Barbosa 1956 CursoDeTupiAntigo BDCN CNic
Barbosa 1956 CursoDeTupiAntigo BDCN CNic
Barbosa 1956 CursoDeTupiAntigo BDCN CNic
l 2.ª TIRAGEM
Pedidos a 1\ dn1ini-stra<;áo da
' RIO
RIO
·1
'
I
CURSO DE
TUPI ANTIGO
....
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
P.E A. LEMOS BARBOSA
DO MESMO AUTOR
Em prepara~ao *
Pequeno Vocabulário Portugues-Tupi.
BASILIO DE MAGALHÁES • ¡
- ,.
t
do texto é compensada pelo rico vocabulário manejado nos exer- Particul:trmente, a f astamo-nos da nomenclatura e mesmo da técnica
cícios. N estes, deu-se preferencia aos termos relacionados com a gramatical em uso entre os indigenistas n1Jrte-americanos. Con-
cultura indígena, e as vozes irregulares. Pouca margem deixamos quanto admirável pela precisáo e obietividade, tornou-se de tal fonna
aos znonimos e fitonimos : regulares, parco é o seu interesse gramati- especializada, que reouereria um prévio estudo, nao menos árduo que
cal. Por outro lado, sao de fácil consulta nos vocabulários e obras o próorio estu<lo . da língua tupi. Desserv!ria. :issim. ao obietivo de
,..
congeneres. divulg-acao desta obra, destinada nao a lin ~üistas n1aS ªº grande
público brasileiro, que dedica ao assunto um mteresse crescente mas
Fizemos urna gramática expositiva, e nao um estudo histórico ou sem preocuparao de cunho científico. 1
comparativo. Quisemos expor os fatos da língua, nao explicá-los. Na escrita obedecemos ao mesmo critério: um alfabeto simples,
Náo vemos por que imprimir, logo de inicio, ao ensino do tupi, evitados, quanto possível, os caracteres exóticos. Fioue o rigor foné-
.um cunho erudito, que nao se dá ªº estudo clássico das outras tico para as obras técnicas, de caráter ling-üístico. Nenhum e-ramático
línguas, como o frances, o ingles, o latim, o próprio portugues. Ao portugues, espanhol 1 ingles, nenhun1 latinista se len1brou de usar o
comum dos leitores, letrados, porém nao necessariamente lingüistas alfabeto fonético· internacional nas suas obras de divule-acao. Só
·nem americanistas, interessa conhecer o tupi, mas talvez nao a sua abrimos urna exce~áo para as semivog-ais, que f oram ~ravadas sempre
história, nen1 as suas relac;óes com outras línguas ou dialetos. Um i, u, y. Dada a absoluta necessidade de distinguir entre ditongos e
estudo dessa natureza, ideal para os especialistas, poderia afastar hiatos, após madura reflexao pareceu-nos essa a n1elhor alternativa.
grande número de iniciantes. Se a língua tupi interessa parti- O embaraC"oso prohlema da divisáo das palavras compostas,
cularmente a chltura nacional,. deve-se isso ªº papel que o idioma dos elementos incorporados, principalmente das partículas átonas, pro-
'desempenhou na história . do país, assim como a contribuic:;ao que curamos resolve-lo ecleticamente. Fugin·do tanto das palavras inco-
trouxe oara o oortugues falado no Brasil. Nao sao razóes de caráter n1ensuráveis dos antigos gramáticos, quanto da f ragmentac::áo em pe-
glotológico. Sob este prisma, o tupi teria 6 mesmo interesse que quenas partículas átonas ou integrantes silábicas de outros morfe-
qualquer outro idioma indígena do Brasil ou da América. Pela mesma mas. O hífen (de que alguém pensará que abusa1nos), pareceu-
razáo. o seu lue-ar no Curso Superior nao é ao lado da etnografía -no" solucionar suficientemente o duplo probletna: da deromnosicáo
nem da lingüística nem da antropología, mas sim na se~áo de letras semantica (importante para quem comec;a a estudar) , sem prejuízo do
( cnnceito nue no Brasil será n1ister alargar, pois aue ternos ttm pas- f eitio incorporativo da língua e sem quebra da unidade fonolóe-ica
sado próorio, com resultantes ling-iiísticas e culturais próprias). A das palavras. Por outro lado, visto o caráter prevalentemente di-
isso acresce ponderar que o tuoi nao f oi apenas urna língua IJrimitiva, dático do hífen, nao cause espécie se acaso, neste Cu RSO, urna
senao tan1bém língua de civiliza<;ao ou "comum ". Seu estudo, se n1esma·palavra figure ora com, ora sem ele.
quiser ser obietivo e real. nao pode ser equiparado simplesmente ao Estuda-se aqui o tupi antigo, nao o guarani nen1 os dialetos mo-
dós idiomas de outros índios que nunca tiveram prolongado contacto dernos. cujo contacto con1 o portugues se circunscreveu a regióes re-
lin~üístico com os brancos.
lativamente pequenas do território nacional.
N o~so estudo versa sobre a líne-ua documentada nos dois séculos
Entenda-se. assim, por que conservamos a nomenclatura grama- que inedeiam entre 1550 e 1750. Nessa época já o tuoi se distin!!ttia
tical indo-européia, embora sabendo que em tupi nao há generes, nú- sensivelmente do guarani, embora as divere-encias nao fóssem profun-
meros, casos, etc. Procuramos destarte satisfazer a natural exigencia das. Mas mesmo no dom'ínio do tupi havia li!!eiros matizes regionais,
do esp1rito civilizado de saber conto se expritne na outra língua aauela sobretudo no campo da f onologia (v. n. 26, 39).
categ'oria gramatical, sem a qual nao se está acostumado a falar, Nesta obra, salvo indica<;ao em contrário. trata-se do dialeto fa-
talvez nem sequer a pensar. A nomenclatura, desde que a tempo lado na ,Costa, desde o Rio de Janeiro até o Maranhao. Respeitamos
reduzida .ao seu verdadeiro lugar, nao traz prejuízo real, e serve até o tradicional apelativo "tupi", que. entretanto, de in1cio só cabía a
de ponte entre os dois mundos : a língua civilizada e a língua primitiva. tribo e a língua dos· "tupis" (de Sao Vicente), tendo-se estendido
12 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 13
posteriorme~te as tribos e subdialetos costeiros e setentrionais. Por textos guaranis, fór necessária alguma adapt~o que nao atinja
um contrassenso histórico, o dialeto dos legítimos "tupis" era o que apenas a ortografía, logo depois do número da página citada irá a
mais se distanciava entre as tribos irmás, aproximando-se bastante abreviatura "ad.", p. ex. ( REsT. 120 ad.). - Fique esta advertencia
do guaraní. Portanto, a língua tupi que se estuda neste CuRso, é bem clara, para conhecimento da crítica honesta.
mais exatamente a dos tupinambás, tupiniquins, etc. do que a dos le- Pareceu-nos de utilidade juntar a obra um índice remissivo dos
gítimos "tupis". Apesar disso, conservou-se o nome "tupi", já con- prefixos, sufixos, palavras gramaticais e de todos os outros termos
sa~rado como genérico por urna tradic;ao de vários séculos. Os que a qualquer título tenham sido particularmente estudados neste
próprios autores -0ue recentemente o substituíram por "tupinambá", CURSO. '
vez por outra voltam ao velho etnonimo. Complemento necessário da obra, estáo vindo a lume os Pequenos
Vocabulários Tupi-portugues e Portitgues-Tupi, enquanto se prepara
Pelo demais, este CURSO nao é senao a sistematizac;ao de quanto um mais completo Dicionário da Língua Tiipi.
nos legaram os antigos gramáticos, ANCHIETA e FIGUEIRA, aprovei-
tac1as, nuando eo1npatíveis ciom o tuoi. as observa<;óes de . MoNTOY A Para outra oportunidade reservamos urna investiga<;ao de caráter
e RESTIVO sobre o guaraní. Há, sim, por vezes, urna nova con- 1nais especializado sobre a índole da língua tupi. Estamos que tra-
cep<;ao j!ramatical, a luz dos exemplos dos mesmos mestres e de balho dessa natureza, estritamente lingüístico, será mais fácil de rea-
outros documentos preciosos. como o V ocnbulário na Línqu.a Brasí- lizar do que um curS-O de divulgac;ao, como a presente obra.
lica, as obras de ARAÚTO, VALENTE, BETTENDORFF. etc .. e, principal-
a
mente luz da lingüística moderna. mas de urna lingüística tnorlesta,
mais de conclusóes do que de cita<;óes. Aliás em geral citamos 2ste CuRso encontra-s.e concluido há quase dez anos, e nesse
quase só exemplos, raran1ente opinióes de gramáticos. iDispomos intervalo nao sofreu retoques de 11wnta. Porventura, se o fossenios
dos elementos para defender cada u1na de nossas af irma~óes. mas redigir de novo, dar-lhe-íamos outro feitio, mais técnico. Tal como
no caso de ser provado erro nosso, prazeirosamente será corrigido. está, porém, quer-nos pa.recer que será nzais accessível ao grande
Como compensa\á,o pela esrassez de cit.ac:;óes, terá o leitor, no fim de público.
cada Licao, a respectiva bibliograf ia. Muito raras altcra~oes fizemos ao texto durante a impressáo,
Desde o título da obra excluiu-se a expressáo "língua tupi-gua- que levou tnais de tres anos. Acrescentou-se apenas a Lirao 60a. e
ran~ ", que nos parece inexata. Conhecemos sim as línguas tupi e t udo o que se lhe segu.c. Tanibém a bibliografía após cada LifaO.
guarani, ou, melhor, os dialetos tupi e guaraní, estreitamente aparen- !J-fas as obras niais recentes, inclusive nossa reproditfao do Catecismo
tados, mas com caracteres diferenciais be1n nítidos. Conhecemos tam- de ARAÚJO ( 1.ª ed.), náo interfer-irani e11i nada 110 corpo da obra,
hém o qru.po (de línguas ou, n1elhor, dialetos) tupi-guaraní. 1\1 as excetuados dois oii tres p'assos.
dizer "língua tupi-guaraní", só pelo fato de seren1 irmaos e parecidos
os dois d~letos. é tao inaceitável como o seriatn as expressóes "língua Nesse ínteri111, te1n-se acentuado alguns n1al-entendidos, entre
luso-espanhola" ou "luso-galega". filólogos brasileiros, a respeito de estudos de tupi. Tratando-se de
nomes conceituados, é justo que nos detenhamos um pouco nutn
Nos exercícios, den1os preferencia as pequeninas ora<;óes, sobre exa1ne sereno de suas posi<;óes.
assuntos vários. as vezes até desconexos. 1\/Tediante etas, o estudioso Con1ecen1os pelo prefácio do recente tomo II do Dicionário
estará em condic;óes de formar outras. Rt-i1nológico da Língua Portugidsa de ANTENOR NASCENTF.S (Ri.o,
1952), p. X•:
A citac;áo dos exetnplos e textos em tupi é se1npre f eita na orto-
graf ia deste CuRso. Dada a extrema variedade de sistemas gráfi- ''Tupi nao se faz no asfalto. Faz-se na selva, em con-
cos e a f inalidade didática <leste compendio, seria contra-indicada qual- tacto com o índio, cotn o desconforto, com o mosquito, com
quer outra orientac;ao. Quando, por motivo didático, on na citac;ao de as cobras e outros anin1ais perigosos, numa verd~deira vida
14 LEMOS BARROSA CURSO DE TUPI ANTIGO 15
de missionário. Precisamos f azer tábua rasa de tudo que sim. :e1e nao exige que se vá a selva estudar un1a língua morta;
se tem produzjdo em n1atéria de tupi e tnandar aos Estados pelo contrário, porque a sabe 111orta, pecle que se de atenc;áo também
Unidos meia dúzia de rapazes, ou mesmo algum professor, as vivas. . . Talvez um lingüista americano nao alcance o que
que tenham gósto por estes estttdos, para com os discípulos de significa o tupi antigo para os estudos históricos, filológicos e etimo-
Boas aprenderem os processos de estudarem línguas de sel- lógicos brasilianos, pois nada de semelhante se deu com as línguas
vagens, processos estes táo ligados a filologia quanto a antro- norte-americanas. Entretanto, seguindo a mesn1a linha de pensa-
pologia''. mento, u1n americanista europeu, que nao tem oportunidade de vir
a América, poderia lamentar que os lingüistas do Novo Mundo nao
O ilustre professor 1nostra-se nao ben1 informado do assunto, consagrem ao trabalho de campo todo o tempo que dedicam ao la-
laborando em alguns equívocos. tim. . . ou a crítica. Surpreende, porén1; que un1 renon1ado etimo-
"Tupi nao se faz no asfalto" - diz NASCENTES mas no logista brasileiro, que há anos vem prometendo um dicionário etitno-
mato. Ora, o tupi da costa (precisamente o dialeto que contribuiu lógico de brasileirismos, lamente a falta de estudos dos dialet os vivos,
para o vocabulár.io c01num e para a toponomástica geral do Brasil, que pouca ou nenhuma atua<;ao tiveram na língua do Brasil, e por
de que N ASCENTES faz os seus estudos etimológicos) é lingua essa falta explique as deficiencias de seu dicionário.
1norta e, como tal, já nao se fata en1 mato algum. Seu estudo tem Nao há o que opor ao alvitre de mandar estudiosos para o ...
de ser histórico e filológico, documental, e em hipótese nenhuma asfalto americano, a estudar com os "discípulos de BoAs"2 - muito
será estudo de campo 1• Os co-dialetos vivos podem trazer luz a embora nao nos conste que para estudar línguas de "selvagens"
algu.rnas questóes, mas indi~etamente, como o galego atual talvez baja algum método diferente do das outras línguas vivas. Mas
esclarecesse algo do portugues do século XVI. quem conhe~ por dentro as obras dos discípulos de BoAs, sabe que
Certo lingüista americano estranha que os investigadores brasilei- nem todas foram preparadas no mato e que algumas foram redigidas
ros se dediquem tanto ao tupi antigo, língua morta, e nao se voltem com índios residentes na cidade. Tanto mais que para esclarecer as
par~ as línguas indígenas ainda vivas. Reparo compreensivel, este dúvidas etimológicas de NASCENTES, de nada serve estudar os dia-
letos atuais dos Tapirapés ou dos Tembés, nem o guaraní platino ou
(1) A simples idéia de "trabalho de campo" parece fascinar alguns o nheengatu amazónico. , O que importa é conhecer o tupi antigo,
espíritos, a ponto de menoscabarem os estudos "de gabinete". :a óbvio que língua que subsiste apenas na documentac;áo histórica. A vida inteira
Qualquer estudo sobre índios ott suas lír.guas deve basear-se em observacoes
diretas· do índio ou de sua língua. Mas estas podem ser tanto as do próprio
entre os Apiacás ou entre os Parintintins, com cobras e lagartos, nao
teorfrta como as de out ro informante fidedigno. Negar isto seria admitir a explicaria urna letra das palavras Niter6i, Macaé, Bertio,ga, Ara-
exper:encia pessoal como fonte única de conhecirnento certo, deita11do por ruama, nem de tacape, carioca, inúbia, pindaíba ou peró.
terra todo o edif ício da ciencia. Verdade isto da etnologia, muito mais o Diante de tudo isso, . fica-se a in1aginar o que poderá ~er o
é da lingüística. Pois -se nao é possível trazer urna tribo para a cidade, é Dicionário Etimológico de Brasileirismos, que N ASCENTES nos ven1
fácil ter a mao informantes nativos e mesmo textos autenticas J?ravado&.
Veja-se. p. ex. o ouc cli7. Fuwn G. LOUNSBURV (UPiversidade de Yal'!) 'lO
seu artigo Field M ethods and Tecniques in Linguistics, na recente e mais (2) Para alguns filólogos brasileiros, BoA s continua a S<'r a última
que autorizada publicadio Anthropolog)' Today, A1~ EncycloPedic b1ventory palavra em matéria de lingüística indíg'!na. É incontestável a influencia que
rreparr>d mzdr>r tlze Chair111anshi.P of A. L. Kroeber. The University of Chi- exerceu o grande cientist!l na dir~áo desses estudos, sobretudo pelo seu " d~s
cago Press ( Chica¡:ro, 1953) , o. 406 : cobrimento" de que as categorías lingüísticas nao sao universais n~m tem
"A complete grammatical a.nal-ysis need not be carried out while in the correlac;ao com os diferentes tipos de cultura. Os modernos lingüistas conti-
fielá. b t fact, if a large e11011gli c.ollection of texts is availab,le, this can be nuam a nortear-se pelo princípio de BoAS de que cada língua deva ser estudada
done without access to a 1iative informant". em si mesma e nao pela comparac;áo com a estrutura de outras. Mas o " mé-
Por oncle se cor:clui que a convivencia pessoal com o povo indígena nao todo" de BoAs para o trab.alho lingüístico é hoje antiquado e insuficiente.
é de táo clbsoluta importancia como pretende A. NhSCENTES, e QU'! o seu Cfr. FLOYD G. LOUNSBU~Y, op. cit., p. 408. Qu~m for a América aprender
rigor quanto a técnica de trabalhos lingüísticos nao está a.tualiza.do nem com os discípulos de BOAS os proce'ssos de estudar línguas de índios ( ou
mesmo para o estudo das línguas vivas. "selvagens" - como diz N ASCENTES), verificará que exatamente nis so eles
sao menos discipulos do mestre.
,
prometendo há tantos anos. Grande contingente d~ b~asileirísmo~ Do equívoco prin1ário de supor o tupi colonial urna língua
sao de origem tupi. NASCENTES condena o estudo. ,citadino do tupi: viva, que possa ser estudada pelo método etnológico-lingüístico, sur-
Acha que se <leve fazer tábua rasa de tudo o que Jª se escreveu ate ge outro mal-entendido, evidenciado na assertiva de N ASCENTES de
que "a transcri~áo
-
. .só com
,, Tastevin tom-0u algum jeito. É esta
hoje sobre o assunto. Por outro la?o, nunca foi estudá,-lo no mato.
a transcn~ao que sigo. . . .
De que fon te será~ as origen.s tupis que nos o!erece:a, e,, ~ara as
quais "já estao dev1damente ordenadas as respectivas ~tc?as . Dir-se-ia que a língua documentada por T ASTEVIN é o mesmo
Podemos fazer idéia por algu111as an1ostras. Ass1st11nos a u1na tupi antigo. Ora, o nheengatu amazónico das obras de T ASTEVIN
é um dialeto civilizado ou "crioulo", falado por descendentes de
def esa de tese de concurso para livre docencia de portugues .~ª
arauaques, e que do tupi mal conserva o vocabulário, lnu.ito alter3:do
Faculdade Nacional de Filosofía, ern que A. NASCENTES, na argu1-
e re<luzido, tendo simplificado inteiramente a morfolog1a e a sin~
c;ao, afirmou que a palavra "in?bi~", tirada ,da ianybia de JEA~ ?e taxe, tornando-se urna língua analítica ao extre1no. NASCENTES
LÉRY e vulgarizada pelos rornanticos, provem de urna transcru;ao naveo·a na esteira de TASTEVIN, que cuidou estar tratando com o
defeitt~osa da palavra n,zitnby "flauta" (o tn inicial teria sido tomad.o 111es1~0 tupi colonial, apenas 1nal apreenclido pelos antigos gramá-
por in) J. Ora nao se faz inister ir ao Xingu para ver que os tupis ticos.
nao podian1 chamar con1 o mesn10 non1e ( niimby) dois ins~ru~entos Prossegue N ASCENTES :
nativos tao diferentes como a flauta e a trombeta. Basta ir a p. 66
do Dicionário Portugués e Brasiliano, onde vem jonibya na accep~áo "nun1a época en1 que se dispóe de aparelhos de grava<;áo,
de "buzina". Cfr. ainda p. 246 e ARRONCHES 86 (juniiá), STRA- palatos artificiais, olivas nasais, quimógrafos, etc., nao nos
DELLI 134 (i·u1niá). O problema se resolve nao no mato mas na podemos contentar 1nais com informa~,qes teóricas".
biblioteca.
Clara compreensáo do assunto demonstra o prof. ARION DALL' Consigne-se aqui esse paradoxo de exigir para o estudo do
lGNA RODRIGUES (Universidade de Curitiba), em seu recente ar- tupi un1 rigor "científico" que nao se aplica ao estudo da língua
tigo Análise 1JZ·Mfológica de 1t11t texto tup-i, Logos, VII, n.0 15 ( Curi- portuguesa. Em valiosa obra, ainda há pouco rein1pressa, sobre
tiba, 1952) : língua viva (o linguajar carioca), o sr. A. NASCENTES nao se ser-
viu de nenhum desses aparelhos que declara inclispensáveis para
"Sendo o Tupi antigo ( sécs. XVI-XVII) u1na língua observac;áo do tupi, língua inorta. O linguajar carioca, e mesmo a
morta, apenas atestada documentalmente, todo o estud? . que f ala brasileira em geral, tao nitidan1ente diferenciados da f ala por-
dela se faz há de ser baseado en1 documentos= gramattcas, tuguesa, já foram objeto de observac;óes através de palatos, olivas
vocabulários e textos; esse estudo é, pois, . de un1 cunho ni- ou químógrafos? A filologia brasileira, tao erudita e rigoros::i. cotn
tidamente filológico". os indigenistas, contenta-se, para uso interno, con1 infor111ac;óes "teó-
ricas" ? Será a técnica n1o<lerna 1nenos útil ou accessível para a
caracterizac;ao fonológica dos diale tos ron1anicos?
Nao estrahhe o leitor se nos estenden1os nesses esclarecitnen-
tos. Ao lado de arre111eticlas francas, con10 a de A. N ASCENTES, sen- Sejan1os sinceros. Certa filología brasileira está 1nais betn
te-se un1a guerra fria aos estudos de língu.a tupi, P?r p~rte de al- infonnada sóbre a dialetologia portuguesa (continental e colonial)
guns filólogos brasileiros. Como essa ~pos1~0 se dtz !e1ta, ora em do que sobre a Jíngua que se f ala no Brasil. Mais voltada para o
notne da lingüística ora em non1e da f 1lolog1a portuguesa, e te1npo portugues arcaico e clássico do que para a realidade lingüística na-
de color.ar as causas nos seus lugares. cional. Trata mais das constru~óes de GIL VICENTE e do Palntei-
1'Íui da Inglaterra do que do vocabulário brasileiro. Condena indis-
tintamente tudo o que se te1n escrito sobre tupi, tachando de anti-
(3) Em publica~óes, NASCENTES já veiculara essa exp~ca~~o, que vem
<le BATI STA CAETANO, Apontamentos sóbrc o Aba11hcc11ga, 2. opusculo, p. 4. quados, líricos, arti f iciais o::; n1étodos seguidos, inas nao dá exen1-
CURSO DE TUPI ANTIGO 19
1S LEMOS BARBOSA
gi5es de Portugal, onde suas popula~óes nao tiveram o me- 1r:_f orma~oes que ternos sobre a língua dos antigos tupis e guaranis
nor contacto com o indígena". nao fora1n superadas pelas de nenhuma outra língua indígena atual
do país.
Observem-se as seguintes confusóes: 1.0 ) chan1a-se a fonética,
morf<>logia e sintaxe "processos gramaticais"; 2.°) considera-se o
, (8) Os mesmos fenómenos se repetem monotonamente nas mais distantes
vocabulário algo estranho a lingua e a lingüística: portanto urna lm~as do globo. Sobretudo ao campo da fonología, as variedades nao sao
penetra~áo de dez mil vocábulos de urna língua em outra língua multo numerosas.
(9) RoBERT H. LowrE, Hist6ria de la Etnología (México, 1946), p. 16.
2
Í
Alega-se que nas gramáticas houve a preocupac;áo de nivelar Prata. Atente-se, p. ex., nestas observac;óes de RESTIVO sobre a
os dialetos e de subordinar a língua a gramática latina. falta do conceito gramatical de número no nome:
A primeira asserc;áo é inteiramente inexata, e precisa ser des- "Todo nome é indeclinável na língua... O plural nao
mentida de urna vez por todas. Tanto ANcHIETA como o Vocabulá- se distingue do singular; das circunstancias se há de con-
rio na Língua Brasílica e os dicionaristas guaranis registram as va- cluir quando é singular e plural. Sendo necessário distin-
riantes locais e chamam para elas a aten<;áo dos leitores. O PE. guir o plural do singular, po~póe-se-lhe a particula hetá que
PAULO RESTIVO na sua obra inédita Frases selectas y 1nodos de ha- significa muitos. . . Disse : sen do necessário, porque qua11do
blar tem um apendice de 5 páginas em duas colunas para con- nao há necessidade, deixam-na ... " 12.
signar "Varios vocabulos, y modos de hablar no vsados en San
Xauier, ni en Santa Maria; pero por si acaso fueren vsados en Por onde se ve que a subordina<;ao a gramática latina é ape-
alguma parte des tas Reduciones ... ". nas externa e aparente, nao f or-;ando em nada o conteúdo da lín-
gua. Conserva-se o quadro formal latino, e comparam-se a. éle, sem
Já a segunda afirmativa é verdadeira. Os velhos gramáticos, violencia, os fatos indígenas.
defrontando-se com idion1as de índole totalmente estranha, nao S()U-
1beram caracterizá-los senao em relac;áo com as línguas e gramá- Conf iava-me, com algum humor, famoso etnólogo f rances, de
ticas clássicas. Nao há por que admirar, se as gran1áticas portugue- passagem pelo Rio, que, embora admirando a sabedoria dos lingüistas
sas da época eram moldadas na latina, da qual, aliás, até hoje náo indígenas americanos, quando buscava no<;óes acessíveis sobre a
se Hbertaram inteiramente, como ainda náo se libertaram da esco- língua de determinada tribo, nao recorría a eles mas as artes dos
lástica 10 e de outros defeitos tradicionais 11 • miss1onários. É que certas análises tomaram caráter técnico tal e
Acrescente-se que os gramáticos e missionários, desde AN- sáo vasadas em linguagem tao esotérica que se diriam destinadas a
CHIETA até REsTrvo, mostraram clarividencia e intui~o de muitos serem lidas só pelos seus próprios autores. Algumas valiosas mono-
fenómenos específicos da língua, e neste ponto superam a maio- gráfias nem puderam ser in1pressas, táo restrito é o número . de
ria dos modernos gramáticos do tupi amazónico e do guarani do pessoas capazes de aproveitá-las ou interessadas nisso. E mesmo
um bom lin~üista, com aquetas análises espectroscópicas a máo, nao
(10) Veja-se, p. ex., a divisao entre substantivos abstratos e concretos
em quase todos os compendios. Ao lado dessas distinc;oes filosóficas (nem traduziria urna linha de um texto indígena. Esperar aprender
sempre bem conceituadas) de pouco ou nenhum interesse lingüístico, nem urna por elas urna língua seria como querer ter urna idéia do corpo hu-
palavra se le sóbre realidades lingüísticas, como a diferenc;a de tom, ascendente mano pela sua análise química. É bom que se diga isso aqueles que
e descendente, nos dois tipos de interroga~ao: a alternativa, que pede urna
resposta sim-ou-nao (o navio chegou?) · e a especificativa ( quem chegou?, lbaten1 caixa a1 lingüística indígena a1nericana e menosprezam todo
quando chegou?, como chegou?, quantos ch'!garam?). Feitura fonemica de estudo que nao venha acompanhado de quimógrafos, olivas na-
nossas línguas ocidentais, mas que merece apontada, pois que nao é universal Sél,ÍS, etc., ou que nao siga os moldes técnicos da análise descritiva -
na linguagem humana.
(11) A gramática francesa, p. ex., continua a dizer que o feminino de
haut, chaiul, sowrd, froid se obtém pelo acréscimo de um c. Ora. na língua
viva, nao desfigurada por urna escrita obsoleta, o que caracteriza .º feminino (12) PAULO REsTIVO~ Arte de la lengua guaraní (Stuttgard, 1892) p. 11.
daqueles nomes nao é um e - que nao existe (pois nao se pronuncia) - mas Cfr. t~mbém, a pp. 30-31, como a seu modo sabe dizer que nao existe a
o acréscimo de urna consoante: mase. o, xo, Si'1', frwá, t1'; fem. ot, xod, surd, categona de tempo no verbo guarani. No Suplemento da Breve N otícia de la
frwad. A gramática ensina que o plural do artigo le se faz com o simples Lengua_ Guaraní (Stuttgard, 1890), p. 65, do mesmo autor, vem um paradigma
acréscimo de um s. Ora, na realidade há duas formas de plural, nriihuma de conJuga~o verbal guarani, paralelo ao latino, precedido desta justificativa
com s, ambas com mudam;a da vogal para e aberto; a primeira ( lé-) pré- que diz tudo :
consonantal, a segunda (léz-) pré-vocálica: les jours [/éj11r], les etres . "Porque los principiantes 110 se cotisitelan, no tenietido la conjugaci6n
[lézétr]. del verbo por todos sus modos ;y tiempot,,. 'll<J la siguiente . .. ".
I
24 LEMOS BARBOSA
ANCH. ANCHIETA
O r é sempre brando, mesmo no princípio da palavra:
AR. ARAÚJO roy: frio
BETT. BETTENDORFF
Conq. Esp. Conquista Espiritual (MONTOYA) O x é como o de "xadrez".
Crest. Crestomatia (FERREIRA FRANCA)
FIG. FIGUEIRA O h é aspirado, cotno em ingles. Só aparece em tres
MoNT. MoNTOYA ou quatro pala vras.
N1c. NICOLÁS (YAPUGUAY)
S. Lour. Auto de S. Lourenfo {ANCHIETA) O g nunca se pronuncia como j, mesmo antes de e~ i
REST. RESTIVO ou y:
Tes. Tesoro de la lengua guarani (MoNTOYA)
VLB Vocabulário na .Língtta Brasüica (ANÓNIMO) nio-ingé (pron. moingué, nao 1noinjé) : introduzir
•
;
O b intervocálico é débil, próximo de v. Como no es- y, mais parece vestígio da representac;ao do y, que algum tempo se grafava
ig ou yg para precisar que nao era i ou y comum senáo o i ou y "gutural,.
panhol "caber". o.u "grosso". Cpr. as grafías Ararigboia, Jperoig, em que o g se passou a
Exceto se precedido de nasal: pysyro-b)1ra: salvo pronunciar. - De qualqu.~ r f or:na, o g intervocálico nao é oclusivo mas fri-
cativo, variante do hiato ou oclusao glotal.
O m e o n nasalizam as vogais vizinhas, n1as deven1
ser articulados claramente, embora no fim da palavra: VOGAIS
a-sem, py-teem
4. Y tem som peculiar.
GRUPOS DE CONSOANTES Obtém-se, aproximadamente, o som do y, dispondo os lábios para
pronunciar i, mas "tentando" pronunciar ii. (O contrário do u frances: lábios
para u e língua em posic;áo de i).
3.Além de nh (que é so1n simples, como em portugues),
só há nib, nd, ng. No princípio da palavra, seria erro As outras vogais, como em portugues do Brasil, na
faze-los acompanhar de alguma vogal: pronúncia padrao.
nd' o-it-i: náo o comem; ntbaé: cousa (pronuúncias erróneas: Nao se distinguem e e o fechados de e e o abertos : e e o sao um meio
indoúi, undoúi, enibaé, umbaé) termo entre aqueles timbr.~s.
Dispen~.a-se
o m ou ti quando, em pa1avra comoosta, precede vog-al ou
ditongo nasal: pys)iró-byra = pysyro-mbyra: salvo; 11hü-búera =
nhü-mbuera:
·ródas as vogais podem ser nasa is :
o que f oi campo; takaar-eé-ndyba: canavial a, é, í, o, u, y
O d no princ~pio da palavra é sempre precedido de n, SEMIVOGAIS
ainda que acaso, nos antigos documentos, esta letra nao
venha escrita; mas pode-se pronunciar só o n sem o d: 5. Há tres: i, u, y. Foneticamente, assemelham-se e
de ou nde (pronunciar nde ou ne, nunca de) : tu correspondem as vogais i, it, y, mas formam ditongo com a
Em seguida a pausa (ponto, v1rgula, etc.), b é sempre vogal que antecede ou que se segtte:
precedido de m, a inda que esta letra nao figure: afi, eu, iu, aí, eí, ii, etc. (pron. áu, éu, fu, ái, éi, íi)
baé (leia-se mbaé) : cousa úa, úe, ia, íe, ya, ye, etc. (pron. uá, ué, iá, ié, yá, yé)
•
30 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 31
que (e só quando) formam di tongo com vogal nasal: f araó a.oba (a +~ oba)
,
a11ana (pron. aüana) : ·bracelete de penas ca1 paí (pa ++ í)
Macaé mbaé (mba ++ é)
EXERClCIO
11.
a-é: digo puam : erguer-se 12. Regras para conhecer o acento ton·ico:
e..1í: diz ttú : toss1r
akang-i"tera : caveira akué : abalado Sao oxítonas todas as palavras terminadas 1) etn
potiá : peito u·í: farinha consoante, 2) na vogal 31, 3) em vogal nasal, 4) ern di~o1~go
kuara : buraco wí-ata: farinha de guerra
1noe1na : mentira guyrá : passarinho
decrescente, 5) etn e, i) o, u, ( exceto algumas partlculas
,
r-ese: por roy: frío átonas).
apyaba: macho nio-ngué : abalar
koema: manhá kapyaba: quinta As palavras acabadas em a podem ser oxítonas ou paraxítonas. Mas o
tapiá: mano ( vocat.) A A
iaguara : on<;a a das paroxítonas é sufixo.
piá : f ilho ( vocat.) íundiá : esp. de peixe 13. Há algtunas partículas e sufixos enclíticos termi-
mo-pu-á-bo : tocando kaá-ysá: cerca de defesa
mo-pu-ara : o que toca
nados em a, e, i, o ou u. Foneticamente, forman1 u1na só
ikó aib : viver mal
pyá : entranhas py-aba : instrumento de sopro palavra con1 o vocábulo anterior. Em nosso sist~ma
gu-á-bo : comendo gu-aba : modo de comer gráfico, conhecen1-se essas partículas por serem precedidas
gu-ara : o que come kuí: farelo do sinal -. As principais sao:
mo-nguí : moer s-upiá: ovo
i ú-u : ele o comeu i é-u : (ele) o disse -a, -e, -i, -u, -pe, -nte, -be, -tey -ne, -nto, -bo, -no, -(r) enie,
o-ío-puai: ele o mandou karái : arranhar -(r)amo
nd' o-kai: nao pegou fogo karaiba : hon1e1n branca Exceto re1ne, -ramo; -bae, todas as mais sao monossilábicas.
(•) O iniciante pode contentar-se com urna rápida leitura desta li<,;áo; bem
como da seguinte, voltando a elas quando necessário.
34 LEMOS BARBOSA
17. }""en6n1eno semelhante se dá, 1nas raramente, quando e) M final, seguido de vogal tonica, muda-se f acul-
se encontra111 duas vogais ig uais, urna, tonica, no fim da tativamente etn nib (e é o mais comum ) :
primeira palavra, a outra, átona, no princípio da segunda: tym+ara ==
tynib-ara ou ty11i-ara: o que enterra ; tyni+aba
obá: rosto asab : cruzar obá-'sab : aben<;oar = tymb-aba ou tym-aba : o modo de enterrar; sem+é = semb-é
aka: galho ap'y ra : ponta aka-' p3rra : ponta de galho ou sem-é: sair a parte; nhauunia: barro+oka: casa ==
nhauu1nb-oka:
casa de barro; kama: seio+y : líquido
. ==
kanib-y leite
Oss.: l. Quando as vogais sao diferentes, é possível ( embora nao
normal) a elisao de urna, em geral a átona : d) B final esporadicamente se converte en1 p:
ie- (reflexivo) : se ab: abrir i'-ab: abrir-S'.!, desabrochar
xc. r-ub ! ou xe r-up ! : ó meu pai I
2. 1fas sendo a segunda vogal i ou 11, fora de sílaba tónica, costuma
haver ditonga<;áo: .ve api + n = xe api-ü: atirou-me pedra e) B de sHaba final átona passa a p no gerúndio e
Afora esscs casos de elisao e ditongac;ao, há sempre hfato (n. 7). .,.,..... nos verbais ( s)ara e ( s}aba:
ausub: an1ar, aHsu.p-a: amando, ausup-ara: o que ama, ausup-
18. J e 1lh as vezes se pern1uta111. Junto de nasal é -aba: lugar, ten1po, modo, etc. de amar
preferido nh:
íara: senhor, 1lf : espinh~, ·nha.11 : correr, íuba: a111arelo, ía11dé D, n e nd tem entre si as mesmas alternancias que
22.
ou nhandé : nós, nosso, íak,u11iii ou nha.ku1no: estaca de canoa, íitndiá há entre p, ni, e mb, exceto as de a), d) e e):
ou nhundiá: espécie de peixe b) v. n. 3.
19 . S antecedido de i n1uda-se en1 x : nhan+ara == nhand-ara ou nhan-ara: o que corre ; nhan+aba
i+sitpé == i .,-i;u.pé; i+sy == i x y; i+suban i x uban. Mas == nhand-aba ou nhan-aba: o modo de correr; nhan+é == nhand-é
ou nhan-é : correr a parte ; a11uzna+y == amand-y ou aman-y : água
v. n. 28 d). da chuva
20. Entre a consoante final de un1a palavra e a inicial 23. P e m iniciais podem converter-se em b, quando se
da outra ( sobretudo se há enclise), ouve-se urna vogal encontram com o b final da sílaba anterior, com que se
,..
dúbia, entre i e u ( ANCHIETA ouviu .Y) : compoen1:
a-pab-ne = a-páb (i)-ne; oll-/Je :::::::: ók ( i)-pc ou 6k (14 )-Pe·; pytu-n-mc s-oba+peba == s-ó'-b·eba: folha larga ou chata; kabureyba +
= pytún(i)-me ou pytún(1t)-tne; i :rok-pyra = i xok,(i) -pyra potyra ==
kaburey-botyra : flor de cahreúva ; aba puku + =
a-buku:
Dada a natureza incerta dessa vogal, deixamos de anotá-la na escrita. cabelo comprido ; kuab+meeng == kitá' -meeng ou kuá' -beeng : mostrar
21. P, ni e 1nb se per1nutam. As vezes também b: l\1as, em geral, justa pondo-se
24. duas consoantcs
a) p inicial, nao antecedido de genitivo nem de homorganicas, a primeira cai:
complemento, torna-se 11zb : epíak+katu == epw'-katu: ver bem; ausub+bé-nhé = ausu'-
- be-nhe,•: tornar a ver
,
abá pyá : entranhas de hornero ; mbyá : entranhas (de gente) ;
xe pó: minha máo ; mbó: máo (v., porém, n. 862). A apócope é menos taxativa, se as duas consonantes
25.
b) M b inicial = ni: as vez es só se escreve b ( n. 3). sao heteroganicas :
\
3
38 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 39
O ·p refixo ro- torna-se ·no-) seguido de nasal: 35. O í eufónico pode aparecer, mesmo que seja outra
ro-ti ou no-ti; ro-sem ou no-sem a vogal seguinte :
Seguido de nasal, o r chega mesmo a diluir-se num som i + aeté == i-i aeté : ele é finíssimo
confuso entre r e n (Cfr. guarani moderno): i + apó = i-1 apó : faze-lo
poranga ou ponanga; piranga ou pinanga 36. Acontece de dar-se a assin1ila<;ao do i pelo í:
31 . Por vezes r e ·n se permutam, sem mais : *a-i-iuká = a-iuká : eu o matei
ybá ne1na (as vezes ybá rema): fruta fedorenta Na proximidade de um so1n nasal, pode o i eufónico set
karaguatá nema (as vezes karaguatá rema) : erva-babosa substituído por nh ( n. 18) :
a-í-ybo ou a-nh-ybo: eu o frecho
32. Dao-se também raros casos de desnasala~ao:
a-í-ami ou a-nh-ami: eu o espremo
mo-sa-sai ~ mo-sa-sai : espalhar ; mo-su-sung ~ mo-sú-sung :
sacudir; itniá? ...., unta? : onde?; mará-t-ekó ~ maril-t-ekó: traba- 37. R final se permuta por t (pron. comum dos tamoios;
lho; mará-é-tenhéa ~ nzará-é-tenhéa: fábula, patranha; a-pysy- entre as outras tribos, elegante 1nas rara) :
ka ~ an(ga)-pysj•ka (cfr. guarani): consolado; hé gué ...,__ hé
gflé : olá; pysá-penia ~ p31sií-pema: unha do pé ; aniá-tiri _.__ ama-
mosapyr =
mosapyt : tres ze r-a'Vr ! == ze r-a'Vt ! : ó meu f ilho !
a-iur = a-íut : vim a-s-ekar == a-s-ekat: procurei-o
-tiri: raio ; Tupa ~ Tüpii: t Deus
42 LEMOS BARBOSA
\
I
kunha (para seres humanos)' s-aküiii-bae e kitnha (para As regras e os nomes sao os mesmos para o paren-
animais): tesco de animais.
tapiira: anta tapiira s-akuai-bae : anta macho ; 44. Certas partículas sao de uso exclusivo ou preponde-
- kunha: anta f emea
marakaiá : gato-do-mato 11iarakaiá kunha : gata ;
rante de um sexo:
- s-akuaí-bae : gato sim: pá ( só de homens) ; ee (sobretudo de mulheres)
mboia : cobra niboía s-akuai-bae: cobra macho; nao: aan ou aan-i ( comum) ; aan-i rei (h.) ; aan-i reá ( m.)
- kunhii: cobra f emea
membyra: f ilho, filha (de mulher) ; xe 1nembyr' apyaba: meu 45. Algumas raras palavras só se usam de homem para
filho; ze 11iemby' llunhii: 1ninha filha homem:
As línguas dos povos pastores e criadores costumam dispor, quando nao he! ( posposto) : olá
de masculino e feminino, de nomes difercntes para cada sexo, naquelas espécies ahe: ele, aquele, fulano (homem referindo-se a hon1em)
cm que o macho a presenta utilidade diversa da femea. Assim, boi, vaca; ca-
valo, égua; galo, galinha, etc. Chega a haver nome especial para o f ilhote, e
até para as suas várias idades, quando tem utilidade específica: bezerro, tou-
rinho, bezerra, novilha, pinto, frango, leitao, marrao, etc. Os tupis nao NúMEROS
eram criadores, e as poucas espécies de animais que domesticavam (patos, pom-
bos, papagaios, canindés, macacos) nao ofereciam interesse diverso segundo o
sexo ou idade. Nao houve, pois, diferencia<;áo lingüística. Os torneios guaká 46. Nao há número gramatical. As palavras corres-
apyaba ou gúaká kwihii, tanto quanto em portugues "gaivota macho" ou
"gaivota f emea", nao implicam genero gramatical; exprimem o sero real pondem igualmente ao nosso singular e ao plural:
por meio de adjetivo ou aposto, como poderia:n exprimir urna qualidade: t-esá-y lágrima, lágrimas; ypeka pato, patos ; ygapenunga onda,
" gaivota gorda ", " gaivota magra", " boi preto ", " boi branco ". Só se devem
usar esses circunlóquios quando há necessidad~ de precisar o sexo. - Espora- ondas
dicamente tinham nomes diferentes macho e femea, quando pela forma, ta- O sentido se colhérá do contexto.
manho ou cor aparenta vam diversidade de espécies : usá (macho), kunduru
(femea). 47. No tupi colonial, passou-se a empregar etá "muitos",
para realc;ar a pluralidade ( com apócope do a final dos
43. Alguns nomes de parentesco diferem segundo o sexo
paroxítonos) :
da pessoa a que se referem:
pirá: peixe pirá etá : peixes
"filho", com referencia ªº
pai, é t-ayra; com referencia mae, a syry : siri syry etá: siris
é menibyra; para o ho1nen1, "sogro" é t-atuuba, "sogra" é t-aí..ró; paka : paca pak' etá : pacas
para a mulher, respec~ivan1ente: 11ienduba e mendy. guyratinga: gar<;a-branca guyrating' etá : gar<;as-brancas
Leva-se em conta ainda o sexo do parente intermediá~ Nao era esse, porém, o primitivo sentido, e seria
.
r10: erróneo abusar daquele indefinido, principalmente se o
"tío", irmao do pai, é o mes1no que "pai": (t)uba; "tio", plural já se subentende:
innáo da n1áe, j á é tutyra.
mokoi pirá: dois peixes (nunca nwkoi pirá etá)
Aliás toda a nomenclatura do parentesco obedece, em tupi, a um esquema
liverso do nosso. A reduplica~ao pode oferecer urna -:nodalidade de plural; v. Li<;áo 50.ª.
LEMOS BARBOSA I
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS
48. Nao há nomes abstratos de qualidades e semelhantes,
Ll(;ÁO 5_ri,
como beleza, bondad.e, cor, tamanho, etc.
Na versáo, deve-se dar as frases tupis urna forma concreta. P. ex., "A
paciencia ganha da affü;ao" se verterá "O homem paciente ganha do homem
aflito", ou cous.a equivalente. QUALIFICATIVOS
Há, porém, a tendencia para substantivar tanto os
adjetivos como os infinitivos: 49. Sao invariáveis. Posp6em-se ao substantivo. n.ste,
p,oranga: belo = beleza se é oxítono, nao sofre alterac;io:
osanga ( t) : paciente == paciéncia
angatura1,na : bondoso == bondade itá: .pedra tinga: branco itá tinga : µedra branca
ío-ausuba : amaren1-se ( uns aos outros) amor y: no pukit : compri<lo y puku : rio comprido
nhe-mo-yro : irar-se == ira
v. também, sobre saba, n. 826. Se é paroxítono, - antes de vogal, perde a última
Aliás, a distim;ao substantivo-adjetivo-verbo é ainda menos pronunciada que vogal; antes de consoante o.u semivogal, perde a última
nas línguas européias.
sílaba:
taba : aldeia ybaté: alto tab' ybaté : aldeia alta
BIBLIOGRAFIA ybá' piranga : céu vermelho
ybaka: céu piranga: vermelho
Generos - REsT1vo 16-17; CAETANO 7-8; AnAM 20; L. BARBOSA 168. aoba: veste tinga : branco aó' tinga : veste branca
Números - ANCHIETA 8v-9v; FrGUEIRA 3-4; MoNTOYA 2; RESTIVO 11-12;
ADAM 20-21; L. BARBOSA 168-169. ~{as v. n. 16 ÜBS.
y:
.
rtO toby: verde, azul y oby: rio verde
abá: hon1em setá: muitos abá etá: muitos homens 56.
ybaka: céu tuna: negro ybak' una : céu negro azeite : nhandy árvore ; madeira : ybyrá
t-esá: olhos toby : verde, azul t-esá oby: olhos azuis resina: ysyka flor: ybotyra
flauta : mimby amarelo : íuba
serra: ybytyra viscoso : pomonga
Mas t e s sao meros pref ixos de classe (v. n. 852). seco : tininga
Neste CURSO · figuram entre parenteses, após o adjetivo:
vento : ybytu
prato: nhae frio: roy, roy-sanga
etá (s), una (t) menino : ki.inumi cheio : ynysema ( t)
estéril : panema pintado : pinima
51 . Note-se que há adjetivos que tem t ou s fixos, como brilhante: beraba üonito : poranga
parte do tema : 57. A flauta comprida. A orelha chata. As ondas verdes. Casas
tinga: branco, tinga: enjoativo, tininga: seco, tuí-bae ou brancas. Muitas casas brancas. Azeite amarelo. Resina viscosa.
tuíá ( -bae) ou tunhá (-bae) : velho, tekó-kuaba: ponderado, taigaiba: Menino bonito. Vento frio. Lágrima brilhante. Flor seca. Flor
ardoroso, synia: liso amarela. Mato branco. Peixe seco. Rio vermelho. O rio bonito.
Rio grande. Prato cheio. Rio estéril ( se1n peize). Rio brilhante.
52. Tais sao também certos adjetivos formados do infinitivo de v,erbos in- Arvore vermelha. Madeira seca. .A... serra negra. Madeira pintada.
transitivos : summga: barulhento, tytyka ou tittitka: palpitante, tataka: tiri- Peixe pintado. Peixe amarelo. Azeite branco. Azeite azedo.
tante, tyaro: amadurecido. Em todos, t e s f azem parte da palavra.
BIBLIOGRAFIA
EXERCiCIOS
53. ANCHIETA Sv-9; FIGUEIRA 69; MoNTOYA 2-3.
kururu : sapo
pira: pele
kaá: mato
oka: casa
-
akanga : cabec;a ata (t): duro '
nambi: orelha una ( t): preto
íurit: boca aia ( t) : ácido, azedo
apeku: língua peba: chato
pereba: ferida puku : comprido
parana: mar panenia : aziago, inútil
55. luru una. Na1nbi peba. Kaá panema. O.ka puku. Ygá' peba.
Mboí una. Al~ang usu. Akang ata. Pir' una. Parana pu.ku. Paran'éí,
o~y. Y Panen1a. T-at~ piranga. Yby ata. Kururu peba. Tatu peba.
Pirá una. Parana tinga. Parana sununga. Iuru aia. Pirá tininga.
CURSO DE TUPI ANTIGO 51
xe : meu, minha, meus, 1ninhas 61. "Seu" referente ao su jeito da orac;ao principal se
nde : teu, tua, teus, tuas verte por p, ainda que esteja em orac;ao subordinada de
i (relativo) : seu, sua, seus, suas ; dele, dela, deles, delas sujeH:o diferente:
o (reflexivo) : seu, sua, seus, suas ; dele dela deles delas
Japi quebrou o arco de Itajibá, porque (Japi) quebrou o seu
iar:dé ( incl.) : nosso, nossa, nossos, noss;s · ' '
anzol (de Japi mesmo) : o pindá (su jeito idéntico)
oré ( excl.) : nosso, nossa, nossos, nossas
Japi quebrou o arco de Itajibá, porque Itajibá quebrou o seu
pe: vosso, vossa, vossos, vossas
anz ol (de J api) : o pindá (su jeito diverso)
asé : da gente
Japi se zangou, porque Itajibá quebrou o seu anzol (de Japi): o
pindá
59. Oré é empregado nos casos em que "nosso" nao inclui Japi se zangou, porque Itajibá quebrou o seu anzol (de Itajibá):
a pessoa ou as pessoas cotn quem se f ala. Nos outros o pindá
casos, íandé: Como se ve, há casos de ambigüidade, como em portugues.
Sobre pe, v. n. 29.
f "n1ett" r "teu" f ·'teu"
1andé =~
l
ou
"nosso"
ma1sl
• 1
ou.
"vosso"
ore=
·,
" nosso
" menos
1 e
·'vosso"
62.
(n. 34):
I, antes de outro .i ou de y, recebe um i eu-foñico
....
i-i ygara: a sua canoa
iandé ygara: nossa canoa (dizen1 entre si os donos da canoa). i-i ini : a sua rede
oré yga.ra: nossa canoa ( diz un1 ou vários donas da canoa a um ~asirü "companheiro" nao admite o possessivo i: xe ir.U meu co;npanheiro,
ou vários que nao o sao) . nde irü teu companheiro, irü o companheiro dele, o irü, etc.
iandé r-uba: nosso pai ( dizem entre si os f ilhos do mesmo pai).
oré :-ub!: nosso pai ( diz o filho ou os filhos a quem nao é seu
O s que se segue ao i, passa para x ( n. 19) :
1rmao ). sy: mae i .xy : a sua mae
sa1na : corda i .xania: a sua corda
landé se permuta com nhandé, sobretudo antes de nasal (n. 18).
52 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 53
63. 1 e o servem para o singular e para o plural tanto do 68. Verter apenas o que está grifado:
possuidor como da cousa possuída: .. A vossa ro,a. O nosso parente ( meuteu). Joáo cortou o seu
~
i py, o py: seu pé (dele, dela, deles, d~las) (próprio) pé. Caiu na cabe fa da gente. Os nossos ca1npos (nao teus).
seus pés (dele, dela, deles, delas) P. roubou a canoa dele (de J.). Traze o meu machado grande. Olha
as nossas belas flores (nossas e vossas). Os teus cabelos vernielhos.
64. Asé "da gente", como em portugues, pode equivaler A vossa faca amarela. O nosso (meu e teu) céu azul. Os chefes
a 1.ª p. pl.: c;hamaram os seus dais guerreiros e mandaratn que eles trouxessen1 os
seus arcos (deles dois). Os n1eninos tiraram com suas maos o
asé anga: a son1bra da gente; a nossa sombra leite dela (da cabra). O nosso senhor pediu aos seus guerreiros que
asé nambi: a orelha da gente; a nossa orelha nos dessem o seu feijao (dele). J. comeu as suas favas e os seus
frutos. O guerreiro tomou o sei-i machado e cortou o bra,o déle (de
J.). M eu senhor, com' seus machados, cortou os braros dela. O
EXERCiCIOS companheiro déle me deu os seus tres arcos verdes.
65.
pó: máo nhya : entranhas, cora~ao BIBLIOGRAFIA
py: pé t-atá: fogo
íybá : bra<;o yby: terra ANCHIETA 10v-12v; F1GUEIRA 66, 69, 80, 83-84; MoNTOYA 4-5; 40';'42;
py-sa : dedo do pé nhü: can1po REsTrvo 23-24; 115-116; 118; CAETANO 10-11; AnAM 21-26; L. BARBOSA 170.
po-a : dedo da máo ybá: fruto
aíura: pescoc;o oiepé: um
tí: nariz, focinho, bico mokoi: dois
aba: cabelo mosapyr: tres
67.
"' . -
. guarini
guerre1ro: faca: kysé
chefe : niorubixaba mato, planta : kaá
senhor, dono: íara f ava: kumandá •
arco: guyrapara, )ibyrápara feijáo: kumandá-i
machado : íy leite : kamby
grande: guasu ( n. 99)
4
I
72. Há ainda aé, ahé, aoa. e erika "esse mesmo, aquele mesmo, -a, etc.".
Valem para ambos os generos e números. Excetua-se ahé, masculino e singu.-
lar ( só de h.) ; também significa "este".
Ll(;.AO 7.ª . ,
seguir ae
73. A todos os demonstrativos se pode
"mesmo":
kó aé : este mes1no, akó aé ou ak' aé : aquele mesmo, etc.
DEMONSTRATIVOS
74. O substantivo, quando expresso, vem depois do
69. Distinguen1-se conforme a proxúnidade e a visibi- demonstrativo:
lidade: kó abá o·-só, aipó-bae. o-ur: este homem f oi., aquel e veio
A • • • • e ,
este, esta, estes, estas, tsto; ets aqu1, ets que Jª:
75. Os demonstrativos podem ter f un~áo adverbial : a-iur ikó : eis que vou
kó ou ikó ( cousa ou a<;áo que se esteja vendo) (lit. eis que venho : modo de se despedir) ; a-só a aé : eis que vou ; a-só iá,
a, anga, ang; ia, ianga, iang ( cousa que se veja ou nao) a-só ikó, a-só-n' ia, a-só-n' ikó: eis que vou; pe-só ui: eis que vos ides;
, - . . .
a-so a-ne: eis que 1re1.
esse, -a, -es, -as, -o; aquele, -a, -es, -as, -o; eis aí ou, lá:
kueia, kuei, kúé } PRONOMES PESSOAIS
ebo-kueia, ebo-k.u ei, ebo-kúé == que se está vendo
ebo-uinga, ebo-ui, cb-uí, e-gui, e-ui, ui 76
eu: xe ( ixé) nós: iandé ( incl.), oré ( excl.)
tu : nde ( endé) vós: pe (pee)
a-ipó
a-e
,
a-kó
,. .. a-k"'"
l= que náo se está vendo
ele, ela: i
a gente: asé
eles, elas : i
, ,
77. e ou ae: mesmo
.,,.,, , ,
ixe e, ixe ae, xe e, xe ae: eu mesmo, eu mesma
endé é, endé aé, nde é, nde aé: tu mesmo, tu mesma
aé aé : ele ( aquele) mesmo, -a, -os, -as Ll(ÁO 8.ª
iandé é, iandé aé : nós mesmos, nós mesmas ( incl.)
oré é, oré aé: nós mesmos, nós mesmas ( excl.)
peé é, peé aé, pe é, pe aé: vós mesmos, vós mesmas
VERBOS PREDICATIVOS
BIBLIOGRAFIA
78. Os verbos ser e estar, como verbos de ligac;áo, nao
Demonstrativos - VLB passim; F1GUEIRA 5, 85; MoNTOYA 5; RESTIVO tem correspondentes em tupi. Junta-se simplesmente
26-28; CAETANO 70; ADAM 32-34; L. BARBOSA, J.Vova Categoria 67-74.
Pronomes pessoais - ANCHIETA 10v-12v; FIGUEIRA 66; 69; 80-84; o pronome sujeito ao predicado. ~ste pode ser substantivo,
MoNTOYA 4-5; REsTrvo 23-25; 115-116; CAETANo 10-12; 70-71; ADAM 21-26;
L. BARBOSA 170.
adjetivo, pronome ou advérbio:
:4 ou aé - ANCHIETA 53v-54; FIGUEIRA 140; MoNTOYA, Tesoro 17:. xe marangatu : eu ( sou) bom iandé ou oré marangatu: nós
°R2sTIVO 117-120.
(somos) bons
' nde marangatu : tu ( és) bom pe marangatu : vós (sois) bons
i marangatu : ele ( é) bom i marangatu : eles (sao) bons
Chamaremos " verbos predicativos " as palavras assim conjugadas.
79. Quando o predicado é um adjetivo: 1) vem depois
do su jeito; 2) e se é paraxítono, perde a última vogal:
piranga : vermelho xe pirang: sou ( ou estou) vermelho
angaipaba : ruim i angaipab : é ruim
kagu-ara: bebedor oré kagu-ar: son1os bebedores
akai1t : caju eé ( s) : sápido (doce ou salgado) cachoeira é branca. Os montes sao altos. A barata é chata. O céu ·
1narak1tiá: maracujá aruru : tristonho é azul. A árvore é firme. A carne ( s-oó) está rija. O fogo é
kyrá: gordo por-ausub-ara : compassivo quente. Esta fruta amarela é amarga. Aquela fruta vermelha é doce.
angaibara : magro nhe-ran-eyma : cordato Aquela n1inha fruta preta está azeda. Aquela cachoeira alta é bonita.
kyá: sujo osanga ( t) : paciente Esta minha flor é bonita. Aquela é f eia.
asy (s) (xe): doer angaipaba : mau, ruim
maraá'-bora : doente katu: bom BIBLIOGRAFIA
aiba: ruim ; intransitável angatura1na, marangatu: bom
poxy: nojento aysó: formoso ANCIIIETA 20-21; 38; 46-47v.; FrGUEIRA 36-53; 65-68; VLB 390; MoNTOYA
46-50; RESTIVO 42-44; 46-47; CAETAKO 10-11; ADAM 38-39; 78-81; L. BAR-
poxy-aiba: feio aeté: ótimo BOSA 170.
abaité: medonho matueté : ótimo
93. Por afinidade, aiba "ruim (fisican1ente), estragado, impraticável" e
poxy "nojento" tomam o sentido de "mau (moralmente)". Poxy tarnbén1
o de "feio".
94. Et- {s) "que tem sabor", seja doce ou s.algado {contrário de "insí-
pido") : y eé água salgada (do mar) ; ybá ce fruta doce; pirá ee peixe salgado.
97.
cachoeira : ytu quente : akuba ( t)
lua: iasy redondo : apua
carne: oó (s) forte, duro, firme: ata ( t)
barata: arabé rijo: iyka
98. Eu sou índio. Ela é mulher. Tu és pajé. nle é bebedor. Eu
sou chefe. N ós somos guérreiroG. Vós sois bonitos. nie é vermelho.
Nosso chefe é bom. A pedra é alta. Vossa canoa é comprida. Eu
sou bom chefe. Güiragua<;u é un1 chefe forte. Os nossos guerreiros
sao imprestáveis. A lua é redonda. A cachoeira é redonda. A
Aldeia tupi (THEVET)
CURSO DE TUPI ANTIGO 63
anhé-n' akó (VLB 116): assim é; yby anhó-n' ipó asé r-oó'! (AR. 47):
é acaso só terra a nossa carne?; ixé r' akó ou ixé r' ak' aé
(VLB 214): eu era (aquele)
EXERC!CIOS
106. Ll9AO 10.ª
ybyty-gaaia : vale tapiti: coelho
yby-peba: vargem peyba : trilhado
kf'tara: toca, cova kUá-gfta.su : grosso e !"oli~o
mundé : armadilba. ubi:caba ~ t) : enorme VERBOS
107. Há alguma confusao entre "rio" e "mar". No guarani "mar" é pará, 111. Há duas conjuga<;óes: l.ª) verbos de pronomes
"rio" y ou, quando volumoso, parana. No tupi, "mar" é parana e "río" y
ou y-gúasu. Os vocabulários nao mencionam pará no tupi, mas pelos nomes pacientes ze, nde, i, etc.; 2.ª) de prefixos ou pronomes
geográficos ve-se que tanto paran-a como pará f oram empregados para designar
o mar e os rios mais caudalosos. agentes a-, ere-, o-, etc.
Correspondem aos dois tipos de frases : equacionais e narrati vas.
108. J a-peb-usu n' akó kururu. S-ubi.rab n' akó ybyty-giiaia. Yby-
-peb-itsu n'ikó. 1 peyb n' a.kó tapiti kuara (VLB 388). S-ub·ixab-usu n' 112. Já conhecida a primeira ( n. 78), eis o paradigma da
ikó ybyrá. 1 a-sang-usu-guasu n' ikó pe irü. 1 a-sang-i kó pitang-i. segunda:
I aib-ne y-guasu. S-eburusu r' akó nde mundé. I aib xe tnundé-gíiasu.
l. kuá-guasu-ne aípó ybyrá una. N de r-ubixab; ixé, xe miri. 1 katu n' bebé: voa.r
akó nde íy miri. N de iy-guasu i aib.
109. (xe, ixé) a-bebé:
. ,.
voe1, voo
regato: y-ekó-aba tacape: ybyrá-pema (nde, endé) ere-bebé: voaste, voas
espigao : api-pema ladeira : yby-ama o-bebé: voou, voa
(íandé) ia-bebé: voamos, voamos ( incl.)
