Respondendo o Estudos Marx

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RESPOSTA AO ESTUDOSMARX

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INTRODUÇÃO
EstudosMarx, eu genuinamente acredito que você deveria ler todo o artigo primeiro
antes de fazer qualquer piada, pois a exposição que fiz aqui demonstra que sua
exposição inicial e suas proposições no twitter desconsideram muitas coisas na
teoria de Marx. Se você ler alguma coisa que te pareça sem sentido, respira. Leia todo
o artigo, pois no final eu trouxe referências não apenas de Marx, mas como também
de marxistas que tem muito mais leitura de Marx que eu e você juntos.

Para os demais que discordam de mim e estão loucos para começar a zoar, vocês são
os que mais precisam ter cuidado, pois vocês deram muito crédito para quem fez
uma exposição errada da teoria marxista. Considerem isso como um ato de caridade.

DAS REGRAS

Este artigo tem como finalidade fazer considerações sobre a exposição teórica feita pela
página ESTUDOSMARX sobre como o “valor novo surge na economia”. É estranho eu me
dirigir ao autor como “autor” ou “EstudosMarx”, então o chamarei de Cleiton, partindo de
agora.

O que farei aqui é simples, vou demonstrar primeiro que o Cleiton fez uma exposição
incompleta e falha da teoria marxista. Depois vou pontuar o que está errado na exposição
dele na óptica da teoria Misesiana com as justificativas, claro.

Primeiro é preciso reforçar que, por mais que os marxistas discordem de como eu concluí o
artigo ou a forma como cheguei a resposta, não dá para se dizer e estar com a verdade que
não respondi, mas agora uma coisa que é objetivamente clara são as regras. Vejamos o
que foi acordado:

“É inadmissível que o tema ‘Como novo valor é criado numa economia’ parta de
pressupostos não justificados. Ou seja, o mínimo é que você postule sinteticamente e
analiticamente os termos que possam fazer você expressar ‘como um novo valor é criado
numa economia’

Ou seja, é inadmissível que você solte valor, por exemplo, sem explicar suas condições
necessárias e descrições dele com outros termos.

É necessário que não haja ambiguidade, pois na hora da resposta, eu não quero choro e
nem Ad Hoc”

No decorrer do texto, por mais que eu discorde, Cleiton fez a proposição analítica e sintética
do valor, mas o mesmo não aconteceu sobre a economia.

Em vez de discorrer na ordem das proposições do artigo do Cleiton, vou começar pelo
ponto central e depois vou rebater o que resta. Eu escolhi assim, pois, muitos marxisteen
que vieram interagir comigo no twitter sobre meu trabalho, mostraram que leram só o

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começo e o final do meu artigo - na verdade, estou superestimando eles, acontece que eles
só viram os memes criados pelo Cleiton e repetiram como bons papagaios.

Outra coisa, eu não optei por limites de páginas para a segunda resposta, por conta do
descomprimendo do Cleiton em uma das regras. Ora, ficar trazendo partes dos textos ao
twitter e comentando, é, querendo ou não, uma forma de compor o artigo resposta, ou seja,
há uma vantagem clara para ele em fazer isso. Dado que Cleiton pode ficar fazendo tweets
de humor - ainda que duvidosos - a torto e a direito, sem limites, então não há razões
aparentes para que este artigo tenha limites.

DIALÉTICA: A CARTA BRANCA PARA O ERRO

Uma coisa que precisa ser observada é que “dialética” se tornou uma carta branca para
“assumir proposições auto contraditórias e ao mesmo tempo corretas”. É como se eu
pudesse propor algo que negue uma outra proposição e esta duas proposições estarem
corretas ao mesmo tempo. Por isso que muitas vezes, quando encurralados com
proposições que se contradizem, os marxistas apelam para a “dialética” - crítica que vou
elaborar melhor mais para frente.

Porém, vejamos o que Cleiton tem a dizer sobre isso:

“Atenção: aqueles que procuram estudar Marx apenas pelo paradigma da lógica formal
terão dificuldades para compreender sua crítica. A lógica dialética não nega nem invalida
a lógica formal, mas não se reduz a ela”

Além de haver um descaso gigantesco com o que eles dão a entender sobre o que é
“dialética” com a “dialética hegeliana”, eles ainda os fazem como se, por assumir a dialética
- seja lá qual significado eles e Cleiton deem a dialética -, há uma rejeição a lógica formal e
de princípios como o princípio da não contradição.

Estou comentando isso, pois eu vou expôr o “sistema valor-novo-economia” de Cleiton e,


depois, vou mostrar os erros dele seguindo a própria teoria marxista e considerando a teoria
misesiana. Para isso, preciso dizer para os marxistas o seguinte: admitir que uma caneta é
totalmente vermelha e totalmente verde ao mesmo tempo, não é dialético, é simplesmente
errado.

Ninguém nega que uma caneta pode se tornar uma outra coisa em um outro momento.
Quando falamos de princípio da não-contradição, não rejeitamos que algo possa se tornar
uma outra coisa no movimento do espaço-tempo, estamos apenas dizendo que algo que
“é”, não pode “ser” e “não-ser” ao mesmo tempo.

O QUE LEVOU O CLEITON AO ERRO?

Como irei demonstrar aqui, o erro do Cleiton reside no fato de quando Marx foi fazer sua
crítica à economia política e demonstrar como funciona o sistema capitalista, ele o faz
discorrendo sobre a produção, circulação e distribuição da mercadoria. O erro de Cleiton

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que muitos marxistas não notaram, não está só sobre a exposição do valor, mas sobre a
sustentação dele somente considerando uma das três partes do que seria o sistema
capitalista. Daí surge que ele basicamente considerou a circulação e distribuição das
mercadorias como “dadas”.

Portanto, a diferença que ele fez entre produto e mercadoria, é uma diferença aparente,
pois não está expressa as condições necessárias para que algo seja mercadoria e tenha,
portanto, valor. Segundo as obras de Marx, há, ainda que também haja algumas
contradições, uma clara demonstração de que sim, o valor da mercadoria é medida pelo
“trabalho socialmente necessário”, porém não é, como o texto do Cleiton dá a entender,
produzir algo e “adicionar a mercadoria uma quantidade de trabalho”. O valor de uma
mercadoria, seja ele novo ou não, é quando você compara o seu trabalho com todos os
outros e a forma de expressão disso é o preço relativo. Daí surge que a mensuração da
produtividade do trabalho se dá pela taxa de lucro e se segue a sustentação do que seria a
composição orgânica do capital - onde as taxas de lucros de uma empresa são mais altas,
onde há mais participação de trabalho humano.

É somente com as considerações feitas aqui, não as expostas por Cleiton, que há uma
resposta mais coerente - não verdadeira - às questões sobre o setor de arte. Vejamos o que
um usuário do twitter comentou ao Cleiton:

“Então isso só aplica em produtos industriais? em produtos artesanais não tem


aplicabilidade?”

Agora vejamos a resposta de Cleiton:

“O valor é uma relação social. Ela está também fora do setor industrial (que para Marx é
mais que para o senso comum). Mas o trabalho concreto só produz utilidade (valor de
uso). Mas não produz necessariamente valor. A teoria de Marx é sobre a relação social
do valor-capital [...] Dependendo do trabalho artesanal que estiver falando não produz
valor nenhum. Dependendo, pode produzir por ter um processo de trabalho delimitado, aí
terá um tempo de reprodução para cada mercadoria. Em abstrato assim, não tem como
falar [...] As obras de arte são tidas para Marx como mercadoria se produzidas sob uma
lógica de mercado, portanto, para o mercado. Se forem apenas um obra muito cara ela
pode ser trocada por dinheiro, mas nada novo é criado, apenas transferida na forma de
renda [...] O valor é uma relação social. Ela está também fora do setor industrial (que
para Marx é mais que para o senso comum). Mas o trabalho concreto só produz utilidade
(valor de uso). Mas não produz necessariamente valor. A teoria de Marx é sobre a
relação social do valor-capital”

Nada mais longe da verdade. Para Marx (2015), “uma coisa pode ser útil e produto do
trabalho humano sem ser mercadoria. Quem, por meio de seu produto, satisfaz sua própria
necessidade, cria certamente valor de uso, mas não mercadoria. Para produzir mercadoria,
ele tem de produzir não apenas valor de uso, mas valor de uso para outrem, valor de uso
social”, pois para “se tornar mercadoria, é preciso que o produto, por meio da troca, seja
transferido a outrem, a quem vai servir como valor de uso”.

Uma obra de arte vendida não está nessas condições? Seguindo as proposições de Cleiton,
não. Porém, se nos atermos à teoria marxista, podemos admitir que sim, uma obra de arte
tem seu valor. Ela terá um preço relativo, que é a forma de comparação dos trabalhos, mais

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alto dado a transferência de todos os outros valores para aquela mercadoria. É como se ela
retirasse, para poder ser vendido a este preço, uma parte do valor de todas as outras
mercadorias.

Isso tira a teoria marxista do problema da superprodução, por sinal. O que acontece com
uma mercadoria já produzida? Se você continuar realizando as mercadorias como tal, os
novos valores serão os mesmos ou, através do processo que acabei de descrever, faz
sentido que eles caiam? Uma mercadoria que não se realiza como venda, vai ter valor
quando interrompida no processo de circulação? Então o marxista coerente e honesto
perceberá, ao menos, que o trabalho não pode ser condição suficiente e que, conforme
comentei acima, o valor da mercadoria surge na comparação dos trabalhos, através dos
preços relativos, em vez apenas de trabalho.

Podemos ver isso quando Marx (2015) diz:

“Venda e compra são um ato idêntico como relação mútua entre duas pessoas situadas
em polos contrários: o possuidor de mercadorias e o possuidor de dinheiro. Como ações
da mesma pessoa, eles constituem dois atos frontalmente opostos. Desse modo, a
identidade de compra e venda implica que a mercadoria se torna inútil se, uma vez
lançada na retorta alquímica da circulação, ela não resulta desse processo como
dinheiro, se não é vendida pelo possuidor de mercadorias e, portanto, não é comprada
pelo possuidor de dinheiro. Além disso, essa identidade implica que o processo, quando
bem-sucedido, constitui um ponto de repouso, um período da vida da mercadoria que
pode durar mais ou menos. Como a primeira metamorfose da mercadoria é
simultaneamente venda e compra, esse processo parcial é, ao mesmo tempo, um
processo autônomo. O comprador tem a mercadoria, o vendedor tem o dinheiro, isto é,
uma mercadoria que conserva a forma adequada à circulação independentemente se
mais cedo ou mais tarde ela volta a aparecer no mercado.”

