Malaria Na Gravides

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Instituto Politécnico da RHDC – Delegação de Pemba

Saúde Materno Infantil-SMI


Malária na Gravidez

Formanda Formadora
Isabel

PEMBA,NOVEMBRO,2023
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................4
MALÁRIA NA GRAVIDEZ.............................................................................................................5
SUSCEPTIBILIDADE DA GRÁVIDA.............................................................................................5
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS........................................................................................................6
COMPLICAÇÕES.............................................................................................................................6
DIAGNÓSTICO................................................................................................................................7
TRATAMENTO................................................................................................................................7
PREVENÇÃO....................................................................................................................................9
CONCLUSÃO.................................................................................................................................10
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................11
INTRODUÇÃO
A malária é uma das doenças parasitárias mais prevalentes e mortais em todo o mundo,
representando um sério desafio de saúde pública. Embora afete milhões de pessoas em todo
o planeta, a malária assume uma dimensão particularmente preocupante durante a gravidez.
Para as gestantes que vivem em regiões endêmicas da doença, a malária não representa
apenas uma ameaça à sua própria saúde, mas também à saúde de seus bebês por nascer. A
infecção por Plasmodium, o parasita causador da malária, durante a gestação está associada
a uma série de complicações que podem impactar adversamente o desfecho da gravidez, o
desenvolvimento do feto e a saúde neonatal. Portanto, é crucial compreender os riscos e os
desafios da malária na gravidez, bem como as estratégias de prevenção e tratamento
disponíveis para proteger as futuras mães e seus bebês. Neste contexto, esta análise se
propõe a examinar em detalhes a interação complexa entre a malária e a gestação,
destacando os principais aspectos da fisiopatologia, os riscos envolvidos e as estratégias
para mitigar esses riscos.
MALÁRIA NA GRAVIDEZ
A malária representa um desafio especial para as gestantes e seus bebés. Oferecer e
aumentar o acesso ao pacote integrado de assistência em saúde reprodutiva (planeamento
familiar, cuidados pré-natal, parto e pós-parto, puericultura e pediatria) com qualidade,
torna-se fundamental para prevenir os problemas de saúde resultantes da infecção por
malária e para reduzir a mortalidade materna e infantil.
A malária na gravidez caracteriza-se pela sequestração do plasmodium na placenta (através
dos eritrócitos infetados).
A acumulação dos eritrócitos infetados na placenta origina mudanças histológicas da
mesma. Surge inflamação, deposição de fibrina ou células inflamatórias, nomeadamente
leucócitos, induzindo lesões no trofoblasto, das quais resulta um transporte deficiente de
nutrientes e oxigénio entre a mãe e o feto.
Pode haver malária placentária sem manifestações clinicas de doença; e pode igualmente
ocorrer malária placentária na ausência de parasitémia periférica na mãe. Por este motivo, a
anatomia patológica da placenta pode ser um critério de diagnóstico da doença.

SUSCEPTIBILIDADE DA GRÁVIDA
A mulher grávida tem uma maior vulnerabilidade para a infeção com malária
comparativamente com a mulher não grávida. Uma das grandes razões para este facto é a
depressão da imunidade que se verifica normalmente durante a gravidez.
A prevalência da parasitémia periférica é maior na mulher grávida do que na mulher não
grávida, comparando mulheres da mesma idade e vivendo na mesma área geográfica (em
zonas endémicas).
O que se constatou foi uma depressão da resposta aos antigénios na grávida - a resposta
proliferativa dos linfócitos, em contacto com o antigénio da malária, está diminuída, em
comparação com a resposta dos linfócitos da mulher não grávida.
Além disso, constatou-se que a mulher grávida tem maior predisposição para ser picada
pelo mosquito. Pensa-se que tal se deve ao facto de durante a gravidez a temperatura
corporal estar aumentada e ao facto de se assistir a um aumento da expiração de dióxido de
carbono; dois fatores que parecem contribuir para uma maior atração do mosquito pela
mulher grávida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que cada grávida deve comparecer
pelo menos a quatro Consultas pré-natais (CPN).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A malária na gravidez poderá ter consequências para a grávida e/ou para o feto. A
gravidade da apresentação clínica da doença dependerá da endemicidade da região onde a
grávida habita.
Se estamos perante uma grávida de uma região endémica de malária, a infeção é
habitualmente assintomática ou de baixa gravidade; isto porque as mulheres adultas destas
regiões geralmente têm uma imunidade parcial ao Plasmodium falciparum, adquirida
durante os primeiros 10-15 anos de vida pelo contacto prévio com o parasita.
Se estamos perante uma grávida proveniente de uma região não endémica de malária,
portanto, em princípio, sem um nível significativo de imunidade, estas mulheres
habitualmente têm infeções mais graves, com sintomas mais severos e consequências mais
nefastas para o feto.
As manifestações clinicas da malária na grávida são inespecíficas e variáveis. O início dos
sintomas é agudo, 7 a 30 dias após a picada do mosquito, e são sintomas semelhantes a uma
vulgar “gripe”. De uma forma geral, ocorrem: febre (que pode ou não ser flutuante),
arrepios, mialgias, cefaleias, náuseas, dor abdominal, diarreia e vómitos.
A malária severa geralmente apresenta-se com um ou mais dos seguintes: coma (malária
cerebral), acidose metabólica, hipoglicémia, anemia severa, edema pulmonar agudo ou
lesão real aguda. Nas grávidas com malária grave a mortalidade chega aos 50%.