110. O mar é grande. O regato é pequeno. Teu nariz é pequeno. (oré) oro-bebé: voamos, voamos ( excl.)
Orelha grande. Tua orelha é grande; a minha é pequena. Teu (peé) pe-bebé: voastes, voais
irmáo é "orelha grande". Passarinho. Teus pés sao pequenos. Eu o-bebé: voaram, voam
sou pequeno ; tu és grande. Aquele pau é achatado. Meu tacape é
grosseiráo. ~ste homem é rechonchudo. Aquela crian~a é achata-
dinha. Aquele teu machadinho está ruim. É enorme esse homem. Os pronomes entre parenteses só aparecem quando se
É urna ladeira enorme a.quela. É achatada.o aquele espigao. quer dar maior realce ao sujeito. Os prefixos a-, ere-,
o-) etc. sao, em geral, imprescindíveis.
BIBLIOGRAFIA
Aumentativo - ANCHIETA 13-13v; FIGUEIRA 80; RESTIVO 19-20. ÜBs.: l. !a- é inclusivo, oro- exclusivo (n. 59). Antes de sílaba nasal,
'Diminutivo - ANCHIETA 54; FIGUEIRA 140; MONTOYA 7; R.EsTIVO 21; fo- se torna nha- (n. 18).
EcKART 8. 2. Quando o tema do verbo com.~r;a por i ou 1.t pré-tonicos, estas vogais
Partículas de realce - ANCHIETA 57v; VLB passim; MoNTOYA 19; REs- podem semivocalizar-se, formando ditongo com a vogal do prefixo pessoal
TIVO 113-114; 202-214. {n. 17 ÜBs. 2). Nao sendo 'fenómeno claro nem constante, nao se indica na
escrita.
CURSO DE TUPI ANTIGO • 67
66 LEMOS BARBOSA
EXERCfCIOS
TEMPOS DO VERBO
114. Conjugar no futuro:
113 . O verbo tupi nao conhece a no~ao de tempo : exprime apenas um •
processo ou ac;áo ( ou urna equac;5 o~ s~ o verbo é predicativo). Na sua forma iuká: matar s-eíar: deixar
geral, o indicativo aplica-se a qualquer tempo. É mais comum traduzir pelo k er: ,dormir
.
seni: sa1r
passado. O nosso presente gramatical supóe sempre algo de passado.
O futuro, como em nossa linguagem familiar (" eu vou e trago-o"), pode mano : morrer s-endúb : ouv1r
ser expresso pela forma geral. Quando o futuro implica resolufao ou desejo nheeng: falar s-enoí : chan1ar
de quem fata, confunde-se com o modo deliberativo ou permissivo. É usada pab : acabar-se s-epíak: ver
também a partícula -ne, guando há urna expectativa de quem fala: , .
pak : acordar so: 1r
pytá: ficar ytab: nadar
FUTURO kai: pegar f ogo nhan : correr
PRIMEJRA CONJUGACAO pira.ng : ser vermelho re1n: ser f edorento
xe maenduar-ne : eu me lembrarei
nde maenduar-ne : tu te lembrarás ORDEM DAS ORA<;OES SIMPLES
i niaenduar-ne : ele se lembrará
íandé 1naenduar-ne: nós nos len1braremos ( incl.) 115 · O su jeito pode vir antes ou depois do predicado,
oré maenduar-ne: nós nos lembraremos ( excl.) mas o pref ixo agente precede sempre o verbo. O objeto
pe maenduar-ne: vós vos lembrareis direto, se é substantivo, vem depois do verbo, mas sao
i 1naenduar-ne: eles se lembraráo
possíveis outras coloca~óes, desde que nao se prejudique
SEGUNDA CONJUGA(;AO a clareza:
a-bebé-ne: voare1 Pindobuc;u viu o 1nar: Pindobustt o-s-epiak parana ou Pindo-
, busu parana o-s-ep,lak ou paranii Pindobusu o-s-epíak ou o-s-epwk
ere-bebé-ne : voaras
o-bebé-ne: ele voará paranii Pindobusu
ía-bebé-ne : voaremos ( incl.)
oro-bebé-ne: voaremos ( excl.) 116. O objeto pode-se colocar entre o prefixo agente e
pe-bebé-ne : voare1s
. o verbo:
o-bebé-ne: voaráo matei urna n1ósca: a-1nberu-íuká; matou un1a n1ósca: o-1nb·eru-
i 1narangatit-ne : ele será bom; en1ona-ne : será assim ; xe r-osang- -iu a,
,. k
-ne: serei paciente; ixé-ne: serei eu 117 Neste caso, se é substantivo paro:xitono, <liante de
Alguns autores costumam registrar o i eufónico (n. 20) entre o tema consoante ou semivogal perde a última sílaba; <liante de
terminado em consoante e a partícula -ne: x e maendua.,....i-ne.
vogal J!erde a última vogal ( n. 16) :
A partícula -ne ocupa sempre o fim do período: matou urna on<;a : o-iaguá'-íuká ( wgfiara .. oni;a) ; arrancou cabe-
kori ere-ikó xe r-oryp-á'-pe xe pyr-i-ne (Ar. 91): hoje estarás los: o-ab' -ok (aba: cabelo ; ok : riT'rancat)
junto de 1nim no meu lugar de felicidade
118. O objeto indireto e os outros complementos tem a mesma variedade de
'\J'áo há outros tempos. Em vez da categoria de "tempo", desenvolveu-se colocai;áo do portugues. Evita-se, poré:n, colocá-lo entre o verbo e o obj.eto
mais em tupi a de "aspecto", que exprime as modalidades do processo direto.
verbal, e nao o momento em que se verifica o processo (v. n. 1021).
6S LE:MOS BARBOSA CUkSO bE TUPI ANTIGO 69
5
70 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 71
mo-ngit.i: derrubar anio, ... amo, .. . : un1 ... out ro ... 131.
ra-só : levar guá: ptc suj. indet. 3.ª p. pi.
mo-nhang : f azer pytá: ficar entrevado : apara surdo : apysá-eyma
coxo: pa.r -í vea.do : suasu
coxear: par-i ( xe) 1nais para cá: kybo, kybo ngoty
130. Abá o-i-n·tonhang o taba. Kurun·t i o-y-e-ra-só. Kunhá o-iepeab- mudo: nheeng-1tj nheeng-
-ar. Iepeaba i tining. A ·nw.na o-i-nto-akyni iepeaba. Kimrasy o-i-mü- -e'Y'lna mais para lá: anio, anio ngoty
-akuí iepeaba. Kuarasy o-iepeá-m.o-akui. Yb31tu o-i-mo-ngui ybá. comida : nibi-'ú tan1bém : abé
T-atá o-i-mo-kang aoba. T-obaiara ze anania o-iuká. lru
( n. 62) o-güe-r-ekó uub-etá. X e kybyra anió i py-teem, xe kybyra
amó i py-bang. X e tutyra i arcá. . O-lianhe1n xe iy. 0-mim gi'tá nde 132. A mulher apanha lenha seca.. faz a comida. Os passarinhos
ygapema-ne. 0-gue-r-ur guá nde sy. Akuti o-ú akaiu. Y pe ka comem a comida. Minha n1ae escondeu o machado dela. Tu trou-
o-y-ú. Güyratinga o-pirá-ú. 0-pytá gWá-ne. xeste o seu tacape. O veado comeu as frutas. Nós trouxemos o
vosso companheiro. Eu vi muita Uenha seca. A chuva molhou a
lenha. Esconderam os nossos machados. Perdi ( sumiu) o meu
machado. Traze mais para cá esse entrevado. Leva mais para lá
esse coxo. ni.e é surdo. É mudo também.
BIBLIOGRAFIA
136. supé
1) "a, para" (dativo) : a-i-nieeng nde r-uba supé: dei-o a teu pai
2) "em busca de, buscar": e-ior nde r-uuba supé: vem buscar tuas
LICAO 11.ª flechas
3) "contra": tapy'JÚJ o-i'-ereb i xumara supé: os tapuias se voltaram
contra os inimigos dele; a-nheeng nde r-itba supé (FIG. 122):
PREPOSI~OES pelejei contra teu pai
133. Colocam-se depois da palavra que re.g·em. Sao 137. koty ( após nasal ngoty)
. ,.,
pospos1~oes. 1) "para o lado de" ( com v. de n1ovimento) : íaguara o-só oka
134. suí koty: a on<;a f oí para o lado da casa; eboui nde r-esá por-ausub-
-ara e-ro-bak oré koty (Ar. 2): esses teus olhos misericordiosos
1) "de" (proveniencia e separa<;áo): a-sem taba suí (ANCH. 43): volve para o nosso lado
saí da aldeia; a-i-peá i xuí: apartei-o de sua máe 2) "para o lado de", "ao ou do lado de" (v. de repouso). Menos
2) "fora de": oro-ikó taba suí: estamos fora da aldeia usado : okara koty : do lado da rua; Tupa T-uba. . . é-katu-aba
3) "sem" (neg. de companhia), "e nao": t' a-só nde su-í-ne: irei sem koty s-en-i (AR. 3) : está assentado a direita de Deus Pai
ti (e tu nao) ; ere-s-enoi xe r-uba xe sy suí : chamaste a meu pai
sem minha mae 138. pupé
4) "para nao" : a-só nde r-ep1ak-a suí: vou para nao te ver 1) "em": ikó yby pupé (AR. 24): nesta terra; oré taba pupé: em
5) "(por causa) de": xe r-un t-atá.-tinga suí (VLB 177): estou negro nossa aldeia; ara mosapyra pupé (AR. 3) : no terceiro dia; T-uba
de fuma<;a; t-oryba sui a-popor (VLB 385): salto de alegria r-era pupé (AR. 1) : em nome do Pai
6) comparativo; v. n. 173 s. 2) "dentro" : maraká pupé: dentro do maracá; a-ar nde ygara pupé
7) "a" (raro): o-leanhem ygara xe suí (VLB 337) '. desapareceu-n1e (ANcH. 40v.): embarco em (dentro de) tua canoa
a canoa; s-asy xe akanga xe swí (VLB 194) : dói-me a cabe<;a 3) "co1n" (dentro de alguma cousa) : o-ur ixé pupé: veio cómigo
(p. ex. na canoa); a-ar nde pupé (ANCH. 40v.): embarco con-
135. r-upi tigo ; caio em teus costumes
4) "com" (instrumento) : o-iuká ygapema pupé : matou-o com o
1) "por" (lugar) : oro-nhan yby r-upi: corremos pelas terras tacape; t-esiiia pupé ·(AR. 137) : com alegria
2) "conforme, segundo" : pe-guatá xe sy r-upi: andais como minha 5) "entre, juntamente com" : o-gue-ra-só xe r-uuba o mbaé pupé:
mae; <rikó-bé nde r-ekó r-upi: vivo segundo a tua norma levou minhas flechas entre seus objetos
3) "a medida que", "enquanto": xe nheenga r-upi (VLB 199): em ÜBS.:i pupé "junto com isso, com tudo isso, além disso": o-iuká
eu falando o-ú i pupé: mataram-no e ainda o comeram; i pupé nd' ere-íabab-i-
4) "com" (raro): a-ikó kunha r-upi (ANcH 43v.): casei-me com -pe?: e ainda nao fugiste ?, abá byk-ag-úer-eym-amo s-ekó pu,pé
a mulher -- l • -- •
niemé (AR. 4): juntamente com ser ela também virgem
74 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 75
t' a-r-ur amó t-e-mbi-ara, amó akang-uera bé, mitam-baba suí- bolsa do gambá : sabé-aió boje: íeí, oieí (pass.), kori ( fut.)
-no-ne: trarei, do combate, uns prisioneiros e urnas cabe\as quati: kuati ontem : kuesé
sombra: anga amanhá : oira, oirandé
147. Os verbos e ora~6es ligadas pela conjun~áo "e" ou 1) brincar : nhe-11io-sarai aquí: iké
se justap6em simplesmente, ott 2) se servem de bé, abé, descer : g1ícíyb 1
alguém : anió abá
etc., ou 3) do gerúndio ( n. 425) :
151. [Perdi] (Sumiu) o meu tacape e o meu machado. Eu encon-
vi-o e matei-o: a-s-epiak, a.-íuká (lit. vi-o, matei-o) ; a-s-epiak, trei teu machado dentro da nossa canastra. N ós saímos da" taba
a-íuká bé (lit. vi-o, matei-o também) ; a-s-epíak, i íuká-bo (lit. vi-o, ontem de tarde ; atravessamos o lago; chegamos ao mar de noite, e
matando-o) voltamos hoje de manhá para a taba. Nossos companheiros saíram
Mas v. n. 1060. hoje e voltaráo hoje mesmo (kori-é). Cunhan1beba foi ontem de
EXERCfCIOS noite a minha taba, es~ondeu minha rede dentro da canastra dele e
148. atirou-a ( o-ítyk) ao mar. Por vossa causa passei por esta taba. Os
n1eninos embarcaram comigo; as n1eninas embarcaráo com Cunham-
membyra : filho, filha guasem [ supé] : achar, chegar a
beba. ·Os passarinhos voam no céu ; os peixes nadam no lago ; o
(de m.) . veado corre pelos campos. O gambá leva os seus f ilhos numa bolsa.
itpaba : lago ar: ca1r
O quati desceu da árvore, subiu na pedra [e] atirou-se a água. Os
andyrá: morcego kuab : passar
meninos brincam a sombra das árvores.
mandioka: mandioca asab ( s) : atravessar
koema: manhá meeng: dar
karuka : tarde karu : comer ( intr.) BIBLIOGRAFIA
pytuna : noite ybaté : alto ( subst. e adj.) Preposi~0es ANCHIETA 40-46; FIGuEIRA 120-126; MoNTOYA 70-76;
R.ESTIVO 11-16; CAETANO 64-69; ADAM 29-32.
149. Y-ekó-a.ba o-ar y-guasu-pe; y-gf'tasu o-ar parana-me. Akuti Conectivos - A NcHIETA 41-46; F1GUEIRA 123-148; MoNTOYA 74-81;
o-i-pysyk akaiu o pó-pe. la-pytá kaá-pe. N de sy ixé a-iuká. I CAETANO 68.
I
~o LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 81
1nara-pe?, mara he?: co1no?¡ mbaé-pe.P, 1nbaé he?: que? 164. Abá-pe kó kunha-tai? Aipó l~unha 1nembyra n'ikó kunha-tai.
Uma-bae? Aipó kunha angaibara. };fbaé kunha angaibara? Mará-
160. O advérbio sera "talvez, duvidosamente, acaso" serve -na1no-pe ere-porandub? - Manió-pe kúesé ere-ikót Kuesé ebapó
a-ikó. Mamó r-upi-pe ere-kúab? lké r-upi. Mbaé-re1ne-pe? Py-
também de interrogativa dubitativa: tun-me. Mara! Pytun-me. - Abá sy-p' ikó guaíbi? Nde membyr'
asé sy-ramo bé sera T·upa o sy mo-ingó-u? (AR. 37) : acaso irü sy n'ikó gitaibi. - Mara-bae pirá ere-s-epiak? Piraiuba. Mbaé!
Deus constituiu sua mae como mae nossa também?; mara s€ra Piraiuba. Mará-bae pé-p' ik6! Piraiu' pé. Abá-pe o-i-pé-ok pi-
t-ur-eym-i? (VLB 260) : por que será que nao vem? raiuba? lxé a-1.-pé-ok. Mara-neme-pe'! Kúesé, karuk-e1ne. Manió-
-pe? Okar-pe. Abá ndí-bé-pe ere-i-pé-ok? Xe iru nd-í-bé. Mbaé
Raramente, o próprio tom da voz dispensa a partícula. pupé-pe? Kysé pupé. Abá kysé pupé-pe? Xe kysé pupé. Mara
Ons. Em numerosas línguas, tanto civilizadas como primitivas, há dif e- ngatu-pe? - Abá 1nbaé-pe kó ygapema? Aipó guaíbi membyra men-
renr;a de tom ou de estrutura entre dois tipos de interrogar;oes: l.º) a dy mbaé; o-s-eiar iké, karameuá pupé. 0-s-eiar sera, ko-ip6 o-ka·
pergunta. ?e af irrnar;áo-negac;ao. alternativa ( sitn ou nao?), 2.º) a pergunta nhem? Mara ngoty-pe i xó-u (foi)? - Abá. mbaé kó iepeaba? Xe
de espec1f1car;áo (quem!, quando!, como?). Em portugues, p. ex., a pergunta
do 1.0 tipo pede eleva~ao final de tom. A do 2.0 tipo, queda de tom. mbaé. Mbaé r-esé-pe ere-s-eiar iké, okar-pe? A-s-ewr-te-pe? Abá-
Cpr. 1.0 ) O viajante já chegoii'! -é-te-pe o-s-eiar? - Mara-pe moranduba? lxé-te-pe a-1.-kuab? /
2.0 ) Quem é qne chegou,?
Alguns autores, para o 2.0 tipo, usam o sinal reverso de interroga~áo (
Em tupi, há ligeira diferenr;.a entre os dois tipos. Para ambos pode-se
¡'. 165.
fruto, grao, semente : á gostoso : é ( s)
usar a partícula interrogativa -pe. Já as partículas hé e sera sao mais comuns árvore, pé : yba pintado ( quase maduro) : auié··
no 2.0 tipo. - Ignora-se se havia diferen~a de tom.
fruto, fruta_: ybá -paraba, u' -baraba
..
82 LEMOS BARBOSA
, ,
ananas : nana feder: ne1n (xe)
ibiraigara: ybyraygara ( árv.) cheirar, sentir [ aheiro de] tr. :
casca (de árv.) : pé, ypé etun (s)
tnaduro: auié dar flor, intr.: potyr (xe)
dar fruto, intr. : á ( xe)
verde: kyra descascar: pé-ok LJ(ÁO 13.ª
de vez : tyaro nao: aan
fétido, fedor: nema sim: pá (h.)
cheiroso : yapuana ( t) já: )lnt(u)a, um(u)a GRAUS DO ADJETIVO
166. Yba e á mais se usam em composi~ao. Fora dela, ·ybyrá e ybá.
SUPERLATIVO
167 . Ybotyra é composto de yba " pé" e potyra " flor". Nao se usa, pois,
quando o nome da árvore já é composto de yba ou ybyrá: kaburey' botyra
"flor de cabreúva ". O mesmo se diga de ypé, composto de yba e Pé "casca•·. 171. Pospoe-se, ao adjetivo, eté ou katu "muito":
Ybá compóe-se de yba e á " fruto, grao ", mas pode figurar ao lado de á.
168. .."...uié propriamente significa "bom, no ponto (de comer) ". " Maduro" niarangatu-eté : muito bom; pora.ng-eté : rnuito bonito; katu-eté :
também se traduz pela cór ou fei~ao que toma cada fruta: muito bom; pora'-ngatu: muito bonito
iabotikaba i á mi: a jaboticaba está [coma] fruta preta; i á ii''-potar
ybá (MoNT. 198v) : está querendo ficar amarela a fruta; i á pub 1ima
marakuw: já está mole o maracu.iá
Eté e seus compostos eté-eté, eté-katu, 'té-katu-nhé
'~111uitíssimo", modificam também substantivos, advérbios
I
169 . U mi, ymi, etc. depois do verbo equivale a " j á '' ; antes, a "há tempos ". e verbos:
170. Vistes já urna flor? Sin1. Vimos hoje no mato urna linda flor. o-mbaé-kuab-eté : ele sabe 111uito; api1é-katu-eté : muito longe;
Que flor vistes? Vimos urna linda flor de maracujá. Já cheiraste o-ú -eté-eté ahé-bae : fu lano co1ne demais; ybotyr' yapuan-aib-eté:
urna flor de maracujá? Sim. Há tempos cherei. É cheirosa? Nao. flor muito fedorenta
- O cajueiro ( akaiu yba) deu flores e frutos. Os seus frutos estáo
verdes. - O ananás é cheiroso, bonito e gostoso. - Esta fruta é chei- Aos substantivos eté dá o sentido de valor, preciosi-
rosa; aquela f ede. Já sentiste o f edor daquela fruta? Qual?
Aquela fruta preta. Cotno? Aqueta fruta preta. - A flor do ca- dade, genuinidade, grandeza:
jueiro é branca. Onde viste o cajueiro? Lá mesmo. - A flor do abá-eté: homen1 de valor, honrado; íagíiar-eté: on<;a legítima,
cajueiro caiu no po~o. - Que flores vistes no mato? - Que casca é grande; kaá-eté : mata virgem; yby-eté: terra firme; y-eté: água boa
esta? É casca de ibiraigara. Quem descascou a ibiraigara? Eu [é ( oposto de "salgada" ) = água comum
que j a descasquei. Em que hora? Hoje, de manha. Onde? Fora Sobre a evolu~áo de eté na epóca colonial, v. n. 1091.
da pra-;a. Com quem? Com um companheiro. Com que? Com o
machado. Com o machado de quem? - Quais sao as novidades? 172 · Rana, oposto de eté, significa "semelhante, parecido,
BIBLIOGRAFIA o que parece mas nao é igual, pseudo", e daí "mal feito,
Genitivo - ANCHIETA 9-9v; FrGUEIRA 6; 1vloNTOYA 3; RESTIVO 12; tosco, grosseiro":
ADAM 22-23; L. BARBOSA 179.
Interrogativos - ANCHIETA 24; 35v-36; FrGUEIRA 144; 127-133; 166;
abá rana : cousa que parece (mas nao é) homem; Pindobusu
MONTOYA 69; RESTIVO 109-111: CAETANO 17; ADAM 36-37. rana Allangusu: Akangu~u é parecido (apenas) com Pinddbu<;u; xe
84 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 85
rana endé : és parecido comigo; uuba rana: flecha mal f eita, tosca,
que (mal) parece flecha; guyrapá' -ran-usu : arco grosseirao tapiira suasu abé s-eburusu-eté opá-katu soó sosé: a anta e o
veado sao os maiores de todos os animais; i porang-eté n' ikó ybyrá:
esta árvore é muito bonita 011. a mais bonita
COMPARATIVO
173. O conceito gramatical de con1parativo era pouco Da mesma forma, con1param-se as ora~oes:
conhecido. Desenvolveu-se mais sob a pressáo das línguas o-mbaé-kuab-eté ixé suí: ele sabe mais do que eu ; o-mbaé-kuab
,.
europe1as. - i:ré iá-bé : ele sabe tanto como eu
174. Superioridade: O segundo termo da compa- Sóbre gUa.su e i modificando adjetivos, v. nn. 101-102.
6
J
86 LEMOS BARBOSA
181.
Mantiqueira: Amandykyra Tinharé: Tinharé
182. Sao altas as montanhas da tua terra ( r-eta111a) ? Sao muito LI<;ÁO 14.ª
altas. Sao muito mais altas do ·que as nossas, ou sao pouco mais altas?
Sao menos altas. As nossas sao as 1nais altas de todas as montanhas?
Nao. A Mantiqueira é tao alta como as vossas mais altas serras. CONJUGA<;AO NEGATIVA
Qual é mais alto : o Tinharé ou a Mantiqueira? Qual flor é a mais
bonita? A flor do n1aracujá é a mais bonita de todas as flores. É
muito bonita a flor do maracujá. As flores do cajueiro sao muito 183. A conjugac;ao negativa forma-se da afirmativa, jun-
bonitas e cheirosas. A flor do cajueiro é a 1nais cheirosa das flores. tando, antes do verbo, o prefixo rida, e, depois do verbo, o
O caju é muito gostoso; é mais gostoso que o maracujá. A flor do sufixo átono -i ( depois de vogal, i).
maracujá é mais bonita que a flor do cajueiro. A flor do cajueiro é
mais cheirosa que a do maracujá. O ananás é mais gostoso que o N da perde o a antes de vogal e de i, e perde o d antes
caju e que o maracujá. O ananás é a n1ais gostosa de todas as de nd:
frutas.
bebé: voar maenduar: lembrar-se
BIBLIOGRAFIA nd' a-bebé-i: nao voei nda re maenduar-i: nao me lembrei
n d, ere-bb'"' - voaste
e e-i : nao na nde maenduar-i : nao te lembraste
ANcHIETA 43-43v; FIGlJEIRA 79-80; 122; 123; EcKART 12; 15-16; MoNTOYA ndJ O·- bb'"
e e-i: nao- voou nd' i maenduar-i : nao se lembrou
6-7; RESTIVO 20-21.
nd' ia-bebé-i: nao voamos nd~ fundé maenduar-i: nao nos lem-
bramos
n d oro-bb'"
J - voamos
e e-i : nao nd' oré maenduar-i : nao nos lembra-
mos
nda pe-bebé-i: nao voastes nda pe maenduar-i : nao vos lembras-
tes
nd' o-bebé-i: nao voaram nd' i maenduar-i: nao se lembraram
nda re r-ooy-i: nao sou azul nd' iandé ou nd' oré r-oby-i: nao so-
.
mos azu1s
na nde r-o_b y-i: nao és azul nda pe r-obv-i: nao sois azuis
nda s-oby-i : nao é azul nda s-oby-i : nao sao azuis
Se o verbo acaba em ditongo decrescente, dispensa-se nd' i porang-i xó-ne: nao será bonito; nda paié ruii-i xó-é aé-ne:
o sufixo --i: aquele nao será pajé; nda ixé rua-í xó-é paié-ne: nao serei o pajé;
o-kai: pegou f ogo nd' o-kaí: nao pegou fogo nda paíé-i xó oré-ne: nao seremos pajés; nda e1nona rua-i xó-é-ne:
nao será assim; nda ixé ruii-í .xó-ne: nao serei eu
Se acaba em b, esta consoante pode desaparecer:
187. Aos advérbios negativos acrescenta-se apenas -i xó-
a-s-endub : eu o ouvi nd' a-s-endub-i
. ou nd' a-s-end·ii-i: nao
, . ,
-e-ne ou -i xo-ne:
O OUVl
aan: nunca: aan-i xó-é-ne : nunca há de ser; aan-i xó koy-te-ne:
184. Quando o verbo é predicativo e o complemento é um
.
nunca mais
substantivo, pronome, partic'ípio ou advérbio, em vez de -i EXERC1CIOS
coloca-se rua entre o sujeito e o complemento: 188.
nda itá ruá ixé: nao sou pedra; nda soó ruá endé: tu nao és apué-katit : longe s-upi, s-upi-katu: na verdade
bicho; nda paié ruá ahé: ele nao é pajé; nda ixé roo: ~ªº fui eu; aé-pe : lá mesmo -te: senao, mas sim, mas
nda emona rua: nao foi ( é) assim; nda peé rua pe-íuká: nao fostes mbegué : de vagar guyraponga: araponga
vós que o matastes eé : sim (de m., em geral) sapukaía : grito
sé!: interj. sei lá! ikó-bé : viver I
Cfr.• porém, n. 352.
ypeka: pato guatá : andar
185. Os nomes de prof issóes e os verbais ( n. 86) admitem
ou -i. ou rua:- 189. Ere-s-endub-pe gi"tyraponga sapukaia? Pá. A-s-endub. Endé-pe
ere-s-endub f Sé I N d' ere-s-endub-i-pe ! N da guyraponga rua, abá-te.
nao somos pajés: nd' oré ruá paié ou nd' oré paié-1, ou nda Nd' o-nheeng-i ikó guyrá. Mar5-namo-pe! Nda gityrá ruá, andyrá-te.
paíé ·rua oré Mbaé r-esé-p~ nd' ere-ker-i xe ygara pupé! N d' a-1,-potar-i. Mbaé
nao sou bebedor: nda ixé ruii kagu-ara ou nda xe kagu-ar-i ou r-esé-pe nd' ere-i-potar-i! N de ygara pupé nd' oro-ker-i .x6-é-ne.
Nd' ere-s-epiak-pe kó ypeka! Nda ypeka rua kó guyrá, guyratinga-te.
nda kagu-ar-i ixé ou nda kagu-ara rua ixé
Mbaé r-esé-pe nd' ere-iuká-i xó wqU.ara-ne? 0-íabab umá. N da
pe-karu-1, .xó-é-pe-ne! A-karu umii. Mbaé hé pe-ú! A-ú ybá eé
FUTURO am6. Guyratinga o-ikó-bé ypá' r-embé-y-pe (as margens dos lagos).
192 . Aié ou anhé pode vír acompanhado de outras partículas como r-aú,
katt.i, r' akó, i pó, r"akó reá, reí, r'akó reí. Ocorrem também os compostos
anhé-'té, anhé-' té-katu., anhé-' té-katu-nhé, anhé-'té-'té-katu-nhé.
\
Náo viste minha n1áe aqui? Sim. Eu a vi. Por onde f ostes ao LI(AO 15.ª
rio dos jacarés? Nós nao fomos ao río dos jacarés. Quem foi, pois?
Náo o sabeis? Nao é amarga a fruta desta árvore ? Sim : é amarga. ..
Por que náo comeste o caju? O caju é n1uito amargo. Que vistes
dentro do maracá? Vimos urnas pedrinhas apenas. Que ouvistes IMPERATIVO
dentro dele? Minha máe ouviu urna voz. Tu que ouviste? Nada.
De vagar náo chegareis a taba dos vos sos parentes. Que fruta é mais AFIRMATIVO' NEGATIVO
gostosa: a jaboticaba ou o ananás? A jaboticaba. Nao é a jabotícaba,
mas sim o ananás a inais gostosa de todas as frutas. Que fruta é
maior: o maracujá ou o caju? Nao é o n1aracujá? bebé: voar (intransitivo)
193.
, , ...
BIBLIOGRAFIA e-bebé: voa e- bebe ume : nao voes
ANCHI ETA 17v-20; 34-35; 46-47; FIGUEIRA 23-35; 36-40 ; M ONTOYA 13-14; pe-bebé : voai pe-bebé umé: nao voeis
46-47; 49-50; REsn vo 45-47; CAETANO 15-16; AnAM 51; TovAR 125-126.
pysyk: apanhar (transitivo).
e-i-pysyk: apanha-o e-1.-pysyk umé : náo o apanhes
pe-í-pysyk : apanhai-o pe-i-pysyk umé : nao o apanheis
O comp. r-i'r ".trazer" faz : e-r-wr ou e-r-tir-í; pe-r-ur ou pe-r-ur-í. 197. O pern1issivo designa urna delibera<;ao da pessoa que
E-nha-bé só tem imperativo, e vale para o singular e o plural : " espera ou f ala: pedindo, convidando, mandando, permitindo ou deci-
esperai um pouco".
dindo. Por is so, corresponde, as vez es, ao nos so fu tu ro (nao
absoluto, mas resultante de delibera<;ao) :
PERMI SSIV O t' a-1,-pysyk: apanhe-o eu; apanhá-lo-ei; t' ere-í-pysyk: apánhe-lo
196. tu; apanhá-lo-ás; t' o-í-pysyk: apanhe-o ele; apanhá-lo-á
bebé (intr.) pysyk (tr.)
t' a-bebé 1 t' a-i-pysyk 198. Também equivale a "para que"; e pode-se juntar -te,
t' ere·-bebé
t' o-bebé -ne
t' ere-í-pysyk
t' o-i-pysyk ' -ne,
se o verbo é afirmativo:
•
e-r-ur pirá t' a-ú-ne : traze peixe, come-lo-ei (para que o coma) ;
t' ia-bebé
t' oro-bebé
ta pe-bebé
umé
umé-ne1
t' ia-i-pysyk
t' oro-i-pysyk
ta pe-i-pysyk
l ume
umé-ne
a-í-apó pab, t' O'-putuú-te: fac;o tudo, para que ele descanse
t' íandé maenduar-ne : que venhamos a lembrar-nos; f i maenduar As outras pessoas raramente sao acompanhadas de
umé-ne : que ele nao se venha a lembrar partículas :
94 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 95
Ll~AO 16."'
BIBLIOGRAFIA
213. Ordinais
ypy : primeiro mosapyra : terceiro
niokoia: segundo irundyka: quarto
CURSO DE TUPI ANTIGO 101
100 LEMOS BARBOSA
ybá: fruta f. ybá-rania, a que será fruta, futura fruta
Exigem, anteposto, o complemento: p. ybá-p·úera, a que foi fruta, ex-fruta
itru : ''asilha f. uru-ranz.a, a que será vas.ilha, fulura vasilha
i 1nokoia: segundo (deles) abá niokoia: o segundo homem
p. ur-u-púera, a que foi vasilha, ex-vasilha
(dos ho1nens)
xe 11iosapyra: o terceiro i-i 'J'PY : o primeiro deles ÜBs. - O ti final é sufixo nominal. Os sufixos temporais, a rigor, sao
ram e piier.
(des)de mim ~
oiepé-iepé : um a um mosapy'-sapyr : tres a tres 219 · Mas se o paroxítono tem b na sílaba final, muda-o
moko'-mokoi: dois a dois irundy'-rundyk: quatro a quatro para g:
moru,bixaba: chef e f. ntorubixag-uama; p. morubixag-úera
215. Advérbios numerais
220. Se_Jem ni) no futuro perde-o e junta-se gua111a; no
Os numerais e palavras afins, antepostos ao verbo, se passado nao o perde e junta-se büera:
adverbializam: ty1na : enterrar f. tg-gúanza; p. t·yn1-b2tera
mokoí o-kanh61n: desapareceu duas vezes
s-etá o-í-api: relou nele n1UÍtas vezes
221. Se tem n ou r) no futuro junta an1a; no passado, os
mobyr-pe ere-no-nhen? : quantas vezes o corrigiste? que te111 r, juntam era (as vezes fiera); os que tem n) jun-
ná : tantas vezes tam dera (as vezes düera) :
Oiepé significa também "todos juntos, a urna".
mena: marido f. 111en-ania; p. nien-dera ou 1nen-duera
ÜBS.: A falta dos t¡espectivos nom.es nao significa que os tupis nao iara: senhor f. íar-ania; p. iar-era ou iar-uera
tivessem a idéia de números superiores a quatro. Numa economía e comércio pira: pele f. pir-ania; p. pir-era ou pir-i1era
primitivos, pouca utilidade havia de maior precisa.o matemática. Quando f ósse
o caso, entendiam-se por sinais ou circunlóquios. - Assim, as nossas línguas i iuká-pyra : mor-
falta as vezes o nome exato de urna cor, Ql\e entretanto distinguimos de to, matado f. koí-guan1a; p. koi-guera
qualquer outra. p. i iuká-pyr-iiera: o que foi morto
223 . H á dois tempos compostos: ran.i-bitera ( passado- pir-era couro, pele, akang-úera caveira, mbaé kang-uera ossada
-f uturo) e puer-an1a ( futuro-passado) : de animais
t-atá: fogo 227. Empregam o futuro sen1pre que f alatn de urna cousa
p. f. t-atá-ra1n-búera, o que foi futuro fogo; ex-futuro fogo; o da qual se f ará outra.
que ia ser fogo (mas nao foi)
Mostrando, p. ex., um galho, podem dizer xe guyrapar-ama meu arco
f. p. t-atá-púer-a1na, o que será ex-fogo; o futuro t:;x-fogo; o (futuro) ; falando de um menino, .r e 111r11-a ma. meu futuro marido, ,etc.
que deixará de ser fogo
Uso semelhante cabe a ram-bitera. De um prisio-
xe r-e-mbi-ú: n1inha con1id?,
neiro f ugido diz-se:
p. f. xe r-e-1n bi-ú-ra11i-buera, a que ia ser minha comida (mas
o-iabab xe r-e-mbi-1í-ram-buera: fugiu o que ia ser n1inha comida
nao o foi)
f. p. x e r-e-mbi-ú-puer-a1na, a que deixará de ser, terá sido
minha comida
228 Com verbos no passado, ra111a equivale, em portugues,
a "havia de ser". Pois nao se considera o futuro com rela<;ao
224. O fut.-pass. é insólito. O pass.-fut. só aparece sob ao tempo em que se f ala mas ao tempo do verbo:
duas f ormas : depois de oxitonos: rani-buera; de paroxí- Acangu<;u, o meu senhor; me deu um anzol
tonos ( com apócope) : a·m.-buera: 1) Akangusu, xe íara, o-i-meeng pindá ixé-be
xe kysé-ram-bfiera: a que ia ser minha faca; nde r-e-mi-r-ekó- 2) Akangu.su, xe iar-anza, o-í-meeng pindá ixé-be
-ram-buera: a que ia ser tua mulher; oré r-etam-am-buera: a que ia Cabe a 2.ª tradu~o · (futu ro) , se Acangu~ a inda náo era meu senhor
ser nossa terra; pe tab-a1n-buera: a que ia ser vossa taba; ok-am- quando me deu o anzol, mas o foi depois (lit.: Acangu~u. que havia de ser
-bftera: a que ia ser casa meu senhor, me deu um anzol) . Só se usa a t.a · tradu~ao, se já era :neu
senhor e a inda o é. Cfr. mais estes exemplos :
225 . Há as forn1as negativas, com o sufixo ey1-n(a), nde r-uba, xe iar-ama, kó guyrapara o-s-eíar ixé-be: teu pai, que
que se coloca após a partícula de te1npo, ou, excecionalmente, havia de ser meu senhor (e o f oi), deixou-me este arco; abá suí-pe
antes destas: Cristaos aipó o é-rama r-ar-i! !andé !ara Jesus Cristo suí (AR. 16
ad.) : de quem tomaram os cristaos esse que havia de ser (e foi) o
.-re r-eynibaba: 1n inha cria<;ao seu nome? De N·. S. J. ·Cristo
f. x e r-eymbag-t{a11i-ey1na ou .~e r-eynibab-ey-guama, a que nao
será nossa cria~o 229. Igualmente, com verbos no futuro, puera equivale,
p. :.re r-eym bag-i'ter-eynw ou x e r-eym/Jab-eym-búera, a que as vezes, ªº
passado do futuro:
nao foi minha cria~áo i ú-pyr-am muam-bá'-pe t-obaiara guarini-me o-manó-bae-puera :
pf. x e r-ey1nbab-a11i-buer-eyma ou xe r-ey1nbab-ey1~ani-bfiera, a seráo ( hao de ser) devorados no campo de batalha os guerreiro~ que
que nao ia ser minha cria<;ao n1orrerem (lit. : que morreram) na guerra
226. O passado é de muito uso quando se f ala de órgáos Na tradut;áo, a no<;ao de tetnpo pode ligar-se nao ao
e partes do carpo já separados : substantivo, mas ao possessivo:
104 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 105
i aog-uera-pe mara s-e-r-ekó-u? (AR. 89) : as roupas que 233. Abá-pe t-e-11ibi-ara iuká-sar-ania (o que n1atará) ! X e ram. Na
f oram suas, que fizeram delas? I nde ra1n rua: nde púer uma. ~4an-angá-i : nda xe púer-i. A-í-1neeng
xe 1nen1byr-a111a nde r-uba-pe-ne. M baé ra111a r-esé-pe? Ji.1 amó-pe
Por vezes rama equivale a "para ser": nwrasei-púera ! 1. ra11i-búer ntorase·w . M ara-na?-n o-pe? A nzana o-i-nio-
e-i-meeng ixé-be kó ybyrá xe quyrapar-ania: dá-me esse pau para -ra11i-búer: okara i akyni-eté: oré py-kuab tuiuk-pe. Ji.1 ob'y r soó-pe
ser meu arco; a-iur ixé pe r-e-1nbi-ú-rama ( STADEN 67 ad.) : cheguei pe-1-nh-ybo ( frechastes)? M okoí akuti, niosapyr paka, oíepé suasu.
eu (para ser) vossa (futura) com1aa M obyr pirá-pe pe-s-ekyíf S-etá-katu. Mbaé pirá! Araberi, piab-etá,
pirá-aka11iuku-etá-etá abé. Af obyr pirá-pe pe-í-nh-ybo? Piraíuba
Ocorrem algumas combinac;oes intrincadas : oiepé, nhundiá 1nosap·y r, taraira irundyk. M obyr-pe wú? Oíepé tirua
aip6 xe r-eo-nama rani-buera abaí'-me, t' o-nhe-monhang umé xe nd' a-t-nh-ybo-1.. M obyr-pe mandií! Na. lt1obyr-pe pirá-akamitku,?
r-e-1ni-niotara (AR. 72 ad.) : se f or difícil frustrar-se minha (futura) X e pó xe py. O pab ( tódas) xe raniyí ntba.é- (causas dos meus avós)
n1orte, nao se f a<;a a minha vontade -puera a-ityl~ (LÉRY 265 ad.).
abá-pe paié rania? X e rani: quem será o pajé? Eu; nde ram-buer: 235. Ñfataste a araponga? Nao. Mata-a. Matá-la-ei,, pois. (Olha)
tu devias ser (mas nao f oste) ; nd' i ram-buer-i xe r-e-1ni-motar-1tera:
nao a mates... Nao a n1atarei, pois. Por que nao a n1atarás?
nao falhou o que eu quis; i ram-biter-pe oré gfiarini-nef: falhará a
Quantas abelhas vivem naquela colmeia? Sei lá ! Sao muitíssimas.
nossa guerra?; t'i ram-buer a xe r-e-1ni-porará-rania, xe r-ub gúé !
(AR. 72 ad.) : nao se realize esse meu futuro sofrimento, ó meu pai ! Onde estais vós? Morrestes? Nao. Nao marremos. Estamos
vivos. Quantos sao eles? Dois só. V ós quantos sois? Somos muitos.
231. Dessas partículas se formam também verbos transitivos: mo-mbuer "tor-
nar velho, conservar velho, conservar, habituar, deter ", 1tio-r01n-bucr "frustrar, Quantos índios trouxeste? Só u1n. Os outros f ugiram para o lado
impedir, estorvar, desfazer, inutilizar". do mato. Quais? Quantos? Por que? Chatnai-os para cá. Quem
EXERCiCIOS
queimou minha ro<;a (pass.)? A tua segunda mulher. Quantas abe-
232. lhas picaram teus dedos (da máo)? Muitíssimas. Quantos lan1ba-
araberi: lan1bari ak;'tna: tnolhado ris trouxeste do rio? N em ao menos u1n [trouxe]. Meu primeiro
pirá-akaniu,ku, iaú : peixes (esp.) py-kf'tab ( xe) : atolar-se n1arido (pass.) 1natou a que ia ser a sua mulher. Acangu<;u, que
iundiá, mandií: ",, " eliyi ( s) : pescar ( con1 anzol) ia ser [e é] n1eu companheiro, deixou os seus antigos cotnpanheiros.
taraira, píaba : " ityk: atirar fora Quem comeu a que ia ser a nossc:i con1ida? Levaram-na aos que eram
e-1nbi-ara ( t) : prisioneiro de 1no!J3rr? : quantos? nossos companheiros [e] que agora sao nossos inimigos. Tambén1
gu~rra tirita: sequer, ao menos nós, pois, sejamos .seus inin1igos ( fut.). É este o que nao ia ser chef e
tuíi1-ka: atoleiro nibaé ra111a r-esé? : para que? [e foi]. Por que nao ia ser chef e? la ser pajé. Por que ia ser pajé
nioraseía.: danc;a por que? ( fut.)
106 LEMOS BARBOSA
[e náo foi]? Que1n é que deixa.rá de ser chef e? De que é esse osso?
É osso de anta.
•
BIBLIOGRAFIA
LI~ÁO 17.ª
Numerais - ANCHIETA 9v-10v; F1GU EIRA 4-5 ; M o NTO YA 7-9, REsT1vo
21-23; E c KART 4-5; CAETANO 7.
Tempos do substantivo - ANcHIETA 33-34 ; MoNTOYA 29-30; RESTI\' O
48-50; CAETANO 19-20; 46-50; ADAM 68-72; L. BARBOSA 189-190. GENITIVOS E POSSESSIVOS IRREGULARES
Primeira Classe
238. eté: corpo
el. sup. : t-eté: corpo (de gente) el. inf. : s-eté : corpo (de cousa)
guará r-eté: corpo de garc;a
xe r-eté: meu corpo rondé ou oré r-eté : nosso corpo
nde r-eté: teu corpo pe r-eté: vosso corpo
s-eté : seu corpo (dele, -a) s-eté: seu corpo (deles, -as)
Guerreiros, adornados e armados (STADEN) o eté : seu corpo ( refl.) o eté: seu corpo ( refl.)
108 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 109
ykera : irma mais velha (de m.) el. inf.: s-apó: raiz
ayra : filho (de h.) ykeyra : irmao mais velho (de h.) ybyrá r-apó: raiz de árvore
uba: pat ~'kit: líquido, cousa liqüefeita ou xe, nde r-apó íandé ou oré, pe r-apó
y: líquido,
,
sumo,
. caldo, derretida s-apó s-apó
agua, no ypy : f undura o apó o apó
Ons. 1 - Há também as formas amyia e amfíia. 2. - Yku e ypy sao Gramaticalmente nao diferem da l.ª el. Se nao tem o t- da el. sup., é
compostos de y. 3. - Y, no sentido de "água" ou "río", raramente leva que, por sua própria natureza (ra'.z, rabo, etc.), só podem referir-se a seres
pref ixos. Alguns compostos, como y-aiba "tempestade marítima", y-kat1t "bo- inferiores. ~ possível, entretanto, cncontrá-los com t- em sentido figuratl'J.
nam;a", y(g)-apenunga "onda", só admitem o prefixo r-. 4. - Ybytyra "mon- Assim, em MoNTOYA t-11guai(a) "cauda" no sentido de "acompanhamento"
tanha" segue estes últimos. (de filhos).
\
Terceira Classe Seguem oka as palavras okttia "entrada 11 , oktndaba "porta, madeira que
246.
. , .
m1-ngau: m1ngau
tampa a entrada".
el. sup.: t-e-mi-uru el. inf.: s-e-1ni-uru tataka: batido (p. ex. dos
dentes) tutuka, tytyka: palpitai;ao
abá r-e-nii-·urzt : yasilha do índio ( em que ele come) taté: erro, o contrário ty: urina
~1:e, nde r-e-nii-uru iandé, oré, pe r-e-mi-uru. tebira: nefando ( subst.) tyba : multidáo
s-e-tni-uru, o e-mi-urtt s-e-mi-u.ru, o e-mi-uru tekoaraiba: necessidade, pri- tyb ytaba : sobrancelhas
1
•
J
I
8
118 LEMOS BARB05A CURSO DE TUPI ANTIGO 119
x e suí : de mim nde suí: de ti ixé oro-iuká: eu te mato; ixé opo-iuká·: eu vos mato
;·t:e r-upi: por mim nde r-upi: por ti
276. A forma da 5.ª coLUNA: Nao é' mais do que um
Se a preposi~áo é átona, servem ta1nbén1 as formas
demonstrativo: aquele mesmo, aqueles mesmos ( n. 72).
da 4.ª coluna:
xe-be, xe-bo; i..-ré-bc, t:ré-bo: a mini a) Supre raramente o pron. da 3.ª p.:
nde-be, nde-bo; endé-be, endé-bo: a ti aé o-só: aquele (ele) (é que) foi, aqueles ( é que) foram, etc.
Pe nao recebe preposi~áo átona.
b) Posposto, aé serve de sujeito a ora~'é5es predicativas,
d) Serven1 de possessivos ( n. 58). Os possesivos nao com substantivo por complemento ( n. 80).
passam de pronomes pessoais em fun\áo de genitivo: e) É a ünica forma usada com as preposic;óes átona!' :
xe py: n1eu pé (o pé de n1iln) aé-pe: nele, naquilo; entáo; lá
e) Serven1 de objeto direto. V. Li<;óes 20.ª e 21.ª. 277. RESUMO: As for:nas da
l.ª CoL. precedem os verbos. Sao prefixos. E pronomes agentes.
275. ·As forn1as da 4.ª COLUNA: 2.ª CoL. Drecedem os v~rbos intransitivos, no gerúndio.
3.ª CoL. pr~cedem complementos predicativos. preposi~óes, substantivos (como
a) U san1-se, raran1ente, com as das outras col. para dar possessivos), verbos trans. (como obj. dir.). Sao pronomes pacientes.
4.• CoL. sao enfáticas.
realce ao pronome. As 3.as pp. nao tem pron. pro- S.• CoL. sao demonstrativos em f un~ao de pronomes pcssoais. ·
priamente pessoal (n. 76) separável do verbo:
i.:ré a-bebé : eu ( é que) voei; endé ere-bebé : tu ( é que) voaste; EXERCfCIOS
iande ía-bebé : nós ( é que) voan1os ; oré angaipab oré (AR. YBYRA: A. árvore
38): nós somos pecadores
278.
Nas mesmas condi~5es sao usados também xe e nde: aka ( s) : galho ara ( s) : espiga
oba ( s) : f olha aryba ( s) : cacho
xe a-só, nde ere-tt·t r: eu vou, tu ficas poty'-kyta: botáo opytá ( s) : tronco
b) 1xé, endé e pee se usam antes dos correspondentes aynha ( s) : caro~o apó-ok ( s) : arrancar (de raiz)
potyra: flor ( n. 167) mo-ndok: quebrar
da 3.ª col., também para real\ar-lhes os vários pakoba: pacova
sentidos:
ixé xe suí.: de inin1 ; endé nde r-upi: por ti ; peé pe pupé: con- 279. Ybytit o-s-apó-ok ybyrá, o-1--nio-ndok abé s-aka. - M ará-bae-pe
vosco ; ixé xe niaenduar: eu me lembrei ; peé pe maenduar: ko ybyrá r-opytá'! - S-eburusu-eté. - Marfí-bae-pe s-oba? - I
p~tku, s-oby abé-no. - J_' ifará-bae-pe i pé'! - S-)1apua ngatu -
vós vos len1brastes; ·ixé xe só-reme: se eu fór
Mará-bae i potyra'! - I iub, s-31aptt.a abé. - Mara-bae-pe i-i ybá'! -
e) 1xé e iandé servem, facultativamente, quando sepa- S-é··~atu, i porang abé i-í ybá-no. - Mara-pe ko ybyrá r-era? Mobyr-
-pe i-í ybá r-aynha? - A-r-ur nde-bo abatir-ara a111 ó. pakoba r-aryba
rados do verbo por algum complemento da 2.ª p.: amó abé. E-i-kuá-nieeng i~-ré-be ikó poty'-kyta.
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
120 LEMOS BARBOSA
O JEQUITIBA \
280.
chao: vby
1 estar seco: tininq ( xe) LI(.A.O 19.ª
jeq11itihá: í:vk'\1tybá sacudir: 1no-susunq
dern1har: mo-nqui continttar de pé : am-ió-te
levantar-se : puam, intr. todo. tocios. tudo : opá-katu
cessar: pik debalde : tenhé CLASSIFICA<;A.O DOS VERBOS
quehrar: mo-pen . apenas : nhó-te
partir-~e: pen. intr. com o temoo: tn.henué ira 282 . Precisemos a nomenclatura adotada neste CURSO.
A
murchar: nhynhyng ten1pestade, ventania: ybytu gua-
su, - aiba
283. Quanto ao agente
281. Levantou-se a temnestade. derrubou todas as árvores e arran-
cou-as do chao. O ieqttitibá. somente, contin11ou de pé. A ventania O verbo é ativo, se o sujeito é o próprio agente; pas-
quebrou os galhos das outras árvores (e) atirou-os ( o-Ít'\1k) ao rio. sivo, se é o paciente; reflexivo, se agente e paciente;
Nao atirott os troncos (pass.) apenas. Os galhos do jeouitibá, a ven- neu.tro é o verbo que nao conota propria1nente urna a~áo
tania os sacu<liu debalde: nao se partiram. O ventou levou as flores inas um estado do sujeito.
das 0utras árvores. esp.alhou os seus fn1tos e as suas folhas. O je-
quitibá mesmo continua de pé. ·Cpr. iuká: matar, por: pular, nhan: correr ( ativos) ; manó:
Cessou o vento. As outras árvores está.o deitadas ( o-ub) por inorrer, ar: cair, syryk: deshsar, í kó-bé : viver ( neutros )
terra ( '\lh'\1-bo ). As í suas l folhas j á murcharam. E stará.o secas ÜBS. - Em tupi nao há verbo passivo.
aman ha mesmo. Com o tempo as árvores morrerao ( s-eó-fi-ne). 284. Quanto ao complemento
O j equitibá, somente, continua de pé ! 1
que modifica o sujeito; copulativo-' se há verbo de liga~áo nhe-ang-ú (tr.-rel.): recear 11 [suí] (pessoa): a-nhe-ang-ú xe
con1 um predicado que modifica o sujeito: r-uba SU!Í: receio meu pai 11 [ esé] ( cousa) : a-nhe-ang-ú. nde
r-u,ba nheenga r-esé: receio as palavras de teu pai
nhan: correr, manó: morrer (intr.); potar: querer, epiak: ver asy ( s) ( xe) ( intr. ou rel. [ esé] ) : doer a : s-asy x e akanga ou
( tr.) ; maenduar [ esé] : lembrar-se de, poir [ suí] : deixar de ( rel.) ; s-asy xe akanga xe suí: dói-n1e a cabec;a 11 [ supé 1: pesar a:
ieritré [esé ] e [supé]: pedir cousa a (bi-rel.); meeng [supé]: dar s-asy xe r-itba supé: pesa disso a meu pai
a ( tr .-rel.) ; 1nbaé-ú : comer [ cousa ( s) ] , y-ú: beber ~crua; por-ú : comer
[gente], akang-ok : cortar ou arrancar cabe<;a ( s) ( intransitivado) ; nhe-ran: tr.-rel.: resistir a [su.pé] : ( def endendo-se) ; 11 [ esé ] :
(atacando)
( i-) akang-ok : arrancar a ( s) cabe<;a ( s) a ou de ( retransitivado) ; katu :
(ser) bo1n ; oby: (ser) azul, (predicativos) ; ikó : estar (copulativo). por-epy-an: intr. ou tr.: contratar, resgatar: a-só gúi-por-epy-
-an-a (VLB. 163) : vou contratar ou vesgatar; a-só apyaba
por-epy-ana ( ib.) : vou contratar com os índios
285. Cada verbo relativo pede a sua preposi<;áo (a n1aL;
p6-epyk (tr.: pessoa ou cousa): replicar, responder, retribuir,
con1tun é esé) :
revidar: a-i-pó-epyk i nheenga: repliquei as suas palavras;
sykyíé [suí] : ten1er 11iaenduar [ esé] : lembrar-se de a-i-nhee'-pó-epyk id.; a-'t-pó-epyk Kunha111beba: repliquei
gua1·ini [ esé J : guerrear nharo [ esé] : investir contra a Cunhambeba
nheeng [ supé] : f alar cotn guase11i [supé] : achar, chegar a
1nae [esé] : olhar para 1ar [ esé] : estar peg-ado a 287. As reg·encias tupi e portuguesa nem sempre con-
iur [ suí ] : vir de só [-pe] : ir a
cordam:
o-sykyié ta1asu. tagúara suí: o porco te1n medo da on~
, t r.: f a1ar corn: n d' oro-i-1110-ngeta-i
mo-nget a: ,. , .. n d e r-aixo:
.. , nao
-
falamos com a tua sogra
286. Certos verbos ad1niten1 diYersas regencias, mudando
ou nao de sentido : mbo-é: tr.-rel.: ensinar ( dir. de pessoa, ind. de cousa [ esé]) :
nda ,Pe-i-mbo-é-i xe r-a·y ra abá nheenga r-esé : nao ensineis
puam (intr.): levantar-se, erguer-se 11 [esé]: colocar-se contra, o tupi a meus filhos
assaltar. dar em cima de ro-lyb: tr.-rel.: descer com, descarregar ( dir. de c .. ind. de p.
esaral ( s) ( xe) [ suí] : esquecer ( algu1na cousa passada) 11 [ supé] ; de anin1al ou cousa [ sití] ) : e-ro-~yb kumiisi abá
[ esé] : esquecer de ( trazer algun1 objeto) supé : descarrega o pote ao índio; e-ro-iyb kamusi tnimbaba
ikó ( intr., copul.) : estar oro-ikó-kat-l~: estan1os bem 11 [ esé] en- suí : descarrega o pote ao animal
tender-se com, ter o que ver com : nd' a-ikó-i nde r-esé : nao nhyro (xe): bi-rel.: perdoar (p. [supé] c. [esé)): nde nhyro
me entendo contigo; nd-oro-ikó-i aípó-bac r-esé (AR. 81) : oré angaipaba r-esé oré-be : perdoa-nos as nossas ruindades
náo ternos (nada) que ver co1n isso 11 [ upi] : casar com : nd'
ere-ikó-i aípó ku.nha r-~u.pi-ne: náo te cases com aquela ieruré: bi-rel.: pedir (p. [ supé] c. [ esé]) : oré suntarii supé-pe
pe-ieruré y r-esé-ne?: pedireis água c;os nossos inimigos?
mulher 11 [ supé] : servir: abá supé-pe oro-ikó-ne!: a quem
servire111os ? 11 [ esé-katu] : perseguir, estar de ponta coni: mondar, mundar: tr.-rel. [ esé] : suspeitar mal de; tomar por,
morubixaba o-ikó paié r-esé-katu : o cacique está de ponta julgar que se ja; ter ciúmes de: a-i-11iondar ahe xe itaiuba rí
com o feiticeiro 11 [-ranto] : estar como, ser: xe sy-ramo (VLB 396): suspeito de fulano a respeito de meu dinheiro;
ere-ikó : estás como minha 1náe; és minha mae oro-mondar Pindobu..su r-esé: pensei que eras Píndobu<;u
124 LE1'f OS BARBOSA
288. Certos verbos intransitivos em tupi sao refl ~xivos em portugues: noong
ajuntar-se, reunir-se. Com o prefixo 1110- (n. 481), tornam-se transitivos:
'tno-noong ajuntar, reunir; e com fe- (n. 294), r'!flexivos: ie-mo-noong juntar-se,
reunir-se. A difer ~rn;a entre noong e ie-mo-noong é que o primeiro se diz das
cousas que se reúr.iem naturalmente, sem responsabilidade consciente do sujeito L/(ÁO 20.ª
(v. neutros) : y o-noong ypá' -pe: as águas se reuniram na lagoa; niorubixab-etá
o-ie-mo-noo11g okar-usu-pe: reunir.am-se muitos chefes no terreiro.
FrGUEIRA 10-11 ; 22-23; 66-68; 85-92; M oNroYA 13; 45-48; 49; 82; REs- u J E 1 T O
Tivo 28-29: 42-43; 82; REsT1vo 28-29; 42-43; 82; 142; CAETANO 10 ; 14; 36;
ADAM 38~40 ; 79-81. .___ _1_a_._s._ _ 2_a_._s·- - . 3_a_._s_. -->-la_._L_ _,,l,...i_a_.e_._--i:-z_ª ·_P_L__ J3a. pl.
0 1 1
la. s. ie :~e ~e - - xe 1...-e
~ 1------l·-----¡------4--------
22. s. oro ie nde
......--~+-------lf-----T----.
oro oro - •·de
µ.,l
3a.s. s, io
i, s, io
'I,
~----t-----+----r------~-----.
i . s, fo, ie i, s, io, i, s, io i. s, io i, s, io
i--.,1~--1·--~,~c~--~11-----~11------t----:,--d----r----.
la. i. wndé íandé •e - ;an. é '1•1dé
J:Q i----t·-------i·---1------~-----+----~~-----·~----"4
1.a.e. - oré o--e'
, - ie oré oré ,
O l----t·----~------t----~1----t----~-t------ii------t
2a.pl. opo pe opo
i----··-----i-----·~·
3a.pl. i, s, io s, io li,- --~~·----
i, s, ío i, s, io
;e ""
~-~-t------y,-----1
i, s, ío i, s, io
.....
i, s, io, ie
293. Quando o objeto é da l.ª p. de qualquer número e o xó-é peiepé-ne : nao nos segurareis; xe pysyk iepé : segura-me tu;
sujeito é da 2.ª p., depois do verbo ven1 o pronome sujeito oré pysyk umé iepé : náo nos segures; ta xe pysyk umé peiepé-nt:
iepé "tu" ou peiepé "vós"; segurai-me, pois ( f ut.) ; t' oré pysyk u1né íepé-ne: nao nos segures,
pois ( fut.)
xe pysyk iepé: tu me seguras; segura-me; iandé ou oré pysyk
iepé: tu nos seguras; segura-nos; xe pysyk peiepé : vós me segu- 298. Quando o sujeito dessas ora~óes é da l.• ou 2.ª pp., pode-se acrescentar
.~e,nde, iandé, oré, pei antes ou depois do verbo: xe oro-pysyk ou oro-pysyk i~é:
rais; segurai-me; uz.ndé ou oré pysyk peiepé: vós nos segurais: se-
.
gura1-nos
eu te segurei ·
304. Se a ac;áo de um verbo subordinado recaí sóbre o mandioka. So6 biá-é o ayra o-gue-r-ekó katu, memé-t' ipó ixé xe
sujeito (da 3.ª p.) da orac;ao principal, o pronome nao é i r-ayra r-au-sup-a-ne (amarei). Abá-pe xe ybo? - lxé, oro-ybo. __:
mas o. :aste o chama-se refle.x·i vo subordinado: Mbaé r-esé-pe ere-i-ybo? - Ta nde abé oro-ybo-ne. Mbaé r-esé-pe
ere-iur (vi este) f N da abá ruá oro-soó. - Oro-i-xoó. - Mbaé
o-só o eta'-tne, o enoí 'ré: foi para sua terra, depois que o cha- r-esé-pe nda xe mo-morandub-i peiepé? - Oré oro-mo-morandub
maram; o-pytá, o pysyk-enie: fica, se o seguram; kunha o-só, ntorit- biii. Pe-soó. Pe-i-xoó. Oro-i-xoó. Oro-soó. la-i-xoó.
bixaba o nio-ndó-renie : a n1ulher vai, se o ma1oral a mandar; kunha-
-muku o-só, ixé o 1-no-ndó-reme: a ino~ vai, se eu a n1andar 308.
