Art. 20 Da Lei de Introdução Às Normas de Di-Reito Brasileiro, o Valor Jurídico Abstrato e A Devida Funda Mentação Da Escolha Da Decisão
Art. 20 Da Lei de Introdução Às Normas de Di-Reito Brasileiro, o Valor Jurídico Abstrato e A Devida Funda Mentação Da Escolha Da Decisão
Resumo: A Lei nº 13.655/2018 incluiu disposições sobre segurança jurídica e eficiência na criação
e aplicação do direito público ao Decreto-Lei nº 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas de
Direito Brasileiro – LINDB). Os novos artigos tratam, especialmente, sobre as decisões nas esferas
administrativas, judiciais e controladoras, como forma de trazer segurança jurídica e melhorar as
decisões dos agentes estatais. Por outro lado, trouxe termos vagos, como o de valores jurídicos
abstratos, que se liga às decisões com fundamento neles, havendo a necessidade de o agente
estatal considerar as consequências práticas da decisão, por meio da devida motivação nos autos.
Assim, busca-se aqui analisar o art. 20 da LINDB, desvendar as abstrações contidas nele, bem
como realizar reflexão sobre a correta aplicação desse artigo, em busca de decisões melhores, em
especial no âmbito administrativo.
Palavras-chave: Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro. LINDB. Valores jurídicos
abstratos. Decisão. Motivação. Consequencialismo.
Sumário: Introdução – 1 A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): breves
apontamentos – 2 O art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) –
3 A decisão com base em valores jurídicos abstratos – 3.1 Os valores jurídicos abstratos – 3.2 A
motivação da decisão e a análise das consequências como forma de melhorar as decisões estatais
– 3.3 Alternativas e motivação – Conclusão – Referências.
Introdução
A Lei nº 13.655, de 25 de abril de 2018, trouxe 10 (dez) novos artigos ao Decreto
nº 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB), contendo
disposições sobre segurança jurídica e eficiência na criação e aplicação do direito
público.
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ANA AMÉLIA MAESTRACCI DE TOLENTINO
A Lei trouxe inovações, mas que, para alguns autores, poderiam ter sido
dispostas em lei própria. Já outros destacam que nem tudo são inovações,
pois já existiam previsões correlatas no Código de Processo Civil, no tocante à
interpretação de normas.
Dentre os novos artigos, há o artigo 20, que estipula que nas esferas
administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da
decisão. Para tanto, faz-se necessário, nessas decisões, a devida motivação, capaz
de demonstrar a necessidade e a adequação da medida imposta.
O que se pretende analisar é o objetivo desse artigo no tocante às decisões,
em especial no âmbito da esfera administrativa, nos casos de decisão baseada
em valores jurídicos abstratos, em especial sobre a necessidade de motivação no
caso dessas decisões.
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ART. 20 DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO
de sobredireito’ ou ‘lei das leis’, porque trata das fontes do direito, do âmbito de
vigência em termos de espaço e de tempo, da sua aplicabilidade pelo intérprete
etc.”.1
Em 2018, por meio da Lei nº 13.655/2018 (conhecida como Lei de Segurança
para Inovação Pública) foram acrescentados 10 (dez) artigos à LINDB, do 20 ao
30, tendo sido o art. 25 vetado. Os novos artigos trazem temas ligados ao direito
público, dispondo sobre segurança jurídica e eficiência na criação e aplicação do
direito público.2
O texto inicial foi elaborado por Carlos Ari Sundfeld e Floriano Azevedo
Marques Neto, sendo apresentado pelo então Senador Antônio Anastasia,
por meio do Projeto de Lei nº 349/2015, remetido à Câmara dos Deputados e
renumerado para Projeto de Lei nº 7.448/2017.
