2017 - FelipeDallOrsoletta - tccPEGADA HIDRICA
2017 - FelipeDallOrsoletta - tccPEGADA HIDRICA
2017 - FelipeDallOrsoletta - tccPEGADA HIDRICA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CONSÓRCIO IGD, IQ, IB, FACE/ECO E CDS
CURSO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS
Felipe Dall´Orsoletta
Brasília, DF
Julho de 2017
2
Felipe Dall´Orsoletta
Brasília, DF
Julho de 2017
3
Dall´Orsoletta, Felipe
Felipe Dall´Orsoletta
_____________________________
Clóvis Zapata
(Presidente/Orientador)
_____________________________
Maurício Amazonas (CDS – UnB)
(Avaliador)
_____________________________
Jorge Madeira Nogueira (FACE – UnB)
(Avaliador)
Brasília, DF
2017
5
DEDICATÓRIA
Dedicado a minha mãe, Vera Lúcia. Toda homenagem seria insuficiente perante tamanha
gratidão e orgulho que sinto em ser filho dela.
6
RESUMO
ABSTRACT
The food industry is at the top of the global concern. This is because of its importance, given
the great challenge of feeding all humans on Earth and also the environmental impact it
causes, both locally and globally. This study shows the water footprint of the chicken
produced in Brasilia. It also addresses other aspects of dialogue between industry and the
environment. From the result, the importance of the water footprint concept in environmental
planning is discussed. The tool itself is also object of analysis, showing its positives and
negatives matters. It shows its usefulness in the search for the balance between regional
supply and water demand. However, the tool leaves some gaps as the lack of debate about the
incorporation of costs by companies, for example. For the chicken produced in Brasília, the
result of the water footprint found was 2,247 liters of water demanded per kilo of meat.
Further understanding of the concept, discussing its standardization and discussing the
incorporation of costs by companies may be possible objects of future studies
Keywords: Water footprint. Industrial waste. Poultry industry. Waste management. Costs
incorporation.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
tipos de criação..................................................................................................47
Tabela 11 – Panorama de consumo diário de água e comparação com a meta por ave.....52
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................15
2 A INDÚSTRIA DO FRANGO..................................................................................17
2.1 HISTÓRICO................................................................................................................17
2.2 QUADRO ATUAL......................................................................................................19
2.3 A INDÚSTRIA DO FRANGO EM BRASÍLIA..........................................................23
3 O MANEJO HÍDRICO NA AVICULTURA...........................................................26
3.1 O IMPACTO AMBIENTAL DA INDÚSTRIA DO FRANGO..................................26
3.2 A GESTÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS...........................................................28
3.3 CONSUMO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA DO FRANGO.........................................30
3.4 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE RESÍDUOS DA AVICULTURA...........33
3.5 O TRATAMENTO DE RESÍDUOS...........................................................................34
3.6 NOVAS TENDÊNCIAS E PRESSÕES DE MERCADO..........................................38
4 O CONCEITO DE PEGADA...................................................................................42
4.1 PEGADA AMBIENTAL.............................................................................................42
4.2 PEGADA HÍDRICA....................................................................................................43
4.3 RELAÇÃO PEGADA HÍDRICA COM PRESSÃO HÍDRICA..................................44
4.4 OUTROS ESTUDOS DE PEGADA HÍDRICA..........................................................46
4.5 CRÍTICAS A PEGADA HÍDRICA.............................................................................48
5 ESTUDO DE CASO...................................................................................................50
5.1 MÉTODO.....................................................................................................................50
5.2 RESULTADOS............................................................................................................51
5.3 DISCUSSÃO................................................................................................................52
6 CONCLUSÃO.............................................................................................................56
REFERÊNCIAS.........................................................................................................59
APÊNDICE A.............................................................................................................66
APÊNDICE B.............................................................................................................67
15
INTRODUÇÃO
Atualmente, o Distrito Federal atravessa uma grave crise hídrica e diversos são os
motivos que podem ser apontados como causadores. Seguidos anos de ineficiência
administrativa e falta de planejamento levaram a cidade a um racionamento hídrico, onde
dois anos antes sobrava água. Comentava-se à época que tal problema estava longe de
acontecer, porém hoje nossa economia sofre diante de racionamento desse vital recurso.
Água não é brincadeira, a ela é preciso dispensar toda nossa atenção.
Diante disso, optou-se como cerne de pesquisa o principal setor industrial de Brasília,
o avícola. O objetivo deste trabalho foi encontrar a pegada hídrica do frango produzido em
Brasília, e mais do que isso, analisar a pegada hídrica no contexto da preocupação
ambiental. Algumas questões serão levantadas a respeito do resultado encontrado. O
trabalho tentará por luz aos seguintes pontos: se o conceito de PH é válido, se a PH é útil
na busca da eco-eficiência, quais seu pontos fortes e críticas, qual a importância da PH
frente à gestão ambiental das empresas e qual contribuição podemos retirar deste novo
conceito.
2. A INDÚSTRIA DO FRANGO
2.1. HISTÓRICO
a mão de obra para a criação. Chegada a hora do abate, o frango passava novamente para a
mão da indústria. É o chamado sistema de produção verticalizado, que com algumas
inovações é prática usual até hoje no Brasil e no mundo.