- .,'
~
: $.
levam 1,.-:
oro-ausub : a1no-te; aina1nos-te; opo-au.sub : amo-vos; amamo-vos;
a-ie-ausub : amo-me; ere-ie-austtb : amas-te; o-ie-ausub : ele se ama;
'I
LI(AO 21.ª eles se amam (a si mesmo cada um) ; o-io-ausub : eles se amam (re-
ciprocamente) ; nd'oro-io-aitsub-i: nao nos amamos ( reciprocamente)
312. O mesmo sucede se o objeto for substantivo: 317 · O pron. objetivo da 3.ª p. dos v. monossilábicos é io-
asé sy r-ausuba: amar a mae da gente; a-s-epíak nior·ubixaba su-
( antes de nasal, nho-) :
mara r-en<ña: vi o chef e chamar o inin1igo a-1,o-ok: eu o ou os tiro nha-nho-mim : nós o ou os esconde-
mos
313. Mas quando se conservam os pref1xos agentes, desa - ere-io-sub : tu o ou os revis- oro-nho-tym: nós o ou os enterramos
parece o r-: tas
o-io-rab : ele o ou os solta pe-io-puai: vós o ou os mandaís
a-ybak-epiak : vi o céu
CURSO DE TUPI ANTIGO 133
132 LEMOS BARBOSA
NASAL : üi escaldar
318. 1o- desaparece quando o verbo perde os prefixos
agentes: ere-nho-s-üi : tu o, os escaldas ía- ou oro-nho-s-üi: nós o, os es-
a-nho-s-üi : eu o, os escaldo caldamos
opo-nii11i: eu v0s escondo ; nós vos escondemos ; nde mini: ele te pe-nho-s-ui: vós o, os escalda1s
esconde; eles te escondem; nd' oro-rab-i xó-é-ne : nao te soltarei o-n/io-s-úi : ele O, OS escaldas pe-nho-s-ui: eles o, os escaldam
319. Neste caso, o pron. objetivo da 3.ª p. será sempre -i
Observam-se a um te1npo as regras referentes a s- e a
e o reflexivo subordinado ( n. 304) será o: "'
'l.O-:
q-í-potar nde i nii1n-a: ele quer que o esc<Jndas (a outro)
o-i-potar nde o mini-a: ele quer que o escondas (a ele mesmo) oro-ei: lavo-te; lavamos-te; nde r-e-i: lava-te ·1 lavatn-te · nde
y-ei-a:
" lavar-t e; o-ie-ei:
.. '"lava-se; lavam-se ( refl.) · ,o-ío-ei · lava-se·
1
'
320. Se o verbo come<;a por s, n1uda-se este s para X,
la~~i:1-s~ (rec~pr.); s-ui-a: queimá-lo; íandé r-uí: quein10~-nos; xe'
~-ui i~P!..: que1.maste-me ! que1ma-n1e ! o-poro-uí: ele queima (gente) ·
depois de i: ia-kaa-ui: que11namos folhas '
o-i-potar nde i xok-a : ele quer qpe o piles (a outro)
324 ·Nos seguintes verbos o s pertence ao tema; portanto,
321. O pronon1e ío- caí tan1bém quando o objeto está incor-- nunca se muda para r- nem cai :
porado, seja substantivo, se ja partícula:
a-10-sok: eu o pilo, chu~o a-ío-sub: eu 0 revisto
a-akang-ok : arranquei un1a cabe~a; oro-nho-nong : nós nos colo· a-io-syb : eu o limpo
camos; e-nhe-n-iim: esconde-te; a-poro-rab: desamarro (gente)
325. Mas, ao contacto de i, converte-se em z (n. 19):
322. Nas 3.as pp., estando o prefixo agente, ~o- é facul-
tativo. 1\íais elegante é omití-lo:
1
a-i-k~ab Pe i xyg-uanu:: sei que o limpareis; nd' a-i-potar-i nde i
xok-a: nao quero que o piles
o-nho-nii'Jn OU O-mini: ele O OU OS esconde; eles O Olt OS escondem
326 · Eis a rela~o dos verbos que pedem io- ou nho-:
io-s- ou nho-s- ..
io-
....
wi : escarnecer púai : mandar f azer
323. Alguns verbos 1nonossilábicos, come<;ados por vogal, ká: quebrar (cousa óca) puar : amarrar ; enrolar
tem, além do pron. objetivo s- ( n. 310), o pronome. io- kok: escorar; dirigir barco py: soprar; tocar instrumento de
( após nasal, nho-) ( n. 317) : so" pro
ó: tapar pyk : apertar; tapar
ORAL: ei lavar ok1 : tirar ; cortar rab: desatar, soltar
pé : esquentar ; iluminar sok: chu~ar; pilar, socar
a-ío-s-eí: eu o ou os lavo ia- ou oro-ío-s-eí: nós o ou os la- pi: picar sub : revistar ; visitar
vamos piar: cercar; defender syb: limpar
ere-io-s-eí: tu o ou os lavas pe-io-s-ei : vós o ou os lavais poi : alimentar ti: atar; armar (rede)
o-io-s-eí : ele o ou os lava o-ío-s-eí : eles o º""
os lavam
9
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 135
nho- nharó: intr.: avan~ar, ficar ká. ( io) : id. (c. arredondada,
guang : tingir de urucu nhang: juntar; entrouxar bravo oca, etc.)
1nan : en f eixar pan: lavrar ; bater nong (nho): pór apar-ar ( xe) : cair (do lugar)
nii1n: esconder · pe11i : tran<;ar non'-gatu : sossegar tym (nho): plantar
1nong: gru.dar; latnbusar pin: raspar; lavrar
11iun: cusptr puan: passar a frente de 328. Quando o sujeito e o objeto direto sao da 3.a p., o prefixo agente pode
pun: ferir; avivar ( ferida etc.) ser ia- : iag úara si4a.s1' o-iuká ou ia-iuká : a onc;a matou o veado; kct-.Q-fi.ora
nong : pór ~ colocar paié nheenga ud' o-s-e>idub-i ou nd' ia-s-endub-i: os bebedores de vinho nao
"'io-s- ouviram a palavra do pajé; iaguara iasy o-ft ou ia-ú: eclipsou-se a tua (lit.: a
om;a devorou a lua). - Embora raro, ta- ocorre sobretudo quando o sujeito é
,¡: lavar ab2: abrir; partir; cortar de menor valor q.ue o objeto. ·
nho-s-
. 329. Oro-aaro. X e r-aaro iepé-ne? N d' iandé r-aariJ-i xó-é-ne .
en: esvaziar; derra1nar; fií: escaldar; que1mar Pe-s-aaro-pe.P Abá-pe xe r-aaró? Opo-aaro ixé. A-nhe-mim. Xe
despejar mim unié peiépé-ne. T' oré 1ni·m u1né iepé-ne. Mboia kunha ~
l. o verbo ok (ío-) "tira;", embo~a nao tenh.a s-, recebe r nos mesmos -i-xiiú. 1agu.ara iasy 1lz..ú. Endé-pe ere-to-ká k6 ygasaba? N da ixé
casos que et e iii. Mas o r e facultativo: . A , ,
r-uá, nde syyra-te; o-pokok itá r-esé, i apar-ar ygasaba, o-ie-pese-ong.
nde 1'-0k ou nde ok: ele te tira; éles te t1ram i :re r-ok iepe ou .%e ok E-s-e1yi pese-buera ik'é suí. Abá-pe o-i-mo-pen xe r-uuba? Nda abá
iepé : tira-me tu rua o-i-mo-pen. 0-pen nhó-te. Ixé a-io-ok tetyka; endé ere-nho-tym
NOTA. _ Sóbre os verbos reversivos, formados de ok, v. n. 372. abati. Abá pirá o-i-ybó,· kunhii ietyka o-tym; kunumi o-s-aro
z. Ab é defectivo, em tupi; só se us?- ~om o~jeto inc;,orpo~ado ou na
· ( 897) Mas deve ter existido *a-w-s-ab, erc-w-s-ab, etc.,
ietyka kamusi pupé. !aguara oré r-aaro, oré r-epenhan abé. Guvrá
f orma refl ex1va n. · . ( b) M . A t 90 · Tesoro xe r-e-nibi-ú ia-i-pixam. 0-nha.r o W, :re r-e-imbaba. E-nha-bé.
pois em guarani antigo se reg1strou a-io-li-a
A
Negativo
pres. : bebé-eyma : nao voar
fut. : bebé-ra1n-eyma ou bebé-ey' -gúan·ia: nao ha ver de voar
pass.: bebé-púer-eyma ou bebé-eym-búera: nao ter voado
p.-f. : bebé-ram-buer-eyma: nao haver tido de voar
Positivo
pres. : maenduar-a: lembrar-se
f ut. : maenduar-ama : haver de se lembrar
pass. : maenduar-uera : ter-se lembrado
\
p.-f. : maenduar-a·m-buera: haver tido de se Ietnbrar
Negativo
pres.: maenduar-eyma: nao se lembrar
fut. maenduar-am-eyma ou maend11ar-ey' -guama: nao haver
de se lembrar
Prepara~o do cauim (TBEVET)
' 138 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 139
pass.: maenduar-uer-eyma ou maenduar-eym-buera: nao se ter
lembrado Assim, ~e r-aiisub-a <leve-se traduzir '' o amar-me (ele)" ou " amarem-me
( eles) " , nunca " amar eu " ne::n ·" o meu amar " . p ara 1sto
. ha, outra forma
p.-f. : maenduar-a1n-buer-eynia: náo haver tido de se len1brar (n. 384).
334. Fo r ni a~ a o: - a) Toma-se o tema do verbo. O objeto pode-se afastar, contanto que o pronome
. Se este termina em consoante, acrescenta-se -a. O mesmo fique em seu lttgar:
se faz, se termina em ditongo decrescente: n~e r-uba ~e i ittká: lit.: teu pai n1atá-1o eu; akuti iagU,ara s
, .
A ,
,
so = so: 1r ker = ker-a : dorn1ir 'tuka: ht.: a cutta a onc;a matá-la
pab = pab-a : acabar kai = kai-a : arder
337 · O infinito tem fun~áo de substantivo, e como tal po-
b) Os infinitivos oxítonos seguem bebé; os paroxÍ· derá muitas vezes ser traduzido. Podem rege-lo prepo-
si~oes e conjun~oes adverbiais:
tonos~ 1naenduar.
e) Os tenipos se forn1am con10 com os substantivos, -~e ker-a: dormir eu, meu dormir, meu sono; xe ker-pe: no meu
(n. 216). dormir, no n1eu sono; xe nde r-ausub-a r-esé: pelo meu amor a ti, por
eu te am~r; x_e ,r-ausub-a: o am~r-me, o amarem-me, o amor que me
d) O negativo se forma do tema con1 ey11i (seguido tem ou tem; i e-retne : no seu dtzer' quando ele disse
de -a). No passado e no futuro, e31ni pode ficar
antes ou depois de ram e puer. Muitas vezes se traduzirá por u1na frase:
335. Sin t ax e: - O infinito nunca está só. Se é a-i-potar i pytá: quero que ele fique; a-í-potar nde só-rd.~a:
intransitivo, requer, antes, o sujeito; se é transitivo, requer quero teu ir ( f ut.), quero que vás
também o objeto: O infinitivo pode ser sujeito ou complemento:
xe ker-a : dormir eu x e nde iuká: inatar-te eu
. i porang s-epiak-a: é belo ve-lo; ere-s-epiak-pe i xeni-a?: viste-o
nde iuká: matar-te (ele) i iuká : rnatá-Io (ele) sa1r?
336. O infinitivo só admite prono1nes pacientes. O pro- No passado e no futuro, mais empregado que o infinitivo é o sufixo
nome ou substantivo que precede un1 infinito intransitivo saba. V. n. 810.
equivale ao su jeito; o que precede 111n transitivo é objeto O infinito de verbos intransitivos ou intransiüvados (n. 284) pode ter
func;áo de complemento atributivo :
direto. Havendo dois substantivos ou pronomes diversos, abaré bebé: padre que voa
ou um substantivo e um pronome, o que estiver imediata- kummií uhe-mbo-é (A~c.H. 32) : menino que aprende
abá k11ni1-mi-iuká (ib.) : homem mata-meninos
mente antes do verbo transitivo é o objeto direto:
nde xe iu ká : n1atares-n1e ; xe nde íuká: eu tnatar-te ; xe iuká nde : VERBOS DE PREFIXOS T- E S-
matares-n1e ; nde iuká ixé : eu n1atar-te; nde r-uba .'re íuká ou xe iuká
nde r-uba: matar-me teu pai; xe nde r-uba iuká ou nde r-uba iuká ixé : 338. ausub-a, tr., de pron. agente
eu matar a teu pai; iaguara akuti íitká ou akuti tuká íagitara: a on~a
.t'e r-ausub-a: a1nar-1)1e, an1a- s-ausub-a: amá-to ou -los: ama-
matar a cutia rem-me
' . rem-no! -nos
14-0 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 141
·n.de r-ausub-a: a1nar-te, ama- o ausub-a: amá-lo, -los; amarem- S ete abá anga r-esé-ndU<Zra na eí:
rem-te -no, -nos
1. Abá supé r-ekó-katu-sag-iiama14 mo-mbeú. 2. I tek6-kuab-
íe-ausu.b-a: amar-se, amarem-se io-ausub-a: amare1n-se (mutua-
-e~m;bae15,. mo-tekó-kuab-a16. 3. O-ikó-tebé-baeI1 mo-apysyk-a. 4.
mente)
O-iko-memua-bae18 r-e-no-nhen-a19. 5. Ogu-e-r-ekó-me1nua-sara20
•
íandé ou oré r-ausub-a: amar-nos, amarem-nos sttPe' n h.iro- 21 . 6 . Aba.
' n1ara- s-ek o-aq-uer-i
' ... 22 •r-esé nhe-ran-eym-a. 7.
23
pe 1 r-ausitb-a: amar-vos, amarem-vos O-ikó-bé-bae r-esé, o-1nanó-bae-puera24 r-esé bé Tupa mo-ngetá.
poro-ausub-a: amar ou amarem (gente) 1 - Portuguesismo (n. 1093). 2 - misericórdia. 3 - referentes. 4 -
s-ausub-a ,· mbaé r-ausub-a: amar ou an1arem ( cousas, animais) assim rezam. 5 - f amintos. 6 - dar de comer a. 7 - sedentos. 8 -
dar. d~ beber. 9 - nus. 10 - vestir. 11 - doentes. 12 - cativos. 13 -
abá r-ausub-a: amar ou amarem ao índio red1m1r. 14 - bom cons~lho. !5. - ignorantes. 16 - ensinar. 17 - aflitos.
18 - os que erram. 19 - corng1r. 20 - os que os injuriam. 21 - perdoar
22 - fraquezas. 23 - os vivos. 24 - os mortos. ·
339. oby, neutro, predic., pTon. pac.
BIBLIOGRAFIA
xe r-oby : ser eu azul pe r-oby: serdes azuis
nde r-oby : seres tu azul iandé, oré r-oby: sermos azu1s
. ANC~IETA lSv-19; 20; 26v-27v; FIGUEIRA 20-21 ; 31-32; 35; 48-51:
s-oby : ser ele azul s-oby : serem eles azuis 105-106; 155; MONTOYA 15-16; 24; RESTIVO 83-84; CAETANO 21-31; ADAM
66-71. - ,,...... 1•¡'
o ob31: ser ele azul ( refl. su- o oby : serem eles azuis ( refl. - ,., ;,...
bord.) sub.)
t-oby: ser azul (gente) s-oby: ser azul (cousa)
340. Alguns autores, em vez de o, escrevem og, ogu, gi'l, go, ogo: og-oby,
0911-eó, ogo-au.snb-a, go-ausub-a, etc.
(adapta~áo ortográfica)
iaguara : on<;a A , cabec;a de; a-kok, abrac;ar a cabec;a de; a-pyra, ponta, ápice, cume, cabec;a;
guyra a-pyr-asab, .p assar por cima; a-pyr-amo, mergulhar (a cabec;a de) ; a.-py'-r1i,
abá: homem t-ayra: filho abá t-ayra: homem-f ilho acrescentar; a-pJ1-fi, atar as pontas a; a-py-mi11i ( ou a-pu-mim), a fundar,
kunhli-tai: menina t-aiyra : filha kunhá-taí t-aíyra: meni- mergulhar ; a-py-pema ( ou a-pi-pema), espigao, ponta angulosa: a-py-peba,
na-filha agachado, abaixado, etc. 2. a-pj•tera, centro (de cousa arredondada) (cfr.
pytera, meio de c. extensa ou superfície) ; a-syma, cousa lisa e arredondada
Tupa: t Deus t-ayra: filho Tupá T-ayra: Deus Filho (cfr. S j 1111a, liso) ; a-guaá, saliencia arredondada (cfr. gilaá, saliencia, reentran-
cia, concavidade).
Cpr. Tupa R-ayra: Filho de Deus Assim a-sura, a-smtga, a-pyra, a-íyka, a-pó-monga, a-paa, a-peba, etc.
Nestes e noutros exemplos, patenteia-se a índole concreta e classificatória do
343. Por vezes, o apósto inclui a rela<;áo "o- de-", "o idioma. Daí que muitos adjetivos só se possam traduzir por dois ou rnais
que tem": em portugues.
347. P6: "grossura" [de objetos compridos (como árvores, fios, varas, ti-
yá: caba<;a anhu.r -i : colo yá-anhur-í: caba<;a de colo ras, homens, etc.)] : aó pó-bebé, pano fino; ybyrá pó-guasii, árvore grossa:
ybyrá pó-i, árvore fina; ybyrá pó-atá, árvore direita, reta; pó-peba, largo
abá niuani-baba: o índio do assalto (p. ex. que esteve - sabes - (aplica-se a objetos compridos e largos, p. ex. fitas) ; mboi' pir-ué' pó-peba,
no assalto) ; abá ti-gua.su : o índio do nariz grande ; kunhii ygasaba : a peh: larga de cobra; mo-pó-í, adelgac;ar; 1110-pó-gúas1t, engrossar; pó-ká, torcer
mulher do pote (p. ex. que vimos com o pote) ; ybyrá á: árvore de (c. comprida) ; mo-pó-k31ríri, torcer (até que se enrol<! ) ; pó-'ban, fiar ; pó-nro-
fruta, que ten1 ( dá) fruta; kunhii nien-eo : mulher viúva (lit. do ma- -m.byk, torcer (cordas, e s.) ; pó-ungá, adelgac;ar, igualar o fio; 1no-pó-io-ybyr,
dobrar o fio. Etc.
rido morto) ; pirá aka'-iuba: peixe da cabe~a amarela; iaguá' p6-pe-
ba : on\a ( ou cáo) da mao chata ( lontra) ; ybyrá pó-guasu : árvore de 348. Py: " largura, fundura, capacidade, interior, váo, centro": oka py-guasu,
fibra grossa; aó' pó-anatna: roupa de fihra grossa ( ao tacto} casa de grande largura, larga, ampla; i py kó ygara, tem largura, é larga esta
144 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 145
canoa; y py ou t-y py, fundura ou fundo do rio ou mar, rio fundo; t-y py,
o rio é fundo; py ou ipy, o avesso ou a parte interna; a-i-py-ei nhaé, lavei (a nda s-a~-i abatí ranhé (MoNT., Tes. 133v.): o milho ainda nao ten1
parte de dentro d) o prato; a-i-py-pirar awká, alarguei (o interior d) o espiga
cesto; a-i-py-tybyr-ok, espanei-o por dentro.
349. A-pé: "superfície; direito ( contrário de "avesso"); casco, casca [de 353. ~á o verb? r-ekó "ter" (ou melhor "estar co1n''),
cousa arredondada (como óvo, noz, fruto duro)], escama; concha": a-pé-aob, mas nao se a phca aos casos em que a pos se é mais um
forrar (por fora) ; a-pé-ara, superfície; a-pe-kü, língua; a-pé-fnt, som óco;
a-pé-puera, crosta, concha, casca ( sem conteúdo) ; a-pé-ok, dese.asear; a-pé- estado natural ou permanente do sujeito ·
-rerá, raso, tosado; a-pé-uban, forrar (por fora) ; a-pé-bura estufado; a-pé-
-banga, envolto, embm;ado. tenho pé: xe py (nao a-r-ek6 py) ; nao tenho filho: nda xe
Sóbre a-pá, v. n. 666, 1107, 1106. membyr-i ( m.) ; ele tem muitos parentes : i anam-etá ,- nao tenho ca-
belo : nda xe ab-i,. ele tem o rosto risonho : s-obá esaí ,· nao tens o
VERBO "TER" rosto risonho : na nde r-obá esfi,i; a árvore teve ( deu) flores, nao teve
( deu) frutos : i potyr ybyrá, nd' i á-í ,· a árvore náo ten1 ponta: nda
350. Para traduzir o verbo "ter", junta-se simples1nente s-akapyr-i ybyrá ,· as abelhas tem ( dao) mel: i t-yapir> eí'-r-uba;
o sujeito, substantivo ou pronome, ao complemento. Os esta fruta nao tem caroc;o: nda s-aynh-i kó ybá,· aqueta árvore nao
dará ( terá) frutos: nd' i á-i xó-é aípó ybyrá-ne; os passarinhos
substantivos paroxítonos perdem o a final. Irregulari- nao tem leite: nd' i kamby-í gU.yrá
dades, as mesmas que con1 os genitivos e possessivos:
xe kó: minha r01;a ou tenho ro\a VERBOS PREDICATIVOS
s-etyma : a perna dele ou tem perna (Continua~o da Li~io 8.11 )
Cpr. nde r-u.ba: teu pai nde r-ub : tens pai 354. Frases predicativas (de "ser" ou "estar"), que in-
nde t-uba ou t-uba nde : és pai
abá r-ayra: o f ilho do índio abá t-ayr: o índio tem filho
. cluem genitivo ou possessivo no sujeito, podem-se verter
abá t-ayra ou t-ayra abá: o índio é filho tanto pelo processo de ~'ter" como de "ser" (como em
nde r-e-mi-r-ekó-pe! nde tne'-pe? (AR. 220): tens mulher? portugues) :
tens 1narido?
pikepé' ti s-u.n ou s-un pikepé' ti: o bico da rolinha é preto
351. Os nomes que come<;am pelo pref ixo poro- nao o pikepeba i ti un : a rolinha tem o bico preto
muda1n para 11101'0- e nao perdem o a final:
O segundo processo é n1ais usado e mais elegante:
xe nioro-mbo-é-sara ou xe moro-mbo-é-sar ou m.oro-m'7o-é-sara
ixé: sou mestre; xé PMo-mbo-é-sara : tenho mestre tenho os olhos tortos, sou vesgo: xe r-esá-bang,. o pescrn;o da
352. N e g a t i v o : nda . .. -i (nao nda . .. ruá) : gar<;a é comprido (e) as pernas sao amarelas: gu'y ratinga i aiu'
puku, s-etynia íuh (lit.: a garc;a temo pesc<><;o comprido (e) [tem]
r.da xe sy-í: nao tenho mae ndc .-re sy ritá: nao sou mae as pernas amarelas) : minha cabec;a está dolorida ( dói-me a cabe\a) :
na nde r-ayr-i xó-é-ne: nao te- na nde t-ayra rua-i .-i:ó-é-ne: xe akang' asy (lit.: tenho a cabe<;a dolorida); um ólho meu é negro
rás filho nao serás filho (e) o outro é azul: ~-re r-esá a111 ó 1in, xe r-esá anzó oby (lit.: tenho um
nda t-ayr-i xó-é-ne: éle nao nda t-ayra rua-i :ró-é-ne : ele ólho negro e o outro azul).
terá filho nao será f i!!l J Como se ve, o adjetivo, se é paroxítono, perde a vogal final. O substantivo
nd' i xy-i : ela nao tem mae nda sy rua : ela nao é mae paroxítono perde a última vogal <liante de vogal, a última sílaba diante de con-
soante. Mas esta última nao é norma absoluta.
•
CURSO DE TUPI ANTIGO 147
146 LEMOS BARBOSA
, A '
pes; as aves tem os pes e as asas. Tua roupa está 1nuito curta.
355 . Nao tenho [ roupa] con1prida. O jurará nao tem o casco liso. O
a..syka : cortado, maneta jaboti te1n o casco n1uito duro. Viste o homen1 da barba branca?
fi.tkana : tucano
oby-una ( t) : azul-escuro Nao. Vi a mulher da roupa azul.
uaia (s): rabo
kaiá: cajá pysasu : novo BIBLIOGRAFIA
suasu-apara: veado (esp.) paraba, pará'-paraba: bicolor, multicor
piriana, piriá'-piriana : listado ( ao com- Apósto - ANCHIETA 9-9v ; L. BARBOSA 180 ; DALL' I G='iA, A· Composi-
atu-kupé : costas
prido) 'ªº5-6.
Verbo "ter" - A NCH IETA 46-47; 47v-48 ; FIGUEIRA 38-39; 66-68 ;
kitpé: costas pini-pininia : pintadinho, malhadinho MoNTOYA 49-50; R EsTrvo 42-43; D ALL'IGNA 63.
aka: chifre pitanga: pardo, avermelhado Verbos predicativos - EcKART, passim.
kaba : gordura a.embé ( s) : áspero
banga : virado, torto ranhé: ainda
356. Tiekana s-etyma un, i pepó un, s-úai un, i atiekitpé r-ab oby-un,
ipotiá r-á' iub, i t1 iub, i tin(f abé; i a:k a' 1niri i ti mbuku, s-eburusu-
1
-eté-eté abé. Soó i p31, 31b31rá s-a.pó. N da s-ar-i abatí ranhé. Kaiá
i-i ybotyr yapuan, i porang abé-no. Suasu-apara i aka porang, i py
po:ry. N de pó ae11ibé. M arakaiá s-eté piria-Pirian . X e aó' /)'vsastí.
N de aó' pó-i. l aó' pini-pinini. N d' i t-yapir-i-pe aipó eir-uba? I
kab x e r-e-itnbaba taiasu. Anhé. Nd' i angaibar-i; i kyrá-te. Ma-
raka1á i nambi asyk . Xe py bang. Nde par-í. I asyk. Nde iybá
apar. . 0-ká guá nhaé-pepó. Nd' i nambi kuar-i kó ygara (MoNT.
Tes. 173v) . K ó soó i kupé pará-parab, i py pitang.
357.
I
..
casco: pé, a-pé louro: iuba
cágado da terra : iaboti queixo : endybá ( t)
cágado dágua : iurará barba : endybá-aba ( t)
liso : s31ma, a-syma cas : á'-tinga
mole: puba curto: a-sanga, a-kyta, a-poai
358 . O veado tem os cornos grandes e [ tem] os pés pequenos. As
aves tem penas; os peixes tem escamas. Tem caro~o esta fruta? Nao.
Nao tem caroc;o. Qual a árvore mais ( verta-se "muito") bonita?
Qual árvore tem a flor n1ais ("muito") bonita? É o pé de n1aracujá.
As árvores nao tem pés, mas (-te) raízes. A jaboticabeira nao deu
flor ainda. O cajá tem a casca grossa, a madeira mole, a flor branca.
o fruto amarelo e o caroc;o grande. As plantas nao tem aln1a? As
mulheres nao tem barba. Eu também nao tenho barba; e tu? Eu
tenho [barba] . De que jeito (mará-bae ) tens a barba ? Tenho a '
barba comprida, curta, grossa. negra, loura, branca. Eu tenho cas. Os chefes fumam, reunidos em conselho (STAD&N)
Meu cabelo é branco. Tenho os cabelos ,brancos. O hornero tem os
I
CURSO DE TUPI ANTIGO 149
INFINITO OBJETIVO ~64. Quando o ·infinito ten1 objeto direto, este pode vir
incorporado ou nao, como nos modos finitos (n. 116).
359. O infinito pode ser complemento direto, indireto, ou Mas nao estando incorporado, antes do infinito <leve ficar
circunstancial. o pronóme objetivo da 3.ª p.:
360. Quando objeto direto de um verbo da mesma pessoa, o-y-ú-poir: deixou de beber água; ere-i-p6-kittu'-potar: queres
furar as maos déle; ere-itá-kut-u'-potar: queres f~rar a pedra; ere-i-
o infinito se coloca antes do tema daquele verbo: -kutu' -potar itá: queres f urar a pe<lra; nd' a-kunha-epiá'-potar-i: nao
a-karu-potar: quero comer; ere-karu-potar: queres comer; e-ka- quero ver a n1ulher; nd' a-s-epiá'-potar-i kitnha: nao quero ver a
ru-ypy ! : cotne<;a a cotner ! ; ia-karu-ypy: come<;amos a comer; nd' mulher; nd' ere-abá-nupü-nupa-epiá'-potar-i-p1: ! ou nd' ere-i-n·upa-
o-karu-potar-i xó-é-pe-ne?: nao quererá comer?; nda pe-karu-ypy- -nupa-epiá'-potar-i-pe abá!: nao queres ver a<;outarem o índio?;
·Potar-i xó-é-te-pe-r.,e?: nao querereis, pois, come~r a comer? nd' ia-i-nheen[!-endu'-potar-i ou nd' Ui.-s-endi.' potar-i i nheenga: nao
quere1nos ouv1r a. voz dele; pe-i-11io-nhan'-guab: vós sabe1s faze-lo ·
ÜBS.: Alguns verbos intransitivos ou intransitivados (n. 381) seguem
processo análogo : yb·yrá a-t.pysy' -potat : quero pegar um pau ; nd' a-soó-r-esá-epiá'-po·:
e-kart,-iebyr l torna a comer! ; o-karu-iepotabé: continuou a comer; far-i ou nd' a-s-epiá'-potar-i soó r-esá: nao quero ver os olhos do
a-karu-poir: cessei de falar bicho
365. O objeto direto pode ser un1 pronome:
361. Se o infinito é v. predicativo, a conjuga~o se faz
pelos pronomes pacientes : oro-epw'-potar: quero ver-te; nde r-enoi-ie-byr: tornou a te
chamar
xe niaenduá'-potar: quero lembrar-me; nde r-ory'-potar: queres
alegrar-te ; s-asy-poir: deixou de doer; nd' iandé r-ory-íe-byr-i xó-é- 366. Se o infinito tem complemento indireto, nao há in-
-ne: nao nos tornare1nos a alegrar; nda pe 1'-esaraí-kuab-i-pe!: náo cor1porac;ao <leste :
sabeis esquecer-vos?
a-sem-botar taba suí: quera sair da aldeia; i ntaend·iiá'-poir .ve
362. Se o infinito é paroxítono, antes de consoante perde r-esé: deixou de se lembrar de min1; nda xe maenduá'-potar-i oré
r-eta11ia r-esé: nao quero lembrar-me de nossa terra
a última sílaba; antes de vogal perde a última vogal :
oké'-potar: éle quer dormir 367. Se o infinito é objeto di reto de verbo de outra pes-
o-ker-ypy: ele come<;ou a dormir soa, nao há incorporac;áo :
363. Pode ha ver metaplasmos: a-í-potar nde só: quero tua ida, quero que vás; morubixaba
o-i-kuab i xó-rania: o chef e sabe que ele irá; o-i-potar xe nde iuká-
a-í-meen'-guab: sei dá-lo -ranta: ele quis que eu te matasse
a-ilmeee'-boir: parei de dá-lo
, 10
150 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO
368. Quando o infinito é con1ple1nento indireto, regido de 371. Com muita freqüencia, o infinito náo incorporado é substituído pelo
particípio verbal saba ( n. 810).
preposi<;ao, nao há incorpora~ao :
o-ieruré nde pytá-ra111a r-esé: pediu que ficasses VERBOS COMPOSTOS DE OK
'fan1bén1 o infinito pode ter co1nple111ento indireto: 372. Há um sem número de verbos formados de substantivo + ok "tirar"
{n. 326) : Pé-ok tirar a casca ou escama, descascar, esfolar; apé-ok tirar a
casca [grossaJ, descascar; pir-ok tirar a pel~, esfolar; aob-ok t irar a roupa,
a-í-kuab asé mbaé r-esé nde mondá-puera: sei que roubaste as despir; et'-ok (s) tirar nome (pór nome novo); guyr-ok tirar a parte inferior;
cousas da gente; 11d' a-i-potar-i taba suí ndc se1na: náo quero que r~ar por baixo; por-ok tirar o conteúdo, despejar, esvaziar; obá-ok (s) tirar
saias da aldeia; a-1.eruré xe r-esé nde niaenduar-ey'-guama r-esé: p~o as bordas, alargar; ayi-ok ( s) escaro<;ar; tybyr-ok espanar, escovar; 'Viui-ok (t)
escumar; ar-ok tirar a parte de cima, desgastar; kamby-ok ordenhar; yé-o!.:
que nao te len1bres de n1in1; a-íeruré-pota·r nde-bo mbaé atnó r-esé: (s) estripar: ekó-ab-ok (t) tirar o modo de ser oil estar; mudar; despejar;
quero pedir-te tuna cousa asoi-ab-ok tirar a cobertura ou tampa, descobrir; pesé-ó ou pesé-ong (nasal.
de ok) tirar pedaco, part:r; katu-ok tirar o(s) melhor(es) ou hons, ec:colh~r.
selecionar, etc. Na forma refl. : i'-ekó-ab-ok tornar-se ot' ficar diferente
369 · Ü infinito nao incorporado pode ter ta111bé1n C0111- ou mudado; ie-aib-ok tirar o luto; i'-11,p-ab-ok retirar ou levantar o pouso:
plementos: partir di! viagem, etc. - Com alguns adjetivos e vf'rbos, ok parece ter urna
f uncáo reversiva: a(Jar-ok t:rar o curvo ou curvatura; endireitar. retificar:
apé (g )-ok tirar o torto; desentortar; mama-r-ok desenrolar; ubá-r-ok desem-
a-í-potar nde i kuaba: quero que o saibas; a-í-kuab nde i iuká- brulhar; parab-ok escolher º" d terrninar entre vários; 1á'-nk despr~nder-se.
0
-rani-biiera: sei que o terias matado ; nda pe tnaenduar-i-pe xe i potar- separar-se; mo-iá'-ok apartar; repartir; okend-ab-ok (s) abrir a porta. Cfr.
okend-ab (s) fechar a porta.
-e31111-b1i era r-esé r : nao vos lembrais de que eu náo o queria?; ere-í-
-kuab :1:e nde r-ausuba: sal?eS que te amo; ere-i-kuab :re ndc r-ausug- EXERCtCIOS
-uera: sabes que te arnei ou ainava; ere-í-kuab xe s-ausu.b-atn-bitera: 373.
sabes que o ama1·ia ; o-i-kuab xe s-ausub-am-buer-eyma: ele sabe que mbaé aé f : qual outro ? guyr-pe : sob
eu náo o an1aria (re la t.) ; o-i-kuab xe o ausub-a11~búer-eyma: id. opab : todos, tudo ar-pe : sobre
( ref/ej,· ., n. 316) ; ere-í-k uab xe nde r-ausub-ey-g11ama: sabes que ta té: f ora do destino eyni-e-bé : antes que
nao te amarei; a-ierttré nde-be taba suí 11de se1n-am-ev1na. r-esé: pirar: abrir (o arco) mo-ang: julgar
pe~o-te que nao saias da aldeia mo-nd6 : atirar esarai ( s) ( xe) : esquecer ( n.
370. A incorpora\áo do infinito nao é estritan1entt obri- 286)
374. Taté, laté-é, taté-nhé (preposi<;oes); "fora do destino, ao contrario do
gatória. Encontran1-se exemplos como estes: que devia ser, nao no objeto, errado": guyrá taté: (a frecha deu) fora do
a-i-potar .-t:e só : quero ir; o-i-potar o só: quer ir; a-¡-potar ndc passarinho; xe r-uba taté a-i-meeng ze mbaé: dei minhas cousas a r11t-o Que
nao meu pai (por erro); ahé mor-apiti-ar-uera taté-Hhé ibyá o-1uká (VLB 265) :
í1-tká: quero tnatar-te · rnataram-no em lugar do assassino (por engano).
Tal constru<;áo, en1 geral rara, torna-se taxativa, 37 5. Ere-s-epiak-pe .-re g1'i31rapara? - Aan-i. N d' a-s-epiak-i. -
quando a tradu<;ao portuguesa pede "que~': Ere-s-epiá'-potar-pe? - Pá. Manió-pe ere-s-e1ar? - Kunhanibeba
o-11ho-nong it·á ar-pe. - E-r-u:r t' a-s-epiak-fe. - N d' a-r-u.r-i .xó-ne.
a-i-kuab .xe r-eo: sei que morro; a-t-kuab .~e r-eo-nam-eyma: - Mbaé r-esé-pe nd' ere-r-itr-i xó-é-ne? - E-r-ur 1nosapvr 1t1tba
sei que nao n1orrerei; a-f-lumb .xe nde sug-11.ía1n-eyma: sei que nao te abé. - Opab a-r-itr-ne. - Mbaé r-esé-pe ere-1-potar! - A-i-i-ybó-
visitarei -botar pirá am6. - Mbaé piráf - lang-bae. - Mbaé-ra1na r-esé-pe
Cpr. :re r-eo-g11ab : sei morrer ebo-kftei pirá ere-i-i.-ybo-botarf - Xe r-e-1nbi-1t-rama r-esé. - Mbaé
152 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 153
BIBLIOGRAFIA
ANCBIETA 27v; 52; F1GUEIRA 87; 157; MoNTOYA 24; REsnvo 51-52; 84;
ADAM 66-67.
.-. ~- .
•-::=-...
· =-~
._ -•
'
;.!-..
-
. .•
Pesca • flecha • i mao (STAD:SN)
CURSO DE TUPI ANTIGO 155
poro-
mbaé
385. Se o verbo come<;a por r( o)- ou no-, depois de poro- 390. Os verbos come<;ados pelos prefixos r(o)- ou no-
vem a sílaba (gil) e-: interpóem ( gu) e-:
a-poro-gúe-ra-s6: levo gente, levo os outros; ere-poro-gue-ra-só: a-ra-só : levo-o , , 1evo cousas
. a-1nbae-e-ra-so:
. levas gente, levas os outros; o-poro-gue-ra-só: leva gente, leva os a-no-sem : retiro-o a-nibaé-e-no-sem: retiro cousas
outros.
391. O verbo pode substantivar-se. N este caso, os verbos
386. As vezes, antes de vogal poro- perde a última vogal; de pronome objetivo s- costumam levar r-:
e, mais raramente, antes de consoante perde a última a-s-endub : ou<;o-o nibaé r-enduba: ouvir ( cousas), o ou-
sílaba: vido ( sentidG)
, a-s-etun : sinto cheiro de tnbaé r-etuna: cheirar ( cousas), o
a-tt : eu o como a-por-u: co1no gente (carne humana) olfato
a-i-apiti: niato-o a-por-apiti: n1ato gente, os outros xe r-asy: dói-me mbaé asy ou tnbaé r-asy: doer, dor,
a-io-sub: visito-o a-po' -sub: visito gente, os outros doenc;~
a-i-.xuban: sugo-o a-pó-suban : sugo gente, sugo os outros
392. Mbaé tem largo campo de aplica~áo nas alcunhas:
387. Se o verbo se substantiva e nao há possessivo antes,
mbaé tí-guasu: narigudo; nibaé aka'-beba.: cabe<;a chata; mbaé
nem genitivo, poro- se torna niboro- ou moro-: I enibé-gúasu; beic;udo; mbaé mimbaba: animal; mbaé iuru-apé: boca-
a-por-ausub : amo (gente) · -torta
.xe por-ausubn: eu amar, meu amar, meu amor ( aos outros) BIBLIOGRAFIA
m( b) or-ausvJ-.a: amar (gente) ; amor ( aos outros). etc.
Coletivos - tyba: FrGUEIRA 76; VLB 142; MoNTOYA, Tesoro 387/381;
388. Dos verbos abyky manusear, mo-nha11g fazer, e P'J'S':>'k apanhar, formam- RESTIVO 324: CAETANO 76-77; DRUMON D, Notas Gcrais 57-70; L. BARBOSA,
-se por-ab31ky trabathar, poro-mo-nhang gerar, e poro-pysyk apanhar ( ca<;a ou Tradu,óes 30-31 ; eyia: FIGUEIRA 5; VLB 94; 124; 145; 304; Mo NTOYA, Te-
presa), que se aplicam também aos seres inferiores. soro 376/370; ADAM 99.
Pref'.xo.~ de dasse - ANCHTETA 14v-15; 49v-50; 51-52: F1c.UF.IRA 86; 90;
VLB 282; 290; 321; ifoNTOYA 53-54; lo. Tesoro 318/312-319/313; REsTIVo
389. Poro- se prefixa tambem a verbos intransitivos, no ~2-55; 277; CAETANO 38; ADAM 9; 22-27; L. BARBOSA 173-174; lo. Os Indice.~.
393. O gerundio traduz as nossas formas verbais "ma- 397. Excecoes: Nao sendo precedido de consoante, u cede
tando, a matar, para matar". lugar a !}U-á-bo:
ú: comer gu-á-bo : comendo
DESIN~NCIA suú: morder sugu-á-bo : mordendo
395. Exce,oes: 1) Precedido de vogal, ó é substituido 400 . FINAL voGAL NASAL: l. Os acabados em a, .e ou íj
I
t
401. FINAL DITONGO NASAL ou ORAL: Recebem -a: 407. Nota: Os verbos modificados por partículas levam
enoi : chamar enoi-a: chamando o suf ixo do gerúndio após a partícula:
kai : queimar kai-a : queimando
mo-ang-aub: fingir mo-ang-aup-a: fingindo
402 · FINAL CONSOANTE: .A.crescentam -a:
aa12g-ypy: pronunciar a aang-ypy-á-bo : pronunciando
mo-nhang: fazer mo-nhang-a : f azendo primeira vez a primeira vez
pysyk : apanhar pysyk-a: apanhando epiak-ukar: fazer ver epiak-uká : f azendo ver
sem: sa1r sem-a : saindo
403. O b final muda-se etn p: 408. O gerúndio pode levar as partículas do futuro. con-
dicional, etc. :
ausub : amar · ausup-a: amando
gúeiyb: de.seer gueiyp-a : descendo abá bia-é o ayra o-gue-r-ekó-katu, memé-t' ipó Tupa, mbaé
tetirua iar-amo o-ikó-bae, asé r-ausubá-ne (AR. 22): pois se os
404 • Os acabados en1 r perdem esse r, e nada acres·- homens tratam bem a seus f ilhos, quanto mais Deus, que é o senhor
de todas as cousas, se compadecerá da gente
centam:
potar: querer potá: querendo
eiar : deixar ew : deixando SUJEITO E COMPLEMENTOS
ausubar: compadecer-se austtbá: compadecendo-se
TIPO I: Verbos de Pronome Agente
Forma Negativa
potar potá : querendo potar-eym-a: nao querendo 409. Requerem o objeto di reto (substantivo ou pronome)
ausub ausup-a : amando ausub-eym-a : nao amando logo antes do tema. Os pronornes objetivos sao xe, nde,
iuká íuká-bo : matando iuká-eym-a : nao matando
etc., nunca porém oro-, opo-. .
TIPO II : Verbos de Pronome Paciente
406. Se o tema do verbo acaba em vogal túnica, recebe pysyk: apanhar
-ramo. Se é nasal, -na1no. Nos demais casos, -amo. No
.re pysyk-a: apanhando-me (tu, vós, ele ou eles)
negativo, sempre ey1n-a1no: nde pysyk,-a: apanhando-te ( eu, nós, ele ou eles)
( xe) katu-ramo : sendo ( eu) ( xe) katu-eym-amo : nao sendo i pys31k-a: apanhando-o OU --OS ( eu, nÓS, tu, VÓS, ele OU eles)
bom (eu) bom o pys;·k-a: apanhando-o Oit -os ( eu, nós, tu, vós ele ou eles)
1
xe ty1n-a : enterrando-me iandé, oré tym-a: enterrando-nos 414. Requerem o prefixo sujeito antes do ten1a. Os pre-
-nde tym-a : enterrando-te pe tym-a: enterrando-vos fixos sao:
i tym-a : enterrando-o i tyni-a : enterrando-os
SING. PL.
o tynz-a : enterrando-o o ty1n-a.: enterrando-os
la. p.: gui- la. p. incl. : ia-; excl. : oro-
t' ia-só i xok-a: vamos pilá-lo
a-iitr i-i ok-a: venho tirá-lo 2a. p.: e- 2a. p.: pe-
3a. p.: o- 3a. p.: o-
412 .Se o pronome objetivo é io-s- (n. 323) , segue-se
ep¡ak: pak: acordar
ei: lavar gui-pak-a : acordando eu ia-pak-a, oro-pak-a: acordando nós
xe r-ei-a: lavando-me iandé, oré r-ei-a: lavando-nos e-pak-a : acordando tu pe-pak-a: acordando vós
nde r-ei-a : lavando-te pe r-ei-a: lavando-vos o-pak-a: acordando ele o-pak-a : acordando eles
164 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO
Os pref ixos persistem, ainda que o sujeito es teja TIPO II: Verbos de Pronome Paciente
antes do verbo:
419. Requerem os pronomes pacientes:
o-manó xe r-uba o-nheeng-a: meu pai morreu falando
SING. PL.
415. O s inicial do verbo, depois de git·i-, se muda em x la. p.: xe ¡a. p. incl. : iandé: excl.: oré
2a. p.: nde 2a. p.: pe
(n. 19): 3a. p.: o 3a. p.: o
gui-x6-bo : indo eu gui-.xeni-a: saindo eu
katu: (ser) bom
416. Os verbos transitivos na forma reflexiva ( n. 294)
podem seguir o paradigma pak, tnas podem também ficar xe katu-ramo : sendo eu bam
. ., .
1nvar1aveis :
iandé, oré katu-ramo : sendo
nós bans
nde katu-ramo : sendo tu bam pe katu-ramo : senda vós bons
gui-ie-iuká-bo : matando-me ia- ou ,oro-ie-iuká-bo : matando-nos o katu-ramo : senda ele bom o katu-ramo : senda eles bans
eu nos
e-ie-iuká-bo : matando-te tu pe-íe-iuká-bo : matando-vos vós
o-ie-iuká-bo : matando-se ele o-ie-iuká-bo: matando-se eles 420. Os que na 3.ª p. tem s como pronome sujeito do in-
dicativo,
,
no gerúndio recebem tun g· na mesma pesso'llz¡.'
J
ou, simplesmente, para tódas as pessoas : ie-iuká-bo apos o o:
417. Assim se podem conjugar também os verbos transi- oby: (ser) verde
tivos que levem os pronomes de classe poro- ou mbaé.
xe r-oby-ramo : senda eu verde iandé, oré r-oby-ra11io: sendo
Mas, se ficarem invariáveis, poro- se nluda para niboro- nós verdes
,
ou moro- (n. 387): nde r-oby-ranio : senda tu verde pe r-oby-ramo : sendo vos
verdes
gui-poro-pysyk-a ou m ( b) oro-pysyk-a: apanhanda eu o(g)-oby-ra1no: senda ele verde o(g)-oby-ra1no: sendo eles
e-poro-pysyk-a " " " tu verdes
o-poro-pysyk-a " " " ele. Etc.
421. Os substantivos, pronomes e advérbios, quando fun-
418. Os verbos de objeto incorporado (n. 116) podem cionam como complemento predicativo, seguem katu ou
seguir pak ou ficar invariáveis: maenduar, mas nao levam pref ixos :
gui-mimby-py-bo au 1ni111by-py-bo: tocando eu flauta ixé-ran1.o: senda eu
e-mimby-py-bo
,, ixé-eym-amo : nao sendo eu
" tu itá-ramo : senda pedra itá-eyni-anio : nao sendo pedra
o-mimby-py-bo ,, '' ,, ele ,, e1nonan-amo : senda dessa emonan-eym-anio : nao senda
forma dessa torma
11
166 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 167
ln : estar (parado)
sg. gui-t-en-a, e-in-a, o-in-a;
pi. ia-in-a. oro-in-a, pe-in-a, o-in-a.
. ..
.
1ub: estar deitado
sg. gui-t-up-a, e-iup-a, o-up-a;
'
'
pi. ía-iup-a, oro-íup-a, pe-tup-a, o-up-a.
.
·"tur: v1r
sg. gui-t-ú, e-iú, o-ú;
p 1. ia-iu, oro-·ou, pe-iu,
A "' ~, A, ,
0-1t.
EXERC1CIO
vim para te ver: a-iur nde r-epiak-a; veio para te ver : o-ur 431. Nas locu<;5es, a nega~ao modifica o primeiro verbo:
nde r-epíak-a
nd' a-guatá-í gi1i-t-ekó-bo : nao estou andando; nd' o-ker-i o-up-a:
Mas sendo distintos o s.ujeito da ora1;áo principal e o da subordinada, . ele nao está dorn1indo ; nd' oro-ar5-i xó gui-t-en-a-ne : nao te estarei
ter-se-á de recorrer ao verbal saba (n. 799), que aliás serve também para os esperando ; xe r-epwk itmé e-iup-a: nao me estejas ( deitado) olhando
casos em que o sujeito é o mesmo.
432. Também os verbos de pronome paciente tem gerúndio
Locu~oes Gerundivas perifrástico:
~e
nibaé-asy guí-t-ekó-bo : estou doente; nde maenduar e-iko-bo:
427. As locuQ6es "estou caminhando", "estou ensinando", estás-te lembrando
etc. se traduzem: Sóbre as locu~óes de dois participios presentes, v. n. 957.
I
•
\ 171
170 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO
433. Havendo dois verbos da mesma pessoa, coordenados nei ou enei ( sing.) ; pei ou pene·i ( pl.) : eia, sus ( só nas
em portugues, um deles se pode traduzir pelo gerúndio: z.as pp.) :
o-i-pysyk gúyrá, i iuká-bo : segurou o pássaro e matou-o ; guyrá riei i iitká-bo: eia, mata-o; pei, i iu.ká-bo: eia, matai-o
pysyk-a, a-iuká: segurei o pássaro e matei-o - Admite o permissivo, mas no sentido de concesslio:
nei t' ere-iuká: mata-o pois (já que o pectes ou queres)
Partículas que pedem gerúndio t' e-í tenhé utné: guarde-se de; trate de nao. . . ( só nas
3as. pp.):
434. Certas partículas levam o verbo ao gerúndio: t' e-í tenhé u1né a.he o-n.heeng-a ou o-nheeng-aup-a (VLB 254) :
aé-í-bé: Iogo entáo trate ele de nao falar
'
aé-í-bé o-ké : logo entáo dorm1u t' e-1-nhé, te-nhé: deixa, deixai ( falando de 3as. J>p.) :
•
auié, rumby, erutnby) erumby nhé) te, te-ne, te-ipó, koyté • t' e-!-nhé o-ké: deixa-o que durma; t' e-í nhé o-ikó-bo, o-up-a,
(esta posposta ao verbo), te . .. koyté, rumby . .. koyté: o-in-a: deixa-o estar, estar deitado, parado
enfim, finalmente, senáo quando; eis que, até que - Com o permissivo, supóe que ainda nao se esteja realizando a a~á6
enfin1: verbal: te-nhé Cristaos Tupd-eté t' o-i-nio-eté, e-í o boiá-etá supP. (AR. 140):
deixai que os cristáos honrem ao Deus verdadeiro - disse (Constantino) aos
te ixé gui-x6-bo : eis que nisto eu me vou; te-ne o-svk-a: ~is que seus súditos
chega; rumby :re r-uba o-basem-a: eis que chega meu pai ; aúié o-ma-
.. nó-mo : finalmente morreu ; rumby ahé o-ú' koyté: senáo quando vem té-unié ou eté-ittné: ( sing.), pe-té-umé ou pe-té-pe-unié
ele; te ahé s-e-ra-só-bo koyté : até que enfim ele o levou (pl.) : guarda-te de; ... olha nao. . . ( só nas 2.ª9 pp.) :
Há também kcyte.
té-unié s-e-ra-só-bo : nao o leves, olha lá ; té-umé ang-iré e1no-
emona ou emonan: assim (raramente com gerúndio) nan e-ikó-bo (AR. 221) : olha, doravan te nao fa<;as mais assim; té-
-umé e-só-bo: guarda-te de ires; pe-té-umé xe r-apiró-mo (AR. 88) :
emanan i potá: assim o quis ele
nao me lamenteis
iá, iíá, iíá íá-by, iíá niuru, iíá íá-by ma, iiá-by a.nhé ma: Por vezes té-umé é acompanhado da partícula ké,
ainda bem Que podendo o gerúndio levar ainda nhandit e rita ( n. 208) :
iíá mburu o-manó-11io; iíá mburu o-mbaé-asy-ramo (AR. 102): té-um~ ké guyrá pysyk-a: guarda-te de apanhares o passarinho;
ainda bem que morreu, ainda bem que adoeceu; iiá-n' ahé (VLB 263): té-it1né ké s-e-ra-sóbo nhandu rua (VLB 253): guarda-te de o levares
ainda bem por ti, por ele
Igual sentido tem o imperativo negativo com aquetas partículas (n. 208).
memé, memé-te(-ne), memé-t' ipó: quanto mais. com
. ,..
ma1or razao
435. Nota : N em tódas essas partículas exigem o gerúndio com a mesma
obrigatoriedade. Encontram-se exemplos em contrário:
memé-t' ipó i~é a-i-mo0-11hang-mo (FIG. 143) : quanto mais eu faria isso
V. ex. n. 408.
172 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 173
ape-ok (i) : desentortar suer, súé, só ( suf.) : por pouco 440. Que estás fazendo? Estou desentortanto minhas flechas (fut.).
tn ( b) o-sá-ká: ferir o~ olhos a que Teu irmao que está fazendo? Está dormindo. Onde está dormindo?
Queres que o desperte? Nao. Deixa-o estar dormindo. Quase que
43 7. Bé-rameí, iá-síiar, etc. nunca levam o prefixo verbal: itá bé-ramei ixé-bo morreu de cansado, e deitou-se querendo dormir. Agora, que estás
(VLB 89) : afigurou-se-me ser pedra. co1nendo? Estou bebendo leite. Que outra cousa estás f azendo?
Bé-1'a111ei compóc-se de ramei "igual, semelhantc, como": i ramei como Vim para te ajudar a acender o fogo. O fogo apagou. Eia, iJ>OÍs,
ele, igual, semelhante a ele ( erp tamanho, qualidade, etc.) ; aipó raniei como acende-o. Quem o apagou? Parece-me que ninguém : apagou por
aquilo, daquela rnaneira. O mesmo significa ntmgara: kó nuHgara como isto,
desta maneira ; i porang nungar-eyma é belo sem igual ; o-mendar o mmgara si mesmo. Nao : eu o soprei e apaguei. Que estás f azendo aí parado?
r-esé: casou-se com urna igual a ele; nd' i nungar-i: nao tem igual. Estou esperando o meu avo. Por que estáo rindo aquel es homens?
Com o gcrúndio, bé-ramei, ntmgara, etc. equivalem a "como se" : gúi-ie- Estao zombando de nós. Guardem-se de falar de mim (VLB 284).
-byr-eym-a bé-ramei, xe sy xe r-apiro-pi.ro-ú: como se eu nao voltasse, rninha Por que nao f oste ontem a ro<;a? Ontem estava doente. Por que
mae me chorava. nao vieste visitar-me com teu cunhado? Eu estava apanhando jabo-
438. X e maraar-a1no, xe r-esarai mbaé ú suí. Mbaé-pe ere-i-apó ticaba. Jaboticaba nao tem talo? Tem [talo] . Que outra cousa
e-in-a? Xe guyrapar-ama a-i-apar gui-t-ekó-bo. Nd' a-só-i nde r-aró- apanhaste? Estive apanhando vagens de feijao. Estáo verdes, ou
-nto. A-iur nde r-epiá-potá. Xe anama o-manó guarini-a-me, o-iabab- já estao cheias? Já estao maduras. Traze-as para que as debulhemos.
-eyni-a. lxé gui-nianó-potar-eym-a, a-iabab. Mbaé r-esé-pe ere-iabab Já as debulhei com meu cunhado, e já espalhei os graos no
e-ikó-bo? T é-umé ké e-iabap-a nhandu ruii. N d' a-iabab-i gui-t-ekó- chao. Recolhe-os logo : vai chover de tarde. Dizes, como se eu nao
-bo. A-ker gúi-am-a. 0--manó o-á. Mbaé-pe ere-ú e-in-a? A-pirá-ú soubesse ..•
gui-t-en-a. X e penga o-só s-obaiara r-e-ra-só-bo. Auíé s-e-ra-só-bo.
!á s-e-ra-sóbo. Aé-pe gui-xyk-a, a-manó-ne. S-oby ybaka. Nhu BIBLI,QGRAFI/\
s-oby. S-oby parana abé. Mbaé r-esé-pe? lkó-bae r-esé: moroby ANCHIETA 29v; 56-S7v; FrGUEIRA 155; 158-164; MoNTOYA 24-25; REsnvo
nhó-te nd' íandé mosá-ka-i, - bé-rameí ixé-bo. A-íur nde pytybo-tno. 85-90; 145-153; CAETANO 31-35; ADAM 58-65; L. BARBOSA, Tradufoes 31-32.
~l1baé-pe ere-s-epiak e-ikó-bo? Guariba bé-ramei ixé-bo. Uma-pe?
0-iabab uma, raniei-bé. Ere-manó suer-i, xe sy gué. 0-íe-kuab-pe '
asé anga? Nd' o-ie-kuab-i. Mara-natuo-JJe! O eté-ey~amo.
Ere-i-mo-ape xe r-uuba: a-i-ape-ok-ne.
439.
acender: 1no-ndyk rir: puká
apagar : m ( b) o-gueb, tr. deitar-se : nhe-nong
ap¡gar: gfieb, intr. recolher : eyi-nhang ( s)
CURSO DE TUPI ANTIGO
I
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 177
176
447. Se é paroxítono, perde a última vogal. A consoante 452. Piá ! Mara, paí? E-s-epyi xe r-e-mi-tyma. A-iasuk gui-t-ekó-bo.
final, sendo r ou b, pode mudar-se para t ou p, respecti- Aé-pe nde, Karaguataguasit? A-nhe-nong gui-t-up-a. Ybyrapitang
vamente: gué ! Mara? E-s-epyi xe r-e-mi-tyma. T'a-s-epyi koromó. N d'
178 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 179
ere-~-a1-nói xe 11ibaé !
X e r-u b ió ! Mbaé, xe r-aiyt? K urumi o-nis'-a- 453.
-pu-niini, o-bur-eyni-a. N ei ygara r-eky1a, t' cre-i-pysyro-ne. N da ilha: y-pau cabo: apoa
xe pukui. Mara? N d' a-pukuí-kuab-i. E-s-enoi ygá-puku~-tara, i terra (de origem) : aupaba terra (residencia' : etatnu (t)
x1tpé ygá-pukui-taba meeng-a. Taá, ma1nó-pe ere-s-eiar xe ygara? caminho: pé, piara (n. 252) batalha: mará-t-ek<1
A-i-pu-mim ygar-upaba suí, t' o-s-epiak umé t-obaiara-ne. Aé-pe nde irmá rnais moc;a (da rn.) : py- chamar-se : er ( s) ( xe)
ygara nia:mó-pe s-en-i (está)? A-s-ekyi yby-pe. X e pytybo peiepé kyyra
... . -
. a' guerra: so, guari.ni-ramo
y-pe s-e-ityk-a (lanc;á-la). Pe-no-sem pe mbaé i xuí t' o-kwb apúan- tornar novo nome: ie-er-ok 1r
mudar para : sem [-pe] , pe . ...f
e. . . .? .• ae-
-gatu. E-nheeng-poir, e-á koyté ! 0-nhe-pu-mim ygara! ! /
454. Aonde f oste, meu filho? Fui a guerra. Onde fol a batalha
(pass.) ? (Foi) em Itacuatiara. Mataste algum inimigo? sim.
Matei urn. E tu? Eu nao fui a guerra. Qual era o norne do ini-
migo? Maracajaguac;u. E nao tomaste novo no1ne? Sim. Tomei.
Qual é o teu non1e ? Caramuru. Belo nome. - De onde vens, mano?
Venho de Sapopema. Por onde passaste? Passei por Piraguac;u.
Onde é o cam-inho de Piragua9u? É lá. A quen1 viste em Pira-
guac;u? Vi o Pindobuc;u e o Cururupeba. - [Como se chama]
(qual o nome d)aquela cidade? Acaraí. E qual é o nome daquela
ilha e da.quele cabo? O nome da ilha é Ipaúgua~u. O nome do
cabo J:lláo sei. - Qual o norne de tua terra (de origem) ? Itapemi-
rim. E o teu lugar de residencia? Reritiiba. - Como se chama
aquele morro? Tinharé. - Quem nasceu em Aiuruoca? Eu ( bia),
[mas] mudei-me de Iá para Piratininga. - Como se chama a irrná rnais
moc;a de Guarapiranga? Piracanjuba. E o irrnao dela? Potirn.
Onde mora ele? [ verta-se: onde é a sua residencia ?J Em Nhauúrna.
BIBLIOGRAFIA
Antroponimos - STADEN 149-151; CRONISTAS, passim.
Etnonimos - CRONIS(AS, passim; CARDIM 194-206; CAETANO, Notas
207-276.
Topónimos - CRONISTAS passim; SAMPAIO, passim.
Vocativo - ANcHIETA 9-9v; FIGUEIRA 9; MoNTOYA 2-3; RESTIVO 13;
DALL'lGNA, Análise 68.
-
-
CURSO DE TUPI ANTIGO
Idiotismos
Fulano":
a-1 ·ábo : dizendo eu, tu, ele, etc.
