de poder e de empoderamento
econômico e político das mulheres que se convertem em protagonista de sua
existência.
A categoria de análise da geografia lugar surge em outros ramos do
conhecimento. Muitos filósofos utilizam do conceito de lugar para circunscrever o
corpo, onde também não se delimita somente ao corpo, o lugar deveria ser também
definido em relação a posição de outros corpos.
Dentro da Geografia o conceito lugar possui destaque na corrente Humanística,
esta corrente chega a considerar o lugar como sendo uma das categorias de análise
mais importantes da geografia, juntamente com o espaço.
Vamos nos ater a categoria de análise lugar através da corrente Geografia
Crítica, só que não com tanta ênfase, enquanto categoria central da Geografia. Um
dos autores que adotamos para suporte teórico critica Milton Santos (1988).
28

A geografia deve preocupar-se com as relações presididas pela história


corrente. O geógrafo torna-se um empiricista, e está condenado a errar em
suas análises, se somente considera o lugar, como se ele tudo explicasse por
si mesmo, e não a história das relações, dos objetos sobre os quais se dão as
ações humanas, já que objetos e relações mantêm ligações dialéticas, onde o
objeto acolhe as relações sociais, e estas impactam os objetos. O geógrafo
seria funcionalista se levasse em conta apenas a função; e estruturalista se
apenas indicasse as estruturas, sem reconhecer o seu movimento histórico
ou a relação social sem o conhecimento do que a produziu. Impõe-se, na
análise, apreender objetos e relações como um todo, e só assim estaremos
perto de ser holísticas, isto é, gente preocupada com a totalidade (SANTOS,
1988, p. 32).

A relação social dentro da perspectiva dos estudos femininos dentro da


categoria lugar explicita as ações desenvolvidas como uma totalidade, uma vez que,
dentro do processo migratório há um movimento histórico que interliga as ações
humanas com o objeto de estudo o lugar. Santos (1988) coloca que existe uma dupla
questão no debate do lugar. O lugar visto de “fora” a partir da sua redefinição,
resultado do acontecer histórico e o lugar visto de “dentro” o que implicaria a
necessidade de redefinir seu sentido.
As áreas de origem onde essas mulheres estão inseridas são chamadas áreas
de repulsão e os principais fatores que impulsionam essa migração fronteiriça
feminina são buscas por condições satisfatórias e melhorias em suas condições de
vida. Esses deslocamentos ocorrem para as chamadas áreas de atração ou de
destino, que são as áreas que vão acolher essas mulheres, áreas que de alguma
forma vão propor o que não se encontrava na sua cidade (área de repulsão), uma vez
que, dentro do seu território não há condições satisfatórias para que a mesma
permaneça.
Para nossa pesquisa abordagem de lugar que nos direciona ao conceito e ao
papel que essa mulher passa a ocupar enquanto produtora deste, destarte, Milton
Santos 2006.

O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm


solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o
teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação
comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da
criatividade” (SANTOS, 2006, p.322).

Vemos que a ação que essa mulher desenvolve dentro do lugar que a mesma
tomou para ser seu “novo lugar” de habitar traz várias concepções reflexivas onde a
mesma vai ter que desenvolver uma ação comunicativa diferente nesse novo espaço
29

e se habituar aos novos costumes e manifestações recriando sua própria maneira de


se comunicar junto à sociedade.
Para Monk (2011, p. 87), nos dias atuais é comumente aceita a ideia de que a
pesquisa em geografia é “situada”. Isso implica não somente considerar que o lugar é
um tema para a compreensão do nosso mundo, mas também que “aquilo” que nós
estudamos e “como” interpretamos o mundo são moldados por onde nós mesmos nos
situamos enquanto pesquisadores, não apenas geograficamente, mas também
pessoalmente, em termos de nossas identidades, prioridades e modo de saber.
As relações que os indivíduos mantêm com os lugares habitados se exprimem
todos os dias nos modos de uso. Mas o lugar é também da produção e reprodução
da vida, que se dá por meio das relações de trabalho, que não são especificas de um
lugar, mas encontram-se relacionadas com o modo de produção, que acaba
determinando nas atividades produtivas e nas relações de trabalho que serão
desenvolvidas em cada lugar

1.3 Da Luta Feminista a Conquistas das Feministas

Um dos principais propulsores aos debates teóricos e construção dos estudos


sobre mulheres e as relações de gênero foi o movimento feminista. Dentro das
perspectivas impostas às mulheres são construídas historicamente pela sociedade,
contudo, é importante esclarecer que é possível abordar estudos de gênero ou
mulheres sem, no entanto, se comprometer com a desconstrução da ciência
hegemônica.
Há anos as mulheres são marcadas por exclusão e discriminação dentro da
sociedade. Dessa forma, eram impedidas de participar ativamente dos espaços da
vida pública. Sem exercerem seus direitos civis no espaço público passaram a
reivindicar condições de igualdade entre homens e mulheres. Sua luta não era em
busca de igualdade de força, mas sim igualdade de direitos dando início ao
movimento feminismo.

Refere-se aos movimentos ou conjuntos de pensamentos que defendem a


igualdade de direitos entre homens e mulheres. Muitas vezes são alvos de
conotações pejorativas, por entender-se que se trata do contrário do
machismo. No entanto, o contrário do machismo, que prega a superioridade
do homem sobre a mulher, seria o femeanismo, que pregaria a superioridade
da mulher sobre o homem. (YANNOULAS; VALLEJOS; LENARDUZZI, 2000,
p. 426).
30

Esse movimento fez com que as conquistas das feministas fossem vista de
forma distorcida, onde as políticas e as práticas sociais que garantem a equidade e
igualdade entre mulheres e homens fossem diferenciadas. Dentro da interpretação
que preza pela superioridade entre mulheres sobre os homens:

O Feminismo confronta, dessa maneira, com os ideais de uma sociedade


androcêntrica, uma vez que busca por igualdade de direitos entre homens e
mulheres. Pois esta atribui ao indivíduo do sexo masculino um caráter
centralizador dotado de toda superioridade e poder nos grupos sociais. O
androcentrismo considera o ser humano do sexo masculino como centro do
universo, como o único capaz de se impor e ditar regras e leis para dominar e
organizar o mundo (MORENO, 1999, p. 23).

A abordagem teórica nos estudos feminista e de gênero compõe nova


abordagem da geografia, que contribuiu das suas lutas para as conquistas dentro do
campo da ciência geográfica a geografia feminista. Assim, dentro dessas
contextualizações no campo cientifico podem fazer parte e colaborar com outros
estudos.
O estudo de gênero na geografia se enquadra no fato de que as relações
entre mulheres e homens estão presentes na dinâmica da produção do espaço a
partir das relações sociais, que se modificam constantemente e interferem na
configuração socioespacial a que pertencem. A partir dessas configurações sócio
espacial adotamos Joseli Silva.

A dimensão relacional que a ideia de gênero concebe é a compreensão de


que os seres não estão isolados e estáticos e os recortes sociais
estabelecidos no processo de pesquisa devem ser considerados de forma
relacional e processual na estrutura socioespacial a que pertencem (SILVA
2010, p. 40).

Toda essa forma relacional e processual na estrutura das configurações dos


estudos de gênero nos permite compreender a dimensão relacional que esses dois
atores se dinamizam no espaço.
Essas concepções de estudos direcionados as relações de gênero são
resultados plausíveis que a sociedade constrói em determinados ambientes,
enquanto, o que é ser homem e o que é ser mulher, assim, formando espacialidades
diferenciadas pelas condições de gênero.
A conquista dessas feministas dentro da abordagem de gênero na visão de
Monk (2011, p. 95) pode espacializar “o ensino é também uma parte importante do
nosso trabalho, uma atividade que tem implicações nas mudanças da sociedade em
31

geral e que serve para preparar futuros profissionais da geografia”. Para


contextualizar todos esses estudos de gênero temos que nos ater a alguns critérios
de ensinar e provocar debates sobre prioridades e políticas destas lutas feministas
para as conquistas feministas. Dentre essas perspectivas buscamos compreender
“que”, “como” e “quem” são destinados nossos estudos de gênero dentro das
categorias de analises na ciência geográfica.

1.4 Migração Feminina dentro da Concepção Geografia Feminista

Dentro do conceito de espaço sempre se valorizava a sociedade como sendo o


principal modificador da paisagem humana e o principal articulador das dinâmicas
temporal- sócio- espacial. Atualmente, outras abordagens teóricas buscam especificar
que esse espaço quando ocupado por homens e mulheres são dinamizados de forma
homogênea e com suas diversas especificidades. A migração dentro de um
determinado espaço pode ser em áreas urbanas e em áreas rurais, no trabalho aqui
apresentado esse processo se destinará a área urbana.

[...] Ahora bien, donde adquiere auténtico significado la pendularidad es en las


sociedades modernas urbanizadas, en las que se ha producido una
progresiva diferenciación funcional del espacio, que trae consigo la necesidad
de desplazarse para realizar cualquier actividad de la vida cotidiana. En el
ámbito anglosajón se viene utilizando el término commuter para la persona
que se desplaza en movimientos generalmente diarios (flujo casa-trabajo o
journey-to-work)[...] DICCIONARIO DE GEOGRAFÍA APLICADA Y
PROFESIONAL P. 462, 20156.

Para os complexos movimentos migratórios, nessa fronteira sendo ela de forma


transitória faz com que ocorra deslocamento diário desse grupo feminino aqui
estudado. Uma vez que, as necessidades de se locomover dentro do território sejam
pertinentes nessa área urbana, logo, quando se trata de ir ao trabalho como são

6 Tradução:Contudo, quando adquire o autentico significado fluxo pendular em sociedades


modernas urbanizadas, em que houve uma produção em progressiva diferenciação funcional
do espaço, que traz consigo a necessidade locomover para qualquer atividade da vida diária.
No mundo que fala Inglês tem vindo a utilizar o termo para o viajante que normalmente viaja
em movimentos diários (fluxo de casa para trabalhar ou viagem para o trabalho).
32

vistas diariamente vendedoras atravessadoras 7 ambulantes que saem do país


boliviano para o lado brasileiro desenvolvendo o fluxo pendular casa- trabalho.
Os estudos de migrar na geografia tende a valorizar experiência de cada
indivíduo ou grupo. O conceito de migrar segundo Martins (1986, p.45), migrar “é
estar em dois lugares ao mesmo tempo, e não estar em nenhum. É, até mesmo, partir
sempre e não chegar nunca”. Uma realidade percebida na fronteira que este estudo
aborda, muitas migrantes já nem sabem dizer se pretendem retornar a sua terra de
origem ou se permanecerão onde estão.
Cada grupo que compõem esse movimento ou processo se encontra em várias
motivações busca por trabalho, fins matrimoniais, melhoria de qualificação, estudo,
acompanhar ou se reunir a membros da família entre outros. Para compreendermos
esse movimento migratório feminino adotamos Oliveira que nos dá importância do
tema, além de sugerir possibilidades de análise sobre seus condicionantes.

La migración femenina constituye por lo general um componente fundamental


de los movimentos populacionales. Para encontrar sus rasgos específicos
hay que compararla com La migración masculina. Además, no hay que perder
de vista que, al igual que otros flujos, se trata de um fenômeno heterogêneo
que asume modalidades particulares em diferentes momentos históricos y
âmbitos espaciales La temporalidad de los movimentosm su origem y destino,
su composición social e su carácter individual o familiar están entre los
aspectos que hay que tener em cuenta em El análises de sus causas,
carcterísticas y consecuencias. Combinaciones distintas de estos rasgos
revelan La presencia de flujos que pueden resultar de processos sociales
muy diversos y tener implicaciones muy distinctas 8.” (OLIVEIRA, 1984. p.
677).

Compreende-se que a migração feminina parte de vários fatores e distintas


características no espaço geográfico, quando a mesma, tende de conciliar sua vida

7 Esse transito de pessoas diárias principalmente feminino é visto com clareza na área
urbana de Guajará-Mirim, seu trabalho muitas das vezes e de forma ilegal e arriscado. Os
produtos que geram mais renda para essas atravessadoras é a gasolina boliviana que é
vendida a um custo inferior, também há o fluxo inverso ex: calçados para a Bolívia e outros
produto são confecções sendo roupas etc. Todos esses produtos entram no Brasil de forma
ilegal, quando pegos pela Policia Federal os produtos recolhidos, dando prejuízo extremo a
essas mulheres.
8 Tradução: A migração feminina é geralmente um componente fundamental dos Movimentos
populacionais. Para encontrar as suas características específicas devem ser comparados
com a migração masculina. Além disso, não devemos esquecer que, como outros fluxos, é
um Fenômeno heterogêneo assume formas de realização particulares em diferentes
momentos históricos e campos espaciais a temporalidade dos movimentosm são origem e
destino, sua composição social e seu caráter individual o famíliar estão entre os aspectos que
devem ser levados em conta na análise de algumas causas, carcterísticas e consequências.
Diferentes combinações dessas características revelam a presença de fluxos que podem
resultar nos processos sociais e ter implicações muito distinctas ".
33

social com a familiar. Partindo das modalidades particulares e perpassando por toda
uma contextualização histórica do seu movimento de origem ao seu destino.
O interesse pelo estudo da migração feminina é muito recente e tem o seu
início a partir das constatações de volume significativo de mulheres em fluxos
migratórios onde predominavam homens ou ainda pela captação de fluxos migratórios
essencialmente femininos (CASTRO, 2006). Essas mobilidades dentro do espaço
geográfico nos últimos anos têm intensificado com grandes proporções, onde os
principais agentes propulsores desse deslocamento que pode ser forçado ou de livre
espontânea vontade são as mulheres e crianças.
As relações de gênero são socialmente construídas dentro de um espaço
constituído por mulheres e homens. São estruturas que tem sua gênese nas
diferenças entre os sexos. Segundo Castro 2006.

Las diferencias significativas entre los sexos son lãs diferencias de gênero.
Cada sociedade dectamina qué espera de cada uno de los sexos. El status
sexual marca La participación de hombres y mujeres em lãs instituciones
sociales, em La família, La escuela, La política, El estado y em lãs religiones
lãs quales incluyen valores y expectativas de lo que uma sociedade espera
Del ser feminino o masculino9 Segundo Castro (2006, p. 66).

Com essas afirmativas de que as mulheres quando migram são dependentes


de diversos fatores sociais existentes no meio social. Morokvasic (2003); Pessar
(2000) abordam que transformações experimentadas por ambos os sexos são
distintas e cada uma delas tem seu impacto diferenciado em estruturas como família e
domicilio. Sempre de forma muito complexa cada migrante chega ao seu ponto de
destino.
Segundo Becker (1997), a migração pode ser definida como a mobilidade
espacial da população. Estudos dessa mobilidade da população são abordados desde
os tempos primórdios quando a população necessitava de se deslocar de um lugar a
outro dentro do espaço geográfico. Esse deslocamento era e é sempre para atender
algo ou alguma coisa que está diretamente ligada à necessidade humana ou
interesse político, econômico e social.

9 Tradução: "As diferenças significativas entre os sexos são as diferenças de gênero. Cada
sociedade determina o que se espera de cada um dos sexos. A definiçãos sexual marca a
participação de homens e mulheres nas instituições sociais, como na família, na escola, na
política, o Estado e as religiões são as quais incluem valores e expectativas do que uma
sociedade espera de que e ser feminino ou masculino”.
34

Ao longo do processo migratório, homens e mulheres reconstroem, negociam


ou reafirmam relações de poder, hierarquia e a própria identidade (CASTRO, 2006).
Dentro dessa abordagem de hierarquia propriamente dita no espaço privado é que
essas mulheres se tornam seres visíveis para si mesmas, uma vez que, sua
identidade está pautada em sua circunstancia vivida dentro do espaço privado. Assim,
pode-se dizer por mais que haja discussões de gênero nos diversos campos do
conhecimento dentre todas as áreas essas mulheres estão se tornando visibilizadas.
Por isso achou-se pertinente focar nas mulheres todo fluxo migratório estudado nesta
fronteira entre Brasil e Bolívia, para dar ênfase que há uma nova configuração
espacial enquanto migração internacional feminina.
Analisando as perspectivas da mobilidade social, associa-se que o ser humano
configura constantemente todo o processo de movimentação dentro de um
determinado espaço. Dentro desse movimento reafirma sua identidade enquanto
produtor e reprodutor dessa configuração social.
Na contextualização sobre migração para Rossini (1997), os espaços mais
densos de capital, sejam eles áreas ou países, são hoje os que mais atraem e/ou
necessitam dos migrantes, provenientes dos espaços mais rarefeitos de capital.
Principalmente quando estes migrantes não têm a sua inserção satisfatória dentro de
uma sociedade eminentemente capitalista, que além do trabalho, pressupõe um
salário real que lhe dê acesso a ela [...]. Nesse viés, que pode identificar ainda mais a
exclusão da mulher na sociedade diante do avanço capital dentro das áreas mais
degradantes e periféricas nos espaços mais rarefeitos que a mesma se encontra.
Com o adensamento e avanço do capital a área fica mais complexa para essas
mulheres se manterem sendo protagonista da visibilidade nos lugares migrados.
As condicionantes textuais direcionadas aos movimentos populacionais
definidos por migração são bem suscetíveis, logo, quando se trata de migração
feminina. Como houve uma construção social do patriarcado dentro da sociedade,
desde os antepassados, o dominante prevalecerá sobre o dominado, e assim,
reafirmando relações de poder, hierarquia e a própria identidade.
35

1.5 Relações de Gênero: Etapas Migratórias

O estudo migratório aqui apresentado tem como foco principal as mulheres


migrantes estas de sexo antes ignorado, partindo de algumas invisibilidades no
espaço que ocupa ou que irá ocupar. Muitos estudos nesse contexto prevaleceram
sempre o lado masculino, onde não se obtinha resultados de observância quantitativa
feminina e forçou mudanças no campo metodológico desses estudos. Quando se
busca contextualizar os conceitos de gênero e espaço não podemos esquecer que as
relações sociais são agentes que moldam a estruturação do espaço dando
visibilidade para ambos os sexos.
Os estudos na área de fronteira são condicionados principalmente nos
aspectos sócio cultural econômico, partindo para nossas contextualizações nos
estudos de gênero fronteiriço. Segundo Oliveira (2007), evidencia nos estudos
migratórios uma fronteira como lugar onde começam as possibilidades de saída, de
libertação ou ainda um lugar de passagem marcado pelos encontros e desencontros
de natureza social e cultural.
O lugar enquanto categoria de análise é o principal precursor dessa mulher em
se locomover dentro do espaço geográfico, e aonde, a mesma vai ressignificar seu
modo de vida e de viver, se vai permanecer ou prosseguir. O lugar trará um
significado com complexa significância sócio- temporal no seu cotidiano.
Para analisarmos dentro do campo da ciência geográfica as transformações
nos papéis e relações de gênero ao longo da migração utilizaremos o conceito de
Morokvasic e Erel(2003).

