Lepidus, O Ser Humano No Transumanismo

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O ser humano no transumanismo:


elementos ético-antropológicos para um
diálogo com a proposta cristã
The human being in transhumanism: ethical-
anthropological elements for a dialogue with the
christian proposal

Rafael Martins Fernandes*


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Luiz Maria de Barros Coelho Neto**


Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Recebido em: 16/02/2020. Aceito em: 31/07/2020.

Resumo: O presente artigo pretende aproximar as compreensões transumanista


e cristã de ser humano, comparando-as em suas diferentes propostas e ofere-
cendo a partir daí alguns questionamentos éticos. Para isso, apresenta-se, na
primeira parte, uma breve introdução ao movimento transumanista, seguido pela
análise das vertentes antropológicas que compõe o seu ideário. Logo depois,
aborda-se duas problemáticas de teor ético presentes nesse movimento, a saber:
a difícil delimitação entre terapia e melhoramento (enhancement) e a contro-
versa noção de perfeição humana. Na segunda parte do artigo, desenvolve-se
brevemente a proposta antropológica cristã a partir da noção bíblica de imago
Dei. A comparação entre as compreensões antropológicas transumanista e
cristã não é exaustiva, mas é útil para fazer notar algumas diferenças, como

* Doutor em Teologia (Pontifícia Universidade Lateranense, PUL, Roma, Itália, 2018).


Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC-RS,
Porto Alegre, RS, 2014). Graduado em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, PUC-RS, Porto Alegre, RS, 2008). Graduado em Filosofia (Ponti-
fícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC-RS, Porto Alegre, RS, 2003).
E-mail: [email protected]
** Mestrando em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC-
-RS). Graduado em Teologia (Dupla Titulação: Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, PUCRS, Porto Alegre, RS e Pontifícia Universidade Lateranense, PUL,
Roma, Itália, 2014). Graduado em Filosofia (Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, PUC-RS, Porto Alegre, RS, 2009).
E-mail: [email protected]

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O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

a tendência do transumanismo à mecanização do indivíduo e a consequente


relativização do princípio cristão de dignidade do corpo humano. Identifica-se
nesses elementos um neognosticismo tecnológico. Em contrapartida, a análise
da antropologia cristã aponta para uma proposta de sentido para o ser humano,
dada a partir de um humanismo integral e solidário.
Palavras-chave: Ser humano. Transumanismo. Melhoramento. Antropologia
cristã. Imago Dei.
Abstract: The present article intends to approximate the transhumanist and
Christian understandings of human beings, comparing them in their different
proposals and offering from there some ethical questions. For this, the first part
presents a brief introduction to the transhumanist movement, followed by the
analysis of the anthropological aspects that make up its ideas. Soon after, two
ethical issues present in this movement are addressed, namely: the difficult
delimitation between therapy and enhancement and the controversial notion of
human perfection. In the second part of the article, the Christian anthropological
proposal is briefly developed from the biblical notion of imago Dei. The compari-
son between transhumanist and Christian anthropological understandings is not
exhaustive, but it is useful to point out some differences, such as the tendency
of transhumanism towards the mechanization of the man and the consequent
relativization of the Christian principle of human body dignity. A technological
neognosticism is identified in these elements. In contrast, the analysis of Christian
anthropology points to a proposal of meaning for the human being, given from
an integral and solidary humanism.
Keywords: Human being. Transhumanism. Enhancement. Christian anthropo-
logy. Imago Dei.

Introdução
O movimento transumanista propõe uma concepção de homem
como interventor na evolução de sua própria espécie. A proposta de que
a espécie humana se automanipule não é nova, mas os atuais avanços
tecno-científicos possibilitam que essa ideia alcance resultados práticos
como jamais se viu. Com ventos tão favoráveis, o movimento cresce em
adeptos e em importância diante da sociedade. Suas ideias têm atraído
não apenas a atenção de curiosos e cientistas, mas também de investido-
res milionários dispostos a gastar as suas fortunas na aquisição de novas
técnicas de manipulação. Então, conhecer o movimento e sua proposta
antropológica torna-se algo necessário, sobretudo para as ciências hu-
manas que possuem como um de seus objetivos dialogar com tecnólogos
e cientistas, escutando e propondo princípios e critérios que deem um
sentido autenticamente humano aos novos desenvolvimentos científicos.
Dentro desse cenário, existem os debates entre bioconservadores e
bioprogressistas. Outra discussão gira em torno dos limites da realidade
virtual e o uso da Inteligência Artificial, que poderá gerar uma massa sem

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precedentes de desempregados. Os debates também atingem o campo


teológico, especialmente porque os defensores do transumanismo perse-
guem os mesmos objetivos religiosos, isto é, a resolução dos problemas
centrais da humanidade, como a superação do sofrimento e da morte1.
O presente artigo trata da compreensão de ser humano presente
no movimento transumanista e algumas questões éticas implícitas, em
vista de um diálogo com a proposta antropológica cristã. Para isso,
serão apresentados, em um primeiro momento, a origem, a definição
e os princípios norteadores do transumanismo, seguido da análise das
vertentes antropológicas que compõe o ideário desse movimento. Serão
abordadas também algumas implicações éticas. Por fim, tratar-se-á da
proposta de sentido cristã, iluminada pela noção bíblica de imago Dei,
e algumas críticas ao transumanismo que daí derivam.

1 Definição, origem e princípios do transumanismo


O transumanismo pode ser classificado como um movimento
de base filosófico-científica, cujo projeto é superar os limites humanos
impostos pela lei da natureza. Para tal, utiliza a ideia de “aumento”
(enhancement) ou melhoramento das capacidades humanas, tornando o
homem mais forte, superinteligente, com aumento de sua destreza, de sua
capacidade visual e auditiva, podendo obter uma longevidade saudável e,
no futuro, a possibilidade de uma vida imortal. O núcleo possibilitador
dessa revolução, que exclui qualquer intervenção divina ou espiritual,
é chamado de NBIC: N de nanotecnologias, B de biotecnologias, par-
ticularmente o sequenciamento do genoma humano e a ferramenta de
edição do DNA que se chama Crispr-Cas9. Depois o I, de informática,
com o big data e a “internet das coisas”. O C é o cognitivismo, isto é, a
inteligência artificial (IA), o coração dessas quatro inovações.2
Entre os integrantes desse movimento há cientistas, empresários
e filósofos. No campo científico, o norte-americano Raymon Kurzweil,
ao lado de outros inventores do vale do Silício (EUA), obteve grande

1
Como literatura brasileira e no plano teológico, Érico Hammes faz um bom levanta-
mento da discussão. No âmbito da bioética, cita-se Leo Pessini; cf. HAMMES, Érico.
Transumanismo e Pós-humanismo: uma aproximação ético-teológica. Perspectiva
Teológica, Belo Horizonte, v. 50, n. 3, p. 431-452, 2018. PESSINI, Leo. Bioética e o
futuro pós-humano: Ideologia ou utopia, ameaça ou esperança? Encontros Teológicos,
Florianópolis, n. 67, p. 107-130, 2014.
2
FERRY, Luc. A Revolução transumanista: entrevista concedida a Jorge Forbes para
o prefácio da edição brasileira do livro A Revolução transumanista. In: Instituto da
Psicanálise Lacaniana, 2018. Disponível em: http://www.ipla.com.br/conteudos/
artigos/a-revolucao-transumanista/.

