Desenvolvimento Do Conhecimento Lógico
Desenvolvimento Do Conhecimento Lógico
Desenvolvimento Do Conhecimento Lógico
APRESENTAÇÃO
#CURRÍCULO LATTES#
Plano de Estudo:
• O que é lógica?
Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar a lógica clássica.
• Compreender os tipos de lógica.
• Estabelecer a importância das regras de inferência.
INTRODUÇÃO
1
De acordo com Hegenberg (1995), no Organon se encontram os capítulos: (I) Categorias; (II) De
Interpretatione (Interpretações); (III) Analytica Priora (Primeiros Analíticos que estuda os silogismos); (IV)
Analytica Posteriora (Segundos Analíticos que contempla o estudo de silogismos de premissas
verdadeiras); (V) Tópicos; (VI) Refutações sofísticas.
Além disso, Barbosa (2017) destaca que quando pensamos na lógica como
manifestação do pensamento é possível diferenciá-la com relação a sua fundamentação,
o que ajudará a endossar qualquer apoio disciplinar. A lógica pode ser entendida
segundo Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) como a ciência que estuda os
axiomas, princípios e métodos estabelecendo as condições de validação ou
invalidação do argumento. Por sua vez, a lógica apresenta várias vertentes de
pensamento, dessa forma, vamos adotar o pressuposto que a lógica é dividida em (1)
lógica clássica e; (2) não clássica (ou alternativa). Dessa forma, a lógica clássica é
baseada em simbolismos, padrão aristotélico, e cujo rigor tende a ser mais
fundamentalista. A lógica aristotélica pode ser interpretada como a ciência do
julgamento dividindo a lógica em formal e material. A lógica formal ou simbólica aborda
a estrutura do raciocínio, ou seja, estuda as relações entre conceitos e provas, sendo
conhecida também como lógica matemática.
1. (𝑃1 )
2. (𝑃2 )
⋯
(n-1).𝑃𝑛−1
n. ∴ C
Rearranjando os termos é equivalente à notação:
𝑃1 ˄ 𝑃2 ˄ 𝑃3 ˄ ... ˄ 𝑃(𝑛−1) → C
Por conseguinte, Alencar Filho (2003) e Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011),
definem que um argumento composto pelas premissas 𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 e conclusão C
pode ser representado por:
𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 ⊢ C
Na qual, se lê:
Assim sendo, a lógica pode ser entendida como a ciência do raciocínio cuja raiz
etimológica deriva do grego clássico, logike, que significa “logos”, isto é, a palavra escrita
ou falada. No entanto, de acordo com Bedregal e Acioly (2007) filósofos gregos como
Heráclito atribuíram um significado mais amplo como: pensamento, a ideia, a razão, o
argumento. Por sua vez, um argumento não válido, isto é, sua invalidação, segundo
Alencar Filho (2002) é um sofisma. Um sofisma é uma falácia cujo objetivo é causar
confusão. Isso posto, Rocha (2010) sublinha que uma falácia pode ser estruturada com
base em premissas falsas ou verdadeiras que representam casos específicos, ou seja,
não generalizam, e não podem ser generalizadas.
A conclusão pode ser correta, entretanto, do ponto de vista real, o argumento é
uma falácia, porque as proposições base (premissas) apresentadas não determinam
uma conclusão satisfatória, já que a estrutura é falaciosa. Um método utilizado para a
validação de argumentos é a Tabela Verdade2, entretanto, tal método semântico
apresenta limitações. Sendo assim, Alencar Filho (2003), destaca outra forma para se
provar a validade de um argumento conhecido como prova direta de validação cujos
instrumentos são as implicações e equivalências tautológicas (Quadro 1).
2
As proposições podem ter seus valores-verdade apresentados em “Tabelas de valores”. Disso, são
utilizadas regras para conjugar cada composição, a saber: conjunções, disjunções, condicionais,
bicondicionais e a negação de uma proposição. Após esse procedimento segue-se a validação dos
argumentos, logo, as tabelas-verdade consistem em um método semântico de validação de argumentos
(HEGENBERG, 1995, p.214).
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2003); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011).
A obra clássica de literatura infantil “Alice no país das maravilhas” foi escrita pelo
matemático, lógico e romancista Charles Lutwidge Dodgson sob o pseudônimo Lewis
Carroll (1832-1898). A obra tem características e abordagens lógicas por meio de
contradições, argumentos circulares, silogismos e falácias, atraindo o leitor para imergir
no mundo do nonsense e, sobretudo, o leitor é envolvido num ambiente de fantasia e
reviravoltas mirabolantes.
Fonte: CÂNDIDO. Jornal da Biblioteca Pública do Paraná. O nonsense como crítica da lógica.
Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/O-nonsense-como-critica-da-logica. Acesso
em: 06 ago. 2021.
#SAIBA MAIS#
REFLITA
“Aonde fica a saída?'', perguntou Alice ao gato que ria. Depende, respondeu o gato. De
quê, replicou Alice; Depende de para onde você quer ir[...]”
#REFLITA #
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SAUTTER, F. T. Teoria pura da lógica. Natureza Humana, v.13, n.2, São Paulo, 2011.
CARRION, R.; COSTA, N.C.A. Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988.
ROCHA, E. Raciocínio lógico para concursos: você consegue aprender. 3. ed. Rio
de Janeiro: Impetus, 2010.
UNIDADE II
ARISTÓTELES E A LÓGICA CLÁSSICA
Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira
Plano de Estudo:
• Princípios da lógica aristotélica.
Objetivos de Aprendizagem:
• Apresentar o conceito de Silogismo;
• Compreender os tipos de falácias;
• Estabelecer a importância do Quadrado de Oposições.
INTRODUÇÃO
1
Na lógica clássica, as proposições categóricas eram classificadas por meio de quatro tipos a saber: (i)
“Todo S é P”, (ii) “Alguns S são P”, (iii) “Nenhum S é P” e; (iv) “Alguns S são P”. Logo, em cada qual, a
proposição P representava o predicado, ou “expressão predicativa” (HEGENBERG; SILVA, 2005).
obrigatoriamente. Assim, tal fórmula é ampla para abranger quase qualquer argumento
no qual uma conclusão seja obtida (inferida) de duas ou mais premissas (Tabela 1).
b. Silogismo II
Premissa 1: Todos os brasileiros são americanos.
Premissa 2: Todos os americanos são comunistas.
Conclusão: Todos os brasileiros são comunistas.
c. Silogismo III
Premissa 1: Todas as rosas são vermelhas.
Premissa 2: Alguns pássaros não são vermelhos.
Conclusão: Alguns pássaros não são rosas.
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).