Analisar migração sob perspectiva de gênero não significa apenas que as


mulheres devem ser acrescentadas onde estavam faltando. Esta perspectiva
exige o olhar para o processo e discurso na migração envolvendo mulheres e
homens e suas relações entre si no domicilio. Na comunidade em que estão
inseridos e nas relações internacionais. (MOROKVASIC e EREL 2003, p. 11)

Compreender esse espaço social e as relações que nele ocorrem é de extrema


e incansáveis discussões, uma vez que essas dinâmicas são temporais. Todos os
movimentos populacionais são agentes que transfiguram, através de seu conjunto de
atividades desenvolvida.Dentro dessas relações são inclusas as relações de gênero
dentro desse espaço que é definido por Milton santos.

(...) o espaço evolui por suas características e por seu funcionamento, pelo
que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita
36

entre as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis coletiva


que reproduz as relações sociais. (...) o espaço evolui pelo movimento da
sociedade total (SANTOS, 1987, p. 71).

Partindo dessa concepção de movimento da sociedade onde o espaço evolui


que os movimentos transitórios nesse município tornam umas práxis coletiva, onde
muitas mulheres se locomovem diariamente nesses territórios. Não só partindo do
lado boliviano, mas também a transitoriedade de brasileiros no território boliviano
cumprindo assim o movimento da sociedade total.
Alguns fluxos migratórios são compostos por diversas etapas de início e muitas
das vezes sem fim, a sociedade total passa por um momento fatigante de
sobrevivência humana é isso faz com que cada vez mais pessoas queiram migrar em
busca da sua sobrevivência. Mas para que se cumpra essa superação que lhe foi
condicionada por algum fator social é preciso que se passe pelas etapas dos
estágios. Estágios estes dos processos migratórios dentro da perspectiva de gênero,
que é fundamental para compreender essa migração feminina Boyd e Grieco nos
conceituam sendo:

O primeiro, o estágio pré-migração, inclui fatores como as relações de gênero


e hierarquia e papéis desempenhados por homens e mulheres no país de
origem. O segundo, o cruzamento da fronteira, refere-se às políticas
migratórias dos países de origem e destino- que podem afetar diferentemente
a migração de homens e mulheres, estratégias migratórias, imagens
estereotipadas de ocupações e papéis masculinos e femininos e o potencial
de entrada das mulheres no mercado de trabalho receptor. Por fim, o estágio
pós-migratório, trata do impacto das mulheres num determinado fluxo, no
mercado de trabalho receptor e no status dos papéis na família e no domicílio
(BOYD e GRIECO, 2003).

Esses são os principais momentos da migração feminina dentro do lugar de


origem. No primeiro momento da migração os papéis desenvolvidos por homens e
mulheres estão relacionados e estratificados pelas relações de gênero de forma
hierárquica, as tarefas são distintas por sexo torna-se seletiva, e assim recriando
diferenciadas redes para mulheres e homens.
A partir do cruzamento da fronteira as mulheres tanto as mulheres quanto os
homens precisam criar e recriar estratégias para se manter no país de origem
exemplo: tendem que se reinventar para o mercado de trabalho ou serão afetados de
forma esmagadora pela mão de obra não aceita. Com ênfase nessa segunda etapa
do estágio as mulheres bolivianas que tem o Brasil como país de origem se adéqua
ao mercado de trabalho através de vendas, costuras e plantações. Já o homem tem
37

como principal setor do trabalho ser marceneiro, peão de fazendas, carpinteiros,


padeiros e agricultores.
A partir de todas as perspectivas o último estágio do processo migratório
demonstra que o impacto direcionado a essas mulheres, é sempre visível uma vez
que elas sempre tendem a conciliar sua dupla jornada no privado-publico
(casa-trabalho) diária no seu cotidiano.
As trajetórias migratórias dessas mulheres não se definem apenas em um
momento percorrido pelas migrantes em direção a seu destino, é importante
apreender todos os percursos dentro do espaço como estratégia desta trajetória.
Segundo Baening e Souchud.

Hoje a migração, em muitos casos, não é um processo linear, mas feita de


desvios, retornos, idas e vindas. A multiplicação dos lugares na migração não
é aleatória, constitui ou acaba formando uma estratégia, na qual os espaços
são considerados como recursos, num processo cumulativo. A circulação dos
indivíduos e de bens e informações que lhes são associados, em diferentes
espaços articulados entre si, criam uma dinâmica territorial complexa
(BAENING e SOUCHUD, 2007, p. 04)

Esse movimento populacional sempre é dinamizado dentro do espaço


geográfico com muitas complexidades e singularidades visto que dentro dessa área
de fronteira a mobilidade populacional é bem constante em diversos setores
socioeconômicos e sociais. E é através dessa circulação de pessoas que torna este
lugar o município de Guajará- Mirim dinâmico com um fluxo de pessoas
permanentemente. Pessoas estas que movimentam os dois lados da fronteira
economicamente e socialmente em períodos anuais.
Outra característica para essa dinâmica territorial é a crise econômica que
muitas das vezes assolam as áreas periféricas, assim, dispondo que o giro do capital
gire somente do lado mais instável10.
De acordo com Pessar (2000) a base da construção de qualquer trajetória
migratória feminina é o ciclo de vida- individual e familiar. De acordo com a autora,
esse movimento em que as mulheres desenvolvem dentro do espaço, é direcionado

10 Crise econômica que afetou o Brasil perpassando para todos os estados brasileiros no
ano de 2015, a instabilidade econômica afetou diretamente as áreas de fronteira
principalmente com dólar em alta os países estrangeiros que já possuem sua economia
instável se beneficiaram da crise da moeda brasileira o real, o município de Guajará-Mirim foi
afetado diretamente na sua economia local, fechando lojas e sem giro de capital a moeda o
real, já o país vizinho com a alta do dólar giravam em território brasileiro a moeda “boliviano” o
peso como assim definem.
38

quase que exclusivo ao ciclo de vida familiar, que de acordo com Chaves, a mulher é
a base fundamental em qualquer que seja sua construção social.

Relacionar migração com os diferentes estágios do ciclo vital- que interfere


com maior peso na vida das mulheres, em função dos múltiplos papéis
assumidos por elas em certas etapas- se mostrou importante para elucidar
aspectos da dimensão familiar e individual da migração feminina (CHAVES
2009, p.137).

O planejamento do ciclo de vida, tanto individual quanto familiar é abordagem


central que define as trajetórias migratórias. Os usos dos espaços de acordo com
esse planejamento orientam a mobilidade das mulheres migrantes.
Sob esses aspectos, de estratégia e trajetória que verificamos as relações
sociais de Gênero, são instauradas culturalmente e fazem parte da série de fatores
que contribuem para a configuração do lugar de origem. Os entraves e características
impostas às mulheres e aos homens historicamente vão delimitar como cada um
ocupará determinado espaço. A mulher carrega uma função múltipla em seu cotidiano
e é nesse seguimento que se faz necessária uma análise dos diferenciais por sexo
nos fluxos migratórios.
As abordagens teóricas de gênero tratam-se das relações desiguais de poder
impostas culturalmente entre homens e mulheres, relações estas que vêm a
influenciar nos modos de organização e representações sociais.

Gênero é o modo como as culturas interpretam e organizam a diferença entre


homens e mulheres. Não se trata de um atributo individual, mas que se
adquire a partir da interação com os outros e contribui para a reprodução da
ordem social. (YANNOULAS, VALLEJOS, LENARDUZZI, 2000, p. 427).

Dentro dessas concepções fundamentadas, torna-se possível a


compreensão acerca dos conceitos de gênero e de sexo, da diferença entre ambos e
como a construção cultural implica na formação e na organização dos seres nos
lugares aos quais habitam. Na ótica dos estudos migratórios é peculiar o modo como
cada indivíduo se movimenta dentro desse território sem que haja desigualdade entre
homens e mulheres. E preciso que haja uma equidade entre homens e mulheres no
processo migratório, com avanços teóricos mais relevantes no campo de estudos
sobre migração.
Os estudos de gênero podem ser entendidos como: “um corpus de saberes
científicos, que têm por objetivo proporcionar categorias e metodologias para
análise das representações e condições de existência de homens e mulheres
em sociedades passadas e futuras”(YONNOULAS, 1996, p.17).
39

Por muito que seja árdua os estudos de gênero cabem ao geógrafo olhar
além do objeto, aos fatores que impulsionam tal fenômeno em qualquer condição que
propôs representar tal estudo. Neste caso abordamos a dinâmica do processo
migratório das mulheres bolivianas em temporalidades diferentes. A dinâmica feminina
ocorre de forma desigual ao masculino, a forma como ocupam e configuram os
lugares ocupados.

1.6 Cultura a partir da Geografia Cultural

As inúmeras transformações no decorrer do século XX ocorreram no campo


cientifico e os geógrafos passaram a considerar a interface ações humanas/meio
ambiente. No campo da geografia humana considera a cultura como instrumento
fundamental para a construção do espaço geográfico, assim como para o
desenvolvimento do sujeito.
Quando ocorre o processo do fluxo populacional esse movimento de pessoas
de um lugar para outro, precisa-se fazer um questionamento será que vai influenciar
sob o comportamento humano? Até onde essas migrantes levarão sua cultura? Então,
fica complexa a abordagem, uma vez que, esse fluxo na fronteira é permanente
desde o momento que migram eles também retornam para seu país algumas vezes.
O conceito pelo geógrafo Paul Claval (2001, p.25), versa que cultura é “a soma
dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores
acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em outra escala, pelo conjunto
dos grupos de que fazem parte”. Dentro desta perspectiva de Claval que se observa
na área da pesquisa no município e até mesmo do outro lado da fronteira os
comportamentos sendo a soma de vários fatores na vida dessas pessoas.
Essas migrantes pessoas que desenvolvem permanentemente esse
movimento sustentam sua através de seus comportamentos e nas heranças
herdadas, que perpassa de geração para geração. Nesta concepção da geografia
cultural Claval:

A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. Ela tem suas raízes
num passado longínquo, que mergulho no território onde seus mortos são
enterrados e onde seus deuses se manifestam. Não é, portanto, um conjunto
fechado e imutável de técnicas e de comportamentos (CLAVAL, 2007, p. 63).
40

O comportamento cultural de um grupo estudado é moldado por muitas


especificidades, e atento a isso, o pesquisador, precisa sempre analisar os indivíduos
pelo seu comportamento através do que sabem fazer, suas maneiras de sentir e de
ver, mediante isso, que possibilitará detectar o que seu círculo ou grupo recebeu de
elementos da cultura advinda do seu local de origem por eles como herança.
Com essa contextualização sempre torna- se relevante para as discussões de
gênero analisar a cultura do pesquisado para que não haja entraves no caracterizar
ou conceituar o modo de viver dessas pessoas. Em Claval (2007, p. 106),“o caráter
dos indivíduos depende em grande medida do meio cultural no qual estão
imersos”.Dentro da geografia cultural retrata quem o próprio homem resulta da cultura
que lhe foi transmitida bem mais do que de sua herança biológica.
A geografia cultural tenta considerar que todas as dinâmicas e interações
humanas sobre o espaço geográfico possibilitam a compreensão do sujeito por meio
dos seus sentimentos, valores culturais e suas experiências vividas com o espaço.
Para Claval (2002), o objetivo da abordagem cultural é entender a experiência dos
homens no meio ambiente e social, compreendendo a significação que estes impõem
ao meio em que estão inseridos e ao sentido dado às suas vidas.
Destarte, sob esses aspectos, verificamos que as relações sociais e gênero,
instauradas culturalmente, fazem parte de uma série de fatores que contribuem para a
caracterização do lugar. As determinações impostas às mulheres e aos homens,
historicamente, é que vão delimitar a forma como cada um (a) ocupará determinado
espaço social Alencar (2015).
Ainda no mesmo campo da Geografia Cultural, a cultura é tratada como uma
construção social particular a determinados grupos da sociedade. De acordo com
Linda MacDowell (1996):

Cultura é um conjunto de ideias, hábitos e crenças que dá forma as ações


das pessoas e à sua produção de artefatos materiais, incluindo paisagem e o
ambiente construído. A cultura é socialmente definida e socialmente
determinada. Ideias culturais são expressas nas vidas de grupos sociais que
articulam, expressam e contestam esses conjuntos de ideias e valores, que
são eles próprios específicos no tempo e no espaço MacDowell 1996, p. 161.

Mesmo que se pense em cultura socialmente determinada ou definida, não se


pode negar que são esses os fatores que condicionam nossa abordagem de gênero
no descrever da pesquisa. Uma vez que, toda construção cultural se delimita ao seu
grupo determinante, ao seu espaço. Quando uma cultura se torna influência de outra
41

cultura, torna-se uma cultura multicultural tendo que vivenciar e compartilhar em


determinados lugares esse convívio social.
A pesquisa nos propõe uma observância enquanto multicultural, esta área
sendo povoada por bolivianos, brasileiros e indígenas denota essa influência cultural
muito forte desses três grupos, a troca de saberes e o convívio com diversas cultura
nessa fronteira há anos desenvolve essas multiplicidades de relações, valores e
comportamentos das pessoas.
Logo, constata-se que a cultura determina o lugar, conforme Silva (2009) as
performances referem-se ao conjunto de relações sociais que segregam e delimitam
as ocupações dos lugares. Lugares estes, tanto familiar como ambiente de trabalho,
ocorrem às divisões de tarefas e a formação de hierarquias.
A visão da mulher dentro da cultura já é determinada no meio social como
sendo reprodutora e atrelada aos fatores biológicos e ciclos naturais, sendo a
principal incentivadora dos espaços ocupados, ainda assim, invisibilizada nas suas
nuances ocupacionais. A cultura determina sempre de forma natural todas as
ocupações da mulher dentro de um determinado espaço. Todos os preceitos que essa
mulher terá que se libertar parte do contexto criado por período secular da
humanidade. Sendo que terá que quebrar paradigmas contextuais para se libertar.
A abordagem da geografia cultural se insere na perspectiva das ciências
humanas, com a visão e discussão diferenciada da geografia tradicional. Por muitos
anos se direcionava somente aos estudos da natureza, assim, na contextualização e
compreensão das relações da geografia cultural contemporânea os estudos entre o
homem e o meio, e suas relações cotidianas em diversos territórios, lugares
carregados de experiências e de simbolizações, baseado em sentidos e valores
modificam a inserção desses seres que reproduzem o meio em que vivem os lugares
singulares.

1.7 Fronteira e Migração Internacional

A travessia da fronteira leva o sujeito migrante a se relacionar com a cultura da


sociedade da qual está se inserindo, um processo de reconstrução da sua vida,
realização de seus desejos e busca de permanência em um novo universo, busca que
42

se torna constante em sua vida. Com base em algumas simetrias e assimetrias dentro
dos estudos de fronteira e migração internacional o Programa de Promoção do
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira - PDFF (2010) nos dá suporte em
compreender esse conceito.

Apesar da zona de fronteira ser muito heterogênea em termos de níveis de


desenvolvimento e características culturais dos países que a compõem não é
possível deduzir daí que exista uma relação mecânica entre Estados
desenvolvidos e faixas de fronteira desenvolvidas. De fato, as simetrias e
assimetrias entre cidades-gêmeas nem sempre decorrem de diferenças no
nível de desenvolvimento dos países e sim de sua própria dinâmica e da
função que exercem para os respectivos países. (PDFF, 2010, p.153).

O desenvolver da pesquisa se efetuou na zona de fronteira entre Brasil e


Bolívia, onde a divisão territorial entre esses países fronteiriços ocorre através do rio,
marco de separação entre essas duas nações. Dentro da categoria de análise
desenvolvida na pesquisa o lugar está atrelado às relações onde ocorre toda
dinâmica social, econômica e política sendo os principais responsáveis pela
circulação de pessoas principalmente por migrantes provenientes das áreas
periféricas.
As ações dessas migrantes nesse grande fluxo migratório que ocorre
permanentemente pensadas no trabalho, no consumo, nos melhores salários, na
realização de projetos e de sonhos, em aquisição de objetos. Esses condicionantes
propõe decisão de migrar, permanecer no lugar, ou até retornar para muitas das
pessoas que migram nessas áreas de fronteiras de curto transito.
As zonas de fronteira partem de algumas ressignificações, segundo (Machado
1998), é usado para circunscrever uma demarcação territorial institucional exercida
através de acordos diplomáticos entre países, a fim de fixar normas e regulamentos
para resguardar o território nacional, restringindo-o ao livre transporte entre as
diferentes escalas adjacentes à região fronteiriça. Dentre destes temos as renovações
de valores parti da ressignificação das zonas de fronteira.
Um dos principais fatores que determinam a circulação de pessoas entre duas
nações são as políticas e acordos diplomáticos, no caso da pesquisa apresentada o
acordo existente entre Brasil e Bolívia, foi para que pudesse haver esse cenário na
mobilidade espacial de pessoas e suas possibilidades de permanência e circulação
entre os países e suas fronteiras. Esse acordo facilita a essas mulheres sua
permanência no município de Guajará-Mirim.
43

Dentro dos estudos pautados às áreas de fronteira delimitamos o seguinte


conceito:a Faixa de Fronteira está associada aos limites territoriais do Estado. Os
setores localizados no limite com um ou mais países expressam a demarcação
territorial do poder do Estado (MACHADO, 2005). Assim, entendemos que a Zona de
Fronteira é a soma das regiões fronteiriças, ou seja, o local em que as interações
efetivamente aparecem.
A Nossa pesquisa foi desenvolvida numa Zona de Fronteira, compreendia por
um espaço de interação composto por alteridades que ultrapassam o limite
internacional, além de corresponder a uma territorialidade bem evoluída em razão dos
fluxos bens e serviços e das interações transfronteiriças. Na categoria de zona de
fronteira fica claro que há uma conectividade entre esses limites internacional, na
cidade de Guajará-Mirim e Guayaramerín essa interação e bem desenvolvida
economicamente tendo como grande fluxo de mercadorias transportadas tanto do
Brasil para a Bolívia vice-versa. O mercado boliviano é abastecido por empresas
brasileiras que diariamente descarregam no porto de Guayaramerín os produtos
brasileiros atravessados pelas balsas, que são carregadas do lado brasileiro.
Na abordagem da faixa de fronteira nos atemos aos limites desses territórios,
onde, o poder de cada estado é exercido sobre seu território. Dentro da faixa de
fronteira que se encontra um dos principais estatutos que delimitam o uso desses
territórios, uma característica que norteou nossa pesquisa enquanto aos limites da
faixa fronteiriça, foi, as políticas que cada cidade impõe ao seu país. Contudo, as
dificuldades dessas migrantes se regularizarem em território brasileiro é um dos
principais entraves diários que persiste na vida dessas mulheres, idoso, homens e
crianças. Se as pessoas não estão obedecendo às políticas de limites internacionais
no seu próprio país como cidadãos eles não podem ultrapassar o faixa de fronteira de
forma legal, sem registro de nascimento ou Identidade.
Esses dois conceitos nos permitem analisar a forma relacional e diversificar
entre um mesmo território conceituações diferente: Diante do que foi exposto nos
permite contrariar os conceitos de fronteiras, uma vez que, “faixa” ou “zona” utilizam
terminologias distintas no contexto usual.
Na zona de fronteira é perceptível na base conceitual de ir além do seu
território, assim, elaborando o entrelaçamento das duas territorialidades, nas bases
socioeconômicas e políticas dos estados que são denominados acordos diplomáticos
entre duas fronteiras.
44

A sociedade boliviana vem ocupando essa fronteira como fonte de


transformação e adequando as suas necessidades. Assim, com o passar dos tempos
vem criando raízes em determinados territórios, neste caso o brasileiro. Território este
que vem sendo ocupado cada vez mais por diversas nacionalidades. Adotamos
Santos (2006) para nos ater o conceito de território que se encontra em constante
transformação.