Com isso, nós também evitaremos um problema de cálculo econômico muito conhecido,
que é a contagem dupla. O PIB, por exemplo, mede apenas os serviços e produtos finais,
evitando contagem dupla que recém denunciei. Por isso, por mais que um trabalho gere um
produto que vai ser comercializado entre empresas - como na relação fornecedor-produtor -,
esse valor seria “consumido” na medida em que se transformaria em um outro produto, ou
mercadoria. Quanto mais etapas se segue até o bem de consumo final, maior seria o valor
das mercadorias, mas considerando só a diferença da mais-valia.

Uma explicação similar pode ser encontrada na teoria monetária, onde quando eu faço a
impressão de moeda nova, ceteris paribus, essa moeda nova só ganha poder de compra,
por roubar de todos os outros possuidores o poder de compra. Claro, isso não acontece
mediante a sua adição a economia, mas vale o exemplo.

Só que quando vemos a resposta do Cleiton, parece mais uma sequência de chavões que
você aprende com duas lives do Ian Neves, três do Gaiofato e cinco do Humberto Mattos.

Além do mais, toda essa tentativa do Cleiton em defender a sua exposição de “como surge
o valor novo” deveria ser vista com maus olhos por marxistas. Isso parece jogar a teoria da
exploração unicamente pelo processo de criação de valor, como se capitalistas, segundo
Marx, não pudessem simplesmente explorar outras pessoas através das ferramentas

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jurídicas. Desapropriamento das terras não deixa de ser um fenômeno de exploração só por
ser consequência da mais-valia e me parece que muitos marxistas esquecem disso.

SISTEMA VALOR-NOVO-ECONOMIA DE
CLEITON
Bom, eu já demonstrei algumas falhas da exposição do Cleiton, mas o leitor ainda não sabe
como está exposto a teoria de Cleiton. O que farei agora é pegar as exposições dele,
pontuar aqui, comentar e explicar o que o conjunto das proposições nos diz. Logo após a
esta exposição, vou demonstrar como foi uma exposição falhar se desejava ser uma
exposição marxista sobre como o valor novo é criado.

PROPOSIÇÕES BÁSICAS
Vou assumir - por mais que tudo me leva a acreditar que não - que os marxistas leram o
artigo do Cleiton, então as passagens aqui serão resumidas, mas podem ser verificadas no
artigo disposto pelo mesmo.

“Marx inicia sua investigação pela mercadoria [...] Em todas as sociedades a riqueza
social assume alguma forma determinada. No capitalismo, toda riqueza econômica
assume a forma de mercadoria. [...] a mercadoria possui valor de uso e valor de troca,
pode satisfazer necessidades dos indivíduos e pode ser trocada em determinada
proporção por outras mercadorias”

Bom, aqui nós temos a expressão clara de que há somente dois valores numa mercadoria,
valor de uso e valor de troca. Em termos analíticos, eles também foram explicados. O valor
de uso pode satisfazer as necessidades dos indivíduos, enquanto o valor de troca pode ser
trocado em determinadas proporções por outras mercadorias.

Isso segue o que Carlo Cafiero (2018) comenta, que, de fato, “a mercadoria tem dois
valores, o valor de uso e o valor de troca, que é o valor propriamente dito”. Isso demonstra
que minha exposição acima e tudo que venho respondendo no twitter, realmente está
fundamentado em leituras que falam sobre a teoria Marxista. Antes que o leitor impaciente
resolva descartar a fala de Cafiero, é importante notar que o mesmo recebeu elogios de
Karl Marx, que havia recebido duas tentativas de resumir sua magnus opus, mas que
falharam miseravelmente, porém, o mesmo não poderia ser visto no resumo de Cafiero.

Bom, então de fato uma mercadoria só tem esses dois valores. Cleiton continua afirmando
que é “possível que um produto tenha valor de uso sem ter valor”. Para isso, Cleiton nos
explica as condições sintéticas para o valor, veja:

“Um bolo feito em casa possui o valor de seus ingredientes adquiridos no mercado, mas
seu valor de uso foi retransformado pelo trabalho do confeiteiro e assim ele adquire um
novo valor de uso. Porém, o confeiteiro que faz um bolo em casa para família não
objetiva nenhuma troca. Como o bolo não vai ao mercado e serve apenas ao consumo
dizemos que ele é um produto porém não é mercadoria. Este bolo não depende da

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formação histórica capitalista para ser um bolo, para existir como objeto que satisfaz uma
necessidade específica. Porém um bolo na gondola de uma padaria é uma mercadoria. O
bolo da padaria foi feito para a troca e entra em relação com o mercado para ser trocado,
porquanto possui além do valor de uso, valor de troca. Assim, a primeira vista, não há
diferença nenhuma entre uma mercadoria e um simples produto do trabalho. Ao
olharmos, aos sentidos imediatos, não há diferença entre mercadoria e produto do
trabalho, a diferença é invisível exatamente por ser social. Parece que a única diferença
é que um possui em si um valor de troca associado com as proporções nas quais pode
ser adquirido no mercado, um valor casual e relativo, enquanto que o outro possui
apenas sua materialidade crua criada pelo trabalho humano do confeiteiro. No entanto há
um detalhe curioso: o bolo não precisa ser uma mercadoria para ser bolo, já a
mercadoria precisa ter um valor de uso para ser mercadoria. Nenhuma mercadoria pode
ir ao mercado e se realizar na troca sem ser um valor de uso para os outros, os
consumidores. Ou seja, nenhuma mercadoria pode manifestar sua capacidade de
trocar-se com outras (e veremos isto mais adiante com detalhes) sem possuir em si
mesma uma capacidade de satisfazer as necessidades. O requisito fundamental para a
troca é o valor de uso, dado pela materialidade da mercadoria ou produto.”

Para Cleiton, o valor surge quando o bolo não está para o consumo do seu próprio criador,
mas se coloca a gandola para consumo de outrem. Pode-se revirar o quanto quiser, o
pressuposto aqui é claro como a água: Cleiton entende que o trabalho não gera,
necessariamente, valor. Cleiton deixa bem claro que o trabalho, pelo menos aqui, não é
condição suficiente para o valor. Pois se os bolos possuem os mesmos trabalhos, como um
pode ter valor e o outro não? Me parece mais do que óbvio que o trabalho não gera
necessariamente o valor, mas sim uma outra coisa, ou, um conjunto de outras coisas. No
que está exposto por Cleiton, surge que para ter valor, ele precisa ser colocado no mercado.
Ou seja, há uma identidade aparente entre “valor” e “valor de troca”, muito bem expresso
por mim e, também, por Carlo Cafiero.

Cleiton continua sua exposição criticando o que ele acha que é a teoria subjetivista - que
vou pontuar mais para frente - e nos dá mais contribuições para a sua exposição de como o
valor novo surge na economia. As mercadorias, numa economia, acabam se trocando em
determinadas proporções, que não são necessariamente determinadas. Cleiton comenta
que “estas proporções entre as diversas mercadorias, assumindo que não são meramente
casuais e relativas sem nenhuma lógica interna reguladora, indicam que há
necessariamente uma equivalência entre elas” e que esta equivalência reside no fato que
“são produtos de trabalho humano”, mas não “trabalhos específicos”, pois para chegar no
trabalho, Marx (2015) usa do seu famoso processo dialético, vejamos:

“Esse algo em comum não pode ser uma propriedade geométrica, física, química ou
qualquer outra propriedade natural das mercadorias. Suas propriedades físicas importam
apenas na medida em que conferem utilidade às mercadorias, isto é, fazem delas valores
de uso. Por outro lado, parece claro que a abstração dos seus valores de uso é
justamente o que caracteriza a relação de troca das mercadorias. Nessa relação, um
valor de uso vale tanto quanto o outro desde que esteja disponível em proporção
adequada. Ou como diz o velho Barbon: “Um tipo de mercadoria é tão bom quanto outro
se seu valor de troca for da mesma grandeza. Pois não existe nenhuma diferença ou
possibilidade de diferenciação entre coisas cujos valores de troca são da mesma
grandeza.”8 Como valores de uso, as mercadorias são, antes de tudo, de diferente
qualidade; como valores de troca, elas podem ser apenas de quantidade diferente, sem
conter, portanto, nenhum átomo de valor de uso. Prescindindo do valor de uso dos
corpos das mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do
trabalho. Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se
abstraímos seu valor de uso, abstraímos também os componentes [Bestandteilen] e

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formas corpóreas que fazem dele um valor de uso. O produto não é mais uma mesa,
uma casa, um fio ou qualquer outra coisa útil. Todas as suas qualidades sensíveis foram
apagadas. E também já não é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou
de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do
trabalho desaparece o caráter útil 98
dos trabalhos neles representados e, portanto, também as diferentes formas concretas
desses trabalhos, que não mais se distinguem uns dos outros, sendo todos reduzidos a
trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato. Consideremos agora o resíduo dos
produtos do trabalho. Deles não restou mais do que uma mesma objetividade
fantasmagórica, uma simples geleia [Gallerte] de trabalho humano indiferenciado, i.e., de
dispêndio de força de trabalho humana, sem consideração pela forma de seu dispêndio.
Essas coisas representam apenas o fato de que em sua produção foi despendida força
de trabalho humana, foi acumulado trabalho humano. Como cristais dessa substância
social que lhes é comum, elas são valores – valores de mercadorias.”

Apesar não termos a definição de economia, aqui nós já temos um sistema fechado sobre o
valor e como valor novo pode surgir. Se a substância do valor é o trabalho e sua medida o
tempo de trabalho socialmente necessário, dado que a “própria quantidade de trabalho é
medida pelo seu tempo de duração”, o que vai gerar um valor novo a economia, é o
trabalho. O motivo, de acordo com o Cleiton, é que “o valor novo só pode ser
adequadamente explicado a partir destas categorias e mediações”.

Tanto que em seu exemplo, 10 pães são permutados por 2 bolos por conta de “uma
igualdade que já vimos ser a do valor cuja substância é o trabalho abstrato, ou uma
substância de trabalho igual e indiferenciado, abstraído de suas características sensíveis”.

