Lição 04
Lição 04
Lição 04
O capitulo da carta de Tiago é um dos textos mais importantes da Bíblia. Muitos estudiosos não conseguiram
entendê-lo. Lutero pensou que Tiago estivesse contradizendo Paulo (Rm 3.28 - Tg 2.24; Rm 4.2-3 - Tg 2.21). Logo,
Lutero chamou Tiago de carta de palha e sentiu que a carta de Tiago não tinha o peso do Evangelho.“
Mas será que Tiago está contradizendo Paulo? Absolutamente não. Eles se complementam. “ Paulo falou que a
causa da salvação é a justificação pela fé somente. Tiago diz que a evidência da salvação são as obras da fé. Paulo
olha para a causa da salvação e fala da fé. Tiago olha para a consequência da salvação e fala das obras. Paulo deixa
isso claro: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das
obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais
Deus antes prepararam para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10). Calvino diz que a salvação é só pela fé, mas a fé
salvadora não vem só. Ela se evidencia pelas obras. A questão levantada por Paulo era: “Como a salvação é
recebida?” A resposta é: “Pela fé somente”. A pergunta de Tiago era: “Como essa fé verdadeira é reconhecida? ”
A resposta é: “Pelas obras!” Assim, Tiago e Paulo não estão se contradizendo, mas se completando. Somos
justificados diante de Deus pela fé, somos justificados diante dos homens pelas obras. Deus pode ver a nossa fé,
mas os homens só podem ver as nossas obras.
Nesse parágrafo, Tiago diz que nós podemos testar nossa fé pela maneira como nós tratamos as pessoas. Tiago
diz que a fé verdadeira é conhecida pelo relacionamento imparcial com as pessoas (2.1-4). Favoritismo e acepção
de pessoas não são atitudes de um cristão. Dois visitantes entram na igreja: um rico e outro pobre. Oferecer
maiores privilégios ao rico e desprezar o pobre é negar a nossa fé no Senhor da glória. Jesus não valorizava as
pessoas pela cor da pele, pela beleza das roupas, ou pelo dinheiro. Jesus não julgava as pessoas pela aparência
(Mt 22.16). Ele, sendo o Senhor da glória, se fez pobre e não julgou as pessoas pela aparência. Jesus acolheu os
ricos e os pobres; os religiosos e os publicanos; os doentes e as crianças; os israelitas e os gentios. Sua Palavra
orienta-nos a não julgarmos as pessoas pela aparência (Jo 7.24).
Abraão Lincoln disse certa feita: “Deus deve amar as pessoas simples, porque ele fez muitas delas”. A ênfase de
Tiago agora é sobre a soberana escolha de Deus (2.5-7). A salvação não está baseada em mérito humano nem
mesmo em nossas obras. A salvação não é comprada nem merecida (Ef 1.4-7; 2.8-10). Deus ignora diferenças
nacionais (salvou Cornélio). Ele ignora diferenças sociais (salva senhores e escravos: Filemom e Onésimo). A
escolha divina não está baseada no que a pessoa tem (ICo 1.26,27). E possível uma pessoa ser pobre neste mundo
e rica no vindouro. Ser rica neste mundo e pobre no vindouro (iTm 6.17,18). Devemos tratar as pessoas como
Deus as trata, e não de acordo com o seu status social. A essência da lei de Deus é o amor ao próximo como a nós
mesmos (2.8-11). A questão não é quem é o meu próximo, mas para quem eu posso ser o próximo?
O amor é o cumprimento de toda a lei. Amar é tratar as pessoas como Deus nos trata. O sacerdote e o levita
tinham uma fé ortodoxa. Eles serviam no templo. Mas eles falharam em viver a fé amando o próximo. A fé era
ortodoxa, mas estava morta (Lc 10.31,32). Quem não ama é transgressor da lei. E se tropeçarmos em um único
ponto, somos culpados da lei inteira (2.10). Nossa fé será finalmente provada no dia do juízo (2.12,13). E o que
será julgado? Primeiro, nossas palavras: palavras de acepção (2.3), palavras de desprezo (2.6), palavras frívolas
(Mt 12.36). Segundo, nossas atitudes também serão julgadas. Quando não usamos de misericórdia com as
pessoas, estamos negando nossa fé e atraindo sobre nossa cabeça o juízo de Deus (2.13). Precisamos estar seguros
de que praticamos as doutrinas que defendemos. O profeta Jonas tinha uma maravilhosa teologia, mas ele odiou
as pessoas e estava irado com Deus (Jn 4.1-11). Sua vida não estava de acordo com sua fé, sua ortodoxia estava
em desarmonia com sua conduta.
Em segundo lugar, é uma fé meramente intelectual. A pessoa consente com certas verdades, mas não é
transformada por elas. No versículo 14 Tiago pergunta: “Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Quando Tiago usa
a palavra semelhante, ele está falando de um certo tipo de fé, ou seja, a fé apenas verbal em oposição à fé
verdadeira. Ainda no versículo 14, ele pergunta: “Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e
não tiver obras?”
A fé aqui descrita existe apenas na base da pretensão. A pessoa diz que tem fé, mas na verdade não tem. As
pessoas com uma fé morta substituem obras por palavras. Elas conhecem as doutrinas, mas elas não praticam a
doutrina. Elas têm discurso, mas não têm vida. A fé está apenas na mente, mas não na ponta dos dedos.
