Aula 1 - Princípios (PROCESSO CIVIL)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 6

CAPÍTULO I

DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas
fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as
disposições deste Código.

- Constitucionalização do Processo Civil.

Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo
as exceções previstas em lei.

- Princípio dispositivo (exceção: herança jacente e arrecadação bens dos ausentes, art. 738
e art. 744, do CPC) e do impulso oficial.

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

- Princípio da Inafastabilidade da jurisdição/Poder Judiciário – art. 5º, XXXV, CF - a lei não


excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Estimulação da solução consensual de conflitos, abaixo.

§ 1º É permitida a arbitragem (Lei 9.307/96), na forma da lei.

§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.

§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão


ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive
no curso do processo judicial. (art. 165, CPC – Lei 13.140/2015).

Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída
a atividade satisfativa.

- Princípio da Primazia da Decisão de Mérito. Efetividade.

CPC de 1973 só trazia duas hipóteses.

Novo CPC traz como regra básica. 8 hipóteses: arts. 331; 332, §3º; 485; 1.018, § 1º; 1.021,
§2º; entre outras.

Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a
boa-fé.

- Princípio da boa-fé.

Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

1
- Princípio da cooperação.

- Ao Juiz: PESCA.

P – prevenir eventuais nulidade para solucionar o mérito;

Es – esclarecimento nas decisões;

C – consulta às partes;

A – adequar os procedimentos, dilatando prazos as peculiaridades da causa, bem como


invertendo ônus da prova, quando necessário.

Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e


faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções
processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

- Princípio da paridade de tratamento. Art. 5º, I, CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;

Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do
bem comum (art. 5º LINDB), resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e
observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

- Princípio do contraditório, Art. 5º, LV, CF - LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampa defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III – tutela de evidência;

III - à decisão prevista no art. 701 – tutela de evidência em ação monitória.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito
do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria
sobre a qual deva decidir de ofício.

- Princípio da vedação a não decisão supresa. Decisão abaixo. Distinção entre fundamento
legal e fundamento jurídico.

Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade.

Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das
partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.

2
- Princípio da Publicidade – art. 93, IX, CF: IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade
do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; art. 489, § 1º, CPC.

(...)

CAPÍTULO II

DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS

Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as
disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil
seja parte.

Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em
curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência
da norma revogada.

Princípio adotado do tempus regit actum: Um processo civil iniciado na vigência do CPC/1939
será conduzido pelo CPC/1973 e se ainda estiver em trâmite (!!!), será regido pelo CPC/2015. Existem
as disposições transitórias, mas o principio é o mesmo: se mudar a lei processual ela terá aplicação
imediata nos processos em andamento. Tanto faz a data da distribuição.

Evidentemente que os atos processuais já concretizados não precisarão ser repetidos, aplicando-
se a lei processual apenas aos novos atos.

Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos,
as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

#VEMDETABELA
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Art. 5º, LIV, da CRFB. Dimensões:
Formal: diz respeito às garantias formais impostas pelo direito para que o processo
seja devido (contraditório, juiz competente, motivação).
DEVIDO PROCESSO
Material (substancial/substantivo): exigência de que não apenas o processo, mas
LEGAL
também a decisão que dele resulta também seja devida, bem como as leis (de direito
material) também devam ser razoáveis para atender com exatidão as necessidades
da sociedade.
Art. 5º, XXXV, da CRFB. A lei não pode excluir da apreciação do Judiciário nenhuma
lesão ou ameaça de lesão a direito. E o Judiciário deve responder a todos os
requerimentos a ele dirigidos (ação em sentido amplo). Exceção: 217, § 1º, CF.
#SELIGA: importante mencionar que a previsão legal de métodos alternativos de
ACESSO À JUSTIÇA
solução de conflitos não ofende ao mencionado princípio (AgRg – RE – 5206, Min.
Sepúlveda Pertence). A solução consensual dos conflitos deve ser, sempre que
possível, promovida e estimulada tanto pelo Estado, quanto por todos aqueles que
compõe a relação processual.