NEGAT.: gui-é-ey1n-a, e-é-eym-a, o-é-eym-a; ía-é-eym-a, oro-é- Itajibá diz a Tingua<;u: "Dize a Caramuru que nao venha":
-eytn-a, pe-i-é-eym-a, o-é-ey1n-a: nao dizendo eu, tu, ele, etc. T' o-ur u:nzé Kara1nuru-ne - er-é i .:i upé (lit.: Nao venha
Caramuru - dize-lhe)
Tingua<;u diz a Caramuru: "Itajibá te n1anda dizer que náCl
456. Embora se conjugue cotno verbo intransitivo - setn , " : T' o-ur ume, K aramuru-ne - e-i, nde- be I taiy b'a, -
vas A
pronome objetivo da 3.ª p. - exige sempre, antes do sujeito, er-é i xupé (lit.: N.á o venha Car'lmuru, diz-te ltajibá,
o objeto direto ou pelo menos o demonstrativo aipó "isso", dize-lhe)
"aquilo", "o":
Assim também se traduzem as palavras dos outros,
aipó e-í nde-be: isso te diz ele; aipó t' a-é: di-lo-ei pois; a-só,
er-é: dizes que vais (lit.: vou, dizes tu); a-iiiká-pe ká, a-é: matá-lo-ei,
n1esmo quando referidas indiretamente:
disse ( deliberei) ; aipó i é nd' a-i-kuab-i: nao sei que ele diga ( disses- nao ouvi meu pai dizer que o chamasse: xe r-enoí tepe, xe r-uba
se) isso; ere-manó-ne, a-é: digo que morrerás; ere-nianó, aé-ne: direi i-ag-fiera, nd' a-s-endttb-i (lit.: chama-me, <lito de meu pai,
que morreste; aipó nd' a-é-i ou mesmo nd' aipó nd' a-é-i: nao o digo nao o ouvi)
12
182 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 183
462. Com complemento regido de r-esé, é katu significa 464. tenhé: em váo, de balde, a toa, sem outro f im, falsa-
"saber ±azer": mente
a-é katit ebouinga r-esé : sei f azer isso ; er-é ka tu, s-esé: sabes pe-i-é tenhé pe-iabap-a: fugistes a toa, sem necessidade; e-í tenhé
faze-lo; nd' e-í ka tu 11ibaé r-esé : ele nao sabe f azer nada o-pytá-bo: ficou em vao; a-é tenhé nde nu,pa-tno-ne (VLB 382): a
toa te baterei ; er-é tenhé xe r-ausup-a: debalde me amas; oro-é tenhé
Outras partículas: oro-i-á-bo : dissemo-lo a toa; de nlentira; t' e-í tenhé unié o-nheeng-a
(VLB 254) : guarde-se ele de falar a toa; t' e-í tenhé 'lt11ié ahe aipó
463. byté(r) (-i): ainda, continuar o-í-á-bo ( ib. 306) : guarde-se de dizer isso a toa, de gracejo; e-í tenhé
oro-é byter i 1no-nhang-a: ainda o estamos fazendo; e-í byter i ipó o-í-á-bo: ele disse isso por cac;oada
pysyk-a: continuou segurando-o; a-é byter aípó gui-i-á-bo : ainda o
digo; nd' eré-i byter-i-pe e-iup-ar : nao continuas deitado?; e-í byter-i 465. - un1,.u""'-a, y1na,
unia, - yniua:
.,,,,.._ .,
Ja
ahé xe amotar-eym-a (VLB 339) : ele continua a me odiar; e-í byter a-é uma gui-xó-bo (FIG. 160) : já vou
o-mbaé-asy-ramo : ele continua doente
uman-i, untuan-i, ynian-i, ymila,n -i: devagar, tardar, nunca
é: tempo virá em que
acabar de f azer
e-í ahé i kuap-a-ne ou e-í é ipó ahé i kuap-a-ne (VLB 403):
tempo há de vir em que o saberá a-é uman-i gi'ti-gúa.tá-bo : levo tempo para andar; e-í ymi'tan-i ahé
i mo-nhang-a (VLB 347): náo acaba nunca de o fazer
ié: ainda, continuar - Estando na forma negativa seja o verbo é seja o
a-é ié s-epíak-a: ainda continuo a ve-lo; e-í íé o-ké: ele continua
donnindo gerúndio, o sentido é o mesmo :
•
nd' a-é-i yniúan-i i 1no-nhang-a ou a-é yniítan-i i 1no-nhang-ey1n-a
ké: ( com v. neg.) : nao tivesse ... (VLB 401): tardo muito em o fazer
nd' er-é-i ké e-iaseó-bo . .. : nao tivesses chorado. . . (e, p. ex., Para ANCHIETA, quando u:n dos verbos é negativo, o sentido é algo
nao te teriam desprezado) df verso : " nao acabar de come<;ar ". Cpr. :
a-é uman-i nibaé gfi-á-bo (ANcH. 57v) : detenho-me muito em comer
nd' a-é-i 11,man-i 1nba.é g ú-á-bo ou a-é 11.11ian-i mbaé ií-e)im-a ( ib.) :
1nemé-nhé: em tudo igual a uman-i ainda náo acabo de come<;ar a comer
nhé: já
er-é nhé e-só-bo: já vais; t' e-í nhé o-ikó-bo, o-up-a, o-só-bo, o-in-a 466. rarihé: ( com v. af irm.) : prin1eiro, adiante
(VLB 177) : deixa-o já estar, jazer, ir, estar parado; t' e(-í) nhé t' a-é-ne ranhé gui-.,-ró-bo : que eu vá ( irei) pritneiro
-n' o-ikó-bo ká (VLB 177) : ( resolvo) que o deixem já ir; e-í nhé-pe Só se usa na t.n p. s. Para as outras há circunlóquios:
o-ikó-bo-nc? (VLB 177): já ficará assim? já o deixarei estar? nei nde ranhé e-só-bo ou neí e-só-bo raiihé; peí peé ra1ihé pe-só-bo ou
1 peí pe-só-bo ranhé; t' e-í nhé o-só-bo ranhé ou t' c-í nhé t' o-só. Etc.
teé: ( com v. neg.) : de propósito, por isso mesmo
nd' a-é-i teé gui-ie-by : por isso mesmo voltei ; nd' e-í teé o-ma- 467. ( com v. neg.) : ainda ( ranhé vai no f im)
nó-1no: por isso mesmo morreu; nd' e-í teé o poxy-eyni-anio, o anga- Cpr. nd' o-ur-i ranhé: náo veio ainda ;' nda s-ar-i abati ranhé:
turam-eté-ramo (AR. 137) ; por isso mesmo ela foi bela, santíssima o milho ainda nao tem espiga
186 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 187
nd' a-é-í nde r-epíak-a ranhé : ainda nao o vi ; nd' a-é-í unwn-i tyk: seren1 tnuitos ( só no pl.)
mbaé gu,-á-bo ranhé (ANcH. 56v): ainda náo acabei de con1e~ar a
comer; nda pe-é-~-pé pe niaenduar-anio ranhé?: ainda nao vos lem- tyk oro-é, ia-é, pe-í-é, e-í: son1os, sots, sao muitos
brais?; nd' e-í o-íyp-a ranhé: ainda nao está assado · nd' e-í o ekó-
• • J
-ranw r-upi o-ikó-bo ranhé ybá: a fruta ainda nao está como <leve 1iing, ning-ning: latejar ··
(~it.: segundo o seu futuro ser) ; nd' er-é-i i kuap-a ranhé-pe?: ainda
nao o conheces? .: nd' e-i nde pysyk-a ranhé-pe guá?: ainda náo te
ning e-í xe akanga: tninha cabe<;a está latejando
prenderam?
guym: sair depressa, voando, zunindo
468. Nas respostas, pode-se omitir o gerúndio, e mesmo guy11,i a-é nhé ou gt1ym a-é: saí as pressas, voando
ranhé:
ainda nao o conheces ? : nd' er-é-i i kiiap-a ranhé? . ainda nao: Verbo é impessoal
nd' a-é-i i kuap-a ranhé ou nd' a-é-i ranhé ou nd' a-é-i, i kuap-a ou
nd' a-é-i ou aan ranhé
472. Os documentos tupis nao no atestam, mas por analogi:i
469. Com ranhé, o verbo pode deixar de ir ao gerúndio:
nao está ainda deitado: nd' e-í o-up-a ra1"thé ou 11d' c-í o-ub ranlié · com o guarani concluimos que o verbo é devia ter tambén1
ainda ~~ vos lembrais? : nda pe-é-i-pc pe maenduar.-amo ranhé? o~ a func;ao impessoal de "fazer":
nda pe-e-1,- pe pe-maenduar ranhé !
a fra~e,
roy e-í: faz frio (Cfr. MoNT., floc. 286); iasy e-í: taz lua ou
470. Ranhé, claro ou subentendido, dá
. cedo" amiúde o sentido de "ser
,
cedo", '' ser mmto : luar (id., Tes. 185); piryai' e-í: faz calor ou suor (id., Voc. 130);
t' ia-só-'!e. N d' e-í a11gá-i: vamos! É muito cedo; N d' e-í ara (V1.B aman' e-í ou aniand-y e-í: chove (ib. 355); amá'-pytu.n' e-í: está nu-
148) : ainda r.esta grande parte do dia. É ainda -cedo. blado ( ib. 389) ; y t-ypyak' e-í : congelou-se a água ( ib. 435) ; t-ypyak'
e-i kamby: coalhou-se o leite ( ib.) ; pytu-y e-í: faz ou deita vapor
Modismos onomatopaicos (id., Tes. 30lv/29Sv)
471. Certas partículas onomatopaicas, seguidas do verbo é, É provável, pois, que houvesse em tupi constru<;óes como
formam curiosos modismos: kuarasy e-í: está f azendo sol
ten: firme, f ixo, encaixado
Mas o modismo é restrito aos fenomenos atmosféricos,
a-é, er-é, e-'Í, etc. : estou f irn1e, estás firn1e, está f inne, etc.
ten
ten nd' a-é-1, nd' er-é-i, etc.: nao estou firme, etc.; ten a-i-11io-é astronomicos e semelhantes.
(ou a-i-nio-ten) : eu o firmo, encaixo, etc.
EXERC1CIOS
tak, tatak: dar estalo, bater
tak e~í guyrapara: o arco deu un1 estalo 473 . .Conjugar no indicativo, presente e futuro, afirmativo,
negativo, interrogativo:
tek: quebrar-se estalando, estalar dizer náo dizer ainda
te!~ e-í ybyrá: a árvore estalou nao o ver ainda nao ir ainda
188 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 189
474. Tinguac;u diz a Akangatá: Akangata, e-kuaí íakaré y-pe, o-manó mo-ang-aub: fingir, fazer que, pensar erradan1ente:
xe sy, er-é Abatiuna supé. Akangatá diz a Abatiúna: 0-1nanó xe
sy, e-í nde-bo Tiguasu, er-é i xupé. a-só-mo-ang-aub: finjo que vou; o-só ipó reá mo-ang-aup-a, aípó
T' o-í-kttab, g-0,i-í-á-bo, a-é i ,t:upé. A-s-epíak ipó xe r-ayra-ne, a-é : eu disse isso, pensando erradamente que tivesses ido
o-i-á-bo, Abatiuna kfiesé Aíuruok-pe i xó-u ( f oi). Aipó .~e é Cpr. também as frases:
nd' a-í-ku:ab--i. 0-só ipó, oro-í-á-bo, nd' oro-s-ekar-i. X e íuká-ne, pe-
-i-á-bo, nda pe-ker-i. Nd' e-í o-pak-a ranhé, gui-í-á-bo, nd' a-s-enoi. xe r-epiak-aub iepé: finges que me ves; nda xe r-epíak-aub iepé:
N d' e-í o-manó-mo ranhé-pe t-obaíara? N d' a-é katu-í i kuap-a ranhé. náo finges que 111e ves; nda xe r-epiak-eym-aub-i íepé: finges que nao
N d' a-é kat,u-i gtti-xó-bo ranhé-pe? N d' e-í ranhé. X e r-ub gité ! me ves; nda xe r-epiak-aub-eyni-i iepé: nao finges que nao me ves
oro-é katii-pe parana-tne ytap-a! N da pe-é · katt{-i. Mbaé-pe e-í Sobre a locu~ao nda s-aub-i, v. n. 576.
nhandé-be? N da pe-é katir:-i, e-í. N d' oro-é katu-í oro-ké-pc! Aan-i.
Mbaé-pe e-í! Aan-i, e-í. Mbaé e-í-á-bo-pe, aan-i er-é? T' o-manó 479. Posso dorn1ir? Sim. Podes dormir. Que nle disse ele? Dis-
u1né-ne, gúi-í-á-bo, aan-i a-é. Nda aípó e-í-á-bo rua, aan-i er-é oré-bo. se-te que sim, que podes dormir. Podes vir tu també~ co?'ligo?
Mbaé-te-pe gui-í-á-bo, aan-i a-é peé-mo? Ere-nhe-nong e-íup-a? Eé. Posso. Vem, pois, comigo. Ainda nao vou. Por que, po1s, d1sse~te
A-nhe-nong gui-t-up-a. que vinhas? Disse que ia, supondo erradamente que pudess.e 1r.
Agora ainda nao podes v.ir? Já V?U. i:inges. q~e ná? q;ieres Vl~: ..
aub Traze também o teu amigo. Leva-lo-et e de1xa-lo-e1 at. Abattuna
ainda continua doente? Nao. ~le está só dcitado. Está f ingindo que
475 · auba: falso, de mentira; mesquinho; aub: falsamente, dorme. Ainda náo se levantou? Levantou-se dormindo. Por que
mesquinhél;mente, sem resultado, fingidamente, de má von- se levantou dormindo? N em bem se tinha deitado . . . - A on~a
fingiu que nlorreu. - Nao finjas que nao. me estás :ren~o ..- Náo
tade, mal, apenas, só: finjas que nao sabes fazer isso. - Nao digas que nao f1n~1ste que
abá auba: hornero mesquinho, de burla; mbaé kuap-ar-auba: sábio nao me vias. - Con1 que inten<;ao fingiste que estavas dorn11ndo?
fingido, de n1entira, in1postor; ere-ker-aub: finges que dormes;
nif' ere-ker-aub-i: nao fin ges que dormes; a-é-aub: pensei ( ~
BIBLIOGRAFIA
disse) errada ou falsamente; supus; iinaginei
Repetido o verbo, fica mais claro o sentido de " fingir " : Verbo "dizer" - ANc BIETA 54-57 ; FIGUEIRA 54-56; 159-163; MoNTOYA
o-i-tneé·-meeng-aub: f ingiu que o deu 55-59; RESTIVO 122-133; CAETA NO 40; 78-79; ADAM 72-74; L. BARBOSA, o
Vocabulário 17-18.
476. Repetido aub, exprime-se "grande desejo": Modismos onomatopáicos - guym: VLB 120; 302; ning : VLB 273; tak:
VLB 204; tek: REsTrvo 126; ten: ANCHIETA 57; VLB 118, 204; 238; MoNTOYA
a-iur-aú'-aub: desejo muito ir 58-59; In. Tes oro 378v/372v; RESTIVO 126; tyk : ANCHIETA 57 ; VLB 264; 304;
395; 417; MoN TOYA 390/ 384.
aub - A N cHIETA 35; FIGUEIRA 138-139; VLB 291; 237; 382; 414;
477 · eyni-aub ( com v. neg.) : fingir que nao: pass1m.
nd' a-só-eym-aub-i: finjo ou fac;o que nao vou
478. nio-ang: pensar, cuidar, imaginar, fingir, debalde:
a-só-nio-ang: cuido ir; ntbaé kuap-ara mo-anga: sábio tido
como tal
!
CURSO DE TUPI ANTIGO 191
487. Antes de nio-, pode vir ~ partícula poro-: piri«i : bolha (da pele) ; empo- endy ( t) ( xe) : estar aceso
a-poro-mbo-é: ensino (gente) lado i'-atá-py: fazer fogo (para si)
a-poro-1no-ie-nio-pi' -roy: fa<;o com que se ref resquem piruá-pf'tera: calo ; caloso ase'-asenia ( t) ( t) : gritaría
mo-mbeb: esmagar atá-tinga ( t) : f uma<;a; ( xe) :
Irregulares nhe-mo-mbeb: esmagar-se, aga- fumegar
char-se l7é-nhé, bé-no: tornar a
iá ou iab : igual, do tamanho de ikó: eis que, aqui, agora, já
488. A-ytaro (n. 301) é transitivo, mas admite o prefixo o-io-iab : iguais; igualmente (vis.)
nio-, sem alterac;ao de sentido: ar-bo : encima de
a-i-mo-ytaro: farto-o
494. O-nhe-mo-p;1titn. !asy-t-atá s-endy ybak-pe. - lasy iá-ne
489. De potar "querer, desejar", forma-se mo-1nbotar ou kuarasy. Aan. N d' o-io-iab-i. - Ybytu o-í-mo-y-roysang, kuarasy
nio-1notar "fazer-se cobic;ar ou querer." O su jeito de o-i-mo-aku' bé-nhé. - Xe iuru kaneo xe r-asé-r-asem-anio. 0-í-mo-
"fazer" é o mesmo objeto de "querer" ou "cobic;ar": -kaneo xe apysá nde r-asé-r-asema. X e mo-apysá-kaneo nde r-asé-
-r-asenza. - A-i-mbo-ar t-atá. E-i-mo-endy t-atá ta s-atá-ting umé-ne.
a-i-m~-mbotar xe r-uba:f a<;o meu pai me querer, fac;o-me querer Mbaé r-esé-pe nd' ere-i-mo-endy-í nde aé-ne? T-atá e-í byter og-endy-
d~ meu pa1; xe nto-1notar ahe aoba (VLB 156) : faz-me cobi<;a a roupa -ramo. N d' er-é-i t-atá mo-endy-á-bo xe ini guyr-pe ranhé-pe? N d'
dele; a-nhe-mo-1notar aipó mbaé r-esé: cobi<;o essa cousa a-é-i. N d' a-é-i xe syk-a. - Ybytu t-atá o-~-mo-gueb ikó. E-f-atá-py
bé-nhé. - Mbaé r-esé-pe ere-í-peíu t-atá? T' o-gueb umé-ne, gúi-
490. O causativo de ikó "estar" é 1110-ingó "colocar, por" · de iké "en- -i-6-bo, a-i-peiu. - T-atá o-poro-apy. - X e r-amyia o-i-mo-mbeb
t rar '_' ,~
#
mo-~1ige
• , "
mt~
• od . "
uz~.r ,; de iur
,,. " vtr
. ,, é .mbo-ur "fazer
' vir''; de
atyro arranJado, enfe1tado e mo-ngatyro "arranJar, enfeitar ", etc. t-obaiara akanga, i iuká-bo. - Paka o-nhe-1ni11t ybyrá guyr-pe, o-nhe-
-mo-mbep-a. - A-i-mo-nhe-niim xe r-aiyra. - Na nde iab-i ixé.
Manó "morrer" nao admite o prefixo 1110-.
0-io-iab iandé. Oro-1,o-ausu,b o-Ío-iab. Ta pe-nho-nio-io-iab-ne. -
491. Repetido mo- antes de mo-sem "fazer sair tocar para fora ", forma-se E-i-mo-ingó-katu xe ini t-atá ar-bo. - Y gá-pukuí-taba xe mo-pó-piruá
mo-mo-sem " acossar, correr atras
' de " . , o-ikó-bo. I xé abé xe pó piruá-puer' -n' ikó.
497. Para [me] emagrecer, cansei-me muito, arrancando mato. quebrar, partir; de sok
O sol me fez suar. Assim eu [me] en1agrecerei logo. - Queres
beber água? Náo. Nao tenho sede. Tenho fotne. Eu quero comer. BIBLIOGRAFIA
Para que (n. 198) queres con1er? Para (n1e] engordar, e para me ANcHIETA 48-49; FIGUEIRA 91-92; MoNTOYA 48-49; REs~1vo 59-61_;
tornar fo rte. Que queres comer? Queres carne crua? Quero carne CAETANO 37-38; 39; ADAM 47-48; L. BARBOSA 172; 184; DALLlGNA, A?ia-
1noqueada. Moqueia.-a, pois, para que ( n. 198) a con1a1nos. Náo. lise 64-65.
Fala com n1eu irmáo e pede-lhe que a n1oqueie para min1. Por que
nao a moqueias tu mesmo? Porque náo sei fazer isso (n. 462).
J á falei con1 ele, ( n1as) ele respondeu que nao a 1noqueia. Por que
nao a quer moquear? Porque a carne está muito nojenta.
- Por que nao comestes ainda os vossos prisioneiros? N ós os
estamos engordando prin1eiro.. Como queres comer a carne deles?
Quero que fac;as a carne moqueada. Nao posso fazer a carne moquea-
da: nao há lenha seca: o sol secou só as folhas das árvores; a ma-
deira ainda está muito verde. E as frutas, por que náo as comes?
Ainda náo estáo n1aduras. Por que nao as apanhas para amadure-
ce-las? Elas estáo ainda muito verdes. - Queres mais un1 pe<lac;o
ainda? Nao. Comida eu ainda tenho; agora quero o acompanha-
n1ento [dela]. Dou-te clois bocados apenas. Tu n1e fazes (ficar con1)
[ter J os brac;os cansados! E tu, queres f arinha? Nao. Estou farto.
E maracujás? Nao. ~les me enjoam.
- Vim (para] conversar contigo. - ~le está conversando con-
sigo mesmo. - Quen1 te sujou a cara? 11inha cara nao está su ja!
- Tua casa está vclha. Eu a renovarei. Eu também era novo
e [me] envelheci.
508. Nos n1odos de pronon1es pacientes ( n. 336), o pre- 509. O gerúndio segue o infinito, exceto na desinencia.
fixo ro- ou no-, precedido de objeto direto, recebe um e-, 510. Como 1no-, o prefixo ro- ou no- nao se antep6e a
que varia desta sorte: verbos transitivos. Se estes, porém, estao na for1na refle-
xiva, ou se leva111 as partículas poro- ou 1nbaé ou objeto
INFINITO: e-ro-kera incorporado, equiparam-se a intransitivos :
a-ro-por-attsiib :i:e sy: f iz 1ninha n1ae amar (g.) co111igo; oro-e-ro-
el. sup.: t-e-ro-ker-a: dormir com (g.) ; fazer (g. ) dormir com -por-ai,sub: eu te fiz an1ar (gente) co1!1igo; o-gtie-1:0-íe- peá: fe-I?s :e-
el. inf. : s-e-ro-ker-a: dormir com (c.) ; fazer (c.) dormir com pararen1-se con1 ele; pe-ro-y-ú. p~ r-e-i1nbaba: fazet as ~os~as cnac;oes
x e r-e-ro-ker-a: 1) fazer-n1e dormir con1; beberem água convosco ; bebe1 agua com as vossas cn a<;oes ; ere-ro-
2) dormir comigo -ybak-epíak-pe 111itanga? : f izeste a crian<;a ver o cén contigo?
nde r-e-ro-ker-a : 1) fazer-te dormir com; O prefixo ro- ou 110- nao é muito usado com suhstantivos, adj etivos, partí-
2) dorn1ir contigo culas e mesmo corn os verbos de pronome paciente.
s-e-ro-ker-a: 1) faze-lo dorn1i.r con1;
2) dormir com ele EXERCfCIOS
o e-ro-ker-a : 1) faze-lo donnir con1; 511.
2) dorn1ir co1n ele bak: intr. virar (de dire\áO} ro-gueiyb, ro-iyb : fazer descer
iandé ou oré r-e-ro-kcr-a: 1) f azer-nos donnir com ; ie-reb : virar-se (rodando) nio-asy : arrepende~-se de
2) donnir conosco bur: surgir, emergir amotar: tr. querer ben1 a
pe r-e-ro-ker-a: 1) fazer-vos dormir con1; ti [ sui] : ter vergonha de apyania : inclinado
2) dormir convosco kapiiguara: capivara
nio-ti : envergonhar
s-e-ro-ker-a : 1) f aze-los dormir com; kaá-ysá, ka-ysá : cerca de ramos
no-ti: envergonhar-se ( cotn o
2) donnir com eles
ato) de
o e-ro-k cr-a: 1) faze-los dorn1ir co1n;
ro-yro: detestar anama: ra<;a
2) dormir C0111 eles
ro-ie-byr : voltar con1 angaipap-aba: ruindade
1) fazer a crianc;a donnir con-
1nitanga r-e-ro-ker-a : .
sigo;
mo-ingé: recolher obaké ( t) : <liante de
ro-iké: recolher Koema: n. pr.
2) dormir com a crian<;a
ro-ar: irruir sobre, arrebatar kó ara puku-i: para sempre
nde :1:e r-e-ro-1.·er-a: tu rne fazeres donnir contigo; dormires co- 512. Ybytu o-bak paranii suí ybytyrq, r-csé, ygara r-e-ro-bak-a. -:-
migo · paté x e r-e-ro-ker-a: f azer-me o pajé dormir consigo; K oema o-gue-ro-bak o ekó-puera. - N d' oro-gue-r-ekó-i oré r-e-mbi-
dorn1Ír o pajé co1nigo ; ixé s-e-ro-ker-a: eu faze-lo dormir co- -ú-ra111a. - 0-bur kapiigf'tara. - A bá o-gfie-ro-bur kunttnií r-eté-
migo · dorn1ir eu C0111 ele ; paíé s-e-ro-ker-a: O pajé faze-lo dormir Con- -pu.era. J akang' apya1n. - Ybytu amana o-gue-ra-só. - X e r-ayr,
sigo;' o pajé dormir com ele; Pindobusu nd' ~-s-epíak-i paié ~ e-ro- t-obaíara r-obaké e-íasegft-á-bo, xe nio-ti íepé-ne. Ná nde nhó-te rua
-ker-a : Pinddbuc;u nao viu o pajé faze-lo ( a P1nddbu<;u) dormir con- - e-í 1norubixaba - opá-katu Tupinambá-te kó ara puku-i o-gue-
sigo ( con1 o . pajé) ; Pindobu<;u náo viu o pajé dormir con1 ele ( con1 -no-ti nde rayra-ne. - Kunha o-s-enoi t-ayra s-e-ro-ké. - Taguató
Pindobu<;u) ; P indobusit nd' o-s-epiak-i paíé s-e-ro-ker-a: Pindobu<;u (o gaviao) inambu o-gt1e-ro-ar. - J.1ara-nanto-pe nda pe-í-11io-ingé-í
nao viu o pajé faze-lo (p. ex., a Caobi) dormir consigo ( con1 o pajé); oré r-e-mbi-ar-uera kaá-ysá-pe? Oro-gue-ro-iké biá.. . M a1nó-te-pe
Pindobuc;u nao viu o pajé dormir com ele ( C0111 Caobi) s-e-kó-u (estáo) ? 0-íabah, ixé o e-ro-iké riré. N d' o-1abab-i. Ogue-
I
.. -
LEMOS BARBOSA
a-s-csá-kzituk: furo olhos (de animal) ; 011. furo os seus olhos (dele) ; 533. Mas, en1 lugar de todas essas construc;óes, mais comum
a-s-esá-kutuk xe r-e-i1nbaba guyrá: furo os olhos a meus passarinhos; é a analítica :
oro-embé-kutuk: furo-te os lábios: .-re-r-e1nbé-kutuk: furou-me os
lábios a-i-kutuk xe r-e-imbaba 1w111bi; a-í-monha11g .i-e r-uba kó;
a-i-kutuk xe r-e-imbaba guyrá r-esá; o-i-kutttk xe r-esá. Etc.
itpir: erguer
534. O substantivo se pode incorporar, sempre que cor-
a-s-upir: ergo-o ; a-1nbaé-1tpir: ergo urna cousa; a-i-iybá-upir 11ia- responde ao nosso complemento restritivo:
raá-bora : ergo os bra<;os ao doente; nde-iybá-1tpir: levantou-te os
bra<;os cortei a raíz da árvore: a-i-kyti 31byrá r-apó ou a-s-apó-kyti ybyrá
t !
viste o filho do chef e: ere-s-epíak-pe morubixaba r-ayra? ou
o/?,: cortar •• . j ere-t-ayr-epiak-pe morubixaba?
nao torceram o pescoc;o da maria-branca?: nd' o-i-po!-lá-i-pe
a-io-ol~: corto-o; a-akang-ok: corto ca!begls 1 a-i-akang-ok mbo1a: gujtranheengetá aiura? ou nd' o-i-aíu' -poká-i-pe guyranhe-
corto a cabe<;a a (da) cobra; a-s-apó-ok : corto raízes; ou corto as engetáf
raízes dela; a-s-apó-ok ybyrá: corto as raízes da árvore
535 Poden1 incorporar-se tambétn os dois substantivos; o
mo-nhang: fazer verbo se considerará intransitivo:
a-i-mo-nhang: fa<;o-o; a-kó-1no-nhang: fac;o ro<;a; a-i-kó-mo- arrancai as penas da ema: pe-ío-ok nhandu r-aba ou pe-s-ab-ok
-nhang xe r-uba: Ía<;D a r~ a (de) meu pai ; xe kó-1no-nhang : nhandu ou pe-nha.ndu-r-ab-ok
fazem-me a ro<;a; oro-kó-nio-nhang: fac;o-te a roc;a; nde kó-1no-nhang:
fazem-te a ro<;a; ou faz-te a roc;a; a-ó'-mo-nhang: f ac;o casa; a-ie-6- 536 Há casos esporádicos de incorpora<;ao de substantivo
-nio-nhang Ott a-i'-ó'-mo-nhang : f a<;o casa para mim mesmo ; a-s-ó'- com adjetivo:
-nio-nhang: fac;o a casa a (de) meu filho; a-pé-1no-nhang: fac;o ca-
nao co1nas frutas ácidas : nd' ere-ybá-ai'-ú-i
minho; a-s-apé-mo-nhang amana: fac;o o caminho a (da) chuva ; .-re
r-a-pé-mo-nhang peiepé: fazei-tne o caminho 537. Nao se incorporam detern1inativos ( numerais, de1nons-
trativos, etc.) :
11ieeng: dar
passei este rio: a-s-asab kó y ou nlestno kó a-y-asab
a-i-nieeng: dou-o; a-kó-meeng: dou a roc;a; a-i-kó-meeng xe passei dois rios: a-s-asab y tnokoí ou mes1no a-y-asab 11iokoi
r-uba: dei a ro<;a a meu pai; oro-kó-meeng: dei-te a ro<;a; a-t-ay'-
-meeng: dei filhos; a-t-ay'-meeng xe mena: dei f ilhos a meu n1arido; 538 O verbo, intransitivado, torna-se 11ovan1ente transi-
xc r-ay' -1necng : deu-me f ilhos
tivo con1 1no- ( n. 480) :
532. Repetido o prono1ne antes do verbo meeng "dar" (e a-y--it: bebi água:
qui~á de algum mais), o sentido muda. Cpr.: a-i-mbo-y-ú: fi-lo beber água; a-i-11ibo-y-ú xe 1n.e11ibjira: f iz 1neu
a-i-i-kó-n1eeng xe r-uba: dei a roc;a de meu pai (a outro) ; a-i- f ilho beber água; a-n1ita' -n,ibo-y-ú : f iz a crian<;a beber água ; xe
-t-ay'-meeng xe 1nena: dei os filhos de meu marido (a outro) mbo-y-tÍ: fez-me beber água
¡
• 539. Quando o objeto é modificado por um possessivo ( em substantivos parox.ítonos perdem a última vQgal
portugues) da mesma pessoa que o su jeito, pode-se incor- ,antes de vogal, e a última silaba <liante de consoante:
porar o objeto, precedido de reflexivo ie- ( nhe- antes de caem-me os cabelos: x e aba o-kui ou xe á'-kui
nasal) : caem-lhe as penas : s-aba o-kiti ou s-á'-kuí
a-nhe-embé-suú : mordo-me os ( meus) lábios ; t-obaiara o-ie-ygar- caem-te as penas : nde r-aba o-kui ou nde r-á' -kui
-ok: os inimigos aibandonaram as suas canoas; a-só giti-nhe-tung-ok-a:
vou tirar (--me) o bicho-do-pé; e-íe-py-sá-pe11i-ok : arranca a tua unha 544. Dáo-se casos de incorpora<;áo nas frases que referem
dopé fenómenos naturais, atmosféricos ou outros, independentes
.
freqüente essa constru<;ao, sobretudo quando o
É da vontade do homem:
objeto direto é nome de urna parte do corpo ou de vestuár-io. ysapy kiti : cai o orvalho
t-yai syryk (MoNT., Tes. 388/382): corre suor
540. Parece haver, também no dialeto tupi, casos raríssimos de incorporac;ao ybytu peiu, iasy pirang-eme (id., 185 ad.): quando a lua está
de complementos indiretos com pn~posic;áo:
a-mbaé-r-csé-i'-e-r-11r-é : pedi (por) urna cousa vermelha, sopra vento
yboty' iab : aJbre-se a flor
Sobre o verbo no infinito incorporado, como objeto
direto, v. n. 360 e ss. 545. O prefixo mo-, do sujeito e verbo incorporados, forma
wn novo verbo transitivo:
SUJEITO INCORPORADO mo-uguy-syryk : f azer escorrer sangue de ou a:
s-eté iá-katu-pe g:Uá i nio-peré'-pereb-i i nio-uguy-syryk-a? (AR.
541. Os vertbos nao transitivos admitem as vezes a incor- '85) : chagaram-lhe todo o corpo, fazendo escorrer déle
pora<;áo do sujeito. sangue?
Tanto os intransitivos de prefixo agente (só "ir", Jmká "rir"), como
os de pronome paciente ( 111aenduar " lembrar-se", asy " doer"). EXERCtCIOS
548. Mbaé r-esé-pe ere-nhe-nong e-iup-a? Er-é byter-pe nde 1nbaé- 552. Nh'-ok end-ab é reflexivo: fechar a porta da própria casa. S-oken-dab é
transitivo: fechar a porta de. A mesma distin~ao se faz com o-kendab-.ok,
-asy-ramo? Pá. A-é byter xe py-asy-ranto. Abá-te-pe o-mimby-py- abrir a porta. ·
-ne? Mbaé-re1ne-pe? Kori-é, pytun-1ne. Xe r-ayra ipó-ne. Aan-i.
N d' i katu-i. 1, mbaé-asy abé o-up-a. Enei, e-pitam t' ere-só 1nimby- 5:,3. Faze Utll feixe de flores e traze-o para dar ªº f rances. - Afia
-py-bo-ne. Aan-i. Mbaé r-esé-pe xe 1no-maran íepé, xe nheeng'-apiar- a faca e corta aqueta carne para tostá-la. Nao. Manda outra pessoa
-eym-a? Nd' a-é katu-i. A-é byter xe py-asy-ra1no . X e r-uguy-ka- afiá-la. Co1ne<;a tu a af iá-la; eu [o] acabarei. Enquanto isso, come-
nhem-eté. Mbaé r-esé-pe nd' ere-í-mbo-ur-i paié ta nde py suban-ne! cemos a cortar lenha. Traze-me dois feixes de lenha. Nao há 1nuita
T' a-ie-py-suban ixé aé-ne. Na nde xe r-ekó-nio-nhang-i . .. ! - carne. Póe a arn1adilha. - "Veio urna mulher (e) rapou minhas
T' ia-só mttndé-rung-a. Pá. T'ia-só. Enei ro. Ta pe-ío-ysy-rung. pestanas com urna navalha (e) queria raspar também a minha harba
E-i-í-yty-peir okara. Auié. Koyr, e-yty-mo-noong, i 1no-tnbó uká nde (mas) isso nao quis suportar (e disse-lhes) [ dizendo-lhes] que me
r-e-1ni-r-ekó supé. - Mbaé-pe ere-i-apó e-ikó-bo ? A-ybyrá-pan gui- matassem com [minha] barba e tudo" (STADEN, ad.) - Fa-
-t-ekó-bo. Er-é katii-pe kó-bae r-esé .'t :A-é katu. - Mbaé r-esé-pe ~os un1a aldeia para os nossos parentes. Sim. Ponhamo-nos em
nde r-endy-syryk-amo ere-ikó-bo? - "Mbaé-pe o-nong i akanga ar-bo? fila. Comecemos urna aldeia para nossos parentes. Trazei a madeira
Iu-ati-embó apynha, akanga kutu' -kutuk-a (para esfuracar), s-asap-a. (que eu farei) [para que eu fa<;a] as portas (da) [a] casa. -
Fecha a porta. Agora abre-a. Por que abriste a porta da tua casa?
S-ugi'ty-syryk sera s-obá r-upi, i atu-k·upé r-upi bé? S-uguy-
E tu por que me fechaste a porta? - O n1arido entrouxou as sttas
-syryk'' (AR. 86). A-t-ay'-nupa xe atúá'-saba. cousas, a mulher dele entrouxott seu cesto, indo-se e1nbora.
549.
afiado: aenibeé ( s) suportar : parará BIBLlOGRAFIA
afiar: aembeé (s) come<;ar: ypy, ypy-ru.ng Objeto direto incorporado - ANCHIETA 8v-9; 50-51 ; FrcuEIRA 87-88;
cortar: kyti, mo-ndok, ab, n10- acabar: 1no-a1'tíé MONTOYA 53; RESTIVO 50-52; CAETANO 83; 86-88; L. BARBOSA 172; ID.,
A
guai
A
554. O verbo da orac;ao principal assu1ne forma especial Exemplos de intransitivos con1 o seu su jeito ( subs-
- derivada do infinito - quando precedido, no mesmo tantivo ou pron.) :
período, por advérbio, preposi<;ao, gerúndio ou conjun~ao
s-upi-bé xe ker-i: logo depois disso dormi; 111amó-pe s-eo-u?:
subordinativa.
onde morreu?; tnamó r-upi-pe i .'l:ó-u?: por onde f oi ele?; okar-pe
uuba ar-i: caiu no terreiro a flecha
§ 1.0 - VERBOS DE PREFIXOS .AGENTES
558. Pode haver infinito incorporado:
555. Perdetn os pref ixos agentes. Se o verbo termina o-manó-bae-piiera suí s-ekó-bé-ie-byr-i (AR. 3) : ressurgiu dos
em consoante, junta-se-lhe -i (átono); se termina en1 vogal, mortos ; xe r-ausu' -poir-eym-i : nao deixou de n1e a1na.r
junta-se -ú; se tern1ina en1 ditong:o, nada se acrescenta:
n1atou: o-iuká iuká-ft 559. Quando o su jeito do v. nao transitivo ou o objeto
despertou-o : o-í-nio-11ibak i mo-mbak-i do v. transitivo se acham afastados, antes do verbo deve
pegou fogo : o-kai kai ficar o pronome correspondel}te:
ten1 vergonha : o-ti ti-u
koritei kunha pitanga mo-mbak-i ou l~oritei pitanga kunha i mo-
556. Se o verbo é transitivo, <leve ser precedido pelo ·mbak-i: a nlulher despertou depressa a crian~; koritei pitanga kunha
objeto direto (substantivo ou pronon1e); se é nao tran- ·mo-mbak-i ou koritei kunha pitanga i nio-nibak-i: a crian<;a despertou
sitivo, pelo sujeito: depressa a mulher; kaá r-upi abá guatá-renie, mboia i xuú-i1 ou abá
kaá r-upi i guatá-renie, 11iboia i J'ruú-u : passeando o índio pelo mato,
dormindo, a mulher n1atou seu f ilho: o-ké, kunha o nientbyra a cobra mordeu-o; kaá r-upi i guatá-reme, mboia abá siiú-ii: id.;
iuká-u; antes de nascer o sol, ele me acordou : kfiarasy seni' íanondé, ybaka r-esé gtti-1nae-nio, iasy-t-atá-bebé xe s-epiak-i ou ybaka r-esé
xe tno-nibak-i; de noite o tnato pegou fogo : pytu.n-nie kaá kai gui-11uzJ-1no, ixé iasy-t-atá-bebé r-epíak-i: olhando para o céu, vi urna
estrela cadente; mara ngoty-pe guarini x<: gu3irapara r-e-ra-só-u?:
557 Os pronon1es objetivos sao os mesmos do infinito para onde levou o guerreiro o meu arco? ; niara ngoty-pe xe
( n. 336 e 338) ; os verbos irregulares no infinito sofrem guyrapara gúarini s-e-ra-só-u?: id. ; og-ok-pe s-e-ra-só-u: levou-o
aqui as 1nesmas irregularidades : para sua casa; pytitn.-rne pitanga pak-i: a crian<;a acordou de noite
14
214 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 215
I
216 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 217
pois disso nao me atacou tnais. - Quando chega a taba ttm foras-
te~ro,,,os índio~ l~e. dize1n : "Vieste ?". O forasteiro responde: "Sim.
V1n1. Que s1g~1ftcan1 essas palavras? (trad. assin'i : que dizendo,
essas palavras d1zem ?)
Ll(ÁO 35.ª
BIBLIOGRAFIA
ANCHIETA 39v-40; FIGUEfRA 94-98; RESTIVO 121-122 · CAETANO 22 · Jo., REFLEXIVO E RECÍPROCO
Cantos passim; ADAM 45 ; L.BARBOSA 172; DALL' I GNA, At~álise 70-71. '
578. Primeiras noc;oes, v. 294 e 295.
O reflexivo é ie- ou nhe- e o recíproco é io- ou nho-
para todas as pessoas. Antepóem-se ao tenia do verbo,
que perde os pronomes objetivos:
a-i-pysyk : seguro-o a-ie-pysyk : seguro-me
ere-s-ausub: tu o amas ere-ie-aiisttb : tu te amas
o-s-ausub : ele o ama o-íe-ausub : ele se ama
nha-nho-s-ui: escaldamo-lo nha-nhe-fií : nós nos escaldamos
pe-s-e-kar : vós o procurais pe-ío-ekar: vós vos procurais
o-íuká : eles o matam o-íe-iuká : eles se matam ( refl.)
oro-io-puai: nós o mandamos oro-ío-pftaí: nós nos mandamos ( rec.)
o-iiiká : eles o n1atam o-io-íu ká : eles se n1atam ( rec.)
Formam as vozes reflexiva e recíproca.
.. REFLEXIVO
, .. , k
pe; e-ie-esa-o : arranca-te os olhos ! ; pe-ío-esá-ok : arrancai-vos os 585. O reflexivo pode vir- entre um possessivo e um subs-
olhos ( uns aos outros) tantivo verbal:
Tal constru~áo se torna mais usual quando o objeto xe íe-ausuba: o ( meu) an1or a n1itn n1esn10; i ie-ausuba: o seu
amor a si mes1110; o íe-aitsuba : o seu amor a si inesmo ( suj. da ora-
é parte integrante do sujeito ou está a ele muito unido: <;áo) ; íandé íe-ausuba : nosso amor a nós mesmos ( refl.) ; rondé
membro do corpo, veste, adorno~ etc. io-ausuba: nosso amor recíproco
581. Pode haver complemento indireto:
§ 2. 0 - En i orafao subordinada: o ou ie-,
1
nhe-
aé aé o-íe-iuru-meeng i a1notar-eynib-ara supé : ele mesmo entre-
g~u sua 1bóca aos seus initnigos ( i. é, falando deles, deu ocasiáo a que
586. Quando a a<;ao de um verbo subordinado recai sobre
f tzessem o mesmo com ele)
o sujeito da 3.ª p. da ora<;ao principal, o reflexivo é o, nao
582 · Na 3a. p., ie- pode ton1ar um sentido pass1vo: íe- ( n. 304) :
xe r-ayra o-só-ne, 1nor1.1hixaba o 1no-ndó-renie: meu filho irá, se
.. ~~e-e~íá' ~katu k~ piara : ve-se bem o caminho da ro<;a; nd'
u-ie-u-i soo ko ara : nao se come carne este dia o chef e o mandar
•
Se o verbo é rnodif icado por 1ikar, tem. sentido passivo sernpre ( n. 520). 587. Mas se a a<;ao do verbo subordinado recai sobre o
próprio sujeito da ora<;áo subordinada, o reflexivo é' ie-,
583 · Em dados casos o e de ie- desaparece <liante de vogal : ,..,
nao o:
íe-apuapyk : encolher-se _.... í' -apuapyk
ki'tarasy ybytyra r-aky-pi'ter-i i nT1e-11ii11i-enie, íasy sem-i: quando
íe-ekyí: arrancar-se, expirar ~ í'-ekyi
o sol se escondeu detrás da n1ontanha, a lua saiu
íe-ekó-sub : obter, gozar --.. í'-ekó-sub
Tambérn as preposic;óes podem ter refl exivos. V. n. 623.
584. Con10 intransitivos ( n. 381), os reflexivos admitem
os prefixos nio- e ro-: RECÍPROCO
nhe-ang_,ú: recear (lit. comer a própria alma) 588. Como o reflexivo, pode vir antes do objeto direto
ro-nhe-ang-ú : tr. : recear por oro-e-ro-nhe-ang-ú : receio por
incorporado :
ti o-ío-py-kyti: eles se cortaram os pés ( uns aos outros) ; oro-io-
-esá-ok: arrancamo-nos os olhos ( uns aos out ros) ; ta pe-ío-esá-ok :
id.; ta pe-ío-obá-petek u.nié-ne: nao vos esbof eteeis; oro-io-endybá-á'-
nhe-ang-epiak: mirar-se (lit. ver sua própria sombra ou -pin oro-ikó-bo: estan10-nos f azendo a barba ( rec.)
. reflexo)
mo-nhe-ang-epwk : fazer a-i-1no-nhe-ang-epUik parana-me : 589. O recíproco pode vir entre um possessívo e um subs-
mirar-se fiz ·que ele se mirasse no mar :antivo verbal:
oré io-ausuba : nosso amor mútuo ; oré io-ausuba r-esé : por nosso
mútuo amor
222 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 223
590.Realc;ando a ac;ao recíproca, pode-se repetir io- nos 595. Raramente, io- equivale a "todos", "da gente",
complementos : "nosso":
nho-taba: a aldeia da gente, de todos, nossa
oré io-pó-pe oro-ío-kutuk: ferimo-nos mutuamente com nossas
máos 596. Chega a corresponder a poro- (n. 380):
a-nho-niongetá nde r-esé-ne: pedirei por ti
591. ! o- as viezes significa "comum", e, como qualificativo. o-i-porará nho-nupá : padeceram ac;outes
modifica até substantivos : 597. Segundo FIGUEIRA, também os verbos q.ue já tém io- como pronome
objetivo (n. 317) podem usar do recíproco:
íandé nho-mbaé : nossas cousas comuns; pe nho-tnbaé : vossas oro-io-rab : nós o desatamos; ou nós nos desatamos um ao outro
cousas comuns; nho-mbaé : cousas comuns, de vários donos ; i io-oka: Mas ANCHIETA restringe o uso aos modos em que perdem o pronome obje-
as casas comuns deles; atara o nho-mbaé o-s-e!?ar o-ikó-bo: os via- tivo io-:
jantes estáo procurando as suas cousas (deles mesn1os) ; atara i nho- a-io-poi: eu o alimentei io-poi-a: alimentando-se mutuamente
-mbaé o-s-ekatr o-ikó-bo: os viajantes estáo procurando suas cousas (de 011 : alimentar-se mutuamente
outros) ; o-ío-e-r-ekó-bé-bae: os que vivem em comum Também as prtposi~óes pooe:n ter recíproco. V. n. 628.
I
•
l26 LEMOS BARBOSA
BIBLIOGRAFIA
PREPOSI~oES
ANCHIETA 15v-17; 35-36; 49v; FIGUEIRA 80-84; MONTOYA 12-13; 40-43;
.RESTIVO 55-59; CAETANO 38; ADAM 45-47. (C.ontinua~ao)
PREPOSI<;óES DE PREFIXOS T OU S
1
iandé ou oré r-upi, pe r-upi, s-upi, og-upi : por nós, por vós, por III
eles, etc.
asé r-u.pi: pela gente kó r-u.pi: pela ro~a PREPOSI<;úES DE S I NICIAL
O comp. 11pi-bé segue 11pi.
608. obaké: "en1 frente de, <liante de" 612. suí (n. 134): "de'' ( procedencia)
Segue eté ( n. 238). xe suí, ndc suí, i xu í, o io-sití ou o ie-suí: de n1in1, de ti, dele, etc.
íandé ou oré s1t:í, pe su.í, i :ru.i, o io-suí ou o ie-suí: de nós, de
Cl. sup. : t-obaké; el. inf.: s-obaké
vós, etc.
xe r-obaké, nde r-obaké, s-obaké, o (g )-obaké : <liante de 1nin1, de ti, asé suí: da gente abá sui: do índio
dele, etc.
O comp. s1ií-bé (n. 648) segue suí.
íandé ou oré r-obaké, pe r-oba.ké, s-obaké, o(g)-obaké : <liante de
nós, etc. 613 . supé (n. 136): "a, para" (dativo)
asé r-obaké: diante da gente abá r-obaké: <liante do índio i xu pé : a Olt para ele, ela, eles OU elas
o ío-upé ou o ie-upé : a ou para si ( refl.)
II asé supé : a ou para a abá su.pé: a ozt para o índio
gente
PREPOSI<;úES DE T INICIAL Ve-se que primitivamente o s era prefixo.
614. Na 1.ª e 2.ª pp. do sing. e pl., serve a 111csn1a f orina
609. Na preposic;ao taté, e em seus compostos, o t inicial nao é prefixo. ,
É temát ico. do dativo (n. 203):
taté: "fora de (destino), ao contrário de, em vez de" i.i:é-be, xe-be, ixé-bo, xe-bo: a tnim, para inim
endé-be, nde-bc, endé-bo, nde-bo: a ti. para ti
xe taté, nde taté, i taté, o taté, etc.: fora de mim, de ti, etc. 1andé-be, nhan.dé-be, iandé-bo, nhandé-bo, oré-be, oré-bo: a nós,
,
Os comp. taté-é, taté-nhé seguem taté: para nos
ahé mor-apiti-ar-uera taté-11/ié anhé ibíá o-í11kti (VLB 265) : mataram-no peé-tne ou peé-nio : a vós, para vós
em vez do assassino (por erro) asé-be, asé-bo ou asé supé: a gente, para a gente
15
230 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 231
615. Entretanto, um maioral de muita importancia pode dizer ixé supé: cons- 620. rí: "por (causa.)"
tru~ao
maj estática.
616. Em frases como a seguinte, o ío-npé equivale a "redprocamente": Alterna-se no uso com esé ( n. 605). É preferida dos
aé riré o io-1ipé i nhyro o-i'-e-r-ekó-ab-amo, kuesé-nheym o-ío-amotar- pronomes da l.ª e 2.ª pp.:
eym' 'iré (AR. 84) ; depois daquilo, eles se perdoaram mutuamente,
reconciliando-se, depois de se terem odiado (desde) muito tempo. se rt, nde rí, iandé rí, oré rí, pe rí: por mim, por ti, por ele, por
617. Precedida de o-ie-, o-ío- ou moro-, a preposi~ao perde o s: moro.upé si. etc.
(AR. 3) ou mor.upé. Nunca se usa com pronomes da 3.• p.
:re ie-pu.pé; .re 1e-esé; :re íe-suf; xe ie-upé: em mim mesmo, por
por min1 mesmo, etc.
VII
626. 11as todas as prcposi<;oes ( exceto esé, sosé, supé)
podem formar as 3as. pp. refl. sem ie- nem io- (e é o mais DUAS PREPOSI<;OES
comum):
o pupé: en1 si mesn10, tnesma, mesmos, mesmas 630. Dao-se casos de junc;áo de duas preposic;oes:
.•.,, .
.
-~ «'.~
nr:
"
!~~- ' .. ~~r':\.• ;v_, '' ~!l\':y •• • - ' •
o (g )-obaké : <liante de si mesmo, n1esma, 1nesmos, mesmas · kil,eí-pe sní (VLB 180): de por aí; uiará ngoty sui? (1b.): de que
og-upi: por si n1esmo, mesn1a, mesmos, mesmas parte?; 11ia11tó ngoty suí? (ib.) : id.
234 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 235
,.
635. Piara: o que está em busca de :
EXERCfCIOS a-s-epiak nde piara: vi quem está em tua busca; o-itr nde piara (VLB
631. , 267) : veio o que está a tua procura; mara e-í-pe Judeus, i pia.r-etá, i
xupé r: que ihe disseram os Judeus, que estavam a sua procura?
í'e-ro-biar [esé]: confiar em n' aan-i: nao
nh~-mo-niotar [ esé] : cobic;ar ekó-biara ( t) : substituto Piar-amo: em busca de; a cata de; buscar, trazer:
a-só ybyrá pia.r-amo (VLB 147) : vou em busca de lenha; a-só itd p:iar-
puerab :. sarar o-ypyra ( s) : zelador da casa -amo (VLB 266) : vou catar pedras; a-i11r nde sy piar-amo: vim em
arybé : cessar auié-rama-nhé : para sempre busca de tua rnae ; 1ide piar-amo i ie-byr-i: voltou no teu encal.;o; a-só
poir [sui] : separar-se iá-bé ( com in fin.) : assim como y piar-amo (VLB 415): vou buscar água
pore-ausub-ok : tr. compade- de ausente
cer-se kuá: meio 636. Ek6-biar-amo (t) : em lugar de; como substituto de
aru·kanga : costela a·1nó-neme : algumas vezes 637. O mensageiro que estava a minha procura ja foi?
Sim. O tcu
632. Atar-am-anw nhó, nda auié-rama-nhé tapiiar-amo rua oro-ikó kó irmao o mandou antes dele (refl.), como (n. 619) seu (refl.) substi-
yby-pe. Iandé ío-esé nd' ía-i'-e-ro-biar-i .. . - Nde io-s1tí nde mbaé tuto. Com ele foi também o viajante. Vós, também, ide uns com os
r-esé abá mo-ndaro nde i potar-eym-a iá-bé, 'té-umé abá mbaé r-esé outros. - O prisioneiro viu <liante de si muitos inimigos. - Vieste?
e-mo-ndaro-1no, kó-ipó s-esé e-nhe-mo-motá (AR. 239). - Mara-pe Sim. Venho em busca dágua. ~1eu principal me mandou também levar
nde amotar-eyn1h -ara r-ekó-u (<leve f azer), o ío-upé nde nhyriJ-motá? carne para ele. Nao. Nao é para ele que a pediu mas para dar aos
- fv!ba!-ranu; rí bé-pe guá iandy nvng-i asé r-esé! Asé puerab-a viajantes que vieram a sua procura. - Pindobuc;u nao reconheceu
pota, ase mbae-asy arybé potá. Opuerá'-te-pe gúá o io-esé i nong-eme depois daquilo a sua maldade? Reconheceu-o, quando eu olhei ( ixé
iepi? .0-puerab amó-neme (AR. 159-160 ad.). - E-í katu-pe mena maen-eme) para ele. E quando lhe disseste ( nde é-renie) "fizeste
o e-mi-r-ekó suí o-poí! N' aan-i. Nd' e-í katu-i o io-suí o-poí mal" ( ere-ikó memua), que te respondeu? Disse: é verdade: fiz mal.
(AR. 165 ad.). - Marfi··Pe morubixaba asé r-e-r-ekó-u-ne? - O - A borboleta se converte em beija-flor? ou o beija-flor se converte
io-upé asé f-e-r-ur-é-reme, asé r-ausub-ar-i-ne, asé pore-ausub-ok-i-ne em borboleta? - (De) que (passado) fizeste esta linha de anzol
<i;R. 37 ad.). - Mara-pe asé mo-nhang-i? Na mbaé ruii o-i-mo-nhang ( f ut. com -ramo) ?
a.se ang-amo, o nheenga pupé é i mo-nhang-i (AR. 21). - Kamusi
ku_.á r-upi nhó-te kaúi r-en-i (está) (VLB 291). - Oro-eiar xe r-ekó- BIBLIOGRAFIA
:biar:amo. - Na nde r-o-yp'Jir-i-pe? - Mbaé-pe Tupa o-i-mo-nhang
iande r-ub' ypy r-e-1ni-r-ekó r-eté-ranio? I ariikanga anhó (AR. 48). ANCHIETA 15v-16; 43-46; FIGUEIRA 80-83; 120-126; MoNTOYA 70-76:
RESTIVO 11-16; 117-120; CAETANO 64-69; ADAM 29-32.
633.
aié ( s) : corte, atalho 3. - Pyr-i significa também "estar 011 ter com" (pessoa) : a-s6 xe r-uba
aié-í ( s) : através de, de atra- pyr-i: fui ter com meu pai; o-ur náe pyr-i: veio estar contigo; náe pyr-i t'
vessado, de revés a-pytá nde r-imba r-e-r-ekó-bo (REST. 298 ad.) : quero ficar contigo para se-
Outros exs. : gurar tuas flechas.
4. - Ybyr-i, por si s6, significa também "ao longo da costa": ybyr-i
am ( b) y-i: ao lado, sob o bra~o kuá-i ~ a cintura,
pelo meio t' ia-só: vamos ao longo da costa. Pode-se referir tanto a terra como ao mar.
anha-í: na pon ta, no cabo puku-í: ao longo, durante 5. - O pronome aé " aquele, ele" forma com a preposi<;áo -i e o advérbio
atuá-í : as costas, aos ombros pytá-i: no cakanhar bé a locu~ao aé-i-bé " lpgo naquele ponto, momento, etc. "
639 · Os paroxítonos perdem a última vogal, e, se terminam 643 -bo: "por, e1n, a, de"
en1 a'ia, eia, etc., nada acrescentam: Metaplasmos: os mesmos de -pe (n. 142). ~las nao se nasaliza.
.. .
a,iur-i: no pescoc;o Con10 u.pi ( n. 135), indica extensao (no lugar ou no
j':yr-i, yp·yr-i: perto de, junto
apyr-i: na ponta ou cun1e <le tempo), mas real~a 1nelhor a indetermina~ao ou plurali-
a-pyter-i: na parte superior, pyter-i: no meio, entre dade. Cpr.
sobre eséi ( s) : em frente, <liante de
ar-i: id. ; encima de obái (t) : id. kó-pe: na ro~a lió r-upi: pela roc;a kó-bo: pelas roc;as
asei.. : as
'
costas akypuer-i ( t) : atrás de kó r-upi: por aqui kó-bo : por aqui (in-
gfi,yr-i: sob, debaixo de ybyr-i: ao longo de ( determ.) det.)
pytu-n-nie : de noite ( un1a vez) pytun-bo: pela noite, pelas noi-
Sao palavras formadas, r~sp~ctivamente, do~ substantivos: afora pesco<;o, tes, toda noite
apyra pont~, cume1 a-pytera ~erttce, par.te s~penor ou alta, meio, centro,. ara
parte supe:1or, a:ew costas, g1iy1·a parte mfenor, pyra ou YÍ'Y'ª parte próxima, :re k·u.pé-pe: em niinhas costas, detrás ele 111i1n ( nun1 ponto)
pytera meto, eseia (s) parte oposta, frente, ak·ypílp1·a (t) parte posterior obaia .'t'e k'ltpé-bo: por detrás de mim ( en1 vários pontos) ; onde nao"'
(t) parte oposta, frente, ybyra extensao. ' estou
.,
239
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPÍ ANTIGO
xe pó guyr-pe s-ekó-ú : está debaixo de n1inha mao ou poder 647. Com o infinito, partic1pio,saba, gerúndio, substantivo
xe pó gu~/r-bo s-ekó-1i: está ( constante1nente) debaixo de minha
mao ou poder ou pronotne, corresponde a "1 ogo " , "des de" . Ou t ros exs
-' ..·
644. l. - Ar-bo "sobre, por cima de, em cima de" é mais ·usado que ar-pe, aé-puer' abé : logo ou desde gui-xó-bo bé : de caminho
mesmo no singular. entao (indo)
2. - Os nomes terminados no sufixo aba ou saba (n. 798) usam de -bo xe r-ur-ag-uer' abé : desde que gui-t-ú abé : de caminho (indo)
mesmo no sentido de singular: .
v1m
tt>k6-k11ap-aba "conhecimento" : tekó-k1uJp-á' -pe ou t-ekó-kuap-á' -bo
645 Como possessivo reflexivo, -bo forma muitas locu<;óes. depois que; conforme, perfeitamente; riré-bé logo em, lógo d~po1s que; •:be
ou i-bé logo em; guyr-i-bé logo abaixo de; aé-i-bé logo naqm!o, logo entao;
N este caso, pode nasalizar-se: akyp,~r-i-bé ou atuá-i-be logo atrás; kuesé-,nhé' -ym-bé desde anttgamente, de..de
o aiur-bo : pelo pesco~o o pé-nio : de lado, de esquina muito tempo; koyr-bé hoje em di.a. Etc.
o atukupé ( P'y ter')-bo : de, o puktt-bo: ao comprido, ao lon-
pelas costas go, de comprido
o endypya-eyi-bo : de joelhos o ti-apua-mo : de ponta EXERCfCIOS
o esá popy-bo : com o rabo do o ti-apyr-bo : de ponta 649.
olho o ybá-bo : de través, de atra·. amyi oka: vizinhan~a (de casa) amyi-ndaba ou amu-ndaba :
o íepyna-eyi-bo : ~e joelhos vessado aldeia vizinha
o obá-py-bo: de bru~os o yké-bo : de lado, de esquina iasy : ornato do peito, crescente ekó-potá'-saba (t): inten~áo
ké' -saba: lugar de dormir, rede r-elló: tratar
Ocorrem alguns com o recíproco io-: mo-ndeb : por, vestir ti (ío) : armar
o io-pyter-bo : pelo meio por-upi, po-sé : ao longo de 31byr-i : ao longo de
O possessivo é sempre o da 3.ª p.: 650. Por-upi. e po-sé exigem compl~mento de pe~soa. Po;sé supóe. que quem_
está "ao longo" csteja na mesma rede, etc. Ass1m ~ambém ybyr-i. Por-upi
a-guatá o pó-bo : ando de gatinhas; o puku-bo taba mo-in-i: assen- se diz do que está " ao longo ", mas nao na mesma rede :
tou a aldeia de comprido; o puku-bo taba r-en-i ( ANcH. 43) : a aldeia 0 sy po-sé pitanga r-ú-i (AN~H. 44) : a crian~a e~tá deita~a com. (ao
está assentada de comprido longo de) sua mae; .xe po'f-upi xe r-ayra nhe-nong-i: meu ftlho de1tou-
-se ao longo de mim
,
652.
ponta, conclusáo: apyra Ilhéus: N hoese1nbé
saltar: por LI~AO 38.ª
cumieira da casa : ok-apyra
nascente do n~> : y-apyra a vista de : obá-bo ( s)
pon ta de galh;>: aka-' pyra ( s) a flor dágua : y apé ar-bo
arma~áo da ct.mieira: apyr-ytá de dia: ar-bo
INDEFINIDOS
653. Por que nao vestis roupa aos índios? ~les nao se vestem
[ roupa] . - Os peixes passara1n saltando a flor dágua, a vista de
Ilhéus. - O n1acaco subiu na ponta do galho, náo querendo n1ais 654. amó: "algum, um , certo, outro, -a, -s, -as; vários,
dcscer. - Na conel u sao de minha fata (passado), ele f alou. - Onde diversos, -as"
está a nascente do rio? E stá no mf!io daquelas montanhas. Por onde
passa ele? Passa por aqui, por estes campos. - A cumieira da casa
Pode preceder ou seguir o substantivo. É pronome e
caiu. Caiu de atravessado ou de ponta? Caiu de comprido. De dia adjetivo:
ou de noite? De dia. Apanhai a arma~áo e colocaf-a ao longo da amó a1nó: vários. diversos ; 0.1'11 ( b) ó-aé : outro. outros (e nao este
casa. - A n1ulher carregou o marido as ancas, para visitar o frances .. . nem estes) ; a111ó ahc, a111ó abá, abá abá : algué111, certa pessoa, certas
pesooas; nda abá ridí, náa abá amó rua, nda anió abá rua: ninguém;
amó • • . a1nó ... : um . . . outro .. . ; alguns. . . outros ... ; 111 baé anió,
BIBLIOGRAFIA
amó mbaé: alguma cousa, algo; na mbaé ruii, na 111baé rufí, nda
amó rnbaé ruii: nada; oré a1nó: alguns de nós
Indefinidos - A:-.c tt rETA 40-46; F 1GliEIRA 120-126; ~O?\ TOYA 70-76;
REsTrvo 11-16; CAETANO 64-69; ADAM 29-32; DLL'!GNA 71-73.
