2.2.3 A Castro, Crítca de T. F. Earle
2.2.3 A Castro, Crítca de T. F. Earle
2.2.3 A Castro, Crítca de T. F. Earle
T. F. Earle – António Ferreira, Castro, ed. org. por María Rosa Álvarez
Sellers, 2000.
T. F. Earle
Universidade de Oxford
[email protected]
acção’ (p. 35). É evidente que Inês não é a única personagem cujo
comportamento pode ser visto de mais de uma perspectiva. Por
exemplo, Coelho e Pacheco, os dois conselheiros que insistem na
necessidade da morte da dama, não são simplesmente os maus da fita,
porque a sua crueldade ‘fica de certa forma rebaixada pela obrigatória
assunção de uns deveres que não lhes correspondem’ (p. 53). Por
outras palavras, encontram-se numa posição política muito difícil, em
que a violência e a morte parecem ser a única saída, depois do
fracasso dos meios pacíficos e da tentativa de persuadir D. Pedro de
abandonar voluntariamente a sua amante.
Com efeito, o que está em causa não é o destino invocado por
várias personagens, normalmente com a intenção de iludir a
responsabilidade, mas antes o choque de princípios e de vontades que
não podem triunfar sem o aniquilamento de outros princípios e de
outras vontades. Desta forma, a Prof. Álvarez Sellers chama a atenção
para a modernidade da tragédia e mostra como a peça de Ferreira não
é simplesmente um evento da história literária, mas um drama
empolgante que obriga quem entra em contacto com ele a reexaminar
as prioridades que norteiam a nossa vida.
O texto da Castro que se segue à introdução vem
acompanhado de notas que têm a função tradicional de decifrar as
alusões históricas e literárias contidas na peça, mas que não deixam
também de ajudar o leitor a compreender o sentido dos diálogos e a
penetrar mais fundo na caracterização das personagens. O aspeto
gráfico da edição também é atraente, exceto o facto de a sextina de vv.
1526-64, que forma o primeiro coro do Acto IV, não ser dividida em
estrofes. Na verdade, em toda a edição não se dá às odes corais a
atenção que merecem, sobretudo se tomarmos em consideração a sua
natureza bastante insólita, da perspectiva de um espectador ou leitor
contemporâneo. No entanto, esta pequena crítica não reduz a
importância do livro da Prof. Álvarez Sellers, que conseguiu
brilhantemente valorizar a tragédia de António Ferreira para as novas
gerações.