Historia de Serra Negra
Historia de Serra Negra
Historia de Serra Negra
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPINAS
2017
CLAUDIA FELIPE DA SILVA
CAMPINAS
2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
TESE DE DOUTORADO
COMISSÃO JULGADORA:
Profa. Dra. Olga Rodrigues de Moraes von
Simson
2017
Aos Músicos de Serra Negra
AGRADECIMENTOS
LISTAS DE QUADROS
Quadro 1: Estabelecimentos Comerciais/ Artes/ Indústrias e Ofícios (1873) 70
Quadro 2: Estabelecimentos Comerciais/ Fábricas (1886) 73
Quadro 3: População (1872 e 1886) 73
Quadro 4: Imigrantes e suas profissões 83
Quadro 5: População (1872-1929) 85
Quadro 6: Estabelecimentos Comerciais, 1905 86
Quadro 7: Loja de Fazendas e Armarinhos nos bairros 87
Quadro 8: Edifícios sedes das fazendas serranas 87
Quadro 9: Estabelecimentos Comércio/Ofinicas/Fabricas/Serviços 89
Quadro 10: Produção de café, período de 1911 a 1922 146
Quadro 11: Máquinas de beneficiar café (1886-1924) 149
INTRODUÇÃO 17
1 - PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 26
1.1 – A realização das entrevistas 28
1.2 – A constituição do acervo imagético 30
1.2.1 – O acervo Foto Fagundes 30
1.2.2 – O acervo Humberto Manzini 31
1.3 – Os textos memorialísticos 32
1.3.1 – Os textos memorialísticos de Sylvino de Godoy (1889-1970), Silvo Bertolini 33
(1931-2013) e Alcebíades Felix (1926-2015)
1.4 – Documentos escritos 34
INTRODUÇÃO
1
SILVA, Claudia Felipe da. Bandas de Música, Imigração Italiana e Educação Musical. O Corpo Musicale
"Umberto I" de Serra Negra, uma localidade interiorana com forte presença italiana. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
2
Contrafactum – substituição de um texto por outro, sem mudança substancial da música. A mudança de uma obra
secular em sacra, ou o aproveitamento de um material antigo, reelaborado ou rearranjado foi um dos recursos
utilizados por compositores como Palestrina (1525-1594) e Bach (1685-1750) Dicionário Grove de Música. Edição
Concisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.
18
3
Castrati – Cantor, castrado antes da puberdade para preservar o registro de soprano ou contralto de sua voz.
Dicionário Grove de Música. Edição Concisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. Os castratis substituíam
as mulheres, pois as mesmas não tinham permissão de interpretar músicas religiosas.
4
Portaria de 16 de dezembro de 1815. Coleção de Leis do Brasil.
5
Atualmente Corpo Musical da Polícia Militar. Ver DELLA MÔNICA, Laura. História da Banda de Música da
Força Pública. São Paulo: Polítipo, 1951. 1ª edição.
20
6
Ver GOUVÊA, Geraldo Magela de. Banda do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, um Arquivo
Histórico-Musical Centenário. Dissertação (Mestrado em Música) – Escola de Música. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
7
<http://www.funarte.gov.br/novafunarte/funarte/instituicao.php> Acesso dezembro de 2016.
8
<http://www.asbamrj.com.br/index.htm > Acesso dezembro de 2016
21
9
Ver MAGALHAES, Adélia Maria de Amorim. Música também é historia: As bandas de música em Marechal
Deodoro e a tendência cívico-militar no seu repertorio tradicional. Dissertação (Mestrado em História) -
Departamento de Historia. Universidade Federal de Alagoas, 2006.
10
Ver LIMA, Ronaldo Ferreira. Bandas de Música, escola de vida. Dissertação (Mestrado em História) - Centro
de Ciências Humanas, Letras e Artes. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2006.
11
Ver MOREIRA, Marcos dos Santos. Aspectos históricos, sociais e pedagógicos nas Filarmônicas do Divino e
Nossa Senhora da Conceição, do Estado de Sergipe. Dissertação (Mestrado em Educação Musical) – Escola de
Música. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2007.
12
Ver FAGUNDES, Samuel Mendonça. Processo de transição de uma banda civil para banda sinfônica.
Dissertação (Mestrado em Musical) – Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010.
13
Ver SARTORI, Vilmar. Banda Ítalo-Brasileira/Carlos Gomes: história e memória de uma corporação musical
centenária na cidade de Campinas. Dissertação (Mestrado Musicas) – Universidade Estadual de Campinas, 2013.
14
Ver GOMES, Karina Barra. E hoje, quem é que vê a banda passar? Um estudo de práticas e políticas culturais
a partir do caso das bandas civis centenárias em Campos dos Goytacazes. Dissertação (Mestrado em Políticas
Sociais) – Universidade Estadual do Norte Fluminense. Campos dos Goytacazes, 2008.
15
Por iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, realizou-se, na cidade de Serra Negra, em maio de 2008, o
I Festival de Bandas, designado “Coreto Paulista”, sob a direção artística do Maestro Lutero Rodrigues. De
acordo com o Secretário do Estado da Cultura, João Sayad, um dos intuitos do festival foi o de “trazer de volta as
bandas como um núcleo de educação musical”. O II Festival de Bandas ocorreu em junho de 2009, também em
Serra Negra, sob a direção artística de Adauto Soares.
22
Fioravante Lugli16, que também era professor e maestro da banda. As aulas eram gratuitas e
a finalidade da escola era preparar jovens instrumentistas para atuarem na referida banda
local. A escola disponibilizava tanto o material didático como os instrumentos. O sistema de
ensino dividia-se em duas etapas: a primeira era dedicada ao aprendizado teórico e solfejo;
após alguns meses, se o aluno demonstrasse certa aptidão musical, iniciava-se a segunda
fase, com a prática de algum instrumento.
Em 1986, passei a fazer parte da Banda “Lira de Serra Negra” como clarinetista,
oportunidade em que desenvolvi relações de amizade com os músicos mais velhos. Nesse
período tive acesso às histórias sobre a trajetória da banda, a importância e atuação dos
músicos italianos na formação da primeira banda de Serra Negra, o Corpo Musicale
"Umberto I", designada por eles carinhosamente como “banda velha”. Ouvi pela primeira
vez nomes de músicos que mais tarde surgiriam em minha pesquisa sobre a música em Serra
Negra, como os das famílias Dallari, Lamari, Perondini, Morganti, Lugli, Mattedi e do
compositor Nicolino Fatigatti, entre outros, além de casos hilários de rivalidade entre as
bandas italiana e brasileira, muitas vezes motivada pelas disputas políticas.
Outro fato marcante foi o acesso obtido ao acervo de partituras da “Lira”. Na
ocasião pude ter em mãos algumas obras que foram compostas no final do século XIX e
início do XX pelos antigos integrantes da banda “Umberto I”. Mais uma vez nomes
relacionados às histórias musicais surgiram, materializando assim os fatos que me haviam
sido narrados.
A suposição nesse primeiro momento era de que o movimento musical serrano
estaria intimamente ligado às bandas de música e aos seus integrantes, mas para afirmá-lo
seria necessário um aprofundamento da pesquisa.
No presente trabalho pretendeu-se estudar as manifestações musicais que
ocorreram em Serra Negra e que gravitaram em torno de diversas famílias de imigrantes
italianos. Para construir o devido “pano de fundo”, necessitou-se acompanhar a transformação
da cidade no decorrer de décadas, considerando-se imprescindível tratar de alguns aspectos
que não foram contemplados no trabalho anterior de mestrado, a fim de permitir um maior
entendimento sobre o desenvolvimento da cidade de Serra Negra e sua vida musical.
16
Fioravante Lugli, Músico Militar aposentado, falecido em 2000.
23
1. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
[...] seja qual for a escolha da técnica efetuada pelo pesquisador, o material colhido é
sempre submetido a uma análise, isto é, a decomposição dos informes para que
sejam encontrados os elementos que os compõem; a esta decomposição, segue-se
um relatório descritivo, no qual os dados são apresentados seguindo os diversos
aspectos revelados pela análise – relatório que deve ser o mais minucioso possível.
Finalmente, do relatório descritivo extrai-se tudo aquilo que compõe a resposta
essencial do problema estudado. (QUEIROZ, 1991, p.18).
Em suas considerações sobre o método biográfico, Olga R.M. von Simson aponta:
Verena Alberti (2004, p.14), relata sobre o fascínio que a História Oral provoca
em muitos pesquisadores. As narrações das experiências dos entrevistados sobre determinados
temas, nos transporta para dentro da história que está sendo contada, “é como se pudéssemos
obedecer o nosso impulso de refazer aquele filme, de reviver o passado, através da
experiência de nosso interlocutor”. Ainda acrescenta que a identificação é tamanha que o
pesquisador acaba se transportando para os espaços narrados, “caminhando pelas ruas em
meio a bondes e senhores de chapéus”.
Além do fascínio, o Método Biográfico é um instrumento de pesquisa que oferece
a possibilidade de reconstruir determinados fatos, que apesar de serem citados em outras
fontes, só ganham sentidos quando narrados por aqueles que vivenciaram o acontecimento.
17
Apêndice nº 01.
29
No caso de informantes idosos, não apenas os fatos podem ser enriquecidos por
outros ângulos de visão, como sua atuação na história pode ganhar dimensões que
eles não chegariam a conhecer senão tivessem a oportunidade de revisitar o passado
com outra pessoa, de sua confiança e intensamente interessada nessa reconstrução
(VON SIMSON, 2006, p. 149)
Não restringimos a investigação aos dados colhidos nos relatos orais. Sempre os
complementamos ou os comparamos com informações de outros suportes empíricos.
Essa documentação, reunida com base em fontes escritas, orais e visuais, precisa
necessariamente ser inserida num contexto sócio-histórico-cultural, que deve ser
elaborado pelo grupo de pesquisa (usualmente baseado em referencial bibliográfico),
para que possa adquirir sua significação real. (VON SIMON, 2006, p.157).
18
Além das gravações, outro instrumento utilizado são os registros no caderno de campo, com anotações e
impressões referentes as entrevistas.
30
19
Algumas fotos originais foram presenteadas à pesquisadora.
20
Existiu, contudo, um sistema de trocas, no qual os músicos cediam as fotos para reprodução, em contrapartida,
eles foram presenteados com fotos que não faziam parte de suas respectivas coleções.
21
Inúmeras fotografias originárias do Foto Fagundes estão disponibilizadas no Facebook através do grupo Serra
Negra de Antigamente.
31
Entre o trabalho desenvolvido na Foto Fagundes estavam os postais, com fotos panorâmicas
da cidade e, segundo Kossoy (2002, p.65), o cartão postal era um novo meio de
correspondência e entretenimento, o qual no início do século XX tornou-se um modismo que
incorporou na sociedade brasileira e, as edições estrangeiras eram importadas e colecionados
pelas famílias abastadas. Os profissionais nacionais absorveram esse novo mercado.
Ilustração nº 01. Vista parcial de Serra Negra, Foto Fagundes, início de década de 1960. Fonte: Foto
Fagundes. Acervo da pesquisadora.
Foto nº 01. “Funcionários concluindo o hospital, sob a direção do engenheiro, Serra Negra, 9/06/1928”. Na
parte superior da foto está a marca da chancela, no verso os dizeres em letra cursiva. Fonte: Humberto
Manzini. Acervo da pesquisadora.
confessional de modo a estabelecer certa intimidade com o leitor que se torna, assim,
seu “escuta” e seu confidente. (MALUF, 1995, p.47).
Queiroz (1998) observa que é possível através da análise desses textos recuperar
as relações do indivíduo para com seu grupo social. Porém, atentou-se para a importância dos
dados serem verificados e complementados.
Embora colhidas com finalidades muito diferentes, autobiografia e biografias são
perfeitamente utilizáveis pelos cientistas sociais como material de análise. Ambas,
principalmente se bem feitas, podem constituir excelentes repositórios de dados que,
no entanto, devem ser verificados e completados por informações de outras fontes.
(QUEIROS, 1998, p. 25).
O livro, História da minha vida (1970) do autor Sylvino de Godoy é uma edição
particular, e está dividido em 32 pequenos capítulos; é dedicado aos familiares, com prefácios
de amigos próximos. Na introdução e no final da obra, estão explícitos o desejo do autor em
registrar os episódios que considerou significativos.
Iniciou-se a narração, a partir da “remota infância de 6 anos, em 1895... com o
apoio de uma memória clara e não vacilante”, seduzindo o leitor para apreciar o seu
testemunho.
Os cinco primeiros capítulos referem-se à sua estada em Serra Negra, os demais
narram seu retorno à cidade de Campinas no início da década de 1920, com desdobramento de
sua vida profissional antes e depois de se tornar um dos proprietários do Jornal “Correio
Popular”22, em 1938. Também, ressaltou suas conquistas sociais, procurando em cada capítulo
deixar uma mensagem de cunho moral.
O livro do musicista Silvio Bertolini, O Soldador de penico (2009), é composto
por 166 pequenos textos, referentes à cidade de Serra Negra, sua família, suas paixões, seu
22
O Jornal “Correio Popular” foi fundado em Campinas, em 1927, por Álvaro Ribeiro.
34
aprendizado musical, sendo que os últimos 52 textos dizem respeito tanto à sua vida
profissional quanto à vida musical na cidade de Campinas.
Apesar de não aparentar uma ordem cronológica, elas existem em decorrência das
experiências vivenciadas pelo trompetista e compositor. As leituras dos textos dão impressão
de que as lembranças surgem espontaneamente. Talvez, a maior dificuldade em relação à essa
obra, seja sua forma de narrativa, pois quem não conhece um pouco da história de Serra
Negra, seus músicos e antigos moradores, não encontra sentido em muitas informações e
lembranças ali contidas.
Alcebíades Felix publicou dois livros: Alcebíades Felix disse (e a história
confirma) (2012) e, As histórias que eu gosto de contar (2014), ambos compostos, também,
por pequenos textos, em que o autor descreve acontecimentos públicos e sociais nos quais
participou.
Analisaram-se as obras mencionadas, minuciosamente, buscando
complementar com as outras fontes utilizadas na presente pesquisa.
23
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ( http://www.al.sp.gov.br). A Biblioteca do IBGE
(http://biblioteca.ibge.gov.br). O SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
(http://produtos.seade.gov.br/produtos/bibliotecadigital) e O NEPO- UNICAMP. Dados Demográficos
(www.nepo.unicamp.br/publicacoes/versos.html). Esses sites disponibilizam um rico acervo, on line.
35
águas radioativas, transformação da cidade (cobertura de rios, reformas das praças e abertura
de ruas), construções de prédios públicos (Fórum e Balneário Municipal).
Consultou-se o acervo do judiciário, sobretudo, os processos relacionados ao
período pesquisado e aos personagens envolvidos.
Os documentos produzidos pela Societá de Mutua Assistência Fra Italiani, entre
os anos 1903 a 1940, como: atas e livros de presença, permitiram avaliar a organização e
influência dessa entidade na vida social dos imigrantes e seus descendentes.
Constituiu-se, também, como fonte de pesquisa, o acervo da Corporação Musical
“Lira de Serra Negra”, fundada em 1945, que herdou as partituras do Corpo Musicale
“Umberto I”, da Corporação Musical “Renato Perondini” (1957-1967) e das músicas que
integravam o acervo do Conjunto Musical “André & Orchestra” (1974-1999), permitindo-se
confirmar a existência “física” das músicas anunciadas nos jornais locais, no período
correspondente de 1906 até a década de 198024.
Foi de grande valia a utilização da imprensa, especialmente dos jornais locais,
pela grande possibilidade de exploração científica dessa fonte de dados, permitindo, inclusive
analisar sua repercussão na sociedade mais ampla. Nesse sentido, Lang (2001, p.61) observa
que “a análise do material da imprensa constitui uma fonte de grande interesse para o
pesquisador, pois permite conhecer não apenas os fatos, mas sobretudo sua exata cronologia”.
Entretanto, o pesquisador necessita de atenção e cuidado ao acessar essa fonte,
razão pela qual os jornais estão sempre relacionados com os interesses dos grupos que os
dirigem.
Dentre os semanários pesquisados, o jornal O Serrano; num primeiro momento,
consultaram-se os seus exemplares desde a sua fundação, em 1907, até a década de 1940; em
seguida, realizaram-se levantamentos de dados, nos exemplares a partir da década de 1940 até
1986. Assim como, o acervo do Legislativo, fotografaram-se as notícias e armazenaram-nas
tematicamente.
E, como observa Caeiro (2005, p.68), “consultar alguns milhares de jornais e de
revistas, acaba por se tornar cansativo e exasperante. Porém, não raras vezes, surgem
surpresas gratificantes nesta tarefa de arqueologia, de exumação de textos”.
24
Ainda, sobre o aspecto institucional, buscou-se, no arquivo da Câmara Municipal, os registros de contratos de
prestações de serviços, firmados entre a “Umberto I” e a Câmara, nos anos de 1906 a 1909, que especificavam as
apresentações cívicas, os concertos quinzenais e os honorários dos componentes da referida banda de música.
36
25
Todos os exemplares publicados do “Serra Negra Jornal” estão em ótimo estado de conservação e são de
propriedade da família do Sr. Odilon Souza Lemos, sobrinhos do fundador do jornal.
37
Barros, Demon Clayr Batista Fernandes Del Nero, Armando Menegatti, Renor Siloto
Perondini, Roberto Siloto Perondini, Irineu Evangelista Cazotti, José Geraldo Dechetti
Vicentini e José Vandair Passadore Muniz.
38
chegando, lavavam os pés, calçavam os sapatos, que sempre eram transportados pelos homens
e dirigiram-se para a missa das dez horas na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Em
seguida, a missa a moçada ia direto ao jardim público e lá permaneciam até o horário de
voltar para casa. Outro evento esperado era a festa em louvor a São Roque, santo padroeiro do
Bairro das Três Barras, celebrada anualmente no mês de agosto. A narrativa de Armínio
Silotto, foi marcada por eventos ligados ao trabalho como agricultor, revelou também outros
traços destacando-se em sua fala a conduta correta diante dos compromissos assumidos, o
respeito à terra, à religião e à família. Estava com 88 anos por ocasião da entrevista.
42
mais gozada. Eu comecei a aprender o ofício aí, na sapataria que tinha aí... mais para
baixo aí... e quando eu comecei a fazer qualquer coisa, meu pai montou uma
sapataria e eu que toquei a sapataria, até hoje é Sapataria Godoy.
Com quem eu aprendi? Esse senhor você nem sequer... esse senhor ele chamava
“Bolota”, tinha uma sapataria aí, eu ia na escola, depois saía da escola, então eu ia
trabalhar lá, aprender o oficio. Naquele tempo tinha muito serviço de sapataria, hoje
não tem mais.
Tudo à mão e dava muito... era muita miséria aquele tempo, miséria, então comecei
a aprender o ofício lá, e trabalhava. Ia na escola, no Grupo e depois ia trabalhar, e
assim foi, que ... ele chamava-se Virgilio Pezzini. Morreram tudo.
cidade, tanto que o mesmo dificultou a sabatina de Antonio Siqueira, pois além da arguição
costumeira, ele exigiu uma redação, cujo tema era sobre esportes.
Quando a Seleção Brasileira de Futebol se hospedou em Serra Negra, na década
de 1960, Siqueira foi designado para acompanha-la e, consequentemente, foi convidado para
ser Delegado da Confederação Brasileira de Esportes, o que lhe proporcionou viajar com
Seleção Brasileira pelo território nacional, além de ir para o Chile e Inglaterra. A experiência
permitiu-lhe redigir um texto que agradou aos outros dois deputados, membros da banca,
sendo aprovado por eles, mesmo contrariado não restou outra alternativa ao Deputado
Mantelli Neto, pois Antonio Siqueira foi empossado no cargo.
Permaneceu no FUMEST de 1978 a 1982, período em que construiu o Centro de
Convenções Circuito das Águas e, durante a sua gestão as cidades de Santos e Praia Grande
foram elevadas à condição de estância.
A narrativa de sua experiência no FUMEST e as relações políticas mantidas ao
longo dos anos, foi de grande valia para o entendimento dos “bastidores’ políticos serranos,
nas décadas de 1960 a 1980 e, as consequências repercutidas no desenvolvimento da cidade.
Estava com 95 anos por ocasião da entrevista.
50
Ingressou na carreira política na década de 1970 e foi eleito vereador por dois
mandados (1972/1975 de 1976/1979). Foi membro da Rotary Clube de Serra Negra, da
Irmandade Santo Antonio de Pádua e Provedor do Hospital Santa Rosa de Lima.
Participou do conjunto vocal Garotos do Ritmo na década de 1940 e permaneceu
até o encerramento do grupo e, forneceu inúmeras fotos do conjunto. Ouvir a Rádio Nacional
era a sua maior diversão, principalmente o programa do Francisco Alves. Possuía a coleção
completa dos discos de Orlando Silva. Através dele foi possível conhecer e colher o
depoimento de Nelson Antonio de Barros que nos revelou inúmeras histórias da cidade de
Serra Negra. Faleceu em 01 de maio de 2015. Estava com 81 anos por ocasião da entrevista.
51
os maestros: Cesarino Perondini, Fioravante Lugli, Ângelo Lamari, João Galo Corato, André
Afonso Bertini, Claudio Bernardino Marques e Roberto Siloto Perondini. Estava com 72 anos
por ocasião da entrevista.
56
...vivemos mergulhardos em um
oceano de sons. Mergulhados em
sons. E em música. Em todo lugar, a
qualquer hora. Respiramos música,
sem nos darmos conta disso ...
(Gino Stefani,1987)
61
[...] estas considerações adquirem maior clareza quando encaramos a evolução por
que passaram, freqüentemente, as cidades paulistas. No início, moradores
segregados. Em seguida, ereção de capela, em patrimônio doado, que atraía lojas e
depois algumas casas. Daí, passava a freguesia, já com o núcleo de população
esboçado. O povoado subia a vila, chegando afinal a cidade. Nestes casos, a
população rural ia se ampliando na periferia, onde apareciam novos bairros, que
passavam a vila, e assim sucessivamente, sertão adentro [...] (CÂNDIDO, 2003, p.
100)
Os Povos da Capela de Nossa Senhora do Rosário da Serra Negra, por mais uma vez
tem recorrido a V. Exa., pedindo remédio, para o desamparo em que se acham os
socorros espirituais, por se acharem afastados da vila de Bragança 9 léguas e de
26
Segundo Siqueira, o texto foi transcrito do Livro de Registro de Provisões do ano de 1828 fls. 5.v., arquivado
na Cúria Metropolitana de São Paulo. A certidão da provisão foi fornecida pelo diretor do Arquivo, o Sr. F.de
Salles Collet e Silva.
27
Capela Curada: título oficial dado pela igreja católica a uma vila com determinada importância econômica e
populacional.
62
Mogi, sete. V. Exa., por sua paternal bondade tem acolhido com benignidade aos
clamores dos suplicantes, já enviando-lhes para que os socorra, já nomeando-lhe o
Padre Antonio do Prado, as qualidades de Capelão curado...que este Padre faleceu...
É por isso que os suplicantes vêm de novo aos pés de V. Exa., implorar a esmola de
elevar a Freguesia aquela Capela para assim ficar remediado os vexames que
(passam) os Suplicantes.
P.P. a V. Exa. Por sua alta providencia se digne deferir-lhes o implorado. O Alferes
Joaquim José Pires[...](JOSÉ, 1999, p.35)28
Uma capela representava, nessa época, - como, aliás, até hoje – o centro obrigatório
da sociedade rural, onde, nas missas dominicaes, nas novenas festivas e nos terços
vespertinos, se fraternisavam pela mesma crença os moradores de toda a
redondeza... Escolheu-se para tal uma planície na fralda da serra Negra, distante
mais ou menos de seis kilometros das Três Barras e onde já havia duas ou três casas
de construção primitiva, cobertas de sapê. (SIQUEIRA, 1934, p. 117).
28
É importante frisar que na relação dos nomes dos cidadãos que assinaram o documento, no final, o escrivão
Francisco Martins da Silva reconheceu as firmas assinadas perante ele; umas eram de próprio punho e outras
eram marcadas com o sinal da cruz, sendo nominadas por ele e pelo Alferes Joaquim José Pires, pois nem todos
eram alfabetizados.
29
Nesse período Serra Negra pertencia juridicamente à Vila de São José de Mogi Mirim. Na obra de Saint-
Hilaire, Viagem à província de São Paulo, o autor narra sua passagem por Mogi Mirim, em 1819, e suas
impressões sobre o pequeno povoado e seus arredores. Descreve que as terras eram muito férteis e apropriadas
para o cultivo da cana-de-açúcar, cuja produção era enviada para o Rio de Janeiro e São Paulo. Durante os anos
de 1818 a 1823 muitos mineiros afortunados migraram e se estabeleceram na região de Mogi. Descreve também
sua estada em um engenho de cana, denominado Pirapintingui ou Pirapitingui (do guarrani, piratitagi- peixe
quase vermelho) antes de seguir viagem para Campinas. (ps. 142-146)
30
O “Pouso Pirapitinguy” situava-se no caminho São Paulo – Goiás.
63
outro, o Bairro dos Leaes31, pertencente a Serra Negra. Segundo os dados fornecidos por
Lima, nesta região havia a prospecção de ouro, extraído em pequenas quantidades, supondo-
se que o povoamento nestas terras iniciou-se ainda no século XVIII. O que corrobora tal
hipótese é a pesquisa que Sebastião Pinto da Cunha realizou sobre a ocupação oficial do
território de Serra Negra, afirmando que o primeiro registro que encontrou diz respeito a uma
propriedade adquirida por José Rodrigues de Oliveira e sua esposa Isabel Cardoso no ano de
1804, localizada entre os bairros Brumado e Leaes:
Valentim da Silva Pinto e Appolinária Ribeiro, eis o primeiro casal que habitou o
território de Serra Negra, segundo documentação existente. Em 19 de maio de 1804
venderam a José Rodrigues de Oliveira (apelidado José Leal) e sua mulher, Isabel
Cardoso, a propriedade denominada (Bromado), correspondente ao atual Bairro do
Brumado e Bairro dos Leais. A escritura foi lavrada no livro nove, folha 49, do 1º
Tabelião de Moji Mirim. (CUNHA, s/d, p.5).
O bairro, com efeito, podia ser iniciado por determinada família, que ocupava a terra
e estabelecia as bases de sua exploração e povoamento. Com o tempo, conforme
tendência visível em todo o povoamento de São Paulo, antes da imigração
estrangeira, atraía parentes, ou filhos casados que se estabeleciam, bem como os
genros, etc. Ao fundamento territorial, juntava-se o vínculo da solidariedade de
parentesco, fortalecendo a unidade do bairro e desenvolvendo a sua consciência
própria. (CÂNDIDO, 2003, p.101)
31
A denominação do Bairro encontra-se grafada como “Leaes” e “Leais”.
32
O primeiro censo encontrado data de 1872; Serra Negra possuía 4.980 habitantes, sendo 224, na condição de
escravos.
64
bairros “da Ramalhada” (família Ramalho), “dos Costas”, “dos Cunhas”, “dos Leaes”, “dos
Rodrigues” e “dos Francos”. Mesmo sendo grandes propriedades com poucas famílias, as
relações de vizinhança eram mantidas, especialmente no período eleitoral e nas festas
religiosas.
Demoraria mais treze anos para a Capela Curada ser elevada à categoria de
Freguesia, o que ocorreu em 12 de março de 1841, através da Lei nº 173.
Rafael Tobias de Aguiar, Presidente da Província de São Paulo etc. Faço saber a todos os seus
habitantes, que a Assembléia Legislativa Provincial decretou, e eu sanccionei a Lei seguinte:
Artigo 1º - Ficam erectas em freguezia as capellas curadas do Campo Largo do município da
villa de Coritiba e da Serra Negra do município da villa de Mogy Mirim, o presidente da
província lhes marcará os limites. Artigo 2º - Ficam revogadas as disposições em contrário.
(CALDEIRA, 1935, p. 57).
33
Ata de Eleições – ano 1842. Arquivo Câmara Municipal de Serra Negra. Tombo 149.
34
Regimento das Câmaras Municipais do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert,
1857.
65
35
Flort (1986) e Telarolli (1981) discutem em suas obras as atribuições dos Juízes de Paz nos pequenos
povoados, inclusive analisam as denúncias de corrupção praticadas por eles, o despreparo jurídico e o vínculo
com as lideranças políticas locais. As atribuições foram se alternando ao longo dos anos e, com a Lei 2222/1927
criou-se o cargo de Juiz Substituto. Com a reforma o Juiz de Paz passou a exercer sua função somente junto aos
Cartórios de Registro Civil, oficializando casamentos. Interessante destacar a peça teatral O Juiz de Paz na Roça
(1842), em que o autor Martins Pena descreve de forma jocosa alguns acontecimentos envolvendo um Juiz de
Paz.
36
Segundo Siqueira (1934, p.127) a primeira cadeia foi construída no local em que atualmente localiza-se a
agência do Banco Itaú S/A.
37
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Departamento de Documentação e Informação.
www.alesp.org.br – acesso em 02/02/2014.
66
Entre 1859 e 1890, Serra Negra, na condição de Vila, passou por várias
transformações e, através da análise dos Códigos de Posturas, constatou-se algumas mudanças
ocorridas, além da substituição da mão de obra escrava pelo trabalho dos imigrantes.
As Posturas designam as leis ou os decretos municipais, instituídos em benefício
de uma coletividade, nos quais, ao lado das normas de conduta a serem seguidas pelos
munícipes, fixam-se penas e multas a serem impostas a todos os que se mostrem
transgressores ou infratores dos preceitos nelas instituídos38.
Lapa (2008, p.54) aponta que “as posturas municipais constituem fonte primária
fundamental para o estudo da urbanização do interior de São Paulo, identificando-se na
maioria de suas disposições independentemente do tamanho da cidade”, acrescentando ainda
a importância desses documentos como instrumentos reguladores da vida urbana, e afirma
ainda que eles foram produzidos e alterados de acordo com a evolução e transformação da
cidade.
Foram encontrados quatro Códigos de Posturas de Serra Negra, sendo o mais
antigo de 1875, com aditamento de 03/06/1877, seguindo-se o de 1886, com alterações de
alguns artigos conforme resolução de 22/08/1888. Regulamentou-se o de 1905, em 18 de
novembro, através da Lei nº 51 e, em 1919 encontrou-se o último Código de Posturas.
Ressalte-se que em ata lavrada em 01 de fevereiro de 1896 constam alterações de alguns
artigos referentes às Posturas regularizadas através da Lei de nº 14 de 14 de novembro de
1885, porém, não se encontraram mais informações sobre as Posturas de 188539.
Considerando os quatro Códigos mencionados, é possível constatar que nos
intervalos desses anos ocorreram mudanças significativas, e que houve a necessidade de
alterações e reformulações dos artigos presentes nos sobreditos códigos.
O Código de Posturas de 1875 é composto de oito capítulos com 91 artigos.
O primeiro capítulo referia-se ao “Alinhamento, Elegância e Regularidade dos
Edifícios”, deliberando de forma detalhada sobre as larguras das Ruas, as metragens das casas
térreas e sobrados, incluindo os diâmetros das portas e janelas.
Art. 1º. As Ruas e travessas novas que para o futuro se formarem nesta Villa,
conterão a largura de 13m, 20.
38
De Plácido e Silva. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Companhia Editora Forense, 2001.
39
Ata da Câmara. Acervo Câmara Municipal de Serra Negra tombo nº 91.
67
Art. 2º As portas dos prédios será construído ou reedificado sem assistência do fiscal
e arruador, para darem o alinhamento competente e fazerem guardar a symetria,
elegância e regularidade de que mencionão os parágrafos seguintes.
§ 1.º As casas, sendo térreas, deverão ter pelo menos 4m, 40 de altura, e as de
sobrado, 7m, 92 para cima, sendo as soleiras levantadas do nivelamento da Rua 22
centímetros.
§ 2.º As portas dos prédios que se edificarem ou reconstruírem terão de altura duas
terças de seus pés direitos, e de largura 1m, 10. As Janellas guardarão para com as
portas, em altura a mesma proporção que estas guardão para com os pés direitos
(dous terços), sendo, porém, os espelhos inferiores de quatro palmos de altura,
inclusive o peitoril, tendo de largura 1m, 10.40
40
Código de Posturas disponível no site da Assembleia Legislativa de São Paulo.
www.al.sp.gov.br/alesp/normas. Acesso em 17/02/2014.
41
No Código de Posturas de 1886, a função do arruador é mais bem definida, disposto no Capítulo XI, que
dispõe sobre os empregados da Câmara.
68
CAPÍTULO IV
Dos Rios
Art.45. É prohibido cercar águas que passão nos terrenos da Villa. É igualmente
prohibida a pescaria por meio de parys, cercos, timbós e outros ardis, ou por
venenos que possão prejudicar a saúde pública. O contraventor será multado em
20$000 e obrigado a repor as águas em seu primitivo estado.
Art. 46. É prohibido lavarem-se roupas ou quaesquer outros objectos sujos, acima
das bicas de águas desta Villa, bem como lançar objectos sujos que prejudiquem a
limpeza e saúde pública; multa de 30$000 ao contraventor, além da obrigação de
fazer a limpeza das águas a sua custa.
42
A supervisão era rigorosa e as multas eram aplicadas corriqueiramente, porém havia a possibilidade de
recorrer da punição. Foi o que fez o cidadão José Vieira de Carvalho. No dia em que foi convocado para a
abertura de um caminho no Bairro do Barrocão, José não pode ir. Justificando o ocorrido ele apresentou um
requerimento na seção da Câmara Municipal de Serra Negra, realizada em 05 de maio de 1895, solicitando a
reconsideração da aplicação da multa de 10 mil réis, narrando que a sua ausência foi suprida com a ida de outra
pessoa, mas o inspetor recusou a substituição. Como apresentou testemunhas o requerimento foi deferido e a
multa suspensa. Ata da Câmara Municipal de Serra Negra, Tombo nº 03. ACM 03. Durante muitos anos a
manutenção das vias públicas e caminhos foi regulamentada pelas Posturas Municipais. Quando o poder público
assumiu a responsabilidade alguns problemas surgiram. Dentre eles estava a cobrança de taxas e impostos sem a
contrapartida da execução de melhoramentos das estradas municipais que serviam a área rural. Em abril de 1950,
apresentou-se um requerimento na Câmara Municipal, contestando o valor exorbitante das taxas cobradas na
década de 1940, argumentando ainda que a Prefeitura não efetuara nenhum melhoramento nas estradas rurais e
que “não se admite taxa de conservação de estradas municipais, quando é certo, certíssimo, que a Prefeitura não
conservou qualquer estrada municipal no exercício de 1949”. O pedido solicitava a dispensa do pagamento da
taxa de conservação referente ao ano de 1949 e a redução do valor desse imposto. O requerimento contou com
assinatura de 95 proprietários, representantes de todos os bairros rurais do município de Serra Negra.
69
Art.58 – É prohibido negociar com escravos, sem bilhete de seu senhor; multa de
20$000 ao contraventor e 15 dias de prisão .
Art. 90.- Todo escravo fugido que for capturado dentro deste Município e fechado
na Cadêa desta Villa, o senhor do escravo ou pessoa que apresentar documentos
competentes do senhorio, pagará, sendo habitante do Município desta Villa, 12$000
ao Fiscal; sendo o escravo de outro Município, pagará 30$000; dessa quantia o
Fiscal tirará no primeiro caso, 4$000, e no segundo, 6$000 para a Câmara, pagas as
despesas da somma entregará ao apprehendor do escravo a titulo de gratificação,
pagas as despezas de carceragem e sustento do preso, e seu curativo se tiver
adoecido, pelo senhor do escravo, sem o que não lhe será entregue.
43
ALMANAK DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO para 1873, organizado e publicado por Antonio José
Baptista de Luné e Paulo Delfino da Fonseca. Edição Fac-Similar. Imprensa Oficial do Estado S. A. São Paulo,
1985. (425/427).
44
Apêndice 2 – Quadro de Fazendeiros de Café e Fazendeiros de Cana-de-Açúcar.
70
Quantidade Tipos
03 Negociantes de Fazendas
04 Negociantes de Fazendas e Molhados
06 Negociantes de Molhados
01 Alfaiates
06 Carpinteiros
02 Ferreiros
01 Marceneiros
01 Sapateiro
Quadro nº 01. Estabelecimentos Comerciais. Serra Negra, período de 1873. Fonte: Dados do Almanak da
Província de São Paulo. Quadro elaborado pela pesquisadora.
[...] Rua Visconde do Rio Branco chamava-se Rua de Santa Cruz; a José Bonifácio,
Rua das Flores; a Saldanha Marinho, travessa do tanquinho; a Prudente de Moraes
(anteriormente Luis Leite), Rua Direita; a Tiradentes, Rua de Santo Antonio ou Rua
da Ponte. A Rua 7 de Setembro, que nessa época não possua a extensão actual,
chamava-se Rua do Commercio. Havia também o largo de São Benedito, actual
praça da Independência47, e o largo da Matriz, que hoje se chama Praça Lourenço
Franco de Oliveira. (SIQUEIRA, 1934, p. 128/129).
45
Capitão Francisco Pinto da Cunha, conhecido como Chico Ramos, chefe político local, cujos seguidores eram
conhecidos como “ramistas”.
46
A princípio a rua foi designada como Rua da Várzea, pois se localizava no Bairro da Várzea; em 1887 passou
a chamar-se Rua da Liberdade e, finalmente, no período republicano denominou-se Rua Cel. Pedro Penteado,
nome que perdura até a atualidade, sendo a principal rua do comércio da cidade de Serra Negra.
47
Atualmente: Praça Barão do Rio Branco
71
Ilustração nº 02 - Panorama de Serra Negra, 1908- Apresentando a área urbana da cidade, com as duas
Ruas principais: Rua Cel. Pedro Penteado (abaixo) e Rua Sete de Setembro, com alguns sobrados.
Cedida por Alcebíades Felix. Acervo da pesquisadora.
48
Manifestações culturais de negros e indígenas.
72
49
RELATÓRIO apresentado ao Exmo. Sr. Presidente da Província de São Paulo pela Comissão Central de
Estatísticas, Leroy King Bookwalter, São Paulo: Tipografia King, 1888
50
Idem Relatório de 1888.
73
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS/FÁBRICAS
Quantidade Tipos
05 Fábricas de açúcar e aguardente
03 Máquinas de beneficiar café
02 Lojas de fazendas, ferragens e armarinho
04 Armazéns de secos e molhados
03 Farmácias
02 Hotéis
02 Açougues
06 Padarias
02 Sapatarias
02 Selarias
04 Ferrarias
03 Marcenarias
03 Foguetarias
02 Casas de bilhar
03 Olarias
01 Fábrica de cerveja
ANO POPULAÇÃO
Livres Escravos
1872 4.756 224
1886 9.148 472
Por outro lado, o ponto comercial não poderia ser encarado como um espaço de
lazer para os cativos, mas nem sempre as normas eram cumpridas a rigor, como aponta Lapa,
para Campinas:
Livre, em 1871, 172 pessoas foram beneficiadas em Serra Negra, mas os novos libertos
permaneceram residindo nas terras dos proprietários de suas respectivas mães51.