Para além disso, você aprenderá que quando Aristóteles discute silogismos, este
considera argumentos quase que exclusivamente nos quais as premissas e a conclusão
são simples no sentido e gerais, ou seja, de acordo com Kneale, W. e Kneale, M. (1962)
especificamente a conclusão silogística se segue de duas premissas que relacionam os
termos da conclusão com um terceiro termo denominado de termo médio. Você
aprenderá que a interpretação do silogismo começa com um juízo universal cuja posição
pode ser ou não a premissa maior. Logo, o silogismo possui três termos, a saber: (1)
maior; (2) médio e; (3) menor. Esses termos são constituídos pelas proposições que
dão origem às premissas e a conclusão. Assim, de acordo com Santos (1959) o
predicado da conclusão é designado de termo maior (Tabela 2).
Assim, por meio dessa definição não é possível classificar como silogismo
argumentos como: “Se nevar o chão estará coberto de neve; ora nevará; logo o chão
estará coberto de neve” nem a qualquer outro argumento cuja premissa seja uma
sentença declarativa composta. Ademais, de acordo com Aristóteles há quatro figuras
do silogismo que se diferem da relação entre o termo médio e os extremos, ou seja, a
posição do termo médio nas premissas maior ou menor. Assim, dependendo da posição
do termo médio nas premissas, Machado e Cunha (2019) destacam quatro classes ou
figuras de silogismos (Tabela 3).
Tabela 3. Figuras Aristotélicas de silogismos
Figur
Figura 2 Figura 3 Figura 4
Proposição a1
elementos envolvidos
Premissa 1 b˄a a˄b b˄a a˄b
Premissa 2 c˄b c˄b b˄c b˄c
conclusão c˄a c˄a c˄a c˄a
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).
Na qual o símbolo “˄” representa o conectivo “e” ou uma conjunção. Além disso,
cada uma das três proposições (a, b e c) que compõem o silogismo pode ser de um dos
quatro tipos categóricos elementares. Portanto, a combinação de 4 x 4 x 4 = 64
possibilidades para cada classe de silogismo destacada na Tabela 4, logo, totalizam 256
combinações possíveis, isto é, 4 x 64. Todavia, destes 256 tipos de silogismos apenas
24 são argumentos coerentes, os demais são considerados sofismas2. Por sua vez, dos
24 silogismos coerentes 5 podem ser rearranjados em função dos demais (Tabela 4).
b. Silogismo II
Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros.
Premissa 2: Todos os brasileiros são latino-
americanos.
Conclusão: Alguns paulistas são latino-
americanos.
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).
2
Consiste em raciocínio falacioso, isto é, deliberadamente elaborado com o objetivo de induzir ao erro
(HEGENBERG; SILVA, 2005).
I (Tabela 4. a). Dessa forma, restam apenas 19, logo, para identificar se um silogismo
consistia em um argumento válido ou sofisma, Aristóteles formulou algumas regras que
são destaques: (1) “Se ambas as premissas são afirmativas, a conclusão deve ser
afirmativa”; e (2) “Se ambas as premissas são particulares, nada se pode concluir”
(MACHADO; CUNHA, 2019). Logo, das premissas:
b. 2ª Regra
Premissa 1: Alguns homens dançam.
Premissa 2: Alguns gorilas não dançam.
Conclusão: inconclusivo
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019)
Note que, da primeira regra nada se pode concluir, porque “Nenhum gorila é um
pato”, portanto a regra não é respeitada. Isso posto, de forma análoga na segunda regra,
nenhuma conclusão pode ser obtida. Todavia, utilizar a lista de regras pode ser exaustivo
e contraproducente, sendo assim, esta pode ser substituída pelos diagramas de Euler3
Assim, a partir dos diagramas é possível por meio de inspeção visual verificar a validade
de cada argumento, diante disso, você aprenderá que o conjunto “A”, constituído por
todos os termos possuidores da propriedade “a” é representado segundo Machado e
Cunha (2019) por uma região restrita do plano, excetuando os termos que não possuem
tal propriedade (Figura 2).
3
Conhecido também por Diagramas de Euler-Venn devido às contribuições do matemático inglês John
Venn (1834-1923). Venn elaborou aplicações para a lógica propondo a representação gráfica por meio
dos diagramas utilizando operações com conjuntos. Logo, se trata de operações elementares com
conjuntos sejam: uniões, intersecções e complementações. Além disso, são utilizados para representar
visualmente por meio de desenhos (figuras geométricas) sobre um plano. Tal técnica foi proposta pelo
matemático suíço Leonhard Euler na obra “Cartas a uma Princesa da Alemanha sobre diversos assuntos
da física e filosofia”. Euler se utilizou dos diagramas para expressar as premissas e a conclusão com o
objetivo de facilitar a compreensão das regras de argumentação (HEGENBERG; SILVA, 2005, BARBOSA,
2017, MACHADO; CUNHA, 2019).
Fonte: Adaptado de Iezzi e Murakami (2019); Machado e Cunha (2019).
Sejam os conjuntos P: “conjunto dos patos”, N: “conjuntos dos seres que nadam”,
G: “conjunto dos gorilas”, G: “conjunto dos gatos” e H: conjunto dos homens. Assim, a
proposição categórica “todo a é b” (Figura 3.a) será “Todos os patos nadam”, já em
“nenhum a é b” (Figura 3.b) a proposição será dada por “Alguns gorilas nadam”. Além
disso, o resultado obtido do “conjunto de gatos” e o “conjunto dos seres que nadam”
(Figura 3.c) é possível inferir de acordo com Machado e Cunha (2019) que “Nenhum gato
nada”. Finalmente, de “Algum a não é b” se obtém que “Alguns homens não nadam”.
Diante disso, é possível utilizar diagramas como os propostos por Euler como ferramenta
na avaliação de argumentos, ou seja, por meio da inspeção visual é realizada o
reconhecimento da validade dos argumentos ou identificar um sofisma supondo que a
representação seja fidedigna as afirmações das premissas.
1.1 Falácias
Figura 4. Sofisma
4
Figurava entre os tratados de lógica escritos por Aristóteles (384-322 a. C) e foram compilados em uma
obra única denominada de Organon ou instrumento da pesquisa filosófica (HEGENBERG, 2005).
Além disso, note que, frases declarativas cujo objetivo é atribuir gênero podem ser
diferenciadas conforme sejam ou não de abrangência universal. Logo, a expressão
“Todo homem é rico” é universal e deve ser diferenciada da frase declarativa particular
“Algum homem é rico”. A partir dessa combinação da distinção entre universal e
particular com a distinção entre afirmativo e negativo surge a concepção de
classificação quaternária ou quadrado de oposições aristotélicas (KNEALE, W.,
KNEALE,M., 1962).
