Congado em Machado
Congado em Machado
Congado em Machado
Itatiba
2013
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação
Itatiba
2013
37.013.43 Silva, Jussara Maria da.
À fonte geradora da vida, do amor e da criatividade humana: Deus. Ele que criou o ser
À minha irmã Kátia, pelo apoio incondicional, pela paciência, obrigada por tudo.
À minha irmã Virgínia, obrigada por tudo, pelo carinho, sua ajuda foi muito importante.
À minha irmã Dalila, amiga, companheira, Deus te colocou na minha vida, obrigada.
À minha irmã Maria José, pelo incentivo incondicional, você é peça fundamental em
minha vida.
Aos meus filhos pela compreensão, pelo apoio, Kamila e Douglas, amo vocês.
Aos meus irmãos José Carlos, Damb e José Maria, obrigada por tudo.
Ao meu irmão José Augusto, obrigada por um dia ter podido conviver com você, onde
Aos meus colegas de caminhada, obrigada pela convivência e pelo carinho, aprendi
Esta pesquisa focaliza o terno de congo mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de
Castro, da cidade de Machado (sul de MG), durante o período de anos que se estendem
de 1997 a 2010, perfazendo um total de 13 anos. Tomamos como hipótese inicial da
pesquisa que a formação desse terno de congo teria estimulado, no cotidiano escolar,
práticas educacionais que problematizaram e ampliaram a noção de cultura que, no
senso comum, muitas vezes, ainda aparece balizada pela dicotomia entre a cultura
erudita e letrada em oposição à cultura popular, fortemente marcada pela tradição oral.
A partir de tal hipótese, estabelecemos como objetivos da pesquisa: identificar e
compreender historicamente como se deu o processo de formação do terno de congo
mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro e analisar as tensões e conflitos
fomentados pela presença do terno de congo mirim no cotidiano escolar e como essa
temática foi apropriada pelas disciplinas de Português, de História, de Artes e de
Educação Física.No desenvolvimento da pesquisa, realizamos uma cuidadosa revisão
bibliográfica e consultamos fontes documentais diversificadas, bem como realizamos
entrevistas semiestruturadas com alguns membros dessa escola (professoras,
supervisoras e diretoras) e com alguns congadeiros mais idosos de Machado, que
colaboraram com a formação do terno escolar. Essas entrevistas foram cotejadas e
analisadas, levando-se em conta, sobretudo, as contribuições teóricas de Edward P.
Thompson, Antonio Chervel, Dominique Julia, Antonio Vinão Frago, Alessandro
Portelli e os subsídios levantados nas fontes primárias pesquisadas. Concluímos que as
hipóteses foram confirmadas, pois o terno de congo mirim, ao adentrar o espaço escolar,
possibilitou a valorização da cultura local, a transmissão de saberes entre gerações para
que a congada não caísse no esquecimento e a reflexão sobre questões complexas como
currículo prescrito e tensões e conflitos.
This research focuses on the suit congo mirim State School Rigotti Paulina Castro,
Machado city (south of MG), during the period of years stretching from 1997 to 2010, a
total of 13 years. We take as initial hypothesis that the formation of this suit would have
stimulated congo, at school, educational practices that problematized and expanded the
notion of culture, common sense often appears still buoyed by the dichotomy between
high culture and literate in opposition to popular culture, strongly marked by oral
tradition. From this assumption, as established research objectives: to identify and
understand historically how was the process of formation of the suit congo mirim State
School Rigotti Paulina Castro and analyze the tensions and conflicts fostered by the
presence of the suit in congo mirim school routine and how this theme was appropriate
for the disciplines of Portuguese, History, Arts and Education Física.No research
development, we conducted a thorough literature review and consulted documentary
sources diversified and conducted semistructured interviews with some members of this
school ( teachers, supervisors and principals) and some older Congadeiros Machado,
who collaborated with the formation of the school suit. These interviews were collated
and analyzed, taking into account mainly the theoretical contributions of Edward P.
Thompson, Antonio Chervel, Dominique Julia, Antonio Viñao Frago, Alessandro
Portelli and raised subsidies on primary sources researched. We conclude that the
hypothesis was confirmed, as the suit congo mirim, to enter the school area, allowed the
appreciation of local culture, the transmission of knowledge between generations so that
congada not fall into oblivion and reflection on complex issues such as curriculum and
tensions and conflicts.
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13
1 OS CAMINHOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA
PESQUISA............................................................................................................. 20
1.1 Construindo nosso Referencial Teórico............................................................. 20
1.2 Identificando as fontes documentais textuais................................................... 26
1.3 Cultura, Memória e História Oral....................................................................... 30
2 A CIDADE DE MACHADO............................................................................ 39
2.1 A congada........................................................................................................... 41
2.2 A festa de são Benedito em Machado................................................................ 47
3 O TERNO DE CONGO MIRIM DA ESCOLA ESTADUAL PAULINA
RIGOTTI DE CASTRO........................................................................................ 61
3.1 O bairro, a escola e a comunidade escolar.......................................................... 61
3.2 O processo de formação do Terno de Congo Mirin........................................... 69
3.3 O terno escolar: tensões e embates no cotidiano escolar.................................... 76
3.4 A apropriação desta temática nas disciplinas de Português, de História, de
Artes e de Educação Física desta escola................................................................... 79
3.5 Impactos socioculturais do terno de congo mirim na escola Estadual Paulina 89
Rigotti de Castro.......................................................................................................
3.6 Tensões socioculturais apresentadas nas narrativas dos congadeiros................ 91
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 98
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 103
ANEXO I – Questões para professoras, supervisoras, diretoras e congadeiros –
Termo de Consentimento Esclarecido...................................................................... 111
ANEXO II - Entrevista da professora Silvana Cristina Pereira............................... 113
ANEXO III - Entrevista da professora Kátia Maria da Silva................................... 117
ANEXO IV – Entrevista da professora Soniamar de Lima Ferre........................... 119
ANEXO V – Entrevista da professora Fabiana Augusta de Carvalho..................... 123
ANEXO VI – Entrevista da professora Márcia de Paula......................................... 131
ANEXO VII – Entrevista da diretora Luíza Lopes.................................................. 137
ANEXO VIII – Entrevista da professora e supervisora Gláucia Begali.................. 139
ANEXO IX - Entrevista da professora e supervisora Rosa de Fátima Ferreira de
Souza ....................................................................................................................... 142
ANEXO X - Professora Maria Aparecida Cangussu............................................. 147
ANEXO XI – Entrevista do congadeiro João Batista............................................... 151
ANEXO XII – Entrevista do congadeiro Moacir Ferreira de Souza........................ 155
ANEXO XIII – Entrevista do congadeiro Sebastião Anselmo de
Souza........................................................................................................................ 160
ANEXO XIV - Entrevista do congadeiro José Otávio Filho (Dadu)...................... 165
ANEXO XV – Entrevista do congadeiro Jorge Marcelino da Silva........................ 168
ANEXO XVI – Entrevista do congadeiro Antônio Pereira da Silva (o
Baiano)...................................................................................................................... 178
ANEXO XVII – Entrevista do professor e pesquisador José Vitor da
Silva.......................................................................................................................... 180
ANEXO XVIII – Entrevista da professora e pesquisadora Ceila Caproni
Gonçalves................................................................................................................. 192
13
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa focaliza o processo de formação do terno de congo mirim como prática
educativa no primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental da Escola Estadual Paulina
Rigotti de Castro, da cidade de Machado (MG), no período que se estende entre os anos de
1997 a 2010.
Nosso recorte temporal tem início em 1997, quando a escola acolheu as primeiras
iniciativas visando à formação desse terno e, seu término em 2010, quando se deu a
aposentadoria de uma de suas idealizadoras. Tal fato determinou uma reordenação dos
trabalhos relativos ao terno mirim e dos sujeitos envolvidos, o que nos autoriza a propor que
a escola é uma arena de tensões e conflitos (DE CERTEAU, 1994), matizada e ressignificada
pelas subjetividades daqueles que transitam e se inter-relacionam por entre suas práticas e
saberes, quer sejam profissionais da educação ou alunos ou membros da comunidade
localizada em seu entorno. Posto que, em algumas situações tais subjetividades transpõem os
limites burocráticos das determinações legais e de sugestões oriundas das instâncias
administrativas superiores acabam por deixar vestígios significativos de singularidades e
valores, que podem desvelar experiências vividas (BENJAMIN, 1994) e diferentes práticas
educacionais implementadas em uma dada escola pelos sujeitos que aí atuam. Concordamos
com Gonçalves e Faria Filho (2005, p. 36) quando propõem que a escola é dotada de “[...] um
poder criativo exercido na relação que a mesma desenvolve com a sociedade, desempenhando
um papel na formação do indivíduo e, dessa forma, de uma cultura que impactará diretamente
em suas vivências”.
Ao delimitarmos o processo de formação do terno de congo mirim como objeto de
nossa pesquisa, consideramos que ele teve sua origem tanto no entrecruzamento de sugestões
presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997)1 quanto em demandas oficiais
crescentes para que a escola acolhesse temas relativos à diversidade étnica e cultural em seu
currículo. Tais demandas, por sua vez, culminaram na lei 10.639 de 2003 2. Além do que, na
1
Segundo Brasil (1997, p.19), a temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de
características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às
desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a
sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo.
2
Temos também a lei 10.639, promulgada em janeiro de 2003. Fruto de lutas históricas do Movimento Negro
Brasileiro, as indicações contempladas pela Lei já apareciam no Congresso Nacional do Negro Brasileiro na
década de 1950 – cujo documento final contém entre suas recomendações “o estímulo ao estudo das
reminiscências africanas no país, bem como a remoção das dificuldades dos brasileiros de cor” e,
14
posteriormente, nos anos de 1980, foi apresentada como Projeto de Lei na Constituinte de 1988 e sua aprovação
reivindicada na Marcha Zumbi em 1995. Sua aprovação visa alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
assumindo o papel do mundo da educação como fundamental na reprodução e na reversão do quadro de
desigualdades raciais no Brasil. O texto da lei aponta, em seu Art. 26-A, que “Nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira e no Art. 79-B que O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da
Consciência Negra”. (SANTOS, 2009, p.22).
15
Será que a formação desse terno de congo escolar suscitou novas possibilidades
educacionais, a partir do fomento para que se estabelecessem relações entre os
conteúdos programáticos das disciplinas de Português, de História, de Artes e de
Educação Física?
Em nossa pesquisa, consideramos como uma primeira hipótese que a formação desse
terno de congo mirim teria estimulado, no cotidiano escolar, práticas educacionais que
problematizaram e ampliaram a noção de cultura que, no senso comum, muitas vezes ainda
aparece balizada pela dicotomia entre a cultura erudita e a letrada em oposição à cultura
popular, fortemente marcada pela tradição oral. A partir de tal hipótese, estabelecemos como
objetivos da pesquisa:
frangos para o supermercado e ela sempre me dava um dinheiro. Saindo da escolinha, fui para
o Grupo Escolar Gabriel Odorico e lá fiquei até a quarta série primária. E, como em minha
casa era costume que, ao iniciar as séries finais do Ensino Fundamental, os meninos iam para
o Ginásio São José (Colégio Lassalista) e as meninas, para o Colégio Imaculada Conceição, lá
fiquei até me formar no Magistério. Após cursar o 1º colegial, estudei também no Colégio São
José, que frequentava à noite e, durante o dia, cursava o Magistério, pois nessa época os
irmãos Lassalistas já aceitavam meninas e eu queria estudar Química, Física e Matemática
para me sair bem no vestibular.
Em 1985, formei-me tanto no curso de Magistério no Colégio Imaculada Conceição
quanto no ginásio em auxiliar de escritório. Em 1986, ingressei na Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras de Machado e, em 1988, formei-me. Mas, durante o tempo de faculdade,
comecei a lecionar em uma escola Municipal que ficava na zona rural, em uma classe
multisseriada. Eu lecionava para as 3ª e 4ª séries primárias e minha colega Maria da Glória
para as 1ª e 2ª séries. Caminhávamos entre os cafezais para chegarmos até a escola depois de
descer de uma caminhonete que transportava os boias frias. A escola funcionava em uma casa
de colonos e alguns de seus cômodos eram utilizados para a sala de aula. De um lado, a 1ª
série que era ministrada pela professora Glória e do outro, as 2ª, 3ª e 4ª séries ministradas por
mim. No restante dos cômodos, residia a família de colonos, sendo que a cozinha da escola
era a mesma da casa e o terreiro era onde acontecia o recreio. Saí da escola municipal para
trabalhar em escolas estaduais. Quando me formei em Letras em 1998, as vagas nas escolas
da rede estadual eram poucas porque a cidade era pequena. E, todo final de ano, ficava na
angústia, se no próximo ano, iria trabalhar ou não, pois os contratos eram anuais. Em 1987,
prestei concurso público para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). Lá permaneci
por quatro anos, quando convivi com o senhor Moraes, que era funcionário da empresa e dono
de um terno de congo. Ele sempre me dizia que, se meu pai formasse um terno de congo, seria
um dos mais bonitos da cidade, pois faria ligação com a escola de samba em que meu pai era
presidente, a famosa Voz do Morro que, em época de festa de São Benedito, cedia seus
instrumentos para alguns ternos de congo e o mesmo acontecia em época de carnaval, quando
alguns instrumentos dos ternos de congo também eram cedidos para a escola de samba, na
qual dançava toda a minha família.
Em 1998, fiz o concurso do estado para professora, fui aprovada. Voltei a lecionar na
escola onde estudei que é o Ginásio São José e na qual estou até hoje. Em 1994, me casei e
tive um filho; em 2002, me separei. Retornei aos estudos, fiz a Faculdade de Pedagogia, na
área de gestão escolar, voltei para a casa de meus pais onde convivo muito bem com todos. A
18
congada sempre fez parte da minha vida, o vovô Aureliano tocava sanfona, bem, acho que
tocava. Vovó sempre ria, dizia que ele só fazia presença, pois não tocava nada. E, ele, para
irritá-la, comprou o pano da farda de congo para ela fazer um vestido e acompanhar a
congada, usava óculos escuros e dizia que era para agradar as morenas. Meu irmão José
Augusto sempre foi congadeiro, e como o meu avô tocava o banjo, não sei se tocava mesmo,
mas era o primeiro da fila e fazia lindas evoluções com o banjo e seu apito. Que saudades de
um tempo que não volta mais, em que eu o levava no ranchamento, o local onde os
congadeiros se alojam antes de alegrar e colorir as ruas de Machado, com suas vestimentas
coloridas e com seu batuque fantástico. Em época de festa de São Benedito, as congadas
sempre paravam em frente de casa para nos alegrar com a sua cantoria. E, foi por meio dessa
ligação com as congadas e minha trajetória docente, que o terno de congo mirim se tornou
parte fundamental do meu mestrado. O terno de congo, é uma manifestação cultural presente
em diferentes regiões brasileiras e em Machado, cidade que se localiza no Sul do estado de
Minas Gerais e é conhecida por suas montanhas e por suas enormes plantações de café.
As congadas fazem parte da minha história de vida, pelos momentos que passei
observando-as pelas ruas da cidade, encantando muitos que podiam ter o prazer de contemplá-
las. Portanto, investigá-las a fundo, tanto quanto querer preservá-las, foram os motes dessa
pesquisa. Por ser educadora e reconhecer o importante papel da escola na socialização das
ideias, bem como na preservação de culturas e saberes, senti-me estimulada em percorrer os
caminhos e pesquisar, por meio das fontes existentes, como a Escola Paulina Rigotti de
Castro desenvolveu o projeto Congada e a Festa de São Benedito com a formação do seu
terno de congo mirim.
Finalizamos, pontuando que, para além dessa introdução, dividimos esta dissertação
em três capítulos distintos, mas articulados e complementares entre si. No primeiro,
delimitamos alguns dos referenciais teóricos e procedimentos metodológicos que balizaram a
pesquisa sobre o terno de congo mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro. Tais
referenciais orientaram as análises e as discussões das questões abordadas, considerando-se o
entrecruzamento das informações oriundas das fontes documentais textuais e das fontes orais.
No segundo capítulo, situamos a cidade de Machado, propondo uma dada versão da história
local. Nele, reportamo-nos também à Festa de São Benedito e às congadas dessa cidade. No
terceiro capítulo, focalizamos o terno de congo mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de
Castro. Para tanto, fizemos um breve histórico da Escola e suas características, após
observarmos as histórias e as memórias desse terno no cotidiano escolar trazendo as diferentes
versões sobre sua formação e existência, assim como aspectos relativos à inserção dessa
19
percebemos, com o passar dos anos, a emergência de novas formas de viver e interpretar os
acontecimentos e os fatos, muito do que é ensinado no contexto familiar se perde, ou deixa de
ser valorizado. Nesse sentido, buscamos contribuições teóricas de alguns autores que se
voltaram para análises e discussões relativas à cultura, em particular às múltiplas culturas das
classes populares. Na obra O queijo e os vermes de Ginzburg (1987), o autor defende que os
desníveis culturais existentes nas ditas sociedades civilizadas foram o pressuposto necessário
para o surgimento de disciplinas, tais como Folclore, Antropologia Social, História das
Tradições Populares e outras. No entanto, o uso da palavra cultura com o intuito de descrever
crenças, atitudes e modos de comportamentos próprios das classes subalternas ocorreu
tardiamente e emergiu no âmbito da Antropologia Cultural. Por meio de um movimento
duplo, reconheceu-se como cultura tanto os fazeres de povos "exóticos", quanto as práticas
das classes subalternas dos povos civilizados. Segundo Ginzburg (1987, p. 17),
Para o autor, a cultura popular se define antes de tudo por sua oposição à cultura
letrada e oficial das classes dominantes. Ele se propõe a recuperar os estudos sobre os
conflitos de classes em uma dimensão sociocultural globalizante, reconhecendo as oposições
culturais entre as classes sociais. Para tanto, propõe como recíprocas as influências entre
cultura dos segmentos dominantes e subalternos. Ainda para o mesmo autor, as culturas
populares e de elite se influenciam mutuamente, de acordo com os valores próprios de cada
classe social.
Aproximando-se do conceito de cultura, o historiador Burke (1989, p. 56) usou o
termo “biculturalidade”, para expressar o quanto membros das elites conheciam e
participavam da cultura popular, ao mesmo tempo em que preservavam sua cultura, ou seja,
práticas culturais eram compartilhadas entre membros dos segmentos populares e das elites.
Dessa forma, Ginzburg e Burke demonstram que ainda hoje é arriscado assumir conceitos
cristalizados do termo cultura, já que ela não pode ser reduzida a um mero esquema, limitada
em um conjunto de crenças e costumes. A cultura é permeada por representações,
apropriações, símbolos que variam de acordo com experiências e com vivências dos
diferentes sujeitos históricos, lugares, espaços, relações econômicas, políticas e sociais. Cabe
àqueles que se dedicam ao estudo dessa temática avaliar quais os melhores procedimentos
metodológicos e analíticos a serem adotados diante da vasta gama de significações do termo
22
cultura, não se perdendo em teorias vagas. Na verdade, os historiadores que se dedicam aos
estudos culturais devem estar atentos ao conceito de cultura que mais se aproxima de suas
concepções. Vale lembrar que as abordagens teórico-metodológicas não devem estar
desvinculadas de outras dimensões e da História, sobretudo dos estudos cotidianos, pois é na
vida de todo dia que os sujeitos constroem suas histórias. Burke (1989), em seu livro Cultura
Popular na Idade Moderna, apresenta toda a complexidade do termo cultura popular, e a
define em, um primeiro momento, como sendo aquela não oficial a da “não elite", a das
classes subalternas. Ele afirma a necessidade de se pensar nos artesãos e camponeses do início
da Europa Moderna a partir de um mundo totalmente diferente do atual, despido de conceitos
e valores contemporâneos. Assim sendo, para o autor, há diferentes culturas e cada grupo
possui a sua e esas não são passíveis de hierarquização entre si. Burke (1989, p. 25) propõe
que,
O termo cultura tendia a referir-se à arte, literatura e música [...] hoje contudo
seguindo o exemplo dos antropólogos, os historiadores e outros usam o termo
"cultura" muito mais amplamente, para referir-se a quase tudo que pode ser
apreendido em uma dada sociedade, como comer, beber, andar, falar, silenciar e
assim por diante.
Os valores não são ‘pensados’, nem ‘chamados’; são vividos, e surgem dentro do
mesmo vínculo com a vida material e as relações materiais em que surgem as nossas
ideias. São as normas, as regras, expectativas etc. necessárias e aprendidas (e
”aprendidas” no sentimento) no ‘habitus’ de viver; e aprendidas, em primeiro lugar,
no trabalho e na comunidade imediata. Sem esse aprendizado a vida social não
poderia ser mantida e toda produção cessaria.
Thompson (1987 apud TABORDA, 2008, p. 158) ressalta ainda que “[...] nenhuma
ideologia é inteiramente absorvida por seus partidários: na prática ela multiplica-se de
diversas maneiras sob o julgamento dos impulsos e da experiência”. No esteio de tais ideias,
acreditamos que a cultura escolar contempla a história cotidiana das práticas e dos saberes
escolares. Nesse sentido, reportamo-nos a Julia (2001, p.10) quando essa defende que,
24
Nesse sentido, se a escola deixar de lado a história das tradições e dos costumes de
uma comunidade não estará dando o valor merecido à cultura das camadas mais populares.
Diante disso, a denúncia e/ou a nostalgia não são as melhores armas do combate político
cultural. O entendimento desses novos padrões se impõe como um imperativo na luta contra o
dilaceramento do sujeito e contra o estranhamento cultural. Em sendo assim, recorremos a
Gonçalves e Faria Filho (2005, p. 36), quando esses defendem que,
[...] o sistema escolar é dotado de um poder criativo, poder este exercido na relação
que a escola desenvolve com a sociedade, desempenhando um papel de formação do
25
indivíduo e, dessa forma, de uma cultura que impactará diretamente a vivência deste
indivíduo na sociedade [o sistema escolar ] forma não só os indivíduos, mas também
uma cultura que vem por sua vez penetrar, moldar, modificar a cultura da sociedade
global.
Ainda, segundo Gonçalves e Faria Filho (2005, p. 36) “[...] a escola enquanto espaço
de construção do conhecimento e preservação da cultura dos seus vários agentes, passa a
estudar através de suas práticas a cultura, ressaltando a importância da relação entre escola e
sociedade”. Portanto, o espaço escolar é constituído de sujeitos plurais carregados de valores,
de subjetividades e de culturas. Tais elementos devem ser valorizados em seu meio e
estimulados para que possam se expressar e compreender outras manifestações culturais que
fazem e fizeram parte da cultura de sua comunidade. Essa compreensão possibilita o
entendimento de que as práticas e as experiências escolares são criativas, indicando que a
cultura escolar não é passiva, e sim, produtora de conhecimentos e modos próprios de pensar.
Para Vinão Frago (1998 apud GONÇALVES e FARIA FILHO, 2005, p. 41),
O tempo e o espaço escolar são importantes para se pensar a cultura escolar como
objeto histórico. Para tanto, ele afirma que o espaço diz respeito ao lugar específico
da escola, já o tempo escolar seria um tempo conflituoso, uma vez que engloba o
tempo pensado pelos pedagogos (tempo teórico); o tempo normatizado, prescrito
pelas leis e regulamentos e o tempo escolar onde se processa os acontecimentos da
escola.
Desde que se compreenda em toda a sua amplitude a noção de disciplina, desde que
se reconheça que uma disciplina escolar comporta não somente as práticas docentes
da aula, mas também as grandes finalidades que presidiram sua constituição e o
26
3
O Terno de demonstração ou terno modelo, como o chamam carinhosamente os congadeiros, foi organizado e
montado pelo coordenador do núcleo de congadeiros, professor José Vitor da Silva. Para a sua formação foram
convidados todos os capitães dos 17 ternos de congo existentes na cidade de Machado (MG).Cada capitão
deveria indicar para a composição do terno de demonstração de um a dois componentes de seu terno, sendo estes
os mais disciplinados e dedicados com o objetivo de resgatar a congada de raiz. Chama-se terno modelo porque
nele se juntam congadeiros de outros ternos e fazem apresentações especiais, em horários diferentes dos demais
ternos na Festa de São Benedito.
4
Os instrumentos confeccionados,nas oficinas, foram as caixas de couro, ensinou-se a curtir o couro e a
aproveitar barris de alumínio para a confecção das caixas.
28
5 Terno de São Benedito e Luiz Teodoro da Costa e José Bairro Vila Bom Jesus
Santa Efigênia Francisco de Souza
8 Terno Nossa Senhora do José Miguel dos Reis Chácara do Senhor João
Rosário e Santa Efigênia Sobrinho
10 Terno de Nossa Senhora Maria da Piedade (Sá Lolota) Rua Dom Hugo – Centro
do Rosário
Bairro da Ponte
19 Terno de Congo Mirim da Maria Aparecida Cangussu e
Escola Estadual Paulina Soniamar de Lima Ferri
Rigotti de Castro
envolvimento dos profissionais da educação. Tivemos, ainda, acesso aos planos de aula e aos
trabalhos de alunos.
A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando eles existem. Mas
ela pode fazer-se, ela deve fazer-se sem documentos escritos, se os não houver. Com
tudo o que o engenho do historiador pode permitir-lhe utilizar para fabricar o seu
mel, à falta de flores habituais. Portanto, com palavras. Com signos. Com paisagens
e telhas. Com formas de cultivo e ervas daninha. Com eclipses da lua e cangas de
bois. Com exames de pedras por geólogos e análises de espadas de metal por
químicos. Numa palavra, com tudo aquilo que pertence ao homem, depende do
homem, serve o homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os
gostos e as maneiras de ser do homem.
E, tal consideração vai em direção de Bloch (2001, p. 80) que ampliou a concepção de
fonte historiográfica ao propor que “[...] a diversidade dos testemunhos históricos é quase
infinita. Tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, que toca, pode e deve informar
sobre ele”. Ainda, como afirma Le Goff (1990, p. 537), o documento é
continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que
fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz
devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhe o seu significado
aparente.
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em
permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
32
Nesse sentido, as palavras de Benjamin reafirmam nossa opção pelo trabalho com as
entrevistas semiestruturadas. Por meio delas conseguimos narrativas de experiências
significativas de antigos congadeiros da cidade de Machado (MG). Essas narrativas trouxeram
à luz fatos que dão vida a um passado, que faz parte da construção do presente, e que poderão
fazer parte também da construção do futuro.
A opção pela realização de entrevistas semiestruturadas pautou-se pelo objetivo de
garantir maior complexidade às nossas análises documentais. O critério inicial e comum que
adotamos na escolha dos entrevistados foi identificar sujeitos que tivessem participado da
formação do terno de congo da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro e que de alguma
forma contribuíram para o estudo do objeto privilegiado nesta pesquisa. Recorremos a
metodologia da história oral, e as contribuições teóricas de Portelli (1997) e Thomson (1997),
que apresentam a questão do depoimento, o ouvir as múltiplas narrativas, no intuito de
contribuir de forma mais efetiva e justa para a pesquisa. As entrevistas semiestruturadas
foram cotejadas com outras fontes documentais abordadas à luz da bibliografia privilegiada
na pesquisa.
Desses procedimentos, resultaram quatro classes de sujeitos entrevistados: classe I:
professoras e diretoras; classe II: supervisoras pedagógicas; classe III: congadeiros; e classe
IV: pesquisadores da congada na cidade de Machado, conforme as Tabelas 2, 3, 4 e 5.
Professora Contexto
1 Silvana Cristina Pereira Uma das idealizadoras do projeto. (Anexo II)
2 Kátia Maria da Silva Professora do 1° ano de escolaridade. (Anexo III)
3 Soniamar de Lima Ferri Professora, ex-diretora e atualmente bibliotecária (Anexo IV)
4 Fabiana Augusta de Professora de Educação Física no início da formação do Terno
Carvalho de Congo Mirim. (Anexo V)
Congadeiros Contexto
1 João Batista Capitão do terno de congo São Benedito.
(Anexo XI). Filho do fundador do terno,
Maquinista
2 Moacir Ferreira Capitão do terno de Congo São Benedito.
Mecânico aposentado (Anexo XII)
3 Sebastião Anselmo de Souza Agricultor e pedreiro. Capitão do terno de
congo Nossa Senhora do Rosário e Santa
Efigênia (Anexo XIII)
4 José Otávio Filho (Dadu) Agricultor, capitão do terno de congo São
Benedito (Anexo XIV)
5 Jorge Marcelino da Silva Lavrador, capitão do terno São Benedito
(Anexo XV)
6 *Antônio Pereira da Silva (Baiano) Membro da Associação dos Congadeiros e um
dos responsáveis pela criação do terno de congo
mirim, pois ajudou a professora Maria
Aparecida Cangussu a ensaiar as crianças
(Anexo XVI )
Pesquisadores Contexto
São lembranças de tempos passados lembro muito bem do tempo em que meu pai
juntava sua viola e puxava a cantoria Era muito bonito olhar o terno de congo. Logo
em seguida todos acompanhavam o ritmo do seu apito. As fardas a cada ano usavam
uma farda diferente, colorida, brilhante que encantava a todos na nossa passagem
pelas ruas da cidade. A rainha é quem segurava a bandeira, e as meninas todas de
saias rodadas, cantavam e dançam em louvor a São Benedito. São tantas as
lembranças... Parece que foi ontem. Eu era criança e ouvia louvores a São Benedito
que surgiam longe, lá no alto da serra. Nós morávamos na roça. Os ensaios do terno
como eram bons aqueles ensaios. Quanta música bonita. E a procissão do reinado
que coisa maravilhosa. Dia de usar a farda nova e acompanhar o cortejo que leva
São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário. É muita fé que nos
acompanha na festa de São Benedito. Nunca senti coisa mais gostosa do que estar no
ranchamento. Muito colchão no chão, criança, pulando de um lado para outro.