Corrobora ainda para a lacuna existente a posição de alguns autores que trataram a
questão escravocrata em Serra Negra de maneira superficial e com informações imprecisas,
como salientou Siqueira (1934, p. 131), “mas, sobre a repercussão da Lei Áurea nesta
localidade, nenhum documento importante encontramos. A esse respeito, também a tradição
oral bem pouca guarda. E esse pouco é confuso, contradictorio”.
Têm-se também as afirmações encontradas nas obras de Caldeira (1935) e Felix
(2012), as quais simplesmente enaltecem os cidadãos serranos pela atitude nobre ante o
sistema escravocrata, sem nenhuma menção às fontes pesquisadas ou quaisquer
52
questionamentos .
Fato digno de registro é que muito antes da campanha que resultou na lei de 13 de
maio de 1888, Serra Negra não registrava nenhum escravo. (FELIX, 2012, p. 24)
Art. 82
Só serão permittidas as congadas nos dias de festa e mediante autorisação do
delegado de polícia, e isto só depois de satisfeito o imposto de 20$000.
§ único.
São prohibidos: os sambas, batuques, funcçoes, danças de São Gonçalo e outras
congêneres, sob pena de multa de 20$000. (Posturas de 1905)
51
São Paulo do Passado. Dados demográficos 1836 -1920. Um instrumental de trabalho (p. 92 e 97)
www.nepo.unicamp.br/publicacoes/versos.html, acesso em 20/03/2014.
52
Será necessária uma pesquisa mais aprofundada do tema e uma das possíveis fontes é o acervo do judiciário
serrano, que poderá contribuir para uma análise criteriosa da escravidão serrana, contrapondo as citações
mencionadas, que se baseiam no senso comum. O acervo do judiciário da Comarca de Serra Negra contém ações
que envolveram escravos e seus proprietários, são feitos de natureza cível e criminal e abrangem as décadas de
1870 e 1880.
76
Ilustração nº 03 - Trecho da Ata da Seção da Câmara Municipal de 25/01/1896. Fonte: Acervo da Câmara
Municipal.
Juizado de Paz da Comarca de Serra Negra; o músico, maestro e professor de música José
Rodrigues da Silva Munhoz, também oficial de justiça; e o músico violinista Ariovaldo do
Amaral Campos, professor de música, maestro e compositor53. Segundo Rocha (2007),
Ariovaldo estudou em um conservatório na cidade de Campinas e suas obras teriam sido
destruídas por sua esposa, logo após o seu falecimento.
Foto nº 2. O músico Ariovaldo do Amaral Campos, 1908. Foto realizada em estúdio. O músico
aparece executando seu instrumento e regendo. Foto cedida por Maria Eloíza Patrício de Toledo.
Acervo da pesquisadora.
53
Esses músicos foram muito atuantes em Serra Negra, inclusive convivendo e influenciando os músicos
imigrantes italianos.
78
trombone, e assim ia-se formando um quinteto que, com mais alguns instrumentos
adquiridos após laboriosas economias, transformava-se em uma pequena banda de
10 a 15 figuras, até que esta se completasse com tambores e pratos. Algumas, nos
mais afastados rincões, nem sempre conseguiam realizar o grande sonho de se
uniformizar ao menos com um bonnet, mas outras contavam com trajes completos e
se compunham de grande número de músicos, quase sempre bigodudos, a soprar
com energia em trombones e bombardinos. (CENNI, 1975, p.240)
Foto nº 03. Corpo Musicale “Umberto I” de Serra Negra, década de 1900. Atrás dos músicos a bandeira
da banda. Ao centro, sem instrumento, o Maestro Vincenzo De Benedictis; ao seu lado direito, Alberto
De Benedictis com trompete entre os joelhos; o próximo é Zacharias Quaglio, com clarineta apoiada na
coxa esquerda. Fotógrafo: C Giuliano. São Paulo. Foto cedida por Guilherme Della Guardia. Acervo da
pesquisadora.
79
Depois que meu avô veio, isso foi lá em Santo Aleixo54, não foi em Serra Negra,
então já era tempo de apanhar café. E meu avô tava apanhando café assim. Quando
estava apanhando café, passou o feitor que ia levando comida para os escravos. Os
escravos estavam trabalhando mais prá cima que meu avô. E meu avô trabalhava no
tempo de escravo, mas separado. Mas ele cumprimentou meu avô. – Bom dia,
Domingo, como vai? Ele ia indo lá. Sabe o que é bruaca?
É uma espécie de jacá, mas é de couro. Cheio de angu. Dois cochos. Um burro
levava dois cocho e o outro burro a bruaca de virado. E lá estendia aqueles cochos
assim. Chamava um preto para ajudar desatar a carga. Despejava no cocho, dava um
empurrão para lá e pra cá. E a negrada vinha. ...Quando foi uma certa hora, o sino da
fazenda bateu. Bateu o sino! O meu avô não sabia mais o que fazer. Porque era
ordem de quando o sino batesse na fazenda, para tudo se apresentar. Meu avô já
tinha o meu pai. Já tinha 12 anos. – Mas, Pedro, você vai na fazenda e peça para o
administrador o que que tá acontecendo? Aí o menino, daí deu três pulo e pulou lá
na fazenda e foi falar com o administrador: – Ah! Diga pro seu pai, que não é nada
com ele. Diga que pode trabalhar. É que agora os negros ficaram gente que nem
nóis. Agora ficara gente também... Aí foi lá e falou, pro meu avô: – Ah! Pai, ele
disse que não é nada com o senhor não, senhor pode trabalhar, que agora os negro
ficaram gente que nem noi. – Será que fica? O menino ainda falou: - Porco cane é
vero!!. Não demorou muito a gritaiada de negro. Não comeram virado aquela vez.
Despejaram por aquele cafezal afora. – Temo forro, temo forro!!!. Aí meu avô ficou
lá:- Mai temo forro. O que, que é esse temo forro? Temo forro. O que, que é esse
temo forro?55 (Armínio Silotto, 1997, Serra Negra /SP).
54
Santo Aleixo é um bairro rural de Serra Negra, antes denominado Bairro do Pary, onde estava localizada a
fazenda de João Pires Baptista, proprietário de vários escravos, entre eles Adão e Abel, réus condenados na
primeira seção de júri, no ano de 1886, na Comarca de Serra Negra.
55
A narração permite observar que o imigrante Domingos (Domênico) Silotto ficou questionando a felicidade
dos escravos, parecia não entender : ... temo forro...temo forro.... (Estamos alforriados! Estamos livres!).
56
As péssimas condições de viagem são narradas por Angelo Trento (1988, p. 44/45). O autor descreve que o
número de passageiros era bem superior às vagas disponíveis, vinham acomodados em beliches espalhados pelo
convés e até dormiam diretamente no assoalho. A alimentação não era adequada, os imigrantes estavam sujeitos
a várias doenças, sendo que a viagem poderia durar até 30 dias, todas essas condições aumentavam o índice de
mortalidade, principalmente a infantil. Verena Stolke (1993, p. 44) observa que, além das condições da longa
viagem, outros fatores contribuíram para o falecimento de inúmeros imigrantes, entre crianças, idosos e adultos.
A autora cita o traslado entre o Porto de Santos e as fazendas, as condições climáticas e alimentares, fatores esses
agravados pela miséria.
80
sugere que os imigrantes que vieram juntamente com seus familiares já estavam
comprometidos com um determinado fazendeiro.
57
Referente ao processo criminal 1887 – Acervo da Comarca de Serra Negra/SP,
81
O trabalho infantil estava integrado ao trabalho familiar, pois desde cedo os filhos
menores eram encarregados de pequenas tarefas, como o cuidado dos animais ou levar o
almoço e o lanche até o local onde os mais velhos estivessem trabalhando60.
Ainda segundo Alvim (1986, p.87), as mulheres, além dos serviços domésticos,
ocupavam-se das hortas e do cuidado com animais, participavam da plantação e da colheita
das diversas culturas, pois “a divisão de tarefas implicava necessariamente no trabalho de
todos e garantia as necessidades básicas da família”.
Vários imigrantes que eram agricultores e chegaram para trabalhar nas lavouras
permaneceram nessa atividade, inclusive adquirindo suas próprias propriedades. Outros
agricultores se aventuraram no ramo comercial, na área urbana, como os pais dos depoentes
Oswaldo e Irineu Saragiotto, os quais eram oriundos de Padova. A família chegou ao Brasil
em 1892. A princípio trabalharam em uma fazenda na cidade de Laranjal Paulista, depois se
mudaram para Serra Negra, estabelecendo-se como comerciantes.
58
Segundo Ferrari (2013, p. 137) a família Silotto permaneceu por 10 anos como meeiros nas propriedades de
José Antonio da Silva.
59
Membros da família Silotto ainda são proprietários, no Bairro das Três Barras, das terras remanescentes da
primeira compra realizada por Domingos Silotto. Os descendentes Décio e Alfeu Silotto mantêm a tradição da
feitura do vinho, inclusive a uva que utilizam é da variedade “Jacks”, cuja primeira muda Domingos trouxe da
Itália, no final do século XIX. Produzem também cachaça e recebem visitantes para degustação nas
dependências do Sítio São Pedro.
60
Na fala de Sr. Armínio ele apontou a presença de seu pai, Pedro, então com 12 anos, entre os trabalhadores
italianos.
82
Alfaiates 05 Industriais 03
Artistas- músicos 04 Lavradores 255
Canteiro 01 Lavradoras 170
Carpinteiro 05 Marceneiros 04
Carroceiros 03 Médico 01
Comerciantes 25 Mecânicos 05
Construtores 05 Motoristas 04
Costureiras 03 Oleiro 01
Do lar 70 Operários 27
Eletrotécnicos 01 Pedreiros 10
Encanadores 02 Perito industrial 01
Ferreiros 03 Professoras 02
Ferroviários 02 Religiosas 04
Guarda-chuveiros 01 Relojoeiros 01
Guarda – livros 02 Sapateiros 05
Hoteleiros 03 Seleiros 02
De acordo com Trento (1989, p. 108), “os municípios onde mais se fez sentir a
presença dos italianos foram os situados na zona de fronteira da expansão do café, ou seja, nas
áreas ao longo das ferrovias Mogiana e Paulista”.
Os trilhos da Mogiana chegaram a Serra Negra no ano de 1892, vindos da cidade
vizinha de Amparo61, que foi a pioneira na região a receber a ferrovia, em 1878. Os trilhos
seguiram para Monte Alegre do Sul, atingindo, finalmente, em 1909, a cidade de Socorro62.
Ferrari (2013, p.185) enfatiza a importância dos funcionários e operadores da
Mogiana, pois, além do maquinista, do foguista63 e do vendedor de bilhetes, existiam os
responsáveis pela carga, descarga e conferência das mercadorias, o telegrafista que
61
Entre Serra Negra / Amparo a extensão da linha era de 41 quilômetros e a viagem durava 2:15hs.
62
O Ramal da Mogiana de Serra Negra foi desativado no ano de 1956. O Prefeito Irineu Saragiotto apresentou
um Projeto de Lei em 17 de maio de 1957, solicitando a abertura de crédito adicional com a finalidade de
adquirir da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro o terreno e o respectivo prédio que abrigava a estação,
tendo em vista não ter logrado êxito a tentativa de doação do imóvel para o Município. A lei foi aprovada e a
área passou a pertencer à municipalidade.
63
Foguista era o responsável pela reposição da lenha e fervura da água.
84
Foto nº 04. Trem da Mogiana, passando pelas propriedades rurais numa manhã de inverno, com muita
geada. Década de 1930. Foto cedida por Nestor Leme. Acervo da pesquisadora.
85
Foi numa tarde pálida e morna do mês de agosto de 1895, que desembarcamos em
Serra Negra, final de um ramal férreo da Mogiana, com a bitola reduzida para
sessenta centímetros, a partir de Amparo. Porque éramos muitos, meus pais, cinco
irmãos e minha cunhada com o seu primeiro rebento no colo, além dos criados,
ocupamos todo um vagãozinho de primeira classe e, sob uma verdadeira chuva de
fagulhas e fumaça escura, cheirando a carvão de pedra, sinuosamente, entre
montanhas cobertas de café, alcançamos a primeira estação, Alferes Rodrigues, de
onde se descortinava um panorama a perder de vista. Pudemos, então, respirar um
pouco de ar puro para, logo mais, caminharmos de novo, ziguezagueando pelos
verdejantes cafezais que se estendiam continuadamente, até novas paradas em mais
de três pequenas estações: Pantaleão, Brumado e Santo Aleixo.
Chegamos. Aliás a maquinazinha, com repetidos e estridentes apitos, disso mesmo
nos avisara. Foi depois de uma grande curva da linha que vimos a pequena estação
de Serra Negra, onde desembarcamos sob a curiosidade de meia dúzia de pessoas
(GODOY, 1970, p.1-2).
ANO POPULAÇÃO
1872 4.980
1886 9.620
1890 10.649
1900 27.683
1905 21.684
1912 22.000
1916 24.682
1920 22.960
1925 26.699
1929 31.829
64
Sylvino de Godoy foi um dos sócios do jornal Correio Popular, fundado em Campinas, em 1927, por Álvaro
Ribeiro.
86
Quantidade Tipos
06 Alfaiates
05 Barbeiros
05 Caldeireiros e funileiros
10 Carpinteiros e marceneiros
07 Ferreiros e serralheiros
01 Fogueteiros
53 Negociantes
04 Ourives e relojoeiros
02 Sapateiros
607 Fazendeiros de Café
Quadro nº 06. Estabelecimentos Comerciais. Serra Negra, período de 1905. Fonte: Dados do
Almanack Laemmert de 1906. Quadro elaborado pela pesquisadora.
Os dados dos quadros acima apontam que Serra Negra, em 1905, estava com
21.684 habitantes, contava com 607 fazendeiros de café e a produção da rubiácea estava em
torno de 400.000 arrobas65. O aumento dos recursos circulantes justificava os novos postos de
serviços e as atividades comerciais, criados na zona urbana. A produção cafeeira influenciou
mudanças também na área rural, pois, a partir do final do século XIX, implantaram-se pontos
comerciais, como o instalado no Bairro dos Leaes, onde o imigrante sírio-libanês João Felix
instalou sua loja de fazendas e armarinhos, como lembrou o depoente Alcebíades Felix.
Quando meu avô chegou aqui, ele se estabeleceu em Serra Negra, João Felix. Aí ele
trocou a casa daqui com o Bairro dos Leaes e lá ele pôs um armazém de secos e
molhados, tecidos, etc. [...] no Bairro dos Leaes, aquela casa em frente a Igreja
Santo Antonio. (Alcebíades Felix, 2014, Serra Negra/SP.)
65
Almamak Laemmert, 1906.
87
Proprietário Bairro
Armando Pivello Leaes
Coli & Comp. Serra de Baixo
Domingos Morganti Macacos
Hercules Lamari Costas
Humberto Nicoleti Serra de Cima
Irmãos Nóbrega & Cia Santo Aleixo
João Felix Leaes
Luiz Martini Tabaranas
Manoel Gonçalves Cerdeira Leaes
Pedro Moretti Serra de Cima
Sebastião Tolentino da Silva Barreiro
Quadro nº 07. Lojas de Fazendas e Armarinhos/ área rural. Serra Negra, período de 1912.
Fonte: Dados mencionados no Almanack de Serra Negra, 1913. Quadro elaborado pela
pesquisadora.
66
A família Lamari é respeitada em Serra Negra em razão do legado musical dos irmãos, com seus respectivos
instrumentos: José – flauta, Romeu – clarineta/piano, Luiz – percussão/ violino, Caetano – bombardino e Ângelo
– violino e maestro da Corporação Musical “Lira de Serra Negra”. Eles participaram ativamente da vida musical
na cidade, sendo professores, instrumentistas das bandas de música e de conjuntos musicais.
67
Processo 1904 – 1º Ofício da Comarca de Serra Negra- Acervo do Judiciário.
89
68
Em 1903 inaugurou-se o primeiro Banco de Crédito Rural na cidade de Capivari, por Jacintho Pereira da Silva
Barros e serviu como modelo para a instalação de demais bancos no interior do Estado de São Paulo. Segundo
seu criador, os bancos rurais seriam uma espécie de caixas de crédito para prover e auxiliar a lavoura, utilizando
a poupança que os lavradores traziam em suas residências e que, por falta de confiança, não depositavam nos
bancos tradicionais. Ver mais: CORREA, Fabio Rogério Cassimiro. Os Bancos de Custeio Rural e o crédito
agrícola em São Paulo (1906-1914). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de
História. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
90
de Direito, Julio Amaro da Rosa Furtado, e o capital inicial foi de cem contos de réis,
contando com 72 acionistas.
De acordo com os levantamentos de Correa (2014), em sua pesquisa sobre os
Bancos de Custeio Rural no Estado de São Paulo, a finalidade dessas casas bancárias era a de
promover empréstimos aos pequenos e médios fazendeiros associados, sendo que o valor
liberado era somente o estritamente necessário aos gastos anuais para manutenção do cafezal
e à colheita, tendo a safra como garantia do penhor. O contrato entre os acionistas e o banco
assegurava o financiamento por três anos, cobrindo três safras consecutivas e o valor
emprestado estaria associado a uma avaliação dos custos da produção anual do solicitante. Os
juros contratados eram de 6%ªª. As casas bancárias estavam vinculadas a uma Sociedade
Incorporadora, fundada em 1906, cuja finalidade era a regulamentação e institucionalização
dos pequenos bancos instalados no interior do Estado; estavam submetidos à fiscalização da
Secretaria da Fazenda e todos seguiam o modelo do banco experimental da cidade de
Capivari. Nos anos de 1907 e 1914 foram criados 48 bancos no Estado de São Paulo.
O autor também chamou a atenção para a situação econômica da cidade de Serra
Negra, pois a mesma assinou 22 contratos no valor médio de 2:448$864, com penhor de
15.387 arrobas de café, no dia 19 de setembro de 1909, poucos dias após o registro oficial do
funcionamento do Banco Rural de Serra Negra, apontando que toda a documentação para a
abertura do banco estava em ordem. Destinaram-se os empréstimos aos pequenos e médios
produtores, cumprindo a finalidade da entidade financeira.
As transações continuaram até 2 de janeiro de 1914, quando a Sociedade
Incorporadora teve sua falência declarada em decorrência da insolvência de vários
comissários de café de Santos com a Incorporadora, segundo os levantamentos de Correa
(2014). Considerou-se uma transação ilegal, pois os empréstimos, a princípio, não eram
destinados a terceiros.
A quebra da Incorporadora atingiu todas as Casas de Crédito Rural do Estado de
São Paulo, inclusive a de Serra Negra, que, em abril de 1914, obrigou-se a ajuizar o pedido de
falência. A ação tramitou até abril de 1918, quando ocorreu o último rateio dos créditos
devidos.
A produtividade do café, a variedade de culturas agrícolas e o aumento da
população no Município de Serra Negra contribuíram para novos postos de trabalho e
91
69
Segundo o Statuto Della Societá Italiana Di Muttuo Soccorso “Umberto I” in Serra Negra fondada el giorno 8
dicembre 1895. Documento pertencente ao acervo da família de Luiz Roberto Invernizzi.
70
Entende-se por Cassiere o cargo de tesoureiro e o de Segretario refere-se a secretário.
71
O documento foi redigido em idioma italiano.
92
A sua identificação ficou reforçada com “as duas mãos que se apertam como
símbolo da irmandade”.
Em Serra Negra, foi marcante a atuação da Societá Fra Italiani em vários
momentos, auxiliando, outrossim, os membros da colônia. No mesmo mês de sua fundação,
por exemplo, os sócios se reuniram para discutir a questão da educação de jovens e adultos
pertencentes ao contingente dos imigrantes italianos. Eles deliberaram que seria aberta uma
escola noturna gratuita para os sócios e seus filhos, a qual funcionaria na residência do
associado Sr. Cesare Tosi. Na assembleia resolveu-se que a Societá pagaria uma porcentagem
72
No Almanacco Del Fanfulla, publicado em 1905, constam informações de inúmeras sociedades italianas
instaladas no Estado de São Paulo. Estão registrados: datas de fundação, membros das diretorias, associados,
fotos das sedes e fotos de bandas de música. É possível identificar que as atividades musicais encontram espaço
considerável na publicação.
73
Sobre a Societá Italiana de Mutuo Soccorso Umberto I, não foram encontrados dados sobre o seu
funcionamento; o que se tem é a menção da sua extinção registrada em livro ata da Societá de Mutua Assistenza
Fra Italiani, em reunião realizada em 13/07/1905.
74
Essa nova sociedade de mútua assistência permaneceu em atividade até a década de 1940.
93
do aluguel do imóvel e, em troca, o Sr. Cesare ministraria as aulas em duas horas diárias e
disporia de alguns cômodos da casa para essa atividade de ensino75.
A preocupação com a educação dos imigrantes e seus filhos também era
pertinente à família do Sr. Armínio Silotto (1997), em cujo depoimento descreveu que seu pai,
Pedro Silotto, ao chegar ao Brasil com nove anos, já era alfabetizado, e aqui aprendeu
português. Contou, também, que sua irmã mais velha era encarregada de alfabetizar os
irmãos; pois aprendera a ler com o pai; como eram poucas as escolas localizadas na zona
rural, o acesso a elas era restrito. Assim sendo, a saída para o problema era o estudo em casa e
as aulas aconteciam todas as noites. Após o jantar, as crianças sentavam em volta da mesa e
iniciavam os estudos, porém isso se dava somente durante a presença do Sr. Pedro Silotto.
Logo após o recolhimento dos seus pais, as crianças interrompiam as aulas, pegavam o
baralho e jogavam partidas de “bisca”76.
A criação do Grupo Escolar em Serra Negra ocorreu através do Decreto do
Governo Estadual de 18 de fevereiro de 1901, mas não atendia a todas as crianças em idade
escolar e funcionou durante muito tempo de forma precária, em um espaço adaptado, com
acomodações consideradas impróprias. As salas eram muito pequenas, faltavam galpões de
abrigo para o recreio e aparelhos de ginástica77. A despeito do edifício não ter sido
considerado ideal para o funcionamento de um Grupo Escolar, ele permaneceu no local até o
ano de 1914, quando se inaugurou o prédio especialmente construído para abrigar a escola78.
Apesar das mudanças ocorridas em virtude da crescente população imigrante,
faltava em Serra Negra estrutura para o lazer dos seus munícipes. A grande maioria dos
atrativos eram os ligados à religiosidade, como as festas e quermesses realizadas em
homenagem aos santos devotos e que englobavam as apresentações musicais. A possibilidade
da criação de um clube recreativo naqueles anos comemorou-se na cidade com muito jubilo,
porque se criava uma regularidade de funções recreativas, não mais condicionadas às
homenagens aos santos em datas determinadas.
75
Ata da reunião das Societá M. A. Fra Italiani, datada de 31 de maio de 1903. Acervo Família Lamari.
76
Ainda na área rural, era comum os jovens das propriedades próximas se reunirem em uma determinada casa e
contratarem um professor.
77
Relatório apresentado pelos inspetores que vistoriaram o Grupo Escolar nos anos de 1906 e 1907. Livro
Termo de Visitas. Acervo da Escola Estadual “Lourenço Franco de Oliveira”.
78
Antes da criação do Grupo Escolar em 1901, a cidade contava com as Escolas Reunidas e, segundo os dados
constantes do Livro de Matrículas de Aula Pública de Instrução Primária do Sexo Masculino, em 1887 estavam
matriculados 54 alunos. Em 1888, 59 alunos. Em 1889, 69 alunos e, em 1890, foram registrados 54 alunos.
Acervo da Escola Estadual “Lourenço Franco de Oliveira”.
94
CLUB RECREATIVO
Hoje, a 1 hora da tarde, realisarse-á, na sala da câmara municipal, uma reunião de
diversos cavalheiros da nossa sociedade com o fim de tratar-se da fundação e
organização aqui de um Club Recreativo. Applaudimos com enthusiasmo essa idéia
e protestamos nosso franco apoio a Ella, esperando cheios de esperança a sua
realização. Já era por demais sentida a falta, nesta cidade, de um “meio” onde se
encontrassem algumas distrações para o espírito. Cançado pelo trabalho do dia, à
noite tem-se necessidade de palestra agradável, música, leitura variada, jogos
familiares, qualquer cousa emfim que nos ponha na alma um deleite suave, uma
doce alegria. Tem-se assim, apar da vida material, uma vida espiritual cheia de
attrativos. E isto vem realisar nosso club, que nos arrancará do marasmo, em que
vivemos, contribuindo ainda para o progresso desta terra. Associações similares a
esta desenvolvem nos seus membros o sentimento altruístico, educam moral e
intellectualmente. E o facto da convivencia estreita amizades que constituem a baze
de uma sociedade moralisada e boa. Eis porque nos alegrou essa notícia que
transmittimos aos nossos leitores, fazendo votos para que na reunião de hoje fique
definitivamente assentado o plano de organisação desse novo gremio. (Jornal “A
Serra Negra”, 29/01/1905)
Reunir-se: fazer pública a sua presença, exibir pompa, ver homens e mulheres bem-
vestidos e bonitos, contar e ouvir as novidades, assistir a apresentações musicais,
mostrar filhas na busca de maridos, homens finos admirando e fazendo a corte a
cortesãs. Os jogos sociais e sexuais – com a tácita concordância entre seus
praticantes – o plaisir de la promenade, tinha um palco magnífico nos jardins
públicos. (SEGAWA, 1981, p. 46).
79
O Jardim Público localizava-se no espaço designado Largo da Liberdade; depois designou-se como Praça
Barão do Rio Branco e, atualmente, é a Praça João Zelante. Firmou-se um contrato, em 26/08/1905, entre a
Câmara Municipal e o Sr. Manoel Estevam de Barros, para fazer o assentamento do coreto no Jardim Público,
pelo preço de 1:600$000. Termos de Contrato entre Câmara e Particulares. Tombo nº 43. Acervo da Câmara
Municipal de Serra Negra.
80
Francisco Pinto da Cunha também foi o responsável pela abertura da Rua da Várzea, atual Cel. Pedro
Penteado, como mencionado anteriormente.
81
A Corporação Musical “Lira Serra Negra”, fundada em 1945, realiza concertos quinzenais no mesmo local
desde sua fundação.
95
82
O primeiro contrato encontrado é de 11/04/1906, sendo renovado no ano seguinte e, posteriormente, em 1910.
Constava também nas cláusulas que o programa musical deveria ser publicado no jornal local. A Banda teria que
realizar as alvoradas nas datas cívicas e se apresentar nas solenidades promovidas pela Câmara. Em
contrapartida, a Câmara se comprometia a avisar o maestro das datas comemorativas, com oito dias de
antecedência, a fim deste de preparar o repertório. Termos de Contrato entre Câmara e Particulares. Tombo nº
43. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
96
83
Com relação à banda “Cezarino”, possivelmente tem relação com o músico e maestro Cezarino Teixeira de
Barros. Existe também a referência de um conjunto musical chamado “União Faz a Força” e sua apresentação
em junho de 1904.
97
VINCENZO DE BENEDICTIS
VICENTE DE BENEDICTIS
MAESTRO DE MÚSICA
Diplomado pela Real Academia de Santa Cecilia (em Roma), ex-examinador do
Circolo Filarmonico Internacional de Roma, lecciona Piano, Canto, Violino,
Bandolim, Harmonia, Orchestra. Largo Municipal n.3 Serra Negra. (O Serrano,
11/11/1915)
84
Outros compositores também utilizaram desse procedimento, como os imigrantes Alberto e Lívio De
Benedictis e o serrano Nicolino Fatigatti. O oferecimento de obras pelos compositores sempre foi muito comum
no meio musical. No Brasil, essa prática foi adotada por inúmeros artistas e em vários períodos. No início do
século XIX, o compositor baiano Damião Barbosa de Araújo utilizou esse procedimento e dedicou suas obras a
membros da elite. Era uma forma estratégica de inserção social. Ver mais. BLANCO, Pablo Sotuyo. Damião
Barbosa de Araújo (1778-1856): novas achegas biográficas e musicais. Salvador: Fundação Gregório de Mattos:
EDUFBA. 2007.
85
Francisco Antonio Tozzi, médico imigrante italiano, nascido em 1870, na Província de Beneveto, Itália.
Chegou ao Brasil em 1900, instalando-se na cidade de Socorro/SP. Em 1901, mudou-se para Serra Negra. Foi
membro da Sociedade Italiana e da diretoria da Banda "Umberto I". Em 1914 transferiu-se para Água Quente,
núcleo gerador da atual cidade de Águas de Lindóia, fundada em 1916. Apesar de ter-se estabelecido na cidade
em que fundou, manteve relações de amizade com membros da comunidade italiana de Serra Negra; faleceu no
Rio de Janeiro em 13 de novembro de 1937, sendo seu corpo sepultado no cemitério municipal de Serra Negra
(SILVA, 2005, p. 77-81).
99
15 DE NOVEMBRO
Conforme notíciamos será amanhã festejada nesta cidade a gloriosa data de 15 de
novembro. Assim é que pelo amanhecer desse dia percorrerá as principais Ruas da
cidade a corporação musical “Umberto I”, executando escolhidas marchas, sendo
por essa occasião queimada uma salva de 21 tiros.
Às 6 horas da tarde a mesma corporação, sob a regência do distinto maestro Vicente
de Benedictis, executará no coreto do jardim publico o seguinte programma.
1a Parte
1-Hynno Nacional
2-Marcha Militar - R. Trucillo
3-Mazurka - dedicada a distincta D. Philomena Tozzi- V. Benedictis.
2a Parte
1- Valzer - Cordialita - V. de Benedicts.
2- Grande Phantasia - com variações da Opera Norma- D. Alessio
3- Polka -Primavera Scapigliata - G. Straurs.
4-Dobrado - Floriano Peixoto - NN. (O Serrano, 14/11/1912/ grifo nosso).
oportunidade em que o maestro De Benedictis ofereceu ao chefe político Cap. Francisco Pinto
da Cunha a marcha intitulada 14 de Dezembro.
86
Não foram encontrados mais dados sobre a atuação da Corporação Musical Morganti. Segundo a narração do
músico Geraldo Bulk, era uma pequena banda compostas pelos membros da família Morganti e colonos da
fazenda dos Morgantis; anos mais tarde a propriedade foi vendida e os músicos foram para cidade e alguns deles
foram integrar os naipes da "Umberto I".
87
Francisco Pinto da Cunha, também conhecido como “Chico Ramos”, liberava o grupo ramista opositor do
grupo do Major Pires, que ficou denominado como pirista, sendo que os dois grupos dominaram o cenário
político da pequena Serra Negra, por muitos anos.
88
Edição do Jornal “O Serrano” em 14/03/1908.
89
O concurso foi promovido pelo Salão Steinway, situado na Rua São João, nº 61. “O Serrano”, edição de
05/04/1908. Dentre o repertório escolhido estavam as peças: Pot-pourri del Ballo Brahma de Constantino
Dell’Argine e Scena del finale del 2º ato nell’Opera La Traviata . As obras fazem parte do acervo de partituras
da Corporação Musical Lira de Serra Negra Rocha (2007, p.272).
101
pequena Serra Negra. A “Umberto I” não obteve o primeiro lugar, porém o acontecimento
passou a fazer parte da história da banda, e o episódio ficou conhecido através das gerações de
músicos serranos. Inúmeras lembranças foram transmitidas de maneira variada, revelando-se,
porém, a importância do fato no universo musical serrano. Após terem participado do
concurso em São Paulo, os músicos foram para a cidade de Campinas/SP, onde realizaram um
concerto a convite dos membros da colônia italiana.
[...]Si não obteve uma medalha, porque motivo deixamos de dizer, obteve um
prêmio brilhante, que satisfaz mais que todos os outros, e que é a opinião pública,
que lhe foi favorável, que sagrou-a uma das melhores bandas de todo o Estado.
Estamos certos de que a “Umberto I”, si concorrer a novo torneio, em que os juízes
estejam em condições de decidir com toda a imparcialidade e se a opinião pública
for acatada, há de obter um dos primeiros lugares. De regresso da Capital, esteve, no
dia 21, em Campinas, a convite de vários membros da colônia italiana, entre eles o
sr. Ângelo Franceschini. A banda aí cumprimentou o Prefeito Municipal, a redação
dos jornais e, à tarde, após uma passeata, executou no coreto do jardim um escolhido
programa. Diz no jornal O Comércio de Campinas, de 22: A concorrência foi
enorme àquele local e a banda foi muito aplaudida. Ali compareceu o sr. Prefeito
Municipal para transmitir a saudação a todos os membros da banda. E termina: Hoje
partirá para Serra Negra, deixando entre nós as melhores impressões. O povo desta
cidade recebeu festivamente a esforçada Corporação Musical... (O Serrano,
26/04/1908).
Despedida
Vicente de Benedictis e família, retirando-se desta cidade para Jaboticabal, e não
dispondo absolutamente de tempo para se despedir dos seus amigos, fazem-no por
este meio, offerecendo-lhes os seus limitados préstimos em sua nova residência.
Serra Negra, 20 de maio de 1909.
Vicente de Benedicitis e família (O Serrano, 23/05/ 1909)
Após dois meses sem concertos realizados pela Banda Italiana, surge o nome de
Zacharias Quaglio, clarinetista da “Umberto I”, para ocupar o cargo vago, contrariando a
notícia de maio de 1909 de que a diretoria da banda estivesse providenciando a vinda de um
“distinto maestro”. Assim, realizaram-se os concertos quinzenalmente, cumprindo o contrato
assinado.
CONCERTO
Depois de uma interrupção de dois mezes, a corporação musical “Umberto I”,
executou no Jardim Publico desta cidade, sob a regência do Sr. Zaccaria Quaglio,
algumas peças do seu não pequeno repertório.
O concerto satisfez geralmente, tanto mais quanto há já algum tempo não tinha a
população desta cidade essa aprazível recreação.
Bem e elegantemente illuminado como estão o coreto e jardim, uma boa ahi aos
domingos, proporciona de facto horas agradáveis aos habitantes desta cidade.
Fazemos votos para que, sem interrupção, continue essa boa corporação musical a
nos deleitar com concertos como o de domingo ultimo. (O Serrano, 27/06/ 1909)
90
Ver mais sobre a história de Jaboticabal/SP. CAPALDO, Clovis Roberto. A História de Jaboticabal 1828 –
1978. Jaboticabal: Editora Multipress, 1993.
103
O músico Zacharias Quaglio atuou como spalla do Corpo Musicale “Umberto I”,
por muitos anos. Imigrante, natural de Rovigo, na Itália, chegou ao Brasil em 1888, com sete
anos. Estabeleceu-se em Serra Negra no início do século XX, com a profissão de sapateiro.
CONCERTO
Hoje, as horas do costume, a banda musical “Umberto I” executará no coreto do
jardim publico, o seguinte programma.
Primeira Parte
1º - Dobrado – 1º do Anno, dedicado ao dr. Tozzi
2º - Polka – Alegria – G. de Benedictis
3º - Coro final nell’Opera Ione – Petrella
4º - Valsa – Fior á Aprile – G. de Benedictis
Segunda Parte
1º - Dobrado – Irmão – N.N.
2º - Mazurka – Amélia Zelante – N.N.
3º - Cavatina della Sonnambula – Bellini
4º - Tango – N.N. (O Serrano, 04/07/ 1909)
O ano de 1910 anunciou-se como promissor para a “Umberto I”, pois a primeira
notícia encontrada diz respeito ao novo fardamento da Banda, seguida do anúncio de um
concerto, o qual sugeria a renovação do contrato para apresentações públicas. De fato, foi o
que ocorreu: as apresentações do grupo foram regulares.
Foto nº 06. Maestro Zacharias Quaglio, década de 1900. Fonte: Galeria de Retratos
da Corporação Musical “Lira de Serra Negra”. Acervo da pesquisadora.
continuidade aos concertos. O apelo surtiu efeito, pois a “Umberto I”, sob a regência de
Zacharias Quaglio, realizou uma apresentação musical em 7 de maio de 1911.
Retreta
Segundo nos consta, os músicos da banda “Umberto I”, reuniram-se e deliberaram
executar no coreto do jardim publico, no dia 7 de maio próximo um concerto
musical, sob a regência do sr. Zacharias Quaglio.
Pelo que nos consta o programma está sendo confeccionado com todo o capricho e
por certo agradará ao publico que ha bom tempo esta privado desse agradável
divertimento.
Os nossos votos são para o que consta se torne uma realidade, para vermos
novamente com movimento o nosso belo jardim. (O Serrano, 30/04/1911)
Apesar da aparente boa vontade dos músicos e do maestro Quaglio, era evidente a
falta de estrutura da banda, tanto que a “Umberto I” obrigou-se a rejeitar um convite, feito em
junho de 1911 pela Colônia Italiana da cidade de Campinas/SP, para participar de um
concurso de bandas de música. Zacharias Quaglio continuou regendo a Banda pelo restante do
ano, mantendo-se como maestro também em 1912.
RETRETA
Hoje, às 5 horas da tarde a Corporação Musical “Umberto I” executará no coreto do
Jardim Público, sob a regência do Sr. Zacharias Quaglio o seguinte programma.
Primeira Parte
1 - Dobrado – 1º de março- V. Benedictis
2 - Valsa - Vigliando - NN
3 - Pout-pourri- nell’opera Bello Brana D’allargini
4 - Marcha militar - Baraese
Segunda Parte
1 - Marcha- Alberto Benedictis - L. Facimi
2 - Mazurka - Scapigliata -Straus
3 - Duo per clarinete e bombardino nell opera Lucia de Lamemoor- Donizetti
4 - Tango – NN (O Serrano, 31/03/1912)
91
“Umberto I”. Acha-se nesta cidade, onde fixou residência, o exímio maestro de música snr. Vicente de
Benedictis que veio assumir a regência da Corporação Musical “Umberto I”. O Sr. Benedictis que já residiu
nesta cidade não precisa ser recommendado ao público e especialmente os amantes da bella arte musical, pois, já
é muitíssimo conhecido da nossa população. Fazendo votos pela sua longa permanência nesta cidade, damos
parabéns aos componentes da Corporação Musical “Umberto I” pela valiosa aquisição que acabam de fazer. (O
Serrano, 07/11/1912)
105
Zacharias Quaglio faleceu em dezembro de 1962, aos 82 anos de idade. Nos dados
constantes de sua necrologia não existe referência sobre sua vida musical.
92
Segundo o músico Antonio Briotto, o músico Quaglio havia saído da “Umberto I” por desentendimentos com
o trompetista Alfredo Dallari.
93
A atuação da Banda Carlos Gomes foi marcante no cenário musical serrano, como concorrente da Banda
Italiana, sendo que por inúmeras vezes as duas participaram do mesmo evento.
94
Segundo Siqueira (2002, p. 93-95) a banda XI Dei Bersaglieri foi fundada no início do século XX e era
oriunda do bairro paulista Bom Retiro. O nome dessa corporação foi escolhido em homenagem a unidade militar
que lutou na ação militar da Itália contra a Líbia em 1911, em território que estaria sob o domínio do Império
Turco.