3
Art. 5º, LV, da CRFB. Segundo Renato Montans de Sá, este princípio assevera “que a
todos deve se dar o direito de conhecer da demanda que lhe é proposta, tomar ciência
PRINCÍPIO DO de todos os atos processuais, bem como ter a possibilidade de reagir aos atos
CONTRADITÓRIO contrários ao seu direito.” (CPI)
Dimensões:
Formal: direito de participação no processo, de ser ouvido.
Substancial: direito de influenciar na decisão (participação efetiva). Inclui o direito à
prova (não adianta nada deixar alegar, mas não deixar provar). O contraditório é
indissociável do conceito de processo. Sem processo existe apenas procedimento
(como no caso do inquérito penal ou civil).
Art. 5º, LXXVIII, da CRFB. Princípio dirigido ao legislador e ao juiz. Ao legislador, a fim
DURAÇÃO de que, na edição de leis processuais, cuide para que o processo chegue ao fim
RAZOÁVEL DO almejado no menor tempo possível e com a maior economia de esforços e gastos. Ao
PROCESSO juiz, a fim de que conduza o processo com toda a presteza possível.
Art. 5º, caput e I, da CRFB. Também dirigida ao legislador e ao juiz, exige que a lei e o
ISONOMIA Judiciário tratem igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida da sua
desigualdade (isonomia real).
Art. 5º, LIII e XXXVII, da CRFB. Sintetiza Antônio Magalhães Gomes Filho: “a
imparcialidade constitui um valor que se manifesta, sobretudo no âmbito interno do
processo, traduzindo a exigência de que na direção de toda a atividade processual –
e especialmente nos momentos de decisão – o juiz se coloque sempre super partes,
conduzindo-se como um terceiro desinteressado, acima, portanto, dos interesses em
IMPARCIALIDADE
conflito”.
Não tem previsão expressa. Conquanto não previsto, decorre implicitamente da
DUPLO GRAU DE adoção, pela CF, de um sistema de juízos e tribunais que julgam recursos contra
JURISDIÇÃO decisões inferiores. No entanto, nada impede que, em algumas circunstâncias, não
exista o duplo grau.
Imposição constitucional que garante o processo público com duas dimensões:
i) Interna: para as partes, a qual não pode sofrer restrição;
ii) Externa: para a sociedade (fiscalização social, decorrente do interesse público à
informação).
PUBLICIDADE
Pode sofrer restrição:
DOS ATOS
a) nos casos em que houver interesse público;
PROCESSUAIS
b) como forma de proteção da intimidade das partes. Segredo de justiça (189, CPC).
Art. 93, IX,
Acordo de sigilo: vedado. Há um objeto ilícito, pois a publicidade externa é garantia
CF.
da sociedade.
Procedimento arbitral: pode ser sigiloso, salvo se envolver o poder público.
Art. 93, IX, da CRFB. Imposição constitucional que garante a obrigatoriedade da
exteriorização das razões de decidir (motivação, fundamentação), ou seja, da
MOTIVAÇÃO DAS exposição da conclusão formada pelo juiz a partir da cognição. Visa a conferir
DECISÕES transparência ao exercício do poder pelo juiz, para conhecimento pelas partes e
possível controle pelos órgãos superiores da Magistratura e pela própria opinião
pública.
AMPLA DEFESA Tradicionalmente, a doutrina distinguia a ampla defesa e o contraditório, que seriam
figuras conexas, sendo que a ampla defesa qualifica o contraditório, pois não há
contraditório sem defesa. Atualmente, tendo em vista o desenvolvimento da
dimensão substancial do princípio do contraditório, pode-se dizer que eles se
fundiram, formando uma amálgama de um único direito fundamental. A ampla defesa
corresponde ao aspecto substancial do princípio do contraditório.
Ampla defesa: direito de acesso aos instrumentos para influenciar na decisão. Integra
o contraditório.