Segundo Morgana Bellazzi, o que inspirou a criação do PL nº 349/2015 foi o
cenário de queixas em relação à Administração Pública, tais como a contaminação
de decisões, inclusive do Supremo Tribunal Federal (STF), por concepções
políticas e de opiniões pessoais; abuso dos limites da competência dos órgãos
de controle e o medo do administrador público de decidir “por temer o controle
rígido, ortodoxo, excessivo e acrítico”.3 Assim, era necessário mudar o cenário de
descrença, por meio da melhoria da qualidade da atividade decisória pública,
em todos os níveis da Federação e também pelos Poderes Executivo, Legislativo,
Judiciário e órgãos autônomos de controle (Tribunais de Contas e Ministério
Público).
O então Projeto de Lei nº 7.448/2017 foi analisado pela Consultoria Jurídica
do Tribunal de Contas da União (TCU), e recebeu inúmeras críticas. Em resposta,
diversos juristas elaboraram um parecer para rebatê-las, dentre eles, Dallari,
Di Pietro, Odete Medauar, Justen Filho, Egon Bockmann, além de Carlos Ari
Sundfeld e Floriano Marques Neto.
1 HEINEN, Juliano; MAFFINI, Rafael. Análise acerca da aplicação da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(na redação dada pela Lei nº 13.655/2018) no que concerne à interpretação de normas de direito público: operações
interpretativas e princípios gerais de direito administrativo. Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 247-278, set. /
dez 2018. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/187741. Acesso em 15 mar. 2023.
2 BRASIL. Lei nº 13.655, de 25 de abril de 2018. Inclui no Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro), disposições sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito
público. Diário Oficial da União, Brasília, 26 abr. 2018. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/l13655.htm. Acesso em 10 jun. 2023.
3 CARVALHO, Morgana Bellazzi de Oliveira. As alterações da LINDB e o Controle Externo da Administração Pública.
V Encontro Nacional da Rede de Controle da Gestão Pública. Edição Bahia – 2019. Salvador/BA, 19 e 20 de setembro
de 2019. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/files/6F/01/CB/32/9C0BD610BC4E04D6E18818A8/2%20pela%20
manha%20Morgana%20-%20palestra%20lindb%2020.09.19%20REDE.pdf. Acesso em 18 jun. 2023.
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4 MARQUES NETO et al. Resposta aos comentários tecidos pela Consultoria Jurídica do TCU ao PL nº 7.449/2017. Conjur,
[s.d.]. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-criticas.pdf. Acesso em 21 jun. 2023.
5 PEREIRA, Anna Carolina Migueis. Consequencialismo, Segurança Jurídica e as Alterações na LINDB (Lei nº 13.655/2018):
otimismo e cautela. Revista Eletrônica da PGE-RJ, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.46818/
pge.v1i2.54. Acesso em 05 jun. 2021.
16 Fórum Administrativo – FA, Belo Horizonte, ano 23, n. 270, p. 13-33, ago. 2023
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6 BOCCHI, Olsen Henrique. A Lei nº 13655/2018 e as alterações da LINDB: interpretação dos novos dispositivos artigo
por artigo. Jus, 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/78562/a-lei-13655-2018-e-as-alteracoes-da-lindb-
interpretacao-dos-novos-dispositivos-artigo-por-artigo. Acesso em 22 jun. 2023.
7 BOCCHI, Olsen Henrique. A Lei nº 13655/2018 e as alterações da LINDB: interpretação dos novos dispositivos artigo
por artigo. Jus, 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/78562/a-lei-13655-2018-e-as-alteracoes-da-lindb-
interpretacao-dos-novos-dispositivos-artigo-por-artigo. Acesso em 22 jun. 2023.
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Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com
base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as conse
quências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da
medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
8 Art. 2º A decisão será motivada com a contextualização dos fatos, quando cabível, e com a indicação dos fundamentos
de mérito e jurídicos.
§1º A motivação da decisão conterá os seus fundamentos e apresentará a congruência entre as normas e os fatos que
a embasaram, de forma argumentativa.
§2º A motivação indicará as normas, a interpretação jurídica, a jurisprudência ou a doutrina que a embasaram.