Na doutrina aristotélica as frases declarativas se opõem como contraditórias,
quando não são ambas verdadeiras ou ambas falsas e contrárias, quando não podem
ser ambas verdadeiras, mas podem ser ambas falsas. Dessa forma, Kneale e Kneale
(1962) destacam que algumas vezes para a forma particular negativa é utilizado “Nem,
todo o homem é rico” resultando na simples negação da forma universal afirmativa. As
frases declarativas particulares foram denominadas de subalternas das universais
abaixo, das quais estão posicionadas no quadrado e subcontrárias uma em relação a
outra. Tal suposição considera que as subcontrárias não podem ser ambas falsas,
entretanto, podem ser ambas verdadeiras. Assim, Kneale e Kneale (1962) destacam que
Aristóteles considerava as subcontrárias como contraditórias das contrárias e que, cada
frase declarativa universal implicava sua subalterna. Ademais, as informações
apresentadas no quadrado aristotélico fornecem claramente uma referência para um
determinado número de inferências imediatas.
Dessa forma, se adotar uma proposição A como premissa, então, de acordo com
o quadrado de oposições é possível inferir de maneira válida que a proposição O
correspondente é falsa, além disso, imediatamente é possível verificar que a proposição
I é verdadeira. Todavia, da proposição I não se pode deduzir a verdade da proposição A
correspondente, mas sim, a falsidade da proposição E (COPI, 1978). Assim, dada a
verdade ou falsidade de qualquer uma das quatro frases declarativas (proposições) pode
se obter imediatamente a verdade ou falsidade de algumas ou de todas as demais
proposições.
SAIBA MAIS
Fonte: HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno, 2005
(adaptado).
#SAIBA MAIS#
REFLITA
O Silogismo de Aristóteles.
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro (a) estudante, nesta unidade, você aprendeu sobre os princípios da lógica
aristotélica. Assim, a jornada pelo conhecimento começou apresentando o conceito e
definição de silogismo, logo, da dedução formal, isto é, de um raciocínio que vai do geral
ao específico. Portanto, consiste em estabelecer a condição de juízo ou conclusão,
demonstrando que é a consequência compulsória de um juízo reconhecido como
verdadeiro por meio de um terceiro juízo que estabelece um laço entre os dois primeiros.
Além disso, foram estudados a forma, estrutura e regras dos silogismos. Por sua vez,
foram apresentados os diagramas de Euler-Venn como alternativa de representação das
proposições categóricas. Na sequência, você estudou sobre as falácias, paralogismos e
sofismas. Diante disso, foram abordados os tipos de falácias e sua aplicação nas
argumentações. Finalmente, foram estabelecidas a importância do quadrado de
oposições ou quadrado aristotélico o qual consiste numa forma de apresentação das
proposições universais afirmativas e negativas e cuja representação é dada por meio do
quadrado aristotélico no qual são colocadas as proposições A, E, I, O. Na unidade
seguinte, foram abordados os aspectos da lógica formal, logo, foram apresentadas as
características da lógica proposicional e de predicados, além da simbologia, fórmulas e
quantificadores. Ademais, você pode compreender sobre dedução formal acerca do
método semântico de validação de argumentos denominado de tabela verdade.
LEITURA COMPLEMENTAR
Título: Alexandria
Ano: 2009
Sinopse: Em Alexandria, no ano de 391, Hipátia é professora de astronomia e
matemática, além de filósofa. Um dos seus alunos, Orestes, está apaixonado por ela,
assim como o seu escravo Davus. Juntos, eles deverão lutar contra a extinção da
biblioteca local e outras grandes instituições, que não devem sobreviver quando o
Cristianismo ganha poder político na cidade.
WEB
A lógica é uma área da filosofia que visa estudar a estrutura formal dos enunciados
(proposições) e suas regras. A lógica serve para se pensar corretamente, sendo assim,
uma ferramenta do correto pensar.
Link: https://youtu.be/LCKdEYgaSrE
REFERÊNCIAS
CARRION, R.; COSTA, N.C.A. Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988.
COPI, I. M. Introdução à lógica; tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Mestre
Jou, 1978.
Plano de Estudo:
• Lógica proposicional e de predicados;
• Dedução natural;
• Tabela verdade.
Objetivos de Aprendizagem:
• Apresentar a simbologia, fórmulas e quantificadores lógicos;
• Estabelecer a importância do Método Semântico das Tabelas Verdade;
• Introduzir o conceito de Dedução Natural.
INTRODUÇÃO
Caro (a), estudante, você aprenderá que para expressar ideias são utilizadas a
linguagem corrente ou comum. Isso posto, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011),
destacam que nós usamos palavras explícitas ou não explícitas para conectar as frases
e dotá-las de sentido. Todavia, na Lógica Matemática essas palavras são substituídas
por uma simbologia conhecida por conectivos lógicos, sentenciais ou proposicionais.
Tais conectivos são representados por cinco identidades (Quadro 1).
1
De acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), a palavra “e” que representa a conjunção pode
ser substituída pelas palavras: mas, todavia, contudo, no entanto, visto que, enquanto, além disso, embora.
valor lógico é a VERDADE (V) quando as duas proposições simples são verdadeiras e a
FALSIDADE (F), caso contrário. Seja a proposição composta P:
P: “Mariê foi ao balé e Josefina foi ao cinema”.
Simbolicamente se obtêm:
p˄q
A Disjunção inclusiva é o resultado da combinação de duas proposições
conectadas pela palavra “ou” e é representada pelo símbolo “ ˅”. Assim sendo, Bispo,
Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que na linguagem corrente a palavra ou
pode ser utilizada em dois sentidos: inclusiva e exclusiva. Seja a proposição composta:
Q: “Jorge é matemático ou físico”.
Simbolicamente se obtêm:
p˅q
Para essa proposição, Jorge pode ser matemático e físico, ou seja, ambas as
proposições podem receber a atribuição de valor lógico VERDADEIRO (V) ou
FALSIDADE (F) o que determina a característica inclusiva. Seja a proposição composta:
R: “(ou) Maria é Paulistana ou (Maria é) Carioca”.
Simbolicamente se obtêm:
p˅q
Sendo assim, ou Maria é Paulista ou Maria é Carioca, mas não pode ter ambas
as atribuições. Portanto, o conectivo “ou... ou”, lê-se: “ou p ou q” (Disjunção exclusiva),
possui característica excludente. Além disso, quando uma proposição componente for
verdadeira, esta invalidará a segunda e vice-versa.
Ademais, a proposição condicional ou somente condicional é uma proposição
representada, segundo Alencar Filho (2002), por “se p então q”, cujo símbolo é “p → q” e
seu valor lógico é a FALSIDADE (F) quando o valor lógico da proposição p for
VERDADEIRO (V) e da proposição q for a FALSIDADE (F), caso contrário o valor lógico
é VERDADEIRO (V). Além disso, na condicional é dito que a proposição simples p é o
antecedente e a proposição simples q e o consequente. Considere a proposição:
S: “Se João é estudante então é feliz”.