O território como um todo se torna um dado dessa harmonia forçada entre


lugares e agentes neles instalados, em função de uma inteligência maior,
situada nos centros motores da informação. A força desses núcleos vem de
sua capacidade, maior ou menor, de receber informações de toda natureza,
tratá-las, classificando-as, valorizando-as e hierarquizando-as, antes de
redistribuí-las entre os mesmos pontos, a seu próprio serviço. Essa
inteligência das grandes empresas e dos Estados não é, porém, a única. Em
níveis inferiores, o fenômeno se reproduz, ainda que com menos eficácia
mercantil (SANTOS, 2006 p.154).

Tratando de migração internacional podemos descrever o uso do território,


onde, cada país possui suas complexidades com diversas variáveis e problemáticas
que são advindos dos conflitos políticos,econômicos e étnicos. Mesmo assim, muitas
relações sociais são desenvolvidas. Segundo Saquet (2006) território é:

O território é natureza e sociedade: não há separação; é economia, política e


cultura; edificações e relações sociais; descontinuidades; conexão e redes;
domínio e subordinação; degradação e proteção ambiental, etc. Em outras
palavras, o território significa heterogeneidade e traços comuns; apropriação
e dominação historicamente condicionadas; é produto e condição histórica e
transescalar; com múltiplas variáveis, determinações, relações e unidade. É
espaço de moradia, de produção, de serviços, de mobilidade, de
desorganização, de arte, de sonhos, enfim, de vida (objetiva e
subjetivamente). O território é processual e relacional, (i) material, com
diversidade e unidade, concomitantemente (SAQUET, 2006, p.83).

Os elementos que configuram esse território boliviano e brasileiro são


heterogêneos devido às múltiplas variáveis que demarcam seus espaços. Os
conceitos de território são originados de um movimento da Nova Geografia, pois se
emerge da Geografia uma grande preocupação em compreender as contradições
sociais, as transformações econômicas e políticas.
As transformações decorrentes dos fenômenos em cada região quando
migrada carrega, muitas vezes, sofrimentos e medos, mas também muitas
esperanças e desejos de ajudar e colaborar para que as comunidades cresçam nos
valores culturais, econômicos e espirituais. Segundo Martine:

Em um contexto global, as migrações internacionais recentes podem ser


explicadas pelas mudanças na forma de regulação da produção que
45

acentuaram as desigualdades regionais no mundo estimulando os fluxos de


capitais e mercadorias mudando os padrões tradicionais da migração
(MARTINE, 2005).

O processo de globalização, sobretudo é um dos processos que mais


contribuem para essa migração internacional desenfreada que ocorre em todos os
continentes e de forma incessante. Na América latina tem crescido significativamente
o fluxo de pessoas nessas fronteiras, na nossa pesquisa e vista sempre de forma
bilateral devido à grande presença da globalização e novas técnicas que são
crescentes nas relações sócios temporal. Esse contato entre as duas fronteiras do
fluxo bilateral trata-se com a grande procura de brasileiro em cursar as Faculdades de
medicina bolivianas devido os preços acessíveis. As principais cidades que recebem
anualmente os brasileiros são Cochabamba, Santa Cruz de La Sierra e atualmente
Guayaramerín são migrantes que vão de todo país principalmente das fronteiras,
como os estados de Rondônia, do Acre, do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul esses
estados são os que possuem maior quantitativo de imigrantes 11devido o contato
limítrofe direto com a fronteira em extensão territorial.
Essa migração internacional é bastante seletiva, visto que, a integração
econômica idealizada e gerenciada pelo distanciamento entre países pobres e ricos,
são propulsores das desigualdades no processo da globalização. Mesmo se
encontrando distante dos grandes centros de migrações em espaços luminosos ou
racionais12, a mudança dessa tal globalização adentra em toda área de fronteira
internacional atingindo principalmente as regiões de grandes tensões de periferias
como o município de Guajará-Mirim, onde, não possui qualquer que seja uma ligação
de desenvolvimento regional, local e mundial. É um município que se encontra ainda
na zona de terceiro mundo ficando muito aquém dos processos de globalização.

11 Imigrante: é aquele que migra, ou seja, aquele que entra em um país estrangeiro, com
objetivo de residir ou trabalhar. O imigrante para permanecer legalmente dentro do território
escolhido deve seguir as “leis de imigração” estabelecidas em cada país.
12 FERREIRA, Ricardo Hirata. Texto que integra a Tese de doutorado:” Migração Internacional: Brasil
ou Japão o movimento de inserção do decasségui no espaço geográfico pelo consumo”, 2007. As
Migrações Internacionais na Geografia. A racionalidade cobre todo o Brasil, mas a sua existência está
concentrada em algumas áreas e não engloba a grande maioria da população. Muitos vivem à margem
ou precariedade nesse processo. É apenas uma parte dos brasileiros que está inserida de fato a
participar deste meio. A materialização do meio-técnico-cientifico-informacional faz parte do projeto de
modernidade que inclui o projeto de vida moderno. É este projeto de vida moderno, ou ideal de vida
moderno ou mesmo moderno, maneira hegemônica de ser viver hoje, não cessível á parte da
população brasileira, que impulsiona ou move parte da população a migrar para os espaços luminosos.
46

A integração bilateral faz dessa fronteira que se encontra na zona de terceiro


mundo não se encontrar em limites de isolamento, mas sim, se interagir
permanentemente nas relações sociais em diversas temporalidades. Buitoni, Júnior
nos abordam conceito de integração sendo:

A Integração está se processando por casamentos, vínculos familiares,


trabalho, comércio, esporte, turismo, fluxos migratórios, dentre outros
elementos condicionantes de uma aproximação muitas vezes independente
do Estado, quando não transgressora deste.(BUITONI, JÚNIOR. 2011 p.5)

Assim, a intersecção entre essas fronteiras ocorre de forma que se criam laços
parentais, econômicos, sociais e culturais.
As faixas de fronteiras entre Guajará-Mirim e Guayaramerín segundo Proposta
de Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (2010)
São visíveis enquanto a gestão de cada estado.

A concentração de efeitos territoriais nas cidades-gêmeas (incluindo fatores


de produção: terra, trabalho, capital, e serviços públicos e privados) e a
extensão desses efeitos numa distância indeterminada rumo ao interior de
cada território nacional tem implicações práticas para a atuação do Estado
em suas respectivas faixas de fronteira. A dificuldade advém principalmente
do fato de que esses efeitos se expressam com formas e amplitudes
diferenciadas no território, às vezes de forma conjugada ou isolada, contínua
ou descontinua (PRPDFF 2010, p. 152).

Algumas faixas de fronteira possuem diversos tipos de símbolos e significados


para demarcar seu território, outras as demarcações são invisíveis assim dificultando
a interação entre as fronteiras, entre sua econômica mesmo que estejam atreladas
geograficamente.
Algumas tipologias transfronteiriças utilizadas na Proposta de Reestruturação
do Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (2010) nos faz compreender
a terminologia utilizada para “cidades gêmeas”. Terminologia proposta pelo geógrafo
francês Arnaud Cuisinier-Raynal (2001) aput. PRPDFF com algumas adaptações ao
caso brasileiro. Dentro do plano da proposta pelo PRDFF possui cinco tipos tipologia
de interações transfronteiriças: 1) margem; 2) zona-tampão; 3) frentes; 4) capilar; 5)
sinapse. A que denomina a tipologia do lugar da pesquisa é “capilar” responsável por
diversas interações entre essas duas fronteiras.

As interações podem se dar somente no nível local, como no caso das feiras,
exemplo concreto de interação e integração fronteiriça espontânea. Pode se
dar através de trocas difusas entre vizinhos fronteiriços com limitadas redes
de comunicação, ou resultam de zonas de integração espontânea, o Estado
intervindo pouco, principalmente não patrocinando a construção de
47

infraestrutura de articulação transfronteira. A primazia é o local, antes de ser


nacional ou bilateral como no modelo sináptico (PRPDFF 2010, p. 146).

A interação e integração entre essas duas cidades fronteiriças, no caso


Guajará-Mirim e Guayaramerín são muito importantes para as boas relações entre os
países vizinhos, Brasil e Bolívia. Essas relações que ocorrem entre essas cidades
podem ser evidenciadas na feira municipal de Guajará Mirim. Nessa feira, localizada
no lado brasileiro, tanto os guajaramirenses como “los hermanos” bolivianos convivem
no mesmo espaço. Muita mulher brasileira casou-se com homens bolivianos e
vice-versa. Como também muita mulher brasileira casou-se com bolivianos e foram
morar no país vizinho na Bolívia.
Partindo ainda das contextualizações transfronteiriças a distribuição geográfica
das cidades gêmeas no Brasil é resultante do apoio de agentes institucionais como
unidades militares, eclesiásticas, jurídico-administrativo. Um tipo diferente de ação
institucional se observa dentro do território fronteiriço em Guajará-Mirim (Sub-região
Fronteira do Guaporé). A participação dos eclesiásticos nessa área é de apoio para os
imigrantes principalmente bolivianos.

A Igreja Católica em Guajará-Mirim e ao longo da linha de fronteira do


Guaporé até Mato Grosso administra hospitais, escolas, seminários, promove
ações sociais e realiza doações de áreas para construção de unidades
habitacionais, inclusive para imigrantes bolivianos. A ação transfronteira da
Igreja tem reforçado a integração com a cidade-gêmea de Guayaramerín
(Bolívia), apesar da ausência de ponte sobre o Rio Guaporé, contribuindo
senão para o desenvolvimento econômico sub-regional certamente para a
estabilidade da cidade brasileira, apesar dos anos de domínio das redes de
tráfico de drogas na fronteira do Guaporé (PDFF 2005, p.154/155).

Os agentes institucionais possuem uma política fronteiriça direcionada as


ações que é promover assistência direcionada aos imigrantes. Imigrantes que não
sejam somente bolivianos mais sem distinção de país, o papel dessas instituições
enquanto auxiliar os agentes que se deslocam constantemente em todo território
rondoniense é disponibilizar o mínimo para sua sustentabilidade humana na área que
lhe atraiu pelo processo migratório. Os imigrantes brasileiros que cruzam diariamente
a fronteira para a Bolívia fazem a migração pendular, são jovens que se enquadram
em um novo processo migratório existente entre essas duas cidades entre os anos de
2015 a 2016 em média são 100 alunos das primeiras turmas que estão cruzando para
o lado boliviano para cursarem faculdade de medicina, não há distinção de sexo.
48

O Arco da Faixa de Fronteira foi criado pelo Grupo de Estudos de Fronteira


Retis13 da Universidade Federal do Rio de Janeiro os autores 14 são responsáveis pela
elaboração dos estudos, do Programa de Reestruturação do Programa de
Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira. O presente
trabalho trouxe contribuições teóricas e metodológicas para a dissertação no que se
está sendo abordado sobre fronteira, migração, faixa de fronteira e zona de fronteira.
O PRPDFF trouxe com contribuição ao trabalho a dissertação, um dos três
arcos da faixa de fronteira criado pelo grupo “Retis”, o Arco Central que possui
configuração sócio espacial entre os seguintes estados brasileiros Rondônia, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul. Se estendendo de norte a sul no território nacional
oferecendo referência para o desdobramento de outras investigações sobre a faixa de
fronteira. Até aqui tratamos de migração internacional das mulheres bolivianas para o
Brasil especificamente estado de Rondônia residente no município de Guajará-Mirim.

Figura 1 - Arcos da Faixa de Fronteira

Fonte: Grupo Retis/ UFRJ. Acessado em 18 de out.2016.

13O Grupo Retis, formado por pesquisadores-doutores, doutorandos, mestres, mestrandos e bolsistas
de iniciação científica, atua desde 1994 no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, com apoio do CNPq, da FINEP, da FAPERJ e do CEPG/UFRJ e com a participação de
pesquisadores associados de outras instituições.

14Autor(es): Haesbaert. Rogerio; Machado. Lia Osorio; Novaes. André Reyes; Peiter. Paulo;
Ribeiro. Letícia Parente; Steiman. Rebeca. O objetivo deste trabalho é definir uma agenda
global de diretrizes, estratégias e instrumentos de ação destinados à Reestruturação do
Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira. A agenda tem como linhas condutoras o
desenvolvimento econômico regional e a promoção da cidadania dos povos da fronteira, num
momento em si estratégico de fortalecimento da integração sul-americana, como assumido
pelo Governo Federal no Plano Brasil de Todos.
49

O arco que subdivide os espaços de fronteira fora para atender a terminologia


utilizada para “cidades gêmeas”, que norteia algumas cidades do território brasileiro
na sua configuração sócio espacial. Essas faixas foram criadas para atender
politicamente a forma da organização e reprodução das áreas fronteiriças,
principalmente nas formas sociais, políticas e econômicas.
Os estudos sobre essa divisão são com comparações das áreas, assim,
identificando todos os critérios existem os culturais, históricos e étnicos, os estudos
simplificam as fronteiras conforme suas espacialidades e territorialidades. No arco
central que vai da região norte a região sul, existe algumas complexidades em sua
faixa de fronteira, devido não haver um marco físico que divide as fronteiras é isso
deixa os marcos sendo, como invisíveis para algumas que integram ao arco e com
denominação de “cidades gêmeas”.
A zona de fronteira formada pelos dois países engloba faixas fronteiriças
pertencentes a quatro estados brasileiros (Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul) e três departamentos bolivianos (Pando, Beni e Santa Cruz de la
Sierra).
Devido a sua grande extensão, esta fronteira, atualmente, é dividida
metodologicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em três
partes: norte – desde a foz do rio Yaverija, ponto tripartite Brasil-Bolívia-Peru, até o rio
Madeira (Estados do Acre e Rondônia no Brasil e Departamento de Pando na Bolívia);
central – região dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé (Estados de Rondônia e Mato
Grosso no Brasil e Departamento do Beni e Santa Cruz na Bolívia) e sul - desde a foz
do rio Verde (no rio Guaporé), até a Baía Negra (no rio Paraguai), ponto tripartite
Brasil-Bolívia- Paraguai (Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no Brasil e
Departamento de Santa Cruz na Bolívia).
50

CAPÍTULO II

O MIGRAR METODOLÓGICO

Fotografia 2 Mulheres no Momento da chegada na Associação dos Bolivianos.


Guajará-Mirim/RO
51

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2015.

Este capítulo expõe os aspectos físicos, sociais e culturais do município e as


bases teóricas e metodológicas que nortearam o trabalho de campo, os quais
buscaram dar visibilidade às mulheres e ao lugar, por se tratar de um espaço com
processo migratório intensivo e cheio de valores simbólicos.

2.1 CARACTERIZANDO A ÁREA DA PESQUISA: FRONTEIRA BRASIL E BOLÍVIA

O Brasil é o país que possui a maior extensão de fronteira com a Bolívia, esta
fronteira atinge 3.423,2 km, ou seja, 20% da linha divisória continental do Brasil com
os países vizinhos. Desse total, 751 km compreendem fronteira seca e 2.672 km é
compreendida por rios, lagos e canais, a região possuí 438 marcos demarcatórios.
(IBGE, 2012). A população atual do município é 46.632 habitantes segundo
estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE do ano 2015. A
área da Unidade Territorial (Km²) 24.855,724. Densidade demográfica 1,68 hab./km².
O Município analisado em nossa pesquisa encontra-se situada a cerca de
trezentos quilômetros de distância do município de Porto Velho capital do Estado de
Rondônia, conta com contingente populacional expressivo e possui diversos setores
Administrativos do Governo Federal, Estadual e Municipal. Apesar da distância da
52

capital, o município de Guajará Mirim15 é conhecido por suas festas culturais que atrai
considerável número de turistas em “alta temporada”. Cabe salientar ainda, que o
município conta com a participação de “Los hermanos” bolivianos para desenvolver
ainda, mas suas atividades turísticas tendo como atração a cidade de Guayaramerín-
Bolívia, que se encontra ao lado direito do rio Mamoré a montante do município. O
principal acesso ao país vizinho e pela atração econômica em produtos que são
importados por brasileiros ao Brasil como: perfumes, eletroeletrônicos, bebidas e
outros produtos.
O município situa-se na região amazônica, em uma das áreas mais
preservadas do Estado de Rondônia, destacam-se pela preservação dos recursos da
natureza e, também, por serem áreas de reservas e conservação. Para Ab’Sáber
(2003), a região amazônica é um gigantesco domínio de terras baixas florestadas que
se destaca pela grandeza da rede hidrográfica e pela continuidade das suas florestas.
O território desse município encontra-se quase que 93% em áreas de reservas, sendo
permanente sob controle dos órgãos competentes IBMA-Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Renováveis o que dificulta o desenvolvimento agroindustrial
dessa região, assim não dando visibilidade ao município para que se desenvolva nas
suas áreas de entorno.
O município possui uma riqueza cultural e social que exemplifica todo processo
dinâmico dentro desse espaço que é norteado pela migração entre essa nação
fronteiriça “cidades gêmeas” Guyaramerín lado (Boliviano) Guajará- Mirim lado
(Brasileiro). Segundo conceito Proposta de Reestruturação do Programa de
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira.

Adensamentospopulacionais cortados pela linha de fronteira – seja esta seca


ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura – apresentam grande
potencial de integração econômica e cultural assim como manifestações
condensadas dos problemas característicos da fronteira, que aí adquirem
maior densidade, com efeitos diretos sobre o desenvolvimento regional e a
cidadania (PRPDFF, 2005, p. 152).