Comida no fogão fervendo. Como dizem por aí... São Benedito multiplica o pão. São
tantas as lembranças que fico triste de pensar. No tempo que já se foi. Quanta gente
se passou e hoje só estão os netos, os primos e os sobrinhos. Mas a luta continua, pela
fé em São Benedito. A festa de São Benedito é festa de fartura, toda nossa gente se
prepara para os dias de festa. É bom ver o povo reunido olhando nosso terno passar e
cantar. Gosto muito do terno de congo. Nele eu cresci, meus netos, meus filhos e
sobrinhos e se Deus quiser nele quero seguir até o fim. Todo mês de agosto minha
missão é esta. Com a benção de São Benedito.
5
José Otavio Filho, (66 anos) : Congadeiro, morador do bairro Santa Helena / Machado. Entrevista feita no dia
18/12/2011. Capitão e fundador do Terno de Congo: São Benedito (Anexo XIV)
38
A história oral é uma ciência e arte do indivíduo. Embora diga respeito - assim
como a sociologia e a antropologia - a padrões culturais, estruturas sociais e
processos históricos, visa aprofundá-los, em essência, por meio de conversas com
pessoas sobre a experiência e a memória individuais e ainda por meio do impacto
que estas tiveram na vida de cada uma. Portanto, apesar de o trabalho de campo ser
importante para todas as ciências sociais, a História Oral é, por definição,
impossível sem ele.
Assim, a história oral nos permite o acesso a uma grande quantidade de fatos
(PORTELLI, 1997c, p. 27). Podemos afirmar que a história oral valoriza as pessoas, “dando
voz” aos diferentes sujeitos, a história pode ser escrita valorizando suas experiências e
crenças. Ao entrar em contato com essas memórias, o historiador constrói fontes históricas,
assumindo então a obrigação de ouvir e de interpretar essas narrativas, pois devemos ter a
consciência de que todas as pessoas, com quem conversamos, enriquecem nossas
experiências, justamente pelo fato de os sujeitos serem singulares. Para Portelli (1997c, p.17),
no trabalho de campo, é importante que o pesquisador tenha, como uma das primeiras lições
de ética, atitudes de respeito e de importância a cada indivíduo. Posto que “cada pessoa é um
amálgama de grande número de histórias em potencial, de possibilidades imaginadas e não
escolhidas, de perigos iminentes, contornados e por pouco evitados” (PORTELLI, 1997c,
p.17).
Nesta dissertação, o trabalho com a história oral trouxe a história de vida dos
congadeiros e nos mostrou sua cultura, o lugar social de onde falam. Os depoimentos dos
professores e pesquisadores da congada contribuíram para compreendermos como se deu o
processo de formação do terno de congo mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro e
como essa temática foi apropriada pelas disciplinas de Português, de História, de Artes e de
Educação Física. O próximo capítulo apresenta uma contextualização da cidade de Machado,
a Festa de São Benedito e as congadas.
39
2 A CIDADE DE MACHADO
A história de Machado está ligada intimamente àquela referente à colonização das terras
do Sul de Minas Gerais. O terreno onde se desenvolveu a atual cidade de Machado foi doado
por Ana Margarida Josefa de Macedo e constava de nove alqueires de terra. Seu povoamento
começou nos princípios do século XIX, em fins de 1816, por iniciativa do tenente Antônio
Moreira de Souza e de Joaquim José dos Santos, que tinham colocado o povoado sob patrocínio
e proteção da Sacra Família. Como não foi possível colocar nos altares as imagens de Jesus,
Maria e José, o capitão de ordenanças Antônio Joaquim Pereira Magalhães, cumprindo um
voto, doou à igreja a imagem de Santo Antônio. Em decorrência de tal fato, o povoado ficou
conhecido, ora por Santo Antônio de Machado, ora por Sacra Família do Machado e, por Santo
Antônio da Sacra Família do Machado.
A povoação que pertenceu, sucessivamente, a Cabo Verde, Jacuí, Caldas e Alfenas, foi
levada a curato6 independente, por provisão do Governador do Bispado Revmo. D. Antônio
Martiniano de Oliveira, datada de 05 de agosto de 1852. O curato passou a freguesia 7 por Lei
Provincial nº 807 de 03 de julho de 1857. A Lei Provincial nº 2684, de 30 de novembro de
1880, elevou a freguesia a vila8. O novo município era constituído pelas freguesias de Machado
e de Carmo da Escaramuça, desmembradas de Alfenas, e São João Batista do Douradinho,
ficou fazendo parte da Comarca de Jacuí. Tomou foros de cidade pela Lei Provincial nº 2.766
de 13 de setembro de 1881, que alterou o topônimo municipal para Machado, nome que
conserva até os dias atuais (COSTA, 1976).
Atualmente, o município de Machado conta com uma população de 38.688 habitantes,
conforme registro do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. A
agricultura e a pecuária são os principais ramos da economia do município, destacando-se o
café. Quase todo o desenvolvimento socioeconômico do município é baseado na agricultura. A
cafeicultura domina a paisagem em muitos pontos, existindo cerca de 19 milhões de pés
plantados no município, ocupando uma área de 9.500 hectares e produzindo uma média de 160
mil sacas de 60 kg/ano. Há também a produção de milho, de feijão. Na outra ponta da
economia, o leite tem tido sua produção ampliada, estando, atualmente na faixa de 50 mil
litros/dia, sendo 40 mil litros do tipo ‘’B”- este índice coloca Machado na 7º colocação no país,
nessa especialidade. Como resultado de sua potencialidade, infraestrutura, recursos humanos e
estratégica posição geográfica, a cidade oferece inúmeras oportunidades para os investidores.
6
Curato: Povoação pastoreada por um cura. Fonte: Ferreira (2001, p.198)
7
Freguesia: clientela, grupo de compradores. Povoação, sob aspecto eclesiástico. Fonte: Ferreira (2001, p.333 )
8
Vila: Povoação de categoria superior à de aldeia ou arraial e inferior à de cidade. Conjunto de pequenas casas
parecidas, dispostas de modo que formam rua ou praça interior. Fonte: Ferreira (2005, p. 898)
41
Machado é uma cidade montanhosa. A cidade fica em uma região previlegiada por estar
próxima de grandes centros: 270 km aproximadamente da cidade de São Paulo, 33 km de
Alfenas, 87 km de Poços de Caldas e 69 km de Varginha, o que facilita o escoamento de toda a
produção agrícola.
2.1 A congada
9
Terno é uma categoria nativa utilizada para identificar os diferentes grupos que compõem a congada.
Geralmente o terno é composto por parentes consanguíneos ou simbólicos e possui uma combinação de cores
específicas, que o distingue perante os demais. Em alguns casos, são essas cores que dão o nome ao terno:
Camisa Rosa, Camisa Verde, Azul e Branco (ZAMITH, 1995). Ainda, pode designar grupo de três coisas ou
pessoas. O mesmo que trindade. Em Minas “Grupo de pessoas, pouco ou muito numeroso”. Fonte:
http://www.dicionarioweb.com.br/terno.html, consultado em: 22 nov. 2012
42
representam; um, os súditos do Rei do Congo; outro, os soldados da Rainha Ginga. No meio,
encontram-se os solistas, simbolizando os seguintes personagens: Henrique, Rei Cariongo, que
é o Rei do Congo; o Príncipe de Suena; dois dignitários do Reino do Congo: o Secretário e o
Ministro; o Embaixador da Rainha Ginga (em cada região o sobrenome varia); e finalmente, o
General dos Exércitos da Rainha Ginga. Essa estrutura já foi também um tanto alterada com o
correr dos anos. Conservam-se hoje, unicamente, os dois cordões com os solistas ao centro.
Segundo Pereira (2007, p. 87),
europeu. Ainda para o autor, a nomeação de reis de fachada foi muito difundida entre os
negros e teve seu início na África.
[...] a Congada foi criada pelo catequista, que tinha como objetivo principal a função
sublimadora dos escravos e a integradora do pagão, do fetichista, na religião oficial.
A escravatura negra levava à destruição das civilizações africanas, desunindo as
diversas tribos para cá trazidas. Procurava-se com isso evitar que houvesse uma
revolta contra os brancos, pela aliança entre elas. Como na África as nações eram
inimigas entre si, suas lutas tiveram prosseguimento aqui no Brasil. Sendo as tribos
formadas por negros que se degladiavam, todas as suas danças eram consideradas
guerreiras. A igreja, aproveitando esse instinto bélico, as transforma em espécie de
rememoração das Cruzadas, misturando a atitude do negro com o sentimento
religioso. Mediante sublimação, estabelecia-se, assim, uma defesa para o branco.
Tais táticas utilizadas pelos congadeiros, bem como essas performances dependem de
saberes antigos trazidos pelo tempo, pelas histórias, numa tentativa perpetuá-las.
44
10
Professora da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro, Rosa de Fátima Ferreira de Souza. Entrevistada em
13/11/11 (anexo IX).
45
Os Congos são uns pretos, vestidos de reis e de príncipes, armados de espadas, e que
fazem uma espécie de guarda de honra a três rainhas pretas. As rainhas vão no
centro, acompanhando a procissão de São Benedito a de Nossa Senhora do Rosário,
e são protegidas por sua guarda de honra contra dois ou três do grupo, que festejam
por lhes tirar as coroas, o que é vergonha para a rainha.
ROMERO (1954 apud SOUZA, 2002, p. 296) chamou de congos aos dançarinos,
caracterizados segundo certos personagens, entre eles os que compõem a corte, que era parte
integrante da procissão dos santos festejados.
Conforme relata Andrade (1982 apud SOUZA, 2002, p.300):
Andrade (1982, apud SOUZA, 2002) reforçou a ideia de que: “congo” era uma
palavra-chave na atribuição de características comuns aos grupos africanos de origem bantos,
em processo de construção de novas identidades. Dança cantada, tal sentido foi agregado aos
46
[...] muitas semanas de trabalho pesado e dieta escassa, que eram compensadas pela
expectativa (ou lembranças dessas ocasiões, quando a comida e bebida eram
abundantes, floresciam os namoros e todo tipo de relação social e esquecia-se a
dureza da vida). A maior parte do calendário festivo emocional situava-se nas
semanas logo depois do fim da colheita.
Também ocorre em Machado o que o autor pontua, no seu livro Costumes em Comum
(1998) sobre o fazer-se da classe operária, ou seja, as festas populares realizadas após a
colheita eram uma das maneiras pelas quais os senhores minimizavam os descontentamentos
dos camponeses, decorrentes dos trabalhos intensos e árduos realizados ao longo do plantio e
da colheita. A festa de São Benedito acontece em agosto porque, geralmente nessa época, os
congadeiros e boa parte dos habitantes do município se encontram em condições financeiras
satisfatórias, pois nesse período acabaram de receber o pagamento pelo trabalho na colheita
do café. É a ocasião também em que se colhe o milho, a abóbora, o feijão que foi plantado, no
meio dos cafezais, em parceria com o fazendeiro. Nessa época o trabalho é farto e os
fazendeiros concordam em liberar seus trabalhadores rurais para que participem dos festejos,
pois o trabalho na colheita é manual e árduo. Há várias histórias que contam como surgiram
48
Nem sempre a festa realizou-se em agosto. Em 1938 e 1939, foi em julho. Em 1940,
em setembro. Só partir de 1942 é que o evento passou a se desenrolar sempre no
mês de agosto. E por que agosto? Teria isso a ver com o “Mês do Folclore”? Nada
autoriza a afirmá-lo, mesmo porque havia um total desligamento entre a parte
religiosa e profana da festa. E na sua maioria, as festas próprias dos negros, no
Brasil, como a de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia,
realizam-se quase sempre no mês de maio, por causa da data da libertação da
escravatura nesse país e, em outros casos, por ser maio o mês consagrado a Nossa
Senhora. Cumpre ressaltar ainda que no calendário litúrgico não há data específica
para a comemoração de São Benedito. Então, para elucidar o assunto foi feita uma
pesquisa de opinião pública e de todas as impressões colhidas prevaleceu a de que
há uma evidente relação entre essa data – agosto – e a época de maior fartura
econômica do município, cuja grande renda é o café. De forma que todos estariam
em boas condições para colaborar com a igreja. E os congadeiros, em sua maioria,
trabalhadores nas colheitas de café, teriam igualmente melhores condições de fazer a
sua festa.
Com a colheita de café e a venda dos grãos plantados em parceria com os fazendeiros,
os trabalhadores rurais têm uma melhora na situação econômica e dispõem de dinheiro para
gastar nas barracas de alimentação e de vestuário. Carvalho (1977), um dos estudiosos do
tema e escritor machadense, escreveu o que se conhece de tradição histórica do Congo em
Machado na revista Congadas (2004, p.10),
Como os festejos caíram no gosto da população, eles tiveram que arranjar outro espaço
para sua realização. Hoje, o palco central das festividades é a Praça de São Benedito, em
frente à igreja de mesmo nome e distante da igreja matriz.
Quando meu avô montou essa congada ele e seu Chico Mole, foi o primeiro terno
que existiu aqui em Machado. Aí as ruas eram tudo de terra ainda e o terno foi
fundado na Rua 13, onde hoje é a Rua Dom Hugo. As ruas eram de terra, eu era
pequenininho, mas já dançava. O meu avô era contra mestre, tio Chico era capitão.
Depois que meus avôs e meus tios faleceram, aí o terno passou a ser do meu pai e
depois passou pra mim.
Todos os Ternos, nos dias de hoje, têm o seu chefe, a quem chamam de capitão. Esse é
o responsável pela organização dos horários de ensaios, pela escolha das roupas, das músicas,
da alimentação e pelo alojamento dos congadeiros, enfim, por todas as atividades que
envolvem os Ternos na participação dos festejos. De acordo com a fala do congadeiro
Sebastião Anselmo:12
11
Congadeiro- Moacir Ferreira de Souza entrevistado em 21/12/2011 (anexo XII).
12
Congadeiro – entrevistado em 08/01/2012 (anexo XIII).
52
FIGURA 4 - Subida do Reinado – Guarda de honra de São Benedito, rainha e rei do congo
próximo à Praça de São Benedito.
No dia do reinado, o cortejo é conduzido pelo rei e rainha do congo, pelas demais
rainhas e princesas. O reinado é o momento mais bonito da festa, quando os ternos de congo
encenam a tomada da Coroa do Rei, com danças, usando fitas e artifícios.
marca o início dos festejos, dá-se uma semana antes da Festa de São Benedito, ou na sexta-
feira que a antecede. Há um capitão do mastro, cuja função é prepará-lo, zelar por ele, dirigir
a sua fixação e também a retirada, depois da festa, guardando-o para o próximo ano. O capitão
do terno de congo de São Benedito Sebastião Anselmo dos Santos13esclarece que,
Sobre o mastro. O certo do mastro é no dia que começa a novena né, mas isso em
todo caso a novena começa na sexta feira, então passou o mastro pra domingo, aqui
nós continuamos fazendo o mastro no domingo. O mastro é o símbolo da festa, no
momento em que nós fincamos o mastro, a festa tá armada.
Esse mastro serve como suporte para a bandeira de São Benedito. A festa se inicia
quando se hasteia o mastro e termina com sua descida. É todo enfeitado com flores naturais,
que são ofertas feitas ao glorioso Santo pelos cidadãos machadenses.
No dia do levantamento, o mastro é carregado festivamente pelas ruas da cidade, nos
13
Capitão do terno de congo de São Benedito Sebastião Anselmo de Souza, entrevistado em 08/01/2012.
(ANEXO XIII).
14
Congadeiro Jorge Marcelino da Silva entrevista feita em: 14/02/2011 (AEXO XV).
55
ombros dos congadeiros e dos devotos de São Benedito, ao som da marimba e dos atabaques,
ao repicar dos sinos e sob foguetório. É levantado no pátio fronteiro da igreja de São
Benedito, à frente do cruzeiro, onde o próprio capitão do mastro abre uma cova para recebê-
lo. Esse mastro tem na extremidade superior uma bandeira, quadrada, com a imagem de São
Benedito, pois a festa da cidade de Machado (MG) leva seu nome.
FIGURA 6 – Andor de Santa Efigênia em frente a igreja Matriz da cidade de Machado (MG).
FIGURA 8 - Andor de São Benedito em frente à Igreja Matriz da cidade de Machado (MG).
O andor de São Benedito é disputado durante todo o trajeto e muitos fazem promessas
de carregá-lo; outros procuram, pelo menos, tocá-lo. Segue-se o giro15, marcado para a
procissão. A população caminha em fila de quatro de cada lado. Atrás do andor do santo
festejado, segue uma grande aglomeração de pessoas. Retornando à Praça de São Benedito, ao
término do cortejo, há uma missa campal e a nomeação dos novos festeiros para o próximo
ano. Dada a bênção final, todos os congadeiros, retomando seus instrumentos, iniciam suas
danças com força total, desfilam pela Praça de São Benedito, uns vão embora mais cedo e
outros ficam, enquanto alguns ternos param para descansar, colocando suas caixas no chão,
outros continuam a tocar e assim tocam até terça-feira à noitinha, quando retiram o mastro.
15
Giro- As congadas se posicionam e fazem suas evoluções acompanhando os andores.No giro as duas fileiras
das laterais saem e fazem uma meia lua, passando pelo resto dos Congadeiros, chegando até a frente. É dado
como giro as vezes que os ternos vão buscar as rainhas em suas casas para fazerem parte do reinado. ( Alfredo
João Rabaçal – As Congadas no Brasil)
58
ternos se apresentam, obedecendo a uma escala feita pela Associação dos Congadeiros. Todos
esses eventos nos dias de festa são pontuados na narrativa da professora Márcia de Paula,
16
Periférica, chamada também de subúrbio, são locais distantes dos centros "desenvolvidos" dos municípios ou
quaisquer instâncias políticas. Na maioria das vezes, refere-se aos locais com ineficiência de estruturas urbanas
básicas como água encanada, energia elétrica, asfaltamento, etc.; Fonte: Ferreira (2004,p.112)
62
Esse bairro, em 1960, passou a se chamar bairro Santo Antônio, por existir no local a
Igreja de Santo Antônio. Populares, ainda hoje, ao se referirem a esse lugar usam a expressão
bairro Santo Antônio17. Em sua fundação era a principal via de acesso a outras cidades
vizinhas, mas, a partir de 1974, com a construção das rodovias asfaltadas, tornou-se via de
acesso secundário. O ano de 1994 foi um ano importante para o bairro, pois foi quando surgiu
o primeiro loteamento Jardim Santo Antônio, que fica à margem da rodovia, em área
desapropriada de José Wanderley Begalli.
Alguns alunos, que são moradores do antigo bairro da Ponte, atualmente conhecido
como Santo Antônio são os integrantes do terno de congo da Escola Estadual Paulina Rigotti
de Castro. Em sua maioria, são crianças e jovens que aprenderam e herdaram essa prática
cultural, de seus pais, tios e avós que, em grande parte, são trabalhadores rurais que vivem da
colheita do café, do plantio de milho, da pecuária leiteira e ainda do trabalho nas olarias
manuais.
17
Os principais logradouros desse bairro são: Rua Francisco de Carvalho Dias, Rua Olímpio Domingues Pinto e
Rua Francisco Neves da Silva. (Tomo II, 2006, p.972).
63
Além dessas crianças e jovens do bairro da Ponte, outros alunos moradores dos bairros
Chamonix, Santo Antônio I e Santo Antônio II, também fazem parte do terno de congo da
escola, portanto, perebemos que o terno de congo, que é objeto desta dissertação, acolhe os
moradores dos bairros vizinhos à escola. Neles, a congada já estava presente com o terno de
congo do senhor Francisco Baiano, morador do bairro desde criança e instrutor das
professoras da Escola Paulina Rigotti de Castro, no processo de formação do terno de congo
escolar. As professoras estabeleceram contato com o senhor Francisco Baiano por meio da
Casa dos Congadeiros, pois conheciam pessoas da diretoria que lhes indicaram esse
congadeiro por morar nas proximidades da escola.
18
Supervisora pedagógica e idealizadora do da Festa de São Benedito Maria Aparecida Cangussu. Entrevista
realizada em sua residência na Rua Professor Francisco Vieira n° 154 no dia 22/03/2012, Centro, Machado
(MG). (ANEXO X).
64
então se pega na escola desde pequenos pra trabalhar essa cultura, faz um resgate e
valoriza a cultura que existe na própria cidade.
Conforme nos relata a professora Silvana Cristina Pereira, ao trabalhar a cultura dos
indivíduos quando crianças, o resultado é melhor, porque contribui para a preservação e para
ressignificação da cultura por elas. Segundo Hobsbawn (1997, p.14),
Tal fato propicia a continuidade desses rituais ao longo dos anos, permitindo que
passem de geração para geração.
As narrativas das professoras Maria Aparecida Cangussu e Silvana Cristina Pereira
vão também ao encontro do pensamento de Julia (2001, p.14) quando a autora propõe que “A
cultura escolar evidencia que a escola não é somente um lugar de transmissão de
conhecimentos, mas é, ao mesmo tempo e talvez principalmente, um lugar de inculcação de
comportamentos e de hábitos”.
A escola, na perspectiva da construção da cidadania, precisa assumir a valorização da
cultura de sua própria comunidade, e propiciar às crianças, pertencentes aos diferentes grupos
sociais, o acesso ao saber e ao patrimônio cultural de sua região. Tais ideias vão ao encontro
do pensamento de Itaqui e Villagraán (1998, p.17),
Assim a Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro, por ser uma escola pública e
oferecer Ensino Fundamental (CBA1- Ciclo Básico de Alfabetização a 8° série, 9º ano na
nomenclatura nova) estava apta a participar do Programa de Apoio às Inovações
Educacionais (PAIE), que teve início no ano de 1997 e foi desenvolvido até o ano 2002, de
acordo com a Resolução n° 8.036, de 1° de agosto de 1997. Esse Programa era financiado
66
pelo Banco Municipal e pelo Banco do Tesouro do Estado de Minas Gerais, com o objetivo
de favorecer atitudes de busca de estratégias pedagógicas diferenciados, que resultassem no
enriquecimento do processo ensino-aprendizagem.
Assim o projeto de criação do terno de congo mirim, que vai além do discurso
pedagógico de costume, porque trabalha a cultura popular, veio ao encontro dos objetivos
requeridos e a Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro foi aceita no PAIE, como várias
outras do estado.
Para Soniamar de Lima Ferri (anexo IV), o Projeto Folclore e a Festa de São
Benedito tinham que ser reestruturados, para que todos trabalhassem e se envolvessem. Em
seu relato, a professora afirmou que esse não era um pensamento só seu e que o projeto
deveria se desenvolver com todos e não apenas com alguns dos professores. De acordo com
Soniamar de Lima Ferri (informação verbal),
Além de que, alguns professores diziam que os congadeiros bebiam muito e poderiam
dar mau exemplo para as crianças e até mesmo elas poderiam presenciar brigas. Observa-se,
por meio do relato, que um dos motivos de alguns professores cumprirem a escala feita pela
escola, ao acompanhar o terno de congo mirim, não foi valorizar o movimento em si, mas
fazer a “barganha pedagógica”, ou seja, ganhar um dia letivo, o qual seria gozado
posteriormente.
Nesse sentido, a escola deve ser local de investir na superação da discriminação e dar a
conhecer a riqueza representada pela diversidade étnica cultural que compõe o patrimônio
sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a
69
sociedade. A escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria
cultura e respeitando as diferentes formas de expressão cultural.
Os professores entrevistados, em sua maioria, apoiaram a congada no espaço escolar.
Aprovaram a formação do terno de congo mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro
e defenderam que é uma maneira de se estudar a cultura do município e que o projeto o
Folclore e a festa de São Benedito têm que ser reformulados. É preciso repensar as maneiras
de se trabalhar a congada em sala de aula com o envolvimento de todos os profissionais da
escola. É fundamental que a escola construa uma ponte entre o conhecimento estabelecido, o
patrimônio cultural da humanidade, e aquele conhecimento cultural que está ali presente,
circulando na localidade.
Sabemos que, ao adentrar o espaço escolar, o terno de congo mirim trouxe várias
tensões e conflitos, como o barulho, a movimentação de alunos nesse espaço, definição da
hora dos ensaios, a mudança da rotina escolar, o que gerou um desconforto para os sujeitos
que estavam no espaço escolar e que, por razões diversas, se negavam a fazer parte dele e da
Festa de São Benedito.
19
Entre os sites que relatam experiências da congada nas escolas estão: www.folclore.adm.br/dancas.html,
consultado em: 22 maio 2008 às 17h; <www.scielo.com.br.>, consultado em: 15 nov.2011 às 20h;
www.scielo.com.br/congada.htm., consultado em: 20 jan. 2011 às 13h..A singularidade do projeto estudado na
escola Estadual Paulina Rigotti de Castro é que os demais projetos apresentados nos sites relatam a duração de 8
a 15 aulas e não há nenhuma indicação de que eles estejam na proposta política pedagógica da escola e nem que
tenham continuidade nos outros anos. Já no objeto de pesquisa, aqui apresentado, o terno infanto-juvenil está na
proposta da escola e faz parte do programa da festa de São Benedito em Machado. Outro fator que difere é que
as crianças já vêm de famílias de congadeiros e mesmo que haja uma troca no corpo docente da escola esse
projeto se concretiza e é significativo para que a congada permaneça no espaço escolar, pois o projeto do qual
faz parte é incorporado ao Projeto Político da escola. O projeto Cultura Afro-brasileira na escola: O congado em
Sala de Aula de Jeremias Brasileiro cujo objetivo é contribuir para implementação da lei 10.639/2003, que trata
da inclusão das disciplinas de História da África e da cultura Afro-Brasileira no ensino Fundamental e Médio. O
estudo das congadas por meio da Matemática, do Português , da Literatura, das Artes, da Geografia, da História
70
Então aí no próximo ano é que a gente foi formar mesmo o terno. Foi preciso
procurar a prefeitura para poder estar entre os ternos da prefeitura, para conseguir
inclusive ajuda financeira, mas a parte da tradição, nem eu nem a Cida Cangussu
tínhamos conhecimento. Então a gente foi atrás de congadeiros antigos que
pudessem nos ensinar. Teve alguns congadeiros que deram entrevistas para a gente,
teve um que foi até a escola. A gente formou um grupo de alunos que queriam
participar à noite, após a aula, esse senhor que eu não me recordo o nome, mas
deve ter registro na escola, ia até a escola e ensinou, não só para mim como para
Cida, mas principalmente para os alunos que iam participar as tradições, o que
significava cada parte, ele dava aulas mesmo, vamos dizer assim, à noite lá no
galpão da escola. Explicando o que era o reinado, cada parte, a encruzilhada
quando tinha que fazer a encruzilhada, porque, e como dançar, como bater... Nós
não sabíamos nada disso. Então tinha vários ensaios à noite, depois que foram
comprados os instrumentos. E esse ano por não ter condições de sairmos com um
terno independente acompanhou o terno desse senhor. Fizemos a farda igual e
acompanhamos o terno dele. A partir do outro ano, nós já tivemos condições de
criar um terno somente da escola, dessa escola, com farda independente e já com a
nossa programação de quando que iria sair e horário...
do Ensino Religioso e da Educação física também trabalha com a interdisciplinaridade como na escola de
Machado mas ele é sugerido para outras escolas, por meio de palestras, vídeos, entrevistas. Não dá indícios de
continuidade em nenhuma escola em que foi aplicado. Serve para contar a história das congadas passadas, de
coroação de rainhas de congo e as crianças não participam da festa, de todo os processos para a formação do
terno de congo como ocorre na pesquisa apresentada. (BRASILEIRO,2010)
20
São vendedores ambulantes que vêm de outros estados e montam suas barracas na festa de São Benedito.
21
Professora da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro, Silvana Cristina Pereira. Entrevistada em 18/12/2011.
71
estejam presentes. O mastro é levantado pelas mãos dos congadeiros envolvendo todos os
devotos.A procissão se realiza no segundo domingo da festa, encerrando a novena de São
Bendito, ela homenageia em seus andores Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São
Benedito. O ritual se inicia com uma missa solene na Igreja Matriz da cidade, com a presença
de todos os ternos de congo. Após a missa, o cortejo segue da igreja Matriz até a igreja de
São Benedito. O dia do congo é marcado pela apresentação de cada terno, quando há a
premiação para os melhores. É o momento de despedida dos ternos que dançam e cantam
fervorosamente agradecendo os dias de festa e as bênçãos recebidas durante o ano. A
professora Márcia de Paula,22em seu relato, vem nos comprovar os acontecimentos desses
rituais fornecidos pelos congadeiros aos alunos.
FIGURA 12 - Integrantes do Terno do Sr. Antônio Baiano na Praça de São Benedito (1998),
terno no qual os educandos do terno de congo mirim foram integrados no 1º ano do projeto.
22
Márcia de Paula, quanto ao trabalho sobre congadas na sala de aula: Entrevista feita no dia 13/01/2012.
(anexo VI)
72
Foi o senhor Francisco Baiano, que me ensinou passo a passo sobre a congada.