Simbolicamente se obtêm:
p→q
Na sequência, você verá que a proposição bicondicional ou somente bicondicional
é representada por meio de: “p se e somente q” e simbolicamente por: “p ↔ q”. Isso posto,
Alencar Filho (2002) destaca que o valor lógico da proposição composta é VERDADEIRO
(V) caso ambas as proposições simples tenham o mesmo valor lógico, caso contrário é
a FALSIDADE (F). Assim sendo, considere a proposição:
T: “Só ganharás o valor combinado se entregar o projeto no prazo”.
Nessa proposição, é o equivalente a dizer que: “só é possível receber o valor
combinado se, e somente entregar o projeto no prazo estabelecido”. Simbolicamente:
p↔q
Finalmente, para a Bicondicional lê-se: “p é condição necessária e suficiente para
q” e “q é condição necessária e suficiente para p”. Além dos operadores lógicos
apresentados: conjunção, disjunção, condicional, bicondicional e negação são
destaques os quantificadores. Isso posto, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza
Filho (2011) estes se restringem às funções proposicionais, isto é, representam todo um
determinado conjunto Ω (letra grega ômega) ou parte desse conjunto. Assim, ao definir
o conjunto de elementos Ω, o domínio de uma função proposicional, incluindo a esta os
quantificadores, obtendo assim, uma proposição, ou seja, uma sentença declarativa que
pode receber atribuição de um valor lógico VERDADEIRO (V) ou FALSIDADE (F)
(Quadro 3).
Quadro 3.Quantificadores
Palavras ou Letras Símbolos Nome Lógico
Para todo, Quantificador
∀
qualquer que seja, etc. universal
Existe, há, pelo menos um,
∃ Quantificador existencial
alguns, etc.
Fonte: Adaptado de Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011).
Sendo assim, considere p(x) uma sentença aberta em um conjunto que não seja
vazio A, na qual A ≠ Ø e seja Vp o conjunto verdade, logo, Vp={x | x ∈ A ˄ p(x)}, ou seja,
de acordo com Alencar Filho (2002), quando Vp é igual ao conjunto A, todos os termos
ou elementos do conjunto A satisfazem a sentença declarativa aberta p(x), você verá
que:
Figura 1. Conjunto verdade
Na qual, se lê: “Para todo elemento x de A, p(x) é V ou; “Qualquer que seja o
elemento x de A, p(x) é V. Simplificando, se obtêm: “Para todo x de A, p(x)” e; “Qualquer
que seja x de A, p(x)”. Traduzindo simbolicamente:
(∀ x ∈ A) (p(x)) (1)
∀ x ∈ A, p(x) (2)
∀ x ∈ A: p(x) (3)
Rearranjando:
(∀ x) (p(x)) (4)
∀ x , p(x) (5)
∀ x : p(x) (6)
(∀ x ∈ A) (p(x)) ⇔ Vp = A
Note que, p(x) é uma sentença aberta e, por sua vez, é atribuído um valor lógico
V ou F, todavia, a sentença aberta p(x) com o símbolo ∀ precedendo-a, ou seja, (∀ x ∈
A) (p(x)) é uma proposição, logo, possui valor lógico V se Vp=A e F se Vp ≠ A. Assim,
sendo p(x) uma sentença aberta em um conjunto A, o símbolo ∀, referindo-se à variável
x representa uma operação lógica que modifica a sentença aberta p(x) em uma
proposição, V ou F, conforme p(x) expressa ou não uma condição universal no conjunto
A. Tal operação é denominada de quantificação universal e o símbolo ∀ significa
quantificador universal (ALENCAR FILHO, 2002). Seja o conjunto de números inteiros
𝑍 e considere as seguintes funções proposições:
p: x – 7 > 3.
q: x2 – 5x + 6 = 0.
Após uma inspeção visual nas proposições “p” e “q” é possível verificar que “p” é
V para valores superiores a 10, isto é, existem números inteiros que satisfazem a
condição desigualdade da função, logo, é V, todavia, é F para todo o conjunto 𝑍. Isso
posto, a proposição “q” é F para valores diferentes de 2 e 3 e V para as raízes x 1=3 e
x2=3 (BISPO; CASTANHEIRA; SOUZA FILHO, 2011). Substituindo os termos pela
tradução simbólica, isto é, aplicando os quantificadores, se obtêm:
∀ x (x ∈ 𝑍, x – 7 > 3), possui valor lógico F;
∀ x (x ∈ 𝑍, x2 – 5x + 6 = 0), possui valor lógico F.
Ademais, considere p(x) uma sentença aberta em um conjunto que não seja vazio
A, na qual A ≠ Ø e seja Vp o conjunto verdade, logo, Vp={x | x ∈ A ˄ p(x)}, sendo assim
considere o diagrama:
Uma inspeção visual na Figura 2 permite verificar que “Existe pelo menos um x ∈
A tal que p(x) é V” ou “Para algum x ∈ A, p(x) é V”. Simplificando, “Existe x ∈ A tal que
p(x)” ou “Para algum x ∈ A, p(x)”. Simbolicamente de acordo com Alencar Filho (2002)
obtêm:
(∃ x ∈ A) (p(x)) (7)
∃ x ∈ A, p(x) (8)
∃ x ∈ A: p(x) (9)
Rearranjando:
(∃ x) (p(x)) (10)
∃ x , p(x) (11)
∃ x : p(x) (12)
Logo, é equivalente a:
(∃ x ∈ A) (p(x)) ⇔ Vp ≠ Ø
Considere as proposições:
p: x – 7 > 3.
q: x2 – 5x + 6 = 0.
Aplicando os quantificadores existenciais se obtêm:
∃ x (x ∈ 𝑍, x – 7 > 3), possui valor lógico V;
∃ x (x ∈ 𝑍, x2 – 5x + 6 = 0), possui valor lógico V.
A posição do símbolo ∃ antes da sentença aberta p(x) de acordo com Alencar
Filho (2002) transforma-a numa proposição, diante disso é atribuído um valor lógico V se
Vp ≠ Ø e F caso Vp = Ø. Tal operação é denominada de quantificação existencial.
2 TABELA VERDADE
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/blackboard-record-mathematical-
formulas-logic-600w-1734108203.jpg
Por sua vez, Alencar Filho (2002) destaca que a disjunção pode ser representada
como “p ˅ q”, em que se lê: “p ou q”. Considere a proposição composta:
P: “Recife é a capital de Pernambuco ou Camões escreveu os Lusíadas”.
Rearranjando as proposições simples:
p: “Recife é a capital de Pernambuco”
q: “Camões escreveu os Lusíadas”.