106
Em janeiro de 1915 Serra Negra recebeu a visita da Corporação Musical “XI dei
Bersaglieri”, por intermédio do maestro Vincenzo. A banda convidada movimentou a pequena
cidade. No concerto executou uma composição do maestro Vincenzo De Benedictis e, no
encerramento da visita, percorreu várias ruas da cidade. Na ocasião o vice-presidente da
Corporação Musical discursou no idioma italiano, agradecendo às autoridades locais e ao
povo brasileiro a calorosa recepção. Explicou a origem dos nomes “Umberto I”, referindo-se
ao Rei italiano, e “XI dei Bersaglieri”, aos acontecimentos ocorridos na Líbia por ocasião da
ação militar italiana nesse país. Finalizou o discurso com um brinde: “Alzo per ultimo il cálice
porgendo il saluto alla Pátria Brasilana che ci ospita e um evviva allá nostra bella Itália.
Adunque signori, viva l’Italia, viva la banda musicale “Umberto I” e viva la banda musicale
‘XI Bersaglieri’” (Jornal O Serrano, edição de 14/01/1915).
Em 1916, o maestro Vincenzo De Benedictis tornou-se notícia novamente,
recebendo críticas em relação à seleção do repertório95, pois, como em muitas outras ocasiões,
o maestro aproveitava as retretas para executar suas composições e, às vezes, a escolha
extrapolava o bom senso.
Segunda Parte
V - Marcha Honra ao Mérito – Vicente De Benedictis
VI – Valsa – Felicitações – Um Bailo da Maschera – Verdi
VII -Tango – NN (O Serrano, 26/03/1916, grifo nosso)
95
A prática de inserir no repertório peças de compositores membros da banda é vista de forma corriqueira em
vários períodos da história da banda, inclusive atualmente.
107
RETRETA
Conforme fora annunciado a Corporação Musical “Umberto I”, sob a regência do
hábil maestro Vicente De Benedictis, realisou Domingo p. passado no coreto do
Jardim Público, a retreta correspondente à segunda quinzena do corrente mez. As
peças constantes do programma foram bem executadas, não sendo, porém de bom
gosto o critério adoptado na organisação do programma desse concerto no qual
figuraram muitas composições de um só autor. Como das vezes anteriores, a
afluencia de exmas, familias do Jardim Público, por occasião da retreta, foi grande.
(O Serrano, 30/03/1916, grifo nosso)
96
A esposa de Vincenzo De Benedictis, Sra. Heminia De Benedictis faleceu em 26 de agosto de 1916.
108
Inauguração
Inaugurou-se no dia 26 p. passado na casa do Srs. Moysés Mendes e Cª. A luz do
gaz accetylene. Ora, sendo a casa dos cidadões Mendes e Cª o único ponto aprasivel
desta cidade, onde de reúne a escol da nossa melhor sociedade, onde o ponto em que
se congrega a sociedade de gosto e espírito, há a convivência expansiva suavisando-
nos a vida tão monótona sem atractivos no interior, é digno de louvor e apllausos tão
grande melhoramento, que proporciona-nos em uma tão boa sociedade luz em
profusão, tanto a phisica como a do crepitar do espírito e alegria.
Para festejar tão útil melhoramento a música do Capm. Cezarino foi comprimenta-
los havendo nessa ocasião brindes, conversas, cavacos e prosas, tudo regado a boa
cerveja, vinhos e do apreciável néctar cearense, delicioso vinho de caju. A banda de
música “União faz a força” tocou durante mais de uma hora muitas peças de seu
repertório alegrando-nos proporcionando-nos uma cerata cheia e agradável.
Agradeceu tão expontanea manifestação o humorístico e espirituoso moço João de
Toledo, que em phrases repassadas de fino espírito e humor trouxe nos suspenso de
sua verve agradecendo em nome dos proprietários e assim terminou-se a serata, que
se tornará sempre grata e lembrada por quantos a assistiram (Jornal A Serra Negra,
03/07/1904).
[...]lá, bem em cima da cidade, começava a estrada de Amparo, pela qual devíamos
chegar a São Domingos, a fazenda que meu pai comprara de um tal João Bueno,
distante cinco quilômetros. Essa fazenda, anos depois, como referência à cidadania
de nosso pai, passou a ser conhecida pela denominação de “Fazenda do Campineiro”
(GODOY, 1970, p.2).
97
O maestro Munhoz também acompanhava as peças teatrais e eventos políticos. Ele foi professor do músico
imigrante Alfredo Dallari, trompetista e integrante da "Umberto I", como instrumentista e membro da diretoria
da banda, a partir da década de 1900.
109
cafezais verdejantes, que nosso velho pai dizia serem uns cento e vinte mil pés, de uns
quarenta anos de idade e outros novos em menor número”.
A família permaneceu na propriedade rural por cerca de cinco anos. Após a queda
do preço do café começaram as dificuldades econômicas, e os Godoy decidiram mudar-se
para a cidade, onde adquiriram um casarão localizado no Largo da Matriz. Apesar de Sylvino
descrever a cidade como limpa e organizada, ela era ainda muito precária e o maior
contingente da população se concentrava na área rural.
Na nova moradia, Sylvino passou a acompanhar a vida religiosa da cidade,
lembrando-se das rezas do mês de Maria, “com ladainhas cantadas, por um coro de vozes
femininas”. As ladainhas eram dirigidas pelo maestro Munhoz.
Este Munhoz dirigiu também uma orquestra de câmara que acompanhava os
espetáculos do Grupo Dramático 18 de Agosto. Em umas das apresentações a renda se
direcionou para as obras da Igreja Matriz. Nesse dia, a orquestra executou as seguintes peças:
La Gracieuse – overture – por O. Metra; La Souveraine – ouverture, por Alp. Herman e a ária
final da ópera Beatriz di Tenda98.
98
Jornal A Serra Negra, edição de 18/08/1907.
110
Inauguração
Na noite de 27 p.p.mez, o Sr. Alfredo Romano, inaugurou no Theatro Municipal
desta cidade um apparelho para iluminação geral do theatro. A machina fuccionou
perfeitamente dando-nos uma optima luz. Ao acto compareceram muitos
cavalheiros, gentis senhoritas e a corporação musical União Familiar que executou
diversas peças. Este melhoramento deve-se aos distinctos rapazes do grupo
Dramático Luso Brasileiro, que de há muito trabalhavam para esse designo. (O
Serrano, 11/01/1908).
101
Na Rua Tiradentes foi instalado o segundo cinema, chamado Central, de propriedade de João Tozzini; o seu
funcionamento também ocorreu no período em que o cinema era mudo e o conjunto musical que acompanhava
os filmes era formado por Josefina Tozzini – piano, Luiz Lamari – violino, Angelo Lamari – violino, José
Lamari – flauta e Alfredo Dallari – contrabaixo.
102
De acordo com Nello Dallari (1966), o músico Silvio Bianchi teria sido o primeiro maestro do Corpo
Musicale “Umberto I”, porém não foram encontrados registros sobre sua atuação na banda de música. Segundo
dados fornecidos por Maria José Ferreira Araújo Ribeiro, a cidade de Americana abrigou também um maestro de
banda com o nome de Silvio Bianchi; inclusive suas duas filhas foram professoras de piano.
112
103
A orquestra foi constituída em dezembro de 1908, entre seus membros estavam bons músicos e que se
prestam simplesmente por amor à arte. Sua estreia ocorreu no Teatro Municipal em uma apresentação em
benefício da cantora Clotilde Morosini. (Jornal O Serrano, edição de 27/12/1908). A diretoria da “Orchestra
Munhoz” era composta pelo Presidente – Attila de Camargo Vaz; Vice-Presidente – Ariovaldo Amaral Campos;
Thesoureiro – Alfredo Dalllari; Secretario - Ernesto Nascimento Santos e Maestro Regente - José Rodrigues da
Silva Munhoz. (Almanach de Serra Negra, 1913, p. 254). Temos na diretoria do conjunto musical músicos
serranos, um imigrante italiano e o proprietário do primeiro cinema mudo, indicando que as três bandas de
música que estavam atuando no período conviviam de forma harmônica e a convivência sugere a troca de
informações musicais entre esses musicistas.
113
Foto nº 08. Largo da Matriz, Serra Negra, 1912. Bilhete Postal, anotações manuscritas - “Serra
Negra, 20-8-1912, Umberto Manzini”. Veem-se a Igreja Matriz com a reforma inacabada e pessoas
saindo da igreja, inclusive um padre, ao término da missa. Do lado esquerdo da foto vemos a Rua
Visconde do Rio Branco, com suas casas alinhadas, seguindo o Código de Postura, além dos postes de
energia elétrica. O Cine Joly, localizava-se ao lado direito da Matriz. Fonte: Humberto Manzini.
Acervo da pesquisadora.
João Vicente de Campos e regente, o Sr. José Pinto de Oliveira, que também exercia a função
de Oficial de Justiça104.
A Banda “União Operaria” realizou várias apresentações musicais, como os
concertos no Jardim Público e em festas religiosas, dividindo espaço com a Banda “Umberto
I”.
RETRETA
Si o tempo permitir, a Banda Musical “União Operaria”, executará hoje, ás 6 horas
da tarde, no coreto do Jardim Público, sob a regência do sr. José Pinto de Oliveira, o
seguinte programma.
Primeira Parte
I- Dobrado - Augusto Muniz
II- Valsa - Amorosa
III- Mazurka - La Mascotte
IV- Symphonia - Le priggione D’Edeburgo
V- Polka - Leonidas - por Ernesto Rossi e dedicado ao prof. Leonidas de Oliveira.
Segunda Parte
I- Dobrado - Idolo
II- Valsa - Leo Feroves
III- Quarteto de Damogio
IV- Tango- Canto Cantadori por Tito A. Silva (O Serrano, 01/09/1912)
As informações abaixo indicam que a Banda “União Operaria” passou por algum
tipo de dificuldade financeira, mas a superou e se reorganizou, já que se fez presente na festa
de Santa Cruz.
“UNIÃO OPERARIA”
Com o fim de ser reorganisada a banda musical “União Operaria” desta cidade, foi
aberta pelo seu antigo regente, Sr. José Pinto de Oliveira, uma lista destinada a
receber os auxílios para a aquisição de alguns instrumentos. Os auxilios já
subscriptos montam a uma boa somma, o que faz prever que dentro de pouco tempo
esteja a Corporação Musical “União Operaria” reorganisada. (O Serrano,
16/04/1914)
104
Almanach de Serra Negra, 1913 ps. 246 e 254. A Liga Operaria demonstrava ser muito ativa; pena que são
raros os registros de sua atuação. Era composta por membros da comunidade italiana, entre eles José Felippe,
que foi sócio-proprietário da Fábrica de Chapéu Panamá-linho, fundada em 1911. Em janeiro de 1912 os
associados foram convidados para uma reunião a fim de tratar dos interesses da sociedade. (Jornal O Serrano,
edição de 14/01/1912).
115
LIGA OPERARIA
Tendo se dissolvida a ‘Liga Operaria’, desta cidade, o conselho administrativo da
mesma resolveu fazer donativo da importância que havia em caixa 62$100, o Sr.
Nicolino Fatigatti, que se acha em Campo Mystico em tratamento de sua saúde. (O
Serrano, 20/03/1921).
Casou-se em Serra Negra em 1908, com a filha de um rico cafeicultor serrano, matrimônio
que causou incômodos a determinada parte da sociedade local, pois era inconcebível para
alguns filhos da terra que jovens brasileiras se casassem com imigrantes ou seus
descendentes.
Provavelmente em razão desta hostilidade, Alberto e sua família tenham se
mudado para outra cidade. O que corroborou a hipótese foi um anúncio de 15 de janeiro de
1911, em que o músico ofereceu seus serviços como professor de música, o que leva a crer
que ele estava retornando a Serra Negra.
Professor de Música
Fixou residência nesta cidade, no Largo da Matriz n.9, o sr. Alberto de Benedictis,
hábil professor de musica, que se acha a disposição dos interessados para os serviços
de sua arte, leccionando piano e outros instrumentos em domicilio do alumno. (O
Serrano, 15/01/1911)
Não foi possível afirmar que Alberto De Benedictis voltou a integrar os quadros
da “Umberto I”, porém o músico passou a organizar em outubro de 1911 uma banda de
música infantil, talvez reunindo seus alunos.
Assim como seu pai, Alberto De Benedictis foi compositor e suas obras aparecem
constantemente nas apresentações da Banda. A primeira notícia sobre suas composições data
de 13 de março de 1912, uma marcha denominada L. Facini, e em junho do mesmo ano foi
anunciada outra de suas peças.
117
GENERAL AMELIO
O Sr. Alberto De Benedictis, maestro de musica nesta cidade, acaba de offerecer á
Corporação Musical “Umberto I”, uma marcha de sua composição a qual deu o
título de “La presa di Rodi dal Generale Amelio” e que brevemente será executada
no Coreto do nosso Jardim Público. (O Serrano, 02/06/1912)
JARDIM PÚBLICO
A Corporação Musical “Umberto I” executará hoje, ás dezoito horas, no coreto do
Jardim Público, sob a regência do hábil maestro Alberto De Benedictis o seguinte
Programma:
1ª Parte
1- Puglielli – Marcha Militar – Ettore Furamosca
2- Virani – Polka Flora
3- De Benedictis – Mazurka – Água Poderosa
4- Ascolese – Symphonia Original – Yolanda
2ª Parte
5- Marchetti – Passo doppio- Symphonia Odore
6- Verdi – Symphonia – Conte S. Bonifaccio
7- De Benedictis – Valsa - Filhinha
8- Cruz – Tango Cutúba (O Serrano, 26/08/1917)
105
Na impossibilidade de seu comparecimento em alguns concertos, foi substituído por seu irmão Lívio De
Benedictis.
106
O novo fardamento da Banda só foi confeccionado em 1923.
118
Corporação “Umberto I”
“Sendo hoje a ultima retreta que a Corporação Musical “Umberto I”, realisa no
coreto do Jardim Público desta cidade, por ter sido indeferido o seu requerimento, o
abaixo assignado vem agradecer em seu nome e no dos músicos, aos representantes
da Câmara Municipal e ao Sr. Adriano Pinto da Fonseca, digno prefeito, a attenção e
preferência que sempre tem dado à referida corporação durante todo tempo que
realizou suas retretas no Jardim Público desta cidade.
(a) O maestro - Alberto De Benedictis. (O Serrano, 28/12/1919)
Foto nº 10. Vista Parcial da cidade, início da década de 1930. No plano inferior, à esquerda, Hotel da
Empresa da Fonte Santo Antonio, parte da Rua Cel. Pedro Penteado e suas casas antigas. No Alto do
morro a Igreja São Benedito e o Hospital Santa Rosa de Lima. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da
Pesquisadora.
119
[...] Foi bem apreciada a mazurka “Água Poderosa” de Composição do jovem Lívio
de Benedictis, recompensada ao seu primeiro e feliz esforço. (O Serrano,
30/12/1915)
Lívio De Benedictis
Maestro de Música
Lecciona Piano, Canto, Violino, Bandolin, Harmonia e Orchestra
Rua 7 de setembro
Num. 39
(O Serrano, 07/11/1916)
Assim como seu irmão Alberto, Lívio regeu a Banda Italiana na ausência de seu
pai. Seu concerto inaugural aconteceu nas comemorações oficiais da data de 15 de novembro
de 1917. Nessa solenidade a população serrana foi convidada a participar de uma passeata
107
A peça faz referência a descoberta das águas radioativas em Thermas de Lindóia.
108
Predominância na escolha do repertório de peças compostas pelos membros da família De Benedictis.
120
cívica, evento que contou com a Corporação Musical “Umberto I”, Corporação Musical
“Carlos Gomes” e pela linha de tiro, encerrando-se com um concerto.
Destacou-se a atuação de Lívio De Benedictis como professor de música. Esta
pode ser ressaltada devido à realização das audições musicais de seus alunos, como a ocorrida
em 25 de março de 1920, no espaço do Cinema Joli. O Sarau Artístico contou com a
participação da “Umberto I” e de outros conjuntos musicais que se apresentaram regidos pelos
músicos Lívio de Benedictis, Zacharias Quaglio, Alfredo Dallari, Ângelo Lamari109, além da
Sra. Artemisa Rielli Lombardi.
No final de 1922, Lívio De Benedictis assumiu a regência da “Umberto I”,
substituindo seu irmão Alberto. Nesse período ele já era reconhecido como professor de
música e compositor. Em 1923 realizaram-se vários concertos sob seu comando e a Banda
passou por uma reestruturação. Com a nova diretoria, encaminhou-se todo o instrumental para
a cidade de Campinas/SP, para reforma e manutenção e, finalmente, a “Umberto I” inaugurou
seu novo uniforme. O fardamento de casimira seguiu os moldes dos oficiais da infantaria
italiana; a confecção ficou a cargo do músico e também alfaiate Ermindo Della Guardia.
Foto nº 11. Corpo Musicale “Umberto I”, setembro de 1923. Foto em comemoração a estreia
do fardamento. Foto cedida pelo músico Orlando Lugli. Acervo da pesquisadora.
109
É um dos primeiros registros da atuação do músico Ângelo Lamari como maestro. A partir de 1950, Angelo
assumiu a regência da Corporação Musical "Lira Serra Negra" permanecendo até 1975.
121
Foto nº 12. Procissão cortando a cidade de Serra Negra, vinda provavelmente da Igreja de
São Benedito, no Alto dos Pinheiros, caminhando pela Rua Sete de Setembro, subindo o
Paço Municipal, passando em frente ao Grupo Escolar e seguindo em direção a Igreja
Matriz. Década de 1910. Foto cedida por Nestor Leme. Acervo da Pesquisadora.
122
sua vinda a Serra Negra. Tais festas contaram com a presença de duas bandas de música,
como denota a notícia publicada no jornal local110:
BISPO DEOCESANO
A CHEGADA DE D. JOÃO BAPTISTA CORREA NERY
A chegada do Bispo de Campinas provocou grande festa e comemoração na cidade,
com recepção, Discurso Oficial e com a participação das Corporações Musicais
“Umberto I” e “União Operaria”, com apresentações no coreto construído em frente
a casa de residência do vigário desta parochia. (O Serrano, 07/11/1912).
110
O fato de o Monsenhor Manzini ter realizado seus estudos em Campinas teria dado a ele a compreensão da
importância da boa música na realização das cerimônias religiosas. Daí talvez o apoio que ele sempre forneceu
às corporações musicais da cidade, buscando assemelhá-las às bandas que conhecera na terra de Carlos Gomes, e
para isso as relações com os imigrantes/músicos italianos foram fundamentais.
111
A Fazenda Campineira foi propriedade da família de Sylvino de Godoy, como já mencionado.
124
Corpo Musicale “Umberto I” em Serra Negra e, como músico exemplar, empreendeu uma
significativa liderança entre seus pares. Ele atuou também como professor de música,
capacitando várias gerações de instrumentistas. Da grande amizade que mantinha com
Manzini decorreu que, após a mudança do Monsenhor de Serra Negra, Alfredo não mais
frequentou a Igreja. Outros vínculos de amizade ligaram-no aos músicos das famílias Lamari
e Morganti112.
Foto nº 14. Largo da Matriz, Serra Negra, inicio da década de 1930. Anotação a
maquina de escrever: “Chiesa Parrocchiale Serra Negra”. Trata-se do registro de
uma festa paroquial. Nota-se grande reunião de pessoas em frente ao templo
religioso e um carrinho de pipoca do lado esquerdo. Fonte: Humberto Manzini.
Acervo da pesquisadora.
112
Silva, Claudia Felipe. A música como elemento integrador de imigrantes italianos à sociedade de Serra
Negra: O papel das bandas de música na vida sócio-cultural paulista na primeira metade do século XX – Bolsa
Pesquisa SAE/PRG – 2000/2001. Orientadora- Profa. Dra. Olga R. de Moraes von Simson.
125
obras da Matriz requereu muita dedicação por parte do Monsenhor Manzini, que cuidou de
todos os detalhes. Em 12 de junho de 1916, o Padre, representando a comissão de obras da
Igreja Matriz, solicitou à Câmara Municipal a presença do arruador113, para que se procedesse
ao alinhamento e nivelamento ao seu redor, visando ao início das obras de construção do
passeio nesse mesmo espaço114.
Após o término da obra, o Padre Manzini voltou-se para a construção do Hospital
de Caridade, cuja primeira comissão formou-se em 1912. Por mais de 10 anos levantaram-se
fundos necessários para a construção do nosocômio e, em 1923, lavrou-se o contrato no
Segundo Tabelionato da Comarca, para a construção do hospital115.
A partir do início das obras o Monsenhor registrou várias etapas da construção,
até a sua inauguração em 30 de agosto de 1929.
Foto nº 15. Vista parcial da frente do prédio em construção - Hospital Santa Rosa de Lima. Photo
Ambulante, F.N. Ano de 1928. Posando à frente do hospital em construção podemos observar um grupo
formado por autoridades e dois trabalhadores. Um dos membros usando a batina é Monsenhor Manzini.
Fonte: Humberto Manzini. Acervo da pesquisadora.
113
Como já mencionado, o arruador era um profissional contratado pela Câmara cuja especialidade se voltava
para a construção, podendo ser engenheiro ou mestre de obras. A função estava prevista no Código de Posturas,
que deliberava de forma detalhada sobre a largura das ruas, a metragem das casas térreas e sobrados, incluindo o
diâmetro das portas e das janelas.
114
Livro de Registro – Alinhamentos e Nivelamentos. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
115
A escritura de contrato de Empreitada para Construção do Prédio que se destinava ao “Hospital Santa Rosa de
Lima” é datada de 14 de junho de 1923. A comissão para os trabalhos era composta por José Antônio da
Silveira, José Fernandes de Carvalho, o médico Firmino Cavenaghi e o Cônego Manzini. Acervo de José
Augusto Silveira Santos.
Entre os empreiteiros estavam os irmãos Mattedi, que também eram músicos, componentes da “Umberto I” e de
outros conjuntos musicais, como a Jazz Band Melodia, fundada em 1929.
126
Foto nº 16. Enfermaria Geral feminina do Hospital Santa Rosa de Lima, Serra Negra, 1929.
Fonte: Humbeto Manzini. Acervo da pesquisadora.
Outro marco importante na vida da cidade no final dos anos de 1920 foram as
comemorações do centenário de Serra Negra, que se estenderam por vários dias. Formou-se
uma comissão organizadora constituída por autoridades locais e “gentis senhoritas”, que
programou os festejos com antecedência; a cidade foi caprichosamente decorada com cordões
de vegetação trançada e construíram-se vários portais na entrada das principais ruas.
Foto nº 18. Portal Comemorativo, Serra Negra/SP, 1928. Comemoração dos 100
anos de Serra Negra. Rua Sete de Setembro. Além do Portal, enfeites confeccionados
com cordão de mato trançado. Movimentação de pessoas. Lado direito ficava a
Farmácia Central. A visão de outros portais dá a impressão da construção de um
portal em cada esquina. Bandeiras colocadas em cima do portal. A Placa em cima do
portal diz: “Aos antepassados. Homenagem da cidade no seu centenário, 1828 –
1928”. Fonte: Humberto Manzini. Acervo da pesquisadora.
116
Dependendo da festa ocorriam variações nos horários das atividades e percurso da procissão.
129
Foto nº 20. Procissão realizada nas ruas centrais de Serra Negra, em 1928. Na primeira fila: os
membros da irmandade; ao centro, Monsenhor Manzini, acompanhado de seus coroinhas; logo atrás, a
Banda Musical “Umberto I”. Destaque para a presença do trompetista Alfredo Dallari, de terno, na
direção do barril. Foto cedida por Wanda Dallari. Acervo da pesquisadora.
117
Segundo Caldeira, 1935, p.60.
130
Foto nº 21. Festa em Bairro Rural, Serra Negra, 1925. Anotações a máquina de escrever - “Processione
passando dinanzi allá casa Polidoro, a circa de 3 kilm. dalla cittá. Serra Negra, 8/5/1925”. Festa na área
rural de Serra Negra, na propriedade da família Polidoro, uma das maiores produtoras de café da região.
Procissão com meninas carregando um estandarte com a imagem de algum santo, seguida pelos
meninos também com um estandarte, seguidos de adultos. Provavelmente a trajetória da procissão
percorre um terreiro de café em direção à capela da fazenda. Fonte: Humberto Manzini. Acervo da
pesquisadora.
Segundo Benedita Gomes Rosa (2014), em 1873118já existia uma pequena igreja
em homenagem ao Santo Padroeiro São Benedito, localizada no topo de um morro próximo
ao antigo prédio da Cadeia119. Em 13 de maio de 1883, inaugurou-se o cemitério São
Benedito, próximo à Igreja. Depois de alguns anos transferiu-se para o sopé do morro do
Fonseca120. Quando da sua desativação, os restos mortais foram trasladados para o atual
cemitério, fato este ocorrido em meados do século XX.
Em 1889 construíram-se dois chafarizes na cidade, a fim de auxiliar no
abastecimento de água, um deles no largo da Matriz e o outro no largo da Igreja de São
Benedito. Em 1909 demoliu-se a Igreja de São Benedito e erigiu-se uma nova construção em
um local denominado Alto dos Pinheiros121.
118
Existem também as informações que seguem: Em 1873 tem-se o registro da Irmandade Santíssimo
Sacramento, a Matriz sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário, Capela de Santa Cruz e um cemitério
municipal. Dados de 1873 – Almanak da Província de São Paulo. Dados de 1888- Relatório da Província de São
Paulo. A Capela São Benedito e cemitério estavam localizados no antigo Paço Municipal, o espaço foi
desapropriado pela Câmara para a construção de uma avenida. Jornal “Gazeta da Serra”, edição de 07/07/1910.
119
Atualmente está instalado no local a Agência dos Correios.
120
Atualmente Praça Lions Club.
121
Atualmente a entidade denomina-se Irmandade de São Benedito da Paróquia de São Francisco de Assis,
sendo patrimônio da Diocese da Amparo/SP; aprovou-se o último estatuto em 21 de julho de 1957.
131
Foto nº 22. Festa no Bairro dos Cunhas. Ao fundo, a Capela em homenagem a Nossa
Senhora da Pompeia; ao lado esquerdo, Monsenhor Manzini. Festa típica de bairros
rurais, integrando os membros da comunidade local, crianças, jovens, homens e
mulheres. Serra Negra, 08/05/1925. Fonte: Humberto Manzini. Acervo da
pesquisadora.
Foto nº 23. Procissão descendo a Rua Santos Pinto. Ao fundo, a Igreja São Benedito, no Alto dos Pinheiros.
Na frente da procissão, dois Irmãos de São Benedito, devidamente trajados, seguram as velas protegidas. Ano de
1923. Ao fundo aparecem os estandartes de mais duas irmandades. Foto cedida por Nestor Leme. Acervo da
Pesquisadora.
122
A pesquisa realizada por Julita Scarano, que resultou em seu livro Devoção e escravidão: A Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII, publicado em 1975, estuda a
estrutura das irmandades desde seu aparecimento no Brasil. Sua obra tornou-se referência para estudos
posteriores.
133
final de 1937, inaugurou-se o novo prédio do Externato Sagrada Família, porém Monsenhor
Manzini não acompanhou as últimas providências para comemorar o evento, já que se
encontrava doente e em processo de recuperação na casa de familiares em São Paulo. A
doença obrigou-o a se afastar da Paróquia de Serra Negra em meados ano de 1936. A
população serrana, num gesto de gratidão, organizou uma festa de despedida, pois ele havia
completado 25 anos de permanência e atividade religiosa na cidade. O programa dos festejos
foi publicado previamente em dezembro de 1936 e contou com a presença da Corporação
Musical “Umberto I”.
123
ANEXO Nº 01
134
Um fato ocorrido no final dos anos de 1920, mais precisamente em 1928, alterou a
pequena Serra Negra: descobriu-se uma mina de água na propriedade do imigrante italiano
Luiz Rielli. O proprietário logo relacionou a qualidade da água com as já afamadas águas das
fontes de Thermas de Lindóia124.
124
Thermas de Lindóia localizava-se em um bairro do Distrito de Paz Lindóia, pertencente à Comarca de Serra
Negra. Somente em 1938, Lindóia e Águas de Lindóia emanciparam-se politicamente de Serra Negra, sendo
Lindóia promovida a Estância Hidromineral. Em 1953, Águas de Lindóia torna-se Distrito de Lindóia, sendo
elevada a Municipio somente em 1963.
125
No ano de 1957 foi constituída uma Comissão Municipal de Turismo, cujo objetivo era o de avaliar as
propriedades das águas serranas, através de um levantamento realizado em diversas fontes. O trabalho originou
vários relatórios com históricos e dados das fontes. Proc. nº 36/1957- Acervo da Prefeitura Municipal da
Estância de Serra Negra/SP.
126
Outra análise foi realizada com o aparelho denominado Eletrômetro de Wulff, com resultado de 16.1
Unidades Manche por litro de água, valor que classifica a fonte como radioativa.
127
Estrôncio - elemento químico de número atômico 38 da família dos metais alcalinoterrosos.
136
Analyse das Águas Quente, feita no Laboratório Chimico do Estado de São Paulo,
em Novembro de 1903.
Temperatura das águas na fonte ...28,º5 C.
Temperatura do ambiente..............22,ºC.
Gazes dissolvidos a 0,º e 760mm...86 cc.
Sendo:
Oxigênio..................................15, cc. 5
Azoto ........................................70, cc. 5
Matéria orgânica calculada em oxigênio.. 0,0005%
Bicarbonato de magnésia...........................0,0270 %
Bicarbonato de cálcio................................0,0454 %
Bicarbonato de potássio............................0,0081%
Bicarbonato de sódio ................................0,0070%
Cloreto de sódio ....................................0,0045%
Matéria orgânica e perdas.........................0,018%
Ferro, alumínio e sulfatos..........................Traços
Mineralização por litro.............................0,1028%
Acido carbônico, sulflydrico, sulfuretos
E azoticos ...............................................Ausência
Ácidos azotados, azotoso, azotidos e
Amoníaco................................................Ausência
Essas águas estão infelizmente até hoje inexploradas. É, entretanto, grande já o uso
que dellas se faz nesta cidade e localidades visinhas. Muitas pessoas tem ido ás
fontes fazer uso de banhos. A distância, alguma difficuldade de comunicação talvez,
terão impedido até hoje de se fazer alli um estabelecimento que facilite o bom
aproveitamento daquellas águas, consideradas como de grandes virtudes.
(Almanach, 1913, ps. 76/77).
De acordo com Campos e Silva (2005), as águas já eram apreciadas desde o final
de 1899. Porém, quando, em 1909, o médico Francisco Antonio Tozzi128 adquiriu a
propriedade Poços da Água Quente, ele se aliou a outro médico, o Dr. Vicente Rizzo, e juntos
iniciaram uma série de estudos sobre os benefícios das águas e a possibilidade de serem
exploradas comercialmente. Em 1915, divulgou-se o levantamento em uma conferência na
Sociedade de Medicina e Cirurgia, ganhando destaque na imprensa paulista. O jornal A Nação
publicou o artigo intitulado: “A fonte de águas thermais radio-activas de Lyndoia”, na edição
de 19 de julho de 1915.
128
Ver nota nº 84.
137
Ilustração nº 14. Cartão Postal das Thermas de Lindoya. Fonte: Humberto Manzini. Acervo
da pesquisadora.
O valor das águas radioativas, aliado ao trabalho desenvolvido pela equipe do Dr.
Tozzi, chamou a atenção da cientista polonesa Marie Sklodowska-Curie129. Quando visitou o
Brasil em 1926, o Dr. Tozzi convidou-a para conhecer as Thermas de Lindoya. Depois de
alojada, ao inspecionar os hotéis, os pavilhões de banho, os locais de engarrafamento das
águas, as fontes Santa Filomena e São Roque e os salões de emanações, observou que
“aquelas águas eram fortemente radioativas”130.
Os estudos continuaram, inclusive despertando interesse de vários pesquisadores,
tornando as águas radioativas de Lindoya tema do 1º Congresso Brasileiro de Hydro-
Climatologia, realizado em 1935, em São Paulo.
129
Marie Sklodowska-Curie: cientista polonesa, detentora de dois Prêmios Nobel, fundadora do Instituto do
Rádio em Paris no ano de 1909.
130
Braga, Francisco José dos Santos. Ano Internacional da Química, 2011: Marie Curie. In Polonicus: revista de
reflexão Brasil-Polônia/Missão Católica Polonesa no Brasil- Ano 2, n.4 (jul/dez.2011) – Curitiba. Ps. 56-74
138
Ilustração nº 15. Matéria publicada no Serra Negra Jornal, promoção publicitária da nova Fonte
Santo Antonio e da propriedade radioativas das suas águas, veiculava nos jornais as imagens da
radiação. Serra Negra Jornal, edição de 11/08/1932.
131
Idem 130. Campos e Silva, 2005, p. 81.
132
Firmino Herminio Cavenaghi: nascido na cidade de Itapira, filho de imigrantes italianos, fixou-se em Serra
Negra, na década de 1920. Era médico, foi prefeito da cidade por duas gestões, membro da Sociedade Italiana e
participou da construção e diretoria do Hospital Santa Rosa de Lima.
139
... Mas, voltando então na parte das águas minerais. Então o Dr. Firmino mandava as
pessoas tomarem banho, que tinha essas banheiras de banho de imersão, ali na
chácara do Tartarotti e eu constatei pessoalmente, alguns anos atrás as ruínas desses
banheiros lá... (Irineu Saragiotto, 2014, Serra Negra/SP).
133
A propriedade era próxima do atual Hotel Fazenda São Matheus.
134
Devido ao grande fluxo de pessoas, a área da fonte e seu entorno foram desapropriados no final da década de
1950, tornando-se espaços públicos, atendendo aos serranos e veranistas.
140
Foto nº 25. Missa da inauguração da Fonte Santo Antonio. Serra Negra/SP, 1930.
Anotações manuscritas de Umberto Manzini. “Missa Inaugural da Fonte Santo Antonio”.
Celebrante o pároco Cgo. Umberto Manzini, 12/6/1930”. Fonte: Humberto Manzini.
Acervo da pesquisadora.
Entre tantas medidas tomadas pelos sócios esteve a contratação dos arquitetos do
Escritório Ribeiro e Masini, da cidade de Campinas. Em abril de 1933 executou-se o
alinhamento e nivelamento do terreno135.
135
Livro de Registro – Alinhamentos e Nivelamentos. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
136
Jornal A Cidade, edição de 13/06/2008.
142
justificativa para construção era que os hóspedes do hotel teriam mais um espaço para lazer e
compras.
Tereza Marchi também lembrou em seu
depoimento a inauguração do Prédio das Arcadas:
A inauguração! A gente foi aí. Eu era
solteira, ainda, mocinha. Ah! A banda!
Foi uma beleza, foi um acontecimento,
porque Serra Negra não tinha... nem
prédio de apartamento. Foi o Gerosa,
quem fez. (Tereza Marchi, 2014, Serra
Negra/SP)
Foto nº 26. Vista lateral do Radio Hotel. A foto é anterior à construção da piscina e do
Prédio das Arcadas. Vemos na parte inferior da foto uma pequena entrada lateral. Aí a
população de Serra Negra tinha permissão de entrar no hotel para utilizar a Fonte Santo
Antonio. A construção beirando a esquina era o chamado Hotel da Empresa, primeiro local
utilizado para hospedagem e tratamento dos doentes. Com a construção do prédio novo, o
mesmo foi desativado. Década de 1930. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da pesquisadora.
143
Foto nº 27. Rua Cel Pedro Penteado, avistando o edifício do Radio Hotel, Serra
Negra/SP. Década de 1940. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da Pesquisadora.
Foi nesse período... o Radio Hotel já estava construído. Nesse período, então
começou (sic) a aparecer turistas, aí que meu pai começou a trabalhar com
artesanato... aí começou as lojinhas. Não tinha! O Spinhardi, era uma fábrica de
sandália, no começo....tinha o Corsi, ele abriu uma loja em frente à casa do meu pai.
Não tinha loja, não! (Nelson de Barros, 2014, Serra Negra/SP).
Outra forma de tornar públicos os benefícios das águas serranas era a narração dos
tratamentos com resultados positivos e o registro de depoimentos daqueles que apresentavam
melhoras após a medicação aquática.
137
Revista criada pelo italiano Amadeu Amadei Barbiellini em 1909 e extinta em 1971.
145
Brasil, 1975), que nesse período era assistente no Instituto Biológico de São Paulo. Frei
Tomás permaneceu em Serra Negra um mês e realizou alguns levantamentos sobre a cidade e
suas águas. Após retornar a São Paulo publicou a referida matéria, que foi transcrita na edição
do Serra Negra Jornal em agosto de 1931.
... Parece fora de duvida que o alto gráo do radioactividade verificado nas águas de
Serra Negra, está em relação da formação geológica do lugar. Diz Madame CURIE
no seu “traitê de radioativité”: As fontes mais activas se encontram nos terrenos
formados por rochas antigas”. E é justametne isso que se dá com a fonte de Serra
Negra. Pois suas águas nascem, segundo foi constatado por abalisados geólogos
paulistas, de rochas eruptivas, de origem vulcânica, e pertencentes a época archeana
que é a mais antiga dos tempos geológicos. Já obtiveram curas maravilhosas pelo
uso das águas radioactivas de Serra Negra, havendo numerosos casos documentados
por attestados dos médicos do lugar drs. Jovino Silveira, Firmino Cavenaghi e João
Lombardi....(Serra Negra Jornal, 01/08/1931)
...e depois foi crescendo, crescendo e surgiu a nossa abençoada água, foi o que
reergueu Serra Negra... não vinha muita gente... era aquela coisinha modesta, pouco
conhecida. Nem sabia que existia Serra Negra... Quando surgiu o Radio Hotel, já
começou a melhorar... É uma pena que ficou propriedade particular, no começo os
serranos iam buscar água aí... quantas vezes que nós íamos buscar água com o
garrafão... não tinha nada, nem é bom lembrar, algum botequinho, bar. Bar sempre
teve em todo o lugar... O Spinhardi, depois ele montou uma fábrica de bolsas, cintos.
146
Naquela época, não posso lembrar, mas tinha meia dúzia de fabricantes de bolsa,
cinto e sandália... tinha um loja de tecido do João Dib... era do tempo do metrinho,
vendia por metro, você comprava o pano e mandava fazer a calça, a camisa... O forte
era o café, ainda é o café, aqui tem muito café! (José Franco de Godoy, 2015, Serra
Negra/SP).
[...] Serra Negra, cidade relativamente antiga, tendo suas esperanças voltadas para a
cultura do café, pois era ella a sua principal e quasi única riqueza, soffreu atrozmente
com a crise que, há annos, empolgou a lavoura paulista. Baixando o preço do
precioso producto, os fazendeiros serranos tiveram graves prejuizos e, com elles,
todo o município sujeitou-se a padecer, luctando contra a falta de meios. A cidade
entrou, então, em período de franco declínio, causando geral apreehensão esse
estado de cousas, principalmente porque nenhuma solução parecia existir, impondo-
se a todos a triste verdade: Serra Negra, a prospera séde da comarca invejada pelas
suas visinhas, estava na imminecia de retrogradar, de voltar pelos passos feitos,
tornando-se novamente simples districto de paz![...] (CALDEIRA, 1935 p.106).
