Don T Trust O Herdeiro - Luana Moriggi
Don T Trust O Herdeiro - Luana Moriggi
Don T Trust O Herdeiro - Luana Moriggi
Lia: Ele não entrou? Vai dizer que ele foi até a porta
da sua casa e foi embora? Tu não tentou nem pular
para frente?
Babi: Acordou, Bela Adormecida? Apagou e não
viu que outro agente veio com ele, né?
*
Eu olhei para o garoto de 16 anos à minha frente, magrelo, com
roupas largas demais e alguns tiques. Assim como a maioria dos
adolescentes, pensava que as respostas que possuía eram as corretas para
tudo na vida. O homem, na faixa dos cinquenta anos, em seu terno risca giz
feito por algum alfaiate particular, ao seu lado não colaborava.
Dezesseis anos… Foi quando tomei meu primeiro porre da vida. E
descobri o quão intolerante a família da minha mãe era com desvio de
comportamento e falta de responsabilidade. Para eles, ou você sabe beber,
ou não bebe nada. Era inaceitável perder o controle de suas ações.
“Senti primeiro o chão duro e frio embaixo de mim. A água
congelante molhando meu rosto veio em seguida. Ouvi o retumbar do balde
que foi jogado no chão. As botinas pretas apareceram no meu campo de
visão segundos antes de um jato forte de água ser direcionado na minha
barriga. Eu gritei. Implorei que parassem. O que segurava a mangueira,
Giovanni, possuía um sorriso sarcástico. O outro, Carlo, estava sério, de
braços cruzados com as mãos abertas abaixo das axilas. Ambos naquela
época já possuíam os braços tatuados até as mãos.
Eu me encolhi, só o que eu conseguia era colocar outro membro
como alvo.
Quando Carlo disse “chega”, o jato parou. Ainda levantava no
momento que comecei a vomitar em cima de mim, no chão…”
O filho do meu tio tinha um jeitinho peculiar para passar seus
ensinamentos. Uma coisa eu tinha certeza, os dois nunca teriam aceitado
que eu atropelasse um senhor, com idade para ser meu avô, uma família
para sustentar e amar, por estar embriagado. Senti um calafrio só de
imaginar o que poderiam fazer. Eles também não teriam aprovado minha
última bebedeira com consequências ainda indefinidas…
Mévio (eu gravava seus nomes, mas, ao pensar neles, sempre usava
aqueles nomes ridículos que a faculdade deixara gravado em meu cérebro)
olhava com soberba para a esposa/viúva do falecido sentada ao meu lado.
Ela relia o acordo. Se o assinasse, estaria aceitando não entrar com
nenhuma ação futura, não mencionar o ocorrido a outras pessoas e, o
principal, com o valor.
Um ótimo valor. Um dos mais altos que já vi pagarem em acordos
daquela espécie. Seria mais do que suficiente para arcar com seus gastos
mensais pelos próximos cinco anos, pagar o que faltava da escola dos filhos
e, se quisesse, pagar a faculdade para os dois.
Valor irrisório perto do que o pai de Mévio perderia se expusessem
seu bebê (continha ironia). Sua carreira política ganharia mais uma
rachadura.
— Rosa — chamei a senhora, tocando seu ombro. — Eu sei que nada
vai suprir seu marido e que o valor talvez não seja o que você estava
esperando. Você quer um tempo para pensar?
Ela negou. Eu podia ver o asco no franzir de nariz do garoto quando
ela assoou o nariz no lenço de papel. Com as mãos cerradas para controlar
minha vontade de puxar Mévio pela gola da camisa e deixá-lo desfigurado,
vi Rosa assinar todas as folhas à sua frente. O pai soltou um suspiro
bastante ruidoso, aliviado, e deu um sorrisinho satisfeito ao dar tapinhas nas
costas do filho, como se ele merecesse congratulações pela merda que
fizera.
Acompanhei Rosa até a porta. Ela se despediu de mim com um
abraço atrapalhado.
— Você é um bom menino. Obrigada por tudo. — Ela apertou minha
mão entre as suas e saiu.
— Perfeito! Você foi perfeito, Bianchi!
Foi a minha vez de receber uma batida forte nas costas como
parabenização. Sorri com um canto da boca, sem a menor disposição. O pai
de Mévio era cliente antigo do escritório.
Eu já avisei que nem sempre gosto do meu trabalho como advogado?
Um escritório daquele porte não ganhava força pelos clientes que eu
gostava tanto de defender. Mas sim com clientes do mesmo nível ou piores
que o pai de Mévio. Podíamos chamá-lo de Tibúrcio.
Tibúrcio nos pagava para evitar escândalos que sua imagem não
suportaria.
— Seu tio deve estar orgulhoso de você.
Infelizmente, sim. Ajeitei o botão do paletó. Para minha felicidade,
Neide surgiu, colocando a cabeça para dentro da sala. A senhora de meia
idade me conhecia a ponto de saber o momento exato de me salvar.
— Seu compromisso das 10h está aqui.
Até eu caía no tom sério dela.
— Estou indo. Senhores, bom dia.
O garoto mal levantou o rosto do celular. O pai ainda me deu mais um
daqueles sorrisos de deputado e um aperto de mão.
— Luísa está aqui e parece mais impaciente do que das outras vezes.
— Ela avisou enquanto caminhávamos até minha sala. Pelos seus lábios
franzidos, eu sabia quem era minha visita. — Eu preciso da sua assinatura
nesses documentos. — Ergueu a pasta preta fina de couro.
Minha cabeça doeu só de olhar para ela.
— Você sabe que hoje não é meu dia de trabalho, não sabe? — Ela
lançou um olhar sério que eu nunca teria coragem de discordar. — Posso
assinar depois?
— O que você acha?
— Uma hora e te libero mais cedo. — Tentei negociar, fazendo minha
melhor cara de menino pidão.
Ela sacudiu a pasta e praguejou:
— Você não vale nada, senhor Daniel.
Eu ri, pisquei o olho e entrei na sala. Luísa estava sentada na minha
cadeira, e se levantou assim que me viu. Caminhou na minha direção e eu
não demorei a puxar sua cabeça de encontro à minha, embrenhando meus
dedos no cabelo castanho, com a brutalidade e urgência que meu nível de
estresse demandava.
O bom de Luísa, era que ela já havia se acostumado à minha falta de
delicadeza na maioria dos nossos encontros. Fiz um caminho de beijos e
mordidas até o seio arrebitado pelo silicone colocado no ano passado, raspei
os dentes pelo bico endurecido que estava visível mesmo sob o tecido da
blusa social preta e do sutiã. Ela gemeu alto. Havia um prazer na morena
em causar uma pequena comoção quando começávamos algo na minha sala.
Ela se excitava ao deixar claro que eu estava acompanhado.
Para mim, não fazia a menor diferença. Dos homens da minha
família, eu era o discreto. Na última visita, meu primo se aproveitou da
saleta de café, deixando seu segurança na porta aberta só para que ninguém
atrapalhasse enquanto fodia uma das estagiárias. Virei Luísa para a mesa e
levantei a saia lápis cinza chumbo de uma vez. O tapa certeiro deixou uma
marca vermelha na nádega branca. Seu gemido foi ainda mais alto. Encapei
meu pau com uma camisinha que retirei da carteira, rasguei a calcinha
minúscula, esfreguei os dedos nos líquidos que molhavam a boceta depilada
e estoquei com força, arrancando mais um gemido potente.
Agarrei os cabelos com uma mão, retorcendo-o, puxando o tronco
dela contra o meu. Com a outra, aproveitava para apertar seus seios, sua
cintura e dar tapas na bunda que não era tão volumosa ou convidativa
quanto de Amélia. Péssima hora para pensar na ogrinha. Péssimas
lembranças para me dominarem. Mas era tarde demais. Quando percebi,
estava fodendo Luísa em um ritmo frenético, tentando afastar as memórias
que a cada vez ficavam mais vívidas. Os gemidos passaram a me
incomodar, porque não eram do mesmo timbre. Podia não ser o mais
correto, mas soltei o cabelo dela e abafei os sons com a mão. Luísa
empinou mais o quadril contra o meu corpo. Escorreguei a mão em sua
cintura pela lateral do seu corpo, voltando pela parte interna de sua coxa até
encontrar o clitóris inchado. Dedilhei, sentindo o corpo à minha frente
amolecer enquanto o meu continuava duro e continuaria, pois não era
dentro dela que eu queria estar.
Puto e frustrado, saí de Luísa e inventei uma desculpa qualquer para
tirar a camisinha e me arrumar sem ter gozado. Devia me considerar
incapaz de transar com outra mulher sem ser Amélia, ou estava muito cedo?
Capítulo 11│Amélia
Eu nunca liguei muito para a Itália ou o idioma italiano. Achava que
viajar para a Itália seria bom, mas não era meu primeiro destino quando me
perguntavam sobre qual lugar gostaria de conhecer. Normalmente respondia
Nova York. Os prédios enormes, os outdoors surreais, chamavam a minha
atenção. Eu precisava usar meu inglês além do trabalho, certo?
Então, passei a conviver mais com a mãe de Daniel, meio italiana,
meio importada da Suíça, com nome francês Adèle. A cultura que Adèle
trazia era forte. Ela viera sozinha para o Brasil, começou a vender a comida
que sabia fazer para poder se sustentar, até conseguir abrir o próprio
restaurante. Conheceu o marido, João, que pôde ajudá-la a concluir o sonho.
Hoje, possuía três restaurantes pela cidade que morávamos, cada um com
uma abordagem diferente. Mas seu xodó seria sempre o primeiro, Caruso,
voltado totalmente para suas origens da decoração ao cardápio.
Além da família dos meus amigos, praticamente todos os nossos
vizinhos eram ligados à terrinha em formato de bota. Daniel disse que
gostava da localização do apartamento, que adorava o clima um tanto
quanto nostálgico. Logo, não era estranho que eu começasse a aprender
palavras, reconhecer músicas e me ver sonhando em visitar o tal país, que
ele desconversava todas as vezes que eu comentava sobre poder ser um
destino de viagem.
A música que tocava em meu carro, Datemi um martello, não poderia
combinar melhor com a situação. Eu queria muito um martelo para bater em
Luísa. Ter transado com Daniel não me fizera bem. Meu lado racional
insistia que fingir ter esquecido tudo era o melhor, mas o emotivo queria
muito que ele mencionasse algo ao voltar para casa.
Parecia que Daniel sentia que eu estava pensando nele, pois a tela do
meu celular acendeu mostrando seu nome e o sorriso lindo da foto. Mas não
atendi. Ainda faltava dez minutos para chegar à casa da mãe dele e ele sabia
que eu não atendia dirigindo, já era desastrada por natureza a pé.
Assim que acabei de estacionar na garagem da casa dos pais dele,
retornei à ligação. Carina havia aberto o portão para que eu entrasse. Não
duvidava nada de que logo viria ao meu encontro.
— Tá onde? — Foi a pergunta direta dele ao me atender.
— Bom dia para você também, Daniele, querido. — Ele odiava as
duas coisas, o nome e o jeito carinhoso falso. Isso era para aprender a ser
educado. — Acabei de chegar à casa dos seus pais.
— Desculpa, Lia. — A maneira cadenciada, com um leve sotaque da
região onde estava, tinha a capacidade de amolecer meu coração. — Liguei
para saber se você ia mesmo.
— Vou desligar. Sua irmã está vindo falar comigo. — Eu retirei a
chave da ignição e abri a porta. Carina estava me aguardando na porta.
— Liga quando você for para casa.
Rodei os olhos.
Ele não está com a gostosona? Por que não vai aproveitar o dia com
ela?
— Onde você estava ontem que não falou comigo depois que saiu? —
Tentei soar descontraída. Juro que tentei. Estava difícil aceitar Daniel
naquele momento, querendo me cercar de todos os lados, sendo que ontem
não se deu ao trabalho de avisar de que chegara bem ao destino da viagem
dele.
— Babi me falou que vai passar o feriadão com o Eduardo.
Eu travei ao sair do carro com as sacolas que trouxera ao perceber o
motivo de ele estar ligando para mim. Bati a porta do carro com mais força
do que o recomendado e respirei fundo. Não estava incomodada por ele ter
coletado informações com a minha amiga antes de falar comigo, pois
Bárbara e ele conversavam mesmo, o que me incomodava, era concluir algo
sobre mim sem me perguntar diretamente.
— Eu não estou nem perto de ficar depressiva, Daniel — rugi, irritada
e baixo para que Carina não ouvisse. — Pare de me tratar como se eu fosse
ter outra crise do nada. Tem anos que eu não tenho. — Internamente, eu só
xingava Daniel. Em alguns momentos, eu odiava aquele zelo exacerbado
dele. Principalmente quando era desnecessário.
Sim, eu já tinha tido uma crise depressiva, mas fora no início da
faculdade e desencadeada pela ansiedade das novas responsabilidades, o
medo de não dar conta e o término com o meu primeiro namorado.
— Desculpa. Só fico preocupado. E não seria do nada… você ainda
não se animou a procurar um emprego e não vejo você saindo com outras
pessoas.
— Obrigada pela sua preocupação, mas nunca estive melhor. —
Mentalmente, complementei com um xingamento. Isso era por lembrar e se
sentir culpado? Ou ele achava que eu não suportaria a demissão? — Vá
aproveitar sua viagem com a sua namorada. — Separei por sílabas a última
palavra. — E só para refrescar sua memória de ameba, eu saí duas vezes só
essa semana!
Desliguei, irritada e um tanto esbaforida. Carina me olhava com um
ponto de interrogação estampado na testa. Respirei fundo, de novo, e fui
abraçada pela minha amiga dez centímetros mais alta.
— Seu irmão me tira do sério! — Esbravejei no ombro dela. — Quem
ele pensa que é para num dia sumir e no outro ficar me controlando? Isso,
claro, depois de agir como se a gente não tivesse fodido.
Eu não pretendia contar. Carina me segurou pelos ombros e me
afastou de seu corpo. A expressão dela era bizarra. Eu acharia engraçado
senão estivesse me martirizando por ter falado demais.
— Vocês o quê?
Suspirei ruidosamente, encolhendo os ombros.
— Acho que dei pra ele noite retrasada… — murmurei.
— Como assim você acha?
Mais um suspiro dramático da minha parte. Eu não deveria ter
contado.
— A gente bebeu muito e tenho uns flashes do que fizemos. Isso sem
falar que acordei pelada na cama dele, com ele. — Eu precisava esclarecer,
pois eu ocupava com frequência a cama de Daniel.
Carina me soltou e deu um berro. “Eu sabia!” “Não acredito!” Foram
as frases que ela mais repetiu nos próximos minutos.
— Que merda… — Ela cobriu a boca, finalmente se dando conta do
impacto que poderia ter na minha vida.
— Concordo. Sabe o que é pior? — Mudei as sacolas de mão e enfiei
o celular na bolsa a tiracolo. — Eu nem lembro de como é o pau dele, tem
noção? Eu realizei a porcaria de um sonho de adolescente e não lembro!
Meu desespero serviu para minha amiga gargalhar, a ponto de seus
olhos lacrimejarem.
— Ah… como eu queria poder zoar ele! Por que como ele diz que
tem mais 20cm e a pessoa não lembra?
Eu nem precisei perguntar, meus olhos arregalados já transpareciam
todas as minhas dúvidas. Como assim mais? Quanto mais? Isso era normal?
Porque se o pau do meu ex chegava a 13cm, era muito.
— Como você sabe disso?
— Primos… Eu tinha uns 15 anos quando escutei o dia em que
ficaram nessa de quem tem o pau maior. Depois do seu relato, acho que
meu irmão mentiu.
— Eu disse que não me lembrava de ver, não de não ficar dolorida.
Alguém podia tampar minha boca para eu interromper a enxurrada de
detalhes desnecessários?
— Agora sinto menos culpa de te informar de que não será lasanha.
Ou deveria me preocupar pelo meu sobrinho nascer com cara de molho
bolognesa?
Por essa, Carina recebeu um peteleco no meio da testa.
— Não poderia ficar melhor. — Eu passei por ela, resmungando.
— Vittorio estava eufórico por saber que você vinha.
Falar do meu afilhado era muito mais seguro e me desarmava. Carina
tivera Vittorio no último ano da escola. Eu nunca ia esquecer do dia em que
minha amiga começou a vomitar do nada, um pouco antes da aula de
educação física começar, e de nós duas escapando da escola para comprar
um teste, sem Daniel saber, porque, de acordo com Carina, ele ia matar
Felipe, o namorado dela.
Meu amigo não foi tão radical, mas na mesma semana o casamento
foi marcado, e combinaram de que eles morariam com Adèle até Carina
completar 18 anos. Quando soube da notícia, agradeci por não ter irmãos
mais velhos e que ainda era virgem.
— Ele deve estar querendo saber se eu consegui o jogo novo. —
Relaxei ao passar pelo batente da porta. Adorava a energia daquela casa,
sempre cheirava à comida boa e era bem comum estar tocando alguma
música. Naquele dia era samba, um dos estilos preferidos do padrasto de
Daniel.
Com Vittorio, eu tinha feito um trato. Ele ganharia um novo jogo para
o videogame dele caso terminasse o primeiro bimestre com todas as notas
acima de 8. Eu sabia que iria perder, o garoto era um gênio mirim, não tirou
nenhuma abaixo de 9. De bônus, preparei brownie com doce de leite, seu
favorito.
— Você não tem jeito — falou Carina, para a sacola que balancei na
sua frente.
— E aí, baixinha? Já arrumou emprego ou ainda tá deixando meu
cunhado te bancar?
O sem noção era o marido da minha amiga. Felipe não era bom com
piadas, mas gostava de fazer esse papel. Só podia mudar o repertório, não?
Ele me conhecia há anos e eu não havia crescido um centímetro desde
então. Minha nova condição de desempregada também não cooperava
muito.
— Ele sempre me bancou, só não sabia disso. — Sorri, sem graça, e
continuei o trajeto pela casa até a cozinha.
Ah, a cozinha! Ela era o coração daquela casa. Quase tão grande
quanto a sala, tinha uma mistura de todos os aparatos modernos quanto
mais antigos, pois Adèle era apegada aos seus utensílios que considerava
um xodó. Sempre com um aroma reconfortante e acolhedor. Eu adorava
passar horas aqui, olhando Adèle cozinhar ou a ajudando com algum
preparo. As conversas eram sempre as melhores, rolava de tudo, desde
conselhos a puxões de orelha.
Hoje, Vittorio e João jogavam xadrez em uma mesa de canto, uma
que não atrapalhava a dinâmica entre Adèle e Antonela, uma de suas
sobrinhas.
Antonela decorava mini tortinhas com morangos picados. Fazia com
tanta perfeição que ninguém diria que só tinha 14 anos. Puxara o dom de
culinária da tia. De todos os outros, era a única que se arriscava nessa área.
— Dinda! — Vittorio largou o jogo e se agarrou em mim,
transbordando felicidade. Fingi que não sabia o motivo e não reparar que
ele já estava quase do meu tamanho.
— Sua recompensa. — Entreguei as sacolas tão desejadas. — Tem
um brinde aí.
— Brownie? Com doce de leite? Yes! — Fez um gesto de um
soquinho no ar, e até esqueceu do jogo com o avô para ir testar o presente
no videogame.
— Brownie? Pegou pesado. Tem pra mais alguém aí? — Adèle veio
me cumprimentar, com seu abraço apertado e dois beijos no rosto. Cheirava
a comida. E seus braços gordinhos eram sempre tão acolhedores que eu
poderia passar o dia neles. Ela não era muito mais alta do que eu, pele clara,
cabelo castanho farto preso em um coque por um lenço colorido e usava um
vestido combinando por baixo do avental branco.
— Trouxe. Mas com creme de avelã e morangos. Não sabia que
Antonela faria a sobremesa.
— Ah…, mas nunca é demais.
João passou o braço pelo meu pescoço, puxando-me para um abraço e
um beijo no topo da minha cabeça. Ele era a outra formiguinha da família e
era por conta dele que Adèle perguntara sobre ter para mais alguém.
— Mais linda a cada dia. — Ele me soltou com um sorriso orgulhoso
no rosto, tomando a bolsa que restara em minha mão.
— Oi. — Aproximei-me da garota que lembrava um pouco Adèle,
com o cabelo castanho, os olhos grandes amendoados e o porte esguio.
Hoje parecia haver uma sombra nos olhos sempre animados. — Está tudo
bem? — Perguntei, passando a mão pelo topo de sua cabeça, fazendo o
caminho dos fios compridos do cabelo até o meio de suas costas.
Ela balançou a cabeça afirmando, mas comprimiu os lábios e pude
ver uma lágrima escapando.
— Desculpa. — Antonela pediu, secando o olho com o dorso da mão.
Eu a considerava tão educada para a idade. Se fosse eu, estaria me
debulhando em lágrimas. Não havia choro discreto na minha família.
Mas aquela menina maior do que eu sempre se comportava com
elegância e uma postura muito mais madura do que o esperado para a idade.
Daniel adorava implicar comigo quando eu ficava brincando com Vittorio,
dizendo que eu parecia mais nova do que sua prima.
— Ah, Tonton, não fique assim, princesa. — Adèle passou o braço
pelos ombros da sobrinha e deu um aperto reconfortante.
— Mas a Grazie era tão nova. Nós brincávamos juntas. — O
descompasso na respiração foi discreto, mas percebi o subir rápido do peito
e o barulho diferenciado que saiu de sua garganta.