655. iabio: "cada, cada um, cada vez que, todos"
Bé ou abé - ANCHIETA 41v; 43v ; 45v-46; FrcuEIRA 148; VLB 199 ;
184; 279; 400, 175; passim; MoNTOYA 81; REsnvo 217; 235-237: CAETANO 68. Pospóe-se ao substantivo. É pronome e adjetivo:
ara iabio: cada dia, todos os dias ; iandé wbió : cada u1n de nós ;
i iabio: cada um deles ; i é íabio: cada vez que disseram ou dizem ou
disserem
656. mobyr ou mbobyr: "alguns, poucos ( 4 a 6, n1ais
Otl menos) ; algumas vezes"
Precede o substantivo. E' pronome e adjetivo:
mobyr 1nobyr: alguns; nda niobyr ruá: muitos (nao poucos) ;
mob31r-ío: alguns, poucos (para FIG UEIRA: muitos); 1nobyr-ío-aub:
alguns, pouquinhos
Oss.: O interrogativo mobyr-pe? "quantos ?" traduz-se ao pé da letra
" (sao) atguns?". A resposta pá "sim" significará que "sao alguns ou
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai vários", i, é, até 6 mais ou menos. A resposta aan-i " nao" significará
www.etnolinguistica.org que "nao sao mai5 de dois".
242 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 243
657. etá ( s) : "muito, muitos, muitas vezes" (nunca opá pytá-ú) : todos ficaram; opá i ú-u (nunca opá ú-u) : co-
meram tudo; opá t-eo íandé mo-ndyk-1. (AR. 315) : a morte a todos
Nao sendo complen1ento predicativo, segue o substan- nos destrói
tivo. Pronome e adjetivo:
663. A par~ícula interrogativa segue-se sempre a opab:
etá-etá (s), etá-katu (s), etá-nhé (s), etá-katu-nhé (s), etá-té-katu-nhé (s):
muitos, muitíssimos opá-pe s-eo-u?: morreram todos?; opá-pe i iuká-u? mataram
etá-pokanga (s) : poucos, poucas vezes (relativamente); escassos, raros a tódos?
Etá, posposto, tende a substituir o plural (n. 47).
664. Há muitos compostos:
658. anangatu: "muitos" opá-katu, opab-e, opab-é-nhé, opab-i, opab-i-nhé, opab-é-ngatu.,
opab-i-ngatu
Pospoe-se. É adjetivo. Muito pouco usado.
Todos temo mesmo sentido e estao sujeitos as n1esmas regras
659. opab ou opá: "todo, -a, -os, -as, tudo" r¡ue opab:
opá-katu-pe asé abé asé pab-i-ne? (BETT. 58): e todos nós (a
· Pode antepor-se ou pospor-se ao substantivo. É pro-
gente) haven1os de acabar também?; o-gt1e-ro-yro-pá-katit abá o an-
nome e adjetivo: gaipag-uera (AR. 171) : <leve o homem detestar todos os seus pecados
opá soó ou soó opá: todos os bichos passados
665. ÜBS. : Para compreensao da sintaxe dese indefinido convém saber
660. Perdendo o o) pode sufixar-se ao verbo. como sujeito que é o próprio verbo pab "acabar", "estar concluído" ; n~ 3.a p. : o-pab.
ou como objeto : 666 .. Com o pref. a- (n. 349) e o indefinido pá, forma-se novo prefixo, a-pá,
qu~ figura em numerosas palavras com o sentido de "totalmente", "de todo":
oro-i-mo-iaok-pab t-e-1nbi--ú : repartimos toda a comida; oro-i-
apa-puba: todo mole; mo-apá-Pttb: amolecer todo; convencer; apá-kui (xe) :
-mo-i<zok-pab : repartimos tudo; o-bobok-pab ygasaba: racharam-se desmoro~ar-se todo, derrocar, acabar-se todo; mo-apá-ktti: derri~r; apá-sok :
todas as talhas; a-ra-só-pab ou opá a-ra-só: levei todos socar, pilar, (formando urna massa compacta); apá-ie-reb (.'t'e): revirar-se
todo, revolutear, rolar; apá-puar: dobrar todo; apá-puara: dobra; ie-apá-pí4ar:
dobrar-se todo, enroscar-se, enrolar-se, encolher-se todo; apá-ié : inclinado, tom-
661. No gerúndio, pode ficar antes ou depois de -bo) mas bado, debrm;ado. vergado, maduro, inchado (de maduro) ; 11io-apá-ié : por a
sempre sob a forn1a pá: amadurecer; apá-iuguá, apá-tyna, apá-xixéi: encaro~ado misturado embrulhado ·
apá-mo-nan : misturar; apá-r-ar ( xe) : cair (o que está assentad~ ou pousado:
o-ur pe íuká-bo pá ou o-ur pe ~uká-pá-bo : vem para matar-vos co!llo gente, ponte, casa, prato ... ) ; apá-r-ata: espesso, hirto, duro ; apá-tuká :
ap1soar, machucar, bater, lavar (roupa).
todos
667. tetirua: "qua·lquer, quaisquer, todos"
662. Quando opab ,·em antes do verbo, pede a conju-
Pospóe-se. É adjetivo:
ga~ao subordinada. Mas entre opab e o verbo <leve vir
mbaé tetirua: qualquer, quaisquer, tódas as co~sas · opá-katu
sempre o substantivo ou o pronome sujeitos: 1nbaé tetirua sosé : acima de todas e quaisquer cousas '
opá kununii r-eo-i1: n1orreram todos os meninos; opá kaui pab-i:
acabou-se todo o cauin1; opá ahé xe sub-i (VLB 217) : revistou-me
668 · memé: "mesmo, mesmos; todos da mes1na ma-
todo; pitanga opá pirá ú-u : a crian<;a comeu todo o peixe; opá i pytá-íi ne ira; tan1bém, juntos"
I
244 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 245
669 . oiepé: "todos juntos: todos a .urna, todos de un1a 67 5 . T-obaía ra amó asé i íuká íabio, asé ie-obá-guang-i. M ará-
-t-ekó-ara o-íe-gilak. S-e-mi-r-ekó o-í-íanypá-nio-ngy. Kunhá opá-ka-
vez" tu-pe ie-ianypá-mo-ngy-u? K unhii pá-liatu, kunha-111'uku tiruii. Abá-
Seus compostos: oie pé-kat11, oiepé-guasn, otepé-bo: igual sentido; oiepé- -pe o-i-mo-ie-gúak kunha? 1 mena. Aé-pe kunha-niitku, mara? 1 xy
-renio, oiopó-1·emo, oiep6-remo: todos os de urna espécie ou qualidade
o-i-mo-íe-g11ak. - M obyr-pe ere-ie-pitub? S-etá-katu-nhé. - Abá
amó oro-,rno-ngatyro. Aan-angá-í. I xé é-te a-íe-etápuru. M ard-na-
\ 670 . aan: "nenh un1, nada, ninguén1 " mo-pe nd' ere-íe-iuruu-ukar-i nde r-e-nii-r-e-lió supé? N d' o-í-kuab-i.
Seus compostos: aan-angá-1, aan-gatu-tenhé. Igual sentido. Opab-é-nhé xe r-ayra i kuab-i. S-etá-pe nde r-ayra! M obyr-io. ___,.
Mboia o-ie-apá-pfiar pé r-embey'-pe o-in-a (Tes. 45 ad.) . - 0-gúe-
671. mokonhó: "poneos" -ro-apá-r-ar xe r-oka xe nibaé (Tes. 46v ad.). - Ybá o aka o-gfte-ro-
_ 1nokonhó-i: pouquinhos; 111.okonhó-i-aub : poucochinhos -apá-r-ar ( ib. ad.).
_.... . .
-;;-~
EXERC1CIOS
674 .
1no-un: tingir de preto etapurú ( s) : pintar o rosto ao
nio-t·i ng : tingir de branco longo do cabelo, ou do ca-
mo-ngatyro: enfeitar a
belo ponta do nariz ( obj.
ie-guak: pintar-se, enfeitar-se d.: pessoa)
pitub : tingir ( co1n urucu etc.) íuruü : pintar o rosto, das ore-
pitu'-pirang : id. lhas aos cantos da cabe<;a Uma mulher pinta o prisioneiro e a ybyrapttna, enquanto
as outras cantam em derredor (STADEN)
18
246 LEh1:0S BARROSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 247
•
250 LEMOS BARBOSÁ CURSO DE TUPI ANTIGO 251
eu indo, ficarei: gui-:ró-bo, a-pytá-ne ( ou xe só-re11ie, a-pytá-ne) Os paroxitonos perdem a últin1a vogal:
eu indo, ele nao ficará : xe só-reme, i pytá-eym-i-ne
aé-puer' abé: desde entao; ze r-epiak' abé, i iabab-i: apenas me
Sóbre as locu~óes compostas de dois particípios, v. n. 957. viu, fugiu; o syk' abé, s-eo-ú: logo que chegou, morreu; o pak' abé,
s-esé i 1n.aenduar-i: logo que acordou, lembrou-se dele; i pak' abé,
tapyyta i íuká-u : logo que ele acordou, os tapuias o mataram; s-ekobé
682 · eym-e-bé, ianondé, enondé (t): "antes de, antes que" r-apy-á-bo (S. Lour. I, 635): queimando-o vivo (== enquanto viveu)
lanondé e enondé (t) supóem que a a<;ao do verbo su-
bordinado se verificará. Eyni-e-bé serve para todos os 687. Com o mesmo sentido, junta-se ao gerúndio.' ~ste
casos: perde o a átono final, se o tem. Se termina em -ba, abé
antes que n1e batas, eu te 1nato: nde xe nupa-eym-e-bé, oro-iuká:
é que perde o a inicial:
antes que n10 dissesserr1, já eu sabia: xe ío-upé i é ianondé, ( ou eym- gui-xó-bo bé, a-s-epiak : logo em indo, eu o vi; gui-kuap' abé,
-ebé) a-i-kuab i11na ; antes que lhe déssetnos o arcq, ele o levou : i~é i íuká-u: etn passando, 1natei-o; gui-t-ú' abé, a-s-ekar nde pindá-
o-gtie-ra-só guyrapara, o io-upé oré i 1neeng-eyni-c-bé; n1eu filho saiu -ne: logo que vier, procurarei teu anzol; e-nheeng' abé, ere-ar: em fa-
antes de nós (que depois tan1rbén1 saín1.os) : xc r-ay ra o-scnt oré lando, caíste
r-enondi .
688. upi-bé (s): "logo que, de~pois de, ass1m (1t1C,
E)fni-c-bé e ía11ondé elidem o a final dos paroxítonos: a.penas; juntamente com" (n. 606)
taba kai ianondé, abá i :i:uí i zeni-i: antes que ardesse a aldeia o xe nheenga r-upi-bé: logo depois que f alei; s-u,pi-bé s-eo-u: logo
índio saiu dela ' depois disso, morreu
683. Com o prefixo de classe, c1101:d é equivale ao advérbio ranh é "antes" 689. -reme-bé, puku-i: "enquanto~ durante o tempo
" primeiro ", e pn:scinde do exito ou nao da ª~ªº verbal : ,
que" (n. 638 e 648)
nde bolá o-só t-enoiidé ou ude boiá o-só ranhé : teu criado f oi primeiro
aé-reme-bé: enquanto isso; ixé s-e-ra-só-reme-bé, c-putuii: en-
684 · riré, roiré, iré, ré: "clepois de, étepois que" ( n. 621) quanto o levo, tu descansa!; o mendar-ag-fiera r-ekó-bé-renie-bé,
nd' e-í katu-í o-mendá anió-aé r-esé (AR. 278) : enquanto viver seu es-
póso, nao pode casar com outro; ara-pukuí ou kó ara-piiku-i (VLB
685 · eyma riré,. eym-iré, eymb-iré "clepois de nao, en- 408) : todo o dia; izé s-e-r-ekó puku-i, i ar-eym-i: enquanto o tive co-
quanto nao" rnigo, nao caiu; abá ie-por-akar-a puku-i, luinhii kó-pir-i: enquanto o
.-re pore-a1'sub-eté-katu, :re r-ub-eté r-apiar-eyni-iré ma! (AR. homem pescava, a mulher ro<;ava
116) : oh! que n1uito 1niserável fui, enquanto nao obedecia a tneu
verdadeiro pai ! 690. Os negativos sao e31ni-e-bé (n. 648) e e')111i-a puku-i:
"enquanto nao"
68~ · abé, bé: " logo que, logo depois de, assi111 que, ebapó ta pe-ikó, pe-íe-byr-ag-t1ama r-esé ixé nde nio-niorandub-
-ey1n-a Pttktt-i (AR. 140) : ficai lá, enquanto eu nao te avisar para vol-
apena.s, desde que, a o n1esmo te1npo que" tardes; i kyr eyni-e-bé, t' 1a-nibaé-ty1n: enquanto nao chove, plan-
i .i-ó abé, a-iur-11e : assim que ele f or, eu virei temos!
\
252 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 253
..
696. Outras vezes , 1a ame, " costumar, ser cost ume,, .
serve a part1cu
Ey11i-a pukit-i é muito usado no sentido de "até que".
691 . NOTA. - Em tupi nao há tradu~ao
especial para "desde que" nem para 697. T-obaiara anió abá i iul?á-reme, i i'-er-oli-i. Mi-ausitba am6
"até que". O primeiro é substituído por "depois que" ( riré), "logo que" iuká-reme, abá o e-11ii-r-ekó r-er-ok-i-ne. - lxé u.í r-aang eyni-e-bé,
(abé), "enquanto" (-reme-bé e pukn-i); o segui;do_ é suprido por. "~nquanto
A
ere-i-nio-nibitkab. - Nde penga nheenga wbio, s-e-nioe1n-amo. -
nao " ( e~1m-e-bé e eym-a puk11-i). - No guaram sao cor rentes sm-be (desde Tupinambá guarini-ramo só-re1ne, ygara ti-11ie niaraká mo-ingo-fi. -
que) e -pe-bé (até que). ·
!asy kúarasy asoí-reme, abá "Mbaé iasy o-1'." - i é-u. - Mara
iá-bé-pe Tupa aípó-bae r-e-rekó-ú, i .-cupé o íe-epiak eym-e-bé?
692. iá, iá-bé, iabio, iepi, memé: ''cada vez que, toda Anhang-amo nhé i 11'to-ndó-u (AR. 45). - 111ara íá-bé-pe erimbaé
vez que, sempre que" Tupa wndé r-itb 31py anga r-e-r-ekó-ú (fez com) i mo-nhang' abé?
nde s6 íabio, xe só-u-ne (VLB 367) : -quanta.s vezes f ores, irei; (AR. 48). - Mara-pe asé r-ekó-u (<leve fazer), Titpa r-e-mi-motara
ebo-ui-1'ne s-en-a íá (AR. 124) : toda vez que ( enquanto) estiver lá; xe 1no-por-ag-uama r-esé (para cumprir), Tupa o pytybo motá? 0-pak'
r-obaiti íabio, xe r-e-r-ekó-aib-i : sen1pre que n1e encontra, me injuria abé, s-esé o-maendz-tar-atn.o, i .~upé o-f -e-r-ttr-é-bo-ne, "T' a-í-aby
umé-ne kori nde nheenga" - o-í-á-bo (AR. 111-112). - Mara e-í
O mesmo significam os compostos iá-é, iá-bé-é, W.bió-é, íabinhó-é, memé-nhé,
iepi-nhé, iepi memé, íepi memé-nhé, menié-nhé . .. íepi: memé-nhé xe ker-a
nh.ó-te-pe asé, n1bap n10-1.nbegi(.-á-bo r "Anh é, Anlté-té" - e-i nhó-te
iepi, mara-t-ekó r-esé .-re posausub-i: cada vez que durmo, sonho com a guerra (AR. 99).
I
I
CURSO DE TUPi ÁNTIGO 255
700. Há vários sufixos de non1es verbais e particípius: 704. Todos os verbos se podem servir de -bae. Os nao-·
-bae, ( s)ara, ( s)aba, pyra, pora, bora, suara, suera, t31b'.};, -transitivos quase só se servem déste particípio.
e un1 pref ixo : t-e-11ii-. 705. O prefixo verbal é sempre o da 3.ª p., ainda que u
Os principais sao: -bae, (s)ara (ativos), pyra, t-c-mi- (passivos) e (s)aba sujeito se ja de outra pessoa:
(circunstancial). - Us.aremos indistintamente as expressóes "nomes verbais" e
"particípios", de preferencia a última. o-só-bae 1::cé e náo a-só-bae ixé: sou eu que vou
i.xé, o-só-bae-pi1era, nd' a-s-epíak-i: eu, que fui, nao o vi
Oes. - O a final é sufixo nominal: (s)ar-a, (s)ab-a, pyr-a, etc.
701 · AFIRMA T. NEGA T. 706. Assim os gramáticos tupis. Mas, pelo menos no guarani, a regra nao
parece ter sido absoluta. É o que diz RESTIVO 155 e o que se induz de alguns
pres. -bae eyni-bae exemplos esparsos. As mais antigas fórmulas guaranís do Padre Nosso rezam
fut. -bae-rama crc-i-bae "que estás".
eym-bae-ra11ia
pass. -bae-puera eym-bae-puera
pass.-fut. -bae-ram-buera eym-bae-rani-buera 707. O substantivo ou pronon1e correlativo pode prepor-se
fut.-pass. -bae-puer-ama eym-bae-puer-ama ou pospor-se ao participio. De preferencia se prepoe,
·-1uando o particípio é complen1ento predicativo:
702. -Bae é particípio ativo. Indica o a g e t e ou n,
pitanga, o-ar-bae-pi1era, o-manó: a crian<;a que nasceu, 1norreu
sujeito. Forn1a-se da 3.ª p. do indicativo de qualquer i 1nará-ar-bae abá melhor que abá i niará-ar-bae: o índio é que
verbo. Traduz-se quase sempre pelo nosso relativo "que" está doente
( sujeito)' e as vézes pelos verbais tern1inados em "dor",
"nte": 708. Nas ora<;óes predicativas, o participio tcrá con10
.. o-i-pysyk-bae : o que o apanha s-asy-bae : o que (lhe) dói : o advérbio negativo nda . .. rua ( n. 184). Cpr.:
o-iuká-bae : o que o mata que sente dor o-nianó-bae-p·iiera ixé: fui eu que111 n1orreu
()i-i-pysyro-bae : o que o salva i mbaé-bae : o que tem cousas : o-manó-eynz-bae-pt1era ixé: fui eu quen1 nao 111orreu
o-s-epiak-bae : o que o ve o rico nda o-11ianó-bae-púera rua ixé: náo fui eu que111 1norreu
o-io-s-ei-bae : o que o lava s-er-bae : o que tem (por) no- nda o-1nanó-ey1n-bae-pfiera rua i:cé: náo fui eu quem náo morreu
i maend11ar-bae: o que se lembra n1e, chamado
t-·ynyse111-bae: o que está cheio 709. o participio -bae nao admite objeto direto senao da 3.ª
p. (substantivo ou prono1ne). Para a 2.ª ou 3.ª p. re-
256 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 251
nde poro-apiro-sara: és carpideíra; moro-posanong-ara: curador; 1'1as pode também perder o s, caso o verbo nao acabe
mo-e-r-ekó-ara: guarda, protetor, encarregado; mbaé mo-nhang-ara: en1 a. O i, ú e }' finais passam para i, it e y:
fazedor A A A
1no-ngarau ou nto-ngarat-t-ara
1n o-n.garau-sara
725. Com verbos nao transitivos, o particípio ( s)ara nao aby aby-sara ou aby-ara : o que erra
iuká iuká-sara (nunca íuká-ara) : matador
leva pronome algum. J\1as o participio sara em tais verbos
é excecional. N ormaln1ente o próprio infinito dos verbos Após nasal, ara pode mudar-se en1 ana:
intransitivos serve de particípio ou adjetivo verbal ( n. 731).
pysyró pysyró-sara ou pysyro-ana : salvador
Sobre o particípio sara como complemento predicativo, v. n. 86. aró aro-sara ou aro-ana: guarda
O fu tu ro desses particípios pode ser sar-ama, an-ama ou ar-ama.
726. FoRMA~.Ao. - Junta-se (s)ara ao tema do verbo.
iuká íitllá-sara : o que mata 728. Se o verbo termina en1 'Y, cai o r:
Se o Yerbo termina em k ou ng, ( s) ara perde o s : potar potá'-sara: o que quer
pysyk pysyk-ara: o que segura
mo-nhang mo-nhang-ara: o que faz Pode tambén1 cair o s de sara, contante que a última
vogal de verbo nao seja a. Mas é pouco con1un1:
Se termina en1 1n, junta-se-lhe b, e cai o s: mo-mbor mo-mbó'-sara ou 11to-nwó' -ara: atirador
tym tym-bara: o que enterra potar potá'-sara (nunca potá'-ara)
Se termina en1 n, ou em ditongo nasal, junta-se d ou t Os mesmos verbos terminados en1 r podem n1anter
nd e cai o s: esse r, em vez de s, no passado e no futuro:
po-ban po-ban-dara: fiador
enoi enoi-dara: o que chama pass. potá' -sar-uera ou potar-uera
fut. potá'-sar-ama " potar-ar-anta
Se termina em b, muda-se o b para p, e cai o s: pass. nto-mbó',,-sar-uera " mo-mbó'-ar-uera ou 1no-11ibor-ar-uera
syb syp-ara: limpador fut. mo-mbo -sar-atna " mo-tnbó'-ar-anw " 1no-11ibor-ar-ama
727. Se termina em ditongo oral, acabado em i, junta-se-lhe 729. 1ifuitos verbos terrrlinados em vogal tónica, nao pre-
t~ e
.
ca1 o s: cedida de consoante, perdem essa vogal, e acrescentam
poí poí-tara: o que dá alimento "
guara:
íe-peé: esquentar-se íe-peg{i-ara
Se termina em vogal oral ou nasal, ou em ditongo soó: convidar (para festas)
,..
sogu-ara
acabado em u, sara nao sofre alterac;ao: angaó : vituperar an.gagfi-ara
kyti kytí-sara : o que corta . 1t: comer gu-ara
...
mo-ngarau mo-ngarau-sara: desconjuntador suú: morder sugu-ara
17
262 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 263
Isto sobretudo quando a última vogal é u ou o. ikó a-iur. Aé-pe endé, manió suí-pe ere-iur? Ahé r-epwk-ar-uera ikó
a-íur. Pirá r-ek31i-ar-uera a-iur. - Oré ie-koty-á'-saba, oré amotar-
730. FORMA NEGATIVA. Obtém-se com a partícul3.
-
-eym-bar-uera yma. - Abá-pe nde karai-dar-üera r-ekó-u ( estao)?
ey1n-(a), colocada antes ou depois da forma afirmativa. Aipó mo-sá-ká-'ra r-ok-pe s-ekó-u ( estáo). - Mamó-pe xe r-obaiti-
Sobre nda- ruá e ttda- -i, v. n. 184, 185, 352. Cfr. n. 708. -sar-am-buera só-u? - S-esá-berab ikó paié. S-obá-puká.
731. SINTAXE. - O infinito dos verbos intransitivos
ou
736.
intransitivados ( n. 381) equivale aos particípios sara e
-bae. Traduz-se como nome verbal, quase sempre: sobrinho : nie1nbyr-aysé (de atirar pedras (acertando) : api
m.) atirar ( com flecha) : ybo
kanhem: fugir; kanhema (infin. e partic.) : fugitivo; kanhem- peixe-boi : guaraguá - ( com arpáo ou lan~a) : ku-
-buera: pass.;· kanheni-guama: fut.; abá kanhema ou abá o-kanhem- empurrar: mo-anhan tuk
-bae. ou aoá kanhemb-ara: hon1e1n que foge; abá mondá: (homem) derribar: ityk ( n. 301) devorar gente: por•ú
ladrÍo · xe 1nondá: sou ladráo; abá por-ú : índio comedor de gente;
abá yby-ú : índio comedor de terra; abá karu ou abá mbaé-ú : 737. Quem é que me viu? - Quem é que virá? - Sabes quem me
comedor, guloso; xe karu ou xe mbaé-ú: sou comedor, sou guloso empurrou? Eu é que te empurrei : quem te derribou, f oi o teu ca-
marada. - · Quem é que matou o prisioneiro? Náo o mataram ainda.
732. O infinitivo-particípio aparece muito nas alcunhas: Teu sobrinho é quem o matará. E quem é que o deveria matar? -
Quais os que nos atiraram ( pedras) ? Quais os que [nos] erraram ?
mbaé mondá : ladráo ( n. 392) Quais os que vieram de atirar flechas aos peixes? ~stes sao os que
733. Com o verbo ur "vir" (n. 884), o par:tic!pio sara traduz os nossos deviam arpoar o peixe-boi. - Quais os que quiseram matar-me?
circunlóquios " vir de ( infin.) ", " acabar de ( mfm.)" : Quais os que nao quiseram matar-me? - Sáo comedores de gente
mam6 suí-J>e ere-iurf Kó-J>ir-ar-uera a-iur: de onde vcns? Venh? de ro~r estes índios? Nao. Sáo comedores de terra.
mbaé-tym-ar-uera a-ii'r: venho de plantar (acabo de plantar, fui plantar)
ybá po6-ar-uera a-iit.r : vim de (fui) apanhar frutas
BIBLIOGRAFIA
EXERCfCIOS ANcHIETA 19; 28v-29; FrcuErRA 116-120; MoNTOYA 16; 25; 30-31;
REsnvo 90-92; CAETA No 50-57; 58-60; ADAM .'58-65; L. BARBOSA 187.
734.
mo-sá-ká-'ra: homem hospita- amotar-ey1n-bara: inimigo
leiro, fidalgo peró : portugues
ie-koty-á'-saba: amigo, cama- nheenga : língua
rada akok: fazer [sal]
karaiba: (homem) branco berab: intr. brilhar
karai: tr. arranhar
735. Per6 ven1 da pa1avra portuguesa "Pero" (="Pedro").
A
,
CURSO DE TUP1 ANTIGO Z6S
que rocei o mato) ; xe pó-pora ikó guyro: este passarinho foi pego 751. tá "um pouco de", "urna pouca de" (água, comicb., etc.) : e-i-meeng y
com minha máo; 11wmó-pe nde r-uu' -bora r-ekó-u?: onde está o resul- iá ixé-bo "dá-me um pouco dágua" ; e-r-t'r iá "traze-me um pouco " . - Se-
guido do gerúndio de " comer" (gu-á-bo), este se modifica para r-ú-á-bo ou
tado de tuas flechas? (p. ex. os inimigos f eridos) r-a-gu-ábu: e-kuai y iá r-a-gu-á-bo "vai beber um pouco dágua I''; ior-í ití iá
r-ii-á-bo "vem comer um pouco de farinha !".
Aplica-se com precisao aos ferimentos, sinais ou cica-
trizes: 752. Abá-pe o-i-apó ybaka i pora abé? Tupa. "Mamó-pe Tupa
r-ekó-u (está)? Ybak-pe, yby-pe, opá-katu mbaé 1no-por-i" (AR. 22).
itá-pora ou itá-por-uera: sinal de pedra ou de pedrada; kysé-pora - "N d' asé r-etama rua-te-pe ikó yby asé r-ekó-aba? N' acn-i.
ou kysé-por-uera: facada, sinal de faca; mina-pora ou mi-bora: sinal Ybaka-por-ama r-esé é Tupa asé mo-nhang-i; atar-a1no é asé r-ekó-u
de lan~a; p6-ape-bora : unhada, sinal de unhada; ai-bora ( t) : denta- (estamos) ikó yby pupé" (AR. 23). - N da ~;e r-ygé-por-i. E-ior-í
da, sinal de dentada y iu r-a-gu- á- bo. A -u, y unian. Nd' a-e-i
"" A , .. ui, ia . . á- bo ran he., -
. . , r-u-
M ara-nanio-pe nd' ere-i-11to-ndeb-i nanibi-pora? N da ixé ruá i nam-
746. Pora pode ser conjugado como verbo, co1n pro- bi-por-bae, xe r-ybyra-te. - Mbaé-pe aipó-bae? Mbó-asá'-bora.
nomes pacientes. J\i'.Ias quase só aparece na 3.ª p.:
753.
i por: há, está cheio de, é rico en1, abunda em ; nd' i por-i od.
i por-eym: nao há, está vazio, pobre, nao contém nada; nd' i por-i ·febricitante: akanundu'-bora ordem: nheenga
xe r-oka ou i por-eym xe r-oka: minha casa está vazia; t-e-mbi-ú amó talha : ygasaba encher : mo-por
por-eym-e, a-tí s-oó: nao havendo outra comida, comi carne; t' i por doente : mará-ara, mará-á'-bora facada: kysé-pora
aipó iandé i' -e-r-ur-é-saba (AR. 66) : haja, realize-se, fa~a-se, cumpra-
-se esse nosso pedido 754. Entre os tupinambás, mará-ara é o "doente grave, nas últimas ".
747. Com o pref ixo 11ro-, pora forma o verbo mo-por "encher, enriqu~cc r, 755. Dá de comer aquele faminto. Vai, dá-lhe (perniiss.) un1 pouco
fazer que tenha efeito, realizar, cumprir, executar"; de farinha. Quero também um pouco dágua. Nao há. Bebe um
a-i-nio-por ygasaba: enchi a talha
a-nhe-mo-por : eu me enriqueci pouco de cauim. Nao. Estou febricitante. Estás doente? Que é isso
nd' ere-i-1110-por-pe xe tide p1iai-taba? : nao cumpres o que te mandei? no teu rosto? Foi un1a facada. - Vai ao po<;o e enche urna talha.
e-i-mo-por nde nheenga!: cumpre a tua palavra ! Já cun1priste minha ordem? - Que significa, na língua dos índios,
e-mi-ú-e-ro-kuab? Significa "servir a comida a". E como se diz "dar
748. Tanto bora como pora. .podem levar o sufixo -bae, se de comer"? Diz-se poi ou mo-ngaru ou mo-nibaé..,ú. E que significa
assim o pedir o sentido : usei-bora mo-y..,ú? Significa "dar de beber aos que tem sede". E
como se diz "dar de comer aos que tem forne"? Diz-se amby-asy-bora
i mbaé-bor-bae ixé: sou eu que sou rico .. 1 •. · i' ..
poi-a. . 1 1 _' , ~ , ¡¡;
749. Na propor~áo
em que bora e pora perdern a fun~áo clara de particulas,
formando novas palavras, sofrem e ocasionam mais freqüentes metaplasmos.
BIBLIOGRAFIA
EXERCtCIOS
750. ANCHIETA 31-32; FIGUEIRA 117; 1'IONTOYA 30-31: RESTIVO 241; 278;
ygé ( t) : barriga pó-asá' -bora : sinal de pancada 299; CAETANO 78; 62-63; L. BARBOSA 187.
nambi-pora: orelheira ( com as máos) ou de pe-
ek6-aba ( t) : lugar de estar drada
íá : un1 pouco de
I
CURSO DE TUPI ANTIGO 269
771.
colher: yky mondar : kapir
coar: 1no-guab amassar : aiitká
esperar: aaró ou aró (s) escrever : kf'tatiar
ralar: eé (s) esmagar : kumirik
772. Nao será chorado aquele que nao chora os que morrerarn.
Onde as frutas colhidas estao ( r-ekó-u) ? - Arcos quebrados. Ma-
racás furados. Milho espalhado. Mandioca ralada. Foram as causas •
Prepara~áo do cauim (STADEN)
encontradas nas antigas aldeias. - Está coado este caldo? - Quem é
CURSO DE TUPI ANTIGO 273
773. É particípio passivo, de agente expresso.Indica A forma, é claro, vale para o feminino e plural :
o objeto direto do verbo transitivo. :Corresponde ao rela- ~e r-e-mi-iuká : morto, morta, mortos, mortas por n1in1
tivo "que" (objeto direto) ou ao particípio passado por-
tugues. _ Outros exs. : ·
n<!e r-e-mi-iuká-ram-eyma: o, a, os, as que nao matarás, que nao
774. Prefixa-se ao verbo na for111a do infinito, despido de será morto ( ou nao serao mortos) por ti ; s-e-mi-1no-nhang-itera : o
pronon1es. Em geral, requer os pref ixos de classe t-e- e que éle fez, o f eito por éle; o e-tni-tym-am-buera: o que ele ia
s-e- ( n. 236, 238) : enterrar ; mboía r-e-nii-xuú-pfiera: o que a cobra mordeu ; mordido
oor cobra
AFIRMATIVO NEGATIVO
..
;;,,. t-e-1ni-íuká: o que é morto -
t-e--nii-iuká-ey1na : o que nao
775. Nisto se distingue t-e-mi- de pyra: em que requer o
agente expresso, ou pelo menos o índice da classe.
é n1orto
t-e-nii-iu,ká-pitera: o que foi t-e-1ni-iuká-puer-eyn1a : o que ÜBS.: U:na mesma palavra nao pode levar os dois afixos (t-e-)mi-
morto nao foi morto e pyra. Parece lapso o único ex. em contrário, no rosto da l.ª ed. do
, Catecismo de ARAÚJO: xe r-e-mi-p;, syro-b3•ra "o(s) que eu salvei"
1
t-e-mi-iuká-ra111a : o que sera t-e-nii-iuká-ram-eyma: o que
morto nao será morto 776 . O substantivo ou pronome correlativo de "qu<.'." se
t-e-11'ii-iuká-ra1 n-bu era : o que
1 t-e-nii-iuká-ra111-buer-eytna : o antepóe:
ia ser morto que nao ia ser morto
t-e-mi-íitká-pif er-ania : o que o-manó guyrá oré r-e-mbi-ar-uera ou gf'tyrá oré r-e-nibi-ar-uera
t-e-tni-iuká-puer-ani-ey11ia : o
terá sido morto o-manó: morreu o passarin:ho que apanha.mos ou apanhado por nós ;
que nao terá sido morto
.'re kybyra o-s-epiak uuba kitnunii r-e-nii-ekara: meu irma ~ viu a flecha
que os meninos procuram
.'re r-e-m,i -epiak-eyma nde ,· nao é a ti que vejo: na nde rua xe r-e-mi- 781. Os verbos formados como prefixo ro- (n. 500) levam
-epiaka ,· melhor : :re r-e-mi-epiaka na nde ruá; ou ne nda xe r-e-mi- um e entre t-e-1ni- e o tema :
-epiaka ruá; melhor: nda xe r-e-mi-epiaka ruá nde; nao é a ti que t-e-mi-e-ro-ie-upira: levado de subida
nao veio: trad. Íj?"uais as da frase anterior, substituído apenas r-e-mi- xe r-e-nii-e-r-1tr-a1n-buera = aquele que eu devia ter trazido
-epiaka por r-e-mi-epíak-eyma ikó-n' ikó pe r-e-nii-e-ro-pytá-rama: é com este que ficareis
778. Há também a forma ( t-e-)mbi-, que ocorre com 782. O verbo r-ekó "ter" segue essa regra; mas quando o
muitos verbos monossilábicos ou come~ados por vogal. particípio se substantiva no sentido de "esposa", perde
Nunca com verbos de inicial nasal: o e:
( t-e-) m,hi-ausu ba ou ( t-e-) mi-ausuba: amada ( escraya) t-e-mi-e-r-ek6 : o que é tido, possuído, o que está com (gente)
( t-e- )mhi-ara ou ( t-e- )mi-ara: apanhado ( prisioneiro ou animal) t-e-mi-r-ekó: esposa
( t-e-) m hi-ú ou ( t-e-) mi~ú : o aue é comido ( comi<la) s-e-mi-e-r-ekó : o que ele tem
( t-e-) 111bi-1>01a ou ( t-e-) mi-pota: o que é sustentado s-e-mi-r-ekó : a mulher dele
( t-e-) mi-nupá (nao t-e-mbi-nupa) : o que é batido, ac;outado
783. A tendencia é para d'!saparecerem os prefixos de classe desses partici-
pios, especialmente quando substantivados:
779. Produzem-se vários metaplasmos (n. 28): mi-mby: o que é soprado (flauta)
mi-tyma: o que é plantado (horta)
P'v : soprar 1ni-mb·v : soprado : (flauta) mará-namo-pe asé "mi-1¡" i é-ti i zu,l>é ? (AR. 27) : por que a gent~ a
puai: mandar mi-mhfi.nia: man<la<lo : ( ~ervo) chama " comida " ?
kaú: fazer papas mi-nnaú: f eito papas ; (mine-au)
tylrvró: ensopar mi-ndvbwó: en"opado; (piráo) 784.Como atributivo, estreitamente ligado ao substantivo.
s1uí : mor<ler 1ni-ndu1t : mordido o particípio pode também perder os prefixos t-e- e s-e-:
potar: querer ( t-e- )111i-111otara ou ( t-e- )mi- soó mi-moia : carne cozida
-111hotara: o que se n11er
parará: sofrer ( t-e-) m.i-IJorará ou ( t-e-) mi-mbo- . .
785. Precedido de genitivo ou poss~ss1vo, o partic1p10,
., .
-rará: o que se sofre
De e.ryr ( .r) "assar ", mi-%'yra " assado ". mesmo substantivado, segue o paradigma eté ( n. 238) :
A oafavra mimbaha "criacao" (n. 254) é comnosta de mi-. O 2.0 ele- xe r-e-mi-moia: meu cozido kunha r-e-mi-moia: o cozido da
mento é duvidoso: tatvcz algum verbo transitivo extinto. índia
xe r-e-mi-mby : minha flauta abá r-e-mi-mby : a flauta do
780. , ..l\s vezes o particípio se substantiva: índio
t-e-mi-r-ekó : a que é ti da, possuída (a mulher) Mas v. n. 249.
( t-e-) mbi-ausuba = a amada (a escrava; por extensao : o escravo)
( t-e-) 1nbi-ara: o que é a pan hado ( em ca<;a ou guerra) (animal 786. O reflexivo nhe-, com os particípios substantivados,
ou prisioneiro) forma verbos reflexivos, dispensando o pref ixo nio- ( n,/ie-
( t-e-) nibi-ú : o que se co1ne (a comida) -mo-, n. 486) :
V. outros exs. n. 247.
o-nhe--mi-moi soó : coze-se a carne
ÜBS. - Como •• ve, o prefixo 1-e-> de el. sup., tendia a desaparecer.
276 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 277
787. Exemplos de MoNTOYA e do Vocab11Jário ua Líng11a Brasílica parecem oré r-e-»ii-endub'-atno, aipó i é-ú: isto ele disse, estando nós a
indic.ar que do particípio se f izessem verbos intransitivos : ouvi-lo; o-ie-pó-ei t-eyia r-e-mi-epiak'-anio (AR. 87) : Iavou as tnáos
1nimby : intr. tocar (instr.umento de sópro)
tnixyr: intr. ficar assado a vista da multidáo; s-e-nii-epiak-pab-e-na1no-pe 1nbaé tetiruá kuá'-i?
(AR. 43) : acontece1n todas as cousas, [sendo] vistas por ele? ( i. é :
788. Precedidos de pronome pessoal, os participios podem
ve ele (Deus ) todas as cousas que acontecem ?)
incluir o sentido de "ter" ( n. 350) : 792. Como t-e-mi- é particípio de objeto direto, para seu correto cmprego é
míster conhecer bem a regencia do verbo tupi (n. 767) .
nibo-é: ensinar 793. No tupi colonial encontram-se inexatamente traduzidas, por vezes, as pa-
lavras e frases formadas com t-e-nii-:
(t-e- )mi-mbo-é: discípulo
xe r-e-nii-mbo-é: tenho discípulo (e meu discípulo) t-e-mi-niborlirá : sof rimento t-e-mi-11ibotara: vontade
nda xe r-e-mi-1nbo-é-1, : nao tenho discípulo A versao precisa é .concreta, náo abstrata; objetiva, náo subjetiva:
s-e-mi-mbo-é-bae: os que te1n discípulos "a cousa sofrida" "a cousa desejada"
s-e-mi-nibo-é-bae-puer-eynia: os que nao tiveratn disdpulos
,
278 LEMOS BARBOSA
guatá-saba : ..
..,-.
:\ ~· · '- . '
BIBLIOGRAFIA 1) o lugar, tempo, meio, companheiro, etc. de passear
ANcHmTA 13-14; 19v; 32; FIGUEIRA 115-116; MONTOYA 17-18; 32-33; 2) o passear, o passeio
RESTIVO 94-98; 156-158; CAETANO 50-60; ADAM 65; L. BARBOSA 186.
Pelo contexto se induz o sentido em cada caso.
800. FORMA~Áo -
Sufixa-se saba ao tema de qualquer
verbo; as vezes, de substantivos, adjetivos, pronomes, até
de advérbios.
280 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPl ANTIGO 281
801. Segue as mesmas regras fonéticas que ( s)ara ( n. 808. SuJEITO E OBJETO nrRETO. Como o in-
726) : , '1, I~ ¡,,..·1 finito, ( s )aba requer geralmente a anteposi~ao do su jeito,
se o verbo nao é transitivo. Sendo transitivo, exige antes
pysyk-aba, tymb-aba, poban-daba, S'YP-aba, poi-taba, kyti-saba, do tema o objeto di reto ou pelo nlenos o índice de classe ( n.
mo-ngarau-saba ou mo-ng_arau-aba, aby-aba
380):
802 · Mas ( s) aba pode perder o s depois de qualquer nhandé nheeng-aba : nosso modo, meio, tempo, etc. de f alar; nossa
vogal; depois de a e e, pode perder toda a sílaba sa: fata
xe r-ausup-aba: o 1nodo, etc. de 1ne a1nar; amarem-me; o amor
aby-saba ou aby-aba sykyié-saba. ou t-ekó-bé-'ba que me tem
iuká-saba ou íuká-'ba t-ekó-bé-saba ou sykyié-ba xe por-ausup-aba: o modo como a1110, o amor que tenho; meu
a1nor oit amar
803. E se a vog-al é nasal, ··base nasaliza em -ma: mor-ausup-ába: Q amor, o arnar ( aos outros)
nupa-saba ou nupá-'ma a.ro-saba ou aro-anta nho-nio-noong-aba: reuniáo, conselho (da tribo)
nzo-pau-saba · ou 1no-paü-'n1a apyti-saba ou apyti-ama 809. TRADU~Áo. -
Conforme o caso, (s)aba se tra -
gfiarini-saba ou gfiarini-ama t-ekó-tebé-saba ou t-ekó-tebé-'n1a
duzirá por um substantivo, pelo infinito ou por urna
,.,
ora~ao:
804. Depois de ·á) a sllaba sa ou cai inteira, ou permanece
inteira: nd' a-s-epíak-i i tyn·tb-aba : náo vi o seu enterro, ou enterrarem-
-no; nao vi o lugar em que ou o 1nodo con10 o enterraram, etc., nd'
iuká-saba ou iuká-'ba (nunca íuká-aba) o-i-potar-i asé o epiak-aba: náo quer que a gente o veja; xe ~e-por
-aká-saba r-upi i kuab-i, xe r-en0i-eyn·t-a : passou por onde eu pescava,
805 · Mas no passado e no futuro de .qualquer verbo, é e nao n1e chan1ou; nd' a-í-kuab-i i karu-sag-úera: nao sei quando 01'
. ,
comum ca1r so o s: onde, como, con1 quem, com que, para que, ele comeu; nde r-epiak-
-ag-'Úa:nia nhó-te r-esé :xe ie-byr-i : voltei s0111ente para te ver; a-í-11io-
iuká-ag-uama e iuká-ag- kytí-ag-u.ama e kyti-ag-uera -ang ride ~~e kua.b-a.g-uan-i-eynia: cuido que nao n1e reconlhecerás; k ó-
...
-u era -bae nde só-sab-am-bt(era: esta é a ocasiáo em que devias ter ido;
No futuro, a partícula pode nazalizar-se: fíg -1?ama. Nos documentos en- nhandé pysyro ybyrá suí i gueíyp-ag-uera: desceu da árvore para sal-
contra-se angoama, aoama, etc. var-nos (lit. salvar-nos foi a causa de ter ele descido ... )
810. Dos exemplos se infere que ( s)aba pode substituir 0
806. No futuro dos verbos terminados en1 consoante, há
muitas contra~óes: infinito, sobretudo no passado e no futuro, etn que o in-
finito nao é quase usado ( n. 337).
epiak-ag-i'ia1na, epiak-iranza; 1no-11!tang-ag-1(anu1. 1110-nhang-a-
-uan1a, 11io-nha.ng-ua11ia. Etc. Os verbos oxítonos quase nao se empreg-am no futuro
do infinito :
807 · Encontram-se exemplos de verbos que <liante ele eu o vi matar o papagaio : a-s-epiak aíuru íuká-puera ou
( sJaba sofren1 apócope da vogal tónica: íuká-sag-uera' quero que nao o mates: a-í-potar nde i íuká-rani-
-eym.-a; 1nelhor: it.tkd-sag-iiani-eyni-a
sykyié-saba, syk3 1á-'ba ou sykyí'-aba (AR. 316)
1
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 283
'
811. SINTAXE. Assim como t-e-mi·- e pj•ra indicam o porandub [esé] e (supé]: ~
objeto direto e se traduzem por "que", ( s)aba pode indicar nd' a-t-kuab-i kunumí morubixaba supé kunha po1·an-
o objeto direto ou os complementos circunstanciais, e dup-ag-Uera ou nd' a-i-kuab-i kunumi kunha morubi-
xaba supé i porandup-ag-úera: nao conhe<;o o menino
traduz-se por "que", regido de preposic;áo: pelo qual a mulher perguntou ao chef e; nd' a-í-kuab-i moru-
ara i x6-saba: o dia em que ele vai ; t-obaiara o-iuká xe r-ayra, bixaba, kunumí r-esé kunhá porandup-ag-uera ou nd' a-i-
iaguara nde i pysyk-ag-uera: os inimigos mataram a meu filho, com -kuab-i morubixaba kunha kunumi r-esé i parandiip-ag-úera:
o qual apan'.haste a on<;a nao conhe<;o o chefe ao qual a mulher perguntou pelo
.
menino
812 · é o particípio próprio dos verbos que tem
( S )aba
objeto regido de preposi<;ao. Para seu correto emprego é 815. Tam!bém os verbos retransitivados (n. 531) usam do
mister conhecer bem a regencia do verbo em tupi, nem sempre particípio ( s)aba, para se referirem ao substantivo incorpo-
igual a do portugues : rado, e nao ao novo objeto direto. Cpr. as frases:
' o-kó-meeng ltaiyba supé: deu ro<;a a Itajiba; o-í-kó-1neeng Itat.y-
sem [suí]: o-kai taba oré seni-ag-uera: a taba de que
saímos, pegou fogo ba: deu ro<;a a Itajiba (obj. dir. em tupi: Itajiba); xe k6-meeng:
mendar [ esé] : aé nde mendá' -sab-am-búera: é com ele que deu-me ro<;a ( obj. dir.: xe) ; Jtaíyba kó-meeng-aba: a que é dada por
devias ter-te casado r~a a Itajiba; xe kó-meeng-aba: a que meé dada por ro<;a
maenduar [ esé] : 1naenduá' -saba : o de que (a gente) se lem-
bra ; lembran~ O objeto direto dessas frases é ltaiyba e xe. Donde
cre-kuab-pe xe niaenduá'-saba?: sabes de ., .
os part1c1p1os:
que me lembro?
maé [esé]: t' a-t-kuá·'-nieeng nde-bo xe niae-saba-ne: i kó-meé' -byr-a: a quem é dada ro<;a; xe r-e-nii-kó-nteeng-a: a
mostrar-te-ei o que estou olhando quem dei r~a
813 · Os verbos que ten1 con1plemento direto e indireto 816. Com verbos nao-transitivos, o participio saba pode implicar tra-
du~ao passiva : maenduá' ~saba cousa lembrada ; t-c-sarai-taba cousa esquecida
exigem o complen1ento direto antes do particípio: ' (pela gente).
meeng [supé] : abá pee ini nieeng-ag-úera o-y-asab ou abá
iní pe i meeng-ag-uera o-y-asab : o ho- 817. O substantivo a que se refere o particípio pode estar
tnem a quem <lestes a rede, atravessou regido de preposi~áo: esta se coloca após o particípio. Cpr.:
o rio
tnbo-é [ esé ] : oré r-a11iui-etá nd' o-i-kuab-i pe oré mbo-é- nd' a-í-kuab-i i xó-sag-uama: nao conhe<;o o lugar a que ele irá;
-saba: nossos antepassados nao conhe- a-ikó-bé i xó-sag-ua-me: vivi no lugar ao qual ele irá; o-manó abá
ceram o que nos ensinais nde r-uuba nde i meeng-ag-uera : morreu o homem ao qual <leste tuas
flechas; e-i-meeng kó guyrapara abá nde r-iiuba nde i meeng-ag-uera
814. Os verbos que tem dois complementos indiretos, podem supé: dá este arco ªºhomem ªº
qual deste tuas flechas ; %6 r-esarai
levar o particípio ( s ) aba em qualquer deles, conforme o nde maenduá'-sag-uera r-esé paié supé xe porandub-am-buera r-esé:
esqueci-me de perguntar ao pajé pelo homem do qual te lembraste
sentido:
•
284 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 285
819. esé ou rí (n. 605): "por, para.": 821. -ramo ( n. 619) : "como, na qualidade de, segundo":
xe poranditp-ag-úania r-esé nde-be, a-íur : vitn para te perguntar; t' a-nheeng xe nheeng-ab'-anio : f alarei segundo o meu modo de
nde. i'-e-r-ur-é-ag-uera r-esé xe io-upé, aipó a-é: digo-o, porque mo falar
pediste
822. (S)aba aparece também junto a substantivos, pro-
820. -pe (n. 140) nomes, advérbios e até frases:
\
l. - "em, a" (locativa) : kaá mboi-etá-saba r-upi a-guatá: passei por um mato em que há
muan·tb-á' -pe : no assalto, no lugar da batalha, etc. ; abá amó o muita cobra; nde-sá'-pe xe r-uba r-eo-ú: no lugar em que estás, meu
~nam-buera o-tym amé s-ok-uer-pe; abá amó, o-nho-tym-bae okar-pe, .
pa1 morreu
i tY'1nb-ag-uer-pe tapyi-i mo-nhang-i a1n.é: uns índios enterram seus
parentes em suas (dos parentes) antigas casas ; outros, que os enter- 823. FoR~iA NEGATIVA. -
Quando o particípio é comple-
ram fóra, constroe111 urna pequena choupana no lugar em que os en-
terraram mento predicativo, o advérbio negativo é nda ... ruá ( n.
184):
2. - Corresponde as vezes ªº gerúndio, Ott ªº infinito nda xe pora.ndup-ag-ttera ruá: nao é aquele pelo qual perguntei ;
seguido de -reme: ou a quem perguntei
xe nde r-enoi-dá' -pe ( ou r-enoi-1tte), t' ere-só-ne : quando eu te
chamar, vás ! ; xe nde r-epiak-á'-pe ( ou r-epiak-a), t' oro-enoi-ne : 824. Incluindo o sentido de "ter", nega-se com nda . .. -i
vendo-te, eu te chamarei
(n. 352):
3. - "porque, por": nda xe porandup-ag-uer-i: nao tenho pelo que perguntar; a quem
xe 1nará-ar-ag-ué'-pe, xe pytá-ú: fiquei porque estava doente; perguntar; nd' i porandup-ag-uer-i: nao tem pelo que perguntar; a
endé .-re sy r-ausup-á' -pe: pelo amor que tens a minha máe quem perguntar; nda ~~e s-au.sup-ab-i: nao tenho como amá-lo; nda xe
r-ausup-ab-i : nao há meio de ele me amar
4. - "con1, -tnente":
korite·i -sá'-pe: apressadan1ente, corn pressa 825. É muito usado sobretudo na 3.ª p. impessoal negativa:
5. - Seguido de u111ii: "já está en1 ( ten1po)": nd' i papá-sab-i: nao há (modo de) contá-los ; nao tem conta;
nd' i gíi-ab-i: nao há ( nlodo de) co1ne-los, de acabar de comé-los
_ k~~u-sá:-pe u1na: já ·é (está na) hora de con1er; ybá ú-sá'-pe
u111~: J.~ est~ em tempo de se co1ner a fruta; 1w1u1111b-á' -pe xe só-sá'-pe 826. SUBSTANTIVOS ABSTRATOS. - No tupi colonial, principalmente literário,
ftlnn: Jª esta em tempo de eu ir a hatalha delineava-se a tendencia para dar accepc;ao abstrata as palavras formadas com
(s)aba:
•
porang-aba : beleza 1naenduá'-saba: lembran~ chama aqueta n1ultidáo de estrelas? Chama-se Via-Láctea. Por
i'-e-ro-biá'-saba: confianc;a mo-asyp-aba : contric;áo que dissestes que a chuva vai chegar? Porque (-reme) já apareceu
syk-aba : chegada mor-mtsup-aba: amor
( o-íe-kuab) no ·céu o Setestrelo. - Conheces a aldeia para a qual
A tendencia se acentuou mais no guarani antigo e no tupi moderno. estás olhando ? Conhe~o. É Angra dos Reis. - Já sabes o nome
827. (S)aba forma também ordinais: i mo-sapy'-saba (AR., l.ª ed., 154v.): daquela estrela pela qual me perguntaste? - Dou-te esta rede em
o terceiro déles
(como) paga ( tróco) da que me <leste e que me f urtaram.
EXERC1CIOS
828. BIBLIOGRAFIA
y-tororoma: bica dágua ANCHIETA 19; 28v-29; 32v-33; 42v; 48; FIGUEIRA 116-120; MoNTOYA
nhaia:
,
f onte, ponto de beber 16; 18; 25; 33-34; RESTIVO 100-109; 161-169; CAETANO 50-57; 58-60; ADAM
agua tatobapy : entrada da aldeia, 58-65; L. BARBOSA 188.
y-ek6-aba: regato primeiras casas
syk: chegar; juntar-se pé-ypy: id., antes das primei-
ras casas
829. Tatobapy segue taba (n. 259); pé-ypy segue pé (n. 252).
830. Pináá mo-nhang-aba. - Pirá syk-aba. - Sorok-aba. - Parana
epiak-aba. - Kaá asap-aba. - Mbaé nhai-pe nhandé nho-obaiti-ag-
-úamaf Aip6 y-ekó-aba n.de nhe-tno-akym-ag-úer-pe. - l katu-pe
y-tororonia nde y gu-aba? - Ere-kU,ab-pe uma taba oré só-sag-Uama
r-1ipir A-kuab uma s-apé-ypy, i tatobapy r-u·pi abé. - Nd' e-í karu-
-s?'-pe-pe ranhé! Nd' e-'Í ranhé. - Abá-pe nde r-e-mi-kó-meeng-a!
Pindobusu. - Na Pindobusu rua i kó-meen' -byr-am-buera. M ará-
-namo-pe ! - Mbaé-pe Pindobusu kó meeng-ag-úera? Aípó-bae pe
r-e-mi-asag-uera. - "Mara-pe i mo-ngaraib-pyra r-enoí-dab-eté !"
(AR. 16). - "S-etá-pe erimbaé aipó i-ara! S-etá: n' 'i papá'-sab-i
iandé-be" (AR. 45). - Xe r-ayt, a-í-mo-ang nde r-eo-ag-uama koyte.
831.
troco, paga: ekobiara ( t) haía, enseada : kuá
Estrela dalva: Pirapanema, Via-Láctea: Tapiirapé
!asy-t-atá-guasu, !aguara Angra dos Reis : O karusu
Pleiades, Setestrelo : Seixu. ser fundo: ypy ( t) (xe) (n.
241)
832. É funda a enseada pela qual passaram as jangadas? - O hranco
em que bateste chamou os seus companheiros para te matar na casa
em que dormes. - Como se chama aquela estrela, perto da qual passou . ..
a lua? É a Estrela-dalva? Nao. Ela nao tem nome. E como se Saudac;ao lacrimosa (THEVET)
CURSO DE TUPI ANTIGO 289
pres. suara
A
fut. suar-ama ou sar-ama 836. Sao as seguintes as par t1culas a que mais de f re-
A A
qüente se s_ufixa:
pass.-fut. suar-am-buera ",, sar-am-buera
A A
fut.-pass. suar-uer-ama
A
sar-uer-ama -pe : o que está en1, o que mora em; o que é de (lugar,
NEGAT. nafao, etc.) :
•
pres. A
suar-eyma yby-pe-sflara ou nduara : o que está na terra, terreno; paraná-me-
fut. suar-am-eyma ou sar-am-eynia -ndúara: o que está no mar, marítimo; nhü-nie-nduara: o que mora
A A
pass. suar-uer-eyma " sar-uer-eyma no campo; ybak-pe-suara ou nduara: o que está no céu, celeste; xe
pass.-fut. suar-am-buer-eyma " sar-ani-buer-eynw r-eta' -1ne-ndi'iara: o que está na ( ou é da) n1inha terra; pó-pe-suara:
fut.-pass. suar-1'ter-am-eyma " sar-uer-am-e)mta o que está nas máos: armas; ti-me-nd1?ara ( AN c H., ib.) : o da frente
ou dianteira
834 . Em geral significa "o que costuma ser", "o que cos-
tuma estar". pupé: o que está dentro de
Sufixa-se a co1nple1nentos circunstanciais, isto é, a y pupé-SU.ara ou nduara: o que está dentro dágua; karame1nfiii-
substantivos, pronomes, infinitos preposicionados, ou a ad- -me-ndaara: o que está dentro da caixa
vérbios e locu~·oes adverbiais.
supé : o que é para, o que se destina a, útil para
835 . Assume também a f orina nduara, que chega a ser Mbo¡oby supé-ndar-ama: o que se destina a Mhoiobi; nibaé i.'ré-
mais usada que s1tara., sobretudo quando precede nasal. -be-suara: cousa (que é) (útil) para mim; i :rupé-sar-fiera i.-:ré: fui
De¡:>,ois de i, em geral se converte em .xuara. Depois de útil a ele
consoante, i.xúara. Depois de y e mesmo de i, torna-se
""
guara. -bo: o que está por, o que anda por, o que é por (de)
maraká pupé-suara ou nduara : o que está dentro do chocalho kaá-bo-ndfiara: (animal) que anda pelos matos, montes ; ar'-bo-
t-enondé-sitara (ANCH . 10): o que está (oie vai) a frente ·ndúara: o que é de cada dia, quotidiano; )'b'y-bo-nduara: o que anda
pelo chao
'
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 291
290
1noro-iu'-byk-ara: o que enforca, enforcador kaniusi-pora, niara? Aipó-bae oré t-oba-iara fatká-renie-11dar-a1na
nioro-iu'-byk-á'-tyba: o que costuma enforcar, algoz nhó-te. - N de nhe-nio-·y ro-nduer-eté ! - M a111ó-pe cre-só f A -só
xe r-ekó-aba: lugar em que estou, meu lugar guarini-ranio. "Paí, niara-pe gfiarini-111e na nde pó-pe-súar-i?"
xe r-ekó-á' -tyba : lugar em que costumo estar ( CARDIM 339).
x e só-aba: lugar ao qual vou
xe só-á' -tyba : lugar ao qual costumo ir 845
ie-por-aká' -saba : lugar ou tempo de pescar f azer caso : nio-tyb resto : kurub-í
ie-por-aká' -sá'-tyba : lugar ou te1npo em que se costuma pescar por isso : nd' e-í teé ( n. 463 ) que ocasiáo ?: 1nbaé-re11ief
iip-aba ( t) : lugar de (a g.) se deitar
xe r-up-á' -tyba : lugar etn que costumo deitar-n1e 846. A nossa comida de cada dia dai hojea nós. - Dai-n1e u1n pouco
xe r-e-11ibi-ú : rninha con1ida, o que eu como de papas. Nao. As papas nao sao para hoje. Sao para que ocasiáo?
Sao para quando acabaren1 as dan<;as. - Qual é o prato e1n que
.'re r-e-'l'nbi...,ú-tyba : o que costun1o comer
costumas por de molho o pao? É o de cá? Nao. O de lá. Qual
xe r-e-mi-niborará: o que eu sofro é o em que costumas comer? - Que é o que costumas comer? Só
xe r-e-nii-niborará-tyba: o que costun10 sofrer .... o resto ? - Como se chan1a a ilha em que costumavas pescar? Tepo-
. yg-asap-aba: lugar de atravessar o rio . tigua<;u., Que significa Tepotiguac;u? Lá há muito peixe? Há. Por
yg-asap-á'-tyba: lugar em que se costun1a atravessar o no; pas- isso nao se faz muito caso deles. Quen1 é o mo<;o com que1n costu-
sagen1 do rio mavas pescar naquela ilha? Era Pindobu<;u. Por que náo é ele com
quem costumas pescar agora? ~le é muito f alador e rabugento. -
842 . T yba pode-se conjugar como verbo: "hav~r, cstahr! ab.~mdar'.' : há f lt
i tyb : há, está, há abundancia; ud' i tyb-i : nao a, nao esta, a a, És morador de onde ? De Pacatá? Nao. De Ibitirapuá. Por isso
há pouco; e-í katu, Abaré tyb-eym -e é (AR. 147) : pode ( outra pessoa, és falador. Nao sao faladores os moradores de Ibitirapua? Sim. Sao
batizar)' se é que nao há padre faladores, mas só dizem o que é verdadeiro. - Aquele bicho é da
Há também o verbo deri:vado 1110-t3•b " ·f azer caso º" muito de" terra ou dágua ? É do mar.
EXERCtCIOS
BIBLIOGRAFIA
843. suara - ANCHIETA 10-11; FIGUEIRA 139; MoNTOYA, Tesoro 128v-130;
paí: padre posa.nga: ret11édio RESTIVO 13-15 ; 153-155 ; CAETA NO 61-62; ADAM 71-72; L. BARBOSA 188.
1nanió-i-guara? : inorador pepyra: festim auera - ANCHIETA 51v; FIGUEIRA 139-140; M o NTOYA, Tes()ro 113-113v;
de onde? RESTIVO 69; CAETANO 63; L. BARBOSA 188.
tyba - FICUEIRA 76; VLn 97; 142 ; 160; 259; 340; MoNTOYA, Te.'iorn
• 387/381; REsTIVO 324 ; CAETANO 76-77; DRUM:OND, Notas Gerais 57-70;
844. Manzó-í-gúara- pe nde? Pakatá ~y-gtiara . - Manió-pende L. BARBOSA 189; lo. Tradu,oes 30-31.
r-ekó-á' -tyba? N de só-á' -ty' -pe. - K ó 1nbaé iké-ndi1ara. Aipó-bae
aé-pe-súara. Na iké-ndúara ruii-n' ikó, aé-pc-11dtiara-le. - 0-ká
giu.í kuei ka11-iusi. Mbaé-Pe i por-ani-buera? Y nhó-te. - Mbaé
r-&sé-pe tid' ere-ú-í pirá? N da :re r-e-1nbi-ú-tyba rttil - Abá
supé-ndar-ania-pe aípó posanga? Na nde-bo-ndar-a1na rua, mbaé-
-asy'-bor-'Úera-nduara-te. - E-í-n1eeng ixé-bo kaui tá. 1Vd' i tyb-i.