O depoente Oswaldo lembrou que seu pai, o Sr. Francisco Saragiotto, quando
chegou a Serra Negra, no final do século XIX, foi trabalhar em um estabelecimento comercial
147
e, depois de algum tempo, conseguiu comprar um terreno localizado entre a esquina da Rua
Cel. Pedro Penteado e o largo do antigo Mercado Municipal, local onde construiu um
sobrado. No térreo ele montou um armazém; o andar de cima serviu como morada da família.
O armazém possuía uma grande variedade de produtos que atendiam tanto a
clientela da área urbana como da rural. Anotavam-se as vendas em cadernetas e os
pagamentos eram feitos anualmente, após a colheita do café. Nesse tempo, os
estabelecimentos comerciais tinham a obrigatoriedade de manter um espaço onde os animais e
charretes pudessem ser guardados. Com a crise, muitos lavradores, proprietários e meeiros
não conseguiram um bom preço para vender a produção de café. Consequentemente, eles não
tiveram como honrar os seus compromissos, contribuindo para que os donos dos armazéns
ficassem em uma situação difícil. O Sr. Oswaldo contou que seu pai foi obrigado a fechar três
das quatro portas do armazém, e só passado muito tempo conseguiu recuperar parte do
dinheiro que lhe era devido.
Foto nº 28. Vista Parcial da cidade, início da década de 1930. No plano inferior estão dois
pavilhões do Mercado Municipal, parte do Jardim Público, com o coreto. Ao fundo está o
prédio do Grupo Escolar. Todo o centro da cidade tem um traçado regular em suas construções,
seguindo as orientações dos Códigos de Posturas. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da
pesquisadora.
148
A depoente Tereza Marchi (2014) também narrou que as tropas chegaram até a
cidade vizinha de Lindóia, vindas de Itapira, porém não conseguiram seguir viagem até Serra
Negra pelo fato de os paulistas terem demolido a ponte que ligava as margens do Rio do
Peixe, que atravessava a cidade.
138
O corpo do Tenente Mario Hilário Dallari, que era filho do músico Alfredo Dallari e Maria de Lorenzi Dallari
foi trasladado de Serra Negra para o memorial da Revolução4 em São Paulo, na década de 1970.
149
Ano Nº de máquinas
1886 03
1912 08
1919 23
1924 41
139
VALLIM, Pedro E. Álbum dos Municípios do Estado de São Paulo, 1940.
140
O médico havia sido eleito em pleito no mês de maio de 1933, sua posse foi adiada, pois o governo do Estado
de São Paulo estava se reestruturando. Com a nomeação do interventor federal Armando Salles de Oliveira
decidiu-se o destino de Serra Negra. O novo prefeito prestou compromisso do cargo, no Departamento de
Administração Municipal em São Paulo. Serra Negra Jornal, setembro de 1933.
150
141
A reprodução na íntegra do documento está registrada na obra de Alcebíades Felix. O acordo foi lavrado pelo
Tabelião de Notas, Benjamim Nóbrega, em 17/08/1937.
151
águas foi a visita do então Governador Washington Luiz, em 1921. Após sua estada na cidade
de Itapira/SP, seguiu viagem até o Distrito de Lindóia, onde proferiu um discurso no qual
exaltou a importância das águas da região, qualificando Serra Negra como sendo a “cidade da
saúde”142 .
Foto nº 30. Visita do Governador Washington Luiz, Distrito de Lindóia, 1921. Foto
cedida por Alcebíades Felix. Acervo da Pesquisadora.
[...] tive ensejo de ouvir palavras tão repassadas de generosidade e encanto como
estas que acabam de vir de Serra Negra, que bem pode se chamar a Cidade da
Saúde, a cidade bendita onde as energias do corpo se retemperam e acrescentam [...]
[...] depois que se soube que no seio fecundo de suas terras brotam veios de águas
milagrosas, fonte divina onde os que sofrem deixam na linfa pura a memória dos
seus males, solvendo nela a cura, a alegria, a esperança, cresceram as
responsabilidades de Serra Negra para com São Paulo, mais ainda para com o
Brasil, pois fato é que todos volvem os seus olhos hoje para esse recanto abençoado
como para uma estância balsâmica de consolo e redenção[...] (Felix, 2012, p. 46) 143
A ação política para a instituição das estâncias surtiu efeito, pois, através do
Decreto nº 9731 de 16/11/1938, criou-se a Estância Hidromineral de Lindóia, constituída do
Distrito de Paz do mesmo nome, no Município de Serra Negra. E, em 27/10/1939, o decreto
nº 10.646 considerou estação de tratamento e repouso a zona compreendida nos limites do
perímetro urbano da cidade de Serra Negra144.
142
Designação utilizada a partir de então: Serra Negra, cidade da saúde.
143
Discurso reproduzido na Obra: A História de Serra Negra por Alcebíades Felix, 2012.
144
O Decreto 10.646, de 27/10/1939, fixa como zona para estância hidromineral o perímetro urbano do
município de Serra Negra, foi assinado pelo Interventor Federal do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros. A
criação das estâncias de tratamento e repouso seguia o Decreto nº 6.501/34, em que se regulamentava sua
administração pela Divisão Administrativa do Estado, através do qual os prefeitos eram nomeados pelo Governo
152
Estadual e as estâncias poderiam receber subvenção para a manutenção administrativa, para os serviços públicos
e para a execução de melhoramentos no município.
As cidades que foram reconhecidas oficialmente como estâncias registravam em suas histórias os fatos que
contribuiriam posteriormente para a sua titulação, isso ocorreu com São José dos Campos e Campos do Jordão.
APÊNDICE Nº 03: A formação das estâncias de cura do Estado de São Paulo.
153
Retreta
Na retreta que se anuncia para amanhã a tarde, no jardim da praça Barão do Rio
Branco, a Corporação Musical “Umberto I” executara o seguinte programa:
1ª Parte
I – Ouro Fino – Dobrado
II – Tarde em Lindoya – Valsa
III- Cavatina Nel’Opera - Somnambula
IV – Molinello - PolKa
2ª Parte
V – Os granadeiros - Marcha
VI – O Guarany – Symphonia - Gomes
VII – O Choro é nosso – Maxixe (O Serrano, 06/09/1931)
4 de Novembro
A data de 4 de Novembro que recorda o grande feito das armas italianas na batalha
de Vittorio Veneto, foi comemorada com grande brilhantismo pela laboriosa colônia
italiana desta cidade. A banda musical “Umberto I” tocando a alvorada percorreu as
ruas da cidade e à noite realisou um concerto no coreto do jardim publico, que teve
uma assistencia enthusiasta e numerosa.
A “Sociedade Italina de Soccorros Mutuos” realisou uma sessão cívica em que se
poz em destaque a gloriosa data onde refulge o patriotismo dos filhos da heroica
nação peninsular. (Serra Negra Jornal, 07/11/1931)
Foto nº 32. Corpo Musicale “Umberto I”, em uma apresentação, área rural,
na década de 1930. Foto cedida por Odilon Souza Lemos. Acervo da pesquisadora.
155
Musica no jardim
Amanhã, á hora do costume, a Corporação Musical “Umberto I”, sob a regência do
sr. Astolpho Perondini, realisará, no Jardim da Praça Barão do Rio Branco, um
concerto, com excelente programma. (Serra Negra Jornal, 14/10/1933)
Festa de S. Felicio
Revestiu-se de invulgar animação e brilho, a festa realizada a 30 do corrente no
bairro das Posses, em louvor de S. Felicio.
Essa festa que constou de cerimonias religiosa e actos profanos, foi abrilhantada pela
corporação musical “Umberto I”.
A ella compareceram innumeras pessoas desta localidade.
As solennidades religiosas foram celebradas pelo exmo padre José Cobucci, vigário
de Monte Alegre, especialmente convidado para tal.
A noite, logo após a procissão e benção do S. S. Sacramento, foram queimados em
frente a Igreja vários fogos de artificio. (Serra Negra Jornal, 03/09/1933)
exposto o Prefeito Cavenaghi. A fim de solucionar o impasse, Firmino Cavenaghi tomou uma
decisão inusitada e única na história das bandas serranas: ele subvencionou os concertos. A
Banda realizou cerca de 20 apresentações, graças ao auxílio financeiro pessoal do Prefeito
Municipal.
BANDA DE MUSICA
O sr. Dr. Firmino Cavenaghi, prefeito municipal, vem abrir mão de parte de seus
subsídios, para subvencionar a corporação musical “Umberto I”, que estava na
imminencia de ser dissolvida. A corporação “Umberto I”, que é uma das melhores
do interior do Estado e representa para Serra Negra uma verdadeira tradição
artística, bem merece o gesto do chefe do executivo municipal, que é, aliás, digno de
todo o nosso applauso. O sr. dr. Firmino Cavenaghi com essa attitude, firmou-se
ainda mais no alto conceito em que é tido pelos seus pares. (Serra Negra Jornal,
edição de 03/02/1934)
Concerto Musical
Impedida de realisar, há dias, uma de suas costumeiras retretas no coreto do Jardim
Público, por communicação da Prefeitura Municipal desta cidade, feita por
intermédio do digno sr. dr. Delegado de Policia, a tradicional Corporação Musical
“Umberto I”, realisará, hoje, às 19 horas, no recinto da Fonte São João, gentilmente
cedido pelo seu proprietário sr. João Pires, mais um dos seus bellissímos concertos.
(Serra Negra Jornal, 29/12/1935)
Concerto
A corporação musical “Umberto I”, realisou domingo p.p., conforme notíciamos,
belíssimo concerto, na Fonte São João, desta cidade.
A tradicional corporação executou excelente programma, que foi vivamente
aplaudido pela enorme massa popular que correu aquelle pitoresco ponto da nossa
urb. (Serra Negra Jornal, 05/01/1936)
Concerto
A hora do costume, a corporação musical “Umberto I” realizará hoje, no coreto do
jardim da Praça Barão do Rio Branco, mais um dos seus excelentes concertos, que
obedecerá ao seguinte programa:
1º - Dobrado, Avenida;
2º - Valsa, Ercilia;
3º - Mazurca, Caracteristica;
4º - Fantasia, Lucia de Lamenuor;
5º - Marcha, Lembrança, dedicada ao Café do Barulho;
6º - Fox trot, Apache;
7º - Machibed;
8º - Tango, Esquecido (Serra Negra Jornal, 05/04/1938)
Foto nº 33. Corpo Musicale “Umberto I”, ano de 1938. Lado esquerdo, sem instrumento, o
Maestro Astolpho Perondini. Foto tirada na praça em frente ao Grupo Escolar. Foto cedida por
João Gallo Corato. Acervo da Pesquisadora.
O ano de 1940 foi excelente para a Banda de Música “Umberto I”: já nos
primeiros dias de janeiro ela participou das festividades ocorridas na Capela de São Sebastião,
localizada no Bairro Rural dos Francos, dividindo as atividades musicais com o Coro de
Vozes da Igreja Matriz. Também já estava programada a participação da Banda nas
solenidades da Semana Santa e na Festa de Santo Antonio.
158
Foto nº 34. Conjunto Jazz Band Melodia. Serra Negra/SP. Foto Fagundes de Serra
Negra, década de 1930, músicos identificados por Odilon Souza Lemos, colaborador
do Jornal Serra Negra. Ao alto, em pé, da esquerda para a direita: José Mattedi,
trombone, Matheus Mattedi, saxfone alto, Benedito Mattedi, clarinete, Joaquim do
Amaral Campos, trompete e Amadeu Evangelista Carletti, violino. Sentados, da
esquerda para a direita: Donato Albertini, banjo tenor, José Caetano dos Santos,
bateria, Afonso Bertini, cavaquinho. Foto cedida por Odilon Souza Lemos. Acervo da
Pesquisadora.
BAILE
Promovido pelos aquáticos, realisa-se hoje, no Club 1º de Janeiro, gentilmente
cedido pelos sócios, um chocolate dansante que será abrilhantado pelo apreciado
“Jazz Melodia”, sob a regência do hábil maestro Lívio de Benedictis. Agradecemos
o convite que recebemos. (O Serrano, 29/04/1933).
CLUB DEMOCRATA
Carnaval
...Já este anno, o carnaval entre nos, divertiu muito. O automóvel Garfagnina durante
os três dias, correu as Ruas, conduzindo rapazes e moças, phantasiados uns, em
trajes pittorescos outros. Um grupo de muzicos da "Humberto I”" phantasiados ou
caracterizados e vistidos de modos originaes e curiosos, alegrou as Ruas com tangos
e polkas festivos. Um barracão, coberto de palha, conduzia pela cidade muitos
160
Bailes
- Conforme notíciamos realisou-se sabbado ultimo, nos salões do Club 1º de
Janeiro, um pomposo sarau dansante, promovido por distinctas senhoritas desta
cidade.
As dansas, que se prolongaram até a madrugada do dia seguinte decorrerram num
ambiente de grande animação e foram abrilhantadas pelo magnífico “Jazz
Melodia”.
- Logrou invulgar brilhantismo a soirré dansante que promovida por diversos
rapazes de nossa sociedade e pela directoria do “Rio Branco E. C.”, foi levada a
effeito domingo ultimo. Nos salões do antigo Club Democrata Serrano (Serra
Negra Jornal, 14/10/1933) Grifo nosso.
O baile que nós fazíamos antigamente, o baile da primavera. Eu tenho até uma
história desse baile. Uma ocasião nós fizemos um baile e era obrigatório as mulheres
tudo de roupa e os homens de terno escuro e gravata. E aconteceu que fizemos o
baile e veio a Anesia Silveira, filha do Juca Preto, ela veio com o noivo e não estava
vestida. Quem é que ia proibir ela? E ela entrou... aí nós fizemos outro baile e
justamente estava aqui um casal... o delegado era moço e fazia parte da nossa turma.
Aí falamos desse baile e comentamos com ele. – Não! Eu fico na porta! Se ela não
vier vestida (a caráter) eu barro. Ela era a mais rica da cidade, fazia o que queria.
Fizemos o baile, ela veio com o Dr. Mario, (que) era noivo dela. Não pôde entrar,
ele (o Delegado) não (a) deixou entrar. Para nós foi uma alegria... aí quando houve
outro baile ela pôs a roupa (adequada). Aprendeu... barrada no baile, no (Club) 1º de
Janeiro, ali. (Oswaldo Saragioto, 2014, Serra Negra/SP)
161
Ainda nos anos de 1930, surgiram outros clubes, como o Clube 5 de Janeiro, que
constituía local destinado a eventos, como saraus, bailes, inclusive no período do carnaval,
com suas matinês.
Club 5 DE JANEIRO
Promovido por elementos da nossa melhor sociedade, realisou-se hontem no Club 5
de Janeiro, um interessantíssimo baile à caipira, que causou êxito estrondoso.
Os salões da novel sociedade apresentavam uma ornamentação bizarra, e o sarau foi
abrilhantado por um grupo musical de Itapira, genuinamente brasileiro. (O Serrano,
29/06/1930).
145
O Salão do Club 1º de Janeiro foi mais tarde ocupado como sede da Câmara Municipal de Serra Negra.
162
Clube Operario
Está sendo organisada, nesta cidade, uma sociedade com a denominação supra, cuja
séde será installada nos espaçosos saloes do predio nº 2, da Rua Tiradenes. Damos a
seguir a directoria provisoria dessa sociedade:
Presedinte – Angelo Antonio Lamari
Vice-presidente – João Alfredo Virgilio
1º Secretario - Romeu Antonio Ricci
2º Secretario – Narciso dei Santi
Thesoureiro – Armando Stenghel
Cobrador – José L Tomaleri (Serra Negra Jornal, 29/07/1935)
Club Operario
Realisou-se hontem, nos salões do Club Operario, belíssima e animada partida
dansante. Abrilhantada pelo magnifico Jazz Radio, dirigido pelo maestro Alfredo
Dallari, as dansas decorreram animadas, num ambiente de franca cordialidade.
Agradecemos o convite enviado a nossa redacação. (Serra Negra Jornal,
29/09/1935)
163
146
O imóvel foi destinado primeiramente à instalação do Cinema Central, que funcionou por alguns anos; como
a metragem era razoável, foi instalado o Club Operário. O músico Angelo Lamari, membro da diretoria do
Clube, conhecia bem espaço, pois ele fez parte do conjunto que acompanhava os filmes. Quando o Club
Operário encerrou suas atividades, o local novamente sediou um clube, o Clube XV de Novembro, que se
configurou em 1938 e tornou-se o Clube mais frequentado de Serra Negra durante sua existência.
164
Continuidades
Na realidade nada está perdido, nem pode ser perdido:
nenhuma forma, identidade, nascimento –
nenhum objeto do mundo.
Vida nem força nem coisa alguma visível,
as aparências não devem deter nem a esfera mudada
confundir teu cérebro.
Amplos são o espaço e o tempo, amplos os campos da Natureza.
O corpo lerdo, envelhecido, frio - brasas restantes
de antigos fogos,
luz esmaecida nos olhos - há de outra vez flamejar como deve;
o sol agora baixo no ocidente levanta-se em manhãs
e meios-dias contínuos;
aos canteiros gelados retoma sempre
o invisível código da primavera
com relva e flores, grãos e frutos de verão.
Walt Whitman
165
147
O Delegado de Polícia, Antonio Loleto Salvia foi o encarregado de proceder ao confisco dos bens e lacração
da sede da Sociedade Italiana. Não foram encontrados documentos da entidade, pois, prevendo que algo poderia
ocorrer, a documentação da Sociedade foi retirada antes do fechamento e guardada por membros da família
Lamari. Meses depois o imóvel foi liberado. A Banda de Música voltou a fazer os ensaios rotineiros.
166
couro. O Álbum dos Municípios de São Paulo, publicado no ano de 1940, registrou que a
cidade possuía oito hotéis no final dos anos de 1930, sendo eles: Rádio Hotel, Hotel da
Empresa, Hotel do Comércio, Hotel Santo Antonio, Novo Hotel, Hotel Marchi, Hotel São
Paulo e Regina Hotel, além de inúmeras pensões. Os novos estabelecimentos não supriam a
demanda dos veranistas em contínuo crescimento.
Da renda líquida apurada com o imposto de licença especial, oitenta por cento são
destinados a Assistência Hospitalar do Estado, e os vinte por cento restantes à
Assistência Hospitalar do Município. Essa renda recolhida ao Tesouro Estadual e
Contadorias Municipais respectivas, na proporção indicada, devendo ser escriturado
como renda com aplicação especial nos referidos serviços.
Casino
O “Diário Official” de hontem publicou o seguinte despacho da Chefatura de Polícia
de São Paulo: - Da Empresa de Melhoramentos de Serra Negra, sobre a exploração
de casino: - Compareça à Tesouraria Geral desta Republica, afim de depositar a
importância de Rs. 30:000$000, da qual 15:000$000 correspondem ao depósito
adiantado da taxa fixa, relativa ao primeiro trimestre, a que se refere o § 2º do art. 4º
do decreto n. 10.462, conforme foi arbitrada pelo Sr. Chefe de Polícia, e os
15:000$000, restantes para o pagamento do pessoal necessário aos serviços de
fiscalização, nos termos do § 1º do art. 19 da portaria n. 66 de 11-1939. (O Serrano,
30/06/1940)
privada ou governamental, a edificação deveria ser suntuosa, com restaurante, bar, piscinas,
salões e salas para conferências.
No ano de 1941, a construção do Grande Hotel Serra Negra já estava adiantada e
absorveu mão de obra local constituída de pedreiros, de mestres de obras e de marceneiros. Os
Srs. Quirino Rossi e Bruno Caravatti arrendaram o hotel, iniciando os procedimentos para a
exploração do cassino e, para seu funcionamento, foi necessária a contratação de mão de obra
especializada. Além dos serranos, profissionais das áreas artística, de entretenimento e do
jogo migraram dos grandes centros, sendo que muitos deles acabaram se estabelecendo e
constituindo família em Serra Negra.
Foto nº 35. Construção do Grande Hotel, que abrigaria o Cassino. Início dos anos de
1940. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da Pesquisadora.
...Casino do Grande Hotel Serra Negra um dos maiores e dos mais luxuosos do
nosso Estado. O sr. Lemos já deu inicio aos serviços das instalações do suntuoso
Casino, a ser inaugurado ainda este mez... (O Serrano, 01/02/1942)
148
ANEXO Nº 02
169
149
Acquilina Cicilia Lamari, chegou em Serra Negra aos 12 anos de idade, no ano de 1892, vinda da Calabria.
Seu pai era mestre de obras e entre seus trabalhos está o término da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário,
contratado por Monsenhor Manzini. Ela se casou aos 16 anos, em 1895, com Raphael Lamari, um rico
comerciante de 40 anos.
171
ao piano e Alfredo Dallari ao contrabaixo. Seus ensaios eram regulares, primando pela
qualidade da sonoridade e interpretação.
150
Luigi Benedetto se tornou professor de mais músicos serranos, como Silvio
Bertolini, que narrou em seu livro de memórias a importância das aulas ministradas pelo
referido mestre para a sua formação musical.
Ele propôs ser meu mestre enquanto visitava a família Lamari. Na época eu tinha
começado a tocar sax genis de harmonia, mas meu instrumento era muito velho e eu
precisava consertá-lo sempre soldando os buracos. Um dia de muita sorte, após
remendar o sax genis, com muita malícia empunhei o instrumento e toquei com
energia para que o maestro Luigi me ouvisse e, por incrível que pareça, ele no ato
quis me conhecer e pediu para que meu patrão me desse folga do trabalho para eu
receber aulas três vezes por semana. Essas aulas duraram 11 meses, que foram para
mim de grande valia. (BERTOLINI, 2009, p. 134).
150
Segundo o músico Silvio Bertolini, após o fechamento do Cassino, Luigi Benedetto, Vitorio Pezzete e outros
músicos profissionais foram para São Paulo a fim conseguirem trabalho. Luigi trabalhou em cabarés e casas
noturnas e faleceu em condições miseráveis.
151
ANEXO Nº 03
172
Foto nº 38. Conjunto Águias de Prata, músicos em pé: Claudio Blotta, Antonio
Tomareli, Zezinho do Cavaco. Sentados: Gilberto Conz, Nery Della Guardia e Saul
Blotta. Ano de 1943. Foto cedida por Alcebíades Felix. Acervo da pesquisadora.
152
ANEXO Nº 04.
173
Também marcou época nos palcos do Cassino a Jazz Band Melodia, que fazia
parte da programação da casa. Esses músicos experientes aproveitaram essa oportunidade
para firmar seus nomes no cenário musical serrano. Além do Cassino, a Band Melodia passou
a fazer parte dos quadros do Clube XV, que foi inaugurado em 1938, com apresentações
contínuas.
Os músicos da Jazz Band também eram integrantes da Banda “Umberto I”.
Benedito Mattedi ficou conhecido como excelente músico, professor e compositor, sendo
inúmeras as histórias sobre ele. Entre elas a de que ele ouvia uma música no rádio e a
transcrevia com arranjos para Banda ou para o conjunto.
174
Santini Mattedi153, assim como seu irmão Benedito, foi instrumentista de banda,
de conjuntos musicais e professor de música e responsável pela formação de toda uma
geração de músicos serranos.
Clube XV de Novembro
A diretoria desta simpatica sociedade recreativa prepara com entusiasmo o baile que
levará a efeito amanhã para festeja a passagem do ano, com o concurso do apreciado
“Jazz Melodia” desta cidade... (O Serrano, 29/12/1945)
153
O Professor Santini Mattedi fundou a Escola de Música “Nicolino Fatigati”, em 1953.
175
Foto nº 39. Vista do Cassino. O Grande Hotel que abrigava o Cassino era um ponto
turístico da cidade de Serra Negra. O trajeto era feito por charretes. Década de 1940.
Fonte: Foto Fagundes. Acervo da pesquisadora.
Isso é do tempo do cassino...eu ia toda a noite lá, eu era moço e não pagava nada...
assistia os shows que tinha, vinha show de todo o lugar, inclusive eu assisti o show
da Gloria Warren!!!. Ela era americana e veio dar um show aqui no cassino... veio
exclusivamente para dar o show aqui na cidade... tinha um amigo e falava: Vamos
lá? Chegava lá, tomava uma cerveja, assistia e vinha embora... o forte era a
jogatina... corria o dinheiro ali que dava gosto! Infelizmente tiraram o cassino,
aquele Dutra.... se tivesse até hoje, isso aqui tinha triplicado, porque todo mundo
154
O cantor Vicente Celestino esteve em Serra Negra em uma turnê pelo interior do País. A audição, em
09/02/1941, foi feita no palco do Cine Republica. O espaço do Cine Republica foi fundamental na década de
1950, pois ali era transmitido ao vivo o programa de auditório da Rádio Serra Negra e também para as
apresentações do grupo de teatro serrano.
155
Produção americana de 1942. O episódio trata-se da atriz Gloria Warren, do filme Sempre no Meu Coração.
Sua apresentação foi no ano de 1945 e a turnê incluiu outras cidades, com apresentações realizadas nos cassinos.
Em Poços de Caldas o show ocorreu em setembro de 1945. O conjunto serrano Garotos do Ritmo realizou uma
apresentação no mesmo dia que ocorreu o show da Gloria Warren.
176
A música, eu sempre gostei! Então a minha casa, lá na Duque de Caxias, até hoje
tem um terraço. A gente reunia as amigas, a gente fazia muito tricô, né? Para pode ir
ao cinema. Fazia o tricozinho da gente! A gente cantava, cantava na área. Às vezes
minha mãe com meu pai estavam brigando lá dentro do quarto e eu cantando que era
uma delícia, ali no terraço... Eu tinha uma amiga, que se chamava Maria Hortência e
ela falou :- Clayr canta. Eu cantava samba, cantava as músicas. – Ela falou: - Por
que você não canta os boleros do Gregório Barrios? Olha o Gregório Barrios está
cantando que é um espetáculo! Eu falei :- Ah!! Mas é... eu não sei cantar. Ela falou:
- Eu ensino. Ai ela pegou as letras das músicas do Gregório Barrios e eu cantava e
ela me ensinava a falar o castelhano, né?... E ali eu comecei a cantar o bolerão da
época, né? É que estava muito em moda. Aparecia mais, porque a moda era o bolero.
(Demon Clayr, 2014, Serra Negra/SP.)
Passou-se um tempo e veiculou-se pela cidade que a jovem Clayr tinha uma voz
muito bela e convidaram-na para cantar em um evento em 1944, realizado para angariar
fundos destinados à construção do Asilo São Francisco. Para poder se apresentar ela teve que
obter a permissão do pai e a supervisão dos cinco irmãos.
Através do músico Nico Mattedi156, surgiu a oportunidade de uma apresentação no
“Grill Room” do Cassino e a orquestra que estava em temporada em Serra Negra era a de
Xavier Cugat157. No ensaio, o Maestro Cugat perguntou a Clayr qual era a tonalidade em que
156
A família Mattedi formada pelos irmãos Matheus, Benedito, Santini e Nico eram excelentes músicos; foram
integrantes do Corpo Musical “Umberto I” e da Jazz Band Melodia, sendo uma das referências musicais de Serra
Negra.
157
Xavier Cugat (1900-1990), maestro, compositor e cantor; com sua orquestra participou de vários musicais
norte-americanos da MGM e realizou inúmeras apresentações em clubes e cassinos, inclusive no Brasil. Nos
anos de 1930 – 1940, conhecido como o Rei da Rumba.
177
ela estava acostumada a cantar. Ela, entretanto, não soube responder e ele, gentilmente, a
ouviu e orientou a orquestra para segui-la no tom em que ela cantava.
E um dia o Nico Mattedi, eu contei né. Aquele dia foi até gozado. Teve um show no
Grande Hotel... então falaram:- Clayr, você vai cantar no Grande Hotel. – Mas
escuta, eu tenho vergonha. Também de cantar num Grande Hotel! Tinha cassino
tudo. Então vai fazer o show no Grande Hotel e toda a sociedade aqui de Serra
Negra, juntaram também a turma lá para cantar e eu fui...Só que quem estava lá era
o Xavier Cugat... Orquestra de Xavier Cugat, que estava na... se apresentando aqui
no Grande Hotel. Quando chegou a hora de cantar, ele falou :- Eu acompanho! Nós
vamos acompanhar você... Aí eu comecei a cantar De corazón a corazón. Comecei a
cantar e ele foi mesmo atrás. Aí eu cantei, cantei e achei superbacana cantar com ele.
Nossa! Então, foi um sucesso. Quer dizer que eu cantei até com o Xavier Cugat!
(Demon Clayr, 2014, Serra Negra/SP.)
Demon Clayr apresentou-se muito bem, possibilitando com isso outros convites,
passando a ser acompanhada pela Orquestra do Cassino, assim como pelos músicos serranos
que se apresentavam no espaço, entre eles os irmãos Saul e Claudio Blotta158. Era grande a
preocupação com o figurino para as apresentações naquele espaço luxuoso e, como Demon
Clayr não possuía as vestimentas apropriadas, os vestidos e adereços eram arranjados e
adaptados para o seu corpo. Sua permanência no Cassino era exatamente o tempo que durava
a apresentação, pois não tinha autorização do pai para ficar além do período estabelecido.
Era assim, viu, Claudia. Eu cantava, eu tinha cinco irmãos. Cinco leões! Então o Sr.
Barbosa, o pessoal ia em casa, tinha que pedir para o meu pai. Meu pai fazia aquela
baita cena. Depois deixava, só que assim: - Ela vai cantar, mas os irmãos dela vão
junto. Então eu entrava pela porta dos fundos do Grande Hotel, não entrava pela
porta da frente, com meu irmão. Eu cantava, acabava de cantar, eu ia pelo fundo, ele
me pegava e vinha embora. (Demon Clayr, 2014, Serra Negra/SP.)
158
Saul e Claudio Blotta, irmãos músicos, que foram integrantes dos conjuntos: Águias de Prata, Garotos do
Ritmo e do regional que acompanhava o programa de auditório comandado por Alcebíades Felix nos anos de
1950.
178
Foto nº 40. Demon Clayr, com figurino apropriado para uma das suas apresentações,
década de 1940. Serra Negra/ SP. Foto cedida pela depoente Demon Clayr Del Nero.
Acervo da pesquisadora.
...foi em casa pediu para o meu pai se deixava fazer uma apresentação na Rádio
Nacional do Rio de Janeiro...foi lá com o meu pai. Quase que saiu a pedrada da
minha casa.... meu pai falou : - Nem pensar... o senhor está pensando que minha
filha é o que? Cantar em rádio? Você está pensando o quê? O senhor suma daqui.
Ele o Nico Mattedi, estava junto com ele. (Demon Clayr, 2014, Serra Negra/SP.)
159
Otávio Gabus Mendes, crítico, radialista, roteirista e diretor de cinema. Em 1936, organizou a discoteca da
Rádio Nacional, no Rio de Janeiro.
160
Lourdes Godoy Gentlini, nascida na cidade de Lindóia em 13/08/1930, casou-se em 1958, com o imigrante
italiano Aldo Gentilini, faleceu no ano de 2014.
179
também contava com a companhia de seu irmão José Godoy. Nos recitais ela era
acompanhada pela Orquestra J. França.
A Lourdinha Godoy, uma amiga maravilhosa. Uma voz muito bonita; por sinal, a
voz mais bonita de todas nós, porque ela cantava música italiana e era mais lírica, a
gente já era a voz do momento. Cantava aquilo do momento, ela já não!...Ela lia
muito, ela estudava, ela sabia discutir, ela sabia falar. A Lourdes foi uma pessoa
especial.
A Lourdes cantava em todo o lugar. Ela era assim formidável, porque se ela
estivesse aqui agora ela estaria cantando. Está entendendo? Coisa que eu não fazia.
Então eu achava o máximo. Porque não tinha aquele negócio de inveja. Uma
procurava ajudar a outra.
Então a Lourdes estava, por exemplo quando a gente ia cantar, uma estava pondo
uma roupa, a outra ajudava- Ah! Não está bom isso daqui. Deixa eu levantar. Era
gostoso porque não tinha... e cada uma cantava o seu ritmo, quer dizer que uma não
entrava no que a outra fazia. (Demon Clayr, 2014, Serra Negra/SP).
A música. Acho que nasceu comigo. Porque eu sempre admirei... Por exemplo,
você, acho que nem ouviu falar de Orlando Silva. Eu morria de ouvir as músicas de
Orlando Silva... Nelson Gonçalves. Não tinha rádio. Até que uma época meu pai
comprou um rádio. Tinha os horários certos dos programas. Francisco Alves, por
exemplo, tinha aos domingos, só cantava no domingo, ao meio dia, na Rádio
Nacional. Depois eu tenho a coleção dos discos do Orlando Silva. Eu adorava ele.
Ele foi o maior que eu já ouvi cantar. Muitos deles também, grandes cantores...
Nelson Gonçalves.... eu não estudei nada, de tanto ouvir. Eu fazia no conjunto a
segunda voz, o dueto. Que tem pessoas que cantam no tom. Aí precisa quem canta
acima ou abaixo, para fazer o dueto e para ficar bonito. Não era o mesmo tom senão
não era um conjunto. Fazia o dueto com os demais companheiros. O repertório
nosso era do conjunto Anjos do Inferno. O maior sucesso deles nós fazíamos, nós
cantávamos. (Claudio Corsetti, 2013, Serra Negra/SP).
... o Claudio Blotta que teve essa ideia, porque o irmão dele (Saul) tocava violão e
ele gostava muito de música. O Saul tocava. E naquele tempo tinha os Anjos do
Inferno que foi o maior conjunto vocal que nós já ouvimos... Todos gostavam, acho
que era o único também... não... tinha diversos, mas o de maior expressão era o
Conjunto Anjos do Inferno. Então o Claudio Blotta fundou aqui em Serra Negra, os
Garotos, não... primeiro não foi os Garotos... Águias de Prata foi o primeiro...
depois tornou a fundar os Garotos do Ritmo. Nós por exemplo, fomos para Mogi
Mirim, Campinas, gravamos em São Paulo. (Claudio Corsetti, 2013, Serra
Negra/SP)
181
Foto nº 42. Foto promocional do Conjunto Vocal “Garotos do Ritmo”, idealizada pelo
fotógrafo serrano Leonel Antunes, funcionário da Foto Fagundes. Década de 1940.
Foto cedida pelo depoente Claudio Corsetti. Acervo da pesquisadora.
Claudio Blotta quem começou. Ele gostava e aliás, ele já tinha tido antes... o Águias
de Prata. Aí parou! Depois de um tempo começou os Garotos do Ritmo. Que com
oportunidade de fazer um show aqui no cassino, no cassino de Lindóia, fizemos
shows por ai. Eu me lembro de um show até que nós participamos com a Gloria
Warren. Gloria Warren, uma artista famosa americana. A artista que gravou o filme
Sempre no Meu Coração... o show que a gente fazia aí era com artista de renome.
Artistas brasileiros, cantores, cantoras...
(o repertório) Tinha os Anjos do Inferno, Quatro Ases e Um Coringa. Tinha algumas
dos Vocalistas Tropicais. Então, muito pouco dos Vocalistas Tropicais, mas em
inglês, tinha música brasileira no meio, mas era mais Anjos do Inferno e Quatro
Azes e Um Coringa. (Nelson de Barros, 2014, Serra Negra/SP)
182
Tem uma história interessante. O meu pai emprestou (o equivalente a) 1.500 reais
para o conjunto, quer dizer fui eu que levei o conjunto, não tinha nem documento,
nem nada, comprar o uniforme. Então eles tinham três uniformes, um uniforme de
gala, um uniforme com vilejack branco, calça branca e vilejack branco e um outro
esportivo, todos iguais... Então eles foram, tinha apresentação, eles trocavam de
roupa no intervalo e se apresentavam assim. Nossa! Era um sucesso!
...conforme eles pegavam um intervalo, eles trocavam a roupa rapidamente, porque
o Vilejack por exemplo era só tirar o paletó, e por vilejack, porque a calça ficava a
mesma. (Alcebíades Felix, 2014, Serra Negra/SP).
161
O imóvel era localizado na esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua José Bonifácio; em meados de 1960,
vários imóveis foram demolidos e foi construído o Edifício Cisne.
162
Eduardo Patané (1906-1969) maestro, compositor, violinista. A partir de 1939 foi contratado pela Rádio
Nacional do Rio de Janeiro. http://cifrantiga2.blogspot.com.br/2013/07/eduardo-patane.html. Acesso em
08/04/2014
183
Paulo e vou dizer uma coisa para você, Mogi Mirim, Itapira, Amparo, Serra Negra,
Águas de Lindóia, Socorro, todos esses lugares, o conjunto se apresentava com
sucesso.(Alcebíades Felix, 2014, Serra Negra/SP).
Então meu pai falou: Você não vai, não! O senhor não quer que vá, não vou...Então
eu chamei o Nerinho, minha casa era sobrado. Fiz a mala minha ... joguei (rsrs) para
o Nerinho pela sacada e vamos embora, até.... deu o que deu. Imagine se eu iria
faltar. Podia levar uma surra depois... eu fiz a mala, o Nerão ficou lá embaixo e da
sacada eu joguei para ele, porque (tinha) o uniforme do conjunto. Dai foi embora.
Quando chega na sede, que era o lugar que a gente ensaiava. Deu .... quebrou o pau
lá. (Nelson de Barros, 2014, Serra Negra/SP).
Depois de todo o trabalho para empreender a fuga, foram todos para a sala onde
realizavam os ensaios e, infelizmente, houve uma grande discussão entre os membros, pois
um deles se recusou a viajar, tendo em vista os problemas conjugais motivados pelas
constantes apresentações. No desentendimento houve, inclusive, a quebra de um violão, o que
gerou a ruptura do conjunto e, nesse ínterim, decretou-se também o fechamento dos cassinos.
a maior tristeza foi quando começou a convocação. A notícia já estava desde 1940.
Foi quando começou a convocação... aquele tempo era só rádio, quando chegou em
1944 começaram a convocar os reservistas. Eu servi de 1939 para 1940 em
Caçapava. Um belo dia estava trabalhando no Grande Hotel, até o seu avô era o
mestre de obras, o José da Silva. Eu recebi uma cartinha lá, para me apresenter onde
eu servi, lá em Caçapava. Aqui em Serra Negra eu fui o primeiro a ser convocado...
minha mãe ficou meio desesperada, ficou bastante chocada. Eu era o filho mais
velho, era o que mais ajudava. (Roberto Gambeta, 1991, Serra Negra/SP.)
munição para gastar somente nos treinos, como também seus uniformes não eram apropriados
ao clima europeu. O Exército americano foi quem os supriu assim que chegaram ao
acampamento em Nápoles. Relataram, ainda, que o embarque ocorreu à noite sem que fossem
avisados e, mesmo após o embarque, não havia confirmação sobre o destino; somente após
três dias em alto mar é que se inteiraram da situação.
A permanência dos pracinhas na Itália intercalava-se entre as manobras no front e
os descansos fora da área de conflito. As notícias chegavam a Serra Negra através das cartas
enviadas aos familiares. Com a informação sobre o término da guerra, começaram a ser
veiculadas notícias do regresso dos brasileiros. O Serrano publicou um comunicado em 3 de
junho de 1945, noticiando que os pracinhas estariam de volta ao Brasil até o final do mês de
junho; no entanto o regresso ocorreu somente no final de julho daquele ano.