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O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

sucesso em suas pesquisas, algo que atraiu um número substancial de


novos adeptos para o movimento, sobretudo nas décadas de 1990 e
2000. Não faltam investidores dispostos a lucrar com as descobertas.
Elon Musk, fundador da Tesla, é um verdadeiro visionário, investindo
fortunas na indústria espacial para uma futura colonização no espaço e
em pesquisas sobre a interface computador-cérebro. No campo filosófico,
destacam-se ideólogos como Nick Bostron, David Pearce e Max More.
Eles qualificam o transumanismo como um movimento humanista,
mesmo que suas ideias afirmem um futuro pós-humano3.
Há um fundo religioso nos escritos desses ideólogos. Bostron
recorre à história da religião para traçar os antecedentes do transuma-
nismo. Ele cita rituais fúnebres, mitos gregos, como o de Prometeu e
outras tradições religiosas da antiguidade (poemas de Gilgamesch) para
afirmar um significado perene contido nos ideais do transumanismo.4
Seguindo Érico Hammes5, os primeiros usos da palavra “transumanismo”
confirmam essa motivação religiosa. O canadense Willian D. Lighthall,
em artigo escrito em 19406, toma o termo “transumanar” da descrição
do paraíso de Dante Alighieri na “Divina Comédia”, embasada em 2Cor
12,4, para demonstrar a conotação religiosa da nova “filosofia metafísica
progressista” proposta por ele. Na mesma perspectiva, o biologista Julian
Huxley (1887-1975), intitulou o seu ensaio de 1959 como “Garrafas no-
vas para vinho novo”7, fazendo alusão à passagem evangélica “à vinho
novo, odres novos”, com a qual o cristianismo afirma ser a religião da
novidade. Huxley inverte essa interpretação, ao propor o “transumanis-
mo” como a crença realmente capaz de trazer o “novo” para a história.
Tais escritos fazem considerar que, na origem e desenvolvimento do
transumanismo, há uma fé secularista e uma esperança de salvação
fundada na biotecnologia.8

3
Para uma maior explicitação do transumanismo como parte integrante dos humanis-
mos modernos, ver: ANTONIO, K. F. Transhumanismo e suas oscilações prometeico-
-faústicas: tecnoapoteose na era da tecnociência demiúrgica. Natal: PPGFIL, 2018.
p. 104. Disponível em: https://issuu.com/j00kun/docs/keoma_ferreira_antonio_-_
transhumanismo_e_suas_osc. Acesso em: 5 jul. 2020.
4
BOSTRON, N. A History of Transhumanity Thought. 2011, p. 1 e 2. Disponível em:
https://www.nickbostrom.com/papers/history.pdf. Acesso em: 5 jul. 2020.
5
Cf. HAMMES E. Transumanismo e pós-humanismo: uma aproximação ético-teológica.
Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 50, n. 3, p. 431-452, Set.-Dez. 2018.
6
Cf. LIGHTHALL, W. D. The Law of Cosmic Evolutionary Adaptation: An Interpretation
of Recent Thought. Ottawa: Royal Society of Canada, 1940.
7
HUXLEY, J. New Bottles for New Wine. London: Chatto and Windus, 1957.
8
“A dimensão do sagrado e da religiosidade encontra-se muitas vezes presente nas
esferas laica e profana, cumprindo nelas uma função simbólica e de significação.
Por seu lado, as ciências sociais veem com cautela o uso desta constatação como
método para a compreensão desta outra faceta dos fenômenos científicos, políticos e

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Mesmo que os seus principais ideólogos expressem uma motivação


religiosa de fundo, o transumanismo não é uniforme quanto a seus objetivos.
Tem-se os moderados e os radicais.9 Os mais moderados restringem os seus
objetivos ao tempo presente, buscando apenas técnicas de melhoramento das
condições humanas. Entre eles, há adeptos de religiões, como os associados
da Christian Transhumanist Association ou da Mormon Transhumanist As-
sociation.10 Os mais radicais, por sua vez fixam o seu propósito no futuro,
apostando as energias e muito dinheiro na cyborguização do homem. Para
esses, o futuro é a evolução em uma super-espécie humana que alcançaria
a imortalidade. Entre os expoentes dessa ala mais radical, citam-se os ex-
tropianos, encabeçados por Max More11, e os transtropianismo, um grupo
de extrema-direita favorável à aplicação da neoeugenia12.
Buscando definir quais são as crenças e princípios básicos que
unem as diferentes correntes, em 1998, um grupo internacional de
­transumanistas publicou uma Declaração Transumanista13 disposta em
oito artigos. Entre esses princípios, cita-se: a fé na ciência para a supera-
ção dos problemas cruciais da humanidade; renúncia a posições políticas
extremistas que colocariam em risco a espécie humana; a afirmação de
uma moral liberal, na qual cada indivíduo é livre para optar pelo uso das
novas tecnologias de reprodução, bem como a adesão a procedimentos
criônicos, de aumento de memória, de extensão da vida e outros.