Por meio da notação:
V(p) = V
V(q) = V
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p˅ q) = V(p) ˅ V(q)
V(p˅ q) = V ˅ V
∴ V(P) = V
O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 9) em que os
valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V, logo, o valor
lógico da proposição P é V. Além disso, na linguagem comum a palavra “ou” possui dois
sentidos, de inclusão e exclusão. Dessa forma, a primeira disjunção abordada tratou do
aspecto inclusivo, ou seja, quando ambas as proposições “p” ou “q” podem ser V. Além
disso, a disjunção exclusiva possui a característica de que uma e somente uma das
proposições é V. Logo, a disjunção exclusiva de duas proposições ou “p” ou “q” pode
ser representada na forma simbólica de “p ˅ q” e o valor lógico na Tabela Verdade será
V quando apenas um valor verdade de uma das proposições simples for V (Quadro 10).
p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).
Além disso, a condicional pode ser representada como: “p → q”, ou seja, afirma-
se que a proposição simples “p” é o antecedente e a proposição “q” o consequente. Seja
a proposição composta P:
P: “Se a Terra gira em torno do Sol, então o mês de maio tem 31 dias”.
Rearranjando as proposições simples:
p: “A Terra gira em torno do Sol”
q: “O mês de maio tem 31 dias”.
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p → q) = V(p) →V(q)
V(p → q) = V → F
∴ V(P) = F
O resultado obtido pode ser verificado na segunda linha (Quadro 11) em que os
valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e F, e, portanto,
o valor lógico da proposição com base na regra da condicional de P(p, q) é F. Ademais,
temos a Bicondicional. De acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), uma
proposição bicondicional possui o valor lógico V se, e somente se, ambas as proposições
simples “p” (antecedente) e “q” (consequente) possuírem o mesmo valor lógico sejam
eles V ou F, além disso, é representada por “p ↔ q” (Quadro 12).
p q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).
Dessa forma, uma bicondicional possui valor lógico V somente quando as duas
condicionais: “p→ q” e “q → p”, também o são (ALENCAR FILHO, 2002). Considere a
seguinte proposição composta:
P: “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil e somente se Marte é um planeta”.
Rearranjando as proposições simples:
p: “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil”.
q: “Marte é um planeta”.
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q)
V(p ↔ q) = V ↔ V
∴ V(P) = V
O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 12) em que os
valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e V, e, portanto,
o valor lógico da proposição com base na regra da bicondicional de P(p, q) é V.
Concluindo os conectivos lógicos e suas classificações você estudará a negação de uma
proposição. Isso posto, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) a
negação de uma proposição verdadeira é uma proposição cujo valor lógico é a F e a de
uma proposição falsa é uma proposição V (Quadro 13).
Na qual a negação de uma proposição pode ser representada por “não p”, ou
simbolicamente por: “⁓p”. Seja a proposição simples:
p: “2 + 4 = 6”
Identificando a negação da proposição simples “p”:
⁓p
O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha em que o valor lógico da
proposição simples “p” é V, e, portanto, a negação da proposição simples será F.
3 DEDUÇÃO NATURAL
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-photo/nerdy-scholastic-young-woman-
wearing-600w-318060599.jpg
Caro (a) estudante, você aprendeu que para provar um argumento é necessário
utilizar o método semântico Tabela Verdade. Todavia, dependendo do número de linhas,
assim, o tamanho da tabela verdade é regido pela fórmula 2𝑛 , sendo que “n” é o número
de proposições simples que compõe a Tabela Verdade. Note que a aplicação é exaustiva
e impraticável. Sendo assim, Alencar Filho (2002), destaca outra forma para se provar a
validade de um argumento conhecido como Método Dedutivo por meio das provas
diretas cujos instrumentos são as implicações e equivalências tautológicas (Quadro 1).
#SAIBA MAIS#
REFLITA
Fernando Pessoa
#REFLITA #
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro (a) estudante, nesta unidade você aprendeu sobre a simbologia, fórmulas
e quantificadores lógicos, ou seja, como identificar os conectivos lógicos em determinada
proposição e organizá-la em proposições simples ou atômicas e, a partir dessa estrutura,
realizar a tradução simbólica. Sendo assim, foram apresentadas as classificações de
cada conectivo lógico, a saber: conjunção “e”, disjunção “ou”, condicional “se, então”,
bicondicional “se, e somente se” e negação “não”, “é falso”, “não é verdade que” e seus
respectivos símbolos. Diante disso, foi abordada a construção do método semântico da
Tabela Verdade cujo objetivo consiste em validar argumentos. Sendo assim, você
aprendeu que os valores lógicos das proposições compostas são dependentes dos
valores lógicos das proposições atômicas e sua ligação com os conectivos lógicos, tal
validação é realizada, utilizando as tabelas verdade. Ademais, você estudou sobre o
método da dedução natural, ou seja, o método alternativo das tabelas verdade. Sendo
assim, tal método consiste em utilizar a prova direta de validade utilizando as regras de
inferência para obter as conclusões com base nas premissas propostas. Isso posto, você
aprenderá na próxima unidade sobre lógicas não clássicas, especificamente o que é a
lógica modal, alternativas e paraconsistentes.
LEITURA COMPLEMENTAR
Título: Pi
Ano: 1998
Sinopse: Max é gênio da computação e matemática, mas vive escondido porque a luz
do Sol lhe causa fortes dores de cabeça. Sozinho constrói um supercomputador que
permite a descoberta do número pi completo. A partir disso ele percebe que todos os
eventos se repetem num determinado espaço de tempo e passa a especular as
tendências no mercado de bolsa de valores. A descoberta chega até uma seita e
representantes de Wall Street passam a cobiçar os conhecimentos de Max.
WEB
George Boole foi um filósofo britânico, criador da lógica booleana, fundamental para o
desenvolvimento da computação moderna e considerado o pai da tecnologia da
informação moderna.
Link: https://youtu.be/kT8Ybww38AI
REFERÊNCIAS
COPI, I. M. Introdução à lógica; tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Mestre
Jou, 1978.
Plano de Estudo:
• O que é lógica não clássica?
Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as lógicas não clássicas;
• Compreender os tipos de lógicas não clássicas;
• Estabelecer a importância das lógicas não clássicas.
INTRODUÇÃO
Caro (a) estudante, você aprenderá que de forma geral, ao tratar sobre lógica,
está sendo tomado como referência a lógica formal, clássica, ortodoxa ou aristotélica.
Sendo assim, as proposições, ou sentenças declarativas são restritas a atribuição de um
e apenas um, dentre dois valores lógicos, verdadeiro (V) ou falso (F). Tal suposição
bivalente ou dicotômica é baseada nos princípios da lógica clássica, especificamente,
nos princípios da não contradição e do terceiro excluído. Dessa forma, uma
proposição não pode simultaneamente ser V e F, e sobretudo, uma proposição pode ser
V, F mas nunca um terceiro objeto. A lógica formal, também é atemporal, ou seja, ao
atribuir os valores lógicos para as proposições o tempo é abstraído, isto é, expurgado.
