Barbosa 1956 CursoDeTupiAntigo BDCN CNic

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 244

·,

P.E A. LEMOS BARBOSA

CATECISl\10 NA LíNGUA BRAStIJ.lc_A


no PADRE ANTONIO DE ARAú,JO

Editada em 1618. e1n Jjsboa, o núcleo prin1itivo dessa Ítn-


OlJRSO
portante obra - o n1ais longo texto iinpresso en1 tupi -
ren1onta aos prin1eiros anos da catequese jesuítica no Brasil.
O P adre V ieira assevera que ª é u1n catecismo. . tiio exato
DE CURSO DE
UF¡I
nos 1nistérios da f é_, e tiio .;i12gular) entre quantos se fe111 escrito
11as línguas políticas, que 1nais parece ordenado para fa:;er de
cristiios teólogos que da gentios cristo.os".
TIGO · TUPI ANTIGO
.
i,
Reprodu~ao fac-sin1ilar da l.ª edic;ao - a única con1pleta. t .ª TIRAG EM
Apresenta\áo e supervisáo do Pe. A. Lemos Barbosa, Professor
ele Língua 'I'upi na Pontifícia l.Jniversidade Católica do Rio
de J aneiro.
Crn helo vohune de 400 páginas. em papel de l.ª, capa
de duas cores Cr. $ 300,00
Exe111plares nu1nerados (de 1 a 100) e 111 papel vergé cren1e
Cr .$ 600,00

l 2.ª TIRAGEM

Pedidos a 1\ dn1ini-stra<;áo da

Pontificia U niversidade Católica do Rio de Janeiro


Rua Marques de Sao Vicente, 263 (Gávea)
'
J LIVRARIA SAO JOSÉ
ARTA SAO JOS

' RIO
RIO
·1

'
I

CURSO DE
TUPI ANTIGO

....
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
P.E A. LEMOS BARBOSA

DO MESMO AUTOR

Pequeno Vocabulário Tupi··Portugues. Livrar~a


CURSO DE
Sao José. Río. 1951.
O Auto de Sao Louren~o. Urna pe~a teatral de
Anchieta em tupi, castelhano e portugues.
Rio. 1950.
TUPI ANTIGO
O "Vocabulário na Língua Brasílica,,. Ministério
de Educa<;ao e Saúde. Servi~o de Dacumen ·
ta~ao. Rio. 1948. GRAMÁTICA
Estudos de Tupi. O "Diálogo de Léry" na restau-
EXERCÍCIOS
ra<;ao de Plínio Ayrosa. Río. 1944.
Catecismo na Língua Brasílica do P. Antonio · tTEXTOS
de Araújo S. J. Reprodu~ao fac-similar da
La ed. (1618). Rio. 1952.

Em prepara~ao *
Pequeno Vocabulário Portugues-Tupi.

LIVRARIA SAO JOSJ;:


RIO
A ~--
1\ J~
"""' Q
7

BASILIO DE MAGALHÁES • ¡

- ,.
t

CON'espondencia sobre esta obra: .


PONTIFtCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
Rua Marques de S. Vicente (Gáve.a) 263 - Rio
PREFACIO

:Sste CURSO DE TUPI ANTIGO pretende facilitar o conhe-


cimento do idioma f alado pelo grupo mais importante de índios do
Brasil. Língua vulgar prevalente nos prim·eiros tempos da Colonia,
falada na catequese e- nas ba.ndeiras, instrumento das conquistas espi-
rituais e territoriais da nossa história, o seu conhecimento, sequer
superficial, faz parte da cultura nacional. A dotada como lingua
"geral" ou "comum" por índios de outros grupos étnicos e lin~ís­
ticos, pelos próprios pcirtugneses e, ao que parece, até por muitos
negros, tornou-se lac;o de uniao entre os vários povos que formaram
o Brasil, e destarte contriibuiu para fortalecer, na América Portuguesa,
aquela unidade política que faltou a América Espanhola. De sua
antiga preponderancia sao vestígios os nomes geográficos que semeiam
o território nacional e os milhares de palavras incorporadas ao léxico
brasileiro.
Fazia-se notada a falta de um compendio moderno desta língua.
Os até aquí publicados ou foram escritos ao tempo em que o tupi era
ainda vivo, e, nao sao, portanto, apropriados para as atuais circunstan-
cias (ANCHIETA, FIGUEIRA), ou se refere1n mais de perto ao dialeto
guaraní, seja o antigo (MoNTOYA, REsTIVO, BATISTA CAETANo), seja
o inoderno (MoNREALE, BoTTIGNOLI, GuASCH, etc.), ou ao nheengatu
(Cc uro DE MAGALHAES, SY:MPsoN, PARISSIER, STRADELLI, TASTEVIN,
etc.)' ou, enfim, sao demasiado superficiais, quando nao mal . in-
formados.
Esta obra, denominamo-la CuRso: un1 misto de gran1ática, vo-
cabulários, exercícios e textos, desenvolvidos nao pela clássica ordem
gra1natical, mas ein pequenos ciclos, com a preocupac;ao de possibilitar
ao estudioso o assenhoreamento prático da língua, pela imediata for-
Farnília tupi ( Lf:Rv)
1
mac;ao de frases, gradativamente mais co1nplexas. Lic;óes a principio
1nais simples, relegadas para o fim do volume as maiores dificuldades.
Nos exe1nplos gramaticais, houve o cuidado de evitar grande varie-
dade de vocábulos, para nao distrair a aten<;.áo do fito principal: a
aprendizage1n do mecanis1no da Jíngua. Essa pobreza e monotonía
I
10 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 11

do texto é compensada pelo rico vocabulário manejado nos exer- Particul:trmente, a f astamo-nos da nomenclatura e mesmo da técnica
cícios. N estes, deu-se preferencia aos termos relacionados com a gramatical em uso entre os indigenistas n1Jrte-americanos. Con-
cultura indígena, e as vozes irregulares. Pouca margem deixamos quanto admirável pela precisáo e obietividade, tornou-se de tal fonna
aos znonimos e fitonimos : regulares, parco é o seu interesse gramati- especializada, que reouereria um prévio estudo, nao menos árduo que
cal. Por outro lado, sao de fácil consulta nos vocabulários e obras o próorio estu<lo . da língua tupi. Desserv!ria. :issim. ao obietivo de
,..
congeneres. divulg-acao desta obra, destinada nao a lin ~üistas n1aS ªº grande
público brasileiro, que dedica ao assunto um mteresse crescente mas
Fizemos urna gramática expositiva, e nao um estudo histórico ou sem preocuparao de cunho científico. 1
comparativo. Quisemos expor os fatos da língua, nao explicá-los. Na escrita obedecemos ao mesmo critério: um alfabeto simples,
Náo vemos por que imprimir, logo de inicio, ao ensino do tupi, evitados, quanto possível, os caracteres exóticos. Fioue o rigor foné-
.um cunho erudito, que nao se dá ªº estudo clássico das outras tico para as obras técnicas, de caráter ling-üístico. Nenhum e-ramático
línguas, como o frances, o ingles, o latim, o próprio portugues. Ao portugues, espanhol 1 ingles, nenhun1 latinista se len1brou de usar o
comum dos leitores, letrados, porém nao necessariamente lingüistas alfabeto fonético· internacional nas suas obras de divule-acao. Só
·nem americanistas, interessa conhecer o tupi, mas talvez nao a sua abrimos urna exce~áo para as semivog-ais, que f oram ~ravadas sempre
história, nen1 as suas relac;óes com outras línguas ou dialetos. Um i, u, y. Dada a absoluta necessidade de distinguir entre ditongos e
estudo dessa natureza, ideal para os especialistas, poderia afastar hiatos, após madura reflexao pareceu-nos essa a n1elhor alternativa.
grande número de iniciantes. Se a língua tupi interessa parti- O embaraC"oso prohlema da divisáo das palavras compostas,
cularmente a chltura nacional,. deve-se isso ªº papel que o idioma dos elementos incorporados, principalmente das partículas átonas, pro-
'desempenhou na história . do país, assim como a contribuic:;ao que curamos resolve-lo ecleticamente. Fugin·do tanto das palavras inco-
trouxe oara o oortugues falado no Brasil. Nao sao razóes de caráter n1ensuráveis dos antigos gramáticos, quanto da f ragmentac::áo em pe-
glotológico. Sob este prisma, o tupi teria 6 mesmo interesse que quenas partículas átonas ou integrantes silábicas de outros morfe-
qualquer outro idioma indígena do Brasil ou da América. Pela mesma mas. O hífen (de que alguém pensará que abusa1nos), pareceu-
razáo. o seu lue-ar no Curso Superior nao é ao lado da etnografía -no" solucionar suficientemente o duplo probletna: da deromnosicáo
nem da lingüística nem da antropología, mas sim na se~áo de letras semantica (importante para quem comec;a a estudar) , sem prejuízo do
( cnnceito nue no Brasil será n1ister alargar, pois aue ternos ttm pas- f eitio incorporativo da língua e sem quebra da unidade fonolóe-ica
sado próorio, com resultantes ling-iiísticas e culturais próprias). A das palavras. Por outro lado, visto o caráter prevalentemente di-
isso acresce ponderar que o tuoi nao f oi apenas urna língua IJrimitiva, dático do hífen, nao cause espécie se acaso, neste Cu RSO, urna
senao tan1bém língua de civiliza<;ao ou "comum ". Seu estudo, se n1esma·palavra figure ora com, ora sem ele.
quiser ser obietivo e real. nao pode ser equiparado simplesmente ao Estuda-se aqui o tupi antigo, nao o guarani nen1 os dialetos mo-
dós idiomas de outros índios que nunca tiveram prolongado contacto dernos. cujo contacto con1 o portugues se circunscreveu a regióes re-
lin~üístico com os brancos.
lativamente pequenas do território nacional.
N o~so estudo versa sobre a líne-ua documentada nos dois séculos
Entenda-se. assim, por que conservamos a nomenclatura grama- que inedeiam entre 1550 e 1750. Nessa época já o tuoi se distin!!ttia
tical indo-européia, embora sabendo que em tupi nao há generes, nú- sensivelmente do guarani, embora as divere-encias nao fóssem profun-
meros, casos, etc. Procuramos destarte satisfazer a natural exigencia das. Mas mesmo no dom'ínio do tupi havia li!!eiros matizes regionais,
do esp1rito civilizado de saber conto se expritne na outra língua aauela sobretudo no campo da f onologia (v. n. 26, 39).
categ'oria gramatical, sem a qual nao se está acostumado a falar, Nesta obra, salvo indica<;ao em contrário. trata-se do dialeto fa-
talvez nem sequer a pensar. A nomenclatura, desde que a tempo lado na ,Costa, desde o Rio de Janeiro até o Maranhao. Respeitamos
reduzida .ao seu verdadeiro lugar, nao traz prejuízo real, e serve até o tradicional apelativo "tupi", que. entretanto, de in1cio só cabía a
de ponte entre os dois mundos : a língua civilizada e a língua primitiva. tribo e a língua dos· "tupis" (de Sao Vicente), tendo-se estendido
12 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 13

posteriorme~te as tribos e subdialetos costeiros e setentrionais. Por textos guaranis, fór necessária alguma adapt~o que nao atinja
um contrassenso histórico, o dialeto dos legítimos "tupis" era o que apenas a ortografía, logo depois do número da página citada irá a
mais se distanciava entre as tribos irmás, aproximando-se bastante abreviatura "ad.", p. ex. ( REsT. 120 ad.). - Fique esta advertencia
do guaraní. Portanto, a língua tupi que se estuda neste CuRso, é bem clara, para conhecimento da crítica honesta.
mais exatamente a dos tupinambás, tupiniquins, etc. do que a dos le- Pareceu-nos de utilidade juntar a obra um índice remissivo dos
gítimos "tupis". Apesar disso, conservou-se o nome "tupi", já con- prefixos, sufixos, palavras gramaticais e de todos os outros termos
sa~rado como genérico por urna tradic;ao de vários séculos. Os que a qualquer título tenham sido particularmente estudados neste
próprios autores -0ue recentemente o substituíram por "tupinambá", CURSO. '
vez por outra voltam ao velho etnonimo. Complemento necessário da obra, estáo vindo a lume os Pequenos
Vocabulários Tupi-portugues e Portitgues-Tupi, enquanto se prepara
Pelo demais, este CURSO nao é senao a sistematizac;ao de quanto um mais completo Dicionário da Língua Tiipi.
nos legaram os antigos gramáticos, ANCHIETA e FIGUEIRA, aprovei-
tac1as, nuando eo1npatíveis ciom o tuoi. as observa<;óes de . MoNTOY A Para outra oportunidade reservamos urna investiga<;ao de caráter
e RESTIVO sobre o guaraní. Há, sim, por vezes, urna nova con- 1nais especializado sobre a índole da língua tupi. Estamos que tra-
cep<;ao j!ramatical, a luz dos exemplos dos mesmos mestres e de balho dessa natureza, estritamente lingüístico, será mais fácil de rea-
outros documentos preciosos. como o V ocnbulário na Línqu.a Brasí- lizar do que um curS-O de divulgac;ao, como a presente obra.
lica, as obras de ARAÚTO, VALENTE, BETTENDORFF. etc .. e, principal-
a
mente luz da lingüística moderna. mas de urna lingüística tnorlesta,
mais de conclusóes do que de cita<;óes. Aliás em geral citamos 2ste CuRso encontra-s.e concluido há quase dez anos, e nesse
quase só exemplos, raran1ente opinióes de gramáticos. iDispomos intervalo nao sofreu retoques de 11wnta. Porventura, se o fossenios
dos elementos para defender cada u1na de nossas af irma~óes. mas redigir de novo, dar-lhe-íamos outro feitio, mais técnico. Tal como
no caso de ser provado erro nosso, prazeirosamente será corrigido. está, porém, quer-nos pa.recer que será nzais accessível ao grande
Como compensa\á,o pela esrassez de cit.ac:;óes, terá o leitor, no fim de público.
cada Licao, a respectiva bibliograf ia. Muito raras altcra~oes fizemos ao texto durante a impressáo,
Desde o título da obra excluiu-se a expressáo "língua tupi-gua- que levou tnais de tres anos. Acrescentou-se apenas a Lirao 60a. e
ran~ ", que nos parece inexata. Conhecemos sim as línguas tupi e t udo o que se lhe segu.c. Tanibém a bibliografía após cada LifaO.
guarani, ou, melhor, os dialetos tupi e guaraní, estreitamente aparen- !J-fas as obras niais recentes, inclusive nossa reproditfao do Catecismo
tados, mas com caracteres diferenciais be1n nítidos. Conhecemos tam- de ARAÚJO ( 1.ª ed.), náo interfer-irani e11i nada 110 corpo da obra,
hém o qru.po (de línguas ou, n1elhor, dialetos) tupi-guaraní. 1\1 as excetuados dois oii tres p'assos.
dizer "língua tupi-guaraní", só pelo fato de seren1 irmaos e parecidos
os dois d~letos. é tao inaceitável como o seriatn as expressóes "língua Nesse ínteri111, te1n-se acentuado alguns n1al-entendidos, entre
luso-espanhola" ou "luso-galega". filólogos brasileiros, a respeito de estudos de tupi. Tratando-se de
nomes conceituados, é justo que nos detenhamos um pouco nutn
Nos exercícios, den1os preferencia as pequeninas ora<;óes, sobre exa1ne sereno de suas posi<;óes.
assuntos vários. as vezes até desconexos. 1\/Tediante etas, o estudioso Con1ecen1os pelo prefácio do recente tomo II do Dicionário
estará em condic;óes de formar outras. Rt-i1nológico da Língua Portugidsa de ANTENOR NASCENTF.S (Ri.o,
1952), p. X•:
A citac;áo dos exetnplos e textos em tupi é se1npre f eita na orto-
graf ia deste CuRso. Dada a extrema variedade de sistemas gráfi- ''Tupi nao se faz no asfalto. Faz-se na selva, em con-
cos e a f inalidade didática <leste compendio, seria contra-indicada qual- tacto com o índio, cotn o desconforto, com o mosquito, com
quer outra orientac;ao. Quando, por motivo didático, on na citac;ao de as cobras e outros anin1ais perigosos, numa verd~deira vida
14 LEMOS BARROSA CURSO DE TUPI ANTIGO 15

de missionário. Precisamos f azer tábua rasa de tudo que sim. :e1e nao exige que se vá a selva estudar un1a língua morta;
se tem produzjdo em n1atéria de tupi e tnandar aos Estados pelo contrário, porque a sabe 111orta, pecle que se de atenc;áo também
Unidos meia dúzia de rapazes, ou mesmo algum professor, as vivas. . . Talvez um lingüista americano nao alcance o que
que tenham gósto por estes estttdos, para com os discípulos de significa o tupi antigo para os estudos históricos, filológicos e etimo-
Boas aprenderem os processos de estudarem línguas de sel- lógicos brasilianos, pois nada de semelhante se deu com as línguas
vagens, processos estes táo ligados a filologia quanto a antro- norte-americanas. Entretanto, seguindo a mesn1a linha de pensa-
pologia''. mento, u1n americanista europeu, que nao tem oportunidade de vir
a América, poderia lamentar que os lingüistas do Novo Mundo nao
O ilustre professor 1nostra-se nao ben1 informado do assunto, consagrem ao trabalho de campo todo o tempo que dedicam ao la-
laborando em alguns equívocos. tim. . . ou a crítica. Surpreende, porén1; que un1 renon1ado etimo-
"Tupi nao se faz no asfalto" - diz NASCENTES mas no logista brasileiro, que há anos vem prometendo um dicionário etitno-
mato. Ora, o tupi da costa (precisamente o dialeto que contribuiu lógico de brasileirismos, lamente a falta de estudos dos dialet os vivos,
para o vocabulár.io c01num e para a toponomástica geral do Brasil, que pouca ou nenhuma atua<;ao tiveram na língua do Brasil, e por
de que N ASCENTES faz os seus estudos etimológicos) é lingua essa falta explique as deficiencias de seu dicionário.
1norta e, como tal, já nao se fata en1 mato algum. Seu estudo tem Nao há o que opor ao alvitre de mandar estudiosos para o ...
de ser histórico e filológico, documental, e em hipótese nenhuma asfalto americano, a estudar com os "discípulos de BoAs"2 - muito
será estudo de campo 1• Os co-dialetos vivos podem trazer luz a embora nao nos conste que para estudar línguas de "selvagens"
algu.rnas questóes, mas indi~etamente, como o galego atual talvez baja algum método diferente do das outras línguas vivas. Mas
esclarecesse algo do portugues do século XVI. quem conhe~ por dentro as obras dos discípulos de BoAs, sabe que
Certo lingüista americano estranha que os investigadores brasilei- nem todas foram preparadas no mato e que algumas foram redigidas
ros se dediquem tanto ao tupi antigo, língua morta, e nao se voltem com índios residentes na cidade. Tanto mais que para esclarecer as
par~ as línguas indígenas ainda vivas. Reparo compreensivel, este dúvidas etimológicas de NASCENTES, de nada serve estudar os dia-
letos atuais dos Tapirapés ou dos Tembés, nem o guaraní platino ou
(1) A simples idéia de "trabalho de campo" parece fascinar alguns o nheengatu amazónico. , O que importa é conhecer o tupi antigo,
espíritos, a ponto de menoscabarem os estudos "de gabinete". :a óbvio que língua que subsiste apenas na documentac;áo histórica. A vida inteira
Qualquer estudo sobre índios ott suas lír.guas deve basear-se em observacoes
diretas· do índio ou de sua língua. Mas estas podem ser tanto as do próprio
entre os Apiacás ou entre os Parintintins, com cobras e lagartos, nao
teorfrta como as de out ro informante fidedigno. Negar isto seria admitir a explicaria urna letra das palavras Niter6i, Macaé, Bertio,ga, Ara-
exper:encia pessoal como fonte única de conhecirnento certo, deita11do por ruama, nem de tacape, carioca, inúbia, pindaíba ou peró.
terra todo o edif ício da ciencia. Verdade isto da etnologia, muito mais o Diante de tudo isso, . fica-se a in1aginar o que poderá ~er o
é da lingüística. Pois -se nao é possível trazer urna tribo para a cidade, é Dicionário Etimológico de Brasileirismos, que N ASCENTES nos ven1
fácil ter a mao informantes nativos e mesmo textos autenticas J?ravado&.
Veja-se. p. ex. o ouc cli7. Fuwn G. LOUNSBURV (UPiversidade de Yal'!) 'lO
seu artigo Field M ethods and Tecniques in Linguistics, na recente e mais (2) Para alguns filólogos brasileiros, BoA s continua a S<'r a última
que autorizada publicadio Anthropolog)' Today, A1~ EncycloPedic b1ventory palavra em matéria de lingüística indíg'!na. É incontestável a influencia que
rreparr>d mzdr>r tlze Chair111anshi.P of A. L. Kroeber. The University of Chi- exerceu o grande cientist!l na dir~áo desses estudos, sobretudo pelo seu " d~s ­
cago Press ( Chica¡:ro, 1953) , o. 406 : cobrimento" de que as categorías lingüísticas nao sao universais n~m tem
"A complete grammatical a.nal-ysis need not be carried out while in the correlac;ao com os diferentes tipos de cultura. Os modernos lingüistas conti-
fielá. b t fact, if a large e11011gli c.ollection of texts is availab,le, this can be nuam a nortear-se pelo princípio de BoAS de que cada língua deva ser estudada
done without access to a 1iative informant". em si mesma e nao pela comparac;áo com a estrutura de outras. Mas o " mé-
Por oncle se cor:clui que a convivencia pessoal com o povo indígena nao todo" de BoAs para o trab.alho lingüístico é hoje antiquado e insuficiente.
é de táo clbsoluta importancia como pretende A. NhSCENTES, e QU'! o seu Cfr. FLOYD G. LOUNSBU~Y, op. cit., p. 408. Qu~m for a América aprender
rigor quanto a técnica de trabalhos lingüísticos nao está a.tualiza.do nem com os discípulos de BOAS os proce'ssos de estudar línguas de índios ( ou
mesmo para o estudo das línguas vivas. "selvagens" - como diz N ASCENTES), verificará que exatamente nis so eles
sao menos discipulos do mestre.
,

16 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 17

prometendo há tantos anos. Grande contingente d~ b~asileirísmo~ Do equívoco prin1ário de supor o tupi colonial urna língua
sao de origem tupi. NASCENTES condena o estudo. ,citadino do tupi: viva, que possa ser estudada pelo método etnológico-lingüístico, sur-
Acha que se <leve fazer tábua rasa de tudo o que Jª se escreveu ate ge outro mal-entendido, evidenciado na assertiva de N ASCENTES de
que "a transcri~áo
-
. .só com
,, Tastevin tom-0u algum jeito. É esta
hoje sobre o assunto. Por outro la?o, nunca foi estudá,-lo no mato.
a transcn~ao que sigo. . . .
De que fon te será~ as origen.s tupis que nos o!erece:a, e,, ~ara as
quais "já estao dev1damente ordenadas as respectivas ~tc?as . Dir-se-ia que a língua documentada por T ASTEVIN é o mesmo
Podemos fazer idéia por algu111as an1ostras. Ass1st11nos a u1na tupi antigo. Ora, o nheengatu amazónico das obras de T ASTEVIN
é um dialeto civilizado ou "crioulo", falado por descendentes de
def esa de tese de concurso para livre docencia de portugues .~ª
arauaques, e que do tupi mal conserva o vocabulário, lnu.ito alter3:do
Faculdade Nacional de Filosofía, ern que A. NASCENTES, na argu1-
e re<luzido, tendo simplificado inteiramente a morfolog1a e a sin~
c;ao, afirmou que a palavra "in?bi~", tirada ,da ianybia de JEA~ ?e taxe, tornando-se urna língua analítica ao extre1no. NASCENTES
LÉRY e vulgarizada pelos rornanticos, provem de urna transcru;ao naveo·a na esteira de TASTEVIN, que cuidou estar tratando com o
defeitt~osa da palavra n,zitnby "flauta" (o tn inicial teria sido tomad.o 111es1~0 tupi colonial, apenas 1nal apreenclido pelos antigos gramá-
por in) J. Ora nao se faz inister ir ao Xingu para ver que os tupis ticos.
nao podian1 chamar con1 o mesn10 non1e ( niimby) dois ins~ru~entos Prossegue N ASCENTES :
nativos tao diferentes como a flauta e a trombeta. Basta ir a p. 66
do Dicionário Portugués e Brasiliano, onde vem jonibya na accep~áo "nun1a época en1 que se dispóe de aparelhos de grava<;áo,
de "buzina". Cfr. ainda p. 246 e ARRONCHES 86 (juniiá), STRA- palatos artificiais, olivas nasais, quimógrafos, etc., nao nos
DELLI 134 (i·u1niá). O problema se resolve nao no mato mas na podemos contentar 1nais com informa~,qes teóricas".
biblioteca.
Clara compreensáo do assunto demonstra o prof. ARION DALL' Consigne-se aqui esse paradoxo de exigir para o estudo do
lGNA RODRIGUES (Universidade de Curitiba), em seu recente ar- tupi un1 rigor "científico" que nao se aplica ao estudo da língua
tigo Análise 1JZ·Mfológica de 1t11t texto tup-i, Logos, VII, n.0 15 ( Curi- portuguesa. Em valiosa obra, ainda há pouco rein1pressa, sobre
tiba, 1952) : língua viva (o linguajar carioca), o sr. A. NASCENTES nao se ser-
viu de nenhum desses aparelhos que declara inclispensáveis para
"Sendo o Tupi antigo ( sécs. XVI-XVII) u1na língua observac;áo do tupi, língua inorta. O linguajar carioca, e mesmo a
morta, apenas atestada documentalmente, todo o estud? . que f ala brasileira em geral, tao nitidan1ente diferenciados da f ala por-
dela se faz há de ser baseado en1 documentos= gramattcas, tuguesa, já foram objeto de observac;óes através de palatos, olivas
vocabulários e textos; esse estudo é, pois, . de un1 cunho ni- ou químógrafos? A filologia brasileira, tao erudita e rigoros::i. cotn
tidamente filológico". os indigenistas, contenta-se, para uso interno, con1 infor111ac;óes "teó-
ricas" ? Será a técnica n1o<lerna 1nenos útil ou accessível para a
caracterizac;ao fonológica dos diale tos ron1anicos?
Nao estrahhe o leitor se nos estenden1os nesses esclarecitnen-
tos. Ao lado de arre111eticlas francas, con10 a de A. N ASCENTES, sen- Sejan1os sinceros. Certa filología brasileira está 1nais betn
te-se un1a guerra fria aos estudos de língu.a tupi, P?r p~rte de al- infonnada sóbre a dialetologia portuguesa (continental e colonial)
guns filólogos brasileiros. Como essa ~pos1~0 se dtz !e1ta, ora em do que sobre a Jíngua que se f ala no Brasil. Mais voltada para o
notne da lingüística ora em non1e da f 1lolog1a portuguesa, e te1npo portugues arcaico e clássico do que para a realidade lingüística na-
de color.ar as causas nos seus lugares. cional. Trata mais das constru~óes de GIL VICENTE e do Palntei-
1'Íui da Inglaterra do que do vocabulário brasileiro. Condena indis-
tintamente tudo o que se te1n escrito sobre tupi, tachando de anti-
(3) Em publica~óes, NASCENTES já veiculara essa exp~ca~~o, que vem
<le BATI STA CAETANO, Apontamentos sóbrc o Aba11hcc11ga, 2. opusculo, p. 4. quados, líricos, arti f iciais o::; n1étodos seguidos, inas nao dá exen1-
CURSO DE TUPI ANTIGO 19
1S LEMOS BARBOSA

to nem a cultura do índio6• Mas daí a recusar-lhes qualquer valor


plo de objetividacie científica enquanto persiste nas velhas preo- como documentos filológicos e lingüísticos só seria justo se a Lin~
cupa<;óes de ética lingüística, do que é ou ~áo "correto", toI?,ando güística fósse mera disciplina auxiliar da Etnologia, destinada táo
con1o ponto de referencia nao os tatos atua1s mas o uso dos bons só a desvendar aos olhos do etnólogo o pensamento e a cultura dos
autores'', portugueses e clássicos de preferencia 4 • primitivos. Ora o objeto da Lingiiís6ca nao é o pensamento nem a
cultura, mas a expressao simbólica e vocal do pensamento ou emo-
Out~o ponto para o qual se volta o zé lo lingüístico . de alguns ~ao 7. - Um catecismo em língua indígena náo é mais artificial do
críticos; a "artitic1alidade" dos ant1gos documentos tupis. D1z-se que urna lenda indígena escrita em portugues. Nem do que urna
que os textos dos Jesuitas sao fict1c1os, versam assun~os estranhos .ª tragédia de Sófocles, representada em ingles.
cultura indgena (p. ex. nos catecisn1os, sermóes, poestas, etc.), ace1- O que é artificial na literatura missionárici é o pensa1nento ou
tan1 neu1u~1,:)1nos inventauos pe1os .t'ael1es, nao se saue se con1 real
qui<;á a cultura que se póe na língua do índio, nao necessariamente
penetra~ao na lingua, et.e.
a língua em que se expressa aquele pensamento. As palavras, o
Longe a~ nos contestarmos o que há de v~rdade, nessas obser- material sonoro empregado, os conceitos grarnaticais expressos, os
va<;6es·>. üs anugos nnss1onanos pagara1n tnuuro,. a rnentaudade processos que os exprimem, os prefixos, os sufixos, a ordem da!>
donunante na epoca. Considerando a cultura europeta e as i:nguas palavras, ·enfin1 tudo o que é material estritamente lingüístico (e
cléi.:>sicas o upo 1aeal de cu1tura e ae hnguagen1 hu1nanas, nao 1og1·a- nao apenas cultural) tudo ali é autentico e legítimo - excetuado
rain co1npreenc1er Q interesse cte r egistrar p1odu<;oes espontaneas de algum ou outro neologismo ou erro acidental - e nao um artifício
u111a 11u~ua de indios. 1.Je1xaram-nos inun1eras tradu~ues o~ hvros lingüístico, con10 seria, p. ex., um discurso em esperanto ou urna
europeu:;,, ae con1pos1<;óes ocHlentais; nao nos legaran1 urna so lenda poesía em volapuque.
ou narra<;ao auLenuca no id.toma nauvo. l>essa natureza ~esta~­
-nos apenas frases esparsas. S~gue-se qu~ aqueles textos nao tem Para maior clareza, suponhan1os que um índio narre a lenda
íntere:;,~t! para a etno1og1a, por isso que nao trad.uzem o pensamen-
de Sumé em tupi, em portugues e en1 esperanto. Nos tres casos,
o conteúdo etnológico é o mesn10, genuíno e autentico. O 1nodo
( lingüístico) de expressar esse conteúdo é também genuino nos
( 4) Compreende-se que a gramática normativa da língua literária - dois primeiros casos, artificial apenas no caso do esperanto. Por
" 0 que se poue ou se <leve ou nao a1zer" - procure conservar seu lugar ao
sol, tanLO qwanto os coa1gos de. euqueta social ou das moa<ls de verao. , Mas que? Porque no esperanto, tanto o material sonoro sisten1atizado
que nao se considere mt nus artu1c.osa do que um texto de catecismo md1gena, quanto o convencionalismo do sinal semantico nao vem de urna
mi1 Vt!Zes bur11auo soo o controle da iíngua viva. .N ell} ma1s a1gna ele ser
obJeto ua c1enc1a 1mgu1stica. l-tr. LEONA!ill .l:SLOOMFIELD, Language (l'l. York,
19-tJ), p. J-'+; -t9o s; J. !V~AROUZEAU, La Linguisuque (.t'aris, l9J0), p. 51 ss; ( 6) Já tivemos ocasiao de estudar textos tupis que nao só registram
lL~; }¿U-121. . . . . cenas auténticas da vida indígena, ma.s conservam o próprio torneio do diálogo
( S) .Fa<;amos, porém, urna res salva. Nao ~ justo que se aphque 1!1d1sc~1- nativo, com o seu sabor agreste. Cfr. A. LEMOS BARBOSA, O Auto de Sao
minadamente esse juízo crítico. Na literatura indígena dos ant1gos, m1ss10na- Lou,renfo (Verbum, t. VII, Rio, junho 1950). O Pe. GUILLERMO FuRLoNG
rios (gramaticas, vocabulános, sermóes, poesias, etc.), cabem também as. va- S. J. acaba de reimprimir em fac-símile a primeira parte dos Set'mones y
riedaaes e as gradua¡;oes. houve ooserv_adores m~1s e menos cultos, m~1s e Rxe11iplos eu lengt«i guat'ani, obra de um índio das Redu~óes, N1coLAs YAPU-
menos pcrspicazes. .t. houve línguas ma1s tavorec1das que outras. . A litera- GUAY (San Francisco Xavier, 1727). No prefácio, prova que YAPUGUAY foi
tura t:m 1iii·•ua tupi ~e o mesmo va1e aa guaram) ocupa urna pos1¡;ao ~mgular o verdadeiro autor, redigindo por própria conta o que ouvia na igreja. "Ne-
entre todas~ Durante do1s séculos, urna sene ininterrupta de cult?s J esu1t.a~, nhum jesuíta escreveu cousa mais elegante" atestou o Pe. JosÉ PERAMÁS.
oriundos de varia.s na¡;oes, consagraram-se ao estudo dos dialeto.s tupi e guararu, ~sse mesmo YAPUGUA Y servia constantemente de intérprete a REsnvo toda
th".: gando a encetar um mov1mento literário, f 1lológ.co e ed1to~1a1 em plena vez que éste tratava de se explicar com mais elegancia em guaraní.
aelva, sein paralelo mesmo nos Andes e no l\1éx.ic~. A, ~rtogratta, atr~ves _de (7) A lingua é parte integrante da cultura (entre os contemporancos,
sucessivos aperfei¡;oamentos, chegou a urna exatidao prat1ca em nada inferior apenas VoEGELIN considerou discutível ésse principio). Entretanto, um fenó-
a portuguésa e a castelha na do tempo, - para nao f alar da inglesa e francesa meno lingüístico nem sempre atinge os outros setores da cultura. E vice-versa.
atuais.
20 LE~IOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 21
heran<;a social, mas de urna iniciativa de cria<;áo consciente e arti-
ficial. náo seria influencia lingüística; 3.0 ) nega-se influéncia lingüística
.Q uase tudo o que se sabe da língua gótica é o que contera os ( entenda-se "gramatical" ) , depois de reconhecer que o assunto ain·
fragmentos da traduc;áo da Bíblia, feita pelo hispo WuLFILA no da nao foi. e~tu?ado objetivamente; 4.0 ) admite-se que o simples
século IV. Mera versáo de um texto hebreu-greco-latino, que nada fato da ex1stenc1a de um mesmo fenómeno num dialeto portugues
representa da cultura gótica, texto " artificial", ninguém entretanto é bastante para "desmascarar" a influencia tupi no caso do portugues
lhe recusará o máximo interesse lingüístico : lá está eternizado o do Brasil; 5. 0 ) o que implica urna premissa de que dois fenó-
n1ecanismo gramatical, o 1naterial sonoro e grande acervo vocabu- 1nenos lingüísticos identicos só possam provir de unta n1esma causas.
lar de um idioma extinto. Náo se sente necessidade "científica" de provar "objetivamente"
Também nos documentos missionários, a artificialidade náo que houve atua~áo histórica daquele dialeto na língua do Brasil.
atinge a medula da língua. Confina-se dentro do vocabulário, Reconhecen1os a precipita<;ao de alguns brasileiristas. Mas náo sao
e isto mes1no só em casos excecionais. Tendo sido indispensável n1enos patentes os sinton1as de liris1no lingüístico c1n certo reacio-
aos Padres fazerem-se entender, em assunto inteiramente novo narismo lusóf ilo.
para os índios, nao é crível que se dessem ªº trabalho de É itnportante sublinhar que os documentos 1nissionários se
compor, corrigir, limar por anos fio, e afinal imprimir, com tantos .
náo sattsfazetn pelo niétodo seguido e pelos objetivos procurados,
'
sacrifícios, cousas que nao tivessem sentido para os destinatários.
ten1 a seu favor a experiencia de vidas inteiras no convívio das al-
Convimos apenas que, nao a organiza<;áo interna das ora<;óes, mas
deias. Neste sentido superan1 a quase totalidade dos trabalhos rea-
sim a seqüencia dos períodos, a trama ou técnica do discurso obe-
decem as tradic;óes literárias ocidentais. lizados por especialistas n1odernos con1 toda a técnica e recursos
atuais. Vale das línguas o que diz Low1E da religiáo e da vida de
A distin<;ao entre vocabulário e material gramatical é fa miliar familia;
aos filólogos patrícios e por eles invocada quando querem contes-
tar influencia tupi no portugues do Brasil. É o que diz, p. ex., o "No tocante a ten1as COlDO estes, os missionários, os
prof. ERNESTO DE F ARIA neste parecer típico : 1nercadores de peles e outros, cuja profissao exige longa per-
manencia num determinado lugar, tornatn-se amiúde supe-
"Quanto a pretensa influencia lingüística do Tupi no
Portugues é ta111bé1n, pelo menos até boje, lirismo lingüístico, riores aos próprios especialistas 1nodernos. A religiao dos
pois tal estudo ainda nao foi feito objetivamente. Aliás, aborígines do Brasil se depreende con1 inaior clareza das cro-
influencia lingüística pode afirmar-se náo ter havido, por n~c~s dos pri111eiros portugueses, franceses e ale1naes, que
nao se ter ela 1nanifestado nos processos gramaticais, isto vIS1taran1 aquelas regioes, do que dos trabalhos de etnógrafos
é, na fonética, 1norfologia e sintaxe. Algumas dessas incul- tao prestigiosos como Karl von den Steinen e Fritz I{rau-
cadas influencias fonéticas, inorfológicas e sintáticas tem se . . . "9 .
sido, urna por un1a, desmascaradas pelo estudo da dialeto-
logia portuguesa, que a ponta os mesmos fenómenos em re- . Eis por que, apesar do progresso dos 1nétodos lingüísticos, as
A

gi5es de Portugal, onde suas popula~óes nao tiveram o me- 1r:_f orma~oes que ternos sobre a língua dos antigos tupis e guaranis
nor contacto com o indígena". nao fora1n superadas pelas de nenhuma outra língua indígena atual
do país.
Observem-se as seguintes confusóes: 1.0 ) chan1a-se a fonética,
morf<>logia e sintaxe "processos gramaticais"; 2.°) considera-se o
, (8) Os mesmos fenómenos se repetem monotonamente nas mais distantes
vocabulário algo estranho a lingua e a lingüística: portanto urna lm~as do globo. Sobretudo ao campo da fonología, as variedades nao sao
penetra~áo de dez mil vocábulos de urna língua em outra língua multo numerosas.
(9) RoBERT H. LowrE, Hist6ria de la Etnología (México, 1946), p. 16.
2
Í

22 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

Alega-se que nas gramáticas houve a preocupac;áo de nivelar Prata. Atente-se, p. ex., nestas observac;óes de RESTIVO sobre a
os dialetos e de subordinar a língua a gramática latina. falta do conceito gramatical de número no nome:
A primeira asserc;áo é inteiramente inexata, e precisa ser des- "Todo nome é indeclinável na língua... O plural nao
mentida de urna vez por todas. Tanto ANcHIETA como o Vocabulá- se distingue do singular; das circunstancias se há de con-
rio na Língua Brasílica e os dicionaristas guaranis registram as va- cluir quando é singular e plural. Sendo necessário distin-
riantes locais e chamam para elas a aten<;áo dos leitores. O PE. guir o plural do singular, po~póe-se-lhe a particula hetá que
PAULO RESTIVO na sua obra inédita Frases selectas y 1nodos de ha- significa muitos. . . Disse : sen do necessário, porque qua11do
blar tem um apendice de 5 páginas em duas colunas para con- nao há necessidade, deixam-na ... " 12.
signar "Varios vocabulos, y modos de hablar no vsados en San
Xauier, ni en Santa Maria; pero por si acaso fueren vsados en Por onde se ve que a subordina<;ao a gramática latina é ape-
alguma parte des tas Reduciones ... ". nas externa e aparente, nao f or-;ando em nada o conteúdo da lín-
gua. Conserva-se o quadro formal latino, e comparam-se a. éle, sem
Já a segunda afirmativa é verdadeira. Os velhos gramáticos, violencia, os fatos indígenas.
defrontando-se com idion1as de índole totalmente estranha, nao S()U-
1beram caracterizá-los senao em relac;áo com as línguas e gramá- Conf iava-me, com algum humor, famoso etnólogo f rances, de
ticas clássicas. Nao há por que admirar, se as gran1áticas portugue- passagem pelo Rio, que, embora admirando a sabedoria dos lingüistas
sas da época eram moldadas na latina, da qual, aliás, até hoje náo indígenas americanos, quando buscava no<;óes acessíveis sobre a
se Hbertaram inteiramente, como ainda náo se libertaram da esco- língua de determinada tribo, nao recorría a eles mas as artes dos
lástica 10 e de outros defeitos tradicionais 11 • miss1onários. É que certas análises tomaram caráter técnico tal e
Acrescente-se que os gramáticos e missionários, desde AN- sáo vasadas em linguagem tao esotérica que se diriam destinadas a
CHIETA até REsTrvo, mostraram clarividencia e intui~o de muitos serem lidas só pelos seus próprios autores. Algumas valiosas mono-
fenómenos específicos da língua, e neste ponto superam a maio- gráfias nem puderam ser in1pressas, táo restrito é o número . de
ria dos modernos gramáticos do tupi amazónico e do guarani do pessoas capazes de aproveitá-las ou interessadas nisso. E mesmo
um bom lin~üista, com aquetas análises espectroscópicas a máo, nao
(10) Veja-se, p. ex., a divisao entre substantivos abstratos e concretos
em quase todos os compendios. Ao lado dessas distinc;oes filosóficas (nem traduziria urna linha de um texto indígena. Esperar aprender
sempre bem conceituadas) de pouco ou nenhum interesse lingüístico, nem urna por elas urna língua seria como querer ter urna idéia do corpo hu-
palavra se le sóbre realidades lingüísticas, como a diferenc;a de tom, ascendente mano pela sua análise química. É bom que se diga isso aqueles que
e descendente, nos dois tipos de interroga~ao: a alternativa, que pede urna
resposta sim-ou-nao (o navio chegou?) · e a especificativa ( quem chegou?, lbaten1 caixa a1 lingüística indígena a1nericana e menosprezam todo
quando chegou?, como chegou?, quantos ch'!garam?). Feitura fonemica de estudo que nao venha acompanhado de quimógrafos, olivas na-
nossas línguas ocidentais, mas que merece apontada, pois que nao é universal Sél,ÍS, etc., ou que nao siga os moldes técnicos da análise descritiva -
na linguagem humana.
(11) A gramática francesa, p. ex., continua a dizer que o feminino de
haut, chaiul, sowrd, froid se obtém pelo acréscimo de um c. Ora. na língua
viva, nao desfigurada por urna escrita obsoleta, o que caracteriza .º feminino (12) PAULO REsTIVO~ Arte de la lengua guaraní (Stuttgard, 1892) p. 11.
daqueles nomes nao é um e - que nao existe (pois nao se pronuncia) - mas Cfr. t~mbém, a pp. 30-31, como a seu modo sabe dizer que nao existe a
o acréscimo de urna consoante: mase. o, xo, Si'1', frwá, t1'; fem. ot, xod, surd, categona de tempo no verbo guarani. No Suplemento da Breve N otícia de la
frwad. A gramática ensina que o plural do artigo le se faz com o simples Lengua_ Guaraní (Stuttgard, 1890), p. 65, do mesmo autor, vem um paradigma
acréscimo de um s. Ora, na realidade há duas formas de plural, nriihuma de conJuga~o verbal guarani, paralelo ao latino, precedido desta justificativa
com s, ambas com mudam;a da vogal para e aberto; a primeira ( lé-) pré- que diz tudo :
consonantal, a segunda (léz-) pré-vocálica: les jours [/éj11r], les etres . "Porque los principiantes 110 se cotisitelan, no tenietido la conjugaci6n
[lézétr]. del verbo por todos sus modos ;y tiempot,,. 'll<J la siguiente . .. ".
I

24 LEMOS BARBOSA

muito embora ninguém até boje tenha tentado a análise estrutural


da lingua portuguesa 13.
Sina essa dos estudos lingüísticos indígenas : deles só se pode
tratar co1n todo o rigor técnico. Sobre ingles, sobre latim, sobre ABREVIATURAS
biología, geografía e até sobre física nuclear, um sábio pode escrever
artigos leves ou livros de divulga<;ao. Quem f izer isso com idiomas
ad. adaptado f.-p. futuro-passadc
indígenas, é tachado-de ufanismo, diletantisn10, lirismo, falta de cri-
tério lingüístico. Como a filología brasileira ignora tanto as lín- adapta~o freq. freqüentativo
guas que se falaram oomo as que ainda se falam entre os índios do adj. adjetivo fut. futuro
país, o único critério de que dispóe para julgar os trabalhos do afet. afetivo g. gente
ag. agente ger. gerúndio
genero é O aparato externo C0111 que eles Se apresentatn: CÍtac;óes,
nomendatura, tnaquinário, etc. an. animal goor. guaram
.
ap6c. apócope h. homem
árv. árvore
. inclusivo
at. ativo
'·i. é isto ~
c. cousa ib. ibídem
cfr. coníere id. idem
el. classe imperat. imperativo
comp. composto ind. ind:r'!to
co1npl. complemento Wl. índice
condic. condicional indeterminado
( 13) Os verdadeiros lingüístas sabem distinguir objetivos e métodos. conrug.
. conjuga~o
indet.
indic. indicativo
Anote-se, por ex., o que diz um dos mais conceituados autores contemporaneos : cont. continua~ao inf. inferior
"Whether ene employs one or another type of terminology is dependent
very largely 1tpon the prospective readers of any grammar. If one· is writing contr. contra~áo infinito
f or a scientific journal re ad by professional linguists, theti the terminology corr. corrigido infin. infinito
niay be as technical as the subject matter warrants. On the other hand, if corruptela intj. interjei~ao
one's descripti-On of the language is in tended f or peo ple who have had only cpr.
the traditional orie1itation to grammar, titen it is esse'ntial that the technical compara intr. intransitivo
vocabulary be rcduccd to a mini1num. Furthermore, for such readers it is d. di reto invis[vel
impossible to rely entirely 11,pon thc concise descriptions of tnorpheme distribu- def. defectivo .
invis.
irr. irregular
tion by cla..sses. One mttst cite numerous paradigm..s. Despite the fact that dem. demonstrativo iter. iterativo
traditional grammars have many 1cncconomical ways of desc1'ibing feahires,
there are certai1i pedagogical features which must 11.crt be ovcrlooked... The type determ. determina~áo lit. literalmente
of scie1itific description which we have been studying in this book is not determinativo locat. locativo
designed to be applied to constructing a textbook to be 1ts'ed by people learning ditn. diminutivo m. mulher
a langtwge. It is the type of organization of data 'l.vhich sho1dd underlie the dir. di reto
constr·u ctwn of a good pedagogical granimar, but it is tio su.bstitute f or one". n. nome
EuGENK A. NIDA, Morphology, the descriP._tive analysis o/ W<Wds. Ann Arbor. dubit. dubitativo n. número
University of Michigan Press (Michigan, 1953), p. 240. dur(at.) durativo tieg. negativo
Justifica-se, pois, a norma tradicional, que preferimos, de descrever a e. exclusivo ns. nomes
língua tupi nao em si mesma. e para lingüistas, mas comparando-a com os exc. ex.ce~o obs. observa~áo
idiomas familiares a maio,r ia dos leitores. Pela mesma razáo, evitaram-se as
grandes sínteses, que diferiri.am por demais dos esquemas de nossas linguas explet. expletivo obj. objeto
ocidentais. f. futuro ob;etivo
LEMOS BARBOSA

opt(at.) optativo s. seguinte


p. pessoa semelhante
paralelo singular
passado sb. substantivo
pac. paciente sing. singular
permiss. perm1ss1vo SS. seguintes Ll~A.O 1.ª
p.-f. passado-futuro sub. subordinado
pl. plural subent. subentende-se
port. portugues sub jet. subjetivo
poss. possessivo mf. sufixo
LEITURA
pp. pessoas S'UJ.
. sujeito
pr.
, .
proprio sup.
.
superior O tupi nao tinha escrita. Cada gramático ou obser-
1.
pred. predicativo tr. transitivo vador europeu procurou transcreve-lo no alfabeto de sua
pre/. prefixo trad. traduzir Hngua nativa, com adapta~óes.
prep. preposi~ao v. vide
,,.
pron. pronome verbo Nosso alfabeto aqui será o seguinte:

pronunciar var. variante
ptc. partícula vb. verbo
a, b, (d), e, (g), h, i, i, k, ni, n, nh, o, p, r, s, t, u,
...
·u,
q. v. quod vide vd. vide %, y, y
,
rec. reciproco vis. visível Segue-se urna exposi~áo sumária e didática da pronuncia~·ªº tupi, tomando
redpi. reduplica~áo voc. vocativo como referencia o alfabeto. No fim do volume encontrar-se-á urna análise
refl. reflexivo t portuguesismo
. fonológica .
reg. regido + ma1s
,
rel. relativo + forma que provem de
retr. retransitivado + forma de que provém CONSOANTES
'
z. O s soa como o nosso f, nao como z:
ABREVIATURAS DE NOMES PRóPRIOS a-só (pron. a~ó): eu fui

ANCH. ANCHIETA
O r é sempre brando, mesmo no princípio da palavra:
AR. ARAÚJO roy: frio
BETT. BETTENDORFF
Conq. Esp. Conquista Espiritual (MONTOYA) O x é como o de "xadrez".
Crest. Crestomatia (FERREIRA FRANCA)
FIG. FIGUEIRA O h é aspirado, cotno em ingles. Só aparece em tres
MoNT. MoNTOYA ou quatro pala vras.
N1c. NICOLÁS (YAPUGUAY)
S. Lour. Auto de S. Lourenfo {ANCHIETA) O g nunca se pronuncia como j, mesmo antes de e~ i
REST. RESTIVO ou y:
Tes. Tesoro de la lengua guarani (MoNTOYA)
VLB Vocabulário na .Língtta Brasüica (ANÓNIMO) nio-ingé (pron. moingué, nao 1noinjé) : introduzir


;

28 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 29

O b intervocálico é débil, próximo de v. Como no es- y, mais parece vestígio da representac;ao do y, que algum tempo se grafava
ig ou yg para precisar que nao era i ou y comum senáo o i ou y "gutural,.
panhol "caber". o.u "grosso". Cpr. as grafías Ararigboia, Jperoig, em que o g se passou a
Exceto se precedido de nasal: pysyro-b)1ra: salvo pronunciar. - De qualqu.~ r f or:na, o g intervocálico nao é oclusivo mas fri-
cativo, variante do hiato ou oclusao glotal.
O m e o n nasalizam as vogais vizinhas, n1as deven1
ser articulados claramente, embora no fim da palavra: VOGAIS
a-sem, py-teem
4. Y tem som peculiar.
GRUPOS DE CONSOANTES Obtém-se, aproximadamente, o som do y, dispondo os lábios para
pronunciar i, mas "tentando" pronunciar ii. (O contrário do u frances: lábios
para u e língua em posic;áo de i).
3.Além de nh (que é so1n simples, como em portugues),
só há nib, nd, ng. No princípio da palavra, seria erro As outras vogais, como em portugues do Brasil, na
faze-los acompanhar de alguma vogal: pronúncia padrao.
nd' o-it-i: náo o comem; ntbaé: cousa (pronuúncias erróneas: Nao se distinguem e e o fechados de e e o abertos : e e o sao um meio
indoúi, undoúi, enibaé, umbaé) termo entre aqueles timbr.~s.
Dispen~.a-se
o m ou ti quando, em pa1avra comoosta, precede vog-al ou
ditongo nasal: pys)iró-byra = pysyro-mbyra: salvo; 11hü-búera =
nhü-mbuera:
·ródas as vogais podem ser nasa is :
o que f oi campo; takaar-eé-ndyba: canavial a, é, í, o, u, y
O d no princ~pio da palavra é sempre precedido de n, SEMIVOGAIS
ainda que acaso, nos antigos documentos, esta letra nao
venha escrita; mas pode-se pronunciar só o n sem o d: 5. Há tres: i, u, y. Foneticamente, assemelham-se e
de ou nde (pronunciar nde ou ne, nunca de) : tu correspondem as vogais i, it, y, mas formam ditongo com a
Em seguida a pausa (ponto, v1rgula, etc.), b é sempre vogal que antecede ou que se segtte:
precedido de m, a inda que esta letra nao figure: afi, eu, iu, aí, eí, ii, etc. (pron. áu, éu, fu, ái, éi, íi)
baé (leia-se mbaé) : cousa úa, úe, ia, íe, ya, ye, etc. (pron. uá, ué, iá, ié, yá, yé)

Também g sen1pre pressup5e n: ou tritongo, quando precedidas e seguidas de vogal :


gatu (pron. ngatu) : bom, bem aia, eia, iia, oia, uía, yía; au,a, eua, etc.
S6 se abre excec;ao quando vem s~guido da semivogal u: gu.astt. Nos ditongos crescentes e nos tritongos, i se pro-
O g aí s~ introduziu por falsa percepc;áo dos portugueses e espanh6is: nuncia como o y espanhol ( en1 "ayer", "yo") ou ingles
gúasu corresponde a was1t (dando ao w o som que tem em ingles).
( etn "yes", "beyond"), p. ex.:
Encontra-se g :nedial em escassas palavras como ygapema "clava", yga-
penunga "onda", ygapó " pantano", ygapul~u,i " remar", ygaro "canoa", ygé íasy: lua; kaía: arder; kaJá: cajá
"ventre ", e s.'!lls compostos. Como nem todos os documentos registram o g
(v. variantes yapema, )•apó, yapuP.ul. )' !~, etc.), e como vem amiúde depois de Alguns autores, nesses casos, escrevem i: 7as'j1, kajá.


30 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 31

Nos ditongos decrescentes, :¡ se pronuncia como i


HIATO
portugues:
kaí (pron. kái) : pegar f ogo 7. Quando se encontran1 duas vogais (nao se f ala das
Quanto a ft, nos ditongos crescentes e nos tritongos, semivogais), dá-se entre as duas um hiato. Deve-se se-
equivale a w ingles ( em "tovvard"). Quase sempre vem pará-las na pronúncia, o que nao se faz como em portugues,
precedido de um g; mas essa nao era a prirnitiva pronúncia. "suavizando a pronúncia da segunda vogal, 1nas, ao contrário,
Nos ditongos decrescentes, 11 se profere con10 u. portugues: cortando em seco a pronúncia da primeira, deixando tensas as cordas
vocais durante um breve instante, para acon1odá-las. assitn tensas, a
eu (pron. éu) : arrotar pronúncia da segunda" (MARTÍNEZ 129).
O y só entra em ditongos crescentes: Reatando-se a en1issao do ar, for<;ada a sua passagerri.
apyaba: 1nacho; kapyaba: herdade, 1quinta pela glótis, há un1a explo~o, verdadeira consoante oclusiva,
entre as duas vogaís. Cpr.
As semivogais podem ser nasais. JVIas dispensa-se
indicá-lo na escrita: subentende-se que o sejam toda vez POR'f. TUPI

que (e só quando) formam di tongo com vogal nasal: f araó a.oba (a +~ oba)
,
a11ana (pron. aüana) : ·bracelete de penas ca1 paí (pa ++ í)
Macaé mbaé (mba ++ é)

DITONGOS 8. O hiato se distingue, na escrita, dos ditongos e tri-


tongos, porque estes incluem sempre urna semivogal i, 1i
...
6. C res cent es : a vogal vem antes da semivogal. ou y:
Orais : aí, eí, ií, oí, ití, yí; aú,, eú, iú, oú, uú, yu
uá, úé, uí (monossílabos, ditongos) ; ·uá,, ué, uí ( dissílalbos,
hiatos) ; kuw ( tritongo) cuia, a-y-ú ( trissílabo) bebo água
Nasais: ai, éi, ií, oí, üí, gí, aft, eu, iu, ou, uú, yu
Ons.: Parece que em algumas palavras nao havia verdadeira oclusáo
Muitas vezcs esses ditongos sao compostos de dois elementos semantica- glotal, mas simples hiato tipo portugues. No presente trabalho, pode·se des-
rnente distintos - e por isso se escrevem separados por hífen ( ú-t't, é-ú). curar essa distin~áo.
Mas pronunciam-se numa só emissao de voz.
A vogal final, quando átona, t)ao forma hiato com a
De c res e ente s : a vogal vem depois da sem1- _inicial seguinte. Embora se escreva, na conversa viva a
vogal. final se elide.
Orais: ía, ie, íi, ío, íu, iy; ita, úe, úi, úo, úu, úy; ya, ye; etc. E' nítido o hiato ou oclusao glotal, quando a vogal inicial é tónica:
N asais : ia, ié, ii, io, iü, íy; úa,, ué, 1ii,, uo, ui1, úy; ya, ye,, etc. nde aba: teu cabelo; ~e á: meu fruto; i á: o seu fruto; i '': come-lo; i é:
seu dizer; i 6 : tapá-lo.
9 . O sinal ' indica a qn.eda de um ou mais sons.
LEMOS BARBOSA

10. O híf en separa os elementos da palavra. Mas na


leitura nao se faz caso dele: LICAO
... "ª.
..,
ey1n-i, nd' o-ú-í (leia-se: ejn11i, ndoúi)

EXERClCIO
11.
a-é: digo puam : erguer-se 12. Regras para conhecer o acento ton·ico:
e..1í: diz ttú : toss1r
akang-i"tera : caveira akué : abalado Sao oxítonas todas as palavras terminadas 1) etn
potiá : peito u·í: farinha consoante, 2) na vogal 31, 3) em vogal nasal, 4) ern di~o1~go
kuara : buraco wí-ata: farinha de guerra
1noe1na : mentira guyrá : passarinho
decrescente, 5) etn e, i) o, u, ( exceto algumas partlculas
,
r-ese: por roy: frío átonas).
apyaba: macho nio-ngué : abalar
koema: manhá kapyaba: quinta As palavras acabadas em a podem ser oxítonas ou paraxítonas. Mas o
tapiá: mano ( vocat.) A A
iaguara : on<;a a das paroxítonas é sufixo.
piá : f ilho ( vocat.) íundiá : esp. de peixe 13. Há algtunas partículas e sufixos enclíticos termi-
mo-pu-á-bo : tocando kaá-ysá: cerca de defesa
mo-pu-ara : o que toca
nados em a, e, i, o ou u. Foneticamente, forman1 u1na só
ikó aib : viver mal
pyá : entranhas py-aba : instrumento de sopro palavra con1 o vocábulo anterior. Em nosso sist~ma
gu-á-bo : comendo gu-aba : modo de comer gráfico, conhecen1-se essas partículas por serem precedidas
gu-ara : o que come kuí: farelo do sinal -. As principais sao:
mo-nguí : moer s-upiá: ovo
i ú-u : ele o comeu i é-u : (ele) o disse -a, -e, -i, -u, -pe, -nte, -be, -tey -ne, -nto, -bo, -no, -(r) enie,
o-ío-puai: ele o mandou karái : arranhar -(r)amo
nd' o-kai: nao pegou fogo karaiba : hon1e1n branca Exceto re1ne, -ramo; -bae, todas as mais sao monossilábicas.

Por vezes, junta1n-se duas ou mais, f orn1ando propa-


BIBLIOGRAFIA rox1ítonos, préproparoxítonos, etc.:
.
pronunciar 1norubixába pe
ANcHIETA 1-6v; FIGUEIRA 1-2; ARAÚJo*-**iij; lo. l.ª ed. 1-2v; niorubixaba-pe ,,
ECKART 3; MONTOYA 1-2; 98-100; RESTIVO 7-10; UPSON CLARK 122-123; iuká-reme iukáreme
CAETANO 1-4; In. Apon~amentos I, 43-60; ADAM 4-16; MARTÍNEZ 127-136; sy-ramo-te-pe-ne? " syramotepene?
CABALLERO 138-162; 1'1oRÍNIGO 31-39; DALL'IGNA, Diferen,as 336-348; EnEL-
WF;ISS 75-83; 87-93, 105-109; 119-120; 128-140; TovAR 115-118; L. BARBOsA 175. ÜBs.: A atonicidade parece ter sido menos pronunciad:i nas partículas -pe,
-me, -be, -te, -'"'e
, . J -1110J -1W , -re·me, -ramo, -bae : em certos autores ocorrem as
vezes acentuadas na vogal final.

(•) O iniciante pode contentar-se com urna rápida leitura desta li<,;áo; bem
como da seguinte, voltando a elas quando necessário.
34 LEMOS BARBOSA

As part~culas podem-se unir numa só sílaba, e até Ll~ÁO 3.ª


num só ditongo, com o vocábulo anterior:
nd' o-s-epiak-i. pronunciar ndosepwki METAPLASMOS <•>
íiiká eym-e ,," iuká efime
iukáu
iuká-u
• 15. Os sons da língua. ao entrarem cn1 contacto íntin10
- na cornposic;ao, deriva\áo, incorporac;ao, próclise, encli-
f Toda palavra terminada em e, i, o ou u átonos contém se, etc. (v. n. 11 OS ss.) - podem sof rer alterac;óes ou
algum suf ixo. Mas en1 nos so sistema ortográfico tais metaplasmos.
partículas ou sufixos vem separados por hífen. Conforme a liga<;ao seja menos ou mais profunda, os elementos se escre-
rao separados, ligados por hífen ou simplesmente ju1itos.
14 · Regras para usar o acento agudo:
16. Nos casos de composi<;ao, incorporac;áo e derivac;ao,
Usa-se o acento agudo :
o primeiro elemento, sendo paroxítono, <liante de consoante,
a) nos oxítonos terminados em a, e, o: guatá, bebé, r-ek6
b) em todos os monossílabos tónicos, terminados em vogal : ká, 6, pú perde a última sílaba; <liante de vogal, perde a última vogal:
c) na vogal tónica final, quando o oxítono termina em mais de urna vogal ybak-una : céu negro ; ybá'-piranga: céu
ou em ditongo crescente: ut¡, pai, mbaé, kaá, kiii ybaka: céu
- exceto se a vogal final é y: roy, ay vermelho
,. ,. A A ,, A , ,

iaguara : on~a iagua -guyra: on<;a-passaro


Nao se usa o acento: epW.k: ver epiá'-katu: ver bem
nheenga: voz a-i-nheeng-endub : ouvi a voz dele
1) nos oxítonos terminados em y: yby, roy p1ndob-y : rio da palmeira ; pindó'-taba:
pindoba : palmeira
2) nos oxítonos terminados em i ou u: api, ypu aldeiá da palmeira
- exceto no caso b): pú, ú, pi
- e no caso c) : uú, paf.
3) nos oxítonos terminados em consoante: o-pab, a-i-mo-mbak1 o-ur Podem cair os grupos nib, nd, ng; mas a vogal anterior
4) nos pronomes monossilábicos: xe, nde, i
5) nos prefixos proclíticos: a-, ere-, o-, ía-, gui-, etc.
continua nasal:
6) nos paroxítonos
, terminados em a : peba, kaia, uuba, iyra nheenga: voz poranga: bonito nheé'-poranga : voz bonita
7) nas pa1avras atonas: -reme, -ramo, -pe, -te, etc. íuba: amarela aka' -íuba : cabe<;a a1narela
8) quando, o acento t?nico coincid~ com o til : pabé, mokoía, t-eta' -me akanga: cabe<;a
9) nos ox1tonos terminados em d1tóngo decrescente: o-kai, ía-syi ÜBs.: O a átono que ter:nina inúmeros substantivos (ex. ybaka), adjeti-
, ÜBs. : ~s .partículas enclíticas em nada alteram a acentua~ao que compete vos (ex. una) e pronomes (ex. akueia) é um verdadeiro índice nominal.
a palavra prmc1pal: ó-bo leva acento no o, porque ó é monossílabo. Sufixa-se aos temas terminados em consoante, pois o nome (substantivo,
adjetivo, pronome) <leve acabar sempre em sílaba ab~rta (vogal) - e o
mesmo se diga do infinitivo, que é um verdadeiro nome. Em composi<;ao, -a
BIBLIOGRAFIA sufixa-se apenas ao tema final (quando este é acabado em consoante~. -
Para efeitos descritivos, porém, neste curso de divulga~ao, trata-se o -a como
se fizesse parte integrante do tema.
ANcHIETA 7-9; FIGUEIRA 167; ARAúJo **ij; MoNTOYA 99-100.
(*)O iniciante pode contentar-se com urna rápida leitura desta li~o,
voltando a eta quando necessário.
\

36 LEMOS BARBOSA CURSO DE ".tUPt ANTIGO 37

17. }""en6n1eno semelhante se dá, 1nas raramente, quando e) M final, seguido de vogal tonica, muda-se f acul-
se encontra111 duas vogais ig uais, urna, tonica, no fim da tativamente etn nib (e é o mais comum ) :
primeira palavra, a outra, átona, no princípio da segunda: tym+ara ==
tynib-ara ou ty11i-ara: o que enterra ; tyni+aba
obá: rosto asab : cruzar obá-'sab : aben<;oar = tymb-aba ou tym-aba : o modo de enterrar; sem+é = semb-é
aka: galho ap'y ra : ponta aka-' p3rra : ponta de galho ou sem-é: sair a parte; nhauunia: barro+oka: casa ==
nhauu1nb-oka:
casa de barro; kama: seio+y : líquido
. ==
kanib-y leite
Oss.: l. Quando as vogais sao diferentes, é possível ( embora nao
normal) a elisao de urna, em geral a átona : d) B final esporadicamente se converte en1 p:
ie- (reflexivo) : se ab: abrir i'-ab: abrir-S'.!, desabrochar
xc. r-ub ! ou xe r-up ! : ó meu pai I
2. 1fas sendo a segunda vogal i ou 11, fora de sílaba tónica, costuma
haver ditonga<;áo: .ve api + n = xe api-ü: atirou-me pedra e) B de sHaba final átona passa a p no gerúndio e
Afora esscs casos de elisao e ditongac;ao, há sempre hfato (n. 7). .,.,..... nos verbais ( s)ara e ( s}aba:
ausub: an1ar, aHsu.p-a: amando, ausup-ara: o que ama, ausup-
18. J e 1lh as vezes se pern1uta111. Junto de nasal é -aba: lugar, ten1po, modo, etc. de amar
preferido nh:
íara: senhor, 1lf : espinh~, ·nha.11 : correr, íuba: a111arelo, ía11dé D, n e nd tem entre si as mesmas alternancias que
22.
ou nhandé : nós, nosso, íak,u11iii ou nha.ku1no: estaca de canoa, íitndiá há entre p, ni, e mb, exceto as de a), d) e e):
ou nhundiá: espécie de peixe b) v. n. 3.
19 . S antecedido de i n1uda-se en1 x : nhan+ara == nhand-ara ou nhan-ara: o que corre ; nhan+aba
i+sitpé == i .,-i;u.pé; i+sy == i x y; i+suban i x uban. Mas == nhand-aba ou nhan-aba: o modo de correr; nhan+é == nhand-é
ou nhan-é : correr a parte ; a11uzna+y == amand-y ou aman-y : água
v. n. 28 d). da chuva
20. Entre a consoante final de un1a palavra e a inicial 23. P e m iniciais podem converter-se em b, quando se
da outra ( sobretudo se há enclise), ouve-se urna vogal encontram com o b final da sílaba anterior, com que se
,..
dúbia, entre i e u ( ANCHIETA ouviu .Y) : compoen1:
a-pab-ne = a-páb (i)-ne; oll-/Je :::::::: ók ( i)-pc ou 6k (14 )-Pe·; pytu-n-mc s-oba+peba == s-ó'-b·eba: folha larga ou chata; kabureyba +
= pytún(i)-me ou pytún(1t)-tne; i :rok-pyra = i xok,(i) -pyra potyra ==
kaburey-botyra : flor de cahreúva ; aba puku + =
a-buku:
Dada a natureza incerta dessa vogal, deixamos de anotá-la na escrita. cabelo comprido ; kuab+meeng == kitá' -meeng ou kuá' -beeng : mostrar
21. P, ni e 1nb se per1nutam. As vezes também b: l\1as, em geral, justa pondo-se
24. duas consoantcs
a) p inicial, nao antecedido de genitivo nem de homorganicas, a primeira cai:
complemento, torna-se 11zb : epíak+katu == epw'-katu: ver bem; ausub+bé-nhé = ausu'-
- be-nhe,•: tornar a ver
,
abá pyá : entranhas de hornero ; mbyá : entranhas (de gente) ;
xe pó: minha máo ; mbó: máo (v., porém, n. 862). A apócope é menos taxativa, se as duas consonantes
25.
b) M b inicial = ni: as vez es só se escreve b ( n. 3). sao heteroganicas :
\
3
38 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 39

epiak+Pab == epiak-pab ou epíá'-pab: ver: tudo; nheeng+porang


nheeng-porang ou nheé'-porang: falar bonito pa.ssado: nhü + púera == nln7-bttera: o que foi campo
prepos. -pe: parana +
-pe == paraná-nia: no 1nar
26. No tupi meridional (i. é, o de S. Vicente), e muito pref. causativo: mo +
pab == 1no-mbab: acabar, destruir
mais no guaraní, a tendencia é para a queda de toda con- con1postos : n1ina +
puku == tni' -11ibuku ou mi'-niuku : lan<;a
soante que nao se encontre apoiada em vogal seguinte da b) K muda-se em g ou ng:
mesma palavra ou da imediata ( quand9 nao há pausa):
part. passivo subst.: nii +
kaú = 1ni-ngaú: feito papas; mingau
TUPI SETENTR. TUPI MERID. GUARA NI pref. causativo : mo +ker == mo-nger: despertar
a-s-at1sub abá a-s-ansub abá a-h-aylm abá compostos : akanga +há == akan'-gá: qu~brar a cabec;a
a-s-ausub
a-s-ausub
:re
:re
sy
r-ayra
a-s-a11.sii .~e sy
a-s-ausu :re r-a:rra
a-h-ayh11, :re sy
a-h-ayhit :re r-ay
poranga + katu :::: poran'-gatu : muito bonito
a-s-m1s1tb :re r-ayr-etá a-s-aits1.i :re r-ayr-etá a-h-ayh1t :re r-ayr-etá
e) T muda-·se em d ou nd:
amo
amo
o índio
minha mae
part. passivo subst. : mi +
typyro == mi-ndypyro: ensopado,
amo meu filho piráo
amo meus filhos pref. causativo: mo +
tykyr = mo-ndykyr: distilar
Como se ve, o guarani tende a eliminar a consoante (e a vogal átona) compostos: takúar-eé +
tyba == tak{iar-eé-d-yba: canavial
até dos nomes paroxítonos, exceto quando seguida de outra vogal. ex e e' ¡¡es : marií-t-ek6 batalha, amá-tiri raio; mas tendem a perder
Excecionalmente, em tupi, as consoantes velares k e ( n) g podem resistir a nasal: mará-t-ek6, amá-tiri.
na incorpora~ao: a-i-pysyk-potar eu o quero apanhar.
ÜBS.: Em pausa, costumam cair todas as consoantes finais, exceto as
velares. I
d) S e x mudan1-se en1 nd:
pref. causativo: nio +syk == nio-ndyk: fazer chegar; mo +
27. As sílabas átonas finais -ma e -na, ao se comporem syryk == mo-ndyryk: fazer deslisar
com urna vogal tonica, podem transformar-~e em -mb- e
ili~
part. passivo su:b st.: rni
' .
+(suú __..) xuú == mi-ndutl: mor-
,
-nd-:
ka111a + y ==
ka11i.b-31 : líquido do seio == leite ; kania ú == + compostos : mena +
sy == mendy : sogra (da mulher)
kamb-ú : beber ( d) o seio == man1ar ; amana +
y = amand-y : e% e e' a o: Tupa-sy Mae de Deus (neologismo colonial).
água da chuva; niena +
uba == 1nend-uba : pai do n1arido == sogro e) R muda-se em n:
28. Um som nasal no fim da palavra, ou mesmo na partícula -reme : nupá-ne1ne : quando ac;outar
penúltima sílaba, pode alterar a sílaba inicial da palavra partícula -ramo : irü-namo : como companheiro
ou partícula seguinte, com que se compóe: veribal ( s )af'a: aro-ano!'; fut. aro-an-ania: futuro salvador
0Bs.: 1) lvf o- e mi- nao soem altera~ as sílabas que j ~ sao nasa.is : mo-sem,
a) B e p mudam-se em ni ou 1nb: 1no-pyni, 1no-sa11i, nio-siii, 11w-s31m, mo-tmg, 1110-kong, mi-t31ma, 111i-pana.
gerúndio : nu,pa +bo == nu,Pa-1-no : ac;outando 2) Mbo- e tnbi-, variantes de 11io- e 1ni-, nao ocasionam meta~lasn:os.
Como nos autores antio·os havia certo descuido quanto ao grupo 11ib, que as vezes
part. pa.ssivo adj. : n/upa + pyra == nitpa-uyra: ac;outa<lo se escrevia só b ou só:-:.1n (como n ou d, em lugar de nd), fica incerto em que
part. passivo subst. : mi +
puaia == ini-1nbi'taia: 1nandado casos 1110 - se deva pronunciar 1110- e em que outros se dcva pronunciar mbo-.
verbais (se perdem o s) : nupa + (s) aba == nupii-ma: ~oute 3) Nao se usa tnbi- e mbo- antes de nasal: 111i-mbo-é ".discípulo" (nun~
mhi-'11Wo-é),, .mi-t,yma "enterrado, plantado" (nao mb1-tyma) ; mo-ku.t-,
, 41
CURSO DE TUPI ANTIGO
40 LEMOS BARBOSA

tnbo-kwí. ou tno-nguí "moer", "pulverizar" (nunca mbo-nguí). Fenómeno se-


33. Já
no tupi pré-colonial parece que o y tendía a con-
melhante se dá com nd em sílaba que pr.eceda nasal. Cpr. nda xe maenduar-i verter-se em u. Na era histórica, era facultativo 'U em lugar
" náo me lembro" ; na nde maenduar-i "nao te lembras", etc. Caso de de y em muitas vozes, particulartnente quando vizinho de
nasalac;áo regressiva encontra-se nos metaplasmos ro = no (n. 501) e i =
nh (n. 18) : ia- = nha- (n. 112) ; ie- = nhe- (n. 294) ; io- =
nho- (n. labiais:
295) ; i = nh (n. 299).
pytué, putue; pytuura, putuura; pytuna, putuna; ymua, umú5
29. O pronome pe parece ter sido nasal, pois, em
34. Unindo-se duas palavras, das quais a primeira acabe
guarani, modifica o r inicial seg·uinte para nd:
e a segunda comece por i ou y, aparece nao raro entre as
pe r-esá == pe nd-esá vossos olhos; pe r-esJ = pe nd-esé por vós;
duas um í eufónico:
pe r-oby = pe nd-oby vós sois azuis
Mas a alterac;ao, comum no guarani, é desconhecida no tupi. compostos : syr31 + y == syry-í-y: rio do siri
abatí + y == abati-i-y : rio do milho
30. U1n fonema nasal nasaliza levemente as sílabas possessivo : i + itá == i-í itá: a pedra dele
vizinhas: i + ypy = i-í ypy : o princípio dele
kurum'i ou kunumi: menino (pron. kürümi ou künunii) pron. objetivo: i + ybo == i-i ybo: frechá-lo

O ·p refixo ro- torna-se ·no-) seguido de nasal: 35. O í eufónico pode aparecer, mesmo que seja outra
ro-ti ou no-ti; ro-sem ou no-sem a vogal seguinte :
Seguido de nasal, o r chega mesmo a diluir-se num som i + aeté == i-i aeté : ele é finíssimo
confuso entre r e n (Cfr. guarani moderno): i + apó = i-1 apó : faze-lo
poranga ou ponanga; piranga ou pinanga 36. Acontece de dar-se a assin1ila<;ao do i pelo í:
31 . Por vezes r e ·n se permutam, sem mais : *a-i-iuká = a-iuká : eu o matei
ybá ne1na (as vezes ybá rema): fruta fedorenta Na proximidade de um so1n nasal, pode o i eufónico set
karaguatá nema (as vezes karaguatá rema) : erva-babosa substituído por nh ( n. 18) :
a-í-ybo ou a-nh-ybo: eu o frecho
32. Dao-se também raros casos de desnasala~ao:
a-í-ami ou a-nh-ami: eu o espremo
mo-sa-sai ~ mo-sa-sai : espalhar ; mo-su-sung ~ mo-sú-sung :
sacudir; itniá? ...., unta? : onde?; mará-t-ekó ~ maril-t-ekó: traba- 37. R final se permuta por t (pron. comum dos tamoios;
lho; mará-é-tenhéa ~ nzará-é-tenhéa: fábula, patranha; a-pysy- entre as outras tribos, elegante 1nas rara) :
ka ~ an(ga)-pysj•ka (cfr. guarani): consolado; hé gué ...,__ hé
gflé : olá; pysá-penia ~ p31sií-pema: unha do pé ; aniá-tiri _.__ ama-
mosapyr =
mosapyt : tres ze r-a'Vr ! == ze r-a'Vt ! : ó meu f ilho !
a-iur = a-íut : vim a-s-ekar == a-s-ekat: procurei-o
-tiri: raio ; Tupa ~ Tüpii: t Deus
42 LEMOS BARBOSA

38. Sao freqüentes as apócopes. Na vogal tónica só exce- LI(A.O 4.ª


cionalmente. As mais comuns sao:
-pe p' akó p' aé p' ikó p' ipó p' ia
,
ra r' akó r' aé SUBSTANTIVOS
-te t' akó t' aé t' ikó t' ip6
-ne n' akó n' a~ n' ik6 n' ipó n' ia
alió ak' aé 41 . O substantivo tupi .pode ser monossilábico ou polis-
r' akó r' ak' aé silábico. Termina sen1pre em vogal tónica ou em -a
átono. Pode ser simples, composto, derivado:
39 . A consoante final das palavras ·é um tanto indecisa, sobretudo (nao ex-
clusivamente) quando seguida de partículas iniciadas por consoante. Do Norte , . kamby : leite
para o Sul até os tamoios (E. do Rio), a tendencia é para a conservac;ao. y: agua, n<;>
Dos tupis (E. S. Paulo) para o Sul, prevalece 'a apócope. Entre os carijós ou oka: casa atuasaba: con1padre
guaranís, regra geral é a apócope. Excetue-se a final k ( em guarani g), que nhandu: ema m..orubi:raba: cacique
normalmente se conserva. O mesmo se diga de ng. Em composic;áo com ele-
mento de vogal inicial, a norma é persistir a consoante final, mesmo em guarani. akanga: cabec;a py: pé
Quando cai a última consoante de sílaba nasal, continua nasal a vogal potyra: flor pysá : dedo do pé
precedente : amana +
pytima = amá-pytuna "nuvem carregada", pinim( a) + aíó: bolsa pysapema : unha (do dedo)
pininia .= pini-pinima " pintadinho'' ; akanga + iuba = aka-íuba " cabec;a do, pé
amar.el.a''.
O substantivo nao sofre a.lterac;óes de número, género e caso. Recebe,
40 . Há casos de metátese: porém, sufixos de tempo, de neg,ac;áo, prefixos de referencia pessoal (possessi-
vos, etc.), além das partículas pospos;tivas.
kupy-iurar == pyku-íurar : la<;ar a perna a
ÜBs.: Em tupi nao há artigo definido nem indefin.ido.
ykeyra == eliyyra: irn1áo mais 1110<;0 (de h.)
l?ys'fié == sykyié : te1ner
' GENEROS
BIBLIOGRAFIA
42. Nao há genero gramatical.
ANcHIETA 1-6; 8v-9; FIGUEIRA '92; MoNTOYA 93-98; CAETANO; Aponta-
mentos I, 60-68; AnAM 5-19; TOVAR 115-118; L. BARBOSA 19~199. Apenas alguns non1es de parentesco, e semelhantes, di-
vergem para cada sexo :
t-uba: pai sy: máe
mena : marido t-e-nii-r-ekó: mulher
abá : índio, ho1nem kunha : índia, mulher
apyaba: macho kunhá: f emea

Os nomes de animais servem para os dois sexos. Sendo


estritamente necessário esclarecer, podem servir apyaba e

\
I

44 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 45

kunha (para seres humanos)' s-aküiii-bae e kitnha (para As regras e os nomes sao os mesmos para o paren-
animais): tesco de animais.
tapiira: anta tapiira s-akuai-bae : anta macho ; 44. Certas partículas sao de uso exclusivo ou preponde-
- kunha: anta f emea
marakaiá : gato-do-mato 11iarakaiá kunha : gata ;
rante de um sexo:
- s-akuaí-bae : gato sim: pá ( só de homens) ; ee (sobretudo de mulheres)
mboia : cobra niboía s-akuai-bae: cobra macho; nao: aan ou aan-i ( comum) ; aan-i rei (h.) ; aan-i reá ( m.)
- kunhii: cobra f emea
membyra: f ilho, filha (de mulher) ; xe 1nembyr' apyaba: meu 45. Algumas raras palavras só se usam de homem para
filho; ze 11iemby' llunhii: 1ninha filha homem:
As línguas dos povos pastores e criadores costumam dispor, quando nao he! ( posposto) : olá
de masculino e feminino, de nomes difercntes para cada sexo, naquelas espécies ahe: ele, aquele, fulano (homem referindo-se a hon1em)
cm que o macho a presenta utilidade diversa da femea. Assim, boi, vaca; ca-
valo, égua; galo, galinha, etc. Chega a haver nome especial para o f ilhote, e
até para as suas várias idades, quando tem utilidade específica: bezerro, tou-
rinho, bezerra, novilha, pinto, frango, leitao, marrao, etc. Os tupis nao NúMEROS
eram criadores, e as poucas espécies de animais que domesticavam (patos, pom-
bos, papagaios, canindés, macacos) nao ofereciam interesse diverso segundo o
sexo ou idade. Nao houve, pois, diferencia<;áo lingüística. Os torneios guaká 46. Nao há número gramatical. As palavras corres-
apyaba ou gúaká kwihii, tanto quanto em portugues "gaivota macho" ou
"gaivota f emea", nao implicam genero gramatical; exprimem o sero real pondem igualmente ao nosso singular e ao plural:
por meio de adjetivo ou aposto, como poderia:n exprimir urna qualidade: t-esá-y lágrima, lágrimas; ypeka pato, patos ; ygapenunga onda,
" gaivota gorda ", " gaivota magra", " boi preto ", " boi branco ". Só se devem
usar esses circunlóquios quando há necessidad~ de precisar o sexo. - Espora- ondas
dicamente tinham nomes diferentes macho e femea, quando pela forma, ta- O sentido se colhérá do contexto.
manho ou cor aparenta vam diversidade de espécies : usá (macho), kunduru
(femea). 47. No tupi colonial, passou-se a empregar etá "muitos",
para realc;ar a pluralidade ( com apócope do a final dos
43. Alguns nomes de parentesco diferem segundo o sexo
paroxítonos) :
da pessoa a que se referem:
pirá: peixe pirá etá : peixes
"filho", com referencia ªº
pai, é t-ayra; com referencia mae, a syry : siri syry etá: siris
é menibyra; para o ho1nen1, "sogro" é t-atuuba, "sogra" é t-aí..ró; paka : paca pak' etá : pacas
para a mulher, respec~ivan1ente: 11ienduba e mendy. guyratinga: gar<;a-branca guyrating' etá : gar<;as-brancas
Leva-se em conta ainda o sexo do parente intermediá~ Nao era esse, porém, o primitivo sentido, e seria
.
r10: erróneo abusar daquele indefinido, principalmente se o
"tío", irmao do pai, é o mes1no que "pai": (t)uba; "tio", plural já se subentende:
innáo da n1áe, j á é tutyra.
mokoi pirá: dois peixes (nunca nwkoi pirá etá)
Aliás toda a nomenclatura do parentesco obedece, em tupi, a um esquema
liverso do nosso. A reduplica~ao pode oferecer urna -:nodalidade de plural; v. Li<;áo 50.ª.
LEMOS BARBOSA I

SUBSTANTIVOS ABSTRATOS
48. Nao há nomes abstratos de qualidades e semelhantes,
Ll(;ÁO 5_ri,
como beleza, bondad.e, cor, tamanho, etc.
Na versáo, deve-se dar as frases tupis urna forma concreta. P. ex., "A
paciencia ganha da affü;ao" se verterá "O homem paciente ganha do homem
aflito", ou cous.a equivalente. QUALIFICATIVOS
Há, porém, a tendencia para substantivar tanto os
adjetivos como os infinitivos: 49. Sao invariáveis. Posp6em-se ao substantivo. n.ste,
p,oranga: belo = beleza se é oxítono, nao sofre alterac;io:
osanga ( t) : paciente == paciéncia
angatura1,na : bondoso == bondade itá: .pedra tinga: branco itá tinga : µedra branca
ío-ausuba : amaren1-se ( uns aos outros) amor y: no pukit : compri<lo y puku : rio comprido
nhe-mo-yro : irar-se == ira
v. também, sobre saba, n. 826. Se é paroxítono, - antes de vogal, perde a última
Aliás, a distim;ao substantivo-adjetivo-verbo é ainda menos pronunciada que vogal; antes de consoante o.u semivogal, perde a última
nas línguas européias.
sílaba:
taba : aldeia ybaté: alto tab' ybaté : aldeia alta
BIBLIOGRAFIA ybá' piranga : céu vermelho
ybaka: céu piranga: vermelho
Generos - REsT1vo 16-17; CAETANO 7-8; AnAM 20; L. BARBOSA 168. aoba: veste tinga : branco aó' tinga : veste branca
Números - ANCHIETA 8v-9v; FrGUEIRA 3-4; MoNTOYA 2; RESTIVO 11-12;
ADAM 20-21; L. BARBOSA 168-169. ~{as v. n. 16 ÜBS.

Mas nos paroxítonos dissilábicos, é rara a elisáo


da sílaba:
ara: dia panenia : azlago ara 'panen1a : dia aziago
aba: cabelo tinga: branco aba ou á' tinga : cabelo branco

ÜBS. : Pode também deixar de dar-se a apócope, quando nao há incor-


porac;ao mas apenas a j ustaposic;áo transitória de um substantivo com um
adj;etivo, o que aliás é insólito em tupi.

50. Costumam os gramáticos dar como exce~óes os ad-


jetivos que perdem o t ou s iniciais :
48 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 49

y:
.
rtO toby: verde, azul y oby: rio verde
abá: hon1em setá: muitos abá etá: muitos homens 56.
ybaka: céu tuna: negro ybak' una : céu negro azeite : nhandy árvore ; madeira : ybyrá
t-esá: olhos toby : verde, azul t-esá oby: olhos azuis resina: ysyka flor: ybotyra
flauta : mimby amarelo : íuba
serra: ybytyra viscoso : pomonga
Mas t e s sao meros pref ixos de classe (v. n. 852). seco : tininga
Neste CURSO · figuram entre parenteses, após o adjetivo:
vento : ybytu
prato: nhae frio: roy, roy-sanga
etá (s), una (t) menino : ki.inumi cheio : ynysema ( t)
estéril : panema pintado : pinima
51 . Note-se que há adjetivos que tem t ou s fixos, como brilhante: beraba üonito : poranga
parte do tema : 57. A flauta comprida. A orelha chata. As ondas verdes. Casas
tinga: branco, tinga: enjoativo, tininga: seco, tuí-bae ou brancas. Muitas casas brancas. Azeite amarelo. Resina viscosa.
tuíá ( -bae) ou tunhá (-bae) : velho, tekó-kuaba: ponderado, taigaiba: Menino bonito. Vento frio. Lágrima brilhante. Flor seca. Flor
ardoroso, synia: liso amarela. Mato branco. Peixe seco. Rio vermelho. O rio bonito.
Rio grande. Prato cheio. Rio estéril ( se1n peize). Rio brilhante.
52. Tais sao também certos adjetivos formados do infinitivo de v,erbos in- Arvore vermelha. Madeira seca. .A... serra negra. Madeira pintada.
transitivos : summga: barulhento, tytyka ou tittitka: palpitante, tataka: tiri- Peixe pintado. Peixe amarelo. Azeite branco. Azeite azedo.
tante, tyaro: amadurecido. Em todos, t e s f azem parte da palavra.
BIBLIOGRAFIA
EXERCiCIOS
53. ANCHIETA Sv-9; FIGUEIRA 69; MoNTOYA 2-3.
kururu : sapo
pira: pele
kaá: mato
oka: casa
-
akanga : cabec;a ata (t): duro '
nambi: orelha una ( t): preto
íurit: boca aia ( t) : ácido, azedo
apeku: língua peba: chato
pereba: ferida puku : comprido
parana: mar panenia : aziago, inútil

54. Panema: infeliz, sem sorte, i:nprestável, inútil:


kaá panema: mato sem
cac;a ; y panema : rio sem pesca ; abá panema : homem inútil, caipora, impres-
tável para a guerra; ara panema: día aziago, perdido.

55. luru una. Na1nbi peba. Kaá panema. O.ka puku. Ygá' peba.
Mboí una. Al~ang usu. Akang ata. Pir' una. Parana pu.ku. Paran'éí,
o~y. Y Panen1a. T-at~ piranga. Yby ata. Kururu peba. Tatu peba.
Pirá una. Parana tinga. Parana sununga. Iuru aia. Pirá tininga.
CURSO DE TUPI ANTIGO 51

60. Quando "sen", "sua", "seus", "suas" se referem ao


sujeito, usa-~~ o:
Pindobu<;u quebrou o seu anzol (de Pindobu<;u mesmo) : o pindá
Lir;AO 6.ª
Pindobuc;u quebrou o sen anzol (de Itajibá) : i pindá
Pindobuc;u quer que Itajibá quebre o seu anzol (de Itajibá) :
o pindá
POSSESSIVo·s Pindobu<;u quer que Itajibá quebre o s.eu anzol (de Japi): i pindá
I é possessivo relativo. O, possessivo reflexivo ou
58. Precedem sempre o substantivo. N·a o há os chamados
pronomes possessivos : recorrente.

xe : meu, minha, meus, 1ninhas 61. "Seu" referente ao su jeito da orac;ao principal se
nde : teu, tua, teus, tuas verte por p, ainda que esteja em orac;ao subordinada de
i (relativo) : seu, sua, seus, suas ; dele, dela, deles, delas sujeH:o diferente:
o (reflexivo) : seu, sua, seus, suas ; dele dela deles delas
Japi quebrou o arco de Itajibá, porque (Japi) quebrou o seu
iar:dé ( incl.) : nosso, nossa, nossos, noss;s · ' '
anzol (de Japi mesmo) : o pindá (su jeito idéntico)
oré ( excl.) : nosso, nossa, nossos, nossas
Japi quebrou o arco de Itajibá, porque Itajibá quebrou o seu
pe: vosso, vossa, vossos, vossas
anz ol (de J api) : o pindá (su jeito diverso)
asé : da gente
Japi se zangou, porque Itajibá quebrou o seu anzol (de Japi): o
pindá
59. Oré é empregado nos casos em que "nosso" nao inclui Japi se zangou, porque Itajibá quebrou o seu anzol (de Itajibá):
a pessoa ou as pessoas cotn quem se f ala. Nos outros o pindá
casos, íandé: Como se ve, há casos de ambigüidade, como em portugues.
Sobre pe, v. n. 29.
f "n1ett" r "teu" f ·'teu"
1andé =~
l
ou
"nosso"
ma1sl
• 1
ou.
"vosso"
ore=
·,
" nosso
" menos
1 e
·'vosso"
62.
(n. 34):
I, antes de outro .i ou de y, recebe um i eu-foñico

....
i-i ygara: a sua canoa

iandé ygara: nossa canoa (dizen1 entre si os donos da canoa). i-i ini : a sua rede
oré yga.ra: nossa canoa ( diz un1 ou vários donas da canoa a um ~asirü "companheiro" nao admite o possessivo i: xe ir.U meu co;npanheiro,
ou vários que nao o sao) . nde irü teu companheiro, irü o companheiro dele, o irü, etc.
iandé r-uba: nosso pai ( dizem entre si os f ilhos do mesmo pai).
oré :-ub!: nosso pai ( diz o filho ou os filhos a quem nao é seu
O s que se segue ao i, passa para x ( n. 19) :
1rmao ). sy: mae i .xy : a sua mae
sa1na : corda i .xania: a sua corda
landé se permuta com nhandé, sobretudo antes de nasal (n. 18).
52 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 53

63. 1 e o servem para o singular e para o plural tanto do 68. Verter apenas o que está grifado:
possuidor como da cousa possuída: .. A vossa ro,a. O nosso parente ( meuteu). Joáo cortou o seu
~
i py, o py: seu pé (dele, dela, deles, d~las) (próprio) pé. Caiu na cabe fa da gente. Os nossos ca1npos (nao teus).
seus pés (dele, dela, deles, delas) P. roubou a canoa dele (de J.). Traze o meu machado grande. Olha
as nossas belas flores (nossas e vossas). Os teus cabelos vernielhos.
64. Asé "da gente", como em portugues, pode equivaler A vossa faca amarela. O nosso (meu e teu) céu azul. Os chefes
a 1.ª p. pl.: c;hamaram os seus dais guerreiros e mandaratn que eles trouxessen1 os
seus arcos (deles dois). Os n1eninos tiraram com suas maos o
asé anga: a son1bra da gente; a nossa sombra leite dela (da cabra). O nosso senhor pediu aos seus guerreiros que
asé nambi: a orelha da gente; a nossa orelha nos dessem o seu feijao (dele). J. comeu as suas favas e os seus
frutos. O guerreiro tomou o sei-i machado e cortou o bra,o déle (de
J.). M eu senhor, com' seus machados, cortou os braros dela. O
EXERCiCIOS companheiro déle me deu os seus tres arcos verdes.
65.
pó: máo nhya : entranhas, cora~ao BIBLIOGRAFIA
py: pé t-atá: fogo
íybá : bra<;o yby: terra ANCHIETA 10v-12v; F1GUEIRA 66, 69, 80, 83-84; MoNTOYA 4-5; 40';'42;
py-sa : dedo do pé nhü: can1po REsTrvo 23-24; 115-116; 118; CAETANO 10-11; AnAM 21-26; L. BARBOSA 170.
po-a : dedo da máo ybá: fruto
aíura: pescoc;o oiepé: um
tí: nariz, focinho, bico mokoi: dois
aba: cabelo mosapyr: tres

66. Xe pó. Xe py. Xe py-sfi. I-í yby. Oré yboty' piranga. O ti


piranga. Pirá o-gue-ra-só (levou) oré pindá. T-atá o-s-apy ( quei-
mou) íandé po-fi. Pe nhü. 0-gue-r-ur ( trouxe) iru. Asé aba.
Nde kó. I-~ ygara. Nde a~ura. Oré aíura. Xe aíura. Pe aiura. I
aíura. O aíura. !andé aiura. Asé ai,ura. I íybá. I-í ybá. Pe
nhya. Pe mokoí pó. M osapyr pindá. Otepé ybotyra.

67.
"' . -
. guarini
guerre1ro: faca: kysé
chefe : niorubixaba mato, planta : kaá
senhor, dono: íara f ava: kumandá •
arco: guyrapara, )ibyrápara feijáo: kumandá-i
machado : íy leite : kamby
grande: guasu ( n. 99)

4
I

CURSO DE TUPI ANTIGO 55

72. Há ainda aé, ahé, aoa. e erika "esse mesmo, aquele mesmo, -a, etc.".
Valem para ambos os generos e números. Excetua-se ahé, masculino e singu.-
lar ( só de h.) ; também significa "este".

Ll(;.AO 7.ª . ,
seguir ae
73. A todos os demonstrativos se pode
"mesmo":
kó aé : este mes1no, akó aé ou ak' aé : aquele mesmo, etc.
DEMONSTRATIVOS
74. O substantivo, quando expresso, vem depois do
69. Distinguen1-se conforme a proxúnidade e a visibi- demonstrativo:
lidade: kó abá o·-só, aipó-bae. o-ur: este homem f oi., aquel e veio
A • • • • e ,

este, esta, estes, estas, tsto; ets aqu1, ets que Jª:
75. Os demonstrativos podem ter f un~áo adverbial : a-iur ikó : eis que vou
kó ou ikó ( cousa ou a<;áo que se esteja vendo) (lit. eis que venho : modo de se despedir) ; a-só a aé : eis que vou ; a-só iá,
a, anga, ang; ia, ianga, iang ( cousa que se veja ou nao) a-só ikó, a-só-n' ia, a-só-n' ikó: eis que vou; pe-só ui: eis que vos ides;
, - . . .
a-so a-ne: eis que 1re1.
esse, -a, -es, -as, -o; aquele, -a, -es, -as, -o; eis aí ou, lá:
kueia, kuei, kúé } PRONOMES PESSOAIS
ebo-kueia, ebo-k.u ei, ebo-kúé == que se está vendo
ebo-uinga, ebo-ui, cb-uí, e-gui, e-ui, ui 76
eu: xe ( ixé) nós: iandé ( incl.), oré ( excl.)
tu : nde ( endé) vós: pe (pee)
a-ipó
a-e
,

a-kó
,. .. a-k"'"
l= que náo se está vendo
ele, ela: i
a gente: asé
eles, elas : i

a-kuew, uei, a- k"'


itc J
As formas entre parenteses se usam quando o pronome
7o. 'Note-se a evidencia de dois pref ixos, a- para as cousas que nao es tao nao está seguido imediatan1ente de verbo predicativo.
a vista, e ebo- para o que está próximo do interlocutor' correspondente a " esse "' Nao há, propriamente, pronome pessoal da 3.ª p. I é prefixo pessoal.
etc. O mesmo prefixo ebo- figura em eb-apó "aí", eb-anói "da banda daí",
e, nasalizado, em emo-ná · " dessa rnaneira" ( cpr. 1üi "desta maneira"). Aé, eri~a. aóa e ahé sao demonstrativos.
"4he é masculino singular ( só de h.); aoa é mais
71. As formas terminadas em a átono sao preferidas
comum no plural :
como "pronomes". Nesta fun<;ao, a todas as den1ais fortnas
se pode suf ixar -bae, que apenas lhes refor~a o sentido: abá i marangatu; karaiba i angaipab : os índios sao bons; os bran- \
cos sao maus ; aé i 11iarangatit; a5a i angaipab : ele ( aquele) é bom ;
kó-bae, ikó-bae, á-bae, etc. aquele~ (eles) sao maus
56 LEMOS BARBOSA

, ,
77. e ou ae: mesmo
.,,.,, , ,
ixe e, ixe ae, xe e, xe ae: eu mesmo, eu mesma
endé é, endé aé, nde é, nde aé: tu mesmo, tu mesma
aé aé : ele ( aquele) mesmo, -a, -os, -as Ll(ÁO 8.ª
iandé é, iandé aé : nós mesmos, nós mesmas ( incl.)
oré é, oré aé: nós mesmos, nós mesmas ( excl.)
peé é, peé aé, pe é, pe aé: vós mesmos, vós mesmas
VERBOS PREDICATIVOS
BIBLIOGRAFIA
78. Os verbos ser e estar, como verbos de ligac;áo, nao
Demonstrativos - VLB passim; F1GUEIRA 5, 85; MoNTOYA 5; RESTIVO tem correspondentes em tupi. Junta-se simplesmente
26-28; CAETANO 70; ADAM 32-34; L. BARBOSA, J.Vova Categoria 67-74.
Pronomes pessoais - ANCHIETA 10v-12v; FIGUEIRA 66; 69; 80-84; o pronome sujeito ao predicado. ~ste pode ser substantivo,
MoNTOYA 4-5; REsTrvo 23-25; 115-116; CAETANo 10-12; 70-71; ADAM 21-26;
L. BARBOSA 170.
adjetivo, pronome ou advérbio:
:4 ou aé - ANCHIETA 53v-54; FIGUEIRA 140; MoNTOYA, Tesoro 17:. xe marangatu : eu ( sou) bom iandé ou oré marangatu: nós
°R2sTIVO 117-120.
(somos) bons
' nde marangatu : tu ( és) bom pe marangatu : vós (sois) bons
i marangatu : ele ( é) bom i marangatu : eles (sao) bons
Chamaremos " verbos predicativos " as palavras assim conjugadas.
79. Quando o predicado é um adjetivo: 1) vem depois
do su jeito; 2) e se é paraxítono, perde a última vogal:
piranga : vermelho xe pirang: sou ( ou estou) vermelho
angaipaba : ruim i angaipab : é ruim
kagu-ara: bebedor oré kagu-ar: son1os bebedores

80. Mas se o su jeito é um substantivo ou pronome da


3.ª p., é mais comum pospor-se ao predicado:
i aysó aé : ele ( aquele) é bonito
i pirang ahé : ele é vermelho
81. Quando o co1nple1nento predicativo é um substantivo
ou advérbio, 1) pode vir antes ou depois, pref erivelmente
antes; 2) nao perde nun~a a vogal átona:
Y piranga aipó-bae y-ekó-aba: é o Ipiranga aquele riacho
58 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 59

82. Se o predicado vem antes do sujeito, o pronome toma


88. Dao-se vários metaplasmos ( n. 19 e 35) :
as formas ixé, endé, peé (n. 76). Nas outras pessoas,
nenhuma dif eren~a: i-i aeté: ele é finíssimo; i xym: é liso
Sóbre urna locu~ao suceda.nea do ~rbo "ser", v. n. 888.
abá ixé: sou índio; kunha endé : és mulher; niorubixaba pee: sois
chef es; kunha íandé : somos mulheres
Irregularidades
83 Se o predicado vem depois do sujeito~ as formas ixé,
endé, pee sao facultativas: 89. Os n1esmos adjetivos de t- ou s- móveis ( n. SO) : 1)
tem s- como prefixo da 3.ª p.; 2) levam r- nas outras
x.e kurumi ou ixé kuritnii: sou menino ,
pessoas, apos o pronome :
84. O prefixo pessoal da 3.ª p. é imprescindível antes do oby: azul, verde
predicado, embora o sujeito se ja substantivo ou pronome
exipresso: xe r-oby : sou azul . iandé ou oré r-oby: somos azuis
nde r-oby : és azul pe r-oby : sois azuis
y i pirang: o rio é vermelho ; y piranga i puku : o río vermelho é s-oby : é azul s-oby : sao azuis
comprido; i pirang Y piranga: o Ipiranga é vermelho
t-oby: azul (gente) s-oby: azul ( cousa)
85. Mas nunca se usa quando o predicado é substantivo asé r-oby: a gente é azul
ou advérbio: s-oby ybaka ou ybaka s-oby: o céu é azul
s-ai )lbá ou ybá s-ai: a fruta está azeda
abá : (ele) é índio; soó : sao bichos; emona: é assim, dessa ma~ 90 Nos qualificativos tinga, tininga, t1ti-bae, tunhá-bae, tekó-kuaba, taigaiba,
neira · kunha ebokúeia: essas sao n1ulheres ; palia soó ou melhor sao
1 sym~, o t e o 's fazem parte do tema (n. 51). Se_guem !":arangatu (n. 78).
paka : a paca é bicho; Tatamirí abá ou melhor abá Tata1niri: Tatami- També.:n os adjetivos tirados do infinito de verbos mtrans1tivos (n. 52).
rim é índio
91. T-ynysema "cheio" segue t-oby, mas na 3.ª p., en1
86. Os verbais formados com o sufixo ( s )ara e os lugar de s, leva t:
nomes de profissoes portam-se indiferentemente como subs-
xe, nde, 1andé, oré, asé r-ynysem: sou, és, somos, a gente é cheio
tantivos ou como adjetivos:, -a, etc.
és chefe: morubixaba endé ou endé mor-ubixab ou nde morubixab pe r-ynyseni: sois cheios, -as
ou endé morubixaba ou nde moritbixaba; eles sao comedores de os- t-ynysem : é cheio, -a; sáo cheios, -as
•"°' y t-ynysem: o rio está cheio
tras : reri-gu-ara ou reri-gu-ar
• A
ou i ren-gu-ar ae
• • A ,

Sobre t-urusu, v. n. 99.


87. Os verbais que come~am pelo pref ixo poro- ( n. 380)
mudam-no para 1noro- ou niboro-: EXERC!CIOS
,
poro-m bo-e-sara: mestre ; moro-m b ,
o-e-sara . , xe moro-tnb
ixe, ,
o-e~ 92.
-sar, etc.: eu sou mestre
ini : rede (de dormir) roba : amargo
60 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 61

akai1t : caju eé ( s) : sápido (doce ou salgado) cachoeira é branca. Os montes sao altos. A barata é chata. O céu ·
1narak1tiá: maracujá aruru : tristonho é azul. A árvore é firme. A carne ( s-oó) está rija. O fogo é
kyrá: gordo por-ausub-ara : compassivo quente. Esta fruta amarela é amarga. Aquela fruta vermelha é doce.
angaibara : magro nhe-ran-eyma : cordato Aquela n1inha fruta preta está azeda. Aquela cachoeira alta é bonita.
kyá: sujo osanga ( t) : paciente Esta minha flor é bonita. Aquela é f eia.
asy (s) (xe): doer angaipaba : mau, ruim
maraá'-bora : doente katu: bom BIBLIOGRAFIA
aiba: ruim ; intransitável angatura1na, marangatu: bom
poxy: nojento aysó: formoso ANCIIIETA 20-21; 38; 46-47v.; FrGUEIRA 36-53; 65-68; VLB 390; MoNTOYA
46-50; RESTIVO 42-44; 46-47; CAETAKO 10-11; ADAM 38-39; 78-81; L. BAR-
poxy-aiba: feio aeté: ótimo BOSA 170.
abaité: medonho matueté : ótimo
93. Por afinidade, aiba "ruim (fisican1ente), estragado, impraticável" e
poxy "nojento" tomam o sentido de "mau (moralmente)". Poxy tarnbén1
o de "feio".
94. Et- {s) "que tem sabor", seja doce ou s.algado {contrário de "insí-
pido") : y eé água salgada (do mar) ; ybá ce fruta doce; pirá ee peixe salgado.

95 . Certos verbos, transitivos ou relativos em portugues, sao predicativos em


tupi. Assim xe maenduar, nde maendi4ar, i maenduar, etc. eu me lembro, tu
te lembras, etc. (Cfr. latim "memor sum"); xe r·asy, nde r-asy, s-asy, etc.:
dói-me, dói-te, dói-lhe (lit. sou dolorido, és dolorido, etc.).

96. Aípó abá i kyrá, kó-bae i angaibar. N de porang, ahé i poxy.


Oré marangatr+; pe angaipab. Marakuiá s-ee; akaiu i rob. Aípó
kunha angaibara i angaturani. 1-í aeté ikó nde íy puku. I kyá kó
ini. Maraá'-bora i aruru. S-asy i akanga. Ebokueí y i aib. Xe
por-ausub-ar. Nde r-osang. I nhe-ran-eym. Oré katu. Pe matueté.
I aysó aípó yboty' íuba. Paié i abaité. I poxy-aib ikó kunumi.

97.
cachoeira : ytu quente : akuba ( t)
lua: iasy redondo : apua
carne: oó (s) forte, duro, firme: ata ( t)
barata: arabé rijo: iyka
98. Eu sou índio. Ela é mulher. Tu és pajé. nle é bebedor. Eu
sou chefe. N ós somos guérreiroG. Vós sois bonitos. nie é vermelho.
Nosso chefe é bom. A pedra é alta. Vossa canoa é comprida. Eu
sou bom chefe. Güiragua<;u é un1 chefe forte. Os nossos guerreiros
sao imprestáveis. A lua é redonda. A cachoeira é redonda. A
Aldeia tupi (THEVET)
CURSO DE TUPI ANTIGO 63

Ocorrem formas como estas : a-peb-usu-gUasu achatadao, a-sang-ustt-guasu


rechonchudao.

O aumentativo entra em numerosas alcunhas.


LI<;ÁO 9.ª
DIMINUTIVO

102 ''Pequeno" é niiri, i ou í. Í e í sao sufixos. 11.iirí é


GRAUS DO SUBSTANTIVO
ta111bé1n adjetivo:
,AUMENTATIVO pirá: peixe pirá miri, pirá-í: peíxinho
a:Zura : pescoc;o aiur-i, anhur-í: pescocinho, colo
99. "Grande" traduz-se por t-urusu, que só é usado pitanga : crianc;a pitang-í : criancinha
quando 5e trata da 3.ª p. A l.ª e a 2.ª se serve1n de ku1nandá : f ava kumandá-í: feijao
S·-eburusu , que é comum também a
3.ª. S-dburusu segue O suf ixo modifica tan1bém adjetivos :
t-oby ( n. 89) :
a-sang-i : rechonchudinho a-peb-i: achatadinho
.xe r-eburusu: sou grande íandé ou oré r-eburusu: somos
grandes Significam também "pequeno, miúdo": ayri (t), isií (t). Seguem oby (t).
nde r-eburusu: és grande pe r-eburusu: sois grandes
s-ebitrusu: é grande s-eburusu: sáo grandes PARTÍCULAS EXPLETIVAS
100. :rvlas o sufixo aun1entativo é guasu para os nomes 103 Há duas principais: -ne e rá, esta de raro uso em
acabados em vogal tonica, e us11, para os outros. Os paro- separado:
Jcitonos perdem a últin1a vogal: kó-ne aé .xe r-entb·i-ekara: é isto o que procuro
kurumi: menino kurumi-gi1asu : n1oc;o mbaé-pe? Kó-ne: o que? Isto
parana : rio volumoso, mar paraná-guasu : oceano
.
y: rio y-guasu : rio grande
104. Unem-se com os demonstrativos allá, aé, ia, illó, ak'
mboia : cobra 1nboi' -usu: cobra grande aé, com o advérbio ipó, etc. :
íararaka: jararaca íararak' -usu : j araraca grande n' akó, n' aé, n' ia, n' i!?ó, n' ipó, n' ip' aé, r' akó, r' aé, r' ak' aé,
que também sao partículas demonstrativas de realce ( exceto n' ipó e
101 S -eburusu e güasu incluem a idéia de "grande e n' ij,' aé)
grosso". Com adjetivos e verbos, guasu ( ou usu) significa
105 A partícula se posp6e ao n1embro da ora~ao que se
"muito"; com os verbos transitivos, faz de objeto; com os
quer fazer sobressair:
intransitivos, de sujeito:
a-r-ur-11.su : trouxe muitos 0-11.r-usu : vieram muitos ahé-n' akó i angatura11i bé-i (VLB 285) : aquele e1n todo caso
a-peb-usu: achatadao ran-usit : grosseiráo é um pouquinho melhor: ilzó aoba-n' ia aúí-é katu tenhé ( VLB 339) :
a-sang-usu : rechonchudao o-íabab-usu: fugiram muitos este vestido é muito bom; iké-ndUara-n' ikó (VLB 339) : este é daciui;
64 LEMOS BARBOSA

anhé-n' akó (VLB 116): assim é; yby anhó-n' ipó asé r-oó'! (AR. 47):
é acaso só terra a nossa carne?; ixé r' akó ou ixé r' ak' aé
(VLB 214): eu era (aquele)

EXERC!CIOS
106. Ll9AO 10.ª
ybyty-gaaia : vale tapiti: coelho
yby-peba: vargem peyba : trilhado
kf'tara: toca, cova kUá-gfta.su : grosso e !"oli~o
mundé : armadilba. ubi:caba ~ t) : enorme VERBOS
107. Há alguma confusao entre "rio" e "mar". No guarani "mar" é pará, 111. Há duas conjuga<;óes: l.ª) verbos de pronomes
"rio" y ou, quando volumoso, parana. No tupi, "mar" é parana e "río" y
ou y-gúasu. Os vocabulários nao mencionam pará no tupi, mas pelos nomes pacientes ze, nde, i, etc.; 2.ª) de prefixos ou pronomes
geográficos ve-se que tanto paran-a como pará f oram empregados para designar
o mar e os rios mais caudalosos. agentes a-, ere-, o-, etc.
Correspondem aos dois tipos de frases : equacionais e narrati vas.
108. J a-peb-usu n' akó kururu. S-ubi.rab n' akó ybyty-giiaia. Yby-
-peb-itsu n'ikó. 1 peyb n' a.kó tapiti kuara (VLB 388). S-ub·ixab-usu n' 112. Já conhecida a primeira ( n. 78), eis o paradigma da
ikó ybyrá. 1 a-sang-usu-guasu n' ikó pe irü. 1 a-sang-i kó pitang-i. segunda:
I aib-ne y-guasu. S-eburusu r' akó nde mundé. I aib xe tnundé-gíiasu.
l. kuá-guasu-ne aípó ybyrá una. N de r-ubixab; ixé, xe miri. 1 katu n' bebé: voa.r
akó nde íy miri. N de iy-guasu i aib.
109. (xe, ixé) a-bebé:
. ,.
voe1, voo
regato: y-ekó-aba tacape: ybyrá-pema (nde, endé) ere-bebé: voaste, voas
espigao : api-pema ladeira : yby-ama o-bebé: voou, voa
(íandé) ia-bebé: voamos, voamos ( incl.)
110. O mar é grande. O regato é pequeno. Teu nariz é pequeno. (oré) oro-bebé: voamos, voamos ( excl.)
Orelha grande. Tua orelha é grande; a minha é pequena. Teu (peé) pe-bebé: voastes, voais
irmáo é "orelha grande". Passarinho. Teus pés sao pequenos. Eu o-bebé: voaram, voam
sou pequeno ; tu és grande. Aquele pau é achatado. Meu tacape é
grosseiráo. ~ste homem é rechonchudo. Aquela crian~a é achata-
dinha. Aquele teu machadinho está ruim. É enorme esse homem. Os pronomes entre parenteses só aparecem quando se
É urna ladeira enorme a.quela. É achatada.o aquele espigao. quer dar maior realce ao sujeito. Os prefixos a-, ere-,
o-) etc. sao, em geral, imprescindíveis.
BIBLIOGRAFIA
Aumentativo - ANCHIETA 13-13v; FIGUEIRA 80; RESTIVO 19-20. ÜBs.: l. !a- é inclusivo, oro- exclusivo (n. 59). Antes de sílaba nasal,
'Diminutivo - ANCHIETA 54; FIGUEIRA 140; MONTOYA 7; R.EsTIVO 21; fo- se torna nha- (n. 18).
EcKART 8. 2. Quando o tema do verbo com.~r;a por i ou 1.t pré-tonicos, estas vogais
Partículas de realce - ANCHIETA 57v; VLB passim; MoNTOYA 19; REs- podem semivocalizar-se, formando ditongo com a vogal do prefixo pessoal
TIVO 113-114; 202-214. {n. 17 ÜBs. 2). Nao sendo 'fenómeno claro nem constante, nao se indica na
escrita.
CURSO DE TUPI ANTIGO • 67
66 LEMOS BARBOSA

EXERCfCIOS
TEMPOS DO VERBO
114. Conjugar no futuro:
113 . O verbo tupi nao conhece a no~ao de tempo : exprime apenas um •
processo ou ac;áo ( ou urna equac;5 o~ s~ o verbo é predicativo). Na sua forma iuká: matar s-eíar: deixar
geral, o indicativo aplica-se a qualquer tempo. É mais comum traduzir pelo k er: ,dormir
.
seni: sa1r
passado. O nosso presente gramatical supóe sempre algo de passado.
O futuro, como em nossa linguagem familiar (" eu vou e trago-o"), pode mano : morrer s-endúb : ouv1r
ser expresso pela forma geral. Quando o futuro implica resolufao ou desejo nheeng: falar s-enoí : chan1ar
de quem fata, confunde-se com o modo deliberativo ou permissivo. É usada pab : acabar-se s-epíak: ver
também a partícula -ne, guando há urna expectativa de quem fala: , .
pak : acordar so: 1r
pytá: ficar ytab: nadar
FUTURO kai: pegar f ogo nhan : correr
PRIMEJRA CONJUGACAO pira.ng : ser vermelho re1n: ser f edorento
xe maenduar-ne : eu me lembrarei
nde maenduar-ne : tu te lembrarás ORDEM DAS ORA<;OES SIMPLES
i niaenduar-ne : ele se lembrará
íandé 1naenduar-ne: nós nos len1braremos ( incl.) 115 · O su jeito pode vir antes ou depois do predicado,
oré maenduar-ne: nós nos lembraremos ( excl.) mas o pref ixo agente precede sempre o verbo. O objeto
pe maenduar-ne: vós vos lembrareis direto, se é substantivo, vem depois do verbo, mas sao
i 1naenduar-ne: eles se lembraráo
possíveis outras coloca~óes, desde que nao se prejudique
SEGUNDA CONJUGA(;AO a clareza:
a-bebé-ne: voare1 Pindobuc;u viu o 1nar: Pindobustt o-s-epiak parana ou Pindo-
, busu parana o-s-ep,lak ou paranii Pindobusu o-s-epíak ou o-s-epwk
ere-bebé-ne : voaras
o-bebé-ne: ele voará paranii Pindobusu
ía-bebé-ne : voaremos ( incl.)
oro-bebé-ne: voaremos ( excl.) 116. O objeto pode-se colocar entre o prefixo agente e
pe-bebé-ne : voare1s
. o verbo:
o-bebé-ne: voaráo matei urna n1ósca: a-1nberu-íuká; matou un1a n1ósca: o-1nb·eru-
i 1narangatit-ne : ele será bom; en1ona-ne : será assim ; xe r-osang- -iu a,
,. k
-ne: serei paciente; ixé-ne: serei eu 117 Neste caso, se é substantivo paro:xitono, <liante de
Alguns autores costumam registrar o i eufónico (n. 20) entre o tema consoante ou semivogal perde a última sílaba; <liante de
terminado em consoante e a partícula -ne: x e maendua.,....i-ne.
vogal J!erde a última vogal ( n. 16) :
A partícula -ne ocupa sempre o fim do período: matou urna on<;a : o-iaguá'-íuká ( wgfiara .. oni;a) ; arrancou cabe-
kori ere-ikó xe r-oryp-á'-pe xe pyr-i-ne (Ar. 91): hoje estarás los: o-ab' -ok (aba: cabelo ; ok : riT'rancat)
junto de 1nim no meu lugar de felicidade
118. O objeto indireto e os outros complementos tem a mesma variedade de
'\J'áo há outros tempos. Em vez da categoria de "tempo", desenvolveu-se colocai;áo do portugues. Evita-se, poré:n, colocá-lo entre o verbo e o obj.eto
mais em tupi a de "aspecto", que exprime as modalidades do processo direto.
verbal, e nao o momento em que se verifica o processo (v. n. 1021).
6S LE:MOS BARBOSA CUkSO bE TUPI ANTIGO 69

PRONOMES OBJETIVOS o-gúe-r-ekó: ele o tem o-gúe-no-sem: ele o retira


ia-r-ekó: nós o ternos ia-no-sem : nós o retiramos
119. Sempre que o substantivo que é objeto direto nao oro-gue-r-ekó: nós o ten-:os oro-gúe-no-se1n : nós o retiramos
pe-r-ekó : vós o tendes pe-no-sem : vós o retirais
está entre o pref ixo agente e o verbo, nesse lugar <leve o-gi1e-r-ekó: eles o tem o-gúe-no-se11i : eles o retiram
ficar o pronome objetivo da 3.ª p.
120 ~ste é quase sempre i ( ou í após vogal): 125 . ~sses
verbos, quando o objeto está depois do pro-
... non1e agente, levam mais um e-:
apanhou um n1achado: o-zy-p3 syk ou o-i-pysyk iy
1 ou
íy o-i-pysyk a-uub-e-r-ekó, ere-uub-e-r-ekó.. o-uub-e-r-ekó: tenho frechas,
quero pedras: a-í-potar itá ou itá a-í-potar ou a-itá-potar tens frechas, etc.
126. Raríssimos verbos transitivos irregulares nao usam o pronome objetivo
121. Antes de muitos verbos comec;ados por vogal, é s, da 3.ª p., embora levem prefixo agente: a-é "<ligo" (é "dizer'», a-ií
"como" ( ú "comer"). V. Lic;áo 48.a.
em vez de i:
viste o mar: ere-parana-epíak ou ere-s-epíak parana ou parana 127 · O verbo iitká "matar" e outros comec;ados por i
ere-s-epiak perdem o pronome objetivo da 3a. p., quando precedidos
ouvi urna voz: a-nheeng-endub ou a-s-endub nheenga ou nheenga de prefixos agentes:
a-s-endub •• a-iuká, ere-iuká, o-íuká, etc. : eu o mato, tu o matas, ele o ma-
ta, etc.
122. Com os verbos monossilábicos, é ío- ( nho-, antes de
128. Em alguns vocabulários e gramáticas, os verbos transitivos aparecem
nasal): com o pronome objetivo, como se este fizesse parte do tema verbal. - Desta
lic;áo em diante, indicaremos entre parenteses o pronome objetivo, quando far s
esconde1nos frutas: oro-ybá-mim ou oro-nho-1ním ybá, etc. ou io, dispensando-nos de faze-lo quando fór i.
arrancaram as flechas : o-uitb-ok ou o-ío-ok uuba, etc.
enterrastes as cabe~as : pe-aka'-tym ou pe-nho-tym akanga EXERC1CIOS

123. Nas 3as. pp. o ío- nao é de rigor : 129.


enterrou a mulher : o-nho-tym Jeunhii ou o-tym kunhá t-obaíara: inin1igo ( subst.) ygá-pema: tacape
pilou o milho: o-io-sok abati ou o-sok abati kybyra : irmao (de m.) kuarasy : sol .
tutyra : tio n1aterno py-banga : torto dos pés
124. Os verbos que come<;am por r(o)- ou no- nao levan1 akuti: cutia areá: aleijado (sola para cima)
pronome objetivo da 3a. p.; na la. excl. pl. e nas 3as. pp., iepeaba : lenha py-teema: id. (que pisa com a
" amana : chuva ponta do pé)
1nserem gue- : kanhem : sumir anania: parente
mo-akuí : enxugar (o úmido) r-ur : trazer
r-ekó: ter no-sem: retirar
I mo-kang : enxugar (o mo- ar: apanhar
a-r-ekó: eu o tenho a-no-se1n : eu o retiro lhado) ú : comer, beber
ere-r-ekó: tu o tens ere-no-se1n: tu o retiras 1110-akym: molhar mim ( nho) : esconder

5
70 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 71

mo-ngit.i: derrubar anio, ... amo, .. . : un1 ... out ro ... 131.
ra-só : levar guá: ptc suj. indet. 3.ª p. pi.
mo-nhang : f azer pytá: ficar entrevado : apara surdo : apysá-eyma
coxo: pa.r -í vea.do : suasu
coxear: par-i ( xe) 1nais para cá: kybo, kybo ngoty
130. Abá o-i-n·tonhang o taba. Kurun·t i o-y-e-ra-só. Kunhá o-iepeab- mudo: nheeng-1tj nheeng-
-ar. Iepeaba i tining. A ·nw.na o-i-nto-akyni iepeaba. Kimrasy o-i-mü- -e'Y'lna mais para lá: anio, anio ngoty
-akuí iepeaba. Kuarasy o-iepeá-m.o-akui. Yb31tu o-i-mo-ngui ybá. comida : nibi-'ú tan1bém : abé
T-atá o-i-mo-kang aoba. T-obaiara ze anania o-iuká. lru
( n. 62) o-güe-r-ekó uub-etá. X e kybyra anió i py-teem, xe kybyra
amó i py-bang. X e tutyra i arcá. . O-lianhe1n xe iy. 0-mim gi'tá nde 132. A mulher apanha lenha seca.. faz a comida. Os passarinhos
ygapema-ne. 0-gue-r-ur guá nde sy. Akuti o-ú akaiu. Y pe ka comem a comida. Minha n1ae escondeu o machado dela. Tu trou-
o-y-ú. Güyratinga o-pirá-ú. 0-pytá gWá-ne. xeste o seu tacape. O veado comeu as frutas. Nós trouxemos o
vosso companheiro. Eu vi muita Uenha seca. A chuva molhou a
lenha. Esconderam os nossos machados. Perdi ( sumiu) o meu
machado. Traze mais para cá esse entrevado. Leva mais para lá
esse coxo. ni.e é surdo. É mudo também.