sociais, no que se convencionou chamar de ‘religiosidades seculares’ ou ‘sacralidade


laica’. No entanto, julgamos que esta perspectiva pode esclarecer uma outra faceta
destas realidades consideradas como não religiosas, revelando – para além de sua
autorreferência, de seus aspectos evidentes e de seus reducionismos – dimensões
de um imaginário e de produção de sentido também constitutivas destas realidades.”
(CAMURÇA, Marcelo. ‘Religiosidades científicas’ hoje: entre o secular e o religioso.
In: CRUZ, Eduardo R. da. Teologia e Ciências Naturais: Teologia da Criação, Ciências
e Tecnologia em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2011).
9
Para uma análise pormenorizada das diferentes vertentes do transumanismo, ver:
ANTONIO, K. F., 2018, p. 139-283. Disponível em: https://issuu.com/j00kun/docs/
keoma_ferreira_antonio_-_transhumanismo_e_suas_osc. Acesso em: 5 jul. 2020.
10
Tais associações possuem seus respectivos sites: Christian Transhumanist Association:
https://www.christiantranshumanism.org/; Mormon Transhumanist Association: https://
transfigurism.org/. Acesso em: 5 jul. 2020.
11
Fundada em 1990, possui princípios otimistas em relação à capacidade de desenvol-
vimento transumano, como o progresso perpétuo; cf. MORE, M. Principles of Extropy.
2003. Disponível em: https://web.archive.org/web/20131015142449/http://extropy.org/
principles.htm. Acesso em: 5 jul. 2020.
12
ANTONIO, K. F., 2018, p. 139-283. Disponível em: https://issuu.com/j00kun/docs/
keoma_ferreira_antonio_-_transhumanismo_e_suas_osc. Acesso em: 5 jul. 2020.
13
Para acessar os oito princípios da Declaração Transumanista: BAILY, Doug. et al.
Transhumanist Declaration. Disponível em: https://humanityplus.org/philosophy/
transhumanist-declaration/, 1998.

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O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

Como se vê, as diferentes correntes transumanista convergem para


a compreensão de ser humano auto manipulável e evolutiva, rumando
para o estágio pós-humano. A aproximação com o movimento pós-
-humanista é indubitável e a diferença entre esses é que o primeiro se
apresenta identificado com o aspecto da transição e o segundo define-se
em conformidade com a meta.14

2 Qual(is) antropologia(s) o transumanismo


apresenta?

Existem dificuldades na hora de apreender a visão transumanista


de ser humano. Isso acontece, porque o movimento apresenta crenças
e compreensão antropológica muito dinâmicas e voláteis. O conceito
tradicional de “natureza humana”, que tende para um significado de
teor estático, é rejeitado, o que também dificulta o diálogo com as reli-
giões e a metafísica tradicional15. Não é objetivo fazer aqui um estudo
­antropológico exaustivo. Quer-se apenas acenar para alguns aspectos
e nuances que possibilitem uma compreensão mais clara sobre a(s)
antropologia(s) do movimento em questão.
Primeiramente, acena-se para os humanismos que originaram o
transumanismo. Picco della Mirandola é considerado o pai do huma-
nismo renascentista. Em seu célebre discurso sobre a dignidade do ser
humano (1486), enfatizou uma ideia de excelência e superioridade do
ser humano no plano do criado, pelo fato de ser concedido ao homem

14
O Pós-Humanismo possui uma trajetória conceitual na literatura diferente da Tran-
sumanista e, por isso, merece um estudo em separado, ao qual não nos propomos
neste ensaio. Erico Hammes afirma a existência de no mínimo duas vertentes de
significado pós-humanista: o cultural-filosófico e o tecnocientífico; cf. HAMMES E.,
2018, p. 437; ver também RANISCH, Robert; SORGNER, S. Lorenz (org.). Post – and
Transhumanism: an introduction. [S. l.]: Peter Lang Edition, 2014.
15
O conceito de “natureza humana”, concebido de modo estático, não se sustenta
segundo a dinâmica das ciências modernas, como a Neurociência, a Genética, a
Antropologia Cultural, saberes que embasam o transumanismo. Na própria teologia
existem autores que tem procurado explicitar um uso do conceito de “natureza” que
seja mais dinâmico, como, por exemplo Karl Rahner e, ultimamente, a Comissão
Teológica Internacional; ver HAMMES E., 2018, p. 440; RAHNER, K. Sämtliche
Werke: Verantwortung der Theologie. Im Dialog mit Naturwissenschaften und
­Gesellschaftstheorie: BD 15. Freiburg: Verlag Herder, 2020. V. 15; COMISSÃO TEO-
LÓGICA INTERNACIONAL. Em busca de uma ética universal: novo olhar sobre a lei
natural. n. 64-75. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/
cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20090520_legge-naturale_po.html. Acesso
em: 12 jul. 2020. Quanto ao conceito de “pessoa”, esse apresenta-se ainda mais
difícil de ser explicitado em uma cultura plural e pós-moderna que vivemos hoje.

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exclusivamente o poder de autodeterminar-se.16 Tal pensamento, de


matriz cristã, foi o propulsor do humanismo iluminista e liberal que
se formou nos séculos XVII e XVIII, cujas crenças estão centradas no
indivíduo, em sua capacidade racional e em sua liberdade, bem como
reivindicam a satisfação das necessidades e desejos de bem-estar. O
cogito ergo sum de René Descartes (1596-1650) torna-se um exemplo
paradigmático da concepção de ser humano conformada à racionalidade.
Com uma fundamentação subjetivista, o cogito ergo sum expressa uma
imagem de indivíduo demasiado autorreflexiva, que obscurece outras
dimensões humanas, como a corporalidade e a relacionalidade. O corpo
acaba por se reduzir a uma extensão da consciência (res extensa), que,
por sua vez, vai gradativamente se distanciando dos condicionamentos
impostos pela natureza.
Para pôr em prática o novo credo iluminista, foi-se, de uma parte,
buscando a libertação das crenças cristãs e da concepção medieval de
mundo subordinadas a um Deus transcendente. De outra parte, formou-
-se um modelo de sociedade que lhe fosse correspondente. A criação do
Estado moderno, a revolução industrial e o desenvolvimento das ciências
empíricas ofereceram as condições ideais para a formação de um modus
vivendi secularizado, crente no valor absoluto do indivíduo. Contudo,
esse humanismo das Luzes mostra-se ambíguo: a maior liberdade diante
dos condicionamentos da natureza, da religião e até mesmo da tutela
parental, deve ser paga com alto custo, visto que o homem seguiu um
modo de vida industrial, que tende à mecanização do humano.17
No transumanismo, a imagem de ser humano encontra-se entre a
proclamação radical das crenças iluministas e a ruptura com essas. A ra-
dicalização do iluminismo aponta para a crescente afirmação da liberdade
humana diante dos condicionamentos da natureza e da religião. Nesse
sentido, o homem torna-se um animal cada vez mais “desnaturado”,
inclinado a automanipular o seu corpo pela técnica em função de seus
desejos individuais (subjetivismo radical)18. A afirmação extrema dos
desejos de uma minoria em desenvolver e desfrutar das novas tecnolo-
gias, mesmo que isso comporte em uma preocupação desse grupo pela
não realização dos direitos básicos da maioria da população mundial

16
PICO DELLA MIRANDOLA, G. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. de Maria
de Lurdes Sirgado Ganho. Lisboa: Edições 70, 2001.
17
HARARI, Yuval N. Sapiens: uma breve história da humanidade. 38. ed. Porto Alegre:
L&PM, 2018. p. 236-245; 315-385.
18
Tal explicitação do subjetivismo moderno com suas consequências para a pessoa
encontra-se em: COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL. Em busca de uma ética
universal: novo olhar sobre a lei natural. n. 71-74. Disponível em: http://www.vatican.va/
roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20090520_legge-
-naturale_po.html. Acesso em: 12 jul. 2020.