Martins Costa (2000 apud SAMPAIO et al, 2005) afirma que, já na década de 70
iniciaram as primeiras produções brasileiras voltadas para exportação. Essa mudança
gerou grande mudança na cadeia, imprimindo àquela altura um ritmo empresarial muito
mais voltado para a eficiência. Surgiram ali as grandes indústrias, concentradas
basicamente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O Sul do Brasil tomou então o posto
de principal região avícola do país, antes pertencente ao Sudeste, majoritariamente no
estado de São Paulo. Nessa época, na região Oeste de Santa Catarina surgiram e
cresceram duas conhecidas marcas, Perdigão e Sadia. Até 1970, apenas quatro empresas
avícolas figuravam no Sistema de Inspeção Federal (SIF) do país. Este número chegou a
80 no final dos anos 70 e 116 ao final dos anos 80 (HÜBNER, 2001).
Fonte: Bassi, Silva e Santoyo (2013), adaptado de Schorr e Hélio, 1999 (apud Coelho e Borges, 1999), Rizzi
(1993) e Santini (2006).
Fonte: USDA/ABPA.
Aproximando a visão para nossa avicultura interna, nota-se que o panorama dos
últimos anos descaracterizou um pouco o ritmo de crescimento que sempre foi costumeiro
para o setor. Alta nos custos de produção e embargos internacionais, além de constantes
greves e paralisações, interromperam a escalada anual da produção. Por outro lado, novos
mercados foram abertos, alguns foram recuperados e grandes importadores (como México
e China) ampliaram o leque de plantas industriais habilitadas para venda. Além disso, a
20
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: ABPA.
1
Shikida, Paiva e Araújo (2016) analisaram a evolução histórica do preço do boi gordo no estado de São
Paulo. Apontaram um coeficiente de variação de preço da ordem de 46% no período de 1973 até 1994 e de
12% entre os anos 1994 e 2012.
21
REGIÃO TON. %
Oriente Médio 1.572.301 44,6%
Ásia 1.229.323 34,9%
África 493.489 14,0%
Europa (extra UE) 132.449 3,8%
UE 28 96.916 2,7%
Oceania 2.321 0,1%
TOTAL 3.526.799
Quando se analisa a produção por estados brasileiros, percebe-se que a região Sul tem
domínio na produção, com quase dois terços do total produzido (63%), conforme
apontado pela Tabela 4. O Distrito Federal , apesar de sua pequena extensão, tem
produção maior que qualquer outro estado do Norte e do Nordeste brasileiro. A
concentração de uma indústria tende a gerar menos custos por unidade e maiores ganhos,
devido aos ganhos de escala. Esse fenômeno pode ser observado no Brasil: “Em 1992, 5%
da área total do país possuía 78% da população de frango; em 2001 essa mesma área
abrigava 85% do total” (GERBER, OPIO E STEINFELD, 2007).
POSIÇÃO ESTADO %
1 Paraná 32,46
2 Santa Catarina 16,24
3 Rio Grande do Sul 14,13
4 São Paulo 9,22
5 Minas Gerais 7,25
6 Goiás 7,22
7 Distrito Federal 1,67
8 DEMAIS 11,81
Fonte: ABPA.
Tabela 5 – Maiores Abatedouros de Frango do Brasil nos anos 2014 e 2015 (milhões de
cabeças)
2014 2015
EMPRESA TOTAL EMPRESA TOTAL
BRF 1.664 BRF 1.792
JBS(Seara) 954 JBS(Seara) 975
Aurora 215,3 Aurora 187,9
GT Foods 122,3 Big Frango* 168
Copacol 98,7 Céu Azul* 120
C-Vale 98,5 Tyson* 104
SSA 70,3 Copacol 95
Zanchetta 70,1 Globo 73,7
Lar 69,9 C-Vale 58
Friato 59,1 Rio Branco 55
diferença entre as empresas o Gráfico 2 traz a comparação entre os dois grupos com a
terceira maior indústria.
1792
1367
188
BRF JBS Aurora
Fonte: Avisite.
Por último, apontamos o mercado no Distrito Federal. A despeito de Brasília ser uma
metrópole com baixa atividade industrial, é preciso destacar a importância da avicultura
na balança comercial, já que é o principal produto de exportação do Distrito Federal.
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, no primeiro
semestre de 2016, este setor representou mais de um quarto (28,4%) do total de todos os
produtos exportados na capital federal.
Brasília é a unidade da federação com o maior PIB per capita do Brasil (IBGE, 2016),
o que, por si só, já a torna um mercado consumidor atrativo para o varejo. Na parte
produtiva, o Distrito Federal conta com duas plantas industriais avícolas instaladas.
Ambas se encontram em cidades satélites do Distrito Federal: Samambaia sedia a JBS
Foods e Brazlândia a Bonasa Alimentos S/A. Em ambas as empresas o modo de criação é
feito por aviários, sistema usual no Brasil. Os dados de produção foram levantados por
meio de entrevistas, diretamente com funcionários das empresas, e representam uma
estimativa aproximada relativa a março de 2017. Um maior detalhamento do setor ficou
24
PRODUTORES
FRIGORÍFICO ABATE (CABEÇAS/DIA)
ASSOCIADOS
JBS 215.000 99
BONASA 36.800 43 (152 aviários)
Ainda sobre a JBS, cada aviário tem um tamanho médio de 1937m² e abriga cerca de
25.000 aves. O ciclo de criação, do nascimento ao abate, é chamado de lote e sua duração
gira em torno de 90 dias. Nos últimos anos o quadro pessoal da empresa teve diminuições
devido à recessão e atualmente emprega cerca de mil pessoas.
2
Em visita pessoal ao escritório da Associação das Empresas do Distrito Federal, em 10 de março de 2017,
a única funcionária afirmou que a associação é dispersa e que a única atividade que acontece de forma
regular é um encontro semanal da diretoria, para debate de números e do mercado para o setor.