Só que para essa troca acontecer, é necessária que se negue o valor de uso da mercadoria,
tanto que o autor admite que quando troca 10 pães por 2 bolos ele afirma “a contradição
interna entre o valor de uso do pão e seu valor, negando o valor de uso do pão e
expressando em seu lugar o valor da outra mercadoria”.

Aqui o Cleiton já tem quase tudo o que precisa para justificar como um valor novo surge na
economia. Devemos lembrar que economia não foi definida analiticamente e nem
sinteticamente. É importante ressaltar que para Cleiton, valor novo é “o excedente de valor
gerado numa economia, desde os lucros dos empresários até o raro aumento dos salários
reais em momentos de prosperidade”.

Apesar de não saber como “somente o trabalho” garante os “lucros dos empresários” sem a
troca, Cleiton simplesmente admite que o valor novo surge do trabalho, apenas, ao mesmo
tempo que admite que a “princípio não parece possível explicar, pela mera troca, como algo
novo pode ser criado”. Então, até agora, o trabalho era condição suficiente, mas parece
haver uma dúvida no coração de Cleiton, que não consegue entender como só a troca pode
gerar novo valor criado. Por isso que, em conversa privada, eu alertei ele que a única saída
é deixar de admitir, como já fez, que valor é gerado só por trabalho e admitir, pelo menos,
que é “trabalho e troca”, ou melhor dizendo “as trocas de trabalhos socialmente necessários
expressados pelas trocas de mercadorias”, como eu expus no começo deste artigo.

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A explicação do Cleiton para que essa dúvida ainda paire se dá pelo seguinte:

“Certamente os valores de uso delas, conforme constatamos, ganham realização quando


elas encontram as mãos corretas, ou seja, quando podem satisfazer necessidades do
corpo e do espírito. Mas depois da troca que fizemos continua havendo na padaria 10
pães e dois bolos em minha mão. Nada mudou exceto o fato de que agora comerei bolo
e não pães. Nada novo foi produzido”

Cleiton não sabe o que é mercado primário e secundário, mas ainda assim é uma dúvida
que vale a pena revisar. É algo como “está bem, se for só troca, quer dizer que se eu ficar
trocando e destrocando, vou aumentar ao PIB do país?”. A resposta é não. Porém, ainda
que várias vezes tenha colocado Marx como um “autor paciente”, Cleiton estava bem
apressadinho. Para Cleiton a troca não pode fazer parte da condição necessária do valor
novo, pois se eu trocar novamente a mercadoria que recém troquei, não estarei agregando
valor ou criando excedente.

Está bem, Cleiton, mas de onde você tirou que um fenômeno pressupõe somente uma
condição necessária para acontecer? Está aí uma pergunta que ele não saberá responder.
Ele só tomou como dado, apesar de que nem Marx cai nesse problema.

Assim como o próprio Cleiton deduziu que o “trabalho pode gerar um produto que não teria
valor”, mas ainda assume que “o trabalho faz parte da condição necessária de um valor
novo criado”, uma “troca de mercadoria que pode não gerar”, de acordo com o Cleiton,
“valor novo criado numa economia”, ainda assim pode fazer parte da condição necessária
de um valor, mas por algum motivo específico, Cleiton rejeita isso.

O QUE PODEMOS NOTAR

Como foi exposto acima, o sistema valor-novo-economia de Cleiton é expresso da seguinte


forma:

A mercadoria tem dois valores, valores de uso e valor de troca. Há mercadoria que pode ter
valor de uso, sem ter valor, que é o valor de troca. Valores de uso é a possibilidade que uma
mercadoria tem de satisfazer um indivíduo e valor de troca são as proporções que as
mercadorias se trocam. Valores de uso possuem como condição necessária as
propriedades da mercadoria, valor de troca a mercadoria ser útil para outrem. A substância
do valor, que é o valor de troca, é o trabalho. Trocas não geram valores novos, pois se eu
trocar mercadorias já trocadas, nada novo surgiu, portanto, o trabalho é a condição
necessária do valor novo gerado. Isso é instrumentalizado na esfera produtiva pelos
capitalistas, que soma a força de trabalho aos meios de produção, adquiridos com um
dinheiro inicial, numa nova mercadoria que se transformará em um dinheiro maior que o
dinheiro inicial gasto. Isso pode ser expresso pela expressão abaixo:

D − Mx ... ft ... Mx’ − D’

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CLEITON, O MAIOR HATER DE KARL MARX

Como demonstrei, o Cleiton desconsidera a troca como parte da condição necessária para
o valor, por mais que ele tenha desenvolvido proposições que iria lhe mostrar o contrário.
Fruto da impaciência dele.

No sistema “ D − Mx ... ft ... Mx’ − D’ ”, Cleiton dá a entender que o valor novo reside em “
Mx’ ”, o que é minimamente coerente, pois se ele admitir que o valor novo está em “ M’ - D’
”, ele iria ter que explicar como o valor novo está em M’ - D’ sem ter passado por uma troca,
que é justamente o que Cleiton está negando.

Podemos entender que isso é uma afirmação feita por Cleiton, por conta da seguinte
passagem de seu artigo:

“Agora, o ciclo torna-se mais claro. Um valor inicial (D) é adiantado pelo capitalista sob a
forma-dinheiro. Este dinheiro muda de forma e aparece como mercadoria (Mx) , se
metamorfoseia tal qual uma lagarta em casulo. Agora ele está sob a forma Mx que é a
junção dos meios de produção com a força de trabalho empregada na produção. Em
seguida este valor sofrerá nova alteração e se transformará em Mx’. Agora,
autovalorizado, o valor sai do casulo como borboleta, aparece como D’. É o mesmo, mas
desenvolvido, é o mesmo, porém autovalorizado”

Não por falta de aviso, até em conversa privada, eu demonstrei ao Cleiton que ele estava
considerando a mercadoria como realizada - ele considerou a circulação como dada. Veja
que Marx (2019) comenta que “D - M ” é uma das fases da circulação, que é a fase da
compra, enquanto “ M’ - D’ “ é a fase da venda. Só que a mercadoria só é comprada e
vendida, apenas devido ao seu valor de uso, conforme já foi comentado.

Não me parece ser o caso de que o valor novo surge na mera disposição da mercadoria
numa prateleira. Que mais-valia foi retirada de uma mercadoria que não foi vendida, por
mais que esteja sendo disposta por um preço que demonstrasse uma diferença
considerável entre o que se espera da venda e o que foi pago ao trabalhador? Onde está a
materialidade nisso? Cadê as concretudes dos fatos?

Esse valor novo, portanto, só me parece fazer sentido surgir na fase da circulação da
venda, que é quando há a comparação do trabalho imbuído na mercadoria com todas as
outras mercadorias através da forma equivalente universal.

Essa minha compreensão, não está sustentada somente nisso, mas também em outras
passagens que tratam das condições para que um produto se torne mercadoria. Como o
próprio Marx (2015) admite, “nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso. Se ela é
inútil, também o é o trabalho nela contido, não conta como trabalho e não cria, por isso,
nenhum valor”.

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Novamente, nós - eu não - somos todos materialistas aqui, certo? Nós olhamos a
concretude dos fatos, certo? Onde está na concretude dos fatos que uma mercadoria
exposta na prateleira será objeto de uso de outrem para que, assim, tenha valor? Como
vamos saber que ela terá valor de uso para outrem senão através da venda desta
mercadoria?

Cleiton está certo em admitir o problema da circulação como origem do valor, mas ele não
entendeu que a circulação seria a condição necessária, só que não o suficiente, justamente
o que eu tenho argumento esse tempo todo. De fato, Marx (2015) admite que “o capital não
pode ter origem na circulação, tampouco pode não ter origem na circulação”, como Cleiton
admitiu, só que Marx (2015) também admite que “fora da circulação, o possuidor de
mercadorias encontra-se em relação apenas com sua própria mercadoria”.

Mas esta parte da exposição não está no artigo de Cleiton, está? Evidente que não. Por
isso que eu avisei diversas vezes aos marxisteen do twitter vieram no meu twitter
espumando cheio de piadas e zoações, mas nem leram o artigo do Cleiton. Precisou vir um
AnCap mostrar que a exposição de Cleiton está incompleta e joga a teoria marxista para
debates relativamente mais fáceis de se debater. Deve ser triste ser corrigido por um
AnCap, sinceramente.

Claro, existem diversas contradições na teoria marxista, tal como lacunas explicativas. Não
por ela estar errada, uma teoria pode ter uma coerência interna, sem que esteja errada. Ela
está errada por conta das contradições e somente pode ser salva pela dialética de Taubaté.

MINHAS CONSIDERAÇÕES AO SISTEMA


VALOR-NOVO-ECONOMIA DE CLEITON

O “DABATE”

Se Cleiton tivesse me falado “Henrido, vamos fazer um debate sobre como se dá a


produção de bens e serviços numa economia capitalista”, eu teria escrito um outro artigo,
talvez algo muito próximo do que ele escreveu. Porém, o querido lançou um “Henrido, agora
que fugi do primeiro convite de debate em live, do segundo convite que era em texto, pois,
eu precisaria escrever demais, vamos fazer um debate sobre ‘como valor novo é criado
numa economia’?”. Isso muda radicalmente as coisas.

Caso o debate fosse sobre “economia capitalista”, eu não cometeria o mesmo erro dele,
que está embutido no erro de Marx, de fazer um retrato estético para tentar entender este
bem econômico que chamamos de mercadoria. Se o debate fosse “como as mercadorias
são produzidas e distribuídas numa economia capitalista”, eu teria feito uma análise geral
da produção e circulação de mercadorias desde a era onde o mercado não tinha tanta
intensidade e complexidade, até agora.

Eu achei engraçado que muitos estavam zombando que “eu dei a mercadoria como dada”,
mas ninguém notou que o processo produtivo de circulação de mercadoria exposto por

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Cleiton também está como dado. Do nada as pessoas têm dinheiro? Do nada há divisão do
trabalho e relação salarial? Cadê a realidade, Cleiton?

COMO O VALOR NOVO SURGE NA ECONOMIA?