Em terceiro lugar, é uma fé que não produz frutos dignos de arrependimento. Essa fé é ineficiente, inoperante e
não produz nenhum resultado. Ela tem sentimento, mas não ação. Tiago dá dois exemplos para ilustrar a fé morta
(2.15,16). Um crente vem para a igreja sem roupas próprias e sem comida. Uma pessoa com uma fé morta vê essa
situação e não faz nada para resolver o problema do irmão necessitado. Tudo o que ele faz é falar algumas palavras
piedosas (2.16). Comida e roupa são necessidades básicas (iTm 6.8; Gn 28.20).
Como crentes, devemos ajudar a todos e, principalmente, aos que professam a mesma fé (G1 6.10). Seremos
julgados por esse critério (Mt 25.40). Deixar de ajudar o necessitado é fechar o coração ao amor de Deus (IJo
3.17,18). O sacerdote e o levita podiam pregar sobre sua fé, mas não demonstraram a sua fé (Lc 10.31,32). João
Calvino diz: “Só a fé justifica, mas a fé que justifica jamais vem só”.
Em quarto lugar, é uma fé sem nenhum valor. Ela é inútil. A fé sem obras é inoperante (2.20). Se, de forma geral
a fé é inútil, ela também o é no caso da salvação!
Em quinto lugar, é uma f é incompleta. Tiago diz que a fé sem as obras está incompleta (2.22), visto que são as
obras que consumam a fé. As obras são a evidência da fé.Somos salvos pela fé para as obras (Ef 2.8-10). Se não
tem obras, não tem fé!
Em último lugar, é uma f é morta. Tiago é claro em afirmar que a fé sem as obras está morta (2.17; 2.26), e uma
fé morta não salva ninguém. Essa fé intelectual, inútil, incompleta e morta não salva ninguém. Ortodoxia sem
piedade produz morte. James Boyce diz que não podemos ser cristãos e, ao mesmo tempo, ignorar as
necessidades dos outros. Devemos reconhecer que, se há alguém com fome e nós temos os meios para socorrê-
lo, não somos cristãos de verdade se não ajudarmos essa pessoa. Não podemos ser indiferentes às necessidades
do próximo e ainda professar que somos cristãos.
Em segundo lugar, a fé salvadora envolve todo o ser humano. A fé morta toca apenas o intelecto. A fé dos
demônios toca o intelecto e também as emoções. Mas a fé salvadora atinge o intelecto, as emoções e também a
vontade. A mente entende a verdade, o coração deseja a verdade, e a vontade age com base na verdade. Em
terceiro lugar, a fé salvadora conduz à ação. Tiago cita dois exemplos de fé que produziram ação; primeiro, o
exemplo de Abraão. Gênesis 15.6 diz que Abraão creu e isso lhe foi imputado para justiça. Gênesis 22.1-19 mostra
a obediência de Abraão ao oferecer o seu filho para Deus, crendo que Deus poderia ressuscitá-lo (Hb 11.19).
Abraão não foi salvo por obedecer a esse difícil mandamento. Sua obediência provou que ele já era salvo. Abraão
não foi salvo pela fé mais as obras, mas pela fé que produz obras.
Como, então, Abraão foi justificado pelas obras, uma vez que já tinha sido justificado pela fé (Gn 15.6; Rm 4.2,3)?
Pela fé, ele foi justificado diante de Deus, e sua justiça foi declarada. Pelas obras, ele foi justificado diante dos
homens, e sua justiça foi demonstrada. A fé do patriarca Abraão foi demonstrada por suas obras. Segundo, o
exemplo de Raabe. Ela creu e agiu. Ela ouviu a Palavra de Deus e reconheceu que estava em uma cidade
condenada. Ela náo somente entendeu â mensagem, mas seu coração foi tocado (Js 2.11), e assim fez alguma
coisa: protegeu os espias (Hb 11.31). Ela arriscou sua própria vida para proteger os espias.
Mais tarde ela fez parte do povo de Deus (Mt 1.5) e tornou-se membro da genealogia de Cristo. Isso é graça que
opera a fé salvadora.
O apóstolo Paulo diz que do mesmo jeito que somos destinados para a salvação, somos também destinados para
as boas obras. Se a ordenação é determinativa no caso da salvação, também o é no caso das boas obras. A salvação
é só pela fé, mas por uma fé que não está só. Uma fé viva se expressa por obras, ou seja, uma vida que traz glória
a Jesus. Paulo ainda nos exorta a um autoexame; “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a
vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”
(2Co 13.5).
A fé salvadora precisa ser examinada; houve um tempo em que, sinceramente, reconheci meu pecado diante de
Deus? Houve um tempo em que meu coração desejou fortemente fugir da ira vindoura? Houve um tempo em
que compreendi que Cristo morreu pelos meus pecados e já confessei que não posso salvar-me a mim mesmo?
Houve um tempo em que sinceramente eu me arrependi de meus pecados? Houve um tempo em que realmente
depositei minha confiança no Senhor Jesus? Houve um tempo em que de fato houve mudança em minha vida?
Desejo viver para a glória de Deus, pregar a salvação para os outros e ajudar os necessitados?
Tenho prazer na intimidade com Deus? Se você pode responder a essas perguntas positivamente, então os sinais
da fé verdadeira estão presentes na sua vida.