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PRINCÍPIOS E PADRÕES

INTERNACIONAIS PARA A
PRÁTICA DA RESTAURAÇÃO
ECOLÓ GICA
SEG UN DA E DIÇ ÃO : Nove mbro 2 0 1 9

George D. Gann, Tein McDonald, Bethanie Walder, James Aronson, Cara R. Nelson, Justin
Jonson, James G. Hallett, Cristina Eisenberg, Manuel R. Guariguata, Junguo Liu, Fangyuan
Hua, Cristian Echeverría, Emily Gonzales, Nancy Shaw, Kris Decleer, e Kingsley W. Dixon

Luiz F. D. de Moraes, Vera L. Engel, Rafael B. Chaves, Jerônimo B. B. Sansevero (tradutores)


ORGANIZADORES

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

APOIAM

SOCIEDADE BRASILEIRA DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

© 2019 Society for Ecological Restoration. O formato desse documento e o uso das imagens diferem, mas o conteúdo é idêntico a:
Gann GD, McDonald T, Walder B, Aronson J, Nelson CR, Jonson J, Hallett JG, Eisenberg C, Guariguata MR, Liu J, Hua F, Eche-
verría C, Gonzales E, Shaw N, Decleer K, Dixon KW (2019) International principles and standards for the practice of ecological
restoration. Second edition. Restoration Ecology 27(S1): S1–S46.

Restoration Ecology é publicado pela Wiley Periodicals, Inc. em nome da Society for Ecological Restoration (SER). Este é um
documento de acesso aberto nos termos da Creative Commons Attribution-Non Commercial License, que permite o uso, dis-
tribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o trabalho original seja devidamente citado e não seja utilizado para fins
comerciais./

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2 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
AU T O R E S

George D. Gann
The Institute for Regional Conservation, Delray Beach, FL 33483,
U.S.A.; Society for Ecological Restoration, Washington, D.C. 20005,
U.S.A.

Tein McDonald
Society for Ecological Restoration Australasia,10 East St, Cooma,
NSW 2630, Australia

Bethanie Walder
Society for Ecological Restoration, Washington, DC 20005, U.S.A.

James Aronson
Center for Conservation and Sustainable Development, Missouri
Botanical Garden, St Louis, MO 63166, U.S.A.

Cara R. Nelson
Department of Ecosystem and Conservation Sciences, Franke College
of Forestry and Conservation, University of MT, Missoula, MT 59812,
U.S.A.; Ecosystem Restoration Thematic Group, Commission on
Ecosystem Management, International Union for Conservation of
Nature, 1196 Gland, Switzerland

Justin Jonson
Threshold Environmental, PO Box 1124, Albany, WA 6331, Australia

James G. Hallett
Society for Ecological Restoration, Washington, DC 20005, U.S.A.

Cristina Eisenberg
Oregon State University, College of Forestry, Department of Forest
Ecosystems and Society, Corvallis, OR 97331, U.S.A.

Manuel R. Guariguata
Center for International Forestry Research, Av. La Molina 1895, Lima,
Peru

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3 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
AU T O R E S

Junguo Liu
School of Environmental Science and Engineering, Southern University
of Science and Technology, Shenzhen, 518055, China; Society for
Ecological Rehabilitation of Beijing, Beijing, China

Fangyuan Hua
Institute of Ecology, Peking University, Haidian Road, Beijing, China
100871; Department of Zoology, University of Cambridge, Cambridge,
CB2 3EJ, United Kingdom

Cristian Echeverría
Laboratory of Landscape Ecology, Facultad de Ciencias Forestales,
Universidad de Concepción, Concepción, Chile

Emily Gonzales
Parks Canada, 300-300 West Georgia St, Vancouver, BC V6B 6B4,
Canada

Nancy Shaw
Grassland, Shrubland and Desert Ecosystem Research, USFS Rocky
Mountain Research Station, 322 E. Front Street, Suite 401, Boise, ID
83702, U.S.A.

Kris Decleer
Research Institute for Nature and Forest, Herman Teirlinckgebouw,
Havenlaan 88 bus 73, 1000 Brussels, Belgium
Society for Ecological Restoration - Europe

Kingsley W. Dixon
ARC Centre for Mine Site Restoration, School of Molecular and Life
Sciences, Curtin University, Bentley, WA 6102, Australia

Contribuição dos autores:


GDG, TM, e BW coordenaram a produção do documento e revisões
solicitadas nas primeiras e nas versões subsequentes. GDG, TM, BW,
JA, CRN, JJ, JGH, CE, MRG, JL, FH, CE, EG, e KWD escreveram seções
do texto. JGH editou e revisou o documento. NS e KD esclareceram
seções no texto.

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4 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
SUM Á R IO

Autores 3
Sobre a Sociedade para a Restauração Ecológica 6
Elaboração do Documento 7
Sumário Executivo 13

Seção 1: Introdução 16

Seção 2: Oito princípios que sustentam a Restauração Ecológica 22


Princípio 1: A restauração ecológica estimula o comprometimento dos atores
envolvidos 23
Principio 2: A restauração ecológica se baseia em muitos tipos de conhecimento 28
Princípio 3: A prática da restauração ecológica é baseada em ecossistemas de
referência nativos, considerando as mudanças ambientais 32
Princípio 4: A restauração ecológica apoia os processos de recuperação de
ecossistemas 38
Princípio 5: A recuperação do ecossistema é avaliada por metas e objetivos claros,
utilizando indicadores mensuráveis 40
Princípio 6: A restauração ecológica visa ao mais alto nível de recuperação
alcançável 47
Princípio 7: A restauração ecológica ganha valor cumulativo quando aplicada em
grandes escalas 53
Princípio 8: A restauração ecológica faz parte de um continuum de atividades
restaurativas 57

Seção 3: Padrões para a prática de planejamento e implantação de projetos


de restauração ecológica 63
1. Planejamento e delineamento 63
2. Implantação 69
3. Monitoramento, documentação, avaliação e relatórios 70
4. Manutenção pós-implantaçãon 72

Seção 4: Práticas norteadoras 74


Parte 1: Desenvolvendo modelos de referência para a restauração ecológica 74
Parte 2: Identificando abordagens apropriadas de restauração ecológica 77
Parte 3: O papel da restauração ecológica nas iniciativas globais de restauração 79

Seção 5: Glossário 87
Literatura citada 98
Apêndice 1: Seleção de sementes e outros propágulos para a restauração 104
Apêndice 2: Modelos de avaliação de projeto em branco (para uso do
restaurador) 112
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5 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
S O B R E A S O C I E DA D E PA R A A
R E STAU R AÇ ÃO E C O L Ó G IC A

SOBRE NOSSA ORGANIZAÇÃO

A Sociedade para a Restauração Ecológica, do inglês Society for


Ecological Restoration (SER), é uma organização internacional sem
fins lucrativos com membros em 70 países. A SER promove avanços
na ciência, prática e política de restauração ecológica para sustentar
a biodiversidade, melhorar a resiliência em um clima em transfor-
mação e restabelecer uma relação ecologicamente saudável entre
natureza e cultura. A SER é uma rede global dinâmica, conectando
pesquisadores, profissionais, gestores de terras, líderes comunitários
e tomadores de decisão para restaurar os ecossistemas e as comuni-
dades humanas que deles dependem. Por meio de seus membros,
publicações, conferências, trabalho político e divulgação, a SER
define e oferece excelência no campo da restauração ecológica.

INFORMAÇÕES DE CONTATO

Society for Ecological Restoration


1133 15th St. NW, Suite 300
Washington, DC 20005, USA
[email protected]

www.SER.org

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6 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
E L A B O R AÇ ÃO D O D O C UM E N T O

Os Princípios e Padrões Internacionais para a Prática da Restauração


Ecológica (os Padrões) foram desenvolvidos com consultas a profis-
sionais da Sociedade de Restauração Ecológica e dos seus pares, nas
comunidades científicas e conservacionistas globais. A primeira edição
foi lançada em 2016, durante a Conferência sobre Biodiversidade das
Nações Unidas, em Cancún, no México. Esse evento reuniu atores
diversos da arena política internacional, muitos dos quais foram
fundamentais para impulsionar as iniciativas globais para implantar
programas de restauração ambiental em larga escala. Como esses
Padrões foram elaborados para
compor um documento em
aberto para ser modificado e
compartilhado para consulta e
uso por interessados, o lança-
mento incluiu um convite para
que esses interessados
pudessem fazer contribuições
para a melhoria do documento
e para promover seu uso
amplo. Posteriormente, depois
de um período de consulta de
alguns anos, a SER solicitou a
contribuição de um espectro
diverso de pessoas e organi-
zações envolvidas com a
restauração ecológica. Entre os
Flora e Fauna, Wisconsin, USA. atores-chave contactados para
Foto por Stephen Glass essas contribuições estão os secretários da Convenção sobre a Diversi-
dade Biológica (CDB) e da Convenção das Nações Unidas para o
Combate à Desertificação (UNCCD), incluindo sua interface Ciên-
cia-Política, o GEF (Global Environmental Facility), o Banco Mundial, e
membros da Parceria Global para a Restauração de Paisagens e Florestas
(PGRPF). Em 2017, a SER estabeleceu uma parceria com a Comissão
de Manejo de Ecossistemas da IUCN (União Internacional para a
Conservação da Natureza) com o objetivo de organizar o Fórum
Global sobre Biodiversidade e Restauração de Florestas, no qual a

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7 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
versão de 2016 dos Padrões foi revisada (SER e IUCN, 2018). A SER
também organizou um simpósio sobre os Padrões e um Café do
Conhecimento na Conferência Mundial de Restauração Ecológica, em
2017. Outras contribuições foram obtidas em outros eventos, inclu-
indo a Conferência Mundial da Parceria sobre Serviços Ecossistêmicos,
em Shenzhen, na China, em 2017. A fim de apreender as perspectivas
da comunidade associada, a SER fez um convite para receber
comentários em seu website, e enviou uma pesquisa on-line para seus
membros, afiliados e mantenedores. A SER também considerou e
respondeu a comentários recebidos em críticas publicadas em seu
periódico Restoration Ecology.

Todos os comentários recebidos durante o processo de consulta


foram considerados na revisão. A segunda edição dos Padrões foi
aprovada pelo Comitê de Ciência e Política da SER, e pela diretoria da
SER em 18 de junho de 2019.

Como na primeira edição, essa versão será revisada e melhorada, na


medida da evolução da ciência, prática e manejo adaptativo da
disciplina da restauração.

Os Padrões são compatíveis e se sobrepõem aos Padrões Abertos para


a Prática da Conservação (Conservation Measures Partnership 2013),
e complementam aos Padrões Sociais e Ambientais para REDD+ (REDD+
SES 2012), além de outros padrões e diretrizes para a conservação.

COLABORADORES

Levi Wickwire deu permanente suporte ao desenvolvimento do


documento. Karen Keenleyside contribuiu para o conteúdo da versão
original. A inspiração e as ideias de Andre Clewell conduziram à
elaboração da lista de atributos e ao modelo do círculo (Figura 4,
Apêndice 2), Kayri Havens colaborou com a adaptação do Apêndice 1
sobre seleção de sementes e outros propágulos e Craig Beatty
contribuiu para a Seção 4, Parte 3, sobre as iniciativas globais de
restauração. Agradecemos aos seguintes tradutores da primeira
edição: Claudia Concha, Marcela Bustamante e Cristian Echeverría
(Espanhol); Ricardo Cesar (Português); Narayana Bhat (Árabe);

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8 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Jaeyong Choi (Coreano); Junguo Liu (Mandarim); e, Jean-François
Alignan, Julie Braschi, Élise Buisson, Jacqueline Buisson, Manon Hess,
Renaud Jaunatre, Maxime Le Roy, Sandra Malaval, e Réseau
d’Échanges et de Valorisation en Écologie de la Restauration (REVER)
(Francês). Agradecimentos a Little Gecko Media (Austrália) e Peter de
Albuquerque (Brasil), pelos gráficos, e a Samara Group (EUA), pelos
gráficos e layout.

REVISORES

Muitos especialistas internacionais contribuíram com sugestões para a


construção da segunda edição. Apresentamos aqui nossos agradeci-
mentos a muitos deles, mas podemos ter involuntariamente esque-
cido algumas pessoas. As visões expressas no documento são as dos
autores, e não necessariamente as dos revisores. Sasha Alexander,
Mariam Akhtar-Schuster, Craig Beatty, Consuelo Bonfil, Karma
Bouazza, Elise Buisson, Andre Clewell, Jordi Cortina, Donald Falk,
Marco Fioratti, Scott Hemmerling, Richard Hobbs, Karen Holl, Berit
Köhler, Nik Lopoukhine, Graciela Metternicht, Luiz Fernando Moraes,
Stephen Murphy, Michael Perring, David Polster, Karel Prach, Anne
Tolvanen, Alan Unwin, Ramesh Venkataraman, Steve Whisenant,
Andrew Whitley, e Shira Yoffe fizeram revisões críticas. Jena Santoro
colaborou com o resumo. O documento publicado foi bastante
beneficiado pela revisão feita por Karel Prach, Vicky Temperton e Joy
Zedler. O apoio, dedicação e disponibilidade dessas pessoas para a
revisão do documento foram incomparáveis.

Os participantes do Fórum Global sobre Biodiversidade e Restau-


ração de Florestas, organizado pela SER e pela IUCN-CEM, em
Foz do Iguaçu, Brasil, em 2017, ajudaram a tornar mais claros o
escopo e o conteúdo dos Padrões da SER: Ângela Andrade, James
Aronson, Rafael Avila, Brigitte Baptiste, Rubens de Miranda Benini,
Rachel Biderman, Blaise Bodin, Consuelo Bonfil, Magda Bou Dagher
Kharrat, MiHee Cho, Youngtae Choi, Jordi Cortina, Kingsley Dixon,
Giselda Durigan, Cristian Echeverría, Steve Edwards, George Gann,
Manuel R. Guariguata, Yoly Gutierrez, James Hallett, Ric Hauer, Karen
Holl, Fangyuan Hua, Paola Isaacs, Justin Jonson, Won-Seok Kang,
Agnieszka Latawiec, Harvey Locke, James McBreen, Tein McDonald,

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9 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Paula Meli, Jean Paul Metzger, Miguel A. Moraes, Ciro Moura, Cara
Nelson, Margaret O’Connell, Aurelio Padovezi, Hernán Saavedra,
Catalina Santamaria, Gerardo Segura Warnholtz, Kirsty Shaw, Nancy
Shaw, Bernardo Strassburg, Evert Thomas, José Marcelo, Alan Unwin,
Liette Vasseur, Joseph Veldman, Bethanie Walder e Jorge Watanabe.

A lista de participantes do Café do Conhecimento sobre os


Padrões Internacionais, na Conferência Mundial de Restauração
Ecológica de 2017 da SER, em Foz do Iguaçu, Brasil, incluiu Mitch
Aide, Rafael Carlos Ávila-Santa Cruz, Suresh Babu, Blaise Bodin, Craig
Beatty, Steve Edwards, George Gann, Angelita Gómez, Emily Gon-
zales, Justin Jonson, Marion Karmann, Tein McDonald, Cara Nelson,
Antonio Ordorica, Claudia Padilla, Liliane Parany, David Polster,
Catalina Santamaria, Bethanie Walder, Andrew Whitley, Paddy Wood-
worth, e Gustavo Zuleta.

NOTA SOBRE A TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS


A presente tradução é fruto da colaboração entre a Sociedade Bra-
sileira de Restauração Ecológica (SOBRE) e a Society for Ecological
Restoration (SER). A tradução foi realizada de forma coletiva por Luiz
Fernando Duarte de Moraes, Vera Lex Engel, Rafael Barreiro Chaves e
Jerônimo Boelsums Barreto Sansevero, que também executaram uma
primeira revisão do documento traduzido. Uma segunda revisão foi
feita por James Jackson Griffith e por Alice Maria Rodrigues Nunes,
que agregaram contribuições fundamentais para a finalização e para
uma maior qualidade da tradução. Alice, professora na Universidade
de Lisboa, sugeriu ainda o quadro abaixo, em que compara termos
utilizados em Portugal e no Brasil, facilitando a leitura dos Padrões
em um número maior de países.

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10 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
INGLÊS BRASIL PORTUGAL

aprendizado aprendizagem
framework arcabouço enquadramento, estrutura, âmbito

coleta recolha
coletar recolher
compartilhamento partilha
conceitual conceptual
conceituar conceptualizar
conscientização consciencialização
desenho amostral desenho experimental

empowerment empoderamento capacitação


engajar envolver

meaningful expressivo, significativo proveitoso, profícuo


florestamento florestação
génico genético
levantamento amostragem
manejo de ecossistemas gestão de ecossistemas
monitoramento monitorização
nível intermediário nível intermédio
orçar orçamentar
orçar orçamentar
pastejo pastoreio
planejamento planeamento
plantio plantação
procedência proveniência
registro registo
restauração ecológica restauro ecológico
revisadas revistas
revisar rever
sensoriamento remoto detecção remota
sentido de pertencimento sentimento de pertença
serviços ecossistêmicos serviços do ecossistema

informed by subsidiado por apoiado por, baseado em


treinamento formação
usuários utilizadores

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11 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
RETORNO (FEEDBACK) RECEBIDO
SOBRE A PRIMEIRA EDIÇÃO
PUBLICADA

Valiosos comentários foram recebidos de Constance


Bersok, Kris Boody, Zoe Brocklehurst, Elise Buisson,
Peter Cale, David Carr, Michael Rawson Clark,
Andre Clewell, Adam Cross, Maria del Sugeyrol Villa
Ramirez, Rory Denovan, Giselda Durigan, Rolf
Gersonde, Emily Gonzales, Diane Haase, Ismael
Hernández Valencia, Eric Higgs, Sean King, Beatriz
Maruri-Aguilar, Rob Monico, Michael Morrison,
Stephen Murphy, Tom Nedland, J.T. Netherland,
Samira Omar, David Ostergren, Glenn Palmgren, Jim
Palus, Aviva Patel, David Polster, Jack Putz, Danielle
Romiti, George H. Russell, David Sabaj- Stahl, Raj
Shekhar Singh, Nicky Strahl, Tobe Query, Edith Tobe,
Michael Toohill, Daniel Vallauri, Jorge Watanabe,
Jeff Weiss, William Zawacki e Paul Zedler. Cassandra
Rosa compilou observações detalhadas e revisou os
comentários de mais de 100 entrevistados no
questionário sobre os Padrões que a SER enviou.

FINANCIAMENTO

O autor MRG agradece o apoio financeiro recebido


do Programa de Florestas, Árvores e Agroflorestas
do CGIAR. JL agradece o apoio da Fundação
Nacional para Ciência Natural da China (41625001)
e do Programa Estratégico de Pesquisas Prioritárias,
da Academia de Ciências Chinesa (Apoio No.
XDA20060402). KWD recebeu apoio financeiro do
governo australiano via Conselho de Pesquisa do
Centro Australiano de Treinamento em
Transformação Industrial para a Restauração de
Áreas Mineradas (projeto número ICI150100041). A
Sociedade para a Restauração Ecológica recebeu
apoio financeiro da Fundação Temper of the Times
para o desenho e a elaboração dos gráficos.

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12 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
SUM Á R IO E X E C U T I VO

A restauração ecológica, quando implantada de forma efetiva e


sustentável, contribui para a proteção da biodiversidade, melhorando
a saúde e o bem-estar humano; aumentando a segurança alimentar e
hídrica; produzindo bens, serviços e prosperidade econômica; e
dando suporte à mitigação das mudanças climáticas, resiliência e
adaptação. É uma abordagem baseada em soluções, levando ao
engajamento de comunidades, cientistas, formuladores de políticas e
gestores de terras na reparação de danos ecológicos e na recon-
strução de uma relação mais saudável entre as pessoas e os demais
constituintes da natureza. Quando combinada com a conservação e o
uso sustentável, a restauração ecológica é o link necessário para
mudar as condições ambientais locais, regionais e globais de um
estado de degradação contínua para um outro de ganho líquido. A
segunda edição dos Princípios e Padrões Internacionais para a Prática
da Restauração Ecológica (os Padrões) apresenta um arcabouço
robusto para que projetos de restauração alcancem as metas preten-
didas, ao mesmo tempo em que enfrenta desafios de planejamento e
implantação efetivos, levando em conta as dinâmicas complexas dos
ecossistemas (especialmente no contexto de mudanças climáticas), e
passando pelos balanços associados a prioridades e decisões acerca
do uso e manejo das terras.

Os Padrões estabelecem oito princípios que sustentam a restauração


ecológica. Os Princípios 1 e 2 articulam importantes fundamentos que
guiam a restauração ecológica: o engajamento efetivo de uma ampla
gama de atores envolvidos; e o uso integral de todo o conhecimento
disponível, seja científico, tradicional, e local, respectivamente. Os
princípios 3 e 4 resumem a abordagem central da restauração
ecológica, destacando os ecossistemas de referência ecologicamente
apropriados como o alvo da restauração, e deixando clara a necessi-
dade imperiosa de que as atividades de restauração ofereçam suporte
aos processos de recuperação dos ecossistemas. O Princípios 5 res-
salta o uso de indicadores mensuráveis para avaliar o progresso em
direção aos objetivos da restauração. O Princípio 6 explicita o com-
promisso da restauração ecológica obrigatoriedade de que visar
sempre o nível mais alto de recuperação possível de ser alcançado.

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13 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
São disponibilizadas ferramentas para identificar o nível de recuper-
ação desejado e para rastrear o progresso. O Princípio 7 ressalta a
importância da restauração em escalas espaciais mais amplas para
ganhos cumulativos.
Finalmente, a restauração
ecológica é considerada
como apenas uma das
várias abordagens pos-
síveis como soluções para
os danos causados aos
ecossistemas, e o Princípio
8 esclarece sua relação
com outras abordagens
afins, em um “Continuum
Restaurativo”.

Os Padrões ressaltam o
papel da restauração
ecológica na conexão de
objetivos sociais, comu-
nitários, de produtividade
Restauração em Ação, África do Sul. e de sustentabilidade. Os
Foto de Kelvin Trautman Padrões também fornecem medidas de desempenho de ações de
restauração recomendadas a serem consideradas por empresas,
comunidades e governos. Além disso, os Padrões ampliam a lista de
práticas e ações para guiar os restauradores nas suas atividades de
planejamento, implantação e monitoramento. As práticas norteadoras
e recomendações incluem a discussão de estratégias apropriadas para
as amostragens locais e identificação de ecossistemas de referência,
bem como sobre as diferentes abordagens de restauração, incluindo
regeneração natural; a consideração da diversidade genética, sob
condições de mudanças climáticas, e o papel da restauração
ecológica nas iniciativas globais de restauração. Esta edição inclui
também um glossário extenso de terminologia relacionada com
restauração.

A SER e seus parceiros internacionais produziram os Padrões para


adoção por comunidades, empresas, governos, educadores, e
gestores de terras para melhorar a prática da restauração em todos os
setores e em todos os ecossistemas, terrestres e aquáticos. Os
Padrões dão suporte para o desenvolvimento de planos de restau-
ração ecológica, contratos e licenciamentos, bem como a critérios
para auditoria e monitoramento. Genérico por natureza, o arcabouço

PÁGINA
14 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
contido nos Padrões pode ser adaptado a ecoss-
istemas, biomas e paisagens específicos; países
específicos ou culturas tradicionais. Os padrões
servem para nos inspirar, e propiciam ferramentas
destinadas a aperfeiçoar os resultados, promover
melhores práticas e fornecer benefícios ambientais e
sociais globais líquidos. No momento em que o
mundo entra na Década das Nações Unidas para a
Restauração de Ecossistemas (2021-2030), os
Padrões fornecem um modelo para garantir que a
restauração ecológica alcance seu pleno potencial
na promoção de equidade social e ambiental e, em
última análise, benefícios e resultados econômicos.

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15 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
1 SE Ç ÃO 1 – I N T R O D U Ç ÃO

Os Princípios e Padrões Internacionais para Prática termos como degradação) reduzem a biodiversi-
da Restauração Ecológica (os Padrões) oferecem um dade, o funcionamento, e a resiliência dos ecoss-
guia para restauradores, equipes operacionais, istemas, que por sua vez afeta negativamente a
estudantes, planejadores, manejadores, elabora- resiliência e sustentabilidade dos sistemas socio-
dores de políticas públicas, financiadores, e agên- ecológicos. Embora a proteção dos ecossistemas
cias de em restaurar ecossistemas degradados por nativos remanescentes seja crucial para a conser-
todo mundo – sejam terrestres, aquáticos, costeiros vação do patrimônio natural e cultural do mundo, a
ou marinhos. Eles inserem a restauração ecológica proteção por si só é insuficiente, dada a degradação
no contexto global, incluindo o seu papel na recu- passada e presente. Para responder aos atuais
peração da biodiversidade e melhoria do bem-estar1 desafios ambientais globais e assegurar a provisão
humano em uma época de rápidas mudanças de serviços ecossistêmicos e bens essenciais para o
globais. bem-estar humano, a sociedade global deve
assegurar um saldo positivo na extensão e no
funcionamento dos ecossistemas naturais
RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA COMO através do investimento não apenas na proteção,
MEIO PARA A MELHORIA DA mas também na recuperação ambiental, inclu-
BIODIVERSIDADE E DO BEM-ESTAR
indo a restauração ecológica. Essa reparação deve
HUMANO E SEU PAPEL NAS INICIATIVAS
ser implantada em múltiplas escalas, para alcançar
GLOBAIS MAIS AMPLAS
efeitos globais mensuráveis.

A humanidade reconhece os ecossistemas naturais A conscientização sobre a necessidade de recuperar


no planeta como detentores de valores ecológicos, o ambiente está crescendo, resultando em uma
sociais e econômicos insubstituíveis. Além do seu escalada global dos esforços relacionados com
valor intrínseco, como a biodiversidade e sua restauração ecológica (consulte também a Seção 4,
importância espiritual ou estética, os ecossistemas Parte 3). Por exemplo, os Objetivos para o Desen-
saudáveis garantem o fluxo dos serviços ecoss- volvimento Sustentável (ODS) das Organização das
istêmicos. Esses serviços incluem: a provisão de ar Nações Unidas (ONU) para 2030 alertam para a
e água limpos; a fertilidade dos solos; os objetos de necessidade de restaurar os ecossistemas costeiros e
valor cultural, e os alimentos, fibras, combustível e marinhos (Objetivo 14) e terrestres (Objetivo 15) que
fármacos essenciais para saúde, bem-estar e meios foram degradados, para “proteger, restaurar e
de subsistência humanos. Os ecossistemas naturais promover o uso sustentável dos ecossistemas terres-
também podem reduzir os efeitos de desastres tres, manejo florestal sustentável, combate à deserti-
naturais e mitigar as mudanças climáticas. ficação, e interromper e reverter a degradação da
terra e perda da biodiversidade”. A Convenção
A degradação, dano e destruição dos ecossistemas sobre Diversidade Biológica (2016) conclama à
(de agora em diante refere-se coletivamente aos três “restauração de ecossistemas naturais e seminaturais
1
As definições para os termos em negrito encontram-se no Glossário, na
Seção 5
PÁGINA
16 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
degradados, inclusive em ambientes urbanos, como tação técnica em diferentes tipos de ecossistemas.
uma contribuição para reverter a perda de biodiver- Eles também fornecem uma estrutura que envolve
sidade, recuperar a conectividade, melhorar a resil- as partes interessadas e respeita as realidades e
iência do ecossistema e aumentar a provisão de necessidades socioculturais, que podem ser apli-
serviços ecossistêmicos, mitigar os efeitos das cadas tanto à restauração obrigatória (ou seja,
mudanças climáticas e adaptar-se a eles, combater a exigida como parte das condições acordadas)
desertificação e a degradação da terra, e melhorar o quanto à não obrigatória (ou seja, o reparo vol-
bem-estar humano com a redução dos riscos e da untário de danos). Esses critérios podem melhorar
escassez ambientais”. Além disso, a Assembleia os resultados da restauração ecológica, sejam
Geral das Nações Unidas declarou o período 2021- usados para orientar agências, empresas ou
2030 a “Década da Restauração de Ecossistemas”. indivíduos envolvidos no planejamento, implantação
O conceito de restauração em muitas dessas inicia- e monitoramento; orientar os reguladores no desen-
tivas e acordos é muito amplo e inclui muitas abord- volvimento de acordos para restauração obrigatória
agens para o manejo de ecossistemas e soluções e na avaliação do cumprimento desses acordos; ou
baseadas na natureza, todas valiosas. Os Padrões orientar os formuladores de políticas na concepção,
abordam a relação entre restauração ecológica e apoio, financiamento e avaliação de projetos de
outras formas de manejo de ecossistemas e soluções restauração em qualquer escala. Assim, o uso de
baseadas na natureza, e esclarecem o papel espe- princípios e padrões claros e cuidadosamente
cífico da restauração ecológica em contribuir para os considerados que sustentam a restauração ecológica
objetivos de conservar a biodiversidade e melhorar o pode reduzir o risco de danos não intencionais aos
bem-estar humano em todo o mundo. ecossistemas e à biodiversidade nativa, e ajudar a
desenvolver projetos de alta qualidade e programas
A NECESSIDADE DE PRINCÍPIOS E passíveis de monitoramento e avaliação.
PADRÕES
HISTÓRICO
Reparar ecossistemas degradados é uma tarefa
complexa que requer tempo, recursos e conheci- Este documento vem expandir e juntar-se ao con-
mento consideráveis. A restauração ecológica junto de documentos fundamentais da SER, inclu-
contribui de maneira substancial para a proteção da indo os Princípios da SER International sobre a
biodiversidade e do bem-estar humano, mas muitos restauração ecológica (SER 2004), Guidelines for
projetos e programas de restauração, por mais Developing and Managing Restoration Projects
bem-intencionados, têm um desempenho abaixo do (Clewell et al. 2005), Ecological Restoration — a
esperado. Os Padrões reconhecem que a configu- Means of Conserving Biodiversity and Sustaining
ração apropriada; bom planejamento e implantação; Livelihoods (Gann & Lamb 2006) e Ecological Resto-
conhecimento necessário, habilidade, esforço e ration for Protected Areas: Principles, Guidelines
recursos suficientes; compreensão de contextos e and Best Practices (Keenleyside et al. 2012). Ele
riscos sociais específicos; envolvimento apropriado também utiliza o Código de Ética da SER (SER 2013)
das partes interessadas; e o monitoramento ade- e baseia-se especificamente em fontes, modelos e
quado para um manejo adaptativo contribuirão para materiais das duas edições da National Standards
melhorar os resultados obtidos. A aplicação de for the Practice of Ecological Restoration in Aus-
princípios e padrões pode aumentar a eficácia dos tralia (McDonald et al. 2016a; McDonald et al.
esforços de restauração ecológica, por meio do 2018). Houve também a influência de vários livros,
estabelecimento de critérios apropriados de implan- incluindo Restoration Ecology: The New Frontier

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17 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
(Van Andel & Aronson 2012), Ecological Resto- referências para uma maior concisão, a Seção 4
ration: Principles, Values and Structure of an (Práticas Norteadoras), o Apêndice 1 e o Suple-
Emerging Profession (Clewell & Aronson 2013), mento S1 incluem citações.
Foundations of Restoration Ecology (Palmer et al.
2016), Routledge Handbook of Ecological and O QUE HÁ DE NOVO NESTA VERSÃO?
Environmental Restoration (Allison & Murphy 2017),
Para melhor abordar os
diferentes papéis que as
pessoas desempenham na
restauração e como os
objetivos dos grupos
indígenas se encaixam no
quadro geral da restau-
ração ecológica, reorgani-
zamos os Princípios para
incorporar de maneira
mais adequada os fatores
socioeconômicos e cul-
turais que podem afetar
em grande medida os
resultados da restauração
Capítulo2 da SER Ontario, Canadá. Foto de Nigel Finney ecológica. O Princípio 1
explora os objetivos sociais e inclui como ferra-
e Management of Ecological Rehabilitation Projects
menta “A Roda de Benefícios Sociais” para auxiliar
(Liu & Clewell 2017).
a transmissão das metas e objetivos sociais de um
projeto.
Integramos conteúdos do editorial “Ecosystem
Restoration is Now a Global Priority” (Aronson &
Os Princípios e Conceitos-chave estão reunidos em
Alexander 2013) e dos documentos de políticas
uma única seção intitulada Princípios. No Suple-
Ecosystem Restoration: Short-term Action Plan of
mento S1 é feita uma compilação de documentos
the CBD (Convention on Biological Diversity 2016),
históricos usados para sintetizar os Princípios. A
Partnering with Nature: The Case for Natural Regen-
ampliação da escala da restauração ecológica e a
eration in Forest and Landscape Restoration
relação entre restauração ecológica e atividades
(Chazdon et al. 2017), e Restoring Forests and
afins incluídas na Seção 4 da primeira edição são
Landscapes: The Key to a Sustainable Future by the
incorporados nos Princípios 7 e 8 nesta versão.
Global Partnership on Forest and Landscape Resto-
Os tópicos principais relacionados com modelos de
ration (GPFLR; Besseau et al. 2018). Para o desen-
referência e abordagens de restauração estão
volvimento desta edição contribuíram trabalhos
incluídos em uma nova seção sobre Práticas Nor-
publicados no periódico Restoration Ecology da SER,
teadoras (Seção 4), que também aborda a integração
série de livros sobre The Science and Practice of
Ecological Restoration (Island Press) e Restoration 2
N.T.: “Capítulo” (Chapter) é uma divisão regional da estrutura da SER
(Society for Ecological Restoration), que representa a sociedade em várias
Resource Center, bem como muitos outros docu- partes do mundo; no Brasil, a Sociedade Brasileira de Restauração
Ecológica (SOBRE) criou o seu primeiro capítulo, para o bioma Mata
mentos. Enquanto as Seções 1 a 3 quase não têm Atlântica, representado pelo “Pacto para a Restauração da Mata
Atlântica”.

