EA em Espaços Não Formais 1
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VITÓRIA
2015
STEFANIE CAMPANHARO PÉRES
Comissão Examinadora:
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À minha família, na qual tive total suporte e que sempre acreditaram em mim
para a realização desse sonho. Em especial, à Antônio e Elizabeth, meus pais,
que contribuíram para a pessoa que sou. À minha irmã, Brunella, que me ajudou
e me motivou antes e depois do meu ingresso na UFES. À minha sobrinha, Lara,
que me alegrou nos momentos de dificuldade e me fez ter paciência para
continuar. Agradecimento especial à Guil, Lila, Zazu, Dink (RIP), Benny e Calô
que me deixaram felizes enquanto na realização deste trabalho.
À Profª. Drª. Patricia Silveira da Silva Trazzi, pela confiança e por nos ajudar na
realização da nossa monografia.
Agradeço ainda à minha família, pela colaboração e por todo amor durante os
momentos de aflição e nervosismo. Em especial aos meus pais, Volmar e Vânia
que sempre acreditaram em mim e me motivaram me mostrando que sou capaz.
Aos meus irmãos Thais e Thiago que sempre estiveram ao meu lado. Aos meus
cachorros: Luna, GPS, Nalu e Mel que me alegraram nas horas que mais
precisei.
Agradeço aos meus amigos pela compreensão da minha ausência durante esse
percurso e por me proporcionarem os melhores momentos. Aos antigos que
sempre me apoiaram nessa jornada: Pedro, Araújo, Fernando, Walter, Flávio,
Jhessica, Mariellen, Jessica, Alexia, Dayana, entre muitos outros. E aos novos
que conquistei no período da faculdade e que levarei pro resto da minha vida:
Stefanie, Grazi, Ianna, Matheus, Marcos, Diego, Wesley e Aline.
Por fim agradeço àqueles que passaram pela minha vida durante esse período e
que contribuíram de alguma forma para a realização do meu maior objetivo.
RESUMO
Nosso objetivo com o presente estudo, foi realizar um relato de experiência acerca do
desenvolvimento de um projeto de conservação ambiental denominado “Projeto
Robalo” realizado pelo Instituto Harpia no município de Aracruz-ES, afim de analisar a
importância dessa experiência, considerando a interação da EA em espaços formais e
não-formais, para nossa formação como educadoras. Para expressar sobre nossas
experiências, fizemos o uso de narrativas que foram discorridas a partir de categorias de
análise criadas ao longo da pesquisa e pela própria vivência a partir de trilhas
interpretativas. Para registro das ações realizadas, utilizamos fotografias. Como
resultado, salientamos que a perspectiva formativa é essencial para o processo de
educação ambiental e que a exploração de espaços formais e não-formais são de
extrema importância para o processo de educação ambiental, sendo iniciada na escola e
perpetuada na própria comunidade.
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................07
1.1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL.............................................................07
1.2. PROJETO ROBALO.........................................................................11
2. METODOLOGIA.........................................................................................12
2.1. A BASE.............................................................................................12
2.2. A COMUNIDADE............................................................................13
2.3. NOSSA INSERÇÃO NO PROJETO................................................13
2.4. ATIVIDADES CONTEMPLADAS.................................................14
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................17
3.1. 1ª NARRATIVA: “Contextualização para promoção da
aprendizagem”.............................................................................................17
3.2. 2ª NARRATIVA: “Conhecimentos Tradicionais”.................................20
3.3. 3ª NARRATIVA: “Importância da fiscalização”...................................21
3.4.4ª NARRATIVA: “Importância da vivência para cuidar”......................22
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................25
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................27
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1. INTRODUÇÃO
1.1. Educação Ambiental:
Por muito tempo a Educação Ambiental, no Brasil, esteve associada aos setores
“técnicos” da temática ambiental, relacionados basicamente à formação e à função
desempenhada pelas instituições, particularmente no setor público. O Programa
Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) de 2004 deu ênfase ao caráter educativo da
Educação Ambiental propondo fundamentalmente compreender as especificidades dos
grupos sociais, o modo como produzem seus meios de vida, como criam condutas e se
situam na sociedade, para que se estabeleçam processos coletivos, pautados no diálogo,
na problematização do mundo e na ação. Explicita que a intenção básica da educação
não está apenas em gerar novos comportamentos ou trabalhar no campo das ideias e
valores. O ProNEA de 2004 também permite que se retome um pressuposto da
educação ajudando a superar dicotomias entre sociedade/natureza originadas no marco
do capitalismo, pois com a urbanização e evolução da civilização, a percepção do
ambiente mudou drasticamente e a natureza passou a ser entendida como "algo separado
e inferior à sociedade humana", ocupando uma posição de subserviência. Como
conceitos igualmente importantes para a vinculação da educação na construção da
cidadania, o ProNEA destaca o respeito à liberdade e apreço à tolerância; vinculação
entre ética, estética, educação, trabalho e práticas sociais; liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, pensamento, arte ou saber; compromisso com a
cidadania ambiental ativa; transversalidade construída através de uma perspectiva inter
e transdisciplinar. E como último elemento norteador do documento governamental
federal destaca-se a vulnerabilidade ambiental, termo ainda pouco presente em EA,
resultando em práticas que ignoram a dinâmica societária em que estamos imersos
(LOUREIRO, AZAZIEL & FRANCA, 2003).