25
Todos os estados lucram com os ganhos econômicos advindos de tal atividade, inclusive
com grande número de exportação, mas também precisam conviver com as externalidades
negativas advindas dos processos industriais. O manejo hídrico está entre as principais
preocupações.
26
3
Autor e educador ambiental americano. Para mais informações: www.worldpeacediet.com.
27
Vejamos frase de Kip Andersen, um dos autores do filme: “Eu descobri que um
hambúrguer de 114 gramas requer quase 2.500 litros de água para ser produzido. Eu tenho
tomado banhos curtos para economizar água e descubro que comer apenas um
hambúrguer é equivalente a dois meses inteiros de banho”.
Produtos animais requerem uma quantidade maior de água para serem produzidos, em
relação a plantas e vegetais (GERBENS-LEENES, MEKONNEN e HOEKSTRA 2013).
O aumento constante na produção é acompanhado de uma busca intensiva por menores
custos de produção, que tende a gerar produções mais eficientes. Sobre isso:
Mesmo com essa preocupação de se obter uma produção mais sustentável com menos
desperdício, os efeitos locais de um abatedouro de frango podem ser muito nocivos. Tais
plantas industriais podem ser atração de uma série de animais indesejados, como roedores,
aves e insetos. Estes animais carregam com eles uma série de doenças e podem ainda
gerar desequilíbrio de fauna e aspectos visuais negativos. O mau odor também é problema
crônico dos abatedouros de frango, demandando esforço das empresas para combater tal
externalidade. Gerber, Opio e Steinfeld (2007), afirmam que um dos problemas mais
desagradáveis das indústrias é o odor, devido a difícil definição de suas fronteiras. Por
serem gases, é difícil a mensuração de quão longe o cheiro pode ir. Não sendo vistos,
geralmente o mau odor proveniente de um abatedouro passa despercebido da percepção
geral das pessoas. Quem realmente sofre com isso são os habitantes das redondezas de
bairros industriais, na maioria das vezes, populações pobres.
A disposição das sobras da produção também pode se tornar um problema. As
carcaças de frango, por exemplo, são motivo de grandes preocupações de indústrias
avícolas (GERBER, OPIO e STEINFELD, 2007). Entre as soluções existentes, muitas
empresas optam pelo mais simples, que é o enterro dos restos. Essa alocação pode trazer
prejuízos à saúde humana, ao meio ambiente e à qualidade da terra e água da região.
Segundo Bellaver (2002), estima-se no Brasil haver uma produção de cerca de 16 milhões
de toneladas de carne por ano, entre suínos, aves e bovinos. Assumindo uma média de
28
Uma inovação importante trazida com a PNRS foi no campo econômico. Nesta nova
política, o seguimento de normas ambientais ou ações voluntárias de proteção à natureza
podem significar o recebimento ou não de linhas específicas de financiamento. Empresas
em débito com suas obrigações ambientais ficam restritas de receber determinados
benefícios fiscais. Em contrapartida, empresas que necessitam financiamentos para
incorporação de novas tecnologias menos poluidoras têm facilidades de acesso e juros
reduzidos na captação de dinheiro junto ao Estado. Cajazeira (1997 apud DAL PIVA et
al., 2007) afirma que as recentes preocupações em relação às questões ecológicas foram
transferidas para as indústrias sob as mais diversas formas de pressão:
- Legislação (crescente aumento das restrições aos efluentes industriais pelas agências
ambientais).
Mas também existe o outro lado da moeda. As indústrias ainda são uma das forças
mais poderosas atuantes em nossos sistemas político e econômico. Postergam o máximo
30
Entra em pauta agora a relação entre oferta de água e a avicultura, quando tenta-se
mostrar qual o caminho que o recurso percorre no processo, do início (captação) ao fim
(despejo). A partir daí, conceitos, gargalos e tendências futuras serão debatidos. Devido à
necessidade de constante limpeza, o abate de animais é um grande consumidor de água.
Esse recurso é utilizado durante todo o processo, em várias finalidades: limpeza dos
animais ainda vivos, higienização das estruturas de transporte, melhor remoção de
vísceras, constante limpeza de máquinas para evitar acúmulo de resíduos, entre outros.
Mancuso e Santos (2003), afirmam que 65% de toda a água consumida no mundo é
utilizada pela agricultura, 25% pelas indústrias e os 10% restantes para fins urbanos.
Segundo o “Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos
Hídricos, Água e Emprego”, lançado em março de 2016, o setor de indústria e
manufaturados no mundo é responsável pelo uso de 4% de todas as reservas de águas
globais. O mesmo estudo estima um aumento desse uso na ordem de 400% até 2050. O
peso das indústrias cárneas no uso total de água em indústrias de alimentos e bebidas
31
A avicultura mundial vem crescendo nas últimas três décadas, numa média de 5% ao
ano (GERBER, OPIO e STEINFELD, 2007). Este aumento é maior do que os
experimentados pela bovinocultura e suinocultura. Em 1994, a carne de frango
representava cerca de 25% do total de carne produzida no mundo (RICHARD e
ROTHWELL, 1995). Em 2010 essa proporção aumentou, chegando a cerca de 33% da
produção mundial (PARANÁ).