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18 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
da restauração ecológica em iniciativas globais de ecossistema nativo a ser restaurado (baseado no
restauração. Adicionamos um apêndice técnico modelo de referência), e as metas do projeto que
sobre obtenção de sementes e outros propágulos estabelecem o nível de recuperação desejado. A
para restauração. recuperação total é definida como o estado ou
condição em que, após a restauração, todos os
PRINCIPAIS DEFINIÇÕES E TERMOS atributos-chave do ecossistema se assemelham
aos do modelo de referência5. Esses atributos
A SER define restauração ecológica como o pro- incluem ausência de ameaças, composição de
cesso de auxiliar na recuperação de um ecossistema espécies, estrutura da comunidade, condições
que foi degradado, danificado ou destruído. É difer- físicas, função do ecossistema e interações com o
ente da ecologia da restauração, a ciência que meio externo. Quando são planejados níveis mais
apoia a prática da restauração ecológica, e de outras baixos de recuperação ou estes ocorrem devido a
formas de reparo ambiental que buscam auxiliar na limitações de recursos, técnicas, ambientais ou
recuperação dos ecossistemas nativos e da integri- sociais, a recuperação é designada como recuper-
dade do ecossistema. A restauração ecológica visa ação parcial. Um programa ou projeto de restau-
a direcionar um ecossistema degradado para uma ração ecológica deve aspirar à recuperação
trajetória de recuperação que permite a adaptação às substancial da biota nativa e das funções do ecoss-
mudanças locais e globais, bem como a persistência istema (em contraste com reabilitação, definida
e evolução de suas espécies constituintes. abaixo). Quando a recuperação total é a meta, uma
referência importante é quando o ecossistema
A restauração ecológica é comumente usada para demonstra auto-organização. Nesse estágio, em
descrever tanto o processo como o resultado dese- caso de barreiras inesperadas ou a falta de
jado para um ecossistema, mas os Padrões (Stan- algumas espécies em particular ou processos espe-
dards) reservam o termo restauração para a cíficos desviarem a trajetória de recuperação, outras
atividade realizada e o termo recuperação3 para o ações de restauração podem ser necessárias para
resultado almejado ou alcançado. garantir que a trajetória continue, em última
instância, em direção à recuperação total. Uma vez
Os Padrões definem restauração ecológica como totalmente recuperadas, quaisquer atividades em
qualquer atividade com o objetivo de alcançar uma andamento (por exemplo, para manter regimes de
recuperação substancial do ecossistema em relação perturbação) seriam consideradas manutenção do
a um modelo de referência apropriado, indepen- ecossistema ou manejo. Atividades específicas,
dentemente do tempo necessário para atingir a como a queima prescrita ou controle de espécies
recuperação. Os modelos de referência usados para invasoras, podem ser usadas tanto nas fases da
projetos de restauração ecológica são baseados em restauração como de manutenção de um projeto.
ecossistemas nativos, incluindo muitos ecoss-
istemas culturais tradicionais (ver Princípio 3). O objetivo dos projetos de reabilitação não é a
recuperação do ecossistema nativo, mas sim resta-
Os projetos ou programas de restauração ecológica belecer um nível de funcionamento do ecossistema
incluem uma ou mais metas4 que identificam o para a provisão renovada e continuada de serviços
3
ecossistêmicos, potencialmente derivados também
Nota dos Tradutores (N.T.): O termo “recuperação” é usado aqui
significando o resultado almejado ou alcançado após a realização das de ecossistemas não nativos. A reabilitação é uma
ações de restauração, e não para definir uma abordagem específica, como
quando usado em Recuperação de Áreas Degradadas (RAD).
5
N.T.: O conceito de modelo de referência será mais bem explorado na
4
N.T.: Considerando entendimentos distintos entre os idiomas, nesta seção correspondente, mais adiante nesse documento.
tradução adotamos meta como o marco específico, alcançável e mensu-
rável, e objetivos para o que for mais abrangente e de longo prazo.
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19 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
das muitas atividades restaurativas alinhadas ao perda ou degradação do ecossistema, o potencial
longo de um continuum que inclui a restauração para restauração ecológica nunca deve ser
ecológica e suas atividades afins e complementares, invocado como uma justificativa para destruir
todas as quais contribuem para melhorar a integri- ou danificar os ecossistemas nativos existentes
dade do ecossistema e a resiliência socio- ou para uso não sustentável. Da mesma forma,
ecológica (ver Princípio 8). qualquer potencial de translocação de espécies raras
não deve ser usado para justificar a destruição do
PRESSUPOSTOS SUBJACENTES habitat intacto existente. Quando a compensação é
compulsória, no entanto, o nível de compensação
Subjacentes aos Padrões estão alguns pressupostos deve ser muito superior à perda ou degradação
sobre o papel da restauração ecológica. Primeiro, a estimada do ecossistema, e deve-se tomar cuidado
restauração da maioria dos ecossistemas nativos é para garantir que as compensações não causem
um processo desafiador, e a recuperação substancial degradação adicional.
geralmente requer longos períodos. Consequente-
mente, muitos projetos de restauração ecológica Em segundo lugar, os Padrões estabelecem o uso de
estão ainda longe de alcançar os níveis de biodiver- um ecossistema nativo de referência como um modelo
sidade, funcionamento e provisão de serviços dos para o ecossistema a ser restaurado. O modelo de
ecossistemas intactos. Assim, embora a compen- referência, derivado de múltiplas fontes de infor-
sação possa ser obrigatória como resultado da mação, visa caracterizar a condição do ecossistema

Sempre-viva Chuveirinho (Actinocephalus claussenianus) - Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Goiás, Brasil.
Direitos autorais Marcel Huijser

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20 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
como seria se não tivesse sido degradado, ajustado
conforme necessário para incorporar alterações
decorridas ou previstas nas condições bióticas ou
ambientais (por exemplo, mudanças climáticas). Os
Padrões também deixam claro que os modelos de
referência apropriados para restauração ecológica
não se baseiam em imobilizar uma comunidade
ecológica em algum ponto no passado, mas sim no
aumento do potencial para que espécies e comuni-
dades nativas se recuperarem e continuem a se
recompor, se adaptar e evoluir.

Finalmente, a restauração ecológica é parte de um


conjunto maior de práticas de manejo dos ecoss-
istemas destinadas a conservar e, quando apro-
priado, utilizar de forma sustentável os ecossistemas
nativos. Essas práticas compreendem desde a agri-
cultura regenerativa, pesca e silvicultura à engen-
haria ecológica, incluindo aquelas citadas na Con-
venção sobre Diversidade Biológica, nos Objetivos
para Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas para 2030 e em projetos de Restauração de
Paisagens e Florestas (FLR) e uma infinidade de
programas locais e regionais. Como tal, a restau-
ração ecológica complementa outras atividades de
conservação e soluções baseadas na natureza e
vice-versa.

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21 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
SEÇ ÃO 2 – OITO PR INC Í PIO S QU E SU ST E NTA M A
2
RESTAUR AÇ ÃO E C OLÓ G ICA

Os seguintes Princípios fornecem um arcabouço para explicar, definir,


orientar e medir as atividades e resultados da prática da restauração
ecológica (Figura 1). Eles representam um refinamento de princípios e
conceitos apresentados em documentos de referência da SER, litera-
tura científica e experiências de restauradores (Suplemento S1).

Figura 1. Oito princípios que sustentam a Restauração Ecológica


Imagem não traducida

1. ENGAJA PARTES INTERESSADAS


2. ESTÁ BASEADA EM MUITOS TIPOS DE CONHECIMENTO
3. É BASEADA EM ECOSSISTEMAS DE REFERÊNCIA NATIVOS, AINDA QUE CONSIDERE AS MUDANÇAS AMBIENTAIS
4. APOIA OS PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS
5. É AVALIADA POR OBJETIVOS E METAS CLAROS, UTILIZANDO INDICADORES MENSURÁVEIS
6. VISA AO MAIS ALTO NÍVEL DE RECUPERAÇÃO POSSÍVEL
7. GANHA VALOR CUMULATIVO QUANDO APLICADA EM GRANDES ESCALAS
8. FAZ PARTE DE UM CONTINUUM DE ATIVIDADES RESTAURATIVAS

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22 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 1.

A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA ESTIMULA O


ENVOLVIMENTO DE DIVERSOS ATORES

Os atores envolvidos podem As ações de restauração natureza e a sociedade se beneficiem mutuamente.


ecológica são realizadas por muitas razões, incluindo As partes interessadas podem ajudar a priorizar a
o objetivo de recuperar a integridade dos ecoss- distribuição de ações de restauração pela paisagem,
istemas e o de satisfazer valores pessoais, culturais, definir as metas do projeto (incluindo o nível dese-
socioeconômicos e ecológicos. Essa combinação de jado de recuperação), contribuir com conhecimento
benefícios ecológicos e sociais pode levar a uma sobre condições ecológicas e padrões sucessionais
maior resiliência socioecológica. Os humanos se para melhorar o desenvolvimento do modelo de
beneficiam de um envolvimento mais próximo e referência e participar de monitoramento partici-
recíproco com a natureza. Participar em projetos de pativo. Além disso, podem fornecer apoio político e
restauração pode ser transformador, por exemplo, financeiro para a sustentabilidade de projetos de
quando crianças envolvidas desenvolvem um sentido longo prazo, bem como moderar conflitos ou desen-
de pertencimento (“sentimento de pertença”) sobre tendimentos que possam surgir. O reconhecimento
áreas em restauração, ou quando os voluntários de de diversas formas de propriedade e gestão de
comunidades locais se motivam para buscar novas propriedades (por exemplo, governamental, privado,
carreiras ou vias vocacionais na ciência ou na prática comunitária), posse de terra, e organização social é
da restauração. Comunidades vivendo em ecoss- essencial para alcançar esses objetivos. Os gestores
istemas degradados ou próximos destes podem de projetos de restauração devem, portanto,
melhoras suas condições de saúde e usufruir de genuína e ativamente se envolver com aqueles que
outros benefícios promovidos pela restauração, vivem ou trabalham dentro ou próximos a áreas em
como a melhora da qualidade do ar, da terra, da restauração, e aqueles que têm interesse nos valores
água e dos habitats das espécies nativas. Povos ecológicos e capital natural do projeto (incluindo
indígenas e comunidades locais (rurais e urbanas) se serviços ecossistêmicos). Idealmente, esse envolvi-
beneficiam onde a restauração reforça culturas, mento deve ocorrer na fase conceitual ou bem antes
práticas e produção de alimentos (por exemplo, do início do projeto, para que as partes interessadas
pesca, caça e coleta para subsistência) baseados na possam ajudar a definir a visão, alvos, metas, obje-
natureza. Além disso, a restauração pode fornecer tivos e métodos de implantação e monitoramento. O
oportunidades de emprego de curto e longo prazo envolvimento deve continuar durante todo o projeto
para os atores locais, criando ciclos de retorno para ajudar a ir ao encontro das expectativas sociais,
ecológico e econômico positivos. criar a capacitação e um senso de pertencimento, e
manter o apoio e contribuições. A construção colabo-
Os atores envolvidos podem contribuir com o rativa do diálogo e da confiança entre todas as
sucesso ou inviabilizar um projeto. Reconhecer as partes interessadas promove o respeito por difer-
expectativas e interesses desses atores e envolvê-los entes pontos de vista e tipos de conhecimento, e
diretamente é fundamental para garantir que a mantém o interesse e o comprometimento durante

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23 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
todas as fases do projeto. Tal colaboração pode levar
a uma tomada de decisão local mais rápida e eficaz,
especialmente quando são implantadas abordagens
de monitoramento participativo ou colaborativo.

A colaboração com comunidades locais, incluindo Figura 2.


Exemplo de Roda de Benefícios Sociais para
comunidades indígenas, organizações comunitárias auxiliar no rastreamento do nível atingido das
sem fins lucrativos e cientistas-cidadãos para desen- metas e objetivos de desenvolvimento social de um
volver planos de restauração pode aumentar o projeto ou programa de restauração ecológica.
Tanto a Roda de Benefícios Sociais quanto a
investimento da comunidade em restauração. Os Quadro 1 podem ser personalizados para atender
jovens e as mulheres, particularmente em comuni- às metas e objetivos específicos de qualquer projeto
dades carentes, podem se tornar interlocutores ou programa de restauração ecológica. A Roda de
Benefícios Sociais complementa a Roda de Recu-
poderosos. Esse engajamento da comunidade pode peração Ecológica, esta última sendo a ferramenta
trazer justiça social e elementos da ecologia usada para avaliar o progresso da recuperação
humana para o projeto, favorecendo um maior ecológica, fazendo uma comparação com o modelo
de referência do projeto. A Roda da Recuperação
apoio financeiro. Ecológica é descrita no Princípio 6. Para conservar
a simetria gráfica, neste exemplo são usados seis
atributos e três subatributos. Pode ser necessário,
entretanto, aumentar ou diminuir estas quanti-
dades, de acordo como o projeto”.

ESTA R COMUNITÁR
BEM- IO
Laços sociais melhorados

EN
GA
Sen

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esta
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24 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
As metas de bem-estar social e humano, incluindo
aquelas que restabelecem ou reforçam os serviços
ecossistêmicos, devem ser identificadas e adicio-
nadas às metas ecológicas durante a fase de planeja-
mento de um projeto de restauração (ver Princípio 5,
Princípio 7 e Seção 4, Parte 3). As orientações para
identificar metas adequadas a fim de melhorar os
resultados sociais e ambientais nos sistemas socio-
ecológicos são fornecidas em vários documentos
(por exemplo, Lynam et al. 2007; Keenleyside et al.
2012; REDD+ SES 2012; Conservation Measures
Partnership 2013). Modelos para comunicar o
progresso no alcance de objetivos sociais são dis-
ponibilizados na Figura 2 e no Quadro 1. Esses
modelos podem ser adaptados para atender aos
objetivos sociais de qualquer projeto.

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25 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 1.
Amostra do Sistema Social Cinco Estrelas para avaliar o progresso do alcance de objetivos sociais em um projeto ou pro-
grama de restauração. Os objetivos sociais poderão ser muitos e diversificados. Nem todos os elementos desta tabela serão
relevantes para todos os projetos. Esta Roda de Benefícios Sociais pode ser aplicada a projetos de pequena ou grande escala,
com a escala sendo usada como multiplicadora de resultados, em vez de ser um atributo em si .

AT R I B U T O     

Envolvimento Partes interessa- Principais partes Número de Número de Número de


das partes das interessadas interessados, interessados, interessados,
interessadas identificadas e apoiando e apoio e suporte, e apoio, e envolvi-
envolvimento
informadas do envolvidas na envolvimento mento otimizado,
consolidando-se
projeto e da sua fase de aumentando no e arranjos de
ao longo da
fundamentação. planejamento início da fase de fase de imple- autogestão e
Estratégia de do projeto. implementação. mentação. continuidade
comunicação estão em vigor.
contínua .
preparada.

Distribuição Benefícios para Início de Benefícios para Benefícios para Benefícios para as
de as comunidades benefícios para as comunidades as comunidades comunidades
benefícios locais negocia- as comunidades locais em nível locais em alto locais e oportuni-
dos, garantindo locais intermediário e nível e opor- dades equitativas
oportunidades e oportunidades oportunidades tunidades muito altos, com
equitativas e o equitativas equitativas equitativas a integração ideal
reforço das mantidas. mantidas. mantidas. de quaisquer
relações Elementos Quaisquer Integração elementos
culturais culturais elementos substancial de culturais tradicio-
tradicionais com tradicionais culturais quaisquer nais, contribuindo
o local. integrados, tradicionais elementos substancialmente
conforme bem protegidos culturais para a reconcil-
apropriado, no na implemen- tradicionais, iação e justiça
planejamento tação do aumentando as social.
do projeto. projeto. perspectivas de
reconciliação.

Enriqueci- Fontes rele- Fontes rele- Fase de implant- Implantação Implantação


mento vantes de vantes de ação fazendo enriquecida por enriquecida por
do saber conhecimento conhecimento uso de todos os todos os conheci- todos os conheci-
existente existente (e conhecimentos mentos rele- mentos rele-
identificadas e potencial para relevantes, de vantes, bem vantes, e resulta-
mecanismos novos conheci- retorno das como de ações dos do projeto
para gerar mentos) são a partes interessa- de tentativa e divulgados ampla-
novos conheci- base do das e de erro mente, inclusive
mentos planejamento resultados decorrentes do para outros
selecionados. do projeto e do iniciais do próprio projeto. projetos semel-
delineamento projeto. Resultados hantes.
do monitora- analisados e
mento. relatados.

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26 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 1. (continuado)
Amostra do Sistema Social Cinco Estrelas para avaliar o progresso do alcance de objetivos sociais em um projeto ou pro-
grama de restauração. Os objetivos sociais poderão ser muitos e diversificados. Nem todos os elementos desta tabela serão
relevantes para todos os projetos. Esta Roda de Benefícios Sociais pode ser aplicada a projetos de pequena ou grande escala,
com a escala sendo usada como multiplicadora de resultados, em vez de ser um atributo em si .

AT R I B U T O     

Sistemas de Sistemas de Sistemas de Sistemas de Sistemas de


manejo de solo manejo de solo manejo do solo manejo do solo manejo do solo e
e água para e água e água e água água resultando
reduzir a resultando em resultando em resultando em em um nível
sobreutilização um baixo nível um nível um nível alto de muito alto de
e restaurar e de recuperação intermediário recuperação e recuperação e
Capital conservar o e conservação de recuperação conservação do conservação do
Natural capital natural, do capital e conservação capital natural capital natural
instalados no natural local. do capital (incluindo um (incluindo um
local. natural (inclu- balanço neutro balanço positivo
indo um de carbono). de carbono).
balanço de
carbono
melhorado).

Modelos de Modelos de Modelos de Experiências de Modelos de


negócio e de negócio e de negócio e de modelos de negócio e de
emprego emprego emprego negócio e de emprego suste-
sustentáveis sustentáveis sustentáveis em emprego ntáveis com
Economias (aplicáveis ao iniciados. fase de teste. sustentáveis grande êxito.
sustentáveis projeto ou bem-sucedidas.
negócios
auxiliares)
planejados.

Participantes Todos os Muitos interes- A maioria dos Identificação


chave identifi- participantes sados provavel- interessados pública do local
cando-se como identificando-se mente benefi- provavelmente como tendo
administradores e ciando de beneficiando de benefícios para o
e provavel- provavelmente melhores melhores bem-estar
mente mel- beneficiando de vínculos sociais, vínculos sociais, gerados pela
Bem-estar horando os melhores sentido de sentido de participação da
da laços sociais e o vínculos sociais pertencimento, pertencimento, comunidade e
comunidade sentido de e sentido de e do restabeleci- e do restabelec- pelo restabeleci-
pertencimento. pertencimento. mento de serviços imento de mento de serviços
. ecossistêmicos serviços ecossistêmicos,
incluindo os ecossistêmicos, incluindo os
recreativos. incluindo os recreativos.
recreativos.

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27 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 2.

A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA SE BASEIA EM


MUITOS TIPOS DE CONHECIMENTO

A prática da restauração ecológica requer muito informações provindas de um espectro de disciplinas


conhecimento ecológico que pode ser extraído de (por exemplo, ecologia da restauração, agronomia e
experiências práticas, Conhecimento Ecológico produção de sementes, ciências florestais, horticul-
Tradicional (CET), Conhecimento Ecológico tura, botânica, ciência da vida selvagem, zoologia,
Local (CEL, Quadro Explicativo 1), e descobertas hidrologia, ciência do solo, as engenharias, desenho
científicas. Essas formas de conhecimento são da paisagem (“arquitectura paisagista”), biologia da
produtos de observação, experimentação e tentativa conservação e manejo de recursos naturais). Além
e erro, sejam formais ou informais. Os melhores disso, especialistas em CEL e CET, que são tipica-
conhecimentos disponíveis devem estar na base da mente membros de uma comunidade local, podem
concepção e implantação da restauração ecológica, fornecer informação extensa e detalhada sobre
e contribuir para o manejo adaptativo (Princípio áreas e ecossistemas, extraídas de suas relações e
5), sempre que os resultados das ações de restau- conexões de longo prazo com esses locais. Quando
ração possam indicar a necessidade de modificar integradas em projetos de restauração, essas múlti-
abordagens de manejo. plas formas de conhecimento oferecem oportuni-
dades para melhorar os resultados da restauração
O conhecimento do restaurador é derivado da em termos de benefícios ecológicos, sociais e
experiência na reparação de ecossistemas, e de culturais.

Quadro de Facilitação Gráfica criado durante a Conferência do Filial do Noroeste Estadunidense da SER, realizada em 2018,
Spokane, WA, EUA. Desenho realizado pelo Grupo Samara (Katelyn Hale, Olivia Guethling)

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28 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 1
CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL E SUA RELEVÂNCIA PARA A
RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

O Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) é definido como conhecimento e prática transmit-


idos de geração em geração e baseado em fortes memórias culturais, sensibilidade à mudança e
valores que incluem a reciprocidade. Exemplos de manejo do solo baseados em CET incluem o
uso de fogo prescrito e induzindo inundações sazonais para modificar a vegetação, e para a
conservação dos chamados engenheiros do ecossistema (por exemplo, castores e elefantes) ou
predadores de topo de cadeia (por exemplo, lobos e leões) visando à melhoria de habitat para
outras espécies e, por sua vez, prover recursos alimentares para humanos. Esses processos fun-
cionam dentro da faixa de variabilidade natural de um ecossistema. Os povos indígenas têm
usado essas práticas ao longo de milênios para aumentar a produtividade de alimentos do ecoss-
istema, matérias-primas para a medicina, e elementos cerimoniais. O CET envolve a reciprocidade
– por exemplo, a partilha e a contenção mútua sustentados por crenças espirituais que consid-
eram plantas e animais como uma irmandade humana. As práticas do CET aumentam a biodiver-
sidade e melhoram a resiliência ecológica ao criar mosaicos de paisagem finamente otimizados.
As observações pelo CET são qualitativas e de longo prazo. Os observadores são muitas vezes
pessoas envolvidas em práticas de subsistência, incluindo caça, pesca e coleta. A sua sobre-
vivência está ligada à saúde da terra. Mais importante ainda, o CET é inseparável do tecido
espiritual e social de uma cultura. De acordo com a cosmovisão indígena, lograr a compreensão
ecológica das coisas exige tudo do ser humano - corpo, mente, coração e espírito. Consequente-
mente, o CET oferece importantes percepções ecológicas e auxiliar, mas também uma rede de
conhecimento que inclui valores que podem ajudar a restaurar os ecossistemas.

O Conhecimento Ecológico Local (CEL) é definido como conhecimento in loco da terra e seus pro-
cessos, aplicado pelo ser humano para criar terrenos mais produtivos e ecossistemas mais
saudáveis, aumentando a biodiversidade e melhorando a resiliência do ecossistema. O CEL é
predominante em lugares onde os indígenas não estão mais presentes e em que o conhecimento
das práticas indígenas foi perdido. Na Europa, por exemplo, o CEL é amplamente difundido e
inclui práticas agrícolas do período pré-industrial, o manejo da água e a caça de subsistência. Em
alguns lugares, o CEL e o CET podem funcionar juntos, embora possam ter origem em diferentes
paradigmas culturais.

Ao incorporar o CET ou o CEL na restauração ecológica, os restauradores podem identificar e


avaliar rapidamente as espécies e sua adaptabilidade, processos e estágios sucessionais e inter-
ações-chave entre espécies. O CET e o CEL também podem ajudar a definir ecossistemas nativos
de referência e catalisar a restauração, permitindo a aplicação de práticas culturais como a pre-
scrição de fogo, a rotação de pastagens e o manejo da água. As estratégias de restauração
ecológica que incorporem a ciência formal, e os subsídios de CET e CEL podem ser particular-
mente eficazes na reparação de ecossistemas degradados.

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29 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
O conhecimento científico é gerado pelo processo taxas de reprodução, e disponibilidade e qualidade
de medir e testar hipóteses de forma sistemática. O inadequadas de germoplasma; ver Apêndice 1). Os
conhecimento científico relevante para a restau- resultados também podem ser compartilhados e
ração vem da investigação básica (fundamental) e ajudar a reduzir os custos de outros projetos. Profis-
aplicada dentro de uma ampla gama de disciplinas, sionais e especialistas em conhecimento local
da economia às ciências sociais, físicas e biológicas, podem desempenhar um papel importante em
incluindo as subdisciplinas da ecologia da restau- grandes projetos de pesquisa, fornecendo acesso
ração, biologia da conservação, genética da conser- aos seus projetos, identificando limitações na
vação e ecologia da paisagem. Embora tal conheci- capacitação e lacunas no conhecimento, e aper-
mento forneça informações essenciais para projetar feiçoando aspectos logísticos.
e implantar projetos de restauração ecológica, há
lacunas significativas na compreensão da eficácia A partilha de conhecimentos práticos e científicos é
(em que medida as metas e os objetivos são alca- fundamental para implantar a restauração de forma
nçados) e efeitos (respostas bióticas e abióticas aos eficiente e eficaz, e para alcançar escala na restau-
tratamentos de manejo) de muitas atividades de ração. Uma forma importante de avançar na ciência
restauração, respostas ecológicas às mudanças e na prática da restauração ecológica em larga
climáticas, e melhorar soluções de adaptação escala é desenvolver e promover a cooperação
climática (‘prontidão climática’) (ver também bilateral e multilateral, entre e dentro dos países
Princípio 3 e Apêndice 1). As pesquisas científicas (ver também Seção 4, Parte 3). O compartilhamento
podem contribuir para preencher essas lacunas. de experiências e de conhecimento, cofinancia-
Acresce que a investigação científica da prática de mento e o desenvolvimento colaborativo de novos
restauração ecológica pode abordar questões conhecimentos para políticas e práticas mais efi-
ecológicas essenciais, como o modo como os ecoss- cazes devem ser incentivados entre as regiões, e a
istemas se organizam e funcionam, bem como Cooperação Sul-Sul é especialmente importante
questões socioecológicas. Gerar novos conheci- para a partilha de conhecimento em países em
mentos científicos pode não ser necessário ou desenvolvimento e recém-industrializados.
realista em todos os projetos de restauração
ecológica, mas deve ser sempre considerado, espe- A disponibilidade de dados científicos sobre a
cialmente quando pouco se sabe sobre a eficácia da eficácia e os efeitos dos tratamentos de restauração
técnica adotada ou onde as intervenções de restau- deve ser determinada na fase de elaboração do
ração se caracterizam como extremas ou de alto projeto. Quando surgem desafios técnicos em
risco (por exemplo, reconstrução do ecossistema projetos compulsórios de restauração, a pesquisa
após a mineração). deve ser direcionada no sentido de identificar
intervenções alternativas de restauração dentro de
As colaborações entre restauradores e pesquisa- prazos razoáveis. Se essas pesquisas ainda não
dores podem melhorar os esforços científicos por fornecerem soluções, devem ser planejadas aborda-
fortalecer os desenhos experimentais e melhorar a gens alternativas para satisfazer os requisitos legais.
capacidade de se fazer inferências a partir de aval-
iações. Tais pesquisas podem trazer mais inovação e A dificuldade em alcançar os objetivos de restauração
fornecer orientações adicionais para o manejo. não significa que a restauração não seja viável, em
Pesquisas com um foco específico podem ajudar os termos técnicos, práticos ou econômicos, no futuro.
profissionais a superar problemas difíceis de manejar A falta de conhecimento e competência técnica pode
(por exemplo, condições severas de substrato, baixas ser contornada pelo manejo adaptativo, vinculado

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30 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
ao monitoramento focado e baseado em resultados.
No entanto, na restauração compulsória (comum no
setor de mineração, por exemplo) o conhecimento e
a capacidade de execução devem ser adquiridos
antes do projeto para garantir que os acordos legais
possam ser cumpridos.

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31 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 3.