A educação ambiental que incorpora a perspectiva dos sujeitos sociais permite
estabelecer uma prática pedagógica contextualizada e crítica, que explicita os problemas
estruturais de nossa sociedade, as causas do baixo padrão qualitativo da vida que
levamos e da utilização do patrimônio natural como uma mercadoria e uma
externalidade em relação a nós. A educação ambiental assume assim a sua parte no
enfrentamento da crise ambiental radicalizando seu compromisso com mudanças de
valores, comportamentos, sentimentos e atitudes, que deve se realizar junto à totalidade
dos habitantes de cada base territorial, de forma permanente, continuada e para todos.
Uma educação que se propõe a fomentar processos continuados que possibilitem o
respeito à diversidade biológica, cultural, étnica, juntamente com o fortalecimento da
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o Projeto teve uma ampla divulgação, sendo citado em diversas matérias jornalísticas e
em reportagem na TV aberta, tanto no município de Aracruz, como para todo o Espírito
Santo (http://g1.globo.com/espirito-santo/bom-dia-es/videos/v/pescadores-reclamam-
da-falta-do-peixe-robalo-nos-rios-piraque-mirim-e-piraqueacu-no-es/4464890/).
Nosso objetivo geral com o presente estudo, foi realizar um relato de experiência
acerca do desenvolvimento de um projeto de conservação ambiental denominado
“Projeto Robalo” coordenado pelo Instituto Harpia no município de Aracruz-ES. E
como objetivo específico analisar a importância dessa experiência, considerando a
interação da EA em espaços formais e não-formais, para nossa formação como
educadoras.
2. METODOLOGIA
2.1. A base
escolas, visto que a maioria dos filhos dos pescadores, estavam matriculados nas
mesmas.
2.2. A comunidade
1
Otólitos: são pequenas concreções calcárias contidas nas cápsulas auditivas dos peixes ósseos, que
contribuem para a percepção dos sons e para o equilíbrio corporal. Essas estruturas possibilitam através
da formação de anéis de crescimento, a determinação da idade do peixe (XIMENES-CARVALHO,
2006).
2
Nectologia: Estuda os animais aquáticos que se movem livremente na coluna d’água com auxílio de
órgãos de locomoção como nadadeiras e outros tipos de apêndices.
14
3
Protândrica: espécies que inicialmente são machos e após a primeira maturação tornam-se fêmeas
(TAYLOR, et al., 2000).
15
referência mais ampla”. Para uma melhor análise das narrativas, criamos um quadro
sobre as categorias encontradas no texto afim de enriquecer e facilitar a compreensão.
3- RESULTADOS E DISCUSSÃO
professores e alunos das escolas são sujeitos potenciais desse modo de ver e fazer a
pesquisa (TRISTÃO, 2004).
LOUREIRO (2005) ressalta que o principal indicador de sucesso de uma ação
educativa ambiental está não no alcançar metas previamente definidas, mas em se
estabelecer um processo de aprendizagem que seja participativo, emancipatório e
transformador. Nesse sentido, a dimensão quantitativa fica submetida e vinculada à
dimensão qualitativa. No caso do ensino formal é necessário haver vinculação do
conteúdo curricular com a realidade de vida da comunidade escolar assim como a
aplicação prática e crítica do conteúdo apreendido e em articular entre conteúdo e
problematização da realidade de vida, da condição existencial e da sociedade, além de
se ter um projeto político-pedagógico construído de modo participativo para que ocorra
a aproximação escola-comunidade e a possibilidade concreta do professor articular
ensino e pesquisa, reflexão sistematizada e prática docente.