Serra Negra festejou calorosamente o retorno dos seus “pracinhas”. Foi grande a
solenidade para recepcionar os “herois serranos”. O evento envolveu muitas pessoas,
divididas em comissões como: a comissão de honra (sete integrantes), a comissão executiva
(cinco integrantes), a comissão de recepção (95 integrantes) e a comissão feminina, composta
de 27 mulheres incumbidas de formarem um batalhão trajando vestimentas iguais às das
enfermeiras que serviram na Cruz Vermelha. Elas seriam responsáveis pela recepção e
entrega de flores. Havia ainda a comissão do palanque e do enfeite, do baile e do churrasco,
composta por 80 integrantes.
Em 22 de julho publicou-se a programação; a solenidade ocorreu no dia 5 de
agosto de 1945.
“Os expedicionários entrariam na cidade, marchando em forma de V, dentro de
um quadrado formado por senhoritas. As ruas iluminadas e enfeitadas...” Os soldados seriam
recebidos pelas autoridades locais e pela população. Após a cerimônia o grupo iria até o
Radio Hotel para um jantar comemorativo e seguiriam para o baile no Clube XV, abrilhantado
pela Jazz Band Melodia e pela Corporação Musical “Lira de Serra Negra”. Na manhã
seguinte, seria celebrada uma missa em Ação de Graças e realizado um churrasco163.
163
Jornal O Serrano, edição de 22/07/1945.
187
Foto nº 45. Recepção dos Pracinhas serranos, em agosto de 1945. Jovens senhoritas vestidas de
branco, com bonés e uma faixa verde e amarela. Foto cedida por Oswaldo Saragiotto. Acervo da
pesquisadora.
NO RADIO HOTEL
Pelas 18 horas, no Radio Hotel, foi servido um jantar aos expedicionários:
Oswaldo Saragiotto, Sebastião Pinto, Valdemar Pinto de Azevedo, Alcides
Batista Bueno, Giordano Marchi, Decio Fioranti, Antonio Silveira Patrício,
José Leme Assis e seus progenitores, ali comparecendo as nossas autoridades
e várias pessoas gradas da sociedade serrana. (O Serrano, edição de
12/08/1945)
recepção. Fui eu com o Giordano que chegamos aqui, o outro foi direto para
Socorro. Aí fiquei aqui, mais ou menos, uns dois dias. Eu não podia ficar aqui, eu
não estava liberado ainda. (Oswaldo Saragiotto, 1992, Serra Negra/SP)
Foto nº 46. O palanque foi feito no formato de um navio, simbolizando o navio americano General
Meigh, que transportou os expedicionários para a Itália, em 1944. Foi construído pelo marceneiro
Abílio Marchi. Agosto de 1945. Foto cedida pela depoente Tereza Marchi. Acervo da pesquisadora.
Quando faltava mais ou menos 100 quilômetros para chegar no Brasil, para chegar
no Rio, então lá, os marinheiros falavam: mais ou menos daqui quatro ou cinco
horas nós vamos avistar o Rio de Janeiro, daqui umas seis horas... e de fato, quando
amanheceu o dia, saiu todo mundo em cima do convés para ver... começou avistar
terra... longe apareceu as montanhas... daí surgiu o Cristo Rendentor. De fato
naquela dia, nós chegamos de manhã no Rio, era umas 10:00, 11:00 horas. Nossa!
Até desembarcar tudo, não foi brincadeira, muita gente, tudo em ordem, o 1º
Batalhao, o 2º e depois o 3º. Tinha uns quatro mil homens, até descer tudo. Depois,
aquele povo não deixava a gente andar. Um convidava para tomar uma cerveja,
outro convidava para ir comer. Então, quando era noite, nós estávamos lá no Rio,
ainda. Aquela alegria do povo. Aquilo foi uma coisa! Muitos pais, muitas mães
foram esperar os filhos no Rio. Aqui de Serra Negra, quando eu desci do navio, a
primeira pessoa que eu encontrei foi o Ataliba de Lima, que alegria! Um
companheiro de Serra Negra!. Aí teve muitos que não suportou ir para São Paulo
para ser licenciado, vieram embora... Me convidaram para vir para Serra Negra. Eu
falei :- Não! Vou ficar mais dois, três dias para ser licenciado e volto de uma vez...
aí viemos para São Paulo, para o desfile em São Paulo. O Coronel escalou uma
turma para representar São Paulo, eu fui no desfile de São Paulo. (Roberto Gambeta,
1991, Serra Negra/SP.)
189
Após a chegada dos pracinhas, a cidade voltou à sua rotina com os veranistas
vindos para os tratamentos aquáticos, os shows e apresentações no cassino e, até o dia 30 de
abril de 1946, as pessoas ainda puderam se deleitar com a jogatina.
164
Decreto nº 15.534/1946 – Isenção de impostos por cinco anos para a edificação de novos hotéis.
190
A delicada situação econômica e financeira por que passa nosso Estado, vindo esse
fato refletir consideravelmente no movimento dessa estância. É sabido que Serra
Negra, de uns anos para cá vem sofrendo visível declínio na freqüência de veranistas
e aquáticos. O fechamento do cassino foi sem duvida a causa predominante desse
estado de cousas. E tanto é verdade, que em outras estâncias, mais velhas e mais
conhecidas do que a nossa esse motivo também se fez sentir e com grande
intensidade. Assim, a taxa em apreço, embora criada com os melhores dos
propósitos, virá acarretar um esmorecimento ainda maior entre turistas, veranistas e
aquáticos166. (grifo nosso).
O pedido não foi atendido e a Lei vigorou até 1960, quando se alteraram alguns
itens, mas se manteve a cobrança das citadas taxas. Protocolaram-se requerimentos pedindo
isenção de taxas, inclusive três assinados pelos proprietários de charretes167, que nos
documentos expunham a impossibilidade de pagamento dos impostos para exercerem a
profissão e solicitavam também a redução dos valores das taxas, arguindo que:
165
Através da Lei 310/1960, a taxa de turismo e hospedagem subiu para 5%.
166
Requerimento protocolado em janeiro de 1950, assinado por representantes de hotéis: Radio Hotel, Hotel
Vitória, Hotel do Comércio, Regina Hotel, Líder Hotel, Hotel Santos, Hotel Santo Antonio, Hotel Brasil, Hotel
São Paulo e Hotel Marchi. E das pensões: Pensão Serrana, Pensão Nova Era e Pensão Coração de Jesus. Acervo
da Câmara Municipal de Serra Negra/SP.
167
Requerimentos datados de: 09/03/1950, 03/07/1950 e 06/07/1950. Charreteiros: Antonio Pinto de Azevedo,
Antonio Ignácio de Barros, José Vicente Alves, Arlindo Franco Godoy, João Pedroso, Mauricio Celeghin, Irineu
Nadalini, José Ignácio de Barros, José Vaz de Lima, Fernando Duzzi, Antonio Souza Moraes, Clemente Pinto da
Fonseca, Caetano Tomaleri, Benedito de Souza e José Ramos de Souza. Arquivo da Câmara Municipal de Serra
Negra/SP.
191
O depoente José Franco de Godoy (2015), em suas narrativas, lembrou que “isso
era a atração da cidade, a charrete... diversas... tudo de aluguel. Os turistas iam para os
bairros, para a cidade toda...”.
Apesar de ter sido narrado sob um viés cheio de melancolia, O Serrano publicou
uma matéria em março de 1950 noticiando a destinação de verbas para a cidade,
especificamente para a construção do Balneário Municipal. Receberam-se os recursos de bom
grado, mas a construção demorou oito anos para ser concluída.
168
Artigo: Problema Municipal. Dalmo de Abreu Dallari. Especial para O Serrano, edição de 13/06/1954.
169
As verbas para alguns procedimentos vinham através do DOP – Departamento de Obras Públicas do Estado
de São Paulo e da Secretaria de Viação.
193
170
Não se encontraram registros sobre a data da construção; pressupõe-se que teria sido entre os primeiros anos
de 1900, pois existe a Lei nº 63 de 16/11/1909, que dispõe sobre os alugueres do espaço, bem como sobre a
cobrança de impostos. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
171
O Jardim Público foi inaugurado em 1905.
194
também, tinha uma amiga, a Zilda, ela jogava, mas ela fazia gols. Você precisava
ver, era uma coisa![...](Tereza Marchi, 2014, Serra Negra/SP)
Aqui funcionou uma vez um açougue. Aqui atrás, que não aparece... tinham tropas
de burros que vinham vender queijos, vinham de Borda da Mata (MG). As
caravanas, na época eles vinham todos de burros e os queijos eram postos um em
cima dos outros e eles carregavam em cima dos burros. Eles ficavam aqui vendendo,
os queijos para os comerciantes e depois vendiam os burros também... ficavam
dormindo num, traziam suas camas de tropeiros mesmo, que falavam na época.
(Irineu Saragiotto, 2014, Serra Negra /SP).
Nesse aspecto, Oswaldo Saragiotto enfatiza ainda que em uma das vindas dos
mineiros experimentou uns queijos e gostou.
[...] eles traziam os queijos, como chamava a cangalha, né? Eles punham dois jacás,
um aqui... um aqui e do outro lado também, vinham quatro jacás de queijo. Vinha
amarrado e dependurado, porque aqui em cima tinha umas partes de madeira, que
era próprio para isso mesmo, para amarrar, então vinha.... eles vinham lá de Minas
carregado e vinham aqui no Mercadão. Que era o ponto deles aí... aí descarregava
todo o queijo deles aí. E sabe como é que vendia? Vendia por lote, pegava um canto,
fazia uma pilha de queijo. Aqueles queijão que não tirava a manteiga, aquele queijo
gordo. Uma beleza! E fácil de bichar, ai formava aqueles.... aí vinha os comerciantes
e negociavam.... eu quero tanto... tanto...Compravam, levavam para casa, pesavam,
lavavam porque ele vinha no jacá, apesar deles colocarem sempre algumas folhas de
bananeira.... alguma coisa. O pó, a terra, né? Os animais pisando o pó levantava.
Então ficava meio sujinho, precisava lavar o queijo, enxugar, depois por em cima,
sempre em cima de umas tábuas grandes, coisa grande, para ele enxugar um
pouquinho.... meu pai pesava e fazia o preço para poder vender. Aí pesava... tantos
quilos no valor de cem reais, custou x, acrescentava o lucro e vendia o queijo. E
tinha os queijos, conforme eles ficavam alguns dias, alguns começavam a amarelar,
sabe? Amarelava, ficava... não bem cura, mas era um queijo fresco e se ficasse mais
um pouquinho, na borda do queijo começava a bichar, mas só na borda assim.... e
tinha aqueles italianos que queriam aquele queijo.
Que era o queijo mais gordo que tinha. Eles queriam aquele. E eu por uma ocasião,
por curiosidade peguei um queijo daquele e cortei um pedaço, era só a beiradinha
assim, que formava. Dentro não tinha bicho nenhum. E se cortasse aquela
beiradinha era o melhor queijo que tinha. (Oswaldo Saragiotto, 1992 e 2014, Serra
Negra/SP).
[...].eles vinham com os animais e pedia para a molecada para ajudar a levar no
pasto os cavalos. Então você montava em pelo e ia... chamava “pasto do Turco”,
onde é lá em cima, agora. Antigamente era do Antonio Jorge, falava “pasto do
Turco”, ai perto do rio, ali. Atravessa a Rua ali no rio. Tinha uma passagem ali, dava
uma passagem de três metros mais ou menos, aí você ia, subia o morro e chegava lá
em cima e soltava os animais lá. Voltava e eles davam um queijo desse tamanho
para gente. E a gente divertia porque ia em cima dos burros e ainda ganhava. Era tão
barato para eles, que dava um queijo desse tamanho para gente. Ah! Meu Deus do
Céu!!!![...] (Oswaldo Saragiotto, 1992 e 2014, Serra Negra/SP).
196
Foto nº 51. A construção do balneário, iniciada com as verbas estaduais recebidas em 1950, sofreu
paralisação por alguns anos. Década de 1950. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da pesquisadora.
172
Em 22 de setembro de 1954, o vereador Oscar Mangeon apresentou um projeto de Lei denominando o
balneário “Governador Lucas Nogueira Garcez”, que virou a Lei nº 160 de 22/09/1954. Acervo da Câmara
Municipal de Serra Negra.
173
Jornal O Serrano, edição de 18 de agosto de 1957.
199
intestinais e duchas escocesas, sendo duas para cada especialidade174. Segundo o depoente
Irineu Saragiotto, toda a obra esteve a cargo do construtor serrano Edno Moscão175.
Após a morte do Prefeito Sanitário Luiz Barras, incrementou-se o jardim frontal
do Balneário Municipal através de uma fonte luminosa com 15 movimentos diversos de jatos
d’água, sob variações nas luzes, cuja inauguração ocorreu em 23 de setembro de 1958, dia do
aniversário da cidade de Serra Negra. O evento contou com a presença do Brigadeiro Jose
Vicente de Faria Lima, conhecido como “Faria Lima”, que respondia no período pela
Secretaria Estadual de Viação e Obras Públicas, no governo de Jânio Quadros.
174
Jornal O Serrano, edição de 21/09/1958.
175
Edno Moscão, profissional reconhecido na cidade de Serra Negra, proprietário de uma construtora, com
escritório também em São Paulo, foi responsável pela reforma da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário e pela
construção do Fórum de Serra Negra.
200
176
Projeto de Lei nº 131 de 27/10/1958. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
201
requisitos higiênicos e técnicos (e que) permaneça trancado, sem que realizem as finalidades
sociais para que foi construído”177.
O argumento do Prefeito era que, se o balneário ficasse sob a responsabilidade do
Município ou do Estado, o seu funcionamento ainda demandaria tempo para começar: havia a
questão da falta de verba para compra dos instrumentos e aparelhos ainda necessários, além
da contratação de técnicos capacitados nas especialidades oferecidas por um balneário,
tornando o arrendamento, portanto, uma saída emergencial.
Aprovou-se o projeto, autorizando a concorrência pública mediante condições,
sendo que uma delas era
§ 1º - Fica o arrendatário obrigado a permitir o livre acesso no saguão e fonte do
Balneário e independentemente de qualquer cobrança de ingresso, de todos os
munícipes, visitantes e turistas, dentro do horário das 6 às 21,00horas, correndo por
sua conta as despesas de limpeza e conservação. (Lei nº 285 de 1º de julho de
1959)178
se para o local. O argumento de Felix (2012, p.59) era de que a ocupação do espaço
pressionaria o Governo do Estado à construção de um centro de convenções que incluiria um
balneário moderno, no seu terceiro pavimento182.
182
De fato, a construção do centro de convenções ocorreu em parceria com o Fomento de Urbanização e
Melhoria das Estâncias - FUMEST e foi inaugurado por diversos gestores, ao longo dos anos. O balneário
funcionou no terceiro piso entre os anos de 1994 a 2003. Atualmente encontra-se fechado para reformas.
183
Propriedades das águas da Fonte São Carlos: Radioatividade: 16,00 unidades Maches por litro;
Torioatividade: 05,57 milimicrocurie por litro. Elimina o cloreto de sódio excessivo corrigindo a Hipertensão
Arterial Funcional, edemas e obesidade. Alivia o trabalho cardíaco, elimina o ácido úrico na gota, reumatismo
gotoso e hiperucemia.
184
Anos mais tarde, para solucionar o problema do trânsito na cidade, a parte detrás da praça do Balneário foi
reformada, e abriu-se uma rua entre a praça e a fonte São Carlos. A fonte deixou de integrar a obra do Balneário
Municipal.
203
Foto nº 54. Fonte São Carlos / Balneário Lucas Nogueira Garcez, década de 1950
Parte detrás. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da pesquisadora
185
Projeto de Lei de autoria de Januario Blotta, apresentado em 20/09/2054. Acervo da Câmara Municipal de
Serra Negra.
204
Foto nº 55. Fonte Santo Agostinho sem seus primórdios, ainda com cobertura
de sapê. Década de 1940. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da pesquisadora.
186
O projeto foi aprovado. Lei nº 213, de 22 de Junho de 1956. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
187
Resultado da Análise, ensaio de radioatividade, realizada em 1951. Projeto de Lei nº 28/56. Acervo da
Câmara Municipal de Serra Negra.
205
comprovando-se assim, quase 30 anos mais tarde, que as indicações feitas pelo médico
Firmino Cavenaghi faziam sentido, pois a região possuía alto grau de radioatividade.
Dentre as fontes visitadas, o interesse maior do Dr. Longo voltou-se justamente
pela Fonte Santo Agostinho, pois, segundo a narrativa de Irineu Saragiotto, no local havia
vestígios de lítio, porém seria necessário um estudo mais especifico com exames de espectro
para constatar a dosagem.
No mesmo período houve a especulação de que os proprietários do imóvel onde se
localizava a fonte tinham a intenção de instalar no local uma firma de engarrafamento de
água.
[...] aí imediatamente quando soube disso, desapropriei ... fiz uma captação mais
minuciosa... era um ranchinho muito pobre, que às vezes chovia... recebia água da
erosão da chuva. E eu contratei, indicado pelo Dr. Longo, lá no Instituto Biológico,
um engenheiro que na época, hoje seria o geólogo, na época se falava engenheiro de
minas, ele que orientou toda a escavação dali dando em volta, toda aquela captação
séria. (Irineu Saragiotto, 2014, Serra Negra/SP).
Foto nº 56. Fonte Santo Agostinho, inaugurada na gestão do Prefeito Enzo Perondini. Década
1960, após o início dos investimentos, para a instalação da fonte como ponto de turismo e lazer, e
abertura das ruas do loteamento Parque Fonte Santo Agostinho. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da
pesquisadora.
produção agrícola caem drasticamente, pois a safra de 1956 atingiu o montante de apenas
76.000 arrobas, o menor resultado desde o primeiro registro encontrado, que data de 1886,
cuja produção anual foi de 3.000.000 quilogramas (equivalente a 260.000 arrobas). Na esteira
da queda na produção, também se extinguiram as fábricas de beneficiamento do produto. Em
1954, apresentou-se um Projeto de Lei com intuito de proibir novas licenças para o
funcionamento dessas fábricas no perímetro urbano da cidade. E, para que não houvesse
prejuízos, as existentes continuariam em atividade, pagando os respectivos impostos; porém,
se pedissem o seu cancelamento, não poderiam ser licenciadas novamente188.
Merece destaque outro fato envolvendo as águas serranas, que é o da constituição
de uma sociedade anônima idealizada pelo médico Jovino Silveira e por Claudio Novaes189,
os quais, em março de 1943190, lançaram uma proposta através da imprensa local. O artigo
oferecia à compra de ações do Instituto Radium-emanoterapico S/A e apresentava os estatutos
da sociedade. Segundo o comunicado, a finalidade era a de promover a criação do novo
instituto aproveitando as condições naturais de Serra Negra quanto ao clima e as propriedades
de suas águas, valendo-se também da visibilidade que a Estância vinha ganhando ao longo
dos anos. A proposta visava instalar um balneário no centro da cidade, com equipamentos
modernos nos quais as águas seriam enriquecidas pela radiação de radium metálico,
otimizando os banhos radioativos, equiparando a qualidade do tratamento serrano àquela do
oferecido pelo Balneário de Gastein, na Áustria. O aumento para 30.000 unidades mache era
perfeitamente indicado para a cura do reumatismo.
O local destinado ao novo empreendimento era justamente o das instalações do
balneário da Fonte São João, visto que este oferecia parte da infraestrutura necessária, sua
localização era privilegiada, como também era grande o interesse do proprietário na venda do
estabelecimento. O comunicado ainda alegava que os idealizadores já possuíam a quantia de
18 miligramas de radium, o que possibilitaria o início imediato do empreendimento.
Os interessados teriam o prazo de dez dias para efetivar a compra das ações e, em
seguida, marcar-se-ia uma assembleia para a constituição da sociedade seguindo as
188
Não foram encontrados dados sobre quantas máquinas ainda restavam na data da aprovação do Projeto de Lei
107/54. (Lei nº 152/1954).
189
Claudio Novaes foi um incentivador do progresso de Serra Negra, inclusive iniciou os trâmites para instalar o
cassino na cidade.
190
Publicado no Jornal O Serrano, na edição de 23/05/1943.
207
191
Em 17/08/1945 foi realizada uma Assembleia do Instituto em que constava o nome de alguns associados:
Mario Pereira dos Santos, Odorico Nilo Menen, Francisco da Cunha Diniz Junqueira, George Porfírio Cox,
Jovino Silveira, Antonio Novaes Neto, Carolina Novaes, Claudio Novaes, Maria Aparecida Novaes, José
Antonio da Silveira, José Pedro Salomão, Garcindo Alves de Andrade, Nicolau da Rocha Vita, Antonio Jorge
José, João Zelante, Romualdo Cagnoni e Decio Marchi. Em agosto de 1952, através do decreto nº 31.724, o
Instituto obteve a permissão para lavrar minerais, termais e gasosas. Em 1958 passou a funcionar como empresa
de mineração. Não foram encontrados registros referentes ao seu fechamento; o que se sabe é que ele foi
adquirido pela família Gaiolli e desativado. O local do imóvel atualmente abriga a agência do Branco Bradesco
S/A.
208
impulso. Além da construção do Balneário Municipal, das reformas das praças e fontes, da
construção do monumento do Cristo Redentor, em 1959 houve a construção do prédio do
Fórum, de grande importância para a cidade.
Como já mencionado, criou-se a Comarca de Serra Negra em 1890 e, como a
cidade não possuía um prédio especifico para abrigar o Fórum local, este funcionou
provisoriamente em instalações improvisadas, sendo que os despachos e decisões eram
proferidos nas residências dos juízes. Existe a informação de que já na década de 1930
instalou-se o Fórum no piso superior da Casa de Câmara e Cadeia, localizada na Praça da
Independência192.
Ilustração nº 22. Casa de Câmara e Cadeia. A edificação data do início dos anos de 1900, localizada
na Praça da Independência. Posteriormente a Câmara foi deslocada para outro imóvel e no piso superior
foi instalado o Fórum, contendo o gabinete do Juiz e o Salão do Júri. O térreo abrigou a Delegacia e
Cadeia. Fonte: Almanach de Serra Negra, 1913. Década de 1910.
46/1949, na qual constava a doação para o Estado de uma área de 907,07 m2, destinada à
construção do Fórum em um terreno em forma de polígono irregular. Porém, a referida
doação não se concretizou194.
Em 1952, a Comarca recebeu a visita de um engenheiro da Secretaria da Viação e
Obras Públicas do Estado de São Paulo, no intuito de proceder à avaliação do prédio onde
estava instalado o Fórum, a fim de elaborar o projeto de reforma do imóvel ou a construção de
um novo prédio. Segundo apurou o engenheiro, a reforma seria impossível, devido ao estado
avançado de degradação do imóvel. Houve, então, a sugestão da edificação de um novo
Fórum, em local próximo ao prédio antigo, ou seja, no plano mais elevado do jardim da Praça
Barão do Rio Branco, antiga Praça da Independência. O local sugerido era utilizado como
campo de futebol pelas crianças moradoras da cidade, e preencheria os requisitos, pois
confrontava com uma praça ou largo, como determinavam as exigências do Estado para
edificações de prédios públicos, além de não ser necessária a desapropriação de qualquer
imóvel, o que acarretaria ônus para os cofres municipais.
A doação ao Estado da referida área foi regularizada através das Leis nº 129/53 e
153/53195 e o imóvel a ser doado era justamente o terceiro piso da Praça acima mencionada.
No entanto, havia um problema de ordem jurídica para ser solucionado, como bem lembrou o
depoente Irineu Saragiotto, que ocupou o cargo de Prefeito Sanitário no período de 1955 a
1959. A área fazia parte de uma praça; portanto, era um bem de uso público e não um imóvel
pertencente ao Município.
Para solucionar o impasse Irineu Saragiotto iniciou uma série de estudos, e, em
suas pesquisas nos acervos de documentação antiga do Município, deparou-se com imóveis
que eram registrados através da Fábrica da Igreja e não pelos Cartórios. Nessa documentação
encontrou um pedido de desincorporação de uma área, solicitado pela Cúria Metropolitana de
Campinas. Ali estava um precedente. Depois de consultar o Juiz de Direito, Dr. Geraldo de
Faria Lemos Pinheiro, que exercia o cargo na Comarca de Serra Negra, sobre a validade do
194
Na Lei 46/1949 havia a cláusula provendo que, se o Estado não efetuasse o determinado na Lei, no prazo de
cinco anos o imóvel reverteria ao patrimônio municipal. Posteriormente o imóvel teve outra destinação: a
construção do correio, sendo doado através da Lei 64/1951 ao Departamento dos Correios e Telégrafos. O local
abriga atualmente o prédio do Correio.
195
Antes das aprovações das Leis houve um parecer datado de novembro de 1952, do Vereador Roberto
Brambilla de Maria, mais tarde eleito Deputado Estadual, sugerindo que, após a mudança do Fórum, o antigo
prédio deveria ser demolido, pois a Cadeia e Delegacia já estavam instaladas em uma nova edificação, também
localizadas na Praça Barão do Rio Branco. Atualmente o prédio abriga as seções de Distribuição Judicial e
Administração do Fórum Local.
210
Foto nº 59. Praça Barão do Rio Branco, ao fundo o Grupo Escolar e a visão do terceiro piso da praça,
no alto da escadaria, local escolhido para construção do prédio do Fórum. Década de 1940. Fonte: Foto
Fagundes. Acervo da pesquisadora.
Em 1956, após a aprovação da Lei, outros impasses surgiram. Qual seria o modelo
de construção a ser adotado pela Comarca de Serra Negra? Como seria disponibilizada a
verba para a edificação do prédio? O Município, no entanto, apesar de ter regularizado a área
doada ao Estado, não dispunha da quantia necessária à edificação na relação de verbas
aprovadas para o ano de 1958 para a construção de prédios públicos.
Naquele período a Diretoria de Obras Públicas (D.O.P.) da Secretaria de Viação
de Obras Públicas do Estado de São Paulo197 disponibilizava três modelos de plantas (A, B e
196
A Lei foi aprovada em 06/06/1956, sob nº 207/1956. A partir desse procedimento de desincorporação de bens
de uso comum do povo, outros terrenos passaram pelo mesmo processo e foram incorporados ao patrimônio
municipal.
197
O cargo de Secretario da Viação e Obras Públicas nessa época era ocupado pelo Brigadeiro Faria Lima,
futuro prefeito de São Paulo.
211
C). A construção devia observar alguns parâmetros, entre os quais a quantidade de processos
em andamento na Comarca, o número de varas em funcionamento e a metragem do terreno.
Serra Negra se enquadrava no perfil do modelo “A”. Segundo o depoente Irineu Saragiotto, o
modelo “A” era uma construção muito simples. Como ele teve acesso direto aos modelos das
plantas, escolheu na ocasião a planta de modelo “B”, em estilo neoclássico.
Como não havia destinação de verbas no orçamento de 1958 para a construção do
Fórum em Serra Negra, o Prefeito se comprometeu com o Governo do Estado a iniciar as
obras com recursos próprios do Município, aguardando a liberação da verba estadual para o
ano seguinte.
198
Avenças: nos mesmos termos, nas mesmas condições.
199
Lei 261/1958. O parágrafo único da lei dizia: O contrato a ser celebrado com base na autorização concedida
por esta Lei estipulará as mesmas avenças e idêntico valor do ajuste mencionado neste artigo, lavrado entre a
Prefeitura e a Diretoria de Obras Públicas. Acervo Câmara Municipal
212
Foto nº 60. Fórum da Comarca de Serra Negra. Década de 1960. Fonte: Foto Fagundes.
Acervo da pesquisadora.
O padrão para a construção do Fórum que seguia o modelo “B” era definido em
oito itens, conforme pesquisa realizada por Cordido (2012)200:
1 Hierarquia espacial: De cunho racionalista, o elemento que articula de forma
simétrica o corpo do edifício é o Salão do Júri.
2 Hierarquia funcional: O edifício está distribuído em dois níveis sendo que no
térreo estão todos os serviços de maior acesso ao público tais como cartórios,
arquivos, registro civis, juizados de menores. No 1º andar localizam-se os serviços
estritos da justiça: salão do júri, gabinetes, sala secreta, promotoria, advogados,
testemunhas, sala de audiência e cela para o réu.
3 Organização espacial: A planta é concebida de forma simétrica a partir de um eixo
central.
4 Agenciamentos de espaços internos: os espaços internos são organizados por
princípios funcionalistas e priorizam sua organização em função das especificidades
da Justiça.
5 Elementos de Comunicação: O átrio articula a distribuição e acesso conduzindo a
uma ampla escadaria.
6 Composição da Fachada: A fachada, por vezes, utiliza elementos com referência
neoclássicos, porém estilizados, tais como o pórtico de entrada ladeado por
200
Ver mais: CORDIDO, Maria Tereza Regina Leme de Barros. Arquitetura Moderna: A rede de fóruns
modulares do Estado de São Paulo (1969-1975) Instituto de Arquitetura de São Carlos. Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2012.
213
201
Através do Decreto nº 36.785 de 18/06/1960, o Fórum da Comarca de Serra Negra passou a chamar-se
“Fórum Clovis Belivaqua”. ...logo à entrada, vencida a escadaria externa em piso de mármore, o visitante tem
sua atenção voltada para dois vultos: Clovis Bevilaqua e Themis, a deusa da Justiça, de alva túnica e olhos
vendados, empunha a espada e a balança. Penas, para o vício; recompensa, para a virtude. À esquerda, a excelsa
figura do jurista, em tamanho natural, colocado em nicho e recebendo uma patina de luz... (Jornal A Gazeta,
edição de 23/04/1959).
202
Jornal O Serrano, edição de 25/04/1959.
214
Foto nº 61. Solenidade de Inauguração, Salão do Júri, Fórum da Comarca de Serra Negra
Abril de 1959. Foto cedida por Ari Fiorante. Acervo da pesquisadora.
sua titulação de Estância, em 1939, os prefeitos passaram a ser nomeados pelo Estado, o que
era uma das características administrativas das cidades consideradas Estâncias. Os cargos
eram de confiança e os prefeitos eram aqueles pertencentes aos partidos políticos dos grupos
que estavam no poder.
Apesar de pouco apoio recebido no período acima citado, a década de 1950 foi
muito benéfica para Serra Negra, principalmente nas gestões de Luiz Barra (1950-1954) e
Irineu Saragiotto (1955-1959). Este último, em seu depoimento, traçou a relação entre a
Estância de Serra Negra e o Estado no período em que ocupou o cargo de Prefeito Sanitário.
No período em questão, eram onze os prefeitos nomeados e o Governo do Estado fazia a
aplicação direta das verbas. O chefe de gabinete para assuntos do interior era o Sr. Corifeu de
Azevedo Marques e, dentre suas atribuições estava a de filtrar quais assuntos seriam tratados
diretamente com o Governador Jânio Quadros203, o qual adotou o expediente de receber
pessoalmente os Prefeitos das Estâncias para os respectivos despachos, dispensando a
intermediação dos deputados estaduais. Para tanto, seguia uma pauta pré-estabelecida; as
audiências eram mensais e os Prefeitos eram recebidos mediante agendamento prévio.
Você tinha um limite de despacho... eram três assuntos, não mais, só três assuntos...
Então quando era recebido por ele... os problemas mais sérios, mais graves,
despachava direto com o Governador, era uma coisa impressionante, você vê um
prefeitinho de 29, 30 anos, despachando com o Governador. (Irineu Saragiotto,
2014, Serra Negra /SP).
203
Jânio Quadros foi governador do Estado de São Paulo entre os anos de 1955 – 1959.
216
Ah! Acompanhava de perto. Então ele pegava o processo. Digamos aqui dois, três,
quatro processos de cada um daqueles que estavam aí, no máximo 10, 12, 15 e
perguntava ao Prefeito como estava o andamento de tal obra... E se você levantasse
alguma coisa que estava dependendo, que estava parada, ou lenta, ou na dependência
de repartições da própria secretaria da viação, da qual ele era titular... No momento
ele dava a palavra para o diretor daquela secretaria, daquele departamento que falava
a respeito... (Irineu Saragiotto, 2014, Serra Negra /SP).
...na minha maneira de pensar. Eu acho que a água contribuiu, mas na realidade o
que fez que Serra Negra se desenvolvesse mais foi a mudança dessa característica
puramente rural que ela tinha, por uma característica um pouco industrial, de coisa
pequena... essa pequena indústria, vamos chamar assim, (ela) foi criando vulto e
realmente agradando aqueles que vinham para cá. Porque encontravam aquelas
coisas feitas de couro bordado. Muito bonito! Era muito bonito. Então desenvolveu
ai. (Antonio Luigi, 2015, Serra Negra/SP)
Em 39, eu estava com oito anos de idade, (meu pai) comprou lá em 29 aquelas
casinhas velhas, ai botou a marcenaria dele. Porque ele trabalhou uns três anos junto
217
com o Tranquilo Perondini, que tinha marcenaria. O pai dele morava no sítio e ele
não quis saber: - Eu quero aprender uma profissão. Ele não gostava (de ser
lavrador/agricultor) e aprendeu a profissão, quando foi em 29 ele comprou aquela
casa lá na Rua Coronel e todos aquelas casinhas né, e lá ficamos, nasceu o Zé,
nasceu a Tereza, quando foi em 39 ele derrubou e fez o sobrado.
Eu comecei a vida trabalhando de marceneiro junto com meu pai, porque ele tinha
marcenaria. Ali eu fui até que eu me casei. Nesse período ele passou a loja para mim
e para o meu irmão. Nós passamos então, ao invés de móveis, a fabricar artesanato...
Era uma mercadoria bonita. Eu acabei ficando na loja durante... acho que uns oito
anos, depois eu me cansei e eu falei com meu irmão: - Fica com a loja. Ele está com
a loja até hoje. (Nelson de Barros, 2014, Serra Negra/SP).
Os suplicantes desejam manter abertas suas casas comerciais, depois das 18 horas,
exclusivamente durante o período de afluência de turistas nesta cidade, ficando os
patrões com o encargo de servirem o balcão nessa emergência, inclusive aos
domingos. 204
Foto nº 62. Casa Bruno. Loja de Calçados de propriedade de Bruno Dalari, localizada na Rua Prudente
de Moraes. O jovem é Roberto Dalari, o proprietário Bruno Dalari e Alfredo Dalari. Década de 1940.
Foto cedida por Tereza Marchi. Acervo da pesquisadora.
204
O pedido contou com 31 assinaturas e foi indeferido, pois desrespeitava os horários fixados na Lei Orgânica
do Município, além de ir contra ao estabelecido na legislação trabalhista. Oficio nº 16/50. Acervo da Câmara
Municipal de Serra Negra.
218
205
O footing é explicado em uma crônica de Odilon Souza Lemos. ANEXO 05
206
Astolpho Perondini faleceu, aos 75 anos, na cidade de Londrina/PR, em 7 de junho de 1968.
219
Corporação Musical
Vem sendo bem acolhida, graças os esforços e boa vontade encontrados por parte de
pessoas gradas do nosso meio, a iniciativa da reorganização da banda musical desta
cidade.
Tal empreendimento se faz merecedor de aplausos, pois a corporação musical
serrana foi, em outros tempos, uma das mais bem organizadas desta zona,
concorrendo a vários concursos e conquistando belas classificações. Harmonioso e
disciplinado, quantas vezes aquele tradicional conjunto de amadores da sublime arte
foi laureado nos vários certames, aos quais compartilharam outros de grande fama e
renome. Sob a batuta de bons maestros que aqui residiram, já atraídos pelos
elementos admiradores da boa música, Serra Negra teve a sua expressão de arte,
deixando algo de conceito em torno de seu nome.
Não poderia soçobrar a vitoriosa organização e, bem por isso, agora repontam novas
energias, que já se pronunciam plenamente, no reaparecimento da Banda de Música
desta cidade.
Com a compra de novo instrumental e do seu uniforme, a corporação vae receber
nova denominação, que ficou para ser deliberada, quando reunidos os seus
reorganizadores.
Merecem, pois os nossos aplausos os afeiçoados e aqueles que se dispuseram a dar
seus esforços a simpática iniciativa, já coroada de pleno êxito com o breve reencetar
dos concertos públicos naquela corporação musical dos logradores da cidade (O
Serrano, 17/04/1945).
reunião, a diretoria foi empossada e votou-se a nova designação da banda, que passou a se
chamar Corporação Musical “Lira de Serra Negra”.
Após a eleição, houve uma grande movimentação a fim de angariar fundos para a
aquisição de instrumentos novos e a confecção do uniforme, através de quermesses e um baile
especialmente organizado nos salões do Clube XV, com renda revertida para a “Lira”. A
221
atitude do povo serrano demonstrou mais uma vez a importância que a comunidade local
atribuía às bandas de música. Na trajetória da banda italiana, como vimos, em inúmeras
ocasiões a população esteve sempre pronta a auxiliar, na compra de instrumentos e uniformes,
oferecendo partituras para ampliação do repertório, intervindo junto ao poder público para
renovação de contratos e até criticando alguns concertos.
A nova formação tinha um número reduzido de instrumentistas: muitos músicos
já haviam falecido e outros estavam idosos, porém todos os integrantes da nova banda
pertenceram à “Umberto I”.
Apesar de Luiz Guirelli ter sido eleito como maestro, não foram encontrados mais
dados sobre sua atuação e nem mesmo os músicos mais velhos lembravam da sua regência.
Após todos os preparativos, o primeiro concerto da “Lira” ocorreu em 17 de junho de 1945 e,
no mês de setembro, ela já estava participando dos eventos cívicos da cidade, iniciando com
as alvoradas e concertos.
Concerto
A corporação musical “Lyra de Serra Negra” executará hoje, às 20 horas, no coreto
do Jardim da Praça Barão do Rio Branco, o seguinte programa:
1 – Bororô na Ponta- Dobrado.
2 – Luas de Serra Negra – Valsa
3 - Sonho de um louco
4 – Dr. Firmino
2ª Parte
5 – Os Flagellados – Dobrado
6 - Lira Monte Sião – Valsa
7 – 24 de Outubro – Sinfonia
8 – Pintino no Terreiro – Maxixe
10 – Manoel B. dos Reis – Dobrado (O Serrano, 17/06/1945)
Algumas lembranças remetem ao engenheiro Rafael Pero, que, por uns anos,
trabalhou em Serra Negra e foi convidado a assumir a regência da “Lira”. Seu nome nunca
constou das atas registradas no período em que esteve na cidade, porém, nos programas
publicados sobre os concertos realizados, ele é nomeado como “maestro amador”. Isso talvez
tenha ocorrido por exigência do próprio músico. A primeira apresentação é datada de
dezembro de 1945.
Concerto
Sob a regência do maestro amador sr. Dr. Rafhael Pero, que se encontra nesta
cidade, a corporação "Lira Serra Negra", far-se-á ouvir hoje, no coreto do jardim da
Praça Barão do Rio Branco, executando o seguinte programa:
1ª Parte
1 – Ubaldo de Abreu- Maria Aparecida – Marcha
2 – XX – Porto – Grande Dobrado Sinfônico
3- Aricó Junior – Jacyra – Valsa
222
2ª Parte
6 – R. Pero – Batalhão Piracicabano – Marcha Militar.
7 – C. Gomes – Guarany – Fantasia sobre o motivo da Opera.
8 – Aricó Junior – Torturas da minha vida – Valsa.