A PRÁTICA DA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA É


BASEADA EM ECOSSISTEMAS DE REFERÊNCIA
NATIVOS, CONSIDERANDO AS MUDANÇAS
AMBIENTAIS

A restauração ecológica requer a identificação do as condições passadas e atuais da área, bem como
ecossistema nativo a ser restaurado e o desen- consultas aos atores envolvidos, podem auxiliar no
volvimento de modelos de referência para desenvolvimento de modelos de referência, espe-
planejar e comunicar uma visão compartilhada dos cialmente quando não estão disponíveis áreas de
alvos e metas do projeto. Os modelos de referência referência não degradadas. Essas informações são
devem ser baseados em ecossistemas específicos do geralmente coletadas durante a avaliação das áreas
mundo real que são alvos de atividades de conser- ou na fase de inventário inicial (da linha de base)
vação e restauração (por exemplo, floresta boreal, do projeto (Princípio 5).
pântano de água doce, recife de coral). Idealmente,
o modelo de referência descreve a condição aproxi- Áreas de referência podem ser raras em regiões que
mada em que o local estaria se a degradação não têm poucas áreas protegidas. Nessas situações,
tivesse ocorrido. Essa condição não é necessaria- locais anteriormente danificados que tiveram
mente a mesma do estado histórico, uma vez que períodos variáveis para regeneração natural (por
ela reflete a capacidade inerente dos ecossistemas exemplo, novas áreas protegidas, sítios arque-
de mudar em resposta à alteração das condições. ológicos, zonas militares cercadas ou zonas desmili-
Em alguns casos, os impactos das rápidas mudanças tarizadas) podem indicar a trajetória de recuperação
ambientais e da capacidade de adaptação a essas do ecossistema após um tipo específico de dano.
mudanças podem justificar a adoção de modelos Pode ser necessário inferir as condições de
ajustados ou alternativos (ver também Quadros referência a partir de áreas menos perturbadas no
Explicativos 2 e 3, e Seção 4, Parte 1). local, combinadas com modelos sucessionais dados
históricos e modelos de projeção de cenários.
Os modelos de referência são desenvolvidos com
base em múltiplas fontes de informação. A melhor É importante salientar que os modelos de referência
prática é construir modelos de empirismo científico devem ser baseados nos atributos específicos do
baseados em informações sobre atributos específ- ecossistema a serem recuperados, e considerar
icos do ecossistema, obtidos a partir de várias áreas tanto a complexidade ecológica quanto a mudança
análogas no presente ou áreas de referência. temporal (ou seja, a dinâmica sucessional ou de
Essas áreas devem ser ambiental e ecologicamente equilíbrio do ecossistema; ver Seção 4, Parte 1, para
semelhantes ao local do projeto, mas, idealmente, discussão desses conceitos). Para descrever o ecoss-
ter sofrido pouca ou mínima degradação (entre- istema de referência podem ser usados seis atribu-
tanto, ver Quadro Explicativo 4). Informações sobre tos-chave do ecossistema (Quadro 2). Juntos, esses

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32 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
seis atributos contribuem para a integridade global Vários modelos de referência podem ser necessários
do ecossistema, que resulta das propriedades de para um projeto de restauração. Primeiro, áreas
diversidade, complexidade e resiliência inerentes aos extensas ou com topografia variada provavelmente
ecossistemas nativos funcionais. Dada a grande podem incluir um mosaico de ecossistemas e seus
variedade de tipos de ecossistemas para os quais a ecótonos. Em segundo lugar, podem ser necessárias
restauração ecológica é necessária, essas categorias referências múltiplas ou sequenciais para refletir a
de atributos são amplas e não prescritivas. Os dinâmica do ecossistema ou mudanças previsíveis ao
modelos de referência não devem ser usados para longo do tempo. As áreas em ecossistemas com
imobilizar um ecossistema em um determinado uma dinâmica de sucessão ecológica podem estar
ponto no tempo. Uma propriedade inerente dos nas fases iniciais do desenvolvimento sucessional
ecossistemas é que eles mudam ao longo do tempo logo após as ações de restauração e, posterior-
como resultado de fatores internos (por exemplo, mente, avançar para os outros estágios sucessionais.
mudanças nas taxas de crescimento populacional) e Em ecossistemas com dinâmicas de equilíbrio com-
externos (por exemplo, perturbações físicas). Mod- plexas, podem existir várias trajetórias sucessionais,
elos de referência devem ser desenvolvidos com tornando necessários vários modelos para tentar
foco explícito na compreensão da dinâmica tem- descrever distintos resultados possíveis da restau-
poral para desenvolver projetos de restauração ração. Esses estados alternativos podem resultar de
viáveis e relevantes que permitam que as espécies mudanças nas densidades populacionais ou em
locais se recuperem, se adaptem, evoluam e se fatores ambientais condicionantes, ou as duas
reorganizem em comunidades. situações combinadas. Além disso, modelos de

Quadro 2.
Descrição dos principais atributos (ou atributos-chave) do ecossistema utilizados para caracterizar o ecossistema de
referência, bem como avaliar a condição da linha de base, definir as metas de projeto e monitorar o grau de recuperação
em uma área em restauração. Esses atributos são padrões adequados para realizar o monitoramento descrito no Princípio
5 e no Sistema Cinco Estrelas, discutidos no Princípio 6.

AT R I B U T O S DESCRIÇÃO

Ausência de Ameaças diretas ao ecossistema, tais como a sobre-exploração, a contaminação ou espécies


ameaças invasoras, estão ausentes.

Condições Condições ambientais (incluindo as condições físicas e químicas do solo e da água, e topografia)
físicas necessárias para sustentar o ecossistema alvo estão presentes.

Composição de Espécies nativas características do ecossistema de referência estão presentes, enquanto espécies
espécies indesejáveis estão ausentes.

Diversidade Diversidade adequada dos principais componentes estruturais, incluindo estádios demográficos, níveis
estrutural tróficos, estratos de vegetação e diversidade espacial de habitats estão presentes.

Função Níveis apropriados de crescimento e produtividade, ciclagem de nutrientes, decomposição, interações


ecossistêmica com espécies e taxas de perturbação.

Trocas O ecossistema está adequadamente integrado à sua paisagem de entorno ou ambiente aquático
externas por meio de trocas externas, e fluxos abióticos e bióticos.

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33 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
referência podem precisar de ajustes ao longo do ecológica. No contexto jurídico da União Europeia,
tempo com base nos resultados do monitoramento esses são chamados de ecossistemas seminaturais
do projeto. (e não ecossistemas culturais), e incluem campos
calcários, várzeas secas e úmidas, pastagens arbor-
ECOSSISTEMAS CULTURAIS izadas, pastagens de invernadas em montanhas,
TRADICIONAIS
áreas salobras pastejadas, chaparrais e sistemas
A maioria dos ecossistemas em todo o mundo foi agroflorestais mediterrâneos, e lagoas de peixes
moldada pela ação humana, para fornecer ali- mesotróficas.
mentos, fibras, medicamentos ou artefatos cultural-
mente importantes (por exemplo, totens, ferra- Devido a histórias socioecológicas complexas nos
mentas espiritualmente significativas). O conceito ecossistemas culturais tradicionais, múltiplos ecoss-
de ecossistemas culturais tradicionais reconhece istemas complementares podem funcionar como
que os ecossistemas não são apenas conjuntos de referências para a restauração ecológica. Em alguns
organismos, mas refletem a coevolução de plantas, casos, o objetivo de restauração pode ser um
animais e seres humanos em resposta às condições estádio sucessional inicial de um ecossistema, que
ambientais passadas. A extensão em que os ecoss- será mantido através de manejo tradicional. Ecoss-
istemas nativos são o resultado da modificação istemas culturais antigos ou atuais, compostos
humana é variável, e muitas vezes pouco clara; mas principalmente de espécies não nativas, que utilizam
é reconhecido que ocorreram e foram mantidas insumos artificiais (por exemplo, fertilizantes) ou são
modificações consideráveis por práticas tradicionais estruturalmente ou funcionalmente distintos dos
que se assemelham a distúrbios naturais. Por ecossistemas nativos regionais (por exemplo, jardins
exemplo, a existência de clareiras cobertas por botânicos formais) não são modelos de referência
gramíneas no interior de florestas é frequentemente apropriados para a restauração ecológica na
atribuída a queimadas por povos indígenas. Se esses acepção aqui definida.
ecossistemas de pastagens utilizados pelo homem
exibem espécies e características biofísicas semel-
hantes às que ocorrem em savanas e pastagens
naturais mantidas pelo fogo, tais áreas de uso
antrópico devem ser consideradas ecossistemas
nativos. Nessas áreas que abrigam biodiversidade
nativa, as práticas tradicionais de manejo devem ser
incentivadas como componentes necessários à
integridade do ecossistema. Na verdade, em alguns
ecossistemas, a ausência de manejo tradicional (por
exemplo, manejo com fogo, pastagem, colheita,
plantio, inundações sazonais) pode conduzir à
degradação. Da mesma forma, muitas das antigas
florestas manejadas por desbaste (ou talhadia) e
prados europeus de feno não fertilizados ricos em
espécies, e outros antigos ecossistemas modificados
pela ação humana na região do Mediterrâneo e no
Sahel são exemplos de ecossistemas nativos e
modelos de referência adequados para a restauração

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34 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 2
COSSISTEMAS DE REFERÊNCIA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

As mudanças contínuas no clima ao longo de milênios, séculos e décadas são uma característica
importante do nosso planeta. Embora este pano de fundo de mudanças ambientais seja con-
stante, as mudanças climáticas induzidas por ações humanas aumentaram o ritmo de alteração
em muitos ecossistemas em todo o mundo. Ainda que sejam geralmente reconhecidas como
indesejáveis e requeiram ação urgente por parte da sociedade, as mudanças previstas serão
provavelmente irreversíveis no futuro próximo previsível. Isso significa que, a par com o esforço
para melhorar o potencial de restauração e outras ações para desacelerar as mudanças climáticas,
as mudanças climáticas precisam ser reconhecidas como parte das condições ambientais contem-
porâneas, às quais muitas espécies vão se adaptar ou então extinguir-se.

As mudanças climáticas exigem o estabelecimento de metas com base em pesquisas em anda-


mento sobre a antecipação de efeitos sobre espécies e ecossistemas. Embora exista incerteza,
sabemos que a rotatividade de espécies e a reorganização das comunidades sob as mudanças
climáticas resultarão em grandes alterações em ecossistemas inteiros em muitas áreas geográficas
(por exemplo, muitas comunidades marinhas, costeiras, alpinas e de clima temperado frio),
embora em alguns ecossistemas climaticamente tamponados as mudanças possam ser mínimas. À
medida que o clima muda, os envelopes climáticos para cada espécie mudarão de lugar. Isso
significa que, para um determinado ecossistema, algumas espécies serão perdidas, enquanto
outras podem sobreviver devido à plasticidade ou capacidade de adaptação às mudanças nas
condições ambientais, e outras novas ainda podem chegar.

A degradação das terras, especialmente a fragmentação, exacerba os efeitos das mudanças


climáticas em muitas espécies e comunidades ecológicas, tanto por isolar populações, o que afeta
negativamente a diversidade genética e o potencial de adaptação, quanto por limitar as oportuni-
dades para as espécies se dispersarem ou migrarem para habitats mais adequados climatica-
mente. Por isso, há necessidade de intervenções de manejo que otimizem a diversidade genética
e o potencial de adaptação das populações, para evitar o seu desaparecimento das áreas de
habitat atuais e que promovam a migração para novas áreas. As opções incluem reter e
aumentar populações geneticamente diversas de espécies vegetais e animais nativas existentes,
e garantir que essas populações existam em configurações que aumentam as conexões e mel-
horam o fluxo gênico, quando for apropriado para aumentar a adaptabilidade às condições
alteradas (ver Apêndice 1).

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35 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 3
E OS CASOS EM QUE HOUVE MUDANÇAS AMBIENTAIS INSUPERÁVEIS?

Os gestores de projeto podem adotar ecossistemas nativos alternativos como alvos para áreas
afetadas por mudanças ambientais substanciais e incontornáveis. É de esperar que os ecoss-
istemas alternativos ocorram sob as condições alteradas. Exemplos de conversão incluem locais
onde: (1) a hidrologia mudou irreversivelmente de água salina para água doce (por exemplo,
devido à mudança dos fluxos das correntes), de água doce para salina (por exemplo, devido ao
aumento do nível do mar), ou de mésico para árido (por exemplo, devido ao rebaixamento do
lençol freático ou à seca completa de rios ou lagos); (2) as águas pluviais produziram fluxos
intermitentes; e (3) foram adicionados nutrientes aos solos e não podem ser removidos sem
esforço extremo ou muitos recursos. Um ecossistema de referência alternativo também pode ser
escolhido quando os regimes tradicionais de fogo ou outras funções ecossistêmicas foram irrever-
sivelmente alterados.

Decidir quando um ecossistema de referência alternativo é apropriado depende das condições locais e
do motivo da irreversibilidade, e requer uma apreciação ecológica qualificada (Fig. 3). Pode ser apro-
priado considerar mais do que um ecossistema de referência alternativo, por exemplo, em áreas
agrícolas urbanas e altamente modificadas, onde é necessária uma seleção cuidadosa para corre-
sponder à situação socioecológica local. Acrescente-se que a aparência de um local pode não ser um
indicador confiável do potencial de restauração. Em muitos casos em que a restauração foi assumida
por alguns como impossível, a recuperação foi alcançada após a aplicação de abordagens qualificadas
e baseadas em conhecimento adquirido. Quando há dúvidas sobre o potencial de recuperação, mas a
recuperação é altamente desejável, uma abordagem padrão é realizar tratamentos experimentais em
uma pequena área por um período suficiente para determinar a eficácia. Os tratamentos experimentais
são mais bem concebidos se forem resultado da colaboração entre cientistas e profissionais (técnicos),
e podem ajudar na escolha informada de um ecossistema a ser usado como base para o desenvolvi-
mento do modelo
D ECISION TREEde
FORreferência.
REFERENCE ECOSYSTEMS
As condições atuais do local ainda estão
bastante adequadas para o ecossistema YSIM
ES USAR ESSE ECOSSISTEMA
que foi degradado? (recuperação total ou parcial)

NÃO

Isso é devido a uma mudança ambiental CORRIGIR E USAR ESSE


cuja correção é viável e desejável?
YSIM
ES ECOSSISTEMA

NÃO

As condições podem servir como uma


USAR ESSE ECOSSISTEMA
alternativa de ecossistema nativo cuja YSIM
ES ALTERNATIVO
* restauração é viável e desejável?

NÃO

O local pode ser manejado de alguma outra


forma restaurativa? YSIM
ES SELECIONAR A OPÇÃO Figura 3.Árvore de decisão para auxiliar
MAIS RESTAURATIVA
na seleção de ecossistemas nativos
apropriados para projetos de restauração

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36 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 4
A IMPORTÂNCIA DAS LINHAS DE BASE

Na restauração ecológica, a palavra linha de base é usada de duas maneiras muito diferentes. Nos
Padrões, a linha de base refere-se à condição de um local no início do processo de restauração.
Em outros contextos, a linha de base descreve um ecossistema antes da degradação (por
exemplo, como usado pela Convenção sobre a Diversidade Biológica). Este último uso também se
aplica ao conceito de mudanças (ou declínio) de linhas de base, que descrevem o modo como
alguns ecossistemas podem estar mais degradados do que se pensava anteriormente, ou quando
observadores atuais consideram como não degradados ecossistemas que eram considerados
degradados por outros observadores no passado. O conceito de mudança linhas de base tem sido
particularmente bem estudado nos ecossistemas marinhos e na pesca. No contexto dos Padrões,
o conceito de mudança de linhas de base deve ser considerado ao utilizar áreas de referência
para desenvolver um modelo geral de referência para restauração ecológica, pois uma área de
referência pode ser percebida como não degradada ou minimamente degradada, e essa per-
cepção não detectar que podem estar ausentes espécies ou funções importantes. Não levar em
conta que as áreas de referência não tenham a integridade e o funcionamento desejáveis pode
resultar em modelos de referência menos precisos.

Este é um problema igualmente importante para programas de restauração obrigatórios, uma vez
que as agências podem almejar padrões mais baixos com base em ideias errôneas do que con-
stitui um ecossistema não degradado. Isso pode ser importante para programas de compensação
da biodiversidade, que, se mal projetados, podem contribuir para a degradação contínua e a
perda da biodiversidade. Além disso, foi demonstrado que, mesmo que a recuperação total de
um ecossistema seja possível, saldos negativos causados pelas perdas da biodiversidade e do
funcionamento do ecossistema podem continuar por longos períodos até que a recuperação
completa possa ser alcançada. Consequentemente, os programas de restauração ecológica, sejam
eles obrigatórios ou voluntários, devem se esforçar para fazer mais do que parece necessário para
garantir um saldo positivo em geral de biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

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37 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 4.

A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA APOIA OS


PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO DE
ECOSSISTEMAS

As ações de restauração ecológica são planejadas disponibilidade e fluxos de propágulos. Quando


para auxiliar os processos naturais de recuperação existirem lacunas de conhecimento, é útil avaliar a
que, em última análise, são levados a cabo pelos resposta de recuperação em pequenas áreas es
efeitos do tempo nos processos físicos e pelas antes da aplicação em áreas mais extensas. As
respostas e interações da biota ao longo de seus intervenções de restauração focadas em áreas com
ciclos de vida. As atividades de restauração se alto potencial de regeneração natural poderiam ser
concentram na reintegração de componentes e priorizadas a fim de liberar recursos posteriormente
condições adequadas para que esses processos para áreas que requerem atividades mais intensivas
sejam restabelecidos e apoiem a recuperação de (ver Seção 4, Parte 2).
atributos do ecossistema, incluindo a capacidade de
auto-organização e de resiliência do ecossistem a A restauração pode levar a resultados inesperados.
a estresses futuros. Essas atividades são planejadas Os profissionais devem estar preparados para
e implantadas com base no modelo de referência realizar tratamentos adicionais ou se envolver em
(Princípio 3), e em alvos, metas e objetivos consen- pesquisas projetadas para encontrar soluções para
sualizados (Princípio 5). superar barreiras ou limitações à regeneração
natural. As ações de restauração destinadas a
A maneira mais confiável e econômica de iniciar a estimular a recuperação de espécies nativas, por
restauração é aproveitar o potencial das espécies exemplo, também podem estimular uma resposta
remanescentes (por exemplo, plantas, animais, de espécies indesejáveis presentes no banco de
microrganismos) para regenerar (ou seja, colonizar sementes, muitas vezes exigindo múltiplas inter-
ou expandir a comunidade a partir de indivíduos in venções de acompanhamento para alcançar as
situ), embora os ecossistemas degradados muitas metas do projeto.
vezes requeiram intervenção substancial para com-
pensar o potencial de regeneração natural
perdido (ver também Seção 4, Parte 2). Antes de
planejar os tratamentos de restauração mais ade-
quados, é necessária uma avaliação para deter-
minar: (1) o potencial de regeneração após a
remoção das causas da degradação e (2) a necessi-
dade de restabelecer elementos bióticos e abióticos
ausentes. Essa avaliação deve integrar o conheci-
mento dos traços funcionais (particularmente
mecanismos de recuperação) das espécies que
podem ocorrer ou colonizar o local, e a previsão da

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38 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Antes e depois das atividades de restauração, Massachusetts, USA.
Foto de Alex Hackman

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39 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 5.

A R E C U P E R AÇ ÃO D O E C O S SI S T E M A É
AVA L IA DA P O R M E TA S E O B J E T I VO S
C L A R O S , U T I L I Z A N D O I N D IC A D O R E S
M E N SU R ÁV E I S

Na fase de planejamento dos projetos de restau- As avaliações do progresso em direção ao alvo


ração, são identificados o escopo, a visão, os alvos, ecológico devem incluir indicadores para cada um
as metas e os objetivos do projeto, juntamente com dos seis principais atributos ecossistêmicos do
indicadores específicos para medir o progresso. ecossistema de referência (Quadro Explicativo 7). As
Tanto os atributos ecológicos quanto os sociais do metas ecológicas do projeto devem abordar o grau
projeto devem ser incluídos (Quadro Explicativo 5). de recuperação almejado para cada atributo, com
Os indicadores podem então ser usados para moni- indicadores específicos e mensuráveis para avaliar a
torar o progresso ao longo do tempo, aplicando condição do local antes do início do projeto. Os
abordagens de manejo adaptativo (Quadro Expli- mesmos indicadores também são monitorados após
cativo 6). Recursos adequados para o monitora- a implantação do projeto para avaliar se as ações de
mento devem ser alocados para que haja um moni- restauração estão cumprindo as metas e objetivos
toramento efetivo. ecológicos do projeto. Para avaliar o progresso, cada
objetivo de restauração deve definir claramente: (1)
Os alvos, metas e objetivos ecológicos dependerão os indicadores que serão medidos (por exemplo,
em larga medida de uma avaliação do local ou de cobertura percentual de dossel de plantas nativas);
um inventário da linha de base. Esta avaliação (2) resultado desejado (por exemplo, aumentar,
descreve o estado do local degradado e fornece diminuir, manter); (3) magnitude desejada do efeito
informações tanto da identificação do modelo de (por exemplo, aumento de 40%); e (4) período (por
referência (Princípio 3) quanto do grau de recuper- exemplo, 5 anos). Para projetos onde a recuperação
ação necessário para aproximar a área da condição completa pode ser possível e é desejável, o alvo
de referência. O inventário da linha de base ecológico se alinhará com o modelo de referência.
descreve os elementos bióticos e abióticos atuais do Contudo, quando se prevê apenas a recuperação
local, incluindo seus atributos de composição, parcial, o alvo e o modelo de referência podem não
estrutura e funcionamento, bem como ameaças e estar plenamente alinhados. Por exemplo, o ecoss-
aportes externos. O processo de inventário é um istema-alvo pode não ter algumas espécies ou incluir
passo inicial fundamental para entender o que é espécies substitutas ou invasoras exóticas, ou as
desejável e possível em um local degradado em metas ecológicas podem ser modificadas para
termos de alvos, metas, objetivos e indicadores para atingir metas sociais.
a restauração. O inventário é usado posteriormente
para detectar alterações ao longo do tempo em As metas sociais variam amplamente entre os pro-
relação à condição inicial (linha de base). jetos, e surgem de uma variedade de considerações

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40 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
sociais (ver Princípio 1). Após uma expressiva con-
sulta das partes interessadas, as metas sociais do
projeto devem ser incorporadas no plano oficial.
Devem-se incluir justificativas metodológicas para
quaisquer comparações de custos e benefícios entre
os resultados ecológicos e sociais previstos. Os
relatórios do projeto podem então reconhecer e
destacar os benefícios para a sociedade e para os
ecossistemas que podem proceder do projeto.

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41 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 5
HIERARQUIA DE TERMOS COMUMENTE USADOS NO PLANEJAMENTO DE
PROJETOS 6

• O Escopo é o amplo foco geográfico ou temático ou do projeto.

• A Visão é o sumário geral das condições desejadas que se pretende alcançar por meio do
projeto. Uma boa visão é relativamente genérica, visionária (inspiradora) e breve.

• Os Alvos identificam os ecossistemas nativos a serem restaurados em determinado local, com


base no modelo de referência, juntamente com a identificação de resultados sociais ou
restrições esperadas do projeto.

• Objetivos são afirmações formais sobre as condições ecológicas ou sociais desejadas em


médio e longo prazo, incluindo o grau de recuperação buscado. Devem estar claramente
ligadas ao alvo, serem mensuráveis, terem limite temporal e serem específicas.

• Metas são declarações formais sobre os resultados provisórios ao longo da trajetória de


recuperação. As metas devem estar claramente vinculadas aos alvos e aos objetivos, e devem
ser mensuráveis, limitados no tempo e específicos.

• Indicadores são medidas específicas e quantificáveis de atributos que se conectam direta-


mente aos objetivos de curto e longo prazo. Os indicadores ecológicos são variáveis que são
medidas para avaliar mudanças nos atributos físicos (por exemplo, unidades de turbidez),
químicos (por exemplo, concentração de nutrientes) ou bióticos (por exemplo, abundância
das espécies) dos ecossistemas, conforme são indicados pelo modelo de referência. Indica-
dores socioecológicos ou culturais medem mudanças no bem-estar humano tais como a
participação em práticas tradicionais, governança, idioma e educação.

6-
N.T.: Os termos usados aqui, com algumas adaptações, são baseados naqueles dos Padrões Abertos para a Prática da Conservação (Conservation
Measures Partnership 2013).

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42 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 6
MONITORAMENTO E MANEJO ADAPTATIVO

O monitoramento de projetos de restauração é essencial para cada uma das seguintes


metas.

GERAR APRENDIZAGEM SOCIAL


O monitoramento participativo envolve os atores e partes interessadas na coleta e análise de
dados obtidos por meio das atividades de restauração. Esta abordagem participativa pode levar à
melhoria de processos colaborativos de tomada de decisão, e ao fortalecimento da capacidade e
autonomia dos atores envolvidos. O monitoramento participativo bem-sucedido aborda, em tempo
útil, as questões e necessidades dos atores envolvidos. Os métodos são acordados coletivamente,
fáceis de aplicar, e encorajam a aprendizagem social, ao mesmo tempo em que constroem redes
de aprendizagem. Deste modo, o monitoramento participativo é, frequentemente, mais benéfico
quando se baseia em fontes de informação e métodos de avaliação da confiabilidade que são
relevantes para os atores envolvidos, do que em abordagens científicas convencionais.

RESPONDER QUESTÕES ESPECÍFICAS


O monitoramento pode ser usado para responder a questões específicas, assim melhorando a
compreensão da restauração ecológica e assegurando que a tomada de decisões seja baseada na
informação. Tais resultados requerem dados apropriadamente coletados e um desenho experi-
mental efetivo. Uma das abordagens é a comparação do local em restauração a áreas de referência
pré-selecionados. Outro método envolve o monitoramento antes e depois do tratamento tanto
nos locais de controle como nos locais tratados (este tipo de experimento é chamado “Antes-De-
pois-Controle-Impacto” ou simplesmente “ADCI”). Este procedimento pode determinar a eficácia
dos tratamentos em uma relação de causa-efeito. Este monitoramento formal, em que os dados
são coletados usando um desenho experimental apropriado, pode resolver questões sobre a
necessidade de novos tratamentos ou sobre o retorno de organismos e o restabelecimento de
processos ecológicos. É necessário também fazer o registro rigoroso de tratamentos específicos de
restauração e outras condições que possam afetar os resultados. A prática padrão nessas situações
é que quem inicia a pesquisa estabeleça parcerias entre cientistas, restauradores e a comunidade
local, para garantir que o projeto receba um nível apropriado de aconselhamento científico e
prático, bem como de assistência para aperfeiçoar seu sucesso e relevância.

APLICAR O MANEJO ADAPTATIVO


Esta forma de “aprender fazendo” é uma abordagem sistemática para melhorar a prática da
restauração. O manejo adaptativo não é um método de “tentativa e erro”. Se aplicado correta-
mente, o manejo adaptativo melhora nossa compreensão da restauração ao:

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43 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
(1) explorar vias alternativas para atingir as metas da restauração;
(2) prever os resultados das alternativas com base no estado atual de conhecimento
sobre o assunto;
(3) implantar uma ou mais dessas opções;
(4) monitorar para aprender sobre os impactos das ações de restauração; e finalmente,
(5) usar os resultados para atualizar o conhecimento e ajustar as práticas de
restauração.

O manejo adaptativo pode e deve ser a abordagem padrão para qualquer projeto de restauração
ecológica, independentemente de quão bem provido de recursos o projecto possa estar. A implan-
tação total de uma abordagem de manejo adaptativo requer monitoramento e avaliação oportuna
dos resultados, bem como financiamento para a restauração em andamento. Um processo básico
necessário para identificar se as intervenções de restauração estão funcionando, ou se necessitam
ser modificadas, é a inspeção rotineira do local e o registro de observações das respostas das
espécies (p. ex., taxas de crescimento, floração, regeneração, ausência ou presença de plantas
consideradas daninhas, pragas e doenças). A amostragem formal da biodiversidade pode incluir
um amplo espectro de técnicas de amostragem de solo, água, vegetação e animais. O desenho de
protocolos de monitoramento deve ocorrer na fase de planejamento do projeto, para garantir que
os objetivos e metas do projeto e seus indicadores selecionados são mensuráveis, que o esquema e
cronograma de monitoramento estão bem alinhados, e que há sinais claros que desencadeiem as
devidas ações, se as metas não forem cumpridas. Se desejado e apropriado, podem ser desen-
hados experimentos formais, observando as convenções para tamanho da amostra, replicações, e
o uso de controles não tratados para interpretar os resultados.

FORNECER EVIDÊNCIAS PARA OS ATORES ENVOLVIDOS


São apresentadas às partes interessadas e aos reguladores fotografias de série temporal como
evidência que as metas estão sendo alcançadas (isto é, fotografando sempre do mesmo ponto de
observação, imagens antes e depois dos tratamentos para mostrar mudanças ao longo do tempo).
Em locais de pouca extensão, pontos fixos para fotos podem ser estabelecidos no chão, enquanto
para áreas maiores podem ser mais eficientes imagens produzidas por sensoriamento remoto.
Como essas imagens permitem apenas a visualização de mudanças ocorridas, geralmente espe-
ra-se de projetos com financiamento adequado (particularmente aqueles sob controle regulatório)
que realizem um monitoramento quantitativo formal. Este deve ser baseado em um plano de
monitoramento que identifique, entre outras coisas, o delineamento do monitoramento, a linha
do tempo (prazos), quem são os responsáveis, o tipo de análise planejada, a estrutura para a
resposta e comunicação com os reguladores, agências financiadoras ou outras partes interessadas.

PÁGINA
44 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 7
EXEMPLO DE PLANEJAMENTO HIPOTÉTICO, INCLUINDO INTEGRAÇÃO
DE OBJETIVOS ECOLÓGICOS E SOCIAIS
ESCOPO

Dois bosques de 5 ha de carvalho-de-Garry (Quercus garryana, ou carvalho-branco de Oregon


– Nota dos Tradutores)) localizados nas Ilhas do Golfo do Sul de British Columbia, Canadá,
conectados por um prado aberto e um lago.

SITUAÇÃO ATUAL

O pastejo e a fragmentação resultaram em um declínio na diversidade de aves da floresta em dois


dos bosques de carvalho remanescentes. Esses dois bosques, conectados por um prado
degradado por sobrepastejo contém 30% de cobertura de espécies nativas de plantas herbáceas
e lenhosas e 50% de espécies não nativas. Os 20% restantes são de solo descoberto. O lago
apresenta uma alta contagem de E. coli, provinda de lixiviados dos solos pastejados. A ocorrência
de plantas aquáticas flutuantes aumenta após eventos de chuva, o que leva a mortandade
ocasional de peixes.

VISÃO DO PROJETO

O retorno de ecossistemas saudáveis, cuidados e desfrutados pelos residentes da ilha, resultando


em coesão social renovada e manejo sustentável dos ecossistemas.

ALVOS ECOLÓGICOS

Nos bosques não perturbados de carvalho-de-Garry (terreno arborizado) e nos prados (terreno
semiaberto) existem carvalhos maduros onde o chão da floresta é acarpetado com flores silvestres
da primavera. Antes da chegada dos europeus, os habitantes indígenas originais7 mantinham os
prados limpos de sub-bosque para cultivar o lírio-azul. O bulbo desta flor silvestre de cor azul
constitui uma importante fonte de alimento. O lago de águas abertas é habitat da truta arco-íris
(Oncorhynchus mykiss), do robalo-de-boca-pequena (Micropterus dolomieu) e da perca-sol
(Lepomis gibbosus). Uma área úmida serve de transição do lago para a costa. Lontras nadam
entre os lírios-do-brejo-amarelos e pássaros-pretos-de asa-vermelha se equilibram nas taboas.

METAS (ECOLÓGICAS E SOCIAIS)

1. A diminuição da sedimentação ativa e da contagem de E. coli no curso d’água a um nível


compatível com os padrões de um departamento de saúde para a natação, dentro de cinco
anos.Reducción de la eutrofización del lago, con la población adulta de truchas que supere las
20 capturas por unidad de esfuerzo; actividades pesqueras sostenibles en un plazo de 5 años;

7
N.T.: First Nations
PÁGINA
45 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
2. A redução da eutrofização, com a população adulta de trutas excedendo 20 capturas por
unidade de esforço; atividades de pesca sustentável dentro de 5 anos;
3. Os vizinhos representam 80% dos voluntários em um programa de gerenciamento dentro
de 5 anos;
4. Duas espécies de aves, ausentes por 10 anos antes do início do projeto, retornam para se
reproduzir no local dentro de 10 anos;Bosques de robles de Garry con más del 90% de
especies de plantas nativas de un sitio de referencia en un plazo de 15 años; y,
5. A coesão social renovada dentro da comunidade, com foco na melhoria do sentido de
pertencimento em comparação às linhas de base em 10 anos;.
6. Bosques de carvalho com >90% das espécies nativas de plantas de um local de referência
dentro de 15 anos; e,
7. Matriz herbácea entre os bosques remanescentes recobertas com 80% das plantas nativas
características de prados de carvalho-de-Garry dentro de 15 anos.