§3º A motivação poderá ser constituída por declaração de concordância com o conteúdo de notas técnicas, pareceres,
informações, decisões ou propostas que precederam a decisão.
9 Art. 3º A decisão que se basear exclusivamente em valores jurídicos abstratos observará o disposto no art. 2º e as
consequências práticas da decisão.
§1º Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se valores jurídicos abstratos aqueles previstos em normas
jurídicas com alto grau de indeterminação e abstração.
§2º Na indicação das consequências práticas da decisão, o decisor apresentará apenas aquelas consequências práticas
que, no exercício diligente de sua atuação, consiga vislumbrar diante dos fatos e fundamentos de mérito e jurídicos.
§3º A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta, inclusive consideradas as possíveis
alternativas e observados os critérios de adequação, proporcionalidade e de razoabilidade.
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10 DIDIER JÚNIOR, Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Dever judicial de considerar as consequências práticas da decisão:
interpretando o art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Revista do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro, n. 73, p. 115-132, jul. /set. 2019. Disponível em: https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1473819/Fre
die+Didier+Jr.+%26+Rafael+Alexandria+de+Oliveira.pdf. Acesso em 20 jun. 2023.
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11 DIDIER JÚNIOR, Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Dever judicial de considerar as consequências práticas da decisão:
interpretando o art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Revista do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro, n. 73, p. 115-132, jul. /set. 2019. Disponível em: https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1473819/Fre
die+Didier+Jr.+%26+Rafael+Alexandria+de+Oliveira.pdf. Acesso em 20 jun. 2023.
12 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte”.
13 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III – a dignidade da pessoa humana”.
14 “Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.
15 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
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Mas, temos que ter em mente que, pelo seu alto grau de subjetividade,
com maior carga valorativa, fundamento ético, podem servir para justificar
pensamentos e ideologias. Ademais, um mesmo princípio pode ser utilizado para
se defender dois pontos de vista em um mesmo caso.16
Há situações em que o Gestor Público não tem normas claras em que possa
basear a sua decisão, assim, a aplicação de princípios será de extrema relevância
para se solucionar o caso concreto. A exemplo disso, temos as decisões que os
gestores públicos tiveram que tomar durante a pandemia, muitas vezes sem
terem norma para direcioná-los, o que os levou a terem que se socorrer aos princí
pios e à necessidade de analisar as alternativas e consequências da ação, com o
dever de fundamentarem as suas decisões, até por uma questão de posterior
análise de controle por parte dos órgãos de controle.
A COVID-19 trouxe reflexos tanto na administração pública, quanto nos
contratos administrativos, o que acarretou a promulgação de normas e orien
tações para regulamentar as novas situações vivenciadas pelos Gestores Públicos.
Estas, porém, não foram capazes de solucionar a totalidade dos dilemas que
surgiram.
Ao mesmo tempo, os gestores não podiam ficar inertes à situação, devendo
tomar decisões de forma refletida, pautada na realidade, nas consequências e
devidamente justificada, nos moldes das atuais normas vigentes, em especial na
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), sobretudo nos casos
em que havia lacunas nos regulamentos e que ainda não haviam sido objeto de
análise pelos Órgãos de Controle Externo e Tribunais Superiores.17
Nesses casos, como ensina Daniel Sarmento, essa aplicação deve dar-se
de forma racional e devidamente fundamentada, considerando serem vagos os
princípios. Vejamos:
16 Trago o caso da ADI 41/DF, de relatoria do Min. Roberto Barroso, que tinha como objeto da Ação a Lei nº 12.990/2014,
que trata da reserva de vagas em concurso público para negros e pardos. Como se observa no relatório da decisão, os
princípios da igualdade, da eficiência e da vedação à discriminação foram utilizados para as decisões que negavam a
aplicação da Lei, tendo sido estes mesmos princípios também utilizados para a declaração de sua constitucionalidade.
Assim, os princípios são maleáveis, capazes de se utilizar uma vez de uma forma e outra vez de outra.