Com um quantitativo de alta troca cultural e econômica nessa fronteira faz-se


do lugar criar algumas complexidades com o desenvolvimento regional e da

15 A pesquisa foi realizada no Município de Guajará - Mirim estado de Rondônia, o qual passou por
processos de colonização e migração em seu território ao longo de sua formação até sua atual
configuração. Sua fundação foi em 10 de abril de 1929. Em 1943 passou a se constituir parte integrante
do Território Federal do Guaporé (Rondônia) criado pelo Decreto lei nº 5812, de 13 de setembro, na
condição de município mantendo a mesma denominação. Possui o gentílico de Guajaramirense, tem
como padroeira da cidade Nossa Senhora do Seringueiro.
53

cidadania, o que exemplificada pela integração é a interação permanente de pessoas


que cruzam a fronteira diariamente. Sendo que, o município de Guajará- Mirim já
possui um grande contingente populacional de diversos ciclos migratórios e
comunidades tradicionais. A cidade de Guayaramerín conta também com uma grande
presença de migrações boliviano 16 vinda de todo país, com características
econômicas e conflitos étnicos neste país.
O município tem grandes atrações socioculturais possibilitando movimento
econômico por tempo de eventos marcantes dentro desse território é o “Duelo na
Fronteira” entre dois “Bois Bumbá Folclórico” “Malhadinho” e “Flor do Campo” que
atraem muitos turistas nos dias dos eventos. Outra atração turística que é
desenvolvida no município são as áreas de livre comercio. Esse mercado de
circulação dentro desse município tem atraído turista tanto nacional quanto
internacional, há um intercambio muito grande entre esses dois países fronteiriços.
Para que possa compreender a interação entre esses dois países fronteiriços é
possível analisar todo contexto histórico existente até o presente momento.
Adversidade cultural intensa que se apresenta principalmente pela variação
lingüística, o que torna a Bolívia um território Plurinacional onde não se reconhece
uma língua materna definida, mas a existência de várias línguas indígenas e do
Castellano SANTOS 2012. Com toda essa diversidade cultura existente dentro
desses territórios, criou-se alguns contextos com diálogos que podem ser casos de
estudos dentro do campo da ciência, mas adiante, sendo, a heterogeneidade de
alguns grupos indígenas nessa área de fronteira e a resistência dessas
plurinacionalidades desses grupos, uma vez que, á um grande quantitativo desses
nativos nessa região.
A Bolívia sendo antiga colônia Espanhola que se tornou independente em 06
de agosto de 1825 (data festiva na fronteira das cidades de Guajará-mirim/
Guayaramerín), desde então a Bolívia passou por vários conflitos, guerras civis e
conflitos externos com vizinhos como foi dito acima, toda essa conjuntura favorece a

16 Os primeiros habitantes migraram do interior da Bolívia para trabalharem nos seringais


próximos a fronteira. Naquela época tinham esperança que a ferrovia Madeira-Mamoré
cruzasse o rio Mamoré para escoar a borracha produzida naquele país. No entanto o projeto
ferroviário de ligação entre os dois países não foi concretizado a ferrovia permaneceu apenas
em solo brasileiro. (Santos, Zuila Guimarães Cova. “Multiculturalidade Na Fronteira
Brasil-Bolívia (Rondônia): Uma Leitura Das Realidades Plurais”. Congresso Internacional
Interdisciplinar Em Sociais E Humanidades Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06
de Setembro de 2012, ISSN 2316-266X.
54

imigração, o problemas sociais enfrentados hoje pelos menos favorecidos


economicamente e em educação, que representam maioria da população no país, é
exatamente esta a grande massa de migrantes que ruma para outras localidades em
busca de emprego e maiores salários, foi assim, desde o ciclo da borracha e
permanece até os dias de hoje.
A cidade de Guayaramerín pertence ao Departamento de Beni-Bolívia foi
fundada pelos pioneiros da borracha no ano de 1892. No período de 1905 a 1915
chamada de Puerto Sucre e posteriormente recebeu o nome atual. Guayaramerín,
Riberalta e Cachuela Esperanza são cidades bolivianas que possuem mais de um
século de existência e desenvolveram a partir da produção da borracha e castanha.
(SANTOS, 2012, p. 06).

MAPA DA CIDADE DE GUAJARA MIRIM


55

Fonte: Silva, 2017

A pesquisa foi desenvolvida na área urbana da cidade de Guajará mirim. O


município possui aproximadamente quinze bairros oficiais, distribuídos entre a área
urbana e área rural do município. Quase todos os bairros possuem um quantitativo
expressivo de migrantes residentes bolivianos. As vias de acesso pela rodovia federal
BR 364 e rodovia interestadual BR 425, outra via de acesso via fluvial que se limita
com o país Boliviano os rios Guaporé e Mamoré. Possui um aeroporto inativo para
vôos de grande porte comandado pela Força Aérea Brasileira- FAB. A principal
atividade econômica é dos setores primários e terciários.

Fotografia 3: Embarcações no rio Mamoré lado Brasileiro, principal meio de transporte


entre a fronteira Brasil/ Bolívia.
56

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2015.

O principal acesso aos dois lados fronteiriços é via fluvial e em embarcações


de pequeno porte, a duração da travessia é em apenas 5 minutos no período da
cheia, já na vazante o tempo é um pouco maior cerca de 5 a 10 minutos devido o
aparecimento de bancos de areia que forma praias e formação de algumas ilhas em
meio ao percurso. As embarcações atende em média de 12 a 20 pessoas
dependendo do tamanho do barco. No lado brasileiro o proprietário da frota de
embarcações que faz o transporte fluvial para a margem boliviana, o comerciante
Oscar Milan Franco.
As duas cidades são interligadas internacionalmente devido ao grande fluxo de
pessoas diariamente. O comercio dos dois lados são movimentados pela moeda
brasileira real, boliviano e o dólar. Os setores de serviços públicos são mais
fragilizados, encontramos um alto índice de complexidade tanto do lado brasileiro
quanto do lado boliviano, o acesso à saúde principalmente deixa a mercê quase toda
população que se encontra de forma desfavorável dentro dos dois lados fronteiriços
em especial aqueles que são indocumentados.
No Brasil, o acesso a saúde e delimitada somente aos migrantes que se
encontram de forma legal, assim como, do lado boliviano. Para que os migrantes
tenham acesso à saúde básica é realizado junto ao consulado boliviano instalado no
município de Guajará Mirim um apoio vindo dos Governantes Bolivianos. Todos os
57

atendimentos são realizados na Associação dos Bolivianos Residente em Guajará


Mirim/ RO fundada na década de 1990.

Fotografia 4: Imagem da qual retrata os caminhos que os imigrantes Percorrem no


território brasileiro.

Acervo, GOMES, Meridiana Guajará-Mirim, 2016.

Quanto às formas de organização e de assistência social ao migrante, o


Município conta com apoio da Diocese do Município Igreja católica, Consulado
Boliviano e escolas de ensino fundamental e escolas de ensino médio que dão
condições de estudos não só os alunos brasileiros, mas também muitos alunos
bolivianos que se encontram residentes no município ou os próprios que cruzam a
fronteira diariamente somente para estudar.
A administração do “Consulado Boliviano” no município de Guajará-mirim
encontra-se a cargo do Sr.Haisen Ribera Leigue nomeado pela República Federativa
do Brasil Ministério das Relações Exteriores sede em Brasília capital do Brasil, o
mesmo trata da migração boliviana, bem como de assuntos referentes a acordos
Brasil e Bolívia, saúde, educação e tratar de alguns assuntos direcionados aos
direitos e deveres desses migrantes em território brasileiro.
A Diocese de Guajará-Mirim Serviço Pastoral dos Migrantes desde década de
1970 começou ao lado sul do estado- Colorado do Oeste e segue em direção a Costa
marques e Nova Mamoré. Essa migração foi promovida pelo Governo Federal, que
visava o esvaziamento dos conflitos sociais no sul e no centro do país, fez com que
58

milhares de famílias migrassem à região despreparada para atender todo fluxo


migratório advindo de várias regiões e até países estrangeiros.
Segundo a Diocese de Guajará- Mirim migração nova de fronteira são famílias
que se destinam residir no Brasil – busca de emprego e estudos dentro de outro país.
Migrantes que residem no Brasil advindos do país Boliviano buscam melhores
condições de vida, sobretudo, manutenção familiar. Um dos processos migratórios
que as pesquisadas desenvolvem é a migração permanente “atraídas pelo mercado,
muitas desenvolvem de forma formal ou informal em(pequenos comércios- na rua) a
condição de sua irregularidade (sem condições de retornar), assim se tornam
“pedintes” ou “mendigos” sem contar da sua mão de obra barata e muitos até
escravos da própria sorte sem ter alternativas para sua subsistência.
Alguns problemas que encontramos no campo com as pesquisadas foram:
1-Econômico onde muitas são residentes na cidade, sem qualificação
profissional- é parte do “mercado informal” e buscam alternativas “bicos” (trabalham
em mercearias, vendas de pão caseiro e salgados pelas ruas e praças nos fins de
semana). Uma das complexidades dessas mulheres que migram o Brasil não tem
auto sustento “renda econômica” não podendo pagar sua documentação pessoal,
assim, se tornam clandestinas e ficam vulneráveis a diversos tipos de discriminação.
2- A indocumentaçao de pessoas que residem por muitos anos no território
brasileiro parte de uma idade mínima de 19 a máxima de 40 anos, essa população é
um perfil de muitos que vivem até mesmo sem registro de nascimento. Hoje, os
serviços que algumas instituições eclesiásticas 17 desenvolvem é orientar essas
pessoas para que possam se legalizar e terem seus direitos enquanto cidadãos tanto
brasileiros quanto bolivianos.
3- Discriminação foi uma das perplexas “falas” que muitas migrantes relataram
no ato das entrevistas, um dos principais atos discriminatórios é por serem bolivianos,
fazendo uso de termos como “marginais e facilitadores do tráfico de drogas”
principalmente no município de Guajará- Mirim.

17 Diocese de Guajará-Mirim Serviço Pastoral dos Migrantes, a pastoral tem feito


mobilizações como o apoio do Bispo Dom Geraldo Verdier para ajudar em casos de doenças,
cestas básicas e conseguir a documentação pessoal, ajudando a pagar taxas, e conseguir as
traduções com a colaboração do Consulado. São pessoas residentes por muitos anos no
Brasil sem documentos, desempregados não tem opção de trabalho e não tem meios para
retornar ao lugar de onde vieram, são obrigados a mão de obra barata, ainda pessoas que
sem alternativas tornam-se catadores de lixão. Relatório de 29 de dezembro 2009.
59

Quadro 1- Órgãos e Instituições


Responsáveis pela regularização dos Imigrantes
Setor migratório; pega os requisitos para dar
início ao processo de regularização da
Polícia Federal
permanência de acordo com a necessidade
desejada
Inscrição consular, tradução para estudantes e
Consulado Boliviano No Brasil visto para os estudantes que estudar na
Bolívia
Fórum Traduções, antecedentes civis e criminal
Polícia Civil Antecedente Criminal do Estado
Justiça Federal Antecedentes e receber a naturalização
Defensoria Publica Registro de Nascimento Tardio
Agendamento para aposentadoria e
INSS
Contribuição Social
Cartão do SUS, Encaminhamento para
Secretaria De Saúde tratamento de saúde, a casa de apoio em
Porto Velho Capital.
Correios, Receita Federal e
CPF e Carteira de Trabalho
Ministério Do Trabalho
Cartório Civil, Cartório De Notas, Emitir a autenticação e reconhecimento de
Ministério Publico Firma em território brasileiro
Cartório Civil, Consulado Brasileiro, Migração
Bolívia
E Policia Nacional
Analisar os processos enviados pela PF ao
Brasília Ministério da Justiça e emitir os pareceres
deferido ou indeferido ao migrante.
Fonte: Relatórios da Diocese de Guajará-Mirim/ RO, Serviço Pastoral dos Migrantes. Adaptado por Silva, Ana
Carla Taborga ano 2017.

Ainda tratando desses contextos de assistência aos migrantes neste município


trago um quadro acima que exemplifica o percurso e tramites que tendem a percorrer
para se regularizarem no Brasil. Os moradores também possuem uma forma de
organização através da associação denominada Associação dos Bolivianos
Residentes em Guajará-Mirim, a qual corresponde aos moradores no que se refere às
questões sociais. Essa associação foi criada para atender as necessidades desses
migrantes. Localiza-se em um dos bairros mais antigo do município Santo Antônio um
bairro periférico e com um quantitativo significante de bolivianos residentes.

2.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA: Aspectos Sociais e Culturais


60

Por fazer parte deste cenário Amazônico contribuiu interesse em investigar


esse processo migratório onde ocorrem várias formas de inter-relações entre os seres
humanos e o espaço que habita. Compreender essa mobilidade populacional advinda
de muitos processos migratórios para essa região engrandece muito e nos demonstra
as configurações atuais. Muitos fatos estão atrelados no processo de ocupação
dessas áreas amazônicas como a vinda de muitos Nordestinos e pela produção da
borracha no período da II Guerra Mundial.
Dentro desses processos migratórios a junção populacional tem contribuído
para a formação social e cultural deste lugar. Partindo destas perspectivas cabe fazer
uma análise sob o enfoque de gênero tornando-se de grande valia, pois, é um espaço
moldado por pessoas advindas de uma área fronteiriça e ciclos migratórios mediante
a criação e configuração do território rondoniense, são de complexas
contextualizações e contribuição para os estudos científicos do pesquisador. A partir
do qual vamos verificar como as diferenças entre gêneros influenciam nas formas de
ocupação e relação social que norteiam essa área de fronteira e fazem parte do
cotidiano dessas mulheres.
Compreender a realidade dessas migrantes nos faz conhecer como ocorre em
seu cotidiano no espaço de vivencia. Analisou-se o cotidiano desses sujeitos
bolivianos e as formas de relações sócio temporal que colaboraram para a produção
do espaço as abordagens de gênero tanto no espaço privado, quanto no público.
A discussão sobre as formas direcionadas quanto ao gênero e as formas de
organização e ocupação de determinadas posições na vida dessas migrantes
embase-se a partir da consideração de uma construção social e histórica de papéis e
identidades atreladas ao masculino e ao feminino. Dentro dessas abordagens vamos
direcionar os estudos para compreender como a mulher está inserida nesse processo
de migração. Uma vez que, algumas das vezes nos deparamos com estereótipos
criados culturalmente e historicamente, as quais culminaram em algumas limitações
quanto ao gênero masculino e feminino no decorrer de todo processo e até mesmo na
sua vida.
Analisar um processo migratório em uma área que passou por várias
mobilidade populacional e ainda passa sob a ótica das relações entre seus
habitantes, no caso nosso trabalho, a partir das formas como se dão as relações e
gênero, como os indivíduos se distinguem como homens e mulheres, de que maneira
reproduzem e ocupam seus espaços e tomam suas decisões e quais são os órgãos
61

que amparam essas pessoas diante de todo processo migratório para que seus
direitos venham ser respeitados, torna-se uma atividade de percepção e investigação
incansável na busca de uma melhor forma de abordem metodológica. A dialética nos
proporciona esses contrapontos dos fatos de estudo (objeto sendo os sujeitos e os
fenômenos sendo o processo migratório da mobilidade humana).
As pesquisadas são direcionadas a algumas mulheres bolivianas que residem
em Guajará-Mirim, não tendo discernimento de ser legalizada ou ilegalizada na
cidade. O que facilita uma abordagem e um contato com a realidade delas. Um dos
principais critérios para a aplicação do instrumento da pesquisa foi respeitar as
pesquisadas enquanto sujeitos da pesquisa, sendo, muitas não se encontram com
sua regularização junto aos órgãos competentes desde o início do processo até o
termino.
Por esse motivo, adoção dos instrumentos de coleta dos dados, os
questionários foram elaborados com perguntas objetivas que foram quantificadas, a
partir das e entrevistas, onde possibilitou, se aproximar o máximo da realidade dentro
do processo migratório de cada pesquisada. Ressalta-se, ainda, a importância da
adoção correta de instrumentos da pesquisa, pois estes são um dos principais
fornecedores de nossas informações.

2.3 MÉTODO

O espaço analisado pela ciência geográfica deve ser definido pelos estudos
sobre processo migratório, precisando ser consideradas todos os processos que
dispuseram essa mobilidade humana. O ponto de início foi uma análise sob os
diversos fatores que impulsionou esse processo migratório, mesmo conhecendo
algumas complexidades e realidades das pesquisadas nos faz obter uma filtragem na
captação das vastas informações, devido à interação entre os indivíduos envolvidos.
O objetivo geral desta pesquisa foi identificar verificar e analisar a configuração
sócio espacial dos movimentos migratórios que as mulheres bolivianas desenvolvem
saindo do seu território, ultrapassando a área de fronteira entre o Brasil e a Bolívia,
bem como investigar o seu modo de vida, a partir dos estudos e discussões de
gênero e ainda, se há estabilidade no Brasil.
A pesquisa se concretizou com o método dialético proposto por
SUERTEGARAY (2002), com abordagem quantitativa e qualitativa. De acordo com
62

essa autora, no método dialético, o campo como realidade não é externo ao sujeito é
uma extensão do sujeito, como é numa outra escala a ferramenta para trabalhar uma
extensão do seu corpo, ou seja, a pesquisa é fruto da interação dialética entre sujeito
e objeto.
Para afirmar o método utilizado David Harvey 18 (1980), aborda o espaço sob
outra perspectiva. Num contexto dialético, vai conceber o espaço como sendo ao
mesmo tempo, absoluto (com existência material), relativo (como relação entre
objetos) e relacional (espaço que contém e que está contido nos objetos). Explicando,
o objeto só existe quando se representa algo a si próprio ou relações com outros
objetos. O autor ainda afirma que, o espaço não é num um, nem outro em si mesmo,
podendo transformar-se em um ou outro, dependendo das circunstancias.
Por isso, toda e qualquer compreensão dos métodos para a produção e
abordagem dos dados são significantes para estudar os fenômenos migratórios
existentes na fronteira entre Brasil e Bolívia, já que será feita uma abordagem de
como esses processos migratórios interferem na vida dessas mulheres e se há algum
apoio destinada como “políticas públicas” ou ação social que podem ser direcionadas
para elas dentro do território brasileiro.
No método dialético buscamos conseguir uma solução para discernir essas
contradições ocorridas dentro desse processo migratório, quando, mulheres se
propõe a mudar de vida não só para confrontar sua invisibilidade, mais para dar
continuidade ao meio de sobrevivência familiar.

2.4 Trabalho de Campo

A pesquisa de campo nos traz como ação a explicação e transformação, as


necessidades do campo são pensadas com vistas a sua transformação. Os estudos
geográficos apontam para a ação do território através da construção de novas
territorialidades seguindo as percepções sociais de forma endógena é exógena.
Segundo Suertegaray,

A pesquisa de campo constitui para o geógrafo um ato de observação da


realidade do outro, interpretada pela lente do sujeito na relação com o outro
sujeito. Esta interpretação resulta de seu engajamento no próprio objeto de
investigação. Sua construção geográfica resulta de suas práticas sociais.

18David Harvey (l980) em seu livro Justiça Social e a Cidad.


