Modulo - 03 - Classificação de Informações e Dados Abertos
Modulo - 03 - Classificação de Informações e Dados Abertos
Modulo - 03 - Classificação de Informações e Dados Abertos
Módulo 3
Conteudista/s
Luíza Galiazzi Schneider (conteudista, 2017).
Vítor César Silva Xavier (conteudista, 2017).
Enap, 2021
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
1. Introdução......................................................................................................................... 5
2. Informações Classificadas............................................................................................... 6
2.1 Quais informações podem ser classificadas?........................................................................7
2.2. Por quanto tempo as informações classificadas estão protegidas?..................................9
2.3. Quais autoridades podem classificar informações?......................................................... 10
2.4. Quais são os procedimentos para a classificação de informações?............................... 12
2.5. Tratamento de informação classificada............................................................................. 15
2.6. Desclassificação e reclassificação........................................................................................ 17
2.7. Competências da CGU em relação às informações classificadas................................... 18
2.8. Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI).................................................. 19
2.9. Comissão Permanente de Avaliação de Documentos Sigilosos (CPADS)....................... 20
2.10. Publicação do rol de documentos classificados e desclassificados na internet......... 20
2.11. Classificação da informação durante o curso do processo de pedido de acesso à
informação.................................................................................................................................... 22
3. Dados Abertos................................................................................................................. 23
4. Revisão............................................................................................................................. 28
Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 4
Módulo
3 Classificação de Informações
e Dados Abertos
1. Introdução
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;
(...)
A Lei de Acesso estabeleceu, portanto, nove hipóteses em que a Administração pode determinar
o sigilo de certa informação por determinado prazo. Nos termos do art. 23, são consideradas
imprescindíveis a segurança da sociedade e do Estado, e, portanto, passíveis de classificação as
informações cuja divulgação ou cujo acesso irrestrito possam:
Isso significa que, para classificar determinada informação, a Administração deve, necessariamente,
enquadrar o sigilo em alguma dessas hipóteses, não havendo possibilidade de classificação com
outros fundamentos.
Além disso, ao classificar uma informação em determinado grau de sigilo, deverá ser observado
o interesse público da informação e utilizado o critério menos restritivo possível, considerando
os seguintes parâmetros: a) a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e do Estado;
e b) o prazo máximo de restrição de acesso ou o evento que defina seu termo final (art. 24, § 5°,
da LAI).
As informações em poder dos órgãos e entidades públicas, observado o teor delas e em razão de
imprescindibilidade do sigilo à segurança da sociedade ou do Estado, poderão ser classificadas
em três diferentes graus:
A classificação da informação como ultrassecreta é a única passível de prorrogação, por até igual
período (ou seja, mais 25 anos, totalizando o período máximo de 50 anos de classificação).
A contagem tem por data inicial a data de produção do documento que registra a informação
que está sendo classificada. Ou seja, se uma informação produzida há 10 anos for classificada
como secreta na data de hoje, ela se tornará ostensiva em 5 anos. Isso significa, por exemplo,
que um documento produzido há 6 anos não poderia ser classificado como "Reservado”, uma
vez que o prazo de sigilo desse grau (5 anos) já estaria expirado. Da mesma forma, classificar
como "Secreto” um documento produzido há 20 anos também não produz efeito de sigilo.
A competência para classificação das informações varia de acordo com o grau (ultrassecreto,
secreto e reservado), assim como acontece com os prazos. Isso ocorre, pois, não é toda e qualquer
autoridade que pode estabelecer o sigilo de uma informação por 25 anos ou mesmo 5 anos.
A informação pode ser classificada como SECRETA pelos titulares de autarquias, fundações ou
empresas públicas e sociedades de economia mista, assim como por todos os autorizados para
classificação da informação como ultrassecreta (art. 27, II, da LAI).
A classificação no grau RESERVADO, por sua vez, poderá ser realizada por autoridades que
exerçam funções de direção, comando ou chefia, de hierarquia equivalente ou superior ao nível
DAS 101.5, do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, de acordo com regulamentação
específica de cada órgão ou entidade, assim como por todos os demais qualificados para a
classificação em grau secreto e ultrassecreto (art. 27, III, da LAI).
3_ A Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI) é um colegiado composto por membros de diversos órgãos do
Poder Executivo federal, sob presidência da Casa Civil da Presidência da República. A CMRI recebe e decide recursos contra
as decisões da CGU, sendo, portanto, a quarta e a última instância recursal prevista pela LAI Lei de Acesso à Informação.
Além de decidir esses recursos, a CMRI tem outras atribuições, dentre as quais a de estabelecer orientações para suprir
lacunas na aplicação da LAI. Essas orientações são feitas sob a forma de Súmulas ou Resoluções, disponíveis em: https://
www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/colegiados/comissao-mista-de-reavaliacao-de-informacoes-cmri/normativos
• Presidente da República.