Assim, apenas a forma importa, seu valor de verdade ou a validação do argumento
formado por tais proposições (ALENCAR FILHO, 2002; MACHADO; CUNHA, 2019).
Todavia, as limitações impostas pelos princípios fundamentais da lógica
restringem à solução de problemas dadas as inúmeras experiências dos indivíduos que
não são elegíveis dentro do processo da lógica clássica, especificamente com relação a
ser verdadeiro ou falso. Isso posto, Machado e Cunha (2019) destacam a insuficiência
de tal lógica para resolução de problemas reais complexos, imprecisos e com elevado
grau de incerteza. Além disso, de acordo com Da Costa (1993) se um indivíduo
desejasse realizar apenas inferências válidas no cotidiano, provavelmente sucumbiria,
porque as inferências realmente reais e importantes da vida consistem em paralogismos.
Diante disso, surge as lógicas não clássicas ou heterodoxas, cujo objetivo
consiste em estender o alcance de resolução de problemas da lógica clássica, ou
sobrepujá-la, sendo assim, são lógicas não clássicas: lógicas modais, lógicas
alternativas e lógicas paraconsistentes (Figura 1).
A lógica das sentenças modais foi debatida por Aristóteles e posteriormente pelos
lógicos da Idade Média. Todavia, Haack (2002) destaca que o desenvolvimento da
lógica modal se intensificou no século XX com as obras de Gottlob Frege (1848-1925)
e Bertrand Russel (1829-1970) por meio do cálculo sentencial não-modal. Além disso,
destaca-se que a primeira tentativa de organizar e axiomatizar a lógica modal é atribuída
a Clarence Irving Lewis que em 1918 publicou sua obra “A Survey of Symbolic Logic”.
Tal teoria foi denominada de acordo com Kneale e Kneale (1962) de a lógica da
implicação estrita, porque se opunha a uma doutrina de implicação que Lewis considera
equivocada.
A insatisfação de Lewis estava relacionada com a noção de implicação material
proposta nas obras Begriffsschrift de Frege e Principia Mathematica de A. N. Whitehead
e Bertrand Russell. Assim, “p” implica materialmente “q” se ou “p” é F ou “q” é V, para
além disso, Lewis afirmava que a lógica clássica era inadequada para propor a noção
intuitiva de implicação, que exige não apenas que “p” não seja V e “q” F, mas que “p”
não possa ser V e “q” F. Como alternativa ele propôs um novo operador, que denotaria
implicação estrita. Sendo assim, na concepção de Lewis uma proposição impossível
tem que implicar qualquer proposição e que uma proposição necessária precisa ser
implicada por qualquer proposição (CARRION; DA COSTA, 1988, HAACK, 2002;
KRIPKE, 2012).
Isso posto, a lógica modal segundo Machado e Cunha (2019) trata das expressões
“necessariamente” e “possivelmente” (Quadro 1). Tal expressão é utilizada para
qualificar a verdade de um argumento, ou seja, a lógica modal consiste em estudar o
comportamento dedutivo das expressões “é necessário que” e “é possível que”, dessa
forma, busca elucidar as noções de necessidade e de possibilidade. Além disso, a lógica
modal pode ser representada por meio dos operadores básicos:
Todavia, foi Kurt Godel em 1933 que incluiu a lógica modal como uma extensão
da lógica proposicional clássica, e, sobretudo, relacionou pela primeira vez a lógica
modal com a lógica intuicionista. Ademais, foram muitas as contribuições nesta
abordagem até alcançar a Semântica Relacional de Mundos Possíveis (SRMP). Sendo
assim, a lógica modal com base nos conceitos de necessidade e possibilidade abrange
os aspectos de verdades necessárias e verdades contingentes. Isso posto, a verdade
necessária é uma verdade que não poderia ser de outra forma, uma verdade contingente,
uma que poderia, ou a negação de uma verdade necessária é impossível ou
contraditória. Além disso, a negação de uma verdade contingente é possível, ou uma
verdade necessária é verdadeira de acordo com a SRMP (HAACK, 2002; KRIPKE,
2012). Considere as seguintes proposições:
p:“6 + 4 = 10”.
P:“Se todos os homens são mortais e Sócrates é um homem, então Sócrates é mortal”.
S:“Se uma coisa é amarela, então ela é colorida”.
As proposições “p”, “P” e “S” são consideradas de acordo com Haack (2002) como
verdades necessárias. Pois bem, sabendo disso, considere a proposição:
R: “A precipitação média em Joinville é de cerca de 1976 milímetros”
Ou seja, a proposição “R” é classificada como uma verdade contingente.
Sendo assim, a lógica modal de acordo com Machado e Cunha (2019) é o resultado
da inclusão dos princípios da lógica proposicional como a regra da necessidade. Logo,
“Se A é verdadeiro, então A é necessário.
Surgem assim os seguintes teoremas:
⎕A ⇔ ~♢~A, ou seja, “é necessário” equivale a “é impossível não ocorrer”.
♢A ⇔ ~⎕A, ou seja “ser possível” equivale a “é contingente não ocorrer”.
~⎕A ⇔ ♢~A, ou seja, “ser contingente” equivale a “é possível não ocorrer”.
~♢A ⇔ ⎕A, ou seja, “ser impossível” equivale a “é necessário não ocorrer”.
Uma lógica alternativa é um sistema que deriva da lógica clássica, ou seja, pode
se configurar como uma extensão ou desvio da lógica clássica se considerar a inclusão
de um vocabulário novo além de novos teoremas e inferências válidas. As lógicas
polivalentes são lógicas alternativas que possuem uma história semelhante às lógicas
modais. Isso posto, Aristóteles já procurava uma alternativa a bivalência lógica, ou seja,
a dicotomia verdadeiro e falso na sua obra De Interpretatione, todavia, foi no século XXI
que o matemático e lógico escocês Hugh MacColl realizou propostas formais e
filosóficas. Assim, como na lógica modal o incentivo para a axiomatização estava
condicionado ao desenvolvimento formal da lógica bivalente, isto é, do método semântico
das tabelas verdade para a lógica proposta no Begriffsschrift e Principia Mathematica.
Os primeiros sistemas polivalentes surgem por meio das obras do lógico polonês Jan
Łukasiewicz (1920) e do matemático estadunidense Emil Leon Post (1921) (KNEALE, W.
e KNEALE, M., 1962).
As lógicas modais e polivalentes se distinguem de acordo com o desenvolvimento
da sintaxe e semântica. Assim, na lógica modal a sintaxe, isto é, o vocabulário, a
axiomatização e as regras foram elaboradas primeiro, contudo, a semântica apenas foi
desenvolvida posteriormente. Já na lógica polivalente a semântica foi desenvolvida
primeiro e a sintaxe apenas foi desenvolvida com a axiomatização das lógicas
polivalentes de Łukasiewicz propostas pelo lógico polonês Stanisław Jaśkowski (1934).