Kist et al (2009) afirmam que os pontos críticos do manejo hídrico na avicultura estão
situados no processo industrial (principalmente escaldagem e pré-resfriamento) e em
alguns momentos nas estações de tratamento, como disposição de resíduos líquidos e
alocação de água tratada não reutilizável. Com base nesses pontos críticos e nas leituras
realizadas, é possível afirmar que provavelmente um dos setores que mais irá crescer nos
próximos anos, dentro da indústria de carne, é relacionado a tratamento e reuso de água
residual.
relação aos volumes necessários e custos associados (KRIEGER, 2007). Portanto visando
o cumprimento de normas sanitárias, diminuição de custos e mitigação de efeitos
ambientais negativos, é fundamental a racionalização do uso da água nas unidades.
Ramalho (1977 apud SILVEIRA, 1999) traz uma lista mais detalhada dos principais
parâmetros físico-químicos que devem ser analisados num efluente, listados na Tabela 7.
Estes indicadores é que devem estar listados nas regulações ambientais, cada qual com seu
limite máximo ou mínimo, a depender da natureza do poluente, especificidades locais e
nível de atuação do órgão ambiental. A realização das análises necessárias para determinar
cada parâmetro é padronizada internacionalmente segundo os “Standard Methods for the
examination of water and waste water”, da American Public Health Association (APHA-
AWWA-WEP, 1995).
(BUSTILLO e MEHRVAR, 2015). Essa água de abatedouros, na quase maioria dos casos,
vem repleta de matérias orgânicas altamente putrescíveis (NAGEL, 2003) e decompõem-
se em poucas horas, criando um cheiro nauseante, deixando o ambiente irrespirável. O
descarte desse resíduo diretamente em corpos d´água representa um verdadeiro desastre
ambiental para a região atingida. As autoridades sanitárias enxergam neste tipo de
indústria, os grandes poluidores de mananciais de águas para abastecimento.
(SCARASSATI et al., 2003). O maior desafio, hoje em dia, tem sido eliminar os resíduos
de forma correta e reutilizá-los sempre que possível, aliando baixo custo e eficiência
produtiva (SAMPAIO et al., 2005). Diante disso, na gestão hídrica o tratamento de
efluentes é primordial.
Eis alguns dos motivos para que uma indústria trate sua água residual (DONAIRE,
1995 e CARVALHO, 1997 apud SILVEIRA, 1999):
- obediência à legislação ambiental;
- limitações quanto à disponibilidade de água;
- questões sociais quanto à localização da empresa;
- recuperação ou reutilização da água;
- imagem da empresa, a qual em função das normas ISO 9000 e ISO 14000 está
35
Pela sua alta nocividade, a água residual de indústrias de carne (ARIC) tem um
complexo processo de tratamento. Tratamentos primários são importantes para melhorar
consideravelmente a eficiência do processo. Depois disso, vem uma etapa secundária e
eventualmente até a terciária. O que ocorre muitas vezes é que apenas um método de
tratamento não se mostra eficiente. Por isso, métodos combinados são usuais na indústria,
fazendo uma junção de diferentes tecnologias em diferentes partes do processo, de acordo
com a necessidade e a capacidade de cada um. A seleção de um ou mais tipos de
tratamentos em particular, vai depender das características da ARIC, da tecnologia
disponível e das legislações vigentes no local (BUSTILLO et al., 2015), uma vez que
vários fatores podem afetar o desempenho do sistema (SUBTIL et al., 2009).
Os principais fatores que devem ser levados em conta ao se escolher uma tecnologia
para tratamento de água residual devem ser (OLLLER et al., 2011):
- característica da água residual,
- tratamentos convencionais disponíveis,
- flexibilidade de tratamentos,
- facilidade de descontaminação,
- eficiência final na descontaminação do efluente,
- viabilidade econômica,
- avaliação do ciclo de vida do produto para determinar a compatibilidade ambiental do
tratamento proposto,
- necessidade de uso de água tratada.
Segundo Nunes (2012 apud SILVA 2015) dependendo das condições das águas
receptoras e da eficiência dos processos, pode-se classificar o tratamento de águas
residuais industriais e de esgotos sanitários nos seguintes níveis ou fases:
36
sobre a escolha do melhor processo, do ponto de vista ambiental e com o menor custo
possível.
Por tratar-se de um tema recente e ainda acalorado, novas tecnologias sobre tratamento
de resíduos surgem a todo instante. Entre as novidades de tratamento de água residual, os
processos oxidativos avançados (POA) estão entre os mais recentes e eficientes. Este
método utiliza a radiação ultravioleta para realizar a fotólise do peróxido de hidrogênio
para a formação dos radicais hidroxila (HO-) (SILVA, 2015). Esses radicais livres atacam
o composto orgânico levando a sua oxidação completa, produzindo espécies inócuas,
geralmente CO² e H²O². Ou ainda quando há uma oxidação apenas parcial, ocorre
aumento de biodegradabilidade, permitindo então, a remoção dos poluentes por meio
biológico. Os pontos positivos dos POA são sua natureza de tratamento destrutivo, não
apenas de transferir o poluente de uma fase para outra (SILVA, 2015), além não
concentrarem resíduos para posterior tratamento. Como ponto negativo, destaque para o
capital intensivo necessário
Uma boa explicação deste crescimento está nas novas regulamentações que trazem
ganhos econômicos legais a quem atende os padrões ambientais exigidos. Portanto, este
setor industrial brasileiro, que já possui tecnologia de ponta e destaque mundial promete
muito aquecimento para os próximos anos. Em reportagem na Revista Avisite, edição de
maio de 2015(p.32), Luiz Henrique Fronterotta, gerente de soluções para tratamento de
água da BASF S.E., afirma: “Atualmente existem tecnologias para tratamento de qualquer
tipo de efluente e qualquer tipo de água. Entretanto existem limitações legais para reuso
de água, principalmente em indústrias alimentícias...”.