BIBLIOGRAFIA

Verbos - ANCHIETA 17v-22; FIGUEIRA 149-153; MoNTOYA 13-18; REs-


TIVO 28-33; CAETANO 14-16; ADAM 40-42; 52-54; DALL'IGNA, p.assim; L.
BARBOSA 171-173.
Ordem das ora~5es simples - ANcHtETA 36-37; F1GUEIRA 87-89; MoN-
TOYA 34-35; RESTIVO 74-75; CAETANO 86-87.
PronomeEf objetivos - ANCHl"P-'l'A 37v-40; FIGUEIRA 87-89; MONTOYA
38-40; REsnvo 74-78; CAETANO 39-40; ADAM 40; L. BARBOSA, Juká 74-77.

Cenas de um ac.ampamento de índios em expedi~ao guerre1ra (DE BRY)


CURSO DE TUPI ANTIGO 73

136. supé
1) "a, para" (dativo) : a-i-nieeng nde r-uba supé: dei-o a teu pai
2) "em busca de, buscar": e-ior nde r-uuba supé: vem buscar tuas
LICAO 11.ª flechas
3) "contra": tapy'JÚJ o-i'-ereb i xumara supé: os tapuias se voltaram
contra os inimigos dele; a-nheeng nde r-itba supé (FIG. 122):
PREPOSI~OES pelejei contra teu pai

133. Colocam-se depois da palavra que re.g·em. Sao 137. koty ( após nasal ngoty)
. ,.,
pospos1~oes. 1) "para o lado de" ( com v. de n1ovimento) : íaguara o-só oka
134. suí koty: a on<;a f oí para o lado da casa; eboui nde r-esá por-ausub-
-ara e-ro-bak oré koty (Ar. 2): esses teus olhos misericordiosos
1) "de" (proveniencia e separa<;áo): a-sem taba suí (ANCH. 43): volve para o nosso lado
saí da aldeia; a-i-peá i xuí: apartei-o de sua máe 2) "para o lado de", "ao ou do lado de" (v. de repouso). Menos
2) "fora de": oro-ikó taba suí: estamos fora da aldeia usado : okara koty : do lado da rua; Tupa T-uba. . . é-katu-aba
3) "sem" (neg. de companhia), "e nao": t' a-só nde su-í-ne: irei sem koty s-en-i (AR. 3) : está assentado a direita de Deus Pai
ti (e tu nao) ; ere-s-enoi xe r-uba xe sy suí : chamaste a meu pai
sem minha mae 138. pupé
4) "para nao" : a-só nde r-ep1ak-a suí: vou para nao te ver 1) "em": ikó yby pupé (AR. 24): nesta terra; oré taba pupé: em
5) "(por causa) de": xe r-un t-atá.-tinga suí (VLB 177): estou negro nossa aldeia; ara mosapyra pupé (AR. 3) : no terceiro dia; T-uba
de fuma<;a; t-oryba sui a-popor (VLB 385): salto de alegria r-era pupé (AR. 1) : em nome do Pai
6) comparativo; v. n. 173 s. 2) "dentro" : maraká pupé: dentro do maracá; a-ar nde ygara pupé
7) "a" (raro): o-leanhem ygara xe suí (VLB 337) '. desapareceu-n1e (ANcH. 40v.): embarco em (dentro de) tua canoa
a canoa; s-asy xe akanga xe swí (VLB 194) : dói-me a cabe<;a 3) "co1n" (dentro de alguma cousa) : o-ur ixé pupé: veio cómigo
(p. ex. na canoa); a-ar nde pupé (ANCH. 40v.): embarco con-
135. r-upi tigo ; caio em teus costumes
4) "com" (instrumento) : o-iuká ygapema pupé : matou-o com o
1) "por" (lugar) : oro-nhan yby r-upi: corremos pelas terras tacape; t-esiiia pupé ·(AR. 137) : com alegria
2) "conforme, segundo" : pe-guatá xe sy r-upi: andais como minha 5) "entre, juntamente com" : o-gue-ra-só xe r-uuba o mbaé pupé:
mae; <rikó-bé nde r-ekó r-upi: vivo segundo a tua norma levou minhas flechas entre seus objetos
3) "a medida que", "enquanto": xe nheenga r-upi (VLB 199): em ÜBS.:i pupé "junto com isso, com tudo isso, além disso": o-iuká
eu falando o-ú i pupé: mataram-no e ainda o comeram; i pupé nd' ere-íabab-i-
4) "com" (raro): a-ikó kunha r-upi (ANcH 43v.): casei-me com -pe?: e ainda nao fugiste ?, abá byk-ag-úer-eym-amo s-ekó pu,pé
a mulher -- l • -- •
niemé (AR. 4): juntamente com ser ela também virgem
74 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 75

139. - r-csé ou rí Se a sílaba final átona é ba, cai. Se é ma, caí e há


1) ''por (causa de)": .xe sy r-esé a-por-abyky: trabalho por causa nasaliza<;ao. Se é na, caí só a vogal:
de minha máe; .xe r-ory'-katu nde r-ura rí (LÉRY 262): ale-
taba: aldeia, tá' -pe: na aldeia; t-etanza : regiáo, t-etá' -me : na
gro-n1e muito por teres vindo; nde .'re r-ayra r-ausuba r-esé, i.xé
regiáo; koenia: manhá, koé' -nze: de manhá; pytuna: noite, pytun-me:
abé oro-ausub : por an1ares a meus f ilhos, eu também te amo
de noite
2) "com" ( con1panhia), v. n. 144 s.
3) prep. que rege muitos verbos e adjetivos relativos: .xe maenáuar
143 . Nas acepc;oes 3) e 4) , -pe nao causa altera<;ao aos
.xe r-eta1na r-esé: le1nbrei-1ne de 1ninha terra; o-niendar .xe r-yke- paroxítonos. Mas pode nasalizar-se após oxítonos nasais:
ra r-esé : casou-se com minha irmá; e-Titpá-mo-ngetá oré i an- niorubi.xaba-pe: ao chef e sumará-nte : ao inimigo
gaipá' -bae r-esé (AR. 2) : roga a Deus por nós, pecadores; o
nheenga o-ityk .xe r-esé: falou contra mim; o-í'-epyk .xe rí: vin-
garam-se de mim; a-pó-ar nde r-esé-ne (FrG. 124): hei de te es- CONECTIVOS
pancar; a-ro-bíar nde r-esé: creio e1n ti; nda xe ray' -potar-i nde
r-esé (FIG. 124) : nao te quero tér por filho 144. A preposi~ao "co1n" de (de companhia) se pode
traduzir por pabe, ndí, ndi-bé, r-esé, r-esé-bé, iru-na1no ou
140. -pe ( após nasal -me) iru-mo.
No sujeito, estas pre(!Osi~5es levam o verbo para o plural. Mas iri1-nanio
1) " e~1 " (1u~ar ) : o-niano, .xe k, • h a roc;a; oro-pytá
· o-pe: morreu na m1n ou in1-mo pref ere o singular:
Ita-pe: f1can1os em Itá pe-íur-pe .xe sy ndí? : v!estes com 1ninha nlae?; oro-niará-1nonhang
- ) , " a t e,,, : o-so' I ta-pe:
2) " a, para" (d.1rec;ao ' f 01· a Ita;
' pe-só Taub)isy r-esé ou ndí (VLB 335) : lutei com Taubici; oro-íe-byr nde
oré kó-pe: f ostes a nossa rrn;a; t' ía-só .xe iru-mo Nhoese1nbé-pe r-esé-bé: voltei contigo; .xe-r-uba pabé oro-só (VLB 269) : fui com
nhó-te ( VLn 117) : vai conligo só até llhéus n1eu pai; t' ia-só xe irü-nanio ll/hoesembé-pe nhó-te (VLB 117):
3) "a, para" (dativo) : a-í-meeng itá nde r-uba-pe: dei a pedra a vai comigo só até Ilhéus ; a-íe-byr nde sy irú-namo : voltei com
teu pai tua máe
4) " por, em busca d e,, : a-so, n d e r-uba-pe: vou em busca de teu 145 N·ao há a conjun~ao "e". Os substantivos e pro-
pai, traze-lo nomes, quando estritamente necessário. se unem pelas
5) "por, porque" : .xe r-enoi-dag-úé'-pe, a-iur: venho por me teren1 preposi\oes p.abe, ndí) etc.:
chamado
oro-só nde r-aÍ)ira nd·í: f omos eu e tua filha; a-s-ep1ak nde
r-aíyra nde tu.tyra r-esé-bé : vi tua filha e ( com) teu tio
141 Após nasal, a preposi<;ao é -me:
nlzu-me: no oit ao campo; pa.rana-me: no mar 146. Substituem igualmente a conjun<;áo os advérbios
142 · Regidos de -pe, os paroxítonos perdem a última bé, abé, -no) bé-no, abé-no "tan1bém",' "mais":
vogal. Tenha-se presente, entretanto, a eufonia (n. 20): o-sem kunhii kununií abé : saiu a mulher (e) o 1nenino também
oka: casa, ok-pí: na casa; anga: abrigo, ang-nie: ao abrigo; :Esses advérbios en1 geral se pospüem. Mas -no pode-se
nhat.a: fonte, nhaí-me: na fonte colocar no f im da frase (antes de -ne, no futuro) :
76 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 77

t' a-r-ur amó t-e-mbi-ara, amó akang-uera bé, mitam-baba suí- bolsa do gambá : sabé-aió boje: íeí, oieí (pass.), kori ( fut.)
-no-ne: trarei, do combate, uns prisioneiros e urnas cabe\as quati: kuati ontem : kuesé
sombra: anga amanhá : oira, oirandé
147. Os verbos e ora~6es ligadas pela conjun~áo "e" ou 1) brincar : nhe-11io-sarai aquí: iké
se justap6em simplesmente, ott 2) se servem de bé, abé, descer : g1ícíyb 1
alguém : anió abá
etc., ou 3) do gerúndio ( n. 425) :
151. [Perdi] (Sumiu) o meu tacape e o meu machado. Eu encon-
vi-o e matei-o: a-s-epiak, a.-íuká (lit. vi-o, matei-o) ; a-s-epiak, trei teu machado dentro da nossa canastra. N ós saímos da" taba
a-íuká bé (lit. vi-o, matei-o também) ; a-s-epíak, i íuká-bo (lit. vi-o, ontem de tarde ; atravessamos o lago; chegamos ao mar de noite, e
matando-o) voltamos hoje de manhá para a taba. Nossos companheiros saíram
Mas v. n. 1060. hoje e voltaráo hoje mesmo (kori-é). Cunhan1beba foi ontem de
EXERCfCIOS noite a minha taba, es~ondeu minha rede dentro da canastra dele e
148. atirou-a ( o-ítyk) ao mar. Por vossa causa passei por esta taba. Os
n1eninos embarcaram comigo; as n1eninas embarcaráo com Cunham-
membyra : filho, filha guasem [ supé] : achar, chegar a
beba. ·Os passarinhos voam no céu ; os peixes nadam no lago ; o
(de m.) . veado corre pelos campos. O gambá leva os seus f ilhos numa bolsa.
itpaba : lago ar: ca1r
O quati desceu da árvore, subiu na pedra [e] atirou-se a água. Os
andyrá: morcego kuab : passar
meninos brincam a sombra das árvores.
mandioka: mandioca asab ( s) : atravessar
koema: manhá meeng: dar
karuka : tarde karu : comer ( intr.) BIBLIOGRAFIA
pytuna : noite ybaté : alto ( subst. e adj.) Preposi~0es ANCHIETA 40-46; FIGuEIRA 120-126; MoNTOYA 70-76;
R.ESTIVO 11-16; CAETANO 64-69; ADAM 29-32.
149. Y-ekó-a.ba o-ar y-guasu-pe; y-gf'tasu o-ar parana-me. Akuti Conectivos - A NcHIETA 41-46; F1GUEIRA 123-148; MoNTOYA 74-81;
o-i-pysyk akaiu o pó-pe. la-pytá kaá-pe. N de sy ixé a-iuká. I CAETANO 68.

nheenga a-s-endub maraká pupé. 0-gite-ra-só mboia paíé supé.


A-nheeng-endub. .Akuti o-manó koe' -me. Oro-ytab upá'-pe; pee pe-
-ytab parana-1ne. Guyrá o-bebé ybaté koty. Kunhambeba o-ker py-
tun-me xe ini-nie-ne. X e metnbyra o-mendar ko guarini r-esé-ne.
Andyrá xe py o-í-pyter ko pytun-me. 0-sem kuarasy. A-í-meeng
xe guyrapara nde niembyra-pe. Koe' -nie oro-sem, nde membyra
r-esé-bé, taba suí, oro-só upaba koty, oro-nhan nhu r-upi, ybytyra
r-upi-bé, oro-ytab, oro-s-asab abé y-guasu-no. Oro-só paié r-esé xe
membyra suí-ne. 0-kanhem xe ini. A-gúasent nde ini supé, a-i-meeng
nde sy-pe. Ypeka o-ú pirá, 1nandioka abé. Guyrá o-ker ybyrá yba-
té-pe.
150.
canastra : karamé ( m )ua subir : ie-upir
gambá : sarigué atirar-se: nhe-mo-mbor Fabricac;áo do fogo (STADEN)
CURSO DE TUPI ANTIGO 79

niarana : guerra iru : companheiro 1naran-iru: con1panheiro


de guerra
kania: seio y: líquido kamb-y : leite
LI(;AO 12.ª iagfwra: onc;a akanga : cabec;a w.guar-akanga.: ca~ de
onca
pó: n1ao iagfiá'-pó : mao de onc;a
Isto, porém, só quando da jun~ao dos dois substantivos surge urna terceira
GENITIVO palavra. composta.

156. O adjetivo fica depois do substantivo correspondente:


152 · Para verter em tupi a idéia de posse, expressa em
portugues pela preposi~ao "de", basta juntar os dois subs- asa preta de passarinho : guyrá pepó una
asa de passarinho preto: guyrá ü' pepó
tantivos em ordem inversa a do portugues :
A ,
Nao é fácil estabelecer com precisao em que casos os dois elementos
guyra: ave pepó: asa guyrá pepó: asa da ave se devam escrever separados ou juntos. V. n. 15. Muitos substantivos apa-
tyé : canário ti: bico tyé tí : bico do canário rentemente simples sao co=npostos de genitivo.

Como nao há artigo, guyrá pepó tanto significa


"asa de ave", co1no "a asa. da ave", etc. INT.E RROGATIVOS
153 . Como em portugues, o processo serve para a posse propriamente dita :
pa'ié k-),isé "a fa.ca do pajé"; para a posse integrante (partes do sujeito) : paié 157. As perguntas junta-se urna partícula de interro-
pó "a mao do pajé"; para a posse de relac;ao (parentesco, etc.) : paié sy "a g,a<;ao; quase sempre -pe:
máie do paj é" ; para a poss-e de subj etividade : paié sema " a saída do paj é".
a-só-pe?: eu fui?; ere-iuká-pe?: tu o mataste?; o-1na,n ó-pe-ne!:
0
Neste CuRso diremos que o 1. nome ou pronome está no "genitivo". morrerá?; o-bebé-pe gi1yrá?: voou o passarinho?
Os possessivos (n. 58) nao sao mais do que pronomes em genitivo: ~e
kysé "minha faca" (lit. a faca de mim) ; nde pó "tua mao" (lit. a mao de partícula se pospóe
.1.1\. ªº termo sobre o qual recai a
ti); i zy "a mae dele"; o sema "a saída dele" (refl.). pergunta:
154. Segue-se o nlesmo processo para expriinir o com- xe iní-me ere-ker-pef: dormiste em minha rede?; xe ini-me-pe
plemento restritivo ou determinativo: ere-ker?: [ foi] em minha rede [que] dormiste?; xe ini-me endé-pe
ere-ker?: [ foste] tu [que] dormiste em minha rede?
abatí iií: farinha (feita ou tirada) de mil no
itá y : água. (tirada) da pedra Se esse termo for inseparável do seguinte, dei:xa-se
(te )-sá-y : água (que sai) dos olhos a .partícula para depois, ou, possivelmente, repete-se o
itá nhae: prato (feito) de pedra
termo:
155. Dao-se vários metaplasmos ( n. 15 s.) e as mesmas xe só-reme-pe?: quando eu fór?; ixé-pe xe iuká!: mata-me a
altera<;óes dos qualif icativos: mim?; nde-pe nde iuká?: mataran1-te a ti?

I
~o LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 81

158. A partícula -te dá a interroga~ao um tom dubitativo, 161.


e mesmo negativo: abá?: quem? mam6 '! : onde? aonde?
ere-s-enoi-te-pe? : pois o chamaste? ; pe-s-epiak-te-pe-ne? : por- mbaé? : que? qual? que cousa? ebap6: lá, aí
ventura o vereis? ; mbaé-te-pé f : que cousa pois? abá mbaé?: de quem? karuk-eme : de tarde
mara?: que? como? quais? por que? kunhii-tai : menina
1nara-namo? : por que? piraiuba: dourado (peixe)
Ocorre an1iúde nas respostas interrogativas, comuns pé: escama
1nará ngatu?: como? de que maneira?
no idioma: mara ngoty? : aonde? para onde? okara: prac;a
niara-bae ! : qual ? de que espécie? guaibi : velha
a-só-te-pe ixé? (ANcH.· 36): eu fui.? (= náo fui) itma-bae f : qual ? por-anduba : navidades
abá-é-te-nio-p' aé? : quem outro seria ele? pé-ok: escamar
mbaé r-_esé?: por que?
A consoante final da palavra anterior a -Pe ou -te pode cair. Sem ser urna 1nbaé-reme?: em que hora? mara-neme? : em que hora?
norma absoluta, é freqüente a queda de b, facultativa a de r, m e n, muito
rara a de k e (n)g. Quando a consoante nao cai, aparece um i ou y 162 . Mari, com ou sem -pe, diz quem nao entendeu bem : .. que ( disseste) ?
eufónico, ainda que nao se escreva (n. 20). como?"
163. Umi-bae, em geral, vem sem substantivo. Mbaé, com ou s.em -pe, ora
159. Emprega-se também, mais rara que -pe, a interro- modifica substantivos, ora nao: mbaé oka? qual casa?, mbaé '! que?, t4ma-bae '!
gativa hé: qual deles?

1nara-pe?, mara he?: co1no?¡ mbaé-pe.P, 1nbaé he?: que? 164. Abá-pe kó kunha-tai? Aipó l~unha 1nembyra n'ikó kunha-tai.
Uma-bae? Aipó kunha angaibara. };fbaé kunha angaibara? Mará-
160. O advérbio sera "talvez, duvidosamente, acaso" serve -na1no-pe ere-porandub? - Manió-pe kúesé ere-ikót Kuesé ebapó
a-ikó. Mamó r-upi-pe ere-kúab? lké r-upi. Mbaé-re1ne-pe? Py-
também de interrogativa dubitativa: tun-me. Mara! Pytun-me. - Abá sy-p' ikó guaíbi? Nde membyr'
asé sy-ramo bé sera T·upa o sy mo-ingó-u? (AR. 37) : acaso irü sy n'ikó gitaibi. - Mara-bae pirá ere-s-epiak? Piraiuba. Mbaé!
Deus constituiu sua mae como mae nossa também?; mara s€ra Piraiuba. Mará-bae pé-p' ik6! Piraiu' pé. Abá-pe o-i-pé-ok pi-
t-ur-eym-i? (VLB 260) : por que será que nao vem? raiuba? lxé a-1.-pé-ok. Mara-neme-pe'! Kúesé, karuk-e1ne. Manió-
-pe? Okar-pe. Abá ndí-bé-pe ere-i-pé-ok? Xe iru nd-í-bé. Mbaé
Raramente, o próprio tom da voz dispensa a partícula. pupé-pe? Kysé pupé. Abá kysé pupé-pe? Xe kysé pupé. Mara
Ons. Em numerosas línguas, tanto civilizadas como primitivas, há dif e- ngatu-pe? - Abá 1nbaé-pe kó ygapema? Aipó guaíbi membyra men-
renr;a de tom ou de estrutura entre dois tipos de interrogar;oes: l.º) a dy mbaé; o-s-eiar iké, karameuá pupé. 0-s-eiar sera, ko-ip6 o-ka·
pergunta. ?e af irrnar;áo-negac;ao. alternativa ( sitn ou nao?), 2.º) a pergunta nhem? Mara ngoty-pe i xó-u (foi)? - Abá. mbaé kó iepeaba? Xe
de espec1f1car;áo (quem!, quando!, como?). Em portugues, p. ex., a pergunta
do 1.0 tipo pede eleva~ao final de tom. A do 2.0 tipo, queda de tom. mbaé. Mbaé r-esé-pe ere-s-eiar iké, okar-pe? A-s-ewr-te-pe? Abá-
Cpr. 1.0 ) O viajante já chegoii'! -é-te-pe o-s-eiar? - Mara-pe moranduba? lxé-te-pe a-1.-kuab? /
2.0 ) Quem é qne chegou,?
Alguns autores, para o 2.0 tipo, usam o sinal reverso de interroga~áo (
Em tupi, há ligeira diferenr;.a entre os dois tipos. Para ambos pode-se
¡'. 165.
fruto, grao, semente : á gostoso : é ( s)
usar a partícula interrogativa -pe. Já as partículas hé e sera sao mais comuns árvore, pé : yba pintado ( quase maduro) : auié··
no 2.0 tipo. - Ignora-se se havia diferen~a de tom.
fruto, fruta_: ybá -paraba, u' -baraba

..
82 LEMOS BARBOSA

, ,
ananas : nana feder: ne1n (xe)
ibiraigara: ybyraygara ( árv.) cheirar, sentir [ aheiro de] tr. :
casca (de árv.) : pé, ypé etun (s)
tnaduro: auié dar flor, intr.: potyr (xe)
dar fruto, intr. : á ( xe)
verde: kyra descascar: pé-ok LJ(ÁO 13.ª
de vez : tyaro nao: aan
fétido, fedor: nema sim: pá (h.)
cheiroso : yapuana ( t) já: )lnt(u)a, um(u)a GRAUS DO ADJETIVO
166. Yba e á mais se usam em composi~ao. Fora dela, ·ybyrá e ybá.
SUPERLATIVO
167 . Ybotyra é composto de yba " pé" e potyra " flor". Nao se usa, pois,
quando o nome da árvore já é composto de yba ou ybyrá: kaburey' botyra
"flor de cabreúva ". O mesmo se diga de ypé, composto de yba e Pé "casca•·. 171. Pospoe-se, ao adjetivo, eté ou katu "muito":
Ybá compóe-se de yba e á " fruto, grao ", mas pode figurar ao lado de á.
168. .."...uié propriamente significa "bom, no ponto (de comer) ". " Maduro" niarangatu-eté : muito bom; pora.ng-eté : rnuito bonito; katu-eté :
também se traduz pela cór ou fei~ao que toma cada fruta: muito bom; pora'-ngatu: muito bonito
iabotikaba i á mi: a jaboticaba está [coma] fruta preta; i á ii''-potar
ybá (MoNT. 198v) : está querendo ficar amarela a fruta; i á pub 1ima
marakuw: já está mole o maracu.iá
Eté e seus compostos eté-eté, eté-katu, 'té-katu-nhé
'~111uitíssimo", modificam também substantivos, advérbios
I

169 . U mi, ymi, etc. depois do verbo equivale a " j á '' ; antes, a "há tempos ". e verbos:
170. Vistes já urna flor? Sin1. Vimos hoje no mato urna linda flor. o-mbaé-kuab-eté : ele sabe 111uito; api1é-katu-eté : muito longe;
Que flor vistes? Vimos urna linda flor de maracujá. Já cheiraste o-ú -eté-eté ahé-bae : fu lano co1ne demais; ybotyr' yapuan-aib-eté:
urna flor de maracujá? Sim. Há tempos cherei. É cheirosa? Nao. flor muito fedorenta
- O cajueiro ( akaiu yba) deu flores e frutos. Os seus frutos estáo
verdes. - O ananás é cheiroso, bonito e gostoso. - Esta fruta é chei- Aos substantivos eté dá o sentido de valor, preciosi-
rosa; aquela f ede. Já sentiste o f edor daquela fruta? Qual?
Aquela fruta preta. Cotno? Aqueta fruta preta. - A flor do ca- dade, genuinidade, grandeza:
jueiro é branca. Onde viste o cajueiro? Lá mesmo. - A flor do abá-eté: homen1 de valor, honrado; íagíiar-eté: on<;a legítima,
cajueiro caiu no po~o. - Que flores vistes no mato? - Que casca é grande; kaá-eté : mata virgem; yby-eté: terra firme; y-eté: água boa
esta? É casca de ibiraigara. Quem descascou a ibiraigara? Eu [é ( oposto de "salgada" ) = água comum
que j a descasquei. Em que hora? Hoje, de manha. Onde? Fora Sobre a evolu~áo de eté na epóca colonial, v. n. 1091.
da pra-;a. Com quem? Com um companheiro. Com que? Com o
machado. Com o machado de quem? - Quais sao as novidades? 172 · Rana, oposto de eté, significa "semelhante, parecido,
BIBLIOGRAFIA o que parece mas nao é igual, pseudo", e daí "mal feito,
Genitivo - ANCHIETA 9-9v; FrGUEIRA 6; 1vloNTOYA 3; RESTIVO 12; tosco, grosseiro":
ADAM 22-23; L. BARBOSA 179.
Interrogativos - ANCHIETA 24; 35v-36; FrGUEIRA 144; 127-133; 166;
abá rana : cousa que parece (mas nao é) homem; Pindobusu
MONTOYA 69; RESTIVO 109-111: CAETANO 17; ADAM 36-37. rana Allangusu: Akangu~u é parecido (apenas) com Pinddbu<;u; xe
84 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 85

rana endé : és parecido comigo; uuba rana: flecha mal f eita, tosca,
que (mal) parece flecha; guyrapá' -ran-usu : arco grosseirao tapiira suasu abé s-eburusu-eté opá-katu soó sosé: a anta e o
veado sao os maiores de todos os animais; i porang-eté n' ikó ybyrá:
esta árvore é muito bonita 011. a mais bonita
COMPARATIVO
173. O conceito gramatical de con1parativo era pouco Da mesma forma, con1param-se as ora~oes:
conhecido. Desenvolveu-se mais sob a pressáo das línguas o-mbaé-kuab-eté ixé suí: ele sabe mais do que eu ; o-mbaé-kuab
,.
europe1as. - i:ré iá-bé : ele sabe tanto como eu
174. Superioridade: O segundo termo da compa- Sóbre gUa.su e i modificando adjetivos, v. nn. 101-102.

ra~ao é regido da preposi~ao suí ou sosé "acima de". Ao pri-


178. Com a locu<;ao guyr-i "abaixo de", formam-se vários
meiro termo pode-se juntar eté "muito", bé "mais", bé-i ou
pyryb "um pouco mais", pyryb-i ou pyryb-io-te "um pou- comparativos correspondentes a "menor", "menos'':
quinho mais": xe guyr-i bé "menor do que eu, mais abaixo de mim"; xe
xe katu-eté nde suí ou xe katu nde suí ou nde sosé : sou melhor guyr-i nhó-te, id. ; xe gúyr-i pyryb-i "um pouquinho menor do
que tu; nde sosé ixé (VLB 119): sou mais (alto, valente, etc.) do que que eu".
tu; nde r-aíyra nwrangatu-Jté xe r-aiyra suí: tua filha é melhor que a
minha; i xosé-mo n' ak' ixé r-eo (VLB 296): melhor seria morrer " Menor em idade, mais mo~o" diz-se guyr-i-gúana "o que está abaixo
eu; i mo-mbeú-katu-pyr-amo ere-ikó kunha suí (AR. 2): bendita és de" ou aky-puer-i-guana (t) "o que está atrás de". "Maior em idade, mais
mais do que as mu lheres velho" diz-se enotar-uera (t) "o da frente, o dianteiro".

175. Inferioridad e: Nao há. Supre-se, quando


EXERC1CIOS
estritamente necessário, convertendo para superioridade : '
·- -
minha filha é menos boa do que a tua: nde r-aiyra i maranga-
tu-eté xe r-aiyra suí (lit. : tua filha é melhor que a minha)
179.
mboyra : conta nio-atyr, 1no-apua: amontoar
koia: gemeo, gemeos kanga; akuí : enxuto
apua ( s), atyra : montáo,
176. I gua 1dad e : Ao termo de - compara~o pospóe-se monte r-endyra: irmá
iá-bé ou também iá, iá-bé-nhé, iá-katu, iá-katru-nhé "como, opá, opá-katu: todos, todas pyryb : u1n pouco mais
quanto, da mesma maneira que":
xe iá-bé s-eburusu: é tao grande quanto eu ; nde r-aiyra i ma- 180. Ndr guyr-i-guana-pe kó nde r-endyra? Aan. Xe guyr-i pyryb-i
rangatu-eté xe r-aiyra iá-bé: tua f ilha é tao boa quanto a minha nhote. Nde rana. Koia oré. I angaturam-eté opá-katu :re r-endyra
sosé. Unia-bae o-í-kuab-eté i .~uí? Abá-pe o-i-nio-atyr iké kó niboyra?
177. ÜBSERVA~OES. - Nao há superlativo relativo. Stt- Manió-pe s-apua? S-etá-pe mboyra? S-etá mboy' rana; oiepé
pre-se com o comparativo de superioridade ou com o super- 1nboyr-eté nhó-te. 0-gúe-r-ur-pe bé anió-ne? 0-gue-r-ur bé a1nó
1ativo absoluto: mboyr-eté-ne! 1-i aeté-pe? I niatueté 'té-katu-nhé. Uma-bae-pe i-i
aeté: nde uí, kó-ipó xe uí! Nde uí i akuí pyryb-i. Unúi-bae s-é-eté-eté!

6
J

86 LEMOS BARBOSA

181.
Mantiqueira: Amandykyra Tinharé: Tinharé

182. Sao altas as montanhas da tua terra ( r-eta111a) ? Sao muito LI<;ÁO 14.ª
altas. Sao muito mais altas do ·que as nossas, ou sao pouco mais altas?
Sao menos altas. As nossas sao as 1nais altas de todas as montanhas?
Nao. A Mantiqueira é tao alta como as vossas mais altas serras. CONJUGA<;AO NEGATIVA
Qual é mais alto : o Tinharé ou a Mantiqueira? Qual flor é a mais
bonita? A flor do n1aracujá é a mais bonita de todas as flores. É
muito bonita a flor do maracujá. As flores do cajueiro sao muito 183. A conjugac;ao negativa forma-se da afirmativa, jun-
bonitas e cheirosas. A flor do cajueiro é a 1nais cheirosa das flores. tando, antes do verbo, o prefixo rida, e, depois do verbo, o
O caju é muito gostoso; é mais gostoso que o maracujá. A flor do sufixo átono -i ( depois de vogal, i).
maracujá é mais bonita que a flor do cajueiro. A flor do cajueiro é
mais cheirosa que a do maracujá. O ananás é mais gostoso que o N da perde o a antes de vogal e de i, e perde o d antes
caju e que o maracujá. O ananás é a n1ais gostosa de todas as de nd:
frutas.
bebé: voar maenduar: lembrar-se
BIBLIOGRAFIA nd' a-bebé-i: nao voei nda re maenduar-i: nao me lembrei
n d, ere-bb'"' - voaste
e e-i : nao na nde maenduar-i : nao te lembraste
ANcHIETA 43-43v; FIGlJEIRA 79-80; 122; 123; EcKART 12; 15-16; MoNTOYA ndJ O·- bb'"
e e-i: nao- voou nd' i maenduar-i : nao se lembrou
6-7; RESTIVO 20-21.
nd' ia-bebé-i: nao voamos nd~ fundé maenduar-i: nao nos lem-
bramos
n d oro-bb'"
J - voamos
e e-i : nao nd' oré maenduar-i : nao nos lembra-
mos
nda pe-bebé-i: nao voastes nda pe maenduar-i : nao vos lembras-
tes
nd' o-bebé-i: nao voaram nd' i maenduar-i: nao se lembraram

oby .(t): (ser) azul

nda re r-ooy-i: nao sou azul nd' iandé ou nd' oré r-oby-i: nao so-
.
mos azu1s
na nde r-o_b y-i: nao és azul nda pe r-obv-i: nao sois azuis
nda s-oby-i : nao é azul nda s-oby-i : nao sao azuis

N da reduz-se a n' quando há mb na sílaba seguinte : n' a-mbo-é-i "nao


o ensino"
I
; 11 ' ía-mbo-.. -i .. nao o ensinamos".' n' o-mbo-é-i " nao o ensinou" •
N aparece também em outros casos, como n'a-i-kuab-i, n' o-pyk-i, etc.
88 LEMOS .BARBOSA
CURSO bE TUPt ANTIGO

Se o verbo acaba em ditongo decrescente, dispensa-se nd' i porang-i xó-ne: nao será bonito; nda paié ruii-i xó-é aé-ne:
o sufixo --i: aquele nao será pajé; nda ixé rua-í xó-é paié-ne: nao serei o pajé;
o-kai: pegou f ogo nd' o-kaí: nao pegou fogo nda paíé-i xó oré-ne: nao seremos pajés; nda e1nona rua-i xó-é-ne:
nao será assim; nda ixé ruii-í .xó-ne: nao serei eu
Se acaba em b, esta consoante pode desaparecer:
187. Aos advérbios negativos acrescenta-se apenas -i xó-
a-s-endub : eu o ouvi nd' a-s-endub-i
. ou nd' a-s-end·ii-i: nao
, . ,
-e-ne ou -i xo-ne:
O OUVl
aan: nunca: aan-i xó-é-ne : nunca há de ser; aan-i xó koy-te-ne:
184. Quando o verbo é predicativo e o complemento é um
.
nunca mais
substantivo, pronome, partic'ípio ou advérbio, em vez de -i EXERC1CIOS
coloca-se rua entre o sujeito e o complemento: 188.
nda itá ruá ixé: nao sou pedra; nda soó ruá endé: tu nao és apué-katit : longe s-upi, s-upi-katu: na verdade
bicho; nda paié ruá ahé: ele nao é pajé; nda ixé roo: ~ªº fui eu; aé-pe : lá mesmo -te: senao, mas sim, mas
nda emona rua: nao foi ( é) assim; nda peé rua pe-íuká: nao fostes mbegué : de vagar guyraponga: araponga
vós que o matastes eé : sim (de m., em geral) sapukaía : grito
sé!: interj. sei lá! ikó-bé : viver I
Cfr.• porém, n. 352.
ypeka: pato guatá : andar
185. Os nomes de prof issóes e os verbais ( n. 86) admitem
ou -i. ou rua:- 189. Ere-s-endub-pe gi"tyraponga sapukaia? Pá. A-s-endub. Endé-pe
ere-s-endub f Sé I N d' ere-s-endub-i-pe ! N da guyraponga rua, abá-te.
nao somos pajés: nd' oré ruá paié ou nd' oré paié-1, ou nda Nd' o-nheeng-i ikó guyrá. Mar5-namo-pe! Nda gityrá ruá, andyrá-te.
paíé ·rua oré Mbaé r-esé-p~ nd' ere-ker-i xe ygara pupé! N d' a-1,-potar-i. Mbaé
nao sou bebedor: nda ixé ruii kagu-ara ou nda xe kagu-ar-i ou r-esé-pe nd' ere-i-potar-i! N de ygara pupé nd' oro-ker-i .x6-é-ne.
Nd' ere-s-epiak-pe kó ypeka! Nda ypeka rua kó guyrá, guyratinga-te.
nda kagu-ar-i ixé ou nda kagu-ara rua ixé
Mbaé r-esé-pe nd' ere-iuká-i xó wqU.ara-ne? 0-íabab umá. N da
pe-karu-1, .xó-é-pe-ne! A-karu umii. Mbaé hé pe-ú! A-ú ybá eé
FUTURO am6. Guyratinga o-ikó-bé ypá' r-embé-y-pe (as margens dos lagos).

186. Acrescente-se .'ró-ne ou xó-é-ne: 190


nd' a-bebé-i xó-é-ne : nao voarei nda xe 1naenduar-i xó-é-ne : jaboticaba: iabotikaba absolutamente nao : erima
nao me lembrarei , n h,o, n h,o-te
so: ou : kó-ipó, kó-n' -ipó
nd' ere-bebé-i xó-é-ne: nao voarás na nde maenduar-i xó-é-ne: assim, sin1 : aié, anhé nada, nao : aan-i
nao te lembrarás de maneira nenhuma : aan
nao : eama, eamaé (de m.) angá-i
nda xe r-oby-i xó-é-ne: nao serei azul
na nde r-oby-i xó-é-ne: nao serás azul 191. Aan-i vem muitas vezes refor~ado por outras partículas: aan-i nhé,
aan.-i r' ak.ó, aan-i reá (h.), aan-i rei (m.).
90 LEMOS BARBOSA

192 . Aié ou anhé pode vír acompanhado de outras partículas como r-aú,
katt.i, r' akó, i pó, r"akó reá, reí, r'akó reí. Ocorrem também os compostos
anhé-'té, anhé-' té-katu., anhé-' té-katu-nhé, anhé-'té-'té-katu-nhé.
\
Náo viste minha n1áe aqui? Sim. Eu a vi. Por onde f ostes ao LI(AO 15.ª
rio dos jacarés? Nós nao fomos ao río dos jacarés. Quem foi, pois?
Náo o sabeis? Nao é amarga a fruta desta árvore ? Sim : é amarga. ..
Por que náo comeste o caju? O caju é n1uito amargo. Que vistes
dentro do maracá? Vimos urnas pedrinhas apenas. Que ouvistes IMPERATIVO
dentro dele? Minha máe ouviu urna voz. Tu que ouviste? Nada.
De vagar náo chegareis a taba dos vos sos parentes. Que fruta é mais AFIRMATIVO' NEGATIVO
gostosa: a jaboticaba ou o ananás? A jaboticaba. Nao é a jabotícaba,
mas sim o ananás a inais gostosa de todas as frutas. Que fruta é
maior: o maracujá ou o caju? Nao é o n1aracujá? bebé: voar (intransitivo)
193.
, , ...
BIBLIOGRAFIA e-bebé: voa e- bebe ume : nao voes
ANCHI ETA 17v-20; 34-35; 46-47; FIGUEIRA 23-35; 36-40 ; M ONTOYA 13-14; pe-bebé : voai pe-bebé umé: nao voeis
46-47; 49-50; REsn vo 45-47; CAETANO 15-16; AnAM 51; TovAR 125-126.
pysyk: apanhar (transitivo).
e-i-pysyk: apanha-o e-1.-pysyk umé : náo o apanhes
pe-í-pysyk : apanhai-o pe-i-pysyk umé : nao o apanheis

maenduar: le1nbrar-se (predicativo)


nde maenduar: lembra-te nde 1naenduar umé : nao te
lembres
pe maenduar: lembrai-vos pe niaenduar umé : nao vos
lembreis

Acrescentando -ne) forma-se um futuro:


, , ,.,
e-bebé-ne : voa e e unie-ne : nao voes. Etc.
e- bb
U mé pode-se distanciar do verbo :
nde nhó e-iuká unté : nao o mates tu sozinho
194. Para aconselhar, advertir, nao se usa o imperativo, mas o indicativo:
(aconselho que) nao o apanhes: nd' ere-i-pysyk (nao e-i-pysyk 111né)
A l.ª e a 3.ª pp. se tomam do permissivo.
Em vez de utné se diz também ymé (forma primitiva).

Ataque a urna aldeia, e sua defesa (DE BRY)


92 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 93
'
195. Há dois imperativos irregulares: de só "ir" e de Os substantivos, pronomes e advérbios, quando com-
$u,r "vir": plementos predicativos, seguem maenduar:
s 6 : "o1r ,, ; e-k uai ou e- kua : va1o; pe-k uai ou pe-k ua : 1ºde
A_,. A , A ,,. A ,
ta xe paíé ou ta xe paíé-ne: que eu seja pajé; ta xe paíé umé
ou ta xe paíé u11ié-ne: nao seja eu pajé; ta ixé ou ixé-ne: seja eu;
A 2.ª forma é mais forte: e-kuá!: vai-te embora J ta emoná ou ta enioná-ne: assim seja; ta ixé u1né ou ta ixé u1né-ne:
1ur: v1r ; e-ior, e-ior-i ou ior_,,,: vem ; pe-ior ou pe-ior_,i: v1nde
A '' • '' A ,A , A , A ""' I • ta eniona u1né ou ta entona ioné-ne: náo seja assin1

O comp. r-i'r ".trazer" faz : e-r-wr ou e-r-tir-í; pe-r-ur ou pe-r-ur-í. 197. O pern1issivo designa urna delibera<;ao da pessoa que
E-nha-bé só tem imperativo, e vale para o singular e o plural : " espera ou f ala: pedindo, convidando, mandando, permitindo ou deci-
esperai um pouco".
dindo. Por is so, corresponde, as vez es, ao nos so fu tu ro (nao
absoluto, mas resultante de delibera<;ao) :
PERMI SSIV O t' a-1,-pysyk: apanhe-o eu; apanhá-lo-ei; t' ere-í-pysyk: apánhe-lo
196. tu; apanhá-lo-ás; t' o-í-pysyk: apanhe-o ele; apanhá-lo-á
bebé (intr.) pysyk (tr.)
t' a-bebé 1 t' a-i-pysyk 198. Também equivale a "para que"; e pode-se juntar -te,
t' ere·-bebé
t' o-bebé -ne
t' ere-í-pysyk
t' o-i-pysyk ' -ne,
se o verbo é afirmativo:

e-r-ur pirá t' a-ú-ne : traze peixe, come-lo-ei (para que o coma) ;
t' ia-bebé
t' oro-bebé
ta pe-bebé
umé
umé-ne1
t' ia-i-pysyk
t' oro-i-pysyk
ta pe-i-pysyk
l ume
umé-ne
a-í-apó pab, t' O'-putuú-te: fac;o tudo, para que ele descanse

Nesta accepc;ao, -ne é comum nas las. pp., excecional


t' o-bebé J t' o-í-pysyk
nas outras:
maenduar (predicat.) t' a-íuká-ne: inatá-lo-ei, po1s; t' oro-iuká umé-ne: nao o ma-
ta xe maenduar taremos
l 1
ta nde niaenduar
t' i maenduar 1 -ne 199. Largamente em.pregada é a partícula de determinac;ao

l ká (a mulher diz ky; plural: pá). O verbo pode levar -ne


;
t' iandé 1naen·duar ume
,
t' oré 1naenduar ume-ne ou -pe. Mas ká, ky e pá só se aplicam aos casos em que o
ta pe 1naendu,ar sujeito fala consigo mesmo. Vem sempre depois do verbo
f i maenduar J e mesmo de -ne. Pode-se omitir ta:
Forma-se do indicativo, juntando-lhe ta, que perde o t' a-só ká, t' a-só-ne ká, t' a-só-pe ká, a-só-ne ká, a-só-pe ká:
a antes de vogal e de i. No futuro, acrescentar -ne; negativo: irei; t' a-i-pysyk (-ne) ká: trá-lo-ei; t' a-r-ur-ne ky: trá-lo-ei ( diz a
umé; futuro negativo: u·mé-ne. mulher)

t' íandé maenduar-ne : que venhamos a lembrar-nos; f i maenduar As outras pessoas raramente sao acompanhadas de
umé-ne : que ele nao se venha a lembrar partículas :
94 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 95

ta pe-íuká ro ou ta pe-iuká-ne ro: matá-lo-eis ; t' o-i-pysyk ro


ou t' o-i-p)1syk-ne ro: segure-o, segurá-lo-á pois Junto de substantivo, assun1e a forma aé; junto de pronome,
e ou a.é ( n. 77) :
200. A la. incl. pl. dos transitivos oerde amiúde o a e até iké-é : aqui mesmo, é aqui que ; aé-reme-é : entáo é que ; K unham-
o t; i se vocaliza : beba aé: Cunhambeba mesmo; ieí-é: hoje mesmo, hoje é que.; kori-é,
t' ia-i-pysyk = t' i-pysyk = i-pysyk kori-i-é: boje é que (fut.) ; a-iur-é: eu é que vim (nao que me cha-
t' ia-ra-só= t' i-ra-só = i-ra-só mem) ; a-iub-é : estou é deitado ( sem dormir nem f azer outra cousa) ;
.re só riré-é: depois que eu fui é que; xe kó-é: tenho roc;a própria
Se o pronome é s-, muda-se em z (n. 19): ( sem parceria de .out ro) ; .re é, .re aé, nde é, nde aé, aé aé : eu mesmo,
t' ia-s-ausub = t' i-.r-ausub = i-.r-ausub tu mesmo, etc. ; amó aé : outro mesmo, outro é que ..
201 . T' iá, q.ue também se pronuncia x' íá, pode ser usado a parte no sentido Assim: sem, semb-é; nhan, nhand-é; kai, kcu1-é, etc.
de " vai tu, ide v6s antes " :
nei, t' iá: da, vai tu primeiro; peí, t' iá: eia, ide v6s primeiro, na frente
NHÉ E 1
202. Quando se convida urna pessoa a participar de uma
a~o, serve a la. incl. pl., nao a Za. : 205 · Estas partículas, sufixadas a verbos, indicam fazer-
t' ia-karu .re iru-namo: come ou comei comigo (lit. comamos -se a ª~ªº sem finalidade, só por fazer, a toa, sem inten~áo,
comigo) ; t' ia-só iandé iru-mo: vai ou ide comigo (lit. vamos con osco) sem compromisso, etc. :
a-iur-i ou a-iur-nhé ou a-íu.r -i-nhé: vim a toa, porque vim,
PRONOMES OBLtQUOS INDIRETOS porque quis; a-i-meeng-i: dei-o .a toa, por dar, de grac;a; a-i-mo-
a
-nhang-i: fiz toa, por f azer, por distra<;áo; nde r-uba nd' o-í-potar-i.
203 · Os pronomes pessoais, regidos das preposic;óes de A-i-1110-nhang-i: teu pai nao o quer. Fa<;o-o assim mesmo; o-s-epiak-i:
ele (apenas) o ve (e nada faz) : con sente-o
dativo -pe e sitpé, assumen1 estas forn1as equivalentes:
i.ré-be, i.ré-bo, xe-bo, .re-bo: a mim
EXERCfCIOS
endé-be, endé-bo, nde-be, nde-bo: a ti 206.
i .rupé : a ele, a ela, a eles, a elas
iandé-be, iandé-bo, nhandé-be, nhandé-bo: a nós (incl.) potiá : peito pepó: asa, pena da asa
oré-be, oré-bo: a nós ( excl.) inimbó: fio mara-é-tenhéa: bravata
pee-me, pee-mo: a vós uuba : flecha pó apytera: palma da mao
asé-be, asé-bo: a gente piá-i : filhinho ( vocat.) Nhoesembé: n. pr. Ilhéus
mo-mbeú : contar ekar (s): procurar
kyriri: silencioso ; (.re)
~ou AÉ calar-se r-ekó: ter, segurar
asoi-ab-ok : destampar a-é : disse, digo
204. A partícula é, posposta a qttalquer palavra, realc;a-the mo-in : apontar eneí: eia, sus (2a. p. s.)
o sentido. Corresponde a "é que", "só", "mesmo", etc. puam: intr. levantar-se penei, peí: eia, sus (2a. p. pl.)
guapyk: sentar-se kuritei: depressa
CURSO DE TUPI ANTIGO 97
96 LEMOS BARBOSA

207. Angaba ou 1nwru angaba, com v. afirmativo, é expressao de louvor, afeto,


carinho, compaixáo, nem sempre traduzível : o-1nanó angaba " morreu, coitado'' ;
a-só angab' ikó ou xe angab' ikó a-só "estou indo, querido"; o-só ipó, a-é
angá' -n' iéil ixé "foi-se, de certo, pensei eu inocentemente"; pe angaturam, e-í
xe r-uba munt angaba " sede bons - disse o bom do meu pai". -
Com imperat. e permiss., corresponde a um pedido : e-ker angab " dorme, - pe-
~o-te" ; ta pe-só angab " ide, por favor". - Com v. negat., equivale a " abso-
lutamente" : nd' a-i-potar angab-i ou a11gá-i "absolutamente nao o quero ".
Idem com aan-i e com katu-'té-nhé: nd' a-i-potar-i katu-'té-nhé ou nd' a-i-potar-i
angá-i katu-'té-nhé. Aan angá'-i "absolutamente nao".

208 . Para aconselhar, etc. ( n. 194), serve também o imperat., seguido de ké :


" olha que ... " : e-ra-só ké rá (h.) raré ( m.) : " olha· que o leves " ; e-ra-só
r-aii ké rá (h.) : "olha que o leves, vamos ver"; e-ra-só ('té) ké nhandii: "olha
já que o leves"; e-ra-só ('té) ké nhandu rua: "olha que nao o leves,,;
e-ra-só 'té ké he: "olá, olha qu.e o leves"; e-ra-só 'té ké nhandu rlua he/:
olá, olha j á que nao o leves ... ! ,,

209. E-puam, piá-i, e-r-ekó kó inimbó nde pó apyter-pe. T' ere-í-


- . , b t' k,
-meeng ro ix-e- e, · a-r-e o-ne. E h- b, d b ,
-n a- e! n e- o-e a-i-meeng-ne.
A

0-kanhem xe ygapema. 1-x-ekar ro. Nei t'íá. "E-y-e-ra-só, e-í-meeng


maraá-bora su,pé-ne" - a-é muru angaba i xupé. Abá supé-pe? "Ma-
raá-bora supé" - a-é. Pe-ior-í, pe-gitapyk iké. Penei, t'ia-só xe irü-
-mo. Nei, t' Uí. E-íor angaba! Ixé a-só-ne. Nde iru r-esé-be umé
, per X e iru
e-k uai.I Mbae, r-ese-
A _,. Q . - ae, r-ese-
, be, t ' a-so-ne.
, E -ior,
.. e-ra-so,
kó gúyrá pepó piranga paié supé t' o-s-epiak-te. Kuritei! E-nhií-bé
ranhé. E-kúá.f E-ra-só umé ké raré! (m.). E-nheeng mbegué.
P e-kyrirí ! M ará-é-tenhéa umé nd' ere-i-mo-mbeú-i xó-é ixé-bo-ne . ..
E-í-asoi-ab-ok nde karaniéúfi t' a-s-·epíak ne mbaé (LÉRY). E-í-mo-
-in uuba xe potiá supé. T' ia-só xe irü-namo Nhoese1nbé-pe nhó-te
(VLB 117).
Mulheres colhem e transportam a mandioca (STADEN)
.210.
roupa: aoba gritar: asem (t) (xe) 211 . Olha este osso de peixe. Que peixe é esse? Mostra-mo para
osso: kanga dizer o nome de: enoi ( s)' tr. que eu o veja. Grita para que ou~am a tua voz. Que é isto? Sei lá !
os so ( f ora do corpo) : kang-úera eia, outra vez ! : nei bé ! Que trazes em tua canastra? Roupa. [De] que espécie? Roupa
grande e grosso : t-urusu ( n. 99) basta : aúié ! vermelha. Que outras cousas? Machados. Sao muitos? Sim, sao
grosso e chato : ana1na basta assim: na nhó ( ranhé) muitos. Isso só? Absolutamente nao. Dize o nome de outras cousas.
vigiar (espiando) : mainan [ esé] ton1a, ton1ai: kó Lago mais. Eia, depressa ! dize ! Espera um pouco ! Dá-me esse
olhar: mae [esé] logo mais : koromó osso. Toma. Destampa a tua canastra para que vejamos as tuas
mostrar: kuá-meeng outras cousas : amó cousas. Basta! Basta assim ! Vigiai a cutia para que ela nao fu ja.
98 LEMOS BARBOSA

Vigiá-la-emos, pois. Olha aquele homem gordo. Absolutamente: ele


nao é, gordo. Os ossos dele é que sao grossos. Nao. É a roupa dele
que e grossa.

Ll~AO 16."'
BIBLIOGRAFIA

Imperativo - ANCHIETA 18 ; 22; FIGUEIRA 15; 26; 34; 40; MoNTOYA


14; 21; REsT1vo 34; 44; CAETANO 18-19; AnAM 55-56. NUMERAIS
Pennisaivo - ANCHIETA 18-19; 22v-23v; FrGUEIRA 15-19; 26; 29; 30;
34; 40; 44-47; MoNTOYA 15; 23-24; REsT1vo 35-38; 44; CAETANO 17-19; AnAM 212. Cardinais
54-55.
Pronomes oblíquos indiretos - ANCHIETA lOv-11; FIGUEIRA 6; MoN- um: oiepé, moiepé tres : mosapyr, mosapyt
TOY A 4; RESTIVO 23-24; CAETANO 11 ; ADAM 29; 31.
dois: mokoi quatro : irundyk
lt ou ~é - A NCHIETA 23 ; 53v-54; F1cUEIRA 140; MoNTOYA, Tesoro 17 ;
REsnvo 66-68; 117-120.
Nbé e j - ANCHIETA 54; FIGUEIRA 140-141; 144. Nao há exata tradu<;ao para "quatro". lritndyk e suas
variantes o-io-irundyk, o-ie-irundyk, nio-nhe-'rundyk, etc.
sao pouco usados.
"Cinco" e números maiores nao há. No caso em que
seja necessário exprimir números maiores de quatro, faz-se
• um circun,lóquio :
cinco: a-mbó ou melhor mbó "mao da gente"; .xe pó "minha
mao"
dez : opá kó mbó "tódas estas má.os"
- vinte : .xe pó .xe py "minhas máos e meus pés,,
Pode-se dizer ainda na "tantos, assim " e mostrar tantos dedos (ou outras
cousas) quantas forem as unidades.

Os cardinais em geral precedem, mas podem igual-


mente seguir o nome:
urna rede: oiepé pysá ou pysá oiepé
duas pombas: mokoi pykasu ou pykasu mokOi

213. Ordinais
ypy : primeiro mosapyra : terceiro
niokoia: segundo irundyka: quarto
CURSO DE TUPI ANTIGO 101
100 LEMOS BARBOSA
ybá: fruta f. ybá-rania, a que será fruta, futura fruta
Exigem, anteposto, o complemento: p. ybá-p·úera, a que foi fruta, ex-fruta
itru : ''asilha f. uru-ranz.a, a que será vas.ilha, fulura vasilha
i 1nokoia: segundo (deles) abá niokoia: o segundo homem
p. ur-u-púera, a que foi vasilha, ex-vasilha
(dos ho1nens)
xe 11iosapyra: o terceiro i-i 'J'PY : o primeiro deles ÜBs. - O ti final é sufixo nominal. Os sufixos temporais, a rigor, sao
ram e piier.
(des)de mim ~

O infinitivo e os particípios formam os seus tempos como o substantivo.'


Os numerais mokoia, 1nosapyra) ir1tndyka significan1
217 · Os oxítonos nasais servem-se de nan1.a e buera:
também "dois, tres, quatro juntos". N este caso o paro-
~ítono perde a sílaba final: t-eo: morto f. t-eo-na1na; p. t-eo-bi1era
nhu: campo i. nhu-:i.ania; p. nhu-bitera
abá mokoía: dois ho1nens juntos, num só; o dois-hon1ens
aká' mosapyra: tres cabe<;as juntas; o tres-cabe\as 218. Os paroxitonos perdem a última vogal e juntam
... A

V. também n. 827. ua1na ou uera:


214. Distributivos oka: casa Í. ok-itan1.a; p. ok-uera

oiepé-iepé : um a um mosapy'-sapyr : tres a tres 219 · Mas se o paroxítono tem b na sílaba final, muda-o
moko'-mokoi: dois a dois irundy'-rundyk: quatro a quatro para g:
moru,bixaba: chef e f. ntorubixag-uama; p. morubixag-úera
215. Advérbios numerais
220. Se_Jem ni) no futuro perde-o e junta-se gua111a; no
Os numerais e palavras afins, antepostos ao verbo, se passado nao o perde e junta-se büera:
adverbializam: ty1na : enterrar f. tg-gúanza; p. t·yn1-b2tera
mokoí o-kanh61n: desapareceu duas vezes
s-etá o-í-api: relou nele n1UÍtas vezes
221. Se tem n ou r) no futuro junta an1a; no passado, os
mobyr-pe ere-no-nhen? : quantas vezes o corrigiste? que te111 r, juntam era (as vezes fiera); os que tem n) jun-
ná : tantas vezes tam dera (as vezes düera) :
Oiepé significa também "todos juntos, a urna".
mena: marido f. 111en-ania; p. nien-dera ou 1nen-duera
ÜBS.: A falta dos t¡espectivos nom.es nao significa que os tupis nao iara: senhor f. íar-ania; p. iar-era ou iar-uera
tivessem a idéia de números superiores a quatro. Numa economía e comércio pira: pele f. pir-ania; p. pir-era ou pir-i1era
primitivos, pouca utilidade havia de maior precisa.o matemática. Quando f ósse
o caso, entendiam-se por sinais ou circunlóquios. - Assim, as nossas línguas i iuká-pyra : mor-
falta as vezes o nome exato de urna cor, Ql\e entretanto distinguimos de to, matado f. koí-guan1a; p. koi-guera
qualquer outra. p. i iuká-pyr-iiera: o que foi morto

TEMPOS DO SUBSTANTIVO 222. Os paroxítonos terminados en1 tritongo nasal per-


dem o a final e acrescentam gita11ia e guera:
216. Os substantivos tem futuro e passado. Formam-se kOia: gemeo f. i iuká-pyr-a1na : o que será morto
com rama e pitera:
..............
7
102 LE~10S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 103

223 . H á dois tempos compostos: ran.i-bitera ( passado- pir-era couro, pele, akang-úera caveira, mbaé kang-uera ossada
-f uturo) e puer-an1a ( futuro-passado) : de animais

t-atá: fogo 227. Empregam o futuro sen1pre que f alatn de urna cousa
p. f. t-atá-ra1n-búera, o que foi futuro fogo; ex-futuro fogo; o da qual se f ará outra.
que ia ser fogo (mas nao foi)
Mostrando, p. ex., um galho, podem dizer xe guyrapar-ama meu arco
f. p. t-atá-púer-a1na, o que será ex-fogo; o futuro t:;x-fogo; o (futuro) ; falando de um menino, .r e 111r11-a ma. meu futuro marido, ,etc.
que deixará de ser fogo
Uso semelhante cabe a ram-bitera. De um prisio-
xe r-e-mbi-ú: n1inha con1id?,
neiro f ugido diz-se:
p. f. xe r-e-1n bi-ú-ra11i-buera, a que ia ser minha comida (mas
o-iabab xe r-e-mbi-1í-ram-buera: fugiu o que ia ser n1inha comida
nao o foi)
f. p. x e r-e-mbi-ú-puer-a1na, a que deixará de ser, terá sido
minha comida
228 Com verbos no passado, ra111a equivale, em portugues,
a "havia de ser". Pois nao se considera o futuro com rela<;ao
224. O fut.-pass. é insólito. O pass.-fut. só aparece sob ao tempo em que se f ala mas ao tempo do verbo:
duas f ormas : depois de oxitonos: rani-buera; de paroxí- Acangu<;u, o meu senhor; me deu um anzol
tonos ( com apócope) : a·m.-buera: 1) Akangusu, xe íara, o-i-meeng pindá ixé-be
xe kysé-ram-bfiera: a que ia ser minha faca; nde r-e-mi-r-ekó- 2) Akangu.su, xe iar-anza, o-í-meeng pindá ixé-be
-ram-buera: a que ia ser tua mulher; oré r-etam-am-buera: a que ia Cabe a 2.ª tradu~o · (futu ro) , se Acangu~ a inda náo era meu senhor
ser nossa terra; pe tab-a1n-buera: a que ia ser vossa taba; ok-am- quando me deu o anzol, mas o foi depois (lit.: Acangu~u. que havia de ser
-bftera: a que ia ser casa meu senhor, me deu um anzol) . Só se usa a t.a · tradu~ao, se já era :neu
senhor e a inda o é. Cfr. mais estes exemplos :
225 . Há as forn1as negativas, com o sufixo ey1-n(a), nde r-uba, xe iar-ama, kó guyrapara o-s-eíar ixé-be: teu pai, que
que se coloca após a partícula de te1npo, ou, excecionalmente, havia de ser meu senhor (e o f oi), deixou-me este arco; abá suí-pe
antes destas: Cristaos aipó o é-rama r-ar-i! !andé !ara Jesus Cristo suí (AR. 16
ad.) : de quem tomaram os cristaos esse que havia de ser (e foi) o
.-re r-eynibaba: 1n inha cria<;ao seu nome? De N·. S. J. ·Cristo
f. x e r-eymbag-t{a11i-ey1na ou .~e r-eynibab-ey-guama, a que nao
será nossa cria~o 229. Igualmente, com verbos no futuro, puera equivale,
p. :.re r-eym bag-i'ter-eynw ou x e r-eym/Jab-eym-búera, a que as vezes, ªº
passado do futuro:
nao foi minha cria~áo i ú-pyr-am muam-bá'-pe t-obaiara guarini-me o-manó-bae-puera :
pf. x e r-ey1nbab-a11i-buer-eyma ou xe r-ey1nbab-ey1~ani-bfiera, a seráo ( hao de ser) devorados no campo de batalha os guerreiro~ que
que nao ia ser minha cria<;ao n1orrerem (lit. : que morreram) na guerra
226. O passado é de muito uso quando se f ala de órgáos Na tradut;áo, a no<;ao de tetnpo pode ligar-se nao ao
e partes do carpo já separados : substantivo, mas ao possessivo:
104 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 105

i aog-uera-pe mara s-e-r-ekó-u? (AR. 89) : as roupas que 233. Abá-pe t-e-11ibi-ara iuká-sar-ania (o que n1atará) ! X e ram. Na
f oram suas, que fizeram delas? I nde ra1n rua: nde púer uma. ~4an-angá-i : nda xe púer-i. A-í-1neeng
xe 1nen1byr-a111a nde r-uba-pe-ne. M baé ra111a r-esé-pe? Ji.1 amó-pe
Por vezes rama equivale a "para ser": nwrasei-púera ! 1. ra11i-búer ntorase·w . M ara-na?-n o-pe? A nzana o-i-nio-
e-i-meeng ixé-be kó ybyrá xe quyrapar-ania: dá-me esse pau para -ra11i-búer: okara i akyni-eté: oré py-kuab tuiuk-pe. Ji.1 ob'y r soó-pe
ser meu arco; a-iur ixé pe r-e-1nbi-ú-rama ( STADEN 67 ad.) : cheguei pe-1-nh-ybo ( frechastes)? M okoí akuti, niosapyr paka, oíepé suasu.
eu (para ser) vossa (futura) com1aa M obyr pirá-pe pe-s-ekyíf S-etá-katu. Mbaé pirá! Araberi, piab-etá,
pirá-aka11iuku-etá-etá abé. Af obyr pirá-pe pe-í-nh-ybo? Piraíuba
Ocorrem algumas combinac;oes intrincadas : oiepé, nhundiá 1nosap·y r, taraira irundyk. M obyr-pe wú? Oíepé tirua
aip6 xe r-eo-nama rani-buera abaí'-me, t' o-nhe-monhang umé xe nd' a-t-nh-ybo-1.. M obyr-pe mandií! Na. lt1obyr-pe pirá-akamitku,?
r-e-1ni-niotara (AR. 72 ad.) : se f or difícil frustrar-se minha (futura) X e pó xe py. O pab ( tódas) xe raniyí ntba.é- (causas dos meus avós)
n1orte, nao se f a<;a a minha vontade -puera a-ityl~ (LÉRY 265 ad.).

230. Rania, pi1era e ram-buera podem-se conjugar como v. 234.


predicativos: .
1n11mgo : aniotar-eymb-ara picar: pi ( io)
xe ram, nde ra1n, i ra1n, etc. mel: eira queimar: apy (s)
xe puer, nde pu.er, i puer, etc. abelha: eir-uba quem: abá
xe ram-buer, nde ram-buer, i ram-buer, etc. : colmeia : eir-eta,nia para cá: kó koty
1norder : s1-iú levar: ra-só
i púer uma roy: já passou o frio; i puer paié: está velho o pajé; \

abá-pe paié rania? X e rani: quem será o pajé? Eu; nde ram-buer: 235. Ñfataste a araponga? Nao. Mata-a. Matá-la-ei,, pois. (Olha)
tu devias ser (mas nao f oste) ; nd' i ram-buer-i xe r-e-1ni-motar-1tera:
nao a mates... Nao a n1atarei, pois. Por que nao a n1atarás?
nao falhou o que eu quis; i ram-biter-pe oré gfiarini-nef: falhará a
Quantas abelhas vivem naquela colmeia? Sei lá ! Sao muitíssimas.
nossa guerra?; t'i ram-buer a xe r-e-1ni-porará-rania, xe r-ub gúé !
(AR. 72 ad.) : nao se realize esse meu futuro sofrimento, ó meu pai ! Onde estais vós? Morrestes? Nao. Nao marremos. Estamos
vivos. Quantos sao eles? Dois só. V ós quantos sois? Somos muitos.
231. Dessas partículas se formam também verbos transitivos: mo-mbuer "tor-
nar velho, conservar velho, conservar, habituar, deter ", 1tio-r01n-bucr "frustrar, Quantos índios trouxeste? Só u1n. Os outros f ugiram para o lado
impedir, estorvar, desfazer, inutilizar". do mato. Quais? Quantos? Por que? Chatnai-os para cá. Quem
EXERCiCIOS
queimou minha ro<;a (pass.)? A tua segunda mulher. Quantas abe-
232. lhas picaram teus dedos (da máo)? Muitíssimas. Quantos lan1ba-
araberi: lan1bari ak;'tna: tnolhado ris trouxeste do rio? N em ao menos u1n [trouxe]. Meu primeiro
pirá-akaniu,ku, iaú : peixes (esp.) py-kf'tab ( xe) : atolar-se n1arido (pass.) 1natou a que ia ser a sua mulher. Acangu<;u, que
iundiá, mandií: ",, " eliyi ( s) : pescar ( con1 anzol) ia ser [e é] n1eu companheiro, deixou os seus antigos cotnpanheiros.
taraira, píaba : " ityk: atirar fora Quem comeu a que ia ser a nossc:i con1ida? Levaram-na aos que eram
e-1nbi-ara ( t) : prisioneiro de 1no!J3rr? : quantos? nossos companheiros [e] que agora sao nossos inimigos. Tambén1
gu~rra tirita: sequer, ao menos nós, pois, sejamos .seus inin1igos ( fut.). É este o que nao ia ser chef e
tuíi1-ka: atoleiro nibaé ra111a r-esé? : para que? [e foi]. Por que nao ia ser chef e? la ser pajé. Por que ia ser pajé
nioraseía.: danc;a por que? ( fut.)
106 LEMOS BARBOSA

[e náo foi]? Que1n é que deixa.rá de ser chef e? De que é esse osso?
É osso de anta.


BIBLIOGRAFIA
LI~ÁO 17.ª
Numerais - ANCHIETA 9v-10v; F1GU EIRA 4-5 ; M o NTO YA 7-9, REsT1vo
21-23; E c KART 4-5; CAETANO 7.
Tempos do substantivo - ANcHIETA 33-34 ; MoNTOYA 29-30; RESTI\' O
48-50; CAETANO 19-20; 46-50; ADAM 68-72; L. BARBOSA 189-190. GENITIVOS E POSSESSIVOS IRREGULARES

236. o t- e o s- móveis, que vem no início de muitos


substantivos (e tatnbém de adjetivos, verbos e preposi-
~oes), nao fa.zem parte do tema. Sao pref ixos, índices
da classe a que as palavras se referem: t- é o índice quase
geral da classe superior (gente); s- o é da classe inferior
( animais, vegetais, seres inferiores).

237. Com substantivo, t- e s- f uncionam como possessivos,


nao individuais (como "meu", "teu"J "seu", etc.) mas de
e 1a s s e : gente ou cousas :
t-eté: corpo (de gente) s-eté : corpo (de outro ser)
~sses substantivos (de t- ou s-), quando nao precedidos de genitivo nem
de possessivo, dev.em trazer sempre o índice da classe a que se referem. -
Maiores esclarecimentos, v. n. 852.

Primeira Classe
238. eté: corpo
el. sup. : t-eté: corpo (de gente) el. inf. : s-eté : corpo (de cousa)
guará r-eté: corpo de garc;a
xe r-eté: meu corpo rondé ou oré r-eté : nosso corpo
nde r-eté: teu corpo pe r-eté: vosso corpo
s-eté : seu corpo (dele, -a) s-eté: seu corpo (deles, -as)
Guerreiros, adornados e armados (STADEN) o eté : seu corpo ( refl.) o eté: seu corpo ( refl.)
108 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 109

Se o genitivo é um pronome da l.ª ou 2.ª pp. ou um ExcEQA.o 11


substantivo, o t- é substituído por r-. O possessivo da 3.ª p.
nao é i, mas s-. O refl. é regular: o ou og (antes de u,; 242. atuuba: sogro (de h.)
sempre og; antes de o: og ou o; nos demais casos : o). d. sup.: t-atuuba el. inf.: t-atuuba ou s-atuuba
Em alguns autores se encontra gu, go, ogu, ogo: gueté, go-eté, ogu-eté, abá r-at-ituba : sogro de índio
ogo-eté; e g antes de tt : g-uba. xe, nde r-atuuba iandé ou oré, pe r-atuuba
0Bs.: E' obscura a origem dess.'! prefixo r-, que tem na língua histórica s-atuuba ou t-atuuba s-atuitba ou t-atu.uba
a Ít'n~ao rle subor1inativo ou relativo. Nao é improvávcl fósse a principio o atuuba o atwuba
urna prepo.cic;ao, tal como rí ( n. 620) .
239. Nao se conhece, em tupi, nenhum exemplo de nasaliza<;áo ·do r- pelo 243. Só trés substantivos seguem esta exce<;áo:
prefixo pessoal pe-, fenómeno comum no guaraní (n. 29). atuuba: sogro (de h.) aíxó: sogra (de h.)
ubixaba: chefe, nlatoral
ExcE~Áo 1 Aíx6 e atuuba preferem s- na 3.ª p. e na el. inferior.
240. ayra: filho
ExcE<;.Áo 111
el. sup. : t-ayra: filho (de gente) el. in f. : t-ayra: filho (de animal)
244. yapira: mel
abá r-ayra: filho do índio
el. sup.: t-yapira el. inf.: t-yapira
se r-ayra: meu filho iandé ou oré rayra : nosso filho
nde r-ayra: teu filho pe r-ayra: vosso filho e-í'-r-uba r-yapira : mel de abelha
t-ayra: seu f ilho ( rel.) t-ayra: seu filho ( rel.) xe, nde r-yapira íandé ou oré, pe r-yapira
o ayra: seu filho ( refl.) o a'\Jra: seu filho ( refl.) i t-3 apira
1
i t-yapira
o yapira o 3'ª p·ira
A única diferen<;a do paradign1a eté é que o possessivo
da 3.ª p. e o índice da el. infer. é o próprio t-. Segunda Classe
241. Seguem esta exce<;ao: 245.
,
apo: ratz
.
aíyra : f ilha (de h.) ybyra : innáo mais 1n0<;0 (de h.)
,A ,A

aniyia ou a1nuia: avo


A

ykera : irma mais velha (de m.) el. inf.: s-apó: raiz
ayra : filho (de h.) ykeyra : irmao mais velho (de h.) ybyrá r-apó: raiz de árvore
uba: pat ~'kit: líquido, cousa liqüefeita ou xe, nde r-apó íandé ou oré, pe r-apó
y: líquido,
,
sumo,
. caldo, derretida s-apó s-apó
agua, no ypy : f undura o apó o apó
Ons. 1 - Há também as formas amyia e amfíia. 2. - Yku e ypy sao Gramaticalmente nao diferem da l.ª el. Se nao tem o t- da el. sup., é
compostos de y. 3. - Y, no sentido de "água" ou "río", raramente leva que, por sua própria natureza (ra'.z, rabo, etc.), só podem referir-se a seres
pref ixos. Alguns compostos, como y-aiba "tempestade marítima", y-kat1t "bo- inferiores. ~ possível, entretanto, cncontrá-los com t- em sentido figuratl'J.
nam;a", y(g)-apenunga "onda", só admitem o prefixo r-. 4. - Ybytyra "mon- Assim, em MoNTOYA t-11guai(a) "cauda" no sentido de "acompanhamento"
tanha" segue estes últimos. (de filhos).
\

110 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 111

Terceira Classe Seguem oka as palavras okttia "entrada 11 , oktndaba "porta, madeira que

246.
. , .
m1-ngau: m1ngau
tampa a entrada".

251. uyba, uuba: flecha (de gente)


el. sup. : nr i-ngaií el. inf. : s-e-m.i-nga1l
, . , s-u.uba, s-uyba: flecha (de abá r-u'ltba: flecha de indio
aba r-e-1111-nqau: tningau do indio inf.)
xe, nde pe r-e-mi-ngaú ~~e,
. r-e-111i-ngaú
, iandé .ou oré.
,
nde r-uuba, s-uuba, íandé, oré, pe r-uuba, s-uuba,
s-e-1ni-ngau s-e-n1i-ngau og-uiiba og-uuba
.
o e-nii-ngau.
, . ,
o r-nii-nga1t
252. pé: ca1ninho (de gente)
Seguem eté) mas nao tem indice da el. sup.: serve o s-apé: can1inho (de ani- tapii' r-apé: can1inho da anta
1nais) ~ , d'
ian e, , pe r-ap'e, s-a p'e, o
ore,
te111a nu.
xe, nde r-apé, s-apé, o apé apé
247. Os principais sao: P é é "caminho" en1 relai;ao ao que passa (do índio, da anta, do inimig,J, éa
kuia: cuia nii-apé, myiapé: pao chuva, etc.). Em relai;ao ao tenno, usa-se piara, regular: kó piara "caminho
da roi;a", ybá' pf,ara "caminho do céu".
kuiá : canteiro moema : mentira Segue pé o composto pé-ypy "entrada da aldeia, antes das primeiras casas".
m ( b) i-ara: pescado, ca<;ado 1nbetara : ten1betá
mi-aitsuba: escravo, -a ni ( lJ' )i--ú : con1ida 253. iyra: sobrinho
1ni-n1oía : cozido ni1nbó, inimb6: fio
mi-mbuaia: servo nhaé (e comp.) : prato abá r-iyra: sobrinho do indio
mi-ndypyro : papas, piráo nhauuma : barro xe, nde r-i)1ra, iyra, o iyra iandé, oré, pe r-iyra, iyra, o
mi-ngaú : mingau panaku : cesto (esp.) f)'Ya
mi-tyma: planta\áo, horta ty1na : perna
ÜBS. - Nao tem índices de classes.
mi-xyra ou mi-xira : assado
254. mimbaba: eria<;ao, animal doméstico (de gente)
248. Há também, .facultativas, as formas para a et sup.: t-e-mbetara, t-e- s-e-inibaba: cria<;áo (el. abá r-e-i1nbaba: cria<;áo do
-mbi-ara, t-e-mbi-ií.1 t-e-nii-ausuba, t-e-moema, t-e-tyma (mais uso que tyméi).
inf.) índio
249. Nao é raro aparecerem sol> forma regular essas palavras, mormente :re, nde r-e-imbaba zandé ou oré, pe r-e-imbaba
quando indicam a "matéria'' de que é feito o objeto; itá mimby (VLB 320), s-e-imbaba, o e-imbaba s-e-imbaba, o e-imbaba
itá 1thae (VLB 123). Há também a forma mymbaba.

Quarta Classe 255. uru : vasilha, receptáculo


T-em formas especiais: 1. com relac;ao a quem carrega a vasilha
el. sup. : uru el. inf. : s-epuru
250. oka: casa (de gente)
abá r-epuru : vasilha do índio
s-oka: casa (de animais) abá r-oka: casa do indio
.'re, nde r-epuru iandé, oré, pe r-epuru
xe, nde r-oka, s-oka, o oka 1andé, oré, pe r-oka, s-oka, o oka
s-epuru, o epuru s-epuru, o epuru .~
112 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 113

2. co1n rela<;áo ao que vai dentro tutyra: tia (materno)


el. sup. : uru el. inf. : s-uru.
ybá r-uru: cesto de frutas abá tutyra : tio (materno) do índio
:i.:e, nda r-uru, s-urit, iandé, oré, pe r-u.ru, s-uru, :re, nde, i, o tutyra iandé, oré, pe, i, o tutyra
og-uru og-uru 259. Os principais sao :
Co:n g~nit., também uru: t-atá 1tr·u (VLB 135), t-atá endy iirH (VLB 142).
taba : aldeia tí: nariz, ponta, proa, bico
tagf¿aiba : espécie de duende tinibora: pó, vapor, baf o
3. com rela<;'a o a quem bebe da vasilha: y -gu-ab'-urtt. tapera : aldeia abandonada I tubyra: pó, poeira
É. regular. tapyía, tapuia: choupana tunhá-bae, tui-bae: velho, anciao
tapyyia: bár.baro, tapuia tunga : bicho-do-pé
4. con1 rela<;áo a quem come da vasilha tataka : ra (esp.) Tupa: t Deus I

el. sup.: t-e-mi-uru el. inf.: s-e-1ni-uru tataka: batido (p. ex. dos
dentes) tutuka, tytyka: palpitai;ao
abá r-e-nii-·urzt : yasilha do índio ( em que ele come) taté: erro, o contrário ty: urina
~1:e, nde r-e-nii-uru iandé, oré, pe r-e-mi-uru. tebira: nefando ( subst.) tyba : multidáo
s-e-tni-uru, o e-mi-urtt s-e-mi-u.ru, o e-mi-uru tekoaraiba: necessidade, pri- tyb ytaba : sobrancelhas
1

vac;ao . tykyra: gota, goteira


256. aba: pelo, pena tekoaraí' -bora: fugitivo tyra: acompanhan1ento ( comi-
el. sup. : s-aba pelo (de tekó-kuaba: entendimento da), companheiro
el. in f. : s-aba pelo, pena (de
gente) tenhéa: bravata, fábula tyrá : arrepio
seres inf.)
abá r-aba: os pelos do indio 260. Em trk6-kuaba só aparentemente o t faz parte do nome. ~ pref. de
xe, nde r-aba, s-aba, o aba 1.andé, oré, pe r-aba, s-aba, o aba classe: "conhecer ( ou conhecimento de) a vida, a condi~ao (de gente) : enten-
dimento ". Tanto que quando o conhecimento se ref ere a ser determinado, o
S- serve para ambas as classes. t desaparece: Tt4Pli t-ekó-kuaba: a sabedoria ou ent~ndimento de Deus, i. é,
No sentido de " cabelo" (humano), que Deus tem da gente; Tupa r-ekó-kuaba: o entendimento de Deus, i. é, que
aba é regular: xe, nde, i, o aba, etc.
se tem de Deus; Tupa xe r-ekó-kuaba: o entendimento que Deus tem de mim.

257. esá: ólho 261. Nunca é prefixo o t de nomes de animais, plantas.


Segue eté. Mas existe tan1bém, para ambas as frutas e algumas matérias anorganicas:
classes, a f orn1a sá, invariável, que só aparece etn com- tapiira : anta taiaoba: couve (esp.)
pos tos. tamanduá: tamanduá takuara : taquara
tatu: tatu tagilá: esp. de barro

262. T·inga. "brancura, o branca" e ta1a "o ardido" sao


T OU S INICIAIS TEMÁTICOS
regulares. exceto na 3.ª p., que dispensa o possessivo ·
I
258 · Em numerosos substantivos, o t inicial faz parte xe tinga, 11de tinga, tinga, o tinga, cte.
do tema. Sao substantivos regulares : Nao .confundir com tinga "enjoativo'' e t-aw "acido; azedo", adjetivos.


J
I

114 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 115

267. Nao se usa possessivo nem gen1t1vo imediatamente antes de nomes de


263. O t e o s iniciais dos substantivos formados de v. cria~óes nem de animais apanhados em cac;a ou pesca. Antes dos primeiros
intransitivos (de pref. agente) sao sempre fixos: deve-se juntar mi-mbaba (n. 254), e dos segundos mbi-ara (n. 247):
.
se1n: satr setn-a : saída
meu porco: xe r-e·imbaba taiasu (nao xe taiasu)
meu papagaio: xe r-e-mbi-ara ainru (nao xe aiuru)
syk: chegar syk-a ou syk-ab-a: chegada
ere-i-á-pe soó uác r-apü.·ara r-ey11tbaba íagúaJYa r-e-mi-iuká-púera? (AR.
tykyr: gotejar tykyr-a: gota, goteira 239) : apanhaste cac;a morta pelo cacllorro de [propriedade de] teu proximo?
tatak : palpitar latak-a : palpita~ao
268. N d' ere-s-endu.b-i-pe xe r-uba? A-s-epiak nde r-e-mi-r-ekó-ra·1na.
264. Em alguns substantivos, o s inicial faz parte da N d' o-s-ausub-i og-uba ikó kunitnii. Mbaé-pe ere-r-ur .? X e r-atá-
palavra. Sao regulares. Só na 3.ª p., ao contacto com -ra1na a-r-ur. X e r-ani.y ía r-uba o-nienda.r nde r-aniyía rendyra r-esé.
i) há mudan<;a de s em x:
V
.(\.e r-aixo n d e r-e-m~-r-e
A , . .o n d' o-gu.e-ra-so-i.
k' "' , ... M ara-pe
~
n d e r-erar
Q

Akangusu. Auié-bé ! T-era poranga! Jifara-pe nde r-etama r-era?


""'
sy: mae Akaray. I porang-pe nde r-etania? Pá. I poran'-gatit. T-urusu-pe?,
1'-u,rusu-katu. Taguaiba-pe kó-ipó t-eo-buera taper-pe ere-s-epiak?
xe sy, nde sy, i xy, o sy íandé sy, oré sy, pe sy, i xy, Abá r-eo-buera. N d' ere-s-endub-i-pe xe r-ase1na? N de r-aiyra re
O S'j} tybytaba o-s-apy t-atá r-endy-pe. X e r-e-imbaba guyrá o-ú nde r-e-
-mbi-ú r-e1nbyr-uera. Abá-pe o-gue-no-setn :re r-e-panakf'1 sania xe
265. Eis os principais: r-oka suí? Nda ixé ruii. lxé a-ra-só nde pepu. S-oby aip6 guyrá
sama: corda susuá : inchac;o pepó r-aba. Xe tutyra o e-mbi-ara pirá o-iuká ybyrá pupé. Nde
sé-bae : condimento sy: mae r-ayra nde r-embi-ú-t-ani-buera o-gue-ra-JÓ o epi-tru pu,pé. Ere-iur-pe
-. .
si-tgUa.raiy : meretriz
.
sumara : 1n1m1go
sybá: testa
syra: enxada
.xe r-oka píara r-upi? A1a1nó-pe ere-s-eíar abá r-uuba? A-s-eiar xe
r-ok-pe. 0-nz.anó paranfi r-embey' -pe xe r-e-1nbi-ar-uera pirá. Pe-
syyra: tia materna -s-ausub pe sy! Nd' oro-s-ausub-i-te-pe oré sy? Abá-pe nd' o-s-ausub-i
Sama s6 se usa em composi~ao: pindá·sama "corda de anzol ", ttrapá'-.rama o sy? T )ia-s-ekar nde r-e-kuía xe iru-ino·ne. 0-nianó xe r-e-imbaba
.. corda do arco ". tapiira. Xe tutyra nd' o-ú-i t-oó. T-uba i xy abé i ú-ú (cornero-na) .
• Ta pe-k31ti umé xe r-e-imbaba gúyrá r-aba-ne. N de r-atuuba o
EXERCtCIOS e-nibi-ú-ram,a o-gue-n·o-se1n xe r-e-mi-uru su·í.
266.
embeyba ( t) : margem aba (s): pena 269.
etama ( t) : terra e-1nbi-ú ( t) : con1ida
asema ( t) : grito pepu: corda para carga, ao lábios : e1nbé ( t) mudar-se: ie-akasó, intr.
eo-buera (t): cadáver omoro dente: aia (t) agredir: epenhan ( s)
e-mi-r-ekó ( t) : esposa panaku-sania : corda de carga veía: aiyka ( t) furar: kutuk
endyra ( t) : irma (de h.) (pela testa) unhas da mao : pó-ape reluzir: endy-puk (s) (xe)
era ( t) : nome mo~o : kunu1ní-guasu partir-se: sok, pen, intr.
kyti : cortar
endy ( t) : chama no-sem : tirar ter n1edo de: sykyié [suí]
1
rachar-se: bok, intr.
emb~ra ( t) : sobra au.íé-bé ! : muito bem ! arrancar: ok (io) chamuscar: apek (s)
morar: ikó-bl experimentar : aang ( s)
\
116 LE!\íOS BARBOSA

bolir: myi, intr. 111argen1 (do rio ou mar) : y


dilacerar : nio-ndorok ( r-) enibeyba
antigamente : erinibaé agora de pouco : koyr-é

270 . O s tapuias antigamente n1oravam a beira do mar. Muda-


ram-se agora de pouco. A on<;a con1 as suas unhas e com os seus LI(A.O 18.<1
dentes dilacerou o corpo do mo<;o. Ouvistes os gritos dele? Meu
tio agrediu o seu (próprio) pai com um pau. Tua filha veio com a
sua irma ( mais velha) e voltou com a sua sogra. Os espinhos f urararn
minha veia. Tenho n1edo dos olhos da on~a. ~les reluzen1 de noite.
PRONOMES P ESSOAIS
Quem arrancou os olhos <leste cadáver? Boliu a perna do cadáver. (Slntese)
Teus filhos cortara111 as raízes destas árvores. A on<;.a, co1n os seus
filhotes ( filhos), cortou, com os ( seus) dentes, as raízes destas árvo- ..
res. Partiu-se a corda do vosso arco? De ( r-esé) que está cheio o 271 . Os pronomes e prefixos pessoa1s incluem-se no
vosso cesto? Está cheio de couve. De que -é esse cesto? É cesto seguinte quadr o:
de frutas. De ouen1? É o cesto do indio. Verao o sair do sol os
1 JI I II IV V
prisioneiros? Teu filho matou os seus avós nas suas casas. Partiu-se ,.. .
a- gui- xe ixé eu
a minha corda. As chamas do f ogo chan1uscaram os 1neus lábios. ere- e- tuk endé tu
Rachou-se a tua casa de barro. Experin1enta a sobra da comida da o- o- i, s-, o, etc. aé, etc. ele, ela
,
vasilha de teu sobrinho. Experimentei já. Nao é ~ostosa. ia-
A
ia- íanáé ia11dé nos ( incl.)
oro- oro- oré oré nós (excl.)
pe- Pe- Pe Pee v6s
BIBLIOGRAFIA o- o- i, s-, o, etc. aé, etc. eles, elas

ANCHIETA 12-17; FIGUEIRA 71-79; 84; MONTOYA 9-12; RESTIVO 17-20;


Sobre os pronomes objetivos, v. Li<;oes 20.ª e 21.ª.
CAETANO 4:3: 45; passim; AoAM 22-29; TovAR 118-119; L. BARBOSA 173-174;
In., Os Indices; DALL'IGNA 62-64. 272. As forn1as da l .ª cor..1JNA: Prefixam-se aos verbos,
indicando o sujeito. Sao de rigor no indicativo, per-
missivo, optativo e condicional. Exceto quando os verbos
levam pronon1es objetivos da l.ª ou 2.ª pp.

273. As formas da 2.ª coL UNA só se empregam como


prefixos de gerúndio de ver bos intransitivos.
274. As for mas da 3.ª COLUNA:
\
a) J untam-se ao complemento predicativo, dispensando
os verbos "ser " e "ter" ( n . 78 e 350).
b) Sao de r igor em alguns modos do verbo ( n. 336) .
e) Sao as únicas formas que recebem preposi~oes
tónicas:

8
118 LEMOS BARB05A CURSO DE TUPI ANTIGO 119

x e suí : de mim nde suí: de ti ixé oro-iuká: eu te mato; ixé opo-iuká·: eu vos mato
;·t:e r-upi: por mim nde r-upi: por ti
276. A forma da 5.ª coLUNA: Nao é' mais do que um
Se a preposi~áo é átona, servem ta1nbén1 as formas
demonstrativo: aquele mesmo, aqueles mesmos ( n. 72).
da 4.ª coluna:
xe-be, xe-bo; i..-ré-bc, t:ré-bo: a mini a) Supre raramente o pron. da 3.ª p.:
nde-be, nde-bo; endé-be, endé-bo: a ti aé o-só: aquele (ele) (é que) foi, aqueles ( é que) foram, etc.
Pe nao recebe preposi~áo átona.
b) Posposto, aé serve de sujeito a ora~'é5es predicativas,
d) Serven1 de possessivos ( n. 58). Os possesivos nao com substantivo por complemento ( n. 80).
passam de pronomes pessoais em fun\áo de genitivo: e) É a ünica forma usada com as preposic;óes átona!' :
xe py: n1eu pé (o pé de n1iln) aé-pe: nele, naquilo; entáo; lá
e) Serven1 de objeto direto. V. Li<;óes 20.ª e 21.ª. 277. RESUMO: As for:nas da
l.ª CoL. precedem os verbos. Sao prefixos. E pronomes agentes.
275. ·As forn1as da 4.ª COLUNA: 2.ª CoL. Drecedem os v~rbos intransitivos, no gerúndio.
3.ª CoL. pr~cedem complementos predicativos. preposi~óes, substantivos (como
a) U san1-se, raran1ente, com as das outras col. para dar possessivos), verbos trans. (como obj. dir.). Sao pronomes pacientes.
4.• CoL. sao enfáticas.
realce ao pronome. As 3.as pp. nao tem pron. pro- S.• CoL. sao demonstrativos em f un~ao de pronomes pcssoais. ·
priamente pessoal (n. 76) separável do verbo:
i.:ré a-bebé : eu ( é que) voei; endé ere-bebé : tu ( é que) voaste; EXERCfCIOS
iande ía-bebé : nós ( é que) voan1os ; oré angaipab oré (AR. YBYRA: A. árvore
38): nós somos pecadores
278.
Nas mesmas condi~5es sao usados também xe e nde: aka ( s) : galho ara ( s) : espiga
oba ( s) : f olha aryba ( s) : cacho
xe a-só, nde ere-tt·t r: eu vou, tu ficas poty'-kyta: botáo opytá ( s) : tronco
b) 1xé, endé e pee se usam antes dos correspondentes aynha ( s) : caro~o apó-ok ( s) : arrancar (de raiz)
potyra: flor ( n. 167) mo-ndok: quebrar
da 3.ª col., também para real\ar-lhes os vários pakoba: pacova
sentidos:
ixé xe suí.: de inin1 ; endé nde r-upi: por ti ; peé pe pupé: con- 279. Ybytit o-s-apó-ok ybyrá, o-1--nio-ndok abé s-aka. - M ará-bae-pe
vosco ; ixé xe niaenduar: eu me lembrei ; peé pe maenduar: ko ybyrá r-opytá'! - S-eburusu-eté. - Marfí-bae-pe s-oba? - I
p~tku, s-oby abé-no. - J_' ifará-bae-pe i pé'! - S-)1apua ngatu -
vós vos len1brastes; ·ixé xe só-reme: se eu fór
Mará-bae i potyra'! - I iub, s-31aptt.a abé. - Mara-bae-pe i-i ybá'! -
e) 1xé e iandé servem, facultativamente, quando sepa- S-é··~atu, i porang abé i-í ybá-no. - Mara-pe ko ybyrá r-era? Mobyr-
-pe i-í ybá r-aynha? - A-r-ur nde-bo abatir-ara a111 ó. pakoba r-aryba
rados do verbo por algum complemento da 2.ª p.: amó abé. E-i-kuá-nieeng i~-ré-be ikó poty'-kyta.
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
120 LEMOS BARBOSA

O JEQUITIBA \
280.
chao: vby
1 estar seco: tininq ( xe) LI(.A.O 19.ª
jeq11itihá: í:vk'\1tybá sacudir: 1no-susunq
dern1har: mo-nqui continttar de pé : am-ió-te
levantar-se : puam, intr. todo. tocios. tudo : opá-katu
cessar: pik debalde : tenhé CLASSIFICA<;A.O DOS VERBOS
quehrar: mo-pen . apenas : nhó-te
partir-~e: pen. intr. com o temoo: tn.henué ira 282 . Precisemos a nomenclatura adotada neste CURSO.
A
murchar: nhynhyng ten1pestade, ventania: ybytu gua-
su, - aiba
283. Quanto ao agente
281. Levantou-se a temnestade. derrubou todas as árvores e arran-
cou-as do chao. O ieqttitibá. somente, contin11ou de pé. A ventania O verbo é ativo, se o sujeito é o próprio agente; pas-
quebrou os galhos das outras árvores (e) atirou-os ( o-Ít'\1k) ao rio. sivo, se é o paciente; reflexivo, se agente e paciente;
Nao atirott os troncos (pass.) apenas. Os galhos do jeouitibá, a ven- neu.tro é o verbo que nao conota propria1nente urna a~áo
tania os sacu<liu debalde: nao se partiram. O ventou levou as flores inas um estado do sujeito.
das 0utras árvores. esp.alhou os seus fn1tos e as suas folhas. O je-
quitibá mesmo continua de pé. ·Cpr. iuká: matar, por: pular, nhan: correr ( ativos) ; manó:
Cessou o vento. As outras árvores está.o deitadas ( o-ub) por inorrer, ar: cair, syryk: deshsar, í kó-bé : viver ( neutros )
terra ( '\lh'\1-bo ). As í suas l folhas j á murcharam. E stará.o secas ÜBS. - Em tupi nao há verbo passivo.
aman ha mesmo. Com o tempo as árvores morrerao ( s-eó-fi-ne). 284. Quanto ao complemento
O j equitibá, somente, continua de pé ! 1

Intransitivo, se nao exige complementos; transitivo,


BIBLIOGR_.i\FIA se exige objeto ou complemento direto; relat~o,
se exige complen1ento indireto (regido de preposi~ao);
10v-12v: 20-21 ; 28v-29: F TGUEIRA 10-11; 2~: 37-39; 65-6&;
ANC FfTRTA
80-85 : MoNTOYA 4-5 : l 1-12: 40-43 : 4!í-50: RT-:sTrvo 2~-2 5 : 28-2Q: 42-43 : 8~-83 : bi-transitivo, se exige dois cotnplementos diretos (nao há
85-86; CAETANO 8-14 : ADAM 21 ; 38-44 ; L. BARRO:\ 170 ; DALL'IGNA 62-63; 66. o caso em tupi) ; bi-relatii:o, se exige dois complementos
indiretos; transitivo-relativ o, se exige um con1plemento di-
reto, outro indireto; intransitivado, se um verbo transitivo
leva objeto direto incorporado, o que o equipara gra1nat1ca]-
mente a intransitivo (n. 381); retransitivado, se de intran-
sitivado se torna novan1ente transitivo; com novo objeto
direto ( n. 531); predicativo, quando nao há propria1nente
'
verbo, mas apenas um predicado .(geralmente nominal),
i22 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 123

que modifica o sujeito; copulativo-' se há verbo de liga~áo nhe-ang-ú (tr.-rel.): recear 11 [suí] (pessoa): a-nhe-ang-ú xe
con1 um predicado que modifica o sujeito: r-uba SU!Í: receio meu pai 11 [ esé] ( cousa) : a-nhe-ang-ú. nde
r-u,ba nheenga r-esé: receio as palavras de teu pai
nhan: correr, manó: morrer (intr.); potar: querer, epiak: ver asy ( s) ( xe) ( intr. ou rel. [ esé] ) : doer a : s-asy x e akanga ou
( tr.) ; maenduar [ esé] : lembrar-se de, poir [ suí] : deixar de ( rel.) ; s-asy xe akanga xe suí: dói-n1e a cabec;a 11 [ supé 1: pesar a:
ieritré [esé ] e [supé]: pedir cousa a (bi-rel.); meeng [supé]: dar s-asy xe r-itba supé: pesa disso a meu pai
a ( tr .-rel.) ; 1nbaé-ú : comer [ cousa ( s) ] , y-ú: beber ~crua; por-ú : comer
[gente], akang-ok : cortar ou arrancar cabe<;a ( s) ( intransitivado) ; nhe-ran: tr.-rel.: resistir a [su.pé] : ( def endendo-se) ; 11 [ esé ] :
(atacando)
( i-) akang-ok : arrancar a ( s) cabe<;a ( s) a ou de ( retransitivado) ; katu :
(ser) bo1n ; oby: (ser) azul, (predicativos) ; ikó : estar (copulativo). por-epy-an: intr. ou tr.: contratar, resgatar: a-só gúi-por-epy-
-an-a (VLB. 163) : vou contratar ou vesgatar; a-só apyaba
por-epy-ana ( ib.) : vou contratar com os índios
285. Cada verbo relativo pede a sua preposi<;áo (a n1aL;
p6-epyk (tr.: pessoa ou cousa): replicar, responder, retribuir,
con1tun é esé) :
revidar: a-i-pó-epyk i nheenga: repliquei as suas palavras;
sykyíé [suí] : ten1er 11iaenduar [ esé] : lembrar-se de a-i-nhee'-pó-epyk id.; a-'t-pó-epyk Kunha111beba: repliquei
gua1·ini [ esé J : guerrear nharo [ esé] : investir contra a Cunhambeba
nheeng [ supé] : f alar cotn guase11i [supé] : achar, chegar a
1nae [esé] : olhar para 1ar [ esé] : estar peg-ado a 287. As reg·encias tupi e portuguesa nem sempre con-
iur [ suí ] : vir de só [-pe] : ir a
cordam:
o-sykyié ta1asu. tagúara suí: o porco te1n medo da on~
, t r.: f a1ar corn: n d' oro-i-1110-ngeta-i
mo-nget a: ,. , .. n d e r-aixo:
.. , nao
-
falamos com a tua sogra
286. Certos verbos ad1niten1 diYersas regencias, mudando
ou nao de sentido : mbo-é: tr.-rel.: ensinar ( dir. de pessoa, ind. de cousa [ esé]) :
nda ,Pe-i-mbo-é-i xe r-a·y ra abá nheenga r-esé : nao ensineis
puam (intr.): levantar-se, erguer-se 11 [esé]: colocar-se contra, o tupi a meus filhos
assaltar. dar em cima de ro-lyb: tr.-rel.: descer com, descarregar ( dir. de c .. ind. de p.
esaral ( s) ( xe) [ suí] : esquecer ( algu1na cousa passada) 11 [ supé] ; de anin1al ou cousa [ sití] ) : e-ro-~yb kumiisi abá
[ esé] : esquecer de ( trazer algun1 objeto) supé : descarrega o pote ao índio; e-ro-iyb kamusi tnimbaba
ikó ( intr., copul.) : estar oro-ikó-kat-l~: estan1os bem 11 [ esé] en- suí : descarrega o pote ao animal
tender-se com, ter o que ver com : nd' a-ikó-i nde r-esé : nao nhyro (xe): bi-rel.: perdoar (p. [supé] c. [esé)): nde nhyro
me entendo contigo; nd-oro-ikó-i aípó-bac r-esé (AR. 81) : oré angaipaba r-esé oré-be : perdoa-nos as nossas ruindades
náo ternos (nada) que ver co1n isso 11 [ upi] : casar com : nd'
ere-ikó-i aípó ku.nha r-~u.pi-ne: náo te cases com aquela ieruré: bi-rel.: pedir (p. [ supé] c. [ esé]) : oré suntarii supé-pe
pe-ieruré y r-esé-ne?: pedireis água c;os nossos inimigos?
mulher 11 [ supé] : servir: abá supé-pe oro-ikó-ne!: a quem
servire111os ? 11 [ esé-katu] : perseguir, estar de ponta coni: mondar, mundar: tr.-rel. [ esé] : suspeitar mal de; tomar por,
morubixaba o-ikó paié r-esé-katu : o cacique está de ponta julgar que se ja; ter ciúmes de: a-i-11iondar ahe xe itaiuba rí
com o feiticeiro 11 [-ranto] : estar como, ser: xe sy-ramo (VLB 396): suspeito de fulano a respeito de meu dinheiro;
ere-ikó : estás como minha 1náe; és minha mae oro-mondar Pindobu..su r-esé: pensei que eras Píndobu<;u
124 LE1'f OS BARBOSA

288. Certos verbos intransitivos em tupi sao refl ~xivos em portugues: noong
ajuntar-se, reunir-se. Com o prefixo 1110- (n. 481), tornam-se transitivos:
'tno-noong ajuntar, reunir; e com fe- (n. 294), r'!flexivos: ie-mo-noong juntar-se,
reunir-se. A difer ~rn;a entre noong e ie-mo-noong é que o primeiro se diz das
cousas que se reúr.iem naturalmente, sem responsabilidade consciente do sujeito L/(ÁO 20.ª
(v. neutros) : y o-noong ypá' -pe: as águas se reuniram na lagoa; niorubixab-etá
o-ie-mo-noo11g okar-usu-pe: reunir.am-se muitos chefes no terreiro.

289. Quanto ao pronome sujeito PRONOMES OBJETIVOS


'
11á verbos de prono1ne paciente (n. 78), que levan1 290. Quando o pronome pessoal é objeto direto, 1) vem
sempre como sujeito um dos pronomes x e, nde, i, etc., e logo antes do tema verbal, 2) determina a queda do pro-
verbos de prono1ne ou prefixo agente (n. 112), que no nome agente ( exceto se o oh jeto direto é da 3. ª p.), 3)
indicativo, etc., levam os prefixos pessoais a-) ere-, o-, as sume formas diversas, conf orn1e a pessoa gramatical do
etc. su jeito:
BIBLIOGRAFIA 291· QUADRO

FrGUEIRA 10-11 ; 22-23; 66-68; 85-92; M oNroYA 13; 45-48; 49; 82; REs- u J E 1 T O
Tivo 28-29: 42-43; 82; REsT1vo 28-29; 42-43; 82; 142; CAETANO 10 ; 14; 36;
ADAM 38~40 ; 79-81. .___ _1_a_._s._ _ 2_a_._s·- - . 3_a_._s_. -->-la_._L_ _,,l,...i_a_.e_._--i:-z_ª ·_P_L__ J3a. pl.
0 1 1
la. s. ie :~e ~e - - xe 1...-e
~ 1------l·-----¡------4--------
22. s. oro ie nde
......--~+-------lf-----T----.
oro oro - •·de
µ.,l
3a.s. s, io
i, s, io
'I,
~----t-----+----r------~-----.
i . s, fo, ie i, s, io, i, s, io i. s, io i, s, io
i--.,1~--1·--~,~c~--~11-----~11------t----:,--d----r----.
la. i. wndé íandé •e - ;an. é '1•1dé
J:Q i----t·-------i·---1------~-----+----~~-----·~----"4
1.a.e. - oré o--e'
, - ie oré oré ,
O l----t·----~------t----~1----t----~-t------ii------t
2a.pl. opo pe opo
i----··-----i-----·~·
3a.pl. i, s, io s, io li,- --~~·----
i, s, ío i, s, io
;e ""
~-~-t------y,-----1
i, s, ío i, s, io
.....
i, s, io, ie

I após vogal torna-se i (n. 120).


292. a-i-pysyk: eu o seguro, eu os seguro; ere-i-pysyk: tu o oit os se-
guras ; o-i-pysyk : ele o segura, ele os segura; eles o seguram, eles
os seguram; ia-í-pysyk, oro-i-pysyk: nós o ou os seguramos; _pe-
-i-p·y syk : vós o ou os segurais; oro-p ysyk : eu te seguro; nós te se-
1

guramos; opo-pysyk: eu vos seguro; nós vos seguramos; xe pysyk:


ele ine segura; eles me seguram ; nde pysyk: ele te segura; éles te
seguram; iandé pysyk ou oré pysyk : ele nos segura; éles nos se-
gttram ; pe-pysyk : ele vos segura ; eles vos seguram
126 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 127

293. Quando o objeto é da l.ª p. de qualquer número e o xó-é peiepé-ne : nao nos segurareis; xe pysyk iepé : segura-me tu;
sujeito é da 2.ª p., depois do verbo ven1 o pronome sujeito oré pysyk umé iepé : náo nos segures; ta xe pysyk umé peiepé-nt:
iepé "tu" ou peiepé "vós"; segurai-me, pois ( f ut.) ; t' oré pysyk u1né íepé-ne: nao nos segures,
pois ( fut.)
xe pysyk iepé: tu me seguras; segura-me; iandé ou oré pysyk
iepé: tu nos seguras; segura-nos; xe pysyk peiepé : vós me segu- 298. Quando o sujeito dessas ora~óes é da l.• ou 2.ª pp., pode-se acrescentar
.~e,nde, iandé, oré, pei antes ou depois do verbo: xe oro-pysyk ou oro-pysyk i~é:
rais; segurai-me; uz.ndé ou oré pysyk peiepé: vós nos segurais: se-
.
gura1-nos
eu te segurei ·

299. O pronome objetivo da 3.ª p., amiítde, antes de vogal


294. O reflexivo é ie- para tódas as pessoas (antes de recebe un1 i; antes de nasal, nh ( n. 34 s.) :
nasal : nhe-) : apó: f azer a-í-i-apó: eu o fac;o
,
a-ie-pysyk : eu me seguro ia-te-pysyk, oro-ie-pysyk: nos ybó: f rechar ere-i-i-ybo ou ere-í-nh-'j1bo: tu o f rechas
seguramos atni : espremer o-i-nh-ami : ele o espreme
ere-ie-p31syk : tu te seguras pe-ie-pysyk : vós vos segurais upó;. fazer i-í apó: f aze-lo
o-ie-pysyk : ele se segura o-ie-pysyk : eles se seguram 300. oi ou tih assimilam por vezes o primeiro i:
e-nhe-nupa : ac;outa-te (tu) ! oro-nhe-nupa : nós nos a<;outamos ,. po,
a-1.-a er.e-i-ybo o-tih-anii
295. Quando a a~áo recai sobre os agentes reciprocamente: 301. Os verbos iraro "irritar, atacar ", ·irumo "acrescentar, aumentar o nú-
mero", ytaro "fartar," e ityk "atirar, derribar, vencer" nunca levam o pro-
io- (antes de nasal : nho-) : nome i nos modos e tempos de pronome agente: a-in1mo "eu o ajunto", etc.
oro-io-pysyk : nós nos seguramos (mutuamente) ; pe-io-pysyk.
vós vos segurais ; segurai-vos ( miituamente) ; o-nho-nupá: eles se 302. Os verbos formados con1 o prefixo 1no- (n. 480) ou
a~outam ( miltuamente) ; pe-nho-nu.pa: vós vos ~utais ; ac;outai-vos nibo- em geral levan1 o pronome objetivo da 3.ª p., mas
(mutuamente) pode1n d'ispensá-lo:
" no-sem, ere-i-1no-se1n
a-i-1· ... ou a-mo-seni, ere-11io-sem, et c.
296. Oro- e opo- só se empregam no indicativo, imperativo, optativo e per-
missivo, i. é, nos modos que levam prefixos agentes (a-, ere-, o-, etc.). Nos
outros modos, usa-se de nde e pe: o-í-potar gftá ixé ndc 111ká: querem que Sobre os pronomes objetivos dos verbos formados com o prefixo ro- ou
eu te mate. 110-, v. n. 503.
Sobre iuká e outros come~ados por i, v. n. 127.
297. O verbo com o pronome objetivo pode ter futuro e
303. Os verbos cujo ten1a comece por s, n1ttdam esse s
forma negativa : para x, ao contacto com o i ( ou i):
nd' a-i-pysyk-i: nao o oil- os segurei ; nd' a-i-pysyk-i xó-é-ne: náo
o ou os segurarei ; nd' oro-pysyk-i: nao te segurei ou seguramos; suban: sugar
opo-pysyk-ne: segurar-vos-ei, segurar-vos-emos; nd' opo-pysyk-i xó-
·é-ne: nao vos segura.reí; nao vos seguraremos; tzda xe pysyk-i: a-i-xuban: eu o suguei ia-i-xuban, oro-i-xuban: nós o sugamos
ele náo me segura; eles náo me seguram ; na nde pysyk-i xó-é-ne : ere-i-xuban : tu o sugaste pe-i-xuban : vós o sugastes
nao te segurará ou seguraráo; nda xe pysyk-i iepé : náo me seguraste; o-í-xuban : ele o sugou o-i-xuban: eles o sugaram
nd' iandé pysyk-i xó-é peiepé-ne: náo nos segurareis ; nd' oré pysyk-i oro-suban : eu te suguei nde suban : ele te sugou
128 LEMOS BARROSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 129

304. Se a ac;áo de um verbo subordinado recaí sóbre o mandioka. So6 biá-é o ayra o-gue-r-ekó katu, memé-t' ipó ixé xe
sujeito (da 3.ª p.) da orac;ao principal, o pronome nao é i r-ayra r-au-sup-a-ne (amarei). Abá-pe xe ybo? - lxé, oro-ybo. __:
mas o. :aste o chama-se refle.x·i vo subordinado: Mbaé r-esé-pe ere-i-ybo? - Ta nde abé oro-ybo-ne. Mbaé r-esé-pe
ere-iur (vi este) f N da abá ruá oro-soó. - Oro-i-xoó. - Mbaé
o-só o eta'-tne, o enoí 'ré: foi para sua terra, depois que o cha- r-esé-pe nda xe mo-morandub-i peiepé? - Oré oro-mo-morandub
maram; o-pytá, o pysyk-enie: fica, se o seguram; kunha o-só, ntorit- biii. Pe-soó. Pe-i-xoó. Oro-i-xoó. Oro-soó. la-i-xoó.
bixaba o nio-ndó-renie : a n1ulher vai, se o ma1oral a mandar; kunha-
-muku o-só, ixé o 1-no-ndó-reme: a ino~ vai, se eu a n1andar 308.
- .,'
~
: $.

pu:i¡:ar (por cord'a) : samysyk beliscar : pixam


Se recaí sóbre o próprio sujeito subordinado, o re- escolher: porab-of?, parah-nk escolher : katii-ok
flexivo é ie-: espantar: nio-ndyi, mo-sykyié ajudar: p,1tybo ..
kunha-tai o-1tianó, nhe-nu.pa-nenie: a n10.c;a morre, se se at;outar abrir: pirar errar: aby (í)
salvar : pysyro tocar: pokok resé]
la<;ar: íur-ar r
apontar : tno-in supé]' tr.-ret.
alguém : abá amó caracará: karakará
EXERCtCIOS
305.
309. Ajuda-1ne. Eu te escolho. Nao o escolhas. Escolhi-o. Nao
nhyro (xe): perdoar 1110-nhyro: acaltnar vos mateis uns aos outro's. N ós os salvamos. Eu te salvarei. Livra-
mo-yro: agastar aj>ar ( i) : entortar -me. Nao me toques. Conheces mirrha mae? Sin1, conhe,o-a. E
nda abá nta : ninguén1 apar-ok (i): desentortar {aé-pe) tu conheces a niinha ( máe) ? Abre o teu arco. A on<;a me
pesé-ong : partir soó: convidar (para festa, etc.) mordeu. Eu a lacei. Meus companheiros a seguraram. Eu a matei.
aman, nia1nan: enrolar, 1no-nibeú : contar Meus companheiros puxaram-na. Alguém tocou em mim. Nao: nin-
amarrar mo-niorandub : avisar guém te tocou. O caracará [ é que] (te) te beliscou. Por que nao
porandub [ esé] : pergun- ol~ytá: esteio f rechastes a gan;a? N ós bem que a pontamos a f recha para ela. Ela
tar ysypó: cipó fugiu? Nao. Espantararn-na? Nao. Eu [ é que] (a) errei.
asy-ab: cortar bid-é : pois se ...
mbo-ir: partir nietné-t' ipó : quanto n1ais
306. Bii, pos posto, subentende urna adversativa: (J;-s-aitsu' bia " bem que eu BIBLIOGRAFIA
o a::nava (mas nem por isso me correspondia) ", a-i-nio-nhang oka biá "bem
que f iz a casa (mas ignoro se a teu gósto, oit se saiu bem; ou: mas caiu) ". ANcn:mTA 37v-40; FrcuEJRA 87-89; M-ONTOVA 38-40; RESTIYO 74-78;
- No fut. nao se usa biá, mas iepé, que serve também para todos os tempos: CA ETANO 39-40; ADAM 40; L. BARBOS A, Juká 74-77.
a-só iepé-ne "irei contudo ( embora, sei, sem resultado) ".