4
É ônus do interessado invocar o exercício da jurisdição, mediante o exercício do poder
ou direito de ação, do qual resulta a prática de um ato (o primeiro do processo) que
é chamado de demanda. (Yarshell - Curso de Processo Civil)
Sistemas:
A) inquisitivo puro: o juiz é colocado como figura central do processo, cabendo a ele
a sua instauração e condução sem a necessidade de qualquer provocação das partes.
B) dispositivo: o juiz tem uma participação condicionada à vontade das partes, que
definem não só a existência e extensão do processo, como também o seu
desenvolvimento.
No Brasil, em relação à jurisdição contenciosa, adota-se o sistema misto, com
DA DEMANDA E DO preponderância do princípio dispositivo. Segundo Daniel Assumpção, essa opção tem
DISPOSITIVO os seguintes fundamentos:
a) há necessidade de provocação do interessado para que exista o processo
(dispositivo) a ser desenvolvido por impulso oficial (inquisitivo);
b) o juiz está vinculado aos fatos jurídicos componentes da causa de pedir
(dispositivo), mas as provas a respeito dos fatos podem ser determinadas de ofício
(inquisitivo);
c) o juiz deve observar o princípio da congruência ou da demanda (dispositivo), mas
se admite pedidos implícitos e a aplicação do princípio da fungibilidade (inquisitivo).
Desdobramento do princípio da demanda: o juiz deve julgar a lide nos limites do
objeto do processo delimitado pelo autor (art. 492, CPC). Regra da adstrição ou
congruência. Também se aplica em matéria recursal (art. 1.013, CPC)
Art. 456 do CPC. Derivado da oralidade, determina que o juiz colha diretamente a
IMEDIAÇÃO
prova, sem intermediários.
Exigência de que os atos de exercício da função estatal jurisdicional sejam realizados
por juízes instituídos pela própria Constituição e competentes segundo a lei
(Dinamarco).
Desse princípio resultam as seguintes garantias:
a) impossibilidade de escolha do juiz para julgamento de determinada demanda (a
escolha será sempre aleatória de acordo com as regras abstratas e gerais de
JUIZ NATURAL
competência);
b) proibição da criação de tribunais de exceção (o juízo deve ser prévio ao
acontecimento de determinado fato);
c) julgamentos por juiz e não por outras pessoas ou funcionários, sendo considerados
juízes somente os integrantes dos órgãos enunciados pela Constituição Federal em
numerus clausus (art. 92 da CRFB);
A regra da eventualidade (Eventual maxime) ou da concentração da defesa na
contestação significa que cabe ao réu formular toda sua defesa na contestação (art.
336, CPC). Toda defesa deve ser formulada de uma só vez como medida de previsão
ad eventum, sob pena de preclusão. O réu tem o ônus de alegar tudo o quanto puder,
EVENTUALIDADE
pois, caso contrário, perderá a oportunidade de fazê-lo. (DIDIER JÚNIOR, 2015, p.638).
Depreende-se então que, pelo princípio da eventualidade, a parte deve praticar o ato
no momento oportuno, tendo como consequência por não o fazer, a ameaça de não
mais poder agir.

É a busca constante do resultado útil do processo (julgamento de mérito), com o


dispêndio de um esforço mínimo processual. Assim, o princípio da economia
processual ou da economicidade repele a prática de atos desnecessários e inúteis,
durante a tramitação do processo, a exemplo da realização de provas desnecessárias
ou a repetição de atos processuais dispensáveis, apenas em razão de não ter seguido,
ECONOMIA o ato já praticado, o modelo legal, apesar não ter causado, a realização do ato em
PROCESSUAL desconformidade com a lei, prejuízo algum às partes no processo.
.
5
Prioriza a solução do conflito, ou seja, a busca pela decisão de mérito com prioridade
sobre a extinção do feito por causas processuais, que devem ser corrigidas e sanadas.
A solução de mérito deve preponderar sobre a decisão que não é de mérito. Princípio
espalhado por todo CPC. (Art. 4º, CPC).
PRIMAZIA DA
Manifestações: o relator não pode deixar de conhecer recurso por questões formais
SOLUÇÃO DE MÉRITO
(art. 932, CPC); recurso especial recebido como recurso extraordinário (art. 1.032,
CPC); antes de indeferir a inicial, abre-se oportunidade para emendá-la (art. 321); STF
e STJ podem desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar a sua
correção desde que não o reputem grave (art. 1028, §3º, CPC).
A cooperação envolve (considerando que esse dever se estende a todos os sujeitos
do processo):
a) das partes com o juiz: essa cooperação já se dá naturalmente no desenrolar do
COOPERAÇÃO processo, na medida em que, quanto mais a parte exerce sua defesa (dentro da boa-
fé e sem abusos), mais auxilia o juiz na formação do seu convencimento;
b) do juiz com as partes: a doutrina identifica três vertentes do princípio nesse ponto:
dever de esclarecimento (requerer às partes esclarecimentos sobre suas
manifestações e pedidos); dever de consulta (consultar as partes antes de decidir);
dever de prevenção (apontar eventuais deficiências e permitir correções);
c) entre as partes: não significa que as partes devem cooperar com a outra em
detrimento de seus próprios interesses, mas sim, que devem ser, também,
responsáveis pelo desenvolvimento processual.
Dever de lealdade de quem participa do processo. Processo devido é aquele pautado
por comportamentos éticos dos sujeitos processuais (inclusive o juiz). Não tem
previsão expressa na CRFB, mas é um corolário do devido processo legal (devido
processo legal).
Art. 5º, CPC. É cláusula geral que foi sendo concretizada pela doutrina e pela
jurisprudência. Abrange:
i) proibição de comportamentos dolosos;
BOA-FÉ E LEALDADE ii) impedimento do abuso de direito;
PROCESSUAL iii) proibição de comportamento contraditório (venire contra factum proprium – ex:
juiz diz que é caso de julgamento antecipado e julga improcedente por falta de
provas);
iv) interpretação de postulações e decisões (322, §2º, e 489, §3º, CPC);
v) fonte do princípio da cooperação (art. 6º, CPC);
vi) influência na condução dos negócios jurídicos processuais.
Funções da boa-fé (Judith Martins Costa – direito civil): i) interpretativa; ii) limitativa
ou de controle; iii) criativa (criação de deveres anexos/laterais).
Determina-se que as fases processuais já concluídas não possam ser rediscutidas, num
retrocesso que acabaria atrasando o julgamento do pedido, em desprezo, por
conseguinte, ao princípio da efetividade e o da economia processual, salvo,
PRECLUSÃO
evidentemente, se desobedecido o princípio maior, eis que todos os demais em
análise, dele advém, que é o do devido processo legal. Portanto, o princípio da
preclusão reforça o da efetividade e o da economia processual.