Baseado nesses dados, pode-se afirmar que é importante uma empresa saber gerir e
utilizar da forma mais eficiente possível os descartes. Ganhar dinheiro com seus resíduos
é vital para um mercado tão competitivo como o do frango. Esses resíduos possuem um
incontável número de destinações. São, por exemplo, matérias-primas para uma série de
outras indústrias, incluindo alimentação humana e animal. Agregar valor aos subprodutos
resultantes dos resíduos é fundamental, e um jeito de fazer isso é transformando-os em
matéria prima de indústria “seguinte”. Teremos então novos produtos com valor agregado
e não apenas commodities (BELLAVER, 2002).
Emissions Research Initiative), por exemplo, é um projeto que nasceu do, então novo,
conceito de desenvolvimento sustentável, aclamado na Rio 92. Foi criado pelo belga
Gunter Pauli e equipe, em 1994 no Japão. Baseia-se na busca de um modelo cada vez
mais circular e integrado de troca de massas entre os sistemas humanos, inspirados nos
ciclos da natureza, onde tudo se renova. Gunter (1997) afirma com propriedade em seu
artigo: “[...] a indústria precisa atender aos anseios e desejos do mercado consumidor, isso
significa que ela não pode gerar poluição e ameaças à saúde”. Baseado nessa ideia, busca-
se a completa eliminação dos resíduos produtivos, ou segundo as palavras do autor: “é a
introdução de todas as matérias primas e seus resíduos dentro do próprio produto”. Com
esse ciclo completo, os resíduos deixam de ser problemas e passam a ser solução. É
possível produzir mais com a mesma quantidade de insumos, ou até menos.
Para citar um exemplo de complexo industrial seguidor de tal conceito, pode-se citar
Masdar City, cidade de aproximadamente 40 mil habitantes que se situa nos Emirados
Árabes Unidos, no entorno de Abu Dhabi. Essa cidade é um projeto do governo dos
Emirados Árabes Unidos, como forma de diversificar sua economia e se preparar para o
pós-petróleo. É a primeira cidade do mundo com ambição de ser emissão zero de carbono
e modelo mundial de cidade e economia completamente sustentáveis. Segundo a revista
Time Science, o projeto, lançado em 2007, vem enfrentando algumas dificuldades no seu
desenvolvimento, mas ainda assim “tem um valor enorme como um grande laboratório
vivo para ideias ‘verdes’”.
A simbiose industrial avança neste mesmo sentido: fechar o ciclo das matérias, o
máximo quanto for possível. Em Brasília, por exemplo, a empresa Avetec Alimentos é
responsável por grande parte das sobras dos processos produtivos das duas unidades
industriais avícolas. Essa empresa é responsável pelo recolhimento de resíduos e vísceras
das aves abatidas. Essas sobras são reprocessadas e dão origem a novos produtos, como
rações por exemplo.
hídricos. O padrão da água e do tipo de seu reuso vai depender especificamente de cada
indústria. O reuso de água gera ganhos ambientais, econômicos e sociais. Desde 2005,
uma legislação específica sobre o tema foi lançada pelo Conselho Nacional de Recursos
Hídricos, estabelecendo, normas, diretrizes e critérios gerais acerca do reuso da água no
Brasil (SILVA, 2015).
Pressões internacionais levam a uma busca por tecnologias mais eficientes na gestão
hídrica das indústrias brasileiras. Veja o relato de Dal Piva et al. (2007), num trabalho de
análise de implantação de SGA em um abatedouro de frangos no Mato Grosso do Sul que
exporta 97% de seus produtos:
Esse tipo de pressão, exercido por mercados consumidores externos, é essencial para
as indústrias brasileiras que querem ser competitivas e abocanhar mercados em países
desenvolvidos, os mais exigentes na questão ambiental. Apesar da importância da
destinação consciente dos resíduos, face às exigências internacionais, os avanços
brasileiros ainda são limitados nesse campo (SAMPAIO et al., 2005). Essa é, ou pelo
menos deveria ser, preocupação crescente da indústria avícola nacional.
4. O CONCEITO DE PEGADA
Neste sentido:
essa proporção fica acima de 70%. Já o sistema misto ocorre entre essas duas
classificações. Os sistemas industriais, por serem intensivos, tendem a ter menor PH,
mesmo com a alimentação sendo basicamente composta por rações. A maior parte da
produção de frango no mundo ocorre em sistemas industriais (GERBENS-LEENES,
MEKONNEN e HOEKSTRA 2013).
Como dito acima, a água verde representa a maior parte da pegada hídrica dos países
avaliados. Já o uso de água azul é baixo, e a maioria do seu uso ocorre antes de chegar à
indústria. Numa escala global, o uso de água azul pela agricultura representa 70% do total
47
utilizado. (DOREAU et al., 2012). Essa água consumida no processo produtivo, por ser
“invisível”, tende a ser negligenciada (DA SILVA et al., 2012). Além disso, Mekonnen e
Hoekstra (2010) mostraram que produtos animais têm maior pegada hídrica do que
plantações, conforme demonstrado na Tabela 10.