Achava desnecessário o ensaio, essa é a visão de quem vive a cultura, faz parte de
suas vidas, a congada para ele era muito fácil. “E dizia Dona Cida é muito fácil, as
crianças começam a tocar aqui em baixo e quando chega lá em cima já está
sabendo”. Tentei várias vezes, mas não deu certo ai fui até sua casa e ele foi me
ensinando passo a passo primeiro aprendi a bater as caixas, e repetia com as
crianças na escola. No segundo ensaio, ao ouvir o som dos tambores, os pais avós
que sabiam começaram a descer para a escola e nos ajudar. Aprendi com o senhor
Francisco a tocar, cantar e dançar congo. Em seguida, levei algumas meninas do
seu terno para ensinar as meninas da escola a dançarem. Perguntei a ele se era
possível a gente sair no terno dele. Aceitou nossa entrada no seu terno e nos contou
muitas histórias; fez até um preparado com alho e outras coisas para evitar o mau
olhado nas crianças e recomendou que as crianças não deveriam aceitar nada para
comer durante a apresentação porque existe muita inveja. Ensinou alguns rituais
como, por exemplo, de fazer o fechamento do terno nas encruzilhadas.
23
Francisco da Silva(Baiano) – Congadeiro, ex- membro da Casa dos Congadeiros, auxiliou as professoras na
formação do terno de congo, objeto desta dissertação. Entrevista feita 10/02/2012 * Faleceu no dia 22/11/2012.
73
alunos daquela escola são filhos dos congadeiros, pena que por causa da correria
da vida não pude me dedicar mais. Eu ensinei a dona Cida a dançar. O que pude
fazer foi feito. Deixamos as crianças sair no nosso terno. Foi bonito, aprenderam
bem depressa. (Entrevista realizada em 10/02/2012)
Nessa perspectiva, retomamos Le Goff: (1994, p.477) quando defende que a história
cresce com a memória e dela se alimenta, ao salvar o passado para servir o presente e o
futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para
servidão dos homens.
Inicialmente ele [...] foi desenvolvido por uma única professora que foi a Silvana.
Na época, ela dava aula no terceiro ano. Depois, como a escola abraçou esse
projeto, nós fizemos com que todos os professores , na época, primário,
desenvolvessem o projeto, que faz parte do projeto político pedagógico da escola. E
faz parte do projeto pedagógico da escola. O projeto foi realizado de modo
interdisciplinar. Cada sala de aula desenvolveu um tema sobre o folclore e a
congada.
terno, entretanto a aquisição de instrumentos para que ele se tornasse independente aconteceu
gradativamente.
De 2003 a 2010, o terno se manteve com 52 alunos, sendo a maioria meninos, num
total de 37, que tocavam os instrumentos, enquanto as meninas dançavam. A faixa etária
variava entre 06 a 17 anos, uma vez que a escola funcionava desde as primeiras séries do
Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Conforme declaração de Soniamar de Lima Ferri, o
Projeto foi muito importante para a cultura da cidade, tanto que fez parte do Programa de
Capacitação de Professores do Estado de Minas Gerais (PROCAP). Outro aspecto também
interessante é que foram surgindo novos projetos nas escolas estaduais e municipais devido ao
valor que as professoras davam à cultura popular e à festa de São Benedito, não deixando,
assim, os ternos de congo desaparecerem da cidade de Machado. Segundo a professora
Silvana Cristina Pereira, idealizadora do projeto, a experiência com as congadas narrada para
as professoras e crianças da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro, aconteceu por meio de
entrevistas e palestras.
Esse trabalho oral com os integrantes do terno de congo mirim acontecia sempre após
as aulas, no final da tarde, pois o congadeiro trabalhava primeiro e, depois, ia para a escola.
Houve o envolvimento de alunos e de professoras para aprenderem os ensinamentos do
senhor Francisco Baiano. Como era novidade, e todos abraçaram a causa, e assim foram
confeccionados alguns instrumentos pelos alunos, como pandeiro de lata de goiabada e
tampinha de garrafa, chocalhos feitos de cabaça com contas de lágrimas 24 dentro. Assim que
os alunos maiores pegaram os ritmos, eles os ensinaram aos menores que ingressavam no
terno de congo. A escola, desse maneira, estimulava a valorização da cultura local. Os alunos
pesquisaram junto com o professor sobre a congada e, a partir daí foram desenvolvidas as
oficinas que resultaram na construção de maquetes, instrumentos, descoberta de músicas
cantadas em louvor ao São Benedito. Construiu-se o conhecimento sobre essa manifestação
cultural.
A iniciativa de formar um terno de congo foi importante e significativa para a cidade,
tanto é que foram surgindo novos projetos seguidos nesse sentido, pelas escolas municipais e
estaduais de Machado dentre as quais os da Escola Municipal Carlos Legnani e da Escola
Municipal Comendador Lindolfo de Souza Dias. (Folha Machadense, nº 899, 22/08/87 p.2). O
congadeiro Moacir Ferreira de Souza25 fala da importância das crianças na congada,
24
Contas de Lágrimas: sementes de um capim que são usadas na confecção de alguns artesanatos.
25
Congadeiro- Moacir Ferreira de Souza entrevistado em 21/12/2011(anexo XII)
75
A participação das crianças é uma satisfação que a gente tem. Porque as crianças
são anjos que estão na frente ajudando nós. Elas ajudam a cantar, as meninas
cantam muito mais que meninos que estão lá trás. As meninas do meu terno tudo
pequenininha, você precisa ver, elas cantam, que gracinha. É importante sempre
tem criança no terno, porque a gente vai ficando velho, as crianças vão crescendo
principalmente as meninas que quando chega uma certa idade arruma namorado e
ai param , os rapazes não, eles continuam se for da família dos congadeiros , pois
se a família de congadeiros for perdendo seus membros como pai e avô, não tem
ninguém para dar continuidade. No meu caso, se um dia eu chegar a faltar, eu
tenho um neto que vai continuar a história do terno de congo de minha família.
Desenvolver o Projeto na Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro foi uma maneira
criativa de trabalhar a cultura de uma comunidade que vem ao longo dos anos cultuando a
tradição das congadas na cidade, as quais se manifestam durante a festa de São Benedito. A
importância de se trabalhar as manifestações culturais no espaço escolar foi ressaltada na
narrativa da professora Fabiana Augusta de Carvalho (anexo V),
Sim, eu acho que é de grande valia, de muita importância. Hoje que a gente vê, a
gente não encontra mais as crianças brincando na rua. As crianças hoje ficam mais
presas dentro de casa, justamente por causa da violência. Hoje , os recursos
tecnológicos tiram um pouco as crianças da rua, não existe aquele brincar mais das
crianças. E com isso a criança não tem mais cultura do meu ponto de vista. Eu
acredito que ela fica longe da cultura. Muitos ali nem conheciam a congada. Então
a congada dentro da escola ela traz o resgate cultural que dessas crianças, ela
mostra às outras crianças que vieram de outras cidades e de outros estados que não
têm a vivência/não tinham a vivência cultural da congada o que é realmente a
congada na nossa cidade. E ela mostra a cultura do povo, a cultura do negro. O
porquê de levar isso pra escola foi que nós achamos importante resgatar uma
cultura que é da nossa cidade sempre dentro da nossa escola.
Vejo essa iniciativa com bons olhos. A congada mirim, foi assim, foi muito feliz a
ideia da congada mirim. Porque, veja bem, cada terno você sabe que é uma escola.
Tanto é que no terno você vê crianças. Você vê os velhos, vê os adultos e vê as
crianças. As crianças, na verdade, em toda nossa história, a criança é o futuro. É o
futuro do país, é o futuro da associação, é o futuro da empresa. Os jovens são o
futuro. Então a criança na congada ela é história. Ela vai perpetuar e (qualificar
primeiro) ali. Mas a escola tem papel mais importante, que a escola tem o poder de
educar mesmo. A escola tem o poder de educar. A escola tem o poder de
transformar. Então a congada mirim foi um projeto, foi ideia muito boa. Agora,
precisa, eu acho que o problema que existe na congada mirim na escola é a falta de
pessoas, não diria competentes, mas pessoas vocacionadas, corretamente
preparadas para fazer a congada mirim de verdade. Porque tenho visto congada
76
mirim que tem muitos barulhos e está desvirtuada. Você põe o terno de
demonstração e observa. Observa o terno de demonstração e a congada mirim.
Então, às vezes , estamos próximos da reta da raiz mesmo. A escola tem esse poder
de educar. Que na congada atual a criança entra na frente para ela (aprender). Ela
aprende pela experiência dos outros, então aprende assim. A escola educa, fala.
Você pode dar aula sobre congadas, pode e deve dar aula.
Márcia: São duas coisas bem diferentes. A congada é uma cultura popular e ela não
envolve a questão até, vamos dizer assim, muito religiosa. Já a festa de São
Benedito, é uma questão mais complicada porque ela envolve uma religiosidade.
Então são duas coisas que devem ser vistas de forma separada. É muito interessante
que durante o concurso que a gente desenvolve o prêmio congadas inclusive
evangélicos participam e já até ganharam o prêmio congadas com o tema
congadas. Apesar deles não participarem da festa de São Benedito.
Benedito, que, nas procissões, tem que sair à frente, “senão chove”. Segundo a autora, a
religiosidade é marcante entre os congadeiros. Em Machado, tal religiosidade é comprovada
nas bandeiras que seguem à frente dos ternos com as imagens dos santos cultuados durante a
festa e também nas bandeiras dos santos, que ficam na ponta do mastro.
Há tensão na participação do terno de congo mirim, ao precisar cumprir alguns
compromissos que a congada tem no proclama da festa, como , por exemplo, a sua
participação durante a procissão, pois a escola pública é laica, e cabe a ela desenvolver
atividades informativas que colaborem para o respeito e a compreensão da escolha de
consciência daqueles que são ateus. Para a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos do
Ministério da Justiça: “como o Brasil é Estado laico, as escolas públicas não podem
transformar-se em centros de divulgação religiosa, mas, sim, de abertura para a diversidade, o
pluralismo, e de aceitação e respeito pelas diferenças” ( BRASIL, 2001, p. 203).
Assim sendo, as escolas públicas devem ter cuidado com atividades que envolvam
religião. E na procissão da Festa de São Benedito da cidade de Machado, cultua-se São
Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário. Para Girardelli (1981, p.113):[...],
Atualmente, voltando a comentar sobre as congadas, podemos notar que o povo nem
sempre as conhece ou percebe como folclore, ricas em rituais, as quais são vistas
com certa indiferença. Já os participantes ou pessoas a elas relacionadas levam a
sério todos os rituais de festas, pois a tradição se mantém através da religião.
Voltando a comentar sobre as congadas, podemos notar, atualmente, que o povo nem
sempre as conhece ou as percebe como folclore, ricas em rituais, sendo vistas,por alguns, com
certa indiferença. Já os participantes ou pessoas a elas relacionadas levam a sério todos os
rituais de festas, pois a tradição se mantém através da religião.
A autora salienta que muitos congadeiros desconhecem a congada como cultura
popular e cantam e dançam para cultuar os santos homenageados na festa. Cabe-nos dizer que
talvez os integrantes do terno de congo mirim, por acompanhar a tradição de seus familiares,
dancem também por causa da religião.
79
26
Nogueira (2001, p. 140) mostra que “não existe nenhuma relação entre as disciplinas, assim como todas
estariam no mesmo nível sem a prática de um trabalho cooperativo”. Na Multidisciplinaridade, recorremos a
informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as
disciplinas entre si. Neste caso, cada matéria contribui com suas informações pertinentes ao seu campo de
conhecimento, sem que houvesse uma real integração entre elas. Essa forma de relacionamento entre as
disciplinas é a menos eficaz para a transferência de conhecimentos para os alunos, visto que não ocorre nenhuma
relação de trabalho cooperativo entre as disciplinas, sem troca de informações, de diálogo (as disciplinas são
tratadas separadamente).
80
Desde sua gênese como macrotexto de política curricular até sua transformação em
microtexto de sala de aula, passando por seus diversos avatares intermediários (guias
curriculares, diretrizes, livros didáticos), vão ficando registrados no currículo os
traços das disputas por predomínio cultural, das negociações em torno das
representações dos diferentes grupos e das diferentes tradições culturais, das lutas
entre, de um lado, saberes oficiais, dominantes e, de outro, saberes subordinados,
relegados, desprezados. Essas marcas não deixam esquecer que o currículo é uma
relação social. (SILVA, 2001,p.22)
[...] o currículo foi basicamente inventado como um conceito para dirigir e controlar
o credenciamento dos professores e sua potencial liberdade nas salas de aula. Ao
longo dos anos, a aliança entre prescrição e poder foi cuidadosamente fomentada, de
forma que o currículo se tornou um mecanismo de reprodução das relações de poder
existentes na sociedade.
O currículo deve ser entendido como um processo, que envolve múltiplas relações,
abertas ou tácitas, em diversos âmbitos que vão da prescrição à ação, das decisões
administrativas às práticas pedagógicas. Para compreendê-lo e implementá-lo de modo a
transformar o ensino, é preciso refletir sobre grandes questões como a cultura, a identidade, o
saber, a subjetividade, o gênero etc.Nesse sentido, ensinar significa permitir que os sujeitos
interfiram na realidade onde estão inseridos, de modo que se tornem sujeitos ativos da própria
história.
Segundo as idealizadoras do projeto, Silvana Cristina Pereira e Maria Aparecida
Cangussu, ele deveria funcionar de forma interdisciplinar, ao abranger várias disciplinas do
currículo, sendo assim, todos os professores deveriam trabalhar este tema, entretanto muitos
acharam complicado preparar as aulas de acordo com o assunto. Para a professora Silvana, o
projeto,
82
Todos os professores envolvidos no projeto deveriam adequar suas aulas para que o
tema proposto fosse trabalhado em consonância com seu planejamento. Contudo, a pedagogia
de projetos ainda não era predominante no espaço escolar do município de Machado. Isso
pode ter sido uma das causas do conflito. Houve resistência por parte de alguns professores,
pois as congadas não faziam parte do currículo prescrito e , assim, eles achavam importante
somente trabalhar os conteúdos cobrados nas avaliações sistêmicas. Nesse sentido, vamos ao
encontro de Nóvoa (2007, p. 86),
O projeto desde o início, inclusive o que foi gravado para fazer parte do PROCAP,
é interdisciplinar. E esta é a vantagem de se trabalhar com projeto, abranger todos
os conteúdos. E o planejamento das atividades depende da idade em que está
trabalhando para se elaborar, pois este tem que ser desenvolvendo no nível da
criança. Então em Português vai trabalhar leitura, leituras diversas, desde o texto
informativo, da biografia do São Benedito, na escrita, a produção de texto, com
realização de entrevistas com os pais, com congadeiro, com barraqueiro, tudo isso
dentro do Português. Em Matemática, com situações-problemas reais, com dados
reais, desde compras e vendas na festa, sempre observando a idade da criança. Em
27
Professora da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro, Silvana Cristina Pereira. Entrevistada 18/12/2011.
(Anexo II)
83
Como relata professora Silvana, por ser o projeto interdisciplinar, ele abrange todos
os conteúdos e proporciona uma aprendizagem bem estruturada e rica, pois os conceitos estão
organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas
compartilhadas por várias disciplinas, cabendo ao aluno a realização de sínteses sobre os
temas estudados. O trabalho conjunto das disciplinas possibilitou e projetou situações
específicas nas quais as aprendizagens se tornaram significativas, facilitando a consecução
dos objetivos propostos. No caso do terno de congo mirim da escola estadual Paulina Rigotti
de Castro, ao ser trabalhado de modo interdisciplinar, tornou possível a socialização das ideias
e um conjunto de atividades planejadas com a finalidade de ajudar os alunos a assimilarem
ensinamentos sobre a congada como bem cultural da cidade.
Na Educação Física, o professor introduziu a importância da dança folclórica e
religiosa nas ações das aulas com a finalidade de pesquisar e valorizar as influências culturais
locais e, com isso, preparar os alunos para o envolvimento com a temática. Após a
sensibilização, o professor avaliou aqueles que se interessaram pelo assunto e que gostariam
de participar da formação de um grupo de congadas que iria representar a escola nas
festividades da comunidade local. Para isso, ele desenvolveu dinâmicas, individuais e
coletivas, que envolveram sons e ritmos. Em seguida, promoveu atividades em forma de
danças para analisar as habilidades dos alunos. Todos tiveram o direito de participar do
projeto, independente da idade e do ano escolar em curso. Após as avaliações iniciais, o
professor estruturou aulas que envolveram os ensaios com músicas de congadas e depois
convidou congadeiros experientes para ensinar os alunos, conforme a tradição local. Os
ensaios foram marcados em dias e horas escolhidos pelos alunos e os trabalhos foram
desenvolvidos no pátio da escola. Foram enviados bilhetes aos pais para que pudessem
acompanhar as atividades dos filhos menores.
No primeiro ano, os ensaios duraram quatro meses, e nos demais anos, foram
destinados três meses, uma vez que em, cada grupo, os alunos que participavam da congada já
84
sabiam tocar e cantar as músicas folclóricas. Em seguida, os alunos eram levados ao local
onde ocorreria a apresentação pública para um ensaio, para se familiarizarem com o percurso
e com os obstáculos do evento, uma vez que a cidade possui muitos morros. Sabe-se que a
espera pela chegada do mastro ou de todos os ternos de congo, no dia da procissão, é
demorada, portanto os alunos do terno de congo mirim precisariam estar preparados para o
cortejo.
Em Matemática, os alunos foram instruídos a coletar, em uma lista fornecida pela
professora, e a analisar os valores pelos quais eram vendidas as mercadorias antes e depois da
festa. Desse modo a professora pôde levar seus alunos a perceberem a variação de preços e
desenvolver uma análise crítica das crianças.
No conteúdo de Artes, foram dadas aos alunos informações sobre as origens das
Congadas, como era o ritual e como ela se envolvia com os conceitos religiosos e sociais ao
longo do tempo. Em seguida, a professora de Artes desenvolveu atividades, em grupos, para a
análise dos vestuários usados nas Congadas, para a escolha das cores das roupas, para o
modelo e a idealização da bandeira do Terno de Congo e para o santo que seria homenageado
na bandeira. Geralmente, as cores dos ternos eram alegres sem preocupação com as
combinações e modelos. Os santos se relacionam com a devoção do grupo. No caso dos
alunos, eles eram estimulados pela professora a perguntarem aos familiares para realizarem a
escolha posteriormente com os colegas. Com o resultado da consulta, a professora solicitou a
cada aluno que fizesse um relato para os demais colegas e, no final, foi escolhido o Santo a
ser homenageado pelo terno.
85
FIGURA 14 - Maquetes da Festa de São Benedito confeccionadas por alunos –28/ 08/2010.
escola e foram incentivados os demais alunos a participar do concurso de poesias da casa dos
Congadeiros. Os alunos entregaram os poemas/poesias para a professora que fez uma seleção
inicial do material produzido. Depois, uma equipe de professores selecionou aquela que
participaria representando a escola no concurso da Associação dos Congadeios. Segundo
Márcia de Paula,28 quanto ao trabalho sobre congadas na sala de aula,
As táticas são procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo – às
circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação
favorável, à rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço, às
relações entre momentos sucessivos de um golpe, aos cruzamentos possíveis de
durações e ritmos heterogêneos.
28
Márcia de Paula quanto ao trabalho sobre congadas na sala de aula: Entrevista feita no dia 13/01/2012
88
[...] cultura escolar não pode ser estudada sem a análise precisa das relações
conflituosas ou pacíficas que ela mantém, a cada período de sua história, com o
conjunto das culturas que lhe são contemporâneas: cultura religiosa, cultura política
ou cultura popular. [...]
Assim, para a autora, a cultura escolar não pode ser estudada sem um olhar preciso das
relações conflituosas que mantém com a cultura. O projeto “Folclore e a festa de São
Benedito” da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro possibilitou que alunos e professores
conhecessem a história da congada. O papel da Educação, seja ela formal ou não, é
estabelecer diálogo comunicativo dos seres humanos entre si, com os outros e com o mundo,
de forma a fazê-los membros de sua sociedade, integrando-os, homens e mulheres, no seu
meio sociocultural como atores e protagonistas de sua própria cidadania.
90
A origem, a congada de Machado aqui ela não tem muito valor né... é pouco
valorizada, porque olha, veja bem, muitas pessoas hoje, não são dizendo assim....
não gostam,. Isso aí você esta fazendo essa pesquisa quando você voltar aqui pode
olhar a mesma coisa, bem que o capitão me falou. Se eu chegar à casa de vocês,
vocês vão me receber bem, mas se eu chegar numa outra casa... Agora se ir para
Aparecida, em outras cidades de fora tem valor sim. A nossa cidade está faltando é
humildade e a união tem um terno de congada ali, vamos fazer uma coisa ali, vamos
dar uma alimentação para ele, eles não pensam isso. Agora a alimentação quando
sai, é da Associação dos Congadeiros se chegar um terno aí, dificilmente uma casa
aqui em Machado dá um café para os congadeiros isso aí é difícil.
29
Congadeiro – Sebastião Anselmo de Souza entrevistado em 08/01/2012 (ANEXO XIII).
92
valor dado a essa cultura difere por parte de alguns moradores machadenses, o que não
acontecia quando o seu terno de congo ia para outras localidades. Essa narrativa do
congadeiro Sebastião Anselmo vai de encontro de Thompson (1991, p. 17) quando afirma
que,
Baiano30- Ser capitão é ter muita responsabilidade com o grupo, cuidar de arrumar
a casa para o ranchamento, os ensaios e as apresentações, principalmente nos dias
da festa de São Benedito. Desde menino incentivado pelas pessoas mais velhas que
danço na congada. Venho de família de congadeiros, minhas irmãs sempre
ajudavam a enfeitar as fardas, as bandeiras, dançavam na fita, infelizmente o povo
vai acabando, e os jovens vão tomando o lugar e graças a Deus entra um do terno,
sai outro. No nosso terno, sempre temos bastantes crianças, as crianças aumentam
o terno, vão aprendendo a tocar os instrumentos. Começam com as caixinhas
pequenas e vai indo.
30
Francisco da Silva(Baiano) – Congadeiro, ex- membro da Casa dos Congadeiros, auxiliou as professoras na
formação do terno de congo, objeto desta dissertação. Entrevista feita 10/02/2012 * Faleceu no dia 22/11/2012.
93
Foi muito bom criar aqui em Machado, a Suely, a presidente agora lhes ajuda
muito, com o armazém, reúne e todos conversam. Ele só não gosto da premiação na
terça-feira, pois nós dançamos para o São Benedito e Nossa Senhora do Rosário e
não para o troféu.
seu pai quem comandava a congada e depois passou para ele. Tal relato vai ao encontro de
Magalhães (2000, p. 37) quando defende que ,
As gerações são mais que cortes demográficos. Envolvem segmentos sociais que
comportam relações familiares, relações entre amigos e colegas de trabalho, entre
vizinhos, entre grupos de esportes, artes, cultura e agremiações científicas. Implicam
estilos de vida, modos de ser, saber e fazer, valores, ideias, padrões de
comportamento, graus de absorção científica e tecnológica. Comporta memória,
ciência, lendas, tabus, mitos, totens, referências religiosas e civis.
É importante destacar que, nos diversos níveis de relações sociais, existem as relações
intergeracionais que consistem no intercâmbio entre grupos etários distintos e a troca que
deve haver entre eles. E, em se tratando dos congadeiros, eles herdaram vários
comportamentos de outras gerações. O congadeiro Moacir herdou de seus familiares o gosto
pelas congadas.
Estudos feitos por Oliveira (1999) referem-se a relações entre as gerações, como o
uma possibilidade de repasse do conhecimento dos mais velhos para os mais novos, tendo em
vista que, no início do século XX, o idoso era considerado como o detentor do saber, o qual
era transmitido muitas vezes, por meio de ordens e, ausência do diálogo. Dumazedier (1992,
p. 9) complementa que:
as crianças são uns anjos que estiveram na frente ajudando. Elas ajudam a cantar, há meninas
que cantam muito mais que os meninos. É que era muito importante a presença das crianças
na congada. Os congadeiros vão ficando velhos, as crianças vão crescendo e não vão
deixando a congada machadense acabar.
A entrevista realizada com o congadeiro Jorge Marcelino da Silva aconteceu em sua
própria residência na Rua Zamir Prado de Oliveira, nº 242, no dia 20/01/2012. Agendei a
entrevista por duas vezes e seu Jorge se mostrou tímido, lhe informei o objetivo e ele
concordou.
Seu Jorge Marcelino da Silva nos relatou que o seu contato com a congada foi através
de uma promessa, que fizera de dançar por sete anos e o terno que o aceitou para dançar os
sete anos foi nesse terno, que ele toca até hoje, q era do Seu Benedito Anselmo, um conhecido
e que, em seu leito de morte, passou a congada para ele. Conforme nos relatou, ele não
passará o terno para ninguém e, sim, o entregará no altar, onde o recebeu,
Não, passo o terno para ninguém mesmo estando de idade porque o meu
compromisso com ele, no dia que ele estava ruim pra morrer foi numa segunda-
feira, eu morava na roça, ele mandou me chamar cheguei lá sentei na beira da
cama dele, ele conversava comigo e puxava o fôlego e começava continuar outra
vez, aí ele falou pra mim, O Jorge, você toca o terno pra mim enquanto o senhor
puder, o dia que o senhor não puder mais, o senhor o entrega lá no altar de São
Benedito. O senhor entrega lá, e depois de lá quem quiser tocar toca porque antes
disso ele já tinha me entregado o terno. Pegou eu e a outra falecida minha e ele, eu
na escada lá ele me entregou o terno e eu falei pra ele, não eu não quero tocar o
terno na rua pro senhor, mas enquanto o senhor tiver vida deixa no teu nome. E
toquei até a ultima hora de vida dele no nome dele aí foi a ocasião que ele passou
pra mim depois que ele morreu que ele passou pra mim porque aí que eu vou voltar
o assunto de novo, aí ele na segunda feira me chamou, passou o terno no meu nome
pra mim senhor Jorge General porque o seu Jorge lá em baixo era capitão general
chamou ele também e passou no meu nome e falou pra mim, o dia que o senhor não
aguentar mais não puder mais que não tiver jeito senhor entrega ele lá no altar de
São Benedito aonde eu te entreguei a primeira vez.
Segundo relato de seu Jorge, conforme o prometido, o dia em que não puder mais, ele
chamará duas testemunhas e entregará o terno de congo no altar de São Benedito. As
narrativas do senhor Jorge vão ao encontro do pensamento de Brandão (1985), que trabalha
com a ideologia da Congada, como expressão devocional do aspecto religioso.
O envolvimento dos que fazem a Festa da Congada com o sagrado terá uma relação
profundamente encarnada numa realidade pessoal e comunitária. É na Festa da Congada que
se cumpre a promessa feita.
A entrevista realizada com o congadeiro Sebastião Anselmo dos Santos aconteceu em
96
sua própria residência na Rua Madre Cruz, 156, no dia 13/01/2012. Agendamos a entrevista
por duas vezes e seu Sebastião, no primeiro encontro, mostrou resistência. Fomos até sua
residência pela segunda vez e ele concordou em fazer a entrevista.
O senhor Sebastião Anselmo nos relatou que a congada faz parte de sua vida desde
pequeno, seu pai era congadeiro com quem aprendeu muita coisa.. Seu papel na congada é de
capitão com muitas responsabilidades, como decidir farda, local do ranchamento, marcar
ensaios, cuidar dos instrumentos, da alimentação. As narrativas citadas vão ao encontro de
Benjamin (1994, p. 74), quando este defende que,
[...] o narrador entra na categoria dos professores e dos sábios. Ele dá conselho – não
como provérbio: para alguns casos – mas como o sábio: para muitos. Pois lhe é dado
recorrer a toda uma vida. (Uma vida, aliás, que abarca não só a própria experiência,
mas também a dos outros. Àquilo que é mais próprio do narrador acrescenta-se
também o que ele aprendeu ouvindo.) Seu talento consiste em saber narrar sua vida;
sua dignidade em narrá-la inteira. O narrador é o homem que poderia deixar a mecha
de sua vida consumir-se integralmente no fogo brando de sua narrativa.
Segundo Scott (1990), o gênero é uma maneira de indicar os papéis que cabem ao
sexo feminino e ao masculino e na congada não foi diferente. Na cidade de Machado, a
tradição reza que o rei será escolhido pela irmandade do Rosário, a rainha então será
escolhida em função do rei, assim como príncipes e princesas. Observa-se que o reinado tem
uma figura predominante masculina. Em Machado, local onde a pesquisa foi realizada, o
gênero masculino predomina, é um fenômeno recente mulheres tocarem instrumentos. Nas
97
CONSIDERAÇÕES FINAIS
os brasileiros, uma vez que o negro, no Brasil, foi o representante mais sofrido, e o que mais
contribui com a cultura brasileira em todas as áreas que requerem uma viabilidade maior da
socialização.
Por intermédio dessas tensões e conflitos é que se torna cada vez mais importante o
estudo das diferentes culturas para que os jovens não percam a identidade cultural adquirida e
construída no Brasil. O projeto também possibilitou a projeção da escola e, com isso,
intensificou suas ações junto à Superintendência de ensino de Varginha da qual faz parte,
apresentando o terno de congo mirim para todos os municípios pertencentes a essa
Superintendência.
A pesquisa sobre a história do terno de congo mirim da Escola Estadual Paulina
Rigotti de Castro foi uma viagem histórica, mas, acima de tudo, uma viagem de encantamento
pela memória e pelas lembranças de um lugar.
103
REFERÊNCIAS
ABREU, Martha Campos. O império do divino: festas religiosas e cultura popular no Rio de
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Entidades consultadas
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Portfólio das apresentações do Terno de Congo Mirim da Escola Estadual Paulina Rigotti de
Castro.
Proclamas da Festa de São Benedito dos anos de 1997, 1998 e 2000- acervo da Casa dos
Congadeiros.
Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Paulina Rigotti de Castro do ano de 2010.
109
Fotografias
Entrevistas semiestruturadas:
Professora, ex-diretora e bibliotecária Soniamar de Lima Ferri (que sempre ficou à frente das
atividades da congada, ensaios, vestimentas, ANEXO IV)
A diretora entrevistada foi Luiza Lopes, a qual estava na época em que se iniciou a pesquisa
da formação do terno de congo mirim da Escola estadual Paulina Rigotti de Castro. Sua
formação acadêmica é matemática e pedagogia. Antes de se tornar diretora, atuava na área de
matemática. Professora e diretora aposentada Luiza Lopes (ela conduziu a escola até o mês de
outubro de 2011, ANEXO VII).
João Batista que é atualmente capitão do terno de congo de São Benedito. Ele com muita
persistência, aliada a sua experiência de muitos anos, mantém firme a tradição desse terno,
que foi fundado pelo seu pai.
José Luiz Pereira, conhecido por todos como João Caixeta. Este terno tem aproximadamente
100 componentes. (ANEXO XI)
Moacir Ferreira de Souza, mecânico aposentado, capitão do terno de congo também chamado
São Benedito. (ANEXO XII),
Sebastião Anselmo de Souza, chapa, agricultor, pedreiro, capitão do terno de congo Nossa
Senhora do Rosário e Santa Efigênia (ANEXO XIII)
José Otávio Filho (Dadu), agricultor, capitão do terno de congo São Benedito (ANEXO XIV),
Jorge Marcelino da Silva, lavrador aposentado, capitão do terno de congo São Benedito,
recebeu de seu amigo no leito de morte a missão de ser o capitão desse terno.(ANEXO XV).
O diretor do jornal A Folha Machadense, fundador do terno modelo, José Vitor (ANEXO
XVII).
ANEXOS
ANEXO I
5. Quando aconteceu?
Data: 13/12/2011
Hora: 14h30min.
Duração: 25 minutos
- Qual que é o seu parecer diante do projeto “Congadas” para a cidade, já que você foi a
idealizadora do projeto “Congadas Folclore e a Festa de São Benedito” na escola estadual
Paulina Rigotti de Castro?
Silvana: O projeto “estudando a congada” traz para a comunidade o resgate da cultura que
existe aqui como. Justamente no mês de agosto, no dia do folclore, está acontecendo a festa
aqui. Então, quando a gente trabalha de pequeno, tem um resultado melhor, então se pega na
escola desde pequenos para trabalhar essa cultura, faz um resgate e valoriza a cultura que
existe na própria cidade.
Silvana: Muitas crianças, às vezes deixam, de participar da congada com os pais para
participar da congadinha da escola. E muitos filhos de professores participam da congadinha,
as minhas duas meninas estudaram, uma ainda estuda, e as duas dançaram, e a minha menina
de 12 anos ainda dança.
- E como que partiu esse gosto, esse amor, pelas congadas?
Silvana: Meu?
- É!
Silvana: Eu não sou Machadense. Eu mudei para cá aos 13 anos. Apesar de morar próximo,
morar em Campestre, eu nunca tinha vindo participado da festa de São Benedito. Ouvia falar
lá, mas nunca tinha vindo presenciado. Quando eu mudei pra cá, achei tudo muito diferente.
Até a parte mesmo da festa com as barracas, achei tudo muito diferente por não fazer parte da
114
minha convivência, mas a congada sempre me chamou a atenção. E enquanto eu era mais
nova, eu estranhava muito pessoas que gostavam muito da festa, que gostavam de frequentar
as barracas, mas que as vezes eu via não valorizar a congada. Achava ruim a congada passar
ali pela Av. Santa Cruz, quando tinha bastantes barracas ali, antigamente, achava que o
barulho era ruim. E eu não entendia, porque eu desde aquela época eu sentia que era a cultura
da cidade, era a cultura da festa aquilo ali. E com o tempo quando, nessa época em que eu fiz
o projeto, o primeiro projeto, que eu fui perceber que se eu estava estudando o folclore e eu
estava estudando com eles só lendas e fábulas, porque não aproveitar o folclore vivo que
estava acontecendo na cidade. E quando eu comecei a estudar, Quando a Cida Canguçu e eu
fomos atrás dos congadeiros, quando começamos a perceber mesmo o que significava, a
construir, porque foi de pouco que foi construído tudo, o entendimento de como acontecia,
porque eu gostava, mas não entendia... Depois, cada vez fui gostando mais, fui aprofundando,
fui gostando e até hoje. O dia que eu não vou trabalhar com a congada eu vou para assistir. Eu
vou à procissão, é o dia que eu adoro, o dia da procissão, por eu ser católica eu gosto muito do
dia da procissão com as congadas. Então é um gosto que foi me pegando aos poucos mesmo,
à medida que eu fui trabalhando, que eu fui conhecendo. Foi me completando.
- E nessa conquista, o projeto ele vem acontecendo a anos na escola, e quais são as matérias
que ele abrange? Como que é trabalhado o projeto dentro dessas matérias?
Silvana: O projeto, desde o início, desde o primeiro projeto, que inclusive foi o que foi
gravado pra fazer parte do PROCAP, ele é interdisciplinar. Ele tem essa vantagem de
trabalhar com projeto, seria essa, dele ser interdisciplinar a abranger todos os conteúdos. E
isso depende da idade em que está trabalhando para se elaborar, desenvolvendo no nível da
criança. Então em Português vai trabalhar leitura, leituras diversas, desde o texto informativo,
da biografia do São Benedito, na escrita, a produção de texto, com realização de entrevistas,
que você pode mandar fazer uma entrevista com os pai, com congadeiro, com barraqueiro,
tudo isso dentro do Português. Em Matemática, com situações-problema reais, com dados
reais, desde compras do que vende na festa até outras, sempre dentro da idade da criança. Em
Ciências, a gente vai trabalhar a parte da saúde, da higiene, da alimentação. Em Geografia, o
espaço, porque se a criança vai frequentar a festa e se tem a oportunidade de ir a uma
excursão com a escola, chega lá se observa tudo com a orientação uma orientação da
professora, depois quando volta pra escola, isso pode ser representado através de desenhos,
através de maquetes, vai estar trabalhando o espaço da festa. Em História, vai trabalhar toda a
parte histórica mesmo da festa, como que começou, origem da congada, toda essa parte da
115
parte histórica mesmo da festa. E em Artes que vai ser desde desenhos pra murais até a
construção da maquete que pode ser feita todinha só com papel, pode ser feita com
bonequinhos e dependendo da idade, como eu havia trabalhado com alunos menores às vezes
maiores, dependendo da idade pode comprar os bonequinhos para serem vestidos de acordo
com as fardas ou pode, se as crianças forem menores, só colorir os bonequinhos para estarem
montando a maquete. Então abrange todos os conteúdos.
- As crianças elas opinam, os alunos eles opinam na escolha da farda, na escolha das cores?
Eles ajudam a ornamentar a indumentária?
Silvana: As fardas, isso aí como atinge a parte financeira, fica mais por conta da organização
mesmo, a diretora, a Soniamar. Porque vai depender de ter o dinheiro para comprar. Então,
quando faz o equepé, que é aquele gorrinho que coloca na cabeça, já procura fazer que dê pra
aproveitar com várias fardas. Tem um branco que a gente procura também, sempre já tem as
cores da África, não sair muito da cultura, se a congada é africana, às vezes em até terno
adulto que inventa tanto que sai da cultura. Então, a gente procura não sair da cultura, pegar
as cores básicas da África. Então o equepé que é branco, com as fitinhas com as cores da
África, amarelo, vermelho e preto se eu não me engano. Esse equepé ele bate com várias
roupas. Tem um outro que é vermelhinho então bate com várias fardas. Faz a farda não
precisa fazer o equepé. O ano de 2010, como o dinheiro estava pouco e os instrumentos
estavam muito estragados já não pôde fazer farda. Teve que usar a farda utilizada e comprar
instrumento com a verba que tinha. Então, nem sempre... Às vezes, pega algum aluno maior,
que seja maior, sempre têm os alunos maiores que até ajudam a treinar e acabam sendo o
capitão do terno mirim. E ele até que ajuda mais no geral é direção de acordo com até a verba
que tem. Mas procurando sempre valorizar a cultura e as cores da África.
- Como que foi elaborado esse projeto que deu a culminância o terno de congo?
Silvana: Então aí no próximo ano é que a gente foi formar mesmo o terno. Foi preciso
procurar a prefeitura para poder estar entre os ternos da prefeitura, para conseguir inclusive
ajuda financeira, mas a parte da tradição, nem eu nem a Cida Cangussu tínhamos
conhecimento. Porque a gente gostava, mas não tinha conhecimento. Então a gente foi atrás
de congadeiros antigos que pudessem nos ensinar e teve alguns congadeiros que deram
entrevista pra gente, teve um que foi até a escola. A gente formou um grupo de alunos que
queriam participar à noite, após a aula. Esse senhor que eu não me recordo o nome, mas deve
ter registro na escola, ele ia até a escola e ensinou, não só para mim com a Cida, mas
principalmente para os alunos que iam participar, as tradições, o que significava cada parte,
116
ele dava aulas mesmo, vamos dizer assim, à noite lá no galpão da escola. Explicando o que
era o reinado, cada parte, a encruzilhada quando tinha que fazer a encruzilhada, porque, e
como dançar, como bater... Nós não sabíamos nada disso. Então tinha vários ensaios à noite,
depois que foram comprados os instrumentos. E esse ano, por não termos condições de
sairmos com um terno independente, nós acompanhamos o terno desse senhor. Fizemos a
farda igual e nós acompanhamos o terno dele. A partir do outro ano, nós já tivemos condição
de criar um terno somente da escola, dessa escola, com farda independente e já com a nossa
programação de quando que iria sair e horário...
- E quais foram as dificuldades? Além da roupa? Qual foi o envolvimento dos profissionais
da escola?
Silvana: Nesse primeiro ano, basicamente o trabalho foi da diretora que na época era
Soniamar nos apoiando, a Cida Cagussu, eu e nos dias de sair com as crianças, devido à
responsabilidade de estar olhando essas crianças, de alguns professores ajudar, levar da escola
até lá na praça central, acompanhar e trazer de volta, porque daí é que surgiu o projeto
"Folclore e Festa de São Benedito" na escola mesmo e que se decidiu trabalhar na escola toda,
na escola inteira e que virou um projeto.
Silvana: Até hoje. Apesar de depender de cada professor a maneira que vai ser trabalhado, a
profundidade de ser trabalhado, mas até hoje ainda está e até hoje a escola sai com o terno.
Silvana: Envolve todas as disciplinas. Deve envolver todas as disciplinas, que é um projeto
interdisciplinar que do sexto ano para frente todo professor possa trabalhar de acordo com sua
disciplina, vendo o que dá para ser aproveitado. Deve ser trabalhado com todas as disciplinas.
Temos resistências, gostaria de deixar claro isso que temos algumas resistências, em
professores que de repente acham que a sua área não daria pra trabalhar, ou que não gosta do
projeto em si. Mas é um projeto da escola, é orientado para que seja trabalhado, é muito
apoiado pelas duas supervisoras atuais e pelo diretor atual.
117
Data: 14/12/2011
Hora: 19 horas.
Duração: 8 minutos
Data: 8/12/2011
Hora: 10h30min.
Duração: 13 minutos
- E qual que foi a sua participação na elaboração do projeto “Folclore e Festa de São
Benedito”?
Soniamar: Foi como diretora da escola. Tanto que a gente, a professora Silvana veio com o
projeto folclore daí surgiu a ideia da gente montar um projeto. Então a gente veio, a gente
veio organizar.
- E quando que aconteceu a primeira apresentação do terno de congo, como que ele surgiu?
Soniamar: Através de um projeto que a professora Silvana desenvolveu, nós tivemos a ideia
de desenvolver o terninho de congo e nós saímos a primeira vez dentro de outro terno. Nós
tivemos a ajuda e nós saímos dentro dele. A primeira vez que nós participamos junto com os
outros ternos.
- Esse projeto foi elaborado pelas professoras e elas abraçaram esse projeto? Quais foram as
disciplinas que ele abrangeu? Ele faz parte do projeto político-pedagógico da escola? Conta
para mim isso.
Soniamar: Inicialmente, ele foi desenvolvido por uma única professora que foi a Silvana. Na
época, ela dava aula no terceiro ano. Aí, depois, como a escola abraçou esse projeto e nós
fizemos (o projeto) todos os professores, na época primário, desenvolveram o projeto. E faz
parte do projeto pedagógico da escola. Possivelmente, ele passou todos os anos passados para
desenvolvê-lo .
- E quais as matérias em que ele foi trabalhado? Ele abrangeu todas as matérias?
120
Soniamar: Todas as disciplinas, foi interdisciplinar. Cada sala de aula desenvolveu um tema
sobre o folclore e da congada. Foi interdisciplinar.
- E conta para gente a trajetória desde o início. Tinha instrumentos, não tinha? Como que foi
a vestimenta? A Casa de Congadeiros deu apoio para comprar? Como que foi isso?
Soniamar: Na época não tinha ainda a Casa de Congadeiros. A primeira vez que nós saímos,
nós saímos com o terno de congo, aí eles emprestaram e a roupa a escola fez com recurso
próprio, a primeira vez. Depois nós conseguimos, como a gente já fazia parte do projeto,
conseguimos verba através da prefeitura.
- E quais que/as dificuldades no dia-a-dia da escola, para manter a congada, ela se mantém
como começou? Está tendo dificuldade pra continuar? Como que ela vem se mantendo?
Soniamar: Acho que com apoio, com o decorrer dos anos, foi modificando o tema. (Faltou
apoio) do diretor, professores... Da parte dos alunos, não. Eles são muito interessados. E como
a gente, de repente, não quer estender muito a congada, para não ficar muito grande, porque é
difícil trabalhar com bastantes alunos, a gente tem até que limitar o número de alunos. A
participação de alunos é muito boa. Os pais também, a maioria apoia. É mais assim,
administrativo mesmo. Foi desgastando o projeto. Eu acho que precisa renovar. O ano
passado, os três ou quatro últimos anos, eu to trabalhando com a congada principalmente
sozinha.
- Eu sei que a congada iniciou na sua gestão. No seu parecer, ela tende a continuar, o que será
feito? Como que você vê isso?
121
Soniamar: Nós estamos com um diretor novo e ele diz que vai apoiar. Na meta dele,
objetivo/ele gosta muito do folclore, de São Benedito, então ele pretende apoiar. Só que eu
acho que tem que se renovada a metodologia trabalhada na sala de aula, que está desgastada,
precisa voltar, porém como começou, se quiser continuar, porque muitos professores acham
que não está sendo desenvolvido o projeto, eu também acho isso, que atualmente, está ficando
só o terno de congo. Não tem condição de estar desenvolvendo um trabalho sobre a congada,
é um ou outro professor do primário só...
- O que você acha? Por que essa não aderência por todos? Qual que é o fator que contribui
para isso não acontecer?
- Então para que isso/para que o terno de congo permaneça na escola, em sua opinião, precisa
do envolvimento de todos. A família não deixa a desejar?
- A família colabora?
Soniamar: Colabora.
Soniamar: Diretor e professores, a parte pedagógica mesmo. Os pais (que apostam). Levam,
incentivam, a maioria, os alunos gostam também. Então precisa de apoio, além de quem está
122
Soniamar: É simplesmente de auxílio, de olhar os alunos, aí faz o rodízio, porque conta dia
letivo para a escola. Então, cada dia escala seis - sete professores. É simplesmente um rodízio,
para olhar os alunos, leva/pega aqui na escola (incompreensível), pega na escola e devolve
aqui. Muitos ficam na festa com os pais, simplesmente uns rodízios mesmo. Porque é dia
letivo para escola. Então parte de ensaio, alguns até tem um pouco mais que colaboram assim
para enfeitar a bandeira, a (incompreensível) na época ela costurava, ajudou a costurar as
roupas, na confecção das roupas. Então tem alguns voluntários. Mas na parte mesmo de
ensaio, de sentido de trabalhar o projeto com os alunos, colocar um (bingo), incentivar e fazer
estudo de campo (na festa e São Benedito), participar de algum ensaio de outro terno de
congo... Aí, nos últimos anos está bem raro, enfraqueceu muito, estas esquecidas as origens.
A gente tem que voltar, como isso? Não tem dedicação, não tem empenho de todo mundo. Aí
precisa sentar todos os professores, supervisor, diretor e ver se é isso que todos querem,
porque se a maioria não quiser continuar o projeto, aí fica difícil.
123
Data: 19 /12/2011
Hora: 17 horas.
Duração: 24 minutos
Fabiana: 29 anos.
Fabiana: Sim, eu comecei a dançar aos 2 anos e dancei até os 10 anos. Sempre na festa aqui
na nossa cidade que é a tradicional festa de São Benedito, onde tem a tradição da congada,
dos reis perpétuos. E eu comecei a dançar no terno do Seu Deca. Esse Senhor Deca já é
falecido, mas foi passando de geração para geração. Então, o terno de congada hoje está a
cargo dos filhos dele, ele tem até um filho que faz parte do reinado da cidade. Que é o
tradicional que tem o reinado, do capitão. Então ele tem um filho que continua nessa tradição,
e o terno continua até hoje.
Fabiana: Eu era uma das meninas que vinha junto com a fita, acompanhando a bandeira. Que
existe a rainha que sempre está na frente, segurando a bandeira, e as meninas que ficam na
124
fita, e as meninas que ficavam também, na chamada espadas, que elas ficavam como se fosse
uma defesa, ajudando a defender o terno sempre dançando na frente.
Fabiana: Não. Eu tive o interesse vendo a festa. Na minha família nunca teve nada. Aí meu
pai me levava na festa até que um dia eu vi e pedi. Aí todo ano eu saía junto com esse terno
que não é da rua onde eu moro também, é no outro bairro, era distante. Mas nunca teve, para
falar que teve influência na família, não. Foi eu mesmo vendo a tradição da cidade.
Fabiana: Sim. Participava. Que começa a ensaiar no comecinho de agosto, que antigamente
que era. A festa geralmente pega as duas últimas semanas de agosto, aí a gente começava a
ensaiar no início do mês.
Fabiana: Sim. Eu acompanhei a congada mirim deles, que foi a primeira congada que teve
mirim da nossa cidade. Acompanhei junto com as crianças os ensaios, justamente por ser
professora de educação física, já mais voltada pra essa área. E acompanhei as apresentações
deles também.
- Você chegou a participar da formação do terno de congo? Conta pra nós um pouquinho
dessa história.
Fabiana: Sim. Então, a escola Paulina Rigotti de Castro por ser uma escola de periferia, já era
oriundo deles, a participação em congadas da cidade. Então aí surgiu a ideia de lançar o
projeto. No começo, foi muito difícil porque não tinha instrumentos, não tinha ajuda de
ninguém. A prefeitura ajuda os ternos de congo da cidade, destinando uma verba para a
confecção de roupas e ajuda com alimentação. Só depois de alguns anos que o terno mirim
começou a ter esse apoio. Então a gente usava as aulas de educação física para ensaiar as
danças, trabalhando com ritmo, trabalhando a letra das músicas. De certa forma, foi fácil,
porque já é da vivência das crianças. Eles já conviviam com isso, as famílias deles já vinham
de tradição para tradição, de avós para pais, de pais para filhos. E nós trabalhamos sempre
puxando pra ver a letra da música. Aí houve também as palestras, nós recebemos as visitas de
congadeiros que foram até a escola para dar palestra, explicando mais sobre essa tradição. E
125
foi um projeto muito bem aceito pelas crianças e pela comunidade. No entanto que até hoje
ainda existe o terno mirim que faz apresentações não só na festa, nas regiões e nas outras
escolas também que não têm o projeto deles.
- Você acha importante a presença da congada dentro da escola? Como que você vê isso?
Houve participação de todos os professores na época que você estava na escola? Qual foi a
participação da diretora, das pedagogas? Fala um pouquinho.
Fabiana: Sim, eu acho que é de grande valia, de muita importância. Hoje que a gente vê, a
gente não encontra mais as crianças brincando na rua. As crianças hoje ficam mais presas
dentro de casa, justamente por causa da violência. Hoje, os recursos tecnológicos tiram um
pouco as crianças da rua, não existe aquele brincar mais das crianças. E, com isso, a criança
não tem mais cultura do meu ponto de vista. Eu acredito que ela fica longe da cultura. Muitos
ali nem conheciam a congada. Então a congada dentro da escola ela traz o resgate cultural que
dessas crianças, ela mostra às outras crianças que vieram de outras cidades e de outros estados
que não tem a vivência/não tinha a vivência cultural da congada o que é realmente a congada
na nossa cidade. E ela mostra a cultura do povo, a cultura do negro. O porquê de levar isso pra
escola foi que nós achamos importante resgatar uma cultura que é da nossa cidade sempre
dentro da nossa escola. O projeto teve início através das professoras Silvana e a Cida
Cangussu, que como culminância surgiu a ideia da formação de um terno de congada mirim.
Hoje, ele já sobrevive com recursos próprios e ainda em ajuda da prefeitura, tem os
instrumentos próprios, eles constroem as fardas deles cada ano, cada ano de uma cor
diferente, igual a um terno regional da cidade. E ele faz as apresentações, geralmente, na
segunda e na terça-feira da última semana da festa. E os professores, eles, são/existe uma
escala de quem vai acompanhar essas crianças e juntamente os pais que participam e gostam
do projeto por ser voltado para essa área de cultura e de realmente foram o que os pais
viveram na adolescência deles. Eles se apresentam, acompanham a procissão, se apresentam
no dia do congo que é marcado na última terça-feira, que é o dia do congo. Todos os ternos se
apresentam nesse dia, no dia do reinado, em que são escalados os novos festeiros. E esses dias
são contados como dia letivo pros professores. Existe resistência de alguma parte, de alguns
professores, sim. Mas a maioria ajuda a execução do projeto.
- Quando saiu da escola, que você falou que não está naquela escola mais, você deixou a
congada de lado? Como que/ou você deu continuidade nisso? Você continua exercendo a sua
profissão?
126
Fabiana: Sim. Hoje eu leciono em outra escola. Eu trabalho no projeto Escola de Tempo
Integral, numa escola que tem trabalho voltado mais para o ensino fundamental das séries
finais e lá nós temos um projeto voltado para a congada sim. Como já existia o terno mirim,
nós tivemos a ideia de fazer o bumba-meu-boi, foi no ano 2008 a primeira vez que nós
criamos, juntamente com a professora Dalila e a professora Luiza de Paula. Nós procuramos
um senhor aqui da cidade, que é quem constrói o boi da cidade, que existe o boi das oliveiras,
que eles saem no último sábado da festa. E nós para dar continuidade na cultura e resgatar
essa parte na nova escola, nós procuramos o senhor Antonio Rizzo que construiu para a gente
um bumba-meu-boi. E a primeira parte do projeto que nós fizemos, nós resgatamos a história
do bumba-meu-boi, apresentamos para as crianças, qual que é a história do bumba-meu-boi,
como que ele é confeccionado, a história do bumba-meu-boi na cidade de Machado, quem
trouxe, porque ele não é oriundo da nossa cidade, ele foi trazido por Antonio... Quem trouxe
foi o Antonio Manoel, teve o apelido de Chico-Mole e ele atravessava uma longa avenida da
nossa cidade, puxando esse boi e cantando, ele cantava e atrás os congadeiros repetiam. Então
nós construímos o boi, a ornamentação é feita pelas crianças, sempre trabalhamos uns 15 dias
antes da festa. A gente leva a esteira, que ele é construído de (esteira) de bambu com uma
cabeça mesmo do boi, e as crianças mesmo fazem a ornamentação, deixando ele bem
enfeitado, bonito. Essas crianças que fazem parte desse projeto já são filhos e netos de
congadeiros, então eles mesmo trazem para escola as músicas, a gente trabalha em cima das
letras, vendo que sempre puxa para a parte religiosa. Nós temos aí as oficinas, em cima dessas
músicas a gente faz oficinas de interpretação de texto onde a gente já puxa trabalhando o
Português com eles nas leituras. E o ritmo, nós não temos os instrumentos próprios, na época
que a gente vai se apresentar, a gente sempre vai à casa dos congadeiros, que são
considerados amigos da escola, onde eles emprestam para a gente as caixas, os cinturões, os
cambitos que eles chamam que é o que eles usam para bater nos bumbos eles até mesmo
chamam de cambitos. Aí a gente passa pede os instrumentos, leva e faz apresentações. A
gente faz as apresentações dentro da própria escola, em outras escolas e nos apresentamos
também no dia da abertura da tenda do congo.
Fabiana: Essa tenda do congo é onde fica relatada a história da festa de São Benedito da nossa
cidade, desde o primeiro ano que surgiu. São fotos, existem fotos, existem os/a história dos
ternos, dos ternos que são os mais antigos, do terno modelo que existe hoje. e nós nos
apresentamos no dia dessa abertura, que aí é o dia da abertura da tenda do congo e o concurso
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de poesia, que a associação manda para as escolas trabalhem com as crianças a poesia voltada
para a congada. Aí nesse dia é feito o concurso que tem a premiação, o primeiro, segundos e
terceiro lugar, separado por séries, por idades.
- A tenda do congo, quem manda o projeto poesia das congadas para as escola é a tenda do
congo? Ela é associada à Casa do Congadeiro ou não? A Casa do Congadeiro e a prefeitura
ajudam nesse grupo do bumba-meu-boi que sai da sua escola?
Fabiana: Ah sim, elas são associadas, sim. Quem manda então para a gente o projeto é a
Associação dos Congadeiros, e a tenda do congo é mantida pela associação, e nós não temos
ajuda nenhum. No entanto que o que a gente tem/nem instrumentos a gente tem. A gente pede
para os congadeiros. Aí a questão, a gente vai na casa do congadeiro, coloca o instrumento
dentro do carro, leva pras crianças ensaiarem, depois a gente vai e devolve, e antes deles
apresentarem a gente faz um ensaio todos com eles, aí a gente devolve, depois vai buscar de
novo, no dia da apresentação, apresenta, coloca no carro de novo e devolve. Nós não temos
ajuda de ninguém.
Fabiana: Eu vejo que é não deixar a cultura morrer. Porque um dos intuitos da gente lançar
esse projeto foi resgatar e mostrar pros alunos mesmo da nossa escola o porquê da congada, o
porquê dessa cultura. Nem mesmo eles conhecem a própria cultura da cidade. São mais uns
que já têm essa parte, que já faziam parte, que os avós faziam parte os pais faziam parte das
congadas, que seguem de tradição para tradição. Mas muitos dos adolescentes não sabem nem
o que é isso. Eles só veem que lá no dia festa à noite, que geralmente quando eles vão, que
tem um terno batendo e cantando. Eles não sabem realmente o porquê daquele terno, o que
aquilo significa na nossa cultura.
- E nessa escola que você está agora? Como que é a aceitação dos professores? Como que
eles veem o bumba-meu-boi enquanto cultura, enquanto parte da festa de São Benedito?
Como que eles veem esse projeto dentro da escola? A posição do aluno perante a cultura?
Como que os professores veem isso?
Fabiana: Olha, não tem uma grande aceitação, não. São poucos os professores que se
envolvem. Geralmente, fica só a cargo de quem está nesse projeto mesmo, que são duas
professora e mais eu. E apoio total a gente não tem não. Mesmo falando que é dia letivo, que
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é só para acompanhar, eles relacionam muito a cultura com a religião, muitos até questionam
isso, por falar de santos, de puxar mais para essa fé voltada para o catolicismo. Eu acredito
que deveria ter uma abertura maior para as crianças, até mesmo porque elas gostam, elas
sabem o que ele está fazendo, já é da cultura delas, elas estão passando isso para os demais
alunos, mas não é tão aproveitado como deveria ser. Até mesmo por alguns professores que
nem sabem que tem esse projeto na escola.
- Diante de todos esses relatos, qual é a ligação da escola de tempo integral com o projeto
bumba-meu-boi e a congada? Qual que é essa ligação?
Fabiana: Que a principal estrutura da escola de tempo integral é o trabalho através de oficinas
pedagógicas. Então nós aproveitamos o mês de agosto, que é voltado para o folclore e é
quando é realizada a festa de São Benedito aqui na nossa cidade. E começamos a trabalhar a
formação do bumba-meu-boi, estudando desde a origem do bumba-meu-boi, quem trouxe a
história do bumba-meu-boi pra cidade, quem foi o primeiro que confeccionou o boi, como
que ele é confeccionado, o porquê do nome bumba-meu-boi, e estudando desde essa origem
até a sua confecção. Como eu já disse, as próprias crianças que fazem a ornamentação do boi.
E a gente pesquisa, faz um trabalho em cima das pesquisas sobre as músicas. Além do resgate
do folclore, as crianças também se divertem, mesmo durante as apresentações, que aí existem
as chamadas investidas que a gente dá o nome, que é quando o boi vai para cima da plateia
que está assistindo, dá as investidas, então isso pra eles já chega até a ser uma diversão. E o
estudo das letras, essas letras, essas músicas são trazidas pelos próprios alunos do projeto, que
eles realizam essas pesquisas em suas casa, pois a maioria vem da família de congadeiros.