Eu não sabia de quem ela falava, mas devia ter acontecido algo grave
e pareciam ser amigas.
— Foi um infortúnio que já foi resolvido — atalhou Adèle, enérgica.
— Fico pensando se não vai acontecer comigo…
— Claro que não, bambina. De onde tirou essa ideia?
— Mamma ha detto che prendo il suo posto.
Eu não sabia muito a língua materna dela, mas aprendera algumas
palavras e não foi tão difícil identificar que, seja lá quem Grazie fosse,
Antonela pensava que ficaria em seu lugar.
— Sua mãe não sabe o que diz! — Adèle pareceu revoltadíssima,
sacudindo as mãos e voltando para sua parte na ilha no meio da cozinha,
onde dava formato à pasta que comeríamos. — Venha, Amélia. Ajude-me a
terminar o almoço. Depois você joga com o Felipe.
Eu não me atrevi a discordar. Pelo canto do olho, vi minha amiga sair
da cozinha, rindo. Prendi o cabelo em um coque frouxo, lavei as mãos na
pia e me aproximei de Adèle.
— Ali. Já estão higienizados. — Apontou para os pimentões e a
cebola na segunda pia, que ficava grudada na principal, só era um pouco
menor. Os itens estavam em um escorredor de plástico.
Na primeira vez em que a mãe de Carina me chamou para ajudá-la, eu
tremi. Sem brincadeira, minhas pernas ficaram bambas e meus dedos sem
controle, quase me cortei diversas vezes. Eu estava cozinhando com uma
chef renomada, uma das poucas que possuíam um restaurante com duas
estrelas Michelin. Minha amiga não ajudou em nada, mas Daniel se
compadeceu e ficou do meu lado, mostrando como sovava a massa para o
macarrão.
Nem preciso dizer que minhas pernas passaram a ficar bambas pela
proximidade com ele, né?
Naquela época, eu ainda o conhecia pouco. A gente mais se implicava
e brigava do que qualquer outra coisa. Mas algo, naquele dia, virou a minha
chave do rótulo de garoto chato e detestável para “aqui tá quente” e
“desaprendi a falar”. Podia ser porque foi a primeira vez em que ele foi
gentil comigo, assim, de verdade, sem estar segurando alguém para eu
bater, ou brigando com alguma pessoa que zombasse dos meus quilos a
mais. Percebi que ele possuía um jeito tranquilo de falar e um sorriso. Eu
devia ter suspirado a cada um minuto enquanto esbarrávamos braços e
pernas por estarmos lado a lado.
Participar do preparo da comida tornou-se comum, mesmo sem
Daniel para me distrair e perturbar, porque logo que ele viu como relaxei,
passou a sujar meu rosto de farinha ou com molho. Enfim, ele não deixou
de ser um pé no saco.
Uma música me tirou das lembranças de anos atrás. João conhecia a
esposa que tinha como a palma de sua mão, e sabia que o clima triste
precisava de um incentivo para melhorar. Por isso, a voz de Elis Regina
ocupou todo o ambiente. Ela foi a escolhida, pois sempre acalmava Adèle.
— Cante para nós, meu amor. — Ele falou com um sorriso leve e
apaixonado.
Propositalmente, João ia diminuindo o som conforme a voz doce de
Adèle ia ganhando vigor. Os olhos dele ganhavam um novo brilho e um
sorriso se formava nos lábios dela em meio das frases cantadas. Até
Antonela se arriscava por já conhecer algumas, de tanto que a tia colocava.
Mal percebi, e já as acompanhava enquanto cortava sobre a tábua os
pimentões amarelos e vermelhos.
— Bravo! — João bateu palmas quando nem mais Elis cantava para
nós. Ele sempre aplaudia.
Ou seja, solteira não tinha um dia de paz, mesmo. Porque não tinha
como não ficar querendo algo parecido, alguém para as trocas de olhares
apaixonados. E, lá no fundo, eu me perguntava se Daniel seria assim
quando estivesse apaixonado.
Capítulo 12│Amélia
Ao voltar para casa, eu estava em choque.
O almoço fora ótimo, mas não esperava a proposta que recebi. Adèle
aproveitou um momento entre a sobremesa e o cafezinho para conversar
comigo, falar que sabia da minha falta de interesse em continuar na minha
profissão. Então, como quem não queria nada, jogou a ideia de eu ir
trabalhar com ela, no restaurante. Assim. Do nada! Claro que me dera um
tempo para pensar, mas… quando na vida eu pensaria ser chamada para
trabalhar em uma cozinha?
Algo borbulhava em mim. Uma mistura de felicidade, minha criança
interior pulava e dançava, uma dança de passos sem nexo, com um medo
avassalador diante de um novo desafio.
Eu sabia a resposta. Eu precisava daquilo. Era uma experiência, claro.
Talvez eu nem me adaptasse, mas… como mexera comigo.
Tentei ligar para Daniel assim que cheguei para ver o que ele pensava,
todavia, sua doce namorada atendeu e disse que ele estava muito ocupado.
Sim, com ênfase no “u”. Nunca a comparei tanto com uma vaca quanto
naquele momento.
Umas duas horas depois, Bárbara chegou para se arrumar aqui antes
de saírmos. Era normal fazermos algo antes, uma espécie de “esquenta”.
Todavia, hoje ela ia para outro lugar, então eu desconfiava (quase certeza)
de que tinha dedo de Daniel nisso.
Enquanto ela trocava de roupa e se maquiava, eu fui tomar banho. Do
meu banheiro, conseguia ouvir todas as músicas que colocava. Quando
fechei o chuveiro, a música Na Raba Toma Tapão ressoava por todo o
apartamento, em alto e bom som. Que os vizinhos não reclamassem com o
síndico, amém. Saí enrolada na toalha felpuda e fui bisbilhotar. Bárbara
estava prontíssima para sair, segurando uma garrafa pequena de cerveja e
rebolava no meio da sala.
— Você ainda está de toalha?! Vá se arrumar, Lia!! Bora, bora. —
Bárbara foi me enxotando da sala, empurrando-me sem muita força.
O problema era que eu estava repensando seriamente se não
inventava uma dor de barriga, uma dor de cabeça para escapulir do
programa e ficar em casa, curtindo algum filme ao invés de sair com
Carina.
Nem era por mal, eu adorava sair para dançar com elas, contudo,
ultimamente… eu andava cansada demais para lugares fechados,
barulhentos, cheios de gente. Preferia bares. A última saída com elas foi em
um bar simples a dois quarteirões dali. Perfeito!
Nossa, eu tô pegando a velhice do Daniel.
Pensar nele trouxe uma cascata de lembranças e uma faísca para
incendiar meu lado birrento autossuficiente, teimoso, que não daria o braço
a torcer primeiro. Se ele ia ficar fingindo que nada tinha acontecido, eu faria
o mesmo e precisava aproveitar qualquer oportunidade para esquecê-lo. Por
isso, deixei o clima festivo me contagiar, e mandei mensagem para Carina,
avisando que estava quase pronta. Ela pediu para ver se Lucca gostaria de
ir.
Aquele horário?, pensei desconfiada. Lucca provavelmente já estaria
no meio das pernas de alguma iludida. Mas liguei para ele sem grandes
esperanças. Porém, no segundo toque, fui atendida. O silêncio no outro lado
da linha me deixou na dúvida se o acordei ou se o atrapalhava.
— Meia-noite… O que você está fazendo em casa? — Perguntei
assim que ele me atendeu.
— Arrumando algumas coisas. A festa acabou por aí?
Eu ri do desdém na voz do meu vizinho.
— Vou à boate com a Carina. Quer ir?
Pensei ouvir sua respiração sair mais pesada e notei como demorou a
responder. Eu não sabia quantos anos Lucca tinha. Quase certeza de que era
bem mais velho do que Daniel, mas nunca o vi negar ir para lugar nenhum.
Quem reclamaria, né? As mulheres grudavam nele como se tivesse mel.
— Estarei pronto em dez minutos. — Avisou e desligou.
Eu escolhi um macaquinho preto, com alça para amarrar em um
ombro e o short ficava folgado nas minhas coxas grossas e passei um creme
específico para não ficarem assadas. Não me dei ao trabalho de pegar bolsa,
se Lucca estava aceitando ir com a gente, ele enfiaria meu celular,
documento e chave em seus bolsos, simples assim.
Lucca, até onde eu sabia, foi um dos primeiros amigos que Daniel fez
pelo prédio. Um pouco mais sério do que meu colega de apartamento, que
por diversas vezes me fez pagar uns vexames, mesmo mais velho, o homem
era lindo! E eu não era assexuada. Ele sempre estava por perto quando eu
visitava Daniel, quando os encontrava na rua, quando saíamos… então,
logicamente, pensei que os dois tinham um caso ou que Lucca gostasse do
amigo. Eu perguntei aquilo em uma das vezes que saímos juntos. O italiano
mais velho ficou tão alterado, todo seu rosto se contraiu e eu gargalhei sem
parar, até porque eu já tinha bebido minha quarta dose de tequila.
Um bom tempo depois, pensei que era algo comigo. Era muita
coincidência Lucca aparecer no mesmo lugar para o qual eu ia, mesmo sem
avisá-lo. Mais uma vez, a contrariedade no rosto dele foi grande e cômica.
Com pontualidade britânica, Lucca tocou a campainha do
apartamento. Ele estava impecável, do alto dos seus 1,90 m e ocupando o
espaço todo do portal quando abri a porta, com uma calça jeans e camisa
simples preta, sem marcas ou estampas, barba aparada e o perfume gostoso
indo longe. Ele e Daniel eram os dois homens mais fortes que conhecia na
vida real e não do feed do Instagram.
Entreguei minhas coisas para ele e saímos. Não iria mentir, tinha
muitas vantagens em tê-lo como companhia. Ele estava sempre alguns
passos à frente no quesito necessidades. Um exemplo era que o carro
pedido por aplicativo já nos esperava na portaria do prédio.
*
Não… Aquilo era novo. Ele não tinha… Larguei o creme em cima da
cama, sem terminar de levá-lo para o armário e guardá-lo. Todas as vezes
que contara aquela vergonha para alguém, nunca lembrava daquela parte.
Era conhecida como a noite em que dormimos juntos pela primeira vez, não
por termos transado, mas, sim, por tudo o que ocorreu depois…
O banho não foi demorado, por mais que eu quisesse passar horas
com Daniel embaixo da água morna, eu ainda precisava encontrar uma
roupa e me ajeitar. Tanto que, assim que terminei, deixei o moreno gigante
no meu box e corri antes que ele me puxasse e voltasse a me seduzir com
aquelas mãos e lábios que sabiam muito bem o que faziam.
Enquanto me arrumava, procurei por marcas visíveis pelo corpo e só
encontrei perto do meu quadril, coisa que a calça jeans cobriu
perfeitamente. Sentei-me na cama para colocar as minhas meias trocadas,
pois eu acabava pegando pés diferentes e não ligava muito para ficar
procurando até achar o certo. Daniel saiu do banheiro, enxugando-se com a
toalha enquanto eu terminava de amarrar o cadarço do tênis.
Que corpo perfeito, benza Deus! Perdi uns segundinhos, admirando
as coxas torneadas, o pau maravilhoso… Levantei-me, de olho no abdômen
definido por onde ele passava a toalha e secava os pelinhos dali. No mesmo
minuto que fiquei em pé, minha visão ficou escura e tive de me sentar, sem
forças nas pernas.
Daniel se aproximou de apreensivo.
— O que houve? — Perguntou, segurando meu braço quando fiz
nova tentativa de ficar de pé.
— Fiquei tonta. — Sem apagão na segunda tentativa! — Acho que
pode ser porque ontem não jantei.
— Desde que horas você está sem comer, Lia? — Daniel enrolou a
toalha na cintura, deixando bem justa por cima da bunda redondinha.
— Não lembro. Deve ter sido o almoço.
— Almoço? Amélia! — Ele me repreendeu, inconformado, mas eu já
me soltava e procurava minhas coisas pelo quarto para colocar na bolsa.
— Foi um dia cheio. — Nem olhei para Daniel, pois eu sabia que
qualquer contato visual seria motivo para ver seus lábios crispados e o olhar
reprovador como se eu fosse criança. Eu tinha noção de que deveria ter
comido algo, mas foi um dia agitado. Em. Todos. Os. Sentidos!
Acabei olhando para ele e vi meu velho rabugento sacudindo a
cabeça.
— Vou comer, ok? Não foi por mal. Minha rotina está doida e eu
passo o dia vendo comida, às vezes, perco a fome. — Deixei um beijo
estalado em seus lábios e saí do quarto, percebendo que já tinha pegado
tudo que precisava.
Na cozinha, tomei suco de laranja que comprava no hortifrúti perto de
casa e preparei dois sanduíches, um no pão de forma e o outro no francês,
os dois com pasta de atum, que tinha feito no café da manhã do dia anterior
para comer no caminho.
— Montei um pra você também — avisei quando Daniel apareceu na
sala, de calça social preta, camisa de botão, branca, por fora da calça, com
os dois primeiros abertos. O cabelo úmido penteado para trás e o olhar sério
me escaneava. — O meu tá aqui. — Ergui o sanduíche no pão francês
enrolado no papel toalha. Ele soltou “hunpf” debochado.
— Obrigado — resmungou, ainda meio ranzinza. Eu só precisava
ignorar, pois conhecia a peça que tinha em casa. E foi o que fiz.
No carro, coloquei uma música no rádio e, durante o caminho, Daniel
foi aceitando melhor que eu não ficaria em casa, fazendo apenas o que ele
permitisse.
— Carlo e Giovanni ainda estão por aqui, quando você sair, seja para
encontrar suas amigas ou ir para casa, ligue para mim, ok? — Ele parou o
carro na porta do restaurante, que ainda não estava aberto ao público.
Assenti. Teria carona de graça, de novo, estava ótimo. Daniel me
segurou pela nuca e me puxou até nossos narizes encostarem.
— Não são só ciúmes, como você pensa, Lia. — Parecia querer dizer
mais, contudo, ficou quieto por um segundo, antes de terminar a distância
entre nós e iniciar um beijo lento e exigente.
— Tudo bem. — Fiz um carinho na barba aparada, retribuindo o que
ele fazia em mim. Todas as sensações que eu sentia quando comecei a nutrir
algo por ele, anos atrás, estavam retornando, inclusive as borboletas no meu
estômago. — Cuide-se, ok? Seja lá o que você vai fazer agora.
— Dormir. — Ele deu aquele sorriso bonito, que mexia ainda mais
comigo. E o puxei para um último beijo, concordando com sua escolha.
Realmente, pelas olheiras, ele precisava descansar.
Capítulo 23│Amélia
— Lia, sua mãe está aqui! — Jenifer berrou da porta de serviço,
conseguindo se sobrepor à bronca que um ajudante novato recebia do sous
chef.
— Minha mãe? — Parei com a escumadeira cheia de macarrão, que
tirava da panela a meio caminho do prato.
— Ela disse que veio almoçar com você.
Eu não lembrava de ter combinado com ela… Droga!
Sim, eu tinha combinado há duas semanas. Ela vivia reclamando que
eu não tinha tempo para a família depois que mudei de emprego. Lavínia
não era das mais sentimentais, mas era mãe. E até eu sabia, toda mãe
adorava fazer um draminha quando não via os filhos há muito tempo.
Terminei de montar o prato e agradeci à Jenifer ao passar por ela na
sua praça.
— Você esqueceu.
Eu ajeitava meu cabelo no rabo de cavalo quando Lavínia me recebeu
com seu olhar repreensivo. Voltei a ter dez anos sendo pega comendo mais
doces do que deveria.
— Mãe… claro que não esqueci!
— Não sou trouxa, Amélia! Daniel me contou que vocês ficaram
bebendo ontem.
Acabei rindo pelo jeito exaltado dela e as mãos que colocou na
cintura.
Daniel… Como?
— Amélia, por favor, você não é mais adolescente. Não posso falar a
palavra trouxa que logo você ri. — Ela rolou os olhos e acabei rindo de
novo. — Liguei para você, mas foi Daniel quem atendeu. Parecia tão
confuso quanto você agora.
A manhã fora tão corrida desde que cheguei, que nem reparei que
estava sem celular.
— É a velhice chegando. Oi, mãe. — Sorrindo, puxei minha
resmungona preferida para um abraço.
Lavínia nem parecia que faria 57 anos em breve. Minha mãe tinha a
pele marrom, da cor dos meus olhos castanhos, o sorriso largo, olhos
bondosos e quase sempre estava com roupas de academia, porque
aproveitava para ir sempre que não tinha mais nada para fazer ou porque era
onde relaxava. Queria ter puxado aquele gosto por ficar de plateia para
gemedores desconhecidos, mas não rolava, mesmo que fosse por afinidade,
convivência, pois nós duas não compartilhávamos o mesmo sangue. Ela e
Lúcio me adotaram quando ainda era um bebê.
— Venha. — Com jeito, guiei Lavínia para uma mesa no canto, perto
do bar. A gente costumava deixar uma mesa livre, ou para nosso pessoal
comer ou em caso de encaixar alguém. “Quem” Adèle nunca me explicou,
mas, de vez em quando, eu via algumas pessoas que chegavam do nada e a
cumprimentavam como se fossem conhecidos de longa data.
— Sua cara não está das melhores.
— Acho que estou ficando velha igual o Daniel. — Sorri enquanto
puxava uma cadeira para ela se sentar. — Aqui. Escolha algo que vou lá
pedir. — Entreguei o cardápio que peguei em cima do aparador com outra
dezena de menus iguais.
— Você sabe melhor do que eu o que é bom aqui.
— Ok. Só não vale reclamar depois. — Peguei o cardápio e fui à
cozinha, pensando em pedir recomendação ao chefe. Minha mãe era
daquele tipo que parecia ficar satisfeita com tudo, mas, dois minutos depois,
reclamava de tudo. Virginiana. Pelo o que eu via de signos por aí, Lavínia
representava bem os estereótipos dos virginianos quando o assunto era ter
as coisas do seu jeito.
Não poderia ficar com ela, pois eu não teria horário de almoço por
escolha própria. Queria sair mais cedo para encontrar as meninas. Então, já
tinha combinado de pular a refeição. De qualquer forma, enchi um copo
com Coca-Cola para mim e adicionei bastante gelo, e pedi uma caipirinha
de kiwi para Lavínia, que adorava caipirinha de quase todos os sabores.
— Você chamou o Daniel para almoçar com a gente ou esqueceu dele
também? — Ela perguntou risonha, antes de bebericar o drink e apontar
para o moreno que vinha em nossa direção, em calça de alfaiataria e camisa
preta, ambas ajustadas ao seu corpo, marcando a maioria dos seus
músculos.
— Não. Disso eu tenho certeza. — Não baba, Amélia. Eu precisava
ficar atenta. Qualquer deslize, minha mãe perceberia e ia fazer festa com
algo que nem eu tinha certeza do que era.
Só por precaução, adiantei-me para encontrar Daniel e dei dois beijos
em seu rosto. Sem situações conflituosas. Exceto pela minha boceta, que
pareceu lembrar das habilidades dele e resolveu pulsar quando senti sua
mão direita tocar a base da minha coluna.
— O que você está fazendo aqui? — Procurei também manter uma
distância entre nós dois e minha mãe, pois não sabia o que ele falaria.
Ou eu fiz a pergunta errada ou o ofendi de alguma forma sem saber,
porque Daniel me olhou mais sério do que o normal e sua voz saiu bem
contrariada:
— Toma. — Colocou meu celular na minha mão. — Bernardo ligou
algumas vezes.
— E… você atendeu. — Estava nítido que um dos motivos para seu
semblante era o telefonema do carinha que vinha tentando sair comigo.
Ele me soltou e cruzou os braços. Impossível não reparar nas veias
altas até no braço tatuado.
— Você está irritado porque o cara respira e demonstrou interesse em
mim? — Daniel bufou igual criança birrenta. O que me fez rir, mais
relaxada. Como não percebi que os ciúmes dele era além do normal para
um amigo? — Eu só não vou te beijar até você desfazer esse bico, porque
minha mãe está de olho em nós.
— Qual o problema de ela ver isso?
— Você sabe como ela é louca por você. O genro dos sonhos dela. —
Revirei os olhos. Duvido que minha mãe imaginava quem era Daniel por
trás do advogado educado e prestativo. — Não quero que ela planeje nosso
futuro por ver um beijo, sendo que nem eu sei o que somos direito.
Daniel fixou o olhar no meu intensamente. A ponto de minhas pernas
bambearem com tudo o que não estava sendo dito por ele em voz alta, mas
que reforçava o que já confessara.
— Vou lá falar com ela. Depois a gente termina essa conversa. — Era
uma promessa feita em um tom de voz aveludado, carregado de segundas
intenções e que fez minha pele arrepiar todinha.
Lógico que fui atrás dele, torcendo para que não desse com a língua
dos dentes. E conferi por alto as notificações do meu celular. Tinha algumas
mensagens de Bernardo, perguntando como eu estava e com quem ele tinha
falado. Algo no “tom” dele me incomodou, por isso, preferi deixar para
responder depois. Enquanto isso, Daniel dava dois beijinhos no rosto de
Lavínia e ela o abraçava de forma afetuosa.
— Pelo visto, sua amiga anda esquecida. Ela realmente esqueceu que
almoçaria comigo. — Mamãe fez questão de relembrar, puxando pro lado
ofendido.