63

Neste caso, o conhecimento não é produzido para subsidiar outros


processos. Ele alimenta o processo, na medida em que desvenda as
contradições, na medida em que as revela e, portanto, cria nova consciência
do mundo. Trata-se de um movimento da geografia engajada nos
movimentos, sejam eles sociais agrários ou urbanos. Enfim, movimentos de
territorialização, desterritorialização e reterritorialização (SUERTEGARAY
2002, p. 05).

Entende-se que, nesta perspectiva, o geógrafo (sujeito) é objeto (campo) e


campo (é sujeito). O geógrafo, neste caso, visualiza o mundo como uma totalidade
complexa e dialética. Trata-se, como diz Morin (1982), de um sistema que não deve
ser compreendido como na biologia (externo ao sujeito). Trata-se de um sistema
mundo da qual faço parte como observador/transformador de mim e de mim nele.

2.5 A pesquisa qualitativa

Para a realização da estrutura desta pesquisa adotamos a pesquisa qualitativa


com as seguintes técnicas e procedimentos metodológicos: levantamento
bibliográfico, o trabalho de campo foi direcionado em três etapas, primeiro momento
foi levantado junto a Polícia Federal informações do Setor de Migração instalado
dentro desse departamento, o segundo momento foi buscar colaboradores para o
desenvolver do instrumento da pesquisa e o terceiro momento aplicação do
questionário, observação simples, elaboração do diário de campo, tabulação dos
dados e organização dos dados analisados.
A pesquisa foi direcionada especificamente para as mulheres que residem no
município de Guajará-Mirim que migraram do país boliviano fronteira com o Brasil. A
técnica utilizada para melhor compreensão e abordagem dos dados do processo
migratório parte da observação participante que adotamos BORGES (2009) “é a
técnica ou método em que o processo de observação deve ser feito de maneira direta
ao grupo a ser pesquisado”. Dessa maneira o sujeito a ser pesquisado são
principalmente as mulheres trabalhadoras e chefes de família que ocupam a parte
interna do seu lar e o espaço público. Uma das áreas de concentração com grande
movimento de mulheres bolivianas se encontra na feira municipal área central do
município, muitas também se dispersam pelos bairros Jardim das Esmeraldas, Santo
Antônio, Planalto e Triangulo onde há maior freqüência de ocupação dessas
Bolivianas residentes.
64

Figura 02: Cidade de Guajará-Mirim/ Rondônia- Brasil.

Fonte: www.google.com.br (acessado em 06/04/2017) org. por Silva, 2017.

A abordagem quantitativa refere-se aos levantamentos de dados numéricos,


com maior aproximação da realidade, é neste sentido que se pretende obter os dados
para a análise qualitativa. Os dados quantitativos foram elaborados a partir do
instrumento aplicado os questionários, onde, obteve perguntas direcionadas as
colaboradoras, para que elas pudessem descrever de forma que demonstrasse sua
realidade. A imagem 02 extraída descreve a área urbana e área rural do município,
junto da divisão territorial que limita uma fronteira a outra o rio Mamoré. Os dados
quantitativos apresentados na pesquisa foram, as tabulações elaboradas de gráficos
resultados dos questionários.

2.6 Observação participante

Uma vez que estamos tratando de pesquisa qualitativa, foi realizada


observação participante no meio em que vivem e desenvolvem suas atividades no
município de Guajará-Mirim. Nessa fase de observação, é muito importante
mencionar o principal o material usado o diário de campo. Esse material de pesquisa
65

é relevante para registro do pesquisador, é uma ferramenta de campo do pesquisador


para descrever e narrar toda a experiência, tudo que foi visto em campo com detalhes
precisos, detalhes esses que só é válido quando se vive a experiência.
Assim, Nascimento Silva (2002, p. 67) acrescenta que “a observação é um
elemento imprescindível na coleta de informações, é através dela que se inicia o
primeiro contato”. Dessa forma ocorreu todo nosso trabalho de campo.
No diário de campo, pode-se conter também o que aconteceu no decorrer de
uma entrevista ou o que se vê no dia-a-dia no espaço de atividade dessas
pesquisadas outro lócus de investigação, anotando-se ainda as ideias que se pode ter
durante a pesquisa de campo.

Observação participante é a técnica, e alguns autores vão dizer método, em


que o processo de observação deve ser feito de maneira direta, ou seja, o
observador ao observar, participa da vida do grupo a ser pesquisado. É um
processo pelo qual o pesquisador deve se integrar ao grupo, analisando-o de
dentro para fora, por meio de vivências e convivências cotidianas. (BORGES,
2009, p. 186).

Nas abordagens das análises na ciência geográfica os dados obtidos em


campo referente a um estudo das relações sociais humana no espaço e considerado
que estas, sejam, influenciadas pela cultura e forma que ocupam seu espaço, a
observação participante no desenvolver da pesquisa se torna ferramenta importante
para a interpretação e coleta de dados, ligando, as relações da teoria com as
condições das pesquisadas em campo.
“A observação participante, pautada pela necessidade de entender e explicar
as sociedades, suas instituições, suas relações, enfim, um mundo humano, que cria e
é criado pela cultura” (BORGES, 2009, p. 185). A análise a partir de uma observação
participante exerce um importante papel de coleta de dados, pois auxilia na
compreensão de como o indivíduo se insere em um meio social.
Com este procedimento foi realizado estudo bibliográfico para compreender a
forma que a observação participante teria validade dos acontecimentos. Uma vez que,
o pesquisador atua em certa pesquisa se integrando aos pesquisados. As técnicas
utilizadas para a obtenção dos dados direcionada a analise proposta no processo
migratório, incluem-se: entrevistas semiestruturas, observação participante e registros
fotográficos, fontes bibliográficas em órgãos como PF, Associação dos Bolivianos,
Consulado Boliviano e Pastoral do Migrante em Guajará-Mirim.
66

2.7 Relatos de campo

A pesquisa de campo é o conhecimento feito através da vivência em


transformação. Os relatos de campo são realizados por etapas em diversos
momentos, de início buscou-se dados dentro das instituições que trabalham
diretamente com essas migrantes, outro momento buscamos localizar onde que
poderíamos encontrar o maior quantitativo de mulheres para que fossem aplicados os
questionários, logo, mas, participamos de alguns momentos da ação que a
Associação dos bolivianos propôs para essas migrantes e analisar se condiz com o
que foi nos apresentado do apoio dado pelo Consulado Boliviano.
O primeiro momento foi no Departamento para Migrantes na sede da Polícia
Federal, campo realizado em dois momentos no dia dez no mês abril de dois mil e
dezesseis, realizou-se nesse campo dialogo com Policial Federal Alexandre, o
responsável por atender todos os migrantes, que buscam se regularizar no território
brasileiro, e demais situações que envolve sua conduta neste município. Os passos
para dar início ao processo de regulação de permanência são de acordo com a
necessidade, porque tem vários tipos de permanência como: por filhos, casamento,
reunião familiar, temporária, fronteiriça, naturalização e o visto de entrada. O visto de
permanência mais solicitado pelos migrantes é “por filhos” quando as mães vivem
ilegais por muitos anos no município e não se regularizam. No segundo momento dia
vinte do mês de junho de dois mil e dezesseis foi realizado alguns levantamentos
junto do representante de algumas condutas de direitos que esses migrantes
possuem enquanto os acordos existentes entre Brasil e Bolívia.
O Setor de migração da Polícia Federal em nível nacional descreve que, a
Cédula de Identidade de Estrangeiro- CIE se ampara no (art.132 lei 6.815/80). No
caso Brasil e Bolívia possuírem territórios fronteiriços a CIE; possuí decreto 6.737/09
(acordo bilateral Brasil/Bolívia), e o decreto 6.975/09 (acordo de residência do
Mercosul e países associados), dentro desses decretos que são amparados os
direitos enquanto cidadão migrante e todo seu processo migratório até sua forma
legalizada.
Para que essas migrantes possam se legalizar e venha chamar de seu o lugar
que escolheu para viver é preciso se tornar cidadã brasileira, pois vai ser a partir daí
então que haverá sua ligação com o país de destino. Segundo o autor o uso do lugar
67

exprime a partir da materialidade o afirma enquanto ser existente em outra


nacionalidade.

O lugar é a materialidade das coisas e a objetividade da sociedade [...] Lugar


é cotidiano partilhado e compartilhado, é contigüidade, base da vida em
comum, de cooperação e de conflito, criador de comunhão e da política
territorializada, no confronto entre organização e espontaneidade. (COUTO,
2006, p. 24).

Tendo ainda outros órgãos responsáveis por emitir contribuição a essas


migrantes, sendo o, Fórum responsável por emitir a tradução, antecedentes civis e
criminais. Toda a regulação parti do princípio, desde a nacionalização do seu país de
origem com todos os documentos até seu antecedente criminal. Sendo assim, a
irregularidade dos migrantes para a justiça nacional impossibilita de serem registrados
legalmente em território nacional. Todos os procedimentos realizados para a
regularização são encaminhados ao setor do DICRE/DPF/BRASILIA/DF.
Um segundo momento importante da pesquisa foi visitar e participar na
associação, sendo que foi também momento para desenvolver o instrumento da
pesquisa, uma vez que, ali se encontravam muitas mulheres. No dia vinte e oito do
mês de maio do ano de dois mil e dezesseis, foi comemorado o dia das mães no
calendário boliviano. A comemoração no Brasil foi promovida pela Associação dos
Bolivianos localizada na avenida José Cardozo Alves bairro Santo Antonio. Nesta
confraternização tinha aproximadamente 40 mães que foram comemorar a data do
calendário boliviano. O presidente da associação o senhor Rolando juntamente com
outros integrantes da associação foram os responsáveis por esta data festiva. No
transcorrer da comemoração foram realizados sorteios de diversos brindes para as
mães presentes. Uma das falas do presidente da associação era “este dia és para lãs
madres”. O perfil das mães que ali se encontram era idosa e mães jovens.
No momento das homenagens foram apresentados todos os representantes da
associação, pude perceber que todos os que integram aos cargos de chefias são
homens. Assim, nota-se que os homens ocupam sempre os cargos de maior
representatividade no espaço público no que é destinado ao grupo dos migrantes. Já,
as mulheres apenas ajudam como a dona Cátia esposa do presidente da associação
ela desenvolve todo trabalho de ornamentar, cozinhar, atender as mulheres no que se
refere ações direcionadas as mesmas. Todas essas atividades estão visíveis na
desigualdade de gênero, onde, essa mulher mesmo que ela desenvolva quase que
68

toda a atividade ela sempre se encontra em segundo plano. Espaço esse que torna
sua mão de obra desenvolvida em mera ajuda ao marido.
Outro momento que pude participar junto da associação dos bolivianos foi no
dia quinze do mês de junho de dois mil e dezesseis, com atendimentos da Secretaria
Municipal de Saúde de Guajará- Mirim o trabalho realizado neste dia foi vacinação de
idosos e crianças.
Na terceira e última observação de campo foi no dia dezoito do mês de junho
de dois mil e dezesseis, na associação foram realizados atendimentos de
especialistas vindos da Bolívia, sendo Clinico Geral, Ortopedista, Urologia, Dentista,
auxiliares de enfermagem e Advogada. Todos com auxílio do Consulado Boliviano e
Associação dos Bolivianos. Essa ação durou o dia todo, para que as pessoas que não
podiam comparecer pela manhã fossem pela parte da tarde.
O Campo na Pastoral do Migrante ocorreu nos dias trinta e um do mês de maio
de dois mil e dezesseis e no dia treze do mês de junho de dois mil e dezesseis,foi
feito uma entrevista com a Senhora Lola Araújo Rodrigues responsável por apoiar as
migrantes que procuram na diocese da igreja católica “nossa senhora do seringueiro a
pastoral do migrante” que se localiza na Avenida15 de novembro bairro Centro.
Os principais pontos questionados em campo quais foram o quantitativo
migratório entre homens e mulheres para o Brasil especificamente Guajará mirim,
Lola: a migração ocorre de forma direta tantos homens como as mulheres migram
constantemente. As principais reivindicações de todo esse processo migratório quase
que sempre é a melhoria na qualidade de vida. Elas vão a outros lugares buscar o
que não encontram no local onde moram.
No decorrer da pesquisa participante nos possibilita compreender a forma
como cada migrante ocupa seu espaço e a forma relacional entre as pessoas. Foi
visto que a mulher sempre se torna a “segunda voz” em tomar alguma decisão no
seio familiar, dentro do próprio espaço privado, já os homens por serem os que têm
maior participação nos espaços públicos ficam mais fáceis tomarem algumas
decisões e até mesmo em resolver questões burocráticas como: tirar a documentação
para sua legalização e permanência no país de destino.
Com essa consequência que atinge principalmente as mulheres torna muito
tardia a procura para tirar a documentação é isso barra a naturalização brasileira. Um
fator que têm contribuído muito para alguns casos de violência contra a mulher
migrante dentro do seu próprio âmbito familiar é sua ilegalização. Uma vez que, se ela
69

não tiver documentação se torna ilegal e subsequente se torna alvo de maior


fragilidade onde não poderá ter “vez” nem “voz” se submetendo a situações
degradantes por muitos anos da sua vida.
A Dona “Lola” apoiadora da Pastoral do migrante nos descreve em um dos
meus relatos em campo que o meio de renda dessas pessoas que migram para o
município de Guajará Mirim é retirado principalmente da coleta e reciclagem de
latinhas, ir ao lixão para buscar utensílios que possam ser aproveitados e trabalhar
em fazendas em situação irregular os tornando escravos da sua própria mão de obra.
Os moradores residentes dentro do próprio município se encontram
principalmente nas áreas, mas rarefeitas da cidade. Sua aglomeração é nos bairros
que foi ocupado de forma irregular por invasores gerando áreas de invasões.

2.8 Procedimentos para Coletas de Dados

Os instrumentos da pesquisa (questionários, entrevistas, registros fotográfico e


observações) foram elaborados junto ao grupo GEPGÊNERO. Algumas etapas para o
desenvolver da pesquisa foram realizadas:
Primeira etapa- levantamento bibliográfico para aporte teórico e descrever do
trabalho, incluindo a análise em bibliografias sobre os migrantes no município de
Guajará-Mirim;
Segunda etapa- prática dos trabalhos de campo, o levantamento e a análise
das informações referente à presença feminina nesse processo migratório, o modo de
ocupação e questões socioeconômicas desenvolvidas nesse município, através dos
relatos de moradores em lugares (bairros) com maior fluxo de migrantes. Visita aos
órgãos competentes.
70

Terceira etapa- compreendeu o trabalho de campo para a realização das visitas


as casas dessas migrantes, onde foi possível verificar a disponibilidade e aceite
destas quanto à aplicação dos questionários e, também, das entrevistas
semiestruturadas com algumas que se dispuseram em colaborar, juntamente aos
órgãos da Policia Federal, associação dos bolivianos e Consulado Boliviano;
Quarta etapa- compreendeu a análise das entrevistas e análise dos dados
coletados, foram tabulados e, após esta etapa, foi possível a elaboração da
dissertação. O campo torna-se uma ferramenta indispensável para tal pesquisa, o
diário de campo de visitas as colaboradoras a associação dos bolivianos, realizado
em maio de 2015/2016 constará no final do trabalho (Apêndice).

Procedimentos Metodológicos

Organograma dos Procedimentos Metodológicos .


Primeiro procedimentoSegundo procedimentoTerceiro procedim

Levantamento
VisitasBibliográfico
aos órgãos responsáveis
com leituras voltadas
pela migração
para Migração
no município
Internacional,
(polícia Federal,
Fronteira,
Consulado
Cultura,Boliviano,
Lugar e Gênero
Pastoral d
Organização dos Dados coletados com a Aplic

Levantamento dos dadosElaboração de Tabel


Confecção do instrumento da pesquisa

Descrição
Apresentação da pesquisa as colaboradoras das En
migrantes

Integração
Aplicação do instrumento dos dados obtidos
de pesquisa
71

Fonte: Organizado por Ana Carla Taborga da Silva, 2017.

CAPÍTULO III

GUAJARÁ-MIRIM: MIGRAÇÃO INTERNACIONAL DE MULHERES BOLIVIANAS

Fotografia 5: Encontro de Mulheres Bolivianas para Comemoração do dia das Mães.


Sede Associação dos Bolivianos.
72

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016

3.1 Mulheres Bolivianas

O cotidiano dessas mulheres bolivianas está ligado diretamente ao processo


migratório e seus fatores que antecederam para essa migração. Os dois lados da
fronteira estão como um dos principais componentes na vida dessa mulher, que além
de existir uma ligação com seu país de origem ela está ligada ao país de destino,
ambos com suas especificidades e complexidades.

Fotografia 06: Representação simbólica Bandeira da nacionalidade Boliviana.


73

Fonte: Acervo GEPEGÊNERO, 2016.

O espaço dessas mulheres é composto por diversos elementos de lutas e


conquistas. Cenas como esta da imagem acima sempre encontramos de pessoas de
mais idade que possuem uma ligação com a Bandeira do seu país de origem, sua
pátria, algumas refletem os momentos de luta que seu país passou até conseguir sua
independência.

Talvez ela não se sinta bem onde hoje reside, e tenha saudades de sua
moradia de outrora, que, sem mais nem menos, abandonou, ou teve de
deixar contra sua vontade. Será devorada por essa dor de estar distante. No
fundo e o escuro se encontra, de algum modo, a pátria de sua infância. Atrás
da casa aparece, logo, a casa, não mais como um real ponto de referência,
mas como um território central de todas as relações espaciais. (BOLLNOW,
2008, p.61).

Costa (2013) trata da questão da relação da pátria, os limites políticos, que


essas migrantes tentem a enfrentar em compor esse espaço, a fronteira. O que nos
faz compreender a relação entre essas duas fronteiras no município de
Guajará-Mirim, é a relação que as mesmas desenvolvem com suas singularidades:

As fronteiras serão examinadas em diversas escalas, pois elas são os


contornos de conjuntos de natureza e tipo os mais diversos: construções
geopolíticas datadas, multiescalares, multifuncionais – limites políticos,
74

fiscais, muitas vezes linguísticos, militares [...] Elas serão abordadas,


também, distinguindo-se as questões externas – relações internacionais de
proximidade entre Estados, relações entre etnias [...] – ou geopolíticas
externa; e as questões internas- efeitos internos dos traçados, processos de
construção nacional ou regional. (COSTA, 2013, p. 283).

A relação entre essas migrantes nessa fronteira abrange todas as escalas


naturais, quanto construídos por eles próprios, que podemos chamar de estrangeiros,
quando passa-se a estabelecer um sentido de diferente. É essa fronteira passa a ser
usada por esse migrante estrangeiro sendo temporariamente ou definitiva
desenvolvendo toda uma relação espacial.