17 TOLENTINO, Ana Amélia Maestracci de. Covid 19 impactos nos contratos administrativos e as decisões dos Gestores
Públicos em conformidade com a Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro – LINDB. Revista Âmbito Jurídico,
ed. 203, a. XXIII, dez. 2020. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-administrativo/covid-19-
impactos-nos-contratos-administrativos-e-as-decisoes-dos-gestores-publicos-em-conformidade-com-a-lei-de-
introducao-as-normas-de-direito-brasileiro-lindb/. Acesso em 20 jun. 2023.
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21 SILVA, Guilherme Moreira da. Consequencialismo e Controle Externo: os artigos 20 e 21 da LINDB na jurisprudência do
TCU. Monografia (Especialização em Análise Econômica do Direito) – Instituto Serzedello Corrêa, Escola Superior do
Tribunal de Contas da União, Brasília DF, 2023.
22 DEZAN, Sandro Lúcio. O que é o Neojusnaturalismo? Um olhar pela óptica da Administração Pública contemporânea.
Revista de Direitos Fundamentais & Democracia, Curitiba, v. 25, n. 1, p. 81-109, jan. /abr. 2020.
23 DIDIER JÚNIOR, Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Dever judicial de considerar as consequências práticas da decisão:
interpretando o art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Revista do Ministério Público do Estado
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do Rio de Janeiro, n. 73, p. 115-132, jul. /set. 2019. Disponível em: https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1473819/Fre
die+Didier+Jr.+%26+Rafael+Alexandria+de+Oliveira.pdf. Acesso em 20 jun. 2023.
24 SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais, Belo Horizonte, v. 3, n. 9, jan. 2009. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/29044.
Acesso em 10 out. 2022.
25 JUSTEN FILHO, Marçal. Art. 20 da LINDB: dever de transparência, concretude e proporcionalidade. Rev. Direito
Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB
(Lei nº 13.655/2018), p. 13-41, nov. 2018.
24 Fórum Administrativo – FA, Belo Horizonte, ano 23, n. 270, p. 13-33, ago. 2023
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26 SILVA, Guilherme Moreira da. Consequencialismo e Controle Externo: os artigos 20 e 21 da LINDB na jurisprudência do
TCU. Monografia (Especialização em Análise Econômica do Direito) – Instituto Serzedello Corrêa, Escola Superior do
Tribunal de Contas da União, Brasília DF, 2023.
27 Art. 2º A decisão será motivada com a contextualização dos fatos, quando cabível, e com a indicação dos fundamentos
de mérito e jurídicos.
§1º A motivação da decisão conterá os seus fundamentos e apresentará a congruência entre as normas e os fatos que
a embasaram, de forma argumentativa.
§2º A motivação indicará as normas, a interpretação jurídica, a jurisprudência ou a doutrina que a embasaram.
§3º A motivação poderá ser constituída por declaração de concordância com o conteúdo de notas técnicas, pareceres,
informações, decisões ou propostas que precederam a decisão.
28 Art. 3º A decisão que se basear exclusivamente em valores jurídicos abstratos observará o disposto no art. 2º e as
consequências práticas da decisão.
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29 BRASIL. Decreto 9.830, de 10 de junho de 2019. Regulamenta o disposto nos art. 20 ao art. 30 do Decreto-Lei nº 4.657,
de 4 de setembro de 1942, que institui a Lei de Introdução às normas do Direito brasileiro. Diário Oficial da União,
Brasília, 11 jun. 2019. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D9830.htm.
Acesso em 20 jun. 2023.
30 DIDIER JÚNIOR, Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Dever judicial de considerar as consequências práticas da decisão:
interpretando o art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Revista do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro, n. 73, p. 115-132, jul. /set. 2019. Disponível em: https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1473819/Fre
die+Didier+Jr.+%26+Rafael+Alexandria+de+Oliveira.pdf. Acesso em 20 jun. 2023.