— Percebi isso. — Daniel sorriu, meio travado, provavelmente
lembrando, de novo, que precisou falar com Bernardo. — Vou lá dentro
falar com a minha mãe, senão ela reclama que só venho aqui por sua causa.
— Ele piscou na minha direção e sorriu. Foi o suficiente para as borboletas
no meu estômago ganharem vida e espalharem um rubor e quentura pela
minha face.
Eu estava ferrada.
— Amélia… Amélia! — Minha mãe aumentou o tom de voz,
conseguindo me despertar do transe e chamar a atenção dos outros clientes.
— Desculpa. — Sentei-me de frente para ela e peguei meu copo de
refrigerante, que encarei consideravelmente só para evitar olhar para a porta
que Daniel entrara.
— Ele e Luísa terminaram? — Lavínia deu um gole longo na
caipirinha, fez uma careta e acabou pegando o saquinho de açúcar em cima
da mesa para adoçar mais.
— Não sei… Por quê?
— Porque está bem evidente que aconteceu algo entre vocês.
— Não aconteceu nada! — Ajeitei meu corpo na cadeira e sacudi a
cabeça.
— Amélia, por favor… — Ela me olhou com uma cara de “tenha dó”,
que quase me fez confessar. — Vejo esse menino apaixonado por você há
anos. Só nunca entendi por que vocês nunca tentaram. Agora, pelo visto,
não sabem escolher o momento.
— Isso sabemos. Ele não sai com Luísa há semanas. — Mexi o copo
para ver os gelos rodando dentro dele, e não acabar falando mais do que
deveria.
— Não sai… Sério? — Ela inclinou o corpo para frente, atenta e
curiosa. Eu ri para aquela versão fofoqueira da minha mãe que pouco via.
— Mas isso quer dizer que ele já terminou com ela? Porque eu juro que não
entendo como esse namoro durou tanto. Ô garota sem sal.
Minha mãe conhecia Luísa de um almoço na casa dos meus pais, que
Daniel fez questão de levar. Foi um dia como nenhum outro, pois eu nunca
vi Lavínia tecendo tantos elogios sobre mim em menos de três horas.
— Também não. — Adèle apareceu do meu lado, surpreendendo a
mim, que estava de costas para a porta do escritório dela. — Eu sei, é meu
filho. Mas tem horas que parece uma mula. Enfim, vim cumprimentar você.
— Minha mãe se levantou, e elas se abraçaram como amigas de longa data.
— Nem pra você falar que sua mãe estava aqui. — Ela me deu um safanão
de leve no pescoço.
— Você estava conferindo as imagens que o marketing preparou. —
Tentei me defender.
— Vou fingir que você não queria que eu e sua mãe ficássemos
confabulando sobre o que você e Daniel estão aprontando.
Olhei espantada para ela, mas não consegui formular nenhuma frase.
Todas que eu começava, se perdiam no meio do caminho. Não era possível
que Daniel tivesse contado algo, sendo que não ficaram juntos nem cinco
minutos.
— Vocês dois acham mesmo que somos tapadas, né? Não sei o que
foi, mas com certeza não é algo desse final de semana, pois Daniel anda
mais impaciente e distante há semanas. Espero que estejam se protegendo.
— Vou ver se seu almoço está pronto. — Já estava me levantando
quando Adèle segurou meu braço, num pedido mudo para ficar.
— Espere, Lia. Tenho uma coisa para conversar com você. E é bom
sua mãe estar aqui para dar apoio. — Ela sorriu amigável, porém, senti um
frio na barriga. Depois das coisas que descobri sobre Daniel, era como se
nenhuma notícia pudesse ser simples. Ainda mais vindo da mãe dele. — Sei
que te ensinava algumas coisas, mas, de qualquer jeito, estou muito
surpresa com o seu desenvolvimento aqui, sua competência. E, por isso,
quero propor algo. — Adèle abriu um sorriso, empolgada. — Eu tenho um
amigo na Itália que, de vez em quando, abre uns cursos e eu sempre mando
um funcionário pra lá, porque acredito que faz com que vocês tenham uma
visão mais completa dos pratos que servimos. Dessa vez, pensei em mandar
você.
— Que ótimo! — Minha mãe vibrou.
— Casseta. — Eu estava meio anestesiada. Nem em sonhos
imaginaria que pudesse estar indo para Itália ainda esse ano. Com o bônus
de ser a trabalho!
— São só duas semanas. E eu que banco passagem, hospedagem.
— Sério? — Eu queria rir e sentia mil coisas ao mesmo tempo.
Afinal, eu tinha começado há pouco tempo no restaurante. Será que não
tinha funcionários que mereciam mais do que eu? Eu era mesmo apta a
ocupar aquela vaga?
— Sim, querida. É o que falei, você leva jeito. Vai ser uma
experiência incrível. Só tem um detalhe. Ele me avisou isso em cima da
hora, então você tem menos de uma semana para arrumar tudo e ir.
Um dos meus primeiros pensamentos foi Daniel. O que ele acharia
daquilo, se concordaria, porque se aqui eu precisava chamar Lucca ao sair,
avisar sempre para onde estava indo… como seria em outro país?
Então me lembrei de Donna, dos seus elogios à terra natal, das
imagens e vídeos que via de lá. Fora os lugares que andei pesquisando
depois que comecei a trabalhar no restaurante.
*
Oito horas depois, eu já estava bem certa do que faria. Só não sabia
como contaria a Daniel que ficaria duas semanas fora, longe do controle
dele. A saída depois do trabalho com as meninas tinha sido ótima para me
fazer relaxar e me incentivar a aceitar o convite de Adèle.
— Já estava pensando que você só ia voltar de manhã.
Ouvi a repreensão de Daniel quando entrei em casa e ri.
Meu velho rabugento estava sentado no sofá da sala, apenas de calça
jeans clara, deixando à mostra todo o peitoral definido que eu adoraria
lamber. Uma verdadeira delícia.
— Até pensei, mas… — Assim que fechei a porta, comecei a tirar o
tênis e calça jeans enquanto caminhava até Daniel. Se tinha algo que
ativava minha libido era beber vinho. E eu tinha bebido quase uma garrafa
sozinha, tudo porque as outras duas ficaram só na cerveja. — Fui expulsa
quando descobriram que a gente finalmente tinha transado. — Parei no
meio das pernas dele e tirei a camisa por cima da cabeça e joguei no chão.
Sim, eu estava sedenta por uma coisa. O pau dele.
Se minha boceta falasse ou tivesse alguma expressão, ela estaria
chorando, implorando por ele.
Culpa do vinho e daquelas doidas.
Tanto Bárbara quanto Carina ficaram perguntando os detalhes da
noite com Daniel. Claro que precisei omitir os detalhes como, a arma, a fala
sobre guerra; diminuir o nível de possessividade…, mas ambas estavam
eufóricas com a novidade, principalmente porque contei até do dia que
lembrava bem pouco.
Recordar de tudo aquilo fez meu interior começar a vibrar com
saudades daquelas bolinhas malditas.
— O que você está fazendo? Não bebeu demais, Lia? — Ele arqueou
uma das sobrancelhas, desconfiado, quando comecei a me ajoelhar.
— Nem tanto… — Dei de ombros, posicionando-me melhor entre
suas coxas grossas. — Não a ponto de não saber que estou cheia de tesão e
que quero chupar seu pau e descobrir como é ter essas bolinhas na minha
garganta. — Acariciei o volume meia bomba por cima da calça,
pressionando a glande com os piercings.
— O bastante para falar putaria sem ficar com vergonha. — Tocou
meu rosto com a mão direita e acariciou minha bochecha com os nós dos
dedos, fazendo-me inclinar a cabeça em direção a ela.
Seu carinho não me impediu de abrir o cinto preto, em seguida o
botão e o zíper, e puxar o quanto dava a calça e a cueca dele para baixo, e,
assim, liberar o pau que eu tanto estava desejando. Daniel soltou um
gemido parecido com um sibilo, ao que meus dedos rodearam sua
circunferência e o bombearam até endurecer e crescer, a ponto de minha
mão parecer pequena.
— O suficiente para falar o que você gosta, fazer o que desejo.
Considere como um pedido de desculpas. — Sorri, falsamente inocente. Eu
sabia que ele estava puto por eu ter ignorado suas duas ligações e algumas
de suas mensagens. E por eu ter evitado contar o que a mãe dele conversou
comigo no almoço. Quanto mais eu adiasse aquela notícia, mais adiaria uma
briga besta.
Afastei todas as possíveis brigas que nem tinham começado e atendi
ao meu desejo de tê-lo em minha boca. Com certo receio, por não estar
acostumada com um cara usando piercings no pau, testei o terreno primeiro
com a ponta da língua, rodeando toda a glande inchada.
Daniel gemeu e impulsionou o quadril em minha direção. Considerei
que o caminho era aquele e continuei. Ao ganhar mais coragem, minha
língua subiu e desceu pela glande, sendo que, ao chegar no freio, instigava
dando batidinhas em cima do piercing.
Quando Daniel apertou meu braço, que estava apoiado em sua perna,
eu o abocanhei de uma vez, por pura ansiedade em descobrir quanto do seu
pau eu engolia. O que foi uma tremenda decepção, ao perceber que foi
apenas a metade. Ou eu estava sem prática ou ele era enorme. Sem me
abalar, até porque os piercings acabavam atrapalhando um pouco, suguei
forte conforme subia a boca, mantendo minha mão direita na base e a
esquerda acariciando as bolas grandes e pesadas.
— Caralho, Lia. — Daniel jogou a cabeça para trás, e meu ego foi nas
alturas.
Eu podia não estar atingindo às minhas expectativas, porém, e mais
importante, ele gemia todas as vezes que eu descia minha boca por seu
comprimento e subia, fazendo vácuo ao sugá-lo. Minha boceta também
estava adorando, chegava a contrair em sincronia e eu sentia o líquido
escorrer por entre minhas dobras. Junto a tudo isso, meu corpo queimava
por ele.
Antes que Daniel gozasse, fiquei de pé, tirei a calcinha e rapidamente
sentei em seu colo, de frente para si. Eu necessitava dele e não queria
esperar mais, nem que arrumasse alguma desculpa para me afastar. Afinal,
eu estava bem ciente de todas as decisões que estava tomando.
— Lia… — Ele tentou me repreender, mas não teve potência
nenhuma. Daniel já estava meio entregue depois de quase atingir o orgasmo
em minha boca.
— Daniel, estou ciente do que estou pedindo. Por favor, me fode. —
Erguendo um pouco quadril e o posicionando na minha entrada, sentei,
aproveitando cada dorzinha por conta do tamanho dele.
O meu pedido libertou algo que Daniel controlava até ali, o desejo
irrefreável que tinha passado a demonstrar perto de mim. Aquele que
escurecia seus olhos, que o fazia soltar uns grunhidos, meio rosnados, que
esquecia a delicadeza e cuidado presentes em todos os outros momentos.
E aquele que agarrou firme meu quadril e enfiou os dedos no cabelo
perto da minha nuca, apertando e puxando até eu gemer de dor. Avançou,
lambendo do vão entre meus seios até minha mandíbula. Mordeu meu lábio
inferior e iniciou um beijo ávido, que demandava tudo de mim.
— Conte o que você conversou com a minha mãe. — Ele soltou meu
lábio e voltou a me lamber, fazendo o caminho inverso. — Não pode ser
boa coisa, ou você já teria me falado.
Como que ele ainda raciocinava para começar uma conversa?
— Sabe como são, estavam planejando nosso casamento… — Eu
brinquei e vi estrelas conforme, por retaliação, Daniel mordeu o bico do
meu seio por cima do sutiã. — Ah!
— A verdade, coração. — Esfregou a ponta do nariz onde tinha
mordido.
— Vou fazer um curso com um amigo da sua mãe na Itália.
O clima na sala esfriou para menos 10 graus. Daniel empertigou o
corpo e me segurou pelo quadril, sem nenhum cunho sexual enquanto
olhava fixo para minhas írises.
— Não.
— Sua mãe me convidou. — Cruzei os braços embaixo dos meus
seios, pronta para qualquer batalha. — Não vou falar não. E eu quero ir.
Tem anos que peço pra você me levar.
— Eu falo com ela. — A convicção dele me fez rir. Eu já esperava
que seria uma conversa problemática. Só não imaginei que seria com o pau
duro dele bem dentro de mim, causando um efeito totalmente contrário ao
que suas palavras causavam.
— Pirou? — Tentei tirar as mãos dele de mim, contudo, Daniel
agarrou mais firme. Eu não ia conseguir me soltar dele, a menos que ele
concordasse. — Quem é você para me impedir de viajar por conta de
trabalho?
— Sou seu, Lia! A porra do seu homem!
Aquilo me deixou mais confusa. E estranhamente excitada. Tanto que
contraí, não só por dentro, mas minhas pernas apertaram o corpo de Daniel.
— É pouco tempo. Duas semanas. — Consegui não ficar sem reação
pelo impacto de suas palavras e perguntei: — O que pode acontecer de mais
lá?
— Muita coisa! — Sua voz saiu estridente, como um rosnado.
Eu inspirei fundo. Não o venceria rebatendo tudo o que falava. E,
depois da outra declaração, eu não tinha muitos argumentos para contestá-
lo. Soltei o ar devagar, pensando na melhor forma de amansar a fera
irredutível.
Toquei seu rosto com as duas mãos e fiz um carinho concomitante
nos dois lados, da têmpora ao maxilar, passando por onde teria um bigode
caso ele não tivesse feito a barba em algum momento daquele dia. Desenhei
seus lábios com meus dedos e depois com a pontinha da minha língua,
iniciando um beijo lento, como se eu quisesse gravar todas as texturas,
gostos, para nunca esquecer.
Passei o carinho para seus ombros e braços, e senti que, aos poucos,
seus músculos relaxavam.
— É perigoso, Lia. — Ele não desgrudou seus lábios dos meus.
— Lucca pode ir comigo. O que acha?
Aquilo pareceu desarmá-lo por completo. Daniel aprofundou o beijo
por alguns segundos e o interrompeu bruscamente.
— Você quer que eu te foda, Lia? — Assenti, desesperada para que
deixasse eu me mover, que começasse a cavalgá-lo, sentisse mais do atrito
que suas joias causavam em mim. — Então eu vou. Mas saiba que vou
gozar em você, que vou deixar você cheia da minha porra. E sabe por quê?
A cada tentativa que eu fazia de mexer para conseguir algum alívio,
Daniel cravava mais forte seus dedos em minha carne, impedindo-me e me
irritando.
Sacudi a cabeça negando, ansiosa para que me mexesse. Estava zero
paciência para joguinhos.
— Porque você é minha. Minha para fazer o que eu quiser. Quer
continuar, Lia?
— Daniel, por favor — implorei. Eu estava tão excitada que, se
duvidasse, poderia gozar sem que ele fizesse muito. Porém, meu pedido não
surtiu efeito. O idiota do meu amigo continuou lá, parado. — Eu sou sua.
Sua para fazer o que você quiser.
Ele sorriu de um jeito macabro que, estranhamente, fez minha boceta
pulsar e sugar seu pau.
— Era o que eu queria ouvir, coração.
Para minha surpresa, Daniel levantou do sofá comigo em seu colo.
Com medo, cruzei meus pés ao redor da sua cintura e dei um gritinho.
— Dan, o que…
— Vamos pro meu quarto. Sabe o quanto fiquei preocupado por você
demorar e não responder minhas mensagens? Sabe o quão puto eu tô pela
sua impertinência?
Eu tô fodida.
Algo me dizia que hoje ele não aceitaria quando eu tentasse jogar
com o seu controle e lado dominador.
Capítulo 24│Daniel Bianchi
Carreguei Amélia da sala até o meu quarto sem falar nada. Eu estava
puto. Pela teimosia. Por não querer me contar nada, pois sabia que eu ia
reclamar. Por me enfrentar. Por eu ter medo do que poderia acontecer com
ela caso realmente fosse. A sensação de impotência em protegê-la queria
me dominar, e ela nem tinha viajado ainda.
Por tudo aquilo, eu mostraria à Amélia um pouco mais do meu
mundo.
Mesmo irritado, ainda estava duro dentro dela e foi uma pena quando
tive de colocá-la na cama e desfazer o contato. Ouvi Amélia resmungar
também, mas não comentei nada. Liguei a luz de led amarela no painel
acima da cama, que iluminava o necessário e tornava o ambiente agradável.
Depois, fui direto para o closet, onde uma das gavetas tinha alguns
acessórios que eu gostava de usar.
Não lembrava de Amélia comentar sobre algum dia já ter usado
acessórios com seus parceiros, por isso, escolhi um chicote indicado para
iniciantes, de cabo rígido e várias cerdas. Ele distribuiria melhor os pontos
de dor do que se eu usasse um com cauda única.
Saí do closet ansioso para ver a pele clara dela ficar vermelha. Amélia
me aguardava no mesmo lugar em que a deixara. Os bicos dos seios
volumosos me encaravam igualzinho a dona deles, que se mantinha atenta a
todos os meus gestos. Com um puxão vigoroso, tirei o cinto preso em
minha calça e o enrolei em minha mão.
— Levante o cabelo, Amélia.
Mesmo com a iluminação baixa, vi que meu tom causou um arrepio
no corpo dela, pois pude vê-lo estremecer. Todavia, pelo fogo que brilhou
em seus olhos, eu não duvidava de que estava molhando o lençol da minha
cama. Seu queixo pendeu, e eu diria que sua garganta secou.
Um segundo arrepio perpassou seu corpo quando se deu conta do que
eu faria e joguei o chicote ao seu lado na cama.
As reações que eu queria e temia não obter. Porque antes de ela me
irritar com a tal viagem, eu pretendia conversar sobre limites, o que
gostava. Porém, aquela conversa me deixou enxergando vermelho.
— Por essa eu não esperava. — Amélia comentou baixo, ofegante
enquanto reunia o cabelo em um coque preso somente por sua mão.
— Com medo? — Comecei a passar o cinto ao redor do pescoço dela.
Eu tinha gravatas, cordas. Poderia usar qualquer uma, mas nenhuma delas
teria o mesmo impacto do que o cinto quando o tirei na sua frente.
Era escroto e eu não me importava. Gostava de ver o medo, mesmo
que fosse por segundos, e ali tivesse um intuito completamente diferente de
quando eu estava trabalhando, fazia parte de mim. Além do que, naquele
quarto, por maior que fosse a minha raiva, a minha forma de punir seria
através do prazer junto à punição.
— Um pouco, talvez.
Ao finalizar, enrolei a ponta do cinto na minha mão e dei um puxão
que fez seu corpo bambear até mim. Aproveitei a proximidade para segurá-
la também com minha outra mão. Sim, aquela submissão me agradava.
— Por um instante, achei que você apareceria com uma coleira. —
Sorriu de um jeito sacana, com o olhar fixado no meu.
— Não tive tempo hoje, mas, em breve, vou arrumar uma. — Apertei
seu pescoço, sentindo um prazer absurdo quando Amélia soltou um gemido
estrangulado. Não afrouxei o agarre até forçá-la a ficar de joelhos no chão.
Muito menos dei tempo para que pensasse demais, logo, grunhindo como o
animal que ela liberara, enfiei meu pau em sua boca para ter um pouco mais
daquela sensação deliciosa que era Amélia me engolindo quase todo.
Com meus dedos em seu cabelo, e estocando num ritmo ditado por
mim, controlei o boquete de um jeito acelerado e insano. De um jeito que
nunca pensei que a trataria, sem cuidado, sem carinho, apenas querendo
descontar a raiva que me fez passar. Por cada motivo daqueles que me
tiraram do sério, eu me forcei para dentro dela até ver seus olhos encherem
de lágrimas.
A fera dentro de mim ronronou.
— Que puta boca gostosa.
Meu coração acelerou e minhas pernas bambearam. Facilmente eu
chegaria ao ápice daquela forma. Mordi o lábio com força, tirando um
pouco da sensação de prazer. Só parei porque sentia Amélia tentando
afastar a cabeça e, principalmente, porque eu tinha outro propósito.
— Eu só não vou fazer você engolir minha porra, porque eu quero vê-
la escorrendo da sua boceta. — Puxei Amélia para cima e já fui
empurrando-a para a cama. E que visão enlouquecedora! Todo o seu rosto
estava vermelho, os olhos e nariz pelas lágrimas, a boca pelo esforço em
fazer caber meu pau, suas bochechas pelo fogo que ardia nossas peles.
Fogo que não a abandonou em nenhum momento, que a deixou
preparada, pingando lubrificação, piscando para mim quando abri suas
pernas e me insinuei entre elas tão necessitado quanto.
Se por anos tive medo de assustá-la por conta daquele meu lado
incontrolável, sádico e louco, não tinha mais, porque a prova que eu
precisava estava me chamando pelo nome, choramingando para que a
fodesse de uma vez.
Em uma arremetida, entrei em Amélia. Um choque perpassou meu
corpo, arrepiando meus pelos, tirando o pouco de raciocínio que ainda
havia.
— Assim, Dan… — Ela arfou, rouca, tanto por ter me chupado
quanto pelo cinto que ainda mantinha apertado em sua garganta. Suas
pernas se enroscaram acima da minha bunda. Suas unhas arranhavam
minhas costas, nuca e braços. Onde Amélia tocava, buscava extravasar um
pouco das sensações estarrecedoras que sentia.