A exposição de Cleiton entra em contradição com algumas passagens de Marx e, como eu


já denunciei diversas vezes, estavam contando com a mercadoria já realizada. A definição
de mercadoria de Marx é distinta da de Cleiton. Novamente, para Marx (2015) para algo “se
tornar mercadoria, é preciso que o produto, por meio da troca, seja transferido a outrem, a
quem vai servir como valor de uso”, enquanto para Cleiton, a mera disposição da prateleira
já a torna mercadoria. Isso implicaria que haveria trabalho útil na mercadoria, mesmo que
ela não gere valor de uso para outrem, só que o próprio Marx diz que se a coisa “é inútil,
também o é o trabalho nela contido, não conta como trabalho e não cria, por isso, nenhum
valor”.

Porém, eu estou respondendo o Cleiton, não o Marx. Então vou considerar as afirmações
de Cleiton, não de Marx. Assim como Cleiton, se achando muito espertinho, foi tirar onda
com o valor surgido da “troca” por conta de sua “dúvida” sobre “caso trocássemos
infinitamente, isso geraria aumento infinito no valor?”, a crítica recai sobre ele. Eu até queria
aproveitar e dizer que ele tem costume de fazer críticas que voltam para ele.

Meu ponto é que Cleiton também precisa responder: se ficarmos infinitamente trabalhando,
vamos infinitamente gerar valor novo na economia? Se Cleiton assumisse os pressupostos
marxistas que eu expus aqui, ele não cairia nesse problema. Porém, não foi o que Cleiton
fez, pelo menos, não em partes.

Veja, se você ler o artigo dele com atenção, vai notar que há hora em que ele assume
coisas que os pressupostos estão considerando aquilo que comentei que ele deveria
considerar, caso fosse um marxista coerente. Quando ele abre o artigo, ele comenta o
seguinte:

“Um mistério ainda não solucionado assombra a ciência econômica: como um novo valor
é acrescido à economia, isto é, como explicar o excedente de valor gerado numa
economia, desde os lucros dos empresários até o raro aumento dos salários reais em
momentos de prosperidade?”

Me diga Cleiton, se você está dizendo que “valor novo acrescido à economia” é “excedente
de valor, desde lucros dos empresários até o raro aumento dos salários”, como você vai
pode admitir que esse tipo de coisa acontece sem a troca? Ué, Cleiton, estás defendendo
lucro psíquico? Cadê a concretude dos lucros sem a venda da mercadoria, ou melhor ainda,
sem “ M’ - D’ ”?

O Cleiton faz afirmações, mas se esquece de que quando você afirma algo, você se
compromete com os pressupostos e os corolários. O lucro tem significados distintos para os
marxistas, muitos deles o admitem como o próprio valor - querendo ou não, essa abertura
do Cleiton sustenta isso também. Porém, lucro é a operação onde você saiu com mais
dinheiro que entrou no processo de criação e circulação de mercadoria. Novamente,
pressupõe venda. Como você vende sem trocar? É a venda psíquica?

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O descarte da troca, para o Cleiton, é injustificável e essa desconsideração pela troca que
fez o artigo dele ser uma exposição ainda mais distante da realidade da explicação do valor,
do que a minha exposição.

Você pode estar pensando que há um “empate”, já que ele não considerou a troca, mas
considerou o trabalho e eu não considerei o trabalho, mas considerei a troca. Este empate é
apenas aparente.

Cleiton não definiu economia, mas eu sim. Cleiton não definiu mercado, mas eu sim. “Como
valor novo é criado numa economia” não está, necessariamente, implicando o sistema
capitalista e considerando que o próprio Cleiton admitiu que economia não é capitalismo, tal
como mercado não é capitalismo, o “valor novo criado numa economia” não precisa ser
economia capitalista. Neste sentido, podemos não saber o que “economia é” para Cleiton,
mas sabemos o que a “economia não é”: neste caso, capitalismo.

Daí surge que meu artigo responde satisfatoriamente toda a questão e que não havia
necessidade de eu expor como funciona o método capitalista de produção. Veja o que
escrevi em meu artigo:

“Como surge o mercado, então? Ora, pela troca, que torna denso aquilo que, até então,
era disperso: o valor econômico atribuído pelos agentes. A troca não pressupõe,
necessariamente, uma produção e uma produção não implica que uma mercadoria será
trocada - ou que se quer será avaliada pelos agentes econômicos. A troca não
pressupõe, necessariamente, a execução de um trabalho e uma mercadoria proveniente
de um trabalho não implica que ela será trocada. Como saber, então, a forma do valor
equivalente desta mercadoria comparado com tantas outras?”

A troca de fato não pressupõe produção e, também, não pressupõe trabalho. Como por
exemplo a areia, que pode ser comercializada, mesmo hoje num sistema capitalista, sem
que você a transforme ou realize trabalho nela. E assim, como outra mercadoria qualquer
recém criada, ela é adicionada no cálculo de valor novo.

Além de tudo isso, o trabalho só se torna substância do valor se ele conferir utilidade à
mercadoria, conforme já demonstrei. Ora, no fim, é o trabalho ou a utilidade que confere
valor à mercadoria?

Se for a utilidade a substância real, muitas relações de trocas que datam eras distantes do
capitalismo podem ser satisfatoriamente explicadas. Não apenas elas, mas todos os
exemplos que colocaram a teoria marxista em cheque. Isso se dá, pois a utilidade de um
recurso não se dá, necessariamente, pelo trabalho humano. Se eu colher maçãs de uma
macieira, uma plantada e cuidada por um homem, outra não, as maçãs que tiverem uma
maior densidade de trabalho humano, terão mais valor ao serem ofertadas ao mercado?

Não parece fazer sentido admitir isso. Digo, se o Cleiton tivesse argumentado na linha que
eu expus no começo deste artigo, ele poderia dizer que a adição das maçãs que não são
frutos de um denso trabalho humano estão “roubando valor” das que são, assim como no
exemplo da obra de arte. Isso daria um suspiro para a teoria marxista, ainda que ela se

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mantenha falha, pois como demonstrei, o valor antecede o processo capitalista de trocas de
mercadoria. Na verdade, datam períodos anteriores ao mercantilismo.

Lucro não é uma expressão meramente monetária A questão do valor novo é ser, para
Cleiton, a criação de excedentes. Ora, não ocorre ao Cleiton que em eras anteriores ao
mercantilismo possa haver lucro? Será que Cleiton não consegue pensar num único
exemplo onde uma mercadoria é obtida por outra mercadoria e essa mercadoria, sem
adição de trabalho algum, possa vir a adquirir mais da mesma mercadoria que havia
trocado inicialmente? Será que, para Cleiton “ M1 - M2 - M1’ ” é um acontecimento
impossível?

Veja, os vinhos são produzidos para melhorar em sabor, aroma e complexidade conforme
envelhecem. Eles mudam suas qualidades ao ponto de serem mais valorados pelos
agentes ao passar o tempo, ao mesmo tempo que ele também muda "suas propriedades"
que é o que garante, segundo a teoria marxista, o valor de uso - que por sinal é o que
sustenta o valor.

Se eu troco um recurso “M2” por um vinho recém produzido, guardo o vinho e depois o
coloco a troca de novo, eu não poderia estar obtendo mais unidades de outros recursos ao
ponto de que o valor adicionado ao mercado é novo, ou, acrescido? Eu literalmente poderia
obter mais unidades de "M2", dado a passagem do tempo que alterou as propriedades da
mercadoria - sem trabalho algum. E obter mais "M2" seria um processo lucrativo.

A visão de Cleiton de que o lucro acontece só em sociedades capitalistas é literalmente


ahistórica. Cleiton precisa nos explicar como, por exemplo, que os nômades terrestres
descritos por Oppenheimer (2023) tinham um dos aspectos de suas atividades voltados à
economia natural de troca e consumo de gados. Um bezerro recém adquirido por um par de
recursos, por exemplo, certamente poderá obter muito mais dos recursos que foram dados
por ele após atingir a vida adulta. E aí fica a difícil defesa de dizer que o crescimento se deu
pelo trabalho. Os marxistas precisam assumir os termos descritos em “O Capital”, e Marx
(2015) deixa claro que o trabalho é “a atividade do homem” que “opera uma transformação
do objeto do trabalho segundo uma finalidade concebida desde o início”.

Podemos admitir que o pastoreio gera uma favorabilidade maior - não-necessariamente,


portanto - do bezerro crescer, para ser permutado por mais recursos que anteriormente,
mas ele é condição necessária? Como que o pastoreio gerou a transformação direta ao
bezerro? Como o concreto é síntese de múltiplas determinações, qual o grau de influência
de um pastoreio para a concretude da mudança de um bezerro para um boi? Por isso,
pode-se virar e revirar o valor como quiser, ele claramente não tem como substância o
trabalho.

Percebe que neste exercício de raciocínio, estou dando a troca como dada. Mesmo
considerando a troca como dada, não há sustento da causalidade entre o trabalho e o valor.
Porém, o que fará alguém querer um boi? Simples, uma pessoa que possua uma finalidade
onde a condição necessária é o boi. E o que fará ela trocar um recurso pelo boi? Simples,
uma pessoa que possua a finalidade que tem como condição necessária é o boi, mas esta
finalidade precisa ser mais valorada com as outras finalidades que ela poderia alcançar com
o recurso que tem em sua posse.

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A substância do valor não é e não pode ser o trabalho e só isso já descarta toda a
proposição de Cleiton, mas vamos adiante.
O problema reside no mesmo que fez Marx cometer os erros que cometeu, em olhar o
presente e apenas o presente. Para você ter uma noção, Cleiton simplesmente entende que
a troca de mercadorias visando o lucro surge somente no capitalismo e que antes do
mercantilismo o termo “lucro” não existia.

Acontece que Brown (1968) demonstra que isso não é verdadeiro. Ele comenta que as
práticas contábeis e comerciais remontam a períodos anteriores ao mercantilismo,
destacando, por exemplo, as contas do banqueiro florentino de 1211. O autor observa
vestígios dessas práticas desde o início do desenvolvimento da contabilidade sistemática.
Em seu livro, ao mencionar as contas nominais em livros datados de 1297, pertencentes a
Rinerio e Baldo Fini, o autor indica que conceitos contábeis, incluindo a ideia de lucro, já
estavam presentes antes do período associado ao mercantilismo. Além disso, sua obra
destaca o surgimento da prática de transferências contábeis e a formação de um sistema
completo de partidas dobradas menos de cinquenta anos após o período de Rinerio e Baldo
Fini.