Os fremd são, no uso mais antigo do idioma, os estrangeiros, os que não têm
por pátria nosso local de moradia. O trânsito moderno de estrangeiros
procura atraí-los. Mas que as pessoas viajem para o exterior pela simples
alegria de mudar é somente um fenômeno muito tardio. Antigamente se
falava da “miséria” da pessoa expulsa da própria pátria, que tinha de ir viver
no estrangeiro. (BOLLNOW, 2008, p.68).

As reflexões de Bollnow auxiliam a compreensão da relação entre a bandeira do


seu país e ao modo como representa na sua vida. O significado que o migrante traz
consigo sua bandeira retrata as lutas que esse país teve em períodos passados.
Muitos migrantes mais velhos descrevem que devido sua luta econômica e social em
seu país de origem não pretendem retornar, mesmo tendo um passado de muitas
conquistas. É com estes preceitos que muitas mulheres se identificam com o país que
escolheram para morar, onde têm seus trabalhos e alguns seus familiares.
Com os campos realizados para nossa pesquisa pode analisar e compreender
o que move a dinâmica populacional nos processos de migração feminina. Como o
campo foi em etapas ficou da seguinte maneira: nos dias 28/ 05, 15/06 e 18/06/2016
foram campos realizados na “Associação dos Bolivianos” a periodicidade foi com base
do desenvolvimento de cada ação nos dias que tinham. Na “Policia Federal” o campo
foi realizado nos dias 10/04 e 20/06/2016 a duração desse campo era somente pela
parte do matutino e por média de três a três horas e meias. Na “Pastoral do Migrante”
na Diocese de Guajará-Mirim foram 31/05 e 13/06/2016, neste último dia o campo foi
estendido até ao “Consulado Boliviano” para entrevista com o “Consul” o tempo de
cada dia de campo era proporcional ao atendimento dos responsáveis com o público,
por isso fez se necessário muitas idas a campo para as entrevistas.
Em uma das idas a campo no município, nos diálogos com essas moradoras
migrantes verificamos que estas se sentem estabilizadas no que se refere à moradia
fixa. Consideram que neste espaço e lugar encontram condições suficientes a sua
75

vivencia. É onde encontraram o meio de subsistência para sua família e desenvolve


as relações sociais com os demais compatriotas que residem no município.
Segundo dados do IBGE o percentual de imigrantes que adentraram a fronteira
brasileira no Estado de Rondônia subiu significativamente nos últimos censos
realizados, 7,4% de 1995 a 2000 para 13,1% entre 2005 e 2010 no município de
Guajará-Mirim.
O principalmente questionamento foi por que somente as mulheres bolivianas
estão sendo o sujeito da pesquisa? Pelo seguinte argumento quando se busca dados
sobre migração internacional ou migração somente, pode-se observar que os homens são
sempre os sujeitos dos fenômenos, mesmo quando as mulheres desenvolvem o processo
migratório junto dele, sendo acompanhante, conjugue ou parentais. Entendemos então a
necessidade de abordar as questões de gênero numa visão somente feminina na
pesquisa,com o intuito de investigar, as formas relacionais destas, tendo como foco
principal de análise a investigação da contribuição feminina boliviana na produção dos
lugares de vivencia brasileiro.
Não há números exatos de famílias residentes no Brasil no município de
Guajará-Mirim, alguns dados são da pastoral do Imigrante, Policia Federal e Associação
dos Bolivianos, segundo estes aproximadamente vivem oito mil bolivianos de forma legal
ou ilegal na fronteira lado brasileiro.
Segundo Censo Populacional de 2010 (IBGE, 2010), pudemos nos deparar com os
seguintes dados da presença de migrantes Bolivianos no lado brasileiro da fronteira, dos
quarenta e seis mil habitantes censo da referida cidade, dados do Consulado Boliviano de
Guajará-mirim evidenciam que residem entre 18 e 70 anos quinhentos e sessenta e oito
bolivianos nessa faixa etária, e com zero e 70 mil trezentos e trinta e três indivíduos fazem
parte desse processo migratório em solo brasileiro. Sendo desse total, 8,11% se
encontram em situação regularizada e possuem documentação que legaliza sua
permanência no município. O restante, maioria quase 91% permanecem na ilegalidade e
se encontram sujeitos, ás mais dura condições e adversidades.

3.2 Enfoque de gênero: vivência das mulheres na fronteira Brasil/ Bolívia

Ao fazermos a análise de como essas mulheres migrantes ocupam e


reproduzem seu espaço não podemos deixar de levar em consideração as
abordagens e discussões de gênero, que foram construídas cultural e socialmente e
76

que acabam a incentivar no modo que os indivíduos devam atuar em um espaço


social, o que impulsiona para sua vivencia as diversas formas ou atitudes existentes.
Segundo Joseli Silva (2009):

Gênero, portanto, não é uma realidade em si mesma, mas um ideal


exercitado cotidianamente por diferentes tipos de corpos que, ao agirem
pautados pela representação, superam a mera reprodução de papéis e
recriam continuamente a própria representação de gênero. Assim, o gênero é
um eterno movimento que se faz na ação humana criativa, e como toda ação
implica uma espacialidade, o caráter performático do gênero é
simultaneamente espacial e temporal (p.30).

E é a partir dessas evidências que se torna necessário estudar gênero na


geografia perante a consideração do espaço na fronteira. Considerando-se que as
clássicas definições de conteúdo sobre fronteira, observa, são pouco úteis quando se
tenta aplicá-las às situações geopolíticas encontradas em muitas regiões do terceiro
mundo. Ainda de acordo com Costa (2013, p.283) “é fundamental verificar
(empiricamente) cada processo em si, pois, sob certo aspecto, cada fronteira é uma
singularidade”. Dessa maneira, há uma grande possibilidade de analisar as relações
espaciais, nas quais os indivíduos que se encontram nesta fronteira exercem dentro
do espaço geográfico que formam e transformam este.
O termo singularidade, no que se refere aos espaços geográficos se insere no
fato de um ciclo recorrente de particularidades capaz não apenas de turvar a analise,
mas principalmente de desmanchar com certa facilidade modelos lógicos- formais de
abordagem previamente adotados.
Segundo o Diccionario de Geografía Aplicada Y Profesional 2015 afirmamos
que fronteira expressa duplo significado de limites entre as zonas de divisão:

La lectura más común de la frontera nos acerca a la separación y


diferenciación entre Estados y naciones. Estamos ante límites políticos
reconocidos que se convierten en guardianes de la soberanía nacional y que
están señaladas por hitos y símbolos específicos del poder, del control, de la
defensa y de la seguridad. En español, en portugués y en gallego, la palabra
raya/raia expresa el doble significado de límite y zona fronteriza; los
rayanos/arraianos son los habitantes colindantes y limítrofes que viven en
ambos lados19. (Diccionario De Geografía Aplicada Y Profesional, 2015, p.
223).

19 Tradução: A leitura mais comum da fronteira nos aproxima de separação e diferenciação entre
estados e nações. Somos confrontados com reconhecida fronteiras políticas tornar-se guardiões da
soberania nacional e são marcados por marcos e símbolos específicos de poder, controle, defesa e
segurança. Em Espanhol, Português e galego, a palavra stripe / Raia expressa o duplo significado de
limite e de borda de área; a fronteira / Arraianos residentes são adjacentes e vizinhas que vivem em
ambos os lados
77

Dentro dos estudos de gênero na fronteira Brasil e Bolívia os contextos são


complexos diante das peculiaridades entre as políticas de governo de cada país.
Mesmo discutindo entre alguns acordos existentes entre os países que compõem
acordos diplomáticos. Então, diante desse acordo as facilidades dentre essa área de
fronteira têm-se tornado em questão social grande facilitadora para muitas migrantes.
Com o objetivo de levantar dados a respeito das migrantes bolivianas
acessamos a banco de dados do GEPEGÊNERO visando coletar dados oriundos dos
questionários aplicados a vinte e seis moradoras migrantes no município de Guajará-
Mirim.
A aplicação dos questionários se deu de maneira aleatória, para que não fosse
feita nenhuma quer, que seja, discriminação ou preconceito enquanto migrantes
“ilegais” e “legais”, foram selecionadas algumas mulheres independente de ser “chefe”
de família ou do “lar”. Porém, dentro do quadro de perguntas do questionário
elencavam-se questões de cunho geral,como ocorreu sua migração (com quem
migrou), quais motivos a levou migrar para o Brasil, quais foram suas maiores
dificuldades encontradas no Brasil por ser migrante e se participa ou recebe algum
benefício do governo Boliviano ou Brasileiro e demais formas de trabalho e
participação social.

3.3 Perfil Migratório

A partir desse levantamento de dados tornou-se possível verificar como essas


mulheres atuam nessa área de fronteira tanto nos espaços de lazer e trabalho
(espaços publico) quanto nos espaços do lar (espaços privados). Selecionamos
questões referentes à profissão dessas moradoras, renda familiar, se sofreu algum
tipo de discriminação, como age diante dessa discriminação, como se senti na
condição de migrante, quantos anos reside no Brasil, sente saudade do seu país e
pretende voltar, e por fim, se elas encontram-se satisfeitas morando no Brasil na
condição de migrante.
78

0,07

passeio acompanhando 0,1


o marido acompanhando os filhos

0,24
0,28

com outros parentes 0,21


com os pais 0,1 sozinha

Gráfico 01: Perfil das Migrações. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero Migração
Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

No que se refere ao perfil que levou essas mulheres migrarem para o Brasil
destacamos com as que colaboraram com a pesquisa, a maioria migrou sendo
acompanhante do marido no total de oito das vinte e seis mulheres que responderam
o questionário, com os pais foi a segunda migração direta dessas mulheres para o
Brasil sendo sete do quantitativo de vinte e seis, as demais migrantes sendo no total
de seis deslocaram-se com alguns parente sendo estes ( tio, tia, irmã, irmão, primo ou
prima), outras três mulheres colaboradoras migraram quando de passeio a visitar
algum parente que já residia no município, algumas se deslocaram acompanhando
seus filhos. O percentual que se encontra estratificada são as mulheres que migraram
sozinhas de forma solitária. Dessa forma, ainda se passa por despercebidas como
sujeitos no processo migratório.
As contextualizações até aqui abordadas ainda são inconclusas, analisando o
perfil que gera o processo migratório dessas mulheres mostra que os fatores são
sempre norteados como coletivo, sobretudo no âmbito da família. Por essas
relevâncias que a dissertação se construiu diretamente por estudos diretos as
migrações femininas. Segundo Bilac (1995, p.69) “os estudos sobre migração
feminina contribuíram para a crítica das teorias migratórias baseadas nos modelos
79

econômicos clássicos, principalmente as do tipo push-pull forces, uma vez que os


movimentos migratórios de mulheres não se explicam por um comportamento
economicamente racional”.

0,06
0,03
situação economica passeio não respondeu
0,03
0,33

0,27

melhores condições de vida família busca de trabalho


0,27

Gráfico 02: Perfil motivo da migração. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

O gráfico acima refere-se aos principais motivos que essas mulheres tiveram
em migrar para o Brasil, uma das abordagens que prevaleceu nos dados foi a busca
de trabalho, com um quantitativo de onze das vinte e seis mulheres que colaboraram
com a pesquisa no município de Guajará-Mirim, estas não se contemplavam com
ofertas de trabalho no seu país de origem. Em função da família e as melhores
condições de vida são dados com percentuais iguais no total de nove pesquisadas,
devidos algumas descrever mais de um motivo que levou a migrar, dentro desse perfil
as melhorias nas condições de vida está atrelada principalmente a ter um lugar para
morar, ter condições de propor para sua família subsistência familiar, já, as que
migraram devido a família eram ainda crianças quando saíram do seu país Boliviano.
A situação econômica é um dos fatores que também contribuiu com essa
migração feminina para o Brasil, muitos ainda generalizam a situação econômica com
o trabalho, no perfil das nossas pesquisadas a questão econômica até aqui
mencionada está diretamente ligada aos salários baixos que recebiam no seu local de
80

origem, algumas saíram somente a passeio e permaneceram de vez o Brasil e uma


não respondeu a questão deixando em branco.

0,04 0,04 0,07


estudos 0,07
não teve dificuldade regularização dos documentos idioma
0,04

0,3

0,26

discriminação emprego estádia financeiro


0,19

Gráfica 03: Perfil da Permanência no Brasil. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Este dado acima retrata as algumas das dificuldades que essas migrantes
femininas encontraram para obter sua permanência no território brasileiro. Como os
dados foram bem diversificados, com mais de uma resposta, por ser aberta as
questões relatadas por essas migrantes, os percentuais das vinte e seis “oito” não
tiveram dificuldades na sua permanência no Brasil, devido seus pais já viverem no
Brasil. À outra questão que contribuiu para a dificuldade da permanência dessas
mulheres e seus familiares no Brasil no início foi seu dialeto, onde muitas não
conseguiam se comunicar com os brasileiros isso fazia com que muitas se sentissem
envergonhadas.Quatro das vinte e seis colaboradoras sentiram dificuldade na
regularização dos seus respectivos documentos como a transcrição das certidões
bolivianas para certidão brasileira, as questões financeiras para darem entrada na
Polícia Federal.
Os outros percentuais com menor quantitativo descritos por essas mulheres
foram em encontrar emprego e nos estudos, esses dois pontos descritos são
principalmente por falta de documentação brasileira. Nos estudos as pesquisadas
81

sentiam dificuldade por não possuírem sua documentação brasileira e nem boliviana,
outras não podiam concluir devido ter que trabalhar ostensivamente para ajudar a
manter o sustento da sua casa. Encontrar emprego era também outra questão que
contribuiu para as dificuldades de algumas mulheres muitas atreladas pela falta da
conclusão dos seus estudos. As dificuldades na permanência são muitas, os fatores
que colaboram nessa migração feminina, desde a financeira até nos estudos.
Para maior compreensão da permanência dessas mulheres no Brasil foi
preciso adotar por décadas o período que as mesmas residem no município de
Guajará-Mirim, os dados são iguais na permanência de um a dez anos e vinte a trinta
anos, dados este que descreve a maior migração feminina vinda para essa área de
fronteira que foi impulsionada principalmente por questões econômicas e sociais
vividas em seu país na Bolívia.

Gráfico 04: Quantos anos reside no Brasil. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Enquanto no período de trinta a quarenta anos e mais de quarenta são dados


que podemos descrever sendo das pessoas com mais idade, é estas que migraram
para a manutenção da família ou acompanhando seus respectivos maridos.
82

No que se refere ao apoio e política pública cedida pelo Governo Boliviano a


essas migrantes, foi perguntado às colaboradoras se eram contempladas com algum
benefício dado às mesmas, algumas são contempladas por benefícios da
aposentadoria ou recebem cesta básica do governo na cidade de Guayaramerín
departamento do Beni na Bolívia. Outra assistência dada pelo governo aos migrantes
é na associação dos bolivianos com atendimento médico vindos da Bolívia com o
apoio do consulado. As mulheres que não se contemplam com os benefícios do
governo Boliviano são maioria com o quantitativo de vinte e um, elas apenas
responderam que o sistema para poder receber a ajuda é burocrático e “não” vão
atrás. A tabela abaixo descreve a quantidade das colaboradoras que responderam se
recebem ou não o benefício do Governo Boliviano.

3.4 Políticas e Ações Para Mulheres Bolivianas

Benefício do Governo Boliviano


SIM 05

NÃO 21

TOTAL 26
Tabela 01: Recebe benefício do Governo Boliviano. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de
Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Para esclarecer uma ressalva sobre a “Associação dos Bolivianos” e benefício


do governo boliviano, a associação é mantida pela mensalidade paga mensalmente
pelos associados. A contribuição paga pela associação para manter é de dez reais por
mês, e com essa contribuição dos associados que custeia a manutenção da
associação. A única forma que o governo boliviano contribui na associação é
disponibilizando os médicos vindos do outro lado da fronteira para atendimento na
associação.
Para uma análise comparativa adotamos os mesmos critérios de apoio e
política pública direcionadas aos migrantes no município de Guajará-Mirim, desta vez,
com o Governo Brasileiro. O quantitativo das que se beneficiam com as políticas
públicas destinadas as bolivianas são em pequena quantidade apenas oito dos vinte e
seis pesquisadas recebem apoio do governo brasileiro. Nota-se que a maioria das
83

mulheres não se contemplam pelas políticas públicas existentes no Brasil. Uma da


questão relatadas para que elas não se beneficiem é a falta da documentação que
muitas não aderiram para sua legalização na Federação Brasileira. As mulheres que
recebem apoio pelo governo Brasileiro recebem bolsa família na sua maioria e
aposentadoria por idade para as mais idosas.

Benefício do Governo Brasileiro


SIM 8
NÃO 18

TOTAL 26

Tabela 02: Recebe benefício do governo Brasileiro. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de
Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

3.5 RENDA

Das vinte e seis que dispuseram a responder o questionário, as profissões


foram das mais variadas, dentre elas foi à área do comercio que muitas desenvolvem
suas atividades econômicas, e as que desenvolvem atividades autônomas e
empregadas domesticas ficam em segundo lugar sendo das vinte e seis apenas seis
desenvolvem essa atividade. No município a atividade da agricultura ainda é
desenvolvida por algumas famílias que residem em hortas, áreas de produção e
residência das mesmas sendo as mulheres as principais provedoras desse setor
econômico no município, outras mulheres se consideram do Lar, sem saber que sua
atividade desenvolvida no espaço privado também é um trabalho destinado à família.
As outras profissões que essas mulheres estão inseridas são atendente de
lanchonete, costureira, auxiliar de secretária e aposentadas, esses dados possuem
por sua validade onde na qual as colaboradoras responderam no instrumento da
pesquisa aplicado desenvolver mais de uma profissão para obter renda para
manutenção e sobrevivência da sua família no Brasil.
84

Agricultora Do Lar
0,06 0,03 0,14 Autônoma Atendente em lan-
0,2 0,14 chonete

0,06 0,17 Empregada doméstica Costureira


0,17 0,03 Comércio Aposentada
Auxiliar de secretária

Gráfico 05: Profissão. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero


Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

O gráfico abaixo se refere à distribuição de renda na família das nossas


colaboradoras, mesmo que estas desenvolvam mais de uma profissão para sustentar
sua família a renda familiar com maior percentual aponta para um salário mínimo para
suas despesas ao mês. Outras ainda a situação é bem vulnerável que tentem a
sobreviver com menos de um salário para a família. Já uma pequena parcela das
nossas colaboradoras possui uma renda de mais de um salário mínimo para
manutenção familiar mensal, estas são as comerciantes que já estão por muito mais
tempo no ramo da atividade e obtém da ajuda dos filhos e marido.
85

0,19
0,31
Menos de um sálario
Um sálario
Mais de um sálario

0,5

Gráfico 06: Renda da Família. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero
Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Este gráfico é o reflexo de como as migrantes vivem financeiramente no país


em que optaram para chamar de “seu”, mesmo vivendo com uma economia não muito
elevada elas se sentem contempladas em viver no Brasil.