307. A-i-1naman okytá ysypó pupé (VLB 209). A-i-tnaman ysypó


okytá pupé ( ib.) - Abá-pe o-i-apar xe r-uuha? - N da ixé r,ua.
E-porandub umé ixé-bo. - Abá-pe? e-í-1110-nibeú, nei! - E-nhii-bé,
e-nhe-mo-yro umé. T' a-i-apar-ok, t' oro-1no-nhyro-ne. Mbaé r-esé-pe
kó ybyrá r-akaf - Okytá rama r-esé. Nde r-ayra o-i-mo-pen xe
guyra-para, o-í-asy-ab xe r-uuba, o-i-pese-ong abé-no. E-i-mbo-ir
CURSO t>E TUPI ANTIGO 131

314. Precedidos de oro-) opo-., ie- ou io- os verbos nao


1

levam 1,.-:
oro-ausub : a1no-te; aina1nos-te; opo-au.sub : amo-vos; amamo-vos;
a-ie-ausub : amo-me; ere-ie-austtb : amas-te; o-ie-ausub : ele se ama;
'I
LI(AO 21.ª eles se amam (a si mesmo cada um) ; o-io-ausub : eles se amam (re-
ciprocamente) ; nd'oro-io-aitsub-i: nao nos amamos ( reciprocamente)

315. No infinito e nos demais modos que se conjugan1


PRONOMES OBJETIVOS com pronomes pacientes ( n. 336), o pronome objetivo da 3."-
(Continua~o)
p. é s-. Cpr.:
s- quero que o vejas: a-i-potar nde s-epiak-a; quero ver-te:
a-i-potar nde r-epiak.a ou oro-epi/i-potar: quero que vejas a meu pai:
310. O pronome objetivo da 3.ª p., antes de muitos verbos a-i-potar xe r-uba nde s-epiak-a ou a-í-potar nde xe r-uba r-e~k-a.
que come~am por vogal, é s- ( n. 121) :
a-s-ausub: eu o ou os amo ia- ou oro-s-ausub : nós o ou os 316.
,
O reflexivo subordinado (n. 304) é 01 mas antes de
aman1os u e og:
ere-s-ausub : tu o ou os amas pe-s-ausub : vós o ou os amais
o-s-ausub : eles o ou os amam kunha o-manó, o-enoi-me: a mulher morreu, quando ( outro) a
o-s-ausub : ele o ou os ama
chamou; kunha o-nianó, s-enoi-nie: a mulher morreu, quando ( ela) o
311. nsses verbos, quando o objeto é da l.ª ou 2.ª p., re- chan1ou; o-ú pirá, s-ekar-eme: comerá peixe, se o procurar; pirá
o-nhe-mim, o ekar-eme : o peixe se escondeu, quando o procuraram ;
cebem um r-: nde r-uba o-i-potar nde og-upir-a: teu pai quer que o levantes (a ele) ;
xe r-ausub : ele me ama, eles me amam ; nde r-ausub : ele te ama, nde r-uba o-i-potar nde s-upir-a: teu pai quer que o levantes (a outro).
eles te amam ; iandé ou oré r-ausub : ele nos ama, eles nos amam ; Cpr.: nde r-uba o-i-potar nae r-upira ou nde r-uba oro-itpi'-potar;
pe r-ausub : ele vos ama, eles vos amam ; .'re r-ausub iepé : tu me an1as ; teu pai quer levantar-te
ama-me tu ; oré r-au.sub iepé : tu nos amas; ama-nos tu ; xe ou oré
r-ausub peiepé : vós me ou nos amais; a1nai-me ou. -nos ; xe nde
r-ausuba : amar-te eu io- ou nho-

312. O mesmo sucede se o objeto for substantivo: 317 · O pron. objetivo da 3.ª p. dos v. monossilábicos é io-
asé sy r-ausuba: amar a mae da gente; a-s-epíak nior·ubixaba su-
( antes de nasal, nho-) :
mara r-en<ña: vi o chef e chamar o inin1igo a-1,o-ok: eu o ou os tiro nha-nho-mim : nós o ou os esconde-
mos
313. Mas quando se conservam os pref1xos agentes, desa - ere-io-sub : tu o ou os revis- oro-nho-tym: nós o ou os enterramos
parece o r-: tas
o-io-rab : ele o ou os solta pe-io-puai: vós o ou os mandaís
a-ybak-epiak : vi o céu
CURSO DE TUPI ANTIGO 133
132 LEMOS BARBOSA

NASAL : üi escaldar
318. 1o- desaparece quando o verbo perde os prefixos
agentes: ere-nho-s-üi : tu o, os escaldas ía- ou oro-nho-s-üi: nós o, os es-
a-nho-s-üi : eu o, os escaldo caldamos
opo-nii11i: eu v0s escondo ; nós vos escondemos ; nde mini: ele te pe-nho-s-ui: vós o, os escalda1s
esconde; eles te escondem; nd' oro-rab-i xó-é-ne : nao te soltarei o-n/io-s-úi : ele O, OS escaldas pe-nho-s-ui: eles o, os escaldam
319. Neste caso, o pron. objetivo da 3.ª p. será sempre -i
Observam-se a um te1npo as regras referentes a s- e a
e o reflexivo subordinado ( n. 304) será o: "'
'l.O-:
q-í-potar nde i nii1n-a: ele quer que o esc<Jndas (a outro)
o-i-potar nde o mini-a: ele quer que o escondas (a ele mesmo) oro-ei: lavo-te; lavamos-te; nde r-e-i: lava-te ·1 lavatn-te · nde
y-ei-a:
" lavar-t e; o-ie-ei:
.. '"lava-se; lavam-se ( refl.) · ,o-ío-ei · lava-se·
1
'
320. Se o verbo come<;a por s, n1uda-se este s para X,
la~~i:1-s~ (rec~pr.); s-ui-a: queimá-lo; íandé r-uí: quein10~-nos; xe'
~-ui i~P!..: que1.maste-me ! que1ma-n1e ! o-poro-uí: ele queima (gente) ·
depois de i: ia-kaa-ui: que11namos folhas '
o-i-potar nde i xok-a : ele quer qpe o piles (a outro)
324 ·Nos seguintes verbos o s pertence ao tema; portanto,
321. O pronon1e ío- caí tan1bém quando o objeto está incor-- nunca se muda para r- nem cai :
porado, seja substantivo, se ja partícula:
a-10-sok: eu o pilo, chu~o a-ío-sub: eu 0 revisto
a-akang-ok : arranquei un1a cabe~a; oro-nho-nong : nós nos colo· a-io-syb : eu o limpo
camos; e-nhe-n-iim: esconde-te; a-poro-rab: desamarro (gente)
325. Mas, ao contacto de i, converte-se em z (n. 19):
322. Nas 3.as pp., estando o prefixo agente, ~o- é facul-
tativo. 1\íais elegante é omití-lo:
1
a-i-k~ab Pe i xyg-uanu:: sei que o limpareis; nd' a-i-potar-i nde i
xok-a: nao quero que o piles
o-nho-nii'Jn OU O-mini: ele O OU OS esconde; eles O Olt OS escondem
326 · Eis a rela~o dos verbos que pedem io- ou nho-:
io-s- ou nho-s- ..
io-
....
wi : escarnecer púai : mandar f azer
323. Alguns verbos 1nonossilábicos, come<;ados por vogal, ká: quebrar (cousa óca) puar : amarrar ; enrolar
tem, além do pron. objetivo s- ( n. 310), o pronome. io- kok: escorar; dirigir barco py: soprar; tocar instrumento de
( após nasal, nho-) ( n. 317) : so" pro
ó: tapar pyk : apertar; tapar
ORAL: ei lavar ok1 : tirar ; cortar rab: desatar, soltar
pé : esquentar ; iluminar sok: chu~ar; pilar, socar
a-ío-s-eí: eu o ou os lavo ia- ou oro-ío-s-eí: nós o ou os la- pi: picar sub : revistar ; visitar
vamos piar: cercar; defender syb: limpar
ere-io-s-eí: tu o ou os lavas pe-io-s-ei : vós o ou os lavais poi : alimentar ti: atar; armar (rede)
o-io-s-eí : ele o ou os lava o-ío-s-eí : eles o º""
os lavam
9
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 135

nho- nharó: intr.: avan~ar, ficar ká. ( io) : id. (c. arredondada,
guang : tingir de urucu nhang: juntar; entrouxar bravo oca, etc.)
1nan : en f eixar pan: lavrar ; bater nong (nho): pór apar-ar ( xe) : cair (do lugar)
nii1n: esconder · pe11i : tran<;ar non'-gatu : sossegar tym (nho): plantar
1nong: gru.dar; latnbusar pin: raspar; lavrar
11iun: cusptr puan: passar a frente de 328. Quando o sujeito e o objeto direto sao da 3.a p., o prefixo agente pode
pun: ferir; avivar ( ferida etc.) ser ia- : iag úara si4a.s1' o-iuká ou ia-iuká : a onc;a matou o veado; kct-.Q-fi.ora
nong : pór ~ colocar paié nheenga ud' o-s-e>idub-i ou nd' ia-s-endub-i: os bebedores de vinho nao
"'io-s- ouviram a palavra do pajé; iaguara iasy o-ft ou ia-ú: eclipsou-se a tua (lit.: a
om;a devorou a lua). - Embora raro, ta- ocorre sobretudo quando o sujeito é
,¡: lavar ab2: abrir; partir; cortar de menor valor q.ue o objeto. ·

nho-s-
. 329. Oro-aaro. X e r-aaro iepé-ne? N d' iandé r-aariJ-i xó-é-ne .
en: esvaziar; derra1nar; fií: escaldar; que1mar Pe-s-aaro-pe.P Abá-pe xe r-aaró? Opo-aaro ixé. A-nhe-mim. Xe
despejar mim unié peiépé-ne. T' oré 1ni·m u1né iepé-ne. Mboia kunha ~
l. o verbo ok (ío-) "tira;", embo~a nao tenh.a s-, recebe r nos mesmos -i-xiiú. 1agu.ara iasy 1lz..ú. Endé-pe ere-to-ká k6 ygasaba? N da ixé
casos que et e iii. Mas o r e facultativo: . A , ,
r-uá, nde syyra-te; o-pokok itá r-esé, i apar-ar ygasaba, o-ie-pese-ong.
nde 1'-0k ou nde ok: ele te tira; éles te t1ram i :re r-ok iepe ou .%e ok E-s-e1yi pese-buera ik'é suí. Abá-pe o-i-mo-pen xe r-uuba? Nda abá
iepé : tira-me tu rua o-i-mo-pen. 0-pen nhó-te. Ixé a-io-ok tetyka; endé ere-nho-tym
NOTA. _ Sóbre os verbos reversivos, formados de ok, v. n. 372. abati. Abá pirá o-i-ybó,· kunhii ietyka o-tym; kunumi o-s-aro
z. Ab é defectivo, em tupi; só se us?- ~om o~jeto inc;,orpo~ado ou na
· ( 897) Mas deve ter existido *a-w-s-ab, erc-w-s-ab, etc.,
ietyka kamusi pupé. !aguara oré r-aaro, oré r-epenhan abé. Guvrá
f orma refl ex1va n. · . ( b) M . A t 90 · Tesoro xe r-e-nibi-ú ia-i-pixam. 0-nha.r o W, :re r-e-imbaba. E-nha-bé.
pois em guarani antigo se reg1strou a-io-li-a
A

. .. ON TOYA, r e , T' oro-i-monhyró-ne. N da pe-nho-non'-gatu-i xó-é-ne : pe r-epenhan-


133v.; cfr. FIGUEIRA 136; VLB 166, 422.
-ne. T' oro-epenhan iepé-ne, oro-i-1no-nh)•ro-nc. Mamó-pe ere-nho-
ÜBS. _ :t-.foNTOYAacr':!scenta cinco verbos: gúa(_r) ~io~, "pegar,)apa(n~ar), -nong xe ybá r-uruf A-nho-nong náe r-oka ar-pe (em cima de).
tomar". pia(r) (io) · "desviar, apartar do cam1nho kenda(~, n ~. Abá-pe nde r-upir? T' oro-s-eiyf. oré r-oka y-embe'y'-pe.
"fecha; a porta"; pat'l ( nlio) "atar as extremidades" ; tmió ( nl'o) estrear ·
:Mas t. em tupi 0 verbo ar ( n. 891) é que Aassume a Aforma gua,~, e apena~
quando precedido de 0 : a-i-air, ere-i-ar, o-guar, oro_-gum-, opo-guar. 2. da 330.
documentac;ao tupi nao consta o verbo piar naquele sentt_do. Segundo MoN~Yf,
Tesoro 289/283, seria ta!lto transiti~? como intransitivo. 3: a dec~!1_1po~t~a} f urar : mo-mbuk manar, entornar-se: en, nh.e-en
nao é nho-kendab mas nh'-okend-ab ,fechar a P_?rta para ,s1 '?e~mo . n e r revistar, visitar: sub (io) entornar: en ( nho-s), tr.
é reflexivo. 4. a decomposi<;ao nao é nho-pab !11ªs nh_ -opa-ti ou me~l10.
nh'-upá-ti "atar a própria rede (upaba)" : uh (e) e reflexivo. 5. em tupi só vingar: epyk ( s) [ esé] bor.botar: bur, bubur
se conhece a forma reflexiva 1e-tan°ong. tapar: 6 (io) apascentar : mo-ngaru
ferir, picar: ktttuk estar f urado: kU<lr ( xe)
EXERCtCIOS chu~ar: sok (io) desamarrar: rab ( io)
327. peneira : tirupenia para onde?: mara ngoty? manió?
pesé-buera: pedac;o ygasaba : tal ha (de f azer vinho)
aaro (s): esperar 331 . Para onde levaste tua máe? Nao a levei. Ela é que me levou.
kamusi : pote Nao te vejo; e tu me ves ? Nao. Nao te vejo: ou<;o a tua voz. Onde
eiyi ( s) : afastar mo-pen: quebrar (vara, pau,
etc.) deixaste teu arco? Deixei-o na canoa. Eu encontrei teu arco na
canoa. Nao me deixeis. Nao nos firais. ntes se amam, Desamar·
136 LEMOS BARBOSA

rai-me. Salvai-me. Arrancai-me daqui. Nao 1ne visitaste. N6s


também nao te visitaremos. Alguém me chuc;ou. Nao fui eu, senáo
teu sobrinho. Eu te deixarei aqui mesmo ( é). N ós o levaremos.
Para onde? Para o lado do mar. Furaram a minha peneira. A
minha talha também está furada: entorna o cauim. Eu taparei o Ll(AO 22.ª
buraco. Entornai na talha o cauim. Quem vingará os nossos paren- . \
"'

tes dos inimigos? Itá, tu me amas? Sim, Senhor meu, tu sabes


tudo (pab); tu sabes que te amo. Apascenta as minhas cria~óes.
INFINITIVO
BIBLIOGRAFIA
ANCHI'F:TA 37v-40; FtGUEIRA 87-89; MoNTOYA 38-40; RESTIVO 74-78; 332 · bebé: voa.r
CAETANO 39-40; ADAM 40; L. BARBOSA, Ju.ká 74-77. J
Positivo
pres.: bebé: voar
fut. : bebé-.rania: hav:er de voar
pass.: bebé-pitera: ter voado
p.-f. : bebé-ram-bfiera : haver tido de voar

Negativo
pres. : bebé-eyma : nao voar
fut. : bebé-ra1n-eyma ou bebé-ey' -gúan·ia: nao ha ver de voar
pass.: bebé-púer-eyma ou bebé-eym-búera: nao ter voado
p.-f. : bebé-ram-buer-eyma: nao haver tido de voar

333. maen~uar: lembrar-se

Positivo
pres. : maenduar-a: lembrar-se
f ut. : maenduar-ama : haver de se lembrar
pass. : maenduar-uera : ter-se lembrado
\
p.-f. : maenduar-a·m-buera: haver tido de se Ietnbrar

Negativo
pres.: maenduar-eyma: nao se lembrar
fut. maenduar-am-eyma ou maend11ar-ey' -guama: nao haver
de se lembrar
Prepara~o do cauim (TBEVET)
' 138 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 139
pass.: maenduar-uer-eyma ou maenduar-eym-buera: nao se ter
lembrado Assim, ~e r-aiisub-a <leve-se traduzir '' o amar-me (ele)" ou " amarem-me
( eles) " , nunca " amar eu " ne::n ·" o meu amar " . p ara 1sto
. ha, outra forma
p.-f. : maenduar-a1n-buer-eynia: náo haver tido de se len1brar (n. 384).

334. Fo r ni a~ a o: - a) Toma-se o tema do verbo. O objeto pode-se afastar, contanto que o pronome
. Se este termina em consoante, acrescenta-se -a. O mesmo fique em seu lttgar:
se faz, se termina em ditongo decrescente: n~e r-uba ~e i ittká: lit.: teu pai n1atá-1o eu; akuti iagU,ara s
, .
A ,

,
so = so: 1r ker = ker-a : dorn1ir 'tuka: ht.: a cutta a onc;a matá-la
pab = pab-a : acabar kai = kai-a : arder
337 · O infinito tem fun~áo de substantivo, e como tal po-
b) Os infinitivos oxítonos seguem bebé; os paroxÍ· derá muitas vezes ser traduzido. Podem rege-lo prepo-
si~oes e conjun~oes adverbiais:
tonos~ 1naenduar.
e) Os tenipos se forn1am con10 com os substantivos, -~e ker-a: dormir eu, meu dormir, meu sono; xe ker-pe: no meu
(n. 216). dormir, no n1eu sono; xe nde r-ausub-a r-esé: pelo meu amor a ti, por
eu te am~r; x_e ,r-ausub-a: o am~r-me, o amarem-me, o amor que me
d) O negativo se forma do tema con1 ey11i (seguido tem ou tem; i e-retne : no seu dtzer' quando ele disse
de -a). No passado e no futuro, e31ni pode ficar
antes ou depois de ram e puer. Muitas vezes se traduzirá por u1na frase:
335. Sin t ax e: - O infinito nunca está só. Se é a-i-potar i pytá: quero que ele fique; a-í-potar nde só-rd.~a:
intransitivo, requer, antes, o sujeito; se é transitivo, requer quero teu ir ( f ut.), quero que vás
também o objeto: O infinitivo pode ser sujeito ou complemento:
xe ker-a : dormir eu x e nde iuká: inatar-te eu
. i porang s-epiak-a: é belo ve-lo; ere-s-epiak-pe i xeni-a?: viste-o
nde iuká: matar-te (ele) i iuká : rnatá-Io (ele) sa1r?
336. O infinitivo só admite prono1nes pacientes. O pro- No passado e no futuro, mais empregado que o infinitivo é o sufixo
nome ou substantivo que precede un1 infinito intransitivo saba. V. n. 810.
equivale ao su jeito; o que precede 111n transitivo é objeto O infinito de verbos intransitivos ou intransiüvados (n. 284) pode ter
func;áo de complemento atributivo :
direto. Havendo dois substantivos ou pronomes diversos, abaré bebé: padre que voa
ou um substantivo e um pronome, o que estiver imediata- kummií uhe-mbo-é (A~c.H. 32) : menino que aprende
abá k11ni1-mi-iuká (ib.) : homem mata-meninos
mente antes do verbo transitivo é o objeto direto:
nde xe iu ká : n1atares-n1e ; xe nde íuká: eu tnatar-te ; xe iuká nde : VERBOS DE PREFIXOS T- E S-
matares-n1e ; nde iuká ixé : eu n1atar-te; nde r-uba .'re íuká ou xe iuká
nde r-uba: matar-me teu pai; xe nde r-uba iuká ou nde r-uba iuká ixé : 338. ausub-a, tr., de pron. agente
eu matar a teu pai; iaguara akuti íitká ou akuti tuká íagitara: a on~a
.t'e r-ausub-a: a1nar-1)1e, an1a- s-ausub-a: amá-to ou -los: ama-
matar a cutia rem-me
' . rem-no! -nos
14-0 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 141

·n.de r-ausub-a: a1nar-te, ama- o ausub-a: amá-lo, -los; amarem- S ete abá anga r-esé-ndU<Zra na eí:
rem-te -no, -nos
1. Abá supé r-ekó-katu-sag-iiama14 mo-mbeú. 2. I tek6-kuab-
íe-ausu.b-a: amar-se, amarem-se io-ausub-a: amare1n-se (mutua-
-e~m;bae15,. mo-tekó-kuab-a16. 3. O-ikó-tebé-baeI1 mo-apysyk-a. 4.
mente)
O-iko-memua-bae18 r-e-no-nhen-a19. 5. Ogu-e-r-ekó-me1nua-sara20

íandé ou oré r-ausub-a: amar-nos, amarem-nos sttPe' n h.iro- 21 . 6 . Aba.
' n1ara- s-ek o-aq-uer-i
' ... 22 •r-esé nhe-ran-eym-a. 7.
23
pe 1 r-ausitb-a: amar-vos, amarem-vos O-ikó-bé-bae r-esé, o-1nanó-bae-puera24 r-esé bé Tupa mo-ngetá.
poro-ausub-a: amar ou amarem (gente) 1 - Portuguesismo (n. 1093). 2 - misericórdia. 3 - referentes. 4 -
s-ausub-a ,· mbaé r-ausub-a: amar ou an1arem ( cousas, animais) assim rezam. 5 - f amintos. 6 - dar de comer a. 7 - sedentos. 8 -
dar. d~ beber. 9 - nus. 10 - vestir. 11 - doentes. 12 - cativos. 13 -
abá r-ausub-a: amar ou amarem ao índio red1m1r. 14 - bom cons~lho. !5. - ignorantes. 16 - ensinar. 17 - aflitos.
18 - os que erram. 19 - corng1r. 20 - os que os injuriam. 21 - perdoar
22 - fraquezas. 23 - os vivos. 24 - os mortos. ·
339. oby, neutro, predic., pTon. pac.
BIBLIOGRAFIA
xe r-oby : ser eu azul pe r-oby: serdes azuis
nde r-oby : seres tu azul iandé, oré r-oby: sermos azu1s
. ANC~IETA lSv-19; 20; 26v-27v; FIGUEIRA 20-21 ; 31-32; 35; 48-51:
s-oby : ser ele azul s-oby : serem eles azuis 105-106; 155; MONTOYA 15-16; 24; RESTIVO 83-84; CAETANO 21-31; ADAM
66-71. - ,,...... 1•¡'
o ob31: ser ele azul ( refl. su- o oby : serem eles azuis ( refl. - ,., ;,...

bord.) sub.)
t-oby: ser azul (gente) s-oby: ser azul (cousa)

t-esá r-oby : serem azuis os olhos

340. Alguns autores, em vez de o, escrevem og, ogu, gi'l, go, ogo: og-oby,
0911-eó, ogo-au.snb-a, go-ausub-a, etc.

341. OBRAS DE :M:ISERICóRDIA


P. /\NTÓNIO DE ARAÚJO (1566-1632)
... · ·"!

(adapta~áo ortográfica)

Catorze 1 asé abá r-ausub-á' -saba2


.. .. ...
s ete1 abá r-eté r-esé-ndU<Zra3 na e-í4 :
Anibyasy-bora5 poi-a6 • 2. U sei-bora1 nto-y-úB. 3. I ka-
1
tu-pe nduara9 mo-aob-a1 º.
4. Mbaé-asy-bora11 r-epíak-a. 5. Atara
mo-mbytá. 6. I mo-1ni-ausub-pyra12 r-e-1fo-se11i-a13. 7. T-~o-bi'fr{J
tym-q. ,
CURSO DE TUPI ANTIGO 143

Neste caso, perde o t ou s. Cpr.:


kunhá r-obá: o rosto da mulher
kunlw t-obá: a mulher-rosto, que é tóda rosto
kunha-obá: a tnulher do rosto (p. ex., do rosto de que f al amos)
kunha-obá-iuba : a mulher do rosto amarelo

APOSTO NOMES CLASSIFICATóRIOS


344. Alguns substantivos tendem a perder a sua primi-
342. É o substantivo que modifica outro substantivo, como tiva natureza, tornando-se prefixos classif icatórios, com a
complemento atrib.utivo. Pospóe-se: fun\ao de con otar a forma ou aspecto de objetos ou a\5es.
abá: homem soó: bicho abá-so6: homem-bicho Os principais sao pé, á, pó, py, etc. Com um sentido muito amplo, por
itá: pedra kuri~1ni: menino itá-kurunii: pedra-menino vezes nem se traduzem.
pó: mao pindá : anzol pó-pindá : máo-anzol 345. Pé: " superf ície, casca, casco; escama": pé-ká, abrir, romper (a parte
:re pó-pindá: sou n1áo-anzol (ladráo) de fora) ; pé-ok, descascar; pé-pó, asa (mao da casca?) ; pé-syma, liso, escor-
regadio (de superfície). V. á-pé (n. 349).
Altera<;óes fonéticas, con10 no genitivo. Mas t e s 346. A tem também urna. func;ao semelh.ante, por vezes intraduzível. Do sen-
tido de " grao, semente, fruto, cabec;a " (que ainda conserva), parece ter-se
pref ixos mantem-se : originado a func;ao de quase-pref ixo na accepc;ao de "arredondado": l. a-pi,
1iaguá' -gayrá ou taguara ferir a cabeYl de; a-pan, nao atingir em cheio a cabec;a de; a-pin., rapar a
guyra : passaro
.. A A , '

iaguara : on<;a A , cabec;a de; a-kok, abrac;ar a cabec;a de; a-pyra, ponta, ápice, cume, cabec;a;
guyra a-pyr-asab, .p assar por cima; a-pyr-amo, mergulhar (a cabec;a de) ; a.-py'-r1i,
abá: homem t-ayra: filho abá t-ayra: homem-f ilho acrescentar; a-pJ1-fi, atar as pontas a; a-py-mi11i ( ou a-pu-mim), a fundar,
kunhli-tai: menina t-aiyra : filha kunhá-taí t-aíyra: meni- mergulhar ; a-py-pema ( ou a-pi-pema), espigao, ponta angulosa: a-py-peba,
na-filha agachado, abaixado, etc. 2. a-pj•tera, centro (de cousa arredondada) (cfr.
pytera, meio de c. extensa ou superfície) ; a-syma, cousa lisa e arredondada
Tupa: t Deus t-ayra: filho Tupá T-ayra: Deus Filho (cfr. S j 1111a, liso) ; a-guaá, saliencia arredondada (cfr. gilaá, saliencia, reentran-
cia, concavidade).
Cpr. Tupa R-ayra: Filho de Deus Assim a-sura, a-smtga, a-pyra, a-íyka, a-pó-monga, a-paa, a-peba, etc.
Nestes e noutros exemplos, patenteia-se a índole concreta e classificatória do
343. Por vezes, o apósto inclui a rela<;áo "o- de-", "o idioma. Daí que muitos adjetivos só se possam traduzir por dois ou rnais
que tem": em portugues.
347. P6: "grossura" [de objetos compridos (como árvores, fios, varas, ti-
yá: caba<;a anhu.r -i : colo yá-anhur-í: caba<;a de colo ras, homens, etc.)] : aó pó-bebé, pano fino; ybyrá pó-guasii, árvore grossa:
ybyrá pó-i, árvore fina; ybyrá pó-atá, árvore direita, reta; pó-peba, largo
abá niuani-baba: o índio do assalto (p. ex. que esteve - sabes - (aplica-se a objetos compridos e largos, p. ex. fitas) ; mboi' pir-ué' pó-peba,
no assalto) ; abá ti-gua.su : o índio do nariz grande ; kunhii ygasaba : a peh: larga de cobra; mo-pó-í, adelgac;ar; 1110-pó-gúas1t, engrossar; pó-ká, torcer
mulher do pote (p. ex. que vimos com o pote) ; ybyrá á: árvore de (c. comprida) ; mo-pó-k31ríri, torcer (até que se enrol<! ) ; pó-'ban, fiar ; pó-nro-
fruta, que ten1 ( dá) fruta; kunhii nien-eo : mulher viúva (lit. do ma- -m.byk, torcer (cordas, e s.) ; pó-ungá, adelgac;ar, igualar o fio; 1no-pó-io-ybyr,
dobrar o fio. Etc.
rido morto) ; pirá aka'-iuba: peixe da cabe~a amarela; iaguá' p6-pe-
ba : on\a ( ou cáo) da mao chata ( lontra) ; ybyrá pó-guasu : árvore de 348. Py: " largura, fundura, capacidade, interior, váo, centro": oka py-guasu,
fibra grossa; aó' pó-anatna: roupa de fihra grossa ( ao tacto} casa de grande largura, larga, ampla; i py kó ygara, tem largura, é larga esta
144 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 145

canoa; y py ou t-y py, fundura ou fundo do rio ou mar, rio fundo; t-y py,
o rio é fundo; py ou ipy, o avesso ou a parte interna; a-i-py-ei nhaé, lavei (a nda s-a~-i abatí ranhé (MoNT., Tes. 133v.): o milho ainda nao ten1
parte de dentro d) o prato; a-i-py-pirar awká, alarguei (o interior d) o espiga
cesto; a-i-py-tybyr-ok, espanei-o por dentro.
349. A-pé: "superfície; direito ( contrário de "avesso"); casco, casca [de 353. ~á o verb? r-ekó "ter" (ou melhor "estar co1n''),
cousa arredondada (como óvo, noz, fruto duro)], escama; concha": a-pé-aob, mas nao se a phca aos casos em que a pos se é mais um
forrar (por fora) ; a-pé-ara, superfície; a-pe-kü, língua; a-pé-fnt, som óco;
a-pé-puera, crosta, concha, casca ( sem conteúdo) ; a-pé-ok, dese.asear; a-pé- estado natural ou permanente do sujeito ·
-rerá, raso, tosado; a-pé-uban, forrar (por fora) ; a-pé-bura estufado; a-pé-
-banga, envolto, embm;ado. tenho pé: xe py (nao a-r-ek6 py) ; nao tenho filho: nda xe
Sóbre a-pá, v. n. 666, 1107, 1106. membyr-i ( m.) ; ele tem muitos parentes : i anam-etá ,- nao tenho ca-
belo : nda xe ab-i,. ele tem o rosto risonho : s-obá esaí ,· nao tens o
VERBO "TER" rosto risonho : na nde r-obá esfi,i; a árvore teve ( deu) flores, nao teve
( deu) frutos : i potyr ybyrá, nd' i á-í ,· a árvore náo ten1 ponta: nda
350. Para traduzir o verbo "ter", junta-se simples1nente s-akapyr-i ybyrá ,· as abelhas tem ( dao) mel: i t-yapir> eí'-r-uba;
o sujeito, substantivo ou pronome, ao complemento. Os esta fruta nao tem caroc;o: nda s-aynh-i kó ybá,· aqueta árvore nao
dará ( terá) frutos: nd' i á-i xó-é aípó ybyrá-ne; os passarinhos
substantivos paroxítonos perdem o a final. Irregulari- nao tem leite: nd' i kamby-í gU.yrá
dades, as mesmas que con1 os genitivos e possessivos:
xe kó: minha r01;a ou tenho ro\a VERBOS PREDICATIVOS
s-etyma : a perna dele ou tem perna (Continua~o da Li~io 8.11 )
Cpr. nde r-u.ba: teu pai nde r-ub : tens pai 354. Frases predicativas (de "ser" ou "estar"), que in-
nde t-uba ou t-uba nde : és pai
abá r-ayra: o f ilho do índio abá t-ayr: o índio tem filho
. cluem genitivo ou possessivo no sujeito, podem-se verter
abá t-ayra ou t-ayra abá: o índio é filho tanto pelo processo de ~'ter" como de "ser" (como em
nde r-e-mi-r-ekó-pe! nde tne'-pe? (AR. 220): tens mulher? portugues) :
tens 1narido?
pikepé' ti s-u.n ou s-un pikepé' ti: o bico da rolinha é preto
351. Os nomes que come<;am pelo pref ixo poro- nao o pikepeba i ti un : a rolinha tem o bico preto
muda1n para 11101'0- e nao perdem o a final:
O segundo processo é n1ais usado e mais elegante:
xe nioro-mbo-é-sara ou xe moro-mbo-é-sar ou m.oro-m'7o-é-sara
ixé: sou mestre; xé PMo-mbo-é-sara : tenho mestre tenho os olhos tortos, sou vesgo: xe r-esá-bang,. o pescrn;o da
352. N e g a t i v o : nda . .. -i (nao nda . .. ruá) : gar<;a é comprido (e) as pernas sao amarelas: gu'y ratinga i aiu'
puku, s-etynia íuh (lit.: a garc;a temo pesc<><;o comprido (e) [tem]
r.da xe sy-í: nao tenho mae ndc .-re sy ritá: nao sou mae as pernas amarelas) : minha cabec;a está dolorida ( dói-me a cabe\a) :
na nde r-ayr-i xó-é-ne: nao te- na nde t-ayra rua-i .-i:ó-é-ne: xe akang' asy (lit.: tenho a cabe<;a dolorida); um ólho meu é negro
rás filho nao serás filho (e) o outro é azul: ~-re r-esá a111 ó 1in, xe r-esá anzó oby (lit.: tenho um
nda t-ayr-i xó-é-ne: éle nao nda t-ayra rua-i :ró-é-ne : ele ólho negro e o outro azul).
terá filho nao será f i!!l J Como se ve, o adjetivo, se é paroxítono, perde a vogal final. O substantivo
nd' i xy-i : ela nao tem mae nda sy rua : ela nao é mae paroxítono perde a última vogal <liante de vogal, a última sílaba diante de con-
soante. Mas esta última nao é norma absoluta.

CURSO DE TUPI ANTIGO 147
146 LEMOS BARBOSA
, A '
pes; as aves tem os pes e as asas. Tua roupa está 1nuito curta.
355 . Nao tenho [ roupa] con1prida. O jurará nao tem o casco liso. O
a..syka : cortado, maneta jaboti te1n o casco n1uito duro. Viste o homen1 da barba branca?
fi.tkana : tucano
oby-una ( t) : azul-escuro Nao. Vi a mulher da roupa azul.
uaia (s): rabo
kaiá: cajá pysasu : novo BIBLIOGRAFIA
suasu-apara: veado (esp.) paraba, pará'-paraba: bicolor, multicor
piriana, piriá'-piriana : listado ( ao com- Apósto - ANCHIETA 9-9v ; L. BARBOSA 180 ; DALL' I G='iA, A· Composi-
atu-kupé : costas
prido) 'ªº5-6.
Verbo "ter" - A NCH IETA 46-47; 47v-48 ; FIGUEIRA 38-39; 66-68 ;
kitpé: costas pini-pininia : pintadinho, malhadinho MoNTOYA 49-50; R EsTrvo 42-43; D ALL'IGNA 63.
aka: chifre pitanga: pardo, avermelhado Verbos predicativos - EcKART, passim.
kaba : gordura a.embé ( s) : áspero
banga : virado, torto ranhé: ainda
356. Tiekana s-etyma un, i pepó un, s-úai un, i atiekitpé r-ab oby-un,
ipotiá r-á' iub, i t1 iub, i tin(f abé; i a:k a' 1niri i ti mbuku, s-eburusu-
1

-eté-eté abé. Soó i p31, 31b31rá s-a.pó. N da s-ar-i abatí ranhé. Kaiá
i-i ybotyr yapuan, i porang abé-no. Suasu-apara i aka porang, i py
po:ry. N de pó ae11ibé. M arakaiá s-eté piria-Pirian . X e aó' /)'vsastí.
N de aó' pó-i. l aó' pini-pinini. N d' i t-yapir-i-pe aipó eir-uba? I
kab x e r-e-itnbaba taiasu. Anhé. Nd' i angaibar-i; i kyrá-te. Ma-
raka1á i nambi asyk . Xe py bang. Nde par-í. I asyk. Nde iybá
apar. . 0-ká guá nhaé-pepó. Nd' i nambi kuar-i kó ygara (MoNT.
Tes. 173v) . K ó soó i kupé pará-parab, i py pitang.
357.
I
..
casco: pé, a-pé louro: iuba
cágado da terra : iaboti queixo : endybá ( t)
cágado dágua : iurará barba : endybá-aba ( t)
liso : s31ma, a-syma cas : á'-tinga
mole: puba curto: a-sanga, a-kyta, a-poai
358 . O veado tem os cornos grandes e [ tem] os pés pequenos. As
aves tem penas; os peixes tem escamas. Tem caro~o esta fruta? Nao.
Nao tem caroc;o. Qual a árvore mais ( verta-se "muito") bonita?
Qual árvore tem a flor n1ais ("muito") bonita? É o pé de n1aracujá.
As árvores nao tem pés, mas (-te) raízes. A jaboticabeira nao deu
flor ainda. O cajá tem a casca grossa, a madeira mole, a flor branca.
o fruto amarelo e o caroc;o grande. As plantas nao tem aln1a? As
mulheres nao tem barba. Eu também nao tenho barba; e tu? Eu
tenho [barba] . De que jeito (mará-bae ) tens a barba ? Tenho a '
barba comprida, curta, grossa. negra, loura, branca. Eu tenho cas. Os chefes fumam, reunidos em conselho (STAD&N)
Meu cabelo é branco. Tenho os cabelos ,brancos. O hornero tem os

I
CURSO DE TUPI ANTIGO 149

Mas igualmente comum é ficar imutável o infinito,


principalmente se a justaposi~ao é transitória:
misa r-enduba r-eíá (AR. 93) : deixando de ouvir missa; mbaé
LI~A.O 24.<l r-esé-pe i xó-ft? S-eo-buera r-e-ro-iyp-a, i tyma motá ( ib.) : para
que foram? Para descerem o seu cadáver, por quererem enterrá-lo
,.. \

INFINITO OBJETIVO ~64. Quando o ·infinito ten1 objeto direto, este pode vir
incorporado ou nao, como nos modos finitos (n. 116).
359. O infinito pode ser complemento direto, indireto, ou Mas nao estando incorporado, antes do infinito <leve ficar
circunstancial. o pronóme objetivo da 3.ª p.:
360. Quando objeto direto de um verbo da mesma pessoa, o-y-ú-poir: deixou de beber água; ere-i-p6-kittu'-potar: queres
furar as maos déle; ere-itá-kut-u'-potar: queres f~rar a pedra; ere-i-
o infinito se coloca antes do tema daquele verbo: -kutu' -potar itá: queres f urar a pe<lra; nd' a-kunha-epiá'-potar-i: nao
a-karu-potar: quero comer; ere-karu-potar: queres comer; e-ka- quero ver a n1ulher; nd' a-s-epiá'-potar-i kitnha: nao quero ver a
ru-ypy ! : cotne<;a a cotner ! ; ia-karu-ypy: come<;amos a comer; nd' mulher; nd' ere-abá-nupü-nupa-epiá'-potar-i-p1: ! ou nd' ere-i-n·upa-
o-karu-potar-i xó-é-pe-ne?: nao quererá comer?; nda pe-karu-ypy- -nupa-epiá'-potar-i-pe abá!: nao queres ver a<;outarem o índio?;
·Potar-i xó-é-te-pe-r.,e?: nao querereis, pois, come~r a comer? nd' ia-i-nheen[!-endu'-potar-i ou nd' Ui.-s-endi.' potar-i i nheenga: nao
quere1nos ouv1r a. voz dele; pe-i-11io-nhan'-guab: vós sabe1s faze-lo ·
ÜBS.: Alguns verbos intransitivos ou intransitivados (n. 381) seguem
processo análogo : yb·yrá a-t.pysy' -potat : quero pegar um pau ; nd' a-soó-r-esá-epiá'-po·:
e-kart,-iebyr l torna a comer! ; o-karu-iepotabé: continuou a comer; far-i ou nd' a-s-epiá'-potar-i soó r-esá: nao quero ver os olhos do
a-karu-poir: cessei de falar bicho
365. O objeto direto pode ser un1 pronome:
361. Se o infinito é v. predicativo, a conjuga~o se faz
pelos pronomes pacientes : oro-epw'-potar: quero ver-te; nde r-enoi-ie-byr: tornou a te
chamar
xe niaenduá'-potar: quero lembrar-me; nde r-ory'-potar: queres
alegrar-te ; s-asy-poir: deixou de doer; nd' iandé r-ory-íe-byr-i xó-é- 366. Se o infinito tem complemento indireto, nao há in-
-ne: nao nos tornare1nos a alegrar; nda pe 1'-esaraí-kuab-i-pe!: náo cor1porac;ao <leste :
sabeis esquecer-vos?
a-sem-botar taba suí: quera sair da aldeia; i ntaend·iiá'-poir .ve
362. Se o infinito é paroxítono, antes de consoante perde r-esé: deixou de se lembrar de min1; nda xe maenduá'-potar-i oré
r-eta11ia r-esé: nao quero lembrar-me de nossa terra
a última sílaba; antes de vogal perde a última vogal :
oké'-potar: éle quer dormir 367. Se o infinito é objeto di reto de verbo de outra pes-
o-ker-ypy: ele come<;ou a dormir soa, nao há incorporac;áo :
363. Pode ha ver metaplasmos: a-í-potar nde só: quero tua ida, quero que vás; morubixaba
o-i-kuab i xó-rania: o chef e sabe que ele irá; o-i-potar xe nde iuká-
a-í-meen'-guab: sei dá-lo -ranta: ele quis que eu te matasse
a-ilmeee'-boir: parei de dá-lo
, 10
150 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

368. Quando o infinito é con1ple1nento indireto, regido de 371. Com muita freqüencia, o infinito náo incorporado é substituído pelo
particípio verbal saba ( n. 810).
preposi<;ao, nao há incorpora~ao :
o-ieruré nde pytá-ra111a r-esé: pediu que ficasses VERBOS COMPOSTOS DE OK
'fan1bén1 o infinito pode ter co1nple111ento indireto: 372. Há um sem número de verbos formados de substantivo + ok "tirar"
{n. 326) : Pé-ok tirar a casca ou escama, descascar, esfolar; apé-ok tirar a
casca [grossaJ, descascar; pir-ok tirar a pel~, esfolar; aob-ok t irar a roupa,
a-í-kuab asé mbaé r-esé nde mondá-puera: sei que roubaste as despir; et'-ok (s) tirar nome (pór nome novo); guyr-ok tirar a parte inferior;
cousas da gente; 11d' a-i-potar-i taba suí ndc se1na: náo quero que r~ar por baixo; por-ok tirar o conteúdo, despejar, esvaziar; obá-ok (s) tirar
saias da aldeia; a-1.eruré xe r-esé nde niaenduar-ey'-guama r-esé: p~o as bordas, alargar; ayi-ok ( s) escaro<;ar; tybyr-ok espanar, escovar; 'Viui-ok (t)
escumar; ar-ok tirar a parte de cima, desgastar; kamby-ok ordenhar; yé-o!.:
que nao te len1bres de n1in1; a-íeruré-pota·r nde-bo mbaé atnó r-esé: (s) estripar: ekó-ab-ok (t) tirar o modo de ser oil estar; mudar; despejar;
quero pedir-te tuna cousa asoi-ab-ok tirar a cobertura ou tampa, descobrir; pesé-ó ou pesé-ong (nasal.
de ok) tirar pedaco, part:r; katu-ok tirar o(s) melhor(es) ou hons, ec:colh~r.
selecionar, etc. Na forma refl. : i'-ekó-ab-ok tornar-se ot' ficar diferente
369 · Ü infinito nao incorporado pode ter ta111bé1n C0111- ou mudado; ie-aib-ok tirar o luto; i'-11,p-ab-ok retirar ou levantar o pouso:
plementos: partir di! viagem, etc. - Com alguns adjetivos e vf'rbos, ok parece ter urna
f uncáo reversiva: a(Jar-ok t:rar o curvo ou curvatura; endireitar. retificar:
apé (g )-ok tirar o torto; desentortar; mama-r-ok desenrolar; ubá-r-ok desem-
a-í-potar nde i kuaba: quero que o saibas; a-í-kuab nde i iuká- brulhar; parab-ok escolher º" d terrninar entre vários; 1á'-nk despr~nder-se.
0

-rani-biiera: sei que o terias matado ; nda pe tnaenduar-i-pe xe i potar- separar-se; mo-iá'-ok apartar; repartir; okend-ab-ok (s) abrir a porta. Cfr.
okend-ab (s) fechar a porta.
-e31111-b1i era r-esé r : nao vos lembrais de que eu náo o queria?; ere-í-
-kuab :1:e nde r-ausuba: sal?eS que te amo; ere-i-kuab :re ndc r-ausug- EXERCtCIOS
-uera: sabes que te arnei ou ainava; ere-í-kuab xe s-ausu.b-atn-bitera: 373.
sabes que o ama1·ia ; o-i-kuab xe s-ausub-am-buer-eyma: ele sabe que mbaé aé f : qual outro ? guyr-pe : sob
eu náo o an1aria (re la t.) ; o-i-kuab xe o ausub-a11~búer-eyma: id. opab : todos, tudo ar-pe : sobre
( ref/ej,· ., n. 316) ; ere-í-k uab xe nde r-ausub-ey-g11ama: sabes que ta té: f ora do destino eyni-e-bé : antes que
nao te amarei; a-ierttré nde-be taba suí 11de se1n-am-ev1na. r-esé: pirar: abrir (o arco) mo-ang: julgar
pe~o-te que nao saias da aldeia mo-nd6 : atirar esarai ( s) ( xe) : esquecer ( n.
370. A incorpora\áo do infinito nao é estritan1entt obri- 286)
374. Taté, laté-é, taté-nhé (preposi<;oes); "fora do destino, ao contrario do
gatória. Encontran1-se exemplos como estes: que devia ser, nao no objeto, errado": guyrá taté: (a frecha deu) fora do
a-i-potar .-t:e só : quero ir; o-i-potar o só: quer ir; a-¡-potar ndc passarinho; xe r-uba taté a-i-meeng ze mbaé: dei minhas cousas a r11t-o Que
nao meu pai (por erro); ahé mor-apiti-ar-uera taté-Hhé ibyá o-1uká (VLB 265) :
í1-tká: quero tnatar-te · rnataram-no em lugar do assassino (por engano).
Tal constru<;áo, en1 geral rara, torna-se taxativa, 37 5. Ere-s-epiak-pe .-re g1'i31rapara? - Aan-i. N d' a-s-epiak-i. -
quando a tradu<;ao portuguesa pede "que~': Ere-s-epiá'-potar-pe? - Pá. Manió-pe ere-s-e1ar? - Kunhanibeba
o-11ho-nong it·á ar-pe. - E-r-u:r t' a-s-epiak-fe. - N d' a-r-u.r-i .xó-ne.
a-i-kuab .xe r-eo: sei que morro; a-t-kuab .~e r-eo-nam-eyma: - Mbaé r-esé-pe nd' ere-r-itr-i xó-é-ne? - E-r-ur 1nosapvr 1t1tba
sei que nao n1orrerei; a-f-lumb .xe nde sug-11.ía1n-eyma: sei que nao te abé. - Opab a-r-itr-ne. - Mbaé r-esé-pe ere-1-potar! - A-i-i-ybó-
visitarei -botar pirá am6. - Mbaé piráf - lang-bae. - Mbaé-ra1na r-esé-pe
Cpr. :re r-eo-g11ab : sei morrer ebo-kftei pirá ere-i-i.-ybo-botarf - Xe r-e-1nbi-1t-rama r-esé. - Mbaé
152 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 153

bé-pe a-r-ur-ne? - Na mbaé bé ruá. - Mara? - Na mbaé bé ruá. 376 .


E-i-pirar nde giiyrapara. E-i-mo-ndó uuba. - A-í-mo-ndó utnl! uuba voltar, tornar a: ie-byr prometer : nio-mbeú
mosapyr. 1-í ypy a-í-aby. I mokoia a-í-mo-ndó pirá taté. I mo- deixar de : poir passear : guatá
sapyra o-gúe-ra-só ybytit. - U1tba nde i mo-ndó eym-e-bé, a-i-k·uab falar com: mo-ngetá, tr. de dia: ar-bo
urna nde i mo-ndó-katu-ram-cyma. - I xé a-i-1no-ang xe i mo-ndó-ka- de noite : pytun-me
basta: auié
tu-ram-búera. X e r-esarai xe guyrapara r-esé ybyrá guyr-pe. - nada : aan, aan-i, aan-gatu alta noite: pysaié
A-i-kuab peé xe r-eiar-am-eyma bé. - N d' oré r-esarai nde
r-enoia r-csé-ne. - N d' opo-eíá' -potar-i. N d' opo-e1ar-i xó-é-ne. Xe 377. Queres ir a Acaraí? - Sim. Quero. Qu~ro que vás comigo.
r-au.sub-pe iepé? - Pá. .Ere-i-kuab, xe iar gi!é, xe nde r-ausuba. - Tu queres ir comigo? ! Que queres f azer la? - Nada. Quero
T' oro-ausub auíé-rama-nhé (para sempre). Mara-pe nde r-eraf apenas passear. E tu? - Quero nadar. - Eu nao sei nadar. -
A que horas queres voltar? - Alta noite. E tu? - De dia. -
Quem mais te prometeu ir? - Ninguém. - Por que nao ~alaste com
Timbeba? - Tornarei a falar com algumas pessoas 1 - Nao. Basta 1
Para de f alar (e) come<;a a andar! Eia, vamos ! - Nao. Nao
quero ir contigo. - Nao deixes de ir !

BIBLIOGRAFIA
ANCBIETA 27v; 52; F1GUEIRA 87; 157; MoNTOYA 24; REsnvo 51-52; 84;
ADAM 66-67.

.-. ~- .
•-::=-...

· =-~
._ -•
'
;.!-..
-

. .•
Pesca • flecha • i mao (STAD:SN)
CURSO DE TUPI ANTIGO 155

381. Para efeitos gramaticais, o verbo com prefixo de


classe é equiparado a intransitivo. O mesmo se dá .quando
o verbo leva pronon1e reflexivo ou objeto incorporado.
Ll~ÁO 25.ª O verbo, claro está, perde os pronomes objetivos

f-, s-, A •
'10-.

·COLETIVOS a-i-pysyk: eu o seguro a-poro-pysyk : seguro (gente)


a-mbaé-pysyk : seguro ( cousas)
378. Os principais sao tyba e eyia (t). a-s-epwk: eu o vejo a-porv-epiak: vejo (gente)
a-mbaé-ebiak: veio ( cousas )
T;1ba ( n. 259) implica '~abundancia, lugar em que há a-nho--:tym : eu o enterro a-poro-tym: enterro (gente) ,
n1uito". Muito usado com non1es de plantas e minerais: a-mbaé-tyni : enterro (causas)
a-i-kuab : eu o conhec;o a-poro-k,u ab: conhe~o (gente)
takuá',
-kysé :, taquara ( espécie) takuá' -kysé-tyba: taquaral c-ntbaé-kuab : conhei;o ( cousas)
arasa: ara<;a arasá-tyba: ara.y.tlai
itá: pedra itá-tyba : pedreJra
reri: ostra reri-tyba: jazida de osu··ds 382 . Os verbos com poro- e 1nba~ se conjugam a s vezes
nibaé : cousa mbaé-tyba: terra fértil com pronomes pacientes. Incluem neste caso a id¿ia de
rnbaé : cousa mbaé-tyb-eynia : terra estéril hábito, estado pern1anente, potencia, conhecitnento:
ta.ki1ar-eé : cana de ac;úcar takü,ar-ré-n.dyba: canavial
a··Poro-ausub : amo (gente) xe poro-a,usub : sei ou costumo
V. ainda n. 841 e s.
a111ar
a-poro-iuká: mato (gente) .:re poro-iuká: sei ou costumo
379 ·E yia ( t) significa "n1ultidaoJ bando, cardume", etc. matar
Muito usado com nomes de an1'n1a1·s. SeO'ue
0 et'e (n. 238) ·. a-mbaé-mo-asy : dói-me algo xe mbaé-mo-asy: costuma doer-
gityrá r-eyía: passarada -me algo
1narakaiá r-eyia: bando de gatos-do-1nato
itá r-e)1ia: n1u ltidao de ¡:>edras 383 . Aliás é que o que se dá com todos os verbos intransitivos :
a-n-heng: fato, fatei xe ulieeng : fato, sei ou costumo
fatar
a-ytab: nado, nadei .-re ~·tab: nado, sei 01i costurno nadar
PREFIXOS DE CLASSE
384. Como em tupi nao há verbos transitivos sem objeto
380. Todo verbo transitivo, que nao tenha outro objeto <llreto, é com poro- ou nibaé que se traduzirao frases
direto, <leve levar ttnl dos prefixos de classe, que sao regu- co:no estas :
Iarn1ente poro- ( classe superior) e 1nbaé ( classe inferior).
eu quero matar: a-poro-iuká-potar; ele quer que eu mate:
Assim, urna frase portuguesa corno " eu niato" tern de ser traduzida em o-i-potar .~e poro-iuká-ra1na; eu sei cortar: a-n1baé-mo-ndó-kuab ou
tupi ou por a-poro-i11ká "eu mato (gente)" ou por a-mf;aé-itiká "eu mato
(ser inferior)>'. a-i-kuab 1n.baé mo-ndoka
/
156 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 157

poro-
mbaé
385. Se o verbo come<;a por r( o)- ou no-, depois de poro- 390. Os verbos come<;ados pelos prefixos r(o)- ou no-
vem a sílaba (gil) e-: interpóem ( gu) e-:
a-poro-gúe-ra-s6: levo gente, levo os outros; ere-poro-gue-ra-só: a-ra-só : levo-o , , 1evo cousas
. a-1nbae-e-ra-so:
. levas gente, levas os outros; o-poro-gue-ra-só: leva gente, leva os a-no-sem : retiro-o a-nibaé-e-no-sem: retiro cousas
outros.
391. O verbo pode substantivar-se. N este caso, os verbos
386. As vezes, antes de vogal poro- perde a última vogal; de pronome objetivo s- costumam levar r-:
e, mais raramente, antes de consoante perde a última a-s-endub : ou<;o-o nibaé r-enduba: ouvir ( cousas), o ou-
sílaba: vido ( sentidG)
, a-s-etun : sinto cheiro de tnbaé r-etuna: cheirar ( cousas), o
a-tt : eu o como a-por-u: co1no gente (carne humana) olfato
a-i-apiti: niato-o a-por-apiti: n1ato gente, os outros xe r-asy: dói-me mbaé asy ou tnbaé r-asy: doer, dor,
a-io-sub: visito-o a-po' -sub: visito gente, os outros doenc;~
a-i-.xuban: sugo-o a-pó-suban : sugo gente, sugo os outros
392. Mbaé tem largo campo de aplica~áo nas alcunhas:
387. Se o verbo se substantiva e nao há possessivo antes,
mbaé tí-guasu: narigudo; nibaé aka'-beba.: cabe<;a chata; mbaé
nem genitivo, poro- se torna niboro- ou moro-: I enibé-gúasu; beic;udo; mbaé mimbaba: animal; mbaé iuru-apé: boca-
a-por-ausub : amo (gente) · -torta
.xe por-ausubn: eu amar, meu amar, meu amor ( aos outros) BIBLIOGRAFIA
m( b) or-ausvJ-.a: amar (gente) ; amor ( aos outros). etc.
Coletivos - tyba: FrGUEIRA 76; VLB 142; MoNTOYA, Tesoro 387/381;
388. Dos verbos abyky manusear, mo-nha11g fazer, e P'J'S':>'k apanhar, formam- RESTIVO 324: CAETANO 76-77; DRUMON D, Notas Gcrais 57-70; L. BARBOSA,
-se por-ab31ky trabathar, poro-mo-nhang gerar, e poro-pysyk apanhar ( ca<;a ou Tradu,óes 30-31 ; eyia: FIGUEIRA 5; VLB 94; 124; 145; 304; Mo NTOYA, Te-
presa), que se aplicam também aos seres inferiores. soro 376/370; ADAM 99.
Pref'.xo.~ de dasse - ANCHTETA 14v-15; 49v-50; 51-52: F1c.UF.IRA 86; 90;
VLB 282; 290; 321; ifoNTOYA 53-54; lo. Tesoro 318/312-319/313; REsTIVo
389. Poro- se prefixa tambem a verbos intransitivos, no ~2-55; 277; CAETANO 38; ADAM 9; 22-27; L. BARBOSA 173-174; lo. Os Indice.~.

infinito, traduzindo-se como su jeito ou genitivo:


sen,ta: satr 1noro-sema: sair gente, saída
(de gente)
esaraw (t) (.xe): esque- moro-esaraw : esquecer-se (gen-
cer-se te), esquecimento da gente

Sobre poro- anteposto a ~ubstantivos, adjetivos, preposi<;óes, v. n. 861, 872.


CURSO DE TUPI ANTIGO 159

sykyi-á-bo ou sykyié-bo, iké-á-bo, mo-syky1,-á-bo ou mo-sykyié-


-bo, mo-ingé-á-bo e ro-iké--0-bo
Ll(;AO 26.ª 396. 2. Os verbos acabados ein i ou u recebem á-bo,
e o i
'
ou u passam para i ou u:
A A

apiti,: matar (gente) apití-á-bo : matando (gente)


GERúNDIO poru: usar poru-á-bo : usando

393. O gerundio traduz as nossas formas verbais "ma- 397. Excecoes: Nao sendo precedido de consoante, u cede
tando, a matar, para matar". lugar a !}U-á-bo:
ú: comer gu-á-bo : comendo
DESIN~NCIA suú: morder sugu-á-bo : mordendo

TIPO I: Verbos de Pronome Agente 398. 3. Os verbos acabados em y acrescentam -bo ou


á-bo; neste caso, o .Y passa para y:
Forma Afirmativa apy: queimar apy-bo ou apy-á-bo : queiinando
399. Excefoe.s: Alguns verbos acabados em mais de urna vogal oral, que nao
394. FIN AL VOGAL ORAL: 1. Os verbos acabados em á, íormem ditongo, podem fazer o gerúndio de outros modos:
I
é, ó, recebem -bo: aó: injuriar agf't-á-bo ou aó-á-bo: injuriando
íe-peé: esquentar-se ie-peé-á-bo, ie-peé-bo, ie-pegú-á-bo
iuká: matar íuká-bo : matando ou ie-peé-gu-á-bo
íe-peá: separar-se íe-peá-bo : separando-se Outros só podem rcceber -bo :
mo-ndó : mandar tno-ndó-bo : mandando
eé : impelir, limar eé-bo : impelindo, limando
mbo-é : ensinar 1n.bo-é-bo : ensinando ó : tapar ó-bo : tapando

395. Exce,oes: 1) Precedido de vogal, ó é substituido 400 . FINAL voGAL NASAL: l. Os acabados em a, .e ou íj

por gu-á-bo : acrescentam -mo:


nupa: ac;outar nupá-1no: ac;outando
soó : convidar sogu-á-bo : convidando
2. Os acabados en1 ·i , ü ou ji acrescenta1n ii-11io:
2) Precedido de 11t ou n, a termina<;áo é -1no: ~·yti: cortar kyti-ii-1no : cortando
,
mano : morrer gui-manó-mo : morrendo ( eu) Nota - AoAM 63 opina que primitivamente o índice de gerúndio era
sa.bo e abo, respecüvamente para verbos terminados em vogal e em consoantc.
3) Sykyié "ter medo de", iké "entrar" e seus con1- Pelo menos a última parte da afirmativa é aceitável: abo, em contacto com
a vogal anterior, sofre-lhe ou causa-the altera~oes ( contra~áo, semiconsonan-
postos mo-sykyié "assustar", mo-ingé "introduzir" e ro- tiza~áo).
-iké "entrar com", fazem respectivamente: Quer-nos parecer, .aliás, que o gerúndio em -bo é o próprio nomc
verbal ( .s) aba- (n. 798) regido de -bo ( n. 643).

I
t

160 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 161

401. FINAL DITONGO NASAL ou ORAL: Recebem -a: 407. Nota: Os verbos modificados por partículas levam
enoi : chamar enoi-a: chamando o suf ixo do gerúndio após a partícula:
kai : queimar kai-a : queimando
mo-ang-aub: fingir mo-ang-aup-a: fingindo
402 · FINAL CONSOANTE: .A.crescentam -a:
aa12g-ypy: pronunciar a aang-ypy-á-bo : pronunciando
mo-nhang: fazer mo-nhang-a : f azendo primeira vez a primeira vez
pysyk : apanhar pysyk-a: apanhando epiak-ukar: fazer ver epiak-uká : f azendo ver
sem: sa1r sem-a : saindo
403. O b final muda-se etn p: 408. O gerúndio pode levar as partículas do futuro. con-
dicional, etc. :
ausub : amar · ausup-a: amando
gúeiyb: de.seer gueiyp-a : descendo abá bia-é o ayra o-gue-r-ekó-katu, memé-t' ipó Tupa, mbaé
tetirua iar-amo o-ikó-bae, asé r-ausubá-ne (AR. 22): pois se os
404 • Os acabados en1 r perdem esse r, e nada acres·- homens tratam bem a seus f ilhos, quanto mais Deus, que é o senhor
de todas as cousas, se compadecerá da gente
centam:
potar: querer potá: querendo
eiar : deixar ew : deixando SUJEITO E COMPLEMENTOS
ausubar: compadecer-se austtbá: compadecendo-se
TIPO I: Verbos de Pronome Agente
Forma Negativa

405. ~~orma-se juntando eym-a ao tema do indicativo: § 1.º Transitivos

potar potá : querendo potar-eym-a: nao querendo 409. Requerem o objeto di reto (substantivo ou pronome)
ausub ausup-a : amando ausub-eym-a : nao amando logo antes do tema. Os pronornes objetivos sao xe, nde,
iuká íuká-bo : matando iuká-eym-a : nao matando
etc., nunca porém oro-, opo-. .
TIPO II : Verbos de Pronome Paciente
406. Se o tema do verbo acaba em vogal túnica, recebe pysyk: apanhar
-ramo. Se é nasal, -na1no. Nos demais casos, -amo. No
.re pysyk-a: apanhando-me (tu, vós, ele ou eles)
negativo, sempre ey1n-a1no: nde pysyk,-a: apanhando-te ( eu, nós, ele ou eles)
( xe) katu-ramo : sendo ( eu) ( xe) katu-eym-amo : nao sendo i pys31k-a: apanhando-o OU --OS ( eu, nÓS, tu, VÓS, ele OU eles)
bom (eu) bom o pys;·k-a: apanhando-o Oit -os ( eu, nós, tu, vós ele ou eles)
1

( xe) maenduar-amo: lembran- ( xe) maenduar-eym-amo : nao ( refl. subord.)


do-me me lembrando íandé pysyk-a: apanhando-nos (ele ou eles)
( xe) r-ata-namo : sendo ( eu) ( xe) r-ata-eym-amo : nao sen- oré pysyk-a: apanhando-nos (tu, vós, ele ou eles) . .'
duro do (eu) duro pe pysyk-a: apanhando-vos ( eu, nós, ele ou eles}.'.. ' . .. . : '.·
162 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 16.1

Quando o objeto é substantivo e se acha distanciado s-ei-a : lavando-o s-eia: lavando-os


do gerúndio, antes <leste deve ficar o pronome objetivo o ci-a: lavando-o ( refl.) o ei-a: lavando-os ( refl.)
(n. 119): aoba r-e·i-a: lavando a roupa
comi, segurando o prato com minhas máos : a-karu., xe p6-pe a-r-ur s-ei-a: trouxe-o para lavá-lo
nhaé pysyk-a ou a-karu, nha.é :re pó-pe i pysyk-a a-iur nde r-oka: vin1 para tirar-te
O gerúndio tende a ficar sempre no fim da frase.
413. Os verbos con1e~ados por r(o)- ou 110- (n. 124)
410. Se o verbo é dos que tem s- como pronome objetivo recebem na 3.ª p. a s'Ílaba s-c-} e depois de substantivo ou
da 3.ª p., o s- se conserva nas 3as. pp.; mas depois de de pronome da l.ª ou 2.ª pp., r-e-:
substantivo ou pronome da l.ª ou 2.ª pp., vem r-:
xe r-eo-botar, .-re sy r-epiak-a: quero morrer vendo minha máe ra-só: levar
xe r-e-ra-só-bo : lcvando-1ne ia~idé, oré r-e-ra-só-bo: levando-
epiak: ver -nos
xe r-epiak-a: vendo-me iandé ou oré r-epiak-a: vendo-nos nde r-e-ra-só-bo : levando-te pe r-r-ra-só-bo : levando-vos
nde r-epiak-a : vendo-te pe r-epiak-a : yendo-vos s-e-ra.-só-bo : levando-o s-e-ra-só-bo : levando-os
s-epiak-a : vendo-o ott -os s-epiak-a : vendo-o ou -os o e-ra-só-bo : levando-o ( refl.) o e-ra-só-bo : levando-os ( refl.)
o epiak-a : vendo-o oit -os o epiak-a: vendo-o ott -os ( refl.) o-ar ygasaba r-e-ra-só-bo : caiu levando a talha
(refl.)
Sobre os verbos reflexivos, verbos com índices de classe, com objeto
411. Se o pronome objetivo é io-, o verbo perde-o: incorporado, v. n. 294, 417 e 418.

tym: enterrar § 2.º - Intransitivos e relativos

xe ty1n-a : enterrando-me iandé, oré tym-a: enterrando-nos 414. Requerem o prefixo sujeito antes do ten1a. Os pre-
-nde tym-a : enterrando-te pe tym-a: enterrando-vos fixos sao:
i tym-a : enterrando-o i tyni-a : enterrando-os
SING. PL.
o tynz-a : enterrando-o o ty1n-a.: enterrando-os
la. p.: gui- la. p. incl. : ia-; excl. : oro-
t' ia-só i xok-a: vamos pilá-lo
a-iitr i-i ok-a: venho tirá-lo 2a. p.: e- 2a. p.: pe-
3a. p.: o- 3a. p.: o-
412 .Se o pronome objetivo é io-s- (n. 323) , segue-se
ep¡ak: pak: acordar
ei: lavar gui-pak-a : acordando eu ia-pak-a, oro-pak-a: acordando nós
xe r-ei-a: lavando-me iandé, oré r-ei-a: lavando-nos e-pak-a : acordando tu pe-pak-a: acordando vós
nde r-ei-a : lavando-te pe r-ei-a: lavando-vos o-pak-a: acordando ele o-pak-a : acordando eles
164 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

Os pref ixos persistem, ainda que o sujeito es teja TIPO II: Verbos de Pronome Paciente
antes do verbo:
419. Requerem os pronomes pacientes:
o-manó xe r-uba o-nheeng-a: meu pai morreu falando
SING. PL.
415. O s inicial do verbo, depois de git·i-, se muda em x la. p.: xe ¡a. p. incl. : iandé: excl.: oré
2a. p.: nde 2a. p.: pe
(n. 19): 3a. p.: o 3a. p.: o
gui-x6-bo : indo eu gui-.xeni-a: saindo eu
katu: (ser) bom
416. Os verbos transitivos na forma reflexiva ( n. 294)
podem seguir o paradigma pak, tnas podem também ficar xe katu-ramo : sendo eu bam
. ., .
1nvar1aveis :
iandé, oré katu-ramo : sendo
nós bans
nde katu-ramo : sendo tu bam pe katu-ramo : senda vós bons
gui-ie-iuká-bo : matando-me ia- ou ,oro-ie-iuká-bo : matando-nos o katu-ramo : senda ele bom o katu-ramo : senda eles bans
eu nos
e-ie-iuká-bo : matando-te tu pe-íe-iuká-bo : matando-vos vós
o-ie-iuká-bo : matando-se ele o-ie-iuká-bo: matando-se eles 420. Os que na 3.ª p. tem s como pronome sujeito do in-
dicativo,
,
no gerúndio recebem tun g· na mesma pesso'llz¡.'
J
ou, simplesmente, para tódas as pessoas : ie-iuká-bo apos o o:

417. Assim se podem conjugar também os verbos transi- oby: (ser) verde
tivos que levem os pronomes de classe poro- ou mbaé.
xe r-oby-ramo : senda eu verde iandé, oré r-oby-ra11io: sendo
Mas, se ficarem invariáveis, poro- se nluda para niboro- nós verdes
,
ou moro- (n. 387): nde r-oby-ranio : senda tu verde pe r-oby-ramo : sendo vos
verdes
gui-poro-pysyk-a ou m ( b) oro-pysyk-a: apanhanda eu o(g)-oby-ra1no: senda ele verde o(g)-oby-ra1no: sendo eles
e-poro-pysyk-a " " " tu verdes
o-poro-pysyk-a " " " ele. Etc.
421. Os substantivos, pronomes e advérbios, quando fun-
418. Os verbos de objeto incorporado (n. 116) podem cionam como complemento predicativo, seguem katu ou
seguir pak ou ficar invariáveis: maenduar, mas nao levam pref ixos :
gui-mimby-py-bo au 1ni111by-py-bo: tocando eu flauta ixé-ran1.o: senda eu
e-mimby-py-bo
,, ixé-eym-amo : nao sendo eu
" tu itá-ramo : senda pedra itá-eyni-anio : nao sendo pedra
o-mimby-py-bo ,, '' ,, ele ,, e1nonan-amo : senda dessa emonan-eym-anio : nao senda
forma dessa torma

11
166 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 167

422 . O gerúnd10 pode ter, incorporado, como


NOTA. - esarai ( s) ( xe) : esquecer-se suú: morder
,
objeto direto, outro verbo no infinito. Neste caso, a u: comer asy (s) (xe): doer
terminac;áo dependerá do segundo verbo, e os prefixos e s6: ir sem: sair
iké: entrar ei ( ío-s) : lavar
pronomes acompanharáo a natureza do verbo que está no mim ( ío) : esconder epiak (s): ver
infinito: sok (io) : pilar ybo (i) : flechar
.'
i iuká-ypy-bo: come<;ando a matá-lo; xe s-epiá-íe-by: tomando nio-mbeú : narrar
eu a ve-lo; nde s-ei-ie-potá-bé-bo : continuando tu a lavá-lo; gui-ké'-
-potá : querendo eu dormir i o-nheé'-nguap-a : sabendo ele f alar ; Uindé
r-esarai-ie-by: tomando-nos a ~squecer BIBLIOGRAFIA
ANCHIETA 19; 27-29v; FIGUEIRA 22-23; 33; 35; 52-53; 110-114; MoNTOYA
Gerúndios irregulares: 16; 24-29; RESTIVO 85-86; 145-147; CAETANO 31-35; ADAM 58-65; DALL'IGNA,
Análise 64-66.
423. Desde já convém conhecer os seguintes :
. ' .. . .
ikó: estar
sg. gui-t-ekó-bo, e-ikó-bo, o-ikf)-bo;
pl. ía-ikó-bo, oro-iR.ó-bo, pe-ikó-bo, o-ikó-bo. • ¡

ln : estar (parado)
sg. gui-t-en-a, e-in-a, o-in-a;
pi. ia-in-a. oro-in-a, pe-in-a, o-in-a.
. ..
.
1ub: estar deitado
sg. gui-t-up-a, e-iup-a, o-up-a;
'
'
pi. ía-iup-a, oro-íup-a, pe-tup-a, o-up-a.
.
·"tur: v1r
sg. gui-t-ú, e-iú, o-ú;
p 1. ia-iu, oro-·ou, pe-iu,
A "' ~, A, ,
0-1t.

EXERC1CIO

424. Conjugar no gerúndio os seguintes verbos:


kúab : passar ie-byr : voltar
epiak-ukar ( s) : a1n : estar (de pé)
mostrar manó : morrer Alde~ e cenas da vida tupi (DE BRY)
CURSO DE TUPI ANTIGO 169

a-gí'wtá gui-t-ekó-bo, a-poro-mbo-é gui-t-ekó-bo, etc.


lsto é, 1) o verbo que vai para o gerúndio é o auxiliar, 2) a ordem é
LICAO 27.ª inversa a portuguesa. Literalmente: "eu .caminho estando·', etc.

428. Há várias traduc;óes para "estar", conforme a po-


. ,.,
SINTAXE DO :QERúNDIO s1c;ao:
am: estar de pé estar quieto, parado (p.
iub : estar deitado ex. sentado)
425. O gerúndio tem, em tupi, várias f unc;óes correlatas: ikó : estar ( em geral, es-
pecialmente com os
1) gerúndio teleológico (causa final); 2) gerúndio simul- ver.bos de movimento) kub : estar ( só no plural)
factivo (a<;áo simultanea.); 3) gerúndio conectivo ou se-
a-man6 gui-t-up-a: estou ( deitado) morrendo; t' o-por-abyky
riativo ( a<;áo em série, pelo menos lógica) : o-in-a: que ele este ja ( continue) trabalhando; oro-s6 oro-ikó-bo: es-
1) o-ur xe r-uba r-epíak-a: veio para ver a meu pai tamos indo; pe-poro-epwk Pe-am-a-pe ! : estais (de pé) olhando?
2) o-ur o-porasei-a: veio dan~ando
3) o-i-pysyk i iuká..ibo : apanhou-o (e) matou-o 429. Em algumas locuc;oes o .g erúndio se verte pelo par-
O verbo só vai para o gerúndio quando tem o ticípio passado portugues:
mesmo sujeito da orai<;áo principal: a-nhe-nong gui-t-up-a : eptou deitado; a-gU<Lpyk gui-t-en-a: estou
sentado
indo ( eu), avistei-o: gúi:ró-bo, a-s-epiak
Na frase "indo ( éle), avisrei-o", o verbo vai para o infinito, seguido da 430. Por vezes se combinam dois desses verbos em urna
conjun~áo -reme: i x6-reme. a-s-e-p'iak, i. é, "quando ele ia, avistei-o,,.
locu<;ao. Um deles desaparece na tradu<;áo:
426. O gerúndio tem larga aplicac;áo com os verbos de nibaé r-esé-pe araiá pe-ikó tenhé pe-kitp-a!: por que estais todo
movimento: o dia ociosos ?

vim para te ver: a-iur nde r-epiak-a; veio para te ver : o-ur 431. Nas locu<;5es, a nega~ao modifica o primeiro verbo:
nde r-epíak-a
nd' a-guatá-í gi1i-t-ekó-bo : nao estou andando; nd' o-ker-i o-up-a:
Mas sendo distintos o s.ujeito da ora1;áo principal e o da subordinada, . ele nao está dorn1indo ; nd' oro-ar5-i xó gui-t-en-a-ne : nao te estarei
ter-se-á de recorrer ao verbal saba (n. 799), que aliás serve também para os esperando ; xe r-epwk itmé e-iup-a: nao me estejas ( deitado) olhando
casos em que o sujeito é o mesmo.
432. Também os verbos de pronome paciente tem gerúndio
Locu~oes Gerundivas perifrástico:
~e
nibaé-asy guí-t-ekó-bo : estou doente; nde maenduar e-iko-bo:
427. As locuQ6es "estou caminhando", "estou ensinando", estás-te lembrando
etc. se traduzem: Sóbre as locu~óes de dois participios presentes, v. n. 957.

I

\ 171
170 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

433. Havendo dois verbos da mesma pessoa, coordenados nei ou enei ( sing.) ; pei ou pene·i ( pl.) : eia, sus ( só nas
em portugues, um deles se pode traduzir pelo gerúndio: z.as pp.) :
o-i-pysyk gúyrá, i iuká-bo : segurou o pássaro e matou-o ; guyrá riei i iitká-bo: eia, mata-o; pei, i iu.ká-bo: eia, matai-o
pysyk-a, a-iuká: segurei o pássaro e matei-o - Admite o permissivo, mas no sentido de concesslio:
nei t' ere-iuká: mata-o pois (já que o pectes ou queres)

Partículas que pedem gerúndio t' e-í tenhé utné: guarde-se de; trate de nao. . . ( só nas
3as. pp.):
434. Certas partículas levam o verbo ao gerúndio: t' e-í tenhé u1né a.he o-n.heeng-a ou o-nheeng-aup-a (VLB 254) :
aé-í-bé: Iogo entáo trate ele de nao falar
'
aé-í-bé o-ké : logo entáo dorm1u t' e-1-nhé, te-nhé: deixa, deixai ( falando de 3as. J>p.) :

auié, rumby, erutnby) erumby nhé) te, te-ne, te-ipó, koyté • t' e-!-nhé o-ké: deixa-o que durma; t' e-í nhé o-ikó-bo, o-up-a,
(esta posposta ao verbo), te . .. koyté, rumby . .. koyté: o-in-a: deixa-o estar, estar deitado, parado
enfim, finalmente, senáo quando; eis que, até que - Com o permissivo, supóe que ainda nao se esteja realizando a a~á6
enfin1: verbal: te-nhé Cristaos Tupd-eté t' o-i-nio-eté, e-í o boiá-etá supP. (AR. 140):
deixai que os cristáos honrem ao Deus verdadeiro - disse (Constantino) aos
te ixé gui-x6-bo : eis que nisto eu me vou; te-ne o-svk-a: ~is que seus súditos
chega; rumby :re r-uba o-basem-a: eis que chega meu pai ; aúié o-ma-
.. nó-mo : finalmente morreu ; rumby ahé o-ú' koyté: senáo quando vem té-unié ou eté-ittné: ( sing.), pe-té-umé ou pe-té-pe-unié
ele; te ahé s-e-ra-só-bo koyté : até que enfim ele o levou (pl.) : guarda-te de; ... olha nao. . . ( só nas 2.ª9 pp.) :
Há também kcyte.
té-unié s-e-ra-só-bo : nao o leves, olha lá ; té-umé ang-iré e1no-
emona ou emonan: assim (raramente com gerúndio) nan e-ikó-bo (AR. 221) : olha, doravan te nao fa<;as mais assim; té-
-umé e-só-bo: guarda-te de ires; pe-té-umé xe r-apiró-mo (AR. 88) :
emanan i potá: assim o quis ele
nao me lamenteis
iá, iíá, iíá íá-by, iíá niuru, iíá íá-by ma, iiá-by a.nhé ma: Por vezes té-umé é acompanhado da partícula ké,
ainda bem Que podendo o gerúndio levar ainda nhandit e rita ( n. 208) :
iíá mburu o-manó-11io; iíá mburu o-mbaé-asy-ramo (AR. 102): té-um~ ké guyrá pysyk-a: guarda-te de apanhares o passarinho;
ainda bem que morreu, ainda bem que adoeceu; iiá-n' ahé (VLB 263): té-it1né ké s-e-ra-sóbo nhandu rua (VLB 253): guarda-te de o levares
ainda bem por ti, por ele
Igual sentido tem o imperativo negativo com aquetas partículas (n. 208).
memé, memé-te(-ne), memé-t' ipó: quanto mais. com
. ,..
ma1or razao
435. Nota : N em tódas essas partículas exigem o gerúndio com a mesma
obrigatoriedade. Encontram-se exemplos em contrário:
memé-t' ipó i~é a-i-mo0-11hang-mo (FIG. 143) : quanto mais eu faria isso
V. ex. n. 408.
172 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 173

EXERClCIOS soprar : peiu despertar : 1no-mbak


436. zombar: mo-1aru, tr. talo : aiuru-py
(a) bé-raniei, raniei-bé : parecer a11ga: alma falarmalde:iuru.-ar (xe) [esé] vagem: opé (s)
ia-si'iar(-i) ou (-eté nüi): pa- penga : sobrinho (de m.) espalhar : 1no-siii 'V'erde, novo : kyra
recer obaiara ( t) : cunhado apanhar : poó maduro : tininga
maraar ( xe) ; estar doente gziariba: macaco ( P.spécie) - quebrando o. talo : mo-ndok logo: koritei
ie-kuab: ser visível rana: parecido com ( n. 172) debulhar: yky (i) por si : nhó-te
mo-ape: entortar guanni-a-me : na guerra
A • A -

ape-ok (i) : desentortar suer, súé, só ( suf.) : por pouco 440. Que estás fazendo? Estou desentortanto minhas flechas (fut.).
tn ( b) o-sá-ká: ferir o~ olhos a que Teu irmao que está fazendo? Está dormindo. Onde está dormindo?
Queres que o desperte? Nao. Deixa-o estar dormindo. Quase que
43 7. Bé-rameí, iá-síiar, etc. nunca levam o prefixo verbal: itá bé-ramei ixé-bo morreu de cansado, e deitou-se querendo dormir. Agora, que estás
(VLB 89) : afigurou-se-me ser pedra. co1nendo? Estou bebendo leite. Que outra cousa estás f azendo?
Bé-1'a111ei compóc-se de ramei "igual, semelhantc, como": i ramei como Vim para te ajudar a acender o fogo. O fogo apagou. Eia, iJ>OÍs,
ele, igual, semelhante a ele ( erp tamanho, qualidade, etc.) ; aipó raniei como acende-o. Quem o apagou? Parece-me que ninguém : apagou por
aquilo, daquela rnaneira. O mesmo significa ntmgara: kó nuHgara como isto,
desta maneira ; i porang nungar-eyma é belo sem igual ; o-mendar o mmgara si mesmo. Nao : eu o soprei e apaguei. Que estás f azendo aí parado?
r-esé: casou-se com urna igual a ele; nd' i nungar-i: nao tem igual. Estou esperando o meu avo. Por que estáo rindo aquel es homens?
Com o gcrúndio, bé-ramei, ntmgara, etc. equivalem a "como se" : gúi-ie- Estao zombando de nós. Guardem-se de falar de mim (VLB 284).
-byr-eym-a bé-ramei, xe sy xe r-apiro-pi.ro-ú: como se eu nao voltasse, rninha Por que nao f oste ontem a ro<;a? Ontem estava doente. Por que
mae me chorava. nao vieste visitar-me com teu cunhado? Eu estava apanhando jabo-
438. X e maraar-a1no, xe r-esarai mbaé ú suí. Mbaé-pe ere-i-apó ticaba. Jaboticaba nao tem talo? Tem [talo] . Que outra cousa
e-in-a? Xe guyrapar-ama a-i-apar gui-t-ekó-bo. Nd' a-só-i nde r-aró- apanhaste? Estive apanhando vagens de feijao. Estáo verdes, ou
-nto. A-iur nde r-epiá-potá. Xe anama o-manó guarini-a-me, o-iabab- já estao cheias? Já estao maduras. Traze-as para que as debulhemos.
-eyni-a. lxé gui-nianó-potar-eym-a, a-iabab. Mbaé r-esé-pe ere-iabab Já as debulhei com meu cunhado, e já espalhei os graos no
e-ikó-bo? T é-umé ké e-iabap-a nhandu ruii. N d' a-iabab-i gui-t-ekó- chao. Recolhe-os logo : vai chover de tarde. Dizes, como se eu nao
-bo. A-ker gúi-am-a. 0--manó o-á. Mbaé-pe ere-ú e-in-a? A-pirá-ú soubesse ..•
gui-t-en-a. X e penga o-só s-obaiara r-e-ra-só-bo. Auíé s-e-ra-só-bo.
!á s-e-ra-sóbo. Aé-pe gui-xyk-a, a-manó-ne. S-oby ybaka. Nhu BIBLI,QGRAFI/\
s-oby. S-oby parana abé. Mbaé r-esé-pe? lkó-bae r-esé: moroby ANCHIETA 29v; 56-S7v; FrGUEIRA 155; 158-164; MoNTOYA 24-25; REsnvo
nhó-te nd' íandé mosá-ka-i, - bé-rameí ixé-bo. A-íur nde pytybo-tno. 85-90; 145-153; CAETANO 31-35; ADAM 58-65; L. BARBOSA, Tradufoes 31-32.
~l1baé-pe ere-s-epiak e-ikó-bo? Guariba bé-ramei ixé-bo. Uma-pe?
0-iabab uma, raniei-bé. Ere-manó suer-i, xe sy gué. 0-íe-kuab-pe '
asé anga? Nd' o-ie-kuab-i. Mara-natuo-JJe! O eté-ey~amo.
Ere-i-mo-ape xe r-uuba: a-i-ape-ok-ne.
439.
acender: 1no-ndyk rir: puká
apagar : m ( b) o-gueb, tr. deitar-se : nhe-nong
ap¡gar: gfieb, intr. recolher : eyi-nhang ( s)
CURSO DE TUPI ANTIGO

tamüía teminiinó mbarakaíá


tupi tu pinak yia tupinambá
tobaiara tupinaé kariió
Ll9A.O 28.ª guaitaká
A
guawna
A ,
tupi,ió
... ,. ,
tapyyia kaaeté guaimure
ybyra (a) pi1áíara kamusi~iara guakaraiara
NOMES PRóPRIOS karaiba: branco; europeu ; estrangeiro ; portugues
peró : portugues ( alcunha)
maira: branco, estrangeiro; frances; ingles
Antropc)nimos
aíuruiuba : f rances, ingles ( alcunha)
mboaba : portugues ( alcunha)
441. Apenas nascida un1a crian~a, o pai lhe <lava um nome, kasiana: castelhano
ouvindo para isso o conselho da tribo. ..
No tupi primitivo, tanto maira como karaiba apticam-se a seres mais ou
Aos homens davam-se, amiúde, nomes de animais f erozes ; as mulheres, menos sobrenaturais. }..faira (seguido ou náo de epítetos, como J.lf on-á, Atá,
nomes de pássaros, peixes ou frutas. Mas náo era norma rigorosa : para Sumé) designa vários deuses da mitologia tupi. THEVET, Cosmographie Utii-
ambos os sexos se escolhiam nornes de antepassados, e sobretudo alcunhas, verselle 914, traduz por "transformador". Está ligado a urna no<;ao de di-
tiradas de def eitos ou particularidades da criam;a. vindade portentosa, ao passo que karaiba qualifica os taumaturgos humanos.
M aira e karaiba f oram os nomes com que vieram a designar os estranhos e pode-
N ornes de homens N ornes de mulheres rosos brancos aportados ao Brasil. Fenómeno geral entre os primitivos esse
de sobrenaturalizar o estrangeiro, sobretudo se mais civilizado. Posteriormente,
Pindobusu PirakO..iuba maira ( ou mair nos autores franceses) ficou reservado aos franceses, enquanto
laguanharo Teberebé karaiba se generalizava em duas dire<;oes: 1) branco, europeu; portugues; 2)
Taiaoba K unhagU<Isutenhé santo, batizado, bento, cristáo.
1aguaraba M airatá Corriam também apodos: aiuruitiba, usado no Auto de S. LoHren,o e no
VLB no sentido de "frances", mas que MARCGRAVE afirma aplicar-se também
442. Cada inimigo que matassem, em batalha ou prisio- ao "ingles" e em geral ao estrangeiro de cabelos ruivos (aiun1-iuba "papagaio
amarelo"). Ap0do tam~m peró " portugues", generaliza<;áo do antropónimo
neiro, os índios to1navam novo nome, a ,p rópria escolha. "Pero", popular na época. Tal como no México certos índios chamam a
todos os brancos homens "José" e mulheres "Maria". Explica-se assim por
Também os que ajudassem a matar ou a capturar em guerra. Condi<;áo que os tamoios, aliados dos franceses, chamavam a estes maira (nome de
principal: quebrar a cabe<;a do inimigo. Assim, tomavam norne, mesmo quando respeito) e aos inimigos portugueses peró (alcunha); ao passo que os temi-
quebravam .a cabe<;a de algum contrário que desenterrassem ao se apossarem rninós chamavam aos portugueses, seus aliados, karaiba ( nome de respeito)
de aldeia inimiga. A mulher só adquiría novo nome, se o marido matasse e aos adversários franceses ai11r11iuba (alcunha). Mais tarde, com o despertar
algum escravo. do nacionalismo, surgiria outra alcunha para o portugues: mboaba "mao
peluda".
Etnonimos Kasiana é adapta<;ao tupi de "castelhano" (S. Lour. 860-863).

443. Tanto con10 nas línguas indo-européias, em tupi os Top0nimos


nomes de povos e tribos tem origen1 muito remota e
mostram-se por vez es indecif ráveis. 444. Os topónimos e outros nomes geográficos tupis tem
Eis alguns: a mais variada procedencia: particularidades do lugar,

I
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 177
176

ay1·a xe r-a-yr ou xe r-ayt: ó meu filho


fauna ou flora locais, fatos acontecidos na regiao, cousas oré r-ub ou oré r-up: ó nosso pai
ttba
ali encontradas, etc.: Itaiyba /taiyb ou Itaiyb: ó Itajiba
Y guasu: rio grande (Rio da Prata; Rio Doce) mori.t,bixaba niorubixab ou niorubixap : ó chefe
Paraupaba: rio das lagoas (aposto) ( em S. Paulo)
!urumiri: bóca estreita (Río dos Patos) 448. Pode aparecer a ínter jei~ao gué ou guy (as mulheres
I takuatiara : pedra escrita, pintada ( Ilha da Cananéia) dizem íú ou íó) :
Nhauuma: barro ( Ilha de Vitória) xe r-ub gué ou guy (h.) ; ió ou iú ( m.) : ó meu pai
Akaray: rio, mar ou água dos carás (na baía do Rio) Itaíyb gúé ou guy (h.); ió ou ii~ (m.): ó Itajiba
Rerityba: jazida de ostras (aldeia no Espírito .Santo

Era comum um non1e geográfico estender-se para de- 449. Os nomes de parentesco e semelhantes levam sempre
nominar outro: p. ex., o nome do rio passar para a aldeia possessivo. Excetuam-se certos vocativos de carinho, como:
construída ao lado. E vice-versa. paí: papai, senhor; aí: mamae ;' piá, piá-i: filho, filhinho; ai,
De tantos em tantos anos costumavam os índios trans- tapiá: mano (h.) ; peí, guau pira: mana (h.) ; ai, tapiá, tang: mano
ferir as aldeias, com todo o material. Mas conservavam ( m.) ; kyi, kynai, nai, peí, guau pira, toi: mana ( m.) ; itó, titó,
sempre os mesmos nomes. guaító: sobrinha (h.) ; taá, xe á (h. e m.) : senhor; taupé, mia (h.) ;
tapé ( m.) : senhora
445. NOTA. - Nem sempre o conhecimento da língua bastará para "explicar
o sentido" de todos os nomes geográficos de origem tupi. Muitos deles foram 450. NoTA. - Os indios chamavam de preferencia pelo nome de parentesco ou
adulterados pelos brancos. Outros, antigos, os mesmos índios já nao os sabiam ::ie relac;ao social ; raramente pelo nome próprio.
decompor. Antes de qualquer explica~o - ainda que esta nalgum caso parec;a
óbvia - convém investigar quais as variantes populares e, principalmente, sob
que formas aparece o nome nos mais antigos documentos. Note-se a pouca EXERCtCIOS
variedade silábica do tupi, que possibilita várias decomposic;óes para a mesma 451.
palavra. Assim Y panema poderia ser dividida de duas maneiras: y-panema no-se1n: tr.-rel. [suí] : descar- ar : embarcar
"água (rio ou mar) estéril" ou ypá'-nema "lagoa fedorenta ". O estudo filoló-
gico .só terá valor, se aliado a urna simultanea pesquisa histórica e geográfica. regar amo: molhar
.._ Sirva a observac;ao de acautelar, nao· de esmorecer os curiosos sófregos de iasuk : intr. : banhar-se bur : emergir
"etimologías ". Pois o mais exírnio latinista, só com os seus ~onhecimentos pytybo: tr.-rel., indir. de c. ygar-upaba: ancoradouro
filológicos, náo saberia dar razáo de numerosos toponimos latinos nem de muitos ( ygá-) pukui : remar
outros, romanicos, de origem latina. , no infin. ( reg. ou nao de
esé) ou no ger.: ajudar (ygá-) pukui-tara: remeiro
pu-niim, a-pu-mim : afundar ygá-pukui-taba: remo
VOCATIVO nh'-a-pii-niim: afogar-se, afun- kuab ap1¡a:n : correr veloz
dar-se koro1nó: logo mais
446. Diz-se estar no vocativo o nome com que cha- Karaguataguasu, Ybyrapitanga: epyi (s) : aguar
mamos a aten~ao de outrem. ns. prs. ekyi ( s) : puxar

447. Se é paroxítono, perde a última vogal. A consoante 452. Piá ! Mara, paí? E-s-epyi xe r-e-mi-tyma. A-iasuk gui-t-ekó-bo.
final, sendo r ou b, pode mudar-se para t ou p, respecti- Aé-pe nde, Karaguataguasit? A-nhe-nong gui-t-up-a. Ybyrapitang
vamente: gué ! Mara? E-s-epyi xe r-e-mi-tyma. T'a-s-epyi koromó. N d'
178 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 179

ere-~-a1-nói xe 11ibaé !
X e r-u b ió ! Mbaé, xe r-aiyt? K urumi o-nis'-a- 453.
-pu-niini, o-bur-eyni-a. N ei ygara r-eky1a, t' cre-i-pysyro-ne. N da ilha: y-pau cabo: apoa
xe pukui. Mara? N d' a-pukuí-kuab-i. E-s-enoi ygá-puku~-tara, i terra (de origem) : aupaba terra (residencia' : etatnu (t)
x1tpé ygá-pukui-taba meeng-a. Taá, ma1nó-pe ere-s-eiar xe ygara? caminho: pé, piara (n. 252) batalha: mará-t-ek<1
A-i-pu-mim ygar-upaba suí, t' o-s-epiak umé t-obaiara-ne. Aé-pe nde irmá rnais moc;a (da rn.) : py- chamar-se : er ( s) ( xe)
ygara nia:mó-pe s-en-i (está)? A-s-ekyi yby-pe. X e pytybo peiepé kyyra
... . -
. a' guerra: so, guari.ni-ramo
y-pe s-e-ityk-a (lanc;á-la). Pe-no-sem pe mbaé i xuí t' o-kwb apúan- tornar novo nome: ie-er-ok 1r
mudar para : sem [-pe] , pe . ...f
e. . . .? .• ae-
-gatu. E-nheeng-poir, e-á koyté ! 0-nhe-pu-mim ygara! ! /

454. Aonde f oste, meu filho? Fui a guerra. Onde fol a batalha
(pass.) ? (Foi) em Itacuatiara. Mataste algum inimigo? sim.
Matei urn. E tu? Eu nao fui a guerra. Qual era o norne do ini-
migo? Maracajaguac;u. E nao tomaste novo no1ne? Sim. Tomei.
Qual é o teu non1e ? Caramuru. Belo nome. - De onde vens, mano?
Venho de Sapopema. Por onde passaste? Passei por Piraguac;u.
Onde é o cam-inho de Piragua9u? É lá. A quen1 viste em Pira-
guac;u? Vi o Pindobuc;u e o Cururupeba. - [Como se chama]
(qual o nome d)aquela cidade? Acaraí. E qual é o nome daquela
ilha e da.quele cabo? O nome da ilha é Ipaúgua~u. O nome do
cabo J:lláo sei. - Qual o norne de tua terra (de origem) ? Itapemi-
rim. E o teu lugar de residencia? Reritiiba. - Como se chama
aquele morro? Tinharé. - Quem nasceu em Aiuruoca? Eu ( bia),
[mas] mudei-me de Iá para Piratininga. - Como se chama a irrná rnais
moc;a de Guarapiranga? Piracanjuba. E o irrnao dela? Potirn.
Onde mora ele? [ verta-se: onde é a sua residencia ?J Em Nhauúrna.
BIBLIOGRAFIA
Antroponimos - STADEN 149-151; CRONISTAS, passim.
Etnonimos - CRONIS(AS, passim; CARDIM 194-206; CAETANO, Notas
207-276.
Topónimos - CRONISTAS passim; SAMPAIO, passim.
Vocativo - ANcHIETA 9-9v; FIGUEIRA 9; MoNTOYA 2-3; RESTIVO 13;
DALL'lGNA, Análise 68.

Batalha naval (STADEN)


/

-
-
CURSO DE TUPI ANTIGO

Idiotismos

457. Ao referir un1 período longo, repete-se e-í ( diz, dizem~


disse, disseram) após cada frase de sentido completo:
-
LICA.O 29.ª
e-i-1nondeb itangapenia s-uru-pe, e-í; nd' ere-i-potar-i-p' ia xe
r-uha r-e-11ii-niotara r-upi xe r-eo?, e-í (AR. 76) : enfia a
, espada na sua bainha ( disse) ; nao queres que eu morra.
VERBO É "DIZER" segundo a vontade de meu pai? ( disse)
pe-té-umé .-ce r-apiro-nio, e-·í ; pee aé-eté pe-íe-apiro, e-·í ; pe mem-
455. E' irregular : byra-te pe-s-apiro, e-í (AR. 88) : nao n1e choreis ( disse) ; cho-
rai-vos a vós mesn1as ( disse) ; chorai antes a vossos filhos
I NDICAT.: a-e,, er- é, e-i; " , oro-e,, pe-i-e,
, ia-e, " , e-i:, d'1go, d'tzes, etc. ( disse)
N EGAT.: n d a-e-i, n d' er-e-i,
J , .. , .. n d' e-i;
, n d' ia-e-i,
A '" n d' oro-e-i, , .. Tupii r-esé tirua kó nheenga r-e-ityk-i, e_,í; pe-s-endu'-n' ak<J 1
nda pe-i-é-i, nd' e-í: nao digo, nao dizes, etc. nheenga poxy, e-í; Mara eté-i-p' ipó pee-mor, e-í. Mara
e-í-pe pe nheenga?, e-í; o aob-usit mo-ndot-ó'-ndorok-a o ma•
PERMIS. : t' a-é, t' er-é, t' e-í; t' w-é, t' oro-é, ta pe-i-é, t' eí: diga, etc.
ra11iotar-a1no (AR. ?9) : eis que até contra Deus atira pal~
N EGAT.: t , a-e, unte,, t' er-e, ume,, t' e-i, ume,, et c.
vras ( disse) ; vós mesmos ouvistes as suas más palavras
lMPERAT.: er-é; pe-i-é: dize; dizei ( disse). Que vos parece? ( disse). Que diz a vossa opi·
NF.GAT.: er-é umé; pe-i-é u1né: nao digas; náo digais niao ? ( disse, rasgando as suas vestes, enfurecendo-se)
lNFIN.: é: dizer
Quem transmite um recado, repete ao desti1:atário a
NEGAT.: é-eyni-a: nao dizer
frase tal como a ouviu, juntando apenas: e-í 11de-be "diz-te
"'b o, o-i-a-
A'A'bo, e-i-a-
GER.: gui-i-a- "'b o; w-i-a- "''b o, pe-i-a-
"'b o, oro-i-a- .. ,bo,
A

Fulano":
a-1 ·ábo : dizendo eu, tu, ele, etc.
NEGAT.: gui-é-ey1n-a, e-é-eym-a, o-é-eym-a; ía-é-eym-a, oro-é- Itajibá diz a Tingua<;u: "Dize a Caramuru que nao venha":
-eytn-a, pe-i-é-eym-a, o-é-ey1n-a: nao dizendo eu, tu, ele, etc. T' o-ur u:nzé Kara1nuru-ne - er-é i .:i upé (lit.: Nao venha
Caramuru - dize-lhe)
Tingua<;u diz a Caramuru: "Itajibá te n1anda dizer que náCl
456. Embora se conjugue cotno verbo intransitivo - setn , " : T' o-ur ume, K aramuru-ne - e-i, nde- be I taiy b'a, -
vas A

pronome objetivo da 3.ª p. - exige sempre, antes do sujeito, er-é i xupé (lit.: N.á o venha Car'lmuru, diz-te ltajibá,
o objeto direto ou pelo menos o demonstrativo aipó "isso", dize-lhe)
"aquilo", "o":
Assim também se traduzem as palavras dos outros,
aipó e-í nde-be: isso te diz ele; aipó t' a-é: di-lo-ei pois; a-só,
er-é: dizes que vais (lit.: vou, dizes tu); a-iiiká-pe ká, a-é: matá-lo-ei,
n1esmo quando referidas indiretamente:
disse ( deliberei) ; aipó i é nd' a-i-kuab-i: nao sei que ele diga ( disses- nao ouvi meu pai dizer que o chamasse: xe r-enoí tepe, xe r-uba
se) isso; ere-manó-ne, a-é: digo que morrerás; ere-nianó, aé-ne: direi i-ag-fiera, nd' a-s-endttb-i (lit.: chama-me, <lito de meu pai,
que morreste; aipó nd' a-é-i ou mesmo nd' aipó nd' a-é-i: nao o digo nao o ouvi)

12
182 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 183

Por vezes é corresponde a "resolver, deliberar" :


a-s-enoi, a-é ou a-s-enoí-pe ká, a-é: deliberei chamá-lo Verbo é "dizer", auxiliar
t' nro-iuká-ne ká, e-í guá: deliberaram matá-lo
460. O verbo é pode juntar-se a outro verbo no gerúndio
458. O verbo é pode indicar a inten~o
ou o motivo, sobre-
como auxiliar:
tudo no gerúndio. Explicando-se, p. ex., a un1a pessoa o
perigo de ir a tal lugar, ela responde :
a?,pó gui-i-á-bo, a-só-ne: por isso mesmo é que irei (lit.: isso é s-epiak-a: ve-lo
di zendo, irei)
a-é s-epiak-a: eu o vejo ía-é ou oro-é s-epiak-a : nós o vemos
Neste sentido o gerúndio nega-se com nda e rua (n. er-é s-epiak-a : tu o ves pe-i-é s-epiak-a: vós o vedes
184) e nao com eyni-a: e-í s-epiak-a : ele o ve e-í s-epíak-a: eles o veem
nda aípó e-i-á-bo rua, aípó er-é : nao o disseste com es:;a in-
a-~
nde r-epiak-a: eu te vejo; nd' er-é-i s-epíak-a: tu nao o vés;
tenc;ao (lit.: nao dizendo isso, o disseste)
n d a-e-i s-ausu p-a: nao
J ,_. - o amo; n d'""'ia-e-i
'A
xo-e
, ,
n de r-ausup-a-ne: nao
""
É muito usado co1n o permissivo: te amaremos ; nda pe-í-é-i oré r-ausup-a : vós nao nos a1nais ; pe-i-é
t) i marangatu, gui-i-á-bo, a-i-nupa: bati-l~e para que seja botn; ttmé xe r-esé pe-ia.seó-bo : nao choreis por mim
t' ia-i-pysyro, oro-í-ábo, fil-i-nupa: batemos-lhe, no intuito de sal-
vá-Io; ta xe poi, nda gui-í-á-bo ruá, a-íur: nao venho para que eles Usa-se essa perífrase, em geral, para exprimir as de-
me dee1n de comer (lit. : alimentem-me. náo dizendo, venho) cisoes do momento; prefere-se entao é no .perm1ss1vo:
Com advérbios dubitativos, traduz-se por "pensar, a-é gui-xó-bo ou melhor t' a-é gtti-xó-bo: vá eu
julgar que": 461. Como auxiliar, é junta-se também a outras partículas
o-só ipó reá, gfti-í-á-bo angá', nd' oro-enoi: julgando que te tives- e palavras, formando locu~óes que levatn o verbo ao
ses ido. nao te cha1nei; xe nibaé sera, e-i-á-bo, ere-r-ur: trouxeste-o, gerúndio:
pensando que fósse teu; o-í-mo-1nbab umii ipó reá, nda gúi-i-á-bo rua,
a-só xe r-e-mbi-apó r-epiak-a: nao fui ver minha obra, nao julgando
· que (julgando que nao) a tivessem destruído; i angaturam ipó reá, é katu: poder, ser botn para, saber
nda gúi-í-á-b' eym-a rua, nd' a-s-enoí: nao por o nao julgar bom,
o nao chamei a-é katu : posso ia-é ou oro-é katu : poden1p~

er-é katu : podes pe-í-é ou melhor pe-é katu : podeis
e-í ou o-é katu : pode e-í ou o-é katu : podem
a-é katu gui-xó-bo: eu posso ir; er-é katu e-ké : podes clormir;
o-é ou e-í katu o-ygá-pukui-a: ele pode ou sabe remar; e-í katu nde
r-uba iuká-bo : ele pode matar teu pai ; nd' oro-é-1, oro-1.e-by : nao po-
demos voltar; nda pe-é-i xó t-obaiara iuká-bo-ne: nao podereis ma-
tar os inimigos
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 185

462. Com complemento regido de r-esé, é katu significa 464. tenhé: em váo, de balde, a toa, sem outro f im, falsa-
"saber ±azer": mente
a-é katit ebouinga r-esé : sei f azer isso ; er-é ka tu, s-esé: sabes pe-i-é tenhé pe-iabap-a: fugistes a toa, sem necessidade; e-í tenhé
faze-lo; nd' e-í ka tu 11ibaé r-esé : ele nao sabe f azer nada o-pytá-bo: ficou em vao; a-é tenhé nde nu,pa-tno-ne (VLB 382): a
toa te baterei ; er-é tenhé xe r-ausup-a: debalde me amas; oro-é tenhé
Outras partículas: oro-i-á-bo : dissemo-lo a toa; de nlentira; t' e-í tenhé unié o-nheeng-a
(VLB 254) : guarde-se ele de falar a toa; t' e-í tenhé 'lt11ié ahe aipó
463. byté(r) (-i): ainda, continuar o-í-á-bo ( ib. 306) : guarde-se de dizer isso a toa, de gracejo; e-í tenhé
oro-é byter i 1no-nhang-a: ainda o estamos fazendo; e-í byter i ipó o-í-á-bo: ele disse isso por cac;oada
pysyk-a: continuou segurando-o; a-é byter aípó gui-i-á-bo : ainda o
digo; nd' eré-i byter-i-pe e-iup-ar : nao continuas deitado?; e-í byter-i 465. - un1,.u""'-a, y1na,
unia, - yniua:
.,,,,.._ .,
Ja
ahé xe amotar-eym-a (VLB 339) : ele continua a me odiar; e-í byter a-é uma gui-xó-bo (FIG. 160) : já vou
o-mbaé-asy-ramo : ele continua doente
uman-i, untuan-i, ynian-i, ymila,n -i: devagar, tardar, nunca
é: tempo virá em que
acabar de f azer
e-í ahé i kuap-a-ne ou e-í é ipó ahé i kuap-a-ne (VLB 403):
tempo há de vir em que o saberá a-é uman-i gi'ti-gúa.tá-bo : levo tempo para andar; e-í ymi'tan-i ahé
i mo-nhang-a (VLB 347): náo acaba nunca de o fazer
ié: ainda, continuar - Estando na forma negativa seja o verbo é seja o
a-é ié s-epíak-a: ainda continuo a ve-lo; e-í íé o-ké: ele continua
donnindo gerúndio, o sentido é o mesmo :

nd' a-é-i yniúan-i i 1no-nhang-a ou a-é yniítan-i i 1no-nhang-ey1n-a
ké: ( com v. neg.) : nao tivesse ... (VLB 401): tardo muito em o fazer
nd' er-é-i ké e-iaseó-bo . .. : nao tivesses chorado. . . (e, p. ex., Para ANCHIETA, quando u:n dos verbos é negativo, o sentido é algo
nao te teriam desprezado) df verso : " nao acabar de come<;ar ". Cpr. :
a-é uman-i nibaé gfi-á-bo (ANcH. 57v) : detenho-me muito em comer
nd' a-é-i 11,man-i 1nba.é g ú-á-bo ou a-é 11.11ian-i mbaé ií-e)im-a ( ib.) :
1nemé-nhé: em tudo igual a uman-i ainda náo acabo de come<;ar a comer
nhé: já
er-é nhé e-só-bo: já vais; t' e-í nhé o-ikó-bo, o-up-a, o-só-bo, o-in-a 466. rarihé: ( com v. af irm.) : prin1eiro, adiante
(VLB 177) : deixa-o já estar, jazer, ir, estar parado; t' e(-í) nhé t' a-é-ne ranhé gui-.,-ró-bo : que eu vá ( irei) pritneiro
-n' o-ikó-bo ká (VLB 177) : ( resolvo) que o deixem já ir; e-í nhé-pe Só se usa na t.n p. s. Para as outras há circunlóquios:
o-ikó-bo-nc? (VLB 177): já ficará assim? já o deixarei estar? nei nde ranhé e-só-bo ou neí e-só-bo raiihé; peí peé ra1ihé pe-só-bo ou
1 peí pe-só-bo ranhé; t' e-í nhé o-só-bo ranhé ou t' c-í nhé t' o-só. Etc.
teé: ( com v. neg.) : de propósito, por isso mesmo
nd' a-é-i teé gui-ie-by : por isso mesmo voltei ; nd' e-í teé o-ma- 467. ( com v. neg.) : ainda ( ranhé vai no f im)
nó-1no: por isso mesmo morreu; nd' e-í teé o poxy-eyni-anio, o anga- Cpr. nd' o-ur-i ranhé: náo veio ainda ;' nda s-ar-i abati ranhé:
turam-eté-ramo (AR. 137) ; por isso mesmo ela foi bela, santíssima o milho ainda nao tem espiga
186 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 187

nd' a-é-í nde r-epíak-a ranhé : ainda nao o vi ; nd' a-é-í unwn-i tyk: seren1 tnuitos ( só no pl.)
mbaé gu,-á-bo ranhé (ANcH. 56v): ainda náo acabei de con1e~ar a
comer; nda pe-é-~-pé pe niaenduar-anio ranhé?: ainda nao vos lem- tyk oro-é, ia-é, pe-í-é, e-í: son1os, sots, sao muitos
brais?; nd' e-í o-íyp-a ranhé: ainda nao está assado · nd' e-í o ekó-
• • J

-ranw r-upi o-ikó-bo ranhé ybá: a fruta ainda nao está como <leve 1iing, ning-ning: latejar ··
(~it.: segundo o seu futuro ser) ; nd' er-é-i i kuap-a ranhé-pe?: ainda
nao o conheces? .: nd' e-i nde pysyk-a ranhé-pe guá?: ainda náo te
ning e-í xe akanga: tninha cabe<;a está latejando
prenderam?
guym: sair depressa, voando, zunindo
468. Nas respostas, pode-se omitir o gerúndio, e mesmo guy11,i a-é nhé ou gt1ym a-é: saí as pressas, voando
ranhé:
ainda nao o conheces ? : nd' er-é-i i kiiap-a ranhé? . ainda nao: Verbo é impessoal
nd' a-é-i i kuap-a ranhé ou nd' a-é-i ranhé ou nd' a-é-i, i kuap-a ou
nd' a-é-i ou aan ranhé
472. Os documentos tupis nao no atestam, mas por analogi:i
469. Com ranhé, o verbo pode deixar de ir ao gerúndio:
nao está ainda deitado: nd' e-í o-up-a ra1"thé ou 11d' c-í o-ub ranlié · com o guarani concluimos que o verbo é devia ter tambén1
ainda ~~ vos lembrais? : nda pe-é-i-pc pe maenduar.-amo ranhé? o~ a func;ao impessoal de "fazer":
nda pe-e-1,- pe pe-maenduar ranhé !
a fra~e,
roy e-í: faz frio (Cfr. MoNT., floc. 286); iasy e-í: taz lua ou
470. Ranhé, claro ou subentendido, dá
. cedo" amiúde o sentido de "ser
,
cedo", '' ser mmto : luar (id., Tes. 185); piryai' e-í: faz calor ou suor (id., Voc. 130);
t' ia-só-'!e. N d' e-í a11gá-i: vamos! É muito cedo; N d' e-í ara (V1.B aman' e-í ou aniand-y e-í: chove (ib. 355); amá'-pytu.n' e-í: está nu-
148) : ainda r.esta grande parte do dia. É ainda -cedo. blado ( ib. 389) ; y t-ypyak' e-í : congelou-se a água ( ib. 435) ; t-ypyak'
e-i kamby: coalhou-se o leite ( ib.) ; pytu-y e-í: faz ou deita vapor
Modismos onomatopaicos (id., Tes. 30lv/29Sv)

471. Certas partículas onomatopaicas, seguidas do verbo é, É provável, pois, que houvesse em tupi constru<;óes como
formam curiosos modismos: kuarasy e-í: está f azendo sol
ten: firme, f ixo, encaixado
Mas o modismo é restrito aos fenomenos atmosféricos,
a-é, er-é, e-'Í, etc. : estou f irn1e, estás firn1e, está f inne, etc.
ten
ten nd' a-é-1, nd' er-é-i, etc.: nao estou firme, etc.; ten a-i-11io-é astronomicos e semelhantes.
(ou a-i-nio-ten) : eu o firmo, encaixo, etc.
EXERC1CIOS
tak, tatak: dar estalo, bater
tak e~í guyrapara: o arco deu un1 estalo 473 . .Conjugar no indicativo, presente e futuro, afirmativo,
negativo, interrogativo:
tek: quebrar-se estalando, estalar dizer náo dizer ainda
te!~ e-í ybyrá: a árvore estalou nao o ver ainda nao ir ainda
188 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 189

474. Tinguac;u diz a Akangatá: Akangata, e-kuaí íakaré y-pe, o-manó mo-ang-aub: fingir, fazer que, pensar erradan1ente:
xe sy, er-é Abatiuna supé. Akangatá diz a Abatiúna: 0-1nanó xe
sy, e-í nde-bo Tiguasu, er-é i xupé. a-só-mo-ang-aub: finjo que vou; o-só ipó reá mo-ang-aup-a, aípó
T' o-í-kttab, g-0,i-í-á-bo, a-é i ,t:upé. A-s-epíak ipó xe r-ayra-ne, a-é : eu disse isso, pensando erradamente que tivesses ido
o-i-á-bo, Abatiuna kfiesé Aíuruok-pe i xó-u ( f oi). Aipó .~e é Cpr. também as frases:
nd' a-í-ku:ab--i. 0-só ipó, oro-í-á-bo, nd' oro-s-ekar-i. X e íuká-ne, pe-
-i-á-bo, nda pe-ker-i. Nd' e-í o-pak-a ranhé, gui-í-á-bo, nd' a-s-enoi. xe r-epiak-aub iepé: finges que me ves; nda xe r-epíak-aub iepé:
N d' e-í o-manó-mo ranhé-pe t-obaíara? N d' a-é katu-í i kuap-a ranhé. náo finges que 111e ves; nda xe r-epiak-eym-aub-i íepé: finges que nao
N d' a-é kat,u-i gtti-xó-bo ranhé-pe? N d' e-í ranhé. X e r-ub gité ! me ves; nda xe r-epiak-aub-eyni-i iepé: nao finges que nao me ves
oro-é katii-pe parana-tne ytap-a! N da pe-é · katt{-i. Mbaé-pe e-í Sobre a locu~ao nda s-aub-i, v. n. 576.
nhandé-be? N da pe-é katir:-i, e-í. N d' oro-é katu-í oro-ké-pc! Aan-i.
Mbaé-pe e-í! Aan-i, e-í. Mbaé e-í-á-bo-pe, aan-i er-é? T' o-manó 479. Posso dorn1ir? Sim. Podes dormir. Que nle disse ele? Dis-
u1né-ne, gúi-í-á-bo, aan-i a-é. Nda aípó e-í-á-bo rua, aan-i er-é oré-bo. se-te que sim, que podes dormir. Podes vir tu també~ co?'ligo?
Mbaé-te-pe gui-í-á-bo, aan-i a-é peé-mo? Ere-nhe-nong e-íup-a? Eé. Posso. Vem, pois, comigo. Ainda nao vou. Por que, po1s, d1sse~te
A-nhe-nong gui-t-up-a. que vinhas? Disse que ia, supondo erradamente que pudess.e 1r.
Agora ainda nao podes v.ir? Já V?U. i:inges. q~e ná? q;ieres Vl~: ..
aub Traze também o teu amigo. Leva-lo-et e de1xa-lo-e1 at. Abattuna
ainda continua doente? Nao. ~le está só dcitado. Está f ingindo que
475 · auba: falso, de mentira; mesquinho; aub: falsamente, dorme. Ainda náo se levantou? Levantou-se dormindo. Por que
mesquinhél;mente, sem resultado, fingidamente, de má von- se levantou dormindo? N em bem se tinha deitado . . . - A on~a
fingiu que nlorreu. - Nao finjas que nao. me estás :ren~o ..- Náo
tade, mal, apenas, só: finjas que nao sabes fazer isso. - Nao digas que nao f1n~1ste que
abá auba: hornero mesquinho, de burla; mbaé kuap-ar-auba: sábio nao me vias. - Con1 que inten<;ao fingiste que estavas dorn11ndo?
fingido, de n1entira, in1postor; ere-ker-aub: finges que dormes;
nif' ere-ker-aub-i: nao fin ges que dormes; a-é-aub: pensei ( ~
BIBLIOGRAFIA
disse) errada ou falsamente; supus; iinaginei
Repetido o verbo, fica mais claro o sentido de " fingir " : Verbo "dizer" - ANc BIETA 54-57 ; FIGUEIRA 54-56; 159-163; MoNTOYA
o-i-tneé·-meeng-aub: f ingiu que o deu 55-59; RESTIVO 122-133; CAETA NO 40; 78-79; ADAM 72-74; L. BARBOSA, o
Vocabulário 17-18.
476. Repetido aub, exprime-se "grande desejo": Modismos onomatopáicos - guym: VLB 120; 302; ning : VLB 273; tak:
VLB 204; tek: REsTrvo 126; ten: ANCHIETA 57; VLB 118, 204; 238; MoNTOYA
a-iur-aú'-aub: desejo muito ir 58-59; In. Tes oro 378v/372v; RESTIVO 126; tyk : ANCHIETA 57 ; VLB 264; 304;
395; 417; MoN TOYA 390/ 384.
aub - A N cHIETA 35; FIGUEIRA 138-139; VLB 291; 237; 382; 414;
477 · eyni-aub ( com v. neg.) : fingir que nao: pass1m.
nd' a-só-eym-aub-i: finjo ou fac;o que nao vou
478. nio-ang: pensar, cuidar, imaginar, fingir, debalde:
a-só-nio-ang: cuido ir; ntbaé kuap-ara mo-anga: sábio tido
como tal
!
CURSO DE TUPI ANTIGO 191

ativos : syk : chegar 1no-syk: f azer chegar


íe-byr : voltar nio-ie-byr: fazer voltar
i
"
LI(AO 30.ª neutros: akub: ser quente nio-akuh : esquentar
pab : aca1)ar-se 1no-mbab: acabar, destruir

VERBOS CAUSATIVOS 483. Prefixa-se tan1bém a substantivos modificados por


complementos atributivos:
mo- ou mbo- á'-iuba, cabelo lauro
abá á'-iuba: ho1nen1 de cabelo louro ( n. 344)
480. De verbos intransitiv.os ou intransitivados, de subs- abá i á'-iub: o hon1e1n tem o cabelo louro
tantivos, adjetivos, partículas, etc., f ormam-se, com o au- a-i-11io-á' -iub abá: fiz o hon1c1n ter cabe1o louro
xílio dos prefixos n1o- e ro-, muitos verbos transitivos. Há pi'-roy: pele fresca
f reqüentes metaplasmos ( n. 28). xc 1no-p,i'-roy: éle 1ne refrescou a pele

481. M (b) o- é pref ixo e a u s a ti v o ~ usadíssimo: pirá-kae: peixe moqueado


a-i-1no-pirá-kaé ou a-í-nio-kac pirá ou a-i-1tio-pirá 11to-kae:
só, ir: mo-ndó: mandar, tocar . .
moquee1 o pe1xe
sok, quebrar-se: nto-ndok, quebrar
ie-byr, voltar: nto-ie-byr, fazer voltar, devolver 484. Entre o prefixo a$"ente e o prefixo ou tnbo-, em geral vem o pro-
1110-
maenduar, lembrar-se: nio-1,naenduar, f azer len1brar-se nome oblíquo da 3.a p. i, mas nao é de rigor: a-¡~mo:sc1n ou a-1no-sem. No
ker, dormir : 1no-nger, fazer dormir tupi de Sao Vicente é menos usado. No guarant nao se usa.
gueb, apagar-se: mo-gi1eb, apagar
endy, aceso: 1no-endy, acender, iluminar 485. Mbo- é o mesmo que mo-, n1as menos empregado.
seni, sair: 1no-seni, tocar, despedir No dialeto tupi, acorre especialmente antes de monossílabos
pak, acordar : 1no-nibak, despertar .
abá, homem: 1no-abá, f azer ser ou ter filho e sons ora1s :
ayra, filho: nio-ayr, f azer ser ou ter filho n,i bo-ur: fazer vir, 1nbo-é: ens1nar; (n1as 1t1to-in: por, mo-un:
ram-buera, suf. pass.-fut.: mo-rani-bíier, frustrar pintar de preto).
eté, muito, etc. (n. 171): mo-eté, honrar, engrandecer, estimar Nao ocasiona metaplasmos : cpr. 11w-111bab e mbo-pab, etc. (n. 28, obs. 3).
ie-iuká, matar-se : 1no-te-iuká, f azer matar-se
io-1-ab, igualarem-se: 1no-1o-iab, fazer igualarem-se 486.Os verbos intransitivos de pronomes pacientes podem
por-ausub, amar: nio-por-ausub, fazer amar (gente)
nibaé-kitab, saber (as cousas) : mo-nibaé-kuab, fazer saber (as
tomar o reflexivo ie-, e, novamente, o prefixo mo-:
cousas) akub: ser quente a-i-1no-akub : esquento-o
a-ie-mo-akub : esquento-me a-i-tno-íe-nto-akub : f a<;o-o cs-
482 ·Antes de verbos intransitivos a tivos, pode-se sempre quentar-se
verter por "fazer"; antes de intransitivos neutros, é mais a-ie-1no-pi'-roy: refresquei-me a-i-nio-ie-nio-pi' -roy: fa<;o-o re-
adequado um transitivo: í rescar-se
192 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 193

487. Antes de nio-, pode vir ~ partícula poro-: piri«i : bolha (da pele) ; empo- endy ( t) ( xe) : estar aceso
a-poro-mbo-é: ensino (gente) lado i'-atá-py: fazer fogo (para si)
a-poro-1no-ie-nio-pi' -roy: fa<;o com que se ref resquem piruá-pf'tera: calo ; caloso ase'-asenia ( t) ( t) : gritaría
mo-mbeb: esmagar atá-tinga ( t) : f uma<;a; ( xe) :
Irregulares nhe-mo-mbeb: esmagar-se, aga- fumegar
char-se l7é-nhé, bé-no: tornar a
iá ou iab : igual, do tamanho de ikó: eis que, aqui, agora, já
488. A-ytaro (n. 301) é transitivo, mas admite o prefixo o-io-iab : iguais; igualmente (vis.)
nio-, sem alterac;ao de sentido: ar-bo : encima de
a-i-mo-ytaro: farto-o
494. O-nhe-mo-p;1titn. !asy-t-atá s-endy ybak-pe. - lasy iá-ne
489. De potar "querer, desejar", forma-se mo-1nbotar ou kuarasy. Aan. N d' o-io-iab-i. - Ybytu o-í-mo-y-roysang, kuarasy
nio-1notar "fazer-se cobic;ar ou querer." O su jeito de o-i-mo-aku' bé-nhé. - Xe iuru kaneo xe r-asé-r-asem-anio. 0-í-mo-
"fazer" é o mesmo objeto de "querer" ou "cobic;ar": -kaneo xe apysá nde r-asé-r-asema. X e mo-apysá-kaneo nde r-asé-
-r-asenza. - A-i-mbo-ar t-atá. E-i-mo-endy t-atá ta s-atá-ting umé-ne.
a-i-m~-mbotar xe r-uba:f a<;o meu pai me querer, fac;o-me querer Mbaé r-esé-pe nd' ere-i-mo-endy-í nde aé-ne? T-atá e-í byter og-endy-
d~ meu pa1; xe nto-1notar ahe aoba (VLB 156) : faz-me cobi<;a a roupa -ramo. N d' er-é-i t-atá mo-endy-á-bo xe ini guyr-pe ranhé-pe? N d'
dele; a-nhe-mo-1notar aipó mbaé r-esé: cobi<;o essa cousa a-é-i. N d' a-é-i xe syk-a. - Ybytu t-atá o-~-mo-gueb ikó. E-f-atá-py
bé-nhé. - Mbaé r-esé-pe ere-í-peíu t-atá? T' o-gueb umé-ne, gúi-
490. O causativo de ikó "estar" é 1110-ingó "colocar, por" · de iké "en- -i-6-bo, a-i-peiu. - T-atá o-poro-apy. - X e r-amyia o-i-mo-mbeb
t rar '_' ,~
#
mo-~1ige
• , "
mt~
• od . "
uz~.r ,; de iur
,,. " vtr
. ,, é .mbo-ur "fazer
' vir''; de
atyro arranJado, enfe1tado e mo-ngatyro "arranJar, enfeitar ", etc. t-obaiara akanga, i iuká-bo. - Paka o-nhe-1ni11t ybyrá guyr-pe, o-nhe-
-mo-mbep-a. - A-i-mo-nhe-niim xe r-aiyra. - Na nde iab-i ixé.
Manó "morrer" nao admite o prefixo 1110-.
0-io-iab iandé. Oro-1,o-ausu,b o-Ío-iab. Ta pe-nho-nio-io-iab-ne. -
491. Repetido mo- antes de mo-sem "fazer sair tocar para fora ", forma-se E-i-mo-ingó-katu xe ini t-atá ar-bo. - Y gá-pukuí-taba xe mo-pó-piruá
mo-mo-sem " acossar, correr atras
' de " . , o-ikó-bo. I xé abé xe pó piruá-puer' -n' ikó.

492. Em alguns verbos de prefixo 1no-, o segundo ele- 495.


mento na fase histórica da língua já nao tinha uso en1 peda~o: asyk-uera responder: é
separado, tornando-se difícil conhecer o seu sentido pró- bocado : ittru f arto : a-pysyka

pr10: acompanhamento : tyra, s-é-bae moqueado : kaé, mo-kaé
forne : ambyasy moquear : mo-kaé
m o-nhang " faz er" , 1110-nd eb " en f 1ar,
· · " , nio-ntbeu' "decla-
vestir enjoar: mo-ting
rar, referir" sede: ú-seia
ter sede : -ú-sei ( xe) sujo: kyá
querer comer ou beber: ú-sei, tr. crtt: pyra
EXERCtCIOS antigo : y11ii'tana, uniuana
493. querer comer : karu-sei, intr.
arrancar ( rebentando) : 1110-ndorok verde (nao seco) : ybyra
ia.sy-t-atá : estrela 1no-io-iab: igualar (2 ou mais engordar : 1no-ngyrá, tr. fresco: pysasu
apysá: ouvido cousas) suor: yaia (t) - [carne, fruta, etc.] : ybyra
kaui: cauim kaneo: cansado suar: yai (t) (xe) nao há : nd' i por-i
CURSO DE TUPI ANTIGO 195
194 LEMOS BARBOSA

mongarit : dar de nz.oynysenz.: encher 1nonibytá: f azer ficar


496. S-é-bae "acompanhamento ", "condimento" que torna mais gostoso um 11ioata : endurecer
alimento, p. ex., do pao: peixe, carne. Tyra "companheiro": :re tyra ahé: é comer a tnondyi: assustar
meu companheiro; ze tyr: tenho companheiros. Aplicado a comidas, significa
tanto o alimento principal como o acompanhamento: Kaaoby o-i-meeng pirá 499. Formar em tupi os seguintes verbos:
i:ré-be; rndé koyr e-i-meeng i:ré-bc i tyr-ama: Caobi me deu peixe; tu agora
dá-me o acompanhamcnto (páo, farinha, etc.) ; 1.ií f31r-e3 ma r-csé a-karu:
1 alongar, dilatar, deter, retardar; de puku
como (só) farinha , sem acompanhamento (peixe. carne). abalar, aluir; de kué
fazer ficar, deter, dar pouso a; de pytá
.
J

497. Para [me] emagrecer, cansei-me muito, arrancando mato. quebrar, partir; de sok
O sol me fez suar. Assim eu [me] en1agrecerei logo. - Queres
beber água? Náo. Nao tenho sede. Tenho fotne. Eu quero comer. BIBLIOGRAFIA
Para que (n. 198) queres con1er? Para (n1e] engordar, e para me ANcHIETA 48-49; FIGUEIRA 91-92; MoNTOYA 48-49; REs~1vo 59-61_;
tornar fo rte. Que queres comer? Queres carne crua? Quero carne CAETANO 37-38; 39; ADAM 47-48; L. BARBOSA 172; 184; DALLlGNA, A?ia-
1noqueada. Moqueia.-a, pois, para que ( n. 198) a con1a1nos. Náo. lise 64-65.
Fala com n1eu irmáo e pede-lhe que a n1oqueie para min1. Por que
nao a moqueias tu mesmo? Porque náo sei fazer isso (n. 462).
J á falei con1 ele, ( n1as) ele respondeu que nao a 1noqueia. Por que
nao a quer moquear? Porque a carne está muito nojenta.
- Por que nao comestes ainda os vossos prisioneiros? N ós os
estamos engordando prin1eiro.. Como queres comer a carne deles?
Quero que fac;as a carne moqueada. Nao posso fazer a carne moquea-
da: nao há lenha seca: o sol secou só as folhas das árvores; a ma-
deira ainda está muito verde. E as frutas, por que náo as comes?
Ainda náo estáo n1aduras. Por que nao as apanhas para amadure-
ce-las? Elas estáo ainda muito verdes. - Queres mais un1 pe<lac;o
ainda? Nao. Comida eu ainda tenho; agora quero o acompanha-
n1ento [dela]. Dou-te clois bocados apenas. Tu n1e fazes (ficar con1)
[ter J os brac;os cansados! E tu, queres f arinha? Nao. Estou farto.
E maracujás? Nao. ~les me enjoam.
- Vim (para] conversar contigo. - ~le está conversando con-
sigo mesmo. - Quen1 te sujou a cara? 11inha cara nao está su ja!
- Tua casa está vclha. Eu a renovarei. Eu também era novo
e [me] envelheci.