Então desde aí a gente já nota um interesse maior nesses alunos. A seleção dessas músicas são
feitas por eles mesmos, durante as apresentações, quem vai cantar, quem não vai, que música
canta, o momento que vai se cantar... um puxa a música e os outros respondem o refrão que é
cantado por todos... o puxador do boi tem que ser uma pessoa mais esperta, um aluno mais
esperto, que tenha uma desenvoltura maior, para que a apresentação fique mais bonita, para
que a evolução dele seja diferente. E é uma coisa que a gente nota que é bem diferente de
outros projetos é a participação da família, eu acredito por já ser da vivência deles, por isso a
aceitação e a participação da família é maior . E tendo também ressaltar que a direção desde o
primeiro momento que a gente surgiu com esse projeto, nos ajuda, nós já enviamos vários
vídeos pra secretária da educação mostrando o projeto que é desenvolvido na nossa escola.
Agora, uma coisa que se deixa a desejar é a participação dos outros professores, eles não
gostam muito. Até mesmo alguns porque são de outra religião e até chegam a reclamar dos
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barulhos que a gente faz durante o ensaio, que a gente já começa a ensaiar com eles com os
instrumentos próprios mesmo, para no dia da apresentação tudo certinho.
- Já que desde a direção apoia, mas e quanto à participação das crianças? Todos aceitam?
Como que eles veem isso?
Fabiana: Não são todos que participam, não. Mas de alguma forma eles acabam participando,
indireta ou diretamente. Se eles não participam saindo com o bumba-meu-boi, participando
das apresentações, eles acompanham e durante a ornamentação e os trabalhos feitos dentro da
sala de aula, existe a participação de todos, sim. Porque é até um momento divertido, que a
gente sobe com o bumba-meu-boi, deixa ele lá no pátio da escola e a gente passa ali duas ou
três horas só enfeitando. Aí a gente trabalha com eles a parte da educação artística também, a
parte de arte que é a ornamentação do bumba-meu-boi.
- Você como professora contratada, saindo da escola, pensa que o projeto vai ter continuidade
ou não?
Fabiana: Eu acredito que não. Porque eu vivenciei essa cultura na minha infância. Eu cresci
junto com a congada, eu cresci acompanhando a festa de São Benedito. Então o meu interesse
por esse projeto é muito grande, porque ele fez parte da minha vida quando criança, e acho
difícil outro professor retomar sem saber dessa vivência inteirinha, sem ter a mesma visão da
cultura que eu tenho hoje.
- Conhecendo o corpo docente da escola, você acha que os professores, não sendo católicos,
vão trabalhar o folclore?
Fabiana: Não. Não vão trabalhar porque eles puxam para essa parte da religiosidade. Não
veem o folclore como uma cultura, veem esse folclore como voltado para a fé, para a religião
e voltado para catolicismo. Então voltando para essa questão da religiosidade, na nossa escola
nós temos um grupo de professores que são evangélicos, e os mesmos se recusam a participar
desse projeto por questão da religião e até mesmo se negam a nos acompanhar nas
apresentações, mesmo sendo considerado como um dia letivo, mesmo sabendo que o papel
deles é estar do lado do aluno, e estar participando de um projeto, que é um projeto escolar, é
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um projeto da escola, é um projeto folclórico. Mas eles já veem por outro lado, eles acreditam
que é um projeto mais voltado para a religiosidade e eles não aceitam.
- Todo esse tempo que você tem o contato com a congada, teve algum fato que te marcou?
Conta pra nós.
Fabiana: Sim. No ano passado, nós realizamos no mês de agosto mesmo uma/nós chamamos
como a noite da congada. O que foi feito... Na nossa escola, existe também o curso de
magistério, então em culminância de um projeto, os professores, nós resolvemos abrir as
portas da escola para a comunidade. Nós recebemos a visita de um terno de congo, que é
considerado o maior terno de congo da cidade, e ele nos prestigiou com a apresentação e
nesse mesmo dia nós saímos com a congada do bumba-meu-boi, no final estava o terno de
congo, o boi e as crianças tocando junto e cantando. Foi uma noite muito agradável e para
finalizar foi feito um jantar onde todo mundo sentou junto, conversamos, fomos falando sobre
a história da congada...
- E esse momento que todos sentaram juntos, te lembrou do quê? O primeiro ranchamento, da
época...
Fabiana: Ah, sim! É porque geralmente quando/desde a época que eu dançava, a gente
esperava chegar segunda-feira para ir almoçar na casa do dono do terno de congo. Aí sempre
era frango, macarrão, feijão, guaraná, até tinha assim é a própria comunidade, o povo da onde
é/do bairro da onde era o terno, eles ajudavam a fazer esse almoço para a gente. E existem
também muitas famílias que recebem os congadeiros em casa para servir um café da manhã,
um café da tarde ou até mesmo um almoço.
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Data: 13/01/2012
Hora: 14h30min.
Duração: 18 minutos
Márcia: Bom, eu sou uma apaixonada pela congada. Eu venho de uma família de congadeiros.
Eu sou bisneta, neta, filha e sou mãe de congadeiro hoje em dia. Meu pai pertenceu a um
terno de congada dos mais tradicionais da cidade de Machado que é o terno do Caixeta,
conhecido como Terno do Caixeta. Meu bisavô era rei da congada, minha filha dança congada
desde menos de um aninho de idade.
- E o seu avô era o rei. E como que é essa escolha do rei da congada?
Márcia: Bom, a questão do rei da congada, ele é um rei perpétuo, é uma questão hereditária.
Ele vem passando de pai para filho. E quando já não tem mais ninguém naquela família que
possa ser um dos rei da congada, a associação dos congadeiros se reúne, junto com todos os
capitães de terno e eles elegem alguém do meio dos congadeiros para ser o novo rei.
- E você por muito tempo vem participando da associação, participou da associação dos
congadeiros, está envolvida com a festa de São Benedito, e conta pra mim um pouquinho
dessa ligação sua com a casa de congadeiro, como isso aconteceu.
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Márcia: Bom, eu entrei na associação de congadeiros propriamente dita, desde o ano de 2000.
Quando houve um processo de renovação da associação de congadeiros. A associação de
congadeiros vinha passando por praticamente uma ditadura. E os congadeiros, os capitães que
estavam lá dentro já não tinham mais interesse de estar participando da associação. Então
houve uma mudança de diretoria e nessa renovação eu comecei a fazer parte dessa diretoria
desde 2000. Eu era uma secretária e, durante essa participação na minha diretoria, eu elaborei
alguns projetos para a associação dos congadeiros visando à reestruturação das congadas em
Machado. Um deles foi o projeto da re-significação da congada com a Tenda do Congo, o
Prêmio Congada e o retorno do Dia do Congo.
- E como que acontecia esse Prêmio Congada? Era premiado o quê? Que critérios eram
usados para essa premiação?
Márcia: O Prêmio Congada foi um concurso de poesias criado no intuito de fazer com que a
comunidade educacional da cidade participasse ativamente dessa cultura local que é a
Congada. Então os alunos passaram a estudar sobre as congadas no mês de agosto, e a partir
daí elaborar poesias. E sempre no primeiro final de semana da festa de São Benedito, após o
primeiro final de semana da festa de São Benedito, todos os estudantes da cidade se reúnem
na praça de São Benedito para prestigiar esse concurso de poesia.
- Quer dizer que, no seu parecer, a congada ligada ao ambiente escolar é válida? O que você
acha da congada dentro da escola?
Márcia: Bom, é muito importante que o estudante conheça sua cultura local. As congadas
estavam sendo vistas como algo que incomodava a festa de São Benedito e na verdade não
algo que vinha trazer uma melhoria para a festa de São Benedito. Então a única maneira que
eu vi de fazer com que os alunos admirassem, respeitassem a Congada é que eles
conhecessem a Congada. E esse Prêmio Congada veio incentivar esse estudo, essa busca do
conhecimento sobre as congadas.
Márcia: Hoje ela está além das nossas expectativas. No último concurso de poesias, na
realização do último prêmio congada, praticamente todas as escolas da cidade participaram.
Rede estadual, rede municipal e rede particular.
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- E quanto aos cursos que são ministrados pela associação dos congadeiros? O que você fala
desses cursos?
Márcia: Esses cursos foram realizados quando foi desenvolvido um projeto da Petrobrás na
associação dos congadeiros em meados de 2004. Esses cursos tinham o objetivo de auxiliar os
congadeiros, principalmente na confecção de indumentárias, na confecção de roupas, de uma
forma que os congadeiros passassem a economizar na confecção de suas roupas, na confecção
de instrumentos. Então, esses cursos foram muito importantes e principalmente quanto ao
resgate do significado da cultura das congadas para eles,
- E você acha que isso melhora a vida dos congadeiros, ou só a questão dos instrumentos?
Márcia: Não, isso melhorou muito a vida dos congadeiros. Teve curso de corte e costura que
possibilitou a muitas mulheres, filhas, mães, esposas de congadeiros, a conseguir melhores
empregos na cidade.
Márcia: Não. Esses cursos foram realizados na época do projeto da Petrobrás, que foi
mandado um projeto e recebeu uma verba específica para isso. Hoje, a associação ministra
alguns cursos, mas são poucos e não têm a mesma proporção dessa época.
Márcia: Não. Hoje, a associação não recebe verbas para curso, da prefeitura. Hoje, a
associação dos congadeiros tem uma verba de subvenção que é entregue aos congadeiros no
mês de agosto, alguns dias antes de iniciar as festas. Essa verba é utilizada pelos capitães dos
ternos para comprar a sua indumentária e para adquirir alguns instrumentos que estejam
necessitando ter. Hoje, a prefeitura também auxilia quanto à estrutura da festa de São
Benedito.
Márcia: Ajuda. Com esse dinheiro são feitas melhorias no prédio, na estrutura da associação
de congadeiros, onde os congadeiros se reúnem. Com esse dinheiros, alguns ternos vão fazer
passeios, vão fazer algumas viagens, são feitos intercâmbios.
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- E a quantos anos foi criado o Terno de Demonstração? Você sabe por que que surgiu esse
terno?
Márcia: Esse Terno de Demonstração também foi criado na época quando da proposta desse
projeto da Petrobrás. Esse terno foi criado porque as congadas Machadenses estavam
perdendo as suas características. Elas estavam assumindo características, algumas até de
escola de samba, um batuque que não tinha nada mais a ver com a raíz das congadas. E esse
terno veio de uma pesquisa feita pelo professor José Wilker sobre a raíz da congada e ele fez
essa proposta desse terno de demonstração que vinha resgatando realmente as músicas da
congada, os ritmos da congada e inclusive os instrumentos adequados da congada.
- Você acha que o que foge da origem da congada, o que vai fugir da origem da congada, são
as danças, os instrumentos... O que que mais distancia a congada original lá das suas raízes a
de hoje?
Márcia: Bom, Machado é uma questão bem peculiar. Machado tem 19 ternos de congada
adultos e 3 mirins. A formação de cada um dos ternos aqui tem uma origem. Existem ternos
que têm origem baiana; existem ternos que têm uma característica das congadas de Santos, do
litoral de Santos; existem ternos que têm características das congadas de Goiás. Então, os
nossos ternos são ramificações de vários tipos de congadas do Brasil. E existem ternos aqui
também que vieram com origem de escolas de samba da própria comunidade. Então não há
como a gente falar que eles estão descaracterizados, propriamente dito. Eles precisam rever a
sua base.
- O programa da festa, os passos, tudo que os congadeiros têm que seguir, é a associação que
determina, é decidido no coletivo, como que é?
Márcia: É uma tradição. Aquele programa é uma tradição, é um ritual que vem desde os
primórdios do tempo da congada. Cada um dos dias da semana, cada final de semana,
tradicionalmente tem um acontecimento. E tudo isso é decidido no coletivo, nas reuniões das
associações de congadeiros, com a diretoria e os capitães de terno.
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Marcia: Alguns rituais? Bom, a festa começa sempre, tradicionalmente, numa sexta-feira com
a alvorada. No sábado, desde o ano de 2002, acontece a abertura da tenda do congo. No
primeiro domingo, tem a subida do mastro. Na primeira quarta feira, desde 2002 também,
acontece o prêmio congada. No segundo sábado da festa, tradicionalmente, tem a festa do
bumba meu boi, aliás do bumba meu boi não, do boi de oliveiras, que a origem dele é nas
cavalhadas, e é o boi de oliveiras e o encontro da mulinha. No segundo domingo da festa, a
gente tem a procissão de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia. Na
segunda feira, a gente tem o Reinado. E, na terça feira, a gente encerra com a descida do
mastro e com o dia do Congo.
- Quanto ao mastro, há todo um ritual, um processo para arrumá-lo? Como que funciona isto?
Marcia: Tradicionalmente, tem um... Nós temos o capitão da bandeira e o capitão do mastro.
A bandeira fica guardada na casa de um senhor, que é o capitão da bandeira, durante todo o
ano, e quando chega a época da festa ela é toda enfeitada e ela tradicionalmente sai naquele
dia, naquele horário e vai até a igreja matriz onde encontra com o capitão do mastro e o
mastro também e seguem os dois juntos até a praça de São Benedito. A mesma coisa acontece
com o mastro, ele fica guardado, que é aquele pau que fica guardado o ano todo na casa do
capitão do mastro. Quando chega a época da festa, ele é todo enfeitado, preparado para esse
encontro na igreja matriz e depois segue junto com a bandeira pra praça de São Benedito
onde, após um ritual de entrada na igreja, de orações, com o rei congo, o rei perpétuo e toda a
guarda ele vai ser levantado na praça de São Benedito.
Márcia: Bom, os guardas se candidatam na associação dos congadeiros e eles são avaliados
pela diretoria e pelos capitães e, se aprovados, eles são aceitos pela corte do rei.
- Fala um pouco para mim sobre a questão da congada entrar na escola. Já que você é
professora qual que é sua visão?
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Márcia: Bom, eu acho muito importante esse conhecimento da cultura das congadas dentro da
escola. A congada é riquíssima. Tem rituais, tem ritos, ela tem música, tem dança, tem ritmo.
Então ela é um veículo de conhecimento muito rico para a cultura escolar. E eu acredito que
ela é muito importante para o educando.
- E a questão da congada na escola e a sua ligação com a festa de São Benedito? Que você
acha disso?
- É.
Márcia: São duas coisas bem diferentes. A congada é uma cultura popular e não envolve a
questão até, vamos dizer assim, muito religiosa. Já a festa de São Benedito, é uma questão
mais complicada porque ela envolve uma religiosidade. Então são duas coisas que elas devem
ser vistas de forma separada. É muito interessante que durante o concurso que a gente
desenvolve o prêmio congadas inclusive evangélicos participam e já até ganharam o prêmio
congadas com o tema congadas. Apesar deles não participarem da festa de São Benedito.
- A questão de não usar a parte profana na escola, embora as escolas participem da procissão.
O que você acha da congada, ela já tá desde criança, ela já é passada desde as crianças, isso
faz com que ela se perpetue? O que você acha?
Márcia: Isso é muito importante para que a congada se perpetue. As crianças vão tomando
gosto pelo conhecimento desde pequenas e depois quando adultas. Hoje, por exemplo,
existem em ternos de congadas, crianças que eram aprendizes nas congadas mirins e que hoje
se tornaram até capitães de ternos adultos. Que continuaram, começaram quando eram
crianças e hoje comandam os ternos adultos.
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Hora: 14 horas.
Duração: 10 minutos
Luíza: O meu contato com a congada vem de muito tempo, pois sou de família machadense e
desde criança vejo os congados. Aqui na escola foi através do projeto Folclore e a Festa de
São Benedito.
- Quando aconteceu?
Luíza: Em 1996, em uma das turma e depois foi se estendendo para toda a escola.
Luíza: Bom, a congada dentro da escola é uma maneira das crianças conhecerem de perto a
cultura da cidade. Trabalha-se na sala de aula a origem da congada, instrumentos, costumes.
Uma maneira diferente de se trabalhar a cultura de um povo.
Data: 14/12/2011
Hora: 9 horas.
Duração: 10 minutos
- Bom dia, Gláucia. Qual o seu nome e o seu cargo dentro da escola?
Gláucia: Pedagogia.
- Conta para mim quando aconteceu e como que aconteceu a elaboração do projeto "Folclore
e Festa de São Benedito" que resultou na congada infanto-juvenil da escola.
Gláucia: A congada começou pela iniciativa de uma professora que trabalhava com seus
alunos nas séries iniciais e ela sugeriu para a supervisora que ela estava desenvolvendo esse
projeto e se não queria estender pra toda a escola. A supervisora achou a ideia interessante e
aí nós nos reunimos os professores com a supervisora, e cada professor ficou responsável por
desenvolver um tópico do projeto.
aspecto relacionado ao folclore e, num determinado dia da culminância, a gente, cada sala,
apresentava sua pesquisa para as outras turmas.
Gláucia: Os ensaios sempre aconteceram durante as aulas. Os alunos saíam, os alunos que
participavam da congada, saíam na última aula e ensaiavam em volta da escola.
Gláucia: Estendia um pouquinho, até 15 para as 6h, porque que eram alunos pequenos.
Gláucia: Não. Foi bem aceito pelos pais. Os alunos brigavam entre si, vamos dizer assim, para
poder pegar a vaga da congada porque eram muito concorridas as vagas. Então, era até difícil
estar escolhendo esse ou aquele aluno. De preferência, pegávamos aqueles alunos que davam
mais trabalho de disciplina para poder incentiva-los à participação, à melhorar a disciplina na
sala de aula.
Gláucia: Já. Muito aluno já vem de famílias de congadeiros. Mas o projeto era muito
concorrido porque todos queriam dançar.
Gláucia: O interessante do projeto é essa interação entre os alunos. Porque o projeto até hoje
ele vem assim, ele foi... A cada ano, o aluno mais velho ensinava para o aluno mais novo.
Então, o interessante do projeto é esse, que até hoje alunos que iniciaram o projeto, ainda
está..., alunos do segundo colegial, aluno que hoje já está com séries avançadas, vem para a
escola para poder introduzir os meninos pequenos. Isso é interessante.
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Gláucia: Eu acho importante porque o projeto é um meio de socialização dos alunos e a escola
não pode ficar centrada só em conteúdo programático do sistema de ensino. Tem que ser,
também, expansivo à transversalidade. Então ele tem que estar abordando vários aspectos
sociais. E esse projeto atende esse objetivo.
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Data: 13/12/2011
Duração: 17 minutos
- Boa Tarde.
Rosa: A minha ligação com a congada é que eu sou de Machado, e Machado/a festa folclórica
de São Benedito é o grande ponto da/dentro do folclore/e o congado é a parte principal dessa
festa. Em Machado, as danças de congo surgiram nas fazendas. Essas festas religiosas
realizadas desde a abolição da escravatura compunham de baile, danças, as mais variadas. As
danças eram como gingados, evolução. Com o passar dos anos, as festas das fazendas
passaram para as cidades e as danças com aqueles gingados receberam o nome de dança de
congada e festa de congada. Essas danças traziam características primitivas dos escravos
africanos. Seu Murilo Carvalho, em comovente artigo de seu livro “Artistas e Festas
Populares”, transcreve “Fábula ouvida do Rei Perpétuo Joaquim Santana” sobre a origem do
congado entre nós. “Teve um princípio muito bonito, aqui no Machado. No tempo do
cativeiro, tinha uns que gostavam de caçar bodoque aconteceu que caçando acharam um
inhambu que aparecia e sumia, aparecia e sumia. Eles foram uns atrás, aí deu num rochedo de
pedra que o inhambu sumiu. Derradeiro, e eles viram ali uma santa preta, uma estátua em
cima da pedra, no lugar onde o inhambu sumiu. Aí, eles eram três companheiros, levaram a
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mão na santa, embora para casa. Chamaram outros cativos e voltaram. Uma porção de
homens rezando em redor dela. Ainda não puderam tirar a santa. Ela não saiu do lugar.
Voltaram pra casa e inventaram outro modo, que nem na África. Um arranjou uma violinha,
outro uma caixa, um pandeirinho e todos vestiram uma saia colorida, que nem na África e
voltaram. Aí chegaram e tocaram e dançaram. Vamo, vamo, Nossa Senhora, vamo, vamo,
Nossa Senhora. E quando viu, a Santa deitou. Eles puderam trazer. Puseram em riba de uma
mesa e foram rezando, dançando, admirando ela. Adorando de vela acesa. Eram todos gente
africana. Cantava enrolados numa língua velha que era a deles. Daí nós continuamos todo
sempre com nosso canto e a nossa dança, pra homenagear a Santa e ao São Benedito que
ajudou nossa Senhora criar o Menino Jesus e foi cozinheiro preto.” Os antigos congadeiros
sempre contam essa história e eu ouvi do meu avô.
- E na escola, qual que é a sua ligação com a congada? Você participou da criação ou você
entrou á pouco tempo?
Rosa: Olha, eu entrei na escola Paulina Rigotti de Castro em 2009. Sem contato com a
congada, mas eu não participei do início. Hoje em dia, nós trabalhamos na escola com essa
congada. Mas quem começou o projeto foi a professora Maria Aparecida Cangussu e a
diretora Soniamar de Lima. A Sônia, até hoje, ela continua à frente da congada. Ela continua
na escola trabalhando com os alunos.
Rosa: Com a implantação do PRODEC em 1998, a escola Paulina Rigotti de Castro iniciou
um projeto com os alunos de primeiro e segundo fixo, com a finalidade de preservar a
(incompreensível) dessa cidade, principalmente a congada. As professoras Maria Aparecida
Cagunssu e Soniamar Lima (Ferre), então diretora da escola, iniciaram um trabalho inédito na
área educacional. Levando o estudo da congada para a sala de aula e criando assim o primeiro
terno mirim da congada para fazer parte dos projetos de São Benedito. A congada passou a ser
grande motivação para os estudantes. Desde que foi criado o primeiro terno mirim em
Machado, já foram feitas brilhantes apresentações na festa de São Benedito e em outros
eventos da cidade.
- Você sabe quem ajudou a formar o terno de congo? As professoras sabiam sobre as
congadas? Qual que era o conhecimento das professoras?
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Rosa: As professoras tinham um conhecimento muito por cima do que acontecia na congada.
Mas aí o que que aconteceu, pediram ajuda pros pais, pros avós, pros tios dos alunos que
ajudaram nos ensaios, e nos ensaios foram ensinando os alunos. E daí os próprios alunos
mesmo, com ajuda do pai e do avô eles foram aprendendo. Porque muitos alunos da escola
são filhos de congadeiros. Eles já vivem nessa família de congadeiros então eles já têm certa
experiência. Tem aluno que já vem desde novinho junto com a família mexendo com
congada. Então eles mesmos já sabem como conduzir a congada.
- Quando que acontece o projeto folclore? Conte pra nós como que é essa ligação do projeto
com o terno de congo?
Rosa: Primeiro pela professora Silvana Cristina e cordenado pela supervisora da época Maria
Aparecida Rodrigues Canguçu na gestão da diretora Soniamar de Lima (Fere). Na época, o
projeto teve duração de 15 aulas aproximadamente, quando os alunos entrevistaram,
pesquisaram, fizeram maquetes, poesias, finalizando com a criação do terno infanto-juvenil
“Terno de São Benedito”. Em 1998, dando continuidade ao estudo das congadas, a escola
incorporou ao projeto pedagógico o desenvolvimento do projeto “O Folclore e a Festa de São
Benedito”, culminando com a apresentação do terno mirim durante a festa.
- Como era o ritual das congadas? Quem ensinou os professores da escola esse ritual?
Rosa: Como o ritual da congada local não era muito conhecido pelas professoras, o capitão do
terno, seu Francisco Baiano, foi procurado para auxiliar. Ele incluiu o grupo em seu terno.
Houve também a colaboração da escola Agrotécnica que emprestou os instrumentos. Naquele
ano, o terno tinha 21 componentes, 8 meninas e 13 meninos. A responsabilidade dos ensaios é
até hoje feito pela supervisora Maria Aparecida Canguçu, idealizadora da congada mirim em
Machado. Em 1999, a escola tornou-se independente com instrumentos e vestimentas
próprias. Nesse ano, o grupo era composto de 21 crianças. No ano seguinte, o terno contou
com a participação de 49 crianças. Em 2001, saiu com 50 crianças. E, em 2002, os
componentes aumentaram de 37 meninos e 22 meninas. O projeto foi muito importante para a
cultura da cidade. Tanto que fez parte do programa de capacitação de professores do estado de
Minas. Outro aspecto também importante é que estão surgindo novos projetos nas escolas
estaduais, municipais e particulares.
Rosa: As crianças, aceitam muito bem o projeto. Gostam de participar. Se dispõe a ensaiar,
ajudam nos ensaios. Os pais também têm uma participação muito ativa, porque levam os
filhos nos ensaios, ajudam, e também levam nas apresentações quando necessário. Porque a
maioria das vezes quem leva é o professor, mas o pai também aceita muito bem o projeto.
Rosa: Como supervisora da escola, na época das congadas, vejo-a como uma manifestação da
cultura popular. Ela envolve professores, alunos, pais e toda a comunidade escolar. É uma
maneira de não deixar a cultura de um povo acabar. Pois em Machado as congadas são uma
tradição que passa de pai para filho.
- Qual é um dos momentos mais importantes da festa de São Benedito e os quais a congada
mirim fazem parte?
Rosa: Olha, a congada mirim faz parte da alvorada, que acontece no primeiro dia da festa.
Depois vem a novena, que são nove dias de/que a parte religiosa da festa. Na primeira semana
da festa, vem o levantamento do mastro. É uma cerimônia realizada no primeiro domingo da
festa. Toda congada participa, reunindo-se na praça de onde parte o terno de congo, e eles vão
em busca do mastro e outra arte vai em encontro da bandeira. O mastro fica em uma casa e a
bandeira fica em outra casa. Logo em seguida, ele passam pela igreja e é feito o levantamento
do mastro. O responsável pela guarda da bandeira fica na casa do senhor Lázaro dos Santos.
A casa do capitão da bandeira é o lugar onde os ternos se reúnem. O mastro e bandeira se
encontram em frente a igreja, subindo em cortejo até a igreja de São Benedito.
Rosa: Sim. A congada participa e o professor acompanha os alunos até a subida do mastro que
é feito no domingo. O mastro é levantado pelas mãos dos congadeiros envolvendo a todos os
devotos. A festa de São Benedito tem também a abertura com a tenda do congo, é o lugar
onde eles expõem todos os retratos das festas já (passadas), todos os instrumentos usados na
festa...
Rosa: Outro momento importante na festa de São Benedito que os congadeiros, que eles
prezam mais é a missa solene que é feita no domingo, com todos os congadeiros dentro da
igreja e logo após fazem a procissão. Essa procissão é realizada no segundo domingo da festa.
A procissão encerra a novena de São Benedito e homenageia em seus andores Santa Efigênia,
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Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. O ritual se inicia com a missa e depois esse
cortejo, a procissão ela segue o trajeto da igreja matriz até a igreja de São Benedito. O roteiro
se inicia na praça subindo as ruas principais até alcançar a praça de São Benedito. Os festeiros
também, são responsáveis pela festa, pelas arrecadações de prendas, donativos, leilões, bingos
e sorteios realizados durante a festa.
- Como os festeiros veem a participação das crianças, o terno mirim na festa de São Benedito?
Rosa: Esses festeiros são compostos de três casais e eles incentivam para que essa congada
mirim tenha continuidade porque é muito importante essa continuidade para que essa cultura
não se desfaça. Então, para os festeiros, a congada mirim em São Benedito é uma parte muito
importante. Outro momento muito importante da festa de São Benedito é o reinado. O reinado
acontece na última segunda-feira de festa. Os ternos de congados vão buscar os integrantes da
corte que fazem parte da festa. O rei perpétuo, o rei congo, as rainhas e princesas. Eles
buscam nas suas residências e esses reis descem a caráter com seus mantos e coras. Os
cortejos seguem para a igreja matriz e a comitiva com pressa dirige-se para a igreja de São
Benedito, seguindo o mesmo roteiro da procissão. Nesse momento, acontece a coroação dos
festeiros do ano seguinte, cerimônia realizada pelo pároco da cidade. A coroação ocorre após
o canto do hino da cidade e compreende a troca de coroas e de mantos. O reinado é o
momento mais bonito da festa, quando os ternos de congo encenam a tomada da coroa do rei
com danças usando fitas e artifícios nessa tentativa. Outro momento é a descida do mastro, é o
dia do congo e a descida do mastro. Ele é marcado pela apresentação individual de cada terno
e a premiação das congadas. É o momento de despedida dos ternos que dançam e cantam
fervorosamente, agradecendo os dias de festa e as bênçãos recebidas durante o ano. A descida
do mastro é o último e mais emocionante momento da festa.
- Em qual outro momento a congada mirim participa da festa de São Benedito a não ser no dia
da procissão, da subida e da descida do mastro?
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Data: 22/03/2012
Hora: 15 horas.
Duração: 25 minutos
- Como foi seu contato com o congadeiro que ensinou as coisas da congada para vocês na
escola?
Maria Aparecida - Foi o senhor Francisco Baiano, fui até sua casa e ele me ensinou passo a
passo, já que achava desnecessário o ensaio, essa é a visão de quem vive a cultura, faz parte
de suas vidas, a congada para ele era muito fácil. Mas aceitou nossa entrada no seu terno e nos
contou muitas histórias fez até um preparado com alho e outras coisas para evitar o mau
olhado nas crianças e recomendou que as crianças não deveriam aceitar nada para comer
durante a apresentação porque existe muita inveja. Ensinou alguns rituais como por exemplo
de fazer o fechamento do terno nas encruzilhadas.