3.6 QUESTÕES SOCIAIS

As nossas colaboradoras puderam nos fazer compreender neste gráfico que


demonstra a satisfação que elas enquanto mulher migrante Bolivianas tem em
permanecer, morar no Brasil município de Guajará-Mirim quase que todas disseram
estão satisfeitas, apenas duas não souberam expressar sua satisfação em residir no
Brasil.
86

30

25

20

15

10

0
SIM NÃO RESPONDEU

Gráfico 06: Sente-se satisfeita morando no Brasil.FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de
Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Muitas das que optaram permanecer no país construíram famílias, tiveram e


criam seus filhos no município. Outras descrevem que se forem embora do Brasil não
irão conseguir tudo que construíram aqui, então os dados do gráfico acima nos faz
perceber que a porcentagem e quase cem por cento a migração feminina sente-se
satisfeitas em morar no Brasil. Algumas falas das colaboradoras são afirmativas da
sua satisfação.

“Não tem o que reclamar sem luta ninguém vence o desistente nunca vence é o
vencedor nunca desiste”
“Sentimento grande pela terra que dá o pão”
“Era difícil a vivência lá tinha muita dificuldade aqui eu me sinto realizada”
“Nessa cidade montei a loja e pode conhecer a religião denominada evangélica esse
foi o motivo que me fez permanecer no país”
“tengo tanta ayda de las personas aqui”
“me comporto y respeito mucho los brasileños”.

Como trabalhamos com migração de pessoas estrangeiras muitas das vezes


nos deparamos com algum tipo de discriminação e preconceito. Nos dados abaixo
quando perguntamos para nossas entrevistadas se sofreram algum tipo de
discriminação a maioria nos respondeu que não. Já das vinte e seis colaboradoras
oito disseram ter sofrido algum tipo de discriminação por ser estrangeira boliviana.
87

0,31

SIM NÃO

0,69

Gráfico 08:Sofreu algum tipo de discriminação no Brasil. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações
Sociais de Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

As migrantes que sofreram discriminação por serem bolivianas às vezes é pelo


simples fato de falar outro dialeto (língua espanhola), ou se falar que é estrangeira ou
ser descendente de boliviana. A discriminação chegava ir além do seu convívio
familiar ultrapassando todas as áreas de vivencia, como nas escolas, nas ruas, nas
lojas quando vão ser atendidas, no seu local de trabalho nos órgãos por possuírem
nomes de nomenclaturas diferentes e se não bastassem sofrer discriminação por
serem bolivianas sofriam também pela sua classe econômica, onde, muitas eram
excluídas por possuírem rendas quase que precárias e residirem em locais inóspitos
muitas das vezes de favores.
As diversas situações vivenciadas por essas pessoas não são diferentes para
os próprios brasileiros, mesmo ainda que se busque a igualdade social de gênero e
sexo em nossa sociedade persistem atos tão arcaicos quanto contemporâneos na
sociedade. É para compreender essas atitudes foi direcionada pergunta de como
essas migrantes agem diante das discriminações vividas no seu cotidiano.
88

Quadro 2 - Como agem diante das discriminações sofridas.

Como Age Diante das Discriminações

Aprendeu a lidar com a situação 1


Antes ficava calada/ hoje busco meus 2
direitos
Explicava que tinha que trabalhar só 1
isso
Defendia-se 1
Nunca procurei tirar satisfação 1
Não souberam expressar a situação 4
tomada
FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais de Gênero Migração Internacional de Mulheres.
Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Na tabela acima retrata de como essas mulheres lidam com tal forma de
comportamento que a sociedade no século XXI, das vinte e seis que responderam o
questionário oito sofreu o ato diretamente esse comportamento de exclusão, outras
quatro migrantes abordaram que não sabiam expressar a situação tomada, outras
aprenderam a lidar com a situação, outra nunca procurou tirar satisfação pelos fatos
ficando calada, já duas procuravam se defender e buscaram seus direitos aos órgãos
competentes como delegacias e outros. Uma das pesquisadas relata a fala de uma
das ofensas dita por um brasileiro.

“Você veio para enriquecer no Brasil”


“Por ser da pastoral do imigrante é imaginam que seja só para atender bolivianos.
Não essa pastoral é de todos que buscam ajuda aqui na cidade”.

Ainda, abordando as questões sociais qualitativas de como essas migrantes se


sentem na condição que é “ser” “migrante”. Buscamos questionar a sua transparência
do “ser” em um lugar totalmente diferente do seu de costumes, com modos diferentes
e diversas outras coisas.
89

0,04
0,15
contempladas (feliz,
satisfeitas)
insatisfeitas
não respondeu

0,81

Gráfico 09: Como se sente na condição de ser migrante. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações Sociais
de Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

Nesses dados, houve uma preocupação para descrever mediante que, as


colaboradoras sempre relatavam suas condições eram com preocupação e
sentimentalismo. Com maior percentual vinte e um são se sentem contempladas
(feliz, satisfeita) de terem conquistado no Brasil condições de vida muito melhor do
que era vivido na Bolívia. Feliz muitas se sentem em ter conquistado uma maneira
melhor de viver em um país diferente. Outras se sentem tranquilas, mas, ainda não se
sentem contempladas como migrantes, como ter concluído seus estudos e poderem
ajudar seus familiares. Algumas outras nos disseram que se acomodaram na vida que
possuem, não foram em busca de melhoria para si própria e nem para seus
familiares. Algumas mulheres que se contemplam nessa categoria de insatisfeitas
(incomodadas), são as que não se acostumaram a viver fora do seu país por algum
motivo aqui não descrito pelas mesmas. Somente uma não soube descrever sua
satisfação de como se sente na condição de migrante.
Como apresentado desde o início da pesquisa as colaboradoras desta
pesquisa foram exclusivas as mulheres, uma vez que, ela perpassa por todo ciclo
migratória sendo uma mulher invisibilizada no processo migratório e na categoria de
gênero, quando perguntamos por que migrou e como migrou. Foi preciso conhecer
muito as colaboradoras, pois, muitas ainda se encontram de forma ilegal no país sem
a documentação e temem em serem deportadas para seu país de origem. Muitas se
sentem constrangidas quando se pergunta se pretende voltar ao seu país de origem
90

ou não. No total de quatorze das vinte e seis não sentem vontade de retornar a sua
terra natal. Já doze dizem querer voltar para perto das famílias e seus parentes.

14

12

10

0
Não SIM não respondeu
Gráfico 10: Sente vontade de voltar ao seu país de origem. FONTE: GEPGÊNERO: Pesquisa Relações
Sociais de Gênero Migração Internacional de Mulheres. Org.: Silva, Ana Carla Taborga. 2016.

As colaboradoras que não pretendem voltar de maneira nenhuma são as que


adotaram o espaço brasileiro como sendo seu, e aonde, criam seus filhos e netos
conquistaram seus objetivos montaram uma vida como amizades e se casaram. As
abordagens das mulheres que não voltam para seu país de origem.

“Não pretendo voltarpor que sofri muito com a ausência da família por anos,
minha mãe me abandonou aos um ano de idade e meu pai faleceu quando tinha seis
anos e fui morar com os irmãos”
“Não pretendo voltar me sinto brasileira”
“Tudo que eu consegui até aqui foi conquistado no Brasil”
As colaboradoras que pretendem voltar ao seu país de origem a Bolívia são
algumas pessoas que querem ficar junto de seus familiares que lá deixaram e devido
sua situação econômica no momento vivido no Brasil.
“Pretendo voltar devido à economia no Brasil está ruim para mim”.
“Sim mais quando puder comprar uma casa lá”.
“Por ser idosa sim quero ir morrer lá na minha cidade natal”.
91

3.7 Dinâmicas da vida dessas mulheres na fronteira entre Brasil e Bolívia.

Fatores direcionados as discussões e relações de gênero nos estudos nas


fronteiras estão inseridas nos contextos de análises na dinâmica da vida dessas
mulheres e como colaboram nas construções da forma que moldam a estruturação e
a ocupação dos espaços, uma vez que, são fronteira singulares de terceiro mundo. As
relações de gênero nessas áreas hierárquicas no cotidiano da dinâmica na vida
dessas mulheres são bem presentes, são padrões estabelecidos tradicionalmente às
famílias e são fatores que interferem na dinâmica das relações sociais na família.
Cada migrante em um meio possui sua dinâmica e seu papel no meio social
principalmente quando se trata de fronteira. Essa dinâmica social nas fronteiras é
resultado da ação de alguns órgãos enquanto promover acesso a elas nas fronteiras.
De acordo com o Consul Raisen Ribera,apesar de toda política de migração e
acordo diplomáticos, a dificuldade de regularizá-las está no fato de não terem
documentos bolivianos, nem certificado de nascimento ou carteira de identidade e que
fica mais difícil adquiri-los já adultos.
Essas mulheres persistem por desejar regularizar sua situação no Brasil, logo,
adquirir trabalho digno, manter-se economicamente ela é suas famílias e conseguirem
benefícios sociais do governo brasileiros.
As dinâmicas da vida dessas mulheres são bem complexas, muitas migram
com perspectiva de mudar de vida, sobre a condição socioeconômica, estas carecem
de emprego da Bolívia, onde muitas trabalham na agricultura, e que ao chegar a
Guajará-Mirim, continuam na mesma situação, então, a dinâmica laboral na vida
dessas mulheres se perpetua mesmo migrando. Ou muitas optam em trabalhar nos
setores que tem costumes, pelo fato de possuírem experiência, ou seja, vendedora
ambulante, agricultura, carpintaria, serviços domésticos e no comercio, como foi
afirmado nos dados da pesquisa.

Capítulo IV
92

MIGRAÇÃO ATRAVÉS DAS IMAGENS

Fotografia 07: Porto de Guayaramerín Bolívia, embarcações que transportam


os moradores entre os Município de Guajará- Mirim e Guayaramerín.

Fonte: Acervo GEPGÊNERO,2016

Para que o leitor possa reconhecer o lugar que foi desenvolvida a pesquisa,
mesmo sem ir ao local, torna-se necessário usar recursos tecnologicos de mídia,
nesse caso, as fotografias. As idas a campo para buscar informações se iniciaram em
93

2015 e continuaram até hoje, sendo que no ano de 2016 foi realizado com maior
intensidade no mês de junho como nos relatos de campo abordado nos
procedimentos metodologicos. As idas eram realizadas por transporte ciclisticio.
As fotografias retratam diferentes ida a campo, mas, principalmente, as
realizadas na associação dos bolivianos e outras nos setores de atividades dessa
migrantes femininas, tornando-se possível acompanhar o dia-a-dia dessas mulheres
A ida a campo se iniciava bem cedo, ou pelo período da tardinha era quando
podia encontrar as mulheres em suas residências, muitas que colaboraram com a
pesquisa que trabalham na feira municipal pediam que fosse no período que não
houvesse movimento para não atrapalhar no atendimento dos clientes. Um dos
principais problemas era o sol forte que havia que lidar nas idas a campo devido o
único meio de transporte que utilizei foi bicicleta. Portanto, todas as idas a campo
tiveram seu grau de importância, pois somente ao longo dessa vivencia é que se
torna possível realizar a descrição verdadeira da vida dessas migrantes, suas
dificuldades, suas lutas e, também, suas vitórias enquanto ser migrante,
principalmente por serem mulheres que buscam seu conhecimento na sociedade
fronteiriça.
Fotografia 8 - Local de compra de passagens embarque e desembarque.
Guayaramerín. Bolívia. E lado brasileiro Guajará- Mirim/ Brasil

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

Esse é a única agência de viagens na qual se compram as passagens para a


travessia entre as fronteiras, do lado boliviano o Porto fluvial Nicolas Suarez é
comandado por empresário boliviano. O valor cobrado para quem faz a travessia é de
R$ 14,00 somente a ida ou a volta, no total fica R$ 28,00 o valor da travessia.
94

Não há outro porto para o embarque, a única agência de passagens é essa.


Todas as pessoas que utilizam o porto para fazer suas travessias se acomodam em
filas, para aguardar a chegada dos barcos, e darem início a sua travessia para o lado
brasileiro ou vice-versa. Há pouco menos três anos atrás, os barcos que faziam a
travessia dos passageiros eram pequenos era necessário o uso de vários para
atravessar a fronteira, sendo que hoje esses barcos estão comportando muito mais
passageiros entre 15 a 20 passageiros por viagem.
A agência de transporte do lado brasileiro no porto tem como administrador o
senhor Clovis, empresário e migrante boliviano que reside no município muitos anos,
do lado brasileiro os passageiros também ficam em filas para embarcarem e fazerem
a travessia, fica também neste local a “Alfândega” da receita federal, onde fazem
vistorias nas compras que são vindas do lado da Bolívia, a principal preocupação é
para coibir a entrada de drogas e produtos que não podem ser transladados nessa
fronteira.
Fotografia 9 - Área Interna do Porto Fluvial/ Guayaramerín- Bolívia.

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

Como estamos tratando de fronteira entre duas “cidades gêmeas”, não se pode
deixar de perceber a relação da interação entre essas cidades diariamente, na parte
interna do porto encontra-se cambista que se acomodam para fazerem as trocas de
moedas do real para o dinheiro boliviano. Mas a frente do porto se encontra moto
taxista, meio de transporte que as pessoas utilizam muito no seu dia-a-dia, para
poderem fazer todo percurso na cidade boliviana. Esse meio de transporte e muito
95

grande nessa área portuária, pois corriqueiramente o fluxo de brasileiros quanto de


bolivianos é expressivo. Muitos também optam em fazer o percurso a pé, quando a
passeio vão em busca de produtos mais em conta, ou também, os brasileiros lojistas
que fazem a integração econômica girarem entre esses dois países, comprando
produtos do lado boliviano e revendendo do lado brasileiro, em feiras, em lojas de
pequeno porte ou por venderas autônomas. Cabe ainda aqui descrever que esse
processo de compra não só é realizado por brasileiros, mas, por migrantes bolivianas
que residem no município de fronteira.

Fotografia 10- Plazza Plácido del Castro en Guayaramerím/Bolívia.

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

Esta praça se encontra do lado boliviano, é uma praça histórica e lugar de


encontro dos turistas e pessoas que residem em Guayaramerín. Esta praça fica a uns
400 metros da beira do rio, ponto de travessia diária de pessoas, por ser uma praça
de cartão histórico do país bolivianos a algumas ressalvas para a permanência, é
proibido se acomodar deitados em horários de comercio nos bancos da praça
somente transitam de pessoas é permitido neste local. Em período de comemoração
festiva a praça torna-se o ponto de encontro entre muitas pessoas, onde também,
muitas motos e carros se aglomeram em transito nas ruas que ficam em torno.

Fotografia 11- Sede da Associação dos Bolivianos- Comemoração do dia das


Mães28/05/2016. Guajará-Mirim/RO.
96

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

A Associação dos Bolivianos no município de Guajará - Mirim. No início de sua


implantação desenvolvia programas para as mulheres como corte e costura e
panificação, hoje uma das finalidades da associação e incentivar as migrantes na
importância que tem na sua legalização no Brasil e ofertar a saúde básica que é pelo
governo boliviano.
Atualmente, a associação serve de sede para que os bolivianos possam ter
atendimento médico, pois, o governo boliviano dispõe assistência básica de saúde
para os migrantes que vivem no município de Guajará-Mirim, junto do atendimento
fazem também a distribuição de remédios para os que precisam e procuram aos
atendimentos. O único custo que a associação tem por desenvolver é o trabalho
organização o lugar é a alimentação de todos que participam.
No início da associação tinha aproximadamente trezentos associados, hoje a
associação não passa dos trinta que pagam mensalmente suas mensalidades. No
ano de 2014 cheia histórica nessa região o governo boliviano fez doação para os
bolivianos que residem no município, a principal doação dada pelo governo era cestas
básicas e água, as áreas que mais foram afetadas pela cheia foram os bairros
triângulo, são José e santo Antônio.

Fotografias 12- Ação cívico-social realizado na associação dos bolivianos.


Guajará-mirim/Brasil.
97

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

As fotografias aqui apresentadas são de grande importância para concretizar e


caracterizar a ação social que estas migrantes são beneficiadas pela associação e
pelo governo boliviano. Na primeira imagem observa-se o momento que a dentista
boliviana ministra palestra, falando da importância que se tem em manter a saúde
bucal, a palestra ocorreu por trinta minutos. Na segunda imagem é o momento da
triagem que todos que os pacientes tendem a passar até chegar aos médicos, são
feitos os procedimentos de medir pressão e o peso. Na terceira imagem se tem o
encerramento das atividades desenvolvidas na associação, estando presente o
Consul Haisen da Bolívia que residi no Brasil, e todos os médicos e enfermeiros que
desenvolveram as atividades neste dia.
Na última imagem é um recorte de assistência cívico social de vacinação com
apoio da prefeitura municipal de Guajará- Mirim, mesmo que sejam por períodos
curtos e esporadicamente os representantes brasileiros disponibilizam assistência
básica para crianças nascidas no Brasil de mães migrantes. Muitas destas não são
regularizadas no Brasil, só que, muitas das vezes o pai por ser brasileiro conseguiu
registrar a criança e torná-la com nacionalidade brasileira.

Fotografia 13- Entrevista com secretaria Pastoral do Migrante-Diocese de


Guajará-Mirim/ Rondônia.
98

Fonte: Acervo GEPGÊNERO, 2016.

Essa foi uma das muitas entrevistas realizadas com a Dona Lola Araujo,
secretaria e apoiadora das causas dos migrantes, essa mulher desenvolve um papel
nobre na vida dessas migrantes que residem no município de Guajará-Mirim, muitas
querem se regularizar enquanto cidadãs brasileiras. Os momentos foi atordoado
devido pessoas lhe procurarem para pedir orientação nos processos junto da polícia
federal, foi também num desses momentos que fui realizando a aplicação dos
questionários com as mulheres. Podemos pontuar alguns dos motivos que reduz o
número de migrantes se regularizarem no Brasil: a falta de informação para essas
pessoas, pois, dona Lola só se encontra duas vezes na semana na pastoral em
horários muitos curtos meio período, mesmo assim, ela desenvolve um papel digno
junto á essas mulheres, e como a procura e grande muitos desistem pelo meio do
processo. Outras situações que foi visto a questão econômica dessas migrantes para
transcrever a documentação e pagar as taxas da polícia federal que chega
aproximadamente uns quinhentos reais, só, na polícia federal. Mesmo assim, essa
pastoral e o ponto de apoio para essas migrantes, sendo também para minha
pesquisa de campo sempre tendo sido bem recebida pela dona Lola.
Momento de entrevista na sala da secretaria da Pastoral do Migrante na
Diocese. Dona Lola, colaboradora da pesquisa me dispôs relatórios anuais que a
mesma descreve anualmente, com a entrada das migrantes que procuram apoio na
99

retirada da documentação. Em um dos seus relatórios descritos aproximadamente


541 pessoas até 25/11/2009 houve acompanhamento no processo da legalização dos
indocumentados, este foi um dos anos que mais houve migrantes a procura de ser
legalizar no Brasil.

