60 Texto - Do - Artigo 232 1 10 20201016
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Artigo Original
RESUMO: Em resposta aos desafios do Desenvolvimento Sustentável (DS), ocorrem várias intervenções
envolvendo vários actores. Entretanto, a forma como os projectos são desenhados, nem sempre assegura a
durabilidade de suas acções. Quando um projecto não deixa sinais de continuidade, junto aos grupos alvo,
designa-se não-sustentável. Visando promover a sustentabilidade de programas, as reformas decorrentes na
extensão agrária priorizam o uso de abordagens participativas. Para tal, introduzem-se formas mais apropriadas
de difusão de tecnologias e de conhecimentos junto dos produtores, como a metodologia designada Escola na
Machamba do Camponês (EMC). O presente trabalho visa identificar a contribuição das EMCs na
sustentabilidade das acções promovidas por programas de extensão agrária. Consiste numa revisão bibliográfica
analisando os resultados decorrentes da implementação de programas de implementados em Moçambique, tendo
como subsídios, experiências decorridas noutros países, sobretudo em Filipinas e Quénia. Os resultados
permitem compreender os aspectos institucionais e metodológicos da disseminação de tecnologias e de
conhecimento pelas EMCs e sua contribuíção nos pilares do DS. O estudo concluiu que as EMCs podem
contribuir para o DS e para a durabilidade de acções pós intervenções. Os mecanismos de difusão das
experiências ganhas nas EMCs baseiam-se em redes informais, as quais se encarregam de dar seguimento às
acções iniciadas. O facto de as EMCs investirem mais tempo na capacitação de produtores, inter alia respeitando
o contexto sociocultural e cumprirem, com algum rigor, os princípios estabelecidas para a sua operacionalidade,
permite a apreensão do saber pelos produtores, contribuindo para a promoção da sustentabilidade das
intervenções iniciadas.
Palavras-chave: sustentabilidade, capacitação, extensão agrária, escola na machamba do camponês
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abordagem top down, para outros mais “As pessoas são a maior riqueza das
orientados pela procura, tais como os nações” (NU, 2010). É assim que as
métodologias Farmer Field School (FFS), Nações Unidas decidiram reforçar esta tese
farmer to farmer, incluindo adaptações de aos 20 anos de aniversário da publicação
abordagens, originando, por exemplo o Treino e dos relatórios de desenvolvimento humano.
Visita Modificado (TVM) (DNEA, 2007; As pessoas são o centro de todas as
EICHER, 2002). Apesar dessa viragem de intervenções, como actores e como beneficiárias
abordagem, Rivera et al., (2001) assegura do desenvolvimento (PINJENBURG, 2004).
que os métodos top-down ainda detêm Estes autores transmitem mensagens que
algum valor. despertam e chamam atenção para a
necessidade de se investir nas pessoas,
A extensão participativa opõe-se à prática capacitando-as e dando-lhes oportunidade
histórica da Extensão Rural, a qual esteve para exercerem os seus direitos como cidadãos
baseada na teoria da difusão de inovações, e promoverem o desenvolvimento. Vários
em que os extensionistas faziam a autores referem-se que o DS coloca
transferência unidireccional de tecnologia desafios de mudança de estilos de
para a modernização da agricultura. Nesse agricultura sustentável que ultrapassam a
processo, os agricultores eram vistos como simples transferência de tecnologias
meros depositários de conhecimentos e de incluindo mudança de atitude não só do
pacotes gerados pela pesquisa, maioritariamente agente interventor (agente de extensão),
inadequado às condições específicas de mas também do sistema cliente (o
suas explorações e dos respectivos produtor) (CARMO, 2006; CAPORAL e
agroecossistemas (RIVERA e ALEX, 2004). RAMOS, 2006) e uma forte coordenação
entre a investigação e extensão e outros
A extensão rural é também uma forma de actores de desenvolvimento (GÊMO,
intervenção social. Segundo Carmo (2010 EICHER e TECLAMARIAN, 2006;
p. 61), ONDURU, et al., 2008).
[…] intervenção social é um
Sendo a extensão agrária um serviço de
processo social em que uma
dada pessoa, grupo, organização, adesão voluntária o processo de adopção
comunidade ou rede social – a de tecnologias é lento (ROGERS, 1995).
que chamaremos sistema- Contudo o sucesso dos serviços de
interventor – se assume como extensão depende da capacidade de dar
recurso social de outra pessoa,
resposta às necessidades sentidas pelo
grupo, organização, comunidade
ou rede social – a que produtor (EICHER, 2002; ONDURU et
chamaremos sistema-cliente – al., 2008).
com ele interagindo através de
um sistema de comunicações Extensão Agrária em Moçambique
diversificadas, com o objectivo
de o ajudar a suprir um Moçambique possui um dos serviços de
conjunto de necessidades
sociais, potenciando estímulos
extensão pública agrária mais jovem em
e combatendo obstáculos à África. Criada em 1987, a extensão
mudança pretendida (CARMO, conheceu até presente cinco fases de
2010, p. 61). desenvolvimento (ALAGE e NHANCALE,
2010), a seguir descritos, buscando sempre
Para tal é oportuna a mudança de formas de responder melhor aos desafios
abordagem (CARMO, 2010) e valorizar as de DS:
pessoas (CHAMBERS, 1997, CHAMBERS,
1983). 1ª Fase (1987-1992), estabelecimento das
primeiras redes de extensão; 2ª Fase (1993-
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Maior procura de EMCs: na mesma Tabela mais facilitadores. Esta subida de EMCs
2 é notório o crescimento de EMCs assim parece reflectir o interesse dos produtores
como o número de membros em função do (procura) na metodologia, assumindo
período considerado. A redução em 11% tratar-se de adesões voluntárias aos
do número de EMC na campanha 2009/10 programas de extensão (RIVERA e ALEX,
em relação a campanha anterior deveu-se à 2004). Rola, Jamias e Quizon (2002)
desistência de alguns facilitadores técnicos chegaram também a esta conclusão num
e produtores por razões diversas (DNEA, estudo realizado nas Filipinas, usando
2010). Houve um equadramento de EMCs.
produtores noutras EMCs circunvinzinhas,
razão pela qual o número de membros Aumento da coesão: verifica-se que a
aumentou mesmo com a redução de EMCs. participação proporciona maior
O incumprimento entre o plano e as EMCs responsabilização das pessoas e grupos, e
estabelecidas em 2004/5, 2007/8 e 2009/10 aumenta o sentimento de pertença e
esteve associado a razões logísticas para o coesão. De facto, “o sentido de pertença e
estabelecimento das mesmas, como a de responsabilidade da comunidade para
morosidade dos produtores na abertura de com o seu futuro deve ser o ‘motor’ do
contas bancárias e o atraso no desenvolvimento sustentável” (SIMÃO,
aprovisionamento de insumos agrícolas. Em 2008 p. 319), espírito patente nas EMCs
2008/9 houve um crescimento assinalável de analisadas em Moçambique. ONDURU, et
EMCs assim como de facilitadores, o qual al (2008) tambëm concluiram nas suas
deveu-se à implementação do PAN II num análises sobre EMCs que elas contribuiram
maior número de distritos e à formação de para a coesão social dos produtores.
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