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Maria Aparecida - Foi um trabalho de conquista. Assim que cheguei em Machado (vindo do
norte MG), em 1996, comecei a trabalhar na escola com pedagogia de projetos e no mesmo
ano conheci a festa de São Benedito e achava estranho a escola não envolver com uma festa
tão grandiosa. Não concordava em a festa acontecer no mês do folclore e a gente estudar
folclore de outras regiões sendo que aqui havia uma festa muito rica. Porém houve muita
resistência e no início somente a professora Silvana Cristina aceitou iniciar um estudo como
um plano de unidade de sua sala. O projeto foi assumido no começo por mim, pela professora
Cristina e pela diretora Soniamar. No primeiro ano, conseguimos instrumentos emprestados
pela antiga escola agrícola, depois, com a verba que a prefeitura ajuda, as congadas em
Machado, conseguimos adquirir o material necessário.
- Quando aconteceu?
Maria Aparecida - Começou em 1996 com um projeto pedagógico em uma sala do 4º ano.
Maria Aparecida - Como um plano de unidade de uma sala do 4º ano com a professora
Silvana Cristina. Em seguida, foi incorporado através do PRODEC no currículo da escola no
PPP.
Maria Aparecida - Foi um pouco complicado porque eu não sabia nada sobre congadas.
Então, comecei a pesquisar sobre o assunto e encontrei no Livro de Saul Martins, um
folclorista de MG. Assim começamos a estudar sobre a congada. Primeiro, fizemos pesquisa
bibliográfica; depois, uma pesquisa de campo. Em seguida, surgiu a ideia de fazer um terno.
Fui atrás do congadeiro senhor Francisco para ir na escola nos ensinar, mas o mesmo dizia
assim “ não precisa, D. Cida é muito fácil, as crianças começa a tocar aqui em baixo e quando
chega lá em cima já tá sabendo”. Tentei várias vezes, mas não deu certo. Aí, fui até sua casa e
ele foi me ensinando passo a passo primeiro aprendi a bater as caixas, e repetia com as
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crianças na escola. No segundo ensaio, ao ouvir o som dos tambores, os pais avós que sabiam
começaram a descer para a escola e nos ajudar. Aprendi com o senhor Francisco a tocar,
cantar e dançar congo. Em seguida, levei algumas meninas do seu terno para ensinar as
meninas da escola a dançarem. Perguntei a ele se era possível a gente sair no terno dele. E
imediatamente concordou, daí então conversei com a diretora Soniamar, que mandou
confeccionar as roupas das crianças igual ao do terno do senhor Francisco e, no dia da festa,
saímos na frente do seu terno (a escola tem foto dessa época). No ano seguinte, resolvemos
sair sozinhos e o projeto foi incorporado no PPP da escola e todos aderiram. Alguns, com
mais resistência e outros, mais envolvidos. Assim, foi criado o terno e, em seguida, registrado
na Associação de Congadeiros. Percebemos que os envolvidos nas congadas pouco sabiam de
sua história
Maria Aparecida - O mais difícil foi convencer os professores porque havia muito
preconceito, alguns diziam que os congadeiros bebiam muito e era perigoso para as crianças,
mas mesmo assim insisti. O que mais motivava era o interesse das crianças em participar.
Quando começava o ano letivo, já vinham me procurar para entrar no terno, saíamos com 50
crianças. Alguns professores perguntavam como conseguíamos manter algumas crianças
comportando bem no terno, já que na sala de aula eram muito danadas. Acabou servindo de
contrato entre a escola e as crianças. Para frequentar a congada, tinha que ser um bom aluno.
Na cidade, penso que houve uma mudança na maneira das pessoas perceberem a congada.
Alguns senhores de ternos até choravam no dia em que o terno saiu nas ruas de Machado pela
primeira vez. As outras escolas começaram a trabalhar e até criaram também mais dois ternos
nas escolas municipais. Percebi que o fato das crianças se arrumarem muito para se apresentar
também influenciou os congadeiros, já que nos primeiros dias de festa se apresentavam com
qualquer roupa e a escola guardava o uniforme de um ano para o outro e usava os mesmos nos
primeiros dias e as congadas da cidade começaram a fazer o mesmo. Outra coisa que observei
era que os ternos usavam bonés com propaganda e, no nosso terno, eu introduzi um modelo
de chapéu africano e hoje a maioria dos ternos usam. Outro ponto positivo foi que a escola foi
convidada para gravar um vídeo para a SEEMG PROCAP, mostrado em todas escolas de MG
como um exemplo de pedagogia de projetos no curso de formação continuada de professores.
Tínhamos um pouco de dificuldade em convencer os professores a trabalharem durante o
feriado. Soube que, no mandato da diretora Luisa Lopes, o projeto deu uma esfriada e que a
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ex-diretora Soniamar é que o mantém funcionando mesmo estando na biblioteca. Sei o quanto
é difícil colocar a congada na rua, os ensaios, a escolha da farda, os bilhetes para os pais
deixar ensaiar, o compromisso com as crianças nos dias de apresentação. Sei tudo. Mas com a
troca de diretor sinto que será revigorado, pois o Paulinho é muito dinâmico, sangue jovem.
Não estou mais na escola, saí em 2009, mas fico contente em ver que, mesmo depois de tanto
tempo, o terno continua. Para mim foi uma experiência maravilhosa aprendi a dançar, cantar e
dançar congo. Acho que sou mais congadeira que muitos machadenses (risos). Sinto que a
congada ganhou força. Com a entrada das escolas na festa, outros projetos foram criados
como o das escolas municipais.
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Data: 06 /12/2011
Hora: 14 horas.
Duração: 14 minutos
- Seu contato com a congada de onde começou. Você vem de família de congadeiros?
João Batista - Venho de família de congadeiros, depois da morte de meu pai eu e meus irmãos
tomamos a frente do terno de congo. Minhas irmãs e cunhadas cozinham e toma conta da
farda. Não foi uma tarefa fácil quando fiquei a frente do terno. O nosso terno é um dos mais
antigos da cidade de Machado, como você sabe numa das nossas apresentações, quando
fomos faze uma participação no CD do Martinho da Vila, nosso ônibus teve problemas e
sofremos um acidente. O meu sobrinho perdeu a perna, foi muito tempo de tratamento,
recebemos ajuda do cantor, ele deu apoio mas não é fácil pois saimo tudo bem e voltamos
com problemas. Sabe como é né.
- Conte um pouco dessa história. Desde a época em que seu pai iniciou na congada.
João Batista - Quando meu pai montou o terno, eu era pequenininho e todos quando o terno
passava saudava o meu pai que tinha apelido de Zé Caixeta. Seu pai sempre emprestava as
caixas da escola de samba para o congado e quando chegava o carnaval nos devolvia e
emprestava as nossas. Uma boa parte de minha vida passou na zona rural, para o meu pai era
difícil. Antes matava capado para dar comida para o congado. Ensaiava num terreiro de café
perto de casa, dava depois do almoço e o povo ia chegando, tudo era diferente, as pessoas
mais fácil de lidar, batiam com fé e vontade, nós era unido, meu pai muito se alegrava nos
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ensios, tenho muita lembrança boa desse tempo. Os mais velhos ensinava os mais novos.
Passou um tempo e meu pai foi para a cidade, comprou um terreino perto da igreja de São
Benedito, com muito sacrifício fez a nossa casinha, minha mãe trabalhou muito também tanto
para ajudar a construir nossa casa tanto para que o terno de congo saísse nas ruas para alegrar
o povo.Com o passar do tempo, meu pai foi adoecendo, meu irmão mais velho que eu teve
problema de intestino e eu fiquei o responsável pelo terno.
Na casa da minha irmã tem um cômodo na casa que meu pai já construiu para guarda os
instrumentos. Saímos na festa e dois dias antes do início da festa, limpo todos os
instrumentos, aperto as caixas, peço emprestada outras e assim vou sustentando o terno. Sabe
que hoje em dia é mais fácil que na época do meu pai, agora tem a Associação, a prefeitura
ajuda, temos o armazém, pouco mais tem. Já aposentei mas trabalho para ajuda as filha, nos
dias da festa paro para arrumar os instrumentos, colchão para os congadeiros que vem da roça,
do Douradinho..Muitos dos nossos congadeiros moram na roça e sabe né tem que arrumar
desde o colchão para eles dormirem.
João Batista - Função do capitão, capitão cabeça da congada.Um dos meus irmãos é o contra
mestre que fica do outro lado do cordão dos congadeiros, do lado esquerdo e nos dois
levamos o congado. As dançarinas são as minhas sobrinhas.
João Batista - Foi muito bom criar aqui em Machado, a Suely, a presidente agora nos ajuda
muito, com o armazém, reune todos, conversa sobre as apresentações. Eu não gosto daquela
premiação na terça-feira pois nois dança pro São Benedito e Nossa Senhora do Rosário e não
para o troféu
A festa sempre acontecia no mês de agosto, tenho a lembrança. Meu pai panhava café e com o
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João Batista - Eu achei uma ideia muito boa. Nós já fomos dançar na escola e gostei muito.
As crianças é uma maneira dos congadeiros não acabar. Não só na congada da escola como
em todas as congadas as crianças estão e isso é muito bom.Elas são luz.
João Batista - O mastro significa o começo e o final da festa. Aqui no Machado levanta um só
e nas cidades que nos vamos dançar levanta um para cada santo. Ele serve para colocar a
bandeira de São Benedito. É no pé do mastro que os congadeiros louvam São Benedito.No dia
da subida do mastro é muito bonito ver a devoção do povo.Todo mundo quer tocar o mastro.
È uma vara de eucalipto enfeitada que é guardada na casa da dona Maria D’Bem, essa família
já faz muito tempo que enfeita o mastro.
João Batista - A dança veio de Moçambique e aqui nos adaptamos. As meninas dançam na
fita que a rainha leva a bandeira e dela sai as fitas. Os congadeiros dançam e fecham o círculo
em torno das dançarinas. É muito bonito. O meu terno tem bastante moça e muitas crianças,
elas dançam muito.
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Data: 06 /12/2011
Hora: 14 horas
Duração: 27 minutos
Moacir: 46 anos.
- Seu contato com a congada de onde começou. Você vem de família de congadeiros?
Moacir: Vim de família de congadeiros sou da 3° geração , pais e meus avós de pai pra filho.
- Conte um pouco dessa história. Desde a época em que seu pai iniciou na congada.
Moacir: Quando meu avô montou essa congada, ele e seu Chico Mole, eu era pequenininho.
Foi o primeiro terno que existiu aqui em Machado. Aí as ruas eram tudo de terra ainda e o
terno foi fundado na rua 13, onde hoje é a rua Dom Hugo .As ruas eram de terra, eu era
pequenininho, mas já dançava. O meu avô era contra mestre, tio Chico era capitão. Depois
que meus avós faleceram, meus tios, aí passou a ser meu pai. Do meu pai passou para meu tio
e, depois, passou para mim.
Moacir: Isso veio de Moçambique. Coisa da África. Aí, a gente foi modificando, foi
mudando os passos.
Moacir: É uma dança tipo de acordo que a congada vai tocando. Você dança no ritmo que
você sabe, eu danço de um jeito. O contra-mestre já dança de outro jeito, mas o certo é dançar
os dois iguais.
Moacir: Aí tem que ser bom. No dia principal da festa, primeiro nós estamos indo para a
procissão, missa; após a procissão, saímos fardados e toca o barco até o fim.
Moacir: O reinado é uma coisa que já tem na própria congada. Se não tiver o reinado, o
reinado anima a festa. A turma vai mais por causa do reinado.
- E quem faz parte do reinado? Todas as congadas tocam ao mesmo tempo? Ou tem uma
ordem ali para as congadas seguirem as procissões? Como que é?
Moacir: Não, no reinado a congada bate normal samba corrido; agora na procissã, vai batendo
só marcha e cantando música de São Benedito e Nossa Senhora.
Moacir: 1° São Benedito; depois Santa Efigenia e Nossa Senhora do Rosário e tem Nossa
Senhora Aparecida também.
Moacir: Faz.
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Moacir: Vai.
Moacir: 4 andores.
- Fale para mim um pouquinho. A escolha do Rei do Congo, como ela é feita?
Moacir: A escolha do rei, aí já depende de quando surgiu esse negócio de rei escolher uma
pessoa mais de idade que pertence à congada, que é dono de congada. O primeiro rei que nós
tivemos foi Joaquinzinho Santana e depois passou para o filho dele que é hoje José Vitor
Santana.
- As congadas são feitas entre família; como é feita a escolha de quem toma conta da
congada?
Moacir: Não, tem terno de congo geralmente o nosso terno de São Benedito a maioria antes
era só família. Pai, primo, irmão, né. Hoje não, porque muita gente já se foi, já morreu e hoje
também nós dependemos de quem é de fora. Desde que ele seja congadeiro, pertence a nós, é
da nossa família.
Moacir: Não, essas músicas, o congadeiro que tem que criar. Cada capitão, vamos supor, se a
gente vai dançar congo na Aparecida do Norte, Belo Horizonte vai nesses lugar cada capitão
tem que cantar a sua música.
Moacir: Tem que participar. Capitão, principalmente. Todos capitão tem que ir.
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Moacir: Ajuda.
- De que maneira?
Moacir: São os próprios participantes da congada , a Ditinha , se a Dalva fosse ela podia ser.
Já tem cozinheiras próprias do congado.
- E você faz parte do terno de demonstração? Como surgiu isso? Conta pra mim um
pouquinho disso.
Moacir: Esse terno aí, foi o professor José Vitor que fundou esse terno. Então esse terno de
cada terno eles tiram 3 componentes. Mas, tem terno que tem mais. Vamos supor, no meu
terno, era eu, Jairo, Marquinho, hoje só está eu e o Marquinho. O Jairo não quis mais. Mas de
todos os ternos tem um, dois ou três.
- Mas você sabe por que ele criou esse terno de demonstração?
Moacir: Esse terno, vamos supor se a gente vai dançar fora, esse terno vai fazer homenagem a
Machado.
- Mas esse terno é diferente dos outros; o que ele faz? O que faz ele ser diferente?
Moacir: Não tem diferença dele, não tem aquela igual nós dança. É tudo igualzinho à outra.
Aí você pode ver os passos, é igualzinho ao outro e as música, as coisas todas silenciosas.
- Mas esse terno chega mais próximo da congada, quando ela iniciou, ou não?
Moacir: O batido é o mais certo. Este terno foi criado pelo estilo de terno mais antigo.
- Então é um resgate?
Moacir: A participação das crianças é uma satisfação que a gente tem. Porque as criança é um
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anjo que está aí na frente ajudando nós. Elas ajudam a cantar Meninas que cantam muito mais
que meninos que estão lá trás. As meninas do meu terno tudo pequenininha, você precisa de
ver elas cantarem , que gracinha.
Moacir: É importante sempre, porque a gente vai ficando velho, as criança vão crescendo,
principalmente rapaz as moças não, chega uma certa idade arrumam namorado aí param. Os
rapazes, não, eles continuam se for da família então morre, como morre da minha família, pai,
avô, vamos supor, eu, no meu caso, se um dia eu chegar a faltar, eu tenho um neto que vai.
Moacir: Isso.
- Da onde surgiu?
Moacir: Esse boi veio da Bahia. Eles fizeram aquele negócio de boi Bumba. Eles falam Boi
Bumba, né. Ai nós acompanhamos esse boi e pusemos esse no nosso terno.
Moacir: Não, aqui é deferente, o boi é igual o de lá, a nossa dança é que é diferente.
Ei, boi!
Ei, boi!
Ei, boi!
Ei, boi!
Ei, boi!
Moacir: Não, isso aí pra quem gosta é a devoção. Vamos supor, tem gente que dança um
tempo, para, não quer dançar mais. Eu já danço porque sou devoto de São Benedito, de todos
os santos da congada e danço porque gosto.
Moacir: Porque eu gosto, já trago a tradição anterior, então eu sou obrigado a sustentar.
- Obrigada!
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Data: 08/01/2012
Hora: 9h 30 minutos.
Duração: 15 minutos
Sebastião: 56 anos
Sebastião: O capitão, ele comanda seja lá 60, 80 pessoas. A responsabilidade é muito grande.
Sebastião: Olha, isso aí vem de geração né, isso aí eu tenho que uma capacidade aí de uns 14
a 15 anos já estava mexendo, não sendo capitão, mas congadeiro eu era.
Sebastião: Olha, eu já tinha bem entendimento com meu pai que era o Benedito Anselmo, eu
já tinha bem um pouco de sabedoria, não é grande sabedoria, era um pouco de sabedoria.
- Porque o senhor participa e por que o senhor quis ser o capitão ou... por quê?
Sebastião: Olha, ser o capitão é assim... suponhamos, ali vem uniforme...capitão que tem que
movimentar, instrumento... capitão que tem que movimentar, então veja, uma parte dessa aí
que o capitão faz a responsabilidade dele não é brincadeira num congado.
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- E o que o senhor acha da congada de antes, da época de seu pai e da congada hoje em dia?
Sebastião: Olha, 100% mudou muito, veja bem. Antigamente ela fazia caixa dessas caixas de
corda, cavaquinho e veio vindo da origem cultural, agora hoje já não tem essas convivência
mais, é pouco terno que você vê com instrumentos desses, porque dá um instrumento desses
para o congadeiro, ele vai chegar e vai fala para o capitão, não eu quero é essa caixa nova
aqui, essa de percussão, ele não pega então é onde eu falo para você, hoje o congado nosso
dismudou muito, eu vou falar uns 100%.
Sebastião: Muito importante essa pergunta. Muito importante porque nós já vamos acabando,
a geração nossa já vai acabando. Então, já tem que começar deles, já vim treinando eles, você
vai ficar de capitão aqui, você vai ficar de contra-mestre, você vai cantar aqui, então é uma
coisa muito importante essa pergunta que você me fez.
Sebastião: Olha, a dança tem muito tipo de dança, tem o Moçambique. Agora, o congado a
dança dele é uma dança África que é acompanhada pelos pretos. Veio pelo batido da caixa,
porque o batido da caixa manda muito, porque hoje nós não estamos batendo o batido original
já virou outra bateria. O batido antigo é um batido compassado normal para você dançar.
Sebastião: Ela representa uma imagem no meu pensamento, né. Uma imagem que é uma coisa
importante. Ela pode representar Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia é uma coisa uma
pergunta importante que você me fez ela representa, ela é um símbolo dentro da congada.
Sebastião: A origem, a congada de Machado, aqui ela não tem muito valor, né... é pouco
valorizada, porque olha veja bem, muitas pessoas hoje, não são dizendo assim.... não gostam.
Isso aí você está fazendo essa pesquisa quando você voltar aqui pode olhar a mesma coisa, o
bem que o capitão me falou. Se eu chegar na casa de vocês, vocês vão me receber bem, mas
se eu chegar em outra casa... Agora se iremos pra Aparecida, em outras cidades de fora, tem
valor, sim. A nossa cidade está faltando é humildade e a união tem um terno de congada ali,
vamos fazer uma coisa ali, vamos dar uma alimentação para eles, eles não pensam isso. Agora
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- E por que o senhor acha que eles não dão, que não dão esse valor?
Sebastião: Olha, eles não dão valor porque eles falam, ah! mas é um congado e tal.. mas
quando é outras coisas, um cantor, aí sim tem valor, mas o congado é desvalorizado. Isso aqui
que eu vou falar para você não é só eu que vou falar não, isso aí mais capitão vai falar.
- Mas essa desvalorização vem de uns anos pra cá ou sempre foi assim?
Sebastião: Boa, ajuda muito são, muito honestos em cima do pedido mesmo. Se não tivesse
Associação dos Congadeiro, eu no meu pensamento, eu acho que a festa ia até acabar porque
a Associação dos Congadeiros ela é firme, ela é rígida. A presidente, em cima do pedido;
como faz ela, como faz o esposo que já foi presidente, é em cima do pedido.
Sebastião: Olha, a parte da alimentação eles dão, a parte da alimentação, aí é por conta deles.
- E o ranchamento?
Sebastião: O alojamento praticamente eu já tenho o meu aqui. Agora o pessoal que já não
tem, eles alugam um alojamento pra eles por três dias. É, veja bem, já é um cargo pesado para
o capitão porque vai desembolsar lá R$600,00, que seja R$700,00.
Sebastião: Não, esse dinheiro vem pela prefeitura, ela passa uma verba para os capitães.
Agora, vamos supor, eu, o terno meu mais os três ternos que saem aí já vai equilibrando
porque o dinheiro que lá fora também ajuda nós, tem uma força grande lá fora. Para os ternos
que saem.
Sebastião: Recebe, vamos supor, vai em Cordislândia, então, a Associação combina o preço
com os festeiros, aí chega e paga. Tem muito terno que já não sai, esses já ficam só com a
verba da cidade.
Sebastião: O terno da escola? O terno da escola, vamos voltar na mesma pergunta nós
estamos precisando dessas crianças, nós depende das crianças de hoje em dia.
Sebastião: Na festa de São Benedito, o mastro ali ele é assim um vai ali para fazer uma
promessa, isso aí é praticamente... uns já vão pôr a mão no mastro “a promessa minha aquilo
ali...” Então o mastro é uma coisa importante, significando assim aquela origem. Ali já vem
vindo muito antigo, muitos antigos que vêm vindo com a origem do mastro. O mastro para
nós é uma cultura muito grande.
Sebastião: Olha, muitos lugares já deixa ele sem descer, agora aqui, na terça desce o mastro.
Sebastião: Final da festa, para nós que é Machadense, terça-feira é o final da festa.
Sebastião: Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, porque a festa aqui quando a gente
chega na catedral da igreja, o que representa lá, são três imagens, se chegar lá uma pessoa
igualzinho você está fazendo essa pergunta, boa e importante, importante essa pergunta aí
porque pode chegar uma pessoa e falar mas a festa é de quê? A festa é de São Benedito,
Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia. Não está as três imagens lá, mas por quê? Tem só
a de São Benedito cadê as outras duas? Muito importante essa pergunta. Isso você pode
perguntar para qualquer pessoa, mais de cultura, o professor José Vitor, lá na Associação dos
Congadeiros, para presidente, também ela vai falar dessa pergunta para você.
- Obrigada.
165
Data: 18/12/2011
Duração: 18 minutos
José Otávio: Meu nome é José Otávio Filho, sou natural de Paraguaçu e criado aqui no
município de Machado e casado aqui em Machado também. E sobre esse negócio da
Congada, o São Benedito era cozinheiro dos escravos, aí foi indo... era cozinheiro com os
escravo tudo..aí foi lá um dia São Benedito ficou doente lá, foi fartano, aí eles inventaram de
sair a congada; e a Congada começou com os Caiapós, tirar os índios lá do mato, aí de tirar os
índios do mato do Caiapó, aí se formou o Terno da Congada. Conforme tem aqui em
Machado mesmo, tem vinte e dois ternos da Congada.
José Otávio: São lembranças de tempos passados, lembro muito bem do tempo em que meu
pai juntava sua viola e puxava a cantoria. Era muito bonito olhar o terno de congo. Logo em
seguida, todos acompanhavam o ritmo do seu apito. As fardas, a cada ano, usávamos uma
farda diferente, colorida, brilhante que encantava a todos na nossa passagem pelas ruas da
cidade. A rainha é quem segurava a bandeira, e as meninas todas de saias rodadas, cantavam e
dançavam em louvor a São Benedito. São tantas as lembranças... Parece que foi ontem. Eu era
criança e ouvia louvores a São Benedito que surgia longe, lá no alto da serra. Nós morávamos
na roça. Os ensaios do terno como eram bons aqueles ensaios. Quanta música bonita. E a
procissão do reinado, que coisa maravilhosa. Dia de usar a farda nova e acompanhar o cortejo
que leva São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário. É muita fé que nos
acompanha na festa de São Benedito. Nunca senti coisa mais gostosa do que estar no
ranchamento. Muito colchão no chão, criança pulando de um lado para outro. Comida no
fogão fervendo. Como dizem por aí... São Benedito multiplica o pão. São tantas as
lembranças que fico triste de pensar. No tempo que já se foi. Quanta gente se passou e hoje só
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estão os netos, os primos e os sobrinhos. Mas a luta continua, pela fé em São Benedito. A
festa de São Benedito é festa de fartura, toda nossa gente se prepara para os dias de festa. É
bom ver o povo reunido olhando nosso terno passar e cantar. Gosto muito do terno de congo.
Nele eu cresci, meus netos, meus filhos e sobrinhos e, se Deus quiser, nele quero seguir até o
fim. Todo mês de agosto minha missão é esta. Com a bênção de São Benedito.
José Otávio: Eu sou dono do terno e capitão do terno... e tomo conta do terno também, eu sou
o chefe do terno também. Aí tudo da minha congada tem setenta componentes, entre homens
e umas meninas que dançam na frente da bandeira, então isso tudo faz parte da congada. E a
Congada aqui em Machado, em todo lugar que tem a Congada é muito bom demais da conta
porque é uma festa muito animada, é uma festa que traz muita recordação do tempo que
começou , dos escravos que veio vindo e agora hoje. Só que mudou o jeito do ritual tudo,
porque, de primeiro, era instrumento de congada era instrumento a corda, de bambu, era de
couro de boi, tamburim, essas coisas. Agora, hoje não, hoje é de nylon essas coisas mais é
tudo dentro da congada fazendo a representação do terno de congada igual começou.
José Otávio: Comecei foi em 40, em 51, aí eu já tinha... eu dançava em um outro terno, aí
depois eu vim formando, eu vim vindo e resolvi formar um terno por minha conta, a foi
quando eu formei o terno da minha conta lá na Vila Santa Helena. O terno é de São Vicente,
São Benedito e Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, então nós vem vindo com essa
congada aqui de Machado aqui, todos os ternos e vem tudo fazendo aquela apresentação do
São Benedito, de quando ele... do tempo dele que ele era escravo tudo, então nós vem fazendo
essa semelhança hoje do São Benedito e da congada conforme foi começado, conforme
começou. Então, hoje está tendo um movimento medonho, em todo lugar tem a congada, mas
é tudo tirada do tempo dos escravos que vem vindo.
José Otávio: É muito bom demais da conta porque nós que já vamos tirar base mesmo por
mim, a gente já vai ficando mais de idade, vai ficando mais velho, então tem que ir ensinando
os mais novinho porque aí nós, os mais velhos, vão indo e os mais novinhos vêm formando
para a frente a congada, porque é uma coisa que não pode acabar porque é uma raiz
determinada por Deus e São Benedito, então não pode acabar. Então, nós mais de idade tem
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que ensinar os pequenos para eles vim vindo e trazendo conforme nos vem levando, então nos
tem que fazer tudo certinho, dançar a congada direitinho, tudo com ordem e com respeito
“pra mode” as crianças aprender as coisas certas porque se nós, donos do terno fazer as coisas
errada, as crianças também vão aprender errada, então chega “de hora” elas estão formando
fazendo errado, então tem que fazer certo “pra mode” eles vim fazendo certinho. E precisa das
crianças no terno de congo, quanto mais crianças melhor é porque nós grande já vai ficando
mesmo, logo não vai aguentar a andar, vai começar a mancar, então tem que ter as crianças
para vir vindo.
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Data: 14/02/2011
Duração: 24 minutos
Jorge: 82 anos.
Jorge: Como? Nessa congada que eu toco hoje, eu entrei nela dançando de promessa quando
era criança fiquei com essa promessa de dançar por 7 anos e o terno que me aceitou para
dançar os sete anos foi esse terno que eu toco hoje.
- Veio da África?
Jorge: É...
- E a dança?
Jorge: Era apenas conhecido, foi o terno que me aceitou para cumprir a promessa, né...
Jorge: O capitão, ele que dirige o congado, essa parte é dele. Tem diversos congados e cada
um faz a sua parte.
- Tudo.
Jorge: Sobre o mastro. O certo do mastro é no dia que começa a novena, né, mas isso em todo
caso a novena começa na sexta-feira, então passou o mastro para o domingo, aqui nós
continuamos fazendo o mastro no domingo.
Jorge: O mastro é o símbolo da festa, no momento em que nós fincamos o mastro, a festa está
armada.
Jorge: O reinado é a origem da festa também é a origem da festa. Quer dizer que no momento
em que sobe o reinado é a participação de quando começou o congado.
Jorge: O reinado é a parte que quando a princesa Isabel libertou os escravos, aí os escravos
negros juntaram que ela deu o grito, eles juntaram um tanto de latinha, uma bateria umas
coisas e saiu para rua cantando, gritando e batendo.
- E o congado hoje em dia é igual ao congado que o senhor dançava antes, quando o senhor
foi cumprir sua promessa?
Jorge: Não. Nossa congada hoje evoluiu muito numa parte, mas nós, capitão mesmo,
esquecemos da parte certa do congado.
Jorge: A parte certa nossa antigamente era os instrumento, né... era caixa de couro, caixa de
corda, hoje evoluiu muito, tem essas pele que a gente poe, mas ela já não é do congado.
- Essas peles, as mudanças da caixa fazem o som ficar diferente? O que muda?
Jorge: Faz ficar diferente, porque a pele ela tira o ritmo né... ela faz muito barulho, um
barulho fora do limite. Agora a caixa de couro, não, ela faz um barulho consoante que a gente
pode cantar, pode dançar, tudo escuta o que está fazendo.
Jorge: A congada tem diversas músicas. A música das congadas é a seguinte; conforme que
aparece para a gente faz a música e canta. Agora têm as músicas no ritmo da congada, da
origem de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia que são os três santos
festeiros da congada.
- E as moças?
Jorge: As moças?
Jorge: Tenho, tem a rainha que toma conta da bandeira, e tem as outras meninas que dançam
na frente.
Jorge: É escolhida.
- Jorge: O papel dela, no momento que arma a congada, ela vai lá e enfeita a bandeira, veste a
roupa dela normal e rainha, na hora que o terno, monta o terno, ela vai na frente do congado
na rua.
- Como que é a divisão dos ternos de congo nos dias da festa de São Benedito?