Em “Pelo Fim do Banco Central”, pela qual escrevi o prefácio, eu acabei aproveitando e
respondendo a proposição de Graeber sobre o surgimento do dinheiro e é incrível como
Graeber, neste texto aqui, vai corroborar com meu argumento. Graeber (2011) busca
sustentar a tese de que “o dinheiro surge da dívida - débito”. Como comentei no prefácio do
livro, apesar de que podemos entender os fatos como verdadeiros, as conclusões e
interpretações dos fatos foram extremamente inadequadas, mas irei usar, aqui, apenas os
fatos.

“O sistema de crédito, as contas a pagar e até mesmo as contas de despesas já existiam


muito antes do dinheiro em espécie. Essas coisas são tão antigas quanto a civilização
em si. É verdade que também observamos que a história tende a oscilar entre períodos
dominados por barras de ouro, onde se presume que ouro e prata são dinheiro, e
períodos em que o dinheiro é considerado uma abstração, uma unidade virtual de conta.
Mas historicamente, o dinheiro de crédito surge primeiro, e o que estamos
testemunhando hoje é um retorno a suposições que teriam sido consideradas senso
comum óbvio, digamos, na Idade Média - ou mesmo na antiga Mesopotâmia (Graeber,
2011, p. 17)”.

Essa sustentação de Graeber não apenas coloca em xeque a tese de que o lucro não
existia antes do mercantilismo, mas que o processo de valorização do capital através do
fenômeno dos juros, ou seja, a influência do tempo sobre o valor do bem num tempo
distante. Oppenheimer (2023) demonstra este mesmo fenômeno com o empréstimo de
gado e Graber (2011) traz as evidências de que isso remota, também, épocas ainda mais
antigas, que desfrutava de um sistema financeiro bem sofisticado, para a época em
questão.

“Não sabemos precisamente quando e como surgiram os empréstimos com juros, pois
eles parecem anteceder a escrita. É provável que os administradores de templos tenham
inventado a ideia como uma forma de financiar o comércio de caravanas. Esse comércio
era crucial, pois, embora o vale do rio da antiga Mesopotâmia fosse extraordinariamente
fértil e produzisse enormes excedentes de grãos e outros alimentos, e sustentasse

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enormes rebanhos que, por sua vez, mantinham uma vasta indústria de lã e couro, era
quase completamente carente de qualquer outra coisa. Pedra, madeira, metal, até
mesmo a prata usada como dinheiro, tudo precisava ser importado. Desde os primeiros
tempos, então, os administradores do templo desenvolveram o hábito de adiantar bens a
comerciantes locais - alguns privados, outros eles mesmos funcionários do templo - que
então sairiam e venderiam no exterior. Os juros eram apenas uma maneira dos templos
receberem sua parcela dos lucros resultantes. No entanto, uma vez estabelecido, o
princípio parece ter se espalhado rapidamente. Logo encontramos não apenas
empréstimos comerciais, mas também empréstimos ao consumidor - usura no sentido
clássico do termo. Por volta de 2400 a.C., já parecia ser prática comum por parte de
autoridades locais ou comerciantes ricos adiantar empréstimos a camponeses em
dificuldades financeiras com garantia e começar a apropriar-se de suas posses se não
pudessem pagar. Geralmente começava com grãos, ovelhas, cabras e móveis, depois
passava para campos e casas, ou, alternativa ou finalmente, membros da família.
Servos, se houvesse, iam rapidamente, seguidos por crianças, esposas e, em algumas
ocasiões extremas, até mesmo o próprio mutuário. Eles se tornariam devedores servos:
não exatamente escravos, mas muito próximos disso, forçados a serviço perpétuo no
domicílio do credor - ou, às vezes, nos próprios templos ou palácios. Em teoria, é claro,
qualquer um deles poderia ser resgatado sempre que o mutuário pagasse o dinheiro,
mas, por razões óbvias, quanto mais os recursos de um camponês eram retirados dele,
mais difícil isso se tornava(Graber, 2011, p. 64-65)”.

É… complicado.

Até aqui, todas as sentenças do Cleiton foram devidamente refutadas. Tanto na parte em
que apresento uma teoria marxista mais coerente, quando agora, onde refutei todas as
proposições estabelecidas por ele partindo de uma interpretação austríaca.

AGORA VAMOS AO QUE SOBRA

Vou ser sincero, se o Cleiton tivesse sido respeitoso comigo, talvez essa parte aqui não
existiria e talvez eu não iria corrigir ele com as próprias proposições marxistas. Teria sido
um debate mais tranquilo e amistoso. Bom, vamos lá.

“Sabendo a origem dos lucros, poderíamos compreender a fundo a dinâmica econômica


das modernas sociedades capitalista”.

É, aparentemente você não sabe a origem do lucro, conforme eu acabei de demonstrar. O


lucro monetário, que não surge no capitalismo, é o resultado positivo da diferença entre a
receita e o custo. Deve-se ter em mente que os valores monetários gastos nos custos não
possuem relação alguma com os valores monetários obtidos na venda. Na verdade, é
justamente o fato da venda da mercadoria ser esperada ser maior que os custos, que há
uma explicação em capitalistas auferirem em custos. Ele continua:

“Insisto que a teoria econômica atual não explica esta questão. Mas isto não implica dizer
que ela ignora este problema nem que se esquiva dele. Ela o resolve à sua maneira,
apreendendo apenas os nexos externos dos fenômenos, isto é, deixando de lado uma
análise social mais profunda em proveito de um pragmatismo utilitário que a permita
navegar adequadamente na superfície da realidade”.

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Primeiro, como demonstrado, Cleiton simplesmente não sabe do que se trata a teoria
econômica atual ou a escola austríaca. Outra, a economia atual evidentemente explica a
origem dos lucros e de quebra não cai no mito de que ele surge no capitalismo, como fez
Cleiton. O lucro é sempre um resultado positivo quando comparamos o que conseguimos
ao que abrimos mão. Ao decorrer da história, muitos desses processos foram explorados,
através de atividades empreendedoras. O reconhecimento, por exemplo, de que vinhos
envelhecidos valem mais do que vinhos recém produzidos permitirá que indivíduos possam
empreender neste ramo, adquirindo vinhos através de outras mercadorias, ou dinheiro, para
depois jogar ao mercado. Isso só é possível graças ao acúmulo de capital que surge, como
demonstrei, em eras muito distantes do capitalismo.

Cleiton vai fingir que eu não expliquei isso, mas vejamos o que eu falei em meu artigo:

“Daí surge que bens que, ao sermos privados deles, não teriam valor para nós ao
considerarmos seu uso direto, mas podem ser utilizados para obter outros bens que nos
são verdadeiramente úteis. Estes bens mencionados, portanto, nos são úteis
indiretamente, servindo, possivelmente, para ser usado num processo de troca de bens
que nos são úteis diretamente [...] Ou seja, a troca só acontece, desde que o bem que é
pedido em troca tenha um valor maior do que o bem ofertado - que proporciona uso
direto. O termo ‘valor’, em ‘valor de troca’, representa, novamente, a parte do ‘grau de
importância’, como destacado acima, criando um sistema coeso entre ‘valor’ e seus
derivados. Daí surge a fala de Menger, que como “se vê, o valor, tanto no primeiro, como
no segundo caso, é apenas uma das duas modalidades diferentes do mesmo fenômeno
da vida econômica; em ambos os casos, o valor é a importância que determinados bens
têm para o indivíduo, pelo fato de este saber que depende da posse desses bens para
atender às suas necessidades’. E é justamente a existência e possibilidade de troca que
abre aos produtores uma via diferente do consumo direto; abre aos produtores um
mercado. Daí surge o que Say expressa em sua lei, que ‘a produção propicia mercado
aos produtos’. A produção claramente não é condição suficiente, mas certamente é
necessária, tal como a troca”.

Aqui eu literalmente deixei claro que a poupança de um recurso, não consumir, permite que
ele esteja disponível para a troca. A abstinência do recurso, portanto, é a condição
necessária não-suficiente para o surgimento de mercados e isso literalmente está expresso
no meu artigo.

“Como bons adeptos da ciência positiva, trabalhavam com o princípio da não contradição.
Portanto, jamais poderiam resolver as confusões internas de suas teorias”.

Aqui nós temos a dialética de Taubaté. Que salto lógico é esse? Como partir do "princípio
da não-contradição" implica que, portanto, jamais poderiam resolver as confusões internas
das suas teorias? Fico imaginando se Cleiton sabe que propor uma teoria em detrimento da
outra, é literalmente tomar como verdadeira - por autoevidência. O que quero dizer aqui, é
quando Cleiton vai rejeitar uma teoria por ser diferente da que ele defende, ele
necessariamente toma como pressuposto o princípio da não-contradição. O problema de
Cleiton no princípio da não-contradição ficou evidente nas passagens em que se precisava
entender o que é condição necessária, mas não-suficiente. Daí surge ele achar que “o
capital não pode ter origem na circulação, tampouco pode não ter origem na circulação” é
dialético.

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“O bolo da padaria foi feito para a troca e entra em relação com o mercado para ser trocado,
porquanto possui além do valor de uso, valor de troca”

Quando o autor admite que o bolo da padaria foi feito para troca e entra em relação com o
mercado, ele basicamente está pressupondo que a oferta necessariamente cria uma
demanda para o produto, o que já foi refutado por Say.

Vale ressaltar que o "bolo da padaria foi feito para troca" e já "possui além do valor de uso,
valor de troca", é admitir que o valor é intrínseco à mercadoria, o que é amplamente negado
por muitos marxistas que, atualmente, tem tentando aplicar aspectos marginalistas a teoria
marxista - o que é muito confuso.

“Assim, a primeira vista, não há diferença nenhuma entre uma mercadoria e um simples
produto do trabalho. Ao olharmos, aos sentidos imediatos, não há diferença entre
mercadoria e produto do trabalho, a diferença é invisível exatamente por ser social.
Parece que a única diferença é que um possui em si um valor de troca associado com as
proporções nas quais pode ser adquirido no mercado, um valor casual e relativo,
enquanto que o outro possui apenas sua materialidade crua criada pelo trabalho humano
do confeiteiro. No entanto há um detalhe curioso: o bolo não precisa ser uma mercadoria
para ser bolo, já a mercadoria precisa ter um valor de uso para ser mercadoria. Nenhuma
mercadoria pode ir ao mercado e se realizar na troca sem ser um valor de uso para os
outros, os consumidores. Ou seja, nenhuma mercadoria pode manifestar sua capacidade
de trocar-se com outras (e veremos isto mais adiante com detalhes) sem possuir em si
mesma uma capacidade de satisfazer as necessidades. O requisito fundamental para a
troca é o valor de uso, dado pela materialidade da mercadoria ou produto”.