OBJETIVOS (ecológicos e sociais), aferidos por indicadores específicos


1. Suspensão de pastejo por gado dentro de 1 ano;
2. Abundância de plantas não nativas reduzida para <25% de cobertura dentro de 2 anos;
3. Adesão de no mínimo 25 voluntários a um programa de gerenciamento, com vizinhos
compreendendo >50% dos membros dentro de 2 anos.
4. Aumento de 10% nas taxas de recrutamento de duas ou mais espécies nativas lenhosas
dentro de 5 anos em ambos os bosques remanescentes;
5. Aumento da densidade de espécies lenhosas nativas para pelo menos 100 indivíduos por
hectare, tanto de árvores como de arbustos;
6. Aumento na riqueza de espécies nativas nos prados para o mínimo de 6 espécies de
gramíneas e 10 de outras herbáceas por cada 10 m2, dentro de 5 anos; e
7. Aumento de 50% nas visitas de campo por crianças das escolas locais dentro de 5 anos.

Notar que estes números são meramente hipotéticos e não representam uma recomendação.

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46 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 6.

R E STAU R AÇ ÃO E C O L Ó G IC A V I S A AO
M A I S A LT O N Í V E L D E R E C U P E R AÇ ÃO
A L C A N Ç ÁV E L

Um projeto de restauração ecológica tem por É importante ressaltar que o Sistema Cinco Estrelas
objetivo alcançar o mais alto nível de recuperação é focado em medidas ecológicas, e não sociais; não
possível, em relação aos seis atributos do ecoss- é uma ferramenta destinada a avaliar o andamento
istema de referência. A recuperação, seja total ou de um projeto de restauração em relação aos seus
parcial, leva tempo e pode ser lenta. Assim, os objetivos sociais (ver Princípio 1). Em vez disso, os
gestores devem adotar uma política de melhoria gestores são encorajados a usar o Sistema Cinco
contínua, baseada em um monitoramento adequado. Estrelas e a Roda de Recuperação Ecológica para
Tal política pode permitir que os gestores atualizem ilustrar os alvos e metas ecológicas de seu projeto
e desenvolvam as metas do projeto continuamente em relação aos seis atributos-chave, e propor uma
para avançar a recuperação inicial em direção a estrutura de monitoramento. A ideia é ousar nas
melhores resultados. Uma abordagem para elaborar metas e mostrar o progresso ao longo do tempo,
projetos e acompanhar o progresso ao longo do mesmo que a recuperação completa não seja inicial-
tempo é o uso do Sistema Cinco Estrelas e a Roda mente possível ou que a meta seja a recuperação
de Recuperação Ecológica. parcial.

RODA DE RECUPERAÇÃO ECOLÓGICA


E SISTEMA CINCO ESTRELAS –
OUSANDO NAS METAS

O Sistema Cinco Estrelas (Quadros 3 e 4) e a Roda


de Recuperação Ecológica (Figura 4) são fornecidos
como ferramentas para ajudar gestores, profis-
sionais e autoridades regulatórias a estabelecer,
visualizar e comunicar o nível de recuperação aspi-
rado, e avaliar e acompanhar progressivamente o
grau de recuperação do ecossistema nativo ao
longo do tempo em relação ao modelo de
referência. Essas ferramentas também fornecem um
meio de relatar alterações da condição da linha de
base em relação à referência.

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47 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 3.
Resumo dos padrões genéricos para níveis de recuperação de 1 a 5 estrelas. Cada nível é cumulativo. Os diferentes atrib-
utos podem ter classificações diferentes, devido a diferentes taxas de resposta aos tratamentos, bem como aos objetivos do
projeto. Na Tabela 4 são fornecidos padrões genéricos mais detalhados para os seis principais atributos do ecossistema.
Este sistema é aplicável a qualquer nível de recuperação onde é usado um ecossistema de referência.

NÚMERO DE ESTRELAS R E S U M O D O R E S U LTA D O D A R E C U P E R A Ç Ã O

Deterioração em curso impedida. Substratos remediados (física e quimicamente). Algum


nível de biota nativa presente; características bióticas ou abióticas não afetam negativa-
 mente futuros nichos de recrutamento. Estão planejadas melhorias futuras para todos os
atributos e o futuro manejo do local garantido.

Ameaças de áreas adjacentes começam a ser manejadas ou mitigadas. O local tem um


pequeno subconjunto de espécies nativas características e baixa ameaça por espécies
 indesejáveis no local. Conectividade melhorada organizada com proprietários do entorno.

Ameaças adjacentes sendo manejadas ou mitigadas e ameaça muito baixa de espécies


indesejáveis no local. Um subconjunto moderado de espécies nativas características é
 estabelecido e há alguma evidência do funcionamento do ecossistema sendo restabelecido.
Uma maior conectividade na escala de paisagem é evidente.

Um subconjunto substancial de biota característica presente (representando todos os


agrupamentos de espécies), fornecendo evidências do desenvolvimento da estrutura da
 comunidade e dos processos ecossistêmicos. Melhoria da conectividade foi estabelecida e
ameaças do entorno estão sendo manejadas ou mitigadas.

Estabelecimento de um conjunto característico de biota a um ponto onde a complexidade


estrutural e trófica provavelmente atingirão um nível de alta similaridade com o ecossistema
de referência com mínimas intervenções de restauração. Fluxos adequados na paisagem do
 entorno são favorecidos e iniciados e a resiliência é restaurada com o restabelecimento de
regimes de distúrbios adequados. Planos para o manejo no longo prazo em vigor.

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48 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 4.
Amostra da escala de restauração de 1-5 estrelas interpretada no contexto dos seis principais atributos do ecossistema
usados para medir o progresso ao longo de uma trajetória de restauração. Esta escala de 5 estrelas representa um gradiente
de similaridade, de muito baixa a muito alta, com o modelo de referência. Por tratar-se de um esquema genérico, os
utilizadores devem desenvolver indicadores e métricas de monitoramento específicas para o ecossistema e subatributos que
identificarem.

AT R I B U T O     

Um ou poucos Mais estratos A maioria dos Todos os Todos os


estratos1 presentes, mas estratos estratos estratos
presentes e baixa padroni- presentes e presentes. presentes e
nenhuma zação espacial e alguma Padronização padronização
padronização complexidade padronização espacial espacial e
espacial ou trófica, em espacial e evidente e complexidade
complexidade relação ao complexidade complexidade trófica altas.
trófica da ecossistema de trófica em trófica expres- Maior complex-
comunidade, referência. relação ao local siva se desen- idade e
Diversidade em relação ao de referência. volvendo, em padronização
estrutural ecossistema de comparação espacial com
referência. com o ecoss- capacidade
istema de para se
referência. auto-organizar
e atingir alta
similaridade
com o ecoss-
istema de
referência.

Substratos e Substratos e Evidências do Evidências Evidências


aspectos aspectos restabeleci- substanciais de consideráveis
hidrológicos se hidrológicos mento de funções-chave e de funções e
encontram mostram maior funções (e.g., processos processos em
apenas em um potencial para ciclagem de iniciando, uma trajetória
estágio inicial, uma gama mais nutrientes, incluindo segura em
capaz de ampla de filtragem de reprodução, direção à área
possibilitar o funções, água, e pro- dispersão e de referência e
Funciona-
desenvolvi- incluindo a visão de habitat recrutamento evidências de
mento do
mento futuro ciclagem de e recursos para de espécies resiliência
ecossistema
de funções nutrientes, e a uma variedade nativas. ecossistêmica,
semelhantes à provisão de de espécies). sugerida pelo
referência. habitats e restabeleci-
recursos para mento de
outras espécies. regimes de
distúrbio
adequados.

1
Nota dos Tradutores: No que diz respeito à existência de estratos, atentar para a estrutura da fitofisionomia do ecossistema a ser restaurado.

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49 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 4. (continuado)
Amostra da escala de restauração de 1-5 estrelas interpretada no contexto dos seis principais atributos do ecossistema
usados para medir o progresso ao longo de uma trajetória de restauração. Esta escala de 5 estrelas representa um gradiente
de similaridade, de muito baixa a muito alta, com o modelo de referência. Por tratar-se de um esquema genérico, os
utilizadores devem desenvolver indicadores e métricas de monitoramento específicas para o ecossistema e subatributos que
identificarem.

AT R I B U T O     


Identificado Conectividade Trocas positivas Estabelecido Evidências de
potencial de para trocas entre o local e o alto nível de que as trocas
trocas (por positivas ambiente trocas positivas com o ambiente
exemplo, de melhorada (e externo com outros externo são
espécies, genes, para negativas, tornam-se ecossistemas muito semel-
água, fogo) minimizada), evidentes (por nativos; hantes à
com a paisagem organizadas exemplo, mais controle de referência, e
Trocas do entorno ou através da espécies, fluxos espécies que estão
externas ambiente cooperação gênicos etc.). indesejáveis e instaladas e
aquático. com as partes distúrbios. operacionais
interessadas. ações de
Conexões sendo manejo de
restabelecidas. longo prazo
integradas à
escala da
paisagem.

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50 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PO S I Ç ÃO D E E S P É C PO S I Ç ÃO D E E S P É C
COM IES COM IES

Animais desejáveis
Animais desejáveis
O

Plan
O

Plan

is
is
SIC DI SIC DI

jáve
jáve
FÍ V FÍ V

tas d
tas d

dese
dese

ER
ER

E
E

Fís
Fís

NT
NT

tes
tes

SI
SI

i
i

esej
esej

DA
DA

BIE

co
BIE

co

en
en

ies in
ies in

-
-

res
res

DE
DE

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AM
qu
AM

ávei
ávei

sp
sp

ím

spéc
ím

spéc
Qu Qu

EST
EST
s s

DO
DO

nte nte

ato
ato

ica
ím
ica

ím

s
ese
s
ica ese ica

RUT
RUT

de e

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de e

str
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s pr

da
da

S
p
S

do do s

se
se

ÇÕE
fico
ÇÕE

sub fico sub

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ág

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ua
ua

do
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ato ato nív

CONDI
nív
CONDI

s
s os

Ausê
Ausê

To
To
os o

L
L
Física d l Física d l
o substra do espacia o substra Tod espacia
to To Mosaico to Mosaico

Produti Produti

AS
AS
in ação vidade in ação vidade
Contam , ciclag Contam , ciclag

ISTE M
ISTE M
em em
ras Ha ras Ha

AUSÊ
AUSÊ

Flux
Flux

o bit o bit
vas vas

Re
Re

at & at &

itats
itats

S
S
s in s in

sil
sil

inte inte

os a
os a

COS
COS
e

iên
e
iên

N
N

éci raç éci raç

hab
ão
hab
ão

CIA
CIA

ões ões
Esp Esp

cia
cia

o ní
o ní


OE
OE

, re
, re

or
or

DE

n t re
DE

n t re

vel d
vel d

pl

cru

D
pl

cru

Fluxos gênicos
Fluxos gênicos

ex
ex

AM

TO
AM

TO

tam
tam

es e
es e

e-
e-

EN
a pa
EN
a pa

EA
EA

br
br

en
en

So

AM
So

AM

e xõ
ÇA
e xõ
ÇA

to
to

N N

isag
isag

S
IO
S

IO

Co n
Co n

NC NC

em
em

FU FU

TROCAS TROCAS
EX TERNAS EX TERNAS

Linha de base 10 Anos após

Figura 4. A Roda de Recuperação Ecológica é uma ferramenta para transmitir o progresso da recuperação dos atributos do
ecossistema em comparação com o modelo de referência. Neste exemplo, a primeira roda representa a condição de cada
atributo avaliado durante o estágio de inventário da linha de base do projeto. A segunda roda representa um projeto de
restauração de dez anos, onde mais da metade de seus atributos atingiu a condição de quatro estrelas. Profissionais familiar-
izados com as metas, objetivos, indicadores específicos do local e níveis de recuperação alcançados até o momento podem
preencher os segmentos de cada subatributo após uma avaliação formal ou informal. No Apêndice 2 estão modelos em branco
para o diagrama e o seu formulário de acompanhamento. Podem ser adicionados ou modificados rótulos de subatributos
para melhor representar um projeto específico. Para conservar a simetria gráfica, são usados neste exemplo três subatributos.
Entretanto, pode ser necessário aumentar ou diminuir este número, de acordo como o projeto.

OBSERVAÇÕES SOBRE A
INTERPRETAÇÃO DO SISTEMA CINCO
ESTRELAS
Segue abaixo uma série de respostas a perguntas • A avaliação usando o Sistema Cinco Estrelas
frequentes: deve ser específica para o local e a dimensão do
projeto. O Sistema Cinco Estrelas foi desen-
• Desde que foram descritos por McDonald et al. volvido para implantação no nível de um local
(2016a), o Sistema Cinco Estrelas e a Roda de específico, mas pode ser aplicado no nível de
Recuperação Ecológica têm sido cada vez mais programa, agregando dados de outros locais
adaptados e utilizados por profissionais e cien- onde for implantado para estimar o grau de
tistas em uma ampla variedade de ecossistemas recuperação (médio, mínimo, máximo) em
ao redor do mundo (por exemplo, rios no Reino programas de maior escopo.
Unido, recifes de coral no México, florestas na • Os indicadores descritos nos Quadros 3 e 4 são
Austrália). genéricos e devem ser interpretados mais

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51 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
especificamente pelos gestores para se ade- dessemelhança) ao modelo de referência que,
quarem ao seu ecossistema ou projeto espe- por sua vez, envolve um conjunto de indicadores
cífico, seja terrestre ou aquático. mensuráveis relevantes para os subatributos. As
• O Sistema Cinco Estrelas pode ser usado como áreas com biota remanescente e os substratos
uma estrutura para orientar o monitoramento não alterados começarão com valores mais altos
quantitativo ou qualitativo. As estrelas podem na hierarquização, enquanto os locais com
ser facilmente quantificadas usando variados substratos perturbados ou biota ausente
sistemas de monitoramento e abordagens começarão em valores mais baixos. Seja qual for
estatísticas, como taxas de resposta razão do o ponto de partida de um projeto na hier-
valor médio de uma variável no local de restau- arquização do Sistema, o objetivo será auxiliar o
ração em comparação com a do modelo de ecossistema a progredir ao longo da trajetória
referência), que são comumente empregados de recuperação, na medida do possível. Uma
por cientistas e restauradores para medir os pontuação de “zero” estrelas seria informada
resultados da restauração. Independentemente em relatórios escritos ou como um zero em
de serem utilizadas abordagens qualitativas ou fichas de dados, e representada por uma célula
quantitativas, é imprescindível especificar explici- vazia na Roda de Recuperação Ecológica.
tamente o nível de detalhe e o grau de formali- • Acrescentando cores ou padrões adicionais ou
dade do monitoramento a partir do qual são criando rodas de recuperação sequenciais, o
tiradas conclusões. Isso significa que a Roda de usuário pode mostrar a condição da linha de
Recuperação Ecológica ou uma Quadro de base, a condição final proposta e as condições
avaliação não devem ser usadas como evidência em vários momentos durante o processo de
de progresso da restauração sem citar também recuperação.
os dados de monitoramento nos quais se baseia. • O Sistema Cinco-estrelas não pretende avaliar o
• Não se começa, necessariamente, designando desempenho individual de restauradores ou o
cada atributo de um projeto com a classificação valor de projetos. Alguns projetos, devido a
“zero” de recuperação ou merecendo apenas restrições inerentes ao local não poderão aspirar
uma estrela. A razão disso é porque a hier- a cinco estrelas.
arquização se baseia no grau de semelhança (ou

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52 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 7.

A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA GANHA


VALOR CUMULATIVO QUANDO APLICADA
EM GRANDES ESCALAS

Qualquer projeto de restauração ecológica pode ter em que os sistemas produtivos em um local de restau-
resultados benéficos, independentemente das ração ecológica (por exemplo, agricultura ou silvicul-
dimensões da área, incluindo o aumento do número e tura) sejam simplesmente realocados para outras
do tamanho populacional de espécies depauperadas, áreas, causando degradação adicional. O planeja-
a redução de populações de espécies invasoras e de mento da restauração ecológica em escalas maiores
outras ameaças, e a melhoria das funções ecoss- deve garantir que os esforços de restauração resultem
istêmicas, como a ciclagem de nutrientes. No entanto, em mudanças positivas para a paisagem.
muitos processos ecológicos funcionam em escalas de
paisagem, bacias hidrográficas e regionais (por DESAFIOS E SOLUÇÕES EM
exemplo, fluxo gênico, colonização, predação, pertur- POTENCIALS
bações ecológicas). A degradação que ocorre em
escalas maiores pode sobrepor-se aos esforços para Aumentar o escopo da restauração ecológica pode
restauração de áreas menores. Por exemplo, as trazer algumas economias de escala, mas também
espécies com requisitos mínimos de habitat grande ou pode aumentar o risco de estender demais a neces-
que requerem maior complexidade trófica podem não sidade por recursos financeiros, institucionais e de
ser acomodadas em projetos pequenos. Para com- infraestrutura, particularmente onde as respostas do
bater as mudanças climáticas, é urgente aumentar ecossistema aos tratamentos são imprevisíveis. Os
substancialmente a taxa de sequestro de carbono desafios sociais incluem identificar todas as partes
pela maior produção de biomassa vegetal e animal interessadas relevantes e suas necessidades e inter-
(incluindo biomassa nos solos). Da mesma forma, a esses específicos, alcançando acordo entre os atores
segurança hídrica (em termos de qualidade, quanti- com interesses concorrentes, especialmente quando
dade e fluxos) é mais eficazmente alcançada quando a as instituições políticas têm pouca força, ou quando
intervenção é ao nível de paisagem, e conecta existem fortes desigualdades econômicas e de poder
sistemas terrestres e aquáticos. Assim, alguns projetos entre os proprietários de terras. Para lidar com tais
de restauração ecológica devem ser realizados em desacordos, um mecanismo como o planejamento
larga escala (por exemplo, centenas ou milhares de participativo do uso da terra precisa estar em vigor.
hectares) para fornecer os benefícios ambientais e Para questões sensíveis à escala e sensíveis ao
ecológicos desejados. O planejamento e a priorização tempo, os tratamentos são geralmente testados em
das atividades em nível local também são necessários, pequena escala antes de uma aplicação mais ampla.
como partes integrantes dos esforços de planejamento Em alguns casos, investir em melhorias graduais em
da paisagem (ver Seção 4, Parte 3). O planejamento escalas maiores (por exemplo, para controlar
em escala de paisagem pode ajudar a evitar situações ameaças representadas pela presença de espécies

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53 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
invasoras ou por uma poluição disseminada), pode da conectividade benéfica (por exemplo, corredores
permitir alcançar resultados mais significativos do ecológicos para a fauna silvestre), incluindo con-
que intervenções mais intensas em escalas menores exões com áreas adjacentes que sejam alvo de
ou em períodos mais curtos. O aumento da escala intervenções de restauração (Princípio 8; Seção 4,
de um projeto de restauração confere uma van- Parte 3). É importante notar que o valor cumulativo
tagem, no entanto, apenas quando representa um só pode ser alcançado no longo prazo, o que sig-
aumento na escala em que os benefícios (por nifica que aqueles que inicialmente investem em
exemplo, aumento da abundância de espécies restauração podem não se beneficiar diretamente.
nativas, diminuição da abundância de espécies
nocivas ou aumento do sequestro de carbono) são Um mecanismo para ampliar a escala da restauração
ampliados. Por essa razão, e para evitar subvalorizar ecológica é garantir que os projetos sejam estrategi-
projetos menores que possam ser de alta camente integrados em programas de restau-
importância ecológica (por exemplo, a restauração ração maiores que contenham vários projetos
de pequenos pântanos), a escala deve ser avaliada envolvendo não apenas restauração, mas também
apenas como um multiplicador dos outros valores outras atividades restaurativas realizadas em difer-
alcançados. Vários potenciais benefícios adicionais entes unidades da paisagem, com diferentes colab-
devem ser considerados ao prever se um projeto oradores que se alternam ao longo do tempo. Esses
provavelmente fará diferença em escalas maiores programas podem consistir na reunião de vários
(Quadro 5). Adicionalmente, funções de maior locais com projetos de restauração que estejam
escala podem ser aprimoradas através do aumento ligados funcional e fisicamente. Um programa de

Íbis branco.
Foto com copyright de Marcel Huijser

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54 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
restauração ecológica em larga escala é tipicamente
coordenado por uma coligação de agências gover-
namentais, organizações sem fins lucrativos, jardins
botânicos e outros aliados, e envolve processos de
planejamento amplos e complexos. São exemplos o
Plano Diretor para a restauração dos Everglades, nos
EUA, e o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica,
no Brasil, os dois produtos de coligações das agên-
cias governamentais, do setor privado, das ONG e
das instituições de pesquisa. A inclusão de grandes
áreas e a adesão a projetos mais amplos de restau-
ração podem criar desafios para a seleção de metas
e para o desenvolvimento de modelos de referência
devido à falta de áreas de referência comparáveis
(ver Seção 4, Parte 1) ou à sua complexidade,
embora novas ferramentas, como o LiDAR, podem
ajudar a superar os desafios apresentados, atual-
mente, na restauração de algumas paisagens.

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55 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 5.
Características do projeto que contribuem para seu potencial em melhorar a recuperação do ecossistema, considerando a
escala. Para maximizar o sucesso, o projeto deve ser baseado em informações ecológicas sólidas e estar bem inserido nas
culturas e instituições locais.

CARACTERÍSTICA EXEMPLOS

Os projetos de restauração adotam estratégias que aproveitam ao máximo recursos


Localização estratégica escassos e pontos de alavancagem conhecidos, para uma restauração eficaz. Os
e oportunidade projetos são priorizados em termos de:
(1) metas mais urgentes ou que aceleram o cumprimento de outras metas, e
(2) áreas com maior potencial de recuperação.

Os projetos têm valor agregado quando ajudam a recuperar populações, espécies ou


Redução do risco ecossistemas ameaçados. Este trabalho é guiado por listas oficiais em vigor em muitos
de extinção países, geralmente relacionadas ou consistentes com as Listas Vermelhas da Interna-
tional Union for Conservation of Nature (IUCN).

Projetos que abordam ameaças em larga escala ou generalizadas podem influenciar


áreas muito além do local do projeto. Por exemplo, projetos que contribuem substan-
Ameaças generalizadas cialmente para o sequestro de carbono, reduzem a contaminação dos recursos hídricos,
ou que contribuem para controlar pragas vegetais ou animais, não só melhoram os
resultados localmente, como contribuem para melhores resultados em outros locais.

Projetos em larga escala precisam de segurança no longo prazo para garantir que os
benefícios resultantes dos recursos investidos persistirão ao longo do tempo. A
Segurança do apoio proteção formal do local através da garantia legal de posse é ideal, tal como é a
institucional garantia de que os compromissos políticos e econômicos de longo prazo sejam
assumidos pelas principais instituições públicas e privadas que atuam na área, em
escala local, regional ou nacional.

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56 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
PRINCÍPIO 8.

A RESTAURAÇÃO ECOLÓ GICA FAZ PARTE


DE UM CONTINUUM DE ATIVIDADES
RESTAURATIVAS

À medida que a degradação dos ecossistemas (1) Redução de impactos sociais (ou seja, na
continua globalmente, muitos países e comuni- aplicação de práticas menos impactantes em
dades estão adotando políticas e medidas desti- termos do consumo e utilização de serviços
nadas a conservar a biodiversidade, recuperar a ecossistêmicos em todos os setores; Quadro
resiliência e a integridade ecológica, melhorar a Explicativo 8);
qualidade e a quantidade de serviços ecossistêmicos (2) Remediação (ou seja, de locais poluídos
e transformar a forma como as sociedades inter- e contaminados);
agem com a natureza. A restauração ecológica é (3) Reabilitação (ou seja, de áreas que
uma de uma gama ou família de atividades incluem aquelas usadas para produção ou
restaurativas que podem ser concebidas como um ocupação humana; Quadro Explicativo 9); e
continuum, onde o grau de distinção entre um tipo (4) Restauração ecológica.
de atividade e o outro é mínimo, mas da ação mais
básica para a mais avançada a distinção é bastante As práticas para redução de impactos sociais, reme-
significativa. Uma atividade restaurativa é aquela diação e reabilitação são consideradas restaurativas
que, direta ou indiretamente, apoia ou mesmo por reduzir as causas e os efeitos decorrentes da
concretiza, a recuperação de atributos ecoss- degradação, aumentar o potencial de recuperação
istêmicos que foram perdidos ou degradados. do ecossistema e promover uma transição para a
Conceitualmente, o continuum restaurativo (por sustentabilidade. Como tal, também são consid-
exemplo, como retratado na Figura 5) oferece uma eradas atividades aliadas da restauração ecológica.
abordagem holística para recuperar os ecossistemas Alguns projetos ou programas podem cobrir mais
do mundo inteiro, permitindo que os profissionais de uma categoria de atividades, particularmente
apliquem o tratamento que seja o mais adequado e aqueles realizados em contextos mais amplos, como
eficaz dadas as condições ecológicas, sociais e Soluções Baseadas na Natureza (SbN – ou NBS, com
financeiras (tanto as oportunidades quanto as base no termo em Inglês), incluindo infraestrutura
restrições). O continuum restaurativo fornece um verde, e Restauração da Paisagem e Florestas
contexto para entender como as diferentes ativi- (FLR). Essas estruturas geralmente incorporam uma
dades se relacionam entre si, ao mesmo tempo em ou mais atividades aliadas à restauração ecológica.
que ajuda a identificar as práticas mais indicadas Para serem considerados restaurativos, os resultados
para um determinado contexto (ver Quadro Explica- de esforços no nível de projeto ou de paisagem
tivo 8). O continuum inclui quatro grandes catego- devem ter um saldo positivo sobre as condições
rias de práticas restaurativas: ambientais. Por exemplo, atividades que não mel-
horam ou não melhorarão as condições ambientais

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57 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
atuais ou aquelas que provocam danos (como o princípios e padrões da restauração ecológica) deve
florestamento – florestação - de campos nativos, ajudar os governos, indústrias e comunidades a
causando um saldo negativo para a biodiversidade) alcançar melhorias integradas de saldo positivo das
não se qualificam como restaurativas. condições que irão acelerar mudanças positivas em
escalas maiores (Princípio 7). No Quadro 6 são
A restauração ecológica e atividades aliadas podem apresentadas recomendações de medidas de desem-
ser vistas mais como partes de um todo integrado penho para atividades restaurativas realizadas em
dentro de um amplo paradigma de sustentabilidade diversos setores ou contextos da indústria, governo
(ver Seção 4, Parte 3), do que como atividades e comunidade. Independentemente do setor ou
desconectadas ou concorrentes. As atividades contexto, é benéfico adotar práticas de melhoria
restaurativas são cumulativamente benéficas, mel- contínua, e priorizar a restauração ecológica como a
horando os resultados de um nível para o outro. O melhor opção restaurativa, onde for viável. Quando
contexto conceitual e as melhores práticas de a restauração ecológica for inadequada ou inviável
restauração ecológica apresentadas nestes Padrões (por exemplo, quando a remediação ou a redução
podem inspirar e orientar muitas ações que possam dos impactos sociais for a única opção), o trabalho
ser implantadas para melhorar a saúde geral e a restaurativo deve visar ao maior nível de recuper-
resiliência do meio ambiente. ação possível. Tanto nas atividades aliadas como na
própria restauração ecológica é de esperar que as
Conceituar ações de manejo por meio desse con- melhorias pequenas e contínuas tenham efeitos
tinuum (juntamente com a compreensão dos cumulativos em projetos de escala maior.

O CONTINUUM
RESTAURATIVO
Melhoria da biodiversidade,
da
saúde ecológica e dos serviços
ecossistêmicos

REDUÇÃO MELHORIA REPARAÇÃO INICIAL PARCIAL PLENA


DE IMPACTOS DO MANEJO DO DAS FUNÇÕES DO DA RECUPERAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS DOS ECOSSISTEMAS
SOCIALS ECOSSISTEMA ECOSSISTEMA DOS ECOSSISTEMAS DOS ECOSSISTEMAS NATIVOS
NATIVOS

REDUÇÃO DE IMPACTOS
REMEDIAÇÃO
REABILITAÇÃO
RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

Figura 5. O CONTINUUM Restaurativo inclui uma gama de atividades e intervenções que podem melhorar as condições
ambientais e reverter a degradação do ecossistema e a fragmentação da paisagem. O continuum destaca as interconexões
entre essas diferentes atividades e reconhece que as características específicas do local programado para ações restaurativas
ditam quais as atividades mais adequadas para diferentes unidades da paisagem. À medida que caminhamos da esquerda
para a direita no continuum, tanto os resultados em termos dos índices de saúde ecológica quanto os de biodiversidade,
qualidade e quantidade dos serviços ecossistêmicos aumentam. Observe que a restauração ecológica pode ocorrer em pais-
agens urbanas, suburbanas, agrícolas e industriais.

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58 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 8
IMPACTOS REDUZIDOS

No contexto da degradação ambiental global, existe uma necessidade urgente de encontrar


formas de reduzir impactos ambientais adversos decorrentes da forma que as sociedades
extraem, produzem, comercializam, consomem e descartam os bens do ecossistema. Pelo lado da
produção, o aumento da regulação em diversas regiões do mundo está resultando em metodolo-
gias de agricultura, silvicultura, pesca e mineração ecologicamente mais informadas. Estas ativi-
dades têm potencial para reduzir os impactos negativos da poluição e contaminação, a fragmen-
tação de ecossistemas intactos, a supressão de ecossistemas nativos, a superexploração e a
disseminação de espécies invasoras. Já pelo lado do consumo, uma combinação de regulação e
aumento de expectativa social está mudando algumas práticas de fabricação e comportamentos
sociais, particularmente em territórios urbanos, onde mais da metade da população vem consum-
indo bens e serviços a crescentes taxas per capita. Embora as soluções sejam susceptíveis a táticas
evasivas e de “maquiagem verde”8, atividades que genuinamente visam a mitigar ou alcançar
uma redução líquida dos impactos humanos (e assim aumentar o potencial de recuperação dos
ecossistemas) podem ser consideradas aliadas da restauração ecológica e claramente parte do
continuum restaurativo14, atividades que genuinamente visam a mitigar ou alcançar uma redução
líquida dos impactos humanos (e assim aumentar o potencial de recuperação dos ecossistemas)
podem ser consideradas aliadas da restauração ecológica e claramente parte do continuum
restaurativo.

8
N.T.:Maquiagem verde é o termo que adotamos para greenwashing, que pode ser traduzido também como “lavagem verde”

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59 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 9
REABILITAÇÃO

Reabilitação é um termo genérico usado para atividades de reparação ecológica que visam a
restaurar o funcionamento do ecossistema, em vez de focar na restauração da biodiversidade e
integridade de um determinado ecossistema nativo de referência. As atividades de reabilitação
são adequadas para um amplo espectro de setores do manejo de água e solo nos quais a recu-
peração substancial dos ecossistemas nativos não seja possível ou desejável devido a necessidades
humanas concorrentes e legítimas. Quando a reabilitação é aplicada em áreas mineradas ou
locais pós-industriais, pode ainda ser chamada de reclamation9. O progresso da recuperação
ecológica em muitos projetos de reabilitação pode ser verificado usando o Sistema Cinco Estrelas
e a Roda de Recuperação Ecológica, no qual podem ser demonstradas melhorias em um ou mais
atributos ecossistêmicos. Para usar a Roda de Recuperação a fim de demonstrar o progresso rumo
à reabilitação, em vez de ser preenchido com os valores obtidos dos ecossistemas de referência, o
perímetro mais extremo da roda deve conter os valores desejados para os atributos-chaves do
ecossistema. De acordo com o conceito de “melhoria contínua” (ver Princípio 6), os projetos de
reabilitação que alcancem alguma melhoria nas condições ecológicas pode posteriormente ser
objeto de restauração ecológica. Por exemplo, onde a revegetação de uma pastagem degradada,
ou área pós-mineração, utilizando plantio misto de espécies vegetais nativas e exóticas e micros-
simbiontes nativos tenha resultado em melhoria das funções do solo, podem ser desenvolvidos
planos de restauração que incluam a colheita de espécies exóticas e sua subsequente substituição
por espécies nativas, bem como outras ações para auxiliar o sistema a recuperar até a condição
em que ele estaria se a degradação não houvesse ocorrido. Em alguns casos nos quais o solo
tenha sido estabilizado com espécies exóticas, podem ser espécies nativas (por plantio ou facili-
tação de sua regeneração) e removidas as exóticas, para, em última instância, auxiliar o restabe-
lecimento de um ecossistema nativo.