•
Na kori-ndar-ania r·u.ií kai¡i pep'}1ra, oira-ndar-a1na-te. Aé-pe aipó
19
CURSO DE TUPI ANTIGO
outra palavra para completar-lhes o sentido: objeto direto, a-s-epidk t-esá: vejo olhos (de gente)
complemento terminativo ou outro complemento. a-s-epiak s-esá: vejo olhos (de animal)
848. Em tupi sao palavras essencialmente relativas, entre outras, os nomes Nunca se poderá dizer na forma absoluta: a-s-epfok esá.
de partes do corpo, de parentesco, e semelhantes. Também os verbos tran- 0Bs. 1. - A forma primitiva deve ter sido te- e se-.
sitivos e relativos.
0Bs. 2. - T-, s-, moro e mbaé poder-se-iam chamar também pronomes
pessoais indefinidos, sendo t- e 1noro- humanos, s- e mbaé nao-humanos, com
849 FORMA ABSOLUTA. - Nesta gramática diz-se estar na o sentido (náo a fum;ao) dos nossos "alguém" e "algo": t-esá: olho(s)
forma absqluta a palavra que nao é modificada nem por de alguém ; s-esá olho ( s) de algo; moro-ti : nariz de alguém; mbaé-tí nariz
( ou bico) de algo; moro-aitSitb-a amar a alguém ; mbaé-kuab-a saber algo.
possessivo, nem por outro complemento.
Muitos autores dizem estar na ·forma absol1tta certas palavras precedidas
do prefixo t-: t-oó, t-ug{iy, t-akuba, etc. Nomenclatura inaceitável: t-oó, ANTES DE SUBSTANTIVOS
t-uguy, etc. sao formas relativas aos seres humanos, em geral (n. 236).
A forma absoluta é oó, itguy, etc.
§ l.º - PREFIXOS DE CLASSE t- E S-
850. Em tupi as palavras relativas nunca podem ficar na
forma absoluta dentro de urna frase. Se nao estiver deter- 853. Com os substantivos que tem s- ou t- como posses-
minado o indivíduo a que se referem, devem ser indicada ao sivos da 3.ª p. (n. 238 e 240), o prefixo da classe
menos a classe a que ele pertence: superior ou inferior. superior é ein geral t-, e o da inferior, s-:
s-ugi1y : sangue (de animal)
/ 851 . CLASSES SUPERIOR E INFERIOR. - o tupi distingue t-uguy : sangue (de gente)
t-umby : cadeiras (de g.) s-u1nby : cadeiras (de animal)
gramaticalmente duas classes de seres: t-embé: beic;o (de g.) s-embé : beic;o (de an.), borda
Cl. sup.: homens, espíritos (de rio, etc.)
Cl. inf. : animais, vegetais, seres inorganicos t-erapi1ana: fama (de g.) s-erapi'tana: fama (de ser inf.)
t-akuba: calor (de g.) s-akuba: calor (de ser in fer.)
' CURSO DE TUPI ANTIGO 297
296 LE?YIOS BARBOSA
ANTES DE ADJETIVOS, VERBOS E PREPOSI~OES 867. Com pre pos i ~o es, t- e s- funcionam co1no
con1plcn1ento:
§ 1.o - PREFIXOS DE CLASSE t- E S- t-akypiier-·i : atrás de (g.) s-akypiter-i : atrás de (c.)
t-enondé: antes de (g.) s-enondé: antes de (c.)
864. Nao só os substantivos, mas todas as palavras rela-
tivas, que tem como complemento da 3.ª p. os pronomes t- 868 . Algumas preposi<;oes, pa·ra a classe superior, preferen1
ou s-, sao susceptíveis de levar os índices de classes: ad- 11ioro-:
jetivos, verbos transitivos, preposÍ\Ües. 11ioro-esé: por (g.) s-esé: por (c.)
moro-upi: por, segundo (g.) s-upi: por, segundo (c.)
865 · Com v e r b o s t r a n s i t i v o s, t- e s- f uncionatn
co1no objeto direto. Só se dá o ca.so no infinito, gerún<lio
e formas derivadas. Só nos verbos que tem s- como pro- 1) a de pronome
869. S- pode pois exercer duas f un\oes :
nome oh jetivo da 3.ª p. ( n. 31 O), no v. irregular ityk ( n. da 3.ª p. ; 2) a de pronome ou índice da elas se inferior :
922) e nos comipostos de ro- ou no- (n. 508, 509, 413): s-ausub-a: 1) amá-lo 2) an1ar ( cousas)
s-oby: 1) ele é azul 2) ( cousa) azul; ser ( cou- ·
sa) azul
t-ausub-a: amar (g.) s-aus1tb-a: amar ( cousa) s-ekó: 1) estar ele 2) estar ( cousa)
t-ausup-a: a1nando (g.) s-ausup-a: amando ( cousa) s-akypúer-i: 1) atrás dele 2) atrás de ( cousa)
t-e-ityk-a: atirar, -ndo (g.) s-e-ityk-a: atirar, -ndo ( cousa)
t-e-no-sem-a : ret irar~ s-e-no-seni-a: retirar, -ndo 870. Em alguns verbos irregulares o próprio t- é o pronome
-ndo (g.) (cousa) su jeito da 3.ª p. do infinito; ou, se o verbo é transitivo. t-
•
300 LE1\10 S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 301
e o pronome objetivo da 3.ª p. do infinito, gerúndio e formas Sstes nomes de cores parece terem sido empregados também com rela<;ao
a seres inferiores. Mas é escusado anotar que nao se diz :~e moro-ting n.em
derivadas: nde mor-oby, etc., mas xe ting, nde r-oby, etc : sou branco, és azul, etc.
intr. : t-uba ( n. 885) : 1) estar éle deitado; 2 ) estar deitado
(g.); 3) id. (c.) EXERCtCIOS
tr.: t-ara (n. 921): 1) tomá-lo; 2 ) ton1ar (g.) ; 3) tomar (c.)
t-á (n. 891): 1) tomando-o; 2) to111ando (g.); 3) 875. Kai1i
tomando (c.)
871. Todos esses adjetivos, verbos intransitivos, transitivos, preposic;óes, devem aipi y.: . cau1m (feíto) de porasei : dan~r
vir acomapnhados respectivamente do seu sujeito, objeto direto ou termo regido, aip1m paresar [supé]: convidar (por
ainda que estej am incorporados. akaiu y: cauim de ca ju mensageiro)
kagu-aba : vasilha de beber meen'-gaú : tr. dar de beber
•
cau1m vinho a
§ 2. o - PREFIXOS DE CLASSE moro- E, mbaé unguá obaiara ou obaix ua- so'-sok : socar
ra: mao de pilao 1no-in : tr. cozinhar
872. Moro- e ni baé sao os índices de classe que se empregan1 tepiti : prensa (de espre- 1no-pupur: ferver
con1 os verbos, adjetivos e preposi<;6es nao inciuíáos no pa- mer) en (nho-s): despejar
sabeypor: intr. embebe- apó ( i) : f azer
rágrafo anterior. Servem aliás também para todos
dar-se suú-suú: tr. mastigar
(n. 380):
876. Mara ngatu-pe pe-í-apó kaui? J(unhii o-io-sok akaíu unguá
moro-pysyk-a: tr. apanhar nibaé pysyk-a: apanhar ( cousa) pupé, o-ty-ami o pó pupé, k ó-ipó tepiti pupé, ty-púera ygasaba pupé
(gente) s-en-a. Mbaé-pe kaui só' -sok-aba? Ungu:á obaiara. - Mara ngatu-
moro-seni-a: intr. sair nibaá seni-a: sair ( cousa) -eté-pe o-i-apó amé guá aipi y? 0-í-pé-ok guá aipi, o-i-mo-in; aé riré
moro-aitsub-a: tr. amar nibaé ausub-a: amar as cousas kitnha-muku poranga i xuú-suú-u, ygasaba y r-es á t-ynysem-bae pupé
( aos outros) i m·u.n-a. Kitnha o-í-nio-nan abati r-esé, i 1no-in ie-by, i mo-pupu' nhae
moro-esaraí: intr. esque- nibaá-asy : doer ( cousa) pupé. 0-nho-s-en ty-puera ygasaba i kuá r-iipi i aty-pyr-uera pupé,
cer-se (g.) ygasaba asoi-á-bo, s-eiá nhó-te mokoí ara aé-pe. - lvfara-eté-í-pe
kaui gu-aba? 0-kaú ianondé, abá pysaré o-poraseí, o-nheengá'.
873. .A..o contrário de t- e s-, os índices moro- e mbaé se Koem-e o-kaú ypy, o-nheengá', o-pora;sei abé. K unha-1nitku o-í-meen'-
usam tan1bém f ora do infinito, do gerúndio e dos derivados. -gaú. Abá kaú-re1ne-bé, i karu-eym-i. 0-kaú-kaú o-ar eym-a puku-í,
Mas neste caso, nioro- assume a forma poro-: o-sabeypó'. - Tá'-pe-s'Úara nhó-te-pe i l?aú-ú ? N' aan-i. 0-i-xoó
aniundaba pora abé, i x upé o-paresa. - Kurunií, pitanga abé sera
a-poro-pysyk a-poro-ausitb o-kaú? N' aan-angá-i: abá nhó-te, o-niendá riré. Aé-pe kunha-tair
. b'e.
N , aan-i-
874. Moro- é usado com os nomes de cór, substantivando-os :
ptanta<;ao de milho : abatí vo1nitar: gfl-een, intr.
tinga : branco 111oro-tinga: o branco, a cór branca (de g.); ser f urar: mo-bok - : 1no-ie-byr, tr.
branco (g.) arrotar; ei{ ( xe)
it4ba : amarelo 111oro-1uba : amarelo, a cór amarela (de g.), etc ter nojo de: ie-gi1aru [ suí]
oby : azul, verde mor-ob·y : o azul, a cór azul, etc. mensageiro : paresara - fétido: eu rem (xe)
una: preto moro-una: o preto, a cór preta, etc.
•
302 LE1'f OS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO .',03
877. Em que ocasióes fazeis cauim? Quando nasce urna crian~a, AO SANTO A'NJO DA GUARDA
antes e depois de urna guerra, quando matamos algum prisioneiro, P. CRISTÓVÁO VALENTE (1566-1627)
quando vamos trabalhar na planta~áo de milho do chefe. Em que (adapta~ao ortográfic.a)
ocasiáo mais? Quando furamos o lábio inferior de um rapaz. · De
que maneira bebeis o cauim? Vestimos [ em nós] o manto de penas e ESTRIBILHO Tupa r-obaké e-ikó-bo,
o diadema. Por que é que muitos vomitam? Vomitam o cauim Xe suí nd' ere-syryk-i2,
Pe-ior-í, apyab-etá,
porque tem nojo dele? Porque as mo~as o mastigaram, misturando-o Na xe nio-pyá-tytyk-i
Oiepé t' ia-í-nio-eté
com a sua saliva? Nao absolutamente. Porque os outros estáo arro- Anhanga xe r-apekó-bo3.
landé Karaí-bebí.
tando fétido. Qual é a vasilha de beber cauim? É urna caba~a ou N d' e-í teé nioxy4 o-só-bo 5
cuia. O mensageiro está bebado? Niáo. O cauim ainda nao está O atá-pe xe r-eiá,
azedo ... N de pó guyr-pc xe mo-ingó-bo.
COPLA
X e r-aro-ana ybak-y-gitara, X e iru-namo 1111tenié
Karaí-bebé poranga, iVde ii'-nie xe r-ausub-á' -boó
E-i-nibo-é katu xe anga, N d' a-é-i katu.-i nhe-mo-ngyá-bo
T' o-i-kuab ybaka piara. T-ekó angaipaba pupé:
X e r-uba, xe r-e-r-ekó-ara N d' o-ti-i serii7 asé
N de r-esé nhó t' a-gfiatá. M aras o-ikó-bo9 ara w
E-i-peá xe r-aang-ara1• o aro-ana r-oballé.
ARAÚJO, Catecismo (ed. 1898), *V-*Vv.
BIBLIOGRAFIA
..
ANCHIETA 14v-15; 49v-50; 51-52; FIGUEIRA 86; 90; VLB 282; 290; 321;
1'foNTOYA 53-54: In. Tesoro 318/312-319/313; RESTIVO 52-55; 277; CAETANO
38; ADA)f 9; 22-27; L. BARBOSA 173-174; Io. Os Indices.
883. ú: "comer"
Trans.) mas sem pron. obj. quando leva pref. ag. No mais,
Ll(;AO 48.ª regular.
eompostos. Ú -sei querer comer (n. 897, 2) admite pron. obj.:
AIC 11
892. ltyk: "atirar, jogar fora, derrubar, vencer" 895 . ' "morrer"
M a n o:
l Nnrc.: a-ity k, ere-ityk, o-ityk ; ia-ityk, oro-ityk, pe-ityk, o-ityk lNDrc. l MPERAT., GERÚNnro: regulares
:~e ( ou nde, iandé, oré, pe) r-e-it31k: joga-n1e (-te, -nos, -vos) l NFIN. : xe r-eo, nde r-eo, s-eo, o eo; íandé r-eo, oré r-eo. Etc.
oro-it:yk : jogo-te; j oga1nos-te ; opo-ityk : jogo-vos ; jogamos-vos Cl. sup. : t-e5; inf. : s-eo
a-íe-ityk : jogo-me, etc. CoNJUG. suB. : xe r-eo-u, nde r-e5-u, s-e5-it. Etc.
a-itá-ityk : jogo pedra P ARTICÍPrcs : o-nianó-bae; t-e5-saba ou t-egu-ama
lNFIN. : xe r-e-ityk-a, nde r-e-ityk-a, s-e-ityk-a, o e-ityk-a. Etc. Quan<lo o infinito está incorporado ao gerúndio, assume a forma regular:
Cl. sup. : t-e-ityk-a; inf.: s-e-ityk-a ere-ú-pe yby kó-ipó nibaé aiba t-egu-ama, e-manó-potál (AR. 229) : co-
CONJUG. SUB. : xe r-e-ityk-i, nde r-e-ityk-i, s-e-ityk-i. Etc. meste terra ou veneno mortal, querendo morrer?
902.
VERBOS EXCLUSIVOS DO PLURAL
costume: ekó ( t) bracelete: nhaa
898.Alguns só se empregam no plural: ta1nbor : gi''t-arará bastao de ritmo : yba
al java: uub-uru tocar, bater: mo-pu, tr.
kub ou kub-é: "estar":
ia-kub, oro-kitb, pe-kub, o-kitb; w-ku.b-é, etc. '
ie-oi: "ir-se, partir, passar" (só no refl. pl.)
- 903. Estando eu sentado, tu (estando) deitado, e eles (estando) de
pé, o branco entrou, to1nou a aljava e atirou-a fora, com as frechas.
A al java, caindo no chao, deu um estalo ( n. 471). As frechas que-
EXERCtCIOS braram-se. E eram mu itas. - Que fez ele depois disso? Quando
889. viu que nós íamos para o lado dele, para apanhá-lo, saiu voando
iu-ati : espinho pik: calar ( n. 471). E que f izestes vós? Nao f izen1os nada. - Quando o branco
epy ( t) : prec;o obai%uar ( s) : contradizer entra em nossa casa, nós nao nos sentan1os. É o nosso costume. -
Tupa r-oka: ten1plo ie-aiu'-byk: refl. enf orear-se Quen1 é aquele que apanhou o meu bracelete? - Por que atiraram
Rerityba: n. pr. de aldeia a11i : estar de pé fora a minha pedra de bei<;o? - Sabes tocar tambor, (estando) dei-
tado? Nao. Sei tocar (estando) sentado ou (estando) de pé. -
900 . Vários verbos traduzcm "estar". Os principais sao : ikó, in, ittb, am. Por que nao trouxeram eles o meu bastao de ritmo? Quem é que o
Am significa "estar (de pé ) ". !ti "estar (sentado ou de qualquer forma quieto trará?
no lugar) ". liib "estar ( deitado) ". I ~ó significa, em geral, "estar", e é
particularm':!nte usado com verbos de movimcnto. Usam-se ant, in, ittb, mesmo
que acaso em portugues nao se exprima " de pé ", " sentado ", "deitado" : 904. AO SANT!SSIMO sA·cRAMENTO
"estou doente" traduz-se .-re mbaé-asy gui-t-uj>-a (desde que o sujeito esteja
realmente na cama) ; "estou rezando" : a-t11pa-mo-ngetá gui-t-e,i-a (se está DA EUCARISTIA
ajoelhado ou sentado) ; "estou-te esperando": oro-aró gúi-am-a (se está de pé).
- As vezes juntam-s-e dois verbos com o s.-:-ntido de "estar": iké oro-ikó oro- P. CRISTÓVÁO VALENTE (1566-1627)
-k1,p-a: "aqui estamos". - Há também os derivados mo-i11gó colocar
(geral). 1110-mn colocar de pé, mo-in colocar sentado ou quieto, mo-1tb colo- (adapta<;áo ortográfica)
car deitado, r-ekó estar com ou ter (geral) , ro-am id. cousa que está de I
pé, uo-i1i id. cousa que ~stá quieta, ro-ub ou r-ub id. cousa que está deitada;
ro-kub id. (geral, plural). ESTRIBILHO
901 . Gui-t-ú. T-á. Nde r-á. O á. E -in-a. T- en-a. E-iup-a. Nen-i. M yiapé ybak-y-guara,
X e r-ekó. X e r-e-r-ekó. S-e-r-ekó. S-e-r-ekó-bo. S-e-r-ekó-u. 0-ikó- A pyá'-bebé1 r-e-mbi-ú,
-bo. 0-ú. T-a.ra. - X e kutuk iu-atí. Ning-ning e-í .rt? py. E-ío-ok X e anga r-ekó puku.
312 LEMOS BARBOSA
COPLA
X e amby-asy posanga, N de angaturama rí8 , Ll(ÁO 49.11
Xe r-ekó-tebé r-upi-ara2, E-1-or--í .xe pore-ausub-ok-a,
E-s-epiak .xe mará-ara3, E-1--py-tybyr-ok 9 .xe r-oka,
T' ere-s-ausub-ar .xe anga, N de pytá-saba 1-epi,
!or-í, .xe r-ekó-mo-nhang-a4, T' a-gitatá nhó nde r-upi, PRONOMES RELATIVOS
X e anga taygaybas, 1 angaturam-bae supé
X e anga i'-e-ro-bíá'-saba, Myiapé t-ekó-bé 1-ara;
Yby-pora mo-esa-?,-baba6, 905. Nao há pronon1es relativos. As frases que os
I po.xy-bae, t-á' -sara 10,
Y baka-pora r-oryba, T-eo o-gu-ar11 o 1-o-upé12. incluem, em portugues, se vertem pelos particí pios, de
Jl.1 ore-ausub-ara yba7 , Oiepé mbi-ú pupé acordo com a fun<;ao sintática.
Pe-s-epiak t-ekó paraba/13
ARAÚJO, Catecismo ( ed. 1898), pp. *Vv-*VI
906. que; o ou a qual; os ou as quais; o ou a que;
1 - homem que voa, t anjo. 2 - inimigo, afugentador. 3 - <loen~,
fraqueza. 4 - governar-me, tomar conta de mim. 5 - fortaleza. Propria- aquele, -a que, etc.
ment~: fortc,. valente. Corno subst. abstrato, o uso é for~do. 6 .._ causa de
alegna, alegria. Melhor seria mo-eséii-daba: 7 - arrimo dos infelizes. 8 -
pela tua bond.a.de. M elhor: por seres bondosa. 9 - timpa (imperat.) Sendo su J. : -bae ou sara
por dentro. 10 - os maus que o recebem. 11 - tomam. 12 - para si mesmos
13 - vede (que) diversidade 1 • " SUJ.: de v. passivo: pyra ou m(b)i-
" OBJ. DIR.: ni(bJi- ou pyra
BIBLIOGRAFIA " COMP. REL. ou CIRCUNSTANCIAL: saba
Verbos irregulares - ANCHIETA 54v-58v; FIGUEIRA 53-64; MoNTOYA
55-68; RESTIVO 122-139; CAETANO 40-43; 78-80; ADAM 72-79; 0ALL'IGNA 907. quem
66-67.
Verbo\ defectivos - MoNTOYA 68-69; REsT1vo 139-141.
Con10 "que", "o qual", etc., anteposto aJJá ao parti-
VeJ'P91J exclusivos <?o plural - MoNTOYA 68; REsTrvo 139-140; ADAM 79. , .
c1p10:
Sendo SUB. : nd' a-í-kuab-i abá o-manó-bae-puera: nao conhe<;o
quem morreu
908. •
CUJO, -a,. -os, -as; do qual, da qual, dos quais, 912. Quando o complemento é um particípio, em geral se
I
916 . Observa,ao: Como se ve, nas frases de "que", "cujo ", etc., há casos A GUERRA
do possessivo i em mgar de o, referindo-se embora ao sujeito da ora~áo principal.
Ainda que anormal (n. 61), tal sintaxe se explica por certa independéncia (se 921.
nao gramatical, pelo menos de sentido) desse genero de írases.
amarrar : apy-ti recuar ( resistindo) : syry'-syryk
dar combate a: pó-kok [ esé] id. ( em fuga) : syí
EXERCtCIOS resistir (na defensiva) : nhe-
cercar : aman
917. -ran [supé]
cercar, sitiar: piar (io)
kurupysayba: árvore ( espécie) mbo-ar : apanhar dividir-se ein bandos: íe-peá- id. (na ofensiva) : nhe-ran
amyniíu : algodao iu.guá : visgo (para cae;ar pas- -peá [esé]
sarinhos) encurralar : mo-iar simular fuga: ro-nhan, tr.
poó: colher ( obj.: a fólha ou a aé (-n') ipó ... -reme: se por esperar no ca1ninho : apé-aro tomar a dianteira: enondé-ar
árvore) acaso (s) (s)
918. O-manó ybyrá s-oba nde r-e-nii-poó-puera. - N da s-asy-i-pe fazer fortificac;óes: ybyr-á-mo- id.: okesym (s)
-nhang render-se: auié ( xe) [supé]
nde pó nde ybá poó-sag-'úera? - N d' ere-ityk-i xó-é-pe kurupysayba
guerrear: ikó marana rí vencer : nio-aúíé, ityk
i iuguá nde guyrá nibo-á'-sag-uera-ne? 1Vd' a-ityk-i, i kutuk-a nhó-te.
fazer destruic;ao (de g.) : poro- atacar pela retaguarda : kupé-ab
- Mbaé guyrá-pe nde r-e-mi-mbo-ar-uera! - Abá, o oka gíiatá-sara
-nzo-1nbab batalha, combate : mará-mo-
r-e-iké-ag-uera, "Ere-iur-pe?" - e-í i xupé-ne. Guatá-sara "Pá.
mandar recado que se juntem -nhanga, ío-gi1e-r-ekó
A-iur" - abá s-oka o e-iké-ag-uera supé e-í abé-ne. - Mara-pe aipó
(para guerra) : anianaié cerca (dos sitiantes) : ka-ysá
kaá s-aynha abá r-e-mi-apó nii-ngaú-ramo r-era? Amyniiu.. - E-s-
[ supé] estacada ( def esa) : ~>byrá
-enoí guaibi t-aiyra s-e-nii-iuká-puera.; aé ipó s-ekó-eym-e (VLB 214),
matar muita gente: por-apiti id. (a de f ora) : )'b31rá pó-kanga
e-s-enoi t-ayra. - K unha i men-eo-bae kybyra o-mendar i membyra
pegar : íe-potar id. (a de dentro) : ybyrá pa-
r-esé-ne. - "Kunha, i meniby' í1tká-p3ir-üera, o-iaseó nhó-te o-in-a"
tomar cativo: pysyk tagúí
(REsT. 188 ad.) - Mbaé kunha-muku nde mendá'-sag-uama!
queimar : mo-ndyk flecha incendiária : atá-uuba
919. quebrar a cabec;a a : akan'-gá (t)
ferráo; dente de cobra: popíaba envenenar : mo-popíab (nh) lugar do assalto : 1nuamb-aba
filhote : a31ra ( t) ( n. 43) pear : mo-puku-sa1n, puku-sa'- pelas costas: kupé koty, ku- terreiro: okar-usu
andorinha : taperá -mo-in pé-bo
cocar: akangitara soltar; desatar : samb-ok 922. ltyk só se diz de grandes vitórias.
nu1ndo : ara apanhar ( com a mao) : ar ( n. 923. De manha a vistamos os ini1nigos. [ !vias] antes que chegásse-
891) mos a sua taba, chamada ( n. 881) Itacuatiara, eles (se) f izeram for-
920. As almas vem aquilo que nós vemos? Que é o que nós vemos? tificac;óes, escondendo-se detrás das estacadas. N ós cerca1nos a taba
Nós vemos tudo aquilo que tem corpo. O que nao tem corpo nao com urna cerca de ramos. ~les mandaram recado a seus parentes re-
vemos. - Quem é que fez os nossos olhos, com os quais nós vemos sidentes em Guacarioca para que se juntassem contra ( rí) nós. Vieram
o mundo? - Morreu o guará, de cujas penas fizo cocar con1 que me e quiseram atacar-nos ( biii), mas nós nos dividimos em bandos,
viste. - Mostra-me a [tua] perna [ em] que a cobra te envenenou. - armando-lhes urna cilada: enquanto alguns de nós simulavam f ugi-los,
Soltaste o passarinho cu jos f ilhotes apanhastes? ( F oi) aquela ando- outros (de nós), que os esperavan1 no can1inho, os atacaran1 pelas
rinha cujas penas te mostrei. - Em quem .bateste? - O prisioneiro. costas. (Sles] quiseram recuar (bia), nós os encurralamos. Nao nos
com o qual vieste do combate, é que foi morto. resistiram [e] se renderam. N ós os vencemos.
318 LEMOS BARBOSA
¡
1
Cpr.:
a-s-obá-petek: esbof eteei-o
a-s-obá-peté'-petek: estive-o esbof eteando
a-i-nupa : bati-lhe
a-i-nuPa-nuPa: estive-lhe batendo, demorei-1ne batendo-lhe
Em oposi<;ao as formas imperfectivas (durativo e 2. O non1e verbal segue o verbo. O adjetivo non1inal
iterativo), há a forma perfecti?. a - o verbo nao reduplicado
1
acompanha a natureza dos substantivos. Nestes, a redu-
- que denota um processo ou estado nao extenso nem plica<;ao conota sempre certa inultiplicidade ou 1nesn10
subdividido, nem em vias de realizac;ao, mas visto como un1 pluralidade.
todo completo ou perfeito, seja no passado, no presente A monossilábica dá idéia de distribuii;ao ou multiplica~ao; a dissilábica, de
ou no futuro. extensáo ou dif usao (no cspa~o ou no tempo). A monossilábica serve a
1.1ma modalidade de coletivo ou plural discreto, i. é, a urna multidao de seres
Observe-se que tanto a forma perfectiva como as irnperfectivas sao de subdivididos, que conservam entre si algurna relai;ao de unidade - como as
per si indiferentes a noc;ao de tempo relativo (n. 113). As partículas temporais estrelas de urna constelac;ao ou as pintas de um animal. Já a reduplicai;ao
se lhes agrega:n acidentalmente. O tempo, em lídimo tupi, é categoria rnais dissilábica serve melhor para exprimir o colctivo ou plural de cousas extensas
nominal do que verbal. ou co1itinttas - como as listas na pele de um animal, as fibras de urna
madeira, etc. :
931 . Pode-se dar urna combina<;ao i t e r a t i v o-d u r a·- mytá: estrado; mytá-11iytá: escada (conjunto de várias estrados
t iv a: ou degraus) ; mutuka: in u tuca; niutu-mutuka: brocé,!., pua
soli: intr. quebrar-se Ve-se, pois, que nem sempre a reduplic.ai;ao no substantivo corresponde
só'-sok : iterat. quebrar-se en1 vários peda~os, espeda<;ar-se ao nosso plural.
mo-ndok: tr. quebrar
\
EXERC1CIOS
936. repetindo sempre as mesmas palavras. - Um peixe beliscou o anzol.
Náo foi só un1, n1as un1 cc:.rdun1e que esteve 1beliscando. Deixe-os ficar
pau, nho-paü: intervalo mo-py-koé: tornar cóncavo beliscando ainda. ~les está.o repetindo, uns atrás dos outros. Dois
paü-paft. : as vezes, a intervalos pekii,í: cutucar (as escondidas)
mo-paü, mo-nho-paü: f azer de peixes grandes está.o beliscando também, com fór<;a, o meu anzol.
endy-wb ( s) ( xe) : luzir
vez em quando endy-ía'-íab (s) (xe): reluzir Deen1-me o arco oue os frecharei de urna só vez. Toma! És umbra-
ro-byk: tr. chegar-sc a ( estrelas, águas, fogos, vateiro ! - Náo me estejas fazendo cócegas, do contrário nao atirarei.
iá'-iab : gretar-se todo etc.) Eu nao atiro, porque estou solu<;ando. Erraste, porque atiraste apres-
endy (s) cndy (s) -íab (xe): sadan1ente. Tu é que me f icaste apressando.
py-koe, py-guaia: cóncavo re~uzir ( fogo, estrela, etc.)
937. A-t-nto-paü-pau nhó-te Tiepa ok-pe .'t"e r-e-iké (VLB 266) _ 940. SUCESSOS EM CASA DE CAIFAS
"A-iké paü-paü nhó-te Tu,pa ok-pe'' ( ib.). - "Nde-be oro-sapu1~á'-
-pit!~al," (AR. 2) - "J( ó ara pupé pe-puká-puká; aé-reme pe-r-ase'- P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
-r-asen't" ( Crest. 147 corrig. e ad.) - Xe s-ekyi-11ie, pirá r-endy-
(adapta<;ao ortog:-.áfica)
-r-end3'-tab-a11io''. - M ondá'-sara gúyrapa,r a r-e-ro-by'-ro-byk-enie é,
abá amó niorubizaba peka' -pekái. 0-sapuká'-pukaí, oré r-eno' -r-enoí-a. Ma1nó-pe Anás landé !ara r-e-ra-só-ukar-i? - Mor-e-r-ekó-ara1
Oro-se-se11i oré r-oka suí mondá'-sara mo-mo-se111.-4. - Pe-i-mo-py- Caifás s-er-bae supé. ...Mara e-í-pe Judeus i xupé i nio-nibegu-á-bo2 ?
-koé-koé ikó ~vbyrá pesé-buera. 0-íá'-íá'-pab ! . .. - Pe-no-sé-sem uí - O-nheeno-mo-nha-1no-nhanql tenhé o-e-1noe11i-a1no, i ii-tká-uká'-
nhaé suí, aípó pitanga iuru-py'-pyk-a. - "Mara-pe asé r-ekó-u ka- -potá nhé. Mara-pe !andé !a;a r-ekó-u aé-reme? - 0-pik o-am-a4,
ruk-enie o-kcr íanondé! Mara mara-p' akó ieí xe r-ekó-u? - e-í" i nheeng-obaixuar-cym-a. Mara e-í-pe Caifás i .~upé o-porandup-a?
(AR. 112). - "Abá abá-pe asé r-esé Tupa mo-ngetá-sar-a1no - Tttpá-eté r-esé a-porandub endé-bo, e-í, e-í-11io-1nbett katu Tupa
s-ekó-u?" (AR. 18). R-ayr-anio nde r-ekó, oré-bo, e-í. Mara e-í-pe !andé !ara i xupé?
EXERCtCIOS - Nde é aípó er-é, e-í; anhé-'té, pe-s-epíak ira Tupa T-itba é-katu-aba
koty J.:e guapyk-a xe r-en-a-ne, e-í; yby-tinga ar-bo ze r-iir-a abé-ne,
938. e-í. Mara e-í-pe Caifás Judeus-etá supé, !andé 1ara aipó é-reme? -
confessar-se: 1ihe-mo-mbeú fazer cócegas e1n: poki.-i:yk, tr. Tupa r-esé tiruii kó nheenga r-c-ityk-i, e-í; pe-s-endu'-n' akó i nheenga
frechar dois de urna vez : tno- apressadamente : anhé po.t:y, e-í. M arfi-eté-i-p'-ipó peé-mo? e-í. Mara e-í-pe pe nheengaf
-ie-kan apressar : mo-anhé e-í; o aob-usu tno-ndo-ró' -ndo-rok-a, o niara-niotar-amo. M ará e-í-pe
atirar (flecha) acertando : ybo solu<;ar: ie-kok (xe) Judeus aé-re111 e! - l a-íi-tká 11ie1né aipó í-ara, e-í; t' o-nianó, e-í.
beliscar : mo-tyk toma!: kó! Mara iabé-pe marana rí t-ekó-ara5 s-e-r-ekó-u aé-renie? - O-i-za-tni-
repetir (urna vez) : nio-io-aky- com fór<;a: ata syk6 s-e-ro-am-a i aí-ai-a7, s-obá r-esé o-nhe-no-11iü-no-1nun-a, aoba
puer se nao, do contrário : aan-ey11'i-e ibi8 pupé s-obá uban-a, s-obá peté'-petek-a, i aypy atyká-tyká-bo9,
id. ( n1ais vczes) : 11to-ío-aky- bravateiro : apepu " e-i-
.. k ua, r-ar-t, lO n d e ri, o-po-ar-
, .. , bo i. xupe.
bae" , o-i-a- ,
... .
.
pué'-kypuer ·--. ..' . .
'
Catecismo (ed. 1898), pp. 78-79.
939. Em que ocasióes a gente se <leve (n. 695) confessar? Quais as 1 - chefe, príncipe. 2 - para acusá-lo. 3 - ficam discursando. 4 -
cousas que a gente contará, confessando-se? A gente nao <leve ficar esteve calado. S - gu'!rreiros, t soldados. 6 - amarr.iram-no. De sam-
-bisyk, aliás, mais correto sa1n-bysyk (de sama "corda" e pysyk "apanhar").
328 LEMOS BARBOSA
.l\o infinito regido pela conjun~áo -rente, o suf ixo -1no As vezes junta-se a nibaé, sem diíerern;a de sentido:
dá o sentido do nosso subjuntivo imperfeito ou futuro tnbaé m.eé-mo a-s6 : eu teria ido; mbaé m eé-mo iké i pytá-u: ele teria
ficado aQui
("n1atasse" ou "matar").
948. Com o mesmo sentido, em lugar ou antes de beé, pode-se empregar o
945. Os pronomes objetivos sao os rnesmos do infinito advérbio i''"ª ou yma :
nde só-reme-mo, a-ie-byr ttmii.-mo ou a-ie-byr 1tma beé-mo : quando
( n. 336). É de largo uso a conjuga~ao subordinada ( n. 554) : f ósses, já eu te ria voltado
xe s-epwk-eme-1no, a-iuká-mo: se eu o visse (fut.), matá-lo-ia;
ou: se eu o visse (pass. ) , te-lo-ia matado; i kuab-e1ne-mo, s-eo-u-mo: 949. O condicional, acompanhado de -ne, implica a idéia de
se ele o soubesse, n1orreria; nde só-renie-mo, s-eo-eyrn-i-nio: se fósses, obriga~áo:
ele nao morreria; nde só-eym-e-mo, s-eo-u-mo: se nao tivesses ido,
ele teria morrido: emonii-nenie-mo: se fósse assim; emona-eym-e-mo: ere-só-mo-ne kori ( -mo) ou kori-mo-ne ere-só (-mo) : deverias ir
se nao fósse assim hoje
946. Riré-1no corresponde a "se tivesse"; negat. : eym- Neste caso, aparece com freqüencia a partícula de
_,iré-mo "se nao tivesse": realce -te:
nde kiriri riré-mo, nde r-epwk-eym-i xó-mo: se te tivesses calado, ere-só-te-1no-ne kori: tu é que deverias ir hoje; kori-te-1no-ne ere-
ele nao te teria visto; nde puká-eym-iré-mo, nd' oro-endub-i xó-é-mo:
-só: boje é que deverias ir; ahe ranh.é-te-1no-n' o-só-111.0 (VLB 327) :
se nao tivesses rido, ele nao te teria ouvido
ele é que deveria ter ido prin1eiro
947. Para exprin1jr o passado, tem freqüente emprego a
partícula beé ou 11ieé: 950. Assim também beé ( ou 1neé), seguido de -n10 ou -te-
nde .xe r-enoi-e1ne-mo, oro-endu' beé-mo: se me tivesses chamado, -1no, pode equivaler a "deveria ter":
eu te teria ouvido; nde só-retne-mo, nd' a-pytá-·i .xó-é beé-nio: se ti- i xupé beé-te-nio aipó er-é : a ele é que o deverias ter <lito
vesses ido, eu nao teria f icado; xe ie-byr-eym-e-mo, i pytá beé
eym-i-mo : se eu nao voltasse, ele nao teria ficado
951. As vezes tem valor de argumento: ·
Beé-mo ou 1neé-nio ocorrem particularmente nas res-
nda .xe r-ausub-i, .xe poi beé-mo: nao me ama, (pois) deveria ter-
postas indiretas :
-me dado de comer ( i. é, do contrário, ter-me-ia dado de comer) ; nda
nde r-oka ar-pe u.uba ar-i: caiu urna flecha em cima de tua casa .xe r-ayra rttá endé, nd' ere-iaseó-i x ó-é beé-11io : náo és meu f iJho,
nd' a-s-epwk-i xó-é 11ieé-1no?: nao a teria visto (se tivesse caído) ? (pois) nao deverias ter chorado ( i. é, se o f ósses, nao chorarias) ; nd'
o-iitká gUá nde r-yk eyra: mataram a teu irmáo -a-gúaseni angá-í ii 11zarii biri ikó abá r-ekó-pil era a11;ó supé, e-í; He-
i marangattt nieé-mo : tivesse ele sido bon1 (e nao o matariam) rodes meé-nio ikó o-i-mceng t-eo supé, i angaipaba kuap-a, e-í (AR.
Beé-1110 ou nieé-mo íica sempre depois do primeiro elemento da frase, e 84) : eis que nao encontro sequer a menor falta na vida passada <leste
náo admite outro -mo no período : homem - disse; (do contrário) Herodes, conhecendo os crin1es dele,
o-p31tá meé-tilo iké ou iké meé-mo i pytá-u: ele teria ficado aqui. o teria condenado a 1norte - disse
332 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 333
952. Havendo do is verbos no condicional, um subordinado ere-i-1nopó'-ne ? N d' ere-i-kuab-i-pe Tupa iandé r-ub-ypy oiepé nhó3
ao outro, pode-se omitir um dos suf ixos -mo: ' s-ek6-aba suí i mo-seni-ag-uera, s-esé iandé r-esé bé t-eo, opá-katu ikó
ara pupé iandé r-e-1ni-1nborará-tyba abé s-e-ityk-ag-i{era?
xe io-upé nde i é-ren,ie-mo, oro-pytybo ( -mo) ou xe io-upé nde
1
A PESCA
991. Vatnos pescar! Nao quereis também pescar para mim, já que
estais a toa? Con10 se nao estiv-éssemos pescando para nós mesmos ...
- Atirai a rede ao mar, para apanharmos aquele cardume de peixes.
Nós nao a trouxemos. E por que náo a trouxestes? Para que to
dissemos? !. . . Como se eu tivesse de [ f iqi.r sabendo] (saber) ...
Como se fosses apanhar muito peixe ... - Dai-me pois a vara e a isca,
já que nao trouxestes a rede. Eu vou pescar no pari, porqu.e (-rente,
no fim da frase), por mais que lan<;o o anzol, os peixes nao beliscam.
Mesmo que nao .belisquem, <leves de vez em quando dar um puxáo na
vara: há peixes que nao beliscam. Os peixes daqui sao muito ariscos.
V amos entontece-los com entorpecentes, para apanhá-los com a (nos-
sa) máo? - Já cortei o barbasco. Atiremo-nos a água, porque os
peixes já estáo tontos. - E tu que estás fazendo? Estou pondo covos
' para (ger.) apanhar paratis.
(adaptai;ao ortográfica)
1. landé kanhem' 'iré iandé r-ausup-a,
Tupa amó kunha ngatu nio-nhang-·i,
abá sosé pab-é i nio-morang-i1,
Pesca a flecha e com rede, em barragem ( STADEN)
t-ekó katu 2 r-esé i mo-i'-ekó-sup-a3 •
\
346 LEMOS BARBOSA
ANCHIETA 23v-24; 26-26v; 27v; FIGUEIRA 148-149; 162-163; MoNTOYA Podem-se dar metaplasmos:
81-82; passirn; CAETANO 89.
eptak+ katu == epiá' katu
·+.
mo-nhang memua == mo-n.han' me1nua
ata + katu = ata ngatu
348 LE1\1:0S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 349
oiepé i ie-byr-i: voltou urna vez 999. Certos pronomes demonstrativos, regidos de prepo-
mosapyr i nhe-á-pii-mirn-i: mergulhou tres vezes
sic;áo, equivalem a advérbios:
350 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 351
aipó-pe: ali, lá akuei-pe: aí, lá, no lugar de 1004. Que estiveste fazendo aqui ontem? Nao estivemos aqui, senáo
aipó suí : dali, de lá que falamos lá. Em que ocasiáo estivestes lá? Estivemos toda a noite fazendo
aé-pe: lá kué koty: para a outra banda farinha. Como f azeis f arinha? A f arinha branca ( ui tinga) f azemos
eui-me ou eboui-me ou ui-me : kuei-bo : por alguma parte assim : ralamos a mandioca, esprememo-la na prensa; (do). seu pó
aí. lá kué-pe : em ou a algurna parte fazemos bolotas, assamo-las em panelas ou em pratos de barro. Outras
1000. 0Bs.: Conforme a posi~ao na frase, o mesmo elemento pode ter vezes misturamos typyoka com essa farinha, e assim fazemos a farinha
diversas fun~óes: dura ( uí ata), que levamos a guerra. Também pomos a raiz de
i iuká-py' katu: o morto (que era) bom mólho. Quando apodrece, descascamo-la, deixamo-la defumar em
i iuká-katu-pyra: o (que foi) bem morto grélhas. Esta é a mandioca karinia. Pilando-a, fazemos a farinha
xe r-e-mi-mbo-é-pué' katu : o bom que eu ensinei
xe r-e-mi-mbo-é-katu-puera : o que eu ensinei bem karima, e desta ( n. 619,2) fazemos o mi-ngaú. A gente pode também
espremer a mandioca podre ( mandió-puba), coze-la: assim a gente faz
o mbei11. O 1nbeíu a gente faz também da mandioca fresca, depois de
EXERCfCIOS ralá-la. E a peneira que eu vi boje lá, para que é? É para joeirar a
farinha podre. Como se chama a farinha crua? Chama-se typy r-aty.
1001. Como se diz "caldo de mandioca crua coalhado"? Diz-se também
_,.
manh-ana.
esp1a
(de mae-ana) : vigia, sai: apenas
apé: torto
typy-aka. E "farinha do caldo ?e
mandioca".? Typy-ok' ui ou
typy-ak' 1tí. Como se chama a farinha de m~nd1oca, que ~ espr~me
nheeng apua: f alar aos brados pyy'-pyyi. : depressa com as máos e que nao se joeira com a penetra? Chama-se farinha
nheé' ngatu: falar bem pysaré : durante toda a noite tina ou mixá-kuruba. Conheces mais alguma f arinha? Sim. Conhe~o
matu-eté : muito nheé'-bik : parar de f alar
h, também a f arinha esá-kuá'-tinga.
auie-n e: inconsiderad~mente
AA'
1002. Oro-ikó Tupa r-ok-pe. Iké nd' w-é-i katu ía-nheeng-a. !a-é 1005. EXORTA<;A.O ANTES DA ABSOLVI<;ÁO
ka~upe ia-nheen' nibegué? Aan-i. - Kó mitanga o-nheeng apua P. ANTONIO DE ARAÚJO (1566-1632)
o-in-a. E-i-mo-nhee'-bik. - Abá-pe akó abá oieí Tupa r-ok-pe o-nhee' ( continua~ao da p. 333)
ngatu-bae-puera! Abaré r' akó, nda paié rua: paié nd' i nheé nga-
tu-t Mbaé-pe i nheenga? 0-i-mo-mbeú-mbeú porang Tupa sy anga- N de ~uru-pe nhó-te serii1, "A-ikó katu ang-~ré-ne" - ~r-! ~-~he
tur~ma, o nheé' ngatu-ramo. Kori-pe i nhceng iebyr-i-ne? N' aan-i,
-mo-mbegU-á-bo iepi, na nde pyá-pe rua : o pya-pe kat~ ~ipo e-i~ara
kori koem-e-te. - Abá i nheeng ara puku-i, pysaré.; karaiba nd' i o-i-mo-por aipó 0 é-ag-uera. Anhanga r-atá-pe koyr o-iko-ba.e, ae-pe
nheé' mbuku-i. Maira i nhee' sai. Peró i nheeng auié nhé. - Py- o-só wnondé, "A-só-potar ybak-pe" e-í bia1 ; "N d' a-só-potar-i anhan-
saié xe pak-i, nde nheeng ata r-endup-a. - Ere-~-kuab-pe oré nheenga! ga r-atá-pe" e...í bia. I pupé nhé3 aé-pe koyr r-ekó-u, o-kai o-up-a5
Aan-i. Pe nhee' mbyy'-mbyyi. - Pysaré ebapó manh-ana in apé-i. auíé-rania-nhé o ekó-bé r-e-r-eko-bo, 6
, o iuru n h'o-te aiAp'o o e-ag-ue-T<
A , A a
r-epy-ramo. . ... , ,
1003. · N de maenduá' katu7 Tupa r-e-1ni-mo-nhang-uer -amo nde. r-eko 8
resíduo do caldo de mandioca : por de molho : mo-mbub
r-esé nde r-esé Tupa T-ayra nhe-mo-kunu1ni-ag-uera9 r-esé, nde anga
typy-oka a podrecer : pub ( xe) r-ep;10-ramo og-uguy té-katu11 meeng-ag-uera r-esé. N de ma~ndu~r
grelha: mo-kaé ytá def umar: mo-kae nde r-esé ybyrá io-asaba12 pupé i 1no-iar13-pyr-amo, nde r-ese s-eo-
ralo: ybesé j oeirar : mo-guab
"'
-aguera r-ese., ,.
seco, enxuto : kaé fazer bolotas de: mo-apuam, tr. Tupa nheenga aby-re'!"e,, anhanga supé er~~nh~-meeng;ete, s-~~
ralar : kyty -mi-ausub'-amo e-nhe-m,o-ingo-bo: s-ausup-a nhe •, i mo-ete-bo nhe,
LEMOS BARBOSA \
1007. rua -
Rua serve também para negar frases inteiras e men1-
bros da ora~áo; as vezes, prescinde de nda:
na mbaé-ú-potá rua, a-Íur: venho nao COlll inten<;ao de comer;
nda xe r:-uba supé rua ere-í-nieeng: nao foi a meu pai que o .<leste;
xe r-esé-bé rua t-ur-i: nao f oi comigo que ele veio; nda xe é-reme ruii,
nde abé er-é-ne : nao porque eu o disse, tu també1n o dirás
'
354 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 355
1oos. eym- deixou de vir, nao o verás; nda i xó-retne ruii, na nde s-epiak-eym-i-ne
ruii: nao porque ele vai, nao deixarás de ve-lo; nda gui-xó-eym-a
Como suf ixo de substantivos, C)'ni- ( n. 334) corres- ruii, a-s-epiak : nao porque nao fui, eu o vi
, ponde a "sem", "falta de":
t-ekó-eté-eym-a: falta de valentia ( covardia) ; mbaé-eym-a: falta 1012. ÜBS. Junto a verbo negativo, a partícula pé ou
de bens (pobreza) ; pab-eym-a: sem f im, infinito ; t-er-eym-a: sen1 pé-é ( após nasal bé) supre a conjunc;áo -reme. O verbo
nome; t-ub-eym-a : sem pai, órfao de pai; sy-eym-a: sem mae, órf ao perde a consoante final oral. A pospositiva negativa é -i,
,., ,.;,
de mae nao rua:
1009. Qualquer, verbo, mesmo no indicativo, condicional nda xe só pé-í: nao porque eu vá; nda xe r-epíá' pé-í: nao por-
que ele me veja; nda i tym bé-í: nao porque o enterraram; na xe
e optativo, pode-se negar com eym em lugar de nda - -i,
s-epiak-eym bé-í: nao porque nao o visses; aípó nda xe é pé-é-í: nao
etc.: porque eu dissesse isso; nda xe sem bé-i, nd' oro-epíak-i xó-é-ne:
a-iuká-eym, ere-iuká-eym, etc. : nao mato, nao matas. etc. nao porque nao saio, é que nao hei de te ver
Mas. é esta forma de raro uso, a nao ser comos verbos EXERC1CIOS
de pronome paciente: 1013.
xe katu-eym, nde katu-eym, etc. : nao sou ·bom, nao és bom, etc. ;
ara: entendimento mo-ngaú: tr. dar a beber vi-
xe ytab-eym, nde ytab-eym, etc.: nao sei nadar, nao sabes nadar, etc.
nho a
(n. 383) i' -ekó-ab-ok: alterar-se eym (s): id.
1010. nda - eym-1• \
1014. Mbaé-pe pe-s-ekar? - · e-í; nda s-e-mi-ekar-a kuab-eym-a rua
(AR. 75). - 0-i-aby-pe abá Titpa nheenga s-06 gu-á-bo s-oó
Juntando as duas partículas negativas nda e eym-i, gu-ab-eym-a pupé, o e-mi-ú-ra1na r-esé o-ikó-tebe-bo nhé? N d'
resulta urna afirmac;ao elegante : " by-i,
o-i-a " "A -mano,~ k o-ipo
' . ' xe mara-ar-mo
' i. u-eym-amo
' '' -
nd' a-i-potar-eym-i: nao deixo de o querer, quero-o; nda pe maen- o-i-á-bo é. Mara o-ikó-bo bé-pe abá aípó-bae o-í-aby? S-oó
duar-eym-i s-esé: nao deixastes de vos lembrar dele; nd' oro-endub- gu-ab-eym-a pupé abá supé s-oó ú-uká. Mara o-ikó-bo bé-pe !
·eym-i-xó-é-ne : nao deixar.ei de te ouvir ; e-i-meeng-eym umé i O íá nhó-te .mbaé ú-eym-a, o-sabeippr-amo, sab~ipora suí ara
xupé-ne : nao deixes de lho dar; nd' ii ytab-eym-i : ele nao deixa de mo:kanhem-a, abá mo-ngagu-á-bo, kó-ipó s-eym-a, i mo-sabei,pó',
saber nadar : sabe nadar; nda xe r-endub-eym-i xó-é mei-mo xe kó-ipó "t' o-sabeipó" o-í-á-bo nhó-te tirua. O w nhó-te kagu-
r-aiyra 1nii: oxalá minha f ilha nao tivesse deixado de me ouvir -ara-pe, mara? Nd' o-í-aby-í Tupa nheenga (AR. 118). - Mará
e-í-pe amó-aé Tupa asé r-ekó-tno-nhang-aba? "Anhé-'té" er-é
1011. nda - eym- rua tenhé unié, Tupa r-era r-enoí-a, e--í. Abá-pe aípó-bae o-i-aby? 1
por-eym-bae, kó-ipó o e-1ni-nguá-katu-eyni-a o-i-mo-mbeú-bae, "Emo-
No gerúndio, infinito e conjugac;áo subordinada, a ná kó, Tupa r-esé" - o-i-á-bo tenhé (AR. 98). Ñlbaé katu mo-nhang-
nega~ao dupla é nda - eym- rita: -ag-Wirna r-esé Tupa r-enOí-dara, na i mo-pó'-potá rita, mara-pe?
nda s-epiak-e)rm-a ruii, ixé s-enoi: nao deixando de o ver, eu o 0-í-aby bé (AR. 99). - 0-í'-ekó-ab-ok-bae-ranta-pe t-ekó puku ybak-
chamei; nda i xó-eym-e ruá, nde s-epwk-eym-i-ne : nao porque ele -pe s-e-mi-e-r-ekó-rama? N d' o-í'-ekó-ab-ok-bae-rama rua (AR. 63).
,
CURSO DE TUPI ANTIGO 357
LE?i.1:0S BARBOSA
real, que se exprin1e em nossas línguas ora pelo passado aipó-bae te-ne nd' o-i-aby-i 1tiboia (AR. 241) : esses nao di-
ora pelo presente gramaticais : f erem da (parecem-se a) cobra
o-pak soó : o bicho acorda ou melhor acordou 1026. A capacidade física, intelectual ou moral (modo
o-manó xe sy : morreu ~minha máe
potencial) traduz-se também pela conjuga~o predicativa
O nosso presente gramatical é urna abstrac;ao, com pouca realidade obje- ( n. 383) ou por locu<;óes em que entra o verbo é ( n.
tiva. Se o acontecimcnto se está realizando no momento presente, ternos ou
o aspecto durativo ou o iterativo. P. ex.: "Pedro dorme", i. é, "está dor- 461-462).
rnindo" - um processo que vem do passado, cobre o momento presente e
perde-se no futuro. Se o acontecimento já está realizado, ternos o pas- 1027. A própria , conjuga<;áo perifrástica, normalmente,
sado.
nao se refere a a<;ao presente em particular, mas a a<;áo
1023. O indicativo traduz também o nosso futuro. Mas prolongada ou contín ua, em qualquer tempo, conotada a
quando éste envolve inten<;áo ou resolufao de quem fala, posi<;áo do sujeito (n. 900): ,
traduz-se pelo per1nissivo ( n. 197). Quando denota ex- o-nheeng o-in-a: esteve, -ava, -á, -ará (parado) falando
pectativa de q uem f ala, pede -ne ( n. 1.13) . o-nheeng o-up-a: esteve, -ava, -á, -ará ( deitado) falando
o-nheeng o-am-a: esteve, -ava, -á -ará (de pé) falando
Em tupi, o futuro é mais um modo do que tempo, no verbo. o-nheeng o-ikó-bo : esteve, -ava, -á, -ará f alando
o-nheeng o-kitp-a: estiveram, -avaro, -áo, -arao f atando
1024. O indicativo dos verbos predicativos (de :re, nde,
i, etc.) afirma urna equa<;áo, indiferente de per si a n0<;áo Pelo contexto, pelos advérbios temporais que acompanham, se depreenderá
a que tempo diz relacao.
de tempo.
362 LE1iOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 363
BIBLIOGRAFIA AFIRMATIVAS
ANCHJETA 17v; 21-2?; p,assim; FrGUEIRA 101-116; passim; MoNTOYA 18; Algumas já foram indicadas, n. 103.
passim; RESTIVO 30-47; passim; CAETANO 14-19; 19-27; 31; 35; 46-50; 50-58;
AoAM 51-58; DALL'lGNA,. Análise 67, In. A Categoria 50-53. J043. Raé, usadíssin1a, parece servir para afirmar a con-
clusa o daquilo que se ouviu, sem maior responsabi-
lidade de quem fala. Equivale a "de maneira que"; outras
vezes nao se traduz :
o-só raé: de n1aneira que foi; diz que foi; aé gii-e-nii-tyma aysó
pyter-pe bé-pe Tupa amó ybá t-ekó-bé iara inoa1n-if E1no-na raé
(AR. 49) : colocou Deus també1n no 1neio daquele seu formoso jar-
dim um fruta, senhora da vida? ( Diz que) assiin f oi
,
r
Po.r vezes raé é substituída ou acompanhada por i é, 1046. O sentido principal de ipó é afirmativo: "certamente",
que ma1s claramente exprime a pala vra de terceiros ( i. é : "de verdade". Evolui para dubitativo, como, no portu-
<lito dele ou deles) : gucs, "certamente". Exs. como afirmativa:
emona i é ou emoná raé ou e1nona i é raé : assim dizem que é a-só ipó (FrG. 121) : vou, resolutamente; "a-i'-epyk ipó sera
s-esé-ne" - er-é-pe! (AR. 229): disseste: "hei de me vingar dele de
1044. Reá (de h.) e reí (de m.) sao afirmativas senten, verdade"?
'
· ciosas, principahnente para os casos em que nao há certeza
absoluta. Com freqüencia vem acompanhadas de ipó ou 1047 · Sera, com verbo negativo, toma sentido contrário:
sera, dubitativas. Corresponden1 is vezes a "deve ser", "há "sem dúvida", "certamente" (e o verbo se traduz na forma
de ser": afirmativa) :
!andé !ara Iesus Cristo r-eo-ag-uera: s-esé ipó Tupa x e r-ausub- nd' o-ti-1, será asé a gente se envergonha, sem
-ar-i reá (AR. 31) : a morte de N. S. J. C. : por eta Deus se há de com~ dúvida,
padecer de mim; o-s-apiá' katu, "X e r-e-r-ekó-ar-i aé xe 1nena, xe niara o-ikó-bo ara iá de f azer isso cada dia
r-uba r-ekobwra aé rei" o-í-á-bo (AR. 167) : (a esposa) <leve obedecer o aro-ana r-obaké <liante de seu (anjo da) guarda
a seu marido, pensando "l\1eu marido <leve de ser meu guarda querido (VALENTE, Poema III)
(i diminutivo de a feto) , o substituto de meu pai" nd' o-nianó sera-1. xó-é-ne (MoNT. Tes. 154): morrerá, sem dú-
vida
DUBITATIVAS
DEPRECIATIVAS
1045 · Sao principalmente sera e ipó ou n'ipó "talvez",
"quic;á", "provavelmente", "por ventura": 1048. Raú conota. enfado, desgosto:
~~ suí sera i asab-i (sic). India Tapyí' tinga r-eta'-me (AR. 138): mará-mo-te-pe raú?: pois como havia de ser?; e-i-k1tá' raú nde
daqut ele passou para as 1nd1as, a terra dos Tapuitingas · o-só ipó reá rí o-pó-ar-bae (AR. 79): adivinha quem te bateu
(VLB 190) : <leve ter ido; bi-p' eté-i ipó ahe r-ekó-u (V~B 339 corr.) :
deve de estar por aí pertinho; aé ipó ( ou n' ipó) s-ekó-eym-e (VLB 1049. Muru ou mburu e moxy in1plicam raiva, maldi<;áo:
214) : e no caso que nao esteja; aé-n' ipó ou aé-n'ip' aé ou aé-n' ipó . ..
raé ou aé sera-ne ou aé sera-ne. . . raé : e parece que. . . ( narrai;áo) · t' ere-só muru / : vai-te ( com os diabos !)
aé-n' ipó N. pó-ar-i s-esé raé (VLB 214): e parece que N. deu nel~
lvfuru pode ser até substantivo:
As vezes juntam-se as duas: t'ía-s-ausu' pab-é Santa amemos todos a Santa Maria,
aé será-n' ipó . .. raé ( ib.) : e parece que ... ; ogu-aitsu' katu-ag- Maria,
-uera r-epy-ra1no Tupa ipó sera s-e-ra-só-u s-eté r-e-sé-bé ybak-pe wndé pyá pupé s-ekó mo- introduzindo sua lei em nosso
-ndep-a, corac;ao,
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 371
370
t' o-pó-ar anhanga rí, muru [para] que ela ven~a o demo, 1054. Ton1a por vezes a accep<;áo de "dever":
rno-1nbep-a, nio, esmagando o maldito, Tupa é-n' anl asé o-i-mo-eté (VLB 167) : é a ·:oeus que se costu-
s-ekó poxy swí íandé desviando-nos de sua má lei. ma adorar ( i. é, que se deve adorar) ; niara e-í-p' anié asé abaré
(ANcH., Poesías 27)
"hóstia" r-upir-enie? (AR. 153) : que se costu1na (<leve) dizer quando
I
o padre ergue a hóstia ?
1050. As vczes, na paradoxal linguagem afetiva, podem tomar tonalidade de
carinho ou louvor : 1055. Com anié se f orma111 curiosas locu<;oes ironicas :
e-1.-mecng raú xe-be: dá-mo, pela tua vida!; "pe-ió pal;-e ! ,, - e-í
:re sy 1tmrzi angaba: " vinde todos" - disse a boa de m!!'~~ª 'Tláe nibaé kuap-ara aé a1né ahé ! (VLB 359) : que fulano para saber l
(i. é, que nao sabe nada); nibaé angaba aé amé! (VLB 85, 268): isso
falta ora ! ; nibaé angaba aé amé y! (VLB 85) : oh cousa ( 9u lugar)
DEI.JBERATIVAS para ter água ( i. é, ein que nao há água nenhuma) ; y angaba aé
amé ebokúé y-pau! (ib.): oh ilha para ter água !
1051. Sobre ká, ky, pá, v. n. 199.
' 1056 · Angaba pode estar no diminutivo a,n gab-i-me é, e
OUTRAS PART1CULAS entao se encarece ainda n1ais a falta:
ybyrá angá'-pe é amé ou ybyrá angab-i-me é anié (VLB 268):
1052. Nhandu ( ou iandu) corresponde ao nosso "já, como oh lugar para ter paus (i. é, que náo tem pau algum)
de costume":
o-ikó-potar s-esé nhandu (AR. 240) : já está a querer pecar com 1057 · Iro: "portanto". Muito. empregado, com várias acce-
ela ( subent. : como tem o costume de fazer) ; ira nhandu ou iro p<;ües:
nhandu he ou iro nhandu gúé (VLB 258): já come<;a ! (repreensao) iro ou ira hé (VLB 316) : veja só (bem eu o disse) ; ira ( ib.) :
Ocorre com frcqüencia no imperativo, com o sentido de "já" (n. 208). olhe bem, preste aten~áo (e mais tarde verá que tive razáo) ; iro bé,
Nao se usa com verbo negativo. iro nliandu (S. Lour. 75): veja, outra vez já come<;a!; ira, iro-no,
ira nhandu (VLB 316) : olhe isto, olhe o que já está fazendo (zanga
1053. Amé ou -n' amé ou -n' ak' amé: "ser costume", OU queixa); nei ro ou nei-ne ro (VLB 197) : eia pois (já que o quer)
"costumar":
na-nenie anié anhanga ie-iuká-'ib-eté-u 1noro-esé, abá ogu-e-ro-
tosa. Nhé. Usadíssima. As vezes significa "a toa",
"sem
-bw'-potá' (AR. 316): nessa ocasiao o demonio costuma esfor<;ar-se mais", "sem razao especial", "por fazer", etc. Na maioria
muito com a gente, desejando qtte o hon1em ~reia nele dos casos, dispensa tradu<;áo: ven1 apenas refor<;ar o sen-
tido de determinada , palavra ou partícula. É nluito cor-
É especialmente empreg·ado quando corresponde ao rente após o gerúndio, conjunc;óes, advérbios, preposi~oes ;
nos so imperfeito: ou em frases predicativas:
a-só amé iepi (VLB 394) : eu costumava ir sempre; mara er-é-p' ia-i-peá nhé aipó-bae, amó r-esé i 1no-1nondá (AR. 281) : esses
amé e-poro-nibo-é-bo? (AR. 77 corr.): que costumavas dizer, quando nós os separamos, fazendo-os casar com outros; Tupa nheenga aby-
ensinavas? -reme, anhanga supé ere-nhe-meeng-eté, s-e-mi-ausub'-amo e-nhe-1no-
' .