• Vice-Presidente da República.
• Ministros de Estado e autoridades com as mesmas
prerrogativas.
Grau ultrassecreto (25 anos)
• Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.
• Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares
permanentes no exterior.
É importante ressaltar que a restrição de acesso a documentos contida no art. 23 da LAI somente
produz efeitos jurídicos após a produção do respectivo TCI, sem o qual não se pode falar em
restrição de acesso por classificação.
Ademais, cumpre ao agente público demandado pelo acesso à informação classificada informar
o fundamento legal da classificação, a autoridade que a classificou e o código de indexação
do documento classificado (art. 19, § 1º do Decreto nº 7.724/2012), além das instruções para
apresentação de pedido de desclassificação da informação, com indicação da autoridade
classificadora que o apreciará.
As informações classificadas são dotadas de restrição de acesso por tempo limitado, a depender
do grau de sigilo imposto pela autoridade competente, no momento de produção do seu termo
de classificação. O tempo de restrição de acesso deverá levar em consideração o interesse público
da informação, os riscos eventuais de sua divulgação extemporânea e utilizará o critério menos
restritivo possível.
O TCI é indexado por meio do Código de Indexação de Documento que contém Informação
Classificada (CIDIC), conforme orientações existentes no Decreto nº 7.845/20124. O CIDIC é
composto por:
4_ O Decreto nº 7.845/2012 trata dos procedimentos para credenciamento de segurança e tratamento da informação classificada
em qualquer grau de sigilo. Aprenderemos mais sobre ele no próximo subitem.
5_ Representam os aspectos ou temas correlacionados à informação classificada em grau de sigilo (Anexo II do Decreto nº
7.845/2012).
Contudo, nem todo mundo precisa passar por esse procedimento para conhecer informações
classificadas. São duas as exceções:
ATENÇÃO:
Nos casos de pedido de acesso à informação em que o objeto de solicitação seja informação
classificada com grau de sigilo, a negativa de acesso deve ser instruída com o fundamento legal
da classificação, da autoridade classificadora e do CIDIC.
Ou seja, diferentemente da CGU, que não detém competência para analisar o mérito de pedidos
que envolvam informações classificadas, os membros da CMRI devem se posicionar, em última
instância, sobre o mérito das decisões de classificação.
A CPADS não tem o poder de classificar informações, mas deve ter atribuições como: opinar sobre
a informação produzida no âmbito da sua atuação para fins de classificação em qualquer grau de
sigilo; assessorar a autoridade classificadora ou a autoridade hierarquicamente superior quanto
à desclassificação, à reclassificação ou à reavaliação de informação classificada em qualquer grau
de sigilo; propor o destino final das informações desclassificadas, indicando os documentos para
guarda permanente, com a observação do disposto na Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e
subsidiar a elaboração do rol anual de informações desclassificadas e documentos classificados
em cada grau de sigilo a ser disponibilizado na Internet. Isto é, a CPADS deve ser entendida como
um órgão de assessoramento da entidade no que se refere à classificação de informações.
Como a CPADS opina sobre gestão documental em alguns casos específicos, nota-se que
possui competência compartilhada com outra estrutura existente nos órgãos da Administração
Pública: a Comissão Permanente de Avaliação de Documentos - CPAD, instituída pelo Decreto
nº 4.073/2002, que regulamenta a Lei de Arquivos. É importante que, no ato de instauração da
CPADS ou no seu Regimento Interno, seja estabelecida a forma de exercício de tais competências.
O órgão ou entidade deverá, anualmente, publicar, em sua página na Internet, o rol de documentos
classificados e desclassificados, conforme descrito no artigo 45 do Decreto nº 7.724/2012:
No item Informações Classificadas, deve constar texto explicativo sobre o objetivo de atender
aos incisos I e II do Artigo 45 do Decreto nº 7.724/2012. Esse item deve apresentar também duas
áreas específicas para a apresentação das listagens:
O Estado, no exercício de suas mais diversas atribuições, acumula uma infinidade de dados.
Podemos pensar em diversos exemplos de entidades que dispõem de bancos de dados
consideráveis: dentre outros tantos bancos de dados custodiados pelo Estado, por exemplo,
a Receita Federal recebe milhares de informações sobre a situação fiscal dos contribuintes.
O Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI) realiza todo o
processamento, controle e execução financeira, patrimonial e contábil do governo federal
brasileiro. O Sistema de Gestão de Pessoas do Executivo Federal (SIGEPE) possui registro de
todos os servidores públicos federais.
Naturalmente, esses bancos de dados são fonte de interesse dos cidadãos e, em atendimento
ao princípio da máxima divulgação, é relevante quando esse tipo de informação pode ser
disponibilizado.
O acesso a dados e informações, como vimos, foi regulamentado pela Lei de Acesso à Informação.