9
N.T.: Em Português, não é raro encontrar esta atividade designada pelo termo genérico: Recuperação de Áreas Degradadas – RAD.

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60 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 6.
Medidas de desempenho recomendadas para atividades restaurativas em uma variedade de setores ou contextos da
indústria, do governo e da comunidade. Nota: A pontuação “Estrela” refere-se ao Sistema de Cinco Estrelas descrito no
Princípio 6. A menos que seja especificado de outra forma, as pontuações com estrelas nesta tabela são consideradas uma
média de todas as pontuações dos 6 atributos.

AT I V I D A D E R E S TA U R AT I VA E PA D R Ã O D E D E S E M P E N H O
SEGMENTO OU CONTEXTO
RECOMENDADO

• Ecossistemas nativos com potencial para recuperação total: restauração ecológica


ao nível de 5 estrelas.
• Ecossistemas nativos com potencial apenas para recuperação parcial: restauração
Manejo de áreas protegidas ecológica idealmente para 4 estrelas, mas em nível mínimo de 3 estrelas.
• Programas ou atividades de recuperação de espécies individuais: Componentes
altamente valorizados de programas maiores que devem aspirar aos mais altos
padrões.

• Ecossistemas nativos com potencial de recuperação total para alguns atributos:


restauração ecológica ao nível de 5 estrelas sempre que possível, ou pelo menos
nível de 4 estrelas.
• Ecossistemas nativos ou áreas no entorno de ecossistemas nativos com potencial
apenas para recuperação parcial: Restauração ecológica aspirando ao mais alto
Áreas de conservação e nível praticável, mas objetivando o mínimo de nível de 3 estrelas para atributos
espaços verdes urbanos biológicos.
• Áreas convertidas em parques e jardins: Reabilitação a um nível mínimo de 2
estrelas para o atributo de funcionamento do ecossistema ou pelo menos uso
sustentável sem efeito deletério sobre os ecossistemas nativos e, se possível, o
fornecimento de benefícios ecológicos adicionais ao ecossistema nativo.

• Restauração de florestas nativas para conservação da biodiversidade: restauração


ecológica ao nível de 5 estrelas.
• Silvicultura de espécies nativas: Restauração ecológica ao nível de 4-5 estrelas
(entre ciclos de exploração da madeira).
• Reflorestamento no entorno de ecossistemas nativos: restauração ecológica
Atividade florestal aspirando ao mais alto
• nível praticável, mas pelo menos um nível de 3 estrelas.
• Reflorestamento principalmente para serviços ecossistêmicos: reabilitação no
mínimo ao nível de 2-3 estrelas para o atributo funcionamento do ecossistema, ou
pelo menos uso sustentável (entre ciclos de exploração) sem efeito deletério sobre
os ecossistemas nativos, de preferência com benefícios ecológicos adicionais.

• • Ecossistemas nativos com potencial para recuperação total: restauração ecológica


ao nível de 5 estrelas
• Ecossistemas nativos ou áreas no entorno de ecossistemas nativos com potencial
apenas para recuperação parcial: Restauração ecológica buscando o mais alto nível
de aspiração praticável, mas objetivando o mínimo de nível de 3 estrelas para
Pesca atributos biológico
• Atividades adjacentes aos ecossistemas nativos: reabilitação no mínimo ao nível de
2 estrelas para o atributo funcionamento do ecossistema, ou pelo menos uso
sustentável sem efeito deletério sobre os ecossistemas nativos, de preferência com
benefícios ecológicos adicionais.

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61 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro 6. (continuado)
Medidas de desempenho recomendadas para atividades restaurativas em uma variedade de setores ou contextos da
indústria, do governo e da comunidade. Nota: A pontuação “Estrela” refere-se ao Sistema de Cinco Estrelas descrito no
Princípio 6. A menos que seja especificado de outra forma, as pontuações com estrelas nesta tabela são consideradas uma
média de todas as pontuações dos 6 atributos.

AT I V I D A D E R E S TA U R AT I VA E PA D R Ã O D E D E S E M P E N H O
SEGMENTO OU CONTEXTO
RECOMENDADO

• Ecossistemas nativos com potencial para recuperação total: restauração ecológica


ao nível de 5 estrelas
• Ecossistemas nativos ou áreas no entorno de ecossistemas nativos com potencial
apenas para recuperação parcial: restauração ecológica aspirando ao mais alto
Túneis e corredores nível praticável, mas objetivando o nível mínimo de 3 estrelas ao menos para os
utilitários atributos biológicos.
• Dentro dos corredores utilitários (ecossistemas não-nativos): reabilitação no
mínimo ao nível de 2 estrelas para o atributo funcionamento do ecossistema, ou
pelo menos uso sustentável sem efeito deletério sobre os ecossistemas nativos, de
preferência com benefícios ecológicos adicionais.

• Ecossistemas nativos com potencial para recuperação total: ideal é restauração


ecológica ao nível de 5 estrelas
• Recuperação da produtividade agrícola ou adoção de agricultura ecológica no
entorno de ecossistemas nativos: Restauração ecológica aspirando ao mais alto
nível praticável, mas pelo menos ao nível de 3 estrelas.
Agricultura e • Ecossistemas nativos com potencial apenas para recuperação parcial: restauração
horticultura ecológica aspirando ao mais alto nível praticável, mas objetivando o nível mínimo
de 2 a 3 estrelas ao menos para os atributos biológicos.
• Recuperação da capacidade agrícola para provisão de serviços ecossistêmicos:
reabilitação no mínimo ao nível de 2 estrelas para o atributo funcionamento do
ecossistema, ou pelo menos o uso sustentável sem efeito deletério sobre os
ecossistemas nativos, de preferência com benefícios ecológicos adicionais.

• Quando ecossistemas nativos intactos ou quase intactos são impactados (ecossiste-


mas nativos com potencial para recuperação total): restauração ecológica ao nível
de 5 estrelas.
• Quando ecossistemas nativos degradados são impactados (ecossistemas nativos
Sítios de mineração, somente com potencial para recuperação parcial): Restauração ecológica aspirando
pedreiras e para exploração ao mais alto nível praticável, ou seja, um nível de 3 ou mais estrelas.
(por perfuração) de petróleo • Impactos em unidades de paisagem já convertidas (realocadas) com baixo potencial
e gás para recuperação do ecossistema nativo: reabilitação ao nível de 1 ou 2 estrelas
para o atributo funcionamento do ecossistema, ou pelo menos o uso sustentável
sem efeito deletério sobre os ecossistemas nativos, de preferência com benefícios
ecológicos adicionais.

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62 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
SE Ç ÃO 3 - PA D R Õ E S PA R A A P R ÁT IC A D E P L A N E JA-
3 M E N T O E I M P L A N TAÇ ÃO D E P R OJ E T O S D E R E S TAU -
R AÇ ÃO E C O L Ó G IC A

A seguir são listadas as práticas padronizadas específicas usadas em:


(1) planejamento e delineamento, (2) implantação, (3) monitora-
mento e avaliação e (4) manutenção de projetos de restauração
ecológica após a conclusão, em particular quando estão envolvidos
profissionais ou empreiteiros. Estes Padrões de Procedimentos incor-
poram totalmente o Código de Ética da SER (SER 2013). Eles são
adaptáveis ao tamanho, complexidade, grau de degradação, status
regulatório e orçamento de qualquer projeto, mas nem todas as
etapas serão possíveis para todos os projetos. As etapas descritas nos
padrões nem sempre são sequenciais. Por exemplo, os padrões
incluem monitoramento após a implantação, porque a maior parte
do esforço de monitoramento pode ocorrer após o tratamento; no
entanto, as atividades críticas para o monitoramento devem começar
antes do início do projeto, devido à necessidade de projetar planos
de monitoramento, orçar e garantir financiamento e coletar dados
prévios antes da implantação dos tratamentos de restauração.

1. PLANEJAMENTO E DELINEAMENTO

1.1 Envolvimento das partes interessadas. O envolvimento recíproco,


subsidiado e profícuo é realizado de preferência na fase de planeja-
mento inicial de um projeto de restauração com todos os atores
envolvidos (incluindo os proprietários ou gestores de terras ou água,
os interesses da indústria, os vizinhos, a comunidade local e os mem-
bros das comunidades indígenas) e continua durante toda a duração
de um projeto. Tal envolvimento inclui, idealmente, a formação da
população local para um compromisso com o monitoramento de
longo prazo e geração e disseminação de conhecimento colaborativo.
As principais etapas são:

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63 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
1.1.1 Incluir um cronograma para o engajamento dos atores
ao longo da execução do projeto. Sempre que possível,
são implantados o planejamento participativo e o a
elaboração em conjunto do plano de restauração, e
incluídas a capacitação e o treinamento da comunidade
local (ver a ferramenta “Os Padrões Abertos para a
Prática de Conservação”).
1.1.2 Ser diligente para garantir que os direitos dos atores
envolvidos, incluindo a posse da terra, sejam compreendidos
e respeitados durante todo o processo de restauração.
1.2 Avaliação do contexto. Os planos e o envolvimento das partes
interessadas são orientados por metas e prioridades locais e regionais
de conservação e sustentabilidade, e pelo planejamento do uso e
ocupação do solo, com o dever de:
1.2.1 Incluir diagramas ou mapas do projeto em relação à
paisagem do entorno ou ambiente aquático;
1.2.2 Identificar formas de melhorar a boa conectividade entre
os habitats no local de restauração e aumentar as trocas
ecológicas externas benéficas deles com outros ecoss-
istemas nativos para melhorar os fluxos e processos no
nível da paisagem, incluindo a colonização e o fluxo
gênico entre os locais; e,
1.2.3 Especificar estratégias para garantir a continuidade do
manejo futuro para alinhar e integrar o projeto com o
manejo de ecossistemas nativos e paisagens produtivas
próximos.
1.3 Avaliação da garantia da posse do local e programação da
manutenção pós-tratamento. Antes de investir na restauração é
necessário comprovar o potencial de manejo de longo prazo para
conservação da área. Portanto, os planos de restauração devem:
1.3.1 Identificar a garantia da posse do local para propor-
cionar a restauração de longo prazo e permitir o acesso
contínuo apropriado para monitoramento e manejo; e,
1.3.2 Identificar o plano de manutenção do local após a
conclusão do projeto para garantir que o local não
regrida a um estado degradado.
1.4 Inventário da linha de base. O inventário da linha de base docu-
menta as causas, intensidade e extensão da degradação e descreve os
efeitos da degradação na biota e no ambiente físico em relação aos
seis atributos do ecossistema. Assim, os planos devem:
1.4.1 Identificar as espécies nativas, as ruderais e as não-na-
tivas que persistem no local, principalmente as espécies
ou as comunidades ameaçadas e as espécies invasoras;

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64 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
1.4.2 Registrar o estado das condições abióticas atuais (através
de fotografias e outros meios), incluindo as dimensões, a
configuração e a condição física e química de riachos, os
corpos d’água, a coluna d’água, as superfícies terrestres,
os solos ou quaisquer outros elementos materiais, em
relação às condições anteriores ou em modificação.
1.4.3 Detectar o tipo e o grau dos fatores impulsionadores e
ameaças que causaram degradação no local e formas de
eliminá-los, mitigá-los ou adaptá-los5. Isso inclui a
avaliação de:
• Impactos históricos, atuais e previstos dentro e
fora do local (por exemplo, exploração excessiva,
sedimentação, fragmentação, pragas animais e
vegetais, impactos hidrológicos, contaminação,
regimes de perturbação alterados) e maneiras de
manejar, remover ou adaptar-se a eles;
• Descrição das necessidades de suplementação de
diversidade genética para espécies reduzidas a
populações não-viáveis devido à fragmentação
(ver Apêndice 1); e,
• Efeitos atuais e previstos das mudanças climáticas
(por exemplo, temperatura, precipitação, nível do
mar, acidez marinha) sobre as espécies e
genótipos com relação à provável viabilidade
futura.
1.4.4 Identificar a capacidade relativa da biota no local ou
externa ao local para iniciar e continuar a recuperação
com ou sem assistência. Isso inclui a realização de um
inventário que inclui:
• Uma lista de espécies nativas e não-nativas
presumivelmente ausentes e aquelas potencial-
mente persistentes na forma de propágulos ou
ocorrendo dentro da distância de colonização;
• Un mapa de áreas de condiciones distintas,
incluidas las etapas sucesionales presentes, las
áreas de recuperación prioritarias y cualquiera de
las áreas espaciales distintas que requieran de
tratamientos diferentes;
1.5 Ecossistema(s) de referência nativo(s) e modelos de referência.
Os planos identificam os ecossistemas de referência nativos consider-
ados alvos e um modelo de referência apropriado (Princípio 3; Seção
4, Parte 1) com base em múltiplos indicadores dos seis principais
5
Como referência de Taxonomia de Ameaças padrão, recomenda-se
consultar a Classificação de Ameaças de Padrões Abertos
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65 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
atributos do ecossistema (Quadro 2; Figura 4) em um número ade-
quado de locais de referência. Em alguns casos, as descrições de
ecossistemas intactos (pristinos) podem estar disponíveis em aval-
iações ou modelos anteriores ou diretrizes de agências ambientais.
Especificamente, os planos devem:
1.5.1 Documentar as características do substrato (bióticas ou
abióticas, aquático ou terrestre);
1.5.2 Listar as principais espécies características (repre-
sentando todas as formas de crescimento de plantas e
grupos funcionais da micro e macrofauna, incluindo
espécies pioneiras e ameaçadas);
1.5.3 Identificar os atributos funcionais do ecossistema,
incluindo ciclos de nutrientes, regimes típicos de distúr-
bios e fluxos, trajetórias sucessionais, interações plan-
ta-animal, entre ecossistemas, e quaisquer espécies
componentes dependentes de distúrbio;
1.5.4 Observar quaisquer mosaicos ecológicos que requerem a
adoção de vários ecossistemas de referência em um
local.
1.5.5 Nos casos em que os ecossistemas existentes estão
sendo perturbados e depois restaurados, os ecossistemas
intactos preexistentes devem ser mapeados em detalhes
antes que ocorra a perturbação do local;
1.5.6 Avaliar as necessidades de habitat da biota focal (inclu-
indo requisitos mínimos de território para a vida sel-
vagem e respostas às pressões de degradação e trata-
mentos de restauração).
1.6 Visão, alvos, metas e objetivos. Metas e objetivos claros e mensu-
ráveis são necessários para identificar as ações mais apropriadas,
garantir que todos os participantes tenham um entendimento comum
do projeto e medir o progresso (consulte o item “Monitoramento”
abaixo). Os planos devem indicar claramente:
1.6.1 Visão do projeto e metas ecológicas e sociais, incluindo
uma descrição do local e do ecossistema nativo a ser
restaurado;
1.6.2 Objetivos ecológicos e sociais, incluindo o nível de
recuperação ecológico buscado (ou seja, condição ou
estado dos atributos do ecossistema a serem alca-
nçados). Em casos de recuperação integral, isso se
alinhará totalmente com o modelo de referência,
enquanto em casos de recuperação parcial isso incluirá
elementos que se desviam da referência em algum grau.
As metas ecológicas devem quantificar, quando possível,

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66 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
o grau dos atributos do ecossistema de referência a
serem alcançados. Os objetivos sociais devem ser
explícitos e realistas, considerando o prazo do projeto e
o capital social disponível na área.
1.6.3 Os objetivos são as mudanças e resultados imediatos
necessários para se cumprir as metas e o alvo em relação
a quaisquer escalas espaciais distintas dentro do local.
Os objetivos são declarados em termos de indicadores
mensuráveis e quantificáveis para identificar se o projeto
está ou não alcançando seus objetivos dentro dos prazos
definidos. Além dos indicadores, os objetivos devem
incluir ações, quantidades e prazos específicos.
1.7 Prescrições de tratamento de restauração. Os planos contêm
prescrições de tratamento claramente definidas para cada área de
restauração distinta, descrevendo o quê, onde e por quem os trata-
mentos serão realizados e sua ordem ou prioridade. Onde houver falta
de conhecimento ou experiência, será necessária uma gestão adapta-
tiva ou pesquisa direcionada que subsidie as prescrições apropriadas.
Se houver incerteza, o Princípio da Precaução deve ser aplicado de
forma a reduzir o risco ambiental. Os planos devem:
1.7.1 Descrever as ações a serem realizadas para eliminar e
mitigar ou se adequar aos problemas responsáveis; e,
1.7.2 Identificar e justificar as abordagens de restauração espe-
cíficas, as descrições de tratamentos específicos para cada
área física a ser restaurada e a priorização de ações. Depen-
dendo da condição do local, isso inclui a identificação de:
• Alterações na forma, configuração, condição
química ou física dos elementos abióticos para
torná-los receptivos à recuperação da biota e da
estrutura e funções do ecossistema;
• Estratégias e técnicas eficazes e ecologicamente
adequadas para controlar espécies indesejáveis e
para proteger as espécies desejáveis, seus habitats
e o local;
• Métodos ecologicamente apropriados para
facilitar a regeneração ou conseguir a reintro-
dução de qualquer espécie ausente;
• Estratégias ecologicamente apropriadas para
abordar circunstâncias em que a espécie ideal ou o
estoque genético não estejam imediatamente
disponíveis (por exemplo, deixando lacunas para
reintroduções em etapas sazonais subsequentes); e,
• Seleção apropriada de espécies, recursos

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67 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
genéticos e aquisição de material biótico a ser
reintroduzido (ver Apêndice 1).
1.8 Analisando a logística. A análise do potencial de recursos para o
projeto e dos riscos prováveis é necessária antes de empreender um
plano de restauração. Para lidar com restrições práticas e oportuni-
dades, os planos devem:
1.8.1 Identificar possíveis fontes de financiamento, mão de
obra (incluindo nível de habilidade apropriado) e outros
recursos que permitirão tratamentos apropriados (inclu-
indo o acompanhamento dos tratamentos e monitora-
mento), até que o local atinja uma condição estabilizada;
1.8.2 Realizar uma avaliação de riscos completa e desenvolver
uma estratégia de gestão de riscos para o projeto,
especialmente incluindo planos de contingência para
mudanças inesperadas nas condições ambientais, finan-
ciamento ou recursos humanos;
1.8.3 Desenvolver um cronograma do projeto e uma justifica-
tiva para a duração do projeto (por exemplo, elaborando
um fluxograma);
1.8.4 Identificar maneiras de manter o compromisso com as
metas, alvos e objetivos do projeto ao longo da vida do
mesmo, incluindo apoio político e financeiro; e,
1.8.5 Obter permissões e autorizações, e tratar das restrições
legais aplicáveis ao local e ao projeto, incluindo posse da
terra e reivindicações de propriedade.
1.9 Estabelecendo processo para revisão do projeto. Os planos incluem
a elaboração de um cronograma e definição de prazos para facilitar:
1.9.1 A revisão a ser feita pelas partes interessadas e por
revisores independentes, conforme necessário; e,
1.9.2 A reformulação do plano à luz de novos conhecimentos,
mudanças nas condições ambientais e lições aprendidas.

2. IMPLANTAÇÃO

A fase de implantação pode ser curta ou longa, dependendo do projeto e das


circunstâncias. O monitoramento e o manejo adaptativo podem ditar as
intervenções da restauração no início ou após a conclusão de um estágio.
Durante a fase de implantação, os projetos de restauração são manejados
para:

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68 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
2.1 Proteger o local contra danos. Nenhum dano adicional ou dura-
douro deve ser causado pelos trabalhos de restauração em quaisquer
recursos naturais ou elementos da área terrestre ou aquática impact-
ados pelo projeto, incluindo danos físicos (por exemplo, limpeza,
soterramento do solo, pisoteio), contaminação química (por exemplo,
fertilização excessiva, derramamentos de pesticidas) ou contaminação
biológica (por exemplo, introdução de espécies invasoras, incluindo
patógenos indesejáveis).
2.2 Envolver os participantes apropriados. Os tratamentos são com-
preendidos e realizados de forma responsável, eficaz e eficiente por,
ou sob a supervisão de, pessoas devidamente qualificadas, habilitadas
e experientes. Onde quer que seja possível, as partes interessadas e os
membros da comunidade são convidados a participar da implantação
do projeto. Sempre que possível, materiais e processos sustentáveis
são incorporados aos projetos de restauração.
2.3 Incorporar processos naturais. Todos os tratamentos são realizados
de maneira que respondam aos processos naturais e que promovam e
protejam o potencial da recuperação, tanto a natural quanto a
assistida. Tratamentos iniciais, incluindo substrato e aditivos
hidrológicos, controle de pragas e plantas, aplicação de atividades de
recuperação específicas e reintroduções bióticas são seguidos de
forma adequada por tratamentos secundários, conforme necessário.
Como o período de recuperação pode ser longo (por exemplo, cresci-
mento da vegetação ripária), os tratamentos provisórios para reduzir
os efeitos adversos (por exemplo, fluxos indesejáveis de nutrientes e
sedimentos atingindo os cursos d’água) devem ser planejados e
implantados. Todas as reintroduções de flora ou fauna deveriam
receber, posteriormente, a devida manutenção.
2.4 Responder às mudanças que ocorrem no local. O manejo adapta-
tivo é aplicado, subsidiado pelos resultados pelos resultados do moni-
toramento. Isso inclui mudanças corretivas na orientação geral das
ações sendo aplicadas, para se adaptar a respostas inesperadas do
ecossistema e trabalho adicional conforme necessário. Em alguns
casos, pesquisas adicionais ou novas podem ser necessárias para
superar impedimentos específicos afetando a restauração.
2.5 Garantir a conformidade. Todos os projetos cumprem integralmente
a legislação trabalhista, de saúde e segurança. Todas as leis, regula-
mentos e permissões que se aplicam ao projeto, incluindo aquelas
relacionadas ao solo, ar, água, oceanos, patrimônio, espécies e con-
servação do ecossistema, estão rigorosamente respeitados.
2.6 Comunicar-se com as partes interessadas. Todos os operadores do
projeto se comunicam regularmente com as principais partes interes-
sadas (preferivelmente por meio de um plano de comunicação que

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69 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
incorpore qualquer ator ou grupo já engajado e inclua iniciativas do
tipo “ciência-cidadã”), visando a uma ampla divulgação sobre o
andamento do projeto, assim promovendo um engajamento benéfico.
A comunicação também deve atender aos requisitos do órgão de
financiamento.

3. MONITORAMENTO, DOCUMENTAÇÃO, AVALIAÇÃO


E RELATÓRIOS

Os projetos de restauração ecológica adotam o princípio de observar, registrar


e monitorar tratamentos e respostas para determinar se um projeto está no
caminho certo para alcançar os alvos, metas e objetivos, ou se precisa de
ajustes. Os projetos são avaliados regularmente quanto ao progresso, sendo
analisado para ajustar os tratamentos conforme necessário (ou seja, usando
uma estrutura de manejo adaptativo). As colaborações são promovidas entre
pesquisadores, especialistas naquela região, restauradores e cientistas-ci-
dadãos, especialmente onde os tratamentos são inovadores ou estão sendo
aplicados em grande escala. As necessidades de monitoramento são reavali-
adas ao longo do projeto e os recursos realocados ou expandidos de acordo.
3.1 Projeto de monitoramento. O monitoramento para avaliar os
resultados da restauração começa na fase de planejamento, iniciando
com a elaboração de um plano de monitoramento para identificar a
eficácia do tratamento (ver também os Quadros Explicativos 5 e 6).
Este plano inclui questões específicas a serem abordadas por meio de
monitoramento, delineamento amostral para coleta dos dados iniciais,
implantação e dados de pós-tratamento, procedimentos para docu-
mentar e arquivar dados coletados, planos para análise de dados e
planos para comunicação de resultados para adaptar estratégias de manejo
no local e informar as partes interessadas sobre as lições aprendidas.
3.1.1 O monitoramento é articulado para acompanhar o
cumprimento de metas específicas e objetivos mensu-
ráveis identificados no início do projeto. Uma vez que os
indicadores são determinados, os dados iniciais (linha de
base) são coletados e os marcos determinados para
avaliar se a taxa de progresso está no caminho certo.
Além disso, “gatilhos” ao longo desse caminho podem
ser úteis; se os dados atingirem um gatilho, ações
corretivas podem ser necessárias.

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70 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
3.1.2 Os métodos de monitoramento devem ser apropriados
aos objetivos do projeto. Sempre que possível, os mét-
odos devem ser fáceis de usar e implantados por meio
de processos participativos. Quando a amostragem
quantitativa formal é necessária, o desenho amostral
deve incluir um tamanho de amostra suficientemente
grande para permitir análises estatísticas e inferências.
Em todos os casos.
3.1.3 Os gerentes de projeto devem estar cientes de que o
monitoramento é essencial para determinar se as metas
são atendidas e também para fornecer oportunidades de
aprendizado. Envolver as partes interessadas no design
do projeto e na coleta e análise de dados ajuda a mel-
horar a tomada de decisão colaborativa, fornece um
senso de propriedade e engajamento, motiva as partes
interessadas a manter o interesse de longo prazo e
fortalece a capacidade e o empoderamento dos atores
envolvidos. Qualquer sistema de monitoramento deve ter
oportunidades embutidas de aprendizado e adaptação.
3.2 Manutenção de registros. Registros adequados e seguros de todos
os dados do projeto, incluindo documentos relacionados ao planeja-
mento, implantação, monitoramento e relatórios, são mantidos para
subsidiar a gestão adaptativa e permitir a avaliação futura das res-
postas aos tratamentos. Todos os dados de tratamento, incluindo
detalhes das atividades de restauração, número de sessões de trabalho
e custos, juntamente com todos os registros de monitoramento de
avaliação, são mantidos para referência futura. Os dados de pro-
cedência devem incluir a localização (de preferência derivada de GPS)
e a descrição dos locais ou populações doadores e receptores. A
documentação deve incluir referência aos protocolos de coleta, à data
de aquisição, procedimentos de identificação e nome do coletor /
propagador. Além disso:
3.2.1 Deve-se considerar a possibilidade de livre acesso aos
dados, ou inclusão dos resultados em repositórios de
livre acesso como o Centro de Recursos para Restau-
ração da SER ou outras bases de dados nacionais ou
internacionais; e
3.2.2 Os gestores devem arquivar os dados usando um sistema
seguro. Deve-se incluir metadados ou metainformações
descrevendo os conteúdos de cada conjunto de dados
3.3 Avaliação de resultados. Realiza-se a avaliação dos trabalhos pela
comparação entre os resultados obtidos e os alvos, metas e objetivos
declarados. Esta tarefa exige a escolha de uma ferramenta especial-

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71 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
izada para tal (existem várias opções, incluindo o sistema de cinco
estrelas, apresentado neste documento, a ferramenta de auditoria dos
padrões abertos e os métodos convencionais de avaliação ecológica).
3.3.1 O método escolhido deve avaliar adequadamente os
resultados do monitoramento; e,
3.3.2 Os resultados devem ser usados para subsidiar o manejo
contínuo.
3.4 Comunicar aos atores envolvidos. A divulgação envolve a prepa-
ração e disseminação de relatórios do progresso alcançado que
detalham os resultados da avaliação para as principais partes interes-
sadas e grupos de interesse mais amplos (por exemplo, em boletins e
revistas científicas) para compartilhar com eles tanto os produtos
desenvolvidos quanto os resultados obtidos, à medida que se tornem
disponíveis.
3.4.1 Os relatórios devem transmitir as informações de forma
precisa e acessível, adaptadas para os públicos-alvo; e,
3.4.2 Os relatórios devem especificar o nível e os detalhes do
monitoramento nos quais qualquer avaliação de pro-
gresso alcançado foi baseada.

4. MANUTENÇÃO PÓS-IMPLANTAÇÃO

4.1 Manejo contínuo. O órgão de gestão é responsável pela manutenção


continuada para evitar impactos deletérios e realizar monitoramento
pós-conclusão do projeto para evitar o retorno a um estado degra-
dado. Este requisito deve ser considerado nos orçamentos antes de
iniciar as atividades de restauração. A comparação com um modelo de
referência apropriado deve ser contínua e inclui:
• Vigilância periódica do local para verificar a possível recor-
rência de degradação, visando a proteger o investimento em
restauração, idealmente envolvendo os atores interessados;
• Os protocolos de ação estão integrados às operações da
organização gestora, funcionando em colaboração com as
partes interessadas, conforme necessário; e,
• Comunicação contínua sobre o projeto especialmente
direcionada à juventude, para assegurar o seu futuro
apreço pelo projeto de restauração realizado e pelo investi-
mento feito. Faz parte a continuação das atividades culturais
que asseguram o legado do projeto e o reforço das lições

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72 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
aprendidas, entre elas a necessidade de realizar projetos
semelhantes em outros lugares.