- Todos os ternos tocam ao mesmo tempo, ou vai fazendo uma escala para ir na festa de São
Benedito?
Jorge: Assim que sai a novena, cada dia vão dois, três ternos.
Jorge: A Associação dos Congadeiros sempre que ajuda nós é a prefeitura, ela dá R$2000,00
esse ano ela deu R$2500,00 para nós fazer o movimento da festa do congado.
Jorge: Antigamente, não tinha não, essa ajuda apareceu do tempo do Dr. Jorge para cá.
Jorge: É o negócio que o congado nosso modificou muito é isso aí, porque naquele tempo o
capitão ia numa casa, numa loja marcava o pano, os congadeiros cada um ia lá comprava seu
pano e mandava fazer é que a gente podia sair, né... Agora, hoje não, o capitão tem que
comprar o pano, comprar instrumento, alugar casa, com esses R$2500,00 que sai.
Jorge: Esse ano foi a filha dela [dona da casa] que cozinhou para mim, eu paguei R$40,00
para ela por dia deu R$120,00 os três dias.
Jorge: Não. Esse ano eu gastei a metade do meu décimo terceiro e ela, metade do décimo
terceiro dela.
Jorge: Ajuda porque o congadeiro é o seguinte, ele já dança os três dias, ele já tem... tem
muito congadeiro que tem família tem quatro cinco filhos, já está lá dançando já quer dizer
que não ganha, nada né... Conforme o Zé Ronaldo mesmo, ele dançava comigo e tinha cinco
filhos, dançava os três dias de festa ainda precisava de eu ajudar ele porque chegava fim de
semana ele não tinha nada para comer, então sempre eu ajudava ele com uma coisinha “pra
mode” ele poder manter a semana da frente para até trabalhar e acontece muito isso daí.
- Todos os congadeiros do seu terno são daqui da cidade ou tem algum da roça?
Jorge: Não, meus congadeiros são quase tudo aqui da cidade mesmo de Machado, tem só três
congadeiros, tem, não tinha não, tem de Poço Fundo, ele vem todos os anos.
Jorge: Ela... o problema dela ser no mês de agosto, é uma época que todo mundo ganha um
dinheirinho né... tem o dinheirinho, os fazendeiros já têm a colheita do café também para
ajudar, e muita gente que fica fora durante o ano ele deixa para aquela ocasião tirar férias. Os
Machadenses, pessoas que vêm, deixam para aquela época.
Jorge: Mês de agosto. Toda vida ela começou dia 14, 21, 22, nessa parte assim.
- Todos que dançam a congada, eles dançam para pagar promessa, como que é?
Jorge: Não. Uns pagam promessa, outros dançam porque gostam né...
Jorge: Porque gosta e eu danço congada até hoje pagando promessa que já fez sete anos,
depois gostei e continuei, aí o capitão apanho confiança comigo e me entregou o terno na
minha mão.
Jorge: Não, porque o meu compromisso com ele, no dia que ele estava ruim para morrer foi
numa segunda-feira, eu morava na roça, ele mandou me chamar cheguei lá sentei na beira da
cama dele ele conversava comigo e puxava o fôlego e começava continuar outra vez, aí ele
falou pra mim, O Jorge você toca o terno para mim enquanto o senhor puder, o dia que o
senhor não puder mais, o senhor entrega ele lá no altar de São Benedito. O senhor entrega lá,
e depois de lá quem quiser tocar toca porque antes disso ele já tinha me entregado o terno,
pegou eu e a outra falecida minha e ele, eu na escada lá ele me entregou o terno e eu falei para
ele não eu não quero posso tocar o terno na rua para o senhor, mas enquanto o senhor tiver
vida deixa no teu nome. E toquei até a ultima hora de vida dele no nome dele. Aí foi a ocasião
que ele passou pra mim depois que ele morreu que ele passou pra mim porque aí que eu vou
voltar o assunto de novo. Aí ele na segunda-feira me chamou, passou o terno no meu nome
para mim senhor Jorge General porque o seu Jorge, lá em baixo, era capitão general, chamou
ele também e passou no meu nome e falou pra mim: “o dia que o senhor não aguentar mais,
não puder mais, que não tiver jeito, senhor entrega ele lá no altar de São Benedito aonde eu te
entreguei a primeira vez”.
Jorge: Vou fazer, agora, o dia que eu não puder mais, eu chamo duas testemunhas ou três
testemunhas e entrego lá nos pés de São Benedito, no altar de São Benedito a minha missão e
a missão dele.
- De quando o senhor começou a dançar a congada até o dia de hoje, o que tem diferença no
reinado? O reinado é igual?
174
Jorge: Não, não é igual, não. O reinado antigamente essa... o reinado meu, porque cada
capitão tem um reinado, você sabe disso, né? Quando eu comecei a dançar nesse reinado,
meu, nós vinha buscar uma coroa aqui no Zé Pedro, já ouviu falar no Zé Pedro?
- Não.
Jorge: Ela morava aqui, nós armava o terno e vinha buscar ela aqui, cada terno tem uma
rainha.
Jorge: Não, não é todos não, não é todos que têm rainha, não é, uns quatro ou cinco terno que
têm rainha.
- Quem escolhe?
Jorge: Esse já vem vindo de geração e raiz, vem vindo de raiz. Então, por exemplo, eu peguei
o terno e, quando eu peguei, já fazia essa parte aí com essa rainha até Sá Benedita morreu,
passou para uma netinha dela pequenininha assim, a menina já está uma mocinha e continuou
muito tempo, a mãe dela mudou para Taubaté e levou a menina embora, aí a nora dela falou
seu João, como é que faz agora? A menina foi embora e a coroa? “Eu falei Põe uma outra aí,
arranja uma outra, aí arrumei outra e pus.”
Jorge: Não pode pegar qualquer uma e aí vem vindo até agora e essa coroa hoje está com
minha sobrinha, mas eu que comando ela se amanhã ela falar para mim, eu não vou mais, tio,
eu tenho que correr e pôr outra rainha no lugar dela.
- Então, quer dizer que o capitão do terno de congo é que é responsável pela coroa?
Jorge: Essa coroa significa uma parte do reinado. Ela faz parte do reinado porque já faz parte
da libertação do cativeiro dos negros; então, ela já faz essa parte do reinado.
175
- No dia do reinado, os ternos vão todos juntos? É por ordem de chegada, eles vão chegando
e vão se organizando?
Jorge: Não, vai tudo junto. É uma parte que nós estamos deixando para traz. No dia do
reinado, antigamente, saía cada... já não é rainha mais, já é juíza, é o juizado que antigamente
falava, juizado. Então cada, por exemplo, a Divina sai de Juíza, então, arrumava bem
arrumadinha aqui e vinha um parceiro junto com ela de sombrinha, punha uma banderinha
aqui na porta, aqui do lado de fora, o congado vinha passando, já via a banderinha, chegava,
cantava, ela já saía com o guarda e nós ia embora.
Jorge: Essa juíza, já tinha o programa juizado, então as pessoas por exemplo tinha uma
promessa de ser juíza, então, ia lá e falava, olha, eu vou sair de juíza esse ano.
Jorge: Era para pagar promessa, então, já saía. Como eu por exemplo pegava uma vila
conforme essa aqui, quando chegava na praça já estava aquele mundel de reinado. Hoje não,
hoje modificou, não tem juíza mais, as cartas de juíza acabou, não tem reinado de juíza mais,
tem só a rainha, o rei, os festeiros. Agente ia na casa deles buscar eles , a mesma coisa, os
festeiros e o rei vão de carro, o congado está acabando.
Jorge: Busca, mas o rei sempre é o terno dele que vai buscar ele, mas o congado está
acabando, o reinado está acabando.
- E o rei do congo?
Jorge: O rei é a parte de sair o reinado, que é a parte da hora de sair que a princesa Isabel deu,
rebentou a liberdade, surgiu o rei. É a parte que ele faz, ele sai coroado e o nego batendo
caixa, fazendo barulho. É a parte que ele faz, o rei é três autoridades no congado, é o rei, o rei
perpétuo, o rei congo. O rei congo é o principal da congada, é o que manda em tudo. O rei
176
congo se chegar lá e falar esse ano não tem festa, não tem festa. Só ele que manda no
congado, não tem presidente, não tem mais ninguém.
Jorge: É ele é acima da associação, acima de nós tudo de nós tudo congadeiro, ele é acima de
tudo. Se a associação der uma ordem lá e ele falar não, acabou.
Jorge: Respeitam o rei congo. Nós respeitamos o rei congo mais do que a presidente porque a
presidente está lá para normalizar, organizar a festa, mas quem manda na festa é o rei congo.
- O senhor e os outros capitães dos outros ternos reúnem com o rei congo?
Jorge: Reúne, toda vez tem reunião lá na sede, né, e reúne todo mundo lá.
Jorge: Não, ele até não conversa, não, porque o nosso rei congo ele é meio quieto, né, ele é
meio paradão, mas pela regra, que nós conhece do congado, o certo é ele.
Jorge: Tem, sim, porque nós tem lá o rei perpétuo, o rei congo, o capitão e o general. O
capitão e o general que conversa aquela guarda, que comanda aquela guarda.
Jorge: É ele é dono da guarda, ele que passa a disciplina para guarda e o capitão e general é o
símbolo de tudo, depois do rei perpétuo. Agora o rei congo pode tirar ele; agora, o rei
perpétuo ele é efetivo, ele permanece.
Jorge: Isso aí o rei congo, por exemplo, é agora está com Vitinho Santana. Isso aí vem de
família também, do pai dele, dos irmãos e veio vindo. Santana veio, foi perpétuo por muitos
anos, muitos anos, ele foi rei perpétuo, depois, foi passando, veio vindo, veio vindo.
Jorge: A origem do congado em Machado é essa que eu estou contando, ela modificou muito,
nós já tentamos voltar, mas não volta mais, é difícil de voltar nós estamos tentando voltar por
causa dos instrumentos, voltar à origem, as músicas, o estilo de dançar, porque o ritmo do
congado não é esse nosso que nós dançamos porque esse ritmo de congado que nós está
dançando hoje já passou mais para escola de samba.
Jorge: Isso aí é uma coisa, quando a Fátima estava por formar aquele terno modelo, eu e ela
somos muito amigos desde o pai dela né. Um dia ela me chamou lá em casa e falou “Seu
Jorge o que o senhor acha do Terno Modelo? Nós estamos formando um Terno modelo
recadando a raiz do congado.” falei “Está muito certo, Fátima, mas no meu ver, eu falei para
ela acho que eu sou meio bobo, mas, eu acho que você não está arrecadando a raiz do
congado, não. Aí ela falou: Mas por que? Está tudo, os capitão, os homem velho, tudo lá, Aí
eu falei: Por isso mesmo para arrecadar a raiz do congado tem que pegar embaixo, pegar as
crianças por lá no terno modelo para ensinar, pra amanhã arrecadar a raiz. Ainda brinquei com
ela: “A raiz que você está pondo lá é raiz podre.”
Jorge: Raiz podre porque eu estou velho, os outros que ela pôs lá já está tudo velho, amanhã
nós tudo morre e acabou a raiz, não tem raiz, mas não tem raiz, então é isso que eu falei para
ela porque a criança no congado é o símbolo da festa de amanhã .
Jorge: O congado da escola é um símbolo também de arrecadar a raiz, mas só que tem que já
está pegando o ritmo novo, conforme aquele terno do CAIC lá, eu levantei ele lá, mas já os
instrumento que a dona Gilmar levou para mim lá já não é um instrumento de congada.
Jorge: Não, não é, e até as crianças já estava vendo aquele ritmo, ensinei mais ou menos e
deixei sair na rua, porque aquele terno do CAIC lá fui eu quem formei ele lá.
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Data: 14 /02/2012
Hora: 14 horas.
Duração: 10 minutos
Antônio - Tenho 65 anos. sou pedreiro, mas atualmente ando meio parado devido à doença.
Antônio - Sou o capitão da congada e isto me dá satisfação. Toda a minha família dança
congada. Venho de família de congadeiro, minhas irmãs sempre se enfiaram na frente do
terno, arrumando as roupas, a casa para nois ficar na época da festa. Embora já tenham
morrido muita gente de nossa família, eu e meus companheiros tocamos o terno adiante. Não
é uma facilidade, com a graça de São Benedito e Nossa Senhora e Santa Efigênia. Ser capitão
é ter muita responsabilidade com o grupo, cuidar de arrumar a casa para o ranchamento, os
ensaios e as apresentações, principalmente nos dias da festa de São Benedito.
Antônio - Desde menino, incentivado pelas pessoas mais velhas, que dançavam na congada,
venho de família de congadeiros, minhas irmãs sempre ajudavam a enfeitar as fardas, as
bandeiras, dançavam na fita, infelizmente o povo vai acabando, e os jovens vão tomando o
lugar e, graças a Deus, entra um do terno, sai outro. No nosso terno, sempre temos bastante
crianças, as crianças aumentam o terno, vão aprendendo a tocar os instrumentos. Começam
com as caixinhas pequenas e vão indo.
Antônio - Comecei a participar da congada garoto tocando viola; depois de anos, me tornei
capitão por causa da afinidade com meus companheiros e por ser um dos mais velhos da
turma. Sou capitão do meu terno, já fui guarda de São Benedito. A congada é minha vida,
faço parte da Casa dos Congadeiros e ajudei o professor José Vitor a criar o termo de
Demonstração pois gosto muito, vivi até hoje mexendo com a congada, tenho minha mulher e
meus filhos que também me ajudam, meus netos dançam também.
Antônio - Quando fui procurado pelas professoras da Escola Paulina Rigotti De Castro, me
senti muito honrado, mas sempre achava que dançar congo era fácil e explicava tudo para a
Dona Cida. Eu ensinei ela a dançar, falei sobre os instrumentos, como eles tinham que fazer
quando o congado passasse nas esquinas e alertei a professora quanto ás coisas que a congada
traz, como feitiço, mau olhado, segundo os mais velhos. Acabei indo na escola e outros
congadeiros também foram. Naquele dia, percebi o interesse dos professores e dos alunos,
pena que por causa da correria da vida não pude me dedicar mais. Nois fizemos tudo o que
estava no nosso alcance para ajudar a professora, deixamos o terno de a escola sair junto com
o nosso. As meninas que dançam na fita foram na escola ensinar os passos para as crianças.
Os jovens que quiseram foram ajudar as crianças a bater, eles aprendem rápido. Moça, posso
falar para senhora que deu tudo certo no final.
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Data: 20/12/2011
Duração: 25 minutos
- Qual é a sua profissão? E qual é o cargo que o senhor exerceu na casa dos congadeiros?
José Vitor: Bom, minha profissão, eu sou primeiramente, eu sou professor. A profissão que eu
escolhi para exercer a minha vocação, eu sou professor. E também sou jornalista, registrado,
aqui na Folha, eu exerço a profissão de jornalista. Então eu sou professor e jornalista. Na casa
dos congadeiros fui, presidente e colaborador.
José Vitor: As congadas, eu posso dizer, primeiramente, que eu sempre fui um apaixonado
pela congada. Para ser um apaixonado pelas congadas, não é preciso, necessariamente, que
você tenha sido ou seja congadeiro. Você pode ser um apaixonado pelas congadas sem ser
congadeiro.
- O Senhor vem de uma família de congadeiros? Seu pai, alguém da sua família, foi
congadeiro?
José Vitor: Não. Mas todos nós da minha família sempre demonstramos muita afinidade com
a congada, com a música, meu pai gostava muito de música, era gaitista, meu pai tinha essa
vocação musical. Mas como eu estava iniciando essa fala... Quando criança, eu gostava muito
de participar dos ensaios de congada do terno do rosário, eu participei, eu gostava, eu não saía
em nenhuma festa, mas eu gostava de participar dos ensaios do terno do rosário, menino
mesmo. Eu fui criado naquela região da igreja de São Benedito, minha família morava ali. E
eu sempre tive muito gosto pela congada, tanto é que eu cheguei a ter o meu próprio
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instrumento, naquele tempo, os negros da congada, eles mesmos faziam seus instrumentos. Os
instrumentos de percurssão eram feitos pelos próprios congadeiros. E, como criança, as
crianças que acompanhavam a congada, eu também cheguei algum tempo a acompanhar a
congada, não em festa, meus pais não iam à festa de São Benedito, mas eu gostava de
participar dos ensaios, ver os ensaios. Então, eu diria que esse foi meu primeiro contato com a
congada, de criança. Para ser um apaixonado pela congada, eu repito, não há necessariamente
que você seja congadeiro ou congadeira. O importante é o gosto e a afinidade que você tem
com aquela instituição, com aquela manifestação cultural. Mas a minha relação com a
congada como você pergunta... Eu sou fundador da Associação dos Congadeiros. Sou co-
fundador, mais precisamente co-fundador da associação dos congadeiros, ou seja, sou um dos
que ajudaram a fundar a associação os congadeiros, criar a associação dos congadeiros, no
ano de 1981. Muito antes disso nós já tínhamos um trabalho dedicado à congada. Nós, aqui do
grupo de pessoas da Associação dos Congadeiros, eu, Pedro Ribeiro da Silva nosso saudoso
Pedro Severo, exerceu um grande trabalho junto à Associação dos Congadeiros, no começo
dessa associação, e Maria Dulcinéia que foi uma incentivadora das congadas quando ele
chegou em Machado em 1965. Vejam bem, a nossa motivação pela congada, ela está aberta
aos problemas. Nós não somos, hoje, como a gente vê assim, numa situação, uma certa
confusão que estão criando na Associação dos Congadeiros, natural, criando uma certa
confusão, estão querendo confundir as pessoas, procurando divertir as pessoas que por lá
passaram e que por lá deixaram história... A nossa história, não imagino nossa, porque não
falo só em meu nome não, falo em nome de Pedro Severo, falecido, falo em nome da diretoria
da casa dos congadeiros que está aí, falo em nome do Carlos Alberto Pereira Dias, o ex-
prefeito que foi um batalhador, junto com esse grupo... Nós, desse grupo, trabalhamos muito
pelas congadas de Machado. E o meu papel dentro dessa instituição, foi de ser desde o início,
desde o primeiro pensamento que se teve de criar uma associação, eu participei dele. Nós não
tínhamos associação, as congadas não tinham um local para se reunir. Nós pensamos em uma
associação que pudesse ser a casa de referência, e a casa abrigo, casa apoio aos congadeiros.
Isso foi muito antes de 1980.
- Professor, esse apoio aos congadeiros, a associação, então, o objetivo dela era apoiar os
congadeiros?
José Vitor: Era e é. Pode estar desvirtuado esse objetivo. Era e é o que continuar sendo. Então,
a minha ligação com a associação foi essa, de participar da fundação da associação, da criação
da associação. Eu que conduzi a construção da sede dos congadeiros, eu que liderei o trabalho
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de construção, quando aquilo lá era um pasto, eu conduzi os mutirões para nós erguermos a
sede, mas, antes de erguer a sede física, nós erguemos primeiro nossa ideia, nosso objetivo,
nós construímos nosso objetivo, construímos nosso ideal, sonhamos com uma ideia e, depois,
começamos a construção física, para materializar o nosso sonho, o nosso objetivo. Então, eu
participei desse trabalho desde a fundação da instituição e fui o terceiro presidente.
- E, em uma das vezes que o senhor foi presidente na casa dos congadeiros, por que não foi só
numa gestão. Foi na sua gestão que ocorreram os cursos. E esses cursos? Qual era a finalidade
desses cursos?
José Vitor: Nessa gestão... Eu acho muito interessante o trabalho que a senhora... Eu gostaria,
professora Jussara, de pontuar algumas coisas para chegar aí porque senão talvez
atropelássemos essa história, quando você pergunta da gestão... Nessa gestão, eu era
presidente do conselho deliberativo, essa gestão foi da Maria de Fátima de Jesus Graciano
Paula, essa gestão foi dela. Mas eu vou então rapidamente historiar para vocês. Diríamos,
assim, a minha gestão de presidente, eu fui terceiro presidente, Pedro Ribeiro da Silva -
primeiro presidente, Ceila Caproni foi segunda e eu fui o terceiro. Só que desde a primeira
diretoria, eu era o assessor da diretoria, ou seja, era o diretor executivo, eu que na verdade
conduzia, porque o presidente morava em Brasília e eu que realmente conduzia. mas aí nós
tivemos 3 gestões, Pedro Ribeiro, Ceila Caproni e eu, mas depois, isso nos anos 1980 e 1990,
nós revezamos os cargos. No final dos anos 1990, 1998, 1999, a associação passou por uma
crise, eu vou chegar a esse ponto que você perguntou, ela passou por uma crise de identidade.
Eu, saindo da presidência, no terceiro mandato da Associação, eu saindo da presidência, por
volta do ano 1997, 1998, os congadeiros queriam que eu continuasse como presidente, eu
disse não, eu vou continuar com vocês mas não como presidente, eu já fiz o meu trabalho de
presidente, eu quero continuar ajudando vocês, apoiando os congadeiros, mas é preciso
mexermos isso, eu já queria que vocês fossem pensando que ninguém pode ficar aqui se
perpetuando, perpetuar, se eternizar nos cargos. Então, eu tinha exercido já dois mandatos
então saímos à procura de um presidente. E eu apoiei o Maércio, que foi, eu não vou falar o
nome dele porque o fato que vai importar nessa história. Com a entrada do Maércio que foi
meu sucessor e foi até preparado por mim, os congadeiros queriam que eu ficasse e eu disse,
vou estar com vocês, porém vamos montar nova diretoria. O Maércio, numa infelicidade e por
falta de conhecimento do seus verdadeiros objetivos da associação, transformou a Associação
numa casa de forró, "Forró do Maércio". Desvirtuou por completo o espírito da Associação
dos Congadeiros. Aí o que acontece? A Associação perdeu as suas experiências. Isso são
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fatos, nada acontece por acaso no mundo, essa mudança, esse prejuízo, aparente prejuízo que
a Associação teve, redundou num grande benefício. Foi quando eu tive de ir a justiça para
retomar à associação para os congadeiros. Isso foi no ano 2000, 1999 para 2000. Passei a
reunir os congadeiros na Liga Operária. Lembram disso?
- Lembro.
José Vitor: Levei os congadeiros para a Liga Operária. Como eles não tinham mais a sede
como casa de encontro, casa de debates, de discussões, levei os congadeiros para a Liga
Operária. Aparentemente, passaram a existir duas associações. A associação de direito, que
era lá mesmo, devido ao estatuto, e uma associação de fato que foi esse grupo que eu levei
para a Liga Operária. E lá eu fui trabalhando os congadeiros, a consciência dos congadeiros,
que eles precisavam reaver seu patrimônio cultural, seu patrimônio histórico que era a
associação que nós criamos, que nós fundamos. Motivei os congadeiros para criar um terno.
Então, reunindo na liga operária, criamos um grupo que chamou-se "Núcleo dos Congadeiros
de Machado".
- Professor, esse núcleo, fazia parte os congadeiros mais velhos que faziam parte já da
Associação dos Congadeiros?
José Vitor: Sim. Todos. Todos eles. Como eu exercia um trabalho de liderança por ser um dos
fundadores, eu que fiz o estatuto da Associação, eu que registrei o estatuto da Associação, o
cônego Walter colaborou para esse estatuto, ele teve uma participação muito grande, mas
quem/o trabalho de elaboração foi meu, o registro do estatuto. Então, como existia esse
vínculo forte junto com os congadeiros, esses congadeiros mais velhos, todos nos
acompanharam para a Liga Operária. A liga vai fazer 100 anos o ano que vem... Ela
contribuiu para restaurar a história dos congadeiros. Lá na Liga Operária os congadeiros,
Senhor Tobias, Walter, Antônio Baiano, José Pedro, Seu Domingos, todos aqueles mais
velhos nos acompanharam e aí fomos para a Liga Operária. Esses (longos anos), olha aí, a
coragem que nós tivemos. (incompreensível) de associação de direito e passamos a ter uma
associação de fato, que é essa da liga dá/mais sem personalidade jurídica.
José Vitor: Mas aí, Maércio era presidente, ele era presidente. E que fizemos? Eu passei, eu
denominei um grupo de Núcleo dos Congadeiros de Machado. (Dei o nome, sentamos),
quando eu percebi que estavam motivados, falei: - Vamos criar um terno para ser um terno de
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referência, um terno que vai resgatar a verdadeira origem da congada, um terno que vai
trabalhar instrumentos que são da congada de fato, e vocês é que vão fazer os instrumentos.
- Esse resgate é por que o senhor observou que os instrumentos já estavam bastante
modificados?
José Vitor: Modificados. Instrumentos que estavam sendo introduzidos na congada que não
faziam parte da congada... Pode até ficar na congada, não tem importância... Mas é importante
que você tenha um grupo de referência - Olha a congada verdadeira é isso aqui, mas é preciso
que se tenha uma que seja referência da verdadeira congada.
- E como foi montar, pra tirar os elementos desse terno, dos outros ternos? Que eles saíram
dos outros ternos...
José Vitor: Interessante sua pergunta... Quanto à motivação que nós criamos na Liga
Operária... lá tem sido um lugar muito acolhedor para nós, quando eu lembro dessa história,
eu fico com muita emoção, com muita saudade até que foi muito bom esse tempo aí. Nós
então/isso foi um movimento de uns 3,4,5 6 meses, não chegou a um ano. Mas aí os
congadeiros motivados, eu disse a eles: - Vamos criar um terno que seja um terno de
referência, de origem, que volte às origens. Sabe onde nós começamos a montar o terno? No
ginásio poliesportivo e lá que nós fazíamos os ensaios. E os ensaios (nós íamos até lá). Eu
marcava os ensaios no ginásio de fora, do poliesportivo esportivo, para treinar os congadeiros,
tinha mais espaço para o pessoal dançar, e lá é que nasceu o terno, a ideia nasceu , mas lá foi
o ponto dos ensaios. Convidei os congadeiros... Como? Eu disse aos congadeiros: - Gostaria
que esse terno tivesse dois congadeiros de cada terno, vocês vão escolher - os capitães
estavam todos comigo - vocês vão escolher dois congadeiros dos melhores de vocês. Por que
dos melhores? Os mais experientes. Por que os mais experientes? Porque seria um terno para
ser (deles). Por isso eu escolhi aqueles, que nos olhos de seus capitães, são os melhores. Aí
seria um terno realmente representativo. Porque que esse terno/isso foi feito com muito
cuidado porque podia gerar muito ciúmes. Os congadeiros têm muito ciúme entre eles, você
sabe disso, eles são muito ciumentos, tem muitos que prezam muito as coisas deles e é natural
isso, o ciúme é uma forma assim de você demonstrar que gosta demais (incompreensível) e
gosta. Então eu disse: - Vocês vão me trazer dois. E cada capitão me indicou dois, olhe bem...
José Vitor: Vou explicar. A escolha do/eu já tinha na minha memória uma ideia, eu já
conhecia todos os capitães, conhecia muito bem, os capitães todos. Então, eu tinha uma ideia
de qual era o capitão, sem desprezar nenhum deles, qual era mais criativo, qual era mais assim
diríamos que estava em melhor condição de realmente conduzir aquele terno e dar a dinâmica
que aquele terno tanto precisava. Eu escolhi o Antonio Baiano. Porque a família dos Baianos,
os (congados) são chamados de baianos, está ligada ao terno dos Felícios, (sendo o terno dos
Felício) (incompreensível) os ternos dos Felícios. Naquele tempo, o Baiano tinha aquela
história (incompreensível) então Antonio Baiano você vai ser o capitão da gente. Mas ele
ajudou na ideia. A ideia não foi só minha, não. Eu lancei a ideia, mas ele falou assim (“vamos
juntos organizar o terno então”). Poxa vida, no trabalho, ele foi quem esteve mais assim
próximo da ideia com a gente. Ele trabalhou comigo e começamos a fazer ensaios. [Senhor
Tobias] teve uma participação decisiva. O seu Tobias que emprestava os instrumentos porque
eu não aceitava, essas caixas metalizadas, não aceitava. Então, primeiro organizei grupos, dei
instrução para um grupo. Tinha reuniões que eram uma vez a cada 15, 20 dias porque
qualquer coisa que mude dinâmico para o pessoal ficar ligado à ideia. Os ensaios aos finais de
semana, à noite. Então os primeiros ensaios eram aulas dadas pelos mais experientes. Eu
gosto de coisa bonita. Os congadeiros dançam bonito, coisa nobre, coisa bonita. Vocês têm/eu
comecei a dar instruções sobre passos. Os passos , vamos criar um terno, tem que ter passos
iguais. Vamos criar um terno que só toque para os outros, cada um tem que ter a marcha de
tocar com gosto. A vestimenta desse terno tem que ser igual. Ninguém/quando alguém
observar vocês, a televisão chegar, a televisão mostra os pés. Vocês já viram isso? A televisão
gosta de mostrar os pés. (Eu disse a todo mundo) a televisão vai pegar vocês da cabeça aos
pés. (Vocês têm que estar igualzinho. Pode ser autêntico e mostrar) (incompreensível) (e
mantêm isso) (incompreensível) não é só vocês cantarem, vocês têm que estar bonitos, vocês
são artistas. Não é só cantar. Eu quero ver vocês terem ordem, disciplina. (E comei a lidar).
Então, a uniformidade foi motivo de várias discussões também. A forma de dançar foi motivo
de várias discussões. Aí, sim, parti para o ensaio efetivo. Como? Os instrumento de
percussão, eu me encarreguei de arrumar. Instrumentos de corda, eles trouxeram os deles,
banjo, violão, cavaquinho... Reco-reco? Só sendo de madeira.
