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V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais

ESTRUTURA DE FLORESTAS SECUNDÁRIAS ORIGINADAS APÓS O USO DE


DIFERENTES TRITURADORES FLORESTAIS EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS
SEQUENCIAIS NO NORDESTE PARAENSE
2
Rodrigues, Mauro Antônio Cavaleiro de Macedo\ Miranda, Izildinha de Sousa , Kato, Maria do
Socorro Andrade"

1Eng. Agrônomo mestrando em Ciências Florestais / UFRA - [email protected], 2Professora da


Universidade Federal Rural da Amazônia, 3Pesquisadora da Embrapa/Cpatu.

1 Introdução

Após mais de cem anos de atividades antrópicas na reqrao nordeste do Pará, incentivadas
principalmente pela abertura de vias de trânsito (ferrovias e estradas), a paisagem foi bastante alterada.
A cobertura vegetal original era composta, principalmente, de uma floresta ombrófila densa, atualmente
restam apenas pequenos fragmentos deste tipo de vegetação.

Segundo Almeida et aI, 2003. através de análises de imagens por satélite, a região possui 57,46% da
sua área coberta de florestas, porém, neste percentual incluem-se florestas sucessionais, o restante
(42,54%) da terra encontra-se com usos como: culturas agrícolas, pastos e solos expostos. Percebe-se
que a cobertura da terra ainda continua sendo predominantemente de florestas, se porém,
considerarmos tanto florestas ombrófilas quanto sucessionais; mas se excluirmos as florestas
sucessionais, que na realidade fazem parte das áreas antropizadas, efetivamente a área com vegetação
original é de apenas 7,38% do território da região.

Este triste quadro é devido, dentre outros motivos, principalmente ao modelo de agricultura praticada
pela maioria dos agricultores da região. Este modelo é conhecido como agricultura itinerante ou de corte
e queima, que utiliza o fogo como principal ferramenta de eliminação da cobertura vegetal, para fins de
implantação de sistemas agrícolas. A insustentabilidade deste modelo é notada principalmente pela
progressão do declínio da produção, decorrente da degradação do solo provocada pelo fogo, e pela
necessidade incontinente de avanço sobre a floresta intacta. Atualmente com a escassez de áreas
intactas o período de pousio vem gradativamente diminuindo.

Este modelo é bastante dependente da floresta, principalmente da biomassa produzida por esta, o que
gera um paradoxo, já que este sistema provoca degradação. A estreita relação existente entre a floresta
e a roça, torna confortável a rotulação de sistema agroflorestal.

Desde 1984 equipes brasileiras e germânicas realizam estudos sobre a agricultura de corte e queima
(shifting cultivation) na zona Bragantina, no Nordeste Paraense. Esses trabalhos iniciais mostraram a
necessidade de se conhecer mais sobre a vegetação secundária nessa região. Foi com essa motivação
que em 1991 nasceu o Programa SHIFT (Studies of Human Impact on Forests and Floodplains in the
Tropics) formado pela Embrapa Amazônia Oriental em parceria com a Universidade de Bonn e
Universidade Góttingen (Alemanha), atualmente o projeto é denominado Tipitamba, que na linguagem
indígena significa floresta secundária ou capoeira, o maior objetivo deste projeto é desenvolver uma
tecnologia de preparo de área sem o uso do fogo, através da trituração da vegetação secundária e
distribuição deste material sobre o solo (cobertura morta ou mulch).

Segundo Vielhauer et al. (1999, citado por Kato et aI, 1999) a tecnologia da cobertura morta ou mulch
consiste na trituração da biomassa aérea da vegetação de pousio e distribuição deste material sobre o
solo. Dentre as principais vantagens da tecnologia de uso de mulch a partir da biomassa da capoeira
estão: maior aproveitamento dos nutrientes acumulados na biomassa aérea da capoeira, flexibilidade da
época de preparo de área de plantio (não ficando dependente da época seca), maior retenção de
umidade do solo (o que permite o plantio em épocas menos úmidas), dentre outras.

Dois tipos de máquinas trituradoras estão sendo testadas no projeto Tipitamba: a Tritucap, um protótipo
desenvolvido no âmbito do Projeto, que corta e tritura em uma só passada, corta os troncos de pouca
espessura e possui um peso de uma tonelada e trezentos quilos; a Ahwi FM600 necessita realizar duas
passagens sobre o mesmo local para triturar completa a vegetação, esmaga troncos pouco espessos e
pesa doze toneladas.

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O objetivo deste experimento é comparar a diversidade e a estrutura vertical de florestas secundárias em


áreas atualmente em pousio, mas que anteriormente tiveram suas coberturas trituradas por diferentes
trituradores.