LE110S BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 373
-ingó-bo: s-ausup-a nhé, i mo-eté-bo nhé... (AR. 249): faltando aos 1C62. aan:
mandamentos de Deus, tu te entregaste inteiramente ao demonio, trans-
formando-te em seu escravo : amando-o, estimando-o ... ; i nhyro aan-i, n' aan-i, aan ia, aan nhé, aan-i reá, aan-i rei ou ri, aan-i
nhé-mo (AR. 81): perdoaria sem mais; iké nhé pe-ikó xe r-aro-mo r' akó, aan ipó, aan ipó bia, aan umé, aan ynié, aan ymé-ne,
(AR. 72): ficai aqui esperando-me; i angaturam-eté nhé Santa Maria aan-i xó-é-ne, aan-i xó-é ipó-ne, aan-i xó-é koy-te-ne, aan-de,
(AR. 64): é santíssima Nossa Senhora; s-ekó-aba nhé (VLB 167, 420, aan angá'-i, aan gatu tenhé, aan-angá-~ katu tenhé, aan-eym-e,
,
308; AR. 42): é seu natural; foi sempre assim; nhusana aby-ar-eyma. aan-ey1n-e e
nhé será ·" tentafao" . .. ? (AR. 29) : é acaso a tenta<;·áo semelhante a
un1 lac;o? 1063. anhé ou aié :
1059. Muitas vezes .se alterna. no uso com é (n. 204-205) : anhé kó, anhé r'akó, anhé-n' akó, anhé-'té, anhé katu, anhé 'té
guatá é ou guatá nhé (VLB 102) : andar a pé
katu, an'hé 'té katu nhé, anhé ,té 'té katu nhé, anhé raú-pe,
' manhé raú-pe, anhé ra:ú-pe é, anhé raú-pe rí, anhé-te-mo, anhé
1"'
n6o . A'e....· " e ... "
ipó, anhé-p' anhéf, anhé?, anhé rua-p' anhé?, anhé r' akó reá,
No tupi nao há coordenativa para ligar frases ou anhé reá, anhé r' akó rei, anhé rei
membros de ora<;oes ( n. 145). 1\iias aparece aé abrindo ,..,..,
períodos que tenhan1 alguma conexao com os anteriores. 1064. au1e:
Corresponde a "e . . . " : auié a, auíé ui, aúié ranhé, aúié katu, aúié katu nhé, auíé katu
'té nhé, aúié ipó, auié katu 'té nhé ipó ou -n' ipó, aúié-rama,
aé ipó s-ekó-eym-e. . . (VLB 214) : e, caso éle nao estej a ... ;
auié-rania-nhé, auié nhé, auíé é, auíé é-mo, auié-bé-te, auié-bé-
aé-n' ipó N. pó-ar-i s-esé raé ( ib.) : e parece que N. deu nele
-ramo, auié-bé-ramo-te, auié-bé-te-1nO, ai1ié-'té, auíé-'té-pe é,
c:ftié-'té-ramo.. auié-'té-ramo-pe é
Mais f reqüente nas interroga<;óes:
aé-pe . .. '!: e porventura ... ?; aé-pe 1nara?, aé-te-pe 1nara?: . e 1065. na:
que há con1 isso?; aé-pe mara ere-ikó s-esé? (VLB 214) : e que tens na-te, na-te-ne, na ndé, na ndé-te, na ndé-te-ne, na-bo, nii-mo,.
com isso?; aé-te-pe?, áe-te-pe ahé?, aé-te-p' ahé r-ekó-u? (VLB 159) : no-nio, ná-mo nito-te, na-1no nho-t' au·b, nii-i, na-i bé-i, ná-i
e como está ele ( ou fulano) ? ; aé-te-pe nde .P ( ib.) : e tu (que dizes) ? bé-i nhó te, na-i bé-i nhó-t' aub, ná-nenie, na nhó, na nhó
qual é o teu parecer?; aé-te-pe nde nheenga? ( ib.) : idem; aé-nio-p' ranhé
( ou sera) ix~ s-e-ra-só-aub-i? (VLB 348): e por que haveria eu de
o levar?; {(.'re porang-eté-te-nio ma! aé-1no abá xe potar-i rei !" -
er-é-pe.P (AR. 235): "oxalá eu fosse muito bonita, (e) os homens me 1066. mara:
cobi~ssem ! " - disseste (pensaste) isso? mara-pe?, niara-te-pe?, niara-te-pe-nio?, mara-mo-pe?, marii-
-mo-te-pe?, mara-mo-te-pe raú?, mará-te-pe-ne?, ntara-te-p'
GRUPOS DE P.ARTíCULAS ia-ne?, 11iara-na1no-pe?, niara será?, niara ngatit-pe?, niara
ngat1t-eté-pe?, niara iabé-pe?, niara ngoty-pe?, niara ngoty
1061. As partículas, tao abundantes na língua, juntam-se as vezes em grupos.
Nem sempre é fácil separá-las, principalmente nos antigos documentos, que suí-pe?, mara hé?, niara-p' ipó?, mara eté.+pe?, mara té-í-pe?,
as unem quase sempre numa só palavra. Alguns exs., separados já os elementos: mará-nenie-pe?, mará-neme-te-pe?, 1nara-1no-pe?, mara-pe-mo?
24
374 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 375
- ntara ndé, mara ngatu, 1nara ngatu-eté, 1nara wsúara-mo, ahe ! ou gfié } veja isso ! (espanto
-AA -AA - _
niara 1asuara-m,o -mo, mara iasuara-nio nia, niara iasuara-nio-
_.,.A
segúé, ti, eti ou zombaria) (h.) cá (111.)
-te-nio núí., 1nara W.S1ia,ra-1no-ne ma, mara íasitara-mo-te-nio apá gtié ou apá gi1í: ni! (coitado!) (h.) eá ! ( escárneo) } ( tn.)
{ cu1naé
1067. -te ! ( dó)
aky ! : oh ! ( dó ou dor) ( n1.) eu111aé! aniaé iú! (n1.)
-te-ne, -te-n'akó, -te-n' anhé, -te-n'ipó, -te-nio, -te-mo ma, agi'iy! : oh ! ( perda, esquecimento) (h.~ amaé iú! (m.)
-te-1no-ne, -te-mo-ne-mo
Acrescentem-se pá (h.) e maé (m.) (VLB 175), cujo sentido nao é claro.
he gúé ou he guí: oh!, olá (h.) iú ou ió (m.) Linguagern dos homens e das mulheres - ANCHIETA 14v; FIGUEIRA 9;
133-134; 139; MoNTOYA 78; 80-81; REsnvo 216-327; L. BARBOSA 168.
•
CURSO DE TUPI ANTIGO 377
nd' o-ur-i xe r-ybyra. - 0-ú' -te-nio-p' aé?: nieu irmáo nao veio.
- Pois ele tinha de vir? ( subent. : nao) ; karaiba nd' o-gue-r-ur-i-pe
.
o e-m bi-aY'-uerar
A Q
- Nd' o-gue-r-ur-i xo-e-t e-nio-p, a.e., f : o branco nao
A • , , ,.,
trouxe o que ca<;ou? - Pois ele nao tinha de trazer? ( subent. : é claro
LI~Jl.O 58.ª que trouxe) ; ere-i-pytybo-p' ikó mará-á'-bora? - A-s-epiak tenhé-
-nio-p'ia?: socorreste a este enfermo? - (Acaso) eu o veria debalde?;
abá é-te-1no-p' aé? : pois quem outro havia de ser? ; nda xe kysé-i
xó-é-te-1no-pe? : pois eu nao havia de ter faca? ; nda xe kysé rua-í
PERiODOS
xó-é-te-mo-pe? : pois nao havia de ser minha faca?
As vezes a resposta é a repetic;ao da pergunta :
1070. Na conversa viva, deviam predominar as frases er·imbaé-pe? - Er.inrhaé-pe?: quando? - Quando? (i. é: tao pouco eu
sei quando)
curtas, sem coordena<;ao nem subordina<;ao gramaticais, mas
presas entre si pela repeti<;ao ou suposi~ao de um elemento 1075. Hav.endo dois verbos, um no gerúndio ( ou 110 infi-
comum. nito com· -reme) outro 110 condicional, a tradu<;ao inclui a
1071 . Era também bastante empregada a subOTcHnac;áo; prinqipalmente
locu<;ao "como se":
o gerúndio, as orac;oes temporais, alén1 das frases particip. ( -bae). Coor- xe mbo-é-reme-mo-p' aé, a-i-kuab? ou xe nibo-é-te-mo-p' aé, a-i-
denac;ao quase nao existia. -kuab ? : como se mo houvessem ensinado, eu o havia de saber?; xe
mbo-é-eym-e-mo-p' aé, nd' a-i-kuab-i?: como se nao mo tivessem ensi-
1072. No tupi escrito pelos missionários, e mais ainda no nado, eu nao havia de o saber?; pe r-ausub-eym-e-te-mo-p' ipó, ixé pe
guarani; os períodos sao calcados nos moldes europeus : r-epiak-aub-eymri? : como se nao vos amasse, nao havia de desejar
longos, tecidos de frases coordenadas e subordinadas. ver-vos ?; mará nde r-ekó-eyni-e-p' aé, Paí nde nupa-ukar-eym-i raé?
ou mara nde r-ekó-eyni-e-11io-p' aé, Paí nde nupa-ukar-eyni-i raé?:
como se náo tivesses f eito nada, havia o Padre de' mandar bater-te?
1073. Como nao nos foi conservada nenhuma narrac;ao espontanea em tupi,
nao estamos em condic;óes de precisar qual seria a técnica do discurso,
devendo contentar-nos cóm vagas alusóes dos autores antigos e com a analogia O segundo verbo pode estar subentendido:
dos codialetos vivos.
ro y- ey' -te-nio-p' aé? : cotno se nao estivesse fazendo f rio (nao
havia de me aquecer ou abrigar) ?
•
AFIRMATIVAS INDIRETAS (*)
1076. O verbo é, "dizer", entra em nun1erosas dessas res-
1074. Os índios apreciavam e empregavam largamente o postas interrogativas :
processo de afirmar perguntando. Isso principalmente nas Tupa nhandé r-ausub : e-í tenhé-( n. 463 )-te-mo-p' akó og-uguy
res postas (Cfr. no espanhol "como no?'" = sim). Suben- marangatu nhandé r-esé i mo-'lnbuká-bo raé? : iDeus nos ama: a toa
tendia-se ligeira repreensao· ou admira\ao pela pergunta. havia de derramar seu sangue por nós?; "xe amotar-eymb-ara anhan-
ga" - nd' er-é-i-te-p' ia, i nheeng' apíá tenhé ou "nda xe a1notar-
(*) A rnaioria dos exemplos que se seguem, sao tirados de RESTIVO (Su- -eyrnb-ara rua anhanga" - er-é-te-p' iii, i nheeng' apiá' tenhé f: co~o
plemento, Cap. IX, "De las oraciones enfáticas"), com adaptac;óes ao diateto se o demonio nao fósse teu inimigo, obedeces as sua? ordens? (ht.:
tupi.
378 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 379
nao dizes "o den1onio é meu inimigo "' obedecendo as snas ordens? "nda xe 1no-1nbor-i xó-é anhanga r-atá-pe-ne Tupa" - e-i-á-bo rua-
ou : dizes "o demonio nao é meu inimigo ", obedecendo as suas -pe - ere-i-nio-maran tenhé katu asé r-ekó-1no-nhang-aba e-ikó-bo
Ordens.?) ,. " ze r-ayra i'k o,,, - nd' er-e-i-te-p
, ... ·- s-ausub-eym-af ou
' ia, raé?: nao dizendo "nao me atirará Deus ao inferno" (sabendo que
"nda ze r-ayra rua ikó" - er-é-te-p'ia, s-ausub-eym-af: como se nao náo me a tirará), estás desoqedecendo aos 1nandan1entos?; "ar-eté-
fósse teu filho, nao o an1a.s? -gfiasu-n' ikó" - e-i-á-bo rua-pe - nd' ere-porabyliy-potar-i? : sabendo
que nao é dia de festa, nao queres trabalhar?; (( nda xe sy rua ikó"
1077. o verbo é as vezes se coloca no gerúndio: - e-i-á-bo rua-pe - i nheenga nd' ere-s-apwr-i? : sabendo que é tua
máe (nao dizendo "nao é minha n1áe"), nao obedeces :is suas ordens?
e,,,~ona aipó gui-i-á-bo-nio-p' i:ré f: havia eu de entender que isso
era a,ss1i:i.?; ni~aé poran' gatu-eté gúi-í-á-bo-nto-p' ia, xe nhe-1no-ndyi 1078. Do cotejo desses exemplos concluí-se que, quando há urna repreensáo, o
verbo é fica no gerúndio n<;!gativo (gui-i-á-bo rua, e-í-á-bo rua) ; caso contrário,
1. tenl:e gui-t-eko-bo ! : como se eu pensasse que era urna coisa muito leva o sufixo do condicional -mo.
a
?o?ita, h~via de m: admirar toa? ; (( t' i rnarangatu,'' gui-i-á-bo-mo-p'
i~i-e, Tupa nheeng-uera r-esé opo-mbo-é-mbo-é-aub gui-t-ekó-bo raéf:
con_io se eu esperasse que viésseis a ser ·bons, havia de vos estar a 1079. l\1as pode-se dar ta1nbém um torneio mais simples
ens1nar as palavras de Deus ?; "koromó t' a-basem" - nda o-i-á-bo as frases:
r~ta - ahé r-anhé ~-anh~ o-~kóbo : ele está todo apressado, como se
fosse c?egar logo (lit.: nao dtzendo "chegarei logo": sabendo que nao "nda xe mo-mbo.r -i xó-é anhanga r-atá-pe-ne Tupá" - e-i-á-bo-p'
che~ara logo. Subentende-se: faz mal em se apressar, pois nao che- ia - ere-í-1no-maran tenhé katit asé rekó-nio-nhang-aba ere-ikó-bo
gara mesmo logo); "koromó t' a-basem" - o-t-á-bo-nto-p' aé _ ahé raé? : entendes que Deus náo te atirará ao inferno, para estares a deso-
r-anhé r-anhé o-ikó-bo: havia ele de se apressar, como se fósse chegar bedecer aos seus mandamentos? (Subent.: bem sabes que atirará);
l~go? (como se sou?esse que ia chegar logo? Subent.: faz bem em "ar-eté-guasii-n' ikó" - e-~-á-bo-p' ia - nda pe-porabyky-t? : enten-
nao ~; apres;a,r, po1s _bem sabe que nao chegará logo) ; "t' a-r-ekó des que é dia de festa, para nao trabalhares? (sabes que nao) ; "nda ze
mbae - e-i-a-bo rua-pe - nde kaneo tenhé e-ikó-bo raé: estás-te sy rua ikó" - e-1-á-bo-p' ia - i nheenga nd' erc-s-apiar-i f : entendes \
cansando a toa, como se fósses conseguir alguma cousa (lit.: nao di- que ela nao é tua tnáe, para desobedeceres as suas ordens ? ( ben1 sabes
.zendo "terei a cousa": sabendo que nao terás ... ) ; "nda xc amotar- que o é)
-ey1nb-ara rita-n' ikó anhanga" - e-i-á-ba rua-p' iii. -- ere-í-nheeng-
-apiá' tenhé? : como se o demonio nao f osse teu inimigo, cumpres as 1080.De acórdo c~m a regra geral ( n. 681), em lugar do
suas palavras?; "nda xe a1notar-ey¡nb-ara rua -n'ikó anhanga" - e-i-á-
-bo-te-mo-p' aé, ere-i-nheeng-apiá' tenhé ? : con10 se o demonio nao
gerúndio pode também estar o infinito seguido de -re1ne:
,
f ósse teu ini111igo, havias de cun1prir as suas palavras ?; "1nbaé aby-ara gúi-i-á-bo ou xe e-reme
nhe-nio-nh~nga ix~" - e-i-á-bo ~ua-pe - 1nbaé ere-i-nio-ndó íepé? : e-i-á-bo ou nde é-reme
como .se fosses filho de mau abrador, deixas escapar a c~a?; "a- o-i-á-bo ou i é-renie. Etc.
- s- epia k'' - e-i-a-
"' ' bo rua-
- t e- pe - aipo
... ' er-e' ixe-be?
· ' ou nde s-epíak iré-
-mo-p' aé, aípó er-é ixé-be?: como se o tivesses visto, dizes-me isto? · "xe r-e-mi-tym-buera r' akó" xe é-reme rita-te-pe, "na nde
" ..ie
• r-ayra i'ko, JJ - e-i-a- bo-1no-p ) ia
,A , •- - ere-i-nio-ngaru? : como se dis-
A ' r-e-mi-tyni-buera rua" er-é ixé-be; ou "xe r-e-,ni-tym-buera r-akó"
ses:e~ ::~ 1neu .. f~lho",,~avias de da~-lhe de comer?; "nda xe r-ayra xe é-renie-mo-p'aé, "na nde r-e-mi-ty1n-buera ruá" er-é i:ré-be: dizes-
rua iko - e-i-a-bo-p ia - nd1 ere-i-mo-ngaru-i xó-é?: como se dis- -me "nao é o que semeaste", como se eu tivesse <lito "é o que eu
sesses "nao é meu filho ", náo lhe havias de dar de comer?; "nda xe semeei"
amotar-ey11ib-ara rita ikó" - e-i-á-bo-mo-p' ia - nd' erc-s-ausub-i
xó-é? : como se dissesses "é 1neu inimigo ", nao o havias de amar? ;
•
38ú LE~10S BARBOSA CURSO DE TUPI .ANTIGO 381
\
-bo é, asé s-e-ityk-i reá. O koty suí mbaé poxy r-e-ityk 'iré abá, nd'
o-gue-ro-íe-byr-i <> koty-pe, i mo-sat-a, i mo-nem-botar-eym-a. T'i,
a-pysyk nde anga, Tupa o ausu.b-á' r·iré. Tupa anhó t' o-ikó i por-amo
ang-iré. N de r-ekó meniuá-ag-uera r-epy-meen'-gatu roiré, t' ere-i'-
-ekó-sub-eté t-ekó poranga r-esé.
Catecismo ( ed. 1898), pp. 249-250
1 - miséria. 2 - chorando. 3 - aplacando. 4 - abrandando. S-
temendo. 6 - espalhando. · 7 - virtude.
BIBLIOGRAFIA
Periodo~ - CAETANO 84-90.
Afirmativas indiretas - REsT1vo 191-202; 207-211. ..
Sepultamento (THEVET)
lurupari: genio mau das matas (mais conhecido no Norte) == diabo asé sybá-pe abaré-gU<lsu nhandy karaiba nong-a : pór o Bispo na
obá-'sab ( s) : atravessar o rosto a == benzer fronte da gente o óleo santo =crismar; crisma .
i'-obá-'sab : benzer-se asé r-eo íanondé nhandy karaiba r-ar-a: tomar os santos óleos
antes de morrer = ( receber a) extrema-un<;áo ·
marana rí t-ekó-ara: guerreiro = soldado
misa mo-nhang : = dizer missa t087. Algumas paJavras portuguesas, aceitas pelo tupi,
angaipaba; angaipap-aba: ruindade = pecado
sofreram adapta<;óes fonéticas:
ekó-angaipab-ypy ( t) : pecado original
t peró ( +...Pero) portugues
oryba ( t) : alegria == f elicidade celestial
t pereru ( +4llf ferreiro) ferreiro
t kabaru ( ....._ cavalo) cavalo
oryp-á'..pe ( t) : no céu t sapatu ( +4llf sapato) sapato
t llabará ( ..._ cabra) cabra
ekó-katu ( t) : vida boa, honesta == virtude t l?urusu ( ,...... cruz) cruz
mi-tyma : plantac;áo, horta == Hórto t kasiana ( ,...... castelhano) espanhol
.. .
ie-kuakub:
. . ocultar-se, recolher-se para o 1eJum (a moda indígena) t sarauaia ( ~ salvage) selvagem
.
== 1e1uar t karnarara ( ....,.. camarada) amigo
itá: pedra == ferro = metal t Roré ( .._.. Louren~o) Lourenc;o
itaiuba: pedra amarela == ouro = moeda == dinheiro 1088. Apesar de contrariada, urna tendencia incoercível
itaiutinga : ouro branco == prata fazia com que os europeus for<;assem um tanto a índole
itaíunema : ouro ( ou moeda) f edorento == cobre da língua, para adaptá-la aos conceitos e processos gra-
itaíyka: pedra rija (mas maleável) == estanho n1aticais latinos e neolatinos:
itamembeka: pedra mole == esponja == chumbo
itanema: pedra f edorenta = cobre
1089. O indefinido ( s) etá evolui pouco a pouco para
1085. Algumas palavras, ficando substancialmente iden- morfema de plural ( n. 47). Chega-se a encontrá-lo junto
ticas, vestiam· porém o sentido europeu ou cristáo: de palavras portuguesas já no plural:
Santos etá (AR. 18): os Santos
anga: alma = alma
ro-bwr: acr~ditar em crer, ter Fé em 1090. O e o m par a ti v o, conceito gramaticalmente
i'-e-ro-bíar: confiar e1n == ter Esperan<;a inexistente em tupi, desenvolve-se a custa de vários
epy ( t) : tróco, revide == pre~o, paga, valor recursos (n. 173).
1086. Por vezes tornou-se necessário um rodeio para tra- 1091. A partícula de superlativo, eté, ven1 escla-
duzir o conceito europeu: recer confusóes, nascidas após o contacto com as línguas
I
1100. Dia a dia, o tupi foi perdendo a sua índole in e o r- -ekó-u íandé angaipaba r-epy-nieenga potá, ybak-pe iandé r-e-ra-só
spotá-bé-no.
, - . b',.,
Ere-ro-biá':Pe aípó-bae Tupa r-e-mi-mo-m eu-ag-uer-amo
P ora ti va. s-ekó-renie? - A-ro-biar-ete.
1101. Os períodos, sob a influencia européia, tornaram-se Asé anga n' o-manó-bé-e 9 rua. , 1kó ara pa_!J-nie10 _opa~-í-n~~ ~~
r-e-kó-bé-íe-byr-ne11: aé-re1ne lande !ara Tupa opab-i-nhe ase iabio
mais complicados, cheios de orac;óes incidentes e subordi- r-ekó-ag-uera r-upi s-epy-meeng-ne12 : i• angaturam-bae o-so-u , "'13 y bak -
nadas em desacordo com a tendencia indígena ( n. 1070) . -pe Tupana14 pyr-i, auié-rama-nhé t-ekó-katu r-esé o-í'-ekó-sup-a, o
' anga, ogu-eté pupé-bé-ne. I angaipa , pe i• xo-u
' ,,- bae anh anga r-ata- , 15
A
1102. Em compensac;áo, foram rare~ndo mais e mais as auíé-rama-nhé opab-i-nhé t-ekó-aiba porará-bo o anga, ogu-eté pupé-
-bé-ne. Ere-ro-biá'-pe aípó-bae Tupa r-e-mi-mo-mbeú-ag-uer-a:nio
partículas, táo abundantes na língua primitiv~- (n. 1041).
s-ekó-reme16 f - A-ro-biar-eté katu.
Ere-íe-ro-biar-pe Tupa por-ausub-ar-cté r-esé, Iandé !ara Jesus
1103. BREVE INSTRU<;ÁO P..~RA O BAT~SMO Cristo r-eo-ag-uera r-esé bé, opab-i-nhé nde r-ekó-angaipag-uera nhi-
ro-ag-uama, nde ybak-pe só-ag-uama bé't - A-íe-ro-biar-eté.
DE UM tNDIO PAGAO EM CASO DE SUPREMA NECESSIDADE Ere-s-ausú'-pe Tupa nde !ar-eté-ramo, nde pysyro-an-eté-ranio,
nde r-ub-eté-ranio bé, opá-katu mbaé tetiruii sosé i angaturam-eté
P. Jo.Ao FELIPE BETTENOORFF (1625-1698)
r-esé é? - A-s-ausub xe pyá-pe katu.
(adapta~áo ortográfica) Xe r-ayt, Tupa r-ausup-ar-eté Ó-í-mo-íe-kuab-ukar o Tupa r-au-
suba, Tupa asé r-ekó-mo-nhang-aba r-upi o-ikó-bo.
Xe r-ayt, kó nde r-aniyw r-ekó-puera r-upi nde r-ekó n' i katu-i;
Tupa nheenga nde r-e-mi-por-ama17 na e-í18 :
s-upi nde r-ekó-reme, ere-mo-kanhé-ne1, anhanga r-atá-pe ere-só-u-
-ne1 auié-rama-nhé bé Tupa nde r-epiak-i3 xó-é-ne. Emonii-namo xe 1. T' ere-i-mo-eté oíepé Tupa. 2. Anhé-'té er-é tenhé umé
1nb;-é-saba r-upi e-ikó, e-ro-bíar katu xe nheenga, t' ere-ikó Tupa Tupa r-era r-enoia. 3. T' ere-nio-eté19 ar-eté. 4. T' ere-mo-eté nde
r-ayr-anio, t' ere-só ybak-pe Tupa r-oryba r-epiak-a. Ere-ikó-potar- r-uba nde sy abé. 5. T' ere-por-apiti u1né. 6. T' ere-poro-potar
-pe aipó xe nheenga r-upi? - A-i-potar. umé. 7. T' ere-mo-ndaro umé. 8. Nde r-e-moem umé abá r-esé. 9.
T' ere-nhe-mo-motor umé nde r-apixara r-e-mi-r-ekó r-esé (se f ór
M osapyr mbaé pupé nhó-te aípó-bae r-u-i: Tupa r-e-ro-bw' pupé~ n1ulher, diga: nde r-apixara mena r-esé). 10. T' ere-nhe-mo-motar
Tupa r-esé í'-e-ro-biá pupé, Tupa r-ausuba pupé, Tupá nheenga r-upi umé abá mbaé r-esé.
t-ekó-potara pupé, nhe-nio-ía.sitka pupé bé. Ere-i-potar-pe aipó mo-
sapyr mbaé! - A-i-potar katu. Ere-ikó-potar-pe aípó Tupá asé r-ekó-mo-nhang-aba r-upi, nde
r-ekó-bé iá-katuf - .A-ikó-potar katu s-upi.
Nde r-e-nii-e-ro-biar-ama koyr t' a-s-aang4 nde-bo-ne. Tupa
Nhe-nio-ngaraiba r-esé t' oro-mbo-é-ne koy'-té 20 • Kó nhe-mo-
iandé iara opá-katu mbaé tetiru(í, mo-nhang-ara. Tupa oiepé nh!, ab~
-ngaraiba Tupana r-ayr-amo asé mo-ingó-u, ybaka r-okendab-ok asé-bo.
-ramo o-ikó-bo niosapyr abá, Tupa T-uba, Tupa T-ayra, Tupa Espi-
rito Santo, mosapyr abá o-ikó-é, oiepé Tupa memé. Ere-ro-bU:,r-p~
1andé angaipaba, íandé anga kyá-saha. E nio-na-namo nd' e--í katu-í
asé Tupa r-ayr-amo o-ikó-bo, Tupa ok-pe81 o-iké-bo o anga r-ei eytn-
a~pó-bae Tupa r-e-mi-mo-mbeú-ag-ue~-amo s-ekó-re1,n e5, opab-i-n~e
-e-bé. Nhe-1no-ngaraiba y karaiba pupé asé nhe-mo-iasyk-a22, asé
i mo-ngaraib-pyra angaturam-etá nhe-inhanga6, Santa Madre ..IgreJ?
anga o-io-s-ei, o-1-mo-íasyk i kyiá23 ok-a. Ere-í-potar-pe xe nde
Católica i-aba, asé mbo-é-sag-uer-amo s-ekó-reme?7 - A-ro-biar-ete.
mo-ngaraiba, y karaiba pupé nde mo-iasyk-a, t' ere-ikó Tupá r-ayr-
Tupa T-ayra iandé r-esé apyab-atno asé wbé o-nhe-mo-nhang8 , -amo (se for mulher, dirá: r-aíyr-amo), t' ere-iké Tupa ok-pe? -
íandé r-esé-bé ybyrá to-asaba r-esé i nio-íar-pyr-amo, i iuká-pyr-anio A-i-potar-eté.
25
390 LEMOS BARBOSA
CURSO DE TUPI ANTIGO 391
\
CURSO DE TUPI ANTIGO J93
•
,.
'
1110. Morfema independente é aquele que pode ter uso (s)ar/, p·y r/, -bae/, por/, bor/, S.U~r~, na posic;ao ~; tyb/ na pos1c;ao 2;
ram/, puer/ na posi~aq 3; -a na posu;ao 4 (se~pre fmal). O suf. negativo t
autónon10. Caso contrário é dependente. eym/ pode vir antes ou depois de qualquer suftxo ( exceto -a, que é sempre
f final) O A > (°' •.i ..::
Assim, na frase mobyr pirá-pe ere-s-epiak parana-tne ko>•r!
0
Esta, porém, é a
0
Tódas as palavra5, incluidas as partículas, sao capazes de reduplica~áo. possess1vos og-, ogu-, gu-
pref ixo passivo mi- ou mbi-
Como a língua tupi exprime algumas relac;óes sintá- objeto direto ou sujeito incorporados: a-y-ú, xe py-syryk
ticas por meio de afixos paradigmáticos - p. ex. o objeto
direto no verbo ( a-z-pys31k t-obaiara "apanhei-o o inimi- antes de
go") - pode-se chamar língua flexiva, einbora de tipo sufixos ( s) ar, ( s) ab, pyr, tyb, por, bor, ( s) uar, ( s) uer
diferente das clássicas. sufixos negativos: eym e -i
J
398 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 399
todos os sufixos, partículas e preposi~óes átonas: -pe, -be, -i,. -u, ...
sentido próprio, perdendo, porém, o primeiro quando
-mo, -no, -te, -a, etc. o tem - o suf ixo -a (nominal ou infinitivo), ou, <liante
sufixos de tempo: (p) uer, ram, (p )u.er-ani, rani-bíter
de consoante, a última sílaba átona:
partículas que se unem n1ais intimamente ao verbo, substantivo,
, b'e, e,
etc.: eta, , i,
- 1',, nrie
1,
á'-tinga : cás (aba + tinga)
aposto : jagua'-guyrá pirá-(t: comer peixe (pirá + ú)
pirá-sc1n-a: sair peixe (pirá + stm)
entre á'-kití-a : cair caibelo (aba + kuí)
ang-ep'iak-a: ver a imagem ou reflexo ( anga + epíak)
os dois ou mais elementos que entram em composi~o ou incorpora~áo, nheé'-nguab-a: saber falar
desde que ainda conservero algun1a autonon1ia semantica.
1120. Pode-se deixar de separar os elementos com hífen, quando da compo- 1125. e01nposi~ao é urna justaposi<;ao ainda n1ais íntima
sii;ao nasce um terceiro vocábulo com significado próprio: marangatu, angatu- · de dois elementos náo-dependentes, da qual resulta um ter-
rama, mcndy, posé, pontpi, etc.
ceiro elemento náo-dependente, de sentido próprio, que se
1
comporta na frase como elemento simples:
APOSTROFE
cir-uba : a bel ha ( eira mel + itba pai)
1121. O apóstrofe serve para indicar apócopes e aféreses. men-dy: sogra do hornero (mena marido +
sy niáe)
É excusado, porém, assinalar a queda do a final de substantivos, adjetivos
íur-ar: lac;ar ( íura pesco~o + ar prender)
e infinitos: o fenómeno é por demais comum e normal. Cfr. n. 16 Ons. petynib-ú: fumar (petynia fumo + ú comer)
u'-katu : acomodar-se ( ub jazer + katit bem)
POSI<;ÁO, COMPOSl~ÁO,. DERIVA~ÁO Nem sempre será fácil distinguir os casos de composic;ao e de incorporac;áo.
1126. Deriva~ao
é o processo pelo qual da justaposi<;ao de
1122. P osifao ou ordeni é o processo gramatical segundo
dois ou mais morfen1as, um radical, o( s) outro( s)
o qual cada morfema, palavra, membro da ora<;ap ou
afixo( s), se forma urna terceira palavra independente, re-
ora<;ao <leve ( ou pode) ocupar determinado lugar relativo
lacionada pelo sentido con1 o elemento independente for-
dentro do período, para desempenhar dada f un<;ao.
mador:
1123. J ustaposi(ao é o processo .pelo qual se colocam em
1no-nhang : f azer ara: suf. nio-nhang-ara: o que faz
seqüencia imediata, se1n pausa, dois ou mais morfen1as, syk: chegar aba: suf. syl~-aba: lugar de <:hegar
para exprimirem um ou mais conceitos gra1naticais: syk-aba : v. supra tyba: suf. syk-a'-tyba: lugar em que é
morubixaba py: o pé do chefe costun1e chegar
,
ypeka ti: o bico do pato n: co1ncr 11rbi-: pref. 1·n bi-ú: con1ida
xe r-ayra r-ura : a vinda de meu f ilho
nheeng-a kuab-a: saber falar 1127. Deri'vafao graniatical ou inflexao, ao contrário da
anterior, que é lexeológica, é o processo pelo qual a um
1124 ·lncorporafao é urna justaposi<;áo íntima de dois ele- morfema independente se junta out ro dependente para pre-
mentos náo-dependentes, que conservam cada qual o seu cisar relac;oes gramaticais.
400 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO ·101
1133. SUBS'"fANTI\rO (O'U PRON011E) -1- \ 7 ERBO 1136. Entre a con1posi<;áo e a incorporac;ao nao há diferen<;a de
1. TRANSITIVO forma, senao apenas sen1antica. O composto é tun terceiro vocábulo,
e nao apenas 11111 conjunto de dois.
pirá ú : co1ner peixe 11:baf: pysyl~: segurar
causas
1137. Diferenc;a n1aterial pode ha ver entre a justaposic;ao
y ú : beber água iur-ar: prender o pescoc;o
la~ar
de un1 lado e a incorporac;áo e composic;áo de outro, quando
xe pysyk: apanhou-me i pysyk-a: apanhá-lo (in fin.) a) o primeiro elemento é dos que pedem o suf nco nominal
a.-; b) o segundo elemento é dos que levam os pref ixos
2. INTRANSITIVO
t-, s-, r-. Na justaposic;ao, o -a do 1.0 elemento permanece,
pirá sem-a: sair peixe a,,kui-a . cabe1o
.. : ca1r
e o 2. 0 elemento assume r-. Na incorporac;ao e con1posi-
xe só: ir eu (in fin.) i :re1n-a : sair ele (in fin.) c;áo, -a e r- desaparecem :
1134. COMPLEMENTO + PREPOSI~AO (OU CONJUN- nheeng-a r-endttb-a (justap.); nheenig-endub-a (incorp.): ouvir
falar ( inf in.)
~AO)
t-atá r-endy (justap.) ; t-atá-enáy ( con1pos.) : chama do f ogo
1. SUBSTANTIVO men-a sy (justap.) ; men-dy ( compos.) : sogra do hon1em ( mae
y-pe: no rio ni.orubi.-raba supé : ao chef e do n1arido)
y suí: do rio (proceden-
1139. Só o complemento apositivo conserva o t- ou s-. Mas o complemento
cia) 1ikfi r-upi: pelo rio de referencia perde-o : ybá s-oó : fruta-carne (de animal) ; ybá t-oó : fruta-
paié r-esé
. ,
: por causa do ar-eté-ren·t e: se ( o·u quando) -carne (de gente); Tupa T-a3·ra: Deus-Filho; mbaé-t-atá: cousa-fogo (de
paJe f ór dia festivo gente) ; itá-s-upiá: pedra-óvo; cpr. kunha r-obá: rosto de mulher (justapos.) ;
k1mha-t-obá: rnulher-ro5to (incorpor., atribut.) ; k1mha-obá: a mulher do rosto
2. PRONOME (incorpor., referencia).
xe-be: a mim 11de-be: a ti 1139. Ademais, na simples justaposic;áo nao costuma dar-se
xe suí: de mim i xupé: a ele a nasalizac;áo do 2. 0 elemento pelo 1.0 •
nde r-esé : por tua causa i.xé-reme : se ( oi.i quando)
f ór eu
404 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 405
26
406 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 40¡
(e) sapyá ( t) : presteza; de repente; ( s) apanhar de surpresa acabar-se a respira<;áo n1aravilhar-se; preocupar-se c01n; cuidar
xe r-esapyá ahe (VLB 184): ele tomou-me de surpresa de. Etc.
a-nhe-11ibo-esapyá gui-t-e-iké-bo : entrei de repente
o-ie-esapyá xe r-e-1ni-tyma: saiu-me antes de tempo minha
Ver esá olho ( s), apysá ouvido, 1ta111hi orelha, i1w1t boca, ª''ªdente ( s),
( apé-) kü língua, obá rosto, ti nariz, aiura pesco<;o, p6 mao, py pé, pyá cora<;ao,
planta<;áo entranhas, íybá bra<;o, nheenga f ala, etc.
e-ra-só (s)saP>'á (VLB 114): leva-o depressa
esainana ( t) : preocupado, desassossegado, inquieto; leviano, 1146. Destes e de outros exemplos infere-se que o nome
dissoluto da parte do corpo exprime também o sentido interior, a
nhe-mo-sainana [ esé] : preocupar-se com; prover-se de; faculdade
, .
ou qualidade respectiva, bem como o seu exer-
preparar ClClO:
1144. O VocABULÁRIO NA LíNGUA BRASÍLICA registra mu!tos ~ompostos de iuru boca == palavra; apetite; esá olho ( s) = vista; vigilancia;
(e )sá: sá-inana, sá-ku:i, sá-pyá, esá-bika, esá-py-só, esá-eta, esa-kanga, es~ apysá ouvido == aten4)áO; pó máo = poder; íybá bra<;o = f órc;a;
-koriHa esá-kuruba esá-kyta, esá-k.úar-asy, esá-kúá'-tingQ, sá-ra1a, esá-ete, py pé = estabilidade, f irn1eza, resistencia; obá rosto = expres-
esá-k1iéJ[-kiié], esá-g1íyryba, esaia, esangá, esá-ekó-ab-o k a, esa-pe,
I , , esa-,
'kA' -
ua-rore, sáo. Etc.
esá-kUá'-s6, esá-pytumb)•ka, esá-kúar-wmbyka, esá-guyr-ttmbyka, esá- ynh-us~,
esá-roré, esá-banga, esá-pitanga, esá-ti1iga, esá-foba, esaba, esá-'tyká, esá-arua-
-aiba, esá-tyba, rsá-kúaro, etc., além de inúmeros derivados. 1147. Algumas palavras, aparentemente simples, sao com-
postas desses nomes de partes do corpo ou semelhantes.
1145. Tanto no VocABULÁRro NA LíNGUA BRASÍLICA como Oblitera-se-lhes o sentido primitivo, e tomam urna fun~ao
no Te soro de MoNTOYA vem arralados inumeros compostos de quase-prefixos classificadores:
desse tipo: pixyb: esfregar, untar; comp. de pira pele e syb lin1par
piroy: fresco; comp. de pira pele e roy fresco, frío
íuru-mbegi1é: boca vagarosa = lento na fala; i1trii-piru: boca piryaía : suor, suar ; comp. de pira pele e yaia suado
seca == cansado de repetir ; iuru-kyrá: boca gorda == mentiroso, pipoká: beliscar; comp. de pira pele e poká torcer (n. 347)
Ioroteiro; iuru-t-atá: boca fogo == violento na fala ;' iuru-taté: ooca pipom()nga: pegajoso, viscoso; comp. de pira pele e ponionga
errada = palavra ou comida errada ; nheé'-kyrá : palavra gorda == .
VJSCOSO
n1entiroso, loroteiro; pir-ana1'na: pele grossa == firme, obstinado ; pirakubora: quente [ser vivo] ~ co111p. de pira pele e akubora
pir-yaia: pele suada = suado; pi'-roy: pele fresca =
fresco; des- c1uente
1
cansado, aliviado; pó-pindá: máo anzol == ladrao; pó-etá: muitas piringa: estremecer, arrepiar; con1p. de P'ira pele e ninga latejar
maos == ataref ado, trabalhador; apysá-anama: ouvido-grosso = pitinga : mancha branca da pele;· co1np. de pira pele e tinga
mouco; natnbi-,ío-obaké: orelhas un1a <liante da outra == aturdido;
branco
obá-iuba ( t) : rosto amarelo == pálido, medroso ; ( xe) : empalidecer ;
obá-'sy ( t) ou esá-kúar-asy ( t) : rosto ou olhos dolentes = carran- 0Bs. - Parecem compostas de pira outras palavras, cujo último elemento,
cudo ; obá-puká ( t) : rosto risonho
1
=
risonho, alegre; pyá-beraba:
entretanto, é de origem duvidosa, tendo perdido sua furn;ao de morfema in-
dependente :
oora<;áo reverberante = conturbado ; alvoroc;ado ; pyá-saingó : entra-
nhas dependuradas == f aminto; ai-bi'-ryryía: gengivas tremulas = pixam beliscar; pixé chamusco ; pitub untar ( com, azeite, urucu, etc.) ;
pjtanga avermelhado; piriana listado (ao comprido) ; piranga vermelho i
risonho; putu-ií: engoli.r a respira<;áo =
descansar; putu-pab : pinima pintado, malhado. Etc.
408 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 409
1148. DOS OUATRO NOV1SSIMOS DO HOMEM <*> l. syk " chegar; bastar", syk-aba " chegada limite; fim", syk-ag-uama
P. ÁNTÓNIO DE ARAÚJO (1566-1632) "futuro fim". 2. rá otc afetiva "em verdade" (de h.) (n. 1068). 3. Cfr.
S. Lo1,r. 61v, a-é k6. - 4. "querendo fazer com que nos preparemos". Sóbr~
N de niaenduar ndereco cicagoama, nde reco paba goáma sá-kuí v. n. 1142. 5. "desejando que nos alertemos". Sóbre sá-inan, v. n.
"Nde rnaenduar nde r-ekó syk-ag-uamal, nde r-ekó pab-ag-uama 1143. '6. "querendo que cuidemos do futuro (ser) de nossa alma". Sobre
putu-pab + pytti-pab, v. n. 1145 e VLB 89, 109, 356, 395; AR. 227; l.ª ed.
recéra eico amo Tupa boya; ynheenga mombegoara, yandebe.. 69; S. Lour. 66v. 7. i mosapy' -saba "o terceiro deles" (n. 827). 8. "o fim
r-esé rá2'' - é-í kó3 amó Tupa boiá, i nheenga mo-mbegu-ara, iandé-be, ( 01i o último) deles".
opabinhe aba motecacuaba pota: yáde nionhemo,acoipota: yande
o-pab-í-nhé abá rno-t-ekó-kuab-a potá, iandé mo-nhe-mo-sá-kuí potá4, iandé
nhemo,ainanarniota, yande anga recorámarece yande putupaba
nhe-mo-sá-inan-a motáS, iandé anga r-ekó-rarna r-esé iandé putu-pab-a
pota. Oyoirondic teca cícaba yyepí.
potá7. 0-io-irundyk t-ekó syk-aba. Ii ypy :
1. T eo, teo roire yrµ,oco:,1a.
T-eo. T-eo roiré, i mo-koi-a:
2. Tupa ace recomonhangába.
Tupa asé r-ekó rno-nhang-aba.
3. Anhanga rata, ynwfaPífaba.
Anhanga r-atá : i mo-sapy' -saba7.
4. Ogoripape T1tpa acebe tecobe opabaerameima meenga,
f Og-oryp-á-pe Tupa asé-be t-ekó-bé o-pa'-bae-ram-eym-a meeng-a:
yxicaba.
i xyk-aba8.
T..ecobe yandebe Tf'tpa re1tiimeenga cícabe, teo yande moauieo,
T-ekó-bé iandé-be Tupa r-emi-rneeng-a syk-abé, t-eó tandé mo-aftié-ü,
ace iucJbo, ace mocanhema yande anga yande reté ,ui yxemebe
asé iuká-bo, asé mo-kanhem-a. !andé anga iandé r-eté s11í i xem-e-bé,
Titpa cec 0 1nonhang-i,
1
coipo Anhanga ratape, tecocatu abi-
Tupa s-ekó-mo-nhang-i, ko-ipó Anhanga r-atá-pe, t-ekó-katu aby-
repiramo y1nondobo auyera1nanhé; coipo onheenga r-upí ceca
r-epy-ramo, i mo-ndó-bo afüé-rama-nhé, kó-ipó o-nheenga r-upi s-ekó-
agoera repira1no igbacitpe ogoripápe, tatape teca angaipaba
-ag-ítera r--epy-ramo ybak-( u-) pe og-oryp-á' -pe t-atá-pe t-ekó angaipaba
rept. mondícápe ceca cic-ire, ymoingou.
r-epy mo-ndyk-á' -pe s-ekó syk iré,
i mo-ingó-u.
Catecismo ( l.ª ed.), pp. 154-154 v.
(*) No intúito de familiariz;ir o leitor com os antigos textos tupis,
apresentaremos alguns na grafia original. O desta Lit;áo vai acompanhado
da transcri~áo no sistema deste CURSO. - Para a tradut;áo, consultar nosso
Pequeno Vocabulário T11-pi·Port1tgues (Livraria Sao José, 1951), advertida Sepultamento (DE BRY)
a diferen~a de orto¡tra fia.
CURSO DE TUPI ANTIGO 411
1156 . Todas as vogais podem ser iniciais, medíais ou finais. As vogais 1159 . ? é a oclusáo glotal. Nao se costuma escrever, n1as precedía
nao só predominam sobre as consoantes, como tem mais possibilidades de
colocac;ao e de agrupamentos. quase toda vogal que nao se seguisse a outra consoante. Nunca é
final de sílaba, nem inicial de palavra.
ÜBs. A j ulgar pelo guarani moderno, nao haveria oclusao glotal após
SE MIVOGAIS prefixos proclíticos, como mo-, ro-, poro-, ie-, ío-, nibi-, xe, n.de, i, a-, etc.,
a menos que o tema seja monossilábico e, portanto, tónico (mbi-ú, mbo-é,
... .... ...
i y u ie-ab, xe ab-a, com oclusáo). Nem em compostos de final tónica + inicial
nao-tónica, como t-atá-upaba, t-atá-endy, t-esá-e'té, etc. Nem em algumas
palavras avulsas, como eira, t-esá-y, aiba, etc.
As tres vogais fechadas iJ u) y) (que se arti-
1157.
culam com o dorso da língua elevado em dire~ao ao cétt 1160 . P, t, k vem tanto em princípio COlTIO em fim de sílaba. Mas
da boca) poden1 f.acilmente perder a silabicidade, dando p e t só excecionalmente no fitn .
otigem as chamadas semivogais i) u, y.
1161 . B, d, g sao oclusivas quando precedidas de nasal, nos grupos
A rigor, sao consoantes fricativas. O caráter consonantal é mais nítido mb, nd, *ng.
nos ditongos crescentes. Mas podem juntar-se a outra con~oante. P. ex., t'
1a-só "vamos l ", nd' w-só-i " nao vamos". Nao ocorre d fora de nd. B figura tanto medial como final de palavra, e
Há, porém, casos em contrário : 1) Em ditongo crescente predominar o também inicial de sílaba. Como medial, é consoante fricativa; tal vez também
caráter vocálico (t' ia-só, com apócope do a de ta, como nas iniciais vocá- como final. Nao há b, d, g iniciais de ipalavras, após pausa: os casos aparen-
licas t' a-só, t' ere-só, etc., e nao como na inicial consonantal ta pe-só). temente contrários ou sao simplificac;ao gráfica (baé = 1nbaé; de = nde,
2) Em ditongo decrescente predominar o caráter consonantal (sy-syi gat1'= 11gat11) ou sao partículas ou temas verba.is, que na língua viva supóem
redupl., com apócope do i, tal como das finais consonantais : pa-j>ar). ' outros elementos antepostos. Na escrita tradicional, náo se costumam distinguir
Por tudo isso, é interessante dar um tratamento a parte as semivogais. as fricativas das correspondentes oclusivas. G medial é variante (fricativa)
de f : ygara ou yfara. G oclusiva, só no grupo *Hg.
alguns, sao grupos de sons: m+b, n+d, *n+g. Para outros, sao sons sim-
ples, monofonem.as: b, d, g pré-nasalizados. A rigor, devia-$e escrever "b, "'d,
414 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 415
g: "'bafe', "'de', "'gatu', éde', pora'ga, médu'ba, kaby', ka'ga, tnóba'ka. ra- As partículas independentes terminam ou em vogal tónica ou em con-
-bue'ra, etc. soante ou semivogal.
O tema tanto nominal como verbal termina ou ern vogal tónica ou em
1165. Nh é fonema siinples, con10 en1 portugues: inicial e medial. consoante ou semivogal.
1166. S é o mesmo s portugues da pronúncia padráo, p. ex. de 1171. En1 pausa, as consoantes costumam cair. Náo, porém, as
".ralbado", e nao o s palatal, final de silaba (p. ex. de "aspas", na semivogais nem as velares k e ng.
pronúncia portuguesa ou carioca). Pode ser inicial ou medial, O mesmo se passa na incorporac;áo e composic;ao. Em incor-
nunca final. X é som secundário, resultante de palatiza~áo de s porac;áo, é esporádica a persistencia das velares. Na reduplicac;ao,
. .
cae111 as se1n1voga1s.
pelo i. Pode ser inicial e medial, nunca final.
1167 . H só ocorre e1n tres ou quatro palavras. Pode ser inicial ou S1LABA
medial. 1172. Os únicos fonemas silábicos, em tupi, sao as vogais.
·- ·-·
Em guarani substitui quase todos os s tupis.
vogal):
•
ser dos seguintes tipos (\,. .=vogal; C consoante; S=semi-
. ..._.
1169. Em resumo, as consoantes que podem come<;ar sílaba ou palavra sao: v ve cv cvc VS sv SVC csv cvs
p, t, k, f, m, n, *n, nh, mb, *ng, s, z, h, r, i, a, y a ab ba bab ia íab bia bai
As que podem ser mediais de palavra (inicia is de sílaba medial ou
final) :
svs csvc csvs
biab biai
p, t, k, f; b, *b, *g; m, n, nh, *n; mb, 11d, *ng; s, z, Ji; r; i, a, y
As que po<lem ser finais de palavras : 1173. Nao há casos de CC. Mb, nd, ng, para alguns estudiosos, sao fonemas
k ,· b; m, n, *ng; r; i, u (excecionalmente : p, t) simples. A única exce<;ao seria a das semivogais, se consideradas consoantes :
t' ia-nhan "corramos"; nd' ia-nhan-i "nao corremos".
1170. Tanto o nome e o veroo como as partículas independentes podem
come<;ar por vogal ou por consoante ( ou semivogal). 1174. A palavra tupi pode constar de urna ou mais sílabas.
Os verbos transitivos cornei;am ou por vogal ou por urna das seguintes Também os temas.
consoantes :
p t k p m n nh s r i a Os monossilábicos sao, via de regra, irredutíveis.
poi tym ká Pok mun nong nhang syb rab iai (g)uang Quanto aos polissílabos, em alguns casos podem-se isolar
Os verbos intransitivos come<;am ou por vogal ou por urna das seguintes os seus elementos componentes :
consoantes :
p t k f m b nh s r nd i u tema +
afixo; subst. +
subst.; subst. + adjet.; subst. +
pak tui kai Par myi bak. 1iharó syi r)'r)>i nd11ruk iaseó (g)ueb verbo; verbo + advérbio ; te1na +
reduplicac;áo; etc.
Nos modos finitos. o verbo pode terminar em vogal tónica ou em urna 117 5 . Grande número de verhos sao cornpostos de verbos monossilábicos,
das seguintes consoantes : sejam intransitivos corno a11i, ar, in, bak, bok, bur, b'j·r, byk, ir, .. etc., sejarn
k b m n ng r ¡ a transitivos como é, 1,, ar, ab, ó, ok, r1mg, etc. (cfr. n. 326).
pok. kub am mun mong ir pUai mo-ngaraü
excecionalmente t ( var. de r) ut = ur 1176. Em outros casos, a identifkac;áo já nao é fácil. Mas na
Nos modos nao finitos (inclusive gerúndio, particípio), pode acabar em n1edida em que progride a análise lingüística, revelam-se elementos
vogal tónica ou átona, nunca em consoante ou semivogal. inais sünples.
416 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 417
Apenas um exemplo. O verbo ro, extinto na língua, mas que deixou CONTACTOS MODIFICA~OES EXEMPLOS
inúmeros compostos, como apiro) arol, aró2 (s), asyró (t), atyró, eguyro (t),
ekobiaro ( s) , iraró, 11io-nibyró, 1110-ngatyro, mo-yro, nharó, tihyró, piaró, C +V silaba<;áo : a-s-ausub abá (pron. *asausu-
poro-yro, pysyró, ro-yró, tyaró, t·y pyro, etc. babá)
1177. Apesar dos casos impenetráveis, tem algum funda-
V oral + C (nao há) a-íuká paíé ( inalteradl)s)
V nasal + C nasalac;áo: nliu-bi"tera (de nhu+puera)
mento a impressao de que o tupi se compóe de raízes V i ·-t- C s pala.tizac;áo: i-xupé (de i+supé)
monossilábicas. C +C 1) inserc;ao de V : ybak- (y-) pe (de ybak+ pe)
2) apócope: a-s-ausu' Tupa (de a-s-ausub+
ACENTO TóNICO Tupa)
3) assimilac;ao : s-o'-beba (de s-ob+peba)
1178. A língua tupi conhece o acento tónico ou de inten- v+v 1) oclnsáo glotal: guyrá-?i (de guyrá+í)
sidade. Os temas sao oxítonos. As palavras podem ser 2) apócope: t' a-só (de ta+a-só)
3) semivocalizac;ao py-ara (de py+a.r a)
paroxítonas, proparoxítonas, etc., quando se agregan1 ao
a-í-pysyk (de a+i+ pysyk)
tema af ixos ou partículas enclíticas. '
É o caso dos nomes (substantivos, adjetivos, infinitos, demonstrativos, 1182. Resta esclarecer rnelhor os contactos de V+ V (n. 17).
numerais) terminados em consoante ou semivogal, os quais recebem o sufixo
nominal -a. E dos sufixos -i, -it, -ne, -nio, -te, -pe, -no, das preposic;óes-con- Para os diferentes ef eitos - oclusao glotal, apócope
junc;óes -pe, -i, -bo, -reme, etc. Há tambén1 alguns afixos enclíticos, como
os prefixos e pronomes pessoais (em func;áo de possessivos ou de objeto e ditonga~ao - entram em linha de conta: 1.0 ) a tonicidade
di reto, etc.) ou nao de ambas as vogais, 2.0 ) o seu grau de abertura.
Em composi<;áo, incorporac;áo, derivac;ao, há acentos subtonicos, Os princípios mais gerais sao:
que recaem sobre a sílaba tónica do l.º eleme·n to co1nponente.
1183. I. - Quando a 2.ª vogal é tónica: hiato (e o~lusao
ACENTO MUSICAL glotal) :
1179. Nao se conhece o tom ou altura, como fonema pri- a-ir, a-ú, e-í, i á) xe aba, nde ú, a-ar, o-ir, a-é, a-ir, itá-oka, etc.
,
mar10.
. Excefoes: l. Er-é + *ere-l; í' -ab + ie-ab; *i'-ar + *ie-ar; i'-ub +
ie-ub, etc.
ANCHIETA 3Sv informa que havia dif erem;a de tom na interrogac;ao. Nao 2. No gerúndio, ante a desinencia abo ( n. 394-400), procedem
esclarece qual fósse nem nos adianta nada spbre a pausa final ( . ) , a medial diferentemente as vogais a bertas e as fechadas. Estas ( i, iJ-, y) se semivoca-
(,),,a exclamac;áo (/),os dois tipos de interrogac;áo (fe¡) (n. 160 ÜBs.). lizarn; aquelas (a, e, o) elidern o a inicial do sufixo:
A bertas Fechadas
PROCESSOS FO:NOLóGICOS iuk.á+ abo =iuká-bo apit·i+ abo =
apiti-abo
mbo-é + abo == nibo-é-bo mo-fni + abo = mo-pU-abo
1180. Foram estudados sob o título de Metaplasmos (Lic;ao 3.ª). mo-ndó + abo = mo-nd6-bo apy + abo =
apy-abo
A semivocalizac;ao pode dar-se também nos veribais (s)ara e (s)aba:
1181. Sao os seguintes os principais contactos possíveis apiti-sara, apiti-saba ou apiti-ara, api,ti-aba
( em composi~o, incorpora<;ao e deriva~ao), com as res- mo-p1,-sara, mo-j>u-saba ou mo-pu-ara, 1no-pu-aba
py-sara, py-saba ou py-ara, py-aba
pectivas modifica~óes:
418 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO
4. Nos contactos i + i, y + y,
y i, i + + y, pode-se inserir um ¡: O í pod'!-se nasalizar, antes de nasal :
akuti + =
y akuti-í-y rio da cotia i-i-ybó ou i-nh-ybó
siri + y = siri-i-y rio do siri 0Bs. - Nao há prefixos terminados em outras vogais fechadas {u, y),
nem temas acabados em vog.al átona.
1184. II. - Quando nema l .ª nema 2.ª vogais sao tónicas:
A) - Se ambas sao abertas (a, e, o): apócope da l.ª . D) - Se a 2.ª vogal é y, e em todos os demais
Quando a l.ª vogal é a, a apócope é obrigatória; quando é e ou o casos, há sempre hiato:
facultativa e pouco usual. Exceto se as duas vogais sao iguais (e e· o o) ; + + a + y = ay: a-y-ú bebo água, etc.
neste caso, é mais freqüente a apócope. •
+ ae ---
a a: ta + a-só = t' a-só que eu vá E.t"ce,ao. - O caso C).
+ ere-só = t' ere-só que tu vás
J
+ a
a + o
e:
o:
ta
ta + o-só = t' o-só que ele vá 1185 . III. - Quando só a l.ª vogal é tónica:
e + a -- a: íe + al~asó = t'-akasó partir
e + e e: ie + ekyi = i'-.ekyí expirar , A) - E 1n geral nao há hiato:
e + o -- o: ie + obá-'sab = i'-obá-'sab benzer-se t-atá-uru candieiro
o + a -- a= poro+ abyky = por-abyky trabalhar t-atá-endy chama
p)1á-iipiara fel
o + e -- e: poro + enoí = por-enoi chamar (gente) pindá-e-ityka pescar
o + o -- o: moro + oby = mor-oby azul ·B ) - Quando as duas vogais sao iguais, pode haver
- Quando a l.ª vogal é e ou o (rnédia), pode haver apócope com
ÜBS.
qualquer vogal seguinte: ¡•-upiºá-mo-mbor: pór óvo aférese da 2.ª:
Ex~efóes. - Os p~efixos e pronomes pessoais a-, ere-, o-, xe, nde, i, etc. e
os prehxos mo-, ro-, io- nao sofrem apócope. obá + asab == obá-'sab benzer
Casos como er-é, m'-oryb, r-ekó, r-ub, r-ilr, nao há muitos. ÜBS. - Quando a o ou 1t se j ustapóe a ou e (tónicos ou nao), pode inse·
rir-se um a ou gu eufónico:
B) - Se a 2. ª vogal é i: semivocalizac;ao: o-gu-ar: ele o toma
,. , : 1'!var
poro-gu-e-ra-so
o eté ou cgu-cté : seu corpo puar ou puguar: atar ; enrolar
a + i = aí: a-i-pysyk eu o apanhei
e + i = eí: e-i-pysyk apanha-o t u
o + i = oí: o-i-pysyk ele o apanha I
1186 . MONÓLOGO DE GUAIXARÁ (DIABO)
. Corno nao há temas acabados em vogal átona, nem prefixos
ÜBS. -
terminados em u ou y, faltam as ~ombina~oes u i, y i, etc. + + E A SAUDA~AO LACRIMOSA
P. JosÉ DE ANCHIETA (1534-1597)
C) - Se a 1.ª vogal é i, pode inserir-se um i antes GUAIXARA
,
da 2. ª vogal, mormente quando esta é i ou y: 6. Xe anho
1. X e -nioaji't maragattt co taba pupe aico
i + a = iia: ií-apó faze-lo; ii aeté é finíssimo; 111bi-i-ara ou xemoiroetecatuabo ,erecoaramo uitecobo.
mbi-ara cac;ado aipo tecopicarii. xereco rupi imoingobo,
i + i == iii : ii iní sua rede
.
aba 'era ogoeru que 'UJ ª'º tri.amo
i + y == iíy: ii-ybo f rechá-lo; ií ypy seu princípio; mbi-í-ybo xe reta11ta 1no1no.-riabo? a11io taba rapecobo.
frechado
420 LEM OS BARBOSA
rente intermediário; 4. 0 ) gera<;áo do parente; 5.º) idade menclatura diferirá se o primo ou prima forem filhos da irmá da mae,
do parente em rela~ao a do ego. da irma do pai, ou do irmáo da máe.
0Bs. - 1) Parentesco paralelo é aquele em que entram em j ógo dois irmaos
1.0 ) Sexo do ego: do mesmo sexo. Irmaos paralelos sao dois ou mais irmaos (varóes) ou
duas ou mais innas. Tios paralelos sao o tio paterno e a tia materna.
O hornero chama ao neto e a neta etni-minó; a mulher chama aos Primos par.alelos sao os filh(lS de dois irmaos homens ou de duas irmás.
Quando os irmaos sao de sexo diferente, há parentesco cruzado ; p. ex. tio
mesmos et.rii-ariro. O hornero chama a seu filho ayra e a sua filha materno: tia paterna: pritr>n ( ou nr\ma) filho ( ou fil ha) do irrnao da mae
aiyra; a mulher chama a ambos membyra. ·O hornero chama a seu ou da irrna do pai. - Os Tupis distinguiam o parentesco paralelo do cruzado.
irmao mais velho ykeyra e ao mais moc;o ybyra; a mulher chama a Nao se pode contesta r, porém, que davam certa enfase ao parentesco paralelo
ambos kybyra. ·o hornero chama a sua irmá, tanto a mais velha com intermediário masculino, - de acordo com a sua concepc;ao de que s6
o homem era verdadeiro progenitor, e nao a mulher, mero r eceptáculo do
con;o a mais mo~a, endyra; a mulher chama a mais velha yktra, a ~érmen masculino. E ssa distinc;ao é importante no casamento. O tio paterno
ma1s mo~a pykyyra. Etc. ( uba) substituí o irmño falecido, casando-se com a viúva. Em nenhuma
hioótese se casa com a filha dP ~"'U irmao. a <me t~mhém chama "fitha"
0Bs. - Na linha reta ascendente, nao há diferencia.;ao baseada no sexo
do ego. aiyra. Já o tio mc:t.terno (tutyra) é o candidato natural a filha de sua inna
ou prima (ietifnra) , podendo inclusive dispor dela e cede-la a outrem. E
2. 0
) Sexo do parente:
- deve ser ouvido a respeito de sPu casamento. Em ca.so cie orf andade, tem o
dever de desposá-la. Em segundo plano, vem os seus irmaos mais mo.;os,
os filhos <lestes e os outros parentes cruzados.
O homem chama seu filho ayra e a sua filha aiyra (mas a mulher 2) Tio paralelo = pai: tia p.= máe ; sobrinho p. = filho; sobrinha
chama membyra tanto ao filho como a filha). Tanto o hornero como p. == filha ; primo p. = innao ; prima p.= irmá.
a mulher chamam a seu pai uba e a sua má.e sy. O homem e a 4. 0 ) Gera<;áo do parente:
mulher chamam a seu avo amúia e a sua avó aryia (mas o avo O homem chama a'Vra a seu filho, ao filho <lo irmao e ao filho
chama tanto ao neto como a neta emi-minó, e a avó chama tanto do primo (este, filho do tio paterno)' e aivra a sua filha, a filha
ao neto como a neta emi-ariro). Etc. de seu irmao e ao filho do primo (este, fitho do tio oaterno); a
mulher chama 1nembvra ao seu filho ou sua filha e ao f ilho ou filha
3.0 ) Sexo do parente intermediário: de sua irma ou de sua prima. o homen1 e a mulher chamam uba
O hornero e a mulher chamam ao irmao ou primo de seu pai com a seu pai e ªº
irmao ou primo do pai. e sy a sua mae e a irma ou
o mesmo nome de pai uba; e a irnlá ou prima de sua máe com o prima da máe. O homem chama emi-min6 a seu neto ou neta e aos
mesmo nome de máe sy ( ou syyra). Vice-versa, o homem chama ao t1etos ou netas de seu irmáo, ou primo. A mulher chama emi-ariró
filho ou filha de seu irmao com o mesmo nome de filho ou filha a seu neto ou neta e aos netos ou netas de sua irn1a ou prima. O
ayra ou aiyra. Ao passo que tanto o homem como a mulher cha- homem e a mulher chama ary1a a c.ua avó (paterna) e a irma ou
mam a irma de seu pai aixé e ao irmao de sua máe tutyra. Igual- prima tanto cto avo como da avó.
mente, 9 homem chama ao primo mais mo~o ( filho do irmáo do
pai) com o mesmo nome de irmao mais n10<;0 ybyra; ao primo mais 5.0 ) Idade do parente, em rela~ao a do ego:
velho ( filho do irmao do pai) com o mesmo nome de irmáo mais O homem chama vkevra a seu irn1ao ou primo ( filho do tio
velho ykeyra; a prima (filha do irmáo do pai) com o mesmo nome paterno) mais velhos ciue -ele: '\lb'\ira ªº irmao ou nrimo ( filho do
de irma endyra. Assim também, a mulher chama a seu primo ( filho tio paterno) mais m<><;OS que ele ; endyra a irma OU prima ( filha do tio
do. i~áo do pai) com o mesmo nome de irmao ky byra; a prima de paterno). A mulher chama kybvra a seu irmao ou primo ( filho
~ais 1dade com o nome de irmá mais velha ykera, e a de menor do tio paterno) = ykera a sua irma ou prima <l~ maior idade que ela;
tdade com o mesmo nome de irmá mais mo<;a pykyyra. A no- pykyyra a sua irmá ou prima de menos ida.de que ela; pykyyra a
sua irmá ou prima de menos idade que cla.
CURSO DE TUPI ANTIGO 425
424 LEMOS BARBOSA
Oss. - Dentro do respectivo sexo, havia urna gera~áo entre a do ego CONSANGüINIDADE
e a dos pais, e mais urna entre a do ega e a dos filhos, i. é, a gera~o
dos irmaos mais velhos (para o homem) ou das irmás mais velhas (para
a mulher) e a gera<;áo dos irmaos mais mo<;os (para o homem) · ou das EGO HOMEM OU EGO MULHER
hmás mais m~ (para a mulher). Nao havia diferencia~áo lingüística, ba- EGO HOMEM MULHER
1eada na idade, quando os irmáos eram de sexo diferente. O que se explica:
o comportamento de qualquer irmáo para com a irmá (e vice-versa) era o amüia 1 (t): avo
(pa-
mesmo, independentemente da idade. Todos os irmáos tinham grande auto- terno e materno) ;
ridade sobre as irmas. irmáo ou primo do
avo ou da avó
T.SRMOS GERAIS DE PARENTESCO aryia: avó (paterna e
materna) ; irmá ou
1189. prima da avó ou do
A
esposa esposo
membyr-ar "dar a luz"), por outro, amyia (mino, allás minó) e aryw (ariró).
I
LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 429
-v:ei:_d"
e , t em~s k yra ". gente nova, cnan~a,
. garoto" (VLB 403). Em compo- O elemento yra é nítido nos casos de sy-yra e td>-yro. Quase isolado,
st~a~ com ai e ;iasaltz~do: kyn-ai; por aférese n-ai. Ky-í seria diminutivo. figura em iyra, nome vago de vários parentescos cruzados do homem : tio,
H1pote~es1 que ~ao exphcam por que esses termos se reservam ao ego mulher. sobrinho, primo. O i inicial poderia ser o prefixo da 3.ª p. - que de fato
11. taupe, tape:. ANCHIET~ distingue " senhora" taupé (ego h.) e tapé nao se repete antes de iyra (n. 253) - nao fósse a existencia das formas
! ego m. ),; VLB ~gnor~ ,tapeA: .refere-se a taupé no sentido de "mana" e de xe r-iyra, nde r-iyra, etc. A solu~ao talvez dependa do modo de encarar a
senhora . - 12., it6, tito, guait6: nao sabemos se se aplicavam a sobrinha origem do r-. Se é vestígio de urna preposi~ao, como rí ( n. 238 Obs.), ternos
paterna. Nao e provável.
xe rí yra, "minha parte", "meu parente", lit. "parte referente a mim" (há
exemplos de línguas que pedem o possessivo regido de preposi~ao).
1193. Os nomes de parentesc?, em g~r.al arcaicos, sao de difícil decomposi~o,
me~~o porque aludem a conce1tos soc1a1s que nao nos f oram transmitidos com Tem-se a impressáo que yra devia significar algo como "parte,
suficiente clareza.
porc;áo, · fragmento, complemento, acompanhamento", etc. :
xe sy-yra "parte ou pedac;;o de minha máe'' (==tia); xe r-yké-yra "parte
1194. Observe-se que alguns deles apresentam flagrantes do meu lado" ( =trmao,
. • etc. ma1s. velhos ) . A yra, a1em
' de " semen
• " e " f'lh
1 o" ,
rela<;óes com nomes de partes do corpo humano. significa "cousa pequena ou tenra' ' (MoNTOYA, Tes. 351/345; VLB 297, 344).
M embyra, a pesar de certa dificuldade fonética, <leve provir de men (a) e yra
GABRIEL ~OARES 370 já anotara que, pa ra os tupis o filho sai "dos "parte do marido", consoante o conceito tupi de que só o pai tem parte efetiva
lombos do pa1". Asyll-uera "irmáo, irma" literalmente ;ignifica "o que fot' no filho. Mais incerta é a decomposi~áo de ayra. Sem querer lembrar á
peda o" X
~ · e a' " mm
· h a g l an d e" em sentido figurado é " meu irrnáo" ( CAs- "glande" - pois á nao leva pref ixos de classe - observe-se que todos os nomes
TILHO" 27; VL~ 287; cfr. MARC.GRAVE 277). MoNTOYA, entre· outras tradu~6es de partes sexuais, tanto do homem como da mulher, comei;am por a- e levam
!';ira parente serve-se de derivados de i'-aok "separar-se, dividir-se": xe i prefixo de classe, excetuados precisamente os .compostos de á. .
':ªº~-~f;aera (Tes. 182v. a?): "eu sou parente dele''; xe r-u' i'-aok-ag-ué' nde Assim, iyra seria a "parte" ou "parente" no seu sentido mais
(ib.) .. es meu parent: prox1mo, por parte de meu pai". Cfr. ib. 401v./395v.
LÉRY mfo!'f11a que hav1~ o costume delicado do chamar os outros por nomes vago e distante - coincidindo exatamente com o parentesco cruzado,
" . " mmha ,,Perna" , " meus olhos", "mmha
como · orelha", etc. Xenambi, lit. o menos importante - em confronto com os parentescos mais pró-
m1nha orelha era o ~orne do filho de um principal de Tapuitapera _ ximos, relacionados com as partes do carpo.
refere EVREux 349. '
(
'
432 LEMOS BARBOS.o\
CURSO DE TUPI ANTIGO 433
A A • A
coara goemimotareima rupi omomendarucareme. N omendari: emo-
na teco aroera2, yaipeá. O padrinho ou madrinha da pia náo pode casar com seu afilhado ou
afilhada, nem com seu pai e máe.
O que casa com medo da morte ou de algum grave e ruim tratamento
ou cont~a s.ua vontade, ~or f azer a do pai, mae ou parente, que 0 f ~ 10. Ocibápe yandi caraiba rafára rerafoára ndeicatui cece
casar, nao fica casado: ha-se de apartar. omenda. Tuba yxírecé tiruá.
A !. C1:"n'~· reroyabaparc: ce!11'in:otareíma rupi, cece menda po- O padrinho da crisma náo pode casar com a sua afilhada, nem com
ta!ihe, ndei~atd-i cece ornenda, nti1nbape cereco pucui, cmpo ceroyebi- seu pai nem máe.
reima pucui.
11. Tiaiucá xemena, coipo ~eremireco, coipo tiaiucaucar, aere-
O que furto;i alguma mulher, contra a sua vontade, com intenc;áo de me tiatntndar yande yoece, eyara oména, coipo goemirecó iucareme,
casar com ela, nao pode com eta casar, enquanto assim a tiver e a n-ao res- coipo ynheengarupi amó aba yii.:caroire, ndeicati~í oyoécé omenda:
tituir.
noico yxoe yepe, oyoece, aypo teco angoa1na8 rece onhemong-eta
?men1aragoera.. recoberemebe, ndeicatui omenda amoae rece
4. eímebe, coipo aéroire.
coepe ceo agoerarerapoaneme Abare cerecoara aé tececocuab. •
Os que se concertaratn para matar ou mandar matar a mulher ou marido de
Nenhum dos casados pode tornar a casar, enquanto o out ro f or vivo
· ; um deles mesmos, seguindo-se a morte, nao podem casar um com o outro,
correndo f arna de sua morte, o cura fará seu ofício. ainda que nao houvesse cópula precedente ou subseqüente ªº
tal . concerto.
. S. ,.O~ii~a,_ coifo omem~ir~ goenidmonhanga rece, aba nomen- 12. Mendara ymongaraibipf,reíma tiajucá xeména, coipó, xe-
dari, goeniunino coipo goemiariro ame yeapicárece ndeicatui abá ren1ireco coipo tiaiucaucar; aere1ne tanheniongaraibitcáne, nde rece
omenda. xemenda yanonde ymongaraibipíra fupee, jára9 ntlcicatui cece omen-
da, yiucapiroeramo cecoroire, ndoi coixoe yepe oyoécé aypo teco
O pai ou máe carnal náo pode casar com algurn filho ou f ilha,
ou neta, ou descendente seu. neto agoáma rece onhemong-eta eíniebe, coipo ae roire.
q·. A?endirG¡
oquibir'!,,. oacícoera rece ndeicatui aba omenda:
4
O mesmo impedimento para com o gentío ou gentia, infiel, que, por se
converter e asar com algum fiel, se concertou com ele para a morte do marido
raruabibe oendira , oquibira 5, oacicoera ra-niinionhanga rece aba ou mulher, seguindo-se a tal morte, nao poderao casar um com o outro, ainda
mendara, oyo irunundic6 yeapica cicape. que nao houves.se cópula, · etc.
Nao pode urna pessoa casar com seu irmao nem com algum descendente 13. Oména, coipo go·én1irecó jucá,ara coipo yjucáucafata10,
no quarto grau. '
tamendáne nderece, oyo oce obic-bae fupe opiapenhote tirua ejara,
7;,., N de!catubei !íbira, tiquera piquiira poromonhanga oyoaira, ymo1nburuaba yiucapiroeramo ceéormre, ndeicat1ti oyoece o~endá.
º.?'~ aiira r~ce ?m~nda: anga poromonhanga abe oyoirundic1 yeapica Ndoicuabi%oe yepe cece obicbae poeta11, coipo oyoece tecoároéra,
cicape} ndeicatubei omenda} oyo ece. • , . A•' A • • '
omena, coipo goe1nireco 1u·cafaroera11-10, coipo 7uca vcafaroeramo
"'
. • Nao ~cm casar os primos ou primas com irmao (sic) filhos de irmaos ou etco.
trmas. ate o quarto grau.
O ca!lado que matou ou fez matar a m11lher ou marido, para se casar
8. Oporóerocbaépoera ndeicatui omendit goémierócoera rece, com o que foi seu cúmplice no adultério, nao pode casar com ele, ainda que
oatoacaba y xi, coipo Tuba recébe. o tal cúmplice nao soubesse nem desse consentimento para a tal morte.
O que batizou nao pode casar com o por ele batizado, nem corn seu 14. M endara oyo ece obicbae poera fupe xemena, coipo xere-
pai ou máe.
mireco reore, túhnendar yande yoece, eibae, ceonhe roire, ndeicatui
~ · A~are, cofpo anio aba piri morerocaroéra, ndeicátui omenda cece omenda.
goemierocoera rece} Tuba, coipo y xi rece tirua ndeicatui. O casado que, depois do adultério, prometeu ao cúmplice de casar com éle
depois da marte de seu ll'!arido ou mulher. nao pode casar com o tal cúmplice.
I
' CURSO DE TUPI ANTIGO 435
434 LEMOS BARBOSA
·O desposado que dormiu com a irmá ou mae de sua esposa, nao pode
15. M endara omenda~aba rece oicóeimebe; y xui amo rece casar nem com a esposa nem com a mae ou irmá ou parenta no quarto
omenda ymenda yebira na. mendara rua; yméda mocoya, recé ibic- grau.
·ire e: omanótenhenw y médaripíagoera, ndcicat1ti omenda omenda 22. Mbiattfubeínia nibiaurubeté rece omendaribae, 1niaitfubei-
nwcoi agoéra rece. -m.a co oyabaupa nomédari, yaipedmhe aypobae amó rece ymomenda.
O casado que, antes de consumar o matrimonio, se casou e consumou O f órro que casa com a escrava, ou viceversa, cuidando que é f órra, nao
com outra, nem aind.a depois da morte da primeira pode casar com a segunda. fica casado; apartamos aos tais, e casamo-los com outras.
. Omendá tenhé reroc-ipira12 ceroc-ipirevma rece: ymenda
16. 23. Ogoereíma ·pupe oyabe cereíma rece omédarire aba amJ
rire y aipeanhé cenonhenetebo, emonii ceco agoera rece. reó eíma pucui ndeicatui anioaérece onienda Tupa ocupe tiru·a.
• 1
Em vao é o casamento do cristao com o que nao o é : háo de ser aparta- O que, sendo gentio, casou com outro tal, nao pode casar com outro
dos, e o cristao castigado. enquanto um deles fór vivo.
17.
Oyoece omendara.goama rece nhemong-etl1,ara Tupa, coipo 24. Apía.ba cunha 'Yece oéco o,aag yepébae ndeicatuí 01nenda
oanga, coipo Cruz, coipo anhete renóya ndeicahti aeroiré amo ae oméda rire, oyepeanhe.
rece omendá, nobic-ixoeyepe oyo écé. O impotente nao pode casar; se casar, há;-se de apartar.
Os que prometeram ou juraram de casar um com o ontro, nao podem Catecismo (l.ª ed.), pp. 128-13lv.
casar com outro.
A 2.ª ed. (1686), além do progresso da ortografía, da pontua~ao e da
18. Omeengabeté reónetJte aba ndeicatui 01nenda yacicoeraamo divisao das palavras, e do acréscimo de um impedimento (o de idade), apresenta
rece. as seguintes altera~óes textuais (pp. 277-281) :
Ne!1hum dos esposados pode casar com o irmao ott irm:í carnal do esp0so 1. oanameté. 2. tecoara. 3. Iabaíbibé. 4. okybyra. S. oendyra. 6. oioirundyc.
ou esposa que rnorreu. 7. oieirundyc. 8. agoá:ma. 9. ,upé eiara. 10. iiucaüca,ara. 11. poera. 12.
cerokipyra. 13. anámeté.
19. M endara oyoecé obic eimebe, amó reo neme, opitabae ndei-
catui omenda omenda(abambíra acicoera amo rece: nvoece obíc-iré, BIBLIOGRAFIA
amo reóneme ndeicatui opitabae poera muete13, taira, taiira, ceniiariró,
cemimin6, yeapica oyoirundic cicape. ANCHIETA, Cartas 448-456; ARAÚJO 267-274; ID., l.ª ed. 113-117;
THEVET La Cosmographie 129-130 (l.ª ed., 932-932v); SoARES DE SousA
Morto urn dos casados, antes do matrirnónio consumc.Óu, nao porle o 367-368 ~ 374-375; EvREUX 139-143; MARCGRAVE 276; MoNTOYA, Catecismo
outro casar com nenhum dos irrnaos ou irmas do morto: se depois ~..... n-,atri- 318-329; GARCIA 179-189 j DRUMOND, Designativos 328-354; PHILIPSON 7-31;
monio consumado, nao pode casar com o parente do morto dentr', do Quarto In., O parentesco 7-17; ..WAGLEY e GALVAO 1-24; In., O parentesco 305-308¡
grau. FERNANDES 129-220.
28 ,
438 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 439
"copo dágua", " feixe de len ha", " um pouco de ar", etc. Se a " massa" "massa", como "temporada" ("tempo das águas", etc.), "dia", "pa-
se compóe de unidade indivisíveis como tais (p. ex. feijao, integrado por graos;
cabelo, integrado por .fios, etc.), o primeiro termo dessas locui;óes será o norama", etc. O "tempo-espa<;o" nao é, porém, segmentado em anos,
nome da unidade (grao de feijao; fio de cabelo). Se a "massa" é homogenea· horas, metros, etc.
( água, carne, ar, eoc.), o primeiro termo pode ser um nome de "parte" ou
"continente" ou " medida" e a massa figurará como " todo" ou como " con-
teúdo": "peda<;o de carne", "punhado de farinha", "litro de leite", etc. 1204. A noc;ao de "ano" nao é nativa.
Por üm processo análogo, formam-se expressóes como : " um pouco de espai;o",
"um metro de largura", "um instante de tempo", etc. Os missionários aproveitaram-se de conceitos conexos, como a
Em tupi, como ein geral nas línguas indígenas, os nomes de volta do "inverno" ou "frio" roy (tupi meridional e guarani), a
"massas" significavam também, de per si, as partes delimitadas, sem colheita do "caju" akaíu (tupi setentrional), o aparecimento das
necessidade de recorrer aquelas locu<;óes formais. Y significa "Pleiades", Seixu (tupi meridional e setentrional). É claro, porém,
"água" em concreto, tanto a "fonte", como o "rio", a "lagoa", o que os índios náo tinham no<;áo do ano solar. Conheciam os feno-
"mar" e a "vazi.lha dágua". Abati tanto significa "milho" como menos periódicos do ano, •como as esta~óes, as quadras de plantío e
"grao de tpilho". Aba tanto abrange "caibelo", i. é, "cabeleira", colheita, mas nao seccionavam o tempo a base delas.
como "fio de cabelo". Uí "farinha" e "grao de ·farinlia". Ignoram-
-se expressóes como "copq dágua", "vazilha de farin:ha", etc. HANS STADEN 102, 157 refere-se duas vezes a pirá-kaé "peixe-seco":
i. é, a época da seca do peixe, quando o parati., saindo do mar. sobe os rios
Existiriam expressóes como "peda~o da carne", "feixe de lenha", "cesto para a desova. o que acontece no fim do inverno. ü acontecirnento é esperado
de frutas", "grao de milho", no seu sentido literal e descritivo. nao como com preparativos vários e marca o tempo de expedi1;6es de pesca e guerra.
partitivos.
ÜBS. Ve-se que, para os tunis. o tempo está concretizado em aconteci-
mentos, a dif eren~a dos nossos hábitos de regular os acontecimentoc; e agenda
TEMPO E ESPA<;O por urna prévia divisao do tempo.
1202. Nossas línguas costumam objetivar e substantivar n~óes mais ou O Dicionário Brasiliano e Portugues 158 informa:
menos abstratas ou acidentais como tempo, espa~o, distancia, dire~ao, f ór~a,
inércia, tamanho, época, etc., equiparando-as gramaticalmente aos outros no- "A cajú-roy{l - o ano. Como esta árvore só dá urna vez fruto
mes de seres concretos ou independentes. N ornes como " primavera" podem ao ano, contra o costume das outras que dao sempre ou repetem,
ser sujeito e objeto de afirma~ao. Dizemos: "a primavera chegou", "aprecio rnoveu os indios a contarem a sua idade pelos caro<;os que todos os
o verao'", " o inverno é f rio", .como diríamos " o barco chegou", "aprecio o
orador", "o gelo é frío". Dizemos: "a distorsao da 13.mina causou a ruptura anos se colhem e guardam, com muito cuidado, em um oequeno cesto
da al~a", como quem diria "o boi derribou o toureiro". Contamos meses e 1eito para este fim, onde cada ano lancam urna castanha. Também
anos, días e horas, metros e léguas, como se fóssem seres indivíduos. O tempo contam o ano pela constela(áo das Pleiades. Veja-se a palavra
e o espa~o nos aparecem lingüísticamente como urna '' massa" indelimitada, Ceixu. Como talvez os de agora nao contero a sua idade com os
que preenche o vácuo do nada anterior e posterior ao movimento e para lá
da últim,a realidade material; massa que se compóe de dias, horas, metros, caro<;os, bem será que se fale em pretérito."
quilómetros. Mas a informadi.o, já de si duvidosa, reflete influencia européia, visível
no cuidado de "contar os anos de vida".
1203. Em tupi, a palavra ara abarca confusamente nossas
noc;óes de "tempo, temporada, quadra, dia; sol; luz (solar) ; 1205. A idéia de "mes" tinha um sucedaneo muito pr'óximo
mundo, espac;o; entendimento, juízo". em wsy "lua".
Ara é o tempo-espac;o real, nao parecendo estender-se ao imagi- A peridiocidade rigorosa das íases lunares nao podia passar despercebida.
Entretanto, nenhum nome corresponde a nossa "semana". seja como parte
nário. Aplica-se também as partes ou delin1ita~óes do tempo-espa'iO do mes, seja como conjunto de sete dias.
'
CURSO DE TUPI ANTIGO 441
440 LEMOS BARBOSA
que fósse tomada como parte deles pelos colonos. Eis por que inúmeros
1206. Ara "dia" nao abrangia a noite, mas apenas o lapso nomes geográficos brasileiros a trazem incorporada: Acarape, Ara,uaípe,
Aratuípe, Canípe, C.otegipe, G11ararape, lgiwguaf1tpe, lguape, lnhambupe, ltaí-
de tempo entre o nascer e o pór do sol. pé, ltapagipe, Jacuípe, Jagrtaripe, Mamanguape, Manguape, Mapendipe, Mara-
caípe, Maragogípe, Maranguape, Meguaípe, Meruípe, Mucwripe, Sergipe, Sua-
Ara também significava "sol" (VLB 203), tanto quanto kó-ara fupe, etc., além dos casos em que houve abrandamento do p: Beberibe, Cama-
ou kuara "este dia" (VLB 305, 346). A seqüencia de acce~s ragibe, Capiberibe, Jaguaribe, Peruíbe, Piragibe, Pirangibe, etc.
parece ser : dia, luz (do dia)' sol, tempo, mundo ( visível a luz do
dia), espa~o; luz mental ( com que vejo ou entendo o mundo), juízo, 1211. Para referir as causas no tem¡x>, a falta de maior precisao
entendimento. lingüística, deviam servir aos tupis os mesmos recursos usados pelos
atuais tapirapés, que falam um co-dialeto puro :
A no~ao ind~gena de "mu~d?" era modesta, de acórdo com a limita~ao •• Como nao somente as computa<;óes, mas também as denomina<;oes diretas
dos. s:us conhec1mentos ~eograficos. Mas os documentos afirmam que os do tempo nunca deixam de ser abstratas, convém a mentalidade dos Tapirapé
tupis b!lham grande conhec1mento do sertáo ,e até avan~adas no~5es corográficas. usar, principalmente, designa<;óes indiretas baseando em fenómenos concretos
-A Ex1stem os. nomes do_ "o~iente" kúa:a(sy) senib-aba, e do "poente" a indica<;ño de termos passados e futuros. Assim marcam. o tempo do dia,
kuara(sy) r-e-iké-aba. Nao ha os conce1tos de "norte" e "sul". estendendo a mao em dire<;ao a posi-;ao que o sol ocupava ou ocupará no
' momento em questao [ ... ] Se acontecimentos se deram há semanas ou
i2o7. É inútil acrescentar que nao se distinguiam segmen- meses, os tapirapé os determinam cronologicamente, demonstrando com a
mio o grau do desenvolvirnento de certas plantas nas épocas em questao, por
tos menores de tempo, como "hora", "minuto", etc. exemplo, a altura do milho ou da cana de a<;úcar. Tendo passado já anos, o
' narrador tapirapé estende a mao na altura que certa pessoa tinha alcan<;ado
Assinalavam-se certas fases características do dia ou da noite, naquele tempo, sendo esta pessoa, em geral, o próprio narrador, quando sua
como a manhá, a tarde, o meio-dia, etc., baseando-se nos fenómenos idade o habilita para tal demonstra~o. Se ele tem cerca de cinqüenta anos,
visíveis, tal como ficou <lito do ano. Mas essas fases nao dividiam tendo deixado de crescer, por isso, há decenios, mas queira indicar um termo
passado há cinco anos, servir-lhe-á urna crian<;a de cinco anos para cima.''
o dia em partes; apenas acentuavam os seus momentos mais ( BALDUS 93) .
perspícuos. . , , ,
Para caracterizar a in1precisáo lingüística do tempo em tupi,
baste lembrar que as palavras ki"tesé "ontem" e oirandé "amanhá"
1208. Pode-se dizer que o tupi náo objetiva tanto o tempo, podem ser empregadas vagamente no sentido de "há tempo" e "fu-
.quanto as cousas no tempo. turamente". Há, em cambio, a distinc;ao entre oíeí "hoje (passa-
do)" e kori ou kuri "hoje (futuro)". Mas este aparece na lo-
O tempo, é mais adjuntivo do que substantivo. Exprime-se menos por
nomes do que por partícElas "t~mporais'' ou por sufixos adjuntivos. como cuc;ao kori koe-me "amanha de manhá", lit. "boje (futuro) de
.rabQ (n. 799). O mesmo vale do espac;o e lugar, que figuram de preferencia manhá".
como "1.ocativos".
BIBLIOGRAFIA
1209. Nao parece que e111 legítimo tupi se concretizassem nomes de
lugar a ponto de usá-los como sujeito e objeto de orac;áo. Frases BALDUS 87-94; NIDA passim; HoIJER 554-573.
como "Reritiba é formosa", "Gosto de Reritiba", nao sáo de feitio
nativo. Os nomes de lugares aparecem também, mais como adjun-
tivos: "Estou em Reritiba", "Vou para Piratininga", "Venho de
Jaguari", etc.
1210.• -Pelo seu próprio sentido, corresponciente a "em"' "a", "para" t a
preposu;ao -P~ acompanha f reqüentemente os topónimos. O que contribuiu para
\
:blioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, pp. 1-90 (Rio cional do Rio de Janeiro. Imprensa Nacional ( Rio de Ja-
de Janeiro, 1879). neiro, 1933).
- Apontamentos sobre o Abañeenga, também chamado - Auto representado na festa de Sao Louren,o. Pesa
guarani ou tupi ou Língua Geral dos Brasis. Primeiro Opús- trilingüe do séc. XVI, transcrita, comentada e traduzida, na
culo: Prolegómeno. Ortografía e pros6dia. Metaplasmos. parte tupi, por M. de L. de Paula Martins. Museu Paulista.
Advertencia com um extrato de Laet. In Ensaios de Ciencia. Documeqtac;ao Lingüística, 1. Boletim 1. Ano I (Sao Pau·
Marc;o, F. I. Brow .& Evaristo, Editores (Rio de Janeiro lo, 1948).
1876). , - Cartas, lnformaroes, Fragmentos Hist6ricos e Ser-
- Ideni. Segundo Opúsculo: O Diálogo de Léry. moes. Publicac;ao da Academia Brasileira de Letras. Li-
Nota preliminar. O diálogo. Explana,oes. In Ensaios vraria Civiliza~ao Brasileira, S. A. (Rio de Janeiro, 1933). '
de Ciencia. Julho. F. II. Brown & Evaristo, Editores - Poesías Tupis. Vide PAULA MARTINS.
(Rio de Janeiro, 1876).
ANÓNIMO - Vocabulário na Língua Brasílica. Manuscrito portu-
gues-tupi do século XVII coordenado e prefaciado por Plinio
(*) N~ ':orp~ da ~bra ou na bibliografía de cada Lii;ao, citado algum
autor ~em mdtcai;ao da obra, entenda-se ser a que vem em primeiro lugar Ayrosa. Colec;ao do Departamento de Cultura, vol. XX (Sao
nesta lista. Paulo, 1938).
444 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIG-0 445
ARAÚJO (ANTONIO DE) - Catecismo Brasílico da Doutrina Crista. - Diferenfas Fonéticas entre o tupi e o guaraní. In
Ed. fac-similar de ?úlio Platzmann. B. G. Teubner (Leipzig, Arqui.vos do ~1useu Paranaense, vol. IV ( Curitiba, 1945),
1898). pp. 33~-354.
- Catecisnw na Lingua Brasüica. Reprodu~ao fac-si- - A categoría da voz em Tiipi. In Logos, ano II, n.0 6
milar da l.ª edi~ao (1618), com apresentac;ao pelo Pe. A. ( Curitiba, 1947), pp. 50-53.
Lemos Barbosa. Pontifícia Universidade Católica do Rio de - A reduplicarao em Tupi. In Gazeta do Povo (Curi-
Janeiro (Rio, 1952). tiba, 31-III-1950).
ARRONCHES (JoA.o DE) - O Caderno da Língw ou Vocabulário - Esbófo de uma Introdufao ao estudo da L·íngua Tupi.
Portugues-Tupi. Notas e comentários a margem de um tna- In Logos, ano VI, n.0 13 ( Curitiba, 1951), pp. 43-58.
nuscrito do século XVIII por Plínio Ayrosa. Imprensa Ofi- - A coniposifao eni Tupi. In Logos, ano VI, n.0 14
cial do Estado (Sao Paulo, 1935). ( Curitiba, 1951), pp. 63-70.
BALDUS (HERBERT) - O conceito do tenipo entre os indios do Bra- DRUMOND (CARLOS) - Notas gerais sóbre a ocorrencia da partícula
sil. In Revista do Arquivo Municipal de Sao Paulo, vol. tyb, do tupi-guaraní, na toponimia brasileira. In Boletim
LXXXI (Sáo Paulo, 1949), pp. 87-94. XLVI da Faculdade de Filosof ia, Ciencias e Letras (Sao
Paulo, 1944), pp. 55-76.
BARBOSA RODRIGUES (JoÁo) - Poranduba Amazonensc (Kochiyma-
- Designativos de parentesco em língua Tupi. In Anai.s
uára porandúb). In Anais da Biblioteca Nacional do Rio de
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. LXIV (Rio,
Janeiro, vol. XIV (1886-1887) fascículo n.0 2 (Rio de Ja"'-
1942)' pp. 179-189.
neiro, 1890).
EcKART (ANSELMO) - S pecimen linguae bra-silicae vulgaris. Ed.
- Vocabulário indígena comparado, para mostrar a ·adul- Júlio Platzmann. B. G. Teubner (Leipzig, 1890).
ttrafao da língu.a. (Complemento do Poranduba amazo- EnELWEISS (FREDERICO G.) - Tupis e Guaranis. Estudos de etno-
nense). In Anais da Biblioteca Nacional do Río de J aneiro, nímia e lingüística. Publica~oes do Museu da Babia - n.0 7
vol. XV, 2.0 fasckulo (Rio de Janeiro, 1892). (Babia, 1947).
BETTENOORFF (JoÁo FELIPE) - Compendio da Doutrina Crista na EVREUX (IvEs n') - Viagem ao Norte do Brasil. Traduc;ao do
lingua portuguesa e brasilica. Miguel Deslandes (Lisboa, Dr. César Augusto Marques (Rio de Janeiro, 1929).
1678). FERNANDES (FLORESTAN) - A organiza,a.o social dos Tupinambá.
CABALLERO (R. V.) - Contribution a la connaissance de la phoné- Instituto Progresso Editorial (Sao Paulo, 1948).
tique guaraní. 1n Revue de Phonétique, t. I, fase. 2 ( Paris, FERREIRA FRAN<;A (ERNESTO) - Crestomatía da Língua Brasílica
1911), pp. 138-162. (Lejpzig, 1859).
CARDIM . (FERNAO) - Tratados da terra e gente do Brasil. · J. Leite FrGUEIRA (Luís) - Arte de graniática da língua brasílica. Mi-
& Cia. (Rio . d-e Janeiro, 1925). guel Deslandes (Lisboa, 1687). Ed. de Julio Platzmann, sob
CASTILHO (PERO DE) - Os Nomes das partes do corpo hii1nano o título: Gramática da lingua do Brasil. B. G. Teubner
pela língua do Brasil. Edi~·ao de Plínio Ayrosa. Revista dos (Leipzig, 1878).
Tribunais (Sao Paulo, 1937). - Arte da lingua brasílica. Manuel da Silva (Lisboa,
DALL' IGNA RODRIGUES (ARioN) - Análise morfológica de UtrJ 1621).
texto tupi. In Logos, ano VII, n. 0 15. Tip. Joáo Haupt HoIJER (HARRY) - The Relation of Language to Ci1lture. In
& Cia. Ltda. ( Curitiba, 1952), pp. 55-57. Anthropology Today ( Chicago, 1953), pp. 554-573.
I
LEMos BARBOSA (A.) - Pequeno Vocabulário Tupi-Portugués. vertido para guarani por outro padre jesuíta, e agora publi-
Livraria Sáo José (Rio, 1951). cado com a tradit,ao portuguesa, notas e um esbo,o gramati-
- Juká - o paradigma da conjuga,ao tupi. Estudo cal do "A bañeén. Anais da Biblioteca N acion.al do Río de
etimológico-gramatical. In Revista Filológica, ano II, n.0 12 Janeiro, vol. VI (Rio de Janeiro, 1879).
(Rio, 1941), pp. 74-84. MoRÍNIGO (MARCOS A.) - Hispanismos en el guaraní. Facultad
- Os índices de classe no tupi. In O Estado de S. Paulo
de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires.
(25-VIII-4-0). Instituto de Filológía. Colección de Estudios Indigenistas. I.
(Buenos Aires, 1931).
- Nova categoria gramatical, tupi. In Verbu111, t. IV,
fase. 2, junho (Rio, 1947), pp. 67-74. NmA (EUGENE A.) - Bible translating (N. York, 1947).
- Traduroes de poesias tapis. - In Revista do Arquivo PAULA MARTINS (M. DE L.) - Poesias Tupis (Século XVI). Bo-
Municipal, vol. 128 (Sao Paulo, 1949), pp. 27-44. letim LI da Faculdade de Filosofía e Letras da Universidade
de S. Paulo. Etnografia e Língua Tupi-Guarani. N.0 3
- O "Voca.bulário na Lingua Brasílica". Ministério da (Sao Paulo, 1941).
Ed'ucac;ao e Saúde. Servi<;o de Documentac;ao. Imprensa
Nacional (Rio, 1948). PHILIPSON (J) - Nota sobre a interpreta,ao sociológica de alguns
designativos de parentesco do tupi-guaraní. Boletim LVI da
LÉRY (JEAN DE) - Viagem a terra do Brasil. Biblioteca Histórica Faculdade de Filosofía, Ciencias e Letras da Universidade de
Brasileira, VII, Livraria Martins (Sao Paulo, 1941). Sao Paulo. Etnografía e Língua Tupi-Guaraní.. N.0 9 (Sáo
Paulo, 1946).
Lowm (RoBERT H.) - Relationship terms. In Encyclopaedia Bri- - "O parent1sco tupi-guarani". Boletim LXIII da Fa-
tannica. 14.ª ed., vol. XIX, p. 84 ss. culdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universidade de
MARCGRAVE (JoRGE) - História Natural <f,o Brasil. Traduc;ao de Sao Paulo. Etnografía e Língua Tupi-Guaraní, N.0 11 (Sao
Mons. Dr. José Procópio de Magalháes. lmprensa Oficial do Paulo, 1946). ·
.
Estado (Sao Paulo, 1942). RESTIVO (PAULO) - Arte de la lengua guarani. E. de C. F.
Seybold. Guilherme Kohlhammer ( Stuttgard, 1892).
MARTÍNEZ (T. ALFREDO) - Orígenes y leyes del lenguaje aplicadas - Vocabulario de la lengua guarani. Ed. de C. F. Sey-
al idioma guarani. Imprenta de Coni Hermanos (Buenos bold. Guilherme Kohlhammer ( Stuttgard, 1892).
Aires, 1916). - Breve Noticia de la lengua guarani. Ed. de C. F.
MoNTOYA (Antonio Ruiz de · ) - Arte de la lengita gitarani, ó más Seybold. Guilherme Kohlhammer ( Stuttgard, 1890).
bién tupi. (Viena - Paris, 1876). - Frases selectas, y 'f!t.Odos de hablar escogidos y usados
tn ía lengua guarani. Sacados del Tesoro escondido que
- Vocabidario de la lengua guaraní (Viena-Paris, compuso el venerable Padre Antonio Ruiz de nuestra Com-
1876). pañia de I esus para consuelo y alivio de los fervorosos misio-
- Tesoro de la lengua guaraní (Viena-Pari.s, 1876). neros principiantes en la dicha lengua (1687) [Manuscrito,
-- Catecismo de la lengua guaraní. Ed. de Júlio Pla- 633 pp. em Z colunas] .
tzmann. B. G. Teubner (Leipzig, 1876). SAMPAIO (TEODORo) - O Tupi na Geografía Nacional. 3.ª ed.
- Manuscrito guarani da Biblioteca N ncional do 'R io In Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Babia,
de Janeiro robre a primitiva. catequese dos índios das M issoes, n.0 54 (Babia, 1928), pp. 1-400.
'
LEMOS BARBOSA 449
CURSO DE TUPI ANTIGO
''A/AGLEY (CHARLES) e GALVÁO (EnuARDO) - O parentesco tupi- LoUKOTKA (CESTMIR) - Les langues de la Famille Tupi-guarani.
-guaram1. Boletim do Museu Nacional. Antropología. N. Boletim CIV da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras
6 (Río, 1946). (Sáo Paulo, 1950).
O parentesco tupi-guarani2 • 1n Sociologia, vol. VIII,
- MAGALHÁES (BASÍLIO DE) - "Curso de T1<Pi Antigo". Prefácio a
n.0 4 (Sao Paulo, 1946), pp. 305-308. obra do Padre Antonio Lemos Barbosa. In Jomal do Comércio
( 16-II-1947).
• ÜBS. - l. A resenha bibliográfica incluí apenas as obras citadas ou in-
dicadas no CURSO. De acórdo com a adverténcia do prefácio, tomamos como MAsoN (J. ALDEN) - The Languages of So1dh Anierican Indians.
norma citar tao só as fontes primárias de documentac;ao antiga e, entre os In Handbook of South American Indians. Smithsonian
450 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 451
Institution. Bureau of american ethnology. Bulletin 143. bli.ografia das Reduc;óes. As referencias de LouKOTKA, MASON e
Vol. 6 (Washington, 1950), pp. 241-243. R.lvET visam mais a classifÍca\áO lingüística, pelo q_ue Ínsistem .nos
dialetos menos conhecidos. BASÍLIO DE MAGALHAES faz sucinto
MEDINA (J. T.) · - Bibliografia de la lengua guaraní (Buenos apanhado da bibliografia dos dialetos tupi, guaraní e nheengatu.
Aires, 1930).
O artigo de LEMOS BARBo:A passa em revista . a a~tiga lit:ratura
MITRE (BARTOLOMÉ) - Catálogo razonado de la sección - Lenguas guaraní das Missóes. E u GENIO DE CASTRO colige 1nformac;oes de
Americanas. Museo Mitre (Buenos Aires, 19QCJ-1910). várias fontes, sem apresentar nenhuma contribui<;áo pessoal.
- Lenguas Americanas. Catálogo ilustrad<> de la Sec-
ci6n X de la Biblioteca. Museo Mitre (Buen()!) Aires, 1912).
PEDRO II (DOM) - Qualques notes sur la langue tupi. Apresen-
tac;ao e notas de A. Lemos Barbosa. In Anuário do Museu
Imperial, VI (Petrópoli.s, 1945), pp. 169-188.
RIVET (PAUL) - Langues de l' Amériqu'e. du Sud et des Antilles.
In Les langues du Monde, par un groupe de linguistes (Paris,
1
1924), .pp. 687-693. J
•
'\
\
29 I
. '
454 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 455
I
456 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 457 .
!
\ ,.
CURSO DE TUPI ANTIGO 459
-
466
-mo-ne 949
mo-noong-a 288
mo-tyb-a 842
mo-ub-a 885, 900
nambi 53, 1140 nhandé 28 58, 291
-ne afirm. 103, 198, 199 nhand-é 22
-mo-ndar-a 287 1noxy 1049 nhandu 208, 434, 1052
mo-ytaró 488
-ne fut. 13, 38, 113, 146, 193, 408,
mo-ndeb-a 492 nhang-a [nho- ] 326
mü 1189 566, 1107
1110-ndok-a 481, 550, 927 nliang-a 1110 obs 1
mun-a [nho-] 326 nei 434
mo-ndó 1-mo-ndok-a 931 nharó 285
mundar-a 287, 1189 nei bé 210
mo-ndcwok.-a 550 -neme 28 e) v. -reme nhauum-a 21 e), 247
mo-ndó'-sok-a 927 mundé-nmg-a 547 nhe- 28 obs 3, 294, 539, 578, 786
n' i@ 38, 104
mo-ndó'-só1 -ndó'-sok-a 931 mur1' 1049 nhé 205, 463, 1030, 1058
muru angab-a 207 n'ikó 38, 104
mo-ndyi-a 498 nhe-ang-epwk-a 584
myiapé 247 nimb6 247
: m,o-ndy'-syk-a 927 nhe-ang-ú 286, 584
mymbab-a v. mi-mbab-a ning 471
mo-ndyk-a 927 nheeng-a 114, 285, 1145
mo-ng-a [nho-] 326 (m)bab-a ·801 ning-ning 471
.n 'ip'aé 104 nheeng-eym-a 131
mo-ngaru 498 mbaé 163, 380, 390, 417, 724, 852, nheeng-ú 131
n'ipó 38, 104, 292, 1045
mo-ngatyro 490 947 nhe-mi- 786
no- 28 obs 3, 30, 124, 500, 579,
mo-nger-a' 481 mbaéf 161 nhe-mo-e-mi- 789
865, 1107 III, 1112, 1113
mo-ngetá 287 mbaé-e-ro- 506 nhe(-mo )~e-mbi-ar(..:i)-iar-a 796
-no 146, 1107
mo-ngui 28 obs 3 mbaé mbaé f 933 Jl, 7 nhe-mo-m(bJi- 786
• 1 no-in-a 900
mo-ngui-a 129 ' mbaé-rem.e f 161 nhe-mo-sarai-a 786
no-mun-a 896
mo-nhang-a 388, 492, 531, 1084 mbaé r-tséf 161 nong-a [nho-] 326 nhe-mo-yró 48
mo-nhe- v. mo-ie- (m)bar-a 284 nhe-mü 1189
no-nhe- 584
mo-nhe-ang-epiak-a 584 mbegué 179 nhe-no-mun-a 896
nc-sem-a 124, 501
mo-nhe-'rundyk-a 212 mbetar-a 248, 852 obs 1 tihe-ran-a 286
mo-pirá-kaé 483 no-ti 30
mbi- 28 obs. 773, 1031, 1107 ntuigar-a 437 tihe-ran-eym-a 92
mo-pi'-roy 483 mbi-ar-a 247, 267, 779 nho- pron. obj. 28 obs 3, 122, 317,
nupá 400
mo-Pó-guasu 347 mbi-at~s"b-a 248, 779 326
mo-pó-i 347
nd' 183 v. nda
mbi-ú 247, 779 mW 183, 1006, 1107 nh.o- refl. 295, 578
mo-p6-io-ybyr-a 347 mbo- 302, 480, 485, 960 nh6 190
(n)clab-a 800, 801
mo-pó-kyryri 347 mb6 21, 212 nh'-okendab-a 326 n. 2, 552
nd' a-é-i teé 463, 845
mo-por-a 747 mbo-ab-a 443 nd' a-é roiá-i 570 nho-s- 323, 326, 412
mo-pym-a 28 obs 1 mbobyr 656 v. mobyr nda ... eym-i 1010 nhó-te 190
\
mor- v. moro- mbo-é 287, 788, 881 nda. . . eym-. . . ruá 1011 nhu 65, 217
mo-ram-buer-a 231 mbo-kuí 28 obs 3 nda ... -i 183, 1006 fth' -iipá' -ti 326 n. 2
m-0rang-a 862 mboro- 87, 387 v. moro- nhyá 65
(n)dar-a 726
mor-ases-a 232 mbo-ur-a 490 nda ... rttá 184, 1006 nhyro 287
moro- 87, 351, 387, 724, 852, 860, mbo-y-ú 538 nda s-aub-i 576 o- pref. vb 112. 271, 340, 414, 419
872, 1107 mburu v. muru nde 58, 76, 271, 419 o refl. 58, 60, 238, 316, 319, 586, 916
moro-esé 605, 868 mby 852 . ó [io-] 326, 399
ndí 144
moro-upi 868 mbyá 21 obá [t] 1140
ndí-bé 144, 648
mor-ubixab-a 67 -n' 104 v. -ne obái(-a) [t] 639
nior-upi 606
nd' i por-1 495, 746
n' 183 nd' i tyb-i 549, 842 obá-iar-a [t] 129, 1191
mo-séii-a 28 obs 1 na 183 (n)duar-a 835 obáké [t] 608
mosakar-a 1189 na 212, 1065 (n)duer-a 838 obá-ok-a [s] 372
mo-sam-a ZS obs 1 n'aé 38, 104 obá-'sab-a [s] 17, 1084
mo -sapyr(-a) . 37, 65, 212 ngati' 28 b)
naí 1192 ngoty 137 oby [t] 50, 89, 183, 284, 339, 420
1n0-sapyt 37, 212 n'ak'amé 1068 ogo-* 238, 240
-nh- 36, 299
mo-sá-sai-a 32 n' akó 38, 104 og(u)- 238, 240, 316, 420
nha- 28 obs 3, 112, 271
mo-su-sung-a 32 n'am-a 217, 794 o-gue-pyno 894
mo-sykyié 395 nhaé 56, 150, 247
n'amé 524, 794, 1053 nhai-a 142 og-u'-me 885
tno-ting-a 28 obs 1 -namo 28 e), 406, 619 nhan.-a 114, 283 oirá 150
I
468 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 469
oirandé 1211 parana 53, 107 ¡ñr-a 1140, 1147 poro-m.o-1e- 487
oi-a 898 par-i 129 pirá-kaé 483 poro-mo-íe-mo- 487
o-i-á-bo 455, 881 (Je- pref. vb 112, 193, 271, 291, 414, pir-aku'-bor-a 1147 poro-mo-nhang-a 388
oieí 150, 1211 419 pirang-a 114, 1148 poro-pysyk-a 388
oiepé 65, 212, 215, 669 -pe deterrn. 199 pirá r-esá 1142 por-ú 284, 386
o-ie-irundyk(-a) 212 -pe locat. 13, 38, 140.., 203, 640, 643, pirian-a 1148 por-upi 650
o-io- 592 820, 836, 985 pi'-nng-a 1147 po'-sé 650
o-io-irundyk(-a) 212 -Pe poss. 29, 58, 239, 271 pir-ok-a 372 Po' -sub-a 386
o-io-iipé 916 -pe? 157, 663, 941, 1042, 1107 pi'-roy 483, 1147 po'-suban-a 386
o-ío-upé-upé 933' pé ptc 985, 1012 pir-yai-a 1147 potar-a 120, 284, 489
ok-a casa 21 e), 250 pé [io-] 326 pitang-a 102, 1148 poti 893
ok-a [io-] 317, 326, 372, 441, 531 Pé casca 161, 167, 344, 345 pi-ting-a 1147 potyr-a 165. 167
,,1 oketi-a 250 pé caminho 252 pitub-a 1148 pó-ungá 347
okend-ab-a 250, 372, 552 -pe-bé* 691 pixam-a 1148 poxy 93
\ ok.end-ab-ok-a 372, 552 pé-é 1012 pi~é 1148 puam-a 206, 286
o-nho- 592 peé 76, 82 pi-xyb-a 1147 puku 53, 638
oó [t] 97, 1201 pei vb 434, 449 piar-a [fo-] 326 puku-i 638, 689, 691
o-pá(b) 664 peí vocat. 1192 ' piar-a 252, 635 pun-a [ nh.o-] 326
o-pab-é(-nhé)(-ngatu) 664 pe-í-á-bo 455, 881 - piar-cuno 635 pupé 138, 662, 836
o-pab-i(-nhé) (-ngatu) 664 pe-í-é 455 po'- 386 v. poro- pupur-a 934
o-pá-katu 179 peiepé 293 pó mao 1107, 1140 pu.tu 1145
o-pá kó m bó 212 pe-íor(-í) 195, 884 pó quase-pref. 344, 347 putu-i 33
opo- 291, 296, 314, 409, 505 pe-íú 423, 884 pó-á 65 pu.tu-ur-a 33, 193
oré 58, 76, 271, 291. 419 Pe-ká 345 pó-atá 347 púai-a [io-] 317, 326, 523
oro- subj. 112, 271, 291, 296, 314, pem-a [nlio-] 326 pó-'ban-a 347 pilan-a [ nho-] 326
414 peneí 434 pó-bebé 347 puar-a [io-] 326
• oro- obj. 409, 505 peng-a 1190 pó-epyk-a 286 puer-a 216, 334, 1107
oro-i-á-bo 455, 881 ' Pettg-aty 1191 pó-gU<uu 347 pUer-am-a 223
oro-it¡ 423, 884 pé-ok-a 345, 372 po-i 347 py [ío-] 326
oryb-a [t] 1084 pepek-a 934 pó-ir-a 284 py pé 344, 1107, 1140
oryb-eté . . . ma [s] 972 Pé-pó 152, 345 poi-a [io-] 326 p·y fundo 348
osang-a [ t] 48 pereru* 1087 Pó-ká 347 fryá 21, 1140, 1144
o-ú 423, 884 peró* 443, 735, 1087 pó-mo-mbyk-a 347 py-ei-a 348
o-up-a 423, 885 pesé-o(ng-a) 372 pó-mong-a 56 py-guasu 348
p' 38 pé-sy1n-a 345 Pó-peb-a 347 pyk-a [fo-] 326
pá sim 44, 656, 1068 pe-té(-pe)-umé 434 popor-a 134 pyku-iur-a,r-a 40
pá determ. 199, 1051 pe1tm-a 1191 por- 283, 386 py-kuab-a 232 •
pá(b) 334, 660, 665 pé-ypy 829 , por-a 700, 738, 910, 1107 P.v kyyr-a 1190
pab-a 114 pi [ío-] 234, 326 por-abyky 139, 388 pyno 894
pab-é (-gat1') v. pá(b) piá 206, 449, 1192 por-apiti 386 py-pirar-a 348
p' aé 38 p' ia 38 por-bae 748 pyr-a sb 639
paí 449, 1192 piá-i 449 por-andiib-a 161 pyr-a suf. 756, 906, 1032
pak-a 114, 414 pik-a 1030 Por-ausub-a 783 P>.,.-i 639, 642
p'akó 38 p' ikó 38 Por-ep)i-an-a 286 py-r'fmg-o 547
pan-a [tiho-J 326 pin-a [ío-J 326, 550, 928 Poro- 87, 351, 380, 385, 417, 487, pyryb(-í} ou (-íó-te') 174
panaku 247 p-inim-a 56, 1148 596, 724, 873 py-sa 41
panem-a 49, 54 pipin-a 928 Poro-(gu)e-no- 506 py-sá-pem-a 32, 41
papar-a 934 p' ipó 38 Poro(gu)e-ro- 506 pysyk-a 193, 196, 292, 388,
Pará 107 pi-pó-ká 1147 por-ok-a 372 pyter-a 346, 639
parab-ok-a 372 pi-pó-mong-a 1147 Poro-mo- 487 pytu v. putu
30
I i
,,,,.-a
ty-rwng.a 547
52, 259. 934
xe pó 212
.re pó xe l!Y 211
/
f
Aldeia tupi, com suas casas, pra~ e dupla cerca - STADEN ....••.• capa
Família tupi - LÉRY ............................................... . 8
Danc;a dos caraíbas - DE BRY •••••••••••••••.•••••••••••••••••••••• 26
Acampamento de ex.pedic;ao guerreira - DE BRY •••••••••••••••••••• 70
Fabricac;áo do fogo - STADEN ......................•..•....•.•.•• 77
Ataque a urna aldeia, e sua defesa - DE BRY •••••••.•••••••••••.•• 90
Colheita da mandioca - STADEN .......•.•..................•.••...•
Guerreiros, adornados e armados ~ STADEN ...................•...•
Preparac;ao do cauim - THEVET ....•................................
106
136
"'
Reuniao do conselho - STADEN .••.•..................••.•......•. 147
Pesca a flecha e a máo - STADEN ...........................•.••. 152
Aldeia e cenas da vida tupi - DE BRY ••••••••••••••••••••.••••••• 167
Batalha naval - STADEN •..••.••••••••••••••..•••.••••••...•••••••• 178
Prisioneiros conduzidos. Execuc;áo e consu;nac;ao - DE BRY •••••••••• 195
Guerrilhas as margens de um rio - STADEN ••.......................• 218
Grande festa. Cauim e danc;a - STADEN ............................ . 224
Pinta-se o prisioneiro e a ybyrapema - STADEN ................... . 245
Grande festa. Cauim e danc;a - THEVET .........................• 258
Prep.arac;ao do cauim - STADEN .......•................•.....•.... 271
Saudac;áo lacrimosa - THEVET .................•...........•.•..•... w
Fases de um sacrifício de prisioneiro - STADEN •••...••••.•...•..•• 302
. de um pr1s1one1r-0
Sacrt'f'1c10 . . ' - T HEVET .•.......•.................• 318
Pesca a flecha e com rede, em barragem - STADEN .••.....•••.•.•..• 344
Preparac;ao do repasto sacrifica! - DE BRY •••••••••••••.•••••••• 352
Tratamento de um doente - THEVET .••.............•.•.•........... 364
Sepultamento - DE BRY .•..•.••.............•••.•...•.••..••.••... 409
Sepultamento - THE'VET ....•.•..•.•••••...•.••..•.........•.•.....•. 380
O corpo do prisioneiro é moqueado - STADEN ...•........•..•.. . 328
Consumac;ao da vítima - STADEN ••••........•••....••.•...•••..... 451
'
'
1NDICE GERAL
¡
..
478 LEMOS BARBOSA CURSO DE TUPI ANTIGO 479
Lis;io 23.a § 342-358 Li~io 37 .a § 638-653 Li~io 51.ª § 941-965 Li~io 58.ª § 1070-1081
ApOsto .. ..... . ... .. . ... .. . 142 p repos1c;oes
. - •.•... . ..... • • Condicional . ... . . . . 329 Períodos .. ..... ... . ..... . 376
236
Nomes cl.assificatórios .... . . 143 B e' ou ab'e .. .... ... . ... .. • 238 ARAúJO - A ntes da Afirmativas indiretas .... . . 376
Verbo " ter'' ... . .. .. . . . .. . 144 absolvi,oo .. . ....• 332 ARAúJO - Antes da
Li~io 38.a § 654-677 333
V erbos predicativos . . .. ... . 145 Locu~óes gerundivas ... .. . absolvi,áo ( cont.) . . 380
Li~o 24.ª § 359-377
Indefinidos ........ ..... .. 241 Gerúndio expletivo ... . . .. . 334 ' Li~io
59.• § 1082-1104
Li~io 39.a § 678-699 ARAÚJO - Em casa
Infinitivo objetivo ........ . 148 de Caifás (cont.) 335 O tupi colonial .... . ......• 382
S~bordinativas temporais .. 248 lnstru-
Verbos compostos de ok •. 151 BETTENDORFF -
Li~io 52.ª § 966-979 para o batismo 388
Li~io 4-0.a § 700-719 faO
Lis;io 25.a § 378-392 . , . - bae . ...... ..• ..
p artic1p10 Optativo ........ . . . ....... . 337
254 A U TOR DESCONHECIDO -
Coletivos . . .•......... .. .. 154 ANCHIETA - Dan'ª de Catitigas ......... . 390
Prefixos de classe ... . ..... . 154 Li~io 41.a § 720-737 dez m eninos .•....•. 340
p Li~ao 60.a § 1105-1148
artlc1p10 ()
. , . s ara ... . ...•.. 259 Li~io 53.ª § 900-992
Li~io26.a § 393-424 Estrutura das palavras ... . 392
Gerúndio .. .• ......... . ... 158 Li~io 42.a § 738-755 Ora~óes subordinadas ..... r 341
Classifica~ao das palavras ... . 396
Particípios' bora e pora ...• ANCHIETA - A· N ossa Divisao das palavras .... . . 397
Li~io 27.a § 425-440 Senhora .•......•• 345
' Posi~ao, composi~áo, deri-
Sintaxe do gerúndio .. . .. . 168 Li~o 43.ª § 756-772
Li~io 54.ª § 993-1005 vac;áo •.• . ••.•. • •....••• 398
Li~io 28.a § 441-454 Particípios pyra ... . . . .... . 268 347
' Advérbios ... . ..... . .... . . Expressoes concretas ..... . 404
N ornes próprios .. ......... . 174 Lis;io 44.a § 773-797 ARAÚJO - Antes da ARAÚJO - N ovíssimos
-
Vocativo .... .. ... ... . . . .. .
Lis;io 29.ª § 455-479
176 Particípio mi- ou mbi- ....
Lis;io 45.a § 798-832
272 absolvi,áo ( cont.) ..
Lis;io 55.a § 1006-1017
351
Li~o
do homem .. ..... .
61.a § 1149-1186
407
V erbo e, " d"1zer ,, .... ..... . 180 P a rticípio ( s) aba •. ... . . . . 279 Conjuga~ao negativa . . . .. . . 353 Fonología . ...... ........ . 410
A ub •. •...... .. •.. .... ... . 188 Li~io 46.a § 833-846 ANCHIETA - Dan,a. da ANCHIETA - M.on6lo-
procissáo ..... . ... . 356 go de Guai~ará .. .. 419
Li~io
30,a § 480-499 p . , . _s1'ara
Particípio ,') . . . . . . .. ... . 288
Lis;io 56.ª § 1018-1040
Verbos causativos ( m o- ou artic1p10 ~"era .... . . . •... 291 Li~ao62.ª § 1187-1196
m bo- ) . . . . . • • . , .. . ..... . 190 Participio tyba ...... . .... .. 291 Categorias verbais ........ . 358
Nomenclatura de parentescos 421
Li~io 47.• § 847-878 ANcHIETA - A N ossa.
- Lis;io 31.• § 500-515 S enhora ( em Reri- ARAÚJO - Impedimen-
Verbos causativos-.comitativos f ndices de classes ....... . . . 294 tiba) ............ . 365 tos matrimoniais .. 431
(ro- ou n.o-) . . , • •....... 196 V Al.ENTE - Ao Anjo O Juízo
Guarda .....•. , ..
ARAÚJO - Li~io 63.ª § 1197-1211
303 Universal .....•.. 365
Li~io 32.ª § 516-527 Língua e cultura tupis . . .. 436
Li~io 48.a § 8?9-904
Verbos causativos ( ukar) 201 Li~io 57.ª § 1041-1069 EDu;óES CITADAS •• •••• • •• • 442
Verbos irregulares ....... . 304
Li~io33.a § 528-5'53 Verbos defectivos . .. .... .. . Partículas .........•...... 367 ÍNDICE DE ASSUNTOS .. . ... . 452
309
Verbos exclusivos do plural 310 A linguagem dos homens e a ÍNDICE DE P ALAVRAS E AFIXOS
Objeto direto incorporado .. 205 das mulheres . .......... . 374 TUPIS •.. ••• •••• • •• • •••• 458
Sujeito incorporado ....... . 208 VALENTE - Ao SSmo. · 475
Sacramento ARAÚJO - O Juf.zo f NDICE DAS GRAVURAS ••••..
311 477
Li~io 34.• § 554-577 Universal ( cont.) .. 375 Í NDICE GERAL ....•.••••.•. •
Conj uga~ao subordinada .... 212 Lis;io 49.ª § 905-923
Pronomes relativos .. . . .. .• 313
Li~o 35.a § 578-603
Li~io 50.a § 924-940
Reílexivo e recíproco •.. . .. 219
Reduplica~ao . .. ..... .. . . . 319
Lis;io 36.ª § 604-637 ARAúJo - Em casa de
Preposi~óes . . . . .... . ..... . w Cai.fás ........ . .. 327 Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
1 •
...
*
1!JSTE LIVRO FOI COMPOSTO E IMPRESSO
NAS OFICINAS DA EMP~SA GRAFICA DA
"REVISTA DOS TRIBUNAIS" LTDA.• A RUA
CONDE DE SARZEDAS, 38, S.10 PAULO,
EM 1956.
I I
..
'
•
'