Conteúdo e Atividade de Literatura
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ARROIO DO PADRE
ÁREA DAS LINGUAGENS – LITERATURA / 1º TRIMESTRE – 2020
TROVADORISMO
O Trovadorismo também conhecido como Época Provençal, tem esse nome em razão de que na região sul da França,
conhecida como Provença, foi desenvolvido entre os séculos XI e XIII, a arte dos trovadores. Nessa época, os
cavaleiros permaneciam mais tempo em suas casas, a vida nos castelos já tinha uma organização intensa, seus salões
eram um polo fundamental de convívio e as mulheres começaram a adquirir uma posição importante dentro dessa
organização, especialmente no sul da França.
No que tange à literatura, a França teve dois polos que emanaram influências importantes para o mundo literário da
época: ambos desprezavam o Latim como meio de expressão e ambos refletiram diferentes aspectos do mundo
medieval. A Região Norte da França produziu uma literatura épica, de caráter guerreiro e individualista, em que a
mulher exercia uma função secundária: são os trouvères com sua épica. Na Região Sul da França, onde o feudalismo
levou mais tempo para se diluir, surgiu uma lírica sofisticada, da qual o amor e a mulher eram os temas centrais: são
os troubadours(trovadores) com sua lírica. Foi a partir dessa duplicidade que a literatura europeia se expandiu.
Apesar de o lirismo trovadoresco ter declinado na França a partir do século XIII – com as intervenções da Igreja
Católica, que passou a impor o culto à Virgem Maria como tema aos trovadores – sua influência já era percebida em
toda a Europa, cujos países souberam incorporá-la às suas próprias tradições. Foi o que aconteceu em Portugal.
Dentre os fatores que concorreram para a influência provençal na Literatura Portuguesa temos:
casamentos entre reis lusitanos e mulheres nobres do sul da França;
um dos reis de Portugal, D. Afonso III, viveu vários anos na França e quando retornou a Portugal trouxe na
sua comitiva, trovadores provençais e um padre para cuidar da educação de seu filho, D. Dinis, este que foi um dos
maiores trovadores lusitanos.
o comércio, os movimentos militares, os menestréis (que se apresentavam em praça pública)
a criação de bispados na Península Ibérica e as Cruzadas
A civilização provençal era muita mais requintada que a portuguesa. Daí ser a responsável por uma certa
aristocratização da poesia portuguesa, que era muito mais visível nas cantigas de amor. As cantigas portuguesas eram
transmitidas oralmente. Mas num determinado momento da história de Portugal, um rei mandou copiá-las em livro.
Tais livros chamam-se Cancioneiros. Graças a eles é que hoje podemos ter conhecimento do que estamos informando
aqui. Os mais importantes Cancioneiros são: da Ajuda, da Biblioteca Nacional e da Vaticana.
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O Trovadorismo é um movimento de caráter exclusivamente poético. As composições líricas desse período são
chamadas de cantigas porque eram efetivamente cantadas com acompanhamento de instrumentos musicais que
incluíam violas de arco, flautas, alaúdes, pandeiros. Os que cultivavam esse tipo de poesia eram chamados
genericamente de trovadores, embora houvesse diferença entre os autores e intérpretes dessas cantigas.
Os trovadores eram aqueles compositores que tinham origem nobre e que efetivamente compunham as cantigas;
PROFª. PAULA L. IACKS
os jograis não eram fidalgos e cantavam composições próprias ou alheias em troca de pagamento (eis aí a origem dos
cantores de rádio e televisão do século XX!); os segréis eram os jograis da Corte.
A literatura trovadoresca portuguesa é composta por poesia e prosa, mas a mais importante manifestação literária
dessa época é a poesia representada pelas cantigas líricas – as de amor e de amigo; e cantigas satíricas – as de
escárnio e maldizer.
É importante que se compreenda o conceito do “eu-lírico”. O eu-lírico é a pessoa que fala nos poemas líricos. Não é,
necessariamente, autobiográfico. É tão ficção quanto os personagens criados por um romancista. Assim podemos
dizer que, nas cantigas de amigo, o eu-lírico é feminino, enquanto que o autor é masculino.
O “amigo” a que se refere as composições é, na verdade, o namorado ou o amante. Várias dessas cantigas eram
cantadas em festas, comemorações e rituais ligados à chegada da primavera. Por isso sua ligação com a dança e a
música era mais efetiva do que nas cantigas de amor.
a) cantigas de inspiração campestre relatando o encontro entre namorados numa fonte; ou a moça lamentando a
ausência do amado que partiu para a guerra e não deu mais notícias ou que desapareceu sem cumprir as promessas
feitas.
b) Cantigas em que a moça aguarda o namorado que vem pedir sua mão em casamento. Muitas vezes a moça se revela
esperta, consciente da sua capacidade de seduzir e de provocar ciúmes.
c) Cantigas já adaptadas ao ambiente da Corte, nas quais o trovador, assumindo o papel da mulher, procura expressar
o que ele supõe ser o lamento dela pela ausência do amado.
A vida cotidiana, a saudade do amigo que partiu para a guerra, o ciúme, a indignação, a vaidade de se saber bela,
encontros fortuitos, bailes, festas, o colorido do mundo medieval português podem ser identificados nessas cantigas.