498. Indicar a composi<;ao dos verbos ( excecionalmente váo


sem divisao) :
mosym : alisar mobok: rachar 1nonibaeií: dar de co- Prisioneiros europeus conduzidos. Execuc;áo e consuma~áo
1nomb1lb: amolecer nionibuk : rachar mer a <le urna vítima (DE BRY)
CURSO DE TUPI ANTIGO 197

ik6: estar a-r-ekó: fac;o-o estar comigo; tenho-o


iub : estar deitado a-r-ub : estou deitado con1; deitei-o comigo
LI(ÁO 31.ª ro-biar : crer em (nao há o simples bfar)

' 503. Nao se usa o pronon1e objetivo da 3.ª p. antes de


VERBOS CAUSATIVO-COMITATIVOS ro- ou no- nos modos e tempos de prefixos agentes. Nas
3as. pp. e na 1a. excl. pl., insere-se ( gu) e-:

ro- ou no- a-ro-bebé, ere-ro-bebé, o-gue-ro-bebé


ia-ro-bebé, oro-gue-ro-bebé, pe-ro-bebé, o-gue-ro-bebé
500. Como 11io-, forma verbos transitivos, mas ten1 de es- 504. Nos mesmos modos e tempos, os pronomes objetivos
pecial que 1) o sujeito também participa da a~ao <lo da l.ª e 2.ª pp. váo seguidos de r-e-:
objeto, ou 2) pelo menos, entre o sujeito e o objeto há
.~e r-e-r-ur: levou-1ne consigo nde r-e-r-ur: levou-te consigo
alguma conexáo especial. Exs.: pe r-e-r-ur: levou-vos iandé ou oré r-e-r-ur: levou-
1) a-ro-íe-byr xe r-ayra: fiz meu filho voltar comigo; trouxe -nos
meu filho xe r-e-r-ur iepé : levaste-me xe r-e-r-ur peiepé : levastes-me
2) a-ro-ker aoba : durn10 com roupa
a-ro-1nanó t-ekó-katu: morro con1 virtude 505. Ex e e<; a o: Depois de oro- e opo-, ven1 só e-:
a-no-ti .'re sy : envergonho-n1e de ( con1) minha máe
oro-e-r-ur: eu te trouxe ; nós te trouxemos
Compare-se com o prefixo mo-: opo-e-r-ttr: eu vos trouxe; nós vos trouxemos
a-i-mo-mbytá ygara: f iz parar a canoa ( en1 que eu nao ia) 506. Nas forn1as reflexivas e recíprocas (ie-, nhe-; io-,
a-ro-pytá ygara: f iz parar a canoa ( em que eu ia) ; parei com a canoa
a-i-mo-ingé 1ninibaba: fiz entrarem as criac;óes (tocando-as) nho-) e quando o verbo leva objeto direto incorporado
a-ro-iké xe mbaé: recolhi, levei comigo para dentro as minhas cousas ou as partículas poro- ou 1nbaé ( n. 280), introduz-se urn
e- antes do prefixo ro- ou no-:
501. No- é variante de ro-, usada antes de nasais :
a-íe-e-ro-bak: eu me v1re1 o-poro-e-r-ur: ele trouxe (gente)
a-no-.$em ou a-ro-seni: f ac;o-o sair comigo, tiro-o, toco-o comigo ere-nibaé-e-r-ekó: tu tens oro-Tupa-e-ro-bíar: nós confia-
NoTA - A forma primitiva do prefixo devia ser ero- ou eno-. O e eousas mos em Deus
ficou em alguns casos (503-508). - Neste CuRso, descritivo, toma-se o e
como accessório. Alguns autores escrevem giie-; p. ex., o-Poro-gíie-r-ttr. /

Irregularidades 507. Mas com o reflexivo ie-, o primeiro e pode desa-


502.
,
so: 1r
. a-ra-só : f ac;o-o ir comigo ; levo-o
parecer:
íur: vir a-r-ur: fa<;o-o vir con1igo; trago-o a-ie-e-ro-bak -+- a-i'-e-ro-bak
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 199

508. Nos n1odos de pronon1es pacientes ( n. 336), o pre- 509. O gerúndio segue o infinito, exceto na desinencia.
fixo ro- ou no-, precedido de objeto direto, recebe um e-, 510. Como 1no-, o prefixo ro- ou no- nao se antep6e a
que varia desta sorte: verbos transitivos. Se estes, porém, estao na for1na refle-
xiva, ou se leva111 as partículas poro- ou 1nbaé ou objeto
INFINITO: e-ro-kera incorporado, equiparam-se a intransitivos :
a-ro-por-attsiib :i:e sy: f iz 1ninha n1ae amar (g.) co111igo; oro-e-ro-
el. sup.: t-e-ro-ker-a: dormir com (g.) ; fazer (g. ) dormir com -por-ai,sub: eu te fiz an1ar (gente) co1!1igo; o-gtie-1:0-íe- peá: fe-I?s :e-
el. inf. : s-e-ro-ker-a: dormir com (c.) ; fazer (c.) dormir com pararen1-se con1 ele; pe-ro-y-ú. p~ r-e-i1nbaba: fazet as ~os~as cnac;oes
x e r-e-ro-ker-a: 1) fazer-n1e dormir con1; beberem água convosco ; bebe1 agua com as vossas cn a<;oes ; ere-ro-
2) dormir comigo -ybak-epíak-pe 111itanga? : f izeste a crian<;a ver o cén contigo?
nde r-e-ro-ker-a : 1) fazer-te dormir com; O prefixo ro- ou 110- nao é muito usado com suhstantivos, adj etivos, partí-
2) dorn1ir contigo culas e mesmo corn os verbos de pronome paciente.
s-e-ro-ker-a: 1) faze-lo dorn1i.r con1;
2) dormir com ele EXERCfCIOS
o e-ro-ker-a : 1) faze-lo donnir con1; 511.
2) dorn1ir co1n ele bak: intr. virar (de dire\áO} ro-gueiyb, ro-iyb : fazer descer
iandé ou oré r-e-ro-kcr-a: 1) f azer-nos donnir com ; ie-reb : virar-se (rodando) nio-asy : arrepende~-se de
2) donnir conosco bur: surgir, emergir amotar: tr. querer ben1 a
pe r-e-ro-ker-a: 1) fazer-vos dormir con1; ti [ sui] : ter vergonha de apyania : inclinado
2) dormir convosco kapiiguara: capivara
nio-ti : envergonhar
s-e-ro-ker-a : 1) f aze-los dormir com; kaá-ysá, ka-ysá : cerca de ramos
no-ti: envergonhar-se ( cotn o
2) donnir com eles
ato) de
o e-ro-k cr-a: 1) faze-los dorn1ir co1n;
ro-yro: detestar anama: ra<;a
2) dormir C0111 eles
ro-ie-byr : voltar con1 angaipap-aba: ruindade
1) fazer a crianc;a donnir con-
1nitanga r-e-ro-ker-a : .
sigo;
mo-ingé: recolher obaké ( t) : <liante de
ro-iké: recolher Koema: n. pr.
2) dormir com a crian<;a
ro-ar: irruir sobre, arrebatar kó ara puku-i: para sempre
nde :1:e r-e-ro-1.·er-a: tu rne fazeres donnir contigo; dormires co- 512. Ybytu o-bak paranii suí ybytyrq, r-csé, ygara r-e-ro-bak-a. -:-
migo · paté x e r-e-ro-ker-a: f azer-me o pajé dormir consigo; K oema o-gue-ro-bak o ekó-puera. - N d' oro-gue-r-ekó-i oré r-e-mbi-
dorn1Ír o pajé co1nigo ; ixé s-e-ro-ker-a: eu faze-lo dormir co- -ú-ra111a. - 0-bur kapiigf'tara. - A bá o-gfie-ro-bur kunttnií r-eté-
migo · dorn1ir eu C0111 ele ; paíé s-e-ro-ker-a: O pajé faze-lo dormir Con- -pu.era. J akang' apya1n. - Ybytu amana o-gue-ra-só. - X e r-ayr,
sigo;' o pajé dormir com ele; Pindobusu nd' ~-s-epíak-i paié ~ e-ro- t-obaíara r-obaké e-íasegft-á-bo, xe nio-ti íepé-ne. Ná nde nhó-te rua
-ker-a : Pinddbuc;u nao viu o pajé faze-lo ( a P1nddbu<;u) dormir con- - e-í 1norubixaba - opá-katu Tupinambá-te kó ara puku-i o-gue-
sigo ( con1 o . pajé) ; Pindobu<;u náo viu o pajé dormir con1 ele ( con1 -no-ti nde rayra-ne. - Kunha o-s-enoi t-ayra s-e-ro-ké. - Taguató
Pindobu<;u) ; P indobusit nd' o-s-epiak-i paíé s-e-ro-ker-a: Pindobu<;u (o gaviao) inambu o-gt1e-ro-ar. - J.1ara-nanto-pe nda pe-í-11io-ingé-í
nao viu o pajé faze-lo (p. ex., a Caobi) dormir consigo ( con1 o pajé); oré r-e-mbi-ar-uera kaá-ysá-pe? Oro-gue-ro-iké biá.. . M a1nó-te-pe
Pindobuc;u nao viu o pajé dormir com ele ( C0111 Caobi) s-e-kó-u (estáo) ? 0-íabah, ixé o e-ro-iké riré. N d' o-1abab-i. Ogue-
I
.. -
LEMOS BARBOSA

-no-sem guá. N d' o-gúe-no-se1n-i: o-ie-upir yb'j•rá-pe. E-i-nio-gueíyb.


N d' o-gfieiy' -potar-i. E-ie-upir ybyrá-pe t' ere-ro-gúeiy'-te. -
E-i-mo-ie-reb soó, t' ere-1-mo-kaé ngatu. E-i-1no-apya11i! - Oré
r-e-ro-yro-pe íepé? N' aan-i. N d' opo-e-ro-yro angá-i. Opo-aniotar.
LI~A.O 32.ª
- Ere-i-mo-asy-pe nde angaipap-ag-úera? A-i-1no-asy katu, s-e-ro-
-yro-mio, s-e-ro-ie-by'-potar-eym-a bé.
513.
VERBOS CAUSATIVOS
chegar : gtiaseni desviar-se do can1inho : piá,
aportar: ie-potar intr.
passar con1 : ro-kuab desviar (-se con1) : ro-piá
passarem juntos : io-e-ro-kuab dirigir (barco) : kok (io)
ukar
- sttcessivos : kuakaar, kuakeó saltar com : ro-por
- - com: ro-kuakaar, ro-kua- passar (a frente de) : pitan 516. Pos posta aos verbos transitivos, a partícula ukar
keó (nho) tem o mesn10 valor que o prefixo 11io- com os nao transi-
tocar em: syk ou byk [ esé j recear por : ro-nhe-ang--ií tivos. Em geral sup5e que o efeito se verifique, e traduz-
aproximar-se : kakar, intr. herdade : kapyaba
juntar-se a: ro-byk festa (de comer e beber) : -se por "mandar, fazer, obrigar". A pessoa a quem se
errar o caminho: opar (s) (xe) pepyka manda é regida pela preposi~ao supé:
acreditar : ro-biar Ilha dos Frades: n. pr. Gitenü a-i-pysyk: segurei-o a-i-p'j1syk-tikar: nlandei segurá-lo
514. Kakar por si só significa "estar em vésperas de" (p. ex. ir, chegar). oro-pysyk : segurei-te oro-p'j1syk-iikar: mandei segurar-te
515. Aproxima-se a festa do cauim. Aproxima-se também a minha nd' oro-pysyk-i: nao te seguramos; nd' oro-pysyk-ukar-i xó-é-ne:
ida. Estamo-nos aproximando da Ilha dos Frades. A canoa já nao mandaremos segurarem-te; xe iuká-ukar iepé I taíyba supé : man-
aportou, já tocou ein terra. Desembarquemos (e) retiremos os daste que Itajiba 1ne matasse; ta xe iuká-ukar umé peiepé Itaiyba
nossos objetos. Absolutamente nao. Nao é aqui a Ilha dos Frades. .supé: nao mandeis que I. me mate; guariba ta pe-i-pysyk-ukar umé
Erramos o caminho. Nao dirigimos bem as nossas canoas (e) des- peiepé ixé-be-ne : nao me obrigueis a apanhar o macaco; o-iuká-ukar
viamo-las (ger.). Isso eu já tinha <lito. Vós nao acreditastes em ixé-be: fizeram com que eu o matasse; Po. aé eniona xe mo-ingó-
mim. . . - Vistes passar por aqui outras canoas? E las nos passaram -ukar (VLB 264): Pero me fez fazer isso
a frente. Sim. Elas passaram por aqui com muitos homens. Passaram
juntas? Nao. Passaram sucessivamente. A primeira encalhou J 517. Em alguns casos equivale a "deixar, permitir":
(o-ar) na margem do rio. Os homens saltaram com suas cousas.
Receio por eles : os inimigos os matarao e con1erao. - Fazei que se a-ra-só-ukar ituba: deixei-o levar as frechas; yporu supé i mo-
juntem as outras canoas, para (n. 198) aportarem na n1arger.1 do rio. -kanhem-ukar-e)''ltt-a (AR. 237): nao permitindo ,que o dilúvio os des-
Que eles des<;am com as suas c<.noas para aquela herdade. Ainda nao truísse; e-i-poru-ukar ixé-be nde guyrapara: deixa-me usar (empres-
chegaram. ta-me) teu arco; o tnetnbyra Tupa, asé angaipaba r-esé asé-be i-nhe-
-mo-yro-bae, o-i-nio-nhyro, anhanga r-atá-pe asé 1no-ndó-ukar-ey1n-a
BIBLIOGRAFIA (AR. 37): (Santa Maria) aplaca o seu filho Deus, agastado conosco
ANCHIETA 48-49; FrcuEIRA 92; MoNTOYA 48-49; REsTIVO 61-63; CAETANO
pelos nossos pecados, nao permitindo que ele nos 1nande para o
37-38; 39; ADAM 47-48; L. BARBOSA 172; 184. inferno
202 LElvf OS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 203

518. U kar é en1pregado ta1nbén1 con1 os verbos intran- ATIVOS


sitivados ( n. 381) : syk: chegar Otl nio-ndyk-ukar: f azer
chegar
o-por-ausub-t-tkar pee-nie: ele vos tnanda que an1eis; a-ie-it{,ká- ou mo-íe-byr-ttkar: fazer
ie-byr : voltar mo-ie-byr
-ukar ltaiyba supé: n1andei Itaji.ba matar-me; nd' oro-ybak-epiak-ukar voltar
nde...be: nao mandamos que olhasses o céu
Neste último caso, o complemento de pessoa dispensa
519. Observe-se a diferenc;a que vai entre 1no- e ukar: supé:
a-ie-íul~á-ukar
I taíyba supé : t11andei I. matar-1ne; fiz-111e matar oré m.o-ar-ukar unié íepé tenta,ao pupé (AR. 2) : nao nos fac;as
por I. ; a-í-mo-ie-iuká 1taíyba : f iz que I. se matasse ( =deixes) cair na tenta~áo
a-i-nio-ie-byr-ukar Pindobusu: mandei Pindobu~u voltar
520. Aos verbos reflexivos uliar dá un1a signif icac;ao 523. NoTA - Ukar é sempre auxiliar. Para os outros casos, com o sentido
.
pass1va: de "mandar", há púai (ío), que também signáfica ":governar, ordenar". A
pessoa mandada fica de objeto di reto; a cousa, dt! objeto indireto com esé ou f't:
ere-íe-pysyk-ukar nde r-uba supé: deixaste-te segurar pelo teu a-io-pUai xe r-ayra : mando em meus filhos ; a-poro-púai : eu mando;
xe iara é xe púai s-esé : meu senhor é que mo mandou ; a-io-puai amó
pai; mará o-ikó-bo-pe asé anhanga suí i nhe-pysyro, ybak-pe o-íe-e- abá pindoba f'-esé (VLB 206): mandei que urna pessoa me arranjasse
-rasó-uká? (AR. 40): como é que a gente se livra do demonio, para ( encomendei) palmas; aé-pe mbaé Giba ri o-pUai-1ne, mara? (AR. 167) :
se fazer levar ( = ser levado) para o céu ? ; nd' ere-íe-ausub-ar-i, xe e que ( f azer) quando ele ordena urna coisa má?
r-esé e-ie-iuká-uká (AR. 316): nao tiveste dó de ti mesmo, deixando- Mas conhecem-se exemplos também como estes :
-te matar por minha causa a-só ui púai-a: vou mandar fazer farinha; a-pindó-píiai: encomendei
palmas

521. Ukar precede todas as partículas que costu1nam se- EXERCICIOS


guir-se ao verbo : 524.
1no-mboi : ameac;ar íe-potá-bé-tá-bé: continuar
nd' o-s-epiak-ukar-i: nao mandou ve-lo; nde ie-epíak-uká-saba: kuakub : ocultar ( muitas vezes)
lugar de seres visto nio-eé : temperar Uubatyba: n. pr. Ubatuba
r-ekó-ukar: entregar ateyma : preguic;oso
522. Ocorre a partícula tambén1 con1 verbos transitivados a1né, n'a1né : ptc ser costume
por nio- ou ro-. Se o verbo ao qual se prefixou mo- nao é. r-ekó-memüá: maltratar erinia: absolutamente nao
ativo, itkar equivalerá a "fazer, nlandar"; se é ativo, 525. E-i-mo-endy t-atá. N d' a-i-mo-endy-í xó-é-ne: e-í-mo-endy-
ttkar nao passará de partícula de realce : -ukar xe r-ayra supé-ne: i ateym-eté. - T-atá kaá o-nw-mbab. Ybyt14
o-i-mo-mbab-ukar kaá t-atá supé. - N d' ere-i-kuakub-i nde
NEUTROS r-e-mbi-ar-úera... Xe r-ykeyra o-í-kuakub-iikar ixé-be. Nde abé
akub (t) (xe): ser 1no-akub: esquentar 1no-akub-ukar: mandar ere-íe-kuakub-pe? Xe r-ybyra xe 1no-íe-k1takitb. - Ere-só-potar-pe
quente esquentar oré r-e-mbi-ú-rania r-eká? Aan-i: a-s-ekar-uka.r itnia xe r-aíyra supé.
pab: acabar-se mo-mbab : acabar mo-mbab-ukar: man- - Uubatyba r-e-ro-kaká, "A-iur-ne ixé pe r-e-11ibi-tí rama" - e+
dar acabar -ukar guá t-e-'lnbi-ara supé, s-e-r-ekó-uká aé riré kttnlzéi-etá supé. Abá
o-gf'te-ra-só o ok-pe, i 1110-ie-nong-a ini-me. 0-1e-byr kunhá, i nupa,
LEMOS BARBOSA

s-e-r-ekó-menu1a ie-potá-bé-tá-bé, i tí-mo-1nboí-a. - E-í-11iá-ee-uktw


soó nde r-e-nii-r-ekó supé. Erima. Soó n' ani' ixé nd' a-i-mo-ee-i.
- Kó abá o e-nii-r-ekó nd' o-puai iepeaba r-esé.
526. LI<;AO 33.ª
nascer (astro) : setn cachoeira : ytu
resplandecer : endy-puk ( t) ( :t.:e) fresco: roysanga
dar a luz : menibyr-ar ( xe) mole: nie11ibeka OBJETO DIRETO INCORPORADO
sentar-se : guapyk enfadado: pi'teraia
alegre : oryba ( t) enfadonho: poro-nio-pueraia
buraco (no cháo) : yby-kuara onde ?· -?, unw.
.. utna. '? , u9na-1ne.
- ?
528. I1nediatamente antes do tema do verbo transitivo
527. A onc;a fez a paca esconder-se no buraro. Onde? - A mulher, deve vir sempre o objeto direto. Se é substantivo, pode
dando a luz, faz o marido deitar-se na rede. - Deitei-n1e com meu vir noutra parte da ora<;ao - e é o mais co1ntun - , mas
arco. Fiz meu irn1ao deitar-se com o arco. Fi-lo beber água. - O antes do tema <leve ficar o pronome objetivo da 3.ª p.
doente mandou chamar os seus filhos. Mandou que se sentassem. ( i-, s-, ío-, n. 120-122), representando o substantivo:
Os f ilhos nao o quiseram. O velho rnandou que a mae se sentasse
com eles. - A lua, nascendo no céu, faz a cachoeira resplandecer. O nao vos quero ver matar a meu f ilho : nd' a-s-epiá'-potar-i pee xe
sol, nascendo, nos alegra. - O cauim aquece o nosso corpo. A água r-ayra iuká ou nd' a-s-epíá'-potar-i xe r-ayra pe i íu:ká
refresca a gente. Também o vento refresca. - Fiz as velhas rnasti- 529. A incorpora«i;áo do substantivo nunca é obrig:atória. Raramente se dá
garem ( suú-suú) o cauim. Nao mandaste também as moc;as mas- quando é um polissílabo ou vem nlodificado por adjetivo ou complemento.
tigarem com elas? - Manda matar o prisioneiro. Nao sei mandar.
És muito nlole. - O sol an1oleceu a resina das árvores. - Estou 530. Com a incorpora<;ao, o verbo perde ·os pronomes ob-
enfadado de te ver! Nao te enfadas de n1e enfadar? És enfadonho ! jetivos. O objeto incorporado, paroJéttono, perde a última
- Hoje estou a toa (nhó-te). Mandai-me fazer alguma cousa. vogal <liante de vogal, e a última sílaba diante de consoante
( n. 16).
BIBLTOGRAFIA
531. Os verbos transitivos, com a incorpora<;ao, equiparatn-
ANCHIETA 49-49v; FrGUEIRA 146; MoNTOYA 48-49 ·1 RESTIVO 64-66; CAE-
TANO, Vocabulárfo 550-551; ADAM 50-51; L. BARBOSA 172. -se a intransitivos ( n. 381). Mas pode1n tornar-se nova-
mente transitivos e ter novo objeto direto. Chametno-los
verbos· re t r a ns i ti vados.
O pronome objetivo da 3.ª p. será o mesmo que serviria de possessivo
ao substantivo incorporado : i, s, t ( n. 236 ss.).
kut11,k: f urar
a-i-kutuk: furo-o ; a-natnbi-kutuk: furo orelhas; a-i-nambi-kittuk
xe r-e-imbaba: furo as orelhas a (da) minha cria~áo; oro-nambi-
-kutuk: furo-te as orelhas; a-t-esá-kutitÁ': furo olhos (de gente);
l

206 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 207

a-s-csá-kzituk: furo olhos (de animal) ; 011. furo os seus olhos (dele) ; 533. Mas, en1 lugar de todas essas construc;óes, mais comum
a-s-esá-kutuk xe r-e-i1nbaba guyrá: furo os olhos a meus passarinhos; é a analítica :
oro-embé-kutuk: furo-te os lábios: .-re-r-e1nbé-kutuk: furou-me os
lábios a-i-kutuk xe r-e-imbaba 1w111bi; a-í-monha11g .i-e r-uba kó;
a-i-kutuk xe r-e-imbaba guyrá r-esá; o-i-kutttk xe r-esá. Etc.
itpir: erguer
534. O substantivo se pode incorporar, sempre que cor-
a-s-upir: ergo-o ; a-1nbaé-1tpir: ergo urna cousa; a-i-iybá-upir 11ia- responde ao nosso complemento restritivo:
raá-bora : ergo os bra<;os ao doente; nde-iybá-1tpir: levantou-te os
bra<;os cortei a raíz da árvore: a-i-kyti 31byrá r-apó ou a-s-apó-kyti ybyrá
t !
viste o filho do chef e: ere-s-epíak-pe morubixaba r-ayra? ou
o/?,: cortar •• . j ere-t-ayr-epiak-pe morubixaba?
nao torceram o pescoc;o da maria-branca?: nd' o-i-po!-lá-i-pe
a-io-ol~: corto-o; a-akang-ok: corto ca!begls 1 a-i-akang-ok mbo1a: gujtranheengetá aiura? ou nd' o-i-aíu' -poká-i-pe guyranhe-
corto a cabe<;a a (da) cobra; a-s-apó-ok : corto raízes; ou corto as engetáf
raízes dela; a-s-apó-ok ybyrá: corto as raízes da árvore
535 Poden1 incorporar-se tambétn os dois substantivos; o
mo-nhang: fazer verbo se considerará intransitivo:
a-i-mo-nhang: fa<;o-o; a-kó-1no-nhang: fac;o ro<;a; a-i-kó-mo- arrancai as penas da ema: pe-ío-ok nhandu r-aba ou pe-s-ab-ok
-nhang xe r-uba: Ía<;D a r~ a (de) meu pai ; xe kó-1no-nhang : nhandu ou pe-nha.ndu-r-ab-ok
fazem-me a ro<;a; oro-kó-nio-nhang: fac;o-te a roc;a; nde kó-1no-nhang:
fazem-te a ro<;a; ou faz-te a roc;a; a-ó'-mo-nhang: f ac;o casa; a-ie-6- 536 Há casos esporádicos de incorpora<;ao de substantivo
-nio-nhang Ott a-i'-ó'-mo-nhang : f a<;o casa para mim mesmo ; a-s-ó'- com adjetivo:
-nio-nhang: fac;o a casa a (de) meu filho; a-pé-1no-nhang: fac;o ca-
nao co1nas frutas ácidas : nd' ere-ybá-ai'-ú-i
minho; a-s-apé-mo-nhang amana: fac;o o caminho a (da) chuva ; .-re
r-a-pé-mo-nhang peiepé: fazei-tne o caminho 537. Nao se incorporam detern1inativos ( numerais, de1nons-
trativos, etc.) :
11ieeng: dar
passei este rio: a-s-asab kó y ou nlestno kó a-y-asab
a-i-nieeng: dou-o; a-kó-meeng: dou a roc;a; a-i-kó-meeng xe passei dois rios: a-s-asab y tnokoí ou mes1no a-y-asab 11iokoi
r-uba: dei a ro<;a a meu pai; oro-kó-meeng: dei-te a ro<;a; a-t-ay'-
-meeng: dei filhos; a-t-ay'-meeng xe mena: dei f ilhos a meu n1arido; 538 O verbo, intransitivado, torna-se 11ovan1ente transi-
xc r-ay' -1necng : deu-me f ilhos
tivo con1 1no- ( n. 480) :
532. Repetido o prono1ne antes do verbo meeng "dar" (e a-y--it: bebi água:
qui~á de algum mais), o sentido muda. Cpr.: a-i-mbo-y-ú: fi-lo beber água; a-i-11ibo-y-ú xe 1n.e11ibjira: f iz 1neu
a-i-i-kó-n1eeng xe r-uba: dei a roc;a de meu pai (a outro) ; a-i- f ilho beber água; a-n1ita' -n,ibo-y-ú : f iz a crian<;a beber água ; xe
-t-ay'-meeng xe 1nena: dei os filhos de meu marido (a outro) mbo-y-tÍ: fez-me beber água
¡

208 LEMOS BARROSA CURSO DE TUPI ANTIGO 209

• 539. Quando o objeto é modificado por um possessivo ( em substantivos parox.ítonos perdem a última vQgal
portugues) da mesma pessoa que o su jeito, pode-se incor- ,antes de vogal, e a última silaba <liante de consoante:
porar o objeto, precedido de reflexivo ie- ( nhe- antes de caem-me os cabelos: x e aba o-kui ou xe á'-kui
nasal) : caem-lhe as penas : s-aba o-kiti ou s-á'-kuí
a-nhe-embé-suú : mordo-me os ( meus) lábios ; t-obaiara o-ie-ygar- caem-te as penas : nde r-aba o-kui ou nde r-á' -kui
-ok: os inimigos aibandonaram as suas canoas; a-só giti-nhe-tung-ok-a:
vou tirar (--me) o bicho-do-pé; e-íe-py-sá-pe11i-ok : arranca a tua unha 544. Dáo-se casos de incorpora<;áo nas frases que referem
dopé fenómenos naturais, atmosféricos ou outros, independentes
.
freqüente essa constru<;ao, sobretudo quando o
É da vontade do homem:
objeto direto é nome de urna parte do corpo ou de vestuár-io. ysapy kiti : cai o orvalho
t-yai syryk (MoNT., Tes. 388/382): corre suor
540. Parece haver, também no dialeto tupi, casos raríssimos de incorporac;ao ybytu peiu, iasy pirang-eme (id., 185 ad.): quando a lua está
de complementos indiretos com pn~posic;áo:
a-mbaé-r-csé-i'-e-r-11r-é : pedi (por) urna cousa vermelha, sopra vento
yboty' iab : aJbre-se a flor
Sobre o verbo no infinito incorporado, como objeto
direto, v. n. 360 e ss. 545. O prefixo mo-, do sujeito e verbo incorporados, forma
wn novo verbo transitivo:
SUJEITO INCORPORADO mo-uguy-syryk : f azer escorrer sangue de ou a:
s-eté iá-katu-pe g:Uá i nio-peré'-pereb-i i nio-uguy-syryk-a? (AR.
541. Os vertbos nao transitivos admitem as vezes a incor- '85) : chagaram-lhe todo o corpo, fazendo escorrer déle
pora<;áo do sujeito. sangue?
Tanto os intransitivos de prefixo agente (só "ir", Jmká "rir"), como
os de pronome paciente ( 111aenduar " lembrar-se", asy " doer"). EXERCtCIOS

542. Incorporado, o sujeito liga-se diretamente ao tema 546.


verbal. É esta constru<;áo corrente, quando o sujeito é petek : bater ( com a palma da rung: por, " . arn1ar
arranJar,
máo) yty: cisco
modificado por possessivo: ysy ( t) : fila
pan ( nho) : lavrar
escorregou nleu pé : xe py o-syryk; o-syryk xe py; xe py-syryk py (io) : tocar ( soprando) end')' ( t) : saliva
(mais us.) peir : varrer endy-syryka: baba; (xe): ha-
perde-se-me o sangue : xe r-uguy o-kanhem ou xe r-uguy-ka- apiar ( s) : obedecer, cumprir bar
nhem (id.) mo-maran : tr. desobedecer iu-ati-enibó apynha : coroa de
perde-se-Ihe o sangue : s-uguy o-kanhem ou s-uguy-kanhem (id.) ekó-111,0-nhang ( t) : tr. e intr. espinhos
secou a água (do río, e s.) : t-y-pav fazer lei 1no-mbor: atirar
e na l.ª e 2.ª pp. xe r-y-pab, nde r-y-pab ysy ( t) (xe) : estar em fila atuá-saba : t compadre
\

210 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 211

547. Rung só se emprega com o objeto incorporado: a-1mmdé-r101g: armei 0


550. " Cortar" com faca, tesoura, serra: kyti; sem instrumento: mo-,idok ,·
ali;apáo; o-koty-rmig s-esé .= armou citada contra ele; e-i-k6-r1mg nde mena: rasgando : mo-ndorok; raspando : púi (nho) ; com cunha, machado ou a golpes:
faze a r~a para teu marido; oro-i-i-ypy-rwig oré r-oka: pusemos principio tKO-gU<Ji ou ab. ~ste propriamente significa "abrir, rachar", e só se usa
(co~e~amos) a nossa casa ; pe-ysy-rung kunmii: ponde [em] fila (a)os com o objeto incorporado ou com reflexivo : a-ybyrá-ab: corto, racho madeira;
menmos; o-uharybobo-rm~g: fa~o ponte; ia-t-11p-á'-r1mg abatí : arranjamos ne-yby-ob : abriste a terra ; o-asy-ab: cortou um peda~o, partiu (intr.) ;
(seu) lugar [p~ra] o m1lho (p. ex., preparando a terra); amamJi6'-rung: o-i-asy-ab : id. ( retr.).
preparo a mandioca (p. ex., pondo-a a curtir); a-i-ty'-rrmg soó: pus acompa-
nhamento a carne; iagiiá'-Pó-pcba o-py-rimg potí r-esé : a lontra pisou no ca- 551. "Comei;ar a " ( com infin.) em geral se traduz por ypy: a-ker-ypy, co-
mará.o. - Por vezes equivale ao pre f. mo-: a-s-31s3•-rimg ou a-i-1110-'j'S)' : pu-los mecei a dormir. "Corne~ar" (com substantivo) , em geral ypy-rwig ou ypy-
em fila. -mo-in, ypy-mo-nhong.

548. Mbaé r-esé-pe ere-nhe-nong e-iup-a? Er-é byter-pe nde 1nbaé- 552. Nh'-ok end-ab é reflexivo: fechar a porta da própria casa. S-oken-dab é
transitivo: fechar a porta de. A mesma distin~ao se faz com o-kendab-.ok,
-asy-ramo? Pá. A-é byter xe py-asy-ranto. Abá-te-pe o-mimby-py- abrir a porta. ·
-ne? Mbaé-re1ne-pe? Kori-é, pytun-1ne. Xe r-ayra ipó-ne. Aan-i.
N d' i katu-i. 1, mbaé-asy abé o-up-a. Enei, e-pitam t' ere-só 1nimby- 5:,3. Faze Utll feixe de flores e traze-o para dar ªº f rances. - Afia
-py-bo-ne. Aan-i. Mbaé r-esé-pe xe 1no-maran íepé, xe nheeng'-apiar- a faca e corta aqueta carne para tostá-la. Nao. Manda outra pessoa
-eym-a? Nd' a-é katu-i. A-é byter xe py-asy-ra1no . X e r-uguy-ka- afiá-la. Co1ne<;a tu a af iá-la; eu [o] acabarei. Enquanto isso, come-
nhem-eté. Mbaé r-esé-pe nd' ere-í-mbo-ur-i paié ta nde py suban-ne! cemos a cortar lenha. Traze-me dois feixes de lenha. Nao há 1nuita
T' a-ie-py-suban ixé aé-ne. Na nde xe r-ekó-nio-nhang-i . .. ! - carne. Póe a arn1adilha. - "Veio urna mulher (e) rapou minhas
T' ia-só mttndé-rung-a. Pá. T'ia-só. Enei ro. Ta pe-ío-ysy-rung. pestanas com urna navalha (e) queria raspar também a minha harba
E-i-í-yty-peir okara. Auié. Koyr, e-yty-mo-noong, i 1no-tnbó uká nde (mas) isso nao quis suportar (e disse-lhes) [ dizendo-lhes] que me
r-e-1ni-r-ekó supé. - Mbaé-pe ere-i-apó e-ikó-bo ? A-ybyrá-pan gui- matassem com [minha] barba e tudo" (STADEN, ad.) - Fa-
-t-ekó-bo. Er-é katii-pe kó-bae r-esé .'t :A-é katu. - Mbaé r-esé-pe ~os un1a aldeia para os nossos parentes. Sim. Ponhamo-nos em
nde r-endy-syryk-amo ere-ikó-bo? - "Mbaé-pe o-nong i akanga ar-bo? fila. Comecemos urna aldeia para nossos parentes. Trazei a madeira
Iu-ati-embó apynha, akanga kutu' -kutuk-a (para esfuracar), s-asap-a. (que eu farei) [para que eu fa<;a] as portas (da) [a] casa. -
Fecha a porta. Agora abre-a. Por que abriste a porta da tua casa?
S-ugi'ty-syryk sera s-obá r-upi, i atu-k·upé r-upi bé? S-uguy-
E tu por que me fechaste a porta? - O n1arido entrouxou as sttas
-syryk'' (AR. 86). A-t-ay'-nupa xe atúá'-saba. cousas, a mulher dele entrouxott seu cesto, indo-se e1nbora.
549.
afiado: aenibeé ( s) suportar : parará BIBLlOGRAFIA
afiar: aembeé (s) come<;ar: ypy, ypy-ru.ng Objeto direto incorporado - ANCHIETA 8v-9; 50-51 ; FrcuEIRA 87-88;
cortar: kyti, mo-ndok, ab, n10- acabar: 1no-a1'tíé MONTOYA 53; RESTIVO 50-52; CAETANO 83; 86-88; L. BARBOSA 172; ID.,
A

guai
A

nao há n1uito, há falta: nd' 1 luká 74-76; DALL' l GNA, A C01nposifáo 8.


Sujcito incorporado - A.NCHIETA 51; RESTIVO 51-52 ; CAETANO 83;
raspar : pin ( nho) tyb-i L. BARBOSA 172.
- a cabe<;a de: á-pin (i) f rances : maira
entrouxar : nhang ( nho) feixe: mana
fazer f eixe de: man ( nho) navalha (de cana, palha) : 111a-
fechar a porta : ok endab ( nh') rupá
- a ou de: okendab (s) pestanas: opé-aba (t)
enquanto isso : aé-reme-bé
I

CURSO DE TUPI ANTIGO 213

erimbaé-pe i pysyk-i?: quando o capturaram?; aé-í-bé i pysyk-i:


logo entáo o capturara111; n1ara-na1no-pe i ie-íuká-u? : por que se ma-
taram?; nd' a-é roiá-i i é-ii: ne111 por isso eu o disse; mbaé r-esé-
Ll(AO 34.ª -pc xe r-ausub-i?: por que n1e an1a ele?; 11ibaé-re1ne-pe x-e r-ayra
s-epiak-i?: en1 que ocasiáo o viu meu f ilho?; mbaé-renie-pe xe r-ayra
f'-epiak-i ? : en1 que ocasiao ele viu n1eU f ilho?; mara ngoty-pe xe
r-e-ra-só-ii : para onde me lcvaram?; taba suí s-e-no-sem-i: tiraram-no
CONJUGA~ÁO SUBORDINADA da aldeia ; 11u11nó-pe i tyni-i? : onde o enterraram?; 1nanzó-pe i xok-i?:
onde o pilaram?

554. O verbo da orac;ao principal assu1ne forma especial Exemplos de intransitivos con1 o seu su jeito ( subs-
- derivada do infinito - quando precedido, no mesmo tantivo ou pron.) :
período, por advérbio, preposi<;ao, gerúndio ou conjun~ao
s-upi-bé xe ker-i: logo depois disso dormi; 111amó-pe s-eo-u?:
subordinativa.
onde morreu?; tnamó r-upi-pe i .'l:ó-u?: por onde f oi ele?; okar-pe
uuba ar-i: caiu no terreiro a flecha
§ 1.0 - VERBOS DE PREFIXOS .AGENTES
558. Pode haver infinito incorporado:
555. Perdetn os pref ixos agentes. Se o verbo termina o-manó-bae-piiera suí s-ekó-bé-ie-byr-i (AR. 3) : ressurgiu dos
em consoante, junta-se-lhe -i (átono); se termina en1 vogal, mortos ; xe r-ausu' -poir-eym-i : nao deixou de n1e a1na.r
junta-se -ú; se tern1ina en1 ditong:o, nada se acrescenta:
n1atou: o-iuká iuká-ft 559. Quando o su jeito do v. nao transitivo ou o objeto
despertou-o : o-í-nio-11ibak i mo-mbak-i do v. transitivo se acham afastados, antes do verbo deve
pegou fogo : o-kai kai ficar o pronome correspondel}te:
ten1 vergonha : o-ti ti-u
koritei kunha pitanga mo-mbak-i ou l~oritei pitanga kunha i mo-
556. Se o verbo é transitivo, <leve ser precedido pelo ·mbak-i: a nlulher despertou depressa a crian~; koritei pitanga kunha
objeto direto (substantivo ou pronon1e); se é nao tran- ·mo-mbak-i ou koritei kunha pitanga i nio-nibak-i: a crian<;a despertou
sitivo, pelo sujeito: depressa a mulher; kaá r-upi abá guatá-renie, mboia i xuú-i1 ou abá
kaá r-upi i guatá-renie, 11iboia i J'ruú-u : passeando o índio pelo mato,
dormindo, a mulher n1atou seu f ilho: o-ké, kunha o nientbyra a cobra mordeu-o; kaá r-upi i guatá-reme, mboia abá siiú-ii: id.;
iuká-u; antes de nascer o sol, ele me acordou : kfiarasy seni' íanondé, ybaka r-esé gtti-1nae-nio, iasy-t-atá-bebé xe s-epiak-i ou ybaka r-esé
xe tno-nibak-i; de noite o tnato pegou fogo : pytu.n-nie kaá kai gui-11uzJ-1no, ixé iasy-t-atá-bebé r-epíak-i: olhando para o céu, vi urna
estrela cadente; mara ngoty-pe guarini x<: gu3irapara r-e-ra-só-u?:
557 Os pronon1es objetivos sao os mesmos do infinito para onde levou o guerreiro o meu arco? ; niara ngoty-pe xe
( n. 336 e 338) ; os verbos irregulares no infinito sofrem guyrapara gúarini s-e-ra-só-u?: id. ; og-ok-pe s-e-ra-só-u: levou-o
aqui as 1nesmas irregularidades : para sua casa; pytitn.-rne pitanga pak-i: a crian<;a acordou de noite

14
214 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 215

560. Nao se usa da conjugac;áo subordinada nas 2as. pp.


564. Na conjugac;ao subor·dinada, o verbo transitivo se
Nas las. pp. é facultativa. Nas 3as. pp. é obrigatória:
. que vou : , , coloca regularmente depois dos complementos.
e1s ko a-so ou kó xe só-u
. .
e1s que vais lió ere-só 565. Forma ne g a t i va : Substitui-se o -i ou -ft por
. . kó i .x-6-u
e1s
. que va1: ey1n-i, que se acrescenta tambén1 aos ditongos:
ets que vamos : kó ia-só ou kó íandé só-i1 paran a r-csé o-11iaé-mo, paíé uuha r-epíak-e311n-i ou paraná r-esé
" " ( excl. ) kó oro-só ou kó oré só-u o-1naé-1no, ttuba paíé s-epiak-ey1n-i: estando a olhar para o 1nar, o pajé
eis que ides : kó pe-só náo viu a flecha; 1narii-na1no-pe i .i-ó-ey111-i?: por que ele nao foi?
eis que váo: lió i .i·ó-i1
nde iá-bé i.t"é ·i kuab-i (VLB 400) ou nde iá-bé a-i-kttab : eu o sei 566 . F u t u r o : Acrescenta-se -ne:
tanto como tu
561. Há. exemplos em contrário: íuká-i1-ne, s-eo-u-ne, iuká-ey1n-i-ne, s-eo-ey11i-i-ne
s-ttPi nde r-ek6-reme..... anlzauga r-atá-pe ere-só-ú-1te (BET. 105-106) : ybaté koty s-e-ra-só-eyni-i-ne: nao o levará para ci111a
se víveres de acórdo com (as leis dos teus avós) ... , irás para o
inferno
Mas o tupi do Catecismo de BETTENDORFF já está ligeiramente alterado. 567. NOTAS: Caso o verbo esteja modificado por algu1na
Apresenta construi;ócs como estas, incompatíveis com as normas de ANCHIETA partícula, o -·i ou -it se coloca1n depois da partícula:
e FIGUEIRA:
Aé-pe o-111a11ó-íi? 0-111a11ó-íi (p. 46) : e ~te morreu? Morreu; mara-nanio-pe s-enoí-etá-u?: por que o chamaram tnuitas vezes?;
Aé-pe Tupa o-manó-u? Na i tupa rua o-manó, s-eté nhó o-manó-u (p. iepé-nio xe só itntan-i (ANCH. 24 ) : ainda que eu já fósse; 1namó-pe
47) : e Deus morreu? Nao morreu a sua divindade, mas só o corpo gflá s-e-ra-só-itkar-i? : aonde o mandaran1 levar? ; 111a111ó-pe s-e-
(d~le), que tomou de S.ua mae -ra-só-uká-z<'byr-i? (AR. 84): aonde o 111andara n1 levar de novo?
~rro de BETTENDORFF? Evolm;ao da língua? Nao é improvável a segunda
hipótese: nas pp. 46 e 47, BETTE~DORFF segw~ de perto a ARAÚJO: se lhe faz essas 568. Nem todos os advérbios pedem conjugac;ao subordinada. Alguns reque-
alterai;óes, deve ter tido motivos. - Em guaraní, a conjugai;ao subordinada, rem o gerúndio ( n. 434). ~las emonan, aé-i-bé e auié podem também servir-se
conquanto pouco desenvolvida, atingia també:n a 2.a pessoa (Cfr. REST. 121-122). da conj ugai;ao subordinada.
562. U sa-se a conjugac;ao subordinada aincla que ihaja 569. A conjugai;ao subordinada nao se estende ao permissivo, imperativo, ge-
rúndio e infinito.
outras pala vras depois da preposic;ao, gerúndio, etc. e
antes do verbo. Mas se o sujeito está antes da preposü;ao,
gerúndio, etc., pode-se seguir a conjugac;ao normal: § 2.º - VERBOS DE PRONOMES PACIENTES
abá ybyrá pupé 1nboia o-i1-tká: o índio n1atou a cobra co1n tun
pau; pitanga koyr o-ller: a crian<;a agora dorn1iu; abá-pe erimbaé aé
570. Para ANCIIIETA ( 40), conjugam-se como no res-
pitanga r-eté-rarna O..J¡-nio-nhang-i? (AR. 53) : quen1 fez outrora o pectivo gerúndio ( n. 406 e 419) :
corpo daquela crian<;a? nd' a-é roiá-i xe katu-ranio: ne1n por isso sou bon1; nd' a-é
roiá-i xe katu-ey11i-a1110: nen1 por isso nao sou bon1
563. Ven1 ta111bén1 a conjuga<;ao subordinada, quando a
ANCHIETA só faz excei;ao para eó (s) "morrer": xe r-eó, nde r-eó, s-eó,
preposi<;ao, gerúndio, etc., já expressos nun1 período, se etc., o qual na conjugai;~o subordinada segue os verbos de pronome agente:
subentendem no seguinte: koyr s-eó-1i: morreu agora ; kori tui-bae r-eó-u-ne: hoj e o velho morrerá;
nd' a-é roiá-i xe r-eó-e)•m-1.: nem por isso eu nao morri
aé-i-bé-pe t-obaiara nde r-uba íuká-ü? - Pá. I iuká-tt: logo en-
P.ara F1cuEIRA 94 ss., os verbos de pronome paciente seguem os de pre-
táo os inin1igos n1ataram a teu pai? - Sitn. Mataratn-no fixo agente :

I
216 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 217

koyr ku11ha-muk1t r-or1•b-e)'111-i: agora a mo~ nao está alegre; koyr xe


r-oryb-i: agora estou alegre; ko)•r s-oryb-eym-i: agora nao está alegre
ra e--í-pe amó-aé asé r-ekó-nio-nhang-aba? E-í-mo-eté nde r-ttba, nde ·
sy abé, e-í. Mara o-ikó-bo-pe asé aípó-bae nio-por-i?" (AR. 100-101 ).
Tal vez as duas formas f óssem usuais. Mais ponderosa e antiga a
informa<;ao de ANCRIETA, que é coaf irmada pelos exemplos de ARA ÚJO. X e aíxé r-eo-ti,,1n&, xe tutyra oré nio-apysyk-eym-i. - M ará pe-i-á-bo-
-pe, "t-uba r-endyra" pe-í-é ? "Ai.xé" ía-í-á-bo. - Gicariní-a-nie (na
guerra), t-obaíara amó r-e-ro-ar-enie, abá i 1no-ngyrá katu ranhé-u,
EXERCtCIOS s-eté r-e-nii-niotara tetirua meeng-a i xupé, "t' i kyrá katu" o-i-á-bo.
571. I kyrá katu riré é, i íuká-u" (Conq. Esp., 109 ad.). - Ybak-pe ía-
nharo: intr. estar bravo ekó-1no-nhang-aba (t): let; t guara r-ekó-u (há), e-í abá; i nharo-nenie, íasy kó-ipó kúarasy
mo-por : cumprir n1andamento ú-u, e-í. Aipó r-esé iasy kó-mo-n' ipó kuarasy nhe-11io... pytun-eme, abá
nhe-mo-pytun: eclipsar-se e-mi-11iotara (t): desejo i· mo-asy-ete-it,
, . . "!aguara
... k uarasy
... ... '", o-i-a-
ia-u · aup-a. - O e-mi-· mo-
. . ' b'
mo-asy: sentir kó-nio-n' -ipó : ou tara r-upi nhé-pe, nibaé tetirua porará-bo s-eo niotar-i, abá o e-ro-biá
aíxé : tia (paterna) tetirua : todos potá? O e-nii-motara r-upi nhé.
syyra : tia ( 1naterna) nhé: ptc afirn1ativa (n. 1088)
moro-pysyro-ana: t sal- niara o-ikó-bo? : co1no? de que 575.
vador 1naneira? adoecer: niará-ar ( xe) aln1a (separada) : ang-í'iera
ttmií? : onde está? que é de? esquentar: pé (io) forasteiro: atara
jejuar: íe-kuakub (lit. es- borboleta : panama
572. Para pedir ou dar o sentido ou a tradw;ao de um térmo, .usa-se do verbo conder-se)
é " dizer ", nos seguintes modismos : mentir: íuraragua~ ( xe) cigarra : iakyrana
mara o-i-á-bo-Pe asé "Ygúaszt" i é-uf: que quer dizer "Ygua.su" f reconhecer : kuab besouro : unauna
(lit. : que dizendo, a gente diz " Y guaS1t "f) atacar : epenhan ( s) grilo: guyiu
"Rio Grande" o-i-á-bo, asé "Yguastt" i é-u ou ;nelhor "Rio Grande"
o-i-á-bo: quer dizer "Rio Grande" (lit.: dizendo ou significando "Rio 576. De aub (n. 475) com partículas negativas, forma-se a locui;ao n(d)-a-s-
Grande", a gente diz "Ygilasit") -aub-i "nao sem razao, nao é a toa que, é por isso que".
mara o-i-á-bo-pe, asé "chuva"' i é-ú?: como se diz "chuva"? que
significa "chuva"? como se traduz "chuva"? (lit. : a gente diz "chu- 577. Quando o sol nao esquenta aterra, nao chove. - Maracaná, no
va" significando o que?) mato, encontrou um machado. Nao sabendo qual o seu dono, usou-o.
"amana" o-i-á-bo: diz-se "amana"; significa "11111a11a". Etc. ~le ficou alegre. Por que f icou alegre? Porque encontrou o macha-
maríl o-i-á-bo-pe, asé "eb-ui" i é-u? - "Ebo-kuei,, o-i-á-bo: que significa do, f icou alegre. - Pelo fato de suas mulheres darem a luz (in fin.
"eb-ui" r - Significa "ebo-kuei"
com prepos. esé), ou de seus filhos adoeceren1, os índios jejuam. Tam-
573. O mesmo circumlóquio serve para pedir ou dar o sentido ou inten~ao de bém eles mesmos, quando adoecem, jejuan1. Entao ninguém fata
um ato, rito ou costume :
com eles. Nao sen1 razáo eles jejuam, quando adoecem. - Como se
mara o-i-á-bo-pe, emoná s-ekó-uf - Ta xe iuká m11é-ne, o-i-á-bo: com que
inten<;ao ele fez isso? - Para que nao o matassem diz "borboleta"? lD'iz-se "panama". - Que quer dizer "iakyrana"?
O verbo pode ir para out ras pessoas, conforme o caso: Quer dizer '' grilo ". Nao. Por que mente teu companheiro? ~le
mara pe-i-á-bo-pe, morubixaba pe-i-é ! - "Chefe" ia-i-a-bo: dizeis '"mortt- nao quer ensinar ªº forasteiro a língua dos índios? "!akyrana" nao
bixaba" dizendo (significando) o que? que significa "morubixaba" significa "grilo ", senao (-te) cigarra. "Grilo" se diz "guyiu". E
(subentende-se: na vossa língua)? - Significa "chefe"
besouro? Diz-se " ·unauna". - Quand0 os índios mat.am um inimigo,
574. Ma11ió-pe guá nde syyra r-e-ra-só-u, i pysyk-iré? Ok-usu anió- tomam novo nome. Com que inten~ao fazem isso? Para que ( n.
-pe s-e-ra-só-u, s-e-ro-iké-á-bo. M ara-nc1.1no-pe i pysyk-i? - "Mara 572) fazem isso? Para que (n. 572) a ahna do inimigo nao os
o-i-á-bo-pe asé Jesus i é-ú? Moro-pysyro-ana o-i-á-bo" (AR. 17). "Ma· reconhe~. - Quantas vezes a on<;a te atacou ? U ma só vet:. De-
\ \

218 LE1IOS BARBOSA

pois disso nao me atacou tnais. - Quando chega a taba ttm foras-
te~ro,,,os índio~ l~e. dize1n : "Vieste ?". O forasteiro responde: "Sim.
V1n1. Que s1g~1ftcan1 essas palavras? (trad. assin'i : que dizendo,
essas palavras d1zem ?)
Ll(ÁO 35.ª
BIBLIOGRAFIA
ANCHIETA 39v-40; FIGUEfRA 94-98; RESTIVO 121-122 · CAETANO 22 · Jo., REFLEXIVO E RECÍPROCO
Cantos passim; ADAM 45 ; L.BARBOSA 172; DALL' I GNA, At~álise 70-71. '
578. Primeiras noc;oes, v. 294 e 295.
O reflexivo é ie- ou nhe- e o recíproco é io- ou nho-
para todas as pessoas. Antepóem-se ao tenia do verbo,
que perde os pronomes objetivos:
a-i-pysyk : seguro-o a-ie-pysyk : seguro-me
ere-s-ausub: tu o amas ere-ie-aiisttb : tu te amas
o-s-ausub : ele o ama o-íe-ausub : ele se ama
nha-nho-s-ui: escaldamo-lo nha-nhe-fií : nós nos escaldamos
pe-s-e-kar : vós o procurais pe-ío-ekar: vós vos procurais
o-íuká : eles o matam o-íe-iuká : eles se matam ( refl.)
oro-io-puai: nós o mandamos oro-ío-pftaí: nós nos mandamos ( rec.)
o-iiiká : eles o n1atam o-io-íu ká : eles se n1atam ( rec.)
Formam as vozes reflexiva e recíproca.

579 Nos verbos de prefixos ro- ou 110-, introduz-se um


e- antes daqueles pref ixos:
C1-1e-e-ra-só: eu tne Ievei oro-io-e-ra-só : nós nos levan1os

.. REFLEXIVO

§ 1.0 - Eni ora(ao principal: ie- ou nhe-


580. Í e- pode vir antes do objeto di reto incorporado, com
o sentido de possessivo :
a-ie-py-kyti: cortei-me o pé ( == o ineu pé) ; o-ie-py-kyti : ele
.. Guerrilhas as rnargens de um rio (STADEN)
[se] cortou o pé ( = seu pé) ; nd> o-ie-py-k yti-i : nao [se] cortou o
220 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 221

, .. , k
pe; e-ie-esa-o : arranca-te os olhos ! ; pe-ío-esá-ok : arrancai-vos os 585. O reflexivo pode vir- entre um possessivo e um subs-
olhos ( uns aos outros) tantivo verbal:
Tal constru~áo se torna mais usual quando o objeto xe íe-ausuba: o ( meu) an1or a n1itn n1esn10; i ie-ausuba: o seu
amor a si mes1110; o íe-aitsuba : o seu amor a si inesmo ( suj. da ora-
é parte integrante do sujeito ou está a ele muito unido: <;áo) ; íandé íe-ausuba : nosso amor a nós mesmos ( refl.) ; rondé
membro do corpo, veste, adorno~ etc. io-ausuba: nosso amor recíproco
581. Pode haver complemento indireto:
§ 2. 0 - En i orafao subordinada: o ou ie-,
1
nhe-
aé aé o-íe-iuru-meeng i a1notar-eynib-ara supé : ele mesmo entre-
g~u sua 1bóca aos seus initnigos ( i. é, falando deles, deu ocasiáo a que
586. Quando a a<;ao de um verbo subordinado recai sobre
f tzessem o mesmo com ele)
o sujeito da 3.ª p. da ora<;ao principal, o reflexivo é o, nao
582 · Na 3a. p., ie- pode ton1ar um sentido pass1vo: íe- ( n. 304) :
xe r-ayra o-só-ne, 1nor1.1hixaba o 1no-ndó-renie: meu filho irá, se
.. ~~e-e~íá' ~katu k~ piara : ve-se bem o caminho da ro<;a; nd'
u-ie-u-i soo ko ara : nao se come carne este dia o chef e o mandar

Se o verbo é rnodif icado por 1ikar, tem. sentido passivo sernpre ( n. 520). 587. Mas se a a<;ao do verbo subordinado recai sobre o
próprio sujeito da ora<;áo subordinada, o reflexivo é' ie-,
583 · Em dados casos o e de ie- desaparece <liante de vogal : ,..,
nao o:
íe-apuapyk : encolher-se _.... í' -apuapyk
ki'tarasy ybytyra r-aky-pi'ter-i i nT1e-11ii11i-enie, íasy sem-i: quando
íe-ekyí: arrancar-se, expirar ~ í'-ekyi
o sol se escondeu detrás da n1ontanha, a lua saiu
íe-ekó-sub : obter, gozar --.. í'-ekó-sub
Tambérn as preposic;óes podem ter refl exivos. V. n. 623.
584. Con10 intransitivos ( n. 381), os reflexivos admitem
os prefixos nio- e ro-: RECÍPROCO

nhe-ang_,ú: recear (lit. comer a própria alma) 588. Como o reflexivo, pode vir antes do objeto direto
ro-nhe-ang-ú : tr. : recear por oro-e-ro-nhe-ang-ú : receio por
incorporado :
ti o-ío-py-kyti: eles se cortaram os pés ( uns aos outros) ; oro-io-
-esá-ok: arrancamo-nos os olhos ( uns aos out ros) ; ta pe-ío-esá-ok :
id.; ta pe-ío-obá-petek u.nié-ne: nao vos esbof eteeis; oro-io-endybá-á'-
nhe-ang-epiak: mirar-se (lit. ver sua própria sombra ou -pin oro-ikó-bo: estan10-nos f azendo a barba ( rec.)
. reflexo)
mo-nhe-ang-epwk : fazer a-i-1no-nhe-ang-epUik parana-me : 589. O recíproco pode vir entre um possessívo e um subs-
mirar-se fiz ·que ele se mirasse no mar :antivo verbal:
oré io-ausuba : nosso amor mútuo ; oré io-ausuba r-esé : por nosso
mútuo amor
222 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 223

590.Realc;ando a ac;ao recíproca, pode-se repetir io- nos 595. Raramente, io- equivale a "todos", "da gente",
complementos : "nosso":
nho-taba: a aldeia da gente, de todos, nossa
oré io-pó-pe oro-ío-kutuk: ferimo-nos mutuamente com nossas
máos 596. Chega a corresponder a poro- (n. 380):
a-nho-niongetá nde r-esé-ne: pedirei por ti
591. ! o- as viezes significa "comum", e, como qualificativo. o-i-porará nho-nupá : padeceram ac;outes
modifica até substantivos : 597. Segundo FIGUEIRA, também os verbos q.ue já tém io- como pronome
objetivo (n. 317) podem usar do recíproco:
íandé nho-mbaé : nossas cousas comuns; pe nho-tnbaé : vossas oro-io-rab : nós o desatamos; ou nós nos desatamos um ao outro
cousas comuns; nho-mbaé : cousas comuns, de vários donos ; i io-oka: Mas ANCHIETA restringe o uso aos modos em que perdem o pronome obje-
as casas comuns deles; atara o nho-mbaé o-s-e!?ar o-ikó-bo: os via- tivo io-:
jantes estáo procurando as suas cousas (deles mesn1os) ; atara i nho- a-io-poi: eu o alimentei io-poi-a: alimentando-se mutuamente
-mbaé o-s-ekatr o-ikó-bo: os viajantes estáo procurando suas cousas (de 011 : alimentar-se mutuamente

outros) ; o-ío-e-r-ekó-bé-bae: os que vivem em comum Também as prtposi~óes pooe:n ter recíproco. V. n. 628.

592. Mas a 3. ª p. refl. ( o-io-) pode substituir todas as EXERCfCIOS


demais: 598.
t' ía-ra-só nhandé nho-mbaé ou t' ía-ra-só o nho-mbaé: levemos eiyi ( s) : tr. mudar de lugar í'-ub-nio-1nbor : desovar
nossas cousas í'-eíyi [-pe] : inudar para nio-i'-upiá-e-r-ub: por a chocar
sem [-pe] : mudar-se para mo-mbuerab : curar
Nao porém quando a pessoa do sujeito é diversa: íe-akasó: intr. ir de mudanc;a ayty ( s) : ninho
íab: intr. abrir-se upiá (s) ovo
o-gue-ra-só nhandé nho-mbaé (nao o nho-nibaé) : levou nossas mo-íab : abrir uba (s): ova
cousas i' -itpiá-1no-mbor : por ovo y apyra koty : rio acima
599 . Sem e ie-akasó se dizem de mudan~as para outras regióes;
593 . Por vezes io- exprime u:na relac;ao entre dois seres, tomados em i'-eiyi de mudan~a de casa ou da posi~áo em que ela estava.
conjunto, mas sem reciprocidade. V. exs. n. 629.
600. tab se diz das cousas que se abrem naturalmente, como a flor, o óvo;
594. Em alguns casos, io- parece significar "ig-ual"; ad- nos outros casos: ie-ab. Mas ocorre um verbo pelo outro.

mite possessivos e preposic;óes : 601. 0-íab u1ná-pe niarak·uiá ybotyra? N d' e--i o-íap-a ranhé. -
A bá-pe o-s-ayty-1no-nhang guyrá? N da abá ruá: guyrá o-ie-ayty-
xe nhó r-e-11ii-r-ekó: a mulher de meu igual ou sen1elhante -nw-nhang-é. S-upiá-etá-pe? S-etá nhé. 0-iab unian-pe s-upiá?
a-nheeng xe ío-upé: falei a um meu igual N d' e-4 unian-i gityrá o-í'-upiá-e-r-up-a. . . Abá-pe o-í-mo-íab s-upiá-
Assim pode-se dizer de um índio que está em casa de outro índio :
-ne? Guyrá aé o-i-mo-íab-ne. Aan-i. S-upiá aé o-íab-é. Mara
o-í-á-bo-pe, guyrá ie-ayty-nio-nhang-i? T'a-íe-iipiá-mo-mbor-ne, o-i-á-
o io-ok-pc abá r-ekó-u: o índio está em casa de scu igual -bo, i mo-nhang-i. Mara e-i-á-b,1-pe, s-ayty nd' ere-no-seni-i? Guyrá
Outro tanto nao se diría se estivesse em casa de um branco, de urna t' a-í-11io-í'-upiá-e-r-ub-ne, gui-í-á-bo, ixé s-ayty-mo-mbab-eym-i. -
mulher, de um contrário, etc.
224 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 225

Guyro o-ie-ayty-eiyi amó aé ytYyrá-pe nhó-te, ie-akasó-eym-a. - 602.


Mbaé rama rí-pe giíyrá nhe-mo-nha.ng-i? A é- pe pirá? - Abá-pe tosse: uú piscar: nhe-'mo-esá-bik
o-s-ekó-mo-nhang güyrá, soó abé ? Abá-pe asé r-ekó-1no-nhang abé? tossir: tttt ( xe) - sem querer: sá-pit1n1-pu11ii1n,
Asé r-aniyia asé r-ekó-11io-nhang. M ara-namo-pe asé r-ekó-1-no- espirrar : atia11i ( x e) intr.
-nhang-i? Asé o apwra potá. - Mara o-i-á-bo-pe, pirá se>n-i y apyra engasgar-se com: pytym ( suj.: bocejar: ie-1.itru-pirar
koty? T' ia-i'-ub-1no11ibor-ne, o-í-á-bo. - Roy mosapyr kó-ipó irun- cochilar: opé-by'-pé-byk ( t)
c.; obj.: p.)
dyk kuab 'iré ( depois), abá, o-ikó-bé-bae-puera (que n1oravam) Ita-
assoar o nariz: anibu'-ok, tr. (xe)
ty' -pe, o-sem amó-aé yby-pe, íe-akasó-bo. - Tupinanibá niará-ar-eme,
assoar-se: nhe-a1nbu-ok - cabeceando : ker-ar, ker-
i íe-suban-ukar-i paié supé, ta xe mo-mbuerab-ne, o-i-á-b'-aup-a.
cuspir : niun ( nho), tr. -apar-ar (xe)
cuspir : no-1nun, nhe-no-niun, roncar ( dorn1indo) - ker-ani-
intr. bu (xe)
I
respirar: pytu ( xe) suspirar : nhe-ang-e-r-ur
rolar: apá-íe-reb escorregar : py-syryk ( .xe)
cair roland0 : apará' -ie-reb ( xe) trope<;ar : py-sakang ( xe) ; yby-
cair de sono: ker-apar (xe) -api_, intr.
ofegar: aybu (xe) vergar-se: aparar (.xe)
- ao de leve: 'ltkuar ( xe) vomitar : gueen
estar sao : ikó-bé fumo : petyma
firmar-se em: ie-pytá-sok [ esé] moneo, moncoso : a1nbuba
preocupar-se: nhe-ang-e-r-ekó barranco : ybya1na
dar aten<;ao a : ie-ap31sá-ká cansado, sem folego: pytubara
[esé] deparar-se a: 1-e-sub [ supé]
co<;ar: eyi (s) deparar: 11io-ie-sub [ supé]
603. Quem é que está roncando? Nao 'me dais atenc;ao, ó meus
filhos? Quem é que ei;tá roncando? - disse eu. É meu f ilho: está
cochilando. Acorda-o para que assoe o nariz. Acorda, menino mon-
coso ! Nao. Deixa-c lorn1ir. Ainda bem que está cochilando: ele
está 'doente. Nao o ov'Ves ofegar? ~le se está ca<;ando. As moscas
nao cessam de o picar e [nao cessam de] o f azer piscar ta111bém. -
O vento frio 1ne faz tossir e o sol n1e faz espirrar. E o fumo nao
te faz espirrar? Sim, [me] faz espirrar. - Que vejo? Que foi o
que cuspiste? Cuspiste [o teu próprio] sangue? Nao te preocupes
por mim: nao estou doente ( nda xe 11iaran-i) : estou sao. Nao
te vi pois vomitar? - O menino nao pode comer nem respirar: en-
gasgou com a batata. Nao foi com a batata: foi com a espinha de
peixe. - Tu tan1bém estás cochilando e bocejando? Firn1a-te para
Festa, celebrada com cauim e dan~a (STADEN) que nao tropeces e caías de sono. Meu fill10, onte111, cochilando, escor-

I

l26 LEMOS BARBOSA

regou e caiu rolando pelo barranco. - Achei urr. 11inho. Quem t~


deparou? Ninguém. Deparou-se-me no caminho da roc;a. - Por
que estás ofegando? E stás sem fólego? Nao estou ofegando: estou
suspirando. Ll(ÁO 36.ª

BIBLIOGRAFIA
PREPOSI~oES
ANCHIETA 15v-17; 35-36; 49v; FIGUEIRA 80-84; MONTOYA 12-13; 40-43;
.RESTIVO 55-59; CAETANO 38; ADAM 45-47. (C.ontinua~ao)

PREPOSI<;óES DE PREFIXOS T OU S
1

604. O t- e o s- n1óveis, que aparecem antes de muitas pre-


posi~oes, sao prefixos, 'í ndices de classes ( n. 846, 867).

605. esé (n. 139): "por (causa de)"


Segue eté ( n. 238) . 11as a 3a. p. refl. é irregular,
e o ándice da classe superior é nioro- (e nao t-) :
Cl. sup: 11ioro-esé; el. inf.: s-qsé
xe r-esé, nde r-esé, s-esé, o-io-esé : por mim, por ti, por ele, por si
iandé ou oré r-esé, pe r-asé, s-esé, o-ío-esé: por nós, vós, etc.
asé r-esé : pela gente abá r-esé : pelo índio

O comp. csé-bé ( n. 144) segue esé.

606. upi (n. 135): "por" (lugar)


Segue eté ( n. 238). Mas o índice da cla·sse superior
. é 1noro- (e nao t-) :
Homens dan~ndo e cantando em torno de tres caraibas, que sopram fumo sobre
eles (DE BRY) Cl. sup.: 111,or-u pi; el. inf.: s-upi
.'l:e 1•-upi, nde r-itpi, S-1tpi, og-itpi: por n1Ít11, por ti, por ele, por SI
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 229

iandé ou oré r-upi, pe r-upi, s-upi, og-upi : por nós, por vós, por III
eles, etc.
asé r-u.pi: pela gente kó r-u.pi: pela ro~a PREPOSI<;úES DE S I NICIAL
O comp. 11pi-bé segue 11pi.

610. Nas tres preposi<;oes sosé, su·í, supé, o s- inicial nao


607. enondé: "antes de"
é pref ixo. Sao, portan to, preposi<;oes reg ulares. Mas
Segue eté ( n. 238). depois de i. n1udam o s etn z ( n. 19). A 3a. p. refl.
Cl. sup.: t-enondé; el. inf.: s-enondé tem fortna<;ao especial:
xe r-eno·n dé, nde r-enondé, s-enondé, o-enondé: antes de 1111111, de 611. sosé: "acin1a ele, n1ais que, sobre''
ti, dele, etc.
~'re sosé, nde sosé, i xosé, o io-sosé:
so'bi:e mim, sóbre ti, etc.
iandé ou oré r-enondé, pe r-enondé, s-enondé, o enondé: antes de íandé ou oré sosé, pe sosé, i xosé, o ío-sosé: sóbre nós, soore
nós, etc. vós, etc.
asé r-enondé : antes da gente abá r-enondé : antes do índio asé sosé : sobre a gente abá sosé: sobre o índio

608. obaké: "en1 frente de, <liante de" 612. suí (n. 134): "de'' ( procedencia)
Segue eté ( n. 238). xe suí, ndc suí, i xu í, o io-sití ou o ie-suí: de n1in1, de ti, dele, etc.
íandé ou oré s1t:í, pe su.í, i :ru.i, o io-suí ou o ie-suí: de nós, de
Cl. sup. : t-obaké; el. inf.: s-obaké
vós, etc.
xe r-obaké, nde r-obaké, s-obaké, o (g )-obaké : <liante de 1nin1, de ti, asé suí: da gente abá sui: do índio
dele, etc.
O comp. s1ií-bé (n. 648) segue suí.
íandé ou oré r-obaké, pe r-oba.ké, s-obaké, o(g)-obaké : <liante de
nós, etc. 613 . supé (n. 136): "a, para" (dativo)
asé r-obaké: diante da gente abá r-obaké: <liante do índio i xu pé : a Olt para ele, ela, eles OU elas
o ío-upé ou o ie-upé : a ou para si ( refl.)
II asé supé : a ou para a abá su.pé: a ozt para o índio
gente
PREPOSI<;úES DE T INICIAL Ve-se que primitivamente o s era prefixo.
614. Na 1.ª e 2.ª pp. do sing. e pl., serve a 111csn1a f orina
609. Na preposic;ao taté, e em seus compostos, o t inicial nao é prefixo. ,
É temát ico. do dativo (n. 203):
taté: "fora de (destino), ao contrário de, em vez de" i.i:é-be, xe-be, ixé-bo, xe-bo: a tnim, para inim
endé-be, nde-bc, endé-bo, nde-bo: a ti. para ti
xe taté, nde taté, i taté, o taté, etc.: fora de mim, de ti, etc. 1andé-be, nhan.dé-be, iandé-bo, nhandé-bo, oré-be, oré-bo: a nós,
,
Os comp. taté-é, taté-nhé seguem taté: para nos
ahé mor-apiti-ar-uera taté-11/ié anhé ibíá o-í11kti (VLB 265) : mataram-no peé-tne ou peé-nio : a vós, para vós
em vez do assassino (por erro) asé-be, asé-bo ou asé supé: a gente, para a gente
15
230 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 231

615. Entretanto, um maioral de muita importancia pode dizer ixé supé: cons- 620. rí: "por (causa.)"
tru~ao
maj estática.
616. Em frases como a seguinte, o ío-npé equivale a "redprocamente": Alterna-se no uso com esé ( n. 605). É preferida dos
aé riré o io-1ipé i nhyro o-i'-e-r-ekó-ab-amo, kuesé-nheym o-ío-amotar- pronomes da l.ª e 2.ª pp.:
eym' 'iré (AR. 84) ; depois daquilo, eles se perdoaram mutuamente,
reconciliando-se, depois de se terem odiado (desde) muito tempo. se rt, nde rí, iandé rí, oré rí, pe rí: por mim, por ti, por ele, por
617. Precedida de o-ie-, o-ío- ou moro-, a preposi~ao perde o s: moro.upé si. etc.
(AR. 3) ou mor.upé. Nunca se usa com pronomes da 3.• p.

621. riré ou roiré: "depois de, depois que"


IV aip6 riré: depois disso
.~e só riré: depois de eu ir, de minha ida, depois que eu fui
PREPOSI<;OES DE R INICIAL
• •
~ Precedido de parox;tono, riré -perne o pr1me1ro r:
618. Sao apenas -ra11io, rí e riré. Riré e -ramo estao su-
(iré) ; o paroxítono perde a vogal final:
jeitas a altera<;oes fonéticas.
se r-eV!r' 'iré: depois de me deixar; ar' 'iré: depois do día; kaá
kai pab' 'iré: depois que o mato arder todo
619. -ramo
Após consoante: -amo; ( com queda do a final dos paroxítonos) ; ap6s Precedido de tri tone-o. riré perde a sílaba inicial; e o
nasal : -namo.
tri tongo perde a vogal final :
1) : "por, con10, na dignidade de, segundo"; (as vezes: kaia: incendiar-se kai' 'ré : depois de se incendiar
prepos. de compl. pred.) : Roiré e rl sao variantes de riré:
ybytu-gúas1i ré: depois do f uracao; tule só roiré: depois de tua ida
xe r-ttb'-amo oro-gue-r-ekó: tenho-te por meu pai; a-ikó nde Riré-bé segue riré.
boiá-ramo : estou como teu servo; sou teu escravo; paié-ramo a-ikó :
estou como pajé; sou pajé; oro-1110-ingó t'l;tbixab-amo: nó& te consti-

tuímos (como) chefe; abá-pe erimbaé Tupa o-i-mo-nhang ypy yby V
por-amof (AR. 47) : a quem outrora criou Deus inicialmente como
habitantes da terra?
622. pup·é ( n. 138): "com, em, dentro ele"
2) : "em" ( tern10 de conversáo) : É regular. Mas nas 3as. pp. refl. tem mais duas
y o-nhe-mo-nhang t-itguy-ra11io: a água se converteu em sangue formas:
(humano); a-i-nio-nhang pirá kang-uera pindá-ramo: de urna espinha xe pupé, nde pupé, i pupé, o pupé ou o io-pupé ou o ie-pupé:
de peixe fiz um anzol; pana1na o-nhe-1no-111zang guyrá-ramo: a borbo- em mim, etc.
leta se converteu em passarinho; nibaé-pe o-í-nio-nhang s-eté-ramof 1andé ou oré pupé, pe pupé, i pupé, o pitpé ou o io-pupé ou
(AR. 47) : de que fez seu corpo? (lit. que transformou em seu corpo ?) o ie-pupé
232 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 233

627. Usa-se da forma reflexiva, quando o con1plemento se


VI refere ao próprio sujeito da frase (principal ou subor-
PREPOSIC:OES REFLEXIVAS E RECtPROCAS dinada):
a-r-ur xe io-upé ( náo ixé-be) : trouxe-o para min1 t11esmo; ere-
623. As preposic;oes podem reger pronomes reflexivos e -r-ttr nde ío-upé: tu o trouxeste para ti n1esmo ; ,a-i-Potar nde xe io-upé
, (nao ixé-be) uuba meeng-a : que~o que me d~s a flecha; a-.i-potar
rec1procos.
Tingusu o ío-esé uuba 1neeng-a Pindobus1t supe: quero que T1ngu<;u,
Pelo seu próprio sentido, as que mais aparecem sob forma reflexiva ou
recíproca sao: pupé, esé, sitf, s11pé. por sua própria causa, de a flecha a Pindobu<;u
Reflexivas Recíprocas
624 . .'l:e io-pupé; .'l:e ío-esé; xe ío-suiÍ; xe ?o-upé: em mim mesmo; A

por mim mesmo. etc.


628. Forma1n-se sempre com io-:
nde ío-pupé; nde lo-esé; nde io-suf; nde ío-itpé: em ti mesmo, nd' ia-ío-peá-potar-i íandé ío-suí.: nao queren1os separar-nos uns
por ti m., etc. . dos outros; o-py-rung o-ío-esé: pisaran1 uns nos outros
o ?o-pupé; o ío-esé; o io-suí; o ?.o-upé: ein si mesmo, por si
mesmo, de si m., etc. Quando o sujeito é da mes1na pessoa, a forn1a refle-
1andé io-pupé; iandé ío-esé; íandé io-su·f; íandé ío-upé: em
nós mesmos, etc.
xiva da 3a. p. pode substituir todas as outras:
orr io- pu p'e : ore, 'to-ese; ore 1.0-su:t;
, A A , , ~
A
ore io-u.p'e : em nos 1nes-
, , A f
t' ía-ío-peá iuné íandé ío-su:í. ou t' ia-io-peá 'lt1né o io-suí: nao
mos, etc. nos separemos uns dos outros
pe ?o-pupé; pe io-esé; pe ío-suí ,· pe 1o-upé: em vós tnesmos;
por vós mesmos, etc. 629. Nen1 sempre há verdadeira reciprocidade, nlas apenas
o io-pupé; o ío-esé ; o 1o-sui; o ío-upé : em si mesmos. por si
mesmos, etc. relac;áo consecutiva entre dois ou n1ais seres tomados con10
um todo (n. 593):
625. "froque-se io- por ie-, e tem-se out ras tantas formas
equivalentes no uso e no sentido: o-1o-akypuer-i ( VLB 237) : un1 atrás do outro

:re ie-pu.pé; .re 1e-esé; :re íe-suf; xe ie-upé: em mim mesmo, por
por min1 mesmo, etc.
VII
626. 11as todas as prcposi<;oes ( exceto esé, sosé, supé)
podem formar as 3as. pp. refl. sem ie- nem io- (e é o mais DUAS PREPOSI<;OES
comum):
o pupé: en1 si mesn10, tnesma, mesmos, mesmas 630. Dao-se casos de junc;áo de duas preposic;oes:
.•.,, .
.
-~ «'.~
nr:
"
!~~- ' .. ~~r':\.• ;v_, '' ~!l\':y •• • - ' •
o (g )-obaké : <liante de si mesmo, n1esma, 1nesmos, mesmas · kil,eí-pe sní (VLB 180): de por aí; uiará ngoty sui? (1b.): de que
og-upi: por si n1esmo, mesn1a, mesmos, mesmas parte?; 11ia11tó ngoty suí? (ib.) : id.
234 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 235
,.
635. Piara: o que está em busca de :
EXERCfCIOS a-s-epiak nde piara: vi quem está em tua busca; o-itr nde piara (VLB
631. , 267) : veio o que está a tua procura; mara e-í-pe Judeus, i pia.r-etá, i
xupé r: que ihe disseram os Judeus, que estavam a sua procura?
í'e-ro-biar [esé]: confiar em n' aan-i: nao
nh~-mo-niotar [ esé] : cobic;ar ekó-biara ( t) : substituto Piar-amo: em busca de; a cata de; buscar, trazer:
a-só ybyrá pia.r-amo (VLB 147) : vou em busca de lenha; a-só itd p:iar-
puerab :. sarar o-ypyra ( s) : zelador da casa -amo (VLB 266) : vou catar pedras; a-i11r nde sy piar-amo: vim em
arybé : cessar auié-rama-nhé : para sempre busca de tua rnae ; 1ide piar-amo i ie-byr-i: voltou no teu encal.;o; a-só
poir [sui] : separar-se iá-bé ( com in fin.) : assim como y piar-amo (VLB 415): vou buscar água
pore-ausub-ok : tr. compade- de ausente
cer-se kuá: meio 636. Ek6-biar-amo (t) : em lugar de; como substituto de
aru·kanga : costela a·1nó-neme : algumas vezes 637. O mensageiro que estava a minha procura ja foi?
Sim. O tcu
632. Atar-am-anw nhó, nda auié-rama-nhé tapiiar-amo rua oro-ikó kó irmao o mandou antes dele (refl.), como (n. 619) seu (refl.) substi-
yby-pe. Iandé ío-esé nd' ía-i'-e-ro-biar-i .. . - Nde io-s1tí nde mbaé tuto. Com ele foi também o viajante. Vós, também, ide uns com os
r-esé abá mo-ndaro nde i potar-eym-a iá-bé, 'té-umé abá mbaé r-esé outros. - O prisioneiro viu <liante de si muitos inimigos. - Vieste?
e-mo-ndaro-1no, kó-ipó s-esé e-nhe-mo-motá (AR. 239). - Mara-pe Sim. Venho em busca dágua. ~1eu principal me mandou também levar
nde amotar-eyn1h -ara r-ekó-u (<leve f azer), o ío-upé nde nhyriJ-motá? carne para ele. Nao. Nao é para ele que a pediu mas para dar aos
- fv!ba!-ranu; rí bé-pe guá iandy nvng-i asé r-esé! Asé puerab-a viajantes que vieram a sua procura. - Pindobuc;u nao reconheceu
pota, ase mbae-asy arybé potá. Opuerá'-te-pe gúá o io-esé i nong-eme depois daquilo a sua maldade? Reconheceu-o, quando eu olhei ( ixé
iepi? .0-puerab amó-neme (AR. 159-160 ad.). - E-í katu-pe mena maen-eme) para ele. E quando lhe disseste ( nde é-renie) "fizeste
o e-mi-r-ekó suí o-poí! N' aan-i. Nd' e-í katu-i o io-suí o-poí mal" ( ere-ikó memua), que te respondeu? Disse: é verdade: fiz mal.
(AR. 165 ad.). - Marfi··Pe morubixaba asé r-e-r-ekó-u-ne? - O - A borboleta se converte em beija-flor? ou o beija-flor se converte
io-upé asé f-e-r-ur-é-reme, asé r-ausub-ar-i-ne, asé pore-ausub-ok-i-ne em borboleta? - (De) que (passado) fizeste esta linha de anzol
<i;R. 37 ad.). - Mara-pe asé mo-nhang-i? Na mbaé ruii o-i-mo-nhang ( f ut. com -ramo) ?
a.se ang-amo, o nheenga pupé é i mo-nhang-i (AR. 21). - Kamusi
ku_.á r-upi nhó-te kaúi r-en-i (está) (VLB 291). - Oro-eiar xe r-ekó- BIBLIOGRAFIA
:biar:amo. - Na nde r-o-yp'Jir-i-pe? - Mbaé-pe Tupa o-i-mo-nhang
iande r-ub' ypy r-e-1ni-r-ekó r-eté-ranio? I ariikanga anhó (AR. 48). ANCHIETA 15v-16; 43-46; FIGUEIRA 80-83; 120-126; MoNTOYA 70-76:
RESTIVO 11-16; 117-120; CAETANO 64-69; ADAM 29-32.
633.

converter-se: nhe-mo-nhang com : esé-bé ( s) ( n. 144)


linha de anzol : pindá sama é verdade : s-upi; anhé
beija-flor: gúainumby predecessor : enotara ( t)
substituto: ekó-biara ( t) o que está em busca de: piara
634. Enota:a (t~: o que está ou vai a frente, antes, predecessor. Diz-se
P· ex. do 1rmao ma1s velho, do mensageiro que precede um viajante da comida
com 9ue se esp-era um hóspede, etc. : kaui xe r-enotara: o cauim co~ que serei
reccb1do; nde r-enotar-úera : teu irmao mais velho. Aparece também com
moro- (n. 387) : mor-enotara, mor-enotar-úera, etc.
CURSO DE TUPI ANTIGO 237

640. A preposic;ao -i só se usa com os substantivos acima


mencionados. Alguns tan1bém admitem -pe, no mesmo
sentido:
LI~AO 37.ª· apyr-pe, apyter-peJ atuá-peJ guyr-pe, kuá-pe, pytá-peJ akypuer-pe
641. A preposic;ao esé substitui tanto -i como -Pe:
aos ombros: atuá-iJ atitá-pe ou at14á r-e1I
PREPOSICOES
642. l. - Gu)'r-i indica especialmente o "tamanho" (menor) : xe gúyr-i
s-ckó-u: está abaixo de mim ( tamanho) ; xe gúyr-pe s-ek6-u: está debaixo
• de mim (posifií.o, higar) .
638. -1: "em a" (locativa)
' 2. - Apyr-i significa também "no ápice da caLec;a • e "ao lado, j.unto,
pegado, parede meia, vizinho" : xe apyr-i s-ekó-u: está a meu lado, é meu
Mais usada que -Pe (n. 140) para indicar a parte do vizinho; " atrás de " (na mesma canoa, ou a garupa no cavalo, as ancas) :
objeto: nde apyr-i t-itr-i-ne : virá contigo, a garupa, etc.

aié ( s) : corte, atalho 3. - Pyr-i significa também "estar 011 ter com" (pessoa) : a-s6 xe r-uba
aié-í ( s) : através de, de atra- pyr-i: fui ter com meu pai; o-ur náe pyr-i: veio estar contigo; náe pyr-i t'
vessado, de revés a-pytá nde r-imba r-e-r-ekó-bo (REST. 298 ad.) : quero ficar contigo para se-
Outros exs. : gurar tuas flechas.
4. - Ybyr-i, por si s6, significa também "ao longo da costa": ybyr-i
am ( b) y-i: ao lado, sob o bra~o kuá-i ~ a cintura,
pelo meio t' ia-só: vamos ao longo da costa. Pode-se referir tanto a terra como ao mar.
anha-í: na pon ta, no cabo puku-í: ao longo, durante 5. - O pronome aé " aquele, ele" forma com a preposi<;áo -i e o advérbio
atuá-í : as costas, aos ombros pytá-i: no cakanhar bé a locu~ao aé-i-bé " lpgo naquele ponto, momento, etc. "

639 · Os paroxítonos perdem a última vogal, e, se terminam 643 -bo: "por, e1n, a, de"
en1 a'ia, eia, etc., nada acrescentam: Metaplasmos: os mesmos de -pe (n. 142). ~las nao se nasaliza.
.. .
a,iur-i: no pescoc;o Con10 u.pi ( n. 135), indica extensao (no lugar ou no
j':yr-i, yp·yr-i: perto de, junto
apyr-i: na ponta ou cun1e <le tempo), mas real~a 1nelhor a indetermina~ao ou plurali-
a-pyter-i: na parte superior, pyter-i: no meio, entre dade. Cpr.
sobre eséi ( s) : em frente, <liante de
ar-i: id. ; encima de obái (t) : id. kó-pe: na ro~a lió r-upi: pela roc;a kó-bo: pelas roc;as
asei.. : as
'
costas akypuer-i ( t) : atrás de kó r-upi: por aqui kó-bo : por aqui (in-
gfi,yr-i: sob, debaixo de ybyr-i: ao longo de ( determ.) det.)
pytu-n-nie : de noite ( un1a vez) pytun-bo: pela noite, pelas noi-
Sao palavras formadas, r~sp~ctivamente, do~ substantivos: afora pesco<;o, tes, toda noite
apyra pont~, cume1 a-pytera ~erttce, par.te s~penor ou alta, meio, centro,. ara
parte supe:1or, a:ew costas, g1iy1·a parte mfenor, pyra ou YÍ'Y'ª parte próxima, :re k·u.pé-pe: em niinhas costas, detrás ele 111i1n ( nun1 ponto)
pytera meto, eseia (s) parte oposta, frente, ak·ypílp1·a (t) parte posterior obaia .'t'e k'ltpé-bo: por detrás de mim ( en1 vários pontos) ; onde nao"'
(t) parte oposta, frente, ybyra extensao. ' estou
.,
239
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPÍ ANTIGO

xe pó guyr-pe s-ekó-ú : está debaixo de n1inha mao ou poder 647. Com o infinito, partic1pio,saba, gerúndio, substantivo
xe pó gu~/r-bo s-ekó-1i: está ( constante1nente) debaixo de minha
mao ou poder ou pronotne, corresponde a "1 ogo " , "des de" . Ou t ros exs
-' ..·
644. l. - Ar-bo "sobre, por cima de, em cima de" é mais ·usado que ar-pe, aé-puer' abé : logo ou desde gui-xó-bo bé : de caminho
mesmo no singular. entao (indo)
2. - Os nomes terminados no sufixo aba ou saba (n. 798) usam de -bo xe r-ur-ag-uer' abé : desde que gui-t-ú abé : de caminho (indo)
mesmo no sentido de singular: .
v1m
tt>k6-k11ap-aba "conhecimento" : tekó-k1uJp-á' -pe ou t-ekó-kuap-á' -bo

648. Pospoe-se também a várias partículas, no sentido de "logo ". Muita~


Locu~oes vezes1 é simples reí ór¡;o: reme-bé enquanto, desde que, logo quando; eym-e-be
antes que, logo sem; ndí-bé ou esé-bé (s) com; iá-bé como; 1,f>i-.bé (s) l~~
0

645 Como possessivo reflexivo, -bo forma muitas locu<;óes. depois que; conforme, perfeitamente; riré-bé logo em, lógo d~po1s que; •:be
ou i-bé logo em; guyr-i-bé logo abaixo de; aé-i-bé logo naqm!o, logo entao;
N este caso, pode nasalizar-se: akyp,~r-i-bé ou atuá-i-be logo atrás; kuesé-,nhé' -ym-bé desde anttgamente, de..de
o aiur-bo : pelo pesco~o o pé-nio : de lado, de esquina muito tempo; koyr-bé hoje em di.a. Etc.
o atukupé ( P'y ter')-bo : de, o puktt-bo: ao comprido, ao lon-
pelas costas go, de comprido
o endypya-eyi-bo : de joelhos o ti-apua-mo : de ponta EXERCfCIOS
o esá popy-bo : com o rabo do o ti-apyr-bo : de ponta 649.
olho o ybá-bo : de través, de atra·. amyi oka: vizinhan~a (de casa) amyi-ndaba ou amu-ndaba :
o íepyna-eyi-bo : ~e joelhos vessado aldeia vizinha
o obá-py-bo: de bru~os o yké-bo : de lado, de esquina iasy : ornato do peito, crescente ekó-potá'-saba (t): inten~áo
ké' -saba: lugar de dormir, rede r-elló: tratar
Ocorrem alguns com o recíproco io-: mo-ndeb : por, vestir ti (ío) : armar
o io-pyter-bo : pelo meio por-upi, po-sé : ao longo de 31byr-i : ao longo de

O possessivo é sempre o da 3.ª p.: 650. Por-upi. e po-sé exigem compl~mento de pe~soa. Po;sé supóe. que quem_
está "ao longo" csteja na mesma rede, etc. Ass1m ~ambém ybyr-i. Por-upi
a-guatá o pó-bo : ando de gatinhas; o puku-bo taba mo-in-i: assen- se diz do que está " ao longo ", mas nao na mesma rede :
tou a aldeia de comprido; o puku-bo taba r-en-i ( ANcH. 43) : a aldeia 0 sy po-sé pitanga r-ú-i (AN~H. 44) : a crian~a e~tá deita~a com. (ao
está assentada de comprido longo de) sua mae; .xe po'f-upi xe r-ayra nhe-nong-i: meu ftlho de1tou-
-se ao longo de mim

BÉ OU ABÉ 651. A-íe-aó'-mo-ndeb o aiur-bo. Xe nio-ndeb íusana r-esé o aiur-bo.


O-í-1no-ndeb iu.k31ra abé xe íuru-pe. E-ani xe_r:eséí., O í?-apyr.-i ,ºr~
646. Bé ou abé "também, mais, ainda, outra vez, e" r-oka r-ú-i (VLB 426). Guaíbi pytun-bo s-eo-u. N a~n,-i. 0-iko-~e
(n. 146). Tem fun<;áo intensiva: bé. Pe r-ekó-potá-sá'-bo pe-r-ekó (AR. 87 ad.). A-iko xe r-amyi~
r-ekó-bo. Xe kupé-bo xe nio-nibet¡-u. E-ío-tí nde. ké-saba xe .Por-u_Pi.
o-ikó-bé bé : vive ainda emonan bé : assim tambétn é X e ybyr-i t-ú-í ( deitou-se), o-ké. O ío-akypuer-i taba r-en-i (esta):
nei bé: eia, outra vez ! e-karu bé: come mais Soó amó ar-bo i ker-i, pytun-bo i guatá-u, i karu-bé-i. Oré am~i
i á-kyr s-aí bé ybá : a fruta está verde e ácida ok-eta : nd' oré amundab-i. Mbaé r-esé-pe nd' er-e-ie-íasy-mo-ndeb-if
240 LEMOS l3ARBOSA

,
652.
ponta, conclusáo: apyra Ilhéus: N hoese1nbé
saltar: por LI~AO 38.ª
cumieira da casa : ok-apyra
nascente do n~> : y-apyra a vista de : obá-bo ( s)
pon ta de galh;>: aka-' pyra ( s) a flor dágua : y apé ar-bo
arma~áo da ct.mieira: apyr-ytá de dia: ar-bo
INDEFINIDOS
653. Por que nao vestis roupa aos índios? ~les nao se vestem
[ roupa] . - Os peixes passara1n saltando a flor dágua, a vista de
Ilhéus. - O n1acaco subiu na ponta do galho, náo querendo n1ais 654. amó: "algum, um , certo, outro, -a, -s, -as; vários,
dcscer. - Na conel u sao de minha fata (passado), ele f alou. - Onde diversos, -as"
está a nascente do rio? E stá no mf!io daquelas montanhas. Por onde
passa ele? Passa por aqui, por estes campos. - A cumieira da casa
Pode preceder ou seguir o substantivo. É pronome e
caiu. Caiu de atravessado ou de ponta? Caiu de comprido. De dia adjetivo:
ou de noite? De dia. Apanhai a arma~áo e colocaf-a ao longo da amó a1nó: vários. diversos ; 0.1'11 ( b) ó-aé : outro. outros (e nao este
casa. - A n1ulher carregou o marido as ancas, para visitar o frances .. . nem estes) ; a111ó ahc, a111ó abá, abá abá : algué111, certa pessoa, certas
pesooas; nda abá ridí, náa abá amó rua, nda anió abá rua: ninguém;
amó • • . a1nó ... : um . . . outro .. . ; alguns. . . outros ... ; 111 baé anió,
BIBLIOGRAFIA
amó mbaé: alguma cousa, algo; na mbaé ruii, na 111baé rufí, nda
amó rnbaé ruii: nada; oré a1nó: alguns de nós
Indefinidos - A:-.c tt rETA 40-46; F 1GliEIRA 120-126; ~O?\ TOYA 70-76;
REsTrvo 11-16; CAETANO 64-69; ADAM 29-32; DLL'!GNA 71-73.
655. iabio: "cada, cada um, cada vez que, todos"
Bé ou abé - ANCHIETA 41v; 43v ; 45v-46; FrcuEIRA 148; VLB 199 ;
184; 279; 400, 175; passim; MoNTOYA 81; REsnvo 217; 235-237: CAETANO 68. Pospóe-se ao substantivo. É pronome e adjetivo:
ara iabio: cada dia, todos os dias ; iandé wbió : cada u1n de nós ;
i iabio: cada um deles ; i é íabio: cada vez que disseram ou dizem ou
disserem
656. mobyr ou mbobyr: "alguns, poucos ( 4 a 6, n1ais
Otl menos) ; algumas vezes"
Precede o substantivo. E' pronome e adjetivo:
mobyr 1nobyr: alguns; nda niobyr ruá: muitos (nao poucos) ;
mob31r-ío: alguns, poucos (para FIG UEIRA: muitos); 1nobyr-ío-aub:
alguns, pouquinhos
Oss.: O interrogativo mobyr-pe? "quantos ?" traduz-se ao pé da letra
" (sao) atguns?". A resposta pá "sim" significará que "sao alguns ou
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai vários", i, é, até 6 mais ou menos. A resposta aan-i " nao" significará
www.etnolinguistica.org que "nao sao mai5 de dois".
242 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 243

657. etá ( s) : "muito, muitos, muitas vezes" (nunca opá pytá-ú) : todos ficaram; opá i ú-u (nunca opá ú-u) : co-
meram tudo; opá t-eo íandé mo-ndyk-1. (AR. 315) : a morte a todos
Nao sendo complen1ento predicativo, segue o substan- nos destrói
tivo. Pronome e adjetivo:
663. A par~ícula interrogativa segue-se sempre a opab:
etá-etá (s), etá-katu (s), etá-nhé (s), etá-katu-nhé (s), etá-té-katu-nhé (s):
muitos, muitíssimos opá-pe s-eo-u?: morreram todos?; opá-pe i iuká-u? mataram
etá-pokanga (s) : poucos, poucas vezes (relativamente); escassos, raros a tódos?
Etá, posposto, tende a substituir o plural (n. 47).
664. Há muitos compostos:
658. anangatu: "muitos" opá-katu, opab-e, opab-é-nhé, opab-i, opab-i-nhé, opab-é-ngatu.,
opab-i-ngatu
Pospoe-se. É adjetivo. Muito pouco usado.
Todos temo mesmo sentido e estao sujeitos as n1esmas regras
659. opab ou opá: "todo, -a, -os, -as, tudo" r¡ue opab:
opá-katu-pe asé abé asé pab-i-ne? (BETT. 58): e todos nós (a
· Pode antepor-se ou pospor-se ao substantivo. É pro-
gente) haven1os de acabar também?; o-gt1e-ro-yro-pá-katit abá o an-
nome e adjetivo: gaipag-uera (AR. 171) : <leve o homem detestar todos os seus pecados
opá soó ou soó opá: todos os bichos passados
665. ÜBS. : Para compreensao da sintaxe dese indefinido convém saber
660. Perdendo o o) pode sufixar-se ao verbo. como sujeito que é o próprio verbo pab "acabar", "estar concluído" ; n~ 3.a p. : o-pab.
ou como objeto : 666 .. Com o pref. a- (n. 349) e o indefinido pá, forma-se novo prefixo, a-pá,
qu~ figura em numerosas palavras com o sentido de "totalmente", "de todo":
oro-i-mo-iaok-pab t-e-1nbi--ú : repartimos toda a comida; oro-i-
apa-puba: todo mole; mo-apá-Pttb: amolecer todo; convencer; apá-kui (xe) :
-mo-i<zok-pab : repartimos tudo; o-bobok-pab ygasaba: racharam-se desmoro~ar-se todo, derrocar, acabar-se todo; mo-apá-ktti: derri~r; apá-sok :
todas as talhas; a-ra-só-pab ou opá a-ra-só: levei todos socar, pilar, (formando urna massa compacta); apá-ie-reb (.'t'e): revirar-se
todo, revolutear, rolar; apá-puar: dobrar todo; apá-puara: dobra; ie-apá-pí4ar:
dobrar-se todo, enroscar-se, enrolar-se, encolher-se todo; apá-ié : inclinado, tom-
661. No gerúndio, pode ficar antes ou depois de -bo) mas bado, debrm;ado. vergado, maduro, inchado (de maduro) ; 11io-apá-ié : por a
sempre sob a forn1a pá: amadurecer; apá-iuguá, apá-tyna, apá-xixéi: encaro~ado misturado embrulhado ·
apá-mo-nan : misturar; apá-r-ar ( xe) : cair (o que está assentad~ ou pousado:
o-ur pe íuká-bo pá ou o-ur pe ~uká-pá-bo : vem para matar-vos co!llo gente, ponte, casa, prato ... ) ; apá-r-ata: espesso, hirto, duro ; apá-tuká :
ap1soar, machucar, bater, lavar (roupa).
todos
667. tetirua: "qua·lquer, quaisquer, todos"
662. Quando opab ,·em antes do verbo, pede a conju-
Pospóe-se. É adjetivo:
ga~ao subordinada. Mas entre opab e o verbo <leve vir
mbaé tetirua: qualquer, quaisquer, tódas as co~sas · opá-katu
sempre o substantivo ou o pronome sujeitos: 1nbaé tetirua sosé : acima de todas e quaisquer cousas '
opá kununii r-eo-i1: n1orreram todos os meninos; opá kaui pab-i:
acabou-se todo o cauin1; opá ahé xe sub-i (VLB 217) : revistou-me
668 · memé: "mesmo, mesmos; todos da mes1na ma-
todo; pitanga opá pirá ú-u : a crian<;a comeu todo o peixe; opá i pytá-íi ne ira; tan1bém, juntos"
I
244 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 245

OÍcpé SOÓ 1/tern.é-pe f: é


111es1110 bicho? ; mara e-í-pe aé-remef
U111 nio-ngy: untar ( obj. dir.: a c. obá-gúang ( s) : pintar o rosto
la-íuká menié aípó íara, - e-í; t' o-11ianó, - e-í (AR. 79): que que se passa) ( com urucu)
dissera1n entao? ~lf atemos, todos, aquele que disse isso ( disseram) ; guang ( nho) : tingir ( com ian31paba: jenipapo
n1orra ! ( dissera1n) urucu) tiruii : até mes1no
ro-apá-r-ar: derrubar caindo mará-t-ekó-ara: guerreiro
~

669 . oiepé: "todos juntos: todos a .urna, todos de un1a 67 5 . T-obaía ra amó asé i íuká íabio, asé ie-obá-guang-i. M ará-
-t-ekó-ara o-íe-gilak. S-e-mi-r-ekó o-í-íanypá-nio-ngy. Kunhá opá-ka-
vez" tu-pe ie-ianypá-mo-ngy-u? K unhii pá-liatu, kunha-111'uku tiruii. Abá-
Seus compostos: oie pé-kat11, oiepé-guasn, otepé-bo: igual sentido; oiepé- -pe o-i-mo-ie-gúak kunha? 1 mena. Aé-pe kunha-niitku, mara? 1 xy
-renio, oiopó-1·emo, oiep6-remo: todos os de urna espécie ou qualidade
o-i-mo-íe-g11ak. - M obyr-pe ere-ie-pitub? S-etá-katu-nhé. - Abá
amó oro-,rno-ngatyro. Aan-angá-í. I xé é-te a-íe-etápuru. M ard-na-
\ 670 . aan: "nenh un1, nada, ninguén1 " mo-pe nd' ere-íe-iuruu-ukar-i nde r-e-nii-r-e-lió supé? N d' o-í-kuab-i.
Seus compostos: aan-angá-1, aan-gatu-tenhé. Igual sentido. Opab-é-nhé xe r-ayra i kuab-i. S-etá-pe nde r-ayra! M obyr-io. ___,.
Mboia o-ie-apá-pfiar pé r-embey'-pe o-in-a (Tes. 45 ad.) . - 0-gúe-
671. mokonhó: "poneos" -ro-apá-r-ar xe r-oka xe nibaé (Tes. 46v ad.). - Ybá o aka o-gfte-ro-
_ 1nokonhó-i: pouquinhos; 111.okonhó-i-aub : poucochinhos -apá-r-ar ( ib. ad.).
_.... . .
-;;-~

672. urusu (t): "n1uitos"


É irregular ( n. 99). A lén1 do sentido de "grande",
"grosso", ten1 o de "muitos": I

oré r-eburusu: son1os muitos; a-r-·u r-usu ( ANCH. 13v) : trago


n1uito ou n1uitos ; a-ío-po¡-usu. ( ib.) : dou muito de comer; xe peu-usfi
(ib.): tenho n1uito pus; o-ur-usu (Tes. 406/400): vCin muitos;
o-iabab-usu ( ib.) : f ogen1 1nuitos

673. eyi (t): "n1uitos"


oré r -eyí: son1os n1uitos s-eyt: sao 1nuitos
pe r-eyí: sois 111uitos s-e31l nhé: sáo 1nuitos

EXERC1CIOS
674 .
1no-un: tingir de preto etapurú ( s) : pintar o rosto ao
nio-t·i ng : tingir de branco longo do cabelo, ou do ca-
mo-ngatyro: enfeitar a
belo ponta do nariz ( obj.
ie-guak: pintar-se, enfeitar-se d.: pessoa)
pitub : tingir ( co1n urucu etc.) íuruü : pintar o rosto, das ore-
pitu'-pirang : id. lhas aos cantos da cabe<;a Uma mulher pinta o prisioneiro e a ybyrapttna, enquanto
as outras cantam em derredor (STADEN)
18
246 LEh1:0S BARROSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 247

676. guerreiros estao dansando todos juntos. Alguns poucos vestem [ em


arrancar plu1nas ou pelos a: canindé : kanindé si mesmo~] mantos; alguns vestem carapu<;as ; outros vestem brace-
aboó (s) arara: arara letes ; mu1tos vestem rodelas de penachos ; tódos vestem diade1nas.
depenar a asa a: pepó-ok papo de tucano: tuka1nbira Cada um deles traz o seu enfeite.
cera: iraity
pelar a cabec;a a: aboó ( s),
á-pir-aboó ( s) " ,
ra: iui-. : aiuru
"
- a testa a: obá-'boó (s) papaga10 BIBLIOGRAFIA
- - a si mesmo : í' -obá-'boó topete: e-tobá-py-apúá ( t)
einpltunar,, a cabe~a a: guaiay- carapuc;a: asoiaba, akang-aoba ANCHIETA 8v; 54; FtGUEIRA 4-5; MoNTOYA 7; RESTIVO 21; ADAM 35-36.
-mo-iar diadema : akangitara
- o corpo : á-mo-ngy ( s) rodela de penachos : nhandit-
aparar: etab (s) -aba ar-asoi-aba
'
esfolar: pir-ok manto : asoi-aba, guará-á' -bicku
aparar o cabelo a: á-pir-etab bracelete : auana
colar : 1no-iar gatinha: t guyrá-sapukaia
untar : pixyb ema: nhandu
índio : apyaba guedelha: atybaía
, A ,
'
criar : mo-ngakuab guara: guara
cercado: okaia (t)
677. Os índios criain guarás e111 seus cercados. Depena111-nos, de
suas penas (pass.) vermelhas fazendo (n. 619, 2) seus diademas e
seus mantos. Crian1 também algumas araras e canindés. Arrancam-
·lhes as penas amarelas, fazendo delas suas carapuc;as. Das penas de
ema fazem as rodelas de penachos. (De) que fazem os seus braceletes
(fut.) ? - Os guarás, canindés, araras, sendo raros ( tyb-eyrn-e),
criam també1n as galinhas brancas e outras aves; tingem as suas penas
de ve(melho, em lugar ( n. 636) das penas vermelhas dos guarás. - ·
Depenam tambén1 todo um papagaio, untam-no COlTI sangue de ra. As
penas novas que sae1n ( o-seni-bae), tornam-se vermelhas. - Esfolam
• também o papo dos tucanos; colam a pele deles nas faces, ·com cera .
- Todos os guerreiros tem muitas penas de aves, estimando-as n1uito.
- Os mantos tem n1uitas penas finíssimas. Sao feitos nao com
as penas de quaisquer aves, mas das 1nesmas. - Os índios arrancam
todos os pelos do corpo. Rapam a cabe<;a, aparando só o cabelo por
baixo, deixando urna guedelha. Pelam [-se] a testa também.· Alguns
deixam um topete. Outros nao. - ·Com mel ou com resina eles se
emplumam4 · Emplurrtam tan:ibérn :a cábe<;a· corrí cera ou .resina. - Os ..
.' . .· .
' CURSO DE TUPl ANTIGO 249

• tnini-a ( nho) nde i niini-e: quando, etc., o escondes! -este, -eres


epíak-a (s) oré r-epiak-e1ne: quando, etc. ele nos vir, ve, viu
epiak-a (s) oré s-epiak-e11r1,e : quando nós o ve1nos, vin1os,
LI~A.O 39.ª virmos. etc.
enoi-a (s) pe r-enoi-m'e: quando, se, etc., vos chan1a, -ar, -ou
ker-a xe ker-enie: quando eu durmo, dorn1i, dormir, etc.
sem-a nde seni-e ou nd e se1u-e11ie: quando, se, porque
SUBORDINATIVAS TEMPORAIS sa1s, etc.
endub-a (s) pe s-endub-etne ou pe s-endit-me : quando o ouves,
678. As oraG5es subordinadas adverbiais se vertem pelo -iste. etc.
A,
i -ek yi-aA
i-ekyi-111,e: quando, se eu 1norro, morri, n1or-
infinitivo regido de conjunc;oes ou preposi<;óes. Como o
. rer, etc.
infinito equivale a substantivo ( n. 337), as conjun~óes usei-a .ve usei-1ne: quando, como, porque, se tenho se-
subordinativas f uncionam como preposi<;óes. de, etc.
Seria estrangeirismo abusar das orac;oes subordinadas. (Jor-ausub-a xe pore-ausu' -1ne ou xe pore-a,usub-enie: quando,
porque, como, era. fui, sou, serei um coitado
Os períodos devem ser breves, e de conexao mais lógica ar-eté ar-et é-renie: quando é dia grande (santo) : nos
do que gramatical (como na conversa viva em qualquer dias santos
língua) . y y-1·eme : porque é oit há água; quando, se,· con10
há, houve, houver água
679. -reme: "quando, se, porque, como" emana emona-ne11ie:
, . quando, se. porque, COlTIO é, foi,
sera ass1m
Usadíssima. Serve para todos os tempos: "quando ná na-neme : quando assim : a estas horas
1nato. matei. matar".
Precedida de nasal, é -nenie; de consoante, -e·m e ). de m, 680. Na forma negativa, basta substituir -retne por eyni-e :
-e ( também as vezes -enie); de b, -eme (as vezes -nte, e
xe i iuká-re111e: .1:e iiul¿á-eyni-e : se, quando, como nao mato,
entáo cai o b); de ditongo, -nie. O infinito parox1t0no perde .
-e1, -ar
o a final. nde i mini-e: nde i niim-ey11J1,-e: quando, porque nao o escon-
des, etc.
INFIN. SUBORD. TEMPOR. pe r-enoi-me pe r-enoi-ey11i-e: quando, se ele nao vos cha-
íuká xe i iuká-reme: quando, se, porque, como eu ma, etc.
mato, -et,• -ar aan-eyni-e : se nao, do contrário
P'nká i pitká-renie:
. quando, se, porque, como ele ri, riu,
rtr 681. O verbo regido de -renie equivale ao gerúndio. É de
ni.tpa rzde nupa-ne1ne: quando, etc. nie bates. bateres, rigor quando o sujeito da orac;ao principal e o da subordi-
bateste
nada sao diversos. Quando sao iguais, é facultativo, mas de
---·-- escasso uso :
(*) ou pelo particípio saba ( 11. 81 O).


250 LEMOS BARBOSÁ CURSO DE TUPI ANTIGO 251

eu indo, ficarei: gui-:ró-bo, a-pytá-ne ( ou xe só-re11ie, a-pytá-ne) Os paroxitonos perdem a últin1a vogal:
eu indo, ele nao ficará : xe só-reme, i pytá-eym-i-ne
aé-puer' abé: desde entao; ze r-epiak' abé, i iabab-i: apenas me
Sóbre as locu~óes compostas de dois particípios, v. n. 957. viu, fugiu; o syk' abé, s-eo-ú: logo que chegou, morreu; o pak' abé,
s-esé i 1n.aenduar-i: logo que acordou, lembrou-se dele; i pak' abé,
tapyyta i íuká-u : logo que ele acordou, os tapuias o mataram; s-ekobé
682 · eym-e-bé, ianondé, enondé (t): "antes de, antes que" r-apy-á-bo (S. Lour. I, 635): queimando-o vivo (== enquanto viveu)
lanondé e enondé (t) supóem que a a<;ao do verbo su-
bordinado se verificará. Eyni-e-bé serve para todos os 687. Com o mesmo sentido, junta-se ao gerúndio.' ~ste
casos: perde o a átono final, se o tem. Se termina em -ba, abé
antes que n1e batas, eu te 1nato: nde xe nupa-eym-e-bé, oro-iuká:
é que perde o a inicial:
antes que n10 dissesserr1, já eu sabia: xe ío-upé i é ianondé, ( ou eym- gui-xó-bo bé, a-s-epiak : logo em indo, eu o vi; gui-kuap' abé,
-ebé) a-i-kuab i11na ; antes que lhe déssetnos o arcq, ele o levou : i~é i íuká-u: etn passando, 1natei-o; gui-t-ú' abé, a-s-ekar nde pindá-
o-gtie-ra-só guyrapara, o io-upé oré i 1neeng-eyni-c-bé; n1eu filho saiu -ne: logo que vier, procurarei teu anzol; e-nheeng' abé, ere-ar: em fa-
antes de nós (que depois tan1rbén1 saín1.os) : xc r-ay ra o-scnt oré lando, caíste
r-enondi .
688. upi-bé (s): "logo que, de~pois de, ass1m (1t1C,

E)fni-c-bé e ía11ondé elidem o a final dos paroxítonos: a.penas; juntamente com" (n. 606)
taba kai ianondé, abá i :i:uí i zeni-i: antes que ardesse a aldeia o xe nheenga r-upi-bé: logo depois que f alei; s-u,pi-bé s-eo-u: logo
índio saiu dela ' depois disso, morreu

683. Com o prefixo de classe, c1101:d é equivale ao advérbio ranh é "antes" 689. -reme-bé, puku-i: "enquanto~ durante o tempo
" primeiro ", e pn:scinde do exito ou nao da ª~ªº verbal : ,
que" (n. 638 e 648)
nde bolá o-só t-enoiidé ou ude boiá o-só ranhé : teu criado f oi primeiro
aé-reme-bé: enquanto isso; ixé s-e-ra-só-reme-bé, c-putuii: en-
684 · riré, roiré, iré, ré: "clepois de, étepois que" ( n. 621) quanto o levo, tu descansa!; o mendar-ag-fiera r-ekó-bé-renie-bé,
nd' e-í katu-í o-mendá anió-aé r-esé (AR. 278) : enquanto viver seu es-
póso, nao pode casar com outro; ara-pukuí ou kó ara-piiku-i (VLB
685 · eyma riré,. eym-iré, eymb-iré "clepois de nao, en- 408) : todo o dia; izé s-e-r-ekó puku-i, i ar-eym-i: enquanto o tive co-
quanto nao" rnigo, nao caiu; abá ie-por-akar-a puku-i, luinhii kó-pir-i: enquanto o
.-re pore-a1'sub-eté-katu, :re r-ub-eté r-apiar-eyni-iré ma! (AR. homem pescava, a mulher ro<;ava
116) : oh! que n1uito 1niserável fui, enquanto nao obedecia a tneu
verdadeiro pai ! 690. Os negativos sao e31ni-e-bé (n. 648) e e')111i-a puku-i:
"enquanto nao"
68~ · abé, bé: " logo que, logo depois de, assi111 que, ebapó ta pe-ikó, pe-íe-byr-ag-t1ama r-esé ixé nde nio-niorandub-
-ey1n-a Pttktt-i (AR. 140) : ficai lá, enquanto eu nao te avisar para vol-
apena.s, desde que, a o n1esmo te1npo que" tardes; i kyr eyni-e-bé, t' 1a-nibaé-ty1n: enquanto nao chove, plan-
i .i-ó abé, a-iur-11e : assim que ele f or, eu virei temos!

\
252 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 253

..
696. Outras vezes , 1a ame, " costumar, ser cost ume,, .
serve a part1cu
Ey11i-a pukit-i é muito usado no sentido de "até que".
691 . NOTA. - Em tupi nao há tradu~ao
especial para "desde que" nem para 697. T-obaiara anió abá i iul?á-reme, i i'-er-oli-i. Mi-ausitba am6
"até que". O primeiro é substituído por "depois que" ( riré), "logo que" iuká-reme, abá o e-11ii-r-ekó r-er-ok-i-ne. - lxé u.í r-aang eyni-e-bé,
(abé), "enquanto" (-reme-bé e pukn-i); o segui;do_ é suprido por. "~nquanto
A
ere-i-nio-nibitkab. - Nde penga nheenga wbio, s-e-nioe1n-amo. -
nao " ( e~1m-e-bé e eym-a puk11-i). - No guaram sao cor rentes sm-be (desde Tupinambá guarini-ramo só-re1ne, ygara ti-11ie niaraká mo-ingo-fi. -
que) e -pe-bé (até que). ·
!asy kúarasy asoí-reme, abá "Mbaé iasy o-1'." - i é-u. - Mara
iá-bé-pe Tupa aípó-bae r-e-rekó-ú, i .-cupé o íe-epiak eym-e-bé?
692. iá, iá-bé, iabio, iepi, memé: ''cada vez que, toda Anhang-amo nhé i 11'to-ndó-u (AR. 45). - 111ara íá-bé-pe erimbaé
vez que, sempre que" Tupa wndé r-itb 31py anga r-e-r-ekó-ú (fez com) i mo-nhang' abé?
nde s6 íabio, xe só-u-ne (VLB 367) : -quanta.s vezes f ores, irei; (AR. 48). - Mara-pe asé r-ekó-u (<leve fazer), Titpa r-e-mi-motara
ebo-ui-1'ne s-en-a íá (AR. 124) : toda vez que ( enquanto) estiver lá; xe 1no-por-ag-uama r-esé (para cumprir), Tupa o pytybo motá? 0-pak'
r-obaiti íabio, xe r-e-r-ekó-aib-i : sen1pre que n1e encontra, me injuria abé, s-esé o-maendz-tar-atn.o, i .~upé o-f -e-r-ttr-é-bo-ne, "T' a-í-aby
umé-ne kori nde nheenga" - o-í-á-bo (AR. 111-112). - Mara e-í
O mesmo significam os compostos iá-é, iá-bé-é, W.bió-é, íabinhó-é, memé-nhé,
iepi-nhé, iepi memé, íepi memé-nhé, menié-nhé . .. íepi: memé-nhé xe ker-a
nh.ó-te-pe asé, n1bap n10-1.nbegi(.-á-bo r "Anh é, Anlté-té" - e-i nhó-te
iepi, mara-t-ekó r-esé .-re posausub-i: cada vez que durmo, sonho com a guerra (AR. 99).

693 . 1eper1-b,e-1: a1n da b en1 nao.


,., . . e; ma.1... " 698 .
0
A N " •

íeperi-bé-i asé mara i é-u, o-nhe-mo-yro it1nfian (V LB 263) : ainda


.beber caui1n ou vinho: kaú, intr. ir a ca<;a: só kaá-bo
vestir: aob, tr. fazer festa: nhe-nio-saraía nio-
be1n a gente nao disse alguma cousa, e j á éle se zanga
enterrar: ah1b, tr.
~
-nhang
fazer r01;a: kó-pir, intr. festa: nhe-mo-saraía
EXERC1CIOS todo o dia: ara p1iku-i
694 .
699. Quando a gente tem sede, que <leve beber? Agua. E se nao
ti: proa er-ok (s): por nome (novo) houver água, que? - Por que nao se vestem os índios? - Onde pus
mbaé: cousa, bicho ( qualquer ero meu arco? As crian<;as, vendo-o no chao, enterraran1-no. - O dia
ser inferior ao hornero) \
emoem (s) (xe): n1entir todo os homens vestem [ e1n si mesmos] os mantos de penas ? Abso-
penga: sobrinho, -:i. (de m.) mo-nibukab : derramar a
lutamente nao. Só quando vao guerra ou quando f azem festa. -
asoí (í) : cobrir í' -e-ro-ky : inclinar-se Quem <leve trabalhar : o ho1nem ou a mulher? Os brancos dizem
nhé: ptc afirmativa (n. 1058). (que é) o hon1em; nós dizemos (que é) a n1ulher. A mulher <leve
695. Nao há em tupi o verbo "dever'' na ,acep~áo de "ter obriga~.áo de".
a
fazer a r0<;a; o hon1e1n <leve ir guerra e (abé) a
ca<;a. E quem
O contexto indica quando há de figurar na tradu~ao portuguesa :
deve f azer a comida? - Quando o índio come, nao bebe água. Quando
bebe vinho, nao come. Depois que come, é que bebe água. Enquanto
mara-pe asé r-ekó-u o nhe-1no-ngaraib' ianondé? (AR. 145 ad.): come, nao fala; só depois de comer. - Os brancos bebe.ro comendo e
que se deve fazer, antes de ser batizado? (lit. que se faz .• . ?) ; comem falando (amé).
o-i'-e-ro-ky-pe asé J Esus é-renie! 0-i'-e-ro-ky (AR. 17): a gente
deve inclinar-se quando diz JEsus? Deve (lit. inclina-se) ; o-ti BIBLIOGRAFIA
nhé-mo sera i angaipá'-bae, "Oré r-ttb" o-í-á-bo Titpa supé? ()-ti
ANCHTETA 26-27; 43v-46; 158; F IGCEIRA 20; 31; 47-48; 101-105; 125;
nhé-mo anhé... (AR. 21-22) : deveria o pecador envergonhar-se ao 127-129; 155; 158; MoNTOYA 22-23; 76-77; REsT1vo 39-42; 45-46; CAETANO
dizer "Padre Nosso" a Deus? Deveria (lit. envergonhar-se-ia) 35 ; 64-69 i ADAM 56-57,

I
I
CURSO DE TUPi ÁNTIGO 255

Se o ver·b o acaba em b, pode perder esse b:


o-s-ausub-bae ou o-s-ausu:-bae: o que o ama
i angaipab-bae ou i angaipá'-bae: o que é mau; pecador

PARTICtPIO -BAE !03. Forma os tempos como o substantivo ( n. 216); no


negativo, intercala eym depois do tema verbal.