Mais um pouco e vira uma teoria do valor decente, mas a proposição final implica que o
valor de uso é prático e inerente a mercadoria, como se houvesse uma rigidez inviolável
entre a aparência da mercadoria ao comprador; ou melhor, entre a utilidade esperada e
como a mercadoria realmente pode ser usada para atingir o fim do agente.

Perceba que está claro como a água: "o valor de uso é dado pela materialidade da
mercadoria ou produto" e é esse valor de uso que fundamenta a troca, ou valor de troca, ou
valor.

Sendo que não, pois é a utilidade esperada dado as impressões do agente a mercadoria
que fundamentam o valor. Por isso que produtos que são maquiados para apresentar uma
integridade física, quando na verdade não estão, pode ser demandado como se fossem
produtos realmente saudáveis.

Ou seja, adquirir uma maçã podre por dentro ocorre pela aparência da maçã, não por sua
utilidade intrínseca, que foi justamente o que argumento no meu escrito. Caso queiramos
relatos mais históricos, a venda de barros de cobre banhado a ouro como se fossem barras
de cobre. Não foram as propriedades da mercadoria que fundamentaram o valor de uso
para outrem que fez com que a barra tivesse valor, foi a utilidade esperada, conforme já
demonstrei diversas vezes.

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“Um investigador impaciente poderia observar a mercadoria e deduzir o óbvio: as
mercadorias se trocam em diferentes proporções no mercado e as proporções nas quais
se trocam são relativas. Uma garrafa de cachaça pode ser trocada por, digamos, 4 barras
de chocolate. Se trocam na proporção de 1 para 4. Porém esta proporção não se fixa,
mas continua variando no tempo e no espaço [...] O investigador impaciente concluiria
então que o valor de troca é puramente relativo e não obedece a nenhuma norma
verificável, ou é um mistério com o qual os reles mortais não deveriam perder seu tempo.
O valor de troca, ou o preço relativo como é conhecido na economia convencional
(vulgar), seria assim apenas o que parece: mera casualidade mercantil, fruto de
subjetividades ou de uma aleatoriedade impossível de conceber racionalmente”.

Se você não se propor ler os autores que falam sobre isso, mas que você discorda,
certamente vai pensar isso, mas quando você lê os autores, você entende que "estudar o
que determina os preços", fenômenos contingentes como o próprio autor demonstra, "é o
objeto de estudo da economia", como dirá Mises (2017).

Neste sentido, é busca tentar entender o que leva as pessoas a terem determinados fins,
quais os meios servem para estes fins e sua disposição.

O autor coloca como se os economistas olhassem para o mundo e ficassem admirando


essa "lacuna" que ele admite, sem fazer nada. Quando na verdade a lacuna não existe. Na
microeconomia, por exemplo, dado que os agentes buscam maximizar seus lucros, existe
uma racionalização matemática de como fazer isso, que são ferramentas exclusivas do
cálculo econômico.

Dado as disposições dos agentes em permutarem tal recurso por tal quantidade e uma
determinada quantidade de demanda esperada, eu posso matematizar - ainda que não seja
uma representação 1:1 da realidade - uma função de lucro para descobrir a quantidade
produzida necessária para maximizar os lucros.

O autor demonstra desconhecimento da teoria do valor e isso é uma constatação de fato.


Ele não entende que aspectos objetivos também são considerados. Daí surge a pergunta:
como ele se propõe a dizer o que a "economia vulgar" pensa, se ele não faz a mínima ideia
do que é isso que ele chama de "economia vulgar"?

Quando ele comenta que a “economia vulgar” entende que o que faz varias os preços
relativos são “mera casualidade mercantil, fruto de subjetividades ou de uma aleatoriedade
impossível de conceber racionalmente”, ele basicamente atesta que nunca na vida abriu um
livro da Carl Menger. Menger (2012), ao tratar da utilidade marginal, ele incorpora aspectos
objetivos da quantidade à avaliação dos bens econômicos. Por sinal, os austríacos levam
muito em consideração a escassez real dos recursos, principalmente para fundamentar
suas críticas acerca das políticas monetárias vigentes.

O que Cleiton está tentando estabelecer aqui, é que nós da Escola Austríaca simplesmente
não consideramos nenhum sentido ordenado no mundo e que se alguns indivíduos
começarem a valorizar muito uma coisa, isso vai afetar o todo do mercado e que o mercado
poderia ser sustentado somente pela expectativa ou ideia do indivíduo.

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É literalmente como esses marxistas pensam. Esse vídeo, por exemplo, mostra a Ju Furno
que argumenta que a prova de que a teoria do valor subjetivo não faz sentido se dá pelo
seguinte raciocínio: “qual que é o valor para mim, por exemplo, de uma camiseta do
grêmio? Zero, para mim não tem valor algum. Isso quer dizer que essa mercadoria não tem
valor? Não, pois o valor da mercadoria não pode ser dado pela valoração subjetiva”.

Sim, é esse o argumento dela e é esse o argumento do Cleiton. Só que a concatenação dos
eventos é suporte para a ação propositada, como dirá Mises (2017), pois é através da
compreensão de como determinados eventos se seguem, que posso compreender quais
meios são mais adequados para se atingir um fim - ainda que o indivíduo erre.

Isso fica claro quando lemos a seguinte passagem:

“O homem tem condições de agir porque tem a capacidade de des-cobrir relações


causais que determinam mudanças e transformações no universo. Ação requer e
pressupõe a existência da causalidade. Só pode agir o homem que percebe o mundo à
luz da causalidade [...] um mundo sem causalidade e sem a regularidade dos fenômenos,
não ha-veria campo para o raciocínio humano nem para a ação humana. um mundo
assim seria um caos no qual o homem estaria perdido e não encontraria orientação ou
guia [...] Algumas vezes conseguimos adquirir um conhecimento parcial que nos permite
afirmar: em 70% de todos os casos, resulta A em B; nos casos remanescentes, resulta
em C, ou mesmo em D, E, F e assim por diante”

“Em terceiro lugar, esta explicação é ahistórica. Ela toma a troca mercantil capitalista como
se fosse de mesmo tipo que outras trocas mercantis ao longo da história, além de tomar a
própria troca mercantil como se fosse instinto natural dos homens. A troca mercantil
objetivando lucro tem seu lugar na história”.

Tem mesmo, né, Cleiton? A troca mercantil objetivando o lucro tem seu lugar na história,
né? Pena que você não sabe onde ela se encontra! Como eu demonstrei, a troca mercantil,
tal como um sistema financeiro relativamente complexo, remontam épocas muito anteriores
ao mercantilismo, mas para o Cleiton isso simplesmente não existe.

“Portanto, estas proporções entre as diversas mercadorias, assumindo que não são
meramente casuais e relativas sem nenhuma lógica interna reguladora, indicam que há
necessariamente uma equivalência entre elas”.

Isso é falso. Um exemplo real, ou seja, aconteceu, ou seja, é histórico, ou seja, é possível,
ou seja, não é irreal, é o caso de um indivíduo que conseguiu permutar um clips por vários
recursos atéconseguir uma casa. Se fosse o caso de que as mercadorias possuem uma
"equivalência necessária" entre elas, o critério que o autor dará para essa equivalência logo
em seguida, precisa admitir que, este termo em comum é igual tanto para compor o valor da
casa, quando o valor do clips, o que justificaria esse acontecimento. Lembrando que o valor
é expresso no ato da troca, através dos preços relativos.

Ou seja, todos os recursos que foram permutados entre o clips e uma casa, são recursos
que "possui a mesma lógica interna regulatória". Para fazer sentido, você tem que admitir
que caso seja o tempo médio de trabalho, este termo comum para a troca, o tempo médio
de trabalho para a confecção de um clips tem que ser o mesmo trabalho para a confecção

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de uma casa. Ou, o trabalho socialmente necessário para a confecção de um clips ser o
mesmo trabalho socialmente necessário para a confecção de uma casa. Para mim, não faz
sentido. Daí surge o que Rothbard (1995) admite:

"O fato de duas mercadorias serem trocadas entre si numa determinada proporção não
significa que sejam, portanto, ‘iguais’ em valor e possam ser ‘representadas por uma
equação’, ... duas coisas são trocadas uma pela outra apenas porque têm valor desigual
para os dois participantes da troca. A cede x a B em troca de y, porque A prefere y a x, e B,
ao contrário, prefere x a y. Um sinal de igual falsifica a imagem essencial"

Somente esta forma de avaliar com valores de trocas surge, partindo de uma teoria sólida
do valor, que você consegue responder às questões das trocas individuais e, também, as
questões macro.

Porém o Marxista, quando vê esse contraexemplo, não consegue fazer nada mais do que
piadas para disfarçar o quão sua teoria é incapaz de responder esses cenários. Daí surge,
por exemplo, um fenômeno raro, mas engraçado: eles começam a assumir compromissos
com a teoria marginalista para tentar dizer que Marx responderia isso, porém os
pressupostos marginalistas contrapõe os pressupostos marxianos.

“Em segundo lugar, ela não fornece sequer explicação para as proporções individualmente
consideradas. Por qual motivo a troca se dá em 3 unidades de X por 4 unidades de Y e não
qualquer outra proporção? Porque não vemos com tanta frequência trocas que parecem
irrazoáveis? Afinal, parece que as coisas se trocam mais ou menos pelo que valem”

Aqui há uma petição de princípio, que descrito corretamente fica mais ou menos assim:

"Parece que os valores de troca das mercadorias são iguais aos seus valores, pois as
trocas ocorrem de acordo com o seus valores"

Só que como você observa o que elas valem - em termos de valor de troca -, se você
precisa primeiro que elas se troquem para que verificar o valor de troca delas e aí poder
traçar um nível de troca médio?

Poxa, parece que o valor de troca rege e causa os termos de troca médio. Agora, como
saber se a primeira troca foi um absurdo? Como saber se ela foi irracional? Parece haver no
mercado um processo de descobertas. Seria muito interessante se uma determinada escola
de pensamento econômico defendesse o mercado como um processo de descobertas.