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O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

(alimentação adequada, saneamento, educação), expõe a autocontradição


na qual imerge o transumanismo de corte iluminista.19
De outra parte, o rompimento de setores ideológicos do transuma-
nismo com o iluminismo demonstra-se pela observação de uma ausência
de preocupação com os direitos humanos, visto o entendimento de que
a noção ilustrada de ser humano – com sua individualidade e dignidade
únicas – é considerada defasada ou ilusória. Está-se diante de anti-
-humanismos. Ricardo Rivas García cita, entre as correntes filosóficas
que põem em dúvida as crenças iluministas sobre o humano, o estru-
turalismo, e de forma mais radical, o naturalismo, cujo evolucionismo
e niilismo de corte nietzscheano formariam parte20. O estruturalismo,
marcado pela crença em uma imagem de ser humano que é o resultado
de estruturas inconscientes e de condicionamentos externos, coloca em
dúvida o papel da consciência e da liberdade humanas. No naturalismo
e evolucionismo, a crítica às concepções modernas sobre o que seja o
humano aprofunda-se: o indivíduo é reduzido a um conjunto de processos
causais bioquímicos que permitem ao evolucionista negar o livre-arbítrio
e até mesmo a crença na unicidade do indivíduo.
Nesse sentido, alguns estudiosos da neurociência afirmam a tese de
que o in-divíduo, na verdade, é dividuo. Ou seja, experiências mostraram
que humanos tomam as suas decisões a partir de vozes interiores, por
vezes conflitantes entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro.
Não existiria assim uma voz única de comando ou um “eu” único. Nem
o livre-arbítrio.21 Está-se perante um tipo de visão trans-pós-humanista
na qual o humano é simplesmente determinado pelas ciências biológi-
cas. A negação do indivíduo como ser “uno” e “livre”, torna a ideia de
pessoa uma mera ilusão. O que resta é um monismo materialista22, cujas
consequências podem ser desastrosas.

19
“Em 2002, os norte-americanos gastaram um bilhão de dólares em medicamentos
para o tratamento da calvície, em torno de dez vezes mais o total gasto com pesquisa
científica para encontrar a cura da malária, que continua matando milhares de pessoas
pelo mundo afora.” (PESSINI L., 2014, p. 126).
20
RIVAS GARCÍA, Ricardo, La crisis del humanismo: una revisión y reconstrucción de
los supuestos del humanismo cristiano, ante los desafíos del antihumanismo contem-
poráneo. Franciscanum, v. LXI, n. 172, 2019, p. 19.
21
Ver exemplos de experiências em: HARARI, Yuval N. Homo Deus: uma breve história
do amanhã, São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 294-302; 332.
22
“Sim, os pós-humanistas, nesse caso podemos chamá-los assim, são materialistas,
filosoficamente falando [...]. Eles são monistas e materialistas, e dizem: é isso aí,
não tem de um lado o pensamento e de outro o corpo, é a mesma coisa” (FERRY
L., 2018. Disponível em: http://www.ipla.com.br/conteudos/artigos/a-revolucao-
-transumanista/).

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Rafael Martins Fernandes e Luiz Maria de Barros Coelho Neto

É interessante observar que ao lado desse anti-humanismo e do


subjetivismo radical existe o sonho de um paraíso pós-humano, onde
todo sofrimento e carnivorismo predatório poderiam ser eliminados.
Para transumanistas mais confiantes, como David Pearce, “se uma Sin-
gularidade tecnológica estiver realmente próxima, então a abolição do
sofrimento é viável ainda nesse século.”23
Com essa pretensão de eliminação da carne e do sofrimento,
restaria apenas a consciência humana a nível de pensamento puro e
que subsistiria em um hardware, ligado a uma rede de computadores
universal. Assim corrobora o filósofo Luc Ferry, supondo a elaboração
de uma identidade pessoal imortal:

E se conseguíssemos fabricar um cérebro de silicone, esse cérebro seria


completamente humano, por assim dizer, ele não teria só o cálculo, ele
teria o verdadeiro pensamento [...]. Ele seria como o humano de Sartre:
a existência precederia a essência. Ele seria também um ser de história.
Então o verdadeiro projeto da Google é fabricar uma pós-humanidade,
é o projeto de Kurzweil, é a busca da imortalidade. Porque enquanto só
se aumenta a vida humana, permaneceremos mortais.24

Críticos, como João Manuel Duque e Hercílio Martins, perce-


bem, nessas considerações utópicas trans-pós-humanas, uma religião de
­salvação neognóstica. A exemplo do que ocorre na cosmologia gnóstica25,
as utopias tecnológicas compreendem a matéria e a carne como elementos
a serem superados, devendo permanecer apenas a consciência humana
pura. Em um processo tecnológico de salvação, somente o espírito ou
a ideia permanecerão para sempre. Compreende-se, então, que a insis-
tente recusa da vulnerabilidade da carne e seu desprezo pela dignidade
do corpo humano façam parte de um credo neognóstico. Como explica
Duque, tanto na gnose quanto no neognosticismo tecnológico transuma-
no, o monismo materialista é aparente, pois a matéria, como princípio

23
PEARCE, David. As cinco razões pelas quais o transumanismo é capaz de eliminar
o sofrimento. 2011. Artigo disponível em: https://www.hedweb.com/transhumanism/
cinco-razoes.html. Acesso em: 20 out. 2019.
24
FERRY, 2018. Disponível em: http://www.ipla.com.br/conteudos/artigos/a-revolucao-
-transumanista/.
25
O gnosticismo, corrente filosófica surgida nos séculos I e II da era cristã, entende o
mundo como falho ou mal em sua existência material. De outra parte, há uma realidade
de ordem espiritual ou ideal, encoberta pela aparente diversidade da matéria, que deve
ser conhecida pelo homem a fim de que ele possa ser salvo da corrupção material.
O dualismo entre matéria e espírito, na verdade, esconde um monismo idealista no
qual só o espírito realmente existe.

Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020 635


O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

maléfico, não faz parte do mundo verdadeiro.26 Em seguimentos mais


moderados do transumanismo, elementos de recusa da vulnerabilidade
da carne também podem ser percebidos.27
Esta explanação antropológica sobre as ideias transumanistas
permite compreender que, na verdade, existem no seio do movi-
mento antropologias que flutuam entre o humanismo iluminista e o
­pós-humanismo, sem descartar elementos transcendentes na percepção
de transumanistas cristãos.

3 Questões éticas emergentes

As questões éticas que se seguem abandonam o campo das utopias,


concentrando-se em duas problemáticas que tocam o núcleo prático do
transumanismo: o melhoramento (enhancement) e uma noção de perfeição
humana que conduziria à eugenia. O âmbito de análise são os problemas
ligados à biotecnologia, ou mais precisamente, à construção dos corpos.

3.1 Distinção entre terapia e melhoramento


(enhancement)

Existe uma discussão complexa no que se refere à distinção entre


o uso terapêutico de uma pesquisa científica e o melhoramento. A terapia

26
Sobretudo a partir do Vaticano II, um diálogo fértil com a modernidade, também
não pode ignorar o diálogo com a sua transformação atual, a que frequentemente
se dá o nome de pós-modernidade. O presente volume pretende ser uma proposta
de aproximação ao ambiente cultural contemporâneo. Começando por debater o
próprio conceito de pós-modernidade e nele situar a questão do regresso do religio-
so, avança algumas propostas que podem redimensionar a teologia num contexto
cultural já não tipicamente moderno. Salientam-se uma interpretação teológica de
Nietzsche, uma avaliação crítica da teologia narrativa e uma crítica teológica da
cibercultura. O que é a pós-modernidade? Que tem a teologia a ver com esse novo
ambiente cultural? Trata-se de pura fragmentação relativista, que apenas deve ser
condenada? Ou trata-se de um fenômeno bem mais complexo, lançando desafios
importantes à fé cristã? O autor parte da segunda hipótese e oferece algumas
propostas de interpretação que permitirão repensar o exercício da teologia num
ambiente cultural em que já não são aceitos certos dogmas modernos. O novo
lugar do religioso e da narrativa, o confronto criativo com Nietzsche, uma leitura da
cibercultura... Esses e outros temas são avaliados teologicamente, como contributo
para um diálogo cultural em curso. (DUQUE, João Manuel. Para o Diálogo com a
Pós-Modernidade. [S. l.]: Paulus, 2016. p. 209, 212. [Coleção Teologia em Saída]).
Ver também MARTINS, Hermínio. Experimentum Humanum Civilização Tecnológica
e Condição Humana. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.
27
LACROIX, Xavier. O corpo reencontrado. Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 46,
n. 129, 2014, p. 4-5.

636 Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020


Rafael Martins Fernandes e Luiz Maria de Barros Coelho Neto

consiste em ajudar o paciente a recuperar seu estado normal de saúde e


natureza e, nesse sentido, a intervenção é moralmente aceitável. Dife-
rentemente é o caso do melhoramento que consiste não em recuperar a
saúde para o retorno a um estado normal, mas na intervenção do estado
normal em vista de evolução dos atributos naturais do humano, o que
pode levantar dúvidas no campo moral.28
Assim sendo, lança-se uma reflexão acerca do propósito da medi-
cina no que se refere à tarefa terapêutica. Léo Pessini acredita que para
além da terapia, as demais intervenções podem ser consideradas ‘práticas
extracurriculares’.29 Entretanto, fato é que a questão não é tão simples e
tampouco fácil de estabelecer essa completa divisão entre as situações
terapêuticas e de melhoramento. Terapia e melhoramento interagem na
atualidade. Basta mencionar o uso das vacinas que visam melhorar no
organismo a capacidade de imunidade frente às doenças.

Embora esta distinção seja interessante [...], ela é inadequada para


uma análise moral, diz o Repor da Comissão de Bioética dos EUA, que,
embora utilizando a expressão, a categoriza como ‘altamente proble-
mática, abstrata e imprecisa’. Terapia e melhoramento são categorias
que se entrecruzam: todas as terapias que foram bem-sucedidas são
também terapias de aperfeiçoamento. Além disso, estes conceitos estão
ligados à ideia de saúde e à sempre controversa ideia de normalidade.
As diferenças entre saudável e doente nem sempre são tão evidentes.
Seria terapia dar o hormônio de crescimento para um anão genético,
mas não para uma pessoa anã que se sente infeliz justamente porque tem
baixa estatura? Uma vez que sempre mais os cientistas acreditam que
todos os traços da personalidade possuem uma base biológica, como
distinguiremos ‘defeito’ biológico que permite a ‘doença’ da condição
biológica que permite a timidez, melancolia ou irascibilidade?30

Assim, não é possível, de modo generalizado, emitir um julgamen-


to moral sobre uso terapêutico das biotecnologias ou melhoramento, pois
isso resultaria simplista e impreciso. Cada caso de ser analisado à parte,
em sua especificidade e em seus méritos. Perigoso seria pensar em um
uso simplesmente neutro das técnicas de melhoramento, como se esse
uso não fosse bom nem mau, o que incorreria em ingenuidade. Toda a

28
Ver PESSINI, L., 2014, p.114-116.
29
“[...] a distinção parece ser útil, ao distinguir entre a obrigação central e mandatória
da medicina (curar os doentes), e suas práticas extracurriculares, como por exemplo,
as injeções de Botox e outros procedimentos cirúrgicos meramente cosméticos.”
(PESSINI L., 2014, p. 115).
30
PESSINI L., 2014, p. 115-116.

Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020 637


O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

neutralidade no campo ético é relativa.31 Para cada caso, é importante


perguntar: qual visão antropológica os sujeitos envolvidos adotam? Qual
finalidade? Com quais recursos? Os direitos humanos estão assegurados
em sua integralidade? As novas técnicas de melhoramento simplesmente
estão aí como fatos inexoráveis, mas devem ser usadas com prudência.