A diretora da primeira escola que visitamos, EMEF Santa Cruz, foi a maior parceira que
tivemos durante todo o desenvolvimento do projeto. A Terezinha era uma pessoa muito
dinâmica, expressiva e grande colaboradora da escola. Mesmo com muitas dificuldades,
ela tentava sempre conseguir o melhor para os seus alunos. No primeiro dia foi
apresentado o projeto para os mesmos e numa conversa informal, procuraram saber o
nível de conhecimento sobre o peixe robalo e o ecossistema manguezal. Mesmo sendo
muito jovens, percebemos que a grande maioria conhecia o peixe pela própria vivência,
pois desde muito cedo começam a pescar junto com seus pais. Sobre o manguezal
muitos sabiam o que era, mas não entendiam muito bem o seu lugar no ciclo do robalo,
não associando a relação entre a espécie e o ambiente. A partir disso, distribuíram para
as crianças kits informativos, com mochila, camisa, garrafas de água, caneta e cartilhas
sobre o projeto. Nosso maior intuito era disseminar a informação, tanto em casa como
na comunidade, para entenderem o real motivo da nossa pesquisa.
Na semana seguinte, levaram jogos e realizaram um dia especial na escola para
ressaltar a importância da educação ambiental. Nesse dia, utilizaram das cartilhas e dos
jogos para explicar um pouco mais sobre o robalo e sobre o manguezal. Aproveitaram
também para falar de outras espécies que estão intimamente relacionadas à esse
ecossistema. Trabalharam com eles a ideia do manguezal como um berçário de vida e
porquê o mesmo deve ser mantido sempre limpo e conservado. Essas oficinas se
repetiram nas escolas da região, tentando alcançar o máximo de crianças possíveis. O
foco do projeto foram as crianças do ensino fundamental I e II e de acordo com
19
grande sobre o ambiente que vivem que eles sabem através da sua própria experiência
os períodos que o peixe está em abundância. Por exemplo nas pesquisas realizadas pelo
projeto, os meses de maior ocorrência do peixe, foram os logo após o verão, que
apresentaram um maior número de chuvas. Ao conversar com os pescadores, eles já
fizeram essa associação e sabem que o período melhor para pesca é justamente esse.
Um outro exemplo, foi quando pesquisadores do projeto foram ensinar os pescadores a
fazer a retirada do otólito. Manusearam o peixe e retiraram o otólito cuidadosamente
para não quebrá-lo. Os pecadores ao observarem essa estrutura, disseram já conhecer ela
muito bem. Eles chamam de "osso do ouvido". Eles retiraram o otólito com as próprias
mãos e por já estarem acostumados a fazer isso diariamente, não o quebraram. Isso
demonstra como o conhecimento científico e o tradicional estão ligados e se
complementam apesar de que FLORIANI (2007) afirma ser comum observar uma
desvalorização dos saberes tradicionais, apoiados nas experiências das gerações
passadas e para restabelecer o equilíbrio entre esses conhecimentos é necessário ampliar
os espaços democráticos entre o global e o local para que se possa pensar em uma
diversidade de saberes coexistentes sendo uma das vias de acesso o diálogo dos saberes,
combinando saberes cientificamente construídos com saberes culturalmente
legitimados. Conversamos com pescadores que vivem naquele local há mais de 60 anos,
assim como seu Manoel, vivendo exclusivamente da pesca. Segundo seus relatos, ele
afirma que a quantidade de peixes diminuiu significativamente com o passar dos anos.
Ele ressaltou: " Ah, antigamente a gente via peixe pulando de um lado pro outro, quase
caindo em cima do barco! Hoje meus filhos e netos passam a madrugada toda pescando
e voltam com a rede quase vazia". Contou ainda uma de suas experiências como
pescador, que ao sair para pescar com o seu filho, pegou uma alta de maré e o barco
virou. Ele conseguiu se salvar, mas infelizmente o seu filho não teve a mesma sorte.