700. Há vários sufixos de non1es verbais e particípius: 704. Todos os verbos se podem servir de -bae. Os nao-·
-bae, ( s)ara, ( s)aba, pyra, pora, bora, suara, suera, t31b'.};, -transitivos quase só se servem déste particípio.
e un1 pref ixo : t-e-11ii-. 705. O prefixo verbal é sempre o da 3.ª p., ainda que u
Os principais sao: -bae, (s)ara (ativos), pyra, t-c-mi- (passivos) e (s)aba sujeito se ja de outra pessoa:
(circunstancial). - Us.aremos indistintamente as expressóes "nomes verbais" e
"particípios", de preferencia a última. o-só-bae 1::cé e náo a-só-bae ixé: sou eu que vou
i.xé, o-só-bae-pi1era, nd' a-s-epíak-i: eu, que fui, nao o vi
Oes. - O a final é sufixo nominal: (s)ar-a, (s)ab-a, pyr-a, etc.
701 · AFIRMA T. NEGA T. 706. Assim os gramáticos tupis. Mas, pelo menos no guarani, a regra nao
parece ter sido absoluta. É o que diz RESTIVO 155 e o que se induz de alguns
pres. -bae eyni-bae exemplos esparsos. As mais antigas fórmulas guaranís do Padre Nosso rezam
fut. -bae-rama crc-i-bae "que estás".
eym-bae-ra11ia
pass. -bae-puera eym-bae-puera
pass.-fut. -bae-ram-buera eym-bae-rani-buera 707. O substantivo ou pronon1e correlativo pode prepor-se
fut.-pass. -bae-puer-ama eym-bae-puer-ama ou pospor-se ao participio. De preferencia se prepoe,
·-1uando o particípio é complen1ento predicativo:
702. -Bae é particípio ativo. Indica o a g e t e ou n,
pitanga, o-ar-bae-pi1era, o-manó: a crian<;a que nasceu, 1norreu
sujeito. Forn1a-se da 3.ª p. do indicativo de qualquer i 1nará-ar-bae abá melhor que abá i niará-ar-bae: o índio é que
verbo. Traduz-se quase sempre pelo nosso relativo "que" está doente
( sujeito)' e as vézes pelos verbais tern1inados em "dor",
"nte": 708. Nas ora<;óes predicativas, o participio tcrá con10
.. o-i-pysyk-bae : o que o apanha s-asy-bae : o que (lhe) dói : o advérbio negativo nda . .. rua ( n. 184). Cpr.:
o-iuká-bae : o que o mata que sente dor o-nianó-bae-p·iiera ixé: fui eu que111 n1orreu
()i-i-pysyro-bae : o que o salva i mbaé-bae : o que tem cousas : o-manó-eynz-bae-pt1era ixé: fui eu quen1 nao 111orreu
o-s-epiak-bae : o que o ve o rico nda o-11ianó-bae-púera rua ixé: náo fui eu que111 1norreu
o-io-s-ei-bae : o que o lava s-er-bae : o que tem (por) no- nda o-1nanó-ey1n-bae-pfiera rua i:cé: náo fui eu quem náo morreu
i maend11ar-bae: o que se lembra n1e, chamado
t-·ynyse111-bae: o que está cheio 709. o participio -bae nao admite objeto direto senao da 3.ª
p. (substantivo ou prono1ne). Para a 2.ª ou 3.ª p. re-
256 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 251

corre-se ao particí pio ( s) ara. l\ifas -ha.e nao perde o pre- .


abá o-nheeng-bae: o homem que f alou, que f ala (no momento)
f ixo verbal: abá i nheeng-bae: o homem que costuma falar, que sabe f alar ou
o que o ama: o-s-ausu-'-bae pode falar (que fala)
o que te an1a: nde r-ausup-ara ku.nttmi o-ytab-eyni-bae : tnenino que nao nada, que nao nadou
a.iquele que frechou o peixe: pirá o-í-ybo-bae-púera (que nao está ou nao esteve nadando)'
o que vai atravessar o rio: y-guasu o-s-asá'-bae-rama kunumi i-i ytab-e'jlm-bae : menino que nao nada (que nao sabe,
nao costuma, nao pode nadar)
710. Quando o particípio -bae está como predicativo, 715. Assegura REsTrvo 155 que o sufixo -bae era muito usado na fun~ao
de complemento objetivo, l)odendo entao levar os prefixos verbais das trés
pode perder o prefixo verbal: pessoas : a-y-q11aa - b ae [tupi• * a-i- k ita - bael " o que e.u se1•" ; a-m b o-e-bae [tup1•
#' A # I #

* a-i-m.bo-é-bae] "aquele que eu ensinei". Nos documentos tupis nao parece


abá iaseó-bae nda abá rita : o homen1 que chora, nao é homem; haver nada de semelhante.
guarini membek-bae t-obaíara r-obaké i íabab-i: o guerreiro (que é)
mole <liante do inin1igo f oge EXERCfCIOS
716.
711. -Bae se junta ainda a substanJivos, prono111es, mas mor-e-r-ekó-ara: chef e mo-pau: interromper
nao leva prefixo verbal: iaseó-papá'-saba : lamentos nhe-11io-sainan [ esé] : preo-
kyreymbaba : valente cupar-se com
kó-bae kunha: (a que é) esta mulher mará-ara: doente grave pook: intr. parar de chorar
amó-me : algumas vezes
712. Todos os den1011strativos poden1 rcceber o sufixo 717. Ma1nó-pe Anás !andé !ara r-e-ra-só-ukar-i? Mor-e-r-ekó-ara
-bae, que lhes real<;a o sentido: Kaifás s-er-bae supé (AR. 78). - Mara-pe guá i mará-ar-bae r-e-
kó-bae, aípó-bae, iang-bae, etc. (n. 71) -r-ekó-u ( tratam)? N d' o-nhe-mo-sainan s-esé, - o-n1anó ipó-ne -
o-i-á-bo. - Aé-pe s-eo riré, niara? Gi'laíbi, kunhá abé, o-s-apiro.
713 Havendo algun1 advérbio ou outra palavra que mo- Tuiá-bae abé-pe o-s-apiro tu1á-bae amó o-manó-bae-puera? Titíá-bae
difique o verbo, o adjetivo ou o substantivo, o sufixo de abé. - Amó-me kunha o-wseó-papá'-saba mo-pau-u - "0-tnanó i
particípio fica para depois: kyreymbab-bae-puera, o-ú-ukar-pae-puera oré-be t-obaiar-etá!" -
Mbaé abé-pe, o mendara reo-neme, s-e-11·ii-r-ekó-bae-puera i é-u?.
o-ur-'anió-bae: os que vieran1 neste instante "Xe r-e-mi-motar-uera yma! eh hé hé hé hé hé ! eh hé hé hé hé hé !" '1
abá marangatu-bae: os que sao hon1ens bons - e-í. - Aipó maira anqaipaba, iké o-íe-potar-bae-puera, ybvtu-guasu
ybytyra, ybaté-eté-bae, o-nhe-mim ybytinga pyter-pe: as monta- o-i-mbo-ur. - 0-nianó-bae-rama-pe opá iandé? 0-manó-bae-rama.
nhas muito altas escondem-se em 1neio das nuvens - 0-ntanó-bae-ram-buera-n' ikó t-e-mbi-ara. - Mara-pe pe-r-ekó
atara pe. r-oka o-iké-bae? Kunhfi o-s-af>iro. Aé-pe abá? Kunha
714. Muitos verbos de pronome agente tem duas forn1as pook-eme, abá, o-i-mo-11-ibytá-bae-pi'tera, i mo-ngetá-u, "Ere-iur-pe?"
no partic1pio: urna com o prono1ne o, outra com i. Di- o-i-á-bo i :ru.p:-. - A bá, guarini-ranio i .ró-eyni-bae, nda tu pinambá
vergem en1 que a primeira indica sin1ples ato, ao passo ruá.
que a segunda conota hábito, capacidade, conhecin1ento 718.
(n. 383) : bicho-pregui<;a: ay vd.garoso: rnbegué
alma (separada) : 1Jng-uera veloz : kuab-apuana
258 LEMOS BARBOSA

ser rico : mbaé ou mbaé-etá ( xe) requeimar: apy (s)


além de : amo ngoty rachar: bobok, intr.
719 . Aquele que come carne de bicho-preguic;a, torna-se vagarooo.
Aquele que come carne de veado, torna-se veloz. Os índios nao co-
mem carne de veado, enquanto nao lhes cortam as pernas. - Quem LICA.O 41.ª
faz um vaso, deve requeimá-lo. De outra 'maneira ( marandé-é-reme) ~
o vaso racha. - Onde ficaram os viandantes que deviam vir? Os
que deviam vir nao vieram. Vieram os que nao deviam vir . - As
almas dos índios, que devoraram muitos inimigos, váo ter com (n. PARTICíPIO (S)ARA
642,3) as almas dos seus avós, além das grandes montanhas. Que
fazem ( s-ekó-u) todos os que Já estao? Danc;am sómente. - AquéJes 720 . AFIRMAT. NEGAT.
que sao ricos, deem-me alguma cousa !
pres. (s)ara (s)ar-eyma ou eymb-ara
BIBLIOGRAFIA
fut. (s)ar-a1na ( s) ar-am-eynia " eym-ar-ama
..
ANCHIETA 30-31 ;
FIGUEIRA 115-117; MONTOYA 17; 30; 31; RESTIVO pas.s. (s)ar-úera ( s) ar-í'ier-eynia " eym-ar-uera
92-94; 155-156; CAETANO 50-53; 55; 57; 58-60; ADAM 37-38; 65.
t
pass.-f. ( s) ar-ant-buera ( s) ar-ant-buer-e')'1'1ia " ey11i-ar-ani-buera
A

fut.-p. ( s) ar-fier-ama ( s) ar-1{ er-am-eyma " eyni-ar-uer-ama


721. É particípio ativo, tal como -bae. Traduz-se como
t\ -bae.
122 Sara é partióipio de verbos transitivos. Raras vezes
se encontra com outros verbos.
723. Ao contrário de -bae, nao leva prefixo verbal. Por
via de regra, sendo transitivo, exige a anteposi~ao do
objeto direto. Os pronomes objetivos sao os mesmos do
) infinito ( n. 336) :
pindá mo-nhang-ara: o que faz anzóis, f azedor de anzóis ; i mo-
-nhang-ara: o que o ou os faz ou fez; os que o ou os fazem etc.;
o 1no-nhang-ara: id. ( refl., n. 304) ; s-apiro-sara: o que o pranteia;
xe r-apiro-sara: o que me pranteia; t-eo-búera r-apiro-sara: o que
pranteia os mortos ; xe pi-sara : o que tne pica 01t picou ; xe pi-sar-uera
endé : tu é que me picaste

724. Se o objeto direto é pessoa ou cousa indeterminada.


<leve-se recorrer a poro- (moro-) ou nibaé ( n. 380) :
Grande festa de cauim (TBEVET)
'
260 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 261

nde poro-apiro-sara: és carpideíra; moro-posanong-ara: curador; 1'1as pode também perder o s, caso o verbo nao acabe
mo-e-r-ekó-ara: guarda, protetor, encarregado; mbaé mo-nhang-ara: en1 a. O i, ú e }' finais passam para i, it e y:
fazedor A A A
1no-ngarau ou nto-ngarat-t-ara
1n o-n.garau-sara

725. Com verbos nao transitivos, o particípio ( s)ara nao aby aby-sara ou aby-ara : o que erra
iuká iuká-sara (nunca íuká-ara) : matador
leva pronome algum. J\1as o participio sara em tais verbos
é excecional. N ormaln1ente o próprio infinito dos verbos Após nasal, ara pode mudar-se en1 ana:
intransitivos serve de particípio ou adjetivo verbal ( n. 731).
pysyró pysyró-sara ou pysyro-ana : salvador
Sobre o particípio sara como complemento predicativo, v. n. 86. aró aro-sara ou aro-ana: guarda
O fu tu ro desses particípios pode ser sar-ama, an-ama ou ar-ama.
726. FoRMA~.Ao. - Junta-se (s)ara ao tema do verbo.
iuká íitllá-sara : o que mata 728. Se o verbo termina en1 'Y, cai o r:
Se o Yerbo termina em k ou ng, ( s) ara perde o s : potar potá'-sara: o que quer
pysyk pysyk-ara: o que segura
mo-nhang mo-nhang-ara: o que faz Pode tambén1 cair o s de sara, contante que a última
vogal de verbo nao seja a. Mas é pouco con1un1:
Se termina en1 1n, junta-se-lhe b, e cai o s: mo-mbor mo-mbó'-sara ou 11to-nwó' -ara: atirador
tym tym-bara: o que enterra potar potá'-sara (nunca potá'-ara)
Se termina en1 n, ou em ditongo nasal, junta-se d ou t Os mesmos verbos terminados en1 r podem n1anter
nd e cai o s: esse r, em vez de s, no passado e no futuro:
po-ban po-ban-dara: fiador
enoi enoi-dara: o que chama pass. potá' -sar-uera ou potar-uera
fut. potá'-sar-ama " potar-ar-anta
Se termina em b, muda-se o b para p, e cai o s: pass. nto-mbó',,-sar-uera " mo-mbó'-ar-uera ou 1no-11ibor-ar-uera
syb syp-ara: limpador fut. mo-mbo -sar-atna " mo-tnbó'-ar-anw " 1no-11ibor-ar-ama

727. Se termina em ditongo oral, acabado em i, junta-se-lhe 729. 1ifuitos verbos terrrlinados em vogal tónica, nao pre-
t~ e
.
ca1 o s: cedida de consoante, perdem essa vogal, e acrescentam
poí poí-tara: o que dá alimento "
guara:
íe-peé: esquentar-se íe-peg{i-ara
Se termina em vogal oral ou nasal, ou em ditongo soó: convidar (para festas)
,..
sogu-ara
acabado em u, sara nao sofre alterac;ao: angaó : vituperar an.gagfi-ara
kyti kytí-sara : o que corta . 1t: comer gu-ara
...
mo-ngarau mo-ngarau-sara: desconjuntador suú: morder sugu-ara

17
262 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 263

Isto sobretudo quando a última vogal é u ou o. ikó a-iur. Aé-pe endé, manió suí-pe ere-iur? Ahé r-epwk-ar-uera ikó
a-íur. Pirá r-ek31i-ar-uera a-iur. - Oré ie-koty-á'-saba, oré amotar-
730. FORMA NEGATIVA. Obtém-se com a partícul3.
-
-eym-bar-uera yma. - Abá-pe nde karai-dar-üera r-ekó-u ( estao)?
ey1n-(a), colocada antes ou depois da forma afirmativa. Aipó mo-sá-ká-'ra r-ok-pe s-ekó-u ( estáo). - Mamó-pe xe r-obaiti-
Sobre nda- ruá e ttda- -i, v. n. 184, 185, 352. Cfr. n. 708. -sar-am-buera só-u? - S-esá-berab ikó paié. S-obá-puká.
731. SINTAXE. - O infinito dos verbos intransitivos
ou
736.
intransitivados ( n. 381) equivale aos particípios sara e
-bae. Traduz-se como nome verbal, quase sempre: sobrinho : nie1nbyr-aysé (de atirar pedras (acertando) : api
m.) atirar ( com flecha) : ybo
kanhem: fugir; kanhema (infin. e partic.) : fugitivo; kanhem- peixe-boi : guaraguá - ( com arpáo ou lan~a) : ku-
-buera: pass.;· kanheni-guama: fut.; abá kanhema ou abá o-kanhem- empurrar: mo-anhan tuk
-bae. ou aoá kanhemb-ara: hon1e1n que foge; abá mondá: (homem) derribar: ityk ( n. 301) devorar gente: por•ú
ladrÍo · xe 1nondá: sou ladráo; abá por-ú : índio comedor de gente;
abá yby-ú : índio comedor de terra; abá karu ou abá mbaé-ú : 737. Quem é que me viu? - Quem é que virá? - Sabes quem me
comedor, guloso; xe karu ou xe mbaé-ú: sou comedor, sou guloso empurrou? Eu é que te empurrei : quem te derribou, f oi o teu ca-
marada. - · Quem é que matou o prisioneiro? Náo o mataram ainda.
732. O infinitivo-particípio aparece muito nas alcunhas: Teu sobrinho é quem o matará. E quem é que o deveria matar? -
Quais os que nos atiraram ( pedras) ? Quais os que [nos] erraram ?
mbaé mondá : ladráo ( n. 392) Quais os que vieram de atirar flechas aos peixes? ~stes sao os que
733. Com o verbo ur "vir" (n. 884), o par:tic!pio sara traduz os nossos deviam arpoar o peixe-boi. - Quais os que quiseram matar-me?
circunlóquios " vir de ( infin.) ", " acabar de ( mfm.)" : Quais os que nao quiseram matar-me? - Sáo comedores de gente
mam6 suí-J>e ere-iurf Kó-J>ir-ar-uera a-iur: de onde vcns? Venh? de ro~r estes índios? Nao. Sáo comedores de terra.
mbaé-tym-ar-uera a-ii'r: venho de plantar (acabo de plantar, fui plantar)
ybá po6-ar-uera a-iit.r : vim de (fui) apanhar frutas
BIBLIOGRAFIA
EXERCfCIOS ANcHIETA 19; 28v-29; FrcuErRA 116-120; MoNTOYA 16; 25; 30-31;
REsnvo 90-92; CAETA No 50-57; 58-60; ADAM .'58-65; L. BARBOSA 187.
734.
mo-sá-ká-'ra: homem hospita- amotar-ey1n-bara: inimigo
leiro, fidalgo peró : portugues
ie-koty-á'-saba: amigo, cama- nheenga : língua
rada akok: fazer [sal]
karaiba: (homem) branco berab: intr. brilhar
karai: tr. arranhar
735. Per6 ven1 da pa1avra portuguesa "Pero" (="Pedro").
A

A-i-mo-ngetá-potar karaiba amó, abá nheenga kuap-ara. - · Abá-


-pe akuei karaiba? lukyr' akok-ar-uera. - Ybyrá mo-ndo-sok-ar-itera

,
CURSO DE TUP1 ANTIGO Z6S

nibaé-asy: doen<;a 1nbaé-asy-bora : doente


pore-ausuba: coitado pore-ausu'-bora : coitado, des-
, venturado
i LI(AO 42.ª
\
741. Dáo-se vários metaplasmos:
niará-ara: do~nte mará-á' -hora : doente
PARTICf PIOS BORA E PORA usew: sede usei-bora: sedento
akuba : quente aku'-bora.: o que está com calor
pir-akuba: pele quente pir-aku'-bora : id.
738.
PRES. FUT, PASS. 742. A falar com precisao, bora significa "o que tem",
afirm. hora bor-ama bor-u.era "o que está cheio de", "o continente", em oposi~ao a pora,
pora por-ama por-uera que significa "o que é tido", "o que está em", "o conteúdo",
negat. bor-ey11ia bor-am-eyma bor-uer-eyma etc.:
por-cynur. por-am-eyrna por-uer-eyma
ikó ara-pora : o que está neste inundo
PASS.-FUT. FUT.-PASS. roy-bora: o que tem f rio
kaniusi-pora: o conteúdo do pote
afirm. bor-am-buera bor-uer-ania
akang-asy-bora ; o que tem dor de cabec;a
negat.
por-ant-buera
bor-am-buer-eyma
.. por-uer-ania
bor-uer-am-eyma
xe iuru-pora: o que está em n1inha ib6ca
• xe kó-bora : a extensáo de minha ro<;a
por-am-buer-eyma por-iter-am-eytna.
xe kó-bora-pora: o que está na ( extcnsáo da) ininha roc;a
Sao particípios abundanciais, ativo ( bora) e passivo 743. Tan1bé1n pora pode sofrer metaplasmos:
i
(pora). •
· ·,~-
• f• ...t

nhfi-pora ou -nhü-bora: o que está ou vive no campo


739 . Alguns verbos intransitivos ou intransitivados (n. 744 . Mas paraua- bora nao é o mesmo que para11fí-pora. P..ste se aplica a tudo
381) podem formar um particípio com o sufixo bora, o que esteja no mar; aquele só a seres marinhos.
que indica o agente ou sujeito, conotando, porén1, a conti-
nuidade de a~áo ou estado: 745. Por extensáo, pora significa "conseqüencia, resultado
efeito, sinal": ,
kanhem-bara: o que foge, fu- kanheni-bora: fujáo
gitivo itá-ngapenia-pora ou itá-ngapem-bora: ( f erida) f eita pela espa-
da; py-pora ou py-por-uera : sinal dos pés, pegada; kó taba xe nheé'~
-bora: esta aldeia é resultado de minhas palavras (p. ex. porque fo1
740 . Bora se sufixa também a substantivos e adjetivos, em feita por ordem minha) ; pindá-pora: efeito do anzol (p. ex. peixe
sentido semelhante ao do suf ixo "·oso" portugues: apanhado com anzol) ; :-ce iy-pora r' akó nde gityrapara: teu arco é
mor-ausuba: amor rnor-aitsu' -bora : amoroso efeito de meu machado; ze iy-apara-pora pe-tí pe-ikó-bo: estais c~­
amby-asy : forne a·1-nby-asy-bora: f an1into rnendo o resultado de 1ninha fo ice (p. ex. o que f oi plantado depo1s
266 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 267

que rocei o mato) ; xe pó-pora ikó guyro: este passarinho foi pego 751. tá "um pouco de", "urna pouca de" (água, comicb., etc.) : e-i-meeng y
com minha máo; 11wmó-pe nde r-uu' -bora r-ekó-u?: onde está o resul- iá ixé-bo "dá-me um pouco dágua" ; e-r-t'r iá "traze-me um pouco " . - Se-
guido do gerúndio de " comer" (gu-á-bo), este se modifica para r-ú-á-bo ou
tado de tuas flechas? (p. ex. os inimigos f eridos) r-a-gu-ábu: e-kuai y iá r-a-gu-á-bo "vai beber um pouco dágua I''; ior-í ití iá
r-ii-á-bo "vem comer um pouco de farinha !".
Aplica-se com precisao aos ferimentos, sinais ou cica-
trizes: 752. Abá-pe o-i-apó ybaka i pora abé? Tupa. "Mamó-pe Tupa
r-ekó-u (está)? Ybak-pe, yby-pe, opá-katu mbaé 1no-por-i" (AR. 22).
itá-pora ou itá-por-uera: sinal de pedra ou de pedrada; kysé-pora - "N d' asé r-etama rua-te-pe ikó yby asé r-ekó-aba? N' acn-i.
ou kysé-por-uera: facada, sinal de faca; mina-pora ou mi-bora: sinal Ybaka-por-ama r-esé é Tupa asé mo-nhang-i; atar-a1no é asé r-ekó-u
de lan~a; p6-ape-bora : unhada, sinal de unhada; ai-bora ( t) : denta- (estamos) ikó yby pupé" (AR. 23). - N da ~;e r-ygé-por-i. E-ior-í
da, sinal de dentada y iu r-a-gu- á- bo. A -u, y unian. Nd' a-e-i
"" A , .. ui, ia . . á- bo ran he., -
. . , r-u-
M ara-nanio-pe nd' ere-i-11to-ndeb-i nanibi-pora? N da ixé ruá i nam-
746. Pora pode ser conjugado como verbo, co1n pro- bi-por-bae, xe r-ybyra-te. - Mbaé-pe aipó-bae? Mbó-asá'-bora.
nomes pacientes. J\i'.Ias quase só aparece na 3.ª p.:
753.
i por: há, está cheio de, é rico en1, abunda em ; nd' i por-i od.
i por-eym: nao há, está vazio, pobre, nao contém nada; nd' i por-i ·febricitante: akanundu'-bora ordem: nheenga
xe r-oka ou i por-eym xe r-oka: minha casa está vazia; t-e-mbi-ú amó talha : ygasaba encher : mo-por
por-eym-e, a-tí s-oó: nao havendo outra comida, comi carne; t' i por doente : mará-ara, mará-á'-bora facada: kysé-pora
aipó iandé i' -e-r-ur-é-saba (AR. 66) : haja, realize-se, fa~a-se, cumpra-
-se esse nosso pedido 754. Entre os tupinambás, mará-ara é o "doente grave, nas últimas ".
747. Com o pref ixo 11ro-, pora forma o verbo mo-por "encher, enriqu~cc r, 755. Dá de comer aquele faminto. Vai, dá-lhe (perniiss.) un1 pouco
fazer que tenha efeito, realizar, cumprir, executar"; de farinha. Quero também um pouco dágua. Nao há. Bebe um
a-i-nio-por ygasaba: enchi a talha
a-nhe-mo-por : eu me enriqueci pouco de cauim. Nao. Estou febricitante. Estás doente? Que é isso
nd' ere-i-1110-por-pe xe tide p1iai-taba? : nao cumpres o que te mandei? no teu rosto? Foi un1a facada. - Vai ao po<;o e enche urna talha.
e-i-mo-por nde nheenga!: cumpre a tua palavra ! Já cun1priste minha ordem? - Que significa, na língua dos índios,
e-mi-ú-e-ro-kuab? Significa "servir a comida a". E como se diz "dar
748. Tanto bora como pora. .podem levar o sufixo -bae, se de comer"? Diz-se poi ou mo-ngaru ou mo-nibaé..,ú. E que significa
assim o pedir o sentido : usei-bora mo-y..,ú? Significa "dar de beber aos que tem sede". E
como se diz "dar de comer aos que tem forne"? Diz-se amby-asy-bora
i mbaé-bor-bae ixé: sou eu que sou rico .. 1 •. · i' ..
poi-a. . 1 1 _' , ~ , ¡¡;
749. Na propor~áo
em que bora e pora perdern a fun~áo clara de particulas,
formando novas palavras, sofrem e ocasionam mais freqüentes metaplasmos.
BIBLIOGRAFIA
EXERCtCIOS
750. ANCHIETA 31-32; FIGUEIRA 117; 1'IONTOYA 30-31: RESTIVO 241; 278;
ygé ( t) : barriga pó-asá' -bora : sinal de pancada 299; CAETANO 78; 62-63; L. BARBOSA 187.
nambi-pora: orelheira ( com as máos) ou de pe-
ek6-aba ( t) : lugar de estar drada
íá : un1 pouco de

I
CURSO DE TUPI ANTIGO 269

i iuká-pyr-uer-ania : o que deixará de ser n1orto


LI(;AO 43.ª i íuká-pyr-uer-a,m -eynia : o que náo deixará de ser 1norto

761. O suf ixo pyra, sobretudo no futuro, corresponde, por
vezes, as termina<;Óes portuguesas "vel" Oll "ndo". Tra-
PARTICtPIO PYRA duz-se também com "<leve" (fut. ) e "devia" ( pass.-fut.) :
756. s-ausub-pyr-ama o que é amável, o que <leve ser amado
PRES. FUT. PASS.
762. Quando complemento predicativo, este participio pode
af. pyra pyr-ama pyr-uera
neg. pyr-eyma pyr-am-eyma pyr-uer-eyma antepor-se ou pospor-se ao suj'eito. Mas o pronome é sempre
o da 3.ª p.:
PASS.-FUT. FUT.-PASS.
af. pj1r-am-búera pyr-uer-ania i iitká pyr-a1na i;i~é: eu é que <levo ser morto; i íuká-pyr-a1n-biiera
neg. pyr-am-buer-eyrna pyr-uer-am-eynia endé : tu é que devias ser morto
763 · Como con1plemento predicativo, leva, na forma ne-
757 · É particípio passivo, de agente indeterminado. Indica
o paciente da a<;ao verbal. Traduz-se pelo nosso particípio gativa, nda . .. rua ( n. 184) :
nda i íuká-pyr-uera rua ixé ou nda i.~é rua i 1·u ká-pyr-uera: nao
passado. Só o podem ter os verbos transitivos.
sou eu que fui nlorto; nda i íuká-p)ir-a1-na rua aipó-bae: nao é esse que
758. FoRMA<.;Áo. - Junta-se ao tema do verbo, precedido deve ser morto
do pronome objetivo da 3.ª p. (o mesmo do infinito):
764. Con10 con1plemento atributi,·o, o partic!1pio pode
i iuká-pyra : morto, matado s-ausub-pyra : amado ·
i xok-pyra : pilado s-e-r-ur-pyra: trazido perder o pronome :
o-iabab t-obaiara i íuká-pyr-atn-b1iera ou o-iabab t-oba1ara iuká-
759. O verbo de final nasal nasaliza o sufixo, ocasionando -pyr-ani-búera: f ugiu o ini111igo que devia ser n1orto
metaplasmos:
765. Incluindo o sentido ele "ter", nega-se cori1 nda e -i.
i mo-sai-byra : espalhado i tyni-byra : enterrado Forn1a .que aparece por vezes na 3.ª p. impessoal:
poba'-byra: fiado mo-nha'-byra: feíto
Há também 1n.o-nhang-·i-byro, etc. (n. 20).
nd' i ú-p31r-i: nao há ( meio de) ser co111ido, nao se acaba df'
comer
760. O negativo e os tempos se fortnam normaln1ente:
766 Com este participio se esclarece a dúvida que possa
i iuká-pyr-eynta: nao n1orto, o que nao é 111orto
i iuká-pyr-a1na : o que será morto haver acerca do paciente de urna frase:
i iuká-pyr-am-eyn1a : o que nao será morto kunha nrbo1a o-1ukcí; kunha i íuká-py ra
i iuká-pyr-i'tera: o que foi morto
i iuká-pyr-uer-eynia: o que nao foi n1orto A l.'1 frase pode significar tanto ''a cobra matou a
~ !uk~-pyr-ani-b~era: o que ia ser n1orto (e nác o foi) mulher" como "a n1ulher matou a cobra"; a 2.ª frase es-
i 1Hka-~yr-a111-bufr-e;.1111a: o 9ue nao i~ ser morto (e nao o f oi) clarece: "a mt1lher é a que foi n1orta'·.
CURSO DE TUPI ANTIGO 271
270 LEMOS BARBOSA
esperado boje aquí ? Já foi visto ?.quéle que é esperado ? Nao é n1uito
767. Pyra supre, em parte, a falta da voz passiva. Mas em ~eral
nao admite estimado quen1 nao é inuito esperado. - Náo devia ser tnorto o filho
expresso o agente ou complemento de causa eficiente. Nao se traduzirá com do prisioneiro? E o f ilho da escrava ? - Quem é que <leve n1atar
o particípio pyra urna frase como esta : "o homem morto por mim ". Deven- (o que n1atará) o prisioneiro ? Nao sou eu o que o <leve inatar. Náo
do-se exprimir o agente, usa-se o particípio t-e-nii- (n. 773) . Excetua-se apenas
o caso em que o agente seja o pronome pab ou um dos seus derivados, os quais há quem o mate. O que o devia inatar foi morto. - Náo <leve ser
podem ficar incorporados ao verbo, antes de P'J•ra: i kuá' -pab-é-byra: conhecitlo amassado o páo ? - Que é o que foi esmagado ? - Já vistes a pedra
de todos. escrita?
Como pyra é particípio de objeto direto, para seu correto emprego importa
conhecer bem a regencia do verbo tupi, nem sempre igual a portuguesa. Assim BIBLIOGRAFIA
i mbo-é-pyra " o ensinado ", i púai-pyra "o mandado " s~ ref erem sempre a ANCHI ETA 19v; 32 ; FIGUEI RA 107-109; 116; Ñfo N TOYA 31 ; 43-45; REs-
pessoa que recebe o ensino ou a ordem, nunca a cousa que se ensina ou manda, TIVO 98-100; 158-160; CAETA NO 50-60; ADAM 65; L. B ARBOS A 187.
pois mbo-é e púai exigem complemento direto de pessoa e indireto de cousa. O
particípio de objeto indireto é saba (n. 798).
768 . Com o verbo 1tr " vir " ( n. 884), o particípio pyra traduz as nossas lo-
+ +
cw;oes "vir de ser ( partic. passado) '', " acabar de ser ( par.tic. passado)., :
a-iur i nupa-byr-ftera: venho de ser batido, a~outado
...
EXERCtCIOS ...
769.
ybyguá: ventre (inferior) 1no-ie-guak : enfeitar
uba: coxa 1no-ruru: por de mólho
guarakapá: escudo air ( s) : riscar, fazer incisóes
em
770. Guariní -sara o-gúe-r-ekó o guarakapá, o gúyrapara, og-uuba
guyrá pep6-pf'tera pupé i mo-ie-guak-pyra. - I mo-ruru-pyra-p' ikó
soó pir-uera? Aan-i. I nio-rurit-pyr-eyn-ia. I mo-ruru-p31r-ama. -
Abá-pe i iuká-pyr-ania? N da i~-ré rua, endé-te i iuká-pyr-ama. 0-iabab
i iuká-pyr-am-buera. A an-i. N d' o-iabab-i i íuká-pyr-am-buera, i
iuká-pyr-am-buer-ey1;yza-te. - Apyaba o eté-pe s-air-pyra amé. Kunha
og-u'-pe, o ybyguá-pe, o yké abé-pe nhó-te s-air-pyra. - Abá-pe
s-air-pyr-ama? A pyaba t-obaiara am,ó o-iuká-bae-puera. I mo-mbeb-
-pyr-úera-pe nde 1nen1.by' t1 '!
1

771.
colher: yky mondar : kapir
coar: 1no-guab amassar : aiitká
esperar: aaró ou aró (s) escrever : kf'tatiar
ralar: eé (s) esmagar : kumirik
772. Nao será chorado aquele que nao chora os que morrerarn.
Onde as frutas colhidas estao ( r-ekó-u) ? - Arcos quebrados. Ma-
racás furados. Milho espalhado. Mandioca ralada. Foram as causas •
Prepara~áo do cauim (STADEN)
encontradas nas antigas aldeias. - Está coado este caldo? - Quem é
CURSO DE TUPI ANTIGO 273

s e r-e-nii-iuká : morto por iandé ou oré r-e-mi-íuká : mor-


mim to por nós
nde r-e-nii-í·u ká: morto por pe r-e-mi-iitká : morto por vós
ti
LICAO 44.ª s-e-tni-iuká : morto por ele s-e-mi-iuká: morto por eles
o e-nii-iuká : morto por ele o e-nii-iuká : 1norto por eles
(refl.) (refl.)
PARTICíPI O lvf1- OU MBI- abá r-e-mi-iuká : morto pe- asé 1·-e-mi-íuká : morto pela
to indio gente •

773. É particípio passivo, de agente expresso.Indica A forma, é claro, vale para o feminino e plural :
o objeto direto do verbo transitivo. :Corresponde ao rela- ~e r-e-mi-iuká : morto, morta, mortos, mortas por n1in1
tivo "que" (objeto direto) ou ao particípio passado por-
tugues. _ Outros exs. : ·
n<!e r-e-mi-iuká-ram-eyma: o, a, os, as que nao matarás, que nao
774. Prefixa-se ao verbo na for111a do infinito, despido de será morto ( ou nao serao mortos) por ti ; s-e-mi-1no-nhang-itera : o
pronon1es. Em geral, requer os pref ixos de classe t-e- e que éle fez, o f eito por éle; o e-tni-tym-am-buera: o que ele ia
s-e- ( n. 236, 238) : enterrar ; mboía r-e-nii-xuú-pfiera: o que a cobra mordeu ; mordido
oor cobra
AFIRMATIVO NEGATIVO
..
;;,,. t-e-1ni-íuká: o que é morto -
t-e--nii-iuká-ey1na : o que nao
775. Nisto se distingue t-e-mi- de pyra: em que requer o
agente expresso, ou pelo menos o índice da classe.
é n1orto
t-e-nii-iu,ká-pitera: o que foi t-e-1ni-iuká-puer-eyn1a : o que ÜBS.: U:na mesma palavra nao pode levar os dois afixos (t-e-)mi-
morto nao foi morto e pyra. Parece lapso o único ex. em contrário, no rosto da l.ª ed. do
, Catecismo de ARAÚJO: xe r-e-mi-p;, syro-b3•ra "o(s) que eu salvei"
1
t-e-mi-iuká-ra111a : o que sera t-e-nii-iuká-ram-eyma: o que
morto nao será morto 776 . O substantivo ou pronome correlativo de "qu<.'." se
t-e-11'ii-iuká-ra1 n-bu era : o que
1 t-e-nii-iuká-ra111-buer-eytna : o antepóe:
ia ser morto que nao ia ser morto
t-e-mi-íitká-pif er-ania : o que o-manó guyrá oré r-e-mbi-ar-uera ou gf'tyrá oré r-e-nibi-ar-uera
t-e-tni-iuká-puer-ani-ey11ia : o
terá sido morto o-manó: morreu o passarin:ho que apanha.mos ou apanhado por nós ;
que nao terá sido morto
.'re kybyra o-s-epiak uuba kitnunii r-e-nii-ekara: meu irma ~ viu a flecha
que os meninos procuram

mi-iuká: morto por 777. Nas ora~óes predicativas, o particípio de preferencia


vem depois, e na forma negativa pede nda e rua:
CI. st¡p. : t-e-nii-iuká: n1orto (por g.) a ti é que eu vejo: nde xe r-e-11ii-epiaka; inelhor: xe r-e-nii-
a. inf. : s-e-1ni-íuká: n1orto (por ser in f.) -epiaka ndé; a ti é que nao vejo: nde xe r-e-nii-epíak-eynia; melhor:
274 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 275

.'re r-e-m,i -epiak-eyma nde ,· nao é a ti que vejo: na nde rua xe r-e-mi- 781. Os verbos formados como prefixo ro- (n. 500) levam
-epiaka ,· melhor : :re r-e-mi-epiaka na nde ruá; ou ne nda xe r-e-mi- um e entre t-e-1ni- e o tema :
-epiaka ruá; melhor: nda xe r-e-mi-epiaka ruá nde; nao é a ti que t-e-mi-e-ro-ie-upira: levado de subida
nao veio: trad. Íj?"uais as da frase anterior, substituído apenas r-e-mi- xe r-e-nii-e-r-1tr-a1n-buera = aquele que eu devia ter trazido
-epiaka por r-e-mi-epíak-eyma ikó-n' ikó pe r-e-nii-e-ro-pytá-rama: é com este que ficareis

778. Há também a forma ( t-e-)mbi-, que ocorre com 782. O verbo r-ekó "ter" segue essa regra; mas quando o
muitos verbos monossilábicos ou come~ados por vogal. particípio se substantiva no sentido de "esposa", perde
Nunca com verbos de inicial nasal: o e:
( t-e-) m,hi-ausu ba ou ( t-e-) mi-ausuba: amada ( escraya) t-e-mi-e-r-ek6 : o que é tido, possuído, o que está com (gente)
( t-e- )mhi-ara ou ( t-e- )mi-ara: apanhado ( prisioneiro ou animal) t-e-mi-r-ekó: esposa
( t-e-) m hi-ú ou ( t-e-) mi~ú : o aue é comido ( comi<la) s-e-mi-e-r-ekó : o que ele tem
( t-e-) 111bi-1>01a ou ( t-e-) mi-pota: o que é sustentado s-e-mi-r-ekó : a mulher dele
( t-e-) mi-nupá (nao t-e-mbi-nupa) : o que é batido, ac;outado
783. A tendencia é para d'!saparecerem os prefixos de classe desses partici-
pios, especialmente quando substantivados:
779. Produzem-se vários metaplasmos (n. 28): mi-mby: o que é soprado (flauta)
mi-tyma: o que é plantado (horta)
P'v : soprar 1ni-mb·v : soprado : (flauta) mará-namo-pe asé "mi-1¡" i é-ti i zu,l>é ? (AR. 27) : por que a gent~ a
puai: mandar mi-mhfi.nia: man<la<lo : ( ~ervo) chama " comida " ?
kaú: fazer papas mi-nnaú: f eito papas ; (mine-au)
tylrvró: ensopar mi-ndvbwó: en"opado; (piráo) 784.Como atributivo, estreitamente ligado ao substantivo.
s1uí : mor<ler 1ni-ndu1t : mordido o particípio pode também perder os prefixos t-e- e s-e-:
potar: querer ( t-e- )111i-111otara ou ( t-e- )mi- soó mi-moia : carne cozida
-111hotara: o que se n11er
parará: sofrer ( t-e-) m.i-IJorará ou ( t-e-) mi-mbo- . .
785. Precedido de genitivo ou poss~ss1vo, o partic1p10,
., .
-rará: o que se sofre
De e.ryr ( .r) "assar ", mi-%'yra " assado ". mesmo substantivado, segue o paradigma eté ( n. 238) :
A oafavra mimbaha "criacao" (n. 254) é comnosta de mi-. O 2.0 ele- xe r-e-mi-moia: meu cozido kunha r-e-mi-moia: o cozido da
mento é duvidoso: tatvcz algum verbo transitivo extinto. índia
xe r-e-mi-mby : minha flauta abá r-e-mi-mby : a flauta do
780. , ..l\s vezes o particípio se substantiva: índio
t-e-mi-r-ekó : a que é ti da, possuída (a mulher) Mas v. n. 249.
( t-e-) mbi-ausuba = a amada (a escrava; por extensao : o escravo)
( t-e-) 1nbi-ara: o que é a pan hado ( em ca<;a ou guerra) (animal 786. O reflexivo nhe-, com os particípios substantivados,
ou prisioneiro) forma verbos reflexivos, dispensando o pref ixo nio- ( n,/ie-
( t-e-) nibi-ú : o que se co1ne (a comida) -mo-, n. 486) :
V. outros exs. n. 247.
o-nhe--mi-moi soó : coze-se a carne
ÜBS. - Como •• ve, o prefixo 1-e-> de el. sup., tendia a desaparecer.
276 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 277

787. Exemplos de MoNTOYA e do Vocab11Jário ua Líng11a Brasílica parecem oré r-e-»ii-endub'-atno, aipó i é-ú: isto ele disse, estando nós a
indic.ar que do particípio se f izessem verbos intransitivos : ouvi-lo; o-ie-pó-ei t-eyia r-e-mi-epiak'-anio (AR. 87) : Iavou as tnáos
1nimby : intr. tocar (instr.umento de sópro)
tnixyr: intr. ficar assado a vista da multidáo; s-e-nii-epiak-pab-e-na1no-pe 1nbaé tetiruá kuá'-i?
(AR. 43) : acontece1n todas as cousas, [sendo] vistas por ele? ( i. é :
788. Precedidos de pronome pessoal, os participios podem
ve ele (Deus ) todas as cousas que acontecem ?)
incluir o sentido de "ter" ( n. 350) : 792. Como t-e-mi- é particípio de objeto direto, para seu correto cmprego é
míster conhecer bem a regencia do verbo tupi (n. 767) .
nibo-é: ensinar 793. No tupi colonial encontram-se inexatamente traduzidas, por vezes, as pa-
lavras e frases formadas com t-e-nii-:
(t-e- )mi-mbo-é: discípulo
xe r-e-nii-mbo-é: tenho discípulo (e meu discípulo) t-e-mi-niborlirá : sof rimento t-e-mi-11ibotara: vontade
nda xe r-e-mi-1nbo-é-1, : nao tenho discípulo A versao precisa é .concreta, náo abstrata; objetiva, náo subjetiva:
s-e-mi-mbo-é-bae: os que te1n discípulos "a cousa sofrida" "a cousa desejada"
s-e-mi-nibo-é-bae-puer-eynia: os que nao tiveratn disdpulos

789. Precedidos de nio- ou nhe-mo-) tornam-se verbos tran- EXERCíCIOS


sitivos ou reflexivos: 794.
1no-syryk, 1no-S)'ryryk : fritar 1110-kae: tostar (a futnac;a e ªº
porará: sof rer esyr ( s) : assar ( en1 brasa) fogo)
11ii-xyr: intr. assar-se 111bi-ar-yby: carne assada e1n
( t-e-) mi-11iborará: o .que se sof re, sof rin1ento t11i-xyra: assado ( subst. e par- covas
a-i-1no-e-nii-niborará: fac;o-o sofrer ticíp.) 11io-e-11ibi-ar-yby : assar carne
a-nhe-1no-e-nii-niborará: causo-n1e sofritnento, fa<;o-me sofrer .
tno-in : cozer em covas
o-nhe-mo-e-nii-ni borará-bae: os que se causam sofrin1ento nii-moia: cozido kaú: tr. f azer papas <le ( obj.
xe r-e-nii-1no-e-11ii-mborará-puera: aquele que eu fiz sof rer ij•b: intr. estar cozido ou assado dir. : f arinha)
1no-iyb : cozer, assar p ukui : n1exer
ausitb: amar pokell: embrulhar tuiu,k: intr. apodrecer (carne,
typ3iro: tr. pór de 1nólho, en- fruta, etc.)
( t-e-) 1ni-ausnba: escravo sopar i u1~ (..re) : id. ( n1a<leira, corda,
1no-1ni-a·u sub: escravizar, ton1ar cativo atyb: cobrir etc.)
i 1110-mi-aftsitb-pyra: os cativos iaky'-taia : sal cotn pitnenta
anta, n' a111a, a11ié, n' am é : ser íu.kyr-apttii : 1bolota de sal
790. O parti.cípio t-e-mi- supre parcialmente a falta de voz passiva (n. 767). costumc, uso ybyrd-pesc: colher de pau

795. Abá o e-111i-ú-ra,,.ia nd' o-i-1no-ee-i a11ié. Aé-pe karaiba?


791. Con1 a preposi':;áo -ra11to ( n. 619) e o participio t-e-mi-) O-i-n-10-eé a·11ié. - Abá o--ií s-oó o e-11ii-nio-kae-btie1-a. Karaiba o-ú
forma-se un1 n1odismo de largo emprego na língua, corres- s-oó o e-nii-nio-syryry~-úera. - Mba.é-pe s-é kalu-eté: 11ii-ngaú, 111.i-
pondente ao ablativo absoluto latino: -ndypyro, s-oó . 1ni-111oia~ s-oó i nio-kae-byra, kó-n'ipó 11Li-.i:yra? S-oó
18

,
278 LEMOS BARBOSA

mbi-ar-yby s-é katu-eté. Mara-ngatu-pe asé i mo-e-mbi-ar-yby-if Asé


yby kuar-pe i tno-in-i, kaá pupé i pokek-a, i atyp-a bé. - E-i-mo-iyb
s-oó. 0-iyb utná. - Nd' er-é-i-pe ze r-e-mbi-ú-rama mo-in-a ranhé?
Nd' a-é-i. Nd' er-é-i-pe i mo-eé-mo ranhé? - S-é katu-pe t-e-mbi-ú
xe r-e-1nbi-apó-puera? S-é katu-eté n'amé opá t-e-nibi-ú nde r-e-mbi-
-apó. - S-é katu sera iukyra t-e-mbi-ú r-esé i mo-na'-byra? - Mamó- LI(AO 45.ª
-pe t-oó nde r-e-mi-zyr-am-buera r-ekó-u (está) ? 0-tuiuk. - E-i-
-meeng izé-be ybyrá-pesé, t' a-i-pukui uí. 1 íuk umii ! - Mbaé-pe
s-é katu-eté: iuky-tafa k6-ipó iukyr-apua?
PARTICiPIO (S)ABA
796.
798. AFIRM. NEGAT.
nascer [planta] : enhui ( s) ( xe) tocar: abyky, tr.; pó-kok [ esé]
crescer : kakuab f azer bolir: mo-kaniii pres. ( s) aba ( s) ab-eyma ou eymb-aba
deixar-se vencer por : mo-e- levar de vencida : nhe ( -mo )-e- f ut. ( s) ag-uama ( s) ag-uam-eyma ''
eym-ag-uama
A

-mbi-ar-1ar [esé] -mbi-ar-1ar [esé] pass. ( s) ag-uera ( s) aa-uer-evma " eym-aq-uera


pass.-fut. ( s) ab-am-buera ( s) ab-am-buer-eyma " eym-ab-am-buera
797. Os índios nao salgam a comida antes de a comerem, mas (-te) fut.-pass. ( s) ag-uer-ama ( s) ag-uer-am-eyma ,.. eym-ag-uer-anw
misturam o sal com a comida ( esé) na [ sua] boca. - A chuva faz
crescer o que plantamos. - Quando chove, as plantas nascem e cres- 799. NO~Áo GERAL.(S)ab'a forma nomes verbais,
-
cem. Quando se arrancam (n. 582) (as plantas) [o que é plantado], substantivos e particípios, que indicam as circunstancia:::
elas logo murcham. - N asceu a árvore que eu plantei. - Falhou o
que eu queria fazer. - Estando nós a chamá-lo, passou e nao parou
do processo verbal ou o próprio processo verbal abstrato:
(ger. neg.). - Misturastes os peixes que eu tinha separado? - Nao
toqueis naquilo que eu tocar. - Nao fa<;am bolir os filhotes do passa- iuká-saba:
rinho, que está.o no ninho. - A quem é que eu devia ensinar a língua 1) o lugar, tempo, ocasiáo, modo, meio, instrumento, compa-
dos índios? Nao é a mim. Quem é que me ensinará a língua dos nheiro, causa, motivo, fim, ef eito, poder de matar
brancos? - Onde estáo os inimigos que escravizastes? - Como os
levastes de vencida? ~les é que se deixaram vencer por nós. 2) a ac;áo de matar, o matar, a matan<;a

guatá-saba : ..

..,-.
:\ ~· · '- . '
BIBLIOGRAFIA 1) o lugar, tempo, meio, companheiro, etc. de passear
ANcHmTA 13-14; 19v; 32; FIGUEIRA 115-116; MONTOYA 17-18; 32-33; 2) o passear, o passeio
RESTIVO 94-98; 156-158; CAETANO 50-60; ADAM 65; L. BARBOSA 186.
Pelo contexto se induz o sentido em cada caso.
800. FORMA~Áo -
Sufixa-se saba ao tema de qualquer
verbo; as vezes, de substantivos, adjetivos, pronomes, até
de advérbios.
280 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPl ANTIGO 281

801. Segue as mesmas regras fonéticas que ( s)ara ( n. 808. SuJEITO E OBJETO nrRETO. Como o in-
726) : , '1, I~ ¡,,..·1 finito, ( s )aba requer geralmente a anteposi~ao do su jeito,
se o verbo nao é transitivo. Sendo transitivo, exige antes
pysyk-aba, tymb-aba, poban-daba, S'YP-aba, poi-taba, kyti-saba, do tema o objeto di reto ou pelo nlenos o índice de classe ( n.
mo-ngarau-saba ou mo-ng_arau-aba, aby-aba
380):
802 · Mas ( s) aba pode perder o s depois de qualquer nhandé nheeng-aba : nosso modo, meio, tempo, etc. de f alar; nossa
vogal; depois de a e e, pode perder toda a sílaba sa: fata
xe r-ausup-aba: o 1nodo, etc. de 1ne a1nar; amarem-me; o amor
aby-saba ou aby-aba sykyié-saba. ou t-ekó-bé-'ba que me tem
iuká-saba ou íuká-'ba t-ekó-bé-saba ou sykyié-ba xe por-ausup-aba: o modo como a1110, o amor que tenho; meu
a1nor oit amar
803. E se a vog-al é nasal, ··base nasaliza em -ma: mor-ausup-ába: Q amor, o arnar ( aos outros)
nupa-saba ou nupá-'ma a.ro-saba ou aro-anta nho-nio-noong-aba: reuniáo, conselho (da tribo)
nzo-pau-saba · ou 1no-paü-'n1a apyti-saba ou apyti-ama 809. TRADU~Áo. -
Conforme o caso, (s)aba se tra -
gfiarini-saba ou gfiarini-ama t-ekó-tebé-saba ou t-ekó-tebé-'n1a
duzirá por um substantivo, pelo infinito ou por urna
,.,
ora~ao:
804. Depois de ·á) a sllaba sa ou cai inteira, ou permanece
inteira: nd' a-s-epíak-i i tyn·tb-aba : náo vi o seu enterro, ou enterrarem-
-no; nao vi o lugar em que ou o 1nodo con10 o enterraram, etc., nd'
iuká-saba ou iuká-'ba (nunca íuká-aba) o-i-potar-i asé o epiak-aba: náo quer que a gente o veja; xe ~e-por­
-aká-saba r-upi i kuab-i, xe r-en0i-eyn·t-a : passou por onde eu pescava,
805 · Mas no passado e no futuro de .qualquer verbo, é e nao n1e chan1ou; nd' a-í-kuab-i i karu-sag-úera: nao sei quando 01'
. ,
comum ca1r so o s: onde, como, con1 quem, com que, para que, ele comeu; nde r-epiak-
-ag-'Úa:nia nhó-te r-esé :xe ie-byr-i : voltei s0111ente para te ver; a-í-11io-
iuká-ag-uama e iuká-ag- kytí-ag-u.ama e kyti-ag-uera -ang ride ~~e kua.b-a.g-uan-i-eynia: cuido que nao n1e reconlhecerás; k ó-
...
-u era -bae nde só-sab-am-bt(era: esta é a ocasiáo em que devias ter ido;
No futuro, a partícula pode nazalizar-se: fíg -1?ama. Nos documentos en- nhandé pysyro ybyrá suí i gueíyp-ag-uera: desceu da árvore para sal-
contra-se angoama, aoama, etc. var-nos (lit. salvar-nos foi a causa de ter ele descido ... )
810. Dos exemplos se infere que ( s)aba pode substituir 0
806. No futuro dos verbos terminados en1 consoante, há
muitas contra~óes: infinito, sobretudo no passado e no futuro, etn que o in-
finito nao é quase usado ( n. 337).
epiak-ag-i'ia1na, epiak-iranza; 1no-11!tang-ag-1(anu1. 1110-nhang-a-
-uan1a, 11io-nha.ng-ua11ia. Etc. Os verbos oxítonos quase nao se empreg-am no futuro
do infinito :
807 · Encontram-se exemplos de verbos que <liante ele eu o vi matar o papagaio : a-s-epiak aíuru íuká-puera ou
( sJaba sofren1 apócope da vogal tónica: íuká-sag-uera' quero que nao o mates: a-í-potar nde i íuká-rani-
-eym.-a; 1nelhor: it.tkd-sag-iiani-eyni-a
sykyié-saba, syk3 1á-'ba ou sykyí'-aba (AR. 316)
1
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 283

'
811. SINTAXE. Assim como t-e-mi·- e pj•ra indicam o porandub [esé] e (supé]: ~
objeto direto e se traduzem por "que", ( s)aba pode indicar nd' a-t-kuab-i kunumí morubixaba supé kunha po1·an-
o objeto direto ou os complementos circunstanciais, e dup-ag-Uera ou nd' a-i-kuab-i kunumi kunha morubi-
xaba supé i porandup-ag-úera: nao conhe<;o o menino
traduz-se por "que", regido de preposic;áo: pelo qual a mulher perguntou ao chef e; nd' a-í-kuab-i moru-
ara i x6-saba: o dia em que ele vai ; t-obaiara o-iuká xe r-ayra, bixaba, kunumí r-esé kunhá porandup-ag-uera ou nd' a-i-
iaguara nde i pysyk-ag-uera: os inimigos mataram a meu filho, com -kuab-i morubixaba kunha kunumi r-esé i parandiip-ag-úera:
o qual apan'.haste a on<;a nao conhe<;o o chefe ao qual a mulher perguntou pelo
.
menino
812 · é o particípio próprio dos verbos que tem
( S )aba
objeto regido de preposi<;ao. Para seu correto emprego é 815. Tam!bém os verbos retransitivados (n. 531) usam do
mister conhecer bem a regencia do verbo em tupi, nem sempre particípio ( s)aba, para se referirem ao substantivo incorpo-
igual a do portugues : rado, e nao ao novo objeto direto. Cpr. as frases:
' o-kó-meeng ltaiyba supé: deu ro<;a a Itajiba; o-í-kó-1neeng Itat.y-
sem [suí]: o-kai taba oré seni-ag-uera: a taba de que
saímos, pegou fogo ba: deu ro<;a a Itajiba (obj. dir. em tupi: Itajiba); xe k6-meeng:
mendar [ esé] : aé nde mendá' -sab-am-búera: é com ele que deu-me ro<;a ( obj. dir.: xe) ; Jtaíyba kó-meeng-aba: a que é dada por
devias ter-te casado r~a a Itajiba; xe kó-meeng-aba: a que meé dada por ro<;a
maenduar [ esé] : 1naenduá' -saba : o de que (a gente) se lem-
bra ; lembran~ O objeto direto dessas frases é ltaiyba e xe. Donde
cre-kuab-pe xe niaenduá'-saba?: sabes de ., .
os part1c1p1os:
que me lembro?
maé [esé]: t' a-t-kuá·'-nieeng nde-bo xe niae-saba-ne: i kó-meé' -byr-a: a quem é dada ro<;a; xe r-e-nii-kó-nteeng-a: a
mostrar-te-ei o que estou olhando quem dei r~a

813 · Os verbos que ten1 con1plemento direto e indireto 816. Com verbos nao-transitivos, o participio saba pode implicar tra-
du~ao passiva : maenduá' ~saba cousa lembrada ; t-c-sarai-taba cousa esquecida
exigem o complen1ento direto antes do particípio: ' (pela gente).
meeng [supé] : abá pee ini nieeng-ag-úera o-y-asab ou abá
iní pe i meeng-ag-uera o-y-asab : o ho- 817. O substantivo a que se refere o particípio pode estar
tnem a quem <lestes a rede, atravessou regido de preposi~áo: esta se coloca após o particípio. Cpr.:
o rio
tnbo-é [ esé ] : oré r-a11iui-etá nd' o-i-kuab-i pe oré mbo-é- nd' a-í-kuab-i i xó-sag-uama: nao conhe<;o o lugar a que ele irá;
-saba: nossos antepassados nao conhe- a-ikó-bé i xó-sag-ua-me: vivi no lugar ao qual ele irá; o-manó abá
ceram o que nos ensinais nde r-uuba nde i meeng-ag-uera : morreu o homem ao qual <leste tuas
flechas; e-i-meeng kó guyrapara abá nde r-iiuba nde i meeng-ag-uera
814. Os verbos que tem dois complementos indiretos, podem supé: dá este arco ªºhomem ªº
qual deste tuas flechas ; %6 r-esarai
levar o particípio ( s ) aba em qualquer deles, conforme o nde maenduá'-sag-uera r-esé paié supé xe porandub-am-buera r-esé:
esqueci-me de perguntar ao pajé pelo homem do qual te lembraste
sentido:

284 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 285

PARTICfPIO SABA PREPOSICIONADO Com nd' a-é-i . .. ranhé ( n. 467) :


nd' e-í t-e-mbi-ara r-eo-sá'-pe ranhé : ainda nao é hora de morrer o
818 · As preposi~oes e outras partículas delimitam o sen· prisioneiro; nd' er-é-i nde niendá'-sá'-pe ranhé : ainda nao estás em
tido, de si vago, do particípio: tempo de casar

819. esé ou rí (n. 605): "por, para.": 821. -ramo ( n. 619) : "como, na qualidade de, segundo":
xe poranditp-ag-úania r-esé nde-be, a-íur : vitn para te perguntar; t' a-nheeng xe nheeng-ab'-anio : f alarei segundo o meu modo de
nde. i'-e-r-ur-é-ag-uera r-esé xe io-upé, aipó a-é: digo-o, porque mo falar
pediste
822. (S)aba aparece também junto a substantivos, pro-
820. -pe (n. 140) nomes, advérbios e até frases:
\
l. - "em, a" (locativa) : kaá mboi-etá-saba r-upi a-guatá: passei por um mato em que há
muan·tb-á' -pe : no assalto, no lugar da batalha, etc. ; abá amó o muita cobra; nde-sá'-pe xe r-uba r-eo-ú: no lugar em que estás, meu
~nam-buera o-tym amé s-ok-uer-pe; abá amó, o-nho-tym-bae okar-pe, .
pa1 morreu
i tY'1nb-ag-uer-pe tapyi-i mo-nhang-i a1n.é: uns índios enterram seus
parentes em suas (dos parentes) antigas casas ; outros, que os enter- 823. FoR~iA NEGATIVA. -
Quando o particípio é comple-
ram fóra, constroe111 urna pequena choupana no lugar em que os en-
terraram mento predicativo, o advérbio negativo é nda ... ruá ( n.
184):
2. - Corresponde as vezes ªº gerúndio, Ott ªº infinito nda xe pora.ndup-ag-ttera ruá: nao é aquele pelo qual perguntei ;
seguido de -reme: ou a quem perguntei
xe nde r-enoi-dá' -pe ( ou r-enoi-1tte), t' ere-só-ne : quando eu te
chamar, vás ! ; xe nde r-epiak-á'-pe ( ou r-epiak-a), t' oro-enoi-ne : 824. Incluindo o sentido de "ter", nega-se com nda . .. -i
vendo-te, eu te chamarei
(n. 352):
3. - "porque, por": nda xe porandup-ag-uer-i: nao tenho pelo que perguntar; a quem
xe 1nará-ar-ag-ué'-pe, xe pytá-ú: fiquei porque estava doente; perguntar; nd' i porandup-ag-uer-i: nao tem pelo que perguntar; a
endé .-re sy r-ausup-á' -pe: pelo amor que tens a minha máe quem perguntar; nda ~~e s-au.sup-ab-i: nao tenho como amá-lo; nda xe
r-ausup-ab-i : nao há meio de ele me amar
4. - "con1, -tnente":
korite·i -sá'-pe: apressadan1ente, corn pressa 825. É muito usado sobretudo na 3.ª p. impessoal negativa:

5. - Seguido de u111ii: "já está en1 ( ten1po)": nd' i papá-sab-i: nao há (modo de) contá-los ; nao tem conta;
nd' i gíi-ab-i: nao há ( nlodo de) co1ne-los, de acabar de comé-los
_ k~~u-sá:-pe u1na: já ·é (está na) hora de con1er; ybá ú-sá'-pe
u111~: J.~ est~ em tempo de se co1ner a fruta; 1w1u1111b-á' -pe xe só-sá'-pe 826. SUBSTANTIVOS ABSTRATOS. - No tupi colonial, principalmente literário,
ftlnn: Jª esta em tempo de eu ir a hatalha delineava-se a tendencia para dar accepc;ao abstrata as palavras formadas com
(s)aba:

286 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO ~87

porang-aba : beleza 1naenduá'-saba: lembran~ chama aqueta n1ultidáo de estrelas? Chama-se Via-Láctea. Por
i'-e-ro-biá'-saba: confianc;a mo-asyp-aba : contric;áo que dissestes que a chuva vai chegar? Porque (-reme) já apareceu
syk-aba : chegada mor-mtsup-aba: amor
( o-íe-kuab) no ·céu o Setestrelo. - Conheces a aldeia para a qual
A tendencia se acentuou mais no guarani antigo e no tupi moderno. estás olhando ? Conhe~o. É Angra dos Reis. - Já sabes o nome
827. (S)aba forma também ordinais: i mo-sapy'-saba (AR., l.ª ed., 154v.): daquela estrela pela qual me perguntaste? - Dou-te esta rede em
o terceiro déles
(como) paga ( tróco) da que me <leste e que me f urtaram.
EXERC1CIOS
828. BIBLIOGRAFIA
y-tororoma: bica dágua ANCHIETA 19; 28v-29; 32v-33; 42v; 48; FIGUEIRA 116-120; MoNTOYA
nhaia:
,
f onte, ponto de beber 16; 18; 25; 33-34; RESTIVO 100-109; 161-169; CAETANO 50-57; 58-60; ADAM
agua tatobapy : entrada da aldeia, 58-65; L. BARBOSA 188.
y-ek6-aba: regato primeiras casas
syk: chegar; juntar-se pé-ypy: id., antes das primei-
ras casas
829. Tatobapy segue taba (n. 259); pé-ypy segue pé (n. 252).
830. Pináá mo-nhang-aba. - Pirá syk-aba. - Sorok-aba. - Parana
epiak-aba. - Kaá asap-aba. - Mbaé nhai-pe nhandé nho-obaiti-ag-
-úamaf Aip6 y-ekó-aba n.de nhe-tno-akym-ag-úer-pe. - l katu-pe
y-tororonia nde y gu-aba? - Ere-kU,ab-pe uma taba oré só-sag-Uama
r-1ipir A-kuab uma s-apé-ypy, i tatobapy r-u·pi abé. - Nd' e-í karu-
-s?'-pe-pe ranhé! Nd' e-'Í ranhé. - Abá-pe nde r-e-mi-kó-meeng-a!
Pindobusu. - Na Pindobusu rua i kó-meen' -byr-am-buera. M ará-
-namo-pe ! - Mbaé-pe Pindobusu kó meeng-ag-úera? Aípó-bae pe
r-e-mi-asag-uera. - "Mara-pe i mo-ngaraib-pyra r-enoí-dab-eté !"
(AR. 16). - "S-etá-pe erimbaé aipó i-ara! S-etá: n' 'i papá'-sab-i
iandé-be" (AR. 45). - Xe r-ayt, a-í-mo-ang nde r-eo-ag-uama koyte.
831.
troco, paga: ekobiara ( t) haía, enseada : kuá
Estrela dalva: Pirapanema, Via-Láctea: Tapiirapé
!asy-t-atá-guasu, !aguara Angra dos Reis : O karusu
Pleiades, Setestrelo : Seixu. ser fundo: ypy ( t) (xe) (n.
241)
832. É funda a enseada pela qual passaram as jangadas? - O hranco
em que bateste chamou os seus companheiros para te matar na casa
em que dormes. - Como se chama aquela estrela, perto da qual passou . ..
a lua? É a Estrela-dalva? Nao. Ela nao tem nome. E como se Saudac;ao lacrimosa (THEVET)
CURSO DE TUPI ANTIGO 289

ara wbio-ndttara: (o que é) de cada dia, quotidiano


íepi-nduara: (o que é) de sempre
erinibaé-ndar-uera : o que f oi de antigamente, antigo, antiquado
kori-nduara: ( cousa) de boje, hodierno
Ll(A.O 46.ª kuesé-ndar-uera: cousa de ontem
oirá-ndar-ania : cousa de (para) amanhi
na-nduara: o que é assim
PARTICtPIO Sú A RA iké-nduara n' ikó : este é daqui
ybak-i-gU,ara ou 'YiJak-y-gúara: o que está no céu
, Nos documentos apareccm as formas soara, 1idoara, xoara, goara, etc;
833. AFIRM. mas o tem aí um som surdo como na antiga grafia portuguesa "agoa'' (água).
A

pres. suara
A

fut. suar-ama ou sar-ama 836. Sao as seguintes as par t1culas a que mais de f re-
A A

pass. suar-uera " sar-uera


A

qüente se s_ufixa:
pass.-fut. suar-am-buera ",, sar-am-buera
A A

fut.-pass. suar-uer-ama
A
sar-uer-ama -pe : o que está en1, o que mora em; o que é de (lugar,
NEGAT. nafao, etc.) :

pres. A
suar-eyma yby-pe-sflara ou nduara : o que está na terra, terreno; paraná-me-
fut. suar-am-eyma ou sar-am-eynia -ndúara: o que está no mar, marítimo; nhü-nie-nduara: o que mora
A A
pass. suar-uer-eyma " sar-uer-eyma no campo; ybak-pe-suara ou nduara: o que está no céu, celeste; xe
pass.-fut. suar-am-buer-eyma " sar-ani-buer-eynw r-eta' -1ne-ndi'iara: o que está na ( ou é da) n1inha terra; pó-pe-suara:
fut.-pass. suar-1'ter-am-eyma " sar-uer-am-e)mta o que está nas máos: armas; ti-me-nd1?ara ( AN c H., ib.) : o da frente
ou dianteira
834 . Em geral significa "o que costuma ser", "o que cos-
tuma estar". pupé: o que está dentro de
Sufixa-se a co1nple1nentos circunstanciais, isto é, a y pupé-SU.ara ou nduara: o que está dentro dágua; karame1nfiii-
substantivos, pronomes, infinitos preposicionados, ou a ad- -me-ndaara: o que está dentro da caixa
vérbios e locu~·oes adverbiais.
supé : o que é para, o que se destina a, útil para
835 . Assume também a f orina nduara, que chega a ser Mbo¡oby supé-ndar-ama: o que se destina a Mhoiobi; nibaé i.'ré-
mais usada que s1tara., sobretudo quando precede nasal. -be-suara: cousa (que é) (útil) para mim; i :rupé-sar-fiera i.-:ré: fui
De¡:>,ois de i, em geral se converte em .xuara. Depois de útil a ele
consoante, i.xúara. Depois de y e mesmo de i, torna-se
""
guara. -bo: o que está por, o que anda por, o que é por (de)
maraká pupé-suara ou nduara : o que está dentro do chocalho kaá-bo-ndfiara: (animal) que anda pelos matos, montes ; ar'-bo-
t-enondé-sitara (ANCH . 10): o que está (oie vai) a frente ·ndúara: o que é de cada dia, quotidiano; )'b'y-bo-nduara: o que anda
pelo chao
'
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 291
290

-i: o que está em ( sítio) PARTICíPI0 · SúERA


t-aky-puer-i-xuara ou guara: o que está atrás de (gente) ; xe
ybyr-i-xuara: o que está ao longo de minha pessoa 838. Significa "aquele que costuma", "que freqüentemen-
te".
esé ou rí: o que é referente, pertencente, toca.nte a; o que Só se usa com os verbos nao transitivos. Exige os
é de · pronomes pacientes. Plrecedido de nasal: nduera; de con-
xe r-esé nduara ou ixuara: o que se refere a mim : Pindobusu soante : ixuera:
r-esé ndar-ania ou ixúar-ama : o que está destinado a Pindobuc;u ; XI
atá-suera: andejo; nheeng-ixuera: falador; ia'bab-ixuera: fujáo;
r-esé-nduara ebokueia (VLB 339 ad.) : isso está destinado a mim nheeng-ata-nduera: o que costuma falar aos gritos; i po-siib-ixuer:
Aparece também a forma esé-ind-D.ara. ele é amigo de fazer visitas; nde nhe-mo-yro-nduer: és rabugento,
zangado
-r~mo: o que f. para (que seja). Muito usado no futuro:
839. A partícula iá ou iaby dá aos verbos nao transitivos
e-ra-s6 kó pirá kan,q-uera nde pindá-ramo-ndar-ama: leva esta
espinha de peixe, para (que se ja) teu anzol igual sentido :
o-iabab iá ou iaby: tem por costume fugir; a-kanhem iá ou iaby:
-reme: o que é de ou ipara. quando, o que se refere ao tempo tenho por hábito sumir ou fugir; xe poro-iuká w ou iaby ·= estou
em que: habituado a matar (gente)
xe só-reme-nduara : tocante ao tempo de eu vir ; xe só-reme-ndar- Pode-se acrescentá-la a siiera:
-uera: tocante ao tempo em que fui ; xe s6-reme-ndar-anza: tocante ao
tempo em que irei ; para quando eu f or i nhe-mo-yro-nduer iá: é rabugento, está sempre zangado; nde
í'-epyk-ixuer íaby : és vingativo
upi: o que está por, segundo, conforme, de acordo
840.. O mesmo sufixo s-uera tem tambén1 o sentido de
s-upi-nduara : o que está de acordo, o que é verdadeiro "quase que", "por pouco que". Neste sentido nao forma
nomes ve.rbais, mas pode n1odificar ;arf:é verbos transitivos :
837. Para exprimir nacionalidade, o sufixo se a presenta
amiúde sob a forma quara ou aitana, precedido da prepo- a-manó-suer: por pouco que morri ; oro-iuká-suer: por pouco te
mate1
si<;ao -i, que muitas vezes se elide se vem depois de y:
tatobapy-guara: natural ou morador da fronteira; kaá-i-guana:
o que mora no mato, natural do mato : nhu-i-gii,ana : o que mora no PARTICíPIO TYBA
campo, natural do campo: Pakatá y-guara: ·natural ou morador de
Porto-Seguro ; 'j1bytyr-i-guara ou ybytyr-i-guana : morador ou natural 841. O sufixo tyba, modificando os verbais formados de
da serra; ybak-i-gúara: o que mora no céu, celestial ; niam6-1-gt'tara: (s)ara, (s)aba e (t-e-)mi-, junta-lhes a idéia mais acen-
morador de outra parte, forasteiro
tuada de "hábito, constancia, continua~ao, f reqüencia":
- No caso, há certa indecisao entre -i t y, nos autor•.
292 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 293

1noro-iu'-byk-ara: o que enforca, enforcador kaniusi-pora, niara? Aipó-bae oré t-oba-iara fatká-renie-11dar-a1na
nioro-iu'-byk-á'-tyba: o que costuma enforcar, algoz nhó-te. - N de nhe-nio-·y ro-nduer-eté ! - M a111ó-pe cre-só f A -só
xe r-ekó-aba: lugar em que estou, meu lugar guarini-ranio. "Paí, niara-pe gfiarini-111e na nde pó-pe-súar-i?"
xe r-ekó-á' -tyba : lugar em que costumo estar ( CARDIM 339).
x e só-aba: lugar ao qual vou
xe só-á' -tyba : lugar ao qual costumo ir 845
ie-por-aká' -saba : lugar ou tempo de pescar f azer caso : nio-tyb resto : kurub-í
ie-por-aká' -sá'-tyba : lugar ou te1npo em que se costuma pescar por isso : nd' e-í teé ( n. 463 ) que ocasiáo ?: 1nbaé-re11ief
iip-aba ( t) : lugar de (a g.) se deitar
xe r-up-á' -tyba : lugar etn que costumo deitar-n1e 846. A nossa comida de cada dia dai hojea nós. - Dai-n1e u1n pouco
xe r-e-11ibi-ú : rninha con1ida, o que eu como de papas. Nao. As papas nao sao para hoje. Sao para que ocasiáo?
Sao para quando acabaren1 as dan<;as. - Qual é o prato e1n que
.'re r-e-'l'nbi...,ú-tyba : o que costun1o comer
costumas por de molho o pao? É o de cá? Nao. O de lá. Qual
xe r-e-mi-niborará: o que eu sofro é o em que costumas comer? - Que é o que costumas comer? Só
xe r-e-nii-niborará-tyba: o que costun10 sofrer .... o resto ? - Como se chan1a a ilha em que costumavas pescar? Tepo-
. yg-asap-aba: lugar de atravessar o rio . tigua<;u., Que significa Tepotiguac;u? Lá há muito peixe? Há. Por
yg-asap-á'-tyba: lugar em que se costun1a atravessar o no; pas- isso nao se faz muito caso deles. Quen1 é o mo<;o com que1n costu-
sagen1 do rio mavas pescar naquela ilha? Era Pindobu<;u. Por que náo é ele com
quem costumas pescar agora? ~le é muito f alador e rabugento. -
842 . T yba pode-se conjugar como verbo: "hav~r, cstahr! ab.~mdar'.' : há f lt
i tyb : há, está, há abundancia; ud' i tyb-i : nao a, nao esta, a a, És morador de onde ? De Pacatá? Nao. De Ibitirapuá. Por isso
há pouco; e-í katu, Abaré tyb-eym -e é (AR. 147) : pode ( outra pessoa, és falador. Nao sao faladores os moradores de Ibitirapua? Sim. Sao
batizar)' se é que nao há padre faladores, mas só dizem o que é verdadeiro. - Aquele bicho é da
Há também o verbo deri:vado 1110-t3•b " ·f azer caso º" muito de" terra ou dágua ? É do mar.

EXERCtCIOS
BIBLIOGRAFIA
843. suara - ANCHIETA 10-11; FIGUEIRA 139; MoNTOYA, Tesoro 128v-130;
paí: padre posa.nga: ret11édio RESTIVO 13-15 ; 153-155 ; CAETA NO 61-62; ADAM 71-72; L. BARBOSA 188.
1nanió-i-guara? : inorador pepyra: festim auera - ANCHIETA 51v; FIGUEIRA 139-140; M o NTOYA, Tes()ro 113-113v;
de onde? RESTIVO 69; CAETANO 63; L. BARBOSA 188.
tyba - FICUEIRA 76; VLn 97; 142 ; 160; 259; 340; MoNTOYA, Te.'iorn
• 387/381; REsTIVO 324 ; CAETANO 76-77; DRUM:OND, Notas Gerais 57-70;
844. Manzó-í-gúara- pe nde? Pakatá ~y-gtiara . - Manió-pende L. BARBOSA 189; lo. Tradu,oes 30-31.
r-ekó-á' -tyba? N de só-á' -ty' -pe. - K ó 1nbaé iké-ndi1ara. Aipó-bae
aé-pe-súara. Na iké-ndúara ruii-n' ikó, aé-pc-11dtiara-le. - 0-ká
giu.í kuei ka11-iusi. Mbaé-Pe i por-ani-buera? Y nhó-te. - Mbaé
r-&sé-pe tid' ere-ú-í pirá? N da :re r-e-1nbi-ú-tyba rttil - Abá
supé-ndar-ania-pe aípó posanga? Na nde-bo-ndar-a1na rua, mbaé-
-asy'-bor-'Úera-nduara-te. - E-í-n1eeng ixé-bo kaui tá. 1Vd' i tyb-i.

Na kori-ndar-ania r·u.ií kai¡i pep'}1ra, oira-ndar-a1na-te. Aé-pe aipó
19
CURSO DE TUPI ANTIGO

852. ÍNDICES DE CLASSES. Além dos pronomes indi-


mduais (xe, nde, i, etc.), há na língua os índices de
Ll(;AO 47.ª classe:
CL. SUPERIOR CL. INFERIOR

ÍNDICES DE CLASSES moro- mbaé


t- s-
847. PALAVRAS ABSOLUTAS, E RELATIVAS. - Palavras A frase portuguesa "vejo olnos", na qual nao está determinado qual
o indivíduo possuidor dos olhos (nao se diz se é ele, t1t, ou eu), em tupi
absolutas sao aquelas que por si sós tem sentido perfeito, p. se verterá de dois modos, conforme os olhos se refiram a pessoas ou a
ex. "homen1", "sol", "morrer". Relativas sao as que exigen1 seres inferiores :

outra palavra para completar-lhes o sentido: objeto direto, a-s-epidk t-esá: vejo olhos (de gente)
complemento terminativo ou outro complemento. a-s-epiak s-esá: vejo olhos (de animal)

848. Em tupi sao palavras essencialmente relativas, entre outras, os nomes Nunca se poderá dizer na forma absoluta: a-s-epfok esá.
de partes do corpo, de parentesco, e semelhantes. Também os verbos tran- 0Bs. 1. - A forma primitiva deve ter sido te- e se-.
sitivos e relativos.
0Bs. 2. - T-, s-, moro e mbaé poder-se-iam chamar também pronomes
pessoais indefinidos, sendo t- e 1noro- humanos, s- e mbaé nao-humanos, com
849 FORMA ABSOLUTA. - Nesta gramática diz-se estar na o sentido (náo a fum;ao) dos nossos "alguém" e "algo": t-esá: olho(s)
forma absqluta a palavra que nao é modificada nem por de alguém ; s-esá olho ( s) de algo; moro-ti : nariz de alguém; mbaé-tí nariz
( ou bico) de algo; moro-aitSitb-a amar a alguém ; mbaé-kuab-a saber algo.
possessivo, nem por outro complemento.
Muitos autores dizem estar na ·forma absol1tta certas palavras precedidas
do prefixo t-: t-oó, t-ug{iy, t-akuba, etc. Nomenclatura inaceitável: t-oó, ANTES DE SUBSTANTIVOS
t-uguy, etc. sao formas relativas aos seres humanos, em geral (n. 236).
A forma absoluta é oó, itguy, etc.
§ l.º - PREFIXOS DE CLASSE t- E S-
850. Em tupi as palavras relativas nunca podem ficar na
forma absoluta dentro de urna frase. Se nao estiver deter- 853. Com os substantivos que tem s- ou t- como posses-
minado o indivíduo a que se referem, devem ser indicada ao sivos da 3.ª p. (n. 238 e 240), o prefixo da classe
menos a classe a que ele pertence: superior ou inferior. superior é ein geral t-, e o da inferior, s-:
s-ugi1y : sangue (de animal)
/ 851 . CLASSES SUPERIOR E INFERIOR. - o tupi distingue t-uguy : sangue (de gente)
t-umby : cadeiras (de g.) s-u1nby : cadeiras (de animal)
gramaticalmente duas classes de seres: t-embé: beic;o (de g.) s-embé : beic;o (de an.), borda
Cl. sup.: homens, espíritos (de rio, etc.)
Cl. inf. : animais, vegetais, seres inorganicos t-erapi1ana: fama (de g.) s-erapi'tana: fama (de ser inf.)
t-akuba: calor (de g.) s-akuba: calor (de ser in fer.)
' CURSO DE TUPI ANTIGO 297
296 LE?YIOS BARBOSA

a-t-ugi1y-ú-potar: quero beber sangue (de g.) ; a-s-ugúy-t't-potar:


t-aíyba : queixo (de g.) s-aíyba : queixada (de animal) id. (de anirnal) ; quero .beber o sangue dele, -a, -es, -as ; a-ie--iigü,y-ú-
t-anh-apúa: presas (de g.) s-anh-apilii: presas (de an.) -potar: quero beber meu próprio sangue; a-ío-py t-atá ou a-t-atá-py:
t-ysy: fila (de g.) s-:vsy: f ita (de animais, árvo- sopro fogo (de g.) ; chego oit fac;o fogo (de g.) ; a-s-atá-py: tr. sopro
res, etc.) fogo a, chego ou fac;o fogo para; a-s-atá-py nde r-e-111i-xira: chego
854 ·S- pode, pois, exercer duas f un«;6es distintas : 1) a f ogo a teu assado; a-ie-atá-p31 ou a-í' -atá-py: sopro ou fac;o f ogo para
de possessivo individual da 3.ª p. ( n. 238); 2) a de índice mim; e-s-atá-py nde r-e-ui-i-rnoía (VLB 118) : atic;a o fogo a teu cozido
da classe superior. § 2. o - PREFIXOS DE CLASSE moro- E mbaé
A frase a-s-epiak s-esá pode significar "vejo olhos (de animal)" e
também "vejo os olhos dele". 860. Os outros substantivos, is to é, os que tem i como
possessivo da 3.ª p., nao levam índice da classe superior,
855 · Nos no1nes que seguen1 ayra ( n. 240), é t- e nao s- o mas subentende-se que se refiram a esta classe, desde que
índice de ambas as classes, como é também o possessivo nao se achen1 precedidos do possuidor ou da pala vra
da 3.ª p.

~56 · !'Jos que seguem at uuba ( n. 242 ), o índice da el.


- mbaé, que é o índice geral da classe inferior:
kang-uera: osso, ossada (subentende-se : de gente) ; ay kang-úera :
inferior pode ser tanto t- como s-J de preferencia s-. ossada de bicho-preguic;a; nibaé kang-uera: ossada (de animal ou
animais)
Sobre os substantivos da 3.ª e 4.ª classes, v. n. 246 e 250-257.
861. Correspondente a nibaé) há para a classe superior o
857 · Certos substantivos nao tem índice da classe su- prefixo 1noro- ou mboro- ( n. 380), que se aplica a
.
per1or :
- , .
nomes que por sua propria natureza só se
sao qua l q u. e r substantivo relativo, mesmo aos que tem s-
refere1n a seres inferiores: como possessivo da 3.ª p., como eté ( n. 238) :
s-apó : 1) raíz dele 2) raiz (de vegetal ou de outra m oro-ti: nariz (de gente) : mbaé ti: nariz (de anitnal) ; moro-
cousa) -bofá ou boiá: súdito (de gente) ; 1noro-íara ou íara : senhor (ele gen-
s-úaia : 1) rabo dele 2) rabo (de animal, etc.) te) ; mbaé iara: senhor (de cousas) ; anama ou moro-anania: parente
s-a!?a: 1) galho dele 2) galho (de arvore, etc.) (de gente) ; mbaé anania: parente (de animais) ; nior-el~obiara ou
t-ekobíara: substituto (de gente) ; mbaé r-ekobiara ou s-el~obiara:
Mas emprcgados em sentido figurado, com referencia ao homem, levam 0 substituto (de cousas)
t-. MoNTOYA no Tesoro arrola as palavras t1tgúai "cauda" e tacang "galho".
M~,s o mesmo au~or fata de "cauda" no sentido figurado de "acompanhamen· Mas moro- é pouco usado, a nao ser com os mesmos nomes que pode-
to , p. ex., de f 1lhos. riam levar t-.
858. ExcE~.i\o. - S-aba significa "pelo" tanto de gente como de animais. 862. SUBSTANTIVOS COME(_;;ADOS POR p. - Ref e rindo-se
a classe superior, troca•m O p para 1nb Olt mesmo ni:
859. Os substantiYos de que se trata neste § l.º,
0Bs. - py: pé
~unca se empr egam na forma absoluta. A inda quando xe py, nde py, i py, etc. : meu pé, teu pé, seu pé, etc.
1ncorporados, deven1 levar algum determinante ou índice abá py : pé do índio
de classe: niby : pé (de gente)
LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO

A mesma cousa vale dos adjetivos substantivados:


pancma: imprestável manema: (homem) poltráo Mas para a classe superior é. . mais comum o prefixo
poranga : bel o moranga: beleza (de gente) mo10-, · sobretudo com os transitivos regulares:
Ref eringo-se a classe inferior, devem ser precedidos do mor-ausu,b-a: amar (g.) ; mor-e-no-seni-a: retirar (g.), etc.
possuidor (substantivo ou possessivo) ou do índice da
classe inferior, nibaé: 866. Coma d jet i vos, verbos pr e di e a ti vo s e verbo~
. in t r a ns i ti v o s, t- e s- funcionam como sujeito. Só
iag11ara py : pé de on~a
i py : o pé dela se dá o caso no infinito e derivados. Os verbos intransi-
mbaé py : pé (de animal ou de outra cousa) tivos, no caso, sao todos irregulares:
t-oh'J': azul (g.) ; ser azul s-oby: azul (c.) ; ser azul (c.)
863. ÜBSERVA~A.o. -
Os possessivos individuais se aplicam (g.)
indiferente1nente a qualquer classe de seres, superior ou t-e-iké: entrar (g.) s-e-iké : entrar (c.)
inferior: • t-ekó: estar (g). s-ekó: estar (c.)
t-en-a : estar parado (g.) s-en-a : estar parado (c.)
a-í-kutuk s-esá: furei os olhos dele (do hon1em, do jaguar, etc.) t-eo : n1orrer (g.) s-eo : 1norrer (c.)

ANTES DE ADJETIVOS, VERBOS E PREPOSI~OES 867. Com pre pos i ~o es, t- e s- funcionam co1no
con1plcn1ento:
§ 1.o - PREFIXOS DE CLASSE t- E S- t-akypiier-·i : atrás de (g.) s-akypiter-i : atrás de (c.)
t-enondé: antes de (g.) s-enondé: antes de (c.)
864. Nao só os substantivos, mas todas as palavras rela-
tivas, que tem como complemento da 3.ª p. os pronomes t- 868 . Algumas preposi<;oes, pa·ra a classe superior, preferen1
ou s-, sao susceptíveis de levar os índices de classes: ad- 11ioro-:
jetivos, verbos transitivos, preposÍ\Ües. 11ioro-esé: por (g.) s-esé: por (c.)
moro-upi: por, segundo (g.) s-upi: por, segundo (c.)
865 · Com v e r b o s t r a n s i t i v o s, t- e s- f uncionatn
co1no objeto direto. Só se dá o ca.so no infinito, gerún<lio
e formas derivadas. Só nos verbos que tem s- como pro- 1) a de pronome
869. S- pode pois exercer duas f un\oes :
nome oh jetivo da 3.ª p. ( n. 31 O), no v. irregular ityk ( n. da 3.ª p. ; 2) a de pronome ou índice da elas se inferior :
922) e nos comipostos de ro- ou no- (n. 508, 509, 413): s-ausub-a: 1) amá-lo 2) an1ar ( cousas)
s-oby: 1) ele é azul 2) ( cousa) azul; ser ( cou- ·
sa) azul
t-ausub-a: amar (g.) s-aus1tb-a: amar ( cousa) s-ekó: 1) estar ele 2) estar ( cousa)
t-ausup-a: a1nando (g.) s-ausup-a: amando ( cousa) s-akypúer-i: 1) atrás dele 2) atrás de ( cousa)
t-e-ityk-a: atirar, -ndo (g.) s-e-ityk-a: atirar, -ndo ( cousa)
t-e-no-sem-a : ret irar~ s-e-no-seni-a: retirar, -ndo 870. Em alguns verbos irregulares o próprio t- é o pronome
-ndo (g.) (cousa) su jeito da 3.ª p. do infinito; ou, se o verbo é transitivo. t-


300 LE1\10 S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 301

e o pronome objetivo da 3.ª p. do infinito, gerúndio e formas Sstes nomes de cores parece terem sido empregados também com rela<;ao
a seres inferiores. Mas é escusado anotar que nao se diz :~e moro-ting n.em
derivadas: nde mor-oby, etc., mas xe ting, nde r-oby, etc : sou branco, és azul, etc.
intr. : t-uba ( n. 885) : 1) estar éle deitado; 2 ) estar deitado
(g.); 3) id. (c.) EXERCtCIOS
tr.: t-ara (n. 921): 1) tomá-lo; 2 ) ton1ar (g.) ; 3) tomar (c.)
t-á (n. 891): 1) tomando-o; 2) to111ando (g.); 3) 875. Kai1i
tomando (c.)
871. Todos esses adjetivos, verbos intransitivos, transitivos, preposic;óes, devem aipi y.: . cau1m (feíto) de porasei : dan~r
vir acomapnhados respectivamente do seu sujeito, objeto direto ou termo regido, aip1m paresar [supé]: convidar (por
ainda que estej am incorporados. akaiu y: cauim de ca ju mensageiro)
kagu-aba : vasilha de beber meen'-gaú : tr. dar de beber

cau1m vinho a
§ 2. o - PREFIXOS DE CLASSE moro- E, mbaé unguá obaiara ou obaix ua- so'-sok : socar
ra: mao de pilao 1no-in : tr. cozinhar
872. Moro- e ni baé sao os índices de classe que se empregan1 tepiti : prensa (de espre- 1no-pupur: ferver
con1 os verbos, adjetivos e preposi<;6es nao inciuíáos no pa- mer) en (nho-s): despejar
sabeypor: intr. embebe- apó ( i) : f azer
rágrafo anterior. Servem aliás também para todos
dar-se suú-suú: tr. mastigar
(n. 380):
876. Mara ngatu-pe pe-í-apó kaui? J(unhii o-io-sok akaíu unguá
moro-pysyk-a: tr. apanhar nibaé pysyk-a: apanhar ( cousa) pupé, o-ty-ami o pó pupé, k ó-ipó tepiti pupé, ty-púera ygasaba pupé
(gente) s-en-a. Mbaé-pe kaui só' -sok-aba? Ungu:á obaiara. - Mara ngatu-
moro-seni-a: intr. sair nibaá seni-a: sair ( cousa) -eté-pe o-i-apó amé guá aipi y? 0-í-pé-ok guá aipi, o-i-mo-in; aé riré
moro-aitsub-a: tr. amar nibaé ausub-a: amar as cousas kitnha-muku poranga i xuú-suú-u, ygasaba y r-es á t-ynysem-bae pupé
( aos outros) i m·u.n-a. Kitnha o-í-nio-nan abati r-esé, i 1no-in ie-by, i mo-pupu' nhae
moro-esaraí: intr. esque- nibaá-asy : doer ( cousa) pupé. 0-nho-s-en ty-puera ygasaba i kuá r-iipi i aty-pyr-uera pupé,
cer-se (g.) ygasaba asoi-á-bo, s-eiá nhó-te mokoí ara aé-pe. - lvfara-eté-í-pe
kaui gu-aba? 0-kaú ianondé, abá pysaré o-poraseí, o-nheengá'.
873. .A..o contrário de t- e s-, os índices moro- e mbaé se Koem-e o-kaú ypy, o-nheengá', o-pora;sei abé. K unha-1nitku o-í-meen'-
usam tan1bém f ora do infinito, do gerúndio e dos derivados. -gaú. Abá kaú-re1ne-bé, i karu-eym-i. 0-kaú-kaú o-ar eym-a puku-í,
Mas neste caso, nioro- assume a forma poro-: o-sabeypó'. - Tá'-pe-s'Úara nhó-te-pe i l?aú-ú ? N' aan-i. 0-i-xoó
aniundaba pora abé, i x upé o-paresa. - Kurunií, pitanga abé sera
a-poro-pysyk a-poro-ausitb o-kaú? N' aan-angá-i: abá nhó-te, o-niendá riré. Aé-pe kunha-tair
. b'e.
N , aan-i-
874. Moro- é usado com os nomes de cór, substantivando-os :
ptanta<;ao de milho : abatí vo1nitar: gfl-een, intr.
tinga : branco 111oro-tinga: o branco, a cór branca (de g.); ser f urar: mo-bok - : 1no-ie-byr, tr.
branco (g.) arrotar; ei{ ( xe)
it4ba : amarelo 111oro-1uba : amarelo, a cór amarela (de g.), etc ter nojo de: ie-gi1aru [ suí]
oby : azul, verde mor-ob·y : o azul, a cór azul, etc. mensageiro : paresara - fétido: eu rem (xe)
una: preto moro-una: o preto, a cór preta, etc.


302 LE1'f OS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO .',03

877. Em que ocasióes fazeis cauim? Quando nasce urna crian~a, AO SANTO A'NJO DA GUARDA
antes e depois de urna guerra, quando matamos algum prisioneiro, P. CRISTÓVÁO VALENTE (1566-1627)
quando vamos trabalhar na planta~áo de milho do chefe. Em que (adapta~ao ortográfic.a)
ocasiáo mais? Quando furamos o lábio inferior de um rapaz. · De
que maneira bebeis o cauim? Vestimos [ em nós] o manto de penas e ESTRIBILHO Tupa r-obaké e-ikó-bo,
o diadema. Por que é que muitos vomitam? Vomitam o cauim Xe suí nd' ere-syryk-i2,
Pe-ior-í, apyab-etá,
porque tem nojo dele? Porque as mo~as o mastigaram, misturando-o Na xe nio-pyá-tytyk-i
Oiepé t' ia-í-nio-eté
com a sua saliva? Nao absolutamente. Porque os outros estáo arro- Anhanga xe r-apekó-bo3.
landé Karaí-bebí.
tando fétido. Qual é a vasilha de beber cauim? É urna caba~a ou N d' e-í teé nioxy4 o-só-bo 5
cuia. O mensageiro está bebado? Niáo. O cauim ainda nao está O atá-pe xe r-eiá,
azedo ... N de pó guyr-pc xe mo-ingó-bo.
COPLA
X e r-aro-ana ybak-y-gitara, X e iru-namo 1111tenié
Karaí-bebé poranga, iVde ii'-nie xe r-ausub-á' -boó
E-i-nibo-é katu xe anga, N d' a-é-i katu.-i nhe-mo-ngyá-bo
T' o-i-kuab ybaka piara. T-ekó angaipaba pupé:
X e r-uba, xe r-e-r-ekó-ara N d' o-ti-i serii7 asé
N de r-esé nhó t' a-gfiatá. M aras o-ikó-bo9 ara w
E-i-peá xe r-aang-ara1• o aro-ana r-oballé.
ARAÚJO, Catecismo (ed. 1898), *V-*Vv.

1 - tentador, t demonio. 2 - Imperat. negat. : nao te afastes. . 3 -


visitando-me, procurando-me, quando me procurar. 4 - Impreca~ao: maldito!
5 - Ger., exigido por nd' e-i teé (n. 463). 6 - Ger. de artsitb-ar (s). Mais
regular seria r-a11s11b-á (n. 404). De acórdo com as gramáticas, aqui nao seria
o caso de gerúndio, visto como o suj eito da ora~ao principal é de outra pessoa
. ( n. 425). 7 - Com verbo negat., sera equivale a " certamente, sem dúvida ", e
o verbo em port. passa para a forma af irmat. : "a gente se envergonha sem
dúvida ". 8 - Alguma cousa. nada. Pode-se entender tarnbém como " o mal ".
9 - fazendo. Dando aos trés últimos versos a forma interr., seria possível
outra trad.: "nao se envergonha a gente acaso, fazendo algo (o mal) <liante de
seu guarda? ".

BIBLIOGRAFIA
..
ANCHIETA 14v-15; 49v-50; 51-52; FIGUEIRA 86; 90; VLB 282; 290; 321;
1'foNTOYA 53-54: In. Tesoro 318/312-319/313; RESTIVO 52-55; 277; CAETANO
38; ADA)f 9; 22-27; L. BARBOSA 173-174; Io. Os Indices.

Fases do sacrifício de um prisioP.eiro (STADEN)



'

CURSO DE TUPI ANTIGO 305

883. ú: "comer"
Trans.) mas sem pron. obj. quando leva pref. ag. No mais,
Ll(;AO 48.ª regular.
eompostos. Ú -sei querer comer (n. 897, 2) admite pron. obj.:
AIC 11

a-i-ií-sei 1ti "quero comer farinha".


VERBOS IRREGULARE.S
884. íur: "vir" (radical u·r )
879. Já
f oram estudados os verbos come~ados por s ( n.
303), por i ( n. 127) e as irregularidades aparentes dos I NDI e . : a-i"ur, ere -~ur
~ , o-ur, ía-íur, oro-íur, pe-íur, o-ur
pronomes objetivos ( n. 299 ss). lMPERAT.: 2.ª p. s.: e-ior, e-íor-í, íor-í; 2.ª pi.: pe-ior, pe-íor-í
lNFIN.: xe r-ur-a, nde r-ur-a, t-ur-a (também refl.). Etc.
Dos verbos que se seguem, indica-se apenas o que tem de irregular.
Cl. sup. e inf.: t-ur-a
880 O gerúndio, os particípios, as formas da conjuga~ao
CoNJUG. suBORD.: xe r-ur-i, nde r-ur-i, t-ur-i, etc.
subordinada que levam índices de classe, sofrem as mesmas GERÚNDIO: gúi-t-ú, e-iú, o-ú; ?a-íú, oro-iú, pe-ítí, o-ú
altera~óes do infinito.
PARTICÍPIOS: o-ur-bae; t-u-sara; t-1t-saba ( fut. : t-1J-sag-i'tanta ou
I
t-ur-ag-ua11ia; pass. : t-u-sag-f'.tera ou t-ur-ag-uera)
881. É: "dizer" Compostos. O comp. r-ur (ro-ur) "trazer" faz no imperat. e-r-t1r ou
e-r-11r-í; pe-r-ur ou pe-r-nr-í.

Trans.) mas sem pron. obj. quando leva pref. ag.
INDIC., PERMISS., !MPERAT., lNFIN., GER.: v. n. 455.
885. íub: "estar deitado" (raidical· ub)
PARTICÍPros: i-ara ou e-i-ara; i-aba ott é-saba,· e-í-bae lNDIC.: a-íub, ere-íub, o-ub; ía-íub, oro-iub, pe-íub, o-itb
Nao tem os partícipios t-r-mi- e pyra. Substitui-os i-aba, que significa: 1) lMPERAT.: e-iub; pc-íub
o que ele diz; 2) o dito, chamado, que te:n por nome.
CoNJUG. SuBORD.: xe é-u, nde é-u, i é-ú, etc. lNFIN.: xe r-ub-a, nde r-itb-a, t-ub-a, og-ub-a ou g-ub-a. Etc.
O. sup. e inf. : t-ub-a
AFIXOS: admite mbo- e ukar; nao, porém, poro-.
Co1n -rente: xe r-u' -me, nde r-it' -1ne, t-u,' -11ie, og-u.' -me ou g-u'-1ne
Apesar de trans., conjuga-se como intr.: os prefixos e pronomes que o Cl. sup. e inf. : t-u' -me
precedem, imediatamente, sao subjetivos: gui-i-á-bo: "dizendo eu", i é "dizer
ele". CoNJUG. SUBORD. : xe r-ub-i ou xe r-ú-i, nde r-u,b-i ou nde r-ú' -í,
t-u,b-i ou t-ú-í. Etc.
882. Só: "ir" GERÚNDIO: gúi-t-up-a, e-íup-a, o-up-a; 1a-íup-a, oro-íup-a, pe-iup-a,
o-up-a
Só é irreg. no impera t. ( n. 195).
,p ARTICÍPIOS : o-ú-bae~· t-up-ara (raro) ; t-up-aba
CURSO DE TUPI ANTIGO 307
306 LEMOS BARBOSA

CONJUG. SUB.: xe r-en.-i, nde r-en-i, s-en-i ou nen-i. Etc.


Compostos. Os comp. 1110-1tb "colocar deitado" e ro-ub ou r-1tb "deitar-se
com" sao regulares. lub-i "estar deitado quieto", í11b-é "estar vivo" e "estar GERÚNDID : giti-t-en-a, e-in-a., o-in-a; ia-in-a, oro-in-a, pe-in-a, o-in-a
deitado acordado, s ~m se mcxer ", i:1b-To-te id., itt' -!?a/u " acomodar-se, deitar-se PARTICÍPIOS: o-in-bae; t-en-dara; t-en-daba
bem" e outros compostos por suf ixac;ao segucm a iub nas modificac:oes da t.a
sílaba. Compostos. Os compostos in-i "estar sentado, quieto", in-io-te "id.,
sem se bolir", in.d-é "estar a parte", in-bé ou i11i-bé "estar" .e na 3.ª p.
"haver", tem a l.ª sílaba como in. No-in é regular. lvlo-i1i só é irregular
886. Ikó: "estar", "fazer" no particípio ( tc-)mi-: (tc- )111i-1110-i-a.

INFIN.: xe r-ekó, nde r-ekó, s-ekó, o ekó. Etc.


890 . Iké: "entrar"
Cl. sup. : t-ek ó; inf. : s-ekó lNFIN.:xe r-e-iké, nde r-e-iké, s-e-iké, o e-iké. Etc.
CoNJUG. suB.: xe r-ekó-u, nde r-ekó-u, s-ekó-u. Etc. Cl. sup.: t-e-iké; inf.: s-e-iké
GERÚND10: gui-t-ekó-bo, e-ikó-bo, o-ikó-bo; ia-ikó-bo, oro-ikó-bo, CONJUG. SUB.: xe r-e-iké-ú, nde r-e-iké-it, s-e-i!?é-it. Etc.
pe-ikó-bo, o-ikó-bo
GERÚNnro: gui-t-e-iké-bo ou gui-'ké-bo, e-iké-bo. o-iké-bo; ia-iké-bo,
P ARTICÍPIOS: o-ikó-bae; t-ekó-ara; t-ekó-aba "' oro-iké-bo, pe-iké-bo, o-iké-bo
Compostos. Os compostos de sufixos, como illó-bé "viver" e ikó-tebé ou güi-'ké-á-bo, e-iké-á-bo, o-iké-á-bo; ia-iké-á-bo, etc.
"estar aflito, necessitado ", seguem ikó. R-ekó (de ro+1·kó) "estar com, ter,
fazer com, tratar" segue os compostos com ro- (n. 503). Mo-ingó "colocar" PARTICÍPIOS : o-iké-bae; t-e-iké-sara ou t-e-iké-ara ; t-e-iké-saba ou
só é irregular na sua f ormac;ao. t-e-iké-aba
Compostos. MO'-ingé só é irregular na forma<;ao. Ro-iké é regular.
887. O verbo ihó significa "fazer" em frases como:
891. Ar: "tomar, pegar, apanha.r"
a-ikó emana, ixé aé emana a-ikó, emana a-ikó, a-ikó mara (VLB
232) : fiz isso ; nd' a-ikó niara ( ib.) : nao fiz nada; mara nde ipó ere- INDIC. :a-í-ar, ere-í-ar, o-gf'1.-ar; ía-í-ar, oro-gu-ar, pe-i-ar, o-gíi-ar
-ikó (ib. ) : alguma cousa <leves ter feito; xe r-u,ba r-upi emana a-ikó xe r-ar: ele me toma, eles me toma1n ; tu me to1nas, vós me tomais
(id. 388) : f a~o-o, imitando a meu pai; mara-pe s-ekó-f4,.P: que fez nde r-ar: ele te toma; eles te tomanJ
ele?; Pero aé emana xe 11to-ingó-ukar (VLB 264): Pedro mesmo me oro-gu-ar : eu te tomo, nós te tomamos
fez fazer is so opo-git-ar: eu vos tomo ; nós vos to1namos
INFIN .: xe r-ar-a, nde r-ar-a, t-ar-a, o ar-a. Etc.
888 ·Levando co1nple_n1ento regido da preposi~ao -ra1no J CI. sup. e inf. : t-ar-a
corresponde a "ser" : CoNJUG. SUB. : xe r-ar-i, nde r-ar-i, t-ar-i. Etc.
ere-ikó oré niorttbi.-i:ab'-a11io-ne: serás nosso maioral ; mara-na- GERÚNDIO: x e r-á., nde r-á, t-á; Ui.ndé r-á, oré r-á, pe r-á, t-á
mo-pe asé s-ausub-i? - Og-itb-eté-ramo, o tno-nhang-ar'-anio, o pysy- Cl. sup. e inf. : t-á
ro-an.' -anio s-ekó-rente (AR. 95) : por que <leve a gente amá-lo (a P ARTICÍPIOS : o-gi'i-ar-bac; t-a-sara; t-a-saba; t-ar-( i)-pyra; t-e-
Deus) ? Porque ~le é (por ser ~le) o pai verdadeiro, o criador, o -1nbi-ara ou t-e-nii-i-ara
salvador da gente Oas. - Gu vem sempre depois de o átono; nao é prefixo objetivo, mas
liga<;áo eufónica entre o e a vogal seguinte. Cfr. o-gu-eté (n. 238), o-gft-e-ro-
889. In: "estar sentado, estar quieto" -bebé (n. 503), o-poro-gfi,-e-r-ur (n. 506).
Nao se confunda este verbo com iar " estar unido, aderir", relativo [esé],
!NFIN.: xe r-en-a, nde r-en-a, s-en-a, o en-a. Etc. regular. ..
Cl. sup.: t-en-a; inf.: s-en-a
308 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

892. ltyk: "atirar, jogar fora, derrubar, vencer" 895 . ' "morrer"
M a n o:
l Nnrc.: a-ity k, ere-ityk, o-ityk ; ia-ityk, oro-ityk, pe-ityk, o-ityk lNDrc. l MPERAT., GERÚNnro: regulares
:~e ( ou nde, iandé, oré, pe) r-e-it31k: joga-n1e (-te, -nos, -vos) l NFIN. : xe r-eo, nde r-eo, s-eo, o eo; íandé r-eo, oré r-eo. Etc.
oro-it:yk : jogo-te; j oga1nos-te ; opo-ityk : jogo-vos ; jogamos-vos Cl. sup. : t-e5; inf. : s-eo
a-íe-ityk : jogo-me, etc. CoNJUG. suB. : xe r-eo-u, nde r-e5-u, s-e5-it. Etc.
a-itá-ityk : jogo pedra P ARTICÍPrcs : o-nianó-bae; t-e5-saba ou t-egu-ama
lNFIN. : xe r-e-ityk-a, nde r-e-ityk-a, s-e-ityk-a, o e-ityk-a. Etc. Quan<lo o infinito está incorporado ao gerúndio, assume a forma regular:
Cl. sup. : t-e-ityk-a; inf.: s-e-ityk-a ere-ú-pe yby kó-ipó nibaé aiba t-egu-ama, e-manó-potál (AR. 229) : co-
CONJUG. SUB. : xe r-e-ityk-i, nde r-e-ityk-i, s-e-ityk-i. Etc. meste terra ou veneno mortal, querendo morrer?

GERÚNDIO : xe r-e-ityk-a, nde r-e-ityk-a, s-e-ityli-a. Etc. 896. Nomun: "cuspir"


CI. sup.: t-e-ityk-a; inf. : s-e-ityk-a
P ARTICÍPIOS: o-ityk-bae; t-e-ityk-ara; t-e-it)'k-aba; t-e-ityk-pyra ,- lntr. Só aparentemente irregular.
t-e-nii-e-ityk-a É o próprio verbo transitivo mun (nho) "cuspir'', com o objeto
direto (no ~ (te)nd-;,1 "saliva") incorporado : "cuspir saliva".
893. Poti: "defecar" Há tarnbérn nhe-nomttti "cuspir (a própria saliva)".
lNnrc.: Regular. Mas a 3.ª p. pode ser o-poti ou o-gfie-poti
lNFIN.: xe r-e-poti, nde r-e-poti, s-e-poti, o e-poti. Etc.
CI. sup. : t-e-poti, inf.: s-e-poti VERBOS DEFECTIVOS
CoNJUG. sun. : xe r-e-poti-u, nde r-e-poti-u, s-e-poti-u. Etc.
GERÚNDIO: g1ii-poti-á-bo e-poti-á-lJo, o-e-poti-á-bo; ia-poti-á-bo,
897. l. Ah: "abrir, c.artar"
oro-poti-á-bo, pe-potí--á-lJo, o-e-poti-á-bo
Trans. Era origina]n1ente %
0-s-ab ( n. 326) . No tupi
PARTICÍ PIOS : o-poti-bae; poti-ara (el. inf.: s-e-poti-ara) ; poti-aba
(el. inf. : s-e-poti-aba) histórico é defectivo. Só se emprega, quando leva subs-·
tantivo ou pronon1e reflexivo incorporados:
894. Pyno: " emitir ventosidade" yby-ab: abrir aterra, cavar yb-ab : cortar as vergónteas, po-
!Nnrc.: Regular. Mas a 3.ª p. pode ser o-pyno ou o-gue-p31no dar
ybyrá-ab : cortar n1adeira ie-ab ou i' -ab : abrir-se. rachar
lNFIN. : xe r-e-pyno, nde r-e-p31no, s-e-pyno, o e-pyno. Etc.
CI. sup. : t-e-pyno; inf.: s-e-p-;,rno
niori-tbixaba 31byrá-gf'i31-pe ah·? só-u ybyrá-ap-a (VLB 422) : ele
CoNJUG. su H.: xe r-e-pyno-ií, nde r-e-pyno-u, s-e-pyno-u. E tc.
foi a coutada d' El Rei, para cortar madeira
GERÚNDIO : gui-p3mo-11io, e-pyn5-11io, o-e-p31no-mo
ía-pyno-1no, oro-p3mo-11,io, pe-pyno-mo, o-e-pyno-mo
2 . Sei: "ter von tade de", "querer"
PARTICÍPIOS : o-pyno-ba.e; pyno-sara (el. in f . s-e-pyno-sara), pyno-
-saba (el. inf. s-e-pyno-saba) T rans. Só se usa com objeto incorporado:
20
f
(

310 LEMOS BARBOSA


CURSO DE TUPI ANTIGO 311

a-y-1Í-sei: quero beber água ; ere-mbaé-ú-sei: estás oom vontade


de comer ; o-karu-sei : id. ; pitanga o-kamb-ú-sei: a crian<;a quer 1u-ati nde py suí. Ten e.-íJ - Mara-pe nde r-e-1ni-ausuba r-ekó-u?
mamar; a-i-ú-se¡ soó : quero co1-;.1er carne; xe ú-sei ~ *y-sei: Xe r-e-mi-ausuba o-nhe-nomun nde íara r-obá r-esé. Mara-pe xe íara
estou com sede s-e-r-ekó-u aé-re11ie? "0-pili o-a1n-a, i nheeng obaixuar-eym-a" (AR.
Aplica-se, propriamente, aos apetites fisiológicos. Mas, em sentido fi- r
78 ad.). - "M arii-pe I udas r-ekó-u aé-reme Aipó o ío-upé é abé, o
gurado, a quaisquer desejos: xe T11,pa r-ekó a-i-ú-seí (ANCH., Poesias Tupis wra r-epy-puera r-e-ityk-i Titpa r-ok-pe: aúíé o-só-bo, o-ie-aíu'-byk-a,
21): "eu desejo (lit. tenho fome da) a lei de Deus". - xo-e T u p-
- n , i. n h yro-iA , ,
a i...-re-
, bo-ne - o-i-a-
.. , b o " . (AR. 81 ) • - M a-
3. Rung: v. n. 547. 1nó-pe ere-ikó aé-re1ne? Taba " Rerityba" í-á' -pe.

902.
VERBOS EXCLUSIVOS DO PLURAL
costume: ekó ( t) bracelete: nhaa
898.Alguns só se empregam no plural: ta1nbor : gi''t-arará bastao de ritmo : yba
al java: uub-uru tocar, bater: mo-pu, tr.
kub ou kub-é: "estar":
ia-kub, oro-kitb, pe-kub, o-kitb; w-ku.b-é, etc. '
ie-oi: "ir-se, partir, passar" (só no refl. pl.)
- 903. Estando eu sentado, tu (estando) deitado, e eles (estando) de
pé, o branco entrou, to1nou a aljava e atirou-a fora, com as frechas.
A al java, caindo no chao, deu um estalo ( n. 471). As frechas que-
EXERCtCIOS braram-se. E eram mu itas. - Que fez ele depois disso? Quando
889. viu que nós íamos para o lado dele, para apanhá-lo, saiu voando
iu-ati : espinho pik: calar ( n. 471). E que f izestes vós? Nao f izen1os nada. - Quando o branco
epy ( t) : prec;o obai%uar ( s) : contradizer entra em nossa casa, nós nao nos sentan1os. É o nosso costume. -
Tupa r-oka: ten1plo ie-aiu'-byk: refl. enf orear-se Quen1 é aquele que apanhou o meu bracelete? - Por que atiraram
Rerityba: n. pr. de aldeia a11i : estar de pé fora a minha pedra de bei<;o? - Sabes tocar tambor, (estando) dei-
tado? Nao. Sei tocar (estando) sentado ou (estando) de pé. -
900 . Vários verbos traduzcm "estar". Os principais sao : ikó, in, ittb, am. Por que nao trouxeram eles o meu bastao de ritmo? Quem é que o
Am significa "estar (de pé ) ". !ti "estar (sentado ou de qualquer forma quieto trará?
no lugar) ". liib "estar ( deitado) ". I ~ó significa, em geral, "estar", e é
particularm':!nte usado com verbos de movimcnto. Usam-se ant, in, ittb, mesmo
que acaso em portugues nao se exprima " de pé ", " sentado ", "deitado" : 904. AO SANT!SSIMO sA·cRAMENTO
"estou doente" traduz-se .-re mbaé-asy gui-t-uj>-a (desde que o sujeito esteja
realmente na cama) ; "estou rezando" : a-t11pa-mo-ngetá gui-t-e,i-a (se está DA EUCARISTIA
ajoelhado ou sentado) ; "estou-te esperando": oro-aró gúi-am-a (se está de pé).
- As vezes juntam-s-e dois verbos com o s.-:-ntido de "estar": iké oro-ikó oro- P. CRISTÓVÁO VALENTE (1566-1627)
-k1,p-a: "aqui estamos". - Há também os derivados mo-i11gó colocar
(geral). 1110-mn colocar de pé, mo-in colocar sentado ou quieto, mo-1tb colo- (adapta<;áo ortográfica)
car deitado, r-ekó estar com ou ter (geral) , ro-am id. cousa que está de I

pé, uo-i1i id. cousa que ~stá quieta, ro-ub ou r-ub id. cousa que está deitada;
ro-kub id. (geral, plural). ESTRIBILHO

901 . Gui-t-ú. T-á. Nde r-á. O á. E -in-a. T- en-a. E-iup-a. Nen-i. M yiapé ybak-y-guara,
X e r-ekó. X e r-e-r-ekó. S-e-r-ekó. S-e-r-ekó-bo. S-e-r-ekó-u. 0-ikó- A pyá'-bebé1 r-e-mbi-ú,
-bo. 0-ú. T-a.ra. - X e kutuk iu-atí. Ning-ning e-í .rt? py. E-ío-ok X e anga r-ekó puku.
312 LEMOS BARBOSA

COPLA
X e amby-asy posanga, N de angaturama rí8 , Ll(ÁO 49.11
Xe r-ekó-tebé r-upi-ara2, E-1-or--í .xe pore-ausub-ok-a,
E-s-epiak .xe mará-ara3, E-1--py-tybyr-ok 9 .xe r-oka,
T' ere-s-ausub-ar .xe anga, N de pytá-saba 1-epi,
!or-í, .xe r-ekó-mo-nhang-a4, T' a-gitatá nhó nde r-upi, PRONOMES RELATIVOS
X e anga taygaybas, 1 angaturam-bae supé
X e anga i'-e-ro-bíá'-saba, Myiapé t-ekó-bé 1-ara;
Yby-pora mo-esa-?,-baba6, 905. Nao há pronon1es relativos. As frases que os
I po.xy-bae, t-á' -sara 10,
Y baka-pora r-oryba, T-eo o-gu-ar11 o 1-o-upé12. incluem, em portugues, se vertem pelos particí pios, de
Jl.1 ore-ausub-ara yba7 , Oiepé mbi-ú pupé acordo com a fun<;ao sintática.
Pe-s-epiak t-ekó paraba/13
ARAÚJO, Catecismo ( ed. 1898), pp. *Vv-*VI
906. que; o ou a qual; os ou as quais; o ou a que;
1 - homem que voa, t anjo. 2 - inimigo, afugentador. 3 - <loen~,
fraqueza. 4 - governar-me, tomar conta de mim. 5 - fortaleza. Propria- aquele, -a que, etc.
ment~: fortc,. valente. Corno subst. abstrato, o uso é for~do. 6 .._ causa de
alegna, alegria. Melhor seria mo-eséii-daba: 7 - arrimo dos infelizes. 8 -
pela tua bond.a.de. M elhor: por seres bondosa. 9 - timpa (imperat.) Sendo su J. : -bae ou sara
por dentro. 10 - os maus que o recebem. 11 - tomam. 12 - para si mesmos
13 - vede (que) diversidade 1 • " SUJ.: de v. passivo: pyra ou m(b)i-
" OBJ. DIR.: ni(bJi- ou pyra
BIBLIOGRAFIA " COMP. REL. ou CIRCUNSTANCIAL: saba
Verbos irregulares - ANCHIETA 54v-58v; FIGUEIRA 53-64; MoNTOYA
55-68; RESTIVO 122-139; CAETANO 40-43; 78-80; ADAM 72-79; 0ALL'IGNA 907. quem
66-67.
Verbo\ defectivos - MoNTOYA 68-69; REsT1vo 139-141.
Con10 "que", "o qual", etc., anteposto aJJá ao parti-
VeJ'P91J exclusivos <?o plural - MoNTOYA 68; REsTrvo 139-140; ADAM 79. , .
c1p10:
Sendo SUB. : nd' a-í-kuab-i abá o-manó-bae-puera: nao conhe<;o
quem morreu

" OBJ. DIR.: nd' a-í-kuab-i abá s-e-nii-iuká-pfiera: nao sei a


quem matou
,, OBJ. IND. : nd' a-i-kuab-i abá i mendá'-sag-úera: nao sei
.quem casou
314 LEMOS BARROSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 315

908. •
CUJO, -a,. -os, -as; do qual, da qual, dos quais, 912. Quando o complemento é um particípio, em geral se
I

das quais omite -bae:


Sujeito kunha i 1nena ít~ká-pyr-ani-bi1era o-wbab : fugiu a mulher cujo ma-
rido devia ser morto; niamó-pe gúá kunha-tai i iybá iagiiara r-e-mbi-
-Bae) precedido do suj. com o possessivo, e do obj. -ú-puera s-eíar-i? ou nianió-pe gi"tá kunhil-tai i íybá 1agúara r-e-mbi-ú
dir., caso haja: -púera s-eiar-i?: onde deixaram a menina cujo bra<;o foi devorado
pela on<;a?
nd' ere-í-kuab-i-pe abá i kó o-kaí-bac-pi'iera!: nao conheces o in-
dio cuja ro<;a pegou fogo? (lit. o índio que sua ro<;a pegou fogo) ;
abá, s-e-mi-r-ekó i membyr-ar-bae-puera, o-nhe-nong o-up-a o ini-me- 913. Com os verbos intransitivos, encontra-se a constru<;áo:
-ne: o índio, cuja n1ulher deu a luz, ficará cleitado etn sua rede; kunha i memby' -kambu-bae ( nd' o-i-aby-i Tu.pa nheenga, o-íe-kuakub-
i mena mi-ausuba o-iuká-bae-púera, o-ie-er-ok: a mulher, cujo ma- -eym-a) (AR. 117): aquetas cujos fi1hos esta.o n1an1ando (nao desobe-
rido matou um escravo, toma novo nome .. decem a lei de Deus, nao jejuando); kunha i 1nen-ei5-bae-púera o-men-
dar t-ykeyra r-esé-ne: a mulher cujo marido morreu, <leve-se casar
909. Com verbo pass i v o: pyra) precedido do sujeito com o irmao inais velho dele

com possess1vo:
abá i íybá kutuk-pyr-úera o pi"terab umii (REST. 188 ad.) : já Objeto direto
sarou o índio cujo bra<;o foi sangrado
Se o verbo passivo tem complemento de causa eficiente, verte-se como ativ~
914. (T-e-)11ii-) como objeto direto incorporado ao verbo:
o-manó iagúara oré r-e-nii-íybá-ybo-búera: morreu a on~a cujo
910. Conforme o sentido, em vez de -bae) pode vir sara) ou bra<;o flechan1os; a-s-epiak tukana nde r-ybyra r-e-nii-ayr-ar-uera : vi
pora) bora) suara) suera: o tucano cujos filhotes teu irmao apanhou
a-s-epiak kunha i membyra kunumi íuká-sar-uera: vi a mulher
cujo filho matou ou 1natava meninos Aparecem ta1nbém constrtt<;5es como esta :
o-manó íagüara i iybá oré r-e-nii-í-ybi5-búera ou r-e-mi-i-ybiJ-
911. Sendo o verbo predicativo, com um substantivo por -bae-pi"tera
complemento, a constru~ao é :
o-1nanó guaibi 1norubixaba ·i niena-bac : morreu a velha cuja ma- Complemento relativo ou circunstancial
rido é chefe
Mas sendo adjetivo, o con1plemento fica logo antes 915. Saba) precedido do sujeito com possessivo ou genitivo:
de -bae: Pindobusu o-í-kuá'-nteeng ixé-be guaibi i 11ie11ibyra o 1nendá'-sag-
-úera : Pindobu<;tt mostrou-me a velha com cuja f ilha se casou; abá,
guyrá s'á' porang-eté-bae, nd' i nheeng-i: os pássaros cuja
o oka gúatá-sara r-e-iké-ag-ucra, "Ere-it"r-pe?" e-í i xupé-ne: o
plumagem é muito bonita, nao saben1 cantar
índio e1n cuja casa entrar um viandante, dir-lhe-á "Vieste ?"
316 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 317

916 . Observa,ao: Como se ve, nas frases de "que", "cujo ", etc., há casos A GUERRA
do possessivo i em mgar de o, referindo-se embora ao sujeito da ora~áo principal.
Ainda que anormal (n. 61), tal sintaxe se explica por certa independéncia (se 921.
nao gramatical, pelo menos de sentido) desse genero de írases.
amarrar : apy-ti recuar ( resistindo) : syry'-syryk
dar combate a: pó-kok [ esé] id. ( em fuga) : syí
EXERCtCIOS resistir (na defensiva) : nhe-
cercar : aman
917. -ran [supé]
cercar, sitiar: piar (io)
kurupysayba: árvore ( espécie) mbo-ar : apanhar dividir-se ein bandos: íe-peá- id. (na ofensiva) : nhe-ran
amyniíu : algodao iu.guá : visgo (para cae;ar pas- -peá [esé]
sarinhos) encurralar : mo-iar simular fuga: ro-nhan, tr.
poó: colher ( obj.: a fólha ou a aé (-n') ipó ... -reme: se por esperar no ca1ninho : apé-aro tomar a dianteira: enondé-ar
árvore) acaso (s) (s)
918. O-manó ybyrá s-oba nde r-e-nii-poó-puera. - N da s-asy-i-pe fazer fortificac;óes: ybyr-á-mo- id.: okesym (s)
-nhang render-se: auié ( xe) [supé]
nde pó nde ybá poó-sag-'úera? - N d' ere-ityk-i xó-é-pe kurupysayba
guerrear: ikó marana rí vencer : nio-aúíé, ityk
i iuguá nde guyrá nibo-á'-sag-uera-ne? 1Vd' a-ityk-i, i kutuk-a nhó-te.
fazer destruic;ao (de g.) : poro- atacar pela retaguarda : kupé-ab
- Mbaé guyrá-pe nde r-e-mi-mbo-ar-uera! - Abá, o oka gíiatá-sara
-nzo-1nbab batalha, combate : mará-mo-
r-e-iké-ag-uera, "Ere-iur-pe?" - e-í i xupé-ne. Guatá-sara "Pá.
mandar recado que se juntem -nhanga, ío-gi1e-r-ekó
A-iur" - abá s-oka o e-iké-ag-uera supé e-í abé-ne. - Mara-pe aipó
(para guerra) : anianaié cerca (dos sitiantes) : ka-ysá
kaá s-aynha abá r-e-mi-apó nii-ngaú-ramo r-era? Amyniiu.. - E-s-
[ supé] estacada ( def esa) : ~>byrá
-enoí guaibi t-aiyra s-e-nii-iuká-puera.; aé ipó s-ekó-eym-e (VLB 214),
matar muita gente: por-apiti id. (a de f ora) : )'b31rá pó-kanga
e-s-enoi t-ayra. - K unha i men-eo-bae kybyra o-mendar i membyra
pegar : íe-potar id. (a de dentro) : ybyrá pa-
r-esé-ne. - "Kunha, i meniby' í1tká-p3ir-üera, o-iaseó nhó-te o-in-a"
tomar cativo: pysyk tagúí
(REsT. 188 ad.) - Mbaé kunha-muku nde mendá'-sag-uama!
queimar : mo-ndyk flecha incendiária : atá-uuba
919. quebrar a cabec;a a : akan'-gá (t)
ferráo; dente de cobra: popíaba envenenar : mo-popíab (nh) lugar do assalto : 1nuamb-aba
filhote : a31ra ( t) ( n. 43) pear : mo-puku-sa1n, puku-sa'- pelas costas: kupé koty, ku- terreiro: okar-usu
andorinha : taperá -mo-in pé-bo
cocar: akangitara soltar; desatar : samb-ok 922. ltyk só se diz de grandes vitórias.
nu1ndo : ara apanhar ( com a mao) : ar ( n. 923. De manha a vistamos os ini1nigos. [ !vias] antes que chegásse-
891) mos a sua taba, chamada ( n. 881) Itacuatiara, eles (se) f izeram for-
920. As almas vem aquilo que nós vemos? Que é o que nós vemos? tificac;óes, escondendo-se detrás das estacadas. N ós cerca1nos a taba
Nós vemos tudo aquilo que tem corpo. O que nao tem corpo nao com urna cerca de ramos. ~les mandaram recado a seus parentes re-
vemos. - Quem é que fez os nossos olhos, com os quais nós vemos sidentes em Guacarioca para que se juntassem contra ( rí) nós. Vieram
o mundo? - Morreu o guará, de cujas penas fizo cocar con1 que me e quiseram atacar-nos ( biii), mas nós nos dividimos em bandos,
viste. - Mostra-me a [tua] perna [ em] que a cobra te envenenou. - armando-lhes urna cilada: enquanto alguns de nós simulavam f ugi-los,
Soltaste o passarinho cu jos f ilhotes apanhastes? ( F oi) aquela ando- outros (de nós), que os esperavan1 no can1inho, os atacaran1 pelas
rinha cujas penas te mostrei. - Em quem .bateste? - O prisioneiro. costas. (Sles] quiseram recuar (bia), nós os encurralamos. Nao nos
com o qual vieste do combate, é que foi morto. resistiram [e] se renderam. N ós os vencemos.
318 LEMOS BARBOSA
¡
1

Voltamos entáo para ajudar os outros a atacar a taba.