9 – Callerno – Dolce Zeffiro – Masurka.
10 – Aricó Junior – Ao microfone – Samba final (O Serrano, 23/12/1945)
Em uma conversa com Antonio Briotto e João Corato nos idos de 1996, os dois
músicos lembraram de Rafael Pero. Afirmaram que, na ocasião da formação da banda “Lira”,
o músico Ângelo Lamari, que era o mais indicado para assumir a regência, adoeceu. Então
seu irmão Luiz Lamari, conhecido por “Gino”, passou a ser o maestro e, nesse meio-tempo,
foi-lhe apresentado o engenheiro Rafael Pero, que vinha da cidade de Piracicaba para
trabalhar em Serra Negra. Luiz, então, concedeu o lugar de maestro ao músico visitante, tendo
em vista que ele já havia tido experiência frente à banda de sua cidade. Como maestro, Rafael
Pero presenteou a “Lira” com várias partituras, cujas músicas passaram a fazer parte do
repertório da banda até sua atualidade, entre elas os dobrados Luzo-Itálico, Bororo,
Piracicabano e composições de Aricó Junior. Rafael Pero era muito estimado pelos músicos,
em especial por Emilio Della Guardia. Pero demonstrava um enorme respeito pelos
instrumentistas e, sempre que possível, escolhia um repertório em que pudesse valorizar seus
músicos, dando-lhes a oportunidade de solarem, como aconteceu em uma retreta em 1947.
Retreta
Hoje, ás 19 horas no Coreto do Jardim Público a Corporação Musical “Lira Serra
Negra”, executará, sob a regência do amador dr. Raphael Pero, o seguinte programa:
1 ª Parte
1 – O Paulista – Ouverture
2 – Bororó – Dobrado Sinfônico
3 – Giorgi – Dueto Original para Clarineta e Pistão, solistas: Coratto e Briotto
4 – Bovolenta – Sincera Amizade – Valsa
5 – Nascimento – Samba na Roça, solista: Felice Belino
2ª Parte
6 – J. R. P. – Geppe – Marcha, homenagem ao sr. José Luiz Tomaleri, pelo autor
7 – Verdi – Pont-porri nell’Opera – Traviatta, solista: Corato
8 – Donizetti – Ramanza nell’Opera Linda di Chamounix, solista: Aymoré Dallari.
9 – Bocchi – Margarida - Mazurka
10- Rodrigues – La Cumparsita – Tango Argentino. Compilado para Banda pelo
Professor Aricó Junior (O Serrano, 21/09/1947)
223
Concerto
A Corporação Musical “Lira Serra Negra”, realisará hoje, na visinha cidade de
Amparo, sob a regência do maestro Rafael Pero, um concerto no jardim público em
homenagem ao povo amparense, executando o seguinte programa:
1ª Parte
1 – R. P. Porto – Dobrado Sinfônico
2 – N.N. – Mignonette – Ouverture.
3- Fasilli – Piemonte – Marcha sinfônica
4 – Basileo – Estrela da Madrugada – Fantasia
5 – Aricó Junior – Torturas – Grande Valsa
6 – Bartolucci – Festa campestre - Sinfonia
2ª Parte
7 – R. P. – Luzo Itálico - Dobrado.
8 – C. Gomes – Guarany – Fantasia sobre o motivo da Opera.
9 – Donizetti – Lucia di Lamemour – Final do 3º ato da Opera
207
Antonio Briotto nasceu em 1915 em Serra Negra/SP. Ingressou no Corpo Musicale “Umberto I”, em 1930,
portanto com quinze anos, Seu instrumento inicial foi a clarineta (Sib), depois de cerca de dois anos, passou para
a clarineta (Mib - requinta), instrumento que tocou até sua morte aos 88 anos, substituindo o músico Umberto
Lugli, Foi aluno do músico Arceário Perondini Entre suas lembranças está o variado repertório tocado pela
“Umberto I”, incluindo os famosos trechos de óperas, como a abertura de “La Traviata” de G. Verdi, e “O
Guarani” de Carlos Gomes. Sempre narrava que os ensaios eram realizados duas vezes por semana, em uma sala
cedida pela Societá de Mutua Assistenza fra Italiana de Serra Negra. Os concertos no coreto do Jardim Público
ocorriam quinzenalmente. Porém outras apresentações eram realizadas, nas festas religiosas, cívicas, alvoradas e
enterros. Briotto lembrava de todos os componentes da “Umberto I” e seus respectivos instrumentos no período
em que participou da banda. Além das inúmeras histórias que ouviu dos músicos mais velhos, sempre destacou a
postura de alguns deles, como o trompetista Alfredo Dallari, o trombonista e arquivista Aymoré Dallari e os
irmãos Lamari. De forma mais comedida, comentava o vínculo entre a corporação e a sociedade italiana, bem
como o aspecto político dessa relação, que em várias situações prejudicou a atuação musical, pois o poder
político da época estava nas “mãos” dos “coronéis” brasileiros, que não viam com bons olhos a infiltração do
imigrante nesse espaço. Esse senhor vivenciou intensamente a musicalidade na cidade de Serra Negra, participou
ativamente das mudanças ocorridas ao longo dos anos, inclusive como membro da Diretoria da Banda Musical
“Lira de Serra Negra”, por várias gestões. Briotto foi referência para muitos músicos, aconselhando e
apaziguando conflitos musicais até sua morte em 2003.
208
Bellino Felice Catanezzi Baccin (1927-2012) tocava os instrumentos bombardo e bombardino; foi aluno de
Aymoré Dallari e Santini Mattedi, ingressou no Corpo Musicale “Umberto I” em 1934, juntamente com seu
amigo João Corato, foi músico da Corporação Musical “Lira de Serra Negra” e um orgulho entre os músicos
serranos, pois foi um dos poucos que seguiu carreira como músico profissional; ingressou na Força Pública
Brasileira, em Campinas, chegando ao cargo de maestro da Banda da Força Pública, era carinhosamente
chamado de “Xixo”.
209
Aymoré Dallari, filho do músico Alfredo Dallari, foi membro das bandas “Umberto I” e “Lira”. Também foi
professor de musíca.
224
Nesse concerto, o músico João Corato afirmou que a décima peça apresentada, a
composição de Verdi, teve como solista o clarinetista Irineu Schiavo210. O maestro Rafael
Pero tinha por ele profundos respeito e admiração, considerava-o o melhor clarinetista que já
conhecera. No período da estada do maestro em Serra Negra, a Banda “Lira” foi convidada a
participar de uma festa na cidade de Socorro/SP. O festeiro foi receber a Corporação e
comunicou que o maestro ficaria hospedado em um hotel da cidade, já que o contrato era para
se apresentar durante três dias, realizando alvoradas, procissões e retretas. Os músicos seriam
alojados em um depósito de fumo. O maestro, ao saber das acomodações de seus músicos,
decidiu cancelar as apresentações e retornar imediatamente a Serra Negra. Para solucionar o
impasse, os organizadores da festa, de improviso, arrumaram a hospedagem em uma pequena
pensão para os integrantes da Banda, e assim a festa prosseguiu conforme o tratado.
O Maestro amador Rafael Pero permaneceu até o ano de 1947. As histórias
relatam que não houve mais nenhum contato dele com a Corporação, apesar do enorme
carinho e respeito pelos músicos serranos. O último concerto encontrado no qual é citado o
seu nome ocorreu em outubro de 1947.
Retreta
Hoje, ás 19 horas no Coreto do Jardim da Praça Barão do Rio Branco a Corporação
Musical “Lira Serra Negra”, sob a direção do amador dr. Raphael Pero, executará
seguinte programa, dedicado ao distinto musicista, senhor Domingos Martori, cultor
da Bela Arte:
1ª Parte
1 – Prof. Aricó Junior – Capitão Cruz – Ouverture
2 – Cav. Bartolucci – Festa Campestre – Sinfonia
3 – Aricó Junior – Gracy – Valsa sentimental
4 – Verdi – Traviata – Pout-pourri da Opera
2ª Parte
5 – R. P. Domingos Martori – Marcha, homenagem do autor
6 – Franz Lehar – Viúva Alegre – pont-pourii da Opereta
7 – Bizet – Carmem – Fantasia da Opera
8 – Nascimento – Festa na Roça – Samba final. (O Serrano, 10/10/1947)
210
Irineu Schiavo (1913-1992) era serrano, aluno de Ângelo Lamari. Foi clarinetista do Corpo Musicale
“Umberto I”, Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, Corporação Musical “Renato Perondini”, integrante de
várias orquestras de baile como a “Blue Star”, “Yara”, “Zequinha e sua orquestra”, “Jazz Band Corato”, “André
e Orquestra” e outros grupos musicais.
225
Aí o Gino Lamari (falou): - A banda não pode quebrar. Tinha que fazer uma
procissão, uma alvorada. Catou cinco ou seis amigos lá, Nelson Buzzo, Geraldo
Lugli ensinaram eles a tocar. Em cinco meses eles aprenderam a tocar clarineta e
saíram na banda. Foi assim... ai começou a crescer a banda, ninguém queria mais, se
a banda (tivesse) quebrado. E o Gino fez força e deu sorte eu ele pegou os caras. Os
caras tinham tendência para música. O Geraldo Lugli, o Nelson Buzzo também
gostavam, o Nico Fossato, então ele pegou essa turma e deu certo, sabe. (Armando
Menegatti, 2014, Serra Negra/SP).
CONCERTO
A Corporação Musical “Lira Serra Negra” executará hoje no jardim da Praça João
Zelante, um concerto que obedecerá o seguinte programa:
1ª PARTE
1º - Batista de Melo – Dobrado
2º - Cisne Branco – Marcha
3º - Caminhos Ocultos – Valsa
4º - I due Gemelli – Pout Porri
2ª PARTE
5º - Santini – Dobrado
6º - Coração que chora – Marcha
7º - Ao microfone – Maxixe (O Serrano, 17/03/1950)
211
Luiz Lamari foi professor dos músicos: Alberto Benedicto Fioriti Corbo, Armando Menegatti, Attilio Fioritti
Corbo, Fernando Fioriti Corbo, Helio Fão, Irineu Chiessi, Lauro Saragiotto, Romeu Lamari, Romeu Fioritti
Corbo, entre outros.
226
212
A partitura do Dobrado Panamá-linho foi impressa por A Melodia Edições Musicais, de E.S. Mangioni em
São Paulo (Rocha, 2007, p.73).
213
O músico Santini Mattedi faleceu em 1956, foi integrante da "Umberto I" e fundador em 1929, juntamente
com seus irmãos Benedito e Matheus, da “Jazz Band Melodia”, que, por inúmeras vezes, se apresentou no
Cassino de Serra Negra, na década de 1940. Em 1953, Santini abriu uma escola de música, cuja finalidade era
preparar músicos para Corporação Musical "Lira Serra Negra", para orquestras e Jazz Bands. O nome da
instituição era Escola de Música “Nicolino Fatigatti”.
214
Foram levantadas 25 composições, entre valsas, dobrados, xote, etc., de autoria do músico Nicolino Fatigatti,
ANEXO Nº 06.
227
NECROLOGIA
NICOLINO FATIGATI
Por notícias aqui recebidas de Campos de Jordão, sabe-se ter fallecido ahi, na
semana passada nosso conterrâneo sr. Nicolino Fatigati, filho da viúva sra. Julieta
Fatigati.
O inditoso moço, que contava com 24 annos de idade, desde criança se dedicara a
musica. Innumeras são as suas produções musicais, todas ellas relevando o seu
apurado sentimento artístico e a sua inegável competência. A família enlutada os
nossos pezames. (O Serrano, 07/11/1922)
Com a análise das publicações das retretas, é possível inferir que ocorreu uma
redescoberta das peças, justificada pela atuação do novo maestro da “Lira”, Ângelo Lamari,
que fora amigo de Nicolino Fatigatti215. Essa revalorização das obras de Fatigatti foi
acontecendo ao longo dos anos, com vários concertos dedicados ao compositor.
CONCERTO
A Corporação Musical “Lira Serra Negra” executará no coreto do jardim da Praça
João Zelante, um concerto em memória do saudoso Nicolino Fatigati, obedecendo o
seguinte programa:
PRIMERIA PARTE
1 – Panamá-linho – Dobrado – N. Fatigati
2 – Uma tarde de Outubro – Mazurka – N. Fatigati
3 – Saudades de Nicolino – Valsa – N. Fatigati
4- Sinfonia da opera Norma – Beline
SEGUNDA PARTE
5 – Capacete de aço – Dobrado – Orlando Puzone
6 – Murmúrio da Cascata – N.N
7 – Eu e ela – Schotisch – N. Fatigati
8 – Falchi – Tango – N. Fatigati (O Serrano, 14/05/1950 – grifo nosso)
215
As composições de Nicolino Fatigatti são executadas com frequência atualmente pela Corporação Musical
“Lira de Serra Negra”, que tem o cuidado de manter em seu repertório obras de compositores serranos.
216
Os músicos Fioravante Lugli, Attilio Fioritti Corbo, Luiz Lamari, Romeu Lamari, Ettore Saragiotto e Olger
Invernizzi foram alunos de Ângelo Lamari.
228
Lívio de Benedictis, Zacharias Quaglio, Alfredo Dallari e Artemisa Rielli Lombardi 217. Como
maestro, seu nome apareceu em 1937, substituindo Astolpho Perondini.
Concerto
A tardinha, no coreto do jardim da Praça Barão do Rio Branco, a corporação musical
“Umberto I”, sob a regência do maestro sr. Ângelo Lamari, levará a effeito mais um
de seus apreciados concertos. (Serra Negra Jornal, 22/08/1937)
CONCERTO
Sob a regência do sr. Ângelo Lamari, a corporação Musical “Lira Serra Negra”
executará hoje no coreto do jardim publico, o seguinte programa:
1ª PARTE
1 – Marechal Foch - Marca
2 – Valsa – De Beneditis
3 – Inglezinha – Scherzo Marciale
4 – Conte São Bonifacio – Sinfonia
2ª PARTE
5 - Dois amigos – Dobrado
6 – Bororó da ponta – Marcha sinfônica
7 – Soto la gloriosa bandeira
8 – Felipe – Tango (O Serrano, 25/06/1950)
217
Jornal O Serrano, edição de 25 de março de 1920.
218
Outro momento em que Nicolino foi exaltado pelo Maestro Ângelo ocorreu no programa “Super Show”,
realizado pela Rádio Serra Negra em julho de 1966, oportunidade em que foram narradas histórias sobre a vida e
obra do compositor, com destaque para a valsa Caminhos Ocultos, que é considerada sua última obra, composta
no leito de morte. No programa a “Lira” esteve presente, interpretando as peças do homenageado, “sob a batuta
de Ângelo Lamari”.
229
Foto nº 63. Corporação Musical “Lira de Serra Negra” década de 1960. Músicos marchando em via
pública em Serra Negra. Lado esquerdo, junto ao meio fio, sem instrumento o maestro Ângelo Lamari.
Foto cedida por Odilon Souza Lemos. Acervo da pesquisadora.
Eu gostava muito do meu cunhado Buzzo, sabe, ele tocava clarineta e saxofone. Aí
começou uma... uma boatinha aqui... perto da casa do Nelson Macarroneiro. Acho
que em 1950, por ai 51. Eu achava bonito, costumava trazer músico de fora para
fazer show, aquela coisa, e eu ia assistir e ia tocar e eu comecei a namorar a irmã
dele e ele ia tocar. Ai eu comecei a pegar gosto, assim... também conhecia o
Angelim Lamari, passei para o Santini (Mattedi). O Santini era melhor para ensinar.
O Gino era muito bom e muito educado e tinha dó de fazer repetir a lição, passou a
lição sem saber se você ficava enroscado.
Então! O Santini era mais rígido, fazia dividir, conhecia subdivisão. O Geraldo
Lugli, Nelson Buzzo, o Fossato, tudo passou pelo Santini, todos eles ficaram bons.
Dividiam que era uma beleza. (Armando Menegatti, 2014, Serra Negra/SP)
219
Projeto de Lei nº 49/52 de 20 de outubro de 1952. Acervo da Câmara Municipal de Serra Negra.
220
Lei nº 146 de 03 de setembro de 1953
221
Entre os alunos de Santini Mattedi estão os músicos Antonio Guilherme Catanezzi Baccin, Armando
Menegatti, Bellino Felice Catanezzi Baccin, Hermaguras Pereira de Lima, Marco Aurelio Vicalvi, Nelson
Antonio Buzzo, Nelson Antonio de Barros, Renato Aldo Catanezzi Baccin e Afonso Bertini.
232
O músico Geraldo Vicentini, apesar de não ter sido aluno de Santini, conheceu
alguns músicos que o foram e lembrou que:
Quando eu fui aprender acordeom, a música eu tinha passado o Bona inteirinho
(Bona – Método de leitura musical). Tinha passado inteiro. E continuei. Só que era
diferente, porque os meus primos, pegou a escola do Santini Mattedi. O Santini
Mattedi ensinava a subdivisão na música. Então, por exemplo, o dó, nota de um
tempo, ele dividia em dois, do - o. Era subdividido.
Se não me engano o Claudio Lugli aprendeu com ele. O Santini tinha um método
bom para ensinar. Tinha uma pessoa que queria aprender música, ele fazia um teste
antes. A pessoa ia lá :- Você quer aprender música? – Quero! – Então assobia um
trechinho de uma música. Ele saía ia lá. Ah! Então ele percebia na pessoa que
assobiava ou cantava se a pessoa tinha...ouvido, ritmo, então era assim! (Geraldo
Vicentini, 2014, Serra Negra/SP)
Geraldo : Eu... a minha família já tem... já vem de músicos. Tenho dois tios que
tocavam acordeom, na época, mas o que me incentivou mais foi os dois primos
meus que tocavam na Banda e o Brioto.
Claudia : Como assim? Qual primo seu que tocava na banda?
Geraldo: O Geraldo Lugli e o Renato Lugli.
Claudia : Ah! Tá. E por que o Brioto te incentivou?
Geraldo: Porque o Brioto também tocava e as vezes nas festas, de noite, ele vinha
com meu pai, na Santo Antonio, naquela época ... São Benedito, as festas eram bem
animadas, né! até os coretos! Embaixo realizava o leilão e em cima a banda tocava,
na época. Eu via o Brioto, meus primos tocar e eu me interessei em aprender música.
(Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
Dará hoje seu concerto quinzenal no coreto da praça João Zelante, executando o
programa que abaixo publicamos, sob a regência do maestro Ângelo Lamari.
1ª Parte
1 - Flagelados – Dobrado; 2 – Ventalio dela Regina - Valsa; 3 – Genova – Mazurk;
4 - Fausto – Fantazia.
2ª Parte
5 – Romualdo Coli – Dobrado; 6 - Bambo do Noroeste - Catêrete; 7 – Libero –
Dobrado; 8 – Filippi – Tango. (O Serrano, 21/10/1956)
222
Durante os anos de 2000 a 2007 tive o prazer de ter longas conversas informais com o músico Geraldo Bulk,
falávamos das bandas e ele narrava muitas das suas lembranças, a maioria delas casos cômicos. Durante um
tempo nos reunimos: eu, Geraldo e o músico Antonio Briotto e passamos a fazer visitas aos músicos idosos e que
já se encontravam adoentados. Depois de três visitas, Geraldo me ligou dizendo que seria melhor desistirmos das
nossas visitas, pois temia que ficássemos conhecidos como a “turma da extrema-unção”, pois nós realizávamos a
visita e logo o músico falecia. Os irmãos Bulk foram os construtores do primeiro edifício de apartamentos, com
nove andares, além da construção do Hotel Fazenda Vale do Sol e outros empreendimentos hoteleiros em Serra
Negra e Águas de Lindóia.
235
“Vai com Jeito”. Entre os jovens convidados estavam o depoente Renor Perondini e seu irmão
Edino.
Renor Perondini e seu irmão mais velho, Edino, iniciaram seus estudos musicais
com o pai, o também músico Arcenio Romeu Perondini, trombonista do Corpo Musicale
“Umberto I”. Depois de algum tempo, passaram a ter aulas com o Maestro Cesarino
Perondini223, primo de seu pai. A primeira aula com Cesarino foi em um domingo, pela
manhã. Em suas lembranças, Renor narrou o início de seu interesse pela música e sua
trajetória como instrumentista.
E a música foi porque comecei, eu vi nas coisas do meu pai, do meu tio, eu vi um
caderno de música. Então aí eu com meu irmão mais velho (Edino), saimos falando
para o meu pai:- a gente sabe ler tudo essas coisas, mas isso daqui, como é que lê
música?
Como que faz para ler a música? Aí meu pai falou: tem que estudar, a música, você
começa solfejando, tem que arranjar um maestro que ensine a tocar. A gente achava
uma coisa muita estranha aquela... não entendia nada... aí que começou, ele
incentivou, minha tia também, aí começamos com o Cesarino. (Renor Perondini,
2011, Serra Negra/SP)
223
O Maestro Cesarino Perondini também foi professor de André Luiz Paranhos Perondini e Athos Perondini
Dini.
236
O Geraldo Bulk começou a tocar, um baixo... um baixo velho, acho que ele achou na
sala da banda. Aí... ensaiava lá embaixo na alfaiataria do Enzo. Foi indo esta banda
crescendo. Entrando gente, convidando músicos que já tinham parado. O Brioto,
Orlando Lugli, tinham parado. Ele foi pegando todos esses músicos.
237
O Enzo, aí que resolvemos. Como ele era esforçado daquele jeito, resolvemos por
Banda Renato Perondini, tinha bastante Perondini na Banda. Então tudo concordou,
então nessa época, ensaiava no Panamá Linho, no Panamá Linho e foi crescendo.
(Renor Perondini, 2011, Serra Negra/SP).
Quem regia era o Cesarino Perondini no começo, até a primeira apresentação foi em
57 com o Cesarino, depois o Fioravante aposentou e veio para Serra Negra, ai o
Cesarino pediu para o Fioravante. O Cesarino já estava com idade tudo aí o
Fioravante começou e começou animado, ensaiava, começamos a ensaiar aqui no
Panamá Linho. O Fioravante, o Enzo, tudo animado. A gente também achou que
era... aí a Banda Perondini foi crescendo. (Renor Perondini, 2011, Serra Negra/SP).
238
Ilustração nº 29. Grade de regência da ópera Nabuco de Verdi, ato III. Letra de Cesarino
Perondini. Acervo Corporação Musical “Lira de Serra Negra”.
...Serra Negra tem a sua velha história nos domínios da música. Foi ao apagar das
luzes do século passado que a banda “Lira de Serra Negra”, primitivamente
“Humberto Primo”, surgiu. Acompanhou a evolução da cidade, e a sua presença
sempre se fez sentir, nos momentos de alegria ou de tristeza, de prazer ou de dor.
Num concurso realizado em São Paulo, há muitos anos, ganhou o 1º Diploma de
Honra, conquistando aplausos da exigente plateia paulistana.
Agora, outra banda aparece – a Corporação Musical “Renato Perondini”. Domingo
passado, felicitando a cidade pelo seu aniversário, realizou a sua primeira retreta no
coreto da Praça João Zelante. Nesta crônica presto uma homenagem a esse conjunto
de boa vontade, que não tem fito de lucro. O seu objetivo é servir a comunidade
serrana. (O Serrano, 29/09/1957)
239
Não foi possível apurar mais informações sobre o papel de cada uma das bandas
nessa solenidade religiosa, mas os dados levantados permitem pensar que elas repartiram os
afazeres musicais, tendo em vista os agradecimentos públicos às duas bandas, publicados no
jornal local. Fatos semelhantes ocorreram nas três primeiras décadas do século XX, quando a
Corpo Musicale “Umberto I” dividiu espaço esporadicamente com a Banda de Música “Santa
Cecilia”, com a Corporação Musical “União Operária” e a Corporação Musical “Carlos
Gomes”.
Aí o Enzo viu que eu sabia, que tocava um pouco de acordeom, me convidou. Como
saiu... surgiu a “Renato Perondini”, você... acho que já tem a história .... de um bloco
de carnaval, porém resolveram catar os músicos que estavam meio afastado e
formaram uma banda.
E aí convidaram e eu entrei fazendo sax de harmonia. Do sax de harmonia eu já
queria partir para um trombone, comprei um trombone. Apareci na Banda com um
trombone, puseram no trombone e deram uma harmonia. Eu fazia bem harmonia.
Entrei, não tinha quase... tinha o Nilo e Manfredo (ambos da família Lugli), mas o
Manfredo nunca foi muito firme, o Nilo sim, era firme. Aí entrei fazendo harmonia
com o Nilo, trombone de harmonia, depois faleceu o Aymoré Dallari da Banda
“Lira”. Aí eu estava no trombone já, aí eu tinha muito amizade com o Dedão
(Baccin), por exemplo, era muito amigo meu. O Romeu, o Titão (ambos da família
Fioritti). Aí eu entrei na “Lira”, aí eu tocava nas duas, fazia trombone lá e na
“Renato”.
Aí eu fazia parte das duas. Tocava na “Renato” e na “Lira”, fui indo... com
trombone, depois... chegou a época que faltou bombardino... fiz bombardino, depois
faltou, precisou de bombardino, fiz bombardino na “Lira”. (Geraldo Vicentini, 2014,
Serra Negra/SP).
Em 1933, Fioravante Lugli fugiu de Serra Negra para se alistar no Exército, pois queria seguir
a carreira de músico e o Exército parecia ser sua única opção. Ele contou que estudava
embaixo dos pés de café, no intervalo do trabalho de colheita, e que suas aulas eram pagas
com litros de leite. Seu primeiro instrumento foi sax de
harmonia, como todos os jovens músicos que entravam na
banda. Era uma maneira de preparar o músico
harmonicamente para quando fosse tocar um instrumento de
canto. Enquanto servia o Exército na cidade de São Paulo,
foi aluno do Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo. Aos 27 anos prestou um concurso interno e
apresentou uma peça para clarinete, um trecho da ópera
Mefistofeles, de Arrigo Boito. Também tocava saxofone,
tinha noções de todos os instumentos de banda e foi
compositor, professor e maestro. Voltou para Serra Negra
após chegar ao posto de 1º Tenente Mestre de Banda.
Ainda em fevereiro de 1959, a “Renato
Perondini” apresentou em sua retreta costumeira peças dos
compositores serranos João Corato, Benedito Mattedi e o
dobrado do amparense Felizardo Pompeu, um compositor
negro, fato incomum no período focalizado.
Ilustração nº 32. Jornal O Serrano,
edição de 01/02/1959
Jararaca e Ratinho224. A notícia movimentou a pequena Serra Negra e, mais uma vez, a
população foi convidada a participar auxiliando financeiramente a banda, com a confecção do
uniforme e a compra de instrumentos. O deputado Roberto Brambilla doou o transporte.
A “Renato Perondini” teria cinco meses a fim de tomar todas as providências para
a viagem e escolher um repertório a altura do famoso programa.
224
Ver mais: SAROLDI, Luiz Carlos. MOREIRA, Sonia Virginia. Rádio Nacional, o Brasil em sintonia.
Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro: Zahar Editor Ltda, 2005. p.136-137
244
225
Um artigo de 19/07/1959 publicado pela “Lira” no Jornal “O Serrano”, traz de forma mais sucinta a
importância dessa banda e o seu vínculo com a tradição da musical serrana. ANEXO Nº 07
245
A ida para o Rio de Janeiro foi um fato marcante para muitos músicos; primeiro,
porque boa parte deles nunca havia feito uma viagem tão longa e para uma cidade grande.
Além disso, havia toda uma “aura” que envolvia a Rádio Nacional, ouvida por grande público
do interior do Estado de São Paulo.
Ah! A Banda “Renato Perondini”, apresentava em bastante lugares, nós fomos para
o Rio de Janeiro, na Rádio Nacional, em Santos e bastante cidade aqui pelo interior.
A Rádio Nacional, tinha um programa lá Lira do Xopotó! Que apresentava, parece
que em sexta feira à noite, não me lembro a hora, se era 20:00 horas mais ou menos.
Surgiu esse programa, você fazia uma inscrição para lá e depois ele ia sorteando e
chamando e a Banda fez a inscrição e foi sorteado, na época. E fomos para lá, só que
reforçou como o Titão Fioritti, foi o Romeu Fioritti, o Dedão foi conosco. Pegou o
sr. Zé de Monte Alegre, se não me engano. E reforçou um pouquinho e fomos fazer
a apresentação.
Eu nem me lembro muito bem o repertório. Que naquela época eu já estava no
trombone, mas precisei voltar para a harmonia, porque o Nilo ficou doente e não
pode ir, precisei voltar e fiz harmonia na Rádio Nacional.
Ah! Todos (ficaram) nervosos! Porque a gente nunca tinha enfrentado um negócio
daquele, mas foi tudo bem!
Foi bacana! A viagem para o Rio foi muito bonito! Para mim foi bom, porque eu na
época, eu nunca saía quase, eu tinha 17, quase 18 anos... fo i tudo novidade, fomos
conhecer o Maracanã, fomos conhecer o Cristo, o Corcovado e foi muito bacana.
(Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
Foto nº 65. Foto tirada no interior da Concessionária Sonave, local em que a Renato Perondini
realizava seus ensaios. Ocorreu minutos antes da apresentação defronte ao Balneário Municipal. Serra
Negra 11/09/1960. Foto cedida pelo músico Geraldo Bulk. Acervo da pesquisadora.
Nós paramos em Aparecida para Almoçar. Fomos almoçar, já estava quase na hora
do almoço e o pessoal resolveu: - Vamos tocar uma música aqui e paramos, reuniu a
banda ali na rua, tocamos umas duas ou três músicas. Ali os fotógrafos ali, na hora
ali para ganhar dinheiro, já tirava a foto, quando terminamos de tocar duas, três
226
músicas, já tinha a foto revelada da gente lá.
226
Fotógrafos que ganhavam a vida registrando a visita dos romeiros à Basílica na cidade de Aparecida/SP.
247
Foto nº 67. Corporação Musical “Renato Perondini”, na Rádio Nacional, Rio de Janeiro,
em 1960. Foto cedida pelo músico Geraldo Bulk. Acervo da pesquisadora.
248
Foto nº 70. Corporação Musical “Renato Perondini”. Desfile Civico em Serra Negra, década de
1960. Foto cedida pelo músico Geraldo Bulk. Acervo da pesquisadora.
227
A partir do ano de 1946 o Clube passou a ser designado Clube Recreativo e Cultural XV de Novembro.
251
Assim como aconteceu com outros clubes recreativos serranos, alguns músicos
participavam das diretorias. Na eleição de 1946, os músicos Januário Blotta, Ataliba Ferreira
de Lima e Benedito Mattedi compuseram o quadro de diretores do Clube XV.
Clube XV de Novembro
Na assemblea do dia 30 do mez ultimo, foi eleita a nova diretoria do Clube XV de
Novembro, para o corrente ano, que ficou assim constituída: Presidente, Januario
Blotta; Vice-Presidente, Roberto Brambilla; Secretario Geral, José Ferreira Campos;
1º Secretario, Roberto Saragiotto; 2º Secretario, Italo Boccato; Tezoureiro, Armando
Stenghel; Procuração, Alvaro Assis.
Comissão de sindicância, Ataliba Ferreira de Lima, Geraldo Lopes e Ernesto
Amadeu. Conselho Fiscal, Benedito Mattedi, Mario Baldassini e Felix
Stenghel[...].(O Serrano, 13/01/1946).
No Clube XV tinha um salão... salão de dança e no fundo tinha um bar, que era do
Donato Albertini, sogro do Alcebíades. Lá que ele conheceu a Lourdinha e depois
casou-se com ela. Embaixo tinha pista de jogos de bocha, mas ao lado era onde nós
ensaiávamos a noite. Debaixo... no subsolo. (Claudio Corsetti, 2013, Serra
Negra/SP).
252
Depois que a Jazz Band Melodia foi desfeita outros grupos passaram a se
responsabilizar pelas atrações musicais do “XV’, tanto que, no carnaval de 1951, o músico
João Galo Corato reuniu um grupeto para os festejos ao Rei Momo.
No ano de 1954 foi a vez do músico José Caetano dos Santos, o Zé Caixinha, que
havia sido componente da Jazz Band Melodia, como percussionista, desde a sua fundação em
1929, reunir os músicos para o carnaval. Para seu conjunto ele convidou o trompetista João
Corato, com a responsabilidade de ser o “puxa fieira” 228 do conjunto.
Segundo as lembranças do depoente Alcebíades Felix, ainda na década de 1950 o
clube mantinha o Grupo Dramático XV de Novembro com peças teatrais entre dramas e
comédias. Como o palco do “XV” era pequeno, as encenações ocorriam no palco do Cine
República e no palco do Educandário Nossa Senhora Aparecida229.
Aí nós começamos a formar o teatro no Clube XV e começamos levar as peças no
Cine Republica. Só que depois o Cine Republica botou a tela panorâmica. Acabou
com o nosso palco, ai nós passamos para o Educandário. Aí foi reformar a Igreja, o
Padre Lavelo passou (as atividades litúrgicas da Igreja) para o Educandário. Aí
acabou o teatro nosso! Entendeu? Mas, nós chegamos a apresentar peças muitos
boas. Muito boas! (Alcebíades Felix, 2014, Serra Negra/SP.)
228
Músico responsável pela mudança da peça a ser tocada dentro do repertório escolhido. Comum nos bailes de
carnaval.
229
O termo “puxa fieira” era atribuído ao músico que durante as apresentações iniciava uma nova música,
constante do repertório e o restante do conjunto o seguia.
253
Daí eu dei baixa no alto-falante e passei para Rádio e a Rádio fazia programa de
auditório no Clube XV...eu copiava de São Paulo, (da) Difusora Tupi de São Paulo,
a Rádio Piratininga. Eu ia assistir os programas de auditório e fazia aqui. Agora eu
fazia aqui, com Clayr Batista, com aquela outra moça, esqueci o nome dela, com a
outra cantora... a Lurdinha Godoi e toda... tinha quatro cantoras, quatro, cinco
cantores. Adaude de Almeida, Antonio Vicalvi. - Quer ver quem mais cantava? Um
rapaz que chamava Luiz Barbosa, mas não o filho do Barbosa. Fazia o programa de
auditório no Clube XV, mas a frequência era tão grande, que eu tive que mudar para
o cinema.
Então o que acontecia, a gente fazia o programa de auditório. Do Clube XV
transferiu para o cinema. Sabe quantas pessoas eu cheguei a levar lá no cinema?
Mais de mil, num programa de auditório. É, porque o cinema tinha mil lugares de
baixo em cima, eles sentavam tudo no corredor, então era mais de mil.
(Repertório) Aqueles sucessos daquele tempo... “quando o porteiro chegou e meu
nome gritou com uma carta na mão...” O Vicalve cantava umas músicas de serestas.
O Adaude cantava bolero, esses boleros mexicanos e o Corisco. O Corisco se vestia
de “Mister Robson”, ele chamava, o nome dele, tinha o nome em inglês, brasileiro,
nome inglês e cantava, cantava em caipira, Ah! Você morria de dar risada.
(Alcebíades Felix, 2014, Serra Negra/SP.)
sabonete Leblon, uma loção, perfume, tudo da Leblon. E ali eu ia cantar. Eu, a
Odete Turaza, a Lourdes...
E uma época até tinha um rapaz aqui, que em todo o lugar que a gente ia ele estava
junto para ouvir cantar... gostava de ouvir a meninada cantar no cine, onde é o
Bradesco hoje. Era o Cine Republica ali. Então o show era feito lá também! Nós
cantávamos lá, era como um teatro mesmo. Ali ficavam as nossas fotos grande nos
cartazes, anunciando o show que ia ter dia tal. Então tinha as fotos: da Lourdes,
tinha a minha, da Odete, de todos. (Demon Clayr, 2014, Serra Negra/SP.)
Foto nº 73. Conjunto Jazz “Blue Star”, década de 1950, Foto cedida por Odilon
Souca Lemos. Acervo da pesquisadora
256
Fizemos o baile ali no Clube XV... fazia aqueles bolerinhos, aquelas musiquinhas.
Era o Romeu Fiorotti, o Titão, eu, tinha o que ficava mais a frente, o Buzzo, depois
os caras ai, o Valdemar era cantor. Você não chegou a conhecer, esse mocinho aqui
morreu. Ele estava junto com o Caçulinha em São Paulo. O pai dele levou ele lá para
aprender, bom sanfoneiro. (Armando Menegatti, 2014, Serra Negra/SP)
O músico Armando Menegatti também lembrou dos bailes que eram realizados na
área rural. Na maioria das vezes, o grupeto era formado por três instrumentistas230. O
repertório era composto por valsas, polcas, maxixes, mazurcas, tangos, rancheiras, sambas,
rag time, choro e até dobrados.
230
Outros músicos também se reuniam para as apresentações nas festas realizadas na zona rural, como o
comandado pelo músico Oger Invernizzi. O repertório era selecionado compondo-se de valsas, maxixes, polcas e
sambas, incluindo peças de autoria de serranos. As transcrições das músicas eram feitas em pequenos cadernos
pautados destinados a cada um dos instrumentos. Os irmãos Alceario e Arcenio Perondini foram integrantes
desses grupetos e mantiveram uma dessas cadernetas que foi herdada pelo depoente Renor Perondini.
257
Foto nº 74. Baile realizado na zona rural, foto cedida pelo músico Armando
Menegatti. Década de 1950. Serra Negra/SP. Acervo da pesquisadora.
Um conjunto... a gente cantava assim, para fazer esse serviço, fazer esses bailinhos,
o forte mesmo que eu toquei bastante, com sanfona, clarinete e pandeiro, assim...
saía fazer baile de casamento, fazia eu, o (Nelson) Buzzo, o Irineu Schiavo. O
Schiavo, ele tinha um som bonito, mas ele como pessoa ele falhava, ele bebia muito,
então ele ia num baile de casamento e bebia, começava, parava, tirava a boquilha do
clarinete, do saxofone, soprava, só por brincadeira. (Armando Menegatti, 2014,
Serra Negra/SP).
Foto nº 75. Jazz Blue Star, carnaval em Serra Negra, 1958. Foto cedida por Odilon Souza
Lemos. Acervo da pesquisadora.
Meses após o carnaval outra orquestra de baile começou a se configurar, mas não
se encontraram elementos que permitissem afirmar que a Blue Star estivesse encerrando suas
atividades ou que as duas fossem contemporâneas. Fato é que em maio de 1958 veicularam-se
notícias na imprensa local sobre a orquestra que se iniciava na cidade.
260
Segundo Felix (2012) a nova orquestra foi criada para suprir a necessidade do
Clube XV, pois seus associados queriam novidades.
O músico Corato reuniu instrumentistas de outros conjuntos, inclusive da Blue
231
Star, e lançou a Orquestra de Dança Yara de Serra Negra , cuja primeira apresentação
ocorreu em 26 de junho de 1958, no salão do XV, e o seu sucesso foi imediato. A Yara foi
convidada para um show, juntamente com outras atrações, no evento de inauguração do
Balneário Municipal, ocorrido em setembro daquele ano. Encontrou-se a última notícia sobre
a “Yara” em dezembro de 1958, em sua apresentação no Réveillon do Clube XV de
Novembro. E, no dizer do músico João Corato, o conjunto se desfez por desavenças
internas232.