2 Metodologia

Para a realização do estudo foram selecionadas cinco áreas de produtores familiares, localizadas nas
comunidades São João e São Matias, municípios de Marapanim e Igarapé Açu, respectivamente, no
nordeste paraense. Em cada área selecionada, com tamanho de 25 X 50m (meia tarefa) foi utilizado um
dos trituradores (Tabela 1). Em cada área foram implantadas quatro parcelas de 5 x 3m (15m2),
totalizando 60 m de área amostrada em cada área de estudo e 300m2 na total.
2

Todas as áreas encontran-se em período de pousio de aproximadamente 4 anos, após um cultivo de


arroz, milho e feijão (ciclo curto) e um cultivo posterior de mandioca, com esta idade as áreas estão no
estágio inicial de sucessão, apresentando uma vegetação secundária, popularmente chamada de
capoeirinha.

Em cada parcela foram mensuradas as seguintes variáveis: Altura, diâmetro e identificação da espécie.
As espécies foram identificadas por comparações no Herbário da Embrapa Amazônia Oriental.

Tabela 1 - Identificação do equipamento utilizado em cada área de estudo.

Município Localidade Área Triturador


Área I Tritucap
Marapanim São João Área II Tritucap
Área 111 Tritucap
Área IV Ahwi FM600
Igarapé Açu São Matias
Área V Ahwi FM600

Os estratos da estrutura vertical foram estabelecidos através da alocação dos indivíduos, obedecendo-se
critérios baseados na altura, diâmetro e hábito de vida (Tabela 2).
Os dados foram analisados segundo Brower et aI. (1998), através dos índices de densidade (D), índice
de diversidade de Shannon-Weaver (H') e índice de equibilidade de Pielou (J).

Tabela 2 - Critérios para a alocação dos indivíduos nos estratos da estrutura vertical.

Estratos Ervas Cipó (diâmetro) Arbusto (Altura) Arvore (altura)


,
Superior smm » 150 cm > 150 cm >
Intermediário 2> - 6mm 30> - 150 cm 30> - 150 cm
Inferior Todas 0-2mm 0- 30cm 0- 30cm

3 Resultados

Nos 300m2 inventariados foram identificados 14.635 indivíduos pertencentes a 198 especres, 137
gêneros e 61 famílias. A maioria das famílias ocorreu com menos de 5 espécies. A famílias mais
representativas em número de espécies foram: Leguminosae (28 espécies), Myrtaceae (13 espécies),
Poaceae (10 espécies), Cyperaceae e Euphorbiaceae (7 espécies cada).

As famílias com maior número de indivíduos foram Poaceae, com 4.118 (28,1%) dos indivíduos,
Myrtaceae com 2.608 (17,8%), Cyperaceae com 1.240 (8,4%), Rubiaceae com 1.113 (7,5%) e
Leguminosae com 896 (6,1%). Elas juntas totalizam 68% do total de indivíduos.

O padrão de distribuição dos indivíduos não difere entre as florestas secundárias originadas a pós o uso
dos diferentes trituradores, quando considerado a forma de vida e nem quando considerado os estratos.
A abundância das diferentes formas de vida segue um padrão já verificado em florestas secundárias
iniciais, sendo as ervas e arbustos as mais abundantes e conseqüentemente a maior abundância está no
estrato inferior (Tabela 3). Também as diversidades das áreas não apresentam diferenças, apesar das
áreas preparadas com Ahwi (T1) apresentou uma diversidade e equibilidade um pouco menor do que as

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áreas preparadas com Tritucap (T2). Esse resultado está em conformidade com a grande abundância de
Scleria pterota encontrada nas áreas preparadas com Ahwi.

Entretanto, conforme os índices aqui analisados, não podemos concluir que haja diferença entre as
florestas das áreas preparadas com Ahwi e tritucap, apesar de esperarmos essa diferença devido às
características das máquinas trituradoras.

Tabela 3 - índices estruturais médios das áreas de florestas secundárias de 4 anos de idade, originadas
em áreas agrícolas com uso de trituradores (T1 - Ahwi; T2 - Tritucap).

Indices estruturais
T1 T2
(Nº de ind.)
Arbusto 276 446
Árvore 1.140 931
Cipó 307 556
Erva 1.461 824
Estrato superior 185 340
Estrato intermediário 648 868
Estrato inferior 2.351 1.550
Diversidade
H' 3,31 3,59
E 0,694 0,711

4 Referências Bibliográficas

• ALMEIDA, a. s. de; VIEIRA I. C. G.; LAMEIRA, W. J. de M. Avaliação dos usos da terra e de áreas
degradadas utilizando imagem de satélite e videografia no leste do estado do Pará, Anais XI SBSR, Belo
Horizonte, Brasil, 05 - 10 abril 2003, INPE, p. 1243 - 1245 .

• KATO, O.R.; KATO, M.SA Preparo de área sem queima, uma alternativa para a agricultura de derruba
e queima da Amazônia Oriental: Aspectos agroecologicos. IN: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA
VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA PARA A SUSTENTABILlDADE DA AGRICULTURA FAMILIAR DA
AMAZÔNIA ORIENTAL, 1., 1999, BELÉM, PA. ANAIS. BELÉM: EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL /
CNPQ, 2000. P. 35-37.

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