5,020
4,494
2,672
2,152
PRODUTO PH PRODUTO PH
ANIMAL (L/KG) VEGETAL (L/KG)
Couro bovino 16.600 Arroz 3.400
Carne de boi 15.500 Amendoim 3.100
Carne de cordeiro 6.100 Trigo 1.300
Queijo 5.000 Milho 900
Carne de porco 4.800 Maçã ou pera 700
Leite em pó 4.600 Laranja 460
Carne de cabra 4.000 Batata 250
Galinha 3.900 Repolho 200
Ovos 3.300 Tomate 180
Leite 1.000 Alface 130
O conceito de pegada ambiental também sofre algumas críticas. Uma das principais
críticas diz respeito à padronização dos cálculos. Para poder ser comparado, um indicador
deve possuir uma padronização, afim de não corromper os resultados. E observa-se que
ainda não foi possível chegar a um consenso. Chapagain (2014) diz que obstáculos
metodológicos ainda persistem. Ele cita por exemplo a dificuldade de se fazer um
protocolo para a água cinza, diante da diversidade de regulações diferentes mundo afora.
Merret (2003) e Wichelns (2011 apud HOEKSTRA, 2017) afirmam que os conceitos
de água virtual e pegada hídrica são redundantes, portanto a PH nada acrescenta ao
entendimento. Wichelns (2015 apud HOEKSTRA, 2017) afirma ainda que é impossível
49
afirmar que países importam água através de produtos pois, segundo ele, a água virtual
não existe.
5. ESTUDO DE CASO
5.1 MÉTODO
Existem pelos menos duas metodologias para se calcular a pegada hídrica de animais.
Uma primeira corrente se baseia na água necessária para produzir todos os derivados e
produtos finais de determinada quantidade de carne (RENAULT E WALLENDER apud
PALHARES, 2012).
O método de cálculo mais encontrado nas literaturas realizadas é que soma o consumo
de água cinza, verde e azul, conforme padronização da FAO. Está água é consumida de
três diferentes formas: água necessária para produzir o alimento do animal, água bebida
pelo animal e água utilizada nos processos de produção de carne. A água consumida para
alimentação refere-se à água necessária para o cultivo de grãos, a água bebida é a que o
animal consome durante sua vida para saciar a sede, por fim a água usada nos processos
refere-se a todos os processos em que o recurso é necessário: processo industrial,
transporte, higienização, climatização das aves, facilities, etc. O presente estudo optou por
este segundo método, baseado em Palhares (2012) e Gerbens-Leenes, Mokonnen e
Hoekstra (2013).
Depois disso, dois ajustes foram necessários para o cômputo da ração. O primeiro foi
fazer a equivalência do consumo em relação apenas ao farelo da soja, e não todo o grão.
Segundo índices dos Fatores de Conversão das Commodities Agropecuária (FAO, 1996
51
apud PALHARES, 2012), considera-se que no caso brasileiro, de cada grão de soja
produzido, 77% converte-se em farelo e 23% em óleo. Portanto da água relativa à soja,
apenas 77% do resultado entraram no cálculo.
Foi preciso também definir composições percentuais de soja e milho no total da ração.
A composição das rações depende de condições propriamente estabelecidas por cada
empresa. Depende também da idade dos lotes e do seu fim. Por exemplo, em lotes de aves
de corte não se costuma usar trigo na ração. Esse cereal geralmente é usado apenas na
alimentação de matrizes, onde o objetivo primeiro não é engordar as aves, mas sim formar
ovos. De acordo com Palhares (2012) os dois principais componentes da dieta de aves são
o milho moído e o farelo de soja. Em uma recomendação técnica, a Embrapa sugere que
para qualquer tipo de ração em sistemas caseiros, mais de 84% da composição é de milho
e farelo de soja. No presente estudo usou-se a proporção de 65% da ração correspondente
ao farelo de milho e 30% ao farelo de soja, seguindo composição média de uma das
empresas pesquisadas e que está de acordo com outras publicações.
Por fim, Mielle et al. (2010 apud PALHARES, 2012) trazem mais dois dados sobre
aviários da região central do Brasil: consumo médio de 2 litros de água por cabeça para
resfriamento das instalações e consumo de 3,2 litros de água por ave, para lavagem e
desinfecção de aviários, entre os lotes.
5.2. RESULTADOS
Na primeira empresa pesquisada são aproximadamente 210.000 aves abatidas por dia.
Nesse abate, dois tipos de frango são produzidos: um com carcaça de 1350 gramas e outro
com carcaça de 2850 gramas. A proporção aproximada de produção é 62% do frango
pesado e 38% do mais leve. Isso resulta num peso médio de 2.280 gramas por ave.
O gasto de água na unidade gira em torno de 5.500.000 litros por dia. Cerca de
1.320.000 litros são destinados ao setor de salsicharia, infraestrutura e administração, já na
linha de produção temos um gasto aproximado de 4.180.000 litros de água por dia.
outra empresa. Durante a vida, cada ave consome aproximadamente 5 quilos de ração e
12,5 litros de água. A ração é produzida na própria empresa. O consumo total de ração em
abril foi superior a 5.200 toneladas.
Na Tabela 11, juntamos os dados das duas empresas para montar um panorama
comparativo de quão longe elas estão da meta desejável de consumo de água no processo
industrial, por ave. A distância da meta é quanto cada empresa deve melhorar,
percentualmente, se quiser ficar dentro do número considerado eficiente. Segundo os
entrevistados das duas empresas almeja-se um número ideal entre 12 a 15 litros por ave.
Para o cálculo, a meta de 15 litros de água por ave foi referência.
Tabela 12 – Panorama de consumo diário de água e comparação com a meta por ave
CONSUMO TOTAL
AVES ABATIDAS ÁGUA CONSUMIDA DISTÂNCIA
EMPRESA DE ÁGUA
(por dia) (por ave) DA META
(litros/dia)
BONASA 36.000 720.000 20 25%
JBS 215.000 5.500.000 19 21%
5.3. DISCUSSÃO
Em face do que foi aqui exposto e dos debates acerca de papel das empresas e dos
governos, é possível tecer algumas considerações sobre o papel e a viabilidade do
conceito atual de pegada hídrica. Não se deseja com isso fazer proposições inquisitivas,
mas sim aumentar o debate sobre o recurso mais importante da terra, além de fomentar
possíveis futuros estudos.
1 – Primeiramente, acho importante dizer que a pegada hídrica já mostrou sua utilidade
pois incentivou a discussão sobre o uso da água. Todo novo conceito ao nascer gera
discussão e demanda lapidação, mas no meu entender é clara a importância do conceito,
mesmo ainda estando incompleto.
adequada trará problemas. Os conceitos são diferentes, mas só serão eficazes se atuarem
juntos.
3 – A oferta hídrica local é um ponto muito importante. Talvez seja a maior qualidade da
pegada. Ela servirá de base para a sociedade planejar sua captação de água com a
capacidade de suporte de seus corpos hídricos, de preferência de forma antecipada. Isso
pode servir para pessoas, cidades, bacias hidrográficas, países e até para o mundo. A
importância está em saber com clareza qual o montante de água demandado e qual a
capacidade suportada, sem prejuízo, pela natureza. Hoekstra (2017) com propriedade
afirma que, na medida que a energia renovável está substituindo os combustíveis fósseis, é
sobre essas novas fontes de energia que devemos concentrar nossa atenção.
5 – Não poderia deixar de falar da oportunidade de inclusão dos custos de produção que
podem ser advir de desdobramentos da PH. Economistas afirmam que esta é uma das
maiores deficiências da ferramenta. Internalizar os custos ambientais a um produto é dos
maiores desafios atuais do movimento ambientalista. A PH pode ser a ferramenta que
auxilie a fazer essa ponte entre uso e pagamento do recurso natural, envolvendo empresas
e governos. De acordo com a corrente da Economia Ambiental Neoclássica, o ponto
fundamental para manejo sustentável de nossos recursos naturais é a introdução das
externalidades negativas que o sistema econômico provoca no ambiental. Isso se dá
através de cobranças a quem extrai o recurso do meio ambiente. No Brasil a cobrança pelo
uso da água é regulamentada, mas encontra dificuldades para ser implementada. Segundo
Silva (2015), por representar um aumento no custo produtivo, as empresas enfrentam
dificuldades para se adequar aos padrões exigidos, já que não podem simplesmente
repassar o custo ao consumidor final, devido à grande concorrência
55
6 – Por fim, o conceito pode não estar ainda completo, mas que outra ferramenta melhor
existe? Apesar de apresentar falhas e inconstância, a PH se mostra válida para o futuro.
Entre os vários motivos, pode-se citar a análise da pressão hídrica global, não mais
limitado apenas a regiões ou bacias hidrográficas, além da introdução do debate acerca da
água necessária para toda a cadeia de vida de um produto, não apenas ao processo
produtivo.
56
CONCLUSÃO
Procurou-se com este trabalho trazer uma visão mais clara da pegada hídrica e testar
sua efetividade frente a outras variáveis, como localização e gestão de resíduos. No
quesito ambiental, traçou-se um paralelo entre sustentabilidade ambiental e ganhos
econômicos. Pôde-se constatar o surgimento de uma nova indústria, ao redor de setores
industriais já existentes, responsável pelo tratamento e redução de descargas industriais na
natureza. Como já citado, o tratamento de resíduos industriais é questão sine qua non na
busca contínua do desenvolvimento social.
A pegada hídrica clama oferecer uma medida de quanta pressão um produto faz sobre
seu sistema hídrico. É importante que se tenha isso em mente quando tratar do assunto.
Essa seja talvez a grande utilidade na análise da pegada hídrica, mas talvez seja preciso ir
além, a fim de extrair toda a sua utilidade. De todo modo, ela tem importância por mostrar
o consumo hídrico por trás de uma cadeia produtiva. Este caráter didático ajuda a lembrar
da água que “silenciosamente” é gasta em processos produtivos, mesmo os naturais. Essa
água oculta é de suma importância para continuidade de oferta hídrica local.
Uma das grandes críticas que o conceito sofre é por não trazer a discussão de custos
para o debate. Isso poderia ser a ferramenta ideal para planejar e equilibrar a oferta hídrica
local com a demanda de água pela indústria. Chegar ao preço de cobrança ideal e analisar
sua viabilidade são possíveis temas futuros. O fato é que esses custos precisam ser
incorporados.
processos existentes hoje em dia. Constatou-se que ambas demandam atenção nos
cuidados com efluentes e resíduos industriais, bem como com o setor ambiental como um
todo. Ambas possuem um setor (denominado) ambiental, com profissionais
especificamente designados para o tema.
Talvez caiba ao nosso setor agroindustrial, especificamente de carnes, ser mais uma
vez expoente de tendências futuras. Assim como na década de 70 e 80 as indústrias
avícolas representaram um grande avanço para o sistema industrial brasileiro, neste atual
momento de preocupação com o futuro dos recursos do planeta, este setor precisa de
estudo e planejamento para adequar-se a novos padrões que estão por vir. Afinal de contas
existe uma grande aderência em torno da preocupação ambiental. É uma demanda da
sociedade atual e das vindouras. Com propriedade, Muller (2007) afirma em seu livro:
“Quem não vê com simpatia a combinação de eficiência com a equidade e defesa do meio
ambiente, especialmente quando não se explicitam os custos [...] disso? ”.
Um exemplo de tecnologia que pode ser incorporada pela indústria são os processos
oxidativos avançados. Está entre as mais modernas tecnologias existentes e demonstra
bons resultados. Requer alto aporte inicial de capital, o que pode ser um empecilho, mas
nesses momentos é preciso que a política do país atente para isso. Diante do esperado
aumento exponencial da demanda de alimentos no mundo, nas próximas décadas, a
redução de resíduos será cada vez mais importante. Bustillo-Lecompte e Mehrvar (2015)
afirmam que a os processos oxidativos avançados são notadamente reconhecidos por
apresentarem excelentes resultados em questões como avançada degradação, reuso da
água e controle dos processos de poluição.
58
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Na Austrália, o consumo per capita de carne de frango passou de 10,5 para 37,2 quilos
por pessoa por ano, no intervalo de 1969 a 2009 (BENGTSSON,2012). Por isso a cadeia
de produção de carne é tema de acalorados debates por lá. O país, de proporção
continental a exemplo do Brasil, tem regiões que sofrem com escassez de água e terras
cultiváveis. A desertificação no interior da Austrália é fato conhecido.
A despeito disso, a Austrália é uma das maiores e mais modernas indústrias de carne
do mundo (WIEDEMANN et al.,2017). Por isso, o uso da água nessas indústrias de carne
ganha ainda mais relevância em ambientes áridos. Wiedemann et al. (2017) buscaram
mensurar o tamanho da pressão hídrica que a indústria do frango exerce no país, em dois
diferentes estados com dois diferentes modos de criação. Os autores queriam com isso,
atentar para o fato da especificidade da PH de cada região, em países com regiões tão
diversas, como é o caso do pais da Oceania.
Ainda na década de 80, baseados na então nova Política Nacional do Meio Ambiente,
foi editada a Resolução CONAMA nº 20/1986, que tratava da classificação e
enquadramento dos corpos d'água no Brasil. Já em abril de 1987, a norma ABNT
NBR9800:1987, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, esclarecia padrões
mínimos de qualidade de água, para que a mesma pudesse ser lançada no sistema público.
Eis o objetivo da norma: “Esta Norma estabelece critérios para o lançamento de efluentes
líquidos industriais no sistema coletor público do esgoto sanitário”.
A resolução fala ainda que a competência fica a cargo da devida autoridade ambiental,
e que esta pode ditar parâmetros maiores ou menores que os estabelecidos, desde que
devidamente fundamentados. Além de definir padrões específicos, o órgão ambiental
local, estadual ou nacional deve controlar e fiscalizar a atividade industrial e doméstica, a
fim de garantir o cumprimento da lei.
Aqui no âmbito local, ainda não existe lei específica sobre lançamento de efluentes
líquidos industriais. Existe a Lei 3.232 de 2003 que versa sobre Política Distrital de
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Resíduos Sólidos e a Lei 4.285 de 2008 dispõe sobre recursos hídricos e serviços públicos
decorrentes. Ambas tratam de temas próximos, mas não tocam diretamente do nosso
assunto. Depois de mostrada a legislação brasileira, no capítulo seguinte trata-se da
legislação em outros dois países.
China
- leis especiais: trazem normas, limites, obrigações sobre assunto específico, como
descarte de água residual.
Especificamente falando sobre água, existe a lei Water Pollution Prevention and
control Laws, criada em 1984 e revisada em 1996. Segundo a lei ambiental de 1989, os
governos locais é que ficam responsáveis por criar padrões mínimos e máximos de
descarte de água industrial, e fiscalizá-los. Esses limites devem ter padrões mais rígidos
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para poluentes que constam numa lista nacional padrão de descartes. Nesta regulação,
também deve constar um padrão mínimo de qualidade ambiental da água e um padrão
máximo de poluentes presentes em água residual.
O padrão chinês deve conter no máximo 29 poluentes, com seus limites sendo
aplicados a todos os setores industriais. A água é dividida em seis padrões diferentes de
qualidade, onde o primeiro é o mais rígido e o sexto o mais flexível. De acordo com esses
níveis é estabelecida uma relação entre padrão da água e limite de padrões.
A China tem oito programas nacionais que atuam no âmbito de controlar as descargas
industriais. No caso do descarte da água, por exemplo, existe um programa que atua
monitorando as empresas através de estações ambientais de monitoramento. Taxas
ambientais são cobradas de acordo com a carga de descartes, e dentro de um período
fixado, os padrões são verificados. As estações locais ambientais também são
responsáveis por penalizar empresas que não se enquadram nos padrões exigidos.
Estados Unidos
O início da regulação no lançamento de efluentes nos EUA se deu nos anos 40 com a
proclamação do Clean Water Act para: “recuperar e preservar a integridade química, física
e biológica das águas do país”. Tal documento foi lançado em 1948 e teve uma edição
revista e ampliada em 1972. Este complemento à lei ocorreu em meio a décadas de
crescimento do debate ambiental americano. Definia a estrutura básica da regulação do
descarte de resíduos industriais em corpos d’águas, ditando novas diretrizes, além de
fiscalização e punições. Em 1974 a autoridade ambiental americana (Enviromental
Protection Agency - EPA) lançou o documento: “Diretrizes para lançamento de efluentes
para abatedouros e embaladoras”. Nesse mesmo ano também se iniciou a criação de
documento regulatório diferenciando o controle de carnes vermelhas ao de carne de aves,
mas o mesmo nunca foi implementado.