Os inimigos esconderam-se dentro de suas casas. Quisemos quei-
1nar uns galhos de árvores ( bia) para que ( n. 458) a fun1ac;a os obri- LJ(Ji.O 50.ª
gasse a sair, [mas] estando verde a lenha, o f ogo nao pegou. Entáo
atiramos flechas incendiárias contra as (suas) casas. O fogo pegou,
queimando tudo. Os inimigos saíram para o terreiro. N ós tornamos REDUPLICA~AO
a dar-lhes combate. (~les] quiseram fugir (biii), [mas] nós lhes
to1namos a dianteira.
Entáo f izemos [ un1a] destruic;áo, matando muita gente, e que- 924. As sílabas t6nica e pré-tonica de u111a palavra, repe-
brando-lhes a cabec;a com o tacape. Os outros, que náo matamos, nós tidas, dao a idéia de p l u, r al (se a palavra é subs-
os toniamos cativos, a1narran10-los e trouxemo-los para a nossa taba, tantivo OU pronotne), de S 'lf, p e r la ti V O (se é adjetivo Otl
depois de termos quebrado a cabe~a a todos os cadáveres que deixa- advérbio) ou de e o n t i n u i da d e ou d u r a f a o (se é
mos no lugar do assalto.
verbo):
BIBLIOGRAFIA abá abá : n1ultidao de homens
R ESTIVO 187-191 ; CAETANO 88; ADAM 37-38. V. Biliografia das nhandu-etá-etá: n1uitas emas, n1uifÍssimas emas
Li~oes 40.ª a 46.ª
mbegué 1nbegué: muito devagar, devagarinho
o-puká-puká: riu-se muito, demoradamente, f icou rindo

Cpr.:
a-s-obá-petek: esbof eteei-o
a-s-obá-peté'-petek: estive-o esbof eteando
a-i-nupa : bati-lhe
a-i-nuPa-nuPa: estive-lhe batendo, demorei-1ne batendo-lhe

A língua popular traduz literalmente, e 1nelhor:


abá-abá : ho1nens, ho1nens ; nhandu-etá-etá : muitas, muitas en1as;
o-puká-puká : riu, riu ; a-í-nupa-nupá: bati, batí nele
Quase sempre os verbos assim reduplicados se podem traduzir por urna
locuc;ao composta de "ficar", " ir" ou "andar" +participio presente : o-nheé'-
-nhee11g "f:cou falando".

925. Se a palavra ter1nina en1 di tongo ou tri tongo, perde


no primeiro elemento as vogais átonas; se termina em
sílaba átona, perde t6da a sílaba (e repetem-se a penúl-
tima e a antepenúltima); se termina em consoante, cos-
tun1a também perder a consoante:

Sacrifício d-= um prisioneiro (THEVET)


320 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 321 .

ybyty'-bytyra : serranias, outeiros


o-sapuká'-pi-tkai: grita continuamente 928.Há tendencia para a desnasala~áo do primeiro ele-
o-sapuká'-pukai-a: gritando continuamente mento, quando apocopado :
o-papá'-papar: estiveram contando
sa-sai ( em vez de sa-sai), su-sung ( em vez de sú-sitng), pi-pi11
Se o verbo é monossilábico, repete-se também a úl- ( em vez de pi-pin)
tima sílaba do pronon1e que o precede:
xe p6' xe poi: ficaram-rne dando de comer demoradarnente 929. Embora nem se1npre a distinc;áo entre os dois caso~
\
ere-só re-só: ficas indo, den1oras-te indo sej;aJ clara, pode-se dizer que, em geral, a iterac;áo das duas
sílabas indica a e o n t i n u i d a d e ou d u r a ' a o de un1
Náo se repetem as outras partículas (futuro, gerúndio, ato, ao passo que a reduplicac;áo da sílaba final conota a
etc.) : 111' U l t Í d ii, O de agentes OU pacientes, OU a S U b d Í Vi S Q O
oré-iu' 'ré-iur-enie: quando ficarrnos vin<lo .. do processo verbal:
nhandé mi' 'ndé mim-ne: ir-nos-áo escondendo
- o-sé o-seni: eles nao param de sair, ficam saindo
o-sé'-sem: saem rnuitos; é um contínuo sai-sai
• 926. As vezes repete-se apenas a última sílaba nao átona
o-i-nupa-nupii: estiveram-lhe batendo ou espancando-o
do verbo. E' o que se chama reduplicac;áo nionossilábica,
o-i-n,upa-pa: bateram em muita gente, a torto e a direito; deram
em oposic;áo a anterior, que é dissilábica. Exprime-se muita pancada
entáo a ac;áo muito reiterada, urna atrás da outra. Cpr.: a
tasyba sé' -sem-enie-bé o kuara sui, sabiá i mo-ko' -kong-i: me-
oro-sé' ro-seni: f icarnos saindo dida que as f ormigas iam saindo do ( seu) f ormigueiro, o
.... , . ,
oro-se-sem : sa1mos sucess1varnente, um apos outro sabiá as foi engolindo
a-íurit-py'-ru-pyk pita.n ga: tapei a bóca da crianc;a (para nao abá s-aynha o-i-11io-sa'-1no-siH; s-akypuer-i aíuru i mo-ko' -kong-i:
chorar)
o índio ia espalhando as sementes ; por trás dele o papagaio
a-iurit-py'-pyk mará-á'-bora: tapei a bóca do· doente ( dando-lhe
as foi engolindo
comida)
1 suku1-iiu o-íuká suasu, i mo-ko'-mo-kong-a: a sucuri n1atou o
"Tapar a bóca a crian<;a" supóe certa c o n t i n u i d a d e ou d u r a e; á o veado, e o ficou devorando
( enquanto a ·.Crianc;;a tenta chorar). Ao passo que " dar de comer ao doente"
implica r e p e t Í <;; a O OU d Í V Í S a O (bocado a bocado) . sabiá arabé pá-katu 11,io-ko'-kong-i: o sabiá engoliu todas as ba-
ratas (urna a un1a)
927 · Nao se repetem os metaplasmos da primeira sílaba, koetn-e i.xé iepeaba 11io-ndok-i: cortei a lenha de rnanha
provenientes de sua posic;áo: koenia abé ixé iepeaba nio-ndok-i: desde 1nanhá estou cortando
lenha
mo~ndyk (comp. de 11-io+syk) : f azer chegar
mo-ndy'-syk : f azer chegar uns após outros e-i-1no-ndó'-sok iepeaba!: retalha a lenha !
mo-ndok (comp. de mo+sok) : cortar Usando da nomenclatura moderna: a reduplicac;áo da sílaba final exprime
mo-nd6'-sok : retalhar o aspecto iterativo, ~ a reduplica<;ao das duas últimas sílabas exprime o
aspecto dttrat·ivo da a~ao verbal.
CURSO DE TUPI ANTIGO 323
322 LEMOS BARBOSA

mo-ndo-sok : iter. quebrar em vários peda<;os, espeda<;ar


930. Tanto a reduplica<;ao monossilábica como a dissilá- mo-ndó'-nio-ndok: dur. ficar quebrando , .
bica, no verbo, dao o sentido de processos que nao se mo-ndo-só-ndo-soli: iter.-dur. ficar quebrando en1 vanos pe-
efctua (in) etn um só motnento ou lugar. da<;OS
Mas a reduplica<;ao dissilábica implica a<;ao ou ac;oes prolongadas ( s), 932. Note-se que, nao havendo nas línguas neolatinas processo regular para.
ao passo que a monos~ilábica diz respeito a ac;ao ou ac;óes inextensa(s) ou exprimir os aspectos, muitas vezes a traduc;ao nao leva em conta esses rnatizes
discreta(s) , no tempo ou no espac;o. do tupi:
Kó ara pupé pe-(niká-puká
Durativo e iterativo sao ambas formas iniperfectivas: Aé-reme pe-r-asé-r-asc1n (Gres!. 147 corrig. e ad.):
denotam ac;óes ou estados em via de se perf azerem ou realiza- "Neste mundo rides (lit. ficais rindo)
" Entao (no outro mundo) chorareis (lit. f icareis chorando) "
rem. O que explica também certa fun<;ao depreciati·va. Sao Por isso mesmo, na versao para o tupi, é mister nao esqueccr a reduplica~áo,
inúmeras as abona<;óes de formas reduplicadas para desig- toda vez que a a<;ao fór contí111ta ou repetida, ainda m,esmo que em portugues
esses aspectos nao sejam gr.amaticalmente expressos.
nar a<;óes fracassaclas ou erradas (mesmo 1noralmente) : ·
1nee'-n1eeng: entregar, por erro, urna cousa a quem nao é o dono 933. O adjetivo ou verbo predicativo segue os verbos,
l.
(VLB 315); r-ekó-r-ekó: di zer e desdizer (VLB 193); nio-nibeú-
-mbeú: tornar público o que é secreto (VLB 357); etc.
no que se refere a reduplica<;ao. Prevalece a func;ao in-
tensiva, superlativa ou plural nao já da a<;ao mas do
Out.ras vezes as formas reduplicadas ostentam um estado:
caráter intensivo ou sitperlativo.
pinima: pintado; pim-pinima: todo pintado, muito pintado, cheio
Nenhurna contradic;ao ccm a func;ao anterior. A linguagem tem desses de pintas; .1·e pai: estou carrega<lo; xe pá' xe pai: estou sobrecar-
contra-sensos (o nosso diminutivo tanto significa peqttenez, corno carinho e
desprc=o). regado; tn-iri: miúdo; 111iri-miri (VLB 297) : n1uitas cousas 1niúdas

Em oposi<;ao as formas imperfectivas (durativo e 2. O non1e verbal segue o verbo. O adjetivo non1inal
iterativo), há a forma perfecti?. a - o verbo nao reduplicado
1
acompanha a natureza dos substantivos. Nestes, a redu-
- que denota um processo ou estado nao extenso nem plica<;ao conota sempre certa inultiplicidade ou 1nesn10
subdividido, nem em vias de realizac;ao, mas visto como un1 pluralidade.
todo completo ou perfeito, seja no passado, no presente A monossilábica dá idéia de distribuii;ao ou multiplica~ao; a dissilábica, de
ou no futuro. extensáo ou dif usao (no cspa~o ou no tempo). A monossilábica serve a
1.1ma modalidade de coletivo ou plural discreto, i. é, a urna multidao de seres
Observe-se que tanto a forma perfectiva como as irnperfectivas sao de subdivididos, que conservam entre si algurna relai;ao de unidade - como as
per si indiferentes a noc;ao de tempo relativo (n. 113). As partículas temporais estrelas de urna constelac;ao ou as pintas de um animal. Já a reduplicai;ao
se lhes agrega:n acidentalmente. O tempo, em lídimo tupi, é categoria rnais dissilábica serve melhor para exprimir o colctivo ou plural de cousas extensas
nominal do que verbal. ou co1itinttas - como as listas na pele de um animal, as fibras de urna
madeira, etc. :
931 . Pode-se dar urna combina<;ao i t e r a t i v o-d u r a·- mytá: estrado; mytá-11iytá: escada (conjunto de várias estrados
t iv a: ou degraus) ; mutuka: in u tuca; niutu-mutuka: brocé,!., pua
soli: intr. quebrar-se Ve-se, pois, que nem sempre a reduplic.ai;ao no substantivo corresponde
só'-sok : iterat. quebrar-se en1 vários peda~os, espeda<;ar-se ao nosso plural.
mo-ndok: tr. quebrar
\

324 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 325

3. Há casos de redttplica<;ao mono-dissilábica com o-io-iipé (VLB 257) : um ao outro


nomes; cpr. o-ío-u pé-upé (id., ib. ) : um ao outro, e o outro ao outro, etc.
a-nio-io-akypiier x e nheenga (id., ib.) : r epetí n1inhas palavras
tinga : branco, brancura (1 vez)
ti-tinga : mancha branca ; in1pigen1 . . a-nio-io-akypué'-kypuer x e nheenga (id ., ib.) : r epeti minhas
titi-titinga: muitas ou várias manchas oit 1mp1gens palavras ( mais de 1 vez)
Ti-tinga já implica certa pluralidade (a dos inúmeros pontinhos que 6. H á casos de reduplica<;ao de suf ixos, como -bae, sara,
formam urna mancha). Tití-tilinga acrescenta o conceito de pluralidade ou
multiplicidade das manchas difundidas ou estendidas pelo corpo. saba, puera, etc.
4. A reduplica<;ao dissilábica dos numerais forn1a os 7. Nos seguintes pronomes e interrogativos, a redupli-
distributivos, ou melhor, o plural dos números : ca~ao exprin1e o plural:
mokoi : dois ; moko'-mokoi : dois a dois, i. é, vários grupos de amó a1nó : alguns
dois abá abá-pe? : quais as pessoa-s ?
11ibaé 1nbaé-pe? : quais, as cousas ?
S. Algo semelhante se dá com os recíprocos. Já in- mara mara-pe?: quais as cousas ?
cluindo eJes a no<;ao de pelo menos dois seres ( itm ªº outro, mbaé 1nbaé-re1ne-pe? : em que ocasióes? I
nibaé mbaé- p' ia t-eo suí nhe-ang-ú-aba? ( AR. 158) : quais (as
etc.) , a reduplica<;ao vem acrescentar a idéia de plural, de cousas que sao ) os motivos de se recear a morte ?
"vários" um ao outro, etc.
934. Oss. : Certos verbos, primitivamente Ít::!rativos, perderam a forma si:n-
E como o prefixo ío nao supóe necessariamente reciprocidade (n. 629), ples. Sao vocábulos que indicatft a~oes e>..-tensas, nao porém contínuas e iguais,
a reduplicac;áo de e l~mento a que se afixe ío- pode signi ficar urna série ( ou senáo compostas de partes repetidas : bebé "voar ", pa/Jar "contar ", pepek
plural ) de seres ligados, seja r ecíproca seja consecutivamente : "bater asas, revoar" e " cerdear as velas" (VLB 371 ) , pupur " fe rver", r jiryi
, "tremer", t )•f j 1k " palpitar'', r1tr1t "estar incl:1.ado, embebido, prenhe" ; etc.
reciproca: 1::: 2 3~4 5::.: 6 7 ::: 8 9::: 10
consecutiva: 1~2~3 ..... 4~5 ~ 6_.. 7 ~ g_... 9 ..... 10 935. Vai certa diver gencia nos antigos gramáticos quanto a
reduplica<;ao monossilábica. ANCHIETA parece supor que
Nas partíc.ulas (adv·é rbios, preposic;óes, etc.) prevalece a reduplicac;áo dissilá- o processo é aplicável a quaisquer verbos. M o N TOYA e
bica. A func;áo nao dif ere muito das dos verbos e nomes: além do conceito RESTIVO af irmam que só uns poucos verbos (urna meia
de repetic;ao-distribuic;áo ( redpl. de 1 sílaba) , continuac;áo, durac;áo ou exten-
sáo ( redpl. 2 sílabas ), tendencia para o superlativo ou intensivo e para o dúzia) conhecem o processo, que aliás estes autores nao
depreciativo ou pej orativo : distinguem funcionalmente da reduplica<;ao dissilábica.
o-io-aky puer-i: um atrás do outro (2) Curioso que os verbos que servem de exemplos a ANCHI ETA, ao VocABu -
o-io-ak31pué'-kypuer-i (VLB 257): uns atrás dos outros ( mais de LÁRIO NA LíNGU A BRA siucA. etc. sejam quase os mesmos de 1.foNTOYA e
2, p. ex. em fila ) REsnvo. T udo indica as seguintes soluc;oes : l. Em numerosos verbos, nao
o-io-y byr-i a-i-11io-in ( V LB 352): prendo-os (2) um ·junto ao há reduplicac;ao monossiiábica, porque o sentido nao se presta a iterac;óes :
/ "querer" , "dormir", etc. 2. Noutros, iterativos por natureza, como " voar",
out ro "contar", etc. (n. 934). extinguiu-se, por inútil, a fo rma nao iterativa. O
o-ío-yby'-y byr-i a-i-1no-in (id., ib.): prendo-os (mais de 2) um iterativo já era, pois, um processo decadente na língua. Conservava-se em
junto ao out ro (p. ex ., en1 corrente) alguns poucos verbos, cuj o sentido mais se presta va.
..
21
I I

326 LEMOS BARBOSA


CURSO DE TUPI ANTIGO 327

EXERC1CIOS
936. repetindo sempre as mesmas palavras. - Um peixe beliscou o anzol.
Náo foi só un1, n1as un1 cc:.rdun1e que esteve 1beliscando. Deixe-os ficar
pau, nho-paü: intervalo mo-py-koé: tornar cóncavo beliscando ainda. ~les está.o repetindo, uns atrás dos outros. Dois
paü-paft. : as vezes, a intervalos pekii,í: cutucar (as escondidas)
mo-paü, mo-nho-paü: f azer de peixes grandes está.o beliscando também, com fór<;a, o meu anzol.
endy-wb ( s) ( xe) : luzir
vez em quando endy-ía'-íab (s) (xe): reluzir Deen1-me o arco oue os frecharei de urna só vez. Toma! És umbra-
ro-byk: tr. chegar-sc a ( estrelas, águas, fogos, vateiro ! - Náo me estejas fazendo cócegas, do contrário nao atirarei.
iá'-iab : gretar-se todo etc.) Eu nao atiro, porque estou solu<;ando. Erraste, porque atiraste apres-
endy (s) cndy (s) -íab (xe): sadan1ente. Tu é que me f icaste apressando.
py-koe, py-guaia: cóncavo re~uzir ( fogo, estrela, etc.)

937. A-t-nto-paü-pau nhó-te Tiepa ok-pe .'t"e r-e-iké (VLB 266) _ 940. SUCESSOS EM CASA DE CAIFAS
"A-iké paü-paü nhó-te Tu,pa ok-pe'' ( ib.). - "Nde-be oro-sapu1~á'-
-pit!~al," (AR. 2) - "J( ó ara pupé pe-puká-puká; aé-reme pe-r-ase'- P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
-r-asen't" ( Crest. 147 corrig. e ad.) - Xe s-ekyi-11ie, pirá r-endy-
(adapta<;ao ortog:-.áfica)
-r-end3'-tab-a11io''. - M ondá'-sara gúyrapa,r a r-e-ro-by'-ro-byk-enie é,
abá amó niorubizaba peka' -pekái. 0-sapuká'-pukaí, oré r-eno' -r-enoí-a. Ma1nó-pe Anás landé !ara r-e-ra-só-ukar-i? - Mor-e-r-ekó-ara1
Oro-se-se11i oré r-oka suí mondá'-sara mo-mo-se111.-4. - Pe-i-mo-py- Caifás s-er-bae supé. ...Mara e-í-pe Judeus i xupé i nio-nibegu-á-bo2 ?
-koé-koé ikó ~vbyrá pesé-buera. 0-íá'-íá'-pab ! . .. - Pe-no-sé-sem uí - O-nheeno-mo-nha-1no-nhanql tenhé o-e-1noe11i-a1no, i ii-tká-uká'-
nhaé suí, aípó pitanga iuru-py'-pyk-a. - "Mara-pe asé r-ekó-u ka- -potá nhé. Mara-pe !andé !a;a r-ekó-u aé-reme? - 0-pik o-am-a4,
ruk-enie o-kcr íanondé! Mara mara-p' akó ieí xe r-ekó-u? - e-í" i nheeng-obaixuar-cym-a. Mara e-í-pe Caifás i .~upé o-porandup-a?
(AR. 112). - "Abá abá-pe asé r-esé Tupa mo-ngetá-sar-a1no - Tttpá-eté r-esé a-porandub endé-bo, e-í, e-í-11io-1nbett katu Tupa
s-ekó-u?" (AR. 18). R-ayr-anio nde r-ekó, oré-bo, e-í. Mara e-í-pe !andé !ara i xupé?
EXERCtCIOS - Nde é aípó er-é, e-í; anhé-'té, pe-s-epíak ira Tupa T-itba é-katu-aba
koty J.:e guapyk-a xe r-en-a-ne, e-í; yby-tinga ar-bo ze r-iir-a abé-ne,
938. e-í. Mara e-í-pe Caifás Judeus-etá supé, !andé 1ara aipó é-reme? -
confessar-se: 1ihe-mo-mbeú fazer cócegas e1n: poki.-i:yk, tr. Tupa r-esé tiruii kó nheenga r-c-ityk-i, e-í; pe-s-endu'-n' akó i nheenga
frechar dois de urna vez : tno- apressadamente : anhé po.t:y, e-í. M arfi-eté-i-p'-ipó peé-mo? e-í. Mara e-í-pe pe nheengaf
-ie-kan apressar : mo-anhé e-í; o aob-usu tno-ndo-ró' -ndo-rok-a, o niara-niotar-amo. M ará e-í-pe
atirar (flecha) acertando : ybo solu<;ar: ie-kok (xe) Judeus aé-re111 e! - l a-íi-tká 11ie1né aipó í-ara, e-í; t' o-nianó, e-í.
beliscar : mo-tyk toma!: kó! Mara iabé-pe marana rí t-ekó-ara5 s-e-r-ekó-u aé-renie? - O-i-za-tni-
repetir (urna vez) : nio-io-aky- com fór<;a: ata syk6 s-e-ro-am-a i aí-ai-a7, s-obá r-esé o-nhe-no-11iü-no-1nun-a, aoba
puer se nao, do contrário : aan-ey11'i-e ibi8 pupé s-obá uban-a, s-obá peté'-petek-a, i aypy atyká-tyká-bo9,
id. ( n1ais vczes) : 11to-ío-aky- bravateiro : apepu " e-i-
.. k ua, r-ar-t, lO n d e ri, o-po-ar-
, .. , bo i. xupe.
bae" , o-i-a- ,
... .
.
pué'-kypuer ·--. ..' . .
'
Catecismo (ed. 1898), pp. 78-79.

939. Em que ocasióes a gente se <leve (n. 695) confessar? Quais as 1 - chefe, príncipe. 2 - para acusá-lo. 3 - ficam discursando. 4 -
cousas que a gente contará, confessando-se? A gente nao <leve ficar esteve calado. S - gu'!rreiros, t soldados. 6 - amarr.iram-no. De sam-
-bisyk, aliás, mais correto sa1n-bysyk (de sama "corda" e pysyk "apanhar").
328 LEMOS BARBOSA

7 - f icando a escarnece-lo. De íai (io), durat. Mais correto seria i íá'


i wi-a. 8 - aoba ybi (melhor que ibí) : véu. 9 - a esmurrar-lhe o cacho do
pesc~o. 10 - ptc. que denota desprezo ou enfado.
Ll(JiO 51.ª
BIBLIOGRAFIA
ANCHIETA 52v-53v; VLB 208; 220; 280-281; 300; 401; 406 ; 412 ; 413;
- 86; 151 ; 249; 257; 262; 352; 361; 410; passim ; MoNTOYA 51-52; REs- CONDICIONAL
TIVO 72-74; L. BARBOSA 168-169; 171; DALL'IGNA, A Red1tplica,áo; lo.,
Análise 69-70.
941. Forma-se do indicativo, acrescentando-lhe -1110. Na
forma negativa, intercala-se xó-é ou .i-ó ( n. 186). A par--
,tícula interrogativa -Pe antepoe-se a -nio:
a-i-pysyk-nio: eu o apanharia; nd' wndé 11iae11duar-i :~ó-é-1no:
nao nos lemhrarían1os; nd' oro-pysyk-i xó-pe-nio?: nao te apanha-
ríamos?

O suf ixo pode ser reduplicado:


a-íuká-nio-nio ou a-íuká-mo

942. Havendo na frase algum advérbio, deve-se repetir


depois dele o sufixo -mo. Mas pode-se também omitir o
que estiver por último:
eu iria hoje: a-só-mo kori-1no ou a-só-mo kori; kori-mo a-s6-mo
ou kori-1no a-só

943. As partículas estreitamente unidas ao verbo colo-


cam-se antes de -mo:
nda e11ionan-i .~ó-é-te-pe-tno? : nao seria, pois, assim?

Mas veem-se exemplos como:


mara-mo-te-pe raú? ou niara-11io-te-per: como pois havia de ser?

944 ·O próprio infinito, acompanhado de -renie ( n. 679)


ou riré ( n. 684) , pode receber o suf ixo -mo.
O cor·p o do prisioneiro é moqueado (STADEN)
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 331

.l\o infinito regido pela conjun~áo -rente, o suf ixo -1no As vezes junta-se a nibaé, sem diíerern;a de sentido:
dá o sentido do nosso subjuntivo imperfeito ou futuro tnbaé m.eé-mo a-s6 : eu teria ido; mbaé m eé-mo iké i pytá-u: ele teria
ficado aQui
("n1atasse" ou "matar").
948. Com o mesmo sentido, em lugar ou antes de beé, pode-se empregar o
945. Os pronomes objetivos sao os rnesmos do infinito advérbio i''"ª ou yma :
nde só-reme-mo, a-ie-byr ttmii.-mo ou a-ie-byr 1tma beé-mo : quando
( n. 336). É de largo uso a conjuga~ao subordinada ( n. 554) : f ósses, já eu te ria voltado
xe s-epwk-eme-1no, a-iuká-mo: se eu o visse (fut.), matá-lo-ia;
ou: se eu o visse (pass. ) , te-lo-ia matado; i kuab-e1ne-mo, s-eo-u-mo: 949. O condicional, acompanhado de -ne, implica a idéia de
se ele o soubesse, n1orreria; nde só-renie-mo, s-eo-eyrn-i-nio: se fósses, obriga~áo:
ele nao morreria; nde só-eym-e-mo, s-eo-u-mo: se nao tivesses ido,
ele teria morrido: emonii-nenie-mo: se fósse assim; emona-eym-e-mo: ere-só-mo-ne kori ( -mo) ou kori-mo-ne ere-só (-mo) : deverias ir
se nao fósse assim hoje

946. Riré-1no corresponde a "se tivesse"; negat. : eym- Neste caso, aparece com freqüencia a partícula de
_,iré-mo "se nao tivesse": realce -te:
nde kiriri riré-mo, nde r-epwk-eym-i xó-mo: se te tivesses calado, ere-só-te-1no-ne kori: tu é que deverias ir hoje; kori-te-1no-ne ere-
ele nao te teria visto; nde puká-eym-iré-mo, nd' oro-endub-i xó-é-mo:
-só: boje é que deverias ir; ahe ranh.é-te-1no-n' o-só-111.0 (VLB 327) :
se nao tivesses rido, ele nao te teria ouvido
ele é que deveria ter ido prin1eiro
947. Para exprin1jr o passado, tem freqüente emprego a
partícula beé ou 11ieé: 950. Assim também beé ( ou 1neé), seguido de -n10 ou -te-
nde .xe r-enoi-e1ne-mo, oro-endu' beé-mo: se me tivesses chamado, -1no, pode equivaler a "deveria ter":
eu te teria ouvido; nde só-retne-mo, nd' a-pytá-·i .xó-é beé-nio: se ti- i xupé beé-te-nio aipó er-é : a ele é que o deverias ter <lito
vesses ido, eu nao teria f icado; xe ie-byr-eym-e-mo, i pytá beé
eym-i-mo : se eu nao voltasse, ele nao teria ficado
951. As vezes tem valor de argumento: ·
Beé-mo ou 1neé-nio ocorrem particularmente nas res-
nda .xe r-ausub-i, .xe poi beé-mo: nao me ama, (pois) deveria ter-
postas indiretas :
-me dado de comer ( i. é, do contrário, ter-me-ia dado de comer) ; nda
nde r-oka ar-pe u.uba ar-i: caiu urna flecha em cima de tua casa .xe r-ayra rttá endé, nd' ere-iaseó-i x ó-é beé-11io : náo és meu f iJho,
nd' a-s-epwk-i xó-é 11ieé-1no?: nao a teria visto (se tivesse caído) ? (pois) nao deverias ter chorado ( i. é, se o f ósses, nao chorarias) ; nd'
o-iitká gUá nde r-yk eyra: mataram a teu irmáo -a-gúaseni angá-í ii 11zarii biri ikó abá r-ekó-pil era a11;ó supé, e-í; He-
i marangattt nieé-mo : tivesse ele sido bon1 (e nao o matariam) rodes meé-nio ikó o-i-mceng t-eo supé, i angaipaba kuap-a, e-í (AR.
Beé-1110 ou nieé-mo íica sempre depois do primeiro elemento da frase, e 84) : eis que nao encontro sequer a menor falta na vida passada <leste
náo admite outro -mo no período : homem - disse; (do contrário) Herodes, conhecendo os crin1es dele,
o-p31tá meé-tilo iké ou iké meé-mo i pytá-u: ele teria ficado aqui. o teria condenado a 1norte - disse
332 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 333

952. Havendo do is verbos no condicional, um subordinado ere-i-1nopó'-ne ? N d' ere-i-kuab-i-pe Tupa iandé r-ub-ypy oiepé nhó3
ao outro, pode-se omitir um dos suf ixos -mo: ' s-ek6-aba suí i mo-seni-ag-uera, s-esé iandé r-esé bé t-eo, opá-katu ikó
ara pupé iandé r-e-1ni-1nborará-tyba abé s-e-ityk-ag-i{era?
xe io-upé nde i é-ren,ie-mo, oro-pytybo ( -mo) ou xe io-upé nde
1

Oiepé nhó ngatu erimbaé karaí-bebé4 Tupa nheenga aby-f{ bia5,


i é-reme ( -nio), oro-pytybo: se me dissesses, eu te ajudaria s-esé nhó Tupá i nio-ingó-it anhang' -amo t-atá-pe s-e-ityk-a. N d' ere-
-sykyié-i ipó6 Tupa suí: e-sykyi-á-bo-mo 7, ere-ikó katu-mo, i nheenga
953. 11as beé exige sell1pre -nio: 1
ere-s-apiá'-katu-tno. Anhanga suí é ere-sykyié; nd' er-é-í teé 8 i nheen-
xe io-upé nde i é-reme, oro-pytybo meé-nio ou xe io-upé nde i ga ere-s-apiá-bo; s-e-mi-motara r-upi ere-ikó s-atá-pe nde só íanondé.
é-reme-1110, oro-pytybo: se n1e dissesses, eu te teria ajudado Jang nde angaipaba kuap-a, a-nh-andub anhanga r-atá-pe nde só po-
tar-a. Na nde angaipab-i xó-é-nio, ybak-pe e-só-potá-1no: na s-aub-i9
954. É de muito uso no condicional, sobretudo no pas- nde r-ekó poxy nde r-ekó-reme, nde r-esé Tupa i'-epyk-eym-e10 ; aipó
kuap-a-nio, ere-i-mo-ram-búé 11 ; Tupa nheenga ab)' ram-buera-mo,
sado, a partícula afirll1ativa raé ( n. 1043) : nd' ere-irumo'-rumo-i xó-é-mo nde angaipaba-mo, nde nhe-ang-u-aba
mbaé meé-1no xe r-enoi raé: devias ter-me chan1ado; nde niaen- bé iru1no-1no. N d' a-i-kuab-i xe angaipaba xe nhe-nio-nibegú-á'-pe xe •
duar unw beé-nio raé: já devias ter-te lembrado; nd' a-i-kuab-i, aé r-e-mi-mo-mbeú-púera r-esé ixé-bo Tupa nhyro-ag-uera, e-í-á-bo-mo,
beé-mo raé: nao o sei, (pois do contrário) te-lo-ia <lito; nde só-renie- nd' ere-ro-ie-byr-i xó-é-mo. Oiepé nhó Tupa nheeng-aby roiré abia12
-mo, nd' ere-s-epia!?-i xó-é nzeé-rno raé: se fósses, nao os terias visto abá o-nhe-ang-ú-eté, s-e-ro-íe-byr-eyni-a, mew,é-t'-ipó o angaipaba iru-
mó-sara o-nhe-ang-ú-eté-:u-mo.
Catecismo (ed. 1898), pp. 247-248
955 · A partícula -nio aparece tan1bén1 modificando o ge-
rúndio, quando a ora~ao principal está no condicional: 1 - de mo-abá-eté " honrar ". 2 - t padre. 3 - urna só vez. 4 -
nd' o-i-porará-í xó-é-pe-mo asé t-eo, kó-ipó 1nbaé amó ikó ara os anjos. 5 - n. 306. 6 - certamente. 7 - se o temesses. Ger. seguido de
-mo (n. 955). No original vem ecykyábomo, ao que parece, erro. 8 -
pupé o-ikó-bo-mo? N' aan-i xó-é-mo (AR. 51): nao sofreria a gente a por isso mesmo ( n. 463). 9 - nao sem razao. 1O - Devia ser ¡•-epyk-eym-i.
marte, ou outras causas, (estando) neste inundo? Nao; a-nianó, 11 - impedirias. 12 - se. . . (quanto mais).
kó-ipó xe mará-ar-nzo, i ú-ey1n-a-1no (AR. 118) : eu morreria, ou
adoeceria, nao a con1endo [carne] ; o-ti nhé-nio anhé, o tekó-kuab-
-anio é-1no (AR. 22) : devia~1 envergonhar-se certamente, se é que LOCUCóES GERUNDIVAS
entendessem
957 •As locuc;oes compostas de dois particíipios presentes
956. EXORTA<_;ÁO ANTES DA ABSOLVI<;A'O traduzem-se levando os dois verbos ao infinito ( em ordem
P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632) inversa a do portugues), e, no fim, acrescentando -reme.
( adapta~ao ortográfica)
Sendo paroxítono, o primeiro verbo perde a última sílaba,
ou, se termina em ditongo, a últill1a vogal:
Ere-i-kuá' katu ipó nde angaipaba, Tupa suí nde sykyié-eyni-a,
nde i mo-abá-eté-eym-a1, anhanga r-atá suí nde nhe-ang-ií-eym-a. xe ker xe r-u' -me, xe nupa-u: estando eu dormindo, ele me bateu;
Tupa r-esá-pe katu nde angaipaba r-ekó-u. Entona té-katu-eté-pe nde nde s-aro nde r-en-enie, nd' oro-enoí-botar-i: estando tu esperando-o,
nhe-mo-mbeú íabio, abaré 2 supé "Tupa nheenga r-upi katu a-ikó ang- nao te quis chamar; xe nibaé ú xe r-en-eme, xe iá' xe iáí o-ikó-bo:

-iré-ne" nde é-ag-úera nd' ere-i-1no-por-i? Erinibaé-pe aipó nde i-aba estando eu comendo, ele ficou a me escarnecer
CURSO DE TUPI ANTIGO 335
334 LEMOS BARBOSA

-eté-bo. T é-u11ié ang-iré emo-na e-ikó-bo. Abaré Tupa r-ekó-bíara supé


958. Mas se o sujeito da orac;ao subordinada fór o mesmo i asé nhe-1no-mbeú : nd' e--í katu-i oi.epé-i tirua Tupa nheeng-aby-ag-
da principal, a locuc;ao se poderá traduzir de dois outros -uera 0 ío-upé i nio-mbeú-pyr-uera mo-mbegu-á-bo abá supé: abá o
modos : 1 ) com dois gerúndios ( n1ais usado) ; 2) con1 o iuká potar-enie tirua n' o-i-nio-mbeú-í xó-é-mo: o-i-porará-mo t-eo
1. 0 verbo no infinito, regido de -renie) e o 2. 0 no gerúndio: i mo-mbeú pousup-a-mo (AR. 221 ad.). - Na nde angaipab-i xó-é-
-mo, ybak-pe e-só-.Potá'-nio (.A.R. 248).
levantei-me, (estando) dormindo : gúi-ké gui-t-up-a, xe puam-i ou
xe ker-eme gui-t-up-a, xe puam-i 963.
cpr. xe ké' xe r-u'-nie, xe puam-i
estar acomodado : iit' -katu, intr. como pois havia de ser? : mara-
-te-pe-nw!, mara-mo-te-pe!
GERúNDIO EXPLETIVO 964. Estando eu acomodado, ele ficou (n. 932) me chamando. Se
ele soubesse que estavas acon1odado, náo te teria ficado chamando.
959. Por vezes aparecem locuc;óes verbais em que o ge- - Se íosses tupinambá, nao terias chorado. - Por que ( n. 573) nao
• rúndio é mero expletivo, nem sempre traduzível em por- comeis carne, depois que nasce um vosso filho? Ficaríamos doentes
tugues. Dá-se isso com o gerúndio dos verbos que sig- - dizendo - nao a comemos. - O velho guerreiro, estando mor-
nificam "estar" ( n. 900) : rendo, 1nandou chamar os seus f ilhos, e lhes disse: eu nao vos teria
chamado, se nao soubesse que vou morrer.
s-ygé-pe o eté-rania Tupa t-ar-i i puk-eyni-e nhé o-á' o-up-a
( ANCH. Poesias T.upis 27) : no ventre dela Deus tomou o seu ( futu-
ro) corpo, (estando) nascendo sem que ela se corrompesse 965. SUCESSOS EM CASA DE CAIFAS
P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
960. Locu<;;óes semelhantes se f azem com os mesmos verbos
( continua<;ao da p. 327)
no gerúndio, quando con1postos com os prefixos ro- ou no-)
nio- ou mbo- ( n. 480) : upao-e-nhe sera erimbaé aé-pe t-ekó-ara ii-aó í-aó-u, s-obá peté-
-petek-a? - Opab-é-nhé, pysaré s-e-r-ekó memua bé r-e-ro-koema2•
o-kaí o-up-a aUié-rama-nhé o ekó-bé r-e-r-ekó-bo (AR. 248).: 0-iké u11w-pe3 Sao P edro Caifás r-ok-pe aé-renie? - 0-iké uma.
estao ardendo, eternamente vivendo (conservando a sua vida) : ardero Mara-pe s-ekó-u? - T -e':>'í-pe 4 nhé i gitapyk-i, t-atá ipy-pe o-ie-pe-
sempre vivos; o-py-ritng nde akanga r-esé, i nio-mbep-a niuru nde -gú-á-bo. Mará e-i-pe guá i xupé, - Jesus boiá a ikó, e-í. Mboby-
r-e-r-ekó-bo (N1c. apud REsT. 151 ad.) : pisou tua cabe<;a, esmagan- -pe ai.pó i é-u i xupé! - l!lokoí. Mara e-í-pe Sao Pedro? -
do-a (maldita!); o é-katu-aba koty o-i-mo-guapyk i 1no-in-a (REST. Nd' a-i-kuab-i aé abá, e-i, Tupa r-esé o-í-á-bo tenhé 5, o e-moem-amo,
151 ad.): fe-lo assentar (colocando-o) a sua direita ,- Tupa r-era r-enoi-a. 0-i-aby-eté katu sera Tiipa nheenga, aipó
o-i-á-bo? - 0-i-aby-eté katu. N d' o-i-kuab-i-pe aípó roiré o angai-
EXERCICIOS -paba? - 0-i-kuab, o io-esé !andé !ara 1naé-nenie. }vfara s-ekó 6 r-esé-
961. -bé-pe i kuab-i! - Guyrá sapukaia r-esé bé. Mara robé-pe? -
landé !ara nheeng-uera r-esé bé o-1naenduar-anio. Mara e-í-pe
abaré: padre ang-iré : doravante uma !andé !ara i xupé! - M osapyr ipó 7 xe boíá-ramo nde r-ekó
Tupa: Deus oíepé-i : um só
ere-i-kuakub, 1nokoí gúyrá sapukaí eym-e-bé-ne, e-í. Mara-pe Sao
962. I nhyro nhé-pe-1no ! andé 1ara i xupé, "N de nhyro ixé-bo" Pedro r-ekó-u, o angaipaba kuab' 'iré ? - 0-sem okar-pe o-ía.seó-
o-io-upé i é-renie-mo! I nhyro nhé-1no (AR. 81). - Ere-í-aby-eté -asy-katft-á-boª. Aé-pe Judeus n' o-i!~ó-t ebé-i, Judeus supé o iara
Tupa nheenga, nde angaipaba kuakup-a, anhanga supé e-nhe-meeng-
\

336 LEMOS BARBOSA

meeng-ag-uera r-esé'! - 0-ikó-tebé. Mara-pe s-ekó-u t-ekó-tebé


suí? - 0-i-meeng ie-by' s-epy-púera niorubixab-etá i wr-úera supé.
- "A-ii-aby-eté ikó Tupa nheenga, xe wra angaturami-eté meeng-a",
o-i-á-bo. Mara e-í-pe Judeus i xupé? - Nd' oro-ikó-i9 aipó-bae
r-esé, e-í; nde aé ipó emo-na ere-ikó 9 , e-í; ere-í-kuá' ranhé
meé-m.olº emo-na nde r-ekó-rama, e-í. Mara-pe Judas r-ekó-u
aé-reme? - Aipó o io-upé é abé, o wra r-epy-púera r-e-ityk-i
Tupa r-ok-pe: aúié o-só-bo o-íe-aíu'-byk-a, "n' i nhyro-í xó-é
Tupa ixé-bo-ne", o-i-á-bo. I kuá-pok sera moxy o-i-atimung-a? OPTATIVO
- I kuá-pok. Opá-katu sera s-ygé-apúa11 kui-amo i kuá soró'-
saba r-upi't - Opá-katu. Aé-pe i anga, 1na11iió-pe i ..~ó-u ? -
Anhanga r-atá-pe. I nhyro nhé-pe-mo landé Jara i xupé, "Nde
nhyro i.xé-bo" o io-upé i é-re1ne-1no? - I nhyro nhé-mo. 966. Forma-se do indicativo, seguido de urna das par·-·
Catecismo (ed. 1898), pp. 79-81.
tículas: -mo ma, -te-mo ma, niei ma, bei ma, mei-mo ma,
bei-mo ma. No negativo, intercala-se xó-é ou xó (n. 186).
1 - De a6 "injuriar". 2 - v. n. 960. 3 - já havia entrado ... ? 4 -
diante de todos, publicamente. 5 - jurando falso, por Deus. 6 - por que -Mo ma e -te-1110 ma servem para todos os tempos: as outras apenas no
acontecirflento ... ? 7 - v. n. 1046. 8 - para chorar sentidamente. 9 - v. passado.
n. 286. 10 - v. n. 950. 11 - intestinos.
967. Ma é mais urna interjei<;ao de desejo ou dor: "ah!".
BIBLIOGRAFIA Junta-se amiúde ao vocativo:
Condicional - ANCBIETA 18v; 22; 23v-24; 25-25v; 26; FIGUEIRA 18-19; .xe r-ayr mal, xe r-ayr-i 'ltúí I: ah meu filho ! ah meu filhinho !
29-30; 45-46; MONTO YA 14; 22-23; RESTIVO 39-42; 120-121 ; CAETANO 19;
ADAM 57.
Locu~oes gerundivas - ANCBIETA 26v; REsT1vo 8i-88. É separável, e ocupa ú último lugar na frase:
Gerúndio expletivo - REsTIVo 148-151.
a-s-epiak-mo xe r-ayra mal: oxalá eu veja a meu filho (lit. ah
se visse ... ) ; nda xe r-epiak-i xó-é mei-mo xe r-ayra ma I: oxalá meu
filho nao me visse ! ; i kat·u mei-mo xe r-ayra mal: oxalá meu filho
fósse bom ! ; a-s6-te-mo kori ahé iru-mo mal (VLB 362) : quem me
<lera ir boje cotn ele!
Algumas vezes se omiite ma :
an.lié-te-1110 : oxalá f ósse assim
• anhé-te-mo-ne: oxalá seja assim

968. Por sua vez, as partículas -nio, -te-mo, 1nei, mei-mo


;e pospóem sen1pre ao primeiro elemento ir:dependente da
frase:
, i.,-ré niiei-1no nd' a-iabab-i xó-é kaá-pe ma I : oxalá eu nao tivesse
fugido para o mato!; koritei-mo Tingusu o kó suí ie-byr-i mal: oxalá
Tingu~u volte logo da ro~a
\

CURSO DE TUPI ANTIGO 339


338 LEMOS BARBOSA

974. Ma, precedido de 'té-i, exprime espanto:


969. Segundo ANCHIETA, o optativo nunca é empregado com as 2as. pp.,
mesmo que etas sejam objeto direto. Subst:tuem-se pela 3. 8 p., expresso ou 'té-i pirá 111a ! : oh que peixe! (grande, br.avo, etc. ) , oh quanto peixe!
subentendido o nc m~ <la 2.ª p. com q ue se fata. Assim.. f alando com P indobui;u: 'té-i k ó ahe mal : oh que homem este! (enfadonh?, º" grande, etc.).
oxalá eu te ouvisse ! : a-s-endu.' -te-11io ma ! ou a-s-endu' -te-mo Pindobuszi tnii !
(lit. ah se eu o ouvisse !, ou a Pindoboi;u !) ; oxalá me tivesses vi5to ! : xe 9¡ 5. A interjei<;ao tó ! expressa também espanto pelo tamanho de alguma
r-epiak mei mal ou xe r-e¡ñak 111ei Pindobit.sri mal (ah se ele me visse ! ; cousa ou pessoa. Mas, explicada, atribui-se a tudo :
se Pindoboi;u me visse !) tó ! 'té-i kó pirá r-ekó ma l (VLB 318) : oh qu~ quantidade de peixes !
Mas encontram-se exemplos em contrário nos outros gramáticos e no
próprio ANCHIETA.
EXERC1CIOS
970. -Mo 1na) -te-nio ma, etc. podem modificar advérb~os :
976. Mara e-í-pe asé o pyá-pe, y~aka r-esé o-niae'-1no-nef "Ybak-
emona-te-mo mal: oxalá f osse assim ! ; aié ou anhé-te-mo 1néí I: -pe é Tupa xe r-ub-eté r-ekó-u nw I" e-í-ne; "A-só-te-11io xe r-uba
oxalá fósse verdade ! ; anhé-te-mo t-ur-i mal (VLB 320): assim ele pyr-i, xe r-etam-eté-pe mii!" e-í-nc. N' asé r-etama ruii-te-pe ikó
viesse ! yby asé r-el?ó-abaf N' aan-i, ybaka-por-a1na r-esé é Tupa asé mo-
971. Muito usado, para exprimir o nosso futuro do opta- -nhang-i: atar-amo é asé r-ekó-u ikó ·yby pupé (AR. 23). - Tól
'té-i aípó guyrá r-ekó méí.I - Tó! 1té-i ygara mal Maira ygar-usu-n'
tivo, é mara iasz1ara-nio "oxalá", seguido de verbo, e, fa- iii. Na nde r-oryb-eté-í t-ur-a r-esé? Xe r-oryb-eté mal - I pore-
cultativamente, de urna das partículas ·mii, -te-11io ma, -1no- -ausub-i 1na I
-ne ma) -te-nio, -nio, -1110-ne:
1nara iasuara-mo a-só ou xe só-u: oxalá eu vá 977.
nav10 : ygar-usu regressar (indo) : só ( gúi)-ie-
Mas pode aparecer também no passado : estar, ficar saudoso: karuk-asy -by'
1nara iasuara-1no-te-nio abaré xe apira1no-ne11ie xe angaipab-eyni- (xe) regressar ( vindo) : íur (gui)-
-e-bé, xe r-eo mal (AR. 249) : oxalá eu tivesse morrido antes de pecar, só falta: eynia nhó ( após in- -ie-by'
quando o sacerdote me batizou ! finitivo) ter saudades de: epíal?-aub ( s)

972. Com o verbo oryb ( s) (~--re) "alegrar-se, folgar", e <>


978. ·O h quanto folgo cotn a chegada dos portugueses! - Oh quanta
superlativo eté) a frase que leva a intejei~ao ma) fica com gente ! - Con10 sao en f adonhos es ses portugueses ! ~les regressarao
o sentido de "Oh quanto f oigo!, f oigo muito !": dentro de pouco as suas terras ! Oxalá eu f6sse com eles! Nao terias
xe r-oryb-eté nde r-ur-a r-esé ma: folgo muito com tua vinda ! saudades de tua terra. Eu nao ficaria saudoso. Oxalá f ósses para
lá: entao quererias regressar, e nao poderias. - Eu irei. Queres ir.
Igual sentido tem qualquer verbo seguido de eté-i e Falta só ires. Eis que vou. Finges apenas que vais ( bia), mas nao
-
ma: vais. - Oh que enormidad e de canoa! É o navío em que chegaráo
o-ur-eté-i xe r-uba mal (VLB 314): quanto me alegro com a os portugueses.
vinda de meu pai !
973. Sentido oposto traz 'té-kati1--nhé-'té ... mii ou 'té-katu-nlié-' té-i . .. má~:
o-manó ' té-katu-nhé-' té xe r-uba ma!: quanto me p<;! sa a morte de meu pa1 t
'té-katu-nlié-'té kó alié mal: oh co:no é enfadonho este homem 1
¡

340 LEMOS BARBOSA


I
979. DAN<;A DE DEZ MENINOS
P . J osÉ DE AN.CHIETA s. J. (1534-1597)
(adaptac;ao ortográfica)
1.º 6.º
X e r-etama mo-oryp-a, Guarapari, s-er' umuana,
ere-iu', :re r-ub gué. oro-ityk-potá' i :ruí.
X e abé nde r-obaké Santa Maria koy, Ll~AO 53.ª
a-íit' gui-ie-rtibo-ry'-mbo-ryp-a. i porang, i nio-era-pUa.n-a.
Z.º 7.º
K ó :re anama r-ur-i pá Tupa sy mor-ausub-ara ORACoES SUBORDINADAS
nde r-a-pé-pe nde r-epiak-a. oré anga o-i-pysyro.
X e abé :re mo-ie-guak-a, N de abé ere-i-pytybo,
nde mo-ory' katu potá'. oré anga mbo-é-sara. CONCESSIVAS
980.
3.º 8.º
Tapyyi' pep~rra gu-á-bo, Pecado amotar-ey1n-as, iepé, auié-é, auié-bé, ( "ainda que, embora, pósto que,
:re r-amüía porasei. a-s-ausu' Paí l esu, auié-bé-é, auié-bé-te, apesar de (que), mesmo que,
Xe Tupa r-ekó a-i-usei, ta :re pytybo ngatu, auié-bé-ranio(-te)' ti- ainda quando, por mais que"
••
xe r-uba r-ekó peá-bo. o pyá pupé :re mini-a. -
rua-mo
4.º 9.º V. exs. n. 1050.
X e r-uba :re 1no-nhang-ara E-s-eiyi-ukar-umé
nde r-ausu' :re irü-rno bé. iké suí :re r-etama,
Endé-tel :re r-ub-eté, t' o-ikó pab-e :re anama 981. FINAIS
Paí 1esu r-ekobiara. Tupana r-ekó r-esé.
5.º 10.0 "para que, af im de que"
I
Koy' kó taba r-e-r-up-az, !or-í, P<Dí M arasá6,
oro-ikó-katu bé-i. ikó taba nio-ngatu-á-bo 7, Traduzem-se, conforme o caso, pelo perniissivo,
S-era-puan3 Guarapari,4 Paí !esu mo-ngetá-boB, seguido ou nao de -te (n. 198); pelo verbo "dizer", no
Tupa oka r-e-ro-kup-a. i :rupé s-ausub-uká. gerúndio ( n. 458) ; pelo particípio saba ( n. 799). -
Poesias tupis, pp. 21-23. Quando o sujeito é o mesmo da ora<;ao principal: gerún-
1 - mas. 2 - r-ttb (de ro+ub) : a) deitar-se com; b) ter ou estar dio ( n. 393, 425).
com cousa que jaz ou está deitada. A qui, no sentido b). 3 - é famosa. 4
- n. pr. de aldeia. 5 - odiando. 6 - Padre Marc;al. 7 - abenc;oar; também:
melhorar. 8 - rezar a.
BIBLIOGRAFIA 982. CONDICIONAIS
ANCHIETA 18; 21; 24-24v; FIGUEIRA 16-17 ; 27-29; 34; ·41-44; MoN-
TOYA 14; 22; RESTIVO 38-39; CAETANO 19; ADAM 57-58. "se, caso, dado que, caso que": -me (n. 679)
I 22
342 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 343

983. "como se": ,


986. MODAIS
iaramé, iaranié-'té, it;isuara-mo-n' aé, iasuara-nio-n' aé-mo,
iasuá' -mo-n' aé, sera-mo-n' aé, sera-mo-n' aé-1no : "como, assim como, qual", etc. :
i kyrey1nbab iaramé, "Mbaé membeka" i é-u ixé-be: como se ele iá, iá-bé, iá-bé-nhé, ia-kat1t{-nhé), iá-katu-'té-nhé:
fósse valente, chamou-me mole; o-só ipó-ne reá gui-i-á-bo-11W-n' aé ere-s-ausu'-pe nde r-apixara nde íe-ausub-a ia-bé f (AR. 244) :
(VLB 268 corr.): como se eu pensasse que ele podia ir amas a teu próximo como te amas?
No futuro, acrescente-se ram ao verbo: ra1n iaramé;
etc.: 987. LOCAIS
I
ixé t-obaiara íuká-ram iasuara-mo-n' aé, ybyrá-pema xé-be i "onde": particípio saba. (n. 799) :
meeng-i: como se eu é que tivesse de matar o inimigo, deu-me a mim
o tacape nd' a-i-kuab-i s-ekó-aba: náo sei onde está
OBSERVA<;AO
No negativo: e3'm iaramé, etc., e também: eym-eté, Em geral, as conjunc;óes subordinativas finais, causais, modais, locais,
, J , temporais, podem ser vertidas pela partícula saba (n. 799) :
eym-ete-m ae: nd' a-i-kuab-i i xó-saba : nao sei para que, por que, como, aonde, quando
xe kyreymbab eyni sera-mo-n' aé, ahé xe kurá' -kurab-i: como se ele foi
eu náo fósse valente, ele me fica chamando nomes injuriosos; xe pó-
EXERC1CIOS
-eky1 ybyrá-pema r-esé, ixé t-ob<Wwa íuká-ram eym-eté: arrebatou-me
das máos o tacape, como se eu náo tivesse de matar o inimigo ; emanan
eym-eté-mo : como se náo f ósse assim !E-POR-AKÁ'-SABA
988.
984. " ,.,
nao f osse ,., f osse
" . . . ; se nao " ... " ie-por-aká'
,
-saba : casada mytá, mytá-iura, okai' ( t) yba-
soo: ca~a té: casinha na árvore (para
... ro-by mal, iaby-no mal; aé, aé-no, aé ipó-ma, aé ipó-no soó aiba : animal que nao se esconder-se)
mal: come boiá: servo
yeé: fojo ar: intr. cair ( armadilha ou
o-só é ahé iaby-no mal (VLB 389): náo fosse fulano ter ido ... !
mundé-guasu: armadilha para cac;a)
ahé r-ur-a aé ipó-no 1na ! : nao fósse ter ele vindo ... ! kaá mo-mbyro : cac;ar, cercando,
onc;as
potaia : pinguelo (de corda) com muita gente
CAUSAIS poé : id. (de esteira) kaá mo-ndó: fazer ca~ada
etyma-kang-upi-ara ( t) : id. kaá-bo ikó ou só: cac;ar
985. "porque, visto que, pois que, já que, urna vez que, desde (de vara) soó r-esé ikó: cac;ai:
que, como" : nong ( nho) ou upir ( s) : armar mo-potai-iar : tr. armar, para
güyapi, tenhé : cair, sem apanhar que náo caia
-reme (n. 679) ou pé (n. 1012), esé (n. 605) ou -pe nio-potai-gué : id., para que caia
potai'-1no-in : armar
(n. 140). mundé-rung: intr. fazer arma- 1no-gfiyapi : tr. desarmar
Estas duas últimas regendo ou nao a partícula saba (n. 819, 820). dilha
CtJRSO DE TUPl ANTIGO 345
344 LEMOS BARBOSA

A PESCA

989. M ara-nanio-pe pe-í-apó aípó yee? Oro-í-apó, íagf'tara xe boíá 990.


r-ayra gu-ar-úera nibo-á' -sag-úania r-esé. O-ar uma-pe r N d' e-í pesca : íe-por-aká' -saba pescar, ca<;ar para ( outro) :
ranhé. - Pee mundé-gúasu nong-eme, iaguara ar-i-ne. Oro-nho-nong barragem : pari por-akar, tr.
iepé, o-guyapi tenhé. Pe-s-upir bé-nhé. I.-ré mitndé r-upi' -r-upir ram cardume : eyía ( s) id. (para si) : ie-por-akar
iarameté... Emanan-eme é, pe-í-mo-gúyapi bé-nhé. vara de pescar : pindá-yba pescar com anzol: pindá-e-ityk,
isca : potaba intr.
Nota: Com auxilio do vocabulário acima, formar outras frases. estar a toa: ikó nhó-te
barbasco : timbó-guasu, timbó-
. -piriana embarbascar (peixe ou rio):
entorpecente vegetal : tingy tingy-wr, tr.
covo: íekeá, iekeí ficar tonto: guaíu
parati (peixe) : parati atirar-se a: nhe-mo-mbor [-pe]
linha de anzol : pindá satna por: mo-in
arisco : esá-eté ( t 1 dar um puxáo: mo-syk, tr.

991. Vatnos pescar! Nao quereis também pescar para mim, já que
estais a toa? Con10 se nao estiv-éssemos pescando para nós mesmos ...
- Atirai a rede ao mar, para apanharmos aquele cardume de peixes.
Nós nao a trouxemos. E por que náo a trouxestes? Para que to
dissemos? !. . . Como se eu tivesse de [ f iqi.r sabendo] (saber) ...
Como se fosses apanhar muito peixe ... - Dai-me pois a vara e a isca,
já que nao trouxestes a rede. Eu vou pescar no pari, porqu.e (-rente,
no fim da frase), por mais que lan<;o o anzol, os peixes nao beliscam.
Mesmo que nao .belisquem, <leves de vez em quando dar um puxáo na
vara: há peixes que nao beliscam. Os peixes daqui sao muito ariscos.
V amos entontece-los com entorpecentes, para apanhá-los com a (nos-
sa) máo? - Já cortei o barbasco. Atiremo-nos a água, porque os
peixes já estáo tontos. - E tu que estás fazendo? Estou pondo covos
' para (ger.) apanhar paratis.

992. CANTIGA A NOSSA SENHORA


P. JosÉ DE ANCHIETA (1534-1597)

(adaptai;ao ortográfica)
1. landé kanhem' 'iré iandé r-ausup-a,
Tupa amó kunha ngatu nio-nhang-·i,
abá sosé pab-é i nio-morang-i1,
Pesca a flecha e com rede, em barragem ( STADEN)
t-ekó katu 2 r-esé i mo-i'-ekó-sup-a3 •
\
346 LEMOS BARBOSA

5. "Xe sy-ramo ngatu4 t' o-ikó" - o-i-á-bo5,


amó kunha sui i 1no-ingó-é-bo6,
s-ausub-a r-e-r-ekó-bo 7, i mo-eté-bo,
i angatura'ª ngatu mo-ebu·rusu-á-bó9 •
9. Santa Maria. s-era, anhang-upíara,
Tupá r-endab-eté, Tupa r-aíyra,
Tupa sy-rama rí i mo-nhang-byra,
t-eó r-upwra nhé, t-ekó-bé íara. ADVÉRBIOS
13. S-ygé-pe o eté-rama Tupa t-ar-i.
º
1 puk-eym-e1 nhé o-á' o-up-a11.
landé pore-ausub-ok-a, iandé sup-a, 993. Dispensa-se urna resenha de todo~ ~s advérbios. Apre-
pitang-amo ngatu s-ekó-potar-i. sentam-se aqui as observa~oes necessar1as para o seu cor-
17. Maria, Tupa ·sy, moro-ityk-ara12, ,.,
reto emprego.
anhanga sumara, i xykysyié-'ba13,
íandé maran' irü, íandé abaité-'ba1~,
t-ekó katu r-esé iandé mo-ingó-ara.
- SINTAXE
21. T' ía-s-ausu' pab-é Santa Maria, Em que casos os advérbios exijam o gerúndio ou a conjuga~ao subordinada,
íandé pyá pupé s-ekó mo-ndep-a. v. nn. 434, 554, 568.
T' o-pó-ar anhanga rí, muru15 mo-mbep-a16,
s-ekó poxy suí 1-andé r-eiyi-a. ADVgRBIOS DE MODO
Poesias tupis, pp. 26-27.
1 - embelezou-a, adornou-a. 2 - virtudes. 3 - concedendo (obj. dir. 994. Todo adjetivo, verbo intransitivo ou intransitivado,
de p., ind. de c.). 4 - realmente. 5 ~ dizendo (i. é : formando inten~o,
n. 458). 6 - fazendo-a diferente, separando-a. 7 - tendo-lhe amor. Ger. pode f azer de advérbio de tnodo, pospondo-se a verbo,
expl. n. 960. 8 - bondade, santidade. Abstrato, por influencia port. (n. 1093). adjetivo ou advérbio:
9 - engrandecendo. 10 - sem que ela se corrompesse. 11 - nasceu. Ger.
cxpl. (n. 959). 12 - vencedora, vitoriosa. 13 - receio, motivo de receio. De
kysyté há, por metátese, a var. sykyié. Aquí, insolitamente, juntam-se as duas puku: longo ikó-bé pitku: viver longamente
var.: sykysyié, no verbal saba (n. 802). 14 - Parece part. saba de abaité: ata: forte ' ar ata: segurar com f ór~a
causa de nossa coragem ou ternibilidade. 15 - o maldito (n. 1049). 16 - py-ata: forte pysyk py-ata : segurar com firmeza
esmagando. "' ikó katu : viver bem
katu: bom
mo-mbeú katu : louvar (declarar bem)
BIBLIOGRAFIA poxy : f eio, torpe ikó poxy: viver mal

ANCHIETA 23v-24; 26-26v; 27v; FIGUEIRA 148-149; 162-163; MoNTOYA Podem-se dar metaplasmos:
81-82; passirn; CAETANO 89.
eptak+ katu == epiá' katu
·+.
mo-nhang memua == mo-n.han' me1nua
ata + katu = ata ngatu
348 LE1\1:0S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 349

Os prefixos de classe, é claro, nao aparecem: 997. ADVÉRBIOS DE TEMPO


anhé ( t) : apressado anhé : apressada1nente
INTERROGATIVOS
Cai o a final átono: erimbaé?: quando? mbaé-reme?: em que ocasiáo
ou hora?
poranga : bonito nheé' porang : f alar bonito
nhe-11iim-a : esconder-se nhe-nii1n : as escondidas AFIR1f ATIVOS
íe-aseí-a: encolerizar-se nheeng íe-aseí: falar com in-
arakaé, erimbaé, kuesé-nhe)1ni: oira, oirandé: amanhá
digna<;ao
akué-me : antigamente, em kori koem-e : amanhá de n1anha
angaturama : bom r-ekó angatitram: tratar bem
ten1po passado jra, mira, karamosé, erimbaé,
kuesé : onte1n ; há poucos dias a1nó-neme : f uturamente
995. .ADVÉRBIOS DEMONSTRATIVOS ieí, oíe·í, íeí-íé, íeí-bé, oíeí-bé: bi-pe, an-ibi-pe: em algu1na oca-
ho je ( passado) siáo, algum dia ( fut.)
ramó : agora de pouco, recente- koroni6: daqui a pouco, logo
Os adjetivos ou pronomes demonstrativos funcionam logo .
também como advérbios demonstrativos (de lugar ou de - n1ente
""- -
unza, umua, yma, yniua : Jª
,,,._ ., apyr-t: daqui a pouco, logo
tempo) (n. 75) : (passado) logo
koyr, koy' : agora, boje koritei: logo, depressa, ligeiro
kó s-ekó-u: ei-lo, aquí está (vis.) ; kó t-ú'-i: ei-to, aqui está dei- koy'-te: já, finalmente taf.tíé, kuei-eté: logo
tado (vis.) ; aípó i xó-it ou t-ur-i: ei-lo aí vai ou vem ( invis.) ; o-só kori: boje (fut.), mais logo, auíé-ra1na, aitíé-rama-nhé : sem-
ui: eis que váo (vis.) ; ebokué ou ebokuei i xó-tt: ei-lo que lá vai depois pre, para sempre
(vis.) ; ebokué xe so-tt ou a-só: eis que aí vou, eis lá vou (vis.) ;
ebokué-'té-i t-ur-i: eis que " em aí pertinho (vis.).
1

Distinguem-se exatamente como o~ de:nonstrativos (n. 69). 998. ADVÉRBIOS DE LUGAR


INTERROGATIVOS
Para maior realce, as vezes repeten1-se os demons- manoi?: donde?
umá?, umá-nie?, mamó?: onde?
trativos:
k6-eté-i t-ur-i kó (VLB 198) : ei-lo que ve1n aqui pertinho AFIR1ifATIVOS
ké, iké: aqui amo : para lá
eb-apó: lá bi-pe: algures
996. ADVÉRBIOS NUMERAIS ebo-kué : por aí, por lá
mo: acolá
kybo : para cá eb-anoi: daí
Os adjetivos ou pronomes numeraís servem de ad- apué, apué-katu : longe anoi: de lá
vérbios numerais (n. 215), mas antepoem-se ao verbo: ybaté : em cima, no alto

oiepé i ie-byr-i: voltou urna vez 999. Certos pronomes demonstrativos, regidos de prepo-
mosapyr i nhe-á-pii-mirn-i: mergulhou tres vezes
sic;áo, equivalem a advérbios:
350 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 351

aipó-pe: ali, lá akuei-pe: aí, lá, no lugar de 1004. Que estiveste fazendo aqui ontem? Nao estivemos aqui, senáo
aipó suí : dali, de lá que falamos lá. Em que ocasiáo estivestes lá? Estivemos toda a noite fazendo
aé-pe: lá kué koty: para a outra banda farinha. Como f azeis f arinha? A f arinha branca ( ui tinga) f azemos
eui-me ou eboui-me ou ui-me : kuei-bo : por alguma parte assim : ralamos a mandioca, esprememo-la na prensa; (do). seu pó
aí. lá kué-pe : em ou a algurna parte fazemos bolotas, assamo-las em panelas ou em pratos de barro. Outras
1000. 0Bs.: Conforme a posi~ao na frase, o mesmo elemento pode ter vezes misturamos typyoka com essa farinha, e assim fazemos a farinha
diversas fun~óes: dura ( uí ata), que levamos a guerra. Também pomos a raiz de
i iuká-py' katu: o morto (que era) bom mólho. Quando apodrece, descascamo-la, deixamo-la defumar em
i iuká-katu-pyra: o (que foi) bem morto grélhas. Esta é a mandioca karinia. Pilando-a, fazemos a farinha
xe r-e-mi-mbo-é-pué' katu : o bom que eu ensinei
xe r-e-mi-mbo-é-katu-puera : o que eu ensinei bem karima, e desta ( n. 619,2) fazemos o mi-ngaú. A gente pode também
espremer a mandioca podre ( mandió-puba), coze-la: assim a gente faz
o mbei11. O 1nbeíu a gente faz também da mandioca fresca, depois de
EXERCfCIOS ralá-la. E a peneira que eu vi boje lá, para que é? É para joeirar a
farinha podre. Como se chama a farinha crua? Chama-se typy r-aty.
1001. Como se diz "caldo de mandioca crua coalhado"? Diz-se também
_,.
manh-ana.
esp1a
(de mae-ana) : vigia, sai: apenas
apé: torto
typy-aka. E "farinha do caldo ?e
mandioca".? Typy-ok' ui ou
typy-ak' 1tí. Como se chama a farinha de m~nd1oca, que ~ espr~me
nheeng apua: f alar aos brados pyy'-pyyi. : depressa com as máos e que nao se joeira com a penetra? Chama-se farinha
nheé' ngatu: falar bem pysaré : durante toda a noite tina ou mixá-kuruba. Conheces mais alguma f arinha? Sim. Conhe~o
matu-eté : muito nheé'-bik : parar de f alar
h, também a f arinha esá-kuá'-tinga.
auie-n e: inconsiderad~mente
AA'

1002. Oro-ikó Tupa r-ok-pe. Iké nd' w-é-i katu ía-nheeng-a. !a-é 1005. EXORTA<;A.O ANTES DA ABSOLVI<;ÁO
ka~upe ia-nheen' nibegué? Aan-i. - Kó mitanga o-nheeng apua P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
o-in-a. E-i-mo-nhee'-bik. - Abá-pe akó abá oieí Tupa r-ok-pe o-nhee' ( continua~ao da p. 333)
ngatu-bae-puera! Abaré r' akó, nda paié rua: paié nd' i nheé nga-
tu-t Mbaé-pe i nheenga? 0-i-mo-mbeú-mbeú porang Tupa sy anga- N de ~uru-pe nhó-te serii1, "A-ikó katu ang-~ré-ne" - ~r-! ~-~he­
tur~ma, o nheé' ngatu-ramo. Kori-pe i nhceng iebyr-i-ne? N' aan-i,
-mo-mbegU-á-bo iepi, na nde pyá-pe rua : o pya-pe kat~ ~ipo e-i~ara
kori koem-e-te. - Abá i nheeng ara puku-i, pysaré.; karaiba nd' i o-i-mo-por aipó 0 é-ag-uera. Anhanga r-atá-pe koyr o-iko-ba.e, ae-pe
nheé' mbuku-i. Maira i nhee' sai. Peró i nheeng auié nhé. - Py- o-só wnondé, "A-só-potar ybak-pe" e-í bia1 ; "N d' a-só-potar-i anhan-
saié xe pak-i, nde nheeng ata r-endup-a. - Ere-~-kuab-pe oré nheenga! ga r-atá-pe" e...í bia. I pupé nhé3 aé-pe koyr r-ekó-u, o-kai o-up-a5
Aan-i. Pe nhee' mbyy'-mbyyi. - Pysaré ebapó manh-ana in apé-i. auíé-rania-nhé o ekó-bé r-e-r-eko-bo, 6
, o iuru n h'o-te aiAp'o o e-ag-ue-T<
A , A a
r-epy-ramo. . ... , ,
1003. · N de maenduá' katu7 Tupa r-e-1ni-mo-nhang-uer -amo nde. r-eko 8
resíduo do caldo de mandioca : por de molho : mo-mbub
r-esé nde r-esé Tupa T-ayra nhe-mo-kunu1ni-ag-uera9 r-esé, nde anga
typy-oka a podrecer : pub ( xe) r-ep;10-ramo og-uguy té-katu11 meeng-ag-uera r-esé. N de ma~ndu~r
grelha: mo-kaé ytá def umar: mo-kae nde r-esé ybyrá io-asaba12 pupé i 1no-iar13-pyr-amo, nde r-ese s-eo-
ralo: ybesé j oeirar : mo-guab
"'
-aguera r-ese., ,.
seco, enxuto : kaé fazer bolotas de: mo-apuam, tr. Tupa nheenga aby-re'!"e,, anhanga supé er~~nh~-meeng;ete, s-~~
ralar : kyty -mi-ausub'-amo e-nhe-m,o-ingo-bo: s-ausup-a nhe •, i mo-ete-bo nhe,
LEMOS BARBOSA \

Tupa nde mo-nhang-ara, nde pysyro-ana r-e-ro-yro-mo, i mo-eté-


-eym-a, Tupa nde r-ausub-a sui15 e-ie-peá-bo. Na s-aub-i'6,, iké xe
r-obaké nde r-ur eym-e-bé, nde íuká-eym-i, nde r-esé o-i'-epyk-a: o
angaturam'-amo 17 é nde nhe-no-nhen-al8 r-aro-mo é.
Catecis1no (ed. 1898) , pp. 248-249. · LICA.O 55.ª
1 - n. 1045. 2 - bem que (n. 306). 3 - n. 1058. 4 - estáo. 5 -
estao ardendo. 6 - sempre vivos (n. 960). 7 - imperat. 8 - seres tu.
9 - ter-se feito menino. 10 - pre<;ot. resgate. 11 - todo. 12 - cruz. 13
- pregar. 14 - (n. 1058). 15 - do amor de Deus para contigo. 16 ._ nao CONJUGACAO NEGATIVA ,
sem razao (n. 576). 17 - por ser bondoso 18 - corrigires-te.
(Síntese)
BIBLIOGRAFIA
ANCHIETA 2; 39-40; 57-58; F'IGUEIRA 126-144; MoNroYA 76-80; R.Esnvo
327-330; CAETANO 69-74 :, ADAM: 32-35. 1006. Acrescenta-se ao:
CNDICAT.: nda - -i ou nda - ruii (n. 183 e 184)
INDICAT. FlTT.) CONDICION., OPTAT.: nda - -i xó-é ou nda
- rua-1. xó-é (n. 186)
IMPERAT.) PERMISS.: - ioné ( n. 193)
INFIN. (n. 344), GER. ( n. 405), CONJ. SUBORD. (n. 565),
PARTICÍPIOS: - eyni- ( n. 701, 730, 738, 760, 773, 798, 833)

1007. rua -
Rua serve também para negar frases inteiras e men1-
bros da ora~áo; as vezes, prescinde de nda:
na mbaé-ú-potá rua, a-Íur: venho nao COlll inten<;ao de comer;
nda xe r:-uba supé rua ere-í-nieeng: nao foi a meu pai que o .<leste;
xe r-esé-bé rua t-ur-i: nao f oi comigo que ele veio; nda xe é-reme ruii,
nde abé er-é-ne : nao porque eu o disse, tu també1n o dirás

Nas frases · interrogativas, setn nda, toma accep<;áo


dubitativa:
aúié ruá-pe? aitié rua-te-pe? aúié rua-pe é?: nao basta? nao pa-
rece que chega?; o-só rua-pe é? (h.); o-só rita-pe rí? (m.) (VLB
255) : é certo 01t será certo que ele foi? ele n:io foi?; kó abá bofá
Prepara<;ao do repasto sacrifical (DE BRY) rua-te-p' ikó nde? (AR. 77): poi.s nao és discípulo <leste hornero?

'
354 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 355

1oos. eym- deixou de vir, nao o verás; nda i xó-retne ruii, na nde s-epiak-eym-i-ne
ruii: nao porque ele vai, nao deixarás de ve-lo; nda gui-xó-eym-a
Como suf ixo de substantivos, C)'ni- ( n. 334) corres- ruii, a-s-epiak : nao porque nao fui, eu o vi
, ponde a "sem", "falta de":
t-ekó-eté-eym-a: falta de valentia ( covardia) ; mbaé-eym-a: falta 1012. ÜBS. Junto a verbo negativo, a partícula pé ou
de bens (pobreza) ; pab-eym-a: sem f im, infinito ; t-er-eym-a: sen1 pé-é ( após nasal bé) supre a conjunc;áo -reme. O verbo
nome; t-ub-eym-a : sem pai, órfao de pai; sy-eym-a: sem mae, órf ao perde a consoante final oral. A pospositiva negativa é -i,
,., ,.;,
de mae nao rua:
1009. Qualquer, verbo, mesmo no indicativo, condicional nda xe só pé-í: nao porque eu vá; nda xe r-epíá' pé-í: nao por-
que ele me veja; nda i tym bé-í: nao porque o enterraram; na xe
e optativo, pode-se negar com eym em lugar de nda - -i,
s-epiak-eym bé-í: nao porque nao o visses; aípó nda xe é pé-é-í: nao
etc.: porque eu dissesse isso; nda xe sem bé-i, nd' oro-epíak-i xó-é-ne:
a-iuká-eym, ere-iuká-eym, etc. : nao mato, nao matas. etc. nao porque nao saio, é que nao hei de te ver

Mas. é esta forma de raro uso, a nao ser comos verbos EXERC1CIOS
de pronome paciente: 1013.
xe katu-eym, nde katu-eym, etc. : nao sou ·bom, nao és bom, etc. ;
ara: entendimento mo-ngaú: tr. dar a beber vi-
xe ytab-eym, nde ytab-eym, etc.: nao sei nadar, nao sabes nadar, etc.
nho a
(n. 383) i' -ekó-ab-ok: alterar-se eym (s): id.
1010. nda - eym-1• \
1014. Mbaé-pe pe-s-ekar? - · e-í; nda s-e-mi-ekar-a kuab-eym-a rua
(AR. 75). - 0-i-aby-pe abá Titpa nheenga s-06 gu-á-bo s-oó
Juntando as duas partículas negativas nda e eym-i, gu-ab-eym-a pupé, o e-mi-ú-ra1na r-esé o-ikó-tebe-bo nhé? N d'
resulta urna afirmac;ao elegante : " by-i,
o-i-a " "A -mano,~ k o-ipo
' . ' xe mara-ar-mo
' i. u-eym-amo
' '' -
nd' a-i-potar-eym-i: nao deixo de o querer, quero-o; nda pe maen- o-i-á-bo é. Mara o-ikó-bo bé-pe abá aípó-bae o-í-aby? S-oó
duar-eym-i s-esé: nao deixastes de vos lembrar dele; nd' oro-endub- gu-ab-eym-a pupé abá supé s-oó ú-uká. Mara o-ikó-bo bé-pe !
·eym-i-xó-é-ne : nao deixar.ei de te ouvir ; e-i-meeng-eym umé i O íá nhó-te .mbaé ú-eym-a, o-sabeippr-amo, sab~ipora suí ara
xupé-ne : nao deixes de lho dar; nd' ii ytab-eym-i : ele nao deixa de mo:kanhem-a, abá mo-ngagu-á-bo, kó-ipó s-eym-a, i mo-sabei,pó',
saber nadar : sabe nadar; nda xe r-endub-eym-i xó-é mei-mo xe kó-ipó "t' o-sabeipó" o-í-á-bo nhó-te tirua. O w nhó-te kagu-
r-aiyra 1nii: oxalá minha f ilha nao tivesse deixado de me ouvir -ara-pe, mara? Nd' o-í-aby-í Tupa nheenga (AR. 118). - Mará
e-í-pe amó-aé Tupa asé r-ekó-tno-nhang-aba? "Anhé-'té" er-é
1011. nda - eym- rua tenhé unié, Tupa r-era r-enoí-a, e--í. Abá-pe aípó-bae o-i-aby? 1
por-eym-bae, kó-ipó o e-1ni-nguá-katu-eyni-a o-i-mo-mbeú-bae, "Emo-
No gerúndio, infinito e conjugac;áo subordinada, a ná kó, Tupa r-esé" - o-i-á-bo tenhé (AR. 98). Ñlbaé katu mo-nhang-
nega~ao dupla é nda - eym- rita: -ag-Wirna r-esé Tupa r-enOí-dara, na i mo-pó'-potá rita, mara-pe?
nda s-epiak-e)rm-a ruii, ixé s-enoi: nao deixando de o ver, eu o 0-í-aby bé (AR. 99). - 0-í'-ekó-ab-ok-bae-ranta-pe t-ekó puku ybak-
chamei; nda i xó-eym-e ruá, nde s-epwk-eym-i-ne : nao porque ele -pe s-e-mi-e-r-ekó-rama? N d' o-í'-ekó-ab-ok-bae-rama rua (AR. 63).

,
CURSO DE TUPI ANTIGO 357
LE?i.1:0S BARBOSA

37. !andé !ara mo-1nbegu-á- 55. 0-ryryí, nde iuká ré,


1015. -bo, Tupa sumara r-eyia.
deve ser ; será certo que ? : - ÍAosse . . . .' : nda ..•
oxa1a, nao t-eo ere-í-porará, E-ior-í oré r-ekyí-a,
ruá-pet (-eté)-i mal t-oré-py-ata angá t-oro-ikó nde ipy-pe nhé,
1016. Quantos guerreiros vieran1? Nao sao poucos ( mobyr). Será
mbaé-asy porará-bo oré su1nara 1110-ndyí-a.
a
assim? É certo isso? Quem 'é aquele que vem frente dos outros? Tupana r-esé nde iá.
Deve ser teu pai. Oxalá nao fósse 1neu pai. Nao vais encontrá-los? 60. 1\fde íuká-sar-uera o-só
0-sykyié nde suí
Nao por que veio n1eu pai, irei· encontrá-los. Nao és bom filho, pois o-kaí-a anhanga r-atá-pe.
nao vais ( n. 951). Tu também vais? Nao porque vais, deixarei eu de anhanga, nde mo-abaeté-
-bo. Endé Tupa r-oryp-á-pe
ir. - De que fez Deus antigamente este mundo? De nada (lit.: nao auíé-ra1na nhé ere-ikó.
E-íor-í imo-sykyíé-bo,
de cousa). De nada o céu e aterra ~le fez? De nada. ('Cfr. AR. 43).
t-o-ikó u1né oka r-upi
oré anga 11io-ngué-bo.
1017. DAN.<;A DA P·R OCISSÁO 64. N de iabé t-oro-s-ausu'
Paí Titpii oré nhyá-me,
P. JosÉ DE ANCHIETA' (1534-1597) 47. Tupa mo-1nburú-ar-.eté
t-oro-gue-r-ekó s-eta-me
t-atá pupé nde r-esyr-i,
nde pyr-i t-ekó puku.
(,adaptac;áo ortográfica) opá nde r-eté r-air-i
, t itá-tiaia pitpé.
18 . Ore anga -o-io-su,
A ,

1. Kó oro-ikó oro-nhe-nioo- 68. Oré r-e-r-ekó-ar-eté,


-'ryp-a s-ekó poxy mo-sa-sai-a, 51. T-oro-iaseó me1n é, nde. pó-pe oré anga r-u-í.
nde ara mo-morang-á' -pe. N de abé i-mo-esái-a,
,, d ""' , , , Paí Tupa r-epiak-aup-a. Oro-byá'3 nde r-esé.
T -o-u , n e ie- -r-ur-e-sa-
1
J esu irú-1no t-ere-iu': T-o-ur kó ara pupé Oré r-ausubá' iepé,
-pe, \ oré anga mo-akup-a. oré r-ekó-bé puku-i.
1'upij, oré mo-oryp-a, 22. T-ynysem Tupa r-ausitba
nde nhya-nte erinibaé .. Auto de S. Lourenfo, p. 89-92
o-pytá-bo oré pyá-pe.
E-mae oré r-esé,
~ .-
· duvido~a palavra, quanto ao sentido. Parece indicar algum uso su-
6. ia,, n de ri,,
Oro-iAJ-e-ro-b'A t-oro-s-ausu' iandé r-uba persticioso relacionado com " girar " ou com " mover-se velozmente " sena<>
S. Lourenfo angaturama, íandé mo-nhang-ar-eté. com o uso do "catavento". Cfr. MoNTOYA, Tesoro 299/293 · Pyryri · RESTIVO
e-s-ato oré retania ~ocab;:tário 535 : " Veloz" ; V LB 425 " U entoinha". 2 - ce~emónia; de " san~
, - ,
ore sumara su·i. 27. Ere-s-apiá' iandé íara, ttdade . Cfr. VLB 38S. 3 - byar, intr. acomodar-se· ficar· permanecer ·
estar bem. Cfr. MoNTOYA, Tesoro 79v; VLB 288. ' ' '
i nheenga mo-pó' pá'.
,. , , b ,,
10. T-oro-ityk oré poxy, E -ior-·i ore r-ausu -a,
paié r-e,..ro-biar-ey1na, t-oro-i-mo-morang ko ara, BIBLIOGRAFIA
moraseía, mbyryryma,1 nde r-ekó poranga r-á'.
caraí-monhanga2 ndí. ,. ANCHIETA 17v-20; 22-23v ; 26v-30v; 34-35v; 39v-40 ; 46-48; FIGu~:rn A
32. S-upi-bé ere-nio-mbueirá' ;¿3-35; 36-53; 100; 105-106; 108; 113; 114; 143; MONTOYA 13-18; 21;
maraa-bora, s-obá-' sap-a: 43-44; 46-48 ; 49-50; RESTIVO 45-47; 86; 92; 93 ; 9S; 99; 104-1OS ; 108;
14. Tupa r-e-ro-bf.á' katu 141; 160 ; 163-169; 211-213; CAETANO 15-16; 18; 19; 2S-26; 31 · 3S ·
nde pyá swí nd-o-ir-i: nde r-ayra i maraá', 46; 48; SO; Sl; 58; ADAM Sl; passim; TovAR 12S-126. ' '
t-oro-gúe-ro-bíá' nde pyr-i anhanga r-ekó potá:
íandé rub-eté Jesus. e-íor...í-no i-tno-1nbuei-
rap-a.
23
CURSO DE TUPI ANTIGO 359

que ele vá : t' o-só ( pern1iss.)


LI(A.O .56.(l deixa que ele vá : t' e-í n hé o-só-bo (gerúndio, n. 434)
nao venbas : e-ior U111 é ( Ítnperat.)
,
disse para que o ouvísseis : pee s-endi.ip-ag-11an1a-n' ikó a-e
.. CATEGORIAS VERBAIS (partic.)
(s:íntese) As conjunc;oes que en1 portugues levam o verbo para
u subjuntivo presente, pedem indicativo em tupi. As que
PESSOAS levam o verbo para o subjuntivo iniperfeito, pedem con-
dicional:
1018. Há diferenciac;áo de 6 pessoas: l.ª, 2.ª s., 2.ª pl., 3.ª,
+
l.ª s. + 2.ª (s. ou pl.) ( 3.ª), 1.ª s.+ 3.ª.
ainda que eu vá: a'Úié-bé-te a-só
ainda que eu fósse: ai1ié-bé-te-1no a-só
Na 3.ª p., nao se distingue o singular do plural. Em alguns casos, ainda que me bata, eu f alarei assin1 mesn10: aúié-bé-te .·r e nu,pii-u,
opoem-se a 3.ª reflexiva e a nao-reflexiva (n. 304). a-nheeng-i
ainda que me batesse, eu f alaria assim mesmo: auiá-bé-te-mo xe
MODOS nupa-u, a-nheeng-í-mo (VLB 93)
1019. Exprimem morfologicamente as diferentes atitudes de quen1 por mais que
. o chame, nao me ouve : a-s-enoi 'iepé, xe r-endub-
fala, <liante da a~áo ou estado referidos. -eym-i
por mais que o ficasse chamando, nao me ouviu : a-s-eno'-s-enoi
iepé-nio, xe r-endub-eym-i
Há os seguintes: indicativo, iniperativo, permissivo,
infinito, gerií,ndio, particípios, condicional e optativo. Em lugar de auié-bé, vem também auié-é, aúié-bé-é, aflié-bé-ramo, auié-bé-
1 -ramo-te, tirua-mo.
O infinito e os participios ( exceto -bae ) sao formas nominais.
Ademais desses, a língua tupí conhece outros modos, como o negativo,
o interrogativo, o dubitativo, o potencial (n. 1028). Também certas partí- TEMPOS
culas tém func;iio modal: raé dá um sentido de quotativo, i. é, de afirmativa
baseada apenas em informac;ao (n. 1043); reá (h.) e rei (m.), de opinativo 1021. O tempo nao é expresso gramaticalmente no verbo
( n. 1044) ; anga ( b), de exortativo ( n. 459) ; etc. tupi ( n. 113).
1020. Nao há subjuntivo. Conforme o caso, supre-se com Em lugar do tem po ou ocasiao, relativos, em que se verifica o processo
os outros modos : verbal (antes, depois ou durante o tempo em que se f a l a), o tupi procura
descrever o a s P e e t o ou maneira da ac;ao : se é instantanea ou prolongada;
oxalá ele venba ! : o-ur-te-mo mií ! (optat.) repetida, subdividida, ou contínua (n. 920 s).
oxalá ele tivesse vindo ! : o-ur mei 1na ! ( optat.)
quando ele vier : t-ur-e11ie ( infin.) O tempo pode ser indicado através de partículas independen-
se viesses : nde r-ur-enie-n-io ( condicion.) tes, como koyr agora, oieí boje (pass.), kori boje ( f ut.), k21esé on-
se tivesses vindo : nde r-ur' iré-'l'!W ( condicion.) tem, oirandé amanha, ira futuramente, eri1nbaé ou arakaé antiga-
quero que me mates : a-i-potar nde xe iuká (infin.) mente, umá já, etc.
quero que me mates: a-i-potar nde xe íuká-sag-U<Lnia (participio)
NOTA. Para ·urna compara~~ curo nossas línguas, deve-se lembrar
ele manda que vás : e-kúai ! - e-í nde-be ( imperat.) que mesmo nestas a distinc;áo gramatical (presente, passado, futu ro) nem
CURSO DE TUPI ANTIGO 361
LEMOS BARBOSA

Mesmo quando, na maioria dos casos, se traduz por nosso pre~


sempre é objetiva. O futuro só existe na Hngua literária: "eu vou=irei"; sente, reflete náo o momento presente absoluto, mas resultante
"domingo te pago==pagarei". Ainda : "vai chover"; "hei-de voltar"; "vou
trazer". Cfr. a origem do futuro nas línguas neolatinas, anglo-germanicas, de um passado remoto ou imediato :
no Iatim, etc. O presente e o passado sao empregados para um aconteci- paié i niarangatu: o feiticeiro é bom (já o era antes, tan-
mento futuro : "quando eta vier. eu sigo", "quando ele voltar, eu já fui".
Por outro lado, o presente pode implicar noc;óes diferentes da de tempo: to assim que justifica a afirma<;áo presente).
"este aviao voa 800 kms. por hora", i. é, tem capacidade para isso (ainda
que nunca o tenha feito, e mesmo que no momento presente esteja parado) ; As precisoes ficam a cargo das partículas temporais (n. 1021), resolutivas
"a terra gira em derredor do sol" ; " aquele menino nada", i. é, sabe nadar ; ou espectativas (n. 1023).
"aquela moc;a nao dam;a", i. é, nao sabe danc;ar .m" nao usa danc;ar. O mes-
mo se dig.a dos outros tempos gramaticais : " este novo tipo de aviao voará 1025. A n~áo de processo habitual, costumeiro, expri-
1.000 krns. horários"; "por esta rua passava bonde". Nas duas frases "Ga-
lileu afirrnou que a terra roda em derredor do sol" e "Galileu afirmou que n1e-se com partículas con10 iá, íaby (n. 382) ou pela con-
a. terra rodava em derredor do sol'', roda e rodava significam absolutamente a juga<;áo com prefixos pacientes (;re, nde, i, etc.), aplicável
mesma cousa. Apenas rodava, da orac;ao subordinada, obedece a urna es-
pécie de concordancia com o tempo gramatical da orac;ao superordinada ou a quaisquer verbos.
principal.
Apenas, os verbos transitivos devem levar poro- ou mbaé (n. 382).
1022. Na maioria dos casos, o indicativo dos verbos de Encontram-se, porém, exemplos como
prefixo agente (a-, ere-, o-, etc.) corresponde ao passado
abá o-g úatá o-py-bo : o homem anda con1 os ( :eus) pés
1

real, que se exprin1e em nossas línguas ora pelo passado aipó-bae te-ne nd' o-i-aby-i 1tiboia (AR. 241) : esses nao di-
ora pelo presente gramaticais : f erem da (parecem-se a) cobra
o-pak soó : o bicho acorda ou melhor acordou 1026. A capacidade física, intelectual ou moral (modo
o-manó xe sy : morreu ~minha máe
potencial) traduz-se também pela conjuga~o predicativa
O nosso presente gramatical é urna abstrac;ao, com pouca realidade obje- ( n. 383) ou por locu<;óes em que entra o verbo é ( n.
tiva. Se o acontecimcnto se está realizando no momento presente, ternos ou
o aspecto durativo ou o iterativo. P. ex.: "Pedro dorme", i. é, "está dor- 461-462).
rnindo" - um processo que vem do passado, cobre o momento presente e
perde-se no futuro. Se o acontecimento já está realizado, ternos o pas- 1027. A própria , conjuga<;áo perifrástica, normalmente,
sado.
nao se refere a a<;ao presente em particular, mas a a<;áo
1023. O indicativo traduz também o nosso futuro. Mas prolongada ou contín ua, em qualquer tempo, conotada a
quando éste envolve inten<;áo ou resolufao de quem fala, posi<;áo do sujeito (n. 900): ,
traduz-se pelo per1nissivo ( n. 197). Quando denota ex- o-nheeng o-in-a: esteve, -ava, -á, -ará (parado) falando
pectativa de q uem f ala, pede -ne ( n. 1.13) . o-nheeng o-up-a: esteve, -ava, -á, -ará ( deitado) falando
o-nheeng o-am-a: esteve, -ava, -á -ará (de pé) falando
Em tupi, o futuro é mais um modo do que tempo, no verbo. o-nheeng o-ikó-bo : esteve, -ava, -á, -ará f alando
o-nheeng o-kitp-a: estiveram, -avaro, -áo, -arao f atando
1024. O indicativo dos verbos predicativos (de :re, nde,
i, etc.) afirma urna equa<;áo, indiferente de per si a n0<;áo Pelo contexto, pelos advérbios temporais que acompanham, se depreenderá
a que tempo diz relacao.
de tempo.
362 LE1iOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 363

expressar aspectos: J!Uká-ypy, p~ká-iepotabé~ puká-iebyr, puká-pik: come~ar a,


1028. Nos documentos ocorre amiúde o advérbio ira "futu- continuar a, tornar a, parar de nr, Etc.
ramente, tempo virá, algum dia": •
e-i-a.soíab-ok nde karamemua t' a-s-epiak ne mbaé. A-nhe-mo-
VOZES
-sainan; a-s-epia.k-ukar ira nde-be. N d' a-r-ur-i xó-p' ira mbaé nde-be? : 1031. Além das vozes ativa, reflexiva e reciproca (n. 578), há ª. v.oz
(LÉRY 24 ad.) : abre a tua caixa, para que eu veja os teus objetos. causativa e a causativo-comi.tativa. A causativa indica que o sujetto
Estou ocupado; algum dia tos mostrarei. Pois eu nao te trarei pre- causa urna a~ao ( ou estado) a um objeto, e obtém-se _com o ~c.réscimo
sentes qualquer dia?; a-r-ut irá, :re r-ekó aúié riré (id. 38 ad.) : eu os do pref ixo 1no- ou mbo- ( n. 196) aos verbos nao:t;ans1t1vos (e
trarei quando os meus negócios estiverem concluídos ; a-só ira-ne nomes) e do sufixo ·ukar (n. 516) ao~ yerbos ~r~ns1ttvo.s. A voz
(id. 42 ad.) : irei qualquer dia causativo-comitativa acrescenta que o suJetto part1c1pa de certo modo
do efeito que causou, e obtém-se com o prefixo ro- ou no- (n. 500).
1029. Nos documentos coloniais nota-se a tendencia ( eu- O , verbo pode estar simultaneamente em várias vozes. , ~as os m?rfemas
ropéia) de dar o sentido de presente a forma geral. ie- e w- por um lado. e mo- e ro- por outro sao incompative1s entre s1.
Para refor~ar a no~ao de passado, aparece as xezes erimbaé 1032. Nao há conjuga~ao pa~siva. Há os particípios
"antigatnente" ou u1na "já": -. passivos pyra e t-e-nii-. O primeiro nao se usa quando
mamó-pe eri1nbaé t-eyi katu pab-é landé !ara r-e-ra-só-u Kaifás vem expresso o agente (n. 767):
r-oka suí i xem' iré? (AR. 82): aonde a multidao levou a N. S., de- i íuká-pyra: o (que é) morto ; :re r-e-mi-iuká: o (que é) mort?
pois que ~le saiu da casa de Caifás? por mim ; i •uká-pyr-ama endé : tu és o (que será) ~orto; xe r-e-1ni-
-íuká-rama endé : tu és o (que será) morto por mini
. ASPECTOS
1030. Os verbos apresentam-se ora soba forma perfectiva 1033. Nos documentos fio-ura
o também um circunlóquio:. 'o
ora sob a forma imperfectiva. verbo ikó precedido do particípio pyra ( raratnente t-e-nii-),
modificado pela preposi~ao -ramo:
A primeira exprime um processo realizado (" perfectum") e visto como
um todo ou unidade indivisa e inextensa ( seja no presente, no passado i iuká-pyr-amo ere-ikó: f oste n1orto; xe r-e-nii-ittká-py~-a~o ere:
ou no futuro). A segunda exprime um processo em -vias de realiza~o (no -ikó : f oste morto por mim; i mo-mbeú-katii-pyr-anio ere-iko, kunha
presente, no passado ou no futuro) e que se estende ou subdivide no tempo suí · i mo-mbeú-katu-pyra bé nde membyra Jesus (AR. 2) : es ben-
ou no espa.;o.
dit~ acima das mulheres; bendito também o teu f ilho Jesus
A forma perfectiva pode ser atual ou habitual. A atual é ex-
pressa pela forma comum do verbo. Sobre a habitual, v. n. 1925. EXERCfCIOS
As principais modalidades de formas imperf ectivas, em tupi, 1034.
sao o iterativo, o durativo e o iterativo-durativo, que se obtem pela posanong : curar
reduplica~áo (n. 924). posanga : remédio
atá-' pynha ( t) : carváo, brasa mo-túnbor: def umar
0Bs. A língua tupi conhece outros aspectos, obtidos pela adic;ao de sufi- - o-ikó-bé-bae : brasa 1no-guai: ferir
xos, como bé (continuativo ou permansivo), bé-11hé (repetitivo), tá(-by) ou amé - o-gué'-bae : carváo sitban : chupar, sugar
(habitudinal), apyr-i ou suer ( -i) ( iminentivo)' kaiu ou eté (intensivo)' pyyi pyter: chupar
( freqiientativo), i ou (te-) nhé ( remissivo ou distensivo), é ( restritivo), biar ekó-aba é ou nhé ( s) (xe) : ser
(morosivo-progressivo), etc. Com.P em tódas as línguas, há circun)Óquios para costume

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai


www.etnolinguistica.org
364 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

1035. Suban só se diz de "chupar" os doentes, para curá-los. 1037.



1036. Paié poro-posanong-ar-arno nhe-nto-1mgó-ü. Mbaé-asy-bora febre·: akuba (t) morador da aldeia : tapiiara
peíu ata riré, i mo-timbor-i. 0-í-~·ntban 1nbaé-asy-bora r-eté, i xuí disenteria : eikfiar-uguy ( t) agasalhar bem (o hóspede) : íe-
mbaé asy r-e-no-se1n-a nio-ang-au.p-a. Aipó riré, o io-íurit suí t-atá- corru<;áo (<loen~) : ygé-aíba ( t) -mbo-ryryí [esé ]
~' pynha ogi'ié'-bae-puera, kó-ipó pirá kang-uera, o e-mi-mima, r-e-ityk-i, tosse 1naligna: uú asy espantar, expulsar: mo-ndyí
i mun-a, "Ang-bae a-no-sem nde r-eté suí" - o-í-á-bo mará-á'-bora (para) Ionge : mam6
sure, o iuraraguai-amo. -
" , A " A M ara-a - ora, o asy sui, s-ase-s-asem-e
, ,, b -
'' l anga s-ase-s-asem o-ikó-bo" - abá i é-it. - Kumha, mará-á'-bora 1038. Como vai o doente? Tem melhorado? - O pajé o esteve
mo-mbuerá'-potá', i íuru-pe amyniíu r-e-nimbó nio-ndeb-i, i xuban-a, sugando toda a noite para curá-lo. - E o doente sarou? - Ainda
"T' oro-mo-mbúerab-ne" ..-- o-í-á-b'-aup-a. - N da abá rua mará-á'- nao. - Que é o que o pajé, sugando-o, tirou do corpo dele? - Um
-bora mo-ngetá-u. Mara-pe emona s-ekó-uf S-ekó-aba é. - Abá amó, carváo. - E que disse o pajé, depois de ter ficado a sugá-lo? - Disse
o-1-mo-guai-bae-puera, o-i-xuba-xuban i puerab eym-e-bé-ne. que ele sararia. - QuaÍS as doen<;as que O pajé COStuma C\,\rar aquí?.
- Febres, disenterías, corrui;óes, tosses malignas. - E o carvao está
de verdade no corpo dos doentes? - Nao. É o pajé que finge tirá-lo.
- E ainda que o carváo estivesse no corpo do doente, poderia o paj é
tirá-lo? ___, Que mais costuma o pajé fazer com os doentes? - ~le
fica def umando-os.

1039. A NOSSA SENHORA


QUANDO SUA Il\1AGEM FOI LEVADA A RERITIBA
P. JosÉ DE ANCHIETA (1534-1597)
(adapta~ao ortográfica)
E-íor-í, Virgem Maria, E-í-peá pá maraara:
Tupa sy, kó taba sup-a, t-akuba, t-eikf'tar-uguy,
manió anhanga mo-ndyí-a, t-ygé-aiba, uú .asy
t' e-í-katu nde r-ausup-a t' o-ie-ro-bíá' t-apiiara
nde r-esé o-íe-1nbo-ryryi-a. Tu,pa nde membyra rí.
Poesias tupis, p. 33.

1040. DO JU1ZiO UNIVERSAL


P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)

(adaptai;ao ortográf i.ca)


0-ur bé-pe ira J.esus Cristo ybaka suí-ne? - 0-ur bé-ne.
Tratamento de um doente (THEVET) Mbaé-renie-pe t-ur-i! - Yby kaí palJ 'iré-ne. Aé-pe opá irá mbaé
366 LEMOS BARBOSA

kai-ne? Opab-e-nhé. 0-kuab-é-pe1 ira soó, gi"tyrá, pirá, kaá,


oka, kó-ipó ntbaé a1nó-ne? - N' aan-i xó-é-ne. Opá-katu-pe asé
abé asé pab-i-ne! - Opá-katu. 0-ikó-bé íe-byr-pe asé aé riré-ne!
- 0-ikó-bé íe-byr-ne. Mara íabé-pe ! - 0-iké íe-by' asé anga LIC:ÁCJ 57.ª
asé r-.eo-búera pupé, i nio-in.gó-bé-bo-ne. Abá-pe íandé r-enoí-ne?
- Karaí-bebé. Aú-nhé-nhé-pe2 ira i nheenga r-upi asé r-eo-buera
puam pab-i-ne? - Aú-nhé-nhé. Opá-katu-pe abá ang-uera r-ur-i PAR'TifCULAS
ybaka suí, Purgatório swí, anhanga r-atá suí, ogu-eté-puera mo-in-
gó-bé-bo-ne? - Opá t-ur-i-ne. I poran! gatu-pe i angaturam-bae
r-eté-ne? - I paran' gatu, kU,arasy o-berap-a--ne. Emona abé-pe
i angaipá'-bae r-eté-ne? - N' aan-i: i poxy katu-ne. Umii-me-pe 1041. A frase tupi se caracteriza pela abundancia de partículas.
asé nhe-ynhang-i3, landé !ara Jesus Cristo r-ur-eme-ne! - "Josafá" Idion1a concreto, o tupi procura com as partículas exprimir os por-
ybyty-guaía s-er-ba.e-pe. Mara-pe Iandé !ara r-ur-i-ne? - Yby- 1nenores tanto das ac;óes e estados descritos na frase, con10 dos
tinga ar-bo. Abá-pe· iru-namo t-ur-i-ne? - Opá-katu ybaka-pora sentin1entos com que a"pessoa, que fala, acompanha a sua fala ou elo-
r-i..·r-i-ne. I abaeté4 katu-pe ira i a.ngaipá'-bac supé o-ú'-ne? - cuc;áo: enfado, desgasto, raiva, desprezo, carinho, louvor, saudade,
I abaeté katu-ne. 0-s-epiak-pe ira i angaipá'-bae i tupas t-ur-eme- dúvida, interrogac;áo, certeza, meia certeza, opiniáo baseada etn in-
-ne f - N! aan-i; s-eté anhó o-s-epiak-ne. S-eté beraba6 tiruií,-pe f ormac;ao de outrem, etc. Grande número de partículas tém essa
nd' o-s-epiak-i xó-é-ne? - N d' o-s-epíak-i .?:ó-é-n.e, i abaeté:r f un~áo, por vezes intraduzível noutra língua : expressóes da lingua-
anhó o-s-epíak-ne. S-oryb-eté-pe i angatiirani-bae s-epíak-a-ne? - - gem afetiva.
S-oryb-eté-ne.
Catecistn·O ( ed. 1898), pp. 60-62. IN1"'ERROGATIVAS
' 1
1 - escaparao? 2 - imediatamente. 3 - se juntará. Melhor: nhe-
-ynhang-i. 4 - terrível. :Melhor abaí'-té (de abaíba + eté). S - divindadc. 1042. -Pe, sera,. hé (n. 157) indicam que a pessoa que
No tupi colonial, T1tPa significa "Deus ". Aqui está em sentido for~do:
"natureza divina". 6 - o resplendor do seu corpo. 7 - o seu terror. íala está perguntando. Normalmente nao se traduzem.

BIBLIOGRAFIA AFIRMATIVAS

ANCHJETA 17v; 21-2?; p,assim; FrGUEIRA 101-116; passim; MoNTOYA 18; Algumas já foram indicadas, n. 103.
passim; RESTIVO 30-47; passim; CAETANO 14-19; 19-27; 31; 35; 46-50; 50-58;
AoAM 51-58; DALL'lGNA,. Análise 67, In. A Categoria 50-53. J043. Raé, usadíssin1a, parece servir para afirmar a con-
clusa o daquilo que se ouviu, sem maior responsabi-
lidade de quem fala. Equivale a "de maneira que"; outras
vezes nao se traduz :
o-só raé: de n1aneira que foi; diz que foi; aé gii-e-nii-tyma aysó
pyter-pe bé-pe Tupa amó ybá t-ekó-bé iara inoa1n-if E1no-na raé
(AR. 49) : colocou Deus també1n no 1neio daquele seu formoso jar-
dim um fruta, senhora da vida? ( Diz que) assiin f oi

,
r

368 LEMOS BARBOSA


CURSO DE TUPI ANTIGO 369

O mesmo sentido tem nas interroga~óes:


(AR. 139): Deus, em premio do grande amor que (S. Joáo) lhe teve,
o-só-te-pe raé é? (ANcH. 36) : de maneira que ele foi? entáo
provavelmente o levou com seu carpo para o céu
ele foi?

Po.r vezes raé é substituída ou acompanhada por i é, 1046. O sentido principal de ipó é afirmativo: "certamente",
que ma1s claramente exprime a pala vra de terceiros ( i. é : "de verdade". Evolui para dubitativo, como, no portu-
<lito dele ou deles) : gucs, "certamente". Exs. como afirmativa:
emona i é ou emoná raé ou e1nona i é raé : assim dizem que é a-só ipó (FrG. 121) : vou, resolutamente; "a-i'-epyk ipó sera
s-esé-ne" - er-é-pe! (AR. 229): disseste: "hei de me vingar dele de
1044. Reá (de h.) e reí (de m.) sao afirmativas senten, verdade"?
'
· ciosas, principahnente para os casos em que nao há certeza
absoluta. Com freqüencia vem acompanhadas de ipó ou 1047 · Sera, com verbo negativo, toma sentido contrário:
sera, dubitativas. Corresponden1 is vezes a "deve ser", "há "sem dúvida", "certamente" (e o verbo se traduz na forma
de ser": afirmativa) :
!andé !ara Iesus Cristo r-eo-ag-uera: s-esé ipó Tupa x e r-ausub- nd' o-ti-1, será asé a gente se envergonha, sem
-ar-i reá (AR. 31) : a morte de N. S. J. C. : por eta Deus se há de com~ dúvida,
padecer de mim; o-s-apiá' katu, "X e r-e-r-ekó-ar-i aé xe 1nena, xe niara o-ikó-bo ara iá de f azer isso cada dia
r-uba r-ekobwra aé rei" o-í-á-bo (AR. 167) : (a esposa) <leve obedecer o aro-ana r-obaké <liante de seu (anjo da) guarda
a seu marido, pensando "l\1eu marido <leve de ser meu guarda querido (VALENTE, Poema III)
(i diminutivo de a feto) , o substituto de meu pai" nd' o-nianó sera-1. xó-é-ne (MoNT. Tes. 154): morrerá, sem dú-
vida
DUBITATIVAS
DEPRECIATIVAS
1045 · Sao principalmente sera e ipó ou n'ipó "talvez",
"quic;á", "provavelmente", "por ventura": 1048. Raú conota. enfado, desgosto:
~~ suí sera i asab-i (sic). India Tapyí' tinga r-eta'-me (AR. 138): mará-mo-te-pe raú?: pois como havia de ser?; e-i-k1tá' raú nde
daqut ele passou para as 1nd1as, a terra dos Tapuitingas · o-só ipó reá rí o-pó-ar-bae (AR. 79): adivinha quem te bateu
(VLB 190) : <leve ter ido; bi-p' eté-i ipó ahe r-ekó-u (V~B 339 corr.) :
deve de estar por aí pertinho; aé ipó ( ou n' ipó) s-ekó-eym-e (VLB 1049. Muru ou mburu e moxy in1plicam raiva, maldi<;áo:
214) : e no caso que nao esteja; aé-n' ipó ou aé-n'ip' aé ou aé-n' ipó . ..
raé ou aé sera-ne ou aé sera-ne. . . raé : e parece que. . . ( narrai;áo) · t' ere-só muru / : vai-te ( com os diabos !)
aé-n' ipó N. pó-ar-i s-esé raé (VLB 214): e parece que N. deu nel~
lvfuru pode ser até substantivo:
As vezes juntam-se as duas: t'ía-s-ausu' pab-é Santa amemos todos a Santa Maria,
aé será-n' ipó . .. raé ( ib.) : e parece que ... ; ogu-aitsu' katu-ag- Maria,
-uera r-epy-ra1no Tupa ipó sera s-e-ra-só-u s-eté r-e-sé-bé ybak-pe wndé pyá pupé s-ekó mo- introduzindo sua lei em nosso
-ndep-a, corac;ao,
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 371
370

t' o-pó-ar anhanga rí, muru [para] que ela ven~a o demo, 1054. Ton1a por vezes a accep<;áo de "dever":
rno-1nbep-a, nio, esmagando o maldito, Tupa é-n' anl asé o-i-mo-eté (VLB 167) : é a ·:oeus que se costu-
s-ekó poxy swí íandé desviando-nos de sua má lei. ma adorar ( i. é, que se deve adorar) ; niara e-í-p' anié asé abaré
(ANcH., Poesías 27)
"hóstia" r-upir-enie? (AR. 153) : que se costu1na (<leve) dizer quando
I
o padre ergue a hóstia ?
1050. As vczes, na paradoxal linguagem afetiva, podem tomar tonalidade de
carinho ou louvor : 1055. Com anié se f orma111 curiosas locu<;oes ironicas :
e-1.-mecng raú xe-be: dá-mo, pela tua vida!; "pe-ió pal;-e ! ,, - e-í
:re sy 1tmrzi angaba: " vinde todos" - disse a boa de m!!'~~ª 'Tláe nibaé kuap-ara aé a1né ahé ! (VLB 359) : que fulano para saber l
(i. é, que nao sabe nada); nibaé angaba aé amé! (VLB 85, 268): isso
falta ora ! ; nibaé angaba aé amé y! (VLB 85) : oh cousa ( 9u lugar)
DEI.JBERATIVAS para ter água ( i. é, ein que nao há água nenhuma) ; y angaba aé
amé ebokúé y-pau! (ib.): oh ilha para ter água !
1051. Sobre ká, ky, pá, v. n. 199.
' 1056 · Angaba pode estar no diminutivo a,n gab-i-me é, e
OUTRAS PART1CULAS entao se encarece ainda n1ais a falta:
ybyrá angá'-pe é amé ou ybyrá angab-i-me é anié (VLB 268):
1052. Nhandu ( ou iandu) corresponde ao nosso "já, como oh lugar para ter paus (i. é, que náo tem pau algum)
de costume":
o-ikó-potar s-esé nhandu (AR. 240) : já está a querer pecar com 1057 · Iro: "portanto". Muito. empregado, com várias acce-
ela ( subent. : como tem o costume de fazer) ; ira nhandu ou iro p<;ües:
nhandu he ou iro nhandu gúé (VLB 258): já come<;a ! (repreensao) iro ou ira hé (VLB 316) : veja só (bem eu o disse) ; ira ( ib.) :
Ocorre com frcqüencia no imperativo, com o sentido de "já" (n. 208). olhe bem, preste aten~áo (e mais tarde verá que tive razáo) ; iro bé,
Nao se usa com verbo negativo. iro nliandu (S. Lour. 75): veja, outra vez já come<;a!; ira, iro-no,
ira nhandu (VLB 316) : olhe isto, olhe o que já está fazendo (zanga
1053. Amé ou -n' amé ou -n' ak' amé: "ser costume", OU queixa); nei ro ou nei-ne ro (VLB 197) : eia pois (já que o quer)
"costumar":
na-nenie anié anhanga ie-iuká-'ib-eté-u 1noro-esé, abá ogu-e-ro-
tosa. Nhé. Usadíssima. As vezes significa "a toa",
"sem
-bw'-potá' (AR. 316): nessa ocasiao o demonio costuma esfor<;ar-se mais", "sem razao especial", "por fazer", etc. Na maioria
muito com a gente, desejando qtte o hon1em ~reia nele dos casos, dispensa tradu<;áo: ven1 apenas refor<;ar o sen-
tido de determinada , palavra ou partícula. É nluito cor-
É especialmente empreg·ado quando corresponde ao rente após o gerúndio, conjunc;óes, advérbios, preposi~oes ;
nos so imperfeito: ou em frases predicativas:
a-só amé iepi (VLB 394) : eu costumava ir sempre; mara er-é-p' ia-i-peá nhé aipó-bae, amó r-esé i 1no-1nondá (AR. 281) : esses
amé e-poro-nibo-é-bo? (AR. 77 corr.): que costumavas dizer, quando nós os separamos, fazendo-os casar com outros; Tupa nheenga aby-
ensinavas? -reme, anhanga supé ere-nhe-meeng-eté, s-e-mi-ausub'-amo e-nhe-1no-

' .
LE110S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 373

-ingó-bo: s-ausup-a nhé, i mo-eté-bo nhé... (AR. 249): faltando aos 1C62. aan:
mandamentos de Deus, tu te entregaste inteiramente ao demonio, trans-
formando-te em seu escravo : amando-o, estimando-o ... ; i nhyro aan-i, n' aan-i, aan ia, aan nhé, aan-i reá, aan-i rei ou ri, aan-i
nhé-mo (AR. 81): perdoaria sem mais; iké nhé pe-ikó xe r-aro-mo r' akó, aan ipó, aan ipó bia, aan umé, aan ynié, aan ymé-ne,
(AR. 72): ficai aqui esperando-me; i angaturam-eté nhé Santa Maria aan-i xó-é-ne, aan-i xó-é ipó-ne, aan-i xó-é koy-te-ne, aan-de,
(AR. 64): é santíssima Nossa Senhora; s-ekó-aba nhé (VLB 167, 420, aan angá'-i, aan gatu tenhé, aan-angá-~ katu tenhé, aan-eym-e,
,
308; AR. 42): é seu natural; foi sempre assim; nhusana aby-ar-eyma. aan-ey1n-e e
nhé será ·" tentafao" . .. ? (AR. 29) : é acaso a tenta<;·áo semelhante a
un1 lac;o? 1063. anhé ou aié :
1059. Muitas vezes .se alterna. no uso com é (n. 204-205) : anhé kó, anhé r'akó, anhé-n' akó, anhé-'té, anhé katu, anhé 'té
guatá é ou guatá nhé (VLB 102) : andar a pé
katu, an'hé 'té katu nhé, anhé ,té 'té katu nhé, anhé raú-pe,
' manhé raú-pe, anhé ra:ú-pe é, anhé raú-pe rí, anhé-te-mo, anhé
1"'
n6o . A'e....· " e ... "
ipó, anhé-p' anhéf, anhé?, anhé rua-p' anhé?, anhé r' akó reá,
No tupi nao há coordenativa para ligar frases ou anhé reá, anhé r' akó rei, anhé rei
membros de ora<;oes ( n. 145). 1\iias aparece aé abrindo ,..,..,
períodos que tenhan1 alguma conexao com os anteriores. 1064. au1e:
Corresponde a "e . . . " : auié a, auíé ui, aúié ranhé, aúié katu, aúié katu nhé, auíé katu
'té nhé, aúié ipó, auié katu 'té nhé ipó ou -n' ipó, aúié-rama,
aé ipó s-ekó-eym-e. . . (VLB 214) : e, caso éle nao estej a ... ;
auié-rania-nhé, auié nhé, auíé é, auíé é-mo, auié-bé-te, auié-bé-
aé-n' ipó N. pó-ar-i s-esé raé ( ib.) : e parece que N. deu nele
-ramo, auié-bé-ramo-te, auié-bé-te-1nO, ai1ié-'té, auíé-'té-pe é,
c:ftié-'té-ramo.. auié-'té-ramo-pe é
Mais f reqüente nas interroga<;óes:
aé-pe . .. '!: e porventura ... ?; aé-pe 1nara?, aé-te-pe 1nara?: . e 1065. na:
que há con1 isso?; aé-pe mara ere-ikó s-esé? (VLB 214) : e que tens na-te, na-te-ne, na ndé, na ndé-te, na ndé-te-ne, na-bo, nii-mo,.
com isso?; aé-te-pe?, áe-te-pe ahé?, aé-te-p' ahé r-ekó-u? (VLB 159) : no-nio, ná-mo nito-te, na-1no nho-t' au·b, nii-i, na-i bé-i, ná-i
e como está ele ( ou fulano) ? ; aé-te-pe nde .P ( ib.) : e tu (que dizes) ? bé-i nhó te, na-i bé-i nhó-t' aub, ná-nenie, na nhó, na nhó
qual é o teu parecer?; aé-te-pe nde nheenga? ( ib.) : idem; aé-nio-p' ranhé
( ou sera) ix~ s-e-ra-só-aub-i? (VLB 348): e por que haveria eu de
o levar?; {(.'re porang-eté-te-nio ma! aé-1no abá xe potar-i rei !" -
er-é-pe.P (AR. 235): "oxalá eu fosse muito bonita, (e) os homens me 1066. mara:
cobi~ssem ! " - disseste (pensaste) isso? mara-pe?, niara-te-pe?, niara-te-pe-nio?, mara-mo-pe?, marii-
-mo-te-pe?, mara-mo-te-pe raú?, mará-te-pe-ne?, ntara-te-p'
GRUPOS DE P.ARTíCULAS ia-ne?, 11iara-na1no-pe?, niara será?, niara ngatit-pe?, niara
ngat1t-eté-pe?, niara iabé-pe?, niara ngoty-pe?, niara ngoty
1061. As partículas, tao abundantes na língua, juntam-se as vezes em grupos.
Nem sempre é fácil separá-las, principalmente nos antigos documentos, que suí-pe?, mara hé?, niara-p' ipó?, mara eté.+pe?, mara té-í-pe?,
as unem quase sempre numa só palavra. Alguns exs., separados já os elementos: mará-nenie-pe?, mará-neme-te-pe?, 1nara-1no-pe?, mara-pe-mo?