José Vitor: Aí, começamos o ensaio. Seu Tobias, todo domingo, o terno ensaiava todo
domingo, eu ia lá na vila, sabe onde é o Bom Jesus? Seu Tobias morava lá. Seu Tobias
morava lá no bom Jesus. Era uma casinha modesta. Eu ia lá com o meu carro, olha bem como
186
é que foi a história, eu ia lá com o meu carro, seu Tobias me emprestava as caixas, ele falava
“o senhor pode escolher as caixas aqui”. Ele tinha muitos instrumentos, e tinha as caixas, no
meio tinha aquelas caixas antigas dele, de corda. Dei instrução, que dizer, só aceitamos caixa
na corda.
- E o terno do seu Tobias era o que mais se aproximava das congadas de origem?
José Vitor: Era. Era o dele. Depois acabou/hoje (tem um terninho, mas já tem muitos senhor
que não deveria estar). Mas o terno dele era. Tanto é que ele recebeu o prêmio por várias
vezes na praça de São Benedito. Foi implantado um sistema de premiação por item. Qual
terno que apresentou melhor uniforme, terno que apresentou melhor batida de caixa, melhor
cantoria, (excelente) cantoria, terno que tem o melhor congo, apresenta o melhor congo. E ele
que emprestava essas coisas. Isso foi por várias vezes que ele emprestou isso aí. Eu ia buscar
e devolvia. Os ensaios eram com o estímulo dele. Até que eu pude ir a Alfenas e comprar do
bolso as primeiras caixas, mas fabricadas com a ajuda de um artesão em Alfenas, eu fui lá e
comprei. Com dinheiro meu. E dei para o terno. Aí, começamos a liberar os instrumentos do
seu Tobias. Caixa de corda. Até que depois que entrou Fátima, demos cursos lá dentro.
Trouxemos o chefe dos Arturos, de Belo Horizonte, do congada dos Arturos, que tem a
técnica de fabricação de instrumentos de caixa de corda. Lembra quando você falou dos
cursos? Naqueles vários cursos, tivemos um curso só para a fabricação de instrumentos de
percussão.
José Vitor: Também. Porque havia vários cursos. Então, a história do terno (da associação) foi
assim. A história do núcleo (foi assim). Até que Maércio desistiu de ser/para não perder a
associação, que ele percebeu que estava perdendo o conteúdo da Associação... Porque a
Associação estava reunida na Liga Operária e ele não tinha mais Associação, não. Ele foi à
justiça. Ele foi. Doutor Augusto (Bravo) comentou isso. Doutor Augusto me chamou
“Professor, tem um assunto contra o senhor.”. Era dos congadeiros, da Associação dos
Congadeiros. “Tem um tal de núcleo...”. Aí eu falei: - Esse núcleo eu que organizei
(incompreensível) para tentar resgatar a congada deles (porque a congada sem a Associação
está desertada). Doutor Augusto fez uma coisa inédita. Ele pegou, ouviu, eu dei a explicação,
ele ouviu e (incompreensível). Como é que ia demandar uma Associação sem ter
personalidade, o representante da Associação não tinha personalidade. Aí que é a história.
187
“Mas é assim que está tratando? E o núcleo, como é que existe o núcleo? Ele ouviu algum
(senador chamando). (Ele falou “Desce”). Ele disse tal, tal, tal, sobre mexer com o núcleo, tal,
tal, tal “defiro favorável à retomada da Associação dos Congadeiros pelo presidente do
Núcleo, professor José Vitor, que vai em tanto tempo promover nova eleição para a
associação.”.
José Vitor: Aí que eles/a Fátima, eu já passei a coordenação para a Fátima antes da demanda:
- Fátima, você vai nos acompanhar e eu estou preparando você para ser presidente da
Associação. Eu já (entendia) que nós íamos ganhar, eu falei: - Nós vamos ganhar essa eleição.
Aí nos definimos, seguir o estatuto dentro da lei. E a Fátima, eu já apresentava a Fátima como
a nova diretora, lá na liga operária votar na Fátima. Veja bem, lá pela eleição da Associação e
quem ganhou foi a Fátima. Aí, com a entrada da Fátima, a Fátima supermotivada, com Terno
de Demonstração, o Terno, a primeira apresentação do terno, sabe onde foi? Em Belo
Horizonte. Fabiano deu um apoio extraordinário. Fabiano (estava/Roberto era presidente e
prefeito). Deu apoio e surgiu o convite para levar um grupo de Machado para fazer abertura
de uma feira, a feira estadual de Miracema, chamaram esse Terno. Eu tenho as fotos . Aí
fomos para a primeira apresentação do Terno (foi por minha conta). A Fátima foi eleita
presidente, retomamos a Associação. O material da Associação que o Maércio deixou tudo
perdido, eu trouxe tudo para cá para esse quarto da Folha, trouxemos fotografias, cartazes,
livros, que o Maércio pegou o material e jogou tudo em cima do forro, jogou tudo lá. Acabou
com o museu da congada, tinha um museu (incompreensível). Acabou com tudo.
Recuperamos aquilo, tudo aquilo. Quando retomamos a Associação, que quando eu decidi
fazer um arquivo, fui trazendo pra cá. O (Edelsio) “Vai, vamo levar tudo. Vamos salvar isso.”
Trouxeram tudo pra cá. Aí depois que a Fatima (recolheu), assumiu/levamos, reorganizamos
tudo. Aí a (Fadena) junto da gente, a (Fadena) armou os cursos, a Fátima fez um projeto,
curso de costureira, corte e costura, curso de eletricista, curso de pedreiro, curso de
informática, (um punhado de coisas), e curso de confecção de instrumentos de (corda).
- A Tenda.
188
- Professor, com o projeto Petrobrás, ele trouxe melhorias para a congada de Machado?
José Vitor: Inúmeras. Inúmeras. Graças ao projeto Petrobrás, montamos um arquivo com tudo
dos congadeiros. Uma das melhorias...
- Certo.
- É a consequência do projeto/isso daí foi... uma das conclusões... do projeto foi a revista, o
senhor pensa em editar novos números?
- Da Folha não é?
José Vitor: Da Folha. Nós que editamos, os responsáveis foi (incompreensível). Estamos pra
editar. Mas isso eu até preferia que você não divulgasse.
- Tudo bem.
José Vitor: Não divulgar porque hoje como está a diretoria lá não convém divulgar. É
realmente (com pensamento em nós) porque nós que criamos a revista. Foi criação nossa.
- Não, porque, o que nós estamos conversando aqui, vai para o meu projeto de pesquisa, a
que depois o senhor terá acesso.
José Vitor: Gostaria que você não colocasse a questão de reedição de revista.
- Tudo bem.
José Vitor: Então, veja bem, a revista, aí você perguntou, foi edição da Folha. O projeto
Petrobrás foi assim, a Fadema deu o primeiro apoio. Quem deu o primeiro apoio foi a
Fadema, que ela bancou a maioria dos cursos. Depois veio o projeto Petrobrás, que deu
continuidade aos cursos e abrindo/que foi inúmeros cursos. A Fátima coordenou e todos os
189
dias tinham curso. Aí foi porque a Fadema veio com os primeiros cursos, depois os outros
cursos. Eu não sei dizer aí qual é o curso tal, curso tal, não sei. Não vou saber nominar agora,
tem que ver aí. Aí com a Petrobrás melhorou, aumentaram os cursos. Modificou a Tenda, que
a Tenda ela surgiu muito modesta. A Tenda é uma ideia que a Fátima teve “Vamos expor
aqui, professor, as fotos dos congadeiros antigos, vamos expor.”. A tenda surgiu num
cantinho. Não era no meio, não. Lembra onde foi a primeira Tenda?
- Não.
José Vitor: Sabe ali, quando você entra na praça de São Benedito? Vindo da rua (Airton
Rodrigues ) à esquerda?
- Perto da escada?
José Vitor: Perto da escada. Era ali. Nós montamos uma barraquinha ali e pusemos um mural
pra expor as fotografias. E o sucesso foi tão grande que todo mundo queria colocar, “Ah, eu
tenho foto do meu Chico, eu tenho foto do meu avô, tenho foto do meu terno...”. Ai o pessoal
trazia as fotos. Era uma coisinha pequena. Aí com a Petrobrás... aí reestruturou a Tenda.
Reestruturou a Tenda.
José Vitor: O valor, a história, o valor que a Tenda/hoje infelizmente já está esvaziada... A
Tenda é para mostrar o quê? Nos primeiros anos da Tenda o que é que nós mostramos...
Quando a Petrobrás deu esse apoio, uma verba de oitenta mil, não foi muito, mas na época
serviu muito. Aí nós pudemos ampliar a tenda, caixa ampliou de tamanho, precisa ampliar,
escrever a história, comprar material, que não tinha dinheiro, a gente não tinha dinheiro. Que
naquele tempo era, a festa era feita (sobre uma dificuldade, não tínhamos nada. A primeira
Tenda foi trabalho nosso aquilo lá. A Petrobrás permitiu que comprasse nossos materiais,
ampliasse a Tenda e divulgasse. Então, assim, ainda cresceu de tamanho, pode olhar, ler na
revista, a Tenda foi reestruturada no projeto Petrobrás.
José Vitor: Divulgar a história da congada. E a cada ano a Tenda deve ter o empenho. Cada
ano tem um tema. A Fátima estabeleceu. Ela, e a Márcia de Paula, sempre acompanhou, e a
Renata Marinelli que ajudou demais da conta, teve muitas ideias. A Renata foi muito
prestativa na associação. Renata, Fátima e Márcia, elas mostraram o trabalho delas. A Tenda
190
foi muito rica. Teve um ano, para você ver, em média, a Tenda contava em painéis a história
da Associação, contou em painéis a história da congada em Machado. Então, a pessoa
chegava lá, com painéis em pintura, com letras grandes e a pessoa lia, como é que foi. A
pessoa tinha uma noção ampla da história da congada. Cada ano uma história. Teve um ano
que foi uma homenagem aos velhos capitães ... Então era assim. A Tenda era uma coisa muito
dinâmica. Hoje, infelizmente, vocês chegaram, não tem nada, não tem nada. Então nós já
somos/estamos sendo criticados por essa diretoria aí, que tem medo que eu volte a ser
presidente, não sei o quê, não sei o quê. Não. Nós queremos trabalhar pela Associação que
nós criamos. Quer dizer, se eu sou um dos criadores da Associação, vou querer acabar com a
Associação?
- De jeito nenhum.
- Professor, e com todo esse percurso, com a congada, com toda essa dedicação, com tudo,
como que o senhor vê a congada mirim? Ela dentro da escola?
José Vitor: Com muito bons olhos. A congada mirim, foi assim, foi muito feliz a ideia da
congada mirim. Porque, veja bem, cada terno você sabe que é uma escola. Tanto é que no
terno você vê crianças. Você vê os velhos, vê os adultos e vê as crianças. As crianças, na
verdade, em toda nossa história, a criança é o futuro. É o futuro do país, é o futuro da
associação, é o futuro da empresa. Os jovens são o futuro. Então a criança, na congada, ela é
história. Ela vai perpetuar e (qualificar primeiro) ali. Mas a escola tem papel mais importante,
que a escola tem o poder de educar mesmo. A escola tem o poder de educar. A escola tem o
poder de transformar. Então, a congada mirim foi um projeto, foi ideia muito boa. Agora,
precisa, eu acho que o problema que existe na congada mirim na escola é a falta de pessoas,
não diria competentes, mas pessoas vocacionadas, corretamente preparadas para fazer a
congada mirim de verdade. Porque tenho visto congada mirim que tem muitos barulho e tem
muita (incompreensível) e tá desvirtuada. Você põe o Terno de Demonstração e observa.
Observa o Terno de Demonstração e a congada mirim. (Então, às vezes, estamos próximos da
reta da raiz mesmo). Que eu falei com o Paulinho , eu já falei com o diretor Paulo: - “Você
tem que colocar instrumentos de percurssão, você tem que tirar as caixas ”. A escola tem esse
poder de educar. Que na congada atual a criança entra na frente para (aprender). Lá não tem
aula. Ela aprende pela experiência dos outros, então aprende assim. A escola educa, fala.
Você pode dar aula sobre congadas, pode e deve dar aula. Eu vou te mostrar (um artigo agora
191
mesmo) do tempo da congada antes. (faz 30 anos). Nós apresentamos em Belo Horizonte na
apresentação do primeiro livro que uma professora lançou, foi uma festa lá, em Montes
Claros. Vou te dar a cópia do artigo para você levar.
- Respondeu. Eu agradeço a sua colaboração e espero contar com a sua ajuda. Muito
obrigada.
José Vitor: Eu só queria complementar que a escola aí, a escola precisa ter os próprios
professores buscando as informações corretas e ter uma pessoa da congada direto para
transmitir as informações e ensinar de fato a congada. Porque nem todo congadeiro está
preparado pra ensinar. Sabe disso?
José Vitor: O mais próximo, é claro, você não vai conseguir... O mais próximo possível da
realidade. Não importa que você tenha um instrumento que não seja original de congada, mas
que seja explicado.
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Data: 21/12/2011
Hora: 16 horas.
Duração: 33 minutos
Ceila: O nome todo é Ceila Caproni Gonçalves. O Caproni do meu pai e o Gonçalves do meu
esposo.
Ceila: Eu sou professora aposentada. Eu fui professora primária no primeiro tempo, fui
diretora de escola e fui professora por trinta anos no instituto de Machado, a FEM mais
popularmente. E estou aposentada.
Ceila: Eu sempre gostei muito, mas quando fiz meu curso de pós-graduação em estudos
sociais, nós tivemos um professor fabuloso que veio e nos incentivou muito pra descobrir as
coisas boas da terra de Machado, a nossa terra. E eu achei por bem fazer a minha monografia
baseada nas congadas, porque nós estávamos estudando o produto de Machado que era o café,
então a origem das congadas de Machado vem juntamente com o café. Porque se nós não
tivéssemos aqui tantos escravos, não teria começado também esse período de congadas. Foi
muito gratificante mesmo a nossa pesquisa e o trabalho que a gente fez. Talvez um trabalho
tão bom porque diz assim, primeiro a gente aprende a engatinhar depois que a gente aprende a
andar. A gente, quando fez o trabalho, deixou em aberto para outras pessoas que quisessem
podiam continuar, como estou com esperança que você venha fazer isso. Essa continuidade
desse trabalho.
- Com certeza farei. E como que a senhora início a sua pesquisa.? Quais pontos a senhor
procurou? Onde a senhora foi para saber sobre a congada?
193
Ceila: O primeiro passo nosso foi ver fotografias, porque o nosso vigário que estava na cidade
na ocasião, o cônego Walter Maria, tinha coleções e mais coleções de fotografias, então nós
fomos ver as fotografias. Mas, depois, nós partimos para fazer uma entrevista com o rei
congo. E foi muito difícil, porque ele era uma pessoa difícil, assim, quase 100 anos de idade,
não gostava de nos receber e por meio de um filho dele nós conseguimos fazer uma entrevista
com ele, para contar pra nós o que acontecia com as congadas. Porque que era rei de congo?
Ele contava, assim, histórias ligadas realmente à história que veio da África, pra gente, do rei
congo, mas falou pouco e deixou a gente no ar. Então parti para fazer na festa de São
Benedito, que já acontecia há muitos anos em Machado, eu parti para fazer gravações. Então
eu ia perto dos ternos com o meu gravadorzinho lá, ouvia. Tinha muito coisa que a gente nem
entendia porque eles cantam coisas espontâneas. Então, fiz uma coletânea de fitas (vídeo)
cassete gravadas, e depois eu tentei passar para o papel algumas delas. Aí que é que eu fiz, eu
falei, eu vou implantar na próxima festa, eu vou implantar um concurso de músicas das
congadas, eu já tinha um tanto em casa, aí eu falei, ah, eu vou tentar. Tentei mas não tive
sucesso. Não houve boa vontade por parte dos ternos de congada.
- A senhora não acha que eles são muito tímidos? Eu também estou tendo muita dificuldade
nas minhas entrevistas.
Ceila: São tímidos e desconfiados. Assim, não é a origem, porque a escravatura, há quantos
anos já foi feita a abolição da escravatura? Mas eles são assim desconfiados, achando que a
gente vai querer alguma coisa em troca, não é? Então é assim difícil essa pesquisa. Então eu te
dou parabéns por você está fazendo esse trabalho.
- É eu estou engatinhando. Vou fazendo, vou conversando, vou um dia faço visita e no outro
eu faço a entrevista e assim eu vou indo. E quanto a sua revista?
Ceila: A revista não fiz sozinha. Eram grupos de 4 e a nossa acabou ficando 3 e a nossa
terceira desistiu. Uma colega não quis fazer junto. Foi bom ser descentralizado porque uma
fazia pesquisa assim o que é realmente o folclore, para poder nós caminharmos no nosso
trabalho. E eu fiquei com a parte mais, como eu estava te contando, com essa parte de contato.
Porque eu tenho muita amizade e devido ao meu cargo, que eu ocupava como diretora da
escola, eu tinha acesso a muitos pais que eram congadeiros. Então nós pensamos assim, então
nós vamos fazer sobre as congadas, nós decidimos isso com o professor Sodero, que ele era lá
de... perto de Aparecida do Norte, eu esqueci o nome da cidade. Que era o nosso instrutor do
curso de pós-graduação e depois ele ficou também dirigindo o nosso trabalho, e ele achou
194
muito boa a nossa ideia. A ideia nossa era assim iniciar um trabalho, como eu disse agora
pouco que podia ter continuidade. E fomos fazer por intermédio desses congadeiros a nossa
pesquisa. Mas eu, desde criança, eu sou apaixonada pelas congadas. Eu sinto ter perdido uma
fotografia minha aos 3 anos que eu fui juíza. Então meu pai mandou buscar uma roupa no Rio
de Janeiro que ele não queria ninguém igual a minha roupa. Eu tinha um retrato. Até quando
eu vim para o colégio, eu tinha esse retrato, eu de juíza menininha...
- Mas essa parte da juíza a gente não vê hoje em dia na congada. Por que, qual é a diferença?
Ceila: Eu já tentei porque/a embaixada era feita/hoje ainda tem o rei congo, a rainha, as
princesas, que sai até no programa. E tem aquele segundo dia depois da festa religiosa que
fazem essa embaixada. Mas a embaixada era feita na praça então tinha o rei congo que vestia.
E eu descobri, o primeiro rei congo de Machado dessa embaixada era um machadense que
mudou para Taubaté. Eu fui a Taubaté fazer pesquisa com ele. Chamado José do Emídio. E o
Emídio era aqui dessa rua quando começou a rua da falha, que ele morava aqui. E a mãe dele,
que eu tive oportunidade de conversar com ela, que ela tinha 112 anos, então ela me contou
muita coisa sobre isso. E hoje não existe mais. Eu já tentei, depois que eu escrevi o livro, eu já
tentei reabilitarmos isso, acho que precisava voltar, porque era uma coisa linda, linda, linda.
Aí levava os súditos... E hoje não. Eles deixaram as pessoas mais velhas é que fazem isso.
Pode ver pelas fotografias, toda festa é em agosto, você pode passar pra você dar uma olhada,
não deixa de observar esse ano para você ver. O rei, a rainha, em o rei do mastro, o rei do pau,
que o mastro é o pau, e tem o rei da bandeira. Então cada lugar tem um rei. E são pessoas
idosas que ainda levam. Cultura, isso.
Ceila: Pois é. Esse senhor bem de idade, que eu perdi o nome dele agora, tem muitos filhos aí
ainda. O rei congo atual é filho dele ainda. Que eu fiz com ele a entrevista, que tinha mais de
100 anos, ai, meu Deus, eu não lembro o nome, esse é problema da idade. Então é o seguinte,
o pai dele tinha sido escravo-rei e não explicou, assim, bem pra gente, como escravo-rei, dois
nomes totalmente diversos... Quem era escravo não podia ser rei. E ele dizia assim que tinha
recebido isso do pai dele. Então vem de família e vai passando. Depois desse senhor, que eu
estou te contando, que conseguimos essa entrevista dele com muita dificuldades, já foram dois
filhos dele rei.
195
- E o tempo que a senhora ficou na associação dos congadeiros, conta pra mim, o que que a
senhora pode fazer.
Ceila: Quanto à Associação dos Congadeiros, nós fundamos a casa da Associação foi no ano
de oitenta (e pouco), 1981 que fundamos a casa. E a gente não tinha, como é que faz, como é
que não faz... Aí acabou assim, pra fazer uma diretoria, ficou o Pedro, aquele ano que era o
festeiro, ficou como presidente. Mas ele morava em Brasília, então a gente que tinha que dá
os furos daqui pra fazer (incompreensível). Vamos fazer a casa. Erguemos a casa. Quando foi
no ano seguinte, na festa de São Benedito, foi inaugurada a casa dos congadeiros. Aí mudou a
direção da casa dos congadeiros. Passei eu a ser presidente e o José Vitor, vice-presidente. E
isso nós ficamos acho que uns 8 anos. Um ia e ficava um ano, o outro ficava o outro. Que que
nós fazíamos... A princípio terminamos a casa. Não tinha banco, fizemos um campanha para
arranjar banco para sentar. Fez aquele palco lá. Então a gente ia para subir lá em cima, tinha
que botar umas cadeiras porque não tinha cadeira. A gente arranjava com os vizinhos e punha
no dia de fazer reunião. Todo mês eles fazia reunião e convocava os congadeiros. A princípio
iam muito depois já foi assim foi (esfacelando). Então, nós conseguimos assim ajuntá-los.
Nós criamos carteirinhas para os congadeiros. E essa carteirinha, graças a essa carteirinha,
tem um rapaz aí que tem uma perna mecânica, que aquele cantor do Rio de Janeiro...
- Martinho da Vila.
Ceila: Martinho da Vila deu quando eles foram lá para aquela presentação, acontece aquele
acidente. Tudo por causa daquele/tem uma carteirinha, que o menino ganhou até aquela perna
lá.
Ceila: A Associação seria assim, arranjar um modo de dar instrução para eles, lá dentro, dar
boa orientação e orientar sobre as letras que nós tínhamos sofrido com aquilo, de ver que eles
não tinham letra totalmente de música. Mas não aceitaram. Sabe, não aceitaram. Fundamos
uma biblioteca. Ganhamos muito livro. Aí tinha aquele retrato grande lá do Pedro, porque foi
fundador, primeiro presidente. Retrato, mas ele atuação lá dentro não teve. Aí, como é que
vamos fazer para regimentar? Aí o Pedro, uma vez que veio aqui, falou, ”Olha gente, vamos
fazer assim, vamos criar uma situação de trazer os congadeiros aqui.” Ele deu um gabinete
(dentário), completinho, para Associação dos Congadeiros, que ele tinha condições, toda vida
teve boa situação financeira. Mandou para nós o gabinete. Quem ia trabalhar? Então eu, com
196
Josmar, meu marido, íamos, o (Zé Vito) dava gasolina uma vez, uma vez o Josmar. Nós
iamos em Alfenas, trazíamos os estudantes de odontologia. Marcava um dia na semana,
sempre era um sábado. Eles vinham praticar aqui, a gente dava almoço para eles. E começou a
consertar os dentes dos congadeiros. Quer dizer, o modo de atraí-los. Aí, quando começou o
material a ficar muito caro, nós pedimos se eles podiam dar dois reais por mês... Foi o mesmo
que jogar água no fogo.
- Não quiseram?
Ceila: Não. Afastaram. O gabinete ficou lá. Nós tentamos novamente ver com as firmas se
patrocinavam... Isso foi quase uns dois anos, nós fizemos isso. Sabe? Trazíamos os
estudantes. Uma vez o José Vitor dava, uma vez eu que dava, gasolina para ir buscar, e ia no
carro meu porque José Vitor estava com o carro dele ocupado. Ia buscar os estudantes, eu
dava comida para eles aqui. Começou a tratar os dentes deles. E a nossa iniciativa era assim,
aí começava a fazer palestras nas reuniões, cada reunião trazia uma pessoa pra falar pra eles.
Uma vez falava sobre vermes, outra vez sobre o tratamento de dente, outra vez sobre asseio
corporal. Porque infelizmente precisava disso. E também fizemos muita demonstração de
roupas que eles poderiam usar, para não parecer escola de samba, porque muitos ternos
parecem com escola de samba. E isso foi um trabalho que nós fizemos muito tempo. Mas os
cursos e as coisas que a gente desejava fazer nós não conseguimos. Aí começamos assim, um
mês era o terno para fulano explorar, para juntar dinheiro para fazer/para reformar os
instrumentos. Então, um mês a gente tinha que fazer brincadeira, baile, festinhas lá, aquele
mês, era um terno. Fizemos uma escala, todos os congadeiros tinham o direito de um mês
tomar conta da Casa dos Congadeiros.
Ceila: Foram. Afirmaram bem. Mas depois a gente foi, eu por exemplo, fui ficando assim
cansada. O José Vitor também. Aí eu falei: - José Vitor, eu não quero mais. E ele disse “Eu
também não.” Porque a gente vai indo, vai indo, desgasta. Em qualquer lugar. E fazia muito
tempo que nós estávam lá. Mas estava bem estrutrado. Já tinha cadeira. Eu comprei fogão
para lá, panelas, no período nosso que nós tivemos, nós compramos panelas, baldes,
caldeirões, que quando eles vinham, que iam fazer comida lá, podia fazer comida. Depois nós
entregamos a Associação, não sei. Eles dizem assim, “ah, o outro não foi bem” e outros... E
pusemos um casal para morar lá. Esse casal, no começo, foi muito bom, mas depois começou
a dar problema e foi por isso que a gente foi desanimando. Porque dava casa a qualquer um...
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Ceila: Não. Sempre a igreja deu alguma coisa mínima, depois da festa. Mas a gente, nós da
Associação queríamos que eles dessem uma cota maior. Mas nunca foi dado. Agora diz que
está dando maior, não sei. A igreja, os festeiros, o padre, a organização da festa, dá a comida
para os congadeiros. No começo eram 5-6 ternos, agora são 14 ternos, parece que são agora.
Não estou muito certa, mas acho que é isso. E tinha ternos que tinha 5, 6 pessoas, e tinha
terno que tinha 70. Eu tenho a lista da minha festa, tinha terno de 72 pessoas. E o pior deles,
infelizmente é isso, não vão os congadeiros comer. Vai a família inteira, vai o pai, a mãe, o
avô, os cunhados, os genros, os sobrinhos...
- Vai na companhia?
Ceila: Na companhia da família inteirinha. Então, a despesa é muito pesada. Ficam bem
desanimados, porque é enorme a despesa. E essa despesa é assim: a igreja permite à gente
tirar dinheiro para fazer armazém para eles. Então fica um supermercado já marcado e eles
todos pegam a cesta lá. E vem um número de pessoas e entregar a cesta para eles.
Ceila: Da renda da festa. Porque vocês angariam dinheiro da tua festa, e a gente fica um ano
inteiro trabalhando. Então, o dinheiro a gente tira das coisas que a gente conseguiu ganhar.
Então a festa permite à gente gastar esse dinheiro com eles.
- Esse dinheiro que a Associação gasta é independente da verba que a prefeitura dá?
- E qual a diferença que a senhora vê entre a congada de antes e a congada de hoje em dia?
Ceila: Eu acho que a congada de antigamente tinha mais caracteristicas folclóricas, hoje ela
tem mais carnavalescas. E os instrumentos eram mais rudes. Parece que a gente gostava mais
daquele batuque que te lembrava de escravos. E hoje não. Tem violino, tem violão, tem
saxofone, então misturou muito. E a roupa também, nós trabalhamos muito em cima disso,
porque a verdade, ternos é uniforme (incompreensível) farda. E eles fazem, praticamente,
fantasia. E compra aquelas coisaradas brilhantes, e põe até chapéu com vidrinho, com pedaço
de espelho. Então eu acho que a antiga estava mais ligada ao folclore.
- A congada da raiz?
198
Ceila: Da raiz.
Ceila: Eu achei uma ideia fabulosa. Achei excelente. Por quê? Se não há coisa que temos em
Machado que é histórica, temos que pontuar. Porque não podemos deixar apagar. Os
congadeiros geralmente são idosos, então esses que estão agora na congada mirim serão
futuramente os congadeiros das festas que nós não vamos nem assistir, nem ver. Eu acho
muito importante. E despertou também, eu acho, o gosto pelo folclore. Achei que isso foi
muito interessante. Porque dão para eles muitas ideias do por quê existem as congadas.
Acredito eu, porque não ainda contato com as congadas mirins dentro da escola. Então, eu
acho que é muito bom porque/e segundo me disseram que pegam alunos de bom
comportamento também. Então acho que em tudo é uma formação, botar limites. Porque hoje
nossas crianças não têm limites nas escolas. Eu faço isso com conhecimento de causa porque
estive 32 anos dentro de uma instituição. Havia respeito aos professores, respeito aos seus
pais, respeitava-se todo mundo. Hoje, eu acho que essa lei da criança abriu demais. Olharam
tudo que é direito da criança, mas não olharam os deveres das crianças. Então, está muito
difícil. E eu acho que a congada está pondo uma norma também. Você pode ver que eles
ficam tão bem comportados, às vezes, dá inveja de ver as crianças naquela fila. Acho uma
graça. Não sei se é porque eu sou apaixonada pelas congadas, eu acho tudo lindo, eu acho
tudo lindo, lindo, lindo. Eu quisera não ter os 77 anos que eu tenho, com esse coraçãozinho
fraco que está precisam,do para por um marca-passo. Eu quisera ainda fazer alguma coisa.
Acho que podia ser feito um concurso, pra ver se eles animavam em fazer/esses bem assim
estruturada... Porque praticamente muitas delas são repentistas, eles fazem repentismo.