Pois bem, sabendo disso, as lógicas polivalentes começaram com o desenvolvimento de
tabelas verdade polivalentes (HAACK, 2002).
Łukasiewicz propôs a ideia de utilizar um sistema de lógica trivalente para
resolver as afirmações acerca do futuro, ou seja, dos futuros contingentes aristotélicos,
surge assim, a seguinte situação-problema: “Eu (Łukasiewicz) posso supor sem
contradição que a minha presença em Varsóvia num certo momento do tempo (e.g.;
meio-dia no dia 21 de dezembro) no momento atual ainda não está decidida positiva ou
negativamente. Sendo assim, é possível, todavia, não necessário que eu esteja
presente em Varsóvia no horário e dia citado”. Note que, a afirmação “estarei presente
em Varsóvia ao meio-dia no dia 21 de dezembro do próximo ano” não se configura
verdadeira ou falsa no momento atual. Caso fosse verdadeira no momento atual a futura
presença em Varsóvia teria que ser necessária contradizendo a suposição. Contudo, se
a suposição fosse falsa no momento atual, a presença futura em Varsóvia seria
impossível, contradizendo novamente a suposição. Assim, à sentença declarativa
“momento atual” não é atribuído valor lógico verdadeiro ou falso, mas sim, um terceiro
valor. Logo, seja verdadeiro=1, falso=0 e possível=½, cujos fundamentos são um sistema
a três valores de lógica proposicional (KNEALE, W. e KNEALE, M., 1962) (Quadro 2).
1
O princípio de contradição (ou de não contradição) possuem várias formulações que não apresentam
equivalências entre si, ou seja, considere: (1) nível linguístico proposicional: ~(p ˄ ~p); (2) nível linguístico
quantificacional: Ɐx ~(p(x) ˄ ~p(x)); (3) nível metodológico: nenhuma teoria deve conter teoremas
contraditório, além disso, as teorias não devem encerrar contradições e; (4) semântica: uma proposição
“p” e sua negação “~p” não podem ser concomitantemente verdadeiras (DA COSTA; BÉZIAU; BUENO,
1998).
paraconsistente. Além disso, suas contribuições, reputação e obras são reconhecidas
mundialmente, tendo sido, conferencista e professor convidado (visiting scholar, termo
em inglês) de Instituições prestigiadas de ensino como: Universidade de Paris, Varsóvia,
Munique, Stanford dentre outras. O alcance do seu trabalho é notoriamente medido pela
quantidade de traduções e citações realizadas ao longo dos anos e como corolário foi
indicado a membro titular da prestigiada Institut International de Philosophie, de Paris
(DA COSTA, 1993).
Isso posto, o desenvolvimento da lógica paraconsistente está relacionado ao seu
surgimento enquanto teoria em si, ou seja, como uma teoria matemática, organizada e
estudada sistematicamente com reconhecimento científico. N.C.A da Costa publicou na
década de 1960 influenciado pelos matemáticos Marcel Guillaume da Universidade de
Clermont-Ferrand e Paulo Decker das Universidades de Lille e Liège, uma série de notas
na revista científica francesa Comptes Rendus de l’Académie des Sciences de Paris.
Além disso, publicou em português “Um nota sobre o conceito de contradição” (1958) e
“Observação sobre conceito de existência em matemática” (1959), propondo o seguinte
Princípio de Tolerância matemático: “do ponto de vista sintático e semântico, toda teoria
é aceitável, desde que não seja trivial”.
Além disso, da Costa (1993) destaca que em cada um dos cálculos apresentados,
a classe das proposições é subdividida em proposições de dois tipos: (i) bem-
comportada, isto é, toda fórmula válida do cálculo clássico será igualmente válido nos
cálculos dos “Sistemas Informais Inconsistentes”, excetuando um deles. Entretanto, se
“p” for (ii) mal-comportada, o resultado obtido poderá ser “p ˄ ~p”. Sendo assim, a lógica
clássica se mantém válida para as proposições bem-comportadas, além disso, destaca-
se que as lógicas paraconsistentes não foram concebidas para sobrepujar a clássica,
pelo contrário, se estenderam a lógica tradicional ampliando as possibilidades de
investigações que não seriam possíveis sob a perspectiva clássica.
Além disso, você aprenderá que outros pensadores matemáticos haviam
abordado e, portanto, antecipado a possibilidade de sistemas contraditórios ou
inconsistentes. Assim, desde a Grécia antiga com Heráclito aos aspectos marxistas e
dialéticos2 hegelianos, Wittgenstein às antinomias3 kantianas entre muitos outros.
Todavia, destaca-se as contribuições do lógico polonês Jan Łukasiewicz e do lógico e
filósofo russo Nicolai Alexandrovich Vasiliev os quais de maneira independente, em
meados de 1910, defenderam que haveria a possibilidade da existência de uma lógica
“não-aristotélica” coadunando-se com a ideia da recém-descoberta geometrias não-
euclidianas.
Assim, ambos propuseram ser possível que o princípio da não-contradição
pudesse ser expurgado. Todavia, Da Costa (1993) sublinha que foi o estudante de
Łukasiewicz, o lógico polonês, Stanisław Jaśkowski quem concebeu um sistema de
lógica paraconsistente, designado de lógica discussiva ou discursiva, no entanto tal
sistema estava limitado ao nível proposicional. Assim, da Costa e o lógico Lech Dubikajtis
ampliaram a lógica de Jaśkowski para além do nível proposicional. Ademais, da Costa
conjuntamente com J. Kotas avançaram a partir da lógica discussiva ou discursiva de
Jaśkowski de tal forma que obtiveram um operador de qualquer sistema modal associado
à lógica discursiva, haja vista, que Jaśkowski restringiu a sua abordagem lógica ao
sistema S5 de Lewis. Assim, da Costa é considerado o criador da lógica paraconsistente
ou o “mestre da contradição”.
O termo “para” deriva do grego “ao lado de”, portanto, “lógica paraconsistente”
significa que tal formulação é complementar à lógica clássica, logo, não foi concebida
para sobrepujar-lá. Surgiram outras nomenclaturas como: lógica dialeteica, cujo
objetivo consistia em estudar as contradições verdadeiras e a lógica transconsistente
que significava um excedente conceitual se filiando ao transfinito. Todavia,
paraconsistente foi o termo adotado pela comunidade científica. Após isso, da Costa
elaborou a semântica para 𝐶𝑤 , a partir da teoria da valoração, essa teoria semântica é
utilizada para proporcionar a lógica paraconsistente uma semântica própria. Além disso,
2
Considerada a “arte do debate por meio de perguntas e respostas”, a dialética de acordo com Hegenberg
e Silva (2005) surge com Sócrates (470-399 a.C.) e dos diálogos de Platão (428-347 a.C.). Além disso,
Aristóteles distinguia raciocínio dialético ou silogístico a partir de opiniões convencionalmente aceitas.