Abaixei a cabeça e abocanhei um de seus seios, mamei sedento, sem
parar de estocar profunda e intensamente, arrancando mais sons desconexos
de nós dois. Embaixo de mim, Amélia arqueou o corpo. Afrouxei o agarre
no cinto, pois aquele era o único cuidado que eu mantinha, o de não a
machucar demais com o acessório.
Ela gritou quando mordi o bico rígido e depois o lambi, como
compensação distribuí beijos por seu colo e rosto, sentindo o gosto salgado
da pele suada por causa do esforço e pelo ar-condicionado, que eu já tinha
deixado ligado, não dar vazão para o que fazíamos.
Acariciei com a palma da mão livre a face lisa, macia e quente. Dei
batidinhas de leve, encarando bem seus olhos para que entendesse o que eu
faria. Meu coração pareceu parar por segundos enquanto esperava alguma
reação dela. Nada. Sem reclamações, então, deferi um tapa estalado e
ardido de cada lado do seu rosto.
Ver o rosto dela virando de um lado para o outro e o ouvir o
gemidinho de dor, não havia nada melhor. Eu tinha acabado de unir a minha
loucura com a pessoa que tinha meu coração na palma da mão.
O prazer se espalhou, transbordou entre nós. O orgasmo veio para nós
dois, juntos. Amélia se contorcia, gritava e me apertava, e eu gemia sem
controle e me derramava até a última gota dentro dela, sem enxergar e
respirar direito.
Tombei por cima dela, enfiando meu rosto entre seu ombro e pescoço,
aproveitando os espasmos da vagina dela ao redor de mim, como em uma
conversa somente de gestos, em que cada pulsar dela, meu pau ainda duro
respondia pulsando também.
Ficando apoiado em um cotovelo, afrouxei o cinto e o deixei cair na
cama. A pele estava bem vermelha e com a marca das bordas dele.
Querendo me redimir, beijei a região quase como se a venerasse. Depois
subi para seu rosto, transmitindo todo o carinho que não houvera até ali.
— Você tá vendo por que me mantive longe de você? Olha como te
deixei. — Não permitiria a culpa me dominar, mas a sentia rondar meus
sentimentos, tentando arrumar algum espaço.
— Eu não reclamei. Agora… Você realmente fez isso. — Ela olhou
para a boceta cheia da minha porra e depois para a minha cara de inocente
no momento em que saí de dentro dela, justamente para apreciar o caminho
que minha porra fazia ao escorrer.
— Avisei que faria. — Dei um meio sorriso. Por dentro, eu estava em
êxtase, flutuando em um prazer besta. E, lá no fundo, eu imaginava Amélia
com um barrigão, gerando nosso filho. Que ela não descobrisse aquilo.
Antes de a ajudar a se deitar direito na minha cama, beijei seus lábios
delicadamente.
— Você nem sabe se eu quero filhos.
Eu me joguei de cabeça nos travesseiros e a puxei para deitar no meu
peito.
— Sim, você quer. Você diz isso desde que era adolescente. Não estou
dizendo que quer agora, mas que você falava sobre saber que seria mãe,
mesmo que não fosse casada.
— Inacreditável. — Sacudiu a cabeça, inconformada.
— Daqui a pouco a gente pede um remédio pra você tomar. — Dei
um beijo no topo de sua cabeça. Ela estava certa, com tanto fetiche pelo
mundo, eu tinha logo de ter criado aquele? — Não vou fazer isso de novo
até você estar usando algum método, ok?
Senti sua cabeça concordar em meu peito.
— Falando em bebês… Hoje a Babi fez alguns testes de farmácia,
disse que estava atrasada. Foram os cincos minutos mais longos de nossas
vidas, e que, no final, ela já estava falando sobre aceitar um mini Eduardo.
Tem noção? A Babi falando isso? Nunca vi minha amiga apaixonada de
verdade por ninguém.
Não respondi sobre Babi ou Eduardo. Porque ninguém além da
família dele sabia do seu estado grave de saúde e eu não queria ser o
portador daquela notícia. Principalmente quando pensei que Amélia sairia
da cama, contudo, sorrateiramente, ela começou a levantar, sentou-se no
meu colo e começou a roçar a boceta gozada no meu pau túrgido.
— Lia… — Gemi, sentindo que despertava para uma nova rodada de
sexo, dessa vez sem necessidade de descontar mil emoções nela.
— Se vou tomar remédio depois, quero aproveitar mais de você
gozando na minha boceta.
Não perdi por um segundo sequer a chance de ver sua boceta me
engolindo. Observei atento e com a respiração suspensa. Então, meu pau
pulsou quando ficou totalmente coberto pela quentura e umidade dela.
Capítulo 25│Daniel Bianchi
A gente teve aquela noite toda e quase que a semana inteira para
explorarmos ao máximo nossos desejos e compensar os anos que fingimos
não sentir nada. Apesar de que, em momento algum, Amélia retribuiu as
palavras que falei. E eu a entendia.
Ela não estava lidando apenas com o amigo que se declarou, ou com
o cara que era apaixonada desde a adolescência. Eu era algo além,
carregava um mundo obscuro comigo e não havia como aceitar apenas parte
disso.
Ela viajaria em menos de 4 horas e, nas últimas 24 horas, a gente
vivia numa bolha só nossa, ignorando o mundo. Nos intervalos, a gente via
algo para comer e arrumava as malas que ela levaria — por sorte, ela havia
tirado o passaporte ano passado. Há quase uma hora, deixei que ela ficasse
relaxando na minha banheira e fui preparar alguma coisa para que
comêssemos antes de irmos para o aeroporto. Eu tinha acabado de colocar o
escondidinho no forno quando ouvi a porta da sala abrir.
Automaticamente, procurei a arma que costumava ficar comigo. Mas
não a encontrei. Devia ter deixado no quarto, até porque eu mal usava uma
bermuda desde que começamos aquela maratona de sexo de despedida.
Eu já me esticava para pegar a caixa que deixava sobre o armário
acima da pia, com uma arma extra. Era um esconderijo seguro, tendo em
vista que Amélia era baixinha e raramente subia em escadas, pois tinha
medo de altura.
— Você estaria morto. — Lucca sorria, debochado.
Desisti da arma e relaxei.
— E você pegou a mania de entrar aqui sem avisar.
— Você não tem ficado com o celular — reclamou.
Bufei, cruzei os braços e fiz um gesto com a cabeça para que
continuasse.
— Don Cancellieri quer ver você.
— Me ver? — Por chamada de vídeo ou o quê? — Agora?
Eu não poderia acompanhar Amélia ao aeroporto assim.
— Sim. Está te esperando no restaurante do hotel em que se
hospedou. Matteo ligou para mim quando você não atendeu suas ligações.
Avisei que viria te chamar.
Nem precisava tirar o celular do bolso para conferir se haveria
chamadas, Lucca não inventaria aquilo.
Merda!
Dei as costas para Lucca e me encaminhei para o meu quarto, mais
uma vez que estaria saindo de supetão para resolver algum problema
inadiável e deixaria Amélia sozinha. Pra que eu fui pensar nela? Em
poucas horas, ela estaria entrando em um avião e pousaria na minha terra
natal. Sendo que eu não podia ir com ela e protegê-la.
Fora isso, minha cabeça estava ocupada raciocinando o que
Alessandro Cancellieri queria comigo aqui, no Brasil, enquanto escolhia
vestia a calça preta do terno.
— Vai sair? — Amélia saiu do banheiro, usando o meu roupão e
secando o cabelo com uma toalha.
— Vou. — Na hora, me senti um merda por ver o desapontamento
nos olhos dela e não poder fazer nada. — Mas estou deixando um
escondidinho no forno pra você. Vê se come, ok? — Antes de fechar a
calça, vesti a camisa tão preta quanto, e virei para Amélia enquanto
colocava a gravata ao redor do meu pescoço e fazia o nó.
— Pode ser bom, meu estômago tá doendo. Acho que tô ansiosa com
a viagem.
Soltei um resmungo, fazendo bico. Não ia falar mais nada. Lucca iria
com ela. Pelo menos o curso era na nossa região, então eu tentava me
conformar e ficar mais tranquilo.
— Vou me arrumar. — Amélia me beijou rapidamente e já se afastava
quando a envolvi pela cintura e a puxei para mim de novo, tomando sua
boca em um beijo que só serviu para me deixar duro e sem vontade de
deixá-la sozinha.
— Tente dormir no voo. Ligue para mim assim que chegar lá e, se
precisar de qualquer coisa, fale com Donna ou me chame. — A cada
orientação, eu depositava um beijo estalado em seus lábios. Eu não sabia se
era melhor ou pior aquela despedida não programada. — Te amo.
Soltei-a antes que desistisse e perdi alguns segundos, observando-a se
afastar.
Já pronto e no caminho para o local de encontro, tentava focar em
quem encontraria. Don Alessandro tinha graves problemas com bebidas e
apostas, além de um apoio questionável de quem fazia parte de sua
famiglia. Algo que cresci ouvindo, era que meu exemplo valia mais do que
qualquer coisa, se eu quisesse que seguissem a mim e à minha ideologia, eu
precisava mostrar que era digno de tal.
O contrário do homem que me esperava, com olhos arregalados e
desorientados quando chegamos ao restaurante do hotel quatro estrelas, em
uma mesa mais reservada, na área em que as mesas eram separadas por
cabines, dando mais privacidade aos seus clientes. O vício o dominara nos
últimos anos e aquilo refletira diretamente no poder que detinha sobre os
seus.
Suas dívidas foram o principal motivo para que um casamento entre
mim e sua filha fosse arranjado.
— Matarazzo! — Ele abriu os braços e se levantou ao me ver se
aproximar. D’Angelo, um segurança que passou a fazer minha proteção
depois que designei Lucca para Amélia, entrou à sua frente e ergueu uma
sobrancelha ao olhar para mim primeiro e depois para Alessandro. — Não
me importo que me reviste.
Esperei paciente enquanto D’Angelo fazia seu papel. Antigamente,
ficava incomodado por me chamarem pelo sobrenome do meu pai. Seus
atos, que para mim e quase todo mundo, criminosos, me davam nojo. Por
anos, torci para que a esposa dele concebesse o tal herdeiro legítimo e eu
me livrasse daquela merda. Não aconteceu. E me conformei justamente
quando vi Salvatore firmando o contrato do meu casamento, como garantia
de que seu império cresceria mais.
— Não se importou também com o risco de ser pego. — Pontuei ao
cumprimentá-lo com um abraço automático.
O nome dele era tão conhecido e procurado quanto o do meu pai.
Outro motivo, inclusive, para eu não usar o Matarazzo. Não queria que
fosse possível me conectarem tão fácil com Salvatore.
— Seu pai apoiou minha vinda.
— Apoiou? — Sei… Alessandro aquiesceu e sentou-se em uma das
cadeiras.
Salvatore só visava expansão do seu terreno, qualquer oportunidade
era aproveitada. Porém, com Cancellieri, ele nem precisou se esforçar, por
conta da sua decadência, ele aceitou praticamente tudo o que meu pai
propôs. Cederia o controle total, desde que mantivesse seu padrão de vida.
O velho nem mesmo estava muito preocupado com o destino da filha, se eu
seria um bom marido ou não.
Antes mesmo que o casamento fosse realizado, até pela idade da
garota, Salvatore exigiu o controle antecipado, entrou com o investimento e
alguém que saberia administrar crises, que possuía respeito dos seus — no
caso, eu.
Lógico que chamaria atenção das outras famiglias. Por mais que os
Cancellieri não fossem tão influentes, Don Salvatore era. Toda a Toscana
era dele, nada por lá acontecia sem sua permissão. E eu vinha sendo
preparado para um dia tomar seu lugar.
Em algum momento eu seria um Don, sempre soube que meu destino
era me casar com uma mulher que, ao menos, tivesse conhecimento daquele
meio e que poderia ser em prol de algo maior.
Até agora nunca tinha sido um grande problema. Eu já me
conformara. Afinal, Amélia era um ser inocente que nunca deveria se
envolver comigo. Infelizmente, tudo isso mudou no dia que desisti de
resistir.
Só não esperava que Salvatore fosse agir tão rápido.
— A gente precisa conversar sobre como Sanremo vai ficar. —
Alessandro gaguejou no final. Patético.
Sanremo, na Ligúria, era a área da famiglia Cancellieri. Eles
controlavam o local desde que um bisavô de Alessandro fugiu da Sicilia,
por não querer mais ser apenas um subordinado e arrumou apoio para si.
Porém, desde que eu completara 23 anos, passei a ser o responsável pelo
local. Nada por lá acontecia sem que passasse por mim ou que eu fosse
avisado.
Abri um botão do terno e sentei-me na cadeira de frente para
Alessandro, atento aos seus tiques adquiridos por conta dos vícios, como
mexer no nariz e balançar o corpo na cadeira.
— Acredito que da mesma forma que tem sido desde que assumi o
controle. — Recostei no encosto da cadeira, tranquilo, e fiz sinal para o
sommelier trazer o vinho que eu costumava tomar ali. — Mas se você se
acha capaz de voltar a ser o responsável, não vejo problemas em me retirar.
Até porque não houve casamento.
Pelo suor que descia pela lapela de Alessandro, eu diria que ele não
melhorara. A morte da filha fora um baque profundo. Trouxera de volta e
de maneira mais potente todos os problemas que ele tinha e estava
conseguindo se manter afastado.
— Tenho uma sobrinha que…
Eu o interrompi ao levantar a mão. Não queria ouvir nenhuma
baboseira daquele tipo. Não faria mais diferença.
— Esse assunto está encerrado. Quem vai definir minha noiva, serei
eu.
Ele sacudiu o corpo de maneira rápida e piscou algumas vezes.
— Então o boato é correto. Don Matarazzo, seu pai, comentou que
você estava saindo com outra mulher.
Tomei um gole do vinho, acalmando minha mente para não ser
grosseiro só pelo desdém na voz.
— Ele está certo. E, por enquanto, prefiro mantê-la afastada do nosso
meio.
— Faz bem, esse meio levou minha Gazie embora da pior maneira
possível. — Pela primeira vez, vi a tristeza que Alessandro tentava
mascarar.
— Infelizmente, sim. Mas foi vingada.
Um soldato e um consigliere da famiglia Denaro foram mortos pelas
minhas mãos na minha última visita a Itália. Foi quase um mês de busca
para encontrá-los em Roma. Os imbecis devem ter pensado que o Papa os
protegeria, só pode!
Alessandro se balançou e depois mexeu na gravata, afrouxando-a do
pescoço. O nervosismo bem mais aparente para mim. Foi como um sinal.
Um sinal tardio que ligou meu alerta e me fez olhar ao redor, procurando
algo. Mal ele parou com os tremeliques, a porta principal foi invadida pela
polícia.
Aquele filho da puta tinha armado uma emboscada para mim!
Tive dois segundos para decidir se levantaria disparando com a arma
em minha cintura ou se os obedeceria e ergueria os braços. Escolhi a
segunda opção, deixando a arma em cima da mesa.
— Daniel Bianchi Matarazzo? — Um policial, com a arma apontada
para minha cabeça, questionou. Eu apenas assenti.
Só podia ser armação de Alessandro com alguma outra pessoa.
Quem?
Eu me perguntava enquanto era revistado e algemado. Conforme era
levado para a viatura, eu só pensava em matar o filho da puta que tivesse
armado tudo aquilo e na segurança de Amélia.
Capítulo 26│Amélia
Lá no fundo, eu tinha esperanças de que Daniel apareceria antes do
embarque. Nem precisava ser igual nos filmes, em que o cara surgia
correndo e gritando pela mocinha, podia ter sido antes, na hora que desci do
carro na frente do aeroporto. Porém, nada.
O voo foi mais tranquilo do que eu imaginava, dormi mais da metade
e no restante do tempo fiquei assistindo uns vinte minutos de cada filme,
pois nenhum prendia minha atenção. Os últimos dias tinham sido
cansativos. Tivera um evento no meu trabalho em que todo dia pratos mais
específicos de cada área da Itália eram colocados no cardápio. Aquilo
chamava atenção e atraía um número bem maior de clientes para o
restaurante. O ritmo foi frenético e eu ainda precisei arrumar tempo para
comprar os itens essenciais para a viagem. Além de precisar lidar com
Daniel e sua neurose.
Toda vez que eu pensava na última semana, dava vontade de me
beliscar, pois não conseguia acreditar no que a gente estava vivendo, ou nas
declarações diárias.
— Chegamos. — Lucca pegou nossas bagagens de mão e foi na
minha frente, tanto na saída do avião quanto no percurso do checkout. Ele
estava mais sério e atento do que o normal. Algo sobre odiar aviões e estar
com um pressentimento esquisito.
— Que tal um gelato? — Logo, assim que passamos por toda a
imigração e fui liberada, perguntei, animada, andando de costas para ver as
feições dele, carrancudas, como desde que entramos no avião. — Você
precisa relaxar, nós já pousamos.
— Vou relaxar quando chegarmos à casa de Donna. — Ele acabou
falando em italiano, mas entendi. — Sabe que seu namorado não gostou de
você trocar o hotel pela casa dela, não sabe?
Eu nem ia contar para Daniel aquela troca. Todavia, Lucca abriu o
bico, pois não podia esconder nada do chefe. Minha intenção era meu
“namorado” descobrir somente quando eu já estivesse instalada. E a culpa
não era minha se a esposa de Matteo me oferecera um teto tão perto quanto
o hotel era.
Lógico que aceitei. Mesmo que fosse para ficar apenas alguns dias,
para não abusar muito da vontade alheia, eu teria aceitado. Mas ela fez
questão de que fossem as duas semanas.
Ou seja, eu já me imaginava pagando uns micos com ela por ser a
única que não falava italiano de forma fluente, ou os passeios que faríamos.
Se desse sorte, veria algum daqueles campos cheios de girassóis.
— A gente precisa comprar um chip para o meu celular, estou
totalmente sem sinal. — Eu até cheguei a ligar o aparelho depois que saí do
avião, mas ele estava sem um pontinho de vida.
— Donna já deve ter providenciado isso.
— Isso quer dizer que não vou ver sorvete nenhum. Meu estômago
está doendo, você devia ter mais consideração. — Eu olhava para tudo e me
encantava com os mínimos detalhes. Nunca viajara para outro estado, que
dirá para fora do Brasil. Tudo no aeroporto me chamava a atenção, das
malas com capas divertidas às tecnologias.
— Vai ter comida lá.
Eu olhava para tudo e todos e, ainda assim, não vi quem colocou um
pano sobre a minha boca quando estávamos a poucos passos dos carros
estacionados na área de desembarque.
Meio zonza, vi alguém atirando em Lucca e o segurança caindo no
chão.
*
— E meus pais?
Eu demorei a criar coragem para fazer aquela pergunta. Na realidade,
eu demorei a relaxar e perceber que estava em segurança, com pessoas que
se preocupavam comigo e não me fariam mal. Giovanni e Carlo não
contestaram a mãe, muito menos me levaram de volta para o teatro. O mais
novo foi sozinho falar com o chefe deles, enquanto fiquei fora do carro,
esperando ao lado do mais velho, caso Matarazzo resolvesse verificar se eu
não tinha fugido.
Pelo que Giovanni contou depois, no trajeto para a casa deles em
carros mais apropriados para horas de viagem, fora necessária uma
confusão, uma ameaça e exposição dos motivos para eles estarem me
levando, como os pulsos machucados, o rosto vermelho e a perda de peso.
O caminho foi silencioso, pois eu não tinha coragem de falar nada,
com medo de que não passasse de um sonho, e longo, quase 3 horas, em
que acabei cochilando no ombro de Carlo. Ao chegarmos, Donna me levou
para um dos quartos no segundo andar, falou que eu podia tomar banho e
avisou que traria roupas.
Não foquei em nada da casa ou do quarto, só fiz o que precisava e me
enrolei em uma toalha para esperar a roupa. Uma exaustão física e mental
tomou conta de mim, que tudo o que eu queria fazer, era me deitar e dormir
por dias. Porém, fiquei perto da janela, olhando para o gramado bem
cuidado, aguardando a roupa. Foi quando ouvi as batidinhas à porta e o
barulho dela sendo aberta.
— Aqui, Lia. — Donna veio até mim, com a roupa e uma caneca. —
Fiz um chocolate quente.
Peguei a roupa da mão dela e ela deixou o chocolate na mesinha ao
lado da cama. Era um pijama flanelado no tom azul escuro, com botões na
camisa de manga curta e um cadarço interno na calça comprida.
— Seus pais queriam vir aqui te procurar. Mas conseguimos
convencê-los de que poderia ser pior. Adèle ficou de conversar com eles
sobre o que somos e porque precisavam ter cuidado.
No meio do pijama, conforme o deixei sobre a cama, encontrei uma
calcinha. Foi por ela que comecei a me vestir sem tirar a toalha. Fiz o
mesmo com a calça e depois com a camisa, dessa vez tirando a peça úmida
e a entregando para Donna que estava com a mão estendida.
— Estranhamente, seu pai já sabia. — Eu a encarei de olhos
arregalados, surpresa com aquilo. — Ele conheceu Matteo e Daniel quando
você quase foi sequestrada, quando criança. E meu marido naquela época
falou mais do que devia. O bom disso é que facilitou acreditarem em nós e
nos nossos esforços para encontrarmos vocês.
— Mas Daniel ainda não foi encontrado… — Adorei sentir o calor da
caneca contra a minha mão. O tempo não estava frio, ainda era verão lá fora
e, aqui dentro, o ar-condicionado deixava a temperatura agradável. Meu
corpo parecia ainda não ter se acostumado com a temperatura normal, e eu
continuava tremendo de frio de tempos em tempos.
— A gente sabe que ele está por perto. Salvatore não mandaria o filho
para longe e não ficaria tão tranquilo se ele não estivesse vivo. Só deve
estar mantendo-o escondido até resolver a situação com você. Agora,
Lucca… — Ela deu um suspiro profundo, definitivamente preocupado,
enquanto foi se sentar no parapeito da janela. — Foi levado ainda ferido,
mas apagaram as imagens de perto do aeroporto, igual fizeram com o seu
rastro.
— Isso… Você fala com tanta tranquilidade.
— Nasci e cresci naquela casa ali. — Ela apontou para algum lugar
que eu não consegui ver direito, mesmo indo para a janela. Só entendi a
qual casa ela estava se referindo porque, quando chegamos, reparei em uma
maior a meio campo de futebol de distância. — Meu pai, Enrico, apesar de
ser o filho do meio, meu avô o escolheu para ficar no seu lugar, caso algo
acontecesse com ele. Então, depois que meu avô não aguentava mais, meu
pai assumiu. Infelizmente, meu pai não teve nenhum filho homem. Hoje eu
exerço um papel importante, conquistei isso, porém, nunca que me
permitiriam acima de todos. Nesse caso, Salvatore, o irmão mais novo dele,
ocupou seu lugar quando morreu e é quem controla o que somos, como
agimos.
Eu me sentei na cama, desnorteada. Aquilo era real.
— Acho que foi muita coisa…
— Imagino que sim. A gente continua a conversa quando você
acordar, ok? — Ela saiu da janela e veio até mim. — Boa noite, querida.
Donna depositou um beijo na minha cabeça e saiu do quarto.
Terminei o chocolate quente e me permiti ocupar o lugar debaixo da
colcha quentinha. Percebi que seria mais difícil dormir do que imaginei
quando mudei de posição pela quinta vez em menos de dez minutos.
Comecei a sentir calor e fiquei remexendo as pernas até a colcha sair
completamente de cima de mim. Então, eu me lembrei da novidade.
— Um filho! — Murmurei em choque para o teto, já com as mãos no
ventre. — Aquele desgraçado conseguiu! — E não está aqui. Não sabia se
sentia raiva de Daniel ou o agradecia por, caso acontecesse o pior, ter algo
dele comigo.
Capítulo 32│Daniel Bianchi
Meus músculos relaxavam sob a água morna da piscina aquecida no
meio das montanhas com neve. Sentia Amélia atrás de mim, com os braços
em minha cintura e a cabeça apoiada em minhas costas. Era o momento
perfeito.
Ela começou a rir e a tentar fazer cócegas em mim, quando me virei,
não tinha mais Amélia, montanhas ou piscina.
Eu estava submerso em uma banheira com muita água e gelo
cobrindo meu corpo até o pescoço, e usava a mesma calça com a qual
chegara aqui. Não era igual às usadas para pessoas que tinham a prática de
afundar no gelo como terapia. A quantidade de pedras de gelo era além do
aconselhável, muitas das vezes, em contato direto, começava a queimar
minha pele antes de iniciar o processo de derretimento.
Era a segunda vez naquela noite que eu acordava na cuba de metal.
Na primeira, foi com eles me jogando. Depois de algum tempo imerso, meu
corpo apagou para se preservar. Acordei com o puxão no meu cabelo que
quase arrancou meu couro e fez minha cabeça ir para trás.
Comecei a me debater, querendo sair dali. Logo, pares de mãos
vieram me segurar para que não pudesse sair.
— Bem-vindo, Pugno d’orso. — O mesmo babaca de sempre sorria
como um lunático para mim, ao falar meu apelido com desdém.
Eu tive tratamento vip só nos primeiros dias. Dias em que o médico
passava sempre no nosso quarto, no mesmo horário, para verificar os pontos
em meu tórax, que foi onde teve o pior ferimento, uma das balas atravessou
minha caixa torácica e perfurou meu pulmão. Após ele confirmar minha
recuperação, as sessões de tortura começaram, para divertimento do homem
na minha frente.
— Oi, Leopoldo. — Eu sabia que o conhecia quando o vi da primeira
vez, só que, por conta da medicação, não consegui me lembrar direito.
Leopoldo Barsi, desde que comecei a entender mais sobre aquele
mundo, acionava meu sinal de desconfiança. Como muitos, perto do meu
pai, ele demonstrava um tipo de respeito por medo. Dificilmente
contrariava ou competia conosco por territórios. Até naquela merda de
tráfico humano, ele e meu pai se complementavam. Enquanto um ia em
busca das mulheres, o outro ia atrás das crianças. Quem desconfiava muito
de um casal com uma criança indo tirar férias na Europa? Pois aquele era
um dos jeitos preferidos para passarem na Alfândega.
Meu pai fingia que não contribuía para um dos maiores mercados de
Leopoldo — a exploração infantil —, e Leopoldo não competia pelo nosso
território. Afinal, era mais difícil transportar crianças sem causar suspeitas
do que convencer adultos a viajarem por dinheiro fácil.
Quando Eduardo insistira que o ajudasse, eu imaginei que poderia
estar interferindo em um esquema de alguém conhecido. Apenas não quis
cavucar e acabar encontrando quem estava por trás. Falha minha. Eu andava
disperso e irritado por não poder ficar com Amélia. Então, realmente aceitei
para extravasar minha raiva em qualquer coisa, sem pensar demais.
Claro que deu merda. Deu merda pra caralho. Ou eu não estaria
congelando naquela banheira.
Durante a minha estadia ali, Leopoldo fez questão de contar que
apenas aproveitara uma excelente oportunidade que meu pai e Alessandro
abriram. Ele só ainda não sabia até quando ficaria comigo. Provavelmente
estava esperando meu pai ficar mais disposto a aceitar qualquer tipo de
acordo.
— Eu tenho uma novidade para te contar. Estava ansioso por isso,
mas precisava do momento certo.
Eu só queria que o imbecil parasse de falar e eu pudesse sair dali
logo. Apesar das dores e sensação de queimação que a água extremamente
gelada causava, não considerava bem uma tortura. De tempos em tempos,
eu mesmo me imergia em uma banheira daquelas. Ajudava a controlar a
fera dentro de mim e a me preparar para alguma missão futura, sendo em
países mais gelados ou não.
— Sabe com quem eu passeei hoje? Com quem jantei e fui à ópera?
— Ele parecia feliz, um babaca feliz, andando de um lado para o outro, com
as mãos atrás das costas. — Uma ragazza, com belas curvas, e seu nome
começa com A.
Amélia!
Em um impulso, consegui me soltar das mãos que já tinham
afrouxado em meus braços e levantei-me com a fera rugindo dentro de
mim. Leopoldo deu vários passos para trás, pois seus homens demoraram a
conseguir me segurar e me jogar para a banheira, fazendo-me cair de lado
dentro dela.
— Sabe o que é melhor? — Leopoldo deu uma risadinha escrota, que
só me deu mais vontade de socar sua cara. — Você e ela sempre estiveram a
duas portas de distância. Mas hoje ela foi vendida. Vendida para o futuro
marido dela.
Eu podia lutar contra os dois homens e Leopoldo em um dia normal,
sem remédios me dopando ou aparelhos me dando choque. Aquelas foram
as únicas coisas que me impediram de não revidar ou matar alguns dos
soldatos de Leopoldo naquela semana de sessões de tortura sem propósito
nenhum.
Havia um mal-entendido clássico, comum para aqueles que
conviviam pouco comigo, eles me subestimavam. Achavam que os rumores
eram falsos. Espalhados para contribuir com ego, fama do meu pai. E para
que a família não fosse mal vista. A verdade era que muitos possuíam
preconceito por eu ter passado mais tempo da minha vida com a minha mãe
do que com o meu pai, vivenciando o que a máfia realmente era, precisava.
Eles ignoravam e sabiam bem pouco que meu apelido não era pelo
meu tamanho e potência do meu soco. Poucos tinham o conhecimento de
que era eu quem acompanhava os homens de meu pai com uma máscara
mais simples, em que uma caveira fora pintada de branco, para missões
mais arriscadas. Menos pessoas ainda sabiam que eu era o homem dentro da
cabeça de urso, que torturava como se sentisse prazer em ouvir os gritos.
Aquele era um segredo que meu pai adorava guardar, pois o espanto quando
descobriam era saboroso, ele dizia. E realmente era. Até eu sentia prazer ao
ver o exato momento em que descobriam que eu tinha sido criado como
uma fera que estivesse sempre pronta para caçar e matar.
Foi justamente essa falta de conhecimento e falta de credibilidade que
faziam Leopoldo tão confiante, mesmo quando errava. Naquele momento,
os erros principais de Leopoldo foram: diminuir a dose da droga que me
dopava e não ter me prendido à banheira.
Fiz menção de me levantar, quando o primeiro idiota se aproximou,
eu o segurei pelo pescoço e puxei até enfiar sua cabeça embaixo d’água. O
segundo soldato tentou me enforcar com um mata-leão. Eu apenas enrijeci
a musculatura do pescoço e ignorei quando comecei a sentir falta de ar. Não
soltaria ninguém até que seu corpo parasse de se debater e as bolhas de
subir.
— Atire nele! — Leopoldo gritou, esquecendo de sua própria regra.
Eu ouvira mais de uma vez o babaca alertando aos seus funcionários para
não entrarem com armas, pois eu poderia roubar. Mal sabia ele que não
precisava de uma, mas, com certeza, deveria ter algumas fora dali e eu já
pensava nelas.
Quem me enforcava ficou confuso por uns segundos e me soltou. Eu
soltei uma risada baixa. Ele não teria tempo de chegar à porta. Não com o
parceiro dele já morto. Eu soltei o que estava sem vida e logo me levantei,
já segurando o enrolado pelo colarinho da camisa. Meu pai teria matado os
próprios homens se fossem tão inexperientes. Quebrei o pescoço dele antes
que começasse a gritar.
Como um porco tentando fugir do abate, Leopoldo olhava para os
lados desesperado, procurando uma saída que não existia. Para o azar dele,
a única que tinha ficava atrás de mim.
— Em qual porta Lucca está?
Quando eu acordei pela segunda vez após o coma, Lucca não estava
mais no mesmo quarto que o meu e não voltou. Um dos seguranças deixou
escapar que ele estava sendo muito “bem tratado” em outra sala, pois ele
tinha participado junto comigo do resgate das crianças.
— Em frente. — Leopoldo apontou para a porta, com o dedo
tremendo e a voz trêmula. Ele podia conduzir um dos mercados que mais
pagavam e mais obscuro, porém, não fazia jus nenhum a alguém na sua
posição.
Era fácil colocar medo em mulheres e crianças assustadas.
Principalmente com seguranças armados andando para cima e para baixo.
Difícil era manter o controle sozinho.
— E Amélia?
— Rosso. Giovanni.
Eu sorri, ao menos sabia que ela estava segura, por mais que o babaca
à minha frente me encarasse como se tivesse comprado seu direito de viver,
só com aquela informação.
Em poucos passos, fiquei perto o suficiente dele para, com um soco
certeiro, o fazer desmaiar. Pela gola da blusa, puxei o corpo desacordado e
fui atrás de Lucca, um pouco depois de vasculhar seu corpo e encontrar
uma Glock bem similar à que eu usava. Coloquei-a no cós da calça e
arrastei o desacordado pela sala.
Pelo meu conhecimento das práticas de Leopoldo, ele mantinha um
pequeno cativeiro no subsolo de sua casa. Costumava levar as mulheres e
crianças que considerava mais valiosas para lá e as oferecia para quem
precisava agradar ou trocar favores. As outras iam direto para as casas de
prostituição.
Com tão pouca rotatividade no local, não devia ter muitos seguranças
fazendo a ronda, além dos que estavam na sala comigo. Eu contava com
isso quando meti a cabeça para fora da porta. Não havia ninguém.
Na porta em frente à minha, para abri-la, precisava da digital, por
isso, ergui a mão de Leopoldo e liberei a entrada. Assim que passamos para
dentro, fechei-a.
Lucca estava desacordado, jogado no chão, usando apenas o mesmo
tipo de calça que eu. Um emplastro branco cobria o lado direito de seu
corpo, pegava todo o seu braço, ombro e o início do tórax. Pela
vermelhidão, visível em alguns pontos, ele tinha sido queimado com algo.
Só não sabia dizer se com fogo direto ou algo químico.
— Lucca. — Eu me abaixei e sacudi o ombro saudável dele, até que
seus olhos se abrissem. Aquela merda devia estar doendo pra caralho,
porém, meu amigo não esboçou nada. Seus olhos turvos mostravam que
tinha sido drogado tanto quanto eu vinha sendo mantido. — Preciso que
você ande. Consegue andar?
Ele sacudiu a cabeça, concordando. Sem perder mais tempo, eu o
ajudei a ficar de pé e passei seu braço bom por cima do meu ombro. Por
sorte, tínhamos quase o mesmo porte e, com a adrenalina correndo minhas
veias, eu não estava sentindo nenhuma das dores dos ferimentos
recentemente cicatrizados.
— Vai levá-lo?
— Sim. — Voltei a pegar Leopoldo pelo colarinho. Não precisava
acrescentar explicações. Lucca já devia imaginar o que eu faria com o
desgraçado.
Por mais que não devesse ter mais nenhum segurança na parte interna
da casa, sempre ficavam alguns circulando o perímetro externo, e se fosse
igual a casa do meu pai, teria câmeras de segurança por todo lado. Então,
mesmo a gente conseguindo subir pelo elevador e sair pela porta traseira
sem causar grandes alardes, logo alguém veria e apareceria para tentar nos
impedir.
A gente só precisava chegar até um dos carros estacionados. O
primeiro que abrisse com a chave que peguei no aparador da sala, serviria.
Ali em cima, a claridade reinava. Lá embaixo, meu relógio biológico
funcionava de acordo com o controle de luz deles, o que, pelo visto, não era
tão fidedigno, ou a sessão de tortura não começara tão no início da noite.
— Tá aguentando? — Perguntei a Lucca, que tinha os lábios pálidos e
parecia estar perdendo os sentidos. — Só mais um pouco. — Eu já podia
ver os carros mais à frente.
Lucca praticamente se arrastava e Leopoldo começava a despertar
conforme seu corpo batia nos degraus da casa para o pátio. E nosso tempo
estava acabando. Alguns seguranças corriam até nós com armas em seus
punhos.
Eu não tinha sobrevivido a 4 tiros, cirurgias e tortura para morrer
alvejado no meio do gramado, a poucos passos da minha única chance de
fuga. Deixei Lucca com a chave para que continuasse o caminho sozinho e
tirei a Glock da cintura, pronto para retribuir os tiros.
Capítulo 33│Amélia
Depois de meia hora tentando dormir e não conseguir, desisti de ficar
na cama e me aventurei a sair do quarto. Era loucura. Estava numa casa
desconhecida, com pessoas que conviviam pouco comigo e sabiam que, na
casa vizinha, havia alguém que preferia me ver morta. Eu corria perigo ali?
Tentei fazer o mínimo de barulho possível de quando abri a porta de
madeira pesada aos passos que dei até descer a escada. Só fui andando e
aproveitando a decoração mais moderna do que na casa de Leopoldo. Com
certeza, o gosto de Donna imperava por ali e era mil vezes melhor do que o
do meu sequestrador.
No meio da escada, comecei a ouvir vozes em tons diferentes. Parei
com o intuito de entender o que falavam.
— Sem sono?
Dei um pulinho e quase virei o pé no degrau quando ouvi a voz de
Donna. Eu me segurei firme no corrimão e olhei para baixo. A mulher
estava bem no meio do corredor, que separava a escada da sala, com uma
taça de vinho em uma das mãos.
— Sim. Tem problema andar pela casa? — Terminei de descer os
degraus, com atenção redobrada. Agora, mais do que nunca, eu precisaria
me cuidar.
— Claro que não. Sinta-se em casa. Só não saia sem um de nós.
Assenti. Por mais tentador que fosse o verde do jardim e o labirinto
de parreiras, eu sentia falta de ar e palpitações só de pensar em ficar sozinha
do lado de fora.
— Também tive insônia quando engravidei.
— Nas duas vezes? — Mas aí lembrei. — Desculpa, por um
instante…
— Tudo bem, Lia. Fico feliz de você pensar dessa forma.
Donna não era a mãe de Carlo e Giovanni. Ela já havia me contado
aquela história, sobre seu casamento com Matteo ter sido arranjado depois
que ela engravidou de um homem que seu irmão, Salvatore, não aprovava.
A criança nascera morta e ela nunca nem viu como era, pois não deixaram.
Enquanto que os filhos do Matteo eram do primeiro casamento, no qual a
mulher morreu de câncer, que não quis tratar.
— Meu estômago tem doído bastante também, isso atrapalha a
dormir.
— Amanhã vou te levar ao médico, assim poderemos saber como que
está essa gravidez. E você vai poder pedir algo para essa dor.
Será que eu poderia ver a criança?
— Eu estava tomando alguns remédios lá… — Remédios que nunca
fizeram questão de me dizer para que serviam. — Acho que por isso que
voltou. Donna, sabe dizer quando vou poder falar com os meus pais?
— Eles devem estar dormindo, mas se quiser tentar agora. — Ela fez
um sinal com a cabeça para que a seguisse. Fomos até um escritório com
um laptop fechado sobre a mesa. — Uma videochamada deve ser melhor…
— Donna ligou o computador e o desbloqueou para que eu pudesse usar. —
Só cuidado com o que você vai falar, ok? Quanto menos detalhes eles
souberem, melhor.
Sentei-me na cadeira que ela puxou e minhas pernas tremiam de
nervoso. Foram necessárias duas tentativas antes da minha mãe atender com
cara de sono. Mas chorei junto quando ela me reconheceu e perdeu a fala,
tão emocionada quanto. Em pensar que, de vez em quando, eu fugia de
conversar com eles, por achar chato e cansativa aquela interação. Uma das
coisas que mais quis naqueles dias, foi poder perder horas conversando com
ela e meu pai sobre banalidades.
Eu apenas deixei a conversa seguir o fluxo dos assuntos que minha
mãe puxava. Até que uma hora ela ficou séria, e fiquei nervosa só de pensar
qual mentira precisaria inventar.
— Quando puder, ligue para a Babi. A bichinha tá muito triste desde
que tudo aconteceu.
— Tudo o quê?
— Não soube? O Eduardo morreu no dia que você viajou. Parece que
ele mentiu pra ela, dizendo que ficaria em uma missão, mas, na verdade,
estava internado em estado grave.
A notícia acionou o meu maior medo. Foi como um gatilho para a
situação de Daniel e, sem querer, comecei a chorar de soluçar. Donna
encerrou a ligação, despedindo-se de Lavínia da melhor forma possível e
garantindo que ligaria de novo. Logo depois, puxou-me para seus braços e
me confortou.
Eu já estava ficando irritada com tanto choro. Nunca fui muito disso e
imaginava que a gravidez era a maior responsável por aquela mudança. Em
segundo lugar, claro, estava o fato de ter sido sequestrada e mantida em
cárcere privado por um mês. Tendo isso em mente, saí do abraço e sequei
meu rosto na força do ódio.
— Quer que eu fique com você no quarto? — Donna ofereceu e eu
não neguei. Era uma segurança que nunca teria coragem de pedir. E foi a
solução para a minha insônia quando ela deixou que eu me deitasse em seu
colo e ficou afagando meu cabelo.
— Boa tarde, noivinha. Mamma pediu para te acordar, pois vocês vão
ao médico.
Demorei a entender o que estava acontecendo. Eu estava tendo um
sonho bom depois de dias tendo pesadelos. Meu cérebro não queria
despertar, queria continuar aproveitando a sensação gostosa do relaxamento
e do sono.
Com muita luta, fui despertando aos poucos, espreguiçando cada
músculo devagar.
— A propósito, você estava gemendo. Devia ser por isso que Daniel
curtia dormir com você antes de namorarem. — O safado estava com um
sorriso faceiro no rosto.
Nem pensei direito, taquei o travesseiro nele antes que visse que tinha
me deixado com lágrimas nos olhos.
Ótimo! Agora ninguém pode mencionar Daniel ou algo que lembre
ele que quero chorar!
— Ele está bem. Não precisa chorar.
Mas que… Eu achei que Giovanni já tinha saído do quarto. Não só
não tinha, como entrou e parou perto da minha cama, com os braços
cruzados e um olhar compreensivo.
— Não tô chorando.
Não queria compreensão ou lágrimas. Queria Daniel ali para eu gritar
com ele por ter mentido e feito toda sua família mentir para mim. E mais, a
verdade que me fez ser sequestrada!
Saí da cama sem calcular muito bem minha capacidade de não ficar
tonta e o espaço da mesinha. Esbarrei nela e voltei a me sentar na beirada
do colchão por ter perdido a visão por alguns segundos.
Respirei fundo, dei um tapa na mão que Giovanni pretendia usar para
me ajudar a me levantar e refiz tudo sozinha. No banheiro, me dei tempo de
sobra para repassar tudo, das conversas, detalhes, coisas que ninguém
falava, mas eu percebia nos gestos trocados.
— Acha que a mamma vai contar?
Antes de abrir a porta completamente do banheiro, escutei o sussurro
de Giovanni. O que mais tinha para contar?
— Não tão cedo.
— Você poderia falar algo. — Giovanni insistiu.
Quando percebi que Carlo não acrescentaria mais nada, saí do
banheiro pronta para perguntar o que estava faltando ser dito, porém, travei
ao ver a bandeja em cima da cama, farta de comida e, ao lado dela, uma
roupa nova.
— Eu podia descer e comer na sala de jantar ou… — Virei-me para
Carlo que estava sentado na cama, roubando um tomatinho cereja do meu
prato. Aqueles dois formavam uma bela dupla de implicantes. Combinavam
bem com Daniel. Olhei para cima e controlei a respiração ao menor sinal
dos meus olhos encherem de lágrimas.
— São duas da tarde, a gente já almoçou. — Carlo se levantou da
cama e sorriu para mim. E a troca de olhares entre ele e Giovanni não
passou despercebida por mim. Eles conversavam muito mais daquela forma
do que falando como pessoas normais. — Mamma preferiu deixar você
dormir o máximo que podia. Quando você voltar, a gente termina a
conversa de ontem e explicamos o que pretendemos fazer para encontrar
Daniel. Isso é, se você quiser participar de algo. Se preferir ficar aqui e não
se envolver, a gente vai entender.
— Eu só não vou pedir mais explicações, inclusive, sobre o que sua
mãe ainda tem para contar, porque eu preciso saber como está a criança na
minha barriga.
— Foi o que imaginamos. Boa consulta. — Carlo deu um sorriso
satisfeito e puxou o irmão para fora do quarto.
Sem eles me analisando de cima a baixo, coloquei o vestido
vermelho, de tecido fresco, que fica soltinho da cintura para baixo, ia até
meus joelhos, possuía um decote em v e mangas longas que cobriam meus
pulsos. E comi um pouco da bruschetta com brie e tomatinhos, tentei
experimentar a pasta, porém, meu estômago revirou só de olhar, o que
consegui comer melhor foram os morangos frescos. Por sinal, saí do quarto
com o potinho cheio deles em mãos.
Donna me esperava no escritório, conversando com Matteo, sentados
ao redor de uma mesinha na varanda da frente da casa. Eu os encontrei
pelos murmúrios que se espalhavam na casa silenciosa quando desci.
— Não acho seguro. Devia ter chamado o médico aqui. — Matteo
reclamava enquanto dava batidinhas com a ponta da bengala no chão.
Dessa vez não me mantive escondida atrás da porta só para não me
verem, saí e sorri para o senhor preocupado. Eu estava quase perdendo o
medo dele.
— Ela precisa de roupas, amore mio. — Donna sorriu para mim e
voltou-se para o marido.
— Os garotos vão com vocês além dos soldatos.
Ela respirou fundo e soltou o ar devagar.
— Nem parece que sou eu quem manda aqui. — Donna levantou.
Apesar da reclamação, havia um sorriso em seus lábios ao ir até Matteo e
deixar um beijo em sua testa. — Voltamos logo. Carlito, Gio! — Gritou da
porta e depois falou em italiano que era para irem conosco. Os dois
apareceram como se já esperassem serem chamados e com suas armas em
mãos, que logo guardaram dentro do coldre no paletó e por dentro da calça.
Eu precisaria me acostumar àquilo e que eles não esconderiam mais de mim
quem eram e o que faziam. — Vocês vão com os rapazes. — Ela apontou
para homens que eu não conhecia, mas que estavam próximos a uma SUV
preta.
Eu estava quase perguntando porque não poderíamos ir no mesmo
carro quando reparei Donna se dirigindo para uma Lamborghini Asterion
azul. Linda. Apenas aceitei entrar quando ela abriu as portas e sentei minha
bunda no estofado de couro marrom meio caramelo, com detalhes em bege
claro, tentando não destruir nada.
— Não se preocupe, não vou rápido demais para não atacar seus
enjoos.
Assenti e tentei relaxar, pelo visto, minha cara não escondia a tensão
que estava sentindo tanto para não fazer algo estragasse o carro quanto a
velocidade que ela iria com um carro que ia de 0 a 100 km/h em 3
segundos.
Ela colocou uma música, o que acabou me ajudando a aproveitar a
vista. Da estrada de terra do vinhedo para a civilização, tudo era muito
bonito, verde, florido, não parecia esconder o caos que aquela família
representava.
Não demoramos a chegar ao médico. Um prédio modesto na área
mais moderna da cidade. O carro com Carlo e Giovanni estacionou logo
atrás do nosso, mas eles não subiram. No consultório só tinha nós duas, a
recepcionista e a médica.
— Nunca que estaria assim na médica que costumo ir — falei apenas
para Donnna ouvir. Ela deu uma risadinha.
— Eu pedi essa cortesia à Acácia. A gente não pode demorar e nem
correr riscos. Normalmente, ela vem à nossa casa, mas como vamos ver
algumas coisas que você possa precisar…
Acácia nos cumprimentou animada, parecia feliz em atender Donna e
me tratou com muita paciência, falando devagar para que eu
compreendesse. Minha anfitriã avisou que, com um pouco de persuasão,
conseguiu meus exames de sangue com o outro médico. Aquilo ajudou para
sabermos que não tinha nada alterado, exceto por uma leve anemia.
O que mais me surpreendeu e me fez chorar de novo, foi descobrir na
ultra que estava com quase 10 semanas, um pouco mais de dois meses, pelo
que foi explicado. Isso queria dizer que engravidei no dia da bebedeira sem
fim. Eu estava em choque e feliz ao mesmo tempo, pois ouvir o
coraçãozinho bater forte não tinha preço. Até Donna se emocionou e falou
algo sobre coisas boas atraírem outras melhores, que aquilo era um bom
sinal.
E eu concordaria com ela se, quando a gente desceu, o pai de Daniel
não estivesse encostado no carro azul, esperando por nós.
— Não acredito que vieram ver meu neto sem mim!
Eu gelei quando ele abriu os braços, claramente esperando que eu
fosse cumprimentá-lo. Donna deu um pequeno empurrão na minha lombar,
incentivando minhas pernas travadas, e eu não fui. Minhas pernas pareciam
presas ao chão.
— Pensei que Leopoldo tivesse mostrado tudo o que gravou.
Nem eu entendia porque estava resistindo e agindo daquela forma.
Podia sentir os olhares tensos de Donna e seus filhos sobre mim. O
problema era que eu sentia uma raiva tão grande daquele homem que eu
mal me reconhecia. Por mim, a cabeça dele podia explodir.
— Nada como o ao vivo.
— Ou você achou que estava procurando pelo seu filho?
Matarazzo gargalhou, porém, todos permaneceram sérios, no aguardo
do que ele faria. Para a surpresa de todos, ele esticou o braço na direção da
padaria ao lado do prédio, em um convite mudo para irmos com ele.
— Se você souber onde ele está, me diga. — Ele puxou uma das
cadeiras de ferro bem trabalhado para eu sentar. — Daniel está vivo, sim.
Porém, não está comigo.
Eu o encarei desconfiada enquanto que Donna e os outros dois tinham
semblantes preocupados. Matarazzo suspirou ruidosamente ao sentar-se,
após fazer a mesma gentileza por Donna.
— Ele e Eduardo resolveram dar uma de bons samaritanos.
Infelizmente, sem saber o que ele tinha feito, o deixei vulnerável.
Matarazzo confessou ter sido responsável por subornar um tal de
Alessandro a armar um esquema para Daniel ser preso e levado até um local
seguro. Porém, Daniel fugiu, foi atingido, tratado e transportado quando
pareceu seguro. Tudo isso fazia parte do plano absurdo do homem perto de
mim. O problema foi quando Daniel iria aterrissar no aeroporto. O jatinho
que o buscou estava vazio.
Prendi a respiração e senti meus olhos encherem de lágrimas, ao
mesmo tempo em que Donna pegou minha mão com delicadeza e a apertou.
A única segurança que eu tinha sobre o estado de Daniel, acabara de acenar
ao longe.
Capítulo 34│Daniel Bianchi
Com Leopoldo se debatendo, precisei dar um tiro na perna dele para
que parasse e o ergui do chão, colocando-o na minha frente. Aquilo poderia
estragar meus planos, se ele morresse antes de chegarmos em casa. De toda
forma, meu tiro serviu de alerta para mostrar que, se começassem a atirar
em mim, eu revidaria no chefe deles.
Até chegar ao carro, ninguém se atreveu. Bem diferente do que
aconteceu depois que joguei Leopoldo no banco traseiro e ocupei o lugar do
motorista. Lucca, ao meu lado, pediu a arma. Enquanto eu dirigia, ele se
esforçava para colocar o braço para fora e tentava acertar qualquer coisa ou
pessoa que nos ajudasse a escapar dali com vida, sob a chuva de tiros que
começamos a receber.
Leopoldo abaixou quando o primeiro tiro atravessou o vidro de trás.
— Seu carro não tem proteção? Como que você está vivo até hoje? —
Eu estava incrédulo com a falta de blindagem e torcendo para a cancela na
entrada da propriedade seguir o mesmo padrão de baixo investimento que o
carro, pois passaria por ela com tudo.
— Esse é novo. — Leopoldo cobriu a cabeça com os braços.
— O pai dele morreu tem dois anos. Esse daí vivia em festinha. —
Lucca murmurou, a voz bem falha enquanto descansava no banco, com a
mão sobre a barriga, sacudindo a arma.
— Então seu pai vai me agradecer, pois o meu certamente o faria. —
A cancela estava na nossa frente, juntamente com um segurança apontando
uma metralhadora na nossa direção.
Pisei no acelerador e fui com tudo. Não havia a opção de se render.
Ainda que a gente precisasse se abaixar para escapar dos tiros agora pela
frente também.
O carro só não bateu no segurança, pois, no último segundo, ele saiu
da frente.
A gente teve alguns minutos de vantagem enquanto os seguranças
ficaram para trás, possivelmente se arrumando em carros para nos
perseguir. O que deu tempo suficiente para não pegar as estradas mais
usadas e conseguir despistá-los com facilidade.
— Seu celular! — Demandei, esticando o braço para trás. Leopoldo
demorou, mas passou o aparelho.
Eu apenas precisava sair da Lombardia, região de Leopoldo. Ligúria
estava perto. E, apesar de Alessandro estar envolvido no plano do meu pai
para me tirar do Brasil, com certeza ele não ia me querer morto no seu
território. Liguei para o número do consigliere dele e expliquei tudo.
Não deu outra, assim que passamos para as terras de Alessandro, dois
carros passaram a fazer nossa escolta até Toscana. Isso não tornou a viagem
menos tensa, Lucca começou a ter febre e pequena convulsões ao meu lado.
Se pudesse, ao perceber que estávamos próximos de casa, teria ligado
para Amélia. Poderia tentar Donna ou Giovanni, mas não me lembrava do
número dele. Por isso, avisei o médico que costumava atender emergências
da família sobre o estado de Lucca, e pedi para que nos encontrasse na casa
do meu pai.
O tempo inteiro eu fui falando com ele, para que não apagasse. Eu
não tinha amigos. Não de verdade. Lucca era o mais próximo a isso. E, lá
no fundo, eu sabia que se ele morresse, a culpa seria minha, pois fui eu
quem o colocou naquela situação toda.
O local estava tranquilo. Logo no portão de ferro da entrada, os dois
seguranças, ao me reconhecerem, levaram um susto. Eles me avisaram que
meu pai tinha saído e a família de Donna também. Don Salvatore estava
colocando todos eles para trabalharem em dobro por conta do meu sumiço.
Alguém está falhando no serviço, pensei, porém não falei. Ligar meu
desaparecimento a Leopoldo não era tão difícil assim. Ou meu pai pretendia
ganhar algo mais, deixando que Leopoldo pensasse que conseguira me
sequestrar, ou alguém não estava passando as informações corretas, pois o
que mais tínhamos eram informantes infiltrados.
Deixei que falassem o básico antes de pedir para que levassem
Leopoldo para o casebre enquanto o retiravam à força de dentro do carro.
— O médico já chegou. Quer que informe seu pai que você está aqui?
— Stefano, o consigliere do meu pai, aguardava-nos na porta quando
estacionei o carro. Um homem tão sem escrúpulos quanto seu Don, e que eu
não fazia muita questão em manter por perto.
— Não. Só me ajude com Lucca. — Saí do veículo e dei a volta,
abrindo logo a porta do carona. Lucca nem mais respondia. — Acho que
desmaiou.
— Quem fez isso com vocês? — Stefano veio me ajudar e, juntos,
puxamos Lucca para fora do carro e colocamos um braço dele por cima do
ombro.
— Prefiro esperar meu pai chegar. — No momento, eu não estava
confiando em ninguém. Tinha certas suspeitas e preferia mantê-las para
mim até poder fazer algo. — Vou tomar banho enquanto o médico o
examina.
Antônio, o médico, já tinha arrumado seus utensílios todos numa
saleta perto do escritório do meu pai, pois era o local que costumávamos
usar em momentos como aquele. Calmo e determinado, ele nos orientou
como colocar Lucca na cama. Depois nos expulsou, como sempre. O
senhorzinho de quase 70 anos preferia a paz da solidão na hora de
diagnosticar seus pacientes.
Por mais que eu quisesse me demorar no banho e aproveitar que
finalmente tinha água morna caindo sobre mim, subi para o meu quarto e
fiz tudo de forma automática e rápida para que tivesse tempo de receber
Don Salvatore.
Ao descer, passei na saleta em que o médico tratava Lucca. Ele
iniciou antibióticos na veia e já fizera um pedido meio diferente para
colocar por cima da região queimada, pele de peixe. Eu que não ia
questionar seus métodos, ele nunca falhara com ninguém da nossa família.
Depois, fui me encontrar com Stefano na sala principal. O consigliere
me esperava sentado em uma das duas poltronas de madeira com estofado
amarelo claro, e duas taças de vinho na mesinha entre elas. Aquela casa era
a mesma para a qual fui carregado por um segurança. Quase nada tinha
mudado, pois meu pai não se importava muito com aquilo e depois que sua
mulher morreu, não quis mexer em mais nada.
Aceitei a taça que Stefano estendeu para mim e me sentei na cadeira
ao seu lado. Precisava entender aquela história do meu pai querer me
sequestrar e o que deu errado. Isso sem contar a quantidade de tiros que
levei de uma vez.
Antes de ele conseguir falar qualquer coisa, pude ouvir o barulho dos
carros chegando e estacionando na frente da casa. Meu coração acelerou só
com a ideia de que talvez Amélia estivesse tão perto. Deixei a taça intocada
na mesa e me adiantei para a porta, sem pensar demais se ela estaria muito
irritada comigo ou se nem ia querer me ver. Eu só precisava vê-la, saber que
estava bem.
Não parecia que eu tinha matado várias pessoas só para me libertar e
chegar até ela, pois eu me sentia o cara mais inseguro na hora em que abri a
porta e desci os degraus, focado nos carros atrás do que meu pai saía,
ignorando o espanto em seus olhos. Eu duvidava muito que Amélia
estivesse com ele.
Para minha decepção, só seguranças saíram das SUVs e Carlo e
Giovanni do carro do meu pai, meio incrédulos ao me verem.
— Ela e Donna ficaram para ver algumas lojas. — Girei a cabeça ao
ouvir a voz do meu pai.
— Pelo visto, Stefano abriu a boca. — Meu pai não esboçava
surpresa nenhuma ao me ver. Por mais frio que ele fosse, não ficaria sem
expressar nada, além de fazer uma pequena análise, olhando para mim de
baixo para cima.
— Alessandro também. — Ergueu o celular em sua mão. — Meio
atrasado, mas falou que você passou pela área dele como se fugisse do
diabo. Ele precisa parar de beber. Isso não são horas de alguém como ele
acordar.
— Você sabe que ele não tem salvação. — Carlo comentou. — E que
o ideal é firmarmos o quanto antes nosso domínio por lá. E você, inteiro?
— Apertou meu ombro, forte como quem conferia que eu estava ali de
verdade.
— Inteiro. — Ainda estava apreensivo. Não dava para esquecer que
eu quase morri por um capricho do meu pai. Por outro lado, ele não era um
exemplo de amor e comportamento paternal. E seus métodos nunca seriam
aprovados por psicólogo nenhum. O que eu estava pouco me fodendo,
porque eu tomara minha decisão naquela noite na varanda. Não haveria
volta para mim e Amélia. Se ele não quisesse, precisaria lidar com sua
frustração de outra forma.
— Sabia que estou noivo? — Giovanni arqueou uma sobrancelha e
deu um meio sorriso prepotente, pedindo para que eu o socasse.
— Quer que eu arranque suas bolas agora ou mais tarde? — Eu dei
um sorriso falso e apertei o saco dele para demonstrar que não falava
brincando.
Giovanni na mesma hora segurou meu braço e pulou para trás.
— Só estou cumprindo ordens! Melhor eu do que o Stefano.
Eu bufei e dei as costas para os sociopatas. Não tinha um ali que não
fosse. Eu estava decepcionado e puto por Amélia não estar com eles.
— Isso não é comportamento de um Don. Pare com essas coisas,
Daniele. — Salvatore deu as costas para a gente enquanto atendia o
telefone. Aquela devia ser a frase favorita do meu pai. Principalmente
quando sabia de algo que eu fazia pelo Brasil, antes de levar mais a sério a
famiglia e a máfia.
Giovanni cruzou os braços e ficou subindo e descendo as
sobrancelhas. Aquele babaca estava brincando com perigo.
— Daniele, o que você fez? — Meu pai virou, com um semblante
bem mais fechado, eu diria até furioso.
Sacudi os ombros, sem entender ao que ele se referia.
— Por que os homens do Leopoldo estão causando confusão no
centro da cidade?
Merda.
— Você devia imaginar que eu não ia deixar um dos sequestradores
de Lia vivo como se nada tivesse feito. — Esperava que ele compreendesse
o restante da frase. Não exporia a verdade na frente de seguranças, era uma
regra inquebrável não falar tudo o que tinha a ser dito na frente de qualquer
um. Mas ele sabia que se não fosse meu pai, veria a morte muito em breve.
— Sua vingança não vai adiantar de nada se eles pegarem Amélia de
novo.
Demorei apenas alguns segundos para ligar os pontos. Ignorando que
Carlo avisava que elas estavam com seguranças, xingando e me
perguntando quando que a calmaria viria para nós, saí correndo para a
garagem onde o La voiture noire me esperava, um Bugatti negro como a
noite, tão especial que não devia ter mais do que dois rodando pelo mundo,
um registrado e o meu.
— Você pretende achá-la como, idiota? — Carlo segurou a porta
antes que eu a fechasse. — Toma, já está chamando a minha mãe. — Ele
me entregou o próprio celular, com uma chamada em andamento. — Não
seja o Daniel que ela conhece. Agora ela precisa do que cresceu para nos
comandar. Entende? Porque, senão, ninguém sobrevive.
Nem tinha pensado em nada daquilo. Amélia me deixava cego e sem
pensar de forma racional. Eu estava sem celular e ela provavelmente
também. Ou seja, ele tinha razão. Eu precisava ser o Daniel crescido e
criado no meio da máfia italiana. O mesmo que escapou de onde estava
preso e matou mais gente em meia hora do que um militar em guerra.
Acenei para que ele compreendesse que eu o tinha entendido, fechei a
porta e acelerei.
Existia uma possibilidade de nem estarem por perto da confusão, mas
algo me dizia que se tinha alguém para estar na hora e local errados, era
Amélia. E, por isso, fui o mais rápido que pude, respirando fundo e
pensando de forma pragmática.
— Carlito, não é uma boa hora. — O barulho de tiros ao fundo da
ligação deixaram-me em alerta.
— Não é ele, Donna.
— Daniel? Não acredito! Como…
— Onde vocês estão?
Ela me falou e eu desliguei. Conhecia o caminho como a palma da
minha mão e não tive dificuldade para encontrá-los, tanto pelo barulho das
sirenes quanto pela muvuca de pessoas reunidas pós tiroteio controlado.
Saltei do carro, colocando a Glock reserva no cós da calça, depois de
estacioná-lo de qualquer jeito na esquina da rua e me aproximei, torcendo
para que não visse Amélia entre os corpos estirados no chão.
Foi um reflexo de algo brilhando que me fez virar o rosto e ver a
mulher que eu amava sendo puxada pelo braço, com uma arma apontada
para sua cintura, para dentro de uma das ruelas duvidosas que só quem
morava por ali se arriscava a entrar. Não que normalmente houvesse algum
risco, porém, turistas tendiam a ficar nas ruas principais.
Retirei a arma do cós, engatilhei e os segui sem ser notado. Minha
respiração era tranquila, meus pensamentos eram claros sobre o que deveria
fazer, tudo bem diferente do meu coração, que batia tão rápido quanto um
lobo correndo.
Se o homem que a arrastava me visse, seria mil vezes mais arriscado
para ela. Então, todas as vezes que ele olhava para trás para conferir se
alguém os seguia, eu me escondia.
Por favor, Lia. Não o enfrente.
Rezei ao ver que Amélia se virava para ele em um misto de raiva e
medo, que poderia ser um perigo se ela abrisse a boca e o provocasse,
achando que o faria mudar de ideia. Eu conhecia a minha mulher. Ela já
fizera algo parecido com um bandido ao perceber que estava desarmado e
saiu correndo para onde havia movimento. Existia a possibilidade de
encontrar algo que pensasse ser favorável e tentar escapar.
Respirei bem mais aliviado ao ver que ela pareceu desistir da ideia de
falar com ele ou com o grupo de pessoas que passou por eles.
Eles viraram em mais uma ruela, diminuindo o ritmo. Aguardei
apenas o momento certo em que ele afastou a arma de Amélia e não
houvesse risco de acertá-la por reflexo, para mirar em sua cabeça e atirar.
O homem caiu, dando um tranco no corpo de Amélia por ainda o
segurar. Ela soltou um grito curto e assustado, e se afastou com olhos
arregalados ao ver que ele estava morto. Respirando ofegante, virou em
minha direção e seus olhos aumentaram mais ainda, indo de mim para a
arma, o que me fez perceber que nem tinha abaixado a Glock.
Querendo amenizar a situação, tratei de guardar a arma atrás da calça
e me aproximei dela.
— Você está bem? Ele te machucou? — Ela parecia que levou um
choque quando toquei seus cotovelos, conferindo se estava tudo ok.
Perceber o quanto estava pálida, com olheiras profundas e bem mais magra,
partiu meu coração. Todo meu esforço para mantê-la longe daquele tipo de
situação foi em vão. E, de cara, ela teve as piores experiências ao conhecer
a verdade parcial.
— É você mesmo? Você está aqui?
— Sim, Lia. — Mantive o agarre em um de seus cotovelos e subi a
outra mão para seu rosto, acariciando a bochecha macia com os nós dos
dedos.
Capítulo 35│Daniel Bianchi
Assim que entramos no carro, liguei para Donna e deixei a chamada
no viva-voz para que, depois de passar o celular para Amélia, eu também
ouvisse.
— Onde você está? — Ela atendeu, preocupada.
— Com Amélia. Ela já estava sendo levada por um dos homens de
Leopoldo.
Ouvimos Donna soltar meia dúzia de xingamentos em italiano antes
de informar que, tirando um dos nossos, todos estavam bem e ela ia voltar
para casa, tendo em vista que Amélia se encontrava fora de perigo.
— O que aconteceu lá? — Perguntei à Amélia, para ver se fora algo
voltado a ela ou se fora a consequência dos meus atos.
— A gente tinha acabado de sair de uma da loja de roupa quando um
carro parou no meio fio, perto da gente. Então, começaram a atirar. Donna
comentou algo sobre terem nos reconhecido.
— Então eles apenas deram sorte de encontrar vocês, próximo de
onde atacariam.
Ela assentiu, cruzou os braços e passou a olhar a janela ao seu lado
para o retrovisor, um sinal claro de que não falaria mais comigo.
Como não pretendia levá-la para casa direto, pois tínhamos muito a
conversar, optei pela forma que sabia que mais chamaria sua atenção e
poderia quebrar o clima distante entre nós.
Foi assim que cheguei à conclusão de que ela estava irritada comigo.
Não era pouco. Era muito. A ponto de eu estar acima do limite de
velocidade e não estar ouvindo uma reclamação de sua parte. Desde que
entrara naquele carro, Amélia cruzou os braços e manteve o olhar fixo à sua
frente. Só teve um segundo que resvalou o olhar para conferir os números
no painel. Se estivéssemos em nossa rotina comum, ela já estaria gritando
pela minha irresponsabilidade.
— Amélia, você aceitou vir comigo. — Eu me pronunciei, torcendo
para ouvir sua voz.
— A outra opção era ficar na rua para ser sequestrada de novo. — Ela
retrucou, entredentes. — Só não sabia que você iria tentar cometer um
homicídio em alta velocidade. Ah, é. Esqueci. Você já cometeu vários. —
Soltou o ar numa lufada, subindo e descendo os braços. Foi inevitável não
acompanhar os seios dela seguindo o mesmo movimento dentro daquele
decote generoso que o vestido vermelho proporcionava.
Reduzi até ver alívio perpassar em seus olhos. Meu objetivo não era
piorar nossa situação.
— Eu queria conversar com você, de verdade.
Só obtive silêncio.
— Pare o carro.
— Estamos no meio da estrada…
— Só pare o carro, Daniele.
O desespero na voz dela era tão grande que eu quase bati no único
outro veículo que chegou perto do meu conforme reduzi a velocidade.
Assim que parei na beira da estrada, com o campo de girassóis de um lado e
algumas árvores do outro, ela tateou a porta, tentando abrir, sem sucesso.
Eu acabei fazendo por ela.
Em dois segundos, Amélia saiu correndo e se apoiou nas coxas para
vomitar. Eu demorei um pouco mais a compreender que ela estava passando
mal.
A doida estava ficando enjoada e não falou nada? Não teria sido
mais fácil avisar antes?
Peguei uns lenços de papel e uma garrafa d’água no compartimento
entre os bancos.
— Você podia ter falado comigo, pirralha. — Estendi a embalagem
para que ela pegasse um papel e limpasse a boca, guardei os que sobraram
no bolso da calça. Depois entreguei a garrafa já aberta. Amélia bochechou e
cuspiu, deixando um pouco de baba respingar no vestido que usava.
— Você sabe que odeio quando vai rápido demais. Eu já entendi que
você tem toda uma vida paralela à minha realidade. Mas não sabia que
ignorar o que conhece de mim estava incluso!
Fiquei me sentindo péssimo. Culpado por ter forçado uma situação
por um motivo idiota. A sensação piorou ao ver os olhos marejados.
— Desculpa. Não foi minha intenção. Eu quis provocar. Ver se você
brigava comigo como costuma fazer.
— Conseguiu! Porque é justamente o que estou fazendo! — Ela
gritou, brandindo a garrafa no meu rosto, molhando seu braço e minha
roupa. — Mas que merda, Daniel! Eu queria ser forte o bastante para
quebrar a sua cara. — Amélia impulsionou a mão com garrafa contra meu
peito, esmagando e praticamente esvaziando tudo em mim.
— Posso arrumar um bastão, quer? — Segurei o braço dela e retirei a
garrafa de sua mão. Meu tom era leve, mas eu compreendia toda sua fúria.
Na verdade, eu já esperava por ela. Desejava até, pois era melhor tê-la
berrando que eu não prestava do que sua indiferença.
Amélia bateu com o outro punho em meu peito. A ogrinha era
pequena, mas era forte. Achei que fosse dar socos até cansar, mas não. Os
braços deslizaram pelo tórax e depois os deixou pendentes ao lado do corpo
enquanto apoiava a testa em meu peito. O barulho estrangulado e o
movimento de seu corpo como se tivesse soluçado, fizeram-me perceber
que ela estava chorando. Merda. Joguei a garrafa no chão, deixando para
pegá-la depois, e abracei Amélia forte.
Os braços dela envolveram minha cintura timidamente. Meu coração
se partiu ao notar seu desalento. Não tinha nada que eu pudesse fazer. Nada
a faria esquecer o que vivenciara nos últimos dias. Nada apagaria o pavor
do abandono, de ser sequestrada, abusada e quase vendida. Tudo o que
sempre quis evitar, aconteceu. Eu me sentia um merda por não a proteger
como sempre quis. Ficamos uns cinco minutos naquela posição.
— Eu tive tanto medo… — Choramingou contra meu corpo. Abracei-
a mais forte, deixando minhas lágrimas caírem também. Porque eu também
senti medo. Um medo absurdo de nunca mais encontrá-la. Ou chegar ainda
mais tarde.
— Eu sei, coração. Acho que nunca vou conseguir me desculpar por
tudo o que passou por minha culpa. — Procurei acariciar suas costas, beijar
o topo de sua cabeça. Era o que precisava para me tranquilizar.
— Sempre serei grata por ter me salvado, Daniel. Mas… — Ela saiu
dos meus braços, afastando-se alguns passos e secando o rosto com as
mãos. — Eu acho que nunca mais conseguirei olhar direito pra você.
Amélia passou a abraçar o próprio corpo. Suas palavras foram o
mesmo que atirar no meu peito.
— Amélia…
— Eu quero ir pra casa. No Brasil. Quero férias… Não sei mais nem
se quero continuar trabalhando com a sua mãe.
— Amélia, minha mãe não tem culpa de nada. Acredite em mim. —
Implorei, tentando me aproximar, mas a cada passo em sua direção, ela se
afastava.
— Estranhamente, eu acredito nisso. O problema é que trabalhar com
ela, é ter um vínculo com você.
— Você mora comigo.
— Acha mesmo que vou continuar depois de tudo isso? — Ela abriu
os braços, gesticulando de forma espalhafatosa. — Você vive uma vida
medíocre diante de tudo o que pode ter. Olha o seu carro! — Fez um gesto
para o meu Bugatti. — Parece que eu poderia ir à lua e voltar com ele. Sem
mencionar a mansão, os empregados, as roupas caríssimas! Sabe quanto
custou esse vestido? — Eu neguei. — Mais de mil euros! E o que eu fiz?
Vomitei nele.
— A gente pode comprar outro quando chegarmos na cidade. — Eu
sabia que estava provocando, mas era mais forte do que meu senso de
perigo. Gostava de deixar Amélia pilhada. Ela soltou uma risada
debochada.
— Você entendeu o que eu quis dizer.
— Eu não ligo para nada disso que você citou. Tá, a gente poderia
morar em uma casa melhor…
— Daniel!
— Ok. Parei. Prometo que parei. — Ergui as mãos, em rendição. —
Vamos fazer o seguinte? — Pedi, usando meu tom sério. — A gente volta,
você tira uns dias para pensar, e depois decide onde irá morar. Pode ser
assim?
— Daniel, você mentiu todos esses anos.
— Mas foi por um bom motivo, Amélia. Eu não a queria envolvida
com nada disso.
— E tirou meu poder de escolha sobre aceitar esse seu lado. — Ela
fez uma careta. Era pior ver que não conseguia pronunciar do que se me
chamasse por qualquer classificação que estivesse pensando.
— Mas não era você que adorava um filme com um mafioso? — Ela
veio com tudo. Punhos cerrados, mandíbula travada e olhar assassino. —
Desculpa. — Pedi inutilmente, tentando me desviar dos socos em meus
braços e peito. Ainda bem que ela era péssima naquilo. — Foi mais forte do
que eu!
— Sério, por quê? — Ela apoiou as mãos na cintura e inflou o peito.
— Eu, literalmente, acabei de passar um dos maiores traumas da minha
vida e você está fazendo piadas sobre mafiosos. Eu devia pregar teu cu,
Daniel.
A situação não pedia, mas eu gargalhei. Amélia estava vermelhinha,
toda ouriçada.
— Desculpa, coração. Mesmo. Mas… implicar com você faz parte de
mim. Você está sã e salva, praticamente sem um arranhão. Eu estou vendo o
lado bom de tudo, só isso. Fora que você fica linda irritada.
Ops… Acho que falei demais. Amélia lançou um olhar fulminante
para mim.
— Sabe, você podia, pelo menos, ter me contado esse monte de
merda antes de fodermos que nem coelhos.
— Uau! Eu realmente depravei você. — Sorri, encostando a ponta da
língua no canino.
Capítulo 36│Amélia
Eu quis pular e esganar Daniel. Para ser bem sincera, eu quis fazer
isso inúmeras vezes desde que descobri a verdade verdadeira sobre quem
ele era e sua família. Porque, né, não era uma família que eu poderia
facilmente ignorar. E eu apostaria que ele estava falando sobre morarmos
juntos no Brasil só para não me assustar tanto, pois, se ele pretendia assumir
o lugar do pai dele algum dia, não poderia ser morando oficialmente em
outro país. Então, a gente até…
Pare, Amélia. Não tem “a gente”. O pai dele, inclusive, te proibiu de
falar sobre a criança, lembra?
Minha memória logo me repreendeu por estar viajando em um futuro
impossível, afinal, eu só estava ali, livre, porque concordei com o
casamento com o Giovanni.
— Se eu ficar, se aceitar, sei lá o que que você está propondo, você
conseguiria não esconder mais nada de mim? Tem mais alguma coisa que
eu preciso saber? — Fiz questão de erguer a cabeça e encarar firme os olhos
pequenos e sisudos de Daniel.
Ele desviou o olhar e, naquele momento, eu sabia que tinha muito por
trás do Daniel, meu amigo. Fiquei quieta, vendo se tentaria defender tudo o
que me pedia ou se desistiria.
— Tem uma coisa… — Respirou fundo, comprimiu os lábios e,
finalmente, voltou a me olhar daquele jeito sério e doce, que pegara a mania
de usar nos últimos dias que passamos juntos e precisava me explicar algo
da sua vida. —Tem algo que eu faço que nunca teria coragem de te mostrar
e também não quero que veja.
— Isso só me deixou mais curiosa.
— Vai muito além da visão que você tem de mim, Lia. — Daniel
escondeu as mãos nos bolsos e encolheu os ombros, parecia enfrentar o
constrangimento por seus atos e o não arrependimento pelos mesmos.
— Que tal experimentar me contar e deixar eu decidir o que acho?
— Não. — Seco e curto. Conseguiu me irritar. — É algo inegociável.
Eu podia não estar sendo honesta com ele, sabia que deveria contar
sobre a gravidez. E, com certeza, iria, assim que me sentisse segura. Pois,
até ali, eu tinha uma ameaça velada pairando acima da minha cabeça. Logo,
não sentia segurança alguma sobre o serzinho que crescia dentro de mim.
— Ótimo. Vamos voltar e ver se consigo ir pra casa. — Soltei o ar em
lufada irritada e girei nos calcanhares. Na mesma hora, quis retornar e me
esconder atrás de Daniel.
Parada ao lado do carro, havia um bicho que eu duvidava que era um
cachorro simples. Algo me dizia que era um lobo. Com três tons, marrom,
marrom claro e branco no peitoral e embaixo do focinho. Minhas pernas
bambearam. Meu sangue gelou.
Não tá bom de desgraça, não?
O rosnado começou e eu dei um passo para atrás.
— Luna… — A voz de Daniel veio firme e prolongada. Um pai
chamando a atenção do filho antes de ele fazer merda.
O que, pelo visto, era uma loba, aproximou-se de nós a passadas
lentas. Eu só não saí correndo porque Daniel continuou parado, olhando
fixo para o animal. Quando ela começou a cheirar minhas pernas e a
encostar o focinho gelado em mim, eu fechei os olhos e comecei a torcer
para que Luna não decidisse que eu era uma excelente refeição. Percebi que
se demorou um pouco mais minha barriga, mas só abri um olho e vi que
Daniel acompanhava o escrutínio, pronto para interferir.
Felizmente, não foi preciso, assim que ela se satisfez, esfregou a
cabeça na minha mão direita, como se pedisse carinho.
Não… Eu não ia começar a fazer carinho num lobo, né? Eu queria
um pug. Algo pequeno, que coubesse no meu colo.
Pois bem, Luna me venceu e comecei a acariciar seu pelo grosso.
— Você deu nome para uma loba? Isso é um costume?
— Não. Adotei Luna quando era filhote e a mãe morreu numa caçada.
Normal. Super normal.
Assenti, tentando fingir que não achava tudo muito diferente e
continuei fazendo carinho até que Luna se cansou e deitou aos meus pés.
— Mas a gente está no meio do nada…
— Não. Eu só fiz um caminho diferente e mais longo para casa. —
Apontou para um morro mais à frente, bem além dos girassóis, que só dava
para ver árvores, supus ser onde era a casa principal. — Luna é acostumada
a andar por aqui e não atacar as pessoas. Diferente da Balu, que tem um
espaço próprio.
— Outra loba?
— Não. Uma ursa.
Eu quase engasguei com a minha própria saliva depois daquela.
Pigarreei e inclinei a cabeça na direção de Daniel.
— Foi outro resgate…
— Você, além de herdeiro da máfia, é herdeiro de algum zoológico?
Ele gargalhou. E que saudade eu estava daquele som que fazia meu
coração vibrar.
— A gente pode voltar? — Perguntei, antes que cedesse àquele
sentimento e fizesse alguma burrada. — O dia foi de altas emoções, quero
descansar, pensar…
— Claro. Tchau, princesa. — Ele se abaixou e fez carinho na loba
antes de me conduzir para o carro. Acabei fazendo a mesma coisa enquanto
admirava o campo repleto de girassóis à minha frente. Em pensar que tirar
fotos em um daqueles estava na minha lista. Agora eu estava ali, de frente
para as flores amarelas e só pensava em querer voltar para minha casa.
*
Orso bruno marsicano
Urso-marsicano
Uma subespécie do urso pardo, sem muitas diferenças físicas. Seu
tipo, e com quem parecia eu só fui descobrir depois, pois, a primeira vez
que vi um, foi um pouco antes da iniciação oficial — aquela em que a
maioria dos membros da máfia escolhiam participar, firmando seu
compromisso de forma voluntária, o que não foi meu caso.
Meu pai queria provas de que não estava criando um herdeiro
indigno, já bastava eu ser bastardo, passar mais tempo com a minha mãe do
que com ele, e viver como se um dia não fosse me tornar o homem a
comandar milhares de outros, ter a influência para mudar o rumo de
acontecimentos importantes.
O herdeiro sentado num trono sobre ossos e sangue.
Um herdeiro que não valeria de nada se não fosse testado ao limite.
Isso incluía testar meu raciocínio, agilidade, força na toca de um urso do
meu tamanho com o dobro do meu peso.
Até hoje eu não sabia como não morri naquele dia. Eu acreditava que
era por rezar todas as orações que minha mãe me ensinara e para todos os
santos possíveis. E a minha vontade absurda de viver e matar o babaca do
meu pai que tivera aquela ideia.
Contudo, essa vontade sumiu junto ao medo e qualquer outro
sentimento que me tornasse um ser humano racional e não instintivo. Era
minha vida contra a do urso e apenas eu para me defender, ninguém mais.
Eu conhecia meu pai bem demais para saber que ninguém viria me resgatar.
Não adiantava ter pena do animal, pensar que a culpa era de outra pessoa.
Nada daquilo me salvaria.
Foi então que a fera dentro de mim despertou em fúria, mostrou-se
inabalável e implacável, com ódio das pessoas que já tivera de assistir os
outros matarem, da obediência cega, do estilo de vida que seria minha sina
para o resto da vida. Naquele dia, uma parte minha morreu. A inocência, a
ingenuidade. Não haveria uma saída para uma vida normal. Era enfrentar o
que colocavam na minha frente ou morrer. E isso nunca aconteceria.
Aquele garoto explosivo e violento cresceu, mostrou-se um excelente
lutador e saiu da caverna carregando a cabeça do urso.
A mesma que fiz questão de tratar de forma que eu pudesse usá-la
para as minhas tarefas futuras.
Eu não enxergava direito, respirava pior ainda. E o cheiro fazia
algumas pessoas vomitarem. Porém, aquela era minha penitência, ao
mesmo tempo que despertava a fera que eu procurava manter adormecida.
Quando cheguei ao casebre para o qual tinham levado Leopoldo,
entrei calmo, sabendo o que me aguardava. Nos últimos anos, eu fiz
transformações no lugar, coloquei algumas câmeras, deixei a primeira sala
para uma mesa com vários tipos de armas e utensílios, outra para
interrogatório mais “leve”, com cadeira e luminária, por fim, tinha um
armário com outras coisas que poderiam servir ao meu propósito.
Tinha também um lavabo com pia do lado direito e uma segunda sala
onde ficava quem fosse preso. Nela, eu deixava uma mesa que pudesse
prender os pulsos e tornozelos da pessoa, e ganchos no teto e chão. Tudo
dependeria do que eu escolhesse fazer.
As luzes costumavam ficar acesas e as janelas tapadas não permitiam
que a pessoa soubesse se era noite ou dia.
Retirei minha camisa e a deixei em cima da cadeira, com o mínimo de
cuidado para não amassar. Deixei chaves e carteira na gaveta com trava da
mesa menor. Do armário, retirei a máscara com cheiro pungente e a vesti.
Logo o ambiente ficou abafado. De resto, levaria apenas o meu celular no
bolso da calça, e carregaria um facão e um canivete bem afiado.
Aquele filho da puta explorador e pedófilo morreria hoje, sim.
Todavia, de maneira lenta e dolorosa.
Assim que me viu, Leopoldo berrou. Ele sabia o que estava por vir. A
fera dentro de mim ronronou satisfeita. Uma pena que ele não poderia ver
meu sorriso enviesado.
— Você me subestimou, Leopoldo. — Deixei o facão pendurado em
um suporte perto da porta e o canivete foi para o meu bolso traseiro. —
Pensou que eu era o garoto idiota, que muitos falam por aí.
O que eu gostava naquela mesa, era que havia uma roldana que
conforme fosse girada a manivela, os membros presos da pessoa eram
esticados até eu parar. Os gritos eram sempre música para meus ouvidos.
Com Leopoldo não foi diferente. Só parei quando ele começou a guinchar
como um rato, pois a força de sua voz foi se perdendo na garganta.
Deixei que respirasse e seu corpo se acostumasse com a dor enquanto
rasgava sua roupa com o canivete. Àquela hora, ele já havia se mijado todo.
Pelo corpo havia algumas marcas roxas dos socos que deve ter levado dos
meus homens.
— Preciso entender, Leopoldo, o que você queria me sequestrando e
quem teve essa brilhante ideia por você?
— Estou falido, ok? Só queria… AHHH
Não deixei que terminasse aquela bosta, cravei a ponta do canivete na
diagonal em seu joelho. Eu sabia quanto lucrava. Ainda que não tivesse
homens que repassassem para mim aquela informação, eu sabia fazer conta
e quanto cobrava por suas garotas.
— Mentir para mim não é bom. Vamos tentar de novo?
Leopoldo resistiu mais do que imaginei. Uma hora, e os talhos por
seu corpo o fazia parecer um animal listrado de branco e vermelho. Os
filetes de sangue escorriam por seu corpo e mesa, e formavam pequenas
poças no chão.
Precisei sair da sala para pegar algo especial, um item que arrumei no
Brasil e pedi para manterem vivos ali no casebre. Queria testar se teriam o
efeito que eu imaginei. Peguei o aquário pequeno com vários dos peixes
pequenos, parecendo enguias, e o deixei no suporte metálico que costumava
usar para apoiar o que não estivesse usando na hora da tortura.
— O que é isso? Que merda é essa? — Leopoldo se remexeu, como
se fosse conseguir se soltar.
Um a um, fui colocando os peixes nos pontos por onde saía sangue. O
Candiru era o peixe que costumava entrar pela uretra, ânus ou vagina dos
desavisados que faziam xixi nos rios, por conta do formato do seu corpo, e
por sugar o sangue do local em que se alojava, causava dor. Eu só queria
saber se era uma dor eficiente ou se seria suportável. De qualquer forma,
ainda que não fosse forte demais, deveria ter algum efeito psicológico. Por
enquanto, era justamente isso que causava, Leopoldo gritava toda vez que
eu largava um daqueles peixes em si.
Deixei por último o seu pênis, sendo que primeiro usei o canivete
para talhar a ponta e o sangue escorresse. Em seguida, levei o peixe para o
orifício de entrada.
O desespero de Leopoldo estava valendo, os gritos nervosos e
gemidos agoniados tinham um sabor valioso.
— Nomes, Leopoldo. Nomes, e eu os tiro de você. — Eu estava
ficando sem tempo. A máscara que usava não permitia muitas horas, pois se
tornava quase impossível de respirar. Só que eu não queria deixar Leopoldo
vivo, aguardando seu destino ali enquanto eu me recuperava. Ele estava
mais para frouxo, que entregaria a mãe, se pudesse, do que leal, que preferia
a morte a entregar o plano.
Se ele não começasse a falar, eu precisaria ser mais extremista ou
acabar de uma vez com aquilo.
Mais uma hora se passou até ele começar a cantar a verdade como um
passarinho, não foi muito, mas eu duvidava que estivesse escondendo algo
mais. E, só por isso, eu atirei nele para terminar com seu sofrimento de uma
vez, ao invés de o deixar morrer por falta de sangue, devido à perda das
mãos e pés.
Eu ainda estava sob o frenesi, sob o pico de endorfina que ficava
naqueles momentos quando olhei para a tela ao lado da porta, e vi Amélia
abrindo a porta principal do casebre.
O que ela está fazendo aqui?
Quando eu colocava aquela máscara, o Daniel amigo, brincalhão,
adormecia, como se tivesse sido drogado para não ver as barbaridades que
minhas mãos eram capazes de fazer. Por isso, eu não queria Amélia por
perto. Por isso insisti que ficasse longe de tudo aquilo.
Mas ela ouvia? Obedecia? Não!
— Saia! — Minha voz saiu em um rugido pela fera que ainda
controlava minhas ações.
Não. Ela não está aqui. Ela não pode ter essa visão de mim.
— Saia, garotinha. Corra. — Os olhos dela transmitiam o medo, o
pavor, sentimentos que eu adorava ver naquele estado. Eles não me fariam
parar. A única coisa que ainda me deixava estático, era um parco controle.
Eu me aproximei lentamente, dando tempo para que ela saísse,
corresse ou pegasse uma marreta na mesa e me batesse. Contudo, Amélia,
mesmo tremendo da cabeça aos pés, negou.
— Você não é assim. Tira essa máscara. Essa… cabeça. — Dava para
notar o asco no jeito com que falava.
— Aí é que está, eu sou assim. Um lado meu, o que fiz questão de
manter longe de você, é assim. Ainda vai ficar?
Amélia cravou os olhos em mim, como se lesse a minha alma. Deu
para notar que ela ponderava, analisava alguma coisa. Mas eu não a queria
ali, não queria que pensasse demais e acabasse concordando com aquela
merda. Eu a queria longe.
Ou achava que queria.
Quanto mais tempo ela perdia me encarando, minhas pernas me
levavam para mais perto. Quando toquei em sua cintura, os olhos dela
fecharam por alguns segundos e me fizeram acreditar de que logo eu
ouviria um não, e seria afastado. Porém, Amélia os abriu em seguida,
carregados de fogo e uma determinação que me incendiou por dentro.
— Vou. Eu sempre fico.
Capítulo 38│Amélia
Aquilo só podia ser um sonho. Um que eu não tinha há anos, porque
não era recomendado ficar sonhando com seu melhor amigo,
principalmente depois de começar a dividir o mesmo apartamento.
Mas as sensações eram tão reais, que eu quase acreditava que
estávamos mesmo ali. Juntos. Embolados. Suados. Na cama dele. Entre
gemidos e palavras que eu duvidei ser capaz de pronunciar algum dia.
Meus dedos apertaram a cabeceira de madeira por puro reflexo
quando a língua dele encontrou algum ponto que fez um arrepio se
espalhar pela minha coluna, da base à nuca. O estremecimento interno foi
imediato, o gemido que escapuliu dos meus lábios saiu mais alto e lascivo
do que eu sequer sonhei algum dia ser possível.
Tudo estava sendo bem diferente do que os outros sonhos daquele
tipo. Muito mais intenso. Íntimo. Enlouquecedor. Eu só não saberia dizer se
a mudança era por voltar a sonhar com ele ou se porque era de verdade e,
para mim, até aquele momento, tudo isso não passava de suposições.
Minha cabeça pendeu para trás quando senti os dedos dele
explorando minha vulva, entrando pela fenda úmida e me enlouquecendo
de vez. A timidez e a trava que eu tive quando ele ordenou que eu sentasse
em seu rosto e o deixasse me chupar até gozar, gemendo bem alto,
acordando nossos vizinhos, foi-se embora no instante em que perdi o
controle dos meus movimentos e esqueci todo o resto.
Sentia a outra mão dele apertando minha coxa, bunda, subindo pelo
meu tronco até encontrar um dos meus seios fartos, apertá-lo com gana e
girar o mamilo rígido. Os arrepios aumentaram, minha boca secou
segundos antes de um lamento escapar.
Aquilo não podia ser um sonho. Era bom demais para eu descobrir
depois que não tinha acontecido. Mas quantas cachaças tínhamos bebido
antes de sairmos do bar e irmos para o quarto dele?
Os tremores vieram incontroláveis, fortes iguais ao gozo que me
dominou, arrancando o nome dele dos meus lábios.
Achei que ele pararia com tudo, mas não. Continuou sugando meu
clitóris enquanto espalhava meu gozo com os dedos.
— Pare. — Embrenhei os dedos no cabelo castanho escuro, puxando
a cabeça dele para trás e me levantando. Ele tinha um sorriso safado de
quem sabia o estrago que causava e um brilho perigoso nos olhos.
Podia ser a bebida, ou a moleza pós orgasmo que ajudaram, porque,
com facilidade, ele me jogou de costas no colchão e montou entre minhas
pernas, insinuando a ereção inchada, coberta pela calça jeans, contra
minha vagina sensível.
Apenas a luz de uma luminária presa na cabeceira permitia que eu o
enxergasse e não tivesse dúvidas de que era ele ali, com os lábios a
milímetros dos meus, prestes a me beijar.
— Isso é real? — Eu devia ficar quieta e aproveitar seja lá o que
aquilo fosse.
— Você ainda tem dúvidas? — Roçou de leve os lábios nos meus e fez
um caminho pela mandíbula até chegar à minha orelha, depositando um
beijo bem na pontinha.
Era mais um medo por não saber com que cara olharia para ele no
café da manhã.
— Quer dizer que vocês dois ficavam falando que iam tentar algo
com ela de sacanagem? — Daniel, com um dos braços por cima dos meus
ombros, implicou com Carlo e Giovanni quando vieram nos cumprimentar
depois que a cerimônia acabou, tendo Matteo como celebrante.
— A graça sempre foi implicar com você, cunhado. Mas, veja bem, a
gente é menos família dela do que você, se for pensar direito.
Daniel estreitou os olhos para Giovanni, fazendo nós três rir. Uma
pena Lucca não ter liberação médica ainda para viajar, mas ainda
precisaríamos fazer alguma cerimônia na igreja só para a felicidade dos
nossos pais, então, nosso vizinho/segurança/amigo poderia estar presente.
Assim como Bárbara, que tinha colocado na cabeça que precisava entregar
o TCC finalmente, e agora não tinha tempo para mais nada.
— Fico feliz que tenha cumprido sua promessa, Matarazzo.
O sorriso sumiu quando Tarso Rizzo se aproximou. A relação mais
estreita entre nossas famílias começou um dia depois que Salvatore foi
internado. Durante a tortura, Leopoldo contou que quem estava por trás do
sequestro de Daniel era meu avô paterno.
Aparentemente, há anos ele vinha procurando uma oportunidade e
buscando reunir forças com outros aliados para vingar a morte do filho.
Nada mais justo do que matar o filho do seu rival também. Um aliado que
conseguiu foi Leopoldo, influenciável, fácil de subornar e de mente fraca —
na visão de Daniel. E, de fato, foi. Tarso o convenceu com facilidade a trair
os acordos que tinha com Salvatore e a sequestrar Daniel. Ao mesmo
tempo, ganhava mais respeito e facilidade para dominar as ações da
famligia de Leopoldo.
O que mudou aquele pensamento fui eu. Quando Donna revelou
quem era meu pai, Daniel marcou um encontro com Tarso e nós duas para
contar a verdade e propor um acordo. Reclamando por não querer
envolvimento com os Matarazzo, ele não teve outra opção a não ser aceitar
nossos termos depois que fiz um teste de DNA e confirmei que era sua neta.
— Tem coisas que o destino ri na nossa cara. Mas fico feliz que
nossas famílias se acertaram. — Tarso apertou a mão de Daniel e depois me
abraçou.
Devia ficar, ele subira para o cargo de Capo, ficaria responsável pela
região de Leopoldo e teria um neto que herdaria tudo o que Scelto da Dio
possuía. Por mais que não gostasse dos Matarazzo, ver que ainda existia
uma parte do filho dele naquele mundo — no caso, eu —, permitiu que
aceitasse melhor as propostas de Daniel.
Até porque, perto do poder da Scelto da Dio, Tarso não era nada e ele
sabia disso, sabia que por ter sido descoberto antes de efetuar seu plano, era
morte certa. O que o salvou, foi que Daniel precisava de apoiadores que
concordassem com as mudanças que faria, como a extinção do tráfico
humano, por exemplo.
Todos que foram mortos no almoço em que atirei em Salvatore, não
aceitaram a mudança ou não estavam tão firmes em aceitar Daniel como
Don.
— Não sabia que ele ia vir — comentei, após Tarso se afastar.
— Eu o informei do que faria, só para mostrar que estava cumprindo
minha promessa. Na mesma hora, ele falou que viria. — Daniel deu de
ombros e me puxou para si, rodeando minha cintura com seus braços. — Já
falei que não vejo a hora tirar você dessa roupa? — Meu corpo arrepiou
conforme ele subiu a mão pela frente do meu vestido, roçando de leve os
dedos pelos meus seios, colo, até chegar na gargantilha com o mesmo
pingente que tinha me dado, eu só mudara a corrente por um tom igual ao
do vestido. — Adorei isso. — Esfregou minha pele sensível e logo
substituiu os dedos por seus lábios, arranhando minha pele com seus dentes.
— Sua mãe está vindo. — Precisei avisar antes que ele se empolgasse
um pouco mais. Daniel me soltou e se virou para a mãe, com um sorriso
faceiro, como se não estivesse me seduzindo segundos antes.
Eu sabia que a gente não teria paz tão cedo. Que nossa vida agora era
aquilo, momentos que deviam ser aproveitados até o último instante, pois
nosso futuro era incerto diante do mundo paralelo que vivíamos.
Epílogo│Daniel Bianchi
6 anos depois
— Devagar, ok?
Pela primeira vez eu vi medo e apreensão nos olhos de Amélia em um
momento como aquele. O brilho em seu rosto, pós orgasmo com o sexo
oral, segundos antes, tinha desaparecido.
— Se você quiser, a gente pode deixar pra outro momento.
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Já enrolamos dois meses. Eu
quero tentar, pelo menos.
Assenti. Só Amélia para me fazer ter medo de machucá-la com algo
tão básico. Tudo o que a médica indicou no pós-parto, nós fizemos, do
resguardo às preliminares, mas, ainda assim, a minha mulher parecia frágil
e temerosa, apesar de decidida. Eu já havia retirado os piercings e passado
bastante lubrificante, mesmo que sua boceta estivesse encharcada, quis me
precaver, então, com cuidado, distribuindo beijos por seu rosto, pescoço e
lábios, comecei a penetrá-la lentamente.
Dava para sentir a resistência que suas paredes internas tinham
adquirido. Era normal, a médica tinha repetido algumas vezes que podia
acontecer e já era o nosso segundo filho — no caso, filha. Porém, era o que
parecia estar sendo mais difícil para Amélia conseguir relaxar.
— Coração, tudo bem?
— Dói. — Ela choramingou e recuei, querendo parar, mas Amélia me
puxou pelos braços e não me deixou sair do lugar. — Parece que fiquei
virgem e olha que nem pra perder a virgindade senti tanta dor. — Riu de
nervoso.
— Tenta relaxar e, se não conseguir, vamos deixar pra outro dia. —
Beijei seus lábios com carinho. Amava aquela mulher. Enfrentaria tudo de
novo para ficar com ela. Conforme senti Amélia relaxar no beijo, tentei
entrar mais um pouco. Novamente, ouvi seus gemidos e seu corpo voltou a
retesar.
— Espera um pouquinho. — Ela apertou meus braços e me mantive
parado da cintura para baixo, pois continuei distribuindo beijos e lambendo
seu pescoço, sugando um pouco da pele. Desci pelo colo até seus seios
entumecidos, tanto pelo tesão quanto pelo leite. Dei batidinhas com a ponta
da língua no bico rígido, antes de sugar de leve.
Escutei o gemido de prazer e me arrisquei a ir mais fundo na boceta
apertada e encharcada. Alguns centímetros conquistados, e ela se retesou de
novo. Tentando passar o amor que eu sentia e a tranquilidade que ela
precisava, continuei na tarefa de distraí-la com a minha boca enquanto meu
pau entrava mais em sua boceta. Repeti o processo todas as vezes em que
Amélia resmungou de dor, até que fosse mais confortável entrar e sair. Não
era uma daquelas ocasiões em que eu curtia ouvi-la gemer de dor, pois
aquela não era a intenção. Pelo contrário, queria que fosse prazeroso para os
dois.
— Amo você — sussurrei, mordendo a pontinha do seu ouvido,
mantendo o ritmo lento. — Olha pra mim, Lia. — Demorou alguns
segundos, mas os olhos marejados me encararam.
— E se ficar assim sempre?
Eu ri baixinho. Ansiosa, como sempre.
— Não vai. Vou comer bastante essa boceta pra ela voltar a acostumar
com o dono verdadeiro dela. — Queria me movimentar de forma mais
vigorosa, rápida e profunda. Só que não arriscaria. A gente já tinha
progredido tanto que eu não arriscaria.
Amélia riu comigo daquela vez e respirei mais aliviado. Deixei que
meus instintos, muito bem conectados com ela, guiassem meu ritmo, quão
fundo eu ia, onde a tocava e beijava. Seus gemidos aumentaram, ela arfava
e o corpo arqueava sob o meu. Foi tanto tempo querendo estar dentro dela
de novo, mas sem poder e sem que ela sentisse vontade, que eu estava
muito mais perto de gozar do que gostaria. Eu estava tentando ser calmo,
paciente, só meu pau que doía pra cacete, doido para jorrar dentro dela. A
cada estocada, eu torcia para durar um pouco mais, pois queria que ela
gozasse de novo.
Antes que o orgasmo me atingisse, sem sair de dentro dela, fiquei de
joelhos entre suas pernas, dando estocadas mais curtas, rápidas enquanto
passei a dedilhar seu clitóris, seguindo os sons que saíam de sua garganta.
Finalmente eu acertei o que deveria fazer, pois até o espaço dentro dela
ficou menos resistente e mais molhado. Seus dedos cravaram em meus
braços, apertaram meu pulso, suas unhas arranharam onde podiam.
Só ouvia seus gemidos desconexos, os pedidos para continuar e meu
nome quando fazia algo muito certo. Eu admirava o conjunto, as curvas, os
seios com os mamilos ainda meio escurecidos, sua boca abrindo e fechando,
os olhos piscando. Porra! Tudo aquilo só servia para me deixar mais perto
do ápice.
— Goza pra mim, coração. — Ela sacudiu a cabeça, já perdida na
névoa de prazer que nos envolvia e na proximidade com o orgasmo mais
difícil que já tivera.
Quando as pernas dela começaram a me apertar, eu acelerei um pouco
e me deixei cair sobre seu corpo, afundando meu rosto na curva do seu
pescoço, gemendo que nem um louco. Puta que pariu, que saudades que eu
estava de ter meu pau apertado daquele jeito, de nós dois fodendo o tanto
quanto podíamos.
Como eu amava aquela mulher, a minha mulher, mãe dos meus filhos,
Vicente e Paola, amiga e companheira de loucuras. Por quem eu não
cansaria de repetir que daria o mundo, faria o possível e impossível sempre.
Ei, você que terminou o livro!
Obrigada por dar uma chance a Daniel e Amélia, espero que tenha
gostado; Mas se não gostou, tudo bem, nem sempre a gente consegue
agradar a todos, pode ser que algum dos meus outros livros te agrade mais.
A você que curtiu e quer que eles alcancem mais pessoas, avalie o
livro na Amazon e no Skoob, pois isso ajuda bastante.
Se você comprou o livro na primeira semana de lançamento, manda
print da compra para [email protected] que tem outra versão da
ilustração (sensual) e brindes digitais.
Caso tenha achado algum erro, ou queira falar/surtar sobre, você me
encontra no Instagram, Twitter, Threads, Tiktok com o @luamoriggi.
Outros livros da autora:
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Para quem ficou com curiosidade sobre a história das gêmeas... Tem
os livros, que foram divididos em três partes, ou o box, com todos eles, na
Amazon. O estilo da escrita lá é um pouco diferente, mas acho que vão
adorar conhecê-las mais de perto.
Sinopse:
Mariana e Gabriela são irmãs gêmeas, e como tal, têm uma conexão
inexplicável. Apesar disso, Mariana tem conseguido esconder de Gabriela
há anos um amor proibido por Gabriel, seu irmão de criação, e isso tem a
angustiado muito. Quanto tempo mais Mariana conseguirá esconder esse
amor? E como sua gêmea reagirá quando descobrir?
Gabriel é apaixonado por velocidade e um campeão prodígio de stock
car, mas não por vontade de seu pai. Aliás, seu pai Danilo é totalmente
contra sua profissão e coloca pressão o tempo todo para que o filho seja
perfeito e siga a carreira que ele mesmo deseja. O embate entre os dois é
sempre evidente, mas no fundo, Gabriel sofre com essas pressões. Ainda
mais pela responsabilidade de que Gabriel cuide de suas irmãs gêmeas de
criação, Mariana e Gabriela, mesmo quando ele mesmo sente um amor
inexplicável por Mariana.
Para melhorar ainda mais, Thiago, irmão de Gabriel, afastou-se da
família enquanto ainda era criança e foi morar com uma mãe adotiva.
Agora, dezesseis anos depois, ele está de volta e a faísca é evidente entre
ele e Gabriela. Mas Thiago não tem nenhuma obrigação de tratar Gabriela
como irmã, certo?
A história entre os quatro vai ferver, mas nada que não possa
melhorar se todos ainda morarem embaixo do mesmo teto.
Imperfeitos Amores é sobre pessoas que amam apesar de suas falhas
e de seus sentimentos de inadequações. É sobre família, sobre brigas e
perdão, sobre ressentimentos e tentativas de superar os maiores traumas da
vida de cada um.
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Tem também a história do Baiacu e da Gatinha:
Camila tem 21 anos, ela é azarada, mas também é forte e
determinada, daquele tipo que luta pelo que quer até conseguir. Porém faz
isso tudo, praticamente, sozinha, pois perdeu a mãe quando ainda nem tinha
terminado seu curso de faculdade. Um pouco depois, engravidou de um
desconhecido e precisou aprender a lidar com um mundo completamente
novo. Costuma fugir de encontros românticos até sua amiga implorar para
que trocasse de lugar com ela em encontro marcado por aplicativo.
Júnior é um playboy, com quase trinta anos, que depois de um
acidente que quase matou seu irmão mais velho, precisou lidar com a culpa
por se sentir responsável e assumir seu lugar como CEO da empresa da sua
família. Não conseguindo lidar muito bem com as responsabilidades,
comete um erro e recebe um castigo incomum de seu pai que vai
transformar sua vida e de Camila.
Completamente Seu é uma comédia romântica, para maiores de 18
anos, com um encontro inesperado, um milagre natalino, e uma mentira que
pode acabar com tudo.
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Beijos
Lua
[1]
Em português: Mas eu senti tanto a sua falta. Como está, criança?
[2]
Em português; Meu Deus, Daniele. Você é um idiota
[3]
Em português: Sou seu melhor amigo, não mereço saber?
[CdM1]Quote