Ironias a parte, os marxistas nunca vão chegar para você e admitir a obviedade que a
"grandeza dos valores de troca" é causada, primeiramente, por trocas individuais que se
tornam mais densas onde podemos observar - não-necessariamente, mas apesar de ser o
geral - um termo médio de troca. Isso é simples, se este é o processo que formaliza o termo
médio de troca, então não existe problema real em trocas "irreais" e só podemos admitir o
que falei até agora comparado com o termo médio de troca de tal período até tal período e
em tal lugar.

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Daí o economista pode, ser for interessante, tentar descobrir o que levou aquele termo de
troca acontecer.

Em termos de preço, tivemos um fenômenos interessante que foi o preço negativo dos
barris de petróleo, onde temos a explicação disso tudo muito bem sustentada pela teoria
marginalista. Será que o Cleiton está disposto a admitir que os barris permutados a preço
negativo implica uma quantidade negativa de trabalho nos barris? Acho muito improvável.

Agora uma coisa que é interessante, é o fato de que ele simplesmente diz que a teoria
oposta não explica isso, mas não dá uma explicação da própria teoria. A comédia reside no
fato de que a teoria oposta acaba por explicar isso e a teoria dele não.

“Pelo processo de abstração, se separarmos destes elementos suas singularidades


sensíveis; ou seja, retirarmos do bolo todos os elementos que o diferenciam enquanto
bolo, procedendo assim com todas as mercadorias que se equiparam no mercado,
teremos ao final algo comum a todos que é inteiramente diferente das mercadorias
individual e fisicamente consideradas. Este algo comum é o fato de que todas são
produtos do trabalho humano. Mas não de trabalhos específicos, pois abstraímos todas
as singularidades. Portanto, as 3 mercadorias que consideramos não são fruto dos
trabalhos concretos do confeiteiro, do padeiro e do mestre de alambique. Através da
abstração de suas características sensíveis, agora todas as mercadorias se reduzem a
um elemento não sensível que as une, são convertidas em ‘objetividade fantasmagórica
[gespenstige Gegenständlichkeit], uma simples gelatina de trabalho humano
indiferenciado’”

Dica: se você tirar tudo que o caracteriza como bolo, não sobra nada. Outra, o critério de
exclusão não foi estabelecido. Eu posso literalmente excluir tudo até chegar na utilidade -
que por sinal é, admitidamente, o que é necessário para a troca.

"Pelo processo de abstração, se separarmos destes elementos suas singularidades


sensíveis; ou seja, retirarmos do bolo todos os elementos que o diferenciam enquanto bolo,
procedendo assim com todas as mercadorias que se equiparam no mercado, teremos ao
final algo comum a todos que é inteiramente diferente das mercadorias individual e
fisicamente consideradas. Este algo comum é o fato de que todos são produtos para
satisfazer a necessidade humana; são produtos úteis".

O valor epistêmico da minha afirmação tem o mesmo valor que o do autor, pois não
justificativa para deixar só o trabalho. A não ser que utilidade seja as propriedades físicas
da mercadoria, o que a página EXAUSTIVAMENTE tentou me negar. Ainda assim, que
valor teria um recurso quando você tira todas as partes sensíveis? Nenhum! Ora, como,
portanto, o valor pode vir do trabalho se o "bolo deixou de ser bolo" quando você tirou suas
propriedades sensíveis? Me parece que o valor está em algo que considera, de certa
maneira, essas partes sensíveis. Novamente, ninguém vai valorar um bolo que não tem
nada que o caracterize como um bolo - o que ao menos passe essa impressão. Talvez se
Marx fosse um autor mais paciente, teria notado isso. Talvez se marxistas fossem autores
mais paciente, teriam lido a crítica certeira de Bawerk.

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“Atenção: aqueles que procuram estudar Marx apenas pelo paradigma da lógica formal
terão dificuldades para compreender sua crítica. A lógica dialética não nega nem invalida
a lógica formal, mas não se reduz a ela. O princípio da identidade permanece válido
apenas para objetos imobilizados, recortes de uma realidade estática, fora de qualquer
movimento e portanto destituída de sua conexão com a totalidade. Em Marx será
obrigatório reconhecer a existência das contradições na historicidade da exposição e, a
partir daí, ir de encontro a estas contradições pra ver o que elas nos dizem. O método de
Marx jamais põe no objeto a contradição. Extrai dele a contradição e a expõe
criticamente”.

Princípio da identidade permanece válido, a questão é que existem seres que sofrem
transformações e mudanças no movimento do tempo-espaço.

Por exemplos, muitos negam o princípio da não-contradição por conta de algo ser algo em
t+0, porém ser outra coisa, portanto a negação do que era anteriormente, em t+1, como se
fosse possível você ser algo e não-ser algo ao mesmo tempo e no mesmo lugar, o que é um
absurdo.

Portanto, não existe um abandono desses princípios quando analisamos fenômenos que
sofrem mudanças no movimento do espaço-tempo, na verdade, eles ainda são verdadeiros,
caso contrário, esse debate não seria nem cogitado - seria possível admitir que eu estou,
em totalidade, certo ao mesmo tempo que Cleiton.

Quando o autor faz sua crítica ao capitalismo e sua descrição do que é o fenômeno do
valor, ele o faz por buscar excluir o que é minha proposição sobre o capitalismo e o valor -
ele reconhece esses princípios como auto evidente, por sinal. Este reconhecimento
pragmático é o que faz disputar sobre qual teoria melhor explica a realidade.

CONCLUSÃO
A vontade era enterrar de críticas, mas literalmente qualquer coisa iria ser usado contra
mim. Então, se eu tivesse adicionado aqui todos os comentários que fiz ao artigo do Cleiton,
certamente isso aqui teria muito mais páginas pelo o que pude calcular.

O problema do Cleiton reside no simples fato de que ele assumiu uma conclusão, de uma
teoria já falha, muito distante das conclusões da teoria que serviu de base para ele. Como
denunciei, ele considerou a circulação como dada para chegar no “que gera valor novo na
economia”. É quase como se ele tivesse pego todo o Volume 1 do capital para fundamentar
a substância do valor, e como é criado numa economia, e usasse a expressão da circulação
no Volume 2 sem os fundamentos da circulação. Tanto que faltaram passagens sobre a
mercadoria que se encontra fora de circulação e como seu proprietário se relaciona com
ela.

Por sinal, vocês notaram que Cleiton usou partes do texto do Volume 2, mas referenciou
apenas o Volume 1 e 3? Que pergunta boba, isso iria exigir que os marxisteens tenham lido
o trabalho do Cleiton. Há outros problemas, como apud feito pelo Cleiton, sem referência ao
artigo e, também, a ausência de informações precisas sobre o livro.

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As proposições dadas por Cleiton tornam a teoria do valor ainda mais frágil e cai em
questões que nem a própria teoria de Marx cairia, mas vocês marxisteen focaram tanto em
tirar sarro do meu artigo sem ter lido, que nem perceberam o erro do artigo do Cleiton.

Ele deliberadamente jogou o fenômeno para uma relação não social, ao tirar a etapa da
circulação como condição necessária e colocar só o trabalho, admitindo uma confusa
pressuposição de que o valor não é a comparação do trabalho com os outros trabalhos e
que valor não é uma relação social. Só que ao recorrermos ao que Rubin (1987) admite,
nós teremos que “o valor das mercadorias näo depende apenas da produtividade do
trabalho (que representa a quantidade de trabalho necessårio para a produgäo das
mercadorias, sob dadas condições técnicas médias), mas também do volume de
necessidades sociais ou demanda”. É literalmente o que eu tentei avisar, desde que BATI O
OLHO no artigo do Cleiton. Avisei diversas vezes.

A proposição de Cleiton, devo reforçar, faz parecer que o valor surge na relação
pessoa-coisa, mas como Rubin (1987) nos lembra, ”a teoria de Marx sobre o valor é
inteiramente coerente com os já mencionados postulados gerais de sua teoria econômica,
que não analisa as relações entre coisas, ou relações entre pessoas e coisas, mas sim as
relações entre pessoas que estão vinculadas entre si através de coisas”.

Era só o Cleiton deixar de ser impaciente e ter pensado por qual motivo “a origem ‘ser’ e
‘não ser’ na circulação” ser um problema. Se fosse somente o trabalho, não haveria o que
se cogitar da origem, Marx simplesmente descartaria a circulação e focaria somente na
produção, criando uma incoerência com o valor sendo uma relação social - que foi o erro do
Cleiton. Daí fica minha pergunta: se eu, como muitos acusaram, não li Marx e consigo expor
este problema… o quanto que os marxisteen acham que o Cleiton leu de Marx?

Não serei leviano, certamente ele deve ter lido, mas a cobrança desses marxisteen comigo
para qualquer “errinho” eram tantas, que eu me pergunto com que cara eles vão olhar para
o Cleiton. Espero que numa próxima, tanto o Cleiton quanto esses marxisteen tenham mais
cautela, ao sair tirando sarro dos outros.

Além da exposição do Cleiton ser uma versão mais fraca da exposição de Marx, por não
fundamentar lacunas importantes, ela também é falsa considerando o que foi falado aqui.
Cleiton não sabe uma pá da história do mundo e usa argumentos universais com o maior
descuido do mundo. “Não existiu lucro antes do mercantilismo”. Falso. Existiu e eu pude
provar aqui.

Se Cleiton fosse um leitor paciente, ele teria admitido, ainda que houvesse problemas
graves, mas menores, que “a lógica do lucro como ‘centro gravitacional’ das relações
humanas é algo que só pode ser observado no capitalismo”. Novamente, estaria errado,
mas menos perigoso que achar que a contabilidade surgiu após o século XV.

Devemos lembrar que quando eu trouxe o relato de Brown, ficou claro que a contabilidade
já estava em níveis avançados. Veja por exemplo a seguinte citação:

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“Outros povos antigos entre os quais, embora a história nos dê pouca informação sobre o
assunto, pode-se seguramente assumir que os métodos de contabilidade foram mais ou
menos desenvolvidos, foram os persas, cujo tributo provincial era recolhido por sátrapas,
prestando contas ao monarca; os fenícios, incluindo os cartagineses, com o seu extenso
comércio e as suas colónias; e os rodianos, com suas leis de navegação, que foram
adotadas pelos romanos. No caso dos israelitas, a Bíblia fornece-nos uma série de
referências a questões de contabilidade; mas depois do Egípcio, a próxima nação sobre
cujos métodos de contabilidade temos alguma informação real é a Grega (Brown, 1968,
p.23)”.