COMPLICAÇÕES
A infeção pelo plasmodium durante a gravidez não só traz consequências para a grávida
como também para o feto e recém-nascido. As complicações que se podem verificar no feto
são:
Aborto, restrição do crescimento fetal e/ou infeção congénita. O recém-nascido fruto de
uma gravidez com infeção por plasmodium falciparum, geralmente é prematuro (<37
semanas) e/ou com baixo peso ao nascer (<2500 kg). São crianças que apresentam maior
morbilidade e mortalidade.
A elevada incidência de parto pré-termo nas grávidas infetadas pelo plasmodium
falciparum, pode ser mediada por alteração na produção de citoquinas. O parto pré-termo e
a restrição do crescimento fetal (devido à diminuição da transferência dos nutrientes e
oxigénio através da placenta) contribuem igualmente para o baixo peso do recém-nascido.
O risco de aborto é semelhante na infeção por plasmodium falciparum ou P. vivax e pode
verificar-se na doença sintomática ou assintomática, sendo no entanto mais frequente nas
grávidas com malária sintomática.
Nas regiões endémicas de malária, 8% a 36% das crianças com baixo peso ao nascimento,
resultaram de gestações associadas à malária; e 3% a 8% da mortalidade infantil foi
consequência da infeção da mãe aquando da gravidez.
Umas das complicações maternas mais frequentes da malária é a anemia. A anemia
induzida pela malária é causada por: hemólise dos eritrócitos infetados pelo parasita,
supressão da hematopoiese e sequestração intensa dos eritrócitos infetados na placenta.

Na malária grave a mãe poderá apresentar para além da anemia, disfunção hepática e
acidose metabólica.

DIAGNÓSTICO
O primeiro passo para o diagnóstico de malária na gravidez é a suspeição clínica. Nos
países endémicos a hipótese de malária deve ser considerada em todas as mulheres com
temperaturas ≥ 37.5ºC, sem outra causa aparente.
Nos países com baixa incidência de malária, a hipótese diagnóstica de malária deve ser
considerada em mulheres que possam ter estado expostas, por exemplo, que tenham
viajado, mesmo que por curtos períodos, para regiões endémicas; e que apresentem história
clínica de febre sem outra causa aparente.
Em todos os casos suspeitos de malária deve-se efetuar um teste parasitológico para
confirmação do diagnóstico.
O gold standart para confirmação do diagnóstico é a microscopia, na qual podemos ter
acesso à densidade parasitária e à morfologia dos parasitas. Utiliza-se uma gota espessa de
sangue periférico para identificar baixos níveis de parasitas ou uma gota fina de sangue
para identificar parasitémias significativas. Quando a microscopia não está disponível,
podem utilizar-se testes rápidos de diagnóstico (RDT). Estes testes, detetam os antigénios
do plasmodium.
Os resultados do diagnóstico parasitológico (microscopia ou RDT’s) devem estar
disponíveis num curto período de tempo (<2h ).
Os dois métodos acima mencionados detetam parasitas no sangue periférico. No entanto,
por vezes, existe infeção placentária sem parasitas na circulação periférica. Nestes casos, o
diagnóstico definitivo só se faz através da anatomia patológica da placenta, após o parto.
Inflamação, deposição de fibrina ou células inflamatórias, espessamento da membrana
basal do trofoblasto, são algumas das alterações histológicas quese podem observar numa
placenta infetada pelo plasmodium.
É necessário recorrer à histologia da placenta porque ainda não existe nenhum marcador
periférico de malária placentária.
TRATAMENTO
Para se iniciar o tratamento de uma grávida com malária, temos de considerar vários
aspetos:

 A gravidade da infeção tendo em conta o estado clinico da grávida - malária não


complicada versus malária severa;
 O trimestre da gestação;
 A espécies de plasmodium responsável pela infeção;
 O padrão de segurança dos fármacos na grávida com especial atenção às suas
contraindicações;
 E se a grávida fez quimioprofilaxia. Não se devem descurar possíveis padrões de
resistência aos antimaláricos de algumas regiões.
 Se foi efetuada profilaxia com um antimalárico, o tratamento não deverá ser feito
com o mesmo fármaco.
Na malária por plasmodium falciparum não complicada, no primeiro trimestre de gravidez,
o tratamento deve ser feito durante 7 dias com quinino e clindamicina. Se a clindamicina
não estiver disponível poder-se-á realizar monoterapia com quinino. Durante o uso do
quinino a glicémia deve ser monitorizada porque este fármaco está associado a ocorrência
de hipoglicémias materna e fetal. Estes dois fármacos proporcionam um tratamento seguro,
eficaz e com baixo custo.
O quinino, a cloroquina, a clindamicina e o proguanil, são os fármacos antimalários
considerados seguros no primeiro trimestre de gravidez. A informação relativa à sua
segurança no primeiro trimestre de gravidez ainda é limitada. Segundo as guidelines da
organização mundial de saúde, se numa grávida de primeiro trimestre se tiver efetuado
terapêutica com artemisininas, não existe necessidade de interrupção da gravidez por essa
razão.
No segundo e terceiro trimestres de gravidez, para o tratamento da malaria não complicada
a P. falciparum, deve-se usar a terapia combinada com artemisininas (ACT) durante 3 dias.
O uso de artemisininas no segundo e terceiro trimestres de gravidez é recomendável na
medida em que nenhum efeito adverso na mãe ou no feto foi reportado. Nas infeções com
resistência à cloroquina o tratamento é feito com ACT (exceto em grávidas de primeiro
trimestre). Grávidas no primeiro trimestre com infeções resistentes à cloroquina, devem ser
tratadas com quinino.
No pós-parto a cloroquina pode ser substituída por primaquina, se se souber a situação do
latente e da mãe relativa à enzima G6PD.
PREVENÇÃO
A prevenção da malária é um ponto-chave para a diminuição da infeção periférica e da
placenta, evitando consequências nefastas para a mãe e para o feto. Em primeiro lugar:

 As grávidas devem ser desaconselhadas a viajar para zonas endémicas de malária até
ao período pós-parto. Se tal não for possível, devem adotar medidas para evitar a
picada do mosquito e devem efetuar quimioprofilaxia.
 Tendo em conta que a mulher grávida atrai duas vezes mais os mosquitos do que a
mulher não grávida, as medidas anti mosquito constituem um importante fator na
redução da infeção. Existem medidas mecânicas e medidas químicas. As espécies do
mosquito Anopheles usualmente alimentam-se à noite e por isso a permanência em
espaços exteriores deve ser evitada desde o anoitecer até ao amanhecer.
 As grávidas devem cobrir com roupa toda a pele exposta; devem aplicar repelentes
para insetos e devem colocar redes mosquiteiras com inseticida nas camas.
 Uma grávida que vá viajar para zonas endémicas de malária deve fazer
quimioprofilaxia com cloroquina ou mefloquina, de acordo com os padrões de
sensibilidade e resistência dos fármacos no país para onde se irá deslocar.
CONCLUSÃO
A malária durante a gravidez é um problema de saúde significativo em muitas regiões do
mundo, especialmente em áreas onde a malária é endêmica. Esta condição apresenta riscos
tanto para a mãe quanto para o feto, incluindo complicações graves, como anemia, baixo
peso ao nascer e parto prematuro. A prevenção e o tratamento adequados são essenciais
para
proteger a saúde das gestantes e de seus bebês. A utilização de mosquiteiros
impregnadoscom inseticidas, o tratamento com medicamentos antimaláricos seguros
durante a gravidez e o acompanhamento médico são medidas cruciais. Além disso, é
fundamental conscientizar as
gestantes sobre os riscos da malária e incentivar o acesso aos serviços de saúde, a fim de
reduzir a carga da doença durante a gravidez e melhorar os resultados para a mãe e o bebê.
A pesquisa contínua e o investimento em programas de saúde pública são necessários para
combater eficazmente a malária em gestantes e proteger a saúde materna e infantil.
BIBLIOGRAFIA
Chedraui, Peter A; Daily, Johanna; Wylie, Blair J. (2015). Overview of malaria in
pregnancy. UpToDate - última consulta 09-11-2015.
Arguin, P. M., Chiodini, P. L., Ka, A. K., Smith, V., Delmont, J., Jime, B. C., …
Schlagenhauf, P. (2015). ScienceDirect Imported malaria in pregnant women: A
retrospective pooled analysis. Travel Medicine and Infectious Disease, 13, 300-310.

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