Hoje ele conta que não pode mais pescar, pois já está muito de idade, mas
deixou como continuação de sua cultura, os seus filhos e netos, e que não sabe se terá
peixes para que todos consigam alimentar suas famílias como ele fez.
vezes em que fomos visitá-los, observamos muitas lanchas e jet-skis passeando pelo
local. A pesca do robalo é muito visada por esses pescadores, não só pelo grande valor
comercial das espécies desse peixe, mas também por ter uma alta combatividade ao ser
fisgado, o que proporciona uma grande luta aos pescadores esportivos. De acordo com
RUSCHEINSKY (2007), a responsabilidade socioambiental se dá através de um
conjunto de iniciativas (políticas públicas) e inclusive delineia novos papéis aos atores
socioambientais (comunidade, órgãos ambientais e etc.) visando superar, conquistar ou
garantir os interesses e/ou direitos de todos a um ambiente saudável e democrático. Por
isso, é necessário que a fiscalização não seja feita somente pelos órgãos ambientais mas
sim por todos os atores socioambientais que estão inseridos nesse contexto.
LOUREIRO (2006) ressalta que a ação política diante de problemas ambientais,
diante da contraposição entre sociedade e natureza é fundamental para compreender a
participação em coletivos com uma contribuição às ações em EA. FADINI &
HOEFFEL (2007) destacam que o estudo de percepções sobre o mundo natural torna
possível identificar e caracterizar distintas relações ser humano-natureza e pode auxiliar
na formulação de políticas públicas que visem ações sustentáveis em longo prazo.
era mantidos em tanques redes até adquirirem o tamanho ideal e seu Mário com a ajuda
dos pescadores da comunidade, mantinha esses tanques limpos e próprios para cultivo.
Os peixes que utilizamos durante a pesquisa não eram eviscerados, portanto
foram doados aos pescadores para comercialização após feita a biometria e retirada dos
otólitos4para estudos de idade e crescimento. Foram realizados mais de um evento de
repovoamento, porém durante nossa trajetória no projeto, participamos efetivamente de
um, que ocorreu no dia 18 de outubro de 2014. O projeto teve patrocínio da Petrobrás e
com a ajuda de outros colaboradores, levamos toda à comunidade escolar e ribeirinha
com escunas até o local de desova. O grupo de pesquisa da UFES também esteve
presente, assim como outros órgãos ambientais que foram convidados. Durante todo o
percurso, víamos nos olhos das crianças o deslumbramento que estavam vivenciando
naquele momento. No meio do caminho passaram golfinhos pulando próximos a nossa
escuna, fazendo daquela experiência uma ótima relação com a trilha na qual traçamos.
Na hora da soltura, os peixes saíram das próprias mãos das crianças e ressaltamos a
importância que elas têm nesse trajeto feito por eles. Isso gerou nelas um grande
cuidado e apego pelo ambiente, fazendo com quisessem de fato cuidar do local onde
vivem. Após a soltura, todos foram levados para a base do Projeto Robalo localizada na
comunidade Balsa e foi feita uma apresentação do projeto e disponibilizado um coffee
break para aproximação de todos.
MENDONÇA (2007) afirma que a educação vivencial é especialmente
importante na EA, uma vez esta última pretende lançar nos indivíduos a percepção de
sua responsabilidade sobre o que acontece no mundo, e de sua participação num todo
maior que inclui o passado, o presente e o futuro. Pretende, desta maneira, que os
conceitos sejam internalizados e transformados em comportamentos inovadores e
criadores de novos modos de viver, de novas culturas.
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Otólitos: são pequenas concreções calcárias contidas nas cápsulas auditivas dos peixes ósseos, que
contribuem para a percepção dos sons e para o equilíbrio corporal. Essas estruturas possibilitam através
da formação de anéis de crescimento, a determinação da idade do peixe (XIMENES-CARVALHO,
2006).
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processos sociais e naturais a partir de lugares onde estes são produzidos, o que exige a
interpretação e valorização da história do lugar, bem como a caracterização das
alterações socioculturais e ambientais no decorrer do tempo. O reconhecimento destas
percepções sobre o meio ambiente, estruturadas a partir de diferentes referenciais, torna-
se extremamente relevante na elaboração de diagnósticos, planejamentos, políticas e
programas de educação ambiental que colaborem na resolução de conflitos e problemas
ambientais, estimulem a participação equitativa de todos os agentes sociais e auxiliem
na construção de sociedades sustentáveis.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS