Acorda o N º 843 2023

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TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAO N.2 843/2023 PROCESSO N.° 1085-A/2023 Processo de Fiscalizacao Abstracta Sucessiva Em nome do Povo, acordam, em Conferéncia, no Plendrio do Tribunal Constitucional: |, RELATORIO Ordem dos Advogados de Angola (OAA), Requerente, impetrou, ao abrigo da | alinea f) do n.8 2 do artigo 230.8 da CRA e do artigo 27. da Lei do Proceso) Constitucional, (sic) “recurso extraordingrio de inconstitucionalidade” para, E fiscalzagso abstracta sucessiva do Decreto Presidencial n.2 140/23, de 21 de YNON™ Junho, publicado em Didrio da Republica e que nomeia Carlos Alberto Cavuquila para 0 cargo de Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo. Compuisados os autos, constata-se a fls. 2 que a Ordem dos Advogados de Angola (OAA) impetrou, expressis verbis, recurso extraordinario de inconstitucionalidade contra 0 Decreto Presidencial n.2 140/23, de 21 de Junho. recurso extraordindrio de inconstitucionalidade é um mecanismo especifico do proceso constitucional — onde no esté em causa apreciar uma norma, mas uma deciséo final ou um acto administrative. Neste recurso, hé um énus sobre o Recorrente de esgotar os recursos legalmente cabiveis (n.2 5 do artigo 21.2e alinea m) do artigo 16.2, ambos da Lei n.2 2/08, de 17 de Junho - Lei Organica do Tribunal Constitucional, as quais se acrescenta 0 § Unico do artigo 49.2 da LPC). Ou seja, 0 objecto do recurso extraordindrio de inconstitucionalidade deve incidir sobre decisdes dos demais tribunals, ou sobre um acto administrativo. Destarte, seguindo esta linha de entendimento, o recurso extraordindrio de inconstitucionalidade nao pode ser admitido pelo Tribunal Constitucional sem que tenha havido prévio esgotamento dos recursos ordindrios legal mente previstos para as outras jurisdigées. No presente caso, nao tendo o acto sido julgado previamente, pela jurisdic3o ordindria, tornava-se invidvel admitir 2 impugnacéo do Decreto Presidencial 140/23, de 21 de Junho, como recurso extraordinério de inconstitucionalidade. ( Neste contexto, a0 abrigo das disposigées combinadas do artigo 199.2 e n.@ 3 do artigo 474.2, ambos do CPC, e, ainda, do artigo 2.2 da LPC, a Juiza Conselheira Presidente desta Corte, por despacho, alterou a espécie de processo de recurso extraordindrio de inconstitucionalidade para processo de fiscalizagao abstracta YUM sucessiva, atentos aos fundamentos de facto e de direito que foram apresentados, : nos termos dos artigos 230.° da CRA e 26.8 da LPC, vide fis. 33, , Em sede de errada qualificago quanto ao tipo de processo, esta Cote = 7 Constitucional tem jurisprudéncia firmada. A titulo de exemplo, no Acdrd&o n.2 141/2011 (pag. 6) se afirma que “..0 Tribunal ndo fica vinculado @ qualificagéo indicada pelo Requerente...”. Sobre a convolacdo, escreve Antunes Varela: “Hoje, 0 erro na forma do processo, seja qual for a sua variante, tem sempre o mesmo efeito (artigos 199.2 € 474.2, n,2 3)”. In Manual de Processo Civil, 2.8 edic&o (reimpressdo), Coimbra Editora, 2004, pag. 260. igualmente, dispde 0 n.® 1 do artigo 199.2 do CPC que “O erro na forma do proceso importa unicamente a anulagéio dos actos que nfo possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem estritamente necessdrios para que 0 processo se aproxime, quanto possivel da forma estabelecida pela lel”. © despacho retro, exarado pela Juiza Conselheira Presidente, foi notificado & Requerente, conforme certiddo de fls. 36, em relagéo ao qual néo manifestou qualquer reacciio ou oposigdio processual. Nesta conformidade, o proceso foi autuado e seguiu os tramites subsequentes como processo de fiscalizagso abstrata sucessiva, © Requerente nas suas alegacées refere, em sintese, que 1. O Presidente da Repiblica nomeou Carlos Alberto Cavuquila como Juiz Conseiheiro do Tribunal Supremo, apés a designagao do Consetho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ), no ambito de uma vaga reservada a magistrados judiciais, apesar de 0 mesmo ter concorrido para vagas reservados a juristas de mérito e no tendo sido aprovado. 2. O artigo 7.2 do Regulamento do Concurso (Resolugdio n.2 5/22, de 28 de Novembro), estabelece que: O presente concurso é destinado ao provimento de 8 vagas para Juizes Conselheiras do Tribunal Supremo, nos termos dos n.2s 13 do artigo 11.2 e do n.2 2 do artigo 13.2, ambos da Lei n.? 2/22, de 17 de, Maio (LOTS). 3. (..) Este acto, Resolugdo n.® 7/23, de 14 de Junho, enferma de intimeros vicios, por violar a Constituicéo, a lei, méxime LOTS, 0 Cédigo de Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pela lei 31/22 de 30 de Agosto, @ 0 regulamento do concurso. 4, De acordo com o artigo 125.2 da Constituic¢éio da Republica de Angola, os reguiamentos emanados pelo Presidente da Republica assumem a forma de Decreto Presidencial, 5. De referir que os actos administratives, em sentido lacto, englobam, actos administrative propriamente ditos e regulamentos administrativos. 6. O poder regulamentar, por se tratar de poder administrativo, deve ter . presente que a actividade requlamentar é uma actividade secundéria, dependente e subordinada face & actividade legislativa- esta que é primdria, principal e independente, dependem apenas da Constituicéo. 7. Enquanto norma secundério, 0 regulamento administrativo encontra na Constitui¢éo € na lei o seu fundamento e pardmetro de validade. Consequentemente, se 0 regulamento contrariar a lei é ilegal; e se entrar em relagdo directa com a Constituicéo, violando-a em qualquer dos seus preceitos, padeceré de inconstitucionalidade. 8. Dos fundamentos expostos resulta que a Resolugao n.° 7/23, de 14 de Junho do CSMJ, que designa Carlos Alberto Cavuquila a Juie Conselheiro do Tribunal Supremo, para vaga reservada exclusivamente a Magistrados Juaiciais de Carreira e o consequente Decreto Presidencial n.° 140/23, de 21 de Junho, enfermam de intimeros vicios, supra indicados, por violar a Constituigéo, méxime n.® 2 do artigo 198.2 da LOTS (sobre as regras de designactio que néo foram observadas), Cédigo do Procedimento Administrativo e vdrios principios do Regulamento do concurso. A Requerente, concluiu, requerendo que seja declarado inconstitucional, em aten¢ao aos artigos 226.° e 227.2 da CRA, o Decreto Presidencial n.2 140/23 de 21 de Junho; a Resolugdo n.2 7/23, de 14 de Junho, do CSMI, por violacao do disposto No n.2 2 do artigo 198.2 da CRA, n.2 1 do artigo 12.9, n.2 1 do artigo 13.2, artigos 14.8,17.2, n.2s 1,35 do artigo 19.2, n.2 1 do artigo 20.2, artigos 37.2, 162.2, 192.° € 1.22 do artigo 193.2 do CPA; artigos 12.2, n.2s 2 e 4 do artigo 13.2; artigo 14.2 da LOTS; bern como os artigos 3.2, 4.2 e 29.2 da Lei da Probidade Publica. Com fundamento na alinea c) do n.2 2 do artigo 29.2 da Lei do Processo Constitucional (LPC), a Julza Conselheira Vice-Presidente, na qualidade de Presidente em exercicio do Tribunal Constitucional, solicitou o pronunciamento do Presidente da Repliblica, ora Requerido. Em observéncia ao disposto retro, veio 0 Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da Republica, em representacéo do Requerido, com base na delegacdo de poderes operada por Despacho Presidencial n.2 182-A/20, de 18 de Dezembro, apresentar o seu pronunciamento nos termos e fundamentos que abaixo se sintetizam: 1. AOrdem dos Advogados de Angola apresentow ao Tribunal Constitucional um recurso extraordindrio de Inconstitucionalidade, solicitando a fiscalizagéo abstrocta sucessiva da constitucionalidade do Decreto Presidencial n.@ 140/23, de 21 Junho, que designa Carlos Alberto Cavuquila, para o Provimento da vaga de Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo, tendo, para o efeito, argumentado de forma algo confusa 2. Nocerne desta concepedo, podemos descortinar dois elementos essenciais: 0 facto de 0 acto regulamentar no se confundir com o regulamento; e o facto deo regulamento significar necessariamente norma juridica geral e abstracta. 3. A generalidade exprime tanto a repetibilidade da norma no tempo como a Sug aplicabilidade a uma pluralidade indeterminada de sujeitos e relagées. 4. J6 @ abstracedo contrapée-se a0 concreto, indicando que a norma juridica regulamentar tem de se referir necessariamente a uma pluralidade de casos. 5. O acto administrativo, por seu turno, é, por natureza, concreto uma vez que visa decistio numa situacéo especifica, néo sendo exigida a sua repetibilidade no tempo, muito menos a sua aplicacdo a uma pluralidade de casos. 6. Se assim &, néo podem restar dividas de que o acto impugnado é um acto administrativo, isto é, uma decisdo individual e concreta. Desde ogo, trata- se do provimento de um cidaddo especifico, Carlos Alberto Covuquila para uma fungdo especifica, a de Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo. 7. Quanto a forma, resulta clara que a forma “Decreto “ndo é exclusiva dos actos regulamentares, sendo necessério sempre ter em atencdo ao contetido do acto em si. 8. AOAA diz, (...) que o Decreto Presidencial é inconstitucional, por violagéo do artigo 226.2 € a alinea a) do artigo 227.2, ambos da CRA 9. Ora a inconstitucionalidade é um desvalor juridico que coloca em confronto uma norma legal e uma norma constitucional-parémetro. 10. A norma da alinea a) do artigo 227.2 da CRA é uma norma sobre o objecto de Jiscalizagdo da constitucionalidade, no caso, actos normativos. 11.46 0 Decreto Presidencial sub judice é um acto administrativo, sob a forma de Decreto, que designa determinado juiz a prover uma vaga no Tribunal Supremo. 12. NGo existindo entre a norma constitucional e 0 acto administrative nenhuma zona de sobreposicio normative, logo ndo é possivel qualquer incompatibilidade. 13. Afirma a OAA que o Decreto Presidencial viola 0 n.2 2 do artigo 198.2 da CRA, como é bem de ver a previsio deste enunciado normative é ampliad{ssimo indo desde o respeito pela legalidade até a regra da responsabilizagéo. 14. Ora, no tendo a OAA indicado com exactidtio qual, dos muitos principios estabelecidos no n.2 2 do artigo 198.2, foi violado pelo Decreto Presidencial, é virtualmente impossivel para quaiquer observador e aplicador determinar @ sua inconstitucionalidade. 15.Para ser admissivel a hipdtese de inconstitucionalidade, duas condi¢ées teriam de se verificar: a Wegalidade do acto do Conselho Superior da Magistratura Judicial e a obrigacéo de verificacdo do Presidente da Republica desta ilegalidade. 16. Quanto ao primeiro requisito, no sendo 0 processo constitucional espaco de discusséo sobre a legalidade e actos administratives, ndo existe sobre o acto do Conselho nenhumo decistio judicial transitada que determine a sua invalidade. 17.&m bom rigor, vigora para os actos da Administragéio a regra da presungéo de legalidade dos actos administrativos. 18. Se a OAA ou alguns participantes estivesse em desacordo com as decisbes do CSMJ, no deve presumir a sua invalidade, mas sim, impugnd-lo em sede prépria que seria a jurisdi¢do contenciosa administrativa e nGo a jurisdi¢ao constitucional. 19. Quanto a segunda, a presuncdo de legalidade dos actos administrativos impede o Presidente da Republica de caso a caso verificar com exaustGo a legalidade dos actos que servem de base aos seus actos. © Requerido concluiu pedindo que se julgue improcedente a ac¢do e declare 3 conformidade constitucional do Decreto Presidencial n.2 140/23, de 21 de Junho. I, COMPETENCIA Ao abrigo do disposto na alinea a) do n.2 2 do artigo 181.2 e do artigo 230.2 ambos da CRA e do artigo 26.2 da LPC, o Tribunal Constitucional ¢ competente para apreciar e decidir com forca obrigatéria geral a inconstitucionalidade de qualquer norma ll. LEGITIMIDADE f Nos termos da alinea f) do n.2 2 do artigo 230.2 da CRA e da alinea f) do artigo 27.2 da LPC, a Ordem dos Advogados de Angola dispde de legitimidade para requerer a fiscalizagdo abstracta sucessiva, 1V, OBJECTO O objecto da presente accdo de fiscalizacdo abstracta sucessiva consiste em aferir a constitucionalidade do Decreto Presidencial n.2 140/23, de 21 de Junho. V. APRECIANDO: Questo Prejudicial In casu, a Ordem dos Advogados de Angola (OAA) impetrou, expressis verbis, recurso extraordinério de inconstitucionalidade contra o Decreto Presidencial n.2 140/23, de 21 de Junho (fis. 2). Todavia, a fis. 33, a0 abrigo das disposicées combinadas do n.2 3 do artigo 474.2 do CPC e do artigo 2.2 da LPC, a Juiza Conselheira Presidente desta Corte, por despacho, alterou a espécie de processo de recurso extraordinario de Neste entretanto, conforme o disposto no n.2 4 do artigo 125.° da CRA é possivel Gepreender que o Presidente da Republica emite decretos presidenciais que podem revestir dupla natureza: normativa e n3o normativa, ou seja, com Conteidos de actos regulamentares e de actos administrativos, Nesta conformidade, tém contetido de actos normativos aqueles decretos presidenciais revestidos das caracteristicas da Beneralidade e abstraccao, isto é, Cuje eficacia se projecta ou dirige a uma pluralidade de sujeitos e a uma variedade de situacdes-tipo. Ao invés, tém contetido de acto nfo Normativo (actos administrativos) aqueles Decretos Presidenciais Cujos efeitos se esgotam numa unica situacdo e referindo- Se @ UM Unico sujeito ou grupo de sujeitos determinados, designadamente os exarados 20 abrigo das alineas d), e),f),g),j) do artigo 119.9 da CRA, eb Nas circunstancias, 0 Decreto Presidencial 140/23, de 21 de Junho, foi exarado ao abrigo das disposicdes combinadas da alinea f) do artigo 119.2 e n.° 4 do artigo 125.2, ambos da CRA, € operou a nomeaco de Carlos Alberto Cavuquila, a Jul2 Conselheiro do Tribunal supremo, A Ordem dos Advogados de Angola, por seu turno, velo requerer a sua fiscalizaco abstracta sucessive, imputando-the as inconstitucionalidades retro mencionadas. Ora, 0 contetido do Decreto Presidencial 140/23 de 21 de Junho, reveste caracter individual e concreto, ou seja, os seus efeitos esgotam-se numa situacdo concreta, que é a nomeacdo, e reporta-se a um sujeito individualizado, que é Carlos Alberto Cavuquila. Nos termos do disposto na alinea a) do n.2 2 do artigo 181.2 e do artigo 230.9, ambos da CRA e do n.2 1 do artigo 26.2 da LPC, apenas os Decretos Presidenciais Gue tenham por objecto actos normativos podem suscitar e ser objecto de fiscalizago abstracta Sucessiva. E isto é compreensivel, porquanto, a declaracdo Ge inconstitucionalidade, nos processos de fiscalizago abstracta sucessiva, tem eficécia obrigatorla geral, conforme o disposto no n. 1 do artigo 230.9 da CRA Com efeito, ndo € suficiente olhar a forma do diploma Para se deduzir a Possibilidade de acg3o de fiscalizagtio abstracta sucessiva, é igualmente imprescindivel adentrar ao contetido do diploma e apreciar se estamos diante de um decreto presidencial com contetido normativo. Destarte, o Decreto Presidencial cuja fscalizagSo abstracta sucessiva foi requerida aflgura-se substancialmente como um acto no normativo ou, se quisermos, um acto administrativo, assumindo a particularidade de estar imbuido de solenidade reforcada por determinacéo da CRA, pela forma do documento em que é praticado, isto &, Decreto Presidencial. Nesta conformidade, sendo certo que o objecto substantivo do Decreto Presidencial posto em crise nfo € um acto normativo, é processualmente impassivel de ser apreciado em processo de fiscalizagio abstracta sucessiva, tal como peticionado pela Requerente, por carecer do pressuposto processual material central, que é a existéncia de norma a apreciar. Pelo exposto, o Tribunal Constitucional entende que, no esto reunidos os pressupostos materiais estabelecidos para a acto de fiscalizagao abstracta sucessiva, nos termos do disposto no n.® 2 do artigo 181.9, n.2 1 do artigo 230.9, ambos da CRA e no artigo 26.2 da LPC. Nestes termos, DECIDINDO Tudo visto e ponderado, acordam, em Plenério, os Jufzes Conselheiros do Tribunal Constitucional, em: NZGAA Teatemeanls a Tresanle accel Tee Falla de Crieclo Malenial) Sem custas, nos termos do artigo 15.2 da Lei n.2 3/08, de 17 de Junho — Lei do Processo Constitucional. Tribunal Constitucional, em Luanda, 23 de Agosto de 2023. OS JUIZES CONSELHEIROS Dra. Laurinda Prazeres Monteiro Cardoso (Presidente) Dra. Victéria Manuel da Silva Izata (Vice-Presidente) V; bee ad Salut ate aes Dr. Gilberto de Faria Magalhaesy LA wx Dra. Josefa Antonia dos Santos nero Altin as Sans bobs Dra. Julia de Fatima Leite S, Ferreira Y=. Bb ug Ls Spent Gece ea enero é Rrra) Dra. Maria da Conceigao de Almeida Sango (Relatora), PonSQns Dra. Maria de Fatima de Lima D’A. 8. da Silva, Sy

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