Sendo assim, pedidos de acesso a bancos de dados são e eram tratados regularmente por meio
da LAI.
Em seu anexo, por exemplo, o Decreto nº 8.777/2016 estabeleceu dados de interesse público
cuja divulgação deveria ser priorizada pela Administração em até 180 dias da data de publicação
do normativo. O decreto também estabeleceu que as entidades da Administração Pública federal
direta, autárquica e fundacional devem elaborar Planos de Dados Abertos (no prazo de sessenta
dias), com o objetivo de implementar e promover a abertura de dados de cada órgão:
Dessa forma, o Decreto nº 8.777/2016 vem reforçar o disposto na LAI ao criar novas obrigações
de transparência ativa e de abertura de bancos de dados. Esse normativo contribui para o avanço
da transparência, uma vez que, atualmente, nem todas as bases de dados podem ser acessadas
pela população, em virtude de informações sigilosas lá contidas. Enquanto esses bancos de dados
não são disponibilizados e/ou devidamente triados, em face de pedidos que envolvam bancos
de dados, é importante verificar-se a eventual incidência de sigilos legais ou de restrições de
acesso, bem como avaliar se a possibilidade de extração e os custos envolvidos nessa operação
são viáveis. Quanto mais dados e informações a população tiver a seu dispor, mais correlações
e avaliações do governo poderão ser realizadas de forma qualitativa, ou seja, mais e melhor
controle social!
A classificação pode se dar em grau reservado (até 5 anos), secreto (até 15 anos) e ultrassecreto
(até 25 anos). Esses prazos são contados da data de produção da informação e não a partir da
decisão classificatória. Apenas a classificação em grau ultrassecreto pode ser prorrogada e a
instância exclusivamente competente para essa prorrogação é a Comissão Mista de Reavaliação
de Informações (CMRI).
A CMRI, além das competências estudadas no Módulo 1, possui também diversas competências
Por fim, vimos que os órgãos devem publicar os róis de documentos classificados e desclassificados
na internet e que, quando uma informação é classificada durante a instrução do recurso pela
CGU, o processo é extinto e deve ser realizado pedido de desclassificação, que possui rito próprio.
A CGU não possui competência para avaliar o mérito de uma decisão de classificação.
Além das informações classificadas, aprendemos sobre o Decreto nº 8.777/2016, que reforçou
as obrigações de transparência ativa e de abertura de dados do Poder Executivo federal. Em
sessenta dias a partir da edição desse Decreto, os órgãos e entidades federais devem elaborar
seus respectivos Planos de Dados Abertos, o que vai impulsionar a transparência e a publicidade
governamental.
Espero que você tenha adquirido uma visão ampla, mas ao mesmo tempo detalhada, da Lei
de Acesso à Informação e de sua implementação, desde 2012. A transparência e a publicidade
ganharam um reforço muito importante a partir dessa lei, e seu fortalecimento deve sempre
nortear a administração pública brasileira.
AMARAL, Sueli Angelica do; AROUCK, Osmar. Atributos da qualidade da informação e a lei de
acesso à informação. Anais do XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e
Ciência da Informação. Florianópolis, 2013.
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mátires; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm>. Acesso em:
13 março 2018.
BRASIL. Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8906.htm>. Acesso em: 13 março 2018.
BRASIL. Lei n. 9.278, Regula o § 3° do art. 226 da Constituição Federal. Lei n. 9.278, de 10
de maio de 1996. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm> Acesso
em: 13 março 2018.
BRASIL. Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria
a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9883.htm>. Acesso em: 13 março 2018.
BRASIL. Lei n. 10.406 Institui o Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso em: 13 março 2018.
BRASIL. Lei n. 12.414 Lei do Cadastro Positivo, Lei n 12.414/11, de 09 de junho de 2009.
Disciplina a formação e consulta a bancos de dados com informações de adimplemento, de
pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12414.htm> Acesso em:
13 março 2018.
BRASIL. Lei Complementar n. 105 de 10 de janeiro de 2001. Dispõe sobre o sigilo das operações
de instituições financeiras e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/lcp/lcp105.htm>. Acesso em: 13 março 2018.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2013.,
CUNHA FILHO, Márcio Camargo; XAVIER, Vítor César Silva. Lei de Acesso à Informação: teoria e
prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Bahia: JusPodivm,
2012.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2013.
NOGUEIRA JÚNIOR, Alberto. Cidadania e direito de acesso aos documentos administrativos. Rio
de Janeiro: Renovar, 2003.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2010.
TAVARES, André Ramos. In: DIMOULIS, Dimitri (org.) Dicionário Brasileiro de Direito
Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012.
XAVIER, Vitor Cesar Silva; CUNHA FILHO, Márcio Camargo. Lei de Acesso à Informação: Teoria e
Prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.