Fotografia 14-Centro de Conferência São José. Guajará-Mirim/ RO.

Fonte: Acervo GEPEGÊNERO, 2016

Centro de conferência São José Seminário Internacional com a participação de


Brasileiros sendo os propulsores do debate e Bolivianos na condição de migrantes. A
principal temática Direitos dos migrantes, por se tratar da semana do migrante.
Percebe-se a presença mínima das pessoas no que é de interesse deles mesmo os
migrantes que residem ou não em Guajará-Mirim. Durante o evento foram abordados
vários assuntos de interesse da população boliviana, um dos principais pontos que
todas as instituições dialogam é a necessidade que se regularizarem para viverem
tranquilos no Brasil. Palestra com a Professora Doutora Maria Auxiliadora Pinto do
departamento de Letras do Campus - UNIR, Guajará-Mirim. O Campus de
Guajará-Mirim trabalha ativamente com toda essa contextualização migratória entre
as fronteiras, são trabalhos bilaterais com docentes e que abordam principalmente as
questões linguísticas e o direito dessas pessoas. São trabalhos realizados muitas das
vezes de pesquisas também pelos discentes de algumas áreas como pedagogia e
letras cursos ofertados no Campus da UNIR. Outras discussões que são estudados é
a interação e integração bilateral desses povos sendo indígenas, bolivianos e
100

brasileiros os grupos de pesquisa desenvolvem pesquisas com as temáticas do


multiculturalismo que é muito forte nessa fronteira.

Fotografia 15- Feira Municipal Guajará- Mirim/RO.

Fonte: acervo GEPGÊNERO, 2016.

A Feira Municipal de Guajará Mirim funciona diariamente com a presença de


muitas mulheres bolivianas, o fluxo maior é aos sábados, a presença dos bolivianos e
grandes, sendo denominada “feira dos bolivianos”, mas, existe uma pequena
quantidade de agricultores que vem das linhas 28-29- Distrito do Hiatá e Área Rural
da Comara para venderem seus produtos da agricultura. Muitos dos Feirantes tiram
seus lucros para o sustento da família através da renda de seus trabalhos na feira.
O maior movimento se dá aos sábados, começam cedo os trabalhos neste dia,
diante disso muitos expandem suas barracas de lona para a beira da rua. Bancas de
frutas e hortaliças são os produtos que vendem com maior quantidade, as hortaliças
vendidas na feira são de hortas, onde, os proprietários muitas das vezes são
101

bolivianos. Em algumas imagens das fotografias percebe-se que o movimento é


pequeno, isso e Reflexo que somente aos sábados que são os movimentos maiores
tanto dos produtores quanto da população local. No local são vendidos diversos
produtos, como comidas, bebidas, produtos importados. O espaço é cedido mediante
o pagamento de taxas à prefeitura mensalmente.
Os comerciantes se instalam na parte externa e interna do mercado, mesmo na
parte interna quanto na externa os bolivianos possuem suas bancas de venda. Aqui
as imagens ilustram um dos meios de sobrevivência dessas migrantes, sua renda
sempre se tira do comercio árduo que desenvolve para a manutenção familiar. As
mulheres são maioria que possuem suas bancas nesse tipo de comercio, seu modo
de vida é diariamente destinado ao trabalho árduo para manutenção familiar.

Fotografia 16-Momento da aplicação do instrumento da pesquisa.


Guajará-Mirim/RO

Fonte: acervo GEPGÊNERO, 2016.

Momento da aplicação do instrumento da pesquisa com Feirantes Bolivianas


na Feira Municipal em Guajará Mirim. São poucas as jovens que desenvolvem a
102

atividade no comercio, algumas só ficam na feira devido sua mãe está doente e não
ter quem fique para fazer a venda no comercio. Na segunda imagem a migrante uma
de nossas colaboradoras da pesquisa, ela desenvolve o comercio há mais de quinze
anos no mesmo local, de início era ajudando sua mãe hoje ela quem toma conta do
todo comercio. O comércio sempre é abastecido por verduras e legumes vindos das
hortas que outras migrantes bolivianas plantam os produtos que são consumidos
diariamente, dentre eles são couve, quiabo, maxixe, pimentas, salsas, banana e
outros como batatas, cebolas, tomates, farinha. Na última crise da enchente que o
município passou o que abastecia esse mercado eram produtos que vinham pela
Bolívia e chegavam a Guayaramerín depois transportado até o porto de
Guajará-Mirim, até então chegar para nas bancas da feira.

Fotografia 17- Área de Produção e Cultivo bairro Planalto Guajará-Mirim/RO.


103

Fonte: acervo GEPGÊNERO, 2016.

Aqui se descreve a luta e percurso até a “horta” para mostrar o cotidiano que
faz durante todo o dia no seu espaço privado as migrantes bolivianas. Essa
colaboradora da fotografia dois desenvolve a agricultura como sendo a principal renda
de sua subsistência e manutenção familiar. Momento em que estava em campo
vivenciando a realidade das colaboradoras, era quase fim de tarde, o dia Foi de
intenso trabalho para nossa pesquisada, a mesma tem quatro filhas, vive da
agricultura tanto para subsistência quanto vender nos pequenos comercio do
município.
Muitos comércios são abastecidos com as hortaliças que são cultivadas por
mulheres chefes de família, elas cuidam desde o plantio até a colheita e depois cuida
da venda junto aos comércios existentes em Guajará-Mirim, a maior concentração
dessa venda é realizada no bairro dez de abril, no planalto, e na feira municipal, onde
se concentram um grande número de mini mercados para abastecer a população
local.

Fotografia 18- Área de Produção e Mulheres Chefes de Família Guajará- Mirim/RO.

Fonte: acervo GEPGÊNERO, 2016.

Essa colaboradora da pesquisa também vive da agricultura, é uma migrante


viúva que luta para se manter no Brasil através da venda das verduras que produz na
horta da sua propriedade. Seu olhar, sua pele, seu medo é visto no momento da
conversa, ela faz todo o trabalho no espaço interno da propriedade até ao momento
104

da venda. Na segunda fotografia observa-se a parte externa da residência da


pesquisa, sempre com presença da agricultura como banana, abobora manga e
outros. A plantação sempre com destino para a venda e para consumo próprio de
todos da família.
Área de produção das hortaliças, onde muitas das nossas migrantes bolivianas
tiram seu sustento. A produção das hortaliças e permanente produz o ano todo às
vezes com maior intensidade no período das chuvas e no período da falta de chuva a
produção e com menos intensidade. Mesmo assim a produção e suficiente para
manter a família que vive da produção agrícola.
Este capítulo foi idealizado para que de forma concreta pudéssemos mostrar o
mais próximo que chegamos de todo o processo migratório dessas mulheres,
demonstrarem o modo de vida de cada grupo pesquisado com suas nuances, seus
desejos, seus lugares de vivencia, seus trabalhos desenvolvidos diariamente de forma
incansável e a maneira que elas configuram o território brasileiro.
105

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificar o processo migratório ocorrido por estas mulheres bolivianas no


município de Guajará-Mirim se apresentou como o principal objetivo desta pesquisa, a
complexidade que envolve esse tema gerou algumas dificuldades ao longo do
desenvolver deste trabalho, podendo ser visto logo no início.
O início de qualquer trabalho cientifico se dá pela busca de uma base teórica, e
foi a partir desse momento que surgiu alguns entraves nos debates teóricos em torno
da migração feminina, pois no Brasil a uma alta complexidade teórica nessa
abordagem, quanto à inexistência desses estudos. Dessa forma, definir os estudos do
processo migratório feminino não é tarefa fácil, e trabalhar a epistemologia do estudo
se tornou uma tarefa mais difícil ainda, tendo que buscar estudos em teóricos
estrangeiros abordam profundamente este tema.
Não é possível identificar uma “causa de efeito trágico” que determine a saída
dessas imigrantes do seu país de origem, mas sim uma série de fatores que
influenciaram entre si e, consequentemente, de maneira heterogênea para tal
permanência no país brasileiro.
De acordo com os instrumentos da pesquisa aplicados, foi possível identificar o
perfil de cada migração dessas mulheres. Foram através do meio familiar que essas
migrantes desenvolveram seu percurso migratório, na maioria das vezes, pela
migração do esposo e dos pais.
As migrantes encontram-se dispersas, pois um número significativo de
moradoras reside em bairros diferentes. Esses fatores podem contribuir para o
enfraquecimento do trabalho de campo da pesquisa, prejudicando, assim, as buscas
pelo quantitativo expressivo de pessoas.
Porém, o que se observa, apesar dessas dificuldades, as que foram
pesquisadas, sejam elas legalizadas ou ilegalizadas contribuíram ativamente com a
pesquisa proposta.
O município de Guajará- Mirim segunda cidade a ser colonizada no estado de
Rondônia possui suas localizações geográficas favoráveis ao movimento migratório.
Sendo este um dos enfoques principais para as questões de gênero, e uma, das
principais abordagens na dissertação, migração feminina.
As pesquisas realizadas com este enfoque buscaram, então, compensar a
ausência das mulheres em analises nos processos migratórios. Nossa pesquisa foi
106

direcionada as mulheres, uma vez que, estão sendo as propulsoras desse novo
cenário migratório sendo cada vez mais dinâmicos e complexos, apontando para a
necessidade de avanços teóricos para melhor seu entendimento.
Para compreender o processo migratório que essas mulheres desenvolveram
foram selecionadas de forma que aproveitasse encontrar o maior número de
colaboradoras para aplicação dos questionários o instrumento da pesquisa. Partindo
desse aproveitamento, foi na associação dos bolivianos que desenvolvemos maior
parte da contextualização da pesquisa, uma vez que, foi preciso identificar se teria por
partes dos governos bolivianos ou brasileiros algum tipo de políticas públicas voltadas
para amparar essas mulheres migrantes neste município.
Uma outra área que também foi desenvolvida a pesquisa, foi no bairro planalto
nas áreas de cultivos da agricultura dessa mulher, e com vizinhas próximas. Dentre
estas, a feira municipal também fez parte desses estudos como sendo área de maior
localização de migrantes bolivianas. Quando refiro-me forma aleatória das
pesquisadas estou resguardando sua identidade enquanto ser migrante legal, ou
migrante ilegal neste município.
Perguntas semi-estruturaras e observações fizeram compreendermos a o
modo de vida dessa mulher que sempre é voltada para manutenção familiar e como
foi o percurso até sua chegada no seu novo lugar de morada. E neste sentido que o
estudo de gênero vem contribuindo com os estudos de migração nessa área de
fronteira.
Tal processo migratório que essas mulheres desenvolveram foi direcionado
para acompanhar o marido, os pais, ou outros parentes sendo tia, irmã, para
acompanhar filhos que já moravam no Brasil ou a passeio e não retornou a seu país
de origem, umas das abordagens de extrema complexidade que algumas das nossas
colaboradoras migraram em função de assédio sexual vindo por pessoas próximas do
convívio familiar ou vizinho, estas migraram de forma foragida para não sofrerem
abusos sexuais.
Dentro das perspectivas migratórias constatamos que muitas migram para
atender as dimensões espaciais do próprio individuo, ou, familiar e domiciliar. A
manutenção familiar e sempre que quase a exclusiva para as mulheres que migraram
em períodos de sua infância ou adolescência. A migração passa de forma objetiva
sendo busca de trabalho para muitas, tendo como seguimento melhorias de vida e
107

devido os familiares, umas por terem parentes já morando no Brasil, esses são os
principais motivos que impulsionam essas mulheres a migrarem para este município.
Outras abordagens foram conclusivas para nossa dissertação, sendo, quais
foram às dificuldades encontradas por essas mulheres bolivianas encontradas no
Brasil com maior percentual não tiveram dificuldades, outras, por falar idioma
espanhol, e se regularizar com a documentação expedida pela Polícia Federal foram
um dos entraves que essas mulheres estiveram enquanto ser migrante.
Identificamos, ainda, que as formas de trabalho desenvolvido por essas
mulheres ainda, são dentro dos espaços domésticos e algumas comercio e
agricultura. Mesmo que estas desenvolvam diversas atividades a sua renda acaba
sendo inferior a um salário mínimo.
Quanto às questões sobre discriminação por ser migrante algumas sofreram
por serem bolivianas, questões sociais, e por falarem outro idioma no caso das
nossas colaboradoras falarem o espanhol. Algumas também nos relataram que o
preconceito se perpassa aos seus descendentes filhos, sobrinhos, irmãos.
Do universo pesquisado, foram aplicados vinte e seis questionários
direcionadas as mulheres bolivianas. Neste contexto, explicita-se que as relações
sociais de gênero foram diretamente direcionadas para elas, mesmo assim notou-se
que os programas e políticas públicas elas são invisibilizadas nessa área de fronteira.
A igualdade de gênero caminha a passos lentos nessa fronteira entre Brasil/Bolívia,
sendo que, mesmo que elas sejam reprodutoras do seu espaço ainda fica sendo
desprivilegiada nas questões sociais.
O estudo permitiu identificar as novas singularidades existentes nas áreas de
fronteira de terceiro mundo, partindo do processo migratório, especificamente as
mulheres. Sendo estes direcionados as relações sociais saindo do seu território,
ultrapassando a área de fronteira Brasil e Bolívia, bem como investigar o seu modo de
vida, a partir dos estudos e discussões de gênero, e também, se encontraram
estabilidade no Brasil. Foi através do modo de como essas mulheres vivem que
tentamos chegar mais próximo da realidade e tentando representá-las dentro de uma
contextualização até aqui então ignorada, pelo processo migratório e configuração
sócio espacial. Espaço aqui que trouxemos dando ênfase à categoria de análise lugar,
sendo que o lugar está dentro do espaço não podendo os dois se dividir na
configuração espacial dessas mulheres.
108

Constatamos ainda que um dos principais fatores que deixam essas mulheres
invisibilizadas é que as mesmas não possuem sua legalização junto aos órgãos
competentes, sua documentação de permanência no Brasil. Diante disso, faz com
muitas fiquem vulneráveis aos serviços degradantes e sujeitas aos diversos tipos de
privação dentro e fora do seu espaço privado.
Mesmo que as políticas públicas brasileiras contemplem as mulheres
migrantes, muitas ainda desenvolvem como forma de renda para subsidiar os anseios
familiares. Um dos programas que atendem essas mulheres e sempre destinada à
família como o “bolsa família” e algumas já mais idosas a aposentadoria pelo INSS
previdência brasileira. Dentro de todo esse processo político migratório só podem ser
contempladas as que se encontram com sua documentação brasileira regular.
A relação entre as ações social propostas para essas mulheres migrante,
sendo estas, documentadas ou não são bem peculiares. As que são documentadas
são atendidas iguais que as brasileiras nesse território. Já as que não são
documentadas têm que muitas das vezes buscar o atendimento assistencial no seu
país de origem ou aguardar algumas ações desenvolvidas pelo governo boliviano
juntamente do consulado e associação dos bolivianos.
Os principais problemas enfrentados por essas mulheres sem documentação
são na saúde e na educação, assim, se tornam pessoas fragilizadas em meio a
sociedade. As principais atividades desenvolvidas por aquelas que residem em áreas
rarefeitas e em lixões catam materiais para reciclagem e se manterem em sua
sobrevivência em Guajará-Mirim.
Dentro dos resultados expostos nesta pesquisa conclui as possibilidades de
estudos e aprofundamento da temática, pretende servir como ponto de referência
para a compreensão do processo migratório feminino e suas respectivas questões de
gênero no contexto de migração internacional e da ciência geográfica. Espera-se, por
fim, contribuir com os futuros estudos sobre migração feminina internacional que
sejam efetivadas no município de Guajará-Mirim com área de fronteira em
Guayaramerín.

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3) http://www.mre.gov.br/dda/df - Ministério das Relações Exteriores do Brasil /
Divisão de Fronteiras 4) http://www.acd.ufrj.br - mapas temáticos e análise espacial da
faixa de fronteira do Brasil
5) http://www.ibge.gov.br - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
6) http://www.cepen.org/pdfs/art04.pdf - Fronteiras do Brasil
116

APÊNDICE

Apêndice A: Questionário elaborado pelo GEPGÊNERO, utilizado para levantar dados de áreas
estudadas pelo Grupo
117

Pesquisa: Gênero e Migrações Internacionais - Brasil-Bolívia


IDENTIFICAÇÃO:_________________________________________________
IDADE:----------------------------ESTADO CIVIL---------------------------------------------
GÊNERO: FEMININO ( ) MASCULINO ( ) RELIGIÃO---------------------------
ESCOLARIDADE: -------------------------------------- QUANTOS FILHOS: --------------
IDADE DOS FILHOS: ----------------------------------------------------------------------------

1-Profissão

( ) Comércio Informal ( ) Autônoma


( ) Comercio formal ( ) Funcionária publicas
( ) Feirante ( ) Empregados Domésticos
( ) outros: detalhar____________

2- Renda familiar

( ) 1 a 3 salários
( ) 4 a 6 salários
( ) 7 a 10 salários
( ) Outros: detalhar______________

3 Você já sofreu algum tipo de discriminação no Brasil

( ) sim ( ) não

3.1 Quais tipos de discriminação

( ) por ser estrangeira


( ) por não falar o mesmo dialeto/ língua
( ) por ser mulher
( ) pela cultura
( ) Classe social
( ) Religião
( ) Outros especificar

4 Seus filhos sofreram algum tipo de discriminação

Sim ( ) Não ( )

( ) por ser estrangeira


( ) por não falar o mesmo dialeto/ língua
( ) pela cultura
( )Classe social
( )Religião
( )Outros

5 Como vocês agem diante dessa discriminação


118

6 Processos Migratórios

6.1. Quantos anos você reside no Brasil/Guajará Mirim

6.2. Mora em que Bairro – Casa própria, cedida ou alugada.

3 Como ocorreu a sua migração

Justificar:________________________________________________________
_______________________________________________________________
______________________________________________

7 Por que você migrou? (O que levou você a sair do seu país de origem/ local)

8 Você está satisfeita morando no Brasil? Por quê?


Sim ()Não ( )

9 Quais foram suas maiores dificuldades encontradas no Brasil por ser migran-
te?

10 Sente saudades do seu país, pretende voltar?

11 Como você se sente na condição de migrantes?

12 Políticas Públicas para os migrantes (aqui serão abordados os acordos inter-


nacionais entre Brasil e Bolívia).

13 Você participa da Associação dos Bolivianos instalada no município de Guaja-


rá- Mirim.

14 Você recebe algum benefício do governo Boliviano?

15 E do Governo Brasileiro?
119

16 Que Instituições Brasileiras dão apoio para sua legalização aqui no Brasil?

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