#OLHAAJURIS:
- vedação à decisão surpresa:

6
Em respeito ao princípio da não surpresa, é vedado ao julgador decidir com base em fundamentos jurídicos
não submetidos ao contraditório no decorrer do processo. Caso adaptado: a parte autora ingressou com ação
de indenização por desapropriação indireta contra o Município. O advogado, na sustentação oral feita no
julgamento da apelação, argumentou que a Lei municipal nº 17.337/2017, ato administrativo concreto, com
roupagem de lei formal, significou, na prática o reconhecimento municipal de que houve desapropriação
indireta. A apelação da parte autora foi provida e dois Desembargadores mencionaram expressamente o
argumento deduzida na tribuna na proclamação de seus votos.Ocorre que isso não havia sido alegado ou
discutido anteriormente nos autos. O julgamento foi nulo por violação ao princípio da não-surpresa. Para o STJ,
não houve apenas a alegação em plenário de fundamento legal novo, mas sim de construção argumentativa
com conclusão de postura municipal de reconhecimento administrativo de realização de desapropriação
indireta, tudo com base em fato jurídico apresentado de forma surpreendente, sem prévia possibilidade, com
antecedência devida, de ponderação do argumento e construção de contra-argumento no pleno exercício do
contraditório e da ampla defesa. STJ. 2ª Turma.REsp 2.049.725-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
25/4/2023 (Info 772).

Não ofende o art. 10 do CPC/2015 o provimento jurisdicional que dá classificação jurídica à questão
controvertida apreciada em sede de embargos de divergência.EDcl nos EREsp 1.213.143-RS, Rel. Ministra Regina
Helena Costa, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 8/2/2023. (Info 763)

Não cabe a aplicação de multa pelo não comparecimento pessoal à audiência de conciliação, por ato atentatório
à dignidade da Justiça, quando a parte estiver representada por advogado com poderes específicos para
transigir. Isso está expressamente previsto no § 10 do art. 334 do CPC/2015: Art. 334 (...) § 10. A parte poderá
constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir. STJ. 4ª
Turma. AgInt no RMS 56422-MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 08/06/2021 (Info 700).

ARBITRAGEM - Art. 2º, §1º, CPC.

Um terceiro imparcial é chamado a decidir sobre direitos patrimoniais disponíveis, após manifestação expressa
das partes (art. 1º da Lei nº 9.307/1996).

O STF já declarou que a arbitragem não ofende a inafastabilidade da jurisdição, pois está sempre condicionada
à vontade das partes (STF, SE 5206 AgR, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
12/12/2001).

#SELIGANATABELA:
CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM (Lei nº 9.307/1996)