Elas possuem uma tal beleza que permite ao leitor entrever os sentimentos que as motivaram. Na maior parte das
vezes, a mulher não se dirige diretamente ao homem amado – adota uma confidente que pode ser a amiga, a irmã, a
mãe ou um elemento da natureza. Veja o exemplo abaixo:
(Martim Codax. In: Torres, Alexandre Pinheiro, Antologia da poesia portuguesa. Porto: Lello & Irmão, 1977)
Vocabulário
1 – Vigo: praia da região da Galiza, norte do Rio Minho / 2 – se verrá cedo: ele virá logo /
3 – mar levado: mar agitado / 4 – o por que eu sospiro: por quem eu suspiro /
5 – por que ei gran coitado: por quem eu tenho muito carinho, cuidado
PROFª. PAULA L. IACKS
2. CANTIGAS LÍRICAS: Cantigas de amor
Embora Portugal não tenha tido um feudalismo na mais pura expressão da palavra, as cantigas de amor lusitanas
refletiam a estrutura da sociedade feudal por causa da influência provençal. A submissão do vassalo (criado, servidor)
ao seu senhor (nobre, dono das terras onde morava o vassalo) é transferida para o mundo das relações amorosas, e o
mandamento número um do trovador é a fidelidade e submissão absoluta a sua musa.
As cantigas de amor contêm a confissão do sofrimento (coita) do trovador, que padece por amar uma dama (senhor)
inascessível. Sofre pela impossibilidade de ver realizado o seu desejo de amor, já que a dama pertence a uma classe
social superior a dele – ela é esposa ou filha de um nobre; ele, um servo. Tal inacessibilidade da mulher, em parte,
representa o profundo distanciamento que, na Idade Média, existia entre as classes sociais. O amor que o poeta
expressa é sempreplatônico e respeitoso. O trovador reitera a promessa de servir, honrar, respeitar e nunca revelar
a identidade da sua amada.
Ora, sabemos que esse tipo de poesia saiu dos palácios, foi feita principalmente por nobres e a impossibilidade do
trovador ter o seu desejo realizado ocorreria apenas em tese. Trata-se, portanto de um fingimento poético.
Um tema frequente é o panegírico impossível ou elogio impossível: a mulher amada é a mais bela de todas; é um ser
divino. Mas ela é indiferente aos sentimentos do poeta. Ela não os conhece e, se sabe da existência deles, os despreza.
É chamada de dame sans merci (dama sem piedade, sem compaixão). Esse amor impossível e inevitável faz com que
o eu-lírico sofra por tornar-se prisioneiro desse sentimento e maldiga o dia de seu próprio nascimento.
As cantigas de amor apresentam uma linguagem mais erudita e sofisticada do que as de amigo. Sua estrutura é menos
repetitiva, podendo apresentar ou não um refrão. O uso da palavra “senhor” (no masculino) nessas composições
indicava a origem nobre da dama. Nessa época, era usada tanto para o homem como para a mulher, pois a palavra
ainda não tinha ganho a terminação “a” para indicar o gênero feminino.
As cantigas satíricas revelam o mundo boêmio e marginal dos jograis, fidalgos, bailarinas; enfim, dos artistas da corte,
aos quais se misturavam religiosos e até mesmo reis. Um mundo com um código de ética próprio, que admitia certa
liberdade de hábitos e costumes não partilhada pela sociedade em geral.
PROFª. PAULA L. IACKS
Com a finalidade de fazer críticas mordazes e com humor, muitos eram os temas das cantigas satíricas: os costumes,
principalmente do clero; a covardia; a decadência de alguns nobres; os vilãos (aqui se referem às pessoas que
moravam nas vilas medievais); o adultério das damas; os homens sovinas; os pobres que viviam de aparência; as
mulheres feias; os beberrões.
As cantigas de escárnio são aquelas que fazem a crítica indiretamente, de forma sutil, sem indicar o nome da pessoa
satirizada, lançando mão de uma linguagem mais velada, que muitas vezes admite duplo sentido, sem deixar de lado
o aspecto humorístico.
As cantigas de maldizer fazem a crítica rude, direta, mencionando o nome da pessoa criticada, usando palavrões e,
muitas vezes, enveredando pela obscenidade. Sua linguagem é chula e não se utiliza de ambiguidade.
Os textos abaixo são de cantigas medievais e foram adaptados para o português atual. Identifique cada uma de acordo
com as características das cantigas de amor, de amigo, de escárnio ou de maldizer.
Responda à estas questões antes de ler qualquer texto deste Roteiro. Atribua 05 pontos para cada resposta correta. Se
você alcançar 80 pontos na soma total, parabéns! Você não precisa estudar este Roteiro, pois já domina
suficientemente o conteúdo existente nele. Caso contrário, leia as orientações das Atividades de Estudo.
1. O mais antigo documento da literatura portuguesa data de:
a. ( ) 1139 b. ( ) 1128 c. ( ) fins do século XII d. ( ) fins do século XI
5. A confissão da “coita d’amor”, amor respeitoso e platônico, vassalagem amorosa a uma dama inacessível são
características das:
a. ( ) cantigas de amor b. ( ) cantigas de amigo c. ( ) cantigas de escárnio d. ( ) cantigas de maldizer
12. Assinale 1 para as cantigas de amigo; 2 para as cantigas de amor; 3 para as cantigas de escárnio:
a. ( ) “Senhor fremosa (formosa), pois me non queredes
creer a coita (dor) en que me ten amor,
por meu mal é que que tan ben parecedes
e por meu mal vos filhei (tomei) por senhor”
13. “Coube ao século XIX a descoberta surpreendente da nossa primeira época lírica. Em 1904, com a edição crítica
e comentada do Cancioneiro da Ajuda, por Carolina Michaelis de Vasconcelos, tivemos a primeira grande visão de
conjunto do valiosíssimo espólio descoberto.” (Costa Pimpão).
A afirmativa se refere a uma época literária. Responda:
a) qual é essa “primeira época lírica” portuguesa?_________________
b) que tipos de composições poéticas se cultivavam nessa época?