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73 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
4 SE Ç ÃO 4 - P R ÁT IC A S N O RT E A D O R A S

PARTE 1
DESENVOLVENDO MODELOS DE modelos de referência na escala da paisagem;
REFERÊNCIA PARA A RESTAURAÇÃO Wiggins et a., 2019), enquanto para outros, as
ECOLÓGICA áreas de referência e os dados podem ser escassos
(por exemplo, ecossistemas florestais costeiros
A prática da restauração ecológica consiste na ameaçados do Chile, dos quais apenas poucos
remoção ou limitação das fontes de degradação e fragmentos de florestas ainda restam; Echeverria et
na intervenção antrópica no ecossistema, as duas al, 2006). Na maioria das vezes, os atores envolvidos
medidas visando à sua recuperação, tanto quanto e gestores de projetos terão que lidar com as
possível, à condição em que se encontraria se não lacunas nas informações ou recursos disponíveis,
tivesse sido degradado, sem perder de vista as usando a opinião de profissionais. Em todos os
prováveis mudanças temporais normais. Isto requer casos, a melhor informação disponível deve ser
um modelo para predizer tal condição, chamado de combinada com um sólido trabalho de investigação
modelo de referência (Princípio 3), que é construído (Swetnam et al. 1999) para desenvolver modelos
empiricamente a partir de múltiplos áreas de ótimos de predição de como seria a condição do
referência, e teoricamente baseado na melhor sistema se a degradação não tivesse ocorrido.
informação disponível. Este modelo deve ter em
conta múltiplos atributos ecossistêmicos e suas A construção de modelos de referência idealmente
variações dentro do ecossistema alvo, bem como a incorpora um conjunto amplo de atributos dos
sua complexidade e dinâmica geral (ou seja, ecossistemas, incluindo: ausência de ameaças,
mudanças temporais). Cada uma das considerações composição de espécies, estrutura da comunidade,
é importante para estabelecer as metas do projeto condições físicas, funcionamento do ecossistema, e
que reflitam com precisão um ecossistema-alvo trocas externas (Princípio 3). Alguns destes atrib-
apropriado. Em alguns casos, pode ser necessário utos, como a estrutura da comunidade (isto é, a
identificar múltiplos modelos de referência, por arquitetura com respeito a estratos da vegetação,
exemplo, para ecossistemas nativos sob dinâmicas níveis tróficos, e padrões espaciais) e a composição
de não-equilíbrio (Suding & Gross, 2006), ou mod- de espécies (ou seja, tipos de espécies presentes)
elos de referência alternativos onde ocorreram ou são de acesso relativamente direto, enquanto
são previstas mudanças irreversíveis. Na prática, o outros, tais como funções ecossistêmicas, são mais
processo de construção de um modelo de referência complexos, mas igualmente importantes. Os organ-
e a sua confiabilidade irão variar, com base tanto ismos interagem com o seu ambiente e com outros
nos recursos para o projeto quanto na disponibili- organismos em modos complexos, que resultam em
dade de informação ecológica relevante. A infor- fluxos de energia, nutrientes, água, e outros mate-
mação pode estar prontamente disponível ou ser riais, designados por funções ecossistêmicas. Além
obtida para alguns ecossistemas nativos (por de sustentarem a integridade ecológica, as funções
exemplo, áreas florestadas do oeste da América do ecossistêmicas provêm os serviços necessários para
Norte, onde dados do LiDAR permitem a criação de a vida (por exemplo, alimento, fibras, água, medica-

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74 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
mentos) e a sua inclusão em modelos de referência outro lado, projetos que incorporem muitos fatores
é essencial. Além disso, no desenvolvimento de nos seus modelos de referência e objetivos, terão
referências, é importante ter em conta os atributos maior probabilidade de restaurar ecossistemas que,
físicos dos ecossistemas e os auxílios ecológicos (por ao final, protejam a biodiversidade, promovam a
exemplo, sementes e propágulos) que fluem entre resiliência ecológica e proporcionem maiores taxas
ecossistemas, já que representam o contexto em de serviços ecossistêmicos no longo prazo.
que as interações entre espécies ocorrem.
INCORPORANDO AS MUDANÇAS
Além de incorporar componentes individuais de HISTÓRICAS E FUTURAS
ecossistemas, os modelos de referência devem
refletir a complexidade do ecossistema e as relações Os ecossistemas respondem a mudanças nas
entre os seus componentes (Green & Sadedin, condições ambientais, o que adiciona complexidade
2005). Os ecossistemas são compostos tanto de à restauração ecológica e a outros tipos de manejo
organismos vivos (componentes bióticos) como de de ecossistemas. Para levar em conta a mudança
componentes não vivos (abióticos) que interagem temporal, o modelo de referência é concebido como
de maneiras complexas. Por exemplo, as plantas e a condição em que o ecossistema alvo estaria na
os solos estão estreitamente ligados por meio de ausência de degradação, antecipando ao mesmo
um sistema de biorregulação (Perry, 1994). As tempo mudanças futuras. Ele não representa uma
plantas afetam diretamente as propriedades condição do passado. A informação histórica pode
químicas, físicas e biológicas do solo. Portanto, o ser útil na construção de modelos de referência,
tipo de plantas que cresce em um ecossistema afeta principalmente se na atualidade não estiverem
os solos em todos os aspectos no sistema. De forma disponíveis áreas de referência. Contudo, ao usar
semelhante, as propriedades químicas, físicas e dados históricos para desenvolver os modelos de
biológicas do solo afetam os tipos de plantas que referência, deve sempre ser levado em conta o grau
ocorrem em uma área. Essas relações e biorregu- de mudança ambiental de fundo que ocorreu (por
lação não são exclusivas dos ecossistemas terrestres. exemplo, mudanças de temperatura, precipitação e
Em sistemas aquáticos, a produtividade primária (na solos) ou que é previsto que ocorra (por exemplo,
qual a energia é fixada via fotossíntese) está estreit- mudanças climáticas), bem como o quanto o
amente ligada com a produtividade em níveis modelo de referência deve ser ajustado para aco-
tróficos superiores e direciona toda a estrutura modar tais mudanças (ver também Quadro Explica-
trófica da cadeia alimentar (Vander Zanden et al. tivo 2 e Apêndice 1).
2006). Embora seja impossível considerar explicita-
mente todo o conjunto de componentes e inter- As mudanças no ecossistema são originadas por
ações num ecossistema, o modelo de referência fatores que são externos ao mesmo, tais como o
deve ser desenvolvido com a ambição de incluir clima, mas também por meio de processos suces-
tantos componentes e interações quanto possível e sionais, e muitos tipos de ecossistemas exibem
viável, e no mínimo deve incluir indicadores para estádios sucessionais múltiplos. Por isso, o estádio
cada um dos atributos chave dos ecossistemas sucessional do local em restauração deve ser consid-
identificados no Princípio 3. Os projetos que erado na seleção de áreas de referência. Por
destacam um número limitado de fatores, tais como exemplo, os ecossistemas em estádio sucessional
aqueles que se focam num único serviço ecoss- avançado (como florestas de 1.000 anos de idade)
istêmico, podem ter um potencial limitado para são provavelmente áreas inadequadas de referência
restaurar a complexidade geral do ecossistema. Por para as fases iniciais de restauração de áreas flor-

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75 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
estais em início de sucessão, embora sejam úteis informações do levantamento inicial de base do
para informar o modelo de referência multifases e local, e de fontes secundárias indiretas, podem
de longo prazo, bem como para o estabelecimento ajudar a determinar as condições de referência
de objetivos de longo prazo. Além disso, para (Clewell & Aronson 2013; Liu & Clewell 2017). Tais
algumas áreas pode haver múltiplos resultados fontes secundárias, embora imperfeitas, podem
potenciais da sucessão, dependendo de eventos ainda ajudar na orientação do planejamento da
casuais como distúrbios naturais ou a ordem de restauração (Egan & Howell 2011). Por exemplo, a
chegada de espécies (Chase 2003). A incorporação informação histórica obtida de arquivos naturais e
da dinâmica de equilíbrio nos modelos de referência registros culturais podem fornecer informações
torna o planejamento da restauração claramente valiosas. Um arquivo natural importante, por
mais complexo, mas irá facilitar o sucesso do pro- exemplo, são os anéis de crescimento anual em
jeto, dando aos gestores uma perspectiva mais árvores mais velhas, que podem revelar incidências
informada sobre os resultados adequados do pro- passadas de secas e fogo. As sementes velhas e
jeto. Ou ainda, quando um dos vários estados outros fragmentos de plantas armazenados por
estáveis potenciais não for desejado, esta abord- roedores em cavernas podem frequentemente ser
agem pode ajudar os gestores a evitar cadeias de identificados até o nível de espécies. O banco de
resposta que conduziriam o sistema na direção sementes, assim como depósitos de pólen no solo e
indesejada (por exemplo, manejando a ordem de sedimentos podem ser usados para identificar
introdução de espécies ou removendo espécies que espécies de plantas que ocorreram em um local.
provavelmente empurrarão o sistema na direção não Troncos de árvores, detritos lenhosos grandes e
desejada). carvão enterrado em solo úmido ou sedimentos
podem ser escavados, identificados ao nível de
ÁREAS DE REFERÊNCIA E OUTRAS espécies, e revelar condições de crescimento antigas
FONTES DE INFORMAÇÕES que desapareceram há muito tempo. Registros
culturais englobando fotografias (incluindo fotogra-
Como não há dois locais idênticos, a prática
fias aéreas e repetidas), pinturas de paisagens,
recomendada é usar múltiplas áreas de referências
mapas, diários e livros e levantamentos topográficos
e outras informações, para desenvolver o modelo
são fontes possíveis de informação sobre as
de referência. O inventário de apenas um local irá
condições históricas da vegetação. Descrições
capturar apenas uma fração do conjunto regional
antigas de espécies em levantamentos florísticos
de espécies e provavelmente não representará a
locais incluem geralmente informações sobre o
condição média do ecossistema alvo. Os ecoss-
habitat. Etiquetas de espécimes em herbários e
istemas que são altamente heterogêneos necessi-
museus identificam espécies registradas em locais
tarão de mais áreas de referências do que aqueles
específicos há muitos anos, e algumas vezes listam
que são mais homogêneos. No entanto, devido ao
outras espécies ocorrendo junto com elas. No
alto grau de alteração de terras em nível global,
entanto, a utilização de qualquer uma destas fontes
muitos ecossistemas podem não ter um número
de informação histórica deve ser cuidadosa, pois as
adequado de áreas de referências, e neste caso os
condições históricas podem ser preditores inade-
restauradores terão que se basear em modelos de
quados das atuais. Além disso, os arquivos naturais
sucessão e outras fontes de informação, como
e documentos culturais têm, cada um, seus próprios
descrito abaixo.
enviesamentos e limitações que afetam as inferên-
cias. Finalmente, existem poucos ecossistemas para
Além das informações de áreas de referência, as
os quais as condições históricas são completamente

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76 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
conhecidas. Mesmo para locais onde os dados estão 1999). Embora o padrão sequencial de recuperação
disponíveis, as informações são limitadas a um ou a (isto é, a sucessão) difira entre ecossistemas, todas
poucos componentes ou processos do ecossistema. as espécies nativas desenvolveram provavelmente
alguma capacidade de recuperação após distúrbios
Outras fontes de informação que são cruciais para o ou estresses aos quais se adaptaram (Holling 1973;
desenvolvimento de modelos de referência incluem Westman 1978). Compreender como os processos
o conhecimento ecológico tradicional e local (CET e de recuperação operam em casos de distúrbios
CEL; por ex., Zedler & Stevens 2018), e as bases de naturais, pode ajudar a desenvolver estratégias para
dados e ferramentas que caracterizam as proprie- a restauração da degradação causada pelo homem
dades do ecossistema (por exemplo, descrições de (Cairns et al. 1977; Chazdon 2014). A avaliação
solo, distribuição de espécies raras). Se apenas correta da capacidade de regeneração de espécies
algumas espécies são identificáveis a partir destas individuais em locais específicos facilita a seleção de
fontes indiretas de informação, um ecólogo famil- abordagens e tratamentos apropriados, permitindo
iarizado com a história natural da região pode assim o uso eficiente de recursos financeiros e
frequentemente determinar a condição estimada do outros contributos para a restauração (McDonald
ecossistema na ausência de degradação, e deduzir a 2000; Martínez-Ramos et al. 2016).
composição de espécies. Os planos de implantação
podem ser preparados a partir de descrições de Um primeiro passo na definição de estratégias de
exemplos existentes do mesmo tipo de ecossistema. restauração eficazes é identificar as restrições
(algumas vezes referidas como “filtros” ou “bar-
O investimento adequado no desenvolvimento do reiras”) que impedem a recuperação do ecossistema
modelo de referência é uma consideração impor- (Hobbs & Norton 2004; Hulvey & Aigner 2014). Tais
tante no planejamento e orçamento de um projeto. limitações deverão incluir, obviamente, as causas
A qualidade do modelo de referência irá variar entre antropogênicas da degradação, mas também as
projetos, dependendo dos recursos alocados e locais consequências das mesmas, tais como condições
e informações disponíveis. Os atores envolvidos e os inadequadas de substrato, ausência ou alteração de
gestores de projetos devem almejar em criar o nichos, falta de recursos, herbivoria, competição,
melhor modelo possível dentro das limitações do indisponibilidade de propágulos, ou ausência de
projeto. Note que, em algumas jurisdições, os gatilhos ambientais para quebrar a dormência de
modelos de referências podem já ter sido desen- sementes. Ao abordar as restrições que impedem a
volvidos para alguns ecossistemas. regeneração natural, sem introduzir outras lim-
itações, os processos naturais que operam ao longo
PARTE 2 de uma escala de tempo evolucionária poderão ser
IDENTIFICANDO ABORDAGENS restabelecidos, de modo a dar suporte à recuper-
APROPRIADAS DE RESTAURAÇÃO
ação do local perturbado (por exemplo, revegetação
ECOLÓGICA
a partir de propágulos armazenados; McDonald
Durante milhões de anos, os processos de recuper- 2000; Prach & Hobbs 2008).
ação natural têm reparado autogenicamente locais
que foram naturalmente perturbados, tanto em A regeneração natural, algumas vezes referida
ambientes terrestres como aquáticos (por exemplo, como restauração “passiva”, é frequentemente a
vulcões, deslizamentos de terras, glaciações, abordagem mais eficaz em termos de custo quando
impactos de asteroides, mudanças de nível do mar, o potencial de recuperação natural é alto. No
tsunamis, erosão de margens de rios (Matthews entanto, quando o potencial de regeneração natural

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77 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
está ausente ou é baixo, geralmente é necessário recifes de crustáceos e moluscos (O’Beirn et al.
restabelecer ou reforçar organismos ou populações 2000); a remodelação de cursos d’água (Jordan &
exauridas, por meio de métodos mais ativos, tais Arrington 2014) e de formas de relevo (Prach &
como a regeneração assistida ou reconstrução, Hobbs 2008); o restabelecimento de fluxos ambien-
às vezes referida como restauração “ativa”. Todas tais e de passagens de peixes em estuários e rios
as três abordagens utilizam processos naturais de (Kareiva et al. 2000); a aplicação de distúrbios artifi-
regeneração e requerem manejo adaptativo con- ciais para quebrar a dormência de sementes (Mitchell
stante até que a recuperação total seja alcançada. et al. 2008); e, a instalação de recursos de habitat
tais como troncos ocos, rochas, pilhas de detritos
1. Regeneração natural (ou espontânea). lenhosos, micro nichos de solos e poleiros (Elgar et al
Quando os danos são relativamente baixos e a 2014; Castillo-Escrivà et al. 2019). Exemplos de
camada superficial do solo é retida, ou onde intervenções bióticas incluem: o controle de espécies
existem intervalos de tempo suficientes e popu- invasoras (Saunders & Norton 2001; Chazdon et al.
lações vizinhas que permitem a recolonização, as 2017); a reintrodução suplementar de espécies que
plantas e os animais podem ser capazes de recu- não conseguem migrar para a área em restauração
perar sozinhas, após a interrupção de certos tipos sem assistência (por exemplo a renaturalização de
de degradação (Prach et al. 2014; Chazdon & animais ou a reintrodução de espécies arbóreas com
Guariguata 2016). Isso pode incluir a remoção da sementes muito grandes); e o aumento ou reforço
contaminação, pastoreio inadequado, pesca em de populações exauridas com diversidade genética
excesso, restrição dos fluxos de água, e regimes de insuficiente (ver também o Apêndice 1).
fogo inapropriados. As espécies animais podem ser
capazes de recolonizar o local se houver conectivi- 3. Reconstrução. Quando o dano é alto, não só
dade de habitat suficiente, e as espécies de plantas devem ser removidas ou revertidas todas as causas
podem recuperar por meio de rebrota, germinação de degradação e corrigidos os danos bióticos e
do banco de sementes remanescentes, ou pelas abióticos para se adequar ao ecosistema de
sementes que se dispersam naturalmente de áreas referência nativo identificado, mas também tem de
vizinhas (Grubb & Hopkins 1986; Powers et al. ser reintroduzida toda ou grande parte de sua biota
2009). Em alguns casos, a regeneração natural desejável, sempre que possível (Bradshaw 1983;
também pode ser usada mesmo em locais muito Seddon et al. 2004). A biota pode então interagir
perturbados, tais como pedreiras e minas abando- com os componentes abióticos para impulsionar a
nadas, embora isso provavelmente seja um processo recuperação dos atributos do ecossistema. Em
de longo termo (Prach & Hobbs 2008). casos em que a recuperação sequencial seja uma
característica do ecossistema, ou que ela seja
2. Regeneração assistida. A restauração em locais necessária (por exemplo, para ajudar na recuper-
com níveis intermediários ou mais altos de ação de solos), espécies sucessionais iniciais devem
degradação requer a remoção das causas de ser reintroduzidas antes das tardias (Temperton et
degradação e intervenções ativas para corrigir danos al. 2004). Contudo, em ecossistemas que não
abióticos e bióticos, e desencadear a recuperação exibem tais padrões sucessionais, pode ser
biótica (por exemplo, pela imitação dos distúrbios necessário reintroduzir todas as espécies desde o
naturais ou pela provisão de recursos chave). Exem- início (por exemplo, Rokich 2016).
plos de intervenções bióticas incluem: a remediação
ativa das condições físicas ou químicas do substrato; Um mosaico das três abordagens pode ser com-
a construção de estruturas de habitat, tais como binado e, portanto, mapeado, quando existem

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78 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
diferentes níveis de degradação ao longo do local, uma estratégia primordial para a conservação de
ou como uma técnica para aumentar a eficiência e biodiversidade e a melhoria do bem-estar humano
diminuir os custos (Bradshaw 1983; Walker 2011), em grandes áreas na paisagem. Quando a visão da
principalmente em áreas maiores. Isto é, enquanto restauração excede a escala de pequenas manchas
algumas partes do local podem requerer uma na paisagem, as metas e as abordagens de restau-
abordagem baseada na regeneração natural, outras ração também têm de ganhar escala (Princípio 7).
podem exigir uma abordagem de regeneração Os padrões da paisagem (relações espaciais entre
assistida, e outras uma abordagem de reconstrução, tipos de ecossistemas) e os processos à escala da
ou combinações, conforme apropriado. Uma abord- paisagem (por exemplo, fluxo de água, erosão,
agem combinada é a da nucleação aplicada, que fluxos de nutrientes, mudanças no uso da terra) são
envolve o plantio de pequenas manchas de vege- importantes atributos a se considerar (Holl et al.
tação (geralmente árvores) que atraem dispersores e 2003). Em escalas maiores, a diversidade maior de
facilitam o estabelecimento de novas plantas, ecossistemas, atores envolvidos e de usos da terra
expandindo a área florestada ao longo do tempo. A pode resultar em objetivos conflitantes, mas
nucleação aplicada tem mostrado resultados prom- também pode gerar soluções em comum. Conse-
issores na restauração de aterros sanitários (Corbin quentemente, a restauração nesta escala deve ser
et al. 2016), de bosques mediterrâneos (Rey- focada em fornecer benefícios múltiplos, comple-
Benayas et al. 2008), de florestas tropicais (Corbin & mentares e integrados para os ecossistemas e os
Holl 2012; Holl et al. 2017), e outros ecossistemas. atores envolvidos.
A decisão sobre a abordagem apropriada ou uma
combinação delas não é sempre prontamente INICIATIVAS GLOBAIS DE
evidente. O conhecimento e a experiência são
RESTAURAÇÃO
importantes para avaliar o grau de potencial de
A crescente consciência da necessidade de
regeneração natural presente e se esse potencial
reparação ambiental e sociocultural tem levado a
pode responder a formas específicas de assistência
um aumento global da restauração ecológica e das
(e em tempo oportuno). Quando o conhecimento
atividades restaurativas associadas (Introdução,
específico não está disponível, é apropriado adotar
Princípio 7). No entanto, a degradação tem
uma abordagem de manejo adaptativo de modo a
continuado quase de forma inabalável, e a
compreender a eficácia de diferentes tipos de
necessidade de evitar e combater os efeitos dessa
regeneração (por exemplo, deixando passar alguns
degradação é cada vez mais urgente. Com este
anos para avaliar a taxa de regeneração natural,
propósito, várias iniciativas e acordos de restauração
antes de decidir a melhor abordagem; Holl et al.
em larga escala têm sido lançados o nível global,
2018). Responder às condições do local desta forma
para promover um amplo espectro de ações de
garantirá níveis ideais de similaridade entre o resul-
manejo de ecossistemas e soluções baseadas na
tado da restauração e as condições definidas pelo
natureza (Quadro Explicativo 10). Dentro de muitas
modelo de referência.
dessas iniciativas e acordos a restauração é definida
PARTE 3. de forma mais ampla (por exemplo, a Restauração
O PAPEL DA RESTAURAÇÃO de Paisagens e Florestas10 (FLR), e inclui todas as
ECOLÓGICA NAS INICIATIVAS atividades ao longo do continuum restaurativo
GLOBAIS DE RESTAURAÇÃO (Princípio 8). Essas iniciativas são focadas,
sobretudo, na melhoria da saúde ecológica e da
Nos últimos 30 anos, a restauração ecológica
cresceu da implantação em pequena escala para 10
N.T.: A tradução mais adequada para Forest Landscape Restoration (FLR)
é Restauração de Paisagens e Florestas, justamente para incluir ecossistemas
não-florestais.
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79 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 10
INICIATIVAS GLOBAIS DE RESTAURAÇÃO

• Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)


para 2030 apelam à restauração de ecossistemas marinhos e costeiros (Objetivo 14), bem
como florestas e outros ecossistemas que tenham sido degradados (Objetivo 15). Em 1o de
Março de 2019, em apoio a uma ampla gama de ODS e a muitas das iniciativas citadas a
seguir, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período de 2021 até 2030 como a
Década da Restauração de Ecossistemas. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambi-
ente (PNUMA), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o
Fórum Global de Paisagens (GLF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN), entre outras iniciativas, devem liderar os programas de implantação e o intercâmbio
de conhecimento previstos para a referida Década da Restauração de Ecossistemas.
• A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) estabelece a meta de restaurar 15% dos
ecossistemas degradados até 2020 para mitigar os impactos das mudanças climáticas e
combater a desertificação (Meta 15 de Biodiversidade de Aichi), e considera a restauração
ecológica como chave para prover serviços ecossistêmicos essenciais (Meta 14 de Biodiversi-
dade de Aichi). A CDB adotou um Plano de Ação de Curto Prazo para a Restauração de
Ecossistemas (CBD 2016), e espera-se que a restauração desempenhe um papel ainda mais
relevante à medida que expirem as metas atuais de biodiversidade estabelecidas em Aichi, e
novas metas sejam propostas no processo de revisão no âmbito do Marco Estratégico da
Biodiversidade Pós-2020. A CDB (2018) também incentiva as partes a intensificar seus
esforços “(...) para identificar regiões, ecossistemas e componentes da biodiversidade que são
ou se tornarão vulneráveis às mudanças climáticas (...)”, a fim de promover a restauração de
ecossistemas e o manejo sustentável pós-restauração”
• A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CNUCD) promove a
restauração e reabilitação de terras como parte do quadro estratégico 2018-2030 da CNUCD,
e especificamente para atingir a Neutralidade da Degradação de Terras (LDN; Orr et al. 2017),
na qual “a quantidade e qualidade de recursos tererstres necessários para sustentar as
funções e serviços do ecossistema e aumentar a segurança alimentar permanecem estáveis ou
aumentam dentro das escalas temporais e espaciais e dos ecossistemas definidos” (UNCCD
2017). As zonas áridas (drylands) atuais e futuras sob mudanças climáticas serão altamente
vulneráveis, exigindo uma colaboração mais forte entre as três Convenções do Rio (CDB,
CNUCD, Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima [N.T.: CQNUMC
no Brasil; CQNUAC, na versão lusófona]) sobre como evitar, reduzir e reverter a degradação
de terras com o apoio de práticas de manejo sustentável da terra, considerando os mandatos
específicos de cada Convenção (Akhtar-Schuster et al. 2017; Chasek et al. 2019).
• A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES 2018)
promove a “restauração de terras”, incluindo atividades como recuperação da produtividade
agrícola, adoção de melhores práticas agrícolas e outras atividades de uso sustentável. O

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80 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Relatório de Avaliação Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do IPBES para
2019 (https://www.ipbes.net/global-assessment-biodiversity-ecosystem-services) relata que
cerca de um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção, muitas em
questão de décadas, algo sem precedentes na história humana. A perda de biodiversidade
não é apenas uma questão ambiental, mas também de desenvolvimento econômico, de
segurança social e moral. Ações de restauração e de mitigação das mudanças climáticas
baseadas no uso da terra são consideradas elementos-chave da mudança transformadora
necessária para evitar extinções de massa e a subsequente perda de serviços ecossistêmicos.
• A maior e mais diversificada iniciativa de restauração em larga escala é o Desafio de Bonn,
lançado pelo Governo da Alemanha e pela União Internacional para a Conservação da
Natureza (UICN), e posteriormente endossado e estendido pela Declaração de Nova Iorque
sobre Florestas (Meta 5). Este esforço global visa a trazer 150 milhões de hectares de terras
desmatadas e degradadas para o processo de restauração até 2020 e 350 milhões de hectares
até 2030. O Desafio de Bonn galvanizou compromissos nacionais e subnacionais de alto nível
de 58 governos e gestores de terras, totalizando mais de 170 milhões de hectares, para
identificar oportunidades e implantar atividades restaurativas usando a abordagem da Restau-
ração de Florestas e Paisagens (FLR).
• Em apoio ao Desafio de Bonn, uma série de iniciativas regionais têm vindo a reunir países
para compartilhar compromissos, conhecimento, ferramentas e capacidades relativos a FLR.
Na América Latina, isso inclui a Iniciativa 20x20, que tem como meta trazer 20 milhões de
hectares de terras degradadas para o processo de restauração até 2020. De modo semel-
hante, a Iniciativa Africana de Restauração de Florestas e Paisagens (AFR100) é um esforço
liderado pelos países para trazer 100 milhões de hectares de terras degradadas para o pro-
cesso de restauração até 2030. Ambas 20x20 e AFR100 superaram suas metas de hectares
compromissados. Os 17 países que apoiam o Desafio de Bonn por meio da 20x20 se compro-
meteram com 50 milhões de hectares e os 28 países que apoiam a AFR100 se compromet-
eram com 113 milhões de hectares até o presente. Adicionalmente a estas iniciativas, existem
plataformas regionais emergindo no Cáucaso e na Ásia Central, Europa e Sudeste Asiático,
bem como diversos outros compromissos de larga escala com FLR por todo o mundo nas
esferas nacionais e subnacionais.
• Atividades restaurativas adicionais são propostas ou promovidas como parte de projetos de
REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal) nos níveis nacionais
e subnacionais, como parte das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) para a
CQNUMC, pelo Fórum Global de Paisagens e através de milhares de projetos em escalas local,
regional e nacional ao redor do mundo.

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81 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
produtividade das paisagens como suporte ao
Paisagens Multifuncionais Sustentáveis, que são
bem-estar atual e futuro das pessoas, na proteção
“paisagens” criadas e manejadas para integrar a
da biodiversidade, redução de risco de desastres e
produção humana e o uso da paisagem na estrutura
mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Para
ecológica de uma paisagem, mantendo as funções
algumas iniciativas, a restauração é vista como um
críticas do ecossistema, os fluxos de serviços e a
método para melhorar o acesso aos recursos
retenção da biodiversidade (O’Farrell & Anderson
naturais e à sua sustentabilidade. Outros
2010).
reconhecem o potencial da restauração para
catalisar as economias rurais, gerar empregos e
A condução de atividades de restauração de pais-
rendimento, e melhorar a segurança alimentar e
agens requer um entendimento profundo da com-
hídrica, entre outros objetivos. Esses resultados não
posição, estrutura e função da paisagem, e a
são necessariamente mutuamente exclusivos. De
ligação entre integridade ecológica e atendimento
fato, quando o acesso justo aos recursos naturais e
às necessidades humanas (Wu 2013). Esses atrib-
o seu uso sustentável são resultado de programas
utos da paisagem variam desde aqueles que são
de restauração em larga escala, vários outros
considerados para a restauração ecológica no nível
objetivos globais são também alcançados.
local (composição, estrutura e função no nível do
ecossistema ou da comunidade, como também nos
ABORDAGENS DE RESTAURAÇÃO DE níveis mais baixos da hierarquia biológica (espécies,
PAISAGENS genes) (Princípio 7). A restauração da paisagem
envolve ações em níveis hierárquicos acima da
Muitas iniciativas de restauração em grande escala escala do ecossistema, e uma consideração explícita
incluem oportunidades de empregar as abordagens dos tipos e proporções dos ecossistemas dentro da
da restauração da paisagem. A restauração da paisagem, a organização espacial das unidades, e a
paisagem envolve práticas baseadas nos princípios ligação entre composição, estrutura e funciona-
tanto da Ecologia da Paisagem como na Ciência da mento da mesma. A restauração das funções, fluxos
Sustentabilidade Paisagística (CSP, Frazier et al. de energia, nutrientes e outros auxílios através da
2019), em que uma “paisagem” é vista como um paisagem pode ser tão importante quanto a restau-
sistema socioecológico. A CSP é focada em mel- ração da composição e estrutura em alguns casos,
horar a relação dinâmica entre os serviços ecoss- especialmente para o fornecimento de serviços
istêmicos e o bem-estar humano, na mudança das ecossistêmicos específicos. Por exemplo, a restau-
condições sociais, econômicas e ambientais. ração de processos hidrológicos e do movimento da
água entre ecossistemas é fundamental para a
Consistente com a definição de sustentabilidade da regulação da vazão de cursos d’água, que é um dos
paisagem (Wu 2013), a restauração da paisagem serviços ecossistêmicos que frequentemente des-
pode ser definida como um processo planejado que pertam atenção na restauração. O planejamento e a
visa a recuperar a integridade ecológica ao nível de execução de projetos de restauração na escala da
paisagens inteiras, e a capacidade de uma paisagem paisagem requerem uma avaliação da degradação
de fornecer serviços ecossistêmicos específicos no ecológica e necessidade de restauração também na
longo prazo, essenciais para melhorar o bem-estar mesma escala, incluindo biodiversidade e serviços
humano. Do mesmo modo, a restauração da pais- ecossistêmicos e as compensações entre eles. As
agem envolve alvos e metas tanto ecológicas como atividades de restauração de paisagem devem ser
sociais (Princípio 1). Abordagens adicionais para a concentradas em locais estratégicos, com benefícios
restauração em larga escala incluem o conceito de ecológicos e sociais equilibrados (Doyle & Drew

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82 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
2012), e fornecidos por toda a bacia hidrográfica e biodiversidade podem também ajudar a entender a
além dela (IUCN e WRI 2014; Liu et al, 2017). efetividade econômica e os custos totais de ações
específicas de restauração em áreas particulares.
Os governos estão frequentemente envolvidos em Ferramentas adicionais de suporte à decisão são, no
programas de restauração de paisagem com entanto, extremamente necessárias para avaliar o
alianças de administrações locais e grupos de partes fornecimento de serviços ecossistêmicos selecio-
interessadas. As plataformas de envolvimento das nados, e o balanço entre ganhos ecológicos e
partes interessadas são desenvolvidas por várias sociais, e ainda os resultados socioeconômicos, tais
razões importantes, incluindo o desenvolvimento de como meios de subsistência e segurança alimentar
um senso de responsabilidade pela paisagem, e para (Beatty et al. 2018b).
enfatizar como os diferentes atores envolvidos veem
o potencial de restauração e seus custos e Uma maneira importante de avançar na ciência,
benefícios. No entanto, a menos que os processos prática e nas políticas de restauração de paisagens é
liderados pelos atores envolvidos sejam consistentes por meio do desenvolvimento e promoção de
com os conceitos da ciência da sustentabilidade da cooperação bilateral e multilateral entre os países e
paisagem, o balanço chave entre os serviços dese- dentro deles. Uma análise bibliométrica mostrou um
jados pelos atores envolvidos, a biodiversidade e a aumento significativo de publicações sobre restau-
integridade ecológica podem não ser considerados, ração ecológica em países em desenvolvimento (por
e as paisagens podem ser degradadas ainda mais. O exemplo, China e Brasil entre 1988 e 2017; Guan et
manejo de compensações para maximizar a sustent- al, 2019). O compartilhamento de experiências e
abilidade da paisagem é crítico; do mesmo modo conhecimento, o cofinanciamento e o codesenvolvi-
que a efetividade em longo prazo de programas mento de novos conhecimentos para políticas e
nacionais de restauração requer considerações práticas mais efetivas devem ser encorajados entre
acerca das necessidades das próximas gerações, e regiões (Liu et al. 2019), e a cooperação sul-sul é
opções para melhoraria da sustentabilidade futura igualmente importante para a partilha de infor-
sob condições de mudanças climáticas. mações, tanto em países em desenvolvimento como
os recentemente industrializados (Liu et al 2017).
As ferramentas de apoio à tomada de decisão
podem ajudar a definir e mapear a degradação, A Restauração de Paisagens e Florestas (FLR), a
estabelecer objetivos da restauração, e a discernir principal abordagem por trás do Desafio de Bonn e
balanços e sinergias entre ações ou abordagens de outras iniciativas globais de restauração, tem
restauração potenciais, identificando oportunidades aumentado a conscientização sobre a necessidade
de restauração (IUCAN e WRI 2014; Hanson et al. tanto da restauração como de outras atividades
2015; Chazdon & Guariguata 2018; Evand & associadas, na escala da paisagem. Contudo, as
Guariguata 2019). Além do mais, a integração das atividades implantadas sob a abordagem de Restau-
informações sobre biodiversidade; a modelagem de ração de Paisagens e Florestas não são necessaria-
distribuição de espécies, e de adequação ao habitat mente equivalentes à restauração ecológica - uma
na escala da paisagem podem ajudar a identificar situação que tem contribuído para uma confusão
áreas onde a restauração ecológica possa reduzir sobre o conceito de restauração. Embora a Restau-
ameaças a espécies, ou restaurar ativamente suas ração de Paisagens e Florestas (FLR) seja definida
populações ou habitat (Beatty et al. 2018a). Aná- como “um processo que visa a recuperar o funcio-
lises econômicas e de cenários baseados na oferta namento ecológico e a melhora do bem-estar humano
de serviços ecossistêmicos e nos benefícios da em paisagens desflorestadas ou degradadas”