3
Significa de acordo com Hegenberg e Silva (2005) de forma literal, “anti” = “contra” e “nomos” = “lei”, ou
seja, se configuram em paradoxos que convergem para contradições mesmo se considerados padrões
normais ou aceitáveis de raciocínio.
fundamentou na bivalência verdadeira e falso, no entanto, não verifuncional4 (DA
COSTA, 1993).
Ademais, há críticas concernentes à definição da lógica paraconsistente. Pois
bem, sabendo disso, a definição apresentada por da Costa é sobremaneira aproximada,
ou, unilateral. Assim, é afirmado que um operador unário W é paraconsistente se existe
uma fórmula a tal que a teoria {a, Wa} seja não trivial, ou seja, em termos de valoração,
de tal forma que a e Wa são verdadeiras concomitantemente. Obviamente o critério
apresentado não é satisfatório para tornar semelhante operador em uma negação.
Diante disso, da Costa abordou o problema tangencialmente, isto é, por meio do desejo
de desenvolver um operador unário W, tal que este, fosse dotado de propriedades da
negação clássica compatíveis com as exigências (DA COSTA, 1993).
Todavia, a dificuldade persiste, ou seja, ainda não foi possível identificar quais são
as propriedades compatíveis com as exigências do modelo, e, sobretudo tal
exigência deve ser reforçada por meio da atribuição da noção de Paraconsistência
estrita, isto é, de acordo com da Costa (1993) {p, ~p} não se deve conseguir deduzir
qualquer fórmula da forma “~q” ou de outra forma não-tautológica.
Sendo assim, N.C.A da Costa concebeu numerosas lógicas paraconsistentes,
todavia, suas obras são concentradas na lógica proposicional 𝐶𝑤 e suas extensões à
lógica dos predicados e, sobretudo, na tentativa de construir uma “grande lógica” como
a teoria dos conjuntos a partir de suas concepções. Dessa forma, da Costa (1993)
construiu uma hierarquia de cálculo proposicional 𝐶𝑤 , 1 ≤ 𝑛 ≤ 𝑤 para satisfazer
basicamente as condições:
I. O Princípio da não contradição ~(p ˄ ~p) não deve ser válido no geral;
II. Não se deve ter “p”, “~p Ͱ q”5, isto é, de duas premissas contraditórias não deve
ser possível, em geral, deduzir-se qualquer conclusão;
4
Numa teoria semântica verifuncional, ou seja, em uma descrição do significado em função do conceito
da verdade, está baseado entre a linguagem é algo não linguístico, ou seja, o mundo. Sendo assim,
Oliveira (2001) destaca que um nome próprio como “Rio de Janeiro” tem significado porque é possível
alcançar, por meio dele, um objeto no mundo. Tal distinção entre sentido e referência foi proposta
inicialmente pelo lógico alemão Gottlob Frege.
5
É usual utilizar o símbolo “Ͱ” para representar o acarretamento (entailment, termo em inglês), isto é, esse
termo é utilizado para indicar que determinadas premissas permitem inferir de modo forte uma dada
conclusão, ou seja, as premissas “implicam” a conclusão (HEGENBERG; SILVA, 2005).
III. Todos os esquemas e regras da lógica clássica que forem compatíveis com as
duas primeiras devem ser preservados;
IV. Denominado de 𝐶0 o cálculo proposicional clássico se obtém a seguinte hierarquia
de cálculos:
𝐶0 , 𝐶1 , 𝐶2 ,..., 𝐶𝑛 , … , 𝐶𝑤 .
V. Se as proposições estudadas forem do tipo bem comportado, em determinadas
distinções que serão procuradas, toda fórmula válida do cálculo clássico também
será em qualquer dos cálculos posteriores.
que tornam possível a proposição A ser verdadeira, é vazio . Sendo assim, o conjunto
está contido em qualquer conjunto B, logo, essa situação de acordo com Machado e
Cunha (2019) é equivalente à implicação “se (p ˄ ~p) então q”, para toda proposição q”,
simbolicamente, “~(p ˄ ~p) → q, q”. Portanto, a partir de uma contradição é possível
obter, de forma válida, qualquer conclusão. Assim, se um sistema lógico possuir uma
contradição, se tornará trivial, isto é, toda proposição poderá ser demonstrada.
SAIBA MAIS
De acordo com Rignel, Chenci e Lucas (2011), a lógica Fuzzy foi introduzida nos
meios científicos em 1965 pelo matemático, engenheiro eletrônico e cientista da
computação Lofti Asker Zadeh, por meio da publicação do artigo Fuzzy Sets no Jornal
Information and Control. Além disso, a lógica Fuzzy pode ser entendida como uma
situação em que não é possível responder simplesmente "sim" ou "não". Mesmo
conhecendo as informações necessárias sobre a situação, dizer algo entre "sim" e "não",
como "talvez" ou "quase", torna-se mais apropriado.
Fonte: RIGNEL, D. G. S.; CHENCI, G. P.; LUCAS, C. A. Uma introdução à Lógica Fuzzy. Revista
Eletrônica de Sistemas de Informação e Gestão Tecnológica, v.1, n.1, 2011 (adaptado).
#SAIBA MAIS#
REFLITA
Caro (a) estudante, nesta unidade, você aprendeu sobre uma derivação
completamente distinta da lógica, a lógica não clássica. Isso posto, foram apresentados
os conceitos, definições, axiomas e formulações de alguns tipos de lógicas não clássicas.
Além disso, foi possível verificar que as lógicas não clássicas violam pelo menos um dos
princípios da lógica clássica aristotélica, como é o caso do princípio da não contradição
e o princípio do terceiro excluído.
Sendo assim, na lógica modal foi possível aprender sobre a concepção de
“necessidade” e “possibilidade” e como isso altera o resultado das proposições e o seu
significado. Além disso, foram apresentados a sintaxe e a semântica utilizadas em tal
lógica. Com relação às lógicas alternativas, você estudou sobre as lógicas trivalentes de
Łukasiewicz com a apresentação da sua tabela verdade com três valores lógicos.
Além disso, você estudou sobre as contribuições do matemático brasileiro,
professor Newton Carneiro Affonso da Costa que na década de 1950 formulou uma
lógica própria, denominada de lógica paraconsistente. O objetivo do professor foi obter
um meio de provar a inconsistência de um sistema formal inconsistente sem trivializar-
se, o que fez com êxito, sendo reconhecido internacionalmente como o criador da lógica
paraconsistente.
LEITURA COMPLEMENTAR
HAACK, S. Filosofia das lógicas; tradução Cezar Augusto Mortari, Luiz Henrique de
Araújo Dutra. São Paulo: UNESP, 2002.