31 SILVA, Guilherme Moreira da. Consequencialismo e Controle Externo: os artigos 20 e 21 da LINDB na jurisprudência do
TCU. Monografia (Especialização em Análise Econômica do Direito) – Instituto Serzedello Corrêa, Escola Superior do
Tribunal de Contas da União, Brasília DF, 2023.
32 SANTOS, Flávio Guilherme Cavalcanti. A LINDB e a gestão pública eficiente: desafios da implementação do
consequencialismo responsável. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2021.
26 Fórum Administrativo – FA, Belo Horizonte, ano 23, n. 270, p. 13-33, ago. 2023
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33 Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando
e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.
34 Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
35 Art. 489. [...]
§2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada,
enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a
conclusão.
36 VALADÃO, Evandro. O Consequencialismo e as decisões pautadas em valores jurídicos abstratos. Justiça e Cidadania,
set. 2019. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/o-consequencialismo-e-as-decisoes-pautadas-em-valores-
juridicos-abstratos/. Acesso em 22 jun. 2023.
37 “Art. 3º A decisão que se basear exclusivamente em valores jurídicos abstratos observará o disposto no art. 2º e as
consequências práticas da decisão.
(...)
§3º A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta, inclusive consideradas as possíveis
alternativas e observados os critérios de adequação, proporcionalidade e de razoabilidade”.
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Quem decide não pode ser voluntarista, usar meras intuições, improvisar ou se
limitar a invocar fórmulas gerais como ‘interesse público’, ‘princípio da mora
lidade’ e outras. É preciso, com base em dados trazidos ao processo decisório,
analisar problemas, opções e consequências reais. Afinal, as decisões estatais
de qualquer seara produzem efeitos práticos no mundo e não apenas no plano
das ideias.38
Não se fala em futurologia, mas sim em uma análise razoável das conse
quências possíveis ao caso concreto, avaliando situações e possíveis opções.
Conclusão
Em que pese os termos abstratos utilizados pela própria Lei nº 13.655/2018 e
a atecnia de alguns termos empregados, tais como “valor jurídico abstrato”, fato
é que a norma busca reduzir as decisões baseadas apenas nos valores do próprio
tomador de decisões (nas esferas judicial, administrativa e controladora), pois,
agora, ao tomar decisões baseadas apenas em “valores jurídicos abstratos”, há de
ter uma análise das consequências da decisão, por meio de uma fundamentação
sólida.
José dos Santos Carvalho Filho destaca que o art. 20 busca reduzir também
“o perigoso ativismo judicial”, entretanto entende que, na prática, “será de difícil
aplicabilidade”. Para ele, as decisões provocam “grande incerteza jurídica e não
só afastam investimentos do setor privado como também dificultam a retomada
do crescimento”.39
38 MARQUES NETO et al. Resposta aos comentários tecidos pela Consultoria Jurídica do TCU ao PL nº 7.449/2017. Conjur,
[s.d.]. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-criticas.pdf. Acesso em 21 jun. 2023.
39 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2019. p. 1554.
28 Fórum Administrativo – FA, Belo Horizonte, ano 23, n. 270, p. 13-33, ago. 2023
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40 DEZAN, Sandro Lúcio. Fenomenologia e hermenêutica do Direito Administrativo: para uma teoria da decisão
administrativa. Porto: Juruá Editorial, 2018. p. 202.
41 GICO JÚNIOR, Ivo Teixeira. Análise Econômica do Processo Civil. 2. ed. Indaiatuba: Editora Foco, 2023. p. 39.
42 GICO JÚNIOR, Ivo Teixeira. Análise Econômica do Processo Civil. 2. ed. Indaiatuba: Editora Foco, 2023. p. 39.
43 GICO JÚNIOR, Ivo Teixeira. Análise Econômica do Processo Civil. 2. ed. Indaiatuba: Editora Foco, 2023. p. 39.
44 DIDIER JÚNIOR, Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Dever judicial de considerar as consequências práticas da decisão:
interpretando o art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Revista do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro, n. 73, p. 115-132, jul. /set. 2019. Disponível em: https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1473819/Fre
die+Didier+Jr.+%26+Rafael+Alexandria+de+Oliveira.pdf. Acesso em 20 jun. 2023.