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83 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
(Besseau et al 2018), a restauração ecológica é Tanto a FLR como o Desafio de Bonn recebem um
apenas uma de muitas atividades possíveis dentro amplo apoio político, que são mecanismos de
desta abordagem. Na verdade, os programas de FLR implantação importantes para o atingimento dos
compreendem uma série de atividades que se objetivos das Convenções do Rio (CBD, UNCCD,
alinham no “Continuum Restaurativo” descrito no UNFCCC), bem como dos Objetivos de Desenvolvi-
Princípio 8 (isto é, redução de impactos, remediação, mento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e de
reabilitação e restauração ecológica), incluindo a muitas iniciativas nacionais, continentais e regionais.
conservação de áreas protegidas existentes e o A FLR permitiu que os países e outros atores visual-
aumento de sustentabilidade em áreas primariamente izassem a reparação do ecossistema e da paisagem
de produção econômica. É importante salientar que através das diferentes lentes sociais, econômicas e
a FLR não dá necessariamente mais valor a um tipo ecológicas que esta abordagem fornece. A FLR tem
de atividade do que a outro, dentro do continuum. dado importantes contribuições para as Metas de
A restauração ecológica, por exemplo, não é vista Aichi (Beatty et al. 2018c). Além disso, o envolvi-
como uma opção inerentemente melhor do que a mento de formuladores de políticas públicas de alto
agricultura ecológica ou a agrossilvicultura. Contudo, nível nos eventos ministeriais do Desafio de Bonn
muitos restauradores de FLR veem a restauração resultaram em apoio à declaração da Década da
ecológica como uma componente-chave de todo Restauração de Ecossistemas das Nações Unidas
projeto que usa esta abordagem, e reconhecem que (2021-2030). A preocupação de que a FLR seja
áreas primariamente devotadas à produção econômica, restaurativa, e que não crie incentivos perversos e
especialmente paisagens agrícolas degradadas, têm danos colaterais, levaram ao desenvolvimento dos
uma enorme necessidade social, econômica e ecológica Princípios da FLR, que preconizam a restauração de
por intervenção. A aplicação de uma abordagem múltiplas funções conjuntamente e a manutenção e
integrada e holística para conservar e reparar ecoss- a melhoria dos ecossistemas nativos (Quadro Expli-
istemas tem maior probabilidade de alcançar melho- cativo 11).
rias diretas no bem-estar humano, de forma eficaz e
equitativa, numa abordagem similar à do programa CONCLUSÃO
de Neutralidade de Degradação de Paisagens da
UNCCD (Convenção das Nações Unidas para o O mundo está entrando numa era da restauração
Combate à Desertificação). A seleção de atividades ecológica, com governos em todo o mundo assum-
dentro da FLR é, no entanto, baseada em muitos indo compromissos impressionantes de restaurar
fatores, incluindo como a ação mitiga a degradação áreas e paisagens degradadas por meio de uma
e como pode apoiar e os objetivos definidos pelos ampla gama de atividades restaurativas, incluindo a
atores envolvidos (por exemplo, resiliência climática, restauração ecológica, tanto na escala do ecoss-
segurança alimentar e hídrica, conservação da istema como da paisagem. A restauração ecológica
biodiversidade). A FLR tem sido interpretada de é cada vez mais reconhecida como uma ferramenta
diferentes maneiras (Mansourian 2018), levando a crítica para a mitigação e adaptação aos efeitos dos
diferentes construções (por exemplo, salvaguarda desastres ambientais e aos impactos das mudanças
da biodiversidade, redução da degradação do solo, climáticas. Ela apoia um processo de melhoria do
suporte à produção sustentável de madeira). e A bem-estar humano no nível individual, comunitário
transparência e uma comunicação clara, juntamente e nacional. Quando implantada de forma efetiva, a
com flexibilidade para implantar uma diversidade de restauração ecológica pode proporcionar profundos
ações restaurativas em uma paisagem são, portanto, benefícios no fornecimento de serviços ecoss-
a chave para uma implantação bem-sucedida. istêmicos, variando das necessidades mais básicas,

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84 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro Explicativo 11
PRINCÍPIOS DE FLR

Os membros da Parceria Global para a Restauração de Florestas e Paisagens (GPFLR, no original


em Inglês) têm rearticulado e fortalecido um conjunto otimizado de princípios de FLR de longa
data, listados abaixo (Besseau et al. 2018).

• Foco em paisagens – as atividades da FLR ocorrem dentro e através de paisagens inteiras, e


não em locais individuais, representando mosaicos de usos da terra que interagem entre si e
práticas de manejo sob variados sistemas de posse e governança. É nessa escala que as priori-
dades ecológicas, sociais e econômicas podem ser harmonizadas.
• Envolver as partes interessadas e apoiar a governança participativa – a FLR envolve ativamente
as partes interessadas em diferentes escalas, incluindo grupos vulneráveis, no planejamento e
na tomada de decisão sobre o uso da terra, metas e estratégias de restauração, métodos de
implantação, partilha de benefícios, processos de monitoramento e revisão.
• Restaurar múltiplas funções para múltiplos benefícios - as intervenções de FLR têm como obje-
tivo restaurar múltiplas funções ecológicas, sociais e econômicas ao longo de uma paisagem e
gerar uma variedade de bens e serviços ecossistêmicos que beneficiem múltiplos grupos de
atores.
.• Manter e melhorar os ecossistemas naturais inseridos nas paisagens – a FLR não leva à con-
versão ou destruição de florestas naturais nem de outros ecossistemas. Ela melhora a conser-
vação, recuperação e manejo sustentável de florestas e outros ecossistemas.
• Adaptar-se ao contexto local usando uma variedade de abordagens – a FLR usa uma varie-
dade de abordagens adaptadas à história da paisagem e aos valores e necessidades sociais,
culturais, econômicos e ecológicos locais. Baseia-se na ciência e nas melhores práticas atuais,
bem como no conhecimento tradicional e indígena, e aplica essas informações no contexto
das capacidades locais e das estruturas de governança novas ou existentes.
• Realizar o manejo adaptativo visando à resiliência de longo prazo – a FLR visa a incrementar a
resiliência da paisagem e das partes interessadas a médio e longo prazo. As abordagens de
restauração devem aumentar a diversidade genética e de espécies e ser ajustadas ao longo do
tempo para refletir mudanças no clima e outras condições ambientais, bem como nos conhec-
imentos, capacidades, necessidades das partes interessadas e valores sociais. Conforme a
restauração evolui, as informações das atividades de monitoramento, pesquisa e orientação
das partes interessadas devem ser integradas aos planos de manejo.

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85 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
como a melhoria da segurança hídrica e alimentar,
até a redução do espalhamento de doenças e a
melhoria da saúde física, emocional e mental indi-
vidual. A restauração ecológica deve também ser
integrada com a conservação e a produção suste-
ntável. A restauração pode ajudar-nos a nos mover,
globalmente, de séculos de danos ambientais
cumulativos, até à neutralidade da degradação de
solos (Quadro Explicativo 10), eventualmente alca-
nçando um saldo ecológico positivo. Portanto, a
restauração ecológica promete um crescimento
positivo na extensão e no funcionamento de ecoss-
istemas nativos, junto com produção de benefícios
críticos para o bem-estar humano. Para se alcançar
tais objetivos, é necessário o apoio dos atores
envolvidos em todos os lugares, e um compromisso
global e investimentos em todos os tipos de ativi-
dades restaurativas. Esse investimento deve ser
baseado em uma fundamentação científica forte,
defensável e compreensível, conforme foi descrito
nestes princípios e padrões de restauração.

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86 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
5 SE Ç ÃO 5 - G L O S S Á R IO

Este glossário foi adaptado e expandido a partir de Área de referência [Reference site]: uma área
McDonald et al. (2016a, b). intacta remanescente que possui atributos e uma
fase sucessional semelhante à área do projeto de
Abiótico [Abiotic]: condições e materiais não-vivos restauração e que é usada como base para o
em um determinado ecossistema, incluindo o modelo de referência. Idealmente, o modelo de
substrato rochoso ou aquoso, a atmosfera, as referência deveria incluir informações de várias
condições meteorológicas e climáticas, relevo e áreas de referência.
aspecto topográficos, o regime de nutrientes,
regime hidrológico, regime de fogo e regime de Área ou zona de procedência local [local prove-
salinidade. nance area or zone]: uma área de coleta de
propágulos dentro da qual a disseminação de
Abordagem (à restauração) [Approach (to propágulos provavelmente conservará características
restoration)]: a categoria genérica do método de genéticas adaptadas às condições locais.
restauração (por exemplo, regeneração natural ou
assistida, reconstrução). Atividade: veja Restauração, atividades de; restau-
rativas, atividades.
Abordagem de reconstrução [Reconstruction
approach]: uma abordagem de restauração na qual Atividades aliadas [Allied activities]: práticas
a chegada da biota apropriada é inteiramente ou restaurativas (incluindo melhoria ambiental, reme-
quase inteiramente dependente da ação humana, diação e reabilitação) que reduzem as causas e os
uma vez que ela não pode se regenerar ou recolo- efeitos da degradação em andamento, e incrementam
nizar um ambiente dentro de uma escala viável de o potencial de recuperação do ecossistema.
tempo, mesmo após intervenções de regeneração
assistida por especialistas. Atividades de restauração [Restoration activi-
ties]: qualquer ação, intervenção ou tratamento
Abordagem de regeneração natural (ou destinado a promover a recuperação de um ecoss-
espontânea) [Natural (or spontaneous) regener- istema ou componente de um ecossistema, como
ation approach]: restauração ecológica que correções de solo ou substrato, controle de
depende apenas do incremento de indivíduos após espécies invasoras, condicionamento de habitat,
a remoção das causas de degradação, que difere de reintroduções de espécies e reforços populacionais.
uma abordagem de regeneração assistida7.
Atividades restaurativas [Restorative activities]:
Ameaça [Threat]: um fator potencialmente ou atividades (incluindo restauração ecológica) que
efetivamente gerador de degradação, dano ou reduzem a degradação ou melhoram as condições
destruição.. para a recuperação parcial ou plena dos ecossistemas.
São algumas vezes descritas como uma “família” de
7
N.T.: esse termo tem como sinônimo em Português o termo “restauração atividades restaurativas inter-relacionadas.
passiva”

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87 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Atributos [Attributes]: veja atributos-chave do processos como crescimento, reprodução, proporções
ecossistema entre produtores, herbívoros e predadores e diferen-
ciação de nicho, em relação às características do
Atributos do ecossistema [Ecosystem attributes]: ecossistema de referência. Este conceito normalmente
veja atributos-chave do ecossistema não se aplica à restauração de ecossistemas culturais
tradicionais.
Atributos-chave do ecossistema [Key ecosystem
attributes]: categorias amplas desenvolvidas no Barreiras (à recuperação) [Barriers (to recovery)]:
âmbito dos padrões de restauração para auxiliar os fatores que impedem a recuperação de um atributo
profissionais na avaliação do grau em que as pro- do ecossistema.
priedades e funções bióticas e abióticas de um
ecossistema estão se recuperando. Neste docu- Bem-estar [Wellbeing]: um estado do ser humano,
mento, são identificadas seis categorias: ausência dependente do contexto e da situação, que contempla
de ameaças, condições físicas, composição de o material básico para uma boa vida, liberdade e
espécies, diversidade estrutural, função ecoss- escolha, saúde, boas relações sociais e segurança.
istêmica e trocas externas. Da obtenção destes
atributos emergem a complexidade, auto-organi- Biodiversidade [Biodiversity]: a variabilidade entre
zação, resiliência e sustentabilidade. organismos vivos de todas as origens, incluindo,
entre outros, ecossistemas terrestres, marinhos e
Aumento (de populações esgotadas) [Augment, outros ecossistemas aquáticos, e os complexos
Augmentation (of depleted populations)]: ecológicos dos quais fazem parte; isso inclui a
(também conhecido como repovoamento, aprimora- diversidade dentro da mesma espécie, entre as
mento, enriquecimento ou reabastecimento) (N.T.: espécies e dos ecossistemas.
em Português, também pode ser encontrado como
adensamento) adição de sementes ou indivíduos de Capital natural [Natural capital]: estoques de
uma população à mesma população, com o objetivo recursos naturais, que podem ser renováveis (ecoss-
de ampliar o tamanho da população ou a diversi- istemas, organismos), não renováveis (petróleo,
dade genética e, assim, melhorar a sua viabilidade; carvão, minerais etc.), de renovação limitada (a
recriar uma população que foi recentemente extirpada atmosfera, água potável, solos férteis) e cultivados
com a propagação de indivíduos dessa população. Na (variedades tradicionais, cultivos tradicionais e o
prática, as populações são frequentemente aumen- conhecimento associado a eles), e de onde fluem os
tadas com material proveniente de outras populações serviços ecossistêmicos.
próximas, não se limitando à mesma população.
Ciclagem (ecológica) [Cycling (ecological)]: - a
Autofecundação [Selfing]: autofertilização; transferência (entre partes de um ecossistema) de
autopolinização. recursos como água, carbono, nitrogênio e outros
elementos que são fundamentais para todas as
Auto-organização [Self-organizing]: um estado outras funções do ecossistema.
no qual todos os elementos necessários estão
presentes e os atributos do ecossistema podem Condição da linha de base [Baseline condition]:
continuar a se desenvolver em direção ao estado de a condição da área a ser restaurada, imediatamente
referência apropriado sem assistência externa. A antes do início das atividades de restauração
auto-organização é evidenciada por padrões e ecológica.

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88 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Conhecimento Ecológico Local (CEL) [Local biodiversidade e na simplificação ou ruptura de sua
Ecological Knowledge (LEK)]: conhecimento, composição, estrutura e funcionamento, e geral-
práticas e crenças a respeito de relações ecológicas mente leva a uma redução no fluxo de serviços
que são obtidos por meio de extensa observação ecossistêmicos.
pessoal e interação com os ecossistemas locais, e
compartilhados entre os usuários dos recursos Depressão por endogamia [Inbreeding depres-
locais. sion]: a redução da aptidão biológica em uma
determinada população como resultado da endog-
Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) amia ou reprodução de indivíduos aparentados.
[Traditional Ecological Knowledge (TEK)]: con-
hecimento e práticas aprendidas a partir da Depressão exogâmica [Outbreeding depression]:
experiência e observação, e passadas de geração em quando a progênie de cruzamentos entre indivíduos
geração amparadas por fortes memórias culturais, de diferentes populações possui menor aptidão do
sensibilidade à mudança e valores que incluem que a progênie de cruzamentos entre indivíduos da
reciprocidade. mesma população.

Continuum restaurativo [Restorative con- Descoberta científica [Scientific discovery]:


tinuum] - um espectro de atividades que direta ou conhecimento obtido a partir de uma abordagem
indiretamente apoiam ou atingem alguma recuper- estruturada e lógica, baseada em observação
ação de atributos do ecossistema que foram per- sistemática, mensuração e formulação, teste e
didos ou debilitados. O continuum restaurativo modificação de ideias (hipóteses).
inclui quatro categorias principais de atividades
restaurativas, sendo que cada uma inclui outras seis Destruição (de um ecossistema) [Destruction (of
categorias de atividades, conforme explicado no an ecosystem)]: quando a degradação ou dano
Princípio 8. remove toda a vida macroscópica e normalmente
destrói o ambiente físico de um ecossistema.
Cooperação Sul-Sul11 [South-South Coopera-
tion]: uma ampla estrutura institucional de colabo- Ecologia da restauração [Restoration ecology]:
ração entre os países do Hemisfério Sul nas esferas o ramo da ciência ecológica que fornece conceitos,
política, econômica, social, cultural, ambiental e modelos, metodologias e ferramentas à prática da
técnica. Envolve dois ou mais países em desenvolvi- restauração ecológica. Adicionalmente ao método
mento, e pode ser bilateral, regional, sub-regional científico, contribui com a Ecologia da Restauração o
ou inter-regional. conhecimento gerado pela observação direta e pela
participação colaborativa na realização das práticas
Dano (ao ecossistema) [Damage (to ecosystem)]: restaurativas.
um impacto deletério evidente e agudo em um
ecossistema. Ecossistema [Ecosystem]: conjunto de compo-
nentes bióticos e abióticos em ambientes aquáticos
Degradação (de um ecossistema) [Degradation ou terrestres em que os componentes interagem
(of an ecosystem): um nível de impacto humano formando redes alimentares complexas, ciclos de
deletério aos ecossistemas que resulta na perda da nutrientes e fluxos de energia. O termo ecossistema
é usado nos Padrões para descrever um conjunto
11
N.T.: Em geopolítica, o Norte faz alusão aos países desenvolvidos e o Sul ecológico de qualquer tamanho ou escala.
aos países em desenvolvimento.

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89 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Ecossistema de referência [Reference ecosystem]: que resultam em ecossistemas degradados com
uma representação de um ecossistema nativo valores de biodiversidade mais baixos. Os exemplos
tratado como alvo na restauração ecológica (difer- incluem campos aráveis, pastagens agrícolas com
ente de uma área de referência). Um ecossistema poucas espécies, áreas de mineração e paisagens
de referência geralmente representa uma versão urbanas com áreas verdes. Eles não são apropriados
não degradada do ecossistema completo com sua como referência para restauração ecológica, mas
flora, fauna e demais elementos bióticos e abióticos, podem ser o ponto de partida para a reabilitação ou
funções, processos e estágios sucessionais que restauração ecológica. Neste sentido, ecossistema
poderiam existir na área objeto de restauração caso seminatural se aproxima muito do significado de
a degradação não tivesse ocorrido, e ajustado para ecossistema cultural tradicional de alta qualidade
acomodar as condições ambientais previstas ou como descrito nos Padrões.
modificadas.
Ecossistemas culturais tradicionais [Traditional
Ecossistema nativo [Native ecosystem]: um cultural ecosystems]: ecossistemas que se desen-
ecossistema composto por organismos que volveram sob a influência conjunta de processos
evoluíram localmente ou que recentemente migr- naturais e da organização imposta pelo homem
aram de localidades vizinhas devido a mudanças nas para obter a composição, estrutura e funciona-
condições ambientais, incluindo mudanças mento mais úteis para a exploração antrópica. Os
climáticas. Em certas circunstâncias, ecossistemas casos considerados exemplos de alta qualidade de
culturais tradicionais ou ecossistemas seminatu- ecossistemas nativos podem funcionar como mod-
rais são considerados ecossistemas nativos. A elos de referência para restauração ecológica,
presença de espécies não nativas ou a expansão de enquanto outros convertidos essencialmente em
espécies ruderais em ecossistemas nativos são espécies não nativas ou que se encontram degra-
formas de degradação. dados por outro motivo não funcionam como
modelos de referência para restauração ecológica.
Ecossistema seminatural [Semi-natural eco- Veja também Ecossistema seminatural.
system]: no contexto legal da União Europeia (UE),
são conjuntos ecológicos de biodiversidade criados Envelope climático [Climate envelope]: a faixa
por atividades humanas (por exemplo, prados climática na qual as populações de uma espécie
alpinos roçados ou utilizados para pastagem). Eles estão distribuídas. Com as mudanças climáticas, as
evoluíram sob atividades agrícolas, pastorais ou localizações geográficas destes envelopes provavel-
outras atividades humanas tradicionais que podem mente se deslocarão.
ter séculos de idade e dependem do manejo tradi-
cional para manter sua composição, estrutura e Espécie [Species]: usado aqui como um termo
função características. Estes ecossistemas são genérico para representar uma espécie ou um táxon
altamente valorizados por sua biodiversidade e infraespecífico, mesmo no caso de não ser formal-
serviços ecossistêmicos, podendo ser referência para mente descrita pela ciência.
restauração ecológica. Os exemplos incluem prados
alpinos e de planície, turfeiras, campos calcários, Espécies desejáveis [Desirable species]: espécies
florestas de rebrota, pastagens arborizadas e pasta- do ecossistema de referência (ou, em alguns casos,
gens em áreas alagadas. Eles diferem de “ecoss- plantas facilitadoras não nativas) que permitirão que
istemas culturais”, conforme definidos pela UE, o ecossistema nativo se recupere. O corolário das
criados para fornecer serviços ecossistêmicos, mas espécies desejáveis são as espécies indesejáveis que,

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90 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
geralmente, com exceções, são espécies não nativas. do ecossistema como produção primária, decom-
posição, ciclagem de nutrientes e transpiração, e
Espécies nativas [Native species]: táxons consider- propriedades como competição e resiliência.
ados originários de uma determinada região ou que
lá chegaram sem que tenham sido recentemente Germoplasma [Germplasm]: os vários materiais
transportados (direta ou indiretamente) por humanos. regenerativos de plantas e animais (por exemplo,
Existe um debate entre os ecólogos sobre como embriões, sementes, materiais vegetativos) que
definir precisamente este conceito. fornecem uma fonte de material genético para
futuras populações.
Estrato [Stratum, strata]: camada ou camadas de
vegetação em um ecossistema; frequentemente se Indicadores (de recuperação) [Indicators (of
referindo a camadas verticais, como camadas recovery)]: características de um ecossistema que
arbóreas, arbustivas e herbáceas. podem ser usadas para mensurar o progresso rumo
às metas ou objetivos de restauração em um deter-
Florestamento [Afforestation]: o processo de minado local (por exemplo, medidas de presença /
introdução de vegetação florestal em uma área onde ausência e qualidade de componentes bióticos ou
não havia floresta no passado. abióticos do ecossistema).

Fluxo gênico [Gene flow]: troca de material Infraestrutura verde [Green infrastructure]: uma
genético entre organismos individuais que mantém a rede de recursos naturais ou seminaturais, como
diversidade genética da população de uma espécie. pântanos, solos saudáveis, ecossistemas florestais e
Na natureza, o fluxo gênico pode ser limitado por neve acumulada, que pode ajudar a incrementar os
falta de vetores de dispersão e por barreiras serviços ecossistêmicos.
topográficas, como montanhas e rios. Em paisagens
fragmentadas, pode ser limitado pela separação dos Integridade do ecossistema [Ecosystem integ-
habitats remanescentes. O fluxo gênico entre popu- rity]: a capacidade de um ecossistema de apoiar e
lações introduzidas e nativas pode ter impactos manter o seu funcionamento ecológico e biodiversi-
negativos, como depressão por exogamia. dade (ou seja, composição de espécies e estrutura
Estrato (s): capa o capas de vegetación en un eco- da comunidade) característicos. A integridade
sistema; a menudo se refiere a capas verticales como ecológica pode ser medida como a extensão até a
árboles, arbustos y herbáceas. qual uma comunidade de organismos nativos é
mantida.
Fluxos de paisagem [Landscape flows]: trocas
que ocorrem em um nível mais amplo que os ecoss- Inventário da linha de base [Baseline inven-
istemas ou localidades individuais (inclusive em tory]: uma avaliação dos elementos bióticos e
ambientes aquáticos) e que incluem fluxos de energia, abióticos presentes em um local antes da restauração
água, fogo e material genético. As trocas são facilitadas ecológica, incluindo seus atributos de composição,
por conexões entre habitats. estrutura e funcionamento. O inventário é realizado
no início da etapa de planejamento da restauração,
Funções (de um ecossistema) [Functions (of an juntamente com o desenvolvimento de um modelo de
ecosystem)]: processos de funcionamento de um referência, para orientar o planejamento, inclusive as
ecossistema decorrentes de interações e relações metas de restauração, objetivos mensuráveis e pre-
entre biota e elementos abióticos. Isso inclui processos scrições de tratamentos.

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91 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Limiar (ecológico) [Threshold (ecological)]: um com áreas onde as ameaças foram controladas.
ponto no qual uma pequena mudança nas condições
ambientais ou biofísicas desloca o ecossistema para Meta [Target]: os resultados ecológicos e sociais
um estado ecológico diferente. Uma vez que um ou específicos almejados ao final do projeto, incluindo
mais limiares ecológicos tenham sido ultrapassados, o ecossistema nativo a ser restaurado (N.T. Em
um ecossistema pode não retornar facilmente ao alguns contextos, o original target pode aparecer
seu estado ou trajetória anterior sem grandes traduzido como alvo).
intervenções humanas, ou pode não retornar de
forma alguma se o limiar for irreversível. Modelo de referência [Reference model]: um
modelo que indica a condição esperada, para a qual
Local [Site]: território ou localização discreta. Pode a área objeto de restauração teria evoluído, caso não
ocorrer em diferentes escalas, mas normalmente tivesse sido degradada (em relação à flora, fauna e
está na escala de fragmento ou propriedade (ou demais elementos bióticos e abióticos, funções,
seja, menor do que uma paisagem). processos e estágios sucessionais). Esta condição não
é a condição histórica, mas antes reflete a configu-
Manejo (de um ecossistema) [Management (of ração paisagística ao longo do tempo e as mudanças
an ecosystem)]: um termo amplo que pode incluir previstas nas condições ambientais.
manutenção e reparo de ecossistemas (incluindo
restauração). Monitoramento participativo [Participatory
monitoring]: um sistema que envolve as partes
Manejo adaptativo [Adaptive Management]: um interessadas de várias esferas no desenho do pro-
processo contínuo de melhoria das práticas e políticas jeto e na coleta e análise de dados referentes a uma
de manejo, por meio da aplicação do conhecimento determinada atividade de manejo que leva a uma
aprendido na avaliação das práticas e políticas previa- tomada de decisão colaborativa mais qualificada.
mente empregadas a projetos e programas futuros. É
a prática de revisitar as decisões de manejo e revê-las Níveis tróficos [Trophic levels]: estágios em teias
à luz de novas informações. alimentares (por exemplo, produtores, herbívoros,
predadores e decompositores).
Manejo de ecossistemas [Ecosystem manage-
ment]: uma abordagem de manejo baseada na Nucleação aplicada [Applied nucleation]: uma
integração do conhecimento científico das relações estratégia que utiliza o estabelecimento de
ecológicas numa estrutura sociopolítica e de valores pequenas manchas de vegetação (normalmente
complexa, com o objetivo geral de proteger a integri- árvores ou arbustos) ou populações de animais
dade do ecossistema nativo a longo prazo. (por exemplo, corais, ostras) para servir como
áreas focais para a recuperação do ecossistema
Manutenção do ecossistema [Ecosystem mainte- por meio de aumento na colonização.
nance]: atividades contínuas, aplicadas após a
recuperação total ou parcial, destinadas a neu- Padronização espacial [Spatial patterning]: a
tralizar processos de degradação ecológica para estrutura espacial dos componentes do ecoss-
sustentar os atributos de um ecossistema. Em áreas istema (no plano vertical ou horizontal) que surge
restauradas que convivem com altos níveis de devido a diferenças no substrato, topografia,
ameaças, é provável que seja necessário um nível hidrologia, vegetação, regimes de distúrbio ou
mais alto de manutenção contínua em comparação outros fatores.

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92 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Paisagens multifuncionais sustentáveis [Sustain- de financiamento. Um projeto também pode ser
able multifunctional landscapes]: paisagens um de muitos projetos em um programa de restau-
criadas e manejadas para integrar a produção ração de longo prazo.
humana e o uso da paisagem do ponto de vista
ecológico, mantendo as funções críticas do ecoss- Prontidão climática [Climate readiness]: refere-se
istema, fluxos de serviços e retenção da biodiversi- a uma circunstância na qual o material genético
dade. restaurado foi selecionado, com base na ciência do
clima e na genética, para aumentar a probabilidade
Partes interessadas [Stakeholders]: as pessoas e de uma espécie persistir no cenário previsto de
organizações que estão envolvidas ou são afetadas mudanças climáticas.
por uma ação ou política e que podem ser direta
ou indiretamente incluídas no processo de tomada Propágulo [Propagule]: qualquer material que
de decisão; no planejamento ambiental e de con- funcione para a propagação de um organismo. Os
servação, as partes interessadas geralmente propágulos são produzidos por plantas, animais,
incluem representantes de governos, empresas, fungos e micro-organismos.
cientistas, proprietários de terras e usuários locais
de recursos naturais. Reabilitação [Rehabilitation]: ações de manejo
que visam a restabelecer um nível de funciona-
Potencial de regeneração natural [Natural mento do ecossistema em áreas degradadas, nas
recovery potential]: capacidade dos atributos do quais a meta é prover serviços ecossistêmicos
ecossistema se restabelecerem em um local por renovados e contínuos, e não a biodiversidade e
meio da regeneração natural. O grau deste poten- integridade de um ecossistema nativo de referência
cial em um ecossistema degradado dependerá da designado.
extensão e duração do impacto e do quanto o
impacto se assemelha àqueles aos quais as espécies Reclamação12 [Reclamation]: o processo de ade-
do ecossistema se adaptaram ao longo dos respec- quar uma terra gravemente degradada (por
tivos períodos evolutivos. O potencial de regener- exemplo, locais de minas exauridas ou terras devas-
ação natural precisa estar presente para poderem tadas de outras formas) para o cultivo ou para um
ser aplicadas as abordagens de regeneração natural estado apropriado para algum tipo de uso humano.
ou regeneração assistida para a restauração Esse termo também é utilizado para descrever a
ecológica. formação de terras produtivas previamente sub-
mersas no mar.
Programa de restauração ecológica [Ecological
restoration program]: um conjunto amplo de Recrutamento [Recruitment]: produção de uma
vários projetos de restauração. geração subsequente de organismos. É mensurado
não apenas pelo número de novos organismos (por
Projeto de restauração ecológica [Ecological exemplo, não todos os filhotes ou mudas), mas
restoration project]: qualquer esforço organizado pelo número dos que se desenvolvem como
no sentido de alcançar a recuperação substancial indivíduos independentes na população.
de um ecossistema nativo, desde o estágio de
planejamento até a implantação e monitoramento.
Um projeto pode exigir múltiplos acordos ou ciclos 12
N.T.: Reclamação é a tradução para reclamation, usada em Inglês para
caracterizar o esforço de “recuperação de áreas severamente impactadas”.