3.2 Transumanismo e eugenia

A eugenia, conforme a tradução das raízes gregas da palavra:


bem nascido, sugere a busca por uma seleção de seres humanos com
características genéticas e hereditárias melhores para garantir um me-
lhoramento nas novas gerações.32 Esse ideal coincide com a metodologia
­transumanista de melhoramento. Ambos, eugenia e transumanismo de-
sejam um melhoramento do ser humano, mas a eugenia o faz mediante
a seleção artificial da hereditariedade de seres com características mais
desejadas (eugenia positiva) ou impedindo que haja a reprodução da-
queles cujas características não são desejadas ou selecionadas (eugenia
negativa). O melhoramento do transumanismo corre o risco de realizar
uma eugenia indireta, uma vez que a probabilidade do acesso ao melho-
ramento indica não ser igualitário sendo reservado apenas para parte dos

31
“A aparência do discurso transumano traz a sensação de empoderamento (aperfei-
çoamento pessoal, maximização da felicidade, erradicação de sofrimentos, etc.), que
pode obscurecer a conscientização frente ao impacto das tecnologias emergentes.
Posto isso, deve-se, sobretudo, pensar em como nossos valores serão alterados
pela influência de novas tecnologias. Neste êxtase das promessas de emancipação e
liberdade, convém recordar que ciência e tecnologia não são neutras ou objetivas, e,
muito pelo contrário, mostram valores e interesses comerciais, assim como toda uma
lógica de poder, própria de nosso contexto social e temporal. Criaremos um mundo
voltado à função social da tecnologia, onde todos terão oportunidades e consciência
das próprias capacidades de escolha? Difícil acreditar. Não nos deixemos levar pela
fantasia. Deixemos essa para os livros.” (FIORO, Germano Rigotti. Bem-vindos à
nova eugenia: o transhumanismo. Empório do Direito: 2019. Disponível em: https://
emporiododireito.com.br/leitura/bem-vindos-a-nova-eugenia-o-transhumanismo).
32
“Com o propósito de aplicar os pressupostos da teoria da seleção natural ao ser
humano, Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, em 1883, reunindo duas
expressões gregas, cunhou o termo ‘eugenia’ ou ‘bem nascido’ [Black, 2003, p.
56]. A partir desse momento, eugenia passou a indicar as pretensões galtonianas
de desenvolver uma ciência genuína sobre a hereditariedade humana que pudesse,
através de instrumentação matemática e biológica, identificar os melhores membros
– como se fazia com cavalos, porcos, cães ou qualquer animal –, portadores das
melhores características, e estimular a sua reprodução, bem como encontrar os que
representavam características degenerativas e, da mesma forma, evitar que se repro-
duzissem [cf. Stepan, 1991, p. 1].” (DEL CONT, Valdeir. Francis Galton: Eugenia e
hereditariedade. Scientiae Studia. São Paulo, 2008, v. 6, n. 2, abr./jun. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-31662008000200004&script=sci_arttext.
Acesso em: 7 jul. 2020).

638 Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020


Rafael Martins Fernandes e Luiz Maria de Barros Coelho Neto

seres humanos.33 É verdade que não é desejo dos transumanistas realizar


uma espécie de seleção, mas sim que, livremente e respeitando a liber-
dade individual, os humanos evoluam gradativamente para um estágio
pós-humano. Contudo, como abordou-se anteriormente, é questionável
a possibilidade de total acesso ao melhoramento por parte de todos.
Jürgen Habermas (1929 – ) faz críticas às manipulações genéticas
bem como a forma como o discurso sobre o melhoramento é apresentado.
Apesar de conduzir a uma aceitação de parte da sociedade, na verdade
não possui “a pretendida neutralidade científica e desvela seu caráter
ideológico”.34

Habermas denuncia que as conquistas da ciência afetam a auto-com-


preensão das pessoas como seres responsáveis. O grande problema é
que as novas tecnologias e pesquisas científicas obrigam a sociedade a
aceitar um discurso público como correto para determinada cultura. Essa
crítica pode ser aplicada aos avanços da biotecnologia na intervenção
do genoma humano. Sobre isso Habermas cita o caráter de heterode-
terminação, além da alteração do poder de ser-si-mesmo, sendo que tal
intervenção é irreversível.35

Habermas critica de modo muito pertinente o método de inter-


venção no genoma e aperfeiçoamento genético, a partir do elemento
da liberdade tolhida do sujeito alterado geneticamente. Seu melhora-
mento seria feito sem o seu consentimento. A partir dessa abordagem,
se poderia elencar problematizações éticas diante da noção de igual-
dade garantida pelo Estado, sob um ponto de vista sociopolítico bem
como problemas no campo ético antropológico: na medida em que se
manipula o corpo humano, não estaríamos tornando-o um objeto?36

33
“O aprimoramento científico traz consigo um dilema moral: devemos ou não o levar
adiante? Nas vias de um governo democrático, é de imaginar que, em tese, o Estado
exerça seu papel como agente regulador na inserção das tecnologias emergentes no
meio social, prezando pela segurança, precaução e extensão dos benefícios obtidos a
todos os indivíduos – evitando, assim, a armadilha de uma eugenia liberal destinada
à minoria.” (FIORO, 2019, Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/
bem-vindos-a-nova-eugenia-o-transhumanismo).
34
SALVETTI, Ésio Francisco. Em busca de normatizações políticas e jurídicas que
limitem a eugenia liberal: um estudo a partir do pensamento habermasiano. Filofazer
Revista do Instituto Superior de Filosofia Berthier, Passo Fundo, n. 33, 2008, p. 80.
35
SALVETTI É. F., 2008, p. 82-83.
36
“Com a decisão irreversível que uma pessoa toma em relação a constituição ‘natural’
de outra, surge uma relação interpessoal desconhecida até o presente momento. Esse
novo tipo de relação fere nossa sensibilidade moral, pois forma um corpo estranho nas
relações de reconhecimento legalmente institucionalizadas nas sociedades modernas.
Na medida em que um indivíduo toma, no lugar de outro uma decisão irreversível,

Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020 639


O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

Na base da eugenia está o ideal de perfeição buscado a qualquer


custo. O século XX, no decorrer de sua história, nos apresenta fatos que
não podem ser desconsiderados na reflexão sobre a irrupção de um futuro
pós-humano. Sabemos que a II Guerra Mundial, que produziu entre 50
a 70 milhões de mortes, esteve fundamentada sobre os princípios de
eugenia como a raça pura ariana e a necessidade da extinção daqueles
que eram considerados como inferiores. Uma espécie de seleção em vista
do melhoramento. As noções de perfeição e de normalidade poderiam
ser questionadas enquanto são definidas a partir de pressupostos não
necessariamente estáveis. Assim, do ponto de vista ético, como pode-se
dizer qual situação de vida consiste em maior ou menor perfeição? Por
que determinada característica ou mesmo uma vida seria mais digna de
ser mantida ou melhorada? “[...] Que critérios são utilizados para definir
qual é a vida digna de ser vivida?”37.
A eugenia já se mostrou extremamente frágil em sua promessa de
futuro aperfeiçoado. A eugenia nazista manifestou ao mundo a doença
arrogante do perfeccionismo. Incoerência em nome da eugenia.

