2016 Artigo Ped Unioeste Claudiaelisangelabarbosadasilva
2016 Artigo Ped Unioeste Claudiaelisangelabarbosadasilva
2016 Artigo Ped Unioeste Claudiaelisangelabarbosadasilva
Resumo
Este artigo apresenta o resultado do trabalho realizado com os estudantes dos anos finais do ensino
fundamental do Colégio Estadual Esperança Favaretto Covatti – Ensino fundamental e Médio, do
município de Toledo – PR. Em relação ao histórico de violência escolar. Com o objetivo inicial de
proporcionar reflexões com os alunos que apresentavam esse quadro violento na escola, a proposta
é de levá-los a refletir sobre os motivos que estavam provocando descontentamentos e como
estavam reagindo ante à situações conflitantes. Buscando o fortalecimento afetivo e entender o fato
em si através do diálogo, cooperação, reflexões, negociação, respeito e autonomia, o grupo foi
amadurecendo e procurando formas diferentes de resolver situações de conflito do cotidiano escolar.
Foi utilizado a técnica de círculo de construção de paz de Boyes-Watson e Pranis (2011), para que,
primeiramente, os educandos fossem se sentindo seguros com o grupo, colocando suas angústias e
propondo formas de melhorar o ambiente educativo. Também foi realizado visitas juntamente com a
direção e equipe pedagógica em instituições que trabalham com os adolescentes em situações de
risco e vulnerabilidade social para conhecer e propor parcerias. Esse trabalho possibilitou a reflexão
do que estava levando os alunos a reagirem de forma violentas e como as atitudes de toda a
comunidade escolar vinha favorecendo essas reações violentas.
Introdução
Adolescência
Muito embora as violências das escolas não sejam um simples reflexo das
violências perpetradas na sociedade, uma vez que pela sua
natureza de funcionamento as escolas também produzem as suas
próprias violências, é necessário ressaltar que ela pode se constituir em
um espaço de exercício para vivências éticas e dialógicas onde alunos e
professores ouvem e falam, onde se discutem ideias, onde alunos e
professores são respeitados em suas peculiaridades. Quando há falta
de diálogo e apenas imposições aos alunos a sala de aula poderá se tornar
em um espaço de violência contra o professor, por múltiplas razões, caso
não sejam detectadas a origem dos conflitos. (BUSS; SCHROEDER, 2013,
p.10)
Reflexões e Ações
Diantes das angústias dos educadores, da equipe diretiva, dos pais e dos
próprios estudantes, buscou-se entender o fenômeno da violência em toda a sua
complexidade e não simplesmente como transgressão de normas e leis, mas
também como lutas, onde os confrontos são necessários nas relações sociais.
(MAFFESOLI – 1987)
Partindo deste princípio, o projeto de intervenção buscou alternativas para
refletir as inquietações e propor soluções saudáveis para as situações conflitantes.
Segundo Buss e Schroeder (2013). O estresse causado por situações conflituosas
mal administradas podem influir na saúde dos docentes que não estão conseguindo
lidar com tais questões, acabam adoecendo.
Assim, em 2016, reuniram-se os educadores, juntamente com a professora
PDE e identificaram a necessidade de se trabalhar com alguns adolescentes, que
tinham grande potencial de liderança, porém utilizavam de violência psicológica,
verbal e física para manter o controle.
Analisando os registros de ocorrências, identificamos os estudantes que
apresentavam comportamentos agressivos, e diante do exposto, foi feito uma
conversa inicial com eles e apresentado a proposta de formarmos um grupo para
analisar, refletir e buscar soluções para as ocorrências do colégio.
Os alunos gostaram da idéia e prontamente se colocaram a disposição para
participar dos encontros.
Em um primeiro momento foi realizado uma entrevista com todo o ensino
fundamental, com a finalidade de levantar os conhecimentos prévios e como veem a
violência em sua escola.
Constatou-se que para a maioria dos alunos violência é agressão, seja ela
verbal, física, ataque de ira, brigas ou abuso sexual. Para 50% dos alunos o
problema de violência no Colégio Estadual Esperança Favaretto Covatti é
controlável, para 30% é tranqüilo; portanto eles não veem a escola como um
ambiente violento e se sentem seguros na instituição.
Para eles a ação da polícia na escola é necessária, pois impede que atitude
de raiva se manifeste. Também citaram que a principal causa de violência na escola
é a falta de diálogo, pois as agressões mais comuns são os constantes palavrões,
bulling e intimidações.