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93 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Recuperação [Recovery]: o processo pelo qual um Regeneração [Regeneration]: veja Regeneração
ecossistema recupera sua composição, estrutura e natural, Regeneração assistida.
função em relação aos níveis identificados para o
ecossistema de referência. A recuperação é normal- Regeneração assistida [Assisted regeneration]:
mente assistida por atividades de restauração - e a uma abordagem de restauração que se concentra em
recuperação pode ser descrita como parcial ou plena. desencadear ativamente a capacidade de regeneração
natural da biota remanescente no local ou nas proxi-
Recuperação parcial [Partial recovery]: o estado midades, que difere de reintroduzir a biota ou de
em que houve algum grau de recuperação, mas nem simplesmente abandonar a área para regenerar.
todos os atributos do ecossistema se assemelham aos Embora esta abordagem seja tipicamente aplicada a
do modelo de referência. locais de degradação baixa a intermédia, mesmo
algumas áreas altamente degradadas provaram ser
Recuperação plena [Full recovery]: o estado no passíveis de regeneração assistida, quando conferidos
qual todos os atributos do ecossistema se assem- tratamento adequado e prazo suficiente. As inter-
elham aos do ecossistema de referência (modelo). É venções incluem o controle de pragas, reaplicar
precedida pela apresentação de auto-organização por regimes de perturbação ecológica e a instalação de
parte do ecossistema, que leva à plena resolução e recursos para estimular a colonização.
maturidade de seus atributos. No ponto de auto-or-
ganização, a fase de restauração pode ser consid- Regeneração natural [Natural regeneration]:
erada completa e a gestão avança para uma fase de germinação, nascimento ou outro tipo de recruta-
manutenção. mento de biota incluindo plantas, animais e micro-
biota, que não envolva intervenção humana, seja
Recuperação substancial [Substantial recovery]: decorrente de colonização, dispersão ou processos in
o nível de recuperação almejado se um projeto for situ.
denominado como projeto de restauração ecológica.
Este nível de recuperação não pode ser estreitamente Regime de distúrbio [Disturbance regime]: o
ligado a uma determinada métrica de recuperação padrão, frequência, momento de ocorrência de
(embora um nível intermediário de recuperação eventos de distúrbio que são característicos de um
pudesse ser um critério mínimo razoável) pois o valor ecossistema durante um período.
de um projeto de restauração pode ser influenciado
pela importância ecológica do ecossistema e pela Reintrodução [Reintroduction]: reposição de
escala do projeto. elementos da biota em uma área na qual ocorria
anteriormente.
Reforço populacional [Reinforcement]: a movi-
mentação e liberação intencional de um ou mais Remediação [Remediation]: uma atividade de
organismos em uma população já existente da mesma manejo, como a remoção ou desintoxicação de
espécie. Tal reforço visa a melhorar a viabilidade contaminantes ou excesso de nutrientes do solo ou
populacional, por exemplo, aumentando o tamanho da água, que visa remover fontes de degradação.
da população, aumentando a diversidade genética ou
aumentando a representação de estágios ou grupos Renaturalização [Rewilding]: a reintrodução
demográficos específicos. Essa definição é muito planejada de uma espécie vegetal ou animal, princi-
semelhante e às vezes entendida como sinônimo de palmente espécies-chave ou predadores de topo de
aumento. cadeia (como os felinos de grande porte), em um

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94 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
habitat do qual tenha desaparecido (devida à caça ou Restauração de Paisagens e Florestas (FLR)
destruição de habitat) em um esforço para aumentar [Forest Landscape Restoration (FLR)]: um pro-
a biodiversidade e restaurar a saúde de um ecossistema. cesso que visa a recuperar o funcionamento
ecológico e melhorar o bem-estar humano em
Resiliência [Resilience]: veja Resiliência do ecoss- paisagens desmatadas ou degradadas, e que pode
istema e Resiliência socioecológica. englobar uma ou mais atividades juntamente com a
restauração ecológica. A FLR não deve causar danos
Resiliência do ecossistema [Ecosystem resilience]: colaterais à biodiversidade (N.T. Neste documento
o grau, modo e ritmo de recuperação das proprie- mantivemos a sigla original, FLR, para designar este
dades do ecossistema após distúrbio natural ou termo).
humano. Em comunidades de plantas e animais,
esta propriedade é altamente dependente de adap- Restauração ecológica [Ecological restoration]:
tações de espécies individuais a distúrbios ou o processo de auxiliar a recuperação de um ecoss-
fatores de estresse sofridos durante a evolução das istema que foi degradado, danificado ou destruído.
espécies. Veja também resiliência socioecológica. (O termo ‘restauração de ecossistemas’ é usado às
vezes como sinônimo de ‘restauração ecológica’,
Resiliência socioecológica [Social-ecological mas a restauração ecológica refere-se sempre à
resilience]: a capacidade de um sistema socio- conservação da biodiversidade e da integridade
ecológico complexo de absorver distúrbios e se reor- ecológica, enquanto que algumas abordagens de
ganizar enquanto passa por mudanças de tal restauração de ecossistemas podem se concentrar
maneira que consiga reter funções, estruturas, exclusivamente na entrega de serviços ecoss-
identidade e retornos (feedbacks) semelhantes. É istêmicos)
uma medida de até que ponto até ao qual um
sistema socioecológico complexo pode se adaptar e Restaurador [Practitioner]: um indivíduo que
persistir em face de ameaças e estresses. aplica habilidades práticas e conhecimentos para
planejar, implantar e monitorar tarefas de restau-
Restauração [Restoration]: veja Restauração ração ecológica nas áreas de projetos.
ecológica.
Revegetação [Revegetation]: estabelecimento,
Restauração compulsória [Mandatory restoration]: por quaisquer meios, de plantas em áreas (incluindo
restauração que é requerida (obrigatória) pelo áreas terrestres, de água doce e marinhas) que
governo, tribunal ou autoridade legal, que pode podem ou não envolver espécies locais ou nativas.
incluir alguns tipos de compensações da biodiversi-
dade. Em algumas regiões do mundo, a restauração Sequestro de carbono [Carbon sequestration]: a
compulsória está incluída em programas de miti- captura e armazenamento de longo prazo do dióxido
gação compensatória. de carbono atmosférico (geralmente por acúmulo de
biomassa via fotossíntese, crescimento da vegetação
Restauração da paisagem [Landscape restoration]: e acúmulo de matéria orgânica ao solo). Isso pode
um processo planejado que busca recuperar a ocorrer naturalmente ou resultar de ações para
integridade ecológica no nível da paisagem e a mitigar os impactos das mudanças climáticas.
capacidade de uma paisagem prover serviços ecoss-
istêmicos específicos da paisagem, de longo prazo e Serviços ecossistêmicos [Ecosystem services]: as
essenciais para a melhoria do bem-estar humano. contribuições diretas e indiretas dos ecossistemas para

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95 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
o bem-estar humano. Eles incluem a produção de solo, Substrato [Substrate]: solo, areia, rocha, concha,
água e ar limpos, a regulação do clima e das doenças, a detritos ou outro meio no qual os organismos crescem
ciclagem de nutrientes e a polinização, a provisão de e os ecossistemas se desenvolvem.
uma gama de bens úteis aos humanos e potencial para
satisfazer valores estéticos e recreativos, entre outros Sucessão (ecológica) [Succession (ecological)]: o
valores humanos. Estes são comumente chamados de processo ou padrão de substituição ou desenvolvi-
serviços de suporte, regulação, provisionamento e mento de um ecossistema pós-distúrbio.
culturais. Metas de restauração podem se referir espe-
cificamente à restauração de serviços ecossistêmicos Traços funcionais [Functional traits]: características
pontuais ou ao incremento da qualidade e do fluxo de morfológicas, bioquímicas, fisiológicas, estruturais,
um ou mais serviços. fenológicas ou comportamentais que se manifestam
em fenótipos de organismos individuais e são
Sistema Cinco Estrelas [Five-star System]: uma consideradas relevantes para a resposta destes
ferramenta usada para identificar o nível de recuper- organismos ao ambiente ou seus efeitos nas pro-
ação desejado em um projeto de restauração ou priedades do ecossistema.
reabilitação e para avaliar e monitorar progressiva-
mente o grau de recuperação do ecossistema nativo ao Trajetória (ecológica) [Trajectory (ecological)]:
longo do tempo em relação ao modelo de referência. um curso ou caminho da condição de um ecoss-
Esta ferramenta também oferece uma forma de istema (ou seja, estrutura e função) ao longo do
reportar alterações da condição da linha de base em tempo. Pode implicar degradação, equilíbrio
relação à referência. (Nota: este sistema se refere homeostático, adaptação a mudanças nas condições
apenas aos resultados de recuperação, e não às ativi- ambientais ou resposta à restauração ecológica
dades de restauração usadas para alcançá-los). - idealmente levando à recuperação da integridade
e resiliência perdidas.
Sistema socioecológico [Social-ecological system]:
sistemas complexos, integrados e interligados de Translocação [Translocation]: o transporte inten-
pessoas e natureza, enfatizando que os humanos são cional (por humanos) de organismos para uma parte
uma parte da natureza. diferente de uma determinada paisagem ou ambi-
ente aquático, ou para áreas mais afastadas. Geral-
Sobre-exploração [Over-utilization]: qualquer mente, a intenção é a de conservar uma espécie,
forma de colheita ou exploração de um ecossistema subespécie ou população ameaçada de extinção.
para além de sua capacidade de regenerar estes
recursos. Os exemplos incluem pesca predatória Trocas externas [External exchanges]: os fluxos
(sobrepesca), supressão da vegetação nativa, sobre- recíprocos que ocorrem entre unidades ecológicas
pastejo (“sobrepastoreio”) e queimadas excessivas. pertencentes a uma paisagem ou ambiente
aquático, incluindo fluxos de energia, água, fogo,
Soluções baseadas na natureza [Nature-based material genético, organismos e propágulos. As
solutions]: ações propostas para proporcionar trocas são facilitadas pelas conexões entre habitats.
benefícios simultaneamente para o bem-estar
humano e para a biodiversidade, e que visam a Valor intrínseco (dos ecossistemas e da biodiver-
proteger, manejar de forma sustentável e restaurar sidade) [Intrinsic value (of ecosystems and biodi-
ecossistemas naturais ou modificados, que abordam versity)]: valor intrínseco é o valor que uma enti-
os desafios sociais de modo eficaz e adaptativo. dade tem em si, pelo que é ou como um fim. O tipo

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96 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
de valor contrastante é o valor instrumental. Valor
instrumental é o valor que algo possui como meio
para um fim desejado ou valorizado.

Zona de transferência de sementes [Seed


transfer zone]: uma área geográfica definida,
dentro da qual se espera que as sementes possam
ser removidas sem efeitos adversos para a aptidão.

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97 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
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103 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
A P Ê N D IC E 1 : SE L E Ç ÃO D E SE M E N T E S E OU T R O S
P R O PÁG U L O S PA R A A R E S TAU R AÇ ÃO

Este apêndice foi adaptado e expandido de McDonald de 10 a 100 de km2), dependendo da espécie e sua
et al. (2016a). Embora haja muitas considerações a biologia. Por exemplo, prevê-se que plantas anuais
serem feitas ao decidir sobre a seleção de sementes de com elevada autofecundação, sementes dispersas
plantas e outros propágulos (por exemplo, material pela gravidade e que ocorrem historicamente em
vegetativo, esporos, ovos, jovens vivos) para projetos populações isoladas e discretas, ocorram em
de restauração, as considerações genéticas podem ser intervalos locais mais restritos do que plantas com
fundamentais para garantir que as populações origi- dispersão pelo vento, água ou animais, especialmente
nadas se reproduzam e persistam com sucesso. Essas aquelas que sofreram uma recente expansão na sua
considerações são particularmente importantes em amplitude (Hufford & Mazer 2003; Broadhurst et al.
paisagens fragmentadas, especialmente sob as 2008). Além disso, em uma paisagem amplamente
mudanças climáticas. degradada, pequenos fragmentos estão em risco de
endogamia elevada quando as populações caem
CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS SOBRE A abaixo do número limite específico da espécie.
FONTE DE SEMENTES OU OUTROS Como a depressão por endogamia pode reduzir a
PROPÁGULOS 13 função e adaptação das populações, geralmente é
melhor coletar propágulos de populações maiores e
Os profissionais de restauração adotaram
de alta densidade. Isso significa que, em paisagens
amplamente o conceito de restringir a coleta de
fragmentadas onde as populações são menores,
propágulos a uma área de procedência ou zona de
menos densas e mais isoladas, pode ser necessário
transferência de sementes local, para garantir que
coletar propágulos de distâncias maiores e fontes
os propágulos selecionados para restauração sejam
múltiplas (e potencialmente multiplicá-los em áreas
adaptados localmente. No entanto, o protocolo de
de produção) para capturar diversidade genética
apenas coletar propágulos muito perto do local de
suficiente e propágulos suficientes para reconstruir
restauração é agora considerado uma interpretação
os propágulos funcionais e comunidades resilientes.
inadequada da procedência local, uma vez que a
distância geográfica pode não ser uma boa medida
Ao buscar propágulos de forma mais ampla, deve-se
das diferenças ecológicas entre os locais. Ou seja,
considerar os riscos de depressão por exogamia.
muitos profissionais agora entendem que o grau de
Embora não seja tão comum quanto a depressão
adaptação local varia por espécie, população e
por endogamia, pode ocorrer quando espécies de
habitat (Gibson et al. 2016), e um genótipo “local”
populações geneticamente divergentes são
pode ocorrer em áreas estreitas ou amplas (ou seja,
cruzadas. Em alguns casos, a perda de aptidão é
13
Para plantas, nos referimos às sementes como os propágulos primários
usados na restauração, mas nem sempre são utilizadas sementes. devida a uma perda de adaptação local. Se os pais
Algumas espécies produzem muito poucas sementes e se propagam mais
comumente por estacas, divisões ou micropropagação. Enquanto os estão adaptados a condições diferentes entre si, a
princípios genéticos adotados para a procedência são semelhantes,
independentemente do tipo de propágulo, é importante lembrar que a prole resultante pode ser mal adaptada ao local de
diversidade genética é limitada quando são adotados métodos de
propagação vegetativa, o que pode afetar a capacidade de uma popu- qualquer dos pais. Em outros casos, podem ser
lação em responder a desafios futuros de adaptação. Esse princípio geral
também é válido para algumas espécies animais, como corais ou fungos, quebrados complexos de genes co-adaptados,
em que partes de indivíduos ou colônias são usados como propágulos, no
lugar de esporos, ovos ou outros meios de reprodução sexual.

PÁGINA
104 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
resultando em perda de aptidão (Rogers & Montalvo
2004). A depressão por exogamia pode ser
particularmente grave em plantas quando
populações de diferentes ploidias (o número de
cromossomos nas células) são combinadas em
restaurações ou em áreas de produção de sementes.
As diferenças de ploidia são relativamente comuns
em Poaceae e Asteraceae - duas famílias amplamente
utilizadas na restauração (Kramer et al. 2018) e
populações com diferentes níveis de ploidia podem
ser encontradas nas proximidades (Gibson et al.
2017). Como as populações de diferentes ploidias
não devem ser misturadas na produção no viveiro
ou restauração, pode ser necessário testar via
citometria de fluxo para determinar os níveis de
ploidia de uma população antes da mistura, caso
Foto de Mel Asher
exista uma estratégia de mistura desejada. A
depressão por exogamia em animais não foi tão
mudanças climáticas atuais, bem como a fragmen-
amplamente identificada como em plantas, mas
tação e as barreiras antropogênicas à migração, são
existe (por exemplo, Sagvik et al. 2005; Huff et al.
sem precedentes e desafiam a sobrevivência das
2011).
espécies. Não podemos prever com precisão o tipo e
a escala dos riscos que os ecossistemas enfrentam,
FONTE DE PROPÁGULOS E MUDANÇAS porque apenas uma pequena proporção das
CLIMÁTICAS espécies foi estudada individualmente. Sabemos
que algumas espécies ou populações podem desa-
parecer de suas localizações atuais, algumas tornan-
O intervalo climático no qual uma espécie ocorre
do-se local ou regionalmente extintas devido a
atualmente é conhecido como seu “nicho” ou
barreiras à migração e outros fatores. Outras coloni-
“envelope” climático. À medida que o clima muda,
zarão novas áreas, alterando localmente o conjunto
é provável que este envelope climático se desacople
de espécies na comunidade. Algumas podem ter
do intervalo atual de uma espécie e, se as condições
“plasticidade adaptativa” suficiente para persistir à
se tornarem mais quentes, pode se mover mais para
medida que o clima muda, como foi demonstrado
os pólos ou para elevações mais altas. Os envelopes
em experimentos de translocação. Ou seja, uma
climáticos também podem ser afetados por
planta individual pode ser capaz de ajustar sua
mudanças nas chuvas, com áreas que se tornam
forma por mecanismos como redução do tamanho
mais secas ou úmidas. No entanto, como a precipi-
da folha, aumento da espessura da folha ou alter-
tação tende a mudar de maneiras menos previsíveis
ação dos tempos de floração e emergência. Os
do que a temperatura, é provável que o desloca-
animais podem alterar as escolhas alimentares (por
mento dos envelopes climáticos seja mais complexo.
exemplo, espécies de urso onívoro passando a
Essas mudanças também podem afetar populações
alimentar-se de plantas mais resistentes às
individuais de uma espécie em taxas diferenciadas.
mudanças climáticas). As espécies de fauna gener-
Embora muitas espécies tenham enfrentado as alistas geralmente sobrevivem melhor às mudanças
mudanças climáticas no passado, a taxa das climáticas do que as espécies especialistas. Na

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105 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
maioria dos casos, a persistência pode depender da tação e perda de habitat. Em contraste, em regiões
capacidade de adaptação de uma espécie, que por temperadas, muitas espécies estão adaptadas à
sua vez depende do tamanho e da diversidade migração de longa distância, como ocorreu após o
genética das populações individuais. degelo.

Muitos fatores influenciarão a capacidade de uma FERRAMENTAS E DIREÇÕES FUTURAS


espécie de se adaptar a novas condições ou de
migrar, incluindo padrões de fluxo gênico, dis- Protocolos para a seleção de propágulos para
tribuição geográfica da espécie, heterogeneidade aumentar o potencial adaptativo de uma espécie em
do habitat e clima, onde a espécie ocorre e outros projetos de restauração estão sendo desenvolvidos.
fatores bióticos e abióticos, incluindo se a espécie é As atividades de restauração para aumentar o
característica dos estádios sucessionais iniciais ou potencial adaptativo podem ser desnecessárias em
tardios. Espécies de flora ou fauna que possuem habitats grandes e intactos, devido à alta
grandes populações, alta diversidade genética, fluxo conectividade entre as populações. As ações para
gênico de longa distância e capacidade reprodutiva auxiliar na adaptação genética serão provavelmente
e de dispersão naturalmente alta, podem ter uma benéficas para paisagens já fragmentadas ou que
probabilidade maior de se adaptar ou migrar con- com grande probabilidade se tornarão fragmentadas
forme seu envelope climático se move. Por outro devido às mudanças climáticas. Embora o pool
lado, espécies ou populações, com menor diversi- genético local desempenhe um papel importante na
dade genética e baixa capacidade de dispersão que adaptação, pode ser prudente incluir algum
ocorrem em manchas isoladas ou que se tornaram germoplasma da mesma espécie de um “clima
isoladas por meio de distúrbios antrópicos podem futuro” previsto - isto é, uma região com um clima
ser menos capazes de se adaptar ou migrar em semelhante ao previsto para a área que está sendo
resposta às mudanças climáticas. restaurada. Sugestões para obter sementes de
plantas de forma mais conservadora ou quando uma
A história da paisagem também desempenha um abordagem mais expansiva é apropriada são
papel na probabilidade de adaptação. Por exemplo, fornecidas na Quadro A1. Os pesquisadores são
para algumas paisagens com alta biodiversidade encorajados a desenvolver protocolos para ensaios
que pertencem à classificação “antigas, climatica- ou experimentos formais integrados em ambientes
mente protegidas inférteis” (Old, Climatically Buff- de restauração de baixo risco.
ered, Infertile Landscapes – OCBIL, no sentido
amplo de Hopper 2009), é muito provável que as Há ferramentas disponíveis para ajudar os plane-
suas espécies tenham resistido aos impactos jadores da restauração a realizar análises de pron-
climáticos oriundos das múltiplas mudanças tidão climática (preparação para o clima) na fase
climáticas, porém sem glaciação. Como resultado, de planejamento. Em primeiro lugar, os profissionais
as espécies persistiram nessas paisagens ao longo são encorajados a procurar previsões dos efeitos das
do tempo geológico, por meio da adaptação às mudanças climáticas nos ecossistemas onde tra-
flutuações de umidade e temperatura. Portanto, em balham. Em segundo lugar, os profissionais são
OCBILs, como grande parte da Austrália e do sul da encorajados a buscar mais informações e colaborar
África, as espécies exibem um alto nível de com os pesquisadores para obter uma melhor
pré-adaptação às mudanças climáticas. A extinção e compreensão das respostas previstas das espécies à
extirpação local de espécies em paisagens OCIBIL fragmentação e às mudanças climáticas e para
ocorrem mais frequentemente devido à fragmen- identificar os riscos relativos das opções relacio-

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106 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
nadas à movimentação deliberada de material menos uma década) para registrar as lições a serem
genético em projetos de restauração. Para as compartilhadas com os profissionais e cientistas.
plantas, estudos em condições controladas são
essenciais para compreender os riscos e benefícios Os profissionais que elaboram listas de espécies a
da movimentação de material vegetal. Terceiro, ser plantadas precisam, no entanto, ter em mente
ferramentas virtuais disponíveis na internet estão se que é impossível ter certeza das mudanças que
tornando cada vez mais acessíveis em alguns países possam ocorrer. Diferentes espécies e populações
para identificar se a espécie, ou população, que responderão às mudanças climáticas de maneiras
ocorre atualmente perto do local de restauração diferentes e, atualmente, não há uma maneira
ainda será adequada para os climas previstos para infalível ou fácil de prever isso. Além disso, a tem-
ocorrer no local no futuro. Na América do Norte, a peratura e a precipitação não são os únicos indica-
ferramenta de seleção de sementes (<https://seedlo- dores importantes. Uma série de fatores físicos (por
tselectiontool.org/sst/>) tem se revelado muito útil exemplo, substratos) e biológicos (por exemplo,
para plantas e, na Austrália, o website “Atlas of dispersão) - que podem ou não ser afetados por
Living Australia” (<https://www.ala.org.au>) pode uma mudança no clima - também podem ter papéis
ajudar os profissionais a identificar a distribuição importantes pela sua influência na distribuição de
geográfica natural de uma espécie e se ela pode ter uma espécie. Desde que seja feita com cautela, um
potencial para tolerar as condições previstas em amplo projeto de testar com empirismo científico os
cenários de mudanças climáticas, que estão diferentes métodos de procedência em múltiplos
mapeados no website <www.climatechangeinaus- lugares ao redor do mundo pode facilitar a determi-
tralia.gov.au> (ver Booth et al. 2012). nação das melhores práticas. Todo projeto de
restauração pode ser tratado como um experimento
Muitos projetos de restauração já estão adquirindo se forem mantidos bons registros e os resultados
sementes de plantas de procedências mais dis- monitorados e compartilhados. Tal abordagem pode
tantes, geralmente com a mudança climática em melhorar as práticas de restauração no futuro.
mente. As estratégias propostas para fornecimento
de propágulos que pretendem levar à restauração a RESTAURANDO A CONECTIVIDADE E
capacidade de adaptação climática (prontidão MIGRAÇÃO ASSISTIDA
climática) por meio da diversidade genética incluem:
relaxar a procedência local (Kaye 2001); procedência Um impacto benéfico da restauração ecológica é a
composta (Broadhurst et al. 2008); procedência melhoria da conectividade entre fragmentos de
mista (Breed et al. 2013); procedência preditiva (por ecossistemas nativos que permite que as espécies
exemplo, Crowe & Parker 2008); e procedência migrem e evoluam em face das mudanças
ajustada ao clima (Prober et al. 2015; Figura 6). As climáticas. Alguns pesquisadores têm defendido que
descrições de cada estratégia, bem como dos certas espécies vão necessitar de assistência especial
benefícios, riscos e usos mais apropriados, estão na para migrar (“migração assistida”; Kramer & Havens
Quadro A2. A aplicação de qualquer estratégia deve 2009; Sáenz-Romero et al. 2016; Wang et al. 2019).
ser realizada somente quando justificada, apoiada Na realidade, muitas das estratégias discutidas aqui
por ciência bem embasada, dentro de uma estrutura podem ser consideradas uma forma de migração
de gerenciamento de risco que considere os efeitos assistida no nível da população. No entanto,
negativos potenciais da consanguinidade e da quando e onde isso pode funcionar está sujeito a
depressão por exogamia. Deve incluir, também, o intenso debate e contém riscos (por exemplo, hibrid-
monitoramento de longo prazo (ou seja, pelo ização com espécies intimamente relacionadas; as

PÁGINA
107 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
espécies se tornarem invasoras no novo ambiente).
O aumento de espécies nos limites de sua dis-
tribuição, o que pode parecer lógico em muitos
casos, também pode ser problemático, pois a ocor-
rência das espécies pode ser esparsa nas margens
de suas áreas de distribuição por razões ecológicas
que podem ser mal compreendidas. Além disso, as
populações ao longo dos limites de distribuição às
vezes são geneticamente distintas. A introdução de
germoplasma de outras populações pode reduzir a
prontidão climática ou levar à extinção da popu-
lação local por meio de hibridização. Frequente-
mente, os limites da distribuição são muito irregu-
lares com muitos pontos fora do padrão estatístico
esperado, uma condição mal delimitada por muitos
mapas de distribuição (por exemplo, usando como
índice ‘presença/ausência por unidades administra-
tivas locais’). A questão de quando transferir as
espécies “para cima quanto à latitude e para cima
em termos de altitude” ao longo desses limites de
distribuição, ou continuar a apoiar populações em
baixas latitudes e nos extremos de baixa elevação
das suas áreas de distribuição, é complexa e merece
uma reflexão cuidadosa. Os limites de distribuição
em relação às mudanças climáticas são mais vul-
neráveis à perda de uma espécie. A longevidade,
dispersão, sistema de reprodução e outras carac-
terísticas das espécies determinam a capacidade de
adaptação ou migração. Ao fazer a coleta dos
propágulos, é importante considerar o material de
fontes atualmente adaptadas e fontes adaptadas às
condições previstas para um futuro próximo, com a
intenção de equilibrar os benefícios da adaptação
local com a capacidade de adaptação às mudanças.

PÁGINA
108 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro A1
Os locais de ocorrência de plantas e animais, em um gradiente de espécies e características de habitats podem auxiliar nas
decisões sobre as fontes de propágulos (modificado de Havens et al. 2015).

MAIS FLEXÍVEL /
M A I S C O N S E R VA D O R / CARACTERÍSTICAS DAS
FONTE DE PROPÁGULOS MAIS
F O N T E D E P R O PÁ G U L O S L O C A L ESPÉCIES
DISTANTE

Distribuição restrita, incluindo


Distribuição ampla
endemismo edáfico

Incertezas taxonômicas
Estabilidade taxonômica (comunidade
(potencial ocorrência de espécies
bem estudada)
crípticas)

Pouco fluxo gênico de longa Extenso fluxo gênico de longa


distância distância

MAIS FLEXÍVEL /
M A I S C O N S E R VA D O R /
C A R A C T E R Í S T I C A S D O H A B I TAT FONTE DE PROPÁGULOS MAIS
F O N T E D E P R O PÁ G U L O S L O C A L
DISTANTE

Fragmentação histórica (antiga) Fragmentação recente

Alta qualidade Altamente degradado

Paisagem antiga ou estável Paisagem jovem ou dinâmica

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109 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Quadro A2.
Tipos de fontes de propágulos, com sua descrição, benefícios, riscos e usos mais adequados. Modificado de Havens et al.
(2015) e Breed et al. (2013).

BENEFÍCIOS MELHOR USADO


P R O PÁ G U L O TIPO DA FONTE DEFINIÇÃO
RISCOS QUANDO

Uso de propágulos • baixo risco de • base genética • os distúrbios são


apenas do local má adaptação estreita mínimos
onde a restauração (pelo menos no • possível • população
está ocorrendo ou curto prazo) consanguini- grande presente
Procedência local de populações dade no local da
restrita dentro da distância • deriva genética restauração ou
normal de fluxo • falta de no entorno
gênico potencial • a mudança na
adaptativo distribuição
prevista é baixa

Mistura de propágu- • baixo risco de • pode ter base • os distúrbios são


los de populações má adaptação genética estreita mínimos
geograficamente (pelo menos no • falta de poten- • a mudança na
próximas, com o curto prazo) cial adaptativo distribuição
Procedência local foco de combinar as • Evita consan- no longo prazo prevista é baixa
flexível condições ambien- guinidade
tais dos locais fonte • aumenta o
e receptor potencial
adaptativo

Mistura de propágu- • Evita consan- • má adaptação • os distúrbios são


los de populações guinidade • depressão por mínimos
próximas e de • aumenta o consanguini- • há muita
distância intermedia potencial dade fragmentação
Procedência (ou combinação adaptativo • a mudança na
composta ambiental) para distribuição
imitar um fluxo prevista é
gênico de longa moderada
distância

Mistura de propágu- • potencial • risco mais alto • há muitos


los de muitas adaptativo mais de má adaptação distúrbios
populações de alto • depressão por • a mudança na
Procedência distâncias variadas consanguini- distribuição
mista dentro da área de dade prevista é alta
distribuição das • possibilidade de
espécies genótipos
invasivos

Uso de genótipos • lida melhor com • projeções • distúrbios são


adaptados às as condições podem estar poucos ou
condições previstas em mudança, se erradas moderados
Procedência (por exemplo, às as previsões • requer muita • a mudança na
preditiva pelo projeções climáticas estiverem pesquisa (alto distribuição
clima para 2050), basea- corretas custo inicial), prevista é alta e
dos em modelos e embora bem conhecida
experimentos de ferramentas
transplante possam ajudar

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110 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Direção da mudança de clima esperada
para o local (por exemplo, aumento da aridez)

A Escolha de procedências orientada

B Procedência local

C Procedência composta

D Mistura de procedências

Figura A1. Estratégias de comprovação de pro-


cedência para revegetação (reimpresso de Prober et
al. 2015). As estrelas indicam locais a serem revege-
E Escolha preditiva de procedências
tados e os círculos representam populações nativas
usadas como fontes de germoplasma. O tamanho do
círculo indica as quantidades relativas de germo-
plasma incluídas de cada população no local de
revegetação. Observe que a procedência ajustada pelo
clima não é considerada na Quadro A2.

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111 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
APÊNDICE 2: MODELO PARA AVALIAÇÃO DE PROJETOS
(para uso pelo restaurador)

PO S I Ç ÃO D E E S P É C
COM IES

Animais desejáveis
O Plan

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Fluxos gênicos
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TROCAS
EX TERNAS

Modelo de roda de recuperação

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112 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
AVALIAÇÃO DE DEL ECOSISTEMA
Ecossistema de Referência:
RECUPERAÇÃO DO ECOSSISTEMA
Local:
Avaliador:
Data:

C AT E G O R I A D E AT R I B U T O NÍVEL DE RECUPERAÇÃO (1-5) EVIDÊNCIA PARA O NÍVEL DE RECUPERAÇÃO

Atributo 1. Ausencia de amenazas

a Sobre-exploração

b Espécies invasoras

c Contaminação

ATRIBUTO 2. Condições do ambiente físico

Física do substrato

Química do substrato

Físico-química da água

ATRIBUTO 3: Composição de espécies

Plantas desejáveis

Animais desejáveis

Ausência de espécies indesejáveis

ATRIBUTO 4: Diversidade estrutural

Todos os estratos presentes

Todos os níveis tróficos presentes

Mosaico espacial

ATRIBUTO 5: Funcionamento do ecossistema

Produtividade, ciclagem

Habitat & interações

Resiliência, recrutamento

ATRIBUTO 6: Trocas externas

Fluxos ao nível da paisagem

Fluxos gênicos

Conexões entre habitats

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113 PADRÕES INTERNACIONAIS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
Citação: Gann GD, McDonald T, Walder B, Aronson J, Nelson CR, Jonson J, Hallett JG, Eisenberg C, Guariguata MR, Liu J, Hua F,
Echeverría C, Gonzales E, Shaw N, Decleer K, Dixon KW (2019) International principles and standards for the practice of ecolog-
ical restoration. Second edition: November 2019. Society for Ecological Restoration, Washington, D.C. 20005 U.S.A.

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