4 Proposta cristã de sentido


A antropologia hebraico-cristã está fundamentada no homem cria-
do à “imagem de Deus” (Gn 1,26; 5,1.3; 9,6). Nessa expressão bíblica,
entrevê-se no ser humano traços do mistério divino que garantem a ele
uma identidade e uma missão únicas frente à criação. O personalismo
cristão que daí surgiu, é um humanismo integral e solidário que ilumina
as questões controversas postas pela revolução biotecnológica.
Nesta seção, analisam-se alguns elementos antropológicos pre-
sentes nos três primeiros capítulos do Gênesis, referentes aos relatos do
primeiro casal de humanos, e que explicitam o sentido bíblico de imago
Dei. Para isso, apresenta-se duas polaridades e um drama antropológi-
cos.38 A primeira polaridade dá-se entre a criaturalidade humana e a sua

interferindo na constituição orgânica do segundo, a simetria da responsabilidade, em


princípio existente entre pessoas livres e iguais, torna-se limitada.” (HABERMAS,
Jürgen. O futuro da natureza humana: a caminho de uma eugenia liberal? São Paulo:
Martins Fontes, 2010. p. 20).
37
SALVETTI É. F., 2008, p. 85.
38
A teodramática de Hans Urs von Balthasar serve de fundamentação para o diálogo
com o transumanismo. Sua antropologia teológica está fundamentada no drama
entre a liberdade finita e infinita, bem como em uma tríplice polaridade que Cristo
iluminará: 1ª tensão espírito e corpo; 2ª homem e mulher; 3º indivíduo e comunidade;
ver BALTHASAR, H. U. von. Teodramática: Las personas del drama: El hombre en
Dios. Vol. II. Trad.: Eloy Bueno de La Fuente e Jesús Camarero. Madrid: Encuentro,
2006. p. 333-361; 384-388.

640 Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020


Rafael Martins Fernandes e Luiz Maria de Barros Coelho Neto

vocação à transcendência. Chama a atenção, nos dois relatos da criação,


que o primeiro ressalte a ideia de o ser humano ser criado “à imagem e
semelhança de Deus” (Gn 1,26) e o segundo afirme que ele foi feito do
pó da terra (Gn 2,7). Esse contraste de ideias pode gerar um entendimento
de que as narrações tratem da criação de dois seres diferentes, isto é, um
espiritual e outro terreno. Mas essa aparente contradição, na verdade,
expressa a consciência hebraica aberta a acolher o conjunto de relações
e de particularidades que formam o humano. Ele é criatura e, ao mesmo
tempo, é mais que criatura, chamado à transcendência39.
Para judeus e cristãos, essa polaridade sob hipótese alguma pode
ser esquecida ou anulada, sob o risco de o homem iludir-se e perder-se a
si mesmo. Como afirmado, o neognosticismo tecnológico deprecia o valor
e a dignidade do corpo, relativizando a compreensão integral do humano
contida em tal polaridade. Seguindo o pensamento bíblico, a pessoa não
“tem” um corpo, ela “é” corporalidade. Não dispõe de seu corpo como
se fosse um objeto, mas simplesmente o é, manifestando seu ser corporal
como dom.40 A afirmação da importância do corpo na tradição bíblica,
longe de diminuir a dignidade do homem, desvela ao mesmo a verdade
sobre si mesmo sem a qual ele não pode progredir autenticamente no
caminho da transcendência. Não foi à toa que o cristianismo primitivo
combateu severamente o gnosticismo devido ao seu menosprezo pela
vulnerabilidade da carne. A consciência da sacralidade do corpo – como
imago Dei – é uma pedra de toque para os cristãos no diálogo com o
movimento transumanista, necessária para que se evitem barganhas em
prol da obtenção de supostos avanços terapêuticos sem ética.
A segunda polaridade diz respeito à complementariedade do
homem e da mulher. Em Gn 2,4b-25, afirma-se que Eva foi formada
da costela de Adão para ser sua colaboradora, em relação de igualdade.
Adão exclama ao vê-la: “esta, sim, é osso de meus ossos e carne de
minha carne!” (Gn 2,23). Tal relato, incontido de alegria, nos remete à
identidade relacional do ser humano: ele não é um ser andrógeno que
se baste sozinho, nem alcança a felicidade sem compartilhar a sua vida
e missão com os outros. Seguindo Karl Barth, a compreensão do Deus
cristão como Trindade enriquece o entendimento sobre a pessoa humana
como ser de relação, que se realiza na medida em que vive a dinâmica do

39
Luís Ladaria apresenta um breve histórico dessa tensão antropológica a partir da
leitura bíblica de imago Dei; LADARIA, L. F. Antropologia teologica. 2. ed. Roma:
Gregorian & Biblical Press, 2012. p. 151-158. Para Balthasar, o homem, pelo seu
espírito, encontra-se como o mediador entre a natureza e o divino; BALTHASAR, H.
U. von, 2006, p. 333-339.
40
Em Gn 2,7 o Criador sopra seu hálito (nefesh) sobre o homem modelado do barro,
concedendo-lhe vida. Esse gesto divino remete a compreensão da vida como dom,
e não como posse.

Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020 641


O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

amor.41 Quando se propõe uma compreensão mecanicista ou biologicista


do homem, esse tende a reduzir-se à imagem da máquina42. Nesse caso,
a complementariedade e as diferenças humanas desaparecem em nome
de uma pretensa igualdade obtida por cálculos humanos.
O terceiro aspecto dá-se no drama entre as liberdades humana e di-
vina, manifestada no relato dos primeiros passos de Adão e Eva no Jardim
do Éden (Gn 3). Quando a serpente apareceu como uma intrusa no Jardim,
propondo ao primeiro casal comer o fruto da árvore da ciência – que os
levaria a serem como deuses –, proibido pelo Criador, ­desvelou-se a condi-
ção de liberdade humana com todas as suas consequências. Aqui, o drama
não apresentará uma boa solução para o casal, visto que eles preferiram
construir sua identidade e projetos, de pretensões divinas, em um âmbito
que estivesse fora da comunhão com o Criador. Então, a imagem de Deus
impressa no ser humano desfigurou-se pelo desejo de auto-salvação e de
negação de sua criaturalidade. A expulsão do jardim marca o início de um
longo e árduo caminho de tensões entre as liberdades finita e infinita. O
transumanismo revela-se como mais um capítulo desse drama na medida
em que manifesta a pretensão dos homens de “serem como deuses”, uti-
lizando o caminho do poder e da autossuficiência.
A proposta cristã imago Dei não anula ou ignora essas polaridades
e drama. Acolhe-as como realidade humana inexorável, ao mesmo tempo
em que apresenta a Jesus Cristo como o verdadeiro caminho de solução
para essas. Ele é a verdadeira imagem do Pai, mostrando aos seres hu-
manos que o caminho da transcendência não passa pelo poder e egoísmo,
mas pelo amor. Nos mistérios de sua encarnação e de sua Páscoa, Jesus
abre aos serres humanos o caminho para a realização de uma existência
autenticamente livre e plena de sentido. Mostra pela obediência da cruz,
que a liberdade divina não tolhe as possibilidades humanas, mas abre
espaços ilimitados para que cada pessoa possa construir responsavel-
mente a si mesmo, pela doação de sua vida no amor, alcançando assim
a plenitude, dom de perfeita comunhão com Deus e com as pessoas.43 A
tecnologia, enquanto obra humana, pode contribuir para que o humano
alcance essa plenitude, desde que haja a consciência de que ela é apenas

41
Foi K. Barth quem desenvolveu a teoria que vê a imagem de Deus na relação entre
os homens: de alguma maneira, a comunhão vivida pelos seres humanos repete a
relação existente entre as pessoas divinas; cf. BARTH, K. Kirchliche Dogmatik, v. III/1,
Zürich, 1947, p. 204-206, apud LADARIA, L. F., 2012, p. 148.
42
Como constatou Jean Pierre Dupuy, nas pesquisas que desenvolvem a inteligência
artificial e que diminuem as fronteiras entre máquina e cérebro: “A cibernética não
é a antropomorfização da máquina, é, antes de tudo, a mecanização do humano”
(DUPUY, J.P. L’esprit mécanise par lui-même. Le Débat, Paris, n. 109, p. 163, mar./
avr. 2000).
43
Cf. BALTHASAR, H. U. von, 2006, p. 175-309.

642 Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020


Rafael Martins Fernandes e Luiz Maria de Barros Coelho Neto

um instrumento a serviço da comunhão e do desenvolvimento de todos


os seres humanos.
Para o cristianismo existe uma meta muito clara a ser seguida, a
saber, tornar-se parecido com Jesus Cristo. Assumir de maneira confi-
gurada o projeto de vida com seus sentimentos, pensamentos, atitudes e
opções de Jesus Cristo. O humano perfeito para o cristianismo é aquele
que realiza em sua vida a imagem de Cristo, enquanto um ‘ser-para’ (os
outros). Ele quem revela ao ser humano qual o verdadeiro significado de
sua natureza e dignidade. Em suma, a perfeição humana, para a teologia
cristã, é tornar-se plenamente humano em Jesus Cristo.

Sendo assim, Cristo, o homem futuro, não é o homem para si e, sim,


essencialmente, o homem aberto para os outros; ele é o homem futuro
porque é o homem totalmente aberto. O ser humano que quer ficar apenas
dentro de si mesmo é, portanto, o homem do passado que é preciso deixar
para trás para podermos avançar. Isso significa, em outras palavras,
que o futuro do ser humano está no ‘ser para’.44

Considerações finais
Conforme as palavras da Declaração Transumanista que afirma
“todo progresso seja mudança, mas nem toda mudança seja progresso”,45
constatou-se que o futuro da humanidade está inexoravelmente marcado
pelas mudanças das NBIC e que o sucesso delas, em um sentido integral,
dependerá de uma profunda prudência, cautela e administração respon-
sável, virtudes essas visibilizadas em políticas sociais de segurança. Será
também necessário que as mudanças aconteçam em um plano econômico
e social, com respeito à natureza e sentido de inclusão tecnológica das
populações desprovidas de condições econômicas.
Quanto aos aspectos antropológicos que permeiam o transumanis-
mo, constatou-se que a diversidade de concepções sobre o ser humano
existentes ao interno desse movimento, não permite fazer uma avaliação
moral uniforme, boa ou má sobre suas ideias. Contudo, a tendência
comum, entre os seus ideólogos, na direção de uma radicalização do
pensamento iluminista – e até o rompimento com esse – faz-nos realizar
um diagnóstico de crise do humano ao interno do movimento. Não é à
toa que discursos entusiasmados sobre as novas possibilidades do NBIC

44
RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo: preleções sobre o Símbolo Apos-
tólico com um novo ensaio introdutório. São Paulo: Loyola, 2004. p. 180
45
BAILY et al., 1998, Disponível em: https://humanityplus.org/philosophy/transhumanist-
-declaration/.

Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020 643


O ser humano no transumanismo: elementos ético-antropológicos para um diálogo...

para o indivíduo, geralmente escondem uma antropologia pessimista,


resistente em aceitar a finitude, o sofrimento e a vulnerabilidade da
carne. O neognosticismo tecnológico que daí nasce, de características
imanentes, torna-se um espaço ideológico atrativo para pesquisas pouco
éticas e desrespeitosas para com a dignidade humana.
Como possibilidade de diálogo, apontamos a antropologia cristã
com sua concepção integral e solidária de ser humano, embasada na
concepção bíblica de imago Dei. Nessa antropologia, as novas técnicas
não são condenadas enquanto tais, mas são avaliadas em seu caráter ver-
dadeiramente humano. Então, o melhoramento (enhancement) não levará
em conta somente o aspecto biológico – como o aumento da resistência
às doenças. Contará também com o aprendizado da resiliência perante
os momentos inevitáveis de dor e de abandono, bem como a aquisição
da empatia e da abnegação pessoal a fim de se solidarizar com os sofri-
mentos e a morte do outro. Em suma, os homens do passado, do presente
e do futuro permanecem carentes da busca de um aperfeiçoamento que
não depende da técnica nem da genética, mas sim de sua configuração
com a atitude fundamental de vida daquele que conheceu a morte e a
venceu, Jesus de Nazaré.

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646 Encontros Teológicos | Florianópolis | V.35 | N.3 | Set.-Dez. 2020

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