24
374 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 375

- ntara ndé, mara ngatu, 1nara ngatu-eté, 1nara wsúara-mo, ahe ! ou gfié } veja isso ! (espanto
-AA -AA - _
niara 1asuara-m,o -mo, mara iasuara-nio nia, niara iasuara-nio-
_.,.A
segúé, ti, eti ou zombaria) (h.) cá (111.)
-te-nio núí., 1nara W.S1ia,ra-1no-ne ma, mara íasitara-mo-te-nio apá gtié ou apá gi1í: ni! (coitado!) (h.) eá ! ( escárneo) } ( tn.)
{ cu1naé
1067. -te ! ( dó)
aky ! : oh ! ( dó ou dor) ( n1.) eu111aé! aniaé iú! (n1.)
-te-ne, -te-n'akó, -te-n' anhé, -te-n'ipó, -te-nio, -te-mo ma, agi'iy! : oh ! ( perda, esquecimento) (h.~ amaé iú! (m.)
-te-1no-ne, -te-mo-ne-mo
Acrescentem-se pá (h.) e maé (m.) (VLB 175), cujo sentido nao é claro.

A LINGUAGEM DOS HOMENS E A DAS 1069. DO JUfZO UNIVERSAL


P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
MULHERES (continuac;ao da p. 366)
,..,
1068. nos referirnos ,a existencia de palavras que sao
Já Mbaé 1no-nha11g-a-pe landé !ara r-ú' íe-byr-i1 >'baka suí-ne? -
,..,
etnpregadas só pelos homens, ao lado de outras que o sao 0-ikó-bé-bae, o-1nanó-bae-puera pab-é r-ekó 1no-ndyk-as. 0-i-peá-pe
i angaipá-bae i angaturani-bae suí-ne? - 0-i-peá-ne. Mara ngoty-pe
só pelas mulheres. i angaturam-bae mo-in-i-ne? - O é-katu-aba koty3 • A é-pe i angaipá-
Cabe aqui urna resenha dessas partículas e interjeic;óes : -bae niamó goty-pef - O asu goty• . Mara-pe irá i angaturam-bae
r-e-r-ekó-u-nes? - Ybak-pe s-e-ra-só-u-ne. lvf ara-pe s-ekó-u6 ybak-
pá: sim ( só de h.) (n. 44) eé (h. e principalmente -pe-ne? - Tupa o-s-epiak-ne. Mbaé eté-pe Tupa r-epíak-a? - Mbaé
m.) eté aé anhó opá-katu i potar-pyra sosé. O-i'-ekó-ab-ok-bae-rama-pe7
aan: nao (h. e m.) ( n. 44) eani, eama, eamaé (só t-ekó-fntku8 ybak-pe s-e-nii-e-r-ekó-rama? - N d' o-i'-ekó-ab-ok-bae-
de m.) -rania rua 9 • 0-i-kuá' katu-pe i i'-ekó-ab-ok-eym--ag-uama10 ? - 0-i-
reá: part. afirm. (h.) (n. 1074) rei (m.) -kuá' katu. 0-i-porárá abé-pe nibaé am6, ebo-ui-me o-ikó-bo-ne? -
rá: em verdade ( af etiva) (h.) raré (m.) N' aan-i :ró-é-ne. Aé-pe ira i angaipá-bae mara s-e-r-ekó-ií-ne? -
e-ra-só ké raré ! (VLB 316) : olha, te digo, que o leves Anhanga r-atá-pe i mo-ndó-u-ne. 0-sem bé-pe irá ebouinga suí-nc?
- Nd' o-sem-i xó-é-ne. Auié-ran1a-11hé-pe s-ekó-1{, t-atá porará-bo-
é: <leve de ser ( afirm. duv.) (h.) rí (m.) -ne? - Auié-ranta-nhé. Mbaé s-asy-eté aé-pe t-ekó-ara supé opá-katit
s-e-mi-porará sosé? - Aft1é-rania-nhé Tupii o nio-nhang-ara, r-epíak-
abá-p' ak6 éf (VLB 319): quem seria aquele? -eyni-ag-ua111a.
a-só-p' ixé-ne ríf (VLB 319) : nao sei se me vá Catecismo (ed. 1898), pp. 62-63
entona rua-pe é (VLB 190): assim <leve de ser
para julgar. 3 - a sua dire1ta.
1 - tornará a vir. Conjug. subord. 2 -
4 - i sua esquerda. 5 - que f ará com os eleitos? 6 - que faráo no céu?
akai: oh!; ai ! ( dó, dor, 111edo, zomba- al~é, aky (n1.) 7 - é mutável? ou: f ica diferente? 8 - vida eterna. 9 - nao é mutável.
ria) (h.) 10 - que nao se mudará?
lnté, ahé: oh ! upa! (espanto) (h.) ió (m.)
gúí, gué, guey: ó (vocat., n. 448) (h.) iú ou ió (m.) BIBLIOGRAFIA
(nao tem correspondente Partículas - ANCHIETA 54; 57v; FIGUEIRA 126-137; 144; MoNTOYA 19-20;
hé ! : olá ! oh! ( só de h. para h.) para m.) RESTIVO 31-32; 202-327; L. BARBOSA, Tradufocs 42.

he gúé ou he guí: oh!, olá (h.) iú ou ió (m.) Linguagern dos homens e das mulheres - ANCHIETA 14v; FIGUEIRA 9;
133-134; 139; MoNTOYA 78; 80-81; REsnvo 216-327; L. BARBOSA 168.


CURSO DE TUPI ANTIGO 377

nd' o-ur-i xe r-ybyra. - 0-ú' -te-nio-p' aé?: nieu irmáo nao veio.
- Pois ele tinha de vir? ( subent. : nao) ; karaiba nd' o-gue-r-ur-i-pe
.
o e-m bi-aY'-uerar
A Q
- Nd' o-gue-r-ur-i xo-e-t e-nio-p, a.e., f : o branco nao
A • , , ,.,
trouxe o que ca<;ou? - Pois ele nao tinha de trazer? ( subent. : é claro
LI~Jl.O 58.ª que trouxe) ; ere-i-pytybo-p' ikó mará-á'-bora? - A-s-epiak tenhé-
-nio-p'ia?: socorreste a este enfermo? - (Acaso) eu o veria debalde?;
abá é-te-1no-p' aé? : pois quem outro havia de ser? ; nda xe kysé-i
xó-é-te-1no-pe? : pois eu nao havia de ter faca? ; nda xe kysé rua-í
PERiODOS
xó-é-te-mo-pe? : pois nao havia de ser minha faca?
As vezes a resposta é a repetic;ao da pergunta :
1070. Na conversa viva, deviam predominar as frases er·imbaé-pe? - Er.inrhaé-pe?: quando? - Quando? (i. é: tao pouco eu
sei quando)
curtas, sem coordena<;ao nem subordina<;ao gramaticais, mas
presas entre si pela repeti<;ao ou suposi~ao de um elemento 1075. Hav.endo dois verbos, um no gerúndio ( ou 110 infi-
comum. nito com· -reme) outro 110 condicional, a tradu<;ao inclui a
1071 . Era também bastante empregada a subOTcHnac;áo; prinqipalmente
locu<;ao "como se":
o gerúndio, as orac;oes temporais, alén1 das frases particip. ( -bae). Coor- xe mbo-é-reme-mo-p' aé, a-i-kuab? ou xe nibo-é-te-mo-p' aé, a-i-
denac;ao quase nao existia. -kuab ? : como se mo houvessem ensinado, eu o havia de saber?; xe
mbo-é-eym-e-mo-p' aé, nd' a-i-kuab-i?: como se nao mo tivessem ensi-
1072. No tupi escrito pelos missionários, e mais ainda no nado, eu nao havia de o saber?; pe r-ausub-eym-e-te-mo-p' ipó, ixé pe
guarani; os períodos sao calcados nos moldes europeus : r-epiak-aub-eymri? : como se nao vos amasse, nao havia de desejar
longos, tecidos de frases coordenadas e subordinadas. ver-vos ?; mará nde r-ekó-eyni-e-p' aé, Paí nde nupa-ukar-eym-i raé?
ou mara nde r-ekó-eyni-e-11io-p' aé, Paí nde nupa-ukar-eyni-i raé?:
como se náo tivesses f eito nada, havia o Padre de' mandar bater-te?
1073. Como nao nos foi conservada nenhuma narrac;ao espontanea em tupi,
nao estamos em condic;óes de precisar qual seria a técnica do discurso,
devendo contentar-nos cóm vagas alusóes dos autores antigos e com a analogia O segundo verbo pode estar subentendido:
dos codialetos vivos.
ro y- ey' -te-nio-p' aé? : cotno se nao estivesse fazendo f rio (nao
havia de me aquecer ou abrigar) ?

AFIRMATIVAS INDIRETAS (*)
1076. O verbo é, "dizer", entra em nun1erosas dessas res-
1074. Os índios apreciavam e empregavam largamente o postas interrogativas :
processo de afirmar perguntando. Isso principalmente nas Tupa nhandé r-ausub : e-í tenhé-( n. 463 )-te-mo-p' akó og-uguy
res postas (Cfr. no espanhol "como no?'" = sim). Suben- marangatu nhandé r-esé i mo-'lnbuká-bo raé? : iDeus nos ama: a toa
tendia-se ligeira repreensao· ou admira\ao pela pergunta. havia de derramar seu sangue por nós?; "xe amotar-eymb-ara anhan-
ga" - nd' er-é-i-te-p' ia, i nheeng' apíá tenhé ou "nda xe a1notar-
(*) A rnaioria dos exemplos que se seguem, sao tirados de RESTIVO (Su- -eyrnb-ara rua anhanga" - er-é-te-p' iii, i nheeng' apiá' tenhé f: co~o
plemento, Cap. IX, "De las oraciones enfáticas"), com adaptac;óes ao diateto se o demonio nao fósse teu inimigo, obedeces as sua? ordens? (ht.:
tupi.
378 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 379

nao dizes "o den1onio é meu inimigo "' obedecendo as snas ordens? "nda xe 1no-1nbor-i xó-é anhanga r-atá-pe-ne Tupa" - e-i-á-bo rua-
ou : dizes "o demonio nao é meu inimigo ", obedecendo as suas -pe - ere-i-nio-maran tenhé katu asé r-ekó-1no-nhang-aba e-ikó-bo
Ordens.?) ,. " ze r-ayra i'k o,,, - nd' er-e-i-te-p
, ... ·- s-ausub-eym-af ou
' ia, raé?: nao dizendo "nao me atirará Deus ao inferno" (sabendo que
"nda ze r-ayra rua ikó" - er-é-te-p'ia, s-ausub-eym-af: como se nao náo me a tirará), estás desoqedecendo aos 1nandan1entos?; "ar-eté-
fósse teu filho, nao o an1a.s? -gfiasu-n' ikó" - e-i-á-bo rua-pe - nd' ere-porabyliy-potar-i? : sabendo
que nao é dia de festa, nao queres trabalhar?; (( nda xe sy rua ikó"
1077. o verbo é as vezes se coloca no gerúndio: - e-i-á-bo rua-pe - i nheenga nd' ere-s-apwr-i? : sabendo que é tua
máe (nao dizendo "nao é minha n1áe"), nao obedeces :is suas ordens?
e,,,~ona aipó gui-i-á-bo-nio-p' i:ré f: havia eu de entender que isso
era a,ss1i:i.?; ni~aé poran' gatu-eté gúi-í-á-bo-nto-p' ia, xe nhe-1no-ndyi 1078. Do cotejo desses exemplos concluí-se que, quando há urna repreensáo, o
verbo é fica no gerúndio n<;!gativo (gui-i-á-bo rua, e-í-á-bo rua) ; caso contrário,
1. tenl:e gui-t-eko-bo ! : como se eu pensasse que era urna coisa muito leva o sufixo do condicional -mo.
a
?o?ita, h~via de m: admirar toa? ; (( t' i rnarangatu,'' gui-i-á-bo-mo-p'
i~i-e, Tupa nheeng-uera r-esé opo-mbo-é-mbo-é-aub gui-t-ekó-bo raéf:
con_io se eu esperasse que viésseis a ser ·bons, havia de vos estar a 1079. l\1as pode-se dar ta1nbém um torneio mais simples
ens1nar as palavras de Deus ?; "koromó t' a-basem" - nda o-i-á-bo as frases:
r~ta - ahé r-anhé ~-anh~ o-~kóbo : ele está todo apressado, como se
fosse c?egar logo (lit.: nao dtzendo "chegarei logo": sabendo que nao "nda xe mo-mbo.r -i xó-é anhanga r-atá-pe-ne Tupá" - e-i-á-bo-p'
che~ara logo. Subentende-se: faz mal em se apressar, pois nao che- ia - ere-í-1no-maran tenhé katit asé rekó-nio-nhang-aba ere-ikó-bo
gara mesmo logo); "koromó t' a-basem" - o-t-á-bo-nto-p' aé _ ahé raé? : entendes que Deus náo te atirará ao inferno, para estares a deso-
r-anhé r-anhé o-ikó-bo: havia ele de se apressar, como se fósse chegar bedecer aos seus mandamentos? (Subent.: bem sabes que atirará);
l~go? (como se sou?esse que ia chegar logo? Subent.: faz bem em "ar-eté-guasii-n' ikó" - e-~-á-bo-p' ia - nda pe-porabyky-t? : enten-
nao ~; apres;a,r, po1s _bem sabe que nao chegará logo) ; "t' a-r-ekó des que é dia de festa, para nao trabalhares? (sabes que nao) ; "nda ze
mbae - e-i-a-bo rua-pe - nde kaneo tenhé e-ikó-bo raé: estás-te sy rua ikó" - e-1-á-bo-p' ia - i nheenga nd' erc-s-apiar-i f : entendes \

cansando a toa, como se fósses conseguir alguma cousa (lit.: nao di- que ela nao é tua tnáe, para desobedeceres as suas ordens ? ( ben1 sabes
.zendo "terei a cousa": sabendo que nao terás ... ) ; "nda xc amotar- que o é)
-ey1nb-ara rita-n' ikó anhanga" - e-i-á-ba rua-p' iii. -- ere-í-nheeng-
-apiá' tenhé? : como se o demonio nao f osse teu inimigo, cumpres as 1080.De acórdo c~m a regra geral ( n. 681), em lugar do
suas palavras?; "nda xe a1notar-ey¡nb-ara rua -n'ikó anhanga" - e-i-á-
-bo-te-mo-p' aé, ere-i-nheeng-apiá' tenhé ? : con10 se o demonio nao
gerúndio pode também estar o infinito seguido de -re1ne:
,
f ósse teu ini111igo, havias de cun1prir as suas palavras ?; "1nbaé aby-ara gúi-i-á-bo ou xe e-reme
nhe-nio-nh~nga ix~" - e-i-á-bo ~ua-pe - 1nbaé ere-i-nio-ndó íepé? : e-i-á-bo ou nde é-reme
como .se fosses filho de mau abrador, deixas escapar a c~a?; "a- o-i-á-bo ou i é-renie. Etc.
- s- epia k'' - e-i-a-
"' ' bo rua-
- t e- pe - aipo
... ' er-e' ixe-be?
· ' ou nde s-epíak iré-
-mo-p' aé, aípó er-é ixé-be?: como se o tivesses visto, dizes-me isto? · "xe r-e-mi-tym-buera r' akó" xe é-reme rita-te-pe, "na nde
" ..ie
• r-ayra i'ko, JJ - e-i-a- bo-1no-p ) ia
,A , •- - ere-i-nio-ngaru? : como se dis-
A ' r-e-mi-tyni-buera rua" er-é ixé-be; ou "xe r-e-,ni-tym-buera r-akó"
ses:e~ ::~ 1neu .. f~lho",,~avias de da~-lhe de comer?; "nda xe r-ayra xe é-renie-mo-p'aé, "na nde r-e-mi-ty1n-buera ruá" er-é i:ré-be: dizes-
rua iko - e-i-a-bo-p ia - nd1 ere-i-mo-ngaru-i xó-é?: como se dis- -me "nao é o que semeaste", como se eu tivesse <lito "é o que eu
sesses "nao é meu filho ", náo lhe havias de dar de comer?; "nda xe semeei"
amotar-ey11ib-ara rita ikó" - e-i-á-bo-mo-p' ia - nd' erc-s-ausub-i
xó-é? : como se dissesses "é 1neu inimigo ", nao o havias de amar? ;

38ú LE~10S BARBOSA CURSO DE TUPI .ANTIGO 381

\
-bo é, asé s-e-ityk-i reá. O koty suí mbaé poxy r-e-ityk 'iré abá, nd'
o-gue-ro-íe-byr-i <> koty-pe, i mo-sat-a, i mo-nem-botar-eym-a. T'i,
a-pysyk nde anga, Tupa o ausu.b-á' r·iré. Tupa anhó t' o-ikó i por-amo
ang-iré. N de r-ekó meniuá-ag-uera r-epy-meen'-gatu roiré, t' ere-i'-
-ekó-sub-eté t-ekó poranga r-esé.
Catecismo ( ed. 1898), pp. 249-250
1 - miséria. 2 - chorando. 3 - aplacando. 4 - abrandando. S-
temendo. 6 - espalhando. · 7 - virtude.

BIBLIOGRAFIA
Periodo~ - CAETANO 84-90.
Afirmativas indiretas - REsT1vo 191-202; 207-211. ..

Sepultamento (THEVET)

1081. EXORTA<;.A·O ANTES DA ABSOLVI<;AO


P. ANTÓNI-0 DE ARAÚJO (1566-1632)
( continuac;áo da p. 352)
Emona-namo Tupá nheenga aby-ag-úera kuap-a, nde r-e-mi-mo-
-tnbeú-púera, nde r-esaraí-ag-uera abé, opab-e-nhé i mo-asy-pyra,
\
s-e-ro-yro-byra sosé, i mo-asy-á-bo, s-e-ro-yro-mo, enei e-íasegu-á-bo,
nde pore-ausuba r-apiro-nio. "A-só-mo ixé aé-pe, Tupa xe pysyro-
-eym-e-mo rea - e-i-a- bo. 1"Mara- uzsuara-mo-t e-mo ahare, xe apir-
,,, A , A "' .
-amo-neme, xe angaipab eym-e-bé, xe r-eo mar' - e-1-á-bo, nde anga
tno-aky', nde r-esá-y-ranio, Tupa tno-i'-e-ro-kuap-a, anhanga suí, s-atá
sui bé e-nhe-ang-u-á-bo.
En·e-í, anhanga mo-seni-a koy-te, nde angaipaba mo-asy-á-bo,
s-e-ro-yro-nio, auíé-ran1a-nhé s-e-ro-íe-by'-potar-eym-a; emoná o-ikó-
CURSO DE TUPI ANTIGO 383

Tupana ( ~ Tupa-ara): dia de Deus: dia santo


Tiipa ( r-) oka: casa de Deus: igreja

ybaka: céu (firmamento) == céu (dos eleitos) , paraíso


LI(;AO 59.ª ybaka-pora: morador do céu
ybak-y-guara : celestial

O TUPI COLONIAL M aira : personage1n 1nitológica branco ; f rances


abaré : == padre
1082. Ao contacto com o portugues, o tupi sof reu várias abaré-gi"'tasu: .hispo
altera<;oes. nhe-mo-abaré: ordenar-se
.
1083. Algumas palavras introduziram-se na língua, ou pelo ybyrá io-asaba: paus cruzados =: rtn.,..
menos nos sermoes e outros escritos tupis. Quase sempre yby a-pytera: centro da terra == inf ernos, limbo
nomes de seres ou cousas sagradas, ou conceitos de orden1 mo-nhang : f azer = criar
moral crista, que nao tinham fácil tr~du<;ao em tupi: 1noro-pysyro-ana: salvador == Salvador
Santa Cruz, Espírito Santo, Ave Maria, Santa Igreja Católica, ekó-mo-nhang-aba ( t) : regra de vida == mandamento
Santos, Missa, Páscoa, Apóstolos, Cristaos, Sant-íssima Trindade, apixara ( t) : sen1elhante (adj.) == próximo (adj. e subst.)
Endoenfas, Sepulcro, Santfssimo Sacramento, A1ném, tentafaO, grafa, karaiba: grande pajé; taumaturgo == estrangeiro, (ser sobrenatural) ;
1nirra, Judeus, rei, ladainhas, sacranientos, etc. (Todos do Cate- branco; crista.o, santificado, santo, bento
. cis1no de ARAÚJO).
y karaiba : água benta
nhandy karaiba : santos óleos
Assim tan1bén1 os nomes de dias da sen1ana, de meses,
nhe-1no-ngaraib : batizar-se
de números, etc.
nhe-1110-ngaraiba : batismo
1084. Na maioria dos casos, porém, traduziam-se os novos nhe-ni ( b) o-íasuk : lavar-se, banhar-se == batizar-se
. conceitos por palavras tupis, que tivessetn conl eles algun1a nhe-m ( b) o-iasuka : batismo
semelhan<;a, en1bora vaga. Estendia-se-lhes apenas a sig-
nhe-1no-1nbeií: declarar-se == confessar-se; confissáo (do fiel)
nif ica<;ao: mo-nhe-mo-mbeú: confissáo (ato sacerdotal) ; contessar
Tupa: genio do trovao e do raio == Deus
1nend-ar: to1nar marido == casar-se
Tupa-r-ar: tomar a Deus: comungar 11iend-ara : matritnonio
Tupfi.-mo-ngetá: falar com Deus: rezar
Tupa sy: mae de Deus: Nossa Senhora Anhanga: genio mau das matas == diabo
Tttpa r-era r-enoi: chamar o nome de Deus : jurar anhanga r-atá: fogo do diabo: inferno
384 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 385

lurupari: genio mau das matas (mais conhecido no Norte) == diabo asé sybá-pe abaré-gU<lsu nhandy karaiba nong-a : pór o Bispo na
obá-'sab ( s) : atravessar o rosto a == benzer fronte da gente o óleo santo =crismar; crisma .
i'-obá-'sab : benzer-se asé r-eo íanondé nhandy karaiba r-ar-a: tomar os santos óleos
antes de morrer = ( receber a) extrema-un<;áo ·
marana rí t-ekó-ara: guerreiro = soldado
misa mo-nhang : = dizer missa t087. Algumas paJavras portuguesas, aceitas pelo tupi,
angaipaba; angaipap-aba: ruindade = pecado
sofreram adapta<;óes fonéticas:
ekó-angaipab-ypy ( t) : pecado original
t peró ( +...Pero) portugues
oryba ( t) : alegria == f elicidade celestial
t pereru ( +4llf ferreiro) ferreiro
t kabaru ( ....._ cavalo) cavalo
oryp-á'..pe ( t) : no céu t sapatu ( +4llf sapato) sapato
t llabará ( ..._ cabra) cabra
ekó-katu ( t) : vida boa, honesta == virtude t l?urusu ( ,...... cruz) cruz
mi-tyma : plantac;áo, horta == Hórto t kasiana ( ,...... castelhano) espanhol
.. .
ie-kuakub:
. . ocultar-se, recolher-se para o 1eJum (a moda indígena) t sarauaia ( ~ salvage) selvagem
.
== 1e1uar t karnarara ( ....,.. camarada) amigo
itá: pedra == ferro = metal t Roré ( .._.. Louren~o) Lourenc;o

itaiuba: pedra amarela == ouro = moeda == dinheiro 1088. Apesar de contrariada, urna tendencia incoercível
itaiutinga : ouro branco == prata fazia com que os europeus for<;assem um tanto a índole
itaíunema : ouro ( ou moeda) f edorento == cobre da língua, para adaptá-la aos conceitos e processos gra-
itaíyka: pedra rija (mas maleável) == estanho n1aticais latinos e neolatinos:
itamembeka: pedra mole == esponja == chumbo
itanema: pedra f edorenta = cobre
1089. O indefinido ( s) etá evolui pouco a pouco para
1085. Algumas palavras, ficando substancialmente iden- morfema de plural ( n. 47). Chega-se a encontrá-lo junto
ticas, vestiam· porém o sentido europeu ou cristáo: de palavras portuguesas já no plural:
Santos etá (AR. 18): os Santos
anga: alma = alma
ro-bwr: acr~ditar em crer, ter Fé em 1090. O e o m par a ti v o, conceito gramaticalmente
i'-e-ro-bíar: confiar e1n == ter Esperan<;a inexistente em tupi, desenvolve-se a custa de vários
epy ( t) : tróco, revide == pre~o, paga, valor recursos (n. 173).
1086. Por vezes tornou-se necessário um rodeio para tra- 1091. A partícula de superlativo, eté, ven1 escla-
duzir o conceito europeu: recer confusóes, nascidas após o contacto com as línguas
I

386 LEMOS BARBOSA CURSO .DE TUPI ANTIGO 387


/

européias. Certos objetos, e principalmente certos animais nioranga: formoso f orn1osura .


domésticos desconhecidos aos índios, tinhan1 sido batizado~ angatura11ia: bom, afável, bondade, afabilidade, v1r-
virtuoso tude
con1 nomes de seres semelhantes : osanga ( t) : paciente paciencia
vinho : kaui ( cauim) Tupa: Deus divindade
cao: iaguara (onc;a) io-ausuba: amarem-se n1u-
boi : tapiira (anta) tuamente concórdia, amizade
mbaé-ú-eté-eté: comer de-
.
ma1s gula
1092 · Para voltar ao primitivo sentido, serviram-se entáo (

os índios da partícula eté:


1
angaipap-aba: modo de ser
' mau ruindade
kaúi-eté : cauim mbaé poxy: cousa feia desonestidade
.. , onc;a
iaguar-eté: . Nao é de crer que tais inovac;úes tivessem penetrado profundamente na
tapiir-ete: anta língua viva. Exceto a nova f.unc;áo de saba, que vingou, domina as obras do
século XVIII e persiste no tupi moderno do Amazonas.
1093 · Para exprimir numera is superiores a ''tres", or2
se adota vam as palavras portuguesas, ora se recorria o. 1096. No domínio da fon é ti e a, acentuava-se lenta-
vários circunlóquios ( n. 212) : mente a evolu~áo de y para u ou i, que devia provir já do
xe p6, xe py, abá pó i py ara o nzembyr-ar-a kuab' 'iré. . . (AR. tupi pré-colonial. Etc.
121) : quarenta dias depois que passou o .seú parto ...
1097. Quanto aos tenipos, niodos e vozes
1-094.As vezes juntavam o circunlóquio e a palavra por- verbais, pronunciava-se a tendencia para enquadrá-los nas
tuguesa correspondente : formas neolatinas, em substitui<;áo ao conceito de
mokoi o io-irundyk oito ara syk-e1ne. . . (AR. 120) : quando che~ aspecto ( n. 1021).
garam os oito dias ... ; xe pó, xe py, amó abá pó, i py abé, quarenta
ara landé !ara Jesus Cristo r-ekó-u kó ara pupé gi"t-ekó-bé ie-byr' 'iré . 1998. Os t n di e es d e e l as s e en1 geral nao haviam
(AR. 127): quarenta dias ficou N. S. J. ·C. neste inundo, depois que

ressurgtu .
sido compreendidos pelos europeus. Daí a crescente con-
f usáo no seu uso. As alternancias t-atá, r-atá, etc., parece
1095. Nao havendo n o ni es a b s t r a t o s de qua- terem sido tomadas posteriormente con10 meros fenómenos
lidades ( n. 48), os n1issionários procuravam imprimir tal fonéticos ou mesmo flexionais.
accep~áo primeiro a adjetivos, ao infinito, a substantivos,
posteriormente ao .particípio saba ( n. 825) : 1099. A e o n j tt gafa o sub o r din ad a, após urna
taigaiba: ágil, vivo agilidade, viveza fase de confusáo, da qual já é testemunha o eatec·i smo de
kunusiiia : modesto modéstia BETTENDORFF, desapareceu totalmente da língua, apesar de
mor-ausub-ara : benigno benignidade ter persistido mais tempo que no guarani.
388 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO Z.89

1100. Dia a dia, o tupi foi perdendo a sua índole in e o r- -ekó-u íandé angaipaba r-epy-nieenga potá, ybak-pe iandé r-e-ra-só
spotá-bé-no.
, - . b',.,
Ere-ro-biá':Pe aípó-bae Tupa r-e-mi-mo-m eu-ag-uer-amo
P ora ti va. s-ekó-renie? - A-ro-biar-ete.
1101. Os períodos, sob a influencia européia, tornaram-se Asé anga n' o-manó-bé-e 9 rua. , 1kó ara pa_!J-nie10 _opa~-í-n~~ ~~
r-e-kó-bé-íe-byr-ne11: aé-re1ne lande !ara Tupa opab-i-nhe ase iabio
mais complicados, cheios de orac;óes incidentes e subordi- r-ekó-ag-uera r-upi s-epy-meeng-ne12 : i• angaturam-bae o-so-u , "'13 y bak -
nadas em desacordo com a tendencia indígena ( n. 1070) . -pe Tupana14 pyr-i, auié-rama-nhé t-ekó-katu r-esé o-í'-ekó-sup-a, o
' anga, ogu-eté pupé-bé-ne. I angaipa , pe i• xo-u
' ,,- bae anh anga r-ata- , 15
A

1102. Em compensac;áo, foram rare~ndo mais e mais as auíé-rama-nhé opab-i-nhé t-ekó-aiba porará-bo o anga, ogu-eté pupé-
-bé-ne. Ere-ro-biá'-pe aípó-bae Tupa r-e-mi-mo-mbeú-ag-uer-a:nio
partículas, táo abundantes na língua primitiv~- (n. 1041).
s-ekó-reme16 f - A-ro-biar-eté katu.
Ere-íe-ro-biar-pe Tupa por-ausub-ar-cté r-esé, Iandé !ara Jesus
1103. BREVE INSTRU<;ÁO P..~RA O BAT~SMO Cristo r-eo-ag-uera r-esé bé, opab-i-nhé nde r-ekó-angaipag-uera nhi-
ro-ag-uama, nde ybak-pe só-ag-uama bé't - A-íe-ro-biar-eté.
DE UM tNDIO PAGAO EM CASO DE SUPREMA NECESSIDADE Ere-s-ausú'-pe Tupa nde !ar-eté-ramo, nde pysyro-an-eté-ranio,
nde r-ub-eté-ranio bé, opá-katu mbaé tetiruii sosé i angaturam-eté
P. Jo.Ao FELIPE BETTENOORFF (1625-1698)
r-esé é? - A-s-ausub xe pyá-pe katu.
(adapta~áo ortográfica) Xe r-ayt, Tupa r-ausup-ar-eté Ó-í-mo-íe-kuab-ukar o Tupa r-au-
suba, Tupa asé r-ekó-mo-nhang-aba r-upi o-ikó-bo.
Xe r-ayt, kó nde r-aniyw r-ekó-puera r-upi nde r-ekó n' i katu-i;
Tupa nheenga nde r-e-mi-por-ama17 na e-í18 :
s-upi nde r-ekó-reme, ere-mo-kanhé-ne1, anhanga r-atá-pe ere-só-u-
-ne1 auié-rama-nhé bé Tupa nde r-epiak-i3 xó-é-ne. Emonii-namo xe 1. T' ere-i-mo-eté oíepé Tupa. 2. Anhé-'té er-é tenhé umé
1nb;-é-saba r-upi e-ikó, e-ro-bíar katu xe nheenga, t' ere-ikó Tupa Tupa r-era r-enoia. 3. T' ere-nio-eté19 ar-eté. 4. T' ere-mo-eté nde
r-ayr-anio, t' ere-só ybak-pe Tupa r-oryba r-epiak-a. Ere-ikó-potar- r-uba nde sy abé. 5. T' ere-por-apiti u1né. 6. T' ere-poro-potar
-pe aipó xe nheenga r-upi? - A-i-potar. umé. 7. T' ere-mo-ndaro umé. 8. Nde r-e-moem umé abá r-esé. 9.
T' ere-nhe-mo-motor umé nde r-apixara r-e-mi-r-ekó r-esé (se f ór
M osapyr mbaé pupé nhó-te aípó-bae r-u-i: Tupa r-e-ro-bw' pupé~ n1ulher, diga: nde r-apixara mena r-esé). 10. T' ere-nhe-mo-motar
Tupa r-esé í'-e-ro-biá pupé, Tupa r-ausuba pupé, Tupá nheenga r-upi umé abá mbaé r-esé.
t-ekó-potara pupé, nhe-nio-ía.sitka pupé bé. Ere-i-potar-pe aipó mo-
sapyr mbaé! - A-i-potar katu. Ere-ikó-potar-pe aípó Tupá asé r-ekó-mo-nhang-aba r-upi, nde
r-ekó-bé iá-katuf - .A-ikó-potar katu s-upi.
Nde r-e-nii-e-ro-biar-ama koyr t' a-s-aang4 nde-bo-ne. Tupa
Nhe-nio-ngaraiba r-esé t' oro-mbo-é-ne koy'-té 20 • Kó nhe-mo-
iandé iara opá-katu mbaé tetiru(í, mo-nhang-ara. Tupa oiepé nh!, ab~­
-ngaraiba Tupana r-ayr-amo asé mo-ingó-u, ybaka r-okendab-ok asé-bo.
-ramo o-ikó-bo niosapyr abá, Tupa T-uba, Tupa T-ayra, Tupa Espi-
rito Santo, mosapyr abá o-ikó-é, oiepé Tupa memé. Ere-ro-bU:,r-p~
1andé angaipaba, íandé anga kyá-saha. E nio-na-namo nd' e--í katu-í
asé Tupa r-ayr-amo o-ikó-bo, Tupa ok-pe81 o-iké-bo o anga r-ei eytn-
a~pó-bae Tupa r-e-mi-mo-mbeú-ag-ue~-amo s-ekó-re1,n e5, opab-i-n~e
-e-bé. Nhe-1no-ngaraiba y karaiba pupé asé nhe-mo-iasyk-a22, asé
i mo-ngaraib-pyra angaturam-etá nhe-inhanga6, Santa Madre ..IgreJ?
anga o-io-s-ei, o-1-mo-íasyk i kyiá23 ok-a. Ere-í-potar-pe xe nde
Católica i-aba, asé mbo-é-sag-uer-amo s-ekó-reme?7 - A-ro-biar-ete.
mo-ngaraiba, y karaiba pupé nde mo-iasyk-a, t' ere-ikó Tupá r-ayr-
Tupa T-ayra iandé r-esé apyab-atno asé wbé o-nhe-mo-nhang8 , -amo (se for mulher, dirá: r-aíyr-amo), t' ere-iké Tupa ok-pe? -
íandé r-esé-bé ybyrá to-asaba r-esé i nio-íar-pyr-amo, i iuká-pyr-anio A-i-potar-eté.

25
390 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 391

A ~d~ nhe-uio-ngaraiba eym-e-bé, t' cre-í-nio-nhiró gatu Tupa nde


17. Nheenga supi9 pupé 21. Uíni-aé 12 o-só ybak-pe.
i()-upe> i angatura1n-eté r-esé nde r-ekó-angaipag-uera mo-asy-á-bo>
nde pyá suí llatu s-e-ro-yro-tno, s-e-ro-ie-by'-potar-e·y1-n-a bé. Ere-i- º
!urupari1 pe-mo-sem 0-nhe-nio-nibeú katu
S'endaba n' o-i-gua- O-i-1nbo-as;113 bé katii
-mo-asy-pab-e-pe nde r-a1nyfa r-ekó r-upi nde r-ekó-puera? ere-1no-
seni 11 Afiié-rania nhé.
-asy'-p~, ere-ro-yro-pe opab-i-nhé nde r-ekó-angaipag-uera Tupa r-esé,
s-e-ro-ie-by>-potar-eywt-a auié-rama-nhé r - A-i-mo-asy-eté xe pyá
1
Pe pyá-pe.
FERREIRA FRAN<;A, Crestomatia, p. 146
suí katu, s-e-ro-íe-by>-potar-eym-a auíé-rama-nhé.
lxé oro-mo-iasyk, T-uba, T-ayra, Espírito Santo r-era pupé. NoT.\ - Esta poesia, mais recente, já documenta a fas~ de decadencia
do tupi.
.Er~-i-p~tar ka~u-pe ixé nde mo-íasyk-a, Tupana r-ayr-amo nde
1 - humilhai. 2 - Na Crestomatia vem tobaké, evidente engano. 3 -
mo-ingo-ag-uanta ri! - A-i-potar kattt. Nao oculteis. O verbo deveria ir para o gerúndio ( n. 434). 4 - " Muitos
Co1npc1idio, pp. 105-115 homens se perderam ". O suf. de passado junto ao verbo no indicat. é insólito.
5. - Nao vejo usado senao o refl. nhe-mo·sarai, com duas accepc;oes "brincar"
NoTA - -BETTt:NDORFF nao domina va com perfei.;ao a língua. Algumas de e "esq.uecer-se ". Qualquer das duas caberia no contexto. A existir mo-sarai, a
suas construc;o~s devem ser levadas a conta de erros e nao a da evoluc;ao do tupi. trad. só pode ser " Náo os (pecados) esque~ais ". 6 - A qui remé oxítono,
1 - Dev1a estar rr<'-kanhe-ne "tu te perderás" mo-kanhe seria trans · para rimar. Em geral é átono. 7 - corr. de i.itraragúai. 8 - "pai, padre,
" d~itar~s ~ ,perder ", " pe~der~s ". 2 - n. ·561. 3 -' Devia estar nd' ere-;~ Padre". Há dúvida sóbre se é palavra de origem tupi. 9 - de acórdo com
-cfnak-i .-ro-e-n~. 4 - rec1tare1. 5 - A conj.unc;ao -reme nao tem cahimento e a verdade, verdadeiro. 10 - Nome de genio malfazejo das matas, aplicado mais
perturb~ o senti~o. 6 - uniáo, comunhao. 7 - v. nota 5. 8 - v. n. 562. ' 9 tarde ao diabo. 11 - yuaseni era. verbo relativo, regido de supé. Mas AR. 82
- J?ev1a estar ! (~'!1 noss~ ortografi~ i). 10 - Mais comum : pá'-pe. 11 - e aqui, figura como tran~it. Além disso, devia estar n' o-i·gi'tasem-i. 12 -
Dev1a ser:. r-eko-be-ie,-b31r-i-ne, na conJ. sub. 12 ·- Devia ser: s-epy-rneeng-i-ne. aqueles. 13 - Na Crestomatia, por erro vem oimoe,ybe.
13 -. D~v1a ser: o-so; v. n. 561. 14 - Deve ter sido esta a forma primitiva
tupi: T1tp~na. Por _que prevaleceu Tupa? Talvcz por influencia do guarani BIBLIOGRAFIA
(ou do tupi de S. Vicente). Palavra capital na catequese nao é de admirar
c¡ue se te.nha uniformizado. 15 - v. n. 562. 16 - v. nota 5. 17 - Devia
ser rt'._11ti-mo-por-ama. 18 - assim dizem, rezam. 19 - v. n. 484. 20 - BETTENOORFF passim_; EcKART passim; ANÓNIMO, Dicionário Portug1,és e
Aparecem ambas as_form~s: k~y:-te e koy'-té; v. n. 16. 21- No texto está: Brasiliano, passim; ARRONCHE: passim; FERREIRA FRANCA p,assim; BARBOSA
p11, e~ vez de pe: erro t1pograf1co. 22 - No mesmo texto figuram as duas RODRIGUES X-XV; ID. Vocabulário passim; SAMPAIO 23-25; 59-167.
var.: ws31k e iasitk. 23 - Devia estar: kyá.

1104. CANTIGAS, OU VERSOS


AUTOR DESCONHECIDO '
(adaptac;ao ortográfica)

1. Pe-ior-í Tupa pyr-i, 5• Pe pyá pc-mo-kui1


Pabinhé angaipá'-bora. Iandé !ara r-obakéi
Pe-illó y111é Uibá' -bora I pyá-pe pe-1:ké
Tupa suí. Aé pe-s-ausub.
9. T enhé3 pe-i-kuakub 13. Tenhé pe-nio-sarais,
Pe angaipag-uera : Pe nhe-mo-nibeú renié6.
S' etá abá o-kanhe gi1e- P c-ie-reraguái7 ymé
ra4
Pe Paíª supé.
T' atá -pe o-kai.

\
CURSO DE TUPI ANTIGO J93

Os derivacionais dizem resveito a conceitos concretos do ambito da palavra.


Os paradigmáticos referem-se a conc~itos de relac;ao do ambito da orai;áo.

LI~Ji.O 60.ª II. Os suf ixos podem ser mediais e f inais.


Os médiais sup5em sempre algum sufixo posterior. Sáo ind1-
ESTRUTURA DAS PALAVRAS cado.s, aqui, com um travessáo oblíquo: eym/, puer/, ram/, (s)ab/,
(s)ar/, tyb/, suar/, si"'ter/, por/, bor/, etc. Os finais nunca ante-
ceden1 os mediais, e poden1 concluir palavras: -a, -i, -1i, -ne, -mo,
1105. Em tupi, como na maioria das linguas, a palavra -pr., -te, et•c.
pode ser um aglomerado de dois ou mais elementos seman-
ticos. III. Há 4 tipos de afixos derivacionais em tupi.
Assim, na frase portuguesa "Os bois pastavam calmamente naquelcs altís-
simos planaltos", discernimos desae Iogo os seguintes elementos de sentido 1) os nominais, que de nomes formam non1es: pref. á, apá,
, . o, -s, b.oi, -s, past-, -av-, -am, calm-, -a, -metite, n-, aquel-, -e, -s,
próprio: apé, pó, py, etc., suf. i, gúasu ou usu, eté, tyb, etc. 2) os nominais,
alt-, -issun-, -o, -s, plan-, alt-, -o, -s - .cada qual com seu valor semantico. que de nomes formam verbos: pref. mo-, ro-. 3) os verbais, que
Chamam-se moríemas os últimos elen1entos de sentido próprio de verbos formam non1es: pref. 1nbi-, suf. sar/, sab/, -bae, suar/,
- embora nen1 sempre de uso autónomo - que integram palavras suer/, por/, bor/. 4) os verbais, que de verbos formam ve~bos:
e frases. pref. nio-, ro-, suf. ukar e a reduplica<;áo.
Paradigmáticos sao, além dos afixos pessoai.s, os afixos ver-
RADICAIS E AFIXOS bais de modo (ta--, -mo), de tempo (-ne), de nega<;áo ( nda-, -i),
de interroga~áo (-pe?), de ila<;áo (-te), de conexáo (-no), de su-
1106. Os morfemas dividem-se em radicais e afixos (.pre- bordina~áo (-i, -u), e os nominais de tempo (ram/, puer/) , de ne-
f ixos e suf ixos). ga<;ao ( ey1n/), de número ( etá), de abundancia ( tyb/).
O. radical denomina um ser ( nome) ou u1n processo (verbo).
Os afixos l.0 ) acrescentam precis5e~ de género, número, grau, 1108. A distin~ao verbo-nome nao é nítida, pois todo nome pode tornar-se
verQo predicativo, e todo verbo no infinitivo é verdadeiro nome. Os mesmos
tempo, modo, pessoa, caso, etc., 2.0 ) form:am novas temás de verbos morfemas parece terem dais "status": o verbal e o nominal.
e nomes.
I Alguns afixos estáo no limite entre afixos e radicais, p. ex. á, a.pá, apé, pó,
Há ainda as partículas independentes, com fun~ao semelhante a l.ª dos py, etá: sao quase-afixos. Caso especial é o sufixo nominal, ou melhor nomina.-
afixos. lizante, -a, nao-vocativo, sempre final, e que só aparece junto a temas termi-
nados em consoantc ou semivogal.
1107. I.Os afixos dividem-se em derivacionais e para-
digmáticos. 1109. Em alguns casos, a palavra consta de um só mor-
Os derivacionais criam novas temas de nomes (port. joga-dor, fema, que é o mesmo radical, p. ex., em port., boi.
~
notá-vel) ou de verbos (port. util-izar, a-correr). Os paradigmá- Nao confundir radical (o elemento principal, quando isolado de todos
ticos precisam rela<;óes gramaticais, formando os paradigmas nominais os afixos) com tema. ~ste pode constar de afixos. Na frase-palavra nd'
e verbais (port. jog-o, jog-as, jog-a,· branc-ü, branc-a, branc-os, ere-nhe-mo-akub-i-pe? "nao te aqueceste?", o radical é akttb, mas o tema
branc-as). verbal inclui um afixo causativo: mo-akub.


,.
'

394 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 395

1110. Morfema independente é aquele que pode ter uso (s)ar/, p·y r/, -bae/, por/, bor/, S.U~r~, na posic;ao ~; tyb/ na pos1c;ao 2;
ram/, puer/ na posi~aq 3; -a na posu;ao 4 (se~pre fmal). O suf. negativo t
autónon10. Caso contrário é dependente. eym/ pode vir antes ou depois de qualquer suftxo ( exceto -a, que é sempre
f final) O A > (°' •.i ..::
Assim, na frase mobyr pirá-pe ere-s-epiak parana-tne ko>•r!
0

Esta, porém, é a
0

É claro que nern todos os ahxos sao simultáneos.


"quantos peixes viste boje no mar?", sao independentes mobyr, pirá, ordem em que eles se dispócm. V., p. ex. :
epiak, paraná, koyr; dependentes, -pe, ere-, s-, -me. verbais : nd' ere-ie-P6-mo-pi'-roy-potar-i-te-pe f
nominais: xe ie-por-aká' -sa'-tyg-üani-ey1n-a
ÜBS. l. - A distin~o concide em parte com a anterior (radical e afixo).
Mas há alguns radicais que sao sempre dependen tes, p. ex. eng, bíar, que só 1113. É importante conhecer nao apenas a ordem de co-
se usam nos derivados nhe-c'ng, mo-nhang e ro-bíar. ( Cpr. port. -ceb- de
conceber, receber, perceber, cte.). 2. - Um morfema independente pode ser locac;áo dos moríemas, senáo também a ordem de tempo
etimológicamente composto: mendy "sogra" (de nien- e sy: "rnae do ma- com que se organizan1, i. é, os "imediatos constituintes"
rido"). 3. - Alguns morfemas independentes exigem, a presem;a de outro
morfema (p. ex. o verbo transitivo exige o objeto direto). da palavra.
Assim, na palavra mo-nha1ig-ara " criador", h~ tres morfemas : um r:-
1111. Tanto radical como tema nao tem uso senáo com dical nhang e dais afixos mo- e -ara. Mas -ara af1xou-se a mo-nhang, e nao
mo- a nhang-ara, nem -a".a a nhang. Em re~umo, os sufixos ~e ~ornes ver~a!s
algum af ixo ou com outro morí ema ( em com¡)osi~o ou pressupóern o verbo já com os afixos temáticos. - J:>. ~~d~ph~~ao moi;iosstla-
incorpora~áo) : bica é anterior a prefixac;áo de mo- ou ro-; a diss1lab1ca e posterior. A
ordem nao é sok, 1no-ndok, mo-ndo'-sok, mas sok, so'-sok, mo-ndo'-sok, mo-
-ndo' -só'-ndo'-sok. Só assim se explica por que é mo-ndo'-sok e nao
ab "cabelo" e mo-nhang "fazer" (temas) pedem sempre outro mo-ndo'-ndok.
elemento : a.V-a "ca.belo" (nome), á'-ting-a "cabelo branco", mo-
-nhang-a "fazer'' (infinito), a-i-nio-nhang "fac;o-o", etc. TIPOS DE PAL,AVRAS
Excetuam-.se as palavras-morfemas (n. 1109).
1114. Quanto a sua estrutura, encontramos 4 tipos de
1112. A ordem de seqüencia dos afixos, ainda mais que palavras em tupi :
a das palavras, tem fun~áo gramatical, obedecendo a A. Palavras Ptimárias
.
normas precisas. 1. Palavras-morfenias. Consiste1n em tun só 1norfema: y, á,
Assim, dos prefixos verbais. o negativo nda e o perm1ssivo ta (que sao
pirá ( cpr. port. sol, homen1, azul)
mutuamente exclusivos) ocupam a posi~ao 1; os subjetivos a-, ere-, o- (com 2. Pa.lavras derivadas priniárias. Contfin n1ais de um ele-
v. nao-predicativos) ou xe nde, i, etc. ( com v. predicativos) ocupam a posic;ao n1ento dependente: ro-biar, 'nio-nliang ( cpr. port. re-ceb-er,
2; os objetivos .~e, nde, i, s-, o, w-s-, oré, iandé, pe, ic-, oro-, opo-, poro-, per-ceb-er)
mbaé, t(c)-, a posic;ao 3. Segue-se o tema, i. é, o radical precedido e seguido
dos afixos temáticos (como mo-. ro-, 1'kar, eym) ou do objeto ou adjetivo B. Palavras Secundárias
incorporados. Vem cm continuac;ao os sufixos negativo -i ou subordinado -u ou
-i na posic;ao 1; o ilativo -te na posi~ao 2; o interrogativo -pe na posic;ao 3; o 3. Palavras derivadas secundárias. Contem um elemento in-
condicional -mo na posic;áo 4; o conectivo -uo na posic;ao 5 ; o futuro -ne dependente e outro ( s) dependen te ( s) : iuká-sara, a-1.-pysyk
na posic;;ao 6. ( cpr. port. dorm-i, velh-inh-o)
Dos prefixos nominais, os possessivos e t(e)-, s(e)-, poro-, m.baé, ie- 4. Palavras composta.s. Contem mais de u1n elemento inde-
(mutuamente exclusivos) ocupam a posi~o 1; mbi- a posic;áo 2. Após o pendente: mbaé-t-atá, guyrá-íaguara ( cpr. port. ponta-pé,
radical, corr. os prefixos e sufixos temáticos primários, os sufixos (s)ab/,
couve-flor)
'\
LEMOS BARBOSA .CURSO DE TUPI ANTIGO 397

1117 . O nome termina sempre em vogal. Quando o tema termina em ~on­


CLASSIFICA~AO DAS PALAVRAS soante ou semivogal, toma o sufixo -a. O verbo finito pode terminar em
consoante, semivogal ou vogal tónica, nao em vogal átona. O mesmo vale
das partículas independentes, demonstrativos, indefinidos e numerais. Mas os
1115 · P:odem-se reunir as palavras tupis em. duas classes ordinais e os demonstrativos, desacompanhados ( estes) de substantivos, levam
mo;fológicas: variáveis e invariáveis, subdivididas as pri- -a após consoante final : kúeí-a, ang-a, mokoi-a, nwsapyr-a, etc.
me1ras em nomes ( denomina<;óes de seres ou qualidades)
e verbos ( denon1inac;óes de processos ou equa<;óes) . DIVISAO DAS PALAVRAS
. Náo se incluem os afixos, pois nao formam palavras a parte, antes
1nte~ram nomes e verb,os. A presenc;a ou nao de determinados afix1Js é que 1118. Pela própria índole fonética e sintática da língua, os
precisa se tal palavra e nome ou verbo.
pronomes e as numerosas partículas tendem a reunir-se
1116. O non1e con1preende o substantivo (portanto tanlbém o in- estreitamente ªº verbo, forma•ndo densos complexos. n :aí
fi~ito. e o~ ~er-bais), o adje~ivo, o .pronome independente, os nume- se origina a n1aior indecisao e dificuldade para a· escrita.
ra1s, 1ndef1n1dos, demonstrattvos e interrogativos.
Devem-se separar totalmente, unir de todo, ou ligar pon hífens esses
Sá~ susceptíveis de morfemas de tempo, de negac;áo, de número ou aspecto numerosos elementos, alguns átonos, outros tón!cos, alguns monossilábicos,
(redupltcac;áo),. de vocativo e de referencia (possuid9r, sujeito, objeto). outros polissilábicos? Depois de rnuito estudo, decidimo-nos por urna soluc;;áo
Os demonstrat!vos podem leva~ ou.. nao afixo de invisibilidade (a-). prática eclética. Com algumas incoerencias, inevitáveis.
Os. pronomes 1ndependentes, os 1ndef1rudos e os interrogativos nao levam
mu1tos afixos, : sao qu~se invariáveis. Os numerais e os demonstrativos po-
dem levar ou nao o suf ixo -a, confarme a func;ao. 1119. Usa-se o hífen:
·O s vertos dividem-se gramaticahnente etn transitivos e nao-tran- depois de
sitivos (os predicativos nao sao verdadeiros verbos).
Recebem afixos de pessoa (sujeito, objeto) de negac;áo de aspecto, de prefixos agentes: a-, ere-, o-, ia-_, oro-, pe-, gúi-, e-
modo, de voz, e ocasionalmente de tempo. ' ' prefixos objetivos oro-, opo-, i-, s-, ío-, nho-, í-, nh-
. As partículas dividem-se em 1) independentes, p. ex. os advér- r.eflexivos: íe-, io-_, nhe-_, nho-
b1os de tempo, l~gar, etc.: koyr "hoje"; iké "aquí"; 2) partículas- causativos: mo-, mbo-, r(o)-, no-
-senten~as: pá "s1m"; 3) temáticas, p. ex. é, i: semb-é "sair a parte". prefixos de classe: poro-, por-_, po-_, m(b)oro-, m(b)or-, m(b)o-
epiak-i "fazer vista grossa"; 4) coordenativas, raras: p. ex. a¿ pref ixos de classe, possessivos e pronomes pessoais : t (e)- e s (e)-
"e ... " ( n. 1060) ~ 5) pr·eposi<;oes-con j unc;oes subordinativas, p. ex. partícula r-
-pe, -reme; 5) interjei~óes e partículas afetivas: p. ex. íu!, té!, sílaba (gu)e-, que precede as vezes certos nomes e os verbos
niuru!, moxy!. comeyi.dos por r (o)- e no- ( n. 502-505).
o A A

Tódas as palavra5, incluidas as partículas, sao capazes de reduplica~áo. possess1vos og-, ogu-, gu-
pref ixo passivo mi- ou mbi-
Como a língua tupi exprime algumas relac;óes sintá- objeto direto ou sujeito incorporados: a-y-ú, xe py-syryk
ticas por meio de afixos paradigmáticos - p. ex. o objeto
direto no verbo ( a-z-pys31k t-obaiara "apanhei-o o inimi- antes de
go") - pode-se chamar língua flexiva, einbora de tipo sufixos ( s) ar, ( s) ab, pyr, tyb, por, bor, ( s) uar, ( s) uer
diferente das clássicas. sufixos negativos: eym e -i
J
398 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 399

todos os sufixos, partículas e preposi~óes átonas: -pe, -be, -i,. -u, ...
sentido próprio, perdendo, porém, o primeiro quando
-mo, -no, -te, -a, etc. o tem - o suf ixo -a (nominal ou infinitivo), ou, <liante
sufixos de tempo: (p) uer, ram, (p )u.er-ani, rani-bíter
de consoante, a última sílaba átona:
partículas que se unem n1ais intimamente ao verbo, substantivo,
, b'e, e,
etc.: eta, , i,
- 1',, nrie
1,
á'-tinga : cás (aba + tinga)
aposto : jagua'-guyrá pirá-(t: comer peixe (pirá + ú)
pirá-sc1n-a: sair peixe (pirá + stm)
entre á'-kití-a : cair caibelo (aba + kuí)
ang-ep'iak-a: ver a imagem ou reflexo ( anga + epíak)
os dois ou mais elementos que entram em composi~o ou incorpora~áo, nheé'-nguab-a: saber falar
desde que ainda conservero algun1a autonon1ia semantica.
1120. Pode-se deixar de separar os elementos com hífen, quando da compo- 1125. e01nposi~ao é urna justaposi<;ao ainda n1ais íntima
sii;ao nasce um terceiro vocábulo com significado próprio: marangatu, angatu- · de dois elementos náo-dependentes, da qual resulta um ter-
rama, mcndy, posé, pontpi, etc.
ceiro elemento náo-dependente, de sentido próprio, que se
1
comporta na frase como elemento simples:
APOSTROFE
cir-uba : a bel ha ( eira mel + itba pai)
1121. O apóstrofe serve para indicar apócopes e aféreses. men-dy: sogra do hornero (mena marido +
sy niáe)
É excusado, porém, assinalar a queda do a final de substantivos, adjetivos
íur-ar: lac;ar ( íura pesco~o + ar prender)
e infinitos: o fenómeno é por demais comum e normal. Cfr. n. 16 Ons. petynib-ú: fumar (petynia fumo + ú comer)
u'-katu : acomodar-se ( ub jazer + katit bem)
POSI<;ÁO, COMPOSl~ÁO,. DERIVA~ÁO Nem sempre será fácil distinguir os casos de composic;ao e de incorporac;áo.

1126. Deriva~ao
é o processo pelo qual da justaposi<;ao de
1122. P osifao ou ordeni é o processo gramatical segundo
dois ou mais morfen1as, um radical, o( s) outro( s)
o qual cada morfema, palavra, membro da ora<;ap ou
afixo( s), se forma urna terceira palavra independente, re-
ora<;ao <leve ( ou pode) ocupar determinado lugar relativo
lacionada pelo sentido con1 o elemento independente for-
dentro do período, para desempenhar dada f un<;ao.
mador:
1123. J ustaposi(ao é o processo .pelo qual se colocam em
1no-nhang : f azer ara: suf. nio-nhang-ara: o que faz
seqüencia imediata, se1n pausa, dois ou mais morfen1as, syk: chegar aba: suf. syl~-aba: lugar de <:hegar
para exprimirem um ou mais conceitos gra1naticais: syk-aba : v. supra tyba: suf. syk-a'-tyba: lugar em que é
morubixaba py: o pé do chefe costun1e chegar
,
ypeka ti: o bico do pato n: co1ncr 11rbi-: pref. 1·n bi-ú: con1ida
xe r-ayra r-ura : a vinda de meu f ilho
nheeng-a kuab-a: saber falar 1127. Deri'vafao graniatical ou inflexao, ao contrário da
anterior, que é lexeológica, é o processo pelo qual a um
1124 ·lncorporafao é urna justaposi<;áo íntima de dois ele- morfema independente se junta out ro dependente para pre-
mentos náo-dependentes, que conservam cada qual o seu cisar relac;oes gramaticais.
400 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO ·101

Assim, em ere-s-epíak-ne "tu o verás", o morfema independente epiak


exprime o processo de "ver". O prefixo ere- indica que o agente é o inter- 4. COMPLEMENTO SUBJETIVO + ELE1'IENTO PRINCIPAL
locutor; s- declara que o objeto do processo é da 3.ª p.; o sufixo -1u precisa
que o processo se há de verificar no futuro. paié seni-a: a saída do pajé .
ÜBS. Por vezes, mesmo neste CURSO, dá-se a deriva~áo e a incorpora~ao 0Bs. •Os prefixos pessoais podem substituir o nome nos casos 2, 3, 4:
o nome genérico de composi~áo.
%e p6: minha mao (máo de mim)
nde sy : tua mae ( mae de ti)
1128. Composic;áo, incorporac;áo e derivac;áo lexeológica i .rem-a: sua saída (saída dele)
sup5em pelo menos um elemento (o primeiro) nominal
(inclusive o infinitivo). O segundo elemento pode ser II. - Determinado + determinante
substantivo, adjetivo ou verbo. ELEMENTO PRINCIPAL + COMPLE!\-1ENTO ATRIBUTIVO
O primeiro elemento perde .sempre o sufixo nominal -a, quando o tem,
e também ~ consoante final <liante de consoante ou semivogal. O segundo 1. APOSTO (o ... que é ... )
elemento perde todos os prefixos que náo perten~am ao tema. Verificam-se
met.aplasmos. ' abá-so6 : hornem-hicho (o homem que é bicho)
guyrá-iaguara: pássaro-on~a (pássaro que é também on~a)
1129. Damos a seguir os casos mais comuns de justa-
2. COMPLEMENTO DE REFERENCIA (O •• ·do· · .';
posi~áo, incorpora~ao e composic;áo.
o ... que tem ... )
abá-pereba: o índio da chaga ( aquele índio que tem chaga)
ybyrá-á: árvore que tem ( ou dá) fruta
1130. SUBST.A NTIVO + SUBSTANTIVO

l. - Determinante + determinado 1131. SUBSTANTIVO + ADJETIVO OU VERBO


INTRANSITIVO
1. C01\1PLEMENTO RESTRITIVO + ELEMENTO PRINCIPAL ELEMENTO PRINCIPAL + COMPLEMENTO ATRIBUTIVO
abatí uí: farinha (feita) de milho
itá y : água (tirada) da pedra 1. ADJETIVO OU VERBO PRED'ICATIVO
( t )-esá y : água ( quc. sai) dos olhos f pirá tinga : peixe branco kaá apúá: mato redondo
itá nhae: prato (feito) de pedra pir' ak'uba : pele quente p1rá kaé : peixe tostado

2. COMPLEMENTO POSSESSIVO + ELEMENTO PRINCIPAL 2. VERBO INTRANSITIVO


paié pó: rnao do pajé pirá sununga : peixe ba- kaá ikobé : planta viva
guyrá pepó : asa do passarinho rulhento
abá guyrapara : arco do índio itá syryka: pedra escor- abaré bebé: padre voador
regadia
J. COMPLEMENTO RELATIVO + ELEMENTO PRINCIPAL ybyrá kera: árvore que itá manó : pedra morta
paié sy : rnáe do pa ié dorrne
:
402 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTJGO 403

1132. ADJETIVO OU VERBO + ADVÉRBIO 3. INFINITO

1. ADJETIVO só r-esé: por causa de tr sú suí-bé: desde a ida


só sui : para náo ir só-reme : se ( ou quando) f or
po.ry ~·a/u: 1nuito nojento po.'ry aiba: f eio
1135. Em geral, há incorpora,ao 1) do complemento atributivo ao substan-
·2. VERBO tivo, 2) do objeto direto ao verbo. 3) do advérbio de modo ao adjetivo ou
verbo, 4) raramente, do sujeito ao verbo intransitivo.
mo-mbeú katu : louvar u' kat·u : ac-0n1odar-se be111 É normal a simples justaposi~áo 1) do complemento restritivo e se-
manó n,z.eniua : morrer de r-ekó aib: desfeitear melhantes (n. 154), 2) da preposi~áo ao complemento.
repente Pode dar-se composifao 1) do complemento restritivo, 2) atributivo,
3) do objeto direto, 4) do advérbio de modo.

1133. SUBS'"fANTI\rO (O'U PRON011E) -1- \ 7 ERBO 1136. Entre a con1posi<;áo e a incorporac;ao nao há diferen<;a de
1. TRANSITIVO forma, senao apenas sen1antica. O composto é tun terceiro vocábulo,
e nao apenas 11111 conjunto de dois.
pirá ú : co1ner peixe 11:baf: pysyl~: segurar
causas
1137. Diferenc;a n1aterial pode ha ver entre a justaposic;ao
y ú : beber água iur-ar: prender o pescoc;o
la~ar
de un1 lado e a incorporac;áo e composic;áo de outro, quando
xe pysyk: apanhou-me i pysyk-a: apanhá-lo (in fin.) a) o primeiro elemento é dos que pedem o suf nco nominal
a.-; b) o segundo elemento é dos que levam os pref ixos
2. INTRANSITIVO
t-, s-, r-. Na justaposic;ao, o -a do 1.0 elemento permanece,
pirá sem-a: sair peixe a,,kui-a . cabe1o
.. : ca1r
e o 2. 0 elemento assume r-. Na incorporac;ao e con1posi-
xe só: ir eu (in fin.) i :re1n-a : sair ele (in fin.) c;áo, -a e r- desaparecem :
1134. COMPLEMENTO + PREPOSI~AO (OU CONJUN- nheeng-a r-endttb-a (justap.); nheenig-endub-a (incorp.): ouvir
falar ( inf in.)
~AO)
t-atá r-endy (justap.) ; t-atá-enáy ( con1pos.) : chama do f ogo
1. SUBSTANTIVO men-a sy (justap.) ; men-dy ( compos.) : sogra do hon1em ( mae
y-pe: no rio ni.orubi.-raba supé : ao chef e do n1arido)
y suí: do rio (proceden-
1139. Só o complemento apositivo conserva o t- ou s-. Mas o complemento
cia) 1ikfi r-upi: pelo rio de referencia perde-o : ybá s-oó : fruta-carne (de animal) ; ybá t-oó : fruta-
paié r-esé
. ,
: por causa do ar-eté-ren·t e: se ( o·u quando) -carne (de gente); Tupa T-a3·ra: Deus-Filho; mbaé-t-atá: cousa-fogo (de
paJe f ór dia festivo gente) ; itá-s-upiá: pedra-óvo; cpr. kunha r-obá: rosto de mulher (justapos.) ;
k1mha-t-obá: rnulher-ro5to (incorpor., atribut.) ; k1mha-obá: a mulher do rosto
2. PRONOME (incorpor., referencia).

xe-be: a mim 11de-be: a ti 1139. Ademais, na simples justaposic;áo nao costuma dar-se
xe suí: de mim i xupé: a ele a nasalizac;áo do 2. 0 elemento pelo 1.0 •
nde r-esé : por tua causa i.xé-reme : se ( oi.i quando)
f ór eu
404 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 405

EXPRESSóES CONCRETAS 1142. De todos os nomes de órgáos, o que forma locuc;óes


em maior número, é (e) sá ( t), irreg·ular ( n. 217) :
1140. Os fenómenos psíquicos, estados dalma, qualidades
ou hábitos dos seres vivos costumam ser expressos con- esá-guyryba ( t) : olho ( s) (== vista) baralhado ( s) = tonto
cretamente pela descri<;ao das resultancias perceptíveis nas xe r -esá guy1-yb : estou co1n vertigem
partes ou órgaos do corpo : - olhos, rosto, ouvidos, bóca, esá-banga ( t) : olhos ( s) torto ( s), vesgo ( s)== torvo, odioso
.'re r-esá-gúyryb : eu olho com ódio, torvamente
língua, cora<;ao, pés, maos, cabelos, pele, etc.: esá-kuí ( t) : olho ( s) buli<;oso ( s) = pi:-eocupado, preparado,
esá-kane o ( t) olhos cansados = preocupado apercebido
pyá-guapyka corac;ao assentado = sossegado xe r-esá-kití gui-t-ekó-bo : estou prevenido
iuru-puk-i boca aberta = espantado esá-eté ( t) : olho ( s) de verdade = arisco; esperto ; leviano (no
pir-ata pele dura = firme, resistente olhar)
'
obá-iuba ( t) rosto amarelo = medroso esá-etá ( t) : olho ( s) muito ( s) = atento, cuidadoso, solícito
ab-ebó ca:belo eri\ado = apressado \.
.. esá-puku ( t) : olho ( s) con1prido ( s), longo ( s) = preocupado,
apysá-byra ouvido erecto = atento cuidadoso
nambi-beflé orelha que voa = veloz .xe 1·-esá-puku s-esé : cuido muito dele
pó-iababa mao f ugidia = ligeiro
esá-tinga ( t) : olho ( s) branco ( s) = desf alecido
py-ata pé duro == forte, animoso
xe r-esá-ting anibyasy suí: estou desf alecido de fome
1141 As locu<;óes tendem a estereotipar-se, perdendo-se esá-una ( t) : olho ( s) negro ( s)= reanimado
a-nhe-nzho-esá-un nde r-epíak-a: voltei a mim quando
a consciencia nítida dos seus elementos componentes:
te vi
.t:"e pó py-ata: tenho o brac;o f orte (lit. tenho o bra~o pé-duro) pirá-r-esá: olho(s) de peixe = desfalecido, desn1aiado
ar' obá-kyá: dia encoberto (lit .. dia rosto-sujo) .xe pirá-r-esá: estou destnaiado
esá-kanga ( t) : olhos ( s) claro ( s) (lit. olho ( s) ou vista seca) ==
claro, ralo, espa<;ado, transparente, reluzente :
1143. Algumas palavras sao certan1ente con1postas de
y esá-kanga : água ou río claro ; kaá esá-kanga : mato ralo
(e )sá) mas o 2. 0 elemento é de origen1 ou sentido incertos
ou claro; ab' esá-kanga: cabelo ralo; abá ab' esá-kanga:
ho1ne1n do cabelo ralo; aó' pó-esá-kanga: pano (de fibra)
ou ignotos:
ralo (-a) ; pyt,u n' esá-kanga.: noite clara; pyá esá-kanga : esaraía ( t) : esquecido ; esquecimento; esquecer-se
cora<;áo claro ou aberto ; mo-y-esá-kang : clarear a água; por- nhe-nio-saraí)· brincar, jogar ( distrair-se, fazer-sc esquecido)
-abyky esá-kang: trabalhar a intervalos; nhe-mo-pyá-esá- esaia ( t) : alegre, alegria; alegrar-se
-kang: declarar-se; .xe r-esá esá-kang: tenpo os olhos claros 1no-esai : alegrar
sapukaía : grito, gritar
esá- (a-) gitaá ( t) : olho ( s) saliente ( s) ou saltado ( s) (lit. olhos .xe r-esá-pitkaia: meu grito
cheios, hojudos ou fechados v. n. 346) : a-sapukai : eu grito
nhe-nibo-esá-'guaá : fechar os olhos ;' gúyrá r-upiá sá-'guaá sabeypora: embriagado; embriagar-se
unia: já está cheio (vivo) o ovo do passarinho a-sabeypor: eu estou etnbriagado

26
406 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 40¡

(e) sapyá ( t) : presteza; de repente; ( s) apanhar de surpresa acabar-se a respira<;áo n1aravilhar-se; preocupar-se c01n; cuidar
xe r-esapyá ahe (VLB 184): ele tomou-me de surpresa de. Etc.
a-nhe-11ibo-esapyá gui-t-e-iké-bo : entrei de repente
o-ie-esapyá xe r-e-1ni-tyma: saiu-me antes de tempo minha
Ver esá olho ( s), apysá ouvido, 1ta111hi orelha, i1w1t boca, ª''ªdente ( s),
( apé-) kü língua, obá rosto, ti nariz, aiura pesco<;o, p6 mao, py pé, pyá cora<;ao,
planta<;áo entranhas, íybá bra<;o, nheenga f ala, etc.
e-ra-só (s)saP>'á (VLB 114): leva-o depressa
esainana ( t) : preocupado, desassossegado, inquieto; leviano, 1146. Destes e de outros exemplos infere-se que o nome
dissoluto da parte do corpo exprime também o sentido interior, a
nhe-mo-sainana [ esé] : preocupar-se com; prover-se de; faculdade
, .
ou qualidade respectiva, bem como o seu exer-
preparar ClClO:
1144. O VocABULÁRIO NA LíNGUA BRASÍLICA registra mu!tos ~ompostos de iuru boca == palavra; apetite; esá olho ( s) = vista; vigilancia;
(e )sá: sá-inana, sá-ku:i, sá-pyá, esá-bika, esá-py-só, esá-eta, esa-kanga, es~­ apysá ouvido == aten4)áO; pó máo = poder; íybá bra<;o = f órc;a;
-koriHa esá-kuruba esá-kyta, esá-k.úar-asy, esá-kúá'-tingQ, sá-ra1a, esá-ete, py pé = estabilidade, f irn1eza, resistencia; obá rosto = expres-
esá-k1iéJ[-kiié], esá-g1íyryba, esaia, esangá, esá-ekó-ab-o k a, esa-pe,
I , , esa-,
'kA' -
ua-rore, sáo. Etc.
esá-kUá'-s6, esá-pytumb)•ka, esá-kúar-wmbyka, esá-guyr-ttmbyka, esá- ynh-us~,
esá-roré, esá-banga, esá-pitanga, esá-ti1iga, esá-foba, esaba, esá-'tyká, esá-arua-
-aiba, esá-tyba, rsá-kúaro, etc., além de inúmeros derivados. 1147. Algumas palavras, aparentemente simples, sao com-
postas desses nomes de partes do corpo ou semelhantes.
1145. Tanto no VocABULÁRro NA LíNGUA BRASÍLICA como Oblitera-se-lhes o sentido primitivo, e tomam urna fun~ao
no Te soro de MoNTOYA vem arralados inumeros compostos de quase-prefixos classificadores:
desse tipo: pixyb: esfregar, untar; comp. de pira pele e syb lin1par
piroy: fresco; comp. de pira pele e roy fresco, frío
íuru-mbegi1é: boca vagarosa = lento na fala; i1trii-piru: boca piryaía : suor, suar ; comp. de pira pele e yaia suado
seca == cansado de repetir ; iuru-kyrá: boca gorda == mentiroso, pipoká: beliscar; comp. de pira pele e poká torcer (n. 347)
Ioroteiro; iuru-t-atá: boca fogo == violento na fala ;' iuru-taté: ooca pipom()nga: pegajoso, viscoso; comp. de pira pele e ponionga
errada = palavra ou comida errada ; nheé'-kyrá : palavra gorda == .
VJSCOSO
n1entiroso, loroteiro; pir-ana1'na: pele grossa == firme, obstinado ; pirakubora: quente [ser vivo] ~ co111p. de pira pele e akubora
pir-yaia: pele suada = suado; pi'-roy: pele fresca =
fresco; des- c1uente
1

cansado, aliviado; pó-pindá: máo anzol == ladrao; pó-etá: muitas piringa: estremecer, arrepiar; con1p. de P'ira pele e ninga latejar
maos == ataref ado, trabalhador; apysá-anama: ouvido-grosso = pitinga : mancha branca da pele;· co1np. de pira pele e tinga
mouco; natnbi-,ío-obaké: orelhas un1a <liante da outra == aturdido;
branco
obá-iuba ( t) : rosto amarelo == pálido, medroso ; ( xe) : empalidecer ;
obá-'sy ( t) ou esá-kúar-asy ( t) : rosto ou olhos dolentes = carran- 0Bs. - Parecem compostas de pira outras palavras, cujo último elemento,
cudo ; obá-puká ( t) : rosto risonho
1
=
risonho, alegre; pyá-beraba:
entretanto, é de origem duvidosa, tendo perdido sua furn;ao de morfema in-
dependente :
oora<;áo reverberante = conturbado ; alvoroc;ado ; pyá-saingó : entra-
nhas dependuradas == f aminto; ai-bi'-ryryía: gengivas tremulas = pixam beliscar; pixé chamusco ; pitub untar ( com, azeite, urucu, etc.) ;
pjtanga avermelhado; piriana listado (ao comprido) ; piranga vermelho i
risonho; putu-ií: engoli.r a respira<;áo =
descansar; putu-pab : pinima pintado, malhado. Etc.
408 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 409

1148. DOS OUATRO NOV1SSIMOS DO HOMEM <*> l. syk " chegar; bastar", syk-aba " chegada limite; fim", syk-ag-uama
P. ÁNTÓNIO DE ARAÚJO (1566-1632) "futuro fim". 2. rá otc afetiva "em verdade" (de h.) (n. 1068). 3. Cfr.
S. Lo1,r. 61v, a-é k6. - 4. "querendo fazer com que nos preparemos". Sóbr~
N de niaenduar ndereco cicagoama, nde reco paba goáma sá-kuí v. n. 1142. 5. "desejando que nos alertemos". Sóbre sá-inan, v. n.
"Nde rnaenduar nde r-ekó syk-ag-uamal, nde r-ekó pab-ag-uama 1143. '6. "querendo que cuidemos do futuro (ser) de nossa alma". Sobre
putu-pab + pytti-pab, v. n. 1145 e VLB 89, 109, 356, 395; AR. 227; l.ª ed.
recéra eico amo Tupa boya; ynheenga mombegoara, yandebe.. 69; S. Lour. 66v. 7. i mosapy' -saba "o terceiro deles" (n. 827). 8. "o fim
r-esé rá2'' - é-í kó3 amó Tupa boiá, i nheenga mo-mbegu-ara, iandé-be, ( 01i o último) deles".
opabinhe aba motecacuaba pota: yáde nionhemo,acoipota: yande
o-pab-í-nhé abá rno-t-ekó-kuab-a potá, iandé mo-nhe-mo-sá-kuí potá4, iandé
nhemo,ainanarniota, yande anga recorámarece yande putupaba
nhe-mo-sá-inan-a motáS, iandé anga r-ekó-rarna r-esé iandé putu-pab-a
pota. Oyoirondic teca cícaba yyepí.
potá7. 0-io-irundyk t-ekó syk-aba. Ii ypy :
1. T eo, teo roire yrµ,oco:,1a.
T-eo. T-eo roiré, i mo-koi-a:
2. Tupa ace recomonhangába.
Tupa asé r-ekó rno-nhang-aba.
3. Anhanga rata, ynwfaPífaba.
Anhanga r-atá : i mo-sapy' -saba7.
4. Ogoripape T1tpa acebe tecobe opabaerameima meenga,
f Og-oryp-á-pe Tupa asé-be t-ekó-bé o-pa'-bae-ram-eym-a meeng-a:
yxicaba.
i xyk-aba8.
T..ecobe yandebe Tf'tpa re1tiimeenga cícabe, teo yande moauieo,
T-ekó-bé iandé-be Tupa r-emi-rneeng-a syk-abé, t-eó tandé mo-aftié-ü,
ace iucJbo, ace mocanhema yande anga yande reté ,ui yxemebe
asé iuká-bo, asé mo-kanhem-a. !andé anga iandé r-eté s11í i xem-e-bé,
Titpa cec 0 1nonhang-i,
1
coipo Anhanga ratape, tecocatu abi-
Tupa s-ekó-mo-nhang-i, ko-ipó Anhanga r-atá-pe, t-ekó-katu aby-
repiramo y1nondobo auyera1nanhé; coipo onheenga r-upí ceca
r-epy-ramo, i mo-ndó-bo afüé-rama-nhé, kó-ipó o-nheenga r-upi s-ekó-
agoera repira1no igbacitpe ogoripápe, tatape teca angaipaba
-ag-ítera r--epy-ramo ybak-( u-) pe og-oryp-á' -pe t-atá-pe t-ekó angaipaba
rept. mondícápe ceca cic-ire, ymoingou.
r-epy mo-ndyk-á' -pe s-ekó syk iré,
i mo-ingó-u.
Catecismo ( l.ª ed.), pp. 154-154 v.
(*) No intúito de familiariz;ir o leitor com os antigos textos tupis,
apresentaremos alguns na grafia original. O desta Lit;áo vai acompanhado
da transcri~áo no sistema deste CURSO. - Para a tradut;áo, consultar nosso
Pequeno Vocabulário T11-pi·Port1tgues (Livraria Sao José, 1951), advertida Sepultamento (DE BRY)
a diferen~a de orto¡tra fia.
CURSO DE TUPI ANTIGO 411

(a), meio abertas (e, o) e fechadas ( i, u, y); 3) de acórdo


con1 a disposi<;áo dos lábios, em arredondadas (o, u) e nao
arredondadas (a, e, i, y).
LI~AO 61.ª
Nao há diferenc.;a entre vogais longas e hreves, excetuado, é
claro. o caso de enfase.
FONOLOGIA 1152. As vogais tem o som que nos alfabetos fonéticos se costuma representar
pelos respectivos caracteres. A é como o de " caco" ; é e o como os de
"mesa" e mo~a'', .algo menos fechados (e nao como os de "vela" e "mola").
ll49. Senda o tupi antigo língua n1orta e o seu estudo
d~~mental e filológico, para conhecer-lhe a estrutura fo- 1153. Os antigos gramáticos esfor<;am-se por descrever o wm do }'·
net1c~ ?evemos b~sear-nos nas informa<;oes dos antigos ANCHIETA diz que " se pronuncia áspero com a garganta". FIGUEIRA
grai;i~t1cos. Infehzmente estas nao sáo completas quanto explica que "é como entre u e i ... e forma-se na garganta como ig". Para
ARAÚJO (l.ª ed., 1618), "se pronuncia com um som grosso ou áspero no céu
a ':arios pormenores. o
estudo da fonología tupi nao é da bóca, como se depois dele estivera g". BARTOLOMEU de LEÁO (2.ª ed., 1686)
ma1s nem menos seguro que o das línguas clássicas. esclarece : " voz gutural, que se í orma na garganta, dobrada a língua com a
ponta inclinada abaixo e lan~ado o hábito oprimido na garganta, com um
!'ouco nos ~od; vale~ o conhecirnento dos co-dialetos vivos, ue som misto e confuso entre i e 11 e que, nao sendo i nem u; envolve a
s~gu1rarn ~e.u. proprio cam1nho evolutivo. Menos ainda o estudo Jos ambos". MoNTOYA: "pronunda~ao gutural, que se forma in gutture, con-
~haletos c1vil1zad<Js do Amazonas e do Prata qu f f traindo a língua para dentro". RESTIVO: " gutural que se há de pronunciar
impacto do bilingüismo portugues ou espanhol , O eb so dr~rlam ort; no váo (gueco) da bóca, onde se pronuncia o jota [ castelhano], contraindo
• - , · . · me ia guaran1, um pouco a língua para dentro". - Também os autores modernos tra~m
P: ex., nao e oc1us1vo ~s fncativ.o, .t~l como no espanhol. Influen- diretivas práticas. Demos o exemplo de CouTO de lvf AGALIIÁES: "Para
cia do castelhano, ou fenomeno primitivo e independente? pronunciá-lo, abra-se a bóca, encolha-se a língua, contraiam-se os lábios, e
de A ex~osi~áo que ~e. segue, fruto de estudos textu;¡is e consultas é passível pronuncie-se o i na gar:ganta, e será o som".
corre~oes ou de duv1das quanto a alguns pontos. '
1154. Dessas descri~óes e111píricas, be1n co1no da observac;áo dos
dialetos vivos, conclui-se que y é vogal faucal, i. é, articulada na
VOGAIS wna laríngea, 2) que se pronuncia co1n os lábios contraídos ( co1110
.
t y u
para i, e nao arredondados oomo para u ) , 3) com a língua recuada
(como para u) e a sua base erguida ern direc;ao ao véu do palato.
e o Portanto, vogal pós-palatal, nao arredondada, alta, i. é, fechada.
a
CABALLERO 147-148 tentou urna análise experimental do y.
1150 E as correspon<lentes nasalizadas: a, e, i, o, 1t, y. 1155. O som do y conserva-se inalterado no guaraní moderno, sendo fácil
aprende-lo de um paraguaio ou correntino. Fonema igual há em outras lín-
1151. Dividem-se as vogais 1) de acordo com a zona de guas americanas (como o kiriri) e, se nao igual. assaz parecido, no turco,
mongol, etc.
articularao, em pré-palatais, ( i, e), n1édia (a) e pós-palatais Em tupi tem sido grafado de inúmeras maneiras: i ( sem ou com um
(o, tt, y); 2) de acórdo con1 o grau de abertura da boca, ponto em baixo), ig (sem ou com ponto sob o i), ih, u, 1, i, i, y, hy, etc.
Após a indecisao do século XVI, criou-se a tradi<;ao do y, por iniciativa feliz
em a bertas (a, e, o) e fechadas ( i, u, y), ou em a bertas de Figueira (1621). Nos estudos especializados para lingüistas, prevalece i.
412 LEMOS BARBOSA CURSO DE T UPI ANTIGO 413

1156 . Todas as vogais podem ser iniciais, medíais ou finais. As vogais 1159 . ? é a oclusáo glotal. Nao se costuma escrever, n1as precedía
nao só predominam sobre as consoantes, como tem mais possibilidades de
colocac;ao e de agrupamentos. quase toda vogal que nao se seguisse a outra consoante. Nunca é
final de sílaba, nem inicial de palavra.
ÜBs. A j ulgar pelo guarani moderno, nao haveria oclusao glotal após
SE MIVOGAIS prefixos proclíticos, como mo-, ro-, poro-, ie-, ío-, nibi-, xe, n.de, i, a-, etc.,
a menos que o tema seja monossilábico e, portanto, tónico (mbi-ú, mbo-é,
... .... ...
i y u ie-ab, xe ab-a, com oclusáo). Nem em compostos de final tónica + inicial
nao-tónica, como t-atá-upaba, t-atá-endy, t-esá-e'té, etc. Nem em algumas
palavras avulsas, como eira, t-esá-y, aiba, etc.
As tres vogais fechadas iJ u) y) (que se arti-
1157.
culam com o dorso da língua elevado em dire~ao ao cétt 1160 . P, t, k vem tanto em princípio COlTIO em fim de sílaba. Mas
da boca) poden1 f.acilmente perder a silabicidade, dando p e t só excecionalmente no fitn .
otigem as chamadas semivogais i) u, y.
1161 . B, d, g sao oclusivas quando precedidas de nasal, nos grupos
A rigor, sao consoantes fricativas. O caráter consonantal é mais nítido mb, nd, *ng.
nos ditongos crescentes. Mas podem juntar-se a outra con~oante. P. ex., t'
1a-só "vamos l ", nd' w-só-i " nao vamos". Nao ocorre d fora de nd. B figura tanto medial como final de palavra, e
Há, porém, casos em contrário : 1) Em ditongo crescente predominar o também inicial de sílaba. Como medial, é consoante fricativa; tal vez também
caráter vocálico (t' ia-só, com apócope do a de ta, como nas iniciais vocá- como final. Nao há b, d, g iniciais de ipalavras, após pausa: os casos aparen-
licas t' a-só, t' ere-só, etc., e nao como na inicial consonantal ta pe-só). temente contrários ou sao simplificac;ao gráfica (baé = 1nbaé; de = nde,
2) Em ditongo decrescente predominar o caráter consonantal (sy-syi gat1'= 11gat11) ou sao partículas ou temas verba.is, que na língua viva supóem
redupl., com apócope do i, tal como das finais consonantais : pa-j>ar). ' outros elementos antepostos. Na escrita tradicional, náo se costumam distinguir
Por tudo isso, é interessante dar um tratamento a parte as semivogais. as fricativas das correspondentes oclusivas. G medial é variante (fricativa)
de f : ygara ou yfara. G oclusiva, só no grupo *Hg.

CON SO ANTES 1162. *N é o velar, que nao se costuma distinguir, na escrita, do


1158. n alveolar. Cpr. espanhol "cinco" (velar) e "cinta" (alveolar) . Só
aparece no grupo *ng.
'
Bilablais Unauo- Unauo- Velares Faucais
-alweolares -plipalatals
1163. *N g final de radical (p. ex. em nio-nhang-a, ang-a, ang-ek6,
Oclusivas pomong-a) parece ser o mesmo *n velar . Pronuncie-se mo-nha'fl-a,
,,. a'fl-a, aTt-ekó, pomo'fl-a.
surdas p t k ,, 'l
sonoras (b)
'
(d) (g) Cpr. ingles king, alemáo gesungcn. Da falta de conhecimento e trans-
nasa1s ni n nh cric;ao exata desse som em portugues e espanhol, vem a diferente grafia, p. ex.,
*n das palavras ar¡é (t) "pressa, apressado" e r-ar¡é "antes, primeiro; ainda",
pré-nasalizadas n1,b nd *ng ' que os espanhois escreveram angé, r01igé, os portugueses anhé, ranhé.
Contínuas surdas s X h
sonoras *b *g 1164 . Mb e nd poden1 ser iniciais ou medíais de palavra; nunca
Vibrantes y
...
finais. *N g pode ser medial e final, nunca inicial (as excec;óes
Semivogai~ i rl y"' aparentes, como ngatu, sao casos de incorpora~ao ou composi\áo).
Divergem os autores quanto a caracterizac;ao de 11ib nd, *ng. Para
1

alguns, sao grupos de sons: m+b, n+d, *n+g. Para outros, sao sons sim-
ples, monofonem.as: b, d, g pré-nasalizados. A rigor, devia-$e escrever "b, "'d,
414 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 415

g: "'bafe', "'de', "'gatu', éde', pora'ga, médu'ba, kaby', ka'ga, tnóba'ka. ra- As partículas independentes terminam ou em vogal tónica ou em con-
-bue'ra, etc. soante ou semivogal.
O tema tanto nominal como verbal termina ou ern vogal tónica ou em
1165. Nh é fonema siinples, con10 en1 portugues: inicial e medial. consoante ou semivogal.

1166. S é o mesmo s portugues da pronúncia padráo, p. ex. de 1171. En1 pausa, as consoantes costumam cair. Náo, porém, as
".ralbado", e nao o s palatal, final de silaba (p. ex. de "aspas", na semivogais nem as velares k e ng.
pronúncia portuguesa ou carioca). Pode ser inicial ou medial, O mesmo se passa na incorporac;áo e composic;ao. Em incor-
nunca final. X é som secundário, resultante de palatiza~áo de s porac;áo, é esporádica a persistencia das velares. Na reduplicac;ao,
. .
cae111 as se1n1voga1s.
pelo i. Pode ser inicial e medial, nunca final.

1167 . H só ocorre e1n tres ou quatro palavras. Pode ser inicial ou S1LABA
medial. 1172. Os únicos fonemas silábicos, em tupi, sao as vogais.
·- ·-·
Em guarani substitui quase todos os s tupis.

1168. R é alveolar, como o nosso r "brando" <;le "cara". Pode ser


inkial, n1edial ou final. Junto a nasal, pode nasalizar-se .
Toda sílaba contém alguma vogal. A sílaba tupi pode

vogal):

ser dos seguintes tipos (\,. .=vogal; C consoante; S=semi-
. ..._.
1169. Em resumo, as consoantes que podem come<;ar sílaba ou palavra sao: v ve cv cvc VS sv SVC csv cvs
p, t, k, f, m, n, *n, nh, mb, *ng, s, z, h, r, i, a, y a ab ba bab ia íab bia bai
As que podem ser mediais de palavra (inicia is de sílaba medial ou
final) :
svs csvc csvs
biab biai
p, t, k, f; b, *b, *g; m, n, nh, *n; mb, 11d, *ng; s, z, Ji; r; i, a, y
As que po<lem ser finais de palavras : 1173. Nao há casos de CC. Mb, nd, ng, para alguns estudiosos, sao fonemas
k ,· b; m, n, *ng; r; i, u (excecionalmente : p, t) simples. A única exce<;ao seria a das semivogais, se consideradas consoantes :
t' ia-nhan "corramos"; nd' ia-nhan-i "nao corremos".
1170. Tanto o nome e o veroo como as partículas independentes podem
come<;ar por vogal ou por consoante ( ou semivogal). 1174. A palavra tupi pode constar de urna ou mais sílabas.
Os verbos transitivos cornei;am ou por vogal ou por urna das seguintes Também os temas.
consoantes :
p t k p m n nh s r i a Os monossilábicos sao, via de regra, irredutíveis.
poi tym ká Pok mun nong nhang syb rab iai (g)uang Quanto aos polissílabos, em alguns casos podem-se isolar
Os verbos intransitivos come<;am ou por vogal ou por urna das seguintes os seus elementos componentes :
consoantes :
p t k f m b nh s r nd i u tema +
afixo; subst. +
subst.; subst. + adjet.; subst. +
pak tui kai Par myi bak. 1iharó syi r)'r)>i nd11ruk iaseó (g)ueb verbo; verbo + advérbio ; te1na +
reduplicac;áo; etc.
Nos modos finitos. o verbo pode terminar em vogal tónica ou em urna 117 5 . Grande número de verhos sao cornpostos de verbos monossilábicos,
das seguintes consoantes : sejam intransitivos corno a11i, ar, in, bak, bok, bur, b'j·r, byk, ir, .. etc., sejarn
k b m n ng r ¡ a transitivos como é, 1,, ar, ab, ó, ok, r1mg, etc. (cfr. n. 326).
pok. kub am mun mong ir pUai mo-ngaraü
excecionalmente t ( var. de r) ut = ur 1176. Em outros casos, a identifkac;áo já nao é fácil. Mas na
Nos modos nao finitos (inclusive gerúndio, particípio), pode acabar em n1edida em que progride a análise lingüística, revelam-se elementos
vogal tónica ou átona, nunca em consoante ou semivogal. inais sünples.
416 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 417

Apenas um exemplo. O verbo ro, extinto na língua, mas que deixou CONTACTOS MODIFICA~OES EXEMPLOS
inúmeros compostos, como apiro) arol, aró2 (s), asyró (t), atyró, eguyro (t),
ekobiaro ( s) , iraró, 11io-nibyró, 1110-ngatyro, mo-yro, nharó, tihyró, piaró, C +V silaba<;áo : a-s-ausub abá (pron. *asausu-
poro-yro, pysyró, ro-yró, tyaró, t·y pyro, etc. babá)
1177. Apesar dos casos impenetráveis, tem algum funda-
V oral + C (nao há) a-íuká paíé ( inalteradl)s)
V nasal + C nasalac;áo: nliu-bi"tera (de nhu+puera)
mento a impressao de que o tupi se compóe de raízes V i ·-t- C s pala.tizac;áo: i-xupé (de i+supé)
monossilábicas. C +C 1) inserc;ao de V : ybak- (y-) pe (de ybak+ pe)
2) apócope: a-s-ausu' Tupa (de a-s-ausub+
ACENTO TóNICO Tupa)
3) assimilac;ao : s-o'-beba (de s-ob+peba)
1178. A língua tupi conhece o acento tónico ou de inten- v+v 1) oclnsáo glotal: guyrá-?i (de guyrá+í)
sidade. Os temas sao oxítonos. As palavras podem ser 2) apócope: t' a-só (de ta+a-só)
3) semivocalizac;ao py-ara (de py+a.r a)
paroxítonas, proparoxítonas, etc., quando se agregan1 ao
a-í-pysyk (de a+i+ pysyk)
tema af ixos ou partículas enclíticas. '
É o caso dos nomes (substantivos, adjetivos, infinitos, demonstrativos, 1182. Resta esclarecer rnelhor os contactos de V+ V (n. 17).
numerais) terminados em consoante ou semivogal, os quais recebem o sufixo
nominal -a. E dos sufixos -i, -it, -ne, -nio, -te, -pe, -no, das preposic;óes-con- Para os diferentes ef eitos - oclusao glotal, apócope
junc;óes -pe, -i, -bo, -reme, etc. Há tambén1 alguns afixos enclíticos, como
os prefixos e pronomes pessoais (em func;áo de possessivos ou de objeto e ditonga~ao - entram em linha de conta: 1.0 ) a tonicidade
di reto, etc.) ou nao de ambas as vogais, 2.0 ) o seu grau de abertura.
Em composi<;áo, incorporac;áo, derivac;ao, há acentos subtonicos, Os princípios mais gerais sao:
que recaem sobre a sílaba tónica do l.º eleme·n to co1nponente.
1183. I. - Quando a 2.ª vogal é tónica: hiato (e o~lusao
ACENTO MUSICAL glotal) :
1179. Nao se conhece o tom ou altura, como fonema pri- a-ir, a-ú, e-í, i á) xe aba, nde ú, a-ar, o-ir, a-é, a-ir, itá-oka, etc.
,
mar10.
. Excefoes: l. Er-é + *ere-l; í' -ab + ie-ab; *i'-ar + *ie-ar; i'-ub +
ie-ub, etc.
ANCHIETA 3Sv informa que havia dif erem;a de tom na interrogac;ao. Nao 2. No gerúndio, ante a desinencia abo ( n. 394-400), procedem
esclarece qual fósse nem nos adianta nada spbre a pausa final ( . ) , a medial diferentemente as vogais a bertas e as fechadas. Estas ( i, iJ-, y) se semivoca-
(,),,a exclamac;áo (/),os dois tipos de interrogac;áo (fe¡) (n. 160 ÜBs.). lizarn; aquelas (a, e, o) elidern o a inicial do sufixo:
A bertas Fechadas
PROCESSOS FO:NOLóGICOS iuk.á+ abo =iuká-bo apit·i+ abo =
apiti-abo
mbo-é + abo == nibo-é-bo mo-fni + abo = mo-pU-abo
1180. Foram estudados sob o título de Metaplasmos (Lic;ao 3.ª). mo-ndó + abo = mo-nd6-bo apy + abo =
apy-abo
A semivocalizac;ao pode dar-se também nos veribais (s)ara e (s)aba:
1181. Sao os seguintes os principais contactos possíveis apiti-sara, apiti-saba ou apiti-ara, api,ti-aba
( em composi~o, incorpora<;ao e deriva~ao), com as res- mo-p1,-sara, mo-j>u-saba ou mo-pu-ara, 1no-pu-aba
py-sara, py-saba ou py-ara, py-aba
pectivas modifica~óes:
418 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

4. Nos contactos i + i, y + y,
y i, i + + y, pode-se inserir um ¡: O í pod'!-se nasalizar, antes de nasal :
akuti + =
y akuti-í-y rio da cotia i-i-ybó ou i-nh-ybó
siri + y = siri-i-y rio do siri 0Bs. - Nao há prefixos terminados em outras vogais fechadas {u, y),
nem temas acabados em vog.al átona.
1184. II. - Quando nema l .ª nema 2.ª vogais sao tónicas:
A) - Se ambas sao abertas (a, e, o): apócope da l.ª . D) - Se a 2.ª vogal é y, e em todos os demais
Quando a l.ª vogal é a, a apócope é obrigatória; quando é e ou o casos, há sempre hiato:
facultativa e pouco usual. Exceto se as duas vogais sao iguais (e e· o o) ; + + a + y = ay: a-y-ú bebo água, etc.
neste caso, é mais freqüente a apócope. •

+ ae ---
a a: ta + a-só = t' a-só que eu vá E.t"ce,ao. - O caso C).
+ ere-só = t' ere-só que tu vás
J

+ a
a + o
e:
o:
ta
ta + o-só = t' o-só que ele vá 1185 . III. - Quando só a l.ª vogal é tónica:
e + a -- a: íe + al~asó = t'-akasó partir
e + e e: ie + ekyi = i'-.ekyí expirar , A) - E 1n geral nao há hiato:
e + o -- o: ie + obá-'sab = i'-obá-'sab benzer-se t-atá-uru candieiro
o + a -- a= poro+ abyky = por-abyky trabalhar t-atá-endy chama
p)1á-iipiara fel
o + e -- e: poro + enoí = por-enoi chamar (gente) pindá-e-ityka pescar
o + o -- o: moro + oby = mor-oby azul ·B ) - Quando as duas vogais sao iguais, pode haver
- Quando a l.ª vogal é e ou o (rnédia), pode haver apócope com
ÜBS.
qualquer vogal seguinte: ¡•-upiºá-mo-mbor: pór óvo aférese da 2.ª:
Ex~efóes. - Os p~efixos e pronomes pessoais a-, ere-, o-, xe, nde, i, etc. e
os prehxos mo-, ro-, io- nao sofrem apócope. obá + asab == obá-'sab benzer
Casos como er-é, m'-oryb, r-ekó, r-ub, r-ilr, nao há muitos. ÜBS. - Quando a o ou 1t se j ustapóe a ou e (tónicos ou nao), pode inse·
rir-se um a ou gu eufónico:
B) - Se a 2. ª vogal é i: semivocalizac;ao: o-gu-ar: ele o toma
,. , : 1'!var
poro-gu-e-ra-so
o eté ou cgu-cté : seu corpo puar ou puguar: atar ; enrolar
a + i = aí: a-i-pysyk eu o apanhei
e + i = eí: e-i-pysyk apanha-o t u
o + i = oí: o-i-pysyk ele o apanha I
1186 . MONÓLOGO DE GUAIXARÁ (DIABO)
. Corno nao há temas acabados em vogal átona, nem prefixos
ÜBS. -
terminados em u ou y, faltam as ~ombina~oes u i, y i, etc. + + E A SAUDA~AO LACRIMOSA
P. JosÉ DE ANCHIETA (1534-1597)
C) - Se a 1.ª vogal é i, pode inserir-se um i antes GUAIXARA
,
da 2. ª vogal, mormente quando esta é i ou y: 6. Xe anho
1. X e -nioaji't maragattt co taba pupe aico
i + a = iia: ií-apó faze-lo; ii aeté é finíssimo; 111bi-i-ara ou xemoiroetecatuabo ,erecoaramo uitecobo.
mbi-ara cac;ado aipo tecopicarii. xereco rupi imoingobo,
i + i == iii : ii iní sua rede
.
aba 'era ogoeru que 'UJ ª'º tri.amo
i + y == iíy: ii-ybo f rechá-lo; ií ypy seu princípio; mbi-í-ybo xe reta11ta 1no1no.-riabo? a11io taba rapecobo.
frechado
420 LEM OS BARBOSA

12. Aba ,era xe yabe f 42. Angari


Y x e ferobiaripira, ayofub aba coti,
x e anhangufu mixira taxererobiar, uijabo.
Guaixara feribae Outenhe xe. peabo
quepe imoerapoanim bira abare yaba cori Ll(;AO 62.ª
17. Xe reco iporang ete, Tupa reco 1Jf,ombeguabo.
naipotari a_ba feitica, 48. Oicobe
naipotari aba imobica, xepitiboanamete NOMENCLATURA DE PARENTESCOS
aipotacatu tenhe x e piri mara tecoara
opabi taba niondica. xe irunamo ocaibae 1187. Para os povos naturais, o parentesco baseia-se nao
22. Bae ete caugoafu tuibixacatit Aimbire ~penas nos la<;os de sangue, n1as tan1bé1n na fun~áo
caoy moyebiyebira, apiaba moangaipapara.
social. A nomenclatura reflete essa maneira de ver. Le-
aipo fªufucatupira, Senta-se numa cadeira, e vem
aipo anhe yamobeu, urna velha a chorá-Io, e ele vam o mesmo nome todos os parentes que ocupam a mesma
aipo i1nomorangimbira. aj uda-a, como fazem os ín- posic;áo relativa. É o que se chama parentesco classif ica-
dios, e ela, depois de o cho-
27. " erapoan co mofacara rar, achando-se enganada, diz : tório. A nomenclatura depende, em grande parte, da or-
ycaoyguafubae, ganiza~áo social de cada povo.
caoy 1nboapiarete VELHA
Os tupis observavam a descendencia patrilinear. O seu. sistema
ae mara1'J'tonhangara 54. Ju, Anhanga pico ri! de parentesco era bilateral, i. é, implicava rela~óes simétricas de
niarana pota 1neme xe moajute inema ma ambos os lados, paterno e materno. De acórdo com o esquema de
32. M oraceyae ycatu xe menduera ipo rei LowrE, era um sistema ·bifurcado misto, pois identificava metade da
yeguaca, 'yemopiraga Piracae amiri linha colateral com a linha reta : o irmao do pai tem o mesmo nome
faniogi, yetimaguanga, aeco ixupe bia. (e f un<;ao social) que o pai ; enquanto que o irmao da mae tem
ye1nouna, petinibu, F ata com ele: nome (e f un~o) diverso. A irma da máe tem o mesmo nome que
carainionha monhanga. a máe, diverso do nome da irn1á do pai. O irmao do pai chama
59. De poxi ui, dereuixo
a seus sobrinhos "filhos" (como o pai.). A irma da máe chama a
3?. Y e1noiro, niorapiti, cori x ereminduune,
seus sobrinhos "filhos" (como a n1ae). Etc.
you, tapuija rara, xenho aupacatune
aguafa, moropotara quei,ebe naco airit1no, Low1E 84 distingue quatro sistemas de parentesco, conforme os nomes
tafone gui, tacaune. que se dao ao pai, ao irmáo do pai e ao irmao da máe : l.º) Siste·m a de ge-
manhana, fÍguaragi '"''ªº:os tres tem o mesmo nome de "pai"; 2.0 ) Sistema bu,furcaáo m.isto :
naipotari aba f ejara. E foge. os dois primeiros tém o nome de "pai": o terceiro tem nome diferente; 3.0 )
Sisttma bif11rcado colater!Jl: cada um dos tres tem nome diferente; 4.0 ) Si1-
O A uto de Sao L ourenfo, pp. 22-26. lnna linear: os dois últimos tem o mesmo nome, diferente do de " pai".
D e acordo com a reJ?roduc;ao fotográfica, fazem-se aqui ligeiras modifica-
c;óes a edic;ao diplomática do Museu Paulista: tec.oPií af u, queifebe e outras. Em geral, tem igual classifica~áo os parentes da mesma gera~ao
mais insignificantes, de acentuac;ao e pontuac;ao. ' e sexo, que desempenham ou possam vir a desempenhar igual f un~ao.
1188. S·áo os seguintes os elementos de classifica~o:
1.0 ) sexo do ego)· 2.0 ) sexo do parente; 3.º) sexo do pa-
27
422 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 423

rente intermediário; 4. 0 ) gera<;áo do parente; 5.º) idade menclatura diferirá se o primo ou prima forem filhos da irmá da mae,
do parente em rela~ao a do ego. da irma do pai, ou do irmáo da máe.
0Bs. - 1) Parentesco paralelo é aquele em que entram em j ógo dois irmaos
1.0 ) Sexo do ego: do mesmo sexo. Irmaos paralelos sao dois ou mais irmaos (varóes) ou
duas ou mais innas. Tios paralelos sao o tio paterno e a tia materna.
O hornero chama ao neto e a neta etni-minó; a mulher chama aos Primos par.alelos sao os filh(lS de dois irmaos homens ou de duas irmás.
Quando os irmaos sao de sexo diferente, há parentesco cruzado ; p. ex. tio
mesmos et.rii-ariro. O hornero chama a seu filho ayra e a sua filha materno: tia paterna: pritr>n ( ou nr\ma) filho ( ou fil ha) do irrnao da mae
aiyra; a mulher chama a ambos membyra. ·O hornero chama a seu ou da irrna do pai. - Os Tupis distinguiam o parentesco paralelo do cruzado.
irmao mais velho ykeyra e ao mais moc;o ybyra; a mulher chama a Nao se pode contesta r, porém, que davam certa enfase ao parentesco paralelo
ambos kybyra. ·o hornero chama a sua irmá, tanto a mais velha com intermediário masculino, - de acordo com a sua concepc;ao de que s6
o homem era verdadeiro progenitor, e nao a mulher, mero r eceptáculo do
con;o a mais mo~a, endyra; a mulher chama a mais velha yktra, a ~érmen masculino. E ssa distinc;ao é importante no casamento. O tio paterno
ma1s mo~a pykyyra. Etc. ( uba) substituí o irmño falecido, casando-se com a viúva. Em nenhuma
hioótese se casa com a filha dP ~"'U irmao. a <me t~mhém chama "fitha"
0Bs. - Na linha reta ascendente, nao há diferencia.;ao baseada no sexo
do ego. aiyra. Já o tio mc:t.terno (tutyra) é o candidato natural a filha de sua inna
ou prima (ietifnra) , podendo inclusive dispor dela e cede-la a outrem. E

2. 0
) Sexo do parente:
- deve ser ouvido a respeito de sPu casamento. Em ca.so cie orf andade, tem o
dever de desposá-la. Em segundo plano, vem os seus irmaos mais mo.;os,
os filhos <lestes e os outros parentes cruzados.
O homem chama seu filho ayra e a sua filha aiyra (mas a mulher 2) Tio paralelo = pai: tia p.= máe ; sobrinho p. = filho; sobrinha
chama membyra tanto ao filho como a filha). Tanto o hornero como p. == filha ; primo p. = innao ; prima p.= irmá.
a mulher chamam a seu pai uba e a sua má.e sy. O homem e a 4. 0 ) Gera<;áo do parente:
mulher chamam a seu avo amúia e a sua avó aryia (mas o avo O homem chama a'Vra a seu filho, ao filho <lo irmao e ao filho
chama tanto ao neto como a neta emi-minó, e a avó chama tanto do primo (este, filho do tio paterno)' e aivra a sua filha, a filha
ao neto como a neta emi-ariro). Etc. de seu irmao e ao filho do primo (este, fitho do tio oaterno); a
mulher chama 1nembvra ao seu filho ou sua filha e ao f ilho ou filha
3.0 ) Sexo do parente intermediário: de sua irma ou de sua prima. o homen1 e a mulher chamam uba
O hornero e a mulher chamam ao irmao ou primo de seu pai com a seu pai e ªº
irmao ou primo do pai. e sy a sua mae e a irma ou
o mesmo nome de pai uba; e a irnlá ou prima de sua máe com o prima da máe. O homem chama emi-min6 a seu neto ou neta e aos
mesmo nome de máe sy ( ou syyra). Vice-versa, o homem chama ao t1etos ou netas de seu irmáo, ou primo. A mulher chama emi-ariró
filho ou filha de seu irmao com o mesmo nome de filho ou filha a seu neto ou neta e aos netos ou netas de sua irn1a ou prima. O
ayra ou aiyra. Ao passo que tanto o homem como a mulher cha- homem e a mulher chama ary1a a c.ua avó (paterna) e a irma ou
mam a irma de seu pai aixé e ao irmao de sua máe tutyra. Igual- prima tanto cto avo como da avó.
mente, 9 homem chama ao primo mais mo~o ( filho do irmáo do
pai) com o mesmo nome de irmao mais n10<;0 ybyra; ao primo mais 5.0 ) Idade do parente, em rela~ao a do ego:
velho ( filho do irmao do pai) com o mesmo nome de irmáo mais O homem chama vkevra a seu irn1ao ou primo ( filho do tio
velho ykeyra; a prima (filha do irmáo do pai) com o mesmo nome paterno) mais velhos ciue -ele: '\lb'\ira ªº irmao ou nrimo ( filho do
de irma endyra. Assim também, a mulher chama a seu primo ( filho tio paterno) mais m<><;OS que ele ; endyra a irma OU prima ( filha do tio
do. i~áo do pai) com o mesmo nome de irmao ky byra; a prima de paterno). A mulher chama kybvra a seu irmao ou primo ( filho
~ais 1dade com o nome de irmá mais velha ykera, e a de menor do tio paterno) = ykera a sua irma ou prima <l~ maior idade que ela;
tdade com o mesmo nome de irmá mais mo<;a pykyyra. A no- pykyyra a sua irmá ou prima de menos ida.de que ela; pykyyra a
sua irmá ou prima de menos idade que cla.
CURSO DE TUPI ANTIGO 425
424 LEMOS BARBOSA

Oss. - Dentro do respectivo sexo, havia urna gera~áo entre a do ego CONSANGüINIDADE
e a dos pais, e mais urna entre a do ega e a dos filhos, i. é, a gera~o
dos irmaos mais velhos (para o homem) ou das irmás mais velhas (para
a mulher) e a gera<;áo dos irmaos mais mo<;os (para o homem) · ou das EGO HOMEM OU EGO MULHER
hmás mais m~ (para a mulher). Nao havia diferencia~áo lingüística, ba- EGO HOMEM MULHER
1eada na idade, quando os irmáos eram de sexo diferente. O que se explica:
o comportamento de qualquer irmáo para com a irmá (e vice-versa) era o amüia 1 (t): avo
(pa-
mesmo, independentemente da idade. Todos os irmáos tinham grande auto- terno e materno) ;
ridade sobre as irmas. irmáo ou primo do
avo ou da avó
T.SRMOS GERAIS DE PARENTESCO aryia: avó (paterna e
materna) ; irmá ou
1189. prima da avó ou do
A

anama1 : parente, parentela ; parcialidade ; nac;áo, rac;a avo


mü2 : aliado ; amigo ; parente ; nac;ao, rac;a
maranungara : parente ; parentela ubaz ( t) : pai ; irmáo
amyi-paguama ( t) : avós; antepassados do pai ; primo paterno
aysé ( t) : parente ou estirpe do sexo masculino (da mulher) do pai
atuasaba3 : aliado, sócio ; compadre sy3 : máe ( i irmá ou •
(ie-) kotyasaba4 : amigo prima da máe) .
1. an.ama. - Em guar., há também am6 "parente próximo" (MONTOYA,
Tesoro 32v). Falta documenta~áo para o tupi. 2. mü. - "alianc;a; aliado;
amizade, amigo; contrato; trato; troca; sócio". A principio aplicar-se-ia ao tutyra : irmáo da máe;
parente por .ado~áo ou alian<;a ( costume tupi) , estend~ndo-se depois a todo primo da mae ; primo
parentesco. - Mü deve ter sido v. trans. "aliar, contratar; pactuar", pois ( filho do irmao da
subsiste o reflexivo nhe-mü "aliar-se; fazer pazes; fazer troca, comprar, ven~
mae)
der", etc : a-nhe-mu nde a.oba r-esé-ne (MONTOYA, Tesoro 230) : darei outra
cousa em troca de tua roupa; a-nhe-mú s-esé (ib.): fa~o troca com ele. .. ' 1rma
aixe: • .. .
do pa1;
Há também o substantivo nhc-niü "aliam;a; pazes". O verbo mondar ou .
prima do pai
rnelhor mundar " furtar" é composto de mü + ar, lit. " tomar ou retirar o . ..
syyra: 1rma do

pa1;
trato". Também mundar "suspeitar; ter ciúme de". - MoNTOYA, Cate-
cismo 320, define mü "pariente lejano, y amigo, com quién trata y conversa". .
pnma do pal
.
3. atuasaba e (íe-) kotyasaba. - LÉRY 258 acentua a distim;ao entre at14asaba. ykcyra ( t) :irmáo; ykera ( t) : irmá, f ilha
e kotyasaba. O primeiro " significa perfeita alian~a. . . tanto que os haveres ..• da irmá da máe; f ilha
sáo comuns. Todavia nao podem haver a filha nem a irmá dos seus aliados~ filho do irmáo do pai ;
Nao assim o outro termo, maneira delicada de chamar alguém por outro filho do irmáo (todos da irmá (todas mais
nome ... ". Mas 1!vREux 142, 242 diz positivamente que atuasaba é o " com- mais velhos que o velhas que o ego)
padre" ou "aliado por hospitalidade" com direito a filha da casa. Era ego)
chamado também ayra "filho'' ou aiybena "genro". O que acolhia um. kybyras e6 : irmáo ;
hóspede chamava-s~ mosakara. endyra ( t) : irmá·1
.
pr1ma

pnmo
ybyra6 ( t) : irmao; fi- asykuera4 : irmáo ou pykyyra: irmá; f ilha
lho do irmáo do pai irmá da irmá da máe ; f ilha
. 1
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 427

EGO HOMÉM EGO MULHER AFINIDAD E


(todos mais moc;os 1191.
1
..
• 1 .... - - -
' 1
da irma (todas mais - 1

que o ego) moc;as que o ego) EGO HOMEM OU


EGO HOMEM MULHER EGO MULHER
ayra ( t) : filho ; fi-
lho do irmáo; filho do m.embyra8 : f ilho, fi.:. atuubat ( t) : pai da es- menduba2 : pai do es-
primo p. paterno lha; filho, filha da pósa; irrnáo do pai da poso ; irmáo do pai do
aiyra ( t) : f ilha; fil ha irmá; f ilho, filha da esposa; primo do pai esposo ; primo do pai
do irmáo ; filha do prima p. materna da esposa do esposo
primo p. paterno aixó (t): mae da es- mendy3 : máe do es-
iyra7 : f ilho da irma; pósa; irmá da máe da poso ; irmá da máe
filho da irmá ou do espósa ; prima da máe do espóso ; prima da
penga: filho ou filha da esposa mae do esposo
irmáo do pai; f ilho da
do irmáo; filho ou
prima; f ilho da avó
filha do primo e-mi-reka4 (t): espósa nicengaba: esposo, es-
íetipera : filha da irmá ; ..
- mena : esposo
A

filha da prima; filha atys ( t) : esposa posa


da tia guaimi6 : esposa
tutyra : esposo da
e-mi-mino9 ( t) : neto, e-mi-ariro-9 ( t) .· neto'
irmá do pai ou da
neta; neto ou neta do neta; neto, neta do
prima do pai ·
irmáo ou irmá e do irmáo ou irmá e do
aixé : esposa do irmáo
primo ou prima primo ou prima
do pai ou do primo do
ÜBSERVAc;;OES
pa1
.
Nao há designa~o para primos cruzados. Os paralelos se confundem com yké-mena (t): espeso
os irmáos (por vezes, com os sobrinhos). O parentesco paralelo é mais pre- obaiara1 ( t) : irmáo
ou primo da esposa da irmá ou prima ou
ciso, sobretudo o masculino. O parentesco cruzado, especialmente com inter-
mediário feminino, imediato do ego, nem sempre é claro. Nesta obra, "primo" sobrinha mais velhas
ou " prima" entendem-se paralelos, salvo indica..áo contrária. que o ego
l. ou amyia ( t). Em guarani, para o irmáo ou primo do pai reser- pykyy-mena: espóso
va-se ubyra (t), correlato de syyra. 3. Os autores nao .estendem sy a irma ykyyr-aty ( t) : esposa
e a prima da máe. Mas REsTIVO, Frases 597, registra o uso. Entende-se do irmá.o ou primo ou da irmá ou prima ou
melhor, assim, o paralelismo com uba. 4. Lit. " o que f oi peda.;o". Apli- sobrinho paternos mais sobrinha mais moc;as
ca-se aos verdadeiros irmaos, de ambos os sexos. 5. Quando o irmáo é que o ego
casado, pode-se dizer ukeí-mena, lit. "marido da cunhada". 6. yby-kyra (t) velhos que o ego
"irmáo .ca~la (do homem)"; kyby-kyra "irmao ca~la (da mulher) ". 7. I yr~ ybyr-aty ( t) : esposa ukeí : esposa do ir-
(n. 253) engloba vários graus de parentesco cruzado do homem: sobrinho do irmáo ou primo máo; ou do filho do
tío, primo. Usa-se também para enteado do hornero. 8. O VLB e o Cate~ irmáo da máe ; esposa
cismo de ARAÚJO dáo membyr-aysé para sobrinho (filho da irmá ou prima) ou sobrinho paternos
mais moc;os que o ego do irmáo do marido
da mulher, e memby-kunha para a sobrinha correspondente. Mas MoNTOYA,
Tesoro 219-220, traduz também como "filho" e "filha". 9. e-nii-niinó e e-tni-rekó-ykera ( t) : 11ien-ykeyra: irmáo ou
t-mi-ariró originam-se de particípios passivos (n. 773). Donde *minó e
irmá ou prima ou so- primo ( filho do ir-
*~iró devem ~epresentar verbos alterados. Desde logo, compostos de ró ou máo) mais velhos do
no(ng), que ~1guram em numerosos verbos transitivos (n. 1176). ~ inte- brinha mais velhas da ,.
ressante aproximar, por um lado, menó " fornicar" e ar "nascer" (p. ex.
A

esposa esposo
membyr-ar "dar a luz"), por outro, amyia (mino, allás minó) e aryw (ariró).