7
❖ Surge a partir da convenção de arbitragem;
❖ Somente pessoas capazes podem ser árbitros;
❖ Somente pode ser constituída por pessoas capazes;
❖ Só pode recair sobre direitos que admitem heterocomposição;
❖ Pode ser de direito ou de equidade, à escolha das partes;
❖ É necessariamente voluntária;
❖ A decisão arbitral é um título executivo extrajudicial (art. 784, CPC);
❖ O árbitro não pode executar sua decisão;
❖ O mérito da decisão arbitral é insuscetível de controle pelo Poder Judiciário (é possível recorrer
ao Poder Judiciário alegando nulidade da cláusula de compromisso arbitral, corrupção, prevaricação, etc)
❖ Há restrição à cláusula compromissória em contratos de adesão (CDC);
❖ As partes podem escolher as regras a serem aplicadas, quanto ao direito material, ou seja, a
arbitragem pode ser de direito ou de equidade, nos princípios gerais, nos usos e costumes e nas regras
internacionais de comércio.
❖ Admite-se o reconhecimento e execução de sentenças arbitrais produzidas no exterior.
❖ A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o princípio
da publicidade.
#PEGAOGANCHO
ENTES PÚBLICOS PODEM SE SUBMETER À ARBITRAGEM?
SIM. A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a
direitos patrimoniais disponíveis. Nesse caso, por exigência da própria lei, a arbitragem será SEMPRE DE DIREITO
e respeitará o PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.
Como a Administração Pública deve obediência ao princípio da legalidade (art. 37, da CF/88) e, a fim de evitar
questionamentos quanto à sua constitucionalidade, a Lei nº 13.129/2015 determinou que a arbitragem, nestes
casos, não poderá ser por equidade, devendo sempre ser feita com base nas regras de direito. Confira: Art. 2º
(...) § 3º A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o princípio da
publicidade.
E MEDIAÇÃO, PODE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DELA UTILIZAR-SE?
CLARO! Inclusive, a Lei de Mediação (Lei nº 13.140) possui capítulo específico para regulamentar a utilização
pela Administração Pública de métodos autocompositivos no geral.

8
JURISDIÇÃO

CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
Inércia - A jurisdição só atua mediante provocação da parte ou do interessado. Exceção: alguns procedimentos
de jurisdição voluntária (artigos 738, 744 e 746, do CPC/15 - herança jacente, bens de ausente e coisas vagas).
Unicidade - A jurisdição é una – só é organizada pelas regras de competência para otimizá-la.
Substitutividade - O juiz substitui as partes na solução do conflito. O Estado, por meio do Poder Judiciário, aplica
o Direito para os outros e não para si mesmo (segundo Chiovenda, o Estado - Poder Executivo - ao administrar
também aplica o Direito para si mesmo, isto é, sem substitutividade).
Imparcialidade
Definitividade - Apenas a jurisdição gera coisa julgada. Só a jurisdição tem esse poder, mas nem sempre gerará
coisa julgada.
#ATENÇÃO: A decisão sobre medida cautelar e todas as tutelas provisórias não geram coisa julgada. No processo
coletivo, a sentença de improcedência por falta de provas não gera coisa julgada. Para a doutrina tradicional,
em princípio, na execução também não há coisa julgada, pois, o juiz não decide, apenas satisfaz, salvo se em
razão de um incidente ou até de ofício o juiz decidir o mérito (impugnação ao cumprimento de sentença, na
exceção de pré-executividade ou quando o juiz decreta a prescrição de ofício).
Declaratória do direito da parte - A sentença não cria direito para a parte, ela apenas reconhece os direitos que
a parte já tinha.
Criativa da regra jurídica - A sentença de mérito sempre cria a regra jurídica do caso concreto. Às vezes a
sentença/acórdão também cria a própria norma jurídica – exemplo, no mandado de injunção e dissídios
coletivos.
Exercida mediante processo
Não admite controle externo - O CNJ só exerce controle administrativo, mas não da atividade jurisdicional.
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
Juiz natural - Visa garantir a imparcialidade. Veda tribunais de exceção e proíbe as partes de escolher o juiz.
Obs.: A doutrina tradicional dizia que para garantir esse princípio o órgão e sua competência deveriam ser
anteriores ao fato a ser julgado, mas hoje, é pacífico que a criação de órgão novo ou a alteração da regra de
competência, mesmo quando atinge fatos e processos anteriores, não fere o princípio se a regra de competência
for aplicada objetivamente para todas as situações previstas. Exemplos: a criação de vara especializada não fere
o princípio.
Indeclinabilidade - O juiz não pode se recusar a julgar. Trata-se de um dever, ainda que exista lacuna na lei.
Indelegabilidade - Prevê que a jurisdição é indelegável, isto é, um juiz ou um tribunal não pode transferir suas
funções para outro. Exceções: O art. 102, I, “m”, da CF/88 permite ao STF delegar a execução (só atos materiais)
das suas decisões aos juízos de 1º grau (atos decisórios nunca são delegados); As cartas de ordem, em regra,
contêm delegação da função probatória. O CPC/15 permite na ação rescisória que o relator delegue a instrução
ao juiz de 1º grau.

Você também pode gostar