Quando questionados sobre qual seria a atitude correta diante de uma
agressão, 45% responderam que era denunciar para um superior, 25% chamar a
direção da escola, 15% avisar a polícia e 15% imobilizar o agressor.
Para acabar com a violência na escola, 27% dos estudantes sugeriram a
presença da polícia, 27% falaram que é necessário mais respeito, o restante
colocaram suspender, castigar e somente 1% falou em dialogar.
Diante da realidade constatada nas entrevistas foi possível perceber que
diferente do que os educadores relataram em relação ao perfil da escola que veem
se tornando violenta, os alunos não percebem o colégio da mesma forma que os
professores, para eles é um lugar seguro, possuem poucos problemas de violência e
é controlável, no entanto acreditam que não é através do diálogo que se resolve as
situações da escola e sim com a presença e ações da polícia.
Foi realizado visitas nas residências da comunidade do entorno do colégio,
para sabermos como a escola é vista por quem está fora dela. Constatamos que as
pessoas percebem o colégio como um lugar organizado, onde tudo funciona bem,
seguro e harmonioso. A comunidade também sabe quem são os alunos que utilizam
de atividades ilegais, porém acreditam ser uma quantidade pequena e que não
interferem negativamente na rotina da escola.
Para a comunidade do entorno, a escola é o pilar que sustenta o bairro,
segundo eles graças ao colégio sempre tem gente circulando das sete da manhã às
vinte e três horas da noite, todos os dias de aula da semana, tudo fica iluminado e
faz o comércio progredir. Se a escola fechasse seria muito ruim e perigoso para todo
o bairro.
Os encontros com os estudantes tiveram início com a apresentação do
objetivo do trabalho e como seria a aplicação do círculo de construção de paz de
Kay Pranis. Neste encontro foi trabalhado as diretrizes do grupo e os adolescentes
criaram as regras para o funcionamento dos encontros. Também trabalhamos a
socialização e o conhecer-se e conhecer o grupo.
O outro encontro iniciou-se com reflexões sobre conflitos, autoconhecimento,
respeito, justiça, construção de relacionamentos saudáveis e atitudes que
contribuem para termos paz. O encontro foi muito revelador, eles perceberam os
problemas e dificuldades dos colegas e buscaram se ajudar.
Com o decorrer dos encontros o grupo foi estabelecendo intimidade, a
professora PDE já havia conquistado a confiança dos adolescentes do grupo, com a
figura do adulto que ela representa. Foram respeitando as limitações e angústias
dos colegas e se tornando mais calmos, pois os encontros estimularam, levando-os
a libertar-se dos pré-conceitos e colocar-se no lugar do outro. Foi revelador trabalhar
com o texto: “Eu queria ter tido autoestima suficiente para ficar fora deste buraco do
inferno...” (BOYES-WATSON; PRANIS, 2011, p. 169)
Eles perceberam que envolver-se em situações de violência reflete como
estão interiormente, pois quando estão em paz conseguem manter o controle e
buscar boas soluções para os conflitos, no entanto quando estão agitados,
geralmente estouram e não respeitam os posicionamentos contrários aos seus,
sendo assim, responsáveis pelos atos de violência que vivenciam.
O trabalho busca mudanças significativas nas atitudes dos alunos e já foi
possível perceber algumas melhoras, segundo o que alguns professores e os
próprios alunos relataram, já houve uma postura diferente em sala, no que se refere
ao respeito e a tolerância dos alunos que participaram dos encontros. No entanto, a
dinâmica tumultuada da escola e dos colegas acabam levando-os a retornarem aos
antigos hábitos, por isso é necessário que o trabalho não finalize com o término da
implementação e sim seja incorporado ao Projeto Político Pedagógico da Escola,
pois mudanças de atitudes significativas e duradouras demanda de um longo
período de tempo.
Outro fator relevante para a implementação foi o Grupo de Trabalho em Rede
(GTR), que é parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
no qual os colegas cursistas debateram a produção didática e o projeto de
implementação, sugeriram mais atividades e relataram que é possível aplicar a
produção didática na realidade de suas escolas. Muitos elogios foram feitos e o
debate durante o período do GTR contribuiu para o aprimoramento das ações na
implementação da professora PDE.
Considerações Finais