231
Orquestra Yara 1958. ANEXO Nº 08
232
Na edição do Jornal “O Serrano”, datada de 12/09/1965, trouxe a notícia de que a Orquestra de Danças
“Yara” estava se reorganizando, com a finalidade de se preparar para o carnaval de 1966. Dizia o anúncio que a
direção estava a cargo dos músicos José Caetano dos Santos, Ataliba Ferreira de Lima, João Corato e Nelson
Buzzo.
261
Foto nº 76. Orquestra Yara. Apresentação no Clube XV de novembro, década de 1950. Foto
cedida por Odilon Souza Lemos. Acervo da pesquisadora.
todo e qualquer movimento em prol de seu brilhantismo, como seja a assistência aos
“ranchos” carnavalescos, aos “blocos”, ao carnaval de rua e seu pomposo corso com
músicos por nós contratados para esse fim... isso tudo, em grandes e reais benefícios
à economia de nosso povo pelo grande movimento que advém às nossas casas
233
comerciais e industriais. (Processo 57/51. Câmara Municipal de Serra Negra) .
233
A solicitação foi atendida e houve a liberação de verba do erário público.
234
O imóvel localizava-se na Praça Barão do Rio Branco, 53, próximo ao Fórum de Serra Negra. Em 1961 foi
vendido para a Ordem das Irmãs Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de Maria, conforme Livro de
Transcrição das Transmissões nº 3-V, nº 10.648 do Registro de Imóveis e Anexos da Comarca de Serra
Negra/SP.
263
Mesmo com uma sede, a Diretoria do “novo” Estância Clube solicitou outro
imóvel ao Poder Público e a doação ocorreu em 1959. O espaço localizava-se na Praça João
Pessoa, pátio da antiga Estação da Mogiana. Os termos desta doação seguiram os mesmos
critérios da primeira ao Clube XV, tendo o clube o prazo de dois anos para concretizar a obra.
Em 1961, a fim de angariar fundos para a construção da nova sede do Estância
Clube, a Diretoria decidiu vender o imóvel que abrigou a Sociedade Italiana, com a promessa
de que, no novo edifício, haveria um salão destinado exclusivamente a Corporação Musical
“Lira de Serra Negra”.
264
Infelizmente, o Estância Clube não cumpriu o prometido: o Clube ficou sem sua
sede própria e a “Lira de Serra Negra” sem espaço para promover seus ensaios e guardar seus
instrumentos e partituras 235.
Nos anos de 1960 e até 1971 a cidade de Serra Negra foi administrada por
dirigentes eleitos pelo voto direto. Posteriormente, prefeitos nomeados pelo Governo do
Estado estiveram à frente do Poder Executivo local, até 1979. Os dados levantados desse
período permitem afirmar que novamente a preocupação estava voltada para o
desenvolvimento econômico da Estância através da exploração do turismo. Muitos serranos
consideraram a década de 1970 como de grande pujança, tendo em vista as verbas recebidas
dos órgãos estaduais, sobretudo as provenientes do Fundo de Melhoria das Estâncias –
FUMEST.
235
O local para sediar a Banda “Lira de Serra Negra” foi definido somente em 1964. Como até o ano de 1970 o
Estância Clube somente havia realizado o estaqueamento do terreno, a Prefeitura Municipal foi obrigada a
requerer a anulação da doação e o imóvel situado na Praça João Pessoa voltou a ser patrimônio público.
236
O empreendimento tinha como um dos sócios o Sr. Luiz Macedo Bulk, também proprietário do Hotel Vale do
Sol. Juntamente com seu irmão Geraldo Macedo Bulk, investiu durante anos no ramo de hotelaria, tanto em
Serra Negra como em Águas de Lindóia. Luiz Bulk foi prefeito de Serra Negra no período de 1963 a 1967.
265
Foto nº 77. Foto aérea de Serra |Negra, década de 1960. Construção do edifíco Cisne, ao centro.
Foto cedida por Nestor Leme. Acervo da pesquisadora.
237
Este Escritório foi responsável também pela elaboração do plano diretor da cidade de Campos do Jordão.
Jornal “O Serrano”, edição de 11 de dezembro de 1960.
266
Após comprar a Fazenda Santa Maria das Palmeiras (antiga Fazenda Marson), que
contava com 70 mil pés de café, o Sr. Siqueira decidiu erradicar a plantação e lançou o
empreendimento Parque das Palmeiras. O projeto do “Country Club” não foi efetivado, mas o
proprietário, dando materialidade às discussões sobre o potencial turístico de Serra Negra,
decidiu transformar a fazenda em um loteamento, dividindo-a em 400 lotes que contavam
com toda a infraestrutura. Venderam-se os imóveis às famílias que frequentavam a estância e
também a alguns serranos. Esse investimento, em seu início, segundo o depoente Siqueira,
teve como sócio Jânio Quadros, que se obrigou a se retirar da sociedade após o golpe militar
de 1964, pois ignorava o rumo que o país tomaria, tanto quanto a sua situação política.
A administração da cidade na década de 1960 foi considerada pelos depoentes
Antonio Roberto Siqueira e Antonio Luigi Ítalo Franchi como inexpressiva em vários
aspectos. Todavia, a partir de 1963, as eleições tornaram-se diretas e o povo pôde eleger o seu
prefeito.
Sempre na perspectiva de alavancar o turismo, os dirigentes políticos
direcionavam a administração através de projetos que proporcionassem a vinda de mais
visitantes à Cidade da Saúde.
Em 1964, desapropriou-se um terreno no entorno da cidade onde se construiu o
Parque Zoológico e a iniciativa da administração pública contou com o apoio de dirigentes
políticos como Jovino Silveira e da população serrana238.
238
O Parque Zoológico funcionou por poucos anos, pois a sua manutenção tornou-se inviável para o Município
devido ao alto custo de alimentação dos animais, tendo outro agravante: o espaço era próximo a algumas
nascentes e havia o risco de contaminação das minas d’água. Em 1973 o Parque foi desativado. O imóvel foi
incorporado ao projeto que deu origem à construção do Centro de Convenções “Circuito das Águas”, financiado
pelo Governo Estadual, através do FUMEST.
267
239
A nova administração do Rádio Hotel canalizou as águas da Fonte São João e Santo Antonio, tendo
exclusividade em sua exploração, não permitindo a frequência da população local.
268
Foto nº 78. Parque Turístico da Estância de Serra Negra. Piscina pública. Década de 1960. Foto
cedida por Nestor Leme. Acervo da pesquisadora.
240
Lei nº 473 de 15 de dezembro de 1964.
241
No entanto, a utilização do logradouro durou somente alguns anos, pois o espaço foi reavaliado e, através de
investimentos do Fundo de Melhorias das Estâncias do Estado – FUMEST, passou a fazer parte de outro projeto
que incluía a feitura de uma grande praça e a canalização do Ribeirão. Para tanto, muitos imóveis foram
desapropriados e doados para o Estado. Depois a propriedade retornou para o Município. Este arcou com as
indenizações das referidas desapropriações; a construção ficou por conta do FUMEST.
269
A Seleção Brasileira de Futebol esteve por duas vezes em Serra Negra. A primeira
concentração da Seleção ocorreu em 1962, entre os meses de abril e maio. Os atletas se
hospedaram no Grande Hotel Pavani242 e, para os treinos, utilizaram o recém inaugurado
Estádio Municipal. A comitiva de imprensa de rádio e televisão especializada em esportes,
que contava com mais de 50 profissionais da área, se hospedou no Radio Hotel.
242
Antigo Grande Hotel do Cassino.
243
A Loja São Benedito, propriedade do depoente Nelson de Barros e seu irmão, ofereceu álbuns de fabricação
serrana, contendo fotos dos pontos turísticos de Serra Negra. Jornal “O Serrano”, edição de 13/05/1962.
270
Foto nº 79. Seleção Brasileira em Serra Negra, 1966. Fonte: Foto Fagundes. Acervo da
pesquisadora.
244
A repercussão de sua morte foi noticiada pelo Jornal Folha de São Paulo, edição de 11/01/1968. Os
argumentos do artigo exploraram que o motivo do suicídio foi de ordem política envolvendo nomes
representativos do cenário político local. Talvez isso justifique a necessidade do esquecimento. Em agosto de
1968 foi prestada uma homenagem ao Prefeito Enzo Perondini no Encontro dos Prefeitos das Estâncias
272
Paulistas, evento esse realizado em Águas da Prata/SP, pois o mesmo havia fundado o Conselho Permanente dos
Prefeitos das Estâncias. Jornal “O Serrano”, edição de 15/09/1968.
273
245
O Regulamento do FUMEST foi aprovado através do Decreto nº 50.914 de 25/11/1968. www.al.sp.gov.br.
Acesso em 13/06/2015.
246
Ver mais Lei 10.167 de 04/07/1968, www.al.sp.gov.br. Acesso em 13/06/2015.
247
A Comissão Estadual de Crenologia tinha como finalidade colaborar no fiel cumprimento do Código de
Águas Minerais. Decreto Lei nº 7.841 de 08/08/1945. www.al.sp.gov.br. Acesso 04/06/2015.
248
Após a extinção da autarquia foi reativado o Fundo de Melhoria das Estâncias de acordo com a nova
Constituição do Estado de São Paulo de 05/10/1989 em seu artigo 46. Com a Lei nº 7862/92 foi instituído novo
regulamento. Recentemente ocorreu nova alteração através da Lei 16.283 de 15/07/2016, passando a ser
designado como Fundo de Melhoria dos Municípios Turísticos - FUMTUR, vinculado ao Departamento de
Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos – DADETUR, subordinado à Secretaria de Turismo.
www.al.sp.gov.br. Acesso 25/09/2016.
274
249
No período o Superintende nomeado era o economista Fabio Gamba e o Secretario do Turismo, Pedro de
Magalhães Padilha.
250
Para a dragagem e canalização do Ribeirão de Serra Negra, o Prefeito Angelo Zanini, através da Lei 694 de
14/06/1972, dividiu as despesas entre a Prefeitura Municipal e o FUMEST.
251
A doação foi regularizada através do Projeto de Lei 117/71 gerando a Lei 651 de 26/08/1971. Acervo da
Câmara Municipal de Serra Negra.
252
A Lei 951 de 15/09/1979 autorizou a doação desses imóveis ao FUMEST, com a finalidade de implantação e
ampliação do Centro Recreativo da Estância de Serra Negra, complementando as áreas já doadas.
275
253
No período o Superintende nomeado era o economista Fabio Gamba e o Secretario do Turismo, Pedro de
Magalhães Padilha.
276
254
A gestão de Jesus Adib Abi Chedid terminou em abril de 1979, quando os Prefeitos das Estâncias voltaram a
serem eleitos por voto direto, tendo em vista a Lei 1.844/1978, em que as treze Estâncias hidrominerais foram
transformadas em turísticas.
255
Após a inauguração o Centro Recreativo passou a chamar-se Praça Sesquicentenário e não houve o
cumprimento integral do projeto do arquiteto João Walter Toscano. O espaço destinado ao Centro de Artesanato
abriga atualmente a Rodoviária da cidade, o Centro de Informações foi construído muitos anos depois e, com
novo projeto do arquiteto serrano Paulo Biller, há na praça somente um espelho d’água que passou a funcionar
somente a partir do ano de 2008, já que teve que passar por reformas.
277
Ilustração nº 48. Maquete do Centro Recreativo da Estância de Serra Negra, arquiteto João Walter Toscano.
Iniciando a partir do lado esquerdo, construção em estilo romano, o Centro de Artesanato envolto de passeios e
espelhos d’água, próximo ao Centro de Informações com dois pavimentos, seguindo para os próximos espelhos
256
d’água, finalizando do lado direito com o Teatro de Arena .
Fotos nºs 81 e 82. Cobertura do Ribeirão Serrano, Atual Praça Sesquicentenário. Década de 1970. Fonte: Foto
Fagundes. Acervo da pesquisadora.
256
Acervo João Walter e Odiléa Setti Toscano. Arquigafia – seu universo de imagens de arquitetura.
www.arquigrafia.org.br/photos/9212, data da imagem 1981-1988. Acervo da Biblioteca da FAU/USP. Acesso
13/10/2016.
278
257
A ocupação de forma ilegítima gerou uma ação de indenização por parte dos proprietários da área invadida
contra a Prefeitura Municipal, ação essa que ainda se encontra em andamento, tornando o erário público
responsável pelo pagamento do valor da indenização.
258
O FUMEST publicava regularmente no Jornal Folha de São Paulo os projetos que estavam sendo
desenvolvidos nas Estâncias, incluindo os montantes das verbas disponibilizadas, dando uma aparente
visibilidade dos gastos e tornando possível acompanhar o andamento das obras.
279
Foto nº 83. Construção do Centro de Convenções Circuito das Águas, décadas de 1970-1980.
Acerrvo da pesquisadora.
De fato, mesmo com aumento de prazo para o término da obra 259, a conclusão não
ocorreu e a imprensa começou a divulgar notas que questionavam os investimentos do
FUMEST.
Foi dentro dessa filosofia que o FUMEST iniciou várias obras importantes em Serra
Negra, como a construção da Praça Sesquicentenário (transcorrido em 1978), e do
conjunto formado pelo balneário e centro de convenções, mas não as terminou. O
centro de convenções tinha como objetivo o atendimento de todas as cidades
integradas ao Circuito das Águas de São Paulo, dadas as suas características e em
razão da proximidade das cidades. Vários milhões de cruzeiros foram gastos nessas
obras que hoje estão paradas sem que se tenha informação de quando serão
concluídas e sem que a comunidade serrana nelas encontre motivo de satisfação e
progresso. O centro de convenções e balneário estão com as obras paradas, a Praça
Sesquicentenário ficou sem um terço de sua área, sem o posto de informação
turísticas e sem o espelho d’água que sofreu rebaixamento ao ser enchido. Há, ainda,
um Ginásio de Esportes, da Secretaria de Esportes e Turismo, igualmente com obras
suspensas e sofrendo a ação de depredadores. (Folha de São Paulo, Caderno de
Turismo, pag. 22. Edição de 19/12/1980).
259
A Lei Municipal sob nº 1024/1981 dispôs sobre a doação do imóvel, o prazo de dois anos para a conclusão da
obra e a cláusula de retrocessão. Como não foi concluída foi editada nova Lei sob nº 1087/1982, estipulando o
término das obras para o ano de 1984, o que não ocorreu. Outra Lei foi criada estendendo o prazo para ano de
1986 (Lei 1136/1984), o que também não ocorreu.
260
O Balneário Municipal foi desativado em 2000 e está em reforma desde então.
281
notícia da referida Lei causou alvoroço, pois a maioria dos municípios não estava preparada
para lançar seus candidatos, e a data do pleito havia sido marcada para 29 de abril de 1979.
O assunto mereceu destaque no jornal Folha de São Paulo, edição de 09 de
dezembro de 1978; na ocasião foram ouvidas as 13 estâncias elencadas na decisão e, segundo
a reportagem, havia um descontentamento entre os prefeitos entrevistados, pois
argumentavam que, durante o Governo de Paulo Egídio Martins, Serra Negra foi a mais
beneficiada na disponibilização das verbas estaduais, tendo em vista que o Deputado Nabi
Abi Chedid, líder do Governo na Assembleia, era irmão do Prefeito nomeado de Serra Negra.
Por outro lado, o prefeito serrano contra-argumentava dizendo que só havia recebido tal
numerário devido à falta de infraestrutura da cidade.
O prefeito Jesus Chedid acha que sua cidade realmente tem recebido mais recursos
do que as suas vizinhas, mas na sua opinião, “isso acontece porque Serra Negra não
tinha infraestrutura e só passou a recebê-la durante o governo de Paulo Egidio”.
(Folha de São Paulo, caderno nacional pag. 04. Edição de 09/12/1978).
Nessa nova fase político-eleitoral, Antonio Luigi Ítalo Franchi foi eleito o
primeiro prefeito, e permaneceu no cargo de 1979 a 1983261.
Os anos seguiram, e Serra Negra mantém-se através de sua atividade econômica
direcionada ao turismo; o café permanece como a mais expressiva produção agrícola. A
qualidade da rubiácea serrana qualificou-se, em 2015, em 1º lugar, no 14º Concurso Estadual
de Qualidade de Café de São Paulo. A produção do café (em grão) arábica, em 2014, foi de
4.133 toneladas, abrangendo a área de 2.870 hectares262.
261
Prefeitos eleitos: Sinésio Aparecido Beghini (1983-1988), Elias Antonio Jorge Nunes (1989/1993), Sinésio
Aparecido Beghini (1994/1996), Elmir Kalil Abi Chedid (1997/2000), Paulo Roberto Della Guardia Scachetti
(2001/2004), Sinésio Aparecido Beghini (2005), Paulo Roberto Della Guardia Scachetti (2005/2008) e Antonio
Luigi Ítalo Franchi (2009/2016).
262
Dados do IBGE. http://www.cidades.ibge.gov.br/. Acesso em 07/01/2017.
282
Foto nº 84. Propriedade rural, localizada no Bairro da Serra, tomada pelo plantio de café.
Serra Negra, 2004. Acervo da Pesquisadora.
3.4.2 – A música com a nova fase da Banda “Lira”, os conjuntos de baile e seu repertório
diferenciado.
Foto nº 85. Foto da Corporação Musical “Renato Perondini”, Santos 1961. Foto cedida pelo
músico Geraldo Bulk. Acervo da pesquisadora.
Foto nº 86. Inauguração do novo fardamento da Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, em 02 de
novembro de 1961, foto tirada nas escadarias do Forum de Serra Negra. Foto cedida pelo músico Geraldo
Vicentini. Acervo da pesquisadora.
Pelo sr. Ângelo Antonio Lamari, Diretor Regente, foi dito que atendendo a diversos
pedidos, pretendia por em ensaio a peça musical Fantasia Caracteristica e para isso
se fazia necessario solicitar da Corporação Musical Renato Perondini desta cidade,
alguns elementos para auxiliarem na execução da referida peça. (Ata da Diretoria da
Corp.Mus. “Lira de Serra Negra”, 12/05/1961)
263
ANEXO Nº 09
285
264
O violista Mario Pereira dos Santos foi também uns dos fundadores do Conjunto da Saudade, criado em
1964.
286
O Conjunto da Saudade
Foto nº 88. Uma das formações do Conjunto da Saudade, temos o músico José Lamari (flauta) e seu
irmão Luiz Lamari (violino), em uma apresentação na década de 1960. Foto cedida por Odilon Souza
Lemos. Acervo da pesquisadora.
O Clube do Papai, entidade recentemente fundada nesta cidade, que tem por
finalidade reunir os amigos de infância de ontem e papais de hoje em festivos
piqueniques que se realizam nas fazendas, sítios e chácaras deste município,
procurando aliar o espirito associativo às velhas e solidas amizades cultivada entre
famílias tradicionais, este Clube teve como uma das primeiras preocupações, atrair
nosso Conjunto da Saudade para as suas reuniões-piqueniques. E grande parte do
êxito alcançado pelas primeiras reuniões do clube, deve-se à presença e à
participação do conjunto musical, que a todos encanta e inebria. Conjunto da
Saudade – refrigério do espirito, balsamo do coração, relicário de recordações, cofre
da saudade que se abre, notas musicais que nos transportam na melodia de suas asas
ao passado distante (O Serrano, 12/05/1968).
265
Em 26/05/1968, O Conjunto da Saudade participou de um baile promovido pelo Clube do Papai; na ocasião o
músico Alfredo Dallari foi homenageado.
288
A SALA DA BANDA
Foi na época que a Banda “Lira”, não sei o que aconteceu. Até hoje eu não sei
certinho o que aconteceu... que era para fazer um clube aqui, onde era a guarda
mirim, aqui. Até tocamos na pedra fundamental, juntaram a Banda com o pessoal
aqui para fazer o Clube. E o Clube ia ter um salão. Aí eles acabaram perdendo a
sede, não sei como. E ficou na rua a Banda, ficou sem sede. Aí o Geraldo Bulk,
irmão do Luiz, né, o Luiz Bulk era o Prefeito e fez a sala para acomodar...não dava
para ser a sala da banda ou para Banda “Lira” ou Banda “Renato”, pois lá ficou a
Casa do Músico. Para acomodar as duas Bandas. Então não tinha nem nome da
Banda “Lira”, nem nome da Banda “Renato”, mas a ideia era acomodar as duas
bandas, na época. Isso tudo que eu sei, como é que foi certinho, lá para atrás dos
coisas, eu não sei. E depois a gente foi, depois foi parando. Parou a Banda
“Perondini” e continuamos com a “Lira”. (Geraldo Vicentini, 14/08/2014).
266
O imóvel localiza-se na Rua Dr. Firmino Cavenaghi, 83. O espaço também é designado como “Casa da
Música”.
290
Foto nº 89. O Prefeito Luiz Bulk e sua esposa, em seguida o Padre João Batista Lavello, entrando na Casa da
Música, no dia de sua inauguração. Foto cedida pela família Bulk. Acervo da pesquisadora.
O desafio da comissão para formar uma nova banda a partir da junção das duas
antigas não obteve êxito, tanto que em 14 de julho de 1967 a Diretoria da “Lira” convocou
uma assembleia geral a fim de discutir um novo estatuto, adaptando os artigos às novas
orientações para o recebimento de subvenção federal. Nessa assembleia estiveram presentes
músicos oriundos da “Renato Perondini”, como o instrumentista Roberto Siloto Perondini.
292
Foto nº 90. Corporação Musical “Renato Perondini”, Serra Negra, 07 de julho de 1963, abertura do Jogo
Palmeiras x Portuguesa, Foto cedida pelo músico Geraldo Bulk. Acervo da pesquisadora.
Porque quanto nós voltamos com Banda “Renato” do Rio de Janeiro, a Banda “Lira’
estava esperando nós na Rodoviária. Nós entramos marchando, aquele tempo a
banda marchava. Entramos marchando na cidade. Tocando e quanto foi aquela
surpresa, a Banda “Lira” estava nos esperando na Rodoviária. Aí, tocamos juntos,
tudo no coreto. Depois de um certo tempo que ela... não sei se foi porque o Enzo
também entrou de Prefeito, aquela coisa... foi decaindo e acabou... acabou em nada.
Aí quando terminou a Banda “Renato”, passamos tudo para a Banda “Lira”, também
foi uma maravilha, porque sempre fomos fazendo apresentações. Depois da
“Renato”? Não! Não deixei... entrei na Banda “Lira”, só parei um pouco, porque eu
trabalhava no Vale do Sol, um tempo eu trabalhei lá, e não tinha jeito de frequentar a
Banda, mas não foi muito tempo que eu parei com a música. Mas depois de um
tempo eu saí de lá e continuei na Banda “Lira”. (Renor Perondini, 09/04/2011).
267
Em 28 de novembro de 1971 a Diretoria da Corporação Musical “Renato Perondini” publicou um edital de
convocação para a realização de uma assembleia geral, tendo como ordem do dia o destino a ser tomado pela
Corporação Musical e seus pertences. Após ser desativada, o acervo de partituras foi doado para a “Lira Serra
Negra”
293
[...] Mas, Alfredo Dallari não era apenas um excelente pistonista de banda, era
também um exímio violoncelista e integrou as
antigas orquestras de Serra Negra, inclusive no
tempo do cinema mudo, quando a gente ia ao
cinema muito mais para ouvir e deliciar-se com as
lindas páginas musicais, executadas pela orquestra,
do que propriamente com o filme.
Um músico como Alfredo Dallari só podia ser
sepultado ao som da música e, especialmente, do
instrumento que executou tão bem e tanto amou na
sua vida de musicista: o pistão. E foi o que
aconteceu sábado, dia 23 do corrente, no cemitério
municipal. Ao baixar o corpo do velho músico e
companheiro a sepultura, as notas de um pistão
ecoaram no silêncio do Campo Santo, executando o
Toque de Silêncio...Aquêle toque de adeus
executado pelo companheiro Silvio Bertolini, trazia nas suas notas o espírito do
próprio Alfredo Dallari... antes do adeus musical, o companheiro João Corato
pronunciou visivelmente emocionado, algumas bonitas e comoventes palavras de
despedida dos músicos de Serra Negra[...] (O Serrano, 27/08/1969)
O Prefeito Braz Blotta, iniciando o ano de 1970, se empenhou para criar uma
fanfarra municipal e, em tratativas com a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo do Estado,
conseguiu a doação de 41 instrumentos, os quais foram destinados aos integrantes da Guarda
Mirim, que tinha como Presidente Fioravante Lugli. Este músico estava comprometido no
ensino das noções musicais para os jovens serranos. O Prefeito Blotta empreendeu também a
reforma da Praça João Zelante e a instalação de um novo coreto “cercado com lampiões ‘São
Paulo Antigo’”.
Foto nº 92. Coreto da Praça João Zelante, década de 1970. Fonte: Foto Fagundes.
Acervo da pesquisadora.
A ida dos músicos da “Renato” para a “Lira” proporcionou um novo ânimo para a
Banda, tanto que eles iniciaram uma campanha para que Fioravante Lugli assumisse a
regência; apesar de não ter aceitado o convite, integrou-se na Banda como seu vice-presidente
(1971). Em 1972, elegeu-se sub-regente e, a partir desta data, passou a realizar os ensaios,
enquanto as apresentações ficavam a cargo do Maestro Lamari; somente quando necessário
Fioravante o substituía no comando dos concertos. Tal posição como assistente permaneceu
até 1976, quando assumiu definitivamente como Maestro. Segundo os depoentes músicos,
Ângelo Lamari relutou em entregar o cargo, pois era-lhe muito difícil deixar de conduzir a
banda que ele próprio ajudara a criar.
A partir de 1971, o músico Januário Blotta deixou a presidência da “Lira” que foi
assumida por Ângelo Ricco, conhecido como Bi, que não era instrumentista da banda, mas
um “apaixonado” por ela. Foi uma gestão inovadora e festiva; sua primeira iniciativa foi a de
295
RETRETA A 3 MAESTROS
A nossa tradicional Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, agora sob a
dinâmica presidência desse incansável e abnegado sr. Angelo Ricco, vai realizar no
próximo domingo, dia 14, no coreto do Jardim Público, mais um interessante retreta,
desta feita regida por 3 maestros: Ângelo Lamari, João Corato e Fioravante Lugli.
A Diretoria da veterana Corporação resolveu dedicar e oferecer essa retreta ao povo
serrano em geral, aos ilustres turistas e veranistas de Serra Negra e, especialmente, a
todos os amigos e admiradores da nossa briosa Banda de Música[...] (O Serrano,
07/09/1971).
Nos anos de 1970, o produtor de televisão do Canal 7 de São Paulo, Saulo Gomes,
apresentava um programa chamado Minha Cidade é Um Show. Serra Negra foi convidada
para ser o tema do segundo programa, que foi ao ar, ao vivo, no dia 08 de março de 1972.
Dentre as atrações musicais designadas para representar a cidade estavam o Coral “São Luiz
Gonzaga” e a Banda “Lira”. Na abertura do programa o maestro Ângelo Lamari concedeu
uma entrevista, destacando a Banda de Música como de grande importância para a
comunidade serrana. O maestro Fioravante Lugli esteve o tempo todo ao seu lado, juntamente
com Ângelo Ricco, o Presidente da “Lira”. Os instrumentistas que integravam a banda na
época eram: João Gloria, Irineu Schiavo, Edno Perondini, Renor Perondini, Nelson Felix,
Décio Citrângulo, Valdir Marchiori, Silvio Bertolini, Orlando Pagan (músico convidado da
cidade de Amparo), José Geraldo Vicentini, João dos Santos Morais, Luiz Antonio Lugli,
Nilo Lugli, Luiz Franco de Oliveira, José Soares (músico convidado da cidade de Monte
Alegre do Sul), Claudio Marques, Armando Menegatti, Nelson Buzzo, Roberto Perondini,
Orlando Lugli, Luiz Lamari, Ernesto Amadeu, José Caetano dos Santos e Antonio Brandini.
296
268
Apresentação da “Lira Serra Negra” na cidade de Americana ocorreu em 27 de agosto de 1972.
297
Na época o Bi era presidente, então ele... não era assim como músico, como se diz,
destaque como músico, era mais uma pessoa, um comportamento, uma dedicação;
então ele fez a homenagem para mim naquela época lá.
Porque eu não faltava, eu nunca fui muito de faltar ensaio. Eu cuidava dos meus
instrumentos, mesmo quando não era meu, era da banda, eu sempre mantinha
limpinho, sempre em ordem. Disciplina, então eles julgavam essa parte. Não é que
eu era super músico, foi mais pela disciplina e dedicação. É! Ali o Bi ia fazer todos
os anos, iam homenagear um, mas depois ele saiu ficou nisso. (Geraldo Vicentini,
14/08/2014)
2ª Parte
1- Flagelados – Dobrado – J.A. Naegeli
2- Bat-Masterson – Fox – H.Wray
3- La Campana de San Giusto – C. Aroma
4- Piraporinha – Choro – N.N.
5- Lira de Apolo –Marcha Sinfônica – O. Puzoni.
Serra Negra, 08 de Julho de 1973
Tem. Fioravante Lugli (O Serrano, 08/07/1973)
269
Não foram encontradas notícias sobre a atuação da Banda Mirim.
299
Foto nº 94. Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, estreia da nova farda, em 01 de
novembro de 1973, ao lado esquerdo: os Maestros Ângelo Lamari com uniforme e Maestro
Fioravante Lugli trajando terno. Em frente ao edifício do Fórum de Serra Negra/SP. Foto
cedida por Odilon Souza Lemos. Acervo da pesquisadora.
2ª Parte
1º) Mal me Quer – Marcha Rancho – C. de Alencar
2º) Pout-Poury do Guarany – C.Gomes
3º) Al-Di-Lá – Fox Show – C. Domida
4º) Barracão – Samba
5º) Padre Lavello – Dobrado – J. Corato
Tem. Fioravante Lugli – Regente. (O Serrano, 09/07/1974)
300
Foto nº 95. Participação da Corporação Musical “Lira de Serra Negra” em solenidade cívica,
Serra Negra, década de 1970. Fonte: Foto Fagundes. Acervo de pesquisadora.
270
Ermínio Della Guardia foi secretário do Corpo Musicale “Umberto I”, na década de 1910. Ele se empenhou
no período para a feitura do primeiro fardamento da Banda Italiana, sendo membro da comissão juntamente com
Frederico Domingues e Alfredo Marques da Fonseca. A profissão de Ermínio era de alfaiate e a confecção dos
uniformes foi realizada em sua alfaiataria, estreando o fardamento em setembro de 1923; seu filho Emilio Della
Guardia foi músico da “Umberto I” e um dos fundadores da “Lira de Serra Negra”, em 1945. Os irmãos de
Guilherme Della Guardia também foram músicos: Luiz Carlos foi integrante da “Blue Star” e Nery, vocalista do
“Garotos do Ritmo”
301
271
O Deputado Manteli Neto foi membro da banca que arguiu o depoente Antonio Siqueira quando ele foi tomar
posse para o cargo de superintende do FUMEST.
302
eram nomeados de acordo com conveniências políticas, não eleitos pelo voto direto, e havia a
questão das verbas estaduais destinadas especificamente às Estâncias.
A notícia do Projeto de Lei nº 206/75 causou grande apreensão nas Estâncias que
seriam atingidas e o Deputado Estadual Nabi Abi Chedid, quando tomou conhecimento do
Projeto, se opôs a sua aprovação. Destarte, o Deputado contou com o apoio de todos os
prefeitos das Estâncias.
A população serrana também se mobilizou, angariando assinaturas em abaixo-
assinados deixados em pontos estratégicos da cidade e, no mês de agosto, uma comitiva
compostas pelos Prefeitos, Vereadores e populares dirigiu-se a São Paulo, na tentativa de
convencer o Governador Paulo Egídio Martins a vetar o Projeto. O depoente Irineu
Saragiotto, que ocupava o cargo de Presidente da Câmara no período, lembrou o episódio:
Tem uma passagem interessante que foi no Governo do Paulo Egídio. O Deputado
Manteli Neto apresentou um Projeto de Lei extinguindo pura e simplesmente as
Estâncias. [..] E estava na iminência de ser promulgado pelo Governador, que era o
Paulo Egidio Martins. A Assembleia aprovou o projeto, chegou às mãos do
Governador para promulgação. Aí houve um movimento, isso também eu cito muito
o Nabi Chedid. [...] mas então o próprio Nabi se encarregou de articular todas as
Estâncias para apelar ao Governador para o veto desse projeto.
Quando no Salão Nobre, fomos recebidos pelo Paulo Egídio Martins. E coube a
mim a honra de falar em nome de todos o motivo de estarmos ali. E na época e fui
pego de surpresa. E confesso a você, eu cheguei, o Nabi veio direto: -Você vai falar
hoje. –Eu não estou preparado. –Você tem capacidade, se vire! (risos). – Então
vamos ver o que dá! (Irineu Saragiotto, Serra Negra, 06/01/2014)
O Salão Nobre estava lotado... – Nabi, eu não estou preparado, não vim aqui para
isso... – Você vai falar em nome dos Prefeitos, já está tudo acertado que é você
quem vai falar. – Está bem! Posso falar. Me recolhi no cantinho lá e fiquei
pensando. Eu nunca fui de escrever discursos, sempre foram de improviso.
Olha, deixa ver... para falar de improviso tem que memorizar alguma coisa.... aquilo
que a gente aprende na oratória. – Puxa vida... mas ai aconteceu que tinha corrido na
cidade um abaixo assinado, apelando ao Governador que vetasse esse projeto... e ...
não posso me esquecer do José Spignardi, que ficou com abaixo assinado... além de
303
ter ficado com outros lojistas. Ficou com ele e ele manteve em mãos e levou nessa
audiência. E chegou a minha mão lá... quando eu entrei me deram aquilo... deixa eu
ver...e folheando eu vi assinaturas ali, de norte americanos e residentes do Brasil
todo, com suas opiniões sobre Serra Negra, dizendo porque deveria ser mantida
como Estância. Tal... tal... isso aqui é meu ponto de partida. E de fato, penso que me
sai bem. Porque todos vieram me cumprimentar, penso que me saí bem! E levei até
um susto, porque a hora que foi me dado a palavras, os holofotes de televisão.
Nossa! (Irineu Saragiotto, Serra Negra, 06/01/2014)
Governador no texto em que vetou o Projeto de Lei nº 206/75, seria muito prejudicial a
extinção das Estâncias, pois ocorreram muitos investimentos, com a liberação de verbas pelo
FUMEST para urbanização, estímulo ao comércio, à hotelaria, ao artesanato, ao turismo
interno e, consequentemente, à criação de empregos. O FUMEST investiu entre 1971 e maio
de 1976 a quantia de Cr$ 91.350.000,00, havendo obras em andamento no período que
estavam orçadas em Cr$ 10.850.000,00, sendo que as arrecadações municipais do mesmo
período somavam Cr$ 69.700.000,00. Esses dados foram apresentados pelo FUMEST para
que houvesse o devido conhecimento dos membros da Assembleia Legislativa na ocasião da
apresentação do referido projeto.
O Governo do Estado tinha pleno conhecimento da forma como as estâncias
estavam sendo administradas, pois encomendou-se um relatório que foi apresentado em 1971
pelo Plano Regional de Desenvolvimento Turístico do Circuito das Águas de São Paulo –
PLADETUR. O relatório visava um estudo dos aspectos econômicos e turísticos dos
municípios que integravam o Circuito das Águas Paulista, quais sejam Águas de Lindóia,
Amparo, Bragança Paulista, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Socorro. Para tanto,
realizou-se um amplo levantamento do perfil da região, incluindo evolução histórica,
morfologia, clima, população e infraestrutura.
Entre os pontos abordados no relatório, criticou-se o alto número de incentivos
fiscais que as estâncias concediam aos novos empreendimentos, comprometendo assim as
receitas, já consideradas insuficientes. Apontou-se que Serra Negra e Águas de Lindóia eram
as duas únicas estâncias que aproveitavam mais eficazmente o potencial turístico, e
sinalizava-se que a atração exercida pelas fontes e balneários de águas minerais ainda
constituía um fator importante, mas o termalismo em si havia deixado de ser a motivação
básica para as visitações. Assinalou-se que seria necessário um turismo de organizações para
que o movimento de visitantes ocorresse durante todo o ano, e não somente no período de
férias escolares. Segundo o relatório, as lacunas mais graves ocorriam no setor de recreação e
promoções culturais, sendo Serra Negra a única estância do circuito que mantinha hotéis de
bom nível, casas de campo e apartamentos pertencentes ou alugados para visitantes, além de
receber turistas nas temporadas. A cidade iniciou o chamado “turismo em trânsito”, onde os
visitantes provenientes de cidades vizinhas realizavam seus passeios em um único dia, tendo
como atrativo o comércio e os pontos turísticos voltados para eles.
305
[...] os músicos da Banda, que participando de uma orquestra desta cidade, não
conseguem comparecer a todos os serviços da Corporação, embora tenham
demonstrado a maior boa vontade para servir a Banda, onde ganham mísera
gratificação em relação aos seus ganhos na orquestra [...] (Ata da Assembleia Geral
da Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, 20/01/1977)
O ano de 1978 foi muito significativo para Serra Negra em razão da comemoração
do seu sesquicentenário, com uma avantajada programação. Iniciou-se com as festas
religiosas em louvor a São Benedito e a Santa Efigênia no mês de janeiro; no mês de fevereiro
ocorreram os festejos do carnaval.
As festividades perduraram no decorrer do ano; houve vários eventos, entre
congratulações e manifestações de carinho à cidade; o Jurista Dalmo de Abreu Dallari
também registrou sua afeição à terra natal através de um artigo publicado na imprensa local.
307
A COMUNIDADE SERRANA
Dalmo de Abreu Dallari
[...] A comunidade serrana existe, foi consolidada durante um século e meio de vida,
de trabalho, de sonhos, de lutas e de realizações, e nela se incluem serranos de
nascimento e serranos adotivos. Estes vieram de outras partes do Brasil ou muitas
vezes, de terras longínquas, fazendo de Serra Negra a base de sua afetuosa dedicação
a seu povo e a um lugar. Outros nascidos na comunidade serrana, foram levados a
percorrer os caminhos do mundo, mas quase sem exceção, mantiveram-se
afetuosamente ligados a Serra Negra, que continua sendo sua comunidade.
Assim sendo, a comunidade serrana é, na realidade, uma grande família, cujos
membros podem estar fisicamente distantes, mas estão sempre muitos próximos
afetivamente, alegrando-se com as alegrias de todos os serranos e entristecendo-se
com suas tristezas.
E nesta hora em que, ao completar cento e cinquenta anos de existência, Serra Negra
fica toda engalanada, saudosa do seu passado, orgulhosa de seu presente e confiante
em seu futuro[...] E mais do nunca tomam consciência de que Serra Negra tem um
rico patrimônio histórico e cívico, que é preciso preservar e enriquecer, o que exige
a participação efetiva de todos, em tudo que seja de interesse da comunidade[...] (O
Serrano, 01/10/1978)
No mês de julho, no dia 23, a comunidade musical serrana perdeu outra figura
importante para a sua história: Luiz Lamari, falecido poucos anos após a morte de seu irmão,
Ângelo Lamari.