I
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 429

EGO HOMEM EGO MULHER VOCATIVO


e-mi-rekó-pykyyra (t): men-ybyra : irmáo ou 1192. Além dos nomes descritivos de parentesco, há algu-
irmá ou prima ou so- primo ( filho do irmáo .
mas formas vocativas, especialmente para os graus ma1s
brinha mais mo~s da do pai) mais mo~os , .
espósa do esposo
proxrmos:
EGO HOMEM OU
aiy-benas ( t) : espóso peuma: esposo da fi- EGO HOMEM l1ULHER EGO MULHER
da filha ou da sobri- Iha; ou da filha da
nha paterna ou da paí1 : ó n1eu pai !, pa-
filha do primo ( filho .
irmá
pnma
; ou da filha da pai ! ; senhor !
do tio paterno)
aí2: ó minha máe !,
ayr-aty9 ( t) : espósa membyr-aty: •
esposa mamáe ! ; senhora !
do filho ou do sobri- do filho; ou do filho
nho paterno ou do da irmá; ou do f ilho piá8: ó filho!
primo ( filho do tio da prima
paterno) xe á 4 : mano t ais, taá6, tapiá7: mano! tangs, guaw : mano !
mia: mana! pii, guaupira9 : n1ana ! kyi-10, k ynai,
- nai,
- t oi,
-
iyr-aty : esposa do fi- peng-aty : esposa do taupén : mana !
lho da irmá; esposa filho do irmáo ; ou do itó, titó, guaitó12: so-
do f ilho da irmá ou f ilho do primo brinha !
do irmáo do pai ; es- xe ás: senhor ! taá6 : senhor !
pósa do filho da pri- taupé 11, mía: senhora ! tapéu: senhora !
ma; esposa do f ilho
da avó Com excec;áo de xe á, todos dispensam o possessivo.
ietipé mena : esposo da Alguns sao também descritivos.
filha da irmá ; ou da . -· . }
l. paí: atribui-se a homens de, respeito.:. princip~is, f ei~i~iros, ~acerdote~:
' f ilha da prima; ou da parentes mais velhos, etc. É tambem descntwo: pai ,abare ~":dre . ,2. ª!.
filha da tia atribui-se a senhora mais velha que o ego. Tambem d~scnt1vo: ai aryw
"av6,, m syyra "tia materna". - No guar, h-aí. 3. J>iá: os documentos
,
nao registram a forma corr·espondente para " f l·1ha " . 4. . :e ,
a:. t amb,em
reverencial, como taá: "senhor 1" Talvez se reservasse aos 1rma_?s ma1s velhos.
1. Composto de aty (t) e uba (t) "pai da espósa", com assimila~ao do y. - Lit. : "minha glande". S. ai: <leve ser o mesmo. q~e guai de MoNT?:A
2. Composto de men.(a) e uba (t) "pai do marido". 3. Composto de men(a) "pintadinho, lindinho", que se aplica as pesso~s ma_1s" ~Ove;1s, se!11 restrt~ao
e sy u m~ ~o m~rido". 4. Etim?logicamente, "a que é possuída" (n. 782). de sexo. 6. taá: v. 4. 7. tapiá: em guar., ha t-api 1rmao mats m~o ou
S. No tupi htst?n.c?, parece .~ue ~o ,~e empregava em composi~ao. Mas devia filho (da rn.) ", descritivo. 8. tang: a forma descritiva é tanga, que de
ser a .forma Prt!111h~é\ p~ra ~sposa , suplantada pelo circunlóquio e-mi-r-ekó. "tenro delicado macio" tirou também "crian<;a". V. Mo?:l'TOYA, Tes~ro
No dialeto tap1rape, amda e corrente che-ranty "minha esposa". 6. lit. 354/34S. Cfr. Pi-tanga "criarn;;a", lit. "pele delicada".. Em guar., é mais
"velha:, fo:ma afe~ivo:jocosa: . xe ,puaimi "minha velha". 7. Em alguns lu- usual o diminutivo tan.Q-í. 9. gúafi.pira: ANCHIETA relaciona ao ego homem;
ga.res esposo da 1rma ou pnma . Em Sao Vicente "esposo da irma ou VLB ao egQ mulher. 10. k,yi: há dúvida se seria kyí ou kyy, ' forma a~on~da
pruna (tanto do homem como da mulh<.!r) ". 8. ou aiy-niena " marido da filha por VLB 286, ao passo que ANCHIETA 14v parece favorecer a ~nmeira.
(do h.)". 9. ou ay-laty.
Ambos os autores sao imprecisos na ortografia. - De kyra " novo, 1maturo,
I

430 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 431

-v:ei:_d"
e , t em~s k yra ". gente nova, cnan~a,
. garoto" (VLB 403). Em compo- O elemento yra é nítido nos casos de sy-yra e td>-yro. Quase isolado,
st~a~ com ai e ;iasaltz~do: kyn-ai; por aférese n-ai. Ky-í seria diminutivo. figura em iyra, nome vago de vários parentescos cruzados do homem : tio,
H1pote~es1 que ~ao exphcam por que esses termos se reservam ao ego mulher. sobrinho, primo. O i inicial poderia ser o prefixo da 3.ª p. - que de fato
11. taupe, tape:. ANCHIET~ distingue " senhora" taupé (ego h.) e tapé nao se repete antes de iyra (n. 253) - nao fósse a existencia das formas
! ego m. ),; VLB ~gnor~ ,tapeA: .refere-se a taupé no sentido de "mana" e de xe r-iyra, nde r-iyra, etc. A solu~ao talvez dependa do modo de encarar a
senhora . - 12., it6, tito, guait6: nao sabemos se se aplicavam a sobrinha origem do r-. Se é vestígio de urna preposi~ao, como rí ( n. 238 Obs.), ternos
paterna. Nao e provável.
xe rí yra, "minha parte", "meu parente", lit. "parte referente a mim" (há
exemplos de línguas que pedem o possessivo regido de preposi~ao).
1193. Os nomes de parentesc?, em g~r.al arcaicos, sao de difícil decomposi~o,
me~~o porque aludem a conce1tos soc1a1s que nao nos f oram transmitidos com Tem-se a impressáo que yra devia significar algo como "parte,
suficiente clareza.
porc;áo, · fragmento, complemento, acompanhamento", etc. :
xe sy-yra "parte ou pedac;;o de minha máe'' (==tia); xe r-yké-yra "parte
1194. Observe-se que alguns deles apresentam flagrantes do meu lado" ( =trmao,
. • etc. ma1s. velhos ) . A yra, a1em
' de " semen
• " e " f'lh
1 o" ,

rela<;óes com nomes de partes do corpo humano. significa "cousa pequena ou tenra' ' (MoNTOYA, Tes. 351/345; VLB 297, 344).
M embyra, a pesar de certa dificuldade fonética, <leve provir de men (a) e yra
GABRIEL ~OARES 370 já anotara que, pa ra os tupis o filho sai "dos "parte do marido", consoante o conceito tupi de que só o pai tem parte efetiva
lombos do pa1". Asyll-uera "irmáo, irma" literalmente ;ignifica "o que fot' no filho. Mais incerta é a decomposi~áo de ayra. Sem querer lembrar á
peda o" X
~ · e a' " mm
· h a g l an d e" em sentido figurado é " meu irrnáo" ( CAs- "glande" - pois á nao leva pref ixos de classe - observe-se que todos os nomes
TILHO" 27; VL~ 287; cfr. MARC.GRAVE 277). MoNTOYA, entre· outras tradu~6es de partes sexuais, tanto do homem como da mulher, comei;am por a- e levam
!';ira parente serve-se de derivados de i'-aok "separar-se, dividir-se": xe i prefixo de classe, excetuados precisamente os .compostos de á. .
':ªº~-~f;aera (Tes. 182v. a?): "eu sou parente dele''; xe r-u' i'-aok-ag-ué' nde Assim, iyra seria a "parte" ou "parente" no seu sentido mais
(ib.) .. es meu parent: prox1mo, por parte de meu pai". Cfr. ib. 401v./395v.
LÉRY mfo!'f11a que hav1~ o costume delicado do chamar os outros por nomes vago e distante - coincidindo exatamente com o parentesco cruzado,
" . " mmha ,,Perna" , " meus olhos", "mmha
como · orelha", etc. Xenambi, lit. o menos importante - em confronto com os parentescos mais pró-
m1nha orelha era o ~orne do filho de um principal de Tapuitapera _ ximos, relacionados com as partes do carpo.
refere EVREux 349. '

Algumas semelhanc;as expressivas: IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS (*)


Uba "pai" e uba "coxa" (além de u:ba "ova"; cfr. up-iá "ovo"). P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
Sy "máe e "raiz", "princípio". Ayra "·filho" e "semen". Yké-jra 1196.
"irmao ou primo mais velho", ykera ( ~ yké-yra?) "irmá ou Conserva-se a ortografía ~ a pontuai;áo original. Tanto esta como a acen-
pri~a mais velhas" e yké "lado", "costado" (Cfr. ukeí "cunhada"). tuai;áo sao, por vezes, duvidosas. A tradui;áo é de ARAÚJO, atualizadas apenas
Ybyra "irmáo mais mo~o'' e yby "barriga". Aíyra ( ~ aíy'-yra?) a ortografía e a pontuai;ao.
" (k a) ". ve1a
"filha ,, e aiy . ,,, " nervo". Endyra "irma" e endy "saliva".
1. Abare morececooramo, ymoingopira, amo aba abe mocoi
Algumas aproxima~6es sao susceptíveis de dúvidas (como a de oiyra), robaque omend.areimbae: nomendari. Icatube aba onieáa amoae Aba-
mas deve-se atentar para o conjunto dos fatos. re robaque, Abare ogoerecoara reniimotara rupi.
Nao ficaráo casados os que se receberam <liante do clérigo que nao era
1195. Urna análise etimológica anotará a freqüencia do seu pastor; com licen~ <leste, podem casar <liante de outro.
elemento yra :
2. Goemimotarei1J'W,gatu ojucá "ui, coipo aba ogoerero memoá
ayra, aiyr~, membyra, ykeyra, ybyra, endyra, kybyra, pykyyra ete ,ui onheangoabo omendaribae: coipo oguba, ocí, omuete1 ogoere-
em guaran1 kypyy ( ra) - tutyra, sy'j1ra, ubyra, iyra, além de
ykera, ietipera, que ibem podem provir ele ykeyra, íetipcyra. *) V. nota a p. 408.

(
'
432 LEMOS BARBOS.o\
CURSO DE TUPI ANTIGO 433
A A • A
coara goemimotareima rupi omomendarucareme. N omendari: emo-
na teco aroera2, yaipeá. O padrinho ou madrinha da pia náo pode casar com seu afilhado ou
afilhada, nem com seu pai e máe.
O que casa com medo da morte ou de algum grave e ruim tratamento
ou cont~a s.ua vontade, ~or f azer a do pai, mae ou parente, que 0 f ~ 10. Ocibápe yandi caraiba rafára rerafoára ndeicatui cece
casar, nao fica casado: ha-se de apartar. omenda. Tuba yxírecé tiruá.
A !. C1:"n'~· reroyabaparc: ce!11'in:otareíma rupi, cece menda po- O padrinho da crisma náo pode casar com a sua afilhada, nem com
ta!ihe, ndei~atd-i cece ornenda, nti1nbape cereco pucui, cmpo ceroyebi- seu pai nem máe.
reima pucui.
11. Tiaiucá xemena, coipo ~eremireco, coipo tiaiucaucar, aere-
O que furto;i alguma mulher, contra a sua vontade, com intenc;áo de me tiatntndar yande yoece, eyara oména, coipo goemirecó iucareme,
casar com ela, nao pode com eta casar, enquanto assim a tiver e a n-ao res- coipo ynheengarupi amó aba yii.:caroire, ndeicati~í oyoécé omenda:
tituir.
noico yxoe yepe, oyoece, aypo teco angoa1na8 rece onhemong-eta
?men1aragoera.. recoberemebe, ndeicatui omenda amoae rece
4. eímebe, coipo aéroire.
coepe ceo agoerarerapoaneme Abare cerecoara aé tececocuab. •
Os que se concertaratn para matar ou mandar matar a mulher ou marido de
Nenhum dos casados pode tornar a casar, enquanto o out ro f or vivo
· ; um deles mesmos, seguindo-se a morte, nao podem casar um com o outro,
correndo f arna de sua morte, o cura fará seu ofício. ainda que nao houvesse cópula precedente ou subseqüente ªº
tal . concerto.
. S. ,.O~ii~a,_ coifo omem~ir~ goenidmonhanga rece, aba nomen- 12. Mendara ymongaraibipf,reíma tiajucá xeména, coipó, xe-
dari, goeniunino coipo goemiariro ame yeapicárece ndeicatui abá ren1ireco coipo tiaiucaucar; aere1ne tanheniongaraibitcáne, nde rece
omenda. xemenda yanonde ymongaraibipíra fupee, jára9 ntlcicatui cece omen-
da, yiucapiroeramo cecoroire, ndoi coixoe yepe oyoécé aypo teco
O pai ou máe carnal náo pode casar com algurn filho ou f ilha,
ou neta, ou descendente seu. neto agoáma rece onhemong-eta eíniebe, coipo ae roire.
q·. A?endirG¡
oquibir'!,,. oacícoera rece ndeicatui aba omenda:
4
O mesmo impedimento para com o gentío ou gentia, infiel, que, por se
converter e asar com algum fiel, se concertou com ele para a morte do marido
raruabibe oendira , oquibira 5, oacicoera ra-niinionhanga rece aba ou mulher, seguindo-se a tal morte, nao poderao casar um com o outro, ainda
mendara, oyo irunundic6 yeapica cicape. que nao houves.se cópula, · etc.
Nao pode urna pessoa casar com seu irmao nem com algum descendente 13. Oména, coipo go·én1irecó jucá,ara coipo yjucáucafata10,
no quarto grau. '
tamendáne nderece, oyo oce obic-bae fupe opiapenhote tirua ejara,
7;,., N de!catubei !íbira, tiquera piquiira poromonhanga oyoaira, ymo1nburuaba yiucapiroeramo ceéormre, ndeicat1ti oyoece o~endá.
º.?'~ aiira r~ce ?m~nda: anga poromonhanga abe oyoirundic1 yeapica Ndoicuabi%oe yepe cece obicbae poeta11, coipo oyoece tecoároéra,
cicape} ndeicatubei omenda} oyo ece. • , . A•' A • • '
omena, coipo goe1nireco 1u·cafaroera11-10, coipo 7uca vcafaroeramo
"'
. • Nao ~cm casar os primos ou primas com irmao (sic) filhos de irmaos ou etco.
trmas. ate o quarto grau.
O ca!lado que matou ou fez matar a m11lher ou marido, para se casar
8. Oporóerocbaépoera ndeicatui omendit goémierócoera rece, com o que foi seu cúmplice no adultério, nao pode casar com ele, ainda que
oatoacaba y xi, coipo Tuba recébe. o tal cúmplice nao soubesse nem desse consentimento para a tal morte.

O que batizou nao pode casar com o por ele batizado, nem corn seu 14. M endara oyo ece obicbae poera fupe xemena, coipo xere-
pai ou máe.
mireco reore, túhnendar yande yoece, eibae, ceonhe roire, ndeicatui
~ · A~are, cofpo anio aba piri morerocaroéra, ndeicátui omenda cece omenda.
goemierocoera rece} Tuba, coipo y xi rece tirua ndeicatui. O casado que, depois do adultério, prometeu ao cúmplice de casar com éle
depois da marte de seu ll'!arido ou mulher. nao pode casar com o tal cúmplice.
I
' CURSO DE TUPI ANTIGO 435
434 LEMOS BARBOSA

·O desposado que dormiu com a irmá ou mae de sua esposa, nao pode
15. M endara omenda~aba rece oicóeimebe; y xui amo rece casar nem com a esposa nem com a mae ou irmá ou parenta no quarto
omenda ymenda yebira na. mendara rua; yméda mocoya, recé ibic- grau.
·ire e: omanótenhenw y médaripíagoera, ndcicat1ti omenda omenda 22. Mbiattfubeínia nibiaurubeté rece omendaribae, 1niaitfubei-
nwcoi agoéra rece. -m.a co oyabaupa nomédari, yaipedmhe aypobae amó rece ymomenda.
O casado que, antes de consumar o matrimonio, se casou e consumou O f órro que casa com a escrava, ou viceversa, cuidando que é f órra, nao
com outra, nem aind.a depois da morte da primeira pode casar com a segunda. fica casado; apartamos aos tais, e casamo-los com outras.
. Omendá tenhé reroc-ipira12 ceroc-ipirevma rece: ymenda
16. 23. Ogoereíma ·pupe oyabe cereíma rece omédarire aba amJ
rire y aipeanhé cenonhenetebo, emonii ceco agoera rece. reó eíma pucui ndeicatui anioaérece onienda Tupa ocupe tiru·a.
• 1
Em vao é o casamento do cristao com o que nao o é : háo de ser aparta- O que, sendo gentio, casou com outro tal, nao pode casar com outro
dos, e o cristao castigado. enquanto um deles fór vivo.
17.
Oyoece omendara.goama rece nhemong-etl1,ara Tupa, coipo 24. Apía.ba cunha 'Yece oéco o,aag yepébae ndeicatuí 01nenda
oanga, coipo Cruz, coipo anhete renóya ndeicahti aeroiré amo ae oméda rire, oyepeanhe.
rece omendá, nobic-ixoeyepe oyo écé. O impotente nao pode casar; se casar, há;-se de apartar.
Os que prometeram ou juraram de casar um com o ontro, nao podem Catecismo (l.ª ed.), pp. 128-13lv.
casar com outro.
A 2.ª ed. (1686), além do progresso da ortografía, da pontua~ao e da
18. Omeengabeté reónetJte aba ndeicatui 01nenda yacicoeraamo divisao das palavras, e do acréscimo de um impedimento (o de idade), apresenta
rece. as seguintes altera~óes textuais (pp. 277-281) :

Ne!1hum dos esposados pode casar com o irmao ott irm:í carnal do esp0so 1. oanameté. 2. tecoara. 3. Iabaíbibé. 4. okybyra. S. oendyra. 6. oioirundyc.
ou esposa que rnorreu. 7. oieirundyc. 8. agoá:ma. 9. ,upé eiara. 10. iiucaüca,ara. 11. poera. 12.
cerokipyra. 13. anámeté.
19. M endara oyoecé obic eimebe, amó reo neme, opitabae ndei-
catui omenda omenda(abambíra acicoera amo rece: nvoece obíc-iré, BIBLIOGRAFIA
amo reóneme ndeicatui opitabae poera muete13, taira, taiira, ceniiariró,
cemimin6, yeapica oyoirundic cicape. ANCHIETA, Cartas 448-456; ARAÚJO 267-274; ID., l.ª ed. 113-117;
THEVET La Cosmographie 129-130 (l.ª ed., 932-932v); SoARES DE SousA
Morto urn dos casados, antes do matrirnónio consumc.Óu, nao porle o 367-368 ~ 374-375; EvREUX 139-143; MARCGRAVE 276; MoNTOYA, Catecismo
outro casar com nenhum dos irrnaos ou irmas do morto: se depois ~..... n-,atri- 318-329; GARCIA 179-189 j DRUMOND, Designativos 328-354; PHILIPSON 7-31;
monio consumado, nao pode casar com o parente do morto dentr', do Quarto In., O parentesco 7-17; ..WAGLEY e GALVAO 1-24; In., O parentesco 305-308¡
grau. FERNANDES 129-220.

20. M orópotararitecóara, ndeicatui omenda, oyoece obíc-i bae


poera acicoera rece; coipo yacicoera remimonhanga rece, coipo ltiba,
y xi rece.
Nenhum dos fornicantes pode casar com os parentes do outro nos primeiros
dois graus: convérn a saber, com o pai e mae, irmao ou irmá do outro.

21.
Omeengabete piquiira, coipo tiquera, caipo y zí, r:Jce
obic-baé neicatui 01nendá o meégabeté rece tirua, coipo y xi, 3' pi-
quüra, tiqu·era rece, trmiariro coipo temi11iino yeapícabaf'r~c ~ O)'Oi-
rundic cícape.
CURSO DE TUPI ANTIGO 437

1200. A compara~áo fica facilitada rpelo fato de que grande


número de conceitos culturais nossos nao eram conhecidos
dos tupis.
LI(Ji.O 63.ª
Povo de comércio rudimentar, baseado na troca, náo desenvol-
veu a arte de contar, e inuito menos a respectiva nomenclatura lin 4

güística, que mal chegava a 4. lgnorava verdadeiras medidas, pesos


LtNGUA E CULTURA TUPIS e moedas. Incipiente noc;áo de "paga?' epy (t), ou melhor
"troca", "resgate", que ainda distava do cohceito de "pre<;o" ou
1197. Restaria passar em revista todo o vasto campo da cultura "valor".
material e náo material dos índios tupis, tal como se reflete na sua Ao procurarmos traduzir um nome ou um.a frase para o tupi ( é o que
língua. se pede a e.ad.a passo de quem estuda a língua), a preocupa~ao inicial deve ser
a de verificar se o povo que falou tupi teve conhecimento dos elementos cultu-
o assunto pertence mais a etnografia do que a tingüfstic.a, e f ica reser· rais que desejamos traduzir. Seria ·um contra-senso verter para o tupi nornes
vado para um Manual de estudos tupis, que abrangerá tudo o que se sabe sobre de cousas inteiramente ignoradas por aqueles índios, como "rádio", "automlr \
aqueles índios, desde a antropo.Iogia física, a cultura, a língua, os dialetos a vel", "bom dia", "viva!", etc.
história, a distribui~ao geográfica, a sua expansáo pré e pós-colombiana, ~té "Campo de avia~ao" por exemplo, nao tem tradu~áo em tupi, pois
as vicissitudes do seu contacto racial, cultural e lingüístico com os povos sobre- os índios tupis nao conh~cera.'11 o ".aviáo". Mas, nao se pode encontrar
vindos de além-mar. urna tradu~ao para "aviao" n suponhamos : 'jrgá' -bebé "canoa-voadora"? A
expressao é compreensível e talvez os indios a viessem a usar, se tivessem tido
conhecimento do aviáo. Como tarrtbém poderiam traduzir de outra forma, p.
1198. É óbvio que, povo de cultura tao profundamente ex., guyrá-guasu "pássaro-grande", ou adaptar a palavra portuguesa. O certo
diversa, o seu vocabulário nao encontra fácil equivalencia é que essas expressoes, no sentido que se lhes dá, nao sao tupi. Podem divertir,
no nosso. mas carecem de valor lingüístico. Estudar tupi é investigar a língua que os
índios realmente falaram e nao excogitar como a falariam boje. Proceder de
Os dicionários podem dizer que anga significa "alma". Mas outro modo é falar portugues. . . com palavras tupis.
o conceito de "alma" difere do de anga tanto em compreensao
como em extensáo. N ós atribuímos a "aln1a" notas características SitRES DELIMITADOS E INDELIMITADOS
(p. ex. a imaterialidade) que nao cabem no conceito indígena de
anga. Por outro lado, um índio., animista, falará na anga do vento. 1201. Além dessas divergencias, mais culturais, há inú-
Etc. - Diga-se outro tanto de cousas como ybaka "céu" iasy meras outras que, embora de cunho lingüístico, sao condi-
"lua", ara "día", "tempo", manó "n1orrer", etc. '
cionadas por urna tradic;ao conceptual própria. Assina-
1199. No terreno social, já vimos como o parentesco obe- lamos aqui apenas algumas.
dece a princípios totalmente diversos dos nossos. As línguas ocidentais costumam distinguir lingüisticamente duas
espécies de nomes: l.º) nomes de seres delimitados ou individuos
Se, p. ex., a palavra uba (t) denomina tanto o "pai" como o
(p. ex., hornero, céu, arco, etc.) ; 2.º) nomes de massas ou seres
''irmao do pai", é claro que ela nao tem correspondente preciso em
indelimitados (p. ex., água, carne, farinha, ar, madeira, cabelo),
portugues. Do mesmo rnodo, "filho" nao tem equivalente em tupi,
cujas partes podem verificar também a natureza do todo.
desde que por um lado ayra ( t) significa também "filho do irmao
= sobrinho paterno" e por outro lado nao abrange o filho pela parte Para individuar ou delimitar éstes últimos nomes, nossas línguas recorrem
a locu~óes em que entra um nome de cousa limitada (p. ex. copo, por~áo,
materna.
feixe, litro, grao, fio, etc.), ligado ao nome da "massa" pela preposi9áo "de":

28 ,
438 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 439

"copo dágua", " feixe de len ha", " um pouco de ar", etc. Se a " massa" "massa", como "temporada" ("tempo das águas", etc.), "dia", "pa-
se compóe de unidade indivisíveis como tais (p. ex. feijao, integrado por graos;
cabelo, integrado por .fios, etc.), o primeiro termo dessas locui;óes será o norama", etc. O "tempo-espa<;o" nao é, porém, segmentado em anos,
nome da unidade (grao de feijao; fio de cabelo). Se a "massa" é homogenea· horas, metros, etc.
( água, carne, ar, eoc.), o primeiro termo pode ser um nome de "parte" ou
"continente" ou " medida" e a massa figurará como " todo" ou como " con-
teúdo": "peda<;o de carne", "punhado de farinha", "litro de leite", etc. 1204. A noc;ao de "ano" nao é nativa.
Por üm processo análogo, formam-se expressóes como : " um pouco de espai;o",
"um metro de largura", "um instante de tempo", etc. Os missionários aproveitaram-se de conceitos conexos, como a
Em tupi, como ein geral nas línguas indígenas, os nomes de volta do "inverno" ou "frio" roy (tupi meridional e guarani), a
"massas" significavam também, de per si, as partes delimitadas, sem colheita do "caju" akaíu (tupi setentrional), o aparecimento das
necessidade de recorrer aquelas locu<;óes formais. Y significa "Pleiades", Seixu (tupi meridional e setentrional). É claro, porém,
"água" em concreto, tanto a "fonte", como o "rio", a "lagoa", o que os índios náo tinham no<;áo do ano solar. Conheciam os feno-
"mar" e a "vazi.lha dágua". Abati tanto significa "milho" como menos periódicos do ano, •como as esta~óes, as quadras de plantío e
"grao de tpilho". Aba tanto abrange "caibelo", i. é, "cabeleira", colheita, mas nao seccionavam o tempo a base delas.
como "fio de cabelo". Uí "farinha" e "grao de ·farinlia". Ignoram-
-se expressóes como "copq dágua", "vazilha de farin:ha", etc. HANS STADEN 102, 157 refere-se duas vezes a pirá-kaé "peixe-seco":
i. é, a época da seca do peixe, quando o parati., saindo do mar. sobe os rios
Existiriam expressóes como "peda~o da carne", "feixe de lenha", "cesto para a desova. o que acontece no fim do inverno. ü acontecirnento é esperado
de frutas", "grao de milho", no seu sentido literal e descritivo. nao como com preparativos vários e marca o tempo de expedi1;6es de pesca e guerra.
partitivos.
ÜBS. Ve-se que, para os tunis. o tempo está concretizado em aconteci-
mentos, a dif eren~a dos nossos hábitos de regular os acontecimentoc; e agenda
TEMPO E ESPA<;O por urna prévia divisao do tempo.

1202. Nossas línguas costumam objetivar e substantivar n~óes mais ou O Dicionário Brasiliano e Portugues 158 informa:
menos abstratas ou acidentais como tempo, espa~o, distancia, dire~ao, f ór~a,
inércia, tamanho, época, etc., equiparando-as gramaticalmente aos outros no- "A cajú-roy{l - o ano. Como esta árvore só dá urna vez fruto
mes de seres concretos ou independentes. N ornes como " primavera" podem ao ano, contra o costume das outras que dao sempre ou repetem,
ser sujeito e objeto de afirma~ao. Dizemos: "a primavera chegou", "aprecio rnoveu os indios a contarem a sua idade pelos caro<;os que todos os
o verao'", " o inverno é f rio", .como diríamos " o barco chegou", "aprecio o
orador", "o gelo é frío". Dizemos: "a distorsao da 13.mina causou a ruptura anos se colhem e guardam, com muito cuidado, em um oequeno cesto
da al~a", como quem diria "o boi derribou o toureiro". Contamos meses e 1eito para este fim, onde cada ano lancam urna castanha. Também
anos, días e horas, metros e léguas, como se fóssem seres indivíduos. O tempo contam o ano pela constela(áo das Pleiades. Veja-se a palavra
e o espa~o nos aparecem lingüísticamente como urna '' massa" indelimitada, Ceixu. Como talvez os de agora nao contero a sua idade com os
que preenche o vácuo do nada anterior e posterior ao movimento e para lá
da últim,a realidade material; massa que se compóe de dias, horas, metros, caro<;os, bem será que se fale em pretérito."
quilómetros. Mas a informadi.o, já de si duvidosa, reflete influencia européia, visível
no cuidado de "contar os anos de vida".
1203. Em tupi, a palavra ara abarca confusamente nossas
noc;óes de "tempo, temporada, quadra, dia; sol; luz (solar) ; 1205. A idéia de "mes" tinha um sucedaneo muito pr'óximo
mundo, espac;o; entendimento, juízo". em wsy "lua".
Ara é o tempo-espac;o real, nao parecendo estender-se ao imagi- A peridiocidade rigorosa das íases lunares nao podia passar despercebida.
Entretanto, nenhum nome corresponde a nossa "semana". seja como parte
nário. Aplica-se também as partes ou delin1ita~óes do tempo-espa'iO do mes, seja como conjunto de sete dias.

'
CURSO DE TUPI ANTIGO 441
440 LEMOS BARBOSA

que fósse tomada como parte deles pelos colonos. Eis por que inúmeros
1206. Ara "dia" nao abrangia a noite, mas apenas o lapso nomes geográficos brasileiros a trazem incorporada: Acarape, Ara,uaípe,
Aratuípe, Canípe, C.otegipe, G11ararape, lgiwguaf1tpe, lguape, lnhambupe, ltaí-
de tempo entre o nascer e o pór do sol. pé, ltapagipe, Jacuípe, Jagrtaripe, Mamanguape, Manguape, Mapendipe, Mara-
caípe, Maragogípe, Maranguape, Meguaípe, Meruípe, Mucwripe, Sergipe, Sua-
Ara também significava "sol" (VLB 203), tanto quanto kó-ara fupe, etc., além dos casos em que houve abrandamento do p: Beberibe, Cama-
ou kuara "este dia" (VLB 305, 346). A seqüencia de acce~s ragibe, Capiberibe, Jaguaribe, Peruíbe, Piragibe, Pirangibe, etc.
parece ser : dia, luz (do dia)' sol, tempo, mundo ( visível a luz do
dia), espa~o; luz mental ( com que vejo ou entendo o mundo), juízo, 1211. Para referir as causas no tem¡x>, a falta de maior precisao
entendimento. lingüística, deviam servir aos tupis os mesmos recursos usados pelos
atuais tapirapés, que falam um co-dialeto puro :
A no~ao ind~gena de "mu~d?" era modesta, de acórdo com a limita~ao •• Como nao somente as computa<;óes, mas também as denomina<;oes diretas
dos. s:us conhec1mentos ~eograficos. Mas os documentos afirmam que os do tempo nunca deixam de ser abstratas, convém a mentalidade dos Tapirapé
tupis b!lham grande conhec1mento do sertáo ,e até avan~adas no~5es corográficas. usar, principalmente, designa<;óes indiretas baseando em fenómenos concretos
-A Ex1stem os. nomes do_ "o~iente" kúa:a(sy) senib-aba, e do "poente" a indica<;ño de termos passados e futuros. Assim marcam. o tempo do dia,
kuara(sy) r-e-iké-aba. Nao ha os conce1tos de "norte" e "sul". estendendo a mao em dire<;ao a posi-;ao que o sol ocupava ou ocupará no
' momento em questao [ ... ] Se acontecimentos se deram há semanas ou
i2o7. É inútil acrescentar que nao se distinguiam segmen- meses, os tapirapé os determinam cronologicamente, demonstrando com a
mio o grau do desenvolvirnento de certas plantas nas épocas em questao, por
tos menores de tempo, como "hora", "minuto", etc. exemplo, a altura do milho ou da cana de a<;úcar. Tendo passado já anos, o
' narrador tapirapé estende a mao na altura que certa pessoa tinha alcan<;ado
Assinalavam-se certas fases características do dia ou da noite, naquele tempo, sendo esta pessoa, em geral, o próprio narrador, quando sua
como a manhá, a tarde, o meio-dia, etc., baseando-se nos fenómenos idade o habilita para tal demonstra~o. Se ele tem cerca de cinqüenta anos,
visíveis, tal como ficou <lito do ano. Mas essas fases nao dividiam tendo deixado de crescer, por isso, há decenios, mas queira indicar um termo
passado há cinco anos, servir-lhe-á urna crian<;a de cinco anos para cima.''
o dia em partes; apenas acentuavam os seus momentos mais ( BALDUS 93) .
perspícuos. . , , ,
Para caracterizar a in1precisáo lingüística do tempo em tupi,
baste lembrar que as palavras ki"tesé "ontem" e oirandé "amanhá"
1208. Pode-se dizer que o tupi náo objetiva tanto o tempo, podem ser empregadas vagamente no sentido de "há tempo" e "fu-
.quanto as cousas no tempo. turamente". Há, em cambio, a distinc;ao entre oíeí "hoje (passa-
do)" e kori ou kuri "hoje (futuro)". Mas este aparece na lo-
O tempo, é mais adjuntivo do que substantivo. Exprime-se menos por
nomes do que por partícElas "t~mporais'' ou por sufixos adjuntivos. como cuc;ao kori koe-me "amanha de manhá", lit. "boje (futuro) de
.rabQ (n. 799). O mesmo vale do espac;o e lugar, que figuram de preferencia manhá".
como "1.ocativos".
BIBLIOGRAFIA
1209. Nao parece que e111 legítimo tupi se concretizassem nomes de
lugar a ponto de usá-los como sujeito e objeto de orac;áo. Frases BALDUS 87-94; NIDA passim; HoIJER 554-573.
como "Reritiba é formosa", "Gosto de Reritiba", nao sáo de feitio
nativo. Os nomes de lugares aparecem também, mais como adjun-
tivos: "Estou em Reritiba", "Vou para Piratininga", "Venho de
Jaguari", etc.
1210.• -Pelo seu próprio sentido, corresponciente a "em"' "a", "para" t a
preposu;ao -P~ acompanha f reqüentemente os topónimos. O que contribuiu para
\

CURSO DE TUPI ANTIGO 443

V ocabulário das palavras guaranis usadas pelo tra-


dutor da "Conquista Espiritual" dv Padre A. Ruiz de Mon-
toya. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol.
VII (Rio de Janeiro, 1879).
' EDI<;6ES CITADAS (*) - Cantas do Padre Anchieta. Reproduc;áo acompanhada
de um pref ácio de Basílio de Magalhaes, sócio do Instituto.
\ In Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
vol. 138 (Rio de Janeiro, 1920), pp. 561-608.
ABBEVILLE (CLAUDE D') História da Missao dos Padres Ca,,.
puchinhos na l.lha do M aranháo e T erras Circunvizinhas; em - Notas a ·CARDIM, q. v.
que se trata das singularidades admiráveis e dos costumes
es~r~nho~. dos índios habitantes do país. Trad. de Sérgio
- Manuscrito guarani da Bibliottca Nacional do Río
Mtlhet; 1ntr. e notas de Rodolfo Garcia, Liv. Martins (S. de Janeiro sóbre a primitiva catequese dos índios das 1nissoes,
Paulo, 1945). composto em castelhano pelo P. Antonio Ruiz Montoya, ver-
tido para o guaraní por outro padre jesuíta, e agora publicado
AnAM (LUCIEN) - Matériaux pour servir a l'établissement d'une com a tradu<;ao portuguesa, notas, e um esbóc;o gramatical do
graf'!tmaire ocmparée des dialectes de la f amille tupi. Bi-
abáñee. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,
bliotheque Linguistique américaine, tome XVIII. J. Maison-
neuve, Libraire-Éditeur (París, 1896) . vol. VI (Rio de Janeiro, 1879).
ALMEIDA NoGUEIRA (BATISTA CAETANo) - Esbo,o. gramatical do ANCHIETA (JOSEPH DE) - Arte de Gramática da Língua mais
Abáñee ou língua guarani, chamada também no Brasil língua
usada na Costa do Brasil. Ed. fac-simil. da Biblioteca Na-
tupi ou língua geral propriamente Abañeenga. Anais da Bi-
1

:blioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, pp. 1-90 (Rio cional do Rio de Janeiro. Imprensa Nacional ( Rio de Ja-
de Janeiro, 1879). neiro, 1933).
- Apontamentos sobre o Abañeenga, também chamado - Auto representado na festa de Sao Louren,o. Pesa
guarani ou tupi ou Língua Geral dos Brasis. Primeiro Opús- trilingüe do séc. XVI, transcrita, comentada e traduzida, na
culo: Prolegómeno. Ortografía e pros6dia. Metaplasmos. parte tupi, por M. de L. de Paula Martins. Museu Paulista.
Advertencia com um extrato de Laet. In Ensaios de Ciencia. Documeqtac;ao Lingüística, 1. Boletim 1. Ano I (Sao Pau·
Marc;o, F. I. Brow .& Evaristo, Editores (Rio de Janeiro lo, 1948).
1876). , - Cartas, lnformaroes, Fragmentos Hist6ricos e Ser-
- Ideni. Segundo Opúsculo: O Diálogo de Léry. moes. Publicac;ao da Academia Brasileira de Letras. Li-
Nota preliminar. O diálogo. Explana,oes. In Ensaios vraria Civiliza~ao Brasileira, S. A. (Rio de Janeiro, 1933). '
de Ciencia. Julho. F. II. Brown & Evaristo, Editores - Poesías Tupis. Vide PAULA MARTINS.
(Rio de Janeiro, 1876).
ANÓNIMO - Vocabulário na Língua Brasílica. Manuscrito portu-
gues-tupi do século XVII coordenado e prefaciado por Plinio
(*) N~ ':orp~ da ~bra ou na bibliografía de cada Lii;ao, citado algum
autor ~em mdtcai;ao da obra, entenda-se ser a que vem em primeiro lugar Ayrosa. Colec;ao do Departamento de Cultura, vol. XX (Sao
nesta lista. Paulo, 1938).
444 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIG-0 445

ARAÚJO (ANTONIO DE) - Catecismo Brasílico da Doutrina Crista. - Diferenfas Fonéticas entre o tupi e o guaraní. In
Ed. fac-similar de ?úlio Platzmann. B. G. Teubner (Leipzig, Arqui.vos do ~1useu Paranaense, vol. IV ( Curitiba, 1945),
1898). pp. 33~-354.
- Catecisnw na Lingua Brasüica. Reprodu~ao fac-si- - A categoría da voz em Tiipi. In Logos, ano II, n.0 6
milar da l.ª edi~ao (1618), com apresentac;ao pelo Pe. A. ( Curitiba, 1947), pp. 50-53.
Lemos Barbosa. Pontifícia Universidade Católica do Rio de - A reduplicarao em Tupi. In Gazeta do Povo (Curi-
Janeiro (Rio, 1952). tiba, 31-III-1950).
ARRONCHES (JoA.o DE) - O Caderno da Língw ou Vocabulário - Esbófo de uma Introdufao ao estudo da L·íngua Tupi.
Portugues-Tupi. Notas e comentários a margem de um tna- In Logos, ano VI, n.0 13 ( Curitiba, 1951), pp. 43-58.
nuscrito do século XVIII por Plínio Ayrosa. Imprensa Ofi- - A coniposifao eni Tupi. In Logos, ano VI, n.0 14
cial do Estado (Sao Paulo, 1935). ( Curitiba, 1951), pp. 63-70.
BALDUS (HERBERT) - O conceito do tenipo entre os indios do Bra- DRUMOND (CARLOS) - Notas gerais sóbre a ocorrencia da partícula
sil. In Revista do Arquivo Municipal de Sao Paulo, vol. tyb, do tupi-guaraní, na toponimia brasileira. In Boletim
LXXXI (Sáo Paulo, 1949), pp. 87-94. XLVI da Faculdade de Filosof ia, Ciencias e Letras (Sao
Paulo, 1944), pp. 55-76.
BARBOSA RODRIGUES (JoÁo) - Poranduba Amazonensc (Kochiyma-
- Designativos de parentesco em língua Tupi. In Anai.s
uára porandúb). In Anais da Biblioteca Nacional do Rio de
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. LXIV (Rio,
Janeiro, vol. XIV (1886-1887) fascículo n.0 2 (Rio de Ja"'-
1942)' pp. 179-189.
neiro, 1890).
EcKART (ANSELMO) - S pecimen linguae bra-silicae vulgaris. Ed.
- Vocabulário indígena comparado, para mostrar a ·adul- Júlio Platzmann. B. G. Teubner (Leipzig, 1890).
ttrafao da língu.a. (Complemento do Poranduba amazo- EnELWEISS (FREDERICO G.) - Tupis e Guaranis. Estudos de etno-
nense). In Anais da Biblioteca Nacional do Río de J aneiro, nímia e lingüística. Publica~oes do Museu da Babia - n.0 7
vol. XV, 2.0 fasckulo (Rio de Janeiro, 1892). (Babia, 1947).
BETTENOORFF (JoÁo FELIPE) - Compendio da Doutrina Crista na EVREUX (IvEs n') - Viagem ao Norte do Brasil. Traduc;ao do
lingua portuguesa e brasilica. Miguel Deslandes (Lisboa, Dr. César Augusto Marques (Rio de Janeiro, 1929).
1678). FERNANDES (FLORESTAN) - A organiza,a.o social dos Tupinambá.
CABALLERO (R. V.) - Contribution a la connaissance de la phoné- Instituto Progresso Editorial (Sao Paulo, 1948).
tique guaraní. 1n Revue de Phonétique, t. I, fase. 2 ( Paris, FERREIRA FRAN<;A (ERNESTO) - Crestomatía da Língua Brasílica
1911), pp. 138-162. (Lejpzig, 1859).
CARDIM . (FERNAO) - Tratados da terra e gente do Brasil. · J. Leite FrGUEIRA (Luís) - Arte de graniática da língua brasílica. Mi-
& Cia. (Rio . d-e Janeiro, 1925). guel Deslandes (Lisboa, 1687). Ed. de Julio Platzmann, sob
CASTILHO (PERO DE) - Os Nomes das partes do corpo hii1nano o título: Gramática da lingua do Brasil. B. G. Teubner
pela língua do Brasil. Edi~·ao de Plínio Ayrosa. Revista dos (Leipzig, 1878).
Tribunais (Sao Paulo, 1937). - Arte da lingua brasílica. Manuel da Silva (Lisboa,
DALL' IGNA RODRIGUES (ARioN) - Análise morfológica de UtrJ 1621).
texto tupi. In Logos, ano VII, n. 0 15. Tip. Joáo Haupt HoIJER (HARRY) - The Relation of Language to Ci1lture. In
& Cia. Ltda. ( Curitiba, 1952), pp. 55-57. Anthropology Today ( Chicago, 1953), pp. 554-573.
I

446 1 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 447

LEMos BARBOSA (A.) - Pequeno Vocabulário Tupi-Portugués. vertido para guarani por outro padre jesuíta, e agora publi-
Livraria Sáo José (Rio, 1951). cado com a tradit,ao portuguesa, notas e um esbo,o gramati-
- Juká - o paradigma da conjuga,ao tupi. Estudo cal do "A bañeén. Anais da Biblioteca N acion.al do Río de
etimológico-gramatical. In Revista Filológica, ano II, n.0 12 Janeiro, vol. VI (Rio de Janeiro, 1879).
(Rio, 1941), pp. 74-84. MoRÍNIGO (MARCOS A.) - Hispanismos en el guaraní. Facultad
- Os índices de classe no tupi. In O Estado de S. Paulo
de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires.
(25-VIII-4-0). Instituto de Filológía. Colección de Estudios Indigenistas. I.
(Buenos Aires, 1931).
- Nova categoria gramatical, tupi. In Verbu111, t. IV,
fase. 2, junho (Rio, 1947), pp. 67-74. NmA (EUGENE A.) - Bible translating (N. York, 1947).
- Traduroes de poesias tapis. - In Revista do Arquivo PAULA MARTINS (M. DE L.) - Poesias Tupis (Século XVI). Bo-
Municipal, vol. 128 (Sao Paulo, 1949), pp. 27-44. letim LI da Faculdade de Filosofía e Letras da Universidade
de S. Paulo. Etnografia e Língua Tupi-Guarani. N.0 3
- O "Voca.bulário na Lingua Brasílica". Ministério da (Sao Paulo, 1941).
Ed'ucac;ao e Saúde. Servi<;o de Documentac;ao. Imprensa
Nacional (Rio, 1948). PHILIPSON (J) - Nota sobre a interpreta,ao sociológica de alguns
designativos de parentesco do tupi-guaraní. Boletim LVI da
LÉRY (JEAN DE) - Viagem a terra do Brasil. Biblioteca Histórica Faculdade de Filosofía, Ciencias e Letras da Universidade de
Brasileira, VII, Livraria Martins (Sao Paulo, 1941). Sao Paulo. Etnografía e Língua Tupi-Guaraní.. N.0 9 (Sáo
Paulo, 1946).
Lowm (RoBERT H.) - Relationship terms. In Encyclopaedia Bri- - "O parent1sco tupi-guarani". Boletim LXIII da Fa-
tannica. 14.ª ed., vol. XIX, p. 84 ss. culdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universidade de
MARCGRAVE (JoRGE) - História Natural <f,o Brasil. Traduc;ao de Sao Paulo. Etnografía e Língua Tupi-Guaraní, N.0 11 (Sao
Mons. Dr. José Procópio de Magalháes. lmprensa Oficial do Paulo, 1946). ·
.
Estado (Sao Paulo, 1942). RESTIVO (PAULO) - Arte de la lengua guarani. E. de C. F.
Seybold. Guilherme Kohlhammer ( Stuttgard, 1892).
MARTÍNEZ (T. ALFREDO) - Orígenes y leyes del lenguaje aplicadas - Vocabulario de la lengua guarani. Ed. de C. F. Sey-
al idioma guarani. Imprenta de Coni Hermanos (Buenos bold. Guilherme Kohlhammer ( Stuttgard, 1892).
Aires, 1916). - Breve Noticia de la lengua guarani. Ed. de C. F.
MoNTOYA (Antonio Ruiz de · ) - Arte de la lengita gitarani, ó más Seybold. Guilherme Kohlhammer ( Stuttgard, 1890).
bién tupi. (Viena - Paris, 1876). - Frases selectas, y 'f!t.Odos de hablar escogidos y usados
tn ía lengua guarani. Sacados del Tesoro escondido que
- Vocabidario de la lengua guaraní (Viena-Paris, compuso el venerable Padre Antonio Ruiz de nuestra Com-
1876). pañia de I esus para consuelo y alivio de los fervorosos misio-
- Tesoro de la lengua guaraní (Viena-Pari.s, 1876). neros principiantes en la dicha lengua (1687) [Manuscrito,
-- Catecismo de la lengua guaraní. Ed. de Júlio Pla- 633 pp. em Z colunas] .
tzmann. B. G. Teubner (Leipzig, 1876). SAMPAIO (TEODORo) - O Tupi na Geografía Nacional. 3.ª ed.
- Manuscrito guarani da Biblioteca N ncional do 'R io In Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Babia,
de Janeiro robre a primitiva. catequese dos índios das M issoes, n.0 54 (Babia, 1928), pp. 1-400.

'
LEMOS BARBOSA 449
CURSO DE TUPI ANTIGO

SoARES SousA (GABRIEL) - Tratado áescritivo do Brasil em


DE modernos apenas os autores que apresentem alguma interpreta~áo gramatical
1587. 3.ª ed. Companhia Editora Nacional (Sao Paulo, J)rópria, de real valor. Mas a inclusao de urna obra náo implica em aceita~o
1938). de .todas as idéias defendidas pelo seu autor.
2. Na escolha das edi~óes, demos preferencia as de mais fácil consulta,
STADEN (HANS} - Viagem ao Brasil. Versáo do texto de Mar- embora reconhecendo que nem sempre sao as melhores.
purgo, de 1557. Publicac;óes da Academia Brasileira. Ofi- 3. Atualizamos a ortografía dos títulos.
cina Industrial Gráfica (Río de Janeiro, 1930). 4. Quem desejar mais amplas informa~óes bibliográficas, poderá consul-
tar, entre outros, os seguintes trabalhos :
THEVET ( ANDRÉ) - Singularidades da Franfa Antártica. Prefá-
cio, tradu<;áo e notas do Pr<>f. Esteváo Pinto. Companhia AYROSA (PLfNIO) - Apontamentos para a bibliografia da língua
Editora Nacional ( Sáo Pauló, 1944).
tupi-guarani. Boletim XXXIII da Faculdade de Filosofía,
- La Cosmographie Univtrselle. Pierre l'Huillier (Pa- Ciencias e Letras (Sao Paulo, 1943).
ris, 1575), tomo II. In Les Franfai$ en Amérique pendant
la deuxieme moitié du XV!e. siecle. Le .Brésil et les bré- CASTRO (EUGENIO DE) - Rela,ao Bibliográfica de Lingüística
siliens. ·C hoix de textes et notes par Suzanne Lussagnet. Americana. Fase. 1.0 , 1 - Amerindia (la. série). Publ. do
Introductk>n par Ch.-A. Julien. Presses Universitaires Instituto Cairú. Ministério· da Educa~áo e Saúde (Río de
de France (Paris, 1~53). • J aneiro, 1937).
ToVAR (ANTONIO) - Ensr;yo de caracterización de la lengua gua- DALL'IGNA RODRIGUES (ARioN) - Esbó,o... Análise morfo·
raní. 1n Anales del Instituto de Lingüística, tomo IV. lógica, v. supra.
Universidad Nacional de Cuyo. Facultad de Filosofía y Le-
EDELWEISS (FREDERICO G.) - . Bibliografia Crítica. In Tupis e
tras (Mendoza, 1950), pp. 114-126.
Guaranís, q. v.
UPSON CLARK (CHARLES) - Jcsuit letters to Hervás on anierican
languages and customs. In Joumal de la Société des Améri- FURLONG (GUILLERMO) - La imprenta en Las Reducciones del Pa-
canistes de París, t. XXIX ( nouvelle série) (París, 1937), raguay 1700-1727. . . In História y Bibliografia de las pri-
pp. 97 e SS. meras imprentas rioplatenses, ton10 I. Editorial Guarania
(Buenos Aires, 1953).
VALENTE (CRISTÓVÁO) - Poemas Brasil-icos. In Catecismo Bra-
\ sílico da Doiutrina Crista de Antonio de Araújo, q. v. LEITE (SERAFIM) - História da Companhia de Jesus no Brasil.
10 tomos (Lisboa-Rio, 1938.-1950).
YAPUGUAY (NICOLAS) - Serniones y exeniplos en lengua guarani.
Con dirección de un religioso de la Compañia de Jesus. Ed. , LEMOS BARBOSA (A.) - Ara poru. In Provincia de Sao Pedro,
fac-similar (Buenos Aires, 1953). n. 9. Editora Globo (Porto Alegre, 1947), p. 39-42.

''A/AGLEY (CHARLES) e GALVÁO (EnuARDO) - O parentesco tupi- LoUKOTKA (CESTMIR) - Les langues de la Famille Tupi-guarani.
-guaram1. Boletim do Museu Nacional. Antropología. N. Boletim CIV da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras
6 (Río, 1946). (Sáo Paulo, 1950).
O parentesco tupi-guarani2 • 1n Sociologia, vol. VIII,
- MAGALHÁES (BASÍLIO DE) - "Curso de T1<Pi Antigo". Prefácio a
n.0 4 (Sao Paulo, 1946), pp. 305-308. obra do Padre Antonio Lemos Barbosa. In Jomal do Comércio
( 16-II-1947).
• ÜBS. - l. A resenha bibliográfica incluí apenas as obras citadas ou in-
dicadas no CURSO. De acórdo com a adverténcia do prefácio, tomamos como MAsoN (J. ALDEN) - The Languages of So1dh Anierican Indians.
norma citar tao só as fontes primárias de documentac;ao antiga e, entre os In Handbook of South American Indians. Smithsonian
450 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 451

Institution. Bureau of american ethnology. Bulletin 143. bli.ografia das Reduc;óes. As referencias de LouKOTKA, MASON e
Vol. 6 (Washington, 1950), pp. 241-243. R.lvET visam mais a classifÍca\áO lingüística, pelo q_ue Ínsistem .nos
dialetos menos conhecidos. BASÍLIO DE MAGALHAES faz sucinto
MEDINA (J. T.) · - Bibliografia de la lengua guaraní (Buenos apanhado da bibliografia dos dialetos tupi, guaraní e nheengatu.
Aires, 1930).
O artigo de LEMOS BARBo:A passa em revista . a a~tiga lit:ratura
MITRE (BARTOLOMÉ) - Catálogo razonado de la sección - Lenguas guaraní das Missóes. E u GENIO DE CASTRO colige 1nformac;oes de
Americanas. Museo Mitre (Buenos Aires, 19QCJ-1910). várias fontes, sem apresentar nenhuma contribui<;áo pessoal.
- Lenguas Americanas. Catálogo ilustrad<> de la Sec-
ci6n X de la Biblioteca. Museo Mitre (Buen()!) Aires, 1912).
PEDRO II (DOM) - Qualques notes sur la langue tupi. Apresen-
tac;ao e notas de A. Lemos Barbosa. In Anuário do Museu
Imperial, VI (Petrópoli.s, 1945), pp. 169-188.
RIVET (PAUL) - Langues de l' Amériqu'e. du Sud et des Antilles.
In Les langues du Monde, par un groupe de linguistes (Paris,
1
1924), .pp. 687-693. J

RlvET (P.) et LouKOTKA (C.) - Langues del' Améri'que du Su.d


et des Antilles. In Les tangues du Monde, par un ~oupe
de linguistes. Nouvelle édition. C N R S (Paris, 1952), pp.
1143-1148.
V ALE CABRAL (ALFREDO DO) - Bibliografía da línnua tupi ou gua-
raní, também chamada Ungua geral do Brasil. 1n Anais da
Biblioteca Nacional do Rio de J aneiro, vol. VIII (Rio de
Janeiro, 1880), pp. 143-214.
·Ü s estudos mais recentes, naturalmente, completam aos an-
teriores.
'
V ALE CABRAL e MITRE sao de primordial importancia no que
se refere a obras antigas, impressas ou inéditas. 'PEDRO II traz
também informac;óes interessantes, sobretudo para a bibHografia.
O mais completo é AYROSA. Nao inclui, porém, inéditos nem arti-
gos d·e jornais, e é menos coerente na crítica; p. ex., faz mu itas
restricóes a LucrFN AnAM. :to oasso que cohre de elogios autores
fantasiosos como MANUEL DoMÍNGUEZ e literatos como LEOPOLDO
A. BENfTEz, etc. Precisamente o que recomenda as breves mono-
_g-rafias de EoELWEISs e DALL'IGNA: o juÍ7.o crítico sereno e seguro.
Consuma~o da vítima (STADEN)
SERAFIM LEITE é exaustivo no que se relacione com os antigos auto-
res jesuitas do Brasil. O mesmo se diga de FuRLONG para a bi-


'\
\

CURSO DE TUPI ANTIGO 453

condicional 941 enclíticos 13


conj ugac;áo 111 enclise 15
- de pronomes pacientes 78 espaf o 1202
- de prefixos agentes 112 estar 428, 900, 959
INDICE DOS ASSUNTOS - de verbos intrans. por pron. pa- estrutura das palavras 1105
cientes 382, 383 etimologías de topÜnimos 445
- negativa 183, 1006 - de nomes de parentesco 1193
- perifrástica 1027 etnónimos 443
ablativo absoluto 791
absolutos - v. palavras; formas
aposto 342, 1130 II 1
apóstrofe 9, 1121
- subordinada 554, 662, 945
conjunc;óes coordenativas 145, 1060
exclama~ ao 1179
exclusivo 38, 59
-
abstratos 48; 1095 artigo 41 obs. - subordinativas 678 exortativo 1019
acabar de 733, 768 aspecto 113, 932, 1021, 1030 consecu~ao 593, 629 expectativa 1023
consecutivos 933 5
• faculdades 1146
a~o continua 932 assimila~!o 300, 1181
- repetida 932 - regressiva 28 obs. 3 tonsoantes 2, 1158 tazer 887
acento 12 ativo - v. verbo; particípio - finais 39, 158, 1169, 1171 - (causativo) 482, 516
- agudo 14 atual - v. f orma - homorgani.cas 24 - ( impessoal) 472
- musical 1179 aumentativo 99 contactos fonéticos 1181 fenomenos atmosféricos etc. 472, 544
- subtonico 1178 cardinais 212 ' contar 1200 ficar + part. pres. 924 ·
- tonico 1178 carij6 39 continuativo 1030 fingir 475
adjetivo 79, 49, 156 carinho 449 continuidade 924 fonética - v. fonolog ia
- qualificativos 49 caso 41 coordenac;ao 1071 fono logia 1096, 1149 - v. contactos;
- substantivados 48 categorías verbais 1018 cortar 550 processos
advérbio 993 classes 380 costumar 696 forma absoluta 849
- de lugar 998 - superior 380, 851 cores - v. nomes - atual 1030
- de modo 994 - inferior 380, 851 criac;óes - v. nomes - ha1bitual 1030
- demonstrativos 75, 995 classifica~áo das palavras 1115 de ( restriti vo) 62 - imperfectiva 930, 1030
- de tempo 997 - dos verbos 282 deixar 517 - perfectiva 930, 1030
- numerais 215, 996 dassificatório - v. prefixos ; no- deliberar 457 freqüentativo 1030
- que pedem gerúndio ou conju- mes ; parentesco deliberativo 113 !rutas - v. nomes
ga~ao subordinada 434, 554, 568 coletivos 933 demonstrativos 69 futuro, no nome 216
afetiva - v. linguagem coletivos 378 depre~.iativo 930 - no verbo 113. 197. 1023
afirmativa - v. partículas com 144 desejo 952 futuro-passado 216, 223 ·
afirmativas indiretas 1074 comefar 551 desnasalac;áo 32, 928 genero 41, 42
afixos 1106 comércio 1200 deriva~ao 15, 1126 genitivo 152
- derivacionais 1107 complemento 118 - gramatical 1127 - irregulares 236
- exclusivos entre si 1112 - apositivo 1130 11 1 determinante + determinado 1130 I gerúndio 147, 393, 425, 647, 981
- nominais 1107, II - atributivo 1130 II, 1131 determinado +
determinante 1130 II - conectivo ou sedativo 425
- verbais 1107, II - de referencia 1130 II 2 devir 695, 761, 950, 1054 - dos verbos reflexivos 416
- paradigmáticos 1107 - possessivo 1130 1 2 dia 1206 - dos de obj eto incorporado 413
v. positáo - predicativo 184, 196 diminutivo 102 - dos de prefixo ro- ou no- 509
ainda 467 - relativo 1130 I 3 distensivo 1030 - exigido por partículas 434
akunhas 392 - restritivo 62, 63, 154, 534, 1130 distributivo 933 - v. numera1s - expletivo 959
alfabeto 1 I 1 ditongos 5, 6 - irregular 423
a~ar. + part. presente 924 - subjetivo 1130 I 4 divisa.o 926 - + (a) bé 687
aruma1s - v. nomes - terminativo - v. r estritivo - das palavras 1118 - + coridicional 955
ano 1204 composic;ao 15, 155, 1125, 1147 dizer 455, 981 - + pá 661
antropónimos 441 comparativo 173, 1090 dubitativo 158 - simulfactivo 425
apócope 38, 49, 1181 durac;ao 924 -· t~l eol ógico 425
comum 591
- da vogal tonica 807 durativo 929, 1030 f un~óes do - 425
concretismo 349, 1140
e 145 sintaxe do - 425

29 I
. '
454 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 455

v. locu~óes iulgar que 458 - de qualidades 48 - classificatório 1187


graus do adjetivo 171 justaposi<;ao 1123 - próprios 441 - cruzado 1188
- substantivo 99 Jeitura 1 - verbais 185, 700, 799 - paralelo 1188
guarani 26, 39, 484, 561, 691, 706, língua e cultura tupis 1197 numecais 212, 1093 - vocativo 1192
827, 1099, 1204 linguagem afetiva 1041 - cardinais 212 paroxítonos 16
habitudinal 1025, 1030 - de cada sexo 44, 1068 - distributivos 214, 933 4 partes do corpo 226, 848, 1140
hiato 7 - de maiorais 615 - ordinais 213, 827 - do discurso 48
hífen 10, 1119 locativo 638 v. advérbios particípios 700
homorganicas 24 - em topónimos 1210 número 41, 4ó - ativos 702, 720
idiotismos de é "dizer" 457 locu~óes de -bo 645
números 212 - a:bundanciais 738
igual 594 - de dois part. pres. port. 957 objeto direto 115 - circunstanciais 799
igualdade 176 - gerundivas 427, 957 - incorporado 116, 313, 321, 506, - passivos 756, 773, 1031
iminentivo 1030 maioral - v. linguagem 528 v. tempos
imperativo 193 majestático - v. maioral - indireto 118 partículas 1041, 1102
mandar 516, 523 obriga~ao 949 - afetivas 1116
- irregulares 195
- fazer 516, 523 obrigar 516 - afirma.tivas 103, 1043
imperfectivo - v. forma
mar 107 oclusao glotal 7, 1181 \ - coordenativas 1116
inclusivo 58, 59
massas 1201 onornatopéias 471 - deliberativas 1051
incorpora~áo 15. 541, 1100, 1124
- do objeto 116, 313, 321, 528 ' matérias anorganicas - v:. nom(!S opin.ativo 1019
optativo 966
- depreciativas 1048
- do sujeito 541 medidas 1200 - dubitativas l 045
mes 1205 ora~óes - v. ordem - expletivas 103
indefinidos 654, 85Z obs 2 - adverbiais 678
indetermina~ao 643 met~plasmos 15, 49, 155 - independentes 1106, 1116
metatese 40 - causais 985 - interrogativas 1042
indicativo 113, 1022
modismos onomatopaicos 471 - concessivas 980 - temáticas 1116
índices de classe 236, 604, 847, 852,
\ 1098 modos do verbo 1007, 1019 - condicionais 982 - que exigem gerúndio 434
inferioridade 175 moedas 1200 - finais 981 grUPoS de - 1061
infinitivo - v. infinito morfema 1105 - integrantes dubitativas 982 partículas-senten~as 1116
infinito 315, 332, 647 - dependen tes 111 O - locais 987 passado, no nome 216
- dos verbos de pref. t- ou s- 333 - independentes 1110 - rnodais 986 - no verbo 1022
- dos verbos de pref. ro- ou no- 508 morosivo-progressivo 1030 - subordinadas 980 passado-futuro 216, 223
- em fun~á'.o de complemento atri- mundo 1206 ordem 1122 passivo 582
butivo 337 nacionalidade 837 - das ora~óes 115 v. verbo; participio
-· em fun~ao de .substantivo 337 nasala~áo - v. nasaliza~ao - de posi~ao dos afixos 1112 pausa 26 obs.
- incorporado 360 nasaliza~ao 2, 28-30, 1181 - de tempo dos afixos 1113 - final 1179
- negativo 334 d) neologismos 1083, 1084, 1087 ordinais 213, 827 - medial 1179
- objetivo 359 norte 1206 órgaos do corpo 226 pensar 458
- = particípio 731 Norte 39 oriente 1206 - erradamente 459
nomes 1115 palatiza~ao 19, 1181 perfectivo - v. forma
- regido 678
- substantivado 48 - classificatórios 344 palavra 1105 períodos 1070, 1101
tempos do - 334 e) - de animais 42, 261 - absolutas 847 permansivo 1030
síntaxe do - 335 - de animais ca~ados ou pescados - c<'mpostas 1114 1147 permissivo 113, 196, 981
inflexáo 1127 267 - derivadas 1114 ' permitir 517
inser~ao de vogal 1181 - de criacóes 267 - invariáveis 1115 pesos 1200
intensivo 646, 930, 1030 - de córes 874 - primárias 1114 pessoas gramaticais 1018
interjei~óes. 1116 I - de frutas 261 - relativas 847 plantas - v. nomes
interroga~ao 1179 - de lugar - v. topónimos - secundárias 1114 - de subjetividade 153
tipos de - 160 obs., 1179 - de rnatérias anorganicas 261 - variáveis 1115 plural 46-47 ; 643 ; 657 ; 924 ; 933 ;
interrogativos 157, 656, 663 - de parentesco 449 palavras-morfemas 1109, 1111 1089
iterativo 929, 1030 - de plantas 261 v. classifica~ao ; divisao; tipos poder 461
iterativo-durativo 931, 1030 - de profissoes 86, 185 parentesco 42, 449, 848, 1187 poente- 1206

I
456 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 457 .

posse 152 realce 103 substantivo 41 verbais 86, 87, 700


- de rela<;áo 153 recado 457 - abstratos 48, 826, 1095 verbos 78, 111, 1108, 1116
- de subjetividade 153 recíproco 295, 506, 578, 588, 933 sufixos 1106 - ativos 283, 522
- integrante ou natural 153, 353 n. 5 - finais 1107 II - auxiliar é 460, 1026
portuguesismos 1083, 1087, 1088 - preposicionado 623, 628 - mediais 1107 II - bi-transitivos 284
posic;ao 1122 reduplicac;ao 924 - nominais 1107 III, 1108 - causativos 480, 516
possessivos 58, 580 - dissilábica 926 - verbais 1107 III - causativo-comitativos 500
- irregulares 236 - monossilábica 926 sujeito 115 - compostos de ok 372
- reflexivo ou recorrente 58, 60 - mono-dissilábica 933 - de menor valor 328 - copulativos 284
- relativo 58, 60 referencia 457 - incorporado 541 - de objeto incorporado 116, 313,
potencial 1026 reflexivo 58, 60, 294, 304, 578, 580 sul 1206 321, 418
prefo 1200 - na func;áo de possessivo 580 superioridade 174 - de prefixos agentes 111, 289, 394,
predicativos - v. verbos - preposicionado 623, 624 superlativo 171, 924, 930, 1091 409
prefixos 1106 - subordinado 304, 316 - relativo 177 - de pronomes pacientes 111, 289,
- agentes 111; v. verbos regencia verbal 284-288 tamóios 37, 38 406, 419
- classificat6rios 344 relativo 58, 60, 230 tema 1109 - de regencia especial 287, 288
- de dasse 380 v. pronomes tempo 1202 - de regencia múltipla 286
preposic;oes 133, 604, 638 remissivo 1030 - do nome 216 - defectivos 897
- com índice de classe 604 resoluc;ao 1023 - dos particípios 703 - impessoais 472
- de t inicial 609 resolver 457 - do verbo 113, 1021, 1097 - intransitivados 284, 381, 531
- de s inicial 610 repeti<;áo 926 - do verbo nas línguas ocidentais - intransitivos 284
- de r inicial 618 repetitivo 1030 1021 - irregulares 879
- exigidas por verbos 285 resgate 1200 - rélativo 113, 930 - rnonossilábicos 122, 317, 1176
- recíprocas 623, 628 restritivo 1030 ter 274, 350, 354 - neutros 283, 522
- reflexivas 623, 624 reversivos - v. verbos terminativo -. v. complemento - passivos 283
duas - 630 rio 107 tipos de interroga<;áo l(J() obs
- plurais 898
preposic;oes-conj unc;óes subord. 678, saber ~1 - de palavras 1114
- pred!cativos 78, 184, 284, 354
1116 - f<JJíer 462 tom 1179
- reflexivos 283, 416, s.ro
presente, no verbo 113 saudac;ao lacrimosa 1186 - da interroga~ao 160
processos fonéticos 1180 semivocaliza<;áo 1181 topónimos 444, 1209 - retransitivados 284, s,n
etirnologias de - 445 - reversivos 372
profissóes - v. nomes semivogais 5, 1157
traduc;ao para o tupi 1201 - transitivo-relativos 284
pronomes 76, 271 sentido interior 1146
tritongos 5 classificac;ao dos - 282
- demonstrativos 71 ser 88, 274, 354, 888
troca 1200 verbo-nome 1108
- indefinidos 654, 852 obs 2 seres delimitados 1201
- objetivos 119, 290, 310 tupi colonial 826, 1029, 1072, 1082 vir de 733, 768
-1 indetimitados 1201 visibilidade 69
- obliquos indiretos 203 sexo 42 - de • Bettendorf f 561
- de Sao Vicente 484 vocativo 446
- pacientes 111 - do ego 43
- pessoais 76, 271 - literário 826, 1072 - de carinho 449
- do parente intermediário 43 - de parentesco 1192
- relativos 905 v. linguagem - meridional 26, 1204
prop6sito 952 · - moderno 826 vogais 4, 1150
significar 572
- pré-colonial 33 - f inais átonas 8
proximidade 69 sílaba 1172
- setentrional 26, 1204 vozes 1031, 1097
próclise 15 silab.a~ao 1181
singular 46 tupinambás 754 - causativa 1031
propósito 952 - passiva 767, 790, 1()32
status nominal 1108 tupis 39
qualidades - v. nomes
qualificativos 49 - verbal 1108 t'<J/or 1200 - recíproca 1031
quase-afixos 1108 velares 26 -- reflexiva 1031
subjuntivo 1019
querer 360, 897 n. 2 subordina.;ao 1071
querer diz& 572 subordinativo 238 obs.
quotativo 1019 subordinadvat - v. eonjun~aet
radical 1106 1 / - temporais 678

!
\ ,.
CURSO DE TUPI ANTIGO 459

oé e 1060 amae iú 1068


aé ipó-no (ma) 984 anumd-y 22
aé-i-bé 434, 568, 642, 648 amá-tiri 32
aé-no 984 amé 524, 695, 794, 1030, 1053
aé-pe 188 anii 36
tNDICE DE PAL.AVRAS E AFIXOS TUPIS aeté 35, 88 ·ama 13, 619
ag- 798, 805 -amo ger. 13, 406, 570
, 9 aaá 346 amó 654
agu-á-bo 399 amó 131
Consignam-se aqui apenas as palavras, afixos e locu~óes que tenham sido ag-uam-a 805 amó abá 150
estudados no CuRso. Para os demais vocábulos, o leitor poderá recorrer as a(g)-uam-a 805 a.m ó amó 129, 933 n. 7
listas que precedem os exercícios. Ou também ao nosso P equeno V ocabu- aguy 1068 . am1ti-a [t, t ] 241, 1190
lário Tupi-Portugues, desde que se tenha presente a diferem;a de grafía. og-uer-a 805 amyi-a [t, t] v. amui-a
Dos nomes e verbos, registra-se nao apenas o tema, senao também o sufixo ahé dem. 72, 76 amyi-pagU<Jm-a [t, t] 1189
nominal (e infinitivo) -a,. quando o tem. O leitor nao ignora em que casos esse ahé intj. 45, 1068 á mb6 212
-a persiste ou desaparece. aí 449 , am(b)y-i 638
Entre parenteses figuram os elementos ocasionais da palavra ou locui;ao. tñ 449, 1192 an-a 727
Assim, xó ( -é)-ne significa que ocorrem as duas formas x ó-é-ne e xó-ne. aib-a 93 anam-a 1189
Entre colchetes vem os pronomes objetivos menos usuais [io-, s-] e os oi-a [t] 262 anmi-gatit 638
prefixos de classe [t, s]. Quando a palavra admite os dois prefixos, vem éii-a [t] 1145 ang-a sb 64, 142, 1198
apenas t. Quando admite apenas o de el. inferior, vem s. Levam dois tt as aí-bir-a [t] 1145 ang-a vb 69
que tem o mesmo t tomo índice de ambas as classes (V. Li~o 17.ª). aié ptc 190, 192, 1063 angá v. angab-a
Quando duas ou mais palavras ou afixos sao inteiramente homófonos, acres- ai.é [s] 638 angab-a 207, 459, 1019, 1056
centa-se breve diferencia~ao em portugues. aié-i [s] 638 rmgab-a 207, 1056
O asteri sco designa as palavras de origem portuguesa, bem como as formas a-ipó 69, 456 angaipab-a 1084
duvidosas em grafia antiga. a-iub-a 483 angá-i 190
Os afixos átonos sao precedidos do hífen. Posposto, o bífen indica que a-iur-a 1145 anhang-a 1084
o afixo ou tema nunca está em posi~ao final de palavra mas supoe outro ele- aiuruiub-a 443 anhé 190, 192, 1063
mento ou sufixo. aixé 1190, 1191 aó 399
A referencia é aos números marginais. O estudioso deve consultar também aix6 [t] 243, 1191 aóa 72, 76
os números seguintes ao indicado. Quando o assunto é tratado em várias li- aiy-ben-a [t, t] 1191 aóama 805
~óes, grifam-se as indicai;6es rnais importantes. a-iyk-a 346 aob-a 49
Segue-se esta ordem : a-iyr-a [t, t] 241 , 1190 a-pá- 349, 666, 1107, 1108
ak' v. akó apá (gué ou guí) 1068
a b (d) e g h .; i k m mb nndngnhoprstuuxy y
aká [s] 17 a-pan-a 346
a- pref. subj. 112, 271 abá 654, 907 ak' aé 38, 104 a-pé- 349, 1107, 1108
a- quase-pref. 344, 346, 66, 1107, akai 1068 a-pé-aoba 349
abáf 161, 933 n. 7 a-pé-ar-a 349
1108 abá abá? 933 n. 7 akaiu 1204
a- invis. 70 , akan' -gá 28 b) a-peb-a 346
abaité 1040 akang-ok-a 284 a-pé-bang-a 349
-a nomin. 13, 16 obs, 41 , 1108, abaré 1084
1116, 1117 aké 1068 a-pé-bur-a 349
-a ger. 13, W2 abati 1201 akó 38, 69, 104 a-Pé-kü 349, 1145
á 166, 167, 344, 346, 449, 1192 v. xe á abé 146, 646, 686, 691 a-kok-a 346 a-pé-ok-a 349, 372
á tomando 891 abé-rameí 436 a-kué(i)(-a) 69 a-pé-p11, 349
a 69 á-bo 396, 400 aky 1068 1'-Pé-puer-a 349
abyky 388 akypuer-a [t] 639, 648 a-pé-rerá 349
aan(-i) 44, 190, 670, 1062, 1068 a-pé-uban-a 349
ab-a v. (s)ab-a aé pron. e dem. 38, 69, 72, 76. 104, am-a f ut. 221
271 am-a 803 v. (s)ab-a a-pi. 346
ab-a 326, 550, ab-a vb 897 n. 2 a-pin,·a 346
ab-a sb 256, 858, 1140, 1201 aé, mesmo 73, 77, 204 am-a costume 794
ab-a vb 326, 550, 897 n. 2
, am-a vb 428, 900 apiti 386
ae v. ae-no
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 461

apixar-a [t] 1084 aúié-bé-(-é) (-te) (-ramo) (-te) 980, en-i


· eb-ap6 70, 161 1 •
ap6 vb 35, 299 1020 eti.o- 501
tb(o}- 70
apó [s] sb 245 auié-bé-te(-mo) 1020 ebo-kúe(i)(-a) 69 enéH-a [s] 114
a-pomong-a 346 auié-é 980 tb(u)-ui(ng)(-a) 69 enondé [ t] 607, 682
a-pu-1nim-a v. a-py-mim-a auié-nhé 1001 eb-urusu [ s] 99 enotar-a [t] 634
a-pua 97, 346 auié-parab-a 165 eé [s) 399 endé 76, 82
apúa [s] 179 ayr-a [t, t] 43, 240, 1190, 1199 eé sim 44, 1068 endub-a [s] 114
apué-katu 188 ayr-aty [t, t] 1191 egu-am-a [ t] 895 endyr-a [t] 1190
apy [s] 398 ayr-i [t, t] 102 eg-ui 69 eng-a* 1110 obs 1
a-py-1nim-a 346 aysé [t] 1189
a-py-peb-a 109, 346 e-í 455 eó [t] 217, 570, 895
ayt [t, t] 37 e-í-bae 881
a-py-pem-a 109, 346 ay-taty [t, t] 1191 n. 9 ei-a [io-s-] 323, 326, 412 epiak-a [s] 114, 284, 410, 460
a-pyr-a 346, 639 -'b-a 802 ep-uru [ s] 255
e-i-á-bo 455, 881
a-pyr-i 639, 642 bab-a 801 e-pyno [ t] 894
eiar-a [s] 114
ü/ryr-J 1030 -bae 13, 71, 700, 906, 1107 er-a suf. 221
a-py' -rü 346 e-i-ar-a 881
bar-a 726 e-ior(-í) 195, 884 er-a [t] 138 ,
apysá 114-0 -be 13, 203, 614 ere- 112, 271
a-pysyk-a 32 e-iú 423, 884
bé 146, 174, 646, 686, 691, 1012 e-iup-a 423, 885 er-é 455
a-pyter-a 346, §39 bebé 112, 183, 193, 196, 332, 934 erika 72, 76
a-pyter-i 639 ekar-a [s] 37, 103
beé 947 ekat [s] 37 erimá 190
a-py'-ti 346 beé(-te)-mo 947, 950 erimbaé 1029
é katu 461
apyab-a 42 bé-i 174, 967 ek6 [t] 886 ero- 501
a1·-a dia 1203, 1206 bé-no 146, 493 ek6-ab-ok [s] 372 er-olz-a [ s l 372
ar-a parte sup. 639 bé-nhé 24, 493, 1030 ekó-bé [t] 886 erumby 434
ar-a suf. 726 v. (s)ar bé-ramei 436 ekó-biar-amo [t] 636 esá [t] 257, 1140
ar-a tomar 326 n. 2, 891 bia 306 ekó-katu [t] 1084 esab-a [t] 1144
ar-i 639 bwr 1030 ekó-kua.b-a [t] 260 esá-'guaá [t] 1141
ar(i)-bo 644 bwr-a 1110 obs l ekó-mo-nhang-a [s] 546 e.fá-etá [t] 1142
aro 28 e) -bo locat. 13, 203, 394, 643, 836 ekó-tebé [t] 886 esá-eté [t] .1142
ur-ok-a 372 -bo ger. 4-00 ekyi-a [s] 232 esá-inan-a [t] 1143
aryi-a 1190 -bo (=-be) 13, 614 -eme 13, 679 esai-a [t] 1143
a-sang-a 346 bor-a 700, 738, 910, 1107 e-mi- [t] v. mi- esá-kang-a [t] 1141
asé 58, 64, 76 bor-bae 748 e-mi-ariro [t] 1190 esá-kuí [t] 1142
asé-i 639 búer-a 217 e-mi-ausub-a [t] 248 esá-ngá [t] 1144
asoi-ab-ok-a 372 byté(r)(-i) 463 e-mi-e-no- [t] 781 esá-puku [t] 1142
• a-sur-a 346 dab-a 801 e-mi-e-r-ek6 [t] 780, 782 esá-pyá [t] 1143
asy [s] 95, 286 dar-a 726 e-mi-e-ro- [t] 781 esá-pys6 [t] 1144
asyk-uer-a 1190 der-a 221 ' e-mi-mino [t] 1190 esá-rai-a [t] 286, 1143
a-sym-a 346 duer-a 221, 838 e-mi-r-ek.6 [t] 780, 782, 1190 esá-rai-tab-a [t] 816
as.y-ab-a 550 e- pref. subj. 193, 271, 414 e-mi-uru [t] 255 esá-ting-a [t] 1142
atuá-i 638 -e- 125, 390, 413, 501, SOS, 506, 579 emo- 70 esá-un-a [t] 1142
atuá-i-bé 649 -e 13, 679 e-nio-em-a [t] 248 esé [s] 139, 144, 462, 605, 620, 641,
atuasab-a 1189 é mesmo 77, 204 emo-ná(n) 70, 434, 568 819, 836, 868, 985
atu-ub-a [t, s] 43, 242, 1191 é virá tempo 463 e-mbi- [t] v. mbi- esé-bé [s] 140, 605, 648
a~y [t] 1191 i deve de ser 1068 e-m(b)etar-a [t] 248 esé-i [s] 638, 639
aiyro 490, 1176 é dizer 126, 455, 881, 1076 e-m(b}i-(i)- [t] 248, 891 etá [s] 47, 50, 657, 1089, 1107, 1108
a11b-a 459, 475 é [s] 165 e-m(b)i--ií [t] 248 etá-etá [s] 657
au.rub-a [s] 21 e) 310, 338 e'á 1068 en-a [t] 889 etá-eté [s] 657
au.rup- [s) 21 e) eam(a)(é) 190, 1068 ttHJ [nho-s-] 326 etá-pokang-a [s] 657
auié 168, 210, 434, 568, 1064 eb-anoi(-a) 70 enei 434 etd-('té-) (-katu)-nhé [s] 657
462 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 463

eté suf. 171, 174, 1091, 1107 guarini 67, 285


eté [t] 238 guasem-a 148, 285 ikó-bé 283, 188, 886 ia-katu(-'té)(-nhé) 176, 986
eté-eté 171 guasu 100, 1107 ikó mara 887 imiondé 682
eté-i 972 gúaupir-a 449, 1192 ikó. . . -ramo 887 wndé 18, 58, 59, 76, 211, 291, 419
eté-katu(-nhé) 171 (gú)e- 124, 385, 503, 506 ikó-tebé 886 iandu v. nhandt'
eté-umé 434 gúé 448, 1068 im-bé v. i-bé iá'-ok-a 372
eti 1068 gúer-a .222 in 423, 428, 889, 900 i'-ar-a 285
etun-a [s] 165 guey 1068 in-bé 889 i-ar-a 881
e-tyma [t] 248 gui- 211, 414 inimbó 247 iaramé(-'té) 982
e-ui 69
A, A
gui v. guy in-ió-te 889 ia-.rUá(r-a)(-mo-n' aé)(-mo) 982
eumaé 1068 gui-i-á-bo 455, 881 ind-é 889 iasuk-a 1084
é-u 881 gui-ké(-á)-bo 890 i-nh- 299 iasy 1205
efi-a [I] 379, 673 gui-t-ek6-bo 423 ipó 38, 982, 1044 -i-bé 648
eyi-nhé [s] 673 gui-t-e"-iké-bo 890 ipy 348 ie- 28 obs 3, 288, 291, 294, 314, 539,
eym-a 225J 334, 405, 798, 1006, gu;..t-en-a 423 ira 1028 .. 578, 625
1008, 1107 iraró 301 · ié 463
9 ui-t..ú 423, 884 ie-ab-a 600, 897 n. 2
eym-amo 406 gui-t-up-a 423, 885 iré 621, 684
eym-a nh6 977 guy 448 iro 1057 ie-aib-ok-a 372
e;ym-a puku-i 690, 691 guym 471 iru 62. 144 i(e)-akas6 599
eym-OI riré 685 guyr-a 639
' iru-(na)mo 140, 144 ie-byr-a 360 obs, 1030
eym-riub-a 478 guyr-i 178, 639, 642 irumó 301 ieí 150
eym-e 680 guyr-i-bé 178, 648 irun-clyk 212 i'-eiyi-a 599
eym-e-bé 648, 682, 690, 691 guyr-i-gúan-a 179 i.n"'i [s] 102 i'-ekó-ab-ok-a 372
eym-eté ( -m' aé) 982 guyr-ok-a 372 itá 1084 (ie-) koty-á-sab-a 1189
eym-i 565 hé! 45, 159, 1068 itó 449, 1192 ie-kuakub-a 1084
eym-iré 685 hé? 157, 1042 ityk 301, 865, 892, 922 ie-mo- 486
eym-iré-mo 946 hé (gúef ou giU) 32, 1068 ixé 82, 271 ii-mo-noong-a 288
eym-bab-a 798 i(-) pron. e pref. 58, 76, J 20, 100, iyr-a 253, 1190 i'-e-no- 506
eym-bae 701 271, 291, 319, 484, 916 iyr-aty 1191 íe-oi-a 898
eym-bar-a 720 -i prep. 638, 836 -i- pref. pessoal 35, 36, 120, 290, 484 iepé ainda que 306, 980
eymb-iré 685 -i neg. 13, 183, 1006, 1107 -i prep. 638, 836 iepé pron. 293
eym-íaramé 982 -i conjug. sub. 555, 1107 -i neg. 183 iepé-mo 1020
g- 238, 340
go-• 238, 340
-i = ¡ 28, 112, 120, 127, 18J,. 484 -i- eufonico 34-36, 1183 exc. 4
i'- 507
ie-peé 399
ieperi-bé-i 693
-i- 20, 113
goar-a* 835 ~
, d.1mm.
. v. -i.. ia- pref. l.ª pl. 28 obs 3, 112, 271, iepi 692
g-u'-me 885 -í dimin. 102, 1107 414 ie-potá-bé 360 obs, 1030
gú- 238, 340, 503, 506, 891 -i suf. verbal 205 ia- pref. 3.ª p. 328 i'-e-ro- 506
iá como 176, 382, 692, 986, 1025 i'-e-r-ur-é 284, 287
9 uá 129 -i (-eté .ma) 436, 437
gúaá 346 ia 38, 69, 104 iá ainda bem 434 ie-tanmig-a 326 n. 2
gu-á-bo 397 iang 69 íá um pouco de 751 ietiper-a 1190
guaiá 1192 -i-bé 648 íá costumar 839, 1030 ie-upé 625
gúaibi 1191 i-bé 889 iab-a 600, 897 n. 2 ie-u,pir-a 150
gúait6 449, 1192 ~ é 881, 1043 i-ab-a 897 io- recípr. 295, 314, 558, 624
gúaká 42 ig* 3 ia-bé(-nhé) 176, 648, 692, 986 io- pron. obj. 28 obs 3, 122, 291,
gúam-a 220 i-i- 34, 36, 62, 299 iabió 655, 692 317, 323, 411, 578, 629
gúan-a 837 .... , "", ia-by 382, 839, 1025, 1030 ió 448, 1068
na v. sa
gúang-a [nho-] 326 iké 150, 395, 480, 890 ia-by(-1io) ma 984 io-asab-a 1084
gúar 326 n 2, 891 ikó dem. 38, 69, 104, 493 ia¡-a [io-] 326 io-ausub-a 48
gúar-a 835 ik6 vb 284, 286, 428, 886-888, 900, ia-iá-bo 881 ior 195, 884
gu-ar-a 86, 729 1033 ia-iú 423, 884 ior-í 195, 884
ia-iup-a 423, 885 io-s- 323, 326, 412 •
464 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO

io-upé 624 kuiá 247


mará mara t 933 n. 7 mi-uro 255
iú ptc 448, 1068 kutmmi 83 mi-xir-a v. mi-xyr--o
kunduru 42 , mará mo-nhang-a 144
iú ger. 423, 884 mi-xyr-a 247
kunha 42 maran-a 155
i-ub 423, 428, 885, 900 mara..namof 161 mo- 28 obs 3, 288, 302, 480, 500,
i-ub-é 881 kupy-iur-ar-a 40 519, 538, 545, 584, 960, 1107 111,
kuri 1192 maran-a rí t-ekó-ar-a 1084
i-ub-i 881 1031, 1112, 1113
kuri-'té-i 206 mara-nemef 161
i-ub-ió-te 881 -mo condic. 13, 941, 1107
kurumi 83 maranungar-a 1189
iuká 36, 127, 283 -mo optat. 13, 966
kurusu* 1087 mará ngatu 161
i-u' -katu 881 -m,o prep. 13, 203, 614 •
kutuk-a 531 mara o-i-á-bo-pe f 572
i-up- 423, 885 -mo ger. 400
kuá 195, 882 mará-t-ekó 32
i-up-ab-ok-a 372 -mo var. de -ramo 202
kuab-a 148 matu-eté 78
i-ur 37, 195, 285, 423, 490, 884 mo-á'-iub-a 483
kua-guasu 106 -me prep. 13, 140, 614
iuru 1140 ino-am-a 900
kuai 195, ss2 -me 679 v. -reme
iurupari 1084 mo-ang-a 478
kuar-a 106, 1206 meé(-mo) 947
i-ut 37 mo-ang-aub-a 478
kuara.sy 129, 1206 meé-te-11io 950
iybá 1145 mo-bok-a 478
kué(i) (-a) 69 meeng-a 284, 531
ká ptc 199, 1051 mobyr 656
meeng-ab-a 1191
ká, [io-1 326 kué (i)-bo 999 mobyrf 232, 656
mei(-mo) (má) 967
kabará* 1087
kabaru* 1087
kaé 483
kué (i)-pe 999
kuesé 150, 1192
kuesé-nhé-'ym-bé 648
- memé 434, 668, 692
memé-nhé 463
memé-te (-ne) 434
mobyr-ío 656
nio-~m-a 247, 248, 852 obs 1
mo-e-m(b)i- 789
kagu-ar-a 79 ky 199, 1051 1110-e-mbi-ar· ( i-) iar-a 796
kyá 92 memé-t'ip6 434
kai-a 114, 334 mo-guai-a 550
kybo 131 membyr-a 42, 43, 1190, 1195
kakar-a 514 membyr-aty 1191 mo-in-a 206, 900
kamarM-a* 1087 kybyr-a 1190 mo-ingé 395, 490
kyi 1192 men-a 1191
kamb-y 21 e) mo-ing6 490, 887, 900
men-ybyr-a 1191
karaib-a 443, 1084 kynai 1192 mo-iá'-ok-a 372
men-ykeyr-a 1191 I
kasian-a* 443, 1087 k~-a 165, 1190 n. 6 mo-ie- 486
kysyié 40 ' mend-ar-a 1084
katu 92, 171, 284, 419, 1030 mend-ub-a 43, 1191 mo-ie-mo- 486
ké 208, 434, 463 kyti 400, 550 mo-íepé 212
mendy 43, 1191
ker-a 114, 334 -'nw 803 mo-kaé 483
mi- 28 obs, 773, 1032
kó 69, 210 ma 967 miá 449, 1192 mo-koi(-a) 65, 212
kó-ipó 190 mae ptc 1068 mo-kong-a 28 obs 1
mi-apé 247
kói-a 179 mai vb 285
kok-a [io-] 326 maenduar-a 95, 183, 193, 196, 284,
mi-ar-a 247, 779
mi-ausub-a 247, 780
mo-k'o-nhó 671
mo-kuí 28 obs 3
..
ko-n'ipó 190 333, 816 mo-mi- 798
mi-e- 781
kori 150, 1192 main-an-a 210
koromó 210 mair-a 443, 1084
mi-iuká 774 -mo má 967
mim-a [nho-] 317, 326 -mo-mo 941, 966
koty 137 mamá-r-ok-a 372
mi-mo-e-mi- 789 11io-mo-sem-a 491
koty-á.'-sab-a 1189 mamó 161
mi-mói-a 247, 784 mo-motar-a 489
k.oty-rung-a 547 man-a [nho-J 326
mi-1nbab-a 254, 267 11io-mbab-a 481
koyr-i-bé 648 manem-a 862
mi-m ( b) otar-a 779 mo-mbaé-ú 498
koylé 434 manó 283, 395, 490, 895
kuab-a 23 mi-mbU.Oi-a 247, 779 nio-mbak-a 481
manhan-a 1101
mi-mby 249, 799, 783 mo-mbeú 492, 1084
kuá-beeng-a 23 mará 162, 1066
mi-nduú 779 mo-mhor-tJ 150
há-meeng-a 23 mara! 162
mi-ngaú 246, 779 mo-?nbotar-a 489
kub-a 428, 898 mará-á'-bor-a 92
kub-é 898 mi-pan-a 28 obs l mo-mbub-a 498
mará-ar-a 754
k11é 499 mara-bae' 161 miri 102 mo-mbuk-a 498
kui-a z47• mará ia-.rUar-a-mo f 971 mi-tym·a 28 obs 1, 247, 783, 1084 mo-mbaer-a 231 • l
#ff-ú v. mbf-4 mo-mbytá 498
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 467

-
466

-mo-ne 949
mo-noong-a 288
mo-tyb-a 842
mo-ub-a 885, 900
nambi 53, 1140 nhandé 28 58, 291
-ne afirm. 103, 198, 199 nhand-é 22
-mo-ndar-a 287 1noxy 1049 nhandu 208, 434, 1052
mo-ytaró 488
-ne fut. 13, 38, 113, 146, 193, 408,
mo-ndeb-a 492 nhang-a [nho- ] 326
mü 1189 566, 1107
1110-ndok-a 481, 550, 927 nliang-a 1110 obs 1
mun-a [nho-] 326 nei 434
mo-ndó 1-mo-ndok-a 931 nharó 285
mundar-a 287, 1189 nei bé 210
mo-ndcwok.-a 550 -neme 28 e) v. -reme nhauum-a 21 e), 247
mo-ndó'-sok-a 927 mundé-nmg-a 547 nhe- 28 obs 3, 294, 539, 578, 786
n' i@ 38, 104
mo-ndó'-só1 -ndó'-sok-a 931 mur1' 1049 nhé 205, 463, 1030, 1058
muru angab-a 207 n'ikó 38, 104
mo-ndyi-a 498 nhe-ang-epwk-a 584
myiapé 247 nimb6 247
: m,o-ndy'-syk-a 927 nhe-ang-ú 286, 584
mymbab-a v. mi-mbab-a ning 471
mo-ndyk-a 927 nheeng-a 114, 285, 1145
mo-ng-a [nho-] 326 (m)bab-a ·801 ning-ning 471
.n 'ip'aé 104 nheeng-eym-a 131
mo-ngaru 498 mbaé 163, 380, 390, 417, 724, 852, nheeng-ú 131
n'ipó 38, 104, 292, 1045
mo-ngatyro 490 947 nhe-mi- 786
no- 28 obs 3, 30, 124, 500, 579,
mo-nger-a' 481 mbaéf 161 nhe-mo-e-mi- 789
865, 1107 III, 1112, 1113
mo-ngetá 287 mbaé-e-ro- 506 nhe(-mo )~e-mbi-ar(..:i)-iar-a 796
-no 146, 1107
mo-ngui 28 obs 3 mbaé mbaé f 933 Jl, 7 nhe-mo-m(bJi- 786
• 1 no-in-a 900
mo-ngui-a 129 ' mbaé-rem.e f 161 nhe-mo-sarai-a 786
no-mun-a 896
mo-nhang-a 388, 492, 531, 1084 mbaé r-tséf 161 nong-a [nho-] 326 nhe-mo-yró 48
mo-nhe- v. mo-ie- (m)bar-a 284 nhe-mü 1189
no-nhe- 584
mo-nhe-ang-epiak-a 584 mbegué 179 nhe-no-mun-a 896
nc-sem-a 124, 501
mo-nhe-'rundyk-a 212 mbetar-a 248, 852 obs 1 tihe-ran-a 286
mo-pirá-kaé 483 no-ti 30
mbi- 28 obs. 773, 1031, 1107 ntuigar-a 437 tihe-ran-eym-a 92
mo-pi'-roy 483 mbi-ar-a 247, 267, 779 nho- pron. obj. 28 obs 3, 122, 317,
nupá 400
mo-Pó-guasu 347 mbi-at~s"b-a 248, 779 326
mo-pó-i 347
nd' 183 v. nda
mbi-ú 247, 779 mW 183, 1006, 1107 nh.o- refl. 295, 578
mo-p6-io-ybyr-a 347 mbo- 302, 480, 485, 960 nh6 190
(n)clab-a 800, 801
mo-pó-kyryri 347 mb6 21, 212 nh'-okendab-a 326 n. 2, 552
nd' a-é-i teé 463, 845
mo-por-a 747 mbo-ab-a 443 nd' a-é roiá-i 570 nho-s- 323, 326, 412
mo-pym-a 28 obs 1 mbobyr 656 v. mobyr nda ... eym-i 1010 nhó-te 190
\
mor- v. moro- mbo-é 287, 788, 881 nda. . . eym-. . . ruá 1011 nhu 65, 217
mo-ram-buer-a 231 mbo-kuí 28 obs 3 nda ... -i 183, 1006 fth' -iipá' -ti 326 n. 2
m-0rang-a 862 mboro- 87, 387 v. moro- nhyá 65
(n)dar-a 726
mor-ases-a 232 mbo-ur-a 490 nda ... rttá 184, 1006 nhyro 287
moro- 87, 351, 387, 724, 852, 860, mbo-y-ú 538 nda s-aub-i 576 o- pref. vb 112. 271, 340, 414, 419
872, 1107 mburu v. muru nde 58, 76, 271, 419 o refl. 58, 60, 238, 316, 319, 586, 916
moro-esé 605, 868 mby 852 . ó [io-] 326, 399
ndí 144
moro-upi 868 mbyá 21 obá [t] 1140
ndí-bé 144, 648
mor-ubixab-a 67 -n' 104 v. -ne obái(-a) [t] 639
nior-upi 606
nd' i por-1 495, 746
n' 183 nd' i tyb-i 549, 842 obá-iar-a [t] 129, 1191
mo-séii-a 28 obs 1 na 183 (n)duar-a 835 obáké [t] 608
mosakar-a 1189 na 212, 1065 (n)duer-a 838 obá-ok-a [s] 372
mo-sam-a ZS obs 1 n'aé 38, 104 obá-'sab-a [s] 17, 1084
mo -sapyr(-a) . 37, 65, 212 ngati' 28 b)
naí 1192 ngoty 137 oby [t] 50, 89, 183, 284, 339, 420
1n0-sapyt 37, 212 n'ak'amé 1068 ogo-* 238, 240
-nh- 36, 299
mo-sá-sai-a 32 n' akó 38, 104 og(u)- 238, 240, 316, 420
nha- 28 obs 3, 112, 271
mo-su-sung-a 32 n'am-a 217, 794 o-gue-pyno 894
mo-sykyié 395 nhaé 56, 150, 247
n'amé 524, 794, 1053 nhai-a 142 og-u'-me 885
tno-ting-a 28 obs 1 -namo 28 e), 406, 619 nhan.-a 114, 283 oirá 150

I
468 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 469

oirandé 1211 parana 53, 107 ¡ñr-a 1140, 1147 poro-m.o-1e- 487
oi-a 898 par-i 129 pirá-kaé 483 poro-mo-íe-mo- 487
o-i-á-bo 455, 881 (Je- pref. vb 112, 193, 271, 291, 414, pir-aku'-bor-a 1147 poro-mo-nhang-a 388
oieí 150, 1211 419 pirang-a 114, 1148 poro-pysyk-a 388
oiepé 65, 212, 215, 669 -pe deterrn. 199 pirá r-esá 1142 por-ú 284, 386
o-ie-irundyk(-a) 212 -pe locat. 13, 38, 140.., 203, 640, 643, pirian-a 1148 por-upi 650
o-io- 592 820, 836, 985 pi'-nng-a 1147 po'-sé 650
o-io-irundyk(-a) 212 -Pe poss. 29, 58, 239, 271 pir-ok-a 372 Po' -sub-a 386
o-io-iipé 916 -pe? 157, 663, 941, 1042, 1107 pi'-roy 483, 1147 po'-suban-a 386
o-ío-upé-upé 933' pé ptc 985, 1012 pir-yai-a 1147 potar-a 120, 284, 489
ok-a casa 21 e), 250 pé [io-] 326 pitang-a 102, 1148 poti 893
ok-a [io-] 317, 326, 372, 441, 531 Pé casca 161, 167, 344, 345 pi-ting-a 1147 potyr-a 165. 167
,,1 oketi-a 250 pé caminho 252 pitub-a 1148 pó-ungá 347
okend-ab-a 250, 372, 552 -pe-bé* 691 pixam-a 1148 poxy 93
\ ok.end-ab-ok-a 372, 552 pé-é 1012 pi~é 1148 puam-a 206, 286
o-nho- 592 peé 76, 82 pi-xyb-a 1147 puku 53, 638
oó [t] 97, 1201 pei vb 434, 449 piar-a [fo-] 326 puku-i 638, 689, 691
o-pá(b) 664 peí vocat. 1192 ' piar-a 252, 635 pun-a [ nh.o-] 326
o-pab-é(-nhé)(-ngatu) 664 pe-í-á-bo 455, 881 - piar-cuno 635 pupé 138, 662, 836
o-pab-i(-nhé) (-ngatu) 664 pe-í-é 455 po'- 386 v. poro- pupur-a 934
o-pá-katu 179 peiepé 293 pó mao 1107, 1140 pu.tu 1145
o-pá kó m bó 212 pe-íor(-í) 195, 884 pó quase-pref. 344, 347 putu-i 33
opo- 291, 296, 314, 409, 505 pe-íú 423, 884 pó-á 65 pu.tu-ur-a 33, 193
oré 58, 76, 271, 291. 419 Pe-ká 345 pó-atá 347 púai-a [io-] 317, 326, 523
oro- subj. 112, 271, 291, 296, 314, pem-a [nlio-] 326 pó-'ban-a 347 pilan-a [ nho-] 326
414 peneí 434 pó-bebé 347 puar-a [io-] 326
• oro- obj. 409, 505 peng-a 1190 pó-epyk-a 286 puer-a 216, 334, 1107
oro-i-á-bo 455, 881 ' Pettg-aty 1191 pó-gU<uu 347 pUer-am-a 223
oro-it¡ 423, 884 pé-ok-a 345, 372 po-i 347 py [ío-] 326
oryb-a [t] 1084 pepek-a 934 pó-ir-a 284 py pé 344, 1107, 1140
oryb-eté . . . ma [s] 972 Pé-pó 152, 345 poi-a [io-] 326 p·y fundo 348
osang-a [ t] 48 pereru* 1087 Pó-ká 347 fryá 21, 1140, 1144
o-ú 423, 884 peró* 443, 735, 1087 pó-mo-mbyk-a 347 py-ei-a 348
o-up-a 423, 885 pesé-o(ng-a) 372 pó-mong-a 56 py-guasu 348
p' 38 pé-sy1n-a 345 Pó-peb-a 347 pyk-a [fo-] 326
pá sim 44, 656, 1068 pe-té(-pe)-umé 434 popor-a 134 pyku-iur-a,r-a 40
pá determ. 199, 1051 pe1tm-a 1191 por- 283, 386 py-kuab-a 232 •
pá(b) 334, 660, 665 pé-ypy 829 , por-a 700, 738, 910, 1107 P.v kyyr-a 1190
pab-a 114 pi [ío-] 234, 326 por-abyky 139, 388 pyno 894
pab-é (-gat1') v. pá(b) piá 206, 449, 1192 por-apiti 386 py-pirar-a 348
p' aé 38 p' ia 38 por-bae 748 pyr-a sb 639
paí 449, 1192 piá-i 449 por-andiib-a 161 pyr-a suf. 756, 906, 1032
pak-a 114, 414 pik-a 1030 Por-ausub-a 783 P>.,.-i 639, 642
p'akó 38 p' ikó 38 Por-ep)i-an-a 286 py-r'fmg-o 547
pan-a [tiho-J 326 pin-a [ío-J 326, 550, 928 Poro- 87, 351, 380, 385, 417, 487, pyryb(-í} ou (-íó-te') 174
panaku 247 p-inim-a 56, 1148 596, 724, 873 py-sa 41
panem-a 49, 54 pipin-a 928 Poro-(gu)e-no- 506 py-sá-pem-a 32, 41
papar-a 934 p' ipó 38 Poro(gu)e-ro- 506 pysyk-a 193, 196, 292, 388,
Pará 107 pi-pó-ká 1147 por-ok-a 372 pyter-a 346, 639
parab-ok-a 372 pi-pó-mong-a 1147 Poro-mo- 487 pytu v. putu

30
I i

470 LEMOS BARBOSA


CURSO DE TUPI ANTIGO 471
py-tyb::,'f'-ok-a 348 ro-iké 500
r- v. r-(o) sara11ai-a* 1087 taá 499, 1192
roiré 621, 684 sasai-a 928 tab-a suf. 801
r- 89, 238, 239, 311 ro-ie- 584 (s)á'-tyb-a 841 f' aé 38
rá 38, 103, 208, 1068 ro-iyb-a 287 s-e- 774, 853 tagU,aib-a 259
r-á 89 ro-kub-a 900
rab-a [io-] 317, 326 sé/ 188 tak 471
ro-nhe- 584 sé-gué 1068 t'akó 38
,.. aé 38, 104, 954, 1019, 1043 ro-nhe-ang-1í 584 taigaib-a 51, 90
r'ak'aé 38, 104 sei%1' 1204
ro-pytá 500 sei-a 897 n. 2 tai-a 262
r'akó 38, 104 rore* 1087 sem-a 114, 263, 599
fam-ci 216, 334, 1107 taiaob-a 260
ro-seni-a 501 s-e-m(b)i- 700, 773 takuar-a 260
f'amei 437 ro-ti 30
1'amei-bé 436 sera 1044, 1045, 1047 tang 1192
ro-ub-a 885, 900 sera! 157, 160, 1042 tapé 449, 1192
ram iaramé 982 · ro-ur-a 884 sera-mo-n' aé (-mo) 982
-ramo, prep. 13, 619, 791, 821, 836, taper-a 259
roy 56, 1204 s-e-rc- 508 tapiá 449, 1192
1033 rua 184, 434, 1007 s-esé v. esé tapui-a 259
-ramo ger. 13, 406, 570 ruiif 1015
ram-buer-a 223, 230 só 114, 195, 285, 334, 882 tapyt-a 259
r-ub-a 502, 885, 900 sok-a [io- J 320, 324, 326, 411 tapyyi-a 259
ran-a 10, 172 r-u'-i 885 .. soó 85, 395 t-ar-a 891
ranhé 210, 466, 683', 820
1'-ar-a 891
1'aré 208, 1068
r-u' -me 885
rumby 434
rung-a 547, 897
- sosé 174, 611
sub-a [1o-] 317, 324, 326
tar-a suf. 727
t-ar-i 891
r-ar-i 891 suban-a 303, 1035 tatak-a sb 259
r-upi v. u.pi s11gu-á-bo 397 tatak-a vb 52, 259, 263, 471
ra-s6 129, 413, 502
r-aú 192, l 048
' r-ur-a 502, 884 suguara1y 264 taté 258, 374, 609
r-i,r-i 884 suí 134, 174, 610, 612 taté-é 374. 609
r-e- 504 v. r- r-ur-í 884
ré 621, 684 suí-bé* 691 taté-nhé 374, 609
1'f41"U 934
reá 44, 191, 1019, 1044, 1068 sumara 264 tatobapy 829
ryryi-a 934 supé 136, 203, 516, 613, 836 taty 1191
rei 44, 191, 1019, 1044, 1068 s- pron. e pref. 89, 121, 238, 271,
r-e-ityk(-a} 892 s-upi 188, 606, 868 v. upi ta.Upé 449, 1192
291, 310, 854, 869 s-upi-katu 188 t-e- 774, 853
r-ek6 ter 124, 353? 502, 782, 886, 900 s- pref. de el. 236, 338, 342, 343, susuá 264
r-ekó v. ekó -te 13, 38, 158
604, 852, 869 susung-a 928 -te mas 13, 188
rem-a 31, 114 sá 257, 852 obs 1 S1,Ú 234, 397 -te para que 13, 198, 981
-reme 13, 679, 836, 957, 985, 1012 (s}ab-a suf. 337, 371, 400, 426, 647, suar-a 700, 833, 910, 1107
-reme-bé 648, 689, 691 -te é que 13, 38, 949, 1067
700, 798, 858, 906, 981, 987, 1095, mé(r) 436 té 434
-reme-mo 944 1107 suer-a 700, 838, 910, 1107 teb·i r-a 259
r-esé v. esé sabeypor-a 1143 suer(-i) 1030
,., prep. 139, 238 obsl 620, 819, 936 teé 463
sabo* 400 sy 62, 264, 1190 ,,_
te-i... ma-974
rí ptc 1068 (s)ag- 798
riré 621, 684, 691
syb-a íío-] 325, 326 t' e-í nhé 434
(s)ag-uam-a 805 syi-a 498 té-ipó 434
f'iré-bé 621, 648 {s)ag-uer-a 805 S~/k-a 28 d), 263 t' e-í tenhé umé 434
riré-mo 944 sai 928 sykyíé 40, 285, 395
r(o)- 28 obs 3, 30, 124, 385, 390,
tek 471
sam-a 62, 264 sym-a 51, 90, 346 'té-kati' (nhé)(-'té}(-i) 171, 973
413, 500, 579, 584, 781, 865, 960. sapatu* 1087 syryk-a 28 d), 283 tekó-araib-a 259
1031, 1107 III, 1112, 1113 (s}á'-Pe 820 sy-yr-a 264, 1190 tekó-araí' -bor-a 259
,.¡¡ 199 (s)á'-pe ranhé 820 t' v. ta tekó-k1KJb-a 258, 260
ró* 1J76 (s}á'-pe t4ma 820 n. 5
ro-am-a 900 t- pref. de el. 236, 338, 342, 343, -te-mo 967
saj>ukai-a 1143 604, 852 -te-mo má 967
rob-a 96 sapyá 1143 t- pron. 240, 855, 870 -te-mo-ne' 949, 967
ro-bak-a 137 (s}ar-a 86, 709, 720, 906, 1107 ta 196, 200, 1067 t-e-m(b)i- 7731 906
ro-lñar-a 502 sar-a = suar-a 833, 1107 tá 891 ten 471
CURSO DE TUPI ANTIGO 473
LEMOS BARBOSA

x'iá 201 ygap6 3


11-M 434 ~ comer 126, 397, 883 ygá-pukui-a 3
11-nhé 434, 464, 1030 u ger. 423 x6 v. %Ó-é-ne
xó(-é)-ne 186, 941, 966 ygar-a 3, 59
tmhéa 259, 260 ub-a [t, t] sb 21 d), 43, 241 1190 yg 3
1-e-no- 508 1199 , , xok-a 320
xuban-a 19, 303
y(g)é 3
1-1-1'0- 508 ub-a [t, t] vb 885 y-guas" 107
tetiruá 667 uba-r-ok-a 372 xuí 19 v. sui
y-katu 241 obs 3
té-umé 434 ub-i [t] 885 xuPé 19 yker-a [t, t] 241, 1190
ti 1068 ubi~ab-a [t] 106, 242 xy J9, 62
y fonema 4, 33, 1096, 1109 ykeyr-a [t, t] 40, 241, 1190
ñ [io-] 326 ub-yr-a 1190 n. 2 yku [t, t] 241
li 65, 150, 259, 1145 11gúai-a [ t] 245 y água 49, 107, 241, 1201
y [t, t] 241 ykyyr-a v. ykeyr-a
,. ik6 38 ú-i [t] 885
y-aiba 241 obs 3 yma 169, 464, 948
tining-a 51, 56, 90 uE 154, 1201 yman-i 465
l~ng-a branco 51, 90, 262 fl-i 69
yapir-a [t] 244
yb-a 166 ymé 194
t•ng-a enjoativo 51 90 262 üi-a [nho-s-J 323, 326 ymuá 33, 465
,. ip6 38 . ' , uka~-a 516, 582, 1031, 1107 ybá 166
ybak-a 1084 ymuan-í 465
· lirua 232 ukei 1191 • ynysem-a [t, t] 56, 91 /
tiruá-mo 980, 1020 ybaté 148
uma 169, 465, 948, 1029 ypé 167
litó 449, 1192 ybo 34, 36
umá! 32 ypek-a 46
,, iá 201 ybotyr-a 167
umá f 32 ypy 34, 213, 551
t6 975 fl-ffla-bae r 163
ybyr-a 639
ybyr-a [t, t] 241, 1190 ypy [t, t] fundo 241, 348
toi 449, 1192 1í'-me 885 ypyr-a 639
tubyr-a 259 ybyrá 56, 166
umé 193, 196, 1006 ypyr-i 639
ybyr-aty 119
1-ú-i 885 umua 33, 465
ybyr-i 639, 642 ypy-rung-a 547
tui-bae 51, 90 umúati-i 465 ytab-a 114
luiá-bae 51, 90 259 ybytyr-a 241 obs 4
up vb 423, 885 ytaro 301, 488, 1176
tunhá-bae 51, 9o259 up vocat. 21 d), 446
y-ekó-ab-a 81
ygapem-a 3, 129 y-ú 284
tupa 32, 259, 1os4 u' -pá' -nmg-a 547
ygapenung-a 3, 241 y fonema S, 1157
tupa mo-ngetá 1084 upé 613, 624, 625
tupan-a 1084 upi [s] 135, 606, 836
tupa r-ar-a 1084 up~-bé [s] 606, 648, 688
tupa sy 1084
1-ur-a 884
upir-a 531 ...
ur-a [t] 884
1-ur-i 884 ur-i 884
tutuk-a 52, 259 uni [sJ 255
tutyr-a 258, 1190 U!'-USU [ t) 91, 99, 672
ty 259 u -sab-a [tJ 884
lyaró 52, 165, 1176 u' -sar-a [ t] 884
lyb-a 259, 378, 700, 841, 1107 ú-sei-a 897 n. 2
lybyr-a v. tubyr-a usu 100, 1107
lybyr-ok-a 372 uub-a v. uyb-a
tybytab-a 259 uyb-a 122, 206, 251
tyk 471 -ú 13, 555, 1107
tykyr-a 28 e), 259, 263 uanJ-a 218 . i
l~m-a [ nlio-] 326, 411 u er-a218
tyma 247, 248, ss2 obs 1 -%- 200
tyJlyró 28 e), 1176 xam-a 62
tyr-a 259, 456 :re 58, 76, 271, 419
lyrá 259 xe á 449, 1192

,,,,.-a
ty-rwng.a 547
52, 259. 934
xe pó 212
.re pó xe l!Y 211
/
f

1NDICE DAS GRAVURAS


. -

Aldeia tupi, com suas casas, pra~ e dupla cerca - STADEN ....••.• capa
Família tupi - LÉRY ............................................... . 8
Danc;a dos caraíbas - DE BRY •••••••••••••••.•••••••••••••••••••••• 26
Acampamento de ex.pedic;ao guerreira - DE BRY •••••••••••••••••••• 70
Fabricac;áo do fogo - STADEN ......................•..•....•.•.•• 77
Ataque a urna aldeia, e sua defesa - DE BRY •••••••.•••••••••••.•• 90
Colheita da mandioca - STADEN .......•.•..................•.••...•
Guerreiros, adornados e armados ~ STADEN ...................•...•
Preparac;ao do cauim - THEVET ....•................................
106
136
"'
Reuniao do conselho - STADEN .••.•..................••.•......•. 147
Pesca a flecha e a máo - STADEN ...........................•.••. 152
Aldeia e cenas da vida tupi - DE BRY ••••••••••••••••••••.••••••• 167
Batalha naval - STADEN •..••.••••••••••••••..•••.••••••...•••••••• 178
Prisioneiros conduzidos. Execuc;áo e consu;nac;ao - DE BRY •••••••••• 195
Guerrilhas as margens de um rio - STADEN ••.......................• 218
Grande festa. Cauim e danc;a - STADEN ............................ . 224
Pinta-se o prisioneiro e a ybyrapema - STADEN ................... . 245
Grande festa. Cauim e danc;a - THEVET .........................• 258
Prep.arac;ao do cauim - STADEN .......•................•.....•.... 271
Saudac;áo lacrimosa - THEVET .................•...........•.•..•... w
Fases de um sacrifício de prisioneiro - STADEN •••...••••.•...•..•• 302
. de um pr1s1one1r-0
Sacrt'f'1c10 . . ' - T HEVET .•.......•.................• 318
Pesca a flecha e com rede, em barragem - STADEN .••.....•••.•.•..• 344
Preparac;ao do repasto sacrifica! - DE BRY •••••••••••••.•••••••• 352
Tratamento de um doente - THEVET .••.............•.•.•........... 364
Sepultamento - DE BRY .•..•.••.............•••.•...•.••..••.••... 409
Sepultamento - THE'VET ....•.•..•.•••••...•.••..•.........•.•.....•. 380
O corpo do prisioneiro é moqueado - STADEN ...•........•..•.. . 328
Consumac;ao da vítima - STADEN ••••........•••....••.•...•••..... 451

'

'
1NDICE GERAL

PR.EFÁCIO •••••••••••••••••• 9 Li~io 12.a § 125-170


\ ABREVIATURAS ••.••••••••••• 25 Genitivo ................. 78
Li~io l.• § 1-11 Interrogativos •. . . . . . . . . . . 79
Leitura .................. Li~io 13.a § 171-182
Li~io 2.a § 12-14 Graus do adjttivo • • • • . . . . . . 83
Acento .................. . 33 Li~o 14.• § 183-192
Li~io 3.a § 15-40 Conjugac;tio negativa . . . . . . 87
Metaplasmos ............. . 35 Li~lo 15.a § 193-211
Li~lo 4.• § 41-48 Imperativo ... , . . . . . . . . . . . . 91
Substantivos ............. . 43 Pennissivo ... ..... ... .... 92
GeAneros .................. 43 Pronomes oblíquos indiretos 94
Nu'meros ................. 43 B ou aé . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Nhé e i . . . . . . . . . . . . . . . . . .
94
95
Substantivos abstratos ....•. 46
Li~io S.a § 49-57 Li~io 16.ª § 212-235
Qualificativos .......... . 47 Numerais . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Tempos do substantivo . • . . 100
I
Li~io 6.• § 58-~
Li~io 17.ª § 236-270
Possessivos ............... 50
Genitivos e possessivos irre-
Li~io 7,a § 69-7'/ gulares • . . . • . . . . . . . . . . . • 107
Demonstrativos ........... . 54 T ou s iniciais temáticos • • 112
Pronotnes pessoais .•...••.. 58 Li~io 18.• § 271-281
Li~lo 8.a § 78-98 Pronomes pessoais .•....... 117
Verbos predicativos ....... . 60 Li~io 19.• § 282-289
Li~lo 9.a § 99-100 Classifica-rlio dos verbos • . 121
Graus do substantivo ••..•• 62 Li~io 20.• § 290-309
Partículas expletivas •••... 63
Pronomes objetivos . . • . . • . . 125
' ¡
Li~io 10.a § 111-132
Li~lo 21.• § 310-331
Verbos .................. . 65
Ordem das ora~óes simples •. 66 Pronomes oojetivos . . . . . . . 130
Pronomes objetivos ......•. 68 Li~o 22.• § 332·341
Li~o 11.ª § 133-151 Infinitivo . . . • . • . .. . • . . .. . . 137
r Preposi~óes .............. 72 ARAú¡o - Obras di
Conectivos ............... 75 Miseric6rdia • . . . . . 140

¡
..
478 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 479

Lis;io 23.a § 342-358 Li~io 37 .a § 638-653 Li~io 51.ª § 941-965 Li~io 58.ª § 1070-1081
ApOsto .. ..... . ... .. . ... .. . 142 p repos1c;oes
. - •.•... . ..... • • Condicional . ... . . . . 329 Períodos .. ..... ... . ..... . 376
236
Nomes cl.assificatórios .... . . 143 B e' ou ab'e .. .... ... . ... .. • 238 ARAúJO - A ntes da Afirmativas indiretas .... . . 376
Verbo " ter'' ... . .. .. . . . .. . 144 absolvi,oo .. . ....• 332 ARAúJO - Antes da
Li~io 38.a § 654-677 333
V erbos predicativos . . .. ... . 145 Locu~óes gerundivas ... .. . absolvi,áo ( cont.) . . 380
Li~o 24.ª § 359-377
Indefinidos ........ ..... .. 241 Gerúndio expletivo ... . . .. . 334 ' Li~io
59.• § 1082-1104
Li~io 39.a § 678-699 ARAÚJO - Em casa
Infinitivo objetivo ........ . 148 de Caifás (cont.) 335 O tupi colonial .... . ......• 382
S~bordinativas temporais .. 248 lnstru-
Verbos compostos de ok •. 151 BETTENDORFF -
Li~io 52.ª § 966-979 para o batismo 388
Li~io 4-0.a § 700-719 faO
Lis;io 25.a § 378-392 . , . - bae . ...... ..• ..
p artic1p10 Optativo ........ . . . ....... . 337
254 A U TOR DESCONHECIDO -
Coletivos . . .•......... .. .. 154 ANCHIETA - Dan'ª de Catitigas ......... . 390
Prefixos de classe ... . ..... . 154 Li~io 41.a § 720-737 dez m eninos .•....•. 340
p Li~ao 60.a § 1105-1148
artlc1p10 ()
. , . s ara ... . ...•.. 259 Li~io 53.ª § 900-992
Li~io26.a § 393-424 Estrutura das palavras ... . 392
Gerúndio .. .• ......... . ... 158 Li~io 42.a § 738-755 Ora~óes subordinadas ..... r 341
Classifica~ao das palavras ... . 396
Particípios' bora e pora ...• ANCHIETA - A· N ossa Divisao das palavras .... . . 397
Li~io 27.a § 425-440 Senhora .•......•• 345
' Posi~ao, composi~áo, deri-
Sintaxe do gerúndio .. . .. . 168 Li~o 43.ª § 756-772
Li~io 54.ª § 993-1005 vac;áo •.• . ••.•. • •....••• 398
Li~io 28.a § 441-454 Particípios pyra ... . . . .... . 268 347
' Advérbios ... . ..... . .... . . Expressoes concretas ..... . 404
N ornes próprios .. ......... . 174 Lis;io 44.a § 773-797 ARAÚJO - Antes da ARAÚJO - N ovíssimos
-
Vocativo .... .. ... ... . . . .. .
Lis;io 29.ª § 455-479
176 Particípio mi- ou mbi- ....
Lis;io 45.a § 798-832
272 absolvi,áo ( cont.) ..
Lis;io 55.a § 1006-1017
351
Li~o
do homem .. ..... .
61.a § 1149-1186
407

V erbo e, " d"1zer ,, .... ..... . 180 P a rticípio ( s) aba •. ... . . . . 279 Conjuga~ao negativa . . . .. . . 353 Fonología . ...... ........ . 410
A ub •. •...... .. •.. .... ... . 188 Li~io 46.a § 833-846 ANCHIETA - Dan,a. da ANCHIETA - M.on6lo-
procissáo ..... . ... . 356 go de Guai~ará .. .. 419
Li~io
30,a § 480-499 p . , . _s1'ara
Particípio ,') . . . . . . .. ... . 288
Lis;io 56.ª § 1018-1040
Verbos causativos ( m o- ou artic1p10 ~"era .... . . . •... 291 Li~ao62.ª § 1187-1196
m bo- ) . . . . . • • . , .. . ..... . 190 Participio tyba ...... . .... .. 291 Categorias verbais ........ . 358
Nomenclatura de parentescos 421
Li~io 47.• § 847-878 ANcHIETA - A N ossa.
- Lis;io 31.• § 500-515 S enhora ( em Reri- ARAÚJO - Impedimen-
Verbos causativos-.comitativos f ndices de classes ....... . . . 294 tiba) ............ . 365 tos matrimoniais .. 431
(ro- ou n.o-) . . , • •....... 196 V Al.ENTE - Ao Anjo O Juízo
Guarda .....•. , ..
ARAÚJO - Li~io 63.ª § 1197-1211
303 Universal .....•.. 365
Li~io 32.ª § 516-527 Língua e cultura tupis . . .. 436
Li~io 48.a § 8?9-904
Verbos causativos ( ukar) 201 Li~io 57.ª § 1041-1069 EDu;óES CITADAS •• •••• • •• • 442
Verbos irregulares ....... . 304
Li~io33.a § 528-5'53 Verbos defectivos . .. .... .. . Partículas .........•...... 367 ÍNDICE DE ASSUNTOS .. . ... . 452
309
Verbos exclusivos do plural 310 A linguagem dos homens e a ÍNDICE DE P ALAVRAS E AFIXOS
Objeto direto incorporado .. 205 das mulheres . .......... . 374 TUPIS •.. ••• •••• • •• • •••• 458
Sujeito incorporado ....... . 208 VALENTE - Ao SSmo. · 475
Sacramento ARAÚJO - O Juf.zo f NDICE DAS GRAVURAS ••••..
311 477
Li~io 34.• § 554-577 Universal ( cont.) .. 375 Í NDICE GERAL ....•.••••.•. •
Conj uga~ao subordinada .... 212 Lis;io 49.ª § 905-923
Pronomes relativos .. . . .. .• 313
Li~o 35.a § 578-603
Li~io 50.a § 924-940
Reílexivo e recíproco •.. . .. 219
Reduplica~ao . .. ..... .. . . . 319
Lis;io 36.ª § 604-637 ARAúJo - Em casa de
Preposi~óes . . . . .... . ..... . w Cai.fás ........ . .. 327 Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
1 •

...
*
1!JSTE LIVRO FOI COMPOSTO E IMPRESSO
NAS OFICINAS DA EMP~SA GRAFICA DA
"REVISTA DOS TRIBUNAIS" LTDA.• A RUA
CONDE DE SARZEDAS, 38, S.10 PAULO,
EM 1956.

I I
..

'


'

Você também pode gostar