Bento XVI, A Igreja Catolica e o Espirito Da Modernidade Rudy Albino
Bento XVI, A Igreja Catolica e o Espirito Da Modernidade Rudy Albino
Bento XVI, A Igreja Catolica e o Espirito Da Modernidade Rudy Albino
PAULUS ECCLESIAE
RUDY ALBINO DE ASSUNÇAO
BENTO XVI, AIGREJA CATOLICA
EO ESPIRITO DA MODERNIDADE"
UMA ANÁLISE DA VISÃO DO PAPA TEÓLOGO SOBRE O"MUNDO DE HOJE"
PAULUS ECCLESIAE
Bento XVI, a lgreja Católica e o "Espírito da modernidade"
Uma análise da visão do Papa Teólogo sobre o "mundo de hoje"
Rudy Albino de Assunção
1 edição, 2018.
Telefone: 19-3249-0580
e-mail: [email protected]
Direção editorial:
Claudiano Avelino dos Santos
Editor
Diogo Chiuso
Revisão:
Rafael Salvi
Capa &Diagramação:
J. Ontivero
MISTO
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PAULUS ECCLESIAE
Rua Francisco Cruz, 229 Rua Arnando Strazzacappa,
490
04117-091 - São Paulo - Brasil 13087-605 -
Campinas SP - Brasil
15
PREFACIO ..
Carlos Eduardo Sell
.. 21
INTRODUÇAO ..
Um Papa moderno, antimoderno ou pós-moderno:
PARTEI
ELEMENTOS PARA UMA SOCIOLOGIA
DO CATOLICISMO EM MAX WEBER
CAPÍTULOI
O catolicismo e a gênese do mundo modern0:
39
perspectiva sincrônica..
O catolicismo e a formaç o do capitalismo . 42
O catolicismo e o processo de desencantamento do mundo 45
CAPÍTULO II
O catolicismo no mundo noderno: perspectiva sincrônica . . . . 69
esfera intelectual .. 69
O catolicismo e a . .
CAPÍTULO II
Principios e aplicações, continuidades e descontinuidades: o
Vaticano IIeamodernidade no pontificado de Bento XVI. 129
A atualização do Vaticano II no sulco da tradição eclesial .... 130
A "terceira via" de Bento XVI.... ... 133
A dupla dimensionalidade da modernidade 140
PARTE III
A GENEALOGIA DA MODERNIDADE
CAPÍTULOI
Da compatibilidade à ruptura: a relação histórica entre
.. 145
fé cristãe racionalidade de acordo com Joseph Ratzinger.
O judaísmo como desmitificação do mundoo 147
O cristianismo como filosofia: razäo crítica frente às religiöes . . 1 5 1
Fé cristã e filosofia: do distanciamento à ruptura ... 154
CAPITULO II
Alargar os horizontes da racionalidade:
fée razão no pontificado de Bento XVI 169
Deus: logos e razão criadora. ... 170
Entre modernidade e
pós-modernidade.. .... 176
Modernidade esecularização. 178
Pós-modernidade e relativismno. 184
PARTEt
AGENEALOGIA DA MOBERNDADE
CAPÍTUL0I
"A fé no progresso": a lgreja Católica e a esfera da
técnica e da ciência segundo Joseph Ratzinger ... .. 191
O caráter racional da fé na criação, .. 192
O desaparecimento da fé na criação no pensamento moderno... 194
A subjetivação da religião e da moral. 198
A fé na criação e a teoria da evolução ... ... 200
*°*°.ae.
CAPÍTULO II
A César o que é de César, a Deus o que é de Deus: a lgreja
Católica ea esfera política na visão de Joseph Ratzinger 237
265
Liberdade: a segunda nota da modernidade.
269
A ambivalência da liberdade na modernidade .
CAPÍTULO IV
Laicidadee liberdade: a esfera política e a
277
esfera religiosa segiundo Bento XVI . .
281
A laicidade do Estado ... .
287
Aliberdadereligiosa como fundamento da laicidade.
CAPÍTULOv
Moralidade: a Igreja Católica e a esfera
Dinheiro e
XVI ..293
economica segundojoseph
Ratzinger-Bento .
.293
economia ...
O papel da Igreja frente à
Católica fonte
Bento XVI e a lgreja como
.. 297
de "Energia moral" da economia
. . .
301
beneditina do dinheiro..
A visão 302
Capitalismo e Socialismo: uma breve apreciação ética . . .
.. 305
CONCLUSÃO .
INTRODUÇÃO
UM PAPA MODERNO,
ANTIMODERNO OU
POS-MODERNO?
21
RUDY ALBINO DE ASSUNÇÃOo
em seu meio de
modo mais drástico as suas consequëncias. Desse ponto de vista,
para entender a modernidade deve-se colocá-la à contraluz do cato-
licismo entendido por determinada abordagem histórica como o seu
principal antagonista: "A mais conhecida versão das relações entre o
cristianismo [catolicismol e a modernidade é a de exclusão mútua. O
cristianismo ocidental pretende ser decididamente antimoderno, na
medida em que a razão das Luzes mina
bases da autoridade da re-
as
velação e da tradiç o e em queo advento das sociedades democráticas
contesta diretamente o princípio hierárquico da sociedade-lgreja".*
Por isso, a relação entre catolicismo e modernidade está cheia de
intervenções do magistério papal,' em geral opondo-se à moderni-
dade; esta última era encarada pelo papado, para usar as palavras
do historiador Emile Poulat, com uma
"intransigência intratável".
Mas, segundo a própria narrativa teológica e historiográfica ca-
tólica, um evento mudou essa orientação: o Concílio Vaticano II
(1962-1965)." Seus documentos revelariam a intenção da Igreja em
manter um diálogo com o mundo
moderno, o que representaria
uma mudança oficial de postura, correspondendo "à passagem de
uma
interpretação da modernidade como categoria ideológica, tal
3
Cf. WEBER, Max. A ética protestante e o
"espírito" do capitalismo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
4GEFFRE, Claude; JoSSUA, Jean-Pierre. Editorial: Interpretação teológica da modernidade.
Revista Concilium, Petrópolis, 6, n. 244, 1992, 4.
v.
p.
Cf. SABETTA, Antonio. Teologia della modernità. Percorsi e
San Paolo, 2002.
figure: Cinisello Balsamo:
POULAT, Emile. Catolicismo e modernidade: um processo de exclusão mútua. Revista
Concilium, Petrópolis, n. 244, v. 6, p. 17-24, 1992, p. 17.
O Concílio Ecumênico Vaticano II foi uma assembleia de bispos de todo o mundo,
pelo papa João XXIII em 1959 e inaugurado em 1962. Durante os trabalhos convocaao
faleceu João XXIII e, em seguida, foi eleito Paulo VI, que decidiu prosseguir concilare
Este foi encerrado em 1965 comoConcin
(cf. ALBERIGO, Giuseppe. Breve história do Concilio Vaticanu
lI: (1959-1965).
Aparecida, São Paulo: Santuário, 2006). Mais adiante serão apresent
outras historiografias sobre o
Concílio, sobretudo de linhas interpretativas diferentes
22
BENTO XVI, A IGREJA CATÓLICA EO "ESPÍRITO DA MODERNIDADE"
2.3
RUDY ALBINO DE ASSUNÇAO
pessimistas do papa".13
Nosso interesse vai além da dura afirmação de Comblin de que
há ruptura no pensamento ratzingeriano, o que Ratzinger peremp
toriamente rejeitou inúmeras vezes. Mais do que uma apreciaçao
interessa
global da obra ratzingeriana feita pelo teólogo belga,
24
BENTO XVI, A IGREJA CATÓLICA :O "ESPlRITO DA MODERNIDADE"
25
RUDY ALBINO DE ASSUNÇAO
no Concíilio
Ecumênico Vaticano II (1962-1965), primeiro como
assessor teológico do
Cardeal Josef Frings, arcebispo de Colónia e
nomeado pelo papa loa
depois, perito oficial do Concílio
como
conciliar foi para a universidade de
XXIII. Durante o período
Münster (1963-1966); em seguida para Tübingen
(1966-1969) e
enfim, para Regensburg (1969-1977).
Vaticano II primeiro período da
diretamente esse
O marcou
se tornou conhecido e
vida de Ratzinger. "No Concílio, Ratzinger,
entre os progressistas","
Mais detalhes
tornou-se célebre ajuntado
inteiramente dedicado ao
sobre período aparecer o no capítulo
esse
Mas é importante perceber isto:
Vaticano II na visão de Ratzinger.
muitos c r e e m que Ratzinger
mudou sua posição sobre o Concílio
ORO,
Concílio e o Santo Ofício.
In:
S São
BOBBI0, Alberto. O Catecismo e a guerra, o
26
RENTOXVI, AIGREJA CATOIICA EO "ESPÍRITO DA MODERNIDADE"
Deve-se notar amda que seu período acad mico foi marcado
protundamente por uma mudança de orientação na própria uni-
versidade alemà, scntido por ele principalmente (quando estava em
Tübingen: "agora, o esquema cxistencialista desmoronava, quase de
um dia para o outro, sendo substituído pelo marxista".21 Para ele,
dava-se a "destruição da teologia |...| pela politização no sentido
do messianismo marxista",2 Ele mesmo atesta como ficara profun-
damente marcado pelas reviravoltas que esse ingresso representou
no clima da universidade, agora claramente combativo,
figurando
dentre uma das causas que o levou a migrar para a recém-criada
Universidade de Regensburg. Em 1977 foi nomeado arcebispo de
Münchene Freising, pelo Papa Paulo VIe, no mesmo ano, foi criado
cardeal. Foi a ponte para a segunda grande etapa de sua vida, a partir
da qual se encerrava o seu trabalho direto em terras
germânicas.
Em segundo lugar exerceu a função de burocrata (recordando
que esse termo é usado aqui em seu sentido sociológico - como um
tipo-ideal weberiano - e é, portanto, neutro) a partir de 1982 até
2005, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele
detinha, agora, como tal, um cargo administrativo sustentado pela
autoridade do papa, que Ihe incumbia exatamente de
acompanhar
a
produção teológica internacional, analisar produções e correntes
teológicas dissonantes, a fim de que a integridade da fé católica
nelas expressa fosse preservada. Nas suas palavras, sua função era
defender a fé dos simples contra o poder dos intelectuais".23
Nesse período pode ser localizado o evento que é acusado por
muitos-Comblin é exemplar -comoa reviravolta na relação entre
Igreja e modernidade identificada no pontificado de João Paulo II.
Depois de vinte anos do encerramento do Vaticano II, fez-se em
Roma, em 1985, um Sínodo (de bispos) com a finalidade de avaliar
27
RUDY ALRINO DIE ASSUNG,A
dia, marcado pelo retorno aos princípios do Vaticano II. Três anos
depois da publicação do livro, em 2005, era eleito precisamente Jo-
seph Ratzinger ao sólio pontifício, escolhendo o nome de Bento XVI.
28
BENTO XVI, A IGREJA CATÓLICA EO "ESPlRITO DA MODERNIDADE"
dezembro 2007.
29
RUDY ALBINO DE ASSUNÇAO
30
MARTINOTTI, Giampiero; LE GOFF, Jacques. Bento XVI abdica como um rei. Uma
revolução, aquele trono vazio. Entrevista com Jacques Le Goff, Instituto Humamts
UNISINOS, 15 fevereiro 2013.
31
FRANCISCO. Carta Encíclica Lumen fidei aos bispos, aos presbíteros e aos diáconos,
pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre a fé, n. 7, 29 junho 2013.
SO medo da modernidade. Instituto Humanitas UNISINOS, 08 julho 2013.
Cf. ALVIANI, Alessandro. Lider da esquerda alem elogia Bento XVI, "teólogo da
modernidade". Instituto Humanitas UNISINOS, 26 agosto 2011.
Joseph
"D'ARCAIS, Paolo Flores. La sfida oscurantista de Joseph
Ratzinger- Paolo Flores D'Arcais Controversa su Dio.
Ratzinger. Seguito
2010.
Milão: Ponte alle Grazie, 2010
aeta do
RATZINGER, Joseph; D'ARCAIS, Paolo Flores. Deus existe? São Paulo: Pla
Brasil, 2009
30
RENTOXVI, AIGREJA CAÓUICAEO"ESPÍRITO DA MODERNIDADE"
36
Bento XVI
modernidade. LOsservatore Romano, 05 novembro 2011.
e a
31
RUDY ALBINO LE ASSUNÇAO
mo: o
primeiro explorou como ninguém a força das ideias re iosas
32
RENTO \VI, AIGREJA CATOUCAFO'FSPIRIODA MODERNIDAD
ca e a sincrönica. Na
primeira, questiona-se qual o lugar ocupado
pelo catolicismo na
emergência da modernidade, especialmente
no processo de desencantamento do mundo e no estabelecimento
do capitalismo segundo Weber. Na
segunda, como se dá, ainda no
pensamento weberiano, a relação entre o catolicismo e as esferas
intelectual, política e econômica. Esses dois momentos orientama
análise do pensamento de Joseph
Ratzinger-Bento XVI, que começa
com uma
exposição de sua postura sobre a reforma do Concílio
Vaticano II, pois ela determina o modo como o
teólogo e o papa
interpretaram a nova postura da Igreja frente ao mundo dito mo-
derno. Em seguida
estudado
vem uma
investigação do modo como o autor
encara a
emergência da modernidade. Depois, aparecemn
precisamente as esteras tipicamente modernas tal como são ana-
lisadas na sua relação com a
Igreja Católica Romana (ou lgreja
ocidental, nos termos de Weber). São elas: a esfera
mais intelectual, ou
especificamente técnico-científica, pois a relação com filosofia
moderna aparece no
capítulo anterior; a esfera política, centrada
precisamente no dualismo lgreja-Estado; a estera econômica e o
papel ético da Igreja frente à lógica própria do mercado.
Enfim, a teologia eo magistério papal de Bento XVI
claro, como pretexto para se fazer uma servem, é
atenta aos
sociologia catolicismo
do
discursos trente ao temp0 presente. E
seus
cordar que ela prec1so re-
sempre pretende oferecer o diagnóstico "legítimo"
$obre o hoje.
Portanto, o que se quis fazer aqui é sociologia sobre
O discurso
social que o catolicismo busca oferecer sobre a moder-
nidade, na tentativa de identificar nele, também, a marca individual
de um dos seus atores centrais.
33
RUDY AlBINO D: ASSUNÇAo
de Joseph
pensamento teologico
O tempo todo lidamos com o
X VI, encontrado
ordinário de Bento
Ratzinger e com nmagistério
discursos a Bispos, Diploma.
em suas encíclicas, homilias, Angelus,
das audiencias das
de Governo, catequeses
tas, Chetes de Estado e
o pensamento
sempre
O leitor poderá
encontrar
quartas-teiras etc.
individual que interpretouo
do teólogo do Papa, do pensador
e
comunhão da lgreja e o
e n s i n o do
Papa,
conteúdo da fé cristä na
termos uma vis-0
unidade. Para
desta mesma
que deve ser garantia entre
com esta "interação"
lidar
realmente global precisamos personalidade40
"desdobramento de sua
teólogo e o Papa,com esse
Nossa leitura é, soh
ele era Prefeito.
na época em que
que já se dava mais completa
uma compreensao
certo aspecto, sinótica, pois para conta recorrendo
em
Teólogo é preciso ter
-
crítico como
aqui a um vaticanista
emerge entre
o Ratzinger teólogo de
continuidade autobiográfica
magistério papal
dominado pela inquietação por
profissão e um
fé madura,
também intelectual dos católicos
a uma
uma formação
dois volumes do
até o apogeu da obra antigamente sonhada, os
da
Simpatia por seu pensamento é colocada também sob o signo
pesquisa séria, rigorosa, sujeita à apreciação rigorosae competente
dos leitores, sobretudo das áreas teológica e sociológica. Assim,
nossa tese vai além de uma classificação exclusiva de Ratzinger
num trincheira especítica.
34
RINTOXVI, AIGREJA CATOICA EO "ESPRITO DA MODERNIDADE"
35