Outro grande problema, é o fato de Cleiton não saber a diferença de condição necessária e
suficiente. Vejamos a exposição de Menger sobre o que torna um bem, um bem econômico.

“Para que uma coisa se transforme em um bem, ou, em outros termos, para que uma
coisa adquira a qualidade de bem, requer-se, portanto, a convergência dos quatro
pressupostos seguintes: 1) A existência de uma necessidade humana. 2) Que a coisa
possua qualidades tais que a tornem apta a ser colocada em nexo causal com a
satisfação da referida necessidade. 3) O reconhecimento, por parte do homem, desse
nexo causal entre a referida coisa e a satisfação da respectiva necessidade. 4) O homem
poder dispor dessa coisa, de modo a poder utilizá-la efetivamente para satisfazer à
referida necessidade. Somente se essas quatro condições se verificarem
simultaneamente, uma coisa pode transformar-se em bem; onde faltar qualquer
uma dessas condições, uma coisa não pode ser caracterizada como bem; e mesmo que
a coisa possuísse essa qualidade de bem, perdê-la-ia no próprio momento em que
deixasse de existir qualquer uma das quatro condições acima (Menger, 2012, p.57)”.

Imagine se Menger, como Marx fez, admitisse que “Para um bem ser econômico, ‘o homem
precisa poder dispor dessa coisa, de modo a utilizar efetivamente para satisfazer sua
necessidade’, mas há bens que estão à disposição do homem para tal fim, mas não são
bens econômicos. Oh, Deus, que dialético!”.

Não é o caso. Menger (2012) quando fala que somente “se essas quatro condições se
verificarem simultaneamente, uma coisa pode transformar-se em bem; onde faltar
qualquer uma dessas condições, uma coisa não pode ser caracterizada como bem”, ele
está dizendo o seguinte: olha, cada uma delas é condição necessária, só que não
suficiente. Somente no cumprimento dos quatro requisitos é onde um bem se torna um bem
econômico.

Dito tudo isso, quando Marx fala que “o capital não pode ter origem na circulação, tampouco
pode não ter origem na circulação”, não é dialética, é a mera compreensão - talvez não
percebida por Marx - de que a circulação é condição necessária, mas não suficiente. Ora,
Cleiton, como diabos o valor vai surgir sem a comparação do trabalho com os outros
trabalhos através da forma-mercadoria ou da forma-dinheiro? O que é isso, valor psíquico,
Cleiton?

Além destes erros considerando a própria exposição marxista, nós temos também as
correções feitas pela teoria austríaca, onde coloca que “o valor se manifesta na troca”, mas
como “a troca não pressupõe, necessariamente, o trabalho”, colocar como “trabalho a

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condição necessária, seria admitir pressupostos não verdadeiros”, que foi o que eu acabei
por demonstrar.

O maior problema é que os marxistas tendem a olhar o todo para explicar os casos
isolados, não à toa eles apelam para a média dos valores para determinar os valores
individuais. Por isso é importante questionar eles sobre como surgem as médias e você terá
um resultado próximo a este meu tweet. Ou seja, sem respostas.

Novamente, fica aqui o raciocínio. Tente encontrar o que fundamenta o valor nos cenários
abaixo:

1) Tem trabalho e confere valor de uso para outrem: tem valor


2) Tem trabalho e não confere valor de uso para outrem: não tem valor
3) Não tem trabalho e não confere valor de uso para outrem: não tem valor
4) Não tem trabalho e confere valor de uso para outrem: tem valor

Segundo essas proposições, qual é a condição necessária para o valor?

Eu sei, antes que algum apressado venha dizer que eu não li Marx só por não concordar
com ele, que Marx admite que “nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso. Se ela
é inútil, também o é o trabalho nela contido, não conta como trabalho e não cria, por isso,
nenhum valor”, só que você falar que “não conta como trabalho” só pelo fato de Marx ter
dito isso sem refletido por 10 segundos, é complicado. Veja, trabalho é um fenômeno claro,
esqueça a dialética de Taubaté. Se teve trabalho numa mercadoria, sendo trabalho “a
atividade do homem, com ajuda dos meios de trabalho, opera uma transformação do objeto
do trabalho segundo uma finalidade concebida desde o início que se extingue no produto”,
então mesmo uma mercadoria que não tenha valor por não ter valor de uso, foi sim
resultado de trabalho. Simples.

Agora, as coisas ficam ainda mais complicadas dependendo da saída que o marxista vai
querer fazer. Se ele admitir que a mercadoria não tem “trabalho abstrato”, ele vai ter que
admitir uma coisa bizarra, como “no fim, é o fato de que a mercadoria ser trocada por ter
valor de uso, que confere ela trabalho abstrato”. Ou ser capaz de demonstrar na realidade
material dos fatos que o trabalho abstrato só existe, coincidentemente, quando existe o
valor de troca e, daí, conseguir começar a justificar a causalidade destes fenômenos. Só
que, como admite Kendall e Stuart (1961), as causalidades não podem sair de correlações,
precisam vir de outra coisa, de alguma teoria. Esse processo dialético de Marx também cai
num problema claro denunciado por Popper (2022), que basicamente denuncia esse
processo como um “viés de confirmação”. Interessante é comentário que Popper (2022) faz
aos marxistas, veja:

“O mais característico da situação parecia ser o fluxo incessante de confirmações, de


observações que verificavam as teorias em questão, ponto que era enfatizado
constantemente: um marxista não abria um jornal sem encontrar em cada página evidência
a confirmar sua interpretação da história”.

Se engana quem acha que Marx fez seu processo dialético e chegou no trabalho, ele já
tinha essa conclusão em mente, muito por conta das leituras do economistas clássicos. O

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que ele fez foi encontrar um caminho um tanto quanto tortuoso para chegar nesse
resultado, ao ponto de, no ápice do materialismo, retirar todas as propriedades da
mercadoria e ver nela o “trabalho abstrato”.

O que Marx deveria ter feito é buscar elementos que contradizem sua proposição e,
simplesmente, testar quando for era sua teoria. Novamente, se eu fosse seguir o mesmo
caminho exposto através da dialética de Marx, eu poderia chegar em algo como “utilidade
abstrata” e ter o mesmo poder explanatório que Marx teve: nenhum.

Vocês conhecem a música “Cilada”, do “Canção de Molejo”? Se eu pudesse resumir toda


essa discussão sobre a substância do valor com o refrão dela, seria o seguinte:

“Não era trabalho, ôh, ôh


Não era
Não era trabalho, era
utilidade e escassez”♫

Sendo que trabalho não é substância do valor, ele não pode ser o causador do “valor novo
gerado numa economia”, nem historicamente, nem fenomenologicamente. Como a troca
expressa objetivamente o valor até então subjetivo e esta não pressupõe, necessariamente,
trabalho, ela acaba caindo na graça da explicação de como valor novo surge na economia.

E se eu fosse resumir essa discussão sobre como valor novo surge na economia usando a
música “Cilada”, novamente, seria o seguinte:

“Não era trabalho, ôh, ôh


Não era
Não era trabalho, era
troca”♫

E para finalizar, percebam que considerei que Cleiton “respondeu a questão, só que as
justificativas estão incorretas” e que ataquei as justificativas. Eu não duvido nada que o
artigo dele seja um prato cheio de “ele fugiu ou não respondeu”. Não importa o quanto você
fale uma mentira, ela só vai se tornar verdade para você e para quem está disposto a
acreditar, mas ela ainda será uma mentira. Estaria, eu, usando a dialética de Taubaté?

Antes de finalizar, se o que foi escrito aqui possa ser aproveitado por algum marxista, para
descartar teorias ruins como a exposta por Cleiton, isso só foi possível graças ao Gustavo
Henrique Lopes Machado, do canal Orientação Marxista. Se não fosse seu desafio há
quatro anos, eu certamente não teria dedicado muito tempo da minha vida lendo autores
como Rubin, por exemplo.

Se eu puder dar uma dica para vocês, é que vocês aprenderam a saber o quanto uma outra
pessoa sabe. Se você taxar todos como intelectualmente inferiores a você, você não terá
desafio intelectual algum e não terá um ambiente propício para o crescimento intelectual.
Então gostaria de reservar aqui, para todos aqueles que chamei de burro no twitter, que
vocês de fato são burros, não há contradição em admitir isso. Não são burros por não

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saberem do que se trata a discussão, mas por se comportar como se soubessem e
desqualificar quem sabe.

Não tenho a ilusão de que a exposição da minha interpretação da teoria marxista seja a
mais correta, mas tem coisas que de fato são “núcleo duro” na teoria marxista e o valor
sendo uma relação social, é uma delas. Qualquer um que viu o artigo do Cleiton e é
marxista, deve notar que ele a) descartou a relação social e; b) considerou a circulação
como dada. Novamente, isso leva a pressuposições como a ausência de superprodução,
valores novos que surgem sem relação alguma com outros valores e assim por diante.

Bom, por hoje é só, um grande abraço e até mais.

REFERÊNCIAS
BROWN, Richard (Ed.). A history of accounting and accountants. Frank Cass, 1968.

CAFIERO, Carlo. Karl Marx's Capital. Marxist.org. 2018.


<https://www.marxists.org/archive/cafiero/1879/summary-of-capital.htm#i>. Acesso em
04/12/2023

GRAEBER, David. Debt: The first 5000 years. Melvillehouse NY, 2011.

KENDALL, M. G.; STUART, A. The advanced theory of statistics. nova York: Charles Griffin
Publishers, 1961. v. 2, cap. 26, p. 279

MARX, Karl. O Capital-Livro 1: Crítica da economia política. Livro 1: O processo de


produção do capital. Boitempo Editorial, 2015.

MARX, Karl. O CAPITAL-Livro 2: O Processo de Circulação do Capital. LeBooks Editora,


2019.

MENGER, Carl et al. Principios de economía política. Bubok, 2012.

OPPENHEIMER, Franz. O Estado: Sua história e desenvolvimento vistos sociologicamente.


Editora Konkin, 2023.

POPPER, Karl. Conjeturas e refutações. Leya, 2022.

ROTHBARD, Murray N. Classical economics. Books, 1995.

RUBIN, Isaak Illich. A teoria marxista do valor. São Paulo: Polis, 1987.

VON MISES, Ludwig. A ação humana. LVM Editora, 2017.

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