Foto nº 96. Maestro Luiz Lamari. Fonte: Galeria de Retratos da Corporação Musical
“Lira de Serra Negra”. Acervo da pesquisadora
308
Foto nº 98. Conjunto The Gold Fingers, década de 1970. Foto cedida por Geraldo Vicentini.
Acervo da pesquisadora.
Ah! Quando começou, era eu, o Irineu e o Schiavo, só. Depois o Schiavo logo
parou. Aí que foi arrumando mais músicos, era eu no trompete e o Schiavo no sax.
Aí foi indo. Aí o André resolveu, já eu no trompete. Arrumou mais um no trompete,
no trombone, vinha um de Amparo, que até já faleceu, é falecido[...] O Luiz que toca
conosco aí, também fez trombone uma época. E aí foi, mas a maioria foi com
músico daqui, tinha de Águas de Lindóia, trompetista, o Vadinho, falecido também.
(Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
Com André? Ele ia formar uma orquestra, sabe? Aí ficamos sócios, eu não queria,
ele falou: vamos! Vamos tocar fora! Fazer isso, fazer aquilo, porque ele já tinha um
conjuntinho de músicos, mas ele ia tocar, queimava o aparelho, tinha um
aparelhinho fraco, tinha um Volks, não dava para carregar a turma. Naquele tempo
eu tinha uma (caminhonete), vai com seu carro, tem mais condições. Compramos os
aparelhos que precisava, umas caixas de som. Mas que loucura, tinha um empresário
que trabalhava com Altemar Dutra e pegava baile para nós. Começou a pegar baile,
baile em Uberaba, baile em Santos, São Paulo, sofri para acompanhar isso
aí[...](Armando Menegatti, 2014, Serra Negra/SP).
Foto nº 99. “André & Orchestra”, década de 1970. Foto cedida por Geraldo Vicentini. Acervo
da pesquisadora.
confeccionados ao longo dos anos. O repertório era bem variado e os arranjos eram
encomendados a um músico profissional chamado Diógenes, que integrava o naipe de metais
da Orquestra Sinfônica de Campinas, sendo o 1º trombonista. Dentre as músicas
selecionadas, estavam as executadas por Glenn Miller, Ray Coniff e Pérez Prado.
O depoente Vandair Muniz afirmou que a lista das peças era imensa, e incluía
também samba, bossa nova, bolero, valsa e MPB, justificando a extensão do repertório por
irem os bailes das 23 horas até às 4 horas.
Ensaiava às quarta-feira. Mas, sempre quando não tinha baile, o ensaio era forçado
de tudo jeito, no sábado e domingo tocava no Vale do Sol. Eram cinco pessoas com
dois cantores, precisava ter bastante música em cada pasta. (Renor Perondini, 2011,
Serra Negra/SP)
O apelido era Tuim. O nome dele era Diógenes, e ele quem fazia todos os arranjos.
Então o Afonso... surgiu uma música nova. O Afonso gravava no gravador, levava lá
na casa dele e o Tuim tinha uma competência que nunca vi. Ele fazia do jeito que
você queria, mas, na maioria, ele pegava, estava gravado daquele jeito, ele ia lá... só
que o Tuim, tinha uma facilidade que eu nunca vi. Ele pegava esses gravadorzinhos
de fita, daquela época, e rodava dois, três compassos, ele mesmo fazia as linhas em
um papel lá, rodava dois compassos, ele já punha lá, o trompete, punha o sax, o sax
tenor, punha o barítono, punha o baixo, punha a guitarra. Apertava, rodava mais
dois, três compassos, punha lá...Sai prontinho! Ele conhecia muito o braço do
violão. Ele tinha todos os sons dos acordes na cabeça, então ele tinha facilidade.
(Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
Foto nº 100. André & Orchestra. Foto promocional tirada nas dependências do Vale do Sol, em
1975, Serra Negra/ SP. Foto cedida pelo depoente Armando Menegatti. Acervo da pesquisadora
312
O depoente Armando Menegatti lembrou que alguns arranjos não soavam muito
bem, provocando irritação no Maestro André, e eles eram logo descartados do repertório, o
que causava prejuízo para o conjunto, pois já haviam sido pagos. Os ensaios aconteciam na
Sala da Banda uma vez por semana, e, em cômodo anexo, guardavam-se os equipamentos do
conjunto.
A atuação da Orquestra causou muitas polêmicas e descontentamentos, pois
André convidou os músicos integrantes da Banda “Lira” para fazer parte do conjunto,
oferecendo melhores honorários e, em algumas ocasiões, as apresentações coincidiam,
causando os entraves já mencionados, como os ocorridos em 1975 e 1979, quando a “Lira” foi
obrigada a cancelar seus ensaios e a recusar alguns concertos por falta de músicos.
Foto nº 101. André & Orchestra. Foto promocional, década de 1970. Foto cedida
pelo depoente Armando Menegatti. Acervo da pesquisadora.
A situação ficou ainda mais tensa quando comunicou-se ao conjunto que o grupo
teria o prazo de 60 dias para desocupar a Casa do Músico. Em março de 1978, a Prefeitura
Municipal de Serra Negra emitiu o documento, causando explosiva indignação ao Maestro
André, o qual publicou uma carta aberta à população serrana272 narrando o ocorrido e
responsabilizando a Diretoria da Banda “Lira”.
272
ANEXO Nº 10
313
Ah! O André era meio caprichoso nos ensaios. O André sempre teve cantor e
cantora bons, sempre teve. Ele dava a fita para os cantores e cantoras e aí ia para
orquestra. A orquestra ele pegava mesmo, compasso por compasso, naipe por naipe,
compasso que estava... ele pegava, tirava até limpar, até sair, depois que a orquestra
estava pronta era só juntar. O cantor já estava de cor. O André era muito caprichoso
e entendia muito de orquestra. (Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
Lá você não tinha como não tocar, você tinha que tocar, você sozinho tinha que
fazer a sua parte. A formação era: 1 sax alto, 1 sax tenor, 1 sax barítono, 1º, 2º e 3º
trompete, 1º e 2º trombone, não tinha como se esconder. (Vandair Muniz, 2016,
Serra Negra/SP).
Comecei tocando sax alto e depois toquei barítono. E quanto a gente fazia baile
assim, na metade do baile, por exemplo, aparecia ... tinha sempre show de artista. Eu
toquei junto com Altemar Dutra, aqui no Vale do Sol, depois uns bailes assim que a
gente tocava, eles faziam o show deles, e tinham (todas) as partes dos músicos para
acompanhar eles, o Francisco Egydio, Jamelão (Renor Perondini, 2011, Serra
Negra/SP).
Mas quem tocava junto mesmo foi com o Altemar Dutra. (Ele) vinha ensaiar, vinha
ensaiar em Serra Negra. Ele tinha uma casa em Conchal, então ele vinha e às vezes
ficava aqui mesmo. Ah! Mas, era bacana. Um dos artistas mais bacanas que eu
conheci foi o Altemar Dutra, Nossa Senhora! Esse era amigo da gente mesmo.
Nossa! Era bacana! Ele exigia nos ensaios, as coisas certinhas, mas fora disso, Nossa
Senhora! Era amigo da gente. (Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
314
Foto nº 102. “André & Orchestra” juntamente com Wilson Simonal, em uma apresentação
realizada no Serra Negra Esporte Clube, década de 1970. Serra Negra/SP. Foto cedida pelo
depoente Geraldo Vicentini. Acervo da pesquisadora.
Através das apresentações com Altemar Dutra é que nasceu uma sólida amizade
entre o músico e o Maestro André, permitindo a presença do conjunto nas apresentações,
inclusive nos programas Clube dos Artistas e Raul Gil. Os ensaios eram realizados em Serra
Negra e Altemar273 se apresentou vários anos na cidade em um tradicional evento realizado
todo mês de dezembro.
Foto nº 103. Altemar Dutra e “Andre & Orchetra” em uma participação do Programa Raul
Gil na emissora Record. Foto cedida por Geraldo Vicentini. Acervo da pesquisadora
273
Altemar Dutra faleceu em novembro de 1983 e foi homenageado na apresentação da “André & Orchestra”, no
show realizado em 30 de dezembro de 1983, em Serra Negra/SP.
315
[...] Altemar Dutra aqui esteve, por várias vezes, pelas mãos de André Afonso
Bertini, para participar das missas celebradas tradicionalmente no dia 30 de
dezembro, por iniciativa daquele maestro, seu particular amigo e compadre[...] (O
Serrano, 13/11/1983).
Foto nº 104. Carnaval no Serra Negra Esporte Clube em Serra Negra, década de 1980. Foto
cedida pelo músico Armando Menegatti. Acervo da pesquisadora.
Seu eu contar para você todas as cidades, poderia ter trazido a lista, naquele tempo
tinha baile por tudo lugar, hoje parou um pouco. Aqui para o sul de Minas, tudo.
Cambuquira, Lambari, Machado, quantas cidades. Boa Esperança, São Sebastiao da
União, é longe! Altinópolis, Lenções Paulista, São Pedro da União, isso tudo aqui.
Aqui para o lado de Registro... Itapetininga, para aqueles lados a gente ia tocar
sempre. Toquei num jantar dançante nos Palmeiras, num domingo à noite. Chegava
segunda feira cedo, ia trabalhar. (Renor Perondini, 2011, Serra Negra/SP).
Eu parei, será que foi em 88, que eu parei da Orquestra do André? Eu tenho uma
hérnia e aí... já não estava podendo viajar mais.... tinha a minha quitanda. Eu tinha
que viajar, em bailes às vezes ficava até dois (dias realizando os) bailes. A Edna
ficava sozinha na quitanda. Era muito sacrificado para ela. Aí tive uma hérnia, falei:
passou o carnaval. Fiz o carnaval, na semana seguinte, já fiz a cirurgia, ai tinha que
ficar mais de um mês parado. Sem soprar, fazer força, ai eu aproveitei e parei.
(Geraldo Vicentini, 2014, Serra Negra/SP).
Os contratos assinados pela “André & Orchestra” foram diminuindo ao longo dos
anos; as apresentações mais frequentes eram as realizadas em Serra Negra, no Hotel Vale do
Sol. Os músicos que acompanharam o conjunto desde seus primeiros anos desligaram-se e,
com o falecimento de André Afonso Bertini em fevereiro de 1999, as atividades da Orquestra
encerraram-se definitivamente.
Foto nº 105. Ápresentação do conjunto “André & Orchestra”, década de 1990. Foto cedida por
Vandair Muniz. Acervo da pesquisadora.
318
O ano de 1981 também não foi muito proveitoso para a Banda de Música, razão
pela qual foram pouquíssimos os concertos agendados. O Maestro Fioravante Lugli se afastou
por um período e o músico João Corato o substituiu; mas Lugli continuou atuando como
professor da Escola de Música e retomou a regência no mês de abril.
320
Comecei a aprender música com 13 anos de idade. Com a escolinha que o Professor
Fioravante Lugli começou a dar aula lá no Bairro da Serra... quem comentou que ia
ter escolinha foi até o Irineu Cazotti, ele comentou que ia abrir escola lá no Bairro da
Serra. Ele falou: Por que você não entra? E acabei entrando.
Aí fomos no dia da inauguração da escola, fiz a inscrição e comecei a aprender
música. Começamos assim, um monte de gente fez. Aprendi, acabei gostando e
estou até hoje.
Quando começou a escolinha de música, no Bairro da Serra, eu não morava lá, eu
morava aqui no Bairro dos Cunhas e, como o Fioravante... a Prefeitura era quem
dava a condução para levar ele. Ele ganhava da Prefeitura para dar aula, ai pegava na
estrada e nós íamos até lá para aprender música. Uma vez por semana. Isso uma vez
por semana, quinta feira.
275
ANEXO Nº 11
322
276
ANEXO Nº 12. Foto músicos
277
Alguns alunos do Maestro Fioravante Lugli: Adriana Marchi de Menezes, Claudio Bernardino Marques,
Claudia Felipe da Silva, Claudio Lugli, Décio Berlofa Citrângulo, Edivaldo Benedito Delangélica, Gustavo
Catanezzi Baccin, Irineu Evangelista Cazotti, José Carlos Botelho Bragatto, José Guilherme Lopes de Menezes,
Laercio Pedroso de Carvalho, Luiz Antonio Benedito Lugli, Luiz Renato Perondini Fachini, Patricia Marchi de
Menezes, Ettore Baldini Neto e Renato de Toledo Perondini.
324
Em meio aos problemas musicais enfrentados pela Banda, uma notícia foi positiva
o concerto realizado em julho de 1985, pela Orquestra Sinfônica de Campinas, evento
comemorado significativamente na cidade, já que o músico Claudio Bernardino Marques,
trombonista, era um dos seus integrantes. Claudio iniciou seus estudos com Fioravante Lugli,
foi membro da Banda “Lira” e da “André & Orchestra”, até que, em junho de 1982, foi
admitido através de concurso público para ocupar o posto de primeiro trombone da referida
orquestra, tornando-se uma referência para os músicos serranos.
A última diretoria da “Lira” havia sido eleita para assumir um período
compreendido entre os anos de 1982 a 1983. Não se convocou uma nova eleição nos anos
posteriores como previa o estatuto. O imbróglio veiculou-se na imprensa e causou sérios
constrangimentos; com isso marcou-se uma Assembleia Geral para eleger a nova diretoria em
setembro de 1985.
Há muitos anos que os cargos da associação musical não eram tão concorridos.
Apresentaram-se duas chapas concorrentes: a primeira possuía em sua composição não-
músicos; a segunda, era composta somente por músicos serranos, com exceção do cargo de
presidente; todos eram componentes da “Lira”. Venceu a segunda chapa278, e elegeu-se o
Maestro André Afonso Bertini seu novo presidente, tendo como regente João Corato.
Apesar das desavenças ocorridas durante anos, André Bertini iniciou o trabalho
para melhorar as condições da “Lira”, sendo que o primeiro item foi regularizar o
agendamento dos concertos.
E a nova diretoria seguiu angariando fundos para o novo fardamento. Para tanto,
André Bertini entrou em contato com os diretores do Clube local e, através do apoio recebido,
promoveu um baile com a “André & Orchestra”, cuja renda reverteu-se para a confecção do
uniforme.
278
Membros eleitos: André Afonso Bertini, Presidente; Geraldo Vicentini, Vice Presidente; José Carlos Botelho
Bragatto, 1º Secretário; Roberto Silotto, 2º Secretário, Renor Silotto, Tesoureiro; João Corato, Regente; Antonio
Briotto, Sub Regente; Décio Citrângulo, Contratante e Gerson Rodrigues, Arquivista.
325
Foto nº 108. Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, em frente a Igreja Matriz Nossa Senhora
do Rosário, Foto tirada para estreia do novo uniforme. Percebe-se a presença dos jovens
instrumentista, alunos de Fioravante Lugli. Maestro João Corato. Serra Negra, 20/07/1986.
Acervo da pesquisadora.
O Maestro João Corato regendo a “Lira Serra Negra” por ocasião da apresentação
do seu novo uniforme.
A grande preocupação dos serranos, de que a sua corporação musical “Lira Serra
Negra” encerasse suas atividades, felizmente aos poucos vai se desvanecendo, diante
da firme atuação e vontade do seu atual presidente, Prof. André Afonso Berini, que
tudo tem feito para preservar uma das nossas mais caras tradições.
Neste domingo que passou, Serra Negra viu e ouviu, entre emocionada e comovida,
a sua garbosa “Lira” desfilar pelas ruas centrais sons marciais ecoaram pelas ruas e
praças, enchendo de alegria os serranos e turistas, satisfeitos com o revigoramento
de sua banda e pelo natural encanto que ela traz.
O Jornal “O Serrano” que sempre batalhou pela preservação desse nosso patrimônio
musical-cultural, prazerosamente se associa ao júbilo da população, pela nova e
promissora fase de sua querida “Lira Serra Negra”. (O Serrano, 20/07/1986)
Um furo do Maestro João Corato, para a nossa coluna: neste domingo, durante a
retreta que a Lira de Serra Negra fará na Praça João Zelante, uma mulher estará
presente fazendo parte da banda, pela primeira vez e quebrando um velho
preconceito. Seu nome é Claudia (sic) e o instrumento que vai tocar é a clarineta. O
caminho está aberto e esperamos que o exemplo seja seguido por outras jovens
interessadas na música. (O Serrano, 12/10/1986 – Coluna Comentando)
Foto nº 110. Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, em frente ao Fórum de Serra Negra, em
novembro de 1992. Acervo da pesquisadora.
327
Escola de Música
Foi muito bom o concerto da Escola de Música, mantida pela Prefeitura Municipal,
na última quinta-feira, no Parque Infantil. Esta apresentação vem coroar o trabalho
de 6 meses dos alunos e a dedicação do maestro Claudio Marques. Atualmente a
Escola conta com 65 alunos matriculados. Os alunos mais dedicados também já
estão mostrando seus talentos. Foi o que ocorreu durante a apresentação da
Corporação Musical Lira de Serra Negra, que tocou na praça domingo passado,
recebendo muitos aplausos do público presente. (Jornal O Circuito, 04/12/1993)
Foto nº 111. Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, apresentação na Praça Barão do Rio Branco,
década de 1990, com a presença dos alunos da Escola de Música. Serra Negra/SP. Acervo da
pesquisadora.
328
Foto nº 113. Corporação Musical “Lira de Serra Negra”, apresentação na cidade de Águas de
Lindóia, em novembro de 2016. Foto cedida por Marco A. Vicalvi. Acervo da pesquisadora.
329
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
das Bandas de Música, tanto nas procissões como nas festividades realizadas nos bairros
rurais.
A descoberta das águas radioativas em Serra Negra deu um novo ânimo para a
cidade, direcionando o pequeno comércio para o atendimento aos veranistas e estimulando a
construção de novos hotéis. As mudanças foram lembradas de forma positiva por vários
depoentes, como Tereza Marchi, Oswaldo Saragiotto, José Franco de Godoy e Nelson de
Barros. A atividade musical também se diversificou, pois a inauguração de clubes sociais
permitiu aos músicos serranos a formação de pequenos conjuntos que se apresentavam nesses
espaços de recreação, possibilitando execução de um repertório diferenciado daquele
anunciado nos concertos das bandas, sendo que isso já acontecia com os grupetos que se
formavam para tocar nos bailes realizados na zona rural. Esse conjunto de composições
musicais, como vimos, era formado por valsas, polcas, maxixes, mazurcas, tangos, rancheiras,
sambas, rag time, choro e até dobrados.
Mesmo com a possibilidade da exploração das águas radioativas, o café ainda era
a principal fonte de riqueza da economia do Município, e a cidade ainda demorou a ganhar
impulso. A grande mudança só ocorreu no início da década de 1940, proporcionada por um
grupo de empreendedores que viram na instalação de um cassino a possibilidade de
desenvolvimento urbano e ganho financeiro, unindo a terapia aquática aos jogos de azar,
tendo como o modelo outras estâncias, como Poços de Caldas/MG.
A presença de um turismo diferenciado e elitizado, bem como a facilidade de
acesso aos shows que aconteciam no “Grill Room” do Cassino, permitiram à população e aos
músicos serranos obterem experiências diferenciadas daquelas às quais estavam acostumados.
Isso fica claro por terem os integrantes do conjunto “Garotos do Ritmo” uma postura similar,
tanto quanto à vestimenta como ao repertório, aos famosos grupos musicais contratados pela
Rádio Nacional e que participavam dos filmes brasileiros. Também as vozes femininas eram
cognominadas como as famosas cantoras do rádio: Demon Clayr era a “rainha do bolero”.
A Segunda Guerra Mundial rompeu com algumas tradições na cidade. A colônia
italiana não podia mais se expressar livremente, escondendo o apoio a Mussolini, sendo que a
Banda “Umberto I” perdeu seu posto de Banda Italiana. Por outro lado, como vimos, os filhos
e netos dos imigrantes foram convocados para servirem na Força Expedicionária Brasileira-
FEB.
332
Lugli. Estes, por sua vez, repassaram para as novas gerações, sempre preocupados com a
formação dos músicos locais, muitos deles lecionando em suas próprias casas ou na Sala da
Banda, buscando regularizar essas escolas de música e, para tanto, fazendo parcerias com o
Poder Público. A passagem dos hábitos e conhecimentos musicais de geração a geração, como
vimos, fez com que as bandas e os conjuntos musicais serranos se tornassem exemplos de
qualidade e longevidade.
A grande maioria dos músicos descende dos imigrantes, tanto daqueles que
viviam na zona rural como dos que exerciam ofícios artesanais no centro urbano. A música
não constituía uma forma de manutenção econômica, mas podia complementar o orçamento
familiar. Sua principal função, entretanto, era permitir um reconhecimento social, muitas
vezes ausente, na época, para os descendentes de imigrantes desprivilegiados.
Assim, o exercício musical, além de constituir uma maneira prazerosa de ocupar o
tempo livre, era fonte de relacionamentos mais amplos, de reconhecimento social, gerando
até, principalmente no caso dos dirigentes, certa ascensão social.
Com a criação dos conjuntos musicais, esse movimento se ampliou para a região,
pois as apresentações realizaram-se também em outras cidades. A apresentação na Rádio
Nacional do Rio de Janeiro propiciou a reafirmação do prestígio da banda localmente,
contribuindo para que um musicista fundador da banda se tornasse Prefeito da cidade.
A Escola de Música, que existe há bastante tempo, fez com que a Banda, em
parceria com o Poder Público, formasse muitas gerações de músicos. Hoje encontra-se menos
atuante, mas há projetos de retomada das atividades de ensino. A educação não-formal no
interior da banda, entretanto, persiste, garantindo um mínimo de formação para os integrantes
mais jovens. Tocar na banda sempre foi atividade eminentemente masculina, iniciando-se a
introdução do elemento feminino em 1986, com a entrada da autora deste texto na corporação.
Nas décadas de 1990 e 2000, o número de musicistas femininas teve um aumento
considerável; atualmente três mulheres participam das atividades desse conjunto musical.
A importância das Bandas de Música na comunidade serrana pôde ser avaliada
através das fontes pesquisadas. A imprensa, desde 1905, vem publicando notícias sobre as
atividades musicais, especialmente das Bandas. Os Maestros possuem um espaço especial nas
matérias. Os munícipes acompanharam a trajetória dos seus músicos através dos concertos
regulares e das notícias veiculadas na imprensa local. O acervo do Legislativo está repleto de
informações do movimento musical serrano que, porventura, não se tornaram públicas, como
334
os Projetos de Lei para a criação de uma escola municipal de música, para compra de
instrumentos e aumentos de subvenções para as apresentações. Há ainda a riqueza dos
registros imagéticos guardados pelos músicos e seus familiares. Associado a tudo isso, estão
as informações contidas nos depoimentos orais colhidos. O intercâmbio entre os dados vindos
do textual, aliados aos dados imagéticos e complementados pela oralidade, permitiu perceber
as nuances do período pesquisado num movimento analítico de ida e vinda entre os diferentes
suportes.
No entanto, salienta-se que a oralidade foi fundamental para o entendimento de
determinados pontos levantados pelos outros suportes. Seria difícil entender a governança na
década de 1950, sem as explicações do depoente Irineu Saragiotto. Os anos de 1960, 1970 e
1980 ficariam incompletos sem os fatos narrados por Antonio Luigi Italo Franchi e Antonio
Siqueira, assim como seria difícil perceber as mudanças ocorridas em Serra Negra, sem o
olhar atento e as lembranças vivas de Oswaldo Saragiotto, Arminio Silotto, Tereza Marchi,
José Franco, Alcebíades Felix e Nelson de Barros. Os poucos registros sobre o impacto da
Segunda Guerra Mundial só ganharam relevância com as narrativas dos expedicionários
Oswaldo Saragiotto e Roberto Gambeta.
Se não fosse o depoimento do músico Claudio Corsetti falando dos “Garotos do
Ritmo”, não se saberia da existência de Demon Clayr e sua experiência no Cassino Serrano, o
que permitiu, através da busca da narrativa dessa cantora, ter conhecimento da atuação de sua
amiga, a também cantora Lourdes Godoy.
As vivências narradas pelos depoentes músicos, com detalhes do surgimento dos
agrupamentos musicais, das apresentações, dos embates entre eles, da relação com os
diferentes maestros e do convívio de alguns deles no meio musical serrano por cerca de
sessenta anos permitiram acompanhar o caminho musical da cidade, as mudanças de
repertório, o apoio da população local e, às vezes, o desprezo do Poder Público, fatos esses
que não haviam sido descritos em detalhe, e que, certamente, tornaram Serra Negra uma
cidade privilegiada musicalmente.
A ausência de um movimento musical semelhante nas outras estâncias do Circuito
das Águas Paulistas talvez contribua para que os turistas encontrem em Serra Negra, nas suas
visitas dia, um clima mais acolhedor e sedutor, o que os faz, muitas vezes, permanecer por
mais tempo nessa cidade e assim, intensificar seu consumo no comércio e restaurantes locais.
335
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350
APÊNDICE Nº 01
Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa de doutorado sobre a vida
musical desenvolvida em Serra Negra/SP, bem como a transformação da cidade. O objetivo desta
pesquisa é compreender o desenvolvimento das atividades musicais na cidade de Serra Negra a partir
da atuação do Corpo Musicale "Umberto I" de Serra Negra (1898-1942), com a criação de novas
bandas de música, conjuntos musicais, orquestra para baile, orquestra experimental de repertório,
banda de pop rock e escola de música. O trabalho também visa entender o papel das instituições
musicais e a atuação de seus membros para a continuidade do ensino musical na comunidade, como
também estudar esse universo musical na relação de trabalho, de poder e na relação social tanto no seu
interior, na comunidade local e na sociedade como um todo. Apesar do estudo contemplar o aspecto
musical de Serra Negra outros temas serão abordados com a finalidade de entendimento da
transformação da cidade ao longo dos anos.
Solicitamos sua colaboração para a coleta de depoimentos, com perguntas sobre a sua
trajetória pessoal e musical, de membros de sua família e amigos. Sobre seu aprendizado musical e
atuação nos grupos existentes na cidade e as lembranças pessoais sobre a cidade. Os depoimentos
serão agendados de acordo com a conveniência dos depoentes.
É garantido a todos os voluntários o fornecimento de quaisquer informações sobre a pesquisa
antes, durante e depois da realização da mesma. Igualmente, é altamente garantido que os sujeitos da
pesquisa possam recursar-se a participar em qualquer momento, sem que isso lhes cause qualquer
penalidade ou represálias de qualquer natureza.
O sigilo dos dados confidenciais é garantido aos voluntários, bem como o sigilo de
informações que, de algum modo, possam lhes causar constrangimentos ou prejuízos.
Como trata-se de uma pesquisa qualitativa, os possíveis desconfortos e riscos dos sujeitos são
aqueles inerentes à subjetividade dos depoentes, como o receio de narrar algum fato, o receio de expor
suas ideias e sobre a repercussão do depoimento. Entre os benefícios estão à oportunidade de narrarem
suas vivências pessoais e musicais e como vivenciaram e participaram do desenvolvimento da cidade
de Serra Negra, contribuindo ainda, para discussões sobre a temática “transformação da cidade”,
“banda de música” e “ensino de música” nas pequenas cidades interioranas.
Não haverá nenhuma forma de reembolso de dinheiro, uma vez que os voluntários não terão
nenhum gasto com a participação na pesquisa.
Com a devida autorização, a entrevista será gravada em aparelho digital e depois transcrita. Os
dados serão usados para fins acadêmicos. Você receberá uma devolutiva de seus depoimentos
devidamente transcritos ao término da pesquisa. Após a conclusão da pesquisa as gravações poderão
fazer parte do acervo do Laboratório de História Oral do Centro de Memória da UNICAMP., podendo
ser objeto de pesquisa de futuros estudiosos. Em publicação futura os entrevistados poderão ser
nominalmente mencionados desde que estejam concordes com o conteúdo da tese de doutorado.
351
Você receberá uma via deste Termo, devidamente assinada por ambas às partes
(pesquisador e pesquisado), onde constam também os telefones do pesquisador com quem você poderá
esclarecer ou tirar suas duvidas sobre o projeto e sua participação a qualquer momento; e também da
Secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa para denuncias e questões éticas.
___________________________________________________
Nome e assinatura do participante
___________________________________________________
Nome e assinatura do pesquisador
Denúncias e/ou reclamações referentes aos aspectos éticos da pesquisa devem ser dirigidas para:
Comitê de Ética em Pesquisa: (19) 3521 8936
Rua Tessália Vieira de Camargo, 126
Cep : 13083-887 Campinas / SP
Email : [email protected]
352
APÊNDICE Nº 02
FAZENDEIROS DE CAFÉ / FAZENDEIROS DE CANA DE AÇÚCAR
CAFÉ
Affonso Carlos da Silva Telles Joaquim Franco de Moraes Pedroso
Antonio B. de Vasconcellos e Silva Joaquim Franco de Oliveira Ramalho279
Padre Antonio C. Leme Joaquim de Godoy Bueno
Antonio Domingues Gonçalves Joaquim José Fróes
Antonio Gomes Moreira Joaquim de Oliveira Preto
Antonio Joaquim Leme Pedroso Joaquim Rodrigues Preto
Antonio Machado de Campos Joaquim de Souza de Godoy
Antonio Pinto Nunes Ten. José de Araujo Ferraz
Antonio Pires de Ávila José Caetano de Souza
Antonio Pires R. Pimentel José Camilo de Godoy
Bento da Costa Figueiredo José Correa de Souza
Bento José Cardoso José D. de Souza Leitão
Alferes Cândido José de Abreu José Francisco Maciel
Cesário José Rodrigues José Franco da Cunha
Custodio José de Ávila José Gabriel do Nascimento
Cypriano de Souza Moraes José Leme da Silva
Demetrio H. de Moraes José Maria de Oliveira Leme
Elias Ayres de Oliveira Franco José Machado de Barros
Elias José Alves Fróes José Machado de Barros Junior
Estevão Franco de Godoy José de Souza Godoy
Fabiano Franco de Godoy José de Souza Moraes
Fortunato José de Moraes José Vaz de Lima Sobrinho
Cap. Francisco de Assis F. Sampaio Lucas da Silveira Franco
Francisco José Fróes Luiz Antonio Leme
Francisco Marcelino Fróes Manoel Antonio de Oliveira Leme
Francisco Pires da Silva Manoel Bueno da Silva
D. Gertrudes de Oliveira de Pádua Manoel Joaquim de Oliveira Leme
Ignácio Cardoso dos Santos Alf. Manoel Mariano P. de Oliveira
Januario Machado de Campos Manoel de Souza de Moraes
João Antonio Machado Junior D. Manoella Pires de Oliveira
João Antonio Peruche D. Manoella Rodrigues Cesar
João B. de Vasconcellos Maximiano José Correa
João Chrysostomo Pupo Modesto Baptista da Silva
João Correia Pedro Rodrigues Fróes
João Franco de Godoy Alf. Pedro Rodrigues de Oliveira Franco
Cap. João M. da Cunha Franco D. Rita de Souza
João Machado de Souza Campos Raymundo de Souza de Moraes
João Octavio de Oliveira Roberto José de Abreu
João Pires Baptista Salvador D. de Souza Leitão
Joaquim Baptista de Vasconcellos Salvador M. Pinto de Oliveira
Joaquim Cardoso de Godoy Alf. Salvador Pires da Fonseca
Joaquim da Costa Figueiredo Veríssimo José de Almeida
Joaquim Domingues Paes Major Vicente Ferreira Alves Nogueira
AÇÚCAR
Antonio de Moraes Cardoso José de Moraes Cardoso
Felippe Antonio Pereira José Rodrigues Cardoso
Galdino Antonio Damasceno Luiz Rodrigues Barbosa
Jacintho de Moraes Cardoso Mariano Leme
João Rodrigues Cardoso de Moraes Vicente Ferreira Gonçalves
José Caetano de Oliveira
Fazendeiros de café e açúcar em Serra Negra, período de 1873, Fonte: Dados do Almanak da Província de São Paulo.
Quadro elaborado pela pesquisadora.
279
Mais detalhes sobre a família “Ramalho” e a origem do Bairro Rural da Ramalhada em Serra Negra ver livro
de: ALVES, Maira Inês Masaro. Raízes da Ramalhada. Histórias da Serra Negra Rural. Amparo: Gráfica Foca,
2012.
353
APÊNDICE Nº 03
A formação das estâncias de cura do Estado de São Paulo.
Segundo Lessa (2001)280, São José dos Campos no final do século XIX, tendo em
vista o clima e a topografia recebia um grande número de doentes em busca de tratamento
para a tuberculose. Os pacientes eram recebidos pela população local como mais uma
possibilidade de ganho, contribuindo para superar as perdas ocorridas com a crise do café.
Ainda de acordo com a autora a cidade permaneceu na chamada “Fase Sanatorial” entre os
anos de 1900 a1950.
A “Peste Branca”, como era conhecida a tuberculose, avançava assustadoramente,
sobretudo nos grandes centros, atingindo as diferentes classes sociais. Na tentativa de
diminuir a mortalidade, como também diante da necessidade de se implantar um sistema de
tratamento à doença, o Governo do Estado de São Paulo buscou a solução se espelhando nos
sanatórios europeus, apesar da Europa contar com os incentivos da iniciativa privada. Como
não houve interesse privado para solucionar o problema, o Governo se responsabilizou pela
tarefa, utilizando os recursos públicos. Iniciou–se os projetos para as construções de
sanatórios que a princípio seriam próximos da cidade de São Paulo, facilitando o controle e
manutenção dos mesmos, bem como o deslocamentos dos pacientes para esses centros de
recuperação e cura. Dentre as opções estavam as cidades de Campos de Jordão e São José dos
Campos.
Ambas já eram reconhecidas como espaços de tratamento e cura, tanto que
Campos do Jordão que havia sido transformada em Estância Climatérica em 1926, mesmo
sendo uma cidade sanatorial, parte de suas atividades já estavam sendo direcionadas para o
lazer e o turismo da elite paulista. Segundo Lessa (2001), com o passar do tempo Campos do
Jordão se especializou no tratamento para classe mais abastada, possuindo, entretanto alguns
sanatórios filantrópicos.
São José dos Campos tornou-se a opção para abrigar os doentes de baixa renda
que ocupavam os sanatórios públicos e, somente em 1935 foi elevada à condição de Estância
Climatérica281.
Com o reconhecimento dos benefícios climáticos apropriados para o tratamento
da tuberculose em ambas as cidades aumentaram-se consideravelmente o número de doentes à
procura de tratamento. A fim de suprir a demanda surgiram novos hotéis, pensões, interesses
por profissionais da área médica e, consequentemente, a construção de novos sanatórios.
De acordo com os levantamentos realizados pela autora, em 1938, Campos do
Jordão apresentou uma renda total do município na quantia de 540:000$000, sendo que
300:000$000 era proveniente do Estado e, São José dos Campos teve uma receita de
1.459:410$000, sendo 709:000$000 advindos do município e 450:000$000 do Estado,
demonstrando os dados que o repasse estadual para as duas estâncias foi superior a
280
Lessa (2001) em sua pesquisa buscou demonstrar a transformação urbana da cidade de São José dos Campos,
delimitando o período entre as décadas de 1930 e 1970 do século XX e, para tanto realizou um levantamento que
engloba o início econômico vinculado a produção do café, a chegada da ferrovia e as mudanças causadas com a
crise cafeeira. Outro ponto abordado foi como a cidade passa a ser reconhecida como um espaço para o
tratamento da tuberculose, sendo decretada como Estância Climatérica e demonstrando, finalmente, o
desenvolvimento de São José dos Campos na área industrial e tecnológica, constituindo-se num dos mais
importantes pólo industrial do Estado de São Paulo da atualidade.
281
Através do Decreto 7.007, de 13 de março de 1935.
354
282
O depoente Irineu Saragiotto em sua fala, narrou que na década 1970, São José dos Campos já contavam com
um grande pólo industrial e continuava a receber verbas estaduais pelo fato de ser estância.
283
HAMMERL, Priscyla Christine. Campos do Jordão (SP): de estância de saúde à estância turística. Anais do
XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011.
284
Decreto nº 2140 de 01 de outubro de 1926.
285
Com o fechamento dos cassinos em 1946 e a diminuição da procura da estância para cura da tuberculose,
motivou a rede hoteleira iniciar um planejamento para as atividades turísticas de Campos do Jordão, encerrando
assim, a fase sanatorial.
355
ANEXO Nº 01
356
ANEXO Nº 02
357
ANEXO Nº 03
358
ANEXO Nº 05
“Footing” no jardim da praça
Odilon Souza Lemos (membro da Assim)
– Edição do Jornal O Serrano, edição de
27/03/1983.
Retrocedendo, ali por 1953, portanto há trinta anos, vamos
reviver uma noitada de domingo, no jardim da praça “João
Zelante”, no coração de Serra Negra.
Numa noite de primavera, quando as flores exalavam suave
perfume, começava, logo às 19 horas, o “footing”. A maior
parte dos rapazes, vestindo termos de casimira “Aurora” ou de
linho branco, complementados com vistosas gravatas e os cabelos oleosos, estavam elegantes,
contornando o jardim com duplas ou trios. As garotas, trajando belos vestidos multicores,
ostentando modernos penteados, e, com os lábios pintados de carmim, se apresentavam lindas
e graciosas, passeando, em sentido contrário, de braços dados com suas companheiras.
No centro da praça, no coreto descoberto, a Banda “Lira Serra Negra” tocava músicas
romântica que enlevavam os mais velhos, sentados nos bancos de madeira, enquanto que, as
crianças, divertiam-se brincando nas imediações.
Quando não havia retreta, ouvia-se o som do Serviço de Alto-Falantes “Cidade da Saúde”,
cujo estúdio era localizado ao lado da residência do sr. Antonio Jorge José. O sonoplasta Irio
Vieira de Godoy tinha muito trabalho em atender os inúmeros pedidos musicais, quase todos
eram de jovens apaixonados. O locutor anunciava, pausadamente:
- Vamos ouvir, na voz de Orlando Silva, “Lábios que Beijei”, que alguém oferece à Laura
como prova de amor.
Começava, então, um importante momento na vida dos jovens: as “paqueras”, (naquele
tempo usavam-se outras expressões: flertar, “tirar linha”, etc.). O rapaz fazia um sinal
característico, piscava para a garota na qual estava interessado e ficava aguardando o
reencontro. Ao se cruzarem novamente pela expressão da moça ele já sabia se tivera êxito.
Muitos romances iniciaram-se desta maneira na praça, outrora repleta de gente. Quantos se
transforaram em felizes casamentos e resultaram em numerosas famílias; mas, também,
quantos jovens tiveram, naquele mesmo lugar, suas desilusões e sonhos de amor desfeitos.
Divagando, despreocupadamente algumas horas no jardim da praça “João Zelante”, a
mocidade de entretia nas alegres noites domingueiras.
360
ANEXO Nº 06
COMPOSIÇÕES DE NICOLINO FATIGATTI (1898 – 1922)
286
É a valsa mais conhecida do compositor
287
A valsa “Saudade do Nicolino” foi composta por Nicolino Fatigatti, porém ele não havia dado um nome.
Após a morte de Nicolino, o músico Cesarino Perondini fez o arranjo para banda e deu esse título em
homenagem ao compositor.
361
ANEXO Nº 10
365
ANEXO Nº 11
366
ANEXO Nº 12
Musícos: Mauricio Avona, Benedito Vasconcelos e Mario Vasconcelos