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ANA AMÉLIA MAESTRACCI DE TOLENTINO
defende que a norma clara é o começo, a origem e o caminho inicial a ser seguido.
No caso de ela existir e se querer fundamentar uma decisão em princípios, a
argumentação deverá ser mais bem fundamentada, levando-se em consideração
as alternativas existentes e as consequências da decisão.
Para Sundfeld, vivemos “hoje um ambiente de ‘geleia geral’ no direito público
brasileiro, em que os princípios vagos podem justificar qualquer decisão”.45
Daí o motivo da importância do art. 20 da LINDB, que visa trazer mais estabilidade
e previsibilidade ao direito público, por meio de decisões mais qualificadas.
Segundo Didier e Rafael Alexandria, o art. 20 da LINDB inseriu no nosso
sistema jurídico “o postulado do pragmatismo, por meio do qual o julgador tem
o dever de considerar as consequências práticas da sua decisão como elemento
para a própria tomada de decisão”.
Para os citados autores, haveria o risco de se dar o sentido do texto norma
tivo em razão da consequência considerada ideal pelo julgador, podendo conferir
uma sensação de “liberdade incompatível com os postulados de coerência e
integridade do direito, já que pode estimulá-lo a querer dissociar-se das normas
existentes (legislação) e da forma como elas vêm sendo aplicadas (precedentes)
para proferir uma decisão que considere apenas uma utilidade contemporânea
à própria decisão”. Destacam, ainda, o risco de as consequências consideradas
pelo julgador não guardarem relação fática com o caso concreto, ou guardarem
relação tênue ou indireta.
De fato, esses riscos podem ocorrer, mas, com certeza, havendo a necessi
dade de justificativa por parte dos agentes públicos, eles tenderão a agir de forma
mais correta e analítica, levando em consideração as consequências das possíveis
decisões bem como da escolhida, tudo isso de forma justificada nos autos, na
tentativa de diminuir o que Sundfeld chama de “geleia geral” no direito público.
Sabemos que as mudanças não se darão do dia para a noite. Talvez hoje
tenhamos decisões mais fundamentadas do que antes da inclusão do art. 20 na
LINDB, mas não da forma ideal, com a racionalidade necessária, a análise do caso
concreto é despida totalmente da subjetividade do agente público. Porém, isso é
algo que se está construindo, por meio de uma mudança de cultura.
Dessa forma, merece aplausos a necessidade de análise das consequências
práticas da decisão, por meio da motivação, para a busca da decisão ótima, isto é,
a melhor possível, dentre as alternativas de quem irá tomar a decisão.
45 SUNDFELD, Carlos Ari. Princípio é preguiça. Direito administrativo para céticos. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
p. 205.
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ART. 20 DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO
Art. 20 of the Law of Introduction of the Norms of Brazilian Law, the abstract legal value and
the proper grounds for the choice of decision.
Abstract: Law nº 13.655/2018 included provisions on legal certainty and efficiency in the creation
and application of public law in Decree-Law nº 4.657/1942 (Law of Introduction of the Norms
of Brazilian Law – LINDB). The new articles deal especially with decisions in the administrative,
judicial and controlling spheres, as a way to bring legal certainty and improve the decisions of
state agents. Otherwise, it brought vague terms, such as abstract legal values, which are linked to
decisions based on them, with the need for the state agent to consider the practical consequences
of the decision, through proper motivation in the records. Thus, we seek to analyze art. 20 of
LINDB, unveil the abstractions contained in it, as well as reflect on the correct application of this
article, in search of better decisions, especially in the administrative sphere.
Keywords: Law of Introduction of the Norms of Brazilian Law. LINDB. Abstract legal values.
Decision. Motivation. Consequentialism.
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